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Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros Ano IV Número 09 JAN/MAR 2013- ISSN: 2178-2008 Ana Maria Kirschner e Fabiane Luisi Turisco 2013 [79] RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA Corporate social responsibility in law firms Ana Maria Kirschner 1 Fabiane Luisi Turisco 2 _______________________________________________________________________________ RESUMO: Com base nas ações sociais desenvolvidas pelos 10 (dez) maiores escritórios do país, eleitos pela Revista Análise Jurídica em 2009, levantaram-se as práticas sociais realizadas nestas organizações. Objetiva-se, por meio das ações sociais já existentes e interesses manifestados, estimular o repensar das práticas sociais nos escritórios de advocacia, incentivando-os a utilizar a responsabilidade social corporativa como orientação estratégica para seu negócio. Estabelecem-se aqui possibilidades para que o advogado possa oferecer suporte técnico às mudanças sociais e econômicas que já estão impactando nossa sociedade, buscando assim cumprir de fato com sua função social, sem contudo perder o foco em seu crescimento e rentabilidade. 1 Ana Maria Kirschner | Graduação em Sociologia - Universite de Paris V (Rene Descartes) (1975); Mestrado em Sociologia - Université de Paris V (Rene Descartes/1977); Doutorado em Sociologia - Université de Paris III (Sorbonne-Nouvelle/1994); Pós-doutorado no Institut d´Etudes Politiques/CNRS, Paris, em 2001/2002, pesquisando sobre sociologia da empresa; Professora Visitante - Cátedra Simon Bolívar - Institut de Hautes Etudes en Amérique Latine (Paris III) em 2001; Professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro de 1980 a 2004 (Departamento de Sociologia e Programa de Pós- Graduação em Sociologia e Antropologia); Professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro de 2004 a 2007; Professora do Mestrado em Sistemas de Gestão (Latec) da Universidade Federal Fluminense de 2005 a 2011. 2 Fabiane Luisi Turisco | Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo 1998, Especialista em Contratos pela PUC/RJ 2002, MBA Gestão Empresarial 2006, Mestre em Sistemas de Gestão com ênfase em Responsabilidade Social 2011, Vice Chair do Comitê de Responsabilidade Social da AMCHAM/RJ (Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro).

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Revista Processus de Estudos de Gestão, Jurídicos e Financeiros – Ano IV

Número 09 –JAN/MAR 2013- ISSN: 2178-2008 –

Ana Maria Kirschner e Fabiane Luisi Turisco

2013

[79]

RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA EM

ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA

Corporate social responsibility in law firms

Ana Maria Kirschner1

Fabiane Luisi Turisco2

_______________________________________________________________________________

RESUMO: Com base nas ações sociais desenvolvidas pelos 10 (dez) maiores escritórios do

país, eleitos pela Revista Análise Jurídica em 2009, levantaram-se as práticas sociais

realizadas nestas organizações. Objetiva-se, por meio das ações sociais já existentes e

interesses manifestados, estimular o repensar das práticas sociais nos escritórios de

advocacia, incentivando-os a utilizar a responsabilidade social corporativa como orientação

estratégica para seu negócio. Estabelecem-se aqui possibilidades para que o advogado

possa oferecer suporte técnico às mudanças sociais e econômicas que já estão impactando

nossa sociedade, buscando assim cumprir de fato com sua função social, sem contudo

perder o foco em seu crescimento e rentabilidade.

1 Ana Maria Kirschner | Graduação em Sociologia - Universite de Paris V (Rene Descartes) (1975); Mestrado

em Sociologia - Université de Paris V (Rene Descartes/1977); Doutorado em Sociologia - Université de Paris

III (Sorbonne-Nouvelle/1994); Pós-doutorado no Institut d´Etudes Politiques/CNRS, Paris, em 2001/2002,

pesquisando sobre sociologia da empresa; Professora Visitante - Cátedra Simon Bolívar - Institut de Hautes

Etudes en Amérique Latine (Paris III) em 2001; Professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da

Universidade Federal do Rio de Janeiro de 1980 a 2004 (Departamento de Sociologia e Programa de Pós-

Graduação em Sociologia e Antropologia); Professora do Programa de Pós-Graduação em História

Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro de 2004 a 2007; Professora do Mestrado em Sistemas

de Gestão (Latec) da Universidade Federal Fluminense de 2005 a 2011. 2 Fabiane Luisi Turisco | Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo 1998,

Especialista em Contratos pela PUC/RJ 2002, MBA Gestão Empresarial 2006, Mestre em Sistemas de

Gestão com ênfase em Responsabilidade Social 2011, Vice Chair do Comitê de Responsabilidade Social da

AMCHAM/RJ (Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro).

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Número 09 –JAN/MAR 2013- ISSN: 2178-2008 –

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PALAVRAS-CHAVE: Função Social do Advogado. Responsabilidade Social Corporativa.

Ética. Escritórios de Advocacia. Stakeholders. Cadeia de Valor.

ABSTRACT: The social actions of the 10 largest law firms of the country - chosen by the

magazine Análise Jurídica, 2009 – have made it possible to identify the social practices

used by such organizations. The objective is to show how existing social actions and other

previously stated interests can serve as motivation to law firms encouraging them to

restructure their social practices by using corporate social responsibility as the strategic

guidance for their businesses. The different possibilities listed herein can help lawyers

offer technical support to the social and economic changes already impacting our society.

This can lead them to engage in the true fulfillment of their social role while still

maintaining their professional development and profitability.

KEY WORDS: Social Role of the Lawyer; Corporate Social Responsibility; Ethics; Law

firms; Stakeholders and Value Chain

Introdução

Atualmente, o tema responsabilidade social encontra-se dissociado da gestão

dos escritórios de advocacia, sendo visto, na maioria das vezes, por meio de práticas

sociais assistencialistas e desprovida de qualquer planejamento. Há boa vontade, algum

engajamento e pouco profissionalismo.

Ainda, os poucos escritórios que possuem alguma ação social ou mostram

qualquer interesse sobre o tema não o fazem considerando sua cadeia de valor, o

envolvimento de seu negócio e de seus stakeholders, com o objetivo de compartilhamento

e geração de benefícios sociais para todas as partes.

Além de incrementar a gestão dos escritórios sobre a perspectiva da

Responsabilidade Social Corporativa, em especial, focando-se na geração e no

compartilhamento de benefícios mútuos para clientes, colaboradores e sociedade, este

artigo propõe um caminho que poderá resgatar a função social e a ética do advogado como

valor essencial em suas carreiras.

Segundo informações, publicadas na Revista Análise Jurídica (2009), existem

quase 600 (seiscentos) mil advogados em atividade no país. Apenas em São Paulo são 200

(duzentos) mil profissionais e mais de 10 (dez) mil sociedades de advogados. Ainda,

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conforme informado nesta revista, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) divulga que o

Brasil só tem menos advogados que Estados Unidos e Índia. Considerando que os Estados

Unidos são a maior potência econômica do planeta e que a população da Índia é cinco

vezes maior do que a nossa, nossos dados são impressionantes.

A capilaridade desta grande rede jurídica e sua influência na vida corporativa,

movimentando, decidindo e interferindo em negócios bilionários que impactam

diretamente em nossa economia, e por consequência direta em nossa sociedade, pode

promover relevante desenvolvimento social em nosso país.

Também resultado de um crescimento desordenado, altíssimo nível de

concorrência e ambições desenfreadas, veem-se nos últimos anos inúmeros exemplos da

falta de ética em escritórios de advocacia, com exposição na mídia de grandes nomes tendo

seus escritórios invadidos pela Polícia Federal. O segmento perde credibilidade e mostra

esvaziamento de seus valores e de sua função social. Faz-se necessário resgatar premissas

inerentes ao exercício da profissão. Nesse sentido, os escritórios passam a ficar receptivos

ao tema responsabilidade social.

Passo contínuo, e com exceção de alguns poucos escritórios que já possuíam

algum tipo de prática social, percebe-se cada vez mais o apoio dos escritórios a causas

sociais, em especial programas de voluntariado e advocacia Pro Bono (serviços jurídicos

gratuitos a quem não pode custeá-lo).

No entanto, o que se nota são ações isoladas, pouco ou quase inexistente

material discutindo profissionalmente responsabilidade social de escritórios, sem que

estejam ligadas a ações assistencialistas, atividades sociais com sua perenidade discutida e

com forte apelo de marketing.

Como evidência desta lacuna entre escritório e seus clientes, encontram-se

empresas com baixíssimo nível de conhecimento legal acerca de matérias afetas à

Responsabilidade Social. Segundo o IPEA, grande parte das empresas no Brasil não

utilizam incentivos fiscais dados a causas sociais por desconhecimento.

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Número 09 –JAN/MAR 2013- ISSN: 2178-2008 –

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Ainda, corroborando com a fragilidade social do setor, é comum vermos

colaboradores de grandes escritórios sem plano de carreira, algum planejamento

relacionado à sua qualidade de vida ou apoio psicológico.

E, por fim, quando identificam-se ações sociais no setor, por meio de

voluntariado, a maioria delas mais reforça a dependência da comunidade do que fomenta o

protagonismo social, formando cidadãos mais conscientes de seus direitos. Mantém-se a

velha política de “dar o peixe e não ensinar a pescar”.

Assim, objetiva-se levantar as práticas ligadas à responsabilidade social

corporativa em escritórios de advocacia, auxiliando-o na construção de seu posicionamento

na estratégia da organização, demonstrando que foco no negócio e envolvimento social são

premissas compatíveis.

Ainda, a pesquisa contribui para:

a) demonstrar que as ações de RSC podem impactar positivamente no resultado dos

escritórios;

b) mapear o foco das ações sociais dos 10 (dez) maiores escritórios de advocacia do País.

Outro foco que é relevante mencionar traduz-se nas ideias de Porter e Kramer

(2006), que afirmam que poucas empresas sabem como fazer ações sociais de forma eficaz

e sustentável. “Ao vincular a filantropia corporativa a seu setor e à sua estratégia, a

empresa pode, mais que outros doadores, melhorar o desempenho dos beneficiários,

incrementando ainda mais o valor social.”3

Dessa forma, esta pesquisa fica restrita à análise das ações de escritórios,

ligadas à Responsabilidade Social Empresarial, com relação a 3 (três) de seus stakeholders

(3Cs), buscando identificar ações que considerem os seguintes pontos e seus consequentes

benefícios para a cadeia de valores do escritório:

Colaboradores – Qualidade de vida e desenvolvimento Profissional x

Produtividade;

3 Porter e Kramer, 2006.

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Comunidade – Desenvolvimento de cidadãos e seu protagonismo social X

Desenvolvimento socioeconômico do país;

Clientes – Acesso a informações legais focadas em todos os segmentos correlatos

à Responsabilidade Social X Aumento dos investimentos sociais no país.

1. Metodologia

Utiliza-se o método de pesquisa exploratória com a finalidade de coletar

informações acerca das práticas sociais realizadas pelos 10 (dez) maiores escritórios de

advocacia do país, segundo o ranking realizado pela Revista Análise Jurídica, publicada no

ano de 2009. São eles:

1. Siqueira Castro 6. Machado, Meyer, Sendacz e Opice

2. J. Bueno e Mandaliti 7. Demarest Almeida

3. Tozzini e Freire 8. Emerenciano, Baggio

4. Pinheiro Neto 9. Martinelli Advocacia Empresarial

5. Décio Freire &

Associados

10.Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr e Quiroga.

Também foi aplicado o método de estudo de caso, por meio de um

questionário, objetivando elucidar a ideologia e os pensamentos presentes nesses

escritórios e quais as tendências detectadas.

A proposta consubstancia-se em aplicar o questionário em sócios do escritório,

ou responsáveis pelo departamento específico, ou, ainda, a área que atenda a questões

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referentes à responsabilidade social, caso a mesma exista. Utilizam-se outras fontes de

informações, tais como: Entrevistas, Site dos escritórios e a Revista Análise Jurídica.

1.1. Questionário estruturado

Por meio das respostas obtidas com o questionário a seguir apresentado,

foram analisadas a real e a presente situações do tema responsabilidade social em

escritórios de advocacia.

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PERGUNTAS CONCEITO AUTORES

1. Qual a função social do advogado e

como pode ser exercida?

Função Social do Advogado/Ator Chave

BASTOS (1992)

/MANFIO2008/ROCHA(2005)/KIRSC

HNER(2006)

2. Como os escritórios entendem

Responsabilidade Social?RSC Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

3. Por que o escritório promove práticas de

Responsabilidade Social?RSC como Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

4. Quem deu início às ações sociais no

escritório?

Função Social do Advogado/Ator Chave

BASTOS (1992)

/MANFIO2008/ROCHA(2005)/KIRSC

HNER(2006)

5. Há algum sócio envolvido? Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

6. Como a área de RS está estruturada

no escritório?

Infraestrutura ética de Escritórios de

Advocacia/intereção entre os atores

sociais

PARKER et al (2008)

6.1.Subordinada a alguma outra área?

Infraestrutura ética de Escritórios de

Advocacia/intereção entre os atores

sociais

PARKER et al (2008)

6.2.Como é financiada e mantida? RSC Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

6.3.Envolvem todos os advogados do

escritório? Caso positivo, de que forma?Responsabilidade Social Interna

KIRSCHNER (2006)/CAPPELIN et al

(2002)

7. Quais ações sociais são promovidas? Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

8. Como escolheram suas ações sociais? Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

9. Conseguem ver algum retorno nestas

ações?Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

10. Como se relacionam com seus

Colaboradores?

Responsabilidade Social

Interna/Infraestrutura ética de Escritórios

de Advocacia/Teoria dos Stakeholders

CHEIBUB e LOCKE

(2002)/PARKER(2008)

10.1.                    Qual a forma de contratação? Responsabilidade Social Interna

CHEIBUB e LOCKE

(2002)/PARKER(2008)

10.2.                    Possuem Plano de Carreira? Responsabilidade Social Interna

CHEIBUB e LOCKE

(2002)/PARKER(2008)

10.3.                    Possuem algum programa de

qualidade de vida? Responsabilidade Social Interna

CHEIBUB e LOCKE

(2002)/KIRSCHNER(2006)

10.4.                    Há apoio psicológico para os

advogados? Responsabilidade Social Interna

CHEIBUB e LOCKE

(2002)/KIRSCHNER(2006)

10.5.                                      Possuem orientações

sobre Ética Jurídica? Há um Código no

escritório?

Ética aplicada ALLEDI (2001)/NALINI(1997)

10.6. Promovem espaços para o Diálogo

entre os advogados?

Infraestrutura ética de Escritórios de

Advocacia/Intereção entre os atores

sociais

PARKER et al (2008)/CAPPELIN et

al(2002)

11. Como a RSE se relaciona com seus

Clientes?

Ator-Chave/ Teoria dos

Stakeholders/Cadeia de Valor

CAPPELIN et al

(2002)/KIRSCHNER(1998)/PORTER

e KRAMER(2005)

12. Como se relacionam com a

Comunidade?Teoria dos Stakeholders ALLEDI (2001)

12.1.                    Caso pratiquem advocacia Pro

Bono: qual período de parceria com cada

Instituto?

Prática da Advocacia Pro-Bono GIROLLA (2009)

12.2.                    Há promoção de encontros

pessoais com as associações parceiras? Teoria dos Stakeholders ASHLEY (2005)

12.3.                    Medem os resultados que

ajudam trazer? RSC Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

12.4.                    Há um plano claro sobre o

apoio, a forma que será feito, e o que é

esperado?

RSC Orientação Estratégica PORTER e KRAMER (2005)

13. Pretendem melhorar a estrutura da área

social? Caso positivo, de que forma?RSC Orientação Estratégica ASHLEY (2005)

14. Acreditam que um modelo para

sistematização da responsabilidade social em

escritórios de advocacia seria produtivo?

RSC Orientação Estratégica

BESSA

(2006)/ASHLEY(2005)/PORTER e

KRAMER(2005)/CHEIBUB e

LOCKE(2002)

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2. Análise dos dados coletados

3.1. Perfil dos 10 (dez) maiores escritórios brasileiros

Abaixo segue quadro contendo informações sobre os escritórios eleitos pela

Revista Análise Jurídica. Denota-se que a maioria está sediada no Estado de São Paulo,

com exceção do escritório Martinelli Advocacia Empresarial, que tem sua matriz

localizada em Santa Catarina, e do escritório Décio Freire & Associados, sediado em

Minas Gerais.

ESCRITÓRIOS ANO DE

FUNDAÇÃO SEDE FILIAIS

ÁREA DE

ATUAÇÃO

NÚMERO DE

ADVOGADOS

Siqueira Castro 1948 São Paulo 23 Brasil e 2

Exterior Full Service 367

J. Bueno e

Mandaliti 1998 Bauru – SP 26 Brasil Full Service 401

Tozzini e Freire 1976 São Paulo 3 Brasil e 3

Exterior Full Service 360

Pinheiro Neto 1942 São Paulo 2 Brasil Full Service 342

Décio Freire &

Associados 1992

Belo

Horizonte-MG

11 Brasil e 2

Exterior Full Service 303

Machado,

Meyer, Sendacz

e Opice

1972 São Paulo 5 Brasil e 1

Exterior Full Service 301

Demarest

Almeida 1948 São Paulo

3 Brasil e 1

Exterior Full Service

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Os escritórios pesquisados possuem em seus quadros o total de 3.130 (três mil,

cento e trinta) advogados. Segundo informações retiradas do site da OAB,

http://www.oab.org.br/relatorioAdvOAB.asp, o Brasil possui hoje 740.041 (setecentos e

quarenta mil e quarenta e um) advogados regularmente inscritos. Temos que este trabalho

envolve um número considerável de pessoas que atuam no segmento jurídico.

Todos os escritórios são “full service”, ou seja, atendem a todas as áreas do

Direito. Todos possuem filiais em outros Estados do Brasil, e a maioria, 8 (oito) deles,

apresenta filial no exterior.

Outra característica é que 5 (cinco) deles foram fundados nos anos 90

(noventa); 3 (três) deles nos anos 40 (quarenta); e 2 (dois) deles nos anos 70 (setenta). A

maioria fundada nos anos 90 (noventa) confirma o movimento de surgimento dos grandes

escritórios de advocacia, período este em que o Brasil também apresentava sinais de

desenvolvimento econômico.

Emerenciano,

Baggio 1989 São Paulo 6 Brasil Full Service 273

Martinelli

Advocacia

Empresarial

1997 Joinville-SC 9 Brasil e 2

Exterior Full Service 260

Mattos Filho,

Veiga, Marrey

Jr e Quiroga

1992 São Paulo 2 Brasil e 1

Exterior Full Service 235

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3.2. Questionário

O questionário foi enviado para todos os escritórios ranqueados pela Revista

Análise Jurídica como os 10 (dez) maiores escritórios de advocacia do ano de 2009. Os

escritórios que aceitaram o convite para participar desta pesquisa são:

1. Demarest Almeida

2. Emerenciano, Baggio

3. Machado Meier

4. Martinelli Advocacia Empresarial

5. Mattos Filho

6. Pinheiro Neto Advogados

7. Tozzini Freire

Com o intuito de extrair de forma objetiva informações que corroborem para o

desenvolvimento das diretrizes traçadas neste estudo, bem como seus objetivos, as

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respostas dadas ao questionário foram analisadas e tabuladas, tendo como enfoque os

seguintes critérios:

conceito e Objetivo de Responsabilidade Social;

Código de Ética;

estrutura da área de RS;

financiamento da área de RS;

foco dos Projetos de RS;

RSC e Colaborador;

RSC e Comunidade;

RSC e Cliente;

aferição de resultados nos projetos sociais.

Posteriormente foram analisadas comparativamente, destacando-se questões

que se repetem nos escritórios, seja no aspecto positivo ou negativo, ou aquelas nas quais

se busca alguma melhoria. Ainda, para efeito de análise, destacam-se os pontos que

demonstram diferencial relevante.

Conceito e Objetivo de Responsabilidade Social

Este item visa compreender como cada escritório vê a função social da

advocacia, como crê que pode exercê-la, e, ainda, como entende o tema Responsabilidade

Social.

Abaixo merecem destaque as seguintes reflexões, cada qual expressa por um

escritório participante da pesquisa:

1. “Enxergo a RS como forma de mitigar ou eliminar eventual impacto negativo do

seu negócio sobre as diversas partes relacionadas”;

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2. “Enxergo a Responsabilidade Social como forma de desmercantilizar a profissão

e uma reaproximação com a essência da profissão”;

3. “Responsabilidade Social é utilizar a habilidade do escritório em benefício da

sociedade”;

4. “Influenciar positivamente a sociedade para reflexão e exercício da cidadania”;

5. “Fazer valer os direitos fundamentais que a nossa Constituição garante”;

6. “Atuar de maneira ética e em favor de uma sociedade mais justa e igualitária. RS

significa assegurar o sucesso do seu negócio e ao mesmo tempo contribuir para o

desenvolvimento social da sociedade”;

7. “O escritório enxerga a RSC de forma absolutamente importante para

democratizar o acesso à função social da advocacia”.

Percebe-se haver certo nivelamento de posição sobre a função social do

advogado, a necessidade de a mesma ser colocada em ação, e o quanto pode e deve

beneficiar a sociedade. Pode-se concluir a presença de um forte vínculo entre a função

social do advogado e a Responsabilidade Social como um meio legítimo para acioná-la

rumo a resultados efetivos para a sociedade.

Código de Ética

Dos escritórios que participaram da pesquisa, apenas dois possuem um Código

de Ética. No entanto, os demais possuem a ética como base de toda sua missão, visão e

valores fundamentais.

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Neste ponto, vê-se que ainda é necessário desenvolver canais, diálogos, a fim

de que mais escritórios possam comunicar, de forma transparente e em linguagem

compreensível, para todos os níveis de colaboradores, quais são as diretrizes que norteiam

aquela instituição.

Importante que essas diretrizes possam ser também construídas pelos próprios

colaboradores, os quais podem ser sistematicamente incentivados ao diálogo com essa

finalidade.

Ainda que a ética permeie a atividade jurídica desde sua concepção até seu

exercício e manutenção, escritórios de advocacia não são diferentes de outras empresas em

que a comunicação deve ser sempre clara, simples e acessível a todos a qualquer momento.

Neste sentido, faz-se necessário repensar a razão de poucos escritórios possuírem

orientações ou diretrizes escritas ou um código de ética.

Estrutura da área de RS

Apenas um escritório não possui uma área estruturada focada em

responsabilidade social. Independentemente como concebam a RS e em que nível de

maturidade e profissionalização em que se encontram, todos os demais apresentam alguma

estrutura para dar guarida ao tema.

Um ponto importante a se destacar é a presença dos sócios em todas as

estruturas informadas, demonstrando a relevância de seus envolvimentos em assuntos

estratégicos, e o quanto é importante que estes se envolvam nesta área para que ela possa

ser incorporada pela empresa e por todos os colaboradores. Há no mínimo um sócio como

participante da comissão ou grupo de RS.

Destaque para um escritório cujo comitê de RS tem a presença de 10 (dez)

sócios.

Um dos escritórios apresenta uma estrutura diferenciada, pois informou a

criação de um Instituto que pudesse dar guarida, organizar e executar todos os seus

projetos sociais.

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Percebe-se um bom nível de organização na estrutura relacionada aos

componentes da área de responsabilidade social dos escritórios.

Financiamento da área de RS

Neste quesito há uma divisão equilibrada entre os escritórios que possuem

orçamento próprio e os que não possuem ou não informaram haver alguma organização

financeira que garanta a perenidade na gestão da área de RS do escritório ou, ainda, do(s)

projeto(s) social (ais) que administram e/ ou executam.

Mesmo que não tenha sido objeto deste estudo pormenorizar este aspecto,

pelas informações passadas, percebe-se que há dois escritórios que apresentam estruturas

financeiras mais avançadas e por esta razão podem garantir a sustentabilidade da área.

Apenas um dos escritórios apresentou foco em prestação de contas, denotando

com isto alto nível de gestão no quesito sustentabilidade e perenidade da área de RS do

escritório.

Foco dos Projetos de RS

Com exceção de um escritório, os demais pesquisados praticam Advocacia

Pro Bono. Exercitam como uma forma legítima de utilizar o core da empresa para

empoderar a sociedade e prover de assistência jurídica os que não podem financiá-la, sejam

pessoas físicas ou ONGs que precisam de orientação jurídica para continuar exercendo sua

função social adequada e regularmente.

Além da Advocacia Pro Bono, a maioria dos escritórios apresenta um foco

definido. Percebe-se uma tendência para educação e cidadania. Este tema repete-se. De

uma forma geral os escritórios estão mobilizados a investir suas habilidades para

transformar a sociedade.

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Dos escritórios pesquisados, há apenas dois que não possuem foco definido e

ainda estão preponderantemente ligados a ações filantrópicas.

RSC e Colaborador

Apenas um escritório dos pesquisados não possui plano de carreira. Todos

apresentam alguma preocupação com a qualidade de vida de seus colaboradores, contudo

apenas dois possuem-na de forma sistematizada e com alto nível de organização, execução

e acompanhamento. Um deles apresenta um programa integrado de qualidade de vida que

se consubstancia em um diferencial de sua presença no mercado.

A maioria dos escritórios informa ter apoio psicológico para seus

colaboradores, contudo, nenhum deles apresenta um programa de apoio específico. Denota

não ser prioridade e possivelmente um ponto que pode ser mais bem desenvolvido, dentro

dos escritórios, dada a característica humana e social da função do advogado e o exercício

de sua profissão como apoiador e orientador de problemas humanos.

Os escritórios pesquisados são categóricos ao afirmar que a promoção de

ações organizadas que possam permitir o voluntariado dos colaboradores motiva a todos e

os deixa felizes.

RSC e Comunidade

Como dito acima no item 5 (cinco), sobre o foco estabelecido, a forma mais

presente de envolvimento social com a comunidade dá-se por meio da advocacia Pro

Bono.

Metade dos escritórios tem alguma organização para gerir as horas focalizadas

na advocacia Pro Bono. Neste quesito, há campo para se melhorar.

Destaque para um escritório que possui foco na prestação de contas em geral,

seja para seus colaboradores, clientes e sociedade, que criou um sistema de gestão das

horas investidas pelo advogado de forma a garantir que estas horas não impactassem em

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sua remuneração, mantendo-se assim o Pro Bono como sendo uma atividade social do

escritório e não do advogado que operacionaliza o apoio.

Há muitas ações de voluntariado caracterizadas como de cunho filantrópico,

ou seja, disassociadas do core do escritório. Há forte tendência em se manter o

voluntariado já que todos os escritórios reforçam em uníssono o quanto essas atividades

motivam e deixam felizes seus colaboradores.

RSC e Cliente

Um único escritório demonstrou ter atividades de cunho social rotineiras com

seus clientes.

Há neste ponto uma grande oportunidade para desenvolver melhor os laços

que os unem por meio de atividades de interesse recíproco, que poderão beneficiar a um só

tempo a sociedade e os negócios entre escritórios e suas empresas clientes, na medida em

que aumentará o leque de serviços prestados a este stakeholder. Nesse passo, as empresas,

por meio do apoio e orientação de seus escritórios, poderão buscar mais benefícios

considerando sua atividade principal e seu envolvimento com a sociedade em algum

projeto social.

Aferição de resultados nos projetos sociais

A maioria dos escritórios não mede resultados fomentados pela área de

Responsabilidade Social. Estes informam que é nítido o resultado intangível, no que

concerne à satisfação de seus colaboradores e o quanto isso fomenta a ligação deles com o

escritório.

Apenas dois escritórios apresentaram metodologia de avaliação de resultados e

prestação de conta.

E, por fim, um único escritório elabora um Relatório Social contendo todas as

atividades sociais realizadas, prestando detalhadamente contas a seus funcionários, clientes

e sociedade de todas as ações realizadas por ele.

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Percebe-se aqui um ponto prioritário a ser desenvolvido na maioria dos

escritórios.

3. Discussão

Nota-se uma forte sinergia dos escritórios pesquisados com a área social, e

porque não dizer com a área de responsabilidade social. Independente de como a

enxergam, com maior ou menor prioridade, de forma mais ou menos profissional, todos os

analisados, importam-se e investem, ou querem investir, tempo e dinheiro em atividades

sociais.

Os 3 C (Colaboradores, Clientes e Comunidade)

Na tabulação realizada com as respostas dadas ao questionário, podemos tecer

algumas conclusões sobre o estado em que se apresenta a RSC em grandes escritórios de

advocacia, partindo-se da análise dos 3 (três) stakeholders escolhidos para a finalidade a

que se propõe este trabalho:

Colaboradores – há espaço para se desenvolverem projetos de RSI, seja por meio

de planos de qualidade de vida, ou, ainda, na elaboração de um Código de Ética, ou, ainda,

havendo maior suporte psicológico em uma atividade em que é essencial ter estrutura

emocional, já que lidam com problemas dos outros, sejam de pessoas ou de empresas. Vale

reforçar a lição de PARKER (2008), que afirma não bastar ter sócios éticos. Para a autora,

o mais importante é proporcionar aos profissionais do Direito uma infraestrutura

ética, que inicia aprimorando todo o seu sistema de controles e procedimentos, mas

que também empodera seus advogados para que possam expressar seus valores

individuais com seus colegas ou superiores por meio de um diálogo aberto e mútuo

apoio;

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Clientes – há pouco relato sobre projetos que envolvam os clientes em atividades

ou projetos sociais. Neste ponto, denota-se imensa oportunidade de fomentar o

relacionamento do escritório com este importante stakeholder;

Comunidade – é o ponto mais desenvolvido da RSC em escritórios de advocacia.

Advogados são reconhecidamente bons filantropos, havendo muitos exemplos de ações

sociais com pessoas de comunidades ou localidades. Neste ponto, destaque especial para a

advocacia Pro Bono.

Todos os escritórios pesquisados praticam Advocacia Pro Bono, ou seja,

utilizam do seu conhecimento, que justifica seu negócio e sua prestação de serviços

jurídicos, para servir à sociedade.

Outro fato que se repete, em todos os escritórios pesquisados, refere-se ao

impacto positivo causado pelos projetos sociais desenvolvidos, seja sobre seus

colaboradores ou sobre seus clientes. Há destaque especial sobre o voluntariado como

agente motivador de pessoas e do ambiente coletivo interno.

Destaques da Pesquisa

Todos os escritórios mostraram pelo menos uma grande inovação, merecendo

destacar:

elaboração de relatório social;

criação de um instituto para estruturar de forma profissional as atividades sociais;

realização de um diagnóstico social para que os colaboradores dos escritórios

tenham espaço de expressar como enxergam e como gostariam de se relacionar com os

projetos sociais do escritório;

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criação de um sistema de controle de horas investidas na Advocacia Pro Bono que

não prejudica a remuneração do profissional, garantindo com isso que o escritório – e não,

neste caso, o funcionário – pratique sua ação social;

adesão do escritório ao Pacto Global da ONU;

projeto focado na presença da Mulher no mercado jurídico;

área de Responsabilidade Social Interna estruturada com foco na qualidade de

vida dos seus colaboradores por meio de um sistema organizado para esta finalidade;

posicionamento da RSC como orientação estratégica do escritório e envolvimento

de 10 (dez) sócios na estrutura da área de RS.

criação de um sistema de controle de horas investidas na Advocacia Pro Bono que

não prejudica a remuneração do profissional, garantindo com isso que o escritório – e não,

neste caso, o funcionário – pratique sua ação social;

adesão do escritório ao Pacto Global da ONU;

projeto focado na presença da Mulher no mercado jurídico;

área de Responsabilidade Social Interna estruturada com foco na qualidade de

vida dos seus colaboradores por meio de um sistema organizado para esta finalidade;

posicionamento da RSC como orientação estratégica do escritório e envolvimento

de 10 (dez) sócios na estrutura da área de RS.

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Oportunidades de Melhoria e Desenvolvimento

Por outro lado, todos os escritórios apresentam grande dificuldade em elaborar

e manter um planejamento focado em determinada atividade social. Com exceção de um

escritório, que é referência na prestação de contas, os demais apresentam dificuldade para

realizar prestação de contas sobre as atividades realizadas. Também apresentam

dificuldades em medir os resultados advindos dos projetos que desenvolvem.

Por fim, há precariedade na comunicação interna e externa referente aos

assuntos que envolvem a RS. É preciso quebrar o receio de comunicar ações e projetos

sociais do escritório. Isso deve ser feito com qualquer que seja o stakeholder envolvido. O

marketing social é necessário para acessar-se o efeito multiplicador e o aperfeiçoamento

contínuo da RSC. A seriedade do escritório será preservada e honrada por meio de critérios

bem elaborados, objetivos claros, indicadores e comunicação ética.

Enfim há diversos indícios que corroboram para a apresentação profissional do

escritório em suas práticas voltadas à RS. Estas não são características presentes em

escritórios de advocacia, são preponderantes no Terceiro Setor, reflexo direto de uma

atividade que precisa de tempo para amadurecer. Estes 4 (quatro) fatores apontados acima

(foco, resultado, prestação de contas e comunicação) são limitadores do crescimento

contínuo, sustentável e transparente da área de Responsabilidade Social em escritórios de

advocacia. Denota o caráter ainda pouco profissional da área, em que pese haver forte

embasamento para sua existência e perpetuação como questão prioritária dentro do

escritório.

Outro ponto que merece destaque, considerando tratar-se de fator chave no

exercício da advocacia, refere-se ao número mínimo de escritórios que possuem um código

de ética. Um último e relevante aspecto que merece ênfase refere-se à ausência de

interseção entre a RS dos escritórios e seus clientes. Há muitas oportunidades que

poderiam ser desenvolvidas neste aspecto, seja para estreitar os laços profissionais, seja

para orientar eticamente as empresas, ou ainda para unirem esforços e suas expertises para

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construírem projetos sociais de alto impacto na sociedade. Seria uma parceria social de

grande eficácia e eficiência.

Nota-se, por fim, que os escritórios envolvem-se com projetos sociais muito

mais por uma necessidade espontânea, sua capacidade natural, e uma expressiva demanda

da sociedade, do que propriamente porque enxergam qualquer interesse nestas práticas.

Havendo orientações estratégicas para o desenvolvimento da RSC há que se manter o

“interesse”. Relevante esclarecer que o “interesse” mencionado não se relaciona com

aquele sem fins positivos, trata-se de interesses que possam estimular a convergência de

bons resultados para todos de acordo com seus respectivos objetivos. Resumidamente

temos que, dentre os escritórios pesquisados, os principais pontos que apresentam

oportunidades de melhoria são:

estabelecimento de foco de atuação das ações e projetos sociais, bem como sua

comunicação interna e externa em todas as suas fases;

acompanhamento contínuo, desde a concepção até a aferição dos resultados;

prestação de contas à sociedade e à organização com um todo sobre as ações

sociais desenvolvidas;

comunicação Assertiva sobre os projetos sociais e seus objetivos;

Responsabilidade Social Interna, com ênfase nos seguintes pontos: programa de

qualidade de vida e estruturação de apoio psicológico para os colaboradores;

Responsabilidade Social Externa, com foco na interação com seus Clientes;

elaboração de um Código de Ética;

visão estratégica da RSC.

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4. Considerações Finais

Os escritórios vivem pela ética, contudo há espaço e necessidade para que

desenvolvam melhor os conceitos que se relacionam a ela, notadamente vivenciem-na e a

consolidem por meio de um sistema, que pode ou não ser um código, mas que seja escrito.

A ética consubstancia-se em um ponto precioso neste estudo. Os advogados mantêm-se

mais centrados no cumprimento da Lei e em legitimar suas interpretações do que avaliar o

impacto de suas orientações e posicionamento na sociedade.

Como regra, os escritórios não desenvolvem a RSC envolvendo

estrategicamente sua cadeia de valor com vistas ao crescimento de seu negócio. A RSC

como orientação estratégica, com vistas ao aproveitamento da cadeia de valor e

consequente crescimento do escritório, pode ser mais bem explorada. Considerando os 3

(três) stakeholders analisados neste trabalho (Comunidade, Cliente e Colaborador), temos

que:

quanto à Comunidade: reforçando a cidadania apóia-se em um aparecimento de

um mercado de consumo consciente e crescente, que por sua vez abastecerá as empresas

clientes, que por sua vez precisarão de mais apoio para se regulamentarem, para se

estruturarem e para ampliarem seu negócio, bem como eventuais conflitos que surjam;

quanto aos Clientes: oportunidade de investimento no relacionamento, haja vista

que o vínculo de confiança é fundamental à natureza do trabalho jurídico. Os escritórios

também devem focar a prestação de seus serviços auxiliando seu cliente por meio de

orientações éticas e sustentáveis, que transcendam o próprio cumprimento da lei, que

muitas vezes, por conta de suas lacunas e interpretações, podem trazer prejuízo à sociedade

e a seus princípios éticos. Podem, ainda, envolver-se em projetos sociais em sistema de

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parceria para que ambos com suas vocações profissionais, auxiliem, juntos, o

amadurecimento de nossa sociedade;

quanto aos Colaboradores: todo material produzido e vendido pelo escritório

advém da inteligência humana. Investir na qualidade de vida integral deste stakeholder

aumentará a qualidade do trabalho, sua eficiência e sua criatividade, insumo este

fundamental para a atividade jurídica e para o exercício da função social do advogado,

entre outros aspectos que levarão ao aumento do lucro da empresa e, por consequência, à

melhor remuneração dos colaboradores. A adequada gestão do capital humano em grandes

escritórios de advocacia é parte essencial de seu negócio e garante sua sobrevivência e seu

desenvolvimento.

As três abordagens acima levam direta e indiretamente ao crescimento

econômico do escritório. Daí afirmar-se que estratégias estruturadas de RSC poderão

impactar positivamente o resultado financeiro dos escritórios de advocacia. É válido, neste

momento, trazer novamente a posição de BURKE et LOGSDON (1996), ao afirmarem que

políticas, programas ou processos ligados à RSC são estratégicos, quando oferecem relação

substancial com seu negócio e trazem benefícios para a empresa, em particular, apoiando a

atividade principal da empresa e também contribuindo para que ela possa desenvolver

efetivamente sua missão.

Diante de tudo o que foi apresentado, há elementos suficientes para justificar a

RSC como tema obrigatório no debate e planejamento estratégico dos escritórios, sem o

qual a gestão destes ficará defasada e precária, criando-se um descompasso com as

empresas-clientes, aumentando a distância, a visão e os valores que possuem e devem

compartilhar em um relacionamento sustentável e ético.

Não há como pensar em gestão eficiente sem considerar os interesses de todas

as partes envolvidas. Oportuno trazer à baila a questão: Quais práticas sociais podem

contribuir para a gestão estratégica de um escritório de advocacia promovendo o

desenvolvimento de sua cadeia de valor?

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Não há “receita de bolo”. Cada empresa, cada escritório de advocacia, é um

sistema vivo e único. Nesse sentido são fundamentais práticas de diálogo que conduzam à

estruturação dessas práticas, ouvindo as pessoas, que são a empresa, e que poderão melhor

dizer e planejar sua missão, suas metas, seus desdobramentos e como, quando e onde

exercerão sua função social. O que se pode fazer é conduzi-las à co-criação das práticas

sociais condizentes com cada realidade, considerando sua história, seu perfil e suas

inclinações naturais.

Como afirmam PORTER e KRAMER (2006): “A estratégia sempre exige

escolhas – e o sucesso na responsabilidade social empresarial não é diferente. É preciso

escolher as questões sociais a abordar.” Arrisca-se dizer que, a par da necessidade de

construção da RSC para cada escritório e realidade, vê-se, de modo geral, que: 1. como

dito por ALLEDI (2002), o estabelecimento das diretrizes éticas da organização deve ser

visto como o primeiro passo para a implantação do programa de responsabilidade social

corporativa; 2. o advogado tem grande atração pelo voluntariado, quando justifica sua

vocação de natureza humana e a concretiza por meio do contato pessoal. Neste sentido, a

advocacia Pro Bono, trabalho gratuito para as pessoas que não têm condições financeiras

para custear serviços jurídicos, apresenta muitas oportunidades para serem mais bem

desenvolvidas.

Ademais, essa atividade é a que apresenta maior aderência ao core dos

escritórios de advocacia. Quanto ao primeiro ponto, estabelecimento das diretrizes éticas, e

sua integração com o segundo ponto, advocacia Pro Bono, oportuno trazer o pensamento

de MILES et al. (2006), que propõem o uso de diálogos estratégicos como forma de

estabelecer práticas sociais para ligar sua organização com a comunidade. Essa ligação

pode, inclusive, diminuir eventuais problemas com a capacidade de performance da

empresa e com o futuro distanciamento causado pelas diferentes percepções entre os

executivos, as práticas sociais e os stakeholders. Tal aproximação permitirá o

entendimento dos conceitos e preferências dos diversos grupos de stakeholders, por meio

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de um estratégico processo de conversação público e aberto, que possibilitará à empresa

reconhecer, criar e descobrir atrativas oportunidades econômicas.

Outrossim, ficou nítido que os escritórios não possuem plena consciência de

seu estado de “ator-chave” da sociedade, sendo recomendável que de início os escritórios

tenham maior clareza de seu poder e seus reflexos em cadeia, e com esta consciência se

empoderem, e após, repassem e perpetuem o empoderamento de nossa sociedade.

Por fim, pode-se afirmar que os escritórios têm uma visão madura de sua

função social e buscam com ações concretas realizá-la. O conceito de RSC em escritórios

de advocacia está ligado à função social do advogado. Relaciona-se com a consciência

desperta a respeito da influência que possui no mercado e da utilização de sua expertise

para apoiar o crescimento do país, de sua empresa, dos colaboradores, dos clientes e

demais partes interessadas, não objetos deste estudo, mas que igualmente são fundamentais

para a busca do exercício responsável e eficiente da RSC nos escritórios, gerando assim

ganho para todos.

Há elementos suficientes para justificar a RSC como tema obrigatório no

debate e planejamento estratégico dos escritórios, sem o qual a gestão dos mesmos ficará

defasada e precária, criando-se um descompasso com as empresas clientes, aumentando a

distância, a visão e os valores que possuem e devem compartilhar em um relacionamento

sustentável e ético. Não há como pensar em gestão eficiente sem considerar os interesses

de todas as partes envolvidas.

O nível e a estruturação das áreas de responsabilidade social dentro dos

escritórios pesquisados permitem concluir que esses profissionais não estão engessados em

um discurso. De fato, e com ações sociais concretas, que envolvem, inclusive, seus sócios,

estão reconstruindo sua imagem e sua relação com a sociedade. Há uma vasta e expressiva

lista de projetos sociais sérios conduzidos por esses escritórios e ainda assim todos não

demonstram satisfação com o seu envolvimento e expressam abertura para o

desenvolvimento contínuo nesta área. Este fato é reforçado pela postura dos escritórios

participantes em passar informações, inclusive informando que gostariam de melhorar e

que como foi dito não estavam satisfeitos. Dessa forma, a verdade é que, assim como a

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sociedade está mudando, também os advogados estão construindo sua nova realidade com

ações concretas, tudo isso transpassado pela convergência de interesses, formando-se assim

um novo sistema de gestão estratégica.

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