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Relevo do Amapá Prof. Msc. João Paulo Nardin Tavares

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Relevo do Amapá

Prof. Msc. João Paulo Nardin Tavares

Objetivos

Esta parte do presente estudo tem como objetivo

apresentar os dados geológicos, geomorfológicos e

dos solos compreendidos na região de Ferreira

Gomes, centro do Estado do Amapá.

Justificativa

Os estudos geológicos têm fundamental importância

para qualquer obra de engenharia que abranja áreas

como: fundações, geotecnia, sísmica, hidráulica e

outras afins.

Nos locais onde serão executadas as obras de

fundações, principalmente nos eixos barráveis, os

estudos geológicos são importantes em razão da

necessidade de se conhecer os tipos de rocha que

predominam nas proximidades, sua mineralogia,

grau de alteração e feições estruturais.

A observância desses fatores otimiza a obra em

termos de redução de custos e de tempo e

facilidade de execução. Se ignorados, esses fatores

podem trazer problemas estruturais, sendo alguns

deles de risco para o empreendimento.

Introdução

O Estado do Amapá ocupa uma área de 143.453,7 Km², que em sua maior parte encontra-se localizada ao norte do equador. Estende-se, aproximadamente, da latitude 1° S, a partir da confluência com o rio Jarí, na embocadura do rio Amazonas até quase 5° de latitude norte, onde se limita com a Guiana. É limitado à leste pelo Oceano Atlântico, à sul, sudeste e oeste pelo Estado do Pará e à noroeste faz fronteira com a Guiana e o Suriname.

Esta posição geográfica proporciona ao Estado características das

regiões equatoriais, refletidas, principalmente, nas condições

climáticas e hidrológicas que condicionaram modificações nas

paleo-coberturas do solo e da vegetação.

O Estado do Amapá sintetiza em seu território grande parte da diversidade dos ecossistemas amazônicos que, em conjunto, representam três grandes unidades de paisagem.

Na faixa da planície costeira a presença de inúmeros lagos, várzeas, terrenos alagados e pantanosos, caracterizam uma intensa diversificação de ambientes, cuja interação solo-água-clima resultaram na predominância de ambientes de vegetação arbustivas e herbáceas e extensas áreas de manguezais, que se estendem ao litoral do Estado, constituindo-se ainda em um imenso reduto de biodiversidade aquática.

Para o interior, alcançando os terrenos da formação Barreiras as características dos solos, intensamente lixiviados, associados às condições climáticas, onde os períodos de estiagem são bem marcados, propiciaram a conservação de áreas de campos de savanas (cerrados), remanescentes de uma vegetação de clima pretérito, entremeados de baixios com veredas de buritis.

Nas terras mais elevadas, onde o relevo já se encontra bastante dissecado até se alcançar as montanhas de Tumucumaque a oeste, predominam fisionomias de uma vegetação densa de porte elevado que colonizou terrenos com solos mais evoluídos e onde a intensidade e freqüência mensal das chuvas foram seus principais condicionantes.

Geomorfologia do Amapá

A área do Estado do Amapá insere-se em uma

grande entidade geotectônica de importante

significado geológico do ponto de vista de evolução

da plataforma sul-americana.

Trata-se do Escudo das Guianas, definido por

Almeida et al. (1977), e que inclui o extremo norte

brasileiro, as Guianas, o Suriname, a Venezuela e

parte do leste da Colômbia.

Unidades do relevo

Em termos de unidades morfoestruturais,

Boaventura e Narita (1974), com apoio do Projeto

RADAM e desenvolvido em escala de 1:1.000.000,

identificaram cinco unidades morfoestruturais no

estado do Amapá, das quais quatro se destacam:

Planaltos Residuais do Amapá;

Planalto Rebaixado da Amazônia;

Colinas do Amapá e

Planície Fluviomarinha Macapá- Oiapoque.

As principais características dessas unidades são

apresentadas no Quadro 8.1.6.

PLANALTOS RESIDUAIS DO AMAPÁ

PLANALTOS RESIDUAIS DO AMAPÁ

PLANALTOS REBAIXADOS - TABULEIROS DO AMAPÁ

PLANALTOS REBAIXADOS - TABULEIROS DO AMAPÁ

COLINAS DO AMAPÁ

PLANÍCIE FLUVIOMARINHA

No contexto geológico regional, o território

amapaense está inserido na porção norte da

Plataforma Amazônica, caracterizado por duas

unidades geotectônicas sob as denominações de

Crosta Antiga (retrabalhada ou não), de idade

Arqueana a Paleoproterozóica, e das Coberturas de

Plataforma, fanerozóicas, além das suítes plutônicas

de natureza e idades diversas associadas. (Figura

8.1.52 e Quadro 8.1.1).

1° Domínio - Crosta Antiga.

Este domínio ocupa aproximadamente 80% do

estado do Amapá.

Complexo Guianense

Grupo Serra Lombarda

Suíte Metamórfica Vila Nova

2° Domínio - Cobertura de Plataforma.

Sequências Sedimentares Paleozóicas

Borda norte da bacia do Amazonas pertencentes à

Formação Trombetas (Siluriana);

Formação Curuá (neodevoniana),

Formação Alter do Chão (cretácea),

Formação Barreiras (Terciária).

O estado do Amapá possui poucas informações geológicas em escala regional quando comparado aos dados informativos de âmbito nacional.

Contudo, nos últimos anos vem aumentando o número de novas empresas do ramo da mineração, que são atraídas por um potencial metalogenético significativo.

Os alvos principais de metalogenia encontram-se quase sempre dispostos em pacotes de rochas, principalmente metassedimentares pertencentes ao Grupo Vila Nova e seguindo uma estruturação regional NW-SE, conforme pode ser visualizado na Figura 8.1.53.

Riquezas minerais

A descoberta do ouro ao final do século XVIII em Oiapoque, Caciporé e Amapá aumentou a cobiça francesa por este recurso fazendo com que desrespeitasse o Tratado de Utrecht (1713), que definiu os limites entre Brasil e Guiana Francesa.

Paralelamente, em razão da fraca ocupação portuguesa e da fragilidade das fortificações ali existentes, a Coroa portuguesa decide, em 1751, a elevar o povoado de São José de Macapá à categoria de vila, por intermediação do Governador do Estado do Grão Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado. O grande interesse nas atividades garimpeiras trouxeram também disputas internacionais pela região, que só tiveram fim apenas em 1° de maio de 1900, quando a região foi concedida ao Brasil pela Comissão de Arbitragem de Genebra, passando a fazer parte do estado do Pará, com o nome de Araguaí.

PRINCIPAIS RIQUEZAS MINERAIS DO AMAPÁ

Características da geologia local

A geologia local é característica de ambiente ígneo a metamórfico, com predominância de granitos e gnaisses.

Os aspectos macroscópicos das rochas mantêm-se constantes, sendo os principais e mais expressivos minerais constituintes o quartzo, K-feldspato, o plagioclásio e as micas do tipo biotita e muscovita.

Suas variações estão, basicamente, compreendidas em função das quantidades dos minerais constituintes, cor e granulometria. De maneira geral as cores das rochas variam de cinza escura a esbranquiçada e a granulometria varia de fina a grossa (Figura 8.1.60 e Figura 8.1.61).

Exploração dos recursos minerais

Desde a criação dos Territórios Federais (1943), o objetivo do

Poder Público na Amazônia foi ocupar as regiões de fronteira

fracamente povoadas e possibilitar a participação dos Territórios

na exploração de seus recursos minerais.

No caso do Amapá tratava-se, sobretudo, de levantar a

potencialidade mineral da área e garantir a exploração do

manganês descoberto na Serra do Navio, em 1945-6. Esta fase

de desenvolvimento revolucionou a economia local, com a

construção de uma série de infraestruturas de apoio à mineração,

que, através de um conjunto de medidas proporcionou aumento

de emprego, atraindo contingentes de migração para a região.

Dentre as principais infraestruturas criadas pode-se fazer

referência à construção da hidroelétrica Coaracy Nunes (1ª

hidrelétrica da Amazônia) para fornecer energia à Companhia de

Indústria e Comércio de Minérios S.A- ICOMI e à cidade de

Macapá e a construção da estrada de ferro (194km), ligando

Santana à mineração para escoamento do minério.

Exploração dos recursos minerais

A exploração desse recurso propulsiona um crescimento

significativo de população, em função não apenas das

atividades mineradoras, mas também em função de

outras atividades que estavam ligadas ou não à

exploração do manganês.

Assim é que para melhor atender à exportação do

minério foi construído um cais flutuante em Santana, que

por sua profundidade e condições de navegabilidade

permite a entrada de navios de grande calado.

Construção da Estrada de ferro

Risco geotectônico

Segundo o Estudo de Viabilidade Técnica do AHE

Ferreira Gomes (PCE/INTT 2009), as informações

obtidas do Instituto de Astronomia e Geofísica da

Universidade de São Paulo (IAG/USP), revelam que, na

área com raio de 500 km em torno do empreendimento,

foram registrados apenas sismos de baixa magnitude (≤

5,3 mb) e que o sismo registrado mais próximo do eixo

ocorreu a aproximadamente 200 km de distância, na Ilha

de Marajó, com magnitude de 4.8 mb.

Com base nestas informações pode-se afirmar que é

muito remota a possibilidade de ocorrer sismos naturais

ou induzidos na área de interesse aos estudos do

empreendimento.

Risco de fuga d’água Os sistemas aquíferos tanto podem abastecer (geralmente na

estiagem), como podem ser abastecidos (durante as cheias) pelas águas dos rios, caracterizando uma relação de interdependência direta entre o sistema aquático subterrâneo e o superficial, que tende a ser ainda mais efetiva para o caso de aquíferos fissurais.

Os levantamentos geológicos executados na área do reservatório não identificaram ocorrências e rochas calcárias portadoras de estruturas cársticas (cavernas, sumidouros, dolinas, etc). Somente foi identificada a ocorrência de rochas sedimentares areno a areno-argilosas, relativamente permeáveis, da Formação Barreiras, em cotas superiores ao Nível de água máximo do reservatório.

Os levantamentos cartográficos e topográficos não identificaram selas topográficas abaixo do nível de água máximo do reservatório. Assim, não são esperadas fugas d’água do reservatório.

ZONA COSTEIRA ESTUARINA

A geomorfologia da área é representada por duas grandes regiões:

(i) Planaltos e Tabuleiros Rebaixados e (ii) Planície Costeira do Sul do Amapá.

A classificação das regiões e unidades também considerou os contextos geográficos e geológicos do setor estudado em relação a todo o litoral amapaense, resultando na denominação Planície Costeira do Sul do Amapá, para a planície existente no Setor Costeiro Amazônico, tendo como única unidade geomorfológica dessa região a Planície Flúvio-Estuarina e Terraços do Rio Amazonas.

Planaltos e tabuleiros da Zona Costeira

Estuarina

Esta região é subdividida em Planaltos Residuais do Baixo Jari, Planaltos Rebaixados do Sul do Amapá e Tabuleiros Costeiros.

Os planaltos estão elaborados sobre os sedimentos cretáceos-terciários da Formação Alter do Chão, (Bacia do Amazonas), enquanto que os tabuleiros associam-se aos sedimentos da Formação Barreiras.

De um modo geral, o relevo é constituído por formas resultantes da dissecação homogênea e da diferencial. Nos locais onde predomina a dissecação homogênea, as formas estão representadas por interflúvios tabulares e colinas de topos planos ou convexos. Os vales em geral têm forma de "U" e fundo chato, constituindo as planícies aluviais. A dissecação diferencial está representada por cristas aguçadas.

A região dos Planaltos e Tabuleiros Rebaixados

encontra-se em contato com a planície costeira

através de falésias inativas.

No local onde a planície costeira é inexistente, a

exemplo da área onde se encontra a Fortaleza de

São José de Macapá e alguns trechos da Ilha de

Santana, ocorrem falésias ativas.

Planícies costeiras do Sul do Amapá

Apresenta relevo plano e altitudes inferiores a 10

metros. É uma unidade bastante frágil em função de

estar constamente submetida a uma constante

dinâmica, influenciada pelo regime pluviométrico

sazonal dos rios, pelas marés, incluindo-se aí o

fenômeno da pororoca, além da ação dos

constantes ventos alísios.

Estes processos dão origem a diferentes tipos de

planícies, as quais são diferenciadas principalmente

pelo tempo de inundação a que são submetidas.

Próxima aula...