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RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: CARACTERISTICAS E
APLICAÇÕES
RESIDUES OF CIVIL CONSTRUCTION: CHARACTERISTICS AND
APPLICATIONS
Junior Cesar Candido da Rocha1- UNITOLEDO
Luis Fernando Soares da Silva2- UNITOLEDO
Pedro Sérgio Hortolani Rodrigues3- UNITOLEDO
RESUMO
A reciclagem de resíduos sólidos é um assunto de destaque no mundo todo, sob o ponto de
vista da sustentabilidade, seu principal objetivo é minimizar os impactos ambientais
ocasionados. Ações de mitigadoras foram criadas possibilitando um enorme avanço rumo à
minimização dos problemas ambientais, sociais e econômicos causadas pelo manejo
inadequado dos resíduos sólidos. O presente artigo foi elaborado através de pesquisas
bibliográficas e tem como objetivo de identificar as características e analisar o potencial de
reutilização dos resíduos sólidos. O resultado obtido é que o material reciclado possui grande
potencial competitivo no mercado, porém existem poucas usinas de reciclagem em pleno
funcionamento no País.
Palavras-chave: reciclagem; sustentabilidade; resíduos.
ABSTRACT
Solid residues recycling is a worldwide issue, from the point of view of sustainability, its main
objective is to minimize the environmental impacts caused. Mitigation actions were created to
make a huge progress towards minimizing the environmental, social and economic problems
caused by the inadequate management of solid residues. The present article was elaborated
through bibliographical researches and has as objective to identify the characteristics and to
analyze the potential of reutilization of the solid residues. The result obtained is that recycled
material has great competitive potential in the market, but there are few recycling plants in
full operation in the country.
Key-words: recycling; sustainability; waste.
1Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Toledo (2016) – [email protected]
2Graduando em Engenharia Civil pelo Centro Universitário Toledo (2016) –
[email protected] 3Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP (2009) –
2
1. INTRODUÇÃO
Atualmente o termo reciclagem de resíduos sólidos vem se destacando mundialmente na
área da construção civil, porém há muito tempo o assunto vem sido tratado.
1.1. CONTEXTO HISTÓRICO DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇAO E
DEMOLIÇÃO (RCD).
Uma das ações humanas mais antigas que se tem conhecimento é a construção civil, e
foi executada de forma artesanal desde os tempos mais remotos da humanidade, gerando
como subproduto uma enorme quantidade de entulhos minerais. Já na época da construção do
império Romano o fato despertou a atenção de construtores, e deste período é que se
encontram os primeiros registros de reutilização de resíduos minerais da construção civil na
produção de novas obras (LEVY, 1995).
Hoje em dia, embora a disposição à tecnologia e sofisticação seja abundante, é
indiscutível a nossa dependência aos recursos minerais. Entretanto, o mundo passa por
grandes problemas ecológicos, por causa dos desmatamentos e às queimadas de florestas, e
também por conta da emissão excessiva de gases poluentes, à poluição das águas dos rios e
mares e também aos enormes problemas causados pelos resíduos domésticos, industriais,
hospitalares e resíduos sólidos de demolições e construções civis, entre outros (AMORIM, et
al., 1999).
1.2. SUSTENTABILIDADE E REAPROVEITAMENTO DE RCD.
Na concepção da sustentabilidade quanto aos resíduos, à destinação adequada, a
seleção e a utilização dos materiais contribuem consideravelmente na minimização na geração
de resíduos e os impactos consequentemente ocasionados, conforme estudo apresentado pelo
Sindicato das Indústrias de Construção Civil no Rio Grande do Sul - SINDUSCON (2016).
A redução de custos com a geração de resíduos é um dos vários benefícios na
elaboração e especificação do sistema construtivo. Sendo assim, consiste na redução do
desperdício e dos custos em virtude da aquisição de novos materiais, redução de reclamações
por parte dos clientes, em consequência de patologias no empreendimento no período de
garantia. Isso aumenta a satisfação de clientes e pode melhorar o modo que a empresa é vista.
Além de que, existem benefícios indiretos tanto para o empreendedor, quanto para os clientes,
motivo pelo qual, por exemplo, haverá um aumento da durabilidade e manutenção do
desempenho do empreendimento t s s com a redução da poluição
3
ocasionada pelo transporte dos materiais e resíduos, existe também um impulso na economia
local e aumento da vida útil de aterros sanitários, entre outros (SINDUSCON, 2016).
A reciclagem dos resíduos provenientes de construção civil é feita a mais de três décadas nos
Estados Unidos, e tem como principal objetivo a produção de agregados artificiais, entretanto
em países europeus como, por exemplo, a Holanda, por questões culturais destina melhor os
seus resíduos, sendo que existe mais de 40 usinas de reciclagem de entulho distribuídas pelo
país, um dado interessante é que a Holanda reutiliza 70% do seu entulho, enquanto os
vizinhos Alemães reciclam apenas 30% (AMORIM, 1999 apud COELHO, 1998). Segundo a
Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC (2008), no Brasil, bem como no mundo
inteiro, os problemas de ordem ecológica faz com que necessitemos cada vez mais em se ter o
pensamento e hábito de se reciclar, isso acontece pelo grande crescimento da construção civil.
Segundo Porto (2008 apud PINTO, 1995) a estimativa é que no Brasil se perde cerca
de 20% dos materiais utilizados em sistemas construtivos convencionais, com a contribuição
de 60% dos resíduos gerados, a argamassa e seus componentes são os principais materiais
desperdiçadas. Os materiais de vedação também se mostraram grandes fontes de perda,
contribuindo com 30% do entulho. Na Europa, em alguns países, os valores de desperdício de
material em obra podem variar entre 10 e 15% em massa.
Para Porto (2008 apud Picchi 1993) a grande perda de materiais na construção civil
brasileira é bastante elevada se comparado a outros países. Ainda segundo Porto (2008 apud
Picchi 1993) estima-se que para o custo da obra, o desperdício relacionado ao entulho gerado,
é da ordem de 5%.
1.3. USINAS DE RECICLAGEM DE RCD NO BRASIL
Segundo Porto e Silva (2010), no Brasil ainda não é expressiva a iniciativa para a
implantação de usinas de reciclagem de resíduos de construção e demolição.
A maior parte dos geradores de RCD continua a descartar esse material de forma
inadequada, geralmente esse descarte é feito ao longo de estradas e avenidas, terrenos baldios
e em margens de rios e córregos. Com isso foram surgindo pessoas que vivem da remoção de
entulhos, os chamados caçambeiros, movimento que contribuiu para que esse quadro fosse
amenizado com a criação de locais pré-determinados, quase sempre inapropriados, para o
depósito dos resíduos. As administrações de algumas cidades brasileiras, tais como Belo
Horizonte, Ribeirão Preto, entre outras, estão implantando para receber os resíduos, as
chamadas usinas de reciclagem de entulho. Essas usinas são basicamente constituídas por um
4
espaço adequado para deposição do resíduo, uma linha de triagem, um britador, no qual tritura
os resíduos na granulometria desejada e um local de armazenamento, onde o material
processado aguarda para ser utilizado. (PORTO & SILVA, 2010)
A Figura 1 apresenta as estimativas da quantidade do entulho produzido no país e no
exterior.
Figura 1 – Estimativas de geração de entulho em algumas regiões do país e exterior
(ZORDAN, 2001)
1.3.1 PANORAMA DAS USINAS DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS
SÓLIDOS NO BRASIL
Em estudo realizado pela Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da
Construção Civil e Demolição - ABRECON (2015), revela-se que existem cerca de 310
usinas de reciclagem de resíduos sólidos em funcionamento no Brasil. O estudo aponta que
antes da publicação da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, nº
307 (2002), a taxa de abertura de novas usinas era de três usinas por ano no país, e após a
publicação a taxa chegou a 10,3 usinas novas por ano em dados levantado de 2008 a 2013,
5
entretanto, o estudo em questão revela houve uma estabilidade dessa taxa no período de 2013
a 2015.
Sabe-se que o Estado de São Paulo possui mais usinas instaladas em relação aos outros
estados do Brasil, isto se dá pelo maior volume de RCD gerado na atividade de construção
civil e por outros fatores, como o preço mais elevado dos agregados naturais ou maior
fiscalização quanto à destinação do RCD. No entanto, comparando os estudos realizados pela
Abrecon em 2013, a representatividade do estado do Estado de São Paulo caiu de 58% para
54%, e na contramão disso houve um aumento de 3% para 7% no Estado do Rio de Janeiro.
(ABRECON, 2015)
1.4. DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO RCD
Segundo a Política Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS (2010), a definição de
resíduos sólidos se resume em:
“Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de
atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe
proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem
como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável
s u l ç t r públ s t s u rp s ’á u , u x j p r
isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível.”
A Resolução 307 do Conama (2002), propõe a seguinte definição:
“Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reformas,
reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e
da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral,
solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros,
argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação
elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha.”
Segundo Abrecon (2015) no Brasil, devido ao grande espaço geográfico que possui é
comum que este resíduo seja conhecido de varias formas em diferentes regiões, tais como,
entulho, caliça ou metralha. No termo mais técnico, o Resíduo da Construção e Demolição
(RCD) ou Resíduo da Construção Civil (RCC) é todo resíduo gerado no processo de
construção, reforma, escavação ou no processo de demolição. Sendo assim, denomina-se
entulho o conjunto de estilhaços ou restos de cerâmicas, concreto, argamassa, aço, madeira,
etc., oriundos do desperdício na construção, na reforma e/ou demolição de estruturas, como
edifícios, casas e pontes.
6
A composição do entulho da construção é, portanto, de restos e fragmentos de
materiais, enquanto o de demolição é formado apenas por fragmentos, possuindo assim uma
maior qualidade, se comparado ao entulho de construção. (ABRECON, 2015)
Este volume só aumenta e é de suma importância, tratar adequadamente estes resíduos
gerados. A reciclagem, a redução e a reutilização devem ser priorizadas visando à introdução
desses materiais novamente no ciclo produtivo. (SINDUSCON, 2016)
Ainda conforme a Abrecon (2015), o processo de reciclagem do entulho, para a
obtenção de agregados, consiste na seleção dos materiais recicláveis do entulho e a trituração
em equipamentos adequados.
Em último caso, os resíduos de construções e demolições devem ser encaminhados a
unidades de destinações finais devidamente licenciadas, dispostos conforme as suas
classificações. (SINDUSCON, 2016)
1.5. LEGISLAÇÃO
O problema ambiental ocasionado pelos resíduos descartados de forma inadequada em
aterros clandestinos, acostamentos e rodovias deve ser resolvido no intuito de preservar o
meio ambiente. Medidas têm sido elaboradas para mudar a situação atual, que é o caso da
Resolução 307 do Conama (2002), que institui orientações, critérios e procedimentos para a
Gestão dos Resíduos da Construção Civil, onde foram criados instrumentos que determinam a
responsabilidade do gerador do RCD (Resíduo de Construção e Demolição). Segundo Troca
(2008) pode-se citar como resumo principal da Resolução do Conama (2002) os seguintes
itens:
“1) É pressuposto dessa resolução, além disso, que a responsabilidade pelos resíduos
é do gerador;
2) Municípios e Distrito Federal devem implementar a gestão dos resíduos da
construção civil no Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção
Civil, onde serão incorporados o Programa Municipal de Resíduos da Construção
Civil e Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, oriundos de
geradores de pequenos volumes, a partir de 05/07/ 2003;
3) Grandes geradores de RCD (normalmente acima de 1 m³) devem implementar
seus projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, para estabelecer
os procedimentos necessários ao manejo e destinação ambientalmente adequados
dos resíduos, a partir de 05/07/2004.
Com essa resolução, define-se a responsabilidade do poder público e agentes
privados para a implementação de planos integrados de gerenciamento dos resíduos
de construção, criando condições legais para aplicação da Lei 9.605/1988 que define
os crimes ambientais.”
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Com a implantação da Lei nº 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional dos
Resíduos Sólidos – PNRS, um enorme avanço esta sendo alcançado rumo à minimização dos
problemas ambientais, sociais e econômicos causadas pelo manejo inadequado dos resíduos
sólidos.
1.6. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
A PNRS (2010) traz em seu texto o gerenciamento dos resíduos no qual é definido da
conforme abaixo:
“Gerenciamento de Resíduos Sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou
indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, trasbordo, tratamento e destinação
final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão
integrada dos resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos,
exigidos na forma de Lei.”
Ainda segundo o artigo publicado no site do Ministério do Meio Ambiente – MMA
em 2010 a PNRS diz que:
“Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a
prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para
propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que
tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação
ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou
reutilizado).
Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de
manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e
embalagens pós-consumo e pós-consumo.
Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microregional,
intermunicipal e metropolitano e municipal; além de impor que os particulares
elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
Também coloca o Brasil em patamar de igualdade aos principais países
desenvolvidos no que concerne ao marco legal e inova com a inclusão de catadoras e
catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa quando
na Coleta Seletiva.”
1.7. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
Ainda conforme a Resolução do Conama (2002) os resíduos de construção são
classificados em quatro seguintes categorias:
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“I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais
como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras
de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes
cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto
(blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;
II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como:
plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias
ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação,
tais como os produtos oriundos do gesso;
IV - Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais
como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e
outros”
1.8. COLETA DE RCD NO BRASIL
Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil (2015), realizado pela Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE, a tabela 1
mostra que os municípios coletaram cerca de 45 milhões de toneladas de RCD em 2015, o que
configura um aumento de 1,2% em relação a 2014. Esta situação, também observada em anos
anteriores, exige atenção especial, sendo que a quantidade total desses resíduos é ainda maior,
visto que os municípios, comumente, coletam apenas os resíduos lançados ou abandonados
nos logradouros públicos.
TABELA 1 - QUANTIDADE TOTAL DE RCD COLETADO PELOS MUNICÍPIOS NO BRASIL (ABRELPE, 2015)
Região
2014 2015
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
BRASIL 122.262 0,603 123.721 0,605
As tabelas de 2 a 6 também retiradas do estudo da Abrelpe (2015) descrevem o total
de coleta de RCD quantificado por regiões.
TABELA 2 - COLETA DE RCD NA REGIÃO NORTE (ABRELPE, 2015)
Região
2014 2015
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
NORTE 4.539 0,263 4.736 0,271
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TABELA 3 - COLETA DE RCD NA REGIÃO NORDESTE (ABRELPE, 2015)
Região
2014 2015
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
NORDESTE 24.066 0,428 24.310 0,430
TABELA 4 - COLETA DE RCD NA REGIÃO CENTRO-OESTE (ABRELPE, 2015)
Região
2014 2015
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
CENTRO-OESTE 13.675 0,899 13.916 0,901
TABELA 5 - COLETA DE RCD NA REGIÃO SUDESTE (ABRELPE, 2015)
Região
2014 2015
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
SUDESTE 63.469 0,746 64.097 0,748
TABELA 6 - COLETA DE RCD NA REGIÃO SUL (ABRELPE, 2015)
Região
2014 2015
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
RCD Coletado (t/dia)
Índice (Kg/hab/dia)
SUL 16.513 0,569 16.662 0,570
2. OBJETIVOS
O objetivo deste artigo é realizar uma revisão bibliográfica sobre os Resíduos de
Construção Civil – RCD, identificando suas características e analisando seu potencial de
reutilização, contemplando também uma visita a uma central de tratamento desses resíduos,
de modo a analisar a prática atual desta atividade.
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3. METODOLOGIA
Para a pesquisa bibliográfica foram consultadas várias literaturas relativas ao estudo
dos resíduos sólidos de construção civil ou demolição, entre elas, livros e artigos publicados
na internet, no qual fundamentou este trabalho no modo em que foi escrito.
O estudo de caso foi realizado em forma de visita técnica á uma usina de reciclagem
de resíduos sólidos de construção civil, modelo de gestão e processos em uma usina de
reciclagem e analisar as dificuldades, vantagens, desvantagens e mercado do ponto de vista do
empreendedor do ramo de reciclagem de resíduos sólidos de construção civil, no qual
posteriormente essa entrevista será analisada e discutida em forma de um texto no tópico
seguinte.
4. DESENVOLVIMENTO
No intuito colher informações sobre modelo de gestão e processos em uma usina de
reciclagem e analisando as dificuldades, vantagens, desvantagens e mercado do ponto de vista
do empreendedor do ramo de reciclagem de resíduos sólidos de construção civil, foi realizado
um estudo de caso na empresa Eco Solutions (empresa sediada na cidade de Lins-SP), o
estudo em questão foi feito em forma de entrevista em visita técnica onde o entrevistado foi o
Gerente Odair Monteiro.
A começar pela apresentação da empresa, Odair explica que a missão da empresa é
promover o desenvolvimento sustentável por meio da adoção de práticas normatizadas de
reciclagem e que seja referência em desempenho, qualidade e respeito ao meio ambiente. A
empresa foi concebida por profissionais da área industrial, agroambiental e de educação, para
atender uma necessidade ambiental crescente no Brasil, que é a reciclagem e reuso de
resíduos da construção civil, volumosos e biomassa.
Com o objetivo de mitigar impactos ambientais que estes resíduos causam ao meio
ambiente e aos centros urbanos, a empresa considera de extrema importância, o
gerenciamento adequado desses materiais, sendo objeto de trabalho, investir neste setor,
colaborar com o Poder Público, solucionando técnica e adequadamente os efeitos deletérios
deste tipo de material gerado.
A empresa realiza serviços de assessoria na elaboração de legislação específica, em
consonância com a legislação estadual, federal e Normas da ABNT, quanto à coleta,
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transporte, disposição, triagem, processamento e destinação final, bem como consultoria na
implantação do referido projeto e treinamentos dos agentes responsáveis pela execução do
mesmo.
A empresa atua na cidade de Lins e Região, recebendo uma quantidade mensal de
2300 a 2500m³ de RCD. Segundo a Abrecon (2015) a maioria das usinas brasileiras possui
uma capacidade instalada de produção entre 5000 e 10.000 m³/mês. O que significa que a
maioria das usinas instalou britadores com capacidade nominal de produção entre 25 e 50
m³/h.
A empresa recebe as caçambas que são colocadas nas ruas e por sua vez coletadas por
caminhões, para isso o pessoal que coleta o entulho deve ser devidamente licenciados junto a
Prefeitura Municipal de Lins, com base no inciso 5 do artigo nº 10 do Código de Posturas de
Lins, fundamentada pela Lei Complementar nº 502, de 28/06/99, atualizada até 05/11/15, que
prevê:
“ rt 10 - Para preservar, de maneira geral, a higiene pública, fica terminantemente
proibido:
V - o transporte, em qualquer veículo, de materiais ou produtos de qualquer natureza
que possam comprometer a higiene e a segurança pública, sem a devida proteção
qu ”
Portanto para coletar resíduos de construção, é necessário que tenham o controle de
transporte de resíduos (CTR) que é um documento que possui a finalidade de controlar o
transporte e a destinação final adequada dos RCD’s classificados como A, B e C, segundo o
Conama (2002). Os resíduos classificados como Classe I, perigosos, ou classe D, só poderão
ser transportados acompanhados de manifesto de transporte de resíduos (MTR) Sem estes
documentos, a empresa não recebe os resíduos de maneira alguma.
A empresa possui 8 funcionários, e o processo de triagem é realizado por 4 pessoas,
que trabalham o dia todo separando o resíduo de construção de impurezas, ou seja, lixo que as
pessoas descartam nas caçambas.
Na pesquisa da Abrecon (2015) foi observado que a maior parte das empresas de
reciclagem de agregados é de pequeno porte, com 60% das empresas possuem entre 5 e 10
funcionários e 25% entre 11 e 20 e os outros 15% representam empresas com mais de 21
funcionários .
Nesse processo há ainda uma separação do lixo, são separados madeiras, plásticos,
vidros, materiais metálicos e materiais contaminados. A empresa destina os plásticos e os
vidros para as cooperativas de reciclagem da cidade, já as madeiras e materiais contaminados
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para locais adequados de descarte e por ultimo os materiais metálicos são vendidos á ferros
velhos da região.
Segundo Monteiro, o maior problema na separação dos resíduos são as impurezas,
devido a questões culturais no Brasil não se tem o habito de separar devidamente os resíduos.
Assim que devidamente retiradas est s pur z s s RCC’s sã l r s s u t
maneira:
Material cinza: concreto limpo
Material vermelho: blocos cerâmicos, telhas cerâmicas, restos de alvenarias,
reboco, de cerâmicos em geral.
A maior parte dos materiais reciclados é destinada a obras de pavimentação para uso
em base e sub-base.
No processo de trituração todo material proveniente de construção civil é
reaproveitado só não a objetos metálicos que são separadas através de eletroímãs.
Vale observar conforme dito antes, lixo, madeiras, vidros são separados antes da
trituração. Gesso, restos de asfalto, isopores e pilhas a usina não recebe de forma alguma.
Na Classificação do Conama (2002), o gesso é pertencente à Classe C, que são os
resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente
viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação. Os isopores se enquadram na Classe B
que são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão,
metais, vidros, madeiras e outros. E os restos de asfalto e pilhas se enquadram na Classe D,
que são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas,
solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e
reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.
Segundo Monteiro, o mercado em geral vem crescendo nos últimos anos, com a ideia
mais difundida de responsabilidade ambiental, mas o que se vê geralmente é certa
desconfiança quanto a qualidade dos produtos reciclados, mesmo que testado e comprovado
cientificamente a resistência e durabilidade e obedecendo normas rigorosas de produção.
O estudo da Abrecon (2015) indica que ainda não faz parte do cotidiano da maior
parte das usinas a realização de ensaios de controle tecnológico nos materiais produzidos.
Entre os motivos que levaram as usinas a realizarem os ensaios tecnológicos, os principais são
a preocupação com a qualidade e a exigência do consumidor, e o interesse na divulgação dos
agregados produzidos.
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Os produtos finais que a empresa oferece são elaborados dentro dos padrões de
qualidade. Os agregados reciclados produzidos estão de acordo com as normas brasileiras
NBR 15.114 e NBR 15.116 e com as especificações técnicas, que definem os requisitos dos
agregados reciclados para utilização em pavimentos e preparo de concreto sem função
estrutural. Os produtos podem ser utilizados como base ou reforço em obras de pavimentação
de rodovias, avenidas, ruas, aeroportos, pátios industriais e outros semelhantes. Além disso,
podem ser utilizada em artefatos de concreto, argamassa de assentamento de alvenaria de
vedação, entre outros usos.
A Bica Corrida conforme a figura 2 é obtida dos resíduos da construção civil e
demolição, mas com característica diferente. Livre de impurezas e isenta de materiais que
prejudicam a compactação, tais como terrões de argila e matéria orgânica.
Figura 2 - Bica corrida
Uso Recomendado:
Melhoria de condição de rolamento de estradas não pavimentadas ou
rurais;
Obras de base, sub-base ou reforço de subleito de pavimentação de vias;
Obras de base, sub-base de pátios industriais e semelhantes;
Aterros e acertos topográficos de terrenos;
Assentamentos de tubos.
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O Pedrisco é oriundo de fragmentos de concreto, conforme a figura 3, o Pedrisco é um
produto livre de impurezas, durável e isento de materiais estranhos que possam interferir na
reação de endurecimento do cimento.
Figura 3 - Pedrisco
Uso Recomendado:
Fabricação de artefatos de concreto tais como:
Blocos de vedação;
Pisos intertravados;
Manilhas de esgoto;
Meio-fio, entre outros.
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A Brita 1 conforme a figura 4 é um produto durável e isento de materiais estranhos
que possam interferir na reação de endurecimento do cimento, resistente e constituído de
partículas ásperas.
Figura 4 - Brita 1
Uso Recomendado:
Melhoria do rolamento de estradas não pavimentadas ou rurais;
Obras de base, sub-base ou reforço de subleito de pavimentação de vias;
Obras de base, sub-base de pátios industriais e semelhantes;
Aterros e acertos topográficos de terrenos;
Assentamentos de tubos.
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Com características similares à Brita 1, a Brita 2 conforme a figura 5 também é um
produto resistente e constituído de partículas ásperas, duráveis e isentas de impurezas.
Figura 5 - Brita 2 / Rachão
Uso Recomendado:
Terraplenagem;
Drenagens;
Empedramento C.B. (Camada de Bloqueio);
Agulhamento em pavimentação.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O setor da construção civil segundo diversos estudos é indicado como um dos maiores
geradores de resíduos, portanto é um dos setores que mais consome os recursos naturais e
contribui para os problemas de ordem ecológica, geralmente esses problemas são causados
pela produção energética dos materiais utilizados, pelo desperdício e pelo descarte
inadequado dos resíduos.
As medidas criadas para a inversão da situação que é o caso da Resolução nº 307 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA (2002) e a Lei nº 12.305 que instituiu a
Política Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS (2010), foram instrumentos importantes para
o avanço contra os problemas ambientais causas pelos resíduos de construção e demolição
(RCD).
Nesse contexto, a criação de leis que oferecem diretrizes quanto à gestão,
determinação da responsabilidade do gerador e quanto ao manejo adequado dos resíduos,
propiciam um ambiente de mercado atrativo para a criação de usinas de reciclagem de
entulho. E ainda o baixo custo da matéria prima e operação, torna a reciclagem de RCD’s
economicamente viável e muito rentável, no entanto, a quantidade de usinas hoje em atividade
é insuficiente para suprir a demanda de resíduos gerados.
Compete, portanto as administrações municipais, a criação leis para induzir a pratica
do gerenciamento de resíduos, e ainda atrair e incentivar a implantação de usinas de
reciclagem em suas cidades.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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