resposta a acusação

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DO DIREITO DA ILICITUDE DA PROVA O Acusado foi coagido, pelas autoridades policiais presentes, a se submeter ao teste do etilômetro (bafômetro), conforme se pode inferir do depoimento do Acusado, “ [...] sendo então o interrogado submetido a teste de bafômetro no local dos fatos.” Submetidos significa, nada mais, nada menos, de que foram subjugados pela ordem das autoridades. Sob intensa pressão psicológica, os policiais fizeram o Acusado crer ser esta uma exigência legal (CTB, art. 277), de que não adiantaria se negar a fazer o teste, pois, se assim procedesse, seria considerado culpado de qualquer forma. Esta é a razão pela qual esta prova dever ser considerada ilícita, por ter sido obtida por meio de coação do Acusado, o qual tem o direito de não constituir prova contra si mesmo, sendo impossível de ser aproveitada em processo penal, nos termos do art. 5º, LVI e LXIII da Constituição Federal. DA INCONSTITUCIONALIDADE DOS CRIMES DE PERIGO ABSTRATO O crime do art. 306 do CTB, na nova redação dada pela Lei 11.705/08 dispõe: “Conduzir veículo automotor na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência”. Analisando-se o tipo penal em tela, a doutrina classifica-o como um crime de perigo abstrato, o que significa que se refere a um perigo presumido, prescindindo de qualquer comprovação. Esta é a interpretação literal extraída do tipo penal do art. 306 do CTB.

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Defesa multa de transito

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DO DIREITO DA ILICITUDE DA PROVAO Acusado foi coagido, pelas autoridades policiais presentes, a se submeter ao teste do etilmetro (bafmetro), conforme se pode inferir do depoimento do Acusado, [...] sendo ento o interrogado submetido a teste de bafmetro no local dos fatos. Submetidos significa, nada mais, nada menos, de que foram subjugados pela ordem das autoridades. Sob intensa presso psicolgica, os policiais fizeram o Acusado crer ser esta uma exigncia legal (CTB, art. 277), de que no adiantaria se negar a fazer o teste, pois, se assim procedesse, seria considerado culpado de qualquer forma. Esta a razo pela qual esta prova dever ser considerada ilcita, por ter sido obtida por meio de coao do Acusado, o qual tem o direito de no constituir prova contra si mesmo, sendo impossvel de ser aproveitada em processo penal, nos termos do art. 5, LVI e LXIII da Constituio Federal.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DOS CRIMES DE PERIGO ABSTRATOO crime do art. 306 do CTB, na nova redao dada pela Lei 11.705/08 dispe:Conduzir veculo automotor na via pblica, estando com concentrao de lcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influncia de qualquer outra substncia psicoativa que determine dependncia. Analisando-se o tipo penal em tela, a doutrina classifica-o como um crime de perigo abstrato, o que significa que se refere a um perigo presumido, prescindindo de qualquer comprovao. Esta a interpretao literal extrada do tipo penal do art. 306 do CTB. Para a adequao ftica, portanto, bastaria que o Acusado fosse flagrado com concentrao de lcool no sangue superior ao limite estabelecido pela lei, independentemente de qualquer influncia que o lcool tenha exercido sobre sua conduta, pois o perigo seria presumido. A prpria presuno emanada do dispositivo legal constitui uma presuno absoluta, a qual impossibilita a prova do contrrio, impossibilitando que o Acusado se defenda adequadamente.Ora, evidente que o tipo penal disposto no art. 306 do CTB no pode ser interpretado desta forma, sob pena de ofensa a princpios constitucionais fundamentais.

Isonomia e individualizao das penas (CF, art. 5, caput e XLVI)A interpretao literal permitiria que um pessoa que ingeriu a quantidade de uma latinha de cerveja (quantidade que, em regra, insuficiente para alterar a motricidade) e outra, que ingeriu uma caixa (12) de latinhas de cerveja pudessem ser processadas e condenadas, pelo mesmo fato (em tese), embora esta ltima pessoa, obviamente embriagada, no apresentasse as mnimas condies de dirigir um veculo. Esta situao, por si s, j seria suficiente para demonstrar a falta de proporcionalidade gerada pelo art. 306 do CTB.Da interpretao conforme da Constituio FederalPergunta-se, ento, como deve ser lido o art. 306 do CTB? Quando o dispositivo legal alude a estando com concentrao de lcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, em verdade, a inteno da norma estabelecer uma mdia para a concentrao de lcool exigida para a constatao da embriaguez humana, o que facilita a prova da embriaguez, tornando-a objetiva com o uso do etilmetro(bafmetro). Contudo, a concentrao prevista na lei no constitui uma verdade (ou constante universal) a todas as pessoas, de modo que a leitura do art. 306 do CTB depende da verificao, em cada caso, da efetiva influncia da substncia alcolica em sua conduta.Nesse sentido Damsio de Jesus: Desta forma, por meio de interpretao sistemtica v-se que o esprito da norma o de considerar praticado o crime de embriaguez ao volante somente quando o condutor est sob a influncia de substncia alcolica ou similar. Seria imprprio que o legislador, no tocante a lcool, considerasse a existncia de crime de embriaguez ao volante s pela presena de determinada quantidade no sangue e, no caso de outra substncia, exigisse a influncia. importante ressaltarmos que, em caso anlogo, o STF j se posicionou pela averso s infraes penais de perigo presumido ou abstrato, conforme ementa abaixo: I. Infrao de trnsito: direo de veculos automotores sem habilitao, nas vias terrestres: crime (CTB, art. 309) ou infrao administrativa (CTB, art. 162, I), conforme ocorra ou no perigo concreto de dano: derrogao do art. 32 da Lei das Contravenes Penais (precedente: HC 80.362, Pl., 7.2.01, Inf. STF 217). 1. Em tese, constituir o fato infrao administrativa no afasta, por si s, que simultaneamente configure infrao penal. 2. No Cdigo de Trnsito Brasileiro, entretanto, conforme expressamente disposto no seu art. 161 - e, cuidando-se de um cdigo, j decorreria do art. 2, 1, in fine, LICC - o ilcito administrativo s caracterizar infrao penal se nele mesmo tipificado como crime, no Captulo XIX do diploma. 3. Cingindo-se o CTB, art. 309, a incriminar a direo sem habilitao, quando gerar "perigo de dano", ficou derrogado, portanto, no mbito normativo da lei nova - o trnsito nas vias terrestres - o art. 32 LCP, que tipificava a conduta como contraveno penal de perigo abstrato ou presumido. 4. A soluo que restringe rbita da infrao administrativa a direo de veculo automotor sem habilitao, quando inexistente o perigo concreto de dano - j evidente pelas razes puramente dogmticas anteriormente expostas -, a que melhor corresponde ao histrico do processo legislativo do novo Cdigo de Trnsito, assim como s inspiraes da melhor doutrina penal contempornea, decididamente avessa s infraes penais de perigo presumido ou abstrato. (HC 84377, Relator(a): Min. SEPLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 29/06/2004, DJ 27-08-2004)

DO PEDIDOAnte o exposto, requer-se seja o Acusado absolvido sumariamente, nos termos do art. 397, III do CPP, ou, na eventualidade de assim no entender Vossa Excelncia, em face do disposto no II do mesmo artigo do CPP. Supletivamente, requer a concesso do benefcio previsto no artigo 89 da Lei n 9.099/90 ao acusado, por ser medida de inteira JUSTIA; conforme requerimento ministerial no autos.Outrossim, requer a concesso do benefcio da Justia Gratuita, nos termos da Lei n 1.060/50, em virtude do Acusado no ter condies de arcar com custas e honorrios advocatcios sem afetar seu oramento.Protesta-se pela produo de todas as provas em direito permitidas, especialmente depoimento pessoal do representante legal da empregadora, pena de confisso, oitiva de testemunhas, percia contbil, juntada e solicitao de outros documentos e todas as demais que necessitarem ao esclarecimento da verdade.Termos em que,Pede Deferimento.