responsabilidade social corporativa e o...

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1 OS NOVOS PARADIGMAS, A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E O DESENVOLVIMENTO LOCAL Silvana Parente Tania Zapata Introdução A concepção de desenvolvimento humano sustentável resulta da reflexão e do amadurecimento de várias abordagens das últimas décadas. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) adota o conceito de desenvolvimento humano, que começa a ser imediata e amplamente aceito nos meios acadêmicos e nas organizações do terceiro setor Diz o PNUD: trata-se de um processo abrangente de expansão do exercício do direito de escolhas individuais em diversas áreas: econômica, política, social e cultural. Algumas dessas escolhas são básicas para a vida humana. As opções por uma vida longa e saudável, ou por adquirir conhecimento, ou um padrão de vida decente, são fundamentais para os seres humanos. Portanto o desenvolvimento humano é desenvolvimento das pessoas, pelas pessoas e para as pessoas. Por outro lado o novo paradigma do desenvolvimento sustentável, contemplado no conceito do Relatório Brundtland (1987), afirma que se trata: “do desenvolvimento que atende as necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”, contempla dois conceitos chaves: necessidades e limitações, ou seja, as necessidades essenciais dos pobres do mundo devem receber a máxima prioridade, bem como a atenção à questão das limitações que o atual estágio de desenvolvimento da tecnologia e da organização social impõem ao meio ambiente, impedindo-o de atender as necessidades presentes e futuras.

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OS NOVOS PARADIGMAS, A RESPONSABILIDADE SOCIALEMPRESARIAL E O DESENVOLVIMENTO LOCAL

Silvana ParenteTania Zapata

Introdução

A concepção de desenvolvimento humano sustentável resulta da reflexão e do

amadurecimento de várias abordagens das últimas décadas.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) adota o

conceito de desenvolvimento humano, que começa a ser imediata e

amplamente aceito nos meios acadêmicos e nas organizações do terceiro setor

Diz o PNUD: trata-se de um processo abrangente de expansão do exercício do

direito de escolhas individuais em diversas áreas: econômica, política, social e

cultural. Algumas dessas escolhas são básicas para a vida humana. As opções

por uma vida longa e saudável, ou por adquirir conhecimento, ou um padrão de

vida decente, são fundamentais para os seres humanos. Portanto o

desenvolvimento humano é desenvolvimento das pessoas, pelas pessoas e

para as pessoas.

Por outro lado o novo paradigma do desenvolvimento sustentável, contemplado

no conceito do Relatório Brundtland (1987), afirma que se trata: “do

desenvolvimento que atende as necessidades do presente, sem comprometer

a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”,

contempla dois conceitos chaves: necessidades e limitações, ou seja, as

necessidades essenciais dos pobres do mundo devem receber a máxima

prioridade, bem como a atenção à questão das limitações que o atual estágio

de desenvolvimento da tecnologia e da organização social impõem ao meio

ambiente, impedindo-o de atender as necessidades presentes e futuras.

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O entendimento hoje de que precisamos avançar para este novo paradigma,

contempla a compreensão de que o desenvolvimento sustentável tem múltiplos

aspectos: ambiental, biológico, cultural, sócio-econômico, político e ético.

O debate sobre a interação entre as questões econômicas, sociais e

ambientais chega forte ao interior das empresas, uma vez que a sua

performance financeira passa a depender também da sua responsabilidade

social e ambiental.

Na análise histórica das últimas décadas existem inúmeras evidências de que a

eficácia econômica, entendida como a evolução positiva da economia, assim

como um correto funcionamento dos mercados não é possível sem coesão

social, concluindo que não pode haver eficácia econômica sem eficácia social

e vice-versa. Da mesma forma, o uso não racional dos recursos naturais e o

colapso das fontes de energia não renováveis, comprometem a

sustentabilidade da evolução da humanidade. Dessa forma o desafio da

inclusão social e da conservação ambiental passam a ser preocupação

também dos diversos segmentos empresariais.

Na América Latina, em especial no Brasil, falar em desenvolvimento econômico

significa também centrar o foco na geração de ocupação e renda, na inclusão

sócio-produtiva e o seu conseqüente impacto na melhoria da qualidade de vida

da população. Assim estão cada vez claros a proximidade e interdependência

entre as questões sociais, econômicas e ambientais que passam a ser

consideradas no novo conceito de desenvolvimento sustentável1.

Por isso, vislumbra-se um grande espaço para se desenvolver uma maior

complementaridade entre a atuação do setor público e do setor privado na área

social, visando a construção de políticas públicas mais abrangentes e

estruturantes.

1 A sustentabilidade vem após uma serie de adjetivações como integrado, social e humano semostrarem insuficientes para romper com a hegemonia economicista e está posta comoobjetivo e não como realidade. Esta abordagem convida a um olhar mais sistêmico eintegrador das dimensões do desenvolvimento: econômica, social-cultural-educacional, político-institucional e ambiental, deixando que a sustentabilidade seja o resultado do equilíbrio daspartes.

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No Brasil, o exercício da responsabilidade social pode se integrar ao esforço

dos governos e da sociedade civil na busca da sustentabilidade do

desenvolvimento, o que implica na inserção das camadas pobres da população

nos circuitos de renda e consumo. A sustentabilidade das empresas brasileiras

e do desenvolvimento do País depende de seu nível e forma de contribuição

para reduzir a pobreza e as desigualdades sociais.

Isso significa que, além de estimular a ampliação quantitativa do investimento

social privado2, é preciso estimular e apoiar o desenho e a implementação de

programas e projetos que contribuam para a modernização da “esfera pública”

e para a “inclusão sócio-produtiva” da população e evitar reproduzir práticas

pontuais, clientelistas, paternalistas que criam relações de dependência entre a

população beneficiária e as esferas de poder político e econômico.

O desafio é como canalizar esses recursos para promover oportunidades –

negócios inclusivos3, acesso dos mais pobres a serviços básicos de educação,

saúde, informação, tecnologias e mercados - e ao mesmo tempo facilitar a

autonomia e a participação dos mais pobres nos processos políticos e nas

decisões locais. Trata-se também de fazer a conexão dessa camada da

população com os mercados de maneira geral, ou seja a inserção dos pobres

nos mercados de trabalho, mercado de bens e serviços e mercado financeiro.

Aqui reside o foco deste trabalho, que é apresentar a “estratégia de promoção

do desenvolvimento local”, como oportunidade de dar mais eficiência, eficácia e

sustentabilidade aos investimentos privados na área social. A nossa tese é de

que é possível ampliar os investimentos privados na área social e seu impacto

no desenvolvimento, desde que se implemente projetos mais integrados e

estruturados a partir de uma estratégia de desenvolvimento local, a qual

contempla um conjunto de projetos articulados que envolvem capital social,

2 Entende-se por investimento social privado o repasse voluntário de recursos privados deforma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais e culturais.3 Entende-se por negócios inclusivos as iniciativas economicamente viáveis, ambientalmentesustentáveis e socialmente justas que utilizam mecanismos de mercado para melhorar aqualidade de vida das pessoas pobres, seja através da inserção dessas pessoas na cadeia devalor, como fornecedores de matérias primas e/ou serviços, seja os beneficiando comoconsumidores de bens e serviços essenciais a um menor custo.

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intervenções produtivas, sociais e ambientais, que contribuem para uma maior

eficiência e transparência das ações na nova esfera pública.

1. Evolução do conceito e das práticas de responsabilidade social

As práticas modernas de administração das empresas passaram a incorporar a

noção de responsabilidade social4 inicialmente motivados pelos paradigmas da

produtividade e da competitividade. Verifica-se um avanço nos mecanismos de

participação dos funcionários, fóruns de clientes, parcerias com fornecedores,

pesquisa de satisfação de consumidores, desenvolvimento da imagem

institucional, boa relação com governos, transparência nas informações etc.

Soma-se a isso a busca de aceitação e credibilidade junto aos novos

mercados, proveniente do processo de globalização e dos processos de fusão,

aquisição, alianças e constituição de redes deles decorrentes.

De outra parte, a pressão da sociedade civil organizada em nível mundial e o

posicionamento mais consciente dos consumidores numa nova era da

tecnologia da informação, passam a exigir das empresas mecanismos

transparentes de prestação de contas quanto às condutas trabalhistas, sociais

e ambientais adotadas.

Destacam-se no nível internacional as auditorias, certificações, normas

contábeis estabelecendo padrões e indicadores relativos a essas condutas,

bem como campanhas da sociedade civil organizada, denunciando

explorações de inadequadas condições sociais, trabalhistas e crimes

ambientais. Foi criada uma diversidade de mecanismos incentivadores das

boas práticas empresariais que estimulem a responsabilidade social

corporativa, como a Norma ISO 14000 criada pela International Organization

for Standardization (ISO), cujo objetivo é evidenciar o gerenciamento das

atividades da empresa que tenham impacto no ambiente. Mais recentemente,

ao final de 2010, surge a ISO 26.000, a qual consolida essa diretriz e amplia o

compromisso da empresa com seu entorno territorial e comunidades,

contribuindo para o seu desenvolvimento social e econômico.

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O novo comportamento empresarial é resultante do diferencial que a produção

ambientalmente correta ganha nos mercados, das vantagens competitivas que

se conseguem, das barreiras técnicas que o mercado está estabelecendo, da

pressão social a produtos que agridem a natureza, da modernização dos

sistemas de controle de qualidade... Tudo isso fruto do crescimento da

consciência ambiental a nível internacional.

Assim, o tema da responsabilidade social, extrapola o âmbito da filantropia,

tradicionalmente praticado pelas empresas privadas. Ele permeia a estratégia

mercadológica e a estrutura gerencial das empresas, que em sua lógica de

geração de lucros sustentáveis, passam a inserir a preocupação com os efeitos

de sua atuação em benefício de seus funcionários, familiares, parceiros e da

comunidade em geral.

Todavia, a prática de uma postura inovadora de responsabilidade social está

diretamente ligada com a percepção de fatores intangíveis que agregam

valores tangíveis à empresa, tais como aumento de receita, redução de custos

e aumento de competitividade. Trata-se de estímulo interno para inovação de

processos e produtos, aumento da demanda por seus produtos e participação

no mercado, ambiente externo favorável à cooperação empresarial, fatores de

competitividade sistêmica e redução da instabilidade política e institucional

local.

No Brasil, embora não se conheça ao certo o volume de recursos financeiros

aplicados em projetos sociais, as informações apontam para um crescimento

da ação empresarial no âmbito social, seja com recursos próprios ou

incentivados, operando diretamente, através de fundações ou parcerias com

outros atores sociais. Os recursos são destinados prioritariamente à educação,

capacitação e assistência a crianças e jovens, sendo a maioria com foco nos

funcionários e seus familiares.

Responsabilidade Social e o Desenvolvimento Local

4 A empresa socialmente responsável é aquela que incorpora no seu planejamento e práticaempresarial os interesses de diferentes partes (acionistas, funcionários, fornecedores,prestadores de serviços, consumidores, comunidade , governo e meio ambiente).

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A grande conexão entre a nova visão de Responsabilidade Social e a

estratégia de desenvolvimento local, é o reconhecimento de que o local, o

“Território” onde a empresa atua é um espaço sócio – econômico- institucional

com uma teia de relações, o que é determinante para a eficiência produtiva e a

competitividade das empresas. O território é um ator inteligente, dotado de

ativos de inovação, de empreendedorismo e de criatividade.

Diferentemente do conceito de “espaço” de caráter geográfico, onde as

preocupações fundamentais a ele relacionadas se referem à distância, custos

de transporte e à aglomeração de atividades; na perspectiva do

desenvolvimento local, o interesse se centra em um conceito diferente, o de

“território sujeito”, que compreende a heterogeneidade e complexidade do

mundo real, suas características ambientais e sócio-culturais específicas, seus

ativos endógenos, os atores sociais e sua mobilização em torno de diversas

estratégias e projetos.

A elevação da eficiência produtiva e a competitividade das empresas é uma

conquista que não depende ùnicamente do esforço empresarial privado

isolado, mas também da existência de ambientes em que se disponha de mão-

de-obra adequadamente capacitada; suficiente infraestrutura básica instalada

(energia, estradas, ferrovias, telecomunicações, abastecimento de água

potável, saneamento básico, gestão de resíduos, dentre outras); serviços de

saúde eficientes; ordenamentos jurídicos eficazes para a resolução de conflitos

dentre outros.

Por isso, destaca-se que a competitividade é “sistêmica”, já que depende de

todos os elementos do ambiente imediato da empresa. A qualidade deste

ambiente territorial é, pois, determinante para a eficiência produtiva e a

competitividade das empresas, ao permitir a redução de seus “custos de

transação”.

Da mesma maneira, na medida em que no atual contexto, o “conhecimento” e,

portanto, a qualidade dos recursos humanos, passa a ser o recurso estratégico

para a criação de vantagens competitivas (o qual está vinculado, por sua vez, à

qualidade das políticas de saúde, higiene, educação e capacitação), a criação

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negociada desse ambiente institucional e social inovador é decisiva para o

desenvolvimento local.

Por isso, a competitividade sistêmica territorial, não depende mais de

vantagens comparativas estáticas do espaço geográfico- como no passado-

tais como as dotações de recursos naturais, uma localização privilegiada que

reduza custos logísticos ou a disponibilidade de mão-de-obra barata. Cada vez

mais ganham relevância, as vantagens competitivas dinâmicas, tais como as

inovações tecnológicas, organizacionais, de gestão e de marketing e a coesão

social, todas elas dependentes da qualidade dos recursos humanos (capital

humano) e do nível de confiança e organização da sociedade, cooperação de

atores e pactuação estratégica (capital social).

Isto também significa que as políticas sociais não podem ser encaradas apenas

como políticas “assistenciais” ou “compensatórias, cujo objetivo é corrigir os

desequilíbrios que geram o funcionamento das economias de mercado”. O

desenvolvimento produtivo não é um processo que dependa somente das

diretrizes e intervenções do Estado, nem tão pouco é o resultado exclusivo das

atividades empresariais privadas. O desenvolvimento depende da forma como

o conjunto da comunidade organiza a produção social.

Em suma, a Responsabilidade Social Empresarial, pode encontrar na

estratégia de desenvolvimento local/territorial, mecanismos e instrumentos

mais eficazes para o investimento social privado, com efeitos positivos para a

competitividade das empresas, para a inclusão e coesão social e para a gestão

das políticas públicas.

2. A Estratégia de Desenvolvimento Local

Como se enfatizou até agora, os interesses e princípios que fundamentam a

moderna visão de responsabilidade social, comungam-se com os princípios

que norteiam o desenvolvimento sustentável, uma vez que as razões de

natureza econômica não estão dissociadas das questões de natureza social,

nem ambiental. Pelo contrário, numa perspectiva de sustentabilidade, o

sucesso das empresas depende dos avanços na área social, assim como o

enfrentamento das grandes questões sociais, estão a depender da

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sustentabilidade econômica das empresas e da sua contribuição direta e

indireta na área social.

Também foi ressaltado que as relações entre o econômico, o social, o cultural,

o ambiental e político-institucional, se materializam na prática, no território onde

as empresas se inserem. O nível local é o meio ambiente imediato no qual as

empresas se instalam, encontram serviços e recursos dos quais depende o seu

dinamismo e dentro do qual se ligam às redes de troca de informações e de

relações técnicas e comerciais.

Apresentamos a seguir, a estratégia de desenvolvimento local/territorial, com

foco na inclusão socioprodutiva, a qual pode ser liderada inicialmente tanto

pela iniciativa privada (área de responsabilidade social) quanto pelo poder

público, ou outra entidade que materialize parceria com esse propósito, a

exemplo de projetos de cooperação internacional.

Qualquer boa estratégia de desenvolvimento local está baseada em pelo

menos três pilares articulados e complementares:

1) Construção de uma nova governança, ou seja, a pactuação estratégica e a

gestão público-privada do processo de desenvolvimento.

2) Estímulo à dinamização econômica do território, com ênfase no fomento às

micro e pequenas empresas e à inclusão socioprodutiva dos mais pobres.

3) Fortalecimento e ampliação das capacidades locais, do capital social e das

redes de cooperação.

A busca da sustentabilidade ambiental e de equidade de gênero devem ser

tratadas de forma transversal, inclusive com ações afirmativas junto aos três

pilares acima.

2.1.A Importância da Governança Local/Territorial

O desafio do desenvolvimento sustentável e da inclusão socioprodutiva, põem

em questão não só a forma de dinamizar a economia de um território, mas

também a forma de governar a partir de uma nova lógica de gestão das

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relações locais-nacionais- globais, das relações público-privadas e das

relações sociais.

Construir uma nova governança 5 a nível local não é fácil, mas é possível

começar esse processo a partir do investimento social privado, tendo como

eixo o território de atuação das empresas. Implica em construir novas

capacidades – por parte das lideranças empresariais, comunitárias e

governamentais, cada uma com suas especificidades e expertises.

A gestão de um projeto de apoio ao desenvolvimento local/territorial demanda

sempre uma nova institucionalidade local, capaz de assumir a responsabilidade

de liderar a participação dos atores, estimulando alianças, acordos e as redes

de cooperação. É necessário ter metodologia6 facilitadora para tal, a qual deve

ter como princípio orientador, o processo dialógico de troca e produção de

conhecimentos e como eixo aglutinador o ciclo da gestão social, compreendo

processos de planejamento participativo, monitoramento da execução de

projetos pactuados, articulação dos instrumentos de fomento de acordo com a

demanda concreta dos atores reais e a avaliação de processos e resultados.

2.2.A Dinamização Econômica do território e seu vínculo com aInclusão Socio Produtiva

O segundo pilar da estratégia de desenvolvimento local é a dinamização

econômica do território, a partir do potencial endógeno e das oportunidades de

investimento das empresas. O primeiro passo é conhecer as dinâmicas

econômicas locais e sua teia de relações, o mercado de trabalho local e sua

articulação com as estratégias de capacitação, emprego e o perfil produtivo do

território.

5 DE BARBIERI ET AL conceitualiza governança local como sistema de gestão dainterdependência entre atoras públicos e privados, que convergem seus recursos paraconcretizar ações coletivas com fins de desenvolvimento num território determinado. Agovernança se sustenta, então, na construção de novas relações de cooperação entre agentespara alcançar objetivos de cada um e objetivos comuns de desenvolvimento, mesmo sabendoque os agentes do território não vivem em harmonia e cooperação permanente, e sim queexistem obstáculos para que seus interesses sejam convergentes.6 O IADH utiliza como referência a Metodologia GESPAR- Gestão Participativa para oDesenvolvimento Local. Maiores informações vide DESENVOLVIMENTO LOCAL -Trajetóriase Desafios: Reflexões Metodológicas de Apoio ao Desenvolvimento Local , IADH, Recife. 2005.

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Neste sentido, as empresas localizadas no território podem fazer a grande

diferença na estratégia de desenvolvimento local. Além da sua participação

ativa na instância de governança público-privada, elas podem abrir espaços de

comercialização em suas cadeias de valor, inclusive as cadeias de

fornecimento secundárias (tais como alimentação, segurança, limpeza,

insumos complementares) e aproveitar o potencial produtivo endógeno

existente no território, em geral formado por micro e pequenas empresas e

associações comunitárias.

Em seguida, uma vez identificadas às oportunidades de projetos produtivos,

sejam estes articulados ou não à ação empresarial das grandes empresas, é

necessário todo um trabalho de assessoria e capacitação de atores locais para

elaboração e implementação de projetos socioprodutivos. Aqui também pode-

se utilizar tecnologia social mais apropriada ao perfil econômico do território,

onde se destaca a incubação7 de empreendimentos econômicos solidários

para implementar modelos inovadores de negócios inclusivos, verdes e

solidários.

Cada território possui uma matriz institucional própria e para a consolidação

dos projetos produtivos inclusivos é necessário articular um conjunto de

serviços que sejam disponibilizados adequada e tempestivamente aos agentes

do território. São os chamados Serviços Territoriais de fomento e apoio à

Inovação, entre os quais se destacam: informação estratégica empresarial

(mercados, competidores, tecnologias e preços); assistência técnica para os

pequenos negócios; capacitação técnica em gestão empresarial; agregação de

valor aos produtos no território; apoio à comercialização/marca dos produtos

locais; construção de redes de cooperação empresarial. Tudo isso numa

linguagem simples e com o envolvimento das comunidades.

O acesso a serviços financeiros adequados à matriz produtiva local, também é

fundamental e pode ser apoiado através de ações de educação financeira

combinada com a articulação com entidades financeiras existentes no território

7 Entende-se por incubação de empreendimentos econômicos solidários o processo deformação e assessoria empresarial diferenciado voltado para pessoas de baixa renda, comvistas à criação ou fortalecimento de empreendimentos econômicos grupais ou em redes,

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e, quando não for possível, através da incubação de entidade de

microfinanças. Com instituições financeiras de base territorial comprometidas

com a estratégia, é possível ampliar o fluxo de recursos que transitam no

território e mais, ampliar o seu efeito multiplicador nos processos econômicos.

Uma maior cobertura e adequação dos serviços financeiros, contribui para a

competitividade sistêmica do território, além da sustentabilidade econômica dos

pequenos negócios.

A melhoria da qualidade e eficiência desses serviços (empresariais e

financeiros), em geral inexistentes ou dispersos no interior do território, requer

interação entre sua demanda e sua oferta. As demandas por sua vez, precisam

ser organizadas através de uma ação consciente do conjunto das iniciativas

produtivas (sejam individuais ou coletivas), cuja maioria não está ainda

consciente da importância de tais serviços.

As políticas ativas de emprego a partir das necessidades territoriais, como

serviços de intermediação, serviços de capacitação para reconversão da

produção ou para a ocupação temporária, também são essenciais, como

também a articulação com o sistema educacional local , com vistas a uma

educação mais contextualizada e adequada ao perfil econômico do território.

A economia solidária8 tem sido uma estratégia inovadora para inclusão

produtiva, a partir de uma resposta importante dos trabalhadores à

flexibilização no mundo do trabalho, concretizada em iniciativas

empreendedoras baseadas na solidariedade e na cooperação. Entretanto, a

dificuldade está em sair de apoios pontuais a pequenos projetos para buscar

sua integração nos planos e projetos territoriais estratégicos.

desde a etapa inicial de mobilização passando pela sua constituição, apoios técnicos eestratégia de sustentabilidade.8 IASKIO (2007) faz uma resenha sobre os conceitos de Economia Solidária, sintetizandoassim: “Economia Solidaria é toda organização formada e gerida por trabalhadores quepossuem os meios de produção, com vistas a geração de trabalho e renda. Essasorganizações guiam-se por princípios de solidaridade e autogestão podendo ser cooperativas,associações ou empresas autogestionárias”. Segundo SINGER (2000) Economia Solidária éum conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo e finanças –organizadas de forma autogestionaria onde todos são proprietários e trabalhadores. É outraforma de produzir, distribuir e consumir buscando um novo modelo que garanta odesenvolvimento da comunidade como um todo. Cooperação, autogestão e tecnologia socialsão elementos centrais da Economia solidária.

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2.3.O Fortalecimento do Capital Social

A principal característica de uma estratégia de desenvolvimento local é que se

deve trabalhar, simultaneamente às iniciativas de dinamização econômica, os

processos de governança e o fortalecimento do capital social9, cientes de que

os primeiros são uma variável dependente dos demais. Capital social é um

conceito que se refere às normas, nível de confiança, redes e organizações

através das quais se tomam decisões coletivas e se formulam as políticas.

Para Francis Fukuyama (2001) o capital social é a capacidade gerada pela

presença dominante de confiança em uma sociedade. De fato a existência da

confiança, produz atitudes cooperativas, articulação de projetos coletivos e

construção de redes produtivas e sociais.

O fundamental é que o capital social facilita a coordenação e a cooperação em

benefício da comunidade. Por isso se advoga que é preciso estimular os

processos de participação, empoderamento e protagonismo social e de seus

mecanismos de cooperação. A participação é crucial enquanto processo que

envolve três elementos importantes: o conhecimento da realidade por parte da

comunidade, a conscientização de seus problemas e potencialidades e a sua

organização pró-ativa para uma ação coletiva planejada. A participação não é

portanto um ato passivo de estar presente nas reuniões ou ser consultado, ela

significa muito mais: o poder de contribuir, de influir com propostas de mudança

e de integrar instâncias de tomada de decisões.

Muitos indagam se é possível construir capital social e a resposta de consenso

é sim . Pois o capital social é o único fator de desenvolvimento que é relacional,

se desenvolve na estrutura das relações sociais, não é propriedade de

ninguém e só existe quando se compartilha. Não obstante , há um custo para

construí-lo, o que requer recursos, tempo e metodologia apropriada.

Portanto, qualquer que seja a estratégia de desenvolvimento do território, deve

contemplar ações buscando o fortalecimento do capital social e sua vinculação

com a inclusão produtiva e a nova governança.

9 PUTNAM (1993) destaca o papel da sociedade civil , suas tradições no desenvolvimentoeconômico regional, a partir do caso da Tercera Itália, identificado pelo autor como capitalsocial, que compreende relações cognitivas entre instituições culturais, sociais e políticas.

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2.4.A Gestão Ambiental

O meio ambiente está ocupando cada dia, um espaço mais importante no

mundo empresarial, porque está deixando de ser uma função exclusiva de

produção para tornar-se uma função de gestão da empresa como um todo,

interferindo no planejamento estratégico, na execução das atividades rotineiras

e oferecendo parâmetros avaliativos para a sua reprogramação. Hoje, as

modernas empresas levam em conta a legislação ambiental, medem e

controlam os produtos e processos nocivos ao meio ambiente, treinam e

conscientizam seu pessoal, dialogam sobre o tema com a comunidade local e

especialmente nas suas pesquisas e projeções começam a valorizar a variável

ambiental.

A empresa socialmente responsável no campo da preservação ambiental ,

destaca-se pela sua atuação como agente de fomento do desenvolvimento

sustentável local. Detém excelência em política de gestão ambiental,

preservação da saúde, segurança e qualidade de vida e a inserção da questão

ambiental é apresentada como valor de sua gestão, sob a forma de missão e

visão do seu desempenho empresarial.

Assim, as empresas localizadas no território podem também fazer a diferença

com respeito ao componente ambiental de uma estratégia de desenvolvimento

local, dado que a gestão ambiental é motivada por uma mudança nos valores

da cultura empresarial e da comunidade, quanto a importância da

sustentabilidade do desenvolvimento.

A gestão ambiental, portanto, torna-se uma impulsionadora de condições de

competitividade para as organizações, qualquer que seja seu segmento

econômico. O desenvolvimento de campanhas, projetos, programas educativos

e programas voluntários voltados para os empregados das empresas,

comunidade e públicos mais amplos, empreendendo iniciativas de

fortalecimento da educação ambiental no âmbito da sociedade como um todo,

faz parte do escopo da responsabilidade social no âmbito ambiental, além de

projetos específicos, tais como exemplo, a gestão dos resíduos.

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Essas ações quando integradas a uma estratégia de desenvolvimento local

passam a ter mais impacto. Isso pode ser feito com a metodologia de

construção da agenda 21 local, a qual pode abrigar vários projetos e iniciativas

envolvendo a variável ambiental.

A seleção dessas iniciativas depende das características de cada território.

Entretanto, uma coisa é certa, precisa do envolvimento de todos os atores,

sejam empresariais, comunitários ou gestores públicos. O meio ambiente não

é propriedade de ninguém e seu uso é coletivo, razão pela qual sua gestão

precisa ser pactuada com todos os atores sociais.

A variável ambiental, ao contrário dos que muitos pensam, não deve ser

encarada como uma barreira ao processo de desenvolvimento, e sim como um

de seus condicionantes que precisam ser gerenciados, mitigando as ameaças

e aproveitando as oportunidades. Por exemplo, a variável ambiental pode ser

uma importante fonte de ocupação e renda, a partir da identificação de

atividades chamadas “verdes”10 e “marrons”, as quais precisam, ser

fomentadas pela estratégia de desenvolvimento local.

3. Objetivos e componentes da estratégia de desenvolvimento local

Temos dito que os projetos de investimento social privado com a abordagem

do desenvolvimento local, devem saber combinar os recursos e

potencialidades endógenos e exógenos e incorporá-los em uma estratégia de

desenvolvimento sustentável construída com a participação dos atores locais,

que seja capaz de gerar efeitos multiplicadores em termos de ocupação e

renda da comunidade.

Trata-se de mobilizar recursos e atores locais para , a partir de uma nova

forma de governança público-privada, construir entornos territoriais

10 São chamadas de atividades verdes o conjunto de atividades de assessoria, estudos epreservação ambiental tais como tratamento de água, limpeza de rios e montes, conservaçãode espaços naturais, preservação da fauna e flora, proteção de incêndios e manejo sustentávelde atividades econômicas mais diretamente relacionadas com o meio natural como a pesca, oextrativismo a agricultura orgânica, o turismo ecológico etc. Atividades marrons são aquelasvoltadas para a correção dos efeitos negativos sobre o meio ambiente tais como o controle dapoluição do ar e de rios, o tratamento de água industrial , a , gestão de resíduos industriais eurbanos , inclusive reciclagem de resíduos sólidos, o uso de energia renováveis emsubstituição a fontes convencionais.

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inovadores, capazes de ofertar os serviços adequados às micro e pequenas

empresas, criar ou fortalecer empreendimentos da economia solidária,

articular o sistema educacional e de formação profissional ao perfil produtivo

local , organizar redes sociais e empresariais de cooperação, estimular a

consciência e práticas ambientais sustentáveis.

Em relação aos objetivos, resultados e indicadores dos Programas de Apoio

ao Desenvolvimento Local, é muito interessante que sua construção,

pactuação e apresentação sejam realizados com a abordagem metodológica

do marco lógico.

O enfoque do Marco Lógico, utilizado pelos principais organismos

internacionais, constitui um processo de definição conceitual que permite tomar

decisões sobre os principais elementos constituintes de um projeto passo-a-

passo, criando um entendimento comum a todos os envolvidos com a gestão

do projeto, aumentando, assim, a responsabilização, o envolvimento individual

e, portanto, aumentando as chances de sucesso do projeto. Permite a

pactuação do planejamento, dos resultados e gestão do Programa de DL com

indicadores e realização da linha de base ou marco zero.

O resultado do processo de definição do Marco Lógico é uma matriz de dupla

entrada (4x4), com 16 campos, que representa uma síntese do projeto disposta

em uma página apenas, possibilitando uma leitura rápida e de fácil

compreensão e, sobretudo, permite a gestão do projeto com indicadores

pactuados por todos os envolvidos.

A seguir apresentamos a estrutura e os componentes do Marco Lógico:

ESTRUTURA SIMPLIFICADA DE UM MARCO LÓGICO

RESUMO DOS OBJETIVOS INDICADORESMEIOS DE

VERIFICAÇÃO

PREMISSASBÁSICAS E

PRESSUPOSTOSEXTERNOS

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FIM

Formulação do objetivo geral de

desenvolvimento ao qual o

Projeto contribuirá

IMPACTO

DECONTRIBUIÇÃO

Formas de

verificação dos

resultados

esperados

Condições ou

circunstâncias

necessárias para

facilitar a

implementação

das ações e obter

os resultados

esperados

PROPÓSITO

Objetivo ou objetivos

concretos/específicos do Projeto

EFETIVIDADE

COMPONENTES/RESULTADOS

Conjunto de resultados

produzidos pelo Projeto

DESEMPENHODE EFICÁCIA

ATIVIDADES

Ações que devem ser realizadas

para produzir os resultados do

Projeto

DESEMPENHODE EFICIÊNCIA

3.1.Descrição dos componentes de um Programa de Apoio ao DL:

Introdução : a Concepção Pedagógica

A concepção pedagógica adotada pelo IADH em apoio ao desenvolvimento localse baseia na Metodologia Gespar (Gestão Participativa para o DesenvolvimentoLocal), a qual se estrutura sobre a prática, sobre o fazer, sobre umaaprendizagem ativa, onde as informações e os conteúdos conceituais emetodológicos se originam na realidade concreta das comunidades e dasorganizações apoiadas. Assim, a aprendizagem é gerada a partir da reflexãosocial de dados e informações da realidade, visando a sua transformação.

A metodologia GESPAR estimula a prática de novos valores, tais comoparticipação com responsabilidade social e solidariedade com cooperação. Éuma estratégia metodológica estruturada em conteúdos, técnicas einstrumentos, orientados por uma nova concepção de desenvolvimento e um

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conjunto de valores humanistas que passam a interagir no espaço local,buscando provocar mudanças de comportamento.

Homens e mulheres são vistos num duplo olhar: primeiro como sujeitos,protagonistas de mudanças e, segundo, como fator estratégico dodesenvolvimento sustentável. O processo de capacitação amplia o acesso àinformação e reestrutura conhecimentos, potencializando a ação dos sujeitossociais. Apóia a construção do empoderamento das pessoas para que osbenefícios do desenvolvimento se voltem à realização humana.

Cada um dos Componentes com seu conjunto de Atividades visam atingir asmetas e obter os resultados esperados .

Todas as atividades devem ter um caráter capacitador, ou seja, devem buscara construção da visão crítica, da autonomia e do protagonismo dosparticipantes.

Alguns Princípios deverão nortear a prática dos facilitadores do IADH eparceiros e que, portanto, serão norteadores das temáticas, dos conteúdos,das dinâmicas e técnicas de formação:

­ Orientação para o desenvolvimento local sustentável;­ Caráter participativo e formativo;­ Geração de conhecimento através da reflexão sobre a ação;­ Cooperação e interdisciplinaridade;­ Visão sistêmica;­ Flexibilidade;­ Equidade de gênero;

Preservação e compreensão dos recursos ambientais como ativo dedesenvolvimento.

- Componentes -

3.1.1. Estruturação e desenvolvimento de instância de governançapúblico-privada

- estudos preliminares e entrevistas qualificadas com atores do território;

- mobilização e sensibilização de lideranças empresariais, comunitárias e

governamentais;

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- acordos e compromissos firmados a partir de valores e plano de trabalho;

- formação de facilitadores e agentes de desenvolvimento local;

- diagnóstico propositivo do desenvolvimento do território e visão de futuro;

- constituição, capacitação e fortalecimento da instância de gestão

compartilhada;

- articulação de parcerias estratégicas;

- elaboração participativa da estratégia de apoio ao desenvolvimento do

território, com identificação e pactuação de projetos;

- elaboração dos projetos;

- apoio à implementação, gestão e monitoramento dos projetos.

3.1.2. Estratégia de dinamização econômica do território com focono potencial endógeno e na inclusão produtiva

- estratégia de endogeneização de investimentos privados a partir da

identificação de demandas de serviços e insumos das grandes empresas e

mapeamento de núcleos/ativos produtivos locais;

- fortalecimento organizacional das comunidades e construção de redes

socioprodutivas para iniciativas empreendedoras;

- incubação de empreendimentos sociais , produtivos e da economia solidária

(inclusive fundos de capital semente);

- construção e/ou articulação dos serviços inovadores de assessoria técnica e

capacitação empresarial com foco nos projetos apoiados;

- inclusão Financeira (educação financeira e acesso a serviços financeiros

adequados à população de baixa renda).

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3.1.3. Gestão Ambiental Comunitária e Apoio a Projetos deProteção Ambiental e Projetos de Negócios Verdes

- Construção coletiva de documento guia de planejamento ambiental do

território, com base na metodologia internacional da Agenda 21 Local,

mediante processo de mobilização e sensibilização da comunidade em torno

da temática ambiental e de questões locais de sustentabilidade e cidadania.

- Formação de grupos voluntários de agentes ambientais comunitários, tais

como brigadas infanto-juvenil, comissões voluntárias de meio ambiente,

conselhos comunitários, entre outros;

- Formação de competências dos grupos voluntários de agentes ambientais em

correspondências ao programa de desenvolvimento local e projetos ambientais

pactuados entre a empresa e a comunidade;

- Oficinas sobre Educação Ambiental, Responsabilidade Social e

Desenvolvimento Local para partes interessadas contribuindo decisivamente

para a conscientização ambiental de todos os stakeholders envolvidos na

cadeia de valor da empresa;

- Elaboração, promoção e ou articulação de projetos ambientais comunitários

voltados para a geração renda e emprego, inclusão social e conscientização

ambiental, tais como negócios verdes baseados no reaproveitamento de

recursos naturais locais e ou resíduos do processo produtivo da empresa;

- Elaboração de Relatório de Responsabilidade Socioambiental Corporativa sob

consulta e colaboração dos stakeholders envolvidos nos projetos ambientais da

empresa;

- Construção de site e newsletter para divulgação das ações do projeto

ambiental (estratégias de Desenvolvimento Local), tendo como foco as ações

pactuadas entre empresa e comunidade;

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- Construção de mídias sociais (twitter, facebook, blogs, youtube e outros), com

o apoio dos agentes de ambientais voluntários, funcionários e demais

colaboradores da empresa;

- Assessoria técnica à investimentos em ações que tragam benefícios para a

comunidade, como contrapartida justa de reversão ou compensação de danos

ambientais existentes ou mitigação de danos futuros;

- Assessoria à solução/gestão conjunta de problemas ambientais comunitários

ou eventuais conflitos entre a comunidade e as empresas.

3.1.4. Comunicação em apoio à estratégia de desenvolvimentosustentável do território

- constituição de um Núcleo de Comunicação Comunitária no território, com a

formação continuada de agentes de comunicação;

- construção de mídias sociais (twitter, facebook, blogs, uso do youtube e

outros), com o apoio dos agentes de comunicação e jovens da comunidade;

- oficinas sobre Comunicação, Responsabilidade Social e Desenvolvimento

Local, para jornalistas, radialistas, assessores de imprensa das empresas e

dos governos, entre outros profissionais de comunicação;

- oficinas de Mídia Advocacy e Mídia Training para a utilização estratégica e

qualificada dos meios de comunicação, tendo como público-sujeito os setores

empresariais e comunitários;

- construção de site e newsletter para divulgar as ações do Projeto (estratégias

de Desenvolvimento Local), tendo como foco os patrocinadores, parceiros,

lideranças e comunidade em geral, além dos veículos de comunicação

convencionais e alternativos;

- fomento da criação de instrumentos de comunicação alternativa, a exemplo

de rádios comunitárias difusoras, jornais impressos, fanzines, spots, vídeos,

entre outros, de acordo com as características do território;

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- monitoramento e avaliação dos processos e instrumentos de comunicação

constituídos no âmbito das estratégias de Desenvolvimento Local.

1.1.1. Sistema de informação de base territorial, monitoramento eavaliação

- elaboração da base de dados sobre o território;

- construção de sistema de informação em apoio à gestão do Programa de

Desenvolvimento Local e de seus projetos;

- monitoramento dos planos e projetos;

- avaliação de resultados de implementação do Programa e seus impactos.

5- Reflexões finais:

O nosso pensamento e a nossa ação não devem estar separados. A história

do ser humano é uma história de ir sempre mais longe. Em busca de sua

superação, de construir novas utopias.

Nós não somos verdadeiramente humanos sem vontade e sem esperança.

Somos seres de respostas. Temos que ser consciências exigentes e

engajadas.

É possível caminhar em direção da agenda do desenvolvimento humano

sustentável, através de uma nova articulação entre os empresários, o território

organizado e as políticas públicas.

A filosofia da esperança é a que nos faz mais humanos. Fazer acontecer é

transformar a esperança no entusiasmo da mudança.

Mesmo com todos os desafios que existem , podemos afirmar que seja qual

for a visão filosófica de desenvolvimento no mundo de hoje , ele é sempre fruto

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de uma ação coletiva, portanto, do exercício da nova governança - fator de

coesão social e de competitividade empresarial!

Navegar nesta certeza é contribuir para uma história mais humana, com mais

equidade social, mais possibilidades de realização e de protagonismo .

Temos que ter pressa de fazer História! Responsabilidade social empresarial

hoje e compromisso com o território como sujeito inteligente , é uma

estratégia de engajamento com o presente , que articula o capital simbólico,

produtivo, ambiental e relacional, com o olhar do futuro e da sustentabilidade

do processo de desenvolvimento humano.