relatório do projeto mãe dágua

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RELATÓRIO DA IMPLANTAÇÃO E DOS RESULTADOS DO PROJETO “MÃE D’ÁGUA” DE ITABIRA-MG

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Page 1: Relatório do Projeto Mãe Dágua

RELATÓRIO DA IMPLANTAÇÃO E DOS RESULTADOS DO PROJETO

“MÃE D’ÁGUA” DE ITABIRA-MG

Page 2: Relatório do Projeto Mãe Dágua

SERVIÇO AUTÔNOMO DE ÁGUA E ESGOTO DE ITABIRA-MG

PROJETO MÃE D’ÁGUA

Itabira-MG, 2010

Page 3: Relatório do Projeto Mãe Dágua

SERVIÇO AUTÔNOMO DE ÁGUA E ESGOTO DE ITABIRA-MG

PROJETO MÃE D’ÁGUA

Elio de Assis Vieira

Diretor Presidente

Equipe Coordenadora

Nome Função

Arnaldo Edgard Lage Silva Geógrafo

Clóvis Ferreira Pires Técnico em Meio Ambiente

Dartison da Piedade Fonseca Engenheiro Civil

Fábio Valente Alves Técnico em Meio Ambiente

Gilmar Bretas Martins Cruz Técnico Agropecuário

Jorge Martins Borges Engenheiro Sanitarista e Ambiental

José Gonçalves Topógrafo e Técnico em Meio Ambiente

Flaviano Luiz Milagres Araújo Geógrafo

Marcos Antônio Gomes Engenheiro Florestal, Mestre e Doutor em Solos e Nutrição de Plantas – Consultor do Projeto

Page 4: Relatório do Projeto Mãe Dágua

RESUMO

Em Itabira-MG, o uso predatório do solo, que caracteriza o processo de ocupação de

quase todo território nacional, se reflete na pecuária extensiva pouco planejada baseada na

substituição da cobertura vegetal original por pastagens em áreas de relevo acidentado e solos

pouco resistentes a erosão. Na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Candidópolis, principal manancial

da cidade, isto vem provocando a erosão do solo em certos pontos e sua compactação em

extensas áreas, o que interfere nas fases sub-superficial e subterrânea do ciclo hidrológico local,

reduzindo os percentuais de infiltração das águas pluviais e aumentando o escoamento

superficial. Como resultados indesejáveis deste processo têm-se a redução da biodiversidade

local e a diminuição das vazões do curso d’água nos meses secos do ano (geralmente de maio a

setembro). Para solucionar/amenizar esta situação ambiental e garantir a segurança do

abastecimento público de água da cidade, em 2006 foi construído o Projeto “Mãe D’água”. As

ações executadas no referido projeto são o cercamento de áreas degradadas e de interesse

especial (nascentes, córregos e encostas com processos erosivos) para promover sua recuperação,

reflorestamento com espécies nativas, construção de mini-terraços em curvas de nível nas

encostas, escavação de caixas de captação das águas pluviais (barraginhas) nas áreas de

pastagens e estradas rurais, bem como a instalação de paliçadas nas margens destas estradas.

Tais ações são executadas com o objetivo de reduzir a erosão e aumentar os percentuais de

infiltração da água no solo. Além destas ações, com o objetivo de promover melhorias

qualitativas na água do Manancial Candidópolis, o projeto Mãe D’água promove o tratamento

alternativo dos esgotos domésticos rurais (geralmente por meio da instalação de fossas sépticas).

As técnicas utilizadas para tal fim são de fácil aplicação e custo relativamente baixo,

principalmente se comparados aos benefícios vislumbrados. Dentre os resultados já passíveis de

medição podemos citar o aumento do tempo de contração das águas pluviais (que pode indicar

melhoras na infiltração) medidos nas estações de monitoramento da vazão instaladas para este

fim, além do aumento da biodiversidade local e diminuição das áreas degradadas registradas em

relatório fotográfico anexo. Algo que merece ser destacado no Mãe D’água, como é conhecido,

são as parcerias com os produtores rurais e demais atores sociais do município, que têm sido

indispensáveis para o sucesso presente do projeto, bem como para garantir a sustentabilidade

futura das ações e a consequente permanência dos benefícios atualmente alcançados.

Page 5: Relatório do Projeto Mãe Dágua

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1 2 DIAGNÓSTICO ......................................................................................................................... 2 

2.1 A DEGRADAÇÃO DO MANANCIAL CANDIDÓPOLIS ................................................ 2 2.2 O BALANÇO HÍDRICO DE ITABIRA .............................................................................. 2 2.3 O PROJETO MÃE D’ÁGUA ............................................................................................... 3 

3 IMPLEMENTAÇÃO ................................................................................................................. 4 3.1 PARCEIROS E COLABORADOSRES ............................................................................... 4 3.2 AÇÕES E INTERVENÇÕES REALIZADAS NO PROJETO MÃE D’ÁGUA ................. 5 3.3 A RELAÇÃO COM O PRODUTOR RURAL ..................................................................... 6 

4 RESULTADOS ENCONTRADOS ........................................................................................... 7 4.1 AUMENTO DO TEMPO DE CONCENTRAÇÃO ............................................................. 7 4.2 AUMENTO DA BIODIVERSIDADE ................................................................................. 8 4.4 CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................. 9 

5 REFERÊNCIASBIBLIOGRAFICAS .................................................................................... 10 ANEXO ........................................................................................................................................ 11 

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Hidrógrafa 2007 ............................................................................................................. 8 Gráfico 2: Hidrógrafa 2008 ............................................................................................................. 8 

LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Aspectos Gerais de Itabira .............................................................................................. 12 Mapa 2: Manancial Candidópolis e Área do Mãe D’água ............................................................ 13 

LISTA DE FOTOS

Foto 1: Atividades de recuperação da cascalheira (antes) ............................................................... 9 Foto 2: Área da cascalheira (dois anos depois) ............................................................................... 9 Foto 3: Vertedor da ETA “Pureza” (2004) .................................................................................... 14 Foto 4: Vertedor da ETA “Pureza” (seca de 2008) ....................................................................... 14 Foto 5: Reservatório da ETA “Pureza” em situação normal ......................................................... 14 Foto 6: Reservatório da ETA “Pureza” assoreado ........................................................................ 14 Foto 7: Parte da equipe de elaboração do Projeto Mãe D’água .................................................... 14 Foto 8: Parte da equipe do Projeto Mãe D’água ........................................................................... 14 Foto 9: Construção de Mini-terraços por trator ............................................................................. 15 Foto 10: Construção de Mini-terraços por trator ........................................................................... 15 Foto 11: Construção de Mini-terraços com o uso de tração animal .............................................. 15 Foto 12: Limpeza manual dos mini-terraços ................................................................................. 15 Foto 13: Mini-terraços após chuva ................................................................................................ 15 Foto 14: Mini-terraços após chuva ................................................................................................ 15 Foto 15: Escavação de caixa de contenção de enxurrada .............................................................. 16 

Page 6: Relatório do Projeto Mãe Dágua

Foto 16: Caixa de contenção de enxurrada na margem de estrada rural ....................................... 16 Foto 17: Caixa de contenção de enxurrada durante chuva ............................................................ 16 Foto 18: Caixa de contenção de enxurrada após chuva ................................................................ 16 Foto 19: Construção de paliçadas com bambu .............................................................................. 16 Foto 20: Paliçadas construídas com eucalipto ............................................................................... 16 Foto 21: Paliçadas em erosão na margem da estrada .................................................................... 17 Foto 22: Paliçada com os sedimentos contidos após chuvas ........................................................ 17 Foto 23: Fossa e filtro para o tratamento do esgoto ...................................................................... 17 Foto 24: Alguns componentes da fossa séptica ............................................................................. 17 Foto 25: Instalação de fossa e filtro .............................................................................................. 17 Foto 26: Fossa séptica instalada .................................................................................................... 17 Foto 27: Construção de cerca em torno de nascente ..................................................................... 18 Foto 28: Nascente cercada ............................................................................................................. 18 Foto 29: Viveiro de mudas nativas do Mãe D’água ...................................................................... 18 Foto 30: Muda recém plantada ...................................................................................................... 18 Foto 31: Mudas com dois anos de idade ....................................................................................... 18 Foto 32: Muda com dois anos ....................................................................................................... 18 Foto 33: Instalação do Linígrafo na estação de monitoramento de vazão do Córrego do Meio ... 19 Foto 34: Coleta de dados na estação de monitoramento de vazão do Córrego Contendas ........... 19 Foto 35: Dia de campo com integrantes da comunidade local ...................................................... 19 Foto 36: Palestra em escola do ensino fundamental ..................................................................... 19 Foto 37: Dia de campo com funcionários da Secretaria Municipal de Obras para demonstrar as técnicas de conservação de estradas aplicáveis ao seu trabalho .................................................... 19 Foto 38: Dia de campo com alunos da APAE-Itabira ................................................................... 19 

Page 7: Relatório do Projeto Mãe Dágua

1

1 INTRODUÇÃO

Itabira é um município de pouco mais de 110.000 habitantes, segundo estimativa do

IBGE para 2009, situado a aproximadamente 110 km a leste de Belo horizonte. A principal

atividade econômica do município em termos de produção de divisas é a mineração de ferro,

enquanto a atividade que ocupa a maior parte do espaço municipal é a pecuária extensiva, cuja

produção de riquezas não pode ser comparada à primeira, mas a produção de problemas é

semelhante.

As minas formam um arco em torno da cidade e deixam apenas uma direção para a

expansão da área urbana: leste, onde está localizada a Bacia Hidrográfica do Ribeirão

Candidópolis, principal manancial da cidade (vide mapa 1), que sofre com a ocupação urbana e a

utilização rural predatória.

Tal situação coloca em risco a segurança do abastecimento público de água na cidade

e neste aspecto, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabira (SAAE-IRA) precisa ir além

da preocupação com as fases da captação à disposição dos efluentes e contribuir para a

conservação dos mananciais, para a garantia deste recurso natural fundamental à prestação dos

seus serviços. A própria lei 11445/2007, deixa bem claro nos incisos XI e XII do artigo segundo

que:

Art. 2o Os serviços públicos de saneamento básico serão prestados com base nos seguintes princípios fundamentais:

XI - segurança, qualidade e regularidade;

XII - integração das infra-estruturas e serviços com a gestão eficiente dos recursos hídricos.

O inciso XII coloca diretamente a necessidade da preocupação com os recursos

hídricos de forma geral, preocupação que é imprescindível para se respeitar os princípios do

inciso XI, principalmente no que se refere às áreas de manancial.

No que se refere à ocupação urbana das áreas de manancial, especialmente o

manancial “Candidópolis”, medidas de caráter normativo e regulatório vêm sendo tomadas por

parte do poder público local no intuito de evitar a degradação da qualidade e redução das vazões.

Já no que se refere aos usos rurais do solo, o SAAE-IRA e Prefeitura Municipal vem

implantando o projeto Mãe D’água, com o intuito de melhorar as condições ambientais e a

capacidade de recarga do manancial.

Page 8: Relatório do Projeto Mãe Dágua

2

2 DIAGNÓSTICO

Em Itabira-MG, cerca de 55% da água que abastece a cidade é proveniente da

Estação de Tratamento de Água (ETA) “Pureza”, que trata a água captada no Ribeirão

Candidópolis (afluente do Rio de Peixe, que deságua no Rio Piracicaba-MG, que por sua vez

deságua no Rio Doce).

2.1 A DEGRADAÇÃO DO MANANCIAL CANDIDÓPOLIS

Na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Candidópolis o processo de ocupação humana se

intensificou nos últimos vinte anos. Esta ocupação se deu de forma predatória, baseada

principalmente na pecuária extensiva, com uma superpopulação de reses em pastagens plantadas

sobre solos pouco resistentes à erosão e em relevo acidentado.

Moradores mais antigos da região alegam que há cerca de trinta anos haviam poucas

áreas degradadas no manancial, as matas ciliares estavam quase intactas e as demais formas de

vegetação natural estavam em boas condições de preservação.

Segundo levantamento da equipe do projeto Mãe D’água mais de 60% das matas

ciliares desta sub-bacia encontravam-se degradadas, ou simplesmente não existiam. A mesma

situação pode ser percebida em relação às demais áreas de matas, quase sempre terciárias que

ocupam menos de 30% do manancial e em relação às pastagens, quase sempre degradadas, que

ocupam cerca de 60% da área.

O artigo 2º do decreto 97632/89 considera degradação como “os processos resultantes

dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas

propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais”.

Dentre os resultados negativos destes processos de degradação, podemos citar a

redução da biodiversidade local, o assoreamento dos cursos d’água (vide foto 6, em anexo) e a

redução da recarga do aqüífero, que resulta no exagerado acréscimo das vazões nos períodos

chuvosos e sua significativa redução nos meses secos do ano.

2.2 O BALANÇO HÍDRICO DE ITABIRA

Devido ao crescimento urbano acelerado dos últimos vinte anos e da não

incrementarão das fontes de captação, Itabira vive uma situação muito delicada em relação ao

abastecimento público de água.

Page 9: Relatório do Projeto Mãe Dágua

3

Em 2007 foi apresentado um estudo técnico intitulado “Atualização do Plano Diretor

de Abastecimento de Água da Cidade de Itabira”, realizado pelo consórcio das empresas Brandt

Meio Ambiente, O&M Oliveira e Marques e VOGBR Recursos Hídricos & Geotecnia,

contratados pela Companhia Vale do Rio Doce – CVRD em atendimento a condicionante 12 ‘e’

de uma LOC (Licença de Operação Corretiva) de 2000.

Este estudo estimou a demanda de pico diário da cidade em 465 l/s para o presente

ano, mas atualmente o SAAE-IRA tem outorgas para captar apenas 248 l/s e os mananciais já

estão nos seus limites, não sendo possível nenhum incremento nas captações existentes.

Tal situação compromete o desenvolvimento local, pois há a restrição a qualquer

acréscimo nas demandas e, portanto, restrição à implementação de novos empreendimentos,

como indústrias.

2.3 O PROJETO MÃE D’ÁGUA

Neste contexto, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabira (SAAE-IRA) e a

Prefeitura Municipal de Itabira, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura e

Abastecimento (SMAA) e Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) criaram o projeto

“Mãe D’água” em 2007 (vide fotos 7 e 8, parte da equipe do projeto).

O projeto “Mãe D’água, batizado com o nome de um dos córregos em cuja micro-

bacia hidrográfica foi inicialmente implantado (afluente do Córrego Contendas), visa melhorar

os percentuais de infiltração das águas pluviais no solo e enriquecer a biodiversidade local

através da recuperação de áreas degradadas. Em relação à recuperação de áreas degradadas, o

decreto 97632/89 estabelece que:

Art. 3° A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma

forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo,

visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente.

No intuito de recuperar as áreas degradadas, são utilizadas técnicas de baixo custo

como o cercamento e o reflorestamento com espécies nativas. Também são feitos mini-terraços

em curvas de nível nas encostas com o intuito de reduzir a erosão do solo e aumentar os

percentuais de infiltração da água no solo – as caixas de captação das águas pluviais

(barraginhas) nas áreas de pastagens e estradas rurais, bem como a instalação de paliçadas nas

margens das estradas visam a este mesmo objetivo.

Page 10: Relatório do Projeto Mãe Dágua

4

O Mãe D’água”, como é conhecido, surgiu para tentar melhorar a situação ambiental

do Manancial Candidópolis e garantir o abastecimento humano, em quantidade e qualidade

adequadas. O projeto também contribui para o cumprimento da função social da propriedade

exigida no artigo 186 da constituição brasileira de 1988, pois visa “à compatibilização do

desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do

equilíbrio ecológico”, o que é um objetivo da política Nacional do Meio Ambiente expresso no

inciso I do artigo 4º da lei 6938/81.

De forma geral, o projeto Mãe D’água representa uma forma de “integração das infra-

estruturas e serviços com a gestão eficiente dos recursos hídricos”; princípio fundamental para a

prestação dos serviços públicos de saneamento básico colocado no inciso XII do artigo 2º da Lei

11445/2007.

3 IMPLEMENTAÇÃO

3.1 PARCEIROS E COLABORADOSRES

Desde suas fases de elaboração, o projeto “Mãe D’água” contou com a participação

de inúmeros atores da gestão pública local, bem como com a assessoria técnica especializada do

Dr. Marcos Antônio Gomes (mestre e doutor em solos e recursos hídricos pela Universidade

Federal de Viçosa-MG (UFV).

O Mãe D’água vem sendo desenvolvido pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto –

SAAE Itabira e pela Prefeitura Municipal de Itabira – PMI, que participa por meio da Secretaria

Municipal de Agricultura e Abastecimento – SMAA e da Secretaria Municipal de Meio

Ambiente – SMMA.

Dentre alguns dos diversos colaboradores, que participam das ações de forma menos

intensa, mas não menos importante, destacam-se:

• Secretaria Municipal de Educação – SME

• Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano – SMDU

• Instituto Estadual de Florestas – IEF

• Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER

• Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG

• Empresa de Desenvolvimento Urbano de Itabira – ITAURB

• Associação de Pais Amigos dos Excepcionais – APAE

• ONG Sociedade Ambiente Vivo Itabira – SAVI

Page 11: Relatório do Projeto Mãe Dágua

5

• Rotary Club de Itabira

• Movimento Negro de Itabira

3.2 AÇÕES E INTERVENÇÕES REALIZADAS NO PROJETO MÃE D’ÁGUA

Foram consideradas as especificidades ambientais e os problemas do manancial

“Candidópolis” no planejamento de ações que pudessem, ao mesmo tempo, melhorar as

condições ambientais e hídricas do manancial sem diminuir a produtividade econômica das

propriedades nele inseridas. Neste sentido e a partir de experiências científicas desenvolvidas por

pesquisadores da UFV em áreas com condições de solo e relevo semelhantes, foi definido que as

intervenções a serem feitas na área do manancial seriam:

• Construção de mini-terraços em curvas de nível em todas as encostas onde fosse

tecnicamente recomendado; (vide fotos de 9 a 14 em anexo)

• Colocação de caixas de captação de enxurradas (barraginhas) ao longo das

estradas e em encostas onde o terraceamento não fosse tecnicamente

recomendado; (vide fotos de 15 a 18 em anexo)

• Colocação de paliçadas em locais de concentração de enxurrada nas margens das

estradas, pois o problema da erosão provocada pelas estradas rurais foi

identificado como um dos mais importantes na área em questão; (vide fotos 19 a

22 em anexo)

• Instalação de fossas sépticas para o tratamento individualizado ou comum (em

casos de residências próximas e com condições topográficas adequadas) dos

esgotos domésticos das residências rurais do manancial; (vide fotos de 23 a 26 em

anexo)

• Cercamento de Áreas de Preservação Permanente (APPs), especialmente em topo

de morro, encostas degradadas, matas ciliares e nascentes, onde tal ação fosse

adequada; (vide fotos 27 e 28 em anexo) e

• Reflorestamento com espécies nativas em áreas de encostas degradadas, topos de

morros e matas ciliares. (vide fotos 29 a 32 em anexo)

Destas ações, até o momento foram construídos mais de 100 quilômetros de mini-

terraços em curvas de nível, 120 caixas de captação de enxurradas (barraginhas), 300 paliçadas,

08 fossas sépticas, 25 quilômetros de cercas e plantio de 65.000 mudas de espécies nativas da

região.

Page 12: Relatório do Projeto Mãe Dágua

6

Os trabalhos de revitalização estão sendo finalizados em duas sub-bacias do Ribeirão

Candidópolis: Sub-Bacia do Córrego Contendas, com área de 432 ha; e Sub-Bacia do Córrego do

Meio com área de 160 ha, que juntas correspondem a aproximadamente 19% da área do

manancial. (vide mapa 2 em anexo)

Os trabalhos já estão sendo executados em outras áreas do manancial e existe um

projeto de expansão para captar recursos para sua expansão em toda a Bacia do Ribeirão

Candidópolis e para outros mananciais superficiais, inclusive em bacias hidrográficas que

possivelmente serão os próximos mananciais da cidade.

3.3 A RELAÇÃO COM O PRODUTOR RURAL

Uma preocupação inicial dos gestores do projeto dizia respeito à possível resistência

dos proprietários rurais da região à execução destas atividades nas suas terras. Para contornar

este problema decidiu-se que as intervenções seriam implantadas primeiramente em algumas

terras públicas existentes no interior do manancial. Então foi escolhida a micro-bacia do córrego

Contendas, afluente do Candidópolis, onde havia terras federais, municipais e terras do

Movimento Negro de Itabira (parceiro do projeto).

Com o desenvolvimento das atividades nesta área (2007 e 2008) os técnicos Gilmar

Bretas Martins Cruz (SMAA) e Clóvis Ferreira Pires (SAAE), que já conheciam a região,

passaram a ter maior contato com os proprietários, o que possibilitou o diálogo entre eles. Neste

processo, muitos dos produtores foram percebendo a importância daquelas intervenções. Ainda

assim, muitos outros tinham temores como, por exemplo, que o cercamento e o reflorestamento

pudessem tirar deles a posse das terras, ou ainda que os mini-terraços e as caixas de captação

reduzissem a produtividade das suas terras, por isto não aderiram no primeiro momento.

Com o passar do tempo estes proprietários perceberam que as intervenções não

reduziam a produtividades das terras, ao contrário, devido ao aumento da umidade no solo por

um período maior do ano e devido à manutenção dos nutrientes, que antes eram carreados pela

erosão, as pastagens melhoravam e se mantinham em boas condições todo o ano. Além disso,

perceberam que os cercamentos e o reflorestamento, geralmente feitos em áreas muito

degradadas, portanto pouco produtivas, não comprometiam as atividades econômicas no restante

das terras e não tiravam a posse da terra de ninguém – afinal muitos proprietários mais

esclarecidos haviam aderido ao projeto e eles não fariam isto se houvesse tal risco.

O resultado deste processo é que, em função da grande procura, existe uma lista de

espera de produtores que querem aderir ao projeto.

Page 13: Relatório do Projeto Mãe Dágua

7

4 RESULTADOS ENCONTRADOS

A fim de avaliar a eficiência das ações implantadas nas Sub-Bacias já trabalhadas,

foram instalados dois sistemas de monitoramento hidrológico, que contam cada um com um

linígrafo, aparelho usado para medir o volume de água, e um pluviógrafo, equipamento usado

para medir o volume de chuvas nas sub-bacias (vide fotos 33 e 34 em anexo).

Em relação ao aspecto qualitativo, a equipe do laboratório do SAAE-IRA vem

realizando análises quinzenais da água coletada em três pontos do Córrego do Meio: o primeiro

na principal nascente, o segundo num ponto médio da bacia e o terceiro no exultório. Mas ainda

não foi possível a emissão de um laudo técnico oficial sobre a melhora, ou não, na qualidade da

água porque não existem dados anteriores para se comparar aos resultados atuais.

4.1 AUMENTO DO TEMPO DE CONCENTRAÇÃO

Infelizmente, no ano de 2008, a região registrou um dos menores índices

pluviométricos em décadas (831,4 mm enquanto a média anual é em torno de 1400 mm), por

isso não foi possível verificar um aumento na vazão destes córregos no período seco em relação

ao ano anterior (2007), quando as ações ainda não haviam sido implantadas.

Mas, segundo (GUERRA 2008) um resultado positivo pode ser registrado com a

implantação do “Projeto Mãe D’água”: em estudo realizado pelo autor utilizando dados da

estação de monitoramento da vazão do Córrego Contendas, os dados de pluviosidade e vazão

foram registrados periodicamente, em intervalos de dez em dez minutos e comparados entre os

anos de 2007 e 2008, com isso, foi verificado um significativo aumento no tempo de

concentração das águas pluviais na bacia hidrográfica, ou seja, passou-se mais tempo entre o

momento de registro das chuvas mais intensas e o momento de maior vazão.

Na hidrógrafa referente a abril de 2007, quando as ações ainda não estavam

consolidadas, percebe-se que entre o momento em que cessou a chuva mais intensa (11:00 hs) e

o momento em que a vazão começou a aumentar (11:30 hs) decorreram apenas 30 minutos.

(Vide gráficos 1 e 2 a seguir)

Page 14: Relatório do Projeto Mãe Dágua

8

Gráfico 1: Hidrógrafa 2007

Gráfico 2: Hidrógrafa 2008

HIDRÓGRAFA DE 22/04/2007

012345678

10:4

0

10:5

0

11:0

0

11:1

0

11:2

0

11:3

0

11:4

0

11:5

0

12:0

0

12:1

0

12:2

0

12:3

0

12:4

0

12:5

0

13:0

0

13:1

0

Horas

Pluv

iom

etria

(mm

)

0

50

100

150

200

250

300

350

Vaz

ão (l

/s)

P Q

HIDRÓGRAFA DE 4/05/2008

012345678

15:0

0

15:1

0

15:2

0

15:3

0

15:4

0

15:5

0

16:0

0

16:1

0

16:2

0

16:3

0

16:4

0

16:5

0

17:0

0

17:1

0

17:2

0

17:3

0

17:4

0

17:5

0

Horas

Pluv

iom

etria

(mm

)

0

50

100

150

200

250

Vaz

âo (l

/s)

P Q

Fonte (Guerra 2008) Fonte (Guerra 2008)

Já na hidrógrafa referente a maio de 2008, após a implantação do projeto, observa-se

que entre o momento em que a chuva mais intensa se encerra (15:40 hs) e o momento em que a

vazão começa a aumentar (17:00hs), decorreu uma hora e vinte minutos ou seja, quase o triplo

do tempo registrado na medição no ano anterior.

Isto significa que as medidas implantadas fizeram com que as águas pluviais, em vez

de escoarem rapidamente para o curso de água, encontrassem barreiras que as mantiveram por

mais tempo na área; o que possibilita o aumento da sua infiltração no solo e a melhora da recarga

do aqüífero.

Os dados de 2009 ainda não foram compilados – este trabalho esta sendo feito e

espera-se que os resultados sejam ainda mais positivos.

4.2 AUMENTO DA BIODIVERSIDADE

Além dos resultados hídricos, o projeto “Mãe D’água promove a notória melhoria das

condições ambientais, com o aumento da biodiversidade proporcionado principalmente pelo

reflorestamento das áreas degradadas.

Antes da implantação do projeto “Mãe D’água”, na Sub-bacia do Córrego do Meio

havia uma área que a prefeitura de Itabira utilizava para extração de cascalho, e que se

encontrava em situação de extrema de degradação. Esta foi uma das primeiras áreas trabalhadas

dentro do projeto. (vide fotos 1 e 2 a seguir)

Page 15: Relatório do Projeto Mãe Dágua

9

Foto 1: Atividades de recuperação da cascalheira (antes)

Foto 2: Área da cascalheira (dois anos depois)

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água

Após as ações executadas no Projeto Mãe D’água, a área se encontra em fase de

recuperação avançada. As árvores estão com porte de dois a três metros de altura, a vegetação

rasteira cobre o solo e já é possível perceber a volta da fauna.

4.4 CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL

Os resultados já encontrados mostram que tecnologias simples podem contribuir

muito para a revitalização de bacias hidrográficas, mas a parceria e o protagonismo da população

local no processo são imprescindíveis.

Os gestores públicos devem incentivar ações que promovam a sustentabilidade aliada

aos benefícios econômicos e principalmente sociais, mas não podem ser os únicos atores a

participarem destes processos – a população interessada deve participar de maneira intensa,

cobrando do poder público e se organizando para participar das decisões e das ações.

Isto, mais que exigência legal, como já demonstrado, é requisito para que a gestão

pública seja eficiente e que seus resultados sejam duradores. Mas para haver participação social

são necessárias pelo menos duas coisas que somente se consegue com a educação crítica da

sociedade: o conhecimento das necessidades coletivas da população e a conscientização da

importância de cada sujeito contribuir de forma individual e principalmente coletiva para as

decisões a ações necessárias à satisfação de tais necessidades. Neste sentido, o projeto Mãe

D’água realiza diversas atividades de discussão e esclarecimento com a população local: são

palestras, seminários e visitas de campo na área do projeto com produtores rurais, grupos sociais

organizados do município e alunos do ensino fundamental, médio e superior. (vide fotos 35 a 38

em anexo)

Page 16: Relatório do Projeto Mãe Dágua

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Um resultado interessante do Mãe D’água é a transformação do manancial em uma

Bacia Escola, que pode se tornar referência para o aprimoramento de técnicos atuantes na área

ambiental e para o desenvolvimento de trabalhos científicos sobre o tema. Situação cada vez

mais vislumbrada em função das parcerias que estão sendo construídas com instituições de

ensino como a Universidade Federal de Itajubá (Unifei), com um campus estendido sendo

instalado em Itabira-MG.

5 REFERÊNCIASBIBLIOGRAFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 05 de outubro de 1988.

Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm

–––––––. Decreto 97.632, de 10 de abril de 1989. Dispõe sobre a regulamentação do Artigo 2°,

inciso VIII, da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, e dá outras providências. Disponível

emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D97632.htm

–––––––. Lei 11445, de 05 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento

básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990,

8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11

de maio de 1978; e dá outras providências. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm

–––––––. Lei 6938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm

–––––––. Lei 9433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos,

cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do

art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que

modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9433.htm

Guerra Júnior, D. Recuperação de Vazão Hídrica Por Meio de Medidas Não Estruturais: O

Caso do Córrego Contendas, em Itabira – MG. 1ª Ed. Monografia apresentada, para fins de

conclusão de curso, ao Instituto Superior de Educação de Itabira, curso de Geografia. Itabira:

Funcesi, 2008, 43p.

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ANEXO

MAPAS E FOTOS

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Mapa 1: Aspectos Gerais de Itabira

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Mapa 2: Manancial Candidópolis e Área do Mãe D’água

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Foto 3: Vertedor da ETA “Pureza” (2004) Foto 4: Vertedor da ETA “Pureza” (seca de 2008)

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 5: Reservatório da ETA “Pureza” em situação normal

Foto 6: Reservatório da ETA “Pureza” assoreado

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água

Foto 7: Parte da equipe de elaboração do Projeto Mãe D’água

Foto 8: Parte da equipe do Projeto Mãe D’água

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água

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Foto 9: Construção de Mini-terraços por trator Foto 10: Construção de Mini-terraços por trator

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 11: Construção de Mini-terraços com o uso de tração animal

Foto 12: Limpeza manual dos mini-terraços

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 13: Mini-terraços após chuva Foto 14: Mini-terraços após chuva

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água

Page 22: Relatório do Projeto Mãe Dágua

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Foto 15: Escavação de caixa de contenção de enxurrada

Foto 16: Caixa de contenção de enxurrada na margem de estrada rural

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 17: Caixa de contenção de enxurrada durante chuva

Foto 18: Caixa de contenção de enxurrada após chuva

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 19: Construção de paliçadas com bambu Foto 20: Paliçadas construídas com eucalipto

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água

Page 23: Relatório do Projeto Mãe Dágua

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Foto 21: Paliçadas em erosão na margem da estrada Foto 22: Paliçada com os sedimentos contidos após

chuvas

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 23: Fossa e filtro para o tratamento do esgoto Foto 24: Alguns componentes da fossa séptica

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 25: Instalação de fossa e filtro Foto 26: Fossa séptica instalada

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água

Page 24: Relatório do Projeto Mãe Dágua

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Foto 27: Construção de cerca em torno de nascente Foto 28: Nascente cercada

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 29: Viveiro de mudas nativas do Mãe D’água Foto 30: Muda recém plantada

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 31: Mudas com dois anos de idade Foto 32: Muda com dois anos

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água

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Foto 33: Instalação do Linígrafo na estação de monitoramento de vazão do Córrego do Meio

Foto 34: Coleta de dados na estação de monitoramento de vazão do Córrego Contendas

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 35: Dia de campo com integrantes da comunidade local

Foto 36: Palestra em escola do ensino fundamental

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Foto 37: Dia de campo com funcionários da Secretaria Municipal de Obras para demonstrar as técnicas de conservação de estradas aplicáveis ao seu trabalho

Foto 38: Dia de campo com alunos da APAE-Itabira

Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água Fonte: Monitoramento do Projeto Mãe D’água