remiÇÃo da pena por meio da leitura no sistema penitenciÁrio brasileiro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS FABIANA SOUZA DA SILVA REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO BOA VISTA RORAIMA 2014

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Page 1: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

FABIANA SOUZA DA SILVA

REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

BRASILEIRO

BOA VISTA – RORAIMA

2014

Page 2: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

FABIANA SOUZA DA SILVA

REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

BRASILEIRO

Monografia apresentada ao Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Roraima (UFRR), como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Ilaine Aparecida Pagliarini

BOA VISTA – RORAIMA

2014

Page 3: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

FABIANA SOUZA DA SILVA

REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO

BRASILEIRO

Monografia apresentada ao Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Roraima (UFRR), como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito. Defendida em ____ de novembro de 2014 e avaliada pela seguinte banca examinadora:

________________________________________________________________

Prof. Ilaine Aparecida Pagliarini

Orientadora/ Instituto de Direito – Universidade Federal de Roraima

________________________________________________________________

Prof. 2

Curso

________________________________________________________________

Prof. 3

Curso

Page 4: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, aos meus pais, que desde o início se comprometeram com a

minha educação, forma mais pura de elevação do ser humano. Ao meu irmão, por

ser um espelho a qual procuro me refletir e a todos os amigos e familiares que

contribuíram na minha jornada como acadêmica.

À Universidade Federal de Roraima e aos professores do curso de

Bacharelado em Direito, por terem sido uma porta de entrada ao conhecimento do

mundo jurídico.

À professora Ilaine, que aceitou me orientar e contribuiu imensamente para a

realização deste trabalho.

Page 5: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

“Um público comprometido com a leitura é

crítico, rebelde, inquieto, pouco

manipulável e não crê em lemas que

alguns fazem passar por ideias”.

(Mario Vargas Llosa)

Page 6: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

RESUMO

O presente trabalho pretende a suscitar os principais pontos relativos ao

instituto da remição e a possibilidade de remir a pena por meio do estudo e da

leitura. A pesquisa fornece um panorama geral sobre o sistema carcerário brasileiro,

assim como as teorias essenciais acerca da pena, seu fundamento e finalidade.

Entretanto o enfoque principal do estudo é a remição pelo estudo por meio da leitura

como instrumento nobre e apto a promover a reintegração do apenado à sociedade,

ainda dentro dos estabelecimentos penais. A remição da pena por estudo por meio

da leitura constitui-se na disseminação da leitura nos espaços prisionais podendo

proporcionar o resgate da autoestima, trocando momentos ociosos por atividades

enriquecedoras, que contribuem para a ressocialização do preso. Por meio do

projeto, pretende-se ampliar a capacidade leitora, oportunizando ao que lê a

mudança de opinião, construção de pensamentos críticos que vislumbrem melhor

convivência na sociedade, bem como formar leitores melhor preparados para

concluir a escolarização básica, e ingressar no ensino superior e posterior inserção

no mercado de trabalho.

Palavras-chave: Sistema Carcerário. Remição da Pena. Leitura. Ressocialização.

Page 7: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

ABSTRACT

This paper aims to raise the main points relating to the institution of redemption and

the possibility of redeeming the punishment by studying and reading. The research

provides an overview of the Brazilian prison system, as well as the essential theories

of punishment, its foundation and purpose. However the main focus of the study is

redemption through the study via reading as a noble instrument and able to promote

the reintegration of the convict into the society, still within the prisons. The

redemption of the penalty by study through reading constitutes in the dissemination

of reading in prisons, providing the rescue of the self-esteem, exchanging idle

moments for enriching activities that contribute to the rehabilitation of the prisoners.

The project intends to expand reader capacity providing opportunities to the reader

change his mind, build critical thinking, that envisage better coexistence in society as

well as to form better readers prepared to complete basic schooling, and enter higher

education and subsequent the insertion into the labor market.

Key-words: Prison System. Redemption of the penalty. Reading. Resocialization.

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

CP – Código Penal

DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional

DMF – Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário

InfoPen – Sistema Nacional de Informação Penitenciária

LEP – Lei de Execuções Penais

ONU – Organizações das Nações Unidas

STJ – Superior Tribunal de Justiça

Page 9: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

1. ESCOLAS PENAIS E TEORIAS SOBRE A FUNÇÃO DA PENA ................ ERRO!

INDICADOR NÃO DEFINIDO.

1.1. O CONTROLE DO IUS PUNIENDI PELO ESTADO........................................................

ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

1.2. A JUSTIFICAÇÃO DO CONTROLE DO DIREITO DE PUNIR PELO ESTADO ERRO! INDICADOR

NÃO DEFINIDO.

2. DOUTRINAS E ESCOLAS PENAIS......................................................................17

2.1. ESCOLA CLÁSSICA ............................................................................................... 17

2.2. ESCOLA POSITIVISTA ............................................................................................ 18

2.3. ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA .................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

2.4. ESCOLA CORRECIONALISTA.....................................................................................

2.5. DEFESA SOCIAL......................................................................................................

3. AS FUNÇÕES DA PENA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ...... ERRO!

INDICADOR NÃO DEFINIDO.

3.1. TEORIAS ABSOLUTAS OU RETRIBUCIONISTAS DA PENA.............................................

ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

3.2. TEORIAS RELATIVAS OU PREVENTIVAS DA

PENA.......................................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

3.3. A PREVENÇÃO GERAL....................................................................................................................

3.4. A PREVENÇÃO ESPECIAL.............................................. Erro! Indicador não definido.

3.5. A TEORIA MISTA OU UNIFICADORA DA PENA...............................................................................

3.6. A FUNÇÃO DA PENA NO DIREITO BRASILEIRO...............................................................................

Page 10: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

4. A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E OS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS

ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

4.1. A PENA....................... ............................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

4.2. HISTÓRICO DA PENA DE PRISÃO ................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

4.3. PENA DE RECLUSÃO ................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

4.4. PENA DE DETENÇÃO .................................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

4.5. PENA DE PRISÃO SIMPLES............................................................................................

5. SISTEMAS PENITENCIÁRIOS ....................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

5.1. SISTEMA PENSILVÂNICO OU CELULAR ...................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

5.2. O SISTEMA DE AURBURN ........................................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

5.3. O SISTEMA PROGRESSIVO OU INGLÊS..............................................................................

6. REGIMES PENAIS .......................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

6.1. REGIME FECHADO ................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

6.2. REGIME SEMIABERTO..............................................................................................

Erro! Indicador não definido.

6.3. REGIME ABERTO..............................................................................................................................

6.4. PROGRESSÃO DE REGIME.............................................................................................

7. ESTABELECIMENTOS PENAIS..............................................................................

7.1. PENITENCIÁRIAS...............................................................................................................................

7.2. CADEIAS PÚBLICAS....................................................................................................

7.3. COLÔNIAS AGRÍCOLAS, INDUSTRIAIS OU SIMILARES........................................................

7.4. CASA DO ALBERGADO.................................................................................................

7.5. CENTRO DE OBSERVAÇÃO...........................................................................................

7.7. SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO...............................................................................

8. A LEITURA COMO EXTENSÃO DO ESTUDO PARA FINS DE REMIÇÃO...........

8.1. A REMIÇÃO...............................................................................................................

8.1.1. Origens da remição..........................................................................................

8.1.2. Efeitos da Remição..........................................................................................

8.1.3. Reconhecimento da Remição..........................................................................

8.1.4. Da perda dos dias remidos pelo cometimento de falta grave......................

9. REMIÇÃO PELO TRABALHO................................................................................

9.1. O TRABALHO INTERNO...............................................................................................

Page 11: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

9.2. O TRABALHO EXTERNO...............................................................................................

10. REMIÇÃO PELO ESTUDO....................................................................................

10.1. A REMIÇÃO PELA LEITURA.........................................................................................

10.1.2. A Lei 17.329 de 2012.....................................................................................

10.1.3. Recomendação nº 44 de 2013......................................................................

10.1.4. A Leitura como instrumento de ressocialização do preso.........................

10.1.5. A legalidade da remição pela leitura.............................................................

CONCLUSÃO ...................................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

ANEXOS.......................................................................................................................

Page 12: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

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INTRODUÇÃO

O sistema prisional brasileiro enfrenta grandes desafios em relação a seu

impacto ao apenado e de como ele é visto pela sociedade após ter cumprido sua

pena. O estigma que o preso carrega, mesmo depois de cumprida a sua pena, é um

dos fatores que trazem dificuldades para a ressocialização do apenado. Combinado

com, via de regra, um histórico social desprivilegiado, a tendência é que tais

indivíduos cometam novos crimes, pois se veem sem oportunidades reais para

mudar sua condição.

Tais questões afetam de maneira acentuada a percepção que o preso tem de

si mesmo e do seu papel ao deixar o estabelecimento em que cumpre sua pena. A

falta de uma estrutura eficiente, que tenha por objetivo preparar o apenado para

retornar à sociedade com perspectivas concretas de aceitação, causa diversos

problemas, como reincidências no crime, maus comportamentos na prisão, fugas,

perda de oportunidades de emprego etc.

Desse modo, surgem alguns questionamentos. Quais os meios que o Estado

pode se valer para recuperar o apenado do próprio sistema a qual é inserido? O

Estudo e o trabalho durante o cumprimento da pena são fatores edificantes para o

reeducando? A remição da pena por meio da leitura como analogia ao estudo possui

o condão de reestruturar e abrir novos horizontes aos presos? Há uma estrutura

eficiente para que tais projetos sejam implantados e tenham efetividade? Quais os

desafios do Poder Público e da política pública, além da própria sociedade em geral

ao realizar atividades de ressocialização no sistema prisional?

Desde o início da sociedade, as normas em sua essência originaram na

natureza de controlar o comportamento humano e punir os que não seguissem tal

ordem. A infração à ordem joga toda a sociedade contra o infrator perfazendo-se

uma relação desigual, onde de um lado está todo o direito, todo o poder e toda a

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razão (FOUCAULT, 2010). Com a humanização da sociedade, a pena de morte

deixou de ser o principal flagelo adotado aos que transgrediam as normas sociais,

assim como a pena deixou de ser vista como instrumento vindicativo, passando a

ser vista como meio de reeducação do indivíduo.

Depois de muitos equívocos na gestão prisional, como a justificação de

torturas, insalubridade, penas degradantes e nenhum respeito aos apenados, houve

uma mudança de política criminal no sentido de ver a norma e a pena como defesa

da sociedade perante aqueles que não a respeitam. A prisão, nos dias atuais, tenta

se livrar destes vestígios e tornar-se mais humanista, respeitante os direitos

individuais contidos na Constituição Federal.

O Poder Público, por meio de políticas públicas e mudanças legislativas,

busca penas alternativas à privativa de liberdade, além de destinar recursos para

que os Estados possam efetivar projetos educacionais, oficinas de formação

profissional, tendo como objetivo diminuir a população carcerária no Brasil.

A prisão e outras medidas que resultam na separação de um criminoso do

mundo exterior são dolorosas pelo próprio fato de retirarem à pessoa o direito de

autodeterminação, por a privarem da sua liberdade. Logo, o sistema penitenciário

não deve, exceto pontualmente por razões justificáveis de segregação ou para a

manutenção da disciplina, agravar o sofrimento inerente a tal situação.

O modelo constitucional de organização social e política o Brasil é o Estado

Democrático de Direito, de forma que toda a estratégia política criminal deve se valer

do princípio da dignidade humana e aos valores a ela inerentes. O modelo penal

garantista também embarca nessa concepção de Estado Constitucional de Direito

tendo sempre a Constituição como base para as normas que dela precedem

(BOTTIN; MENDES; PACELLI, 2011).

A estrutura carcerária no país ainda enfrenta sérias deficiências e há enormes

desafios para se efetivar uma organização educacional nos presídios, já que tais

ambientes são ainda vistos como “locais de punição” e não de recuperação dos

apenados. O Estado necessita questionar a própria fundamentação da pena e de

seus objetivos para que a sociedade em geral volte-se para uma solução mais

adequada e compatível com os princípios humanistas incutidos na Constituição

Federal.

Page 14: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

12

A remição é um instituto tratado pela Lei de Execução Penal em seus artigos

126 a 130. A Lei 12.433/2011 trouxe a hipótese de remição da pena por meio do

estudo, mantendo a tradicional remição pelo trabalho (NUCCI, 2011).

O Departamento penitenciário nacional, órgão do Ministério da Justiça,

instituiu projeto que integra a leitura a outros de mesma natureza executados nas

penitenciárias nacionais, considerando a leitura uma forma análoga ao estudo. A

Portaria Conjunta nº 276, de 20 de junho de 2012, disciplina o Projeto da Remição

pela Leitura no Sistema Penitenciário Federal.

A partir desta Portaria, várias normativas surgiram com o fito de formalizar e

buscar a aplicação do Projeto Remição pela Leitura, como a Lei 17.329, de 8 de

Outubro de 2012 do Estado do Paraná, que instituiu o Projeto Remição pela Leitura

no âmbito dos estabelecimentos penais do referido estado.

O estudo do tema proposto fundamenta-se, portanto, na necessidade de

discutir sobre as possibilidades que a remição por meio da educação, mais

especificamente por meio da leitura traz ao sistema prisional e seu impacto presente

e futuro. Desse modo, demonstra-se imprescindível o estudo de tal instituto com a

finalidade de reconhecer sua importância, benefícios assim como as dificuldades e

os desafios que o cenário prisional brasileiro apresenta.

O objetivo geral do presente estudo se coaduna em analisar a remição da

pena por meio da leitura no sistema prisional nacional, suas características,

implementação e funcionamento. Quanto aos objetivos específicos, o estudo se

propõe a apresentar e examinar a institucionalização do Projeto Remição por meio

da Leitura no contexto nacional; questionar a real eficácia de tal projeto e os

desafios para sua concretização; demonstrar como o estudo e a educação podem

afetar os apenados; e avaliar possíveis soluções para a problemática apresentada.

A forma de abordagem para realização teórica da pesquisa será qualitativa,

pois objetiva-se analisar os dispositivos normativos que criaram a possibilidade da

remição pelo estudo e, assim, também pela leitura de obras. Outrossim, serão

explorados os posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais a respeito do tema.

Ao seu turno, as técnicas utilizadas para a coleta e estudo de dados serão,

eminentemente, de pesquisa e revisão bibliográfica, com estudo doutrinário e

jurisprudencial, e análise de artigos, além de análise de dados atuais sobre o

encarceramento. Dessa forma, pretende-se proporcionar embasamento teórico ao

trabalho e proporcionar um panorama perfunctório do encarceramento no país.

Page 15: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

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Demais disso, o trabalho contará com uma estrutura básica e delimitada ao

tema, introduzindo o assunto com abordagens gerais, seguidas de uma

contextualização conceitual com a atual realidade da matéria, assim como demostrar

um panorama do sistema carcerário nacional.

Com o intuito de sistematizar a abordagem do assunto, a presente pesquisa

foi dividida em três capítulos: Escolas Penais e Teorias sobre a Função da Pena; A

Pena Privativa de Liberdade e os Sistemas Penitenciários; e A leitura Como

Extensão do Estudo Para Fins de Remição.

No primeiro capítulo serão feitas considerações acerca do controle do ius

puniendi pelo Estado e como esta legitimação se deu e como se mantém até hoje.

As principais doutrinas e Escolas penais serão analisadas e como cada uma aborda

a questão do crime e dos objetivos do sistema penal. Também serão discutidas as

funções da pena no atual Estado Democrático de Direito, principalmente as

questões relacionadas à finalidade que o legislador brasileiro busca para a pena, em

consonância com os Direitos Humanos conquistados nos últimos anos e

consagrados na Constituição Federal de 1988.

Já o segundo capítulo trata sobre a pena, focando na pena privativa de

liberdade e suas espécies. Será visto um breve histórico da pena de prisão, desde o

seu surgimento, ainda na idade média, até os tempos atuais. Os sistemas

penitenciários serão abordados para que haja uma maior compreensão sobre a

evolução da pena privativa de liberdade na sociedade. Os regimes de cumprimento

da pena de prisão, os estabelecimentos penais e o contexto atual do sistema

carcerário nacional também serão pontos abordados neste capítulo.

O terceiro e último capítulo destina-se a tratar sobre o instituto da remição,

sua origem, efeitos, procedimento, o seu reconhecimento, a perda dos dias remidos

pelo cometimento de falta grave etc. A remição pelo trabalho e pelo estudo serão

exploradas, assim como as reformas realizadas pela Lei.12.433/2011. Haverá,

finalmente, a análise sobre a novidade da remição pela leitura, como surgiu, os

propósitos, procedimentos e as dificuldades da implantação do projeto nos

estabelecimentos penais do Brasil. Destaque, a Portaria Conjunta nº 276 de 20 de

junho de 2012, A Lei 17.329 de 08 de Outubro de 2012, do Estado do Paraná e a

Recomendação nº 44 no dia 26 de Novembro de 2013 do Conselho Nacional de

Justiça.

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Haverá, por fim, um tópico em relação à leitura como instrumento

ressocializador do apenado, que deixa o sistema carcerário para enfrentar a

sociedade. A remição da pena por estudo por meio da leitura constitui-se na

disseminação da leitura nos espaços prisionais podendo proporcionar o resgate da

autoestima do preso e garantir maiores chances de uma vida digna depois do

cumprimento de sua pena. Será abordado ainda sobre a questão da legalidade e

isonomia da instituição do projeto da remição pela leitura, como extensão do estudo.

A forma de abordagem para realização teórica da pesquisa será qualitativa,

pois objetiva-se analisar os dispositivos normativos que criaram a possibilidade da

remição pelo estudo e, assim, também pela leitura de obras. Outrossim, serão

explorados os posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais a respeito do tema.

Ao seu turno, as técnicas utilizadas para a coleta e estudo de dados serão,

eminentemente, de pesquisa e revisão bibliográfica, com estudo doutrinário e

jurisprudencial, além dos dispositivos normativos que tratam sobre a remição pela

leitura. Dessa forma, pretende-se proporcionar embasamento teórico ao trabalho.

Demais disso, o trabalho contará com uma estrutura básica e delimitada ao

tema, introduzindo o assunto com abordagens gerais, seguidas de uma

contextualização conceitual com a atual realidade da matéria.

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15

1. ESCOLAS PENAIS E TEORIAS SOBRE A FUNÇÃO DA PENA

1.1. O Controle do Ius Puniendi Pelo Estado

A sociedade humana é marcada por relações colidentes, pois os anseios e

decisões de uns nem sempre são compatíveis com as dos demais, o que

naturalmente gera conflitos de interesse. Tal fenômeno pode causar atos ofensivos,

que o ser humano estabeleceu como crime. Portanto, o fenômeno do crime surge

como uma mácula social que desestabiliza o controle da sociedade e põe em risco o

bem-estar coletivo.

Logo, quando a paz e o equilíbrio são contrariados por atos

estabelecidos como crimes faz-se necessária uma intervenção estatal para

reestabelecer a paz. Contrariando a autotutela, na qual as partes envolvidas no

conflito se protegem e punem o ofensor da ordem, o Estado atualmente toma para si

a tarefa de punir, da forma mais imparcial possível, o indivíduo que transgrediu uma

regra social, punida criminalmente. O ius puniendi, portanto, é atividade exclusiva do

Estado, concretizando-se pela efetiva necessidade de intervenção estatal (SANTOS,

2011).

1.2. A justificação do controle do direito de punir pelo Estado

Para justificar a necessidade de o Estado deter o Ius Puniendi o ocidente se

volta aos filósofos pré-socráticos e a Tragédia Grega, no que se perfez a Dimensão

Cósmica. Segundo Cesário dos Santos (2011, p. 19): “O cosmo designa o ser

ordenado. Logra leis próprias às quais devem inclinar-se todas as divindades e

homens. Eis que a necessidade punitiva foi concebida por uma exigência da ordem

do mundo”. Já a Dimensão racionalista surgiu na era moderna que contém traços da

necessidade punitiva. Conforme Hobbes há uma necessidade de intervenção de um

Estado forte, pois o homem é por natureza um ser egoísta e transgressor.

O Estado de natureza descrito pelo filósofo traz uma concepção humana de

eterno conflito, uma guerra de todos contra todos, no qual não há paz social. É

preciso que cada indivíduo renuncie seus direitos individuais em prol da

comunidade:

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16

Cedo e transfiro o direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a eles o teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isso, à multidão assim unida numa só pessoa chama-se Estado (HOBBES, 1997, p.109).

Locke segue uma linha similar à Hobbes. O filosófico acredita que o Estado

deve exercer o poder de punir em nome da conservação, tanto da espécie humana

como da paz social. Locke reconhece que no estado de natureza do homem não há

regularidade da defesa e da punição, e utiliza desta alegação para fundamentar a

necessidade do contrato social:

Entendo, pois, o poder político o direito de elaborar as leis, incluindo a pena de morte e, portanto as demais penalidades menores, no intuito de regular e conservar a propriedade, e de utilizar a força da comunidade para garantir a execução de tais leis e para protegê-las de ofensas externas. E tudo visando só ao bem da comunidade. (LOCKE, 2002, p. 14).

Conforme esclarecem Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Grinover e

Cândido Rangel Dinamarco:

Nas fases primitivas da civilização dos povos, inexistia um Estado suficientemente forte para superar os ímpetos individualistas dos homens e impor o direito acima da vontade dos particulares: por isso, não só inexistia um órgão estatal que, com soberania e autoridade, garantisse o cumprimento do direito, como ainda não havia sequer as leis (normas gerais e abstratas impostas pelo Estado aos particulares). Assim, quem pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria força e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfação da sua pretensão. A própria repressão aos atos criminosos se fazia em regime de vingança privada e, quando o Estado chamou a si o jus punitionis, ele o exerceu inicialmente mediante seus próprios critérios e decisões, sem a interposição de órgãos ou pessoas imparciais independentes e desinteressadas (CINTRA, GRINOVER e DINAMARCO, 2007, p. 21).

Hodiernamente, é o magistrado o responsável por impor a punição legitimada

pelo Estado com o fito de estabelecer a ordem social e prevenir novos atentados a

esta. Hoje é deste modo que o Ius Puniendi é legitimado em nome do contrato

social.

Como prelecionam Antônio Garcia-Pablos de Molina, Alice Bianchini e Luiz

Flávio Gomes:

A autoafirmação do Estado moderno como máxima instância política frente às restantes instituições sociais foi produto de um lento processo histórico paralelo ao da concentração do ius puniendi em suas mãos. Numa sociedade conflitiva, pluralista e democrática (tal como a do nosso tempo) o ius puniendi estatal pode se apresentar como instância pública capaz de resolver o conflito criminal – e as expectativas que ele gera – de forma pacífica e institucional, de forma racional e previsível, formalizada, eficaz, com escrupuloso respeito às garantias individuais, quando fracassam os mecanismos primários de autoproteção da ordem social. Só o ius puniendi

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17

estatal encontra-se em condições de assegurar a justa tutela dos bens jurídicos fundamentais, monopolizando a violência privada assim como a autodefesa (GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, BIANCHINI e GOMES, 2009, p. 209).

A legitimação do controle absoluto da sanção penal pelo Estado passou e

ainda passa por crises nítidas que são perceptíveis ao analisar a forma quase

ingênua e neófita que o detentor do ius puniendi a maneja.

Dois movimentos indistintos e contrários estão presentes quando falamos

sobre tais crises, convivendo concomitantemente em um mesmo espaço social. Em

primeira mão, uma legislação penal exclusivamente simbólico, cética em relação à

reeducação e ressocialização do apenado, tendo a pena como um fim em si mesmo,

tratando-a como o castigo merecido ao transgressor, desprezando o fato de o Direito

penal ser incapaz de exercer, por si só, o papel que se lhe atribui (de diminuição da

violência). De outro lado, vê-se, em ocasiões mais raras, a preocupação do

legislador, quando na sua tarefa criadora, com direitos e garantias ao cidadão.

2. DOUTRINAS E ESCOLAS PENAIS

Os ideais iluministas e humanistas que atingiram a Europa, principalmente

com o advento da Revolução Francesa, que tiveram como principais expoentes

Rousseau, Montesquieu e Voltaire, combateram fortemente a legislação penal da

época, propondo penas mais dignas, a individualização e a proporcionalidade da

pena e redução da crueldade que era veementemente utilizada nas prisões.

São chamadas "escolas penais" as diversas correntes filosófico-jurídicas em

matéria penal que surgiram nos Tempos Modernos. Elas se formaram e se

distinguiram umas das outras e tratam com problemas que abordam o fenômeno do

crime e os fundamentos e objetivos do sistema penal.

Beccaria foi o primeiro a apresentar um projeto consistente de mudança, com

a obra Dos Delitos e das Penas de 1764, tornando-se o percussor da escola

clássica. As escolas penais são classificadas como um conjunto de concepções

sobre a legitimidade do direito de punir, sobre o conceito de crime e a finalidade da

sanção.

2.1. Escola Clássica

A Escola clássica surgiu basicamente com a introdução dada por Cessare

Beccaria em sua obra Dos Delitos e das Penas (1764) com notórias influências

Page 20: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

18

iluministas, que serviu como forma de humanização das ciências penais. As penas

comuns do século XVIII eram dotadas de crueldade e espirito de vingança, o que

exigiu uma reforma completa do sistema penal vigente.

Beccaria era contrário à pena de morte, às penas cruéis e defendia o principio

da proporcionalidade da pena em relação ao ato criminoso praticado e ao dano que

efetivamente causou à sociedade. A pena além de punir, deveria ter a missão de

regenerar o transgressor (NUCCI, 2011). Neste sentido: “Para que uma pena seja

justa, deve ter apenas o grau de rigor bastante para desviar os homens do crime”

(BECCARIA, 1998, p. 94).

Para a Escola Clássica, a pena é um mal imposto ao indivíduo merecedor de

um castigo, por motivo de uma falta considerada crime, cometida voluntária e

conscientemente. A finalidade da pena é o restabelecimento da ordem externa na

sociedade. A pena era vista pelos clássicos como uma medida repressiva, aflitiva e

pessoal, que se aplicava a um indivíduo que houvesse agido com vontade e

consciência (BITENCOURT, 2010).

Foram os clássicos, com o principal expoente na figura de Francesco Carrara,

que iniciaram a sistematização e elaboração do exame analítico do crime. Tal

processo lógico-formal foi o ponto de partida para a formalização da dogmática da

Teoria Geral do Delito. A Escola Clássica era adepta da limitação do Direito Penal e

do arbítrio dos juízes, transformando-os em meros executores da lei.

O processo de modernização do direito penal teve nítida influência com os

ideais iluministas de Bentham (Inglaterra), Montesquieu e Voltaire (França), Hommel

e Feuerbach (Alemanha), Beccaria, Filangieri e Pagano (Itália). A inspiração do

contratualismo tendia para uma racionalização na aplicação das penas, uma vez que

o indivíduo teria delegado parte de sua liberdade para o Estado punir, nas medidas

necessárias e sem excessos, os que agiam contra a comunidade. Além disso, a

pena começa a ser vista como instrumento de prevenção de crimes, em

contraposição à sua exclusiva tarefa de castigar (NUCCI, 2011).

2.2. Escola Positivista

A Escola Positivista tem seus primeiros passos no final do século XIX, com o

advento dos estudos biológicos e sociológicos. Tal corrente surgiu no contexto do

acelerado crescimento das ciências sociais.

Page 21: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

19

Esta nova corrente filosófica teve como precursor Augusto Comte, que

representou a ascensão da burguesia emergente após a Revolução de 1789. Tinha

o objetivo de proteger a sociedade de forma mais efetiva contra a ação dos

“delinquentes”, dando-se prevalência aos direitos sociais em relação aos individuais.

A ressocialização do transgressor, portanto, passa a um segundo plano

(BITENCOURT, 2010).

Trata-se aqui de um confronto de ideias entre a Escola Clássica e a Escola

Positivista; a primeira exalta o princípio individualista, em detrimento da sociedade;

já a segunda preocupa-se com a coletividade, dispensando o indivíduo.

A Escola positivista via a criminalidade como algo biológico, inerente ao

indivíduo, como uma patologia social, dispensando assim a necessidade de

responsabilidade penal fundar-se moralmente por princípios humanistas.

A Escola Positiva pode ser dividida em três fases distintas, com três autores

símbolos em cada uma delas: fase antropológica: Cesare Lombroso (L’Uomo

Delinqüente); fase jurídica: Rafael Garofalo (Criminologia); e fase sociológica: Enrico

Ferri (Sociologia Criminale).

Na primeira fase, o médico-psiquiatra Cesare Lombroso veio abrir novos

horizontes aos estudos sobre o criminoso e a pena, atentando-se à figura do homem

delinquente, observando-o antes mesmo de observar o crime. Lombroso parte da

ideia básica da existência de um criminoso nato, cujas anomalias constituiriam um

tipo antropológico específico.

Ao longo de seus estudos, Lombroso foi modificando sucessivamente sua

teoria. Primeiramente, pensou-se a explicação do delito pelo atavismo. O criminoso

seria um ser atávico, isto é, que representa uma regressão ao homem primitivo ou

selvagem. Ele já nasce delinquente, portador de características que o impediriam de

se adaptar em sociedade (NUCCI, 2011).

Lombroso pensou na epilepsia, que ataca os centros nervosos e perturba o

desenvolvimento do organismo, produzindo regressões atávicas. Por fim,

completando as explicações biológicas do crime, Lombroso apresenta a loucura

moral, que aparentemente deixa íntegra a inteligência, porém age como supressor

do senso moral (NORONHA, 2000).

Rafael Garófalo, percussor da fase jurídica do positivismo italiano, defendia

que no indivíduo há dois sentimentos básicos, a piedade e a probidade (justiça) e o

delito é uma lesão desses sentimentos (MIRABETE, 2009).

Page 22: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

20

Já Henrique Ferri ressaltou a importância de um trinômio causal do delito: os

fatores antropológicos, sociais e físicos. Dividiu os criminosos em cinco categorias: o

nato, o louco, o habitual, o ocasional e o passional. Dividiu, ainda, as paixões em:

sociais (amor, piedade, nacionalismo etc.) e antissociais (ódio, inveja, avareza etc.).

A Escola Positivista teve grande influência sobre a teoria da individualização

da pena, princípio que rege no Direito Penal até os dias de hoje. É preciso levar em

consideração as qualidades inerentes ao indivíduo, como personalidade, conduta

social e outras para a fixação justa da pena.

2.3. Escola Técnico-Jurídica

A escola Técnico-Jurídica inicia-se em 1905 e é uma reação à confusão

metodológica criada pela corrente positivista. Procura-se restaurar o critério

propriamente jurídico da ciência do Direito Penal. Os positivistas mesclavam os

campos do Direito Penal, Política Criminal e da Criminologia. Havia uma

preocupação excessiva com os aspectos antropológicos e sociológicos do crime, em

detrimento do jurídico.

O seu primeiro expoente é Arturo Rocco, com sua famosa aula magna na

Universidade de Sassari, em 1905 (BITENCOURT, 2010). O maior objetivo é

desenvolver a ideia que a ciência penal é autônoma, com objeto e métodos próprios,

ou seja, é única, não se misturando com outras ciências (antropologia, sociologia,

filosofia, estatística, psicologia e política). O Direito Penal continha de tudo, menos

Direito. Rocco propõe uma reorganização onde o estudo do Direito Criminal se

restringiria apenas ao Direito Positivo vigente (BITENCOURT, 2010).

Uma das características dessa corrente é o distanciamento da investigação

filosófica, empregando com rigor científico o método denominado técnico-jurídico.

Isso num primeiro momento, pois posteriormente, outros penalistas, embora

adotando o novo método de estudo, não se afastariam por completo do

jusnaturalismo, ressuscitando o livre-arbítrio como fundamento do direito punitivo.

2.4. Escola Correcionalista

Page 23: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

21

Surgiu primeiramente na Alemanha, em 1839, com a dissertação de Karl

Roder, Comentatio an poena malum esse debeat tenso, seu principal fundamento

em Krause, expoente do idealismo romântico alemão.

A principal característica da Escola correcionalista é a correção ou emenda do

ser infrator, como fim único e expresso da pena. Como Carlos Roder afirma: “A

teoria correcional vê na pena somente o meio racional e necessário para ajudar a

vontade injustamente determinada, de um membro do Estado, a ordenar-se por si

mesma” (BITENCOURT, 2010 apud, Carlos David Augusto Roder, 1876).

Para os correcionistas a pena deve se moldar ao homem concreto, real que é

responsável por um determinado delito, trabalhando na vontade errônea, procurando

convertê-la segundo as normas vigentes de direito. O delinquente, na visão desta

Escola seria um ser defeituoso, incapaz de livre na vida jurídica, sendo uma ameaça

à paz social. A sanção penal é tida como um bem que tem a finalidade prima de

corrigir o indivíduo.

2.5. Defesa Social

A Teoria da defesa social busca adaptar o transgressor à ordem social e

iniciou-se com Felipe Gramatica, na Itália, fundador do Centro Internacional de

Estudos de Defesa Social, que objetivava combater a criminalidade (BITENCOURT,

2010). Para Gramatica, o ser humano deve respeitar as regras sociais para que haja

uma ordem nas relações humanas.

Contudo, foi com a publicação de A nova defesa social, em 1954, de Marc

Ancel que a escola teve seu marco como doutrina humanista de proteção social

contra o crime. A pena passa a ser vista como tentativa de ressocializar o preso e

adaptá-lo à vida em sociedade (MIRABETE, 2009).

A prisão seria um mal necessário na concepção da Escola da Defesa Social,

devendo, contudo, abolir-se a pena de morte (NUCCI, 2011). As principais

características desse movimento político-criminal pregavam os seguintes princípios:

a) a filosofia humanista, com o fito de proteger o ser humano e garantir os direitos

dos cidadãos; b) análise crítica do sistema existente e sua eventual reformulação; c)

valorização das ciências humanas como instrumento interdisciplinar no estudo e

combate ao crime.

Page 24: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

22

3. AS FUNÇÕES DA PENA NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

A pena e modelo socioeconômico dos Estados são conceitos intrínsecos, que

esbarram um no outro, influenciando a aplicação da sanção penal. O Estado utiliza a

sanção penal como forma de controle social, a ultima ratio, isto é a última cartada do

sistema legislativo (NUCCI, 2011).

Assim, há estreita relação da teoria do Estado e a teoria da pena, conforme o

Estado evolui a concepção sobre a pena também. Portanto, ao direito Penal é

necessário definir a função dada à pena e à medida de segurança para que seja

possível a intervenção nos moldes estipulados pela legislação.

Para a doutrina, ainda que se vislumbre a pena como meio de prevenção, o

caráter punitivo ainda encontra-se bastante presente na definição da pena.

Existem três principais teorias que objetivam explicar a função e a finalidade

da pena: as teorias absolutas, teorias relativas e teorias unificadoras ou ecléticas.

3.1. Teorias absolutas ou retribucionistas da pena

Com o advento das teorias contratualistas de um Estado liberal, assim como a

nova concepção de Estado soberano pela vontade povo e a separação dos poderes,

a pena passa a ser percebida como:

A retribuição à perturbação da ordem jurídica adotada pelos homens e consagrada pelas leis. A pena é a necessidade de restaurar a ordem jurídica interrompida. À expiação sucede a retribuição, a razão Divina é substituída pela razão de Estado, a lei divina pela lei dos homens (GRECO, 2 apud. Bustos Ramirez e Hormazábal Malarée, p.120).

Pela teoria do contrato social o Estado intenta reduzir as divergências entre

os indivíduos que consentiram em delegar sua liberdade natural pelo bem comum. O

transgressor desse pacto é tido como traidor, já que seu ato não atende os

compromissos estabelecidos no contrato. Como Rousseau leciona: “[...] todo

malfeitor que ataca o direito social torna-se por seus crimes rebelde e traidor da

pátria, cessa de ser seu membro ao violar suas leis e pratica, inclusive, a guerra

contra ela.” (ROUSSEAU, 2009, p. 51).

Pelo sistema retribucionalista a pena passa a buscar a concretização da

Justiça. O autor do delito deve ser punido para que seu ato seja dirimido justamente.

Há uma profunda influencia filosófica e ética nesta teoria. Os principais defensores

Page 25: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

23

de tal sistema foram Kant em sua obra a Metafísica do Poder e Hegel, em Princípios

da Filosofia do Direito.

Dentro do sistema Kantiano o delinquente deve ser punido exclusivamente

porque violou a lei, sem levar em consideração a utilidade da pena para o indivíduo

ou a sociedade em geral, negando qualquer função preventiva da pena. O direito

seria composto pelos meios segundo os quais o arbítrio de cada um pode conviver

segundo uma lei universal. A pena, ou direito de castigar, é aplicada simplesmente

como um meio de reestabelecer a justiça, devida à infringência à lei (BITENCOURT,

2010).

O pensamento de Hegel resume-se em sua conhecida frase: “a pena é a

negação da negação do Direito”. A fundamentação hegeliana abandona o vínculo

entre direito e moral de Kant buscando bases eminentemente jurídicas. Segundo o

autor, a pena tem o escopo de reestabelecer a vigência da “vontade geral”. Segundo

Hegel, o Direito vem a ser a expressão da vontade racional – vontade geral. A

liberdade e a racionalidade seriam os pilares do Direito. O delito, portanto, seria uma

manifestação de vontade irracional (vontade particular) e, portanto, a negação da

vontade geral. A aplicação da pena seria o reestabelecimento da ordem jurídica

violada pelo transgressor.

3.2. Teorias relativas ou preventivas da pena

Para a Teoria Preventiva a principal justificação para a existência da penal é

prevenir os atos contrários à lei. A pena não só é necessária, como útil para a

coletividade “pois, além de servir de exemplo, atua, diretamente, sobre a pessoa do

condenado, possibilitando sua volta ao convívio social.” (QUEIROZ, 2010). Para

Bitencourt, o início da Teoria surgiu com a famosa frase de Sêneca: “Nenhuma

pessoa responsável castiga pelo pecado cometido, mas sim para que não volte a

pecar” (BITENCOURT, 2010).

A pena nesta teoria ainda é considerada um mal necessário que, entretanto,

não vê na pena uma necessidade de fazer justiça e sim de prevenir novas

ocorrências de atos contrários às normas estabelecidas. A Teoria divide-se em duas

correntes distintas, a prevenção geral e a prevenção especial.

3.3. A Prevenção Geral

Page 26: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

24

Os principais defensores desta corrente são Bentham, Beccaria, Filangieri,

Schopenhauer e Feuerbach. Este último foi o criador da “teoria da coação

psicológica”, uma das primeiras manifestações da teoria da prevenção geral, que é

indispensável para a compreensão desta corrente.

Feuerbach leciona que a solução para a criminalidade é a ameaça da pena,

servindo como um aviso aos cidadãos do que ocorrerá quando infrinjam a lei e com

a concreta aplicação da pena, deixa-se patente a disposição de cumprir a ameaça

realizada (BITENCOURT, 2010). Para este teórico a pena é efetivamente uma

coação psicológica que tem o objetivo de prevenir atos contrários às normas. A

prevenção geral é representada, portanto, pela intimidação dirigida ao ambiente

social (as pessoas não delinquem porque têm medo de receber a punição) (CAPEZ,

2011).

Presumia que a racionalidade do homem poderia levar o indivíduo a pesar as

vantagens e desvantagens de realizar um ato delitivo, tendo em vista a imposição da

pena em momento posterior. Contudo, a teoria da Prevenção geral não levou em

consideração que mesmo o temor da sanção penal não implica no total respeito às

normais penais, visto que existem criminosos profissionais, impulsivos ou

contumazes.

3.4. A Prevenção Especial

A teoria da prevenção especial compartilha com a teoria da prevenção geral a

noção de que a pena deve inibir a prática delituosa, mas não de modo geral,

aplicando-se somente ao criminoso, para que este não volte a delinquir. O principal

expoente desta corrente foi Von Liszt, em sua obra Programa de Marburgo.

São quatro as correntes que inspiraram a prevenção especial: o

correlacionismo, a escola positiva italiana, a moderna escola ou escola sociológica

alemã de Von Liszt e a Defesa Social de Marc Ançel na França. O desenvolvimento

do Estado durante o século XIX e seus recorrentes erros, com grandes crises e

Page 27: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

25

levantes populares, puseram em evidência a necessidade de uma intervenção maior

do Estado em todos os processos sociais, inclusive nos de tipo penal1.

Para ele, a ideia da pena deve sempre acompanhar critérios relativos à

reeducação do preso e sua ressocialização. A prevenção especial não tem como fito

intimidar a sociedade nem retribuir o ato ilícito praticado, mas sim visa o ser que já

delinquiu para que não volte a fazê-lo.

Conforme Bitencourt:

Sob o ponto de vista político criminal, por exemplo, a prevenção especial justifica-se uma vez que – se afirma – também é uma forma de prevenção o evitar que quem delinquiu volte a fazê-lo novamente, e nisto consiste a função preventivo-especial e, de certa forma, a do Direito Penal em seu conjunto (BITENCOURT, 2010, p. 112).

3.5. A teoria mista ou unificadora da pena

As teorias mistas (também conhecidas por ecléticas ou unificadoras) surgiram

da tentativa de recolher os aspectos mais benéficos das teorias absolutas e

relativas. Merkel foi o principal expoente dessa teoria, que teve início no começo do

século XX.

A teoria mista estabelece a diferença entre o fundamento e o fim da pena.

Consoante ao fundamento da pena, este deve limitar-se apenas ao ato praticado. A

pena não deve ir além da responsabilidade do indivíduo decorrente do fato

praticado. A pena tem a dupla função de punir o criminoso e prevenir a prática do

crime, pela reeducação e pela intimidação coletiva (punitur quia peccatum est et ne

peccetur) (CAPEZ, 2011) .

Luiz Regis Prado esclarece que, nesse contexto, a noção de retribuição

adquire novo conteúdo:

[...] e a pena justa é provavelmente aquela que assegura melhores condições de prevenção geral e especial, enquanto potencialmente compreendida e aceita pelos cidadãos e pelo autor do delito, que só encontra nela (pena justa) a possibilidade de sua expiação e de reconciliação com a sociedade. Dessa forma, a retribuição jurídica torna-se um instrumento de prevenção, e a prevenção encontra na retribuição uma barreira que impede sua degeneração (PRADO, 2007, p. 548).

1 GECAP-USP (Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da USP) Finalidades da pena - 7 informações básicas

sobre encarceramento. - Disponível em: < http://www.gecap.direitorp.usp.br/index.php/noticias/45-finalidades-da-pena-7-informacoes-basicas-sobre-encarceramento> Acesso em out 2014.

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26

A principal crítica sofrida por esse grupo de teorias é a de que constituiria,

simplesmente, uma justaposição das teorias absolutas e relativas, que romperia com

a noção de direito penal de ultima ratio (QUEIROZ, 2010).

3.6. A função da pena no Direito Brasileiro

Apenas com a reforma penal de 1984 o legislador brasileiro se posicionou de

forma mais clara em relação à função da pena em nosso país. A teoria mista foi a

adotada pelo art. 59 do Código Penal brasileiro (GRECO, 2012).

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

O verbo citado no caput do referido artigo conjuga a necessidade de

reprovação e prevenção do crime, unificando assim as teorias relativa e absoluta.

Ou seja, no momento da sentença serão observadas as funções retributiva e

prevencionista e, no momento da execução, a função socializadora. O direito penal

pátrio, portanto, propugnou pela doutrina preponderante no debate contemporâneo,

a unitária ou mista.

Realizando, desse modo, os preceitos regentes de nossa Lei de Execução

Penal, corolário idealizado para reger as questões de execução da pena em nosso

país, da melhor forma possível (GOMES, 2006).

O artigo 1º da lei de execução penal, por sua vez, sublinha que: "A execução

penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e

proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado ou do

internado".

Para Nucci, a finalidade da pena é marcada por três aspectos, castigo +

intimidação ou reafirmação do Direito Penal + recolhimento do agente infrator e

ressocialização (NUCCI, 2011).

O art. 1º da Lei de Execução Penal preceitua que: “a assistência ao preso e

ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à

convivência em sociedade”. O art. 22 do mesmo dispositivo legal afirma que “a

assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los

Page 29: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

27

para o retorno à liberdade”. Assim, fica evidente que o legislador pretendeu

considerar a tríplice finalidade da pena no direito penal pátrio.

Como foi exposto, o direito penal pátrio adota como funções da pena, no

momento da sentença, a retribuição e a prevenção positiva e, no momento da

execução, a prevenção negativa ou ressocializadora. Isso faz de nosso sistema

penal atual e consoante com as mais modernas teorias sobre a função da pena. Os

princípios garantistas e constitucionais da dignidade da pessoa humana devem

sempre estar incluídos na finalidade que a pena é instituída pelo sistema legislativo

brasileiro.

4. A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E OS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS

4.1. A Pena

Segundo Nucci a pena é:

[...] a sanção do Estado, valendo-se do devido processo legal, cuja finalidade é a repressão ao crime perpetrado e a prevenção a novos delitos, objetivando reeducar o delinquente, retirá-lo do convívio social enquanto for necessário, bem como reafirmar os valores protegidos pelo Direito Penal e intimidar a sociedade para que o crime seja evitado (NUCCI, 2011, p. 401).

A pena para Damásio de Jesus é a sanção aflitiva imposta pelo Estado,

mediante ação penal, ao autor de uma infração, como retribuição de seu ato ilícito, e

cujo objetivo é evitar novos delitos (JESUS, 2011).

Portanto, tem-se que a pena é uma consequência natural (e jurídica) do

delito, imposta pelo Estado, quando do cometimento de um fato típico, antijurídico e

culpável, após a devida persecução criminal, devendo esta, num Estado

Democrático de Direito, se dar de acordo com os ditames da Constituição da

República Federativa do Brasil (GRECO, 2011).

A Constituição Federal prevê as seguintes penas (art.5º, XLVI): a) privação ou

restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e

e) suspensão ou interdição de direitos. Já o Código Penal brasileiro divide as penas

em a) privativas de liberdade; b) restritivas de direito; e c) pecuniárias.

Quanto à classificação das penas privativas de liberdade, dividem-se em: a)

reclusão; e b) detenção. Há, também, a pena de prisão simples, para as

contravenções penais.

Page 30: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

28

4.2. Histórico da pena de prisão

Quando primeiramente surgiu, a pena de prisão foi tomada como um

instrumento idôneo para concretizar a sanção penal e que poderia, dentro de certas

circunstâncias, reabilitar o delinquente. O otimismo com que inicialmente foi

prestigiada a pena de prisão não mais existe e nos últimos anos nota-se nitidamente

a falência da pena de prisão como meio ressocializador.

Até o século XVIII, as penas capitais foram aplicadas pelo Estado, e

defendidas por grandes pensadores. Mesmo com o advento do Iluminismo, sua

completa revogação não foi advogada por todos, pois que a justificavam em alguns

casos graves, principalmente nos crimes cometidos contra o Estado (GRECO,

2011).

A pena de morte, relatada por seus defensores como único meio de gerar

medo ao delinquente, além de ser um meio econômico e eficaz de proteção à

sociedade, é atualmente rechaçada nas maiorias dos Estados Democráticos de

Direito.

Para Bitencourt:

Os transtornos e mudanças socioeconômicas que se produziram com a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, e que tiveram sua expressão mais aguda nos séculos XV, XVI e XVII, tiveram como resultado a aparição de grande quantidade de pessoas que sofriam de uma pobreza extrema e que deviam dedicar-se à mendicidade ou a praticar atos delituosos. Houve um crescimento excessivo de delinquentes em todo o velho continente. A pena de morte caíra em desprestígio e não respondia mais aos anseios de justiça. Por razões penológicas era necessário procurar outras reações penais (BITENCOURT, 2011, p. 85).

Logo, até praticamente o advento do Iluminismo, as penas possuíam um

caráter aflitivo, descontando o ato contrário à lei no corpo do indivíduo. O mal da

infração penal era pago com o sofrimento físico e mental do criminoso. Contudo:

“Desaparece, destarte, em princípios do século XIX, o grande espetáculo da punição

física: o corpo supliciado é escamoteado; exclui-se do castigo a encenação da dor.

Penetramos na época da sobriedade punitiva” (FOUCAULT, 2010, p. 19).

A crise da pena de morte deu origem a uma nova modalidade de sanção

penal: a pena privativa de liberdade, uma grande invenção que demonstrava ser

meio mais eficaz de controle social (BITENCOURT, 2011). A pena de prisão tem

origens na Idade Média. As primeiras ocorrências deste tipo de punição são

retratadas como o castigo imposto aos monges e ascetas que cometiam alguma

Page 31: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

29

falta, devendo recolher a locais fechados onde se dedicariam, em silêncio, à

meditação para se arrependerem da falta, reconciliando-se com Deus (MIRABETE,

2009).

Na Idade Moderna surge a prisão-pena. No período entre os séculos XV e há

uma transição, principalmente, graças ao crescimento sensível do comércio,

decorrente das alterações nas sociedades feudais europeias (aumento da

população, crescimento das cidades, desenvolvimento das manufaturas, etc.).

Alguns precedentes da pena de prisão são bastante conhecidos. Como, em

fins do século XVI, a House of Corretion de Bridewel, Londres (1552), seguidas

pelas de Oxford, Gloucester y Salisbury; na Holanda, os Rasphuys (1595) para

homens e Spinnhyes (1597) para mulheres e mendigos.

As cidades que compunham a liga Hanseática ergueram prisões no primeiro

terço do século XVI. Na Itália, registram-se o Hospício de São Felipe (Florença) e o

Hospício de San Miguel (Roma), em 1703. Na Bélgica, em 1775, a Maison de Force

(obra de Juan Vilain XIV, tido por muitos como pai da ciência penitenciária), local

que tinha como princípio a realização do trabalho durante o encarceramento2.

A pena de prisão como pena privativa de liberdade, surgiu no século XVII e

consolidou-se no Século XIX. O sistema penitenciário pioneiro surgiu nas colônias

americanas. Em 1681, o sistema de prisão, idealizado por Guilhermo Penn, fundador

da colônia da Pensilvânia (NUCCI, 2011).

A pena privativa de liberdade foi a nova grande invenção social, intimidando

sempre, corrigindo amiúde, que devia fazer retroceder o delito, quiçá, derrotá-lo, no

mínimo, cercá-lo entre muros. A crise da pena de morte encontrava seu fim, porque

um método melhor e mais eficaz ocupava o seu lugar, com exceção de alguns

poucos casos mais graves.

Conforme Rogério Greco leciona:

“O período iluminista teve fundamental importância no pensamento punitivo, uma vez que, com o apoio na “razão”, o que outrora era praticado despoticamente, agora necessitava de provas para ser realizado. Não somente o processo penal foi modificado, com a exigência de provas que pudessem conduzir à condenação do acusado, mas, e, sobretudo, as penas que poderiam ser impostas. O ser humano passou a ser encarado como tal, e não mais como mero objeto, sobre o qual recaía a fúria do Estado, muitas vezes sem razão ou fundamento suficiente para a punição.” (GRECO, 2011, p.95).

2 GECAP-USP (Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da USP) Finalidades da pena - 7 informações básicas

sobre encarceramento. - Disponível em: <http://www.gecap.direitorp.usp.br/index.php/noticias/45 finalidades-da-pena-7-informacoes-basicas-sobre-encarceramento> Acesso em out 2014.

Page 32: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

30

Contudo, o otimismo em relação a pena privativa de liberdade desvaneceu e,

em meados do século XIX, vários movimentos despontaram com o intuito de instigar

uma reforma político-criminal e dirimir os efeitos nocivos da pena de prisão. A pena

de curta duração foi aos poucos sendo vista como ineficaz, já que, ou apenado é um

delinquente habitual e a condenação é pouco útil, ou é um delinquente ocasional e a

condenação imposta é excessiva.

Depois de avaliar e criticar inúmeras prisões, Howard3, em seu livro intitulado

Estate of prisions, fixou as bases para o cumprimento de uma pena que não

agredisse os demais direitos do homem, a saber: 1) higiene e alimentação; 2)

disciplina distinta para presos provisórios e condenados; 3) educação moral e

religiosa; 4) trabalho; 5) sistema celular mais brando (GRECO, 2011).

A pena de prisão, portanto, começou a ganhar o status de pena principal, ao

lado de outras medidas que surgiram a exemplo das penas restritivas de direito, que

impunham determinada prestação de serviço a ser realizado por aquele que havia

praticado o delito, ou mesmo a pena de multa.

3 John Howard nasceu em Clapton – Hackney –, nos arredores de Londres, no ano 1726. Sua mãe faleceu

quando ele ainda era uma criança, e seu pai, um próspero comerciante, quando ele tinha 16 anos de idade, deixando-lhe uma fortuna considerável. Sua educação foi fundamentada em ideais calvinistas (cristãos-evangélicos), o que fez com que fosse tratado com certa discriminação, uma vez que tais ensinos eram diferentes e, na verdade, contrários aos da igreja Católica, que ainda predominavam. Após ficar curado de uma grave doença, que o debilitou por algum tempo, Howard, com o coração agradecido, resolveu casar-se com Sara Lodoire, a viúva que dele havia cuidado, sem considerar o fato de que ele contava somente 25 anos e ela já com 50 anos de idade. Três anos mais tarde morria Sara Lodoire. Após a morte de sua primeira esposa, Howard, no ano 1955, aos 30 anos de idade, resolveu ir a Lisboa contemplar o que havia ocorrido naquela cidade depois do grande terremoto que a destruiu. Essa viagem seria um marco extremamente importante na sua vida, pois, a partir dela, começaria a entender o significado da privação da liberdade de um ser humano e as condições a que era submetido. Em 1773, aos 45 anos de idade, Howard foi nomeado sheriff do condado de Bedford, o que fez com que, agora, viesse a familiarizar-se com as misérias das prisões de sua época, os lugares fétidos onde seres humanos eram jogados como se fossem animais, pois uma das suas principais funções era visitar os estabelecimentos carcerários. Essas visitas periódicas permitiram-lhe um contato direto e intenso com os presos, e fizeram com que o humanista inglês ficasse ainda mais sensibilizado com os problemas que presenciava diariamente, tornando-se, assim, um incansável crítico e defensor da melhora do sistema. Howard foi um obstinado pelo problema carcerário. Além de conhecer e trabalhar para a melhora das prisões da Inglaterra e em Gales, também empreendeu viagens para outros países, a exemplo de Portugal, da Espanha, França, Alemanha, Holanda, Finlândia, Irlanda, Suíça, Dinamarca, Áustria, Prússia, Rússia, Itália, Turquia, dentre outros, procurando conhecer e comparar os sistemas prisionais. Realizou algumas grandes viagens que lhe renderam anotações importantes. Fazia comparações entre os sistemas carcerários dos vários países, registrando o que de ruim havia em comum neles, bem como o que se podia aproveitar para a construção de um sistema que atendesse não somente aos interesses da sociedade, que se via livre, mesmo que temporariamente, daquele que havia praticado uma infração penal, como também para o acusado ou condenado, que deveria permanecer preso durante certo período de tempo. Sua vida foi dedicada à modificação de um sistema que começava a ser implementado, com a privação temporária ou perpétua da liberdade dos presos. Howard faleceu em 20 de janeiro de 1790, após ter contraído, no meio em que tanto lutou para ser melhorado, vale dizer, em algum estabelecimento carcerário de Kerson, na Crimea, a chamada “febre carcerária” (tifus exantemático) (GRECO, 2011).

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31

A pena restritiva de liberdade é a mais utilizada nas legislações

contemporâneas, apesar de haver um consenso entre os estudiosos que a falência

do sistema prisional é um fato que deve ser encarado (MIRABETE, 2009).

As críticas mais severas apontam desde o tratamento inadequado e deletério

aos encarcerados, que solapam a dignidade, a não eficácia em reeducar os presos

contumazes e reincidentes, os elevados custos de manutenção dos

estabelecimentos penais e até as consequências danosas que o encarceramento

traz aos réus primários, ocasionais, ou de pequena periculosidade.

Contudo, mesmo Foucault reconhece que não se pode abrir mão inteiramente

da pena privativa de liberdade, constituindo uma “detestável solução de que não se

pode abrir mão.” (MIRABETE, 2009, p. 238), principalmente aos delinquentes de alta

periculosidade.

4.3. Pena de Reclusão

A Reforma brasileira de 1984 adotou “penas privativas de liberdade”, como

gênero e a pena de reclusão e detenção como espécies.

Há algumas diferenças notáveis entre essas duas espécies. Apenas os

crimes considerados mais graves e punidos com uma pena maior são suscetíveis de

pena de reclusão. Esta espécie pode iniciar seu cumprimento no regime fechado, o

mais rigoroso, algo não vislumbrado pela pena de detenção. Há uma maior

dificuldade dos condenados cumpridores de reclusão conseguir os chamados

privilégios prisionais.

Conforme o Código Penal, art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em

regime fechado, semiaberto ou aberto. A reclusão se diferencia da detenção não só

quanto à espécie de regime como também em relação ao estabelecimento penal de

execução (de segurança máxima, média e mínima), à sequência de execução no

concurso material (CP, art. 69, caput), à incapacidade para o exercício do poder

familiar (art. 92, II), à medida de segurança (art. 97, caput), à fiança (CPP, art. 323, I)

e à prisão preventiva (CPP, art. 313, I e II) (JESUS, 2011).

4.4. Pena de detenção

Page 34: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

32

A pena de detenção é resguarda para os delitos menos graves, qual seja os

crimes punidos com penas privativas de liberdade. A pena de detenção será sempre

iniciada em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência ao

regime fechado, por meio da regressão.

4.5. Pena de prisão simples

A pena de prisão simples é destinada às contravenções penais. Nunca pode

ser cumprida em regime fechado. Além disso, não existe a possibilidade do

contraventor condenado ser inserido no mesmo lugar onde se encontrem

condenados por outras espécies de penas (NUCCI, 2011).

5. SISTEMAS PENITENCIÁRIOS

Com a evolução da teoria da pena, houve grandiosa produção metodológica

em relação às penas privativas de liberdade e os sistemas penitenciários. Os três

principais sistemas penitenciários clássicos são o de Filadélfia ou pensilvânico, o de

Auburn e o inglês Progressivo.

5.1. Sistema Pensilvânico ou Celular

O sistema pensilvânico foi inaugurado em 1790 na prisão de Walnut Street e,

em seguida, implantado nas prisões de Pittsburgh e Cherry Hill. Os principais

precursores foram Benjamin Franklin e Willian Bradford (MORAES, 2013). Tal

sistema também é conhecido como sistema filadélfico ou celular.

Tinha como principais características a segregação do apenado em uma cela

e abstinência de qualquer substância entorpecente, além da obrigatoriedade de

realizar orações. Tinha profunda base teológica, contudo já demonstrava influências

iluministas de teóricos como Beccaria e Howard (NASCIMENTO, 2011).

Tal sistema penitenciário preconiza que o sentenciado cumpra a pena na

cela, sem sair, salvo em casos de extrema necessidade. O sistema era baseado no

isolamento, no silêncio (que por isso ficou conhecido também como silent system

(MIRABETE, 2009)) e na meditação e oração.

Page 35: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

33

Foi bastante criticado, pois se alegou que a prática da separação absoluta e

da proibição de comunicação entre os presos ocasionava problemas de insanidade,

além de não levar à readaptação social do condenado (SILVA, 2009). Já não se

trataria de um sistema penitenciário pensado para aprimorar as prisões e recuperar

o infrator, mas servia como instrumento de dominação do Estado.

O aludido sistema foi adotado, com algumas modificações, por diversos

países da Europa, durante o século XIX: Inglaterra em 1835, Bélgica em 1838,

Suécia em 1840, Dinamarca em 1846, Noruega e Holanda em 1851 e também a

Rússia (SILVA, 2009).

5.2. O Sistema de Aurburn

O sistema auburniano surgiu como uma contraposição às críticas feitas ao

sistema pensilvânico, e foi primeiramente implantado na penitenciária na cidade de

Auburn, estado de Nova York em 1818 (GRECO, 2011). Nesse sistema o apenado

cumpre uma jornada de trabalho, em silêncio, pela manhã em conjunto com os

outros presos e, à noite, é isolado. Não era permitida, sequer, a comunicação entre

os presos, com o objetivo de primar pelo silêncio total.

A diferença mais expressiva entre o sistema pensilvânico e o sistema

auburniano, diz respeito ao isolamento; naquele, a segregação era durante todo o

dia; neste, era possível o trabalho coletivo por algumas horas. Ambos, porém,

pregavam a necessidade de separação dos detentos, para impedir a comunicação e

o isolamento noturno acontecia em celas individuais (MORAIS, 2013). Tinha

motivações nitidamente econômicas, por isso a escolha pelo trabalho prisional

produtivo, que era vantajoso para os Estados Unidos na época (BITENCOURT,

2011).

Aos presos não era permitido conversar entre si, apenas com os carcereiros,

e após licença prévia. O sistema de Auburn também pregava um rigoroso regime

disciplinar aplicado, com influências militares, que ainda é comum nas prisões

atuais.

O sistema de Filadélfia foi predominante na Europa, principalmente na

Inglaterra, Alemanha e Bélgica enquanto que o sistema Auburniano se destacou

mais nos Estados Unidos. Contudo, pela severidade e ostracismo que impunham ao

apenado, sofreram diversas críticas, sendo menos de um século depois de sua

Page 36: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

34

implantação, reavaliados e extintos em sua forma original. Após muitas críticas aos

dois sistemas surge a ideia de combiná-los, com o fito de reduzir a severidade com

que tratavam os presos. Essa reunião de sistemas resultou em uma terceira via: o

Sistema Inglês ou Progressivo.

5.3. O Sistema Progressivo ou Inglês

Esse sistema surgiu inicialmente na Inglaterra, expandindo-se posteriormente

para a Irlanda por Walter Crofton (BITENCOURT, 2010). Alexander Moconochie,

capitão da Marinha Real, impressionado com o tratamento violento e indigno infligido

aos presos enviados à Austrália, na ilha de Norfolk, em 1840, resolver reformar o

sistema vigente. Como governador do local, Moconochie realizou reformas

importantes que foram determinantes para o surgimento do sistema progressivo.

O sistema consistia em medir a pena por uma soma de trabalho e boa

conduta. A soma era representada por certa quantidade de marcas, de forma que a

quantidade de marcas que cada condenado deveria obter era proporcional à

gravidade do crime cometido. No cumprimento da pena, eram creditadas ao preso

as marcas, dependendo do trabalho produzido. Em caso de má-conduta era imposta

uma multa. Apenas o excedente dos créditos menos multas era computado para a

progressão da pena (BITENCOURT, 2010).

Era levado em conta o comportamento e aproveitamento do preso,

demonstrado pela conduta reta e o trabalho. O sistema estabeleceu três fases ou

períodos no cumprimento da pena. O primeiro estágio consistia no isolamento

celular; o segundo se caracteriza pela permissão do labor em comum, em silêncio e

alguns outros benefícios; o terceiro estágio permitia o livramento dentro de certas

condições (MIRABETE, 2009).

Em quase todos os países, nos casos em que a prisão é necessária, é

consenso que a pena deve ser executada de modo a permitir que o condenado

progressivamente alcance a liberdade, conforme o tempo de pena cumprido e o

mérito que apresente durante o cumprimento de sua pena. A reforma penal de 1984,

tal como o fizera o CP de 1940, não adotou o sistema progressivo, mas uma forma

progressiva de execução, visando à ressocialização do criminoso.

Assim, o art. 33, § 2.º do CP, afirma que “as penas privativas de liberdade

deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado”

Page 37: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

35

(JESUS, 2011, p. 565). Por isso, no Brasil os regimes prisionais são diferenciados e

denominados pelo Código Penal e pela Lei de Execução Penal como fechado,

semiaberto e aberto.

6. REGIMES PENAIS

A lei n. 7.209/84 manteve a classificação dos regimes iniciais da pena

instituídos pela Lei n. 6.416/77. Contudo o fator determinante para a escolha do

regime inicial do cumprimento da pena passou a ser a espécie e a quantidade da

pena e a reincidência, em conjunto ao mérito do condenado, em conformidade com

um sistema progressivo. O juiz, na sentença condenatória, deve determinar a

espécie de regime para início de cumprimento da pena, observadas as

circunstâncias judiciais do art. 59 do CP (art. 33, § 3.º).

Em atenção a uma forma progressiva de execução, de acordo com o mérito

do condenado, o início do cumprimento da pena se dará da seguinte forma, nos

termos do art. 33, § 2.º, do CP: 1.º) o condenado a pena superior a oito anos deverá

começar a cumpri-la em regime fechado (al. a); 2.º) o não reincidente, cuja pena seja

superior a quatro anos e não exceda a oito, poderá, desde o princípio, cumpri-la em

regime semiaberto (al. b); 3.º) o não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a

quatro anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto (al. c).

Nas hipóteses b e c, o condenado reincidente inicia o cumprimento da pena

em regime fechado. De ver que, no último caso, admite a jurisprudência aplique-se o

regime inicial semiaberto: “É admissível a adoção do regime prisional semiaberto

aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as

circunstâncias judiciais” (Súmula 269 do STJ).

6.1. Regime fechado

O condenado cumpre a pena em estabelecimento penal de segurança

máxima ou média. No início do cumprimento da pena em regime fechado, o

condenado será obrigatoriamente submetido a exame criminológico de classificação

para a individualização da execução (MIRABETE, 2009) (art. 34, caput do CP).

Fica sujeito a trabalho no período diurno e isolamento durante o repouso

noturno (§ 1.º). Contudo, como critica Bitencourt:

Page 38: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

36

[...] na prática esse isolamento noturno, com os requisitos exigidos da cela individual (art. 88 da LEP), não passa de mera ‘carta de intenções’ do legislador brasileiro, sempre tão romântico na fase de elaboração dos diplomas legais. Com a superpopulação carcerária constatada em todos os estabelecimentos penitenciários, jamais será possível o isolamento dos reclusos durante o repouso noturno (BITENCOURT, 2010).

Dentro do estabelecimento, o trabalho será em comum, de acordo com as

aptidões e ocupações anteriores do condenado, desde que compatíveis com a

execução da pena (art. 34 § 2.º do CP).

Também é possível o trabalho externo em serviços ou obras públicas,

realizados por órgãos da administração direita e indireta, ou entidades privadas,

desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina (art. 36 da

LEP) (GRECO, 2011).

6.2. Regime semiaberto

O condenado, no início do cumprimento da pena, pode também ser

submetido a exame criminológico de classificação para a individualização da

execução. Embora o art. 35, caput, do CP, preveja a obrigatoriedade, e o art. 8.º,

parágrafo único, da LEP, fala em simples faculdade.

O sentenciado no regime semiaberto fica sujeito a trabalho em comum

durante o período diurno em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar (§

1.º). É admissível o trabalho externo, bem como a frequência a cursos supletivos

profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior (§ 2.º). O trabalho e

estudo, do condenado, assim como no regime fechado, no regime semiaberto

contam para fins de remição da pena.

Segundo Marcão:

Não obstante a literalidade do texto é notória a falência do regime semiaberto, que pode ser identificada por diversos fatores. Em primeiro lugar, e destacadamente, exsurge a absoluta ausência de estabelecimentos em número suficiente para o atendimento da clientela. Diariamente, inúmeros condenados recebem pena a ser cumprida no regime inicial semiaberto. Entretanto, em sede de execução, imperando a ausência de vagas em estabelecimento adequado, a alternativa tem sido determinar que se aguarde vaga recolhido em estabelecimento destinado ao regime fechado, em absoluta distorção aos ditames da Lei de Execução Penal. Não raras vezes a pena que deveria ser cumprida desde o início no regime intermediário acaba sendo cumprida quase que integralmente no regime fechado [...] Em segundo lugar, merece destaque o fato de que o cumprimento de pena no regime semiaberto não tem apresentado resultado prático positivo, notadamente no campo da ressocialização, defendida por muitos doutrinadores como finalidade precípua da pena [...] (MARCÃO, 2011, p.142 e 144).

Page 39: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

37

6.3. Regime aberto

Baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado (art.

36, caput do CP). Nele, o condenado deverá, fora do estabelecimento e sem

vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada,

permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga (§ 1.º).

O regime aberto é uma ponte para a completa reinserção do condenado na

sociedade. A diferença entre o regime aberto e o fechado e semiaberto se dá em

relação ao trabalho. No regime aberto não há previsão legal de remição da pena, já

que só poderá ingressar nesse regime o apenado que já estiver trabalhando ou

comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente. Sem trabalho não é possível o

regime aberto. Além disso, o condenado deverá demonstrar indícios de

recuperação, autodisciplina e responsabilidade (GRECO, 2011).

O apenado trabalha ou frequenta cursos em liberdade, durante o dia, e

recolhe-se em casa do albergado ou estabelecimento similar à noite e nos dias de

folga (JESUS, 2011). Conforme o § 2.º do art. 36 do CP, o condenado deverá ser

transferido do regime aberto se cometer fato definido como crime doloso, se frustrar

os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa cumulativamente aplicada.

A origem da prisão aberta se deu em 1868, no Estado de Nova York, de

forma experimental por meio do probation system, expandindo-se posteriormente no

Direito Britânico (1907), belga (1915), sueco (1918), tcheco-eslovaco (1919). No

Brasil surgiu com o Provimento nº XVI, de 1965, do Conselho Superior de

Magistratura do Estado de São Paulo (JESUS, 2011).

O art. 115 da LEP dispõe as exigências para a concessão do regime aberto:

Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias: I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados; III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial; IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado.

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38

O maior mérito deste regime é manter o condenado em convívio com a

sociedade e a família, o que permite uma maior inclusão em relação aos outros

regimes, assim como uma vida laboral produtiva.

6.4. Progressão de Regime

Quando o condenado inicia o cumprimento da pena no regime estipulado na

sentença, conforme o sistema progressivo é possível a progressão para regime mais

brando. Conforme ao princípio da individualização da pena, a pena privativa de

liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime

menos rigoroso, a ser determinado pelo juiz, (art. 112, caput, da Lei n° 7.210/1984,

com redação dada pela Lei n° 10.792/2003).

Os requisitos para a progressão de regime é de que o preso tenha cumprido

ao menos um sexto da pena no regime que iniciou o cumprimento e o mérito do

condenado. A progressão é um misto de tempo mínimo de cumprimento da pena

(critério objetivo) com o mérito do condenado (critério subjetivo). A progressão de

regime é um instrumento de política criminal que tem o objetivo de estimular o

condenado durante o cumprimento da pena (GRECO, 2011).

Na progressão evolui-se de um regime para o outro mais brando. Conforme o

art. 33, §2 do CP. A decisão do magistrado é provisória e, a partir do regime

fechado, pode-se transferir o sentenciado para o regime semiaberto e deste paro o

aberto.

O mérito do condenado deve ser analisado para a possibilidade de progredir

de regime, como o merecimento, aptidão, capacidade que demonstrem a

compatibilidade com o regime mais brando. A progressão não poderá ser feita por

saltos, ou seja, deverá sempre obedecer ao regime legal imediatamente seguinte ao

qual o condenado está inserido.

7. ESTABELECIMENTOS PENAIS

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Estabelecimentos Penais são todos aqueles utilizados pela Justiça com a

finalidade de alojar pessoas presas, quer provisórios quer condenados, ou ainda

aqueles que estejam submetidos à medida de segurança4.

Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à

medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso, devendo ser respeitada a

condição pessoal da mulher e do maior de sessenta anos, pelo que serão,

separadamente, recolhidos a estabelecimento próprio e adequado, sem prejuízo do

mesmo conjunto arquitetônico poder abrigar estabelecimentos de destinação diversa

desde que devidamente isolados (TÁVORA, 2013).

O art. 5º, XLVIII, da Constituição Federal determina que “a pena será

cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a

idade e o sexo do apenado”. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível

com a sua estrutura e finalidade e o limite máximo de sua capacidade será definido

pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, atendendo a sua

natureza e peculiaridades (TÁVORA, 2013).

Os estabelecimentos penais deverão contar com área destinada à educação,

trabalho, recreação e prática esportiva. Deverão, ainda, ser dotados de

compartimentos distintos para as diferentes categorias de reclusos, de modo que os

presos provisórios fiquem separados dos condenados definitivos e os presos

primários sejam mantidos em seção distinta da reservada aos reincidentes. Ao

regular a individualização da pena, o constituinte impôs restrições no que diz

respeito ao público dos estabelecimentos carcerários (art. 5º, XLVIII, CF),

determinando, inclusive, diferenciações de gênero (art. 5º, L) (CARVALO, 2008).

7.1. Penitenciárias

São os estabelecimentos penais destinados ao recolhimento de pessoas

presas com condenação à pena privativa de liberdade em regime fechado5. É

também chamado presídio e tem por finalidade acomodar o apenado (preso

definitivo) para fins de cumprimento de pena privativa de liberdade.

4 BRASIL. Ministério da Justiça. Execução penal. Conceituação e classificação de Estabelecimentos Penais.

Disponível em: < http://portal.mj.gov.br/main.asp>. Acesso em out 2014. 5 BRASIL. Ministério da Justiça. Execução penal. Conceituação e classificação de Estabelecimentos Penais.

Disponível em: < http://portal.mj.gov.br/main.asp>. Acesso em out 2014.

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Em razão da Lei n° 10.792/2003, que instituiu o regime disciplinar

diferenciado (art. 52 e ss., LEP), a União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os

Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos

provisórios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos àquele regime.

O apenado trabalha no período diurno e fica isolado em cela individual com

dormitório, aparelho sanitário e lavatório (art. 88 da LEP)

São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela

concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico

adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados)

(LOPES, PIRES e PIRES, 2014).

Tais exigências da LEP estão em consonância com as Regras Mínimas da

ONU para o Tratamento de Reclusos, adotadas em 31 de agosto de 1955, pelo

Primeiro Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento

dos Delinquentes. O referido dispositivo entende quanto aos locais de reclusão:

9. Locais de reclusão 9.1) As celas ou locais destinados ao descanso notório não devem ser ocupados por mais de um recluso. Se, por razões especiais, tais como excesso temporário de população prisional, for necessário que a administração penitenciária central adote exceções a esta regra, deve evitar-se que dois reclusos sejam alojados numa mesma cela ou local. 9.2) Quando se recorra à utilização de dormitórios, estes devem ser ocupados por reclusos cuidadosamente escolhidos e reconhecidos como sendo capazes de serem alojados nestas condições. Durante a noite, deverão estar sujeitos a uma vigilância regular, adaptada ao tipo de estabelecimento prisional em causa. 10. Locais destinados aos reclusos As acomodações destinadas aos reclusos, especialmente dormitórios, devem satisfazer todas as exigências de higiene e saúde, tomando-se devidamente em consideração as condições climatéricas e especialmente a cubicagem de ar disponível, o espaço mínimo, a iluminação, o aquecimento e a ventilação

6.

As exigências também estão em consonância com as Regras Mínimas para o

Tratamento do Preso no Brasil, Resolução n. 14, do Conselho Nacional de Política

Criminal e Penitenciária (CNPCP), de 11 de novembro de 1994 (DOU, 2-12-1994)

(ANDREUCCI, 2011). O estabelecimento que abriga presos do sexo masculino

6 BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Justiça. Normas e princípios das Nações Unidas sobre

prevenção ao crime e justiça criminal/ Organização : Secretaria Nacional de Justiça. –Brasília : 2009, p. 15.

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41

deverá ser construído, em local afastado do centro urbano, à distância que não

restrinja a visitação.

7.2. Cadeias Públicas

São estabelecimentos penais destinados ao recolhimento de pessoas presas

em caráter provisório, sempre de segurança máxima. Cada comarca terá, pelo

menos 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o interesse da Administração da

Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio social e

familiar (TÁVORA, 2013).

Tal estabelecimento será instalado próximo de centro urbano, observando-se

na construção as exigências previstas na Lei n.º 7.210/84, em seu artigo 88 e seu

parágrafo único. A cadeia pública destina-se, também, ao cumprimento da prisão

simples, visto que a prisão simples será cumprida sem rigor penitenciário, em

estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime

semiaberto ou aberto, com afastamento dos condenados à pena de reclusão ou de

detenção (LOPES, PIRES e PIRES, 2014).

7.3. Colônias Agrícolas, Industriais ou Similares

São estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas presas que

cumprem pena em regime semiaberto. Os condenados podem ser alojados em

compartimentos coletivos, observados os requisitos de salubridade exigidos nas

penitenciárias. São requisitos desses estabelecimentos a) a seleção adequada dos

presos; b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de

individualização da pena.

A ideia da prisão própria para o regime semiaberto surgiu na Suíça, com a

construção da prisão de Witzwill. O presídio localiza-se na zona rural e recebia os

condenados que trabalhavam como colonos das fazendas próximas, com pouca

vigilância e considerável confiança nos sentenciados (MIRABETE, 2009).

Na ausência de vaga no regime semiaberto, já decidiu o STJ que “configura-

se constrangimento ilegal o cumprimento de pena em condições mais rigorosas que

Page 44: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

42

aquelas estabelecidas na condenação, sob pena de desvio da finalidade da

pretensão executória”7 (ANDREUCCI, 2011).

7.4. Casa do Albergado

A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de

Liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana. Neste caso,

o prédio respectivo deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais

estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a

fuga.

O art. 95 da Lei de Execução Penal reza que em cada região haverá, pelo

menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para

acomodar os presos, local adequado para cursos e palestras, devendo o

estabelecimento conter instalações para os serviços de fiscalização e orientação dos

condenados. Na inexistência de Casa do Albergado, tem se admitido,

excepcionalmente, a concessão de prisão albergue domiciliar, embora em

desrespeito às disposições da LEP, já que essa modalidade de recolhimento

destina-se apenas às hipóteses elencadas no art. 117 da LEP.

Nesse sentido, já decidiu o STJ que:

[...] evidente a inadequação entre a lei de execução da pena e a realidade brasileira. A inexistência de Casa do Albergado não pode impor ao condenado regime mais rigoroso; caso contrário, afrontar-se-á o princípio da legalidade, com flagrante desrespeito do título executório. Na falta de local próprio, por analogia e precariamente, recomenda-se a prisão domiciliar, enquanto inexistente no local próprio (STJ – RT, 764/521) (ANDREUCCI, 2011).

7.5. Centro de Observação

Estabelecimentos penais de regime fechado e de segurança máxima onde

devem ser realizados os exames gerais e criminológico, cujos resultados serão

encaminhados às Comissões Técnicas de Classificação, as quais indicarão o tipo de

estabelecimento e o tratamento adequado para cada pessoa presa.

Nesse Centro poderão, ainda, ser realizadas pesquisas criminológicas, sendo

instalado em unidade autônoma ou em anexo a estabelecimento penal. Na falta do

7 STJ – RHC 20.828/MG – Rel. Min. Laurita Vaz – 5ª T. – DJU, 5-11-2007, p. 286

Page 45: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

43

Centro de Observação, os exames poderão ser realizados pela Comissão Técnica

de Classificação.

7.6. Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

São estabelecimentos penais destinados a abrigar pessoas submetidas à

medida de segurança. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico é o

estabelecimento penal destinado aos inimputáveis e semi-imputáveis, aplicando-se a

ele, no que couber, as disposições referentes aos requisitos básicos necessários a

assegurar o cumprimento da medida de segurança de maneira a garantir a

efetividade do princípio da dignidade humana (TÁVORA, 2013).

Para os internados, são obrigatórios o exame psiquiátrico e os demais

exames necessários ao tratamento, valendo sublinhar que o tratamento ambulatorial

que se fizer necessário também será realizado no Hospital de Custódia e

Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com dependência médica adequada.

7.7. Sistema Carcerário Brasileiro

O Brasil enfrenta uma luta para garantir que os direitos e os princípios

estipulados na Constituição Federal alcancem o condenado às penas privativas de

liberdade. O déficit de vagas, a falta de recursos, as condições precárias, o

despreparado dos agentes públicos, a legislação simbólica e a própria cultura de

punição são obstáculos para que se possa construir um ambiente digno para os

sentenciados.

Segundo os dados de Junho de 2014 do Departamento de Monitoramento e

Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas

Socioeducativas – DMF, a população carcerária do país é de atualmente 563.526

(quinhentos e sessenta e três mil quinhentos e vinte e seis) sentenciados (ver anexo

A), com um déficit de vagas nos estabelecimentos penais de 206.307 vagas8 (anexo

C). Ao ser submetido em maio de 2012 pela Revisão Periódica Universal -

instrumento de fiscalização do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU - o

8BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Novo Diagnóstico de Pessoas Presas. Departamento de Monitoramento

e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas - DMF Brasília/DF, junho de 2014.

Page 46: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

44

Brasil recebeu como recomendação “melhorar as condições das prisões e enfrentar

o problema da superlotação” 9.

Há, de acordo com os dados do Departamento, apenas 357.219 vagas no

sistema carcerário contra um número de 711.463 pessoas presas, computada a

prisão domiciliar (ver anexo D). A própria lei de execução penal determina que: “Art.

88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho

sanitário e lavatório”.

Conduto, a realidade que se vê diariamente são celas são superlotadas, às

vezes com a impossibilidade física dos condenados se movimentarem ou dormirem

confortavelmente. A concretude das prisões brasileiras mais se assemelha a

calabouços medievais, escuros, lúgubres e austeros, onde um tratamento digno se

encontra distante da realidade.

A proporção de presos por 100 mil habitantes no país atualmente é de 358

presos (anexo E). É notável o salto deste número em relação aos dados do

Departamento Penitenciário Nacional (Depen) de 2012, que atestou neste ano

287,31 presos por 100.000 habitantes.

O Brasil também é o terceiro país com a maior população carcerária,

contando com a prisão domiciliar, abaixo apenas dos Estados Unidos e China,

conforme o Centro Internacional de Estudos Penitenciários, da Faculdade de Direito

King’s College, da Universidade de Londres, Reino Unido (anexo F) 10.

Importante frisar que segundos os dados do Banco Nacional de Mandados de

Prisão, há 373.991 mandatos de prisão a serem cumpridos. A população carcerária

em regra, deveria ser maior, tendo um número total, com os mandatos de prisão em

aberto, mais o número de pessoas presas, de 1.085.454. Tal hipótese formaria um

déficit de vagas ainda maior, de 728.235 vagas (anexo G).

Em 1990, o Brasil tinha 146.592.579 habitantes. No ano de 2010, houve um

aumento para 190.755.799 habitantes. Em 20 anos o crescimento populacional no

país foi de 30%. Já a população carcerária que era de 90.000 presos, em 1990,

9 GECAP-USP (Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da USP) Finalidades da pena - 7 informações básicas

sobre encarceramento. - Disponível em: <http://www.gecap.direitorp.usp.br/index.php/noticias/45-finalidades-da-pena-7-informacoes-basicas-sobre-encarceramento> Acesso em out 2014. 10

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Novo Diagnóstico de Pessoas Presas. Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas – DMF, Brasília/DF, junho de 2014.

Page 47: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

45

saltou para 513.802 detentos, em 2012. Isso representa um crescimento de 471%

da população carcerária em 20 anos e meio.

Logo, a taxa de crescimento da população carcerária foi 15,7 vezes maior que

a taxa de crescimento da população brasileira11. Entre dezembro de 2005 e

dezembro de 2009, a população carcerária aumentou de 361.402 para 473.626

presos, o que representou um crescimento, em quatro anos, de 31,05%12.

Em relação aos estabelecimentos penais há, de acordo com o Sistema

Nacional de Informação Penitenciária (InfoPen), em 2012 o país contava com 1.478

estabelecimentos penais. Destes, 417 são penitenciárias masculinas e 53

femininas13. São 821 cadeias públicas em todo o país, femininas e masculinas. Em

relação à casa de Albergados, há apenas 67 estabelecimentos em todo o território,

número escasso comparado à alta população carcerária do Brasil.

Em relação à escolaridade dos sentenciados, a maior taxa de presos se

encontra com o ensino fundamental incompleto, sendo 219,241 homens e 12,188

mulheres com tal grau de instrução somando 231,429 presos. Percebe-se, portanto,

que há uma expressiva margem de pessoas com baixa escolaridade envolvidas no

crime, já que, com limitadas oportunidades de empregos e oportunidades para esses

indivíduos, há uma maior propensão para o envolvimento em delitos.

Quanto ao indicativo de presos envolvidos em alguma atividade educacional

apenas 47,355 dos 548.003 presos no ano de 2012 realizavam atividades divididas

em alfabetização, ensino fundamental, ensino médio, ensino superior e cursos

técnicos14. O número é exíguo comparado ao total da população carcerária,

demonstrando mais uma vez a dificuldade do Estado em concretizar as medidas

legais dispostas na LEP, em relação à educação carcerária.

As tentativas de dirimir este problema palpitante levaram à reafirmação da

jurisdicionalização em 1994, quando da implementação das Regras Mínimas para o

Tratamento do Preso no Brasil. Não obstante ter estabelecido relações específicas e

11

GECAP-USP (Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da USP) Finalidades da pena - 7 informações básicas sobre encarceramento. - Disponível em: <http://www.gecap.direitorp.usp.br/index.php/noticias/45-finalidades-da-pena-7-informacoes-basicas-sobre-encarceramento> Acesso em out 2014. 12

BRASIL. Ministério da Justiça. Execução penal. Sistema Prisional. Disponível em: < http://portal.mj.gov.br>. Acesso em out 2014. 13

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional, Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen. Relatório Depen – 2012. Disponível em: < http://portal.mj.gov.br>. Acesso em out 2014. 14

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional, Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen. Relatório Depen 2012 Disponível em: < http://portal.mj.gov.br>. Acesso em out 2014.

Page 48: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

46

diretas do apenado com a Administração e com o Judiciário, vislumbrando maiores

possibilidades de tutela (arts. 31 e 32 da Resolução n° 14, de novembro de 1994),

percebe-se que a execução penal ainda continua sendo um território de vácuo

jurídico em termos de validade e eficácia constitucional (CARVALHO, 2008).

O relatório de Conclusões e Recomendações do Comitê da ONU Contra a

Tortura de 2001, concluiu pela superlotação dos presídios brasileiros, ausência de

comodidade e falta de higiene das prisões, falta de serviços básicos e de assistência

médica adequada e, em especial, pela violência entre os detentos e pelos abusos

sexuais (GRECO, 2011).

Greco lista os principais problemas do sistema prisional brasileiro e porque

ele não consegue efetivar os princípios esculpidos da Constituição Federal: a)

Ausência de compromisso por parte do Estado no que diz respeito ao problema

carcerário; b) controle ineficiente por parte daqueles que deveriam fiscalizar o

sistema penitenciário; c) Superlotação carcerária; d) Ausência de programas

destinados à ressocialização dos condenados; e) Ausência de recursos mínimos

para a manutenção da sua saúde; f) Despreparo dos funcionários que exercem suas

funções no sistema prisional (GRECO, 2011).

8. A LEITURA COMO EXTENSÃO DO ESTUDO PARA FINS DE REMIÇÃO

8.1. A Remição

Remição é o ato ou efeito de remir (-se); liberação de pena, de ofensa, de

dívida; quitação, resgate (HOUAISS, 2001). A remição é a possibilidade de resgate

da pena privativa de liberdade pelo trabalho e, com a edição da Lei 12.433/2011,

incluiu-se a possibilidade de remir a pena pelo estudo (NUCCI, 2011).

Remir significa resgatar, abater, descontar, pelo trabalho ou estudo realizado

dentro do sistema prisional, parte do tempo da pena cumprir. O preso provisório, que

não está obrigado a trabalhar, também poderá remir parte de sua futura condenação

(BITENCOURT, 2010).

A remição é uma nova proposta inserida na legislação penal pela Lei nº

7.210/84 e tem como finalidade mais expressiva a de abreviar, pelo trabalho ou

estudo, parte do tempo de condenação. O instituto da remição está consagrado no

Código Penal espanhol (art.100) e sua origem remonta ao direito penal militar da

Page 49: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

47

guerra civil espanhola, estabelecido pelo decreto de 28/5/1937 para os prisioneiros

de guerra e os condenados por crimes especiais (MIRABETE, 2009).

A remição foi criada pela LEP e, portanto tem caráter geral, abrangendo todos

os condenados sujeitos a esse diploma legal, A natureza da lei é material – penal,

tendo aplicação retroativa, por se tratar de lei mais benéfica. Dessa forma, retroagirá

para beneficiar os apenados.

8.1.1. Origens da remição

A Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal em seu item 133 mostra a

detalha a origem da remição:

"O instituto da remição é consagrado pelo Código Penal Espanhol (art.100). Tem origem no Direito Penal Militar da guerra civil e foi estabelecido por decreto de 28 de maio de 1937 para os prisioneiros de guerra e os condenados por crimes especiais. Em 7 de outubro de 1938 foi criado um Patronato Central para tratar da redención de penas por el trabajo e a partir de 14 de março de 1939 o benefício foi estendido aos crimes comuns. Após mais alguns avanços, a prática foi incorporada ao Código Penal com a Reforma de 1944. Outras ampliações ao funcionamento da remição verificaram-se em 1956 e 1963"

15.

Embora houvesse notícias de casos de diminuição de pena em decorrência

do trabalho do condenado nas Ordenações Gerais dos Presídios da Espanha em

1834 e 1928, e no Código Penal espanhol de 1822, a redención de penas por el

trabajo foi instituída nos termos em que hoje é conhecida pelo Decreto n. 281, de 28-

5-1937, com relação aos condenados de guerra e por delitos políticos, sendo

incorporada ao Código Penal espanhol na reforma de 1944 (art. 100).

8.1.2. Efeitos da Remição

O tempo remido será computado não só para abreviar o cumprimento da

pena, como também para a concessão de livramento condicional e indulto (art. 128

da LEP).

Como cautela para evitar distorções comprometedoras à eficiência e ao

critério do instituto, determina-se que a remição depende de declaração do juiz da

execução ouvido previamente o Ministério Público (art. 126 § 8° da LEP).

Desta forma:

15

BRASIL. Ministério da Justiça. Exposição de Motivos à Lei de Execução Penal. Disponível em: < portal.mj.gov.br/services>. Acesso em set. 2014.

Page 50: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

48

para o deferimento do pedido de remição de penas, necessário se faz o cômputo preciso dos dias em que o preso labutou, excluídos os dias do descanso obrigatório e aqueles em que a atividade laborativa foi inferior a seis horas, vedadas compensações. Tal exigência objetiva, justamente, evitar a ocorrência de fraudes

16.

A contagem do tempo será feita, nos termos do art.126, § 1º, da LEP à razão

de um dia de pena por três de trabalho, e alcançará, conforme o disposto no

parágrafo 2º do mesmo artigo, o preso impossibilitado de prosseguir no trabalho por

ter sido vítima de acidente durante o trabalho prisional (MIRABETE, 2009).

Desta forma:

(1) 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar divididas, no mínimo, em 3 (três) dias (inciso I, do §1°, do art. 126, da LEP, incluído pela Lei n° 12.433/2011); (2) 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho (inciso II, do §1°, do art. 126,da LEP, incluído pela Lei n° 12.433/2011) (3) 4 (quatro) dias de pena para cada 1 (uma) obra literária, clássica, científica ou filosófica lida (art. 4º da Portaria Conjunta n° 276/2012, do Departamento Penitenciário Nacional).

8.1.3. Reconhecimento da Remição

O reconhecimento da remição, contudo, ainda leva à discussões. Sendo

obrigatório o trabalho do preso e não o atribuindo pelo Estado ao condenado, poderá

ser reconhecida a remição mesmo não tendo desempenhado a atividade laborativa.

A atribuição de trabalho e sua remuneração são direitos do preso (art. 41, II, da LEP)

e o não cumprimento do dever do Estado concernente a essas obrigações não lhe

pode suprimir a possibilidade de remição.

O trabalho assim como um dever, é um direito do preso, conforme inciso II do

art. 41 da LEP. Assim, se o Estado, por razão de insuficiência administrativa e

material, não garantir condições para que haja a atividade laborativa, o condenado

não poderá ser prejudicado por isso, uma vez que o trabalho gera o direito de remir

a pena. Se o Estado não permite que o preso trabalhe, este não será prejudicado no

que diz respeito à remição (GRECO, 2011).

Não cabendo, ao sentenciado a responsabilidade por estar ocioso, não pode ser

ele privado do benefício por falha da administração, que não lhe possibilitou o

trabalho, embora estivesse submetido ao regime fechado ou semiaberto

(MIRABETE, 2009). Contudo, há doutrinadores que discordam dessa corrente e que

entendem que não deve ocorrer, pois:

16

TACrimSP, AE 964.511/1, 11ª Câm., rel. Juiz Wilson Barreira, j. em 21-8-1995, RT, 727/526.

Page 51: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

49

1) A lei exige a comprovação documental de tempo trabalhado ou estudado (art.

129, caput e § 1º) e define como crime de falsidade ideológica o fato de

declarar ou atestar falsamente a prestação de serviço para fins de remição

(art. 130);

2) Também exige a declaração do juiz, com audiência do Ministério Público.

Nesse sentido:

Quando a lei fala que o trabalho é direito do condenado está apenas estabelecendo princípios programáticos, como faz a Constituição quando declara que todos têm direito ao trabalho, educação e saúde. No entanto temos milhões de desempregados, de analfabetos, de enfermos e de cidadãos vivendo de forma indigna (BITENCOURT, 2010, p. 540).

Capez concorda com tal entendimento:

O preso que pretende trabalhar, mas não consegue porque o estabelecimento não lhe oferece condições (como no caso de cadeias superlotadas), não tem direito ao desconto, pois a mera vontade de trabalhar não passa de um desejo, uma boa intenção, uma mera expectativa de direito. Para ter acesso ao benefício é imprescindível o efetivo trabalho (CAPEZ, 2011, p. 334).

Logo, somente teria direito à remição os sentenciados que efetivamente estão

trabalhando ou estudando, nos termos estabelecidos na legislação específica.

8.1.4. Da perda dos dias remidos pelo cometimento de falta grave

Na hipótese de violação de deveres disciplinares, poderá ser imposta sanção

ao preso, desde que haja previsão expressa e anterior, legal ou regulamentar, da

respectiva falta (transgressão).

Tratando-se de faltas graves, a autoridade representará ao juiz da execução

para os fins de abertura de procedimento para regressão de regime, revogação de

autorização de saída temporária, perda de dias remidos (cuja revogação só poderá

ocorrer até 1/3 do tempo remido, recomeçando a contagem a partir da data da

infração disciplinar, nos termos do art. 127, da LEP, com redação dada pela Lei n°

12.433/2011) ou conversão de pena restritiva de direitos em privativa de liberdade.

Com o comando da individualização executória, baseado no princípio da

individualização da pena, não há uma perda padronizada para todos os condenados,

devendo o juiz mensurar casa caso, levando e consideração à natureza, os motivos,

as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu

tempo de prisão (NUCCI, 2011).

Page 52: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

50

O cometimento de falta grave pelo preso que cumpre pena em regime

fechado acarreta a interrupção do tempo de pena para efeito de progressão,

iniciando-se nova contagem de 1/6 do restante da reprimenda a cumprir, para

obtenção da promoção (MIRABETE, 2009).

Praticando a falta grave o condenado perde parte do tempo da remição. Logo,

o abatimento da pena em face da remição não se constitui em direito adquirido

protegido constitucionalmente, pois é condicional, pode ser revogada na hipótese de

falta grave, sem que haja ofensa à coisa julgada.

A súmula vinculante 09 editada em 12/06/2008 - DJe nº 112/2008: “O

disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) foi recebido

pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no

caput do artigo 58.” Assim:

O instituto da remição deve pautar-se pelo disposto no art. 1º da Lei de Execução Penal, (...) Não pode, no entanto, ser interpretado de maneira a desprestigiar os apenados que cumprem regularmente sua pena, mesmo porque, segundo remansoso entendimento desta Corte, o benefício compreendido no aludido instituto constitui mera expectativa de direito. Assim, é perfeitamente legítima a sua perda, nos termos do art. 127 da LEP, na hipótese de cometimento de falta grave, como ocorre no caso dos presentes autos. Não há que se falar, pois, em desproporção entre a falta e a sanção, nem em violação ao princípio da igualdade, mesmo porque o instituto em tela consubstancia determinada política criminal que visa, em última análise, a paulatina reinserção social do apenado. O parâmetro oferecido pela impetrante 'para nortear a decisão sobre a perda dos dias remidos' (fl. 6), representado pelo disposto nos arts. 53 e 58 da LEP, à evidência, não se aplica à hipótese. É que tais preceitos cuidam exclusivamente do isolamento do apenado e da suspensão e restrição de direitos, não guardando relação com a matéria tratada no presente habeas

corpus17

.

Contudo, com mudança estabelecida pela Lei 12.433 ao estipular o teto

máximo para a perda dos dias remidos, a súmula vinculante nº 09 do STF foi

superada, havendo superveniência de norma mais benéfica. Agora, a punição

máxima será de trinta dias caso haja cometimento de falta grave (NUCCI, 2011).

Redação atual do artigo 127 da LEP e limite de perda de 1/3 dos dias remidos "Ementa: (...) 2. Caso de concessão de habeas corpus de ofício, pois o reconhecimento da prática de falta grave pelo impetrante/paciente implicou a perda integral dos dias a serem remidos de sua pena, o que, à luz do novo ordenamento jurídico, não mais é permitido. 3. A nova redação conferida pela Lei nº 12.433/11 ao art. 127 da Lei de Execução Penal limita

17

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 90.107, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgamento em 27.3.2007, DJ de 27.4.2007.

Page 53: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

51

ao patamar máximo de 1/3 (um terço) a revogação do tempo a ser remido.”

18

Retroação da Lei 12.433/2011 "No caso, concluo tratar-se de lei penal mais benéfica, devendo, portanto, retroagir para beneficiar o réu. É que, antes da superveniência da Lei 12.433/2011, o cometimento de falta grave tinha como consectário lógico a perda de todos os dias remidos, diferentemente da sistemática atual, que determina a revogação de até 1/3 do tempo remido, permitindo-se, assim, uma melhor adequação da sanção às peculiaridades do caso concreto”.

19

Incide atualmente, portanto, o art. 127, da LEP, com redação determinada

pela Lei n° 12.433/2 011, que é especifico para o caso ao assentar que em caso de

falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o

disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.

Como o referido art. 57 reza que na aplicação das sanções disciplinares, o

juiz deve levar em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as

consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão,

forçoso concluir que o juiz poderá decretar a perda de poucos dias remidos pelo

trabalho ou mesmo entender que não é o caso de revogar qualquer tempo já remido,

limitada a revogação até o limite de 1/3 desse tempo.

Deve-se, contudo, quando houver limitação de direitos do apenado, ser

precedido o contraditório, assegurando o direito de defesa ao condenado antes da

decisão do Magistrado, sem que haja aplicação automática dessas sanções

(TÁVORA, 2013).

As faltas graves e suas sanções encontram tipificação na própria Lei de

Execução Penal em seu art. 50, que preconiza que comete falta grave o condenado

à pena privativa de liberdade e o preso provisório, aquele que: I - incitar ou participar

de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; II - fugir; III - possuir,

indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; IV -

provocar acidente de trabalho; V - descumprir, no regime aberto, as condições

impostas; VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta

Lei.VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou

similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

As faltas graves também valem para o preso provisório.

18

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 109.034, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, julgamento em 29.11.2011, DJe de 1.2.2012. 19

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 110.040, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento em 8.11.2011, DJe de 29.11.2011.

Page 54: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

52

9. REMIÇÃO PELO TRABALHO

O trabalho do preso, sem dúvida alguma, é um das formas mais visíveis de

levar a efeito a ressocialização. Mais do que um direito, a LEP afirma que o

condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho (art. 31).

O Trabalho é tanto um dever, quanto um direito do apenado. A jornada não

deve ser inferior a seis, nem superior a oito horas por dia. Poderá ser atribuído

horário especial de trabalho aos presos designados para os serviços de

conservação e manutenção do estabelecimento penal (art. 33, parágrafo único da

LEP).

Apenas os presos provisórios (art. 31, parágrafo único da LEP) e o condenado

por crime político (art. 200 da LEP) não estão obrigados ao trabalho. Não estão

incluídas no conceito de trabalho para fins remuneratórios, as tarefas executadas

como prestação de serviço à comunidade.

O art. 28 da LEP assegura que o trabalho do condenado como forma de dever

social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva. Na

atribuição do trabalho do apenado deverão ser levadas em conta a habilitação, a

condição pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades

oferecidas pelo mercado.

9.1. O Trabalho interno

A LEP trata sobre a hipótese de trabalho interno em seu art. 31O condenado

à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões

e capacidade. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser

executado no interior do estabelecimento.

Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão

econômica, salvo nas regiões de turismo. Os doentes ou deficientes físicos somente

exercerão atividades apropriadas ao seu estado. Além disso, os maiores de 60

(sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade.

É tranquilo o entendimento no sentido de:

“para que seja possível a remição da pena pelo trabalho, permitida pelo art. 126 da Lei 7.210/84, não basta o trabalho esporádico, ocasional, do condenado. Deve haver certeza de efetivo trabalho, bem como conhecimento dos dias trabalhados. Exige-se que a atividade seja ordenada, empresarial e, antes de mais nada, remunerada, garantidos ao

Page 55: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

53

sentenciado os benefícios da Previdência Social, com o fim de educar o preso, entendendo-se o presídio como verdadeira empresa”

20

9.2. O Trabalho externo

O art. 36 em diante da LEP trata do trabalho externo. Será admissível para os

presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por

órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que

tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. O limite máximo do

número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra.

Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a

remuneração desse trabalho.

A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento

expresso do preso. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção

do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do

cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.

O trabalho externo exige, portanto, o cumprimento mínimo de 1/6 da pena.

Será revogada a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato

definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos

requisitos estabelecidos pela LEP.

10. REMIÇÃO PELO ESTUDO

A assistência educacional é um dos direitos dos presos tratada no art. 17 da

LEP: “A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação

profissional do preso e do internado.”.

A educação é um instrumento essencial na construção da identidade do

indivíduo, além de possibilitar sua inclusão social. Isso é potencializado, sobretudo,

quando se está diante de alguém privado de sua liberdade, distante da vida em

sociedade e de suas cada vez mais dinâmicas alterações e inovações, e que tem

como origem, na maioria dos casos, uma realidade difícil e desprovida de recursos,

que o inseriram numa vida com poucas oportunidades, grande causa da prática de

crimes, em primeiro lugar.

O ensino de 1º grau (fundamental) será obrigatório, com sua integração no

sistema escolar da Unidade Federativa e o ensino profissional será ministrado em

20

TACrimSP, Ag. 450.407/1, 9ª Câm., rel. Juiz Brenno Marcondes, j. em 15-10-1986, RT, 616/323.

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54

nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico. Para tanto, poderão ser

celebrados convênios com entidades públicas ou particulares, que instalem escolas

ou ofereçam cursos especializados, bem como cada estabelecimento penal será

dotado de biblioteca para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros

instrutivos, recreativos e didáticos (TÁVORA, 2013).

A educação traz contornos positivos à ressocialização e crescimento social

aos apenados, que estarão mais preparados para enfrentar as vicissitudes da vida

fora dos estabelecimentos penais. A LEP também exige um local destinado aos

locais de estudo e bibliotecas, com condições mínimas de infraestrutura: “art. 21. Em

atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma

biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,

recreativos e didáticos.”.

Por muito tempo, a única remição que a LEP expressamente permitia era pelo

trabalho. Entretanto, não tardou muito, surgiram julgados por todo o país

reconhecendo o direito de remir a pena pelo estudo. Contudo, ainda havia muitas

divergências acerca do tema.

O Superior Tribunal de Justiça já se posicionava favoravelmente ao

reconhecimento do estudo do preso como forma de remição:

A Lei de Execuções Penais previu a remição como maneira de abreviar,

pelo trabalho, parte do tempo da condenação. A interpretação extensiva ou

analógica do vocábulo ‘trabalho’, para abarcar também o estudo, longe de

afrontar o caput do art. 126 da Lei de Execução Penal, lhe deu, antes,

correta aplicação, considerando-se a necessidade de se ampliar, no

presente caso, o sentido ou alcance da lei, uma vez que a atividade

laborativa, se adequa perfeitamente à finalidade do instituto. Sendo um dos

objetivos da lei, ao instituir a remição, incentivar o bom comportamento do

sentenciado e a sua readaptação ao convívio social, a interpretação

extensiva se impõe in casu, se considerarmos que a educação formal é a

mais eficaz forma de integração do indivíduo à sociedade21

.

O STJ, portanto, no dia 27 de junho de 2007 editou a Súmula nº 341, a qual

dispunha que "a frequência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do

tempo de execução de pena sob regime fechado ou semiaberto".

21

BRASIL. S, REsp 445/942/RS, 5ª T., rel. Min. Gilson Dipp, j. em 10-6-2003, v.u., DJU, 25-8- 2003, p. 352, Bol. IBCCrim, ano 11, n. 133, dez. 2003, Jurisprudência, p. 757.

Page 57: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

55

Contudo, mesmo com a edição da súmula, ainda persistiam diferenças em

relação à proporção de horas estudadas que conferiam o direito à remição de um dia

de pena.

Apenas com o advento da Lei nº 12.433, de 29 de junho de 2011, que alterou

os arts. 126, 127, 128 e 129 da LEP, a remição por estudo passou a ser disciplinada

expressamente. O artigo 126, “caput”, da Lei 7.210/84, com modificação pela Lei nº

12.433, dispõe: “O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou

semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução

da pena”.

A contagem se dará com 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de

frequência escolar, atividade de ensino fundamental, médio, inclusive

profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional, divididas, no

mínimo, em 3 (três) dias. Tanto o estudo presencial ou por metodologia de ensino a

distância deverão ser certificados pelas autoridades educacionais competentes dos

cursos frequentados (art. 126, § 2° da LEP).

Ao preso que trabalhe e estude, para fins de cumulação dos casos de remição,

as horas diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se

compatibilizarem. Caso haja a conclusão do ensino fundamental, médio ou superior

durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do

sistema de educação, o tempo a remir será acrescido de 1/3 (um terço) (art.126, § 5º

da LEP).

Aos condenados que cumprem pena em regime aberto ou semiaberto e os que

usufruem liberdade condicional será permitido remir, pela frequência a curso de

ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou

do período de prova, limitando-se a contagem de 1 (um) dia de pena para casa 12

(doze) horas de frequência escolar.

O Art. 129 da LEP determina a obrigatoriedade da autoridade administrativa

encaminhar mensalmente ao juízo da execução cópia do registro de todos os

condenados que estejam trabalhando ou estudando, com informação dos dias de

trabalho ou das horas de frequência escolar ou de atividades de ensino de cada um

deles. Caso o condenado seja autorizado a estudar fora do estabelecimento penal,

este deverá comprovar mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade

de ensino, a frequência e o aproveitamento escolar.

Page 58: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

56

A melhor interpretação que se deve dar à lei é aquela que mais favoreça a

sociedade e o preso. É sabido que a dedicação rotineira ao aprimoramento da

cultura por meio do estudo contribui decisivamente para os destinos dos egressos,

influenciando de forma positiva em sua (re)adaptação ao convívio social. Aliás, não

raras vezes o estudo acarretará melhores e mais sensíveis efeitos no presente e no

futuro do preso, do que o trabalho propriamente dito (MARCÃO, 2011).

10.1. A Remição pela Leitura

A remição pela leitura foi instituída primeiramente pela Portaria Conjunta nº

276 de 20 de junho de 2012, publicado na mesma data no Diário Oficial da União,

pela qual o Ministério da Justiça instituiu o projeto da Remição pela Leitura no

sistema penitenciário federal. O objetivo deste instrumento normativo é, conforme

seu art. 1º, instituir, no âmbito das penitenciárias federais, o projeto “Remição pela

Leitura”, em atendimento ao disposto na Lei de Execuções Penais, no que tange à

assistência educacional aos egressos.

O projeto foi criado em vistas à possibilidade de remição da pena do

custodiado em regime fechado, em conformidade com o disposto no artigo 126 da

Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, alterado pela Lei 12.433/2011, de 29 de junho

de 2011, concomitantemente com a Súmula 341 do STJ, com o Art. 3º, III da

Resolução nº 02 do Conselho Nacional de Educação e com o Art. 3º, IV da

Resolução nº 03 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, o qual

associa a oferta da educação às ações complementares de fomento à leitura,

atendendo a pressupostos de ordem objetiva e outros de ordem subjetiva.

O art. 3º, inciso IV da Resolução nº 03 do Conselho Nacional de Política

Criminal e Penitenciária, de 11 de Março de 2009, que dispõe sobre as Diretrizes

Nacionais para a Oferta de Educação nos estabelecimentos penais, determina:

Art. 3º - A oferta de educação no contexto prisional deve: IV – estar associada às ações de fomento à leitura e a implementação ou recuperação de bibliotecas para atender à população carcerária e aos profissionais que trabalham nos estabelecimentos penais;

Assim, já se demonstrava, desde antes da edição da Portaria, uma

preocupação da política carcerária nacional em estimular a atividade de leitura nos

presídios. A resolução também menciona os espaços físicos, como as bibliotecas e

salas de aula, inseridas nos estabelecimentos penais, o que mostra que a leitura e o

Page 59: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

57

ambiente que tais locais inspiram no indivíduo podem ajudar em sua recuperação e

dignificação como ser humano.

Conforme seu art. 5º, as autoridades responsáveis pelos estabelecimentos

penais devem propiciar espaços físicos adequados às atividades educacionais

(salas de aula, bibliotecas, laboratórios etc.), integrar as práticas educativas às

rotinas da unidade prisional e difundir informações incentivando a participação dos

presos e internados. A Portaria n° 126 ressalva que aos presos cautelares também é

a admitida a remição por meio da leitura.

O art. 3° determina que a participação do preso dar-se-á de forma voluntária,

sendo disponibilizado ao participante 01 (um) exemplar de obra literária, clássica,

científica ou filosófica, dentre outras, de acordo com as obras disponíveis na

Unidade, adquiridas pela Justiça Federal, pelo Departamento Penitenciário Nacional

e doadas às Penitenciárias Federais. Integram a iniciativa, em geral, livros

direcionados à reflexão e à formação social do indivíduo, a fim de auxiliar o detento

no processo de ressocialização. Para a real efetivação do projeto, é necessário que

haja nos acervos das Bibliotecas das Penitenciárias Federais, no mínimo, 20 (vinte)

exemplares de cada obra a serem trabalhadas no projeto.

O preso terá o prazo de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) dias para leitura de uma

obra literária, apresentando ao final deste período uma resenha a respeito do

assunto, possibilitando, segundo critério legal de avaliação, a remição de 04 (quatro)

dias de sua pena e ao final de até 12 (doze) obras lidas e avaliadas, terá a

possibilidade de remir 48 (quarenta e oito) dias, no prazo de 12 (doze) meses, de

acordo com a capacidade gerencial da Unidade (art. 4º).

A principal fundamentação para a remição por meia da leitura de livros e

posterior resenha/relatório é de que esta atividade se equipara a trabalho intelectual,

que exige do indivíduo considerável nível de cognição e esforço para que ocorra de

modo satisfatório.

10.1.2. A Lei 17.329 de 2012

A Lei 17.329 de 08 de Outubro de 2012, do Estado do Paraná, publicada no

Diário Oficial nº. 8814 foi o primeiro dispositivo legal a tratar sobre a remição da

pena por meio da leitura. A Lei visa instituir o projeto “Remição pela Leitura” no

âmbito dos estabelecimentos penais daquele estado.

A remição pelo estudo, prevista na Lei Federal nº 12.433, de 29 de junho de

2011, foi o princípio norteador para que a Lei 17.329/2012 pudesse surgir. A leitura

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58

novamente foi equipara a uma atividade de estudo, de acordo com o art. 126, caput

da LEP. Atualmente, há 3.957 presos estudando nas unidades estaduais do

Paraná, sedo 337 provisórios e 3.620 condenados, o equivalente a 23,41% dos

presidiários das unidades do estado22.

O principal objetivo da Lei é oportunizar aos presos custodiados alfabetizados

o direito ao conhecimento, à educação, à cultura e ao desenvolvimento da

capacidade crítica, por meio da leitura e da produção de relatórios de leituras e

resenhas.

O projeto consiste em oportunizar ao preso custodiado alfabetizado remir

parte da pena pela leitura mensal de uma obra literária, clássica, científica ou

filosófica, livros didáticos, inclusive livros didáticos da área de saúde, dentre outras,

previamente selecionadas pela Comissão de Remição pela Leitura e pela

elaboração de relatório de leitura ou resenha, nos termos da Lei.

A escolha de quais presos farão parte do projeto será conforme a participação

destes em outros projetos educacionais. Estarão listados em preferência os que

nãos participam de alguma atividade laborativa ou educacional, conforme o art. 4º da

Lei 17.329/2012:

Art. 4º Todos os presos custodiados alfabetizados do Sistema Penal do Estado do Paraná, inclusive nas hipóteses de prisão cautelar, poderão participar das ações do Projeto “Remição pela Leitura”, preferencialmente aqueles que ainda não têm acesso ou não estão matriculados em Programas de Escolarização.

O art. 7° reza que a remição será feita de forma a prestigiar igualmente o

trabalho e o estudo. A remição pela leitura será assegurada de forma paritária com a

remição concedida ao trabalho, e cumulativa quando envolver a realização paralela

das duas atividades, se compatíveis. A participação do condenado no projeto será

voluntária, mediante inscrição no setor de pedagogia do respectivo estabelecimento

penal.

O preso custodiado alfabetizado integrante das ações do projeto “Remição

pela Leitura” realizará a leitura de uma obra literária e elaborará um relatório de

leitura ou uma resenha, o que permitirá remir quatro dias da sua pena. A contagem

de tempo para fins de remição será de quatro dias de pena para cada obra lida,

limitando-se ao total de 12 por ano. Portanto, o máximo que o condenado pode remir

22

BRASIL. Governo do Estado do Paraná. Estatística Geral do Estado do Paraná. Programa de Desenvolvimento integrado – Educação, Setembro de 2014.

Page 61: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

59

por meio da leitura será 48 dias remidos anualmente, de acordo com a capacidade

gerencial da unidade prisional.

O preso poderá escolher somente uma obra literária dentre os títulos

selecionados para leitura e elaboração de um relatório de leitura ou resenha, a cada

trinta dias.

Quanto à elaboração da resenha o relatório de leitura será elaborado pelos

presos custodiados alfabetizados de Ensino Fundamental – Fase I e II – conforme

modelos fixados pela Comissão de Remição pela Leitura. A resenha - resumo e

apreciação crítica - será elaborada pelos presos custodiados alfabetizados de

Ensino Médio, Pós Médio, Superior e Pós Superior (art.10, §1º e 2º). Com a

nivelação das atividades de acordo com o grau de instrução do apenado,

demonstra-se uma preocupação em oportunizar uma individualização do exercício

conforme a possibilidade de cada indivíduo.

O relatório de leitura ou a resenha deverá ser elaborado individualmente, de

forma presencial, em local adequado, providenciado pela Direção do

Estabelecimento Penal, e perante professor de língua portuguesa disponibilizado

aos Centros Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos – CEEBJAs.

Para fins de acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos presos

será utilizada a nota 0,0 (zero) a 10,0 (dez), sendo considerado aprovado o relatório

de leitura ou a resenha que atingir a nota igual ou superior a 6,0 (seis), conforme

Sistema de Avaliação adotado pela Secretaria de Estado da Educação do Estado do

Paraná – SEED/PR.

A Comissão de Remição pela Leitura, esta será constituída por profissionais

da educação nos estabelecimentos penais, composta por um docente de cada

Estabelecimento Penal, professor de língua portuguesa, o qual deverá estar

disponibilizado ao Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos, instituição

responsável pela educação em Estabelecimento Penal; um pedagogo de cada

estabelecimento penal, o qual será responsável pelo acompanhamento do Programa

no estabelecimento penal ou o pedagogo do Centro de Educação Básica para

Jovens e Adultos responsável pela educação no local.

Quanto à autenticidade dos laudos, o art. 16 da Lei determina que os

integrantes da Comissão de Remição pela Leitura serão cientificados dos termos do

art. 130, da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, acerca da possibilidade de

Page 62: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

60

constituição de crime por atestar com falsidade um pedido de remição de pena,

mediante assinatura de termo de ciência.

A comissão organizadora analisará os trabalhos produzidos ao final das

leituras pelos presos e observará se o texto condiz com o livro trabalhado. O

resultado será então enviado ao Juiz de execução, que decidirá sobre a remição da

pena.

Por fim, a remição da pena pela leitura será declarada pelo juiz competente

para a execução da pena, ouvido o Ministério Público e a defesa (art.23), conforme o

estabelecido no § 8o do art. 12 da LEP.

Segundo os dados da Secretaria De Estado Da Justiça, Cidadania e Direitos

Humano (SEJU), há atualmente 2.349 presos sendo atendidos pelo projeto de

remição pela leitura no Estado do Paraná, um percentual de 12,65 em todo o

Estado23.

10.1.3. Recomendação nº 44 de 2013

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Recomendação nº 44 no dia

26 de Novembro de 2013 também incentivando a implementação da leitura de obras

literárias como forma de remir a pena. A Recomendação dispõe sobre atividades

educacionais complementares para fins de remição da pena pelo estudo e

estabelece critérios para a admissão pela leitura.

Em seu art. 1º, o presidente do Conselho Nacional de Justiça no uso de suas

atribuições legais e regimentais recomendou aos Tribunais:

V - estimular, no âmbito das unidades prisionais estaduais e federais, como forma de atividade complementar, a remição pela leitura, notadamente para apenados aos quais não sejam assegurados os direitos ao trabalho, educação e qualificação profissional, nos termos da Lei n. 7.210/84 (LEP - arts. 17, 28, 31, 36 e 41, incisos II, VI e VII), observando-se os seguintes aspectos: a) necessidade de constituição, por parte da autoridade penitenciária estadual ou federal, de projeto específico visando à remição pela leitura, atendendo a pressupostos de ordem objetiva e outros de ordem subjetiva; b) assegurar que a participação do preso se dê de forma voluntária, disponibilizando-se ao participante 1 (um) exemplar de obra literária, clássica, científica ou filosófica, dentre outras, de acordo com o acervo disponível na unidade, adquiridas pelo Poder Judiciário, pelo DEPEN, Secretarias Estaduais/Superintendências de Administração Penitenciária

23

BRASIL. Governo do Estado do Paraná, Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos – SEJU. Departamento de execução penal. Programa para o desenvolvimento integrado/pdi – cidadania. Setembro de 2014.

Page 63: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

61

dos Estados ou outros órgãos de execução penal e doadas aos respectivos estabelecimentos prisionais; c) assegurar, o quanto possível, a participação no projeto de presos nacionais e estrangeiros submetidos à prisão cautelar; d) para que haja a efetivação dos projetos, garantir que nos acervos das bibliotecas existam, no mínimo, 20 (vinte) exemplares de cada obra a ser trabalhada no desenvolvimento de atividades; e) procurar estabelecer, como critério objetivo, que o preso terá o prazo de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) dias para a leitura da obra, apresentando ao final do período resenha a respeito do assunto, possibilitando, segundo critério legal de avaliação, a remição de 4 (quatro) dias de sua pena e ao final de até 12 (doze) obras efetivamente lidas e avaliadas, a possibilidade de remir 48 (quarenta e oito) dias, no prazo de 12 (doze) meses, de acordo com a capacidade gerencial da unidade prisional; f) assegurar que a comissão organizadora do projeto analise, em prazo razoável, os trabalhos produzidos, observando aspectos relacionados à compreensão e compatibilidade do texto com o livro trabalhado. O resultado da avaliação deverá ser enviado, por ofício, ao Juiz de Execução Penal competente, a fim de que este decida sobre o aproveitamento da leitura realizada, contabilizando-se 4 (quatro) dias de remição de pena para os que alcançarem os objetivos propostos; g) cientificar, sempre que necessário, os integrantes da comissão referida na alínea anterior, nos termos do art. 130 da Lei n. 7.210/84, acerca da possibilidade de constituir crime a conduta de atestar falsamente pedido de remição de pena; h) a remição deverá ser aferida e declarada pelo juízo da execução penal competente, ouvidos o Ministério Público e a defesa; i) fazer com que o diretor do estabelecimento penal, estadual ou federal, encaminhe mensalmente ao juízo da execução cópia do registro de todos os presos participantes do projeto, com informações sobre o item de leitura de cada um deles, conforme indicado acima; j) fornecer ao apenado a relação dos dias remidos por meio da leitura.

A recomendação visa induzir os Tribunais a fomentarem a remição por meio

da leitura, permitindo uma majoração do estudo e os benefícios sociais e culturais

que o hábito da leitura possa ter nos presos.

Há resultados animadores desde a criação da Portaria Conjunta n° 276 e a

Recomendação do CNJ, como o projeto de lei nº 20.255 de 24 de abril de 2013 do

Deputado Roberto Carlos, estado da Bahia que busca a implementação da remição

pela leitura neste estado:

“O presente Projeto de Lei é baseado na lei federal 12.433/2011, que dispõe sobre a remissão da pena pelo trabalho e pelo estudo. Estados como São Paulo e Paraná já saíram na frente com projetos semelhantes. Dispensável se faz aqui enumerar todos os benefícios que a leitura traz para o homem. É sabido que é pela leitura que as pessoas aprendem, se entendem e compreendem melhor as ideias, podendo fazer uma análise crítica, desenvolver o seu ponto de vista, e assimilar direitos e deveres. São esses alguns dos benefícios que direcionam o preso a se ressocializar, calcado na educação, estimulando seu interesse pela leitura e conhecimento. Ampliando, assim, seus horizontes, em busca de novas expectativas de vida.”

24

24

BRASIL. Assembleia Legislativa do Estado da Bahia. Projeto de Lei nº 20.255/2013, 24 de Abril de 2013.

Page 64: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

62

10.1.4. A Leitura como instrumento de ressocialização do preso

Leitura é a ação de ler algo. É o hábito de ler. A palavra deriva do Latim

"lectura", originalmente com o significado de "eleição, escolha, leitura". Também se

designa por leitura a obra ou o texto que se lê (HOUAISS, 2009).

Presos têm um grande potencial para leitura. Uma pesquisa de mestrado feita

na UnB (Universidade de Brasília) mostra que os detentos do Complexo

Penitenciário da Papuda, em Brasília, leem em média 3 livros por mês, dez vezes a

média do brasileiro, de 0,33 livros mensais ou quatro por ano, de acordo com dados

da 3ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (FAILLA, 2012).

No Brasil, a leitura parece ser uma atividade apreciada e praticada pela

minoria da população. As pesquisas mais recentes sobre o assunto mostram que os

brasileiros leem em média 4,7 livros por ano, sendo que apenas 1,3 são livros

ausentes do currículo escolar, escolhidos pela vontade e interesse do próprio leitor.

Esse dado mostra que, em geral, a leitura é associada a uma atividade obrigatória,

solitária, que exige paciência e atenção (LEITE, RIO e ALVES, 2011). Contudo, a

leitura exibe inúmeros benefícios.

A leitura faz o leitor criar, recriar, escrever, reescrever ou produzir um outro

texto, resultante das experiências, da interação social e do seu potencial linguístico

(PICANÇO, 2008). Além disso, a leitura desenvolve habilidades de expressar-se

bem pela escrita, expandindo a compreensão do mundo e do próprio ser em meio à

sociedade.

Todas essas habilidades são essenciais para que uma pessoa tenha maiores

chances de educação e consiga uma inserção qualificada no mercado de trabalho,

principalmente o condenado que sai de um estabelecimento penal e enfrenta os

preconceitos inerentes a essa condição pela comunidade.

O hábito de leitura é uma prática extremamente importante para desenvolver

o raciocínio, o senso crítico e a capacidade de interpretação. Inserido em um

ambiente hostil e inexorável como as prisões, onde os presos passam por horas de

ócio, a leitura é como um oásis, no qual o indivíduo pode mergulhar em um mundo

diferente do que o cerca.

Dessa forma, a leitura sendo vista não como ato isolado de um indivíduo

diante da escrita do outro indivíduo, supõe a imersão no contexto social da

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63

linguagem e da aprendizagem, através da interação com o outro. O leitor também

toma consciência da importância de ser cidadão no mundo e do próprio mundo.

Assim, é preciso ressaltar a importância da leitura como processo de

(re)construção do caráter do apenado. A leitura permite que o preso se afaste desse

mundo associado ao crime, aumentando sua capacidade crítica e o contato com

outra realidade, gerando o efeito ressocializador.

Segundo uma pesquisa realizada no presídio PDF 1 (Penitenciária do Distrito

Federal 1) no Complexo da Papuda sobre os presos leitores:

Os resultados da pesquisa apontaram para predisposição do preso à prática de leitura, numa análise contrária a formação de leitores extramuros que convive com o pouco interesse pela leitura e outros fatores complicadores dentre desse processo de formação. A escolha da leitura advém da compreensão da relação da leitura como processo de inserção no mundo social e a possibilidade de autonomia e liberdade (RIBEIRO, 2012, p. 127 e 128).

Dos 1.148 estabelecimentos penais existentes nos estados brasileiros

pesquisados, apenas 305 possuem bibliotecas25. O acervo disponibilizado aos

presos é limitado e em regra, foi formado através de campanhas de doação de livros

fornecidos pela comunidade e por instituições públicas e privadas. Os livros, na sua

maioria, são didáticos e de literatura variada. A principal dificuldade para a criação

das bibliotecas é a falta de espaço físico nas unidades penais, além de esta não ser

a prioridade quando se trata dos recursos destinados ao sistema carcerário nacional.

As Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, Adotadas pelo 1º

Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e Tratamento de

Delinquentes, realizado em Genebra, em 1955, em seu item 77, dispõe que serão

tomadas medidas para melhorar a educação de todos os presos em condições de

aproveitá-la. A educação de analfabetos e presos jovens será obrigatória, prestando-

lhe a administração especial atenção. Tanto quanto possível, a educação dos presos

estará integrada ao sistema educacional do país, para que depois da sua libertação

possam continuar, sem dificuldades, a sua educação26.

As reformas legislativas feitas no Brasil os últimos no sentido de potencializar

e fomentar a educação do preso estão em consonância com os modernos Direitos

Humanos estabelecidos internacionalmente. Entretanto, há inúmeros desafios que a

25

BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Relatório da Situação Atual do Sistema Penitenciário – bibliotecas, Maio/2008, p. 27. 26

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Justiça. Normas e princípios das Nações Unidas sobre prevenção ao crime e justiça criminal/ Organização : Secretaria Nacional de Justiça. –Brasília : 2009, p. 28.

Page 66: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

64

política criminal deve enfrentar antes de concretizar o estabelecido na carta magna e

nas leis com intuitos de reinserção social dos presos.

A remição da pena por meio da leitura constitui-se na disseminação da leitura

estabelecimentos penais podendo proporcionar o resgate da autoestima, trocando

momentos ociosos por atividades construtivas. O projeto pretende ampliar a

capacidade leitora, oportunizando ao que lê a mudança de opinião, construção de

pensamentos que vislumbrem melhor convivência na sociedade, bem como formar

leitores melhor preparados para concluir a escolarização básica, e ingressar no

ensino superior e inserção no mercado de trabalho.

10.1.5. A legalidade da remição pela leitura

Após o surgimento da Portaria Conjunta nº 276, de 20 de junho de 2012, da

Corregedoria-Geral da Justiça Federal e do Departamento Penitenciário Nacional,

muito se questiona sobre a legalidade da remição pela leitura. .

O Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio da Corregedoria Geral da

Justiça (CGJ), instituiu a remição da pena por esta atividade. O documento afirma

que após a mudança do artigo 126 da Lei 7.210/84, a remição de pena, que antes

era possível somente pelo trabalho, possa ser adotada também pelo estudo.

A portaria tem como fulcro o artigo 126 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de

1984, alterado pela Lei 12.433/2011, de 29 de junho de 2011; a Súmula 341 do STJ;

e a Portaria Conjunta nº 276, de 20 de junho de 2012, do DEPEN. A remição da

pena por meio da leitura foi adotada neste estado, por meio desta minuta, que prevê

uma expansão da remição pelo estudo, já expressamente permitido pela LEP,

entendendo-o também como leitura. Os juízes das Varas de Execução Penal do

Estado de São Paulo estariam autorizados a instituir, no âmbito dos

estabelecimentos carcerários da respectiva comarca, a possibilidade de remição de

pena pela leitura, concedendo o benefício nos moldes da minuta elaborada

A seleção dos presos e a orientação das atividades serão feitas por comissão,

nomeada e presidida pelo Diretor da unidade carcerária. Formada a turma de

participantes, a comissão promoverá Oficina de Leitura, na qual os cientificará da

necessidade de alcançar os objetivos propostos para que haja a concessão da

remição de pena, a saber: a estética, fidedignidade e limitação ao tema.

Page 67: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

65

A contagem de tempo para fins de remição será feita, segundo os critérios

estabelecidos na Portaria Conjunta nº 276, de 20 de junho de 2012, do DEPEN, à

razão de 4 dias de pena para cada 30 dias de leitura.

A nota técnica elaborada pelo MP de São Paulo questiona a legalidade do

projeto, conforme:

Em que pese os bons propósitos do Poder Judiciário, consubstanciados na melhor formação do preso e no combate a ociosidade dentro do cárcere, verifica-se que tal medida não guarda compatibilidade com a ordem constitucional e legal

27.

A principal alegação é relativa à isonomia. Tal princípio, consagrado na

Constituição Federal (artigo 5º, caput), estaria sendo violado com tal projeto, já que

nem todos os apenados estão alfabetizados, estando impossibilitados de ingressar

na remição pela leitura. Portanto, o projeto só serviria para os apenados capazes de

ler, em detrimento dos que não estão alfabetizados.

Também é ressaltado que a LEP em seus arts. 126 a 130, ao disciplinar o

instituto da remição, não é feita qualquer referência à hipótese de resgate da pena

através da leitura, de modo que o Judiciário não poderá tomar tal atividade como

causa de concessão daquele benefício, sob pena de afronta ao princípio da

legalidade penal, de expressa estatura constitucional (artigo 5º, XXXIX, da CF).

Ainda conforme o Ministério Público de São Paulo, devida a ilegalidade da

remição pela leitura, caracteriza situação de desvio de execução, nos termos do

artigo 185 da Lei nº 7210/84, sendo este novo instituto não condizente com as

normas constitucionais.

O instituto da remição da pena é considerado de direito material, pois afeta

diretamente a pena do preso. Destarte, o Estado do Paraná julgou-se competente

para legislar a respeito da matéria por se tratar de direito penitenciário, já que o

instituto da remição de pena por estudo está consagrado na LEP (art. 126, caput)

(CARSINO; GUEDES; MOURA; RODRIGUES, 2013). A leitura foi considerada pela

Lei 17. 329/2012 uma extensão natural do estudo, sendo possível a remição por

esta atividade.

Pela Constituição Federal de 1988, compete à União, aos Estado e ao Distrito

Federal legislar concorrentemente sobre direito penitenciário (art. 24, I), cabendo à

União as normas gerais (art. 24, § 1º) e aos Estados inclusive a legislação

suplementar (art. 24, § 2º).

27

BRASIL. Ministério Público do Estado de São Paulo. Nota Técnica. Remição da pena pela leitura.

Page 68: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

66

Sendo assim, tendo em vista que o projeto visa à regulamentação da remição

por leitura, tendo como base o instituto da remição de pena por estudo, expresso e

lei, não se verifica óbice para o estado paranaense legislar a respeito do Projeto

Remição por Leitura.

Demais disso, dispõe a Constituição Estadual do Paraná, reproduzindo o

texto da Constituição da República, "compete ao Estado, concorrentemente com a

União, legislar sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e

urbanístico (...)". Conclui-se, portanto, que:

[...] a Lei Estadual nº 17.329/2012 possui amparo legal no art. 126, caput, da Lei de Execução Penal que trata sobre a remição por estudo, pois a literatura faz parte do estudo do apenado e o auxiliará no aprimoramento intelectual, cultural, moral e profissional, com reflexos positivos no seu retorno ao convívio social. (CARSINO; GUEDES; MOURA; RODRIGUES, 2013).

Portanto, estando a remição pela leitura embasada na permissão legal da

remição pelo estudo (art. 126, caput da LEP), entendida esta como uma extensão

natural e lógica da educação, é admissível inferir sobre a sua legitimidade nos

ditames constitucionais.

Conforme o preâmbulo da nossa Carta Maior:

“para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social”.

A dignidade da pessoa humana é o núcleo essencial dos direitos

fundamentais. Consagrada no art. 1°, III da CF, a dignidade da pessoa humana,

deve ser o princípio norteador de todo as políticas governamentais, estando o

Estado comprometido a fazer valer tal mandamento constitucional. A remição pelo

estudo e pela leitura, como instrumento de inserção de pessoas desviadas pela

prática de crimes em um contexto integrador e edificante é compatível com esse

princípio. O legislador, ao consagrá-lo na Carta Magna, intentou que todos os

esforços possíveis do Estado devem ser voltados à sua efetivação.

Page 69: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

67

CONCLUSÃO

A política criminal ocorre anteriormente à criação das leis penais, sendo parte

essencial da politica pública definir os objetivos e finalidades que o Direito Penal e a

Execução Penal devem ter em um contexto edificador, no qual o Estado

Democrático de Direito possa concretizar da melhor maneira possível os

mandamentos principiológicos constitucionais. No percalço de construir a uma

sociedade igualitária, na qual as diferenças sociais e educacionais sejam mínimas e

pouco relevantes para a ocorrência de crimes, o Estado deve buscar medidas para a

integração de todos de forma a garantir a isonomia.

O presente estudo teve o condão principal analisar a remição da pena por

meio da leitura no sistema prisional nacional. Sua implementação, proposta,

procedimentos e desafios. Além de trazer um panorama sobre a leitura como forma

de edificação do preso, aumentando sua percepção sobre o mundo como ser

pensante e crítico.

O contrato social realizado pelos homens trouxe uma miríade de normas que,

se fossem infringidas, haveria punições. Com o advento do Estado Democrático,

pautado pela escolha de representantes pelo povo por meio do sufrágio universal, a

legitimidade do ius puniendi passou a todos. A sociedade, como responsável pelas

escolhas legislativas, é um espelho no qual seu sistema penal e carcerário deve

refletir.

Com a evolução da sociedade, as teorias sobre a pena e sua finalidade

sofreram modificações expressivas, que foram até a justificação e adequação de

penas de tortura e de morte na Idade Média, até a desconstrução da pena como

vindita, tornando-se um instrumento de ressocialização do transgressor nos dias

atuais. A teoria que prevalece na maioria dos Estados Democráticos é a mista, pois

define a pena como uma forma de prevenção, assim como punição por um ato já

praticado, levando sempre em conta a proposta de regeneração do criminoso.

Page 70: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

68

O art. 59 do Código Penal determina que a pena seja a necessária e a

suficiente para reprovar e prevenir o crime. Portanto, o Brasil adotou o sistema misto

da pena, que tem como finalidade punir e prevenir, e, no momento da execução,

proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do

internado.

Até o advento do Iluminismo a pena era vista como espetáculo, onde o

condenado era posto como troféu aos olhos do povo, sofrendo terríveis punições

físicas que culminavam com a sua morte.

Inicialmente a pena de prisão foi vista como uma forma digna e eficaz de

repreender o delinquente, tomando o lugar das penas de morte e tortura, aplicadas

ostensivamente ao longo da história. A origem da pena privativa de liberdade releva-

se ainda na Idade Média, aplicada aos monges que deveriam se recolher em

silêncio a locais fechados e meditar em busca do perdão divino. Apenas na Idade

Moderna foi criada a pena-prisão, surgiu no século XVII e consolidou-se no século

XIX. Foi recebida com grande otimismo e ganhou status de pena principal, ao lado

das penas restritivas de direito.

Contudo tal falácia logo foi descontruída, restando uma desconfiança geral

sobre a pena de prisão como meio efetivo de punir os que cometem crimes. A pena

de prisão é a pena base nas legislações contemporâneas, contudo a falência do

sistema prisional é o tema central nas discussões das políticas públicas nacionais.

Os sistemas penitenciários mostram a evolução da produção metodológica

acerca da pena de prisão, sendo os principais o Pensilvânico, o de Auburn e o

sistema Inglês Progressivo. Tais sistemas pretendem teorizar a melhor maneira de

tratar o apenado dentro dos estabelecimentos carcerários. Os regimes penais

estabelecidos pelo Código Penal e pela Lei de Execução Penal também foram

analisados. O regime inicial de cumprimento da pena é estabelecido de acordo com

a culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos

motivos, às circunstâncias e consequências do crime. Dessa forma, os direitos do

preso consagrados na Carta Magna estão em consonância com legislação

executória penal.

O instituto da remição da pena, como uma a possibilidade de resgate da pena

privativa de liberdade pelo trabalho e, com a edição da Lei 12.433/2011, incluiu-se a

possibilidade de remir a pena pelo estudo. O destaque dado pelo presente trabalho

foi justamente a remição pelo estudo, pois apesar dos inúmeros julgados que

Page 71: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

69

concediam tal direito aos apenados, assim como a Súmula 341 do Superior Tribunal

de Justiça, sobre a frequência a curso de ensino formal ser causa de remição de

parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou semiaberto, não havia

previsão expressa em lei.

Apenas com a edição da Lei 12.433 de 29 de junho de 2011 que a

possibilidade de remir a pena por meio do estudo foi consagrada legalmente na LEP.

A partir deste momento, as regras para a remição pelo estudo tornaram-se claras,

dirimindo as dúvidas que cercavam o instituto antes da existência Lei.

Dessa forma, aos condenados que cumprem a pena em regime aberto ou

semiaberto e os que usufruem liberdade condicional será permitido remir, pela

frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de

execução da pena ou do período de prova, limitando-se a contagem de 1 (um) dia

de pena para casa 12 (doze) horas de frequência escolar.

Com esse grande avanço proporcionado pela Lei 12.433, em 20 de junho de

2012 a Portaria Conjunta nº 276 de 20 de junho de 2012 foi criada pelo Ministério da

Justiça, que instituiu o projeto da Remição pela Leitura no sistema penitenciário

federal. Essa foi a primeira iniciativa nacional visando ampliar o conceito de estudo e

estendê-lo para a leitura, possibilitando a remição da pena como forma de incentivar

os presos a participarem do projeto.

A Lei 17.329 de 08 de Outubro de 2012, do Estado do Paraná, primeiro

dispositivo legal a tratar sobre a remição da pena por meio da leitura. também foi

averiguada. Conforme a lei, o preso custodiado realizará a leitura de uma obra

literária e elaborará um relatório de leitura ou uma resenha, o que permitirá remir

quatro dias da sua pena. A contagem de tempo para fins de remição será de quatro

dias de pena para cada obra lida, limitando-se ao total de 12 por ano. Portanto, o

máximo que o condenado pode remir por meio da leitura será 48 dias remidos

anualmente, de acordo com a capacidade gerencial da unidade prisional.

O preso custodiado alfabetizado poderá escolher uma obra literária dentre os

títulos selecionados para leitura e elaboração de um relatório de leitura ou resenha,

a cada trinta dias. O relatório ou resenha será avaliado por professores da comissão

do projeto e, se for julgado satisfatório, será encaminhado ao juiz da execução penal

para fins de confirmar os dias remidos, ouvindo a defesa e o Ministério Público.

Por fim, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Recomendação nº 44

no dia 26 de Novembro de 2013, que aconselha a todos os tribunais a implementar o

Page 72: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

70

projeto da remição da pena por meio da leitura. Sendo recente, é possível que o

projeto alcance mais Estados e que os Tribunais se empenhem em concretizar essa

árdua missão.

A questão sobre a legalidade da remição pela leitura também foi analisada.

Conforme nota técnica elaborada pelo Ministério Público de São Paulo, o projeto

remição da pela leitura instituído pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio da

Corregedoria Geral da Justiça (CGJ), afeta a isonomia de tratamento entre os

presos, por beneficiar apenas o que sabem ler. Outro ponto questionado pela nota é

que o art. 126 da LEP, modificado pela lei 12.433, prevê apenas a remição por

estudo e não pela leitura. Já o documento da Corregedoria afirma que após a

mudança do artigo 126 da Lei 7.210/84, a remição de pena, que antes era possível

somente pelo trabalho, possa ser adotada também pelo estudo.

A leitura é importante para a formação de qualquer cidadão, ela ganha maior

destaque quando se fala em resgate da cidadania de pessoas que estão privadas de

liberdade e necessitam integrar-se novamente à sociedade. Um grande estímulo na

busca deste ideal é a possibilidade de remir a pena privativa de liberdade pela

leitura.

Com essa nova possibilidade em vista, os presos tem a oportunidade de

diminuir sua pena privativa de liberdade de forma colaborativa e gratificante,

aperfeiçoando o conhecimento do vernáculo, compreensão de texto, análise crítica,

além de colher informações e lições importantes que somente a leitura transmite. O

grande tempo que essas pessoas permanecem confinadas também é um estimulo

para ler, já que se aproveita mais tal atividade se for realizada em momentos de

concentração e solidão. O hábito da leitura que poderá ser desperto no sentenciado

também é um dos pontos positivos do projeto.

O principal objetivo da remição por meio da leitura é oportunizar aos presos

custodiados alfabetizados o direito ao conhecimento, à educação, à cultura e ao

desenvolvimento da capacidade crítica. O tempo de prisão deve aproveitado para

assegurar, tanto quanto possível, que depois do seu regresso à sociedade, o

criminoso não tenha apenas a vontade, mas esteja apto a seguir um modo de vida

de acordo com a lei e tenha condições de sustentar-se.

É intrínseco da pena o caráter punitivo, contudo essa jamais deverá ser a

única base estabelecedora de sua finalidade. O ostracismo ao qual o condenado é

exposto ao ingressar no sistema carcerário não termina com a saída e, muitas

Page 73: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

71

vezes, a reincidência ocorre por um misto de frustração, mágoa e sentimento de

rejeição ao qual o egresso é exposto ao retornar à sociedade. A segregação destes

indivíduos deve ser evitada, pois são parte da sociedade, tornando-se

responsabilidade de todos, e pelo bem comum, devem ser tratados como cidadãos

que estão cumprindo sua pena e merecem uma chance de reabilitação.

Conforme dispõe o artigo 1º da LEP, “a execução penal tem por objetivo

efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições

para a harmônica integração social do condenado e do internado”.

A remição por meio da leitura, portanto, entra no ordenamento consoante

princípio basilar da execução penal, que consagra a reinserção do apenado na

sociedade como uma das finalidades da pena. O estudo como se sabe, é uma das

maneiras mais eficientes para que haja um crescimento intelectual capaz de

aperfeiçoar o individuo, aumentando as chances de crescimento profissional e

cultural.

As dificuldades para a concretização do projeto da remição pela leitura são

muitas, como o número insuficiente de bibliotecas, o limitado espaço físico dos

estabelecimentos penais para a construção de novas bibliotecas, a superlotação dos

presídios, a escassa quantidade de livros disponíveis a serem trabalhados, a falta de

profissionais sensibilizados com os objetivos de ressocialização. A abaixa

autoestima dos próprios presos e seu desinteresse, por muitas vezes, não ter sido

incentivado a ler mais cedo, também são questões que devem ser levadas em conta

na implementação do projeto.

A realidade carcerária brasileira demonstra que o apenado é muito mais uma

espécie de aluno potencial do crime, do que alguém passível de reeducação. O

poder público, diante desses contratempos, deve se empenhar em driblá-los e

melhorar o sistema carcerário nacional para que tais projetos e leis não fiquem

apenas no papel, mas sim tenham o resultado a que se prestem.

Atina-se, portanto, que o país busca, de acordo com as políticas públicas

mais modernas, garantir uma ressocialização do preso ainda no ambiente

carcerário, afastando o ócio e aumentando as chances de este ter um futuro digno

por meio do trabalho e do estudo. Entretanto, a realidade dos estabelecimentos

penais é um grande entrave para esse nobre objetivo. O Estado, deve, antes de

tudo, melhorar a estrutura do sistema carcerário e conscientizar a população da

Page 74: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

72

importância da ressocialização dos presos para que haja uma maior harmonia

social, tendo o bem estar da comunidade como o fim maior de tais políticas públicas.

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ANEXOS

ANEXO A – TOTAL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA NO BRASIL28

28

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas – DMF, JUNHO/2014.

Page 83: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

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ANEXO B – NÚMERO DE PESSOAS PRESAS O BRASIL

ANEXO C – DÉFICIT DE VAGAS NO BRASIL

Page 84: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

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ANEXO D – NÚMERO DE PESSOAS PRESAS X NÚMERO DE VAGAS NO BRASIL

ANEXO E – PRESOS POR 100.000 habitantes.

Page 85: REMIÇÃO DA PENA POR MEIO DA LEITURA NO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

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ANEXO F – RANKING DOS 10 PAÍSES COM MAIOR POPULAÇÃO PRISIONAL

ANEXO G – PANORAMA BRASILEIRO