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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: Agosto/2014 a Julho/2015 ( ) PARCIAL ( x ) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho): Inovação e sustentabilidade: práticas e tendências na pesca dos estados do Pará e Santa Catarina (BRA) e da região da Galícia (ESP). Nome do Orientador: Prof. Dr. José Nazareno Araújo dos Santos Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Ciências Econômicas (FACECON) Instituto/Núcleo: Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) Laboratório: Economia Pesqueira Título do Plano de Trabalho: A contribuição das instituições na promoção da inovação na pesca industrial de Vigia de Nazaré (PA) Nome do Bolsista: Mariane de Nazaré Araújo dos Santos Tipo de Bolsa : ( ) PIBIC/ CNPq ( ) PIBIC/CNPq AF ( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( )PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( x ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq, CNPq/AF, UFPA,

UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Período: Agosto/2014 a Julho/2015

( ) PARCIAL

( x ) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho): Inovação e sustentabilidade:

práticas e tendências na pesca dos estados do Pará e Santa Catarina (BRA) e da região da Galícia (ESP).

Nome do Orientador: Prof. Dr. José Nazareno Araújo dos Santos

Titulação do Orientador: Doutor

Faculdade: Ciências Econômicas (FACECON)

Instituto/Núcleo: Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)

Laboratório: Economia Pesqueira

Título do Plano de Trabalho: A contribuição das instituições na promoção da inovação na pesca industrial

de Vigia de Nazaré (PA)

Nome do Bolsista: Mariane de Nazaré Araújo dos Santos

Tipo de Bolsa : ( ) PIBIC/ CNPq

( ) PIBIC/CNPq – AF

( )PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador

( ) PIBIC/UFPA

( ) PIBIC/UFPA – AF

( ) PIBIC/ INTERIOR

( )PIBIC/PARD

( ) PIBIC/PADRC

( x ) PIBIC/FAPESPA

( ) PIBIC/ PIAD

( ) PIBIC/PIBIT

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INTRODUÇÃO

Como desdobramento de um projeto mais abrangente, a presente pesquisa tem um recorte focado

na atividade pesqueira, importante atividade socioeconômica para o estado do Pará, particularmente no

município de Vigia de Nazaré, cuja importância repercute na própria dinâmica econômica local. Embora

tenha perdido força nos últimos anos, é inimaginável se dissociar a pesca do circuito cotidiano daquele

ambiente (SANTOS, 2013).

A literatura acadêmica disponível acerca do tema é bastante abrangente e me permitiu absorver

conhecimentos e informações que confirmaram ou desmistificaram referências sobre a relevância dessa

atividade para muitos cidadãos ao passo que, possibilitou-me o ingresso a novos conhecimentos que me

possibilitaram atingir estágios que inicialmente não estavam planejados.

A ideia principal de minha pesquisa circundava a importância das inovações e das respectivas

instituições que compunham o arranjo institucional da atividade pesqueira no município de Vigia de

Nazaré. Todavia, a medida que avançava nas entrevistas e nas visitas locais, tornava-se cada vez mais

perceptível outros aspectos importantes que envolviam a pesca e sua cadeia de produção.

Desse modo, houveram complementações no referido estudo que nos possibilitam compreender

aspectos que poderiam (e podem) ser não observados de maneira a correspondê-los com mudanças na

oferta e respectivamente no comportamento dos consumidores de pescado, pelo menos em termos de

espaço local. Descobriram-se novas formas de comercialização e consequentemente o descompasso

institucional, objeto propulsor de dificuldades constantes e resistentes à própria liberdade de

comercialização.

A corrente de pensamento adotada foi importante para essa percepção, pois permitiu de forma

mais clara a compreensão das categorias ali presentes e o entendimento acerca de alguns acontecimentos

percebidos ao longo do acompanhamento de alguns agentes envolvidos com a pesca vigiense. A

compreensão, ainda que parcial, da dinâmica pesqueira de Vigia de Nazaré, à luz da teoria da Economia

Institucional, fez-nos refletir sobre a importância das instituições e seu papel no processo de sustentação e

de indução do desenvolvimento da atividade, a fim de permitir que o município, de um modo geral, seja

beneficiado com os desdobramentos decorrentes de ações responsáveis e contundentes à sua promoção.

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JUSTIFICATIVA:

Em virtude de sua importância socioeconômica, por se apresentar como principal alternativa para

geração de trabalho e renda para uma parcela significativa da população, principalmente em regiões onde

sua produção tem elevada participação na economia, a pesca torna-se um importante objeto de estudo.

Existe uma diversidade de estudos acerca do tema e as abordagens denotam a relevância da

atividade. O interesse acadêmico pela pesca advém desde os tempos da colonização (VIEIRA, 2003;

SANTOS & SANTOS, 2005), porém é nas últimas décadas, em especial na mais recente, que tem

ganhado mais destaque.

Particularmente acerca da pesca em Vigia de Nazaré, Santos (2007) aponta que a pesca é uma

atividade socioeconômica indispensável para o desenvolvimento local e tem vantagens comparativas e

competitivas com outros entrepostos pesqueiros estaduais, principalmente porque apresenta localização

estratégica, tanto em relação ao centro de captura quanto ao de distribuição, tem um mercado forte e

consolidado, um setor industrial atrativo e dinâmico, além de vantagens quanto a facilidade de

escoamento da produção, entre outros.

OBJETIVOS:

Avaliar a evolução institucional no ambiente produtivo pesqueiro de Vigia de Nazaré (PA),

identificando os elementos de contribuição desta no processo de desenvolvimento da atividade em termos

de inovação.

ABORDAGEM TEÓRICA:

Esta seção se prenderá aos pressupostos teóricos da Nova Economia Institucional (NEI) iniciada

com North, assim como da teoria evolucionária da mudança institucional. North (1998, p. 8) define

instituições como “as regras do jogo em uma sociedade, ou mais formalmente, são as limitações

idealizadas pelo homem que dão a interação humana. Elas estruturam incentivos na interação humana,

seja político, social ou econômico”. Portanto, as instituições são moldadas pela interação que existe entre

os indivíduos e resultam deste processo.

Para Pejovich (1995, p. 36-37) “a maior função das regras do jogo é reduzir o custo das interações

humanas ao tornar os comportamentos mais previsíveis. Para cumprir este objetivo, as instituições devem

ser críveis e estáveis”, pois especificamente as instituições são “os arranjos legais, administrativos e de

costumes para interações humanas repetidas” (NORTH, 1991, p. 30).

A seletividade e a estabilidade apontadas por North (1991) como características imprescindíveis

das instituições são indispensáveis na construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento, pois

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assim conseguem juntar os elementos necessários (ciência pura e P&D aplicada, por exemplo) de uma

forma onde as aptidões sociais sejam mais bem exploradas e aplicadas (DOSI, 2006).

É importante destacar, entretanto, que as instituições presentes e atuantes em um ambiente

considerado podem ter caráter tanto formal quanto informal, fato que não reduz sua importância. Em

alguns casos as instituições consideradas informais são predominantes e, portanto, condicionam as

decisões dos agentes. De acordo com Arend e Cário (2005, p. 5), “as limitações informais surgem da

informação transmitida socialmente e são parte da herança que chamamos de cultura”.

Desse modo, pode-se considerar que a evolução das instituições é path dependence, ou seja, é

fruto de todo um processo histórico. Logo, o desempenho das instituições é influenciado pela interação

humana no decorrer de sua evolução. São as rotinas, costumes e tradições aliadas às convenções humanas

que são responsáveis pela persistência e importância das limitações informais, dando a estas, forma

específica de acordo com o local onde se processa tais relações.

Portanto, diferentemente da corrente econômica dominante, a teoria neoinstitucionalista tem a

preocupação de mostrar como as instituições têm relevante papel na explicação de processos econômicos,

processos dinâmicos, que vivem em constante evolução. Nesta linha, englobando o aspecto econômico e

dando uma nova roupagem à discussão do conceito de instituição, é que Pondé (2000, p. 126) assim a

define: “instituições econômicas são regularidades de comportamento, social e historicamente

construídas, que moldam e ordenam as interações entre indivíduos e grupos de indivíduos, produzindo

padrões relativamente estáveis e determinados na operação do sistema econômico”.

Este conceito reforça a base de discussão da Nova Economia Institucional (NEI), ao mesmo tempo

em que tenta abarcar aspectos que envolvem a explicação de detalhes sobre a ‘variabilidade’ das

instituições, oriundos das relações entre os agentes econômicos que “caracterizam o sistema econômico e

afetam sua operação” (PONDÉ, 2000, p. 143), buscando explicar: “i) a gênese e permanência das

instituições existentes e, ii) como diferentes regimes institucionais produzem diferentes comportamentos

e resultados”.

Em um ambiente onde a incerteza entre as relações dos agentes econômicos seja elevada é

imprescindível a busca de mecanismos que possam tensionar sua redução, de tal modo que as ações

humanas tornem-se menos imprevisíveis. Em termos da inovação, dado que as incertezas e os riscos são

elevados, as instituições tornam-se elementos indispensáveis na consolidação da rotina tecnológica.

Este aspecto é reforçado pelos teóricos evolucionários, pois em sua visão as instituições, em

ultima instância, determinam o nível e o tempo de maturação do desenvolvimento em uma determinada

economia, pois precisam ser suficientemente capazes de estimular as atividades tecnológicas, resultando

em melhoria de aptidões tecnológicas (KIM, 2005; FREEMAN & SOETE, 2008).

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No que se refere à relação entre tecnologia e o pensamento institucionalista tem-se, de certa forma,

uma relação estreita entre ambas, pois “[...] o desenvolvimento da tecnologia seria a causa mais eficaz da

mudança das instituições” (ROLL, 1979, p. 446-447, apud PAULA et al, 2001).As mudanças nas

instituições são apontadas como o foco central da discussão desta corrente de pensamento e, dado que a

inovação tecnológica é a força motriz dessa mudança, logo acaba sendo de fundamental importância para

a evolução da própria economia.

Isto é reforçado por Costa (2004) quando ressalta a importância das mudanças institucionais no

próprio processo de evolução dinâmica da economia, através do qual se consegue formular propósitos

para a promoção de um novo tipo de desenvolvimento considerando-se as idiossincrasias do lugar a se

desenvolver. Neste sentido “[...] um projeto moderno de desenvolvimento não se faz com instituições

tradicionais” (COSTA, 2004, p. 6).

Deste modo, é possível considerar que as instituições são os subsídios sem os quais as economias,

em suas diferentes dimensões geográficas, não conseguem avançar do estágio atual. Sob o ponto de vista

da teoria evolucionaria, não existe outra alternativa para que as economias em desenvolvimento e/ou

estagnadas atinjam o mesmo nível daquelas com elevado desenvolvimento industrial e institucional.

Um arranjo institucional bem estabelecido é capaz de promover de maneira robusta a inter-relação

entre progresso cientifico, mudança técnica e desenvolvimento, condição necessária para se atingir ou se

manter na fronteira tecnológica. Aos países em desenvolvimento é indispensável que suas instituições

sejam moldadas à captação dos mecanismos propulsores do desenvolvimento, ou seja, os mecanismos de

transferência internacional de tecnologia (KIM, 2005). Devem ser as pontes para os avanços de estágios

na escala tecnológica (DOSI, 2006).

Por meio do estímulo institucional, onde a política governamental promove efetiva interação entre

política de ciência e tecnologia e política industrial, os países em desenvolvimento poderão tornar-se

desenvolvidos, pois, assim, reforçarão o fluxo de tecnologia, onde a transferência, a difusão e as

atividades de P&D locais serão priorizadas (KIM, 2005).

Assim sendo, as instituições precisam acompanhar o processo evolutivo das economias nacionais,

regionais e locais para estabelecer um ambiente favorável as interações, pois as performances alcançadas

por estas economias devem-se à natureza de suas instituições e sua capacidade de inovar (AREND;

CÁRIO, 2005; KIM, 2005; DOSI, 2006) e, é a partir do processo inovador que as instituições se moldam

tentando estabelecer um ambiente capaz de promover o desenvolvimento econômico.

Portanto, o papel das instituições é fator de grande importância para tornar um ambiente mais

dinâmico e favorável à introdução de inovações, as quais propiciarão maior capacidade de competição

para uma empresa ou um setor em particular. Se a estrutura institucional está adequada à realidade para

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qual foi criada, então a possibilidade de se alcançar o sucesso é bastante significativa (GONZÁLEZ-

LÓPEZ, 2011).

MATERIAIS E MÉTODOS:

Local da pesquisa

O município de Vigia de Nazaré, local onde se desenvolveu a presente pesquisa, é um dos mais

importantes entrepostos pesqueiros do estado do Pará (SANTOS, 2007; SANTOS & BASTOS, 2008).

Sua localização geográfica o propicia vantagens comparativas em relação a outros municípios

importantes à atividade. Dista aproximadamente cem quilômetros da capital (Belém) e apresenta fácil

acesso ao Oceano Atlântico – 150 km ao norte, conforme mostra o mapa seguinte.

Figura 01 – Mapa de localização do município de Vigia de Nazaré, Pará.

Fonte: Santos, 2008

Conforme apontou Santos (2007), suas características geográficas e locacionais permitem uma

economia de combustíveis importante no deslocamento do centro de captura até o píer de desembarque,

quando comparado com outros importantes municípios pesqueiros, como Bragança, Curuçá e São João de

Pirabas, ambos localizados na microrregião do nordeste paraense. Esse é um dos principais motivos

apontados para que o município passasse a assumir lugar de destaque no cenário pesqueiro amazônico.

Procedimentos metodológicos

Os dados utilizados no decorrer dessa pesquisa foram obtidos de duas formas. Primeiramente se

desenvolveu um levantamento bibliográfico a fim de se coletar informações acerca das variáveis

estudadas a partir de publicações acadêmicas e estatísticas institucionais e oficiais disponíveis.

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Posteriormente houve pesquisa in loco a fim de identificar, entrevistar e aplicar formulários junto aos

agentes e instituições locais envolvidas diretamente na economia pesqueira local.

Dados como emprego formal foram obtidos junto ao Ministério do Trabalho e Emprego, por meio

do banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Informações acerca dos preços de

pescados praticados no mercado local foram obtidos junto a secretaria municipal de pesca e

desenvolvimento rural e por meio de pesquisa de campo.

Informações acerca da comercialização, destinos e métodos, foram obtidas por meio de entrevistas

junto a “empresários” da pesca e de observações e de entrevistas com agentes atuantes no segmento. Os

demais dados qualitativos foram obtidos a partir de pesquisa desenvolvida com a economia pesqueira

local desde o ano de 2005 e atualizada anualmente.

Após a formatação das informações obtidas, quantitativas e qualitativas, utilizando-se de

ferramentas tecnológicas como os softwares Microsoft Excel e Word, procedeu-se a devida organização e

posterior análise das mesmas, culminando com a construção analítica apresentada na sequência.

RESULTADOS:

Em tempos de crise econômica, onde as demandas por competitividade são crescentes, as

instituições precisam estar bem estruturadas e aparelhadas, principalmente em termos de recursos

humanos, de tal modo que consigam dar suporte para que as empresas e os demais agentes econômicos

possam ser capazes de enfrentar as dificuldades sem grandes perdas ou com breve poder de resposta aos

enfrentamentos que se fizerem necessários.

A figura (02) seguinte ilustra a presença de instituições que de algum modo contribuem e

deveriam contribuir para o desenvolvimento da atividade pesqueira em Vigia de Nazaré. Procurou-se

apresentar a disposição institucional de forma a respeitar a hierarquia e a própria relação entre as mesmas.

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Figura 02 – Ambiente institucional na atividade pesqueira de Vigia de Nazaré - Pará

Fonte: Pesquisa de campo, 2014-2015, elaboração própria.

Como se pode perceber, o ambiente institucional pesqueiro vigiense conta com um leque

importante de instituições que podem auxiliar os agentes locais a desenvolverem competências no sentido

de permitir a chamada “cultura da inovação”, fenômeno quase não perceptível localmente.

Resumidamente podemos destacar a participação de alguns agentes no processo de desenvolvimento e

adoção de inovações na pesca vigiense.

Em comparação com Santos (2007), podemos destacar que o principal agente inovador local é

uma empresa de pesca do setor industrial, a qual desenvolve um leque de produtos a partir de material

antes descartado, como os resíduos oriundos do processo de industrialização do pescado. O principal

produto dessa pauta é o hambúrguer de peixe, cujo lhe rendeu o premio FINEP de empresa inovadora no

ano de 2003 (SANTOS, 2007).

Essa diretriz empresarial tem como principal objetivo melhorar o aproveitamento dos recursos

utilizados, impactando na diversificação, na redução de custos econômicos e principalmente na

competitividade. De acordo com Sucasas (2011) as empresas do setor pesqueiro industrial brasileiro, em

média, apresentam índice de aproveitamento de pescados na industrialização na ordem de 37,5%. É

considerado baixo, ao mesmo tempo em que é apontado como um dos fatores contributivos para o

aumento da intensidade da exploração dos recursos pesqueiros extraídos diretamente da natureza.

Tocante às instituições, existem aproximações de Universidades e Institutos de pesquisa com

empresas e agentes envolvidos na pesca de vigia, todavia trata-se de relações incipientes e não formais,

pelo menos foi o que se identificou até o presente momento, mormente com empresas. Quanto às demais

instituições, de modo especial a Secretaria Municipal de Pesca e Desenvolvimento Rural, as medidas

adotadas são estritamente concatenadas com o aspecto social protocolado a partir do Ministério da Pesca

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e Aquicultura do Brasil, sem aparentemente nenhuma autonomia ou mesmo política própria à promoção

do desenvolvimento da pesca e tampouco de inovações.

Não existe um planejamento local no sentido de atuar visando à promoção da atividade. Ao

contrário pode-se perceber que, de certo modo, existe uma espécie de competição entre as instituições e o

enfrentamento de dificuldades torna-se um fato isolado, onde os próprios agentes produtores se

responsabilizam e decidem qual comportamento e estratégia a ser adotados.

Ações estratégicas de cunho emergencial necessárias para o bom desempenho da pesca e,

consequentemente a obtenção de desdobramentos positivos sobre a economia local não são perceptíveis

de forma concatenada, mas pulverizadas e sem efeito no curto prazo. Com isso, a economia municipal

sofre impactos negativos porque a atividade pesqueira, embora expressivamente informal, é a sua

principal atividade econômica.

Quando analisamos os efeitos sobre o mercado de trabalho formal (quadro 01), podemos

identificar que a pesca em Vigia de Nazaré tem retraído nos últimos anos, principalmente porque sua

conjuntura atual apresenta uma configuração distinta daquela existente há uns três anos atrás. Aquela

época o arranjo institucional estruturado ou em vias de consolidação apresentava uma formatação onde a

convergência de ações e compromissos comuns no sentido de potencializar a pesca local era uma

característica preponderante (SANTOS, 2007; SANTOS & BASTOS, 2008).

Quadro 01 – Evolução do emprego na pesca em Vigia de Nazaré, 2008-2012.

PESCA (A) GERAL (B) (A)/(B)

2008 658 2.233 29,47

2009 671 2.361 28,42

2010 661 2.724 24,27

2011 812 3.086 26,31

2012 753 2.919 25,80

2013 103 2.370 4,35

EMPREGO FORMALANO

Fonte: MTE/RAIS, 2015.

Como se percebe o emprego formal tem sofrido oscilações e não consegue estabilidade, fruto

principalmente das dificuldades enfrentadas pela atividade. Não menos que 90% desses empregos até o

ano de 2011 correspondiam ao segmento industrial, todavia a partir do ano seguinte houve um aumento

nos demais segmentos (pesca em água salgada e doce), estes correspondendo a 40% do total. Em 2013

houve significativa redução de postos de trabalho em razão de problemas administrativos/financeiros

incorridos pelo segmento industrial.

Em razão da mudança de rumo e a descontinuidade de acordos e ações estratégicas ao incentivo da

prática inovadora no âmbito de toda a cadeia produtiva da pesca de Vigia de Nazaré e a própria

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fragilização da Secretaria de Pesca municipal acabaram por desestimular este tipo de política, culminando

com o enfraquecimento institucional e o resfriamento do poder de reação e de contribuição da atividade

com o crescimento da economia local.

Quando se analisa os efeitos da inércia institucional sobre a oferta e o preço do pescado praticado

no mercado local têm-se algumas características que são novas e peculiares à prática pesqueira vigiense,

porém já constatadas em outros ramos de atividade na região. Conforme destaca Marinho (2005), a

comercialização de açaí produzido em algumas áreas do interior do Pará, região do Marajó, passou a ser

realizada por meio do sistema de comunicação celular, o que resultou em uma nova dinâmica na

atividade.

Esse novo método de negociação passou a fazer parte mais recentemente da economia pesqueira

vigiense e, em função do avanço tecnológico em relação ao período em que se registrou no setor de açaí

em grão, provocou desdobramentos de maior intensidade, conforme demonstra a figura subsequente. A

dinâmica pesqueira foi alterada em maior escala porque a alteração de oferta se dá, em princípio, de duas

formas.

Figura 03 – Destinos dos pescados capturados por embarcações que costumeiramente desembarcam em

Vigia de Nazaré (Z-3), Pará.

Fonte: Pesquisa de campo, 2014. Elaboração dos autores.

Para um melhor entendimento dessa nova modalidade, é importante o esclarecimento de alguns

aspectos que se configuram importantes. Vigia de Nazaré é considerado um dos mais importantes

entrepostos pesqueiros do estado do Pará (SANTOS, 2007). O volume de pescado desembarcado somente

é inferior ao município de Belém, capital do Estado.

O pescado desembarcado naquele município é capturado quase totalmente na costa do estado do

Amapá e as embarcações são de diversas cidades do Pará. Contudo, a maior parcela é registrada na Z-3,

zona de pesca que codifica a área de abrangência pesqueira de Vigia de Nazaré. Conforme constatado em

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pesquisa in loco, a maioria desses barcos de pesca está equipada com sistema de radiocomunicação,

facilitando o contato com a base terrestre.

Desse modo, a primeira influência na oferta de pescado no mercado local acontece ainda na zona

de captura onde os barcos estão sendo abastecidos para a posterior distribuição da produção, a qual será

definida em razão do preço que está sendo praticado nos diversos mercados possíveis de se realizarem a

comercialização. O sistema de definição acontece similarmente ao sistema de bolsas, onde os contatos são

estabelecidos com agentes previamente contatados, os quais “operam” o referido sistema.

Parte do pescado que abasteceria o mercado de Vigia de Nazaré acaba sendo desviado para outras

praças, impactando assim a oferta e o preço do produto. O problema se agrava em razão da extensão

dessa prática também com o pescado que chega a desembarcar. Nos principais pontos de desembarque

estão dispostos veículos de grande e pequeno porte aguardando o comando para dar partida para o

endereço determinado.

Os peixes que não abastecem a indústria local, seja porque são desclassificados no processo de

triagem, seja porque não há relação do empresário de embarcação com os do setor de industrialização, e

que possuem elevado valor comercial seguem geralmente para mercados externos, escasseando em

grande medida a disponibilidade para o consumidor local.

Os efeitos disso são observados no quadro subsequente que demonstra a evolução do preço médio

do pescado praticado no mercado de Vigia de Nazaré. Conforme pode ser observado, excetuando-se a

sazonalidade, os preços sofreram forte elevação nos últimos três anos chegando a um patamar histórico e

com forte tendência de ajuste neste novo padrão.

Quadro 02 – Comportamento dos preços médios de pescado praticados no mercado de Vigia de Nazaré,

Pará, 2008 a 2013

JaneiroTaxa

CrescimentoJulho

Taxa

Crescimento

2008 6,00R$ - 6,30R$ - 6,15R$ -

2009 6,50R$ 8,33 6,50R$ 3,17 6,50R$ 5,69

2010 7,12R$ 9,54 7,50R$ 15,38 7,31R$ 12,46

2011 7,98R$ 12,08 8,20R$ 9,33 8,09R$ 10,67

2012 10,00R$ 25,31 10,40R$ 26,83 10,20R$ 26,08

2013 11,80R$ 18,00 13,00R$ 25,00 12,40R$ 21,57

2014 13,50R$ 14,41 15,00R$ 15,38 14,25R$ 14,92

Anos Média Anual

Taxa

Crescimento

da Média

Meses

Fonte: Secretaria Municipal de Pesca e Desenvolvimento Rural, 2015. Pesquisa de campo, 2010-2015.

Elaborado pelos autores.

Nota: Os preços são as médias dos praticados nos períodos considerados em razão das espécies

principais (de maior valor comercial) comercializadas.

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Se analisarmos as taxas de crescimento nos distintos períodos pesquisados verificamos que o ano

de 2012 assemelha-se a um ponto de inflexão, pois além do elevado crescimento dos preços,

comparativamente aos outros períodos, foi quando se iniciou o processo de negociação de pescado via

meios de comunicação. A ausência de atuação, por meio de fiscalização e de medidas de regulação da

atividade pelas instituições locais, permitiu que a oferta fosse reduzida a um nível bem abaixo do comum

e, consequentemente os preços atingiram seu maior patamar.

Analogamente ao que acontece com o câmbio atualmente, os efeitos desse tipo de negociação

sobre o preço de pescado o elevou a um ajuste acima do praticado até então e, ainda que a oferta varie

positivamente, os preços se comportam como se tal incremento não correspondesse ao que reza a lei da

oferta e da demanda. As variações sofridas ficam na maior parte acima do índice oficial de inflação à

economia nacional.

Assim, o consumidor de pescado de Vigia de Nazaré sofre os impactos da falta de conexão entre

instituições e agentes produtores e comercializadores, necessitando reajustar seu orçamento e seu

comportamento no sentido de incorporar a nova dinâmica pesqueira local. Do mesmo modo, essa

atividade econômica reduz seu poder de colaboração para o desenvolvimento municipal, transferindo a

poucos agentes e a outras praças parte dos benefícios dela advindos.

PUBLICAÇÕES:

Do referido projeto derivou a elaboração de um artigo cientifico, intitulado: “Inovação comercial,

comportamento institucional e o efeito sobre o preço do pescado em Vigia de Nazaré, Pará”, o qual

foi encaminhado para o periódico “Novos Cadernos do Naea” e aguarda resposta, conforme apresentado

em anexo.

CONCLUSÃO:

A economia pesqueira do município de Vigia de Nazaré, base de sustentação de sua economia

como um todo, tem sofrido grandes transformações na sua dinâmica, principalmente no que compete ao

processo de comercialização, onde importantes inovações foram introduzidas, afetando o conjunto de

agentes econômicos e o próprio crescimento local.

As inovações referem-se à introdução de mecanismos de comunicação em tempo real com as

embarcações no lócus de captura, a partir da base de comando em terra e dessa com os demais mercados

potenciais recebedores de pescado. A prática se assemelha caracteristicamente ao mercado financeiro

(bolsa de valores) e o produto é encaminhado aos locais onde o preço é mais viável do ponto de vista

econômico. Este segmento de mercado passa a ter características semelhantes à estrutura de mercado

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oligopolista, onde poucos “empresários” detêm o controle da operação e restringem a entrada de novos

agentes.

Em razão disso, há uma redução na oferta de pescados no mercado local e o preço acaba por sofrer

forte elevação, dificultando o consumo por parte dos consumidores vigienses, acarretando uma posterior

estabilização de preços a um patamar mais elevado que o antes praticado. Portanto, a inserção no

processo de integração comercial de parte desse elo da cadeia de produção mostrou-se bipolar em termos

de resultados.

Do ponto de vista do comerciante, as vantagens são fatores de atratividade e de lucratividade

constantes. Todavia, para os consumidores, principalmente os locais, tornam-se condição de restrição de

consumo, pois os reflexos da prática impactam diretamente seus orçamentos e sua capacidade de compra.

Outro efeito contraproducente decorrente desta prática recai sobre o crescimento municipal, percebido

principalmente em termos de perdas de postos de trabalho formal no segmento.

Se houvesse um controle estatístico por parte das instituições da pesca, os impactos sobre a

produção poderiam ser mensurados e o efeito sobre o produto interno bruto municipal seria

concretamente sabido. Aliás, esse é um dos problemas registrados na pesquisa em relação às instituições,

de modo especial, a secretaria municipal de pesca e desenvolvimento rural.

Inexiste algum tipo de política e/ou planejamento que vise o fortalecimento da atividade e o seu

consequente crescimento, fato que poderia amenizar as dificuldades enfrentadas pela maioria dos agentes

envolvidos na atividade ou dela dependentes, seja como consumidores ou trabalhadores do setor e de

outros setores da economia local. Não obstante tais dificuldades, a pesca continua a contribuir na

composição da renda de muitos indivíduos que informalmente dela participam e coloca o município como

um dos principais produtores de pescado do estado do Pará e do Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AREND, M.; CÁRIO, S. A. F. Instituições, inovações e desenvolvimento econômico. Florianópolis:

UFSC, 2005.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Relatório Anual de Informações sociais 2013.

Disponível em: <http://www.mte.gov.br>. Acesso em: 3 jan. 2015.

COSTA, F. A. Arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais: suas possibilidades como conceito na

constituição de um sistema de planejamento para uma nova SUDAM. Rio de Janeiro: Redesist,

Seminário Perspectivas e Políticas para Arranjos e Sistemas de Inovação e Aprendizado na

América Latina, 2004.

DOSI, G. Mudança técnica e transformação industrial: a teoria e uma aplicação à indústria de

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14

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15

DIFICULDADES –

A principal dificuldade encontrada refere-se a desorganização das instituições locais quanto as

informações quantitativas da atividade. Não se tem um registro estatístico adequado e sequencial que se

permita uma análise mais elaborada e acerca da atividade em termos locais. Por exemplo, não se tem

informações sobre o quanto se produz anualmente e nem tampouco quanto é o PIB (Produto Interno

Bruto) local de pesca.

PARECER DO ORIENTADOR:

A referida aluna cumpriu assiduamente com suas obrigações e mostrou-se capaz de desenvolver a

referida pesquisa, bem como novas atividades que forem delegadas. Assim sendo, afirmo que os objetivos

foram atingidos e que o referido relatório seja considerado satisfatório.

DATA: Belém (PA), 08 de agosto de 2015

ASSINATURA DO ORIENTADOR

____________________________________________

ASSINATURA DO ALUNO

16

ANEXOS

ANEXO 1

17

ANEXO 2

Fonte: Santos, 2014.

Fonte: Santos, 2014.