relatório técnico - projeto soja brasil 2015/2016
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Projeto Soja Brasil – Safra 2015/2016
Relatório Técnico – Por Áureo Lantmann
1. Introdução
Esse relato é produto do conjunto de observações em várias lavouras do território nacional,
efetuadas pelas expedições do Projeto Soja Brasil - 2015/16.
2. Efeitos do El Niño
Algumas safras deixaram verdadeiras marcas na história do cultivo da soja no Brasil, tais como
as dos anos em que ocorreram de forma significativa o cancro da haste, o nematoide de cisto,
a ferrugem asiática, a helicoverpa. A safra 2010/11, em que se registrou o maior rendimento
médio de soja (3.115 kg/ha). Todos esses episódios deixaram aprendizados.
A safra 2015/16 foi marcada por um clima bastante afetado pelo fenômeno do El Niño, que
promoveu muita chuva no sul do país e uma longa estiagem nas regiões centro-oeste e norte.
Esses períodos de chuvas e estiagem também foram os maiores entre os já registrados em
qualquer outro ano de ocorrência do fenômeno.
Para cada estado, região e até localidade produtora de soja no Brasil há um calendário
indicando os períodos mais favoráveis de semeadura. Momentos em que, provavelmente, se
obtém os melhores rendimentos para determinadas variedades, desde que ocorram condições
climáticas favoráveis.
Nesta safra, como em outras, muitas decisões para semear a soja levaram em consideração
apenas as informações dos “calendários”, não se atentando às previsões climáticas. Em função
da estiagem, ocorreram nas regiões centro-oeste e norte vários casos de replantio, que
resultaram em aumento do custo de produção. Na região sul, principalmente no Paraná, o
excesso de chuvas nas épocas de semeadura e de estádio reprodutivo afetou muito os
rendimentos e a qualidade de grão.
De forma geral, os efeitos do fenômeno El Niño comprometeram não só o rendimento da soja,
mas também a estabilidade dos solos, provendo erosão no sul do país e exposição dos solos a
altas temperaturas no norte.
A safra 2015/16 foi marcada por um clima bastante afetado pelo fenômeno do El Niño. Muita chuva no sul do país e longa estiagem nas regiões centro-oeste e norte. 3. Sementes, germinação e stand
Quase sempre no início da safra de soja, durante e logo após a semeadura, atá o estádio V1,
surgem alguns “problemas”. Pode-se se dizer que são quase que normais. Uma planta
crescendo menos que a outra, uma mais amarela, um ataque de vaguinha, falhas no stand.
Mas, nesse conjunto de “problemas” a má germinação pode ser evitada observando-se a
qualidade das sementes a serem utilizadas. Logo após a germinação das lavouras, a expedição
do Projeto Soja Brasil registrou as inúmeras queixas dos agricultores quanto à qualidade das
sementes plantadas.
Uma maneira de conhecer a qualidade do produto que se está adquirindo é consultando os
documentos que atestam sua origem e eficiência: o Boletim de Análises de Sementes, o
Atestado de Origem Genética, o Certificado de Sementes ou o Termo de Conformidade das
Sementes produzidas, que podem ser fornecidos pelo produtor ou comerciante das mesmas.
Esses documentos transcrevem as informações dos resultados oficiais de análises de
sementes, que têm validade de seis meses, após a data da análise. Ao consultar esses
documentos, o agricultor deve prestar atenção às informações referentes à germinação (%),
pureza (%), material inerte (%), outras sementes (%). A compra de sementes sem a atenção
devida a essas informações impediram que inúmeros agricultores reivindicassem seus direitos.
Para agravar a questão das sementes de má qualidade, principalmente nas regiões centro-
oeste e norte, a falta de umidade com períodos de estiagem de até 40 dias após o plantio
provocaram um quadro de má germinação ainda pior, com falhas nas linhas de semeadura e
pouco desenvolvimento das plantas.
Na época, a Expedição Soja Brasil encontrou agricultores indecisos, se replantariam, se
passariam grade em todas as áreas afetadas e, em seguida, semeariam milho ou arroz, já que
as grandes falhas de germinação poderiam comprometer o rendimento da lavoura.
É importante para uma decisão impactante como esta, de replantar ou trocar a cultura,
considerar o momento do stand médio das plantas. A soja é uma espécie que apresenta
grande plasticidade quanto à resposta ao arranjo espacial de plantas, variando o número de
ramificações, de vagens, grãos por planta e o diâmetro do caule, de forma inversamente
proporcional à variação na população de plantas. Não apresentando, por isso, na maioria das
situações, diferença significativa em rendimento em uma faixa considerável de população de
plantas e de espaçamento entre as fileiras.
Variações entre 200 a 500 mil plantas/ha, normalmente, não influenciam o rendimento de
grãos ou o faz muito pouco, aumentando ou reduzindo, dependendo de diversos fatores.
Nas lavouras observadas durante a Expedição, verificamos falta de uniformidade nos stand de
linhas. Com oito plantas por metro e até 12 plantas em um espaçamento de 45 cm é provável
que no final se tenha uma população final entre 200 a 240 mil plantas/ha e, desta forma, não
haveria necessidade de replantio ou abandono das lavouras desde que chovesse com
normalidade.
A qualidade de sementes nesta safra continuou sendo um problema comprometedor no
cultivo da soja.
4. Fertilidade dos solos e adubação
4.1. Custo com adubos sobe. Aplicação cai
Cada safra de soja se desenvolve com algumas características próprias que podem se repetir
por mais anos ou não. Essas características acabam definindo a safra.
O ciclo 2015/16 se iniciou com um significativo acréscimo no custo de produção em relação à
safra passada, chegando a mais de 20%. Esse acréscimo se deveu à alta do dólar em relação ao
real e consequente aumento no preço dos insumos necessários ao desenvolvimento da soja.
O item mais caro no custo de produção com insumos são os adubos que representam entre
30% a 40% do custo. Diante deste quadro, vários agricultores buscaram alternativas para
reduzir custos, sem comprometer o rendimento, o que em determinadas situações é
perfeitamente viável.
Em solos com alta fertilidade, reflexo de aduções anteriores, é possível reduzir bem as
quantidades de fertilizantes para o cultivo da soja. A soja, diferentemente de culturas como o
milho ou o trigo, consegue aproveitar do adubo de anos anteriores. O “efeito residual” pode
suprir as necessidades nutricionais da planta.
A redução do consumo de adubos para soja nesta safra foi significativa, cerca de 12% de queda
em relação à safra anterior. Fato que não afetou o rendimento médio da soja no Brasil, na
safra passada o rendimento foi de 2.998 kg/ha e para esta safra estima-se um rendimento de
3.037 kg/ha.
A redução no uso de fertilizantes, em cerca de 12%, não comprometeu o rendimento das lavouras de soja. 3.037 kg/ha será o rendimento médio estimado da soja na safra 2015/16. No ciclo 2014/2015, o rendimento foi de 2.998 kg/ha. 4.2. Alternativas para redução de custos com adubação
Dos itens que compõem insumos, a adubação é o mais caro, equivalente entre 25% a 35% do
custo total. Sendo assim, a definição da adubação, quantidade e forma de aplicação de
adubos, deve seguir critérios ajustados à técnica e à economia para se evitar desperdício ou
falta do insumo à planta.
Uma quantidade mais precisa de adubo não deve ser definida somente pelo resultado de
análises de solo. Uma definição mais ajustada deve levar em conta os seguintes fatores:
a) Os resultados de análises de solo;
b) As demandas nutricionais de cada cultura que compõe o sistema;
c) A evolução da fertilidade do solo. Pelos resultados das análises observar se os principais
nutrientes estão em disponibilidade crescente ou decrescente;
d) Os rendimentos anteriores das culturas que compõem o sistema;
e) A situação de acidez do solo;
f) A capacidade de troca catiônica (CTC).
É importante que os principais nutrientes estejam sempre acima do nível crítico. A soja tem
habilidade de se aproveitar muito do residual das adubações anteriores. As adubações
praticadas para milho, trigo, algodão, feijão, tomate sempre vão deixar um residual de adubo
do qual a soja vai se beneficiará. Assim, é viável reduzir, relativamente, a quantidade de
adubos para a soja sem comprometer seus rendimentos.
4.3. Aplicar a lanço é perder dinheiro
O fósforo é um nutriente (elemento) de baixa mobilidade no solo. A lanço, o fósforo é
adicionado na superfície do solo, ficando muitas vezes inerte (não reagindo) e concentrando
nos primeiros centímetros do solo. A prática de adubação fosfatada a lanço, em solos com
baixa concentração deste nutriente, torna o fósforo limitante, principalmente pela má
distribuição no perfil do solo.
Utilizar a forma de aplicação baseada em critérios de praticidade operacional (adubação
fosfatada a lanço), em lugar de uma aplicação focada nos critérios técnicos (fluxo de massa,
interceptação radicular e difusão), faz com que as quantidades aplicadas são maiores que as
exportadas pelos grãos.
Assim, a aplicação de fósforo “a lanço” poderá promover, em pouco tempo, altos teores do
nutriente nos primeiros centímetros da superfície e quantidades inferiores em níveis críticos
nas camadas mais profundas do solo. Por consequência, as produtividades poderão ser
limitadas pelos teores de fósforo na subsuperfície, principalmente, sob condições de déficit
hídrico. É importante ressaltar que o contato nutriente-raiz é intermediado pela água.
A melhor alternativa é utilizar a semeadeira para distribuir o adubo, assim o nutriente é
enterrado na superfície do solo. Essa prática tem vantagens sobre a adubação a lanço, pois o
fósforo reage melhor com o solo e a solubilização é mais intensa.
Tem sido comum, principalmente nas regiões centro-oeste e norte, a pouco eficiente prática
da adubação fosfatada a lanço.
O que encontramos pela estrada
Durante a Expedição Soja Brasil, observamos, pelos menos, três situações em que a adução
não foi utilizada:
1) No estado de Goiás agricultores que depois de colherem a soja arrendam áreas para a
produção de sementes de milho;
2) Também no estado do Goiás, agricultores que semeiam soja depois de cultivo de tomate,
também não adubam para a soja;
3) No estado do Paraná, agricultores que cultivam no inverno trigo, aveia ou cevada, deixam
de adubar a soja por mais oito anos.
A quantidade média de adubos para a soja tem crescido nos últimos anos, mas isso não tem conduzido a maiores produtividades. De forma geral o consumo de adubos para soja, nos seis últimos anos, aumentou de 334 kg/ha na safra 2009/10 para 405 kg/ha na safra 2014/15, mas isso não significou aumento de rendimentos (tabela 1). Isso pode ter uma série de justificativas. Outros fatores não controláveis como o clima e alguns muito impactantes como pragas e doenças podem afetar consideravelmente os rendimentos.
Tabela 1. Área cultivada com soja, rendimento, quantidade média de adubo e taxa de aumento relativo à safra 2009/10 usada no cultivo da soja nos últimos sete anos.
Ano Área Rendimento Quantidade média de adubo. Taxa de aumento
Mil/ha Kg/ha Kg/ha %
.....................................................................................................................................................
09/10 23.468 2.927 334 0
10/11 24.181 3.115 351 5
11/12 25.042 2.653 384 14
12/13 27.736 2.938 388 16
13/14 30.173 2.854 395 18
14/15 32.092 2.998 405 21
15/16 33.294 3.037 392 17
___________________________________________________________________________
Fontes: ANDA 2016 e CONAB 2016.
Os benefícios do plantio direto
O cultivo da soja em sistemas de plantio direto potencializa os efeitos de tecnologias para
adubação. Mas, a justificativa mais compreensível é que a maior parte das tecnologias geradas
para o cultivo da soja pressupõe: cultivos em plantio direto ou pelo menos em solos cobertos
com algum tipo de palha, solos com elevados teores de matéria orgânica, solos com boa
capacidade de armazenamento de água e solos sem compactação e boa aeração.
Esse conjunto de fatores maximiza os efeitos da adubação, tornando os nutrientes mais
facilmente assimiláveis pelas raízes. Ainda assim, tem sido comum o cultivo da soja em solos
sem nenhuma cobertura com palha, solos totalmente expostos ao sol, com quantidades muito
pequenas de matéria orgânica, em condições que não permitem o aproveitamento dos
adubos.
5. Plantas daninhas: Buva ainda compromete o rendimento da soja
A buva é uma planta daninha quem vem concorrendo com a soja há pelo menos 13 anos.
Limitada até a safra 2011 às regiões do sul, a partir de 2012 começou a ser observada também
nas regiões mais ao norte. Em alguns casos, a buva compromete o rendimento da soja em até
70%.
As primeiras aparições de buva foram registradas no Rio Grande do Sul e tempo depois em
Santa Catarina, no Paraná, no Mato Grosso do Sul. Nos últimos cinco anos, a Expedição do
Projeto Soja Brasil constatou uma alta incidência da planta no estado de Goiás, com destaque
para os municípios de Mineiros, Jataí, Santa Rita do Araguaia e Rio Verde.
O manejo dessa planta exige um conjunto de ações como, por exemplo, a manutenção da
cobertura do solo com culturas como o trigo, a aveia ou os consórcios de milho e forrageiras,
como as braquiárias, evitando-se o pousio. Estas alternativas devem ser integradas com o
controle químico.
Trata-se de uma planta com pico de germinação nos meses de julho e agosto, época em que se
deve iniciar o controle, pois na fase de pós-emergência da soja o produtor encontrará muitas
limitações para controlá-la.
Em algumas regiões do Paraná, os meses de agosto e até meados de setembro foram atingidos
por chuvas intensas, atrasando o manejo adequado da buva. Logo após as chuvas, ventos com
velocidade acima de 12 km/h impediram aplicações de herbicidas. Esse episódio levou ao
estabelecimento de alta população da planta daninha, o que sem dúvida dificultou seu manejo
com consequências negativas para o cultivo da soja na região.
5.1. Capim-amargoso concorre com a soja e afeta rendimentos
O capim-amargoso é uma espécie de planta daninha de difícil controle, descrito na literatura como uma planta daninha nativa de regiões tropicais e subtropicais do continente americano. No Brasil, essa planta pode ser encontrada praticamente em todas as regiões, tanto em áreas agrícolas onde se têm os cultivos anuais e perenes, quanto em áreas não agrícolas como em terrenos baldios e áreas adjacentes a rodovias. Essa planta daninha é uma gramínea perene, ereta, que apresenta caule subterrâneo do tipo
rizoma e colmos aéreos cilíndricos e caniculados, atingindo a altura de até 1,5 metro. Durante
seu crescimento e desenvolvimento forma touceiras e pode se propagar vegetativamente pelo
rizoma.
Na fase sexuada, as panículas são muito vistosas e apresentam alta produção de sementes
que, por serem pilosas, são facilmente transportadas pelo vento e por máquinas agrícolas. Em
uma mesma touceira, ocorrem vários fluxos de florescimento, sendo que um fluxo pode
produzir em média de 6,5 mil sementes por planta.
Em áreas com quatro a oito plantas por metro quadrado que poderiam render 3,3 kg/ha de
soja por hectare, a produtividade cai para 1,88 kg/há.
No mercado, vários herbicidas estão registrados para o controle do capim-amargoso em
diversas culturas. São mais de 12 ingredientes ativos distribuídos em pelo menos sete
mecanismos de ação diferentes. Para se ter sucesso no controle dessa planta daninha, além de
considerar todas as boas práticas agrícolas, alguns aspectos, como o estádio fenológico da
planta e a época de aplicação do herbicida, são muito importantes.
Agricultores têm conseguindo controlar o capim-amargoso com o conjunto de práticas aliadas
ao uso correto de herbicida, que são:
a) Fazer, o manejo de pousio;
b) Realizar rotação de cultura;
c) Realizar dessecações na fase inicial de desenvolvimento, antes da primeira floração;
d) Utilizar as doses corretas dos herbicidas, laçando mão de mais de um mecanismo de ação;
e) Realizar dessecação antecipada ao plantio na dose correta;
f) Monitorar as áreas, evitando que as plantas não controladas produzam sementes;
g) Manter sempre boa cobertura do solo nas áreas de plantio direto, visando supressão da
germinação de plantas daninhas;
h) Utilizar herbicidas com ação residual.
O capim-amargoso precisa ser controlado com medidas preventivas, caso contrário, com a
distribuição de sementes, entorno de 6.500 por planta, esse problema pode inviabilizar a
cultura da soja.
Em algumas regiões do Mato Grosso do Sul, devido à apropriação de fazendas por indígenas, a
Expedição Soja Brasil observou, dentre outros problemas, um muito grave. Como não há
nenhuma atividade agrícola nas áreas apropriadas, também não há controle do capim-
amargoso, criando-se focos enormes de disseminação que espalham sementes por
quilômetros de distância.
6. Manejo de insetos pragas
6.1. Falsa-medideira
Nesta safra, como em anteriores, a Expedição do Projeto Soja Brasil visitou várias localidades
onde agricultores se queixavam dos danos causados pela lagarta falsa-medideira
(Pseudoplusiaincludens), no estádio reprodutivo. Caracterizada como praga secundária na
cultura da soja, mas que nas últimas safras promoveu perdas significativas.
Como nos últimos anos, a infestação dessa praga ocorreu de forma surpreendente. As perdas
de área foliar chegaram a índices de até 32%, o que deve afetar muito os rendimentos da soja.
É importante, daqui para frente, que o agricultor esteja atento para a ocorrência da falsa-
medideira nos estádios vegetativos - que seria o mais comum -, e agora também nos estádios
reprodutivos.
No passado, as populações da lagarta falsa-medideira eram controladas naturalmente por uma
gama enorme de inimigos naturais representadas, principalmente, por parasitoides como as
vespinhas (Copidosomasp) e, especialmente, por doenças fúngicas como a doença branca
(Nomuraearileyi) e doença marrom (Pandora sp. e Zoophthorasp).
É possível se afirmar que a aplicação exagerada de inseticidas sem critério técnico, no início do
desenvolvimento da soja, não obedecendo aos níveis de dano indicados no manejo integrado
de pragas, além do uso de fungicidas não seletivos para o controle da ferrugem asiática da
soja, afetaram negativamente as populações desses inimigos naturais e, consequentemente,
aumentaram os problemas com a lagarta falsa-medideira.
Aliado a isso, nas últimas safras têm ocorrido veranicos e altas temperaturas, principalmente a
partir do final de dezembro e janeiro, que criam ambientes extremamente favoráveis à
explosão populacional da praga.
É importante realizar o monitoramento das pragas com o auxílio do pano-de-batida e aplicar o
inseticida apenas quando for necessário (30% de desfolha no vegetativo ou 15% de desfolha
no reprodutivo). Além da aplicação no momento certo é importante escolher um produto
registrado para a lagarta alvo do controle.
Deve-se levar em consideração alguns critérios que interferem na eficiência do controle como:
- A praga tem hábito diferente da lagarta-da-soja. Ela é mais tolerante a inseticidas e para o
seu controle necessita de doses duas até quatro vezes maiores. Alimenta-se de folhas da parte
mediana da planta no período reprodutivo da soja. Dessa forma, fica “protegida” pelo dossel
da planta que nessa fase da cultura está fechado, dificultando o contato do inseticida com a
praga (“efeito guarda-chuva”). Isso ainda é agravado com a utilização de um baixo volume de
calda/ha, ainda mais quando o inseticida é aplicado por avião pulverizador.
- Temperaturas elevadas acima de 30º e a umidade abaixo de 60%, aumentam a evaporação,
dificultando o controle. Assim, nessas condições climáticas extremas, sugere-se controlar as
lagartas durante a madrugada, quando as temperaturas são relativamente mais baixas e a
umidade mais alta, além da ausência de ventos que proporcionarão melhores condições para
aplicação.
Sendo assim, a lagarta falsa-medideira é uma praga importante na soja, mas que com a adoção
do manejo integrado de pragas, realizando monitoramento, respeitando os níveis de ação e
usando uma boa tecnologia de aplicação dos inseticidas, ela pode ser mantida em baixas
populações sem prejuízos ao agricultor ou ao meio ambiente.
6.2. Mosca branca
A equipe da Expedição do Projeto Soja Brasil registrou a presença da mosca branca
Bemisiatabaci, principalmente, nos estados de Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Paraná, Goiás e
com mais intensidade no Piauí. Nesses locais, tem sido verificado um aumento considerável
das aplicações de inseticidas para seu controle, muitas vezes, de maneira errada e abusiva.
Um inseto que cada vez mais preocupa produtores, assistência técnica e os pesquisadores,
devido ao desconhecimento sobre as medidas eficientes de manejo da praga, sobre sua
capacidade de dano à cultura e ainda sobre o momento certo em que o controle deve ser
utilizado.
Em plantas de soja, a mosca branca é transmissora do vírus da “necrose-da-haste”, do grupo
dos carlavírus, que com a evolução dos sintomas, pode levar à morte da planta. Ao se
alimentar continuamente, a mosca-branca excreta nas folhas uma substância que favorece a
formação de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp., sobre as folhas. A fumagina
apresenta coloração preta que dificulta a captação dos raios solares, reduzindo a taxa
fotossintética das folhas e provocando a queima da planta pela radiação solar.
Enquanto não houver cultivares de soja resistentes ou tolerantes a esse inseto, o sucesso do
manejo da mosca branca na cultura dependerá do reconhecimento da praga associado à
adoção completa do manejo integrado de pragas, o que preconiza a redução do uso exagerado
de inseticidas, principalmente, os de largo espectro de ação (não seletivos).
Essa atitude é importante porque a mosca branca possui vários inimigos naturais e os produtos
não seletivos, como os piretroides, por exemplo, eliminam esses agentes de controle biológico,
favorecendo uma maior infestação da praga.
É importante salientar ainda que o manejo da mosca branca deve ser focado no sistema
agrícola e não isoladamente em cada cultura. A enorme capacidade de adaptação desse inseto
aos mais diversos hospedeiros cultivados e de ocorrência natural, em associação a uma
extraordinária mobilidade, faz com que medidas de controle isoladas para uma cultura não
tenham sucesso, principalmente, quando áreas infestadas circunvizinhas também não forem
manejadas corretamente.
Essas medidas, quando adotadas em conjunto, auxiliarão na manutenção da população dessa
praga em níveis mais baixos do que se tem observado nas áreas consideradas problemáticas.
Enquanto não houver cultivares de soja resistentes ou tolerantes a esse inseto, o sucesso do
manejo da mosca branca na cultura dependerá do reconhecimento da praga associado à
adoção completa do manejo integrado de pragas.
6.3. Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Os percevejos são, atualmente, o fator mais impactante dentre as pragas que compõem o
complexo de insetos que atacam a soja. No cultivo da soja no Brasil, as táticas de manejo
integrado foram negligenciadas, o seu uso foi muito reduzido, contribuindo para um aumento
nas aplicações de inseticidas.
Esse procedimento desencadeou problemas mais sérios, assim como, populações de insetos
resistentes, agressividade de insetos e pragas considerados secundárias como a mosca branca
e ácaros, induzindo a ambientes totalmente desequilibrados e, consequentemente,
aumentado os custos de produção.
Em função de resultados de um recente trabalho da Embrapa Soja, com objetivos de reavaliar
as recomendações do Manejo Integrado de Pragas, foram muitas as lavouras de soja nesta
safra 2015/16, em que se praticou o MIP.
Os critérios recomendados pelo MIP Soja são viáveis no atual sistema produtivo da soja, com
destaque para os seguintes aspectos em relação ao manejo dos percevejos:
1) O monitoramento dos percevejos é fundamental na tomada de decisão de controle e deve
continuar até a fase de maturação da soja, sendo intensificado nos períodos de ocorrência de
maiores densidades populacionais desses insetos na cultura;
2) A qualidade (vigor e viabilidade da semente) da soja obtida no MIP foi idêntica ao do
sistema de manejo de percevejos do produtor, porém com menor número de pulverização de
inseticidas;
3) As aplicações para o controle dos percevejos antes do início do desenvolvimento de vagens
(R3) não resultaram em melhoria da produtividade ou da qualidade dos grãos. Também não
reduziram a densidade populacional de percevejos na fase crítica da soja ao dano da praga;
4) A redução da eficiência de controle ocorreu quando as aplicações foram realizadas com
densidades populacionais de percevejos muito acima do nível de controle;
5) As recomendações para o controle de pragas das folhas e vagens, preconizadas pelo MIP,
são válidas para variedades super precoces como para as de ciclo médio.
Nas áreas de refúgio, necessárias para preservar a tecnologia da soja Intacta, a prática do MIP
assegura perfeita condição de equilíbrio.
7. Doenças e medidas de controle
7.1. Ferrugem da soja
A ferrugem da soja é a principal doença que ataca as lavouras e continua a produzir grandes
prejuízos. Dos estádios R1 até R6, a ferrugem da soja tem produzido os maiores danos. Porém,
existem algumas estratégias para atenuar o grande problema da ferrugem da soja.
Do conjunto de agricultores ouvidos durante a expedição do Projeto Soja Brasil 2015/16, todos
fazem uma aplicação de fungicida de forma preventiva. Uns quando aparece a primeira flor,
outros entre o estádio vegetativo V5 e V6. Outro grupo planta soja logo após o vazio sanitário,
e tomam como referência para a primeira aplicação de fungicida o surgimento da ferrugem. E
outra parcela de produtores, aplica o fungicida pouco antes das linhas de soja se fecharem.
O momento certo das aplicações é fundamental, uma vez que o sucesso na primeira
pulverização acarreta o êxito nas aplicações seguintes, podendo ser mais uma ou mais três ou
até quatro dependendo do ciclo e época de semeadura. As condições climáticas favoráveis ao
desenvolvimento da ferrugem são temperatura entre 18º a 28º C, horas de molhamento foliar
acima de 10 horas (tempo chuvoso) e presença de orvalho por mais de 6 horas.
Na safra presente, a distribuição de chuvas em função do El Niño acentuou a falta de água nas
regiões centro-oeste e norte e promoveu grandes volumes chuvas na região sul, ao ponto de
não permitir, em alguns casos, a entrada nas lavouras para realizar o controle fúngico. Com
isso, a incidência da ferrugem foi menor nas regiões centro-oeste e norte que na região sul.
Alguns procedimentos têm ajudado no controle da ferrugem e maximizado os efeitos dos
fungicidas, tais como, a escolha de variedades com folhas lanceoladas (forma de uma ponta de
lança), maior aeração, maior luminosidade, menor umidade e redução no stand com o uso de
menor número de plantas por metro.
O controle da ferrugem da soja não depende só da eficiência dos fungicidas, mas de medidas
profiláticas como a do vazio sanitário.
8. Manejo dos solos e da cultura
8.1. Nematoides
Durante a Expedição do projeto Soja Brasil observamos várias lavouras de soja com áreas
comprometidas em função da presença de nematoides. A incidência dos parasitos levou a
perdas de até 45%.
Os fitonematoides são parasitos obrigatórios das plantas. Não se alimentam nem se
reproduzem na ausência de plantas vivas. Podem atingir populações elevadas em áreas
cultivadas. A rotação de culturas tem grande influência sobre a densidade dos fitonematoides
e a adequada sucessão ou rotação de culturas é um importante fator no seu controle.
A quantidade de lavouras de soja com presença de nematoides é grande e bem além da nossa
expectativa se consideramos que há um conjunto de informações, de tecnologias disponíveis
para atenuar os danos promovidos por esse parasita.
As propostas de sucessão e rotação de culturas somadas às informações sobre as reações de
determinadas cultivares de soja quanto aos nematoides, se praticadas pelos agricultores,
asseguram o desenvolvimento pleno da soja sem qualquer dano produzido por esse parasita.
Condições de solo como a compactação e o pH elevado, também favorecem a presença e o
dano por nematoides.
Do conjunto de variedades indicadas para todas as regiões produtoras de soja no Brasil, mais
de 50% apresentam resistência ou moderada resistência às principais espécies de nematoides.
A sucessão de culturas soja e milho safrinha são ideais para a permanência e aumento da
população do nematoide das lesões Pratylenchusbrachyurus; somente a Crotalariaspectabilis
pode diminuir significativamente sua população.
O nematoide de galhas Heteroderaglycines tem sua população atenuada com as espécies
vegetais, aveia preta, milheto, nabo, milho, sorgo, algodão, girassol e braquiária ruziziensis.
Os danos na cultura da soja promovidos por nematoides não deveriam ocorrer com tanta
magnitude se consideramos o conjunto de informações disponíveis para controle desse
parasito.
8.2. Dessecação em pré-colheita da soja
Há uma situação de comprometimento do rendimento final da soja criada pelo próprio
agricultor, que é a dessecação em pré-colheita da soja. A dessecação da soja é uma prática que
pode ser utilizada somente em áreas de produção de grãos, com o objetivo de controlar as
plantas daninhas ou uniformizar as plantas com problemas de haste verde/retenção foliar.
Sendo necessária a dessecação em pré-colheita, é importante observar a época apropriada
para executá-la. Aplicações realizadas antes da cultura atingir o estádio reprodutivo R7
provocam perdas no rendimento.
Ao longo da jornada da Expedição Soja Brasil, foram observadas em várias lavouras a
dessecação no estádio R6, o que resulta em perdas de rendimento e a qualidade dos grãos fica
ainda mais prejudicada se houver chuvas no intervalo de até sete dias até a colheita.
A dessecação em pré-colheita de campos de sementes de soja convencional (não RR) com
glifosato não deve ser realizada, uma vez que essa prática acarreta redução de qualidade de
sementes, diminuindo o vigor e a germinação devido ao não desenvolvimento das radículas
secundárias das plântulas. Para evitar que ocorram resíduos no grão colhido, deve-se observa
o intervalo mínimo de sete dias entre a aplicação do produto e a colheita.
8.3. Proteção dos solos
O fator técnico que mais chamou a atenção da equipe da Expedição Soja Brasil em boa parte
das lavouras do país foi a grande quantidade de solos descobertos. A inexistência de algum
tipo de cobertura é muito grave, afinal o solo é o grande patrimônio dos agricultores e precisa
ser protegido do calor dos raios solares, da erosão eólica provocada pelos ventos e do
escorrimento da água da chuva.
O calor afeta muito as condições microbiológicas dos solos. Um grande número de
microrganismos, fungos, bactérias, actinomicetes e, principalmente, microrganismos
solubilizadores responsáveis pela oferta de nutrientes para as plantas é prejudicado pelo
excesso de calor na camada superficial. O resultado é a diminuição da fertilidade dos solos.
A erosão eólica arrasta grande quantidade de areia e argila da camada superficial dos solos. Os
impactos das gotas de chuvas contra o solo destroem suas estruturas e o escorrimento de
água na superfície arrasta nutrientes importantes.
Os efeitos negativos do calor, dos ventos e das águas podem ser evitados em todas as regiões
produtoras de soja no Brasil. Os solos podem ser protegidos com um conjunto de técnicas de
preservação que incluem sistemas onde se cultivam espécies que produzem grandes
quantidades de palha.
Milheto, braquiária, aveia, trigo são espécies que produzem palha com alta relação
Carbono/Nitrogênio (relação C/N), de decomposição lenta. O cultivo do milheto solteiro,
durante dois meses, produz palha suficiente para proteção do solo ao longo de todo o ano,
assim como a braquiária cultivada em consórcio com o milho safrinha.
Os bons efeitos de adubos químicos ficam comprometidos quando: os solos não oferecem
umidade, ação dos microrganismos e temperaturas amenas, para a efetivação das reações
químicas necessárias nos processos de solubilização dos nutrientes.
Agricultores que fazem rotação de culturas com os solos cobertos e com plantio direto,
sempre têm áreas mais produtivas.
Conservação dos solos maximiza o potencial de tecnologias para o cultivo da soja.
9. Custo de produção
Ao longo das Expedições do Projeto Soja Brasil, entrevistamos centenas de agricultores, em
várias localidades do território nacional e sempre indagávamos sobre o custo de produção de
suas lavouras de soja. Da média ponderada entre os valores declarados, chegamos a um custo
equivalente a 36 sacas/ha, considerando um valor médio da soja de R$ 60,00/saca.
Para efeito de comparação e de referência, elaboramos uma planilha com valores médios de
diversas instituições no Brasil que divulgam periodicamente estimativas de custos de produção
de soja. Por essa planilha, o custo médio chega a R$ 2.589,53, que equivalem a 43,15 sacas,
considerando o preço da saca em R$ 60,00.
Fica a questão, como agricultores chegam a estimar seus custos em 36 sacas, se as planilhas
indicam 43,15 sacas, considerando também o valor da saca de R$ 60,00, uma diferença média
de menos 7 sacas.
No tempo de programação da safra, cerca de cinco meses antes da semeadura, agricultores
tomam conhecimento das planilhas de custos apropriadas para sua região. Diante da planilha
eles ponderam custos e buscam alternativas para sua redução, negociando, aproveitando de
“campanhas”, criando alternativas nas propriedades, evitando desperdícios e buscando
tecnologias que levem a redução de custos. Em vários casos que observamos a redução chega
a mais de 11 sacas/ha em relação as planilhas “oficiais”.
Custo de produção de soja 2015/16
I. Despesas de custeio da lavoura. R$/ha
1. Trator e colheitadeira. 182,74
2. Máquinas, implementos. 264,45
3. Mão de obra 35,34
2. Administrador. 172,84
3. Sementes. 237,00
4. Adubos. 312,08
5. Defensivos. 275,07
6. Analises de solo. 15,00
7. Serviços. 16,00
Total. I 1.510,52
II. Outras despesas
1. Transporte Externo. 86,00
3. Armazenagem. 108,33
4. Assistência técnica. 45,97
5. Seguro. 104,19
Total. II. 344,49
III. Despesas financeiras.
1. Juros de financiamento. 58,44
Total III. 58,44
IV. Depreciação.
1.Benfeitorias 178,37
2.Implementos 81,54
3. Máquinas 43,34
Total. IV. 303,25
V. Outros custos fixos.
1.Manutenção de benfeitorias 41,09
2.Encargos sociais 96,55
3.Seguro de capital fixo 4,73
Total. V. 142,37
VI. Renda de fatores.
1.Remuneração esperada sobre capital fixo 60,93
2.Terra própria 169,80
Total. VI. 230,73
Total Geral. 2.589,53
Valores médios obtidos de nove planilhas de custo de produção de diferentes regiões do país.
10. Considerações finais
10.1. Evolução ou involução
Iniciado na safra 2012/2013, o Projeto Soja Brasil acompanhou até agora o desempenho de
lavouras de soja durante quatro safras em praticamente todo o território nacional, onde é
viável o cultivo desta leguminosa.
Uma observação muito importante é o rendimento médio de soja no Brasil durante esses
quatro anos, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Na safra
2012/13 foram 2.938 kg/ha; na safra 2013/14 encerrou com 2.854 kg/ha; a safra 2014/15
chegou a 2.998 kg/ha e a projeção para esta safra 2015/16 é de um rendimento de 3.073
kg/ha.
O melhor rendimento médio nacional foi verificado na safra 2010/11, 3.115 kg/há. Isso
significa que ao longo desse período não tivemos um aumento médio de rendimento, ficamos
estacionados em 50 sacas/ha (medida do Mato Grosso) ou 121 sacas/alqueire (medida do
Paraná). O rendimento médio da soja em todo o Brasil não ultrapassa as 50 sacas/ha, em que
pese haver tecnologia para muito mais.
Cabe, neste contexto, analisar se tivemos uma evolução ou involução em termos de
rendimentos. Independente do uso de novas ou velhas tecnologias, a produtividade média de
soja no Brasil não evoluiu. O lado positivo é que pudemos observar algumas atitudes de
agricultores, bem orientados por engenheiros agrônomos, que vão trazer resultados positivos.
O crescimento de áreas semeadas com soja convencional não deixa de ser também uma
evolução. Isso porque, variedades convencionais são tão produtivas como as transgênicas e
têm um custo mais barato. Temos que entender que não há tecnologia definitiva para o cultivo
da soja, ainda mais quando se busca altos rendimentos em um sistema sustentável. O uso
contínuo de mesma tecnologia durante muito tempo leva a uma seleção de ervas daninhas, de
pragas e de doenças, que acabam ficando altamente resistentes aos tratamentos químicos.
Outro comportamento que mostra a evolução dos agricultores é o entendimento e a aplicação
do conjunto de procedimentos que fazem do Manejo Integrado de Pragas (MIP) uma
ferramenta fundamental no controle de insetos pragas e a maximização do potencial de
inseticidas.
A aceitação dos agricultores de que a rotação de culturas potencializa o resultado de qualquer
tecnologia, também é uma evolução. Agricultores que repetem a sucessão de culturas
soja/milho safrinha (isso é sucessão e não rotação) numa mesma área durante mais de quatro
anos estão em um processo de retrocesso.
Esta involução se apresenta na redução de áreas com plantio direto, já que a maioria das
tecnologias geradas nas diversas instituições de pesquisa do Brasil pressupõe que o produtor
adota a técnica de cultivo. Desta forma, ao não seguir à risca as recomendações, as tecnologias
ficam comprometidas e não vão oferecer seu máximo potencial de utilização.
Durante alguns anos, quase uma década de trabalho, o estado do Paraná construiu um projeto
de conservação do solo. Isso ficou como um exemplo e durante muitos anos os solos do estado
preservaram sua capacidade produtiva. Porém, em função do tamanho de máquinas da
facilidade de trânsito nas lavouras para semear e aplicar defensivos, simplesmente se destruiu
terraços e curvas de níveis.
Nesta safra 2015/16, com as consequências do El Niño, chuvas de grande volume arrastaram
imensas quantidade de solo, promovendo erosão e perda da fertilidade. A eliminação das
curvas de nível e terraços se caracteriza como um processo de involução.
A evolução não está na oferta de tecnologias para maiores rendimentos de soja, mas sim na
postura de agricultores e técnicos.
Decidir as aplicações de inseticidas, via tecnologias do Manejo Integrado de Pragas, é uma
atitude evolutiva.
O uso de sementes e soja convencional significa um procedimento evolutivo.
A ausência de rotação de culturas numa propriedade agrícola não deixa de ser uma involução.
10.2. Atitudes durante o cultivo da soja
Nesses quatro anos de Soja Brasil, também temos visto soja cultivada nas mais diversas
situações de clima, de altitude, de tipos de solos, de tempo de cultivo, de diversos sistemas de
produção, de formas de condução de lavoura e também de expectativas de rendimentos.
Durante estas quatro últimas safras observamos diferentes atitudes de agricultores, conforme
a soja se desenvolve, e que no fundo revelam variadas visões e ansiedades em relação ao
produto soja. Listamos algumas observações de agricultores tomadas durante as reportagens
do projeto:
1 - A forma como estamos produzindo a soja, não da mais.
2 - O modelo de agricultura que estamos praticando, está esgotada.
3 - A cultura de soja está passando por um momento de transição, ainda bem que chegou a
helicoverpa, para podermos refletir.
4- Não estou interessado em saber o porquê a Helicoverpa se estabeleceu na minha lavoura
de soja, o que eu quero é um inseticida que mate ela agora.
5- A presença da Helicoverpa nas lavouras de soja vai induzir os agricultores e técnicos a uma
postura mais técnica do que a que se está praticando.
6 – Todas as aplicações de inseticidas e de fungicidas nas minhas lavouras são feitas de forma
preventiva conforme um calendário estabelecido.
7 – Faço calagem superficial a cada três anos, independente de resultado de análises do solo.
8 – Eu cultivo soja durante três safras num determinado talhão. Na quarta safra sempre cultivo
milho de verão, independente de preço de venda para o milho.
9 – Não será uma nova molécula para a composição de um moderno inseticida, que usado
isoladamente de práticas de manejo de pragas, irá controlar de forma eficaz o percevejo.
10 – Depois que meu vizinho adquiriu um pivô central, ficou muito mais difícil de controlar as
pragas e doenças na minha lavoura de soja.
11 – Sempre mantive os solos da minha propriedade agrícola cobertos com um tipo de palha.
12 – O custo de produção de soja aumenta ano a ano e o aumento de custo não tem refletido
em maiores rendimentos.
13 – Ou os agricultores assumem a real importância do vazio sanitário para o controle da
ferrugem, ou em breve não haverá molécula capaz de controlar essa doença.
14 – A adoção de técnicas da agricultura de precisão resultou em menor consumo de adubos
na minha propriedade, sem comprometer os rendimentos de soja e milho.
É nesse universo de atitudes contrastantes que a soja é cultivada no Brasil. Em que pese toda a
problemática que envolve o cultivo da soja, é comum encontrar agricultores produzindo 70
sacas/ha ou mais em diferentes regiões, evidenciando o bom conjunto de tecnologias
disponíveis para o seu cultivo associado á postura dos agricultores.