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1 RELATÓRIO TÉCNICO FINAL Edital MCT/CNPq/CTAgronegócio nº 064/2008 1. DADOS DO PROJETO Título do projeto: Modelagem e previsão sazonal do risco de doenças de plantas em larga escala – caso da ferrugem asiática da soja no Brasil Processo n o : 578690/20080 Beneficiário: Prof. Dr. Emerson Del Ponte Laboratório de Epidemiologia de Plantas Faculdade de Agronomia Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Período de atividades do relatório: Janeiro de 2009 a Maio de 2012 2. APRESENTAÇÃO O presente visa apresentar uma síntese dos resultados e avaliação do projeto coordenado pelo Laboratório de Epidemiologia de Plantas da UFRGS, e executado em parceria com pesquisadores vinculados a outras seis Instituições: Embrapa Soja, Embrapa Informática Agropecuária, Embrapa Meio Ambiente, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Instituto Nacional de Meteorologia e International Research Institute for Climate and Society. O projeto foi originalmente dividido em três componentes que nortearam a definição dos três objetivos do projeto: 1 – Modelagem espacial e temporal de epidemias de ferrugem asiática 2 – Zoneamento de risco e variabilidade climática 3 – Previsão sazonal de risco da ferrugem asiática Este relatório apresenta a seguinte organização: primeiro, para cada objetivo e meta prevista na proposta são apresentados, de forma sumarizada, o desenvolvimento do objetivo e o resultado do cumprimento da meta, respectivamente. Na sequencia, são apresentados resultados sumarizados dos trabalhos que compuseram cada um dos três componentes acima citados.

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RELATÓRIO  TÉCNICO  FINAL  Edital  MCT/CNPq/CT-­‐Agronegócio  nº  064/2008  

 1.  DADOS  DO  PROJETO    Título  do  projeto:    Modelagem  e  previsão  sazonal  do  risco  de  doenças  de  plantas  em  larga  escala  –  caso  da  ferrugem  asiática  da  soja  no  Brasil    Processo  no:  578690/2008-­‐0    Beneficiário:    Prof.  Dr.  Emerson  Del  Ponte  Laboratório  de  Epidemiologia  de  Plantas    Faculdade  de  Agronomia    Universidade  Federal  do  Rio    Grande  do  Sul  (UFRGS)    Período  de  atividades  do  relatório:    Janeiro  de  2009  a  Maio  de  2012      2.  APRESENTAÇÃO    

O   presente   visa   apresentar   uma   síntese   dos   resultados   e   avaliação   do   projeto  coordenado  pelo  Laboratório  de  Epidemiologia  de  Plantas  da  UFRGS,  e  executado  em  parceria  com   pesquisadores   vinculados   a   outras   seis   Instituições:   Embrapa   Soja,   Embrapa   Informática  Agropecuária,     Embrapa   Meio   Ambiente,   Instituto   Nacional   de   Pesquisas   Espaciais,   Instituto  Nacional  de  Meteorologia  e  International  Research  Institute  for  Climate  and  Society.      

O  projeto  foi  originalmente  dividido  em  três  componentes  que  nortearam  a  definição  dos  três  objetivos  do  projeto:    1  –  Modelagem  espacial  e  temporal  de  epidemias  de  ferrugem  asiática  2  –  Zoneamento  de  risco  e  variabilidade  climática    3  –  Previsão  sazonal  de  risco  da  ferrugem  asiática    

Este   relatório   apresenta   a   seguinte   organização:   primeiro,   para   cada   objetivo   e   meta  prevista  na  proposta  são  apresentados,  de  forma  sumarizada,  o  desenvolvimento  do  objetivo  e  o  resultado   do   cumprimento   da   meta,   respectivamente.   Na   sequencia,   são   apresentados  resultados   sumarizados  dos   trabalhos  que   compuseram  cada  um  dos   três   componentes   acima  citados.  

 

 

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2.  AVALIAÇÃO  DOS  OBJETIVOS  E  METAS  

 

OBJETIVO  1  

Desenvolver  modelos   de   dispersão   espacial   e   evolução   temporal   do   risco   da   ferrugem  asiática   da   soja   na   escala   local   e   regional,   estudando   a   natureza   hierárquica   da   dispersão   da  doença  e  levando  em  conta  a  incerteza  e  a  variabilidade  nos  parâmetros  de  modelos  climáticos  

Desenvolvimento:  Dois   trabalhos   foram  desenvolvidos.  Primeiro,  um  estudo   foi  desenvolvido  pelo  bolsista  DTI  do  projeto  para  descrever  e  interpretar  as  curvas  de  progresso  dos  relatos  de  ferrugem   asiática   no   Brasil,   para   alguns   anos   disponíveis   no   banco   de   dados   do   Consórcio  Antiferrugem   (CAF).   Um   segundo   trabalho   foi   conduzido   por   um   estudante   de   mestrado,  orientado   pelos   pesquisadores   da   Embrapa   Agropecuária   Informática   e   o   coordenador   do  projeto,  utilizando  técnicas  de  mineração  de  dados  para  exploração  dos  dados  de  ocorrência  da  ferrugem   da   soja   no   Brasil.   Foi   utilizada   a   técnica   árvores   de   decisão   utilizando   variáveis  meteorológicas  como  preditivas  da  ocorrência  da  ferrugem  asiática  em  um  conjunto  de  mais  de  5  mil   casos   de   ocorrência   na   a   base   de   dados   disponibilizada   pelo   CAF.   Foram  desenvolvidos  modelos  interpretativos  e  preditivos  da  ocorrência  da  doença  com  base  em  variáveis  de  chuva  e  temperatura  em  períodos  de  30  dias  antes  da  ocorrência  da  doença.  

 

OBJETIVO  2  

Avaliar  o  impacto  da  variabilidade  climática  e  identificar  fatores  chaves  para  o  zoneamento  de  risco  de  epidemias  e  danos  na  produtividade  da  soja  

Desenvolvimento:   Três   trabalhos   foram  conduzidos   (um  artigo  publicado,   um  artigo   aceito   e  outro   artigo   em   finalização).   No   primeiro   trabalho,   um  modelo   de   predição   da   severidade   da  ferrugem  asiática  foi  rodado  com  dados  meteorológicos  diários  em  uma  série  de  30  anos  para  20  localidades  no  Estado  do  Rio  Grande  do  Sul.  Foi  considerada  a  data  de  detecção  da  doença  em  cada  dia  de  uma  janela  de  30  dias  ao  longo  do  período  crítico  de  estabelecimento  da  doença  na  região.  O  risco  da  doença  foi  estimado  com  modelos  probabilísticos  utilizando  a  abordagem  de  anos  análogos.  Nesse  caso,  os  anos  foram  classificados  segundo  a  ocorrência  dos  fenômenos  El  Niño  e  La  Niña  para  estimar  o  risco  da  severidade  da  ferrugem  exceder  determinados  valores  de  severidade,  em  cada  ano  classificado.  A  análise  combinada  de  todos  os  locais  permitiu  avaliar  a  capacidade  do  modelo,  que  usa  os  valores  de  temperatura  na  região  El  Niño  do  oceano  pacífico,  em   prever   o   risco   sazonal   da   ferrugem   asiática   da   soja.   Em   um   segundo   estudo,   os   modelos  preditivos  foram  rodados  para  duas    localidades  no  Estado  do  Rio  Grande  do  Sul,  para  uma  série  de  mais  de  40  anos  de  dados  meteorológicos.  O  modelo  foi  integrado  a  um  simulador  da  cultura  da   soja   (CROPGRO-­‐soybean).   Desta   forma,   foi   simulada   a   severidade   da   doença   em   cenários  simulados  considerando  três  datas  de  plantio,  3  grupos  de  maturação  da  cultivar  e  dois  estádios  fenológico   de   entrada   da   doença.   Um   total   de   mais   de   3   mil   simulações   foram   geradas  combinando-­‐se   essas   variáveis.   Um   terceiro   estudo,   em   fase   de   análise   e   redação   final   por  estudante  de  mestrado,  foram  determinadas  as  relações  entre  a  severidade  da  ferrugem  asiática  e   a   produtividade   da   cultura,   usando   como   base   os   dados   levantados   em   experimentos  conduzidos  no  Brasil  e  coordenados  pela  rede  de  ensaios  do  CAF,  os  quais  continham  parcelas  

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com   diferentes   níveis   de   severidade   e   produtividade,   gerada   em   função   da   aplicação   de  fungicidas.  Modelos  lineares  foram  ajustados  para  os  dados  de  cada  um  dos  ensaios  permitindo  determinar  a  taxa  de  redução  da  produtividade  em  relação  ao  aumento  da  severidade  da  doença.  A  meta   análise   foi   a   técnica   utilizada   para   determinar   a   taxa   de   redução  média   (combinando  todos  os  ensaios)  bem  como  a  incerteza,  além  das  variáveis  moderadores  da  relação.    

 

OBJETIVO  3  

Avaliar  o  potencial  de  uso  de  previsões  climáticas  de  curto  a  médio  prazo  (até  30  dias),  como  variáveis  de  entrada  nos  modelos  preditivos  de  ferrugem  da  soja  em  larga  escala  para  o  Brasil.    

Desenvolvimento:   Dois   trabalhos   foram   conduzidos.   Um   primeiro,   em   parceria   com   os  pesquisadores   do   CPTEC   e   do   INMET,   dados   de   previsão   climática   gerados   por   modelos  estatísticos  foram  usados  para  a  previsão  da  ferrugem  asiática  utilizando  um  modelo  com  base  na  chuva  que  estima  a  severidade  final  da  doença.  De  posse  de  uma  série  de  dados  gerados  pelo  modelos  para  anos  passados   (hindcast  do  modelo),  utilizando  as  previsões  climáticos  para  um  período  de  30  dias,  as  simulações  foram  comparadas  com  predições  feitas  no  mesmo  período  de  tempo   utilizando   dados   de   chuva   observada   para   a   região   sul   do   Brasil.   Os   resultados   foram  avaliados  em  relação  a  destreza  (skill)  do  modelo  em  predizer  a  severidade  da  doença  em  anos  passados,   de   forma   a   se   avaliar   sua   capacidade   de   prever   os  mesmos   eventos   para   situações  futuras.  Em  um  segundo  trabalho,  previsões  de  risco  foram  elaboradas,  em  tempo  real,  ao  longo  de   três   safras   (2009/10,   2010/11   e   2011/12)   para   todas   as   regiões   produtoras   de   soja   do  território  nacional.  Mapas  de  risco  foram  produzidos  utilizando-­‐se  informações  do  prognóstico  meteorológico  para  até  15  dias  no  futuro,  gerados  por  pesquisadores  do  CPTEC.  Os  mapas  foram  incorporados  a   informativos  de  risco  divulgados  no  site  do  CAF  no  período  crítico  da  safra  em  que   a   doença   ocorre   e   que   deve   ser   controlada   com   fungicidas,   o   qual   envolve   os   meses   de  dezembro  e  janeiro,  para  todo  o  Brasil.    

 

METAS  E  RESULTADOS  DA  META  

META  1  

Ter  modelos   desenvolvidos   e   validados   para   a   predição   da   ferrugem   com   base   nos   dados   de  dispersão  da  doença  disponíveis  no  site  Consórcio  Antiferrugem  e  dados  de  progresso  de  doença  avaliados  em  ensaios  regionais  de  avaliação  de  fungicidas.  

Resultado:    Meta  atingida.  Foram  desenvolvidos  modelos  preditivos  da  ocorrência  da  doença  no  Brasil,  sob  influência   de   variáveis   meteorológicas.   Os   dados   de   severidade   da   doença   dos   ensaios   de  avaliação   de   fungicidas   foram   usados   em   modelos   para   a   predição   da   taxa   de   redução   da  produtividade  com  base  na  severidade.          

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META  2  Ter  mapas   para   o   zoneamento   de   risco   e   impacto   da   ferrugem   asiática   da   soja   em   diferentes  regiões  produtoras  do  Brasil  em  função  da  variabilidade  climática  avaliada  em  séries  temporais  de  pelo  menos  20  anos  de  dados.    Resultado    Meta  atingida.  Foram  produzidos  mapas  de  risco  para  dois  estados  produtores  de  soja  do  Brasil,  onde   existe   maior   variabilidade   climática   (RS   e   PR).   Além   dos   mapas,   avaliou-­‐se   o   risco   em  função  de  práticas  de  manejo  como  uso  de  plantio  antecipado  e  cultivares  de  ciclo  precoce,  além  das  condições  meteorológicas.  

 

META  2  

Ter  mapas   semanais  de   risco   climático  da   ferrugem  da   soja  para  o  Brasil  durante  a   safra   com  base  em  dados  de  monitoramento  e  previsão  climática  para  as  safras  de  2008/09,  2009/2010  e  2010/2011.  

Resultado:   Meta   atingida.   Foram   produzidos   15   informativos   de   risco,   com   mapas,   para     o  período  de  três  safras:  2009/10,  2010/11  e  2011/12.  Na  safra  2008/09  não  foi  possível  gerar  os  mapas  em  função  de  não  se  ter  o  bolsista  e  nem  as  metodologias  ainda  desenvolvidas.      

 

   

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3.  SUMÁRIO  DOS  TRABALHOS  EM  CADA  COMPONENTE  DO  PROJETO  

3.1.  Modelagem  espacial  e  temporal  de  epidemias  de  ferrugem  asiática  

3.1.1.  TRABALHO  1  -­‐  Sumário  da  dispersão  em  larga  escala  das  epidemias  de  ferrugem  asiática  da  soja  no  Brasil  em  quatro  safras  (2005/06  a  2008/09)    

JUSTIFICATIVA   E   OBJETIVO:   A   análise   dos   dados   levantados   pelo   CAF   pode   fornecer  importante   informação  acerca  dos  padrões  de  dispersão  da  doença  no  Brasil,  que  pode  ser  de  utilidade   na   construção   e   elaboração   de  modelos   epidemiológicos   e   na   avaliação   do   efeito   de  medidas   adotadas   para   reduzir   o   impacto   da   doença,   como   por   exemplo,   a   adoção   do   vazio  sanitário.  Uma  sumarização  da  dispersão  das  epidemias  em  quatro  safras  no  Brasil  é  o  objetivo  principal  desse  trabalho.  

RESULTADOS  

Banco   de   dados   de   relatos.   Foi   utilizado   o   banco   de   dados   do   CAF.   Nas   safras   2005/06   a  2008/09   foram   registrados,   respectivamente,   1369;   2766;   2107   e   2880   relatos.   A   severidade  das   epidemias,   no   entanto,   pode  não   estar   relacionada   ao  número  de   focos   relatados   em  uma  safra,  uma  vez  que  é  observada  apenas  a  presença  da  doença  nas  lavouras.  Para  ilustrar,  no  ano  de  2006/07,   ano  no  qual   foram  citadas  as  maiores  perdas  em  produtividade  ocasionadas  pela  ferrugem,  o  número  de  relatos  de  focos  foi  inferior  ao  observado  em  2008/09,  quando,  segundo  informações   regionais   o   ataque   da   doença   não   foi   tão   severo   quanto   àquele   ano.   Apesar   de  inconsistente,   o   registro  de   relatos  múltiplos  por  município   apresenta   comportamento  estável  entre   os   anos,   sendo   que   a  mediana   do   número   de   registros   por  município   é   igual   a   dois   em  todas   as   safras.   Na   safra   2005/06   a   ferrugem   asiática   foi   relatada   em   332   municípios,   valor  máximo   entre   as   safras   avaliadas,   seguida   pelos   ciclos   2006/07   (309   municípios),   2008/09  (302)  e  2007/08  (276).  

A   partir   da   safra   2005/06,   ao   contrário   do   adotado   em   2004/05,   foram   considerados   relatos  múltiplos  para  um  mesmo  município  buscando  associar  o  número  de  relatos  ao  progresso  das  epidemias.   Apesar   de   distorções,   em   50%   dos   municípios   onde   foi   observada   a   ferrugem  asiática,   foram   registrados   até   dois   relatos,   indiferente   à   safra.   Na   safra   2006/07   houve   as  maiores  disparidades  quanto  ao  número  de  registros,  havendo  o  caso  de  num  único  município  serem   relatados   330   focos.   Embora   a   informação   seja   importante   em   termos   de   registro   do  aumento  do  número  de  registros  em  uma  região  ao  longo  do  tempo  em  uma  safra,  não  tem  tanta  utilidade   na   tomada   de   decisão,   uma   vez   que   as   primeiras   detecções   devem   ser   consideradas  como  alerta  da  presença  do   fungo,  o  qual  deveria   ser  combinado  com  avaliações  de   risco  com  base  em  outros  fatores  como  as  condições  climáticas.    

Número  de   focos  por   estádio  da   cultura  no  momento  da  detecção.   Indiferente   à   safra,   os  relatos  da  ferrugem  concentram-­‐se  durante  a  fase  reprodutiva  da  cultura  (Figura  1).  Menos  de  5%  dos  relatos  em  campos  comerciais  são  descritos  durante  a  fase  vegetativa  e  53%  dos  focos  são  observados  em  R5.  Na  frequência  acumulada,  93%  dos  relatos  são  observados  até  R6.  Após  R5  a  taxa  de  relatos  decresce,  com  incremento  inferior  a  7%  aos  estádios  finais  de  formação  dos  grãos.   O   conhecimento   do   dano   potencial   à   cultura   durante   as   fases   de   desenvolvimento   e  formação   dos   grãos   além   do   histórico   de   ocorrência   da   doença   durante   a   fase   reprodutiva  determina  o  posicionamento  antecipado  das  aplicações  com  fungicidas,  racionalizando  o  retorno  

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das  aplicações  pela  maior  eficiência  dos  fungicidas  na  ausência  da  doença.  A  relação  entre  danos  versus   momento   de   ocorrência   da   doença   também   pode   explicar   a   intensificação   do  monitoramento,   justificando   a   redução   no   número   de   relatos   nos   estádios   avançados   do  desenvolvimento  da  cultura  (R8,  R9).  

 

Figura  1.  Relatos  de  ferrugem  asiática  da  soja  durantes  as  fases  de  desenvolvimento  da  lavoura.  Safras  2005/06  -­‐  2008/09  (esquerda);  e  Curvas  de  progresso  do  número  de  relatos  de  ferrugem  asiática   da   soja   cadastrados   no   site   do   Consórcio   Antiferrugem.   Safras   2005/06   -­‐   2008/09  (direita).    Progresso  temporal  do  número  de  relatos.  Nenhum  relato  nas  safras  foi  observado  antes  do  mês   de   outubro   dos   respectivos   anos,   seja   em   campo   comercial   ou   em   unidades   de   alerta.   O  progresso  das  epidemias  apresenta  curva  de  formato  correspondente  à  família  de  Richards,  com  taxa  de  crescimento  maior  no  início  das  epidemias  reduzindo  na  medida  em  que  se  aproxima  do  fim  da  estação  de  cultivo.  A   taxa  máxima,   indiferente  à   safra,   foi  observada  entre  os  meses  de  janeiro  à  março  (90  –  150  dias  após  1o  de  outubro),  período  que  pode  ser  definido  como  crítico  no   desenvolvimento   das   epidemias   sendo   responsável   pela   diferenciação   do   número   final   de  focos  relatados  no  ciclo  (Figura  1).    Assume-­‐se  que  curvas  da  família  de  Richards  representam  matematicamente  processos  biológicos  envolvidos  no  progresso  temporal  da  doença,  sendo  que  o   formato   das   curvas   de   progresso   sugere   que   i)   o   início   das   epidemias   é   limitado   pela  disponibilidade  de  inóculo  e  que  ii)  nas  fases  finais  ocorre  a  redução  da  taxa  de  crescimento  da  curva  pela  redução  da  disponibilidade  de  hospedeiros  assintomáticos.  Apesar  do  segundo  ponto  ser  válido,  deve  ser  considerado  que  o  histórico  das  epidemias  não  confirma  a  redução  drástica  de  plantas  assintomáticas  e  sim  que,  no   fim  do  ciclo  existe  uma  menor  preocupação  por  parte  dos   técnicos   em   registrar   a   ocorrência   da   ferrugem  da   soja   nas   lavouras   o   que   desfavorece   o  monitoramento   e   por   seguinte   o   registro   dos   focos   no   site   do   consórcio.   A   partir   da   safra  2006/07  foi  observado  um  retardo  nos  primeiros  relatos  da  doença  no  país  (Figura  4).    Focos  da  ferrugem  nos  meses  de  novembro  e  dezembro  foram  progressivamente  reduzidos  fazendo  com  que  a  maior  proporção  de  focos  fosse  relatada  em  fevereiro,  principalmente  na  safra  2007/08.  

   

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Figura   4.   Relatos   de   focos   da   ferrugem   asiática   em   lavouras   comerciais   no   Brasil   nos  meses.  Safras  2005/06  -­‐  2008/09.  

O   retardo  no   início  das  epidemias   regionais  pode  estar   relacionado  à   redução  da   “pressão”  de  inóculo   inicial  na   safra   sob   influência  do   clima  ou  outros   fatores.  Dentre   as  medidas   adotadas  pelas  agências  governamentais  para  reduzir  o  impacto  da  ferrugem  asiática  da  soja  destaca-­‐se  o  vazio  sanitário,  adotado  pela  primeira  vez  em  2006  em  três  estados,  o  que  pode  ter  contribuído  para  a   redução  do   inóculo  primário  devido  a   interrupção  do  ciclo  do  patógeno  na  entressafra.  Tal   fato   implica   diretamente   no   manejo   da   doença,   uma   vez   que   as   aplicações   podem   ser  retardadas  e  assim  diminuir  o  número  de  aplicações  e,  por  conseguinte,  o  custo  do  controle  da  doença  para  o  país.  

O   nítido   retardo  no   início   das   epidemias   nas   duas   últimas   safras,   com   redução  de   relatos   nos  meses  de  início  da  safra  como  valores  relativos  ao  total  de  focos  registrados,  também  pode  ser  observado  quanto  ao  momento  da  detecção  do  primeiro  relato  (Tabela  1).  Comparando  as  safras  2005/06   e   2008/09,   quando   se   considera   o   limiar   de   5%   dos   relatos   registrados,   houve   um  retardo   de   28   dias   sendo   este   valor   progressivamente   menor   à   medida   que   os   limiares  avançaram,  com  diferença  de  16  dias  para  atingir  50%  dos  relatos  (Tabela  1).  A  safra  2006/07,  na   qual   foram   relatados   danos   significativos   às   lavouras   devido   à   ocorrência   da   ferrugem,   o  número   de   relatos   foi   incrementado   em   100%   em   apenas   três   dias   (entre   5%   a   10%   dos  relatos).  

Tabela  1.  Data  de  detecção  dos  primeiros  focos  de  ferrugem  asiática  e  progresso  das  epidemias  em  lavouras  comerciais.  Safras  2005/06  –  2008/09.  

Safras   Data  da  1a  detecçãox  

Tempo  em  dias  após  1o  de  outubro  para  atingir  os  limiares  da  proporção  de  focos  relatados  na  safray  

5%   10%   15%   50%  

2005/06   18/10   78   89   103   123  

2006/07   10/11   94   97   107   123  

2007/08   07/12   97   107   109   130  

2008/09   08/12   106   113   119   139  

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x  Registro  no  site  do  Consórcio  Antiferrugem  relativos  a  campos  comerciais  (lavouras).  y  Percentuais  relativos  ao  acumulativo  de  focos  relatados  em  campos  comerciais.    

O  principal  diferencial,  entre  as  safras  quanto  ao  progresso  temporal  e  espacial  das  epidemias,  ocorreu  nas  fases  iniciais  das  epidemias,  ratificando  a  importância  da  redução  do  inóculo  inicial.  Assim,  a  taxa  de  progresso  do  número  de  relatos  nas  fases  iniciais  das  epidemias  pode  ser  uma  variável  a  ser  utilizada  em  estudos  de  epidemiologia  quantitativa,  devendo  ser  explorado  como  forma   de   identificar   os   elementos   que   influenciam   na   dinâmica   temporal   da   doença   em   larga  escala,  possivelmente  sob  forte  influência  das  condições  de  clima  na  safra  e  medidas  de  manejo  adotadas  em  larga  escala.  

Progresso  espacial  das  epidemias.  As  epidemias  de  ferrugem  apresentaram  variação  espacial  entre   as   safras,   não   somente   nos   locais   de   ocorrência   dos   focos,   mas   também   com   relação   à  intensidade  das  epidemias  (aqui  relacionadas  aos  números  de  focos  por  município)  (Figura  5).  Os   relatos   da   doença   prevalecem   nas   regiões   do   noroeste   do   Rio   Grande   do   Sul   e   do   Paraná,  sudoeste  do  Mato  Grosso  do  Sul  e  de  Goiás,  além  do  noroeste  da  Bahia,  mostrando  clara  relação  com  as  principais  regiões  produtoras  de  soja  do  país.    

Na   safra   2008/09   no   estado   do  Mato   Grosso   houve   uma  maior   dispersão   da   doença,   quando  comparada   às   demais   safras,   com   um   número  maior   de   municípios   com   relatos   da   doença   e  também  de  focos  por  município.  Os  estados  da  Bahia  e  do  Rio  Grande  do  Sul  destacam-­‐se  quanto  à  dinâmica  espacial  da  doença,  pelo  comportamento  distinto  entre  as  safras  quanto  à  localização  dos   focos   e   à   intensidade  das   epidemias   (Figura  5).  No  RS  na   safra  2008/09  houve  uma  clara  mudança   de   perfil   na   localização   dos   focos,   com   relatos   da   doença,   principalmente   na   região  centro-­‐sul  do  estado.  A  intensidade  das  epidemias  na  Bahia,  considerando  os  relatos  no  site  do  CAF,  apresentou  comportamento  errático  quanto  à  intensidade,  com  maiores  valores  registrados  nas  safras  de  2006/07  e  2008/09  (Figura  5).  

A   distribuição   dos   focos   relatados   e   a   intensidade   das   epidemias   estão   associadas   com   a  distribuição  e  volume  das  chuvas  (Figura  6).  Chamando  a  atenção  para  o  que  foi  descrito  para  os  estados   do   RS   e   da   BA;   nota-­‐se,   respectivamente,   maiores   precipitações   no   sul   do   RS   e   no  noroeste   da   BA   na   safra   2008/09   mostrando   relação   com   a   dispersão   e   a   intensidade   das  epidemias.  

Considerações   finais.  O  banco  de  dados  do  site  do  consórcio  antiferrugem  pode  ser  utilizado  para  traçar  padrões  gerais  das  epidemias  da  ferrugem  asiática  no  Brasil  além  de,  considerando  as  restrições  metodológicas,  determinar  o  efeito  das  variáveis  ambientais  e  práticas  de  controle  sobre  a  dinâmica  espaço-­‐temporal  das  epidemias.  A  manutenção  da  rede  de  registro,  composta  pelos  laboratórios  credenciados  e  da  metodologia  para  o  relato  dos  focos  permitirá,  com  séries  históricas  mais   longas,   um  melhor   entendimento   das   epidemias   da   ferrugem   asiática   no   país  assim   como   de   particularidades   regionais,   auxiliando   técnicos   e   produtores   no   manejo   da  doença.  

 

 

 

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Figura   5.   Localização   (municípios)   dos   focos   da   ferrugem   asiática   da   soja   em   quatro   safras  relatados  no  site  do  consórcio  antiferrugem.  Na  elaboração  dos  mapas,  as  classes  de  número  de  focos   foram   definidas   de   tal   forma   que   casos   com   até   20   registros   por   município   fossem  discriminados  com  maior  rigor  e,  uma  classe  com  alta   faixa  de   intervalo  (21  a  350  focos)  para  reduzir  o  efeito  de  relatos  redundantes  num  mesmo  município.  

 

 

 

 

 

Figura  6.  Mapas  de  chuva  para  as  quatro  safras  descritas  no  estudo,  com  chuva   total  entre  os  meses  de  janeiro  e  março  dos  respectivos  anos  agrícolas.  Fonte:  CPTEC.  

2005/06   2006/07  2007/08   2008/09  

2005/06   2006/07  

2007/08   2008/09  

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3.1.2.   TRABALHO   2   –   Modelagem   da   ocorrência   da   ferrugem   da   soja   com   árvores   de  decisão    

Resumo  da  dissertação  desenvolvida  

MEGETO,  G.  Avaliação  da  influência  da  temperatura  e  da  precipitação  na  ocorrência  da  ferrugem  asiática  da  soja  por  meio  da  técnica  de  árvore  de  decisão.  Dissertação  de  Mestrado.  Programa  de  Pós   graduação   em   Engenharia   Agrícola,   área   de   concentração   de   Planejamento   e  Desenvolvimento  Rural  Sustentável.  

A   ferrugem  asiática,  causada  pelo   fungo  Phakopsora  pachyrhizi,  atualmente  é  considerada  uma  das  doenças  mais  importantes  e  agressivas  da  soja.  A  principal  forma  de  controle  é  a  aplicação  calendarizada   de   fungicidas   a   qual   desconsidera   o   risco   de   ocorrência   da   doença.   Estudos  epidemiológicos   buscam   compreender   os   fatores   que   influenciam   na   ocorrência   e  desenvolvimento   das   epidemias,   especialmente   aqueles   relacionados   ao   ambiente   tais   como  condições  meteorológicas.  Com  o  avanço  da   tecnologia  da   informação  e  do  armazenamento  de  dados,   técnicas   de   mineração   de   dados   (data   mining)   apresentam-­‐se   promissoras   para   a  descoberta   de   conhecimento   em   bases   de   dados   epidemiológicos.   Este   trabalho   tem   como  objetivo  avaliar  a  influência  da  chuva  e  da  temperatura  na  a  ocorrência  da  ferrugem  asiática  da  soja  utilizando  árvores  de  decisão.  Para  tal,   foram  obtidos  dados  de  ocorrências  da  doença  em  quatro   safras,   de   2007/2008   a   2010/2011,   oriundos   do   banco   de   dados   do   Consórcio  Antiferrugem,   e   dados   meteorológicos,   provenientes   do   sistema   Agritempo.   A   análise  exploratória  dos  dados  permitiu  obter  subsídios  para  compor  o  conjunto  de  dados  final  e  definir  o  escopo  deste  trabalho,  buscando-­‐se  características  intrínsecas  à  doença  e  sua  interação  com  o  ambiente,   utilizando   apenas   variáveis   de   base   meteorológica.   As   variáveis   utilizadas   foram  relacionadas  à  precipitação  e  à  temperatura,  que  deram  origem  a  nove  atributos  avaliados  para  cada   período   temporal.   Os   atributos   meteorológicos   foram   relacionados   com   o   evento   de  ocorrência  (Oc)  e  de  não  ocorrência  (NaoOc)  da  doença  (assumido  como  o  trigésimo  dia  anterior  ao   evento   da   ocorrência).   Os   resultados   englobam   um   modelo   preditivo   e   um   modelo  interpretativo  para  classificar  eventos  de  ocorrências  e  de  não  ocorrências  da  doença.  O  modelo  preditivo  utilizou  46  atributos  e  7.129  registros,  e  teve  uma  taxa  de  acerto  79,52%,  avaliada  por  validação   cruzada.   O   modelo   interpretativo   foi   baseado   no   modelo   preditivo,   excluindo-­‐se  outliers   e   realizando   podas   no   modelo,   com   o   objetivo   de   reduzir   o   número   de   regras   para  interpretá-­‐lo   visualmente.   As   regras   obtidas   utilizaram  mais   os   atributos   relacionados   com   a  temperatura  do  que  com  a  precipitação.  Os  valores  detectados  das  temperaturas  apresentaram  coerência  com  os  valores  que  favorecem  ou  não  os  processos  de  infecção  da  planta  encontrados  na   literatura.   O   processo   de   mineração   de   dados   e   os   poderes   preditivo   e   interpretativo   de  árvores   de   decisão  mostraram-­‐se   capazes   de   evidenciar   o   conhecimento   acerca   da   influência  meteorológica  na  ferrugem  asiática  da  soja  e  predizer  razoavelmente  os  eventos  de  ocorrência  da   doença   no   campo,   podendo   ser   úteis   em   avaliações   de   risco   visando   o   apoio   à   tomada   de  decisão  quanto  à  aplicação  de  fungicidas.  

 

 

 

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3.2.  Zoneamento  de  risco  e  variabilidade  climática    

3.2.1.  TRABALHO  1  -­‐  Avaliação  do  risco  climático  e  da  influência  de  ENOS  em  epidemias  de  ferrugem  asiática  da  soja  no  Rio  Grande  do  Sul.      

JUSTIFICATIVA  E  OBJETIVOS:  O  progresso  da  severidade  das  epidemias  de  ferrugem  no  Brasil  é   fortemente   relacionado   às   condições   sazonais   de   clima,   principalmente   a   frequência   e  intensidade  da  precipitação  pluvial.  Tendo  em  vista  a  recente  ocorrência  da  ferrugem  da  soja  no  sul   do   Brasil,   há   necessidade   de   se   quantificar   o   risco   de   epidemias   e   identificar   fatores  preditivos  que  possam  auxiliar  tomadas  de  decisão  relacionadas  ao  manejo  de  risco  da  doença.  Estudos  climatológicos  têm  demonstrado  que  fenômenos  meteorológicos  de  larga  escala,  como  o  El  Niño-­‐Oscilação  Sul  (ENOS),  influenciam  a  produtividade  das  principais  culturas  do  estado  do  Rio   Grande   do   Sul   (RS),   a   saber:   arroz   (MOTA,   2000);   milho   (BERLATO   et   al.,   2005)   e   soja  (MARQUES   et   al.,   2006).   O   presente   trabalho   teve   o   objetivo   de   caracterizar   espacialmente   o  risco  climático  de  epidemias  de   ferrugem  asiática  da  soja  em  diferentes  regiões  produtoras  de  soja  do  RS  bem  como  a  influência  das  fases  do  ENOS  na  magnitude  dos  riscos.  

MATERIAL   E   MÉTODOS:   O   estudo   foi   feito   para   o   Estado   do   RS   onde   24   municípios   foram  escolhidos  em  função  da  representatividade  de  área  plantada  de  soja  e  disponibilidade  de  dados  diários  de  25   anos   (1980  a  2004)  de  precipitação,   fornecidos  pela  Agência  Nacional   de  Águas  (ANA).   A   severidade  máxima   da   ferrugem   asiática   foi   estimada   por   um  modelo   com   base   em  duas  variáveis   relacionadas  à   chuva   (número  de  eventos  e   total  acumulado)  no  período  de  30  dias  após  a  data  da  detecção  da  doença  (DEL  PONTE  et  al.,  2006).  Um  índice  de  severidade  da  ferrugem   (ISSF)   foi   simulado   para   cada   ano   da   série   histórica   (1980   a   2004)   considerando   a  média   da   severidade   a   partir   de   três   datas   hipotéticas   de   detecção   (DHD)   da   doença:   15   de  janeiro,  01  e  15  de  fevereiro  -­‐  intervalo  de  tempo  corresponde  ao  período  em  que  é  reportada  a  maior   quantidade   de   ocorrências   da   ferrugem   no   estado.   A  média   dos   ISF   para   as   três   datas,  denominado   índice   de   severidade   sazonal   (ISS)   foi   calculado   para   cada   ano   da   série   e  classificado  como  alto  (superior  a  60%),  médio  (entre  30  e  60%)  ou  baixo  (inferior  a  30%).  Para  quatro  localidades  com  séries  históricas  de  50  anos  (Cacequi,  Cruz  Alta,  Giruá  e  Três  Passos),  as  fases   do   ENOS   foram   definidas   a   partir   das   anomalias   de   temperatura   de   superfície   do   mar  (TSM)  do  Pacífico  Tropical  (região  3-­‐4)  dos  meses  de  outubro  a  dezembro,  anteriores  ao  período  de  desenvolvimento  crítico  da  doença  (30  dias  após  a  DHD).  As  anomalias  foram  agrupadas  em  quartis  e  então  cada  ano  foi  categorizado  como  pertencente  a  uma  fase  do  ENOS:  quente  (quartil  superior),   neutra   (2º   ou   3º   quartis)   ou   fria   (quartil   inferior).   Sistemas   probabilísticos   de  previsão   sazonal   baseados  nesse   tipo  de   categorização,   dita   abordagem  de   anos   análogos,   são  discutidos   com   maior   profundidade   nos   trabalhos   de   MAIA   E   MEINKE   (2006)   e   MAIA   et   al.  (2007).  O  efeito  das  fases  do  ENOS  sobre  o  ISS  da  ferrugem  foi  explorado  através  de  funções  de  probabilidade   de   excedência   (FPE),   uma   maneira   alternativa   de   representar   as   funções  distribuição   acumulada   dos   ISF.   Este   tipo   de   representação,   que   não   necessita   de   nenhuma  suposição  prévia  dos  dados,   constitui  uma  das  vantagens  de  usar  os  métodos   inferenciais  não  paramétricos  ao  invés  de  métodos  puramente  descritivos  (MAIA  E  MEINKE,  2006).  

RESULTADOS   E   DISCUSSÃO:   A   variabilidade   do   ISS   ao   longo   dos   25   anos   é   apresentada   na  Figura  1,  onde  se  verifica  um  maior  número  de  anos  com  severidade  acima  da  mediana  global  (37.7%)   na   década   de   1990.   A   variabilidade   espacial   do   risco   em   uma   safra,   com   grande  amplitude   em   alguns   anos,   é   demonstrada   pela   distribuição   dos   valores   dos   24   locais   nos  

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diagramas  de  caixa.  A  Figura  2  apresenta  a  FPE  global  com  seus  intervalos  de  confiança  para  os  24  municípios,  onde  o  risco  de  exceder  a  mediana  ao  redor  de  37%  de  severidade  máxima  é  de  50%.  O  risco  de  epidemias  severas,  ou  seja,  acima  de  60%  é  em  geral  baixo,  variando  de  0  a  20%.  A   variação   espacial   do   ISS   é   apresentada   na   Figura   3,   onde   as   barras   correspondem   à  probabilidade  de   epidemias   atingirem  um  valor   superior   à  mediana   global   (37,7%)   e   a   classe  alta  de  severidade  (>60%)  para  cada  um  dos  24  municípios.  A  distribuição  espacial  do  ISS  não  segue   um   padrão   determinado,   provavelmente   acompanhando   a   alta   variabilidade   da  precipitação   na   região.   No   entanto,   entre   os  municípios   estudados,   observaram-­‐se   as  maiores  probabilidades  de  epidemias  severas  no  extremo  norte  e  noroeste  do  estado,  enquanto  que  mais  baixo  risco  foi  observado  na  região  centro-­‐norte,  especialmente  na  localidade  de  Cruz  Alta,  onde  há  a  maior  concentração  de  plantios  de  soja  no  Estado.  

 

Figura  1.  Diagramas  de   caixas  para   a   distribuição   anual   do   índice  de   severidade  da   ferrugem  asiática  da  soja  estimada  por  um  modelo  de  predição  com  base  na  precipitação,  em  25  anos.  Nas  caixas   as   linhas   transversais   superior   e   inferior   correspondem   ao   quartis   de   75%   e   25%,  respectivamente;  linhas  verticais  são  os  quartis  de  95%  e  5%  e  linha  transversal  dentro  da  caixa  é  a  mediana.    

 

Figura  2.  FPE  do   índice  de  severidade  sazonal  da   ferrugem  da  soja  em  24   localidades,  usando  série   de   precipitação   de   25   anos.   As   linhas   tracejadas   que   acompanham   a   função   principal  indicam  os  intervalos  de  confiança  e  as  verticais  na  área  do  gráfico  representam  os  limites  das  classes  de  severidade  (esquerda).  Mapa  das  probabilidades  do  ISS  exceder  a  mediana  (37,7%)  e  a  faixa  de  risco  considerada  alta  (60%).  As  barras  de  referência  representam  probabilidades  de  100%  (direita).  

Ano

1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Õndi

ce d

e se

verid

ade

sazo

nal (

%)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

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As  FPE  dos  quatro  municípios  com  série  histórica  de  50  anos  de  dados  são  ilustradas  na  Figura  4.  Os  efeitos  mais  notáveis  do  ENOS  foram  observados  na  faixa  de  risco  classificada  como  média,  sendo  Giruá  o  município  em  que  houve  a  maior  diferença  –  30%  entre  fase  quente  do  ENOS  e  a  climatologia.  O  risco  de  epidemias  na  classe  alta  foi  estimado  apenas  para  o  município  de  Giruá,  sendo  a  probabilidade  de  15%  e  o  erro  de  10%  (Tabela  1).  

Tabela   1.   Estimativa   de   risco   de   ocorrência   de   epidemias   de   ferrugem   acima   da   mediana  (ISS>37,7%),  para  as  diferentes  fases  do  ENOS,  em  quatro  municípios  do  RS.  

  Fase  do  ENOS  Município   Quente   Neutra   Fria     Probabilidade  (%)  do  ISS  >  37,7%  Cacequi   0,54  (0,14)1   0,32  (0,09)   0,23  (0,12)  Cruz  Alta   0,54  (0,14)   0,29  (0,08)   0,23  (0,12)  Giruá   0,46  (0,14)   0,14  (0,07)   0,23  (0,12)  Três  Passos   0,46  (0,14)   0,39  (0,09)   0,38  (0,13)  Todos  os  municípios   0,48  (0,12)   0,27  (0,08)   0,26  (0,12)  

  (1)  Erro  padrão  da  estimativa.  

   

   Figura  4.  FPE  (Função  probabilidade  de  excedência)  do  índice  de  severidade  de  ferrugem  asiática  nos  municípios  em  função  das  fases  de  ENOS  para  quatro  localidades  no  Estado  do  Rio  Grande  do  Sul.  

CONCLUSÕES:   O   risco  médio   de   epidemias   de   ferrugem  para   24   localidades   no   RS   é   de   70%  para  valores  abaixo  de  30%,  e  de  10%  para  epidemias  severas,  além  de  extremamente  variável  entre  os   anos   e   as   regiões  produtoras  dentro  do  Estado.  As   séries  de  50   anos  de  precipitação  fornecem   informação   evidência  da   influência  de  ENOS  no   risco  da   ferrugem  asiática,     variável  entre  quatro   localidades,  mas   com  aumento  médio  ao   redor  de  20%  quando  da  ocorrência  de  uma  fase  quente  do  ENOS  no  período  OND.    

Cacequi   Cruz  Alta  

Giruá   Três  Passos  

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3.2.2.    TRABALHO  2    -­‐    Severidade  da  ferrugem  asiática  da  soja  simuladas  em  cenários  de  clima  e  manejo  da  cultura  na  região  norte  do  RS  Parte  de  dissertação  defendida  pela  estudante  Vanessa  Chevarria  no  Programa  de  Pós-­‐Graduação  em  Fitotecnia  da  UFRGS,  a  qual  foi  co-­‐orientada  pelo  coordenador  do  projeto    JUSTIFICATIVA  E  OBJETIVOS:  A  ferrugem  da  soja  pode  ocorrer  em  qualquer  estádio  da  cultura,  porém,  relatos  no  Brasil,  em  condições  naturais  de  epidemia,  tem  mostrado  que  a  doença  é  mais  comumente  detectada  no  estádio  reprodutivo,  principalmente  a  partir  do  estádio  de  enchimento  de   grãos   (R5).   No   sul   do   Brasil,   o   impacto   da   doença   na   produtividade   tem   sido   variável   em  função  da  variabilidade  climática,  especialmente  a  precipitação  sazonal  que  influencia  nos  níveis  finais  de   severidade   (DEL  PONTE  et   al.,   2011).  Na  disponibilidade  de  modelos  de   simulação   e  predição   de   ocorrência   e/ou   o   desenvolvimento   de   pragas   e   doenças   de   plantas,   estudos   de  avaliação  de  risco  podem  ser  conduzidos  para  diferentes  cenários  simulados  de  manejo  ou  clima  futuro   (SAVARY   et   al.,   2011),   além   de   aplicações   em   tempo   real   para   orientar   a   tomada   de  decisão  tática  no  manejo  (ROSSI  et  al.,  2010).  A  maioria  dos  modelos  de  pragas  e  doenças  são  do  tipo  climáticos,  uma  vez  que  consideram  a  influência  de  condições  meteorológicos  sobre  as  fases  do   ciclo   de   vida   dos   organismos   (STINNER     et   al.,   1975;   MAGAREY   et   al.,   2002).   Estudos   de  impacto  com  cenários  históricos  de  clima  são  importantes  para  caracterizar  o  risco  médio  e  sua  variabilidade  interanual  (DEL  PONTE  et  al.,  2011),  além  de  projetar  risco  futuro  com  alteração  das   condições   médias   no   longo   prazo   (GHINI   et   al.,   2011).   Por   meio   da   simulação,  alternativamente  e  diferentemente  da  experimentação,  pode-­‐se  avaliar,  por  exemplo,  os  padrões  de   resposta   de   organismos   praga,   sejam   eles   temporais   ou   espaciais,   à   diferentes   cenários,  gerando  informação  importante  para  a  estratégia  de  manejo,  seja  ela  de  curto,  médio  ou   longo  prazo   (WILLOWCQUET   et   al.,   2002).   Assim,   o   objetivo   deste   estudo   foi   simular  concomitantemente,  a  partir  da   integração  de  um  modelo  de  simulação  da  cultura  da  soja  com  modelos  bioclimáticos  a  severidade  da  ferrugem  da  soja  em  cenários  que  consideram  diferentes  momentos   de   ocorrência   das   pragas,   datas   de   plantio   e   grupo   de  maturação   da   cultivar,   para  uma  longa  série  temporal  de  dados  meteorológicos  em  dois  municípios  do  Estado  do  Rio  Grande  do  Sul.      

MATERIAL  E  MÉTODOS:  Dados  de  radiação  solar  (MJ/m2/dia),  temperaturas  máxima  e  mínima  (ºC)  e  precipitação  pluvial  (mm)  foram  obtidos  das  estações  meteorológicas  do  INMET  (Instituto  Nacional   de   Meteorologia),   dos   municípios   de   Passo   Fundo   (latitude   -­‐28,263   e   longitude   -­‐52,407)  e  Santa  Rosa  (latitude  -­‐27,871  e   longitude  -­‐54,481),  no  RS,  os  quais  representam  duas  importantes  regiões  produtoras  de  soja  no  Estado,  com  característica  climática  distinta  e  que  se  dispõe  de  registros  de  séries  históricas  de  dados  meteorológicos.  As  séries  temporais  utilizadas  nas  simulações  continham  52  anos  para  Passo  Fundo  (safras  de  1957/1958  a  2008/2009)  e  34  anos  para  Santa  Rosa  (safras  de  1975/1976  a  2008/2009).    

A   suíte  Decision  Support   System   for  Agrotechnology  Transfer   (DSSAT)   foi  usada  para   simular  o  desenvolvimento   da   cultura   da   soja   com   o  modelo   CROPGRO-­‐Soybean   (JONES   et   al.,   2003),   e  estimar   a   data   de   determinados   eventos   fenológicos.   Um   modelo   de   regressão   linear   (DEL  PONTE  et  al.,  2006)  que  estima  a  severidade  final  (%)  da  ferrugem  asiática  a  partir  da  data  de  detecção  da  doença.  O  modelo  é  dado  por  S(%)  =  -­‐2,1433  +  (0,1811*P30)  +  (1,2865*DP30),  onde  S(%)  é  a  severidade  máxima,  P30  é  a  precipitação  acumulada  em  30  dias  após  a  data  da  detecção  e  DP30  é  o  número  de  dias  de  chuva  no  mesmo  período.    

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As   cultivares   utilizadas   na   simulação,   com   seus   coeficientes   genéticos   constantes   no   pacote  DSSAT  foram  a  Dom  Mario,  representando  oum  grupo  de  maturação  5.5  (ciclo  super-­‐precoce),  a  Coodetec   202   representante   grupo   6.4   (ciclo   precoce)   e   a   Bragg   do   grupo   7   (ciclo   normal).  Foram  avaliadas  três  datas  de  semeaduras  espaçadas  em  30  dias  uma  da  outra,  sendo:  precoce  (5  de  outubro),  recomendada  para  a  região  (5  de  novembro)  e  tardia  (5  de  dezembro),  conforme  o   zoneamento   agrícola   (MAPA,   2010).   O   modelo   CROPGRO-­‐Soybean   simulou,   para   cada  combinação   (local   x   data   de   semeadura   x   grupo   de  maturação   da   soja),   o   número   de   dias   da  semeadura  até  determinados  estádios  fenológicos,  bem  como  até  a  maturação  fisiológica  da  soja  para  cada  ano  da  série  histórica  (Figura  1).  Aproximadamente  3000  simulações  foram  geradas  a  partir  das  variações  de  data  de  plantio,  grupo  de  maturação  da  cultivar  e  estádio  fenológico  de  ocorrência  da  praga  e  da  doença  para  os  dois   locais.  Os   eventos   fenológicos   simulados   foram:  início  do  florescimento  (R1),    início  da  formação  das  vagens  (R3)  e  enchimento  dos  grãos  (R5).    Os  dados  foram  sumarizados  em  valores  medianos,  mínimos  e  máximos  na  série  para  o  número  de  gerações  dos  insetos  e  severidade  da  doença  

RESULTADOS  E  DISCUSSÃO:  De  maneira  geral,   os  efeitos  do  grupo  de  maturação  da   cultivar,  momento   de   detecção   e   data   de   semeadura   da   soja   na   severidade   da   doença   foram   pouco  aparentes.  Para  Passo  Fundo,  as  medianas  na  série  histórica  variaram  entre  36  e  42%,  enquanto  que   para   Santa   Rosa,   variaram   de   32   e   44%   (Tabela   2).   Em   alguns   anos,   como   em   2000   no  município  de  Santa  Rosa,  para  a  data  de  plantio  em  05/11,  foi  estimado  um  valor  de  severidade  de  80%  na  cultivar  do  grupo  5.5  e  em  torno  de  60%  nas  cultivares  dos  grupos  6.4  e  7,  quando  a  doença   foi   detectada   em   R1   (dados   não   mostrados).   Se   a   ferrugem   fosse   detectada   mais  tardiamente,  como  em  R3  ou  R5,  a  severidade  reduziria  para  40%  nos  três  grupos  de  maturação.  Tal  diferença  se  deve  a  variação  intrasazonal  dos  padrões  de  precipitação  pluvial  que  pode  ter  períodos   de   estiagem   alternados   com   períodos   chuvosos.   No   presente   estudo   o   modelo  bioclimático  utilizou  variáveis  de  precipitação  pluvial  no  período  de  30  dias,  período  inferior  ao  ciclo  da   soja  no   campo  em  uma   safra.   Com  os   resultados  obtidos,   não   se  pode  afirmar  que  há  menor  risco  da  doença  em  semeaduras  precoces  ou  quando  se  utiliza  cultivar  de  ciclo  curto  na  região  norte  do  RS  já  que  as  condições  de  chuva  em  uma  determinada  safra  podem  coincidir  com  os  períodos  críticos  para  o  estabelecimento  da  doença,  mesmo  que  seja  em  plantios  antecipados.  É  importante  destacar  que  nas  simulações  da  doença  se  assumiu  a  presença  do  inóculo  em  igual  concentração  em  todas  as  safras  para  os  estádios  críticos  para  a  sua  detecção,  o  que  pode  não  corresponder  plenamente  à  realidade,  uma  vez  que  condições  meteorológicas  no  início  da  safra  podem   determinar   uma   menor   ou   maior   quantidade   de   inóculo   disponível   (DEL   PONTE   &  ESKER,   2008).   Com   base   nesse   pressuposto,   considera-­‐se   que,   em   plantios   antecipados,     na  verdade,  ocorre  um  menor  risco  da  doença  devido  a  uma  condição  de  escape  direcionada  mais  ao  inóculo  do  que  propriamente  de  condições  meteorológicas  que  favorecem  o  desenvolvimento  da  doença,   conforme  demonstrado  nesse  estudo.  A  severidade  da   ferrugem  no  Brasil   tem  sido  variável   ao   longo   das   safras   e   regiões   do   Brasil,   sendo   menos   agressiva   no   Sul   do   Brasil  (YORINORI  et  al.,  2005).  Entretanto  existem  relatos  de  casos  de  desfolha  significativa,  em  função  das   condições   climáticas   sazonais   que   variam  de   um   ano  para   outro   e   falhas   de  manejo   (DEL  PONTE  et  al.,  2006).  O  presente  estudo,  por  outro  lado,  considerando  que  a  doença  pode  ocorrer  desde   o   estádio   de   início   do   florescimento,   contribui   com  novo   conhecimento  mostrando   que  não   existem   evidências   fortes   de   que   algumas   práticas   de  manejo   preconizadas,   como  plantio  antecipado  e  uso  de  cultivares  de  grupos  mais  precoces  de  maturação,  ou  mesmo  a  entrada  mais  tardia   da   doença,   diminuam   o   risco   da   doença   por   escape   das   condições   meteorológicas  favoráveis.  Em  anos  com  condições  meteorológicas  favoráveis  à  doença  ao  longo  da  safra,  maior  

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o  potencial   de   danos   significativos   em  produtividade   e   os   custos   com  aplicação  de   fungicidas,  independente  da  época  de  plantio  e  ciclo  da  cultivar,  conforme  já  verificado  na  região  desde  que  a  ferrugem  foi  detectada  na  região  (YORINORI  et  al.,  2005).  Diferentemente  do  trabalho  anterior  (DEL  PONTE  et   al.,   2011),   o   estudo  não  utilizou  uma  data   fixa   com  base  no   calendário  para   a  ocorrência   inicial  doença,  mas  sim  a  data  predita  pelo  modelo  de   simulação  da  cultura,   a  qual  pode  variar  de  um  ano  para  o  outro  em  função  da  data  de  plantio  e  temperatura  sazonal.  Com  isso,  os  resultados  constituem  um  avanço  no  uso  do  modelo  de  predição  da  doença  em  avaliação  de  risco  da  ferrugem  da  soja  na  região  por  se  aproximar  mais  dos  cenários  reais  de  risco.        Tabela  2  -­‐  Estimativa  dos  valores  de  mediana  (mínimo  e  máximo)  de  severidade  (%)  da  ferrugem  asiática  da  soja  em  função  da  época  de  semeadura,  grupo  de  maturação  e  momento  da  detecção  utilizando  séries  temporais  de  dados  meteorológicos  diários  para  os  município  de  Passo  Fundo  (52  anos)  e  Santa  Rosa  (34  anos),  RS.    

Município   Data  de  semeadura  

Estádio  de  ocorrência  

Grupo  de  maturação  da  cultivar  

Grupo  5.5  (semi-­‐precoce)  

Grupo  6.4  (precoce)  

Grupo  7  (médio)  

Passo  Fundo  (n=52)  

05/out   R1   38,05  (8,69  -­‐  91,01)   39,15  (11,28  -­‐  83,60)   38,61  (89,41  -­‐  15,92)  

05/out   R3   39,90  (15,28  -­‐  5,37)   39,36  (3,69  -­‐  90,88)   39,37  (9,27  -­‐  100,00)  

05/out   R5   40,37  (7,97  -­‐  91,73)   41,64  (9,27  -­‐  100,00)   42,20  (10,30  -­‐  74,53)  

05/nov   R1   39,41  (17,44  -­‐  79,87)   40,31  (9,27  -­‐  94,43)   39,14  (9,27  -­‐  90,38)  

05/nov   R3   39,77  (9,20  -­‐  90,38)   42,92  (11,64  -­‐  73,22)   44,66  (9,00  -­‐  88,44)  

05/nov   R5   42,24  (13,67  -­‐  82,11)   44,12  (9,00  -­‐  87,21)   38,16  (12,64  -­‐  91,61)  

05/dez   R1   38,95  (9,27  -­‐  94,43)   44,92  (10,30  -­‐  87,21)   45,41  (12,33  -­‐  87,35)  

05/dez   R3   43,45  (12,33  -­‐  84,00)   39,17  (12,55  -­‐  100)   36,40  (5,79  -­‐  75,00)  

05/dez   R5   39,70  (12,55  -­‐  99,38)   36,40  (5,79  -­‐  76,98)   34,54  (9,99  -­‐  74,83)  

Santa  Rosa  (n=34)  

05/out   R1   34,16  (9,94  -­‐  100,00)   39,15  (11,28  -­‐  83,60)   32,71  (5,61  -­‐  84,85)  

05/out   R3   38,56  (2,04  -­‐  89,41)   39,36  (3,69  -­‐  90,88)   34,52  (2,69  -­‐  97,76)  

05/out   R5   37,71  (2,69  -­‐  95,75)   41,64  (9,27  -­‐  100,00)   35,37  (5,48  -­‐  89,21)  

05/nov   R1   44,19  (2,69  -­‐  82,01)   40,31  (9,27  -­‐  94,43)   34,28  (2,69  -­‐  78,19)  

05/nov   R3   41,38  (15,28  -­‐  79,71)   42,92  (11,64  -­‐  73,22)   36,33  (3,76  -­‐  80,68)  

05/nov   R5   39,59  (7,60  -­‐  84,23)   44,12  (9,00  -­‐  87,21)   32,11  (12,62  -­‐  97,98)  

05/dez   R1   36,29  (7,60  -­‐  84,23)   44,92  (10,30  -­‐  87,21)   41,38  (2,69  -­‐  83,64)  

05/dez   R3   34,72  (12,62  -­‐  79,71)   39,17  (12,55  -­‐  100)   31,42  (6,71  -­‐  80,70)  

05/dez   R5   30,79  (6,71  -­‐  81,07)   36,40  (5,79  -­‐  76,98)   29,03  (0,00  -­‐  73,51)  

 

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3.2.3.  TRABALHO  3   -­‐  Heterogeneidade  da  relação  entre  produtividade  da  soja  e  severidade  da  ferrugem  asiática:  uma  análise  exploratória    JUSTIFICATIVA  E  OBJETIVOS:  A  ocorrência  da  ferrugem  asiática,  importante  doença  da  cultura  da  soja   no  Brasil,   pode   levar   a   reduções   significativas   na  produtividade   em   função  da  perda  de   área  foliar  sadia  e  queda  precoce  das  folhas  com  o  aumento  da  severidade  da  doença  ao  longo  do  tempo  (área  proporcional  de  lesões).  Ensaios  padronizados  em  rede  (EPR)  têm  sido  conduzidos  no  Brasil  por   vários   anos   e   em   diferentes   locais   com   o   objetivo   de   avaliar   a   eficiência   de   fungicidas   no  controle  da  doença.  Nos  EPR,  as  métricas  de  severidade  da  doença  (X)  e  a  produtividade  da  soja  (Y)  são   obtidas   de   maneira   uniforme   em   um   número   variável   de   tratamentos   por   ensaio.   A   meta-­‐análise,   técnica   que   combina   resultados   de   vários   estudos   individuais,   pode   ser   utilizada   para  resumir  as  estimativas  das  métricas  de  interesse,  no  caso  os  parâmetros  da  regressão  (ROSENBERG  et  al,  2004).  No  contexto  da  meta-­‐análise,  um  peso  diferente  é  atribuído  a  cada  ensaio,  geralmente  o  inverso  da  variância,  ou  seja,  quanto  maior  a   incerteza  da  métrica  menor  a  contribuição  do  ensaio  para   estimativa   final.   Este   trabalho   é   uma   extensão   de   MAIA   et   al   (2009),   porém   utilizando   um  maior  número  de  ensaios,  propondo  novos  critérios  para  exclusão  e  atribuição  de  peso  aos  ensaios.  São  apresentados  métodos  gráficos  para  visualização  da  heterogeneidade  entre  os  ensaios  quanto  aos  seguintes  aspectos;  i)  estimativas  dos  parâmetros  do  modelo  linear  e  respectivos  erros-­‐padrão,  ii)   medidas   de   qualidade   de   ajuste   ao   modelo   e   de   influência   e   iii)   influência   de   variáveis  moderadoras  sobre  a  heterogeneidade  dos  parâmetros.    METODOLOGIA:  Foram  utilizados  dados  de  ensaios  padronizados  em  rede  (EPR)  para  avaliação  da  eficiência   de   fungicidas   no   controle   da   ferrugem   da   soja   em   44   municípios   de   diversas   regiões  produtoras   ao   longo   de   cinco   safras   (GODOY   2005a;   GODOY   2005b).   Em   todos   os   ensaios,   foi  utilizado  o  delineamento  casualizado  em  blocos  (DCB),  com  o  número  de  repetições  variando  de  4  a  6.  O  número  de   tratamentos  avaliados  variou  de  8  a  18.  Ensaios  onde  a  amplitude  de  variação  da  severidade  média  dos  tratamentos  foi  inferior  a  20%  foram  previamente  excluídos,  de  um  conjunto  inicial  de  176  ensaios.  Foram  ajustados  modelos  de  regressão  linear  para  descrever  a  relação  entre  a   severidade   da   ferrugem   (X,   variando   de   0   a   100%)   e   a   produtividade   da   soja   (Y,   kg/ha),  considerando  o  delineamento  utilizado  (DCB).  Para  cada  ensaio,  foram  estimados  os  parâmetros  β0  (intercepto),  que  corresponde  à  produção  potencial  da  soja  na  ausência  da   ferrugem  e  β1,   taxa  de  variação   da   produtividade   da   soja   para   cada   incremento   unitário   na   severidade.   O   coeficiente   de  determinação  (R2)  foi  utilizado  como  medida  de  qualidade  de  ajuste.      A   análise   de   influência   foi   mensurada   via   DFBetas,   métricas   que   quantificam   a   influência   de   um  determinado   par   de   valores   (x,   y)   sobre   as   estimativas   (b0   ou   b1)     dos   parâmetros   do   modelo  (BELSLEY,  1980).    Ao  invés  de  eliminar  ensaios  com  base  na  análise  de  influência,  é  sugerido  nesse  trabalho  o  uso  dos  DFBetas  na  composição  de  pesos  a  serem  utilizados  em  posterior  meta-­‐análise  de  todos  os  ensaios  selecionados,  em  conjunto  com  os  erro-­‐padrão  da  métrica  considerada  (b0  ou  b1).  A  influencia  das  variáveis  moderadoras  (momento  de  detecção  da  doença,  antes  ou  a  partir  o  estágio  de  desenvolvimento  da   soja  R2   (<R2  ou  >=R2)   e   classe  de  produtividade  do   controle   (<  2000  ou  >2000   kg/ha))   sobre   os   parâmetros   β0   e   β1,   do  modelo   linear,   foi   investigada   via   análise   gráfica  exploratória.    Resultados  e  discussão:  Dos  176  EPR  disponíveis,  46   foram  excluídos  pelo  critério  da  amplitude  mínima   de   severidade   (20%).   A   heterogeneidade   das   estimativas   dos   parâmetros   dos   modelos  lineares  ajustados  (b0  e  b1),  para  cada  um  dos  ensaios  selecionados  (n=144)  é  apresentada  na  Figura  

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1.  A  estimativa  da  produção  potencial  na  ausência  da  ferrugem  (b0)  variou  de  1308  a  5042  kg/ha.  Para  a  taxa  de  variação  da  produtividade  da  soja  para  cada  incremento  unitário  na  severidade  (b1),  a  estimativa   variou   de   -­‐50   a   2   (kg/ha)/p.p.   A   amplitude   da   variabilidade   interna   dos   ensaios,  mensurada  pelos  erros-­‐padrão  das  estimativas  dos  parâmetros,    foi    de  23  a  254  kg/há  para  b0  e  de  0,81  a  14  (kg/ha)/p.p.  para  b1.  Observa-­‐se  que  a  distribuição  de  b1  é  bem  mais  assimétrica  que  a  de  b0.   Histogramas   das   medidas   de   qualidade   de   ajuste   e   influência   (Figura   2)   indicaram   baixa  qualidade  de  ajuste  (R2)  para  a  maioria  dos  ensaios  (75%  dos  R2  <  70%),  apesar  dos  baixos  valores  p   observados   (90%   dos   p<0.05).   A   forte   assimetria   dos   histogramas   dos   DFBetas   evidencia   a  presença  de  alguns  ensaios  com  pontos  altamente  influentes,  especialmente  para  b1  .  A  presença  de  pontos  influentes  ocorre  principalmente  em  ensaios  onde  todos  tratamentos  fungicidas  mostraram  alta  eficiência  de  controle  (baixa  severidade)  e  a  testemunha  (controle)  apresentou  alta  severidade.  Como  para   a  maioria   dos   ensaios   existe   forte   evidência   (p   <   0,0001)   sobre   a   relação   linear   entre  produtividade   e   severidade.   Assim,   considera-­‐se   a   relação   ‘verdadeira’  mesmo   quando   altamente  influenciada  pela  severidade  do  controle.  Numa  posterior  meta  análise  dos  parâmetros  do  modelo  linear,  ensaios  com  altos  DFBetas  não  serão  excluídos,  mas  essas  medidas  de  influencia  serão  usadas  na  ponderação  em  conjunto  com  o  erro-­‐padrão  da  estimativa  do  parâmetro  em  questão  (b0  ou  b1).  

   

Figura   1.   Histogramas   para:   estimativa   da   produtividade   potencial   da   soja   (b0)   na   ausência   da  ferrugem  (A)  e  estimativa  (b1)  da  variação  na  produtividade  (kg/ha)  para  cada  aumento  unitário  (1  ponto  percentual,  p.p.)  na  severidade  da  ferrugem  (B).  (N=144  ensaios).  

   

A   BA  

A   B  

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Figura   2.   Histogramas   para   medidas   de   qualidade   de   ajuste   e   influência:   (A)   coeficiente   de  determinação   (R2)   do   modelo   linear   ajustado,   considerando   o   efeito   de   blocos,   (B)   nível   de  significância   nominal   (valor   p)   para   a   hipótese   β0=0,   (C)   máximo   DFBeta   para   o   intercepto  (DFBeta0)  e  (D)  para  o  coeficiente  angular  (DFBeta1)    do  modelo  linear.  (N=144  ensaios).      

 Figura  3.   Influência  do  estágio  de  detecção  da  doença  (antes  ou  a  partir  do  estágio  R2)  sobre:   (A)  produtividade   potencial   (β0)   da   soja   e   (B)   taxa   de   variação   da   produtividade   (β1)   da   soja   para  variações   unitárias   da   severidade   (ponto   percentual,   p.p.).   (C)   Influência   da   produtividade   do  controle  (<  2000  ou  >  2000  kg/ha)  sobre  β1.      Conclusões:   Existe   uma   alta   heterogeneidade   entre   ensaios,   tanto   em   relação   à   produtividade  potencial  da  soja,  quanto  em  relação  à  influência  da  severidade  da  ferrugem  sobre  a  produtividade.  A   incerteza  das  estimativas,  a  qualidade  de  ajuste  e  as  medidas  de   influência   também  apresentam  alta  variabilidade  no  conjunto  de  ensaios  investigados,  sugerindo  a  necessidade  de  ponderação  dos  ensaios  em  posterior  meta  análise  de  forma  a  atribuir  maior  peso  a  ensaios  onde  há  maior  evidência  da   relação   linear   e   menor   incerteza   da   estimativa   para   a   métrica   considerada.   A   análise   gráfica  indica  influência  dos  moderadores  estádio  de  detecção  da  doença  e  classe  de  produtividade  sobre  a  taxa  de  variação  da  produtividade  da  soja  em  função  da  severidade  da  ferrugem.          

C   DA  

A

C  B   C

C  

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3.3.    Previsão  sazonal  de  risco  da  ferrugem  asiática    3.3.1.   TRABALHO  1   -­‐  Previsões   sazonais  da   ferrugem  com  base   em  previsões   climáticas  de  modelos  globais  (GCMs)    JUSTIFICATIVA  E  OBJETIVOS:   A   antecipação   de   risco   da   ferrugem  asiática   antes   ou   no   início   de  uma  safra  é  importante  para  orientar  a  tomada  de  decisão  quanto  à  necessidade  de  monitoramento  intensivo  da  doença  ou  mesmo  de  planejamento  de   aplicações  de   fungicidas.  Modelos   estatísticos  tem  sido  ajustados  para  prever  condições  climáticas  para  períodos  de  até  seis  meses  no  futuro.  No  Brasil,   um   grupo   de   pesquisa   no   INPE,   colaborador   do   presente   projeto,   desenvolve   e   testa   a  habilidade   dos   modelos   estatísticos   em   fazer   previsões   de   variáveis   meteorológicas.   O   objetivo  deste   trabalho   foi   avaliar   o   potencial   de   uso   das   previsões   pelo   modelos   globais   para   prever   a  severidade  da  ferrugem  asiática  em  larga  escala  geográfica.        MATERIAL  E  MÉTODOS:  O  conjunto  de  dados  usado  como  entrada  para  o  modelo  de  doença  são  do  Centro  Europeu  de  previsão  de  médio  prazo  (ECMWF)  Sistema  3  Ensemble,  que   foram  fornecidos  pelo   projeto   EUROBRISA   (http://eurobrisa.cptec.inpe.br).   Embora   o   modelo   geral   produza  previsões  até  seis  meses  no  futuro,   foi  utilizado  um  dos  membros  do  modelo  que  produz  previsão  mensal,  por  exemplo,  a  previsão  para  fevereiro  é  emitido  em  janeiro.  A  série  de  tempo  selecionada  foi  limitada  ao  período  entre  1982  e  2005  (24  anos),  devido  à  disponibilidade  dos  dados  climáticos  preditos  pelo  modelo  (hindcast).  A  região  de  estudo  foi  composta  por  25  células  da  grade  no  Sul  do  Brasil.   Os   dados   foram   calibrados   para   cada   previsão   mensal   (ou   seja,   retirou-­‐se   seu   viés),  ajustando-­‐a  com  relação  a  dados  de  longo  prazo,  de  acordo  com  a  expressão:  PBC  =  Pr  -­‐  PCM  +  Pobs,  onde  Pbc  representa  a  previsão  viés  corrigida  resultante,  Pr  é  hindcast  da  precipitação  mensal  (a  ser  corrigido),  refere-­‐se  a  climatologia  Pcm  previsões  "(para  o  período  de  24  anos)  e  Pobs  representa  o  observado   climatologia   mensal   de   dados   para   o   período   de   24   anos.   Foram   usados   dados   de  precipitação   observada   (GPCP,.   Adler   et   al,   2003).   Este   conjunto   de   dados,   que   está   disponível  globalmente   a   2,5   °   latitude   ×   2,5   °   longitude   resolução,   incorpora   estimativas   de   precipitação   a  partir  de  ambos  os  satélites  visíveis  e  infravermelhos  e  observações  de  cerca  de  7.000  pluviômetros  espalhados   pelo   mundo.   Uma   vez   realizada   a   correção   de   viés,   foram   utilizadas   as   previsões   de  precipitação   como   entrada   no  modelo   de   ferrugem   da   soja   (Del   Ponte   et   al.,   2006).   Foram   então  gerados   24  mapas   de   severidade   predita   (média   de   todos   os   membros   em   cada   ano   do   período  1982-­‐2005).  O  mesmo  foi   feito  com  os  dados  observados  GPCP,  originando  o  que  referido  como  a  severidade   da   soja   observada.   A   destreza   das   previsões   sazonais   foi   quantificado   por  meio   de:   i)  correlação  de  dados  previstos  com  os  dados  GPCP  observados  e  Score  de  Brier.      RESULTADOS:  Os  mapas  mostram  variabilidade  espacial  e  temporal  dos  coeficientes  de  correlação  e  índice  de  Brier.  Correlações  e  índices  de  concordância  mais  altos  foram  observadas  no  Estado  do  RS,   para   as   previsões  no  mês  de  dezembro   e   janeiro.   Já   no  mês  de   fevereiro,   as   correlações  mais  altas   foram   em   regiões   do   Estado   do   PR.   Os   valores   mais   altos   de   correlação   (>0.4)   foram  observados   nessa   última   região.     A   figura   3   mostra   o   coeficiente   de   correlação   entre   os   valores  observados  e  simulados.    

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     Fig.   xx.  Mapas  de  correlação  entre  a   severidade  observada  e  simulada  da   ferrugem  da  soja  para  o  período  1982-­‐2005.  Previsões  válidas  para  os  meses  de  (a)  de  dezembro,  (b)  janeiro  e  (c)  fevereiro.    

     Fig.4.  Maps  de  score  de  Brier    entre  observada  e   simulada  severidade  da   ferrugem  da  soja  para  o  período  1982-­‐2005.  Previsões  válidas  para  os  meses  de  (a)  de  dezembro,  (b)  janeiro  e  (c)  fevereiro  (anterior  à  safra).      CONCLUSÕES:   Conclui-­‐se   que   os   dados   de   previsão   climática   podem   ser   utilizados   na   previsão  sazonal   da   ferrugem   asiática,   porém   com  maior   confiabilidade   nos   resultados   para   determinadas  épocas  e  regiões.  Sugere-­‐se  que  a  informação  gerada  por  esses  modelos  não  sejam  a  única  indicativa  do  risco  e  que  se  faça  maiores  ajustes  com  redução  de  viés  e  redução  da  escala  espacial,  aumentando  a  resolução  das  previsões.    

3.3.2  –  TRABALHO  2  -­‐  Informativos  e  mapas  de  risco  para  o  Consórcio  Antiferrugem  

O  Consórcio  Antiferrugem  é  uma  iniciativa  que  se  propõe  a  publicar  informações  sobre  a  ferrugem  asiática   da   soja   que   auxiliem   os   produtores   na   tomada   de   decisão.   O   objetivo   desse   trabalho   foi  elaborar   informativos   de   risco   climático   durante   três   safras,   de   2009/10   e   2011/12   para   serem  divulgados   na   Internet.   Através   de   parceira   com   o   Centro   de   Previsão   de   Tempo   e   Estudos  Climáticos  (CPTEC),  o  processo  de  criação  dos  mapas  nacionais  de  risco  incluídos  nos  informativos  envolveu   utilizar   dados   observados   (nos   últimos   30   dias)   e   previstos   (para   os   próximos   7   ou   10  dias)   de   chuva   como   entrada   em   um   modelo   de   severidade   da   ferrugem   para   inferir   sobre   as  condições  ambientais   ideais  para  o  desenvolvimento  da  doença  em  nível  nacional.  Ao  todo,  quinze  edições   do   informativo   foram   publicadas   no   site   do   consórcio:   www.consorcioantiferrugem.net.  Figura  1.  

a)   b)   c)  

a)   b)   c)  

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Figura   1.   Tela   inicial   da   página   dos   informativos   de   risco   da   ferrugem   asiática   da   soja   no   site  www.consorcioantiferrugem.net  

 

Os  informativos  foram  compostos  com  os  seguintes  componentes:  1)  descrição  dasituação  atual  da  ferrugem   no   país   onde   eram   descritos   os   números   de   relatos   até   o   momento;   2)   Análise  comparativa   dos   números   da   safra   com   safras   anteriores;   3)   Mapas   de   monitoramento   de   risco  climático   passado   (30   dias   anteriores)   e   mapas   futuros   (7   dias   no   futuro).   As   figuras   2   e   3  apresentam  um  exemplo  de  sumário  do  número  de  relatos  e  dos  mapas  de  risco.  

 

 

Figura   3.   Distribuição   dos   relatos   de   ferrugem,   por   Estado   do   Brasil,   detectados   até   o   presente  momento  (esquerda)  e  somente  os  detectados  a  partir  de  12  de  janeiro  de  2011  (direita).    

 

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Figura   3.   Tela   capturada   de   um   dos   informativos   disponibilizados   no   website  www.consorcioantiferrugem.net   mostrando   os   mapas   de   risco   climático   para   o   tempo   futuro,  gerados  utilizando  as  previsões  do  tempo  disponibilizadas  pelo  CPTEC/INPE.      

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4.  CONSIDERAÇÕES,  DIFICULDADES  E  PERSPECTIVAS  

 

Considera-­‐se   que  o  projeto   foi   conduzido   com  êxito   e   atingiu   os   objetivos  propostos.  Os   recursos  

disponibilizados   permitiram   o   desenvolvimento   de   todas   as   atividades   previstas,   em   sua  maioria  

envolvendo  o  custeio  de  viagens  dos  pesquisadores  para  coletar  dados  de  campo,  visitas  de  trabalho  

e   participação   em   eventos,   todos   devidamente   autorizados   pelo   CNPq.   A   bibliografia   e   os  

equipamentos   adquiridos   permitiram   melhorar   a   estrutura   computacional   do   laboratório   de  

Epidemiologia,  necessária  para  a  execução  do  projeto.  O  remanejo  de  recursos,  solicitado  ao  final  do  

projeto   tendo   em   vista   o   grande   saldo   disponível   que   não   pode   ser   utilizado   nas   viagens,   foi  

importante   para   possibilitar   a   aquisição   de   material   de   laboratório   necessário   para   a   análise   de  

material   vegetal   coletado   nas   viagens   para   campo   de   forma   a   confirmar   os   casos   positivos   de  

ferrugem  asiática.  

Duas   das   três   viagens   internacionais   previstas   foram   realizadas,   ambas   pelo   coordenador.   A  

primeira  foi  para  participar  de  um  evento  internacional  específico  sobre  a  ferrugem  asiática  da  soja,  

nos   Estados   Unidos,   e   a   segunda   para   uma   visita   de   trabalho   no   IRI,   instituição   colaboradora   do  

projeto,  para  a  execução  de  algumas  análises  e  discussão  dos  trabalhos  com  o  pesquisador  parceiro  

do   projeto.   As   visitas   de   trabalho   no   país   foram   extremamente   importantes   para   a   aproximação  

entre  os  grupos.  Nesse  sentido,  foi  bastante  positiva  a  integração  com  outros  projetos  apoiados  pelo  

mesmo  Edital  64/2008,  que  tinham  um  enfoque  em  temática  similar  ao  do  presente  projeto.  Como  

exemplo,   o   projeto   SISALERT,   coordenado   pela   Embrapa   Trigo   e   o   projeto   DOENÇAS   DA   SOJA,  

coordenado   pela   Embrapa   Soja.   No   primeiro   caso,   foram   compartilhadas   as   tecnologias  

desenvolvidas  pelos  grupos  de  ambos  os  projetos,  viabilizadas  por  meio  de  visitas  à  Embrapa  Trigo,  

em   Passo   Fundo.   No   caso   da   Embrapa   Soja,   essa   era   parceira   do   projeto   e   foi   de   extrema   valia  

utilizar  os  dados  gerados  pelo  Consórcio  Antiferrugem  e  disponibilizar  os  mapas  de  risco  no  mesmo,  

atividade  apoiada  pelo  projeto  coordenado  pela  Embrapa  Soja.    

Do   ponto   de   vista   de   formação   de   recursos   humanos,   o   projeto   propiciou   o   treinamento   de   pelo  

menos  três  estudantes  de  pós  graduação  diretamente  envolvidos  nas  atividades  do  projeto,  além  do  

bolsista   DTI.   Nesse   último   caso,   a   participação   do   bolsista   foi   essencial   na   operacionalização   das  

previsões   de   risco   e   elaboração   dos   mapas   e   informativos   de   risco.   Além   dos   produtos   gerados,  

destaca-­‐se   o   elevado   número   de   produção   científica   na   forma   de   publicações   apresentadas   em  

formato   pôster   ou   apresentação   oral   em   conferências.   Diversos   artigos   foram   produzidos   para  

revistas   magazine   (Revista   Cultivar   e   Revista   Plantio   Direto)   direcionadas   ao   público   técnico   e  

produtores  rurais,  com  as  informações  geradas  pelo  projeto.  Um  artigo  científicos  foi  publicado  em  

revista  internacional  e  pelo  menos  quatro  outros  trabalhos  estão  em  fase  de  finalização  por  fazerem  

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parte   de   estudos   de   pós-­‐graduação,   os   quais   serão   publicados   posteriormente   em   revistas  

científicas  da  área.  

Quanto   às   dificuldades,   conforme  mencionado   nos   relatórios   parciais,   sentiu-­‐se   a   necessidade   de  

que  uma  maior  parte  dos  recursos  tivesse  sido  destinada  à  bolsas  DTI,  uma  vez  que  no  Edital  havia  a  

limitação   de   solicitação   de   bolsas   em   um   percentual   fixo   do   valor   total.   Devido   à   natureza  

multidisciplinar   do   projeto,   seria   importante   que  mais   profissionais   tivessem   sido   agregados   aos  

diferentes  grupos  de  pesquisa,  o  que  facilitaria  a  distribuição  do  trabalho  e  comprometimento  dos  

colaboradores.  Uma  outra  dificuldade  foi  de  utilizar  o  recurso  previsto  para  as  viagens.  Uma  vez  que  

a   maioria   da   equipe   era   composta   de   pesquisadores/professores,   os   quais   não   possuem   um  

calendário  muito  flexível  que  permita  deslocamentos  e  visitas  de  trabalho  de  maior  duração,  o  que  

seria  o  caso  de  bolsistas  e  estudantes  dedicados  ao  projeto.  Com  isso,  não  puderam  ser  realizados  

workshops  com  mais  de  três  membros  da  equipe  do  projeto.  No  entanto,  esse  fato  não  interferiu  na  

dinâmica  de  trabalho  do  grupo  o  qual  manteve  uma  intensa  troca  de  informações  seja  por  internet  

ou  por  meio  das  visitas  individuais  realizadas.    

 

     

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Referências  bibliográficas  

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