responsabilidade social da educação superior

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esponsabilidade social da educacao superior da tradicao universitaria a estrateqia de marketinq e normatizacao estatal. adolfo Ignacio calderon' E s~eartigo tem par objetivo contribuir com as discus- de Ed soes.sobre a ~esponsabilidade social das Institui<;:6es uca<;:aoSupenor (IES). Sustenta a hip6tese de que dis- tante. de uma matriz empresarial, vinculada ao chamado :ercelro Set~r,. a re~ponsabilidade social das IESfaz part d~ uma tr~dl<;:aounlversitaria que questiona e age em pro~ d cun:pnmento do papel social desse tipo de institui<;:ao eu.ca~lonal, ganhan~o relevancia diante da institucionali- za<;:ao 0 mercado unlversitario, sob uma 16gicaprepond - rantemente mercantil. e The p.urpose of this article isto contribute to the dis- h E~usslo.nsabout the social responsibilities of the Hi- ~. er ~catlon Institutions. We sustain the hypothesis that t Istant r.om an entrepreneurial head office, connected E~the !hlrd S~ct~r, the social responsibility of the Higher ~catl~n Inst.ltutlons is part of a universitary tradition that as. s ~n acts In favor of the fulfilment of the social role of thiskl~do.fed.ucatinal institution, by getting relevance due to th~ institutionalization of the universitary market u d a mainly mercantile vision. ' n er . ~~uca~ao S~perior, Responsabilidade Social Univer- sltana, Extensao Universitaria 45 U ~igh~r Education, Universitary Social Responsibility n1versltary Extention. '

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Este artigo tem por objetivo contribuir com as discussões sobre a responsabilidade social das Instituições de educação superior. Sustenta a hipotese de que distante de uma matriz empresarial, vinculada ao chamado Tercelro Setor, a responsabilidade social das IES faz parte de uma tradição unlversitaria que questiona e age em prol do cumprimento do papel social desse tipo de instituição educacional,ganhando relevancia diante da institucionalização do mercado unlversitario, sob uma lógica preponderantemente mercantil.

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Page 1: Responsabilidade social da educação superior

esponsabilidade social daeducacao superior da tradicaouniversitaria a estrateqia demarketinq e normatizacaoestatal. adolfo Ignacio calderon'

Es~eartigo tem par objetivo contribuir com asdiscus-de Edsoes.sobre a ~esponsabilidade social das Institui<;:6es

uca<;:aoSupenor (IES).Sustenta a hip6tese de que dis-tante. de uma matriz empresarial, vinculada ao chamado:ercelro Set~r,.a re~ponsabilidade social das IESfaz partd~ uma tr~dl<;:aounlversitaria que questiona e age em pro~d cun:pnmento do papel social desse tipo de institui<;:ao

e u.ca~lonal,ganhan~o relevancia diante da institucionali-za<;:ao 0 mercado unlversitario, sob uma 16gicaprepond -rantemente mercantil. e

The p.urpose of this article is to contribute to the dis-h E~usslo.nsabout the social responsibilities of the Hi-

~. er ~catlon Institutions. Wesustain the hypothesis thatt Istant r.om an entrepreneurial head office, connectedE~the !hlrd S~ct~r, the social responsibility of the Higher

~catl~n Inst.ltutlons is part of a universitary tradition thatas. s ~n acts In favor of the fulfilment of the social role ofthis kl~d o.fed.ucatinal institution, by getting relevance dueto th~ institutionalization of the universitary market u da mainly mercantile vision. ' n er

. ~~uca~ao S~perior, Responsabilidade Social Univer-sltana, Extensao Universitaria

45U

~igh~r Education, Universitary Social Responsibilityn1versltary Extention. '•

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o presente artigo e produzido num contexto hist6ricoespecffico, passaram-se cinco anos das calorosas discus-s6es em torno do projeto de Reforma Universitaria e da re-gulamenta<;:ao do Sinaes - Sistema Nacional de Avalia<;:aoda Educa<;:aoSuperior.

Na epoca foi motivo de mal estar na comunidade aca-demica brasileira a incorpora<;:ao, na legisla<;:ao educacio-nal, da Responsabilidade Social das IES como um item deavalia<;:ao institucional. Houve muita polemica sabre essaquestao, ja que para alguns nao passava de mero populis-mo de esquerda e para outros seria a verdadeira fase neoli-beral do governo petista ao adotar no ambito da educa<;:ao,conceitos considerados pr6prios do mercado.

As resistencias a esse termo sustentavam-se no fato deque pairava certo consenso de que se tratava de um con-ceito procedente de uma matriz empresarial que nao seadequaria a natureza publica das IES, uma vez que a uni-versidade nao seria uma empresa. Nesta mesma 16gica, se-ria um conceito de matriz neoliberal que responderia aosinteresses de um projeto de sociedade excludente, impul-sionado pelas grandes agencias multilaterais (Banco Mun-dial, FMI, entre outros), com as quais a universidade naopoderia compactuar.

Ao incorporar na legisla<;:ao a responsabilidade social,um conceito que e vista com receio par importantes setoresda intelectualidade pelo fato de estar atrelado ao mundoempresarial. A atitude do governo federal gerou duvidas:a que a Estado entende par responsabilidade social? Seraa mesmo entendimento que existe no Instituto Ethos emtermos de uma nova forma de gestao empresarial? Semprese falou somente do compromisso social da universidade.Par qual motivo a Estado utiliza agora a termo responsabi-lidade social? Sera que se trata de mera incorpora<;:ao dasnovidades do Terceiro Setor e do mundo empresarial?

No presente artigo, a partir de uma pesquisa bibliogra-fica, defende-se a hip6tese de que a conceito de responsa-bilidade social faz parte da tradi<;:ao universitaria, emboratenha ganhado evidencia a partir das discuss6es do Ter-ceiro Setor, no contexto da institucionaliza<;:ao do merca-do de educa<;:ao superior, a partir da segunda metade dadecada de 1980. Da mesma forma, defende-se a hip6teseda sua importancia e relevancia no atual contexto hist6ricopermeado par polfticas educacionais de corte neoliberal,que sustentam a mercantiliza<;:ao da educa<;:ao superior, emdetrimento da dimensao publica inerente as IES. Convemressaltar que neste artigo aprofunda-se analises realizadasno Iivro "Educa<;:ao Superior: construindo a extensao uni-versitaria nas IES particulares" (CALDERON, A; PESSANHA,J; SOARES, V.; 2007) e nos artigos "Responsabilidade socialuniversitaria: contribui<;:6es para a fortalecimento do deba-te no Brasil" (CALDERON, 2006) e "Responsabilidade social:desafios a gestao universitaria (CALDERON, 2005). •

Depois de ter sido usado durante muitas decadas comobandeira de setores universitarios que lutaram e aindalutam par uma universidade mais pr6xima dos setoressocialmente exclufdos, a Compromisso social, enquantocategoria e princfpio etico do fazer universitario passou aco-existir ao lado pela mais nova bandeira, a Responsabi-lidade social.

Embora considerada par muitos como uma nova ca-tegoria analftico-conceitual, convem frisar que falar deresponsabilidade social nas institucionais educacionais eredundante uma vez que a responsabilidade social estano DNN das IES.Trata-se de uma discussao que nao e so-mente de hoje, resultado de influencia do mercado, pelocontra ria faz parte dos desafios e das discuss6es hist6ricassabre a fun<;:ao social da universidade.

"embora considerada pormuitos como uma

nova cateqoriaanalitico-conceitual.convem Frisar que

Falarde responsabilidadesocial nas institucionais

educacionais eredundante uma vez

que a responsabilidadesocial esta no

dna das ies

"Como exemplo, se pode citar a xxv Congresso Mundial

da Pax Romana, intitulado "A responsabilidade social dauniversidade'; realizado na cidade de Montevideu, ha maisde 45 anos, em 1962 (Pax Romana, 1966).

Apesar das mudan<;:as nos contextos hist6ricos e noscenarios educacionais, a discussao sempre foi a mesma: 0

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I do social da universidade, sua func;ao social diante-=- especificidades dos diversos cenarios sociais no qual:= - contra inserida.

o contexto da guerra fria e, obviamente, considerandorincipais atores sociais daquele momento, durante 0

=-=rido congresso a responsabilidade social assumia um;; mcado amplo, ao se referir aos deveres para 0 conjun-

a sociedade, e um significado especffico, ao se referir aura de soluc;oespara os problemas sociais, a necessi-

- e de uma melhor distribuic;ao da riqueza e a promoc;ao: ·al dos operarios e camponeses - principais atores 50-

~-sdo campo popular daquela epoca.

a 40 anos, os participantes do Congresso citado apon-""""ramque se a universidade queria ter seus direitos e sua~_.onomia validada e reconhecida - na epoca as univer-_ ades eram principal mente estatais, lembre-se que pre-- inava no mundo a ideologia do Estado de Bem-Estar- everia cumprir rigorosamente com seus deveres para

a sociedade que a financia.

Ressaltava-setambem que, como parte do cumprimen-• da sua Responsabilidade Social, a universidade deveria

istir na sua func;ao educadora, nao esquecendo a di-ensao social da educac;ao,por meio do despertar no es-

_ dante 0 espirito social em prol dos setores sociais menDs~vorecidos via atividades de extensao universitaria.

Deve-se registrar, que na decada de sessenta,a"respon-sabilidade social da universidade"foi uma tendencia emer-ente nas universidades europeias e norte-americanas. E

o Congresso citado e, sem duvida alguma, reflexo dessa:endencia.

De acordo com Boaventura de Sousa Santos (1995), na-uele perfodo, a reivindicac;ao da responsabilidade social

assumiu tonalidades distintas. Separa alguns tratava-se decriticar 0 isolamento da universidade e de coloca-Ia a servi-C;O da sociedade, para outros tratava-se de denunciar que 0

aparente isolamento escondia seu envolvimento em favordos interesses e das classesdominantes, fato que devia sercondenado.

Ora, resgatar os resultados de um congresso universita-rio realizado ha 40 anos, permite-nos constatar a pertinen-cia e atualidade das discussoes em torno da Responsabi-Iidade Social das IES,bem como a necessidade de refletirsobre quatro questoes chaves: a) nao e um assunto taonovo quanta seaparenta; b) nao e uma tematica resultanteda influencia do mercado; c) tem uma relac;aomais do queestreita, intrfnseca, com a extensao universitaria; d) nao emeramente um compromisso que a universidade tem coma questao social, ela ultrapassa a esfera do compromissopara se tornar dever, isto e, obrigac;ao; tornando-se parteconstitutiva da natureza e da essencia da universidade; e)asuniversidades devem atender as necessidades e deman-das da populac;ao que a financia.

Considerando-se que as discussoes em torno da Res-ponsabilidade Social da universidade fazem parte da tra-dic;ao universitaria, e valido afirmar que nao existe atritote6rico-conceitual com 0 entendimento do que e a exten-sac universitaria. 0 conceito de responsabilidade social,juntamente com 0 conceito de compromisso social, dizrespeito asdiscussoes sobre a func;aosocial das IES,sobre 0

seu papel na sociedade brasileira. Ja a extensao universita-ria, juntamente com 0 ensino e a pesquisa, possibilita queas IEScumpram a sua responsabilidade social, isto e, queatinjam seus objetivos institucionais, para os quais foramcriadas com autorizac;ao do poder publico. •

Efetivamente, a retomada das discussoes conceituaisem torno da Responsabilidade Social da Educac;aoSupe-rior, no infcio da presente decada, se da no calor da expan-sac conceitual do termo responsabilidade social no ambitoempresarial, a partir da proliferac;ao do chamado TerceiroSetor, movimento social que prega a co-responsabilidadeentre 0 Estado e a Sociedade Civil para 0 equacionamento

" embora para 0senso comum. aresponsabilidade

social se ja sin6nimo defilantropia empresarial.

vantagens competitivase marketing social.para um grupo de

empresarios reunidosno instituto ethos de

empresaseresponsabilidadesocial. tomou-se

sin6nimo de uma novaforma de gestao

empresarial e nao merafilantropia empresarial.

" 47

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dos principais problemas sociais, diante da crise fiscal doEstado e do colapso do Estado de Bem-Estar.

A grande visibilidade que ganhou 0 chamado TerceiroSetor deve-se ao surgimento da filantropia empresarial ouda responsabilidade social como novo c6digo etico quedeveria nortear as a<;:oesdos empresarios, uma ideologiaque prega mais uma utopia na sociedade capitalista: a hu-maniza<;:aodo capital.

Em decorrencia disto, surgem empresas ou organiza-<;:oesa elasvinculadas, como por exemplos suasfunda<;:oes,enquanto agentes financiadores ou dinamizadores de pro-jetos sociais; fate que se torna em uma nova tendencia demercado, definindo as estrategias de publicidade, marke-ting e propaganda.

Embora para 0 senso comum, e a opiniao publica emgeral, a responsabilidade social seja sin6nimo de filantro-pia empresarial, vantagens competitivas e marketing so-cial, para um grupo de empresarios reunidos no InstitutoEthos de Empresas e Responsabilidade Social, tornou-sesin6nimo de uma nova forma de gestao empresarial e naomera filantropia empresarial.

A calor da expansao desse movimento, muitas IESqueatuam no mercado de educa<;:aosuperior - institucionali-zado a partir da expansao do segmento particular de edu-ca<;:aosuperior, na segunda metade da decada de oitenta,decorrente das polfticas de corte neoliberal implantadaspelo Estado Brasileiro - come<;:arama participar das reuni-6es de cfrculos empresariais sobre a questao da responsa-bilidade social e, principal mente, pautar suas estrategiasde marketing em torno da questao da responsabilidade so-cial. Desta forma, consolida-se uma tendencia no mercadode ensino superior que nao e, necessariamente, reflexo deuma prMica institucional real, uma vez que nao existe umainstitui<;:aocredenciadora que balize 0 grau de responsabi-Iidade social de uma IES.

o investimento por parte das IESparticulares em res-ponsabilidade social e uma prMica real, seria e consistente,ou nao passade estrategia apelativa de marketing?

Essae uma pergunta que deve serabordada no contextoda heterogeneidade institucional do segmento particular.Se por um lado, sem duvida alguma, muitas IESparticula-res com ou sem fins lucrativos apresentam uma acentua-da dimensao publica, visfveis nas avalia<;:oesnacionais so-bre as atividades de ensino e pesquisa, por outro lado, aexistencia de acirrados e predat6rios mercados regionais,principalmente nas grandes capita is, permitem constatar apredominancia da 16gicamercantil nos servi<;:oseducacio-nais, em detrimento da qualidade do ensino.

o gigantismo do segmento particular e impressionante:90% das IESbrasileiras sac particulares, as maiores univer-sidades em termos de alunos atendidos sac particulares e

mais de 70% de alunos encontram-se matriculados nas IESparticular. De forma proporcional a esse gigantismo, sacinumeras as crfticas a expansao do segmento particular,cuja importancia para 0 atendimento da demanda da so-ciedade brasileira ainda e ofuscada pelo r6tulo de "empre-sasca<;:anfqueis'; de qualidade educacional duvidosa. •

A questao da responsabilidade social da educa<;:aosu-perior ganha novos contornos, e grande relevancia, ap6so infcio da operacionaliza<;:aodo Sinaes3, 0 mesmo que sefundamenta, entre outros aspectos, no "aprofundamentodos compromissos e responsabilidades sociais" das IES;constando entre os princfpios fundamentais: "a responsa-bilidade social com a qualidade da educa<;:aosuperior".

(oncretamente, a grande novidade esta na inclusao daresponsabilidade social como uma das dez dimensoes deavalia<;:aodas IES4•

A interferencia estatal no sistema universitario apresen-ta novos elementos para a discussao da questao da respon-sabilidade social. 0 que era mera tendencia do mercado,agora assume 0 carMer de obriga<;:aoinstitucional dianteda normativa estatal.

Hoje existe certa c1arezaem rela<;:aoao entendimentolegal da Responsabilidade Social partindo-se do princfpiode que a educa<;:aoe um direito social e dever do Estado,sendo este 0 fundamento das institui<;:oeseducativas (BRA-Sil, 2006b, p. 88).

Desseprincfpio, valido para todas as IESbrasileiras (comou sem fins lucrativos), entende-se que elas:

"tem a responsabilidade de um mandato publico paraproporcionar aos indivfduos 0 exercfcio de um direito so-cial" (idem);

"devem prestar contas a sociedade, mediada pelo Esta-do, do cumprimento de suas responsabilidades, especial-mente no que se refere a forma<;:aoacademico-cientffica,profissional, etica e polftica dos cidadaos; a produ<;:aodoconhecimento e promo<;:aodo avan<;:oda ciencia e da cul-tura" (idem).

A visao que predomina no Estado Brasileiro e, em suaessencia, a "responsabilidade social com a qualidade daeduca<;:ao"(BRASil, 2006c, p. 11). 0 Estado pretende ava-Iiar"a intera<;:aoe 0 cumprimento dos compromissos com asociedade do ponto de vista da missao educativa" (BRASil,2006c, p. 22), focando especialmente ascontribui<;:6espara

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-a inclusao social, 0 desenvolvimento econ6mico e social, a::::'2fesado meio ambiente, a memoria cultural, a prodw;ao

'stica e 0 patrim6nio cultural" (BRASil, 2006a, p.138).

o adotar esse entendimento, podemos afirmar queao existe nas IES0 que nas organizac;oes empresariais

- amam de "ac;oesde responsabilidade social'; geralmente-otritas aos projetos sociais e a um departamento especf-- co responsavel por essasac;oes.Nas IEStoda ac;aodirecio-ada ao cumprimento da sua missao institucional, na area

do ensino e/ou pesquisa esta intimamente associada a suaresponsabilidade social, ao seu projeto institucional.

Sob essa 6tica, a Responsabilidade Social para as IESconstituiu-se, ou deveria se constituir, num esforc;oconti-nuo e permanente para cumprir a sua missao institucional,sustentada no desenvolvimento de ac;oese nos servic;osque possuem, na sua essencia, uma func;ao publica nao-estatal. Assim, falar de responsabilidade social universitariasignifica fazer referencia ao esforc;opermanente que as IESdevem ter para cumprir sua missao. Isso garantira a boaqualidade de ensino para os cidadaos que buscam sua for-mac;aona graduac;aoe/ou na p6s-graduac;ao.

Como ja foi mencionado, a incorporac;ao da responsa-bilidade social na estrutura normativa brasileira nao entraem atrito com 0 entendimento do que e a extensao uni-versitaria, mas tem como grande atributo 0 fato de nao seruma prerrogativa somente das universidades e dos centrosuniversitarios, mas um dever de toda e qualquer IESqueinterage no mercado de educac;ao superior, independen-temente de seu porte e natureza juridica.

Da mesma forma, nao existem atritos te6ricos ao seremincorporados os termos compromisso e responsabilidadesodal na leglsla<;aobrasileira. Como sin6nimo de compro-misso social pode-se mencionar: promessa, pacto, acordo.Acontece que uma promessa, um pacto ou um acordo podeser quebrada pelos mais diversos motivos, justificados ounao, sem necessaria punic;ao para quem nao a cumpre.

No que diz respeito ao compromisso social da univer-sidade, Cristovam Buarque (2003) apontou que as univer-sidades nao estao totalmente alienadas, mas estao tan-genciando 0 compromisso social. Em outras palavras, asuniversidades estao deixando de cumprir caba/mente seuscompromissos sociais.

Ora, diante do mencionado por Buarque a respeito docompromisso social, 0 conceito de responsabilidade socialganha relevancia ao lembrar dos deveres e obriga<;6esquepossuem as IES,alem de compromissos que, muitas vezes,deixam de serem assumidos.

Adotar 0 conceito de responsabilidade social universita-ria significa que as IESnao podem mais fugir de suas obri-gac;oes,que a universidade nao pode mais estar isoladacomo uma empresa somente preocupada com os lueros,

no caso de muitas IESparticurares, ou com um grupo deintelectuais preocupados com devaneios te6ricos que naolevam a lugar algum e que somente representam gastosaos cofres publicos, no caso das IESestatais. Trata-se deuma obrigac;ao para 0 hoje e nao mais uma promessa parao amanha. _

Distante de aderir a modismos, embora a Responsabi-Iidade Social esteja incluida na legislac;ao,e considerandoque atravessamos um perfodo marcado pelo fim da guerrafria, pela crise fiscal do Estado, pela hegemonia neoliberale pela predominancia de um mercado de ensino superioraltamente competitivo e diversificado, 0 conceito de res-ponsabilidade social aplicado ao universo das IES,repre-senta um avanc;o te6rico no fortalecimento da dimensaopublica do sistema universitario brasileiro, principalmentediante do acentuado processo de mercantilizac;ao da edu-cac;aosuperior.

Existeum dado de realidade inconteste: asuniversidadesbrasileiras particulares, na sua grande maioria, sao institui-c;oesnovas, de recente eredenciamento enquanto tais. Seno inicio da Reforma Universitaria de 68 0 ensino privadoera dominado por 11 universidades cat61icase uma presbi-teriana, ate 1985 existiam apenas 20 universidades particu-lares em todo 0 Brasil. Um crescimento expressivo deu-sede 1985 a 1990. Nesse perfodo, de cinco anos, houve umerescimento de 100%, com a criac;aode mais 20 universi-dades particulares. Entre 1990 e 1998 foram eriadas mais36 universidades particulares, ou seja, entre 1985 e 1998eriou-se 56 universidades privadas, um saito quantitativode 280%. Como exemplos, do ana de criac;ao das novasuniversidades, se podem citar: Paulista (1988), Sao Judas(1989), Camilo Castelo Branco (1989), Ibirapuera (1992),Cidade de Sao Paulo (1992), Cruzeiro do Sui (1993), Ban-deirante (1993), Sao Marcos (1994), Santo Amaro (1994),Anhembi Morumbi (1997), entre outras.

Partindo da premissa acima colocada, deve-se conside-rar que 0 ethos universitario nao se adquire par meio deum decreto, e resultado de um processo de constrUl;:aohist6rica, resultado das multiplas demandas advindas dopoder publico nos ambitos - federal, estadual, municipal- das forc;asdo desenvolvimento econ6mico e das organi-zac;oesda sociedade civil.

Nesta 16gica, regular em prol da responsabilidadesocial Liniversitaria ganha uma importancia hist6ricano atual contexto educacional, nao esquecendo que as

novas universidades e IES - rotuladas como meras ins-tituic;oes mercantis - tambem fazem parte do sistemauniversitario brasileiro, as mesmas que devem ser abor-dadas, em toda sua complexidade, sem preconceitos ouvisoes maniquefstas, tendo como preocupac;ao maioro desenho de um sistema educacional que realmenteatenda as demandas do pais.

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Finalizando, diante do exposto, como as IEScumprirao asua responsabilidade social? Nao e mere jogo de palavras,a resposta 56 pode ser uma, sem muito segredo nem gran-des f6rmulas: por meio do cumprimento de sua missao ins-titucional e do resgate da dimensao publica da educa<;:aosuperior. _

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[Revista] agosto/ 2008

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