resenha do livro pare de acreditar no governo

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Ao terminar de ler “Pare de acreditar no governo” fica logo a sensação de que daria uma ótima minissérie ou documentário, tamanha é a didática e força imaginativa da obra. O livro é literalmente uma viagem pela história do Brasil, na tentativa de responder o tão malfadado hábito dos Brasileiros de pedirem mais Estado para os seus problemas, quando eles mesmos não confiam nos homens afrente do governo. Logo no inicio somos apresentados a chegada dos primeiros navios portugueses, situação essa narrada de uma maneira cômica que não destoa ao longo do livro, em que nos é mostrado fatores emblemáticos quanto as primeiras ações portuguesas em solo Brasileiro. Das primogênitas ideias paternalistas travestidas de fazer o bem aos nativos, hoje bandeira de partidos como o PT, bem como a troca de favores e privilégios inaugurados com a carta de caminha ao rei português. É notório, ao longo de nossa jornada como nação, o processo de ampliação gradual do estado e do intervencionismo nas ideias mercantilistas e iluministas do marques de pombal, importadas ao Brasil e que resultaram na centralização do poder na esfera política e a imposição de uma agenda sob a sociedade como um meio torto para o progresso. Assim, mesmo a positiva expansão do mercando interno nos primórdios do período monárquico, não resistiu as primeiras investidas de uma Portugal aflita por taxas e burocracias como meio de controle social, juntamente com uma igreja concentrada em controlar atitudes do povo Brasileiro. Devido ao encolhimento do mercado a época, resultado das mal formuladas leis de usura e burocracia exacerbada, houve o fim da prosperidade e a criação da primeira mentalidade estatista, que logicamente, impediu a boa formação de uma cultura empreendedora no Brasil. Portanto, é razoável o desenvolvimento de uma sociedade baseada em construção de alianças e troca de favores, e foi justamente no patrimonialismo a centralização do Estado e o aumento da burocracia no desenvolvimento de uma política social voltada “para o bem estar do povo”, e a promessa de benefícios adicionais para os aliados. Como o Bruno felizmente aponta, a mudança do discurso de “pelo povo” para “pelos pobres” é um pulo. Vai Brasil! Com o fim da monarquia, e da ideia do parlamentarismo, a república repetiu os mesmos erros autoritários do passado sem reproduzir qualquer traço virtuoso da experiência monárquica no país. Foi do patrimonialismo que nasceu o tão conhecido capitalismo de laços Brasileiro. Bruno, que não esconde em nenhum momento sua predileção pela monarquia, dedicou especial capitulo a esse período. Houve certo afrouxamento do estado no reinando de Dom João IV com a abertura dos portos, e até mesmos avanços no período de Dom Pedro I, entretanto foi ele quem continuou o processo de inchaço do governo iniciado por seu pai, além de ampliar a relevância do estado na vida nacional. Foi em Pedro II, e sua visão peculiar quanto ao lucro que somos apresentados a, talvez, o maior empreendedor já nascido em terras tupiniquins. O incrível Barão de Mauá, que com seu gênio para os negócios facilmente está no mesmo nível dos Rockfellers e dos maiores magnatas Americanos na criação de riqueza. Seus negócios se estendiam da América latina

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Resenha do livro pare de acreditar no governo do bruno garschagen.

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Page 1: Resenha do livro pare de acreditar no governo

Ao terminar de ler “Pare de acreditar no governo” fica logo a sensação de que daria uma ótima minissérie ou documentário, tamanha é a didática e força imaginativa da obra.

O livro é literalmente uma viagem pela história do Brasil, na tentativa de responder o tão malfadado hábito dos Brasileiros de pedirem mais Estado para os seus problemas, quando eles mesmos não confiam nos homens afrente do governo.

Logo no inicio somos apresentados a chegada dos primeiros navios portugueses, situação essa narrada de uma maneira cômica que não destoa ao longo do livro, em que nos é mostrado fatores emblemáticos quanto as primeiras ações portuguesas em solo Brasileiro. Das primogênitas ideias paternalistas travestidas de fazer o bem aos nativos, hoje bandeira de partidos como o PT, bem como a troca de favores e privilégios inaugurados com a carta de caminha ao rei português.

É notório, ao longo de nossa jornada como nação, o processo de ampliação gradual do estado e do intervencionismo nas ideias mercantilistas e iluministas do marques de pombal, importadas ao Brasil e que resultaram na centralização do poder na esfera política e a imposição de uma agenda sob a sociedade como um meio torto para o progresso. Assim, mesmo a positiva expansão do mercando interno nos primórdios do período monárquico, não resistiu as primeiras investidas de uma Portugal aflita por taxas e burocracias como meio de controle social, juntamente com uma igreja concentrada em controlar atitudes do povo Brasileiro.

Devido ao encolhimento do mercado a época, resultado das mal formuladas leis de usura e burocracia exacerbada, houve o fim da prosperidade e a criação da primeira mentalidade estatista, que logicamente, impediu a boa formação de uma cultura empreendedora no Brasil.

Portanto, é razoável o desenvolvimento de uma sociedade baseada em construção de alianças e troca de favores, e foi justamente no patrimonialismo a centralização do Estado e o aumento da burocracia no desenvolvimento de uma política social voltada “para o bem estar do povo”, e a promessa de benefícios adicionais para os aliados. Como o Bruno felizmente aponta, a mudança do discurso de “pelo povo” para “pelos pobres” é um pulo.

Vai Brasil!

Com o fim da monarquia, e da ideia do parlamentarismo, a república repetiu os mesmos erros autoritários do passado sem reproduzir qualquer traço virtuoso da experiência monárquica no país. Foi do patrimonialismo que nasceu o tão conhecido capitalismo de laços Brasileiro.

Bruno, que não esconde em nenhum momento sua predileção pela monarquia, dedicou especial capitulo a esse período. Houve certo afrouxamento do estado no reinando de Dom João IV com a abertura dos portos, e até mesmos avanços no período de Dom Pedro I, entretanto foi ele quem continuou o processo de inchaço do governo iniciado por seu pai, além de ampliar a relevância do estado na vida nacional. Foi em Pedro II, e sua visão peculiar quanto ao lucro que somos apresentados a, talvez, o maior empreendedor já nascido em terras tupiniquins. O incrível Barão de Mauá, que com seu gênio para os negócios facilmente está no mesmo nível dos Rockfellers e dos maiores magnatas Americanos na criação de riqueza. Seus negócios se estendiam da América latina a Europa e iam além do usual; Era fazendeiro, industrial, armador, banqueiro e entusiasta tecnológico como qualquer visionário tem de ser.

No entanto, aqui no Brasil, foi fadado a uma vida particularmente difícil em contato com um período estatista, colegas invejosos e um Dom Pedro II já não muito inclinado aos empresários e influenciado por um certo visconde que tinha como meta combater o lucro, pelo bem do Brasil. Aham, senta lá..

Se no período imperial tivemos um parlamentarismo monarquista que tinha o apoio da população, e uma divisão entre liberais e conservadores, com a republica velha tivemos cabides de emprego e uma fraco plano de progresso.

Capitulo a frente, nos é apresentado a influência do positivismo no Brasil, como uma nova forma de gerir a sociedade após o golpe da republica, que obviamente trouxe mais concentração de poder, e com ela

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elevamos ainda mais os níveis de corrupção sem o dinamismo do parlamento e a figura central do Imperador. Advogados e maçons a parte, o positivismo desanda de vez o país ao se fundir com o pensamento marxista e dar luz a ideia braba de Estado forte para gerir toda a economia e sociedade Brasileira.

Se depois de péssimos governos, como o populismo estrela intervencionista de vargas, dos gastos estrondosos de JK e do nacionalismo inoportuno de jango, além da ditadura militar que dividiu o país entre a dirigência militarista centrada na ordem e no controle estatal e movimento comunista de o controle social e econômico pelo estado. Era normal, depois desses anos instáveis achamos que ficaríamos um pouco melhor com a redemocratização. Mas não ficamos. A lei de Murphy se fez presente nos próximos governos depois com a nada auspiciosa morte do primeiro presidente eleito – indiretamente – após a ditadura. Foi-se Tancredo neves e veio Sarney. O que podia dar errado deu e o que podia piorar, piorou. A crise econômica nos fins da ditadura foi fichinha perto do desastroso governo do cidadão maranhense e trouxe nosso primeiro impeachment no desastre Collor de melo, um playboy que foi a melhor escolha entre uma pluralidade de partidos em busca de uma boquinha, em especial a um barbudo brabo sem um dedo. Collor não tinha que agradar ninguém por ter subido ao poder sem ter que formar alianças, e por isso mesmo se sentiu no direito de fazer as mudanças que quisesse sem consultar ninguém. Resultado, o Plano Collor e a cassação do mandado por uma série de irregularidades dele.

FHC e Itamar foram figuras decerto únicas na história de nossos governantes, pois fizeram algum bem a sociedade – mesmo que contra a vontade dos mesmos e por pura obrigação já que não havia outra saída – ao mostrar, com as privatizações que havia um caminho contrário ao centralizador estatismo, e que dava certo. No entanto, ambos puxaram daqui e aumentaram um pouquinho dali para, no fim, deixar o estado maior do que receberam.

Se até aqui o que vimos foram golpes, constituições e disputas, perto do fim chegamos mais perto da resposta título do livro e observamos como a máquina pública foi-se lapidando em tudo que não prestava desde a descoberta para chegar ao seu auge no governo do PT.

Essa é uma obra singular, única na história literária do país e profunda no tema que se propõe a responder. Certamente merece ser lida, relida e amplamente discutida. Eu, desde já, super recomendo!