repteis - livro vermelho

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  • RPTEIS

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    Rpteis

    Tradicionalmente chamamos de rpteis um grupo de animais que possui em comum a ectotermia (capacidade de utilizar fontes externas de calor para regular a temperatura corporal) e a pele recoberta por escamas. Esse grupo inclui diversas linhagens (lagartos, serpentes, anfisbenas, quelnios e jacars), embora algumas delas sejam pouco aparentadas entre si. Por exemplo, sabe-se hoje que os jacars so mais aparentados s aves (e tambm aos extintos dinossauros) do que aos lagartos, s cobras e s tartarugas, embora na prtica os jacars continuem sendo tratados junto com esses animais, dentro do grupo que chamamos de rpteis.

    At julho de 2005, segundo um levantamento coordenado pela Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH, 2005), eram conhecidas para o territrio brasileiro 641 espcies de rpteis, o que representa cerca de 8% das mais de oito mil espcies conhecidas no mundo (Uetz, 2005). So seis espcies de jacars (26% de todas as espcies do mundo), 35 de quelnios (11% da fauna mundial), 217 de lagartos (5% da fauna mundial), 326 de serpentes (11% da fauna mundial) e 57 de anfisbnias (as cobras-de-duas-cabeas; 35% da fauna mundial). O Brasil o quarto colocado em relao ao nmero total de rpteis, ficando atrs apenas da Austrlia, do Mxico e da ndia, que possuem de 750 a 850 espcies. Alm da enorme riqueza de espcies de rpteis que caracteriza nosso pas, mais de um tero da nossa fauna de rpteis endmica, ou seja, s ocorre em territrio brasileiro.

    Atualmente, 20% da fauna mundial de quelnios formada por espcies da subordem Pleurodira (que contm as espcies que retraem a cabea para dentro da carapaa dobrando o pescoo horizontalmente) e 80% da subordem Cryptodira (aquelas que retraem a cabea dobrando o pescoo em S). No Brasil, entretanto, dois teros das espcies pertencem subordem Pleurodira e apenas um tero subordem Cryptodira. Esses valores colocam o Brasil em posio de destaque, sendo o pas com maior biodiversidade de Pleurodira, juntamente com a Austrlia.

    Os rpteis ocorrem em praticamente todos os ecossistemas brasileiros e, por serem ectotrmicos, so especial-mente diversos e abundantes nas regies mais quentes do pas. Assim, nossa maior diversidade de rpteis encontrada na Amaznia (cerca de 350 espcies), na Mata Atlntica (quase 200 espcies), no Cerrado (mais de 150 espcies) e na Caatinga (mais de 110 espcies). possvel encontrar at mais de uma centena de espcies de rpteis coexistindo na mesma rea. Em uma mesma floresta da regio de Manaus, por exemplo, so encontradas mais de 110 espcies de rpteis, a maioria delas de serpentes e lagartos.

    A maioria dos rpteis especialista em habitats, ou seja, s consegue sobreviver em um ou em poucos ambientes distintos. A grande maioria das espcies de lagartos e serpentes das florestas tropicais brasileiras no consegue sobreviver em ambientes alterados, como pastos, plantaes de diversos tipos e at de florestas monoespecficas para extrao de madeira e celulose, como eucaliptais e pinheirais. Por outro lado, algumas espcies parecem se beneficiar da alterao de habitats pela ao humana, como o caso da cascavel. Ao contrrio do que ocorre com a imensa maioria dos rpteis brasileiros, a distribuio geogrfica da cascavel est aumentando, pois essa espcie capaz de invadir reas abertas criadas pela derrubada de florestas tropicais (Marques et al., 2004).

    Panorama Geral dos Rpteis Ameaados do BrasilMarcio Martins1

    Flvio de Barros Molina2

    1 Universidade de So Paulo, Instituto de Biocincias, Departamento de Ecologia Geral Rua do Mato, Travessa 14, s/n, Cidade Universitria, CEP: 05508090 So Paulo/SP.

    2 Universidade Ibirapuera, Curso de Cincias Biolgicas Avenida Interlagos, 1329, Chcara Flora, CEP: 04661-100 So Paulo/SP.

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    Uma boa parte desses animais constituda por predadores, muitas vezes de topo de cadeia trfica. Os jacars, o matamat (Chelus fimbriatus) e boa parte das serpentes so bons exemplos. Outros rpteis como as anfisbenas, a maioria dos lagartos, algumas cobras e algumas tartarugas so consumidores secundrios, alimentando-se principalmente de insetos. H ainda alguns lagartos e tartarugas que so herbvoros, funcionando como con-sumidores primrios nas cadeias trficas. Alm das espcies folvoras, como as iguanas, vrios outros lagartos consomem frutos e podem atuar como dispersores para vrias espcies de plantas. Por ocorrerem muitas vezes em densidades relativamente altas, esses animais possuem papel de grande importncia no funcionamento dos ecossistemas brasileiros.

    Alm da importncia ecolgica tratada acima, vrias espcies de rpteis possuem tambm importncia socio-econmica, especialmente alguns quelnios, por servir de alimento a populaes humanas, e as serpentes venenosas, cujos venenos do origem a medicamentos utilizados amplamente no Brasil e ao redor do mundo. Devido ao seu tamanho e ao fato de desovar em grandes grupos, as tartarugas amaznicas e as marinhas sempre tiveram grande importncia socioeconmica no Brasil (ver, e.g., Pritchard & Trebbau, 1984). O con-sumo de carne, leo e ovos destas espcies vem de longa data, como apontam os relatos de naturalistas que passaram pelo Brasil em sculos passados. Por esses motivos, quatro tartarugas amaznicas aparecem na lista da IUCN (2006) como ameaadas (todas como VU), embora no tenham sido includas na lista brasileira. Alm disso, as cinco espcies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil aparecem como ameaadas na lista brasileira (como EN e CR), na lista da IUCN (2006) e em seis listas estaduais (Tabela 1). Em 1980, o Governo Brasileiro criou o Projeto TAMAR para proteger as tartarugas marinhas e os ambientes nos quais essas espcies desovam.

    O veneno da jararaca comum (Bothrops jararaca), que ocorre ao longo de grande parte da poro leste do Brasil, do Rio Grande do Sul Bahia, deu origem a medicamentos como os anti-hipertensivos captopril (que garantem um faturamento anual de cinco bilhes de dlares multinacional Squibb) e evasin (sigla para endogenous vasopeptidase inhibitor), este ltimo patenteado recentemente por pesquisadores do Instituto Bu-tantan, de So Paulo. Outro novo produto o enpak (sigla para endogenous pain killer), uma protena com poder analgsico obtida do veneno da cascavel (Crotalus terrificus), cujo efeito pode vir a ser 600 vezes mais poderoso que o da morfina (Bellinghini, 2004). Portanto, a conservao das serpentes venenosas brasileiras preservar tambm o potencial farmacutico e socioeconmico de seus venenos.

    Vale atentar para o fato de que na lista brasileira esto includas como ameaadas trs espcies de jararacas (Bothrops pirajai como EN, e B. alcatraz e B. insularis como CR), alm de uma espcie includa como Qua-se Ameaada (B. fonsecai) e trs outras como Deficiente em Dados (as jararacas B. cotiara e B. muriciensis, e a surucucu da Mata Atlntica Lachesis muta rhombeata). Corroborando essas classificaes, em uma revi-so no oficial do estado de conservao das jararacas brasileiras, B. muriciensis foi classificada como CR, B. fonsecai como VU e B. cotiara como NT (Martins, 2005). Na lista de espcies ameaadas da IUCN (2006) encontram-se as mesmas trs espcies consideradas ameaadas na lista brasileira (B. pirajai, B. alcatraz e B. insularis). Alm disso, seis outras espcies de jararacas (Bothrops spp.) e a surucucu da Mata Atlntica (L. m. rhombeata) aparecem como ameaadas em vrias listas estaduais (Tabela 1). importante notar, tam-bm, que as categorias de ameaa listadas para as espcies citadas neste captulo esto em conformidade com Machado et al. (2005), uma vez que a lista oficial da fauna brasileira no relaciona o grau de ameaa de cada espcie, sendo todas classificadas apenas como ameaadas.

    A lista brasileira de rpteis ameaados

    A reviso dos rpteis brasileiros para a nova lista de espcies ameaadas teve como ponto de partida listas de todas as espcies de cada grupo (lagartos, anfisbenas, serpentes, quelnios e jacars), ou seja, todas as espcies foram avaliadas. A partir destas listas, os pesquisadores consultados sugeriram espcies candidatas para avalia-o durante o workshop final do processo de reviso da lista. Nesta ltima etapa, um grupo de dez pesquisadores especialistas em rpteis avaliou cuidadosamente cada uma das sugestes de incluso ou excluso de espcies e produziu a lista final, publicada em 2003.

    Nesta nova lista, das mais de 640 espcies de rpteis brasileiros, 20 (ou 3% do total) foram consideradas ame-aadas ou extintas (nas categorias de VU para cima), quatro foram consideradas na categoria NT e 16 foram

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    enquadradas como DD. Dentre as 20 espcies consideradas ameaadas ou extintas, nove so lagartos, cinco so serpentes e seis so quelnios, o que representa 4%, 1% e 19% da nossa fauna de cada um desses grupos, respec-tivamente. A pior situao , de longe, a dos quelnios, pois praticamente uma em cada cinco espcies brasileiras desse grupo encontra-se ameaada.

    A lista oficial anterior, produzida em 1989, contava com uma serpente (a surucucu da Mata Atlntica), seis que-lnios (as cinco espcies marinhas e Phrynops hogei) e dois jacars (de papo amarelo e au). Os dois jacars e a surucucu no foram includos na lista atual. As mudanas ocorridas entre a lista atual e a lista de 1989 se devem, principalmente, s diferenas entre a metodologia utilizada na produo da lista atual e aquela utilizada para composio da lista de 1989. Na preparao da lista atual, houve (1) a participao de diversos especialistas no processo; (2) a necessidade de substanciar com informaes cientficas as sugestes para a incluso/excluso de espcies na lista; e (3) a utilizao efetiva das categorias e critrios da Unio Mundial para a Natureza IUCN. Tambm foram importantes para as diferenas entre as listas passada e atual a presso de ocupao humana so-bre alguns ambientes, que levaram algumas espcies a se tornar ameaadas (como no caso da incluso de alguns lagartos de restingas litorneas), e a quantidade de conhecimentos sobre os rpteis brasileiros acumulados nas ltimas duas dcadas (como no caso da excluso do jacar-au). De fato, embora o nmero de especialistas em rpteis tenha aumentado significativamente nas ltimas dcadas no Brasil, nosso conhecimento sobre a fauna brasileira de rpteis ainda incipiente, principalmente devido enorme diversidade da nossa fauna. Como exemplo, a no incluso de espcies de anfisbenas na lista atual certamente se deve falta de conhecimento sobre esse grupo.

    Em comparao com outras listas de espcies ameaadas, a lista brasileira tem exatamente o mesmo nmero de espcies da lista internacional da IUCN (2006), nas categorias de VU para cima (Tabela 1). Entretanto, a cate-goria de uma mesma espcie pode ser diferente entre as duas listas. Por exemplo, a tartaruga verde (Chelonia mydas) considerada EN na lista da IUCN (2006) e VU na lista brasileira. Alm dessas diferenas em catego-rizao, embora ambas as listas contenham 20 espcies de rpteis brasileiros, as listas da IUCN e brasileira no so iguais. As principais diferenas se devem ao nmero relativamente grande de espcies de quelnios na lista da IUCN (13 espcies nesta lista contra apenas seis na lista brasileira) e ao nmero grande de lagartos na lista brasileira (nove nesta lista contra apenas quatro na lista da IUCN). Em grande parte, essas diferenas se devem ao fato de que a lista da IUCN considera as espcies como um todo (englobando todas as populaes de uma dada espcie que existem no mundo), ao passo que a lista brasileira uma lista regional, ou seja, ela considera somente as populaes dessas espcies que ocorrem em territrio brasileiro. Por exemplo, a lista brasileira re-flete nossa preocupao com as populaes de tartarugas marinhas que desovam em nossas praias ou visitam nosso litoral, ao passo que a lista global da IUCN reflete a preocupao com todas as populaes de tartarugas marinhas que existem no mundo. Em conseqncia disso, uma espcie que est bem protegida e tem populaes viveis no Brasil pode ser considerada ameaada globalmente por ter populaes em declnio em vrias outras partes do mundo.

    Outra fonte de diferenas entre as listas a atitude tomada pelos pesquisadores envolvidos na confeco das mesmas. Em um dos extremos a atitude pode ser extremamente precavida, no sentido de incluir nas listas esp-cies para as quais ainda h dvidas sobre seu estado de conservao, visando assegurar sua preservao caso ela esteja realmente ameaada; caso se descubra posteriormente que a espcie no estava ameaada, ela simples-mente retirada da lista. No outro extremo est uma atitude baseada fortemente em evidncias; neste caso, uma espcie s includa em uma lista quando existem fortes evidncias de que ela est realmente ameaada. Uma atitude mais precavida invariavelmente resulta em uma lista com um maior nmero de espcies, ao passo que uma atitude fortemente baseada em evidncias resulta em listas menores.

    Com relao s listas estaduais (Tabela 1), a lista do Estado de Minas Gerais (Machado et al., 1998) possui dez espcies de rpteis, sendo que apenas trs delas tambm constam da lista brasileira: a tartaruga de gua doce Phrynops hogei e as lagartixas Placosoma cipoense e Heterodactylus lundii. A lista do Estado do Rio de Janeiro (Bergallo et al., 2000) possui nove espcies de rpteis, das quais seis encontram-se tambm na lista brasileira: todas as tartarugas marinhas, exceto Lepidochelys olivacea, a tartaruga Phrynops hogei e a lagartixa Liolaemus lutzae. A lista do Estado de So Paulo (SMA/SP, 1998) possui 25 espcies de rpteis ameaadas (nas categorias de VU para cima), sendo que apenas nove espcies aparecem em ambas as listas: as cinco tartaru-gas marinhas e as serpentes Dipsas albifrons cavalheiroi, Bothrops insularis, Bothrops alcatraz (chamada de

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    Bothrops sp. na lista paulista) e Corallus cropanii. J a lista de espcies ameaadas do Estado do Paran (Mikich & Brnils, 2004) possui apenas trs espcies de rpteis ameaadas, sendo que apenas uma delas tambm consta da lista brasileira: a lagartixa Cnemidophorus vacariensis. A lista do Estado do Rio Grande do Sul (Marques et al., 2002) possui 17 espcies de rpteis ameaadas (nas categorias de VU para cima), sendo que destas, apenas trs espcies de lagartos encontram-se tambm na lista brasileira: Cnemidophorus vacariensis, Liolaemus occi-pitalis e Anisolepis undulatus. Finalmente, da lista do Estado do Esprito Santo (SEAMA/ES, 2005) constam dez espcies de rpteis, estando sete delas tambm na lista brasileira: as seis tartarugas e a lagartixa Cnemidophorus nativo.

    Boa parte das espcies consideradas ameaadas nas listas estaduais foram avaliadas em todas as fases da revi-so da lista brasileira, embora no tenham sido consideradas ameaadas quando se considera todo o territrio nacional. Novamente, parte das diferenas entre a lista brasileira e as listas estaduais se deve ao fato de que as estaduais refletem preocupao apenas com as espcies que ocorrem nos respectivos Estados, levando em conta apenas as populaes dessas espcies que ali ocorrem. Por outro lado, algumas espcies listadas como ameaa-das nos Estados talvez estejam ameaadas tambm no nvel nacional e, portanto, podem ser includas na lista brasileira na prxima vez em que esta lista for revista. Esse parece ser o caso da jararaca Bothrops fonsecai, que aparece na lista brasileira como Quase Ameaada, mas que, em uma reviso preliminar do estado de conservao das jararacas brasileiras, foi classificada como VU (Martins, 2005).

    Alm das 23 espcies consideradas ameaadas (nas categorias de VU para cima) ou NT na lista brasileira, outras 16 espcies aparecem como DD, sendo nove serpentes, cinco lagartos e duas tartarugas. A maioria des-sas espcies conhecida apenas de uma ou de algumas poucas localidades, embora em regies relativamente pouco estudadas por cientistas, ou seja, regies nas quais ainda no foram feitos esforos intensivos no sen-tido de inventariar a fauna de rpteis. Por este motivo, uma avaliao mais segura do estado de conservao dessas espcies depende de estudos adicionais nessas regies. Outras espcies consideradas como DD so co-nhecidas de vrias localidades, mas aparentemente tiveram declnios em suas populaes, como B. cotiara e L. m. rhombeata, em ambos os casos por destruio de seus habitats. Entretanto, a situao dessas duas espcies ainda muito precariamente conhecida para uma avaliao mais segura de seu estado de conservao. Assim, estudos com o objetivo de conhecer melhor a situao das populaes das espcies brasileiras de rpteis conside-radas DD so urgentes, pois algumas dessas espcies podem se encontrar em situao crtica e demandar rpidos esforos para sua conservao.

    Em geral, nosso maior problema o desconhecimento sobre a biologia e a distribuio dos rpteis brasileiros. Alm disso, no h programas de monitoramento de populaes para a grande maioria das espcies. Por con-seguinte, quase nada sabemos sobre os tamanhos das populaes das diferentes espcies, o que praticamente impossibilita avaliaes seguras sobre seu estado de conservao. Em alguns casos, novos conhecimentos po-dem nos mostrar que as populaes de algumas espcies DD so viveis e em nmero suficiente para garantir a preservao da espcie no futuro. Entretanto, talvez na maioria dos casos o contrrio acontea, resultando em aumento no nmero de espcies listadas como ameaadas.

    Dentre as espcies ameaadas da lista brasileira, cinco so marinhas (as tartarugas marinhas) e, entre as espcies continentais, 13 ocorrem no bioma Mata Atlntica (seis delas restritas a restingas litorneas) e duas no bioma Cerrado (ambas em reas de campos rupestres dentro deste bioma). A maior representao de espcies da Mata Atlntica na lista de espcies ameaadas se deve principalmente ao fato de este bioma ser um dos mais ricos em espcies de rpteis, e por ele ter perdido mais de 90% de sua vegetao original, desde a poca do descobrimen-to. Tambm contribui para esse fato a maior concentrao humana nas pores Leste, Sudeste e Sul do Brasil. A presso de ocupao de ambientes naturais pelo homem bastante evidente nas reas litorneas, onde ocorrem as restingas (diferentes tipos de vegetao litornea sobre solos arenosos). Por estarem localizadas beira mar, essas reas geralmente esto sujeitas a forte presso de ocupao para a construo de casas de veraneio. As cinco espcies de lagartos que ocorrem unicamente em restingas (trs espcies de Cnemidophorus e duas de Liolaemus) so consideradas ameaadas em decorrncia dessa presso de ocupao humana. Alm disso, as maiores concentraes de remanescentes de Mata Atlntica encontram-se no Sudeste e no Sul do Brasil, regies nas quais concentra-se grande parte dos centros de pesquisa brasileiros (universidades e institutos de pesquisa). Essa maior concentrao de pesquisadores resulta em maior grau de conhecimento da fauna e de seu estado de conservao.

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    Ameaas aos rpteis brasileiros

    Uma reviso recente sobre o estado de conservao dos rpteis apontou seis principais fontes de ameaas a esses animais: perda e degradao de habitats, introduo de espcies invasoras, poluio, doenas, uso insustentvel e mudanas climticas globais (Gibbons et al., 2000). Sem dvida, as principais causas de ameaa para os rpteis brasileiros so a perda e a degradao de seus habitats. o caso dos lagartos que ocorrem exclusivamente em reas de restinga, de tartarugas que ocorrem em rios que cortam regies com grandes concentraes humanas (e.g., Phrynops hogei) e de serpentes que ocorrem em ilhas onde continua havendo destruio de habitats (e.g., B. alcatraz). Para outras espcies, a principal causa de ameaa a sobreexplorao, como o caso das tartarugas marinhas e de algumas amaznicas. H, ainda, espcies sobre as quais temos to pouco conhecimento que no sabemos o que as fazem estar ameaadas. Como exemplo, foram encontrados at hoje apenas quatro indivduos da serpente Corallus cropanii, que ocorre em uma rea relativamente prxima a grandes centros urbanos e onde ainda so encontrados grandes fragmentos de floresta nativa. Talvez esta espcie esteja se extinguindo natural-mente, embora ns humanos possamos estar acelerando esse processo atravs da perturbao de seu hbitat.

    De maneira geral, a preservao de habitats e o controle da explorao direta so as medidas mais efetivas para a conservao dos rpteis brasileiros. A criao e a manuteno de Unidades de Conservao (ver MMA, 2002), sejam elas iniciativas do poder pblico (Governos Federal, Estaduais e Municipais) ou de particulares (como aquelas includas na categoria Reserva Particular do Patrimnio Natural, conhecidas como RPPN), so sem qualquer dvida medidas de grande importncia para a conservao dos rpteis. Nestas Unidades de Con-servao ficam preservados os habitats dos rpteis brasileiros, o que, na grande maioria das vezes, significa a preservao de suas populaes. Nas regies nas quais os habitats dos rpteis j se encontram degradados ou fragmentados pela ao humana, seria importante a recuperao de reas degradadas (aumentando assim, a extenso do hbitat das espcies) e a criao de conexes entre os fragmentos, que possibilitariam maior fluxo gnico entre as populaes.

    Por outro lado, essencial a fiscalizao, visando diminuir ou at eliminar a explorao direta de algumas espcies de rpteis, em especial dos quelnios. Um bom exemplo neste sentido a fiscalizao dos locais de desova, tanto nos grandes rios da Amaznia quanto nas praias de nosso litoral. Ao contrrio dessas medidas que envolvem grandes somas de recursos financeiros e, geralmente, a mobilizao de grande nmero de pessoas, em alguns casos medidas relativamente simples podem garantir a preservao de algumas espcies. o caso, por exemplo, da jararaca da ilha de Alcatrazes: esta espcie deixaria de ser considerada como ameaada (e no estaria neste livro) se simplesmente a Marinha Brasileira interrompesse definitivamente os exerccios de tiros de canho na ilha.

    Mudanas recentes nos nomes das espcies

    Algumas mudanas nos nomes dos rpteis brasileiros ameaados ocorreram desde a publicao da lista bra-sileira em 2003. Phrynops hogei pode ser chamada atualmente de Ranacephala hogei, aps a reviso recente de McCord et al. (2001), embora essa mudana no seja universalmente aceita (ver, e.g., Uetz, 2005). Passos et al. (2005) realizaram uma reviso do status taxonmico da serpente dormideira Dipsas albifrons e concluram que a populao chamada de D. a. cavalheiroi, que ocorre na ilha da Queimada Grande, no diferenciada mor-fologicamente das populaes do continente e que, portanto, a populao da Queimada Grande no deveria ser considerada como uma subespcie. Entretanto, essa concluso no muda a situao da populao de D. albifrons que ocorre na ilha da Queimada Grande, que evoluiu isoladamente das populaes do continente nos ltimos milhares de anos.

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    Tabela 1. Espcies de rpteis ameaadas nas listas brasileira, da IUCN e de seis Estados brasileiros.

    Espcie Brasil IUCN MG RJ SP PR RS ES

    Gimnophthalmidae Heterodactylus lundii VU VU Placosoma cipoense EN EN Hoplocercidae Hoplocercus spinosus EN Polychrotidae Anisolepis undulatus VU VU EN Urostrophus vautieri VU Scincidae Mabuya caissara VU Teiidae Cnemidophorus abaetensis VU Cnemidophorus littoralis VU Cnemidophorus nativo VU VU Cnemidophorus vacariensis VU VU VU Tupinambis sp.* VU Tropiduridae Liolaemus lutzae CR VU VU Liolaemus occipitalis VU VU VU SerpentesBoidae Corallus cropanii CR PE Corallus hortulanus** VU VU Epicrates cenchria crassus VU Colubridae Calamodontophis paucidens VU VU Calamodontophis sp. EN Clelia plumbea VU Dipsas albifrons cavalheiroi CR VU Dipsas incerta VU Ditaxodon taeniatus VU Helicops carinicaudus VU Helicops gomesi VU Hydrodynastes gigas VU Liophis atraventer VU VU Lystrophis histricus VU Phalotris multipunctatus EN Philodryas arnaldoi VU Pseudoboa haasi VU Siphlophis longicaudatus EN Tropidodryas striaticeps EN Uromacerina ricardinii EN Viperidae Bothrops alcatraz*** CR CR VU Bothrops alternatus VU Bothrops bilineatus EN VU Bothrops cotiara EN VU Bothrops fonsecai VU

    SP PR RS ES

    EN VU U

    VU VU VU U

    VU

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    Espcie Brasil IUCN MG RJ SP PR RS ESSerpentes Bothrops insularis CR CR EN Bothrops itapetiningae VU EN Bothrops jararacussu EN Bothrops pirajai EN VU Lachesis muta rhombeata CR EN VUTestudinesChelidae Acanthochelys spixii VU Hydromedusa maximiliani VU CR VU VU Phrynops hogei **** EN EN CR VU EN Phrynops williamsi VU Cheloniidae Caretta caretta VU EN VU EN VU Chelonia mydas VU EN VU EN VU Eretmochelys imbricata EN CR VU EN EN Lepidochelys olivacea EN EN EN ENDermochelidae Dermochelys coriacea CR CR VU EN CREmydidae Trachemys adiutrix EN Podocnemidae Peltocephalus dumeriliana VU Podocnemis erythrocephala VU Podocnemis sextuberculata VU Podocnemis unifilis VU Testudinidae Geochelone carbonaria EN Geochelone denticulata VU CrocodyliaCrocodylidae Caiman latirostris VU EN VU Paleosuchus palpebrosus EN VU

    Continuao

    * Na lista de So Paulo aparece como Tupinambis cf. merianae.** Na lista de Minas Gerais aparece como Corallus emydris, nome sinonimizado a C. hortulanus.*** Na lista de So Paulo aparece como Bothrops cf. jararaca.**** Na lista do Esprito Santo, aparece como Ranacephala hogei.

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    The World Conservation Union IUCN. 2006. 2006 IUCN Red List of Threatened Species. Disponvel em: http://www.iucnredlist.org. Acesso em: mai. 2006.

    Turtle Conservation Fund. 2002. A Global Action Plan for Conservation of Tortoises and Freshwater Turtles. Strategy and Funding Prospectus 2002-2007. Washington, D.C.: Conservation International/Chelonian Research Foundation. 30pp.

    Uetz, P. 2005. The EMBL Reptile Database. Disponvel em: http://www.embl-eidelberg.de/~uetz/LivingReptiles.html. Acesso em: nov. 2005.

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    Rpteis

    Heterodactylus lundii Reinhardt & Ltken, 1862

    NOME POPULAR: Briba; Cobrinha; Calango-que-vira-cobra; Cobra-de-vidroFILO: ChordataCLASSE: LepidosauromorphaORDEM: SquamataFAMLIA: Gymnophthalmidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: MG (VU)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): no constaBrasil (Biodiversitas, 2002): VU B1ab(i) + 2ab(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Heterodactylus lundii um lagarto pequeno, castanho, sem ouvido externo aparente, com membros muito reduzidos e corpo alongado, que no ultrapassa os 70 mm de comprimento rostro-anal. A cauda cerca de duas vezes mais longa que o corpo, da o seu nome popular. Tem hbitos subterrneos, vivendo entre troncos, razes, cupinzeiros, sob pedras ou sob o folhedo de paisagens abertas das regies monta-nhosas de Minas Gerais. Como nas demais espcies da famlia, a ninhada composta por apenas dois ovos. Os poucos indivduos conhecidos foram coletados entre 900 e 1.300 m de altitude, em campos rupestres ou topos de chapadas recobertos por cerrados abertos. No topo da serra da Piedade, a esp-cie relativamente abundante, mas pouco conhecida no restante de sua rea de ocorrncia. Quando amostrada com mtodos adequados para inventariar formas fossoriais, possvel que se releve mais abundante do que se admite atualmente.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    A espcie endmica das regies de altitude do Estado de Minas Gerais. Atualmente, conhecida de campos rupestres isolados entre 900 e 1.300 m de altitude.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    PARNA da Serra do Cip e PARNA da Serra da Canastra (MG).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    As maiores ameaas atuais sua conservao so o fogo e a destruio e fragmentao de habitats. Por se tratar de espcie endmica dos campos de altitude e com distribuio restrita, poluentes que possam afetar a qualidade ambiental devem ser cuidadosamente monitorados na sua rea de ocor-rncia, sejam eles de atividades industriais ou do uso indiscriminado de preventivos contra pragas agrcolas.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Como a espcie muito pouco conhecida atualmente, devem ser incentivados levantamentos utilizando armadilhas de interceptao e queda, indicadas para a captura de animais fossrios e de difcil coleta, como este pequeno lagarto. possvel que, aps levantamento apropriado, a espcie venha a ser con-siderada mais comum do que atualmente. Seriam importantes, ainda, pesquisas cientficas visando o melhor conhecimento de sua biologia.

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Miguel T. U. Rodrigues (IBUSP); Cristiano Nogueira (CI).

    REFERNCIAS

    96 e 133.

    Autor: Miguel T. U. Rodrigues

    Placosoma cipoense Cunha, 1966

    NOME POPULAR: Lagartinho-do-cip FILO: ChordataCLASSE: LepidosauromorphaORDEM: SquamataFAMLIA: Gymnophthalmidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: MG (EN)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): no constaBrasil (Biodiversitas, 2002): EN B1ab(i) + 2ab(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Placosoma cipoense um pequeno lagarto restrito ao Estado de Minas Gerais, com comprimento ros-tro-cloacal no superior a 80 mm e cauda mais longa que o corpo. Conhece-se muito pouco sobre a sua biologia. Os poucos exemplares para os quais h informao biolgica foram obtidos sob troncos ou em frestas de pedras, em regies de campos rupestres sem vegetao arbustiva ou prximas a matas de galeria baixas, na regio da serra do Espinhao e adjacncias, entre 900 e 1.200 m de altitude.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Sua distribuio geogrfica passada desconhecida, mas presumivelmente no era muito diferente da atual, que parece estar associada a regies elevadas, com climas frios. Essa espcie conhecida apenas de Congonhas do Norte e da regio da serra do Cip, no Estado de Minas Gerais.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    PARNA da Serra do Cip (MG).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    O fogo, a destruio e a descaracterizao e fragmentao das matas dos campos rupestres representam as ameaas mais imediatas conservao da espcie.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    A proteo das florestas de altitude relictuais da regio da serra do Espinhao e adjacncias essen-cial para a manuteno da espcie. Recomendam-se levantamentos com metodologia adequada, para

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    Rpteis

    verificar sua real distribuio e abundncia e obter dados sobre sua histria natural, de modo a planejar medidas mais efetivas de conservao. Para ampliar o conhecimento sobre a espcie, o Parque Nacional da Serra do Cip poderia implementar um projeto de educao ambiental solicitando a colaborao dos visitantes.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Jaime Bertoluci (ESALQ/USP); Jos Casimiro da Silva Jr. e Miguel T. U. Rodrigues (IBUSP); Felipe Leite (Consultor Autnomo).

    REFERNCIA

    21.

    Autor: Miguel T. U. Rodrigues

    Anisolepis undulatus (Wiegmann, 1834)

    NOME POPULAR: Papa-vento-do-sul (Rio Grande do Sul) SINONMIAS: Laemanctus undulatus Wiegmann, 1834; Anisolepis Iheringii Boulenger, 1885; Anisolepis bruchi Koslowsky, 1895FILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Iguanidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: RS (EN)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): VUBrasil (Biodiversitas, 2002): VU B1ab(i) + 2ac(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Anisolepis undulatus uma espcie de pequeno porte, que atinge cerca de 30 cm de comprimento total; a cauda longa, correspondendo a cerca de 70% desse comprimento (Etheridge & Williams, 1991). Pouco se conhece sobre a biologia da espcie. Gallardo (1980) afirmou que A. undulatus possui hbito arborcola, vivendo na mata, em troncos de rvores, mas Etheridge & Williams (1991) ponderaram que essas observaes podem ter sido baseadas em outra espcie, A. grilli. Rand (1982) e Langone et al. (2000) observaram que a espcie ovpara e citaram o achado de fmeas contendo de quatro a sete ovos, com volume de 0,5 ml cada. Segundo Achaval & Olmos (2003), A. undulatus alimenta-se de artrpodos e vive sobre rvores e arbustos, a 2 m de altura ou mais, podendo tambm se deslocar pelo solo. Os indivduos so de difcil visualizao, por sua colorao crptica.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Anisolepis undulatus foi registrado para o extremo sul do Brasil (sudeste do Estado do Rio Grande do Sul), centro e sul do Uruguai e Punta Lara, em Buenos Aires, na Argentina (Etheridge & Williams, 1991; Langone et al., 2000; Achaval-Elena, 2001; Di-Bernardo et al., 2003). Registros atuais da espcie

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    existem apenas para o Uruguai (Langone et al., 2000). No Brasil, h registros precisos, porm antigos, apenas para So Loureno do Sul (RS), localidade-tipo da espcie (Etheridge & Williams, 1991). Na Argentina, considerada uma espcie rara; recentemente, no tem sido encontrada em algumas locali-dades onde havia sido registrada no passado (Gallardo, 1977; Etheridge & Williams, 1991).

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    Desconhecida.

    PRINCIPAIS AMEAAS

    No Rio Grande do Sul, a principal ameaa para A. undulatus a destruio e descaracterizao dos ambientes florestados das regies sudeste e sul do Estado, hbitat da espcie, particularmente a sudoeste da Lagoa dos Patos. Esta a regio onde a ocorrncia da espcie mais provvel, j que dela procedem todos os exemplares do Rio Grande do Sul com localidade conhecida (Etheridge & Williams, 1991). No Uruguai, Achaval & Olmos (2003) classificam a espcie como ameaada, em funo da destruio de seu hbitat.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    A estratgia prioritria a criao de Unidades de Conservao, com remanescentes de floresta estacio-nal e matas de galeria, nas regies sudeste e sul do Rio Grande do Sul (Di-Bernardo et al., 2003).

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    No se conhece.

    REFERNCIAS

    1, 2, 25, 32, 35, 36, 50 e 94.

    Autores: Marcos Di-Bernardo e Mrcio Borges-Martins

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    Rpteis

    Cnemidophorus abaetensis Dias, Rocha & Vrcibradic, 2002

    NOME POPULAR: Lagartinho-de-abaet SINONMIAS: at a sua descrio formal, a espcie era tratada como sendo Cnemidophorus ocelliferFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Teiidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: no consta

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): no constaBrasil (Biodiversitas, 2002): VU B1b(i)c(i) + 2b(ii)c(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Cnemidophorus abaetensis habita o ambiente de restingas, em areia ou em vegetao herbceo-arbus-tiva, preferencialmente onde a serrapilheira abundante, podendo tambm ocupar as bordas de matas de restinga. Geralmente, abriga-se em tocas que escava na areia, junto vegetao. Possui atividade diurna, saindo do abrigo por volta das 7h30 da manh. A espcie tem o mximo de atividade entre 10h e 11h e permanece ativa at por volta de 13h-14h, quando retorna toca, encerrando a sua atividade diria. Cnemidophorus abaetensis um lagarto heliotrmico, cuja temperatura corprea mdia de cerca de 37 C nos meses de vero. Pouco se conhece sobre a biologia da espcie durante os meses de inverno, pois nesse perodo raramente vista no ambiente. um lagarto primariamente insetvoro, ali-mentando-se principalmente de larvas de lepidpteros, de aranhas e cupins. Alm desses itens, a espcie alimenta-se tambm de frutos, principalmente o murici (Brysonima microphyla), e de outros lagartos de tamanho inferior, como Coledactylus meridionalis e jovens de Tropidurus hygomi. No h diferenas entre os machos e as fmeas desta espcie, seja em tamanho do corpo ou da cabea ou na colorao. uma espcie que tem reproduo contnua durante todo o ano, com ninhadas que variam de um a dois ovos. Como todos os lagartos que vivem em ecossistemas de restingas, C. abaetensis relativamente sensvel s alteraes em seu hbitat provocadas pela ao humana. So lagartos que necessitam de condies especficas de temperatura e de alimento; portanto, mudanas nessas condies podem levar a seu declnio ou mesmo sua extino local.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Como a descrio da espcie recente (2002), a sua distribuio no passado no conhecida. Atual-mente, a espcie ocorre desde a regio de Salvador (BA) at a regio de divisa da Bahia com Sergipe, ao longo de aproximadamente 400 km da costa brasileira. Vive apenas nos habitats de restinga, no ocorrendo nas pores interiores, o que torna a sua ocorrncia restrita a uma faixa de vegetao de restinga relativamente estreita.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    Desconhecida.

    PRINCIPAIS AMEAAS

    A principal ameaa a contnua perturbao e fragmentao do hbitat de C. abaetensis, o que vem reduzindo as populaes da espcie. Em reas como a restinga de Abaet (onde a espcie foi descrita), a ocupao e a construo de vias destruram grande parte de sua rea de ocorrncia.

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    A principal estratgia para a conservao de C. abaetensis a proteo de pores de seu hbitat, mediante a criao de Unidades de Conservao. Tambm seriam importantes programas de recuperao do hbitat da espcie ao longo de toda a sua rea de distribuio. Nas reas em que a espcie est sob risco de ser erradicada (restinga de Abaet), fortemente recomendvel que, aps a recuperao do hbitat, seja feito um programa de monitoramento da espcie, de forma a acompanhar a evoluo do tamanho populacional. So importantes, ainda, pesquisas adicionais sobre a biologia da espcie e programas de educao ambiental, visando a conscientizao sobre a importncia de sua preservao e de seus habitats. Chama-se a ateno de que parte dos dados disponibilizados no presente captulo foram obtidos de um projeto direcionado espcie, subvencionado com recursos da Fundao O Boticrio de Proteo Natureza, alm de um segundo projeto financiado pelo Fundo de Parcerias para Ecossistemas Crticos (CEPF), coordenado pela Aliana para Conservao da Mata Atlntica, uma parceria entre a Conservao Internacional do Brasil e a Fundao SOS Mata Atlntica.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Carlos Frederico Duarte Rocha, Eduardo Jos dos Reis Dias e Vanderlaine Amaral de Menezes (IB/UERJ).

    REFERNCIAS

    22, 23 e 24.

    Autores: Carlos Frederico Duarte Rocha, Eduardo Jos dos Reis Dias, Vanderlaine Amaral de Menezes e Davor Vrcibradic

    Cnemidophorus littoralis Rocha, Arajo, Vrcibradic & Costa, 2000

    NOME POPULAR: Lagarto-da-cauda-verde SINONMIAS: At a descrio da espcie, a mesma era referenciada como Cnemidophorus ocelliferFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Teiidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: no consta

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): no constaBrasil (Biodiversitas, 2002): VU B1b(i)c(i) + 2b(ii)c(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Cnemidophorus littoralis habita reas de restinga caracterizadas por moitas de vegetao de tamanhos variados espalhadas por grandes extenses de areia branca. exclusivamente diurna e permanece ativa durante os perodos mais quentes do dia. Seu perodo de atividade estende-se das 8h s 15h, sendo que o pico de atividade se concentra entre 10h e 12h. Sua temperatura corprea em atividade atinge em mdia

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    Rpteis

    38-39 C, estando entre as mais altas conhecidas para lagartos brasileiros. Cnemidophorus littoralis forrageia ativamente ao longo da periferia das moitas nas restingas em que habita. Sua dieta composta por artrpodos, com predomnio de cupins (Isoptera), que so capturados em meio serrapilheira ou diretamente nos cupinzeiros. A biologia reprodutiva de C. littoralis ainda praticamente desconhecida. A espcie apresenta dimorfismo sexual, com os machos atingindo maiores tamanhos do que as fmeas. Cnemidophorus littoralis aparentemente uma espcie de distribuio restrita a ambientes de restinga e, mais especificamente, a restingas relativamente abertas, com largas extenses de areia nua entre as moitas. Esses ambientes esto freqentemente sujeitos a alteraes causadas pela ocupao humana, por se localizarem ao longo do litoral.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Cnemidophorus littoralis uma espcie descrita apenas recentemente, em 2000, e no se sabe qual a extenso de sua distribuio original no passado. Atualmente, a espcie conhecida de apenas trs reas de restinga no Estado do Rio de Janeiro: Barra de Maric (municpio de Maric), restinga de Ju-rubatiba (municpios de Maca, Carapebus e Quissam) e restinga de Grussa (municpio de So Joo da Barra).

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    A nica Unidade de Conservao onde a espcie ocorre o PARNA da Restinga de Jurubatiba (RJ).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    O principal fator de ameaa para as populaes de C. littoralis a destruio de seu hbitat. Extensos trechos de vegetao de restinga tm sido destrudos nas ltimas duas dcadas ao longo da distribuio da espcie. Na restinga de Jurubatiba, a implantao de um oleoduto ocorreu sobre a zona da restinga em que havia a maior densidade de C. littoralis da regio. Na restinga de Grussa, o hbitat da espcie est sendo destrudo pela ocupao humana desorganizada e pela favelizao.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    A principal estratgia para a conservao de C. littoralis a proteo de pores adicionais de seu hbitat a partir da criao de novas Unidades de Conservao. Tambm seriam importantes programas de recuperao do hbitat da espcie ao longo de toda a sua rea de distribuio. Nas reas em que a espcie est sob maior risco (restinga de Grussa), recomendvel que, aps a recuperao do hbitat, seja feito um programa de monitoramento da espcie, de forma a acompanhar a evoluo do tamanho populacional. So importantes, ainda, pesquisas adicionais sobre a biologia da espcie e programas de educao ambiental, visando a conscientizao sobre a importncia da pereservao da espcie e de seus habitats. Ressalta-se que parte dos dados disponibilizados no presente captulo foram obtidos de um projeto direcionado espcie, subvencionado com recursos da Fundao O Boticrio de Proteo Natureza.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Carlos Frederico Duarte Rocha, Davor Vrcibradic e Vanderlaine Amaral de Menezes (IB/UERJ).

    REFERNCIAS

    41, 100, 113, 114, 128 e 137.

    Autores: Carlos Frederico Duarte Rocha, Davor Vrcibradic e Vanderlaine Amaral de Menezes

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    Cnemidophorus nativo Rocha, Bergallo & Peccinini-Seale, 1997

    NOME POPULAR: Lagartinho-de-Linhares; Lagartinho nativoSINONMIAS: Cnemidophorus ocelliferFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Teiidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: ES (VU)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): no constaBrasil (Biodiversitas, 2002): VU B1b(i)c(i) + 2b(ii)c(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Cnemidophorus nativo um lagarto partenogentico, forrageador ativo, endmico de reas de restinga do Sudeste e Nordeste do Brasil. Sua distribuio vai desde a restinga de Setiba, em Guarapari, no Estado do Esprito Santo, at a restinga de Trancoso, no Estado da Bahia. Nas restingas em que ocorre, esta espcie tem preferncia por locais abertos, deslocando-se principalmente sob vegetao herb-cea, fora de moitas ou ao longo da borda de moitas. Cnemidophorus nativo uma espcie heliotrmi-ca, com hbito exclusivamente diurno. De forma geral, inicia sua atividade por volta de 8h, possuindo um pico de atividade entre 10h e 12h, permanecendo ativa at aproximadamente 13h. Durante o seu perodo de atividade, C. nativo regula sua temperatura corporal utilizando o calor do substrato em que se encontra, o calor do ar e a radiao direta do sol, possuindo uma temperatura corprea mdia de aproximadamente 37 C. um lagarto carnvoro, com uma dieta constituda predominantemente de presas relativamente sedentrias (como larvas) ou que ocorrem de forma agregada (como cupins). A espcie ovpara e possui uma reproduo extensa ao longo do ano. O tamanho da ninhada varia de um a quatro ovos, sendo mais freqente a ocorrncia de dois ovos. O tamanho mnimo na maturidade da espcie (com base na menor fmea reprodutiva com folculos em vitelognese ou ovos no oviduto) de cerca de 49 mm. Associadas a C. nativo tm sido encontradas seis espcies de helmintos, sendo Physaloptera retusa (22,8%) e Physalopteroides venancioi (11,9%) os parasitas mais prevalentes.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Considerando a recente descrio da espcie, a distribuio geogrfica pretrita conhecida correspon-de, relativamente, distribuio atual, exceo de alguns trechos (como Guaratiba, no municpio do Prado, BA), cuja rea de restinga foi destruda e a espcie foi erradicada. Este lagarto se distribui nas restingas ao longo da costa do Esprito Santo e da Bahia. No Esprito Santo, ocorre desde Setiba at o extremo norte do Estado, no municpio de Linhares. Na Bahia, ocorre desde as restingas da poro sul do Estado, no municpio de Prado, at a regio de Trancoso. Possui distribuio apenas em restingas costeiras.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    A espcie est presente no PE Paulo Cesar Vinhas, em Setiba, na REBIO de Comboios e na borda ex-terna da RF de Linhares, da Companhia Vale do Rio Doce, todas trs localizadas no Estado do Esprito Santo. Unidades de Conservao adicionais devem ser criadas, especialmente na Bahia, onde a espcie ainda no protegida.

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    Rpteis

    PRINCIPAIS AMEAAS

    O principal fator de ameaa e que vem colocando em risco as populaes de C. nativo, ao longo de sua distribuio, a destruio dos habitats de restinga. Tem ocorrido acentuada destruio de amplas pores de restingas, de forma simultnea, nos diferentes municpios de ocorrncia da espcie. Um exemplo: em Guaratiba, no municpio de Prado (BA), onde a espcie ocorria extensamente, tendo sido a populao local estudada em 2001 e 2002, a rea de restinga foi destruda nos ltimos anos e a espcie foi localmente extinta.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    As principais estratgias de conservao envolvem prioritariamente aes dirigidas proteo dos am-bientes de restinga onde C. nativo ocorre e que esto sob intensa presso de degradao ou erradicao. Nas reas em que o hbitat da espcie vem sendo destrudo, devem ser desenvolvidos programas de recuperao, levando em conta as caractersticas estruturais do hbitat que favorecem a espcie. Nas reas onde a espcie ainda ocorre, importante que seja implementado o monitoramento dos estoques populacionais. Adicionalmente, recomenda-se a criao de novas Unidades de Conservao na rea de ocorrncia da espcie. Tambm preciso investir em pesquisa cientfica, para obter mais subsdios elaborao das estratgias de conservao de C. nativo, alm de um programa de educao ambiental visando a conscientizao sobre a importncia da preservao da espcie e de seus habitats. Caso a si-tuao de C. nativo se agrave excessivamente nas prximas dcadas, seria recomendvel a recuperao do hbitat nas reas em que a espcie foi extinta, seguida de um programa de reintroduo, com sub-seqente monitoramento. Parte dos dados disponibilizados nesse captulo foram obtidos de um projeto direcionado espcie, subvencionado pela Fundao O Boticrio de Proteo Natureza.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Carlos Frederico Duarte Rocha, Vanderlaine Amaral Menezes e Helena G. Bergallo (IB/UERJ).

    REFERNCIAS

    71, 72, 73, 105, 111, 112 e 136.

    Autores: Carlos Frederico Duarte Rocha, Vanderlaine Amaral de Menezes e Helena G. Bergallo

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    Cnemidophorus vacariensis Feltrim & Lema, 2000

    NOME POPULAR: Lagartinho-pintado FILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Teiidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: RS (VU); PR (VU)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): no constaBrasil (Biodiversitas, 2002): VU B1ab(i) + 2ab(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Cnemidophorus vacariensis uma espcie de lagarto de pequeno porte, com cerca de 15 cm de compri-mento total (Feltrim & Lema, 2000). terrcola e vive em afloramentos rochosos situados em reas de campo do planalto meridional do Brasil, em altitudes superiores a 900 m. Os indivduos so encontrados ativos (termorregulando) entre 10h e 15h e inativos (sob pedras) nas primeiras horas da manh e no final da tarde (Feltrim & Lema, 2000).

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    A espcie foi registrada nos municpios de Bom Jesus e Vacaria, no Rio Grande do Sul, e no municpio de Candoi, no Paran (Di-Bernardo et al., 2003; Brnils et al., 2004).

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    Desconhecida.

    PRINCIPAIS AMEAAS

    A principal ameaa para C. vacariensis a utilizao dos campos para a pecuria e a silvicultura (in-troduo de monoculturas de Pinus spp.). A expanso crescente das monoculturas de pnus parece ser a ameaa mais sria espcie, tendo em vista a drstica alterao estrutural resultante da converso de reas campestres em florestais (Di-Bernardo et al., 2003; Brnils et al., 2004). A prtica de queima-das tambm contribui para a descaracterizao dos habitats campestres onde a espcie ocorre (Brnils et al., 2004).

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    importante realizar estudos visando avaliar o impacto das atividades de pecuria e silvicultura sobre as populaes de C. vacariensis; promover um levantamento mais detalhado das reas de sua ocorrn-cia; obter informaes sobre a biologia da espcie e criar Unidades de Conservao na rea de sua dis-tribuio. Como a espcie ocorre em afloramentos rochosos pouco extensos, Unidades de Conservao de pequeno tamanho poderiam ser efetivas para a sua conservao.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Laura Verrastro Vias (UFRGS).

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    Rpteis

    REFERNCIAS

    12, 25 e 33.

    Autores: Marcos Di-Bernardo e Mrcio Borges-Martins

    Liolaemus lutzae Mertens, 1938

    NOME POPULAR: Lagartixa-da-areia; Lagartinho-branco-da-praiaFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Liolaemidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: RJ (VU)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): VUBrasil (Biodiversitas, 2002): CR A1c; B1ab(iii) + 2b(iii)c(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Liolaemus lutzae uma espcie de lagarto que se restringe s reas de praia e dunas nas restingas em que ocorre, raramente invadindo as pores mais arbustivas. Seu hbitat caracterstico a faixa de areia localizada junto ao mar (de 50 a 150 m de largura), colonizada por vegetao herbcea halfila-psamfila reptante. Abriga-se em tocas que escava na areia, em geral junto vegetao. Possui atividade diurna, saindo do abrigo por volta das 6h30 da manh, possuindo um pico de atividade entre 9h-11h e permanecendo ativo at por volta de 13h-14h, quando retorna toca, encerrando o seu perodo dirio de atividade. Durante o tempo em que permanece ativo, L. lutzae obtm calor para regular a temperatura corprea utilizando a radiao direta do sol e o calor da areia e do ar. A temperatura corprea mdia em atividade da espcie de 34 C, nos meses de vero, sendo um pouco mais baixa (32 C) nos meses de inverno. um lagarto onvoro, que se alimenta tanto dos artrpodes do solo como das folhas e flores de quatro das espcies de plantas que ocorrem em seu hbitat (Alternanthera maritima, Blutaparon portulacoides, Ipomoea littoralis e Ipomoea pes-caprae). A dieta da espcie varia ontogeneticamen-te: os jovens recm-eclodidos so essencialmente carnvoros, aumentando sucessivamente a taxa de consumo de material vegetal medida que crescem. Entre os adultos, a dieta tambm onvora, mas primariamente composta de material vegetal (cerca de 60-70%). O tamanho da rea de vida dos machos (cerca de 60 m2) aproximadamente trs vezes o tamanho da rea de vida das fmeas (cerca de 22 m2). Liolaemus lutzae possui reproduo sazonal, com uma estao reprodutiva bem definida, que vai de se-tembro a maro. Aps o acasalamento, as fmeas produzem de um a quatro ovos (dois o nmero mais freqente), que so colocados, a partir de outubro/novembro, em galerias escavadas na areia. Os filhotes eclodem dos ovos com aproximadamente 30 mm de comprimento rostro-cloacal, a partir da segunda quinzena de dezembro. As fmeas podem colocar ovos at o trmino do perodo reprodutivo, em maro. Os jovens crescem de forma relativamente rpida e, na estao reprodutiva seguinte, a maioria deles j atingiu a maturidade sexual, podendo reproduzir com cerca de oito meses de idade. Este lagarto for-temente dependente da qualidade do hbitat de praia das restingas onde vive. As alteraes antrpicas no hbitat causam forte diminuio de sua probabilidade de sobrevivncia, resultando inicialmente na reduo do seu tamanho populacional, podendo levar, em seguida, sua extino local.

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    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Liolaemus lutzae distribua-se pelas reas de praia e dunas de restinga do Estado do Rio de Janeiro, co-bertas por vegetao herbceo-arbustiva, desde a restinga da Marambaia at as restingas do municpio de Cabo Frio. Ao longo dessa extenso, a espcie s no era encontrada nos trechos de litoral rochoso. Nas reas onde ocorria, era restrita ao hbitat de praia das restingas (zona de vegetao halfila-psamfila reptante), raramente adentrando pores mais interiores (trechos de restinga arbustiva) das restingas. A distribuio atual da espcie vai da restinga da Marambaia s restingas de Cabo Frio (sempre nas reas de praia e dunas de restinga cobertas por vegetao herbcea). Contudo, em vrias reas de restinga, a espcie foi erradicada pela alterao e/ou destruio do hbitat. Exemplos: Prainha, Praia da Macumba, extenso trecho da Barra da Tijuca, Barra Nova (Saquarema) e Praia dos Anjos (Arraial do Cabo). Na localidade-tipo da espcie (Recreio dos Bandeirantes, no municpio do Rio de Janeiro), a espcie j no mais ocorre, tendo em vista as alteraes locais do hbitat (remoo da vegetao herbcea de praia para a construo de via litornea e calamento e pisoteio da vegetao por banhistas).

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    Unidades de Conservao onde a espcie atualmente ocorre: APA de Grumari, REBIO da Barra da Tijuca, APA de Massambaba e Reserva Ecolgica de Jacarepi (RJ). Todas essas unidades tm grande relevncia para a efetiva proteo da espcie, mas de forma geral necessitam de maior grau de proteo, em especial as APAs.

    PRINCIPAIS AMEAAS

    O principal fator de ameaa que vem provocando a reduo dos estoques populacionais de L. lutzae a destruio de hbitat. No Brasil os habitats de praia e dunas de restinga esto localizados nas pores com maior concentrao humana (regio litornea do Sudeste) e de maior valorizao econmica, o que tem resultado na destruio de amplas pores de restingas. Especialmente nas duas ltimas dcadas, houve a erradicao de extensos trechos de vegetao da rea de praia das restingas (regio de vege-tao halfila psamfila reptante hbitat da espcie), de forma simultnea, nos diferentes municpios de ocorrncia de L. lutzae. A alterao do hbitat tem suprimido o substrato arenoso e a vegetao, que no apenas constitui abrigo e stio trmico para o lagarto, mas tambm alimento. Liolaemus lutzae possui dieta onvora, com poro relevante composta por folhas e flores de pelo menos quatro espcies de plantas do hbitat.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Diferentes estratgias de conservao devem ser conduzidas, simultaneamente, para a efetiva conserva-o de L. lutzae. Deve ser ampliada a rede de proteo da espcie, em termos de Unidades de Conserva-o, seja pela criao de novas unidades em reas onde a espcie ainda ocorre, seja pela maior proteo daquelas que j existem. Deve ser fomentada a continuidade da pesquisa cientfica que fornecer subs-dios adicionais elaborao das estratgias de conservao. Tambm devem ser elaborados programas de recuperao do hbitat da espcie em cada um dos municpios de ocorrncia, com base nas carac-tersticas estruturais do micro-hbitat que favoream a espcie. Seria interessante o monitoramento de populaes, especialmente daquelas com evidncia de declnio. Recomendam-se ainda programas de educao ambiental visando a conscientizao sobre a importncia da preservao da espcie e de seus habitats. Caso a situao venha a se agravar excessivamente nas prximas dcadas, seria recomendvel a recuperao do hbitat nas reas em que a espcie foi extinta, seguida de um programa de reintrodu-o, com subseqente monitoramento. Parte dos dados disponibilizados nesse captulo foram obtidos a partir de um projeto financiado pelo Programa de Proteo s Espcies Ameaadas de Extino da Mata Atlntica Brasileira, coordenado pela Fundao Biodiversitas em parceria com o CEPAN Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste.

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    Rpteis

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Carlos Frederico Duarte da Rocha (UFRJ). Atravs do Instituto Biomas, o pesquisador tambm desenvolve um projeto com a espcie mediante financiamento do Programa de Proteo s Espcies Ameaadas de Extino da Mata Atlntica Brasileira, coordenado em parceria pela Fundao Biodiversitas e CEPAN.

    REFERNCIAS

    101, 102, 103, 104, 106, 107, 108, 109 e 110.

    Autores: Carlos Frederico Duarte Rocha, Cristina Valente Ariani e Carla da Costa Siqueira

    Liolaemus occipitalis Boulenger, 1885

    NOME POPULAR: Lagartixa-da-praia; Lagartinho-da-praiaSINONMIAS: Liolaemus glieshi Ahl, 1925FILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Iguanidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: RS (VU)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): VUBrasil (Biodiversitas, 2002): VU B1b(i)c(i) + 2b(ii)c(ii)

    INFORMAES GERAIS

    Liolaemus occipitalis uma espcie de lagarto de pequeno porte, que atinge cerca de 12 cm de com-primento total. O comprimento rostro-cloacal mdio de 6,2 cm para machos e de 5,3 cm para fmeas (Verrastro & Bujes, 1998). Possui hbito terrestre e ocorre exclusivamente em ambientes arenosos das restingas litorneas do extremo sul do Brasil, em altitudes pouco superiores ao nvel do mar. Apresenta colorao crptica em relao areia, substrato onde vive. Pode enterrar-se superficialmente no solo arenoso ou escavar tocas de 20 a 30 cm de profundidade (Bujes & Verrastro, 1998; Verrastro & Bujes, 1998). Sua atividade exclusivamente diurna e determinada pela temperatura do substrato (Verrastro & Bujes, 1998) e a dieta basicamente insetvora (Verrastro & Krause, 1994). Liolaemus occipitalis uma espcie ovpara e sua atividade reprodutiva ocorre nos meses de primavera e vero, de setembro a maro (Verrastro & Krause, 1994). As fmeas depositam at quatro ovos por desova.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Liolaemus occipitalis ocorre na costa do sul do Brasil, nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Peters & Donoso-Barros, 1970; Mller & Steineger, 1977). A ocorrncia da espcie, ao longo de toda a sua distribuio, est restrita a uma faixa muito estreita de restingas arenosas litorneas. No Rio Grande do Sul, ocorre em toda a zona costeira, desde Torres at o Chu (Verrastro & Bujes, 1998). Em Santa Catarina, a espcie encontrada da ilha de Florianpolis para o sul. Atualmente, pode ser encon-

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    trada ao longo de boa parte da distribuio pretrita conhecida, porm no mais observada em muitas localidades onde era abundante em um passado recente, especialmente nas proximidades das principais concentraes urbanas. Em algumas reas do litoral norte do Rio Grande do Sul, as restingas arenosas foram totalmente urbanizadas e as dunas primrias foram drasticamente alteradas ou at mesmo supri-midas. H cerca de 20 anos, indivduos desta espcie eram freqentemente avistados nas dunas frontais praia de Imb e no solo arenoso contguo aos molhes do rio Tramanda, mas no h registros recentes da ocorrncia da espcie nesses locais (Di-Bernardo et al., 2003). Em outros balnerios, como Capo da Canoa e Nova Tramanda, as populaes tambm vm desaparecendo de forma notria.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    A espcie tem sido registrada nas seguintes Unidades de Conservao: PE de Itapeva, Horto Florestal do Litoral Norte, PARNA da Lagoa do Peixe e EE do Taim (RS).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    Liolaemus occipitalis uma espcie ainda abundante nas costas arenosas do Rio Grande do Sul (Lema, 1994; Bujes & Verrastro, 1998; Verrastro & Bujes, 1998; obs. pess.), mas o rpido processo de ur-banizao que vem ocorrendo no litoral norte do Rio Grande do Sul, associado baixa plasticidade ecolgica da espcie, tem ocasionado acentuado declnio em suas populaes. A principal ameaa para L. occipitalis no Rio Grande do Sul a destruio e descaracterizao das dunas costeiras, em funo do processo de urbanizao de sua regio litornea. Embora o litoral sul do Estado tenha sofrido poucos impactos nesse aspecto, havendo ainda grandes populaes da espcie, o panorama no litoral norte oposto: grande parte das populaes foi reduzida e algumas foram at mesmo extintas. No h relatos da situao populacional de L. occipitalis em Santa Catarina, mas a grande e crescente ocupao humana no litoral desse Estado indica que a espcie est sujeita s mesmas ameaas observadas no Rio Grande do Sul.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    A principal medida seria a conservao das dunas costeiras. A manuteno e a criao de Unidades de Conservao abrangendo a regio costeira tambm so medidas importantes, especialmente no litoral norte do Rio Grande do Sul, para evitar que os ncleos urbanos se interliguem completamente, ocupan-do a costa de forma contnua. Algumas Unidades de Conservao existentes, como o Horto Florestal do Litoral Norte, tm rea irrisria e so pouco ou nada efetivas para a manuteno de populaes. Por outro lado, o Parque Estadual de Itapeva, em Torres (RS), a principal rea protegida e ainda preser-vada no extremo norte do litoral do Estado. Uma rea sugerida como prioritria Passo das Cabras, entre Tramanda e Cidreira, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Tambm seriam teis para a conservao de L. occipitalis programas de educao ambiental em regies j urbanizadas mas que ainda mantm reas de dunas costeiras com a presena da espcie.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Laura Verrastro Vias, Caroline Maria da Silva e Clvis de Souza Bujes (UFRGS).

    REFERNCIAS

    16, 25, 51, 85, 89, 134 e 135.

    Autores: Marcos Di-Bernardo e Mrcio Borges-Martins

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    Rpteis

    Corallus cropanii (Hoge, 1953)

    NOME POPULAR: Boa-de-cropani; Jibia-de-cropani SINONMIAS: Xenoboa cropaniiFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Boidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: SP (PEx)Anexos da CITES: Anexo II

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): no constaBrasil (Biodiversitas, 2002): CR A4b

    INFORMAES GERAIS

    Corallus cropanii tem distribuio restrita Mata Atlntica do vale do Ribeira, na plancie litornea sul do Estado de So Paulo, entre 0 e 60 m de altitude. So conhecidos apenas quatro indivduos da espcie em colees cientficas, coletados em 1953, 1960 e 2003. Como conseqncia, as informaes sobre a espcie so extremamente escassas. Foi encontrada em reas alteradas, como plantaes e pastos, vizi-nhas a reas extensas de floresta ombrfila densa. Um indivduo coletado em rea alterada foi encontra-do sobre a vegetao, a 1,5 m de altura; em cativeiro, manteve-se a maior parte do tempo empoleirado em ramos. O ltimo exemplar colecionado foi encontrado locomovendo-se no cho, margem da flo-resta, pela manh. O nico contedo alimentar registrado a cuca terrestre Metachirus nudicaudatus (Didelphimorphia, Didelphidae).

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Aparentemente, a espcie restrita ao vale do Ribeira, na plancie litornea sul do Estado de So Pau-lo, com registros para os municpios vizinhos de Miracatu (localidade-tipo, 1953) e Pedro de Toledo (1960), recentemente estendida para o municpio de Eldorado (2003), localizado a cerca de 75 km de Miracatu. Um exemplar de procedncia duvidosa foi registrado em Santos (1978), tambm no litoral sul do Estado, a cerca de 180 km de Miracatu.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    Possvel ocorrncia na plancie litornea da EE Juria-Itatins (SP) (M. T. U. Rodrigues, com. pess. sobre exemplar observado, mas no coletado, em 1969).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    Considerando sua rea de distribuio restrita, a maior ameaa a destruio de habitat. O vale do Ribeira encontra-se sob forte presso antrpica, pela rpida substituio da Mata Atlntica original por plantaes de banana, principalmente, entre outras culturas agrcolas e pastagens.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Recomenda-se pesquisa cientfica com maior esforo de amostragem na rea de ocorrncia, visando novos registros e melhor caracterizao dos hbitos, habitat e distribuio geogrfica da espcie.

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Otvio A. V. Marques, Hebert Ferrarezzi e Ricardo J. Sawaya (Instituto Butantan); Lgia Pizzatto do Prado (UNICAMP).

    REFERNCIAS

    4, 42, 45, 62, 63 e 64.

    Autores: Ricardo J. Sawaya, Herbert Ferrarezzi e Otvio A. V. Marques

    Dipsas albifrons cavalheiroi (Sauvage, 1884)

    NOME POPULAR: Dormideira-da-Ilha-da-Queimada-Grande SINONMIAS: Dipsas albifronsFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Colubridae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: SP (VU)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): CRBrasil (Biodiversitas, 2002): CR B1ab(iii)

    INFORMAES GERAIS

    Dipsas albifrons cavalheiroi (populao em questo) endmica da ilha da Queimada Grande, em So Paulo, embora tenha sido recentemente sinonimizada a Dipsas albifrons, que apresenta ampla distribui-o ao longo da Mata Atlntica, do Esprito Santo a Santa Catarina, no Sudeste e Sul do Brasil. A po-pulao da Queimada Grande alimenta-se de lesmas e a atividade dos adultos concentrada na estao chuvosa, entre outubro e maro.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    A populao considerada como Dipsas albifrons cavalheiroi endmica da ilha da Queimada Grande, Itanham, costa sul do Estado de So Paulo.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    ARIE da Ilha da Queimada Grande (SP).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    Embora a maior parte da ilha da Queimada Grande ainda permanea coberta pela floresta original (principal habitat da espcie), algumas pores de floresta nativa da ilha foram queimadas no passado e encontram-se atualmente cobertas por capim. Ao longo dos ltimos sete anos, nota-se que essas reas esto sendo novamente invadidas pela floresta, mas a sua completa recuperao dever ainda se esten-der por dezenas ou talvez centenas de anos.

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    Rpteis

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Proteo e recuperao das reas degradadas da ilha, pesquisa cientfica visando conhecer a biologia da populao e monitoramento do tamanho da populao so importantes estratgias para a preservao da espcie.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Otvio A. V. Marques e Ricardo J. Sawaya (Instituto Butantan); Mrcio R. C. Martins (IBUSP); Ronal-do Fernandes e Paulo Passos (MNRJ).

    REFERNCIA

    88.

    Autores: Ricardo J. Sawaya, Otvio A. V. Marques e Marcio R. C. Martins

    Bothrops alcatraz Marques, Martins & Sazima, 2002

    NOME POPULAR: Jararaca-de-Alcatrazes (SP) FILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SerpentesFAMLIA: Viperidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: no consta

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): CRBrasil (Biodiversitas, 2002): CR B1ab(iii)

    INFORMAES GERAIS

    Bothrops alcatraz registrada no sub-bosque da Mata Atlntica na ilha dos Alcatrazes, litoral norte de So Paulo. Ativa durante a noite, no cho da mata ou na vegetao baixa e durante o dia repousa sobre troncos cados, folhas de palmeiras e em bromlias de cho. Um de seus locais pre-feridos sob poleiros de aves marinhas, perto do guano acumulado. Essa preferncia pode estar relacionada presena, nesses locais, de centopias (Otostigmus sp.), uma vez que se alimenta delas, alm de lagartos de pequeno porte (Mabuya macrorhyncha e Hemidactylus mabouia). Ma-chos atingem cerca de 45 cm de comprimento rostro-cloacal e fmeas alcanam 50 cm. O menor macho sexualmente maduro conhecido mediu 36 cm e a menor fmea alcanou 47 cm (Marques et al., 2002).

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Conhecida somente da ilha dos Alcatrazes, ao largo de So Sebastio, costa norte do Estado de So Paulo.

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    A ilha dos Alcatrazes (principal ilha do arquiplago de Alcatrazes), onde ocorre a jararaca, no uma Unidade de Conservao, embora esteja no entorno da EE Tupinambs (SP), que inclui lajes e ilhotas do arquiplago de Alcatrazes.

    PRINCIPAIS AMEAAS

    A maior ameaa a destruio de hbitat causada por exerccios de artilharia realizados pela Marinha brasileira (Marques et al., 2002). Alm do impacto direto dos projteis, em algumas ocasies os exerc-cios provocam incndios de grandes propores, como o que ocorreu em novembro de 2004.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Proteo e recuperao de habitats e fiscalizao (Marques et al., 2002).

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Otvio A. V. Marques e Ricardo S. Sawaya (Instituto Butantan); Mrcio R. C. Martins (IBUSP); Ivan Sazima (UNICAMP).

    REFERNCIA

    66.

    Autores: Ivan Sazima, Mrcio R. C. Martins e Otvio A. V. Marques

    Bothrops insularis (Amaral, 1922)

    NOME POPULAR: Jararaca-ilhoa SINONMIAS: Lachesis insularis Amaral, 1921FILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Viperidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: SP (EN)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): CRBrasil (Biodiversitas, 2002): CR B1ab(iii)

    INFORMAES GERAIS

    Bothrops insularis encontrada apenas na ilha da Queimada Grande (43 ha), distante 33 km da costa na regio de Itanham, litoral sul do Estado de So Paulo. Embora seja eventualmente encontrada em reas cobertas por capim, a jararaca-ilhoa ocorre principalmente na Mata Atlntica, que cobre boa parte da ilha. Os adultos so freqentemente encontrados sobre a vegetao, mas tambm utilizam o cho da mata. Essas jararacas podem estar ativas tanto de dia quanto noite. A dieta de adultos baseada em pssaros migratrios, que so capturados tanto no cho como nas rvores. Os jovens alimentam-se de

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    Rpteis

    anfbios, lagartos e centopias. O acasalamento da jararaca-ilhoa ocorre no outono e incio do inverno (entre maro e julho) e os nascimentos de filhotes foram registrados no vero. Embora seja fcil encon-trar indivduos adultos de B. insularis na ilha, o mesmo no ocorre com os filhotes, mesmo durante o perodo dos nascimentos. Isso poderia ser explicado por uma baixa taxa de natalidade da populao e/ou pela dificuldade de localizao dos filhotes, que podem ficar abrigados a maior parte do tempo. A taxa de natalidade da jararaca-ilhoa parece ser de fato baixa: o tamanho de uma ninhada nesta espcie dificilmente ultrapassa 10 filhotes. Alm disso, expedies recentes ilha da Queimada Grande tm registrado poucas fmeas prenhes na populao. Apesar desses fatos, a jararaca-ilhoa extremamente abundante na ilha da Queimada Grande. Estimativas recentes indicam que h em torno de 1.500 a 2.000 indivduos nos cerca de 30 ha de florestas da ilha, o que representa uma densidade de aproximadamente 50 a 70 serpentes por hectare.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Ilha da Queimada Grande, no litoral do Estado de So Paulo.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    ARIE Ilha da Queimada Grande (SP).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    Embora a maior parte da ilha da Queimada Grande ainda permanea coberta pela floresta original (prin-cipal hbitat da jararaca-ilhoa), algumas de suas pores foram queimadas no passado e encontram-se atualmente cobertas por capim. Ao longo dos ltimos sete anos, nota-se que essas reas esto sendo novamente invadidas pela floresta, embora a completa recuperao das mesmas ainda deva se estender por dezenas ou talvez centenas de anos. Alm dessa ameaa, que parece estar controlada, existem evi-dncias de capturas ilegais dessas jararacas, provavelmente para o mercado negro de espcies exticas que geralmente acabam em zoolgicos ou como animais de estimao.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Recomendam-se aes de proteo e recuperao das reas degradadas da ilha, assim como a fisca-lizao, visando evitar a captura ilegal. tambm importante desenvolver programa de conservao ex situ, alm de pesquisa cientfica para conhecer a biologia da espcie e o monitoramento do tamanho da populao.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Otvio A. V. Marques, Marcelo R. Duarte e Ricardo J. Sawaya (Instituto Butantan); Marcio R. C. Mar-tins (IBUSP).

    REFERNCIAS

    65, 66, 67 e 68.

    Autores: Mrcio R. C. Martins e Otvio A. V. Marques

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    Bothrops pirajai Amaral, 1923

    NOME POPULAR: Jaracuu-tapete; Tapete SINONMIAS: Bothrops neglecta Amaral, 1923FILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: SquamataFAMLIA: Viperidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: no consta

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): VUBrasil (Biodiversitas, 2002): EN B1ab(iii)

    INFORMAES GERAIS

    Bothrops pirajai uma espcie noturna, terrcola, de compleio robusta e que apresenta comprimento total em torno de 1 m. Habita floresta ombrfila densa, em altitudes de at 600 m. Sua rea de ocor-rncia abrange a zona cacaueira do sudeste da Bahia, onde grande parte das lavouras cultivada sob o sombreamento da mata nativa. Em geral, as plantaes tambm conectam florestas em diferentes graus de perturbao. Aparentemente, os cacauais funcionam como corredores para a espcie. Bothrops pira-jai parece ocorrer em densidades relativamente baixas. Nas reas mais ao norte de sua distribuio, os solos so marginais para o cultivo do cacau e a lavoura divide espao principalmente com plantaes de seringa, dend, guaran, cravo-da-ndia, pequenas pastagens e fragmentos de florestas. Esses culti-vos so explorados a cu aberto e, ao contrrio dos cacauais, no so eficazes como corredores para a fauna. Nessas reas, todos os exemplares foram obtidos em capoeiras, durante desmatamentos, ou em cacauais. O limite norte conhecido da distribuio de B. pirajai a serra da Jibia, coberta ainda em boa parte por florestas, mas limitada ao norte e ao oeste por caatingas. As nicas informaes publicadas sobre a biologia de B. pirajai referem-se dieta e reportam restos de mamferos em um adulto e em um jovem.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Exemplares corretamente identificados e com procedncia confivel so oriundos de uma rea restrita na poro meridional da Bahia, entre as latitudes 1230 e 1500S. A extenso da sua distribuio em direo oeste no conhecida, mas provvel que coincida com os limites da floresta ombrfila densa. Durante muito tempo a espcie foi referida na literatura apenas para a regio de Ilhus-Itabuna. O tipo de B. neglecta foi alegadamente obtido em Monte Santo, no serto baiano, mas essa informao nunca constou nos registros do Instituto Butantan, tendo surgido apenas 40 anos aps a descrio da espcie. A partir de ento, esse municpio tem sido includo na rea de ocorrncia de B. pirajai. As diferenas ecolgicas entre a regio de Monte Santo e os locais de coleta de B. pirajai (sensu stricto) so gritantes e, portanto, a ocorrncia da espcie naquela localidade questionvel. Indicaes na literatura sobre a presena de B. pirajai no nordeste de Minas Gerais e em Vitria da Conquista, no planalto sul-baiano, so baseadas em exemplares de B. jararacussu.

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    A EE Estadual Wenceslau Guimares (BA) uma das nicas Unidades de Conservao existentes na rea de ocorrncia da espcie. Embora exemplares tenham sido obtidos em municpios relativamente prximos, nenhum esforo foi realizado ainda para detectar a sua presena na referida EE. O PM Mata da Boa Esperana (BA) situa-se na localidade-tipo da espcie e possui uma rea de mata com cerca de

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    Rpteis

    400 ha, porm sua ocorrncia no foi ali confirmada. Os nicos registros dessa espcie em outras reas protegidas ou de uso sustentvel so da Reserva Ecolgica Michellin (BA) e da APA Municipal Serra da Jibia (BA).

    PRINCIPAIS AMEAAS

    Bothrops pirajai ocorre em uma regio de intensa explorao agrcola. Nesses locais, as florestas encon-tram-se bastante fragmentadas e reduzidas a 3 e 5% da cobertura original. A principal ameaa espcie a perda ou reduo do hbitat, alm da intensa perseguio pelo homem.

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Estudos visando definir com maior preciso a distribuio geogrfica da espcie, alm de pesquisas detalhadas sobre ecologia e histria natural, so de extrema prioridade. No menos importantes so a proteo e a recuperao das florestas onde a espcie ocorre. A criao de Unidades de Conservao adicionais ao longo da rea de ocorrncia da espcie ajudaria na preservao da sua variabilidade ge-ntica. So tambm fundamentais programas de educao ambiental visando a conscientizao sobre a importncia da preservao da espcie e de seus habitats.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    Antnio Jorge Suzart Arglo (UESC).

    REFERNCIAS

    3, 5, 15, 17, 34 e 130.

    Autor: Antnio Jorge Suzart Arglo

    Phrynops hogei Mertens, 1967

    NOME ATUAL: Mesoclemmys hogeiNOME POPULAR: Cgado (RJ, ES e MG); Cgado-de-hoge (RJ) SINONMIAS: Ranacephala hogeiFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: TestudinesFAMLIA: Chelidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: MG (CR); RJ (VU)

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): EN Brasil (Biodiversitas, 2002): EN B1ab(iii)

    INFORMAES GERAIS

    Mesoclemmys hogei foi descrita somente em 1967, com base em um nico exemplar (Mertens, 1967). Treze anos depois, Mittermeier et al. (1980) apresentaram dados sobre oito espcimes preservados, en-

  • Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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    contrados em museus, e quatro espcimes vivos, encontrados em colees particulares. Em 1982, Rho-din et al. acrescentaram informaes espcie a partir de mais dois espcimes encontrados preservados em colees museolgicas. Segundo Rhodin et al. (no prelo), h trs conjuntos de caractersticas em M. hogei que a distinguem de outros Phrynops: cabea relativamente estreita, sem marcas, uniforme-mente marrom na parte dorsal e clara em sua parte ventral, com uma linha bem definida que se estende da borda da maxila at o tmpano; carapaa lisa, sem quilha ou sinal marginal na parte superior; e plas-tro uniformemente amarelo ou com manchas cinzentas irregulares. A regio inferior das partes moles apresenta uma singular colorao rseo-alaranjada sobre um fundo de cor creme claro. Mesoclemmys hogei apresenta hbitos aquticos e uma rea de distribuio bastante restrita, estando presente nos Esta-dos do Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais e sul do Esprito Santo, em altitudes localizadas abaixo dos 500 m (Mittermeier et al., 1980; Rhodin, 1982; Rhodin et al., 1982). No rio Carangola, a altitude correspondente maior freqncia de registros se estendeu de 285 a 353 m ao longo de sua calha central (Drummond, 2002). A distribuio de M. hogei parece relacionar-se com rios de maior grandeza, ocu-pando preferencialmente os trechos em remanso (Drummond, 2002). Rocha-e-Silva & Kischlat (1994) consideram a espcie como tpica da bacia do rio Paraba do Sul. Suas populaes so aparentemente disjuntas (Rhodin, 1982) e apresentam baixas densidades (Mittermeier et al., 1980). As populaes do rio Carangola, em Minas Gerais, e do Rio de Janeiro so hoje as mais bem estudadas para a espcie. Os estudos realizados no rio Carangola, conduzidos por Drummond (2002), permitiram uma caracterizao detalhada do padro morfomtrico de M. hogei, cujos resultados demonstram que as fmeas, quando adultas, so maiores que os machos, tanto no que diz respeito ao comprimento da carapaa quanto ao peso. O comprimento mdio de M. hogei de aproximadamente 27 cm de carapaa, podendo atingir 38 cm. O maior peso encontrado para a espcie foi de 3,5 kg. Quanto aos hbitos alimentares, a esp-cie onvora (Rocha-e-Silva & Kischlat, 1994), deslocando-se, em mdia, apenas de 3 a 15 m por dia (Drummond, 2002). Para as populaes do rio Carangola, Drummond (2002) verificou que o perodo de desova de M. hogei est associado ao final dos meses chuvosos, e estimado que o perodo de incubao dos ovos superior a 6 meses, de modo que o nascimento dos filhotes coincida com o incio do perodo chuvoso. Verificou-se o nmero de sete ovas para cada fmia da espcie. Os filhotes parecem utilizar os pequenos corpos dgua, at ganhar os rios maiores. Embora Rhodin (apud Reed et al., 1991) tenha considerado M. hogei como a espcie osteologicamente mais divergente do gnero, a anlise citoge-ntica realizada por Reed et al. (1991) mostrou um caritipo idntico ao de outros membros do gnero (2n=58). Ao longo das ltimas dcadas, a monofilia do gnero Phrynops tem sido questionada (e.g., Seddon et al., 1997; Georges et al., 1998), sendo que McCord et al. (2001) foram alm, descrevendo o gnero monoespecfico Ranacephala para conter a espcie Ranacephala hogei. O fato de a espcie ter sua distribuio em uma bacia densamente ocupada, com intensa interferncia antrpica, torna urgente o estabelecimento de aes emergenciais para sua proteo e conservao.

    DISTRIBUIO GEOGRFICA

    Da bacia do rio Paraba, no Estado do Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais, at o rio Itapemirim, nas regies costeiras do Estado do Esprito Santo. No ocorre no Estado de So Paulo, sendo que Mertens (1967) possivelmente incorreu em erro ao determinar a localidade-tipo como sendo rio Pequena, sudo-este de So Paulo (Mittermeier et al., 1980; Rhodin et al., 1982).

    PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO

    Desconhecida.

    PRINCIPAIS AMEAAS

    Em Minas Gerais, Moreira in Lins et al. (1997) cita a perda de hbitat e a perseguio como as principais ameaas espcie. No Rio de Janeiro, Mittermeier et al. (1980), Rocha-e-Silva & Kischlat (1994) e Rocha et al. (2000) mencionam perda, descaracterizao e fragmentao de habitats; eroso das margens dos rios da bacia do rio Paraba, com conseqente assoreamento do recurso hdrico e a poluio das guas do rio Paraba do Sul (despejos industriais, domsticos e agropecurios). Outro grave problema a des-truio das matas ciliares, comprometendo os abrigos e a disponibilidade alimentar para este cgado.

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    Rpteis

    ESTRATGIAS DE CONSERVAO

    Entre as medidas mais recomendadas esto a recuperao das matas ciliares dos locais onde vive a espcie; a conteno dos processos erosivos; a manuteno dos trechos lticos; a despoluio dos rios; e, mais enfaticamente, a criao de Unidades de Conservao nos trechos dos rios que conservam populaes remanescentes. A implementao de programas de educao ambiental voltados para as populaes ribeirinhas, o desenvolvimento de um programa de conservao ex-situ e a continuidade dos estudos de ecologia e gentica de populaes tambm so estratgias recomendadas.

    ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO

    RAN/IBAMA; Glucia Moreira Drummond (Fundao Biodiversitas).

    REFERNCIAS

    27, 37, 53, 70, 74, 75, 95, 97, 98, 99, 115, 116 e 121.

    Autores: Glucia Moreira Drummond e Flvio de Barros Molina

    Caretta caretta (Linnaeus, 1758)

    NOME POPULAR: Tartaruga-cabeuda, Tartaruga-amarela, Tartaruga-meio-pente, Tartaruga-mestia (BA); Careba-dura, Carebadura, Careba-amarela (ES) SINONMIAS: Testudo caretta; Testudo nasicornis; Testudo caouana; Chelonia multiscutata; Testudo corianna; Caouana elongata; Chelonia caretta; Thalassochelys carettaFILO: ChordataCLASSE: ReptiliaORDEM: TestudinesFAMLIA: Cheloniidae STATUS DE AMEAA

    Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: ES (VU); RJ (VU); SP (EN); PR (DD)Anexos da CITES: Anexo I

    CATEGORIAS RECOMENDADASMundial (IUCN, 2007): EN Brasil (Biodiversitas, 2002): VU C1

    INFORMAES GERAIS

    Caretta ca