relatorio parcial de inteligencia policial ii

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RELATÓRIO PARCIAL DE INTELIGÊNCIA POLICIAL II - STJ OPERAÇÃO NAVALHA ABELARDO diz “GIL, tudo tem limite! Nós estamos esticando a corda demais! A corda vai partir!”. (29/3/2007 15:03:11) 1. APRESENTAÇÃO Apresenta-se relatório de Inteligência Policial da operação policial denominada NAVALHA, em trâmite perante a Excelentíssima Senhora Ministra Relatora do Superior Tribunal de Justiça, Doutora ELIANA CALMON. Este relatório reúne a integralidade dos elementos probatórios obtidos durante toda a investigação, compilando e analisando todos os dados obtidos através das técnicas de investigação utilizadas. Em razão de problemas técnicos na geração de alguns arquivos de áudios para inclusão neste relatório, nos eventos “interceptação ilegal” e “Camaçari” (mês de abril/2006), somente estão disponíveis as transcrições fonográficas, sendo que, tão logo, os arquivos de áudios possam ser gerados, serão incluídos nos eventos respectivos e um novo DVD será encaminhado em substituição ao presente. Cabe salientar, contudo, que referidos áudios estão contidos em DVD´s já encaminhados à Justiça, quando da apresentação de relatórios quinzenais, sendo apenas incluídos neste relatório para facilitar a compreensão dos eventos criminosos mencionados. Cabe ressaltar, ainda, que, por se tratar de um relatório parcial, pode conter eventuais retificações de relatórios anteriores, tais como identificação de interlocutores, bem como incluir áudios antigos que à época não faziam sentido dentro do contexto investigativo, mas que

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Page 1: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

RELATÓRIO PARCIAL DE INTELIGÊNCIA POLICIAL II - STJ

OPERAÇÃO NAVALHA

ABELARDO diz “GIL, tudo tem limite! Nós estamos esticando a corda demais! A corda vai partir!”.

(29/3/2007 15:03:11)

1. APRESENTAÇÃO

Apresenta-se relatório de Inteligência

Policial da operação policial denominada NAVALHA, em trâmite

perante a Excelentíssima Senhora Ministra Relatora do

Superior Tribunal de Justiça, Doutora ELIANA CALMON.

Este relatório reúne a integralidade dos

elementos probatórios obtidos durante toda a investigação,

compilando e analisando todos os dados obtidos através das

técnicas de investigação utilizadas.

Em razão de problemas técnicos na geração de

alguns arquivos de áudios para inclusão neste relatório, nos

eventos “interceptação ilegal” e “Camaçari” (mês de

abril/2006), somente estão disponíveis as transcrições

fonográficas, sendo que, tão logo, os arquivos de áudios

possam ser gerados, serão incluídos nos eventos respectivos e

um novo DVD será encaminhado em substituição ao presente.

Cabe salientar, contudo, que referidos áudios estão contidos

em DVD´s já encaminhados à Justiça, quando da apresentação de

relatórios quinzenais, sendo apenas incluídos neste relatório

para facilitar a compreensão dos eventos criminosos

mencionados.

Cabe ressaltar, ainda, que, por se tratar de

um relatório parcial, pode conter eventuais retificações de

relatórios anteriores, tais como identificação de

interlocutores, bem como incluir áudios antigos que à época

não faziam sentido dentro do contexto investigativo, mas que

Page 2: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

foram aclarados com o andamento dos trabalhos e se revelaram

importantes, ressaltando ainda, que poderá sofrer mudanças

com futuras diligências investigativas.

......................

No Governo do Estado de Alagoas, a organização

conta com a participação efetiva e intensa do Secretário de

Infra-Estrutura - ADEILSON TEIXEIRA BEZERRA, do Subsecretário

- DENISSON DE LUNA TENÓRIO, do Diretor de Obras - JOSE VIEIRA

CRISPIM, além ENEAS DE ALENCASTRO NETO (Representante do

Governo de Alagoas em Brasília), o qual faz uso de sua

influência junto ao Governador TEOTONIO BRANDÃO VILELA FILHO

para beneficiar a organização. No ano de 2006 também atuou em

favor da organização o então Secretário de Infra-Estrutura

MARCIO FIDELSON MENEZES GOMES.

RELATÓRIO PARCIAL DE INTELIGÊNCIA POLICIAL II - STJ

OPERAÇÃO NAVALHA

1. APRESENTAÇÃO

Apresenta-se relatório de Inteligência

Policial da operação policial denominada NAVALHA, em trâmite

perante a Excelentíssima Senhora Ministra Relatora do

Superior Tribunal de Justiça, Doutora ELIANA CALMON.

Este relatório reúne a integralidade dos

elementos probatórios obtidos durante toda a investigação,

compilando e analisando todos os dados obtidos através das

técnicas de investigação utilizadas.

Page 3: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

Em razão de problemas técnicos na geração de

alguns arquivos de áudios para inclusão neste relatório, nos

eventos “interceptação ilegal” e “Camaçari” (mês de

abril/2006), somente estão disponíveis as transcrições

fonográficas, sendo que, tão logo, os arquivos de áudios

possam ser gerados, serão incluídos nos eventos respectivos e

um novo DVD será encaminhado em substituição ao presente.

Cabe salientar, contudo, que referidos áudios estão contidos

em DVD´s já encaminhados à Justiça, quando da apresentação de

relatórios quinzenais, sendo apenas incluídos neste relatório

para facilitar a compreensão dos eventos criminosos

mencionados.

Cabe ressaltar, ainda, que, por se tratar de

um relatório parcial, pode conter eventuais retificações de

relatórios anteriores, tais como identificação de

interlocutores, bem como incluir áudios antigos que à época

não faziam sentido dentro do contexto investigativo, mas que

foram aclarados com o andamento dos trabalhos e se revelaram

importantes, ressaltando ainda, que poderá sofrer mudanças

com futuras diligências investigativas.

2. DO INÍCIO DAS INVESTIGAÇÕES

A presente investigação surgiu como

desmembramento da operação policial OCTOPUS, que tem como

foco a atuação de um grupo de empresários do Estado da Bahia,

especializado na prática de crimes de fraude à licitação,

especialmente nas áreas de segurança privada, construção

civil, ensino superior e na prestação de serviços gerais

terceirizados.

Page 4: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

Foram identificadas ligações entre este grupo

e policiais federais, que apontaram indícios de prática de

crimes de corrupção passiva, violação de sigilo funcional e

prevaricação, que teriam sido praticados pelo então

Superintendente Regional de Polícia Federal no Ceará - DPF

JOÃO BATISTA PAIVA SANTANA; o então Superintendente Regional

de Polícia Federal em Sergipe - DPF RUBEM PAULA DE CARVALHO

PATURY FILHO; o então Superintendente Regional de Polícia

Federal na Bahia – DPF PAULO FERNANDO BEZERRA e o então

Delegado Regional Executivo na Bahia – DPF ANTONIO CESAR

FERNANDES NUNES. Ainda segundo a notícia inicial, os

correspondentes atos de corrupção ativa seriam praticados

pelos empresários por intermédio de um advogado, JOEL ALMEIDA

LIMA (Delegado de Polícia Federal aposentado) e do lobista

FRANCISCO DE ASSIS BORGES CATELINO. Havia também notícia de

suposta prática de facilitação de contrabando/descaminho por

parte do APF FRANCISCO MIGUEL MACEDO GONÇALVES no Aeroporto

Internacional Eduardo Magalhães. Todos esses fatos foram

devidamente relatados na representação inicial contida no

Ofício n. 101/06 DICINT/DIP/DPF.

Diante de tais situações, foi iniciada a

presente investigação de contra-inteligência, perante a 2ª

Vara Federal da Bahia, com o deferimento de monitoramento

telefônico dos investigados e escuta ambiental nos gabinetes

dos policiais federais. Inicialmente, foi possível se

constatar a relação próxima entre referido grupo de

empresários e os mencionados policiais. Constatou-se, ainda,

a existência de um grupo especializado em praticar delitos de

interceptação clandestina, ligado a JOEL ALMEIDA.

Contudo, o aprofundamento das investigações

com relação à conduta dos policiais restou completamente

prejudicado, em razão do vazamento da presente Operação, no

Page 5: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

âmbito do próprio Departamento de Polícia Federal, bem como

por parte do Juiz Federal da 2ª Vara Federal da Bahia, Dr.

DURVAL CARNEIRO NETO. (v. quadro de eventos).

Foi possível, no entanto, manter-se a

investigação com relação ao empresário ZULEIDO SOARES DE

VERAS, o qual, por intermédio de JOEL DE ALMEIDA e FRANCISCO

CATELINO, corrompeu o então Superintendente Regional em

Sergipe, DPF RUBEM PATURY FILHO.

Assim, por meio do monitoramento telefônico de

ZULEIDO, verificou-se que ele é o chefe de uma organização

criminosa articulada com ramificações em diversos Estados da

Federação.

Ao se prosseguir com os trabalhos, contudo,

constatou-se a participação de pessoas que possuem foro por

prerrogativa de função, o que motivou o encaminhamento da

investigação ao Superior Tribunal de Justiça, dando início ao

Inquérito nº 544/2006 – STJ, atualmente presidido pela

Ministra Relatora ELIANA CALMON.

Nº QUADRO DE EVENTOS I

01 EVENTO DPF JOÃO BATISTA

02 EVENTO DPF RUBEM PATURY

03 EVENTO ABUSO DE AUTORIDADE

04 EVENTO VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL 1

05 EVENTO VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL 2

06 EVENTO INTERCEPTAÇÃO ILEGAL

3. A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (ORCRIM)

Page 6: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

A continuidade da investigação, através de

vertente diversa da contra-inteligência policial, identificou

a atuação de um grupo organizado, hierarquizado, permanente

no tempo e com atuação marcante em diversos Estados da

Federação, tais como Alagoas, Bahia, Maceió, Maranhão, Mato

Grosso e Sergipe, camuflado pela atividade aparentemente

lícita de uma construtora, especializada em executar obras

públicas.

A Construtora GAUTAMA tem como diretor-

presidente o empresário ZULEIDO SOARES DE VERAS, verdadeiro

líder de uma organização criminosa voltada para a obtenção de

lucro por meio de execução de obras públicas. Para a

consecução desse objetivo primário, corrompem diversos

servidores públicos e agentes políticos, a fim de: 1º)

garantir o direcionamento de verba pública (federal ou

estadual) para obras de interesse da organização; 2º)

garantir o vencimento de certames licitatórios; 3º) garantir

a liberação de pagamentos de obras superfaturadas,

irregulares ou mesmo inexistentes.

O objetivo primário da organização é a

apropriação do dinheiro público destinado à execução de

obras, sendo que a efetiva construção das obras é relegada ao

segundo plano, apenas como pretexto para sua atuação

criminosa. Para a manutenção de sua atividade lucrativa, a

organização criminosa (GAUTAMA) conta com uma vasta rede de

funcionários e lobistas, necessários para efetivar contatos

com servidores públicos e agentes políticos. Dentre a

categoria dos lobistas, incluem-se também alguns agentes

públicos que recebem vantagem indevida, em troca do uso da

influência que possuem em razão do cargo para beneficiar a

organização criminosa.

Page 7: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

3.1. ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Apesar da não existência de conceitos legais

do que venha a ser organização criminosa, a doutrina de há

muito já elenca as suas principais características.

Apresentam-se como notas básicas que permitem diferenciá-la

da criminalidade grupal e da simples co-autoria: a)

associação de várias pessoas, em um acordo criminoso de

vontades permanente, livre e consciente dos fins almejados,

com caráter de estabilidade; b) um setor estruturado com

chefias, equipes e funções determinadas a seus membros, como

se fossem verdadeiras empresas, e ainda que seus objetivos

sejam criminosos, funcionam no modelo empresarial, inclusive

com previsões de lucros, bem assim se compondo de grupos,

subgrupos e grupos menores, sempre com um líder, que, no

caso, mais do que se utilizando da força, se impõe pela sua

capacidade operativa e negocial; c) a corrupção de agentes

públicos para garantia da atividade fim (ingerência no poder

do Estado); d) atividades diversas de “supressão dos meios de

prova” (ÉLVIO FASSONE).

As ações de supressão dos meios de prova estão

caracterizadas pela preferência em tratarem de assuntos

importantes pessoalmente, evitando falar ao telefone, e pela

utilização de diversas linhas telefônicas, em nome de

terceiros que, aparentemente, não possuem vínculo com os

verdadeiros usuários das linhas.

Por oportuno, vale lembrar que cada vez mais

as organizações criminosas tomam o formato empresarial, como

é o caso da Construtora GAUTAMA e das empresas do mesmo grupo

(MANDALA, ECOSAMA, SILTE), tornando-se parte da economia

formal e, dependendo do grau de estruturação e

desenvolvimento, exercendo forte influência no poder público,

Page 8: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

tendo em vista seu alto poder de corrupção. Não almejam o

poder estatal, mas o comprometimento dos agentes públicos.

Assim, o dinheiro “sujo” é utilizado para a corrupção destes,

os quais fazem parte do esquema criminoso.

É verdade irrefutável que as organizações

criminosas lançaram seus “tentáculos” e lograram se infiltrar

em Instituições Públicas corrompendo alguns de seus

integrantes que passaram a integrá-las auferindo os lucros

advindos da atividade criminosa. Pode-se afirmar com

convicção que, quando possuem a obrigação de coibir a conduta

criminosa praticada tornam-se peças fundamentais na relação

de causa e efeito do crime-fim.

Aqui cabe uma digressão: é certo que as

organizações criminosas especializam suas atividades em

compartimentos estanques, evitando-se, assim, que a eventual

descoberta pela polícia de um de seus níveis venha a

acarretar o desbarate de toda a quadrilha.

Desta forma, muitas vezes, os membros da mesma

organização desconhecem outros comparsas que desempenham suas

tarefas em níveis diversos.

Essa definição é importante para estabelecer o

papel de cada integrante dentro da quadrilha, uma vez que,

apesar de atuarem com união de desideratos, há os interesses

característicos de cada nível (chefe,

funcionários/intermediários e agentes públicos), além do

interesse pessoal de cada integrante nos crimes praticados.

Essas características básicas das organizações

criminosas encontram-se presentes no caso dos autos.

3.1.1. DOS INTEGRANTES DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (níveis)

Page 9: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

Ainda que a presente investigação tenha

sofrido sérios prejuízos com o vazamento de informações, o

qual aniquilou qualquer possibilidade de se investigar os

policiais federais de cujo envolvimento criminoso se teve

notícia inicialmente, foi possível se delinear o

funcionamento da organização criminosa liderada por ZULEIDO

SOARES DE VERAS e os diversos crimes por ela praticados,

utilizando-se da Construtora GAUTAMA Ltda. e as empresas a

ela vinculadas (empresa ECOSAMA, Construtora MANDALA Ltda. e

SILTE Participações S.A.).

A condução da investigação no âmbito do

Superior Tribunal de Justiça permitiu não só a ampliação dos

meios de obtenção de prova, mas principalmente elucidar

gradativamente a forma de agir do grupo e identificar cada

membro da organização, apurando a conduta daqueles que

possuem prerrogativa de foro.

Com a maturidade dos trabalhos de análise,

foram identificados novos integrantes e contextualizada a

participação de cada um dos membros do grupo, os quais

possuem participação efetiva e intensa nos atos preparatórios

e nos crimes da organização, bem como o modo de agir,

modificando-se a apresentação inicial da organização dada no

relatório parcial de inteligência I (compilação nº 01) – STJ.

O chefe da organização criminosa é o

empresário ZULEIDO SOARES DE VERAS, que se encontra acima da

atuação dos integrantes abaixo mencionados, encabeçando todo

o esquema criminoso. Ele é sócio-diretor da Construtora

GAUTAMA, responsável por chefiar a organização, dando as

diretrizes, coordenando e controlando as ações de seus

funcionários e intermediários e determinando o modo de agir

do grupo.

Page 10: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

No primeiro nível da organização, atuando

efetiva e intensamente, encontram-se os funcionários diretos

de ZULEIDO, ou seja, aqueles que possuem relação direta de

subordinação para com o ele. Funcionam, em realidade, como

longa manus do chefe, mas tem ciência da atividade ilícita da

qual são peças fundamentais, beneficiando-se da mesma, por

meio de recebimento de salário e também de pagamentos

oriundos de dinheiro não contabilizado, ou seja, “caixa

dois”, referido pelos membros do grupo como “folha B” (v.

item 5).

Inserem-se nesse patamar: RODOLPHO DE

ALBUQUERQUE SOARES DE VERAS (filho de ZULEIDO), MARIA DE

FÁTIMA PALMEIRA, FLÁVIO HENRIQUE ABDELNUR CANDELOT, ABELARDO

SAMPAIO LOPES FILHO, BOLIVAR RIBEIRO SABACK, ROSEVALDO

PEREIRA MELO, TEREZA FREIRE LIMA, FLORENCIO BRITO VIEIRA, GIL

JACO CARVALHO SANTOS, HUMBERTO RIOS DE OLIVEIRA, JORGE E. DOS

S. BARRETTO, VICENTE VASCONCELOS CONI, DIMAS SOARES DE VERAS,

HENRIQUE GARCIA DE ARAÚJO, RICARDO MAGALHÃES DA SILVA e JOÃO

MANOEL SOARES BARROS.

Atuam de diversas maneiras em benefício da

organização, seja confeccionando planos de trabalho e/ou

editais de licitação, seja gerenciando os recursos

financeiros da empresa, inclusive transportando valores

destinados ao pagamento de “propinas” (FLORENCIO, GIL,

HUMBERTO, HENRIQUE GARCIA), seja atuando in loco junto aos

agentes públicos da localidade onde há obras em andamento, a

fim de garantir o pagamento de processos de medição

fraudados, mediante a prática de corrupção.

Cabe ressaltar que a maioria dessas pessoas

são escolhidas/cooptadas por ZULEIDO justamente por possuírem

algum vínculo com pessoas ocupantes de cargos estratégicos e,

Page 11: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

como conseqüência, para servirem como ponte nos contatos mais

agressivos com integrantes de Poder (Ministérios, Governo do

Estado, Prefeituras Municipais, Câmara dos Deputados, Senado

Federal), por meio de “lobby” ou corrompendo-os para obter

ato de interesse do grupo.

É o caso de ROSEVALDO PEREIRA (funcionário

da GAUTAMA em 2006 e ainda servidor da Companhia de Água e

Saneamento de Alagoas, vinculado à SEINFRA/AL) e MARIA DE

FÁTIMA PALMEIRA, Diretora Comercial da GAUTAMA, oriunda do

Estado de Alagoas e que, em razão de já ter trabalhado na

Secretaria de Infra-Estrutura do Governo do Estado

(SEINFRA/AL), faz uso da influência que possui junto às

autoridades desse órgão para beneficiar o grupo, inclusive,

intermediando o pagamento de vantagens indevidas (v. Evento

Pratagy). Atua também em diversos outros órgãos, como o

Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DNIT),

reunindo-se com agentes públicos, a exemplo do Coordenador

Geral de Construção Rodoviária (da Diretoria de Infra-

estrutura Rodoviária do DNIT) LUIZ MUNHOZ PROSEL JUNIOR, a

fim de tratar de resolução de problema relativo à licença

ambiental para continuidade de execução de obra da BR 319/AM

(trecho km 166 a 370) e obtenção de mais recursos (V.

RELATÓRIO PARCIAL 5 STJ e Informação Policial n. 029/07).

Outro funcionário, cujos contatos pessoais

beneficiam a organização, é FLÁVIO CANDELOT, ex-diretor do

Departamento de Habitação da Secretaria Especial de

Desenvolvimento Urbano da Presidência da República durante o

Governo Fernando Henrique, atual Ministério das Cidades. Seus

principais contatos são: FLAVIO JOSE PIN (Superintendente

Nacional de Produto de Repasses da Caixa Econômica Federal);

o ex-deputado federal PEDRO CORREA e RODRIGO FIGUEREDO

Page 12: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

(Secretário Executivo do Ministério das Cidades). FLAVIO

CANDELOT age como verdadeiro lobista em prol dos objetivos

ilícitos da organização criminosa. Seu papel principal é o de

criar e manter relações favoráveis aos interesses do grupo

com pessoas ocupantes de cargos estratégicos, inclusive

intermediando pagamento de vantagens, mesmo que sem a

imediata contraprestação de ato de ofício por parte de tais

pessoas, mas sempre visando a uma possibilidade futura. Pode-

se citar o caso do ex-Deputado Federal HUMBERTO MICHILES, o

qual recebeu dinheiro da GAUTAMA possivelmente para financiar

campanha eleitoral, por meio de seu filho TASSO MICHILES e de

depósito bancário na conta da empresa RB NEWS SIST.

INFORMAÇÕES S/C LTDA.. Para tanto, FLAVIO CANDELOT utilizou-

se de transferência bancária por meio da conta do Posto

Jardim Botânico de seu amigo LUIZ ROBERTO RIBEIRO BATISTA.

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 031/06 - NAVALHA

No segundo nível da organização, estão os

parceiros da organização, que atuam como verdadeiros

prestadores de serviços ilícitos. Podem ser tanto

empresários, quanto agentes públicos, sendo que, em qualquer

caso, recebem vantagem indevida para usarem de sua influência

junto àqueles que podem, com a prática de atos de ofício,

beneficiar diretamente a organização (terceiro nível). Servem

também como intermediários no pagamento de “propina” aos

integrantes do terceiro nível da organização, suprindo ou

complementando a atuação dos integrantes do primeiro nível.

Inserem-se nesse patamar, com participação

efetiva e intensa: GERALDO MAGELA FERNANDES DA ROCHA, ex-

assessor do ex-Governador do Estado do Maranhão JOSE REINALDO

Page 13: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

TAVARES; FLAVIO CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA NETO, ex-Secretário da

Casa Civil do Governo de Sergipe e atualmente Conselheiro do

Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, o qual, juntamente

com JOÃO ALVES NETO, filho do ex-Governador de Sergipe JOÃO

ALVES FILHO, possibilitou a liberação de pagamentos de obra

para a GAUTAMA; JOSE EDSON VASCONCELLOS FONTENELLE,

empresário ligado a RODOLPHO DE VERAS (filho de ZULEIDO),

para o qual intermediou contatos com funcionários da

Prefeitura de Camaçari/BA; ALEXANDRE DA MAIA LAGO e FRANCISCO

DE PAULA LIMA JÚNIOR (conhecido como PAULO LAGO), ambos

referidos como sendo sobrinhos do Governador do Maranhão

JACKSON KEPLEER LAGO; JAIR PESSINE, que intermediou pagamento

de “propina” ao Prefeito de Sinop/MT (NILSON LEITÃO); ERNANI

SOARES GOMES FILHO, ROBERTO FIGUEIREDO GUIMARÃES(Presidente

do BRB) e ZAQUEU DE OLIVEIRA FILHO, responsável por

intermediar vantagens para o Prefeito de Camaçari LUIZ CARLOS

CAETANO.

ERNANI SOARES GOMES FILHO é servidor do

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo

Federal, mas está cedido à Câmara dos Deputados. Sua função

na ORCRIM é a de obter, junto ao referido Ministério,

liberação de orçamento para as obras de interesse da

organização (v. EVENTO PRATAGY e INFORMAÇÃO POLICIAL N.

016/07).

ROBERTO FIGUEIREDO GUIMARÃES foi Secretário do

Tesouro Nacional no período de 03/1990 a 10/1992 na mesma

época em que SIMÃO CIRINEU (ex-Secretário do Planejamento do

Maranhão). Em razão disso, BETINHO, como é conhecido, possui

influência na STN, agilizando a liberação de recursos para

obras de interesse da organização, bem como relacionamento

estreito com as autoridades políticas do Maranhão. De fato,

em 2006 foi contratado por inexigibilidade de licitação como

Page 14: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

consultor financeiro do Governo do Maranhão, favorecendo

ainda mais a organização criminosa (v. EVENTO MARANHÃO).

Atualmente ocupa a presidência do Banco de Brasília – BRB.

Verificou-se também a participação efetiva e

intensa do empresário SÉRGIO LUIZ POMPEU SÁ, na intermediação

de contatos entre o grupo criminoso, JORGE TARGA JUNI

(Diretor da Companhia Energética do Piauí – CEPISA) e IVO

ALMEIDA COSTA (Assessor Especial do Ministro das Minas e

Energia SILAS RONDEAU), o qual também auxiliou nos contatos

com o Ministério das Minas e Energia (Ministro SILAS

RONDEAU).

Com participação efetiva está JAIR PESSINE,

ex-Secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente da

Prefeitura de Sinop/MT, o qual intermediou a assinatura de

contrato com a Prefeitura de Sinop, junto ao atual Prefeito

NILSON APARECIDO LEITÃO.

Cabe ressaltar que muitos desses

intermediários encobrem a origem ilícita da vantagem

pecuniária recebida fazendo uso das empresas que possuem. É o

caso de ROBERTO FIGUEIREDO (PLANOS Consultoria Financeira

Ltda.) e GERALDO MAGELA (POOL Comunicações Ltda.), que

recebem vantagens pecuniárias, via de regra, por depósito

bancário. Quando o uso de tal artifício não é possível, não

havendo como justificar a origem do dinheiro, a remessa do

montante deve ser feita em espécie e por meio de transporte

clandestino (v. descrição do modus operandi e eventos).

No terceiro nível da organização, estão os

agentes públicos municipais, estaduais e federais, os quais,

em razão do cargo que ocupam, beneficiam diretamente a

ORCRIM, mediante a prática de atos de ofício, recebendo, para

tanto vantagens indevidas.

Page 15: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

Nesse nível, a participação desses integrantes

pode ser efetiva e/ou intensa, sendo caracterizada essa

intensidade do envolvimento pela qualidade da atuação

(posicionamento do servidor dentro da própria organização),

ou pela quantidade de contatos, pagamentos, dados repassados

ou outros indicadores de permanência do vínculo do servidor

com o grupo criminoso.

Podem contatar diretamente o chefe e os

integrantes do primeiro nível e/ou atuar por interposição de

pessoas (como é o caso de JOSE REINALDO TAVARES, JOSÉ IVAN DE

CARVALHO PAIXÃO, LUIZ CARLOS CAETANO, JACKSON KEPLER LAGO,

NILSON APARECIDO LEITÃO).

Apesar do acordo livre e consciente para a

prática de crimes com um objetivo comum, os integrantes desse

nível hierárquico nem sempre atuam por devoção à quadrilha ou

por compromisso moral, pois sua motivação é venal. Por esse

motivo, não hesitam em frustrar seus compromissos com a

quadrilha, caso seja necessária uma exposição maior ou se

mostre perigosa a prática do ato de ofício ou a omissão

desejada (p. ex.: redução do valor do pagamento de medição de

obra por exclusão de algum item cuja manutenção poderia levar

à responsabilização por órgãos de fiscalização). Da mesma

forma, quando deixam de ocupar os cargos, não apresentando

mais qualidades que interessem à organização, são

imediatamente descartados por ela, a qual se articula para

abordar seus substitutos.

Na Prefeitura de Camaçari/BA, atuam efetiva e

intensamente, o Secretário de Obras - IRAN CESAR DE ARAÚJO

FILHO, o assessor deste - EDÍLIO PEREIRA NETO, o

Subsecretário de Obras - EVERALDO JOSE DE SIQUEIRA ALVES e o

próprio Prefeito - LUIZ CARLOS CAETANO.

Page 16: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

No Governo do Estado de Alagoas, a organização

conta com a participação efetiva e intensa do Secretário de

Infra-Estrutura - ADEILSON TEIXEIRA BEZERRA, do Subsecretário

- DENISSON DE LUNA TENÓRIO, do Diretor de Obras - JOSE VIEIRA

CRISPIM, além ENEAS DE ALENCASTRO NETO (Representante do

Governo de Alagoas em Brasília), o qual faz uso de sua

influência junto ao Governador TEOTONIO BRANDÃO VILELA FILHO

para beneficiar a organização. No ano de 2006 também atuou em

favor da organização o então Secretário de Infra-Estrutura

MARCIO FIDELSON MENEZES GOMES.

No Governo do Estado do Maranhão, favorecendo

a organização na liberação de pagamentos de obras, atuaram o

atual Secretário de Infra-Estrutura - NEY DE BARROS BELLO e o

Governador JACKSON KEPLER LAGO. Da mesma forma, com relação

ao Governo anterior, identificou-se o fiscal da Secretaria de

Infra-Estrutura (SINFRA/MA) - SEBASTIÃO JOSÉ PINHEIRO FRANCO,

o funcionário da SINFRA - JOSE DE RIBAMAR RIBEIRO HORTEGAL o

então Procurador-Geral do Estado – ULISSES CESAR MARTINS DE

SOUSA (conhecido como GORDINHO) e o ex-Governador JOSE

REINALDO TAVARES.

Em Sergipe, foi efetiva a participação do ex-

deputado federal JOSÉ IVAN DE CARVALHO PAIXÃO, na obtenção de

recursos federais do Ministério da Integração Nacional para

obra da Adutora do Rio São Francisco, executada pela

Construtora GAUTAMA.

Em Brasília, o Deputado Distrital PEDRO PASSOS

JUNIOR também favoreceu a GAUTAMA na execução do Convênio

257/2000.

O Prefeito de Sinop/MT, NILSON APARECIDO

LEITÃO, teve participação efetiva, possibilitando a

contratação da GAUTAMA para a construção de rede de esgoto no

Município.

Page 17: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

Com participação efetiva e intensa,

corroborada pelo modo de agir da quadrilha investigada,

identificou-se FLAVIO JOSE PIN, Superintendente Nacional de

Produtos de Repasses da Caixa Econômica Federal (SUREP).

Conforme se tem conhecimento, a SUREP é órgão

operacionalizador de contratos de repasse do Ministério das

Cidades e tem como atribuição receber as propostas (consultas

públicas) pré-selecionadas pelo Ministério das Cidades, de

acordo com critérios técnicos descritos no Manual do

Ministério, e homologadas pelo Secretário Executivo e pelo

Ministro das Cidades. Ao receber tais propostas, a SUREP

realiza o empenho dos recursos das propostas pré-selecionadas

e solicita a documentação necessária ao órgão que encaminhou

a proposta (Prefeitura ou Governo do Estado). Recebida a

documentação (plano de trabalho, projeto básico e social

etc.) e cumpridos os requisitos, é emitido o SPA (Síntese de

Projeto Aprovado) e assinado o Contrato de Repasse (este

procedimento está detalhadamente descrito no TC 017.387/2006-

3).

Nesse contexto, ficou comprovado que FLAVIO

PIN, no exercício de sua função, livre e conscientemente,

contribui para que a organização atinja seu fim criminoso,

tendo em vista que, conforme já se mencionou, mantém contatos

freqüentes e diretos com FLAVIO CANDELOT, funcionário da

GAUTAMA, orientando-o quanto às pendências existentes para a

liberação do SPA e, consequentemente, a assinatura de

Contrato de Repasse, além de trabalhar para que as obras da

GAUTAMA recebessem recursos oriundos do PAC (ex.: obra do

Tabuleiro do Martins em Alagoas e urbanização de favela em

São João de Meriti/RJ). FLAVIO PIN orienta FLAVIO CANDELOT a

providenciar planos de trabalho, ofícios de Prefeitos e

Governadores, projetos e outros documentos, como se o mesmo

Page 18: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

representasse o órgão proponente (Prefeitura ou Governo do

Estado), agindo na certeza de que o objeto do futuro contrato

de repasse estaria garantido para a Construtora GAUTAMA, o

que é ainda mais grave pelo fato de que a CEF tem também a

atribuição de fiscalizar a regularidade do processo

licitatório.

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 043/07 - NAVALHA

3.1.2. INGERÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO NO PODER DO ESTADO:

Dentro da atuação dos agentes do Estado

alcançados pela organização criminosa, cabe contextualizar as

formas de aproximação identificadas ao longo de diversas

operações policiais conduzidas pelo DPF.

Fator sempre presente no estudo de

organizações criminosas, a promiscuidade da quadrilha

especializada com o Estado pode ocorrer em três níveis:

1º) direto e efetivo: onde as atividades dos

agentes públicos são indissociáveis das ações centrais dos

demais integrantes da organização criminosa, inserindo-se na

própria definição do crime de quadrilha.

Ao lado da atividade-fim, aparecem os

integrantes da organização que, cientes dos fins almejados

pela quadrilha, atuam efetiva e intensamente em suas áreas

para garantir a prática criminosa.

2º) periférico ou indireto: a atuação efetiva

e/ou intensa do agente estatal é um auxílio ou obstáculo à

perpetração do ilícito. Esse obstáculo é então removido ou o

auxílio é conseguido para consecução do crime-fim através da

prática do crime intermediário (corrupção, violação de sigilo

funcional, prevaricação, interceptação telefônica ilegal,

advocacia administrativa etc.).

Page 19: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

3º) remoto ou desejável: sob o manto do

relacionamento amistoso, da aparente legalidade e

legitimidade, a organização criminosa tenta se aproximar ou

demonstrar proximidade com ocupantes de altos cargos do

Poder, alardeando prestígio e facilidades, com ou sem ciência

do agente estatal quanto aos objetivos da quadrilha.

No caso da presente investigação, verificou-se

que as atividades dos agentes públicos dos quais a

organização se aproxima afetam diretamente a atividade-fim da

quadrilha. Esta atua diretamente sobre os ocupantes de cargos

estratégicos, determinando quais atos de ofício devem ou não

ser praticados. De outra maneira, não teriam sucesso no fim

almejado, ou seja, a obtenção de lucro.

Conforme a doutrina atual, o crime de

corrupção de servidores públicos de alto escalão pode ocorrer

de diversas formas, facilmente dissimuladas na forma de

concessões, presentes e agrados aparentemente

despretensiosos, os quais, no caso de não se identificar de

plano o ato de ofício praticado ou omitido, vão pavimentando

o relacionamento entre investigados em potencial com agentes

públicos (ex.: camarotes no Carnaval de Salvador,

fornecimento de garotas de programa, pagamento de estada em

hotéis e passagens aéreas – v. eventos específicos).

Por tal motivo, a jurisprudência já se firma

no sentido de que, para que os presentes, os “mimos” e as

concessões oferecidas ao agente público, em razão do cargo,

não caracterizem o crime de corrupção passiva e ativa, exige-

se: 1º. ausência de habitualidade; 2º. ausência de

correspondência – qualquer correspondência - com ato de

ofício praticado, independente do valor ofertado ou recebido

(princípio doppia assenza).

Page 20: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

A doutrina de Contra-Inteligência Policial do

DPF preconiza que a existência de organização criminosa está

intimamente ligada à ingerência da quadrilha no aparelho

estatal, onde as atividades dos agentes públicos são

indissociáveis das ações centrais dos demais integrantes da

organização criminosa.

3.2. MODO DE AGIR

Para atingir seu objetivo primário, ou seja, a

obtenção de máximo lucro por meio de execução de obras

públicas, a organização atua nas diversas fases por que passa

o recurso público. Isso significa dizer que ela atua desde a

previsão orçamentária inicial para obras de seu interesse até

o efetivo recebimento de pagamento pela execução da obra,

sempre com a participação de agentes públicos no esquema

criminoso.

Para a obtenção de recursos, a organização

atua tanto junto a parlamentares para a obtenção de verba

para obras de seu interesse (ex.: ex-Deputado Federal IVAN

PAIXÃO, Deputado distrital PEDRO PASSOS), quanto junto a

Prefeituras ou Governo dos Estados para a elaboração de

propostas para celebração de Convênios ou Contratos de

Repasse (quando via Caixa Econômica Federal). Neste caso, na

maioria das vezes, elaboram os próprios planos de trabalho,

apresentando-os ao Ministério respectivo. Concomitantemente,

agem junto ao Ministério do Planejamento (ERNANI SOARES) para

obter previsão orçamentária e também junto ao Ministério da

Fazenda, em especial, à Secretaria do Tesouro Nacional

(ROBERTO FIGUEIREDO), para a liberação imediata do recurso.

Quando almejam celebração de convênio com o Ministério das

Cidades, atuam também junto à Superintendência Nacional de

Produtos de Repasse da Caixa Econômica Federal (FLAVIO PIN),

Page 21: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

tendo em vista a necessidade de celebração de contrato de

repasse com esta instituição, a qual é responsável por

analisar e selecionar a proposta, bem como fiscalizar a

execução da obra.

Fraude à licitação: após conseguirem a

celebração de convênio, torna-se necessário oficializar junto

ao órgão convenente a execução da obra, por meio do

vencimento do certame licitatório, cujo edital, muitas vezes,

elaboram. Vencido o certame, passam à fase da fraude na

execução da obra.

Fraude na execução: a execução de obra pública

deve obedecer ao cronograma físico-financeiro previsto e

aprovado no Plano de Trabalho. Ocorre que a ORCRIM, ao dar

entrada nos chamados processos de medição, por meio dos quais

deveria apresentar e comprovar a parte da obra que foi

efetivamente executada, sujeitando-se à conferência por parte

da Secretaria de Infra-Estrutura do órgão contratante,

corrompe os agentes públicos responsáveis pela fiscalização e

pagamento, a fim de que aprovem e paguem medições irregulares

ou mesmo inexistentes. Há diversas referências a

“adiantamentos”, indicando que receberam o pagamento por obra

não executada. Muitas das irregularidades presentes nas obras

da Construtora GAUTAMA são objeto de processos no Tribunal de

Contas da União.

O pagamento de vantagem indevida é feito

sempre que necessário e de duas maneiras – oficialmente ou

clandestinamente. No primeiro caso, o corrompido emite

faturas de sua empresa (de consultoria, comunicação), lavando

o dinheiro ilícito recebido. Caso isso não seja possível, o

dinheiro deve chegar a suas mãos clandestinamente. Foram

feitos diversos acompanhamentos em que funcionários da

Page 22: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

GAUTAMA (em especial os do setor financeiro) e o próprio

ZULEIDO transportaram quantia em espécie para serem entregues

aos agentes públicos destinatários (v. informações policiais

abaixo e eventos).

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 009/07 - NAVALHA

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 023/07 – NAVALHA

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 014/07 – NAVALHA

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 024/07 – NAVALHA

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 026/07 - NAVALHA

O tópico referente aos crimes supostamente

praticados pelos integrantes da organização criminosa aponta

a participação de cada participante no fato mencionado.

4. DOS CRIMES PRATICADOS (EVENTOS)

A organização criminosa em investigação

demonstrou estar articulada para consecução de seus

objetivos, ainda que, para tanto, tenha que utilizar

ilegalmente os contatos que possui com detentores de poder.

Abaixo seguem resumos das situações e os meios

de prova indicadores de suposta prática de crimes por

integrantes da organização criminosa investigada, com a

provável participação de servidores públicos e agentes

políticos, cujas circunstâncias em alguns dos eventos só

serão esclarecidas com a deflagração de fase ostensiva

(busca, interrogatórios etc.).

Esclareça-se que os eventos abaixo não exaurem

todas as situações envolvendo os integrantes da organização

criminosa supostamente identificada, mesmo porque diversos

relatórios parciais já foram encaminhados ao juízo, sendo o

Page 23: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

presente relatório parcial a compilação das principais

situações averiguadas, podendo ser complementado a qualquer

tempo com novos elementos probatórios, à medida que a

investigação evoluir.

Isso significa que há outros eventos

identificados no curso da investigação que, embora tão

relevantes quanto os ora apresentados, não foram analisados,

compilados ou identificados ao tempo da apresentação do

presente relatório. Esses trabalhos estão em andamento.

Como já dito, a utilização de outras técnicas

- em especial as ostensivas, como a busca e apreensão -

poderá esclarecer pontos ainda não definidos de alguns

eventos abaixo:

Nº QUADRO DE EVENTOS II

01 EVENTO CAMAÇARI

02 EVENTO PRATAGY

03 EVENTO PONTES

04 EVENTO SERGIPE (CONVENIO 539364)

05 EVENTO RIO PRETO

06 EVENTO SINOP

07 EVENTO LUZ PARA TODOS

08 EVENTO AVIÃOZINHO

5. DOS PROVENTOS DO CRIME

Conforme se pode constatar, a organização

criminosa beneficia-se dos proventos dos crimes que pratica,

acrescendo a seu patrimônio: automóveis, lanchas, fazendas,

Page 24: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

apartamentos, viagens e festas, com o uso do dinheiro

público, sendo tais produtos novamente utilizados para

proporcionar vantagens a agentes públicos em troca de

atendimento aos interesses da quadrilha (ex.: passeios de

lancha, camarotes no Carnaval, passagens aéreas e hospedagem

em hotéis).

De outra parte, os próprios funcionários da

Construtora recebem diretamente, além do salário oficial,

outro tipo de pagamento não contabilizado na empresa, que

chamam de “folha B” e que é entregue sob a forma de remessas

clandestinas em espécie ou depósitos bancários em contas de

terceiros, como é o caso de FLAVIO CANDELOT, o qual, conforme

se apurou, faz uso da conta bancária de posto de gasolina de

propriedade de LUIZ ROBERTO RIBEIRO BATISTA (POSTO JARDIM

BOTÂNICO e outros), o qual também fornece notas fiscais

“frias” para a GAUTAMA.

Identificaram-se, ainda, indícios de prática

de lavagem de dinheiro por meio da compra de gado em leilões.

HENRIQUE GARCIA DE ARAÚJO, funcionário da GAUTAMA, é o

responsável por administrar uma fazenda da quadrilha e por

gerenciar a compra e venda de gado. O pagamento das contas da

fazenda também é feito com dinheiro oriundo da prática de

crime, o qual é transportado clandestinamente em espécie de

Salvador a Brasília.

INFORMAÇÃO POLICIAL N. 023/07 – NAVALHA

6. CONCLUSÃO

Foi identificada a forma de agir da

organização criminosa especializada na prática de crimes de

corrupção de agentes públicos e fraudes de diversos tipos,

Page 25: Relatorio Parcial de Inteligencia Policial II

com o objetivo de garantir o lucro por meio da execução de

obras públicas.

A nocividade das atividades da organização

está demonstrada pelos diversos crimes praticados, bem como

pelas medidas e contra-medidas tomadas pelos investigados, a

fim de encobrir suas condutas criminosas.

Para aclarar as poucas situações pendentes de

apuração das circunstâncias, necessário se faz utilizar

técnicas ostensivas de investigação, especialmente com

realização de buscas em locais de interesse para obtenção de

prova.

Da mesma maneira, o início dessa nova fase

deve coincidir com a neutralização da atuação da organização

criminosa identificada, retirando-se de circulação os

integrantes da quadrilha que possuam participação intensa na

atividade investigada, sob pena de frustrar futuros atos de

persecução.

Brasília, de 08 de maio de 2007.

ANDREA TSURUTA ANTONIO DE PÁDUA VIEIRA CAVALCANTI

Delegada de Polícia Federal Delegado de Polícia Federal