representações sociais da gravidez na adolescência para ... · transmite segurança, simpatia e...

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Vera Lúcia de Moura Sena Filha Representações Sociais da gravidez na adolescência para profissionais de Unidades de Saúde da Família Recife, 2013 Universidade Federal de Pernambuco Programa de Pós-graduação em Psicologia Centro de Filosofia e Ciências Humanas Curso de Mestrado em Psicologia

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Vera Lúcia de Moura Sena Filha

Representações Sociais da

gravidez na adolescência para

profissionais de Unidades de

Saúde da Família

Recife, 2013

Universidade Federal de Pernambuco

Programa de Pós-graduação em Psicologia

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Curso de Mestrado em Psicologia

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VERA LÚCIA DE MOURA SENA FILHA

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA PARA

PROFISSIONAIS DE UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Psicologia da Universidade Federal

de Pernambuco, como requisito

parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Psicologia.

Orientadora: Profª. Drª. Alessandra Ramos Castanha

RECIFE

2013

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva CRB-4 1291

S474r Sena Filha, Vera Lúcia de Moura. Representações sociais da gravidez na adolescência para

profissionais de unidades de saúde da família / Vera Lúcia de Moura Sena Filha. – Recife: O autor, 2013.

138 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alessandra Ramos Castanha. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH.

Pós-Graduação em Psicologia, 2013. Inclui bibliografia e anexos.

1. Psicologia. 2. Psicologia social. 3. Representações sociais. 4.

Gravidez na adolescência. 5. Pessoal da área de saúde pública. I. Castanha, Alessandra Ramos (Orientadora). II. Título.

150 CDD (22.ed.) UFPE (CFCH2013-83)

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VERA LÚCIA DE MOURA SENA FILHA

REPREENTAÇÕES SOCIAIS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA PARA

PROFISSIONAIS DE UNIDADES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Psicologia da Universidade Federal

de Pernambuco, como requisito

parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Psicologia.

Aprovada em: _____/____/_____

Comissão Examinadora:

Profª. Drª. Alessandra Ramos Castanha - UFPE 1° Examinador/Presidente

Profª. Drª. Ana Alayde Werba Saldanha Pichelli -UFPB

2° Examinador

Profª. Drª. Maria de Fátima de Souza Santos - UFPE 3° Examinador

Profª. Drª. Fatima Maria Leite Cruz – UFPE Suplente interna

Profª. Drª. Licia Barcelos de Souza Suplente externo

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AGRADECIMENTOS

Estou imensamente feliz por finalizar uma etapa importante da minha

vida. Passei por diversos obstáculos na minha vida pessoal durante a

realização desse trabalho, mas Deus, a minha família e os meus amigos me

ofereceram amparo nos momentos de luto e situações difíceis pelas quais

passei. Não poderia deixar de homenagear as pessoas que contribuíram para a

realização dessa dissertação. Agradeço primeiramente a Deus que sempre me

deu força em todos os momentos. Agradeço a minha irmã, minha mãe e meu

pai por estarem sempre presentes e me preencherem com o seu amor, carinho

e cuidados. Agradeço também a meu namorado e amigo Romero Brito por

mostrar companheirismo e afeto nos momentos que eu mais precisei.

Agradeço aos meus amigos, em especial à Vivian Lemos que me ajudou

e incentivou-me a participar da seleção do mestrado e à Bruna Gabriela

Oliveira que conheci durante o mestrado e foi uma pessoa muito especial para

mim. Não posso deixar de citar meu eterno agradecimento pelo

companheirismo, amor e amizade aos já falecidos, durante a elaboração dessa

dissertação, Rafaela Santiago, amiga de infância e “irmã do coração”, e

Lamartine Moura, primo querido. Sou grata a todos os amigos que não

mencionarei um por um, mas sempre estiveram comigo na minha jornada e no

meu coração, aguentando meus aborrecimentos, manias e momentos de

“loucura”, assim como me confortam e alegram a minha vida.

Agradeço a minha orientadora Profª Drª Alessandra Ramos Castanha

por realmente estar presente em todas as etapas da elaboração dessa

dissertação e ser uma pessoa disponível e dedicada. Além de estar sempre

incentivando seus alunos a buscarem superar suas metas e progredirem.

Também agradeço imensamente à Profª Drª Maria de Fátima de Souza Santos

por desde a graduação inspirar seus alunos a buscarem o conhecimento de

forma prazerosa e proporcionar o nosso crescimento intelectual, assim como

transmite segurança, simpatia e zelo aos seus discentes. Sou agradecida a

todos os meus professores do curso de graduação e pós-graduação em

Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco que, direta ou

indiretamente, contribuíram na minha caminhada e escolhas acadêmicas.

Agradeço a João Cavalcanti, secretário do Programa de Pós-Graduação

em Psicologia da UFPE pela sua dedicação e por estar sempre presente para

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ajudar os discentes. Sou agradecida à FACEPE (Fundação de Amparo à

Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) pela aprovação do projeto,

por ter dado o incentivo financeiro necessário para seu desenvolvimento e

conclusão.

Agradeço aos colegas do Labint, em especial à Edclecia Morais, Yuri

Sousa e Karina Vasconcellos por dividirmos ideias, experiências e

conhecimentos nos nossos encontros e discussões. Meus agradecimentos

também à Cecilia Sales, Míryam Bessa e Paloma Luna pelas contribuições na

elaboração da pesquisa realizada e na coleta dos dados, assim como sou grata

aos profissionais de saúde participantes da pesquisa. Enfim, a todos que foram

e são importantes na minha vida, citados ou não, o meu eterno agradecimento,

muito obrigada por tudo.

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COMIDA

(Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer)

Bebida é água! Comida é pasto!

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida

A gente quer comida Diversão e arte

A gente não quer só comida A gente quer saída

Para qualquer parte...

A gente não quer só comida A gente quer bebida

Diversão, balé A gente não quer só comida

A gente quer a vida Como a vida quer...

Bebida é água!

Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

A gente não quer só comer

A gente quer comer E quer fazer amor

A gente não quer só comer A gente quer prazer Pra aliviar a dor...

A gente não quer

Só dinheiro A gente quer dinheiro

E felicidade A gente não quer

Só dinheiro A gente quer inteiro E não pela metade...

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

Desejo, necessidade, vontade

Necessidade, desejo, eh! Necessidade, vontade, eh!

Necessidade...

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RESUMO

Esta pesquisa faz parte de um projeto maior intitulado “Gravidez na Adolescência: Percepções de diferentes atores sociais” financiada por: FACEPE (em conjunto com a Secretaria da Mulher) e CNPq. A presente dissertação teve como objetivo geral apreender as representações sociais da gravidez na adolescência para os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família. A gravidez na adolescência foi abordada através de um enfoque psicossociológico, por meio do arcabouço teórico da Psicologia Social, conduzido pela Teoria das Representações Sociais, visto que esta oferece suporte para a compreensão dos sentidos construídos coletivamente que norteiam práticas e comportamentos acerca do objeto estudado. A pesquisa foi desenvolvida em duas Mesorregiões do Estado de Pernambuco (Mesorregião Metropolitana do Recife e Mesorregião da Mata Pernambucana) e teve como participantes os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família dessas regiões. O estudo utilizou-se de uma abordagem plurimetodológica e contemplou, como instrumentos, o questionário de associação livre e as entrevistas semi-estruturadas. Os dados obtidos através do questionário de associação livre foram analisados com o suporte do software EVOC e para as entrevistas empregou-se a análise de conteúdo temática. Ao comparar-se os dados obtidos através dos dois instrumentos, apreendeu-se que as representações sociais transitaram entre as experiências de “ser adolescente” e de “ser mãe” em meio às construções histórico-sociais que estabeleceram papéis e lugares ao adolescente e à mulher na sociedade. De uma maneira geral, a maternidade, foi ancorada numa concepção de mulher colocada no lugar de responsável pela criação e cuidado com os filhos. Essa ideia é proveniente do modelo patriarcal em que a mulher tem a função de procriação e cuidadora do lar. Porém, a gravidez na adolescência é objetivada enquanto um momento complicado, marcado por dificuldades e perdas. Tal concepção parte da visão negativa atribuída ao período da adolescência. No que tange à aplicabilidade desta investigação, pensa-se que ela pode contribuir para uma compreensão acerca dos conceitos que permeiam as práticas dos profissionais de saúde perante as adolescentes grávidas. Palavras-Chave: Representações Sociais; Gravidez na Adolescência;

Profissionais de Saúde; Unidades de Saúde da Família.

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ABSTRACT

This research is part of a greater project titled “Pregnancy in adolescence: Perceptions of different social actors” supported by: FACEPE (together with the Board of Women) and CNPq. The present dissertation had, as general aim, learning the Social Representations of pregnancy in adolescence to the health professionals from the Family health Units. The pregnancy in adolescence was handled through a psycho-sociological approach, by means of a theoretical framework of the Social Psychology, conducted by the Social Representations Theory, due to the fact that it offers a pillar to comprehend the meanings built collectively, which leads the practice and behavior about the studied object. The research was developed in two Mesoregions of Pernambuco State (Metropolitan Mesoregion of Recife and the Mesoregion of the Forest of Pernambuco) and it had the participation of the health professionals from the Family Health Units of those regions. The study made use of a multi-methodological approach and regarded as tools the free association questionnaire and the semi-structured interviews. The data achieved through the free association questionnaire was analyzed with the EVOC software support and for the interviews a thematic analysis of the content was employed. When the data achieved was compared through both two tools, it was learned that the Social Representations transit between the experiences of being “an adolescent” and being “a woman” in the midst of social-historical constructs which determined the roles and place of the adolescent and woman into the society. In general, the motherhood was anchored on a conception of woman as being in charge of the upbringing and care of their children. This idea arises from the patriarchal role model in which the woman has the role of the reproduction. However, pregnancy in adolescence is aimed while a tough moment, marked by difficulties and loss. Such a conception comes from the negative view attributed to the adolescence. Regarding the applicability of this investigation, it is thought that it can contribute to a comprehension about the concepts which it permeates and the health professionals’ practices before the pregnant adolescents. Keywords: Social Representations; Pregnancy in Adolescence; Health Professionals; Family Health Units.

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LISTA DE FIGURAS E TABELAS

FIGURA 1. Plano de análise das entrevistas ......................................... 65 FIGURA 2. Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência (categoria - maternidade), elaboradas pelos profissionais de saúde ................................................................................................. 89 FIGURA 3. Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência (Categoria – Maternidade na Adolescência), elaboradas pelos profissionais de saúde. ................................................................. 94

TABELA 1. Perfil Sócio-demográfico dos Profissionais de Saúde ......... 58 TABELA 2. Classes Temáticas, Categorias e Subcategorias Emergentes ............................................................................................ 86

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1. Distribuição dos termos evocados nos quadrantes ........... 67 QUADRO 2. “Ser Mãe adolescente é...”, em função da frequência e ordem média de evocação ..................................................................... 68 QUADRO 3. “O que motiva a adolescente a engravidar é...”, em função

da frequência e ordem média de evocação ............................................ 73 QUADRO 4. “As principais consequências da gravidez na adolescência são...”, em função da frequência e ordem média de evocação .............. 80 QUADRO 5. Maternidade de um modo geral ......................................... 87

QUADRO 6. Maternidade na adolescência ............................................ 90

QUADRO 7. Fatores associados à gravidez na adolescência ............... 95

QUADRO 8. Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência ..... 98

QUADRO 9. O parceiro e a família no contexto da gravidez na

adolescência......................................................................................... 100 QUADRO 10. Repercussão da gravidez para a adolescente .............. 102 QUADRO 11. Efeitos da gravidez na vida do pai da criança............... 106 QUADRO 12. Efeitos da gravidez na família ....................................... 108 QUADRO 13. Serviços de apoio direcionados à gestação na adolescência......................................................................................... 110

QUADRO 14. Atuação do profissional de saúde no contexto da gravidez

na adolescência .................................................................................... 111

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LISTA DE SIGLAS

ACS – Agentes Comunitários de Saúde

AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida

CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DST – Doença Sexualmente Transmissível

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

ESF – Estratégia de Saúde da Família

FACEPE – Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de

Pernambuco

LabInt – Laboratório de Interação Social Humana

OMS – Organização Mundial de Saúde

PE – Pernambuco

RS – Representações Sociais

SUS – Sistema Único de Saúde

TALP – Teste de Associação Livre de Palavras

TRS – Teoria das Representações Sociais

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

USFs – Unidades de Saúde da Família

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 14

1. CAPÍTULO I - CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ............ 17

1.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 20 1.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 20

2. CAPÍTULO II - ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ ......................................... 22

2.1 A adolescência como construção coletiva............................................... 22 2.2 Sexualidade e Gravidez na adolescência ............................................... 26 2.3 A gravidez na adolescência enquanto “problema social” ........................ 29 2.4 Gravidez na adolescência e Cuidados em Saúde................................... 33

3. CAPÍTULO III - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ............... 42

3.1 O estudo da Teoria das Representações Sociais ................................... 42

3.2 Um breve panorama da Abordagem Estrutural ....................................... 50 3.3 Algumas considerações acerca da abordagem moscoviciana ................ 52 4. CAPÍTULO IV - MÉTODO ............................................................................ 56

4.1 Local da Pesquisa ................................................................................... 56 4.2 Participantes da Pesquisa ....................................................................... 57 4.3 Instrumentos ........................................................................................... 58

4.3.1 Questionário de associação livre de palavras ................................... 58 4.3.2 Entrevistas Semi-estruturadas .......................................................... 60

4.4 Aspectos Éticos ....................................................................................... 61 4.5 Coleta de Dados ..................................................................................... 61

4.5.1 Questionário de Associação Livre..................................................... 62 4.5.2 Entrevistas Semi-estruturadas .......................................................... 62

4.6 Análise dos Dados .................................................................................. 62 4.6.1 Questionário de Associação Livre de Palavras ................................. 62 4.6.2 Entrevistas Semi-estruturadas .......................................................... 64

5. CAPÍTULO V - RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................... 67

5.1 Associações livres ................................................................................... 67

5.1.1 Ser mãe adolescente é... ................................................................... 68 5.1.2 O que motiva a adolescente engravidar é... ...................................... 73 5.1.3 As principais consequências da gravidez na adolescência são... ..... 80

5.2 Entrevistas............................................................................................... 85 5.2.1 Classe temática: Gravidez na adolescência ...................................... 87

5.2.1.1 Categoria: maternidade .............................................................. 87 5.2.1.2 Categoria: maternidade na adolescência ................................... 90 5.2.1.3 Categoria: Fatores associados à gravidez na adolescência ....... 94

5.2.1.4 Categoria: Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência ...................................................................................................................... 98

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5.2.1.5 Apoio social à gravidez na adolescência .................................... 99 5.2.2 Classe temática: Repercussões da Gravidez na adolescência .......... 101

5.2.2.1 Categoria: Consequências da gravidez para a adolescente ..... 102 5.2.2.2 Categoria: Consequências da gravidez para o parceiro ........... 106 5.2.2.3 Categoria: Efeitos da gravidez na família ................................. 108

5.2.3 Classe temática: Atuação dos profissionais de saúde ....................... 109 5.2.3.1 Categoria: Serviços de apoio direcionados à gestação ............ 109 5.2.3.2 Categoria: Possibilidades de atuação do profissional de saúde 111

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 114 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 118 ANEXOS..........................................................................................................133 Anexo I- Parecer do Comitê de Ética ............................................................. 134 Anexo II - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................ 135 APÊNDICES....................................................................................................135

Apêndice I – Questões Sociodemográficas – Profissionais de Saúde ........... 136 Apêndice II – Roteiro do Questionário de Associação Livre ........................... 137 Apêndice III – Roteiro da Entrevista ............................................................... 138

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APRESENTAÇÃO

A presente pesquisa foi parte de um projeto maior, intitulado “Gravidez na

Adolescência: Percepções de diferentes atores sociais”, aprovado e financiado pelo

CNPq, FACEPE e Secretaria da Mulher. Nesse sentido, o projeto enfoca as

representações sociais da gravidez na adolescência dos seguintes atores sociais:

adolescentes grávidas, parentes e pessoas próximas, professores e profissionais de

saúde, ao procurar identificar o impacto da gravidez na adolescência, dentro de um

aspecto biopsicossocial, abordando as implicações físicas, sociais, afetivas,

psicológicas e financeiras.

O enfoque dado na pesquisa aqui desenvolvida, a partir do projeto maior, foi

nas representações sociais dos profissionais de Unidades de Saúde da Família

acerca da gravidez na adolescência. Assim, essa pesquisa pretendeu responder a

seguinte questão: como são construídos e compartilhados os conhecimentos que

permeiam a gravidez na adolescência para os profissionais de saúde das Unidades

de Saúde da Família de duas Mesorregiões do estado de Pernambuco?

Para tal, a matriz teórica das Representações Sociais (TRS) será utilizada no

sentido de apreender como as representações destinadas à gravidez na

adolescência acontecem e se estruturam, ao considerar as particularidades que

cada realidade possui. Nesse sentido, Moscovici (2001, p. 49), afirma que “[...] é

impossível explicar os conjuntos de crenças e de ideias a partir do pensamento

individual.” Assim, particularizar o contexto da gravidez na adolescência, não

significa entendê-lo sob uma ótica individual, mas compreendê-lo no cenário que ele

se inscreve.

Esse estudo faz-se relevante para a sociedade uma vez que permite

compreender os conceitos que cercam as práticas de saúde destinadas às

adolescentes grávidas. E do ponto de vista acadêmico, fornece uma possível

contribuição teórica no campo das representações socais e nas pesquisas

relacionadas à gravidez na adolescência com enfoques psicossociológicos.

A fim de realizar a proposta do presente estudo, será apresentado nos

próximos capítulos um breve panorama teórico sobre algumas questões que cercam

a gravidez na adolescência como objeto de representações para o grupo de

profissionais de saúde.

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Nesse sentido, o estudo desenvolveu-se em cinco capítulos, de modo que o

primeiro capítulo refere-se à Introdução e aos objetivos do estudo. Já o segundo

capítulo faz alusão às questões sócio-históricas e psicossociais que cercam o

período da adolescência, assim como abrange o cenário de interação e problemática

da gravidez na adolescência. O terceiro capítulo explora a Teoria das

Representações Sociais com suas abordagens e implicações perante o contexto do

objeto de estudo.

O quarto capítulo apresenta o Método, no qual se encontra delineado o local,

participantes, aspectos éticos e instrumentos empregados no procedimento da

pesquisa, como também menciona o processo de coleta e análise dos dados. O

quinto capítulo expõe os resultados obtidos pela coleta de dados e traz a discussão

dos achados para cada instrumento utilizado. Posteriormente, são exibidas as

considerações finais e as referências bibliográficas utilizadas no desenvolvimento da

pesquisa.

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CAPÍTULO I

CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) delimita a adolescência como

o período de vida que vai dos 12 aos 18 anos de idade (BRASIL, 1991a). A

Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, faz um recorte cronológico que

vai dos 10 aos 19 anos. No campo da Saúde, atribui-se, de modo geral, que a

adolescência é uma etapa da vida que marca a passagem da infância para a fase

adulta e engloba um conjunto de mudanças físicas e biopsicossociais (WAIDEMAN,

2003; LEAL e WALL, 2005).

No que se refere ao âmbito da Psicologia, há concepções que colocam a

adolescência como uma fase natural e inerente do desenvolvimento humano,

caracterizada por conflitos e crises próprias dessa faixa etária. Assim, essa

perspectiva deposita uma visão universalizante ao período da adolescência, o qual

contempla particularidades que assumem um caráter negativo, de modo que os

adolescentes, independentemente da sua inserção histórica e cultural, passam por

momentos de sofrimentos, tensões e turbulências considerados típicos dessa fase

(ANDRIANI et al., 2003; MESQUITA, 2008).

Entretanto, muitas peculiaridades agregadas atualmente à adolescência

fizeram parte de construções sociais constituídas ao longo da história e foram

registradas, por vários estudiosos, em documentos históricos. Desse modo, não se

pode conferir características universais à adolescência, uma vez que ela é

vivenciada de diferentes formas devido às diversidades das interações e contextos

(sociais, históricos, políticos e econômicos) que permeiam as experiências do

adolescente. Assim, faz-se necessário ultrapassar perspectivas naturalizantes e

compreender a adolescência como etapa construída, ao longo da história, nas

interações e processos sociais (AGUIAR et al., 2001; HEILBORN et al., 2002; REIS,

2004; COLE e COLE, 2004; OLIVEIRA, 2007; FERREIRA et al., 2007; PANTOJA et

al., 2007).

Nessa perspectiva, a Psicologia Social vai além das teorias psicológicas

existentes, visto que concebe a adolescência como uma construção sócio-histórica-

cultural que transcorre perspectivas psicológicas e biológicas juntamente com o

contexto social. Dessa forma, o cenário social adota grande influência no percurso

da adolescência, pois o contexto de interações dos adolescentes colabora na

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constituição dos seus comportamentos, estilos de vida, tomadas de decisão e

condutas (OZELLA, 2003).

Diante do exposto, a gravidez na adolescência aparece como assunto de

discussão social e no campo da saúde assume um caráter de problema social e de

saúde pública. As expectativas em torno da adolescência, da mulher e da família

ostentam demandas sociais e político-econômicas que reforçam o olhar negativo

sobre a maternidade adolescente para a sociedade de modo geral e para as

próprias mães. Embora diversos estudos demonstrem os sentidos positivos

conferidos à gravidez pelas adolescentes (GONTIJO e MEDEIROS, 2004;

BRANDÃO e HEILBORN, 2006; MAGALHÃES, 2007; MESQUITA, 2008; MAZZINI et

al., 2008; TORRES et al., 2010).

Vale ressaltar que a gravidez na adolescência não se limita aos aspectos

biológicos ou emocionais da gestante, pois a adolescente que engravida está imersa

em uma construção social historicamente e geograficamente contextualizada que

interfere na sua subjetividade e na forma como se apropriam dos acontecimentos da

sua vida. Desse modo, aspectos culturais e sociais interferem na constituição dos

valores, rituais, imagens e tradições que permeiam os sentidos atribuídos e

compartilhados acerca da gestação na adolescência (BARKER e CASTRO, 2002;

DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008; NOGUEIRA et al., 2009).

Ao longo do tempo, as compreensões e práticas em volta da gravidez na

adolescência não ocorreram do mesmo modo e passaram por transformações que

foram fruto das mudanças no contexto de interação social. Nesse sentido, as

construções sócio-históricas permeiam a maternidade e os rituais que cercam a

gestação, assim como guiam ideias, crenças e padrões que asseveram os papéis e

funções da mulher. Assim, a maternidade é associada às mulheres, mas as

concepções vigentes em torno da fase ideal para gerar filhos vão estar relacionadas

às construções sociais que circulam no contexto em que a mulher vive. (HEILBORN

et al.,2002; MOURA e ARAUJO, 2004; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; PANTOJA et

al., 2007; MAZZINI et al., 2008).

Nessa perspectiva, a gravidez na adolescência surge como um

acontecimento cujos significados modificam-se conforme influências do momento

histórico e contexto social vivenciado. Há um tempo, as mulheres se organizavam

para casar e procriar bem jovens, pois a faixa etária que é atualmente destinada a

cumprir-se com as incumbências apresentadas como próprias da adolescência -

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estudar e amadurecer para a vida adulta - já foi considerada um período adequado

para a procriação (MOURA e ARAUJO, 2004; MAGALHÃES, 2007; MOREIRA et al.,

2008).

Dessa forma, alguns fatores como, por exemplo, comunidade de pertença,

classe social e escolaridade, aliados ao contexto de interação e experiência

subjetiva, influenciam as construções de sentidos, constituídas por determinados

grupos populacionais, em torno da gravidez na adolescência. De tal modo, a rede de

profissionais de saúde destaca-se como um grupo de fundamental importância no

que diz respeito à promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes. A

compreensão que os profissionais de saúde possuem sobre a gravidez/maternidade

na adolescência fornece contribuições ao entendimento das práticas direcionadas ao

público adolescente (FERRARI et al., 2006; DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008;

NOGUEIRA et al., 2009).

Vale ressaltar que o olhar técnico dos profissionais de saúde a respeito da

maternidade nesse período de vida está permeado por visões presentes nas

relações estabelecidas com a conjuntura social, as quais contribuem na forma como

esses profissionais organizam teorias, encaram, agem e constituem práticas perante

a gestação adolescente (DUARTE et al., 2006; MESQUITA, 2008; NOGUEIRA et al.,

2009).

Para conceber tal discussão, o presente estudo foi desenvolvido com a

contribuição teórica da Teoria das Representações Sociais que, segundo Santos

(2005), se volta para a compreensão da elaboração dos conhecimentos e práticas

socialmente compartilhados, por um grupo social específico, acerca de um

determinado objeto. Dessa forma, ela oferece subsídios para entender os sentidos

produzidos pelos profissionais de saúde, enquanto sujeitos sociais, acerca da

gravidez na adolescência, como objeto de relevância social, no emaranhado das

suas interações.

Conforme Moscovici (2003), as representações sociais diferem de acordo com

as peculiaridades de cada sociedade, de modo que são constituídas nos sistemas

de pensamentos preexistentes através de influências mútuas nas convenções

implícitas no percurso dos diálogos que apontam conjuntos de crenças aportados

em costumes, princípios e conceitos que perpassam o homem na sua interação com

o mundo. Diante do exposto, a presente pesquisa, ao abordar o universo de

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interações entre os profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família e as

adolescentes grávidas, recorre aos objetivos apresentados a seguir.

1.1 Objetivo Geral

Apreender as representações sociais da gravidez na adolescência para os

profissionais de saúde das Unidades de Saúde da Família.

1.2 Objetivos Específicos

Analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais acerca da

gravidez na adolescência para os profissionais de saúde;

Compreender em que se ancoram e como são objetivadas as representações

sociais dos profissionais de saúde a respeito da gravidez na adolescência;

Conhecer os sentidos compartilhados pelos profissionais de saúde em

relação à gravidez na adolescência.

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CAPÍTULO II

ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ

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CAPÍTULO II – ADOLESCÊNCIA E GRAVIDEZ

2.1 A adolescência como construção coletiva

A adolescência, como categoria identitária, refere-se a modos peculiares de

subjetivação que estão em constante mudança. Assim é impossível defini-la de

forma estática, o que indica a existência de adolescências, no plural, caracterizadas

pela interação do indivíduo no seu contexto histórico-cultural, marcado por

determinadas características de gênero, classe social, religião, raça, entre outras.

Nesse sentido, não se torna viável uma compreensão unívoca da adolescência, já

que ela é vivenciada de modo peculiar ao levar-se em consideração a diversidade e

pluralismo cultural do contexto social de cada sujeito que compartilha referências

identitárias, linguagens, comportamentos e formas de socialização diversas

(TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002).

Vale lembrar que ao longo da história, o período considerado como

adolescência nem sempre existiu e também não era reconhecido como uma etapa

específica do desenvolvimento humano. Havia distinção somente da puberdade

como um período em que aconteciam transformações corporais típicas da biologia

humana, de modo que as mudanças corporais da puberdade eram contempladas

independentemente de um olhar acerca da sociedade, cultura ou período histórico

(AVILA, 2005).

Martins et al. (2003) observam que é equivocada a noção de uma visão

universal a respeito da adolescência, pois ela está inserida num momento histórico,

cultural e social que constrói como também molda as diversas formas de vivenciar

determinada etapa da vida, além de ter influência sobre as crenças, o gênero, o

grupo social, a geração, entre outros fatores que perpassam a constituição do

indivíduo.

Em épocas passadas da história ocidental, a adolescência não era apreciada

como uma etapa especial do desenvolvimento e não havia uma construção cultural e

social em torno dessa fase. Durante um bom tempo, as crianças mantiveram-se

inseridas nas tarefas do trabalho desde os sete anos. Assim, elas não tinham como

meta o estudo, e o modelo educativo existente não dividia o ensino de acordo com

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as diferenças de idade. Nesse sentido, a concepção de adolescência só começou a

ser formada no final do século XVIII e se perpetuou no século XX (ARIÈS, 1981).

Ao passar do tempo, a família também sofreu transformações sócio-históricas

em que o domínio da figura paterna que configurava o padrão hierárquico de

obrigações familiares rigidamente determinadas foi aos poucos substituído por uma

postura de padrão igualitário que preza o atendimento à individualidade e liberdade.

Nessa perspectiva, o novo modelo familiar contribui para que os adolescentes

sintam-se mais livres para vivenciar suas descobertas e experimentações, pois o

diálogo entre os membros da família tomou o espaço do peso da autoridade familiar

(PEIXOTO e CICCHELLI, 2000; SCAVONE, 2001; SARTI, 2007).

Vale ressaltar que a ideia do que atualmente é concebido como adolescência

está relacionada aos novos modelos de grupo social que começaram a surgir, no fim

do século XVIII, associados às aspirações modernas de individualidade e liberdade.

Nesse sentido, o final do século XIX culminou com mudanças notáveis na cultura

ocidental, associadas às demandas da sociedade industrializada, o que trouxe

modificações em relação ao tempo de formação escolar, que incluiu uma maior

permanência do indivíduo na escola. Assim, a maior duração do período escolar

trouxe um espaçamento na firmação da denominada idade adulta e resultou no

prolongamento do espaço entre a fase da infância e a etapa adulta. Então, formou-

se a adolescência, uma etapa de desenvolvimento com peculiaridade própria e sem

abarcar os encargos que abrangia a vida adulta, de modo que se consolidou como

um momento de conflitos e transformações do indivíduo na passagem para tornar-se

adulto (GROSSMAN, 1998; AVILA, 2005).

Somente no século XIX começou-se a distinguir a adolescência como um

período em que o indivíduo passa a ter conflitos com ele mesmo e com as

determinações sociais. Vale lembrar que esse século foi um período caracterizado

pela consolidação dos Estados Nacionais, pelas transformações dos papéis sociais

atribuídos às crianças e às mulheres e pelo progresso rápido da industrialização.

Portanto, apenas nos séculos XIX e XX, surgem episódios culturais, sociais e

demográficos que parecem ter corroborado com a compreensão da adolescência

enquanto etapa característica do desenvolvimento humano (ARIÈS, 1981; KIMMEL

e WEINER, 1998).

Desse modo, observa-se que a psicologia do adolescente é uma construção

recente que analisa o fenômeno da adolescência por meio de teorias diversas, as

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quais apresentam suas peculiaridades. As teorias psicológicas acerca da

adolescência apresentam entendimentos diferentes a respeito dessa fase. Há

abordagens universalizantes e naturalistas que colaboram com a ideia de

comportamento patológico da adolescência. Assim como, também existem

perspectivas que compreende essa etapa implicada numa visão histórica e social.

(AVILA 2005, STEINBERG e LERNER, 2004).

Nesse sentido, Sifuentes et al. (2007) referem que a adolescência, assim

como as outras fases do ciclo vital, abrange aspectos psicológicos e sociais, cujas

características entrelaçam-se ao contexto de interação ao qual se está inserido.

Essa perspectiva é de grande valor para a compreensão do desenvolvimento

humano e, particularmente, da adolescência.

Bock (2004) ressalta que a adolescência não é uma etapa típica do

desenvolvimento que marca o período entre a infância e a vida adulta, pois as

mudanças corporais do indivíduo, ao longo do seu desenvolvimento, vêm

acompanhadas de uma rede de sentidos e significações disseminadas no meio

social. Dessa forma, a adolescência é vista como uma construção social que

abrange as relações sociais e históricas que culminam com o aparecimento da

adolescência na sociedade ocidental.

Diante do exposto, as relações sociais, os meios de comunicação e as teorias

formuladas acerca da adolescência constroem modelos de juventude que interferem

na maneira como essa fase é interpretada, assim como influenciam a realidade dos

adolescentes. De tal modo, as redes de significações sociais intervêm na

constituição da identidade do adolescente através da absorção das noções e

padrões sociais (BOCK, 2004).

Vale salientar que o século XXI, devido ao crescimento da taxa de natalidade

no Brasil, foi marcado por um amplo número de pessoas que estavam na faixa etária

da adolescência. Nessa época, o panorama econômico, devido às crises sociais e

problemas urbanos que o país enfrentava, propiciou dificuldades para os

adolescentes encontrarem emprego, o que acarretou mudanças de valores sociais

em torno da adolescência. (MATHEUS, 2003).

Nesse contexto, o crescimento da expectativa de vida populacional, o

aumento do consumo material e as modificações dos papéis sociais advindos da

emancipação feminina, trouxeram artifícios que reforçaram a separação entre

sexualidade e reprodução na adolescência, juntamente com as modificações nos

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valores sociais e diminuição das influências e autoridades tradicionalmente

desempenhadas pela instituição religiosa, família e comunidade (VARGAS e

NELSON, 2001; BRANDAO e HEILBORN, 2006).

Diante disso, a adolescência, na atualidade, obteve o caráter de um momento

crucial para o desenvolvimento do indivíduo que geralmente é visto, nessa etapa,

como alguém que apresenta conflitos existenciais próprios de quem está

vivenciando uma fase de indefinição de espaço no mundo social. Ao mesmo tempo,

o adolescente torna-se um sujeito de direitos que está sob cobertura do estado, o

qual mantém e formula leis que o protejam integralmente dentro de um entendimento

que a adolescência é uma etapa crucial do desenvolvimento que apresenta

determinadas peculiaridades (ESPINDULA e SANTOS, 2004; AVILA, 2005).

O olhar voltado ao adolescente enquanto sujeito protegido pelas leis

governamentais passou a acontecer no Brasil desde 1900, porém o alcance do

poder jurídico na proteção integral do adolescente se perpetua de forma diferenciada

de acordo com a classe social e região geográfica do país. Assim, as populações

mais carentes ainda são as menos contempladas com ações de proteção do

governo. (TORRES et al., 2010; BUCHER-MALUSCHKE, 2007).

Diante do exposto, a adolescência não deve estar limitada à visão de um

conjunto de fenômenos universais implicados no crescimento e desenvolvimento

somático-mental, uma vez que as transformações pelas quais passam os

adolescentes também resultam de processos inerentes aos contextos sociais

(históricos, políticos e econômicos) nos quais esses indivíduos estão imersos

(FERREIRA et al., 2007).

Conforme AVILA (2005) e MESQUITA (2008), ao estudar as nuances que

cercam a adolescência apreende-se também o meio social e as diversas questões

que a cercam. Por outro lado, as compreensões que permeiam a adolescência, a

qual é um fenômeno construído coletivamente, sofrem variações de acordo com a

cultura e sociedade. Assim, um olhar voltado para as interações sociais faz-se

essencial para a compreensão dos fenômenos psicossociais que permeiam esse

período da vida. Ao tomar a adolescência como ligada às influências sócio-históricas

bem como aos sentidos que regem em torno da puberdade e dos processos

fisiológicos que esta manifesta, o episódio da gravidez nessa fase da vida é assunto

que ganha destaque no âmbito público.

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2.2 Sexualidade e Gravidez na adolescência

A sexualidade é um componente da condição humana e abrange um conceito

vasto que ultrapassa a genitalidade, de modo que as diversas sociedades possuem

valores culturais sobre as questões acerca da sexualidade e estas permeiam ao

longo das diversas gerações. As ideias compartilhadas sobre a sexualidade estão

presentes nos signos culturais que circulam e são reforçados pela mídia e práticas

sociais. Nesse contexto, os meios de comunicação trazem diversas mensagens

acerca dos valores que permeiam e direcionam a sexualidade humana, o que pode

reforçar normas sobre determinados aspectos da vida sexual dos adolescentes

(HENNIGEN e GUARESCHI 2002; BOZON, 2004).

Vale salientar que desde o nascimento, as pessoas são educadas

sexualmente para aprenderem quais os comportamentos e atitudes são socialmente

adequados, porém surgem atritos decorrentes das repressões às manifestações

sexuais que fogem dos padrões sócio-históricos construídos. Na Grécia Antiga, por

exemplo, as garotas costumavam casar entre 15 e 16 anos. Elas se preparavam

fisicamente com exercícios e prática esportiva com a finalidade de obter disposição e

saúde nas futuras tarefas domésticas e da maternidade. A puberdade era

considerada uma fase de preparo para as atividades da fase adulta, que consistiam

na maternidade para o sexo feminino (MAZEL, 1988; CATONNÉ, 1994; HENNIGEN

e GUARESCHI 2002; BOZON, 2004).

Conforme Hercowitz (2002), a sexualidade traz uma importante influência

para o desenvolvimento do indivíduo e sua inclusão no arcabouço social. Nesse

sentido, alguns temas vêm se destacando quando se trata da sexualidade dos

adolescentes, dentre os quais se pode destacar o avanço da epidemia do HIV/AIDS

e o aumento da incidência de gravidez entre os mais jovens. Diante disso, a atenção

dos profissionais de saúde torna-se relevante aos adolescentes no que se refere à

vulnerabilidade e repercussões que perpassam a saúde sexual e reprodutiva desses

jovens (CASTANHA et al., 2006; SANTOS et al., 2009).

De acordo com Mesquita (2008), a gestação na adolescência torna mais

explícitas para a família as questões referentes à sexualidade do adolescente, a qual

costuma ser negligenciada e ainda é considerada tabu no âmbito familiar. Dessa

forma, quando a adolescente se torna mãe desperta repulsa por parte da sociedade,

pois a maternidade nesse período é socialmente vista como um evento negativo que

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traz perda das oportunidades e “diversões” da vida juvenil. Nesse contexto, a

gravidez adolescente é considerada um problema para a futura geração devido às

responsabilidades que ela acarreta ao adolescente que não é considerado apto para

prover os cuidados que requer a chegada de um bebê.

Conforme o exposto, a gestação na adolescência é permeada pelo estigma

da negatividade que a coloca como empecilho para os adolescentes construírem um

projeto de vida estável quando adultos. Entretanto, algumas pesquisas realizadas

com público de camadas pobres da população constatam que a maternidade não

condiz, para as mães adolescentes, numa perda ou descontinuidade dos seus

projetos de vida. Desse modo, a gravidez muitas vezes aparece enquanto um valor

de status social que não é assumida como um fato que impeça os planos para o

futuro e o prosseguimento dos estudos para as adolescentes gestantes (PANTOJA,

2003; BRANDAO e HEILBORN, 2006).

Vale ressaltar que a sexualidade do adolescente encontra-se menos

vinculada ao matrimônio e mais destinada à autonomia, ganho de experiência e

interação com os outros. Ter uma vida sexual é uma forma de o adolescente

expressar sua autonomia perante os pais, assim é preciso cuidado ao depositar a

falta de informação como fator primordial para a ocorrência da gravidez na

adolescência, pois gerar um filho na adolescência pode ser a pretensão e escolha

de alguns adolescentes. Dessa forma, faz-se essencial conhecer os contextos

socioculturais que cercam o fenômeno da gravidez na adolescência. (CICCHELLI,

2001; BOZON, 2004; MESQUITA, 2008).

Nesse sentido, a vivência da sexualidade dos adolescentes, assim como os

aspectos ligados à reprodução, devem ser percebidos dentro do contexto das

transformações ocorridas, ao longo do tempo, na conjuntura intergeracional que

englobam o conjunto das mudanças fruto da construção social que permeia a

adolescência, a sexualidade, e a gestação na adolescência. Assim, a sexualidade do

adolescente está atrelada às práticas sociais e representações de uma dada cultura

(MESQUITA, 2008; BOZON, 2004).

Lima et al. (2004) ressaltam que para entender o fenômeno da gravidez na

adolescência é preciso compreender um pouco da realidade dos atores sociais. No

que se refere à complexa rede de inter-relações que configura a gravidez na

adolescência, ganham destaque: a impulsividade, o imediatismo, os sentimentos de

onipotência e indestrutibilidade, a idade cada vez mais precoce da menarca e da

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iniciação sexual, a falta de informação sobre concepção e contracepção, a baixa

auto-estima das jovens, a aspiração à maturidade para concorrer em nível de

igualdade com os pais e o fato da gravidez fazer parte do projeto de vida, na

tentativa de alcançar autonomia econômica e emocional em relação à família de

origem.

Apesar dos adultos geralmente perceberem a gravidez na adolescência como

indesejada, muitas vezes a adolescente deseja, planeja e se frustra quando constata

que a gravidez não ocorreu. Há que se ter uma atitude cuidadosa ao avaliar a

gravidez na adolescência, pois um pré-julgamento pode interferir na escuta aos/às

adolescentes e na qualidade da relação que se poderia estabelecer na escola ou

outros espaços de convivência juvenil (PANTOJA, 2003; FOLLE e GEIB, 2004;

RANGEL e QUEIROZ, 2008; GONTIJO e MEDEIROS, 2008).

As condições materiais da existência e os significados e expectativas que

cercam a gravidez, torna-se para algumas adolescentes parte do projeto de vida,

constituindo-se para outras em um evento não planejado, em uma surpresa

desagradável que gera temores e conflitos ou acentua os já existentes. Desse modo,

é preciso considerar o receio de assumir a gravidez diante dos familiares, do grupo

de iguais e dos demais membros da rede de relações sociais e de enfrentar as

novas responsabilidades trazidas por essa situação, que podem provocar mudanças

profundas na vida cotidiana (RIBEIRO e UHLIG, 2003; RANGEL e QUEIROZ, 2008;

GONTIJO e MEDEIROS, 2008).

Entre as mães adolescentes são mais frequentes o abandono da escola, o

afastamento do grupo de amigos e das atividades próprias da idade e as limitações

de oportunidade de emprego. Nessas circunstâncias, adquirem relevância o

aumento na frequência de abortamentos provocados nesse grupo populacional, o

início tardio de consultas pré-natal com número menor do que o esperado (RIBEIRO

e UHLIG, 2003; FOLLE e GEIB, 2004; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; SILVA et al.,

2009; VIEIRA et al., 2010).

Vale considerar que, na gravidez, independente da idade, a mulher passa por

uma crise situacional decorrente da mudança de papel social, da necessidade de

novas adaptações, e dos reajustes interpessoais e intrapsíquicos que interferem na

sua identidade. Os diferentes padrões de relações afetivo-sexuais coexistem com a

responsabilização da mulher na esfera da contracepção e as suas dificuldades para

negociar o sexo seguro, quando não faz a opção pelo uso de métodos

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contraceptivos femininos. Além disso, na vivência da gravidez, a adolescente

defronta-se com alterações corporais que afetam sua autoimagem e autoestima.

(FELICIANO, 2001; FOLLE e GEIB, 2004; SILVA et al., 2009).

Porém, as práticas de saúde pública não estão voltadas para incluir os

adolescentes no próprio cuidado em relação à sua saúde sexual e reprodutiva. De

modo que o público adolescente acaba por não levar, aos serviços de saúde, seus

questionamentos em relação à sexualidade com receio de não serem

compreendidos e por medo de sofrer preconceitos e discriminações (BRASIL,

2006b).

Segundo Altmann (2009), o progresso da liberdade sexual aproximou os

adolescentes das questões da sexualidade. Porém, a educação sexual ainda não

preenche o espaço adequado em relação aos cuidados referentes à contracepção e

responsabilização advinda da gravidez na adolescência, a qual é considerada nas

últimas décadas fonte de problemas sociais, mesmo não sendo um fenômeno

recente no panorama brasileiro. A gestação de adolescentes adquiriu a designação

de problema social que demanda cuidados específicos dos poderes públicos e da

sociedade de um modo geral. (HEILBORN et al., 2006).

2.3 A gravidez na adolescência enquanto “problema social”

A gravidez na adolescência é exibida como um problema no andamento do

adolescente e prende-se a um olhar de sobressalto e moralista. Porém, como já foi

discutido anteriormente, ter filhos antes dos dezenove anos não designava uma

questão de esfera e preocupação pública como ocorre na atualidade. Mas, o novo

panorama sociocultural existente, que perpassa o trajeto para a vida adulta, torna-se

“impróprio” para a maternidade da adolescente, pois ele é nutrido pelas diversas

tecnologias de informação inovadoras, pela dispersão dos vínculos sociais, pela

busca ao consumo, entre outros valores capitalistas (BRANDAO e HEILBORN,

2006; HEILBORN et al., 2006).

Dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que a quantidade de

partos em adolescentes de 10 a 19 anos caiu 22,4% de 2005 a 2009. Na primeira

metade da década passada, a redução foi de 15,6%. De 2000 a 2009, a maior taxa

de queda anual ocorreu em 2009, quando foram realizados 444.056 partos em todo

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o País, 8,9% a menos que em 2008. E ao longo da década, a redução total foi de

34,6%. Já o Norte e o Nordeste apresentaram os índices de quedas de fecundidade

mais altos em relação às outras regiões do país. Ao realizar-se uma análise da

quantidade de partos registrados em Pernambuco, levando-se em consideração a

faixa etária de 10 a 19 anos, observa-se que também houve uma queda no número

de partos. Em 2000 foram 39.183, no ano de 2005 foram 32.981 e em 2009 foram

registrados 26.419 partos (BRASIL, 2010).

Vale destacar que mesmo havendo uma queda na fecundidade em todo o

Brasil, a gravidez de adolescentes em situação de vulnerabilidade social é

apresentada de modo alarmante. Foi a partir dos anos 80 que se adicionaram

discussões sobre as implicações geradas pela gravidez na adolescência na

conjuntura social. Discute-se que o desdobramento da família monoparental

chefiadas por mulheres provoca o adensamento da pobreza, pois contribui para a

evasão escolar das adolescentes que engravidam e gera dificuldades para ingressar

ou manter-se no mercado de trabalho, o que consequentemente contribui para a

situação de marginalização social e prejuízo econômico. Nesse sentido, a idade

socialmente considerada como ideal para uma pessoa ter filhos parece estar

vinculada aos ideais a respeito do ingresso na profissão, da formação escolar e da

vida sexual sem fins de reprodução (ALTMANN, 2007; HEILBORN et al., 2006).

De acordo com Altmann (2007) e Heilborn et al. (2006), o destaque social

atribuído à gravidez na adolescência está atrelado às demandas sociais em torno da

adolescência, da mulher e da maternidade. A adolescência é apreciada como uma

época imprópria para engravidar porque se considera que a maternidade e a

paternidade devem ocorrer no período em que os futuros pais da criança tenham

estabilidade financeira e maturidade para criá-la adequadamente sem obstáculos

para sua vida profissional e pessoal. Nessa perspectiva, utilizam-se os termos não

planejada, precoce e indesejada para aludir à gravidez na adolescência, visto que há

demandas sociais sobre como a adolescência deve ser vivida e, assim, consideram-

na incompatível com a experiência da gravidez (UNBEHAUM e CAVASIN, 2006;

FERRARI et al., 2008; SILVA e CAMARGO, 2008; CORRÊA e BURSZTYN, 2011).

Nesse contexto, o crescimento da expectativa de vida populacional, o

aumento do consumo material e as modificações dos papéis sociais advindos da

emancipação feminina, trouxeram artifícios que reforçaram a separação entre

sexualidade e reprodução na adolescência, juntamente com as modificações nos

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valores sociais e diminuição das influências e autoridade tradicionalmente

desempenhadas pela instituição religiosa, família e comunidade (BAJOS et al., 2002;

HEILBORN et al., 2006).

Vale ressaltar que as mudanças no modelo de fecundidade do público

feminino do Brasil tiveram influências das transformações ocorridas no papel social

ocupado pelas mulheres, o que trouxe novas possibilidades para os adolescentes,

no que diz respeito à vida escolar e profissional. Assim, a preocupação social em

torno da gravidez na adolescência sofreu influência das transformações ocorridas na

compreensão do gênero que trouxe perspectivas sociais para os adolescentes da

atualidade, principalmente os do sexo feminino (BRANDAO e HEILBORN, 2006;

HELBORN et al., 2006).

A sociedade demanda que a mulher se programe e se prepare antes de ter

seus filhos, o que decorre de uma expectativa social em relação ao papel da mulher

e uma preocupação em não transformar a gravidez na adolescência num evento

problemático. Nesse sentido, a gestação na adolescência é considerada como um

empecilho social, principalmente no que concerne às classes populares. Essa

gestação, de um modo geral, é vista pela sociedade como um acidente na trajetória

do adolescente, um obstáculo para o ganho da autonomia, uma dificuldade na vida

escolar e profissional, que podem contribuir para a manutenção da pobreza e

marginalização social (ABRAMO e BRANCO, 2005; HEILBORN et al., 2006;

MESQUITA, 2008; ALTMANN, 2009).

Desse modo, a gravidez na adolescência torna-se uma preocupação política,

pois as adolescentes de comunidades pobres comumente cuidam dos seus filhos

sem auxílio do pai da criança e provavelmente precisarão do apoio de políticas

sociais para viver com dignidade. Nessa perspectiva, as adolescentes pobres

necessitarão de maternidades e postos de saúde adequados que coloquem o

planejamento familiar como prioridade. Vale ressaltar que o custo para inserir esses

serviços de saúde nas populações carentes é baixo, ao comparar-se com as

despesas geradas por gravidezes no período da adolescência (VARELLA, 2002;

ALTMANN, 2007; MESQUITA, 2008).

De maneira geral, a gravidez de adolescentes que pertencem a camadas

populares acarreta modificações no estatuto social dos pais da criança, pois eles

começam a formar outros arranjos sociais devido à chegada de um bebê, o que lhes

confere um maior destaque nas suas comunidades e uma alteração na posição que

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mantinha com a sua família de origem. Os pais adolescentes, geralmente, almejam

independência na construção da sua própria família e o episódio da gravidez na

adolescência constitui, de forma simbólica, uma nova etapa que inclui ascensão no

local onde vivem (BRANDAO e HEILBORN, 2006).

Diante da complexa rede de construções discursivas acerca do tema da

gravidez na adolescência encontra-se o profissional de saúde que lida com o

aparecimento de gestantes adolescentes, ao mesmo tempo em que compartilham

conhecimentos e compreensões sobre essa gravidez. Assim, sobrevém sobre esses

profissionais uma responsabilidade em promover e orientar as questões da vida

reprodutiva do adolescente, mas não livre das ideias e sentidos compartilhados

acerca da temática (DIMENSTEIN, 2002; MESQUITA, 2008).

Nesse sentido, há uma necessidade de organização da saúde pública para

administrar os problemas decorrentes da gravidez na adolescência em populações

mais pobres, pois quando uma adolescente engravida não existem somente

questões individuais envolvidas, mas também demandas sociais que podem ser

abarcadas no âmbito da saúde coletiva com um olhar voltado para as configurações

dessa população (DIMENSTEIN, 2002; MESQUITA, 2008).

O crescimento da fecundidade entre o público adolescente exige uma atenção

adequada das políticas públicas, visto que pode constituir não apenas um

rejuvenescimento definido da fecundidade, mas também uma deficiência na

promoção do acesso a orientações e a métodos contraceptivos. Desse modo, os

sistemas de atenção básica à saúde dos adolescentes exigem ajustes para

acompanhar as transformações por que passam as práticas sexuais (BERQUÓ e

CAVENAGUI, 2004; MESQUITA, 2008).

No que concerne à promoção da saúde do adolescente, destacam-se os

assuntos referentes à saúde sexual e reprodutiva que vêm alcançando novas

perspectivas no âmbito da saúde coletiva, ao partir do princípio que a prevenção da

gestação na adolescência e das doenças sexualmente transmissíveis (DST) deve

ser enfocada por ações coletivas que desmistifiquem o olhar voltado para

responsabilização individual do adolescente pela sua saúde (BORGES et al., 2006;

MESQUITA, 2008).

Diante do exposto, as Unidades de Saúde da Família são locais próprios para

o desenvolvimento de orientações, intervenções e ações educativas para as

adolescentes grávidas, apesar do contexto da saúde pública não se encontrar bem

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estruturado para lidar com as diversas demandas que advém da gravidez na

adolescência (FERRARI et al., 2006; OLIVEIRA, et al., 2008).

2.4 Gravidez na adolescência e Cuidados em Saúde

O Ministério da Saúde observa que a idade materna inferior a 15 anos é um

fator de risco gestacional (BRASIL, 2005). Na visão da saúde pública há mais riscos

materno-infantis quando a gravidez ocorre entre 10 e 14 anos (COSTA e

HEILBORN, 2006). Nesse contexto, as equipes de saúde das Unidades de Saúde

da Família funcionam como uma importante fonte de apoio social no enfrentamento

da gravidez na adolescência. Elas devem, dentre outras funções, compartilhar o

conhecimento e ações que favoreçam a autonomia das adolescentes no cuidado

com o bebê. Dessa forma, possuem um lugar de destaque na educação sexual e

reprodutiva, ao incorporar a necessidade e a possibilidade de adotar uma atitude

comunicativa que permita reforçar os vínculos de cooperação com os adolescentes

(FELICIANO, 2001; FERRARI et al., 2006, OLIVEIRA, et al., 2008).

As Unidades de Saúde da Família (USFs) compõem o primeiro nível de

assistência local, designado atenção básica, que oferece promoção e prevenção em

saúde aos adolescentes e suas famílias. As USFs precisam estar vinculadas à rede

de serviços de modo a garantir a referência e a contra-referência para os serviços de

maior complexidade, de acordo com a condição de saúde de cada pessoa atendida.

Elas configuram-se na atenção básica com equipes multiprofissionais formadas, no

mínimo, por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e agentes

comunitários de saúde (ACS), podendo contar também com um dentista, um auxiliar

de consultório dentário e um técnico em higiene dental (BRASIL, 2006c).

Os outros profissionais de saúde, como por exemplo, os psicólogos,

fisioterapeutas e nutricionistas, podem ser agrupados a essa equipe mínima ou

serem integrados a equipes de apoio dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família

(NASFs), conforme as possibilidades de cada local. Todas as equipes de Saúde da

Família são responsáveis pelo acompanhamento de um determinado número de

famílias, a depender da concentração de famílias no território, situadas em uma

delimitada área geográfica.

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Vale destacar que o surgimento das equipes de profissionais das Unidades de

Saúde da Família partiu do Programa Saúde da Família (PSF), conhecido

atualmente como Estratégia de Saúde da Família (ESF), que foi uma proposta do

governo federal, em 1994, para implementar a atenção primária nos municípios e

oferecer assistência universal, integral, equânime, e contínua nas comunidades com

acesso às residências da população através de visitas domiciliares (BRASIL, 2004).

Nesse sentido, a Estratégia de Saúde da Família enfoca a atenção à família a

partir de intervenções que ultrapassam as práticas curativas com o intuito de permitir

que as equipes de saúde tenham um olhar ampliado para o processo saúde-doença

através da compreensão do contexto físico e social da população (RODRIGUES et

al., 2008).

Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006c), a ESF pretende contribuir

com um novo modelo de saúde por meio de ações integrais e contínuas de

promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos, saudáveis ou doentes,

de todas as faixas etárias. Assim como visa reverter o modelo assistencial vigente,

voltado para o atendimento hospitalar, práticas curativas e especializadas. Desse

modo, a ESF propõe-se a estruturar serviços de saúde pautados num vínculo entre

os profissionais de saúde e a comunidade, a fim de desenvolver ações intersetoriais

que preconizem a qualidade de vida da população, de modo a democratizar o

acesso aos serviços de saúde.

As alianças do sistema de saúde, preconizadas pela ESF, com os setores da

educação, saneamento, transporte, entre outros implicam na quebra da dicotomia

entre as práticas de saúde pública e a prática médica centrada no atendimento

clínico, bem como reforça a aproximação entre as práticas assistenciais e

educativas. Assim, a ESF traz uma nova configuração de trabalho na saúde,

baseado na interdisciplinaridade e não só na multidisciplinaridade, de forma que a

função do profissional de saúde é vincular-se às famílias da comunidade

estabelecendo com ela uma comunicação horizontal. Essa nova organização dos

sistemas de saúde requer profissionais de saúde capacitados para realizarem novas

práticas fundamentadas na integralidade e visão holística do indivíduo, mediante um

olhar voltado para o contexto social da comunidade e subjetividade do indivíduo

(OLIVEIRA, 2006; RODRIGUES et al., 2008).

No que diz respeito aos adolescentes, o Ministério da Saúde, em 1989,

organizou o Programa de Assistência Integral à Saúde do Adolescente (PROSAD), a

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fim de oferecer cuidados integrais à saúde do adolescente, destacando-se a atenção

às mulheres diante dos riscos da gravidez na adolescência e suas implicações

psicossociais, biológicas e econômicas. Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde

determinou estratégias, objetivos e diretrizes do PROSAD com intuito de gerar e

incentivar práticas de redução de riscos, promoção à saúde e reabilitação de

adolescentes pautadas na atenção integral, interdisciplinar e multissetorial (BRASIL,

1991b; BRASIL, 1996).

Em 1993 houve a criação das Normas de Atenção à Saúde Integral do

Adolescente, fundamentada nos princípios e diretrizes do SUS. Posteriormente, foi

construída, em 2005, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de

Adolescentes e Jovens a partir de um processo de mobilização da sociedade em

busca de uma política que abarcasse as necessidades de saúde e os anseios dos

adolescentes e jovens. O objetivo dessa política foi gerar atenção integral à saúde

de adolescentes e jovens, entre 10 a 24 anos, no campo da Política Nacional de

Saúde, a fim de promover saúde, prevenir agravos e diminuir a morbimortalidade

dessa faixa etária (RAPOSO, 2009; BRASIL, 2010).

Nesse sentido, a política exprime um novo olhar na atenção à saúde do

adolescente, principalmente por considerar as características culturais e

socioeconômicas da comunidade que os adolescentes fazem parte, assim como as

necessidades específicas do adolescente mediante as questões relacionadas à

raça, gênero, e religião (RAPOSO, 2009).

Apesar dos investimentos do Ministério da Saúde em instituir Programas de

Atenção à Saúde Integral do Adolescente, o atendimento à saúde destinado ao

público adolescente enfrenta diversos entraves, visto que as práticas cotidianas

mostram dificuldades em estabelecer estratégias e ações pautadas numa visão

holística e na abordagem sistêmica das necessidades desse grupo etário. As

práticas de saúde, muitas vezes, não se mostram voltadas a incluir os aspectos

psicossociais nos cuidados ao adolescente (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO,

2002; BRASIL, 2006b).

Traverso-Yépez e Pinheiro (2002) observam que há uma disposição em

negligenciar o contexto social nas práticas de saúde voltadas aos adolescentes,

como por exemplo, nas ações voltadas à gravidez na adolescência ou às doenças

sexualmente transmissíveis, o que resulta em implementações de programas

verticais voltados exclusivamente para a saúde reprodutiva do adolescente, sem

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levar em consideração as diversas variáveis sociais (raça, classe social, gênero,

religião, entre outros) que influenciam no seu comportamento sexual.

Os programas de intervenção para o público adolescente mantêm atenção

destinada à saúde reprodutiva sem a preocupação em construir ações intersetoriais

e interfederativas que colaborem com estratégias de saúde integral destinadas a

explorar o caráter multifacetado da saúde humana. Essa forma de conceber a saúde

do adolescente é fruto de uma lógica que foi pautada no modelo biomédico, o qual

contraria os preceitos legais do Sistema Único de Saúde (SUS), que se colocam

como um desafio nas práticas dos profissionais de saúde, pois estas ainda

permanecem com forte influência da visão clínica respaldada apenas nos aspectos

orgânicos do adoecimento (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002).

O Sistema Único de Saúde (SUS), nos seus princípios constitucionais,

reconhece que o processo saúde-doença sofre, diretamente ou indiretamente,

influências de determinantes econômicos, sociais e políticos. Desse modo, o SUS

amplia a visão de saúde a partir da integração dos setores de saúde com os setores

sociais e políticos, o que se tornou essencial para a garantia da qualidade de vida da

população através da oferta de serviços acessíveis ao contexto de vida populacional

(BRASIL, 2010).

No entanto, há um grande desafio a ser alcançado na organização das

práticas de saúde, pois o processo de descentralização aproximou os serviços de

saúde e a realidade social, administrativa e política de cada região, trazendo um

maior diálogo entre diversos setores assistenciais, assim como, barreiras a serem

superadas devido às dificuldades em cumprir de forma satisfatória os princípios e

diretrizes do SUS (BRASIL, 2010).

Conforme Pinheiro e Luz (2003), a eficácia das práticas de saúde está

diretamente relacionada com a atuação das terapêuticas e dos terapeutas, que

permanece submetida aos limites institucionais de um determinado modelo de

saúde, o qual é seguido, mantido e disseminado por diversas instituições ou

corporações. Nesse sentido, para haver o estabelecimento de mudanças na

organização das práticas de saúde, é preciso conhecer os interesses que regem a

lógica vigente nesse contexto.

A racionalidade médica, por exemplo, surge como uma lógica dominante e

busca priorizar ações curativas provenientes de saberes especializados e focados

em intervenções farmacológicas para a resolutividade dos problemas de saúde.

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Desse modo, a integralidade não é uma prioridade da atenção à saúde proveniente

do modelo biomédico. (PINHEIRO e LUZ, 2003).

Segundo Merhy (2007), a construção de um modelo de saúde cujo foco está

no corpo biológico que adoece, foi elaborada ao longo do tempo nas sociedades

ocidentais e reflete um campo de disputa de saberes em que se destacam modelos

de normatização das práticas de saúde.

Entretanto, Pinheiro e Luz (2003) observam que para haver um alcance da

complexidade das necessidades de saúde da população, é preciso ultrapassar os

limites da objetividade do modelo biomédico e abranger a subjetividade dos

indivíduos nas discussões acerca da organização das práticas de saúde, o que

permitirá entender as configurações que perpassam as relações entre agente social

e sociedade, visto que essa compreensão é essencial na dinâmica condutora das

ações integrais em saúde.

Diante do que foi exposto, Mattos (2001) argumenta que há dificuldade em

oferecer ações integrais em saúde também é parte de uma lógica de relações

sociais utilitaristas que não oferecem abertura para dialogar com o outro nas práticas

dos serviços de saúde, nos debates acerca da organização desses serviços e nas

discussões sobre as políticas que os regem.

Vale destacar que os adolescentes do Brasil procuram pouco os serviços de

saúde, o que é em parte explicado pelo fato das instituições de saúde refletirem

relações de poder que não aproximam o adolescente do serviço e não

correspondem às suas expectativas, como também não atraem essa faixa etária no

sentido de prevenção e promoção de saúde (BRASIL, 2006b).

Dessa forma, Campos et. al (2004) trazem a importância de conceber, na

organização das práticas de saúde, uma visão voltada para a subjetividade do

sujeito e o seu contexto social, visto que cada indivíduo possui uma singularidade, a

qual sofre influência das relações sociais estabelecidas. Assim, o profissional de

saúde deve estar atento a todos esses fatores que exercem influência na saúde do

sujeito.

Segundo Uchôa e Vidal (1994), os universos social e cultural desempenham

uma grande influência sobre a adoção de comportamentos de prevenção ou de

risco, como por exemplo, a não adesão de diversas populações a um determinado

programa. Desse modo, a efetividade de um programa de saúde está relacionada à

sua aceitação e adesão da população, o que depende da relação que o programa

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estabelece sobre determinados grupos populacionais. Faz-se essencial conhecer

previamente as maneiras de pensar e agir da população para que esta se identifique

e vincule-se ao que está sendo proposto pelos programas de saúde (UCHÔA e

VIDAL,1994).

Um exemplo disso é que a noção de família que baseia as práticas de muitos

profissionais de saúde, não compreende famílias formadas por adolescentes, o que

reflete um problema na organização das práticas de saúde (BRASIL, 2006a). De

acordo com Brasil (2006b), os serviços de pré-natal e planejamento familiar, a porta

de entrada para atender assuntos relacionados à saúde sexual e reprodutiva, são

insuficientes para atender as diferentes necessidades e expectativas referentes à

sexualidade e reprodução dos adolescentes.

Existe um forte despreparo por parte dos profissionais de saúde para lidar

com as questões referentes à saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes

(FERRARI et al., 2006). A falta de qualificação parece transformar-se num empecilho

para o desenvolvimento de trabalhos eficazes nas comunidades. Assim, a maioria

das unidades de saúde não oferece ações direcionadas ao público adolescente,

especialmente em relação à sexualidade e reprodução (OLIVEIRA, et al., 2008

YAZLLE et al., 2009).

Os profissionais de saúde são fundamentais no apoio às adolescentes

grávidas, porém precisam adequar suas práticas de acordo com as demandas e

necessidades surgidas nos diferentes contextos sociais do adolescente. Os

profissionais, apesar de serem agentes das práticas de cuidado, ainda estão presos

às ações prescritivas, impositivas e de supervisão, o que faz menção a uma postura

de detentor do saber. Nesse sentido, muitos se encontram despreparados para

fomentar ações de saúde ao levar em consideração as necessidades e

especificidades da adolescência em um determinado contexto de interação social

(OLIVEIRA, et al., 2008; YAZLLE et al., 2009).

Segundo Traverso-Yépez e Pinheiro (2002), muitas práticas de saúde ainda

são realizadas à margem de reflexões acerca do contexto sociocultural e econômico

do adolescente, o que colabora com a manutenção de papéis tradicionais de

conformismo e submissão das camadas sociais mais desfavorecidas

economicamente. Essa forma de abordagem desconsidera os princípios do SUS e

acaba responsabilizando a própria população pela situação de vida precária,

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tornando as ações de saúde ineficientes para proporcionar melhoria na qualidade de

vida das pessoas.

Nessa perspectiva, a saúde do adolescente é tratada separadamente da

conjuntura de interação social, de forma que as práticas de saúde não conseguem

abranger a dimensão biopsicossocial que se relacionam aos sofrimentos e mazelas

do adolescente. Dessa maneira, os adolescentes são desrespeitados na sua

condição de cidadão e tornam-se, muitas vezes, depositários de conflitos e

problemas que não conseguem lidar adequadamente, assim como acabam por não

buscar seus direitos (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002; FERRARI et al., 2006;

OLIVEIRA, et al., 2008).

Nesse contexto, as adolescentes pobres e negras são as mais atingidas por

complicações na sua saúde e riscos de aborto devido à carência na assistência

obstétrica e ao impacto de condições de vida precárias. Diante disso, a mortalidade

entre mães e bebês não é explicada somente pela faixa etária, mas relaciona-se

principalmente às condições socioeconômicas e à qualidade da assistência

obstétrica (BRASIL, 2006b).

Dessa forma, Traverso-Yépez e Pinheiro (2002) ressaltam que há uma

necessidade do desenvolvimento de práticas de saúde que ofereçam autonomia

para o adolescente e a possibilidade dele construir o seu projeto de vida, mesmo

diante de situações de vulnerabilidade extrema em que a falta de oportunidades de

trabalho, educação e lazer fazem parte do contexto social do adolescente.

Isso demanda a abertura de um diálogo democrático entre o público

adolescente e os profissionais de saúde para que suas práticas não estejam

pautadas em mitos e preconceitos. Nessa perspectiva, a oferta de atividades

coletivas que proporcione a interação no âmbito da saúde, particularmente aquelas

que reúnem adolescentes de diversos grupos sociais, tornam-se uma alternativa

para promover a inserção social, ao contribuir com práticas de saúde perpassadas

por incentivo à autonomia, ao auto-cuidado, à responsabilidade e à construção de

um projeto de vida para o adolescente (TRAVERSO-YÉPEZ e PINHEIRO, 2002;

FERRARI et al., 2006; OLIVEIRA, et al., 2008).

Diante da relevância da temática da gravidez na adolescência para os

profissionais de saúde, emergem representações sociais que passam a dar sentido,

orientar e conduzir o modo como esses profissionais agem e compreendem a

gestação no período da adolescência. Vale ressaltar que as representações formam

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um saber prático tanto por estarem inseridas na experiência, que envolve um

contexto histórico, cultural e espacial, quanto por orientarem as comunicações e

condutas dos diversos grupos sociais (JODELET, 2001).

Perante o exposto, a Teoria das Representações Sociais se apresenta como

uma proposta interdisciplinar de conhecimento, uma vez que trata das relações de

indivíduos e sociedade, com sua cultura e história (SANTOS e ALMEIDA, 2005).

Portanto, conhecer as concepções dos profissionais de saúde sobre a gravidez na

adolescência se faz necessário na compreensão de tomadas de posição e

estratégias de intervenção frente a este processo.

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CAPÍTULO III

A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

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CAPÍTULO III - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

3.1 O estudo da Teoria das Representações Sociais

A equipe de saúde passa por uma formação científica específica para a

realização de suas atividades. No entanto, na construção de sua prática profissional,

esta equipe se depara com uma diversidade de sujeitos que trazem consigo suas

crenças, seus valores e suas histórias de vida, que acabam sendo confrontados com

as crenças e conhecimentos científicos da própria equipe, que poderão influenciar

diretamente nas práticas de saúde desenvolvidas junto às adolescentes grávidas.

Nesse sentido, a presente pesquisa se utiliza do suporte teórico da Teoria das

Representações Sociais (TRS), para analisar como as representações influenciam

na compreensão e prática desses profissionais perante a gravidez na adolescência e

nas suas relações frente a esse processo.

De acordo com Moscovici (2003), os indivíduos estão unidos por crenças,

sentidos e imagens que são constituídos nas interações mútuas, como também

permeiam os estilos de vida e as práticas coletivas da sociedade. Nesse sentido, a

maior parte dos conhecimentos que as pessoas possuem foi adquirida através do

contato e interação com outras pessoas a partir da linguagem, das narrativas ou dos

objetos que são utilizados. Porém, não se pode negar que há percepções e

experiências subjetivas.

Vale ressaltar que uma sociedade não pode ser concebida apenas pela

presença de um coletivo que agrupa pessoas por meio de uma hierarquia de poder.

Assim, os jogos de interesse e poder existem, mas eles são distinguidos como tais

devido à existência de representações ou valores que lhes atribuem sentido e

influenciam na vinculação e agregação dos indivíduos (MOSCOVICI, 2003).

As representações sociais são fenômenos dinâmicos, de modo que o conceito

das representações sociais passou por mudanças ao longo da história e foi

construído e reformulado juntamente com as modificações da sua teoria. Nesse

sentido, as pesquisas científicas não podem captar os fenômenos de representação

social em sua totalidade, pois eles estão propensos a constante alteração, como

também se apresentam de modos diversos nos meios de comunicação, nas práticas

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sociais, nas instituições e nas muitas facetas advindas da interação social (SÁ, 1998;

MARKOVÁ, 2006).

Os estudos sociais psicológicos de Serge Moscovici, durante os anos 50 e 60,

retomaram o conceito de representação coletiva e social explorado por Durkheim.

Nessa perspectiva, para um melhor entendimento do termo representações sociais,

faz-se necessário esclarecer o conceito sociológico de representação coletiva

explorado pelo sociólogo francês Émile Durkheim e diferenciá-lo do conceito

psicológico social de Moscovici (MARKOVÁ, 2006; ALVES-MAZZOTTI, 2008).

Moscovici, ao apresentar a noção das representações sociais, separa-se da

visão sociologizante de Durkheim, assim como se afasta do olhar psicologizante da

Psicologia Social vigente. A sua teoria sofreu influência dos estudos de Piaget

acerca do conhecimento de senso comum nas crianças, pois se voltou para

entender o conhecimento do senso comum nos adultos e propôs um conceito

modificado da representação social, fundamentado no pensamento de senso

comum, na comunicação e no conhecimento. Dessa forma, a Teoria das

Representações Sociais traz uma perspectiva psicossocial na medida em que

explora a interação entre a sociedade e o indivíduo (MARKOVÁ, 2006; ALVES-

MAZZOTTI, 2008).

Vale lembrar que Moscovici, viveu num momento histórico diverso ao de

Durkheim, assim como teve preocupações epistemológicas diferentes das dele.

Desse modo, a teoria de Durkheim acerca das representações coletivas parte de

uma época em que os fenômenos sociais e culturais eram considerados como

entrelaçados. Assim, o conceito das representações coletivas constituía uma

conexão entre sociedade e cultura com uma constituição especificamente social em

que as representações eram originadas coletivamente na vida social (XAVIER, 2002;

MARKOVÁ, 2006).

Dessa forma, Durkheim, ao explanar os fenômenos sociais, apresenta o

domínio do coletivo sobre o individual e do social sobre o psíquico. Ele percebeu o

indivíduo como fruto da realidade social, a qual compõe a consciência coletiva que

rege o comportamento e as ações dos indivíduos, assim como atribui coesão à vida

social. Vale ressaltar, que as representações coletivas apresentam uma

manifestação concreta que embasariam o comportamento dos indivíduos numa

sociedade, assim como os diversos sistemas que a compõem e as estruturas de

domínio social (XAVIER, 2002; ALVES-MAZZOTTI, 2008).

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Porém, a sua contribuição teórica reduz-se ao olhar das relações externas,

sem abarcar o processo de influência das representações sobre os grupos e

indivíduos. Também não leva em consideração a constituição e organização das

interações sociais e da elaboração de significados. Durkheim aludia de forma bem

geral aos fenômenos sociais e psíquicos que incluíam as crenças, ciência, mitos e

ideologia sem haver menção nem esclarecimento acerca dos processos que

fundamentariam essas formas de organização do pensamento (XAVIER, 2002;

ALVES-MAZZOTTI, 2008).

Conforme Marková (2006), as representações coletivas aludiam às diversas

atividades da mente e não se referiam a um fenômeno específico. Desse modo,

todas as coisas eram capazes de ser compreendidas conforme as representações

atribuídas a elas, de forma que as representações coletivas incluíam todos os

fenômenos construídos socialmente que eram partilhados na sociedade e

internalizados pelas pessoas, como por exemplo, as crenças, os conceitos, as

religiões, a linguagem, a ciência. Assim, haviam representações variadas

(representações individuais, coletivas ou sociais, religiosas, científicas, entre outras)

com diferentes sentidos.

Nesse sentido, a teoria de Durkheim atribuiu uma existência própria às

representações coletivas, as quais se modificariam de acordo com as necessidades

do todo social e poderiam ser entendidas por si mesmas, pois comporiam uma

unidade de caráter universal e duradouro. Vale destacar que os fenômenos eram

tratados de modo estático e permanente sem acompanhar as mudanças nos

sistemas políticos, filosóficos, religiosos, entre outros (ALVES-MAZZOTTI, 2008).

Durkheim considerava que havia um dualismo entre corpo e mente, de modo

que as atividades psicológicas do corpo eram compostas por percepções e

disposições emotivas. Já as atividades da mente eram formadas de pensamento

conceitual e moralidade. Esse dualismo foi estendido para a sociedade e o indivíduo,

de forma que havia dois tipos distintos de representações, as individuais e as

sociais, que eram estudadas pela psicologia individual e social, respectivamente. As

representações individuais eram fruto da biologia e natureza física do sujeito e,

assim, seriam mutáveis e particulares. Já, as representações coletivas surgiam

diretamente das estruturas sociais e englobavam fatos sociais que formavam uma

realidade social na qual os indivíduos não colaboravam na sua formação

(MARKOVÁ, 2006).

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Através das representações coletivas, as gerações passariam todo

conhecimento acumulado para os seus descendentes ao longo do tempo, de forma

estática e determinista. Diferentemente, na perspectiva de Serge Moscovici, as

representações sociais não reproduzem um legado coletivo dos ancestrais. Assim, o

indivíduo é constituído pela sociedade, assim como participa ativamente da sua

construção (CHARTIER, 1990; ALVES-MAZZOTTI, 2008).

Serge Moscovici se apropria do “social” de modo diferente de como Durkheim

explana o “coletivo”. Moscovici, menciona o caráter dinâmico e a bilateralidade no

processo de construção das representações sociais. Dessa forma, ele coloca as

representações como forma de conhecimento constituído, organizado e

compartilhado socialmente, assim como formadoras de uma realidade psicológica e

subjetiva instituída no próprio comportamento dos indivíduos (XAVIER, 2002).

A teoria elaborada por Serge Moscovici ressalta que as representações estão

dispostas de modos diferentes de acordo com a cultura, classe social ou grupo que o

indivíduo pertence. Nessa perspectiva, a atividade representativa compõe um

processo psíquico que torna um determinado objeto mais próximo e familiar, de

forma que o objeto transforma-se conforme os valores e crenças que permeiam as

experiências dos indivíduos em interação com si próprios, o objeto e a sociedade

(ALVES-MAZZOTTI, 2008).

As representações sociais constituem expressões de conhecimentos

desenvolvidos e compartilhados coletivamente, por determinados grupos sociais,

que norteiam as relações, os comportamentos e as ações do indivíduo no contexto

em que ele vive, assim como explicam a realidade. Nesse contexto, as

representações sociais permitem ao indivíduo, perante a interação com os outros,

interiorizar as experiências, as práticas sociais e os padrões de conduta juntamente

com a apropriação e composição de determinados objetos de relevância social

(XAVIER, 2002; ARAUJO, 2008).

Diante do exposto, o estudo das representações sociais abrange a

compreensão de como os indivíduos se percebem na sua interação com os outros,

com a realidade social e os objetos que circulam na sociedade. Vale destacar que a

consonância entre as Representações Sociais, os valores e crenças que dizem

respeito a um determinado objeto social não constituem e não implica em rigidez,

homogeneidade ou permanência das representações. Na constituição de uma teoria

do senso comum emerge também a contradição, pois mesmo as representações

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mais influentes e predominantes podem sofrer ruptura e dar lugar ao novo

(ALMEIDA et al., 2000; ARAUJO, 2008).

De acordo com Moscovici (1978, p. 25-26),

Uma representação social é a organização de imagens e linguagem, porque ela realça e simboliza atos e situações. A bem dizer, devemos encará-la de um modo ativo, pois o seu papel consiste em modelar o que é dado do exterior, na medida em que os indivíduos e os grupos se relacionam de preferência com os objetos, os atos e as situações constituídos por (e no decurso de) miríades de interações sociais.

SÁ (1998) observa que a composição e a utilização das representações

sociais tornam-se proveitosas apenas se apreendidas através de sua constituição

enquanto objeto de pesquisa das práticas científicas. Assim, o estudo das

representações sociais visa investigar determinado fenômeno de representação

social e elaborar outra forma de conhecimento acerca desse fenômeno, de modo

que os universos comuns de pensamento elaboram os fenômenos de representação

social, os quais são transformados em objetos, nas pesquisas científicas, para

serem compreendidos. Nessa perspectiva, o entendimento das representações

sociais voltado para seus próprios termos correntes torna-se de valor escasso para a

compreensão dos fenômenos psicossociológicos das representações.

Santos (2005) ressalta que a proposta contida na teoria das representações

sociais refere-se ao estudo de um fenômeno específico e delimitado: as teorias do

senso comum. Desse modo, fica claro que nem todos os fenômenos se constituem

como representação social.

Segundo Marková (2006), o conhecimento de senso comum constitui um

recurso fundamental para a teoria das representações sociais como uma teoria do

conhecimento social, pois ele abrange os fenômenos sociais e simbólicos (práticas

sociais, linguagem, crenças, entre outros), nos quais os indivíduos ficam imersos

desde que nascem e são transmitidos de geração a geração por meio das

experiências cotidianas de comunicação, das instituições e da memória coletiva.

Tal conhecimento é elaborado a partir dos processos de objetivação e

ancoragem. Ele

segue uma lógica natural, e tem como funções orientar condutas, possibilitar a comunicação, compreender e explicar a realidade social, justificar a posteriori as tomadas de posição e as condutas do sujeito, e uma função identitária que permite definir identidades e salvaguardar as especificidades do grupo (SANTOS, 2005, p. 21).

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Nesse sentido, os processos de objetivação e ancoragem propõem a dar

conta das questões psicossociais que estão na gênese das representações sociais.

Esses processos estão densamente ligados um ao outro, assim como são

fundamentais para compreender as representações sociais de um determinado

grupo, já que propiciam o entendimento da construção de conhecimentos formados

pelos sujeitos acerca de determinados objetos de relevância social (MOSCOVICI,

2001).

A objetivação, de acordo com Moscovici (2003), materializa um conceito,

tornando-o visível e tangível, através de uma imagem. Ela tenta estabelecer relações

entre as palavras que circulam no cotidiano, com algo que até então se desconhece,

tentando tornar concreto o objeto que é representado. Já a ancoragem é um

processo que envolve a relação cognitiva do objeto representado com um sistema

de pensamento social preexistente. A ancoragem atribui um lugar para o não familiar

e encontra um sentido para o desconhecido através dos esquemas de referência e

experiências que permitem acessar o objeto de representação (MOSCOVICI, 2003).

Conforme Jodelet (2001), as representações sociais organizam-se de acordo

com as estratégias grupais, como também retratam os comportamentos grupais, isto

é, as representações sociais abrangem uma função de justificação precipitada e/ou

retrospectiva das interações sociais.

Assim,

Falar em representações sociais é remeter-se ao conhecimento produzido no senso comum. Porém, não a todo e qualquer conhecimento, mas a uma forma de conhecimento compartilhado, articulado, que se constitui em uma teoria leiga a respeito de determinados objetos sociais. Por sua vez, falar na teoria das representações sociais é referir-se a um modelo teórico, um conhecimento científico que visa compreender e explicar a construção desse conhecimento leigo, dessas teorias do senso comum. (SANTOS, 2005, p. 21).

Vale destacar que são diversas as formas do ser humano gerar conhecimento

e o saber do senso comum é uma forma de compreender a realidade que não rejeita

nem se torna uma oposição ao conhecimento científico. Desse modo, formam-se

conjuntos de explicações na esfera do senso comum que se constituem como

conhecimentos, “teorias explicativas”, a respeito de determinados aspectos da

realidade. De forma parecida, verifica-se também que diferentes proposições

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48

científicas existem simultaneamente e atribuem perspectivas distintas na explicação

de uma mesma realidade (ALMEIDA et al., 2000).

Nessa perspectiva, Santos (2005) observa que o conhecimento do senso

comum, estudado pela teoria das Representações Sociais, remete a um conjunto de

conceitos socialmente produzidos e compartilhados pelos homens como explicação

teórica a questões que eles se colocam na sua relação com determinados objetos

sociais.

Conforme Almeida et al. (2000), a Teoria das Representações Sociais

apresenta contribuições para o entendimento de feições ainda desconhecidas que

transcorrem as realidades sociais diversas, pois ela procura entender os processos

em que os indivíduos constroem e compartilham conhecimentos acerca de objetos

sociais na sua interação com o mundo e com si próprios. Assim, o estudo das

representações demanda uma articulação em meio a diferentes áreas do

conhecimento dentro e fora da esfera da Psicologia.

Nessa perspectiva, faz-se importante destacar que as representações sociais

referem-se sempre a algum objeto a respeito do qual sujeitos, grupos sociais ou

determinada população sustentam tais representações. Desse modo, o objeto de

pesquisa deve ser construído a partir do objeto de representação e dos sujeitos que

se pretende estudar, de forma que as representações que unem sujeito e objeto são

saberes difundidos nas práticas dos grupos, nos meios de comunicação e

comportamentos (SANTOS, 2005; SÁ, 1998).

De acordo com Santos (2005, p. 22), “para gerar representações sociais o

objeto deve ser polimorfo, isto é, passível de assumir formas diferentes para cada

contexto social e, ao mesmo tempo, ter relevância cultural para o grupo”. Assim, não

há representações sociais acerca de qualquer objeto, pois este precisa ter impacto

social ou cultural para um determinado grupo.

Dessa forma, para compreender as representações sociais em uma área

como a da saúde, é necessário entender os sistemas de conduta, noções, modelos

de pensamento e valores que as pessoas dedicam para se apropriarem dos objetos

de seu contexto (JODELET, 1998). Então, ao refletir-se sobre a pertinência do objeto

de estudo (gravidez na adolescência) em relação à formação de representações

sociais para o grupo de profissionais de saúde, faz-se relevante considerar que:

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49

[...] estas teorias estão reabilitando o conhecimento concreto, a experiência vivida, e reconhecendo a possibilidade de diversas racionalidades, o que é adequado às características das multifacetadas sociedades e grupos sociais contemporâneos às características da forma de conhecer e lidar com o saber nessas sociedades, em que grupos diferentes têm visões diferentes de um mesmo objeto – sem que a diferença implique obrigatoriamente desigualdade. Sociedades nas quais é preciso entender a diferença como especificidade, como nos ensinam os movimentos de grupos minoritários. (ARRUDA, 2002, p.133).

Nesse sentido, a gravidez na adolescência, em meio às práticas dos

profissionais de saúde, é um objeto de impacto social que pode ser visto sob

diversas formas, e uma delas é como o profissional de saúde a concebe,

estruturando-se, conforme Abric (1998, p.5), sobre “um conjunto organizado de

opiniões, de atitudes, de crenças e de informações referentes a um objeto ou a uma

situação” e assim, forma-se representações sociais acerca desse objeto, visto que

elas são construídas simultaneamente pelo próprio sujeito a partir das suas

experiências de vida e da natureza dos vínculos que ele estabelece com o sistema

social e ideológico que está inserido.

Vale salientar que as representações sociais apresentam natureza mutável,

pois quando o sujeito entra em contato com um objeto social importante, mas que

lhe é pouco familiar, elas se ajustam para redefinir esse objeto, tornando-o mais

compreensível e acessível ao seu sistema simbólico (MOSCOVICI, 2001).

Embora, o presente trabalho procure enfatizar, de um modo geral, a

abordagem de Serge Moscovici e a perspectiva estrutural de Jean-Claude Abric, a

Teoria das Representações Sociais e suas concepções básicas, elaboradas por

Moscovici, podem ser distendidas em três correntes teórico-metodológicas

complementares representadas pelos seguintes pesquisadores: Denise Jodelet,

Jean-Claude Abric e Willem Doise (SÁ, 2001; ALMEIDA, 2001).

A primeira delas, conduzida por Denise Jodelet, em Paris, na França,

corresponde a uma abordagem culturalista que alude à compreensão das

representações sociais através do entendimento dos seus processos e dos produtos,

decorrente da articulação entre as extensões culturais e sociais que conduzem as

construções mentais coletivas. A segunda corrente teórica, comandada por Jean-

Claude Abric, em Aix-en-Provence, também na França, destaca a dimensão

cognitivo-estrutural da representação e propõe a Teoria do Núcleo Central, na qual

concebe a representação organizada em torno de um núcleo essencial para

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determinar sua significação e organização interna. Já a terceira corrente, foi

representada por Willem Doise, em Genebra, na Suíça, e abrange uma perspectiva

que busca articular explicações de ordem individual e societal ao considerar que a

significação de uma representação relaciona-se às relações simbólicas que

compõem um determinado campo social (SÁ, 2001; ALMEIDA, 2001).

3.2 Um breve panorama da Abordagem Estrutural

As Representações Sociais são definidas como uma modalidade de

conhecimento particular que têm como função a elaboração de comportamentos e a

comunicação entre indivíduos (MOSCOVICI, 2003). Elas são um conjunto

organizado de informações, atitudes e crenças que um indivíduo ou um grupo

elabora a propósito de um objeto, de uma situação, de um conceito, de outros

indivíduos ou grupos. Apresentam-se, portanto, como uma visão conjunta e social da

realidade que norteiam ações e práticas coletivas (ABRIC, 2003).

Abric (2001) ressalta que as representações sociais são a ação e o resultado

das atividades mentais através das quais uma pessoa ou um grupo percebe a

realidade que a cerca e lhe confere determinado sentido. Desse modo, Jean-Claude

Abric apresenta a Teoria do Núcleo Central e nela expõe que as representações

possuem um conteúdo e uma estrutura, de modo que são constituídas em volta de

um núcleo, o qual é considerado elemento contundente da representação, visto que

estabelece a sua significação e disposição.

A perspectiva apresentada por Jean-Claude Abric, no sentido de

complementar a teoria das representações sociais, constituiu a abordagem teórica

denominada “teoria do núcleo central”, a qual destaca o aspecto cognitivo das

representações, ao considerá-lo como uma organização estruturada com

peculiaridades. A teoria do núcleo central traz que a representação social compõe

um sistema sócio-cognitivo peculiar constituído por dois subsistemas, um sistema

central e um sistema periférico, que se influenciam mutuamente (SÁ, 1998; ABRIC,

2003).

Abric (2001) expõe a relevância do estudo da organização dos conteúdos das

representações sociais. Vale ressaltar que conteúdos iguais podem se referir a

representações sociais distintas, assim como, duas representações com conteúdos

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distintos são consideradas iguais se forem estruturadas em volta de um mesmo

núcleo central. Assim, para compreender uma representação, é necessário conhecer

a disposição do seu conteúdo, pois a averiguação desse conteúdo por si só não é

capaz de fornecer a compreensão de uma representação, a qual se diferencia da

outra ao levar-se em consideração o seu arranjo em torno do núcleo central, de

modo que qualquer alteração do seu núcleo ocasionará a modificação da

representação.

De acordo com Abric (1998, p. 4),

As representações sociais têm um núcleo central porque elas são uma manifestação do pensamento social e que em todo pensamento social um certo número de crenças, coletivamente engendradas e historicamente determinadas não podem ser questionadas porque elas são os fundamentos dos modos de vida e elas garantem a identidade e a perenidade de um grupo social.

A disposição do núcleo central, de acordo com a teoria formulada por Abric,

compõe a significação das representações por meio de um conjunto de elementos

que se mostram enraizados e partilhados, assim como possuem os atributos de

solidez, constância e consensualidade. Já o sistema periférico apresenta funções de

proteção e regulação do núcleo central, ou seja, ele permite que elementos novos e

contraditórios sejam incorporados sem desconsiderar a representação. Os

elementos periféricos norteiam diferenças entre subgrupos que partilham uma

mesma representação social, ao levar em consideração o aparecimento de

conteúdos individualizados das representações. Esses elementos apresentam um

caráter maleável, modificável, e particular, como também certificam a conexão com

as conjunturas e práticas que permeiam uma dada população (SÁ,1998; ABRIC,

1998, 2003).

Nesse contexto, a teoria do núcleo central possibilitou resolver teoricamente

os entraves que cercavam a questão empírica de que as representações possuíam

traços contraditórios ao revelarem-se simultaneamente sólidas e maleáveis,

constantes e modificáveis, consensuais e particulares (SÁ,1998; ABRIC, 1998,

2003).

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52

3.3 Algumas considerações acerca da abordagem moscoviciana

Segundo Moscovici (2003), a dimensão psicossocial precisa ser levada em

consideração no estudo das representações, já que ela engloba os saberes

simbólicos do senso comum, elaborados na existência cotidiana através dos

diálogos e práticas. Vale destacar que a constituição sociocognitiva de uma dada

representação advém em meio à realidade prática e o pensamento socialmente

construído, evidenciando a formação de um conhecimento próprio que concebe a

representação social de um grupo de pertença.

A representação possui, em sua estrutura, duas faces bastante agregadas: a

face figurativa e a face simbólica. Elas expressam os processos abarcados na

atividade representativa, os quais distinguem uma dada figura e, simultaneamente,

conferem-lhe um sentido que a agrega a uma dada realidade. Essa atividade

representativa compõe, assim, um artifício psíquico que permite as pessoas, na sua

interação com a realidade, aproximar-se de um objeto, antes considerado distante,

tornando-o familiar e presente, de modo que as conexões que se formam em volta

do objeto exprimem posicionamentos norteados por vivências e valores do sujeito

(ALVES-MAZZOTTI, 2008).

Como foi explorado no tópico anterior, a objetivação e a ancoragem são

processos básicos para o fenômeno das representações sociais. A objetivação

ocorre através de três etapas: a redução, a esquematização estruturante e a

naturalização. A redução diz respeito a reduzir um fenômeno em partes para ser

capaz de melhor elucidá-lo, de forma que se enfatiza uma questão principal para o

grupo, com a finalidade de obter um sentido que consiga oferecer a compreensão

que o grupo deseja. Já a esquematização estruturante compõe elementos que

estabelecem relações estruturadas e padronizadas entre os conhecimentos que

constituem a representação social. Assim, a compreensão acerca de um

determinado fenômeno vai se organizando e socializando-se em meio a um grupo

específico. Na etapa da naturalização, o grupo materializa suas concepções

tornando-as parte da realidade com intuito de explicar os fenômenos que ocorrem no

mundo, através das imagens e símbolos que o próprio grupo constrói em interação

com a realidade (VALA, 1993).

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53

Em relação à ancoragem, ela ocorre tanto antes quanto depois da

objetivação. Quando ocorre anteriormente à objetivação, cumpre a função de

nomear (categorizar) fenômenos. Quando advém depois, desempenha a função de

classificação, a qual é uma característica fundamental da ancoragem e se refere aos

atributos ou rótulos conferidos por determinado grupo para familiarizar um objeto,

através de uma imagem anteriormente pensada, que ainda não é completamente

notório (VALA, 1993).

A classificação inclui os processos de generalização e individualização. A

generalização envolve a aproximação da imagem de um objeto não familiar a um

modelo preestabelecido que constitua familiaridade. Já o processo de

individualização consiste quando o novo objeto a ser ancorado destoa dos moldes

reconhecidos, de modo que se constrói uma imagem de objeto divergente do

protótipo já preestabelecido. Vale lembrar que a escolha pela generalização ou

individualização não é simplesmente cognitiva, mas engloba as peculiaridades

afetivas e valorativas a respeito do objeto de representação, denotando as feições

socioafetivos que se estabelecem na interação com o novo objeto a ser explorado

(MOSCOVICI, 1981).

No que diz respeito à nomeação, esta atribui uma “identidade” ao novo objeto,

atribuindo-lhe determinadas propriedades que visam facilitar a comunicação com o

grupo através da distinção e reconhecimento atribuídos ao objeto. Diante do

exposto, a compreensão dos processos de objetivação e ancoragem faz-se

pertinente, uma vez que explora a compreensão de como os aspectos cognitivos

intervém nos atributos sociais e vice-versa (MOSCOVICI, 1981).

É por essas lentes que a presente pesquisa se propõe captar e entender as

representações que profissionais de saúde constroem sobre a gravidez na

adolescência e como essas representações norteiam suas práticas frente a esse

processo. Além disso, a partir da compreensão dessas teorias que se formam pode-

se vislumbrar algum entendimento sobre a constituição de interações e identidades

no percurso da gestação e da vivência da maternidade.

Desta forma, as representações sociais oferecem aos sujeitos uma

codificação tanto para as trocas simbólicas, como para nomear e classificar sua

realidade social, sua história, de forma unívoca. As representações atuam, ainda,

como guias de interpretação e organização da realidade, permitindo aos sujeitos que

se posicionem diante dela e definam a natureza de suas ações sobre essa

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realidade. As representações sociais são um conjunto de conhecimentos sociais,

possuindo uma orientação prática e permitindo ao indivíduo se situar no mundo e

dominá-lo (MOSCOVICI, 2003).

Como afirmam Almeida et al. (2000), as representações sociais regulam as

práticas sociais dos sujeitos. Porém, ao mesmo tempo, elas emergem das diferentes

práticas sociais, da diversidade das práticas no cotidiano. Práticas estas que por sua

vez, originam-se dos diferentes grupos sociais. A partir do exposto percebe-se que a

TRS responde aos intentos de compreensão das teorias ou concepções que os

profissionais de saúde partilham sobre o processo da gravidez na adolescência em

meio a relações de interação com a conjuntura social.

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CAPÍTULO IV

MÉTODO

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CAPÍTULO IV – MÉTODO

O método adotado na presente pesquisa articulou abordagens qualitativas,

assim como técnicas diversas de coleta e análise dos dados, o que permitiu uma

triangulação metodológica para abranger os fenômenos estudados.

A triangulação metodológica é definida como a estratégia que abrange o

objeto de investigação sob, pelo menos, três ângulos distintos que se articulam a

partir da: cooperação de pesquisadores diversos na discussão e correlação das

teorias, conceitos, noções e métodos (HABERMAS, 1987); integração de diferentes

métodos ao permitir o aprofundamento teórico-metodológico em relação ao

conhecimento do objeto (MINAYO, 1992; SAMAJA, 1992); integração coerente e

criativa de distintas técnicas para a construção dos dados, seja no âmbito

quantitativo ou qualitativo.

Nesse sentido, Almeida (2001) ressalta acerca do caráter plurimetodológico

da pesquisa em representações sociais, e Abric (1998) preconiza que se deve ter o

cuidado em utilizar ao menos dois métodos de coleta de dados diferentes no estudo

das representações sociais.

Os dados apresentados nesse capítulo são resultado dos seguintes

processos: resultados quantitativos, a partir do questionário sócio demográfico, que

busca atender ao objetivo de descrever o perfil sociodemográfico dos profissionais

de saúde; E Análise das entrevistas semi-estruturadas e dos Questionários de

Associação Livre de Palavras, que busca responder aos seguintes objetivos:

Analisar o conteúdo e a estrutura das representações sociais acerca da gravidez na

adolescência para os profissionais de saúde; Compreender em que se ancoram e

como são objetivadas as representações sociais dos profissionais de saúde a

respeito da gravidez na adolescência; e Conhecer os sentidos compartilhados pelos

profissionais de saúde em relação à gravidez na adolescência.

4.1 Local da Pesquisa

A pesquisa foi realizada em duas Mesorregiões do Estado de Pernambuco.

A primeira foi a Mesorregião Metropolitana do Recife, composta por 14 municípios

(Abreu e Lima, Araçoiaba, Cabo de Santo Agostinho, Camaragibe, Igarassu, Ipojuca,

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Itamaracá, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Olinda, Paulista, Recife,

São Lourenço da Mata) mais Fernando de Noronha.

A segunda Mesorregião foi a da Mata Pernambucana. Essa Mesorregião

está dividida em Mata Norte e Mata Sul. A Mata Norte é composta por 19 municípios

(Aliança, Buenos Aires, Camutanga, Carpina, Chã de Alegria, Condado, Ferreiros,

Glória de Goitá, Goiana, Itaquitinga, Itambé, Lagoa do Carro, Lagoa do Itaenga,

Macaparana, Nazaré da Mata, Paudálio, Timbaúba, Tracunhaém e Vicência).

A Mata Sul, por sua vez, é formada por 24 municípios (Água preta, Amaraji,

Barreiros, Belém de Maria, Catende, Chã Grande, Cortês, Escada, Gameleira,

Jaqueira, Joaquim Nabuco, Maraial, Palmares, Pombo, Primavera, Quipapá,

Ribeirão, Rio Formoso, São Benedito do Sul, São José da Coroa Grande, Sirinhaém,

Tamandaré, Vitória de Santo Antão e Xexéu).

Inicialmente foram escolhidos alguns municípios de cada Microrregião

(Microrregião de Recife, Microrregião de Itamaracá, Microrregião de Suape) com

exceção da Microrregião de Fernando de Noronha, tendo em vista os custos para

deslocamento (passagem aérea) e permanência (diárias). As escolhas se deram a

partir do critério de maior contingência populacional do município, ou seja, apenas

os que tinham os maiores índices de densidade demográfica foram escolhidos.

Posteriormente também foram selecionados alguns Municípios de cada Microrregião

da Mata Pernambucana, sob o critério de maior contingente populacional, como no

caso anterior.

4.2 Participantes da Pesquisa

Participaram dessa pesquisa 61 profissionais de saúde que trabalham em

Unidades de Saúde da Família da Mesorregião Metropolitana do Recife e da

Mesorregião da Mata Pernambucana. As pessoas que aceitaram participar do

estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual esclarece

sobre a natureza da pesquisa, a voluntariedade da participação e a garantia do sigilo

referente às informações coletadas.

Do total dos participantes, 67,21% são da região metropolitana do Recife e os

outros 32,78% são da região da zona da mata pernambucana. Quanto à

escolaridade deles, a maior parte da amostra engloba profissionais com segundo

grau completo (57,37%). Em relação à área de atuação profissional, a maioria dos

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58

participantes da pesquisa foram os agentes comunitários de saúde (59,01%). Vale

destacar que apesar da equipe básica das USFs serem formadas por profissionais

de medicina, houve dificuldade em encontrar profissionais médicos ao entrar-se em

campo, principalmente nas USFs da Mesorregião da Mata Pernambucana. Daí não

se obteve nenhum médico como participante da pesquisa. Esses dados podem ser

melhor observados na tabela a seguir.

Tabela 1- Perfil Sócio-demográfico dos Profissionais de Saúde

Variáveis N (61)

Região Região Metropolitana

Zona da Mata

41

20

Escolaridade

I Grau completo

II Grau completo

III Grau completo

00

35

26

Área de atuação Enfermagem

Auxiliar de enfermagem

ACS

Psicologia

Outros

11

10

36

1

3

Nota: Outros = dentista, fisioterapeuta, nutricionista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional

4.3 Instrumentos

Os dados foram obtidos através de abordagem multimétodos, contemplando

instrumentos quantitativos e qualitativos: 1) Questionário de Associação Livre de

Palavras (TALP), 2) Entrevistas semi-estruturadas.

4.3.1 Questionário de associação livre de palavras

Faz-se necessário salientar que este instrumento na atualidade tem sido

bastante utilizado na abordagem multimétodos pelos pesquisadores das RS

(CASTANHA et al., 2006; ALBUQUERQUE, 2003; BARROS, 2004; COUTINHO,

2001; DE ROSA, 1988; LE BOUDEC, 1984), uma vez que permite acesso aos

conteúdos latentes da representação que não são apreendidos através de outros

instrumentos, como por exemplo a entrevista, devido às normas, valores e a

desejabilidade social cristalizados nos conteúdos elaborados nas falas dos

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participantes. Daí a pertinência da triangulação dos dados obtidos entre esses

instrumentos acerca de um mesmo objeto de representação (BAUER e GASKELL,

2003).

De acordo com Nóbrega e Coutinho (2003), essa técnica projetiva possibilita

acesso aos conteúdos latentes, sem que ocorra a filtragem da censura a sua

evocação. Também é um instrumento que se apóia sobre um repertório conceitual,

com isso, permite a unificação dos universos semânticos e a saliência de universos

de palavras comuns face aos termos indutores e participantes da pesquisa. Tudo

isso através de uma técnica de fácil e rápida aplicação que traça hierarquizações e

um mapeamento da estrutura das representações para posterior análise

fundamentando-se na teoria estrutural de Abric (2000).

Nesse sentido, o questionário de associação livre de palavras permite ao

pesquisador apreender a representação social de um objeto para um grupo,

tentando reduzir ao máximo o efeito da censura no ato da evocação das palavras,

pois em muitos casos existe o que Abric (2003) chama de zona muda, ou seja, são

elementos contra-normativos que compõem a face não confessável da

representação por situar-se no campo do politicamente incorreto ou por causar “um

afastamento do sujeito com relação às normas de seu grupo de pertença” (p. 23).

O instrumento consistiu basicamente de termos indutores e a enunciação de

palavras associadas a estes termos, no caso na presente pesquisa o Questionário

de Associação Livre terá os seguintes termos indutores: 1. Ser mãe adolescente

é... 2. O que motiva a adolescente engravidar é... 3. As principais

conseqüências da gravidez na adolescência são....

Os termos indutores foram previamente definidos tendo como pressuposto o

objetivo da presente pesquisa, bem como os atores sociais que farão parte da

amostra, a saber: os profissionais de saúde.

É válido mencionar que no presente estudo convencionou-se o tempo máximo

de 01 (um) minuto para evocação das palavras associadas a cada estímulo indutor,

perfilando 04 minutos por cada participante para responder o questionário de

associação livre de palavras.

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60

4.3.2 Entrevistas Semi-estruturadas

A entrevista é definida por Haguette (1987, p. 75) “como um processo de

interação entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a

obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”. Minayo (1999, p. 109)

justifica a utilização da entrevista na pesquisa da seguinte forma:

[...] O que torna a entrevista instrumento privilegiado de coleta de informações para as ciências sociais é a possibilidade de a fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles) e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas.

Adotando-se como suporte a Teoria das Representações Sociais, que se

preocupa basicamente com o saber do senso comum construído coletivamente

através das interações grupais, com a utilização da entrevista, pode-se obter,

através do discurso dos indivíduos, suas representações sociais sobre o impacto

Biopsicossocial da gravidez na adolescência. Ainda nesse sentido, Minayo (1999)

afirma que a mediação privilegiada para a compreensão das representações sociais

é a linguagem.

Diante da adequação dos instrumentos para este estudo, foram utilizadas

entrevistas semi-estruturadas, permitindo ao entrevistado falar sobre o tema

proposto pelo entrevistador, sem que este tenha estabelecido uma resposta à priori

para a questão abordada. As entrevistas foram divididas em duas partes. A primeira,

com questões sociodemográficas, para uma melhor caracterização da amostra

(Apêndice IV), e a segunda, com questões norteadoras, em que foi utilizado um

roteiro semi-estruturado para investigar aspectos relacionados ao impacto da

gravidez na adolescência. O roteiro de entrevista abordou os seguintes blocos

temáticos:

Motivações para engravidar;

Efeitos da gravidez na vida da adolescente mãe;

Efeitos da gravidez na vida do adolescente pai;

Efeitos da gravidez na vida dos parentes e de pessoas próximas da adolescente

mãe;

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61

O roteiro de entrevista utilizado contemplou algumas questões (Apêndice IV),

tendo como paradigma uma representação social da gravidez na adolescência com

prismas em aspectos biopsicossociais e culturais.

4.4 Aspectos Éticos

A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade

Federal de Pernambuco (protocolo do CEP/CCS de número 181/10).

Durante a realização da pesquisa, foi solicitado o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE) para os participantes, cujo modelo foi elaborado de

acordo com a Resolução no 196/96, “Sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos”,

seguindo o seguinte critério:

- Quando as participantes tiverem a partir de 18 anos completos a

Resolução 196/96 exige que as próprias participantes assinem

(APÊNDICE - XI).

4.5 Coleta de Dados

Após aprovação do Comitê de Ética da Universidade Federal de

Pernambuco, foram contatadas algumas Unidades de Saúde da Família (USFs) dos

Municípios, e foi exposta uma carta de apresentação, contendo a relevância social e

acadêmica da pesquisa.

Em seguida, foi iniciada a fase de coleta de dados, em que os participantes

da pesquisa foram informados, previamente, a respeito dos objetivos e

procedimentos da pesquisa, bem como, da confiabilidade dos dados e do anonimato

da sua colaboração. Posteriormente, foi solicitado ao participante que assinasse um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cujo modelo foi elaborado de acordo

com a Resolução n 196/96 Sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos.

O documento explicita a solicitação aos participantes para participação no

estudo e gravação da entrevista, por via escrita (assinada), informando, ainda, que o

consentimento garante ao entrevistado o direito de interromper sua colaboração na

pesquisa a qualquer momento, caso julgue necessário, sem que isso implique em

constrangimento de qualquer ordem. Os instrumentos foram utilizados, respeitando a

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seguinte ordem: 1) Questionário de Associação Livre de Palavras, 2) Entrevistas. Os

dados foram coletados nas Unidades de Saúde da Família (USFs).

4.5.1 Questionário de Associação Livre

O questionário de Associação Livre (TALP) foi aplicado individualmente aos

os profissionais de saúde. Nessa etapa, solicitou-se que os participantes falem as

cinco primeiras palavras ou expressões que vem à mente quando questionados: na

sua opinião, ser mãe adolescente é... Em seguida, pediu-se que as respostas

fossem colocadas em ordem de importância.

O mesmo procedimento foi realizado com os demais termos indutores: O que

motiva a adolescente engravidar é... As principais consequências da gravidez

na adolescência são.... As respostas emitidas pelos participantes foram anotadas

no questionário, na íntegra, pela pesquisadora.

4.5.2 Entrevistas Semi-estruturadas

As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas individualmente com os

profissionais de saúde e gravadas em áudio para, posteriormente, serem transcritas.

4.6 Análise dos Dados

4.6.1 Questionário de Associação Livre de Palavras

As palavras e expressões pronunciadas pelos participantes da pesquisa

durante a aplicação do questionário de associação livre foram analisadas com o

apoio do software EVOC que, conforme Ribeiro (2000), possibilita a análise das

palavras captadas na associação livre de palavras e oferece suporte para a

apreensão da estrutura das representações sociais com seus elementos centrais e

periféricos.

A construção do banco de dados se deu a partir da digitação de todas as

respostas enunciadas por cada entrevistado, por ordem de importância, em planilhas

do Excel. As planilhas foram divididas de acordo com os seguintes aspectos: frase-

estímulo e Mesorregião pesquisada. Assim, cada arquivo de planilha deveria ser

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63

referente a um termo indutor. A reunião de todos os arquivos da primeira etapa

(Mesorregião Metropolitana do Recife) foram incluídos numa mesma pasta. O

mesmo foi feito para os dados das Associações Livres da segunda etapa

(Mesorregião da Mata Pernambucana). Em seguida foram tratados pelo software

Evoc.

Contudo, antes da inclusão das respostas cada participante foi caracterizado

de acordo com as variáveis de análise. Assim, cada participante correspondia a uma

linha da planilha e as variáveis deveriam ser preenchidas por colunas, a partir de

uma ordem pré-estabelecida seguidas das palavras enunciadas de acordo com a

ordem de importância dada por cada entrevistado. Além da ordenação dos

participantes e frase-estímulo, as variáveis utilizadas para o preenchimento das

planilhas, e posterior análise do Evoc, foram:

Para o tratamento e análise da estrutura representacional, foi utilizado o

software EVOC 2000 (VERGÉS, 2000) e a técnica de distribuição dos termos

produzidos um quadrante de quatro casas, considerando os critérios de saliência e

de importância, observados através da frequência e da ordem de importância das

evocações emitidas (VERGÉS, 1992; GUIMELLI e JACOBI, 1990).

Efetivado o cruzamento desses critérios, o software determina o valor dos

elementos que se agregam ao termo indutor por meio dos critérios a seguir:

1. Núcleo Central: exibe as palavras ou expressões de maior importância e

frequência de evocações conforme os participantes distinguiram;

2. Primeira periferia: exibe as palavras ou expressões com altos índices de

evocação, mas classificadas nos últimos lugares de importância no critério dos

participantes;

Local;

Escolaridade;

Área de atuação:

o Enfermagem = 1;

o Auxiliar de enfermagem = 2;

o Agente Comunitário de saúde (ACS) = 3;

o Medicina = 4;

o Psicologia = 5;

o Outros = 6

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64

3. Zona de contraste: exibe as palavras ou expressões pouco enunciadas e

classificadas como as primeiras mais importantes pelos sujeitos;

4. Segunda Periferia: exibe as palavras ou expressões menos evocadas e

classificadas nos últimos lugares no critério de importância para os sujeitos.

Os resultados apreendidos com suporte do software serão expostos em

quadrantes organizados em dois eixos: o eixo vertical que se refere à frequência de

evocação das palavras; e o eixo horizontal que diz respeito à ordem de importância.

4.6.2 Entrevistas Semi-estruturadas

Para a análise das entrevistas, inicialmente, realizou-se a transcrição literal

das mesmas, para, então, dar início à análise dos dados. A análise das entrevistas

ocorreu de acordo com o método de caracterização e análise de conteúdo temática

proposto por Bardin (2002).

O objetivo da análise de conteúdo é compreender, criticamente, o sentido das

comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou

ocultas. Em relação à análise temática, enfatiza-se a análise de ocorrências,

objetivando revelar a atenção dada às falas pelos sujeitos entrevistados e

conferindo-lhes diferentes conteúdos inventariados. Observa-se que esse tipo de

análise permite inferências sobre a organização do sistema de pensamento dos

sujeitos, produtores do discurso (COUTINHO, 2001).

Vale explicitar que na análise categorial temática constroem-se categorias

segundo os temas que surgem no texto e classificam-se os elementos em uma

determinada categoria ao identificar o que eles apresentam em comum, permitindo

seu agrupamento. Nesse sentido, a análise por categorias temáticas busca localizar

uma cadeia de significações codificadas através de indicadores que lhe estão

vinculados. Assim, codifica-se ou caracteriza-se um segmento agrupando-o em

classes que se equivalem de acordo com as significações apreendidas na análise do

codificador, o qual necessita ter domínio da técnica, mas também empregar

sensatez, sensibilidade e ponderação para perceber o que o conteúdo a ser

analisado sugere ou alude (PÊCHEUX, 1993).

Baseando-se neste contexto teórico-metodológico, foi utilizada a análise de

conteúdo temática, considerando os objetivos propostos neste estudo - ancorados

na teoria das Representações Sociais - e seguindo as seguintes etapas operacionais

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65

apresentadas por Coutinho (2001): constituição do corpus, leitura flutuante,

codificação, categorização e inferências. A figura 1 representa as etapas descritas.

Figura 1. Plano de análise das entrevistas

Constituição do Corpus – O corpus é definido como sendo o conjunto de

documentos apresentados em conta para serem submetidos aos procedimentos.

Neste estudo, corresponde à reunião dos dados coletados através das entrevistas

semi-estruturadas.

Leitura Flutuante – Corresponde a uma primeira leitura de todo material de forma

livre e geral, sem preocupações com maiores controles, para uma maior

familiarização do pesquisador com os dados obtidos, deixando-se invadir por

impressões e orientações.

Codificação – Após a leitura flutuante do corpus, os dados brutos são

transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma

descrição exata das características pertinentes do conteúdo.

Categorização – Após a decomposição do corpus faz-se necessário agrupar o

material classificando-o em categorias e subcategorias simbólicas emergentes.

Inferências – São designadas para realizar a indução a partir das categorias,

permitindo, dessa maneira, inferir conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção das mensagens.

LEITURA FLUTUANTE

REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS

CORPUS

CATEGORIAS E

SUBCATEGORIAS

CODIFICAÇÕES

INFERÊNCIAS

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CAPÍTULO V

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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67

CAPÍTULO V – RESULTADOS E DISCUSSÃO

A exposição e análise dos resultados serão ilustradas em duas etapas. Na

primeira etapa, serão exibidos os resultados e discussões referentes ao questionário

de associação livre. No segundo momento, logo em seguida, serão apresentadas as

análises das entrevistas com os profissionais de saúde.

5.1 Associações livres

A análise através do software EVOC revelou a estrutura dos dados de

evocação hierarquizada, mostrando o conteúdo que compõe o núcleo central das

representações sociais, bem como os seus elementos periféricos. As estruturas das

representações estudadas foram apresentadas através de quadros, nos quais foram

mostrados os elementos centrais e periféricos. O quadro abaixo mostra como essas

informações foram organizadas.

QUADRO 1. Distribuição dos termos evocados nos quadrantes

ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO

>=10

Inferior a 2,5 Superior ou igual a 2,5

Zona do núcleo central

Primeira periferia

<10

Zona de elementos contrastados

Segunda periferia

Dessa maneira, partiu-se da premissa de que os termos que atendessem, ao

mesmo tempo, aos critérios de evocação com maior frequência e nos primeiros

lugares, supostamente teriam uma maior importância no esquema cognitivo do

sujeito, ou seja, configurariam hipóteses de núcleos centrais da representação social

do objeto pesquisado (SÁ, 1996).

Os resultados do questionário de associação livre geraram as discussões que

serão apresentadas a seguir através dos termos indutores (ser mãe adolescente é...;

o que motiva a adolescente a engravidar é...; as principais consequências da

F

R

E

Q

U

Ê

N

C

I

A

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gravidez na adolescência são...) que instigaram os profissionais de saúde a

evocarem as suas representações sobre a gravidez na adolescência.

5.1.1 Ser mãe adolescente é...

QUADRO 2. “Ser Mãe adolescente é...”, em função da frequência e ordem média de evocação

ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO

> =10

Inferior a 2,5

Superior ou igual a 2,5

14 - Irresponsabilidade

2,357

24 - Imaturidade 12 - Responsabilidade 10 - Dificuldades

2,750 2,583 3,200

<10

8 - Pular etapas 6 - Falta de orientação 5 - Complicado

2,375 1,667 2,200

8 - Falta de instrução 7- Evasão escolar 6 - Abdicação 6 - Aprendizagem

3,000 2,857 2,667 2,667

Diante do questionamento para os profissionais de saúde sobre “o que é ser

mãe adolescente” emergiram alguns termos que compõem o conjunto da

representação deste grupo. Como mostra o quadro 2, a palavra irresponsabilidade

(f = 14, ome = 2, 357) é a única presente no núcleo central dessa representação.

Desse modo, a ideia central compartilhada pelos profissionais de saúde, em seu

núcleo, gira em torno de uma mãe adolescente vista como irresponsável.

Assim, a palavra mais enunciada, localizada no quadrante superior

esquerdo, e que apresentou maior importância de acordo com a enumeração, que

compõem a zona do núcleo central desta representação, foi a palavra

irresponsabilidade. Pois, como explica Abric (2003):

Uma representação social [...] é organizada em torno de e por um núcleo central – constituído de um número muito limitado de elementos – o que lhe dá sua significação (função geradora) e determina as relações entre seus elementos constitutivos (função organizadora).

F

R

E

Q

U

Ê

N

C

I

A

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69

Essa visão da gravidez na adolescência como irresponsabilidade, nesse

período de vida, advém dos profissionais acreditarem que as adolescentes não

estariam preparadas para conceber um filho. Tal compreensão envolve questões

relacionadas à imaturidade do corpo da jovem, o qual não estaria biologicamente

pronto para a gestação, como também envolve um olhar de que as gestantes não

possuem maturidade emocional e estabilidade financeira adequada para

enfrentarem os desafios da maternidade (PONTE JUNIOR e XIMENES NETO, 2004;

FERRARI et al., 2008).

Além disso, a irresponsabilidade, os conflitos e a instabilidade emocional

são marcas atribuídas ao próprio período da adolescência. Desse modo, a gestação

nessa fase da vida seria um ato irresponsável que geraria “problemas” para a

adolescente, a qual estaria ainda imatura para assumir as novas responsabilidades

decorrentes do papel social de mãe. Nesse sentido, a gravidez na adolescência é

considerada, principalmente pelo discurso médico, uma situação precoce que ocorre

no “período errado”, pois acarretaria prejuízos para o futuro das adolescentes

(PONTE JUNIOR e XIMENES NETO, 2004; FERRARI et al., 2008).

No segundo quadrante observam-se as palavras mais importantes do sistema

periférico, pois são os elementos periféricos que mantém a representação e

integram novas informações a estas. Os primeiros elementos periféricos abarcaram

as palavras imaturidade (f = 24, ome = 2, 750), dificuldades (f = 10, ome = 3, 200)

e responsabilidade (f = 12, ome = 2, 583). Nesse sentido, a adolescência é

percebida como uma fase de vida marcada pela imaturidade tanto de ordem física

quanto emocional. Assim a maternidade aconteceria numa época inapropriada que

geraria dificuldades para a adoção da responsabilidade demandada pelo papel

social de mãe. Tal responsabilidade se configura como um elemento implícito à

compreensão acerca da maternidade que, de maneira geral, é associada a este

elemento (SILVA e CAMARGO, 2008; KÖNIG, et al., 2008; SILVA et al., 2009).

Vale ressaltar que a palavra imaturidade foi a mais citada pelos profissionais

de saúde e reforça a ideia de falta de maturidade relacionada à visão que permeia o

período chamado de adolescência. Dessa forma, a maturidade seria uma

característica adquirida na vida adulta, logo a adolescência estaria desprivilegiada

de tal aspecto. Nesse contexto, a maternidade deveria ser postergada para uma

fase “apropriada”, que no caso, seria a adulta, pois proporcionaria o amadurecimento

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70

suficiente para a construção de um projeto de vida estável com realizações pessoais

(SILVA e CAMARGO, 2008; FERRARI et al., 2008).

Diante do exposto, as dificuldades em ser mãe adolescente surgiriam devido

à cobrança social de a maternidade carecer responsabilidade e maturidade, o que

contrastaria com o comportamento irresponsável e imaturo associado à categoria

adolescente. Grávidas, as adolescentes encontrariam dificuldades para dar

continuidade aos estudos e ingressar no mercado de trabalho. Dessa forma, essas

jovens não cumpririam o percurso que é esperado para sujeitos nesse período da

vida. Além disso, considera-se que os adolescentes não estariam aptos

biologicamente, psicologicamente e economicamente para gerarem filhos (KÖNIG et

al., 2008; SILVA e CAMARGO, 2008; SILVA et al., 2009).

O terceiro quadrante retrata os elementos periféricos contrastados, de baixa

frequência, com temas enunciados por poucas pessoas, mas considerados muito

importantes, porque podem significar um complemento da primeira periferia. A zona

de elementos contrastados, ao contrário da primeira periferia, apresenta os termos

que foram poucas vezes enunciados, mas aos quais se atribuiu uma importância

elevada (ABRIC, 2003). Neste quadrante aparecem os termos pular etapas (f = 8,

ome = 2, 375) e complicado (f = 5, ome = 2, 200) que permanecem reforçando a

visão de uma gravidez que ocorre no “período errado”. Desse modo, a maternidade

na adolescência remete a um evento complicado que acarretaria diversos

obstáculos para a vida da adolescente, visto que esta não estaria preparada para

assumir as incumbências da gestação por estar numa fase permeada por conflitos,

imaturidade e instabilidade emocional (HEILBORN et al., 2002; UNBEHAUM e

CAVASIN, 2006; CORRÊA e BURSZTYN, 2011).

Nesse sentido, a jovem que engravida renuncia as experiências consideradas

próprias da sua idade em prol da maternidade. Dessa forma, perante os cuidados

com a gravidez e futuro filho, a adolescente acaba por pular etapas de sua vida

para assumir as funções advindas ao “ser mãe”. Então, o elemento pular etapas

aproxima-se da ideia que a gravidez abrevia a adolescência, pois ocasionaria

amadurecimento antecipado e entrada no “mundo adulto” devido às

responsabilidades adquiridas com o papel social de mãe e, assim, haveria perdas de

vivências pessoais e emocionais consideradas típicas dessa fase (HEILBORN et al,

2002; OTSUKA et al., 2005; CORRÊA e BURSZTYN, 2011).

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71

Já o termo falta de orientação (f = 6, ome = 1, 667) parece referir-se à

impressão de que há escassez e falhas na difusão das orientações acerca das

questões relacionadas à sexualidade e reprodução. Nesse contexto, os profissionais

de saúde da atenção básica, assim como a escola e a família, são fundamentais no

processo de orientação e propagação de informações às adolescentes (CABRAL,

2003; DADOORIAN, 2003; MELHADO et al., 2008; SILVA et al. 2009).

Vale destacar que há escassez de cursos de formação/capacitação dos

profissionais de saúde para desempenhar um papel na vida sexual e reprodutiva dos

adolescentes. O enfoque de controle e normatização dado aos temas da

sexualidade e reprodução na adolescência nos cursos de graduação contribuem

para que os profissionais de saúde não ofereçam um serviço educativo, sistemático

e de qualidade para orientação dos jovens (FERRARI et al., 2006).

O último quadrante comporta os elementos periféricos de menor importância

e de pouca presença nas Representações Sociais. Ao mesmo tempo em que

revelam a possibilidade das transformações, já que permitem as variações pessoais,

sem alteração do núcleo central, esses elementos servem como prescritores de

comportamentos, sendo a parte operacional da representação, que tanto intervém

no processo de defesa, como na transformação das representações sociais. A

segunda periferia, ou periferia distante, mesmo com palavras pouco evocadas e de

menor importância, mostra ainda as dificuldades existentes nessa nova experiência.

Entre os últimos elementos periféricos, destacam-se os termos falta de

instrução, abdicação, evasão escolar e aprendizagem. A referência à falta de

instrução (f = 8, ome = 3, 000) traz à tona que a gestação na adolescência está

relacionada ao baixo grau de instrução dos adolescentes (SIMÕES, 2010; GAMA et

al., 2002). Em relação à palavra abdicação (f = 6, ome = 2, 667), ela parece aludir

às “perdas” advindas da maternidade, pois a adolescência é considerada uma fase

para “curtir a vida” sem grandes compromissos. Assim, a adolescente, ao ser mãe,

abdicaria do lazer e experiências típicas dessa etapa para responsabilizar-se com a

gravidez e seu filho. Nesse contexto, o termo abdicação parece enaltecer a

compreensão que as responsabilidades demandadas pelo papel social de mãe não

condizem com o período da adolescência (COSTA, 2003; GONÇALVES e KNAUTH,

2006; BORGES et al., 2009).

Na mesma linha de pensamento, a expressão evasão escolar (f = 7, ome =

2, 857) reitera a vivência da maternidade na adolescência como um evento

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“problemático” que acarretaria “perdas” na vida da jovem. Dessa forma, os

compromissos decorrentes da gestação contribuiriam com o abandono ou

interrupção dos estudos da jovem mãe que não estaria preparada para administrar a

vida escolar perante uma gravidez. Diante disso, a adolescente prejudicaria o seu

futuro profissional com consequente impacto negativo nas suas condições de vida e

de seus familiares, caso ela receba um suporte financeiro da família (ALMEIDA,

2002; LIMA et al., 2004; SILVA e TONETE, 2006; FALCÃO e SALOMÃO, 2006;

MONTEIRO et al., 2007; HOGA et al., 2009).

Já o termo aprendizagem (f = 6, ome = 2, 667) está associado com as

experiências positivas que a maternidade proporciona à adolescente quando esta

adquire o papel social de mãe, visto que esta assume novas responsabilidades que

proporcionam aprendizado em relação a si mesma e ao outro a partir das novas

vivências e desenvolvimento de capacidades antes não assumidas (SILVA e

TONETE, 2006; KÖNIG et al., 2008; RANGEL e QUEIROZ, 2008; DIAS e TEIXEIRA,

2010).

Diante do que foi exposto nas evocações de palavras dos profissionais de

saúde, percebe-se que a ideia de maternidade na adolescência está ancorada na

noção do que é ser adolescente, a qual é compartilhada no senso comum e

permeada nos discursos científicos e práticas profissionais. Essa noção compreende

os adolescentes como despreparados para gerar e cuidar de filhos. Assim, a

adolescência é considerada uma fase imprópria para a gravidez, que requer a

maturidade e estabilidade consideradas próprias da fase adulta.

Nesse sentido os atores sociais mantém uma visão de maternidade na

adolescência atrelada a ideias estereotipadas partilhadas acerca da mesma. Logo, o

grupo de profissionais de saúde, diante das concepções que partilham, as quais

podem ser contraditórias, sente-se compelido a tomar uma posição diante de

determinado assunto. Assim, o empenho em categorizar algum objeto significa

escolher modelos estocados em nossa memória e constituir uma relação positiva ou

negativa com eles (MOSCOVICI, 2003).

Vale ressaltar que o núcleo central da representação, assim como as

palavras mais evocadas e consideradas mais importantes da periferia, trouxeram

uma visão negativa da gravidez no período da adolescência, com implicações

problemáticas e desvantagens para a adolescente. Desse modo, a maternidade

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73

nesse período de vida parece objetivar-se na imagem de gestação precoce e evento

problemático.

Nessa perspectiva, Pantoja (2003) observa que a compreensão da gravidez

na adolescência como um evento “problemático” se apresenta regulado por um

discurso alarmista, vitimizador, homogeneizador que reforça um olhar negativo

acerca da maternidade da adolescente, a qual é vista enquanto prejuízo para o

percurso da vida das adolescentes, como por exemplo, aumentar as chances da

evasão escolar ocorrer.

Também se percebe uma representação de maternidade ancorada à ideia

de mulher responsável pelo cuidado dos filhos. Tal concepção se fundamenta em

valores ainda atrelados ao modelo patriarcal em que é papel do sexo feminino cuidar

do lar e se responsabilizar pelo zelo, afeto e educação dos filhos.

É válido mencionar que os conceitos de mãe e maternidade, em que se

ancoram as representações de mãe adolescente, apresentaram alguns elementos

que apesar de dúbios e contraditórios não comprometem seu sentido e

compreensão. As representações, conforme Moscovici (2001), são formadas em

meio a contradições e não são necessariamente homogêneas, de forma que os

conceitos são assim compartilhados, influenciam comportamentos e servem de base

para novas representações.

5.1.2 O que motiva a adolescente engravidar é...

QUADRO 3. “O que motiva a adolescente a engravidar é...”, em função da frequência e ordem média de evocação

ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO

>=10

Inferior a 2,5 Superior ou igual a 2,5

17 - Irresponsabilidade 12 - Falta de informação

2,471 2,417

15 - Busca por emancipação 15 - Falta de diálogo com a família 14 - Falta de prevenção 13 - Prender o namorado

2,600 2,933 2,643 2,769

<10

9 - Impulsividade 6 - Família desestruturada

1,778 1,667

9 - Curiosidade 9 - Influência das amigas 8 - Desejo de ser mãe 7 - Falta de experiência 7 - Imaturidade 7 - Inconsequência 5 - A mídia

2,556 2,778 2,750 3,429 2,857 3,429 3,600

F

R

E

Q

U

Ê

N

C

I

A

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Conforme se observa no quadro 3, a palavra irresponsabilidade (f = 17, ome

= 2, 471) está em evidência no núcleo central da representação, o que demonstra

uma visão negativa a respeito da gravidez na adolescência por parte dos

profissionais de saúde. A vinculação entre irresponsabilidade e gravidez na

adolescência parece centrar-se na imagem de uma adolescente irresponsável e

despreparada para assumir as responsabilidades atribuídas à maternidade.

O núcleo central também traz a expressão falta de informação (f = 12, ome =

2, 417) como elemento que fundamenta a visão de que há falhas nos veículos

sociais em relação ao esclarecimento acerca dos meios de prevenção da gravidez.

Nesse sentido, ainda é influente, no senso comum e na literatura, a noção de que a

gravidez na adolescência é decorrente da falta de informação acerca dos métodos

preventivos nos serviços de saúde, escolas e família (DADOORIAN, 2003;

MELHADO et al., 2008; SILVA et al. 2009).

A falta de informação referida pelos profissionais de saúde também pode

estar associada à precariedade das informações circuladas sobre sexualidade e

reprodução nos meios de convívio da adolescente, o que inclui também a

participação da rede de saúde para intervir com propostas preventivas acerca da

gestação na adolescência (CABRAL, 2003; SILVA et al. 2009).

Vale destacar que as informações acerca da sexualidade e reprodução que

são passadas aos jovens estão permeadas de tabus e preconceitos. Assim, se

aceita a sexualidade entre casais adultos unidos “legitimamente” em matrimônio,

mas ainda ocorrem inúmeros preconceitos quando se trata de relações sexuais entre

adolescentes antes do casamento. Esse fator dificulta a procura das jovens ao

ginecologista, à solicitação de métodos contraceptivos, além do esclarecimento de

dúvidas no que diz respeito às relações sexuais e à gravidez (HEILBORN et al.,

2006; SOUSA et al., 2006; ALTMANN, 2009).

Na primeira periferia – que é composta pelos elementos com elevado índice

de evocação (ABRIC, 2003), importantes para entender a representação social, já

que eles são frequentemente evocados, porém a eles não são atribuídos altos

índices de importância pelos atores sociais – encontram-se os termos: Busca por

emancipação, Falta de diálogo com a família, Falta de prevenção e Prender o

namorado.

A expressão falta de prevenção (f = 14, ome = 2, 643), dentre os primeiros

elementos periféricos, parece remeter à ausência ou utilização deficiente dos

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75

preservativos devido à imaturidade, impulsividade, irresponsabilidade e

inconsequência atribuída aos adolescentes. Dessa forma, a gestação na

adolescência faz parte de um cenário em que os jovens têm uma iniciação sexual

considerada precoce devido ao despreparo para usarem adequadamente os

métodos contraceptivos (TEIXEIRA et al., 2006; MESQUITA, 2008; SANTOS e

NOGUEIRA, 2009).

Faz-se importante ressaltar que o aparecimento dos métodos contraceptivos

reforçou a medicalização da vida reprodutiva e sexual, pois trouxeram preceitos que

geraram mudanças no comportamento sexual e reprodutivo das mulheres. Porém,

elas ainda confrontam-se com as barreiras da hierarquia de gênero no que diz

respeito à contracepção, a qual acaba por se tornar responsabilidade feminina,

assim como a gravidez acidental é considerada um encargo da mulher em meio a

negociações com o parceiro (BAJOS et al, 2002; BRANDÃO e HEILBORN, 2006).

Nesse sentido, apesar das adolescentes grávidas geralmente receberem

suporte financeiro e emocional dos familiares, particularmente da mãe, há

determinados valores presentes no âmbito familiar que reforçam a confirmação da

gravidez como algo desrespeitoso aos valores sociais e morais e, por isso,

envergonharia a família. Desse modo, a falta de diálogo com a família (f = 15, ome

= 2, 933) está imbuída da consideração do sexo entre adolescentes como tabu e

assunto que deve ser mantido em sigilo, mesmo diante da visão atual de que o sexo

na adolescência é algo “normal”, permitido e que faz parte das experiências deles

(NOGUEIRA e MARCON, 2004; SILVA e TONETE, 2006; HOGA et al., 2009).

Diante do exposto, embora as questões que abarcam a sexualidade e a

gravidez na adolescência sejam assunto de preocupação para os membros da

família, o diálogo nesse domínio parece faltar ou estar preso aos valores familiares

com a intenção de moldar o comportamento das adolescentes. Assim, não há um

empenho familiar em refletir abertamente sobre o desempenho seguro da

sexualidade e vida reprodutiva na adolescência (BRANDÃO, 2004; BRÊTAS e

SILVA, 2005; BORGES e SCHOR, 2005).

Dessa forma, o evento da gravidez permeia os discursos e a moral familiar, de

modo que é concebida como uma situação ligada à vida adulta e à união estável

entre os parceiros. Portanto, a influência da família sobre o fenômeno da gravidez na

adolescência abrange as interações presentes em meio ao contexto e estrutura

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familiar, assim como, abarca as práticas e as relações parentais. (BRANDÃO, 2004;

MILLER et al., 2005; BORGES e SCHOR, 2005).

No que concerne aos primeiros elementos periféricos mais evocados, o termo

busca por emancipação (f = 15, ome = 2, 600) remete que o evento da

maternidade marca para muitas adolescentes a passagem para uma vida mais

independente e pode compor um caminho escolhido pela adolescente a fim da

buscar emancipação perante a sua família. Vale ressaltar que os significados da

gravidez na adolescência variam de acordo com a vivência de cada pessoa no

contexto cultural e socioeconômico que interage (PANTOJA, 2003; BRANDÃO e

HEILBORN, 2006; SILVA et al., 2009; DIAS e TEIXEIRA, 2010).

Nesse sentido, a gravidez é considerada para as adolescentes de camadas

populares como um meio que favorece a busca por emancipação juntamente com

planos para obtenção de melhores condições socioeconômicas, a fim de construir

seu próprio lar e oferecer um bom futuro para seus filhos. Dessa forma, o papel de

mãe pode conceber, para meninas de classe pobre e com condições de vida

adversas, reconhecimento social no meio em que vive (GONTIJO e MEDEIROS,

2008; MELHADO et al., 2008; CARVALHO et al., 2009; DIAS e TEIXEIRA, 2010).

Atribuí-se, portanto, um ônus social positivo à gravidez dentro das camadas

mais populares da sociedade, visto que a maternidade nessas classes sociais é

considerada uma ascensão social na comunidade, a qual passa a reconhecer a

adolescente como mãe. Assim como marca o início da busca por emancipação da

jovem e o ingresso na vida adulta (MILAN et al., 2004; FIGUEIREDO et al., 2006;

HOGA et al., 2009).

Nesse contexto, a expressão prender o namorado (f = 13, ome = 2, 769)

pode significar um fortalecimento do vínculo da adolescente com o companheiro na

construção de um novo lar e status social dentro da comunidade, pois a união e/ou a

presença do pai da criança é considerada uma fonte de apoio valorizada pelas

adolescentes em meio à situação da gravidez (MILAN et al., 2004; FIGUEIREDO et

al., 2006; HOGA et al., 2009).

Na zona de elementos contrastados, que se encontra no terceiro quadrante,

estão presentes as palavras com elevado grau de importância atribuído pelos

profissionais de saúde, são elas: Impulsividade e Família desestruturada.

No que diz repeito ao terceiro quadrante, ele traz a palavra impulsividade (f =

9, ome = 1, 778) como a mais evocada, corroborando com a visão do senso comum,

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permeada também no discurso científico, de que o período da adolescência é

marcado por impulsividade. Tal visão está em consonância com os discursos que

permeavam as teorias do desenvolvimento no século XX e ainda hoje influenciam as

concepções de adolescência que predominam entre os profissionais de saúde

(MESQUITA, 2008).

Já a expressão família desestruturada (f = 6, ome = 1, 667) remete ao papel

de apoio e suporte, para a adolescente, atribuído à família. Dessa forma, um

ambiente familiar marcado por desestrutura familiar torna-se propício para a gravidez

na adolescência por apontar dificuldades, conflitos, austeridade nas relações,

carência de apoio e comunicação para as adolescentes. Assim, a família, ao

oferecer suporte afetivo e educativo para os adolescentes, colabora no modo como

eles percebem e adotam comportamentos de riscos perante a sua sexualidade

(PEREIRA, 2005; BORGES e SCHOR, 2005; MILLER et al., 2005; BRÊTAS e

SILVA, 2005; FIGUEIREDO et al. 2006; SILVA, et al., 2009).

Nesse sentido, o ambiente familiar é considerado contribuinte na formação da

conscientização da adolescente no que se refere à prevenção da gravidez e das

doenças sexualmente transmissíveis. Considera-se a estrutura familiar como um

importante fator a se ponderar no que diz respeito a como o indivíduo vivência e

avalia as suas próprias experiências com o meio, de modo que a qualidade da

aproximação e comunicação entre os membros da família influencia

expressivamente na forma como a adolescente lida com a sua sexualidade e adota

precauções em relação à gravidez (DIAS e GOMES, 2000; PEREIRA, 2005; SILVA

et al., 2009).

Além disso, a curiosidade (f = 9, ome = 2, 556), considerada própria da etapa

adolescente, em relação à sexualidade e ao próprio corpo, aliada à falta de

experiência (f = 7, ome = 3, 429) e imaturidade (f = 7, ome = 2, 857) atribuídas a

essa fase, podem contribuir com o evento de uma gravidez “precoce” e não

planejada durante a adolescência. Dentro desse contexto, há uma visão propagada

na sociedade, a qual também perpassa as concepções dos profissionais de saúde,

de que a gravidez no período da adolescência também é parte da inconsequência

dos adolescentes, visto que permeia a ideia de que essa fase é turbulenta e

marcada por imaturidade, rebeldia, e comportamentos inconsequentes (BRANDÃO e

HEILBORN, 2006; SANTOS E NOGUEIRA, 2009; TORRES, 2010).

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Nessa perspectiva, a palavra inconsequência (f = 7, ome = 3, 429), no

quarto quadrante, demonstra um olhar negativo diante dessa gestação que é

considerada um evento problemático na vida da jovem, pois a adolescente estaria

imatura e inexperiente, em meio a conflitos considerados da idade, para enfrentar a

maternidade e arcar com os cuidados do bebê (SILVA et al., 2009; SANTOS e

NOGUEIRA, 2009; TORRES, 2010).

No entanto, a expressão desejo de ser mãe (f = 8, ome = 2, 750) assinala

que apesar da compreensão negativa em torno da gravidez na adolescência, a

maternidade pode ser fruto do próprio desejo e projeto de vida da adolescente,

assim como seria um meio para obtenção de autonomia e satisfação pessoal,

principalmente para adolescentes de classes mais desfavorecidas economicamente,

as quais podem compreender que um filho traz ganhos para a sua vida. Vale

destacar que os sentidos atribuídos à maternidade na adolescência estão

associados às relações que se constroem conforme o contexto sócio-histórico

vivenciado pelas mães adolescentes (FOLLE e GEIB, 2004; RANGEL e QUEIROZ,

2008; GONTIJO e MEDEIROS, 2008; CARVALHO et al., 2009; SILVA et al., 2009).

Nesse sentido, o evento da gravidez poderia ser uma tentativa de ocupar um

determinado lugar social que sustentaria um projeto de vida que para as

adolescentes das camadas pobres seria mais do que um desejo individual, mas

estaria relacionado a um projeto coletivo, visto que construído através dos

significados sociais referentes à maternidade e às oportunidades sociais, como

também às vivências da adolescência pertencentes a uma determinada classe social

(PANTOJA, 2003; GONTIJO e MEDEIROS, 2008; LEVANDOWSKI, et al. 2008;

CARVALHO et al., 2009; SILVA et al., 2009).

Diante do exposto, a mídia (f = 5, ome = 3, 600) é considerada de ampla

influência no comportamento dos adolescentes. Ela sutilmente discorre aos

diferentes públicos, entre eles o público adolescente, de maneiras diversas conforme

o grupo que deseja atingir. Dessa forma, a mídia contribui com a forma como a

jovem lida e encara a gravidez, o seu corpo e a prevenção contra as doenças

sexualmente transmissíveis. Assim, as transmissões em que a mídia coloca pessoas

jovens vivenciando a sua sexualidade e/ou constituindo famílias felizes, seria um

estímulo para as adolescentes engravidarem (HEILBORN et al., 2002; DALLA ZEN,

2003; FISCHER, 2005).

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Nessa perspectiva, ao estimular determinadas práticas sexuais, a mídia

exerce ampla influência no comportamento sexual das adolescentes e instiga a

erotização na adolescência, de maneira que acaba por instigar o início precoce da

atividade sexual sem que os jovens tenham maturidade suficiente para se precaver

da gravidez e das doenças sexualmente transmissíveis. Vale ressaltar que os

comportamentos das adolescentes de diferentes classes sociais são cercados por

determinados discursos midiáticos que permearão os seus posicionamentos diante

da sua sexualidade (HEILBORN et al., 2002; DALLA ZEN, 2003; FISCHER, 2005).

Além disso, a experiência trocada pelas adolescentes no seu grupo de

convivência, em determinado contexto de interação, traz a influência das amigas (f

= 9, ome = 2, 778) como referência para a forma como a adolescente lida com a sua

sexualidade, gravidez e experiências da maternidade. Assim, o grupo de amigos é

parte da rede de suporte social à adolescente e influenciam nas concepções e

vivências da adolescente perante a gestação e maternidade (MEDEIROS et. al,

2001; MELHADO et al., 2008).

Perante as palavras evocadas no núcleo central e elementos periféricos da

representação social, a categoria motivação na adolescência se configura como uma

relação complexa que afeta e é afetada pela representação do ser adolescente e do

ser mãe, posto que um é visto como “um duplo” do outro, a outra “face da mesma

moeda”. Vale ressaltar que Moscovici (2003) coloca a construção das

representações sociais como algo carregado de contradições, visto que elas partem

da própria heterogeneidade das interações entre os indivíduos frente aos fenômenos

em um dado contexto e, assim, permitem compreender como os grupos e os

indivíduos podem estabelecer, através de tal diversidade, uma realidade comum,

estável e previsível.

Um ponto a ser destacado é que as teorias construídas e compartilhadas

sobre motivações da gravidez na adolescência, de modo geral, comportam

elementos negativos associados à visão que cerca o período da adolescência, o

qual seria marcado por características como a impulsividade, irresponsabilidade,

imaturidade, inconsequência, entre outras. Porém, os elementos positivos que

aparecem estão atrelados aos conceitos de maternidade partilhados por

determinado grupo social, ou seja, é algo que parte do desejo e busca por

emancipação, mas acarreta responsabilidades e “sacrifícios”.

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Nesse sentido, há um contraste significativo que gira em torno das

representações de maternidade e de adolescência. Então, ao mesmo tempo em que

a figura materna ocupa um lugar privilegiado diante da sociedade atrelado à

natureza feminina e doações em favor da família, a adolescência surge como uma

fase permeada por características negativas que tornariam as adolescentes “inaptas”

para a maternidade.

5.1.3 As principais consequências da gravidez na adolescência são...

QUADRO 4. “As principais consequências da gravidez na adolescência são...”, em função da frequência e ordem média de evocação

ORDEM MÉDIA DE EVOCAÇÃO

>=10

Inferior a 2,3 Superior ou igual a 2,3

24 - Perder os estudos 17 - Gravidez de risco

1,917 1,588

12- Perder a liberdade

2,333

<10

7- Pular etapas de vida

2,143

8- Desemprego

8- Aborto

8-Aumento das responsabilidades

7- Rejeição ao filho

7- Ter mais obrigações

6 - Amadurecimento precoce

6- Depressão

5- Imaturidade

3,500

2,375

2,500

2,857

3,286

3,333

3,500

3,400

As expressões mais enunciadas, localizada no quadrante superior esquerdo,

e que apresentou maior importância de acordo com a enumeração, que compõem a

zona do núcleo central desta representação, foram as expressões Perder os

estudos e Gravidez de risco. A expressão Gravidez de risco (f = 17, ome = 1,

588) mostra uma tendência dos profissionais de saúde tomarem a gravidez na

adolescência como uma gestação de risco, por meio de uma visão prioritariamente

clínica e comumente associada a riscos obstétricos e biológicos para a mãe e o

bebê, como por exemplo, partos prematuros, pré-eclâmpsia, morte materna, baixo

peso do recém-nascido, deficiências nutricionais e problemas no desenvolvimento

da criança (MAGALHÃES et al., 2006; MESQUITA, 2008; MOREIRA et al., 2008;

BELARMINO et al., 2009; CERQUEIRA-SANTOS, 2010).

F

R

E

Q

U

Ê

N

C

I

A

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81

Entretanto, considerar apenas a idade materna como fator de risco materno-

infantil é tornar-se reducionista, pois a gravidez é um fenômeno complexo que sofre

influência de fatores biológicos e socioeconômicos, então não pode ser reduzido a

uma apreciação simplista. Alguns estudos mostram que a gestação na adolescência

não deve ser ponderada como gravidez de risco. Nessa perspectiva, mulheres que

engravidam entre 15 e 19 anos em condições apropriadas de assistência à saúde e

nutrição, possuem poucos riscos materno-infantis, equiparando-se aos de gestantes

que não são adolescentes. (AL-RAMAHI e SALEH, 2006; COSTA e HEILBORN,

2006; MESQUITA, 2008; DIAS e TEIXEIRA, 2010).

Outro elemento nuclear foi perder os estudos (f = 24, ome = 1, 917), que

parece vincular-se com o ideal de adolescência como uma fase do indivíduo investir

nos estudos a fim de conseguir um lugar no mercado de trabalho e estabilidade

financeira. Considera-se que a gravidez na adolescência interfere no processo de

escolarização do adolescente e aumenta as chances de baixo rendimento escolar e

perda dos estudos, o que acarretará dificuldades em conseguir boas colocações e

permanecer no mercado de trabalho. Assim, associa-se o evento da gestação na

adolescência como agravante da pobreza para os adolescentes de classes

populares, pois ela atrapalharia o percurso de preparação do adolescente para

conseguir a autonomia financeira depois de concluir o percurso escolar e, assim,

seria uma barreira para o cumprimento das demandas sociais (HEILBORN et al.,

2002; SANTOS e SCHOR, 2003; FOLLE e GEIB, 2004; ESTEVES e MENANDRO,

2005; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; SILVA et al., 2009).

Nessa perspectiva, a gravidez na adolescência causa certo desconforto

social, pois o período da adolescência é compreendido como uma fase destinada ao

investimento nos estudos para a posterior construção da vida adulta. Essa

compreensão parte das concepções que se formaram em torno da adolescência,

influenciadas pela formação do novo panorama familiar e social que demandaram

um maior tempo de escolarização e expectativas em torno da formação escolar do

indivíduo (HEILBORN et al., 2002; BRANDÃO e HEILBORN, 2006).

Na primeira periferia – que é composta pelos elementos com elevado índice

de evocação, importantes para entender a representação social, já que eles são

frequentemente evocados, porém a eles não são atribuídos altos índices de

importância pelos atores sociais – encontra-se a expressão Perder a liberdade (f =

12, ome = 2, 333). Ela parece associar-se à visão que a gravidez na adolescência

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contribui com a perda da liberdade das jovens mães, pois os cuidados com a

gestação e a futura criança demandam novas responsabilidades que seriam

obstáculos para a vivência das suas atividades de lazer, entretenimento e aquisições

pessoais (FOLLE e GEIB, 2004; CARVALHO et al., 2009).

O termo pular etapas de vida (f = 7, ome = 2, 143) encontra-se na zona de

elementos contrastados, em que está presente a palavra com elevado grau de

importância atribuído pelos profissionais de saúde. O elemento pular etapas de

vida (f = 7, ome = 2, 143) também parece reforçar a ideia de que a gestação na

adolescência é um obstáculo que gera perdas para esse período da vida. Assim, o

acontecimento da gravidez aparece desvinculado da noção de adolescência que

permeia o imaginário dos profissionais de saúde (OTSUKA et al., 2005; UNBEHAUM

e CAVASIN, 2006; CORRÊA e BURSZTYN, 2011).

De acordo com Heilborn et al. (2002), há expectativas sociais acerca da

adolescência que a tornam uma época inadequada para gravidez, pois esta

apresenta-se como um acontecimento que trará perdas de oportunidades. Assim, a

gravidez adolescente deveria acontecer sob planejamento em um período específico

da vida da mulher, o que remete às configurações sociais que surgiram ao longo do

tempo e trouxeram imagens da adolescência e da mulher, as quais estão vinculadas

a demandas sociais e concepções que colocam o episódio da gravidez afastado do

período da adolescência.

O último quadrante comporta os elementos periféricos de menor importância

e de pouca presença nas Representações Sociais. Ao mesmo tempo em que

revelam a possibilidade das transformações, já que permitem as variações pessoais,

sem alteração do núcleo central, esses elementos servem como prescritores de

comportamentos, sendo a parte operacional da representação, que tanto intervém

no processo de defesa, como na transformação das representações sociais. A

segunda periferia, ou periferia distante, mesmo com palavras pouco evocadas e de

menor importância, mostra ainda as dificuldades existentes nessa nova experiência.

Entre os últimos elementos periféricos, destacam-se os termos desemprego,

aborto, aumento das responsabilidades, rejeição ao filho, ter mais obrigações,

amadurecimento precoce, depressão e imaturidade.

Percebe-se nas representações sociais dos profissionais de saúde que estas

estão permeadas pela concepção que a gravidez na adolescência aumenta a

chance de abandono dos estudos, o que refletirá em desemprego (f = 8, ome = 3,

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83

500) para as jovens mães e vai de encontro às mudanças no modelo de fecundidade

das mulheres brasileiras, visto que, devido às alterações ocorridas ao longo do

tempo na posição social feminina e nas relações de gênero, há demandas sociais

para que as mulheres estudem na adolescência e se qualifiquem para inserir-se no

mercado de trabalho, a fim de conseguirem autonomia e estabilidade financeira

(HEILBORN et al., 2002; SANTOS e SCHOR, 2003; FOLLE e, GEIB, 2004;

ESTEVES e MENANDRO, 2005; BRANDÃO e HEILBORN, 2006; SILVA et al., 2009)

Altmann (2007) ressalta que a gravidez na adolescência é vista como uma

barreira para a formação do indivíduo ao ingresso no mercado de trabalho, pois a

organização da sociedade demanda profissionais cada vez mais aprimorados.

Nesse sentido, permeia no imaginário social a ideia de que a mãe adolescente

ficaria despreparada para atender as exigências de qualificação no mercado de

trabalho.

No quarto quadrante, a palavra aborto (f = 8, ome = 2, 375) reforça o olhar

que a gravidez na adolescência seja considerada um problema para a saúde

materno-infantil. A equipe de saúde geralmente considera que o período da

adolescência não proporciona condições fisiológicas e psicossociais adequadas

para uma gravidez, o que ofereceria maiores riscos para o aborto natural que

repercute negativamente na vida da mãe adolescente (COSTA e HEILBORN, 2006;

MESQUITA, 2008; BELARMINO et al., 2009; BRUNO et al., 2009; CERQUEIRA-

SANTOS, 2010; VIEIRA et al., 2010).

Nesse sentido, a mãe adolescente sofre mudanças corporais e assume

responsabilidades que podem afetar a sua autoestima. Assim, como a gravidez é

considerada um problema quando ocorre na adolescência, ela agravaria os conflitos

considerados próprios dessa fase de vida, o que seria potencial para desencadear

dificuldades emocionais que poderiam repercutir em quadros depressivos ou

depressão (f = 6, ome = 3, 500) e até mesmo na rejeição ao filho (f = 7, ome = 2,

857) diante da situação (MELHADO et al., 2008; HOGA et al., 2010; TORRES et al.,

2010).

Diante do exposto, a palavra imaturidade (f = 5, ome = 3, 400) pode estar

relacionada à falta de maturidade orgânica. De maneira que as adolescentes estão

sujeitas a intercorrências que podem prejudicar a sua saúde na gestação, no parto

ou no pós-parto. Dessa forma, as adolescentes não estariam preparadas

biologicamente e, consequentemente, prejudicariam seus corpos com riscos à saúde

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provenientes de complicações obstétricas como, por exemplo, ameaça de aborto,

eclampsia, distúrbios gástricos, problemas cardíacos e anemia (PONTE JUNIOR e

XIMENES NETO, 2004; FERRARI et al., 2008; CERQUEIRA-SANTOS, 2010;

VIEIRA, 2010).

Além disso, a ideia de imaturidade apresentada pelos profissionais de saúde

também pode estar ligada a visão de que o período chamado de adolescência é

permeado pela falta de maturidade emocional e, por conseguinte, a gravidez na

adolescência estaria ocorrendo num momento de imaturidade afetiva. As

adolescentes não teriam a compreensão que a maternidade nesse período pode

gerar situações difíceis com consequências negativas para o seu futuro (PONTE

JUNIOR e XIMENES NETO, 2004; SILVA e CAMARGO, 2008; FERRARI et al.,

2008).

Nessa perspectiva, a gravidez na adolescência é percebida como um evento

que marca a vida adulta, então é comum a cobrança social de que a adolescente, ao

engravidar, adote uma “postura adulta” condizente com a maturidade e

responsabilidade associadas à maternidade. Desse modo, a maternidade insere as

adolescentes em experiências consideradas da fase adulta, o que demanda

amadurecimento devido ao aumento das responsabilidades (f = 8, ome = 2, 500)

perante a gravidez (CARPES, 2003; GONÇALVES e KNAUTH, 2006; PANTOJA et

al., 2007).

O termo amadurecimento precoce (f = 6, ome = 3, 333) parece estar

relacionado com a compreensão que ser mãe na adolescência leva a um processo

de amadurecimento acelerado devido aos compromissos advindos da maternidade

com consequente aumento das responsabilidades. Assim, a adolescente, ao ter

mais obrigações (f = 7, ome = 3, 286) com a sua gravidez e cuidados com o bebê,

passa a cumprir encargos considerados próprios da vida adulta, visto que as

incumbências do papel social atribuído à maternidade são competências

consideradas do mundo adulto (FOLLE e GEIB, 2004; BRANDÃO e HEILBORN,

2006; CARVALHO et al., 2009).

Nessa perspectiva, os cuidados destinados à gestação adolescente e ao bebê

exigem novas responsabilidades maternas e novos papéis sociais que podem ser

propulsoras do amadurecimento. A chegada de um filho também pode trazer mais

obrigações que estimulariam a adolescente a buscar independência e autonomia

para oferecer melhores recursos para seus filhos, o que também favorece o seu

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amadurecimento (CARPES, 2003; CARVALHO et al., 2009; SILVA et al., 2009; DIAS

e TEIXEIRA, 2010).

Diante do que foi exposto no núcleo central e na periferia da representação

social, pensar nas consequências da gravidez na adolescência é pensar na relação

que se estabelece com ela. Dessa forma, refletir sobre esta relação implica enfatizar

alguns aspectos que são compartilhados pelos profissionais de saúde, dentre eles a

concepção vigente de que a gravidez na adolescência é um problema para vida da

adolescente, assim como é considerada um “problema social” e “problema de saúde

pública”.

Essa compreensão acaba por fortalecer uma visão estereotipada e

preconceituosa da gravidez na adolescência, a qual tem seu entendimento ancorado

no discurso médico em conformidade com uma perspectiva higienista da saúde que

se propõe a encontrar determinantes que impeçam situações socialmente

indesejáveis (DUARTE et al., 2006; SILVA e CAMARGO, 2008; KÖNIG et al., 2008;

CERQUEIRA-SANTOS, 2010). Além disso, as representações desse grupo, em

geral, foram associadas a um evento de consequências negativas, acompanhado

por diversos riscos à saúde, perdas e desvantagens de ordem social e financeira

para a adolescente.

Nesse sentido, a representação social do grupo aqui abordado parece estar

fundamentada num modelo “tradicional” de adolescência atrelado ao

desenvolvimento educacional, moral e emocional da adolescente que se torna

inadequado para uma gravidez, assim como a mãe adolescente não estaria apta

para assumir e oferecer os devidos cuidados ao seu filho. Ao mesmo tempo está

presente a representação de maternidade que concebe a mulher como alicerce para

a procriação e, assim, ao tornar-se mãe haveria a abdicação e doação em nome das

obrigações e cuidados com os filhos. Dessa forma, as adolescentes grávidas não

estariam “prontas” para vivenciarem a maternidade, pois tornar-se-ia um problema

que agravaria ainda mais os tumultos considerados “próprios” dessa fase.

5.2 Entrevistas

Os relatos coletados a partir das entrevistas com os profissionais de saúde

foram ponderados pela análise temática de conteúdo, o que resultou em três (3)

classes temáticas: Gravidez na adolescência, Repercussões da gravidez na

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adolescência e Atuação dos profissionais de saúde. A Tabela 2 demonstra as

classes temáticas, categorias e subcategorias emergentes.

Tabela 2. Classes Temáticas, Categorias e Subcategorias Emergentes

CLASSES TEMÁTICAS CATEGORIAS SUBCATEGORIAS

1.GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

1.1- MATERNIDADE

1.1.1 ASPECTOS POSITIVOS 1.1.2 RESPONSABILIDADES

1.2-MATERNIDADE NA

ADOLESCÊNCIA

1.2.1- DIFICULDADES 1.2.2-INADEQUAÇÃO

1.3- FATORES ASSOCIADOS À

GRAVIDEZ

1.3.1-DESEJO DE SER MÃE 1.3.2-CONFLITOS FAMILIARES 1.3.3-DESEJO DE MANTER O

RELACIONAMENTO 1.3.4-FALTA DE PREVENÇÃO E

DE ORIENTAÇÃO 1.3.5-IRRESPONSABILIDADE

1.4 - SENTIMENTOS RELACIONADOS À GRAVIDEZ

1.4.1-SENTIMENTOS POSITIVOS 1.4.2-SENTIMENTOS NEGATIVOS

1.5 - APOIO SOCIAL À GRAVIDEZ

1.5.1-O PARCEIRO 1.5.2-A FAMÍLIA

2. REPERCUSSÕES DA

GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

2.1-CONSEQUÊNCIAS DA

GRAVIDEZ PARA A ADOLESCENTE

2.1.1-MUDANÇAS CORPORAIS 2.1.2-EVASÃO ESCOLAR 2.1.3-DIFICULDADES NO

MERCADO DE TRABALHO 2.1.4-AMADURECIMENTO

PRECOCE 2.1.5-PERDA DE LAZER 2.1.6-RISCOS À SAÚDE 2.1.7-DIFICULDADES

FINANCEIRAS

2.2-CONSEQUÊNCIAS DA

GRAVIDEZ PARA O PARCEIRO

2.2.1-LIMITAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL E ECONÔMICO 2.2.2- AUSÊNCIA DE IMPACTO NA VIDA SOCIAL E AFETIVA

2.3- EFEITOS DA GRAVIDEZ

NA FAMÍLIA

2.3.1-EFEITOS NA VIDA FINANCEIRA 2.3.2-EFEITOS NA VIDA SOCIAL E AFETIVA

3. ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

3.1-SERVIÇOS DE APOIO

DIRECIONADOS À GESTAÇÃO

3.1.1-AUSÊNCIA DE SERVIÇOS EXCLUSIVOS 3.1.2-SERVIÇOS DISPONÍVEIS

3.2 - POSSIBILIDADES DE

ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE

3.2.1-ATIVIDADES INFORMATIVAS 3.2.2-ACOMPANHAMENTO 3.2.3. ASPECTOS DIFICULTADORES

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5.2.1 Classe temática: Gravidez na adolescência

A primeira classe temática “Gravidez na adolescência” subdividiu-se em

cinco (5) categorias: 1-Maternidade; 2-Maternidade na adolescência; 3- Fatores

associados à gravidez na adolescência; 4- Sentimentos relacionados à

gravidez na adolescência; 5- Apoio social à gravidez na adolescência.

5.2.1.1 Categoria: maternidade

As Representações Sociais apreendidas pelos atores sociais, referentes

à Categoria Maternidade, mostram que a maternidade é percebida pelos

entrevistados, como algo positivo na vida da mulher, estando, também,

associada a uma série de responsabilidades referentes ao cuidado com a

criança. Assim, a análise dessa categoria foi realizada a partir de duas

subcategorias emergentes: Aspectos positivos e Responsabilidades,

apresentadas nos quadros a seguir com suas respectivas unidades de análise.

QUADRO 5. Maternidade de um modo geral

Subcategorias Unidades de análise

Aspectos positivos

“É uma virtude”; “(...) Um momento glorioso, um momento sublime (...)”; “Uma dádiva de Deus. Maravilhoso. É gratificante”; “(...) É muito divino é (...) é complementar, eu acho, completa o sentido de ser mulher”; “(...) é o momento em que a mulher realmente tem noção do que é ser mulher (...)”.

Responsabilidades

“É ter responsabilidade”; “(...) amar cuidar, se preocupar com essa criança, formar essa criança, conduzir essa criança, até vir a ser um adulto (...)”; “É uma grande responsabilidade”. “É você renunciar muita coisa, muitas

coisas no seu caminho para se dedicar aquela nova pessoa que vai ser totalmente dependente de você.”

A partir da análise desta categoria foi possível verificar que a

maternidade foi objetivada pelos profissionais de saúde como algo positivo e

gratificante para a vida da mulher, como também está associada a uma série

de responsabilidades referentes ao cuidado com a criança.

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Nesse sentido, a maternidade foi representada como “uma dádiva de

Deus”, algo que “completa o sentido de ser mulher”, o que favorece uma

posição privilegiada da figura materna diante da sociedade, de modo que a

maternidade enquanto privilégio da natureza feminina coloca a mulher no lugar

de responsável pelo cuidado e desenvolvimento das crianças e da família. Por

outro lado, o não cumprimento dessas funções é motivo de julgamentos ligados

a condenações que colocam a mulher numa condição de “anormal”, uma vez

que, o “natural”, seria tornar-se mãe e cumprir as exigências que a sociedade

impõe a esse papel (BOZON, 2004; MOURA e ARAÚJO, 2004; OLIVEIRA,

2010).

Os relatos coletados na entrevista apontam para uma posição

privilegiada da figura materna diante da sociedade, sendo relacionada não só a

sentimentos positivos, como também a algo que completa o sentido de “ser

mulher”. Assim, a representação da maternidade está ancorada na concepção

de mulher enquanto figura circunscrita ao âmbito familiar cabendo-lhe a função

essencial da procriação, na qual está implícita a concepção de abnegação e

amor materno incondicional à prole (BADINTER, 1985). Tal concepção, que

parece permear as representações relacionadas ao feminino e a maternidade

na contemporaneidade, foi e ainda é difundida pelos discursos religioso,

médico e filosófico que exaltam a maternidade como algo natural e favorável à

espécie e à sociedade (MOURA e ARAÚJO, 2004).

Diversos trechos da entrevista demonstram que ser mãe “é ter

responsabilidade”, “é ser cuidadosa”. Esses dados se apresentam de forma

consonante com as respostas obtidas através do questionário de associação

livre, em que a palavra “responsabilidade” é associada à maternidade, assim

como as expressões “aumento das responsabilidades” e “ter mais obrigações”

giram em torno do que a maternidade acarreta na vida da mulher.

Desse modo, a representação de maternidade parece estar associada à

imagem da mãe cuidadora. Nessa perspectiva, Moura e Araújo (2004) afirmam

que principalmente depois do século XIX, “ser mãe” passou a ter como valores

essenciais a devoção e presença vigilante, indispensáveis para o cuidado da

criança. Coutinho e Menandro (2009) colocam ainda que “ser mãe e mulher” na

sociedade brasileira significa estar imbricada numa teia de relações sociais,

historicamente constituídas, nas quais as questões de gênero, identidade,

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classe e raça estabelecem um pano de fundo a partir do qual emergem as

vivências do cotidiano com seus discursos e práticas.

Vale ressaltar que as representações sociais vão se constituindo por

meio dos discursos e práticas que são produzidos e compartilhados a partir das

interações no cotidiano das pessoas. Assim, constroem-se conceitos, juízos e

compreensões acerca da maternidade, que compõem um conjunto organizado

de significados, conhecimentos e afetos que permeiam este objeto mediante as

comunicações nas relações entre os indivíduos e os grupos (JODELET, 2001).

Conforme o quadro-resumo exposto na Figura 2, pode-se constatar que

o elemento figurativo das representações sociais da maternidade, de uma

forma geral, apreendidas no discurso dos profissionais de saúde, está situada

nos aspectos relacionados à “natureza feminina” e aos papéis de gênero,

sendo objetivados em elementos tais como: o sentido de ser mulher,

completude e realização, responsabilidade e cuidado com a criança, além de

dificuldades.

Categoria Objetivações Ancoragens

Figura 2 - Resumo das representações sociais da gravidez na

adolescência (Categoria - Maternidade), elaboradas pelos profissionais de saúde

Page 91: Representações Sociais da gravidez na adolescência para ... · transmite segurança, simpatia e zelo aos seus discentes. Sou agradecida a ... “O que motiva a adolescente a engravidar

90 5.2.1.2 Categoria: maternidade na adolescência

Esta categoria foi dividida em duas subcategorias emergentes:

Dificuldades e Inadequações, apresentadas no quadro abaixo com suas

respectivas unidades de análise.

QUADRO 6. Maternidade na adolescência

Subcategorias Unidades de análise

Dificuldades

“Uma situação muito difícil (...) assim, não é nada agradável para essa jovem.”; “É um problema”; “É um suplicio”; “É bronca, né?”; “ (...) É uma sobrecarga.” “É

uma responsabilidade muito grande, pois, vamos dizer assim, é uma criança tomando conta de outra criança”.

Inadequação

“É queimar etapas, é sofrer (...)”; “É você entrar em uma fase da vida atropelando outras.”; “(...) É você realmente, atropelar o processo natural (...)”; “Aí nesse

caso já complica, porque você passa a ter uma responsabilidade que você deveria ter lá na frente (...)”; “(...) Vai privá-la de muitas coisas, de outras fases na vida dela que ainda não passou (...)”; “(...) É precipitar assim uma fase que poderia ser mais na frente (...)”.

Ao tratar das Representações Sociais dos profissionais de saúde em

relação à maternidade na adolescência foi possível apreender a existência de

um contraste significativo entre as concepções de maternidade e maternidade

na adolescência. Ser mãe, de acordo com estes profissionais, é algo

maravilhoso e divino desde que não seja durante a adolescência. Se por um

lado, a maternidade é tida como um evento positivo com doações e sacrifícios

em prol da família, a adolescência é exaltada pela ausência de

responsabilidades, um momento em que não se está apto para gerar ou cuidar

de um filho.

Nesse contexto, a maternidade na adolescência, diferentemente da

ideia apresentada a respeito da maternidade de um modo geral, foi

representada como um episódio negativo e problemático na vida da

adolescente, sendo objetivada enquanto um momento complicado, marcado

por dificuldades, perdas e conflitos. Assim, a maternidade torna-se um período

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crítico na vida da adolescente. Vale destacar que conteúdo semelhante

também foi encontrado nas análises da associação livre a respeito do que é

“ser mãe adolescente”.

As respostas obtidas através do questionário de associação livre

demonstraram que os participantes apresentam uma representação social

acerca de “ser mãe adolescente” pautada em torno de expressões de cunho

negativo relacionadas à representação de adolescência, como o termo

“irresponsabilidade” presente no núcleo central da representação. Além disso,

os demais quadrantes da periferia também se referem a características

negativas da maternidade na adolescência: “dificuldades”, “pular etapas”,

“complicado”, “abdicação”, “evasão escolar”.

Diante das falas dos sujeitos na entrevista foi possível constatar que a

maternidade na adolescência “é queimar etapas, é sofrer (...)”; “É você entrar

em uma fase da vida atropelando outras”. Dessa forma, a gravidez da

adolescente é percebida como algo que foge a uma lógica natural, pois a

adolescência corresponde a um tempo de espera e de adiamento da entrada

no mundo público, relativo à passagem da infância para a vida adulta

(COUTINHO, 2005). Nesse sentido, não caberia aos adolescentes assumirem

a responsabilidade por uma criança, visto que, sequer são considerados

responsáveis por si mesmos. Assim, as adolescentes, ao tornarem-se mães,

estariam perdendo etapas de suas vidas na medida em que precisariam adotar

certas posturas e encargos considerados próprios do mundo adulto.

Esses dados coadunam com os achados na literatura referente à

temática da maternidade na adolescência, em que há uma prevalência de

aspectos negativos associados a esse evento. Nessa perspectiva, há um

destaque para as transformações intensas na vida cotidiana da adolescente,

decorrente da mudança de papel social ao tornar-se mãe. Assim, a gravidez na

adolescência acarreta compromissos e responsabilidades que ocasionariam

abdicações e dificuldades para a mãe adolescente, de forma que a

maternidade aumentaria a possibilidade de evasão escolar, desemprego e

limitações para as adolescentes realizarem suas atividades de lazer (LIMA et

al., 2004; MONTEIRO et al., 2007; HOGA et al., 2010).

Os atores sociais abordaram a temática da gravidez na adolescência

acompanhada de uma dimensão atitudinal ou uma avaliação negativa deste

fenômeno, com o uso de expressões “Ser mãe adolescente é uma experiência

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precipitada”; “Ser mãe adolescente é uma situação muito difícil”. A dimensão

atitudinal é um dos aspectos identificados numa representação social, uma vez

que, segundo Jodelet (2001), o senso comum construído socialmente abarca a

totalidade de expressões, imagens, ideias e valores presentes nos discursos

sobre o objeto. Neste sentido, as representações sociais da gravidez na

adolescência apontaram para o componente atitudinal frente ao objeto

representado, a partir de um conjunto estruturado de afetos, significações,

saberes e informações.

O sentido da perda de etapas da vida está intimamente ligado às

representações que os atores sociais possuem acerca da adolescência e, por

conseguinte acerca do próprio adolescente, e, dessa maneira, essas jovens

estariam perdendo etapas de suas vidas na medida em que precisam assumir

certas posturas e responsabilidades, além de terem que abandonar

comportamentos e projetos de vida considerados característicos da

adolescência.

Esses resultados mostram que no processo de organização desses

diferentes grupos sociais que apresentam, de forma geral, a referência de

pertenças distintas, pois, como afirma Carvalho (2001), os sujeitos estão em

relação e em movimento na comunicação, circunscritos num ambiente

específico em que compartilham “concepções, percepções, intuições,

sensações, história e estórias” (CARVALHO, 2001, p. 441). Esses sujeitos

inseridos numa cultura, espaço e tempo determinados também simbolizam,

buscam seus sentidos e significados, assumindo, desse modo, “as

características da pertença social do sujeito, dos grupos com os quais interage,

do modo pelo qual, na prática, experiências são vivenciadas, filtradas também,

nos sonhos, crenças, emoções” (op. cit., p.441). Todo esse processo faz parte

da construção das representações sociais, que auxiliam os sujeitos a

orientarem suas condutas, compreenderem e explicarem sua realidade social,

justificarem as tomadas de posição e definirem suas identidades ainda

resguardando as particularidades dos grupos diante do objeto social (SANTOS,

2009).

Esses dados coadunam com a literatura referente à temática da

maternidade na adolescência, na qual há uma prevalência de aspectos

negativos associados a esse evento. Observa-se que a gravidez “precoce”

desencadeia mudanças intensas na vida cotidiana da adolescente, decorrente

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da mudança de papel social. Entre às mães adolescentes é comum o

abandono da escola, a diminuição das atividades próprias da idade e a

limitação das oportunidades de emprego.

De forma geral os profissionais de saúde ancoram suas

representações acerca da gravidez na adolescência, na própria representação

acerca da adolescência, trazendo aqui destaque para o elemento da

irresponsabilidade, visto por estes grupos, e de uma forma geral em nossa

sociedade, como característico desta etapa de vida. Se por um lado as

adolescentes são vistas como irresponsáveis, a responsabilidade é tida como

fator essencial e indispensável para que se possa ser uma boa mãe. Dessa

maneira, a jovem mãe pode ser percebida como não sendo capaz de vivenciar

a maternidade nem os devidos cuidados com seu bebê.

Um ponto importante a ser destacado nas representações é que

emergiram bastantes elementos negativos acerca da gravidez na adolescência.

As representações estão ancoradas na figura do “ser adolescente” e, dessa

maneira, objetivada nos seguintes elementos: imaturidade, irresponsabilidade,

falta de experiência e inconsequência. A gravidez é vista como complicada,

como um ato de irresponsabilidade. É uma vivência que acaba sendo difícil

devido à falta de experiência e é prejudicial podendo acarretar diversos

problemas. É um ato inconsequente e que poderá levar a adolescente a

diversas abdicações durante sua vida.

Conforme o quadro-resumo exposto na Figura 3, pode-se constatar que

o elemento figurativo das representações sociais da gravidez na adolescência,

apreendidas no discurso dos profissionais de saúde, está situada nos aspectos

próprios da adolescência, tais como: irresponsabilidade, crises, conflitos,

imaturidade e inconsequência; assim como nos aspectos relacionados a

“natureza feminina” e aos papéis de gênero, além de uma dimensão atitudinal,

apresentando elementos predominantemente negativos referentes ao

fenômeno da gravidez na adolescência.

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5.2.1.3 Categoria: Fatores associados à gravidez na adolescência

Esta categoria foi dividida em cinco subcategorias emergentes: Desejo

de ser mãe, conflitos familiares, desejo de manter o relacionamento, falta de

prevenção e de orientação, irresponsabilidade. Elas estão apresentadas no

quadro abaixo com suas respectivas unidades de análise.

Categoria Objetivações Ancoragens

Figura 3 - Resumo das representações sociais da gravidez na adolescência

(Categoria – Maternidade na Adolescência), elaboradas pelos profissionais de saúde.

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QUADRO 7. Fatores associados à gravidez na adolescência

Subcategorias Unidades de análise

Desejo de ser mãe

“(...) A maioria diz que pela vontade mesmo de engravidar, pelo fato de querer ser mãe, certo”; “O desejo de ser mãe (...)”; “A vontade de constituir uma família e ter a sua própria casa (...)”; “Muitas desejam a gravidez como forma de sair de casa para serem independentes e cuidarem da sua própria vida (...)”.

Conflitos familiares

“Muitas vezes elas têm algum conflito com a família, quer se livrar (...), sair de casa.”; “Muitas fazem por revolta (...) às vezes o pai briga com a mãe, o pai bebe (...)”; “Várias meninas se sentem presas em casa, brigam com os pais e engravidam para ter seu próprio espaço (...)”.

Desejo de manter o relacionamento

“(...) Prender o namorado, às vezes tem essa ilusão de que se engravidar vai prender o namorado (...)”; “Por que eu noto muito isso, esse medo de perder, de agradar, aí termina as coisas acontecendo”; “(...) Querer que o parceiro leve para morar com ele (...)”; “(...) Quer casar”; “(...) Muitas vezes por alguma briga, ou por algum desgaste ela já vai perder esse namorado, então uma forma de prender ela acha que é engravidando (...)”.

Falta de prevenção e de orientação

“É falta de informação principalmente doméstica e elas não buscam o serviço de saúde, as adolescentes têm uma resistência a buscar os serviços de saúde (...)”; “As escolas não orientam os jovens, não preparam eles para a vida e acabam fazendo besteira e a menina engravida (...)”; “É a falta de orientação”; “(...) É que elas não usam o preservativo nem tomam o anticoncepcional”; “Não usam o preservativo porque os namorados não gostam (...)”; “Acham que não vai acontecer com elas (...)”.

Irresponsabilidade

“Eu acho que é falta de responsabilidade mesmo.”; “É irresponsabilidade, imaturidade”. “(...) Elas ainda não estão maduras, são irresponsáveis e acabam engravidando por descuido”; “(...) Os adolescentes não medem as consequências das coisas e agem por impulso, namoram, mas não têm responsabilidade (...)”.

A análise dos dados dessa categoria, de acordo com as falas dos

sujeitos entrevistados, aponta para o desejo consciente dessas adolescentes

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ficarem grávidas. O que não implica, exclusivamente, no desejo da

maternidade em si, pois, além do desejo de ser mãe, surgem também outros

desejos, como o de afastar-se da família, conseguir emancipação e autonomia,

e proporcionar maior estabilidade ao relacionamento.

Percebe-se que o conteúdo das entrevistas mostrou o caráter

valorativo da maternidade, ao associá-la ao desejo de mudança de status

social, autonomia e emancipação no sentido de obter um lugar socialmente

reconhecido através da maternidade. Nesse sentido, corrobora com as

expressões evocadas na associação livre: “desejo de ser mãe” e “busca por

emancipação”. Assim, as adolescentes mães obteriam independência a partir

da gravidez, pois ingressariam no “mundo adulto” e ficariam mais livres para

constituir um lar com seu parceiro (PANTOJA, 2003; BRANDÃO e HEILBORN,

2006; DIAS e TEIXEIRA, 2010).

Segundo Dadoorian (2003), o desejo da adolescente em ter um filho

pode estar atrelado a influências do contexto social, no qual a função social

feminina está relacionada à maternidade. A autora constata que entre outros

fatores relacionados à gravidez na adolescência pode-se destacar: a

naturalização desse acontecimento e a falta de planos para o futuro, uma vez

que as perspectivas dessas adolescentes se referem a um futuro imediato.

Vale ressaltar, que a gravidez entre as adolescentes de classe social mais

baixa possui um índice mais elevado ao comparar-se com as classes sociais

mais elevadas (SILVA e SALOMÃO, 2003).

Também foram citados, nas entrevistas, como fatores associados à

gravidez na adolescência a falta de prevenção e de orientação, os conflitos

com a família e a irresponsabilidade, sendo este último citado como uma

característica própria da adolescência compartilhada no senso comum acerca

desse período. Essas informações apresentaram a mesma ideia elaborada a

partir dos dados obtidos no questionário de associação livre em que os termos

“irresponsabilidade” e “falta de informação” presentes no núcleo central, assim

como outras expressões da periferia, como “falta de prevenção”, “família

desestruturada”, e “falta de diálogo com a família”, associaram-se a

compreensão que cerca as motivações para a gravidez na adolescência.

Os seguintes trechos da entrevista mostram a postura dos profissionais

de saúde mediante as causas da gravidez na adolescência, pois eles atribuem

que “É falta de informação, principalmente doméstica. E elas não buscam o

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serviço de saúde, as adolescentes têm uma resistência a buscar os serviços de

saúde (...); “As escolas não orientam os jovens, não preparam eles para a vida

e acabam fazendo besteira e a menina engravida (...)”. Nesse sentido, a falta

de informação, referida nas análises das entrevistas, foi relacionada à ausência

de diálogo e orientação sobre a temática da sexualidade, tanto no âmbito

familiar e educacional quanto na esfera da saúde, uma vez que, foi apontado

que as adolescentes não procuram o serviço de saúde.

O conteúdo das entrevistas apresentou a falta de prevenção associada à

irresponsabilidade, ao imediatismo, à inconsequência e a imaturidade da

adolescente, que são características atribuídas pelo senso comum aos

adolescentes. Assim, as adolescentes deixam de realizar a prevenção, pela

limitação da capacidade de pensar nas consequências dos seus atos e “acham

que não vai acontecer com elas”. Dentro desse contexto, a literatura indica que

mesmo conhecendo os métodos anticoncepcionais, algumas adolescentes não

fazem uso destes por acharem que a gravidez é algo distante das suas vidas e

não acontecerá com elas (TEIXEIRA et al., 2006; MESQUITA, 2008; SANTOS

e NOGUEIRA, 2009).

Outro fator, citado entre os agravantes para da falta de prevenção foi o

parceiro não gostar de usar preservativo. As dificuldades de adoção do sexo

seguro entre as mulheres foram relacionadas com a dificuldade de negociação

do uso do preservativo com seus parceiros. Essa questão inclui posturas

atribuídas às relações de gêneros que determinam as posições sociais a serem

ocupadas por homens e mulheres. Desse modo, atribuí-se às mulheres a

responsabilidade por prevenir-se da gravidez, assim como ainda concebe-se a

ideia patriarcal de que os desejos das mulheres estão submetidos aos desejos

dos homens e que ser homem implica em ser viril acima de tudo.

Portanto, a gravidez e as práticas preventivas são compreendidas como

uma responsabilidade feminina (ORLANDI e TONELI, 2008). Segundo a

pesquisa de Santos (2002), para as mulheres casadas ou parceria estável é

ainda mais difícil a negociação do uso do preservativo em comparação às

mulheres que possuem parceiros ocasionais. Os dados assemelham-se aos

encontrados por Vieira et al. (2004), que entre as razões para o não uso do

preservativo foram citados: a “confiança no parceiro”, o “parceiro não gosta”,

“diminui o prazer” e “quebra o clima da transa”. De acordo com o estudo de

Albuquerque et al. (2009), menos de 50% dos adolescentes pesquisados

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(sexualmente ativos) utilizam camisinhas em todas as relações sexuais. E

apenas 55% têm conhecimentos sobre métodos anticoncepcionais. Existe

também, tanto na literatura como no senso comum, uma correlação entre

escolaridade e contracepção (CABRAL, 2003).

É interessante destacar a centralidade do papel do parceiro na decisão

referente ao uso de preservativos, tanto no presente estudo, quanto nos dados

apontados na literatura, o que indica o quanto a mulher ainda ocupa um lugar

de submissão neste contexto. Os atributos de gênero neste cenário

desempenham um papel decisivo, pois, a sexualidade masculina ainda é

culturalmente caracterizada pela falta de controle dos impulsos sexuais,

enquanto das mulheres espera-se o controle destes impulsos, ao mesmo

tempo, também se espera que elas atendam as expectativas masculinas na

atividade sexual, o que torna a decisão pelo o uso do preservativo do

preservativo uma questão bastante delicada.

5.2.1.4 Categoria: Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência

Esta categoria foi dividida em duas subcategorias emergentes:

Sentimentos negativos e sentimentos positivos. Elas estão apresentadas no

quadro abaixo com suas respectivas unidades de análise.

QUADRO 8. Sentimentos relacionados à gravidez na adolescência

Subcategorias Unidades de análise

Sentimentos positivos

“Quando são acolhidas pelo parceiro, pela família, o sentimento é de muita felicidade”; “Quando quer ter é sempre agradável (...)”; “A maioria delas se sentem felizes (...)”; “Só é bom quando ela deseja realmente ter o filho (...)”.

Sentimentos negativos

“(...) Aí então vem a mistura de sentimentos, a vontade de não querer...”, “Elas chegam angustiadas(...)”; “(...) Inicialmente elas ficam meio que assustadas.”; “O sentimento é de culpa... é de desespero.”; “Medo, tristeza, né?”; “Revolta, tristeza”; “Elas ficam inseguras com a gravidez, com medo de enfrentar as responsabilidades (...)”; “(...) O medo do novo, de ter que enfrentar coisas novas”.

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A análise desta categoria aponta para a relevância dada pelos

profissionais de saúde aos sentimentos negativos associados à gravidez na

adolescência, tais como: tristeza, revolta, angústia e medo. Enquanto, os

sentimentos positivos apareceram de maneira pouco expressiva, associados à

felicidade de ser mãe e a um evento agradável quando parte do desejo da

mulher pela gravidez.

Os dados apontam para uma ambivalência de sentimentos resultante da

ambivalência surgida entre “ser mãe” e “ser adolescente”, o que resulta num

jogo em que as posições não são bem definidas, pois a vivência da

maternidade oscila entre aspectos positivos e negativos. Enquanto espera-se

que ser mãe seja motivo de felicidade, assumir essa responsabilidade

interrompe o cotidiano das adolescentes e agrega uma série de dificuldades a

suas vidas, o que torna essa maternidade motivo de tristeza e angústia. Nesse

sentido, Moscovici (2003) chama a atenção para o aspecto contraditório que

está presente nas representações sociais, que pode englobar ambivalências na

constituição de relações positivas ou negativas com o objeto de representação.

De acordo com Moreira et al. (2008) a gravidez e a adolescência são

momentos que quando se juntam formam um leque de transformações que

levam a um conjunto de emoções e acontecimentos. Durante a gravidez o

corpo da mulher se modifica, e surgem dúvidas, sentimentos de fragilidade,

insegurança e ansiedade. Assim, também, a adolescente grávida vive este

momento de ambiguidades, aspiração e contestações somado a mudança de

identidade.

5.2.1.5 Apoio social à gravidez na adolescência

Nesta categoria emergiram questões acerca do apoio social do parceiro

e da família no contexto da gravidez na adolescência. Assim, surgiram as

subcategorias o parceiro e a família, apresentadas no quadro abaixo.

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QUADRO 9. O parceiro e a família no contexto da gravidez na adolescência

Subcategorias Unidades de análise

O parceiro

“(...) Eles não querem nem saber das responsabilidades com o filho”; “(...) Como eu falei a grande maioria não tem responsabilidade, não tão nem aí, ou então trabalham”; “(...) Pelo que eu vejo muitos rejeitam.”; “(...) Alguns apoiam outros não querem nem saber, fazem de conta que não é dele (...)”; “(...) O pai raramente a gente vê um pai aqui no posto (...)”; “Dá pra perceber que depois que a gravidez acontece muitos se afastam”; “A adolescente chega sozinha no pré-natal, o pai da criança não costuma aparecer e algumas são mães solteiras (...)”; “O pai da criança sai com os amigos e a adolescente tem que se virar sozinha (...)”.

A família

“(...) Aí as mães e os pais sempre são os responsáveis de tomar conta”; “(...) A família da mãe fica muito decepcionada”; “Olha, de imediato vira um tumulto, né, porque os pais não aceitam, diz que confiavam (...); Os pais de imediato não aceitam, mas depois compartilham com elas”; “Eu percebo que são bem acolhidas”; “Os pais se assustam no começo, mas depois ajudam a cuidar do bebê (...)”; “A mãe da adolescente é que acaba tomando conta da criança que vai nascer (...)”; “A família é contra, mas acaba assumindo as despesas, comprando as coisas do bebê (...)”.

Diante das respostas coletadas, pode-se observar que os profissionais

de saúde consideram raro ou inexistentes o apoio oferecido pelo pai da

criança. Segundo esses, o parceiro mesmo quando assume o filho, não

acompanham o desenvolvimento da gravidez, não costumam participar das

consultas, nem da realização do pré-natal.

Frente a essa temática, Costa et al. (2005) colocam que o

acompanhamento da gestação faz parte do comportamento atual dos homens

diante da paternidade. No entanto, em seu estudo sobre gravidez na

adolescência e coparticipação paterna, a participação masculina no pré-natal

foi de apenas 35,0%, o que foi associado a fatores como o envolvimento no

trabalho, assim como decorrente da repetição do “modelo masculino” vigente,

em que os cuidados com a gravidez e o bebê são percebidos como

responsabilidade materna.

Nesse sentido, OKAZAKI et al. (2005) destacam que, na maioria dos

casos a gestante não tem nem vínculo com o parceiro, nem o apoio deste. A

falta de apoio durante a gravidez ou abandono por parte do parceiro constituem

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um aspecto negativo, pois o apoio social oferecido à adolescente grávida é um

fator fundamental, uma vez que o suporte emocional e a divisão de

responsabilidades permitem que a futura mãe se sinta amparada nesse

período de mudanças (DIAS e DESLANDES, 2006).

Já em relação ao apoio oferecido pela família, os profissionais de

saúde apontaram para uma rejeição inicial, provocada pela decepção diante da

notícia da gravidez da adolescente. Porém, ao longo da gestação, os futuros

avós vão se “acostumando” com o fato e, geralmente, oferecem apoio à

adolescente. Dessen e Braz (2000) consideram que os suportes sociais,

quando percebidos e reconhecidos pela pessoa que passa por uma situação

difícil, são fundamentais para a manutenção da saúde mental e para o

enfrentamento de situações estressantes, constituindo fatores importantes para

a adequação dos comportamentos maternos em relação aos filhos.

Percebe-se, através das unidades de análises das subcategorias “o

parceiro” e “a família”, que esses elementos estão caracterizados pela

contradição, de forma geral. Neste aspecto, pontuam-se as ideias de Moscovici

(2001), de que no grupo não há apenas consensos e homogeneidade de

pensamentos, mesmo que estes sejam socialmente compartilhados, pois “as

representações sociais incluem convergências que fazem a familiaridade e as

divergências de pensamento, os conflitos que provocam a mudança”

(SANTOS, 2005, p. 30).

5.2.2 Classe temática: Repercussões da Gravidez na adolescência

A presente classe temática procurou avaliar a maneira como os

participantes da pesquisa percebem a repercussão da gravidez na

adolescência na vida dos atores sociais que compartilham esse evento. A partir

dos dados coletados, esta classe temática foi dividida nas seguintes categorias:

“consequências da gravidez para a adolescente”, “consequências da gravidez

para o parceiro” e “efeitos da gravidez na família”.

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102 5.2.2.1 Categoria: Consequências da gravidez para a adolescente

Os dados obtidos, com relação aos efeitos da gravidez na vida da

adolescente indicam mudanças predominantemente negativas nos diferentes

âmbitos da vida dessas adolescentes, como pode ser observado no quadro

abaixo.

QUADRO 10. Repercussão da gravidez para a adolescente

Subcategorias Unidades de análise

Mudanças corporais

“Muitas vão deformar o corpo (...)”; “(...) aí relaxam, deixam o corpinho todo gordo”; “Mudança no corpo porque elas se tornam mulheres precocemente”; “Elas ganham peso”; “(...) Vai ter a barriga crescendo, ela engordando, enlarguecendo, os seios crescendo e acho que também vai passar por isso de uma forma muito sofrida ”.

Evasão escolar

“(...) Elas ou não estudam ou quando engravidam deixam de estudar”; “Não se matriculam porque tem que ficar com a criança (...)”; “Deixam a escola de lado por causa da gravidez e depois que o filho nasce não têm mais tempo pra estudar (...)”; “Muitas vezes a escola é de difícil acesso, aí elas se afastam da escola e perdem o ano muitas vezes (...)”; “Fica difícil pra estudar (...)”; “(...) Pensam mais na criança do que nelas, e elas acabam neste meio tempo deixando mão dos estudos (...)”; “(...) Tem que faltar a escola, tudo e depois que nasce é parece que elas dobram né aquelas tarefas a fazer e elas acabam perdendo um pouco do ritmo escolar (...)”.

Dificuldades no mercado de trabalho

“(...) Trabalho nem se fala, as chances vão ficar cada vez menores”; “(...) Elas precisam de alguma pessoa pra ficar com aquela criança e muitas vezes é melhor ficar com o filho a trabalhar”; “Em questão de trabalho fica muito mais complicado, porque primeiro já não tem o estudo, já não tem uma profissão”; “Muitas vezes não tem quem fique com essa criança (...)”; “Elas não tem tempo pra trabalhar por causa do filho (...)”; “Elas acabam se prejudicando porque não dá para trabalhar e cuidar do filho ao mesmo tempo (...)”; “(...) É difícil grávida chegar até a terminar aquele segundo grau, principalmente numa comunidade carente como essa daqui e você visar um trabalho, uma profissão (...)”.

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103

Subcategorias Unidades de análise

Amadurecimento precoce

“Elas vão ter que ser responsável de todo jeito, porque ali tem uma vida, tem uma criança que vai ter pelo resto da vida (...)”; “Ela vai ter que provocar um amadurecimento precoce (...)”; “Elas acabam crescendo mais rápido, amadurecem quando começam a cuidar do filho (...)”; “A menina quando engravida vê que precisa ter mais responsabilidade e toma mais juízo, amadurece (....)”; “Ela acaba amadurecendo pela responsabilidade, a vontade de ter como suprir aquela criança de alguma forma (...)”.

Perdas de lazer

“A respeito do lazer vai ter que levar a criança (...)”; “Elas vão aprender a ter limites no lazer (...)”; “Ela vai ficar dentro de casa, ela não vai poder ir pra uma festa, não vai poder ir para um show (...)”; “(...) Elas vão ver as amigas saindo, mas vão ter que ficar em casa cuidando da criança.”; “(...) Vão perder a liberdade, não vão poder mais sair como antes”; “(...) Têm que ficar em casa cuidando da criança e deixam de aproveitar com os outros da idade dela (...)”.

Riscos à saúde

“Elas assumem uma gravidez de risco e tem que estar se cuidando mais, podem ficar com a pressão alterada (...)”; “(...) Elas sempre tem alguma recorrência e procuram a gente (...)”; “Algumas ficam perturbadas, depressivas com o estresse da gravidez (...)”; “No caso das adolescentes, a gravidez é de risco (...)”; “É uma gravidez de risco e ela pode ter complicações na saúde, o bebê pode nascer com problemas (...)”; “Têm risco de pré-eclampsia, complicações no parto (...)”; “(...) é gravidez de risco e o feto pode ter má formação (...)”.

Dificuldades financeiras

“(...) Tudo piora porque tem que comprar coisas para o bebê; “(...) é complicado porque pra maioria dessas adolescentes as condições financeiras é precária, né”; “Na maioria das vezes elas nem tem vida financeira e vai depender dos pais (...)”; “A situação complica (...) influencia e muito, porque normalmente as adolescentes elas não trabalham (...)”; “É difícil (...) os adolescentes não trabalham, não tem uma estabilidade (...)”; “(...) Algumas tem a vida financeira não muito boa, aí piora (...) aí já chega com toda a parte da criança, tem o enxoval da criança, tem que preparar o quarto da criança. A alimentação da criança (...) e gasta um bocado”; “(...) Porque leite tem um valor bem alto para uma população que não tem um certo poder aquisitivo vai sentir sim a diferença aí (...)”.

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104

O conteúdo das entrevistas enfatizou mudanças corporais da

adolescente com ênfase na perda de formas físicas socialmente valorizadas;

prejuízos no desenvolvimento intelectual em decorrência do abandono ou

interrupção dos estudos; perdas na vida social, uma vez que, o lazer tende a

ser substituído pelos cuidados com a criança; amadurecimento precoce diante

da responsabilidade de cuidar de outro ser que dela depende para sobreviver;

e dificuldades para ingressar no mercado de trabalho em decorrência da falta

de tempo disponível para investimento em capacitações e estudos devido à

gravidez e ocupação com os cuidados do filho.

Os dados apresentados nessa categoria convergem com as respostas

obtidas no questionário de associação livre. Entre as expressões mencionadas

no questionário acerca das consequências da gravidez na adolescência,

aparece no núcleo central da representação os termos “perder os estudos” e

“gravidez de risco”. Também se encontram elementos periféricos que

corroboram com a ideia apresentada na entrevista, tais como “pular etapas da

vida”, “desemprego”, “perder a liberdade”, “amadurecimento precoce” e

“aumento das responsabilidades”.

Nesse sentido, as concepções dos profissionais atreladas à gravidez na

adolescência estão permeadas por uma ideia de gravidez associada a perdas

na vida da adolescente e a riscos à sua saúde. Estas concepções partem da

representação de adolescência como fase “imprópria” para a procriação, assim

como envolve a representação de maternidade como um evento que acarreta

responsabilidades devido às atribuições assumidas pela mulher na dedicação

aos filhos e ao lar.

Os achados das entrevistas coadunam com dados referidos na literatura,

que indicam que as adolescentes grávidas frequentemente abandonam a

escola, não se capacitam e consequentemente apresentam dificuldades para

ingressar no mercado de trabalho ou ocupam cargos mal remunerados (KÖNIG

et al., 2008 e SILVA et al., 2009). Assim, evidencia-se que a maternidade afeta

a escolarização das mães, pois estas passam a assumir papéis que

demandam obrigações e responsabilidades que, muitas vezes, são

incompatíveis com os estudos e com a qualificação profissional (SILVA e

CAMARGO, 2008; BRANDÃO e HEILBORN, 2006).

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105

Oliveira (2005) observa que de maneira geral, após a procriação, a

adolescente, principalmente nas periferias sociais urbanas, não é mais tratada

como filha a ser educada, mas sim como mãe, a qual deve cuidar de seus

filhos. Esse cuidado dedicado ao filho, em geral, limita a disponibilidade para

diversões.

Em relação às transformações corporais das adolescentes grávidas,

Moreira et al. (2008) ressalta que durante a gravidez o corpo da mulher se

modifica, e diante disso as jovens sentem-se inseguras, frágeis e ansiosas.

Folle e Geib (2004) trazem que durante a vivência da gravidez, a adolescente

defronta-se com as alterações corporais que afetam sua autoimagem e

autoestima. E que após o nascimento do filho passa por um amadurecimento

diante do compromisso da maternidade.

Vale destacar que na entrevista há referência que a gravidez na

adolescência proporciona uma série de riscos à saúde da mãe e do bebê.

Nesse sentido, corrobora com as concepções ainda permeadas no discurso

dos profissionais de saúde que se ancoram no modelo biomédico para

entender a gravidez na adolescência, a qual é considerada uma gravidez

precoce e de risco. Desse modo, a gestação das adolescentes é associada a

uma maior morbidade e mortalidade materna, além de prematuridade e baixo

peso da criança ao nascer (HEILBORN et al., 2002; BRANDÃO e HEILBORN,

2006; CERQUEIRA-SANTOS, 2010).

Diante do exposto, pode-se constatar que os princípios organizadores

das representações sociais elaboradas pelos profissionais, com enfoque nos

efeitos da gravidez para a adolescente, apontaram para ancoragens que

remetem às demandas e expectativas acerca da maternidade e da

adolescência. Assim como, as representações foram objetivadas em: emprego,

estudo, status social, conflitos familiares, responsabilidade, medo, insegurança,

felicidade, realização de um desejo, mudança da identidade. Além desses

fatores, observa-se também ancoragens relacionadas ao discurso médico e

objetivações tais como: risco a saúde da criança e da adolescente, cuidados

médicos, gravidez de risco, mudanças orgânicas e corporais.

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106 5.2.2.2 Categoria: Consequências da gravidez para o parceiro

Esta categoria, com relação aos efeitos da gravidez na vida do parceiro,

foi dividida em duas subcategorias: “limitações no desenvolvimento intelectual

e econômico” e “efeitos na vida social e afetiva” como pode ser verificado no

quadro abaixo.

QUADRO 11. Efeitos da gravidez na vida do pai da criança

Subcategorias Unidades de análise

Limitações no desenvolvimento intelectual e econômico

“Muitos tem que deixar de estudar para trabalhar (...)”; “Eles deixam de estudar pra poder dá renda (...)”; “(...) Se ele não trabalhava vai ter que trabalhar (...) por que vem o filho pra ele assumir”; “(...) Já que é homem tem a questão do trabalho, ele vai ter que trabalhar pra sustentar o filho.”; “Vai ter que mexer no bolso, porque ai ele vai precisar dar assistência a adolescente, a mulher”; “(...) Ele não tem renda e vai ter que trabalhar para ajudar nas despesas”.

Ausência de impacto na vida social e vida afetiva

“(...) A maioria deles, dos daqui não muda em nada, continua a mesma vida (...) ficando com outras, engravidando outras (...)”; “Eu acho bem menos, eu acho que a vida do homem, do adolescente não muda muito não (...)”; “(...) Ele se firma como homem ‘eu sou pai’, então há mudança nesse sentido (...)”; “(...) Assim com o ego lá em cima porque engravidou, mas não ajudam em nada”; “(...) Ficam com a vida normal e sobra pra menina cuidar”; “Influência nenhuma, eles não estão nem ai (...)”; “Eles continuam saindo, se divertindo com os amigos e sobra para a mãe cuidar da criança (...)”.

A apreensão dos conteúdos da entrevista mostrou uma ênfase nas

despesas financeiras decorrentes da gravidez de sua parceira. Assim, diante

do nascimento do filho, ele terá que arcar com o sustento dessa criança, o que

é garantido por lei. Dessa forma, a fim de arcar com os custos financeiros do

filho, os adolescentes tendem a abandonar a escola e entram precocemente no

mercado de trabalho.

Nesse sentido, o tema trabalho aparece significativamente como condição

de importante aspecto no delineamento da paternidade (ORLANDI e

TORNELLE, 2008). Diante desse fato, a antecipação da entrada do mercado

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107

de trabalho desencadeia prejuízos intelectuais para estes adolescentes, pois, a

maioria interrompe os estudos em função do trabalho. A evasão escolar

impossibilita uma melhor qualificação profissional, fazendo com que

permaneçam em profissões “menos valorizadas” socialmente.

Com relação à vida social dos pais adolescentes, os entrevistados não

consideram haver grandes modificações, permanecendo a concepção de

homem pouco implicado no processo da gravidez. Ao se referirem à vida

afetiva dos parceiros foi evidenciada indiferença relacionada à gravidez da

parceira, no entanto, também foi mencionado que, em alguns casos, observa-

se felicidade por parte do pai, associada à legitimação do papel de homem

frente à sociedade.

Os dados apreendidos permitiram inferir que na concepção dos

entrevistados, a gravidez na adolescência tem um impacto pouco

representativo na vida dos parceiros, pois, estes, geralmente, se apropriam

apenas dos encargos financeiros deixando o cuidado da gravidez e

posteriormente da criança sob responsabilidade da parceira. O que coaduna

com a literatura, que se refere à concepção de paternidade relacionada à

obrigação e à responsabilidade relacionada à manutenção dos filhos e da

família (OLIVEIRA, 2010).

Desse modo, o pai assume o papel de provedor e a mulher assume as

responsabilidades com o bebê e os cuidados do lar. Portanto, os profissionais

representam a paternidade acorando-se na figura do pai provedor, aquele que

historicamente assume como única responsabilidade a manutenção financeira

da família, porém quando objetivam o pai como essa figura ausente, pouco ou

nada envolvida afetivamente, faz-se uma referência a uma “nova paternidade”

a uma demanda por um “novo” posicionamento masculino frente à gravidez e

ao próprio relacionamento.

Pode-se constatar que os princípios organizadores das representações

sociais elaboradas pelos profissionais, com enfoque nos efeitos da gravidez

para o parceiro, apontaram para ancoragens que remetem a demandas e

expectativas acerca da paternidade e da adolescência. Assim como, as

representações foram objetivadas em: trabalho, estudo, amadurecimento,

responsabilidade, vida social, indiferença. Além desses fatores, podem-se

observar ancoragens relacionadas aos papéis de gênero, e objetivações tais

como: provedor, papel de homem.

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108 5.2.2.3 Categoria: Efeitos da gravidez na família

De acordo com os conteúdos da entrevista, a presente categoria foi

dividida em duas subcategorias emergentes: “Efeitos na vida financeira” e

“Efeitos na vida social e afetiva”. O quadro 12 demonstra as subcategorias.

QUADRO 12. Efeitos da gravidez na família

Subcategorias Unidades de análise

Efeitos na vida financeira

“(...) A renda vai ser dividida com as despesas do bebê.”; “A família passa a ter mais despesas”; “(...) Quem ajuda é a própria família”; “Os pais reclamam muitos com as despesas que terão com a criança e também com a adolescente que precisa de cuidados especiais, roupas e uma melhor alimentação (...)”. “Vai pesar mais nas despesas (...) porque se os adolescentes não trabalham, não tem uma estabilidade, quem vai arcar com tudo são os pais (...)”; “(...) Os pais vão ter que arcar, até porque ela não vai poder trabalhar a princípio”; “(...) Então vai influenciar, por que é um gasto a mais”.

Efeitos na vida social e afetiva

“Algumas mães (avós) ficam, né! Deixam de trabalhar porque vão cuidar do filho (neto), pra (sua) filha poder estudar (...)”; “Às vezes sobrecarrega um pouquinho, né (...) a mãe (avó), às vezes uma tia (...)”; “(...) Tem alguns que ficam felizes pela chegada do bebê e tem uns que ficam decepcionados (...)”; “Muitas vezes ficam invadidos (...) eles se sentem assim: ninguém perguntou a mim se eu queria essa situação (...)”; “Impotentes. Eles se sentem impotentes (...)”; “Inicialmente ficam meio revoltados, mas depois aceitam apoiam (...)”; “Eles vão estar de olho, e tão com

cuidado, porque, como já diz, ela é uma adolescente (...) ela não tem aquela experiência com o bebê e eles acabam ajudando a cuidar (...)”; “(...) Vai entrar um novo integrante na família, né (...), é mais responsabilidade pra eles, então assim já muda socialmente o convívio com as outras pessoas lá fora (...)”.

O conteúdo expresso nas entrevistas indica efeitos na vida dos

familiares das adolescentes grávidas, com destaque para a mudança na rotina

da família, tais como, sobrecarga de trabalho, principalmente, para a avó

materna da criança, que aparece como a principal figura de apoio da jovem

mãe com relação aos cuidados com a criança; aumento da dificuldade

financeira, considerando que estas famílias vão arcar com as despesas da

gravidez e do bebê. Também, foi evidenciada ambivalência de sentimentos

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entre a decepção diante da descoberta da gravidez e felicidade da chegada de

um neto.

A avó materna é citada como principal figura de suporte no período da

gravidez e após o nascimento da criança, o que coaduna com os dados

encontrados na literatura que indicam que diante da notícia da gravidez surgem

na família sentimentos culpa, medo, indignação, choro e desespero, porém,

muitas vezes, as avós assumem a função de cuidar e apoiar. Em muitos casos

os adolescentes passam a morar próximo ou residem junto à família de um

deles, recebendo ajuda dos familiares. (SILVA e SALOMÃO, 2003; BRANDÃO

e HEILBORN, 2006).

Diante do exposto, pode-se constatar que os princípios organizadores

das representações sociais elaboradas pelos profissionais, com enfoque nos

efeitos da gravidez para a família, apontaram para ancoragens referentes a

demandas e expectativas que cercam a família, a maternidade e a

adolescência. Dessa forma, as representações sociais foram objetivadas em:

impacto financeiro, mudanças na rotina, conflitos, decepção, vida social e

felicidade.

5.2.3 Classe temática: Atuação dos profissionais de saúde

Nesta classe temática procurou-se identificar as ações realizadas pelas

equipes de saúde diante da gravidez na adolescência. Assim, esta classe

temática foi dividia em duas categorias: “Serviços de apoio direcionados à

gestação” e “Possibilidades de atuação do profissional de saúde”.

5.2.3.1 Categoria: Serviços de apoio direcionados à gestação

Esta categoria, de acordo com os achados da entrevista, foi dividida em

duas subcategorias emergentes: “Ausência de serviços exclusivos” e “Serviços

disponíveis”.

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110 QUADRO 13. Serviços de apoio direcionados à gestação na adolescência

Subcategorias Unidades de análise

Ausência de serviços exclusivos

“Assim, a gente não desenvolve nenhuma atividade específica pra elas.”; “Não, não a gente encaminha quando apresenta algum problema.”; “Não. Só acompanhamento gestacional.”; “(...) Aqui não existe diferença, nessa unidade, não existe diferença da adolescente e da adulta grávida” .

Serviços disponíveis “Planejamento familiar, acompanhamento de gestante, palestra, busca ativa, fazer o pré-natal (...)”; “Acompanhamento da gravidez...”; “(...) O programa de planejamento familiar pra pegar camisinha”.

A partir da análise desta categoria pode-se constatar a ausência de

serviços direcionados exclusivamente às gestantes adolescentes, nas

Unidades de Saúde da Família (USFs) investigadas neste estudo. Os

entrevistados declararam que o acompanhamento das adolescentes é

realizado juntamente com as demais grávidas da comunidade, através do pré-

natal e do planejamento familiar, no qual é discutido procriação e o uso de

métodos contraceptivos.

Os dados coletados assemelham-se aos encontrados no estudo de

Ferrari et al. (2008), no qual se observa que cerca de 97% dos médicos e

enfermeiros das equipes da Saúde da Família do município de Londrina,

referem que no serviço de atenção básica de saúde não existe um programa

específico para os adolescentes.

Com relação ao planejamento familiar Farias Júnior et al. (2009) afirmam

que trata-se de uma importante atividade de saúde, que tem como objetivo

informar sobre os meios necessários para que se possa decidir de forma livre e

consciente acerca dos métodos para prevenir a gravidez, bem como as DSTs e

AIDS.

Também se constatou que os profissionais entrevistados, mesmo

informando que reconhecem que a gravidez na adolescência possui demandas

específicas, elaboram sua prática de modo indistinto entre atendimento ás

mulheres adultas e às adolescentes. O serviço oferecido à gestante

adolescente é permeado por expectativas que cercam as gestantes

adolescentes. Assim, espera-se que a mulher se programe antes de ter seus

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111

filhos. E há demandas para que o adolescente estude, amadureça e trace um

projeto de vida para a fase adulta que não se enquadra com o evento da

gravidez.

Nesse sentido, Daltoso et al. (2005) destaca que para uma boa qualidade

do serviço de pré-natal, a equipe de saúde deve levar em conta aspectos

específicos da adolescência, as situações de risco e as dificuldades próprias

desse grupo, implicando num acompanhamento periódico.

5.2.3.2 Categoria: Possibilidades de atuação do profissional de saúde

A partir do conteúdo das entrevistas em relação a esta categoria,

emergiram três subcategorias de unidades de análise: “Atividades

informativas”, “Acompanhamento” e “Aspectos dificultadores”.

QUADRO 14. Atuação do profissional de saúde no contexto da gravidez na adolescência

Subcategorias Unidades de análise

Atividades informativas

“Formando grupos (...) pra falar de como cuidar do bebê que

vai vir, a questão da alimentação, a questão de mexer um

pouquinho com o psicológico delas, ver a questão social.”;

“Conscientizando já do estado da gravidez, conscientizando

da importância que ela deve dar a essa criança”; “Fazendo

reuniões educativas...”

Acompanhamento

“Fazendo pré- natal”; “fazer o cadastro, fazer a carteira de

gestante e acompanhar ela até os nove meses.”;

“Aconselhamento, sabendo se elas estão tomando a vacina

em dia, sabendo se estão fazendo o pré-natal. Se elas estão

fazendo os exames”.

Aspectos dificultadores

“São mais resistente e falta interesse”; “(...) Adolescente não escuta muito”; “Às vezes não vem pra unidade porque alguns agentes de saúde conhece a família, com medo que a informação vaze.”; “A gente faz palestras com eles, mas é uma dificuldade tão grande porque eles fazem o que eles querem.”; “Que adolescente não escuta muito. Adolescente, ele é o dono da razão. Ele faz o que quer e pronto”.

Diante das falas dos entrevistados percebe-se a importância atribuída,

por estes, a prática de atividades informativas e do acompanhamento da

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112

gestação. Estas aparecem como ferramentas fundamentais para o

enfrentamento da problemática da gravidez na adolescência. No entanto, é

observável no discurso desses profissionais que essas atividades são

pensadas num sentido unilateral, no qual, a equipe de saúde expõe para o

adolescente o que é importante para a manutenção da sua saúde. Assim,

prevalece à ideia de que o profissional de saúde é o detentor do saber, o que

limita as possibilidades de trocas de saberes essenciais para um maior

conhecimento da problemática vivida pelas adolescentes.

No discurso dos sujeitos entrevistados também emergiram uma série de

dificuldades relativas ao trabalho com grupos de adolescentes. Estas, ligadas a

um conceito engessado sobre a adolescência, no qual o adolescente é

percebido como: irresponsável, resistente, desinteressado e impulsivo. A falta

de entrosamento entre os profissionais da saúde e os adolescentes pode ser

percebida como uma limitação da assistência à saúde do adolescente.

Nota-se que as práticas dos profissionais estão permeadas por

expectativas sociais em torno da adolescência, da mulher e da família. A visão

desse profissional em torno da gravidez na adolescência engloba ideias

compartilhadas acerca de um modelo de maternidade e adolescência que

remete a demandas sobre a maternidade e sobre a adolescência.

Queiroz et al.(2010) e Guimarães et al. (2003), ao tratar do trabalho com

adolescentes, afirmam que esse é sempre um desafio para as equipes de

saúde, pois é necessário que sejam criadas estratégias para levar aos

adolescentes até o serviço. Portanto, faz-se necessário que seja criado um elo

de confiança entre a equipe e os adolescentes, para que se possam obter

resultados positivos e atraí-los ao serviço de saúde.

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5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados com a elaboração dessa dissertação

permitiram apreender a dimensão psicossocial dos conceitos elaborados pelos

profissionais de saúde acerca da gravidez na adolescência. Para tal, adotou-se

um percurso metodológico que possibilitou o entendimento dos conteúdos das

representações sociais dos participantes. A apreensão desses conteúdos

despertou para ratificar a importância do desdobramento da Teoria das

Representações Sociais a partir da corrente teórico-metodológica oriunda da

perspectiva de Jean-Claude Abric, além da própria abordagem de Serge

Moscovici.

No que diz respeito aos objetivos, conclui-se que todos eles foram

contemplados. Em relação aos procedimentos do método, o presente trabalho

possibilitou uma maior abertura para a compreensão das representações

sociais investigadas ao combinar diferentes procedimentos de coleta e análise

dos dados, o que permitiu a não supressão da multidimensionalidade do

fenômeno abordado. Vale destacar que os instrumentos utilizados no presente

estudo comportaram elementos que se complementam e, assim,

proporcionaram uma melhor compreensão do fenômeno estudado, além de

assegurarem uma maior confiabilidade quanto aos resultados obtidos.

Os dados conseguidos através da técnica de associação livre permitiram

o alcance ao campo semântico da representação, ao suscitar um conhecimento

a respeito dos arranjos entre os principais significantes associados à gravidez

na adolescência, assim como trouxeram uma compreensão acerca da imagem

da adolescente grávida. Já em relação às entrevistas, elas possibilitaram uma

maior elucidação acerca dos conteúdos da representação e um acesso aos

processos simbólicos da construção dessa representação.

Ao unir o material coletado dos questionários de associação livre e das

entrevistas, juntamente com a literatura empregada na construção desse

estudo, percebe-se que a gravidez acarreta diversas mudanças na vida da

adolescente, as quais aparecem atreladas principalmente a aspectos

negativos. A gravidez na adolescência é compreendida, pelos profissionais de

saúde aqui estudados, como um evento “problemático” e os seus discursos

estão caracterizados por aspectos predominantemente alarmistas,

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115

vitimizadores, homogeneizadores que reforçam um olhar negativo acerca da

maternidade da adolescente, a qual é vista enquanto prejuízo para o percurso

da vida das adolescentes.

Nesse sentido, as implicações da maternidade na adolescência

aparecem vinculadas à experiência de “ser adolescente” construída ao longo

dos séculos em meio às interações do contexto histórico-social, como também

se vinculam à vivência de “ser mãe” em meio às construções sociais que a

estabeleceram, com o passar do tempo, papéis e lugares atribuídos à mulher

na sociedade.

Vale ressaltar que a compreensão de adolescência mostra-se atrelada a

uma fase de transição com características próprias que envolvem a preparação

física, psíquica e social do indivíduo para tornar-se adulto, de modo a assumir

as competências, atributos e responsabilidades da vida adulta (RANGEL e

QUEIROZ, 2008; MESQUITA, 2008). Assim, a adolescente não estaria apta

para gerar e cuidar de um filho, o que atribui à gestação na adolescência um

sentido de evento precoce, impróprio e inadequado, que acarreta dificuldades

na vida da adolescente, como também oferece riscos a sua saúde e a do bebê.

Já no que se refere aos conceitos vinculados acerca da experiência da

maternidade, esta remete a questões relacionadas às atribuições sobre o

gênero feminino, que se relacionam à construção sobre o que é ser mulher ao

longo do processo sócio-histórico. Portanto, atribuiu-se que a mulher é a

responsável pelos cuidados e educação dos filhos, baseada em uma

concepção patriarcal (BOZON, 2004; MOURA e ARAÚJO, 2004; OLIVEIRA,

2010).

Diante do exposto, de uma maneira geral, a representação da

maternidade na adolescência, no presente estudo, foi ancorada na natureza

feminina em que é atribuição da mulher a responsabilidade e os cuidados pela

prole. Vale ressaltar, diante das ideias compartilhadas pelos profissionais de

saúde nessa pesquisa, que o fato de ser mãe não coloca fim à adolescência,

apesar de trazer novas implicações provenientes do mundo adulto. No que diz

respeito à gravidez na adolescência, especificamente, os dados apreendidos

nas entrevistam e questionários de associação livre apontam para uma

representação de gravidez ancorada num estigma negativo acerca da ideia do

que é “ser adolescente”, a qual se mostra imbuída no senso comum, nos

discursos científicos e práticas profissionais. Essa noção compreende as

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116

adolescentes como despreparados biologicamente, emocionalmente e

socialmente para conceber filhos.

Porém, pôde ser constatado que mesmo sendo compreendida como um

evento que proporciona dificuldades e abdicações, a gravidez na adolescência

não necessariamente foi percebida como algo negativo pelos profissionais de

saúde, pois também foram considerados aspectos positivos que evidenciam a

gestação como um evento gratificante e proveniente do próprio desejo das

adolescentes.

Nesse sentido, Pantoja (2003) ressalta que apesar das pessoas

geralmente perceberem a gravidez na adolescência como indesejada, muitas

vezes a adolescente a almeja, a planeja e se frustra ao conferir que a gravidez

não aconteceu. A gestação entre as adolescentes, principalmente nas

camadas pobres da população não condiz, necessariamente, numa perda ou

descontinuidade dos seus projetos de vida. A gravidez muitas vezes aparece

enquanto um valor de ônus social que não é assumida como um fato que

impeça os planos futuros das adolescentes gestantes.

Diante do exposto, as representações sociais da gravidez na

adolescência, apreendidas por ambos os instrumentos, propiciaram o acesso

às opiniões, crenças, estereótipos e imagens acerca da temática estudada.

Percebe-se que nessas representações estão intrínsecos conhecimentos

científicos e do senso comum, bem como valores sociais que circulam entre

eles. Dessa forma, foi possível identificar as concepções que influenciam e

orientam as práticas dos profissionais de saúde, de modo que as

Representações Sociais que circulam entre esses profissionais aparecem

como um conhecimento que não se caracteriza por uma contraposição ao

saber científico, mas há uma dialética entre o conhecimento consensual (senso

comum) e o saber reificado, considerado como científico (MOSCOVICI, 2003).

Portanto, percebe-se a necessidade de um olhar mais ampliado com

relação à gravidez na adolescência perante o contexto de interação dos

profissionais de saúde. A partir do estudo realizado, percebe-se a existência de

um discurso que trata a gestação da adolescente como uma situação de risco

que ocasiona problemas, tanto no âmbito biológico quanto psicológico, para a

mãe e o bebê. Essa perspectiva se ancora no modelo biomédico de saúde que

tende a suprimir as questões e experiências do contexto social em que a

adolescente vive. Assim, as concepções compartilhadas pelo grupo de

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palavras que expressam o discurso biomédico são transmitidas, reforçadas e

perpetuadas, segundo Merhy (2007), nas visões psicológicas, pedagógicas,

religiosas e jurídicas que circulam nos espaços sociais.

No que tange à aplicabilidade desta investigação, pensa-se que seus

resultados possam contribuir tanto para o conhecimento em torno da gravidez

da adolescência, quanto para uma compreensão acerca dos conceitos que

permeiam e interferem nas práticas dos profissionais de saúde perante as

adolescentes grávidas. Nesse sentido, há uma abertura para reflexões acerca

de medidas de intervenção direcionadas à saúde sexual e reprodutiva do

adolescente e à melhoria da qualidade de vida das jovens, além de verificar-se

a importância da formulação de estratégias na implementação de políticas

públicas de promoção e educação em saúde, com o intuito de minimizar o

impacto biopsicossocial da gravidez na adolescência.

Dessa forma, o acompanhamento da gravidez na adolescência, no

setor da Saúde, deve ser pensado diferentemente do acompanhamento de

uma gestação na vida adulta, devendo-se, dessa maneira, levar em

consideração um conjunto de aspectos biopsicossociais envolvidos no

processo dessa gravidez, assim como o cenário de interação que perpassa a

relação dos profissionais de saúde com as adolescentes, principalmente se

essas fizerem parte de um contexto de vulnerabilidade social.

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ANEXOS

Anexo 1- Parecer do Comitê de Ética

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Anexo II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (A partir de 18 anos completos)

UFPE-Programa de Pós-Graduação em Psicologia Mestranda Vera Lúcia de Moura Sena Filha - Tel. 34293747/96328849 Endereço: Departamento de Psicologia, 9º andar do CFCH, UFPE E-mail: [email protected] Comitê de Ética em Pesquisa (Avenida da Engenharia s/n, 1º andar - Cidade Universitária, Recife-PE, CEP: 50740-600, Tel.: 2126 8588)

Eu, Vera Lúcia de Moura Sena Filha, mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, venho através deste documento solicitar sua participação na pesquisa intitulada “Representações Sociais da gravidez na adolescência para profissionais de Unidades de Saúde da Família”.

Para autorizar a participação do menor você deve estar ciente de que:

Este projeto tem como objetivo avaliar as Representações Sociais das práticas de saúde destinadas à gravidez na adolescência para profissionais de Unidades de Saúde da Família.

Caso aceite, o menor será solicitado a participar, em um espaço reservado, de uma entrevista individual que, mediante sua permissão, será gravada e posteriormente transcrita para análise. As gravações serão armazenadas em local seguro, na sala da pesquisadora responsável, localizada no sétimo andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e ficará sob responsabilidade da mesma. No momento da transcrição nomes e dados dos participantes serão trocados por códigos; em seguida, as gravações originais serão destruídas.

Muito embora esta participação não ofereça risco à integridade física, psíquica e moral nem à dignidade dos participantes, é possível que algumas pessoas se sintam constrangidas ao tratar de temas como a sexualidade, por exemplo. De qualquer modo, há plena liberdade para que a entrevista seja interrompida no momento que o/a participante desejar.

No que diz respeito aos benefícios, essa pesquisa pretende contribuir tanto para o conhecimento da vivência da gravidez na adolescência e suas conseqüências, quanto para a avaliação das práticas de saúde destinadas à gravidez na adolescência por profissionais de Unidades de Saúde da Família. Com relação aos benefícios diretos, após o término desta pesquisa serão oferecidas algumas palestras para os participantes da pesquisa, assim como serão divulgados os resultados da mesma através de um relatório escrito. Para isto sua contribuição e participação são essenciais.

A pesquisa será feita em um único encontro através de uma entrevista e não acarretará em nenhuma despesa ou eventual dano para o participante. Dessa maneira não haverá nenhuma forma de ressarcimento de despesas ou de indenização. Qualquer despesa com transporte que você eventualmente tiver para participar desta pesquisa será paga pela pesquisadora.

Sua participação é voluntária e uma recusa não implicará em qualquer tipo de prejuízo.

As informações que você fornecer poderão ser utilizadas em trabalhos científicos, mas sua identidade será sempre preservada, seu nome não aparecerá em nenhum momento e não haverá qualquer sinal ou palavra que possa identificar sua pessoa.

Você é livre para desistir da participação no trabalho em qualquer momento.

Agradecemos desde já a sua participação e nos colocamos à disposição para outros esclarecimentos que se façam necessários nos endereços acima. Sim. Aceito ser entrevistado(a) para este estudo e que esta entrevista seja gravada. Sim. Aceito que trechos desta entrevista (sem identificação) sirvam de ilustração para trabalhos de pesquisa e formação de educadores e profissionais de saúde. Estando assim de acordo, assinam o presente termo de consentimento em duas vias. ____________________________________ _________________________________________ Nome do Participante Responsável pelo projeto ____________________________________ Primeira testemunha ____________________________________ Recife, _____ de _____________ de _________. Segunda testemunha

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APÊNDICES

Apêndice I – Questões Sociodemográficas – Profissionais de Saúde

QUESTÕES SOCIODEMOGRÁFICAS – Profissionais de Saúde Dados Gerais – Profissional de saúde Cidade ______________________________ USF _________________________ Data ____/____/______ Nome _________________________________________________________________________________ Idade______________ Profissional de saúde (formação)__________________________________________________________ Profissional da adolescente ______________________________________________________________ Tel. _____________________ Escolaridade ( ) Analfabeto ( ) I Grau Incompleto ( ) I Grau Completo ( ) II Grau Incompleto ( ) II Grau Completo ( ) III Grau Incompleto ( ) III Grau Completo

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Apêndice II – Roteiro do Questionário de Associação Livre

Na sua opinião, ser mãe adolescente é...

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

Na sua opinião, ser pai adolescente é...

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

O que motiva a adolescente engravidar é...

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

As principais conseqüências da gravidez na adolescência são....

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

( )_________________________________________________________________________

Agora coloque as respostas em ordem de importância.

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Apêndice III – Roteiro da Entrevista

Motivações para engravidar;

Como é ser mãe? Como é ser mãe adolescente? Qual são os motivos para não evitar a gravidez? Você acha que as adolescentes desejavam a gravidez atual? Quais são os sentimentos frente à gravidez? Quais os motivos que levam uma adolescente a ficar grávida? Qual seria a idade ideal? Qual a idade que geralmente as garotas da comunidade

ficam grávidas?

Efeitos da gravidez na vida da adolescente grávida;

Qual a influência da gestação sobre as atividades (estudo, trabalho, lazer)? Quais as mudanças que a gravidez vai trazer para a vida dela? Você percebe alguma mudança no corpo dela? Você percebe alguma mudança na vida social e afetiva? Você percebe alguma mudança emocional? Você percebe alguma mudança no desempenho escolar? Você percebe alguma mudança financeira? A quem elas recorrem quando ficam grávidas? Como você percebeu o apoio recebido da família? E do parceiro? Quem você acha que vai ajudar a criar o filho dela? Por quê? Qual o modo de agir dos parentes frente à gravidez? Você acha que a gravidez reduz as chances de entrar ou manter-se no mercado de

trabalho?

Efeitos da gravidez na vida do parceiro;

Qual a influência da gestação sobre as atividades dele (estudo, trabalho, lazer)? Quais as mudanças que a gravidez vai trazer para a vida dele? Você percebe alguma mudança na vida social e afetiva dele? Você percebe alguma mudança emocional? Você percebe alguma mudança no desempenho escolar? Você percebe alguma mudança financeira? Dê um exemplo? A quem eles recorrem quando elas ficam grávidas? Você acha que a gravidez reduz as chances dele de entrar ou manter-se no mercado

de trabalho?

Efeitos da gravidez na vida dos parentes e de pessoas próximas da adolescente mãe;

Qual a influência da gestação sobre as atividades dos parentes? Quais as mudanças que a gravidez vai trazer para a vida deles? Você percebe alguma mudança na vida social e afetiva? Você percebe alguma mudança emocional? Você percebe alguma mudança financeira?

Profissionais de Saúde X Gravidez na adolescência;

Vocês possuem algum serviço voltado para adolescentes grávidas? Como funciona? Desde quando?

Como o profissional de saúde pode trabalhar com adolescentes grávidas? Quais os aspectos facilitadores e dificultadores de se trabalhar com adolescentes?