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RELATÓRIO FINAL ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES DAS PME NOS INQUÉRITOS DE DEFESA COMERCIAL E SOLUÇÕES POSSÍVEIS PARA AS MESMAS Setembro de 2010 Estudo realizado por Gide Loyrette Nouel A.A.R.P.I Declaração de exoneração de responsabilidade: O presente relatório foi encomendado e financiado pela Comissão Europeia da União Europeia. As opiniões nele expressas são dos autores do estudo, não representando uma posição oficial da Comissão Europeia.

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RELATÓRIO FINAL

ESTUDO SOBRE AS DIFICULDADES

DAS PME NOS

INQUÉRITOS DE DEFESA COMERCIAL

E SOLUÇÕES POSSÍVEIS PARA AS MESMAS

Setembro de 2010

Estudo realizado por

Gide Loyrette Nouel A.A.R.P.I

Declaração de exoneração de responsabilidade:

O presente relatório foi encomendado e financiado pela Comissão Europeia da União Europeia. As

opiniões nele expressas são dos autores do estudo, não representando uma posição oficial da

Comissão Europeia.

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2.

O presente estudo é elaborado para a Direcção-Geral do Comércio e, em particular, para a

Direcção H - Defesa Comercial.

O estudo foi elaborado com base nas respostas obtidas junto de várias partes interessadas

durante as entrevistas, ou dadas a um questionário. Os dados foram directamente recolhidos

junto de fontes primárias, ou seja, pequenas e médias empresas (PME) e associações

industriais nacionais/europeias tendo PME como membros, que participaram em inquéritos de

defesa comercial (IDC), bem como de funcionários competentes nesta matéria dos Estados-

Membros e das administrações das Instituições Europeias.

O estudo tem em consideração a evolução das leis e da jurisprudência relevantes da UE (e da

OMC), bem como das práticas dos serviços anti-dumping da Comissão, até ao fim de

Junho de 2010.

AGRADECIMENTOS

A Gide Loyrette Nouel gostaria de agradecer o tempo e o valioso contributo disponibilizados

por todas as pessoas que participaram no estudo na qualidade de entrevistados. Os autores

queriam ainda deixar um agradecimento especial a Romain Viard pela ajuda inestimável que

prestou durante o seu estágio, em 2010, no gabinete da Gide Loyrette Nouel, em Bruxelas.

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3.

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 6 1.1 Objectivo e âmbito do estudo....................................................................................... 6

1.2 Instrumentos de defesa comercial ................................................................................ 7

1.3 Pequenas e médias empresas........................................................................................ 8

2. CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DAS PME............................................... 10 2.1 As PME desempenham um papel importante na economia europeia ........................ 10

2.2 Constrangimentos inerentes às PME.......................................................................... 11

3. AS NORMAS DA UE E AS PME........................................................................... 12 3.1 Síntese da política da UE em matéria de PME .......................................................... 12

3.1.1 Iniciativas legislativas específicas das PME.............................................................. 14

(a) Direito da concorrência: tratamento específico nas regras relativas aos auxílios estatais .............................................................................................................. 15

(b) Direito fiscal: medidas especiais de redução do IVA....................................... 15

(c) Direito das Sociedades: Estatuto da Sociedade Privada Europeia favorável às PME.................................................................................................................. 16

3.1.2 Medidas práticas de apoio aos regimes de auxílios às PME...................................... 16

(a) Semana Europeia das PME............................................................................... 17

(b) «Enterprise Europe Network» .......................................................................... 17

(c) Portal europeu das pequenas empresas, «Access2finance» e portal «Your Europe - Business» ........................................................................................... 17

3.2 Iniciativas específicas para as PME em processos IDC: ainda marginais ................. 18

3.3 Iniciativas possíveis a favor das PME........................................................................ 19

3.3.1 Princípios jurídicos orientadores................................................................................ 19

(a) Princípios orientadores da OMC ...................................................................... 20

(b) Princípios orientadores da UE .......................................................................... 21

3.3.2 Tipos de iniciativas recomendadas ............................................................................ 22

4. DIFICULDADES DAS PME NOS PROCESSOS DE DEFESA COMERCIAL DA UE ....................................................................................................................... 24

4.1 Dificuldades de carácter geral.................................................................................... 24

4.1.1 Desconhecimento em geral ........................................................................................ 24

4.1.2 Falta de conhecimentos para ponderar a participação num processo ........................ 27

(a) Interesses em causa e resultados previstos ....................................................... 27

(b) Duração do inquérito e aplicação atempada/tardia das medidas ...................... 28

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4.

(c) «Distanciamento» entre as PME e as administrações competentes ................. 28

(d) Outros factores.................................................................................................. 29

4.2 Dificuldades antes do início do processo................................................................... 31

4.2.1 Enfrentadas pelas PME produtoras da UE................................................................. 31

(a) Morosidade do processo de denúncia............................................................... 31

(b) Sobrecarga desproporcionada relativamente ao tipo de elementos de prova necessários para apresentar a denúncia ............................................................ 32

(c) Posição.............................................................................................................. 33

4.2.2 Enfrentadas pelas PME importadoras/utilizadoras da UE ......................................... 33

4.3 Fases iniciais do inquérito.......................................................................................... 34

4.3.1 Dificuldades enfrentadas pelas PME produtoras da UE ............................................ 34

(a) Questionário de amostragem ............................................................................ 34

(b) Questionário principal ...................................................................................... 34

4.3.2 Dificuldades enfrentadas pelas PME importadoras/utilizadoras da UE .................... 35

(a) Dar-se a conhecer à Comissão.......................................................................... 35

(b) Questionário de amostragem ............................................................................ 36

(c) Questionário principal ...................................................................................... 37

(d) Falta de transparência na aplicação do teste do interesse da Comunidade....... 37

(e) Falta de meios para acompanhar o inquérito .................................................... 38

4.4 Fase final do inquérito................................................................................................ 38

4.4.1 Acompanhar o processo ............................................................................................. 38

4.4.2 Comunicação com os Estados-Membros ................................................................... 39

4.5 Fase da aplicação ....................................................................................................... 39

4.5.1 Enfrentadas pelas PME produtoras da UE................................................................. 39

4.5.2 Enfrentadas pelas PME importadoras/utilizadoras da UE ......................................... 39

4.6 Conclusão provisória.................................................................................................. 40

5. RECOMENDAÇÕES RELATIVAS ÀS DIFICULDADES ACIMA IDENTIFICADAS.................................................................................................... 41

5.1 Maior sensibilização para os IDC em geral ............................................................... 41

(a) Workshops regionais......................................................................................... 41

(b) Maior envolvimento dos Estados-Membros enquanto «interfaces»................. 42

(c) Melhorar o funcionamento do serviço de assistência da DG Comércio........... 43

(d) Tornar público o relatório do Auditor para aumentar a transparência e os conhecimentos das PME................................................................................... 44

5.2 Prestar informações e explicações em processos IDC específicos ............................ 45

5.2.1 Comissão Europeia .................................................................................................... 45

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5.

5.2.2 Estados-Membros....................................................................................................... 46

5.2.3 Associações comerciais.............................................................................................. 47

5.3 Facilitação da participação das PME ......................................................................... 47

5.3.1 Antes do início do processo ....................................................................................... 47

(a) PME produtoras................................................................................................ 47

(b) PME importadoras/utilizadoras e operadores económicos............................... 49

5.4 Na fase do inquérito ................................................................................................... 49

5.4.1 PME produtoras ......................................................................................................... 49

(a) Amostragem...................................................................................................... 49

(b) Questionário principal ...................................................................................... 50

5.4.2 PME importadoras e utilizadoras ............................................................................... 51

5.4.3 Acompanhar o processo ............................................................................................. 52

5.4.4 Comunicação com os Estados-Membros ................................................................... 52

5.5 Fase da aplicação ....................................................................................................... 53

5.5.1 PME produtoras ......................................................................................................... 53

(a) O registo e a aplicação retroactiva de direitos podem limitar a evasão............ 53

5.5.2 PME importadoras e utilizadoras ............................................................................... 53

5.6 Conclusão provisória.................................................................................................. 54

6. OS PROCESSOS DE PAÍSES TERCEIROS E AS PME EUROPEIAS ........... 55 6.1 Envolvimento limitado das empresas da UE até à data, mas a situação pode mudar 55

6.2 Dificuldades das PME exportadoras envolvidas em processos de países terceiros ... 56

6.2.1 Falta de conhecimento ............................................................................................... 56

6.2.2 Possíveis dificuldades práticas das PME exportadoras.............................................. 56

6.2.3 Apoio actualmente disponível e suas limitações........................................................ 57

6.3 Soluções propostas para as dificuldades das PME exportadoras em países terceiros 58

6.3.1 Aumentar os conhecimentos gerais das PME ............................................................ 58

6.3.2 Informar as PME sobre um inquérito específico ....................................................... 60

6.3.3 Outras iniciativas possíveis, incluindo a simplificação ............................................. 61

7. OBSERVAÇÕES FINAIS....................................................................................... 62

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6.

1. INTRODUÇÃO

1.1 Objectivo e âmbito do estudo

1. O presente estudo tem como objectivo identificar as dificuldades que as pequenas e

médias empresas (a seguir designadas por «PME») enfrentam, nos 27 Estados-

Membros da União Europeia (a seguir designada por «Europa» ou «UE»), enquanto

partes envolvidas em inquéritos de defesa comercial (a seguir designados por

«IDC»), e emitir recomendações sobre possíveis soluções susceptíveis de facilitar a

participação das PME nesses inquéritos.1

2. A ideia deste estudo derivou do exercício de transparência lançado, em 2009, sob

Presidência checa. Este exercício concluíra, entre outras coisas, ser necessário

melhorar a situação das PME relativamente aos IDC, havendo que realizar um estudo

para identificar as dificuldades que estas enfrentam e sugerir melhorias.

3. No que respeita ao âmbito do estudo, convém referir o seguinte:

- O estudo não pretende analisar a legitimidade da utilização dos IDC, nem as

possíveis interpretações das disposições previstas no actual quadro jurídico, com

vista a «reforçar» ou «enfraquecer» a utilização dos instrumentos IDC;

- A finalidade do estudo consiste unicamente em determinar se as PME enfrentam

dificuldades e, se for o caso, em que se traduzem, em virtude desse seu estatuto,

enquanto partes envolvidas em IDC;

- O estudo abarca todas as categorias de PME (por exemplo, produtoras, importadoras

e utilizadoras), tendo o cuidado de garantir a abordagem específica de todos os

interesses nas respectivas partes do relatório;

1 Cf. Concurso relativo a um contrato de realização de um estudo sobre as dificuldades que as PME enfrentam nos inquéritos de defesa comercial e soluções possíveis para as mesmas (a seguir designado por «Termos de referência»), p. 6, Bruxelas, 2 de Outubro de 2009.

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7.

- O estudo abrange as dificuldades enfrentadas pelas PME que participam em IDC

iniciados pela Comissão Europeia ou por países terceiros; 2

- O estudo pretende propor soluções realistas para facilitar o papel das PME nos

processos IDC, tendo presente a necessidade de imparcialidade e não-discriminação

por parte das autoridades competentes;

- O estudo propõe soluções a curto, médio ou longo prazos que a Comissão poderia

adoptar sem alterar o actual quadro jurídico, eventualmente através da adopção de

«boas práticas».3

4. A fim de realizar o estudo, foi encetado um diálogo directo entre os autores e várias

partes interessadas de praticamente todos os 27 Estados-Membros. As partes

interessadas, que aceitaram ser entrevistadas ou apresentar as suas opiniões por

escrito, constituem um grupo representativo que garante uma ampla cobertura

geográfica e um vasto leque de posições de partes interessadas (produtores,

importadores, utilizadores), administrações públicas e empresas privadas4. Assim,

este grupo incluiu PME de diferentes Estados-Membros, associações europeias de

vários grupos de interesses e funcionários das Instituições Europeias e das

autoridades nacionais, todos eles familiarizados com os problemas colocados pelos

IDC.

1.2 Instrumentos de defesa comercial

5. Os IDC abrangidos pelo presente estudo são todos os instrumentos aplicáveis - pela

UE ou por governos de países terceiros - para compensar os prejuízos resultantes de

práticas de dumping adoptadas por empresas privadas (os chamados processos «anti-

dumping»), de subvenções estatais (os chamados processos «anti-subvenções») ou de

2 Nos últimos anos, vários países terceiros, entre os quais os chamados «países emergentes», recorreram com uma frequência cada vez maior a IDC contra os exportadores da UE. No âmbito do estudo cabe analisar em que medida a nova política da Comissão Europeia em matéria de processos relativos a IDC instaurados por países terceiros tem em conta as necessidades das PME envolvidas nesses processos. 3 Nesta matéria, as «Best Practices on the conduct of proceedings concerning Articles 101 and 102 TFEU» («Boas práticas para a instrução de processos à luz dos artigos 101.º e 102.º do TFUE») da DG Concorrência poderiam servir de fonte de inspiração à DG Comércio. 4 Este grupo incluiu cerca de 120 pessoas entrevistadas, já com alguma experiência em IDC.

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8.

importações em larga escala e perturbadoras (os chamados processos de

«salvaguarda»).

6. Na Europa, os instrumentos referidos constam dos seguintes actos jurídicos:

- Processos anti-dumping (Regulamento (CE) n.º 1225/2009 relativo à defesa contra

as importações objecto de dumping dos países não membros da Comunidade

Europeia);

- Processos de compensação (Regulamento (CE) n.º 597/2009 relativo à defesa contra

as importações que são objecto de subvenções de países não membros da

Comunidade Europeia);

- Processos de salvaguarda (Regulamento (CE) n.º 260/2009 relativo ao regime comum

aplicável às importações [importações provenientes de países membros da OMC];

Regulamento (CE) n.º 625/2009 relativo ao regime comum aplicável às importações

de certos países terceiros [importações provenientes de países não-membros da OMC];

Regulamento (CE) n.º 427/2003 relativo a um mecanismo de salvaguarda transitório

aplicável especificamente à importação de determinados produtos originários da

República Popular da China).

1.3 Pequenas e Médias Empresas

7. O conceito de PME encontra-se definido no artigo 2.º, n.º 1, da

Recomendação 2003/361/CE da Comissão Europeia, com a seguinte redacção:

«A categoria das micro, pequenas e médias empresas (PME) é constituída por

empresas que empregam menos de 250 pessoas e cujo volume de negócios anual

não excede 50 milhões de euros ou cujo balanço total anual não excede

43 milhões de euros».

8. O presente estudo foi elaborado com base em informações relativas a esta categoria

de empresas e recolhidas junto das mesmas.

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10.

2. CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DAS PME

2.1 As PME desempenham um papel importante na economia europeia

9. Normalmente, as PME são consideradas a «espinha dorsal da economia europeia»5.

Segundo dados recentes, existem 23 milhões de PME na Europa, que correspondem

a 99% das empresas da UE-27, empregam mais de 100 milhões de pessoas e

representam 60% do PIB da UE.6

10. Mais impressionante ainda é o facto de 92% do sector das PME ser composto por

micro-empresas, que empregam menos de 10 pessoas7. Fontes importantes de criação

de emprego, as PME são responsáveis por 67% dos postos de trabalho do sector

privado não financeiro8, tendo mesmo superado as grandes empresas com a criação

de 9,4 milhões de postos de trabalho entre 2002 e 20089. Vários estudos

estabeleceram uma relação directa entre as PME e as taxas de crescimento

económico globais10 e, especificamente, com as registadas no período de 2004 -

200611. De igual modo, as PME revelam-se, com frequência, extremamente

inovadoras, estabelecendo ligações fortes, eficazes e estreitas com as universidades,

sob a forma de empresas derivadas (spin-offs).

11. As PME produtoras exercem a maior parte da sua actividade no mercado interno

europeu. Em contraste com o contributo que dão para o comércio intra-UE, a

internacionalização das PME no exterior da UE é bastante limitada, pois apenas 14%

5 http://ec.europa.eu/enterprise/e_i/news/article_8750_en.htm, última consulta em 2 de Julho de 2010. 6 Cf. Comissão Europeia, DG Concorrência, Handbook on Community State Aid Rules for SMEs («Manual das regras aplicáveis aos auxílios estatais da Comunidade às PME»), p. 3. Este manual foi publicado em 25 de Fevereiro de 2009 e encontrava-se acessível aquando da última consulta, em 9 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/competition/state_aid/studies_reports/sme_handbook.pdf. 7 Primeira parte do Annual Report on EU Small and Medium-sized Enterprises («Relatório Anual sobre as Pequenas e Médias Empresas da UE»), D. AUDRESTSCH, R. VAN DER HORST, T. KWAAK e R. THURIK, EIM Business & Policy Research, ver p. 5. Zoetermeer, 12 de Janeiro de 2009. Última consulta em 14 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/files/craft/sme_perf_review/doc_08/spr08_annual_reporten.pdf . 8 Ver a nota de rodapé 6 supra, p. 19. Sobre o elevado contributo das PME para a criação de novos postos de trabalho, ver também p. 37 do mesmo relatório. 9 Ver a Análise do Desempenho das PME, Relatório anual de 2010, publicado em 11 de Junho de 2010, p. 6. Última consulta em 14 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/facts-figures-analysis/performance-review/pdf/dgentr_annual_report2010_100511.pdf. 10 Ver nota de rodapé 6 supra, p. 39.

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11.

delas se abastecem no exterior e apenas 13% exportam para além das fronteiras da

UE.12

12. Decorre destes números que, no que se refere às PME produtoras, quaisquer

iniciativas tomadas para facilitar a sua participação nos processos IDC respeitariam,

sobretudo, ao seu envolvimento nos processos europeus. Não obstante, é provavel

que tais iniciativas venham a assumir uma importância crescente para estas empresas

no contexto dos processos iniciados por países terceiros.

13. As PME europeias importadoras ou utilizadoras, que, logicamente, se encontram

expostas ao comércio internacional, serão, provavelmente, também parte activa nos

processos da UE, para reduzir ao máximo as alterações no seu fluxo de importações

de países terceiros.

2.2 Constrangimentos inerentes às PME

14. A premissa básica, repetidamente aventada por todos os entrevistados no âmbito

deste estudo, é que, por força da sua dimensão, as PME confrontam-se com toda uma

série de constrangimentos: dificuldades de acesso ao financiamento, recursos

limitados e dificuldades em atrair pessoal qualificado ou em entrar em novos

mercados. Além disso, normalmente, as PME cingem o seu conhecimento do quadro

(económico, jurídico e administrativo) em que operam àquilo que precisam de saber

para funcionar no dia-a-dia e satisfazer as suas necessidades imediatas.

Consequentemente, tendem a concentrar-se nas suas actividades principais: o

desenvolvimento, a produção e a comercialização dos seus produtos.

15. Na maior parte dos casos, ignoram os direitos e oportunidades de que podem tirar

proveito, tais como o direito de utilizarem instrumentos contra práticas comerciais

desleais ou de contestarem a utilização dos mesmos. Exceptuando os casos em que

conhecem suficientemente estes instrumentos e recebem orientações adequadas, as

11 SMEs were the main drivers of economic growth, («As PME foram os principais motores do crescimento económico»), M. SCHMIEMANN, publicação n.º 71/2009, de 10 de Setembro de 2009, sítio do Eurostat: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-SF-09-071/EN/KS-SF-09-071-EN.PDF. 12 Estudo Internationalisation of European SMEs («Internacionalização das PME europeias»), 2010, p. 5, disponível em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/market-access/internationalisation/index_en.htm.

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12.

PME tendem a mostrar-se relutantes em afectar tempo e recursos - humanos e

financeiros - a matérias que não exigem a sua atenção imediata, como são os IDC,

cujas regras e consequências continuam a considerar um tanto nebulosas. A situação

complica-se pelo facto de, na vasta maioria das PME europeias, com excepção das

localizadas no Reino Unido e na Irlanda, o seu pessoal não falar inglês.

3. AS NORMAS DA UE E AS PME

3.1 Síntese da política da UE em matéria de PME

16. Devido à sua importância para a economia da UE e em conformidade com o duplo

objectivo de promover a competitividade e o crescimento na Europa, a situação

específica das PME tem sido amplamente reconhecida na maior parte das políticas da

UE.

17. Lançada pelo Conselho Europeu, em Março de 2000, a Estratégia de Lisboa13

reconheceu que a competitividade da Europa dependia fortemente das suas pequenas

empresas e definiu como objectivo a criação de um ambiente favorável às PME,

através da introdução de diversas iniciativas e da instituição de um quadro

regulamentar específico para as PME. Na sequência do lançamento da Estratégia de

Lisboa, o Conselho aprovou a Carta Europeia das Pequenas Empresas, na qual

declara que as PME são a «espinha dorsal da economia europeia»14, tendo afirmado

que «os decisores políticos [tomariam] na devida conta as necessidades dessas

empresas e [assumiriam] o compromisso directo em dez domínios políticos

principais»15. Posteriormente, o Conselho reiterou, nas reuniões seguintes, o

objectivo, especificamente direccionado para as PME, de instituir um ambiente

regulamentar «simples, transparente e fácil de aplicar»16, tendo em vista a criação

do «melhor enquadramento possível»17 para as PME.

13 Conselho Europeu de Lisboa, Lisboa, 23 e 24 de Março de 2000 14 Ibidem, p. 1. Reiterado na Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões - «As pequenas e médias empresas enquanto factores decisivos para estimular o crescimento e o emprego. Avaliação intercalar da política moderna para as PME», COM (2007) 592 final, Bruxelas, 4 de Outubro de 2007, p.1 15Para obter mais pormenores, ver o sítio da Comissão Europeia, DG Empresas e Indústria. Última consulta em 11 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/best-practices/charter/index_en.htm. 16 Conselho da União Europeia, Conclusões da Presidência, 23-24 de Março de 2006, ponto 26. 17 Carta Europeia das Pequenas Empresas

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13.

18. Outro elemento importante foi a nova definição de PME18, nos termos da qual a

Comissão, indirectamente, aceitou a legitimidade de um tratamento diferenciado das

mesmas, ao declarar que esta nova definição visava «garantir que as grandes

empresas que não compartilham as mesmas preocupações não beneficiem de acções

de apoio especificamente destinadas às PME»19 (sublinhado nosso).

19. Em 2005, outra comunicação da Comissão reconhecia ser «necessária uma

simplificação dos condicionalismos regulamentares e administrativos que pesam

sobre as PME», bem como a integração do princípio «Think Small First» («Pensar

primeiro em pequena escala») em todas as políticas da UE, afirmando que: «Uma

melhor legislação reveste-se de especial importância para as PME, uma vez que

estas têm recursos limitados e conhecimentos especializados insuficientes para

poderem obedecer a regras e regulamentações frequentemente complexas. Há

provas de que as sobrecargas administrativas podem constituir um ónus

desproporcionadamente elevado para as PME.» [...] «Tanto a nível nacional, como

comunitário, devem ser sempre consideradas medidas apropriadas para aligeirar a

sobrecarga legislativa sobre as PME e pode ser útil introduzir disposições

específicas relativas a estas últimas, tais como períodos de transição maiores,

encargos reduzidos, exigências de comunicação simplificadas, até excepções, ou

assistência, por exemplo, sob a forma de serviços de apoio. [...] Tanto a Comissão

como os Estados-Membros devem tomar medidas, no âmbito de domínios políticos

específicos, para aligeirar a sobrecarga imposta às PME e ter mais em conta as

suas necessidades intrínsecas».20

20. Tudo isso foi reiterado pela Comissão na sua avaliação intercalar da política moderna

para as PME de 2007, na qual declarava que: «Nos casos em que as PME sejam

18 Ver supra a secção 1.3, referindo a Recomendação da Comissão 2003/361/CE, de 6 de Maio de 2003, relativa à definição de micro, pequenas e médias empresas [Jornal Oficial L 124 de 20/05/2003]. 19 Ver o resumo da Recomendação da Comissão 2003/361/CE, de 6 de Maio de 2003, relativa à definição de micro, pequenas e médias empresas [Jornal Oficial L 124 de 20/05/2003], em: http://europa.eu/legislation_summaries/enterprise/business_environment/n26026_en.htm 20 Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões - «Aplicar o programa comunitário de Lisboa - Modernizar a política das PME para o crescimento e o emprego», COM(2005) 551 final, Bruxelas, 10 de Novembro de 2005, ver p. 7-8.

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14.

objecto da legislação comunitária, deverão adoptar-se medidas específicas para as

auxiliar» (sublinhado nosso).21

21. Visto como a pedra angular da política da UE para as PME, o Small Business Act

para a Europa22 de 2008 visava «ancorar irreversivelmente o princípio «Think Small

First» na definição das políticas, da legiferação ao serviço público, e promover o

crescimento das PME ajudando-as a abordar os problemas que ainda travam o seu

desenvolvimento» (sublinhado nosso).23

22. Finalmente, foram introduzidas, em 2009, orientações especiais para a avaliação de

impacto, com vista a avaliar o impacto de todas as propostas legislativas e políticas

importantes em matéria de PME.24

3.1.1 Iniciativas legislativas específicas das PME

23. Neste momento, existem 83 actos legislativos da UE com medidas políticas visando

especificamente as PME25. Alguns prevêem isenções decorrentes da dimensão, um

tratamento especial para as PME, isenções temporárias ou a simplificação de

21 Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões - «As pequenas e médias empresas enquanto factores decisivos para estimular o crescimento e o emprego. Avaliação intercalar da política moderna para as PME», COM (2007) 592 final, Bruxelas, 4 de Outubro de 2007. A comunicação estabelecia também que, quando comparadas com empresas de maiores dimensões, as PME suportam «encargos administrativos e regulamentares desproporcionados». Ver p. 11 22 Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões - «Think Small First» Um «Small Business Act» para a Europa, COM (2008) 394 final, Bruxelas, 25 de Junho de 2008 23 Ibidem, p. 3. O Small Business Act prevê um conjunto de 10 princípios para orientar a concepção e a aplicação das políticas das PME, um conjunto de novas medidas e propostas legislativas regidas pelo princípio «Think Small First» e um conjunto de novas medidas políticas que aplicam estes 10 princípios de acordo com as necessidades das PME. Sobre a aplicação do Small Business Act para a Europa em 2009, ver Documento de trabalho da Comissão - Relatório sobre a aplicação do SBA («Small Business Act»), p. 2, COM(2009)680, Bruxelas, última consulta em 10 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/small-business-act/implementation/index_en.htm e ver também Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões - «Think Small First» Um «Small Business Act» para a Europa, SEC(2008) 2101 e SEC(2008) 2102, nomeadamente p. 3, Bruxelas, 25/06/2008. Última consulta em 10 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/small-business-act/index_en.htm. 24 Orientações para a avaliação de impacto, 15 de Janeiro de 2009, SEC(2009) 92. Esta avaliação baseia-se num teste em três fases: avaliação preliminar das empresas passíveis de ser afectadas, medição do impacto nas PME (análise custo- benefício) e aplicação de medidas de atenuação, se necessário. 25 Evaluation of the application of the Think Small First principle in EU legislation and programmes («Avaliação da aplicação do princípio «Pensar primeiro nos pequenos« à legislação e aos programas da UE»), Relatório final apresentado por GHK, Executive Summary (Resumo), p. 3.

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15.

requisitos legislativos nacionais26. Embora a referência a todos esses textos

legislativos extravase o âmbito do presente estudo, convirá mencionar, a título de

exemplo, alguns deles.

(a) Direito da concorrência: tratamento específico nas regras relativas aos auxílios

estatais

24. Em 2005, a Comissão simplificou as regras comunitárias aplicáveis aos auxílios

estatais em matéria de inovação, de modo a incentivar a inovação no seio das PME.

Em 2007, a Comissão aumentou o limiar de minimis abaixo do qual os auxílios não

necessitam de ser comunicados e apresentou propostas visando aumentar a ajuda às

PME. Além disso, a Comissão introduziu um novo quadro para os auxílios estatais

nos domínios da investigação e da inovação, aumentando os fundos disponíveis para

as PME e estabelecendo regras flexíveis para as despesas das PME decorrentes dos

direitos de propriedade intelectual. Em 2009, foi adoptado um regulamento geral de

isenção por categoria, nos termos do qual as medidas relativas aos auxílios estatais

de apoio às PME ficariam isentas da obrigação de notificação27. Estas e outras

medidas específicas para as PME em matéria de auxílios estatais encontram-se

descritas no «Manual das regras aplicáveis aos auxílios estatais da Comunidade às

PME», adoptado em 2009.28

(b) Direito fiscal: medidas especiais de redução do IVA

25. Inserida no Small Business Act, a proposta da Comissão (DG TAXUD) sobre a

redução das taxas de IVA em muitos dos sectores de actividade das PME

(nomeadamente, nos serviços de grande intensidade do factor trabalho) entrou em

26 Ibidem, p. 4 27 Sobre a aplicação do Small Business Act para a Europa em 2009, ver Documento de trabalho da Comissão - Relatório sobre a aplicação do SBA («Small Business Act»), p. 2, COM(2009)680, Bruxelas. Última consulta em 10 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/small-business-act/implementation/index_en.htm, e Regulamento (CE) n.º 800/2008 da Comissão, de 6 de Agosto de 2008, que declara certas categorias de auxílios compatíveis com o mercado comum, em aplicação dos artigos 87.º e 88.º do Tratado (Regulamento geral de isenção por categoria), JO L 214 de 09/08/2008, nomeadamente o considerando 54. Última consulta em 10 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/competition/state_aid/legislation/block.html . 28 Cf. Comissão Europeia, DG Concorrência, Handbook on Community State Aid Rules for SMEs («Manual das regras aplicáveis aos auxílios estatais da Comunidade às PME»), p. 3. Este manual foi publicado em

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16.

vigor em 200929. Além disso, a proposta de reformulação da directiva relativa aos

atrasos de pagamentos visa melhorar o fluxo de tesouraria das PME30. Outra proposta

sobre a facturação do IVA vem complementar o Small Business Act, alargando o

recurso à facturação simplificada, inclusivamente no caso de pequenos montantes,

que são particularmente importantes para as PME, e permitindo que os Estados-

Membros autorizem as PME a contabilizar o IVA numa base de tesouraria ao abrigo

de um sistema de contabilidade de caixa.31

(c) Direito das Sociedades: Estatuto da Sociedade Privada Europeia favorável às

PME

26. No âmbito do Small Business Act, a proposta da Comissão relativa ao «Estatuto da

Sociedade Privada Europeia» visa tornar o mercado único mais acessível às PME

através da criação de uma nova forma jurídica europeia para as PME que pretendam

aumentar a sua competitividade.32

3.1.2 Medidas práticas de apoio aos regimes de auxílios às PME

27. Em consonância com a política da UE para as PME e com os muitos actos

legislativos que prevêem um tratamento específico para as mesmas, as Instituições

25 de Fevereiro de 2009 e encontra-se disponível (última consulta em 9 de Junho de 2010) em: http://ec.europa.eu/competition/state_aid/studies_reports/sme_handbook.pdf. 29 Ver Documento de trabalho da Comissão - Relatório sobre a aplicação do SBA («Small Business Act»), p. 2, COM(2009)680, Bruxelas. Última consulta em 10 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/sme/small-business-act/implementation/index_en.htm e ver também Proposta de Directiva do Conselho que altera a Directiva 2006/112/CE no que diz respeito às taxas reduzidas do imposto sobre o valor acrescentado, SEC(2008 2190 e SEC(2008)2191, COM(2008)428 final, Bruxelas, 07/07/2008, p. 3 e 4. Última consulta em 10 de Junho de 2010, em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2008:0428:FIN:EN:PDF. Esta proposta levou à adopção da Directiva 2009/47/CE do Conselho, de 5 de Maio de 2009 , que altera a Directiva 2006/112/CE no que diz respeito às taxas reduzidas do imposto sobre o valor acrescentado, JO L 116 de 09/05/2009. Última consulta em 10 de Junho de 2010, em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2009:116:0018:0020:EN:PDF. 30 Proposta de Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho que estabelece medidas de luta contra os atrasos de pagamento nas transacções comerciais (Reformulação) e aplica o Small Business Act, nomeadamente p. 2 e 4, COM(2009) 126 final, Bruxelas, 08/04/2009. Última consulta em 11 de Junho de 2010, em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2009:0126:FIN:en:PDF. 31 Ver Proposta de Directiva do Conselho que altera a Directiva 2006/112/CE relativa ao sistema comum do imposto sobre o valor acrescentado no que respeita às regras em matéria de facturação, p. 3. Última consulta em 11 de Junho de 2010, em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2009:0021:FIN:EN:PDF.

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17.

Europeias, também em coordenação com os Estados-Membros, adoptaram várias

medidas concretas para auxiliar as PME. A título de exemplo, podemos referir as

seguintes:

(a) Semana Europeia das PME

28. Contemplada pela primeira vez no «Small Business Act» para a Europa, a Semana

Europeia das PME33 é uma iniciativa que engloba um grande número de eventos de

campanha realizados por toda a Europa34, nos quais são prestadas informações às

PME sobre a ajuda e os apoios que lhes são concedidos pelas autoridades europeias,

nacionais, regionais e locais.

(b) «Enterprise Europe Network»

29. A «Enterprise Europe Network» é uma rede de apoio às empresas que engloba 600

organizações parceiras activas em 44 países. Até Dezembro de 2009, esta rede tinha

conseguido algum êxito, envolvendo cerca de 3000 profissionais qualificados e

prestando assistência a cerca de 3 milhões de PME.35

(c) Portal europeu das pequenas empresas, «Access2finance» e portal «Your

Europe - Business»

30. Além dos sítios web dos dois regimes supramencionados, a «Semana Europeia das

PME» e a «Enterprise Europe Network», a Comissão Europeia divulga ainda

informações sobre as políticas da UE para as PME em sítios como o Portal europeu

das pequenas empresas, o «Access2finance» e o portal «Your Europe - Business».36

32 Ver Proposta de regulamento do Conselho relativo ao estatuto da sociedade privada europeia, nomeadamente p. 2 e 3. SEC(2008) 2098 e SEC(2008) 2099, COM(2008) 396/3, Bruxelas, 2008/xxxx (CNS). Última consulta em 11 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/internal_market/company/docs/epc/proposal_en.pdf . 33Cf. o sítio da Comissão Europeia, DG Empresas e Indústria, Semana Europeia das PME. Última consulta em 20 de Maio de 2010, em: http://ec.europa.eu/enterprise/policies/entrepreneurship/sme-week/index_en.htm 34 Ibid. 35 Efectivamente, esta extensa rede organizou mais de 10 000 eventos, através dos quais cerca de 400 000 PME celebraram 1400 acordos de parceria comercial ou tecnológica. Ver Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões - «Think Small First» Um «Small Business Act» para a Europa, COM(2008) 394 final, 25 de Junho de 2008, p. 7. 36 Consulte o Portal europeu das pequenas empresas (última consulta em 11 de Junho de 2010), em: http://ec.europa.eu/small-business/index_en.htm; o sítio «Access2finance» (última consulta em 11 de Junho de

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18.

3.2 Iniciativas específicas para as PME em processos IDC: ainda marginais

31. Apesar da intenção geral da UE de facilitar as actividades e o desenvolvimento das

PME, estas iniciativas são ainda marginais no seio dos serviços de defesa comercial

da Comissão Europeia.

32. Esta situação pode advir do facto de, em nome da não-discriminação, da neutralidade

e da objectividade, os serviços da Comissão responsáveis pelos inquéritos de defesa

comercial darem, na maior parte dos casos (excepto, talvez, em casos excepcionais),

um tratamento indiferenciado a todas as empresas envolvidas em IDC a nível

europeu, sem atentarem na sua dimensão ou no seu interesse no processo (produtor,

importador, utilizador).

33. No entanto, na prática, dar o mesmo tratamento a todas as empresas pode colocar

algumas delas, em especial as PME, numa situação de desvantagem.

34. Uma iniciativa concreta lançada nos últimos anos foi o serviço de assistência às PME

no domínio da defesa comercial37, criado em 200738. Este serviço, cujos dados de

contacto se encontram disponíveis no sítio da DG Comércio39, destina-se a ajudar as

empresas que enfrentem dificuldades técnicas devido à sua pequena dimensão ou à

fragmentação do respectivo sector40. O serviço de assistência deverá ser capaz de dar

resposta às questões e problemas derivados dos IDC, sejam estes respeitantes a

2010) em: http://www.access2finance.eu/; e o portal «Your Europe - Business» (última consulta em 11 de Junho de 2010), em: http://ec.europa.eu/youreurope/business/index_en.htm. 37 Tanto quanto é do conhecimento dos autores, as campanhas de sensibilização levadas a cabo, nos últimos anos, pela Comissão Europeia nas capitais dos Estados-Membros ou em países terceiros não abordaram questões especificamente relacionadas com as PME. 38 Ver Documento que acompanha o 26.º Relatório anual da Comissão ao Parlamento Europeu sobre as actividades anti-dumping, anti-subvenções e de salvaguarda da Comunidade (2007), p. 18, [COM(2008) 877 final], Documento de trabalho dos serviços da Comissão. 39 Cf. Última consulta em 9 de Junho de 2010, em: http://ec.europa.eu/trade/contact/#_trade-defence-contacts . 40 Ver Documento que acompanha o 26.º Relatório anual da Comissão ao Parlamento Europeu sobre as actividades anti-dumping, anti-subvenções e de salvaguarda da Comunidade (2007), p. 18, [COM(2008) 877 final], Documento de trabalho dos serviços da Comissão.

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processos específicos ou de carácter geral, bem como aos relacionados com

procedimentos ou o conteúdo dos processos IDC.41

35. Contudo, verificou-se, com base nas entrevistas efectuadas junto de PME,

associações industriais e funcionários da Comissão e das autoridades nacionais, que,

aparentemente, as PME ignoram a existência deste serviço de assistência.42

36. Além disso, constatou-se que, na sua actual configuração, o serviço de assistência às

PME não aparenta ser uma unidade verdadeiramente autónoma e claramente

mandatada para prestar apoio às PME, mas sim mais um nível administrativo cuja

mais-valia não é imediatamente visível. As PME que contactaram o serviço de

assistência comunicaram que este funciona sobretudo como um centro de chamadas

que remete as empresas para um gestor de processos da Unidade de Defesa

Comercial, que, contudo, não tem formação específica nem a missão específica de

trabalhar com e para as PME, no contexto de um serviço de assistência às PME

verdadeiramente autónomo e funcional.

3.3 Iniciativas possíveis a favor das PME

3.3.1 Princípios jurídicos orientadores

37. Praticamente todas as PME entrevistadas, na qualidade de produtoras, importadoras

ou utilizadoras, consideraram que, pela forma como lidava com elas, a Comissão não

tinha em devida conta as suas desvantagens específicas e que, consequentemente, a

sobrecarga que sobre elas recaía nos processos IDC não era razoável, revelando-se

desproporcionalmente pesada. Por exemplo, referiram que a exigência de uma

determinada categoria de informações, enquadrável nas capacidades de empresas de

maior dimensão, podia suscitar dificuldades insuperáveis para as PME. Assim, o

tratamento reservado às PME nos processos IDC está, de algum modo, em desacordo

com a política geral da UE para as mesmas, tal como definida na Comunicação da

41 Documento que acompanha o 27.º Relatório anual da Comissão ao Parlamento Europeu sobre as actividades anti-dumping, anti-subvenções e de salvaguarda da Comunidade (2008), p. 18, COM (2009573), Documento de trabalho dos serviços da Comissão, 26 de Outubro de 2009, Bruxelas. 42 Como se depreenderá do presente estudo, existe um padrão recorrente que aponta o desconhecimento como um dos principais obstáculos a que se avance na e/ou se facilite a participação das PME nos IDC.

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20.

Comunicação de 10 de Novembro de 2005, e com as regras específicas aplicadas em

diversos sectores.

38. Além disso, vários princípios estipulam que qualquer medida que imponha uma

sobrecarga desproporcionada a uma determinada categoria de operadores pode ser

tida como injustificada. De entre os princípios orientadores aplicáveis, convirá

destacar os seguintes:

(a) Princípios orientadores da OMC

39. O artigo 6.º, n.º 13, do Acordo Anti-Dumping da OMC prevê que:

«As autoridades tomarão devidamente em consideração as dificuldades que as

partes interessadas poderão sentir, em especial as pequenas empresas, para

comunicar informações solicitadas, proporcionando-lhes todo o apoio possível»

(sublinhado nosso).

40. Esta disposição é um indicador relevante da necessidade de considerar as

dificuldades específicas de certas partes interessadas nos processos IDC, tais como as

PME produtoras, importadoras ou utilizadoras.

41. Convém também referir, no âmbito da OMC, o litígio EUA - Produtos siderúrgicos

laminados a quente43, no qual o Órgão de Recurso examinou a interpretação do

Painel sobre a obrigação de cooperação das partes interessadas, implícita no n.º 7 do

anexo II do Acordo Anti-Dumping. O Órgão de Recurso remeteu para o artigo

6.º, n.º13, do Acordo Anti-Dumping e, se bem que não aludindo especificamente às

pequenas empresas, salientou que as autoridades responsáveis pelos inquéritos

devem:

43 Relatório do Órgão de Recurso, Estados Unidos – Medidas anti-dumping relativas a determinados produtos siderúrgicos laminados a quente provenientes do Japão, WT/DS184/AB/R, 24 de Julho de 2001.

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«Fazer certas concessões, ou tomar medidas para ajudar, as partes interessadas a

comunicar as informações» e «ter em devida conta as verdadeiras "dificuldades"

sentidas pelas partes interessadas».44

42. O Órgão de Recurso concluiu que o princípio da boa-fé (expresso no n.º 2 do

anexo II) fundamenta o acordo e deve impedir as autoridades de insistirem em

«normas absolutos» ou imporem «sobrecargas excessivas» às partes interessadas.45

43. O Órgão de Recurso aplicou um teste pautado pela proporcionalidade, equilibrando

os interesses das autoridades responsáveis pelo inquérito com os das partes

interessadas, com o intuito de evitar situações desproporcionadas.

(b) Princípios orientadores da UE

44. A necessidade de evitar situações desproporcionadas surge igualmente expressa na

jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia. As iniciativas

especificamente destinadas às PME podiam, em primeiro lugar, ser vistas à luz dos

princípios fundamentais do Direito da UE, segundo o qual «o princípio da

proporcionalidade exige que os actos das instituições comunitárias não ultrapassem

os limites do que é apropriado e necessário para atingir o fim desejado [, sendo que]

[...] a discriminação consiste em tratar [...] de modo idêntico situações diferentes.»46

O Tribunal estatuiu também que «quando exista uma escolha entre várias medidas

adequadas, se deve recorrer à menos rígida, e que os inconvenientes causados não

devem ser desproporcionados relativamente aos objectivos pretendidos.»47

45. De igual modo, as iniciativas específicas orientadas para as PME podiam ser vistas à

luz de outro princípio fundamental do Direito da UE, o princípio da igualdade,

reconhecido como «um princípio geral de direito a observar por qualquer

tribunal»48. Enquanto princípio geral, exige que situações comparáveis não sejam

44 Ibidem, n.os 102 e 104. 45 Ibidem, n.os 1 - 104 . 46 Acórdão do Tribunal Geral de 23 de Outubro de 2003, no processo T-65/98, Van den Bergh Foods Ltd contra Comissão das Comunidades Europeias, Col., p. II-4653, n.os 201 e 203-205. 47 Acórdão do Tribunal Geral de 11 de Setembro de 2002, no processo T-13/99, Pfizer Animal Health SA contra Conselho da União Europeia, Col., p. II-3305, n.os 411-412. 48 Processo 8/78 Milac [1978] Col., p. 1721, n.º 8

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tratadas de modo diferente, excepto se esse tratamento for objectivamente

justificado. A violação do princípio da igualdade de tratamento pressupõe que as

situações em causa sejam comparáveis ou que a diferença de tratamento não seja

objectivamente justificada, no que respeita a todos os elementos que as caracterizam.

Estes elementos, bem como o seu carácter comparável, têm de ser determinados e

apreciados à luz do objecto e do objectivo, bem como dos princípios e objectivos do

domínio.49

3.3.2 Tipos de iniciativas recomendadas

46. Na opinião dos autores, poder-se-ia melhorar a situação das PME no contexto dos

processos IDC com as seguintes medidas:

- Aumento dos conhecimentos das PME sobre os IDC

47. Este exercício deve, em primeiro lugar, melhorar o conhecimento das PME em geral

sobre a existência, a utilização e os procedimentos dos IDC. Em segundo lugar, deve

procurar prestar informações e explicar, a pedido das PME envolvidas (sejam elas

produtoras, importadoras ou utilizadoras) num determinado processo IDC, os

aspectos técnicos e processuais de um inquérito específico.

- Facilitação da participação das PME num IDC específico

48. Consoante o grau de sobrecarga desproporcionada que impenda sobre uma PME,

poder-se-á considerar tomar medidas como: simplificar determinados aspectos de um

inquérito específico (por exemplo, aceitar respostas a um questionário num

formulário não normalizado) ou prestar assistência às PME no âmbito de um

inquérito específico (por exemplo, explicar, efectuando mesmo visitas reais, como

poderiam as PME conciliar os seus próprios dados com os requisitos específicos dos

processos IDC; entenda-se que tais iniciativas devem cingir-se aos aspectos técnicos

e processuais, o que difere de aconselhar uma PME quanto à táctica ou estratégia a

49 Processo C-127/07, Société Arcelor Atlantique et Lorraine e o. contra Primeiro-Ministro e o., 16 de Dezembro de 2008, n.º 26. Ver também as citações: Processo 6/71, Rheinmühlen Düsseldorf [1971] Col., p. 823,

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seguir). A existência de uma sobrecarga desproporcionada sobre as PME deve ser

demonstrada com base em elementos objectivos e verificáveis, tais como:

- O número de empregados;

- O volume de negócios;

- A situação de lucro/prejuízo;

- O impacto económico do inquérito nas actividades da PME;

- O nível de desenvolvimento da região onde está estabelecida;

- O contributo económico da PME para a economia local;

- Outros.

49. Dado que cada processo suscita os seus próprios problemas, derivados das

especificidades dos diversos sectores e mercados afectados, sugere-se que a

Comissão conserve alguma margem de apreciação para decidir qual a melhor

maneira de facilitar a actuação das PME envolvidas num inquérito, sob o possível

controlo do Tribunal Geral ou do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias.

n.º 14; 117/76 e 16/77 Ruckdeschel e o. [1977] Col., p. 1753, n.º 8; T. Port, C-364/95 e C-365/95 T. Port [1998] Col., p. I-1023, n.º 83

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24.

4. DIFICULDADES DAS PME NOS PROCESSOS DE DEFESA COMERCIAL

DA UE

50. Esta secção identifica as dificuldades enfrentadas pelas PME europeias (sejam elas

produtoras, importadoras ou utilizadoras) nos processos de defesa comercial da UE.

Algumas dessas dificuldades colocam-se tanto a grandes como a pequenas empresas,

mas o seu impacto nas PME é bastante maior e, por vezes, desproporcionado em

relação à sua dimensão. Em seguida, abordaremos sucessivamente algumas

dificuldades comuns de carácter geral, passando depois a outras mais específicas que

as PME enfrentam nas várias fases de um processo de defesa comercial. Sempre que

necessário, será feita uma distinção entre as dificuldades especificamente sentidas,

em cada fase, por PME produtoras ou PME importadoras/utilizadoras.

4.1 Dificuldades de carácter geral

51. Embora a situação possa variar em função do nível de organização do sector e do

ambiente nacional, de um modo geral, as PME pouco ou nada sabem sobre a

existência e o funcionamento dos IDC. Mesmo que tenham conhecimento da

existência dos IDC, desconhecem, normalmente, as implicações e os benefícios que

podem derivar da sua participação neste ou naquele processo, ou a importância para

as empresas de uma participação activa em tais processos.

4.1.1 Desconhecimento em geral

52. Na sua maioria, as partes interessadas entrevistadas confirmaram que o problema

mais importante a resolver reside no desconhecimento das PME relativamente aos

instrumentos de defesa comercial.

53. Várias partes interessadas afirmaram recorrentemente que, em geral, as PME

desconhecem as normas e procedimentos anti-dumping, anti-subvenções e de

salvaguarda50. Este facto foi confirmado por associações nacionais51 e europeias52,

50 Cf. Cidadão turco, 5 de Fevereiro de 2007, resposta à Pergunta 19 A Europa global - Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e

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federações industriais53 e PME a título individual. Mais especificamente, algumas

das PME entrevistadas declararam que só tomaram conhecimento dos IDC quando se

viram confrontadas com práticas comerciais desleais ou com uma inesperada

imposição de medidas provisórias, ao passo que outras referiram que, mesmo um

gestor bem informado de uma PME, teria um conhecimento limitado dos IDC54.

Todas elas sublinharam que esta falta de conhecimento em matérias como a política

comercial se deve, em grande medida, e tal como já se referiu anteriormente, à falta

de tempo e recursos para se ocuparem de questões à margem das suas actividades

principais55. De igual modo, foi corroborado por funcionários dos Estados-Membros

que, na sua maioria, as PME dos respectivos países desconheciam a própria

existência dos IDC56, ou não conheciam, nem compreendiam os conceitos básicos

dos IDC, como o dumping57. Desconheciam como funcionam os IDC, não

compreendiam as medidas adoptadas em consequência de um processo IDC, nem

sabiam como reagir caso um inquérito pudesse lesar os seus interesses.

54. No entanto, existem diferentes níveis de conhecimento das PME, decorrentes de dois

factores distintos: o ambiente nacional e o nível de organização do respectivo sector.

55. Relativamente ao primeiro factor, alguns entrevistados realçaram que alguns

Estados-Membros se mostrariam relutantes em prestar qualquer tipo de apoio

substancial ou prático (ou mesmo político) aos seus fabricantes, caso estes quisessem

apresentar uma denúncia58. Esta relutância foi confirmada por alguns funcionários

administrativos dos Estados-Membros, que afirmaram preferir apoiar outras partes

interessadas que não os fabricantes, tendo mesmo alguns deles declarado não serem a

questionário. Questionário disponível em (última consulta em 14 de Junho de 2010): http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/december/tradoc_131986.pdf . 51 Excerto de uma entrevista com um membro de uma associação de Itália. 52 Excerto de uma entrevista com um funcionário de uma associação europeia. 53 Excerto de uma entrevista com um membro de uma federação de Itália. 54 Excerto de uma entrevista com uma empresa da Áustria envolvida num inquérito de defesa comercial na qualidade de empresa produtora da Comunidade Europeia; Excerto de uma entrevista com o presidente de uma PME de França envolvida num inquérito de defesa comercial; Excerto de uma entrevista com o jurista de uma PME de França. 55 Excerto de uma entrevista com um membro de uma federação de Itália. 56 Excerto de entrevistas nos Estados-Membros. 57 Excerto de entrevistas nos Estados-Membros. 58 Excerto de uma entrevista com o secretário-geral de uma associação europeia.

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26.

favor de qualquer campanha de «sensibilização» ou outra, destinadas a incentivar a

utilização dos IDC por parte dos fabricantes.59

56. O nível de conhecimentos e de sensibilização pode também depender do sector em

que uma PME se insere. Uma PME que pertença a um sector no qual existe uma

associação europeia afirmou conhecer plenamente as questões ligadas aos IDC60.

Outras PME atestaram igualmente ter beneficiado da experiência e especialização de

associações industriais, activas em sectores conexos, que apresentaram denúncias em

seu nome e/ou as apoiaram no decorrer de processos de defesa comercial61. Um

funcionário de um Estado-Membro mencionou também que as PME inseridas em

sectores que lidam frequentemente com processos IDC tinham acumulado um

conhecimento aprofundado dos mesmos62. Mais especificamente, uma associação

nacional explicou que cobria, por um lado, um sector composto por várias pequenas

empresas e, por outro, um sector apenas com grandes empresas. Neste caso, as PME

beneficiavam com a presença de grandes empresas na associação e tinham um

melhor conhecimento dos processos IDC. Além disso, utilizavam a associação como

base de apoio para as suas acções e podiam suportar os custos financeiros de uma

assistência jurídica especializada. Inversamente, em certos países, não existe uma

cultura de adesão a uma associação (por exemplo, num Estado-Membro da região do

Báltico, as PME parecem recusar-se a pagar uma quota para fazerem parte de uma

associação). Constatou-se que, em geral, os sectores não-tradicionais não estão bem

organizados. Ao mesmo tempo, certas PME desconfiam da fiabilidade das

associações de PME por causa da sua falta de profissionalismo. Em certos casos, as

PME europeias não têm associação alguma. Esta falta de organização pode advir do

pequeno número de PME que fabricam, importam ou utilizam um determinado

produto.63

59 Excerto de uma entrevista com um membro do Comité Anti-Dumping. 60 Excerto de uma entrevista com uma empresa da Bulgária. 61 Excerto de uma entrevista com uma PME de França; excerto de uma entrevista com o presidente de uma PME de França envolvida num inquérito de defesa comercial. 62 Excerto de uma entrevista com um membro do Comité Anti-Dumping. 63 Excerto de uma entrevista com um membro da DG Comércio ligado aos serviços de inquérito.

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27.

4.1.2 Falta de conhecimentos para ponderar a participação num processo

57. Durante as entrevistas, foi aventado que as PME não só enfrentam a desvantagem da

sua falta de conhecimento sobre os IDC em geral como, para ponderarem a sua

participação num processo, carecem de conhecimentos suficientes sobre as

possibilidades que este oferece para combater o comércio desleal64. Esta situação

advém do desconhecimento daquilo que está em causa, do tipo de resultados que é

possível esperar e dos prazos em que poderão concretizar-se, bem como do tipo de

informações a prestar no decorrer dos IDC65. Podemos repartir estes problemas pelas

seguintes categorias de dificuldades:

(a) Interesses em causa e resultados previstos

58. A maioria das PME entrevistadas deu conta da necessidade de as empresas estarem

mais bem informadas sobre o interesse da sua participação em processos IDC66.

Contudo, havia, logicamente, um melhor entendimento da importância dessa

participação entre aquelas PME que já tinham beneficiado da imposição de direitos,

reconhecendo que estes lhes haviam permitido sobreviver, ou entre as que tinham

participado com êxito numa coligação contra a imposição de determinadas medidas.

59. Algumas associações industriais confirmaram também o desconhecimento daquilo

que está em causa para as empresas, nomeadamente para as PME, nos processos

IDC, adiantando que as associações deviam intensificar os seus esforços para

explicarem às PME os benefícios - e as implicações - de cooperarem num processo67.

A este respeito, uma PME explicou que, alguns anos atrás, recebera, no contexto de

um processo específico, um pacote de cartas/questionários normalizados e que,

devido à inexistência de iniciativas mais personalizadas por parte das autoridades

competentes, nem sequer olhou para eles.

64 Excerto de uma entrevista com um conselheiro comercial do Parlamento Europeu; Excerto de uma entrevista com um funcionário da Comissão Europeia. 65 Excerto de uma entrevista com um funcionário da Comissão Europeia. 66 Excerto de uma entrevista com o advogado de uma PME de França. 67 Excerto de uma entrevista com um membro de uma associação de Itália.

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28.

60. Segundo as respostas dadas nas entrevistas com funcionários dos Estados-Membros,

certas PME parecem não entender que a sua passividade poderá, futuramente,

acarretar a sua saída do mercado, enquanto outras se mostram cépticas quanto à

obtenção de resultados positivos com a sua participação em IDC, pelo menos, de

uma forma suficientemente rápida.

(b) Duração do inquérito e aplicação atempada/tardia das medidas

61. Esta é uma preocupação comum a todas as PME, que apenas se mostram dispostas a

participar em IDC se tiverem nisso um interesse concreto e se o processo não se

prolongar demasiado.68

62. Muitos fabricantes criticaram a morosidade dos procedimentos e o momento da

imposição de direitos provisórios69, que podem obrigar algumas das empresas

autoras da denúncia a cessar actividade antes de as medidas surtirem efeito. Estes

comentários frisam a extrema vulnerabilidade das PME face aos fluxos comerciais de

importação.

63. Ao invés, algumas PME importadoras entrevistadas criticaram a incerteza quanto ao

momento de adopção das medidas quando os produtos estão em vias de ser

expedidos para a Europa.

(c) «Distanciamento» entre as PME e as administrações competentes

64. Algumas PME alegaram não sentir a «proximidade» da administração europeia (e,

por vezes, nem das respectivas administrações nacionais) e lamentaram a falta de

«assistência» por parte da Comissão70 ou dos Estados-Membros. 71

65. Certas associações nacionais declararam que os Estados-Membros deviam

desempenhar um papel mais activo nos inquéritos de defesa comercial72, tendo várias

68 Excerto de uma entrevista com um funcionário da DG Empresas e Indústria. 69 Excerto de uma entrevista com o secretário-geral de uma associação europeia; Excerto de uma entrevista com um membro de uma associação europeia. 70 Excerto de uma entrevista com um funcionário da Comissão Europeia. 71 Excerto de uma entrevista com um funcionário do ministério do Comércio do Reino Unido.

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29.

alegado que os Estados-Membros raramente se esforçavam por acompanhar

processos IDC específicos.

66. Em sua defesa, vários dos Estados-Membros entrevistados aludiram à dificuldade de

recolher informações eventualmente úteis para as PME produtoras poderem

apresentar denúncias ou para as PME importadoras/utilizadoras sustentarem a sua

oposição a uma eventual imposição de direitos.73

67. Na óptica de alguns funcionários da DG Comércio, o alegado «distanciamento» entre

as PME e as autoridades nacionais e europeias resultaria, provavelmente, da

frequente falta de cooperação das PME74. Ao mesmo tempo, vários Estados-

Membros75 referiram que o baixo nível de cooperação das PME poderia decorrer da

complexidade dos inquéritos e, em particular, dos questionários enviados às

empresas no âmbito dos mesmos.

(d) Outros factores

68. Para certas PME, outros problemas específicos são igualmente tidos como obstáculos

à sua participação em processos IDC, tais como:

- A barreira linguística;

- O receio de fugas de informação confidencial;

- O receio de partilhar informação com empresas concorrentes;

- O receio de retaliação (por exemplo, por parte do governo do país exportador em

causa ou de outros grupos de interesses).

69. No que respeita à questão da língua, as PME admitiram que a realização de todo o

inquérito em inglês pode ter um efeito dissuasor e dar igualmente origem a erros nas

informações comunicadas à Comissão76. Certas PME argumentaram que a utilização

da sua língua nacional devia ter sido aceite durante os processos de defesa comercial

72 Excerto de uma entrevista com um Membro de uma associação de Itália. 73 Excerto de uma entrevista com um funcionário ministerial de Itália. 74 Excerto de uma entrevista com um membro da DG Comércio ligado aos serviços de inquérito; Excerto de uma entrevista com funcionários da DG Empresas e Indústria. 75 Excerto de uma entrevista com um funcionário da Bélgica.

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da UE77. Este argumento foi reiterado pelas associações europeias78 e nacionais, que

têm de traduzir as informações comunicadas pelos seus membros e outras partes

interessadas. Isto demonstra que a língua representa um obstáculo. A maioria dos

funcionários dos Estados-Membros entrevistados admitiu que a utilização do inglês

como língua-padrão nos IDC pode, efectivamente, constituir um obstáculo à

participação das PME nos processos79, tendo mesmo alguns apontado essa realidade

como um forte elemento dissuasor. Surpreendentemente, este comentário foi também

proferido por funcionários dos países do Norte da Europa, cujas empresas são tidas

como tendo bons conhecimentos da língua inglesa. Os referidos funcionários

alegaram que nas PME se usa um inglês «comercial corrente», o que não as torna

necessariamente competentes para empregarem os termos técnicos exigidos pela

participação num processo. De igual modo, os funcionários das Instituições

Europeias reconheceram que a língua utilizada nos IDC pode revelar-se um problema

para as PME80, porquanto em muitas pequenas empresas só é compreendida a língua

nacional.81

70. No que se refere à apresentação de informação confidencial, algumas PME receiam

que as informações que comunicam às autoridades responsáveis cheguem ao

conhecimento, por meio de fugas, das suas concorrentes ou da parte contrária no

processo. Mesmo depois das regras de confidencialidade e das garantias processuais

lhes serem explicadas, persiste a preocupação de que certos dados confidenciais

possam chegar ao conhecimento das autoridades fiscais ou aduaneiras. Se a

Comissão não estabelecer garantias explícitas com vista à protecção dos dados

confidenciais (ou explicar melhor o assunto), este factor poderá continuar a obstar à

participação das PME nos IDC.

71. Relativamente ao receio de partilhar informação com empresas concorrentes, é um

facto que empresas diferentes que operem no mesmo sector e exerçam actividades

similares competem entre si. De acordo com várias partes interessadas, isso pode

76 Excerto de uma entrevista com uma PME de França. 77 Excerto de uma entrevista com o director de marketing de uma PME de França envolvida num processo relativo a um país terceiro e que apresentou também uma denúncia junto da Comissão Europeia. 78 Excerto de uma entrevista com o secretário-geral de uma associação europeia. 79 Excerto de uma entrevista com um membro do Comité Anti-Dumping. 80 Excerto de uma entrevista com um funcionário da Comissão Europeia. 81 Excerto de uma entrevista com um funcionário da Comissão Europeia.

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impedir certas PME de coordenarem com outras a elaboração da informação

necessária para apresentar uma denúncia82. Isso é ainda mais pertinente nas situações

em que o mercado se encontra fragmentado e repartido por um número limitado de

PME, ou quando não existe uma associação do sector.

72. Por último, quanto aos riscos de retaliação, todas as PME entrevistadas, e em

especial as produtoras, mencionaram ter levado essa possibilidade muito a sério, por

parte, quer do país terceiro visado pelo inquérito, caso uma parcela da sua actividade

esteja de algum modo relacionada com esse país, quer dos seus próprios clientes, se

estes forem grandes distribuidores ou importadores, ou ainda grandes utilizadores

que façam igualmente aquisições à indústria comunitária. Nestes casos, a grande

preocupação das PME passa pela possibilidade de, repentinamente, perderem os seus

clientes, depois de estes tomarem conhecimento do seu contributo para a instauração

de um processo de defesa comercial.

4.2 Dificuldades antes do início do processo

4.2.1 Enfrentadas pelas PME produtoras da UE

(a) Morosidade do processo de denúncia

73. Ao longo das entrevistas, confirmou-se que a apresentação de uma denúncia é um

processo moroso. Antes da formalização da denúncia, o período médio de discussão

entre os potenciais autores da mesma e a Comissão é de seis meses. Além deste

período, o serviço de recepção das denúncias costuma exigir aos potenciais autores

que demonstrem ter sofrido prejuízos durante um ano. Consequentemente, o tempo

necessário para responder a práticas de comércio desleal é extremamente moroso,

prolongando-se por pelo menos um ano e meio83. Além disso, uma vez apresentada a

denúncia, a Comissão aguarda normalmente 45 dias antes de intentar o processo. Em

82 Cf. Cidadão turco, 5 de Fevereiro de 2007, resposta à Pergunta 19 A Europa global - Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário. A Europa Global - Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário acessível conforme última consulta em 14 de Junho de 2010, em: http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/december/tradoc_131986.pdf. 83 Excerto de uma entrevista com uma empresa da Bulgária; excerto de uma entrevista com o secretário-geral de uma associação europeia.

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seguida, leva mais nove meses até impor medidas provisórias, período em que a

empresa autora da denúncia fica desprotegida. Embora possa, através do registo das

importações, aplicar medidas com efeitos retroactivos e, com isso, reduzir o impacto

deste período, a Comissão mostra-se relutante em fazê-lo.

74. Mais genericamente, a maioria dos entrevistados84 afirmou que a morosidade, a

complexidade e os custos de formulação de uma denúncia desencorajavam as PME a

fazê-lo.85

(b) Sobrecarga desproporcionada relativamente ao tipo de elementos de prova

necessários para apresentar a denúncia

75. Além do tempo necessário para a denúncia ser oficialmente deferida, a maior parte

das PME produtoras entrevistadas considerou que o tipo de elementos de prova que a

Comissão lhes exigia para fundamentarem a sua denúncia não tinha em conta o seu

estatuto específico, o que fazia recair sobre elas uma sobrecarga desproporcionada e

as colocava em clara desvantagem, caso pretendessem recorrer aos IDC. Um grande

número de PME argumentou que embora «os elementos de prova prima facie à

disposição da empresa» devessem ser suficientes, a Comissão exigia muito mais.86

76. Considerando que a Comissão exige a apresentação de elementos de prova de

dumping e/ou de subvenções (ou de um súbito aumento de importações), há uma

necessidade de informação sobre as práticas do governo e das empresas de países

terceiros, que, para as PME, pode ser extremamente difícil de obter. Vários dos

entrevistados alegaram que, na verdade, era praticamente impossível a uma PME

obter elementos de prova de práticas desleais (dumping, etc.) em países terceiros.

Quando confrontadas com tais exigências, as PME procuram, por vezes, solicitar a

84 Ver resposta de um Estado-Membro à Pergunta 19, A Europa Global-247, Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário. A Europa Global - Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário acessível conforme última consulta em 14 de Junho de 2010, em: http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/december/tradoc_131986.pdf. 85 Ver contributo de um Estado-Membro para a consulta pública para um Livro Verde, A Europa Global 161, Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário acessível conforme última consulta em 14 de Junho de 2010, em: http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/december/tradoc_131986.pdf. 86 Excerto de uma entrevista com o secretário-geral de uma associação europeia.

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33.

ajuda da sua embaixada nacional ou da delegação europeia local. Num caso em

particular, uma federação nacional viu-se obrigada a viajar, a coberto do anonimato,

por países terceiros para recolher informações comparativas sobre preços. Vários

entrevistados afirmaram ser difícil às PME obter elementos de prova dos prejuízos

sofridos. Finalmente, diversos entrevistados salientaram a dificuldade das PME para

apresentar elementos de prova de um nexo de causalidade.

(c) Posição

77. Vários entrevistados frisaram que o limiar de 25%, em virtude do qual o autor da

denúncia deve representar pelo menos 25% da produção da indústria comunitária, era

demasiado elevado para as PME, designadamente nos processos em que não podiam

contar com o apoio de empresas de maior dimensão. Embora este seja um requisito

da OMC sem grandes perspectivas de alteração, as PME entrevistadas afirmaram que

a forma como a Comissão calculava este limiar dificultava o seu cumprimento.

4.2.2 Enfrentadas pelas PME importadoras/utilizadoras da UE

78. Na sua totalidade, as PME importadoras e utilizadoras entrevistadas no âmbito do

presente estudo exprimiram a sua frustração pelas dificuldades que tinham de

enfrentar para defenderem os seus interesses nos processos IDC. Essa frustração

devia-se, em primeiro lugar, ao sentimento generalizado entre importadores,

utilizadores e retalhistas, de grande ou pequena dimensão, de que o processo decorre

a seu desfavor e de que os seus pontos de vista pouco peso têm contra os dos

produtores.

79. Porém, independentemente de esse sentimento ser ou não justificado - essa é uma

discussão que extravasa o âmbito do presente estudo -, constata-se que as PME

importadoras e, mais ainda, as utilizadoras e retalhistas, se deparam, nos processos

IDC, com desvantagens decorrentes do seu estatuto de PME.

80. Entre essas desvantagens reside a necessidade de as PME estarem a par, ou serem

imediatamente informadas, do início dos processos. De facto, contrariamente às PME

produtoras, as PME importadoras/utilizadoras não controlam a calendarização do

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34.

inquérito, sofrendo as consequências negativas que daí advêm. Vários importadores e

utilizadores sublinharam a necessidade de poderem contar com alguma

previsibilidade, em especial quando uma PME se especializa numa estreita gama de

produtos e não dispõe de capacidade financeira ou de tempo para suportar direitos de

importação mais elevados ou cancelar uma encomenda, consoante o caso87. Para a

maioria das PME, estar permanentemente ao corrente de processos passíveis de

afectar os seus interesses encontra-se para além das suas capacidades e recursos.

Acresce que as PME raramente são avisadas com antecedência da instauração de

novos processos.

4.3 Fases iniciais do inquérito

4.3.1 Dificuldades enfrentadas pelas PME produtoras da UE

(a) Questionário de amostragem

81. Vários entrevistados queixaram-se de que a Comissão não só dava muito pouco

tempo às PME para responderem ao questionário de amostragem e comentarem a

selecção da amostra como raramente incluía as PME nas suas amostras. O raciocínio

subjacente a esta prática por parte da Comissão é o de que a amostra deve, pelo

menos quantitativamente, ser representativa, ou seja, deve abranger o maior volume

possível do produto em causa fabricado internamente. No entanto, esta prática faz

com que a Comissão seleccione os maiores cinco ou seis fabricantes, excluindo

assim as PME da amostra com base na qual o prejuízo será, em princípio,

quantificado. Isto pode levar a soluções correctivas que não tenham em devida conta

a situação das PME, não raro mais vulneráveis à concorrência externa do que as

empresas de maior dimensão.

(b) Questionário principal

82. Quase todas as PME entrevistadas denunciaram a grande disparidade existente entre

os requisitos do questionário e as suas capacidades. O sistema de contabilidade das

87 Excerto de uma entrevista com uma associação europeia.

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PME nem sempre lhes permitia responder ao questionário da Comissão da forma

exigida (distribuição dos NCP, quadro TbyT, etc.). Mais especificamente, nem

sempre lhes permitia prestar informações como o custo de produção ou a margem de

lucro de cada transacção durante o período de inquérito de um ano. Quanto às PME

produtoras ou importadoras de vários produtos, estas têm um sistema de

contabilidade diferente, com o seu próprio método de afectação de custos88, podendo

o período do inquérito não coincidir com o período do seu exercício financeiro89. As

mesmas PME afirmaram também que a Comissão solicitava informações

excessivamente sofisticadas, sem explicar suficientemente a utilidade prática e o

impacto das mesmas. De igual modo, contestaram a obrigação de apresentar à

Comissão todas as facturas emitidas no período de um ou dois anos90. A quantidade

de informações financeiras exigidas às PME faz com que estas se questionem sobre a

pertinência de certas informações no âmbito do inquérito. As PME contestam ainda

os prazos excessivamente apertados para a apresentação das informações solicitadas.

4.3.2 Dificuldades enfrentadas pelas PME importadoras/utilizadoras da UE

(a) Dar-se a conhecer à Comissão

83. No caso das PME importadoras, as informações solicitadas pela Comissão às

empresas autoras da denúncia incluem os nomes dos importadores conhecidos do

produto em causa, para os quais a Comissão envia um questionário.

Consequentemente, os importadores são informados, ficando em condições de

apresentar os seus pontos de vista.

84. Mas o mesmo não acontece com utilizadores, retalhistas ou organizações de

consumidores, cujas opiniões são particularmente relevantes para a determinação do

interesse comunitário. Com efeito, são estes que têm de identificar-se, solicitar

informações sobre o processo e pedir para apresentarem os seus pontos de vista.

Além disso, para serem considerados partes interessadas e serem autorizados a

88 Excerto de uma entrevista com o secretário-geral de uma associação europeia. 89 Excerto de uma entrevista com uma PME de França; excerto de uma entrevista com o presidente de uma PME de França envolvido num inquérito de defesa comercial; excerto de uma entrevista com uma empresa da Áustria; excerto de uma entrevista com uma PME de França que não conseguiu apresentar uma denúncia. 90 Cf. Excerto de uma entrevista com uma PME de França; excerto de uma entrevista com uma PME de Espanha.

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36.

participar no processo, têm de se dar a conhecer dentro de um prazo indicado no

aviso do início do processo. O artigo 5.º, n.º 10, estabelece que: «o anúncio fixará os

prazos em que as partes interessadas podem dar-se a conhecer, apresentar as suas

observações por escrito e comunicar informações, para que essas informações e

observações possam ser tomadas em consideração no decurso do inquérito; o

anúncio fixará igualmente o prazo em que as partes interessadas podem solicitar

uma audição à Comissão, em conformidade com o n.º 5 do artigo 6.º.» O artigo 6.º,

n.º 5, prevê que: «As partes interessadas, que se tenham dado a conhecer nos termos

do nº 10 do artigo 5º, podem ser ouvidas se o tiverem solicitado por escrito no prazo

fixado no anúncio publicado no Jornal Oficial das Comunidades Europeias,

demonstrando que são partes interessadas susceptíveis de serem afectadas pelo

resultado do processo e que existem razões específicas para serem ouvidas.»

85. Em geral, é frequente as PME importadoras e utilizadoras tomarem tardiamente

conhecimento do início de um processo de inquérito, deixando assim caducar os

prazos fixados para comunicarem o seu interesse em participar no mesmo.

(b) Questionário de amostragem

86. À semelhança da situação atrás descrita a propósito das PME produtoras, as PME

importadoras consideram que a amostra dos importadores deve incluir também as

PME, de modo a reflectir mais fielmente o impacto de possíveis medidas nos seus

interesses. A questão da representação das PME neste processo de amostragem,

mencionada acima no contexto das PME produtoras, é igualmente relevante para as

PME importadoras/utilizadoras.

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37.

(c) Questionário principal

87. Tal como as PME produtoras, a maioria das PME importadoras consideram que o

questionário que lhes é enviado é demasiado exigente em termos de dados e

pormenores. Na sua opinião, a Comissão deveria apenas colocar aos importadores,

nomeadamente às PME, duas ou três perguntas fundamentais sobre o preço a que

adquiriram o produto junto do fornecedor externo: o preço de venda no mercado da

UE e o impacto de eventuais direitos aplicáveis nas actividades da empresa.

(d) Falta de transparência na aplicação do teste do interesse da Comunidade

88. Durante as entrevistas, as PME importadoras/utilizadoras deram também conta de

que, embora estivessem dispostas a prestar informações à Comissão para esta avaliar

que medidas seriam ou não do interesse da Comunidade, a Comissão não lhes dava

qualquer explicação quanto à ponderação dos vários elementos económicos. Quase

todos os importadores declararam considerar que o seu contributo pouco influía no

processo de decisão da Comissão e que o teste do interesse da Comunidade não era

um critério transparente nem objectivo no processo de inquérito.

89. Apontam para o facto de as disposições do artigo 21.º terem um carácter geral e,

logo, prestarem-se a diferentes interpretações, além de implicarem, na maior parte

dos casos, uma elaborada análise económica. A maioria das PME não possui

conhecimentos nem recursos suficientes para montar uma argumentação precisa,

sofisticada e capaz de influir na decisão da Comissão de adoptar ou não medidas que

se possam justificar.

90. Existe também um problema de dimensão e peso económico que, naturalmente,

coloca as pequenas empresas em desvantagem, num processo que requer a

ponderação dos efeitos negativos das medidas face aos seus benefícios e onde a

dimensão dos interesses representados pelas partes que exprimem os seus pontos de

vista adquire, evidentemente, grande importância.

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38.

(e) Falta de meios para acompanhar o inquérito

91. Para poderem fundamentar eficazmente a sua argumentação à luz do interesse

comunitário, as PME importadoras e utilizadoras necessitariam de ter um

conhecimento preciso dos elementos de facto essenciais emanados das fases iniciais

do inquérito. Em cada caso, e consoante a especificidade da situação em apreço, os

argumentos a apresentar em matéria de interesse da Comunidade podem variar

sobremaneira. Por exemplo, em certos casos, o argumento mais forte contra as

medidas prende-se com os seus efeitos sobre os utilizadores; noutros, serão os

benefícios limitados que se esperam das medidas, devido, por exemplo, à falta de

competitividade da indústria europeia, por força dos elevados custos que fariam

pesar sobre utilizadores e consumidores. Assim, a construção de uma defesa eficaz

implicaria que as empresas envolvidas estivessem em condições de acompanhar o

processo de perto, algo que está para além da capacidade da maioria delas. Tal só é

concebível nos casos em que o sector tenha uma organização profissional sólida.

4.4 Fase final do inquérito

4.4.1 Acompanhar o processo

92. À medida que o inquérito se aproxima da sua conclusão, torna-se absolutamente

crucial para as partes manterem-se informadas sobre o mesmo e reagirem

prontamente à sua evolução, sob pena de os respectivos pontos de vista serem

ignorados. Isto exige a presença em Bruxelas, para poder acompanhar pessoal e

regularmente a versão não confidencial do processo e responder aos comentários

apresentados por outras partes interessadas. De acordo com os entrevistados, mesmo

para uma associação europeia já instalada em Bruxelas, era deveras complicado ter

acesso ao processo não confidencial (algo só possível nas instalações da Comissão),

contestar os argumentos das outras partes, ou solicitar uma audiência com a

Comissão.

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39.

4.4.2 Comunicação com os Estados-Membros

93. As PME reclamam da falta de transparência do processo de decisão que leva à

adopção de medidas. As PME sofrem particularmente, e mais do que as grandes

empresas, com esta falta de transparência. Uma associação europeia afirmou que

tinha dificuldade em aceder aos membros do Comité Anti-Dumping da UE. Isto

acontece, designadamente, com sectores fragmentados e/ou compostos

maioritariamente por PME.

94. Outras PME manifestaram sentir que sua voz não tinha qualquer peso no Conselho e

que os Estados-Membros não tinham em conta, nas posições que tomavam, os

interesses comerciais das suas empresas nacionais, mas sim a sua própria agenda

política.

4.5 Fase da aplicação

4.5.1 Enfrentadas pelas PME produtoras da UE

95. As PME produtoras declararam ainda que lhes era muito difícil acompanharem o

cumprimento integral das medidas por parte dos exportadores visados pelas mesmas

e que, quando as medidas eram contornadas, tinham - novamente - de enfrentar todas

as dificuldades atrás descritas para apresentarem uma nova denúncia (anti-evasão).

4.5.2 Enfrentadas pelas PME importadoras/utilizadoras da UE

96. Para as PME importadoras, a incerteza quanto ao momento e a duração da imposição

de direitos traz grandes problemas às suas actividades comerciais. A sua capacidade

financeira é limitada, e o impacto de medidas inesperadas que afectem produtos por

elas já adquiridos e a caminho do mercado da UE pode revelar-se devastador.

97. A capacidade das PME para influenciarem as decisões da Comissão é ainda menor

depois das medidas serem impostas, durante revisões intercalares ou reexames por

caducidade, procedimentos de reembolso e inquéritos anti-evasão. Em muitos casos,

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40.

as PME desconhecem esses desenvolvimentos posteriores e têm pouca (ou nenhuma)

voz nas decisões da Comissão.

98. A possibilidade de reembolso é, não raro, desconhecida dos importadores em geral, e

mais ainda das PME importadoras. Além do desconhecimento deste procedimento, a

sua complexidade coloca também dificuldades às PME importadoras que pretendam

accioná-lo.

4.6 Conclusão provisória

99. As dificuldades supramencionadas que os entrevistados enfrentaram nas suas

experiências com inquéritos IDC da UE exigem a tomada de medidas que facilitem a

participação das PME neste tipo de processos.

100. Convém referir que todos os entrevistados, em representação de PME produtoras e

importadoras/utilizadoras, se manifestaram interessados em participar mais

activamente em processos desta natureza, desde que a Comissão Europeia, o

Parlamento Europeu e os Estados-membros tomem medidas positivas para facilitar a

sua participação nos IDC.

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41.

5. RECOMENDAÇÕES RELATIVAS ÀS DIFICULDADES ACIMA

IDENTIFICADAS

101. Tal como se referiu anteriormente, exceptuando, limitadamente, o serviço de

assistência, os serviços responsáveis pelos inquéritos IDC da UE não concedem às

PME qualquer tratamento especial no âmbito desse tipo de inquéritos. Por

conseguinte, as PME que queiram fazer uso dos IDC para se protegerem contra

práticas comerciais desleais vindas do exterior, ou que contestem o recurso abusivo a

tais instrumentos, vêem-se confrontadas com uma desvantagem significativa.

102. Nas trocas de pontos de vista que tivemos com as que entrevistámos, as PME,

fossem elas produtoras ou importadoras/utilizadoras, afirmaram-se dispostas a

participar mais activamente nos processos de defesa comercial mas, para tal,

precisavam de mais informações e apoio por parte da Comissão e dos Estados-

Membros.

103. A satisfação destas necessidades implicaria que se considerassem os

constrangimentos específicos das PME nos processos IDC. Se o fizessem, os

serviços responsáveis pelos inquéritos IDC da UE alinhariam a sua política para as

PME com a política seguida, em conformidade com os princípios gerais

estabelecidos pela Comissão, em vários outros sectores.

104. Há a considerar dois tipos principais de recomendações em resposta aos desafios

acima identificados:

- Soluções para colmatar a ausência de conhecimentos suficientes das PME sobre os

IDC em geral, bem como o desconhecimento em casos específicos;

- Soluções visando a facilitação da participação das PME, tais como a simplificação

de procedimentos e/ou a assistência.

5.1 Maior sensibilização para os IDC em geral

(a) Workshops regionais

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42.

105. As iniciativas destinadas a promover a sensibilização devem pautar-se por um

equilíbrio entre os interesses das PME produtoras e os das PME

importadoras/utilizadoras, de modo a garantir uma abordagem em pé de igualdade de

todos os interesses e sensibilidades envolvidos. A Comissão, em cooperação com os

Estados-Membros e, eventualmente, com o Parlamento Europeu (Comissão INTA),

poderia organizar workshops destinados a fomentar a divulgação de informação

sobre os IDC. Estes workshops deviam ser essencialmente regionais, de modo a

chegarem às PME instaladas longe das capitais, que, amiúde, são as que menos

informação possuem sobre os IDC.

106. Nesse sentido, a Comissão podia cooperar com a rede «Enterprise Europe Network».

Uma sugestão específica respeita à possibilidade de organizar sessões de informação

sobre IDC durante a Conferência Anual da «Enterprise Europe Network» ou no

âmbito das reuniões regulares (três por ano) com os representantes nacionais desta

rede, no decorrer das quais a «Enterprise Europe Network» apresenta às PME temas

sobre políticas da UE.

107. De igual modo, a Comissão podia organizar workshops durante a «Semana Europeia

das PME» e realizar, uma vez por ano, em cada Estado-Membro, pelo menos um

evento descentralizado (reunião, grupo de trabalho, seminários práticos, análise de

questionários, etc.), com o fito de informar as PME sobre os IDC. Importa referir que

o Parlamento Europeu se congratulou com a organização da Semana Europeia das

PME e propôs que este evento servisse para prestar informações às PME sobre a

forma de expandirem as suas exportações fora da União Europeia91.

(b) Maior envolvimento dos Estados-Membros enquanto «interfaces»

108. Os Estados-Membros podiam também lançar várias iniciativas complementares às da

Comissão. Um responsável dedicado às PME no seio do ministério que lida com os

IDC, ou pelo menos um alto funcionário que se ocupe parcialmente das PME, podia,

91 PME europeias no comércio internacional - Resolução do Parlamento Europeu, de 5 de Fevereiro de 2009 , sobre o reforço do papel das PME europeias no comércio internacional (2008/2205(INI)). Ver o n.º 43,

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43.

em colaboração com entidades privadas do Estado-Membro em causa, organizar

sessões informativas ou seminários sobre os IDC, ou elaborar material informativo

sobre os mesmos, que serviria como complemento dos workshops regionais

eventualmente organizados pela Comissão. De igual modo, esse apoio podia ir além

da prestação de informações, para passar a incluir o estabelecimento de ligações com

associações de PME relevantes, PME implantadas noutros Estados-Membros ou a

Comissão.

109. Os Estados-Membros podiam ainda ter um sítio web dedicado às PME e aos IDC nas

respectivas línguas nacionais (com hiperligações para o sítio da Comissão), que

poderia prestar aconselhamento básico em matérias substantivas/técnicas e

processuais e indicar dados de contactos.

110. Basicamente, as autoridades nacionais competentes deviam funcionar como

interfaces entre a DG Comércio e as PME dos respectivos países.

(c) Melhorar o funcionamento do serviço de assistência da DG Comércio

111. O serviço de assistência às PME no domínio da defesa comercial constitui já uma

iniciativa positiva concebida para ajudar as PME a navegar pelos meandros

intrincados dos IDC.

112. No entanto, o serviço de assistência carece de visibilidade, ressaltando das

entrevistas que muito poucas PME sabem sequer da sua existência. Por exemplo,

aceder a essa página específica do sítio da DG Comércio pode, por vezes, revelar-se

difícil. Acresce que ter de consultá-la em inglês poderá representar um desafio

intransponível para muitas PME europeias.

113. Importaria, portanto, aumentar a visibilidade do serviço de assistência às PME no

domínio da defesa comercial, através de uma maior sensibilização para o recurso a

este instrumento.

P6_TA(2009)0048. Última consulta em 9 de Junho de 2010, em: http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2010:067E:0101:0111:EN:PDF.

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44.

114. A título de sugestão, poder-se-ia criar hiperligações entre os sítios web nacionais e o

sítio da DG Comércio, de modo a facilitar o acesso das PME ao serviço de

assistência. Este ponto de ligação nacional poderia também ajudar a resolver a

questão da linguagem, que se afigura problemática para as PME. Não raro, as PME

reivindicam a possibilidade de aceder a informações importantes na própria língua

nacional, contribuindo assim para reduzir o distanciamento entre as PME e as

instituições da UE. No entanto, não basta que uma PME tenha a possibilidade de

saber da existência do serviço de assistência através do sítio do ministério que tutela

o comércio no seu Estado-Membro. Aliás, seria extremamente útil que o sítio do

serviço de assistência às PME no domínio da defesa comercial da DG Comércio

estivesse igualmente disponível em todas as línguas oficiais.

115. Outra ideia para aumentar a eficiência do serviço de assistência da DG Comércio

seria propor que os funcionários afectados a este serviço fossem não apenas

especialistas em legislação da UE em matéria de IDC mas também suficientemente

conhecedores das especificidades das PME. Nesse sentido, uma possível acção a

explorar, no âmbito da formação contínua que os funcionários da Comissão têm

obrigatoriamente de cumprir, seria «destacá-los», durante uma semana, para

acompanharem no terreno a actividade das PME, nomeadamente das que sentiram

dificuldades com os IDC e foram entrevistadas no âmbito do presente estudo.

(d) Tornar público o relatório do Auditor para aumentar a transparência e os

conhecimentos das PME

116. Embora tal não se lhes aplique especificamente, seria útil que todas as empresas, e

em especial as PME, fossem informadas das observações do Auditor sobre os

processos IDC, designadamente das que descrevem os problemas que levaram a

solicitar a intervenção do Auditor e as soluções finalmente encontradas. Apesar de

certas soluções poderem, por força das circunstâncias específicas do processo ou

da(s) empresa(s) envolvida(s), revelar-se verdadeiramente extraordinárias, podem,

ainda assim, oferecer alguma inspiração para enfrentar eventuais problemas

semelhantes em processos futuros, constituindo, além disso, um útil elemento

adicional para sensibilizar as PME. Em termos mais gerais, no âmbito das várias

iniciativas que a Comissão vier a tomar para melhorar a participação das PME nos

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45.

processos IDC, o Auditor pode desempenhar com eficácia um papel de garante da

correcta execução dessas iniciativas, sob condição de estas serem resumidas, por

exemplo, sob a forma de «boas práticas».92

5.2 Prestar informações e explicações em processos IDC específicos

117. Contudo, não bastaria aumentar os conhecimentos sobre IDC entre as PME em geral.

Para poderem participar nos processos IDC, as partes interessadas, sejam elas

PME produtoras ou PME importadoras/utilizadoras, devem estar suficientemente

informadas sobre a forma como os processos IDC se aplicam a casos específicos.

5.2.1 Comissão Europeia

118. A maioria das PME envolvidas em IDC comunga da ideia que a Comissão Europeia

poderia, sem se envolver na estratégia de defesa da empresa, ajudar uma PME a

compreender melhor os processos IDC num determinado caso. Mais precisamente, as

PME deviam ter explicações suficientes para perceberem o que está em causa, quais

são as opções em aberto e se é ou não do seu interesse participarem activamente no

processo. Nesse sentido, a Comissão podia identificar as PME envolvidas num IDC

da UE e delinear um acompanhamento mais personalizado juntamente com elas. Por

exemplo, no momento em que o questionário é enviado para uma PME produtora ou

importadora/utilizadora, a Comissão poderia certificar-se de que as empresas tinham

compreendido os motivos e as possíveis consequências das perguntas da Comissão,

deixando às empresas a definição das suas estratégias, de acordo com os seus

próprios interesses. Isso pode ser feito combinando o envio do questionário destinado

aos produtores com chamadas telefónicas da Comissão para os directores das PME

em causa. Posteriormente, estas podem considerar que os interesses em causa

justificam um investimento na defesa do processo. Contudo, na óptica das PME de

menor dimensão, esse investimento pode ainda ser potencialmente

desproporcionado. Nesse caso, e não esquecendo o recurso a outros meios

facilitadores da actuação das PME, a Comissão Europeia poderia, a título

excepcional, ser mais proactiva.

92 Ver nota de rodapé 3 supra.

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46.

119. Outra maneira de ajudar as PME - envolvendo directamente a Comissão Europeia -

prende-se com o acesso aos processos não confidenciais. Com efeito, as PME não

têm necessariamente capacidade (por motivos de distância, custos, etc.) para aceder a

ou, se necessário, traduzir processos não confidenciais. Assim, importa equacionar

soluções. A primeira que nos ocorre seria a Comissão assegurar o acesso electrónico

aos processos não confidenciais. Para as PME, é de extrema importância ter um

acesso informatizado total aos ditos processos. É do nosso conhecimento que a

Comissão está já a trabalhar nesse sentido, pelo que o acesso electrónico aos

processos não confidenciais poderá ser uma realidade a partir de 2011.

5.2.2 Estados-Membros

120. Tal como se referiu anteriormente, os Estados-Membros poderiam actuar como

interfaces/intermediários junto da Comissão e, com isso, atenuar o problema do

distanciamento que as PME sentem em relação a esta instituição da UE. Nesse

sentido, uma solução prática passaria por organizar seminários de «formação de

formadores», nos quais a Comissão Europeia formaria os funcionários dos Estados-

Membros responsáveis pela assistência às PME no contexto previamente referido.

121. Os Estados-Membros podem, mais especificamente, ajudar as PME a compreender

os elementos básicos substanciais ou processuais inerentes a um inquérito, tais como

as implicações ao nível da definição do produto.

122. Independentemente da sua agenda/ideologia em matéria de política comercial, os

Estados-Membros devem assistir, tratando-as em pé de igualdade, as PME

produtoras e importadoras/utilizadoras nas respostas a perguntas elementares de

natureza jurídica ou técnica.

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47.

5.2.3 Associações comerciais

123. Na sua maioria, as partes interessadas, incluindo vários Estados-Membros e

associações europeias93, insistiram no facto de que apenas as PME membros de uma

associação teriam condições para participar em inquéritos IDC e montar uma

argumentação eficaz. No entanto, a verdade é que nem todos os sectores têm

organizações profissionais, havendo um número significativo de PME isoladas e sem

capacidade para participar de forma efectiva em processos IDC.

124. Essas PME devem ser incentivadas a criar associações ad hoc, algo que poderia ser

feito através da actual rede de associações europeias e nacionais. Isso permitiria que

várias PME partilhassem informações e custos e aliassem os seus recursos aos de

outras empresas dos sectores em que competem. Este incentivo devia ser promovido,

nomeadamente, no decurso dos workshops regionais.

5.3 Facilitação da participação das PME

5.3.1 Antes do início do processo

(a) PME produtoras

125. A elaboração e apresentação de uma denúncia é uma tarefa que, pelos motivos acima

expostos, a maioria das PME raramente tem condições para assumir. Na maior parte

dos casos, as PME não têm capacidade nem recursos para realizar esta tarefa de

forma cabal. Assim sendo, todas as partes interessadas são da opinião de que as

autoridades competentes devem ter em consideração, quando determinam a validade

dos elementos de prova do dumping, do prejuízo e do nexo de causalidade, as

93 Ver transcrição de entrevista com um Estado-Membro, realizada sexta-feira, 21 de Maio de 2010. Ver também opiniões de uma associação na sua resposta à Pergunta 19, Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário. A Europa global - Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário acessível conforme última consulta em 14 de Junho de 2010, ver: http://trade.ec.europa.eu/doclib/docs/2006/december/tradoc_131986.pdf. Ver opinião de uma associação na sua resposta à Pergunta 19, Os instrumentos de defesa comercial da Europa numa economia global em mutação, Livro Verde para consulta pública e questionário. Ver também transcrição de entrevista de com uma associação, realizada quinta-feira, 22 de Abril de 2010, às 9H30.

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48.

capacidades da(s) PME que apresenta(m) a denúncia. As normas em vigor concedem

à Comissão margem de manobra suficiente para adaptar as suas práticas nesse

sentido, simplificando-as.

126. Mais precisamente, poderia haver uma margem de interpretação para adaptar o tipo

de elementos de prova exigidos pela Comissão para a apresentação da denúncia e a

Comissão podia dar mostras de maior flexibilidade quanto ao tipo de elementos de

prova que se digna aceitar e à fonte dos mesmos.

127. Por exemplo, deve-se explorar um maior nível de aceitação de dados estatísticos

agregados e macroeconómicos, em vez de microeconómicos, desde que as PME em

causa possam fornecer elementos de prova fundamentados e verificáveis, tais como

dados microeconómicos (por exemplo, subcotação dos preços, lucros/perdas)

passíveis de ser devidamente comentados pelas partes interessadas.

128. Em vez de serem recolhidos junto das PME autoras da denúncia, os dados

macroeconómicos (por exemplo, produção, consumo, quotas de mercado e

empregados), poderiam também ser obtidos a partir de fontes que não impliquem

necessariamente a participação activa das PME, por exemplo, associações comerciais

ou outras fontes fiáveis.

129. Outro exemplo podia ser o recurso acrescido à amostragem. A maioria dos processos

relativos a PME envolve um número significativo de partes, pelo que a amostragem é

sempre utilizada no inquérito. Por conseguinte, não há nenhuma razão que obste à

sua utilização na fase da denúncia, na qual os requisitos jurídicos normalizados são

menos explícitos.

130. Note-se que as duas soluções acima propostas podem também ser aplicadas de forma

combinada, ou seja, a Comissão poderia obter dados macro ou microeconómicos a

partir de uma amostra de PME.

131. Estas iniciativas de simplificação (dados macroeconómicos e amostragem) podiam

reduzir significativamente a sobrecarga das PME. Convém também salientar que,

com a utilização da amostragem, seria muito mais viável para a Comissão e os

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49.

Estados-Membros (ver supra) prestarem a assistência necessária ao menor número de

partes envolvidas que decorre dessa utilização.

132. Outra forma de facilitar a participação das PME produtoras seria manter a

confidencialidade do nome da PME autora da denúncia, caso esta o solicitasse.

Sabemos, porém, que a Comissão já utilizou, pelo menos duas vezes, este

instrumento a pedido de PME autoras de denúncias que temiam ser alvo de

retaliações.

(b) PME importadoras/utilizadoras e operadores económicos

133. A Comissão podia exigir que, além dos importadores, a denúncia identifique os

principais utilizadores, operadores e organizações de consumidores envolvidos, de

modo a que estes possam ser avisados do início do inquérito e dos prazos fixados

para as empresas que pretendam participar no processo enquanto partes interessadas.

134. Para esse efeito, a Comissão, juntamente com os Estados-Membros, devia

estabelecer um procedimento que garanta que todas as PME susceptíveis de ser

afectadas por um novo processo sejam prontamente identificadas e informadas do

início do mesmo e dos prazos para se registarem como partes interessadas, se

necessário.

135. As PME importadoras/utilizadoras, os operadores económicos e as organizações de

consumidores deviam ser incluídos na campanha de informação da Comissão e dos

Estados-Membros proposta para aumentar os conhecimentos das PME sobre os IDC,

o que está em causa para elas nestes processos e os seus direitos.

5.4 Na fase do inquérito

5.4.1 PME produtoras

(a) Amostragem

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50.

136. A amostragem deve ser utilizada de forma sistemática se a indústria produtora for

fragmentada e composta essencialmente por PME, de modo a reduzir ao máximo a

sobrecarga que pesa sobre cada uma delas (ver supra). Porém, a utilização da

amostragem deve ter em conta os riscos de distorção nos processos em que a

indústria que apresenta a denúncia for essencialmente constituída por PME.

Efectivamente, basear unicamente a amostra – hoje prática corrente na UE – nos

volumes de produção mais elevados («volume mais representativo da produção»94)

tem como consequência, na maior parte dos casos, a exclusão das PME, que,

normalmente, produzem menores volumes. Embora a Comissão tenha indicado, no

âmbito do processo relativo ao calçado, que «não existe, como decorre da

formulação do n.º 1 do artigo 17.º do regulamento de base, qualquer obrigação

jurídica de incluir na amostra pequenas e médias empresas», se houver recurso à

amostragem num processo que envolva grandes e pequenas empresas, ela deverá

incluir também as PME, de modo a ser mais equilibrada e representativa.

(b) Questionário principal

137. Responder a um questionário constitui um ónus considerável, embora incontornável,

para as partes envolvidas. As PME, em particular, estão muitas vezes mal

apetrechadas e carecem dos recursos necessários para responder, dentro dos prazos, a

estes questionários. Assim, importa considerar soluções que facilitem a participação

das PME nos inquéritos IDC e as dispensem de arcar com fardos excessivos. Essas

soluções têm de encontrar um ponto de equilíbrio entre, por um lado, as obrigações

jurídicas que compelem a Comissão a apresentar justificações factuais e legais que

fundamentem adequadamente as suas decisões e, por outro, os constrangimentos que

se colocam às PME.

- Questionários «à medida» das PME, ou seja, tendo em conta as dificuldades

específicas enfrentadas por estas empresas. Muitas das PME entrevistadas criticaram

o facto de terem recebido da Comissão um grande número de

94 Artigo 17.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 1225/2009 do Conselho, de 30 de Novembro de 2009 , relativo à defesa contra as importações objecto de dumping dos países não membros da Comunidade Europeia e artigo 27.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 2026/97 do Conselho, de 6 de Outubro de 1997, relativo à defesa contra as importações que são objecto de subvenções de países não membros da Comunidade Europeia

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51.

documentos/questionários normalizados. Neste caso, pode-se explorar uma maior

personalização dos questionários enviados às PME, no sentido, por exemplo, de os

mesmos se aproximarem dos sistemas contabilísticos das últimas, bem como de os

questionários serem formulados após trocas de pontos de vista entre os gestores do

processo e as PME envolvidas, antes do início do primeiro. Segundo as informações

de que dispomos, é assim que procede o serviço de assistência às PME dos EUA.

- A Comissão devia, igualmente, usar de uma maior flexibilidade para com as PME,

concedendo-lhes, por exemplo, prazos mais longos para elas responderem aos

questionários e apresentarem outras comunicações, informações ou comentários

sobre decisões propostas que explicitem inteiramente a sua situação específica.

- A Comissão, juntamente com os Estados-Membros, devia ainda explorar a

possibilidade - caso a sobrecarga sobre as PME envolvidas fosse demasiado elevada -

de encarregar um funcionário de visitar a empresa e ajudá-la a conciliar os seus

dados com os requisitos da regulamentação e das práticas próprias dos IDC,

eximindo-se, contudo, de preencher o questionário, tarefa que deve continuar a caber

às empresas que pretendam participar num inquérito.

5.4.2 PME importadoras e utilizadoras

138. Além dos comentários supra relativos ao questionário, igualmente aplicáveis a esta

secção, convém também aludir às dificuldades que as PME enfrentam para construir

a sua argumentação no contexto do teste do interesse da Comunidade, em parte

devido à insuficiente transparência do processo.

139. As PME que exercem actividade enquanto importadores, utilizadores e operadores

consideram ter um papel limitado, ou nulo, na avaliação do interesse da Comunidade,

situação que deve ser corrigida. Seguem-se medidas possíveis nesse sentido:

- A Comissão deve ter em especial atenção as opiniões das PME na avaliação do

interesse da Comunidade;

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52.

- Caso exista um grande número de PME susceptíveis de ser afectadas pelas medidas,

a Comissão deve equacionar a utilização da amostragem para avaliar os possíveis

efeitos negativos das medidas nas empresas em causa;

- Na sua análise de custos/benefícios das medidas possíveis, a Comissão necessita de

ter em conta o peso económico relativo das partes que exprimem os seus pontos de

vista. Além disso, deve considerar a vulnerabilidade específica das PME. A

Comissão deve, sempre que houver PME envolvidas, integrar as opiniões e

argumentos das mesmas nas suas conclusões, distinguindo-os das considerações

relativas a interesses de maior dimensão.

140. Na sua larga maioria, as PME entrevistadas que se pronunciaram sobre o aumento da

transparência na aplicação do teste do interesse da Comunidade eram

PME importadoras e utilizadoras. Todavia, as PME produtoras argumentaram que os

aspectos atrás mencionados a propósito da avaliação do interesse da Comunidade

também se lhes aplicam, designadamente nas situações em que não só sofrem

prejuízos como jogam a sua própria sobrevivência.

5.4.3 Acompanhar o processo

141. O acesso electrónico ao processo não confidencial, que, como se referiu

anteriormente, a Comissão pretende incluir futuramente nas funções do novo

sítio web da DG Comércio, seria de grande utilidade para muitas PME, que assim

poderiam acompanhar o processo sem terem de suportar as despesas adicionais do

envio de um funcionário a Bruxelas ou da contratação de um representante local para

consultar e analisar o processo não confidencial.

5.4.4 Comunicação com os Estados-Membros

142. Para as PME, a dificuldade em aceder aos Estados-membros é uma realidade. A

única maneira de, parcialmente, corrigir esta situação é através da acção da

associação a nível europeu e nacional. Por estas e por outras razões de alcance mais

vasto, a Comissão e os Estados-Membros devem promover fortemente o

desenvolvimento das associações e a adesão das PME às mesmas.

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53.

5.5 Fase da aplicação

5.5.1 PME produtoras

(a) O registo e a aplicação retroactiva de direitos podem limitar a evasão

143. As PME produtoras poderiam sentir-se mais motivadas a participar em processos

IDC se houvesse uma maior possibilidade de obtenção do registo das importações. O

registo constitui um instrumento persuasivo para dissuadir os operadores do mercado

de armazenarem os produtos importados entre o início de um inquérito e a adopção

de medidas provisórias. Normalmente, este período pode prolongar-se por cerca de

seis meses e ser suficiente para aumentar os níveis de existências de produtos

importados, ao ponto de os direitos, quer provisórios quer definitivos, não

produzirem o efeito pretendido com a sua adopção.

144. Ao mesmo tempo, o registo só seria eficaz se resultasse igualmente na aplicação de

medidas sobre os produtos já importados e registados. O efeito combinado do registo

e da aplicação retroactiva ajudaria em muito as PME produtoras.

5.5.2 PME importadoras e utilizadoras

145. As PME importadoras/utilizadoras solicitam a observância de um período obrigatório

de 30 dias entre a publicação e a aplicação das medidas provisórias, e que as medidas

provisórias não se apliquem a mercadoria a coberto de um contrato previamente

celebrado nem a mercadoria expedida antes de tais medidas serem adoptadas, mas

que se encontre ainda no mar aquando dessa adopção. Este pedido levanta sérias

dificuldades de ordem prática: a dificuldade de controlo, os riscos de evasão e a

continuação da importação do produto objecto de dumping por um período

indefinido, após o estabelecimento das medidas provisórias. Se é verdade que a

solicitação relativa às duas primeiras situações acima referidas parece ser impossível

de satisfazer, já a respeitante à terceira situação, ou seja, ao tratamento da mercadoria

que se encontra no mar no momento da adopção das medidas provisórias, merece ser

ponderada pela Comissão.

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54.

146. As PME importadoras podiam também ser assistidas na gestão das últimas fases de

um inquérito, caso pudessem adquirir facilmente orientações sobre a possibilidade e

as condições em que poderiam conseguir uma revisão ou reembolso das medidas. A

Comissão e os Estados-Membros podiam incluir conselhos específicos para este

efeito nos respectivos sítios web, bem como formar os funcionários que lidam

directamente com as PME para prestarem uma assistência mais eficiente às PME

importadoras. Essas orientações podiam, igualmente, ser um dos tópicos dos

workshops regionais eventualmente organizados pela Comissão, em cooperação com

o Parlamento Europeu ou os parlamentos nacionais e as administrações nacionais.

Além disso, poderiam ser distribuídas brochuras específicas destinadas a informar as

PME importadoras/utilizadoras. Essa distribuição seria efectuada junto de

associações empresariais e Câmaras de Comércio de toda a UE, para conseguir uma

melhor disseminação das informações pertinentes.

5.6 Conclusão provisória

147. As recomendações acima explanadas não são exaustivas, cingindo-se a medidas

passíveis de ser aplicadas dentro do actual quadro jurídico. Não obstante, os serviços

da Comissão responsáveis pelos inquéritos IDC podiam dar um contributo efectivo

para facilitar a participação das PME nos IDC elevando essa simplificação à

categoria de prioridade política e adoptando medidas específicas nesse sentido, tais

como as sugeridas no presente capítulo.

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55.

6. OS PROCESSOS DE PAÍSES TERCEIROS E AS PME EUROPEIAS

6.1 Envolvimento limitado das empresas da UE até à data, mas a situação pode

mudar

148. Embora estejam menos orientadas para a exportação do que as grandes empresas

(apenas 13% exportam e, segundo as estimativas, as suas exportações não

representam mais do que 10% do total de exportações da UE), as PME continuam a

enfrentar um risco estatístico significativo de se verem envolvidas em processos IDC

intentados por países terceiros.

149. Efectivamente, existem à volta de 1,6 milhões de PME que exportam para mercados

externos e, apesar da diminuição observada desde os anos '90, o número de processos

anti-dumping instaurados contra exportadores da UE continua a ser considerável.

Nos últimos três anos (2007 a 2009, inclusive), registou-se um total de 41 processos,

9 contra o conjunto da UE e 32 contra Estados-Membros, intentados contra as

exportações da UE.95

150. Além disso, quando os processos implicam PME, podem ter consequências

particularmente desastrosas para as mesmas, visto que, por força das suas limitações

em termos de recursos, a maioria das PME tende a concentrar as suas exportações

num número limitado de mercados, ao contrário das grandes empresas, que exportam

para um maior número de destinos.

151. Deste modo, as exportações para determinados mercados podem representar, para as

PME, uma parcela vital do seu volume de negócios e constituir a diferença entre o

lucro e o prejuízo, quando não, por vezes, entre a sobrevivência e o desaparecimento.

95 Certos países instauram processos contra o conjunto da UE, outros contra Estados-Membros. As estatísticas da OMC contam um processo contra a UE relativo ao produto X como um inquérito, mas contariam os inquéritos iniciados contra a França, a Alemanha e o Reino Unido relativos ao produto X como três inquéritos. Este método resulta numa visão um pouco distorcida do número de processos contra a UE, que são menos do que a soma dos processos contra a UE e dos processos contra Estados-Membros individualmente considerados, bem como do número de processos contra Estados-Membros, que são mais do que os enumerados por cada país . Por exemplo, para se ter uma ideia exacta do número de processos que envolvem as exportações alemãs, deve-se adicionar aos oito processos contra a Alemanha pelo menos alguns dos nove processos intentados contra o conjunto da UE.

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56.

Nestas circunstâncias, a participação activa destas empresas nos inquéritos iniciados

contra as suas exportações pode ser fundamental.

6.2 Dificuldades das PME exportadoras envolvidas em processos de países terceiros

152. Devido à sua falta de experiência e recursos, a participação em processos fora da UE

revela-se particularmente difícil para as PME exportadoras da UE. As dificuldades

que enfrentam são de natureza similar às identificadas a propósito da participação

das PME em geral nos processos da UE, mas são agravadas pela distância e pelas

diferenças linguísticas e processuais entre os países em causa e os da UE.

6.2.1 Falta de conhecimento

153. Em primeiro lugar, mesmo que sejam informadas atempadamente, as PME nem

sempre se apercebem do perigo que tais processos representam para as suas

exportações para o mercado em questão.

154. Mesmo que se dêem conta desse perigo, poderão, não raro, devido às suas carências

em recursos e competências, sentir-se tentadas a não responder a pedidos de

informação da autoridade administrativa competente, pelo facto de o seu volume de

negócios no mercado em causa não justificar os custos que decorreriam da sua defesa

no processo.

6.2.2 Possíveis dificuldades práticas das PME exportadoras

155. As dificuldades sentidas são diversas:

- Barreira linguística, implicando despesas de interpretação e tradução;

- Atrasos na comunicação, que dificultam o cumprimento dos prazos;

- Singularidades dos processos anti-dumping em países terceiros, passíveis de trazer

complicações. Por vezes, há uma prática arbitrária nos processos IDC de países

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57.

pouco experientes na utilização destes instrumentos, o que pode levar a desfechos

injustos para os exportadores envolvidos;

- Distância impeditiva do contacto directo e da participação no processo, situação que,

amiúde, exige o recurso a assistência externa, bem como o apoio de clientes locais.

6.2.3 Apoio actualmente disponível e suas limitações

156. A Comissão, que dispõe de uma unidade encarregue de acompanhar os inquéritos

iniciados por países terceiros, pode prestar uma grande ajuda às PME. Não obstante,

essa unidade não tem qualquer prioridade política ou instrumento especificamente

direccionado para as PME.

157. Embora não possa substituir-se às empresas, essa unidade pode responder a pedidos

de informações factuais, emitir orientações, certificar-se de que a autoridade

administrativa competente cumpre integralmente os requisitos da OMC ou, se for

caso disso, pressioná-la nesse sentido.

158. A experiência mostra que as intervenções da Comissão bem gizadas e devidamente

coordenadas com os Estados-Membros e as empresas em causa têm um peso

considerável junto das autoridades dos países terceiros. Por esta via, a Comissão

pode não apenas reduzir consideravelmente a sobrecarga das empresas da UE, mas

também colocá-las numa posição mais sólida para defenderem os seus interesses

perante as autoridades em questão.

159. Embora a Comissão tenha actuado e estado presente em diversos processos recentes,

o seu papel pode ser significativamente reforçado se as delegações locais da UE - nos

países onde estão implantadas - e as embaixadas dos Estados-Membros se

envolverem mais activa e directamente do que hoje acontece. Para esse efeito, os

funcionários, que devem receber formação adequada da Comissão, devem ser

designados como pontos de contacto nas delegações e nas embaixadas dos Estados-

Membros (pelo menos naquelas cujas PME exportadoras sejam mais visadas por

inquéritos dos países terceiros) estabelecidas em países que façam frequentemente

uso dos IDC.

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58.

160. Isto afigura-se tanto mais desejável quanto é provável que se assista a um aumento

contínuo do número de processos iniciados por novos utilizadores destes

instrumentos. Embora a maioria deva visar as exportações de outros países

emergentes ou em desenvolvimento, outros, em número provavelmente crescente,

incidirão sobre as exportações da UE.

161. Com o reforço da sua rede de funcionários especializados em IDC, a UE dotar-se-ia

de condições para acompanhar mais de perto as práticas de países terceiros e exercer

maior pressão sobre as respectivas autoridades para darem cumprimento aos

requisitos da OMC. De igual modo, isso permitiria dar um apoio mais directo às

empresas envolvidas em processos IDC, nomeadamente, às que mais dele

necessitam, as PME.

162. No entanto, por muito apoio que lhe seja prestado pela Comissão e pelos Estados-

Membros, a empresa envolvida terá sempre de participar directamente no processo.

Assim, devido às suas carências em recursos e competências, as PME encontram-se

em clara desvantagem neste contexto.

163. A solução poderia passar, caso houvesse várias empresas do sector envolvidas, pela

partilha entre as mesmas dos custos da cooperação no processo, algo que pode ser

feito no quadro de uma organização industrial/comercial ou de uma câmara de

comércio. Em termos gerais, esta última pode dar uma grande ajuda a empresas

individuais, devendo, por isso, ser incentivada a intervir e a ajudar as empresas nos

processos IDC. Se for bem organizada, a combinação desse apoio com o prestado

pelos serviços da Comissão, os Estados-membros e os funcionários locais da UE

pode reduzir consideravelmente as dificuldades das PME nos processos de países

terceiros e assegurar-lhes uma defesa eficaz no decorrer dos mesmos.

6.3 Soluções propostas para as dificuldades das PME exportadoras em países

terceiros

6.3.1 Aumentar os conhecimentos gerais das PME

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59.

164. Instrumento importante com informações de carácter geral para PME interessadas

em saber mais sobre IDC de países terceiros ou afectadas por um inquérito já

iniciado, o novo «Guia para os exportadores da União», publicado no início de

Outubro de 2010 pela Comissão (em todas as línguas oficiais da UE) deverá ajudar

grandemente as PME a superarem a dificuldade de obter essas informações por sua

iniciativa. Disponível no sítio da DG Comércio, este Guia foi distribuído pelos

Estados-Membros e pelas associações nacionais e europeias, a que se seguirão as

câmaras de comércio e as delegações da UE situadas em países terceiros.

165. As PME podem também obter mais informações no sítio web da DG Comércio, que

inclui agora um resumo das principais características da legislação em matéria de

defesa comercial dos países terceiros utilizadores de IDC mais importantes, bem

como uma lista de pesquisa dos inquéritos em curso iniciados por países terceiros e

das medidas em vigor nos mesmos. Além disso, esta lista tem uma hiperligação

directa para a Base de Dados de Acesso ao Mercado (BDAM,

http://madb.europa.eu/mkaccdb2/indexPubli.htm). Acresce que as PME em busca de

mais informações gerais na BDAM serão automaticamente informadas de quaisquer

medidas em matéria de IDC aplicáveis às exportações de um determinado produto

para um país terceiro seleccionado.

166. Outro instrumento já sugerido para aumentar os conhecimentos sobre os IDC da UE

passa pela organização de workshops regionais. O programa destes workshops deve

abranger também os inquéritos de países terceiros, explicando às PME como devem

proceder para receberem atempadamente informações sobre esses IDC e aquilo que a

Comissão ou os Estados-Membros podem fazer para ajudá-las.

167. As associações comerciais/industriais e as Câmaras de Comércio podiam também

desempenhar um papel importante ao nível da sensibilização, da organização da

cooperação e da partilha de custos entre as suas PME que exportam para fora da UE.

168. Os deputados ao Parlamento Europeu podiam igualmente desempenhar um papel de

carácter geral, informando as PME dos respectivos círculos eleitorais sobre os pontos

de contacto dos Estados-Membros e da Comissão capazes de lhes prestarem um

maior apoio em questões técnicas.

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60.

6.3.2 Informar as PME sobre um inquérito específico

169. Presentemente, assim que, de acordo com as regras da OMC, a Comissão é

notificada pela autoridade de um país terceiro do início de um inquérito, a Comissão

transmite a informação aos pontos de contacto dos Estados-Membros em causa. Ao

mesmo tempo, as empresas podem receber automaticamente, via correio electrónico,

informações actualizadas da Comissão, através de um sistema RSS Feed.

170. O sistema parece estar a funcionar bem entre a Comissão e os Estados-Membros,

mas é menos clara a forma como a informação é, posteriormente, divulgada junto de

todos os exportadores envolvidos. Tal como se referiu anteriormente, a identificação

dos exportadores abrangidos por um inquérito levanta muitas vezes problemas,

nomeadamente quando os exportadores são pequenas empresas. Os contactos que

abordámos nos Estados-Membros e nas Câmaras de Comércio não nos transmitiram

a impressão de o sistema de informação ser totalmente eficaz. Uma empresa que

saiba tardiamente do início de um processo pode ficar numa séria situação de

desvantagem. Deste modo, importa que a informação sobre o início de um inquérito

contra um determinado produto seja comunicada em tempo útil a todas as empresas

por ele abrangidas e que se tomem as medidas adequadas para garantir às empresas

uma informação sistemática e rápida.

171. Por conseguinte, sugere-se a criação de uma rede de contactos permanente, clara e

facilmente acessível, abarcando a Comissão, as administrações dos Estados-

Membros, as delegações locais da UE, as embaixadas dos Estados-Membros e as

organizações industriais, destinada a prestar uma assistência eficaz às PME

envolvidas em processos de países terceiros. Devem existir pontos de referência

claros aos quais as empresas da UE possam recorrer para obter informação e

aconselhamento sobre a melhor forma de se defenderem e de obterem assistência

para o efeito. De igual modo, convém estabelecer um processo simples e directo,

acordado a nível da UE, especificando os passos a dar pelos diversos actores

envolvidos se uma empresa da UE for visada por um processo de um país terceiro, de

modo a garantir-lhe a devida assistência e a assegurar uma coordenação adequada

entre os serviços competentes.

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61.

172. Tal papel podia ser assumido, no caso específico das PME, por intermédio do serviço

de assistência às PME. Este poderia actuar como um sistema centralizado da

DG Comércio encarregue de coordenar todas as questões e problemas relacionados

com as PME através das seguintes medidas:

- Garantir a todas as empresas envolvidas uma boa informação e um conhecimento

integral do que está em causa nesses processos, bem como a compreensão do

processo de inquérito, que, por vezes, varia significativamente de país para país;

- Incentivar as empresas que têm interesses significativos no mercado em causa a

cooperarem no âmbito do inquérito e a defenderem activamente a sua causa no

processo;

- Explicar - se as circunstâncias do processo assim o justificarem - como responder ao

questionário do país terceiro.

6.3.3 Outras iniciativas possíveis, incluindo a simplificação

173. Os serviços competentes da Comissão podiam ainda ajudar as PME estabelecendo

contactos frequentes com as autoridades dos países terceiros sobre aspectos técnicos,

nos quais se poderiam incluir a transparência dos procedimentos, a protecção de

dados confidenciais, a língua a utilizar, etc. Esta estreita cooperação podia criar um

canal de comunicação facilmente activado em nome de uma PME, se necessário. Por

exemplo, a Comissão tem actualmente um grupo de trabalho a funcionar junto de

autoridades de países terceiros, por intermédio do qual pôde - no âmbito de um

inquérito específico - comunicar às entidades homólogas que certos questionários

eram excessivamente complicados para as PME da UE.

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62.

7. OBSERVAÇÕES FINAIS

174. A vasta série de entrevistas realizadas pelos autores no âmbito do presente estudo

evidencia que as PME se debatem com grandes constrangimentos quando participam

em processos IDC, seja na qualidade de autores da denúncia ou de importadores ou

utilizadores.

175. Primeiramente, de um modo geral, as PME pouco ou nada sabem sobre a existência e

o funcionamento dos IDC. Depois, mesmo quando sabem da sua existência,

desconhecem, normalmente, as implicações e/ou os benefícios que para si podem

advir da participação em determinados processos, bem como a importância de um

envolvimento activo nos mesmos. Por fim, as PME enfrentam dificuldades

específicas no decurso dos inquéritos, tais como o burocrático e moroso processo de

apresentação de uma denúncia, a complexidade dos questionários ou as dificuldades

para construírem a sua argumentação no contexto do teste do interesse comunitário.

176. Estas dificuldades específicas justificam e aconselham a que - contrariamente à

prática corrente - as PME sejam alvo, nos processos IDC, de um tratamento adaptado

às suas necessidades especiais. Em primeiro lugar, esse tratamento é necessário para

evitar que as PME fiquem sujeitas a uma sobrecarga desproporcionada nesses

processos. Em segundo lugar, estaria igualmente em sintonia com a política geral da

UE em matéria de PME e com os princípios gerais da OMC e da legislação da UE,

nos termos dos quais o tratamento dado aos operadores económicos tem de atender

às situações e desvantagens especiais.

177. Esse tratamento especial podia consubstanciar-se nas seguintes acções ou medidas:

Maior conhecimento (em geral)

- Workshops regionais - Maior envolvimento dos Estados-Membros como «interfaces» - Melhorar o funcionamento do serviço de assistência às PME da DG Comércio Prestação de informações e explicações (em processos IDC específicos)

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63.

- Comissão Europeia - Estados-Membros - Associações comerciais Facilitação PME produtoras - Natureza dos elementos de prova necessários para apresentar uma denúncia (dados macroeconómicos) - Amostragem - Questionário principal («à medida» das PME) - Transparência na aplicação do teste do interesse da Comunidade - Melhor acesso ao processo não confidencial PME importadoras e utilizadoras - Melhor informação sobre o processo - Questionário principal («à medida» das PME) - Transparência na aplicação do teste do interesse da Comunidade - Melhor acesso ao processo não confidencial - Maior previsibilidade das medidas para as mercadorias em trânsito PROCESSOS DE PAÍSES TERCEIROS - Aumentar os conhecimentos gerais - Informar as PME sobre inquéritos específicos - Explorar os contactos bilaterais entre a UE e países terceiros