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Uma viagem pela Florianópolis qUe encantoU o escritor Francês antoine de saint-exUpéry, Um visitante até hoje polêmico a floripa de zé perry 24 [ REVISTA DA FOLHA ] 9 DE AgOSTO DE 2009 a ntoine de Saint-Exupéry é um dos grandes ho- menageados do Ano da França no Brasil. Entre os even- tos programados, há exposições, espetáculos e lançamentos de li- vros acerca da obra e do autor de “O Pequeno Príncipe”. Saint-Ex, como era chamado pelos amigos, foi não só um escri- tor afamado como também um dos jovens pilotos que se aventu- raram pelos ares nos primórdios da aviação, na década de 1920. Por essa razão, está sendo lem- brado numa grande mostra que percorre desde março algumas capitais, com fotos e documentos sobre a companhia de correios Aéropostale em cidades como Rio, Natal e Florianópolis. Na capital catarinense, en- tretanto, algo ocorreu naqueles tempos que torna Saint-Exu- péry ligado à cidade, apesar das controvérsias a respeito das suas passagens pela ilha. Por um acordo entre a neces- sidade e a conveniência, Floripa acabou entrando para o hall das poucas cidades brasileiras a re- ceber os aviões da Aéropostale entre 1927 e 1931. E, por exten- são, uma parte de seus morado- res conviveu com os estrangei- ros que transportavam cartas e encomendas de outros países. No caso, franceses que pousa- vam na ilha para abastecer e rea- lizar pequenos reparos nas aero- naves sempre que faziam a rota Rio de Janeiro-Buenos Aires. Saint-Exupéry não estava oficialmente nesse grupo, mas como diretor de exploração da companhia Aeroposta Argen- tina (cargo que assumiu em 1929, com 29 anos) teria dado seus pulinhos a Florianópolis pa- ra visitar os amigos e inspecionar a linha aérea ao longo de 1930. Provavelmente o fizesse sem alarde, já que o único registro comprovado de sua estada na turismo ›› santa catarina por Milu Leite / fotos Felipe Obrer ilha se contrapõe aos relatos de um tal Zé Perry que esteve no Campeche umas dez vezes e gos- tava de comer peixe e conversar com um pescador em especial, o seu Deca (Manoel Rafael Iná- cio), à época um curioso rapazola de 20 anos, que gostava de tocar sanfona e papear. E é aí que começa toda a ce- leuma que, ao menos em Floria- nópolis, vem pincelar com tons sombrios a aquarela de cores vibrantes pintada este ano para as relações entre os governos francês e brasileiro. Embora se- ja indiscutível a assimilação de Saint-Ex pela cultura local, há Ommy nulland iamcon vel iniam verit dit lor sit alit eugueri ureet, vullam zzrilit pratie dolorem quate dolor suscilit 1 2 3

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Preview (que recebi na época, para atribuir legenda às imagens) da reportagem da Milu Leite publicada na edição de agosto de 2009 da Revista da Folha, para a qual fiz as fotografias.

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Page 1: Reportagem ´A Floripa de Zé Perry`, de autoria da Milu Leite, na Revista da Folha (fotos: Felipe Obrer)

Uma viagem pela Florianópolis qUe encantoU o escritor Francês

antoine de saint-exUpéry, Um visitante até hoje polêmico

a floripa de zé perry

24 [ REVISTA DA FOLHA ] 9 DE AgOSTO DE 2009

antoine de Saint-Exupéry é um dos grandes ho-menageados do Ano da

França no Brasil. Entre os even-tos programados, há exposições, espetáculos e lançamentos de li-vros acerca da obra e do autor de “O Pequeno Príncipe”.

Saint-Ex, como era chamado pelos amigos, foi não só um escri-tor afamado como também um dos jovens pilotos que se aventu-raram pelos ares nos primórdios da aviação, na década de 1920.

Por essa razão, está sendo lem-brado numa grande mostra que percorre desde março algumas capitais, com fotos e documentos sobre a companhia de correios Aéropostale em cidades como Rio, Natal e Florianópolis.

Na capital catarinense, en-tretanto, algo ocorreu naqueles tempos que torna Saint-Exu-péry ligado à cidade, apesar das controvérsias a respeito das suas passagens pela ilha.

Por um acordo entre a neces-sidade e a conveniência, Floripa acabou entrando para o hall das poucas cidades brasileiras a re-ceber os aviões da Aéropostale entre 1927 e 1931. E, por exten-são, uma parte de seus morado-

res conviveu com os estrangei-ros que transportavam cartas e encomendas de outros países.

No caso, franceses que pousa-vam na ilha para abastecer e rea-lizar pequenos reparos nas aero-naves sempre que faziam a rota Rio de Janeiro-Buenos Aires.

Saint-Exupéry não estava oficialmente nesse grupo, mas como diretor de exploração da companhia Aeroposta Argen-tina (cargo que assumiu em 1929, com 29 anos) teria dado seus pulinhos a Florianópolis pa-ra visitar os amigos e inspecionar a linha aérea ao longo de 1930.

Provavelmente o fizesse sem alarde, já que o único registro comprovado de sua estada na

turismo ›› santa catarinapor Milu Leite / fotos Felipe Obrer

ilha se contrapõe aos relatos de um tal Zé Perry que esteve no Campeche umas dez vezes e gos-tava de comer peixe e conversar com um pescador em especial, o seu Deca (Manoel Rafael Iná-cio), à época um curioso rapazola de 20 anos, que gostava de tocar sanfona e papear.

E é aí que começa toda a ce-leuma que, ao menos em Floria-nópolis, vem pincelar com tons sombrios a aquarela de cores vibrantes pintada este ano para as relações entre os governos francês e brasileiro. Embora se-ja indiscutível a assimilação de Saint-Ex pela cultura local, há

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uma pequena corrente de defen-sores da ideia de que o escritor não esteve na ilha como creem muitos moradores.

À frente dessa corrente está o engenheiro aposentado João Carlos Mosimann, estudioso do tema há mais de 20 anos. “Não há nenhum documento que prove que Saint-Exupéry tenha esta-do aqui tantas vezes. No dia que houver, acredito nessa história.”

A busca por respostas que po-nham por terra essa dúvida ocu-pa há 16 anos um espaço precioso

da vida de Getúlio Manoel Inácio, um dos 14 filhos de seu Deca. Ao ingressar na Aeronáutica, o her-deiro ouviu da boca do pai histó-rias como essa: “Papai dizia que ele [Exupéry] gostava de comer peixe e biju. O biju, esperava ficar pronto do lado do fogão”.

De acordo com Getúlio, Exu-péry avisava pelo rádio que esta-va prestes a pousar a fim de que seu Deca fosse preparando um peixe fresco. Então, o comeriam juntos e, algumas vezes, passea-riam em seguida.

As opções eram simples, típi-cas da vida de uma pequena vila de pescadores: caçar, papear de-fronte o mar, conhecer alguns lugares bonitos –lagoa Pequena, lagoa do Peri, o morro do Lam-pião (campo de pouso usado pelos franceses e sinalizado com lampiões à noite). “No começo eles se comunicavam por mími-ca”, afirma Getúlio.

Formado em Pedagogia, subo-ficial aposentado da Aeronáuti-ca, o pescador e músico Getúlio publicou em 2001 “Deca e Zé Perry”, um pequeno livro em que fala do pai, do Campeche e da relação do pescador com o escri-tor. “Se esse Mosimann tivesse conhecido papai, saberia que ele

nunca ia inventar uma mentira”, afirma Getúlio.

Mônica Cristina Corrêa, pós-doutoranda em Literatura Com-parada pela USP e estudiosa do assunto, faz coro à indignação de Getúlio. “A desconfiança é preconceituosa. Ele só acha que é invenção porque a história é contada por um pescador.”

A atuação de Mônica trouxe novos elementos ao debate. O úl-timo deles é uma carta-lembran-ça escrita por um dos melhores amigos de Saint-Ex, Léon-Paul Fargue, depois da sua morte em 1944, em que são mencionadas as vindas a Florianópolis. “Quantas noites também passei a esperá-lo, nervoso e tenso, não que ele estivesse sempre atrasado, mas porque eu sabia que estava em Florianópolis ou na Ciranaica, e que o rádio nada dizia sobre o re-gime de seu motor”, diz a carta.

Resposta dos sobrinhosMônica acabou por aproximar da história os descendentes de Exu-péry, entre eles François e Olivier d’Agay, respectivamente sobri-nho e sobrinho neto do escritor. No final de março, informados sobre o teor sarcástico de um ar-tigo publicado por Moisemann no “Diário Catarinense”, ironi-zando a participação de ambos os franceses num evento come-morativo na ilha em outubro do ano passado, eles responderam à altura. “A liberdade de pensa-mento existe, é uma liberdade fundamental, com o respeito ao pensamento dos outros.”

A elucidação da passagem de Exupéry por Florianópolis é ta-

RS

FlorianópolisSC

PR

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turismo

refa longa e apaixonante. Exige leitura, entrevistas e, como um bom romance detetivesco, busca de evidências. Todo esse trabalho se dá à margem do cotidiano dos moradores do bairro do Campe-che, que há muito incorporaram Saint-Ex e “O Pequeno Príncipe” à paisagem urbana.

O turista de primeira de via-gem que desconfiar do nome de uma pousada (Zé Perry) será logo avisado de que se trata do apelido dado a Saint-Exupéry por seu amigo pescador e de que pode visitar ali mesmo uma

mostra com painéis sobre a vida do escritor.

As placas de rua, de cafés e até de um salão de beleza que home-nageiam “O Pequeno Príncipe” deixam claro que o escritor é es-timado por essas bandas.

Numa delas, inclusive, o prín-cipe de cabelos loiros trocou a ca-pa azul por um avental vermelho e ganhou um ornamento inusi-tado: uma bandeja nas mãos, de modo a esclarecer que se está diante de um restaurante. O tu-rista pode então parar e comer. Nem precisa saber do resto.

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