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LICENCIATURA EM ENGENHARIA DO AMBIENTE POLÍTICAS DE AMBIENTE 2º Semestre 2005/2006 INDICADORES AMBIENTAIS Ana Rita CASTANHEIRA, Nº. 50395 Filipa TABORDA, Nº. 50403 1 INDICADORES AMBIENTAIS Ana Rita CASTANHEIRA; Filipa TABORDA RESUMO Os indicadores têm sido utilizados como um valioso instrumento que permite obter uma grande densidade de informação sobre assuntos diversos como saúde humana, ambiente e economia. Tem vindo a ser revelado um crescente interesse por parte de organizações e instituições nacionais e internacionais na adopção de indicadores e índices ambientais. Como tal, a necessidade de tratar a informação na sua forma original tem conduzido ao desenvolvimento de metodologias, entre as quais se destaca a de desenvolvimento de índices e indicadores. Através destes métodos, é efectuado o tratamento e transmissão de informação ambiental, de modo a tornar os dados científicos mais facilmente utilizáveis por decisores políticos, técnicos, público de interesse específico e público em geral. A utilização de indicadores apresenta vantagens e limitações, pelo que a implementação deste instrumento requere uma avaliação da robustez dos resultados de modo a garantir o conhecimento do grau de certeza associado ao método. O desenvolvimento de indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável é um fenómeno recente comparado com os restantes indicadores existentes noutras áreas. Esta evolução deve-se em grande parte ao crescente reconhecimento da necessidade de obtenção de mais informação e conhecimento acerca das condições ambientais, tendências e impactes. Este relatório pretende fornecer uma visão do trabalho efectuado na área dos indicadores ambientais, com definições, funções, modelos, tipos de indicadores e referências à situação actual na Europa e em Portugal. Na última secção do documento é apresentado um sumário das opiniões e sugestões para o trabalho futuro na área de desenvolvimento de indicadores ambientais. Palavras – chave: indicador; índice; modelos conceptuais; gestão de informação; indicadores de sustentabilidade

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LICENCIATURA EM ENGENHARIA DO AMBIENTE POLÍTICAS DE AMBIENTE 2º Semestre 2005/2006

INDICADORES AMBIENTAIS Ana Rita CASTANHEIRA, Nº. 50395

Filipa TABORDA, Nº. 50403

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INDICADORES AMBIENTAIS

Ana Rita CASTANHEIRA; Filipa TABORDA

RESUMO Os indicadores têm sido utilizados como um valioso instrumento que permite obter uma grande

densidade de informação sobre assuntos diversos como saúde humana, ambiente e economia. Tem vindo a ser revelado um crescente interesse por parte de organizações e instituições nacionais e internacionais na adopção de indicadores e índices ambientais. Como tal, a necessidade de tratar a informação na sua forma original tem conduzido ao desenvolvimento de metodologias, entre as quais se destaca a de desenvolvimento de índices e indicadores. Através destes métodos, é efectuado o tratamento e transmissão de informação ambiental, de modo a tornar os dados científicos mais facilmente utilizáveis por decisores políticos, técnicos, público de interesse específico e público em geral. A utilização de indicadores apresenta vantagens e limitações, pelo que a implementação deste instrumento requere uma avaliação da robustez dos resultados de modo a garantir o conhecimento do grau de certeza associado ao método.

O desenvolvimento de indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável é um fenómeno recente comparado com os restantes indicadores existentes noutras áreas. Esta evolução deve-se em grande parte ao crescente reconhecimento da necessidade de obtenção de mais informação e conhecimento acerca das condições ambientais, tendências e impactes. Este relatório pretende fornecer uma visão do trabalho efectuado na área dos indicadores ambientais, com definições, funções, modelos, tipos de indicadores e referências à situação actual na Europa e em Portugal. Na última secção do documento é apresentado um sumário das opiniões e sugestões para o trabalho futuro na área de desenvolvimento de indicadores ambientais.

Palavras – chave: indicador; índice; modelos conceptuais; gestão de informação; indicadores de sustentabilidade

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1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento de indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável é um fenómeno recente

comparado com os restantes indicadores existentes noutras áreas. Esta evolução deve-se em grande parte ao crescente reconhecimento da necessidade de obtenção de mais informação e conhecimento acerca das condições ambientais, tendências e impactes. O ponto de partida consistiu, fundamentalmente, na Conferência do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em 1992, a partir da qual se procurou obter dados de melhor qualidade e actualizados acerca destas problemáticas, bem como investigação na área de abordagem e estruturação na execução de indicadores.

Este tipo de ferramenta metodológica permite transmitir a informação técnica numa forma sintética, preservando o significado original dos dados e utilizando apenas as variáveis ambientais que considere relevantes para o aspecto em questão.

Apesar de muito recentemente ter sido adoptada a corrente de implementação de indicadores e índices, muito trabalho tem sido feito no desenvolvimento de indicadores e índices desde há 25 anos. A nível internacional destacam-se várias organizações que têm vindo a executar trabalho nesta área como a Agência Europeia do Ambiente, EuroStat, Banco Mundial, Programa das Nações Unidas para o Ambiente e Agência de Protecção do Ambiente Norte Americana.

Em Portugal têm sido desenvolvidos também vários estudos nesta área, caso que será abordado num capítulo deste relatório.

Uma constatação recente é a crescente proposta de sistemas de indicadores ambientais à escala mundial, podendo haver o risco de proliferarem de forma inconsistente, quer em relação à tipologia, quer em relação à necessidade de existirem dados base para sustentarem os indicadores desenvolvidos. No limite, a situação real poderá vir a traduzir-se por existirem mais sistemas de indicadores do que variáveis base regularmente monitorizadas, como se representa na figura 1.

Figura 1 – Pirâmides de informação: realidade e teoria da utilização de indicadores

(Adaptado de Singh & Moldan, 2002).

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2. ENQUADRAMENTO, DEFINIÇÕES Quando se trabalha com indicadores, existem certos termos que aparecem frequentemente, sendo os

mais comuns os parâmetros, indicadores, índices e informação. Os parâmetros consistem numa grandeza que pode ser medida com rigor e precisão ou avaliada qualitativamente e que se considera relevante para a avaliação dos sistemas ambientais. Os indicadores são os instrumentos básicos para analisar as mudanças em diferentes áreas, disponibilizando informação das condições e tendências de desenvolvimento sustentável, permitindo a obtenção de informação relevante na formulação de políticas e permitindo a apresentação de dados mais facilmente interpretáveis, facilitando assim a comunicação entre diferentes grupos com diferentes graus de especialização nas áreas abordadas. Normalmente são utilizados com pré-tratamento, sendo efectuados tratamentos aos dados originais como médias aritméticas, percentis, medianas entre outros.

Um índice consiste na agregação de um ou mais indicadores ou de vários dados, e são tipicamente utilizados num nível analítico mais denso, como por exemplo a nível nacional ou regional. A este nível, o uso de indicadores poderá não ser apropriado para analisar as ligações causais, visto que as relações entre diferentes indicadores tornam-se cada vez mais complexas à medida que o nível analítico fica mais denso.

Os indicadores não representam o resultado final e exaustivo de determinado processo, consistindo num meio de atingir um determinado objectivo por via de decisores políticos. Estes objectivos são avaliados com base na informação que tem de estar aliada à inclusão de mais dados e indicadores do que os originalmente monitorizados, para que a análise seja completa. Esta informação é essencial e tem de ser integrada nos processos de decisão política de modo a que o desenvolvimento dos indicadores seja atingido.

Os indicadores ambientais reflectem as tendências no estado do ambiente e permitem monitorizar os progressos feitos, de acordo com metas e objectivos previamente estabelecidos. Como tal, os indicadores ambientais têm vindo a ganhar relevo e importância na elaboração de políticas.

De acordo com a OCDE, os indicadores têm duas grandes funções: . reduzir o número de medições e parâmetros que normalmente seriam necessários para se conseguir

uma representação exacta de uma situação; . simplificar o processo de comunicação pelo qual os resultados das medições são disponibilizados ao

utilizador. Existem outras vantagens na utilização de indicadores: . identificação das variáveis chave do sistema; . importante instrumento de apoio às decisões e processos de gestão ambiental; . o facto de permitir transmitir existência de tendências; . possibilidade de comparação com padrões e/ou metas pré-definidas; . avaliação dos níveis de desenvolvimento sustentável. A comunicação é então a principal função dos indicadores, devendo disponibilizar ou promover a troca

de informação acerca de fenómenos que são considerados críticos para a qualidade do ambiente. A simplicidade é outra das características inerentes dos indicadores, devendo transmitir uma realidade

complexa. Em termos de políticas, os indicadores ambientais são úteis no fornecimento de informação acerca de problemas ambientais, de forma a permitir aos políticos avaliar a sua seriedade, suportar o desenvolvimento de políticas, identificando sectores chave que causam pressão no ambiente, monitorizar os efeitos das respostas políticas e servir como ferramenta de aumento de consciência do público acerca das questões ambientais.

No entanto, estes instrumentos apresentam limitações inequívocas, como por exemplo: . possibilidade de inexistência de informação base; . existência de equações matemáticas que melhor traduzam os parâmetros seleccionados;

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Condensação

da

inform

ação

Quantidade total de informação

Indicadores para cientistas

Indicadores para políticos

Indicadores para público em geral

Indicadores

Dados analisados

Dados originais

Condensação

da inform

ação

Quantidade total de informação

. perda de informação nos processos de agregação dos dados;

. critérios robustos para selecção de indicadores;

De acordo com Gouzee et al., 1995 e Braat, 1991, os indicadores ambientais podem ser vistos como o topo de uma pirâmide, na qual a base é representada pela informação original não tratada, como se pode observar na figura 2.

Figura 2 – Pirâmide de informação (Fonte: Adaptado de Gouzee et al., 1995 e Braat, 1991)

De igual forma, em relação ao público alvo deste tipo de método, verifica-se que a agregação e

quantidade de informação segue uma ordem que também pode ser representada através de uma pirâmide da figura 3:

Figura 3 – Pirâmide de informação associada ao tipo de utilizador (Fonte: USEPA/FSU, 1996c).

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3. CRITÉRIOS DE SELECÇÃO

Os conjuntos de indicadores não têm carácter universal, não podendo ser estandardizados, visto evoluírem de caso para caso. No entanto, a tendência mundial será para estabelecer um conjunto de poucos indicadores que sejam efectivos, de acordo com várias características inerentes aos indicadores que se consideram essenciais para o estabelecimento deste sistema: . Relevância – a selecção dos indicadores deve ser feita de acordo com o problema ambiental a analisar, havendo necessidade de uma correcta definição do objectivo pretendido. A relevância está também relacionada com o tipo de grupo a que se destina a informação contida nos indicadores, que será diferente de acordo com o detalhe pretendido; . Clareza – os indicadores têm de ser seleccionados de forma à obtenção de informação e interpretação correcta. A clareza com que são expostos os indicadores depende do grupo de pessoas a que se destina, podendo necessitar de ter um carácter sólido científico ou uma característica de forte comunicação caso se dirija ao público em geral; . Custos de desenvolvimento – os indicadores seleccionados têm de ser realísticos e de carácter prático, e reflectir benefícios face aos custos necessários ao seu desenvolvimento. Usualmente, este benefício provém do facto de se estabelecerem dois sistemas de indicadores, com diferentes prioridades. Uma das formas para o seu estabelecimento é desenvolver um sistema central de indicadores (Core set of indicators) que monitorizam aspectos relevantes a um nível de maior agregação. Este conjunto de indicadores pode ser complementado por outro sistema de indicadores que focam assuntos que não são tão comuns para a área monitorizada e proporcionam um maior grau de pormenor das áreas seleccionadas. Esta abordagem é utilizada a nível regional e internacional onde o principal objectivo é comparar os valores dos indicadores entre países. Um exemplo de desenvolvimento de um sistema central de indicadores passíveis de serem comparados a nível internacional é a iniciativa da OCDE na área dos objectivos do milénio para o desenvolvimento. No entanto, houve a necessidade de alguns países, com problemas específicos na área ambiental, desenvolverem indicadores específicos e relevantes para o seu país.

Outra das formas de efectivar os custos no desenvolvimento de indicadores é desenvolver um sistema de indicadores de alarme e outro de indicadores de diagnóstico. O principal objectivo é alertar os decisores políticos para os efeitos adversos no ambiente permitindo uma reacção mais atempada.

. Qualidade e autenticidade – os dados utilizados no desenvolvimento de indicadores têm de ser autênticos e úteis para os fins pretendidos.

. Escala temporal e espacial adequada – usualmente os indicadores têm de ser medidos em diferentes escalas visto que os impactes nas actividades raramente coincidem com as fronteiras administrativas. Dependendo do âmbito a que se destina o indicador, tem-se:

. nível nacional e regional: os indicadores são preferencialmente de âmbito nacional ou relevantes para os assuntos nacionais;

. nível internacional: os indicadores são preferencialmente calculados a partir de dados com a consideração de custos no desenvolvimento de novos indicadores e devem estar disponíveis para todos os países devendo reflectir o maior consenso possível entre países.

Outro dos critérios de selecção depende do tipo de assunto a analisar, método este utilizado por exemplo pela agência norte americana de desenvolvimento sustentável.

4. APLICAÇÕES E ÁREAS DE INTERVENÇÃO

Consoante os objectivos em causa, os indicadores podem servir um conjunto vasto de aplicações, de acordo com OTT, 1978:

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Figura 4 - Modelo Input-Output-Outcome-Impact Fonte: The World Bank Environment Department

. atribuição de recursos, onde actuam como suporte de decisões ambientais, ajudando os decisores e gestores na atribuição de fundos, alocação de recursos naturais e determinação de prioridades.

. classificação de locais, onde permitem a comparação de condições ambientais em diferentes locais ou áreas geográficas;

. cumprimento de normas legais, onde permitem aplicação a áreas específicas para clarificar e sintetizar a informação sobre o nível de cumprimento das normas ou critérios legais;

. análise de tendências, onde permitem a aplicação a séries de dados ambientais para detectar tendências no tempo e no espaço, em especial para analisar tendências que tenham de ser facilmente interpretadas;

. informação do público, permitindo a informação do público sobre o estado do ambiente;

. investigação científica, permitindo aplicações em desenvolvimentos científicos, indicando se deverão ser efectuados estudos científicos mais aprofundados sobre avaliação em causa.

De acordo com a OCDE existem quatro grandes grupos de aplicações de indicadores:

. avaliação do funcionamento dos sistemas ambientais; . integração das preocupações ambientais nas políticas sectoriais; . contabilidade ambiental; . avaliação do estado do ambiente. 4. MODELOS DE INDICADORES

Os modelos de indicadores fornecem os meios para a estruturação de conjuntos de indicadores de forma a facilitar a sua interpretação. Usualmente os indicadores são necessários para diversos aspectos de um problema ou determinado assunto e o modelo escolhido garante a consideração de todos os aspectos relevantes, permitindo a compreensão das inter relações entre os diversos assuntos. Dependendo do detalhe da análise efectuada e do objectivo, o modelo deve ser estruturado de forma a produzir o suporte apropriado. Assim, existem vários modelos, dos quais se vão referenciar três tipos:

1 – Modelo Input-Output-Outcome-Impact, que é utilizado na monitorização da eficácia de projectos cujo objectivo é melhorar o estado do ambiente.

2 – Modelo desenvolvido pela OCDE para análise ao nível nacional, regional e internacional. Este modelo designa-se Pressure-State-Response (PSR) e está representado na figura 5. Este modelo, desde a sua criação sofreu desenvolvimentos em três direcções diferentes: a primeira variação corresponde à substituição da categoria de indicadores de pressão por uma categoria de indicadores de forças impulsionadoras; a segunda variação acrescenta uma categoria de indicadores de impacto obtendo-se o sistema Pressure-State-Impact-Response (PSIR); por último procedeu-se à inclusão das cinco categorias de indicadores, criando um modelo DPSIR.

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Figura 5 – Modelo PSR Fonte: OCDE, 1994

Figura 6 – Adição da categoria de indicadores de impacto no ciclo operacional Fonte: The World Bank Environment Department

O modelo PSR, ao invés de focar-se nas diferentes fases de um projecto como no modelo descrito no número anterior, faz distinção e refere-se a três visões dos assuntos ambientais: variável de pressão, variável de estado e variável de resposta. Este modelo é baseado no conceito de causalidade em que se considera que

as actividades humanas exercem pressões no ambiente e modificam a sua qualidade e quantidade de recursos naturais. Estas mudanças são informadas à sociedade e leva a que esta responda através de política ambientais, sociais e económicas. Estas respostas sociais suscitam mudanças no comportamento humano, resultando num melhoramento do estado do ambiente. Este modelo, apesar de apresentar vantagens

ao demonstrar as ligações existentes entre os diferentes aspectos, tende a sugerir relações lineares entre o ser humano e o ambiente e falha em não considerar a afectação do bem-estar

humano pela degradação do ambiente. A primeira alteração efectuada substitui os indicadores de pressão por indicadores de forças

impulsionadoras, com o argumento de que os indicadores de pressão são mais adequados apenas ao tratamento de assuntos ambientais, enquanto que os indicadores de forças impulsionadoras são adequados para situações sociais, económicas e institucionais.

Outra das alterações subsequentes do modelo PSR é a inclusão de uma quarta categoria de indicadores – impactos –, devido à crescente necessidade de separar o estado do ambiente das mudanças que o afectam. No modelo PSIR, representado na figura 6, os indicadores de estado têm a vantagem de se centrarem nas características físicas mensuráveis do ambiente, políticas ambientais existentes e na gestão. A nova categoria de impactos é adicionada com o objectivo de identificar os efeitos das pressões no estado do ambiente, como por exemplo uso de químicos na agricultura gerando impacto na qualidade da água. Este impacto pode ser reflectido também na saúde humana, pelo que os decisores políticos necessitam de ter informação e estabelecer normas e políticas com base na informação fornecida pelos indicadores de estado. Por último, as decisões efectuadas com base na informação recolhida dos indicadores de pressão, impacto e estado, necessitam de ser monitorizadas. É nesta fase que surgem os indicadores de resposta, que monitorizam

aspectos das respostas sociais, identificando as políticas e investimentos introduzidos para reduzir as pressões, medindo a eficácia das medidas propostas. Caso não se observem alterações ou existam mudanças inesperadas, o modelo tem de ser revisto em todos os seus aspectos, desde o tipo de indicadores utilizados

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Figura 7 – Modelo DPSIR Fonte: AEA

até à interligação entre estes indicadores e políticas executadas, o que reflecte o carácter dinâmico e flexível do modelo PSIR.

A última alteração efectuada no modelo é a apresentação de um modelo com todas as cinco categorias de indicadores, constituindo o modelo DPSIR representado na figura 7.

3- Sistema baseado em temas ambientais

(ou de desenvolvimento sustentável) Este modelo foca os temas de ambiente

ou desenvolvimento sustentável em si mesmos, e não em diferentes abordagens de vários assuntos ambientais. A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) iniciou o desenvolvimento de indicadores para a monitorização de desenvolvimento sustentável em 1995, tendo utilizado o modelo PSR para organizar os indicadores seleccionados.

No entanto, para um melhor suporte institucional e de execução de políticas o

modelo foi alterado em temas e sub-temas que melhor contextualizam a sustentabilidade (UNCSD, 2000). O Comité de Assistência para Desenvolvimento da OCDE é uma organização que utiliza o mesmo tipo de modelo no seu trabalho de colaboração num sistema de indicadores para os Objectivos do Milénio (Millennium Development Goals) para o desenvolvimento sustentável. Outra das organizações que adoptam este método é a WWF, no seu Relatório de Natureza e Planeta Vivo.

5. ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES COM INICIATIVAS NO DESENVOLVIMENTO DE INDICADORES

5.1 OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) De acordo com a OCDE existem quatro grandes grupos de aplicações de indicadores:

. avaliação do funcionamento dos sistemas ambientais; . integração das preocupações ambientais nas políticas sectoriais; . contabilidade ambiental; . avaliação do estado do ambiente.

5.5.1 Trabalho da OCDE em indicadores ambientais Durante os últimos 30 anos de actividade, a OCDE tem vindo a demonstrar uma significativa evolução no

campo das políticas ambientais e de actividades associadas, como sejam a elaboração de relatórios na área ambiental. A crescente preocupação e consciência do público acerca destes assuntos, o facto de constituírem matéria de interesse internacional e a sua interligação com áreas económicas e sociais, têm sido factores fundamentais para a evolução verificada. Ao longo dos anos, a informação requerida pelo público em geral, organizações não governamentais e próprios executantes de políticas ambientais, levou a uma elaboração mais compreensível, harmonizada e fiável da informação recolhida em termos ambientais. Este facto estimulou desde logo a produção de informação que fosse mais ao encontro das necessidades da sociedade civil bem como das entidades responsáveis pela execução de políticas ambientais. O principal objectivo desta estratégia

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consiste no fortalecimento da capacidade dos países monitorizarem e terem acesso a condições ambientais e tendências, bem como conseguir contabilizar e avaliar o cumprimento dos objectivos e compromissos internacionais. Para isso, utilizam-se ferramentas como os indicadores ambientais, que constituem instrumentos fundamentais e de valor acrescentado nesta área. A OCDE, com o apoio dos países membros, tem sido um pioneiro no campo do desenvolvimento de indicadores ambientais tendo desenvolvido e publicado o primeiro sistema internacional de indicadores ambientais, que são regularmente utilizados em cada país. Estes indicadores são utilizados como instrumento de avaliação de performance ambiental e de monitorização da implementação da Estratégia Ambiental da OCDE para a Primeira Década do Século 21.

De seguida apresentam-se as Conferências e encontros que levaram à necessidade da criação de indicadores ambientais: . Conselho da OCDE a nível ministerial em 1989 com o objectivo de estabelecer um objectivo entre os ministérios de integrar efectivar as decisões políticas em termos ambientais e económicos; . Encontro económico dos G – 7 em Paris (1989) e Houston (1990); . Conselho da OCDE sobre Indicadores Ambientais e Informação (1991) em que se pretendia um “maior desenvolvimento de sistemas de indicadores ambientais mensuráveis e de relevância política” e um “incentivo ao uso destes indicadores ambientais em relatórios da OCDE como os respeitantes ao estado do ambiente” . Comunicado em 1996 pelos Ministros do Ambiente da OCDE pedindo o desenvolvimento na área de indicadores ambientais, principalmente no âmbito dos relatórios de performance ambiental permitindo a comparação internacional; . os Objectivos Comuns para Acção Ambiental dos Ministros do Ambiente da OCDE, em 3 de Abril de 1998; . Conselho da OCDE em informação, 1998; . Conselho da OCDE a nível ministerial, 2001; . Estratégia de sustentabilidade da OCDE para a primeira década do século 21, 2001

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5.1.2 Objectivos e âmbito

De acordo com os objectivos da OCDE, a criação de indicadores ambientais permite: . contribuir para a harmonização de iniciativas individuais dos países membros da OCDE na área dos indicadores ambientais, desenvolvendo uma base comum na abordagem e conceito. Contribuir para o crescente desenvolvimento e uso de indicadores ambientais da OCDE pelos diversos países membros. Promover a troca de experiências e relatórios entre países não membros e outras organizações internacionais; . Servir de suporte ao trabalho de análise e evolução das políticas da OCDE, desenvolvendo sistemas chave de indicadores ambientais com relevância política e de carácter fiável e mensurável, de modo a permitir: . medição do progresso e performance ambiental . monitorizar integração política . comparações efectivas a nível internacional.

O trabalho da OCDE centra-se em indicadores que possam ser utilizados na tomada de decisões a nível nacional, internacional e global, embora a abordagem possa também vir a ser usada no desenvolvimento de indicadores ao nível regional ou ao nível dos ecossistemas, sendo este tipo de indicadores da responsabilidade de cada país.

5.1.3 Abordagem e resultados O trabalho da OCDE nesta área pretende atingir certos objectivos:

. acordo de uma base comum conceptual, baseada entre outros aspectos no modelo Pressão-Estado-Resposta (PSR); . identificação de critérios que auxiliem a selecção de indicadores e validem a sua escolha, sendo que todos os indicadores são revistos de acordo com a sua relevância política, mensurabilidade e de acordo com o carácter analítico dos resultados produzidos; . identificação e definição de indicadores; . Provisão de guias para o uso de indicadores, interligando a avaliação da performance ambiental, sublinhando que os indicadores consistem apenas numa ferramenta e necessitam de ser interpretados de acordo com o contexto de forma a atingir o seu significado total; . Acordo no uso da abordagem da OCDE ao nível nacional, adoptando-a às circunstâncias nacionais.

De acordo com a terminologia utilizada pela OCDE, os indicadores têm duas funções principais: . reduzir o número de medições e parâmetros que normalmente seriam necessários para transmitir uma ideia correcta de uma dada situação; . simplificar o processo de comunicação pelo qual os resultados das medições são divulgados ao público.

5.1.4 Publicação e uso Para o caso dos indicadores que são passíveis de ser comparados a nível internacional, estes são principalmente utilizados na execução de relatórios de avaliação de performance ambiental e de estado do ambiente, sendo publicados regularmente. Estes indicadores consistem numa forma de monitorizar a integração das decisões económicas e ambientais, avaliar as políticas ambientais e controlar os resultados. Para além destas aplicações, os indicadores contribuem também para os relatórios de desenvolvimento sustentável e para a elaboração de indicadores de desenvolvimento sustentável.

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Figura 8 – Ligações com iniciativas nacionais Fonte: OCDE e internacionais

5.1.5 Processo dinâmico

Os sistemas de indicadores definidos pela OCDE não têm um carácter estático. Pelo contrário, estes indicadores estão em constante actualização e são regularmente revistos, podendo ser alterados de acordo com o conhecimento científico, preocupações políticas e disponibilidade de dados.

5.1.6 Ligações com iniciativas nacionais e internacionais O desenvolvimento na área dos indicadores tem vindo a ser possível na OCDE devido à sua vasta experiência na área ambiental, disponibilidade de informação por parte desta entidade e execução de relatórios desde a década de 70, sendo líder em muitos dos países da OCDE. O trabalho executado pela OCDE nesta área tem influenciado muitas organizações de diversos países membros da OCDE e não só, existindo cooperação com UNSD (united nations statistics division), UNCSD (united nations comission for sustainable development, UNEP (united nations environmental program), Banco Mundial, União Europeia (Eurostat, EEA). Esta cooperação é essencial para identificar e clarificar os objectivos de cada iniciativa, promovendo a troca de experiências entre países.

5.1.7 Tipos de indicadores A OCDE iniciou o seu trabalho na área de indicadores ambientais em 1989 e desde aí incluiu na sua

pesquisa várias categorias de indicadores ambientais, cada uma delas específicas para um determinado enquadramento e objectivo. Core Environmental Indicator (CEI) – indicadores centrais da OCDE

Este conjunto de indicadores é regularmente publicado e utilizado pelos estados membros da OCDE, sendo constituído por 40 a 50 indicadores, cobrindo assuntos que reflectem as principais preocupações e problemas ambientais ao nível dos países da OCDE. A figura 9 representa um modelo estrutural do sistema central de indicadores ambientais, por aspecto ambiental. São fundamentais para monitorizar o progresso ambiental, analisar as políticas ambientais e medir a performance ambiental, servindo de base de informação comparável entre os diversos países. A maioria dos indicadores pertencentes a este conjunto podem ser calculados tendo por base dados recolhidos regularmente pelo secretariado da OCDE, nomeadamente em termos de relatórios de estado do ambiente e através de outras fontes internacionais.

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Figura 9 - modelo estrutural do sistema central de indicadores ambientais, por aspecto ambiental Fonte: OCDE

Figura 10 – sectores no sistema de indicadores centrais Fonte: OCDE

Estes dados são tratados e a sua qualidade é revista entre os países aderentes. A abordagem conceptual adoptada na execução deste conjunto de indicadores consiste, em primeiro lugar, na adopção do modelo de PSR que garante uma primeira classificação dos indicadores em termos de pressões ambientais, indicadores

de condições ambientais e indicadores de respostas sociais. A outra dimensão da abordagem consiste na especificação de assuntos ambientais que reflictam as preocupações ambientais e os desafios principais dos países da OCDE. Assim, para cada assunto, os indicadores de pressões ambientais, de condições ambientais e os de respostas sociais foram definidos. Os primeiros assuntos estão relacionados com o uso da capacidade de armazenamento do ambiente, em termos de aspectos

de qualidade ambiental, enquanto que os restantes assuntos estão relacionados com a função dos recursos, numa vertente mais quantitativa dos recursos naturais.

Estes indicadores são complementados por diversos indicadores, nomeadamente de crescimento de população e crescimento económico. A lista de indicadores apresentados não pretende ser final, estando em constante alteração conforme o conhecimento científico existente e a preocupação política em termos de matérias ambientais. Por outro lado, os assuntos adquirem diferente relevância nos diferentes contextos dos países, havendo portanto, flexibilidade e necessidade de monitorização e análise regular.

Os indicadores pertencentes ao conjunto principal (CEI) podem ser desagregados ao nível sectorial (figura 10), tendo vantagens ao nível da ligação com os sistemas de informação económica dos diferentes sectores da sociedade, permitindo monitorizar o uso de recursos e emissões nos vários sectores económicos bem como permitir a desintegração entre os conceitos de crescimento económico e pressões ambientais.

A um nível mais particular, os indicadores fundamentais podem ainda ser desagregados a nível territorial, permitindo analisar e revelar diferenças a nível regional que podem não estar explicitados quando

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Figura 11 – Sistema de indicadores chave da OCDE

Figura 12 – Modelo para indicadores sectoriais da OCDE

são utilizados indicadores a nível nacional.

Key Environmental Indicators – indicadores chave Com o objectivo de reduzir o número de indicadores e permitir uma melhor e eficaz comunicação com a

sociedade civil acerca dos principais assuntos, foi criado este conjunto de indicadores seleccionados do conjunto de CEI. Estes indicadores chave têm sido muito úteis na análise da evolução e progresso ambiental e permitem a obtenção de sinais chave para os decisores políticos (figura 11).

A lista apresentada não pretende ser exaustiva nem final, havendo a intenção de incluir indicadores chave para assuntos como contaminação tóxica, recursos do solo e qualidade ambiental urbana.

Sector Environmental Indicators (SEI) – indicadores sectoriais Com a criação deste conjunto de indicadores, a OCDE pretende dotar os decisores políticos de instrumentos que permitam a integração dos assuntos ambientais na elaboração de políticas sectoriais. Os indicadores sectoriais não consistem apenas em indicadores ambientais, incluindo também ligações entre ambiente e

economia num contexto de desenvolvimento sustentável. Podem incluir indicadores

ambientais (emissões de poluentes), indicadores económicos (preços e taxas, subsídios) e indicadores sociais. A estrutura e abordagem utilizada tem base no modelo PSR, tendo sido ajustado para responder às

especificidades dos diferentes sectores. Deste modo, os indicadores são organizados numa estrutura que distingue:

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. indicadores que reflectem as tendências sectoriais e padrões de relevância ambiental (ex: pressões indirectas e/ou forças impulsionadores relacionadas); . indicadores que reflectem interacções entre o sector e o ambiente, incluindo os efeitos negativos e positivos da actividade sectorial no ambiente bem como os efeitos das alterações ambientais na actividade sectorial; . indicadores que reflectem ligações económicas entre o sector e o ambiente bem como considerações legais, incluindo danos ambientais, instrumentos fiscais, económicos e sociais. Indicadores derivados da contabilidade ambiental

A contabilização ambiental pode ser definida como uma descrição sistemática de interacções entre o ambiente e a economia, recorrendo a uma abordagem contabilística, que pode variar de acordo com o objectivo.

O trabalho da OCDE recai significativamente na quantificação física de recursos naturais como instrumento de gestão sustentável de recursos naturais, quantificação de fluxos materiais como ferramenta de monitorização da eficiência e produtividade no uso de recursos, esforço na redução e controlo de poluição. Estes dados permitem a obtenção de uma base de dados estatísticos, funcionando como uma entidade de troca de informação nesta área. Indicadores ambientais de desintegração

Estes indicadores ambientais têm a função de medir a capacidade de quebra da ligação existente entre pressões ambientais e crescimento económico, durante um certo período. Esta quebra de ligação ocorre quando a taxa de crescimento de uma determinada pressão ambiental é menor que a taxa de crescimento da força impulsionadora correspondente, durante um determinado período de tempo (ex: PIB). A medição é feita com recurso a este tipo de indicadores, em que o numerador consiste numa variável de pressão ambiental (emissões, descargas, uso de recursos) e o denominador numa variável económica, descrevendo assim a relação entre os dois componentes de pressão do modelo PSR. Deste modo, os indicadores deste tipo têm uma importância fulcral na determinação do progresso dos países membros rumo ao desenvolvimento sustentável, servindo de suporte à avaliação da performance ambiental bem como à implementação da Estratégia Ambiental da OCDE para a Primeira Década do século 21 adoptada em 2001 pelos Ministros do Ambiente dos países membros da OCDE. Existem dois grandes grupos de indicadores explorados pela OCDE nesta área: . Indicadores desintegradores ao nível macro que se relacionam com a desintegração das pressões ambientais da actividade económica total dando especial relevo às alterações climáticas, poluição atmosférica, qualidade da água, destino final de resíduos, uso de materiais e recursos naturais; . Indicadores de desintegração para sectores específicos focados na produção e uso, em áreas como energia, transportes, agricultura.

5.2. EUROSTAT A Eurostat coopera com organizações internacionais como as Nações Unidas e a OCDE, bem como com

países que não pertencem à União Europeia. Uma das principais tarefas da Eurostat é coordenar a disponibilidade de sistemas estatísticos, tendo sido desenvolvidos programas especiais com diversos países. As estatísticas obtidas são publicadas e comunicadas, servindo de base a importantes decisões da União Europeia em conferências e eventos. Em termos de indicadores, a Eurostat utiliza indicadores estruturais que cobrem seis domínios, entre os quais o Ambiente.

Como resultado da Conferência de Lisboa do Conselho Europeu, em Março de 2000, a partir daí a Eurostat esteve envolvida no processo de selecção de indicadores estruturais e foi responsável pela

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compilação dos dados para os anexos estatísticos do Spring Report. Estes indicadores estruturais são viabilizados pelo Sistema Europeu de Estatística e Organizações Internacionais.

5.3. US Environmental Protection Agency – USEPA (EUA) A Agência de Proteção do Ambiente Norte-americana (USEPA) tem desenvolvido estudos na área de

indicadores e índices ambientais, num dos quais é apresentada uma modificação do modelo PER. Denominado Pressão-Estado-Resposta-Efeito, este modelo difere do modelo adotado pela OCDE em alguns pontos fundamentais, nomeadamente na inclusão de uma nova categoria denominada Efeitos. Esta categoria está essencialmente relacionada com a utilização de indicadores para avaliar as relações existentes entre variáveis de pressão, estado e resposta. Este tipo de informação poderá ser muito útil para ajudar a delinear critérios de decisão no estabelecimento de objetivos/metas de política ambiental.

Em Junho de 2003 a EPA publicou o seu primeiro Relatório sobre o Ambiente, com recurso a indicadores e dados disponíveis.

5.4. Agência Europeia de Ambiente, AEA

5.4.1 Trabalho da AEA em indicadores ambientais A AEA desempenha um papel importante no desenvolvimento dos principais indicadores que possam

fornecer informação chave na avaliação de problemas ambientais a nível Europeu. Esta agência fornece informação ambiental actualizada e específica, destinando-se a servir os responsáveis pela formulação e implementação da legislação ambiental a nível europeu e nacional, bem como o público em geral. A Agência baseia o seu trabalho em conhecimentos ou informações existentes de outras organizações, coopera com as mesmas, coordena o trabalho a nível europeu e procura evitar a duplicação de actividades. Tem como objectivos principais: apoiar o desenvolvimento sustentável e ajudar a UE e os países membros na tomada de decisões no sentido de melhorar o ambiente e integrá-lo nas politicas económicas; desenvolver um sistema com aspectos ambientais relevantes que possa ser partilhado por todos os interessados, em que estes desempenhem um papel activo. A AEA actua em algumas das áreas de ambiente como: ar, químicos, biotecnologia, alterações climáticas, solo, ruído, água, resíduos, entre outras.

5.4.2 Objectivo e âmbito

A AEA recorre ao uso de indicadores ambientais para monitorizar diversas áreas do ambiente, para simplificar fenómenos complexos, sendo uma ferramenta importante para assegurar a participação do público nos problemas ambientais. São usados também na tomada de decisões políticas por diversas razões: fornecem uma variada informação sobre problemas ambientais, identificam os factores chave que estão na causa de um problema ambiental, contribuindo para o desenvolvimento das políticas nesta área, e monitorizam as respostas face à aplicação de determinadas politicas ambientais.

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5.4.3 Modelo adoptado no desenvolvimento dos indicadores ambientais Em geral, os indicadores ambientais reflectem as relações entre o Homem e o ambiente. Os

indicadores ambientais da AEA baseiam-se no modelo DPSIR (Figura 7), construído a partir do modelo da OCDE, que ilustra de uma forma linear a inter-relação dos factores e o seu impacto sobre o ambiente, estimando a eficiência das suas respostas. Contudo, expressa a dinâmica das origens e das consequências dos problemas ambientais. Numa primeira fase, a agência deu prioridade às áreas de pressão, estado e impactos. No entanto, uma maior atenção incidirá nas forças impulsionadoras e nas respostas, em cooperação com os serviços da Comissão, incluindo a Eurostat. De acordo com este sistema, o desenvolvimento social e económico exerce uma pressão sobre o ambiente e, consequentemente, altera a sua qualidade e quantidade de recursos naturais. Esta modificação gera um determinado impacto no ambiente e no Homem, levando-o a adoptar novas medidas de protecção do ambiente, actuando ao nível nas forças impulsionadoras ou directamente no estado do ambiente com a minimização do impacto.

Na Figura 13 apresenta-se o modelo DPSIR aplicado a um problema ambiental específico, a poluição atmosférica.

Figura 13: Modelo DPSIR aplicado à poluição atmosférica Fonte: AEA

5.4.5 Tipos de Indicadores Os indicadores da AEA tem como função apoiar as políticas europeias. A sua escolha e a sua definição

está intimamente ligada aos documentos legais europeus e à legislação. Podem agrupar-se em quarto categorias: - Indicadores ambientais centrais - Indicadores descritivos - Indicadores de desempenho - Indicadores de Eficiência

Indicadores ambientais centrais Recorre-se ao uso deste tipo de indicadores nos problemas ambientais e no sector económico uma vez

que: - Vão ao encontro da crescente necessidade dos relatórios serem baseados em indicadores de modo a apoiar os processos de elaboração de politicas a diversos níveis da UE; - Facilitam a realização de documentos legais ao basearem –se em informação estável e consistente; - Fornecem aos países sistemas de dados com prioridades ambientais que envolvem custos e tempo de trabalho e desenvolvimento elevados;

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- Permitem que muitas organizações internacionais, como a AEA, Eurostat e OCDE, possam trabalhar em conjunto num mandato ou na produção de um indicador de forma a evitar a duplicação, usando os mesmos indicadores para as mesmas finalidades;

Indicadores descritivos Descrevem a situação actual tendo em conta os principais problemas ambientais, como alterações

climáticas, acidificação, contaminação de produtos tóxicos, de acordo com a sua afectação a nível geográfico. Baseiam-se no modelo DPSIR: Os indicadores das forças impulsionadoras descrevem o desenvolvimento social, económico e demográfico nas sociedades e, consequentemente, os seus efeitos no modo de vida das sociedades. Os indicadores de pressão referem-se às emissões de substâncias, de agentes físicos e biológicos, e ao uso dos recursos e do solo pela sociedade. Como exemplo deste tipo de indicadores temos: emissões de CO2 por sector, uso do solo para a construção de estradas.

Os indicadores de estado dão-nos a ideia da quantidade e da qualidade dos fenómenos físicos (como a temperatura), biológicos e químicos (como a concentração de CO na atmosfera) numa determinada área. Podem descrever os recursos presentes numa floresta, a concentração de fósforo num lago ou o nível de ruído nas proximidades de um aeroporto.

Os indicadores de Impacto são usados para descrever os efeitos causados na sociedade e no ambiente, que decorrem na sequência do modelo força impulsionadora - pressão - estado.

Os indicadores de Resposta referem-se às respostas da sociedade face ao estado do ambiente. Como exemplo temos: a quantidade de veículos com conversores catalíticos e à taxa de reciclagem do lixo doméstico. Indicadores de desempenho

Reflectem a situação actual e mostram-nos como essa situação deveria estar, através do uso de situações referenciadas. São usados, sobretudo, para monitorizar o progresso de vários países de acordo com a situação ambiental desejada. Como exemplo pode referir-se a comparação da taxa de remoção de azoto e fósforo com as metas nacionais no ano 2000.

Indicadores de Eficiência

A importância destes indicadores deve-se ao facto de reflectirem o grau de desenvolvimento de uma sociedade em termos da qualidade dos produtos, da utilização dos recursos, emissões e desperdícios. A eficiência ambiental de uma nação pode ser, então, descrita em termos dos níveis de emissão e desperdícios gerados por unidade PIB.

Tipos de indicadores usados em relatórios ambientais

Nos relatórios ambientais usa-se uma variedade de indicadores. Os descritivos são muito usados, sendo os indicadores das forças impulsionadoras, de pressão e de estado os mais usados. Os indicadores de impacto apenas aparecem para temas muito específicos, como a saúde humana devido ao aumento da concentração de poluentes, os efeitos do ruído no Homem, entre outros. Os indicadores de eficiência também são muito usados para expressar a quantidade de energia usada por habitante ou por unidade de PIB. Já os indicadores de desempenho não são tão usados comparados com os anteriores.

No futuro, pretende-se obter uma maior informação sobre o estado do ambiente, baseada mais no uso de indicadores de desempenho e de eficiência. Os de eficiência fornecem-nos informação importante tanto sobre o ambiente como sobre a economia, podendo actuar como uma medida de controlo dos recursos

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Figura 14 – componentes da hierarquia

naturais e níveis de poluição. Os de desempenho monitorizam o efeito das medidas politicas e verificam o cumprimento das metas propostas comunicando, quando necessário, medidas adicionais.

A AEA irá continuar a trabalhar no desenvolvimento de indicadores mais integrados que aliem as dimensões ambiental, económica, social e territorial, com vista a satisfazer, de forma mais eficaz, as necessidades dos cidadãos e dos decisores políticos europeus.

Para além das organizações que até agora foram mencionadas, existem inúmeros exemplos de outros indicadores criados por outras organizações: Pegada Ecológica – Consiste num método que permite estimar a área biológica produtiva necessária para suportar os padrões de consumo actual. Ao comparar o impacto humano com a área biológica produtiva limitada do planeta, este método permite obter a condição para se caminhar para a sustentabilidade. Os cálculos que estão na base deste método, incluem a quantidade de território para produzir energia, alimentos, produtos florestais, ambiente construído, áreas degradadas, espaço destinado à pesca e a quantidade de território necessário para sequestrar CO2 libertado (Holmberget al., 1999).

Índice de Sustentabilidade Ambiental Piloto – Este índice apresenta uma distribuição hierárquica (Figura 14) onde os cinco componentes descrevem a situação ambiental actual como pressões ambientais, a

vulnerabilidade das populações humanas a perturbações ou desastres, a capacidade institucional e social de responder aos problemas ambientais e o grau correspondente ao comportamento entre economias. Estes componentes consistem num número de factores (ex: qualidade do ar urbano, capacidade técnica e cientifica, considerados como blocos fundamentais na construção de cada componente. Por sua vez, para cada factor são atribuídas variáveis, como concentração de NO2 e SO2 nas cidades, quantidade de SO2 e NO2 emitidos por área, usadas como medidas (World Economic Forum 2000). The Living Planet Index (LPI)- Este índice mede, essencialmente, o capital natural e como este vai sendo alterado ao longo do tempo. É formado por três indicadores do estado dos ecossistemas naturais: a área coberta por floresta natural no mundo, Populações de espécies

de água doce por todo o Mundo e populações de espécies marinhas por todo o Mundo. (WWF, NEF & WCMC, 1999). Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

A Comissão do Desenvolvimento Sustentável propôs a criação deste tipo de indicadores em 1995 para avaliarem o desenvolvimento sustentável. O grande objectivo é fazer com que eles actuem como uma ferramenta medidora do progresso em relação ao desenvolvimento sustentável, estando disponíveis em todos os países como suporte para a definição de planos de sustentabilidade. Como exemplo de indicadores de desenvolvimento sustentável, temos: The Genuine Progress Indicator- Relaciona a economia com as variáveis sociais e ambientais, usado como uma ferramenta que traduz o valor do capital humano, social e natural, para além de atribuir um valor aos recursos como a saúde da população, a realização educacional, a segurança da comunidade, o trabalho voluntário, e a qualidade ambiental.

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The Barometer of Sustainability- É uma ferramenta que combina outros indicadores e dispõe os resultados. Os índices podem modificar-se ao longo do tempo e podem ser comparados com outros de sociedades diferentes. Uma das características deste tipo de índice é o facto de permitir a análise da interacção homem/ecossistema de forma independente. (Prescott-Allen 1999.) 6. SITUAÇÃO EM PORTUGAL

A nível nacional tem-se desenvolvido várias acções e projectos no desenvolvimento de indicadores e índices ambientais. Entre eles, pode-se salientar a Proposta para um Sistema de Desenvolvimento Sustentável (SIDS, 1998), baseada num sistema de indicadores ambientais seleccionados com base na sua relevância no contexto português, sendo publicada uma primeira versão deste sistema (Ramos et al., 1998), onde se aplica o modelo PSR para indicadores ambientais, sociais, institucionais e económicos e se efectua uma avaliação das assimetrias regionais, de forma a avaliar a variação regional de um determinado indicador; iniciativas de desenvolvimento de indicadores de integração desenvolvidos para o Ministério do Ambiente no âmbito dos sectores chave do 5º Programa de Acção em Matéria de Ambiente, Energia, Transportes, Industria, Agricultura e Turismo.

Outros trabalhos sectoriais desenvolvidos nesta matéria são os de PARTIDÁRIO (1990), que desenvolve um Sistema de Indicadores da Qualidade do Ambiente Urbano, vindo a ser publicado em 2001 pelo Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território; MANO (1989) na área de qualidade de sistemas de água doce e RAMOS (1996), na área de qualidade da água e sedimento em sistemas costeiros. São de salientar também os trabalhos mais abrangentes desenvolvidos pela UNL (1989), CORREIA E BEJA-NEVES (1993) e os trabalhos da Universidade Nova de Lisboa (1996, MELO et al.; VASCONCELOS E BAPTISTA) e do Plano Nacional de Políticas do Ambiente (MARN, 1995).

Sob a coordenação do Instituto do Ambiente, são elaborados os Relatórios de Estado do Ambiente, onde se tem avaliado e implementado a utilização sistemática de uma bateria de Indicadores Ambientais e de Desenvolvimento Sustentável, sendo que O Relatório de Estado Ambiente utiliza pela primeira vez uma estrutura suportada por um modelo de indicadores (Pressão-Estado-Resposta) (DGA, 1999);

O conjunto dos Indicadores seleccionado tem sofrido algumas alterações desde 1990 (data do primeiro relatório), adaptando-se às exigências descritivas e à evolução do enfoque temático sem que, no entanto, se tenha afastado muito da concepção inicialmente desenvolvida pela OCDE e, mais tarde, pela UE, por via do chamado “Core Set of Indicators” da AEA. Em 2000 é publicada para discussão pública uma versão mais consolidada do SIDS, intitulada “Proposta para um Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável” (DGA, 2000). A Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS) é apresentada em Junho de 2002 (IA, 2002) – incorpora a proposta de monitorização sistemática do progresso por recurso a indicadores, tendo em vista a adopção e revisão periódica de um sistema de indicadores de desenvolvimento sustentável. A Direcção Regional do Ambiente e do Ordenamento do Território do Algarve com a coordenação científica da Universidade do Algarve, inicia em 2002 o desenvolvimento do projecto SIDS para a região do Algarve;

Outra das áreas consolidadas consiste nas componentes de avaliação referentes ao Estado de integração do Ambiente nas diferentes políticas sectoriais, recorrendo a uma linguagem mais generalizada e de fácil compreensão para o público em geral.

No Relatório de Estado de Ambiente de 2004, são utilizados indicadores ambientais chave, que reflectem as necessidades práticas e metodológicas associadas à informação inerente a este instrumento e as tendências verificadas a nível europeu. A selecção dos indicadores-chave teve por suporte a utilização de critérios específicos, designadamente: › capacidade de síntese;

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› importância técnica e científica; › utilidade para comunicar e relatar; › robustez e sensibilidade; › utilização em avaliações similares; › aptidão para ser actualizado em intervalos de tempo regulares.

É de referir que o modelo de suporte de indicadores ambientais utilizado é o adoptado pela AEA, ou seja, o modelo DPSIR.

O panorama nacional tem demonstrado, no entanto, uma fraca interligação entre os trabalhos desenvolvidos pela comunidade científica e a implementação destes trabalhos por parte dos organismos estatais e privados que têm competências ao nível da gestão ambiental. Tem havido muito pouco esforço para o desenvolvimento de aplicações práticas direccionadas para a realidade ambiental do país e a inexistência de informação base devido aos escassos programas de monitorização ambiental tem sido um entrave à aplicação deste tipo de método.

Considera-se, portanto, a importância da elaboração de aplicações desenvolvidas em Portugal, de modo a poderem ser desenvolvidos cenários comparativos com os países da União Europeia e países membros da OCDE.

7. SITUAÇÃO INTERNACIONAL Com a crescente importância da monitorização dos diferentes instrumentos da política ambiental

comunitária, surge uma reorganização do sistema de aquisição e de avaliação dos dados de base sobre ambiente. A nível internacional destacam-se, por exemplo, várias instituições que têm vindo a desenvolver trabalhos nesta área, nomeadamente, Banco Mundial, Programa das Nações Unidas para o Ambiente, Agências de Protecção do Ambiente Norte Americana e Canadiana, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Em termos europeus, as iniciativas compreendem a Agência Europeia do Ambiente (AEA), ao Eurostat e ao “Joint Research Center”, sob coordenação política da Direcção Geral do Ambiente da Comissão Europeia, Scientific Committee on Problems of the Environment (SCOPE), World Resources Institute (WRI), Global Reporting Initiative (GRI), Instituto Nacional de Saúde Pública e Ambiente na Holanda (RIVM) e Organização Internacional de Normalização (ISO).

Esta nova abordagem conduziu à necessidade de alterações significativas, donde se destaca a elaboração do Relatório do Estado do Ambiente a nível Europeu (SoER) que compila os dados que reflectem o progresso global da União Europeia e de cada Estado membro, bem como da evolução dos indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável.

A elaboração dos relatórios de Sinais Ambientais pela AEA consistem também numa importante fonte de informação, tendo por base a utilização de indicadores ambientais que realçam a necessidade de alcançar maiores progressos em diversos níveis. Como exemplo, de acordo com o relatório de Sinais Ambientais 2004, conclui-se que têm de ser efectuados progressos ao nível da gestão dos impactes ambientais provocados pelos sectores da agricultura, dos transportes e da energia.

Os conjuntos de indicadores ambientais são regularmente revistos e alargados de forma a abranger assuntos mais actuais ou que não estão devidamente referidos, tais como a utilização de recursos, a saúde e os produtos químicos. Exemplos de iniciativas na área de desenvolvimento de indicadores na Europa são os estudos sectoriais para a Energia e Transportes da OCDE, ou o projecto TERM para a Agência Europeia do Ambiente. No caso de indicadores de desenvolvimento sustentável podem ser citados os casos dos conjuntos desenvolvidos pela Direcção Geral do Ambiente, pela Comissão Europeia e EUROSTAT. Indicadores Headline estão a ser desenvolvidos pela Comissão Europeia. Os referidos conjuntos de indicadores ambientais têm sido

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particularmente destinados à preparação de políticas e ao público, mas estão a tornar-se importantes no dia-a-dia, para a gestão ambiental nas empresas.

8. CONCLUSÕES, PERSPECTIVAS FUTURAS

Durante os últimos 10 a 15 anos, os indicadores ambientais têm ganho cada vez maior importância em diversos países, contribuindo para a relevância dos assuntos ambientais nas decisões económicas e políticas bem como para o desenvolvimento de indicadores de desenvolvimento sustentável.

No entanto, verifica-se ainda uma falta de conhecimento neste campo de indicadores ambientais e uma lacuna ainda maior na área de indicadores de desenvolvimento sustentável. Apesar do progresso verificado ao nível estatístico, devido às diferenças existentes entre países é necessário considerar o estabelecimento de dados comparáveis internacionalmente de forma a ser possível efectuar monitorizações, avaliações e tratamentos de dados.

É, portanto, necessário assegurar a qualidade e comparabilidade dos indicadores ambientais existentes, de forma a corrigir e desenvolver novos indicadores que respondam a novos desafios e preocupações políticas. Isto só será possível com um maior reconhecimento político nesta matéria, com a qualidade dos sistemas de dados disponíveis e com uma maior compreensão da interligação entre aspectos ambientais e sistemas económicos e sociais existentes. O trabalho futuro a ser executado pode passar também pela necessidade de documentação dos indicadores e da sua complementação com informação que reflicta as diferenças a nível regional.

A selecção dos parâmetros que melhor caracterizem a situação dos sistemas ambientais é uma tarefa complexa e com alguma incerteza quanto aos critérios e níveis de agregação nos quais os parâmetros deverão ser analisados.

A OCDE tem feito um esforço significativo na promoção do uso de indicadores e troca de experiência profissional com países membros e outras organizações internacionais. As áreas de desenvolvimento e progresso apresentadas pela OCDE são:

. Promover a qualidade e acessibilidade de dados fundamentais, com relevo na comparabilidade entre países, coerência ao longo do tempo e interpretabilidade;

. Aproximar os indicadores dos objectivos individuais e compromissos internacionais;

. Aproximar os indicadores de assuntos de sustentabilidade;

. Complementar os indicadores com informação que reflicta as diferenças a nível regional;

. Desenvolver “medium term indicators” – indicadores que necessitam de maior especificação e desenvolvimento);

. Desenvolver indicadores derivados da contabilização ambiental (ex: intensidade do uso de recursos materiais) e estabelecer uma maior ligação entre a contabilização e o desenvolvimento de indicadores;

. Tornar mais efectivo o uso de indicadores na avaliação política e nos relatórios de estado do ambiente nacionais;

. Monitorizar os métodos de agregação de indicadores a nível nacional e internacional e produzir índices quando possível e quando for relevante em termos de politicas.

Considera-se que o método de utilização de indicadores que foi abordado neste documento pode

contribuir significativamente para uma maior eficiência na gestão de informação dos sistemas ambientais, sem nunca esquecer que consistem apenas num instrumento, embora valioso, na coordenação e desenvolvimento de todo um processo.

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