responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

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EDMAR DA CRUZ ARÊAS RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO MILITAR E REPERCUSSÃO NAS FORÇAS ARMADAS Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Capitão de Mar e Guerra (RM1) Caetano Tepedino Martins Rio de Janeiro 2012

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Page 1: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

EDMAR DA CRUZ ARÊAS

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO MILITAR E REPERCUSSÃO NAS FORÇAS ARMADAS

Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.

Orientador: Capitão de Mar e Guerra (RM1)

Caetano Tepedino Martins

Rio de Janeiro 2012

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C2012 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG

_____________________________ (Assinatura)

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Tamanho: 12,5 cm x 7,5 cm - Fonte arial 1

Arêas, Edmar da Cruz Responsabilidade Civil do Médico Militar e Repercussão nas Forças

Armadas / Contra-Almirante (Md) Edmar da Cruz Arêas. Rio de Janeiro: ESG, 2012.

62 f.: il.

Orientador: Capitão de Mar e Guerra (RM1) Caetano Tepedino Martins. Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2012.

1. Responsabilidade Civil do Médico Militar. I.Título.

Page 3: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

AGRADECIMENTOS

À Professora Sônia Dutra.

E ao meu Orientador, Capitão de Mar e Guerra (RM1) Caetano Tepedino

Martins, profissional de vasta cultura, paciente e amigo, pelas importantes

contribuições em prol do aprimoramento dos meus conhecimentos e da

qualidade deste trabalho.

Page 4: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

RESUMO

A responsabilidade civil constitui um instituto que se caracteriza pelo dever

jurídico de reparar um dano causado a outrem, por ação ou omissão. A

responsabilidade civil do oficial médico decorre da falha técnica quando da sua

atuação profissional nas diversas Organizações Militares de Saúde ou no

atendimento a um ferido em manobras militares a bordo de navios, na selva, ou

no ar. Nestes casos, além da ação judicial de responsabilidade civil contra o

oficial médico, poderá haver concomitantemente ou isoladamente, uma ação

em face da Força Armada a que este estiver subordinado, uma vez que a

instituição o contratou para prestar serviços de saúde aos seus usuários. A

escolha do tema ocorreu em virtude do aumento crescente do número de

demandas judiciais cíveis envolvendo pacientes, médicos e hospitais, fato que

vem causando grande preocupação aos oficiais médicos e à alta administração

das Forças Armadas em virtude da possibilidade de que o fenômeno do dano e

a consequente demanda judicial se estenda para a caserna. O objetivo

principal desta monografia é o de mitigar a ocorrência da responsabilidade civil

do médico militar e/ou da instituição a qual o mesmo estiver subordinado. Para

tanto, serão identificadas as principais causas de tais demandas judiciais;

descritas as peculiaridades da atuação do médico militar; apresentados os

principais aspectos jurídicos que envolvem as relações entre pacientes,

médicos e instituições de saúde; e, finalmente, serão propostas medidas para

mitigar a ocorrência de demandas judiciais cíveis envolvendo paciente, oficiais

médicos e organizações militares de saúde das Forças Armadas.

Palavras-chave: Responsabilidade Civil do Médico Militar

Page 5: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

ABSTRACT

The civil accountability is an institution characterized by the legal duty of

repairing a damage caused on another, by action or omission. The civil

responsibility of the medical officer is due to a technical failure when acting as a

professional on the several Military Health Care Units or in the field, wherever

onboard ships, in the jungle or airborne. In this case, besides the legal

accountability against the medical officer, it could occur at the same time or

isolatedly, a legal accountability in face of the Armed Force to which that officer

is subordinated, due to the fact that the Armed Force has hired him to do that

kind of job or service. The choice of this theme was motivated by an

increasingly number of civil legal demands involving patients, hospitals and

military medical personnel, a fact that has become a great concern to both

medical officers and the high command in the Armed Forces. The main

objective of this paper is to study the civil accountability of the Armed Forces

and their medical officers in face of malpracticing issues while in the Service.

For that matter, will be identified the main causes to legal demands; will be

described all the peculiarities that surrounds the military medical personnel; will

be presented all legal aspects of the relationship among patients, medical

personnel and Military Health Care Units; and finally, measures will be

proposed to mitigate the occurrence of legal civil accountability demands

involving patients, Military Health Care Units and military medical personnel in

the Armed Forces.

Keywords: Civil Liability of Military Medical.

Page 6: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAEPE Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia

CC Código Civil Brasileiro

CEM Código de Ética Médica

CEMOI Curso de Estado-Maior para Oficiais Intermediários

CF Constituição Federal

CFM Conselho Federal de Medicina

CP Código Penal

CPDC Código de Proteção e Defesa do Consumidor

CPEA Curso de Política e Estratégia da Aeronáutica

C-PEM Curso de Política e Estratégia Marítimas

CREMERJ Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro

CREMESP Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

CRM Conselho Regional de Medicina

C-Sup Curso Superior

EAOAR Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica

ECEMAR Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica

ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

ESAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

MB Marinha do Brasil

OM Organização Militar

SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

SMI Serviço Militar Inicial

SMV Serviço Militar Voluntário

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

Page 7: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 09 1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 09 1.2 PROBLEMA .................................................................................................... 11 1.3 HIPÓTESES ................................................................................................... 11 1.4 OBJETIVOS .................................................................................................... 11 1.5 METODOLOGIA ............................................................................................. 12 1.6 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA .................................................................. 12

2 CONCEITO ..................................................................................................... 13

3 BREVE HISTÓRICO....................................................................................... 15

4 O OFICIAL MÉDICO NAS FORÇAS ARMADAS .......................................... 17 5 DEVERES DE CONDUTA DO OFICIAL MÉDICO ......................................... 21 5.1 DEVER DE ACONSELHAR E INFORMAR .................................................... 22 5.2 DEVER DE CUIDAR DO PACIENTE E DE VIGILÂNCIA ............................... 23 5.3 DEVER DE PRUDÊNCIA ............................................................................... 24 5.4 DEVER DE ATUALIZAÇÃO ............................................................................ 24 5.5 DEVER DE GUARDAR SIGILO PROFISSIONAL .......................................... 25 5.6 DEVER DE ISENÇÃO .................................................................................... 26

6 DIREITOS BÁSICOS DO PACIENTE ............................................................ 26

7 CAUSAS DE DEMANDAS JUDICIAIS .......................................................... 31

8 ASPECTOS JURÍDICOS DO ATENDIMENTO MÉDICO E

HOSPITALAR ................................................................................................ 35 8.1 NORMAS LEGAIS .......................................................................................... 35 8.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................... 37 8.2.1 O Agente ........................................................................................................ 38 8.2.2 Ação ou Omissão ......................................................................................... 38 8.2.3 Culpa do agente ............................................................................................ 38 8.2.4 Dano à vítima ................................................................................................ 39 8.2.5 Nexo Causal ou Relação de Causa e Efeito ............................................... 41 8.3 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ...................................... 41 8.3.1 Contratual e Extracontratual ........................................................................ 41 8.3.2 Direta e Indireta ............................................................................................. 42 8.3.3 Objetiva e Subjetiva ...................................................................................... 43 8.4 RESPONSABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES FORNECEDORAS DE

SERVIÇOS DE SAÚDE .................................................................................. 44 8.5 RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............................... 45 8.6 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL ........................................ 46 8.7 VALOR DAS INDENIZAÇÕES ....................................................................... 47 8.8 PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS ........................................... 48

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9 PREVENÇÃO DO ERRO DO OFICIAL MÉDICO .......................................... 48

10 SUGESTÕES PARA MITIGAR A OCORRÊNCIA DE AÇÕES

JUDICIAIS ...................................................................................................... 51

11 CONCLUSÃO ................................................................................................. 53 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 56

ANEXO - JURISPRUDÊNCIA E DECISÕES JUDICIAIS ............................... 59

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1 INTRODUÇÃO

O tema da presente monografia tem o objetivo de analisar a questão da

responsabilidade civil do médico, as peculiaridades e implicações da sua atuação

como oficial de saúde e assessorar a alta administração das Forças Armadas quanto

à necessidade da implementação de medidas administrativas e técnicas com a

finalidade de diminuir a incidência de lides judiciais envolvendo o médico militar,

usuários dos três sistemas de saúde e a Força Armada a que o mesmo estiver

subordinado.

1.1 JUSTIFICATIVA

―A responsabilidade civil médica é uma obrigação, de ordem civil, a que

estão sujeitos os médicos, no exercício profissional, quando de um resultado lesivo

ao paciente, por imprudência, imperícia ou negligência‖ (FRANÇA, 1998)

Quanto à responsabilidade civil da ―pessoa jurídica‖ prestadora de

serviços de saúde, respondem pelos danos causados aos seus pacientes: as

unidades hospitalares, como fornecedoras de serviços de saúde; as instituições que

contratam médicos para atuarem junto aos seus usuários; e ainda as empresas

locadoras diretas de serviços de saúde. (CAVALIERI FILHO, 2008, p.2, p.369-388)

A responsabilidade civil do oficial médico decorre do erro ou da falha

na atuação técnica quando do exercício da sua atividade profissional, nas diversas

Organizações Militares de Saúde (hospitais, policlínicas, departamentos de saúde

etc.) ou no atendimento a um ferido por ocasião de uma manobra ou exercício.

A responsabilidade civil do médico passou a ter uma grande

repercussão após o advento da Constituição Federal de 1988, do novo Código Civil

Brasileiro e do Código de Proteção e Defesa do Consumidor de 1990, diplomas

legais estes que mudaram as relações entre pacientes, médicos e organizações

fornecedoras de serviços de saúde, passando o instrumento da indenização por

danos a integrar definitivamente o nosso ordenamento jurídico.

Concomitantemente, o cenário nacional sofreu diversas

transformações, principalmente no setor da tecnologia da informação, que permitiu o

acesso de um número cada vez maior de pessoas a uma série de informações em

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tempo real. No aspecto econômico, observou-se uma elevação no valor dos

serviços, fato que obrigou a uma grande parcela dos brasileiros a abandonar seus

―planos de saúde‖ e a recorrer à rede pública de saúde para o tratamento de suas

enfermidades. No campo da educação, ocorreu uma queda significativa na

qualidade do ensino em todos os níveis, inclusive na formação de médicos, situação

que gerou um aumento do chamado ―erro médico‖.

A incidência cada vez maior do erro médico, com a informação sobre o

ocorrido alimentada pela mídia e por advogados desejosos de auferir lucros

vultosos, contribuiu para uma demanda crescente de ações judiciais contra médico

e/ou em face de instituições fornecedoras de serviços de saúde, tendo como escopo

a pretensão do autor em receber uma indenização.

As Forças Armadas, instituições que primam pela excelência do

atendimento de saúde prestado aos seus usuários, não estão livres dessa ―onda de

indenizações‖, uma vez que possuem um número significativo de usuários,

distribuídos em todo o território nacional: um contingente de oficiais médicos

bastante heterogêneo, alguns com larga experiência profissional, detentores de

títulos de mestrado e doutorado, outros recém formados cumprindo o serviço militar

obrigatório ou convocados como voluntários, e finalmente aqueles em fase de

especialização ou realizando residência médica. Tais oficiais, em sua grande

maioria, não possuem conhecimentos mínimos sobre a responsabilidade civil do

médico, fato que causa apreensão de todos ante a possibilidade de uma ação

indenizatória contra si ou em face da Força Armada a qual estiver subordinado.

Outro ponto a ser observado, se refere à atividade fim das Forças

Armadas, que implica na execução de manobras e exercícios a bordo de navios, na

selva, ou no ar. Nesse cenário, o apoio de saúde certamente estará bem reduzido

no que se refere a médicos e equipamentos, se compararmos com o efetivo dos

hospitais e policlínicas militares, fato que poderá aumentar a possibilidade da

ocorrência do chamado ―erro médico‖ e gerar transtornos administrativos para o

profissional ou para a instituição.

Assim, pensamos que se faz necessário implementar medidas

preventivas, de caráter técnico e administrativo, visando à prevenção do erro

médico, que, consequentemente, irão diminuir a ocorrência de processos judiciais

cíveis em face de uma das Forças Armadas e/ou contra seus oficiais médicos.

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1.2 PROBLEMA

Crescente aumento do número de demandas judiciais cíveis

envolvendo pacientes, médicos e hospitais, no meio civil, que podem levar às

mesmas ocorrências nas Forças Armadas.

1.3 HIPÓTESES

Considerando que o conflito é inevitável e a possibilidade da

ocorrência de lides envolvendo pacientes e oficiais médicos no exercício da

profissão, fato que poderá acarretar processos judiciais cíveis contra tais

profissionais e/ou em face da Força Armada a que o mesmo estiver subordinado,

torna-se imperioso a necessidade da implementação de medidas preventivas,

técnicas e administrativas, visando a mitigar tais acontecimentos, seguramente

danosos aos cofres públicos e a boa reputação das Forças Armadas.

1.4 OBJETIVOS

Objetivo Geral

Mitigar a ocorrência da responsabilidade civil do médico militar e/ou da

instituição a qual o mesmo estiver subordinado.

Objetivos Específicos

Identificar as principais causas de demandas judiciais envolvendo

pacientes, médicos e instituições de saúde no Brasil.

Discorrer sobre as peculiaridades da atuação do médico militar.

Apresentar os principais aspectos jurídicos e éticos que envolvem as

relações entre pacientes, médicos e instituições de saúde.

Propor medidas para diminuir a ocorrência de demandas judiciais

cíveis envolvendo pacientes, oficiais médicos e organizações militares de saúde das

Forças Armadas.

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1.5 METODOLOGIA

O estudo do tema será conduzido por intermédio de pesquisas

bibliográficas e ferramentas de busca disponíveis na internet.

1.6 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Para alcançar o objetivo proposto, a presente monografia está

organizada em 11 seções: introdução; conceito; breve histórico; o oficial médico nas

Forças Armadas; deveres de conduta do oficial médico; direitos básicos do paciente;

causas de demandas judiciais; aspectos jurídicos; prevenção do erro do oficial

médico; sugestões para mitigar a ocorrência de ações judiciais; e conclusão.

A seção 1 apresentará o problema central, os objetivos e outros

elementos necessários para situar o tema do trabalho.

A seção 2 será destinada ao conceito de responsabilidade civil do

médico à luz da legislação vigente.

A seção 3 será dedicada a um breve histórico sobre o tema,

abordando, dentre outros aspectos, as suas origens e a situação nos dias de hoje,

em decorrência da promulgação da Constituição Federal de 1988, do novo Código

Civil Brasileiro, e do Código de Proteção e Defesa do Consumidor de 1990.

A seção 4 discorrerá sobre o oficial médico nas Forças Armadas, sua

captação junto ao meio civil, sua formação militar e peculiaridades da sua atuação

profissional como oficial.

A seção 5 será dedicada aos deveres de conduta do oficial médico,

previstos no Código de Ética Médica (CEM), na Constituição Federal (CF), no

Código Civil Brasileiro (CC), e no Código de Proteção e Defesa do Consumidor

(CPDC).

A seção 6 conterá os direitos básicos do paciente, a luz da legislação

vigente.

A seção 7 discorrerá sobre as causas das demandas judiciais

envolvendo pacientes, médicos e instituições de saúde.

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A seção 8 será dedicada aos aspectos jurídicos que envolvem o

atendimento médico e hospitalar.

A seção 9 abordará a prevenção do erro médico por intermédio de

medidas técnico-administrativas.

A seção 10 trará as sugestões para mitigar a ocorrência de ações

judiciais cíveis envolvendo pacientes, oficiais médicos e as Forças Armadas.

A seção 11 será destinada à conclusão, ocasião em que será inferida a

necessidade da implantação de medidas visando à diminuição da ocorrência do erro

médico e, consequentemente, a redução de lides judiciais envolvendo os atores já

descritos. Afinal, prevenir é sempre melhor e menos custoso.

2 CONCEITO

Definir responsabilidade civil em um único conceito é desconsiderar

séculos de história em que este instituto vem sendo desenvolvido. Assim, para

melhor compreender o tema, passaremos a citar o entendimento de alguns autores

sobre o assunto em tela.

Para Cavalieri Filho, ―responsabilidade civil é um dever jurídico

sucessivo que surge para reparar o dano decorrente da violação de um dever

jurídico originário, previsto em contrato, oriundo de lei ou dos preceitos legais do

direito‖. (CAVALIERI FILHO, 2008, p.2, p.369-388)

Washington dos Santos conceitua responsabilidade civil como sendo

um ―compromisso de contestar, replicar, retorquir ou dar satisfação pelos próprios

atos ou de outra pessoa, ou por coisa que lhe foi confiada‖. (SANTOS, 2001, p.218)

Sílvio Rodrigues a define como: ―obrigação que pode incumbir uma

pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas

ou coisas que dela dependem‖. (RODRIGUES, 2002, p.6)

Para Roberto Senise Lisboa, a ―responsabilidade é o dever jurídico de

recomposição do dano sofrido, imposto ao seu causador direto ou indireto.

Responsabilidade constitui uma relação obrigacional cujo objetivo é o

ressarcimento‖. (LISBOA, 2004, p.427)

Ainda, Maria Helena Diniz ensina que ―responsabilidade civil é a

aplicação das medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou

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patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por

pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou por simples

imposição legal‖. (DINIZ, 2003, p.36)

A responsabilidade civil é patrimonial, isto é, o patrimônio do devedor

que responde por suas obrigações. ―A responsabilidade civil médica é uma

obrigação, de ordem civil, a que estão sujeitos os médicos, no exercício profissional,

quando de um resultado lesivo ao paciente, por imprudência, imperícia ou

negligência‖ (FRANÇA, 1998, p.389-403)

Gagliano e Pamplona Filho ensinam que a responsabilidade decorrente

de danos causados no exercício da profissão diferencia-se em: ―subjetiva (contratual

ou extracontratual) ou objetiva‖ (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2007, p.203),

conceitos que serão ampliados, explicitados, e desenvolvidos no decorrer desta

monografia.

A responsabilidade civil do médico militar decorre da falha na atuação

técnica do citado profissional em ambulatórios, policlínicas e hospitais militares,

divisões de saúde de navios ou unidades de terra e mesmo no atendimento ao ferido

em manobras, exercícios ou situações de crise ou conflito.

Quanto à responsabilidade civil dos órgãos prestadores de serviços de

saúde (federais, estaduais, municipais e particulares), tem-se que os mesmos

respondem pelos danos causados aos pacientes, independentemente da existência

de culpa, como veremos adiante.

As instituições que contratam médicos, por concurso ou não, para

atuarem junto aos seus usuários, respondem pelos atos de tais profissionais, uma

vez que assumiram os riscos da escolha.

As unidades prestadoras de serviços de saúde, que estabelecem

convênios ou credenciam médicos e hospitais com o objetivo de suprirem as

deficiências de seus próprios serviços, compartilham igualmente da

responsabilidade civil dos conveniados e credenciados, uma vez que seus usuários

procuram tais profissionais e unidades de saúde acreditando que a seleção dos

mesmos foi realizada de maneira criteriosa, gerando assim uma responsabilidade

solidária de todos. (CAVALIERI FILHO, 2008, p.2, p.369-388)

Por fim, observamos que, segundo os ensinamentos dos autores

França e Cavalieri Filho, para que ocorra a responsabilidade civil do médico há a

necessidade da verificação da culpa (responsabilidade subjetiva), fato que não

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15

ocorre com as organizações fornecedoras de serviços de saúde (responsabilidade

objetiva). A diferença entre responsabilidade civil objetiva e subjetiva será

amplamente relatada na seção 8.

3 BREVE HISTÓRICO

Para um maior entendimento sobre a responsabilidade civil do médico,

acreditamos fazer necessário realizar uma reflexão histórica sobre o tema,

abordando as primeiras relações interpessoais da humanidade ante a um dano,

discorrer sobre o primeiro documento que descreve sobre o tema, os diplomas

subsequentes, a origem do instituto no Brasil e sua situação atual, em face da

evolução cultural, política e tecnológica ocorrida no país nos últimos anos.

Nos primórdios da civilização, as lides eram resolvidas por intermédio

da vingança coletiva, que tinha como característica a reação conjunta do grupo

contra o ofensor de um dos seus componentes. Posteriormente, a resolução dos

conflitos passou a ser individual, onde os homens faziam justiça pelas próprias

mãos, sintetizada na fórmula ‖olho por olho, dente por dente‖. Em decorrência da

constatação de que a vingança privada não reparava nada, muito pelo contrário,

aumentava a corrente de violência, e da percepção, pelo lesado, de que era mais

vantajoso um acordo pecuniário com o autor da ofensa, teve início a um período de

composição, com o pagamento de uma quantia em dinheiro, a critério do lesado, em

se tratando de delito privado, ou da autoridade pública, quando envolvia o Estado.

(DINIZ, 2002).

O mais antigo documento sobre responsabilidade civil de que se tem

notícia é a Lei de Ur Nammu, também conhecida como Tábuas de Nippur, datada de

aproximadamente 2050 A.C. e introduzida por Ur Nammu na antiga Suméria. Este

diploma legal constituiu a base dos demais códigos que surgiram ao longo da

evolução histórica da civilização humana. O instrumento apresentava algumas idéias

abstratas sobre a reparação por danos morais e admitia a pena pecuniária.

(DANTAS, 2003)

Por volta de 1792-1750 A.C., Hamurabi, rei da Babilônia, instituiu o

código que levava o seu nome, onde preconizava que o ―forte não prejudicará o

fraco‖, além da reparação do dano físico, que ocorreria segundo a Lei de Talião

(olho por olho e dente por dente) ou por meio de reparação, dependendo da

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situação social da vítima. (REIS, 1997). O diploma de Hamurabi foi o primeiro

documento histórico a fazer referência ao erro médico, além de algumas normas

sobre a profissão médica na época. O médico, mesmo desfrutando de elevada

posição social e serem confundidos com sacerdotes, deveria seguir as normas

preconizadas no atendimento a um enfermo, caso contrário, sofreria punições.

(GIOSTRI, 2000)

Na Grécia, em aproximadamente 500 anos A.C., ocorreram grandes

avanços no conhecimento médico, tornando-o mais científico e, consequentemente,

alterações significativas quanto à apuração da responsabilidade médica. O médico

passou a ser responsabilizado pela sua conduta profissional e sua culpa atestada

por um colegiado de médicos. Nessa época, foi constituído o Corpus Hippocraticum,

cuja síntese mais conhecida é o juramento ainda hoje repetido pelos médicos

quando da sua colação de grau. Outro fato que merece destaque foi a criação, em

Atenas, da Lei geral de reparação, que distinguia o dano voluntário (doloso) do

involuntário (culposo), sendo também proposta a troca do procedimento conhecido

como Lei de Talião pela indenização, baseado na idéia de que o valor

compensatório transformava o ódio em amizade. (KFOURI NETO, 2007, p.61-199)

Em Roma, por volta de 452 A.C., a Lei das XII Tábuas já regulava

alguns princípios gerais da responsabilidade civil, mas foi com a promulgação da

Lex Aquilia, aproximadamente ao longo do século III A.C., que ocorreu um salto

histórico no direito romano, onde se passou a observar a inserção da culpa como

elemento básico para haver a obrigação de indenizar. (GAGLIANO; PAMPLONA

FILHO, 2003, p.10-13). A Lex Aquilia foi assim denominada por ter sido de iniciativa

do tribuno Aquilius, membro do patriciado romano.

A Lex Aquilia cristalizou a idéia da reparação pecuniária do dano,

impondo que o lesante suportasse o ônus da reparação ao lesado, tendo como a

conduta culposa o fundamento da responsabilidade, de tal forma que o agente se

isentaria de tal obrigação se tivesse agido sem culpa. A Lex Aquilia estabeleceu,

assim, as bases da responsabilidade extracontratual e criou uma forma pecuniária

de indenização, com base no estabelecimento do seu valor. Caso o dano não

causasse prejuízo, não dava lugar a indenização.

Posteriormente, as sanções desse instituto foram aplicadas aos danos

causados por omissão ou os verificados sem o comprometimento físico e/ou

material. O Estado passou então a intervir nos conflitos privados, fixando o valor dos

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prejuízos, obrigando a vítima a aceitar a composição, renunciando a vingança.

(DINIZ, 2002)

Na França, por intermédio do Código Napoleônico, houve um

aperfeiçoamento em vários aspectos do direito romano, dentre eles podemos

destacar o princípio de existência da culpa contratual, a qual se origina da

imprudência ou da negligência, ficando aí delineada a teoria subjetiva, a qual obriga

o ofensor a pagar a indenização ao ofendido, desde que seja constatado o dano, o

nexo causal e a culpa; outro aspecto foi o da separação da responsabilidade civil,

perante a vítima, da penal, perante o Estado. (GONÇALVES, 1998, p.5)

O progresso e o desenvolvimento industrial, com a consequente

multiplicação dos danos, obrigaram os países a aprimorarem os seus institutos,

sempre visando propiciar uma maior proteção às vítimas.

No Brasil, a responsabilidade civil teve seu embrião com as

Ordenações do Reino, documento que sofreu forte influência do direito romano,

sendo que em 1830 foi promulgado o Código Criminal, trazendo consigo, no seu art.

21, o dever de ressarcimento pelo ofensor à vítima, em razão do dano causado. Em

1916 entrou em vigor o Código Civil, documento influenciado pelo Código Civil

Francês e norteador da teoria da culpa, em cujo art. 159 preconizava que ―aquele

que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imperícia, violar direito, ou

causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano‖.

Finalmente, após a promulgação da nossa Constituição Federal de

1988, onde a indenização se fez presente no seu art. 5º, incisos V e X; e com o

advento do Código de Proteção e Defesa do Consumidor de 1990 e do Código Civil

Brasileiro de 2002, a indenização por danos passou a integrar definitivamente o

nosso ordenamento jurídico, possibilitando, com isso, um embasamento legal para

alavancar as demandas judiciais envolvendo pacientes, médicos e instituições de

saúde. (DANTAS, 2003)

4 O OFICIAL MÉDICO NAS FORÇAS ARMADAS

O médico, oriundo de diversas regiões do Brasil, ingressa nas Forças

Armadas em uma das seguintes situações: como integrante do quadro de médicos

de carreira; por convocação para a prestação do serviço militar obrigatório; por

intermédio do serviço militar voluntário; ou em virtude de convocações de

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18

emergência, em situações especiais, após a determinação do Presidente da

República.

O processo seletivo para o ingresso no quadro de médicos de carreira

ocorre sob a forma de concurso público, normalmente de periodicidade anual, em

âmbito nacional, destinado a brasileiros natos de ambos os sexos com menos de

trinta e cinco anos de idade (Marinha), trinta e sete (Exército) e trinta e cinco (Força

Aérea), graduados em medicina por faculdade reconhecida pelo Ministério da

Educação e possuindo registro no órgão estadual fiscalizador da profissão, no caso,

o Conselho Regional de Medicina (CRM). O número de vagas e de especialidades

médicas varia de acordo com a necessidade de cada Força.

Nessa via de acesso, o candidato é submetido a provas de

conhecimento técnico, escrita e oral (esta dependendo da decisão de cada Força

Armada); exame psicotécnico; exame clínico e laboratorial, a fim de ser verificada a

higidez do futuro oficial; bem como teste de aptidão física, cujos índices variam

conforme as exigências de cada instituição. Essas etapas do processo de ingresso

de médicos nas Forças Armadas são de caráter eliminatório e contribuem para a

seleção dos melhores profissionais dispostos a seguir a carreira de médico militar.

Os aprovados nas etapas do processo seletivo são matriculados no

curso de formação de oficiais da Força para qual prestou o concurso, e, após nove

meses, são declarados Primeiros-Tenentes e, caso cumpram todos os requisitos de

carreira, poderão alcançar o posto de Vice-Almirante (na Marinha do Brasil), General

de Divisão (no Exército Brasileiro) ou Major-Brigadeiro (na Força Aérea).

A segunda possibilidade de ingresso do médico nas Forças Armadas é

feita pela convocação obrigatória dos médicos, do sexo masculino, que obtiveram

adiamento de incorporação antes do término do respectivo curso de nível superior.

Tais profissionais prestarão o serviço militar obrigatório, com a duração de doze

meses. Após esse período, são desligados, como oficial médico da reserva não-

remunerada da respectiva Força, para seguirem suas carreiras no meio civil,

sabendo que poderão ser reconvocados a qualquer momento em caso de

necessidade, de acordo com a lei do Serviço Militar em vigor no Brasil. Os médicos,

ao serem incorporados ao serviço militar obrigatório, realizam um curso de formação

de reservistas, com duração aproximada de dois meses. A duração do tempo de

serviço poderá sofrer prorrogações sucessivas, em decorrência da solicitação do

militar e interesse da Força, até um período que não poderá ser maior que nove

Page 19: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

19

anos, contínuos ou não, computados para esse efeito, todos os tempos de efetivo

serviço apenas como militar, inclusive prestados a outras Forças Armadas.

Como terceira via de acesso, existe o serviço militar voluntário, quando

médicos de ambos os sexos poderão ser designados para o serviço ativo, em

caráter transitório e mediante aceitação voluntária, nos termos do Estatuto dos

Militares e do Regulamento da Reserva de cada Força Armada. Esses profissionais

podem se candidatar até o ano que completarem trinta e sete anos de idade, tendo

como referência a data de 31 de dezembro do ano da inscrição. A prorrogação

poderá ocorrer nos mesmos moldes da convocação obrigatória, sendo o candidato

também submetido ao curso de formação de reservistas, com igual duração. Tal

como no serviço militar obrigatório, poderão ocorrer prorrogações sucessivas,

obedecendo aos mesmos critérios.

A legislação contempla ainda a possibilidade da convocação de

médicos do sexo masculino, em qualquer época, tendo ou não prestado o serviço

militar, em caráter de emergência, por determinação do Presidente da República,

para evitar a perturbação da ordem ou para a sua manutenção, ou, ainda, em casos

de calamidade pública.

Terminada a necessidade, ou o fato gerador, o profissional convocado

será desligado do serviço ativo no posto de Segundo ou Primeiro-Tenente da

Reserva, dependendo do tempo em que ficou no serviço ativo.

Após o término do curso de formação de oficiais da ativa e do curso de

formação de reservistas, os Primeiros-Tenentes de carreira e os Guardas

Marinha/Aspirantes médicos da reserva de segunda classe, de ambos os sexos, são

designados para uma Organização Militar (OM) de saúde, de ensino, ou operativa,

sem ter recebido conhecimentos jurídicos a respeito da atividade de saúde que irá

exercer, salvo em raríssimas exceções, uma vez que nos respectivos cursos não há

orientações sobre o tema.

Nos hospitais, policlínicas e ambulatórios navais, os profissionais

recém-admitidos têm acesso a equipamentos de última geração e à possibilidade de

obter conhecimentos técnicos de oficiais médicos experientes, muitos dos quais,

apesar de detentores de títulos de doutores e mestres nas suas respectivas

especialidades, não possuem conhecimentos a respeito da responsabilidade civil do

médico militar, bem como das implicações jurídicas para a instituição ante a um erro

médico de um profissional por ela contratado. Nessas OM, os oficiais médicos

Page 20: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

20

recém-admitidos terão a oportunidade de se desenvolverem tecnicamente à luz dos

avanços mais modernos na área de saúde, colocados a disposição pela alta

administração das Forças Armadas.

Nas OM de ensino, o oficial médico irá executar uma série de tarefas

de grande importância, dentre elas, podemos citar o atendimento clínico à tripulação,

o adestramento de situações de emergência proporcionado aos enfermeiros e

alunos e a realização de inspeções de saúde de sua competência, de acordo com a

legislação vigente.

Ao serem integrados aos meios operativos (navios, unidades aéreas e

OM de terra), os oficiais médicos terão a oportunidade de desempenhar funções

relativas à manutenção, no mais alto grau, da higidez do combatente, voltadas para

o preparo e a aplicação do Poder Militar. Nessas unidades, o oficial participará

ativamente de diversas operações e exercícios, ocasiões que certamente será

acionado a prestar algum atendimento de emergência, seja real ou simulado, este a

título de adestramento. Na execução dessa importante atividade, o médico deverá

ter à sua disposição todos os equipamentos necessários, além de enfermeiros bem

formados e treinados. Consideramos a atividade operativa como fundamental na

carreira do oficial médico, uma vez que ela é a razão de ser da sua presença nas

Forças Armadas.

Durante a carreira, o oficial médico é continuamente preparado para

exercer suas funções operativas (atividade-fim), técnicas e administrativas.

Os conhecimentos necessários, ao melhor desempenho das

atribuições de caráter operativo e administrativo dos oficiais médicos, são adquiridos

por intermédio dos diversos cursos de carreira; tais como na Marinha: Curso de

Estado-Maior para Oficiais Intermediários (CEMOI), Curso Superior (C-Sup) e o

Curso de Política e Estratégia Marítimas (C-PEM); no Exército: Curso da Escola de

Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO) e o Curso da Escola de Comando e Estado-

Maior do Exército (ECEME); e na Força Aérea: Curso da Escola de Aperfeiçoamento

de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR), Curso da Escola de Comando e Estado-Maior

da Aeronáutica (ECEMAR) e o Curso de Política e Estratégia da Aeronáutica

(CPEA). O Ministério da Defesa também disponibiliza o Curso de Altos Estudos de

Política e Estratégia (CAEPE) na Escola Superior de Guerra.

Quanto às atividades técnicas, além do aprendizado do dia a dia, a

beira do leito do paciente, os médicos participam de reuniões clínicas, simpósios e

Page 21: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

21

congressos. Além disso, são oferecidos aos oficiais médicos cursos de

aperfeiçoamento, residência médica, especialização, mestrado e doutorado, além da

possibilidade da realização de estágios no país ou no exterior. Nos últimos anos,

mesmo com as restrições orçamentárias, as Forças Armadas têm apoiado

continuamente as atividades de saúde, seja na aquisição de equipamentos de última

geração bem como na qualificação de seus oficiais médicos.

Quanto aos conhecimentos teóricos sobre a responsabilidade civil do

médico, observa-se que, segundo informações colhidas de oficiais médicos do

Exército e da Força Aérea, e pela experiência deste autor na Marinha do Brasil, não

há um direcionamento específico sobre o tema, ficando os profissionais restritos às

informações superficiais ou palestras isoladas ministradas sobre o assunto.

A não-orientação acadêmica e técnica quanto a esses assuntos

jurídicos, certamente foi devida a pouca ocorrência, outrora, de lides judiciais

envolvendo o trinômio médico-paciente-instituição. Atualmente, devido à ―indústria

das indenizações‖, cada vez mais frequentes serão essas demandas, o que vem

causando receio e preocupação aos oficiais médicos, de todos os postos. Daí a

necessidade da adoção de medidas administrativas visando a não-ocorrência ou a

mitigação dos erros médicos envolvendo os profissionais de saúde integrantes das

Forças Armadas.

5 DEVERES DE CONDUTA DO OFICIAL MÉDICO

O oficial médico, além das suas obrigações como militar, tem deveres

de conduta ética, previstos no Código de Ética Médica, e deveres jurídicos, previstos

na Constituição Federal, no Código Civil Brasileiro, e no Código de Proteção e

Defesa do Consumidor.

Os aspectos éticos do atendimento médico e hospitalar são regidos

pelo CEM, documento que contém as normas que devem ser seguidas pelos

médicos no exercício da profissão, bem como nas atividades de ensino, pesquisa e

administração de serviços de saúde. A referida norma também engloba as

organizações prestadoras de serviços de saúde. Cabe aos conselhos de medicina,

às comissões de ética e aos médicos em geral a fiscalização do cumprimento destas

normas. O documento que normatiza a apuração das denúncias contra os médicos

que supostamente mantiveram conduta antiética, bem como os julgamentos dos

Page 22: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

22

referidos profissionais pelos conselhos de medicina é denominado Código de

Processo Ético-Profissional.

O autor considera que devem ser enfatizados os deveres de conduta,

previstos no CEM e nos diplomas legais acima referidos, julgados de grande

relevância que visam a minimizar a possibilidade da ocorrência de processos

judiciais envolvendo pacientes, médicos e instituições de saúde.

5.1 DEVER DE ACONSELHAR E INFORMAR

O oficial médico tem o dever de informar ao paciente o diagnóstico de

sua enfermidade, o prognóstico e os riscos do tratamento a ser efetuado.

O Capítulo IV do CEM, em seu art. 22, preconiza que é vedado ao

médico ―deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal

após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco

iminente de morte‖. (Código de Ética Médica, 2011, p.16)

O documento no qual o médico transmite ao paciente a informação, de

modo compreensível e leal, sobre o diagnóstico de sua enfermidade, o tratamento

proposto, possibilidades de êxito, riscos e os efeitos colaterais daí resultantes,

alternativas disponíveis, o porquê do tratamento escolhido, e, por fim, quais os riscos

pelo fato de não ser efetuado qualquer tratamento, dá-se o nome de consentimento

esclarecido, que deve ser assinado pelo paciente ou, na impossibilidade, pelo seu

representante legal. O consentimento esclarecido legitima o tratamento a ser

disponibilizado ao paciente. Uma cópia desse documento deverá ser anexada ao

prontuário do paciente.

O dever de informar também é previsto no CPDC, regulado nos

seguintes artigos:

Art. 4º, inciso IV, ―educação e informação de fornecedores e

consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do

mercado de consumo‖.

Art. 6º, inciso III, ―a informação adequada e clara sobre os diferentes

produtos e serviços, com especificação correta de qualidade e preço, bem como dos

riscos que apresentem‖.

Art. 31, ―a oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem

assegurar informações corretas, claras e precisas, ostensivas em língua portuguesa

Page 23: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

23

sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia,

prazos de validade e origem, entre outros, bem como os riscos que apresentam à

saúde e segurança dos consumidores.‖

Portanto, a informação ao paciente deve ser em linguagem clara,

acessível ao enfermo e adequada à situação em questão.

Ao final, caberá ao paciente decidir sobre o tratamento recomendado.

(Código de Ética Médica, 2011, p.16)

Todas as informações colhidas durante o primeiro atendimento e nas

consultas subsequentes, bem como resultados de pareceres, alegações do enfermo

ou de seu responsável legal, resultados de exames realizados, evolução clínica do

enfermo, enfermidades preexistentes e outras informações de relevância deverão

ser registradas no prontuário do paciente, uma vez que o mesmo constitui a primeira

fonte de consulta sobre um procedimento médico contestado. (CASTRO, 2005, p.94-

137)

5.2 DEVER DE CUIDAR DO PACIENTE E DE VIGILÂNCIA

O dever de cuidar e vigilância está previsto no Capítulo I do CEM

— Princípios Fundamentais ―, quando estabelece, no Art. II, que ―o alvo de toda a

atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com

o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional‖. E no Art. XXII, que

―nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de

procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos

pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados‖. (Código de

Ética Médica, 2011, p.11-12)

Iniciando o tratamento, o paciente tem o direito à assistência

permanente, o que por sua vez, impõe ao médico o dever de prestar os seus

serviços com correção e permanente diligência, bem como mantê-lo informado sobre

qualquer alteração na evolução clínica da enfermidade. Agindo dessa forma, e

registrando no prontuário, o profissional ficará isento de qualquer omissão que

venha a ser caracterizada por inércia, passividade ou descaso (CASTRO, 2005,

p.94-137)

Em casos de impossibilidade de cura ou melhora clínica, em que

sabidamente a enfermidade terá um curso desfavorável, caberá ao médico prover a

Page 24: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

24

assistência necessária para atenuar a desordem moral e a dor física, o profissional

nunca deve se esquecer do juramento ao se graduar: ―a saúde do meu paciente

será o meu primeiro cuidado‖ (WANDERBY, 1984, p.451)

5.3 DEVER DE PRUDÊNCIA

O CEM, em seu Capítulo I, art. XIX, dispõe que ―O médico se

responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido, pelos seus atos

profissionais, resultantes de relação particular de confiança e executados com

diligência, competência e prudência.‖ (Código de Ética Médica, 2011, p.12)

O profissional tem o dever de agir com prudência e deve abster-se de

intervir quando o risco é manifestadamente desproporcional à vantagem perseguida.

O consentimento do paciente para uma intervenção com risco ou dano de ordem de

grandeza maior que o benefício advindo não justifica o procedimento contra a

integridade física perpetrado pelo médico. (CASTRO, 2005, p.94-137)

Qualquer ato profissional mais ousado ou inovador tem que ser

justificado e legitimado pela imperiosa necessidade de intervir (FRANÇA, 1998, p.

389-403)

5.4 DEVER DE ATUALIZAÇÃO

O médico tem o dever de estar em dia com os avanços científicos e

tecnológicos de sua profissão, uma vez que a sua obrigação legal consiste em

prestar os cuidados e atender aos seus pacientes segundo as técnicas adequadas

disponíveis.

O CEM, no Capítulo I, art. V, estabelece que ―compete ao médico

aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso

científico em benefício do paciente.‖ (Código de Ética Médica, 2011, p.11)

Portanto, a constante procura pelo aperfeiçoamento profissional,

visando a proporcionar um melhor atendimento médico ao paciente, além de ser

uma necessidade da ―arte de curar‖, constitui um dever a ser observado, sob pena

de uma infração ética e descumprimento dos ditames legais.

Page 25: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

25

Deixar de atualizar-se e assumir práticas médicas mais delicadas, sem

uma justificativa de emergência, é uma forma manifesta de negligência e

imprudência. (FRANÇA, 1998, p. 389-403)

5.5 DEVER DE GUARDAR SIGILO PROFISSIONAL

O dever do médico em guardar o sigilo profissional é um preceito ético

muito antigo, reportado à época de Hipócrates, e faz parte do juramento que todo

médico faz ao se graduar. O CEM, no Capítulo I, art. XI, dispõe que ―o médico

guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no

desempenho de suas funções, com exceção dos casos previstos em lei‖. (Código de

Ética Médica, 2011, p.11)

Sigilo consiste na ―reserva de qualquer fato não publicamente

conhecido de que, por qualquer modo, nos inteiramos e que, no interesse de

determinadas pessoas, não devemos transmitir a terceiros‖. (PINTO, 1960, p.26)

―O direito ao sigilo integra o conjunto de direitos da personalidade,

direitos absolutos e de ordem pública, destinados a proteger a inalienável esfera

íntima das pessoas.‖ (CASTRO, 2005, p.94-137)

Além do CEM, o sigilo médico também é recepcionado na esfera civil e

criminal, esta última torna penalmente punível a violação do sigilo profissional, sem

justa causa, conduta descrita como crime no art. 154 do Código Penal (CP) ―revelar

alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,

ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: pena -

detenção, de três meses a um ano, ou multa.‖

O CP e o CEM permitem a quebra do sigilo médico diante de justa

causa, dever legal ou autorização expressa do paciente.

A justa causa fica configurada quando a revelação dirige-se a evitar um

perigo atual ou iminente, injusto para o médico, para outrem ou para a população

(casamentos consanguíneos; ocorrência de enfermidade que irá colocar em risco o

cônjuge ou a prole; riscos de catástrofes etc.).

O dever legal de revelar a informação está previsto no CP, que prevê

como crime a omissão de comunicar à autoridade pública doenças cuja notificação

seja compulsória, que normalmente estão na área das doenças infecto-contagiosas.

Page 26: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

26

Por fim, o cliente pode autorizar, expressamente, a quebra do sigilo

profissional, tal situação está prevista na legislação vigente. (CASTRO, 2005, p. 94-

137)

5.6 DEVER DE ISENÇÃO

O médico, investido na posição de perito ou de auditor, deve atuar com

absoluta isenção, tendo como base os ditames do CFM, nunca ultrapassando os

limites das suas atribuições e competência. (Código de Ética Médica, 2011, p.10-

39)

6 DIREITOS BÁSICOS DO PACIENTE

Os direitos básicos do paciente estão dispostos na CF, no CC, no CP,

no CEM, no CPDC, em leis federais e estaduais, e em portarias do Ministério da

Saúde.

Aqui serão citados os principais direitos dos pacientes, elencados no

Fórum de Patologias do Estado de São Paulo organizado pela Secretaria de Estado

de Saúde do governo do estado de São Paulo, também adotados nos demais

estados da União:

I. O paciente tem direito a atendimento humano, atencioso e respeitoso,

por parte de todos os profissionais de saúde. Tem direito a um local digno e

adequado para seu atendimento.

II. O paciente tem direito a ser identificado pelo nome e sobrenome.

Nunca deve ser chamado pelo nome da doença ou do agravo à saúde.

III. O paciente tem direito a receber do funcionário adequado, presente no

local, auxílio imediato e oportuno para a melhoria de seu conforto e bem-estar.

IV. O paciente tem direito a identificar o profissional por crachá preenchido

com o nome completo, função e cargo.

V. O paciente tem direito a consultas marcadas, antecipadamente, de

forma que o tempo de espera não ultrapasse a trinta (30) minutos.

VI. O paciente tem direito de exigir que todo o material utilizado seja

rigorosamente esterilizado, ou descartável e manipulado segundo normas de higiene

e prevenção.

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27

VII. O paciente tem direito de receber explicações claras sobre o exame a

que vai ser submetido e para qual finalidade irá ser coletado o material para exame

de laboratório.

VIII. O paciente tem direito a informações claras, simples e compreensivas,

adaptadas à sua condição cultural, sobre as ações diagnósticas e terapêuticas, o

que pode decorrer delas, a duração do tratamento, a localização, a localização de

sua patologia, se existe necessidade de anestesia, qual o instrumental a ser utilizado

e quais regiões do corpo serão afetadas pelos procedimentos.

IX. O paciente tem direito a ser esclarecido se o tratamento ou o

diagnóstico é experimental ou faz parte de pesquisa, e se os benefícios a serem

obtidos são proporcionais aos riscos e se existe probabilidade de alteração das

condições de dor, sofrimento e desenvolvimento da sua patologia.

X. O paciente tem direito de consentir ou recusar a ser submetido à

experimentação ou pesquisas. No caso de impossibilidade de expressar sua

vontade, o consentimento deve ser dado por escrito por seus familiares ou

responsáveis.

XI. O paciente tem direito a consentir ou recusar procedimentos,

diagnósticos ou terapêuticas a serem nele realizados. Deve consentir de forma livre,

voluntária, esclarecida com adequada informação. Quando ocorrerem alterações

significantes no estado de saúde inicial ou da causa pela qual o consentimento foi

dado, este deverá ser renovado.

XII. O paciente tem direito de revogar o consentimento anterior, a qualquer

instante, por decisão livre, consciente e esclarecida, sem que lhe sejam imputadas

sanções morais ou legais.

XIII. O paciente tem o direito de ter seu prontuário médico elaborado de

forma legível e de consultá-lo a qualquer momento. Este prontuário deve conter o

conjunto de documentos padronizados do histórico do paciente, princípio e evolução

da doença, raciocínio clínico, exames, conduta terapêutica e demais relatórios e

anotações clínicas.

XIV. O paciente tem direito a ter seu diagnóstico e tratamento por escrito,

identificado com o nome do profissional de saúde e seu registro no

respectivo Conselho Profissional, de forma clara e legível.

XV. O paciente tem direito de receber medicamentos básicos, e também

medicamentos e equipamentos de alto custo, que mantenham a vida e a saúde.

Page 28: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

28

XVI. O paciente tem o direito de receber os medicamentos acompanhados

de bula impressa de forma compreensível e clara e com data de fabricação e prazo

de validade.

XVII. O paciente tem o direito de receber as receitas com o nome genérico

do medicamento, datilografadas ou em letras de forma, ou com caligrafia

perfeitamente legível, e com assinatura e carimbo contendo o número do registro do

respectivo Conselho Profissional.

XVIII. O paciente tem direito de conhecer a procedência e verificar antes de

receber sangue ou hemoderivados para a transfusão, se o mesmo contém carimbo

nas bolsas de sangue atestando as sorologias efetuadas e sua validade.

XIX. O paciente tem direito, no caso de estar inconsciente, de ter anotado

em seu prontuário, medicação, sangue ou hemoderivados, com dados sobre a

origem, tipo e prazo de validade.

XX. O paciente tem direito de saber com segurança e antecipadamente,

através de testes ou exames, que não é diabético, portador de algum tipo de

anemia, ou alérgico a determinados medicamentos (anestésicos, penicilina, sulfas,

soro antitetânico etc.) antes de lhe serem administrados.

XXI. O paciente tem direito à sua segurança e integridade física nos

estabelecimentos de saúde, públicos ou privados.

XXII. O paciente tem direito de ter acesso às contas detalhadas referentes

às despesas de seu tratamento, exames, medicação, internação e outros

procedimentos médicos.

XXIII. O paciente tem direito de não sofrer discriminação nos serviços de

saúde por ser portador de qualquer tipo de patologia, principalmente no caso de ser

portador da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA) ou doenças infecto-

contagiosas.

XXIV. O paciente tem direito de ser resguardado de seus segredos, através

da manutenção do sigilo profissional, desde que não acarrete riscos a terceiros ou à

saúde pública. Os segredos do paciente correspondem a tudo aquilo que, mesmo

desconhecido pelo próprio cliente, possa o profissional de saúde ter acesso e

compreender através das informações obtidas no histórico do paciente, exames

laboratoriais e radiológicos.

XXV. O paciente tem direito a manter sua privacidade para satisfazer suas

necessidades fisiológicas, inclusive alimentação adequada e higiênicas, quer

Page 29: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

29

quando atendido no leito, ou no ambiente onde está internado ou aguardando

atendimento.

XXVI. O paciente tem direito a acompanhante, se desejar, tanto nas

consultas, como nas internações. As visitas de parentes e amigos devem ser

disciplinadas em horários compatíveis, desde que não comprometam as atividades

médico/sanitárias. Em caso de parto, a parturiente poderá solicitar a presença do

pai.

XXVII. O paciente tem direito de exigir que a maternidade, além dos

profissionais comumente necessários, mantenha a presença de um

neonatologista, por ocasião do parto.

XXVIII. O paciente tem direito de exigir que a maternidade realize o "teste do

pezinho" para detectar a fenilcetonúria nos recém-nascidos.

XXIX. O paciente tem direito à indenização pecuniária no caso de qualquer

complicação em suas condições de saúde motivadas por imprudência, negligência

ou imperícia dos profissionais de saúde.

XXX. O paciente tem direito à assistência adequada, mesmo em períodos

festivos, feriados ou durante greves profissionais.

XXXI. O paciente tem direito de receber ou recusar assistência moral,

psicológica, social e religiosa.

XXXII. O paciente tem direito a uma morte digna e serena, podendo optar ele

próprio (desde que lúcido), a família ou responsável, por local ou

acompanhamento e ainda se quer ou não o uso de tratamentos dolorosos e

extraordinários para prolongar a vida.

XXXIII. O paciente tem direito à dignidade e respeito, mesmo após a morte. Os

familiares ou responsáveis devem ser avisados imediatamente após o óbito.

XXXIV. O paciente tem o direito de não ter nenhum órgão retirado de seu corpo

sem sua prévia aprovação.

XXXV. O paciente tem direito a órgão jurídico de direito específico da saúde,

sem ônus e de fácil acesso.

Os principais direitos dos pacientes, elencados anteriormente,

constituem consenso entre os juristas e também são reconhecidos pelos demais

estados brasileiros.

Verificando os itens descritos, chegamos à conclusão de que três deles

são muito difíceis de serem atendidos nas unidades de saúde militares e quase que

Page 30: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

30

a sua totalidade nas instituições públicas de saúde não subordinadas as Forças

Armadas.

Como o escopo da monografia é o médico militar e a sua atuação nas

diversas OM de saúde e operativas, iremos nos ater aos três itens que devem ser

trabalhados no sentido de atender aos principais direitos dos pacientes na sua

totalidade. São eles:

V. O paciente tem direito a consultas marcadas, antecipadamente, de

forma que o tempo de espera não ultrapasse a trinta (30) minutos.

Atualmente, devido à carência de oficiais médicos e o aumento da

procura por atendimento, o tempo de espera máximo de 30 minutos para uma

consulta é muito difícil de ser cumprido, principalmente em determinadas

especialidades, como pediatria e ortopedia. A situação está sendo minimizada por

intermédio de convênios com entidades particulares.

XV. O paciente tem direito de receber medicamentos básicos, e também

medicamentos e equipamentos de alto custo, que mantenham a vida e a saúde.

No momento, com os recursos disponíveis, não é possível praticar uma

―medicina de ponta‖ com equipamentos de última geração e com exames

sofisticados, como hoje é realizado, e ainda fornecer medicamentos aos usuários. A

situação está sendo parcialmente contornada por intermédio do fornecimento, a

baixo custo, de medicamentos produzidos nos laboratórios farmacêuticos das

Forças Armadas.

XXVI. O paciente tem direito a acompanhante, se desejar, tanto nas

consultas, como nas internações. As visitas de parentes e amigos devem ser

disciplinadas em horários compatíveis, desde que não comprometam as atividades

médico/sanitárias. Em caso de parto, a parturiente poderá solicitar a presença do

pai.

No momento só é possível autorizar acompanhante para pacientes

acima de 60 anos e crianças.

O autor pondera que o legislador deveria ter refletido sobre o direito de

acompanhante para todos os pacientes, uma vez que, por exemplo, em um hospital

com uma capacidade de 500 leitos, se todos os baixados usarem da prerrogativa de

ter direito a acompanhantes, só poderíamos internar 250 enfermos, ficando assim

250 leitos ocupados por pessoas sadias e 250 enfermos aguardando na fila da

internação. Tal situação não nos parece lógica nem democrática.

Page 31: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

31

Assim, observa-se que cada vez mais se faz necessária uma

integração entre os gestores hospitalares e a justiça, cabendo aos médicos e as

instituições prestadores de serviço de saúde implementarem todas as medidas

técnicas e administrativas cabíveis com o objetivo de prestar o melhor serviço aos

seus usuários e assim diminuir a possibilidade de uma ação judicial, sob a alegação

de danos físicos e/ou morais, principalmente no momento atual, onde a ―indústria da

indenização‖, certamente financiada pelas empresas fornecedoras de seguro médico

e advogados sedentos por esta rendosa fatia do mercado são figuras cada vez mais

frequentes no cenário nacional.

7 CAUSAS DE DEMANDAS JUDICIAIS

As demandas judiciais de pacientes contra médicos e/ou hospitais tem

aumentado muito nos últimos anos, fato este que gera grande preocupação entre os

profissionais, instituições de saúde e os conselhos de medicina. Segundo o

informativo do Conselho Federal de Medicina, de fevereiro de 2012, houve um

aumento de 33% no número de processos recursais julgados ou extintos em 2011,

quando comparado com 2010. Esta realidade aponta para a necessidade da

implementação, por parte de vários segmentos da sociedade, de medidas urgentes

visando a mitigar o chamado erro médico e reforçar a confiança da população no

profissional de saúde e nas instituições responsáveis pelo tratamento dos enfermos.

Dentre os vários fatores ligados ao aumento das denúncias que

envolvem o exercício profissional, podemos citar como os mais importantes: quebra

da relação harmônica entre médico e paciente; número crescente de médicos

recém-formados atuando nos principais centros urbanos; abertura de várias

faculdades de medicina sem as condições básicas de funcionamento, com

consequente queda na qualidade do ensino; número insuficiente de vagas para os

programas de residência médica, frente à grande demanda de candidatos; falta de

atualização do profissional de saúde; baixa qualificação inicial dos profissionais;

residentes trabalhando sem supervisão; ausência de uma formação jurídica básica

pela maioria dos médicos; falta de compromisso, por parte de alguns profissionais,

com as instituições a que pertencem; diminuição do poder aquisitivo da população,

que obrigou muitas pessoas a abandonar seus planos de saúde e recorrer aos

serviços oferecidos por hospitais públicos; aumento da demanda por serviços

Page 32: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

32

públicos; lotação dos hospitais públicos; falta de condições básicas para o

atendimento de saúde em várias unidades federais, estaduais e municipais;

inúmeras dificuldades na implantação de políticas governamentais de saúde;

progressiva conscientização da população quanto a seus direitos, principalmente

após a promulgação da Constituição Federal de 1988 e do Código de Proteção e

Defesa do Consumidor de 1990; divulgação, pela mídia, dos erros médicos;

divulgação, pela Imprensa, de matérias impactantes sobre supostas irregularidades

ocorridas no Sistema de Saúde, bem como de populares demonstrando revolta e

indignação contra os médicos; receio que os profissionais tem ante a possibilidade

de sofrer uma demanda judicial por parte de um paciente; e a evolução da

tecnologia da informação, que provê ao cidadão o acesso às informações de

natureza médica e jurídica em tempo real.

O paciente ou seu representante legal poderá acionar o médico de

várias maneiras: demanda judicial pleiteando uma indenização; por intermédio do

Ministério Público e delegacias de polícia; e por meio dos Conselhos de Medicina.

Entretanto, a grande maioria das queixas chega aos conselhos sob a forma de

questionamentos de conduta profissional, oriundos da justiça, a fim de que as

respostas se tornem peças importantes dos processos abertos em suas respectivas

áreas de atuação. Paralelamente ao processo judicial, o conselho de classe poderá

dar início a uma investigação ética do comportamento profissional do acusado. No

caso das Forças Armadas, há também a possibilidade de uma queixa ao diretor da

unidade hospitalar ou ao serviço de ouvidoria da organização militar.

Quanto ao aumento do número de denúncias, citaremos como exemplo

as informações colhidas no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

(CREMESP), mostrando que, em sete anos (2000 a 2006), houve um aumento de

75% de denúncias contra os médicos, bem acima da taxa de crescimento dos

profissionais inscritos (26%) e do aumento da população (10,9 %), no período

considerado.

Page 33: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

33

FIGURA 1 - A Evolução do número de médicos denunciados por erro médico e outras ocorrências durante o atendimento profissional (médicos inscritos no CREMESP) e o crescimento da população no período de 2000 a 2006. (Fonte Centro de Dados do CREMESP, 2007)

O Conselho Federal de Medicina, aonde chegam os processos éticos

contestados em primeira instância, registrou uma taxa mensal de ingresso, para

análise, variando entre 65,1 a 70,3 casos, entre os anos de 2006 a 2009.

Nas varas judiciais comuns, os dados mostram que no intervalo de seis

anos (2002 a 2008), houve um aumento de processos contra cirurgiões, pediatras,

ginecologistas e outros especialistas da ordem de 155%. O Superior Tribunal de

Justiça (STJ) registrou, em 2002, 120 ações judiciais contra médicos, número que

subiu para 360 casos em 2008. Em março de 2009 (último ano que se tem dados),

tramitavam no STJ 471 casos, a maioria questionando a responsabilidade exclusiva

do médico, sendo pouco demandadas as instituições.

Dentre as principais queixas que originam desavenças entre pacientes,

médicos e instituições de saúde, podemos citar: a má prática profissional (a maior

causa); mau relacionamento médico-paciente (segunda maior causa); indevida

atenção ao paciente durante a consulta; exagerado interesse financeiro manifestado

por alguns profissionais; falta ou falha no esclarecimento ao paciente sobre a sua

enfermidade, tratamento e reações adversas, complicações e prognóstico;

prescrições inadequadas ou com letras ilegíveis; negligência pré e pós-operatória;

diagnósticos errados ou mal conduzidos; emprego de métodos não consagrados

cientificamente; omissão no tratamento ou no aconselhamento ao enfermo;

Page 34: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

34

execução do serviço sem a prévia elaboração do orçamento e autorização expressa

do paciente; falta de dados, no prontuário médico, sobre o acompanhamento

profissional ao paciente; falta de comprometimento com o paciente; erros em

transfusões de sangue; falta de vigilância, por parte dos estabelecimentos de saúde

e dos profissionais que estão atuando nas suas dependências; desídia do médico ou

do hospital quanto ao tratamento a ser efetuado no paciente; falta de condições

básicas para o atendimento médico em algumas unidades de saúde; não

observância do sigilo médico pelo profissional ou pelo hospital; rejeição de

internação de pacientes em perigo de morte; altas prematuras de pacientes;

acompanhamento gestacional inadequado por parte de obstetras; deficiência de

leitos hospitalares em hospitais gerais e maternidades; troca de resultado de

exames; cirurgias desnecessárias ou praticadas em órgãos sadios em detrimento

dos afetados; omissão de socorro; abandono de plantão; assédio sexual; erro de

diagnóstico; métodos inadequados de tratamento; complicações anestésicas; atraso

do médico no atendimento; irregularidades na emissão de laudos, perícias, receitas,

atestados médicos e atestados de óbito; atendimento deficiente em saúde da mulher

(aborto, óbito materno, parto, esterilização, inseminação artificial); realização de

anestesia simultaneamente em mais de um paciente; transfusão de sangue em

Testemunhas de Jeová1; e lesões sofridas por pacientes durante o período de

internação (traumatismos por queda, queimaduras por instrumentos, erros na

administração de medicamentos e infecção hospitalar).

As especialidades médicas que apresentam maiores taxas de

processos jurídicos, segundo os conselhos de classe, são as seguintes:

obstetrícia/ginecologia, pediatria, ortopedia e cirurgia plástica.

Como vimos, causas é que não faltam para que ocorra um aumento

das demandas judiciais contra médicos e hospitais, tal situação, cada vez mais

comum, causa preocupação aos profissionais, fazendo com que muitos abandonem

a profissão, piorando ainda mais o atendimento de saúde da população.

_____________

1 O movimento religioso conhecido por Testemunhas de Jeová assume-se como uma religião cristã não trinitária.

Afirmam adorar exclusivamente a Jeová e consideram-se seguidores de Jesus Cristo. Possuem adeptos em 236

países e territórios autônomos, ascendendo a mais de seis milhões e novecentos mil praticantes, apesar de

reunirem um número muito superior de simpatizantes. Crêem que a sua religião é a restauração do

verdadeiro cristianismo, mas rejeitam a classificação de serem fundamentalistas no sentido em que o termo é

comumente usado. Afirmam basear todas as suas práticas e doutrinas no conteúdo da Bíblia e são contrários às

transfusões de sangue, mesmo que o paciente sofra risco de morte.

Page 35: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

35

8 ASPECTOS JURÍDICOS DO ATENDIMENTO MÉDICO E HOSPITALAR

Neste tópico abordaremos os seguintes aspectos: normas legais;

pressupostos da responsabilidade civil; classificação da responsabilidade civil;

responsabilidade das instituições fornecedoras de serviços de saúde;

responsabilidade da administração pública; excludentes da responsabilidade civil;

valor das indenizações; e prescrição das ações indenizatórias.

8.1 NORMAS LEGAIS

Os aspectos jurídicos do atendimento médico e hospitalar estão

previstos, basicamente, na CF, no CC e no CPDC, nos seguintes artigos:

a) A Constituição Federal

Art. 5º, V- ―é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,

além da indenização por dano material, moral ou à imagem‖.

X- ―são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem

das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral

decorrente de sua violação‖.

Art. 37, § 6º- ―as pessoas jurídicas de direito público e as de direito

privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que seus agentes,

nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurando o direito de regresso contra o

responsável nos casos de dolo ou culpa.‖

b) O Código Civil Brasileiro

Art. 186- ―aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito.‖

Art. 927- ‖aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo.‖

Art. 932- ―são também responsáveis pela reparação civil:‖

III- ―o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e

prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;‖

Art. 944- ―a indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade

da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização‖.

Page 36: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

36

Art. 945- ―se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento

danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa

em confronto com a do autor do dano‖.

Art. 946- ―se a obrigação for indeterminada, e não houver na lei ou no

contrato disposição fixando a indenização devida pelo inadimplente, apurar-se-á o

valor das perdas e danos na forma que a lei processual determinar‖.

Art. 948- ―no caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir

outras reparações:

I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu

funeral e o luto da família;

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia,

levando-se em conta a duração provável da vida da vítima‖.

Art. 949- ―no caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor

indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim

da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver

sofrido‖.

Art. 950- ―se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa

exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a

indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da

convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que

se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu‖.

Art. 951- ―o disposto nos art. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de

indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por

negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o

mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho‖.

c) O Código de Proteção e Defesa do Consumidor

Art. 6º- ‖são direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,

individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à

prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou

difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados‖.

Art. 14- ―o fornecedor de serviços responde, independentemente da

existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por

Page 37: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

37

defeitos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes sobre

sua fruição e riscos.‖

§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o

consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias

relevantes, entre as quais:

I- o modo do seu fornecimento;

II- o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III- a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas

técnicas.

§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando

provar:

I- que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II- a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4º-―A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será

apurada mediante verificação de culpa.‖

8.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Embora não haja consenso entre os juristas sobre a configuração dos

pressupostos da responsabilidade civil, consideraremos aqueles extraídos do art.

186 do Código Civil Brasileiro (Lei 10.406/02), que dispõe: ―Aquele que, por ação ou

omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a

outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito‖ e do caput do art. 927 e

parágrafo único, pregando o dever de indenizar quem o praticar, por ter causado

dano a outrem.

Sendo assim, são pressupostos da responsabilidade civil: o agente; a

ação ou omissão; a culpa do agente; o dano à vítima; e a relação de causa e efeito

entre o ato e o dano.

Page 38: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

38

8.2.1 O Agente

O primeiro elemento da responsabilidade civil refere-se ao profissional.

Para isso, se faz necessário que o mesmo esteja habilitado a exercer a Medicina,

caso contrário, poderá haver lesão culposa e exercício ilegal da profissão.

8.2.2 Ação ou Omissão

Elemento que se caracteriza quando o médico, por ação ou omissão,

venha causar dano ao paciente. O profissional será responsabilizado desde que

comprovada a culpa na sua ação danosa ou a sua omissão, esta, quando deixa de

tomar uma atitude que deveria por obrigatoriedade jurídica de agir.

8.2.3 Culpa do agente

Culpa é conceituada como sendo ―a conduta voluntária contrária ao

dever de cuidado imposto pelo direito, com a produção de um evento danoso

involuntário, porém previsto ou previsível‖. (CAVALIERI FILHO, 2008. p.2, p.369-

388), sendo diferente do dolo, que é a ―vontade consciente dirigida à produção de

um resultado ilícito‖. (CAVALIERI FILHO, 2008. p.2, p.369-388)

No caso específico do médico, a culpa ocorre por violação de um ou de

vários deveres de conduta impostos pela atividade profissional. Sendo assim, para a

sua caracterização, se faz necessário a comprovação de que o resultado nefasto

tenha sido em consequência de imprudência (ação açodada, intempestiva e sem o

cuidado necessário), negligência (desleixo, inércia, falta de precaução e atenção na

realização de um procedimento) ou imperícia (falta de conhecimentos técnicos para

a realização de um ato médico) do profissional, sendo esta última muito discutida

entre os doutrinadores, uma vez que o diploma de médico confere o livre exercício

da profissão. (FRANÇA, 1998. p.389-403)

A falha culposa no desempenho do ofício pode ter como consequência

ações civis e penais, a cargo dos tribunais; ações administrativas adotadas pela

Força Armada a que o oficial médico estiver subordinado; e sanções éticas, de

competência dos conselhos de medicina. Neste momento, consideramos importante

a diferenciação entre o erro médico, que, genericamente, consiste na falha em

Page 39: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

39

completar uma ação planejada, parcial ou completamente, ou empregar uma

conduta errada para atingir um certo objetivo (por exemplo, curar o enfermo). O erro

ocorre com maior frequência com médicos inexperientes e durante a realização de

novos procedimentos nos quais os profissionais ainda não estão bem treinados. Os

locais mais comuns de ocorrência do erro médico são: unidade de tratamento

intensivo; centro cirúrgico; centro obstétrico; e unidade de emergência.

Juridicamente falando, erro médico, ―quase sempre por culpa, é uma

forma atípica e inadequada de conduta profissional, que supõe uma inobservância

técnica, capaz de produzir um dano à vida ou a saúde do paciente‖, devendo-se

levar em consideração as condições do atendimento, a necessidade da ação e os

meios empregados. (FRANÇA, 1998. p.389-403)

8.2.4 Dano à vítima

A existência de dano real, efetivo e concreto à vítima, constitui a

condição indispensável para que seja apontada a responsabilidade civil do médico.

―O dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição)

que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer

bem ou interesse jurídico, patrimonial ou não‖. (DINIZ, 2001, v.7, p.240.)

O dano provocado pelo médico nasce da relação entre o fato gerador

antijurídico (descumprimento dos deveres de cuidados, aconselhamentos etc.), a ele

imputado a título de culpa (negligência, imperícia ou imprudência), levando a um

resultado nefasto, que pode ser patrimonial (dano emergente e lucro cessante) ou

extra-patrimonial (integridade corporal).

O dano patrimonial pode ser conceituado como aquele que atinge os

bens integrantes do patrimônio da vítima e que pode ser subdividido em dano

emergente, quando importa a efetiva e imediata diminuição do patrimônio do

paciente em razão do ato ilícito praticado pelo médico (gastos extras); e lucro

cessante, que consiste na perda do ganho esperável, da expectativa de lucro, ou na

diminuição do patrimônio que poderá ocorrer em decorrência da paralisação de uma

atividade lucrativa que o paciente vinha exercendo antes de ter sofrido o ato danoso.

O dano extra-patrimonial é aquele intimamente ligado à integridade

corporal e à vida humana. (KFOURI NETO, 2007. p.61-199)

Page 40: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

40

Quanto ao dano moral, tem-se que este constitui em uma violação do

direito à dignidade humana, podendo ou não ser acompanhado por dor, vexame,

sofrimento e humilhação. (CAVALIERI FILHO, 2008. p.2, p.369-388)

O art. 5º, incisos V e X da Constituição Federal preveem a reparação

por danos morais, sendo que seu enquadramento está vinculado a situações

decorrentes de um erro médico culposo. O Código Civil, por intermédio do art. 944 e

os artigos seguintes, prevê a questão do dano moral e a sua consequente

indenização, sempre baseada na proporção entre a gravidade da culpa e o dano

produzido. O CPDC, em seu art. 6º, incisos VI e VII, também estabelece a reparação

por danos morais.

Atualmente, um dos maiores tormentos para o julgador se constitui na

configuração ou não do dano moral, haja vista o aumento do número de ações

judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos do dia a dia.

(THEODORO JÚNIOR, 2007. p.1-60)

Neste momento se faz necessário o entendimento do que venha a ser

iatrogenia, definida como ―a alteração patológica provocada no paciente por

tratamento de qualquer tipo‖. (STOCO, 2001, p.105)

Para melhor entendimento das iatrogenias, podemos dividi-las da

seguinte maneira:

a) legítimas pelo exercício regular da medicina, uma vez que a lesão

pode ser a única forma de ministrar o tratamento ou intervir no curso da doença

(incisão cirúrgica, amputações em membros gangrenados etc.);

b) decorrentes de fatores individuais e próprios do paciente,

exemplificado por reações de sensibilidade próprias de determinados pacientes sem

qualquer relação de causa e efeito com a atuação do médico, desde que o paciente

tenha sido instruído, e consentido, sobre as possíveis consequências iatrogênicas

do procedimento, embora corretamente ministrado, como por exemplo o

aparecimento de quelóides após a cicatrização de uma incisão cirúrgica;

c) oriundas da omissão do paciente quanto à existência de condições

orgânicas desfavoráveis (as alergias medicamentosas, conhecidas ou não pelo

paciente);

d) advindas da técnica empregada ou do estado da ciência. O erro de

técnica ocorre quando o profissional aplica de modo correto uma técnica que se

mostrou ruim para aquele caso específico e, por outro lado, há imperícia quando a

Page 41: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

41

técnica é adequada, mas a conduta do médico foi desastrosa levando a um mau

resultado. O erro é escusável quando se trata de técnica conhecida, usual e aceita,

desde que bem executada por profissional habilitado; e

e) resultantes da ação culposa do médico, nestes casos se impõe a

reparação da responsabilidade civil. (CAVALIERI FILHO, 2008. p.2, p.369-388)

8.2.5 Nexo Causal ou relação de causa e efeito

Nexo causal é a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do

agente e o dano verificado. Não havendo ou não tendo sido provado o nexo causal

inexiste a obrigação de indenizar. (GONÇALVES, 2007. p.33-34)

8.3 CLASSIFICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A doutrinadora Maria Helena Diniz divide a responsabilidade civil em:

contratual e extracontratual, conforme seu fato gerador; direta e indireta, tendo em

vista o agente que praticou a ação; e objetiva e subjetiva, tomando como parâmetro

os fundamentos da responsabilidade civil. (DINIZ, 2002, p.119-121)

8.3.1 Contratual e extracontratual

A caracterização do vínculo estabelecido entre o médico e o paciente

causa grandes divergências entre os doutrinadores, alguns advogam ser um laço

contratual, uma vez que, ao procurar livremente um médico e sendo aceito por este,

ambos concordarem com o tipo de serviço a ser prestado, forma de pagamento e

acompanhamentos posteriores, ao iniciar o atendimento profissional, estabeleceu-se

uma relação baseada na autonomia da vontade de ambos, isto é, um contrato. No

vínculo contratual, o ônus da prova caberá ao devedor, ante ao inadimplemento, a

inexistência da sua culpa ou a presença de qualquer excludente do dever de

indenizar. (DINIZ, 2002, p.119-121)

Entretanto, não raras vezes, o contato entre os atores pode ser em

decorrência de um atendimento emergencial, em via pública, por exemplo, daí ser

atribuído um vínculo extra-contratual, baseado no dever jurídico originário do

médico, imposto por lei e não acordado entre as partes. Nesta eventualidade,

Page 42: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

42

embora não haja nenhum contrato entre o médico e o paciente, o profissional será

responsável por qualquer dano causado à vítima, se a mesma provar que ele agiu

com imprudência, negligência ou imperícia.

A responsabilidade extracontratual decorre de violação legal, a um

direito subjetivo ou da prática de um ato ilícito, sem que haja nenhum vínculo

contratual entre lesado e lesante. (DINIZ, 2002, p.119-121)

Na responsabilidade extracontratual, caberá ao autor da ação o ônus

da prova da existência de imprudência, negligência ou imperícia do agente causador

do dano. (AGUIAR JUNIOR, 1995. p.80)

A responsabilidade extracontratual pode ser subjetiva, quando se tem

por fundamento a culpa, ou objetiva, se ligada ao risco.

Por fim, outros juristas entendem que o médico não se limita a prestar

serviços estritamente profissionais e que por vezes atua como conselheiro e apoio à

família do enfermo. Surge aí uma natureza de contrato ―sui generis‖, esta apoiada

por grandes doutrinadores, entre eles Sérgio Cavalieri Filho. (CAVALIERI FILHO,

2008. p.2, p.369-388)

Ressalta-se, todavia, que independentemente da natureza jurídica ser

contratual, extracontratual ou contratual ―sui generis‖, a responsabilidade civil do

médico, fundamentada nos diplomas legais vigentes, decorre da ação ou omissão

do citado profissional, causando dano a outrem. (CAVALIERI FILHO, 2008. p.2,

p.369-388)

8.3.2 Direta e indireta

A doutrinadora Maria Helena Diniz, ao classificar a responsabilidade

civil em direta e indireta, tendo em vista o agente que praticou a ação assevera que:

―a responsabilidade será direta se proveniente da própria pessoa imputada, o agente

responderá, então, por ato próprio. E será indireta ou complexa se propanar de ato

de terceiro, com o qual o agente tem vínculo legal de responsabilidade, de animais e

de coisas inanimadas sob a sua guarda‖. (DINIZ, 2002, p.119-121)

Observamos, assim, que uma das Forças Armadas poderá ser

responsabilizada indiretamente por um dano causado por um dos seus oficiais

médicos, haja vista o vínculo legal de subordinação entre o profissional e a

instituição, fato previsto no art. 932 do CC.

Page 43: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

43

8.3.3 Objetiva e subjetiva

Tendo como parâmetro os fundamentos da responsabilidade civil,

Maria Helena Diniz também classifica a responsabilidade em objetiva e subjetiva,

além de emitir os seguintes conceitos: ―a responsabilidade será subjetiva se

encontrar sua justificativa na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a

determinada pessoa. Desse modo, a prova da culpa do agente será necessária para

que surja o dever de reparar‖; e que ―responsabilidade objetiva se funda no risco,

que explica essa responsabilidade no fato de haver o agente causado prejuízo à

vítima ou aos seus bens. É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do

dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela

vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar‖. (DINIZ, 2002, p.119-

121)

Analisando os conceitos acima, verificamos que a diferença entre a

responsabilidade subjetiva e a objetiva reside no fato da primeira ter na culpa ou

dolo do agente causador do dano o seu fundamento basilar (consequência de ato

ilícito), enquanto que a segunda se fundamenta na teoria do risco, isto é, na

atividade que, embora isenta de culpa, cria um risco de dano a terceiros. Neste

último caso, não há de se falar em culpa ou dolo para que fique caracterizada a

necessidade de indenizar.

Reportando-se ao CPDC, diploma legal que disciplina as relações de

consumo, verificamos que, no art. 14, ―O fornecedor de serviços responde,

independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos

consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.‖ e, em seu

§ 4º, ―a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a

verificação de culpa‖.

A Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal (STF) diz que ―é

presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou

preposto‖, tendo a instituição o direito à ação de regressiva em relação ao

responsável pelo dano.

Sendo assim, baseando-se na legislação apresentada nos parágrafos

anteriores, a responsabilidade do médico é subjetiva, com culpa provada pelo autor

da queixa, salvo, segundo algumas decisões judiciais, algumas especialidades,

Page 44: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

44

como cirurgia plástica estética, radiologia, anestesiologia e cirurgia oftalmológica

refrativa, nas quais o ônus da prova de não culpabilidade caberá ao médico. Quanto

aos hospitais, policlínicas e demais unidades fornecedoras de serviços de saúde, a

responsabilidade é objetiva, sem que haja a necessidade de comprovação de culpa

pelo paciente ou seu representante legal, cabendo a essas organizações de saúde o

ônus da prova quanto a não ocorrência de defeitos na prestação do serviço.

8.4 RESPONSABILIDADE DAS INSTITUIÇÕES FORNECEDORAS DE SERVIÇOS

DE SAÚDE

A responsabilidade civil das instituições fornecedoras de serviços de

saúde está vinculada intimamente aos ditames do Código de Proteção e Defesa do

Consumidor, que tão bem conceitua consumidor, fornecedor e serviços, além de

atribuir o tipo de responsabilidades do fornecedor de serviço, por meio dos seguintes

artigos:

Art. 2º ―Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou

utiliza produto ou serviço como destinatário final.‖

Art. 3º ―Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,

nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem

atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,

exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços‖.

§ 3º ―Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,

mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e

securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.‖

Art. 14 ―o fornecedor de serviços responde, independente da existência

de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos

relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou

inadequadas sobre a sua fruição e riscos.

Assim, não restam dúvidas que as empresas que prestam serviços de

saúde são responsabilizadas objetivamente, independentemente de culpa, pelos

danos causados aos seus usuários, salvo se provar que o defeito relativo à

prestação do serviço inexiste ou não haver nexo de causalidade entre o evento

danoso alegado e a prestação de serviço pela instituição (caso fortuito ou de força

maior, ou fato exclusivo de responsabilidade da vítima ou de terceiro).

Page 45: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

45

Entende-se por caso fortuito aquele imprevisível e, por isso, inevitável;

caso de força maior aquele que pode ser até previsível, porém inevitável, como são

os fenômenos da natureza.

No caso de um atendimento médico nas dependências de uma

instituição de saúde, esta será responsabilizada civilmente pelas ações do

profissional em caso de um resultado funesto gerando uma lide com o paciente ou

seu representante legal, uma vez que, ao contratar o médico para a prestação de

serviço, responde pelo risco da escolha ―culpa in eligendo‖ ou por falta de vigilância,

por parte do estabelecimento, dos profissionais que estão trabalhando em suas

dependências ―culpa in vigilando‖. Da mesma forma, a empresa que credencia

médicos e hospitais para suprir as deficiências de seus próprios serviços,

compartilha da responsabilidade civil dos profissionais e estabelecimentos que

seleciona.

A sistemática de credenciamento ―gera responsabilidade solidária entre

todos os participantes da cadeia de fornecedores do serviço‖. (CAVALIERI FILHO,

2008, p.385)

Em suma, a instituição que se compromete a prestar serviços de saúde

é responsável pelas ações dos médicos que contratam, bem como dos profissionais

e hospitais que credenciam para complementar sua assistência, além de outros

serviços não relacionados com a ação direta do médico. (COUTO FILHO; SOUZA,

2002. p.8-29)

8.5 RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Quanto à responsabilidade civil do Estado, a Constituição de 1988

disciplinou, no § 6º do seu art. 37: ―As pessoas jurídicas de direito público e as de

direito privado, prestadoras de serviço público, responderão pelos danos que seus

agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurando o direito de regresso

contra o responsável nos casos de dolo ou culpa‖.

Nota-se que o dispositivo acima utilizou o termo ―agente‖, propiciando

assim que a responsabilidade do Estado ocorrerá ainda que se trate de ato praticado

por servidor contratado, funcionário de fato ou temporário, colaboradores sem

remuneração etc., desde que se encontre vinculado à administração pública.

Todavia, tem a administração o direito constitucional de regressar contra o seu

Page 46: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

46

agente causador do dano, fato que só poderá ocorrer caso o Estado efetue o

pagamento do prejuízo ao lesado.

Com a finalidade de fundamentar a responsabilidade objetiva do

Estado, os juristas se socorreram da teoria do risco, adaptando-a para a atividade

pública, resultando daí a teoria do risco administrativo, que assume que a

administração pública gera riscos para seus administradores ante a possibilidade de

dano por estes causados em decorrência da atividade que executa. Como a

atividade é exercida em favor de todos, nada mais justo de que todos suportem seus

ônus. Sendo assim, a teoria do risco administrativo importa atribuir ao Estado a

responsabilidade pelo risco criado pela sua atividade, dede que tenha relação de

causa e efeito entre a ação administrativa e o dano.

O ditame da Carta Magna, no entender de Sergio Cavalieri Filho, não

se restringe apenas à atividade comissiva do Estado, engloba também a ação

omissiva, sendo que esta só obrigaria o Estado a indenizar os prejuízos resultantes

dos eventos que teria o dever de impedir.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 14, combinado com o

art. 3º, já citados anteriormente, atribui ao Estado, enquanto fornecedor de serviço

público, a responsabilidade objetiva por danos decorrentes da "falta do serviço

público", incluindo, assim, a responsabilidade por conduta omissiva. Vejamos o que

dispõe o caput desses dois artigos citados:

A exclusão da responsabilidade do Estado decorre da não identificação

do nexo de causalidade entre o evento danoso e a atividade, ou da não omissão do

Poder Público. (CAHALI, 1996, p.55)

8.6 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL

As condições excludentes da responsabilidade civil são as seguintes: a

ausência do nexo causal entre a ação e o dano; a culpa exclusiva da vítima; a culpa

de terceiros; o caso fortuito; o caso de força maior; e o mal incontrolável.

O nexo causal, como já descrito, é uma condição indispensável para a

caracterização do delito, pois sem este não há como pensar em imputar a

responsabilidade a um profissional ou a uma instituição de saúde a qual não

colaboraram para o resultado danoso. (KFOURI NETO, 2007. p.61-199)

Page 47: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

47

A culpa exclusiva da vítima ocorre quando o paciente, estando lúcido,

não segue rigorosamente as orientações transmitidas pelo médico ou pelo hospital,

desde que essa conduta seja determinante para o evento danoso.

O fato de terceiros ocorre quando um cuidador, devidamente orientado

pelo médico, dá causa direta ou indireta ao evento danoso ao paciente sob seus

cuidados. (CAVALIERI FILHO, 2008. p.2, p.369-388). Entretanto, para alguns

doutrinadores, nem sempre a culpa de terceiros exclui o nexo causal, havendo

também a necessidade de que estas pessoas sejam estranhas a instituição.

O caso fortuito é a ocorrência imprevisível, normalmente proveniente

da natureza e sem qualquer comprometimento humano, citamos como exemplo as

inundações, incêndios não provocados e choque elétrico advindo de raios.

Já na força maior, o agente não tem a possibilidade de evitar o

resultado, ainda que previsível, como é o caso de greves e revoluções.

O mal incontrolável seria aquele decorrente de uma situação grave e

de curso inexorável.

Outra condição que interfere na responsabilidade civil é a condição de

atendimento ao enfermo ou acidentado, uma vez que há uma diferença muito

grande entre a abordagem de um ferido durante uma operação ou exercício e

aquela realizada em um hospital terciário como são os hospitais militares.

8.7 VALOR DAS INDENIZAÇÕES

Sabendo-se que a responsabilidade civil tem a função reparadora ou

indenizatória, embora possa vir a assumir, acessoriamente, caráter punitivo, a

indenização a ser paga ao paciente deverá seguir ao preceito do art. 402 do Código

Civil, que estabelece a recomposição integral do patrimônio daquele que sofreu o

dano, devendo abranger o que perdeu (dano emergente) e o que deixou de ganhar

com o evento danoso (lucro cessante).

Quanto ao dano moral, de difícil qualificação e quantificação, o Código

Civil preceitua que a reparação deve constituir-se em compensação ao lesado e

adequado desestímulo ao lesante. Neste caso, deve o juiz, valendo-se de sua

experiência profissional, calcar-se na lógica do razoável, de acordo com a realidade

da vida e às peculiaridades de cada caso.

Page 48: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

48

Após um levantamento nos tribunais, Couto Filho observou-se que as

indenizações variam entre 80 a 500 salários mínimos vigentes no país, acrescidos,

se for o caso, do montante das despesas que o paciente tenha que realizar para

corrigir a lesão que eventualmente tenha sofrido. (COUTO FILHO, 2009)

O juiz também pode decidir pelo pagamento de pensão, até

permanente, ao paciente e seus dependentes, de acordo com a renda que o lesado

percebia no momento da lesão que o incapacitou, além do pagamento de custas do

processo e honorários do advogado. (COUTO FILHO, 2009)

8.8 PRESCRIÇÃO DAS AÇÕES INDENIZATÓRIAS

A prescrição corresponde a perda da exigibilidade de um direito

subjetivo em razão da inércia do titular, durante determinado lapso temporal, para o

ajuizamento de uma ação contra um médico ou em face da instituição a que este

estiver subordinado.

O CC prevê, no seu art. 206, § 3º, inciso V, um lapso temporal para a

prescrição do ajuizamento das demandas de 3 anos, contados à partir do

conhecimento do dano.

Porém, alguns tribunais aplicam os ditames do CPDC, que, em seu art.

27, prevê o prazo de 5 anos para a prescrição das ações indenizatórias, iniciando-se

a contagem do tempo a partir do conhecimento do dano e da sua autoria. (COUTO

FILHO, 2009)

O CC também prevê, em seu art. 200, que ―quando a ação se originar

de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não ocorrerá a prescrição antes da

respectiva sentença definitiva.‖ Desta forma, em caso da existência de uma decisão

condenatória criminal contra o médico, em razão de conduta culposa, o início do

prazo prescricional para uma ação cível passará a ser contado à partir da data do

trânsito em julgado.

9 PREVENÇÃO DO ERRO MÉDICO DO OFICIAL MÉDICO

O erro médico do oficial médico no exercício da profissão pode gerar

sequelas graves ou mesmo a morte do paciente. Embora sabendo que falhas são

inevitáveis, se faz necessário a implementação de procedimentos visando à

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49

prevenção da sua ocorrência, uma vez que pode levar a resultados desastrosos

para o paciente ou para um ferido durante uma operação ou exercício militar, além

de poder vir a gerar ações judiciais contra os profissionais ou em face da instituição

a que o mesmo estiver vinculado. Dentre as medidas de prevenção do erro médico,

destacamos:

I. Proporcionar a atualização e constante aperfeiçoamento científico do

médico por intermédio da sua participação em cursos, congressos, simpósios e

contatos com profissionais mais experientes.

II. Exigir o comportamento profissional do médico militar ou que esteja

sob a responsabilidade objetiva das Forças Armadas focado nas orientações éticas

dos conselhos de medicina.

III. Participar ao diretor/comandante da OM, a evolução clínica dos

pacientes sobre seus cuidados.

IV. Assessorar o comandante nas questões afetas ao bom desempenho

da atividade de saúde, bem como das necessidades de aquisição de medicamentos,

apósitos e equipamentos para a prestação de um correto atendimento.

V. Participar a direção/comandante todas as ocorrências de erro médico

VI. Manter um estreito contato, quando trabalhando em OM de ensino ou

operativa, com o hospital militar da área ou unidade civil de apoio, conforme o caso

em particular, fim obter orientação especializada para os casos mais graves que por

desventura possam ocorrer.

VII. Oficiais médicos mais antigos, lotados nos hospitais e policlínicas,

deverão orientar os mais novos, tendo sempre em mente que os profissionais que

atuam nas organizações militares operativas possuem menor experiência e, por

vezes, encontram-se sozinhos ante a um problema sério de saúde com algum

militar.

VIII. Identificar corretamente os pacientes e registrar, no prontuário, todos

os procedimentos realizados, do primeiro atendimento até a alta hospitalar,

considerando que a cópia do prontuário médico é o primeiro documento solicitado

pela justiça e pelos conselhos de medicina quando de uma investigação sobre a

conduta profissional do médico.

IX. Estreitar as relações com outros profissionais, observando o aspecto

multidisciplinar do tratamento aos enfermos.

X. Aprimorar a relação com os pacientes e familiares.

Page 50: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

50

XI. Conduzir a consulta com o seu paciente olhando ―olho no olho‖,

sempre que os mesmos estiverem lúcidos, além de manter o máximo de interesse

sobre o que o enfermo está valorizando como sintomas e sinais importantes.

XII. Nunca realizar consulta sob condições impróprias, salvo em casos de

risco iminente de morte e evitar consultas à distância. A receita médica deverá ser

detalhada e objetiva, de modo que qualquer leigo entenda.

Participação das Organizações Militares Hospitalares e Policlínicas: os

hospitais-gerais e policlínicas são guarnecidos por profissionais dotados dos mais

variados conhecimentos técnicos, desde médicos com título de doutores e mestres

até recém-formados, daí a necessidade imperativa da adoção de medidas

administrativas internas visando a não-ocorrência do chamado erro médico. Dentre

elas, apontamos como as mais importantes a realização de cursos de emergências

destinados a todos os profissionais da área de saúde; incentivo e fiscalização quanto

ao correto preenchimento do prontuário médico; padronização de procedimentos e

medicamentos utilizados; cuidados especiais nos serviços de maior ocorrência de

falhas (obstetrícia e emergência); supervisão contínua das atividades dos médicos

residentes pelos mais experientes; criação de um sistema de notificação de erro

médico; execução de um programa de gestão de riscos com a participação ativa do

diretor técnico e demais membros do corpo clínico; estabelecimento de mecanismos

de prevenção do erro por intermédio da busca de suas causas reais; não comentar

sobre assuntos administrativos ou particulares durante uma consulta ou

procedimento médico; obter sempre do paciente o consentimento informado por

escrito; jamais abandonar o paciente; encarar o erro como uma oportunidade de

aprimoramento da assistência prestada ao paciente; revisão sistemática dos

procedimentos técnicos buscando condutas mais seguras e atuais; observar o

desempenho ético e técnico dos médicos por intermédio da coleta de informações

sobre as atitudes dos mesmos; atender prontamente as queixas dos pacientes e

acompanhantes; manter um programa de educação continuada abrangendo temas

de ética, técnicos e jurídicos; incentivar atitudes pró-ativas quanto à profilaxia do

erro; cumprir e fazer cumprir as orientações oriundas dos conselhos de medicina; ter

uma resposta rápida em casos de ocorrência de um erro médico; impedir que fatores

orgânicos (enfermidade, estresse ou estafa do profissional) prejudiquem o

desempenho dos profissionais; medidas para evitar quedas de pacientes do leito;

aquisição de equipamentos de ponta para melhor atender aos pacientes, além de

Page 51: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

51

manter de manter um ambiente propício para o exercício de uma medicina de

elevado padrão.

XIII. Quanto à participação dos comandantes das organizações militares

operativas e de ensino, na adoção de medidas que visem à redução da ocorrência

do erro médico, enfatizamos a necessidade de que seus os oficiais médicos

concorram à escala de serviço dos hospitais militares, uma vez que o profissional

afastado do hospital tende a negligenciar os avanços tecnológicos e científicos, fato

que propicia a ocorrência de um erro, podendo com isso gerar consequências

jurídicas.

XIV. Fiscalização do exercício profissional do médico pelas Diretorias de

Saúde das Forças, além da elaboração de uma coletânea contendo os erros

médicos mais frequentes, com o fito de divulgar as ocorrências e orientar os

profissionais mais inexperientes, principalmente os que atuam fora das unidades de

saúde.

XV. Ações administrativas frente ao erro: punitiva em casos de desvios de

conduta (imprudência e negligência); e retreinamento e aconselhamento em

situações de falha sem que tenha havido desvios de conduta.

10 SUGESTÕES PARA MITIGAR A OCORRÊNCIA DE AÇÕES JUDICIAIS

Além das medidas elencadas na seção 9, que trata sobre a prevenção

do erro médico, algumas providências complementares são passíveis de serem

sugeridas para mitigar a ocorrência de ações judiciais contra os oficiais médicos ou

em face da Força Armada a que estiver subordinado:

I. Ingresso nas Forças Armadas:

Sempre dar prioridade aos mais capacitados tecnicamente, de

preferência aos detentores de título de especialista na área de conhecimento que se

quer admitir, mesmo sob o risco do não-preenchimento de vagas ociosas, por falta

de candidato ou de profissional qualificado.

II. Formação Militar:

Como vimos anteriormente, o médico ingressa nas fileiras das Forças

Armadas sob quatro formas: como integrante do Corpo/Serviço de Saúde; por

Page 52: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

52

convocação para a prestação do serviço militar obrigatório; por intermédio do serviço

militar voluntário; ou em virtude da convocação de emergência determinada pelo

Presidente da República. Mesmo tendo o processo de formação militar diferenciado

para cada uma das quatro vias de ingresso, em nenhum deles o futuro oficial recebe

instrução sobre a responsabilidade civil, deficiência esta que também ocorre durante

o curso de formação acadêmica. (PRESTES JUNIOR, 2007). O desconhecimento

sobre o assunto expõe o oficial médico às ações judiciais de reparação de danos

supostamente ocorridos com os usuários dos sistemas de saúde.

Outro aspecto importante a ser enfatizado é a condição técnica do

médico recém-admitido: voluntários portando título de especialista ou não; e

profissionais convocados para a prestação do serviço militar obrigatório, estes quase

sempre recém-formados.

Assim propomos uma reformulação curricular, incluindo um módulo de

nivelamento técnico, onde o profissional assistiria palestras sobre as enfermidades

mais comuns; um módulo de treinamento prático em simuladores; e, por fim,

palestras sobre medicina operativa com a finalidade de ensinar ao futuro oficial a

prestar um correto atendimento de saúde a bordo de um navio ou em uma manobra

em terra.

Ainda, fazendo parte do curso de formação de oficiais, seriam

realizadas palestras sobre a responsabilidade civil do médico, a fim transmitir as

orientações necessárias para evitar que o mesmo incorra no chamado erro médico.

III. Cursos de aperfeiçoamento e residência médica:

Nos cursos de aperfeiçoamento e residência médica, o jovem médico

deverá ter um acompanhamento rigoroso dos profissionais mais experientes,

principalmente nas atividades de maior risco, como emergência, UTI e centro

obstétrico.

Além da atividade técnica, os cursandos deverão ser alertados quanto

à importância dos itens elencados no capítulo 9 desta monografia, principalmente

nos tópicos referentes ao correto preenchimento do prontuário médico e das fichas

de atendimento, da boa relação médico-paciente e do correto preenchimento das

receitas e dos prontuários médicos, além da obtenção do consentimento informado

antes de iniciar o tratamento (exceto em casos de emergência).

IV. Demais cursos de carreira:

Sempre conter um módulo sobre a responsabilidade civil do médico.

Page 53: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

53

V. Obrigatoriedade da realização de palestras anuais sobre

responsabilidade civil do médico, com presença prioritária dos oficiais médicos mais

modernos.

VI. Manutenção das boas práticas de atendimento médico hospitalar,

que caracteriza o nível de excelência do tratamento de saúde proporcionado pelas

Forças Armadas.

VI. Promoção, pelos diretores e comandantes de OM, de atividades

pró-ativas permanentes, orientando e instruindo os oficiais médicos sobre os

principais conceitos jurídicos e éticos que norteiam as atividades de saúde.

VII. Estreito relacionamento com a justiça e com os conselhos de

medicina.

VIII. Amar seu paciente e a instituição em que trabalha.

11 CONCLUSÃO

A responsabilidade civil médica passou a ter maior notoriedade com a

promulgação da Constituição Federal de 1988, do Código Civil Brasileiro de 2001 e

do Código de Proteção e Defesa do Consumidor de 1990 (lei 8078/90), diplomas

que mudaram radicalmente as relações entre pacientes, médicos e organizações

fornecedoras de serviços de saúde, fazendo com que a indenização por danos

passasse a integrar definitivamente o ordenamento jurídico brasileiro.

Nas últimas décadas, o mundo experimentou diversas mudanças,

principalmente nos campos político, econômico, social e tecnológico. O Brasil, dito

— gigante emergente ―, não ficou ao largo dos acontecimentos, tornando-se

cenário de várias transformações, algumas positivas e outras nem tanto.

No setor da tecnologia da informação, por exemplo, houve um grande

avanço, fato que permitiu o acesso de um número cada vez maior de pessoas a uma

série de informações em tempo real, além de propiciar uma maior conscientização

da população dos seus direitos previstos nas novas legislações.

No aspecto econômico, embora tenha ocorrido um aumento da

chamada classe média, o país experimentou um acentuado incremento no setor de

serviços, fato que tornou as consultas médicas particulares mais caras. O mesmo

ocorreu com os valores das mensalidades dos planos de saúde. Tais fatos

obrigaram muitas pessoas a abandonarem seus respectivos seguros de saúde e

Page 54: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

54

recorrerem à precária e sucateada rede pública de saúde para o tratamento de suas

enfermidades.

No campo da educação, ocorreu uma queda significativa na qualidade

do ensino em todos os níveis, inclusive das escolas médicas, que passaram a

graduar alguns profissionais sem a qualificação necessária para o desempenho de

uma atividade da mais alta relevância, situação que gerou um aumento do chamado

―erro médico‖, com consequente transtorno administrativo para o profissional e para

as instituições de saúde, que os administram.

A esses fatos acrescentamos a chamada ―indústria da indenização‖,

alimentada pela mídia e por advogados desejosos de auferir lucros vultosos, que

contribuiu para o aparecimento de uma crescente demanda de ações judiciais contra

médicos e/ou em face de instituições fornecedoras de serviços de saúde, tendo

como escopo a pretensão do autor em receber pecúnia.

As Forças Armadas, instituições que primam pela hierarquia, disciplina

e também excelência de seus processos de saúde, não estão livres dessa ―onda de

indenizações‖, uma vez que possuem um número significativo de usuários

distribuídos em todo o território nacional. Esses, muito exigentes e cientes de seus

direitos advindos da legislação vigente; um contingente de oficiais médicos bastante

heterogêneo, alguns com larga experiência profissional, detentores de títulos de

mestrado e doutorado, outros recém-formados cumprindo o serviço militar

obrigatório ou convocados como voluntários, e finalmente aqueles em fase

especialização ou residência médica. Tais oficiais, em sua grande maioria, não

possuem conhecimentos mínimos sobre a responsabilidade civil do médico, fato que

causa apreensão de todos ante a possibilidade de uma ação indenizatória contra si

ou em face da força em que estiver subordinado.

Outro ponto observado se refere à atividade fim das Forças Armadas,

que implica na execução de manobras e exercícios a bordo de navios ou na selva.

Neste cenário, o apoio de saúde, embora dotado dos equipamentos necessários a

fazer frente a uma situação de emergência, se restringe a um oficial médico, muitas

vezes inexperiente e sem conhecimentos de medicina operativa, e praças técnicos

de enfermagem.

Em face do que foi pesquisado e desenvolvido, conclui-se que se faz

necessário a implementação de medidas visando à prevenção do erro médico e

assim mitigar a ocorrência de lides judiciais envolvendo usuários dos Sistemas de

Page 55: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

55

Saúde, oficiais médicos e as Forças Armadas, para o que a maioria das ações

elencadas na seção 10 possam ser consideradas como sugestões a serem

implementadas. Afinal, prevenir é sempre melhor e mais barato.

Page 56: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

56

REFERÊNCIAS

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Page 57: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

57

_____. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17. ed. aum. atual. São Paulo: Saraiva, p. 119-121. FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., 1998. p. 389-403. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 3, p. 10-13. _____._____. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 203. GIOSTRI, Hildegard Taggesell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada. Curitiba: Juruá, 2000. GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil: doutrina, jurisprudência. 4. ed. São Paulo: Saraiva,1998. p. 5 _____. Responsabilidade civil. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 33-34. KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 6. ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 61-199. LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: ed. Revista dos Tribunais, 2004. v. 2, p. 427. PINTO, Antônio de Souza Madeira. O Segredo Profissional. Revista dos Tribunais. São Paulo, n.299, p.26, 1960. PRESTES JUNIOR, Luiz Carlos Leal. A Importância do ensino do direito médico nos cursos de graduação em medicina. Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Ciências Médicas. Rio de Janeiro, 2007. REIS, Clayrton. Dano moral. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense,1997. RODRIGUES, Silvio. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 4, p. 6.

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Page 59: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

59

ANEXO - JURISPRUDÊNCIA E DECISÕES JUDICIAIS

I Acórdão da 6ª Câmara Civil do egrégio Tribunal de Justiça do Estado

do Rio de Janeiro prolatado no julgamento da Ap. cível 5.174/92, do qual foi relator o

doutor Des. Laerson Mauro:

―Responsabilidade civil-Erro médico-Configuração.

Em vista de que o médico celebra contrato de meio, e não de

resultado, de natureza sui generis, cuja prestação não recai na garantia de curar o

paciente, mas de proporcionar-lhe conselhos e cuidados, proteção até, com

emprego das aquisições da ciência, a conduta profissional suscetível de engendrar o

dever de reparação só se pode definir, unicamente, com base em prova pericial,

como aquela reveladora do erro grosseiro, seja no diagnóstico como no tratamento,

clínico ou cirúrgico, bem como na negligência à assistência, na omissão ou

abandono do paciente etc., em molde a caracterizar falta culposa no desempenho

do ofício, não convindo, porém, ao judiciário lançar-se em apreciações técnicas

sobre métodos científicos e critérios que, por sua natureza, estejam sujeitos a

dúvidas, discussões, subjetivismos‖.

II - 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp

138.059-MG, do qual foi relator o Min.Ari Pargendler, firmou o seguinte

entendimento:

―Civil-Responsabilidade civil-Prestação de serviços médicos. Quem se

compromete a prestar assistência médica por meio de profissionais que indica é

responsável pelos serviços que estes prestam‖.

III - TJRJ, Ap.cível 304/95(2ª C.,rel. Des. Lindbergh Montenegro)

―Responsabilidade civil de médico-Erro médico-Dano moral-

Indenização-critério de fixação.

Ação de indenização-Dano-moral-Constrangimento experimentado pela

autora, quando em exame ginecológico teve seu hímen rompido, por imperícia

médica-Confirmação de sentença que deu pela procedência do pedido‖.

IV - STJ, REsp 467878-RJ (4ª T., rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar)

―Responsabilidade civil-Santa Casa-Consentimento informado.

A Santa Casa, apesar de ser instituição sem fins lucrativos, responde

solidariamente pelo erro do seu médico que deixa de cumprir com a obrigação de

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60

obter o consentimento informado a respeito de cirurgia de risco, da qual resultou a

perda da visão da paciente‖.

―Responsabilidade Civil. Médico. Consentimento informado.

A despreocupação do facultativo em obter do paciente seu

consentimento informado pode significar-nos casos mais graves-negligência no

exercício profissional. As exigências do princípio do consentimento informado

devem ser atendidas com o maior zelo na medida em que aumenta o risco, ou o

dano‖.

V - TJRJ, Ap. cível 217/96 (2ª C., rel. Des. Sergio Cavalieri Filho)

―Responsabilidade civil-Estabelecimento hospitalar-Morte de recém-

nascido-Alta hospitalar prematura-Indenização circunscrita ao dano moral. A alta

hospitalar prematura de criança nascida com peso inferior ao normal e com

deficiência respiratória, constitui, até aos olhos do leigo, a causa adequada da morte

do recém-nascido, sendo prova inequívoca da relação de causalidade o fato de ter o

falecimento ocorrido cerca de oito horas após a alta.

Como prestadores de serviço que são, os estabelecimentos

hospitalares respondem objetivemente pela reparação dos danos causados aos

consumidores‖.

VI - Recurso de Apelação Cível nº 2005.001.14032- 8ª Câmara Cível-

TJRJ.

―Responsabilidade Médica. Erro de diagnóstico. Dever de

informar.Contrato de prestação de serviços.Obrigação de meio.

...Tratando-se de uma obrigação geral de prudência e diligência, tem o

profissional médico dever de informar, esclarecendo ao paciente todas as questões

referentes ao caso levado ao seu exame‖.

VII - DJ 17/05/1999, 2ª Turma, rel. Min. Adir Passarinho Junior.

―Recurso Especial-Indenização por Danos Morais e Materiais-Ação

ajuizada pelo marido e filhos da vítima falecida por erro médico-Danos morais-

Indenização fixada em quinhentos salários mínimos-Redução para trezentos salários

mínimos-Razoabilidade-Precedentes‖.

VIII - Recurso Especial nº 2004/0171881-9-QUARTA TURMA-STJ

―Responsabilidade Civil. Reparação de dano moral. Prescrição, matéria

preclusa. Exame laboratorial HIV-AIDS. Falso positivo. Dever de informar o paciente

Page 61: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

61

sobre a possibilidade do resultado não ser conclusivo. Responsabilidade do

laboratório. Indenização por danos morais..‖

IX - TJPR-1ª Câm. Civ.-Ap.Cív. 24.433-1- Londrina-j.07061994-rel.

Des. Osiris Fortuna-j.07.06.1994.

―Responsabilidade Civil- Indenização- Negligência- Bisturi eletrônico-

Descarga elétrica- Ausência de equipamentos necessários à segurança do hospital

e centro cirúrgico- Lesão grave- Amputação do pé esquerdo e perda parcial de

alguns dedos do pé direito da paciente- Redução da capacidade laborativa-

Procedência‖.

X - TJRJ- 3ª Câm. Cív.-Ap. Cív. 12/90-RJ-j.20.08.1991-Rel. Des.

Hermano Duncam Ferreira Pinto.

―Negligência Hospitalar- Comprovada pela permanência da doente em

estabelecimento em que inexistiam meios ao tratamento, somente sendo

providenciada sua remoção para outro nosocômio onde existiam recursos

adequados, quando já o mal havia avançado, deixando-a entre a vida e a morte, e

produzindo nela os danos comprovados no processo- Confirmação da sentença que

reconheceu a responsabilidade e determinou o pagamento de indenização‖.

XI - TJSP- 4ª Câm. Cív.- Ap. Cív. 118.420-1-SP-j.24.06.1993- rel. Des.

Ney Almada.

―Indenização-Responsabilidade civil-Erro médico-Ajuizamento contra

hospital, cirurgião e anestesista- Solidariedade reconhecida- Questionamento de

pormenores técnico-científicos complexos- Desnecessidade- Suficiência, para o

reconhecimento da culpa, do enfoque do comportamento dos réus, sob a ótica

jurídica- Ação procedente-Recursos não providos‖.

XII - TAMG-3ª Câm. Cív.-Ap. Cív. 153.433-8-MG-j.09.06.1993-rel. Juiz

Tenisson Fernandes.

―Responsabilidade civil- Instituição hospitalar-Médico-Solidariedade.

Responsabilizam-se solidariamente o estabelecimento hospitalar e o

médico que deixa de ministrar adequado medicamento a parturiente, ocasionando a

morte do feto‖.

XIII - REsp 81.101-PR, 3ª Turma, do qual foi relator o eminente Min.

Waldemar Zveiter.

―Cirurgia estética ou plástica-obrigação de resultado(responsabilidade

contratual ou objetiva)- Indenização- Inversão do ônus da prova. Contratada a

Page 62: responsabilidade civil do médico militar e repercussão nas forças

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realização da cirurgia estética embelezadora, o cirurgião assume obrigação de

resultado(responsabilidade contratual ou objetiva), devendo indenizar pelo não

cumprimento da mesma, decorrente de eventual deformidade ou de alguma

irregularidade. Cabível a inversão do ônus da prova‖.

XIV - TJRJ, 13ª Câm. Cív. Ap.Civ. 13.154/2007, rel. Des. Sergio

Cavalieri Filho.

―Responsabilidade civil hospitalar- Inexistência de defeito na prestação

do serviço- Sequelas suportadas pela autora decorrentes da gravidade da própria

doença- Ausência de nexo causal entre o serviço prestado e o dano. Desprovimento

do recurso‖

XV - TJRS,10.ª Câm. Crim.-Ap. Civ. 70009843251, rel. Des. Luiz Ary

vessini de Lima-j.25.11.2004.

―Responsabilidade civil-Danos materiais e morais- laqueadura de

trompas de falópio.

......o requerido, em sua defesa, provou o fato extintivo do direito

pretendido na inicial. Demonstrando que não houve qualquer conduta indevida do

médico, com o que se afasta o dever de indenizar. Condenada a autora em litigância

de má-fé. Negado provimento ao apelo‖

XVI - TAPR, 9ª Câm. Cív.- Ap. Cív. 255050-9/ Curitiba- Rel. Juiz com.

Antonio Loyola Vieira- j. 11.05.2004- DJ 21.05.2004.

―Apelação cível- Ação de reparação de danos- Responsabilidade civil-

Dano moral-Conduta médica- Não comprovação de culpa- afastado o dever de

indenizar- Sentença incensurável- Recurso conhecido e desprovido‖.