mamíferos - livro vermelho fauna brasileira

203
MAMÍFEROS

Upload: victorlobo-restos-de-aborto

Post on 06-Aug-2015

246 views

Category:

Education


34 download

TRANSCRIPT

  1. 1. MAMFEROS
  2. 2. | 681 | Mamferos No Brasil, 69 espcies de mamferos esto ocialmente ameaadas (Tabela 1), o que representa 10,6% das 652 espcies nativas de mamferos que ocorrem no pas, segundo a mais recente compilao disponvel (Reis et al., 2006). A grande maioria das espcies ameaadas (40 espcies) est includa na categoria Vulnervel (VU), quase um tero (18 espcies) est na categoria Criticamente em Perigo (CR) e as 11 espcies restantes situam-se na categoria Em Perigo (EN) (Tabela 2), segundo critrios de avaliao adotados para a elaborao da lista em 2002 (Unio Mundial para a Natureza IUCN, 2001a) e publicados em Machado et al. (2005). Nenhuma espcie foi considerada Extinta ou Regionalmente Extinta. As espcies ameaadas esto distribudas em 10 das 12 ordens com representantes no Brasil (Tabela 3). Ou seja, apenas as ordens Perissodactyla e Lagomorpha cada uma delas tem uma espcie no pas no possuem espcies ameaadas (Tabela 3). O nmero de espcies ameaadas est signicativamente correlacionado ao nmero de espcies presentes em cada ordem (Correlao de Spearman, rs = 0,754; n = 12; p = 0,005), como pode ser observado na Figura 1. Em outras palavras, ordens mais ricas em espcies em geral possuem mais espcies ameaadas. H, porm, algumas discrepncias. As ordens mais especiosas no Brasil so Rodentia e Chiroptera; entretanto, as que tm maior pro- poro de espcies ameaadas so Primates e Carnivora (Tabela 3 e Figura 1). Os marsupiais (Didelphimophia) tambm possuem, proporcionalmente, pequeno nmero de espcies ameaadas, embora a ordem seja rica em espcies (apenas uma das 55 espcies brasileiras consta da lista de ameaadas). Isso indica que os primatas e os carnvoros esto proporcionalmente mais ameaados, os primeiros por possurem hbito exclusivamente ores- tal (portanto, baixa tolerncia destruio das orestas) e os ltimos por serem predominantemente predadores, apresentando baixas densidades populacionais e grande necessidade de espao. Alm disso, ambos sofrem com a presso de caa: os primatas sendo procurados como fonte de alimento e os carnvoros pelos prejuzos que, supostamente, causam aos pecuaristas e outros criadores de animais domsticos. Por outro lado, preciso ressaltar que primatas e carnvoros so proporcionalmente mais bem estudados do que roedores, marsupiais, morcegos e, particularmente, cetceos. Portanto, provvel que, medida que o conheci- mento sobre essas outras ordens aumentar, o nmero de espcies ameaadas tambm dever subir. Foram citadas 17 tipos de ameaa como as principais causadoras de declnio das espcies constantes da lista nacional (Figura 2). A maioria absoluta das espcies (88,4%) est ameaada pela destruio de hbitat e pelo desmatamento (73,9%), fatores que so mais intensos no Cerrado, na MataAtlntica e na Caatinga, mas obviamente no esto restritos a esses biomas. Caa e perseguio aparecem a seguir, afetando 53,6% e 23,2% das espcies, respectivamente. Ou seja, mais da metade das espcies est ameaada por uma atividade ilegal, j que a caa Mamferos Ameaados de Extino no Brasil Adriano G. Chiarello1 Ludmilla M. de S. Aguiar2 Rui Cerqueira3 Fabiano R. de Melo4 Flvio H. G. Rodrigues5 Vera Maria F. da Silva6 1 Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais Av. Dom Jos Gaspar, n 500, Corao Eucarstico, CEP. 30.535-901 Belo Horizonte/MG. 2 Embrapa Cerrados BR 020, Km 18, CEP. 73.310-970 Planaltina/DF. 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro Av. Pedro Calmon, n 500, Cidade Universitria, CEP. 21.941-901 Rio de Janeiro/RJ. 4 Universidade Federal de Gois Rua Riachuelo, CEP. 75.804-020 Jata/GO. 5 Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Cincias Biolgicas, Departamento de Biologia Geral Av. Antnio Carlos, n 6.627, Pampulha, CEP. 31270-901 Belo Horizonte/MG. 6 Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia Av. Andr Arajo, 2.936, Aleixo, CEP. 69.060-001 Manaus/AM.
  3. 3. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 682 | proibida no pas, exceto no Rio Grande do Sul, onde controlada pelo IBAMA. Isso demonstra a importncia de se efetivar, nacionalmente, o controle e a vigilncia contra esse tipo de crime. Outro fator relacionado a captura para comrcio ilegal, citada para 7,2% das espcies, como o mico-leo-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) e o cuxi (Chiropotes utahicki), entre outros. Tambm interessante observar que o turismo apontado como ameaa para cinco espcies (7,2% do total). o caso, por exemplo, das baleias jubarte (Megaptera novaeangliae) e franca-do-sul (Eubalaena australis) e do peixe-boi-marinho (Trichechus manatus). Embora seja uma atividade econmica tida como pouco impactante do ponto de vista ecolgico, deve ser considerada e planejada com mais cuidado pelas empresas e organizaes que dela fazem uso ou se beneciam diretamente. exceo das espcies marinhas, que geralmente tm ampla distribuio, 68,9% das espcies ameaadas ocor- rem na Mata Atlntica (42 espcies). Por outro lado, 21 espcies (metade desse total) so amaznicas e um nmero ainda menor tem ocorrncia nos demais biomas terrestres brasileiros (Tabela 4 e Figura 3). Esses totais reetem mais o grau de destruio dos biomas do que sua proporo de rea geogrca e conseqente riqueza de espcies, j que a Amaznia de longe o maior bioma em extenso (6.356.000 km) e tambm o mais rico em espcies (Tabela 4) (Fonseca et al., 1999). precisamente por manter grande proporo ainda intacta que a Amaznia, juntamente com o Pantanal, foi considerada como Wilderness Areas, ou grandes reas selvagens do mundo (Mittermeier et al., 2003). Por sua vez, a Mata Atlntica o terceiro bioma em extenso no Brasil (1.273,000 km), atrs da Amaznia e do Cerrado (2.053.000 km) (Fonseca et al., 1999), apresentando a segun- da maior riqueza de espcies (Tabela 4). O grau de devastao, porm, muito maior na Mata Atlntica, j que restam apenas cerca de 8% de sua rea original, enquanto o valor calculado para a Amaznia de aproximada- mente 80% (Mittermeier et al., 2003). Tambm importante destacar que o nvel de conhecimento sobre a biodiversidade proporcionalmente bem melhor para a Mata Atlntica do que para os demais biomas (Lewinsohn & Prado, 2002), o que ajuda a explicar sua grande proporo de espcies ameaadas. O Pantanal e a Caatinga so comparativamente pouco estudados. Entretanto, enquanto o Pantanal est relativamente intacto, considerando que mantm 80% de sua rea original (Mittermeier et al., 2003), o grau de degradao da Caatinga bem maior. Estima-se que 45,3% do bioma Ca- atinga esteja degradado por agricultura ou aes antrpicas (Castelletti et al., 2003). Adicionalmente, estudos recentes indicam que a Caatinga muito mais rica em espcies do que se acreditava. Oliveira et al. (2003) citam, por exemplo, 143 espcies de mamferos para este bioma, 41 espcies a mais do que se conhecia anteriormente (Fonseca et al., 1999). O grau de endemismo tambm elevado, com pelo menos 12 espcies de mamferos restritas Caatinga (Oliveira et al., 2003). O nvel de desconhecimento sobre a mastofauna brasileira ilustrado pela lista composta por nada menos do que 110 espcies consideradas Decientes em Dados (DD) (Tabela 5), o que representa mais da metade (55,3%) do total de espcies avaliadas (n= 199) (Tabela 2). Como no caso das espcies ameaadas, a proporo das que se encontram na categoria Deciente em Dados segue estreitamente a riqueza de cada ordem (Correla- o de Spearman, rs = 0,828; n = 11; p = 0,002). Proporcionalmente, porm, h mais espcies Decientes em Dados de mamferos marinhos (Cetcea: 26,4% da lista DD) do que de roedores (11,8%) (Figura 4), que so quase cinco vezes mais ricos em espcies (Tabela 3). Quase metade das espcies Decientes em Dados ocorre na Amaznia (especialmente morcegos, primatas e boa parte dos marsupiais), pouco mais de um quarto so marinhas e cerca de um quinto ocorre na Mata Atlntica (Tabela 6). Considerando apenas as espcies terrestres (n = 81), a maioria absoluta (76,5%) constituda de espcies endmicas a um dos biomas citados (Tabela 6). Isso se explica, pois espcies endmicas apresentam distribuio geogrca mais restrita do que as no endmi- cas e, portanto, so potencialmente mais ameaadas do que estas. Numericamente, a lista atual apresenta apenas trs espcies a mais do que a lista anterior, de 1989 (Bernardes et al., 1990), que continha 66 espcies de mamferos (Tabela 7). Entretanto, as mudanas foram bem maiores do que esses nmeros indicam, j que 24 espcies saram e outras 27 foram adicionadas lista de 1989. O nmero de pequenos mamferos, por exemplo, dobrou, sendo que a lista atual apresenta pela primeira vez um marsupial ameaado, a cuca amaznica (Caluromysiops irrupta). O nmero de mamferos aquticos tambm praticamente dobrou na atual lista (saltou de cinco para nove), basicamente pela incluso de quatro espcies adicionais de baleias. Entre os primatas, dez espcies saram da lista anterior e outras dez entraram. preciso ressaltar que a maior parte das espcies retiradas da lista anterior no melhorou sua condio de conservao nesse perodo. Outros dois fatores foram mais importantes para essas mudanas. Em primeiro lugar, a presente lista seguiu rigidamente os mais recentes critrios da IUCN, que esto mais restritivos no que se refere incluso de espcies nas trs categorias de ameaa. Em segundo, porque o grau de conhecimento sobre vrias espcies
  4. 4. | 683 | Mamferos melhorou, permitindo uma anlise mais acurada de seu real status conservacionista. No geral, o aumento do conhecimento sobre determinadas espcies resultou na descoberta de novas populaes ou na ampliao de sua rea de distribuio geogrca, diminuindo, como conseqncia, seu grau de ameaa. Isso se aplicou, por exem- plo, a algumas espcies de primatas, como o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), o macaco-prego (Cebus nigritus) e o guig (Callicebus nigrifrons), alm de algumas espcies de outras ordens, como o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), a anta (Tapirus terrestris) e a lontra (Lutra longicaudis), que constavam da lista de 1989, mas no foram includas na atual. Assim, espcies com ampla distribuio ou que ocorrem em vrios biomas, mesmo na Amaznia, dicilmente se qualicaram, segundo os atuais critrios da IUCN, para incluso em uma das categorias de ameaa. H, porm, duas excees que merecem destaque: a ona-parda (Puma concolor) e a jaguatirica (Leopardus pardalis). Como espcies, esses txons no esto ameaados, j que ocorrem em praticamente todo o territrio nacional, inclusive na Amaznia. Entretanto, duas subespcies extra-amaznicas de ona-parda (Puma concolor capricornensis e P. concolor greeni) e uma subespcie de jaguatirica (Leopardus pardalis mitis) foram includas na lista nacional. Isso se explica porque a distribuio geogrca dessas subespcies est restrita a regies intensamente degradadas ou com alto grau de perturbao antrpica. Desse modo, importante ressaltar que, mesmo que no conste da lista nacional, uma espcie pode estar ame- aada regionalmente. At o momento, seis Estados brasileiros j produziram suas listas de espcies ameaa- das (Rio Grande do Sul, Paran, So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Esprito Santo). Ao analisar essas listas, nota-se, por exemplo, que 53 espcies ameaadas em um ou mais Estados no constam da lista nacional (Tabela 8). Algumas delas foram includas nas listas dos seis Estados, como a anta (Tapirus terrestris), a quei- xada (Tayassu pecari) e o caititu (Pecari tajacu). Outras incluem a cuca-dgua (Chironectes minimus), o bugio-ruivo (Alouatta guariba), o morcego (Chiroderma doriae), o veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus) e a paca (Cuniculus paca), que esto listadas em quatro desses Estados. Essa justamente uma das limitaes da lista nacional, j que pode induzir alguns leitores menos atentos a erros de generalizao. fundamental, portanto, que todos os Estados brasileiros produzam o quanto antes suas listas, pois assim estaro dando um passo importante para a conservao daquelas espcies que podem estar ameaadas regionalmente, mas no nacionalmente. A lista nacional tambm no contempla um total de 31 espcies que ocorrem no Brasil e que constam da lista de espcies de mamferos mundialmente ameaadas (IUCN, 2006) (Tabela 9). Os pequenos mamferos e os morcegos predominam nessa lista, com 17 e nove espcies, respectivamente, sendo seguidos por cinco espcies de outras ordens. Quase metade das espcies da lista da IUCN (2006) ocorre na Amaznia (45,2%), 12 na Mata Atlntica (38,7%), nove no Cerrado (29,0%) e outras seis nos Campos Sulinos ou Pantanal (19,4%). Como espcies que esto ameaadas internacionalmente podem no estar ameaadas no Brasil, j que, por ocorre- rem no pas, tm distribuio geogrca (e, conseqentemente, tamanho populacional) igual ou menor que sua distribuio mundial? Esse o caso, por exemplo, da anta (Tapirus terrestris), da cutia (Dasyprocta azarae) e da pacarana (Dinomys branickii), entre outras da lista, cujas distribuies geogrcas no esto restritas ao territrio brasileiro. A principal razo para tais discrepncias que as avaliaes no foram efetuadas no mesmo momento e pelas mesmas equipes. A lista de espcies ameaadas no Brasil (Machado et al., 2005) foi nalizada em 2003 e 2004 (homologada pelas Instrues Normativas nmero 3, de 27 de maio de 2003, e nmero 5, de 21 de maio de 2004). De l para c, a IUCN realizou atualizaes da lista mundial, incluindo uma avaliao global dos mamferos (Global Mammal Assessment GMA). Em outubro de 2005, o GMA realizou um workshop no Brasil no qual foram avaliados os marsupiais, morcegos e roedores existentes no territrio nacional e pases vi- zinhos (Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Paraguai e Uruguai). Espcies de outras ordens ou grupos j foram ou esto sendo avaliadas de maneira semelhante, como ocorreu com Pilosa e Cingulata (antiga ordem Xenarthra, que engloba preguias, tamandus e tatus), em workshop ocorrido em Belo Horizonte, em dezembro de 2004. Organizado pela Conservao Internacional, o workshop reuniu vrios pesquisadores do Edentate Specialist Group/Species Survival Commission / IUCN (Fonseca & Aguiar, 2004). Embora os critrios e categorias de ameaa usados tenham sido os mesmos na avaliao brasileira e na IUCN, conjuntos mais atualizados de dados estavam disponveis aos avaliadores da lista da IUCN (2006), j que esta foi revisada posteriormente brasileira. Adicionalmente, outras discrepncias entre as listas podem ter sido originadas, considerando o grau de incerteza ou de subjetividade envolvido nas avaliaes do status conservacionista de determinadas espcies, o que pode ter levado comits formados por diferentes grupos de pesquisadores a avaliaes ligeiramente diversas. Para diminuir esse problema, a IUCN vem adotando, em suas avaliaes mundiais, um nmero cada vez maior de pesquisadores e de especialistas, procurando incluir a participao do maior nmero possvel de especialistas
  5. 5. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 684 | com experincia regional. A tendncia, portanto, que as avaliaes nacionais e internacionais se tornem mais representativas e homogneas quanto a regras e critrios. Nos prximos pargrafos, so fornecidas informaes mais especcas de cada um dos grupos ou ordens de mamferos constantes da lista nacional. Pequenos mamferos (Didelphimorphia e Rodentia) Usualmente, dene-se como pequeno mamfero aquele com peso inferior a cinco quilos. No entanto, restringi- mos o termo apenas aos marsupiais e roedores, considerados de pequeno porte. Pequenos mamferos so animais que podem ter sua ecologia estudada com maior facilidade, pois usual que possamos captur-los em grande nmero. Por outro lado, eles so noturnos e de difcil avistamento e, caso no sejam capturados, seu estudo se torna extremamente difcil (Barret & Peles, 1999). Dois problemas derivam das diculdades em captura. Em primeiro lugar, a coleta em si. Sabemos que o nmero de exemplares coletados insuciente para o conheci- mento efetivo das espcies de mamferos do Brasil, j que a maior parte do territrio nacional foi ainda pouco estudada. Mesmo nas regies em que temos boas colees, as coletas, em geral, no foram feitas visando esse tipo de conhecimento e sim para outros estudos, principalmente os que dizem respeito sade pblica. Pode- mos entender a diculdade de conhecimento derivada da pouca representatividade das nossas colees quando vemos que animais comuns, como os gambs e cassacos do gnero Didelphis, por exemplo, s recentemente tiveram suas espcies claramente denidas (Cerqueira & Lemos, 2000; Lemos & Cerqueira, 2002). Assim, uma avaliao mais efetiva das ameaas depende da ampliao do inventrio, considerado como parte fundamental para se efetivar um monitoramento da situao ambiental no pas (Cerqueira, 1997; 2001). O segundo conjunto de problemas resulta do pequeno nmero de estudos ecolgicos, que se tornam mais complicadas quando tratamos de txons que so de difcil captura. Um exemplo so os marsupiais do gnero Monodelphis, que tem 13 (Fonseca et al., 1996) ou 15 espcies (Rossi et al., 2006) com ocorrncia no Brasil. exceo de Monodelphis domestica (Bergallo & Cerqueira, 1994), o conhecimento sobre o gnero pequeno, pois apenas esta espcie tem sido capturada com alguma facilidade. Ainda assim, mesmo a taxonomia desses animais ainda incerta. Tais consideraes so importantes, pois, em muitos casos, a aplicao dos critrios da IUCN leva a considerar que vrios pequenos mamferos podem estar em risco, mas que os dados so insucientes para uma categoriza- o. Como j mencionado, desde a lista anterior o aumento do nmero de espcies na lista brasileira deveu-se, sobretudo, ao avano do conhecimento, sem que isso signique necessariamente uma deteriorao ambiental que afete esses animais em particular. Uma nica espcie foi retirada da lista, e tambm neste caso o aumento do nmero de coletas no pas determinou a reviso de seu status. Nas listas estaduais, constam 12 espcies que no fazem parte da lista nacional (Tabela 8), sendo que, em alguns casos, a raridade ou ameaa restrita a um s Estado. Curiosamente, apenas uma espcie da lista nacional consta de uma lista estadual. J a lista da IUCN (2006) maior, com 17 espcies no includas na lista nacional. Os critrios de incluso na lista nacional foram muito rigorosos, tendo em vista que todos os cientistas especialistas em pequenos mamferos foram consultados. Vrios deles participaram tambm da elaborao das listas estaduais. Dessa forma, a lista nacional espelha mais o estado da arte sobre as ameaas do que a lista da IUCN (veja comentrios acima sobre discrepncias entre as listas). Os pequenos mamferos tm papel importante nas cadeias alimentares e na disperso de sementes. Muitos deles esto envolvidos em problemas de sade pblica como hospedeiros de parasitas. Em alguns casos, podem ser capazes de manter a parasitose mesmo sem a presena humana, como a esquistossomose (DAndrea et al., 2000) e as leishmanioses. Mais recentemente, a participao dos pequenos mamferos nos ciclos de zoonoses emergen- tes tem sido compreendida de forma mais clara. Os hantavrus, por exemplo, provavelmente tm nos roedores os seus principais reservatrios (Oliveira et al., 2004). Todos esses problemas so agravados em nosso pas pelo pouco conhecimento que ainda temos desses animais. Uma das diculdades dos especialistas na avaliao das ameaas aos pequenos mamferos que, uma vez que so pouco coletados e estudados, tem sido difcil determinar as causas que podem indicar sua raridade e amea- as de extino. Em geral, suspeita-se que as alteraes de hbitat sejam as principais responsveis. No entanto, ainda no se tem claramente estabelecida, para esses mamferos, a situao concreta que os levou condio
  6. 6. | 685 | Mamferos de ameaados, como tem sido feito com outros animais, como o mico-leo-dourado, Leontopithecus rosalia (Cerqueira et al., 1998). Vrias das espcies so orestais, muitas delas arborcolas. Sendo o desorestamento e a fragmentao um dos principais problemas ambientais do pas (Cerqueira et al., 2003), essa alterao con- siderada a maior ameaa continuidade dessas espcies. No entanto, importante ressaltar que algumas so do Cerrado, bioma tambm submetido a profundas transformaes.Aexpanso das reas protegidas a recomenda- o imediata, mas os padres de uso do solo tm tambm sua contribuio (Fiszon et al., 2003). Esse o aspecto mais difcil de ser controlado, devendo ser entendido e tratado de forma cada vez mais criteriosa. Morcegos (Chiroptera) No Plano de Ao para Microchiroptera, elaborado pelo Grupo de Especialistas em Chiroptera da IUCN (CSG) Species Survival Commission em 2001 (IUCN, 2001b), constam como ameaadas no mundo 184 espcies de morcegos, 71 delas na Amrica do Sul e 14 no Brasil. Na atual lista de espcies ameaadas do Brasil, cinco dessas espcies foram consideradas ameaadas na categoria Vulnervel, segundo Machado et al. (2005): Platyrrhinus recinus, Lonchophylla bokermanni, Lonchophylla dekeyseri, Lasiurus ebenus e Myotis ruber. Outras espcies, como Histiotus alienus, podem estar ameaadas, mas nada se sabe sobre coletas ou estimativas de abundncia e distribuio, para que possam ser classicadas em um dos critrios de ameaa. Esse um caso tpico de espcie Deciente em Dados, situao da maioria das espcies de morcegos que ocorrem no Brasil, pois no existem dados quantitativos de abundncia e distribuio. Alm da perseguio e do extermnio constante, tendo em vista sua associao com o vrus da raiva, a alterao de hbitat uma das principais ameaas aos morcegos. Alm disso, biomas como o Cerrado e a Amaznia esto sofrendo rpida substituio de sua vegetao nativa por reas para pasto e agricultura. Nessas reas, observa-se um ciclo de extermnio, primeiro pelo desmatamento e depois pela ameaa ao gado. Esses biomas, assim como o Pantanal e a Caatinga, so ainda pouco conhecidos em relao sua diversidade de espcies. No Brasil, at o momento, dependendo do autor consultado, existem cerca de 165 espcies de quirpteros (164, segundo Reis et al., 2006). Desde a publicao da primeira lista de espcies de morcegos ameaadas no Brasil (Aguiar & Taddei, 1995; Aguiar et al., 1998), houve incremento do nmero de pesquisadores atuantes no pas. Com isso, vrias espcies novas esto sendo descritas e certamente muitas ainda sero acrescentadas, medida que o nmero de pesquisas com esse grupo aumentar. Desde a publicao da primeira lista de espcies ameaadas de morcegos, mudanas extremamente favorveis s espcies desse grupo j ocorreram. Chiroderma doriae, por exemplo, que era conhecida como uma espcie endmica ao Sudeste brasileiro e, com os critrios utilizados na poca, foi considerada ameaada, j foi retirada da lista nacional, embora tenha sido considerada endmica e ameaada no Microchiroptera Action Plan (IUCN, 2001b). Sabe-se hoje que a espcie ocorre em mais de um bioma brasileiro (Cerrado e Mata Atlntica), estenden- do-se at o Paraguai. A presena na lista gerou maior conhecimento sobre a espcie, que ocorre at mesmo em vrias Unidades de Conservao. Claro que essa no a funo primordial de uma lista de espcies ameaadas, mas importante ressaltar que ela reete momentos e que as espcies e as ameaas podem mudar, preferencial- mente que as espcies possam mudar de ameaadas para no ameaadas. A lista no esttica. Portanto, embora muitos aspectos da histria natural, da biologia e da distribuio dos animais caream de estudos, as espcies indicadas como ameaadas no Brasil reetem o conhecimento atual dos pesquisadores consultados. Primatas (Primates) Dos 624 taxa de primatas existentes no mundo (Hilton-Taylor et al., 2004), 133 espcies e subespcies vivem em territrio brasileiro, representando 21% de todos os taxa que ocorrem no planeta. Desse nmero expressivo de espcies, 26 esto ameaadas nacionalmente, o que representa cerca de um tero (26,5%) das espcies com ocorrncia no Brasil (98 primatas, segundo Reis et al., 2006). As maiores mudanas ocorridas em relao lista de 1989 (Bernardes et al., 1990) resumem-se retirada de 11 espcies da lista anterior e adio de dez novos txons na lista atual (Rylands & Chiarello, 2003). As principais razes por trs dessas mudanas foram: maior rigor na aplicao dos critrios da Unio Mundial para a Natureza IUCN, melhoria do conhecimento sobre algumas espcies e descrio de novas espcies, novos arranjos taxonmicos, alm da prpria ampliao dos esforos conservacionistas (Rylands & Chiarello, 2003).
  7. 7. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 686 | Quase dois teros dos primatas ameaados ocorrem na Mata Atlntica (15 espcies), enquanto as 11 espcies restantes so amaznicas, o que mostra o quanto a perda de habitats muito mais acentuada na Mata Atlntica do que na Amaznia representa em termos de ameaa de extino aos macacos brasileiros. Entretanto, entre as espcies amaznicas, quase metade (cinco espcies) tem distribuio restrita aos Estados do chamado arco do desenvolvimento (Par, Mato Grosso e Maranho), nos quais a presso antrpica mais intensa. O crescimento da cidade de Manaus, por exemplo, representa, em ltima instncia, a principal ameaa ao sagi-de-duas-cores (Saguinus bicolor). Isso indica que a drstica transformao da paisagem desta que ainda a maior oresta tropical do planeta repete, de forma espantosamente semelhante, o ocorrido no passado com a Mata Atlntica. Outro fator que contribui expressivamente na extino de populaes de primatas (e de outros vertebrados de mdio e grande porte) a caa ilegal (Robinson et al., 1999), especialmente sobre populaes pequenas que se encontram isoladas em fragmentos orestais (realidade de todas as regies de Mata Atlntica no Brasil). A caa, muitas vezes esportiva, mas outras tantas de subsistncia, principalmente na Amaznia, elimina populaes in- teiras em curto intervalo de tempo, especialmente de primatas de maior porte, como os guaribas (Alouatta spp.), os macacos-aranha (Ateles spp.), os barrigudos (Lagothrix spp.) e os muriquis (Brachyteles spp.) (Mittermeier & Konstant, 1990; Auricchio, 1997; Cosenza & Melo, 1998; Chapman & Peres, 2001; Peres, 2001). Iniciativas governamentais importantes, seja nas esferas estaduais ou em mbito nacional, tm produzido resul- tados relevantes, especialmente com a criao de novas Unidades de Conservao (UCs) e a implantao de outras que de fato abrigam importantes populaes de primatas ameaados de extino. Essa iniciativa gover- namental, seguida de perto por iniciativas do poder privado (como a criao de Reservas Particulares do Patri- mnio Natural RPPNs), tem garantido a salvaguarda de populaes signicativas de espcies Criticamente em Perigo, como o caso do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus). Outras espcies ameaadas, como os micos-lees (Leontopithecus caissara, L. chrysopygus e L. rosalia), tm recebido apoio fundamental de or- ganizaes no-governamentais, como o Instituto de Pesquisas Ecolgicas (IP), no Estado de So Paulo, e a Associao Mico-leo-dourado, no Rio de Janeiro. Alm disso, vrios estudos sobre distribuio geogrca, hbitos alimentares e outros estudos ecolgicos de longa durao realizados com as espcies mais ameaadas tm proporcionado grande avano no conhecimento biolgico de cada uma, o que permite a aplicao de aes conservacionistas mais precisas e ecazes, como a translocao de animais de uma rea para outra, a criao em cativeiro para reproduo e reintroduo futura, entre outras aes importantes. Trabalhos constantes de educao ambiental nas regies de ocorrncia desses primatas e projetos de gerao de renda para as populaes carentes, de um modo geral, minimizam os impactos fauna e ora locais, viabilizando a permanncia dessas populaes em longo prazo. Carnvoros (Carnivora) No Brasil, existem 26 espcies terrestres da ordem Carnivora (29, segundo a compilao de Reis et al., 2006), das quais nove possuem populaes listadas como ameaadas na lista ocial da fauna brasileira ameaada de extino, todas na categoria Vulnervel (Machado et al., 2005). Dois txons foram listados como ameaados apenas no nvel de subespcie: a suuarana (Puma concolor), que como espcie foi classicada como Quase Ameaada (Machado et al., 2005), mas que, fora da bacia amaznica, teve suas populaes representadas pelas subespcies P. c. capricornensis e P. c. greeni, consideradas ameaadas; e a jaguatirica ou gato-maracaj-verda- deiro (Leopardus pardalis), que como espcie cou fora da lista, mas, assim como a primeira, teve suas popu- laes extra-amaznicas listadas a partir da subespcie L. p. mitis. Isso se deve ao fato de ambas apresentarem boas populaes na regio amaznica do pas, mas no nas reas de ocorrncia das duas subespcies. Alm das espcies relacionadas na lista ocial, outras tm sido consideradas localmente ameaadas pelas listas estaduais, com destaque para o gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), que aparece na lista do Rio Grande do Sul como Vulnervel. Sendo este o nico Estado de ocorrncia da espcie no Brasil, o mesmo status seria esperado para a lista brasileira. Porm, a lista gacha foi publicada posteriormente nacional e provvel que seu status deva ser alterado numa prxima reviso da lista nacional. O gato-mourisco (Puma yagouaroundi = Herpailurus yagouaroundi), tambm considerado no Rio Grande do Sul como Vulnervel e em So Paulo e Paran como Deciente em Dados, est fora da lista nacional. Das demais espcies de carnvoros listados anteriormente como ameaados de extino, considerando os critrios da IUCN que nortearam o enquadramento das espcies em distintas categorias de ameaa, mudaram de categoria a lontra (Lontra longicaudis) e o gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), correntemente classicadas como Quase Ameaadas.
  8. 8. | 687 | Mamferos Os carnvoros so importantes para os ecossistemas naturais e para a conservao da biodiversidade em geral. Por serem predadores, podem regular as populaes de suas presas e estruturar as comunidades naturais com base na predao, sendo por isso consideradas espcies-chave. Como necessitam de grandes reas para manter populaes viveis, esforos para conservar reas sucientes conservao de carnvoros acabam por preservar tambm as outras espcies da comunidade. Nesse caso, os carnvoros estariam exercendo papel de espcies guarda-chuva. So tambm animais carismticos, o que permite sua utilizao como smbolos em projetos de conservao, sendo considerados espcies-bandeira. Visto que so animais que ocupam o topo da pirmide alimentar, precisando de grandes reas para obter a quantidade de presas necessrias sua subsistncia, a destruio, fragmentao e alterao de habitats representam a principal causa de ameaa para todas as espcies deste grupo. O abate ou retirada de indivduos da natureza , atualmente, a segunda principal causa de ameaa para as espcies de carnvoros, seja para animais de estimao, como os pequenos gatos, ou em retaliao predao de animais domsticos, tendo como principais alvos a jaguatirica, o lobo-guar, as onas pintada e parda e at mesmo os pequenos felinos. A caa e a conseqente reduo na disponibilidade de presas naturais so tambm ameaas para o cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus), a jaguatirica e as duas onas, enquanto as doenas so apontadas como potencial causa de ameaa para o lobo-guar e o cachorro-do-mato-vinagre, embora essa ameaa possa aigir tambm outras espcies. Em dcadas anteriores, a caa para o comrcio de peles (juntamente com a perda de hbitat) foi o principal fator responsvel pela depauperao e conseqente ameaa s populaes naturais dos carnvoros. Os atropelamentos tambm afetam populaes de vrias espcies, em especial as de lobo-guar e do gato-palheiro, enquanto a poluio uma das principais ameaas correntes para a ariranha. Para mitigar essas ameaas, vrias aes especcas podem ser efetivadas, mas as principais dizem respeito proteo de habitats, com a criao de Unidades de Conservao, alm da efetiva proteo daquelas j existentes, procurando sempre promover a conectividade entre habitats protegidos. Dentro da perspectiva de crescente destruio e fragmentao de ambientes naturais e de seus requerimentos de rea, a conectividade entre populaes fundamental para a conservao de carnvoros. A regio amaznica, por ter ainda grandes reas conservadas, garante a conservao da maioria das espcies de carnvoros. Por esse motivo, as espcies ameaadas da lista receberam apenas o status de Vulnervel. Fora da ba- cia amaznica, vrias espcies tm status de conservao ainda pior. A ona-pintada, por exemplo, receberia sta- tus de Criticamente em Perigo ou Em Perigo fora da Amaznia, vericando-se o mesmo para outras espcies. Trs carnvoros foram listados como Decientes em Dados: o cachorro-do-mato-de-orelha-curta (Atelocynus microtis), a doninha-amaznica (Mustela africana) e o gog-de-sola (Bassaricyon gabbii). As trs espcies ocorrem na regio amaznica, sendo que as duas primeiras so supostamente raras e no se tem certeza nem mesmo de suas reas de distribuio mais precisas. Informaes recentes, mas limitadas, sugerem que o gog- de-sola possa ser localmente abundante em algumas localidades e que suas populaes estejam supostamente fora de risco. A despeito de sua raridade inerente, Atelocynus microtis e Mustela africana foram aqui includas apenas pela falta de informaes para enquadr-las adequadamente nas categorias de ameaa adotadas para a reviso: Vulnervel, Em Perigo ou Criticamente em Perigo. Ambas certamente devero passar para uma dessas categorias de ameaa, assim que novos dados se tornem disponveis. Entretanto, para todas elas, fundamental a aquisio de dados ecolgicos, de distribuio e de abundncia, para que seja possvel enquadr-las ou no, satisfatoriamente, dentro de alguma categoria de ameaa. Algumas espcies j mudaram de nome em relao lista ocial: Oncifelis colocolo (atualmente Leopardus braccatus) e Herpailurus yagouaroundi (atualmente Puma yagouaroundi), ambas segundo Wozencraft (2006). Demais mamferos terrestres (Cingulata, Pilosa, Artiodactyla e Rodentia) Sete outras espcies de mamferos de mdio e grande porte no includas nos grupos acima tambm constam da lista nacional. Esse grupo inclui dois Cingulata (= tatus), dois Pilosa (tamandus e preguias), dois Artiodactyla e um Rodentia. Os dois Cingulata ameaados so o tatu-canastra (Priodontes maximus) e o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus); os dois Pilosa so o tamandu-bandeira (Myrmecophaga tridacyla) e a preguia-de-coleira (Bradypus torquatus), todos classicados na categoria Vulnervel. Ou seja, um quinto (21%) das 19 espcies brasileiras da magna ordem Xenarthra encontra-se em risco de extino. Trs delas tambm constam como ameaadas na lista atual da IUCN (2006): o tatu-bola, o tatu-canastra e a preguia-de-coleira. Os dois tatus esto na mesma categoria (Vulnervel) nas duas listas, mas a preguia-de-coleira est na categoria Em Perigo na lista da IUCN. Essa discrepncia em relao lista nacional, como em outros exemplos j citados, deve-se ao fato de a reviso
  9. 9. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 688 | da lista da IUCN ter ocorrido posteriormente da lista nacional, durante o workshop do Edentate Specialist Group, realizado em Belo Horizonte em dezembro de 2004 (Fonseca & Aguiar, 2004). Entre a divulgao da lista nacional (maio de 2003) e o mencionado workshop, dados importantes sobre a conservao desta espcie tornaram-se disponveis (Lara-Ruiz, 2004; Lara-Ruiz & Chiarello, 2005), o que possibilitou aos pesquisadores concluir que a preguia-de-coleira estava mais ameaada do que se acreditava anteriormente. Outra discrepncia entre as duas listas refere-se ao tamandu-bandeira, que consta da lista nacional mas no na lista da IUCN. Aps o workshop, o status internacional dessa espcie mudou para Quase Ameaada. Comparan- do a lista nacional atual com a anterior (de 1989), no houve mudanas no grupo dos Xenarthra, pois as quatro espcies atualmente listadas tambm constavam da lista de 1989 (Bernardes et al., 1990). As principais ameaas ao grupo so a destruio de habitats Mata Atlntica, no caso da preguia-de-coleira (Chiarello et al., 2004), e Cerrado para as demais espcies e a caa, que afeta mais intensamente os tatus. O Brasil possui nove espcies nativas da ordem Artiodactyla (sete veados e dois porcos-do-mato), duas das quais (22,2%) se encontram ameaadas nacionalmente: o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) e o veado- boror-do-sul (Mazama nana). Quanto s mudanas ocorridas em relao lista de 1989, duas espcies foram retiradas, o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) e o cariacu (Odocoileus virginianus), enquanto uma foi acrescida (M. nana). O veado-campeiro foi retirado em funo do melhor conhecimento sobre estimativas de tamanho populacional, que indicam uma situao menos dramtica do que se acreditava anteriormente. Regio- nalmente, porm, a situao outra, j que a espcie se encontra ocialmente ameaada nas listas de quatro Es- tados do Sul e Sudeste do Brasil (RG, PR, SP e MG - Tabela 8). Por sua vez, o cariacu foi retirado dado o pouco conhecimento sobre a espcie no Brasil, apesar de ser um dos cervdeos mais bem estudadas na Amrica do Norte. Recentemente, foi descrita uma nova espcie de veado para o Sudeste do Brasil, o veado boror-de-So Paulo (Mazama bororo), que muito provavelmente est ameaado, j que tem distribuio restrita Mata Atln- tica localizada entre o sul de So Paulo e norte do Paran (Duarte & Jorge, 2003). Essa espcie no foi includa na atual lista nacional, pois sua descrio foi publicada posteriormente sua preparao e publicao (Duarte & Jorge, 2003) e tambm pela carncia de informaes mais detalhadas na lista da IUCN (2006), ela est listada como Deciente em Dados (DD). As principais ameaas aos veados so a destruio do hbitat (reas de vrzea e banhado, para o cervo-do-pantanal, e reas de Mata Atlntica do sul do pas, para o veado-boror-do-sul) e a caa, tanto esportiva como de subsistncia, j que esses animais esto entre as presas mais procuradas por caa- dores. Doenas potencialmente transmitidas por animais domsticos (gado bovino, principalmente) representam outra ameaa importante. Por m, entre os roedores de mdio e grande porte, grupo que rene cerca de 18 espcies (capivara, rato-do- banhado, pacarana, paca, cutias, cutiaras e ourios), apenas uma consta da lista nacional. Trata-se do ourio- preto (Chaetomys subspinosus), um gnero monotpico e endmico da Mata Atlntica brasileira. O ourio-preto est classicado como Vulnervel, mesma categoria em que se encontra na lista da IUCN (2006). uma espcie arborcola e, ao que tudo indica, predominantemente folvora (Chiarello et al., 1997; Lima, 2006). As principais ameaas so a perda de hbitat (Mata Atlntica, de Sergipe ao norte do Rio de Janeiro) e o isolamento das popu- laes, j que a espcie parece ser dependente de ambientes orestados. A caa outra ameaa importante, pois a espcie abatida para consumo sempre que encontrada, principalmente na Bahia e no Esprito Santo, onde se encontram as maiores populaes remanescentes. Mamferos aquticos (Cetacea, Sirenia e Carnivora) A extensa costa e a vasta rede uvial existentes no Brasil abrigam grande nmero de mamferos aquticos das ordens: Sirenia, os peixes-bois; Cetacea, que inclui as baleias e os golnhos; e Carnvora, com os musteldeos aquticos (lontra e ariranha) e os pinpedes (lobo e leo-marinho). Esses mamferos esto em direta competio com o homem em seus requerimentos bsicos de sobrevivncia, como alimento, gua e rea de vida. Durante sculos, as duas espcies de peixes-bois foram intensamente exploradas em guas brasileiras e at muito recen- temente ainda eram caadas no litoral nordestino. Relatos da explorao de peixe-boi datam de 1560, quando o Padre Anchieta fez suas primeiras observaes sobre a espcie marinha. Em 1658, quase um sculo depois, Padre Vieira registrou o envio de mais de 20 navios de carne e gordura de peixe-boi-da-amaznia, a cada ano, naquela dcada.
  10. 10. | 689 | Mamferos No Brasil Colnia, a partir do sculo XVII, as baleias tambm sofreram intensa explorao ao longo da costa brasileira, desde a Bahia at Santa Catarina. Durante o sculo XX, at incio da dcada de 1970, houve ainda caa artesanal de baleia-franca em Santa Catarina. A caa industrial ocorreu principalmente na Paraba, entre 1911 e 1986, em Costinha. No Rio de Janeiro, houve explorao de baleias no incio da dcada 1960, a partir de uma estao costeira em Cabo Frio. Documentos histricos, assim como marcas deixadas em inmeras lo- calidades, comprovam que a explorao desses mamferos aquticos era intensa. As conseqncias dessa caa indiscriminada foram previstas em 1755 por Jos Bonifcio de Andrada e Silva, em Memrias sobre a Pesca das Baleias e Extrao do seu Azeite: com algumas reexes a respeito das nossas pescarias. Ele aponta a reduo do nmero de peixes-bois e da produo de carne e banha, quando comparada aos registros de Padre Vieira, alertando sobre as futuras conseqncias da caa indiscriminada de baleias fmeas e seus baleotes. Mesmo protegidos por lei nas ltimas dcadas, os mamferos aquticos, em geral, ainda so alvo de intensa atividade antrpica. As maiores ameaas s baleias so o retorno da caa comercial em guas internacionais, se a moratria for revogada, seguida dos efeitos da prospeco ssmica nas rotas de migrao e nas reas de repro- duo e da coliso com embarcaes, sem falar na poluio em geral, que degrada os ambientes marinhos. Os pequenos cetceos e os peixes-bois, alm da degradao ambiental, tm como maior ameaa sua conservao a captura incidental e intencional em redes de pesca. So conhecidas atualmente 84 espcies de cetceos no mundo: 14 misticetos (baleias de barbatanas) e 70 odon- tocetos (cetceos com dentes). Oito espcies de misticetos e 44 de odontocetos ocorrem em guas jurisdicionais brasileiras (oito misticetos e 33 odontocetos, segundo a lista de Reis et al., 2006). Dos oito misticetos, cinco esto includos na Lista da Fauna Brasileira Ameaada de Extino: baleias-sei e jubarte, classicadas na cate- goria Vulnervel; baleias franca e n, na categoria Em Perigo; baleia-azul, na categoria Criticamente em Perigo (Machado et al., 2005). No entanto, desde o estabelecimento da moratria, com a proibio da caa comercial, em 1981, essas espcies passaram a ser totalmente protegidas. Entre os odontocetos, o cachalote foi classicado na categoria Vulnervel, em funo da intensa caa, que durou mais de trs sculos, e a toninha, na categoria Em Perigo, pois vem sofrendo capturas incidentais ao longo de sua rea de distribuio h vrias dcadas, embora no tenha sido objeto de caa comercial. A limitada informao da histria natural e demogrca de vrias espcies de cetceos levou incluso de 12 golnhos marinhos e dois uviais nas categorias Deciente em Dados e Quase Ameaada, respectivamente. O boto-vermelho ou boto-da-amaznia, anteriormente listado como Vulnervel no Plano de Ao dos Mamferos Aquticos do Brasil II, teve sua categoria alterada, por se acreditar que as causas que justicaram a sua incluso como Vulnervel tinham sido reduzidas ou eliminadas. No entanto, uma nova ameaa espcie surgiu no incio deste milnio, na Amaznia, onde o boto-vermelho passou a ser deliberadamente caado e morto em redes de pesca, para ser utilizado como isca na pesca de uma espcie de peixe-liso. Se essa nova atividade no for contida rapidamente, a espcie poder sofrer um colapso. A outra espcie o boto-tucuxi, nico delndeo essencial- mente uvial. Recente estudo molecular constatou que esse golnho se encontra isolado da espcie marinha h mais de dois milhes de anos (Cunha et al., 2005). As duas espcies da ordem Sirenia que existem no Brasil foram includas na Lista da Fauna Brasileira Ameaa- da de Extino: o peixe-boi-marinho, provavelmente a espcie de mamfero aqutico mais ameaada do Brasil e que, juntamente com a baleia-azul, est classicada como Criticamente em Perigo, e o peixe-boi-da-amaznia, como Vulnervel. Os sirnios, nicos mamferos aquticos essencialmente herbvoros, foram caados por sua carne e couro desde a pr-histria. No Nordeste brasileiro, as populaes remanescentes de peixe-boi-marinho esto fragmentadas e extintas em vrias reas de sua distribuio original. Sofrem constante presso antrpica, gerada pela perda de hbitat, pelo desmatamento e aterramento dos mangues, ambiente essencial sua sobre- vivncia, alm do intenso trco de embarcaes. O peixe-boi-da-amaznia, por sua vez, provavelmente o mamfero mais caado da fauna brasileira. Embora protegido por lei, caado tanto para subsistncia quanto ilegalmente, movimentando um comrcio clandestino de carne e mixirra em diversos mercados da regio. As populaes dessas duas espcies de peixe-boi encontram-se muito abaixo da capacidade suporte do ambiente. O terceiro grupo de mamferos aquticos inclui a maior de todas as espcies de musteldeos aquticos, a ariranha ou ona dgua, na classicao Vulnervel. Sua populao original foi drasticamente reduzida pela caa, ao longo de toda a sua distribuio, sobretudo para a comercializao de sua valiosa pele. Mais informaes sobre essas duas espcies so apresentadas acima, no pargrafo sobre Carnivora.
  11. 11. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 690 | Cetacea Balaenidae Eubalaena australis Baleia-franca-d Balenopteridae Balaenoptera musculus Baleia-azul Balaenoptera physalus Baleia-fin Balaenoptera borealis Baleia-sei Megaptera novaeangliae Jubarte Physeteridae Physeter macrocephalus7 Cachalote Iniidae Pontoporia blainvillei8 Toninha Sirenia Trichechidae Trichechus inunguis Peixe-boi-da-a Trichechus manatus Peixe-boi-mari Artiodactyla Cervidae Blastocerus dichotomus Cervo-do-panta Mazama nana Veado-boror-d Rodentia Echimyidae Callistomys pictus Rato-do-cacau Carterodon sulcidens Rato-de-espinh Phyllomys unicolor Rato-da-rvore Phyllomys brasiliensis Rato-da-rvore Phyllomys thomasi Rato-da-rvore Erethizontidae Chaetomys subspinosus Ourio-preto Cricetidae9 Juscelinomys candango Rato-candango Kunsia fronto Rato-do-mato Phaenomys ferrugineus Rato-do-mato- Rhagomys rufescens Rato-do-mato- Wilfredomys oenax Rato-do-mato Ctenomyidae Ctenomys flamarioni Tuco-tuco Ordem Famlia Espcie Vernculo Tabela 1. Lista das espcies de mamferos ameaadas de extino no Brasil e respectivas catego- rias de ameaa - Ministrio do Meio Ambiente, Instruo Normativa n 3, de 27 de maio de 2003 e Machado et al. (2005) - CR: (Criticamente em Perigo); EN (Em Perigo); VU (Vulnervel). Ordem Famlia Espcie Vernculo Categoria de Ameaa Didelphimorphia Didelphidae Caluromysiops irrupta Cuca-de-colete CR Pilosa Bradypodidae Bradypus torquatus Preguia-de-coleira VU Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla Tamandu-bandeira VU Cingulata Dasypodidae Priodontes maximus Tatu-canastra VU Tolypeutes tricinctus Tatu-bola VU Chiroptera Phyllostomidae Lonchophylla dekeyseri Morcego VU Platyrrhinus recifinus Morcego VU Lonchophylla bokermanni Morcego VU Vespertilionidae Myotis ruber Morcego VU Lasiurus ebenus Morcego VU Primates Atelidae Alouatta guariba guariba Guariba CR Alouatta ululata1 Guariba-de-mos-ruivas CR Ateles belzebuth Macaco-aranha VU Ateles marginatus Coat EN Brachyteles arachnoides Muriqui EN Brachyteles hypoxanthus Muriqui CR Cebidae3 Cebus kaapori Macaco-caiarara CR Cebus robustus2 Macaco-prego VU Cebus xanthosternos Macaco-prego-de-peito-amarelo CR Saimiri vanzolinii Macaco-de-cheiro VU Callithrix aurita Sagi-da-serra-escuro VU Callithrix flaviceps Sagi-da-serra EN Leontopithecus caissara Mico-leo-de-cara-preta CR Leontopithecus chrysomelas Mico-leo-de-cara-dourada EN Leontopithecus chrysopygus Mico-leo-preto CR Leontopithecus rosalia Mico-leo-dourado EN Saguinus bicolor Sagi-de-duas-cores CR Pitheciidae Cacajao calvus calvus Uacari-branco VU Cacajao calvus novaesi Uacari-de-novaes VU Cacajao calvus rubicundus Uacari-vermelho VU Callicebus barbarabrownae Guig CR Callicebus coimbrai Guig-de-coimbra-filho CR Callicebus melanochir Guig VU Callicebus personatus Guig VU Chiropotes satanas Cuxi-preto EN Chiropotes utahicki4 Cuxi VU Carnivora Canidae Speothos venaticus Cachorro-vinagre VU Chrysocyon brachyurus Lobo-guar VU Mustelidae Pteronura brasiliensis Ariranha VU Felidae Leopardus pardalis mitis Jaguatirica VU Leopardus tigrinus Gato-do-mato VU Leopardus wiedii Gato-maracaj VU Oncifelis colocolo5 Gato-palheiro VU Puma concolor capricornensis6 Ona-parda VU Puma concolor greeni6 Ona-parda VU Panthera onca Ona-pintada VU Categoria de Ameaa e CR oleira VU deira VU VU VU VU VU VU VU VU CR os-ruivas CR a VU EN EN CR ra CR VU -de-peito-amarelo CR eiro VU -escuro VU EN cara-preta CR cara-dourada EN o CR rado EN -cores CR VU aes VU ho VU CR bra-filho CR VU VU EN VU gre VU VU VU VU VU VU VU VU VU VU
  12. 12. | 691 | Mamferos do-sul EN CR EN VU VU VU EN maznia VU nho CR anal VU do-sul VU u VU ho CR e CR e EN e EN VU o CR CR -ferrugneo VU -vermelho VU CR VU Categoria de Ameaa Notas taxonmicas: 1 - Sinonmia de Alouatta belzebul (Linnaeus, 1766), de acordo com Groves (2006). Alouatta ululata no consta da lista de Bicca-Marques et al. (2006), portanto entende-se que estes autores tambm consideram esse txon como sinonmia de A. belzebul. 2 - Considerada subespcie de Cebus nigritus (Goldfuss, 1809) por Groves (2006) e tambm por Bicca-Marques et al. (2006). 3 - Os primatas dos gneros Callithrix, Leontopithecus e Saguinus so tradicionalmente agrupados na famlia Callithrichidae, mas aqui seguimos o ordenamento mais recente de Groves (2006), que inclui esses gneros na famlia Cebidae. 4 - Groves (2006) e Bicca-Marques et al. (2006) referem-se a este txon como Chiropotes utahickae. 5 - Wozencraft (2006) considera que o nome correto da espcie com ocorrncia no Brasil Leopardus braccatus (Cope, 1889), j que Oncifelis colocolo (considerado por este autor como L. colocolo) tem ocorrncia restrita ao Chile (Wozencraft, 2006). Cheida et al. (2006) tratam esta espcie como Leopardus (Oncifelis) colocolo. 6 - Subespcies compartilhadas por Cheida et al. (2006); Wozencraft (2006) considera estes txons como sinonmias e no subespcies de Puma concolor. 7 - Mead & Brownell (2006) consideram que o nome correto da espcie Physeter catodon Linnaeus, 1758. 8 - Monteiro-Filho et al. (2006) incluem este txon em Pontoporidae. Aqui adotamos a classificao de Mead & Brownell (2006), que posiciona o txon na famlia Iniidae, junto com Inia e Lipotes. 9 - Seguimos aqui Musser & Carleton (2006), que incluem esses gneros de roedores na famlia Cricetidae; em compilaes anteriores, esses gneros so includos na famlia Muridae. Cetacea Balaenidae Eubalaena australis Baleia-franca-do-sul EN Balenopteridae Balaenoptera musculus Baleia-azul CR Balaenoptera physalus Baleia-fin EN Balaenoptera borealis Baleia-sei VU Megaptera novaeangliae Jubarte VU Physeteridae Physeter macrocephalus7 Cachalote VU Iniidae Pontoporia blainvillei8 Toninha EN Sirenia Trichechidae Trichechus inunguis Peixe-boi-da-amaznia VU Trichechus manatus Peixe-boi-marinho CR Artiodactyla Cervidae Blastocerus dichotomus Cervo-do-pantanal VU Mazama nana Veado-boror-do-sul VU Rodentia Echimyidae Callistomys pictus Rato-do-cacau VU Carterodon sulcidens Rato-de-espinho CR Phyllomys unicolor Rato-da-rvore CR Phyllomys brasiliensis Rato-da-rvore EN Phyllomys thomasi Rato-da-rvore EN Erethizontidae Chaetomys subspinosus Ourio-preto VU Cricetidae9 Juscelinomys candango Rato-candango CR Kunsia fronto Rato-do-mato CR Phaenomys ferrugineus Rato-do-mato-ferrugneo VU Rhagomys rufescens Rato-do-mato-vermelho VU Wilfredomys oenax Rato-do-mato CR Ctenomyidae Ctenomys flamarioni Tuco-tuco VU Ordem Famlia Espcie Vernculo Categoria de Ameaa Continuao
  13. 13. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 692 | Tabela 2. Nmero de espcies de mamferos nas categorias de ameaa (em itlico) e nas demais cate- gorias da IUCN. Categoria Nmero de espcies Extinta 0 Extinta na Natureza 0 Criticamente em Perigo 18 Em Perigo 11 Vulnervel 40 Quase Ameaada 14 Deficiente em Dados 110 No Ameaadas 6 Total de espcies avaliadas 199 Tabela 3. Nmero de espcies ameaadas e respectivo nmero de espcies nativas descritas para o Brasil para as ordens de mamferos presentes no pas. Ordem Nmero de espcies Nmero de espcies ameaadas*1 nativas no Brasil*2 Primates 26 98 Rodentia 12 232 Carnivora 10 29 Cetacea 7 41 Chiroptera 5 164 Cingulata 2 11 Pilosa 2 8 Sirenia 2 2 Artiodactyla 2 10 Didelphimorphia 1 55 Perissodactyla 0 1 Lagomorpha 0 1 Total 69 652 *1 Nas trs categorias de ameaa (VU, EN e CR). *2 De acordo com Reis et al. (2006), no incluindo espcies exticas. Tabela 4. Nmero de espcies continentais de mamferos presentes na lista de espcies ameaadas (VU, EN e CR) e respectivo nmero de espcies presentes nos principais biomas brasileiros. Bioma Nmero de espcies Nmero de espcies ameaadas*1 nativas no Brasil*2 Mata Atlntica*3 42 229 Amaznia 21 350 Cerrado 19 159 Pantanal 11 124 Caatinga 5 102*4 Total 61 457 Notas: *1 Excluindo as espcies marinhas presentes na lista (n = 8). *2 Excluindo as espcies marinhas, de acordo com Fonseca et al. (1999). *3 Inclui Campos Sulinos. *4 Em estudo recente, Oliveira et al. (2003) registraram 143 espcies para o bioma Caatinga.
  14. 14. | 693 | Mamferos Tabela 5. Lista de espcies de mamferos Deficientes em Dados (DD) e respectiva distribuio (Am: Amaznia, Ce: Cerrado, Ca: Caatinga, MA: Mata Atlntica, Pa: Pantanal, CS: Campos Sulinos e MAR: ambiente marinho). Ordem Famlia Espcie Distribuio Didelphimorpha Didelphidae Glironia venusta Am Gracilinanus emiliae Am Marmosa lepida Am Micoureus constantiae Am, Pa Monodelphis americana MA,CS Monodelphis dimidiata MA, CS Monodelphis emiliae Am Monodelphis iheringi MA,CS Monodelphis kunsi Ce Monodelphis maraxina Am Monodelphis rubida Ce, MA Monodelphis scallops MA Monodelphis sorex MA, CS Monodelphis theresa MA Monodelphis unistriata MA Thylamys karimii Ce Thylamys macrura MA Cingulata Dasypodidae Cabassous chacoensis Pa Cabassous tatouay Ce, MA, Pa, CS Dasypus hybridus MA,CS Tolypeutes matacus Ce, Pa Chiroptera Emballonuridae Cyttarops alecto Am Diclidurus ingens Am Diclidurus isabellus Am Saccopteryx gymnura Am Molossidae Molossus neglectus Am Phyllostomidae Chiroderma doriae MA Dyphylla ecaudata Am, Ca, Ce, MA, Pa Lichonycteris obscura Am, MA Lonchophylla mordax Am, Ca, MA Micronycteris behni Am, Ce Micronycteris daviesi Am Micronycteris homezi Am, Ca, Ce, MA Micronycteris pusilla Am, MA Micronycteris samborni Ca Phyllostomus latifolius Am Platyrhinus infuscus Am Rhinophylla fischerae Am Scleronycteris ega Am Sturnira bidens Am Tonatia carrikeri Am Tonatia schulzi Am Vampyressa bidens Am Vampyressa brocki Am Vampyrum spectrum Am, Pa Vespertilionidae Histiotus alienus MA, CS Lasiurus egregius MA
  15. 15. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 694 | Ordem Famlia Espcie Distribuio Primates Atelidae Alouatta seniculus amazonica Am Alouatta seniculus juara Am Alouatta seniculus puruensis Am Cebidae Mico acariensis Am Mico chrysoleucus Am Mico humeralifer Am Mico humilis Am Mico leucippe Am Mico manicorensis Am Mico marcai Am Mico saterei Am Mico nigriceps Am Saguinus imperator imperator Am Saguinus fuscicollis cruzlimai Am Cebus albifrons cuscinus Am Cacajao calvus ucayalii Am Carnivora Canidae Atelocynus microtis Am Procyonidae Bassaricyon gabbii Am Mustelidae Mustela africana Am Cetacea Balaenopteridae Balaenoptera acutorostrata MAR Balaenoptera banaerensis MAR Balaenoptera edeni MAR Delphinidae Delphinus capensis MAR Delphinus delphis MAR Feresa attenuata MAR Globicephala macrorhynchus MAR Globicephala melas MAR Grampus griseus MAR Lagenodelphis hosei MAR Orcinus orca MAR Peponocephala electra MAR Pseudorca crassidens MAR Stenella attenuata MAR Stenella clymene MAR Stenella coeruleoalba MAR Stenella frontalis MAR Stenella longirostris MAR Stenella bredanensis MAR Tursiops truncatus MAR Kogiidae Kogia breviceps MAR Kogia simus MAR Ziphiidae Berardius arnuxii MAR Hyperoodon planifrons MAR Mesoplodon densirostris MAR Mesoplodon grayi MAR Mesoplodon hectori MAR Mesoplodon layardii MAR Ziphius cavirostris MAR Continuao
  16. 16. | 695 | Mamferos Ordem Famlia Espcie Distribuio Artiodactyla Cervidae Mazama bororo MA Odocoileus virginianus Am Rodentia Dynomyidae Dinomys branickii Am Echimyidae Clyomys bishopi MA Isothrix pagurus Am Phyllomys blainvilli MA Trinomys albispinus MA Trinomys eliasi MA Cricetidae Abrawayomys ruschii MA Akodon sanctipaulensis MA Kunsia tomentosus Ce, Pa Oecomys cleberi Ce Oryzomys lamia Ce Oryzomys oniscus MA Ctenomyidae Ctenomys nattereri Pa Continuao Tabela 6. Nmero (e respectiva porcentagem) de espcies Deficientes em Dados que ocorrem nos prin- cipais biomas brasileiros e no ambiente marinho. Em parnteses, so enumerados os totais de espcies endmicas aos biomas (exceto para espcies marinhas). Bioma Nmero de espcies % de espcies Amaznia 50 (41) 45,5 (37,3) Marinho 29 26,4 Mata Atlntica 27 (14) 24,5 (12,7) Cerrado 10 (4) 9,1 (3,6) Pantanal 8 (2) 7,3 (1,8) Campos Sulinos 7 (0) 6,4 (0) Caatinga 4 (1) 3,6 (1,9) Total 110 (62) 100,0 (56,4)* Total - terrestres 81 (62) 73,6 (76,5) Nota: * A soma das porcentagens superior a 100%, pois vrias espcies (n = 18) ocorrem em mais de um bioma. Tabela 7. Sntese das mudanas ocorridas na lista atual de mamferos ameaados de extino e na anterior (Bernardes et al., 1990). Grupo Lista de Saram Entraram Lista 1989 Atual Pequenos mamferos 6 2 8 12 Primatas 26 10 10 26 Carnvoros 13 6 3 10 Morcegos 9 5 1 5 Mamferos aquticos 5 0 4 9 Outros mamferos 7 1 1 7 Total 66 24 27 69
  17. 17. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 696 | Ordem Famlia Espcie Categoria IUC Didelphimorphia Didelphidae Glironia venusta VU Gracilinanus emiliae VU Monodelphis emiliae VU Monodelphis kunsi EN Monodelphis maraxina VU Monodelphis rubida VU Monodelphis scallops VU Monodelphis sorex VU Monodelphis theresa VU Monodelphis unistriata VU Chiroptera Emballonuridae Diclidurus ingens VU Saccopteryx gymnura VU Phyllostomidae Chiroderma doriae VU Glyphonycteris behnii VU Lophostoma carrikeri VU Lophostoma schulzi VU Neonycteris pusilla VU Scleronycteris ega VU Vespertilionidae Histiotus alienus VU Primates Cebidae Callithrix geoffroyi VU Cetacea Iniidae Inia geoffrensis VU Perissodactyla Tapiridae Tapirus terrestris VU Rodentia Dasyproctidae Dasyprocta azarae VU Dinomyidae Dinomys branickii EN Echimyidae Clyomys bishop VU Echimys chrysurus VU Cricetidae Abrawayomys ruschi EN Akodon lindberghi VU Juscelinomys vulpinus VU Kunsia tomentosus VU Oecomys cleberi EN Total 31 Ordem Famlia Espcie Listas estaduais RS PR SP MG Rodentia Cuniculidae Cuniculus paca EN EN VU Dasyproctidae Dasyprocta aguti Dasyprocta azarae VU VU Echimyidae Clyomys bishopi VU Kannabateomys amblyonyx VU Trinomys iheringi Cricetidae Abrawayaomys ruschii CR Blarinomys breviceps Thaptomys nigrita Lagomorpha Leporidae Sylvilagus brasiliensis VU Total 18 19 15 15 Tabela 8. Espcies que constam nas listas estaduais j disponveis (Rio Grande do Sul, Paran, So Paulo, Minas Gerias, Rio de Janeiro e Esprito Santo*) de espcies ameaadas (e respectiva categoria de ameaa) que no foram includas na lista nacional. Categorias: REx (regionalmente extinta; inclui provavelmente extinta), CR (Criticamente em Perigo), EN (Em perigo), VU (Vulnervel). Ordem Famlia Espcie Listas estaduais Total RS PR SP MG RJ ES Didelphimorphia Didelphidae Caluromys lanatus VU - - - - - 1 Chironectes minimus VU - VU EN - CR 4 Lutreolina crassicaudata - - - - CR - 1 Monodelphis scalops - - - - - CR 1 Monodelphis theresa - - - - REx - 1 Cingulata Dasypodidae Cabassous tatouay - - - VU - - 1 Cabassous unicinctus - - VU VU - - 2 Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla VU - - VU - - 2 Bradypodidae Bradypus variegatus - REx - - - - 1 Primates Cebidae Callithrix kuhli - - - VU - - 1 Callithrix penicillata - - VU - - - 1 Atelidae Alouatta caraya VU EN EN - - - 2 Alouatta guariba VU VU VU VU - - 4 Chiroptera Phyllostomidae Artibeus cinereus - - - - VU - 1 Carollia brevicauda - - - - - VU 1 Chiroderma doriae - VU VU EN VU 4 Choeroniscus minor - - - - - VU 1 Chrotopterus auritus - VU - - - - 1 Diaemus youngi - CR - - VU - 1 Diphylla ecaudata - VU - - - - 1 Lampronycteris brachiotis - - - - - VU 1 Lichonycteris obscura - - - - - VU 1 Mimon bennettii - VU - - VU - 2 Mimon crenulatum - - - - VU - 1 Mycronycteris hirsuta - - - - - VU 1 Phylloderma stenops - - - - VU - 1 Tonatia bidens - VU - - - - 1 Natalidae Natalus stramineus - - - - EN - 1 Molossidae Eumops hansae - VU - - - - 1 Thyropteridae Thyroptera tricolor - - VU - EN - 2 Carnivora Canidae Lycalopex vetulus - - EN EN - - 2 Felidae Herpailurus yaguarondi VU - - - - - 1 Oncifelis geoffroyi VU VU - - - - 2 Mustelidae Eira barbara VU - - - - - 1 Lontra longicaudis VU VU - VU - - 3 Procyonidae Nasua nasua VU - - - - - 1 Cetacea Delphinidae Sotalia guianensis - VU - - - - 1 Perissodactyla Tapiridae Tapirus terrestris EN EN EN EN EN EN 6 Artiodactyla Cervidae Mazama americana EN - - - EN - 2 Mazama gouazoupira VU - - - EN - 2 Ozotocerus bezoarticus CR CR CR CR - - 4 Tayassuidae Pecari tajacu EN VU VU EN VU VU 6 Tayassu pecari CR CR EN EN EN EN 6 Total 1 4 1 1 1 1 2 2 1 1 1 2 4 1 1 4 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 2 2 1 2 1 3 1 1 6 2 2 4 6 6
  18. 18. | 697 | Mamferos Tabela 9. Relao das espcies de mamferos da lista da Unio Mundial para a Natureza IUCN (2006) que ocorrem no Brasil e que no foram includas na lista nacional. Ordem Famlia Espcie Categoria IUCN Distribuio Didelphimorphia Didelphidae Glironia venusta VU Am Gracilinanus emiliae VU Am Monodelphis emiliae VU Am Monodelphis kunsi EN Ce Monodelphis maraxina VU Am Monodelphis rubida VU Ce, MA Monodelphis scallops VU MA Monodelphis sorex VU MA, CS Monodelphis theresa VU MA Monodelphis unistriata VU MA Chiroptera Emballonuridae Diclidurus ingens VU Am Saccopteryx gymnura VU Am Phyllostomidae Chiroderma doriae VU MA Glyphonycteris behnii VU Ce Lophostoma carrikeri VU Am Lophostoma schulzi VU Am Neonycteris pusilla VU Am Scleronycteris ega VU Am Vespertilionidae Histiotus alienus VU MA, CS Primates Cebidae Callithrix geoffroyi VU MA Cetacea Iniidae Inia geoffrensis VU Am Perissodactyla Tapiridae Tapirus terrestris VU Am, Ce, MA, Pa Rodentia Dasyproctidae Dasyprocta azarae VU Ce, MA, Pa, CS Dinomyidae Dinomys branickii EN Am Echimyidae Clyomys bishop VU MA Echimys chrysurus VU Am Cricetidae Abrawayomys ruschi EN MA Akodon lindberghi VU Ce Juscelinomys vulpinus VU Ce Kunsia tomentosus VU Ce, Pa Oecomys cleberi EN Ce Total 31 * Biomas: Amaznia (Am), Cerrado (Ce), Mata Atlntica (MA), Caatinga (Ca), Pantanal (Pa) e Campos Sulinos (CS). Ordem Famlia Espcie Listas estaduais Total RS PR SP MG RJ ES Rodentia Cuniculidae Cuniculus paca EN EN VU - VU - 4 Dasyproctidae Dasyprocta aguti - - - - - VU 1 Dasyprocta azarae VU - VU - - - 2 Echimyidae Clyomys bishopi - - VU - - - 1 Kannabateomys amblyonyx - - - VU VU CR 3 Trinomys iheringi - - - - EN - 1 Cricetidae Abrawayaomys ruschii - - - CR - CR 2 Blarinomys breviceps - - - - REx - 1 Thaptomys nigrita - - - - VU - 1 Lagomorpha Leporidae Sylvilagus brasiliensis - VU - - - - 1 Total 18 19 15 15 20 13 Continuao * Fonte das listas: Rio Grande do Sul (Marques et al., 2002); Paran (Mikich & Brnils, 2004); PROBIO/SP (So Paulo, 1998); Minas Gerais (Machado et al., 1998); Rio de Janeiro (Bergallo et al., 2000); Esprito Santo Instituto de Pesquisas da Mata Atlntica (IPEMA, 2004). CN Distribuio Am Am Am Ce Am Ce, MA MA MA, CS MA MA Am Am MA Ce Am Am Am Am MA, CS MA Am Am, Ce, MA, Pa Ce,MA,Pa,CS Am MA Am MA Ce Ce Ce, Pa Ce s Total RJ ES VU 4 VU 1 2 1 VU CR 3 EN 1 CR 2 REx 1 VU 1 1 20 13
  19. 19. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 698 | Figura 1. Porcentagem de espcies ameaadas (VU, EN e CR) e respectiva porcentagem de espcies nativas presentesnoBrasil[n=652,segundoReisetal.(2006)]emcadaordemdemamfero. VerTabela3paraostotais de espcies e fontes de informao. Abreviao das ordens: didelp (Didelphimorphia), pilosa (Pilosa), cingul (Cingulata), chirop (Chiroptera), prima (Primates), carniv (Carnivora), cetac (Cetacea), siren (Sirenia), artiod (Artiodactyla), periss (Perissodactyla), rodent (Rodentia) e lagom (Lagomorpha). Figura 2. Nmero de espcies afetadas (e respectiva percentagem) pelas principais causas de ameaas. A categoria outros rene 8 causas de ameaas: perda da fonte alimentar (4 espcies), hibridismo, parasitas e captura acidental (3 espcies cada), desequilbrio ecolgico (2 espcies), competio, prospeco petrolfera e introduo de espcies exticas (1 espcie cada).
  20. 20. | 699 | Mamferos Figura 3. Porcentagem de espcies continentais ameaadas (VU, EN e CR; n= 61) e respectiva porcen- tagem de espcies continentais do Brasil por biomas (n=524, segundo Fonseca et al., 1999). Ver Tabela 4 para os totais de espcies e fontes de informao. Figura 4. Porcentagem de espcies na categoria Deficiente em Dados e respectiva porcentagem de es- pcies presentes no Brasil, por ordem de mamferos (de acordo com Reis et al., 2006). Abreviao das ordens: didelp (Didelphimorphia), cingul (Cingulata), chirop (Chiroptera), prima (Primates), carniv (Carni- vora), cetac (Cetacea), siren (Sirenia), artiod (Artiodactyla), periss (Perissodactyla), rodent (Rodentia) e lagom (Lagomorpha).
  21. 21. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 700 | Referncias Bibliogrficas Aguiar, L.M.S. & V.A. Taddei. 1995. Workshop sobre a conservao dos morcegos brasileiros. Chiroptera Neotrop. 1:24-30. Aguiar, L.M.S, R.B. Machado, M. Zorta, S.L. Mendes andA.B. Rylands. 1998. Working with the IUCN RedList Categories: the experience of the Workshop on the Conservation of Brazilian Bats. Bol. Mus. Biol. Mello Leito. 9:3-11. Auricchio, P. 1997. A new locality for Brachyteles arachnoides and the urgency of nding new directions for muriqui conservation. Neotropical Primates. 5(3):78-80. Barret, G.W. & J.D. Peles. 1999. Landscape ecology of small mammals. New York: Springer. 347p. Bergallo, H.G. & R. Cerqueira. 1994. Reproduction and growth opossum Monodelphis domestica (Mammalia: Didelphidae) in Northeastern Brazil. J. of Zoology. 232:551-563. Bergallo, H.G., L. Geise, C.R. Bonvicino, R. Cerqueira, P.S. DAndrea, C.E. Esberard, F.A.S. Fernandez, C.E.V. Grelle, S. Siciliano e S.M. Vaz. 2000. Mamferos, p.125-135. In: H.G. Bergallo, C.F.D. Rocha, M. Van Sluys, L. Geise e M.A. Alves (ed). Lista da Fauna Ameaada do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, EdUERJ. 205p. Bernardes,A.T.,A.B.M. Machado eA.B. Rylands. 1990. Fauna Brasileira Ameaada de Extino. Belo Horizonte: Fundao Biodiversitas. 62p. Bicca-Marques, J.C., V.M. da Silva e D.F. Gomes. 2006. Ordem Primates, p.101-148. In: N.R. Reis, A.L. Perachi, W.A. Pedro e I.P. Lima (ed.). Mamferos do Brasil. Londrina: UEL. 437p. Castelletti, C.H., A.M.M. Santos, M. Taberelli e J.M.C. da Silva. 2003. Quanto ainda resta da Caatinga? uma estimativa preliminar, p.719-734. In: I.R. Leal, M. Tabarelli e J.M.C. da Silva (ed.). Ecologia e Conservao da Caatinga. Recife, Editora Universitria da UFPE. Cerqueira, R. 1997. Perfunctory apraisal of brazilian research workersproposals for monitoring biodiversity. In: Proceedings and papers of the International Workshop on biodiversity monitoring in federal protected areas: Dening the methodology. Braslia, DIREC/IBAMA. Cerqueira, R. 2001. Um sistema de monitoramento e inventrio da biodiversidade terrestre do Brasil, p.385-398. In: B.F.S. Dias & I. Garay (org.). Conservao da biodiversidade em ecossistemas tropicais: Avanos conceituais e reviso de novas metodologias de avaliao e monitoramento. Petrpolis: Ed. Vozes. Cerqueira, R. & B. Lemos. 2000. Morphometric differentiation between Neotropical black eared opossuns Didelphis marsupialis and Didelphis aurita (Didelphimorphia, Didelphidae). Mammalia. 64:319-327. Cerqueira, R., G. Marroig and L. Pinder. 1998. Marmosets and Lion-tamarins distribution (Callithrichidae, Primates) in Rio de Janeiro State, South-eastern Brazil. Mammalia. 62:213-226. Cerqueira, R., A. Brant, M.T. Nascimento e R. Pardini. 2003. Fragmentao: alguns conceitos, p.24-41. In: D. Rambaldi & D.A.S. Oliveira (org.). Fragmentao de Ecossistemas: causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendaes de polticas pblicas. Braslia, MMA. Chapman, C.A. & C.A. Peres. 2001. Primate conservation in the new millennium: the role of Scientists. Evolutionary Anthropology. 10:16-33. Cheida, C.C., E. Nakano-Oliveira, R. Fusco-Costa, F. Rocha-Mendes e J. Quadros. 2006. Ordem Carnvora, p.231-275. In: N.R. Reis, A.L. Perachi, W.A. Pedro e I.P. Lima (ed.). Mamferos do Brasil. Londrina: UEL. 437p. Chiarello, A.G., M. Passamani and M. Zorta. 1997. Field observations on thin-spined porcupine Chaetomys subspinosus (Rodentia; Echimyidae). Mammalia. 61(1):29-36. Chiarello, A.G., D.J. Chivers, C. Bassi, M.A.F. Maciel, L.S. Moreira and M. Bazzalo. 2004. A translocation experiment for the conservation of maned sloths, Bradypus torquatus (Xenarthra, Bradypodidae). Biological Conservation. 118:421-430. Cosenza, B.A.P. & F.R. Melo. 1998. Primates of the Serra do Brigadeiro State Park, Minas Gerais, Brazil. Neotropical Primates. 6:18-20. Cowlixhaw, G. & R. Dunbar. 2000. Primate conservation biology. Chicago: The University of Chicago. 498p. Cunha, H.A., V.M.F. da Silva, J.Jr. Lailson-Brito, M.C.O. Santos, P.A.C. Flores, A.R. Mrtin, A.F. Azevedo, A.B.L. Fragoso, R.C. Zanelatto and A.M. Sol-Cava. 2005. Riverine and marine ecotypes of Sotalia dolphins are different species. Marine Biology. 148(2):449-457. DAndrea, P.S., L.S. Maroja, R. Gentile, R. Cerqueira, A. Maldonado Jr. and Rey L. 2000. The parasitism of Schistosoma mansoni (Digenea - Trematoda) in a naturally infected populations of water rats, Nectomys squamipes (Rodentia - Sigmodontinae) in Brazil. Parasitology. 120:573-582.
  22. 22. | 701 | Mamferos Duarte, J.M.B. & W. Jorge. 2003. Morphological and cytogenetic description of the small red brocket (Mazama bororo Duarte, 1996) in Brazil. Mammalia. 67:403-410. Eisenberg, J.F. & K.H. Redford. 1999. Mammals of the Neotropics. Vol.3. The Central Neotropics: Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil. Chicago and London: The University of Chicago Press. 609p. Fiszon, J.T., N.P.X. Marchioro,R.M. Britez, D.C. Cabral, N.C. Camely, V. Canavesi, P.R. Castella, E.B.V. Castro, L. Cullen Jr, M.B.S. Cunha, E.O. Figueiredo, I.L. Franke, H. Gomes, L.J. Gomes, V.H.V. Hreisemnou, E.C. Landau, S.M.F. Lima, A.T.L. Lopes, E. Mariano Neto, A.L. Mello, L.C. Oliveira, K.Y. Ono, N.W.V. Pereira, A.S. Rodrigues, C.R. Ruiz, L.F.G.L. dos Santos e C.R. Souza. 2003. Causas antrpicas, p.43-99. In: D.M. Rambaldi & D.A.S. Oliveira (org.). Fragmentao de ecossistemas: causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendaes de polticas pblicas. Braslia, MMA/SBF. Fonseca, G.A.B. & J. Aguiar. 2004. The 2004 Edentate Species Assessment Workshop. Edentata. 6:1-18. Fonseca, G.A.B., G. Herrmann and Y.L.R. Leite. 1999. Macrogeography of Brazilian mammals, p.549-563. In: J.F. Eisenberg & K.H. Redford (ed.). Mammals of the Neotropics: The Central Neotropics, Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil. Vol. 3. Chicago/ London, The University of Chicago Press. Fonseca, G.A.B., G. Herrmann,Y.L.R. Leite, R.A. Mitermeier,A.B. Rylands e J.L. Patton. 1996. ListaAnotada dos Mamferos do Brasil. Occasional Papers in Conservation Biology. 4:1-38. Gaston, K.J. 2000. Global patterns in biodiversity. Nature. 405:220-227. Groves, C.P. 2006. Order Primates, p.111-184. In: D.E. Wilson & D.M. Reeder. Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference. 3nd Edition. Baltimore: The John Hopkins University Press. Hilton-Taylor, C., A.B. Rylands and J.M. Aguiar. 2004. 2003 IUCN Red List Neotropical Primates. Neotropical Primates. 12:33-35. Hutson, A.M., S.P. Mickelburgh and P. Racey (compilers). 2001 Microchiropteran Bats: Global Status Survey and Conservation Action Plan. IUCN/CSG/SSC Gland, Switzerland and Cambridge, UK, IUCN Publications Services Unit. Instituto de Pesquisas da Mata Atlntica - IPEMA. 2004. Lista de Espcies da Flora e Fauna Ameaadas de Extino no Estado do Esprito Santo. Workshop realizado em Vitria, em outubro de 2004. Kobayashi, S. &A.B. Langguth. 1999.Anew species of titi monkey, Callicebus Thomas, from north-eastern Brazil (Primates, Cebidae). Revta. Brasil. Zool. 16(2):531-551. Lara-Ruiz, P. 2004. Tamanho corporal, dimorsmo sexual e diversidade gentica da preguia-de-coleira, Bradypus torquatus Illiger, 1811 (Xenarthra: Bradypodidae). Dissertao de Mestrado. Belo Horizonte, Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Lara-Ruiz, P. & A.G. Chiarello. 2005. Life-history traits and sexual dimorphism of the Atlantic forest maned sloth Bradypus torquatus (Xenarthra: Bradypodidae). Journal of Zoology, London (267):63-73. Lemos, B. & R. Cerqueira. 2002. Morphological differentiation in the white-eared opossum group (Didelphidae, Didelphis). J. of Mammalagy. 83:354-369. Lewinsohn, T.M. & P.I. Prado. 2002. Biodiversidade Brasileira. Sntese do Estado Atual do Conhecimento. So Paulo: Editora Contexto. Lima, R.B. de S. 2006. Dieta e abrigos diurnos de trs fmeas de ourio-preto (Chaetomys subspinosus, Olfers 1818) em Matas de Restinga do Parque Estadual Paulo Csar Vinha, Guarapari, ES. Monograa de Bacharelado. Belo Horizonte, Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. 44p. Machado, A.B.M, G.A.B. Fonseca, R.B. Machado, L.M.S. Aguiar e L.V. Lins (ed.). 1998. Livro Vermelho das Espcies Ameaadas de Extino da Fauna de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundao Biodiversitas. 608p. Machado, A.B.M, C.S. Martins e G.M. Drummond (ed.). 2005. Lista da Fauna Brasileira Ameaada de Extino: Incluindo as Espcies Quase Ameaadas e Decientes em Dados. Belo Horizonte: Fundao Biodiversitas. 160p. Marques, A.A.B., C.S. Fontana, E. Vlez, G.A. Bencke, M. Schneider e R.E. Reis. 2002. Lista de Referncia da Fauna Ameaada de Extino no Rio Grande do Sul. Decreto n 41.672, de 10 de junho de 2002. Porto Alegre: FZB/MCT-PUCRS/ PANGEA. 52p. Mead, J.G. & R.L. Brownell Jr. 2006. Order Cetacea, p.723-743. In: D.E. Wilson & D.M. Reeder. Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference. 3nd Edition. Baltimore: The John Hopkins University Press. Mikich, S.B. & R.S. Brnils. 2004. Livro Vermelho da Fauna Ameaada no Estado do Paran. Disponvel em: http://www. pr.gov.br/iap . Acessado em: fev. 2006.
  23. 23. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 702 | Mittermeier, R.A. & W.R. Konstant. 1990. A hunt for monos (Brachyteles arachnoides) in the foothills of the Serra da Paranapiacaba, So Paulo, Brazil. Primate Conservation. 11:23-25. Mittermeier, R.A., C.G. Mittermeier, T.M. Brooks, J.D. Pilgrim, W.R. Konstant and G.A.B. da Fonseca. 2003. Wilderness and biodiversity conservation. Proceedings of the National Academy of Science, USA. 100:10309-10313. Mittermeier, R.A., P.R. Gil, M. Hoffmann, J. Pilgrim, T. Brooks, C.G. Mittermeier, J. Lamourex and G.A.B. Fonseca. 2005. Hotspots Revisited. Earths Biologically Richest and Most Endangered Terrestrial Ecorregions. Washington, USA: CEMEX e Agrupacin Sierra Madre. Ministrio do Meio Ambiente MMA. 2003. Lista das Espcies da Fauna Brasileira Ameaados de Extino. Instruo Normativa n 3, de 27 de maio de 2003. Dirio Ocial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, DF. Ministrio do Meio Ambiente MMA. 2004. Lista Nacional das Espcies de Invertebrados Aquticos e Peixes Ameaados de Extino. Instruo Normativa n 5, de 21 de maio de 2004. Dirio Ocial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, DF. Ministrio do Meio Ambiente MMA. 2005. Instruo Normativa n 52, de 8 de novembro de 2005. Dirio Ocial da Repblica Federativa do Brasil, Braslia, DF. Myers, N., R.A. Mittermeier, C.G. Mittermeier, G.A.B. Fonseca and J. Kent. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature. 403:853-858. Monteiro-Filho, E.L. de A. G.F. Filla, C. Domit e L.V. Oliveira. 2006. Ordem Cetcea, p.305-346. In: N.R. Reis, A.L. Perachi, W.A. Pedro e I.P. Lima (ed.). Mamferos do Brasil. Londrina: UEL. 437p. Musser, G.G. & M.D. Carleton. 2006. Superfamily Muroidea, p.894-1531. In: D.E. Wilson & D.M. Reeder. Mammal Species of the World. A Taxonomic and Geographic Reference. 3nd Edition. Baltimore: The John Hopkins University Press. Nowak, R.M. 1999. Walkers mammals of the World. 6nd Edition. Vols. I and II. Baltimore and London: The Johns Hopkins University Press. 1936p. Oliveira, J.A., P.R.Gonalves e C.R. Bonvicino. 2003. Mamferos da Caatinga, p.275-302. In: I.R. Leal, M. Tabarelli e J.M.C. da Silva (ed.). Ecologia e Conservao da Caatinga. Recife, Editora Universitria da UFPE. Oliveira, R.C., T. Rozental, A.A. Alves-Corra, P.S. DAndrea, H.G. Schatzmayr, R. Cerqueira and E.R.S. Lemos. 2004. Study of Hantavirus infecton in captive breed colonies of wild rodents. Memrias do Instituto Oswaldo Cruz. 99:575-576. Peres, C.A. 2001. Synergistic effects of subsistence hunting and habitat fragmentation on Amazonian forest vertebrates. Conservation Biology. 15:1490-1505. Primack, R.B. & E. Rodrigues. 2001. Biologia da Conservao. Londrina: Editora Vida. 327p. Reis, N.R., A.L. Perachi, W.A. Pedro e I.P. Lima (ed.). 2006. Mamferos do Brasil. Londrina: UEL. 437p. Robinson, J.G., K.H. Redford and E.L. Bennett. 1999. Wildlife harvest in logged tropical forests. Science. 284:595-596. Rossi, R.V., G.V. Bianconi e W.A. Pedro. 2006. Ordem Didelphimorphia, p.27-66. In: N.R. Reis, A.L. Perachi, W.A. Pedro e I.P. Lima (ed.). Mamferos do Brasil. Londrina: UEL. 437p. Rylands, A.B. & A.G. Chiarello. 2003. Ofcial list of Brazilian Fauna Threatened with Extinction - 2003. Neotropical Primates. 11(1):43-49. So Paulo. 1998. Fauna Ameaada no Estado de So Paulo. So Paulo: Secretaria do Meio Ambiente. Sr. Documento Ambientais. 56p. The World Conservation Union IUCN. 2001a. IUCN Red List Categories and Criteria: Version 3.1. IUCN, Gland, Switzerland and Cambridge, UK. IUCN Species Survival Commission. The World Conservation Union IUCN/SSC/CSG. 2001b. Global Status Survey and Conservation Action Plan - Microchiropteran Bats. Compiled by A. Hutson, S.P. Micleburgh and P. Racey. IUCN/SSC Chiroptera Specialist Group. The World Conservation Union IUCN. 2006. 2006 IUCN Red List of Threatened Species. Disponvel em: http://www. redlist.org. Acesso em: dez. 2006. Wozencraft,W.C. 2006. Order Carivora, p.532-628. In: D.E.Wilson & D.M. Reeder. Mammal Species of the World.ATaxonomic and Geographic Reference. 3nd Edition. Baltimore: The John Hopkins University Press.
  24. 24. | 703 | Mamferos Caluromysiops irrupta Sanborn, 1951 NOME POPULAR: Cuca-de-colete FILO: Mammalia CLASSE: Mammalia ORDEM: Didelphimorphia FAMLIA: Didelphidae STATUS DE AMEAA Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: no consta CATEGORIAS RECOMENDADAS Mundial (IUCN, 2007): VU Brasil (Biodiversitas, 2002): CR B1ab(iii) INFORMAES GERAIS Caluromysiops irrupta uma espcie conhecida apenas por dois exemplares com provenincia com- provada: um depositado no Field Museum of Natural History, em Chicago, EUA, e outro no Museu de Zoologia da Universidade de So Paulo (Sanborn, 1951; de Vivo & Gomes, 1989), embora Izor & Pine (1987) tenham apresentado localidades adicionais de espcimes mantidos em parques zoolgicos americanos. O registro de um espcime da Colmbia (Simonetta, 1979) provavelmente esprio (de Vivo & Gomes, 1989). Caluromysiops irrupta tem hbitos noturnos, vive no dossel, dicilmente desce ao cho da oresta e se alimenta de nctar (Emmons, 1990). Caluromys, gnero prximo, geralmente onvoro, mas C. philander basicamente frugvoro (Astua de Morais et al., 2003; Santori et al., 2004). Como habita locais remotos e vive no dossel, pode ser que suas populaes sejam maiores do que se su- pe, mas apenas estudos voltados para o dossel em sua rea de ocorrncia poderiam dar indicaes mais precisas sobre suas populaes e histria natural. A distino sistemtica desse gnero com Caluromys tem sido contestada (Nowak, 1999). Hershkovitz (1992) considerou, com base na morfologia molar, que Caluromysiops e Caluromys estariam em tribos completamente separadas. Estudos morfolgicos (Sanchez-Lillagra & Wible, 1993) e moleculares (Jansa & Voss, 2000) indicaram que esses dois gneros formam um grupo monoltico. O consenso atual que Glironia, Caluromysiops e Caluromys, nesta ordem, so intimamente relacionados e basais entre os Didelphidae (Cardillo et al., 2004). A posio logentica basal de Caluromysiops, Glironia e Caluromys em relao a todos os demais didelfdeos torna a conservao desses txons muito importante, uma vez que eles provavelmente detm o maior nmero de caractersticas biolgicas primitivas dentro da famlia e, portanto, podem ser cruciais para o entendimento de sua evoluo. DISTRIBUIO GEOGRFICA O nico exemplar brasileiro conhecido foi coletado em julho de 1964, em Rondnia (de Vivo & Gomes, 1989). A distribuio inclui Cuzco e Madre de Dios, no Peru, e o Estado brasileiro de Rondnia. A pro- ximidade das localidades peruanas e brasileiras do Acre sugere que o gnero possa ocorrer igualmente nesse Estado. PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO Dada a sua distribuio geogrca, a espcie poderia ocorrer na EE do Rio Acre (AC) e no PARNA de Pacas Novos (RO) (Graa Couto, 2004). No entanto, no h registro conrmado em nenhuma das duas Unidades.
  25. 25. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 704 | PRINCIPAIS AMEAAS No Brasil, Rondnia um dos Estados que mais sofreram com o desmatamento, que continua intenso em toda a Amaznia. No Peru, sabe-se que C. irrupta ocorre na regio do baixo Urabamba, mas muito rara e seu status particularmente preocupante (Solari et al., 2002). O animal parece ter baixas densi- dades e distribuio restrita, fato que o coloca entre os mais raros mamferos neotropicais (Dobson & Yu, 1993). ESTRATGIAS DE CONSERVAO O principal problema, hoje, o aumento do desmatamento, que precisa ser detido. O animal pouqus- simo conhecido e so necessrias mais coletas no dossel, assim como estudos ecolgicos e bionmicos, para que uma estratgia possa ser claramente denida. A regio de ocorrncia da espcie tem poucas Unidades de Conservao de Proteo Integral, sendo necessrio o aumento de seu nmero. A melhor estratgia de conservao, tambm indicada para outros pequenos mamferos de dossel, parece ser a conservao das orestas onde vivem. ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO Dada a sua raridade e localizao, no momento no h especialistas estudando o animal. REFERNCIAS 27, 84, 157, 168, 185, 243, 271, 295, 298, 450, 578, 579, 580, 627 e 629. Autores: Rui Cerqueira e Mario de Vivo Bradypus torquatus Illiger, 1811 NOME POPULAR: Preguia-de-coleira; Preguia; Bicho-preguia SINONMIAS: Bradypus crinitus; B. cristatus; Bradypus (Scaeopus) torquatus FILO: Chordata CLASSE: Mammalia ORDEM: Pilosa FAMLIA: Bradypodidae STATUS DE AMEAA Brasil (MMA, IN 03/03): Ameaada Estados Brasileiros: RJ (EN); ES (EN) CATEGORIAS RECOMENDADAS Mundial (IUCN, 2007): EN Brasil (Biodiversitas, 2002): VU A2cd INFORMAES GERAIS Bradypus torquatus uma espcie endmica da Mata Atlntica brasileira. Caracteriza-se por uma pelagem espessa de cor castanho-claro, uniforme por todo o corpo, sem distino entre o dorso e o abdome, e uma coleira de plos longos e pretos ao redor do pescoo, geralmente mais longa e nti- da na regio mediana do dorso. Nos indivduos adultos (acima de 4 anos), a coleira preta maior e mais negra nos machos do que nas fmeas (Lara-Ruiz & Chiarello, 2005). Como as demais espcies
  26. 26. | 705 | Mamferos congenricas de preguias, B. torquatus possui hbito arborcola restrito, baixo metabolismo e dieta estri- tamente folvora, composta por espcies de rvores e cips pouco mais de 30 espcies foram at agora identicadas, sendo que cada indivduo consome cerca de 15 a 20 espcies/ano (Chiarello, 1998b; Chiarello et al., 2004). Esta a maior e mais pesada das preguias do gnero, podendo atingir 10 kg de massa corprea, sendo que as fmeas so mais pesadas do que os machos (Lara-Ruiz & Chiarello, 2005). Pouco se sabe sobre sua estrutura social e demograa. Sabe-se, porm, que os indivduos vivem solitariamente em reas de vida que raramente excedem a 10 hectares, mas muitas vezes so menores que isso, de 1 a 2 hectares por preguia (Chiarello et al., 2004). Pelo menos entre as fmeas, as reas de vida tm pouca sobreposio com a de indivduos vizinhos. As fmeas produzem apenas um lhote por ano, que atinge a independncia por volta dos 8 a 10 meses de vida, quando abandona a rea da me para se estabelecer em outro local da oresta. justamente nessa fase que os indivduos so aparente- mente mais atacados por felinos e outros predadores, pois so pequenos e inexperientes, descendo ao cho com freqncia durante as movimentaes pela mata (Chiarello, obs. pess.). Bradypus torquatus encontrada em matas primrias, mas tambm capaz de sobreviver e at mesmo atingir altas densidades populacionais em matas secundrias. Habita tanto orestas localizadas ao nvel do mar (sul da Bahia, centro-norte do Esprito Santo e norte do Rio de Janeiro) como orestas baixo-montanas (600-900 m de altitude). At o momento, no foi encontrada acima dos 1.000 m (regio serrana do Esprito Santo). Parece preferir as matas ombrlas densas; ainda no foi encontrada em orestas semidecduas ou de- cduas. A literatura cita a possibilidade de simpatria com a preguia-comum (B. variegatus), mas isso ainda no pode ser conrmado. DISTRIBUIO GEOGRFICA Originalmente restrita regio de MataAtlntica do sul de Sergipe (Estncia) ao centro-norte do Rio de Ja- neiro (Maca, Silva Jardim e Rio das Ostras), passando pela Bahia (Recncavo Baiano, Ilhus, Itabuna, at o extremo sul), pelo Esprito Santo (regio serrana e litornea do centro-sul do Estado, ao sul do rio Doce apenas) e provavelmente extremo nordeste de Minas Gerais (mdio Jequitinhonha, na divisa com Bahia, municpio de Bandeira). H relatos no conrmados de possvel ocorrncia pretrita do norte de Sergipe at Pernambuco (Olivrio Pinto, em Wied-Newied, 1956). Bahia: municpios de Ipia, Ubaitaba, Itabuna, Buerarema, Una, Arataca, Santa Luzia, Canavieiras, Belmonte, Santa Cruz de Cabrlia, Porto Seguro, Prado, Caravelas, Nova Viosa, Teixeira de Freitas. Esprito Santo: municpios de Linhares, Bebedouro, Regncia, Aracruz, Santa Teresa, Domingos Martins, Santa Maria de Jetib, Itarana. Rio de Janeiro: So Joo da Barra (exemplar de museu), Santa Maria Magdalena, Cantagalo, Maca, Friburgo, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Mag, Ilha Brussai e regio de Bzios (Rio das Ostras). PRESENA EM UNIDADES DE CONSERVAO Estao Experimental de Canavieiras (relato), EE de Wenceslau Guimares (observado), REBIO de Una (observado), RPPN Ecoparque de Una (observado), PE da Serra do Conduru (relato), RPPN Serra do Teimoso (relato), (BA); FLONA de Goytacazes (observado), REBIO de Comboios (observado), REBIO Augusto Ruschi (observado), Estao Biolgica de Santa Lcia (observado), PM Natural de So Loureno (observado), REBIO Estadual de Duas Bocas (observado) (ES); REBIO de Unio (observado), REBIO de Poo das Antas (observado) (RJ). PRINCIPAIS AMEAAS Perda, descaracterizao e fragmentao de habitats so as principais ameaas. A Mata Atlntica rema- nescente na regio de ocorrncia da espcie foi drasticamente reduzida e est muito perturbada. Alm disso, os fragmentos remanescentes so, em sua maioria, de pequena rea e isolados. Embora a espcie possa sobreviver em matas secundrias, o isolamento de pequenas populaes pode acarretar drstica reduo do uxo gnico, uma vez que a espcie tem movimentos lentos e mostra grande diculdade em se deslocar por paisagens desorestadas. Em mdio e longo prazo, pequenas populaes isoladas estaro sujeitas a efeitos deletrios da consanginidade e de reduo da diversidade gentica, comprometendo a sua capacidade adaptativa. Outros fatores decorrentes da fragmentao so o aumento da incidncia de incndios em Unidades de Conservao e o aumento da malha viria e do uxo de trfego. Um fator secundrio a caa, visto que em algumas regies, particularmente no sul da Bahia, as preguias podem eventualmente ser apanhadas para venda ou consumo.
  27. 27. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino | 706 | ESTRATGIAS DE CONSERVAO Obviamente, as preguias s podem existir onde existem matas. Assim, antes de tudo, ser preciso impedir, de maneira efetiva, que o corte raso, a explorao seletiva de madeiras e a incidncia de incn- dios continuem a ocorrer de maneira generalizada, particularmente em reas privadas. Estudos recentes (Lara-Ruiz, 2004; Lara-Ruiz & Chiarello, 2005) indicam que as maiores populaes remanescentes da espcie, localizadas no sul da Bahia (Ilhus), centro-sul do Esprito Santo (Santa Teresa) e norte do Rio de Janeiro (Silva Jardim), apresentam diversidade gentica reduzida e se encontram geneticamen- te isoladas umas das outras. Por esse motivo, a estratgia que melhor resultaria em benefcios para a conservao da espcie seria promover o aumento da conexo entre fragmentos, visando a restaurao do uxo gnico, pelo menos em nvel regional, o que possibilitaria que populaes isoladas consti- tussem metapopulaes de fato. A translocao de indivduos tambm poder ser implementada, em alguns casos, para impedir o declnio da diversidade gentica, mas essa estratgia dever obedecer a critrios cienticamente embasados. Como as populaes da Bahia, Esprito Santo e Rio de Janeiro tm composio gentica prpria (Lara-Ruiz, 2004), os locais de captura e soltura devem ser prximos e semelhantes do ponto de vista orstico e climtico (a mistura de indivduos de diferentes Estados deve ser evitada). Uma anlise da viabilidade populacional da espcie est sendo desenvolvida para a regio serrana do Esprito Santo, mediante projeto nanciado pelo Segundo Edital do Programa de Espcies Ameaadas da Fundao Biodiversitas/CEPAN, coordenado por A.G. Chiarello, em parceria com Valor Natural, PUC - Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais e UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (Laboratrio de Biodiversidade e Evoluo Molecular). ESPECIALISTAS/NCLEOS DE PESQUISA E CONSERVAO Adriano G. Chiarello (PUC/MG) - Pela Valor Natural, o pesquisador tambm desenvolve projeto com a espcie mediante nanciamento do Programa de Proteo s Espcies Ameaadas de Extino da Mata Atlntica Brasileira, coordenado em parceria pela Fundao Biodiversitas e CEPAN. Paula Lara Ruiz e Fabrcio R. dos Santos (LBEM/UFMG); Ndia Moraes (USP); Camila Cassano (UESC); Vera Lcia de Oliveira (CEPLAC); Srgio Lucena Mendes (UFES). REFERNCIAS 98, 99, 101, 104, 340, 341, 469, 498 e 729. Autor: Adriano G. Chiarello
  28. 28. | 707 | Mam