renato russo

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“Renato Russo: o filho da revolução”, mais extensa biografia do líder da Legião Urbana, reconstitui a transformação do adolescente talentoso em ídolo da juventude brasileira nos anos 80. O livro do jornalista Carlos Marcelo será lançado amanhã, na Livraria Saraiva DELLANO RIOS Repórter BIOGRAFIA O s historiadores da religião encontra- ram um padrão na vida dos santos que raramente é que- brado. Após o momento da ilumi- nação, quando a santidade se descortina (e que costuma coinci- dir com a morte do indivíduo), aqueles que contam sua história passam a encontrar sinais daque- le milagre em todos os episódios da vida do personagem. É certo que ele nem sempre foi santo, mas sua vida se organizou como uma seta, que sempre apontou naquela direção. É assim que a vida de Renato Russo (1960 - 1996) costuma ser contada. E é por isso que a biografia “Renato Russo: o fi- lho da revolução” se constitui com um perfil incomum, de ra- ro valor no conjunto de narrati- vas sobre a vida do cantor, líder da Legião Urbana, e principal guru da juventude dos anos 80 (dividindo o posto apenas com Cazuza). A grandeza do perso- nagem é usada como motor pa- ra a curiosidade do biógrafo. No entanto, apropriadamente, ele se desvia do discurso mistifi- cador. Não quer nem confirmá- lo, nem refutá-lo. É como se escrevesse de uma outra pes- soa, essa sim, de carne e osso, cheia de talentos e dedicada a sua criação. O livro, que se concentra nes- se personagem ainda em forma- ção, do jovem Renato Russo, será lançado em Fortaleza ama- nhã. O autor, o jornalista parai- bano Carlos Marcelo, autografa a obra a partir das 19 horas, na Livraria Saraiva. Notíciasda Capital O paraibano Carlos Marcelo nasceu em 1970. Bem a tempo para a festa roqueira que foram os anos 80, pelo menos para os adolescentes. Aos 15 anos, che- gou com a família para morar em Brasília. “Bem no ano em que a Legião Urbana lançou seu primeiro disco”, precisa ele. “Acompanhei de perto o desenvolvimento deles, até quando ficaram famosos e fo- ram morar no Rio. Eu estava no show mais polêmico que eles fizeram (talvez o mais polêmi- co do rock nacional), que inclu- sive uso pra abrir e fechar o livro. Minha aproximação do Renato Russo vem antes mes- mo do meu contato com o jorna- lismo. Eu era fã mesmo, de gos- tar dessa banda e de outras do rock de Brasília, como a Plebe Rude, Capital Inicial; e de ou- tras, como os Titãs e o Ira!”, se apresenta Carlos Marcelo. A ideia da biografia surgiu bem depois, em 1999. “Escrevi uma série de reportagens sobre a história do rock de Brasília, que foram publicadas no come- ço de 2000, em três edições da extinta revista Bizz. Descobri que havia toda uma história de Renato que ainda podia ser con- tada. Todo aquele tempo que ele passou na Capital, antes da fama, de ir em definitivo para o Rio. Foram anos intensos, de muita produção e de muito tra- balho. Me interessava contar a história desse jovem Renato Russo. Ele foi um cara que can- tou para os jovens, com temas que tocavam eles, e que, por isso, ainda hoje têm uma identi- ficação muito grande com a mú- sica da Legião Urbana. Então, era até obvio o interesse por esse aspecto da vida do Rena- to”, explica. Viver na mesma cidade que Renato Russo também contri- buiu para essa identificação, do interesse do biógrafo pelo bio- grafado. “Em Brasília, é possí- vel reconhecer lugares. A at- mosfera da época está impreg- nada em certos lugares. Claro, mudou muito, não é a cidade tediosa que a banda cantava”, conta Carlos Marcelo. Ocronista Renato Russo nasceu no Rio de Janeiro, mas passou parte da infância, toda a adolescência e o começo de sua vida adulta na capital federal. Conforme a bio- grafia escrita por Carlos Marce- lo, era um menino dotado de uma inteligência acima da mé- dia. Talento natural que tinha como combustível às boas con- dições da família de classe mé- dia, que possibilitava o acesso a leituras e bens culturais que terminaram por lhe dar um re- pertório que fez fama entre seus contemporâneos. Ainda no final dos anos 70, Renato Russo já estava ligado no movimento punk inglês (que poucos anos depois incen- diou a mente dos jovens da periferia paulista). Foi daí que surgiu a Aborto Elétrico, banda mítica do rock brasiliense que deu origem à Legião Urbana e ao Capital Inicial. “No processo de pesquisa pa- ra o livro, encontrei letras inédi- tas dessa época, rascunhos de músicas que o Renato desenvol- veu mais tarde. Suas primeiras composições são decorrentes da estética punk, mas a temáti- ca da música do Aborto Elétrico era brasileira. Não era decalca- da do que ouvia lá fora. Ele pegou um modelo estrangeiro e adaptou à realidade brasilei- ra. Ele retomou um papel da MPB consagrado no anos 60, com Caetano Veloso, Chico Buarque, e que o Ney Matogros- so representou, no início dos anos 70, com o Secos & Molha- dos. Não é só um livro sobre um roqueiro brasileiro, é tam- bém uma parte da história da música de protesto feita no Bra- sil”, define o autor. Carlos Marcelo se diz impres- sionado com a falta de mais trabalhos sobre a música popu- lar e pop brasileira - algo bem diferente do mercado estrangei- ro, onde abundam biografias de ídolos pop. O livro de Carlos Marcelo faz parte de uma onda recente de livros, que tem por tema personalidades da MPB, caso de “Vale Tudo” (sobre Tim Maia), de Nelson Motta, e “Maysa”, de Lira Neto. “É engra- çado porque nossa música é até mais rica que o pop anglo-sa- xão, por que é mais variada. Mas livros interessantes, dois que me foram muito impor- tantes são: ‘Dias de luta’, de Ricardo Alexandre, sobre o ro- ck brasileiro dos anos 80; e o perfil biográfico do Renato, fei- to pelo Arthur Dapieve. Ele con- ta mais a história do Renato Russo famoso. O meu, a pré-his- tória disso. É como se um livro complementasse o outro. o Lançamento do livro - amanhã, às 19h, com seção de autógrafos, na Livraria Saraiva, do Shopping Iguatemi (Av. Washington Soares, 85). Contato: (85) 3241.0710 DRAMÁTICO A ICONOCLASTIA SÓBRIA DE NEY MATOGROSSO VOLTA EM “BEIJO BANDIDO”. P. 6 CULTURA POP Avidaantesdomito O livro conta também uma parte da história da música de protesto feita no Brasil” Carlos Marcelo Jornalista e biógrafo Renato Russo: o filho da revolução Carlos Marcelo D AGIR 2009 416 PÁGINAS R$ 59,90 360944963 A RENATO RUSSO, em vestes punks, no começo de sua carreira musical, na capital federal. Juventude do líder da Legião Urbana é esmiuçada em livro do jornalista Carlos Marcelo, que traz relatos raros sobre o cantor, além de letras e poemas inéditos FRASE FORTALEZA, CEARÁ - SEGUNDA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 2009 ANO XXVIII

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Renato Russo, o líder da banda Legião Urbana.

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Page 1: RENATO RUSSO

“RenatoRusso:ofilhodarevolução”,maisextensabiografiado líderdaLegiãoUrbana, reconstituiatransformaçãodoadolescentetalentosoemídoloda juventudebrasileiranosanos80.Olivrodo jornalistaCarlosMarceloserálançadoamanhã,naLivrariaSaraiva

DELLANORIOS

Repórter

BIOGRAFIA

Os historiadores dareligião encontra-ram um padrão navida dos santos queraramente é que-

brado. Após o momento da ilumi-nação, quando a santidade sedescortina (e que costuma coinci-dir com a morte do indivíduo),aqueles que contam sua históriapassam a encontrar sinais daque-le milagre em todos os episódiosda vida do personagem. É certoque ele nem sempre foi santo,mas sua vida se organizou comouma seta, que sempre apontounaquela direção.

É assim que a vida de RenatoRusso (1960 - 1996) costumaser contada. E é por isso que abiografia “Renato Russo: o fi-lho da revolução” se constituicom um perfil incomum, de ra-ro valor no conjunto de narrati-vas sobre a vida do cantor, líderda Legião Urbana, e principalguru da juventude dos anos 80(dividindo o posto apenas comCazuza). A grandeza do perso-nagem é usada como motor pa-ra a curiosidade do biógrafo.No entanto, apropriadamente,ele se desvia do discurso mistifi-cador. Não quer nem confirmá-lo, nem refutá-lo. É como seescrevesse de uma outra pes-soa, essa sim, de carne e osso,cheia de talentos e dedicada asua criação.

O livro, que se concentra nes-se personagem ainda em forma-ção, do jovem Renato Russo,será lançado em Fortaleza ama-nhã. O autor, o jornalista parai-bano Carlos Marcelo, autografaa obra a partir das 19 horas, naLivraria Saraiva.

NotíciasdaCapital

O paraibano Carlos Marcelonasceu em 1970. Bem a tempopara a festa roqueira que foramos anos 80, pelo menos para osadolescentes. Aos 15 anos, che-gou com a família para morarem Brasília. “Bem no ano emque a Legião Urbana lançouseu primeiro disco”, precisaele. “Acompanhei de perto odesenvolvimento deles, atéquando ficaram famosos e fo-ram morar no Rio. Eu estava noshow mais polêmico que elesfizeram (talvez o mais polêmi-co do rock nacional), que inclu-sive uso pra abrir e fechar olivro. Minha aproximação doRenato Russo vem antes mes-mo do meu contato com o jorna-lismo. Eu era fã mesmo, de gos-tar dessa banda e de outras dorock de Brasília, como a PlebeRude, Capital Inicial; e de ou-tras, como os Titãs e o Ira!”, seapresenta Carlos Marcelo.

A ideia da biografia surgiubem depois, em 1999. “Escrevi

uma série de reportagens sobrea história do rock de Brasília,que foram publicadas no come-ço de 2000, em três edições daextinta revista Bizz. Descobrique havia toda uma história deRenato que ainda podia ser con-tada. Todo aquele tempo queele passou na Capital, antes dafama, de ir em definitivo para oRio. Foram anos intensos, demuita produção e de muito tra-balho. Me interessava contar ahistória desse jovem RenatoRusso. Ele foi um cara que can-tou para os jovens, com temasque tocavam eles, e que, porisso, ainda hoje têm uma identi-ficação muito grande com a mú-sica da Legião Urbana. Então,era até obvio o interesse poresse aspecto da vida do Rena-to”, explica.

Viver na mesma cidade queRenato Russo também contri-buiu para essa identificação, dointeresse do biógrafo pelo bio-grafado. “Em Brasília, é possí-vel reconhecer lugares. A at-mosfera da época está impreg-nada em certos lugares. Claro,mudou muito, não é a cidadetediosa que a banda cantava”,conta Carlos Marcelo.

Ocronista

Renato Russo nasceu no Rio deJaneiro, mas passou parte dainfância, toda a adolescência eo começo de sua vida adulta nacapital federal. Conforme a bio-grafia escrita por Carlos Marce-lo, era um menino dotado deuma inteligência acima da mé-dia. Talento natural que tinhacomo combustível às boas con-dições da família de classe mé-dia, que possibilitava o acesso aleituras e bens culturais queterminaram por lhe dar um re-pertório que fez fama entreseus contemporâneos.

Ainda no final dos anos 70,Renato Russo já estava ligadono movimento punk inglês(que poucos anos depois incen-diou a mente dos jovens daperiferia paulista). Foi daí quesurgiu a Aborto Elétrico, bandamítica do rock brasiliense quedeu origem à Legião Urbana eao Capital Inicial.

“No processo de pesquisa pa-ra o livro, encontrei letras inédi-tas dessa época, rascunhos demúsicas que o Renato desenvol-veu mais tarde. Suas primeirascomposições são decorrentesda estética punk, mas a temáti-ca da música do Aborto Elétricoera brasileira. Não era decalca-da do que ouvia lá fora. Elepegou um modelo estrangeiroe adaptou à realidade brasilei-

ra. Ele retomou um papel daMPB consagrado no anos 60,com Caetano Veloso, ChicoBuarque, e que o Ney Matogros-so representou, no início dosanos 70, com o Secos & Molha-dos. Não é só um livro sobreum roqueiro brasileiro, é tam-bém uma parte da história damúsica de protesto feita no Bra-sil”, define o autor.

Carlos Marcelo se diz impres-sionado com a falta de maistrabalhos sobre a música popu-lar e pop brasileira - algo bemdiferente do mercado estrangei-ro, onde abundam biografiasde ídolos pop. O livro de CarlosMarcelo faz parte de uma ondarecente de livros, que tem por

tema personalidades da MPB,caso de “Vale Tudo” (sobre TimMaia), de Nelson Motta, e“Maysa”, de Lira Neto. “É engra-çado porque nossa música é atémais rica que o pop anglo-sa-xão, por que é mais variada.Mas há livros interessantes,dois que me foram muito impor-

tantes são: ‘Dias de luta’, deRicardo Alexandre, sobre o ro-ck brasileiro dos anos 80; e operfil biográfico do Renato, fei-to pelo Arthur Dapieve. Ele con-ta mais a história do RenatoRusso famoso. O meu, a pré-his-tória disso. É como se um livrocomplementasse o outro. o

Lançamentodo livro -amanhã,às 19h, comseçãodeautógrafos,naLivrariaSaraiva,doShopping Iguatemi (Av.WashingtonSoares,85).Contato: (85)3241.0710

DRAMÁTICOAICONOCLASTIASÓBRIADENEYMATOGROSSOVOLTAEM“BEIJOBANDIDO”.P.6

CULTURAPOP

Avidaantesdomito

“ O livro contatambémumapartedahistória damúsicadeprotesto feita noBrasil”CarlosMarceloJornalista ebiógrafo

RenatoRusso:o filhodarevoluçãoCarlosMarcelo

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AGIR2009416PÁGINASR$59,90

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FRASE

FORTALEZA,CEARÁ-SEGUNDA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 2009 ANOXXVIII