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Yolanda Natália Abel Mapengo RESPONSABILIDADE SOCIAL NA COCA-COLA, SARL: PERSPECTIVAS DE GESTORES E TRABALHADORES Universidade Politécnica A POLITÉCNICA MAPUTO 2008

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Yolanda Natália Abel Mapengo

RESPONSABILIDADE SOCIAL NA COCA-COLA, SARL:

PERSPECTIVAS DE GESTORES E TRABALHADORES

Universidade Politécnica

A POLITÉCNICA

MAPUTO

2008

Yolanda Natália Abel Mapengo

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA COCA-COLA,

SARL: PERSPECTIVA DE GESTORES E TRABALHADORES

Monografia apresentada ao Curso Superior de

Psicologia da Universidade Politécnica, como parte

dos requisitos para a obtenção do grau de

Licenciada em Psicologia das Organizações e do

Trabalho.

Tutora: Mestre Andrea Folgado Serra

MAPUTO

2008

Parecer do tutor:

Eu, Andrea Folgado Serra, Tutora da Monografia de Licenciatura da estudante Yolanda

Natália Abel Mapengo, intitulada “Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola,

Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores”, outorgo à mesma a minha apreciação

favorável.

Por estes motivos, considero o presente trabalho de Licenciatura da candidata, apto para

ser submetido à avaliação e defesa pública perante o Júri nomeado para o efeito.

Maputo, 28 de Outubro de 2008

_________________________

Mestre Andrea Folgado Serra

Aos meus Pais Matthias e Natália

Às minhas irmãs Martinha eTalita

Ao meu filho Marvin e aos meus sobrinhos Tajo, Eman e Paty

Ao meu Cunhado João Paulo

Às minhas Colegas de Turma (grupo de estudo Carmen, Ana, Sheila e Tânia)

A quem cuida do meu coração Valter Mabjaia.

AGRADECIMENTOS

A Deus.

“ Você se fez presente com todos os momentos firmes e trémulos e,

passo a passo, pude subir sentir a sua mão na minha vida,

transmitindo-me a Segurança necessária

para enfrentar meu caminho a seguir.”

A todos que, de forma directa ou indirecta, contribuíram para que este trabalho se

tornasse realidade, como:

Os nossos professores.

À minha supervisora, Dra. Andrea Serra, o meu muito obrigada.

Ao corpo profissional da Coca-Cola Sabco Moçambique, Sarl (CCS), em especial ao

Departamento de Relações Públicas e Comunicação desta empresa, e à Gestora de

Recursos Humanos, Sra. Nércia Muianga, pelo irrestrito apoio durante a realização da

pesquisa.

RESUMO

O presente estudo teve como objectivo geral analisar a responsabilidade social

empresarial na empresa Coca-Cola Sabco. Especificamente, a pesquisa visou identificar e

caracterizar as práticas de Responsabilidade Social Empresarial adoptadas pela empresa

na perspectiva dos gestores e a percepção dos trabalhadores sobre o cumprimento de

indicadores de responsabilidade social pela empresa. A pesquisa, de natureza exploratória

e descritiva, servindo-se do método de estudo de caso e da combinação de uma

abordagem quantitativa e qualitativa, abrangeu o universo de unidades organizacionais da

região sul da empresa incluindo Maputo e Machava. Para o efeito, foram conduzidas

entrevistas a três gestores da empresa e aplicado um questionário de indicadores de RSE

a 50 trabalhadores da área administrativa e operária, com base nos indicadores do

Instituto Ethos de Responsabilidade Social do Brasil. Os resultados do estudo revelam a

necessidade da empresa ter um gestor para representar e responder às questões que dizem

respeito aos órgãos de comunicação social, devendo ser o mesmo gestor encarregue de

realizar estudos sobre as necessidades do público interno, neste caso, os trabalhadores e o

externo, a comunidade circundante. No concernente aos trabalhadores da Coca-cola

Sabco, o estudo revela que, os mesmos percepcionam práticas de RSE mais focadas nas

áreas de meio ambiente, fornecedores, consumidores, clientes, governo e sociedade,

pondo de lado o público interno e os indicadores relacionados com valores, transparência,

governança e comunidade.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Indicadores, Instituto Ethos de

Responsabilidade Social, Coca-Cola Sabco, Moçambique.

ABSTRACT

This study aimed to examine the overall corporate social responsibility in the company

Coca-Cola SABCO. Specifically, the survey aimed to identify and characterize the

practice of Corporate Social Responsibility adopted by the company in light of the

perception of workers and managers on compliance with indicators of social

responsibility by the company. The research, descriptive and exploratory in nature by

means of the case study method and a combination of qualitative and quantitative

approach, covered the universe of organizational units in the southern region of the

company including Maputo and Machava. To this end, interviews were conducted at

three managers of the company and implemented a questionnaire of CSR indicators of

the 50 employees working in the administrative area and, based on those of the Ethos

Institute of Social Responsibility in Brazil. The study results show the need to have a

business manager to represent and respond to questions concerning the media, should be

the same manager in charge of conducting studies on the needs of the public market, in

this case, workers and foreign, the surrounding community. On the employees of Coca-

Cola SABC, the studies that led to analyze large part of its activities are developed in the

areas of environment, suppliers, consumers, customers, government and society, setting

aside the public market and with them values, Transparency, governance and community.

Keywords: Corporate Social Responsibility, Indicators, Instituto Ethos de

Responsabilidade Social, Coca-Cola Sabco, Mozambique.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Dimensões de RSE de Archie Carrol (1979) ............................................................................. 14

Figura 2. Indicadores de RSE do Instituto Ethos...................................................................................... 16

Figura 3. Principais áreas de actuação da RSE interna de Empresas do Rio de Janeiro, 2002 .................... 26

Figura 4. Empresas do Rio de Janeiro que adoptam práticas diferenciadas de RSE interna, 2002.............. 27

Figura 5. Práticas de RSE das Empresas do Rio de Janeiro em benefício da Comunidade, 2002 ............... 28

Figura 6. Tipos de Actuação adoptadas pelas empresas no Rio de Janeiro para apoio à Comunidade, 200229

Figura 7. Empresas do Rio de Janeiro que adoptam práticas de Responsabilidade ambiental , 2002.......... 30

Figura 8. Estrutura Orgânica da CCS ...................................................................................................... 40

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Diferenças entre a filantropia e a RSE .................................................................................10

Tabela 2. Resumo de Indicadores e sub-indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social .....18

Tabela 3. Características da RSE Interna e Externa.............................................................................22

Tabela 4. Perfil da amostra de Trabalhadores inquiridos da CCS.........................................................42

Tabela 5. Áreas de intervenção da CCS no apoio à comunidade..........................................................51

Tabela 6. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Valores, Transparência e

Governança .......................................................................................................................................54

Tabela 7. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Público Interno ............................55

Tabela 8. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Meio Ambiente ............................56

Tabela 9. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Fornecedores................................57

Tabela 10. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Consumidores e Clientes ............58

Tabela 11. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Comunidade...............................59

Tabela 12. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Governo e Sociedade..................60

ABREVIATURAS

ADPP Ajuda de Desenvolvimento do Povo para o Povo

CCS Coca-Cola Sabco

FEMA Fórum Empresarial para o Meio Ambiente

FIPAG Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água

GIT Pessoas-Graduadas-em-Treinamento

HIV Vírus de Imunodeficiência Humana

LAM Linhas Áreas de Moçambique

MIPS Serviço Internacional de Portos em Moçambique

ONG Organização não Governamental

PAC Public Affairs and Communications

RSE Responsabilidade Social Empresarial

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1

1.1 PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO................................................................................... 1 1.2 OBJECTIVOS ............................................................................................................. 3 1.3 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 4 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO....................................................................................... 6

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................................7

2.1 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL ......................................... 7 2.2 RAZÕES PARA AS EMPRESAS ADOPTAREM PRÁTICAS DE RSE ................................... 11 2.3 DIMENSÕES E INDICADORES DE RSE ....................................................................... 14

2.3.1 Dimensões de Archie Carroll (1979) ..............................................................14 2.3.2 Indicadores do Instituto Ethos.........................................................................15

2.4 A GESTÃO DA RSE NAS ORGANIZAÇÕES................................................................. 19 2.4.1 Práticas de RSE no Cenário Internacional......................................................25 2.4.2 Práticas de RSE no Cenário Nacional.............................................................33

MÉTODO .....................................................................................................................37

3.1 MODELO TEÓRICO DE REFERÊNCIA.......................................................................... 37 3.2 TIPO DE INVESTIGAÇÃO .......................................................................................... 37 3.3 POPULAÇÃO E AMOTRA .......................................................................................... 39 3.4 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE INVESTIGAÇÃO ....................................................... 42 3.5 PROCEDIMENTOS .................................................................................................... 44 3.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ...................................................................................... 46

RESULTADOS.............................................................................................................48

4.1 PERSPECTIVA DOS GESTORES DA CCS SOBRE PRÁTICAS DE RSE ............................. 48 4.2 PERSPECTIVA DOS FUNCIONÁRIOS DA CCS SOBRE INDICADORES DE RSE................. 53

DISCUSSÃO.................................................................................................................62

CONCLUSÕES E SUGESTÕES.................................................................................67

REFERÊNCIAS...................................................................................................................69 ANEXO 1 – GUIÃO DE ENTREVISTA.............................................................................71

ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA .................................................................72

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

1

INTRODUÇÃO

1.1 Problema de Investigação

Responsabilidade Social nas empresas significa uma visão empreendedora mais preocupada com o meio social em que a empresa está inserida, ou seja, sem deixar de se preocupar com a necessidade de geração de lucro, mas colocando-o não como um fim em si mesmo, mas sim como um meio para se atingir um desenvolvimento sustentável e com mais qualidade de vida. (Kapaz in FAE Business, 2004, p.8)

A partir da década de 1990, desenvolver a cultura da Responsabilidade Social tornou-se

quase um imperativo de gestão para as empresas que pretendem se manter competitivas em

seus respectivos mercados. Muitas, porém, tateiam o terreno, míopes, e não encontram o

caminho para o que deve ser um legítimo programa de Responsabilidade Social. Abrem-se

assim os flancos para as críticas. (Krigsner1 e Kapaz2 in FAE Business, 2004)

A concepção tradicional de que a empresa é apenas uma instituição económica, com a

sua visão orientada exclusivamente para a maximização de lucros mas que não respeita os

aspectos sociais e políticos que podem influenciar no ambiente de negócios ou na tomada de

decisões, começa agora a ser questionada pela sociedade em geral.

É necessário pois, que nesta era de globalização, que afecta todas as economias, seja

acrescentado o social. Neste sentido, as empresas que pretendam perdurar no tempo, devem

começar a adquirir consciência de que as decisões e os resultados das suas actividades atingem

a todos os agentes que constituem o seu ambiente interno e externo, tais como: os próprios

trabalhadores, os sócios, os accionistas, os fornecedores, os clientes, os concorrentes, o

governo, a comunidade e o meio ambiente. Daí advém a ideia de se enveredar por uma postura

socialmente responsável com vista a incluir, na dinâmica da empresa, o aspecto social.

1 Presidente de O Boticário do Brasil. 2 Colaborador do Instituto Ethos de Responsabilidade Social do Brasil.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

2

Segundo o relatório da KPMG (2007, p.18) três pontos importantes devem estar

associados à responsabilidade social da empresa:

1. RSE deve começar de dentro para fora, isto é, deve começar com o trabalhador;

2. RSE deve ser um compromisso de médio e longo prazo, isto é, um modelo de

gestão da empresa;

3. Envolvimento em RSE não é para perder dinheiro, ou seja, a empresa deve lucrar

por melhorar a sua postura social e ambiental.

No entanto, na década de 60, nos Estados Unidos, gerou-se uma profunda insatisfação

popular, abrindo caminho para novas concepções sobre a responsabilidade social empresarial.

A sociedade passou a repudiar a participação Americana no conflito e, principalmente, passou

a manifestar-se contra a utilização de armamentos bélicos, produzidos por empresas norte-

americanas, nocivas ao homem e ao meio ambiente.

Surgiu a partir desse facto, um conceito diferenciado de responsabilidade social das

empresas que as vê, como reflexo de objectivos e valores sociais, ou seja, como instrumentos

pelos quais a sociedade pode promover os seus objectivos. Nesse sentido, muitas organizações

passaram a adoptar uma nova moral empresarial, a partir da qual, as empresas não tinham mais

o direito de produzir e vender o que desejam. Entretanto, contra essa nova ideia, insurgiram-se

os defensores do livre-mercado, pois, para estes a prática da responsabilidade social reduz a

eficiência do mercado.

Sabe-se que, para ser classificada como socialmente responsável, a empresa precisa não

só de cumprir a legislação, mas apoiar o desenvolvimento da comunidade, preservar o meio

ambiente e tornar-se responsável por todos aqueles com quem mantém intercâmbio, sejam eles

accionistas, empregados, fornecedores, clientes, concorrentes, governo ou a comunidade, como

sendo um investimento Social. (Neto e Brennand, 2004)

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

3

Actualmente, as empresas3 não vendem simplesmente os seus produtos ou serviços, elas

vendem também o que está agregado. As organizações preocupam-se em identificar o que

agrega valor ao bem ou serviço a si oferecido. Dentro desse contexto, passou a ser imperativo o

tema Responsabilidade Social.

A Coca-Cola Sabco, empresa objecto do presente estudo, enquadra-se nesta nova

realidade, encontrando-se neste momento numa primeira fase deste longo processo de

acentuação no campo da responsabilidade social. Neste sentido, as principais questões que se

levantam para a presente investigação são, nomeadamente:

1. Qual a perspectiva dos gestores da Coca-Cola Sabco sobre as práticas de RSE

adoptadas pela empresa?

2. Qual a percepção dos trabalhadores da Coca-Cola Sabco sobre o cumprimento de

indicadores de responsabilidade social pela empresa.

1.2 Objectivos

Objectivo Geral:

Analisar a RSE na empresa Coca-Cola Sabco.

Objectivos Específicos:

Identificar e caracterizar as práticas de responsabilidade social adoptadas pela

empresa na perspectiva dos gestores;

Identificar e descrever a percepção dos trabalhadores sobre o cumprimento de

indicadores de responsabilidade social pela empresa.

3 Empresa é todo empreendimento humano que procura reunir e integrar recursos humanos que procura (como recursos financeiros, físicos, tecnológicos, mercadológico, etc.) no sentido de alcançar objectivos de auto – sustentação e de lucratividade, pela produção e comercialização de bens ou de produto (Chiavenato, 1994, p. 57)

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

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1.3 Justificativa

A RSE tornou-se um factor de competitividade para os negócios. No passado, o que

identificava uma empresa competitiva era básicamente o preço de seus produtos. Depois, veio

a onda da qualidade, mas ainda focada nos produtos e serviços. Hoje, as empresas devem

investir no permanente aperfeiçoamento das suas relações com todos o público do qual

dependem e com o qual se relaciona: o governo, os clientes, os fornecedores, os empregados,

os parceiros e os colaboradores. Isso inclui, também, a comunidade na qual actua, sem perder

de vista a sociedade em geral. Fabricar produtos ou prestar serviços que não degradem o meio

ambiente, promover a inclusão social e participar do desenvolvimento da comunidade de que

fazem parte, entre outras iniciativas, são diferenciais cada vez mais importantes para as

empresas na conquista de novos consumidores ou clientes.

RSE é portanto um tema actual, de relevância crucial para a sustentabilidade das

organizações e bastante investigado em vários países. Em Moçambique, pouco ainda se aborda

o tema no meio académico e, até mesmo, no seio empresarial.

Pelo retorno que traz – em termos de reconhecimento (imagem) e melhores condições de

competir no mercado, além de contribuir substancialmente para o futuro de qualquer país, o

movimento da RSE tem vindo a expandir-se por todo o mundo. Já é significativo o número de

grandes e médias empresas que seleccionam fornecedores (pequenos) utilizando critérios da

RSE nos negócios. Também no acesso aos créditos e financiamentos é crescente a

incorporação de critérios de gestão responsável. A imprensa está cada vez mais fiscalizadora e

os consumidores, por sua vez, mais exigentes. No entanto, no contexto moçambicano, este

movimento é ainda embrionário e precisa de ser melhor estudado.

Em termos de produção científica, internacionalmente muitos investigadores tem se

dedicado a pesquisar e produzir artigos e obras sobre a RSE mas em Moçambique, talvez por

ser ainda um tema novo, a produção científica sobre o tema é quase nula.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

5

Neste sentido, com o presente trabalho, pretende-se explorar este tema aprofundando a

sua aplicabilidade numa organização específica por forma a melhor clarificar os elementos e

indicadores que caracterizam a RSE e sua importância para as organizações.

Ao se estudar o tema numa empresa do contexto moçambicano, quer na perspectiva de

gestores, quer na perspectiva dos trabalhadores pretende-se, por um lado, perceber a visão da

organização sobre o tema e as razões das práticas associadas e, por outro, perceber o alcance

das práticas de RSE para os trabalhadores, pois são os recursos humanos que, acima de tudo,

agregam valor à organização e passam a imagem da mesma para o exterior.

O negócio baseado em princípios socialmente responsáveis, não só, cumpre as suas

obrigações legais, progredindo substancialmente. Tem por premissa relações éticas e

transparentes, assim como ganha condições de manter o melhor relacionamento com os

parceiros, os fornecedores, os clientes e os funcionários, o governo e a sociedade. Ou seja,

quem aposta em responsabilidade e diálogo vem conquistando mais clientes e o respeito da

sociedade. É verdade que muitas pequenas empresas já contribuem para a melhoria das

comunidades nas quais estão presentes. Mas, esta deve ser uma postura sistemática, para

enraizar valores como a solidariedade no nosso meio social.

Por outro lado, qualquer intervenção e análise nas organizações deve ser conduzida

através de instrumentos e indicadores devidamente testados e fiáveis para que possam auxiliar

na tomada de decisões. Este constitui também um dos contributos desta pesquisa, ao trazer

indicadores internacionais de medição da RSE procurando adaptá-los e testá-los numa empresa

que opera em Moçambique. Com efeito, a análise da aplicabilidade destes indicadores poderá

ser posteriormente extendida a outras organizações moçambicanas por forma a que, num futuro

breve, o país possa beneficiar de um instrumento com indicadores para medição da RSE nas

organizações.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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1.4 Estrutura do Trabalho

O presente trabalho encontra-se dividido em seis capítulos. No primeiro capítulo

apresenta-se o problema de investigação, os objectivos da pesquisa e sua relevância em termos

contextuais e de contributo práticos.

No segundo capítulo, procura-se abordar o tema numa perspectiva teórica, percorrendo

os conceitos principais, indicadores, modelos e práticas de RSE.

No terceiro capítulo, aborda-se a metodologia usada para conduir a pesquisa

apresentando o método, as técnicas usadas e os procedimentos de colecta e análise dos dados.

No quarto capítulo, apresenta-se os resultados da pesquisa tendo em conta os dados

colectadas a partir dos instrumentos definidos e procedimentos de colecta, procurando-se

caracterizar as práticas de RSE adoptadas pela empresa objecto de estudo na perspectiva dos

gestores e a percepção dos trabalhadores do cumprimento dos indicadores de RSE pela

empresa.

No quinto capítulo, faz-se a discussão dos resultados, confrontando-os com os elementos

apresentados na fundamentação teórica.

No sexto e último capítulo, apresenta-se as conclusões da pesquisa e endereçam-se

algumas sugestões de acções interventivas à empresa objecto de estudo à luz dos resultados

obtidos.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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7

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conceito de Responsabilidade Social Empresarial

A Responsabilidade Social é um conceito relativamente antigo. Sua origem remonta ao

final do Sec. XIX e inicio do Sec. XX, sendo Andrew Carnegie um dos pioneiros nesta área.

Mas a popularização do conceito ocorreu muito tempo depois. Apesar de não ser um conceito

recente, definir Responsabilidade Social é tarefa difícil, ou quase impossível nos dias de hoje.

Algumas definições procuram associar a ideia de Responsabilidade Social ao

compromisso social de contribuir para o desenvolvimento social, à preservação do meio

ambiente e ao dever ético da empresa em assegurar a transparência em seus negócios. Este tipo

de atitudes é positivo, pois educam as empresas a valorizar o seu público interno e externo.

A responsabilidade social pode ser definida como: “o relacionamento ético da empresa

com todos os grupos de interesse que influenciam ou são implantados pela sua actuação

(stakeholders4), assim como o respeito ao meio ambiente e investimento em acções sociais”

(Orchis et al., 2002, p.56).

A Responsabilidade Social envolve um compromisso permanente da empresa com o seu

público diverso e sociedade no geral. Compromisso aqui significa preocupação com os

resultados de suas acções e/ou projectos. Neste caso, a Responsabilidade Social vai além da

simples filantropia, doações ou ajudas esporádicas, onde o envolvimento da organização

termina geralmente com a acção social. As áreas de actuação de Responsabilidade Social são

muito abrangentes, assim como diversos públicos a serem atendidos. Assim, uma acção isolada

para a comunidade, por exemplo, mesmo que permanente e preocupada com resultados, não

pode por si só, caracterizar a organização como socialmente responsável. Diante disso, 4 O termo “Stakeholder” foi utilizado pela primeira vez por R. Edward Freeman no livro: “Strategic Management: A Stakeholder Approach”, (Pitman, 1984), para referir-se àqueles que possam afectar ou são afectados pelas actividades de uma empresa. Estes grupos ou indivíduos são o público interessado ("stakeholders"), que segundo Freeman deve ser considerado como um elemento essencial na planificação estratégica de negócios. (Wikipédia, 2008)

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

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surgiram algumas formas de avaliação da empresa, através de indicadores que possibilitam

classificá-la como socialmente responsável ou não. (Moretti, 2003)

Ainda não existe um conceito plenamente aceite sobre responsabilidade social.

Confunde-se, muitas vezes, responsabilidade social com “acção social”, reduzindo o seu

escopo com actividades corporativa e filantrópico. Isto acaba influenciado negativamente,

porque muda a essência do que se espera de uma conduta socialmente responsável das

empresas.

Segundo o Relatório da KPMG das 100 Maiores Empresas de Moçambique a RSE é

vista como o veículo através do qual o sector privado pode contribuir para a redução da

pobreza e outros objectivos sociais, que não seriam alcançados pelo governo agindo sozinho.

Isto quer dizer que nestas acções o retorno não existe. (KPMG, 2007)

A RSE, portanto, diz respeito à maneira como as empresas realizam os seus negócios: os

critérios que utilizam para a tomada de decisões, os valores que definem suas prioridades e os

relacionamentos com todo o público com os quais interagem. Pois é a partir daí que se pode

analisar a capacidade e a disponibilidade de apoiar a comunidade sem, contudo, desmotivar os

seus funcionários.

Assim, a forma como as empresas realizam os seus negócios define a sua maior ou

menor RSE. O conceito está pois relacionado com a ética e a transparência na gestão dos

negócios, devendo-se reflectir nas decisões quotidianas que podem causar impactos na

sociedade, no meio ambiente e no futuro dos próprios negócios. Simplificando, pode-se dizer

que a ética nos negócios ocorre quando as decisões de interesse de determinada empresa

também respeitam o direito, os valores e os interesses de todos aqueles que, de uma forma ou

de outra, são por elas afectadas. A falta de transparência na condução dos negócios pode

prejudicar não só os clientes e os consumidores, mas também a própria empresa. Se ela sonega,

por exemplo, uma informação importante sobre os seus produtos ou serviços, poderá ser

responsabilizada, mais tarde, por omissão.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

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Para Mueller (2003) a RSE refere-se a um estágio mais avançado do exercício da

cidadania corporativa. Na verdade, o princípio destas acções decorre da prática de acções

filantrópicas, as quais se desenvolveram através das atitudes e acções individuais de alguns

empresários. Só com o passar do tempo é que as acções de filantropia evoluíram do carácter de

caridade para a noção de consciência social, de bem comum e de dever cívico.

Para Neto e Froes (2001), existe uma grande diferença entre as acções de RSE e as

acções de filantropia. Estes autores afirmam que a responsabilidade social está diretamente

relacionada com a promoção da cidadania e com a sustentabilidade e a auto-sustentabilidade

das comunidades, enquanto a filantropia se baseia em acções assistencialistas que visam

contribuir para a sobrevivência de grupos sociais desfavorecidos.

Uma outra característica mencionada pelos autores acima refere-se à extensão das

acções de responsabilidade social, considerando que as mesmas abrangem toda a cadeia de

negócios da empresa, ou seja, o grupo de stakeholders, enquanto as acções de filantropia se

restringem ao âmbito dos empresários filantrópicos, concretizando-se através de doações a

grupos ou entidades.

Neste sentido, Neto e Froes (2001) salientam que as práticas de RSE requerem

planeamento, organização, sistematização, monitoria e avaliação e, particularmente, gestão

efectiva por parte de “empresas-cidadãs”, enquanto que as acções de filantropia prescindem

destes factores. Em resumo, a filantropia decorre de uma acção individual e voluntária,

enquanto a RSE parte de uma acção que visa o colectivo e tem por objectivo transformar uma

dada realidade, promovendo, principalmente, a inclusão social.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

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Tabela 1. Diferenças entre a filantropia e a RSE

FILANTROPIA RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL

Acção individual e voluntária Acção coletiva

Fomento da caridade Fomento da cidadania

Base assistencialista Base estratégica

Restrita a empresários filantrópicos e abnegados

Extensiva a todos

Prescinde de gestão Exige gestão

Decisão individual Decisão consensual

Fonte: Neto e Froes (2001, p.28)

Para Esteves (2000, p. 42), “responsabilidade social é tratar bem as pessoas, as quais

respondem positivamente, apóiam, colaboram, participam, admiram e são a sustentação da

empresa. Se o consumidor percebe que a empresa é responsável, certamente vai preferir seus

produtos.”

Por isso, as empresas tem vindo a desenvolver uma consciência cooperativa da sua

responsabilidade social, da sua cidadania empresarial. O exercício desta agrega valor à

economia e à sociedade, desde que calcado no desenvolvimento humano, social e ambiental

embasados por princípios éticos e morais de responsabilidade, respeito e solidariedade.

A emergência de um compromisso ético por parte do sector privado, num programa de

responsabilidade social, implica um posicionamento empresarial voltado não apenas para as

pessoas que se relacionam, directa ou indirectamente, com a organização. Repousa, sobretudo,

num posicionamento dirigido para o contexto sócio-ambiental em que esta insere.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

11

2.2 Razões para as Empresas adoptarem práticas de RSE

O Sector Empresarial enfrenta uma série de pressões e incentivos internos e externos

que quando tomadas com conjunto podem contribuir para um maior envolvimento da

comunidade empresarial em acções de RSE. Esta inclui a busca de novas oportunidades de

negócio através de inovações ambientais e sociais, recrutamento e retenção de pessoal, gestão

de risco de reputação, pressões de Organizações Não-Governamentais (ONGs), Sindicatos e

consumidores, exposição à imprensa, leis e regulamentos do governo. (KPMG, 2007)

Tornou-se hoje tradicionalmente as empresas incluírem nos seus programas, acções de

RSE. Estes programas podem ser virados para dentro, quando visam apoiar os trabalhadores,

creches para os seus filhos e a família em geral (centros sociais, alimentação para os

trabalhadores, creches para os seus filhos, centro de saúde que atende também as famílias dos

trabalhadores, entre outros) ou externos, quando se destinam a apoiar de forma altruísta

pessoas que não têm nada a ver com a empresa. (Revista Tempo, 2007, p.2)

Em primeiro lugar, esta prática não está infelizmente generalizada entre as empresas e

duvida-se, se em cada uma das cem maiores empresas Moçambicanas tem nos seus planos, e se

consequentemente prevêem nos seus orçamento, programas de responsabilidade social, isto

não por falta de condições, mas sim, por falta de conhecimentos de como são implementados

os indicadores de RSE. (KPMG, 2007)

Em segundo lugar, parece que as empresas, no sector da sociedade civil moçambicana

com mais recursos financeiros, ainda manifestam forte teimosia em investir de forma eficiente

em projectos sociais demonstrando fraco envolvimento e interesse desvinculado de

publicidade. “Não se pede às empresas para que cheguem ao extremo de “não saber a esquerda o que está a mão direita oferecendo”, mas há nas poucas empresas que praticam acções de responsabilidade social, uma forte preocupação em que elas sejam publicitadas. É muito provável até que os encargos com a publicidade dos seus feitos sejam maior do que os seus investimento em responsabilidade social. E talvez seja isso que desencoraja muitas empresas: aos custos dos problemas de responsabilidade social devem ser agregados avultados recursos para a publicidade”. (KPMG, 2007, p.18)

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

12

Isto é negativo porque acaba não havendo uma sensibilidade sobre a definição real de

RSE e as empresas acabam fazendo, apenas, os seus serviços de Marketing. Em terceiro lugar,

as empresas não têm dinâmica sobre o social (embora muitas empresas não estejam

conscientes disso e nem reconhecem ser uma lacuna) e nem existe uma coordenação entre elas

no que se refere aos projectos. Cada uma faz de acordo com a sua prioridade. (KPMG, 2007)

Assim a RSE passou a ser um jogo sem regras nem árbitros: as empresas fazem na

arbritráriamente, preocupando-se apenas com o crescimento da visibilidade da sua imagem.

Esta situação não estimula o surgimento de instituições credíveis para gerir recursos de

responsabilidade social. As empresas não a interiorizam se a fazem fazem-na mal. Quanto ao

Governo é um árbitro ausente; pois, perde a oportunidade de direccionar milhões de meticais

para complementar a acção do próprio Governo na hercúlea tarefa de redução da pobreza. Às

vezes pensamos que somos pobres porque não temos recursos financeiros. É preciso assumir o

lado mais dramático da pobreza: é ter-se recursos e não se ser capaz de usá-los! Ou nem

mesmo saber que se tem. (KPMG, 2007)

Como nos lembra Bueno (2003, p.28)

“Uma empresa socialmente responsável, como nos tem ensinado os colegas do Instituto Ethos, deve cumprir uma série de obrigações e compromissos, que incluem uma relação saudável com os funcionários, a obediência irrestrita às leis do País, uma comunicação ética e transparente, a preservação do meio ambiente e, o que seria óbvio, a fabricação e distribuição de produtos com qualidade e (importantíssimo!) não lesivos à sociedade (a lista inclui outros itens).”

As empresas podem buscar na actuação socialmente responsável um diferencial de

mercado que, entre outros benefícios, as credencia a ser fornecedoras de grandes empresas que

adoptam essa forma de gestão como critério de selecção.

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13

Além disso, as práticas empresariais socialmente responsáveis dão credibilidade à gestão

do negócio e facilitam na obtenção de crédito, por um lado e por outro lado, abrem-se

oportunidades de novos negócios, seja através de projectos de desenvolvimento local/regional

em parceria com outras pequenas ou grandes empresas, ou seja através da possibilidade de

atender novos tipos de consumidores e clientes.

Filho (2003) refere-se ao modelo que sintetiza a lógica do aumento do valor da empresa

a partir de acções socialmente responsáveis (vide figura 1). A lógica apresentada no modelo é a

que as empresas com uma conduta socialmente responsável na sua actividade diária podem

obter ganhos de reputação, alavancando oportunidades de negócios, reduzindo riscos

potenciais da sua conduta no mercado, preservando ou gerando aumento do valor da

organização.

Figura 1. Criação de Valor a partir da conduta socialmente responsável

Conduta socialmenteresponsável

Conduta socialmenteresponsável

Aumenta da reputaçãoAumenta da reputação

Geração deoportunidades

Geração deoportunidades

Minimizaçãode riscos

Minimizaçãode riscos

AUMENTO DOVALOR DAEMPRESA

AUMENTO DOVALOR DAEMPRESA

Fonte: Filho (2006)

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14

2.3 Dimensões e Indicadores de RSE

2.3.1 Dimensões de Archie Carroll (1979)

Ser socialmente responsável implica maximizar os efeitos positivos sobre os

stakeholders (funcionários, clientes, Consumidores, comunidade, fornecedores, governo,

proprietários e empregadores). Para atingir tal objectivo, Archie Carroll, em 1979, propõe a

subdivisão da RSE nas dimensões económica, legal, ética e filantrópica, como se esquematiza

na figura abaixo e se explica a seguir. (Filho, 2003)

Figura 2. Dimensões de RSE de Archie Carrol (1979)

ResponsabilidadeSocial

ResponsabilidadeSocial

FILANTRÓPICAFILANTRÓPICA LEGALLEGAL

ÉTICAÉTICA ECONÓMICAECONÓMICA

A responsabilidade Económica: Envolve as obrigações da empresa de serem

produtivas e rentáveis. A responsabilidade social da actividade de negócios é económica por

natureza, pois a instituição de negócios é a unidade económica básica de nossa sociedade

A responsabilidade Legal: Corresponde às expectativas da sociedade de que as

empresas cumpram suas obrigações de acordo com o arcabouço legal existente.

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15

A Responsabilidade ética: Refere-se às empresas que, dentro do contexto em que se

inserem, tenham um comportamento apropriado de acordo com as expectativas existentes entre

os agentes da sociedade.

A responsabilidade Filantrópica: Reflecte o desejo comum de que as empresas estejam

activamente envolvidas na melhoria do ambiente social. Esta última dimensão da

responsabilidade social vai, portanto, além das funções básicas tradicionalmente esperadas da

actividade empresarial, e pode ser considerada como uma extensão da dimensão ética.

2.3.2 Indicadores do Instituto Ethos

O instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social 5 do Brasil propõe um conjunto

de sete (7) indicadores de medição da RSE com base nos pressupostos do Global Compact6,

nomeadamente: (Moretti, 2003)

5 O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização não-governamental criada com a missão de

mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na

construção de uma sociedade sustentável e justa. Para mais informações consulte o website http://www.ethos.org.br 6 O Global Compact é uma iniciativa desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de mobilizar

a comunidade empresarial internacional para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, trabalho e

meio ambiente. Essa iniciativa conta com a participação das agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações

não-governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo e igualitário. Para

mais informações consult o website www.unglobalcompact.org

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Figura 3. Indicadores de RSE do Instituto Ethos

Indicadoresde RSE

Indicadoresde RSE

FornecedoresFornecedores

Consumidorese Clientes

Consumidorese Clientes

ComunidadeComunidade

Governo e SociedadeGoverno e Sociedade

Valores, Transparência e

Governança

Valores, Transparência e

Governança

Público internoPúblico interno

Meio ambienteMeio ambiente

Fonte: Moretti (2003)

Valores, Transparência e Governança: Condutas e decisões quotidianas são resultados

de valores e princípios que uma empresa tem. Ser socialmente responsável é atender às

expectativas sociais, com transparência, mantendo a coerência entre o discurso e a prática. Este

compromisso serve de instrumento para a existência de um bom relacionamento da empresa

com os públicos com os quais se relaciona. A postura socialmente responsável está incorporada

à empresa. Valores como ética, transparência, lealdade e qualidade estão presentes tanto nos

produtos da editora como no processo de selecção e na gestão da empresa, que semanalmente

reúne a equipa para debater problemas, rumos e diretrizes, ou mesmo para decidir sobre a

recusa de clientes que assumam uma postura social não-responsável.

Público interno: Empresas que valorizam os seus funcionários valorizam, na verdade, a

si mesmas. A empresa socialmente responsável procura fazer mais, além de respeitar os

direitos dos trabalhadores. Neste segundo passo, encontra-se ideias que vêm sendo aplicadas

com sucesso no aperfeiçoamento das relações trabalhador–empresa.

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17

Meio ambiente: Gerir com responsabilidade ambiental é procurar reduzir as agressões

ao meio ambiente e promover a melhoria das condições ambientais. As empresas, de um modo

ou de outro, dependem de insumos do meio ambiente para realizar as suas actividades. É parte

de sua responsabilidade social evitar o desperdício de tais insumos (energia, matérias-primas

sem geral e água).

Fornecedores: Todo empreendimento socialmente responsável deve estabelecer um

diálogo com os seus fornecedores, sendo transparente nas suas acções, cumprindo os contratos

estabelecidos, contribuindo para o seu desenvolvimento e incentivando os fornecedores para

que também assumam compromissos de responsabilidade social. É importante divulgar os seus

valores pela cadeia de fornecedores, empresas parceiras e serviços terceirizados. Pode-se

adotar como critério de selecção de parceiros a exigência de que os empregados de serviços

terceirizados tenham condições de trabalho semelhantes às dos seus próprios funcionários.

Portanto, a empresa deve evitar terceirizar serviços para organizações nas quais haja

degradação das condições de trabalho.

Consumidores e Clientes: Procedimentos de responsabilidade social no trato com

consumidores e clientes são essenciais. Desenvolver produtos e serviços confiáveis em termos

de qualidade e segurança, fornecer instruções de uso e informar sobre seus riscos potenciais,

eliminar danos à saúde dos usuários são acções muito importantes, visto que a empresa produz

cultura e influencia o comportamento de todos.

Comunidade: A relação que uma empresa tem com a comunidade à sua volta é um dos

exemplos principais dos valores com os quais está comprometida. Respeito aos costumes e à

cultura local, contribuição em projectos educacionais, em ONGs ou organizações comunitárias,

distintas de verbas a instituições sociais e a divulgação de princípios que aproximam o seu

empreendimento das pessoas ao redor são algumas das acções que demonstram o valor que

uma empresa dá à comunidade. Um entrosamento saudável e dinâmico com os grupos

representativos locais na procura de soluções conjuntas para os problemas comunitários fará da

empresa um parceiro da comunidade, reconhecido e considerado por todos.

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Governo e Sociedade: O relacionamento ético com o poder público, assim como o

cumprimento das leis, faz parte da gestão de uma empresa socialmente responsável. Ser ético,

neste caso, significa cumprir as obrigações de recolhimento de impostos e tributos, alinhar os

interesses da empresa com os da sociedade, comprometer-se formalmente com o combate à

corrupção, contribuir para projectos e acções governamentais voltados para o aperfeiçoamento

de políticas públicas na área social, entre outros. Ou seja, contribuir decisivamente para o

desenvolvimento de sua região e do país.

Tabela 2. Resumo de Indicadores e sub-indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social

Fonte: Moretti (2003)

Indicadores Sub-indicadores

Valores, Tranparençia e Governança Auto-Regulação de Conduta Relações Transparentes com a Sociedade

Público Interno

Diálogo e Participação Respeito ao Indivíduo Trabalho Decente

Meio Ambiente Responsabilidade frente às gerações futuras

Gestão do Impacto Ambiental

Fornecedores Selecção, Avaliação e Parceria com Fornecedores

Consumidores Dimensão Social do Consumo

Comunidade Relação com a Comunidade Local

Acção Social

Governo e Sociedade Transparência Política

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2.4 A Gestão da RSE nas Organizações

As organizações que adoptam a filosofia e práticas da RSE tendem a ter uma gestão mais

consciente e maior clareza quanto à própria missão. Conseguem um melhor ambiente de

trabalho, com maior cumprometimento de seus funcionários, relações mais consistentes com os

seus fornecedores e clientes e melhoram a sua imagem na comunidade. Tudo isso, contribui

para a sua permanência e seu crescimento, diminuindo o risco de mortalidade, que é alto entre

os novos negócios.

Ao assumirem uma postura comprometida com a RSE, macro e micro empreendedores

tornam-se agentes de uma mudança profunda cultural, contribuindo para a construção de uma

sociedade mais justa e solidária. (Neto e Brennand, 2004)

Diante da afirmação dos autores acima, é possível mencionar que uma empresa que

procura implementar uma gestão socialmente responsável necessita tomar suas decisões com

base na ética e na transparência de suas acções. Caso contrário, será facilmente reprimida pelo

seu público interno e externo.

Mueller (2003) esclarece que enfrentar as exigências sociais requer dinamismo na

gestão da RSE da empresa. As acções de gestão das empresas devem basear-se num foco de

actuação das acções sociais previamente definido. Esta etapa faz parte de um longo e contínuo

processo que compreende a gestão da RSE. Nesse caso, o exercício da cidadania empresarial se

dá em duas dimensões: a gestão da responsabilidade social interna e a gestão da

responsabilidade social externa. Por outras palavras, a gestão da responsabilidade social

implica na gestão das exigências de todos os stakeholders.

Alguns autores acreditam que o exercício da responsabilidade social deve começar com

uma conduta exemplar junto ao público interno das empresas, para só depois abranger o

público externo. Todavia, nem sempre ocorre este movimento. É comum as organizações

inverterem este processo, causando o descontentamento dos trabalhadores e, o que é pior,

criando um quadro de conflitos e de total desmotivação.

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De acordo com Mueller (2003) a responsabilidade social interna tem como foco

trabalhar o público interno da organização, desenvolver um modelo de gestão participativa e de

reconhecimento de seus trabalhadores, promovendo comunicações transparentes, motivando-os

para um desempenho óptimo. Este modelo de gestão interna compreende acções dirigidas aos

trabalhadores e dependentes, aos funcionários de empresas contratadas, terceirizadas,

fornecedoras e parceiras.

Cabe ressaltar que nem todos os autores estendem a rede de acções internas de

responsabilidade social ao público-alvo. Para alguns estudiosos, como por exemplo Neto e

Froes (1999), a responsabilidade social interna tem como foco o trabalhador e seus

dependentes. As acções socialmente responsáveis dirigidas a este público são desenvolvidas

com o objectivo de motivá-los para desempenhar com excelência as suas funções. Para isso, é

preciso criar um ambiente de trabalho agradável, melhorando o clima organizacional e a

interação entre os funcionários e os gestores de topo.

Mueller (2003) lista algumas das acções que as empresas podes implementar, visando a

prática da responsabilidade social interna:

Cuidar da qualidade de vida do trabalhador e investir nas instalações sanitárias;

Atender às necessidades básicas dos trabalhadores fornecendo cestas básicas para os

seus dependentes e realizando obras de infraestrutura, como por exemplo, a criação de

refeitório para o seu público interno, para empresas terceirizadas e contratadas;

Criar o hábito do uso de uniforme, contribuindo para melhorar as condições de

segurança no trabalho;

Buscar um Plano de Saúde e assistência odontológica que atenda a todos os

trabalhadores e familiares;

Cuidar das condições de habitação dos trabalhadores;

Implementar um Plano de Cargos e Salários;

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21

Implementar programas de reconhecimento e valorização do trabalhador como: Café

com o Director ou PCA, Trabalhador Destaque, Ginástica na Empresa, Participação nos

Resultados;

Investir na qualificação dos trabalhadores através de programas de capacitação e

treinamento, internos e/ou externos, visando a sua melhor qualificação profissional e

nível de escolaridade.

Como já foi mencionado anteriormente, algumas empresas preferem investir no

exercício da responsabilidade social externa, que tem como foco a comunidade, estando as

suas acções orientadas para áreas como a educação, a saúde, a assistência social e a ecologia.

Ainda de acordo com Mueller (2003), a realização de acções de responsabilidade social externa

pode ocorrer através de:

Doações de produtos, equipamentos e materiais em geral;

Transferência de recursos em regime de parceria para órgãos públicos e ONGs,

beneficiando escolas públicas, visando uma educação de qualidade, viabilizando cursos

técnicos, estágios e a formação de futuros profissionais;

Prestação de serviços voluntários para a comunidade pelos trabalhadores da

organização, reformando creches e asilos;

Aplicação de recursos em actividades de preservação do meio ambiente, adotando uma

praça, reciclando o lixo da empresa ou através da colecta selectiva;

Patrocínio para projectos sociais do governo;

Investimento directo em projectos sociais criados pela própria organização;

Investimento em programas culturais.

A tabela abaixo, sistematiza as características da responsabilidade social interna e da

responsabilidade social externa.

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22

Tabela 3. Características da RSE Interna e Externa

RSE Interna RSE Externa

Foco Público interno (trabalhadores e seus

dependentes)

Comunidade

Áreas de

Actuação

Educação

Salários e benefícios

Assistência médica, social e odontológica

Educação

Saúde

Assistência social

Ecologia

Instrumentos

Instrumentos de Recursos Humanos

Planos de previdência complementar

Doações

Programas de voluntariado

Parcerias

Programas e projetos sociais

Tipo de Retorno

Retorno de produtividade

Retorno para os acionistas

Retorno social propriamente dito

Retorno de imagem

Retorno publicitário

Retorno para os acionistas

Fonte: Mueller (2003)

A respeito do retorno de produtividade citado por Mueller (2003) na tabela acima,

Souza (2002) realizou uma pesquisa onde analisou em que medida existe maior

comprometimento dos funcionários em relação à empresa quando a mesma está

administrativamente envolvida em políticas responsáveis. Baseando-se nas atitudes

ambientalmente responsáveis, bastante utilizada pelas empresas como as políticas ambientais,

procurou evidenciar esta questão tendo chegado às seguintes conclusões:

É possível um trabalhador acreditar que a sua empresa é socialmente responsável e por

causa disto se empenhar mais no serviço;

É possível o funcionário adquirir respeito por sua empresa, caso ela se interesse e

acionalize ações sociais;

É possível que a responsabilidade social realizada pela empresa impacte sobre o

comportamento dos seus funcionários;

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23

Provavelmente haverá alteração positiva no comportamento do funcionário ao perceber

a postura da sua empresa em relação às políticas sociais;

O relacionamento mútuo pode conduzir à melhoria da qualidade do comportamento

organizacional.

Boas políticas de RSE, além de atenderem às carências da sociedade, servirem à empresa

por causa de uma série de razões, também podem servir como um ‘instrumento’ gerador de

interesse mútuo entre a empresa e seus trabalhadores alterando o comportamento

organizacional. Mas, é evidente, que precisa de haver, por parte da organização, um

entendimento correcto sobre o conceito de RSE. O estudo procurou romper com o paradigma

de que os funcionários só se importam com os seus salários e bem-estar, mesmo porque esta

idéia, há muito tempo, não condiz com a realidade e acredita que para se ter maiores

esclarecimentos é necessário entender bem o que significa responsabilidade social praticada

pela empresa também na visão dos funcionários. Contudo a boa comunicação seria essencial

para interligação destas idéias e compreensões. (Souza, 2002)

Relativamente ao retorno sobre a imagem da empresa, retorno publicitário e,

consequentemente, retorno para os accionistas, o estudo de Peixoto (2008) sustenta a idéia de

que existe um segmento de mercado significativo que considera o nível de RSE das empresas

nas suas decisões de compra. As empresas possuem, portanto, uma oportunidade de focar nesse

público, atingindo os seus objetivos, ao mesmo tempo em que contribuem para a sociedade.

Com base nos resultados do estudo, todas as hipóteses iniciais de que (1) alguns consumidores

de refrigerantes estão dispostos a trocar de marca para contribuir com um programa social; (2)

alguns consumidores de refrigerantes estão dispostos a abrir mão do aspecto calórico para

contribuir com um programa social e (3) alguns consumidores estão dispostos a pagar um

pouco mais por um mesmo refrigerante, a fim de contribuir para um programa social foram

comprovadas.

Peixoto (2008) afirma serem muitas as vantagens de uma empresa ser socialmente

responsável, nomeadamente:

Empresas que não poluem, por exemplo, evitam pagar multas.

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24

Empresas que tratam bem os seus funcionários tendem a receber de volta uma

maior produtividade e lealdade, menor turn over e menores custos de absenteísmos.

Empresas que geram produtos e serviços de qualidade geram consumidores

satisfeitos e fiéis que voltam a comprar da empresa.

Empresas que tratam bem a comunidade recebem diversos retornos, entre eles,

melhor infraestrutura para apoiar a empresa a longo prazo e menores restrições do

mercado.

Gildea (1995), também chegou a conclusões semelhantes à de Peixoto (2008) pois, na

sua pesquisa, mostra que 47% dos consumidores americanos comprariam mais de uma

empresa que é socialmente responsável se os produtos oferecidos pela concorrência fossem

iguais. Os consumidores continuariam preocupados com o preço, qualidade e serviço, mas

também baseariam as suas decisões de compra nas práticas de negócio da empresa, como ela

trata os seus trabalhadores, se ela investe na comunidade, preocupa-se com o meio ambiente e

se tem um histórico de estabilidade.

Fica claro, portanto, que, além dos ganhos no curto prazo, a associação de RSE à marca

pode trazer outros benefícios a longo prazo, criando uma imagem positiva entre os

funcionários, consumidores, fornecedores e comunidade, facilitando um relacionamento de

confiança e respeito entre todos os stakeholders, fortalecendo a marca, melhorando a reputação

da empresa, além de atender às expectativas de uma parcela significativa dos seus

consumidores. (Peixoto, 2008)

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25

2.4.1 Práticas de RSE no Cenário Internacional

No cenário internacional muitas são as pesquisas e relatos de exemplos de práticas e

acções de RSE com foco nos diferentes públicos, conforme anteriormente abordado. Faz pois

necessário analisar alguns desses exemplos numa tentativa de operacionalização de uma série

de indicadores de RSE que se tem estado a abordar no âmbito do presente trabalho.

Bacellar e Knorich (2004), por exemplo, relatam o caso do Grupo Pão de Açúcar que

criou em dezembro de 2002 o projecto Caras do Brasil para incentivar a produção e a

comercialização de produtos que tenham o desenvolvimento sustentável como base de

produção, valorizando aspectos como geração de riqueza das comunidades e fixação nos seus

locais de origem. O projecto procura atender também o consumidor consciente, que avalia não

só o produto final, mas também toda a cadeia produtiva, da produção ao descarte.

O Grupo Pão de Açúcar apresenta, assim, uma série de critérios e pré-requisitos para as

empresas, entidades ou comunidades interessadas em figurar como fornecedoras de

mercadorias, tais como:

Ser uma empresa legalmente constituída, portanto, habilitada a emitir nota fiscal de

venda, de recolha de impostos e de encargos cabíveis.

Obedecer a todas as leis nacionais, dos estados e municípios, exigências

administrativas, tratados e acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Possuir conta bancária – pessoa jurídica – em nome do emissor da nota fiscal.

Demonstrar e praticar repúdio ao trabalho infantil.

Respeitar os direitos dos povos indígenas.

Respeitar os direitos de uso da terra de longo prazo.

As comunidades locais com direitos legais ou tradicionais de posse ou uso da terra

devem:

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Manter o controlo sobre as operações florestais, a menos que deleguem-no a outras

pessoas ou entidades, de forma livre e consciente.

Agir de acordo com a responsabilidade ambiental como um todo, levando em conta o

uso de pesticidas e outros agentes químicos, de agentes de controle biológico, os

cuidados com a erosão e com a preservação de recursos hídricos, o respeito aos planos

de manejo que garantam a sustentabilidade, o respeito às áreas de alto valor de

conservação e aos demais elementos relacionados com a qualidade ambiental.

Obedecer às leis referentes às questões sanitárias (quando aplicáveis). Os proponentes

eleitos dentro dos pré-requisitos citados são posteriormente analisados em outros

tópicos, permitindo a construção de um quadro completo de suas reais possibilidades de

participação no programa.

McDonald’s, ABN–Am e Axial Par

No âmbito do foco interno e externo da RSE, Nunes (2002) desenvolveu uma pesquisa

sobre as acções de RSE junto a uma amostra de 577 empresas do Estado do Rio de Janeiro no

Brasil tendo obtido, entre outros, alguns resultados interessantes, nomeadamente:

1. O estudo revela que, as áreas principais de actuação da RSE interna por mais de

metade das empresas, relacionada com a área de Recursos Humanos, são a

alimentação e a saúde (vide figura 3).

Figura 4. Principais áreas de actuação da RSE interna de Empresas do Rio de Janeiro, 2002

Fonte: Nunes (2002)

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27

2. O estudo revela que, ainda no âmbito da RSE interna, é minoritário o número de

empresas que adoptam práticas diferenciadas de RSE em relação aos seus

trabalhadores (vide figura 4). Entre as práticas pesquisadas, a política preferencial

pela contratação de pessoas desempregadas foi a mais frequente (declarada por pouco

mais de um quarto das empresas) o que sugere a existência de uma certa

sensibilidade na iniciativa privada para a problemática do desemprego. Outras

práticas mencionadas na pesquisa foram as normas que proibem práticas

discriminatórias no ambiente de trabalho, contratação de pessoas portadoras de

deficiência e programa especial para a contratação desses profissionais e, finalmente,

a política preferencial para a contratação de pessoas com mais de 45 anos.

Figura 5. Empresas do Rio de Janeiro que adoptam práticas diferenciadas de RSE interna, 2002

Fonte: Nunes (2002)

3. Dentre as empresas que já actuavam para a comunidade, a maioria o faz através de

acções que se dirigem à assistência social e alimentação (vide figura 5). A educação e

a saúde aparecem apenas em terceiro e quarto lugar respectivamente. Nota-se que a

qualificação profissional – área que tem sido percebida pelas empresas como de

maior repercurssão no bom desempenho dos seus negócios – não figura entre as mais

escolhidas como campo de actuação no âmbito da RSE interna. Áreas mais recentes

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28

como objecto de investimento social empresarial, tais como meio ambiente e

segurança, por exemplo, aparecem com bem menos indicações. A defesa de direitos

não foi citada por nenhuma empresa, embora seja uma área subjacente a outras nas

quais as empresas actuam com frequência (tais como assistência social, alimentação

ou educação, todas elas resguardadas constitucionalmente como objectos de direitos).

Isto sugere que a defesa de direitos pode estar a ser vista ainda como tema exclusivo

da actuação das ONG´s, organizações sindicais ou movimentos sociais.

Figura 6. Práticas de RSE das Empresas do Rio de Janeiro em benefício da Comunidade, 2002

Fonte: Nunes (2002)

4. A figura 6 abaixo revela que, no âmbito desta pesquisa, ao analisar-se o tipo de

actuação adoptadas pelas empresas para apoio à comunidade, a grande maioria das

empresas ainda actua preferencialmente por meio de acções filantrópicas

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29

convencionais, tais como doações materiais e doações em dinheiro. Acções que

sugerem a existência de um posicionamento mais desenvolvido por parte da empresa

na área do investimento social, tais como o apoio a projectos realizados pela própria

comunidade ou a prestação de serviços para a comunidade com a utilização de

conhecimentos ou tecnologias da própria empresa, aparecem com percentagem

menor.

Figura 7. Tipos de Actuação adoptadas pelas empresas no Rio de Janeiro para apoio à Comunidade, 2002

Fonte: Nunes (2002)

5. O estudo revela também que, no âmbito da RSE interna, com foco para a área

ambiental, a maioria das empresas adoptam práticas de responsabilidade ambiental

relacionadas com a procura da redução do consumo de insumos e com a adopção de

normas e procedimentos de prevenção de riscos à saúde e segurança dos funcionários

(vide figura 7).

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Figura 8. Empresas do Rio de Janeiro que adoptam práticas de Responsabilidade ambiental , 2002

Fonte: Nunes (2002)

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31

Bacellar e Knorich (2004) relatam também o caso da “De Nadai”, empresa de

alimentação industrial localizada em São Paulo, Brasil em que a adopção de práticas de RSE é

uma das razões do seu sucesso. A empresa foi a primeira do Brasil e também a primeira do

sector alimentício em todo mundo a receber a certificação pela norma SA 8000, que tem como

objectivo garantir condições de trabalho e segurança aos funcionários.

Com os fornecedores, o primeiro passo foi a informação. A De Nadai elaborou um

manual sobre a SA 8000, explicando-lhes todas as exigências da norma. Depois solicitou que

enviassem uma carta à empresa, comprometendo-se com o cumprimento das premissas básicas

da SA 8000.

Como clarificam Bacellar e Knorich (2004), segundo a SA 8000, a empresa que utiliza

mão-de-obra adolescente não pode demitir e tem que adaptar um horário de expediente que

garanta ao jovem não ultrapassar as dez horas diárias entre a escola e o trabalho. Para cumprir

a regra, a solução encontrada foi a redução do horário de funcionamento como no caso do

almoxarifado, que era das 10 às 17 horas, para um período de cinco horas, com intervalo de

uma hora.

Neto (2003) exemplifica o caso do Banco do Brasil como uma instituição com um longo

trajecto histórico e cultura de RSE. O Banco do Brasil definidou quatro vertentes de

responsabilidade social: governança, negocial, social e ambiental. A expectativa é que a gestão

eficaz dessas dimensões atraia novos clientes, fidelize os actuais, estimule a parceria entre

funcionários e fornecedores, valorize a imagem institucional do Banco e o seu papel na

sociedade, garantindo a sustentabilidade da empresa e o retorno para os accionistas.

A aliança entre resultados e responsabilidade social norteia a administração do Banco. A

instituição investe na relação com os seus funcionários, meio ambiente, accionistas, clientes,

fornecedores e governo, por meio de iniciativas que contribuem para a qualidade de vida no

País e para a disseminação de uma conduta ética e responsável. As iniciativas do Banco,

voltadas para a área social, expressam parceria significativa da contribuição do Banco do

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32

Brasil à sociedade, que também se revela no apoio ao desenvolvimento nacional, por meio de

sua extensa rede de distribuição, na condução de programas governamentais, no crédito às

micro e pequenas empresas, no crédito rural, no comércio exterior e na geração de emprego e

renda.

O balanço social tem se solidificado como um instrumento de gestão e de informação

pelo qual o Banco do Brasil demonstra o cumprimento de sua função social, da forma mais

transparente possível, aos mais diferenciados usuários, entre estes e seus funcionários. De

acordo com Neto (2003) a função do balanço social vai além de uma complementação às

informações contabilísticas de uma empresa. Tal relatório permite uma compreensão completa

das actividades, operações da empresa e dos seus impactos e expressa as acções de

compromisso social e ambiental da organização. Possibilita também que a empresa possa

planear, avaliar e aperfeiçoar as suas actividades. Para além disso, o balanço social estimula o

controlo social, bem como o uso de incentivos fiscais ou outros mecanismos de compensação

de gastos com trabalhadores, ajuda na identificação de políticas de recursos humanos e ainda,

serve de parâmetro de acções dos diferentes sectores e instâncias de qualquer empresa, no

campo das políticas sociais.

Outras grandes empresas, como a rede McDonald´s e o Banco Real/ABN-Amro impõem

uma série de critérios para a selecção de fornecedores de todos os portes, inclusive grandes e

pequenas empresas, ao mesmo tempo que as ajuda a atingir as exigências feitas. Esses critérios

são em grande parte baseados em princípios da responsabilidade social. O “Axial Par” é um

fundo que age da mesma forma na hora de investir em pequenos negócios: impõem critérios de

gestão socialmente responsável e ajuda as empresas pré-selecionadas a transformarem sua

gestão. (Bacellar e Knorich, 2004)

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

33

2.4.2 Práticas de RSE no Cenário Nacional

No contexto empresarial moçambicano, algumas iniciativas de RSE começam a emergir,

face a uma economia de mercado cada vez mais competitiva e a um consumidor que começa a

estar mais consciente e exigente. Embora pouco documentadas e divulgadas, procura-se de

seguir apresentar algumas dessas práticas de RSE que tem vindo a ser adoptadas por empresas

baseadas em Moçambique.

Na sua revista de bordo ÍNDICO, a Linhas aéreas de Moçambique (LAM) demonstra

que, entre os anos 2004 e 2006, quase triplicou o valor investido em acções de RSE, programa

que tem como premissa as políticas de benefícios sociais e o acordo Empresa – sindicato, bem

como a de patrocínios e apoios definidas e aprovadas pelo conselho de administração da

empresa e que estão em consonância com a Missão, visão e valores desta transportadora aérea

de bandeira. (LAM, 2007)

Trata-se de um programa que está dividido em duas vertentes, a interna e externa. A

empresa procura adequar os seus serviços, em particular na continua satisfação dos seus

colaboradores mediante os chamados benefícios de recompensa adaptadas às novas tendências

de gestão das organizações. E reforçando a auto-estima e orgulho de ser moçambicano. (LAM,

2007)

Nos últimos vinte anos, a LAM levou a cabo iniciativas de RSE, com o objectivo de

garantir um clima propício à boa vontade e satisfação dos colaboradores, as acções de

assistência social direcionadas aos seus colaboradores e familiares. Tais acções incidiram

especialmente no regulamento de benefícios sociais, dos quais se destacam a concessão de

facilidades de transporte aéreo para colaboradores e seus familiares, assistência medica no Pais

e no exterior, apoio na aquisição de material escolar para os filhos, para além de outro tipo de

apoios. (LAM, 2007)

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

34

Este projecto investe em realizações sociais especificamente, nas vertentes da Educação,

cultura, desporto e qualidade de vida, bem como na problemática do HIV/ SIDA. Nesta última

vertente, dá-se ênfase à não discriminação aos infectados – afectados pela pandemia.

De entre outros realizações de vulto desta companhia, direcionadas para as comunidades

locais, no âmbito da referida responsabilidade, há a salientar, por exemplo, a parceria com o

projecto “ um olhar de esperança”, a abertura de bibliotecas destinadas a jovens dos ensinos de

nível médio e superior, parceria com instituto de Coração para o transporte de crianças

provenientes dos distritos e capitais provinciais a requererem cuidados especiais e o programa

de desenvolvimento de novas habilidades para a vida por parte dos colaboradores. (LAM,

2007)

No âmbito da RSE externa, foi criado o Fórum Empresarial para o Meio Ambiente

(FEMA), ONG estabelecida em Moçambique desde 1996 com vista a representar o sector

privado no que concerne a questões ambientais. 7 O FEMA integra hoje, mais de noventa das

maiores empresas privadas do país e concentra a sua atenção nas seguintes Áreas-chaves:

Promoção e divulgação direcionada ao aumento da consciencialização ambiental

das organizações privadas e investidores em vários partes do País;

Assistência Técnica com vista a facilitar e a promover investimentos em

empresas ambientalmente sãs, que ajudarão a minimizar a poluição ambiental e a

melhorar a gestão de recursos.

A sua missão é de promover o desenvolvimento sustentável em Moçambique, através da:

Facilitação do diálogo entre os sectores público e privado, relativamente ao

desenvolvimento sustentável, sua legislação, políticas e práticas;

O apoio aos seus membros com perícia relevante ou informação, incluindo

exemplos das melhores práticas do sector empresarial;

Demonstração dos benefícios associados e oportunidade de desenvolvimento

sustentável para o sector empresarial e industrial;

7 Workshop sobre Responsabilidade Social, organizado pelo FEMA, Hotel Polana, Maputo, Março/2008

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

35

Aumento da consciencialização para as questões relacionadas com o

desenvolvimento sustentável em Moçambique.

Num workshop organizado recentemente em Maputo pelo FEMA sobre o tema RSE, esta

ONG divulgou um estudo que realizou entre Fevereiro e Maio de 2007 junto de empresas

nacionais sobre o conceito de RSE. O referido estudo apontou como resultados que as

empresas em Moçambique, associam o conceito de RSE a 4 áreas, nomeadamente:

49% assistência ao governo no construção de infra-estruturas sociais e proteção

ambiental

26% assistência às escolas

21% apoio à comunidade a volta

4% Marketing

No mesmo workshop, estiveram presentes diversas empresas que partilharam as suas

práticas de RSE tendo-se colectado o testemunho das práticas de duas empresas afiliadas do

FEMA: A Serviços Internacionais de Portos em Moçambique (MIPS) e o Millenium BIM.

A MIPS é uma empresa com alto nível de ética profissional, esclarecida e orientada para

o futuro, e a sua Política de RSE foi concebida para maximizar a compatibilidade das suas

actividades com o meio ambiente e contribuir para a promoção do bem-estar e

desenvolvimento dos trabalhadores e da comunidade em sua volta. Em relação aos

trabalhadores a empresa tem desenvolvido práticas de RSC nas seguintes áreas:

Saúde/HIV

Formação

Segurança no trabalho, com vista a reduzir doenças, o absentismo, os custos em

saúde dos trabalhadores e aumentar a produtividade

Nos projectos que envolvem a comunidade, a MIPS tem as seguintes programas e

actividades:

Movendo vidas: desporto de deficientes e promoção de auto-emprego

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

36

Humanizando vidas: Roupas, camas, rancho, sementes para machamba e bolsa de

estudos com emprego na MIPS.

Outras actividades: furo de água em Massinga, intervenção nas calamidades e

reabilitação de hospitais.

O Millenium BIM desenvolve, também uma política activa de patrocínios, donativos e

mecenato. A função social desda instituição bancária tem sido entendida, como componente

fundamental da sua missão, traduzida no exercício da sua responsabilidade social presente na

comunidade em que se insere.

Dando continuidade ao seu programa de RSE, promoveu o projecto “ mais Moçambique

para MIM”, lançado em 2006, em parceria com a fundação Lurdes Mutola, como forma de

educar as crianças “flores que nunca muncham”.

Neste âmbito, promoveu e patrocinou vários eventos com forte função social, de que são

exemplos, o Programa “Olhos de Moçambique 2006”, o Torneiro Mini Basquete Millenium

Bim” que envolve milhares de jovens e a construção da Escola Primária Nhancuco, na

Gorongosa. Este tipo de projectos serve para valorizar a vida e estimular os Moçambicanos na

sua capacidade de sonhar, superar e de realizar esses mesmos sonhos.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

37

MÉTODO

3.1 Modelo teórico de Referência

O modelo teórico de referência para a condução da presente pesquisa foi o modelo dos

sete (7) indicadores de RSE desenvolvido pelo instituo Ethos de Responsabilidade Social do

Brasil, em 2002, já apresentado no capítulo da fundamentação teórica. O referido modelo foi

selecionado pelo facto de ser um dos mais citados na literatura, o que melhor estuda as várias

faces da RSE, sendo portanto, um modelo abrangente, robusto e consistente.

3.2 Tipo de Investigação

Sabe-se que toda e qualquer pesquisa deve necessariamente adotar técnicas e seguir

determinados métodos. É, certamente, o curso a ser percorrido quando se pretende construir

conhecimento, articulando a teoria com a realidade empírica. Para Minayo (1994, p. 16),

“enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente,

elevado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática”.

Quanto à natureza, as pesquisas podem ser exploratórias, descritivas ou explicativas.

Assim, no processo de produção do conhecimento desta pesquisa, adoptou-se o estudo

exploratório e descritivo. O estudo exploratório permitiu aumentar os conhecimentos da

pesquisadora em relação ao tema e ao problema de pesquisa, especialmente no momento de

construção da fundamentação teórica. Enquanto que o estudo descritivo propiciou a descrição

da realidade pesquisada com a precisão autorizada pelos dados colectados.

Para Gil (1994, p. 44), “as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade

desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vista à formulação de problemas

mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

38

Este mesmo autor menciona que a pesquisa do tipo exploratória é freqüentemente

utilizada “quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular

hipóteses precisas e operacionalizáveis” (Gil, 1994, p. 45), como é o caso dos indicadores de

responsabilidade social empresarial.

Neste sentido, estudar a perspectiva de gestores e trabalhadores da CCS sobre práticas e

indicadores de RSE exigiu da pesquisadora o entendimento do tema e a investigação

exploratória sobre a realidade pesquisada, sobretudo no que se refere aos termos conceituais e

à prática de acções socialmente responsáveis.

Por outro lado, o estudo exploratório, além de contribuir para aprofundar o

conhecimento em torno das questões teóricas relativas ao tema de pesquisa, propiciou

posteriormente a investigação da empresa escolhida como um recorte empírico. Nesta etapa, a

pesquisadora manteve contatos informais com alguns gestores da empresa, procurando

conhecer a organização e obter maiores informações a respeito da mesma.

Em relação à pesquisa de campo, a metodologia adoptada privilegiou o estudo de caso,

que se caracteriza “pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a

permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo” (Gil, 1994, p.78). Tratando-se portanto

de um estudo de caso de natureza exploratória e descritiva, realça-se que os resultados

apurados não poderão ser generalizados para outras organizações, limitando-se apenas à

realidade da empresa estudada.

A estratégia utilizada para a condução da pesquisa baseou-se na combinação de uma

abordagem qualitativa e quantitativa. Segundo Richardson e Colaboradores (1999) a

abordagem qualitativa consiste numa tentativa de compreensão detalhada dos significados e

características situacionais apresentadas pela população em estudo. Enquanto Oliveira (2001)

esclarece que a abordagem quantitativa, visa quantificar opiniões e dados na formas de

colecta de informações e adopção de técnicas estatísticas de tratamento de dados.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

39

3.3 População e Amotra

A população deste estudo foi definida como sendo todas as unidades organizacionais da

empresa Coca-Cola Sabco (CCS) Moçambique da região sul do país que inclui Maputo e

Machava com um total de 345 trabalhadores.

A CCS é uma empresa multinacional que faz parte de um dos grandes grupos da “The

Coca-Cola Company” o grupo South African Bottling (Sabco). Tem a sua sede em Port

Elizabeth, República da África do Sul e tem como principal actividade engarrafar os produtos

da “ The Coca-Cola Company” nomeadamente, refrigerantes em garrafa de trezentos mililitros

e de um litro, refrigerantes em latas de trezentos e quarenta mililitros, com os sabores: Coca-

Cola, Sprite, Sparleta e Fanta e sumo Bibo em pacotes de duzentos mililitros com sabores a

limão, amora, maçã, ananás e laranja.

Foi no dia 6 de Maio de 1994 que reiniciou a produção de Coca-Cola em Moçambique.

A SOSUN (a empresa assim chamada na altura) veio responder à necessidade da “The Coca-

Cola Company” de instalar uma fábrica em Moçambique.

Em Maio de 1993, a Sabco, comprou as acções da SOSUN sendo neste momento

detentora de 60% do capital, e sendo os restantes 40% pertença do Estado moçambicano. A

sede ficou instalada na Machava, província de Maputo, onde funciona a principal unidade

fabril. No início da sua actividade, a fábrica tinha apenas 55 trabalhadores, que transitaram da

Sogere. Um ano depois, a fábrica foi inaugurada numa cerimónia que contou com a presença

de altas individualidades do estado e dos accionistas, entre as quais, o então Ministro da

Industria e Energia, Octávio Muthemba, em representação do Presidente da República e Phil

Gusche, presidente da South African Bottling Company.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

40

Em Agosto de 1995, a empresa adquiriu a “DISTRIBUIDORA” na avenida OUA em

Maputo onde estão instalados os seus escritórios. No mesmo ano, abriu um depósito de vendas

em Xai-Xai, que actualmente funciona na Macia resultante da fusão deste e de outro que

funcionava em Chókwe e ainda o depósito de vendas da Maxixe.

Em Março de 1996 a empresa mudou a sua designação para Coca-Cola Sabco

(Moçambique) Sarl, mudança essa que se deveu ao facto de a Sabco, a empresa que detém

60% das acções, ter entrado em “Joint Venture” com a “THE COCA-COLA COMPANY”. A

figura abaixo ilustra a actual estrutura orgânica da CCS.

Figura 9. Estrutura Orgânica da CCS

COUNTRY MANAGER: Saider Sibanda

Stephen Akyoo

Country ME Mgr.

Country PF Mgr.

Country HRMgr.

Country DF Mgr.

Country DC Mgr.

Antony Njenga Gavin Dehning Paulo RobertsKenneth Kamulegeya

CMT STRUCTURE

Country PAC Mgr.

Innocent Jam

Fonte: CCS (2007)

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

41

Para alcançar a visão, o objectivo da Coca-Cola Sabco é aumentar continuamente, as

vendas de caixas unitárias do seu produto de uma forma sustentável e lucrativa, satisfazendo

potenciais consumidores, através da prestação de serviços excelentes aos seus clientes. Para

alcançar a sua visão e o seu objectivo com sucesso, a empresa é direccionada a satisfazer o

consumidor através do cliente, baseada na competência através da capacitação e orientação

para o trabalho em equipa.

Da população do estudo foram seleccionados três gestores para a realização de

entrevistas, nomeadamente: o gestor de Relações Públicas e Comunicação, o gestor de

Marketing e o gestor de Recursos Humanos.

Da mesma população foi seleccionada uma amostra aleatória de 75 trabalhadores, entre

pessoal administrativo e operário para a aplicação do questionário da pesquisa,

complementando assim os dados das entrevistas com os gestores da empresa por forma a

responder aos objectivos da pesquisa.

A amostra, foi definida a partir de uma lista de todos os trabalhadores do universo

estudado fornecida pela empresa, seguindo-se o critério de selecção dos números pares da

referida lista. Dos 75 trabalhadores a quem foram endereçados os questionários apenas 50

devolveram-no devidamente preenchidos.

Conforme se apresenta na tabela 4, dos 50 trabalhadores da amostra 76% são do sexo

feminino, 56% tem idade igual ou superior a 30 anos, 70% estão na CCS a ≥ 7anos. Em termos

de formação, a maioria dos trabalhadores da amostra possui a licenciatura (36%) e o nível

técnico médio (34%). Esta percentagem próxima de trabalhadores com nível médio e

licenciatura em termos de formação deve-se ao facto de a empresa operar praticamente aos

dois níveis – administrativo (áreas financeira, recursos humanos, comercial e vendas) e o

operariado (processo de produção e armazenamento dos produtos na fábrica).

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

42

Tabela 4. Perfil da amostra de Trabalhadores inquiridos da CCS

Variável

Frequência Percentagem

(%)

Sexo

Masculino 38 76%

Feminino 12 42%

Total 50 100%

Idade

Menos de 30 anos 28 56%

De 30 - 40 anos 21 42%

De 40 - 50 anos 1 2%

Total 50 100%

Nivel de Formação

Licenciatura 18 36%

Bacharelato 4 8%

Médio 17 34%

Básico 11 22%

Total 50 100%

Anos Serviço

Menos de 3 20 40%

De 4 - 7 15 30%

De 8 - 11 4 8%

Mais de 11 11 22%

Total 50 100%

Fonte: Questionário de Pesquisa

3.4 Técnicas e Instrumentos de Investigação

A pesquisa bibliográfica e documental foram essenciais para o desenvolvimento do

estudo, representando a opção de procura por contribuições ao tema abordado no trabalho.

Além de livros e artigos científicos, a pesquisa bibliográfica e documental envolveu,

principalmente, inúmeras consultas a sites da Rede Mundial de Informação — a Internet, bem

Yolanda Natália Abel Mapengo

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43

como a leitura de textos extraídos de revistas e jornais, além dos documentos da empresa

pesquisada.

Segundo Oliveira (2001, p.119), a pesquisa bibliográfica visa “conhecer as diferentes

formas de contribuição científica que se realizam sobre determinado assunto ou fenómeno”.

De acordo com Gil (1996) este tipo de técnica de pesquisa apresenta a vantagem de

possibilitar ao investigador cobrir uma série de fenómenos muito mais ampla do que aquela

que podia pesquisar directamente. No âmbito do presente estudo, a pesquisa bibliográfica

consistiu na análise de obras científicas, artigos científicos e teses académicas quer em

formato impresso, quer em formato electrónico.

Na perspectiva de Marconi e Lakatos (2002), a pesquisa documental consiste na análise

de fontes primárias na forma de documentos escritos ou não. No âmbito do presente estudo, a

pesquisa documental fui útil para colectar informação sobre a instituição objecto da pesquisa

e sobre práticas de RSE em empresas nacionais.

A entrevista foi outra das técnicas adoptadas para a colecta de dados no campo. Ela teve

um carácter aberto e foi destinada a alguns gestores da empresa por forma a perceber-se

melhor as políticas e práticas de RSE da CCS. Um guião com algumas questões orientadoras

para a entrevista foi elaborado pela pesquisadora, conforme se pode verificar no anexo 1 deste

trabalho.

O questionário foi também outra técnica usada no decorrer desta pesquisa para a

colecta de dados no campo junto dos trabalhadores. O recurso ao uso do questionário de auto-

preenchimento como técnica de colecta de dados deveu-se às diferentes vantagens da sua

utilização conforme apresentam Richardson e Colaboradores (1999):

Permite obter informações de um grande número de indivíduos simultaneamente ou em

tempo relativamente curto;

No caso do questionário anónimo, as pessoas podem sentir-se com maior liberdade para

expressarem as suas opiniões;

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

44

O facto da população alvo ter tempo suficiente para responder ao questionário pode

proporcionar respostas mais reflectidas que as obtidas numa primeira aproximação ao

tema pesquisado;

A tabulação e posterior análise estatística dos dados podem ser feitas com maior

facilidade e rapidez que outros instrumentos (como a entrevista, por exemplo).

O questionário da pesquisa resultou de uma adaptação8 da pesquisadora da versão

original reduzida da autoria do Instituto Ethos Brasileiro de indicadores de RSE destinada a

pequenas e médias empresas que tem como base os indicadores do modelo teórico de

referência adoptado para o presente estudo, já apresentado anteriormente. Trata-se de um

instrumento de auto-avaliação que contempla duas partes, conforme o anexo 2:

A primeira parte é destinada a colecta de informação para a caracterização do perfil

dos trabalhadores inquiridos;

A segunda parte contempla questões que endereçam para os 7 indicadores e

respectivos sub-indicadores de RSE do modelo teórico de referência adoptado para

este estudo, devendo as mesmas ser respondidas numa escala de 4 opções (1 – Não;

2- Em parte; 3 – Em grande parte; 4 – Sim)

3.5 Procedimentos

O desenvolvimento da presente pesquisa teve início no mês de Setembro de 2007, após

um estágio efectuado na CCS9, nos meses que antecederam, e perdurou por 14 meses. O seu

término ocorre em função da defesa desta monografia junto ao Curso de Licenciatura em

Psicologia das Organizações e do Trabalho da Universidade Politécnica.

8 A adaptação consistiu na tradução das questões do português do Brasil e a redução de algumas questões pelo facto do instrumento ser muito longo. Neste sentido, procurou-se seleccionar as questões mais importantes para cada indicador e sub-indicador à luz da realidade empresarial do país. 9 O estágio teve a duração de 4 meses e inseriu-se no âmbito da disciplina de Práticas Profissionais do Currículo do Curso Superior de Psicologia das Organizações e do Trabalho da Universidade Politécnica.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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45

A partir da escolha do tema de investigação, da delimitação do problema e da definição

do objetivo geral e dos objetivos específicos, todos registrados no projecto de pesquisa,

delineou-se o plano de investigação, mapeando a trajectória a ser seguida no decorrer da

pesquisa.

A fase que se seguiu baseou-se, essencialmente, na definição do modelo teórico de

referência e, consequente, preparação dos instrumentos de colecta de dados. Uma vez definido

o modelo de indicadores de RSE do Instituto Ethos, procedeu-se à adaptação do instrumento e

ao desenvolvimento do guião de entrevista como suporte aos dados quantitativos que

resultariam da aplicação do questionários com os indicadores de RSE.

A pesquisa de campo decorreu logo após a pesquisadora receber da CCS a resposta

positiva, por escrito, ao seu pedido de autorização para efectuar a colecta dos dados no campo,

entre os meses de Setembro e Novembro de 2007. No âmbito desta fase, a pesquisadora

procedeu à análise documental, efectuou as entrevistas aos gestores, ao mesmo tempo que

seleccionou a amostra final de trabalhadores e, posteriormente, procedeu à aplicação do

questionários à referida amostra.

Em relação às entrevistas, que visaram responder ao primeiro objectivo específico da

pesquisa, utilizou-se o recurso de apontamentos escritos do discurso dos entrevistados,

possibilitando a aquisição de dados o mais fiéis e precisos possíveis.

Em relação ao questionário, a sua aplicação aos trabalhadores antecedeu um momento de

esclarecimento e sensibilização dos mesmos sobre a importância da pesquisa e formas de

preenchimento e ela foi efectuada seguindo dois meios: o primeiro foi via electrónica (e-mail)

onde se encaminhou os questionários a todos os trabalhadores das áreas administrativas e

procedeu-se à recolha pela mesma via e o segundo meio foi via presencial onde se procedeu à

entrega aos trabalhadores operários do questionário para preenchimento, tendo sido,

posteriormente, recolhidos através da área de Recursos Humanos da empresa.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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46

A fase subsequente à pesquisa de campo consistiu na organização, sistematização,

análise e interpretação dos dados colectados no decorrer da pesquisa de campo com a

realização da pesquisa documental, entrevistas e aplicação dos questionários. Esta fase é

extremante importante pois permite a compreensão dos dados colectados, a confirmação ou

não dos pressupostos da pesquisa e, ainda, a ampliação do conhecimento sobre o assunto

abordado.

Nesta fase procedeu-se ao tratamento qualitativo e quantitativo dos dados. O tratamento

qualitativo consistiu na leitura, sistematização e digitalação dos conteúdos dos discursos dos

gestores, registados a manuscrito, como resultados das entrevistados efectuadas. O tratamento

quantitativo dos dados obtidos com a aplicação do questionário foi efectuado com base no

EXCEL do Programa operativo do Windows 2000 e a análise estatística envolveu,

essencialmente, a estatística descritiva através da elaboração de tabelas de frequência e

percentagens.

Importa referir que a pesquisa bibliográfica esteve presente ao longo de todo o processo

de construção desta monografia, podendo-se dizer que ela ocorreu em simultâneo com as

diferentas fases e momentos da evolução do trabalho.

Por fim, após o tratamento e análise dos dados colectados no campo, procedeu-se à

elaboração da versão final desta monografia incluindo a produção do capítulo da discussão e

das conclusões do trabalho.

3.6 Limitações da Pesquisa

Em Moçambique, pode-se afirmar seguramente, que são poucas as empresas que

efectivamente planeam, implementam, publicam e avaliam acções socialmente responsáveis.

Por consequência, os limites iniciais da pesquisa se configuram pela escolha do tema proposto,

considerando que a discussão em torno dos indicadores de RSE começa a despontar no mundo

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

47

dos negócios, quer a nível internacional, quer no seio do tecido empresarial nacional, em

função da sua importância e repercussão junto aos stakeholders.

A literatura existente acerca da temática é outro limite que merece ser mencionado. Em

relação à produção teórica destinada à RSE, pode-se afirmar que, embora existam algumas

restrições, já é possível encontrar no mercado um expressivo acervo didáctico. No entanto, no

que diz respeito aos indicadores de RSE, toda a pesquisa que ora se apresenta está baseada em

websites da Internet, bem como em guias elaborados por instituições específicas. Por outro

lado, há restrições de acesso a estudos e pesquisas sobre o tema produzidos no contexto

nacional pelo facto de, na área académica e de investigação científica, serem poucos ainda os

estudos realizados sobre a temática, quer a nível de graduação, quer a nível de pós-graduação.

O estudo de caso também pode ser apontado como um limite quando se considera que

restringiu apenas a uma única instituição e, portanto, os resultados, não poderão ser

generalizados para outras organizações do contexto empresarial moçambicano e, considerando

ainda que, apesar de poucas, existem outras empresas nacionais que já estão a implementar

práticas de RSE.

Por fim, a não inclusão da totalidade das questões no questionário adaptado, referentes

aos indicadores da versão original do instrumento do Instituto Ethos, poderá também constituir

uma limitação da pesquisa, na medida que, eventualmente, pôde deixar de lado, alguns

elementos importantes para uma análise mais abrangente no âmbito dos objectivos definidos

pela presente pesquisa.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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48

RESULTADOS

4.1 Perspectiva dos Gestores da CCS sobre Práticas de RSE

Para responder ao primeiro objectivo específica da presente pesquisa, como resultado das

entrevistas abertas conduzidas junto a alguns gestores da empresa estudada foi possível

sistematizar os dados colectados relativamente às práticas de RSE na CCS as quais, em

seguida, se passa a apresentar.

Para os gestores da CCS, a “…RSE é o desenvolvimento positivo e sustentável dos

stakeholders e, principalmente, das comunidades, onde operamos. A empresa tem que ter um

crescimento sustentável de todos os stakeholders, trabalhando em parceria com outras

instituições com experiência na área de RSE…”. (Innocent Jam, 2007, gestor de Relações

Públicas e Comunicação)

Na CCS, antigamente, era o departamento de Marketing e o departamento de Recursos

Humanos que determinavam o plano a implementar em relação às acções de RSE e, por vezes,

chegavam a ser os Directores e responsáveis das áreas a realizar as actividades planificadas.

Com o andar de tempo, fez-se uma análise ao processo e identificou-se a necessidade de

se criar um único departamento que pudesse responder às preocupações internas e externas no

âmbito da RSE. Determinou-se que a empresa deveria ter alguém para representar e responder

às questões dos órgãos de comunicação social, devendo ser o mesmo departamento realizar,

também, estudos sobre as necessidades do público interno (trabalhadores) e externo

(comunicade circundante).

Foi assim que a CCS criou o departamento de Relações Públicas e Comunicação (PAC),

trabalhando em estreita ligação com os departamentos de Recursos humanos e Marketing,

precisamente para responder aos desafios da RSE definidos pela empresa, com foco nas

seguintes áreas: 1) Saúde; 2) Ambiente; 3) Educação e 4) Comunidade.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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49

Em relação à saúde a CCS tem os seguintes programas e actividades:

O pessoal interno tem acesso a actividades de testagem voluntária de HIV de 6

em 6 meses, abrangendo as suas famílias;

A empresa assume os custos de tratamento aos funcionários e familiares

seropositivos;

Possui um grupo de Educadores de Pares devidamente treinados para actuar

dentro e fora da empresa;

A empresa trabalha em coordenação com a ADPP em todos os programas de

HIV;

A empresa trabalha em coordenação com o Gabinete da 1ª Dama em todos os

programas de Ajuda à Comunidade;

Estudo de projectos apresentados pela comunidade à empresa, colaborando para o

desenvolvimento dessas comunidades em matérias de saúde.

Em relação ao Ambiente a CCS tem os seguintes programas:

Gestão da água – iniciativas de gestão de água como redução de uso de água,

reciclagem e optimização, bem como investimento pesado em facilidades de

tratamento inúteis de água;

Uso de Energia – o uso eficiente e responsável da energia, que atrai tipos

diferentes de recursos naturais. Os projectos significantes que foram

empreendidos possibilitaram a redução de energia;

Yolanda Natália Abel Mapengo

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50

Redução inútil sólida – O Sistema de gestão ambiental da CCS (Sistema

Monetário Europeu) contém programas detalhados de classificação, reutilização e

reciclagem de resíduos sólidos;

Iniciativas ambientais externas – A CCS reconheceu a necessidade da água

potável segura de todas as comunidades como uma prioridade-chave. Um novo

compromisso concentra-se em colectar e proceder à reciclagem de materiais de

embalagem inúteis no mercado. Por exemplo, em Chimoio, a CCS está a

trabalhar com o FIPAG na instalação de água em zonas urbana e periféricas;

A CCS está a desenvolver, em Lichinga, um projecto na área de recursos

hidráulicos.

Em relação à área da educação, a CCS tem os seguintes programas e actividades:

Financiamento de estudos para todos os funcionários que estejam na empresa a

mais de um ano como efectivos;

Formação profissional necessária para que o trabalhador possa exercer as suas

funções sem dificuldades;

Tem organizado e patrocinado todo o tipo de eventos desportivos nas escolas. O

evento “Copa Coca- Cola” é um exemplo ilustrativo;

Oferece oportunidades de emprego a estudantes que estejam no fim do curso,

atráves do GIT (Pessoas-graduadas-em-treinamento)

Yolanda Natália Abel Mapengo

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51

O sistema de RSE da CCS seleccionou o Serviço de Saúde, Ambiente, Educação e o

empreendimento de negócios como as suas áreas de foco no apoio à comunidade, com os

programas e actividades apresentados na tabela abaixo.

Tabela 5. Áreas de intervenção da CCS no apoio à comunidade

Área Programas e Actividades

Saúde Actividades de sensibilização e prevenção do HIV/SIDA, orfanidade e

malária

Construção de hospitais

Doação de equipamento de medicina/equipamento médico

Ambiente Projectos de sociedade de Água da Comunidade

Reciclagem

Eficiências em uso de água/energia

Educação Edificação de Escolas

Doação de equipamento escolar/livros/hardware/software

Empreendimento

de Negócios Programa GIT (Pessoas-graduadas-em-treinamento)

Fonte: Entrevistas aos Gestores da CCS (2007)

Na verdade, o compromisso da RSE da CCS traduz-se, nas entrelinhas, nos discursos dos

gestores entrevistados, onde se pode destacar o seguinte:

“Constitui uma contribuição positiva para as comunidades começarem com o

estabelecimento de um negócio sólido que seja sustentável em todas as vertentes

de desenvolvimento a que dizem respeito”;

“Os valores da CCS dirigem o comportamento no trabalho e apoiam a

aproximação de aspectos ligados a cidadania corporativa”.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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52

Com efeito, mostra-se pertinente que se cultive um conjunto de valores em direcção à

sustentabilidade, sendo esta uma parte do sistema interligado que comprime com as economias,

comunidades e ambientes nos quais a CCS funciona. A empresa vê a sua contribuição ser

maximizada criando uma sociedade eficaz com os depositários de dinheiro de apostas diversas,

como os esforços para a melhoria contínua na administração dos recursos e na larga influência

de negócios.

Yolanda Natália Abel Mapengo

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53

4.2 Perspectiva dos Funcionários da CCS sobre indicadores de RSE

Para responder ao segundo objectivo específico desta pesquisa, procurou-se analisar as

tendências de respostas à segunda parte do questionário de pesquisa aplicada à amostra dos 50

trabalhadores da CCS. A referida análise que de seguida se apresenta, inicia com a tendência

por indicador estudado e terminada com a análise geral dos sete indicadores do modelo teórico

de referência adoptado para o estudo.

Relativamente ao primeiro indicador - Valores, Transparência e Governança (vide

tabela 6) verifica-se que:

Quanto ao sub-indicador “Auto-Regulação de Conduta” entre 62% e 64% dos

trabalhadores tem a percepção positiva de que a empresa expõe publicamente os

seus compromissos éticos por meio de material institucional, pela Internet ou de

outra maneira que seja adequada para as partes interessadas, estimula a coerência

entre os valores e princípios éticos da organização e a atitude individual dos seus

trabalhadores e conta com mecanismos ou sistemas formais para avaliação

periódica de desempenho dos seus integrantes.

Quanto ao sub-indicador “Relações Transparentes com a Sociedade” 52% dos

trabalhadores tem uma percepção fraca da existência de um diálogo entre a CCS

com as partes interessadas (stakeholders) e de indicadores de desempenho

resultantes desse diálogo, contudo, 54% destes demonstram uma percepção positiva

de que os dados colectados e utilizados para o balanço social são empregues no

planeamento estratégico da empresa.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

54

Tabela 6. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Valores, Transparência e Governança

Não Em parte

Em grande parte Sim

Indicador Sub-

indicador Item Frq. % Frq. % Frq. % Frq. %

A empresa expõe publicamente os seus

compromissos éticos por meio de

material institucional, pela Internet ou

de outra maneira que seja adequada

para as partes interessadas?

6 12% 13 26% 14 28% 17 34%

A empresa estimula a coerência entre

os valores e princípios éticos da

organização e a atitude individual dos

seus trabalhadores?

6 12% 12 24% 15 30% 17 34%

Auto-

Regulação de

Conduta

A empresa conta com mecanismos ou

sistemas formais para avaliação

periódica de desempenho dos seus

integrantes?

3 6% 16 32% 14 28% 17 34%

Existe um diálogo com as partes

interessadas (stakeholders)? 10 20% 16 32% 13 26% 11 22%

A empresa possui indicadores de

desempenho resultantes do diálogo

com as partes interessadas?

13 26% 13 26% 11 22% 13 26%

Val

ores

, Tra

nspa

rênc

ia e

Gov

erna

nça

Relações

Transparentes

com a

Sociedade Os dados colectados e utilizados para o

balanço social são empregues no

planeamento estratégico da empresa?

5 10% 13 26% 12 24% 15 30%

Fonte: Questionário de Pesquisa

Relativamente ao segundo indicador – Público Interno - (vide tabela 7) verifica-se que:

Quanto ao sub-indicador “Diálogo e Participação” 70% dos trabalhadores tem a

fraca percepção de que a empresa fornece informação que afecta os trabalhadores,

em tempo útil, para que o sindicato e os trabalhadores se posicionem e 78% a fraca

percepção da existência de um programa para estimular e reconhecer sugestões dos

trabalhadores para a melhoria dos processos internos.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

55

Quanto ao sub-indicador “Respeito ao indivíduo” 92% dos trabalhadores tem a

fraca percepção de que a empresa oferece flexibilidade de horários para os

trabalhadores com filhos menores de 6 anos e 94% a fraca percepção de que a

empresa oferece oportunidades de trabalho para ex- presidiários.

Tabela 7. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Público Interno Não Em parte Em grande parte Sim

Indicador Sub-

indicador Item Frq. % Frq. % Frq. % Frq. %

A empresa fornece informação

que afecta os trabalhadores, em

tempo útil, para que o sindicato e

os trabalhadores se posicionem?

18 36% 17 34% 6 12% 9 18%

Diálogo e

Participação A empresa possui um programa

para estimular e reconhecer

sugestões dos trabalhadores para

a melhoria dos processos

internos?

14 28% 25 50% 2 4% 9 18%

A empresa oferece flexibilidade

de horários para os trabalhadores

com filhos menores de 6 anos?

33 66% 13 26% 1 2% 3 6% Respeito ao

Indivíduo A empresa oferece oportunidades

de trabalho para ex- presidiários? 32 64% 15 30% 0 0 % 3 6%

A empresa tem um plano de

saúde familiar? 8 16% 15 30% 10 20% 17 34%

A empresa ajuda no

financiamento para casa própria? 44 88% 4 8% 1 2% 1 2%

Púb

lico

Inte

rno

Trabalho

Decente

A empresa oferece aos

trabalhadores bónus adicionais

orientados por elementos de

sustentabilidade, como êxitos a

médio e longo prazo ou o alcance

de metas relacionadas ao

desempenho social e ambiental?

4 8% 20 40% 10 20% 16 32%

Fonte: Questionário de Pesquisa

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56

Quanto ao sub-indicador “Trabalho decente” 96% dos trabalhadores tem a fraca

percepção de que a empresa ajuda no financiamento para casa própria enquanto que

entre, 46% e 48% demonstram uma percepção positiva de que a empresa tem um

plano de saúde familiar e oferece aos trabalhadores bónus adicionais orientados por

elementos de sustentabilidade, como êxitos a médio e longo prazo ou o alcance de

metas relacionadas ao desempenho social e ambiental.

Relativamente ao terceiro indicador – Meio Ambiente - (vide tabela 8) verifica-se que:

Quanto ao sub-indicador “Responsabilidade frente às gerações futuras” 74% dos

trabalhadores tem a percepção positiva de que a empresa possui uma política

explícita de não utilização de materiais e insumos provenientes de exploração ilegal

de recursos naturais.

Tabela 8. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Meio Ambiente

Não Em parte

Em grande parte

Sim

Indicador Sub-indicador Item Frq. % Frq. % Frq. % Frq. %

Responsabilidade

frente às

gerações futuras

A empresa possui uma política

explícita de não utilização de

materiais e insumos provenientes

de exploração ilegal de recursos

naturais (como madeira, produtos

florestais não madeireiros,

animais, etc.)?

8 16% 5 10% 5 10% 32 64%

Mei

o A

mbi

ente

Gestão do

Impacto

Ambiental

A empresa possui um plano de

emergência ambiental que

relaciona todos os seus processos

e produtos ou serviços que

envolvam situações de risco, e

treina seus trabalhadores em

intervalos frequentes para

enfrentar tais situações?

5 10% 9 18% 12 24% 24 48%

Fonte: Questionário de Pesquisa

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57

Quanto ao sub-indicador “Gestão do impacto ambiental” 72% dos trabalhadores

tem a percepção positiva de que a empresa possui um plano de emergência

ambiental que relaciona todos os seus processos e produtos ou serviços que

envolvam situações de risco, e treina seus trabalhadores em intervalos frequentes

para enfrentar tais situações

Relativamente ao quarto indicador – Fornecedores - (vide tabela 9) verifica-se que:

Quanto ao sub-indicador “Selecção, Avaliação e Parceria com Fornecedores” 74%

dos trabalhadores tem a percepção positiva de que a empresa conhece em

profundidade a origem das matérias-primas, insumos e produtos utilizados em sua

produção ou nas operações diárias e tem a garantia de que nessas origens os direitos

humanos e o meio ambiente são respeitados e 90% tem também uma percepção

positiva de que a empresa adopta critérios de compra que considerem a garantia de

origem para evitar aquisição de produtos “piratas”, falsificados ou frutos de roubo

de carga.

Tabela 9. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Fornecedores

Não Em parte

Em grande

parte Sim

Indicador Sub-

indicador Item Frq. % Frq. % Frq. % Frq. %

A empresa conhece em profundidade a

origem das matérias-primas, insumos e

produtos utilizados em sua produção ou nas

operações diárias e tem a garantia de que

nessas origens os direitos humanos e o

meio ambiente são respeitados?

2 4% 11 22% 15 30% 22 44%

Forn

eced

ores

Selecção,

Avaliação e

Parceria com

Fornecedores A empresa adopta critérios de compra que

considerem a garantia de origem para evitar

aquisição de produtos “piratas”, falsificados

ou frutos de roubo de carga?

2 4% 3 6% 15 30% 30 60%

Fonte: Questionário de Pesquisa

Yolanda Natália Abel Mapengo

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58

Relativamente ao quinto indicador – Consumidores e Clientes - (vide tabela 10)

verifica-se que:

Quanto ao sub-indicador “Dimensão Social do Consumo” 60% dos trabalhadores

tem a percepção positiva de que a empresa chama a atenção do cliente/consumidor

para alterações nas características dos seus produtos ou serviços e 66% e 72%

destes também percepciona positivamente o facto de a empresa promover

treinamento contínuo dos seus profissionais de atendimento para uma relação ética

e de respeito aos direitos do consumidor e, finalmente e treinar e incentivar os

trabalhadores de atendimento a reconhecer falhas e agir com rapidez e autonomia

na resolução de problemas, respectivamente.

Tabela 10. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Consumidores e Clientes

Não Em parte Em grande

parte Sim

Indicador

Sub-indicador Item Frq. % Frq. % Frq. % Frq. %

A empresa chama a atenção do

cliente/consumidor para alterações nas

características de seus produtos ou serviços

(composição, qualidade, prazos, peso, preço

etc.)?

9 18% 11 22% 15 30% 15 30%

A empresa promove treinamento contínuo

de seus profissionais de atendimento para

uma relação ética e de respeito aos direitos

do consumidor?

7 14% 10 20% 13 26% 20 40%

Con

sum

idor

es e

Clie

ntes

Dimensão

Social do

Consumo

A empresa treina e incentiva seu profissional

de atendimento a reconhecer falhas e agir

com rapidez e autonomia na resolução de

problemas?

6 12% 8 16% 14 28% 22 44%

Fonte: Questionário de Pesquisa

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

59

Relativamente ao sexto indicador – Comunidade - (vide tabela 11) verifica-se que:

Quanto ao sub-indicador “Relação com a Comunidade Local” 58% dos

trabalhadores tem a percepção positiva de que a empresa reconhece a comunidade

em que está presente como parte interessada importante nos seus processos de

tomada de decição e 50% que a empresa tem práticas de compras e de

investimentos para aprimorar o desenvolvimento sócio-económico da comunidade

em que está presente.

Quanto ao sub-indicador “Acção Social” 58% dos trabalhadores tem a percepção

positiva de que a empresa inclui a acção social e seus responsáveis no processo

geral de planeamento estratégico.

Tabela 11. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Comunidade

Não Em parte

Em grande parte

Sim

Indicador

Sub-indicador Item

Frq. % Frq. % Frq. % Frq. %

A empresa reconhece a comunidade em que

está presente como parte interessada

importante nos seus processos de tomada de

decição?

7 14% 14 28% 19 38% 10 20% Relação

com a

Comunidade

Local A empresa tem práticas de compras e de

investimentos para aprimorar o

desenvolvimento sócio-económico da

comunidade em que está presente?

10 20% 15 30% 14 28% 11 22%

Com

unid

ade

Acção

Social

A empresa inclui a acção social e seus

responsáveis no processo geral de

planeamento estratégico?

9 18% 12 24% 10 20% 19 38%

Fonte: Questionário de Pesquisa

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

60

Relativamente ao sétimo e último indicador – Governo e Sociedade - (vide tabela 12)

verifica-se que:

Quanto ao sub-indicador “Transparência Política” 60% dos trabalhadores tem a

percepção positiva de que a empresa, nos últimos cinco anos, nunca foi mencionada

negativamente na imprensa por contribuir financeiramente para campanhas

políticas.

Tabela 12. Percepção dos Trabalhadores da CCS sobre os indicador Governo e Sociedade

Não Em parte Em grande

parte Sim

Indicador Sub-indicador Item Frq. % Frq. % Frq. % Frq. %

Transparência

Política

Nos últimos cinco anos, a empresa foi

mencionada negativamente na

imprensa por contribuir

financeiramente para campanhas

políticas?

49 98% 0 0% 1 2% 0 0%

A empresa adopta ou desenvolve

parceria com organismos públicos

visando objectivos como melhorar a

qualidade de ensino, a assistência

social, a saúde e/ou a infra-estrutura,

erradicar o trabalho infantil e/ou o

trabalho forçado, incentivar a geração

de renda e/ou de emprego, promover

segurança alimentar etc.?

9 18% 12 24% 17 34% 12 24%

Gov

erno

e S

ocie

dade

Liderança

Social

A empresa patrocina programas

públicos ou privados de bolsa escolar? 10 20% 21 42% 6 12% 13 26%

Fonte: Questionário de Pesquisa

Quanto ao sub-indicador “Liderança Social” 58% dos trabalhadores tem a

percepção positiva de que a empresa adopta ou desenvolve parceria com

organismos públicos visando objectivos como melhorar a qualidade de ensino, a

assistência social, a saúde e/ou a infraestrutura, erradicar o trabalho infantil e/ou o

trabalho forçado, incentivar a geração de renda e/ou de emprego, promover

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

61

segurança alimentar, entre outros, no entanto, 62% dos trabalhadores revelaram

uma fraca percepção de que a empresa patrocina programas públicos ou privados de

bolsa escolar.

Em termos globais, os trabalhadores da CCS demonstram uma percepção positiva do

cumprimento de cinco dos sete indicadores de RSE pela empresa, revelando uma fraca

percepção em relação aos indicadores Valores, Transparência e Governança e Público Interno.

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62

DISCUSSÃO

O presente estudo revelou que a CCS na perspectiva dos gestores é uma empresa

socialmente responsável e que o seu foco é, principalmente, o público externo, envolvendo

Consumidores/Clientes, fornecedores e distribuidores. Apesar de realizar actividades que

beneficiam os trabalhadores e as comunidades em seu redor, a CCS não tem o público interno

e as comunidades como alvos das suas acções de RSE, conforme o discurso dos próprios

gestores.

Este posicionamento parece explicar o porquê da maioria dos trabalhadores inquiridos ter

revelado uma fraca percepção quanto aos indicadores Público interno, particularmente, aos

sub-indicadores Diálogo e Participação, Respeito ao indivíduo e trabalho decente e o indicador

Valores, Transparência e Governança, em particular, o sub-indicador Relações Transparentes

com a Sociedade.

Esta actuação da CCS contraria a perspectiva de Mueller (2003) e o modelo de

indicadores de RSE do instituto Ethos brasileiro de que o exercício da cidadania empresarial

deve ocorrer nas dimensão interna e externa, abrangente, portanto, todos os stakeholders.

Aliás, a KPMG (2007) vai ainda mais longe, ao afirmar, claramente que a RSE deve começar

de dentro para fora, o que claramente não traduz a actuação actualmente em vigor na CCS.

Segundo o modelo de indicadores do Instituto Ethos, o público interno, constitui um

dos indicadores de RSE que claramente pressupõe a valorização dos trabalhadores e,

consequentemente, a sua própria valorização. Este indicador reflecte o compromisso das

organizações em fazer mais do que respeitar os direitos dos trabalhadores, podendo, conforme

propõem Neto e Froes (1999), estar dirigidas para a criação de óptimas condições de trabalho e

processos de gestão, com impacto positivo sobre a motivação e desempenho dos trabalhadores.

Segundo Peixoto (2008) as organizações que investem na RSE interna tendem a receber

em troca maior produtividade e lealdade dos trabalhadores e reduzir os níveis de rotatividade e

Yolanda Natália Abel Mapengo

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63

os custos de absentismo. Ao mesmo tempo, a forma como as organizações tratam o seu público

interno reflecte-se nos comportamentos dos consumidores e clientes, conforme a pesquisa

desenvolvida por Gildea (1995).

Na realidade, a responsabilidade social de qualquer organização para com o público

interno pode ser operacionalizada através de instrumentos de gestão de recursos humanos

como propõe Mueller (2003). Este exercício é bastante comum em outras realidades, como nos

mostra a pesquisa desenvolvida por Nunes (2002).

Contrariamente às práticas de RSE interna da CCS que se restrigem apenas à àrea da

saúde e formação, a pesquisa desenvolvida por Nunes (2002) revela que, no brasil, as empresas

investem mais nas áreas da alimentação, em primeiro lugar, seguindo-se as áreas de saúde e

formação.

De igual forma, práticas de RSE com o público interno que começam a ser

implementadas pelas empresas no brasil, segundo a pesquisa de Nunes (2002), relacionadas

com as políticas de recursos humanos, não são visíveis na realidade da CCS, nomeadamente:

política preferencial pela contratação de pessoas desempregadas e contratação de pessoas

portadoras de deficiência.

Claramente que, a CCS tem comprometido o indicador público interno na maioria dos

respectivos sub-indicadores, conforme indicam os resultados deste estudo. A empresa revela

fraquezas no diálogo e comunicação com os trabalhadores tendo estes factores um potencial

impacto negativo na motivação, comprometimento e desempenho dos mesmos.

De igual forma, o indicador Valores, Transparência e Governança, também, revela

fraquezas na perspectiva dos trabalhadores da CCS uma vez que mais de metade dos mesmos

percepcionam alguma falta de transparência da empresa para com a sociedade, que se traduz

numa fraca capacidade de diálogo com os seus stakeholders e de indicadores de desempenho

resultantes desse diálogo.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

64

Esta percepção pode reflectir-se negativamente na imagem e reputação da CCS pelo

público externo pois ela é passada, automaticamente, para o público externo através do

contacto com o público interno. Por outro lado, a CCS poderá ressentir-se desta fraqueza a

nível do retorno de produtividade quando, como nos indica a pesquisa de Souza (2002), menor

transparência em práticas socialmente responsáveis tem implicações no grau de

comprometimento dos trabalhadores.

No entanto, os resultados deste estudo, são bastante optimistas em relação à maioria dos

indicadores de RSE do Instituto Ethos, relativos ao público externo, na perspectiva dos

trabalhadores da CCS. O foco em acções de responsabilidade social externa por parte da CCS é

confirmado pela percepção positiva da maioria dos trabalhadores, sendo este um aspecto

crucial na medida que se traduz no reconhecimento, por parte dos trabalhadores de que a

instituição se preocupa com o desenvolvimento e planificação de RSE para uma grande parte

do público externo.

Esta tendência vai ao encontro à tese desenvolvida por Souza (2002) de que os retornos

para as organizações com práticas de RSE externa influem positivamente nas atitudes e

comportamento das pessoas que se inserem na organização.

Em geral, os trabalhadores confirmam que a CCS expõe publicamente os seus

compromissos éticos através de material institucional e meios de comunicação e estimula a

coerência entre os valores e princípios éticos que perssegue com a actuação dos trabalhadores

adoptando sistemas de avaliação de desempenho, em termos de gestão do comportamento

organizacional, no âmbito do indicador Valores, Transparência e Governança.

Em termos de actuação socialmente responsável externa, a CCS desenvolve iniciativas

ambientais, particularmente, projectos de uso e aproveitamento racional de água e energia e

apoio a projectos de instalação de água. Esta actuação da CCS na área ambiental é reconhecida

pelos trabalhadores que, claramente, afirmam que a empresa possui uma política para as

questões ambientais.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

65

Curiosamente, o estudo desenvolvido por Nunes (2002), à semelhança da presente

pesquisa, revela que a maioria das empresas adoptam práticas de responsabilidade ambiental

relacionadas com a procura da redução do consumo de insumos, como a água e energia, tal

como ocorre na empresa CCS.

Os trabalhadores também percepcionam positivamente a actuação da CCS relativamente

às relações que estabelece com os fornecedores, adoptando uma postura criteriosa na sua

selecção e avaliação por forma a garantir que a escolha e compra de matérias-primas e

produtos para o seu processo de produção respeitem os direitos humanos, éticos e ambientais.

Esta é uma prática muito comum entre as empresas socialmente responsáveis na sua relação

com os fornecedores, tal como o fasem grandes empresas como a rede

McDonald´s e o Banco Real/ABN-Amro, tal como referem Bacellar e

Knorich (2004)

Relativamente ao indicador que está ligado aos Consumidores e aos Clientes a pesquisa

permite concluir relativa harmonia entre o que defendeu o teórico Esteves (2000) e o que

entendem os trabalhadores pois para este autor, se o consumidor percebe que a empresa é

responsável, certamente vai preferir os seus produtos e para os trabalhadores, no sub-indicador

“Dimensão Social do Consumo” tem a percepção positiva de que a empresa chama a atenção

do cliente/consumidor para alterações nas características dos seus produtos ou serviços e

também consideram positivo o facto de a empresa promover capacitação contínua dos seus

profissionais de atendimento para uma relação ética e de respeito aos direitos do consumidor e,

finalmente, treinar e incentivar os trabalhadores de atendimento a reconhecer falhas e agir com

rapidez e autonomia na resolução de problemas.

No concernente ao indicador comunidade os gestores entendem que a RSE é o

desenvolvimento positivo e sustentável dos stakeholders e principalmente da comunidade onde

operam. Já os trabalhadores numa abordagem em relação ao sub-indicador “Relação com a

Comunidade Local, pouco mais de metade têm a percepção positiva de que a empresa

reconhece a comunidade em que está presente como parte interessada importante nos seus

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

66

processos de tomada de decição e 50% que a empresa tem práticas de compras e de

investimentos para aprimorar o desenvolvimento sócio-económico da comunidade em que está

presente.

Tal percepção asemelha-se à defendida por Mueller (2003) que entende que algumas

empresas preferem investir no exercício da responsabilidade social externa, que tem como foco

as comunidades, estando as suas acções orientadas para áreas como a educação, saúde,

assistência social e a ecologia.

Finalizando, o indicador que está ligado às acções do Governo e da Sociedade buscam

os seus fundamentos nas palavras de Neto e Brennand (2004) pois estes entendem que a

empresa que procura implementar uma gestão responsável necessita de tomar algumas

decisões com base na ética e na transparência de suas acções. Esta posição é de certa forma

aceite pelos trabalhadores da CCS quando os mesmos, no que concerne ao -indicador

“Transparência Política”, têm a percepção positiva de que a empresa, nos últimos cinco anos,

nunca foi mencionada negativamente na imprensa por contribuir financeiramente para

campanhas políticas.

Tal situação é também valorizada quanto ao sub-indicador “Liderança Social” onde a

maioria dos trabalhadores tem a percepção positiva de que a empresa adopta ou desenvolve

parceria com organismos públicos visando objectivos como melhorar a qualidade de ensino, a

assistência social, a saúde e/ou a infraestrutura, erradicar o trabalho infantil e/ou o trabalho

forçado, incentivar a geração de renda e/ou de emprego, promover segurança alimentar, entre

outros. No entanto, boa parte dos trabalhadores revelaram uma fraca percepção de que a

empresa patrocina programas públicos ou privados de bolsa escolar.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

67

CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Com a presente pesquisa pretendeu-se analisar a RSE na CCS, em Maputo e Machava

na perspectiva dos Gestores e Trabalhadores. A partir dos dados recolhidos e entrevistas foi

possível responder aos objectivos especificos da pesquisa e chegar às seguintes conclusões:

Para os gestores da CCS, o conceito de RSE representa as acções feitas no sentido

de apoiar as comunidades necessitadas e desenvolver algumas actividades que

possam aumentar valores à instituição, não obstante concluirmos com a pesquisa

que o indicador da comunidade não tem merecidoa devida importância, sendo

privilegiado acções ligadas ao meio ambiente, fornecedore, consumidores, clientes

governo e sociedade.

Para os trabalhadores da CCS, o conceito de RSE não está claro, mas conhecem

algumas acções realizadas pela empresa, mesmo desconhecendo os objectivos e

propósitos dessas acções.

Uma grande parte dos trabalhadores tem conhecimentos que os gestores da CCS

tem interesse de realizar a RSE para tornar os seus stakeholders mais fortes e que

garantam valores adicionais para a empresa.

Com a pesquisa conclui-se que a CCS possui todos os requisitos para que seja

considerada uma das maiores empresas socialmente responsável, para isso, seria necessário

que o desenvolvimento das suas actividades abrangessem também o seu público interno e as

comunidades necessitadas de uma forma mais sustentável.

Todavia, não basta ser uma empresa eticamente bem conduzida, é necessária que ela

seja vista pelo seu público–alvo (media, governo, comunidade, parceiros estrangeiros), como

uma empresa dotada de imagem limpa, honesta e íntegra.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

68

Contudo sugerimos, que é importante que a CCS comece a valorizar o seu quadro de

pessoal, auscultando as suas preocupações, porque não sendo máquinas, eles tem as suas

necessidades.

É importante que os gestores façam um estudo no campo das necessidades da

comunidade carente e não apenas, aceitando propostas das suas parcerias.

É importante que se faça a divulgação das suas actividades sociais para o seu público

interno, para que estes melhor conheçam a sua empresa e saber em que momentos podem com

ela interagir.

A participação em workshops, formação e troca de experiências pode ser feita com

diferentes empresas que sejam exemplo de uma boa conduta sustentável que pode ajudar a

melhorar aqueles que são os procedimentos usados na CCS para implementação da RSE.

O departamento de relações públicas e comunicações deve procurar saber como dar os

melhores passos para conseguir um lugar de destaque na implementação das politicas atinentes

a RSE onde, todos os gestores devem dar a sua contribuição, fazendo cada um a sua parte de

acordo com as suas actividades diárias na empresa pois, estes servem como exemplo para os

trabalhadores.

Em Moçambique este tema ainda não está muito desenvolvido. Sendo a CCS uma

empresa multinacional, tem a possibilidade de interagir com o cenário internacional de onde

pode trazer outro tipo de actividades de RSE que se enquadrem a realidade do país. Contudo,

mostra-se ainda mais vantajoso um estudo mais aprofundado das especificidades do país na

tentativa de colocar em prática as acções ligadas à RSE num contexto meramente nacional com

impacto internacional.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

69

REFERÊNCIAS

1. Bacellar, J. E.; Knorich, P. (2004). Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. São Paulo: Instituto Ethos.

2. Bueno, W. C. (2003). Comunicação Empresarial – teoria e pesquisa. Barueri/SP

Manole, 2003 3. Esteves, S. (2000). O dragão e a borboleta: sustentabilidade e responsabilidade social

nos negócios. São Paulo: Axis Mundi. 4. Filho, C. P. (2006). Responsabilidade Social e Governança: o debate e as suas

implicações. São Paulo: Thomson. 5. Gil, A. C. (1994). Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 4. ed. São Paulo: Atlas. 6. Gil, A. C. (1996). Como elaborar Projectos de Pesquisa. 3.ed. São Paulo: Atlas. 7. Gildea, R. (1995). Consumer survey confirms corporate social action affects buying

decisions, Public Relations Quarterly, v. 39. 8. LAM (2007). INDICO. Revista de bordo da LAM, Serie II, 41, Maputo: LAM. 9. Marconi, M. A.; Lakatos, E. M. (2002). Técnicas de Pesquisa. 5.ed. (rev. e amp.) São

Paulo: Atlas. 10. Minayo, M. C. S. (1994). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro:

Vozes. 11. Moretti, T. (2003). Ferramenta de Auto-Avaliação e Planejamento – Indicadores

Ethos–Sebrae de Responsabilidade Social para Micro e Pequenas. São Paulo: Instituto Ethos/Sebrae.

12. Mueller, A. (2003). A utilização dos indicadores de responsabilidade social corporativa

e sua relação com os stakeholders (Dissertação de Mestrado). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.

13. Neto, F. P.; Brennand, J. M. (2004). Empresas Socialmente Sustentáveis: O novo

desafio da gestão moderna. Rio de Janeiro: Qualitymark . 14. Neto, F. P.; Froes, C. (2001). Gestão da Responsabilidade Social Corporativa: o caso

brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

70

15. Neto, H. (2003). Organização das Informações do Balanço Social em Instituição

Financeira como Instrumento de Gestão de sua Responsabilidade Social (Dissertação de Mestrado). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.

16. Nunes, I. (Coord.) (2002). Iniciativa privada e Responsabilidade Social – Uma pesquisa

sobre as ações das empresas do Estado do Rio de Janeiro nas áreas de recursos humanos, apoio à comunidade e responsabilidade ambiental. Rio de Janeiro: FIRJAN.

17. Oliveira, S. L. (2001). Tratado de Metodologia Científica. São Paulo: Thomsom

Learning. 18. Peixoto, M. C. Responsabilidade Social e Impacto no Comportamento do

Consumidor: Estudo de Caso da Indústria de Refrigerantes. São Paulo. Recuperado a 19 de Outubro, 2008 de http://www.valoronline.com.br/ethos/docs/Marina_Peixoto.pdf

19. _________. O que é Responsabilidade Social? Revista FAE Business, n°9, Setembro, 2004. 20. Revista Tempo, n° 156, Setembro 2007, Maputo, Moçambique. 21. Richardson e Colaboradores (1999). Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3.ed. São

Paulo: Atlas. 22. Souza, P. G. (2002). Comportamento Organizacional e Responsabilidade Social-

Interesse Mútuo – Os funcionários e a Organização. São Paulo: Fundação Escola de Comércio Álvaros Penteado.

23. Workshop sobre Responsabilidade Social, Organizado pelo fema, Marco de 2008,

Maputo, Moçambique.

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

71

ANEXO 1 – Guião de Entrevista

Guião de Entrevista

1. O que entende por Responsabilidade Social?

2. Para si, além de produzir bens e serviços qual é o papel da empresa nos dias de hoje?

3. Considera que a gestão empresarial seja socialmente responsável?

4. A organização tem o programa desenvolvido para lidar com questões de

responsabilidade social?

5. Em caso afirmativo, indique que acções de Responsabilidade Social Empresarial a

empresa têm desenvolvido?

Yolanda Natália Abel Mapengo

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ANEXO 2 – Questionário de Pesquisa

QUESTIONÁRIO

Este questionário pretende colectar informações sobre a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) da

Coca-Cola Sabco (CCS) Moçambique – Maputo. Trata-se de uma pesquisa para fins académicos e desde já

agradecemos a sua colaboração.

FASE I – DADOS BÁSICOS

1. Sexo: _____________________

2. Idade: ______ anos

3. Nível de Formação: ______________________

4. Anos de serviço nesta empresa: __________________

FASE II – CONCRETIZAÇÃO DA RSE

Este questionário é dividido em 7 temas. Para cada questão, existem 4 alternativas possíveis de resposta, e

devem ser assinaladas a que melhor descreve a actuação da sua organização em relação ao tema. A escala

de avaliação possue os seguinte significados (Não – 0, Em parte – 1, Em grande parte – 2, Sim – 3)

1. Valores, Transparencia e Governança

Auto-Regulação de Conduta

A empresa expõe publicamente os seus compromissos éticos por meio de material institucional, pela

Internet ou de outra maneira que seja adequada para as partes interessadas?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa estimula a coerência entre os valores e princípios éticos da organização e a atitude

individual dos seus empregados?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa conta com mecanismos ou sistemas formais para avaliação periódica de desempenho dos

seus integrantes?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Relações Transparentes com a Sociedade

Existe um diálogo com as partes interessadas (stakeholders)?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

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A empresa possui indicadores de desempenho resultantes do diálogo com as partes interessadas?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Os dados colectados e utilizados para o balanço social são empregados no planeamento estratégico

da empresa?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

2. Publico Interno

Diálogo e participação

A empresa fornece informação que afecta os trabalhadores, em tempo útil, para que o sindicato e os

trabalhadores se posicionem?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa possui um programa para estimular e reconhecer sugestões dos trabalhadores para a

melhoria dos processos internos?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Respeito ao indivíduo

A empresa oferece flexibilidade de horários para os trabalhadores com filhos menores de 6 anos?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa oferece oportunidades de trabalho para ex- presidiários?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Trabalho decente

A empresa tem um plano de saúde familiar?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa ajuda no financiamento para casa própria?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa oferece aos trabalhadores bónus adicionais orientados por elementos de sustentabilidade,

como êxitos a médio e longo prazo ou o alcance de metas relacionadas ao desempenho social e

ambiental?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

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3. Meio Ambiente

Responsabilidades frente às gerações futuras

A empresa possui uma política explícita de não utilização de materiais e insumos provenientes de

exploração ilegal de recursos naturais (como madeira, produtos florestais não madeireiros, animais,

etc.)?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Gestão do Impacto Ambiental

A empresa possui um plano de emergência ambiental que relaciona todos os seus processos e produtos ou serviços que envolvam situações de risco, e treina seus trabalhadores em intervalos frequentes para enfrentar tais situações?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

4. Fornecedores

Selecção, Avaliação e parceria com fornecedores

A empresa conhece em profundidade a origem das matérias-primas, insumos e produtos utilizados

em sua produção ou nas operações diárias e tem a garantia de que nessas origens os direitos

humanos e o meio ambiente são respeitados?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa adopta critérios de compra que considerem a garantia de origem para evitar aquisição de

produtos “piratas”, falsificados ou frutos de roubo de carga?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

5. Consumidores e clientes

Dimensões social do consumo

A empresa chama a atenção do cliente/consumidor para alterações nas características de seus

produtos ou serviços (composição, qualidade, prazos, peso, preço etc.)?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa promove treinamento contínuo de seus profissionais de atendimento para uma relação

ética e de respeito aos direitos do consumidor?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa treina e incentiva seu profissional de atendimento a reconhecer falhas e agir com rapidez

e autonomia na resolução de problemas?

Yolanda Natália Abel Mapengo

Responsabilidade Social Empresarial na Coca-Cola, Sarl: Perspectiva de Gestores e Trabalhadores

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Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

6. Comunidade

Relação com a comunidade local

A empresa reconhece a comunidade em que está presente como parte interessada importante nos

seus processos de tomada de decição?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa tem práticas de compras e de investimentos para aprimorar o desenvolvimento sócio-

económico da comunidade em que está presente?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Acção social

A empresa inclui a acção social e seus responsáveis no processo geral de planeamento estratégico?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

7. Governo e sociedade

Transparência política

Nos últimos cinco anos, a empresa foi mencionada negativamente na imprensa por contribuir

financeiramente para campanhas políticas?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Liderança Social

A empresa adopta ou desenvolve parceria com organismos públicos visando objectivos como

melhorar a qualidade de ensino, a assistência social, a saúde e/ou a infra-estrutura, erradicar o

trabalho infantil e/ou o trabalho forçado, incentivar a geração de renda e/ou de emprego, promover

segurança alimentar etc.?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

A empresa patrocina programas públicos ou privados de bolsa escolar?

Não _____ Em parte_____ Em grande parte_____ Sim_____

Obrigada pela sua colaboração nesta pesquisa!