relatÓrio do seminÁrio sobre o projeto de lei nº … · implantação do campus do ifam. eloi...

17
CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS) RELATÓRIO DO SEMINÁRIO SOBRE O PROJETO DE LEI Nº 1.610/1996 REGULAMENTAÇÃO DA EXPLORAÇÃO E O APROVEITAMENTO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA/AM. Data: Dia 10 de maio de 2012 Local: Auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazônas - IFAM Autor da iniciativa: Deputado Federal PADRE TON (Req. nº 2/11), atendendo solicitação, por meio de ofício, da Federação das Organizações Indígenas no Rio Negro - Foirn

Upload: hoangnhan

Post on 01-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

RELATÓRIO DO

SEMINÁRIO SOBRE O PROJETO DE LEI Nº 1.610/1996 –

REGULAMENTAÇÃO DA EXPLORAÇÃO E O APROVEITAMENTO DE

RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS EM SÃO GABRIEL DA

CACHOEIRA/AM.

Data: Dia 10 de maio de 2012

Local: Auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Amazônas - IFAM

Autor da iniciativa: Deputado Federal PADRE TON (Req. nº 2/11),

atendendo solicitação, por meio de ofício, da Federação das

Organizações Indígenas no Rio Negro - Foirn

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

1 - Reunião preparatória Atendendo solicitação das lideranças indígenas, a Comissão realizou uma reunião na sede da Foirn com a finalidade de discutir a programação encaminhada previamente e incorporar sugestões em relação ao formato do evento e da participação das lideranças na composição da Mesa de Abertura e na designação dos expositores. A reunião teve início por volta das 10h e se estendeu até às 12h, contou com a participação dos Deputados PADRE TON e ÉDIO LOPES, Presidente e Relator da Comissão Especial, respectivamente, das lideranças indígenas ABRAÃO FRANÇA BARÉ, BONIFÁCIO JOSÉ BANIWA, MAXIMILIANO CORREA MENEZES TUCANO e ARLINDO TENÓRIO TUCANO, ELIAS BASILINO, Diretor do Campus do Instituto Federal do Amazonas em São Gabriel da Cachoeira, ELOI FRANCISCO ZATTI FACCIONI, Procurador do Ministério Público Federal no Amazonas, DOMINGOS, da Administração da Funai no Rio Negro, ANA PAULA SOUTO MAIOR, do Instituto Socioambiental – ISA, e LUIZ RODRIGUES DE OLIVEIRA, Assessor do Dep. Padre Ton. Após os debates ficou decidido que o Seminário seria realizado tendo como base os seguintes passos metodológicos: a) Abertura Oficial, composição da Mesa com lideranças indígenas e não indígenas, franqueando a palavra aos convidados para um intervenção de até 3’ minutos, na sequência; b) desfaz-se a Mesa de Abertura e convida os expositores (indígenas e não indígenas) para fazer uso da palavra por um tempo de 5’, prorrogável por mais 2’. Pela ordem, primeiramente falam as lideranças indígenas e depois os não indígenas; c) encerrada a fase das exposições, desfaz-se a Mesa e inicia-se o debate com a participação da plateia, em que os participantes poderão se inscrever para fazer uso da palavra por até 3’. Ao final de cada grupo de 5 intervenções do plenário abre-se a palavra para os membros da Comissão fazerem suas considerações a respeito dos pontos levantados e responder as questões; 4 – Às 17h, O Presidente dos Trabalhos informa que na fala do próximo orador serão encerradas as inscrições e quem desejar participar do debate deve se inscrever. Em seguida continua franqueando a palavra para os participantes, em grupos de 5 até ouvir todos os inscritos, após isso os membros da Comissão fazem o fechamento dos trabalhos. 2 - Abertura do Seminário

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

Os trabalhos foram iniciados às 14h30, do dia 10 de maio de 2012, no Auditório do Instituto Federal do Amazonas, com a presença de cerca de 400 participantes entre indígenas, de 23 etnias do auto Rio Negro e Xie, Rio Içana e afluente, Tiquié e afluente, Auto Altejo Wautes e da região de Santa Izabel, Barcelos e São Gabriel da Cachoeira, cidadãos do Município de São Gabriel da Cachoeira interessados em debater o assunto, representantes empresariais do setor mineral, associações de classe, representantes dos Governos Federal, Estadual e do Município de São Gabriel. O Dep. PADRE TON, em sua fala inicial apresentou os objetivos do Seminário aos participantes, informou os termos do PL 1610/96, o qual segundo disse, tem por intento regulamentar o Parágrafo Primeiro do Art. 176 e o Parágrafo Terceiro do Art. 231 da Constituição Federal que versam sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em Terras Indígenas e desejou que o evento fosse conduzido para se obter o máximo possível de contribuição para os trabalhos da Comissão, servindo de referência para os outros seminários que serão realizados. 3 - Composição da Mesa de Abertura

Dep. PADRE TON, Presidente da Comissão Dep. ÉDIO LOPES, Relator da Comissão ELOI FRANCISCO ZATTI FACCIONI, Procurador do Ministério Público

Federal no Amazonas BONIFÁCIO JOSÉ BANIWA, Secretário de Estado para os Povos Indígenas do

Amazonas PEDRO GARCIA, Prefeito Municipal de São Gabriel da Cachoeira/AM ABRAÃO FRANÇA BARÉ, Diretor Presidente da Federação das Organizações

Indígenas do Rio Negro Dep. VERA CASTELO BRANCO, do PTB, Secretária Geral da Assembleia

Legislativa do Amazonas Dep. VANDERLEI DALLAS, do PMDB, Ouvidor da Assembleia Geral do

Amazonas CHEINE ARAÚJO, Coordenador Regional da Funai no Rio Negro MARCELO TUNES, Presidente Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM

4 - Resumo das falas de abertura PREDRO GARCIA, Prefeito de São Gabriel: cumprimenta os integrantes da Mesa, desejando êxito ao evento; agradece aos membros da Comissão, em especial ao Dep. PADRE TON, pela iniciativa de vir ao Município ouvir as comunidades indígenas; diz que o assunto não pode ser tratado isoladamente de outras questões, tendo em vista a relação direta que tem com os temas da educação,

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

segurança, sustentação econômica, por exemplo, podendo até mesmo prejudicar outras discussões se não for tratada adequadamente; lembra que o Presidente LULA, quando esteve no Município, anunciou e cumpriu posteriormente vários compromissos relacionados com a melhoria da infraestrutura da região e com a implantação do Campus do IFAM. ELOI FRANCISCO ZATTI FACCIONI, Procurador Federal no Amazonas - agradece o convite feito pela Comissão ao Ministério Público Federal; louva a iniciativa de vir a São Gabriel da Cachoeira prestar esclarecimentos sobre a tramitação do PL 1610/96 e ouvir a população interessada; entende que é direito dos indígenas serem ouvidos; considera o Seminário um momento de interferir, com contribuições para o aperfeiçoamento do Projeto e para assegurar os direitos indígenas na legislação que sairá dos debates; agradece e diz que aprofundará um pouco mais no tema do Seminário no momento da exposição que fará em seguida. ABRAÃO FRANÇA BARÉ, Diretor Presidente da FOIRN – cumprimenta a todos os presentes; questiona sobre como será a partilha dos resultados da exploração dos minérios extraídos das terras indígenas; agradece à comissão pela iniciativa de vir escutá-los; conclama a todos os indígenas a só se posicionarem em relação à mineração após ter clareza do que trata o PL 1610; diz que a postura de FOIRN é abertura para ouvir e contribuir em relação ao tema. Dep. Estadual VERA CASTELO BRANCO, da Assembleia Legislativa do Amazonas – cumprimenta os presentes na pessoa do líder indígena Abraão Baré; diz que veio ao evento para ouvir mais que falar; quer ouvir os indígenas, os representantes do DNPM, da Associação dos Garimpeiros e da Secretaria do Estado que trata da Mineração; entende que São Gabriel da Cachoeira precisa de alternativas para a população, em especial para os índios que, na opinião dela, encontram-se em situação de penúria; espera que a Comissão não sirva apenas para cumprir formalidades, mas para colocar em prática as propostas das comunidades presentes no Seminário; espera muita clareza; em caso de aprovação do PL 1610, sugere que os índios sejam contemplados também na gestão dos empreendimentos; que se dê preferência para os indígenas. Dep. Estadual VANDERLEY DALLAS, da Assembleia Legislativa do Amazonas – cumprimenta os presentes, diz que pretende acompanhar as discussões em relação ao assunto; quer ouvir atentamente cada uma das manifestações que se seguirão; agradece os membros da Comissão e ao líder ABRAÃO pela iniciativa de solicitar a realização do Seminário; deseja que a Comissão seja produtiva e consiga aprovar um bom relatório e que este seja convertido em uma boa lei para o setor; defende que o percentual da lavra destinado aos povos indígena afetados seja significativo, de forma a assegurar o bem estar do povo após o fim da extração dos minérios. JOSÉ BONIFÁCIO BANIWA, Secretário de Estado para os Povos Indígenas no Estado do Amazonas – cumprimenta os presentes; agradece o convite da

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

Comissão ao Governo do Amazonas para participar do evento; diz que o Seminário propicia uma tarde especial para os indígenas do Rio Negro; chama a atenção para, além dos minérios, outras formas de exploração dos recursos naturais, como turismo, por exemplo; deseja que a proposta seja bem analisada, uma vez que a Constituição Federal assegura aos índios o direito de viver de suas terras; acha que o percentual mínimo destinado às comunidades indígenas proposto até agora é muito baixo; entende que a questão não pode ser tratada como no século passado, sem considerar a opinião dos principais interessados; defende que os índios tenham oportunidades; agradece e conclui. CHEINE ARAÚJO, Coordenador Regional da Funai no Rio Negro – agradece a todos; diz que a Funai está ao lado dos indígena para apoiar nas decisões que tomarem; entende que a postura dos indígenas no evento não deve ser apenas de ouvir, mas de interferir nas discussões. MARCELO TUNES, Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM – disse que o instituto que representa foi criado há 35 anos com a finalidade de contribuir para que as riquezas minerais sejam distribuídas de forma igualitária com todos os brasileiros; espera que a questão seja resolvida o quanto antes, pois a ausência de regulamentação da questão resulta em prejuízo para todos, principalmente para os indígenas. Após a fala do último inscrito, o presidente dos trabalhos pediu que a Mesa de Abertura fosse desfeita e, ato contínuo, convidou os expositores indígenas a tomar acento para iniciar as exposições de até 7 minutos cada um. Antes porém, o Deputado ÉDIO LOPES, Relator da Comissão, fez uma explanação com a finalidade de traçar um caminho para orientar os debates no plenário, lançando alguns pontos que considera estratégicos. Da mesma forma, o Procurador do Ministério Público Federal no Amazonas, ELOI FRANCISCO ZATTI FACCIONI, fez uma fala enfatizando os aspectos constitucionais e dos direitos indígenas envolvidos no tema da mineração. ÉDIO LOPES – cumprimenta os presentes; agradece a Polícia Federal pelo apoio à Comissão; afirma que nem a Comissão, muito menos ele, veio a São Gabriel da Cachoeira com algo pronto e acabado para ser ratificado; como relator, está ouvindo todos os setores da sociedade, incluindo tanto os indígenas como o setor minerário; que não abre mão de assegurar em seu relatório o máximo possível de proteção aos direitos indígenas; entende que há necessidade de regulamentar a matéria e que considera fundamental a contribuição das lideranças indígenas para enriquecer seu relatório; julga que o País não pode abrir mão de explorar as riquezas minerais estocadas nas terras indígenas; adverte que o prolongamento desse debate atingiu seu limite, inclusive porque contrasta com a situação de miserabilidade que, na opinião dele, vivem os indígenas; indica que seu relatório não se afastará de três fundamentos constitucionais principais, quais sejam: a) que cabe ao Congresso Nacional a palavra final sobre a exploração, ou não, de jazidas minerais em terras indígenas; b) assegurar a oitiva das

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

comunidades indígenas prevista na Constituição; c) participação das comunidades indígenas afetadas pela lavra. Destaca a disposição das lideranças indígenas presentes no Seminário em discutir o tema, diferentemente do que ocorreu em relação à comissão anterior criada com a mesma finalidade desta; acredita que o assunto deverá ser debatido à exaustão; defende um percentual justo da lavra a ser repassado às comunidades indígenas sob a forma de Royalties; adverte que a extração mineral, seja onde for, requer pesados investimentos, por isso a indústria da mineração deve ser envolvida; sugere a busca do equilíbrio na remuneração do capital investido e nos repasses às comunidade afetadas; adianta que seu relatório estabelecerá um percentual mínimo para as comunidades, podendo haver acréscimos dependendo das condições das jazidas e da logística de transporte; defende a adoção de processo licitatório para escolher os empreendedores, onde vencerá quem oferecer os maiores benefícios para os indígenas; defende a participação acionária das comunidades indígenas nos empreendimentos; e lança as seguintes questões à plateia:

quem deve ser beneficiado com os resultados dos minérios, somente as comunidades indígenas diretamente atingidas ou uma parte do percentual deve ser alocado em benefício de todos os índios do País?

quem vai administrar o Fundo? conclui que certamente não será o Governo; como será o gasto dos Royalties, tudo de imediato ou pensando nas futuras

gerações, através de aplicação de longo prazo? as áreas indígenas ainda não homologadas podem ser mineradas? povos com pouco tempo de contato com a sociedade branca pode ser objeto

de mineração? como será tratada a questão ambiental? quem poderá requerer pesquisa e lavra de mineração em terras indígenas? será permitido garimpo? a comunidade indígena poderá, ela própria, fazer a extração de seus

minérios? Conclui sua fala reafirmando sua disposição de discutir com todos os interessados e de incorporar aquelas contribuições que considerar pertinentes para o enriquecimento do relatório. ELOI FRANCISCO ZATTI FACCIONI – informa que a CF/88 estabeleceu que a mineração em terras indígenas se dará no interesse nacional; a exploração só poderá ser feita por brasileiros ou por empresas constituídas sob as leis brasileiras; disse que a Carta Magna requer condições específicas cumulativas, tanto por se tratar de terras indígenas como por pertencer à faixa de fronteira; que a autorização do Congresso Nacional será específica, em cada caso, levando-se em conta a realidade de cada comunidade; a comunidade afetada terá que ser consultada especificamente, não se trata da consulta que está sendo feita hoje, mas de uma nova consulta específica; a consulta deve ser vista como um processo de diálogo com a comunidade, de troca; é a CF/88 quem assegura

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

participação da comunidade na lavra, essa participação não deve ser confundida com a indenização pelo uso dos recursos aos quais os índios detêm o usufruto exclusivo; compete à regulamentação estabelecer como esses direitos serão considerados; “este é o ponto em que estamos no momento, em cada caso específico terá que ter uma consulta específica”. 5 - Exposições das lideranças indígenas ABRAÃO FRANÇA BARÉ, inicia a fala com o esclarecimento de que a Foirn foi constituída para defender a lei, jamais irá pregar o desrespeito às normas legais do País; lembra que algumas pessoas dizem que a Foirn é contra a exploração de minérios em terras indígenas “isso não é verdade, não somos contra a lei e o aproveitamento dessas riquezas está previsto na Constituição”; lamenta que mineração na experiência dos índios do Rio Nego é sinônimo de violência; lembra de um episódio trágico ocorrido em um passado recente em que era comum ver corpos boiando nas águas turvas do Rio Negro ao amanhecer, como resultado de batalhas travadas à noite entre os próprios garimpeiros; “se for para repetir essas tragédias não queremos”, afirma; sugere que após a finalização do relatório preliminar, a Comissão retorne ao Município para nova consulta, com mais elementos; em nome da Foirn, entregou um documento à Comissão em que agradece a realização do Seminário; manifesta que são contrários a uma regulamentação em separado dos demais temas relativos aos direitos indígenas; entendem que a mineração deve ser tratada no âmbito do Estatuto do Índio, constituindo uma legislação única, sólida e coerente entre si e não leis separadas, afirma; oferece o estudo do ISA sobre o assunto que inclui importantes garantias ambientais e controle social pelos indígenas como subsídio para o relator; e encaminha uma proposta de texto legal elaborada no âmbito da Comissão Nacional de Política Indígena – CNPI, com a participação da Foirn, como subsídio ao Estatuto do Índio (a íntegra do documento consta como anexo deste relatório). MAXIMILIANO CORREA MENEZES TUCANO – cumprimenta a Mesa e todos; diz que o assunto é muito complexo por atrair para si muitos interesses; lembra que o estatuto da Foirn contempla a exploração mineral nas terras indígenas; chama a atenção para o usufruto exclusivo que os indígenas detêm sobre suas terras, previsto na CF; afirma que os índios não conhecem a lei, não têm ideia dos benefícios que a exploração mineral traz para as comunidades; adverte que seus parentes têm que conhecer os diversos elementos do projeto em discussão para não reclamarem depois; diz que não podem repetir erros do passado, mencionando o exemplo da empresa Paranapanema, onde, segundo ele, os índios só ficaram com os prejuízos da extração; pede que o estatuto do índio seja inserido nesta legislação como forma de tratar os direitos indígenas como um todo e não de forma fragmentada, pede que após a elaboração do relatório preliminar a Comissão volte para consultar a comunidade.

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

MÁRCIO FARIAS BANIWA - diz que seu povo precisa da mineração; afirma que, muitas vezes, “gente grande” não quer ouvir os índios; “querem sim participar do debate”; pede que a Comissão volte depois para aprofundar o entendimento sobre o Projeto; convida um parente de sua etnia, de nome André, para ler um documento da Coordenadoria de Associações Baniwa e Coripaco - CABC, assinado pelas lideranças MÁRCIO FARIAS, IRINEU LAUREANO, ANDRÉ FERNANDO, RONALDO APOLINÁRIO, ARMINDO FELICIANO MIGUEL BRAZÃO, CELESTINO BENJAMIM DA SILVA e VALDIR AUGUSTO RODRIGUES, em que lembra os direitos indígenas previstos na Constituição Federal, pede que, além de respeitar os direitos indígenas já conquistados, a regulamentação garanta o repasse de 10% dos lucros da mineração para as comunidades afetadas diretamente e mais 1,5 % para um Fundo que beneficiará todos os indígenas do País; propõe que seja garantido o direito da própria comunidade indígena, sempre que tiver consenso entre eles, conduzir ela mesma, por meio de cooperativa, todo o processo de pesquisa, extração e comercialização dos recursos minerais, podendo estabelecer parcerias com empresas do setor e entidades governamentais (a íntegra do documento consta como anexo deste relatório). ARGEMIRO ARAPASSO TUCANO - diz que representa o baixo Rio Negro; lembra que a discussão sobre a mineração não é nova; afirma que não está dizendo sim ou não, “precisamos ouvir a comunidade”; quando se fala de garimpo “temos medo”; “já tivemos muitas promessas e não chegou nada até hoje”; diz que “tem muita gente roubando as riquezas dos índios; afirma que não vão parar enquanto não verem uma solução. ARLINDO TENÓRIO TUCANO – representa a região do baixo Rio Negro – Diz que por ele seria a favor da mineração, porque se considera uma pessoa “rápida” e objetiva; “dizem que o Brasil é rico, tem vários programas sociais, mas nós não vemos isso”; “temos dúvidas” sobre como acessar esses programas; diz que “fazer acordo com empresa de branco é difícil, tenho medo, tenho certeza que não vai dar certo”. ROSANE TUCANO - defende que, antes de darem seu parecer, precisam ter esclarecimentos sobre o Projeto 1610, “precisamos saber se vai trazer ganhos ou somente prejuízos para a comunidade”; questiona como o processo será feito; “queremos desenvolvimento sim, mas na forma da lei”; adverte os parentes que têm que pensar bem antes de colocar suas propostas, para não reclamarem depois. Encerradas as falas dos expositores indígenas, o Presidente passou a palavra ao Relator da Comissão, Dep. ÉDIO LOPES, para suas considerações frente às questões levantadas pelas lideranças. Dep. ÉDIO LOPES – em resposta ao orador ABRAÃO, disse que a Comissão entende que os índios poderão garimpar sim em suas terras, desde que cumpram

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

os ritos legais previstos na CF e que vão ser detalhados pela Lei que está sendo discutida, incluindo a consulta às próprias comunidades e atender à legislação do setor; defende que o debate não seja esgotado na fase da regulamentação dos dispositivos constitucionais, uma vez que posteriormente haverá a discussão caso a caso, onde muitas questões serão novamente objeto de consulta; entende que a questão do interesse nacional, previsto na Constituição, seja cuidada; questiona, se uma comunidade tirar 2 kg de ouro de suas terras, isso seria de interesse nacional? conclui que provavelmente não seria enquadrado nesse requisito, o que poderia deixar os índios vulneráveis. Em seguida, deu-se início à fase das exposições dos representantes de entidades profissionais e governamentais. FRED CRUZ – Técnico do DNPM/AM – saúda os presentes; destaca a importância do evento para estabelecer um caminho a ser seguido pelo órgão; fala de sua experiência na região do Rio Negro; menciona o exemplo dos Baniwa que, segundo ele, vivem perambulando por São Gabriel da Cachoeira; que o maior potencial mineral da região na verdade são pequenos depósitos nos leitos dos rios para serem extraídos por pequenos garimpeiros; diz que, nesses casos o impacto ambiental da exploração mineral é menor que o da pecuária, por exemplo; fala da existência de terras raras na região, minério muito procurado no mercado internacional atualmente, denuncia a evasão de volume expressivo de minérios para a Colômbia, extraídos por índios que, na visão dele, precisam sobreviver; adverte que por falta de alternativa econômica, a Amazônia está sendo desocupada, que está havendo um êxodo rural acelerado para as cidades da região, causando problemas típicos de grandes centros nas cidades do interior do Amazonas. JORGE GARCÊS – da Associação dos Geólogos Profissionais do Amazonas – como contribuição para os trabalhos da Comissão, coloca que o assunto está virando um caso de família, onde todos se preocupam e participam; entende que o minerário é um bem econômico e que a comunidade local envolvida, dificilmente terá benefícios diretos com a sua extração; entende que o benefício é da sociedade pela dinamização da cadeia produtiva mineral; recomenda à Comissão trilhar o caminho da preservação dos direitos indígenas enquanto cidadãos; propõe um amplo esclarecimento nacional, uma vez que, na opinião dele, os resultados mais vistosos “virão pelo mercado e o passivo ficará aqui”. MARCELO TUNES – do IBRAM – sendo breve, diz que “o Instituto representa a mineração legal, aquela licenciada e que se reporta ao DNPM” regularmente; que os danos mencionados pelos líderes indígenas e não indígenas são causados por outra mineração, a que está à margem da lei. DANIEL VAVA - Secretário de Mineração, Geodiversidade e Recursos Hídricos do Amazonas – propõe que o debate prossiga e que seja garantida a participação dos indígenas nos dividendos das lavras; defende que a participação nos

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

resultados seja inclusive assegurada para as comunidades que decidirem não minerar em suas terras; que as comunidades sejam ouvidas na própria língua materna, para facilitar o entendimento e para eles terem mais segurança nos posicionamentos. Terminadas as falas dos expositores não indígenas, o Presidente pediu que os integrantes da Mesa permanecessem e passou à fase das intervenções do Plenário, como previsto na programação. 6 - Questões e contribuições do Plenário ORLANDINO BARÉ – considera que a oitiva, prevista na Constituição, já está acontecendo; destaca que na sala está o mais alto nível das lideranças indígenas do País; lamenta que muitos índios estão morrendo porque as políticas públicas não chegam até eles a tempo; entende que a mineração é um caminho viável. ERIVALDO ALMEIDA CRUZ – em complemento à fala da Foirn, disse que é preciso levar em consideração o estatuto dos povos indígenas, para assegurar os direitos indígenas ao mesmo tempo em que regulamenta a mineração; diz que, no geral, ele caminhe junto com o Projeto de Lei. VALDIR YANOMAMI – cumprimenta todos os presentes, em especial os parentes; lembra que em 1987 tinha muita gente trabalhando na área Yanomami, “muita gente enganou Tuchawa”; por essa razão hoje eles não querem este problema em suas terras; “todos ficam com medo da mineração, estamos no faiscamento da mineração”; disse, com isso, estão tendo algum lucro para ter dinheiro para se manter. JOSIVALDO TUCANO – diz que “o ser humano sempre foi fascinado por metais preciosos, os ancestrais brancos vieram para nossas terras em busca de minerais e essa sede não foi saciada”; assegura que seu povo não é contra a mineração, mas queremos que seja feita com a participação deles; entende que “as leis são para serem mudadas” a fim de trazer benefício concreto. LUIZ BARÉ – cumprimenta os presentes; diz estar consciente que, na calha do Rio Negro, estão pisando sobre grandes riquezas e que ao mesmo tempo muita gente está morrendo de fome; pede que tragam capacitação aos índios para poder aproveitar essa riqueza. ANA PAULA, do ISA – chama a atenção que a exploração mineral em terras indígenas se dará por interesse nacional, como prevê a Constituição; lembrou que a Lei Maior diz que o subsolo pertence à União e que o solo é de usufruto exclusivo dos índios, assim o garimpo só pode ser feito pelos próprios indígenas; que isso não é objeto de autorização do Congresso Nacional; fala da proposta de estatuto dos índios que se encontra na Câmara há anos, a espera de votação; que o capítulo sobre mineração pode servir de subsídio; afirma que o Seminário não

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

deve ser confundido com a consulta prevista na Constituição e na Convenção 169 do OIT; afirma que o foco do Seminário deve ser coletar subsídios para o relatório e após a elaboração da primeira versão o relatório deve ser submetido à consulta. FRANCISCO ASSIS TUCANO – cumprimenta a todos; diz que o seminário é muito importante para esclarecer os índios e a população em geral; diz que só veio porque o assunto é minério, se fosse agricultura, turismo, saúde ou outra coisa não teria vindo; propõe que o projeto seja bem discutido, por todos os órgão; defende a legalização da atividade. LUCAS TUCANO – comentou sobre a transferência de riquezas que está acontecendo do Brasil para a Colômbia; alega que a falta de legalização da extração no País estimula o contrabando de minérios para outros países; por isso, defende a aprovação do PL 1610; se diz uma pessoa rica, mas ao mesmo tempo pobre; conclama a “parar com isso, para que possamos usufruir dessa riqueza, que é nossa”; denuncia que diariamente cerca de 5 kg de ouro atravessa a fronteira com a Colômbia, sem deixar nenhum benefício para os brasileiros. JOÃO ENECY – diz que é de Barcelos; lembra que lá também tem muito índio; que o problema da mineração se resume na falta da legislação; acha que a discussão está caminhando bem, mas desconfia que está sendo enganando; questiona como exigir de um índio que encontra uma pepita de ouro no igarapé que vá pedir autorização ao governo para recolher esse minério? Defende a diminuição da burocracia para os índios recolherem suas próprias riquezas; pergunta se o pajé tem que pedir autorização para recolher as pedras que usa nos rituais de cura. ANDRÉ BANIWA – levanta a questão do minério que está na superfície do solo, se faz parte do usufruto exclusivos dos indígenas; questiona se os pajés, que usam pedras em suas cerimônias, têm que pedir autorização para o uso dos minerais; indignado, pergunta “onde está o nosso direito?” Concluído o primeiro bloco de intervenções o Presidente dos Trabalhos, Dep. PADRE TON, passa a palavra aos integrantes da Mesa para respostas e comentários. Dep. ÉDIO LOPES – afirma que a atividade garimpeira só será permitida às comunidades devido ao que saiu da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a TI Raposa Serra do Sol; diz que sua disposição é trabalhar para fazer uma lei que resolva problemas e não que complique ainda mais; os garimpeiros individuais terão que se organizar em cooperativa ou empresa se desejarem trabalhar profissionalmente, tanto em terras indígenas como em qualquer outro lugar; diz que não se pode sair com uma pá nas costas, escavando nas terras indígenas; sobre a questão da pobreza e da riqueza presentes nas comunidades, afirma que isso não pode ser mais tolerado no País; citou o exemplo dos índios Waimiri Atroari, que na opinião dele, são a suíça dos povos indígenas no Brasil,

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

devido aos repasses de uma mineradora; sobre o percentual a ser repassado para as comunidades indígenas, diz que gostaria de contemplar em seu relatório 25%, mas que isso não é possível devido aos elevados custos da extração que envolvem a atividade minerária em locais remotos; lembra que no Canadá os índios administram um Fundo com quase 1 bilhão de reais, advindos da atividade extrativa; argumenta que a defesa da cultura se faz com recurso também e lembra o caso dos índios do Alasca que, segundo ele, estão repatriando os restos mortais de seus antepassados. ELOI FRANCISCO ZATTI FACCIONI – representante do Ministério Público Federal – diz que precisa ficar clara a diferenciação entre o que é terra e o que é subsolo; em relação ao uso de pedras para fins culturais, entende que não há dúvida, que podem sim fazer uso; diz que a garimpagem nas terras indígenas será exclusiva dos indígenas e que isso precisa ser desburocratizar para não inviabilizar o acesso a um direito; sobre a questão da evasão de minérios para a Colômbia, lembra que a lei atual já não permite e mesmo assim está acontecendo; defende que este caso não se trata de falta de regulamentação mas sim de fiscalização; diz que o sucesso dos Waimiri Atroari é graças a competência dos gestores do programa e os recursos não vêm da mineração e sim da Eletronorte e adverte que o benefício termina em 2013; diz que o único caminho possível é a busca por soluções conjuntas, por meio do diálogo com os donos do problema, os interessados, que são os indígenas. Retomando as oitivas aos participantes, deu-se início a nova rodada de intervenções da plateia. Membro do Conselho Escolar da Escola Miguel Ágata – disse que na sua região os índios estão passando fome e não tem luz; propõe a realização de um plebiscito para decidir a questão; acha que não são somente os índios que querem a mineração; fala da falta de recursos para a saúde e a educação indígena, que o Luz para Todos não cumpriu as metas; credita o fracasso às três esferas de poder; ALVARO TUCANO – cumprimenta a todos – disse que um dia fundaram uma cooperativa e essa cooperativa requereu lavra mineral e que os ambientalistas foram contra porque, na opinião dele, esses atores não gostam de ver índio com dinheiro no bolso; lembra que um índio foi preso e ninguém apareceu para defendê-lo; “não precisamos de esmola de pessoas estranhas”; sugere parceria, não tutela; diz que os índios querem administrar suas próprias empresas; defende a “regulamentação já”. ANTÔNIO FERNANDES – Geólogo do DNPM – lembra que o art. 20 da Constituição Federal fala sobre bens da União; entende não ser conveniente fragmentar a regulamentação por tipo de minério; sugere a criação de um fundo reunindo minérios e gás.

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

JOSÉ ALVES – da Federação Nacional dos Garimpeiros – diz que o garimpeiro de 1989 não existe mais; estamos sendo conduzidos para formar cooperativas”; diz que a relação entre garimpeiros e índios sempre foi respeitosa; questiona “porque o garimpeiro branco não pode se associar aos índios para minerar em terras indígenas?” segundo ele, na prática garimpeira se deduz as despesas e o restante divide com o proprietário da lavra, neste caso a comunidade indígena; VEREADOR CATARINO – assegura que os índios estão aptos a escolher a mineração que querem; diz que os resultados são revertidos para eles mesmos; pergunta porque colocar um piso de 4% de participação na lavra se os índios podem fazer tudo; na sua opinião o papel do poder público é garantir os meios para qualificar os índios a formarem suas próprias cooperativas; entende que os índios devem defender com “unhas e dentes” o direito de explorar seus minério em parceria com empresas. JUVÊNCIO – indaga o porquê do Congresso Nacional estar interessado no projeto de lei que regulamenta mineração em terras indígenas diante de tantas outras coisas para fazer; MARIA ÉDNA DA SILVA TRINDADE – cumprimenta os presentes, primeiramente na língua materna e depois em português; diz que seu povo não tem medo do homem branco, nem das leis, tem medo sim é de ser enganado; pede mais tempo para discutir o PL com a comunidade, “lá dentro das comunidades”, com os que sofrem todas as consequências, “aqui na cidade é mais fácil”; “estamos falando de mineração por isso tem tanta gente aqui”, lamenta. PEDRO PAULO – diz que os índios estão tendo o que nunca tiveram, “gente do Governo Federal e do Congressos Nacional aqui nos ouvindo”; pede que seus parentes não tenham medo, “temos muita coisa”; diz que as decisões não podem continuar de cima para baixo; diz que o tempo para discutir acabou, que o povo está clamando por uma decisão logo. DANIEL IOURETÉ – defende que a regulamentação contemple a mineração artesanal; diz que os índios precisam fazer curso sobre o subsolo, tem dúvida sobre o que é solo e o que é subsolo “dizem que os índios só tem direito ao que está no solo”, e brinca: “então se a mulher branca entrar na minha terra ela é minha?” Risos. CARLOS FERRAZ – Acadêmico de Ciências Econômicas – diz que o índio se tornou escravo do dinheiro depois que aprendeu a usar produtos industrializados; que nas aldeias não tem mais peixe, por isso precisa de alternativa econômica; “o índio precisa de dinheiro para seu desenvolvimento”, disse que defende uma porcentagem justa para os índios se desenvolverem. CLOVES – diz que está vivendo um dia muito importante em sua vida; que “todo mundo fala em porcentagem, estamos perdendo para as grandes empresas”.

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

ROSANE TUCANO – Professora – diz que é muito interessante ver o rumo dos debates; sobre a questão da autonomia sente-se derrotada e pergunta: quando os índios vão ter sua autonomia? Porque a Comissão não veio antes esclarecer? “Nós vivemos na pobreza mesmo; cada ano é pior”; entende que a mineração é uma alternativa a se buscar; pede mais esclarecimentos sobre exploração mineral; LUIZ AGUIAR – diz que quer falar do seu sentimento; questiona porque a Comissão não convida lideranças indígenas para ir conhecer experiência em outros países sobre mineração em terras indígenas. CRISTIANE CAVALHEIRO - Assessora da Secretaria Municipal de Turismo – levanta a questão da falta de fiscalização abordada por uma painelista anterior; alega que na região não tem fiscalização; que há uma confusão de papéis entre os órgãos que deveriam cuidar do meio ambiente e dos indígenas; que não podem depender de operação anual para resguardar tanta riqueza, que chegam depois do dano causado; “quem respeita é quem está bem intencionado” e o turismo é uma excelente forma de captar recursos e pergunta: porque não se faz um debate como esse sobre turismo? GEOMÁRIO LEITÃO – elogia o fato de ter um procurador na Mesa; diz que é difícil encontrar um por lá; se diz pouco preocupado com o fato do garimpeiro ficar fora; diz que foi aprovado o Estatuto do Garimpeiro e este hoje está se organizando em empresa; afirma que como garimpeiro tem muito a oferecer ao índio; “pagamos os nossos impostos”. JOÃO PEREIRA TUCANO – “represento os que não têm nada nesta reunião”; diz que no passado falavam que os militares eram “bicho papão”, hoje somos amigos, deu certo; falavam do Calha Norte e muitas outras coisas que se mostraram diferentes; “não vamos resolver nada sem dinheiro”; diz que quem vai fazer a lei são os índios, cabendo à Comissão apenas escrever, “se não for assim não valeu”; diz que os índios estão preparados para a atividade mineral; e desabafa: “no capitalismo só vale quem tem dinheiro”. Dep. VERA CASTELO BRANCO – agradece a deferência da Comissão para com a Assembleia Legislativa; pede aos presentes que levantem a mão aqueles que são contrários à mineração, diante das poucas manifestações conclui que ninguém é contrário; diz que o problema são as dúvidas, que é cansativo discutir; se diz preocupada com a questão das empresas, “não se fala no indígena explorando suas próprias riqueza”; citou o problema da empresa Paranapanema e da Mineração Taboca, onde segundo ela, são cidades proibidas, “não se pode entrar lá, tem que buscar uma autorização na sede para entrar lá”, concluiu. ERNANE ABREU – diz que se falou em direito, mas os índios querem é que conste no relatório autonomia de gestão para os índios; defende que os índios têm capacidade para operacionalizar a atividade extrativa mineral;

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

“queremos que os povos indígenas tenham sua autonomia de gestão, na produção e comercialização”; “quero ver isso na lei”. MARIVALDO – Coordenador da Secretaria de Estado de Produção Rural – acredita que a vinda da Comissão foi de grande valia; “fiquei impressionado com o nível dos debates; questiona se é o momento de discutir mineração; diz que o governo está destinando menos recursos para as políticas públicas; pede ajuda da comissão para a questão do orçamento para as políticas sociais; “deveriam olhar com outros olhos, não só o econômico”. Concluída a última rodada de participações do público, o Presidente franqueou a palavra aos integrantes da Mesa para as respostas e as considerações finais. Dep. ÉDIO LOPES – Relator da Comissão – sobre a procura por um modelo estrangeiro, diz que a Comissão não quer isso, “estamos procurando referências internacionais e não copiar modelos”; lamentou que alguns participantes tenham nivelado os Deputados por baixo, que virou rotina falar mal de político no Brasil; afirma que a Comissão fez questão de vir passar um dia inteiro discutindo com os verdadeiros interessados e isso deveria ser reconhecido; entende que este trabalho não pode ser diminuído; diz que a Mineradora Taboca repassa mais de 150 mil reais por mês para os índios Waimiri Atroari; “não estou aqui defendendo empresa, quem não permite atuação de garimpeiro em terras indígenas é a Constituição, não eu”; gostaria muito que os povos indígenas pudessem bancar toda a mineração em terras indígenas, mas entende que isso não é possível devido à falta de investimento e conhecimento sobre a atividade; restringir aos índios seria condená-los a “viver da migalha mineral”; tem processo minerário que demanda viaduto, pontes, estradas, hidrovias, geração de energia, entre outros, para tornar viável a sua exploração. ELOI FRANCISCO FACCIONI – volta ao assunto dos Waimiri Atroari, diz que a situação deles exemplifica bem o medo falado pelas lideranças no Seminário; “esse povo quase foi dizimado na construção da estrada; a área ocupada pela Usina de Balbina foi excluída das terras deles; portanto, afirma, o caso deles não é exatamente um exemplo positivo; reitera a proposta de que após a feitura do relatório preliminar, este seja devolvido para discussão da comunidade; sobre a fiscalização, diz que precisa lutar para que o Ibama possa fiscalizar as terras indígenas, a FUNAI tem poder de polícia mas este poder não está regulamentado; precisa fortificar os órgãos de fiscalização; tem que discutir a sustentação econômica; a regulamentação é fundamental para discutir e fortalecer os órgãos de fiscalização. FRED CRUZ – agradece pelo evento; “hoje não podemos mais viver sem mineração, tudo o que usamos tem algum minério”; acha uma desumanidade prender um índio por mineração ilegal. JORGE GARCÊS – sugere que as organizações presentes se articulem para discutir uma forma de promover um esclarecimento sobre mineração para os

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)

povos indígenas, a fim de melhorar a compreensão sobre o assunto; diz que algumas questões não mudam, “não adianta ficar batendo nelas, precisamos assumir compromissos”; diz que o minério extraído não vai ficar em São Gabriel, mas que vai voltar na forma de bens para a cidade; que o papel das instituições é dar segurança aos índios para afastar o medo. Dep. PADRE TON – faz uma breve análise de conjuntura sobre a correlação de forças no Congresso Nacional em relação aos temas de interesse dos povos indígenas; diz que na Câmara há 513 Deputados e, apesar do grande número, não tem nenhum índio; é a “única minoria que não tem representação própria”; diz que nunca teve voto de índio e que, no entanto é quem defende os índios, que faz isso por humanismo, por solidariedade, mas não por voto; afirma que “a política só se resolve pela política”, “não adianta se afastar da política, se fizermos isso o poder econômico ocupa ainda mais o espaço da política”; esclarece que a pauta da Câmara é feita pelo Governo, em detrimento das prerrogativas da Casa, que deveria ter sua autonomia; como parlamentar estou pedindo audiência com a nova Presidente da FUNAI, disse que vai pedir para ela assumir a interlocução com o Congresso; avalia que o estatuto das sociedades indígenas não será colocado em pauta, porque há risco de piorar, de retroceder, de perder ainda mais direitos; desafiou os estados da federação que têm população expressiva de índios a elegerem um indígena para o Congresso Nacional nas próximas eleições gerais, para isso, orienta, tem que começar agora elegendo vereadores e prefeitos; diz que o governo fez uma opção pelos grandes projetos; agradeceu a todos os órgão envolvidos na preparação do Seminário, em especial a Foirn, a Força Aérea Brasileira, na pessoa do Cel. Aviador JOSÉ ROBERTO DE OLIVEIRA, Comandante da Base Aérea de Manaus, que forneceu a aeronave para o transporte da delegação, e à Polícia Federal. Em seguia, convidou o Presidente do Conselho da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, ABRAÃO FRANÇA BARÉ, para fazer o encerramento do Seminário. São Gabriel da Cachoeira/AM, 10 de maio de 2012

Dep. PADRE TON Presidente

Dep. ÉDIO LOPES Relator

CÂMARA DOS DEPUTADOS Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1610, de 1996, do Senado Federal, que "dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas, de que tratam os arts. 176, parágrafo primeiro, e 231, parágrafo terceiro, da Constituição Federal" - (EXPLORAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS EM TERRAS INDÍGENAS)