relatório de viagem técnica (2)

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Relatório de Viagem Técnica – Complexo Eólico Cerro Chato e Parque Estadual do Espinilho 1) Introdução A viagem técnica ao Complexo Eólico Cerro Chato, no município de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, teve como principal objetivo a obtenção de conhecimentos técnicos e na prática sobre o funcionamento de uma usina eólica, quais os impactos gerados, tanto ambientais como sociais e econômicos, e quais os processos legais que devem ser efetuados antes e depois da implantação de um parque eólico. Já a visita ao Parque Estadual do Espinilho, em Barra do Quaraí, Rio Grande do Sul, visou o aprimoramento dos conhecimentos obtidos teoricamente em sala de aula sobre Unidades de Conservação, seu sistema de gestão, quais os requisitos básicos para a criação de uma UC, e quais as dificuldades encontradas. 2) Percepções sobre as atividades desenvolvidas Parques Eólicos O parque eólico Cerro Chato foi a primeira obra a entrar em operação entre as que foram contempladas pelo primeiro leilão de fontes eólicas realizado pela ANEEL como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2). Foi gerado de uma parceria entre a Eletrosul e a Wobben, empresa alemã instalada no Brasil que produz aerogeradores. O parque é

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Page 1: Relatório de Viagem Técnica (2)

Relatório de Viagem Técnica – Complexo Eólico Cerro Chato e Parque Estadual do

Espinilho

1) Introdução

A viagem técnica ao Complexo Eólico Cerro Chato, no município de Santana do

Livramento, Rio Grande do Sul, teve como principal objetivo a obtenção de conhecimentos

técnicos e na prática sobre o funcionamento de uma usina eólica, quais os impactos gerados,

tanto ambientais como sociais e econômicos, e quais os processos legais que devem ser

efetuados antes e depois da implantação de um parque eólico. Já a visita ao Parque Estadual

do Espinilho, em Barra do Quaraí, Rio Grande do Sul, visou o aprimoramento dos

conhecimentos obtidos teoricamente em sala de aula sobre Unidades de Conservação, seu

sistema de gestão, quais os requisitos básicos para a criação de uma UC, e quais as

dificuldades encontradas.

2) Percepções sobre as atividades desenvolvidas

Parques Eólicos

O parque eólico Cerro Chato foi a primeira obra a entrar em operação entre as que

foram contempladas pelo primeiro leilão de fontes eólicas realizado pela ANEEL como parte

do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2). Foi gerado de uma parceria entre a

Eletrosul e a Wobben, empresa alemã instalada no Brasil que produz aerogeradores. O parque

é dividido em três usinas: Cerro Chato I, II e III. Cada uma contém 15 aerogeradores (Figura

1) que produzem 2MW de energia cada, totalizando 30MW por usina. A energia produzida é

levada à subestação coletora através de uma rede subterrânea (Figura 2), e então passa para as

linhas de transmissão até a subestação Livramento II onde é distribuída no sistema interligado

nacional. Os aerogeradores possuem 107m de altura e estão espalhados por uma área de 8 mil

hectares, sendo que suas localizações foram escolhidas levando-se em conta a altitude e a

dinâmica dos ventos (conhecida através de dados coletados em torres anemométricas durante

dois anos). Essa área é utilizada, principalmente, para a criação de gado, sendo que os 23

proprietários foram indenizados e passaram a ganhar 1% do total da energia produzida em

suas terras. Apesar do ressarcimento e da participação nos lucros, alguns proprietários

Page 2: Relatório de Viagem Técnica (2)

recusaram a construção de aerogeradores em suas propriedades alegando perda de

privacidade, etc.

Figura 1. Aerogeradores do Complexo Cerro Chato.

Quanto aos aspectos ambientais, é necessário, antes da implantação de parques

eólicos, a confecção do Relatório Ambiental Simplificado (RAS), que substitui o EIA/RIMA

em empreendimentos de menor potencial poluidor. No caso do parque eólico Cerro Chato, o

RAS foi encaminhado à FEPAM para obtenção da licença prévia (LP) aprovando a

localização e a concepção do projeto. Com a LP, foi obtida a licença de implantação (LI), que

autorizou a instalação do empreendimento já que as medidas de controle ambiental e demais

condicionantes previstas na LP foram cumpridas. Após construído o parque eólico, obteve-se

a licença de operação (LO) para que ele pudesse funcionar e gerar energia.

Quanto aos impactos causados pela implantação do parque pode-se citar como

positivos o uso e ocupação do solo já que este é impróprio para o cultivo, a geração de

empregos, realização de estudos científicos relacionados à composição da área, solo,

hidrologia e fauna, além do aumento da segurança das propriedades proporcionada pela

vigilância feita no parque e melhoria nas condições das estradas. Como aspectos negativos,

tem-se a mortandade da fauna, principalmente aves e morcegos que colidem com os

aerogeradores, além das mortes por atropelamento causadas pela ampliação e melhoria das

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estradas. Uma das medidas tomadas para reduzir os impactos foi a implantação da rede

subterrânea de transmissão, pois não há risco de colisão de aves ou morcegos e diminui a

poluição visual. Apesar disso, os novos parques que estão sendo construídos no entorno do

Cerro Chato terão linhas de transmissão áreas, além de pás maiores e altura menor, o que

provavelmente aumentará o risco de colisões. Considerando ambos os impactos, negativos e

positivos, entende-se que é possível gerar energia sem provocar danos absurdos ao meio

ambiente. Dessa forma, investir em energia eólica e em tecnologias que maximizem sua

eficiência é uma maneira de minimizar os riscos que a produção de energia gera ao ambiente.

Figura 2. Rede subterrânea de transmissão.

Parque Estadual do Espinilho

O Parque Estadual do Espinilho foi criado em 1975 pelo decreto estadual nº 23.798,

juntamente com outros 4 parques estaduais e 3 reservas biológicas. A princípio o parque

possuía uma área de aproximadamente trezentos hectares, porém em 2002 sua área foi

ampliada pelo decreto estadual nº 41.440 para 1,6 mil hectares. O parque foi com o objetivo

de preservar a formação vegetal específica daquela região, composta por Espinilhos,

Inhanduvais e Quebrachos-Blancos (Figura 3).

Rede

su

bter

râne

a

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Figura 3. A) Inhanduvá; B) Espinilho; C) Quebracho-blanco.

Atualmente a gestão do parque cabe ao Estado do Rio Grande do Sul e uma das

grandes preocupações é a aquisição das áreas que compõem o parque que ainda são de posse

privada dos moradores da região, até o momento 57% das propriedades já foram compradas.

O grande motivo da resistência dos proprietários é a utilização do solo para cultivos, porém

este fato vem sendo resolvido com o passar do tempo e a meta agora é incentivar os

proprietários de terras com áreas de vegetação conservada a criar Reservas Particulares do

Patrimônio Natural (RPPN) com a finalidade de preservar a zona de amortecimento e formar

corredores ecológicos ligando o parque a outras reservas naturais. Um fato negativo e que não

está de acordo com objetivo do parque é a caça e a pesca ilegal dentro da área do parque, que

em muitas vezes tem como finalidade a comercialização. Outro desafio encontrado na gestão

é o controle da aplicação de agrotóxico em larga escala nos arredores do parque, atualmente

as aplicações de avião devem ser aplicadas 200 metros longe dos limites do parque.

A UC apresenta grande biodiversidade de espécies, destas algumas endêmicas e outras

ameaçadas de extinção. Como componentes da fauna do parque pode-se citar o formigueiro

gigante, veado campeiro, lebres, cardeal amarelo, dentre outras espécies de anfíbios, répteis,

aves, e mamíferos (Figura 4).

A) B)

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Figura 4. A) Espécie de ave não identificada; B) Espécie de serpente não identificada; C) Formigueiro Gigante.

3) Conclusão

A visita técnica proporcionou a ampliação dos conhecimentos teóricos, bem como

relacioná-los com a sua aplicação. Com relação ao parque eólico, pode-se perceber que este

trouxe aspectos positivos para a região como, por exemplo, economia dos proprietários e

estudos relacionados ao local de implantação envolvendo diversas áreas de conhecimento.

Quanto aos impactos ambientais, a partir do monitoramento realizado pelo parque pode-se

concluir que o maior impacto é a mortandade da fauna causada por atropelamento nas

estradas, no entanto, este pode ser diminuído a partir de estudos que busquem medidas

mitigadoras. De forma geral, concluiu-se que a energia eólica pode ser sim classificada como

uma fonte limpa quando comparada às demais formas de geração de energia, pois os impactos

causados, além de serem pequenos, podem ser minimizados. A visita ao Parque Estadual do

Espinilho possibilitou a percepção da importância da criação de UCs, a fim de conservar áreas

de formação vegetal e proteger ecossistemas, no entanto, pode-se notar que são encontradas

algumas dificuldades com relação ao manejo e aplicação das leis ambientais dentro e no

entorno do parque, além do impacto causado pela rodovia que o fragmenta e, como no parque

eólico, causa atropelamentos de fauna. Além disso, percebeu-se que a paisagem do parque

está em processo de regeneração e, portanto, apesar dos inúmeros problemas a serem

resolvidos, a UC está cumprindo com seu objetivo principal de preservar a paisagem

endêmica da região.

C)