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RELATÓRIO DO SEMINÁRIO: Perspectivas e Potencial do Mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) no Estado do Pará 23 de março de 2009 Belém – PA

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Page 1: RELATÓRIO DO SEMINÁRIO: Perspectivas e Potencial do ... · A experiência do Programa ... o pagamento pela Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de ... do estoque

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23 de março de 2009 Belém – PA

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................3

1. OBJETIVOS.........................................................................................................................................4

2. METODOLOGIA ..................................................................................................................................4

3. ABERTURA .........................................................................................................................................4

4. PALESTRA INTRODUTÓRIA DO SECRETÁRIO VALMIR ORTEGA...............................................8

5. DEBATE I - REDD: TEORIA E PRATICA.........................................................................................14

5.1 PALESTRA 1: MARCOS TITO – IA/ICRAF .........................................................................................14 Perspectivas e Potencial de Aplicação do mecanismo de Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação (REDD) no Estado do Pará. ....................................................14

6. DEBATE II – INICIATIVAS E PROJETOS DE REDD NO PARÁ.....................................................20

6.1 PALESTRA 2: EDENISE GARCIA – TNC ............................................................................................20 Piloto REDD em São Felix do Xingu .............................................................................................20

6.2 PALESTRA 3: JUSCELINO BESSA - FUNAI ........................................................................................20 6.3 PALESTRA 4: ANDERSON SERRA – SAGRI/ PROGRAMA CAMPO CIDADÃO ........................................23

A experiência do Programa Campo Cidadão................................................................................23

7. DEBATE III – BIOMASSA E CARBONO, INCERTEZAS METODOLÓGICAS PARA O MECANISMO REDD..............................................................................................................................28

7.1 PALESTRA 5: PHILIP M. FEARNSIDE - INPA......................................................................................28 Biomassa e carbono: Incertezas metodológicas para o mecanismo REDD.................................28

7.2 PALESTRA 6: CARLOS SOUZA JR.- IMAZON....................................................................................28 Estimativa de Incerteza nas Emissões de Carbono de Desmatamento e Degradação Florestal: criando bases para projetos de REDD em Mato Grosso ..............................................................28

8. DEBATE IV – QUESTÕES INSTITUCIONAIS E TECNOLÓGICAS ................................................35

8.1 PALESTRA 7: PROF. DR. SHIGEO SHIKI/IE-UFU E MMA...................................................................35 REDD: Condições Jurídicas e Institucionais para Implementação ...............................................35

8.2 PALESTRA 8: RICARDO FIGUEIREDO - EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL. .............................................37 Ações da Embrapa Amazônia Oriental: A pesquisa agropecuária e o balanço de carbono em sistemas de produção....................................................................................................................38

9. MATRIZ COMPARATIVA DAS RESPOSTAS ÁS PERGUNTAS ORIENTADORAS......................48

10. AVALIAÇÃO FINAL ........................................................................................................................58

10.1 ALCANCE DOS OBJETIVOS .............................................................................................................58 10.2 INFORMAÇÕES SOBRE REDD INFERIDAS DAS RESPOSTAS DOS PARTICIPANTES ...............................58

10.2.1 Lacunas ..............................................................................................................................58 10.2.2 Gargalos .............................................................................................................................58

10.3 PARTICIPAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS .....................................................................59 10.4 PROJETOS-PILOTO PRIORITÁRIOS ..................................................................................................59 10.5 QUESTÕES LEVANTADAS E ENCAMINHAMENTOS PROPOSTOS: .........................................................60

11. FOLDER...........................................................................................................................................62

12. LISTA DE FREQÜÊNCIA – LOCAL AUDITÓRIO DO IDESP. DATA: 23DE MARÇO DE 2009. ..64

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APRESENTAÇÃO

Apesar do grande esforço do Brasil na conservação da Floresta Amazônica, o ritmo

de desmatamento ainda preocupa. Um dos custos do desmatamento é a emissão de gases de efeito estufa, especialmente o carbono, que provoca um desequilíbrio no sistema natural da Terra com consequências para o regime climático. Estima-se que dois terços das emissões anuais de carbono do Brasil provêm do desmatamento da Amazônia.

Concomitantemente, em todo mundo tropical, o pagamento por serviços ambientais (PSA) prestados pelas florestas tem sido considerado como uma alternativa de gestão ambiental promissora que protege esses ecossistemas e evita emissões ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, o pagamento pela Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD), uma modalidade de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), tem despertado bastante interesse por ser um mecanismo internacional que pode contribuir para diminuir as emissões por meio da compensação financeira aos países em desenvolvimento ou segmentos produtivos que mantiverem suas florestas. Contudo, o conceito de REDD ainda não é um consenso na comunidade internacional, não tem um formato estabelecido e sua implementação é complexa e pouco exercitada. Assim, é necessário que o corpo técnico dos órgãos com atuação no Estado e ligados a esse tema seja devidamente informado e treinado, aprimorando a massa crítica local e facilitando o diálogo com os atores envolvidos na implementação de projetos pilotos dessa natureza no Pará.

A realização do Seminário “PPeerrssppeeccttiivvaass ee PPootteenncciiaall ddee AApplliiccaaççããoo ddoo MMeeccaanniissmmoo ddee Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) no Estado do Pará” é uma contribuição nesse sentido, tendo como propósito inaugurar uma sequência de discussões sobre o REDD.

Desta forma, este relatório reúne o conteúdo discutido no seminário como forma de subsidiar e aprimorar os futuros debates e ajudar no encaminhamento destas questões em outros eventos relacionados.

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1. OBJETIVOS

O presente relatório tem os seguintes objetivos:

• Consolidar os momentos de debate após as palestras temáticas; • Consolidar as respostas às questões orientadoras postas durante o seminário; • Apresentar a avaliação pelo comitê organizador e recomendações para a organização da

agenda REDD no estado.

2. METODOLOGIA

Para garantir a memória dos debates do seminário, este relatório transcreve as

perguntas, repostas e comentários realizados após cada palestra. As palestras em PowerPoint encontram-se disponíveis no site da Sema e do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). O debate foi gravado e transcrito pela empresa IAECY e revisado pelos organizadores.

3. ABERTURA

Peter Toledo - Idesp

Iniciou a sua fala agradecendo a presença de todos e desenvolve o raciocínio sobre a lógica institucional em que o Idesp foi recriado. Esclarece que em parceria com as instituições de pesquisa, o Idesp deve fornecer informações para a sociedade paraense, em particular, aos tomadores de decisão e à academia, sobre questões que ajudem a refletir, discutir e até encontrar propostas e linhas de ação vinculadas ao desenvolvimento do estado.

“Desde o ano passado, já foram realizados pelo menos vinte e cinco seminários neste formato. Em todos eles foram convidados para os debates conhecedores do tema, e, na sequência, foram produzidos documentos orientadores na linha da busca por mais informações.

Este, sobre o REDD, já nos mostra desde o início, que ainda estamos muito longe de dominarmos esse mecanismo. A academia ainda está buscando entender a questão, de modo que a Ciência e a Tecnologia possam auxiliar na estruturação de políticas públicas que busquem garantir a floresta em pé.

Este debate de hoje é importante porque podemos trazer a visão, mesmo que preliminar, sobre este mecanismo juntamente com o que vem sendo feito pelas ONGs e o Estado, que no momento atual precisa se posicionar sobre o tema.

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O estado do Pará é parte importante neste processo, no qual o REDD está incluído. Isto porque grande parte do território amazônico está sob o controle deste estado que, devido à sua atuação na conservação ambiental, torna-se um jogador de elevada importância neste assunto de REDD.

Assim, o que queremos de vocês é que aqueles que tiverem contribuições aproveitem este dia de hoje, pois será muito importante para que o Estado do Pará poder tomar consciência do que está acontecendo e a partir disso, estabelecer a diretriz e definir política pública para este tema.

O que espero deste evento, mesmo que organizado rapidamente com a colaboração do Idesp, Sema, TNC, Embrapa, Museu Goeldi e Uepa, é podermos equilibrar o conhecimento existente, considerando inclusive a presença o Phillip Fearnside, que é o pesquisador mais citado da Amazônia sobre este assunto.

Agradeço a participação de todos e desejo um bom trabalho que espero ser condensado em um relatório com recomendações ou linhas de trabalho sobre esse importante tema”. Edenise Garcia - TNC

Agradeceu o interesse e a presença de todos no evento. Afirma também que esta engrenagem entre os diversos setores da sociedade será muito importante para a implementação dos Projetos de REDD no Pará e no Brasil.

Na oportunidade, esclarece que a TNC percebe os projetos de REDD como interface entre os interesses relacionados às mudanças climáticas e à conservação.

Esclarece também que a TNC considera que a floresta terá um papel importante a ser considerado no quadro das Nações Unidas para a Convenção das Mudanças Climáticas, e a oportunidade das instituições presentes discutirem este tema será muito importante para tal Convenção. Norma Ely Beltrão - Uepa Na oportunidade, informou que a Uepa mantém um curso de engenharia ambiental há 10 anos formando anualmente de 30 a 40 profissionais,’ comprometidos com as questões regionais e dedicados à tarefa de encontrar as soluções para as questões de relacionamento entre o homem, a tecnologia e o meio ambiente.

Informou também sobre alguns cursos de pós graduação latu sensu que serão lançados pela Uepa e que os novos doutores contratados estão ajudando a escrever uma nova maneira de educar na UEPA, em especial o Centro de Ciências Naturais e Tecnologia.

”Assim, com o objetivo de intervir, através da tecnologia, na problemática ambiental do Pará, é que a Uepa está envolvida com a questão do pagamento por serviços ambientais PSA”.

Informou que nesta linha, a Uepa realizou no ano de 2008 o 1º Seminário Estadual de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais, em parceria com a SEMA e o Idesp, onde certamente alguns dos presentes participaram, e adianta que já estão se preparando para a realização do 2º Seminário.

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Informou também que a UEPA mantém uma parceria com a EMBRAPA e que a intenção além de contribuir e também aproveitar a oportunidade para ouvir, principalmente os pontos de vista, a respeito desta temática de PSA e de como estes pontos de vista podem ajudar na conservação das florestas. Milton Kanashiro - Embrapa

Inicia sua fala informando que, do ponto de vista institucional, em relação ao tema do seminário, a participação da Embrapa está diretamente relacionada às tecnologias que medem os balanços de carbono nos diferentes sistemas de produção, o que é interessante para toda esta discussão. Espera que estas tecnologias possam contribuir para a diminuição das emissões.

Informou que a Embrapa mantém um projeto nacional chamado Agrogases que está relacionado ao controle da emissão de gases associados às práticas agrícolas e outro projeto de Serviços Ambientais.

“Em nível local, a Embrapa Amazônia Oriental está trabalhando em várias tecnologias de não uso do fogo. Com estas tecnologias já se tem calculado a contribuição do uso do “não fogo” para o efeito estufa”. Além dessas ações, a Embrapa também trabalha com tecnologias de manejo florestal. Entendo que no momento o manejo não entra na discussão como atividade que contribui com o balanço de carbono, mas percebo que através da existência da política legal de utilização das Florestas Públicas (em sua maioria na Amazônia), as tecnologias modernas de manejo com georreferenciamento das árvores serão também utilizadas como ferramenta para o balanço de carbono. Do ponto de vista instituciona,l a Embrapa está envolvida em desenvolver tecnologias que sejam utilizadas pelo setor produtivo, de modo a que a redução de emissões sejam significativas”. Ima Célia Guimarães Vieira - MPEG

“É uma satisfação que o Museu esteja participando, como uma das instituições organizadoras deste evento, principalmente porque possui uma agenda científica já consolidada em diversas áreas de conhecimento e tem acompanhado as discussões recentes sobre mecanismos como este, como a fragmentação das florestas e a degradação. É importante verificar que finalmente um mecanismo como o REDD parece se incorporar num acordo internacional sobre clima. Existem algumas discussões científicas colocadas a respeito da viabilidade do REDD, que certamente o Dr. Phillip Fearnside e outros irão explanar hoje, sobre a adicionalidade, vazamento e permanência. Mas gostaria de reforçar duas questões importantes associadas: uma é o monitoramento e a avaliação do estoque de carbono que não é fácil de se fazer, e o Phillip vai demonstrar várias equações a respeito. E outra é a questão da degradação, que não é um conceito fácil de ser definido, que pode ser percebido de formas diferentes pelos pesquisadores ou pelo setor produtivo, indicando a necessidade de se chegar em um acordo sobre o conceito mais apropriado de degradação florestal.

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É fácil afirmar conceitos sobre corte raso de florestas, mas sobre degradação florestal não é simples. O Inpe já está se dedicando a este tema, principalmente quanto à extração seletiva de árvores. Porém existem outros fatores que tornam uma floresta degradada, tais como incêndios florestais, focos de queimada, que são sérios.

Outra questão de cunho social será de como realizar o PSA estabelecendo um mecanismo justo de REDD. Acredito que esta seja uma questão social importantíssima porque se ficarmos atrelados ao imediatismo do mercado, certamente cometeremos uma injustiça enorme, pois um setor será beneficiado, e nós sabemos qual é. E o setor extrativista que tem uma trajetória mais correta em sua relação com a floresta, mantendo-a em pé, e que tem inclusive participado do PIB como o Peter colocou aqui, poderá não ser beneficiado. Então, as questões científicas e esta questão social, de como fazer o pagamento justo e direto, devem permear esta discussão e outras que venham a ser identificadas. Desejo uma reunião proveitosa e estarei aqui na maior parte do tempo porque estas questões particularmente me interessam, como pesquisadora, e esperamos poder colaborar nessa parceria com as outras instituições que mais uma vez demonstram estarem preocupadas com os destinos deste estado”. Valmir Ortega – Sema

“Com muitas dúvidas e incertezas, este tema do REDD é a ordem do dia em que todos estão discutindo quais os caminhos para se construir espaços necessários a fim de que se estabeleça mais do que um mecanismo, que se estabeleça uma estratégia associada aos produtos da floresta, de forma que se ingresse de forma sistemática no mercado de carbono, coisa que até agora não aconteceu.

Neste seminário, mais do que apresentar soluções ou propostas pontas, o que esperamos é um momento de reflexão em que possamos colher contribuições que nos ajudem a formar posição, que oriente o governo, que as instituições científicas indiquem as lacunas e orientem os desafios a serem alcançados.

No mês que vem, haverá um Seminário Importante do Katoomba em Mato Grosso, que é uma rede que trabalha com serviços ambientais, e obviamente entre estes serviços certamente está o REDD e o mercado de carbono. Este evento terá um forte peso político: os Governadores da Amazônia foram convidados, nós estaremos lá e será importante a contribuição deste seminário.

Vários outros eventos acontecerão culminando com a Conferência das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas, em Copenhagen, que se pretende seja um marco na geração de um novo protocolo que substitua o de Kioto a partir de 2012.

Portanto, este ano é um marco nas discussões sobre clima e mecanismos de redução de emissões, e espera-se neste espaço contribuições neste sentido”.

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4. PALESTRA INTRODUTÓRIA DO SECRETÁRIO VALMIR ORTEGA

“Esta fala foi solicitada muito menos para falar em REDD, mas sim para fazer uma

reflexão do que o governo, através da Sema, esteja fazendo em relação a este tema. Na oportunidade, pretendemos falar também sobre aquilo que estamos inserindo no debate para formação de uma posição sobre REDD.

A mudança na Gestão Ambiental Nacional iniciou no começo de 2006, com a Lei de Florestas e, aqui no Pará, baseado nesta lei, no final de 2006, foi assinado o protocolo de transferência da Gestão Florestal da esfera federal para a esfera estadual.

A partir de 2007, esta mudança veio se consolidar dentro do novo governo, já com uma nova equipe, tornando-se consequentemente um marco na mudança da Gestão Ambiental no Estado do Pará.

Este marco ficou caracterizado pelo módulo de gestão florestal que vem exigindo do estado um esforço muito grande em sua estruturação, e que, por sua vez, vem acompanhado pela parceria com o Ibama (que fazia a gestão florestal anteriormente).

Entretanto, esta tarefa passa a ocorrer associada a um grande esforço da União desde 2004 na busca de uma solução contra o desmatamento.

Assim, a partir de 2007, o governo do Pará entra na Gestão Ambiental em uma tarefa

muito além do combate ao desmatamento, que é regrar, regular, disciplinar, fiscalizar, controlar, autorizar todos os atos na concessão de uso da madeira e das florestas através dos planos de manejo.

Este esforço tem tido um custo político e econômico para a sociedade, considerando inclusive que o número de funcionários da Sema dobrou em 2007 e o orçamento de 2009 é cinco vezes maior, isto como parte do esforço que o governo tem feito para criar uma infra-estrutura capaz de dar resposta à gestão florestal.

Assim, iniciamos uma agenda na área florestal que fosse capaz, de um lado, de combater a degradação e o desflorestamento ilegal e, por outro lado, disciplinar o uso sustentável de nossas florestas. Então, o primeiro desafio que buscamos enfrentar foi entender o tamanho do problema, isto porque em nossas experiências anteriores, ainda na direção do Ibama, pudemos concluir que o combate apenas pela coerção é insuficiente. Mas precisávamos entender porque que é insuficiente, qual é realmente o tamanho do problema e quais as outras áreas que temos que enfrentar.

Desde o primeiro plano de combate ao desmatamento, em 2003, o governo incluía a regularização fundiária e o ordenamento territorial como estratégia de combate ao desmatamento; e também a introdução de atividades sustentáveis, geração de uma nova economia de base florestal que fosse capaz de conter a degradação da floresta e mais um conjunto de temas associados e capazes de conter o desmatamento ilegal e de impedir a degradação da floresta. De 2003 para cá, conseguimos diminuir pela metade os índices de desmatamento, mas infelizmente não conseguimos avançar em outros temas, tais como regularização fundiária e criação de instrumentos diferenciados como incentivos econômicos, em escala para enfrentar o desmatamento.

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Os estados avançaram de forma diferenciada. O Pará aprovou o ZEE de uma

parcela e o estudo de outra parcela do Estado continua. Outros estados não estão avançando na mesma velocidade, gerando uma situação bastante diferenciada. Mas ainda não chegamos a avançar no tema da geração de atividades econômicas que sejam capazes de competir com a degradação ambiental.

Fizemos uma conta grosseira, onde a economia da degradação ambiental deve mobilizar por ano algo em torno de dois bilhões de reais e deve envolver algo em torno de 250 mil pessoas na geração de renda diretamente ligada a atividades ilegais, tais como produção de carvão, extração, transporte e beneficiamento de ilegal de madeira, desmatamento para implementação de pastagem.

Portanto, enfrentar este problema não significa aumentar o numero de policiais, de fiscais da Sema, coordenar fiscalizações com Ibama e demais parceiros, mas significa enfrentar o grande desafio de colocar no lugar algo do mesmo tamanho que permita migrar esta quantidade de pessoas para atividades alinhadas com a conservação da floresta.

Em conjunto com outras instituições procuramos encontrar pistas de como enfrentar este desafio. Para isso, e nesta escala, estamos desenvolvendo, como forma de trabalhar tais extremos, o Programa Um Bilhão de Árvores para a Amazônia, sendo este uma forte indução ao reflorestamento, à restauração florestal e ao aumento da reserva legal como atividade produtiva. Esta então pode ser uma das grandes obras na escala em que precisamos atuar. Certamente não será a única e estamos utilizando todos os recursos políticos para que ele seja viável na escala e na velocidade em que estamos falando.

Por outro lado, finalizaremos agora em abril o Plano Estadual Contra o Desmatamento, onde desde 2007 viemos trabalhando na melhoria de instrumentos de gestão florestal. Esperamos com este Plano Estadual avançar para além da ação da Sema, ou seja, coordenar o conjunto de ações que o Estado já vem fazendo pelas demais secretarias, tais como ações na área de produção, agricultura, pecuária e ações ligadas à área ambiental. Coordenar também ações com outras áreas de governo e, sobretudo, pactuar estas ações de governo com a sociedade. Significa dizer que este Plano Estadual contra o Desmatamento seja um instrumento pactuado com a sociedade, não apenas estes representados aqui, mas sobretudo o setor produtivo, que é um ator ativo na degradação.

Que na construção deste Plano possamos sentar com o setor produtivo e estabelecer metas de redução e alternativas produtivas menos agressivas à floresta. Portanto, pretendemos em abril apresentar esta primeira versão do plano e que vai conter instrumentos de mercado do carbono como uma das possibilidades a serem avaliadas para apoiar o financiamento.

Estou me referindo a tudo isso porque, neste contexto, visualizamos duas grandes oportunidades para o estado do Pará. Primeiro a oportunidade de entrada no mercado de carbono já estabelecido como MDL (sigla para Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), que, infelizmente ,ainda não consegue competir com as outras atividades que se utilizam deste recurso, evidenciado pelo numero de projetos aprovados em MDL, que é muito pequeno, seja pela complexidade das metodologias de avaliação, certificação, permanência desses créditos, ou pela necessidade de monitorar e assegurar se realmente este carbono está sendo armazenado. Ou seja, é muito mais fácil pagar pela redução de emissões de uma termoelétrica movida a carvão vegetal suja, chinesa, do que por um projeto de reflorestamento, seja pela complexidade ou outro conjunto de fatores.

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Mais do que nunca, entre outros debates globais, este tema será muito fortemente discutido em Copenhagen. A pergunta chave será como tornar projetos de MDL mais competitivos frente aos projetos de outras áreas como a industrial, seja desenvolvimento de novas tecnologias ou de novas estratégias de apresentação destas florestas no mercado formal.

Estivemos em São Paulo debatendo a metodologia para certificação de créditos de Florestas Protegidas. Esta metodologia se aplica a restauração de APP e de Reserva Legal e foi desenvolvida através de uma parceria com pesquisadores brasileiros e empresas de energia do Centro Sul do país. No momento estamos avaliando esta metodologia para ofertá-la no âmbito do Programa Um Bilhão de Árvores, dentro das estratégias de restauração florestal.

Os programas de restauração florestal, associados ao Programa Um Bilhão de Árvores, podem se configurar numa grande oportunidade para o Estado do Pará ingressar, tanto no mercado formal de MDL como no mercado voluntário, que vai além do que foi estabelecido no protocolo de Kyoto.

O Pará tem outra oportunidade. Em todas as discussões sobre REDD, o Pará está fortemente inserido pelo simples fato da metade do desmatamento de toda a Amazônia Brasileira, ou seja, a maior área de remanescente florestal exposta na Amazônia, ocorrer neste estado. Portanto, os maiores esforços para conter o desmatamento nos próximos anos serão no Estado do Pará

Diferentemente dos estados do Mato Grosso e de Rondônia, onde as florestas remanescentes estão em unidades de conservação ou reservas indígenas, o estado do Pará possui cerca de 15 a 20 milhões de hectares em florestas pressionadas, sem ainda uma destinação de uso, quer sejam Unidades de Conservação, Terras Indígenas, Uso Comunitário ou qualquer outro uso. Essas florestas estão fortemente pressionadas pela frente de expansão, baseada na grilagem, desmatamento ilegal e uso dos recursos naturais de forma predatória. Além disso, mesmo as áreas que já tem destinação continuam sendo pressionadas por essa forma de exploração.

Portanto, temos obrigação de refletir e buscar caminhos de como proteger essas florestas e o debate sobre REDD se insere muito nesta dimensão. Estamos com os índices de desmatamento extremamente altos e qualquer debate de REDD no Brasil tem que levar isto em conta. E, portanto, o Pará será parte fortemente ativa neste debate e, portanto, precisamos definir como se daria esta participação.

Em todos os debates sobre REDD que temos participado, todos estão convencidos que será necessário buscar, pela Convenção de Clima, ferramentas e mecanismos para valorizar as florestas, seja através de MDL seja através de REDD, que, no último ano, virou um debate obrigatório em qualquer discussão sobre a Convenção de Clima ou sobre a Floresta.

Todos os países estão discutindo e muitos buscando soluções, experiências e ensaios, e hoje teremos várias palestras que apresentarão estes temas, e ainda existem muitas incertezas, muitas inseguranças, e portanto é provável que a Convenção de Copenhagen vá ter uma resolução simpática ao REDD e à floresta. Mas, é muito pouco provável que se saia de Copenhagen no final do ano com uma ferramenta reconhecida ou estabelecida como efetiva.

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Fazendo um exercício de ‘futurologia’, o máximo é que saia uma recomendação de que os países invistam em pesquisas, iniciativas ou experiências, façam ensaios para que algum dia tenhamos mecanismos reconhecidos.

Neste caminho, muita coisa já vem sendo feita, e o Shigeo do MMA vai falar à tarde e certamente vai falar sobre o Fundo Amazônia que, muito embora, não queira receber o carimbo de REDD, não vai deixa de inserir o Brasil no debate de REDD. Foi também uma forma do MMA enfrentar o Ministério das Relações Exteriores no desafio de obter investimentos externos para conter o desmatamento na Amazônia e utilizar, como referência, o esforço na redução do desmatamento associado à redução de emissões de carbono. Muito embora o Fundo Amazônia não seja um mecanismo de comercialização de créditos de carbono, ele o usa como referência para atrair investimentos no esforço que o Brasil vem fazendo na redução do desmatamento e no impacto que isso tem nas emissões.

Vale lembrar que, por uma cultura de soberania do Brasil, sobre seu território,

qualquer mecanismo internacional que vise restringir o uso do território, deixa o governo e o Ministério das Relações Exteriores aterrorizados. E o REDD vem de encontro a esta cultura, e este é o primeiro impacto. Esta forma como o Brasil encara a soberania certamente afetará o futuro de como será tratado este mecanismo.

Um segundo aspecto que afeta esta questão é o fato de países em desenvolvimento,

como Índia, Brasil e China, começarem a se comprometer com metas de redução. Isso foi muito presente na última COP e continuará presente nesta próxima em Copenhagen.

Semana retrasada, estivemos num evento no Japão organizado pela Jica e pelo

Ministério das Relações Exteriores Japonês, onde estiveram vários brasileiros da área de energia e floresta, e várias instituições de pesquisa japonesas. E, em vários momentos, ficou clara a posição do governo japonês, que representa diversos países desenvolvidos, de que os países em desenvolvimento, sobretudo aqueles que tem maior impacto presente na geração de emissões, possam assumir metas e compromissos. Talvez não se consiga validar esta posição nesta COP 15, mas a pressão vai continuar muito forte.

A posição do Brasil é de que todos os países do mundo tem responsabilidades

comuns em relação à redução do desmatamento, ou seja, é uma atividade onde todos os países tem que desenvolver. Mas essas responsabilidades são diferenciadas e é esta diferença que o Brasil e os outros países em desenvolvimento defendem, sobretudo sobre as emissões históricas, ou seja, quem tem mais emissões históricas acumuladas ao longo dos séculos tem maior obrigações presentes. Isto, portanto, é uma forma de garantir que aqueles países que tem maior emissões presentes, mas que tem baixíssimas emissões históricas, tenham uma maior folga para não se submeter a metas e, dessa forma, não comprometer o desenvolvimento. Desta forma, não compromete o esforço que estes países estão fazendo para sair da miséria.

Este é um ponto que o Brasil vai continuar reforçando, para que não tenha metas

estabelecidas de redução de emissões, mas sim que os países em desenvolvimento possam apresentar metas voluntárias, setoriais ou não, e que ofertem isso como estratégia global de redução de emissões.

E o Brasil já sinaliza que está neste caminho quando, a partir do Fundo Amazônia e

do Plano de Mudanças Climáticas aprovado no começo deste ano, estabelece setorialmente para a floresta a redução do desmatamento em 50% até 2017. Este é o paradigma para o protocolo da COP 15, ou seja, meta voluntária, meta setorial e, sobretudo, a partir de um instrumento não formalizado de pactuação de financiamento, de busca de benefício como o

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Fundo Amazônia que visa capturar doações voluntárias, não vinculadas a um volume efetivo de carbono ou ao pagamento de um volume efetivo de carbono.

Este é o cenário que temos visto nas discussões. O estado do Amazonas e do Mato Grosso tem trabalhado fortemente nos últimos

meses para tentar desenhar uma estratégia estadual de REDD. A experiência mais avançada é a do Amazonas, com o Bolsa Floresta, com o Projeto Juma. Isto como estratégia de reduzir desmatamento e consequentemente emissões em unidade de conservação, associando a estas reduções o benefício às famílias destas unidades de conservação, basicamente reservas de desenvolviment sustentável. Esta estratégia tem tido sucesso e se enquadra no REDD na busca de financiamento para a redução do desmatamento, intercambiando metas de redução de emissões. O Mato Grosso vem incluindo na discussão como inserir grandes produtores, tais como de soja, algodão, milho, nos mecanismos de redução do desmatamento, onde se pudesse premiar estes produtores rurais pela não degradação.

Diferentemente dos outros estados da Amazônia, no Pará acreditamos que é muito

cedo para apostar em um caminho único de REDD, seja algo parecido com a Bolsa Floresta ou prêmio a produtores rurais. Estamos apostando que é o momento de fazermos um conjunto de experimentos, parcerias e iniciativas que sejam capazes de gerar conhecimento para que no futuro próximo, quando este tema de REDD estiver melhor posicionado no globo, nós tenhamos aqui um acúmulo maior de experiências e, para isso, estamos fechando parcerias com diversas instituições. Já fechamos com a TNC para desenhar um projeto piloto de REDD com enfoque regional num território que tivesse diversos tipos de uso da terra, tais como uso intensivo, áreas protegidas, pequenos produtores. Assinamos com a CI um protocolo também para tocar um projeto piloto de REDD e, neste caso, mais focado em áreas protegidas.

Assinamos também um Memorando de Entendimento com três estados americanos,

dois estados da Indonésia e quatro estado brasileiros (Amazonas, Pará, Amapá e Mato Grosso). Neste documento, pactuamos mecanismos de redução de desmatamento muito focados na expectativa de que os estados americanos devem reconhecer o pagamento pelo desmatamento evitado.

Dez estados americanos já desenvolvem mercados regionais de créditos de carbono

através de leis e iniciativas estaduais e também de experimentos piloto. Isto mostra que já existe um mercado americano, mesmo que o governo não tenha assinado o Protocolo de Kyoto. Estes dez estados vem desenvolvendo há vários anos metas e mercados associados a essas metas. A novidade é que a Califórnia, Illinois e Wisconsin estão dispostos a experimentar, no âmbito deste mercado já estabelecido entre eles, a possibilidade de comercializar crédito por desmatamento evitado.

Este Memorando de Entendimento inclui o espírito de desenvolver metodologias,

oportunidades de projetos de redução de desmatamento com estratégia de cooperação e parceria sub-nacional. Neste documento, ficou claro que os trabalhos não vão concorrer com aqueles que os governos federais estejam fazendo e, obviamente, que todos os estados envolvidos reconhecem que os assuntos internacionais são geridos pelas Relações Exteriores através de seus ministérios respectivos. Entretanto, estes estados reconhecem também que não podem esperar ou aguardar passivamente que se construam mecanismos de cooperação nacional e que há oportunidade e espaço para que, neste ambiente sub-nacional, se possa estabelecer mecanismos de cooperação técnico-científica para desenhar experimentos e iniciativas comuns que sirvam como elemento de aprendizado e de

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acúmulo, para quando forem reconhecidos mecanismos e pactuados pelo Protocolo Climático estes estados estejam melhor posicionados e qualificados para se inserirem neste debate.Além disso, para que estes estados possam também estar presentes na mesa de negociação.

Já estamos com uma agenda de trabalho e devemos em abril ou maio fazer uma

rodada de negociação aqui no Brasil, em setembro uma na Califórnia e, em dezembro, uma reunião paralela em Copenhagen com os nove estados para apresentar essa iniciativa de sermos um espaço de negociação e experimentação que ajudem na reflexão do mecanismo REDD. E, lógico, em hipótese nenhuma se pretende concorrer com os espaços nacionais, concorrer com os países, mas sobretudo permitir que os mecanismos sub-nacionais tenham uma participação mais próxima à mesa de negociações.

Esta é a nossa expectativa e estamos, pela SEMA e outros órgãos estaduais,

abrindo várias frentes de negociação que sejam espaços de cooperação, aprendizado e experimentação, que permitam ao estado do Pará estar melhor qualificado e posicionado nas negociações atuais e futuras, e este seminário de hoje se insere muito nesta linha para ampliar os espaços de discussão e negociação. Muito Obrigado”.

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5. DEBATE I - REDD: TEORIA E PRATICA

5.1 Palestra 1: Marcos Tito – Iniciativa Amazônica/ICRAF

Perspectivas e Potencial de Aplicação do mecanismo de Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação (REDD) no Estado do Pará.

Marcos Tito realizou a sua apresentação enfocando conceitos e questionamentos a

respeito de:

• Conceitos Básicos de REDD • Porque REDD? • Estoque de Carbono • Carbono na Vegetação Florestal • Qual é o volume de Gases Efeito Estufa (GEE) emitido a atmosfera pelo

desmatamento? • Calculo de Emissões REDD • Projeto Makira, Madagascar • Como criar um mecanismo REDD internacional? • Como estes temas são discutidos? • Discordância entre aspectos metodológicos • Histórico REDD nas negociações da UNFCCC • REDD: entre Bali e Copenhague • Conceito de adicionalidade • Conceito de fugas • Projeto de Ação Climática desenvolvido no Parque Nacional Noel Kempff • As florestas continuarão de pé durante todo o período do projeto? • Conceito de (não) permanência • Quais são as opções para tratar os riscos relacionados ao tema das fugas e

permanência? • Como deve ser o monitoramento do desmatamento? • A que escala deveria REDD ser implementado? • Aspectos sociais • Aspectos Ambientais • Aspectos financeiros • Aspectos institucionais e legais • Condições necessárias para Amazônia • Precondição Cultural • Precondição Institucional • Algumas conclusões

o O mecanismo REDD dependerá da integração dos setores: ambiente, econômico, sociedade, planejamento; o O mecanismo adotado provavelmente será uma combinação de componentes das diferentes propostas;

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o Nada relacionado com o mecanismo REDD está decidido, mas se espera ter um marco referencial na COP 15 em Copenhague em dezembro de 2009; o Temos tempo para desenvolver posições nacionais e internacionais, mas devemos fazer em breve (junho 2009); o Possuímos experiências coletivas que podem contribuir para criar um mecanismo efetivo e justo.

Após a apresentação iniciou o momento dos debates de acordo com as seguintes

informações: P - Magno Macedo - Idesp

“Devido às complexidades da Amazônia, é difícil replicar modelagem ambiental de outras áreas. A partir das experiências em Madagascar e Costa Rica, quem são os beneficiados pelo PSA nestes lugares, foram os produtores de grande escala ou pequena escala?

Argumento que a ideia que foi passada é que são necessárias áreas em grande escala e, no Brasil, nesta escala, as áreas pertencem a grandes produtores. Além disso, não se pode esquecer que a Amazônia tem um grande problema que é a pobreza. Então como é que podemos fazer este link para o PSA chegar a essas pessoas que realmente estão precisando em pequena escala?”. R - Marcos Tito - IA “Fazendo referência à apresentação e citando a minha experiência na Costa Rica, esclareço que sair de um contexto como na Costa Rica, onde a situação da terra é regularizada e onde as legislações de fato são cumpridas, e chegar a um contexto diferente como o do Brasil para fazer com que esse mecanismo aconteça, é realmente desafiador.

Quero fazer um pequeno parêntese: esse mecanismo procura sempre, de alguma forma, beneficiar os pequenos produtores. Não é possível falar de REDD sem entender todo o histórico do MDL, por isso, dei também este enfoque na apresentação.

É importante dizer que o MDL, quando foi proposto - e muito poucos sabem que só um por cento de toda a negociação de cada país pode ser utilizado em créditos de floresta –para funcionar de forma reduzida, acho que é uma questão de avanço do mecanismo em si, que continua avançando e sendo discutido como mecanismo de REDD. Porém, levando em consideração que é uma questão que avança passo a passo.

Voltando à questão social, eles lá na Costa Rica definiram que não seria um mecanismo para grandes produtores, definiram um valor e uma área máxima que cada um poderia receber. Além disso, definiram que também um grupo de produtores poderia receber e, hoje, isso é possível com o MDL, pois já existe uma metodologia mais simples de ser aplicada para pequenos produtores, metodologia essa com valores de custo de transações menores. Então percebemos que a tendência do mecanismo REDD é aprender e aperfeiçoar isso tudo que está sendo discutido nesses últimos cinco anos e experimentar na prática também para a área social. Certamente que não deve ser perdido de vista este foco de se beneficiar as pessoas”.

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P – Jonas Veiga - Idesp

“Solicito ao Marcos que se aprofunde um pouco mais sobre os mecanismos para compensar a renúncia de desmatamento dos produtores, com base nos custos de oportunidades.

Tenho visto que os custos de oportunidades normalmente calculados são para os ‘grandes’ usos da terra, como pecuária e soja, mas os pequenos produtores tem outros sistemas diversificados que muitas vezes não estão sendo considerados.

Solicito também que comente um pouco a necessidade de regularização fundiária como base para negociação”. R – Marcos Tito - IA “A questão fundiária é fundamental, como eu tratei ai no final da palestra. É quase impossível que alguém esteja disposto a pagar por algo quando você não pode garantir a permanência da floresta.. Então, não é só a existência da lei ou do titulo de propriedade da terra que garante por si só a entrada no mercado de REDD. O mecanismo tem que existir para agregar isso aí, mas, tendo pelo menos a titularidade da terra, definindo-se o dono da terra ou quem tem o direito de uso da terra, já é um caminho.

Como um exemplo do que estou comentando, eu destacaria o caso do Peru. Eu

participei da mesa de REDD lá no Peru, e essa discussão é muito forte lá. Em boa parte do território peruano, o sistema é de uso da floresta em áreas do governo (concessão de uso), ou seja, a pessoa tem o direito de explorar aquela área durante alguns anos, e isto vai acontecer também no Brasil. A questão é: nessa área, quem recebe o crédito - o governo ou a pessoa que está com direito de uso? Então o importante é saber quem vai ter esse direito.

Quanto ao custo de oportunidade, mostrei uma primeira área de estoque de carbono, e no segundo mapa onde existia maior pressão. A maior pressão traduz então que os valores da terra são maiores e o maior estoque de carbono está exatamente em áreas onde não existe maior pressão.

Então é meio complicado dizer que ao mesmo tempo em que se tem um custo de terra muito alto, você deveria receber, pelo mecanismo de crédito, um valor muito alto para poder fazer eficiente este mecanismo. Ou seja, não adianta o governo da Amazônia pagar R$ 50, R$ 100 por mês como crédito, onde tem pessoas oferecendo muito mais para que eles desmatem. Isso é um pouco contraditório, mas eu quero dizer que a gente vai ter que levar em consideração esses diferentes custos de oportunidades da terra para que se analise a forma como vai ser distribuído este valor.

Eu acredito que, com a experiência que tive na Costa Rica, esse valor não deva ser igual para todos e, sim, se deve considerar o valor real da terra.

Eu não sei se era isso que o senhor gostaria de saber, mas isso torna o mecanismo mais complexo, mais difícil de fazer funcionar. É mais fácil fazer como na Amazônia, que estipula um valor para todos e se distribui esse valor, mesmo que para receber esse valor seja mais custoso e difícil, em termos de deslocamento, para o beneficiado”.

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P - Armindo Felipe - Prefeitura de Paragominas

“Nesse REDD entrariam incluídas as APP e reserva legal?

Esclareço que, por lei, já é obrigado o produtor manter a reserva legal, e neste caso, seriam eles também beneficiados? E o Estado e a União? Por suas unidades de conservação, seriam também beneficiados com esse REDD? Aproveito e estendo mais um pouco, sobre a questão das invasões de terras que estão acontecendo muito aqui no estado do Pará, que propostas podemos levar para Copenhagen?

Cito que aqui pertinho, no Apeú, em uma Fazenda houve uma invasão e pelo que estamos observando há muita morosidade na resolução destes problemas.

Esclareço que o produtor rural já fica no gargalo no uso legal dos seus 20%, e ainda tem sua área ameaçada pelo MST, que invade, e ainda queimam as reservas legais”. Intervenção de Valmir Ortega - Sema

“Sobre esse clima de invasões de terras muito já se discutiu. Primeiro, o que todos nós desejamos é enfrentar a questão da situação fundiária. É inadmissível que nós estejamos em pleno século XXI e tenhamos imensas áreas no território do Estado que são tratadas como sendo terras do governo Federal, esse é o principal problema.

O Estado Brasileiro tem que se preparar para o que é dele, e o que é terra pública, federal e estadual. Nós temos que destinar, seja para unidades de conservação ou para florestas federais e estaduais, para concessões ou para uso dos comunitários que estejam lá, o que for apropriado. Este é nosso primeiro desafio.

E o segundo grande desafio é que não basta só fazer o esforço para a regularização fundiária, porque a minha preocupação é que pode inclusive fomentar mais desmatamento e mais degradação. Isso vai depender da forma como vamos fazer a negociação fundiária. Este é um debate que está na ordem do dia com a mudança do Incra/MDA. Essa renegociação tem que ser feita de uma forma que se integre aos esforços da sociedade brasileira em combater o desmatamento.

Quanto à questão das invasões, eu acho que tem aí um amplo leque. Eu diria que também tem ocupações legítimas de quem luta por terra e que está retomando as terras que foram griladas. Mas a nossa Federação da Agricultura não fala das terras que foram invadidas por grandes grileiros no Estado do Pará, situação que domina a maior parte da nossa paisagem.

Agora, nós temos outro problema no estado do Pará, que são grupos de bandidos, como os próximos a Tailândia e Paragominas, que são madeireiros ilegais que financiam grupos para ocuparem áreas de florestas com a finalidade de saquearem madeira. Estes são tratados com a polícia, não tem outro jeito. É como nós fizemos na operação de Tailândia e temos feito em outras áreas, onde o madeireiro atua ilegalmente, é um criminoso que financia a ocupação da terra para saquear madeira e obviamente desvalida o direito de propriedade do Estado brasileiro. Especialmente o estado do Pará tem cumprido a reintegração de posse, nos casos legítimos em que as pessoas realmente tem propriedade.

Eu penso que no Pará só vamos conseguir a paz no campo quando regularizarmos as terras e acabarmos com as grilagens que, na minha opinião, é hoje o principal motor do desmatamento. Aqui no Pará ninguém desmata para colocar só boi, boa parte do motor do

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desmatamento é grilagem de terra, ocupação de terras públicas para assegurar posse da terra, é o mecanismo de validar uma posse às vezes ilegítima. Sem enfrentar o latifundiário não há como vencer o desmatamento ilegal. A ocupação ilegal é uma parte que nós temos feito esforços para resolver, resolve-se com polícia e com o cumprimento da lei em alguns casos. Existem outras formas de enfrentamento do problema social e é claro que isso vai afetar qualquer debate nosso sobre desmatamento.

Então vamos dialogar com quem tem propriedade, em seguida vamos dialogar com a insegurança jurídica das posses da Amazônia, assim, a cada novo passo que se dá, é como se tivéssemos que arrastar o mundo inteiro atrás. R – Marcos Tito - IA “Os mecanismos são flexíveis e devem respeitar as regras nacionais. Além disso, que a área de reserva legal e o direito de propriedade sejam de fato respeitados, e que as legislações de fato também sejam cumpridas.

Enquanto o sistema não estiver funcionando será difícil implementar os mecanismos. Porém, a lei existe e como de fato não funciona, é possível também usar isso como argumento para negociar o mecanismo. Se a legislação não é suficiente para fazer funcionar a lei, precisa-se de outras alternativas para que ela funcione, então este argumento é válido. O desmatamento não depende só do beneficiado. Depende também das pessoas externas e esses recursos do crédito podem ser utilizados para auxiliar na aplicação da legislação ambiental para que, de fato, as pessoas externas parem de invadir minha área e para que de fato seja cumprida a legislação. Além disso dentro do DML hoje, já está sendo aceito a utilização de áreas destinadas para recuperação e também área de reserva legal, só não estão sendo aceitas áreas de produção. Não devemos ter pressa para fazer esse mecanismo funcionar e sim devemos observar os projetos pilotos em áreas próximas para aprendermos como tudo funciona. Isto porque é muito difícil eu, um técnico, monitorar os produtores. Pois eles terão que ser responsáveis por proteger essa área durante uns quinze, trinta anos. Neste tempo, é possível que eles negociem uma parte e sigam a sua vida, e os que continuarem ali terão o compromisso de proteger essa área. Então, tem que ser um mecanismo muito bem planejado com a parte institucional, e as partes devem estar envolvidas nas discussões desde o início e também deve ser previsto a correção do direito da terra na região”. P - Adilson Serrão - Embrapa “Além da experiência que você expôs, quais as informações de outros países?”. Esclareceu que a Costa Rica talvez seja o maior exemplo desse processo, mas questionou: “quais os países Amazônicos cujas experiências e iniciativas você também conhece? Qual seria a vantagem da Costa Rica em relação ao Brasil? Qual a vantagem do Pará participar do REDD nesse âmbito Amazônico regional?”. Explicou que o REDD não deixa de ser uma rede, uma rede global, e uma rede regional. “Então qual seria a vantagem de participar desse processo?”, provocou.

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“É possível percebemos que ultimamente diversos países amazônicos vêm tratando tanto dessa questão quanto de questões afins”. R – Marcos Tito - IA “Eu destaco uma experiência bem interessante que mencionei a pouco no Peru. É um caso de demanda, onde há exatamente um ano eles conformaram a REDD com todas as instituições da região. Então, com uma frequência quase mensal, eles se reúnem, tratam e analisam propostas. Hoje eles se reúnem para dar soluções sobre os posicionamentos e o que eles entendem sobre o processo de degradação e de como deve ser definida a degradação dentro da perspectiva de um país como o Peru. É um diálogo muito interessante e quase toda semana eles estavam reunidos como instituições. O grupo dessa mesa estava sentado na mesma mesa com a Ministra do Meio Ambiente de lá, tratando do assunto. Isto acontece também porque existem algumas propostas do Banco Mundial de financiar algumas atividades que tem que ter uns documentos chamados Binds (são as propostas de outros países). Este grupo está assessorando suas cidades, enquanto instituições, assessorando o governo, e essa experiência provoca uma maior aproximação entre todos e me parece bem interessante Sabemos que, aqui no estado do Pará, existe uma potencialidade para aplicação do REDD e é onde também se tem uma capacidade técnica institucional muito grande. Acredito que o que falta realmente é caminharmos para sentar, organizar e tratar de uma posição regional, como neste exemplo do Peru. Agora, espero que saia um documento daqui que possa ser levado adiante, espero também que o Estado e as Instituições aqui presentes tenham uma posição do que deve ser ou conter o conceito de REDD, lembrando, desde já, que também tenha a característica institucional. Esclareço também que este assunto é uma incógnita que tende a ser flexível respeitando as condições regionais”.

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6. DEBATE II – INICIATIVAS E PROJETOS DE REDD NO PARÁ

6.1 Palestra 2: Edenise Garcia – TNC

Piloto REDD em São Felix do Xingu

Edenise realiza sua apresentação enfocando que, em relação à convergência e sinergismo, a TNC vem trabalhando em duas frentes relacionadas ao desmatamento. A primeira, com os programas de conservação, busca como resultado a conservação da biodiversidade e a segunda, com o REDD, busca a redução da emissões de CO2.

REDD e objetivos da TNC: convergência e sinergismo

Programas de conservação da TNC

REDD

Conservação da biodiversidade

Redução de emissões de CO2

Redução de:Desmatamento

Degradação florestal

Em seguida, discorre sobre a experiência em São Felix do Xingu contextualizando sobre as seguintes questões:

1) Critérios de Seleção 2) O porquê de SFX 3) Fatores favorecendo a implementação do piloto REDD em SFX 4) Programas e políticas que suportam o piloto REDD 5) Iniciativas da TNC no Pará que suportam o piloto REDD 6) Estudo de viabilidade Estimativas para SFX 7) Estratégias gerais para contrapor o desmatamento e a degradação florestal 8) Plano de Estudo Preliminar 9) Potenciais parceiros – PA

6.2 Palestra 3: Juscelino Bessa - Funai Agradeceu o convite para participar do seminário e explicou que a Funai, desde 2005, vem sendo demandada para projetos de dentro do PNDL (sigla em inglês para Plano Nacional de Desenvolvimento Local, projeto do Banco Mundial) e agora para projetos dentro

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do Mercado Voluntário, mas sem muitos avanços efetivos para a implantação de um projeto piloto. “Em 2005 recebemos uma proposta da Amazon Rainforest Fundation para geração de créditos de carbono através de reflorestamento da Terra Indígena (TI) Rio Guamá, sendo esta a mais impactadas das TI no estado do Pará, situando-se próximo a Belém abrangendo os municípios de Santa Luzia, Nova Esperança do Piriá e Paragominas. A proposta apresentada estava de acordo com o MDL estabelecido no protocolo de Kyoto. Naquele momento, percebemos que haveria uma quase impossibilidade de aprovação de um projeto de MDL com estas características dentro de TI. Mesmo assim, continuamos as discussões até que em 2006 o projeto foi abortado tanto pela FUNAI como pelo Ministério Público Federal, em função da ausência de transparência na condução do processo na discussão com os índios, sendo este o início de nossa participação neste processo. Mais recentemente, em 2007, a partir de um TAC (sigla para Termo de Compromisso de Ajuste de Conduta) assinado com o MPF, onde a intenção era buscar alternativas econômicas sustentáveis para a TI Alto Rio Guamá, em parceria com o governo do Estado e uma cooperação técnica para o desenvolvimento sustentável, mantivemos contato com uma empresa chamada C. Trading - sendo esta uma comercializadora de créditos de carbono com experiência neste mercado voluntário e o próprio MDL – e, a partir daí, retomamos as discussões e, após um ano, continuamos discutindo. Na oportunidade coloco minha fala como provocação, isto porque os indutores desta discussão, principalmente o MPF, não informam com clareza algumas questões que vem sendo levantadas nestes seminários pelos palestrantes anteriores tais como: Quem tem direito a receber os créditos?. Particularmente estou convicto que considerando-se o Art. 231 da Constituição Federal e em sendo TI, os índios tem todo o direito de receber estes créditos e todos que tratam do tema concordam. Porém, quando se trata de escrever em um parecer concreto, a posição fica clara: nem sim e nem não, então a dificuldade de implementação está neste ponto. Entendo que os receios sejam devido ao fato de que a proposta vem de uma empresa comercial e este fato levanta questionamentos diversos a respeito desta iniciativa. Para nós, que convivemos com a absoluta incapacidade do Estado de garantir a preservação das TI, especificamente a TI Alto Rio Guamá, entendemos esta proposta como uma alternativa ou uma oportunidade que percebemos como algo concreto, onde uma empresa apresenta uma proposta e naturalmente, para darmos continuidade, precisamos de um parecer jurídico para garantirmos a legalidade do processo. O Secretario Ortega lembrou muito bem que precisamos definir os beneficiários, o Estado, os moradores. Enfim, não temos ainda nada de concreto. Temos muitas dificuldades de implementação internamente e na discussão com outros órgãos parceiros. Entendo que por ser um assunto novo e motivador as pessoas envolvidas comentam sempre ‘isto pode ser uma saída’ ou ‘isto é uma boa alternativa’, mas as discussões param por aí, pela fala de experiência, não se dá continuidade. A proposição apresentada pela C. Trading , em comparação com a apresentada em 2005, nos pareceu bastante razoável, por isso temos interesse de que ela seja de fato implementada.

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A TI Alto Rio Guamá é a área mais impactada ambientalmente e está numa área que sofre extrema pressão, área esta denominada de Centro Endêmico de Belém pelo Museu Goeldi. Este fato torna mais difícil o controle e o monitoramento da degradação ambiental devido ao desmatamento. No Sul da Reserva, localizado em Paragominas, ainda existem 69 mil hectares onde se pratica a exploração seletiva das espécies florestais, mas sabemos que logo em seguida virá a degradação através do desmatamento para a pecuária e as roças. No Pará, temos diversas TI bastante preservadas mas que já vem sofrendo pressão e precisamos encontrar alternativas concretas. No caso da TI Rio Guamá, tenho dito que estamos levando este projeto da C Trading com a faca no pescoço. Isto porque a TI tem 279 mil hectares, onde os índios tem controle em apenas 30% da área. O restante está invadido por posseiros, colonos, plantadores de maconha, onde os últimos eventos foram aqueles assassinatos acontecidos em Garrafão do Norte. Isto demonstra uma situação grave para a qual temos que dar resposta. Percebo que o REDD é um instrumento que pode inclusive alavancar as ações do Estado. Percebo também que as ações de fiscalização, repressão e controle a esta pressão nas TI estão cada vez mais esparsas e com resultados cada vez menores. Assim, o REDD pode ser uma alternativa onde podemos minimizar a possibilidade de cooptação dos índios pela ação dos madeireiros ilegais. Entendemos que temos que ter fonte de recursos também para as ações de controle do Estado e alternativas como o REDD pode auxiliar neste sentido. Quanto a este projeto da C Trading , repito, estamos discutindo há um ano e nossa procuradoria jurídica não tem clareza nenhuma sobre esta situação, e nem a dos outros órgãos. O nosso entendimento enquanto gestores da FUNAI em Belém é até simplória. Precisamos encontrar alternativas para que os índios não tenham justificativa para dizer que estão derrubando a floresta porque não temos alternativas econômicas. Temos que dar um basta nesta situação e, se o REDD é uma delas, então vamos experimentar. Entendemos também que o ideal é que estas propostas estivessem alinhadas com um diagnóstico dentro de um sistema de gestão territorial. A SEMA já trabalha em um, assim acredito que teríamos várias alternativas para tratar o assunto. Minha participação foi no sentido de apresentar este cenário e com ele provocar uma discussão onde entendo a necessidade urgente de termos alternativas para trabalhar a preservação das TI. Observo que o estado está atrasado nesta discussão. A FUNAI discute o MDL desde 2005 e entendemos que ele vai voltar à pauta. Informo também que, devido à necessidade da empresa Cosipar ter que fazer reflorestamento para compensação de seu passivo ambiental, conseguimos que ele fosse direcionado para a TI Alto Rio Guamá e queremos aproveitar a oportunidade para capacitar os índios nesta atividade, com o objetivo de incluir no MDL daqui a dois ou três anos. Enfim certamente precisaremos de capacidade técnica e política para tal e, com o objetivo de atingir capacidade política, a administração da FUNAI em Belém resolveu partir para o enfrentamento. Decidimos preparar uma minuta de contrato e consultar os

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interessados se tem algum prejuízo para eles e vermos se conseguimos de fato fazer acontecer na prática. Informo também que temos alguns projetos de desenvolvimento sustentável, mas nenhum deles tem o apelo que o aliciamento da madeira tem. E, para encerrar reforço, a necessidade de rapidez nas decisões pois estamos com a faca no pescoço pela cobrança dos índios por alternativas”.

6.3 Palestra 4: Anderson Serra – Sagri/ Programa Campo Cidadão

A experiência do Programa Campo Cidadão

Anderson Serra iniciou a palestra descrevendo o Programa Campo Cidadão, incluindo o público-alvo e as metas a serem alcançadas. Em seguida, falou das estratégias de implantação nas Regiões de Integração do Estado e da definição dos Arranjos Produtivos Locais, que agregam ações de Segurança Alimentar e Bolsa Campo Cidadão. Apresentou também a lista de municípios inseridos no programa. Após as apresentações, iniciaram os debates: P - Mario Macedo – Idesp Pergunta direcionada à Edenise Garcia, representante da TNC: “Quando você mostra, em seus slides, o estudo de viabilidade de implantação do REDD em São Félix do Xingu, eu não pude perceber, na tabela, se houve algum levantamento sobre o comportamento dos atores, tanto espacialmente quanto quantitativamente no município. Sabemos que isso é uma questão complicada pela ausência da regularização fundiária, então a pergunta é se, dentro dos levantamentos de viabilidade, houve alguma preocupação com esta questão ou se foi feito algum levantamento a este respeito”. P – Andréa Coelho – Idesp Pergunta direcionada à Edenise Garcia, representante da TNC. Esclarece que a pergunta tem a ver com a do Magno e contextualiza o trabalho da TNC em Santarém com agricultores de grãos, que estimula que eles sigam as regras de APP em suas propriedades como garantia para a certificação de seus produtos. Continua exemplificando casos em São Félix do Xingu, onde esse trabalho é feito também junto aos frigoríficos e outros produtores. E continua: “Assim, dentro dessa perspectiva, eu gostaria de saber qual a estratégia de suporte aos povos indígenas e tradicionais das florestas? Ou seja, o que está sendo pensando para os pequenos produtores?”.

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R – Edenise Garcia - TNC “Asseguro que a questão social é a base do Projeto Piloto em São Felix do Xingu e que, com certeza, este conceito foi considerado durante o estudo de viabilidade. Esclareço sobre a necessidade de se entender o foco à cadeia produtiva para que se possa pensar numa ação de REDD, uma eventual propagação de serviços ambientais, e principalmente evitar o desmatamento. Esclareço também que, num primeiro momento, essa questão esteve presente, de uma forma mais teórica, a partir de trabalhos da rede Geoma e de trabalhos disponíveis sobre a região. E em seguida, na implantação, a questão social estará presente durante todo o trabalho e em todas as consultas a serem realizadas na base. Explicando que, inicialmente, estas consultas serão balizadas pela definição de parceiros e, em seguida, pelo trabalho direto para o engajamento das comunidades. Assim, a estratégia básica a ser seguida considera é que não existe REDD se não houver o envolvimento direto da base. A TNC teve uma experiência na semana passada em Mato Grosso, onde na região Noroeste, juntamente com o governo do Estado, foi apoiado o programa de REDD. Ali, foi convocada uma reunião com líderes, lideranças políticas, liderança de associações, numa área abrangendo sete municípios e a resposta foi excepcional, a participação muito grande, e foi um primeiro momento. A mesma coisa pretendemos fazer aqui, trabalhar diretamente com a sociedade, antes de implementar qualquer estratégia. Além disso, compreender bem se essas dinâmicas regionais são adequadas e isso só se compreende através do contato direto. Além disso, eu quero fazer uma colocação em relação à CI, e isso vem ao encontro à pergunta das partes indígenas. Nos planos de implementação deste projeto piloto, certamente a CI e ISA, que trabalham na região e que tem um histórico em conhecimento, serão consultados. Já se iniciou alguma conversação sumária, mas a intenção é essa. A TNC, em termos de estratégias indígenas, trabalha em um âmbito mais nacional, com a FUNAI e, em estratégias específicas, a TNC não entra sem um apoio da ISA e CI. Quando falamos em parceria é esse tipo de parceria que certamente vamos buscar. Com relação à estratégia com pequenos produtores, o Francisco Fonseca, da TNC, pode falar com mais detalhe”. Complementação Francisco Fonseca - TNC “Nessa ideia, acima de tudo, o trabalho é de coalizão. A TNC trabalha buscando essa coalizão de todos os níveis e a Adenise já comentou sobre a parceria constante com a CI e o ISA, que são parceiros desde o início do processo. Eu vou responder mais diretamente à pergunta para São Félix do Xingu. Estamos dialogando com a Adefax, que é uma associação de pequenos e micros produtores de São Félix do Xingu. Também já dialogamos com o Sindicato dos Produtores Rurais, inclusive o seu presidente Wilson já possui o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e ele é único na região, assim ele demonstra que já encampou a discussão com bastante propriedade. Nós estamos dialogando também com a Ana Luzia, que conhece a região. Ela é a presidente da Associação das Associações - é uma particularidade de São Felix - que representa os micros e pequenos produtores. Esse é um diálogo que, de forma nenhuma se

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pode prescindir. Consideramos que um grande produtor é um parceiro importante para trazer a grande produção para o CAR, inclusive trabalhamos com os frigoríficos que são aqueles que estão mais mobilizados em São Félix do Xingu. Assim, reproduzindo a ideia para refazer a rede para além de Santarém. A base é 100% o CAR, que é o contexto principal na discussão com todos. Há também o pequeno produtor junto aos quais é indispensável esta discussão, inclusive nós já temos uma pauta para o dia 17 de abril, onde pretendemos fazer uma grande discussão com o Idesp, o Iterpa, a Sagri, o Programa Campo Cidadão e a Área de Proteção Ambiental (APA) do Triunfo, na região do Xingu e que passa de São Félix para Altamira”. Comentário do Juscelino Bessa – Funai “Acrescento um pouco a respeito da questão com os índios Tembés de Paragominas. Trinta e três por cento da área indígena, no alto Rio Guamá, está dentro do território de Paragominas. A área dedicada a esse projeto de geração de crédito de carbono, a partir de REDD, é de cerca de 70 mil hectares, que é a área que está sendo mais pressionada. É uma área onde praticamente perdeu-se a capacidade de ação de proteção devido aos anos de sucateamento da FUNAI. Então, diante dos fatos, torna-se urgente encontrar uma alternativa para minimizar esta pressão e esta alternativa pode ser o REDD. Esta alternativa servirá até para que os índios não usem a ausência de política como justificativa para muitas atividades ilegais que acontecem por lá. Assim, esclarecemos que somos conhecedores das distorções que foram colocadas aqui em relação à Funasa e que já fizemos denúncia algum tempo atrás. Nós achamos isso errado e o Prefeito (de Paragominas) tem toda a razão, mas não sabemos o que mais podemos fazer em relação a estas distorções. Imaginem uma parceria em que um funcionário é pago pelo município para trabalhar na área indígena e este funcionário fica baseado longe do município, em Belém. Voltando à questão do REDD, nós temos, na verdade, várias alternativas. Uma mais ampla me parece é fazer uma conversação com todo um conjunto de atores de um determinado município. Mas, por enquanto, percebemos propostas mais isoladas, tais como a de uma empresa que está querendo fazer um estudo para comercializar crédito de carbono no sul da reserva e um projeto de reflorestamento no norte da reserva que vai gerar crédito de carbono.. Há possibilidades mais amplas com diversas parcerias no âmbito do município ou com propostas empresariais isoladas. Mas lembra que, embora isso seja ideal, a Funai não tem capacidade técnica para acompanhar as iniciativas e, neste caso, conta com os parceiros do TAC junto ao MP, Ufra e Embrapa, e pergunta-se ’de que maneira podemos incorporar novos parceiros para o processo de acompanhamento dos projetos de reflorestamento e crédito de carbono que já se iniciam?’. Atualmente, a Funai se esforça no sentido de viabilizar politicamente tais projetos, mas percebe-se que não tem capacidade técnica para acompanhamento. Esclareço que a Funai teve uma postura um pouco fechada ao longo dos anos, mas que tal política aconteceu por absoluta necessidade de sobrevivência e, hoje, se percebe que o caminho é se abrir para o debate, as discussões e principalmente as ações efetivas.

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Independentemente, temos algumas iniciativas de coerção muito isoladas com apreensões de equipamento e materiais que estão sendo deteriorados nos pátios das polícias. Como estas ações não tiveram efeito desejado, tomamos a iniciativa de fazer parceiras com as prefeituras que não tivessem conflitos com os índios. Por exemplo, com Nova Esperança do Piriá, Paragominas e Santa Luzia do Pará, com as quais nós fizemos uma parceria e disponibilizamos dois tratores para serem utilizados em parceria pelo município e também para as nossas atividades dentro da área. Enfim, há um conjunto de iniciativas que podem ser implementadas localmente, e estamos nos colocando à disposição para esse tipo de parcerias”. R – Anderson Serra - Campo Cidadão “Sobre as questões comentadas pelos colegas, uma refere-se aos números do Campo Cidadão e outra ao papel da produção familiar, ao lado do desmatamento. Sobre a última a nossa apresentação foi breve. Mas o Campo Cidadão é um conjunto de ações que a Sagri, a Emater e a Ceasa realizam, então, do ponto de vista de público beneficiado os números são crescentes. Em 2006, a Sagri tinha um orçamento de R$ 12 milhões; 2007 passou para R$ 24 milhões; 2008 foram R$ 54 milhões. Por sua vez, a Ceasa movimentou, em 2007 e 2008, 271 mil toneladas de hortifrutigranjeiros e só não movimenta mais porque apodrecem muito rápido e ainda grande parte não chega à estrutura em Belém. Neste ano, a Ceasa vai ter um posto de abastecimento em Ipixuna do Pará. Aqueles que são daquela região sabem da importância de hortifrutigranjeiros. Esta também é uma ação do Campo Cidadão para segurança alimentar nutricional. Todos que residem na Região Metropolitana sabem a importância que a Ceasa tem aqui para a região. O governo tem feito um grande investimento na perspectiva de implantar sistemas agroflorestais e desenvolver fruticulturas nesses sistemas. O açaí de 2007 para 2008 aumentou a exportação em 158% e o Pará é líder na produção de açaí, um dos líderes de cacau e cupuaçu, então são ações que o governo atual também vem desenvolvendo na linha do Campo Cidadão. A Sagri, no ano passado, celebrou 241 convênios entre prefeituras e organização de produtores movimentando R$19 milhões. São números do Campo Cidadão que, com certeza, ainda não correspondem à demanda real do Estado, mas já demonstram uma escala progressiva de investimentos que o governo tem conseguido fazer nessa perspectiva. Como disse anteriormente, se considerarmos os números da Emater nesta conta, os números são ainda mais favoráveis, como as 172 patrulhas mecanizadas. Além disso, de 2007 para 2008, o Pará aumentou em 14% a produtividade por área, para milho, arroz e feijão e diminuiu a área plantada em 6,4%, com aumento da produtividade. Estes são os resultados de kits de patrulhas mecanizadas que citei e do uso de sementes selecionadas, as quais o governo distribui. Obviamente, também tem uma parcela muito grande da iniciativa privada avançando nessa perspectiva. Assim, esses são números do Campo Cidadão que nos dão condições de afirmar a todos e a todas como temos avançado.

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Em relação à ação do incentivo ao serviço ambiental ou ao papel da produção familiar, ao lado do desmatamento, tem duas coisas: uma é que no Pará começamos com o número razoável. Por exemplo, no Amazonas, o Bolsa Floresta começou com 70 a 100 famílias há três anos, hoje ele está com dois mil. O Pará já começa com 2.500 famílias. No Amazonas, que é um exemplo bem próximo, tem uma limitação de serem áreas de jurisdição estadual e de unidades de conservação. Já no Pará, queremos atuar em todo estado, em áreas que sejam estaduais, áreas de colonização do INCRA ou ainda áreas de expansão da iniciativa privada. O único elemento que podemos, com muita tranquilidade, socializar com vocês, é que estamos muito preocupados em como vamos estabelecer os critérios para fazer com que aquelas famílias permaneçam naquela bolsa de R$ 100 por mês, tanto os critérios mais técnicos como subsídios mais interessantes. Sobre essa questão, para darmos conta da produção familiar rural associada ao desmatamento da Amazônia, temos que puxar outro seminário para discutir isso, porque não é uma questão simples. Aí podemos dizer rapidamente que a posição do governo, na Secretaria de Agricultura, é de que a questão do desmatamento, que destina a utilização de florestas para outros fins econômicos, não está apenas em quem é dono da terra, mas também no que é feito dela. Ou seja, não importa só dizer que aquela área é de grandes produtores ou de pequenos produtores, mas sim que tipo de uso está sendo feito da terra. Isto é uma primeira constatação. A segunda é o que as pesquisas mostram - e todos são sabedores disso - de que a produção familiar tem uma estratégia de diversificação do uso dos recursos naturais, manejando ali a criação, o cultivo perene, o cultivo anual, área de floresta, o pousio, a capoeira, a juquira, tudo muito diversificado. Isso significa um relacionamento muito maior e interessante com os recursos florestais do que as propriedades que são utilizadas para pastagens ou para outros fins econômicos. Então essa é uma perspectiva, é um debate sério, onde temos uma percepção muito sutil de que muitas organizações, por muito tempo, se firmaram no cenário internacional por conta de uma relação estratégica com as organizações de produtores e, hoje, elas constroem indicadores técnicos que vão de encontro efetivamente com as estratégias das organizações de produtores da Amazônia. Organizações que cresceram na relação e no diálogo com as organizações de produtores, hoje constroem indicadores de estudo que não favorecem muito no sentido deste debate. Tomemos como exemplo uma unidade de conservação como a Reserva Extrativista (Resex) do Riozinho do Anfrísio, a Resex Verde para Sempre. Ali tem uma estratégia de uso de recursos que é muito mais interessante do que da grande produção. Obviamente, o poder público precisa ter respostas de políticas públicas claras para a grande produção e ai acreditamos que, para a grande produção, devemos garantir regularização fundiária, ciência e tecnologia, crédito e fomento. E, no Pará, trazemos uma política efetiva de sanidade animal, no combate à febre aftosa temos uma resposta muito legal para os criadores de gado, o governo tem avançado significativamente nesse sentido. Hoje, se pode consultar no site da Adepará o lançamento de um edital com 598 vagas em concurso público, que estão na linha estruturada da instituição. Isto porque é inadmissível que o Pará ainda tenha áreas vulneráveis à aftosa e áreas intermediárias a essa vulnerabilidade. E então, o setor privado é muito mais dinâmico nas suas iniciativas como acontece em Paragominas. O Florapac e o Grupo Concren estão importando da China uma máquina para avançar naquele processo do MDF (sigla em inglês para Chapa de Fibra de Madeira de Média Densidade – Médium-Density Fipeboard) e

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aproveitamento total da madeira. Então, o setor privado tem uma dinâmica muito interessante, onde o poder público garante as condições de infra-estrutura”.

7. DEBATE III – BIOMASSA E CARBONO, INCERTEZAS METODOLÓGICAS PARA O MECANISMO REDD

7.1 Palestra 5: Philip M. Fearnside - Inpa

Biomassa e carbono: Incertezas metodológicas para o mecanismo REDD

Philip Fearnside inicia sua palestra apresentando as discussões referentes ao cálculo de biomassa e densidade das madeiras na Amazônia Central. Em seguida, demonstrou a metodologia de cálculo e mostrou alguns resultados para alguns tipos de florestas que ocorrem na Amazônia. Logo após, fez uma comparação entre os dados do Projeto Radam Brasil que correspondem à floresta original e os dados atuais com perda de áreas de florestas e cerrados. Fez comparações entre os estados de Rondônia e Mato Grosso no que se refere à perda de biomassa, perda liquida de carbono e emissão de gases do efeito estufa. Apresentou também os dados do Plano Nacional sobre a Mudança do Clima, Mencionou que o cálculo de biomassa abaixo do solo (raízes) é complexo. Em seguida, apresentou as estimativas de conservação do carbono no entorno da BR-319 e da diminuição das emissões de gases do efeito estufa associadas à redução do desmatamento referentes ao Projeto JUMA.

7.2 Palestra 6: Carlos Souza Jr.- IMAZON

Estimativa de Incerteza nas Emissões de Carbono de Desmatamento e Degradação Florestal: criando bases para projetos de REDD em Mato Grosso

Em sua apresentação, Carlos Souza comentou o papel das florestas no aquecimento global, demonstrando a linha de base construída para Projetos de REDD no Mato Grosso por meio de estudos de caso. Em seguida, descreveu uma abordagem metodológica e apresentou diversas estimativas de vários autores para a biomassa na Amazônia. Apresentou também cálculos de diversos autores sobre a Biomassa Viva Acima do Solo e estatísticas que demonstram as incertezas sobre o modelo de emissões de carbono

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e desmatamento. Na sequência da apresentação, demonstra os métodos de detecção para a exploração de madeira e queimadas de florestas. Apresenta ainda a série histórica de degradação da Amazônia de 1984 até 2008, fazendo a integração com os dados de campo em Paragominas. Para finalizar indica os próximos passos, que são:

� Combinar as incertezas dos modelos - Biomassa - Emissões de C - Desmatamento e Degradação Florestal

� Estimar linhas de bases usando diferentes Tiers/Approaches (IPCC) � Definir a abordagem que gera menor incerteza nas emissões de carbono para

construir a linha de base. Após a apresentação, iniciou a sessão de debates. P – Jonas Veiga – Idesp “Percebo que nos modelos que estão sendo analisados agora, o foco está muito voltado para o ponto de vista biológico do desmatamento. Então, pergunto, como é que fica o cenário macro econômico,as políticas públicas, não só no âmbito da infra-estrutura no Brasil como também de política agrícola, que é um componente importante nessas previsões? Eu gostaria de saber se vocês estão considerando isso dentro do modelo para previsão”. R – Carlos Souza - Imazon “Existem duas abordagens para defender essa linha de base. Uma baseada na série histórica, onde se pode reconstruir esta série e projetar, assumindo que a média dos últimos cinco, dez anos vai se manter. Nesta abordagem, não se leva em consideração os sinais de futuro. E a outra abordagem já inclui a combinação das duas coisas. Ela parte das séries históricas para construir padrões espaciais de desmatamentos futuros, pensando também no cenário macro econômico do país e nas políticas que serão implementadas para combater o desmatamento. O trabalho que eu apresentei aqui não trata desse aspecto, creio que o Phillip fez esse tipo de análise para a região da BR-319 e pode falar um pouco mais como entram esses fatores no modelo”. R – Phillip Fearnside - Inpa “Em termos de previsão, sobre quais vão ser as políticas públicas de previsão do futuro, existem vários estudos que fazem um cenário de governança imaginando que todo mundo vai obedecer o código florestal. Muitas vezes, isso acaba mostrando uma maravilha, pouco provável de acontecer na prática. A polêmica sobre a BR-319, onde o EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impactos ao Meio Ambiente) foi apresentado ao Ibama na semana retrasada e está em discussão pública, sendo que as audiências estão previstas para daqui

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a uns 15 dias, em abril. O que tem descrito nele é um cenário com forte governança ambiental onde o EIA/RIMA conclui que todos os índices são positivos, tais como a relação custo-benefício. Lá, ele cita como exemplo o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, onde aparece o mapa com estradas dentro do parque e ninguém desmata nada por lá. Para mim, é muito forte esse exemplo porque acontece que, anos antes de vir para o Brasil, eu era funcionário do Serviço de Parques Nacionais nos Estados Unidos, em um parque vizinho a Yellowstone. Eu conheço muito bem aquela realidade e, realmente, é outro mundo entre o que temos lá e o que tem na Rodovia BR-319, num cenário com grileiros, posseiros e todo aquele cenário amazônico. Imaginar que a BR-319 vai evoluir para ser o que se tem no Parque de Yellowstone, com cenário de forte governança ambiental, realmente é ficção. Simplesmente não vai ter mais floresta, pode até acontecer o cenário de forte governança, mas certamente a floresta vai sumir neste meio tempo. Então, é muito importante manter a discussão dentro da realidade, realmente não existe esse grande salto para não ter mais esse processo de desmatamento que temos hoje na Amazônia. É necessário considerar isso como um dos impactos que causam, sim, o desmatamento e invasões. Todos esses problemas são reais na Amazônia, então temos que contar com todos esses fatores”. P – João Sá - Mestrando de Curso de Direito da UFPA e Pesquisador da Uepa “Gostaria que vocês falassem um pouco mais sobre a questão da linha de base e o marco legal, esclarecendo se entramos ou não na discussão em função dos tratados internacionais. Pelo meu entendimento, a linha de base leva em consideração o marco legal de cada pais, então pergunto se é isso mesmo para a questão do REDD. E, se for, como é que se faria essa diferenciação em relação aos países: de que modo você vai ter uma linha de base definida por projeto num cenário internacional, em que cada país tem um a legislação específica para tratar do seu assunto?”. R. Carlos Souza - Imazon “Eu vou tentar responder à pergunta, isto porque tem várias questões e não sei se consegui capturar a essência da sua questão. Vamos usar como exemplo o Projeto do MDL, que é o mais simples. Ele vai sequestrar carbono e tem uma discussão, por exemplo, se ele sequestrar carbono em Área de Preservação Permanente (APP), que é protegida por lei, e se isso gera adicionalidade ou não. Ou seja, se você pode realmente transformar aquela área de sequestro de carbono em projeto de MDL e ainda obter compensações, créditos pelo carbono estocado ali. Eu não sou da área, mas tem aqui o Raimundo Moraes, a Brenda e o Brito, que são dessa área de legislação ambiental e podem até complementar. Mas, pelo que entendo, o IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – Intergovernmental Painel on Climate Change) já aprovou um projeto de uma hidrelétrica que faz sequestro de carbono em APP.

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O entendimento que obtivemos é o seguinte: se a legislação não está sendo cumprida, se não é aplicada e aquele projeto vai realmente ajudar a cumprir a legislação, então você tem a adicionalidade no projeto. E o fator ai é a linha de base que vai ser afetada por essa questão da adicionalidade. Se o projeto, uma vez implantado, vai realmente ter ou não um efeito benéfico no clima, o entendimento que agente tem é esse. Porém, tem várias questões, como: ‘uma área que já está protegida vai realmente poder entrar num programa de REDD?’. Então, se a legislação já diz que ali tem que ser floresta, tem que manter os estoques de carbono naquela região, o aspecto legal deveria ser uma condicionante para o projeto. Mas, como não é aplicada a lei, pelo menos foi o entendimento que tivemos para o caso do MDL. É possível ser aceito, esse é o máximo que eu entendo dessa área”. R – Phillip Fearnside - Inpa “Deixe-me só fazer uma consideração sobre esta questão, que é essencial. Essa linha de base é supostamente o que ia acontecer sem o seu projeto de REDD. O desmatamento iria continuar e então como é que se faz essa projeção? Uma possibilidade de extrapolar a sequência histórica, onde se tem várias imagens de satélite, que mostram como cresceu o desmatamento num determinado lugar. Daí é imaginar que continua nesse ritmo para o futuro. Você tem a vantagem de que é mais difícil de deturpar os números, de esconder dentro de uma simulação complicada coisas que vão dar resultados e que geram mais créditos que não são reais. Mas, ao mesmo tempo, eles só funcionam com certos tipos de situação, como em um lugar onde vem acontecendo o desmatamento por algum tempo e que tem ainda bastante floresta para desmatar. Agora, quando a floresta está acabando, aí o desmatamento vai diminuindo até o zero e, quando chega à última árvore, a taxa de desmatamento é zero, e não é por causa do seu projeto de REDD. Então, se usou esta extrapolação do passado, se está criando o que é chamado de ’ar quente’, crédito que realmente não tem benefício climático. Esse seria um lugar como o Mato Grosso, que está acabando a floresta. Você usa a sequência do passado, com o desmatamento vai gerar esse tipo de ’ar quente’. Agora outra situação é onde quase não tinha desmatamento no passado. É o exemplo que nos temos hoje em muitos lugares no Amazonas. Em Juma, um lugar com pouquíssimo desmatamento, não tem como reduzir o desmatamento porque não estavam desmatando mesmo. Então, não se tem como ganhar nenhum crédito, baseado na sequência do passado, mesmo que tenha possibilidade real do desmatamento do futuro explodir construindo estradas etc. Então, temos que ter alguma maneira para modelar o desmatamento nesse tipo de situação, que não seja simplesmente uma extrapolação da quantidade no passado que vai representar os processos, quantas pessoas entram, por exemplo. Isso é o que nós estamos tentando fazer, mas é muito importante que seja transparente porque, obviamente, tem muitos interesses em jogo, de maneira que as pessoas queiram aumentar a quantidade dos créditos que são mostrados pelo sistema.

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Mas temos que reconhecer que são três tipos diferentes de situação, dependendo de qual é o estágio do desmatamento. E, para se fazer o básico, esse é um debate que ainda não está resolvido nas negociações sobre REDD”. P – Edenise Garcia - TNC “Escapou-me na sua apresentação se a biomassa que você considerou nas estimativas é referente somente à biomassa acima do solo ou incorpora também o carbono das raízes no solo. Nesse caso, se você não considerou o carbono das raízes e solos, você teria uma ideia de quanto aquele erro associado às suas estimativas aumentaria, tendo em vista a apresentação do Phillip?”. R – Carlos Souza - Imazon “O mapa que mostrei foi gerado com geo-estatística e é uma média da biomassa viva acima do solo. Convertemos o volume para biomassa, usando inclusive os coeficientes do Phillip - ’biomass especial fators’. Tem vários parâmetros que você aplica para converter de volume para biomassa e é possível também aplicar esses ’biomass especial fators’ para chegar na biomassa total. Mas, no mapa em si que eu mostrei, só é a biomassa acima do solo, a biomassa viva. Aplicando esses coeficientes, o envelope de incertezas aumenta e, no final, o modelo que usaremos será o da biomassa total, considerando que, para se chegar na biomassa total, terá que introduzir ainda mais incertezas no modelo. Essa é a lógica, mas o que eu mostrei aqui foi só a média acima do solo”. P – Angélica Toniolo - TNC “Você (Carlos Souza) falou num envelope de incertezas técnicas e que a decisão sobre a linha de base vai ser política no final. Então como vocês veem esse processo acontecendo? Essa seria uma pergunta. A outra: estabelecida uma linha de base ou um consenso de metodologias para o cálculo da linha de base, temos condições de fazer a verificação em campo ao longo do tempo? Isso seria feito em todo o estado ou em projetos-piloto? Como vocês veem esta questão, para manter a qualidade dos dados ao longo do tempo?”. R – Carlos Souza - Imazon “Certamente esta questão para reduzir as incertezas tem que ter muito trabalho de campo. Estávamos até conversando no almoço hoje e o Phillip mostrou na apresentação dele os avanços que eles tiveram, introduzindo novas áreas na região do Arco do Desmatamento para reduzir as incertezas. Mas ainda tem muito trabalho de campo para ser feito. Pode ser que esse trabalho no Mato Grosso nos a chegar à conclusão de que estaremos com um terço do IPCC - e esta estimativa vai ser conservadora. O Projeto de REDD terá realmente que prever recursos para melhorar os inventários florestais e os levantamentos necessários para reduzir aquele envelope de incertezas. Na parte espacial do desmatamento e degradação, eu acho que é relativamente simples de se tratar. Mas, quando se entra na questão de biomassa, a solução é campo

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mesmo. E eu acho que o Phillip tem mais informações para dar a esse respeito, mas a lógica seria essa: ao se entrar no mecanismo de REDD, parte do financiamento poderia ser voltado para melhorar essas estimativas e, à medida que se vai tendo melhores informações, se vai diminuindo esse envelope de incertezas”. R – Phillip Fearnside - Inpa “Em termos de pesquisa, é possível montar uma agenda de quais são as prioridades e, a partir delas, medir melhor a biomassa para certos tipos de florestas que são mais sujeitas a certos tipos de desmatamentos e que tem mais áreas e menos dados, ou seja, otimizar o trabalho para reduzir as incertezas. Em termos da tomada de decisão, é importante pensar sobre qual é o lugar da incerteza. Esse debate é usado muitas vezes para se descartar os estudos e para se dizer que tudo é uma controvérsia científica e tudo é muito incerto. Então, não vamos tocar em florestas tropicais e vamos fazer cata-ventos e outras coisas para combater o efeito estufa e, assim, os trabalhos com florestas ficam de lado para mais cinco anos de pesquisa, algo assim. E se fizerem isso, é uma loucura. Pois a floresta tropical irá desaparecer, porque cinco anos é muito tempo. Esse é o mesmo tipo de argumento que o presidente Bush usava, dizendo que o efeito estufa é uma grande controvérsia, muito incerto, então não dá pra fazer nada agora e, com o discurso, ficar adiando as providências. Por isso, é muito importante que não seja seguido este caminho. Outra coisa importante pra lembrar, é que além de se ter a incerteza se tem também um prêmio igual a um jogo de azar. Por exemplo, como se faz num jogo de loteria esportiva, um jogo de pôquer ou outro qualquer: há uma certa probabilidade de ganhar e depende de qual é o tamanho do prêmio. Às vezes, essa probabilidade e a incerteza é uma coisa que interferirá no cálculo, mas o tamanho do prêmio é muito importante para você decidir o que fazer - e não só a incerteza. E, nesse caso, o tamanho do prêmio é enorme. Por exemplo, a floresta amazônica tem um estoque de mais de 100 bilhões de toneladas de carbono em todos os países amazônicos. É uma coisa muito grande, isso quer dizer que se realmente der certo esse negócio de REDD para controle de desmatamento, a história é mudada aqui. O prêmio é muito grande. Então temos de enfrentar essa incerteza, arriscar e fazer acontecer, por isso é muito importante assimilar essa questão”. P – Ana Lúcia Augusto – Ministério Público “Considerando a complexidade do problema para estabelecer a linha de base e que, sobre esta linha de base, será tomada uma decisão política, a minha pergunta é dirigida à questão técnica: caberia também a aplicação de um modelo matemático para tentar modular a questão? E, a partir de um duplo tratamento, onde se compararia os resultados no final, poderia se optar por aquele mais plausível para a situação. E, neste caso, sendo positiva a resposta, por que você optou pelo tratamento estatístico?”. R – Carlos Souza - Imazon “Essa é uma abordagem plausível. A nossa escolha pelo método estatístico é para poder estimar esses envelopes de incerteza. Assim, usa-se uma simulação multifatorial. E, no caso dos mapas de biomassa também, isso vai permitir se fazer esse cálculo que é

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espacialmente explícito e, neste caso, eu mostrei esse histórico usando só os dados tabulados do Prodes, mas também se vai fazer espacialmente. Essa foi a nossa abordagem e o que esperamos é poder ver qual o peso de cada uma dessas variáveis que entram no modelo. A modelagem matemática pode ajudar também no trabalho, mas o forte do nosso grupo de trabalho é a estatística. No final, o método é rigoroso e sabemos que estamos lidando com um processo de incerteza e, para esse caso, o método estatístico é mais robusto pra lidar com tais incertezas”. P – Jonas Veiga – Idesp “Dentro da perspectiva do REDD, nos preocupamos muito com a dinâmica do carbono nas reservas florestais e esquecemos um pouco a área que está aberta. Assim, penso que devem existir políticas de incentivo para evitar o desmatamento mas também políticas para mudar a trajetória do uso da terra em áreas abertas. Parece-me que o programa REDD prevê também algum incentivo para melhor sustentabilidade do uso da terra e para sistemas mais sustentáveis, além da governança. Então temos que pensar não só a área que não está desmatada mas também em políticas e até investimentos em Ciência & Tecnologia para área aberta, que certamente vai ajudar a conservar a floresta”. R – Carlos Souza - Imazon “O Pará tem o programa ‘Um Bilhão de Árvores’. Acho que vai muito nessa linha, onde a ideia é restaurar a paisagem e sequestrar carbono”. R – Phillip Fearnside - Inpa “Deixa só eu mencionar que isso é verdade e é importante o que já é feito na área aberta. Mas, também temos que estabelecer prioridades para investimentos a fim de conter o efeito estufa. Recuperar uma área de um hectare de pastagem degradada é muito mais caro que evitar o desmatamento de vários hectares de floresta em pé e ainda tem muito mais carbono na floresta do que vai crescer na área de pastagem degradada, que vai ser recuperada. Assim, em termos de investimento por tonelada de carbono que acaba não sendo emitido para a atmosfera, é muito mais negócio evitar o desmatamento diretamente do que tentar recuperar áreas de pastagem degradadas. É importante lembrar isso na hora de dividir o bolo porque a quantidade de dinheiro para o combate do efeito estufa é limitado, o que tirar de um não vai para o outro, então se deve manter isso em perspectiva”.

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8. DEBATE IV – QUESTÕES INSTITUCIONAIS E TECNOLÓGICAS

8.1 Palestra 7: Prof. Dr. Shigeo Shiki/IE-UFU e Ministério do Meio Ambiente (MMA)

REDD: Condições Jurídicas e Institucionais para implementação

Shigeo Shiki esclarece que no Brasil o motivo principal de se seguir o caminho do REDD é porque a redução do desmatamento e da degradação da floresta representa a forma mais importante de mitigação e adaptação às mudanças do clima, razão pela qual o Brasil apresentou sua proposta de Desmatamento Evitado na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), em 2006. Em seguida, apresenta a proposta brasileira para a Convenção do Clima a qual sugere uma contabilização das emissões, tendo como linha de base uma taxa média de desmatamento de 19.500 km², calculado para um período a ser determinado pela Convenção de Clima, a partir dos dados do Prodes, com metodologia validada e disponibilizada para eventuais países interessados. De acordo com o palestrante, a novidade da proposta brasileira em relação ao mecanismo de financiamento do REDD na Convenção de Clima é a criação de um Fundo Ambiental de Financiamento que, com o apoio de outros países, levou o Brasil a criar o Fundo Amazônia, dentro do BNDES, que apóia as seguintes áreas:

� Gestão de florestas públicas e áreas protegidas; � Controle, monitoramento e fiscalização ambiental; � Manejo florestal sustentável; � Atividades econômicas desenvolvidas a partir do uso sustentável da floresta; � Zoneamento Ecológico e Econômico, ordenamento territorial e regularização

fundiária; � Conservação e uso sustentável da biodiversidade; e � Recuperação de áreas desmatadas.

A partir destas explicações, Shiki apresentou o modo de funcionamento do fundo, de acordo com o que segue:

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Ele falou também sobre o procedimento para Análise e Monitoramento.

E apontou que ainda há questões em aberto:

� Para Copenhagen: - Mecanismo de flexibilização para países do Anexo 1? - Fundo ou Mercado de Carbono?

� Para o Brasil: - Como integrar REDD/Fundo Amazônia na Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais? - Meta ou não meta? A não ser as emissões por mudanças no uso da terra (desmatamento) o Brasil está em posição confortável. Ao assumir metas, o Brasil

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terá que contabilizar suas reduções do MDL nelas e faz encolher o mercado de carbono.

Falou também da Política Nacional de PSA dizendo que a política é baseada em critérios de mercado, de pagamentos por serviços ambientais em que existe um beneficiário pagador e um recebedor provedor de serviços, que se relacionam por meio de um contrato social onde o conceito de serviço ambiental não se restringe a carbono mas a todas as modalidades de serviços definidos pelas Nações Unidas (Millennium Ecosystem Assessment). Discorreu também sobre projetos territoriais e escalas para, a partir da seleção de projetos e estudos de valoração, apresentar os mecanismos de financiamento.

� A PNPSA acolhe todas as formas de financiamento possíveis: fontes fiscais federal, estadual e municipal, doações internacionais, mercado ambiental nacional, MDL, CCX.

� As doações internacionais são canalizadas para o Fundo Amazônia, embora nada impeça que empresas e governos internacionais contribuam para outros fundos para PSA.

� O substitutivo do deputado ampliou as aplicações dos royalties do petróleo (inciso II do § 2º do art. 50 da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997) para PSA, até 40% da parcela destinada ao MMA, mas sempre contingenciado. Os estados e municípios poderão utilizar igualmente esta fonte para PSA.

� Para o financiamento do Bolsa Verde, devido ao seu efeito distributivo óbvio e multiplicador das economias locais, pode ser vista como parte das medidas anticíclicas para enfrentar a crise econômica global, com reflexos já na taxa de emprego no Brasil.

8.2 Palestra 8: Ricardo Figueiredo - Embrapa Amazônia Oriental.

Ações da Embrapa Amazônia Oriental: A pesquisa agropecuária e o balanço de carbono em sistemas de produção.

Ricardo Figueiredo iniciou a apresentação demonstrando a perda de elementos com a queima de capoeira de sete anos de idade. Em seguida, discorreu sobre o método de preparação da terra sem o uso do fogo e apresentou uma comparação entre os métodos de derrubada e queima e de corte e trituração, descrita na tabela abaixo.

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Figueiredo apresentou também dados não publicados sobre a retenção de carbono no solo.

Derruba-e-queima Corte-e-trituração

Fluxo Equivalentes de CO2

Fluxo Equivalentes de CO2

Efluxo de CH4 (solo)

-5.0 -120 16 370

Emissão de CH4 (fogo)

630 14.000 0 0

Emissão de N2O (solo)

2.9 1300 4.2 2000

Emissão de N2O (fogo)

12 5600 0 0

Fertilizante (N)

0 0 90 370

Fertilizante (P)

0 0 60 37

Fertilizante (K)

0 0 30 13

Óleo diesel 0 0 300 780 Total de equivalentes de CO2

21.000

3.600

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Após detalhar o processo de retenção de carbono no solo, Figueiredo apresentou o Projeto Agrobacias Amazônicas, abordando o papel dos sistemas fluviais da Amazônia no ciclo regional e global do carbono

0

10

20

30 CapoeiraQueimaTrituração

Car

bo

no

org

ânic

o d

o s

olo

(g

kg

-1)

0

10

20

30

Fev-2002 Abr-2003 Out-20030

10

20

30

0-5 cm

10-20 cm

5-10 cm

0,7± 0,4

0,6 ± 0,3

Acum. Biomassa

Acum. Solo

Fluxo Subterrâneo de DOC e DIC ???

Fluxo (de torres)

VOC ???

Evasão de CO2

1,2 ± 0,3

Export. p/ mar

~ 0,1

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Detalha dados sobre a Pressão parcial do dióxido de carbono (pCO2) nas nascentes estudadas em Paragominas e elencou a necessidade de pesquisas futuras para:

� Intensificar as medições de armazenamento de carbono e emissão de GEE – Sistemas agro florestais – Plantios florestais – Integração lavoura-pecuária-floresta – Derruba-e-trituração – Cultivos agrícolas de larga escala (soja) – Continuidade de estudos iniciados na Rede Agrogases, assim como em

pesquisas de bacias e corpos d’água. Em seguida, iniciaram os debates P – Marcos Tito - IA “Pergunta dirigida ao Shigeo Shiki. Gostaria de saber de você que está dentro do ministério, quem exatamente representa a decisão nacional do governo. Faço essa pergunta por que participei de algumas discussões das propostas de outros países e, geralmente, uma proposta nasce de uma reunião entre poucas pessoas que são especialistas no tema e que tomam uma decisão onde não levam em consideração o coletivo. Estendo este raciocínio para nós, aqui no Pará, e espero estar enganado. Mas até agora se percebe que na decisão do Brasil não foi levado em consideração o que realmente o estado do Pará pretende através de suas instituições e sociedade. Quando o Brasil opta por uma escala nacional ou por um fundo, que é um mecanismo voluntário e não um mecanismo de mercado. Uma das argumentações que o governo dá para se optar pelo fundo, além da soberania do país, como discutimos hoje de manhã, é o off setting. O Brasil não está de acordo que tenhamos que arcar com as emissões dos outros países. Mas, ao mesmo tempo, percebo uma atitude contraditória e também espero estar equivocado e que você me corrija, mas, esse fundo, do qual boa parte veio da Noruega, não sei se todos sabem, é baseado no PIB deles, que boa parte vem da extração de petróleo, e toda essa ‘grana’ que está vindo da Noruega para cá é exatamente a off setting, dentro do meu ponto de vista”. R – Shigeo Shiki - MMA “Essa é uma pergunta que o Brasil inteiro está fazendo e talvez os outros países também estejam fazendo. E eu mesmo fiz quando eu fui lá para o MMA, em 2003. Fiz a mesma pergunta para o Brasil. Primeiro, essa questão de quem está decidindo essa política para o Brasil. Tradicionalmente, eu diria o seguinte: as decisões sobre mudanças climáticas sempre se concentraram no Itamaraty e no Ministério da Ciência e Tecnologia. A decisão ficava entre três pessoas que eram o hard core da política ambiental brasileira, no que se refere às mudanças climáticas, e até continua sendo. Mas, enfim, hoje eu diria que o Itamaraty apoiou esse tipo de posição por razões até diferentes, que são muito mais pelo discurso da soberania e de se colocar no mercado internacional da venda de carbono.

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Com este procedimento se estaria praticamente vendendo a Amazônia para o mundo e isso é a chamada privatização da Amazônia. Essa tese sobre soberania nunca foi posta assim muito claramente, mas percebemos que sempre teve por trás dessa posição brasileira, principalmente a do Itamaraty. Essa discussão sobre a soberania vem desde a época em que era discutida e se falava de internacionalização da Amazônia - e aí se vão 30 anos. Enfim, eu nunca tinha visitado a Amazônia e mesmo de lá em São Paulo, de onde eu sou, na época da escola, eu já ouvia falar sobre a Amazônia. Escutamos falar essas coisas sobre a Amazônia, até por isso que o próprio governo militar tinha políticas de ocupação para a Amazônia. Os militares eram os maiores nacionalistas desse país. Eu não sei se vocês sabem, mas o Brasil, na época dos governos militares - apesar de terem feito uma abertura econômica principalmente do capital para o estrangeiro -, em termos de política nacionalista, foram os militares que mais se preocuparam com a soberania. Eu penso que este comportamento é um pouco de resquício dessa época, de quando se falava dessa internacionalização da Amazônia. E aí, a preocupação não era ambiental, era econômica e de segurança mesmo. Tanto é que se falava de desenvolvimento e segurança, quando se pensou na Transamazônica. No projeto de integração nacional, se pensou também em fazer a ferrovia Norte-Sul e de construir a Transpacífico. Desde essa época, essas políticas estavam vinculas à soberania, por isso eu tenho tendência a acreditar que essa política do Itamaraty tem uma posição de defesa nacional bastante forte e é obvio que já não é de hoje, pois tínhamos a Amazônia como algo que devesse permanecer com o Brasil. É um fato histórico desde Santiago Dantas, quando falava mais de comércio. Surgiram inclusive várias histórias e eu lembro que, quando estava nos EUA, ouvia que parte do Brasil já estava no mapa das escolas americanas como sendo internacional. E essas histórias não eram só sobre a Amazônia brasileira, eles estavam falando da Amazônia do continente americano. Então, isso eu vi mesmo em livros de crianças que estavam aprendendo essa história, isso em 1998. Já faz algum tempo, mas isso estava lá. Agora, com relação à questão do off setting, eu sei que essa discussão existe e o Brasil, através do Ministério da Ciência e Tecnologia, é quem mais defende isso, e que o que mais interessa é o balanço global. Afinal, de que adianta você fazer um esforço enorme de contenção do desmatamento enquanto os países desenvolvidos estão queimando combustível e continuam poluindo? Um mecanismo de compensação que mais atenua do que resolve o problema ambiental de mudanças climáticas. Aí eu acredito que tem um certo fundamento técnico e também político e econômico. Primeiro, porque você tira o peso desse mecanismo de flexibilização. Mas, por outro lado, você permite que os países desenvolvidos continuem emitindo da pior forma, sendo responsáveis ainda por 75% das emissões globais. Então, fazendo um balanço, se está resolvendo uma questão, que é trocar o problema dos 25% das florestas tropicais e, com isso, buscar resolver o problema dos outros 75%, que na verdade são os grandes responsáveis por este cenário. Nesse sentido, eu acho que o Brasil tem razão de defender isso. Por isso, que está propondo um fundo não compensatório, exatamente para poder reforçar a posição brasileira no que se refere à política de redução de emissões. É necessário se fazer um esforço para

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redução voluntária e, neste caso, fica claro que o país que quer fazer esta redução vai ter que fazer uma contribuição internacional porque o efeito estufa é um problema mundial”. P – Marcos Tito - IA “Quais são os procedimentos que o governo está querendo tomar para que haja consultas públicas? Percebemos que as decisões são tomadas lá de Brasília por pessoas que nem vivem o dia-a-dia da Amazônia, acho que você acredita nisso também”. R – Shigeo Shiki - MMA “Acho que esse procedimento nunca existiu mesmo e, até mesmo dentro do governo, se sabe que essas posições nunca tem sido muito abertamente discutidas. O próprio MMA nunca foi consultado e só depois de muito tempo, em 2006, em Montreal, é que ele passou a ser ouvido. Para se ter uma ideia, não se tinha uma massa crítica suficiente no MMA para defender uma posição ou outra. Foi só por causa do REDD e do desmatamento que ele passou a ser ouvido e, neste caso, o MMA tendo tudo a ver porque a política da ministra Marina (Silva) foi bastante focada em cima deste tema. E, a partir desta defesa, é que se começou a se falar de desmatamento e a participar efetivamente das Convenções de Clima e ser muito mais voz na Convenção da Biodiversidade.Agora sim, se tem muito mais voz até para discutir o assunto dos transgênicos que está nos infernizando até hoje. Realmente, agora é que está acontecendo a participação do MMA. Imagina a consulta pública do povo, deixar o povo dizer o que acha, isso nunca passou pela cabeça de dirigente nenhum. Você está aí consultando o estado do Pará, o do Amazonas e claro que tem tudo a ver. Acredito que está na hora de começar a colocar isso em prática e penso que é assim que se deve fazer. E, de fato, até nos fortalece, veja, se estamos levantando uma posição e também compartilhada com o estado do Pará do Mato Grosso, é claro que isso nos fortalece”. P - Ana Lúcia Augusto - Ministério Público “Existe uma tendência para uso das áreas desmatadas para o plantio de soja. Visualizando desse aspecto e comparando-se ao que se conhece de dendê e, no caso, são duas oleaginosas, podemos afirmar que o dendê é uma espécie mais adaptada à região e se conhece muito mais em termos de produtividade dele no nosso estado, então, por que se optar pela soja? Do ponto de vista de fixação do homem no campo, de lavoura perene e de produtividade, o dendê seria muito mais vantajoso para nós. Do ponto de vista de captura de carbono e de manejo do uso do solo, dentro do aspecto que você ressaltou, aí teria alguma vantagem algum estudo nesse campo?” R – Ricardo Figueiredo - Embrapa “Até onde é do meu conhecimento, nós temos uma iniciativa dentro da Embrapa de utilizar o dendê não só como monocultura, mas também dentro do sistema agroflorestais.

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Então seria uma grande vantagem pra ela, uma planta com potencial bioenergético muito grande comparado a outras opções. A questão da soja é colocada mais quando utilizando áreas degradadas. Até onde eu entendo, nas áreas onde não é o bioma Amazônico, mas na Amazônia Legal que ali está. Então até ali que o Ministério da Agricultura tem apoiado essas iniciativas, mas eu acredito que, para as áreas desmatadas dentro do bioma amazônico, a soja perde de dez a zero para o dendê. Eu concordo com você”. P - Carlos Vilhena - Sema/DRH “A questão do carbono orgânico dissolvido, o DOC, é maior nas nascentes das bacias hidrográficas?” R - Ricardo Figueiredo - Embrapa “Não especificamente o DOC, em termos de concentração, mas as emissões do CO2

são bem maiores nas nascentes por questões dos processos que são regidos mais pelas questões físico-químicas do ambiente. Então, em baixo PH e no sistema do carbono, você tem mais o CO2 dissolvido pronto a evadir do que outros compostos de carbono como carbonatos e bicarbonatos. Então, é uma questão de equilíbrio do sistema do carbono em ecossistemas aquáticos - e isso é normal. As taxas que mostramos é que são muito mais elevadas do que aquelas que tem sido medidas. Ou, quando não tão elevadas, tão altas como as mais elevadas em outros sistemas aquáticos da Amazônia. Isso se explica pela natureza da própria vegetação dessas áreas e pelo seus tipos de solo, também com fácil lixiviação, por serem arenosos. Enfim, há uma série de aspectos ligados a esse funcionamento”. P – Norma Ely Beltrão - Uepa “Na palestra anterior, na qual estava se discutindo a questão do carbono de biomassa, ficou claro que até para calcular o carbono das raízes é um pouco problemático. E, no contexto do REDD, nós temos pelo menos que nos concentrar nos carbonos de biomassa, o que já é um grande trabalho de levantamento e de monitoramento. E eu fico pensando até onde podemos incluir essa questão do carbono orgânico dentro dessa questão do pagamento de serviços ambientais, uma vez que é muitíssimo complicado avaliar. Claro que podemos fazer estudo em locais ou algo mais específico, mas em termo de milhares de hectares eu acho que fica um pouco complicado. Você poderia dar alguma sugestão com relação a isso?”. P – Ricardo Figueiredo - Embrapa “Para se ter uma estimativa do carbono orgânico na raiz?” R – Norma Ely Beltrão - Uepa “Sim”. Figueiredo então sugeriu que Steel Vasconcelos, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, respondesse ao questionamento.

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R - Steel Vasconcelos- Embrapa “Essa é uma pergunta muito difícil de responder devido à dificuldade da medição do carbono das raízes. Existem poucos estudos em florestas tropicais, principalmente aqui na Amazônia. Podemos afirmar que existe uma grande quantidade de carbono no solo e devido a este mesmo motivo fica difícil de se medir as alterações do carbono no solo em períodos curtos de tempo. Então precisa de um monitoramento em longo prazo desse carbono e isso tem um custo financeiro muito alto porque o carbono é distribuído de forma muito heterogênea no solo e as medições teriam que ser compartimentalizadas. Assim, quando melhor nossa precisão na determinação de carbono no solo, mais poderemos teoricamente exigir o retorno em termo de pagamento de serviços ambientais. Isto porque se vai ter um investimento com uma segurança maior nos dados que se apresenta para o financiador. Consequentemente, quanto menor a precisão, menos você vai poder cobrar por esse pretenso serviço ambiental. Agora, sem dúvida, precisamos caminhar muito no sentido de melhorar as estimativas no solo. A Embrapa está trabalhando no sentido de desenvolver a metodologia para estimar de forma rápida e não destrutiva o carbono do solo. Atualmente, a metodologia de determinação de carbono também gera resíduos para o ambiente. Então a Embrapa está trabalhando no sentido de desenvolver uma metodologia limpa e que permita se aumentar muito sua capacidade amostral. E, quanto maior a sua capacidade de amostragem, melhor será a precisão na estimativa. Se quisermos entender de forma mais completa como os ecossistemas podem gerar serviços ambientais, precisaremos investir no entendimento do carbono orgânico do solo e o estoque de raízes também”. P – Jonas Veiga - Idesp “Quando você (Shigeo Shiki) falou em projetos do BNDES, você falou de projetos que futuramente vão ser encaminhados. Já existem esses projetos? Qual a diferença de tramitação desses projetos para os projetos-piloto que podem ser desenvolvidos com o intuito de exercitar o REDD nos estados? Existe diferença de tramitação no encaminhamento dos projetos para serem submetidos ao BNDES e os projetos pilotos que os estados estão começando a desenvolver agora?” R – Shigeo Shiki - MMA “Não sei direito e acredito que isso ainda não está definido ainda. Esse projeto do tipo do São Félix do Xingu é um projeto enorme. Na verdade, é um desenho de projeto de pagamento por serviços ambientais ou de redução de emissões. Este é o tipo do projeto que é enquadrável no Fundo Amazônico. Na minha apresentação, relacionei vários itens nos quais um projeto pode se enquadrar e, pelo que a Edenise apresentou, quase todas as estratégias são enquadráveis, portanto não teria problema nenhum. Para isso tudo, teria que existir aquele comitê orientador, que teria a função de traçar essas diretrizes. E aí, por seu lado, vai trazer as discussões também um comitê local, que

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não sei se vai ser organizado pelos estados ou não. Mas será um comitê técnico que vai decidir sobre os critérios de elegibilidade de cada projeto, e a descrição disso tudo está lá no site do SFB (Serviço Florestal Brasileiro). Outro tipo de pagamento por serviços ambientais é o que estamos desenhando também na política nacional. Estamos definindo três subprogramas: o Bolsa Verde chamado Floresta em Pé; o de Unidades de Conservação, esse é específico no âmbito nacional, estadual e municipal; e o último é o Produtor de Águas, que é um programa já antigo que está sendo montado pela ANA (Agência Nacional de Águas). Para isso, você também precisa definir projetos. Eu chamei de projeto territorial porque você pode aplicar tanto para uma coisa como para outra. Por exemplo, este é o caso do projeto que São Paulo está fazendo ali no rio Piracicaba do sistema Cantareira. Eles fizeram primeiro o estudo, depois definiram o custo de oportunidade e, em seguida, eles padronizaram e colocaram num edital para quem voluntariamente queira aderir ao projeto. Se pagaria ’x’ por hectare por serviço”. P – Jonas Veiga - Idesp “Parece-me que seria interessante incluir no que você (Ricardo Figueiredo) falou sobre mensuração de carbono, num determinado tipo de uso da terra ou numa metodologia, mas seria interessante também tentar pegar o ciclo todo de uso da terra, o que nós chamamos de trajetória do uso da terra. Talvez esse tipo de informação fosse mais interessante para se inserir dentro do contexto do balanço de carbono como um todo e no REDD inclusive, ou seja, como começou o uso da terra em determinado tempo. E como isso evolui para diferentes trajetórias. E, consequentemente, identificar qual é a pegada de cada uma dessas trajetórias e, a partir dela, propor inclusive sistemas mais sustentáveis. Isto porque, ao se analisar um só sistema, estaremos fazendo um recorte muito simples e da outra forma talvez se tenha uma ideia diferente dentro do que está ocorrendo na dinâmica da Amazônia. R – Ricardo Figueiredo - Embrapa “A sua pergunta é bem apropriada e acho que esse tipo de balanço precisa ser feito também. Toda essa trajetória, desde quando tinha a floresta, o desmatamento, a implantação de pastagens etc. Eu acredito que essa contabilização só pode ser feita se tivermos estudos focalizados, como aqueles que o Phillip mostrou aqui. Como aquele carbono na floresta perdido pelo desmatamento, o quanto ele é assimilado pela pastagem e todo esse déficit que encontramos? E depois, seguindo nessas áreas de agricultura familiar, também precisamos de um balanço e a nossa proposta de pesquisa foi fazer o balanço comparando esse sistema, que é amplamente usado da agricultura com o fogo, identificando a viabilidade de que um outro sistema fosse utilizado para produzir os mesmos produtos agrícolas que esses agricultores estão acostumados. Então, a questão é que precisamos saber disso também, se nós estamos gerando uma tecnologia que vai resultar em algum saldo na questão de menores emissões ou não. Essa é a perspectiva do trabalho que foi apresentado, mas eu acho que o trabalho colabora sim com o tipo de balanço das trajetórias. Mas, ele vai precisar ser feito a partir de florestas

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primárias num local como aquele estudado. Assim, vai ser um pouco mais difícil encontrar na região Nordeste Paraense florestas primárias para fazer um estudo desse. Não é impossível, mas é bem difícil seguir nessa linha e é mais um desafio. O teu raciocínio (Jonas Veiga) está certo, eu acho que contribui sim se tivermos um balanço todo. Mas, uma vez que a área está aberta e já se utiliza a agricultura, a questão passa a ser procurar como é que vamos ter saldos mais favoráveis, diminuindo a emissão de carbono, substituindo aqueles sistemas que já existem ali. Esse é o nosso objetivo”. P – Participante (Nome e sobrenome?) “A produção de carvão vegetal de resíduos da exploração florestal ou da indústria madeireira em fornos metálicos, que recuperam os gases para produção de piro-lenhosos, isso se caracteriza como mecanismo de desenvolvimento limpo?”. R - Ricardo Figueiredo - Embrapa “Eu acho que qualquer tipo de carbono pode ser utilizado no MDL, desde que entre em acordo com as regras. Eu não conheço especificamente o que o MDL aceita”. P - Viviane Barbosa - Contadora “Onde eu busco informações tributárias, do ponto de vista contábil, legal, neste cenário que está crescendo a cada dia que passa? Como os empresários e contadores devem se comportar em relação ao REDD na questão dos créditos de carbono?”. R – Ricardo Figueiredo - Embrapa “Esta valoração é o que todo mundo está buscando e eu não tenho a resposta aqui. Nem o que se pode dizer sobre qual é que vai ser o valor de cada um dos resultados do balanço desse carbono. Mas, o balanço para nós é o quanto de carbono você está emitindo e perdendo naquele sistema terrestre que está sendo considerado”. R – Shigeo Shiki - MMA “Do que eu entendo de mercado, até que se tentou regulamentar o mercado de carbono. Na verdade, a primeira definição é o certificado de redução de emissões. O Banco Central definiu aquilo como sendo um título mobiliário e aí tem vários projetos de leis que tentam isentar de impostos tudo que é taxa que cai sobre operações financeiras. Enfim, desonerar o certificado de redução de emissões desses tributos federais, isso é o que está acontecendo hoje e isto é negociado na comissão de valores mobiliários. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é quem regula isso. Isto também é subordinado ao Banco Central e a bolsa de mercados futuros do Rio de Janeiro, que é onde funciona a bolsa de carbono. O Banco Central está atento a isso, eu estava até tentando ajudar o pessoal do Ministério da fazenda para colocar isso como um ativo tributável, mas os deputados foram contrários e acabou não acontecendo. Em relação à pergunta sobre MDL, você tem que fazer um estudo de adicionalidade do projeto. Se você conseguir provar que a nova tecnologia está reduzindo carbono, isso é perfeitamente enquadrável para ele obter certificado de redução de emissões.

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É só seguir aquela carteira do PDD, documento de projeto que pode ser encontrado na resolução nº 01 da Comissão Interministerial. É só seguir esta resolução e, se conseguir comprovar, se terá direito a esses créditos.

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9. MATRIZ COMPARATIVA DAS RESPOSTAS ÁS PERGUNTAS ORIENTADORAS

Perguntas Orientadoras

Participante

O propósito de informar os

elementos básicos do mecanismo

REDD foi alcançado? Quais

as lacunas que ainda perduram?

Quais os principais gargalos (nós críticos) do

mecanismo REDD?

Como você percebe a atuação da sua

instituição na rede de atores

relacionados às iniciativas de

REDD?

O programa REDD é uma oportunidade a ser

aproveitada pelo Pará no esforço de conter o

desmatamento e promover o seu

desenvolvimento sustentável? (Se

possível comente sua resposta).

Num primeiro momento, que tipo de projeto-piloto

de REDD deveria ser priorizado no Pará? (Se possível comente sua

resposta).

Instituição

Jaime Estumano Cardoso

Comprovar que a área candidata ao REDD está ameaçada. Garantir que a área do REDD não será invadida e etc. Convencer que o mecanismo é viável.

Ele atua incentivando o uso sustentável dos recursos naturais, respeito a legislação ambiental. Bem como regularizando a posse das propriedades (lado fundiário)

Sim. O desmatamento pode e deve ser diminuído. Com a apresentação de outras maneiras de geração de renda, oportunidade de trabalho, e uso sustentável do recurso existente.

1. REDD em área de recuperação de assentamento teria duas vantagens; recomposição florestal e evitaria o contínuo uso inadequado das áreas de assentamentos. 2. Convencer os fazendeiros falidos a recompor via REDD com incentivo governamental

Iterpa

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Claudiney Brandão

Sim Infelizmente a ausência da atuação governamental, pois a teoria ainda prevalece sobre a prática.

Primeiro quando atuar, como atuar, com quem iniciar a aplicação; pois sabemos que normalmente as iniciativas de governo tende a fazer e engolir suas ideias. Agora se o REDD, considerar que irá fazer uma adequação conforme a realidade de cada indivíduo, o êxito será grande...

Com bastante coerência, pois hoje nós no governo municipal temos feito mais do que os próprios responsáveis pela atuação contextual ambiental. Já existem trabalhos de reflorestamento com viveiro próprio embora não alcançaremos a demanda da região, mas o mínimo possível de nossa responsabilidade, fazemos jus.

Sim é possível. Claro que ante a prática neste caso sim, deve haver uma conscientização social, que todo o ser é motivado por valores próprios, então se o REDD levar em consideração os detalhes do que diz respeito a cultura obviamente todos terão êxito.

Visando a realidade de nosso município, seria expandido uma ideias de palestras formais e informais, em seguida parceria com governos municipais, nesta ampliação dos viveiros, e criação dos mesmos onde ainda não houver, mostra a realidade de ganhos aos detentores de terras. Também, convidaria os empresários dos ramos madeireiros para ser participador ativo no sistema reflorestar a Amazônia infelizmente como a tendência das culpas sempre é para aqueles que não se manifestam. Hoje, os madeireiros têm levado a culpa de forma impar. Enquanto na realidade, temos exemplos visíveis de que o INCRA é sim o maior responsável pela atuação dos colonos em suas áreas que a eles são peculiares.Como exemplo no município de Novo Repartimento estamos acompanhando as duas realidades; primeiro os madeireiros retiram dos lotes apenas as árvores maduras, como exemplo acompanhados

Prefeitura de Novo Repartimento

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desde 2005, quando o lote nº 6 no P.A Jacaré Açu foi explorado por um madeireiro, de lá foi retirado 29 árvores dentre várias espécies, no lote cinco 26 árvores, o lote 6 já cresceram novas plantas por onde percorreram as máquinas, onde no outro hoje é tudo pastagem, apoiado pelo INCRA onde o PRONAF, cuja compra de gado. Então podemos observar que a culpa está em direção errada. Pois são os madeireiros que fazer as estradas e aterros, então acha que deve ser revisto as situações em loco. Para aplicar punição justa ou injusta. Aplicar o projeto REDD NO Pará, para obter êxito atendendo em massa, é importante envolver toda classe da sociedade civil, quanto empresarial e governamental. Convidar-nos em todo debate do REDD. Convidar os empresários do ramo madeireiro.

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Luiz Fernando de Oliveira Souza

Só as informações básicas, pois ainda falta muita coisa para ser abordado sobre REDD.

A burocracia, nas questões de licenças ambientais.

Como faço parte de uma ONG, gostaria de saber como é que eu faço para ser parceiro do REDD no Estado.

Sim. Basta as entidades ambientais e o Governo, caminharem juntos e pensarem iguais e como o apoio do 3º setor, fará com que o REDD no nosso Estado dê certo.

Gostaria que fosse implantado na minha região do Estado, que a Região do Lago de Tucuruí-Pa, pois temos um mosaico excelente para implantar o REDD.

Agenda-21 do Município de Tucuruí - PA

Marcos Ruguitz Tito

Aspectos Fundiários/ Legais; Institucionais (Capacidade) Atual etapa de desenvolvimento; Desarticulação de atores

Vem trabalhando na difusão/publicação de informação necessária para implementação do mecanismo. Projetos de desenvolvimento.

Tendo em consideração a capacidade e interesse existente pro partes das instituições locais, também como do alto índice de desmatamento o programa pode ser considerado uma oportunidade fundamental.

A própria decisão do TNC de selecionar uma área com a presença de uma maior diversidade de tipos de atores (unidades produtivas de diferentes escalas) deve ser para outras áreas?

ICRAF/IA

Edna Ferreira

Ainda não. Pois há necessidade de maiores discussões a respeito.

Maiores discussões e informações acerca do assunto.Interação dos organismos.Problemas com madeireiros clandestinos atuando nas áreas de preservação.

Está aberta a essas iniciativas, com grandes expectativas.

Claro. (Há uma grande necessidade para de fato se implementar o REDD, porém deverá ser mais explorado esse tema) Há o problema das madeireiras clandestinas e invasores de terra

Em especial com terras indígenas. Porém não esquecendo de informar/treinar e esclarecer as comunidades indígenas

FUNAI/BEL

Armindo Felipe Zagalo Neto

Acredito que as informações básicas foram claras.

Primeiro: a malha fundiária do Estado do Pará; segundo: o descaso do Estado às constantes invasões de propriedades rurais por movimentos sociais; terceiro: a complexidade de se obter a REDD

Tudo que vier a melhoria da qualidade ambiental, certamente a minha instituição movimentará os agentes sociais locais, esclarecendo a importância da REDD.

Sim, mas antes de tudo, o Governo do Estado deveria ver a classe produtiva como agente parceiro, deveria deixar de lado as questões partidárias, senão, a REDD será sempre exibida em seminários como um mecanismo que dá certo em outro local.

Certamente o que está sendo executado em São Félix do Xingu, pela experiência e competência da TNC, sem desmerecer as outras ONG`s.

Prefeitura de Paragominas

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Celso da Penha Gibson

De um modo geral foram discutidos os elementos básicos ainda que de forma superficial. Acredito que no futuro possa ser aprofundado o assunto referente, por exemplo, quem terá direito à receber os créditos. O País, o Estado, o Município ou o Produtor rural? A área deve ser Certificada? Quem irá certificar?

Falta mais discussão para o estabelecimento das regras, ou seja, as regras não estão bem claras.

Por estar atuando diretamente com o produtor rural, desde que seu corpo técnico seja preparado, poderá dar uma bom contribuição á questão de Aplicação do Mecanismo de Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação (REDD) no Estado do Pará.

Sim. O REDD sem dúvida representa uma oportunidade tendo em vista que o produtor poderá receber algum benefício financeiro por um serviço prestado e de grande importância para a sociedade mundial.

Um projeto que levantasse coeficientes técnicos sobre quantificação de biomassa em diferentes ecossistemas. Por exemplo. Um sistema Agrosilvipastoril contribui com quantas toneladas de carbono em sua biomassa. Considerando que existe diferentes Agrossistemas e que contribuem também de forma diferente (quantitativamente). OBS: Considerando que entidades mundiais poderão contribuir para um fundo, e que portanto terá interesse em acompanhar e monitorar a sua aplicação. Pergunto, um pequeno produtor poderá receber recursos oriundo do fundo, diretamente, sem a interveniência do governo Brasileiro. Do ponto de vista jurídico é possível ter vinculação direta entre o produtor rural e uma entidade estrangeira, sem a participação do governo do Brasil? Considerando que o fundo pagador poderá fazer monitoramento! Uma outra questão diz respeito à questão da propriedade produtiva na visão do MDA/INCRA. Como fica uma propriedade que

Emater-Pará

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mantém toda a sua área sem benfeitoria/culturas. Será considerada uma propriedade improdutiva ou produtiva? Em termos de Imposto, qual será o tratamento em relação à questão?

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Danny Silvério Ferreira Sousa

Quanto maior a demora na definição dos parâmetros sobre a quantidade de carbono existente e as metodologias a serem utilizadas na obtenção dos valores referenciais, mais dúvidas quanto a aplicabilidade da resposta serão expostas e debatidas. Há um esforço científico significativo na definição dos níveis de carbono existente na Amazônia, que não pode ser relegado a segundo plano para uma definição política sem embasamento técnico e científico.

Não vejo gargalo, vejo um descontentamento na questão financeira dessa compensação que pode beneficiar quem mais desmatou e queimou, em detrimento de quem possui áreas com mais floresta em pé. Creio ser importante fortalecer as políticas públicas de fiscalização ambiental e controle. Somente compensar financeiramente pode ser perigosa e talvez não atenda as necessidades de quem vive nessas áreas de floresta. Se financeiramente não for interessante para as famílias beneficiadas na REDD, as mesmas poderão vir a utilizar a floresta para atender suas necessidades, gerando novas queimadas e desmatamentos. A ausência do Estado e a fragilidade das políticas públicas para essas famílias podem contribuir decisivamente para o fracasso de uma experiência REDD.

Esse debate não é prioritário no ITERPA. A regularização fundiária é a prioridade. Porém, a regularização fundiária é um ponto fundamental na viabilidade de experiências da REDD, pois a REDD deve ser feita em áreas regularizadas, tituladas e legais.

O REDD não significa “salvação” na questão da redução dos níveis de CO2 na atmosfera. Pelo contrário, representa mais uma alternativa bem intencionada para a solução de parte dos problemas ambientais. Se as políticas públicas não funcionam, se o governo não consegue cumprir a lei e fazer cumprir a legislação ambiental, talvez compensando financeiramente para que se preserve as florestas e até mesmo aumentar as áreas de floresta é uma possibilidade que seduz e desperta interesse. Fiscalização mais intensa, rigor na aplicação da legislação ambiental, punição para os infratores e criminosos que sistematicamente destroem as florestas, poderiam contribuir significativamente na redução do desmatamento e queimadas ilegais e criminosas. Exigir o cumprimento de preservação da reserva legal de 80%, dar possibilidades de

Os projetos estaduais de assentamento poderiam ser locais apropriados na possível implementação de experiências REDD. O ITERPA pode contribuir nesse sentido.

ITERPA

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financiamento e infra-estrutura para que se produza sem desmatar a floresta é o principal desafio.

João Guilherme da Silva Passos

Sim, dado a sua complexidade Aprofundamento, acessibilidade ao debate de quem trabalha com o....

Cliente ...dos recursos (agentes ou governo) Critérios de escolhas

Achei significante a participação da SEMA no assunto, porém internamente precisa ser dado grandes passos.

Precisamos rever as ferramentas já existentes que corroboram neste sentido, o ... é uma delas, e neste sentido em vez de criar um novo fundo por que não aprimorar o existente?

O campo cidadão, achei a proposta muito significativa. SEMA – PA

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Luiz Gonzaga da S. Costa

Sim, como se darão a participação de pequenos produtores no processo.

Definição de metodologia de estimativa de carbono. As questões de mercado de carbono, relacionados as pequenas propriedades. As questões legais da posse da terra. A definição da linha de base, para o estado.

A UFRA pode contribuir na capacitação dos atores nas diferentes questões relacionadas no REDD. de informações técnicas, através da implantação de projeto piloto.

Sim, porque estimula a conservação de áreas de florestas nativas.

Projeto Piloto em área de assentamento, o que permitiria a participação direta dos assentados no processo.

UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia

Raimundo Ribeiro

Em parte. Há muitas informações a serem socializadas e absorvidas, as informações ainda estão dispersas.

Falta vivência que ofereçam mecanismos testados; Falta planejamento inter e trans institucional principalmente na esfera governamental, que integre o planejamento das instituições; Dificuldade em tornar mais ágil o processo; Insuficiente disponibilidade de pessoal qualificado e de financeiro para apoiar o processo.

A empresa tem sido bastante demandada para participar dos eventos (Programas do governo), porém precisa ter uma maior participação na formatação de metodologias/pilotos de REDD;

Sim. No entanto é preciso um esforço maior no sentido de intensificar as discussões e socializar os encaminhamentos e resultados com vistas a formatação de um apolítica que oriente o Programa no Estado do Pará.

Poderíamos formatar projetos pilotos levando em conta entre outros fatores o tipo de público e forma de uso do solo (indígenas, reserva extrativista, quilombola) e uso do solo como pastagens, extrativismo florestal madeireiro e não-madeireiro e sistemas agro-florestais.

EMATER-PA

Túlio Geraldo Fernandes Garcia Leite

Sim foi alcançado.

Em minha opinião, não é o REDD em si, mas sim o emaranhado de condicionantes jurídicos aonde ninguém sabe quem faz o que, como e onde do judiciário brasileiro quanto a questão ambiental.

Como auxiliadora no que tange a discussão do objeto de discussão do REDD. Poderia intervir positivamente dado a riqueza de conhecimento acumulado nesses anos de atividade de pesquisa desenvolvida.

Sim. Sem dúvida. Possibilitar a compreensão das particularidades de cada local ajudam bastante a planejar o uso racional da floresta e o plano de ações de recomposição florestal.

Por exemplo na reserva Auto Rio Guamá, em função de que a pressão exercida por madeireiros da região, que acabam por fomentar um clima de instabilidade socioeconômica e ambiental que geralmente termina em morte no campo e nas florestas na região.

Secretaria Municipal de Educação de Paragominas/PA.

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Mônica Ferreira

Os elementos básicos foram transmitidos ao logo das palestras, entretanto, trata-se de um assunto complexo que demanda uma agenda de discussão onde seja possível focar ações práticas relacionadas ao mecanismo do REDD. Sugere-se uma agenda coordenada pelo governo do Estado.

Dificuldade de mensuração, não há consenso quanto à metodologia adotada. Existem alguns entraves como a falta de um ambiente favorável para induzir investimentos na atividade florestal a demora na emissão do licenciamento ambiental.

A instituição a qual represento dispõe de recursos creditícios para investir em projetos florestais que contemplem serviços ambientais.

Pode ser uma oportunidade, mas desafios precisam ser superados, principalmente, o problema cultural é preciso “acreditar” que a floresta em pé se constitui numa alternativa sustentável para a Amazônia.

Projeto voltado para as populações tradicionais, que sobrevivem dos recursos da floresta. É preciso investir em Manejo Florestal Comunitário e Projetos de MDL com as comunidades.

Banco da Amazônia

A relacionar a valores e definição de quantidades de emissão para árvores por exemplo.

Regularização fundiária. Políticas públicas. Iniciando

É uma ótima oportunidade. Setor privado como ....... de políticas ambientais públicas.

Sim, é a resposta mais rápida para justificar o combate aos recursos naturais.

Sim,. As dúvidas ficaram por conta de quem pode ser beneficiado efetivamente, com o REDD, como mensurar o serviço e qual seu valor.

Seleção e acompanhamento das famílias.

Minha instituição acompanha a movimentação de forma indireta, mas está atenta aos fatos.

Não há dúvida que sim. Precisamos avançar a partir das experiências e acúmulos que temos. Na continuação do processo teremos maior domínio das ações.

O Projeto REDD do Programa Campo Cidadão, com pequenos produtores e a definição de possibilidades quanto às comunidades indígenas.

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10. AVALIAÇÃO FINAL

10.1 Alcance dos objetivos

O seminário contou com a presença de aproximadamente 100 pessoas,

representantes de várias agências governamentais, da sociedade civil e de instituições de ensino e pesquisa, demonstrando a relevância do tema e o interesse em informações sobre os mecanismos de REDD. O evento marcou definitivamente a inclusão do tema na pauta de discussão do governo estadual e das diferentes agências governamentais presentes.

De acordo com a pesquisa de avaliação (Anexo A), a maioria dos participantes acha que o objetivo de informar os elementos básicos dos mecanismos de REDD foi alcançado. Assim, concluímos que o corpo técnico dos órgãos com atuação no Estado e ligados a esse tema foi devidamente informado e que o evento contribuiu para o aprimoramento da massa crítica local, o que facilitará o diálogo com os atores envolvidos na implementação de projetos-piloto dessa natureza no Pará.

10.2 Informações sobre REDD inferidas das respostas dos participantes

10.2.1 Lacunas

- Embora as principais informações tenham sido passadas, o assunto precisa ser aprofundado. Há dúvidas sobre quem terá direito ao recebimento dos créditos (o país, o estado, o município ou o produtor rural?). A área deve ser certificada? Quem irá certificar? - É um assunto complexo que demanda uma agenda de discussão visando focar ações práticas relacionadas à sua implementação. - Dúvidas na distribuição dos benefícios: o mecanismo não pode beneficiar apenas quem desmata, mas também quem preserva. - O assunto precisa ser mais esclarecido e discutido.

10.2.2 Gargalos

- Complexidade do mecanismo e incertezas jurídicas e legais. - A definição dos níveis de carbono existente na Amazônia, que vai auxiliar a definição da política para a região, requer um importante esforço de pesquisa.

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- Definição acordada por diferentes interessados sobre a metodologia de estimativa e monitoramento de carbono. - A definição da linha de base e metas de redução pelo estado. - Governança: garantir a propriedade da terra; controlar as invasões em propriedades legítimas; controlar as atividades ilegais de madeireiros; regulamentar a questão fundiária; fortalecer e capacitar os órgãos de fomento e controle; disponibilizar pessoal qualificado e recursos operacionais; agilizar o licenciamento ambiental. - Falta de articulação institucional: não há um planejamento inter e trans institucional.

10.3 Participação das instituições governamentais

- Em relação à participação conjunta num programa de REDD, a maioria das instituições respondeu positivamente, manifestando a possibilidade de um engajamento institucional e apontando formas de cooperação entre as agências. Todos os participantes veem o REDD como uma oportunidade de conciliar conservação e desenvolvimento sustentável no estado.

10.4 Projetos-piloto prioritários

- Em área de assentamento que teria duas vantagens: recomposição florestal e uso adequado das áreas de assentamentos. - Envolvendo os diversos setores produtivos com responsabilidade direta no desmatamento: produtores rurais, empresários do ramo madeireiro, agricultura familiar, comunidades tradicionais. - Milton Kanashiro: “Creio ser oportuno envolver também produtores pecuaristas que estão obedecendo à legislação florestal (20/80). Conheço um pelo menos, mas creio que poderia ser uma forma de movimentar este segmento tomando isto como modelo”. - Em área de populações tradicionais que sobrevivem dos recursos da floresta (é preciso investir em manejo florestal comunitário e projetos de MDL com as comunidades). - Em áreas de remanescentes florestais. - Envolvendo uma diversidade de atores, unidades produtivas de diferentes escalas e com alta taxa de desmatamento.

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- Em terras indígenas, com informação e treinamento para as comunidades indígenas (uma boa alternativa seria a Reserva do Alto Rio Guamá, em função da pressão exercida por madeireiros da região, impondo um clima de instabilidade socioeconômica e ambiental e de violência). - Em áreas com informações qualificadas sobre o volume da biomassa dos ecossistemas. - Em propriedades do Programa Campo Cidadão, que tem grande potencial para PSA, além de envolver pequenos agricultores.

10.5 Questões levantadas e encaminhamentos propostos:

Do debate final, durante a seção de “Avaliação final e encaminhamentos”,

resumimos as principais questões levantadas e os encaminhamentos no tratamento do mecanismo REDD no estado do Pará:

1) É importante contabilizar as emissões oriundas do desmatamento e

degradação das florestas, assim como reconhecer e recompensar os esforços dos países e atores locais para reduzi-las;

2) O mecanismo REDD é bastante complexo e, por isso, deve-se incentivar a

participação, o diálogo, o debate e o intercâmbio de ideias entre os diversos setores da sociedade, de modo a ampliar o entendimento desse mecanismo e transpor os obstáculos para a sua implementação;

3) Como a implementação de iniciativas de REDD exige uma série de pré-

requisitos a serem pactuados, como a definição de linha de base, as metas de redução, as metodologias de mensuração de emissões e monitoramento, itens que envolvem diversas disciplinas e áreas temáticas, constatou-se a necessidade de:

a) Constituir uma “Comissão Estadual” ou “Grupo de Trabalho Estadual”

específica para traçar as estratégias do Estado nessa questão; b) Definir o arranjo institucional que deverá dar apoio ao Estado nas

iniciativas relacionadas; e c) Discutir um programa estadual de ações com diferentes setores da

sociedade;

4) Nas discussões seguintes sobre o assunto, incluir uma abordagem temática para melhor qualificar e aprofundar o debate sobre o mecanismo REDD, sem deixar de considerar a integração das áreas ou disciplinas em projetos concretos no campo;

5) Por várias razões, não foi possível tratar, no seminário, com o devido

aprofundamento, a maioria dos temas ligados ao assunto, assim como envolver a maioria dos atores nas discussões. Assim, foi considerado

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conveniente programar um evento mais amplo e completo para o início do segundo semestre deste ano, aberto à discussão com diferentes setores da sociedade, inclusive outras organizações ambientalistas que também desenvolvem programas-piloto de REDD e o setor empresarial e da agricultura familiar;

6) Tendo em vista a situação precária de áreas indígenas do estado,

especialmente a Reserva Indígena do Alto Rio Guamá, dos índios Tembé, conforme o relato de Juscelino Fontes (Funai), foi sugerido um estudo de viabilidade de projetos- piloto de REDD em terras indígenas, como forma de se promover alternativas econômicas para as suas populações. Ressaltou-se a importância da participação indígena e de suas organizações nesses debates;

7) Já existem projetos-piloto de REDD sendo desenhados para o estado pela

Secretaria do Meio Ambiente do Pará (Sema-PA) e parceiros. Novas iniciativas poderão ser incluídas no programa estadual de REDD, desde que satisfaçam critérios e contemplem os objetivos da estratégia estadual;

8) Reforça-se a necessidade de se envolver todos os atores na discussão e

implementação dos projetos sobre REDD no estado.

9) À luz das discussões atuais e futuras, a “Comissão Estadual” ou o “Grupo de Trabalho” deverá definir critérios para priorizar os tipos de REDD a serem implementados no estado, levando em consideração os pré-requisitos que atendam às exigências do mecanismo e metas do Estado do Pará.

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11. FOLDER

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12. LISTA DE FREQÜÊNCIA – LOCAL AUDITÓRIO DO IDESP. DATA: 23DE MARÇO DE 2009.

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