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ESTUDO DE AVALIAÇÃO DA POBREZA E DO IMPACTO EM MOÇAMBIQUE DE TRÊS INSTITUIÇÕES PARCEIRAS DE MEMBROS DA PLATAFORMA DOS PAÍSES BAIXOS PARA AS MICRO-FINANÇAS Relatório de síntese O MERCADO MICRO-FINANCEIRO EM MAPUTO, MOÇAMBIQUE: OFERTA, PROCURA E IMPACTO UM ESTUDO DE CASOS DO NOVOBANCO, DA SOCREMO E DA TCHUMA Equipa de pesquisadores: Gabrielle Athmer (consultora principal) Hans Bekkers Henriqueta Hunguana (ICC) Benedito Murambire (ICC) Fion de Vletter Relatório de síntese elaborado por: Encomendado por: Gabrielle Athmer (líder da equipa) Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças [email protected] www.microfinance.nl Fion de Vletter [email protected] Dezembro de 2006

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ESTUDO DE AVALIAÇÃO DA POBREZA EDO IMPACTO EM MOÇAMBIQUE

DE TRÊS INSTITUIÇÕES PARCEIRAS DE MEMBROS DAPLATAFORMA DOS PAÍSES BAIXOS PARA AS MICRO-FINANÇAS

Relatório de síntese

O MERCADO MICRO-FINANCEIRO EM MAPUTO, MOÇAMBIQUE:

OFERTA, PROCURA E IMPACTO

UM ESTUDO DE CASOS DO NOVOBANCO, DA SOCREMO E DA TCHUMA

Equipa de pesquisadores:

Gabrielle Athmer (consultora principal)Hans BekkersHenriqueta Hunguana (ICC)Benedito Murambire (ICC)Fion de Vletter

Relatório de síntese elaborado por: Encomendado por:

Gabrielle Athmer (líder da equipa) Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanç[email protected] www.microfinance.nl

Fion de [email protected]

Dezembro de 2006

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Nota de abertura, da Comissão Directiva da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças (NPM)

O estudo da pobreza e da avaliação do impacto em Moçambique, originou constatações e trouxe observações que nós – a comissão directiva da NPM deste estudo – gostaríamos de partilhar com o público mais amplo de praticantes das micro-finanças e com os membros interessados do público em geral.

O presente estudo foi realizado por pesquisadores independentes, cabendo, portanto, asconclusões inteiramente a eles.

Com os nossos agradecimentos pelo trabalho entregue pelos pesquisadores,

A Comissão Directiva

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Prefácio

Este é o relatório de síntese do Estudo de Avaliação do Alcance em relação à Pobreza e do Impacto de três IMFs (instituições micro-financeiras) em Moçambique, encomendado pela Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças1 e financiado por alguns dos seus membros2. As IMFs envolvidas no estudo foram a Tchuma, SOCREMO e NovoBanco. Estas IMFs são apoiadas pelos membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças -Novib, Hivos, Fundação DOEN e FMO, Banco Triodos (em nome da Hivos e da Fundação DOEN) - através de vários instrumentos financeiros (subsídio, créditos e património líquido).

A iniciativa para esta avaliação foi tomada pela Hivos, que presidia a Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças em 2004. Os Termos de Referência foram projectados em estreita cooperação com as IMFs e membros da Plataforma, e visavam acomodar, tanto quanto possível, as diversas prioridades de todas as partes envolvidas.

A avaliação realizou-se no período de Junho de 2004 até Fevereiro de 2006. A pesquisa levou muito mais tempo do que tinha sido planificado, principalmente porque as dificuldades metodológicas e logísticas deste estudo complexo tinham sido muito subestimadas.

A pesquisa foi implementada de forma participativa, tendo a gerência das IMFs feito uma contribuição considerável em cada fase do estudo, inclusive: na definição de hipóteses, na escolha de indicadores e na projecção dos questionários. Além disso, a gerência das IMFs comentou os relatórios das várias fases do estudo. O pessoal das IMFs proporcionou dados de SIG (Sistema de Informação Gestionária), ou facilitou o acesso aos processos sobre o crédito e ajudou a localizar os clientes. O tempo despendido pelas IMFs no estudo, não deve ser subestimado. Em nome da equipa de avaliação do impacto, eu gostaria de agradecer os muitos membros do pessoal das IMFs pela sua ajuda durante o curso deste estudo, especificamente os seguintes. Do NovoBanco: Anila Denaj (Director Geral e Gerente das Operações), Carla Abrantes de Figueiredo (Administradora), João Tovela (Gerente de Agência), Nelson Bila (Gerente de Agência), Celeste Mutumane (Gestora de Crédito), Ilídio Langa (Gestor de Crédito), Matteo Snidero (assistente técnico para a tecnologia informática), Bodo Lieberam (antigo Director Geral), Karin Derflinger (antiga supervisora), Christine Heitzhauzen (antiga Gerente de Agência) e Jorge Chicamba (antigo quadro da IT). Da Tchuma: Gildo dos Santos Lucas (Gerente), Kathryn Larcombe (Gerente Adjunta), Natércia Nabunda (Gerente das Operações), Cândido Sozinho (Gestor Financeiro), João Zita (quadro de IT), Noémia Nhantumbo (Administradora de Agência), Sérgio Guiamba (Gerente de Agência), Custódia Mavie e Anselmo Zandamela (supervisores), Carlos Nhatave (Gerente de Agência), Janeta Biza e Júlia Matlombe (supervisores). Da SOCREMO: Luís Garate (consultor GTZ/LFS), Abenaa Adai (consultor LFS), Christoph Diehl (Gerente Regional para a África, LFS), Martin Rohler (Gerente do Crédito e das Operações), Gildo Daniel (Gerente de Agência), Erico Chaúque (Gerente de Agência), Samuel Sambo (Gerente Substituto de Agência). Gostaríamos igualmente de agradecer os tantos oficiais de crédito simpáticos, pela sua paciência em encaminhar-nos até aos clientes.

1 Os membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças, incluem: Hivos, Novib, FMO, Banco ASN, ABN Amro, Cordaid,

Fundação DOEN, ICCO, ING, Interpolis, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Oikocredit, Fundação Rabobank, SNV e Banco Triodos (veja-se: www.microfinance.nl)

2 Hivos, Novib, FMO, Fundação DOEN e a Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças, com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros

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O que é muito importante, eu gostaria de exprimir a minha gratidão aos muitos clientes entrevistados por terem oferecido voluntariamente o seu tempo precioso para as entrevistas.

A Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças participou na pesquisa através duma comissão directiva (steering committee), cujos membros proporcionaram insumos para os instrumentos da pesquisa e deram as suas reacções sobre vários relatórios. Eu gostaria de agradecer os membros da comissão directiva pelo seu interesse e contribuições: Jasper Snoek, Fundação DOEN; Emile Groot, FMO; Johan de Waard, Ministério dos Negócios Estrangeiros; Tom Baur, Hivos; Bruno Molijn, Novib e sobretudo Michal Matul, pesquisador do Centro Micro-Financeiro para a Europa Central e do Leste e os Novos Estados Independentes, em Varsóvia (Polónia), que foi convidado a integrar a comissão directiva por causa da sua perícia na avaliação do impacto das micro-finanças. Fico particularmente agradecida pelas contribuições valiosas e construtivas da Carolijn Gommans (Hivos), que controlou rigorosamente a avaliação em nome da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças, até e mesmo depois dela ter saído da Hivos no Outono de 2005. Um agradecimento especial também vai para o Bruno Molijn da Novib, que geriu o orçamento e a maior parte das questões contratuais da avaliação.

Eu gostaria de exprimir a minha gratidão aos consultores que contribuíram para uma ou mais componentes desta pesquisa, pelo seu trabalho árduo e pelo seu empenho: Henriqueta Hunguana, Benedito Murambire e Leonel Muchanga, consultores da empresa de consultoria ICC com sede em Maputo; Hans Bekkers, consultor baseado nos Países Baixos; e Fion de Vletter, consultor internacional baseado em Maputo. Um agradecimento especial vai para a Henriqueta Hunguana (Directora da ICC), que esteve envolvida em quase todas as fases da pesquisa, inclusive nos debates sobre os Termos de Referência.

O relatório de síntese foi redigido por Gabrielle Athmer e Fion de Vletter.

Gabrielle AthmerLíder da Equipa

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Índice

Prefácio................................................................................................................. 3

Resumo executivo ................................................................................................ 8

1. Introdução ...................................................................................................17

2. Metodologia ................................................................................................. 19

3. Contexto sócio-económico .......................................................................... 233.1 Geral ................................................................................................................................. 233.2 A economia informal em Maputo..................................................................................... 24

4. O sector micro-financeiro em Moçambique............................................. 284.1 Sistemas financeiros informais ......................................................................................... 284.2 A indústria micro-financeira em Moçambique................................................................. 29

5. Características das três IMFs ....................................................................335.1 Dados chave...................................................................................................................... 335.2 Antecedentes..................................................................................................................... 345.3 Produtos financeiros ......................................................................................................... 355.4 Saldos médios por pagar nos créditos............................................................................... 375.5 Número de contas de depósito.......................................................................................... 38

6. Características dos clientes que foram avaliados .................................... 396.1 Actividades económicas ................................................................................................... 396.2 Aspectos demográficos dos clientes ................................................................................. 436.3 Experiência institucional .................................................................................................. 446.4 Níveis de bem-estar .......................................................................................................... 47

7. Perfil da pobreza dos clientes da Tchuma com mais de dois anos de antiguidade ..................................................................................................49

8. Padrões de tomada de créditos pelos clientes........................................... 538.1 Aplicação dos créditos...................................................................................................... 538.2 Períodos de descanso de todos os clientes repetidos do NovoBanco ............................... 538.3 Períodos de descanso dos clientes com mais de dois anos de antiguidade....................... 548.4 Taxas de desistência ......................................................................................................... 558.5 Percentagem dos clientes que tomam créditos durante um período de mais de dois anos568.6 Distribuição das categorias de crédito dos clientes .......................................................... 578.7 Saldo por pagar no crédito e volume da carteira por categoria (todos os clientes) .......... 588.8 Clientes de sexo feminino por categoria........................................................................... 588.9 Carteira em risco (todos os clientes)................................................................................. 598.10 Dias em mora dos clientes com mais de dois anos de antiguidade .................................. 59

9. Impacto do crédito sobre as actividades económicas ..............................619.1 Tamanho do negócio por categoria................................................................................... 619.2 Transição entre categorias de crédito ............................................................................... 629.3 Tamanho dos créditos, valor das vendas mensais e capacidade aumentada de reposição 629.4 Aplicação do crédito: inventário, activos empresariais fixos e trabalhadores.................. 65

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9.5 Impacto sobre o negócio................................................................................................... 669.6 Mudanças económicas recentes e resposta a nível de tomada de créditos ....................... 699.7 Quais são os clientes que tiveram um mau desempenho e por que razão?....................... 709.8 Créditos e estratégia empresarial ...................................................................................... 70

10. Impacto do crédito sobre o nível do bem-estar do agregado familiar... 7310.1 Variáveis para a medição, fungibilidade e atribuição....................................................... 7310.2 Percepções por parte dos clientes, de factores seleccionados que afectam o bem-estar do

agregado familiar .............................................................................................................. 7310.3 Mudanças globais aos níveis de bem-estar a nível do agregado familiar, conforme

percebidas pelos clientes................................................................................................... 7410.4 O papel dos produtos financeiros e de outro rendimento a nível do agregado familiar .. 75

11. Influência das crises.................................................................................... 77

12. Motivos para a desistência dos clientes com mais de dois anos de antiguidade ..................................................................................................81

13. Uso e impacto das contas de depósito ....................................................... 8313.1 Perfil dos clientes.............................................................................................................. 8313.2 Experiência institucional .................................................................................................. 8313.3 Motivo para abrir uma conta de poupança, e os propósitos da poupança ........................ 8513.4 Uso das contas .................................................................................................................. 8613.5 Impacto ............................................................................................................................. 86

14. Satisfação dos clientes com as IMFs associadas....................................... 89

15. Resumo das constatações ........................................................................... 93

16. Conclusões e recomendações .....................................................................97

Anexo 1: Termos de Referência .....................................................................101

Anexo 2: Relatórios por fase da avaliação .................................................... 121

Anexo 3 Investidores e parceiros das IMFs ..................................................122

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SIGLAS

APCR Associação de Poupança e Crédito RotativoASCA Associações de Poupança e Crédito CumulativosASDI Agência Sueca de Desenvolvimento InternacionalAT Assistência técnica ATM Caixa automáticaBCI Banco Comercial e de InvestimentosBCM Banco Comercial de MoçambiqueBIM Banco Internacional de MoçambiqueBOM Banco Oportunidade de MoçambiqueBPD Banco Popular de DesenvolvimentoCCCP Caixas Comunitárias de Crédito e PoupançaCCOM Caixa de Crédito de Operadores das Micro-finanças CGAP Grupo Consultivo de Assistência aos Mais PobresDNE Direcção Nacional de EstatísticaFENU Fundo de Equipamento das Nações Unidas/Unidade Especial para as Micro-

finançasFMO Nederlandse Financierings-Maatschappij voor OntwikkelingslandenGTZ Gesellschaft für Technische ZusammenarbeitICC International Capital CorporationICCO Interkerkelijke organisatie voor ontwikkelingssamenwerkingIMF Instituição micro-financeira IMI-AG Internationale Micro Investitionen AktiengesellschaftINE Instituto Nacional de Estatística ING Internationale Nederlanden Groep (instituição financeira; comércio bancário e

seguros)IT Tecnologia informáticaKkN Kulane Ka NtwananuLWF Federação Luterana MundialMEDA Associados Menonistas para o Desenvolvimento EconómicoMIS Sistema de Informação GestionáriaMMF Mecanismo Moçambicano de Micro-Finanças MZM Metical (moeda nacional)NPM Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finançasONG Organização Não-governamentalPIB Produto Interno BrutoPME Pequenas e Médias Empresas PNUD Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPPP Preços do Poder de CompraQUIP Protocolo do Impacto QualitativoSNV Organização de Desenvolvimento dos Países BaixosSOCREMO Sociedade de Crédito de Moçambique USAID Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos USD Dólar americano

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Resumo executivo

1. Introdução

Este estudo, intitulado O mercado micro-financeiro em Maputo, Moçambique: Oferta, procura e impacto – um estudo de casos do NovoBanco, da SOCREMO e da Tchuma, realizado em nome da “Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças” (NPM)3 e financiado por alguns dos seus membros4, trata-se dum estudo dos clientes empresariais do micro-crédito e dos depositantes de três grandes operadores, baseados em Maputo. O estudo realizou-se ao longo do período de Junho de 2004 a Fevereiro de 2006. O estudo multi-fásico de avaliação do impacto foi realizado tendo dois objectivos principais: justificar o uso dos fundos públicos e influir na planificação estratégica das instituições micro-financeiras (IMFs).

As IMFs envolvidas no estudo, foram a SOCREMO (Banco de Microfinanças de Moçambique, anteriormente conhecido por Sociedade de Crédito de Moçambique), o NovoBanco e a Tchuma, nas quais vários membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças tinham diversos interesses.

2. Abordagem e metodologia

A pesquisa foi implementada de forma participativa, tendo a gerência das IMFs feito uma contribuição considerável em cada fase do estudo.

Uma característica importante da avaliação, foi a divisão dos clientes em categorias, tendo como premissa o entendimento de que o impacto das micro-finanças varia para tipos diferentes de clientes. As IMFs participantes escolheram o tamanho dos créditos como o critério para a estratificação dos clientes. Os tamanhos dos créditos foram divididos em três categorias: a categoria baixa de crédito inclui créditos de até 7.499.999 meticais5 (MZM) (cerca de 327 USD); a categoria média de crédito inclui créditos de 7,5 milhões de MZM a 19.999.999 MZM (de 328 a 868 USD); a categoria alta inclui créditos de vinte milhões de MZM para cima (869 USD)6.

Presumia-se que o impacto se manifestasse de forma mais completa depois dum período de pelo menos dois anos. Por essa razão, a avaliação focaliza os clientes a avaliação focaliza os clientes de micro-crédito das três IMFs, e os depositantes de duas das IMFs do micro-crédito das três IMFs com mais de dois anos de antiguidade.7 Até a um ponto limitado, os antigos clientes (desistentes) foram estudados e definidos, para fins da avaliação, como clientes que não voltaram à instituição dentro dum período de seis meses depois da reposição do créditoanterior. Para poder-se comparar os desistentes entrevistados com os clientes activos entrevistados, os “desistentes” têm também de ter estado com a instituição durante mais de dois anos antes de saírem. A SOCREMO e o NovoBanco também proporcionaram informações gerais sobre o número de todos os desistentes por categoria de crédito. 3 Os membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças incluem os seguintes: Hivos, Novib, FMO, Banco ASN, ABN

Amro, Cordaid, Fundação DOEN, ICCO, ING, Interpolis, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Oikocredit, Fundação Rabobank, SNV e o Banco Triodos (veja-se: www.microfinance.nl)

4 Hivos, Novib, FMO, Fundação DOEN e a Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças, com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros

5 Moeda nacional. Em 2006, o metical foi substituído gradualmente pelo “metical da nova família”, resultando no descarte de três zeros para fins de simplificação. ou seja. 1.000 MT tornaram-se 1 MTn. A conversão finalizou-se em inícios de 2007. O presente relatório apresentará as cifras em moeda nacional como eram antes de 2007.

6 Taxa de câmbio: 23.000 MZM = 1 USD (Junho de 2004)7 A SOCREMO tinha introduzido mecanismos de depósito apenas por volta da altura das entrevistas aprofundadas.

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A pesquisa empregou uma mistura de metodologias, melhorando a confiabilidade das suas constatações pelo exame de assuntos semelhantes a partir de perspectivas diferentes. Foi analisada a informação histórica sobre as carteiras de créditos, dividida por categoria. Além disso, foram avaliadas as mudanças ao longo do tempo nos negócios dos clientes com mais de dois anos de antiguidade, com base nos dados da avaliação dos créditos. Ao total, foi analisada a informação sobre a avaliação dos créditos de 1.287 clientes e de 78 antigos clientes (tendo estes abandonado depois dum período de mais de dois anos). Foi avaliado o nível de pobreza dos (antigos) clientes da Tchuma com pelo menos dois anos de antiguidade, através dum levantamento de amostra entre 164 (antigos) clientes. Entrevistas aprofundadas foram realizadas com 140 clientes: 90 clientes activos divididos por categoria de crédito por MFI, 30 antigos clientes que desistiram depois dum período de dois anos, e vinte clientes com contas de depósito junto da Tchuma e do NovoBanco. O estudo focalizou os clientes de duas agências de cada IMF em Maputo.

3. Características das IMFs

A estrutura de apoio e de propriedade (investidores, agências de financiamento e assistência técnica) dos bancos SOCREMO e NovoBanco, é mais vasta e sólida do que no caso da cooperativa Tchuma, a qual está actualmente a estudar a sua transformação em banco para atrair mais investidores. A Tchuma, a qual está orientada para a pobreza, é a única IMF que não foi lançada por uma agência externa. A Tchuma esforça-se por encontrar um equilíbrio entre a sustentabilidade e a redução da pobreza através do alcance de clientes mais pobres. Apesar do seu foco na pobreza e do forte desempenho da sua carteira, ela enfrenta dificuldades para atrair financiamento suficiente. O NovoBanco e a SOCREMO têm uma abordagem mais comercial e visam aumentar a amplitude do alcance, com a inclusão também da concessão de créditos às PME (Pequenas e Médias Empresas). O NovoBanco é a IMF mais nova (desde 2000); a sua constituição tornou o mercado micro-financeiro em Maputo mais concorrencial e constituiu um incentivo adicional para que as outras IMFs desenvolvessem e diversificassem mais os seus produtos.

Os clientes da categoria baixa de créditos constituem mais de metade dos clientes da Tchuma; no caso do NovoBanco e da SOCREMO, mais de um terço. O número total de clientes da categoria baixa de créditos é o maior no caso da Tchuma (orientada para a pobreza), mas apenas ligeiramente maior do que o número de clientes da categoria baixa de créditos do NovoBanco. O tamanho médio por crédito dos clientes da categoria baixa de créditos é aproximadamente igual para as três IMFs.

As três IMFs proporcionam créditos individuais a negócios para micro-empresários; os requisitos em termos de garantia subsidiária são semelhantes. A Tchuma concede igualmente créditos a grupos solidários, se bem que em medida muito limitada. A gama de produtos do NovoBanco, e cada vez mais a da SOCREMO, são mais amplas em relação à da Tchuma. A SOCREMO e o NovoBanco concorrem entre si para um segmento específico do mercado dos créditos, limitado na extremidade mais baixa pela necessidade de se ter uma garantia subsidiária ou fiadores individuais, e na extremidade mais alta, por aquilo que são na sua essência créditos de capital de giro com taxas de juros que são consideravelmente mais altas do que aquelas dos bancos comerciais. A Tchuma reconheceu as limitações do crescimento para a extremidade mais alta do mercado e decidiu melhorar a sua concessão de créditos a grupos solidários, num esforço no sentido de atender a extremidade mais baixa do mercado.

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O NovoBanco tinha mais de duas vezes mais depositantes do que mutuários (Junho de 2004), atraindo muitos clientes que não estão interessados no crédito.

4. Características dos clientes do crédito que foram avaliados

Ao passo que se constata que a maioria dos que estão envolvidos em actividades do sector informal em Maputo tinha menos de 35 anos, a maioria dos clientes das IMFs com mais de dois anos de antiguidade, tinha mais de quarenta anos. As razões mencionadas pelas IMFs para não visar os clientes mais jovens, incluíram a falta duma residência estável, e características comportamentais percebidas como sendo arriscadas.

Pessoas de sexo feminino dominaram as três categorias de crédito, se bem que em proporções decrescentes à medida que as categorias de crédito iam subindo (salvo no caso da Tchuma, a qual visa especificamente as mulheres).

Os clientes eram relativamente bem escolarizados em comparação com a população de Maputo. A maior parte dos clientes estava envolvida numa ampla gama de actividades comerciais e contava com uma ampla experiência empresarial.

A maioria dos clientes da SOCREMO e do NovoBanco tem activos empresariais fixos, enquanto que a minoria dos da Tchuma é que os tem. Menos mulheres eram proprietárias de activos empresariais do que homens, sendo a diferença bastante grande no caso da Tchuma. Entre um terço e metade dos clientes tinha trabalhadores, tendo os homens uma propensão ligeiramente mais elevada de empregar trabalhadores, do que têm as mulheres.

Apenas uma minoria reduzida dos clientes com dois anos de antiguidade, tinha uma conta corrente na sua IMF8. Apenas 1% dos clientes do NovoBanco com dois anos de antiguidade, tinham um depósito a prazo. As entrevistas mostraram que a maior parte dos mutuários das categorias média e elevada de créditos, tinha experiência prévia com os bancos comerciais a nível de serem titulares de contas, mas pouca experiência em termos de créditos prévios.

5. Perfil de pobreza dos clientes da Tchuma

Uma pequena parte dos clientes com mais de dois anos de antiguidade da Tchuma, a qual tem o seu foco na pobreza, podia ser considerada como sendo pobre, conforme definido por viver-se abaixo do limiar da pobreza, enquanto que este é o caso para mais de metade da população de Maputo. Os créditos para indivíduos, baseados em garantias, exigem a posse de bens, a maior parte dos quais funciona a energia eléctrica.

Quase metade dos clientes com mais de dois anos de antiguidade da Tchuma (43%), e presumivelmente uma parte maior dos clientes das outras IMFs, fazem parte da faixa de renda dos 20% mais altos da população de Maputo. Estes clientes não são ricos, mas efectivamente eles são mais abastados em relação à maioria da população de Maputo. A maior parte destes clientes pode ser considerada como pertencendo à extremidade mais baixa duma classe média emergente.

Pode-se presumir que os clientes com mais de dois anos de antiguidade, sejam mais ricos do que o cliente médio da instituição, dado o facto de que a maioria dos clientes que desistem

8 Esta constatação tem a ver com a Tchuma e o NovoBanco . A SOCREMO iniciou as contas de depósito apenas em 2005

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antes de dois anos, provém da categoria baixa de créditos. Além do mais, e provável que o nível de riqueza dos clientes bem sucedidos tenha melhorado ao longo dos anos, conforme se confirma através das entrevistas aprofundadas.

6. Padrões de tomada de créditos

A partir dum ponto de vista institucional, os clientes ideais das micro-finanças, são aqueles que tomam créditos subsequentes ao longo dum período prolongado de tempo. Constatou-se que tais clientes são minoritários no caso das IMFs avaliadas. Apenas um quarto dos clientes continua a tomar créditos durante um período de mais de dois anos. Muitos clientes descansam durante períodos substanciais no intervalo entre créditos, o que sugere que tomam decisões racionais sobre em que altura tomar um crédito9. Os clientes da categoria baixa de créditos, os quais é provável que sejam mais pobres do que os das outras categorias, descansam durante períodos mais longos, desistem mais frequentemente e têm mais problemas de reposição. Contudo, os mais empreendedores dos clientes com créditos da categoria baixa, conseguem aumentar o tamanho dos seus créditos e tornar-se clientes muito bons.

As taxas de desistência anuais ou mensais mostram o nível de rotatividade de clientes, mas não dão nenhuma percepção perspicaz sobre por quanto tempo e que tipo de clientes continua com a instituição. É importante uma abordagem mais longitudinal à taxa de retenção, tanto a partir do ponto de vista institucional (os clientes começam a tornar-se rentáveis só depois dum número mínimo de créditos), como do ponto de vista do cliente em termos do impacto sobre o bem-estar a nível do negócio e do agregado familiar (um impacto significativo só pode ser esperado depois dum certo número de créditos). Muitos clientes com dois anos de antiguidade desistiram voluntariamente (sem problemas de reposição), devido a crises que enfrentavam no negócio ou na família. Das três IMFs, a Tchuma tem a taxa mais baixa de desistência, o que pode eventualmente ser devido à sua política mais tolerante relativamente aos pagamentos atrasados.

7. Impacto a nível do negócio

A maioria dos clientes retidos experimentou crescimento no seu nível de vendas. Este é o caso igualmente para uma minoria de clientes que desistem depois dum período de dois anos. A percentagem de mulheres e de homens com vendas em crescimento é aproximadamente igual. O nível do aumento é ligeiramente mais elevado no caso das mulheres em relação ao dos homens, se bem que as diferenças são muito reduzidas. Entrevistas aprofundadas com clientes de categorias diferentes de crédito, assim como desistentes, indicaram um impacto positivo em termos globais nas actividades económicas apoiadas. Muitos daqueles cujos negócios não experimentaram crescimento, sustentaram que, na ausência do crédito, a situação teria sido pior.

O crédito proporcionado pelas IMFs mostrou-se ter o seu maior impacto naqueles mutuáriosque tendem a dispor de habilidades empresariais básicas e que começaram por pequenos créditos. Em alturas de dificuldades económicas generalizadas, os clientes que tinham subido para categorias de crédito mais altas continuavam a aumentar os seus créditos, o que sugere que os créditos também eram importantes para enfrentar tais dificuldades. Os clientes com

9 16% dos clientes do NovoBanco em descanso, descansam durante mais de 180 dias.

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créditos da categoria baixa, por outro lado, acharam mais dificuldade em arcar com os reveses económicos, tendo muitos reduzido de forma significativa os seus créditos.

As nossas evidências mostraram igualmente que até a maioria dos clientes que permanecem com créditos da categoria baixa de créditos (correspondendo a entre um quarto e um terço dos clientes com mais de dois anos de antiguidade), conseguiu aumentar o seu nível de vendas.

Embora sejam de importância chave na promoção do crescimento de micro-empresas de dimensão menor para ficarem maiores, os créditos não têm sido muito bem sucedidos na promoção do crescimento dos micro-empresários existentes que sejam relativamente mais grandes. Isto sugere que os produtos de crédito disponíveis são bons para estimular o crescimento de micro-empresas pequenas para maiores, mas que além disso, são de utilidade limitada.

Por média, o valor do inventário dos clientes aumentou. Apenas uma minoria dos clientes consegue aumentar a base de activos fixos, enquanto que foi insignificante o efeito global sobre o número de postos de trabalho.

8. Impacto a nível do agregado familiar

Entrevistas aprofundadas com os clientes com mais de dois anos de antiguidade de várias categorias de crédito, assim como com os desistentes, mostraram um impacto positivo global no bem-estar a nível do agregado familiar. O micro-crédito, embora seja estipulado por contrato como sendo para propósitos empresariais, também desempenha um papel importante no melhoramento dos padrões de vida, através da aplicação directa na construção ou renovação das casas e em bens familiares duradouros. Os agregados familiares preferem injecções reduzidas e esporádicas na habitação, reflectindo a sua situação financeira frequentemente volátil.

9. Influência das crises

As entrevistas qualitativas mostraram que nos últimos três anos, a maioria dos clientes enfrentou uma ou mais crises. Esta percentagem foi consideravelmente mais elevada para os clientes do crédito que tinham desistido depois de pelo menos dois anos. Uma minoria significativa dos desistentes indicou que pararam de tomar créditos como resultado das crises que enfrentaram. A crise pode igualmente constituir um factor importante para muitos dos clientes que deixam de tomar créditos antes de estarem dois anos com a instituição.

A maior parte das crises enfrentadas pelos clientes estava relacionada com problemas de saúde (quer do cliente, quer dentro da família), e com os falecimentos de familiares. Devido à taxa elevada de prevalência do HIV/SIDA (16,2%) em Moçambique, é provável que alguns dos problemas de saúde e dos falecimentos na família, estivessem relacionados com o HIV/SIDA, conforme alguns clientes revelaram espontaneamente durante as entrevistas (as perguntas não foram específicas ao HIV e ao SIDA).

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10. Contas de depósito e o uso de serviços informais

As contas correntes reduziram a vulnerabilidade dos clientes relativamente às emergências, e ajudaram-nos a gerir os seus negócios. A experiência do crescimento rápido do número de contas correntes com o NovoBanco, ultrapassando em mais de duas vezes o número de mutuários10, demonstra a procura enorme por este produto. Apenas uma minoria reduzida dos clientes utiliza depósitos a prazo fixo (proporcionados pelo NovoBanco), uma vez que os clientes preferem poupanças acessíveis.

A maior parte dos clientes recorreu à conta corrente junto da IMF para fazer poupanças a mais longo prazo. Os clientes faziam poupanças para fins específicos, p. ex. para iniciar ou dirigir um negócio e adquirir bens empresariais ou familiares. Contudo, menos de metade destes clientes conseguiu utilizar as suas poupanças para este fim. O motivo mais frequente para o levantamento das poupanças, foi de emergências tais como o roubo e a doença. Os clientes que dirigem um negócio nos mercados próximos das agências, utilizavam as contas correntes diariamente para a gestão do negócio. O uso da conta por aqueles clientes que dispunham igualmente dum crédito da IMF, regra geral, estava relacionado com o crédito: poupar para o reembolso e a facilitação das transacções creditícias

Os sistemas financeiros informais continuam a desempenhar um papel muito proeminente em ajudar os agregados familiares urbanos a arcarem com os seus fluxos irregulares de fundos. Em vez de substituir, os produtos micro-financeiros (quer de crédito quer de poupança) parecem complementar estes dispositivos. As APCRs (Associações de Poupança e Crédito Rotativo) são instrumentais para a acumulação de importâncias fixas. As mulheres em particular mostraram uma preferência pelo uso dos grupos APCR, poupando mais frequentemente e com importâncias mais elevadas por mês nos grupos do que na sua conta bancária.

11. Satisfação dos clientes

Os clientes responderam de forma positiva a todos os assuntos levantados relativamente aos serviços de produtos creditícios e serviços afins. No entanto, foram demonstrados níveis menores de entusiasmo relativamente à política de fiadores, aos requisitos em termos de garantias e às avaliações/taxas de depreciação, e às taxas elevadas de juros (sentidas em particular pelas categorias elevadas de crédito). Se bem que as IMFs foram vistas duma forma muito parecida, houve algumas características que distinguiram uma IMF da outra, tais como a tolerância para com os atrasos, a rapidez do processamento dos (pedidos de) créditos, níveis das taxas de juros, etc. Alguns clientes relataram que os oficiais de crédito recomendaram que eles aumentassem as suas garantias subsidiárias (às vezes incitando à substituição de electrodomésticos familiares funcionais que eram mais antigos e, portanto, anulados em termos contabilísticos) de modo a aumentar a sua capacidade de tomada de créditos. Alguns desistentes afirmam que o tratamento por parte dos oficiais de crédito, como resultado de problemas menores de reposição resultantes duma crise, impediram-nos de tomar mais créditos.

A maioria dos clientes com apenas contas de depósito, estava satisfeita com os produtos e serviços das IMFs. Os clientes tinham opiniões mais positivas sobre o tratamento, a proximidade da agência à casa ou ao mercado, e os custos baixos de abertura duma conta.

10 Em Junho de 2004

14

Muitos clientes acolheriam positivamente a introdução de caixas electrónicas (ATMs) e o pagamento de juros sobre as poupanças acessíveis. A Tchuma tinha elaborado um produto flexível de conta de poupança, mas não conseguiu introduzi-lo devido a limitações do seu SIG.

12. Conclusões e recomendações

Examinando os dois principais objectivos da avaliação do impacto, tiram-se as seguintes conclusões e fazem-se as seguintes recomendações:

Objectivo 1: Justificação do uso de fundos (públicos) dos membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças

Com base no impacto positivo global, tanto nas actividades económicas assim como no bem-estar a nível do agregado familiar dos clientes das IMFs com mais de dois anos de antiguidade, podemos concluir que o uso dos fundos (públicos) se justifica para estas instituições micro-financeiras.

Contudo, existem algumas preocupações importantes: O impacto global dos serviços micro-financeiros podia eventualmente estar bastante

sobre-estimado, uma vez que a avaliação se limitou apenas aos clientes com mais de dois anos de antiguidade, e a um grupo específico de desistentes, isto é, os que tinham sido clientes por mais de dois anos. Os clientes do crédito que foram avaliados, representam uma minoria de todos os clientes, visto que cerca de três quartos dos clientes desistem antes de terem tomado créditos durante um período de dois anos.

A maior parte dos clientes que desistem antes de terem tomado créditos durante dois anos, provém da categoria baixa de créditos e, provavelmente, é mais pobre do que os clientes das categorias mais altas de crédito. Os doadores devem considerar o encaminhamento de mais pesquisa para o efeito distribucional das micro-finanças, de modo que as intervenções possam estar mais focalizadas no micro-crédito provido aos clientes com o maior potencial de tirar proveito destes serviços.

As IMFs apoiadas pelos membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças (NPM) em Moçambique, retêm principalmente micro-empresários relativamente idosos e experientes, da extremidade mais baixa duma classe média emergente. Para aumentar o alcance e a retenção dos grupos de rendimento mais baixo, os membros da NPM devem igualmente ponderar o apoio a outras IMFs, e/ou encorajar as actuais IMFs no sentido de realizarem pesquisas do mercado e a fazerem a experiência piloto de outros produtos, eventualmente mais apropriados, p. ex. produtos de poupança mais diversificados, adaptados às necessidades dos clientes das micro-finanças, para a poupança tanto de fácil acesso como de menos fácil acesso (poupança líquida e ilíquida).

A Tchuma, a IMF enraizada localmente com um foco específico na pobreza, tem a estrutura de apoio e de propriedade mais fraca (investidores, agências de financiamento e AT) e tem as maiores dificuldades para atrair o financiamento. Os membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças devem coordenar melhor e equilibrar o seu apoio às IMFs internacionais e locais: deve ser fornecido maior apoio técnico e financeiro às IMFs de raiz local e de bom desempenho, com o seu foco na pobreza e (potencialmente) sustentáveis, para aumentar a sua capacidade de enfrentar com êxito a concorrência aumentada devida ao estabelecimento de IMFs internacionais.

15

Os clientes da categoria baixa de créditos são mais caros por unidade de moeda dada emprestada. Os doadores e investidores devem dar-se conta de que, regra geral, o caminho é mais comprido rumo à sustentabilidade das IMFs que têm o seu foco exclusivamente na pobreza.

Os doadores e investidores podem desempenhar um papel importante em garantir que a missão social das IMFs continue a ser de preocupação central, apesar do foco aumentado na comercialização e na escala das micro-finanças. Os doadores devem promover a elaboração de sistemas para gerir, controlar e prestar contas sobre o desempenho social11.

Objectivo 2. Influir na planificação estratégica das IMFs

A pesquisa proporcionou percepções perspicazes em várias áreas que são importantes para a planificação estratégica das IMFs. Examinando as características dos clientes, parece haver segmentos do mercado eventualmente inexplorados, como por exemplo a faixa etária abaixo de 35 anos, as pessoas menos escolarizadas, e clientes mais pobres. Existem sinais de que o mercado para o micro-crédito com garantias está saturado. Os produtos de poupança são muito procurados e têm o potencial de ir mais a fundo no mercado. A pesquisa do mercado e a eventual introdução de novos produtos, podiam eventualmente abrir outros segmentos interessantes de rendimento no mercado concorrencial servido actualmente pelas IMFs.

A retenção dos clientes é importante, porque os clientes de mais longo prazo aumentam o saldo médio por pagar nos créditos e reduzem os custos de provisão de créditos. Além do mais, taxas mais elevadas de retenção dos clientes tornam-se de importância crítica no mercado micro-financeiro cada vez mais concorrencial e saturado da Cidade de Maputo. A Tchuma tem a taxa de desistência mais baixa das três IMFs, a qual se explica eventualmente pela sua política mais tolerante relativamente às reposições atrasadas. As crises constituem factores importantes que causam a desistência de clientes.

Em termos globais, recomenda-se que as IMFs fiquem mais impulsionadas pelas necessidades dos clientes, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento e provisão de produtos, e aos sistemas internos de controlo e monitoria.

Recomendações mais específicas incluem as que se seguem:

Relativamente ao desenvolvimento de produtos: Levar em conta como factor, a realidade (e probabilidade) de crises, e introduzir produtos

(para além dos produtos existentes de micro-depósitos) que tenham sido projectados especialmente para amortecer o impacto duma crise, p. ex. produtos de seguro e créditos de emergência a curto prazo.

Realizar pesquisa do mercado para micro-empresários mais jovens (com menos de 35 anos) para o desenvolvimento de produtos convenientes para este grupo de clientes deficientemente servido.Introduzir um produto flexível de poupança que rende juros, pelo qual se possa mais facilmente ter acesso às poupanças, do que é o caso com os depósitos a prazo fixo.

A Tchuma deve realizar uma pesquisa do mercado para desenvolver serviços financeiros de gestão de risco para populações vulneráveis.

11 O desempenho social define-se como a “tradução eficaz na prática, da missão social duma instituição”; Bart de Bruyne e Johan

Bastiaensen (2006): How to put social performance management into practice? Trias, Bruxelas

16

Relativamente à provisão de produtos e ao serviço “à medida”: Estudar a formação de oficiais de crédito para melhor responderem aos clientes com

problemas menores de reposição causados pelas crises. Modificar a política sobre os atrasos, de modo a permitir uma maior tolerância dos

clientes com uma “folha de serviço” limpa. Introduzir incentivos para que os oficiais de crédito melhorem as taxas de retenção, Realizar uma pesquisa sobre o efeito de ser-se mais tolerante sobre a desistência dos

clientes em mora.

Relativamente aos sistemas internos de controlo e monitoria: Controlar com maior eficácia a taxa de retenção dos clientes, controlando a duração dos

períodos de tomada de créditos de (diversos tipos de) clientes. Realizar pesquisa sobre os motivos para a desistência dos clientes que estavam com a

instituição durante um período de menos de dois anos. Pensar em montar um sistema de prestação de contas sobre o desempenho social, para

garantir que as missões sociais das IMFs sejam materializadas. Dados seleccionados recolhidos para a avaliação do crédito, podiam ser utilizados para avaliar as mudanças ao longo do tempo, p. ex. no tamanho do negócio e na capacidade de reposição. Além disso, deve ser dada consideração à realização periódica dum número limitado de entrevistas aprofundadas, para obter um entendimento das causas das tendências observadas.

A Tchuma deve avaliar o nível de pobreza dos clientes novos e repetidos em comparação com o nível de pobreza dos agregados familiares da cidade de Maputo, com o uso duma curta lista de bens duradouros e de características a nível do agregado familiar, elaborada pelo presente estudo para este propósito. Desta forma, podem ser avaliados tanto o perfil da pobreza dos novos clientes, como as mudanças no nível de pobreza dos clientes retidos.

17

1. Introdução

O presente relatório consolida os resultados da pesquisa do Estudo de Avaliação do Alcance em relação à Pobreza e do Impacto de Três IMFs em Moçambique: NovoBanco, SOCREMO e Tchuma. O relatório sintetiza e compara as constatações a partir das várias fases da pesquisa, conforme apresentadas em onze relatórios. Por motivos de confidencialidade, os relatórios específicos a uma ou outra determinada IMF, foram apresentados exclusivamente às IMFs em questão e aos membros da comissão directiva. Para os Termos de Referência da pesquisa, queira consultar o Anexo 1.

1.1 Objectivos da avaliação

Os objectivos gerais globais da avaliação do impacto, foram divididos em um objectivo externo e um objectivo interno:

Objectivo externo: proporcionar evidência confiável dos impactos diversos dos serviços micro-financeiros sobre diversas categorias de clientes, de modo a poder justificar o uso de fundos públicos.

Objectivo interno: proporcionar evidência confiável de impactos diversos dos serviços micro-financeiros sobre diversas categorias de clientes, de modo a influir na planificação estratégica das IMFs.

Além disso, foi realizada uma avaliação do alcance em relação à pobreza, dos clientes retidos da Tchuma, uma vez que a Tchuma tem um foco na pobreza e visa aprofundar ainda mais o seu alcance. Os objectivos gerais desta avaliação foram igualmente divididos nos mesmos objectivos externo (justificação do uso dos fundos públicos) e interno (aprofundar o alcance).

Pela combinação dos objectivos interno e externo, a avaliação do impacto procurou conciliar as diferentes prioridades, interesses e preocupações de todas as partes envolvidas12. As IMFs estavam mais interessadas na obtenção dum melhor entendimento dos clientes e do mercado, da satisfação dos clientes e dos motivos da desistência, e na obtenção de percepções perspicazes sobre a potencial procura de produtos adicionais. Muitos dos membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças estão interessados na obtenção de evidência confiável do impacto das micro-finanças sobre a redução da pobreza.

1.2 (Antigos) clientes e categorias de clientes

O impacto é avaliado a nível do cliente. Dentro deste nível, tomam-se em conta as seguintes unidades de avaliação: o indivíduo, a família/agregado familiar, a empresa e em certa medida a comunidade (p. ex. oportunidades de emprego). A avaliação do impacto distingue entre o impacto das micro-finanças sobre os homens e as mulheres, dado o facto de que a equidade entre os géneros constitui um objectivo de vários membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças.

12 As avaliações de impacto que tenham tanto o objectivo de comprovar o impacto numa medida razoável, como de melhorar o

desempenho do programa, são classificadas por Hulme como avaliações com uma “abordagem moderada”, levando quinze a trinta meses. Hulme, David (1997) Impact assessment methodologies for microfinance: a review. Documento de Debate, Washington, DC: AIMS/USAID/ Management Systems International

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Uma característica importante desta avaliação, é a divisão dos clientes em categorias, com a premissa do entendimento de que o impacto das micro-finanças varia conforme tipos diferentes de clientes. As IMFs escolheram o tamanho dos créditos como o critério para a estratificação dos clientes. Os tamanhos dos créditos foram divididos em três categorias: a categoria baixa de créditos inclui créditos de até 7.499.999 MZM (cerca de 327 USD); a categoria média de créditos inclui créditos de 7,5 milhões de MZM até 19.999.999 MZM (de 328 a 868 USD); a categoria alta inclui créditos micro-financeiros de 20 milhões de MZM para cima (869 USD)13. As IMFs concedem créditos micro-financeiros até a um valor de aproximadamente 100.000 meticais (cerca de 4.400 USD)

Presumia-se que o impacto havia de manifestar-se apenas após um período mínimo de dois anos. Por isso, a avaliação focaliza os clientes com mais de dois anos de antiguidade. Até a um ponto limitado14, foram estudados os antigos clientes (desistentes). Para fins da avaliação, os desistentes foram definidos como clientes que não voltaram à instituição dentro dum período de seis meses depois da reposição do crédito. Para aumentar a comparabilidade do impacto sobre os desistentes e os clientes que continuavam a tomar créditos, a avaliação do impacto e da pobreza focaliza os desistentes que tinham sido clientes da instituição durante mais de dois anos.

1.3 Selecção das agências

De modo a permitir a comparação das constatações dentro duma determinada IMF e para limitar os custos, a avaliação foi realizada com duas agências de cada IMF em Maputo. No caso da Tchuma, tais agências constituem todas as suas agências em Maputo; para a SOCREMO, as agências constituíam as únicas duas em funcionamento durante mais de dois anos na altura do início da pesquisa; no caso do NovoBanco, foram seleccionadas duas agências que proporcionavam créditos micro-financeiros15.

1.4 Coerência do quadro temporal

Uma data importante nesta pesquisa, é de Junho de 2004, altura na qual as informações sobre a avaliação dos créditos foram recolhidas para clientes com mais de dois anos de antiguidade e que estavam activos no dia 30 de Junho de 2004 ou eram considerados desistentes em 30 de Junho de 2004. As informações históricas sobre as carteiras de créditos, disseram respeito a três períodos de um ano, entre Julho de 2001 e Junho de 2004. Os dados sobre as carteiras de créditos não foram actualizados no presente relatório, de forma a manter a coerência interna.

1.5 Correcção pela inflação

Os valores são analisados em moeda local (metical), de forma a evitar distorções causadas pela flutuação do dólar. Os valores provenientes das avaliações mais recentes dos créditos dos clientes com mais de dois anos de antiguidade, são corrigidos na base das taxas de inflação mensal da Cidade de Maputo, de modo a fazer com que sejam comparáveis com a informação na altura da primeira avaliação de crédito.

13 Taxa de câmbio MZM/USD em Junho de 2004: 1 USD = 23.002 MZM14 Devido tanto a limitações orçamentais como a constrangimentos em termos de tempo para as IMFs proporcionarem informações sobre

as avaliações dos créditos dos desistentes que tinham estado com a instituição durante no mínimo dois anos15 Definidos como até 100 milhões de MZM (cerca de 4.400 USD). A provisão de créditos às PME é feita por uma agência do NovoBanco

em Maputo. A Tchuma não proporciona créditos às PME, e a SOCREMO o fazia numa medida limitada na altura da pesquisa.

19

2. Metodologia

É bem sabido que a avaliação do impacto a nível do cliente constitui um desafio metodológico, por causa da questão de atribuição; muitos factores influenciam o impacto, tais como influências macro-económicas, as características dos clientes e as características dos produtos. Além disso, a fungibilidade dos créditos faz com que seja muito difícil seguir a pista do uso dos créditos. Num mundo ideal, se um cliente aplicar um crédito para mercadorias aumentadas e o desempenho do negócio aumentar, a cadeia de impactos está clara e o impacto está evidente. Infelizmente, o mundo é mais complicado, e é melhor falar duma teia de impactos que consiste em muitos factores que se influenciam mutuamente, pela qual é difícil separar quais são as causas e os seus efeitos.

A presente pesquisa tratou com este desafio pelo uso duma mistura de metodologias depesquisa, aumentando desta maneira a confiabilidade das suas constatações pelo exame de assuntos semelhantes a partir de perspectivas diferentes. A avaliação do impacto não empregou métodos positivistas fazendo uso dum grupo de controlo (com/sem, antes/depois), porque tais métodos tornam o inquérito inflexível e correm o risco de serem de benefício estratégico limitado às próprias instituições financeiras. A abordagem usada pela avaliação foi rigorosa, pela triangulação de informações quantitativas e qualitativas a partir de muitas fontes sobre diversas categorias de clientes actuais e antigos. Foram avaliadas as diferenças de impacto sobre grupos diversos, e foi obtida uma percepção perspicaz acerca das razões pelas quais as mudanças aconteceram. Além disso, as constatações são comparadas no que diz respeito aos clientes das três IMFs, deste modo reforçando a base para se tirarem conclusões sobre tendências gerais de impacto.

Foram aplicadas as seguintes metodologias:

Análise dos dados históricos sobre as carteiras de créditos de cada IMF, divididos por categoria de crédito, de forma a obter um entendimento das características das IMFs e dos padrões de tomada e reposição de créditos de cada categoria.

Um levantamento de amostra para avaliar o nível de pobreza dos clientes retidos da Tchuma, por categoria, em comparação com a população de Maputo.

A análise estatística dos dados da avaliação dos créditos duma amostra de clientes de cada IMF com mais de dois anos de antiguidade, dando uma percepção perspicaz das características dos clientes e das mudanças ao longo do tempo (eventual impacto) por categoria de clientes.

Entrevistas aprofundadas com grande número de clientes e antigos clientes de cada IMF com mais de dois anos de antiguidade, dando a perspectiva dos clientes sobre o impacto e qualidade dos serviços das IMFs.

Uma breve descrição de cada uma das metodologias vem dada a seguir.

2.1 Análise dos dados sobre as carteiras de créditos

As IMFs proporcionaram dados históricos sobre as carteiras de créditos ao longo dum período de três anos (1 de Julho de 2001 a 30 de Junho de 2004), divididos por categorias e por sexo, das duas agências seleccionadas em Maputo e da instituição inteira. As informações fornecidas incluíram as seguintes: número de clientes activos; número de novos clientes; valor da carteira em aberto; número de saídas; e carteira em risco. As saídas foram divididas entre os clientes rejeitados depois do primeiro pedido de crédito, e os desistentes. Para o propósito

20

da avaliação, os desistentes foram definidos como aqueles clientes que ou, foram expulsos depois de terem recebido um crédito, ou que saíram por motivos próprios e não regressaram à instituição dentro dum período de seis meses depois da reposição do crédito.

Além disso, o NovoBanco forneceu informações históricas sobre o número de clientes que interromperam a tomada de créditos durante vários períodos.16 A análise destas informações forneceu um melhor entendimento da magnitude dos clientes que descansam no intervalo entre créditos. Com esta análise, pretendia-se igualmente facilitar que as IMFs tomassem uma decisão bem-fundamentada sobre a definição de um desistente. Devido a uma combinação de constrangimentos em termos de tempo e de limitações do seu SIG, a Tchuma não proporcionou informações desagregadas por género, nem informações sobre o número de saídas e novos clientes.

A análise das carteiras de créditos facilitou o entendimento dos seguintes elementos: as características de tomada e de reposição de créditos dos clientes por categoria; a importância de cada categoria para o volume e valor da carteira de créditos; o nível de desistência por categoria; o nível de representatividade da amostra de clientes com dois anos de antiguidade.

2.2 Dados da avaliação dos créditos

Em vez de realizar um inquérito e recolher dados quantitativos sobre os negócios e agregados familiares dos clientes, as IMFs preferiram a análise das informações recolhidas habitualmente para a avaliação dos créditos pelos seus próprios oficiais de crédito. Além disso, a Tchuma e o NovoBanco proporcionaram informação sobre os saldos dos depósitos dos clientes seleccionados com mais de dois anos de antiguidade. Todas as informações diziam respeito aos clientes das duas agências seleccionadas que estavam activos em 30 de Junho de 2004.

O NovoBanco recuperou toda a informação directamente a partir do SIG e forneceu os dados em forma electrónica. Isto constituiu uma enorme vantagem, uma vez que dispensou a cópia dos dados e evitou erros de transcrição. No caso das outras IMFs, operadores supervisados pela empresa de consultoria ICC lançaram a informação a partir de processos de crédito e a partir do SIG, num programa de lançamento de dados.

Devido ao facto do NovoBanco ter recuperado todas as informações a partir do seu SIG, são analisadas as informações da avaliação dos créditos de todos (807) os clientes activos de duas agências em Maputo com mais de dois anos de antiguidade. Uma amostra foi seleccionada aleatoriamente da Tchuma e da SOCREMO, que consistiu em 291 e 189 clientes activos respectivamente. Além disso, foi seleccionada a partir da SOCREMO uma amostra de 78 desistentes que tinham sido clientes durante mais de dois anos. A Tchuma e o NovoBanco não proporcionaram informações sobre os desistentes, devido a constrangimentos em termos de tempo, em combinação, no caso da Tchuma, com as limitações do seu SIG. Ao total, foram analisadas as informações sobre a avaliação dos créditos de 1.287 clientes e de 78 antigos clientes. A informação foi analisada por IMF (não duma forma agregada).

Os dados amostra da SOCREMO e da Tchuma são ponderados pelo número total de clientes, desdobrado por agência, estatuto (activo ou desistente), categoria de crédito e sexo. Não foi necessária a ponderação dos clientes do NovoBanco com mais de dois anos de antiguidade,

16 Os períodos foram divididos entre : < 30 dias, 30 < 60 dias, 60 < 180 dias, e 180 a 365 dias.

21

uma vez que os dados provieram de todos os clientes das duas agências com mais de dois anos de antiguidade.

Para facilitar a análise dos dados da avaliação dos créditos, foram formuladas hipóteses e foram seleccionados indicadores em cooperação com as IMFs. As hipóteses relacionaram-se com as mudanças previstas ao longo do tempo a nível dos negócios e agregados familiares dos clientes, em relação às características e categoria de crédito dos clientes. Para uma lista destas hipóteses e indicadores, queira consultar o Anexo 3.

A metodologia de avaliação dos créditos não diferiu muito entre as instituições, facilitando,portanto, a comparabilidade. O NovoBanco e a SOCREMO efectuaram apenas poucas mudanças ao longo dos anos nas fichas de avaliação dos créditos e, portanto, a informação sobre a aprovação dos créditos foi comparável ao longo dos anos. Este foi o caso numa medida menor para a Tchuma, cujas fichas de avaliação dos créditos na altura do primeiro crédito dos clientes seleccionados, continham menos pormenores.

Os pesquisadores constataram que em termos gerais, a qualidade dos dados foi boa. Os oficiais de crédito são formados amplamente e têm um interesse na confiabilidade das informações. As informações sobre os vários aspectos do negócio, recolhidas pelos oficiais de crédito, devem ser consideradas não como exactas, mas antes, como boas estimativas, de valor para a identificação das diferenças entre os negócios e os clientes ao longo do tempo.

2.3 Avaliação da pobreza

Para a avaliação do nível de pobreza dos clientes da Tchuma, foi realizado um levantamento quantitativo entre 164 (antigos) clientes desta, que tinham sido clientes do crédito durante mais de dois anos. Esta amostra foi tirada da amostra utilizada para a análise das informações sobre a avaliação dos créditos. Os resultados foram ponderados de forma a serem representativos para todos os (antigos) clientes da Tchuma com mais de dois anos de antiguidade. A avaliação da pobreza incluiu tanto desistentes como clientes activos.

A avaliação compara o nível de pobreza dos clientes da Tchuma na Cidade de Maputo, com o nível de pobreza da população global na Cidade de Maputo. Com base nas constatações do Inquérito aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique (INE)17, foram identificados os indicadores mais potentes dos níveis de pobreza, definidos como os níveis de despesa a nível do agregado familiar. Tais indicadores mostraram-se ser as características da habitação e a disponibilidade dos bens de consumo duráveis.

17 Instituto Nacional de Estatística (INE) (2004) Inquérito aos Agregados Familiares Sobre Orçamento Familiar. Relatório Final. Maputo,

Moçambique. Os dados deste inquérito sobre o consumo a nível do agregado familiar, são considerados confiáveis por peritos da Universidade Purdue e do IFPRI, os quais estiveram envolvidos na análise dos dados.

22

2.4 Entrevistas aprofundadas

Durante o período de Junho a Setembro de 2005, foram realizadas entrevistas aprofundadas com um total de 140 clientes, estratificados conforme se segue: dez clientes activos por categoria de crédito por IMF; dez desistentes por IMF; dez clientes18 que tinham (exclusivamente) contas de depósito, do NovoBanco bem como da Tchuma. Os (antigos) clientes do crédito foram seleccionados aleatoriamente a partir da amostra para as análises da informação para o crédito. Os desistentes foram escolhidos a partir da amostra de clientes com dois anos de antiguidade que estavam activos em Junho de 2004, mas que tinham desistido depois e não tinham tomado um crédito durante seis meses antes da altura da entrevista.

Devido ao facto das IMFs não terem registado os pormenores dos contactos dos clientes com depósitos, a selecção destes clientes foi aleatória entre os clientes cujo paradeiro foi possível encontrar. É de notar que a Tchuma conta com um número limitado de clientes das poupanças com contas de poupança exclusivamente; a amostra de dez constituiu mais de um terço de todos estes clientes exclusivamente de poupança das agências seleccionadas. Além disso, visto que o produto de depósito foi introduzido recentemente, os clientes tinham a conta por apenas entre seis e doze meses. Apesar desta curta duração de tempo, estas entrevistas deram percepções interessantes acerca do propósito e uso das contas e da satisfação dos clientes com o produto.

Os questionários para as entrevistas foram projectados em estreita cooperação com as IMFs. As entrevistas examinaram as características demográficas e sócio-económicas dos agregados familiares dos clientes, a sua experiência prévia com dispositivos institucionais formais e informais, o uso de crédito e/ou poupança, actividades empresariais, bem-estar a nível do agregado familiar, mecanismos de arcar com crises e acontecimentos do ciclo da vida, e a sua satisfação com os produtos e serviços dos operadores.

Para assegurar o rigor dos dados obtidos a partir das entrevistas, foi usado o chamado “Protocolo de Impacto Qualitativo” ou QUIP, elaborado pela Imp-Act19. A análise estatística exige um tamanho crítico de amostra, enquanto que este não é o caso com a pesquisa qualitativa: quanto mais entrevistas realizadas, mais benefícios há em termos de dados úteis. Contudo, para poder entender os principais problemas dos clientes duma determinada categoria, o número mínimo de entrevistas realizadas por categoria deve ser de dez (Imp-Act Practice Notes, 2004).

Os leitores devem estar conscientes de que as análises com base nas entrevistas qualitativas, baseiam-se nas opiniões pessoais, e por isso subjectivas, dos inquiridos.

18 No caso do NovoBanco, um destes dez também recebeu um crédito de negócio. Uma tentativa de substituir este cliente não foi bem

sucedida, uma vez que durante a entrevista parecia que o substituto também tinha um crédito com o NovoBanco.19 Imp-Act é um programa internacional de pesquisa-acção que visa melhorar a qualidade dos serviços micro-financeiros e o seu impacto

sobre a pobreza, fornecendo lições para a prática e para a política pública.

23

3. Contexto sócio-económico

Figura 1: Mapa de Moçambique

3.1 Geral

Moçambique, com uma população de cerca de dezanove milhões de habitantes, é consideradoum exemplo bem sucedido de reconstrução e desenvolvimento pós-conflito. Após dezasseis anos de guerra civil, um acordo de paz foi assinado em 1992, e as primeiras eleições democráticas realizaram-se em 1994. Desde essa altura, o país viveu bastante crescimento económico, mas boa parte deste crescimento tem sido explicada por uns poucos “mega-projectos” tais como a fundição de alumínio Mozal.20 Moçambique permaneceuprincipalmente agrário, tendo um sector formal apenas muito pequeno, mostrando que o desenvolvimento económico moçambicano ainda é frágil.

O crescimento económico diverge grandemente entre as regiões. Em 2000, o crescimento económico foi substancial em apenas quatro das onze províncias de Moçambique. A Cidade de Maputo (997.000 habitantes) contribuiu em maior proporção (quase 37%) ao produto interno bruto (PIB). Isto significa que em termos de rendimento, os habitantes da Cidade de Maputo estavam por média em melhor situação: o PIB per cápita na Cidade de Maputo era seis vezes maior em relação à média nacional21. O PIB per cápita foi estimado em 250 USD em 2004.

20 Em 2004 o produto doméstico bruto cresceu em 5,8% (Fonte: http://www.mixmarket.org/)21 PNUD (2002) Mozambique: Gender Women and Human Development – An Agenda for the Future. National Human Development

Report 2001. Maputo, Moçambique

24

3.1.1 Níveis de pobreza

Conforme o Inquérito aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar realizado em 2002-2003, os níveis de pobreza têm vindo a diminuir significativamente ao longo dos últimos anos. Contudo, foi relatado que a maioria da população (54%) vive abaixo do limiar de pobreza22. As desigualdades de rendimento são relativamente elevadas, conforme vem reflectido no coeficiente de Gini23, o qual foi de 0,42 (com uso dos dados do Inquérito sobre o Consumo a nível do Agregado Familiar). Para fins de comparação: o coeficiente de Gini na África do Sul era de 0,77 (2001) e nos Países Baixos de 0,33 (1994). Tal como é quase sempre o caso, a desigualdade era mais baixa nas zonas rurais do que nas zonas urbanas. O coeficiente de Gini de Maputo era de 0,52, onde os 25% mais ricos da população correspondem a mais de 64% do consumo total na Cidade24.

3.1.2 HIV/SIDA

Embora as taxas de HIV/SIDA ainda sejam relativamente baixas em comparação com os países vizinhos, estas taxas estão a aumentar de forma rápida, afectando em particular as mulheres. Actualmente estima-se que cerca de 16,2% da população adulta está infectada pelo vírus do HIV. O SIDA reduziu dramaticamente a expectativa de vida em Moçambique; em 2004, a expectativa de vida na altura do nascimento estimava-se em 38,1 anos, em comparação com 46,4 anos se o SIDA estivesse ausente.

3.1.3 Inflação

A inflação média em 2004 estava a 11%. A moeda moçambicana, o metical, caiu em termos reais, e em termos nominais contra o rande sul-africano; a taxa de câmbio do metical contra o dólar americano ficou praticamente sem mudança de 2001 até meados de 2004.

3.2 A economia informal em Maputo

Uma vez que o presente estudo concentra-se em Maputo, proporciona-se uma breve vista geral da economia informal nessa cidade. O nosso conhecimento do sector informal em Maputo baseou-se em grande parte numa série de pequenos estudos de amostra a partir de finais dos anos 80. Contudo, em 2004 foi realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o primeiro levantamento sistemático do sector informal a nível da nação inteira.25

O tamanho do sector informal tem estado sujeito a algum debate, mas todas as estimativas indicam uma contribuição importante.26 Em Maputo, constatou-se ser a maior fonte de

22 A pobreza definida em termos de consumo de itens alimentares e não alimentares, em comparação com um índice regional adaptado de

necessidades básicas23 O coeficiente de Gini é um número entre 0 e 1, em que 0 corresponde à igualdade perfeita (na qual todos têm o mesmo rendimento) e 1

corresponde à desigualdade perfeita (na qual uma só pessoa tem todo o rendimento, e todas as outras têm um rendimento zero). (www.economist.com)

24 Comunicação por e-mail de Robert James, Direcção Nacional de Plano e Orçamento (DNPO), Maputo, 09-12-200425 INE (2006) Infor 2004 Inquérito ao Sector Informal, Resultados Preliminares, Maputo26 (Direcção Nacional de Estatística (DNE) (1993) Relatório sobre os resultados finais do inquérito às famílias na Cidade de Maputo (Vol

1) Comissão Nacional do Plano (Maputo). Este inquérito de famílias em Maputo estimou que o sector informal urbano proporcionava cerca de 43% do rendimento de Maputo. Pinto de Abreu, com uso duma abordagem monetarista, calculou a contribuição do sector informal em cerca de 33% do PNB. (Pinto de Abreu, A (1996) Sector Informal em Moçambique: uma abordagem monetarista). Navia e Kaufmann estimaram que o sector informal na Beira correspondia a 60% do rendimento da cidade (Navia, E. e F. Kaufmann (1999) Abordagem sobre Pequenas Empresas em Sofala, UCM-GEA, Documento de Consulta 1, Beira).

25

emprego (principalmente auto-emprego) para as mulheres.27 Dados preliminares do estudo do INE sobre o sector informal, constataram que o sector agrícola domina esmagadoramente, tanto o sector informal como a participação duma grande maioria da população com idade maior a seis anos. A desagregação dos dados mostra que as actividades do sector informal não agrícola, absorvem quase 600.000 indivíduos, contra ligeiramente mais de um milhão de indivíduos absorvidos pelo sector formal (incluindo a agricultura). O comércio e serviços (excluídos os transportes) correspondem a ligeiramente mais de três quartos dos participantes do sector informal não agrícola. De particular importância para os operadores micro-financeiros, é que 42% de todos os envolvidos no comércio, e 48% daqueles que proporcionam serviços, estão localizados ou na Província ou na Cidade de Maputo.28

Chamado frequentemente o “sector de última instância”, isto pode ser o caso para muitos, mas dados recolhidos em meados dos anos noventa, constataram que uma grande proporção dos operadores do sector informal estava a ganhar substancialmente mais do que os trabalhadores assalariados de nível inferior.29 Dada a diversidade do sector e os antecedentes económicos dos que operavam dentro dele, não é surpreendente que os estudos demonstravam uma variação muito ampla de rendimentos do sector.30

Constatou-se que os elementos mais pobres do sector informal trabalham sete dias por semana, com apenas um breve intervalo para ir ao culto aos domingos. Um levantamento de comerciantes de sexo feminino, constatou que elas trabalhavam em média dez horas por dia, e que quase ninguém saía de licença; a maioria não interrompia as suas actividades durante os feriados nacionais, e quase dois terços afirmaram que não estavam livres ao longo dos fins de semana.31

A maior parte dos agregados familiares envolvidos nas actividades informais, tem no mínimo duas fontes de rendimento, normalmente exercidas por membros diferentes do agregado familiar32, se bem que não é excepcional verificarem-se membros individuais com duas ou mais actividades de geração de rendimento. Muitos agregados familiares hão-de ter pelo menos um membro que ganha um salário mas, apesar da legislação que rege o salário mínimo, normalmente os níveis salariais mais baixos não conseguem sustentar as necessidades básicas duma família média.

Em 1996, um estudo de trabalhadores dos sectores informal e formal em Maputo e na Beira, constatou que os que estavam envolvidos nas actividades informais, tendiam a ser jovens, tendo a maioria esmagadora menos de trinta e cinco anos de idade. A maioria pode ser 27 PNUD (2002) op. cit. O relatório cita que 77,9% das mulheres urbanas economicamente activas, e 50,3% dos homens, estão ocupados

no sector informal.28 O grau de enviesamento é muito menos marcado para a participação no sector formal, estando menos de um terço (31,5%) localizados

na Província ou Cidade de Maputo.29 Veja-se F. de Vletter (1996) Estudo do Sector Informal em Moçambique (Maputo e Sofala). Unidade de Redução da Pobreza, Ministério

do Plano e Finanças. Este estudo, para além de operadores do sector informal, também entrevistou operários fabris não qualificados. O estudo constatou que apesar de folhas de serviço relativamente longas, os salários dos operários fabris ainda eram espantosamente baixos, e muitos que afirmaram terem trabalhado durante cerca de vinte anos, ainda estavam a auferir o salário mínimo. Cerca de dois terços dependiam de rendimentos auferidos por outros membros do agregado (normalmente a partir do sector informal).

30 Veja-se P.D. Little, P.D. e I.B.L. de Coloane, (1992), Petty Trade and Household Survival Strategies: A case study of food and vegetable traders in the peri-urban area of Maputo, Mozambique; USAID, Maputo. Embora os resultados médios dos comerciantes de cerca de 40 USD por mês fossem cerca de duas vezes a renda proveniente do salário médio do sector formal, 70% ganhavam consideravelmente menos disto, cerca de metade ganhando aproximadamente o mesmo como os trabalhadores assalariados do sector formal. O estudo de de Vletter de 1996 (op. cit.), constatou um rendimento mensal modal de 50 a 100 USD em Maputo, contra 20 a 50 USD na Beira.

31 Veja-se S. R. de Abreu, (1994), A Mulher e o Sector Informal, Comunicação apresentada ao seminário “Mulher e o Sector Informal”, organizado pela Friedrich Ebert Stiftung e a Muleide, Maputo.

32 Veja-se D. E. Sahn (1993). Living Standards in Maputo: a Descriptive Report, Programa de Políticas Alimentares e Nutricionais, Universidade de Cornell, Washington. O estudo constatou que em Maputo, um terço dos agregados familiares ganhava um rendimento proveniente de uma só actividade, 40% tinham duas fontes e 27% tinham três ou mais.

26

considerada alfabetizada, tendo cerca de setenta por cento atingido pelo menos a 4ª classe. Em comparação, os operários fabris não qualificados tendiam a ser mais idosos (tendo a maioria mais de trinta e cinco anos), com níveis mais baixos de escolarização.33

O mesmo estudo constatou que as necessidades em capital de arranque, davam em média cerca de 40 USD, e vinham principalmente a partir da poupança pessoal. Poucos pediam emprestado dinheiro, e no caso de assim fazerem, faziam-no através da família ou dos amigos.O rendimento mensal líquido médio foi muito baixo (cerca de 50 USD), estando menos de dez por cento a ganhar mais de 100 USD. A maior parte das actividades realizava-se numa base de trabalho por conta própria, sendo menos de vinte por cento os que empregavam alguém. Os níveis salariais para os trabalhadores do sector informal, estavam consideravelmente abaixo dos níveis do salário mínimo, o qual tem flutuado ao longo dos anos entre 40 e 50 USD por mês.34 Eles estavam igualmente sujeitos a condições exploradoras 35 que parecem estar a continuar.36

Um estudo encomendado pelo Mecanismo Moçambicano de Micro-Finanças (MMF) em 2004, tentou avaliar a procura pelo crédito por parte dos pequenos vendedores de mercado, nos mercados da Cidade de Maputo37. O estudo constatou que a maior parte dos negócios dos vendedores, tem estado a ficar mais fraca. Apenas cerca de um décimo dos vendedores tinha um crédito, do qual uma grande maioria o tinha tomado duma IMF. Daqueles que não tomaram um crédito, ligeiramente mais de um terço disse que estaria interessado.38 O estudo constatou igualmente que muitos vendedores recorrem a adiantamentos dos seus fornecedores, e pensam que estes adiantamentos implicam menos riscos do que os créditos39.

A maior parte dos comerciantes do sector informal, trabalha dentro dum ambiente económico susceptível a flutuações sazonais (ligadas normalmente a festas tais como no fim do ano, na altura de Páscoa e de outros feriados, sobretudo dos fins de semana longos), e mais regularmente, em cada fim do mês (dias de pagamento).

Um aspecto importante do sector informal, é que a maioria dos vendedores e provedores de serviços, prossegue o que podem ser consideradas actividades de sobrevivência, por causa da falta de alternativas económicas. Tais actividades não exigem quase nada mais do que as noções mais fundamentais de venda (incluindo serviços que consistiam em grande parte na venda de comida e de bebida) e, devido às suas aspirações empresariais muito limitadas, estas não mudam nem crescem muito. Uma percentagem relativamente reduzida é que pode ser considerada muito mais empreendedora, contando com habilidades próprias que podiam (dado um incentivo conveniente como por exemplo o crédito), elevá-los até a níveis mais

33 Veja-se de Vletter (1996), op. cit.34 Ibid.35 Abreu (1994) op. cit. constatou que 89% dos empregadores do sector informal que foram entrevistados não permitiam nenhuma licença

disciplinar, 72% não permitiam os feriados oficialmente reconhecidos, e 72% não davam folga aos fins de semana. A maioria recebe em espécie (principalmente alimentação e alojamento). Menos de um décimo afirmou pagar salários (normalmente a níveis muito baixos - 5 a 10 USD por mês).

36 Em 2005, investigações realizadas durante as entrevistas aprofundadas para a avaliação do impacto, revelaram que o valor normal ganho por auxiliares do sector informal para vendedores de sapatos, era de cerca de 20 USD por mês.

37 Veja K. Murdoch (2004). Study of the Demand for Credit in Markets in Maputo, Moçambique, Mecanismo Moçambicano de Micro-Finanças.

38 Dos 62% que disseram que não estavam interessados , 44% disseram que não queriam tomar um crédito (receando assumir uma tal responsabilidade, medo das mercadorias serem confiscadas, muito complicado e dispendioso pedir um crédito), 39% disseram que não estavam em condições de assumir um crédito (falta de garantias ou o negócio era muito novo) e 11% disseram que não precisavam dum crédito.

39 O papel do crédito comercial em Moçambique não foi investigado devidamente, mas a evidência recente proveniente de outros países (p. ex. Nicarágua) sugere que o crédito comercial (p. ex. adiantamentos a nível atacadista) é cada vez mais importante, relativamente aos créditos em dinheiro (veja A. Legovini (2002). The Distributional Impact of Loans in Nicaragua, Banco Mundial).

27

sofisticados de negócio, manifestados normalmente através da diversificação, do investimento de capital e do crescimento rápido.

O número elevado de inquiridos que afirmam ter sofrido de negócios que enfraquecem, conforme constatado pelo estudo do MMF citado acima, pode ser explicado pelo menos em parte por quatro influências negativas importantes que estão recentemente a afectar a economia urbana de Maputo. A primeira é que, na sequência do crescimento económico e criação de postos de emprego associados ao “mega-projecto” da Mozal (fundição de alumínio), a capacidade da economia de Maputo-Matola abrandou para a absorção de mão-de-obra, dando como resultado que mais da população economicamente activa, procure a sobrevivência no sector informal. Isto levou a uma concorrência crescente, sobretudo entre aquelas actividades que requeiram um capital de arranque mínimo. O segundo problema tem sido a revalorização significativa do rande (associada à desvalorização do dólar)40 resultando em preços mais elevados de importação (a maioria das mercadorias vendidas no mercado, é importada da África do Sul). O terceiro problema tem sido o preço aumentado do combustível (aumentando em cerca de cem por cento ao longo do ano 2005)41 o que tem afectado os preços dos transportes bem como o poder de compra em geral. Por fim, controlos muito mais rigorosos na fronteira, resultaram em margens de lucro reduzidas, e na frequente confiscação de mercadorias declaradas a menos.42

40 Desde finais de 2001, altura em que o rande atingiu o seu ponto mais baixo, de aproximadamente 14 por dólar americano, o rande tem

vindo a reforçar-se gradualmente, embora de forma irregular, para estabilizar-se em aproximadamente 6 por dólar nos princípios de 2006.

41 Durante o período de Fevereiro a Novembro de 2005, os preços da gasolina e do diesel aumentaram aproximadamente para o dobro, tendo aumentado de 14.000 para 29.350 MZM/litro para a gasolina, e de 13.900 para 26.050 MZM/litro para o diesel.

42 Nos anos anteriores, os comerciantes do sector informal podiam bastante facilmente contrabandear as mercadorias através da fronteira. Depois o governo suprimiu esta prática, e agora os comerciantes aceitam que estão a jogar uma forma do roleta com os agentes das alfândegas. A maneira generalizada de agir, parece ser de não declarar cem por cento das mercadorias, visto que os comerciantes dizem que isso tornaria impossível ganhar quaisquer lucros. Parece que a maioria declara cerca de 30% das suas mercadorias na fronteira. Contudo, os minibus nos quais eles costumam viajar, são revistados aleatoriamente ao longo da estrada que vai para Maputo, resultando frequentemente na confiscação de todas as suas mercadorias, devido à revelação inadequada.

28

4. O sector micro-financeiro em Moçambique

Este capítulo proporciona uma breve vista geral dos sistemas financeiros informais e da indústria micro-financeira em Moçambique, com foco em Maputo.

4.1 Sistemas financeiros informais

Embora nunca tenha sido realizado um estudo exaustivo sobre as micro-finanças informais em Moçambique, não cabem dúvidas de que mais pessoas são servidas por sistemas informais de micro-finanças do que pelas IMFs. Presume-se às vezes que as pessoas fazem a passagem dos sistemas informais para os serviços bancários formais, ao terem a oportunidade, mas a evidência a partir desta avaliação sugere que este não é o caso. Muitos dos clientes das IMFs empregam uma variedade de serviços formais e informais. Em Maputo, dois sistemas destacam-se: a Associação de Poupança e Crédito Rotativo (ROSCA/APCR), bem recebida em muitas partes do mundo, chamada em Moçambique de “xitique”, e o sistema de poupança diária depositada junto de cobradores que operam nos mercados, chamado de “xitique geral”. São populares entre os ligeiramente mais favorecidos, as associações funerárias informais.Menos prevalecentes, mas ainda significativos, são os agiotas comerciais. No que se segue, faz-se uma breve descrição da operação de tais esquemas.

4.1.2 Grupos de xitique

O xitique trata-se duma forma de poupança obrigatória dentro dum grupo, sendo importante a pressão exercida pelos pares para aumentar o auto-controlo dos gastos. O sistema é particularmente popular entre as mulheres, mas os homens participam também. No caso típico, o grupo consiste em quatro a dez pessoas, sendo amigos ou familiares. Numa base periódica (diária, semanal ou mensal), é poupada uma certa importância de dinheiro. O dinheiro é pago em rotação a cada um dos membros que fazem parte do grupo. Existe ampla variação nos dispositivos dos xitiques. Por exemplo, às vezes o fundo comum é em espécie, p. ex. em panelas, o que impede que os participantes recorram ao dinheiro para outros fins se não aqueles para os quais planificaram. As importâncias depositadas variam consideravelmente, mas podem constituir uma boa parte do rendimento, frequentemente até à terça parte ou mais.

4.1.3 Xitique geral

Diz-se que o xitique geral foi introduzido em Maputo nos anos noventa e continua a funcionar exclusivamente em Maputo e não no resto do país. Este sistema de cobradores de dinheiro existe na África ocidental e central e em algumas partes da Índia, mas não em outras partes da África Austral. E provável que a sua introdução em Maputo, tenha sido por parte de imigrantes. O sistema é utilizado principalmente por vendedores no mercado em Maputo, tendo como seu objectivo, facilitar o acesso aos serviços de poupança. As poupanças são feitas na base de contratos mensais, os quais estabelecem os valores diários que deverão ser depositados. Findo cada mês, o utente paga uma taxa que corresponde às poupanças de um dia. Os vendedores no mercado consideram a quantia mensal fixa o seu “salário”, o qual eles utilizam para pagar as suas dívidas mensais, inclusive as suas prestações de reposição do crédito. Se bem que muitas pessoas recorrem a este sistema por causa da sua conveniência, questiona-se a sua segurança mais do que a segurança dos grupos de xitique.

29

4.1.4 Associações funerárias

Regra geral, este esquema funciona em grupos de vinte a trinta pessoas, frequentemente provenientes da mesma família. Cada um dos membros paga um valor mensal. No caso dum falecimento, os membros do fundo e os seus familiares directos - cônjuge, pais e filhos - têm direito a um caixão. Às vezes outras despesas, tais como custos hospitalares no caso de doença séria, são igualmente cobertas pelo fundo. Também as igrejas, como por exemplo a Assembleia de Deus, gerem fundos funerários para os seus membros, com uma base muito mais ampla de membros. Foram encontrados dispositivos mais amplos semelhantes entre famílias aparentadas (fundos de família), sendo cada família obrigada a contribuir com uma importância mensal para uma conta comum à qual se podia recorrer para um propósito de comum acordo, que variava desde doença até matrículas universitárias.

4.1.5 Agiotas

Regra geral, os agiotas concedem créditos individuais em valores que variam desde algumas centenas de dólares até a uns milhares. As garantias mais frequentemente usadas, são a boa reputação do tomador, cheques pós-datados e haveres pessoais. Regra geral, a taxa de juros é de vinte por cento por mês ou mais, e os prazos de reposição podem ir até três meses. Na maior parte, os juros são pagos mensalmente, e muitos agiotas não aceitam reembolsosparciais. Isto pode resultar numa dependência a mais longo prazo perante o agiota, no caso em que a pessoa não consegue acumular toda a quantia fixa de uma só vez. Até aqui, Moçambique tem sido poupado da indústria de agiotas (usurários) que se propagou rapidamente por toda a África Austral. No passado recente, Maputo em particular presenciou o registo de vários fornecedores de crédito que estão a conceder créditos a cerca de dez por cento por mês (saldo decrescente), principalmente a trabalhadores assalariados que garantem os seus créditos com cheques pós-datados.

Para além dos sistemas acima descritos, também constituem mecanismos muito empregues pela população de baixa renda, créditos a partir de familiares e amigos a custo zero e com prazos flexíveis, principalmente para pagar despesas com a saúde e educação ou para arcar com a despesa de crises inesperadas.

4.2 A indústria micro-financeira em Moçambique43

4.2.1 Evolução

Em Moçambique a indústria micro-financeira teve o seu início em meados dos anos noventa. A maior parte dos operadores não começou a sua actividade com a finalidade de criar instituições micro-financeiras viáveis. Alguns surgiram como respostas ad hoc para ir ao encontro das necessidades em geração de rendimentos das suas populações alvo, das quais muitas tinham beneficiado de programas de ajuda pós-guerra. Outros focaram a testagem como experiência piloto de várias metodologias para servir a população de baixa renda. A maior parte deles não possuía estruturas gerenciais capazes de sustentar níveis elevados de

43 Para uma vista geral mais pormenorizada, queira consultar o relatório da Fase A desta avaliação: G. Athmer e H. Hunguana (2004)

Características do sector micro-financeiro e das três IMFs, bem como o levantamento e revista sectorial às IMFs: F. de Vletter, 2006: O sector micro-financeiro em Moçambique: Realizações, perspectivas e desafios. Mecanismo Moçambicano de Micro-Finanças/PNUD, Maputo.

30

alcance, ou de manter taxas elevadas de reposição44. Até ao início da presente década, as ONGs internacionais dominavam em grande parte o sector micro-financeiro.45

Nos últimos anos, o sector micro-financeiro cresceu rapidamente e está a tornar-se cada vez mais comercial. Até 2005, apenas um quarto dos operadores são ONGs internacionais. Contudo, o alcance continua limitado: as IMFs funcionam principalmente nas zonas urbanas, concentradas principalmente em Maputo, e verifica-se uma concentração elevada de entidades na indústria (quatro IMFs detêm mais de 80% da carteira)46.

Até recentemente, os serviços micro-financeiros oferecidos limitavam-se ao crédito. As IMFs envolvidas na avaliação do impacto, introduziram produtos de depósito durante estes últimos anos. Além disso, o NovoBanco introduziu serviços cambiais, transferências de dinheiro, contas com uso de cheques e contas em moedas estrangeiras. Nenhuma das IMFs oferece produtos de seguro.

Desde o início da presente década, a promoção de Associações de Poupança e Crédito Cumulativos (ASCAs) auto-sustentadas e impulsionadas pela poupança, levou a um aumento dramático no alcance das micro-finanças nas zonas rurais. Até Junho de 2004, os grupos constituíram um total de 12.000 membros.47

4.2.2 Alcance

Em Junho de 2004 havia 52.01948 clientes do micro-crédito em Moçambique, com uma carteira total em aberto de 11.200.000 USD. A contribuição para estes níveis de alcance por parte das três instituições sob análise – o NovoBanco, a Tchuma e a SOCREMO – é enorme. Em Junho de 2004, estas três instituições detinham 41% do número total de clientes activos servidos pelas IMFs em Moçambique. Em termos da carteira, a contribuição das três instituições é ainda maior, ou seja, 79%.

Conforme a definição de profundidade do Boletim Micro-bancário49 (a qual é uma medida para determinar o mercado alvo das IMFs), o NovoBanco e a SOCREMO servem a extremidade alta, enquanto que a Tchuma serve a camada ampla do mercado.

A CCCP (Caixas Comunitárias de Crédito e Poupança)50, a única outra instituição de grande dimensão que também opera em Maputo, serve a extremidade baixa do mercado. A CCCP implementa a concessão de créditos do tipo banco de aldeia: o crédito é proporcionado a grupos solidários organizados dentro de associações. No quadro a seguir, apresenta-se a profundidade do alcance das principais IMFs.

44 A. M. Chidzero, C. Guevas, C. Froliech, H. Hunguana (1998); Estudo de Micro-finanças em Moçambique; Governo de Moçambique.45 F. de Vletter, op. cit.46 Fonte: Report of the Financial System Stability Assessment of the IMF. IMF, Monetary and Financial Systems and African Department.

19 de Novembro de 200347 Os números provêm das agências promotoras CARE e Ophavela. Até 2005, o número total de membros era de 25.000, das agências

promotoras Ophavela, Kukula, ADEM e AKSM. Veja também: F. de Vletter (2006) op. cit.48 Projecto do Mecanismo Moçambicano de Micro-Finanças, Portfolio Data for Microfinance Institutions in Mozambique as of 30 June

200449 http://www.mixmbb.org/en/company/our_methodology.html - extremidade mais baixa: o saldo médio por pagar no crédito é de menos

de 20% do PNB per cápita; ampla: um saldo médio por pagar no crédito entre 20% e 149%; extremidade mais alta: o saldo médio por pagar no crédito está entre 150% e 249%. O PNB por cápita em Moçambique está por volta de 250 USD em 2004: extremidade baixa quando o saldo médio por pagar no crédito está a menos de 50 USD; extremidade alta quando o seu saldo médio por pagar no créditoestá acima de 375 USD.

50 A CCCP mudou o seu nome em 2006 para CCOM (Caixa de Crédito de Operadores das Micro-finanças). Assistência técnica do IRAM

31

Figura 2: Saldos médios em aberto dos créditos das IMFs51

Depth of outreach Mozambique

7844

521

227

437

309

130

5979580

100

200

300

400

500

600

C.C.C

.P.

FCC

Group

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CRESCE

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S$)

4.2.3 Participação de mercado das três IMFs

Devido ao facto da avaliação concentrar-se no impacto e alcance dos serviços das três MFIs em Maputo, é dada uma vista geral da participação do mercado por parte de cada uma das três IMFs em Maputo. As demais duas IMFs em Maputo, a Caixa Comunitária de Crédito e Poupança (CCCP)52 e a – muito mais pequena – Kulane Ka Ntwananu (KkN), vêm agrupadas em conjunto53. A vista geral inclui igualmente a Matola, uma cidade perto de Maputo. A Tchuma, a SOCREMO e a CCCP contam com agências na Matola, enquanto que o NovoBanco e a KkN servem clientes na Matola a partir das suas agências em Maputo. A Tabela 1 apresenta a percentagem do número total de créditos em aberto por IMF. O NovoBanco detém a maior parte dos créditos em aberto em Maputo, e a CCCP em Maputo/Matola.

Tabela 1: Participação do mercado por parte das IMFs: Número de créditos (Junho de 2004)

MaputoIncluindo a Matola

Nº de créditos das IMFs em aberto

18.827 25.565

NovoBanco 38% 28%SOCREMO 16% 15%

Tchuma 19% 23%CCCP e KkN 26% 34%

51 Valores calculados na base dos dados fornecidos pelo MMF52 Actualmente chamada de CCOM (Caixa de Crédito de Operadores das Micro-finanças)53 Em 2005 foi fundado o Banco Oportunidade de Moçambique (BOM), incorporando os clientes da KkN

USD 50Extremidade baixa

ExtremidadeAmpla

Extremidade alta

USD 375

32

A Tabela 2 apresenta a percentagem do volume total dos créditos em aberto em Maputo e em Maputo/Matola. Mais uma vez, o NovoBanco detém o maior volume de créditos em aberto; a CCCP e a KkN o mais pequeno.

Tabela 2: Participação do mercado por parte das IMFs:Volume da carteira de créditos

MaputoIncluindo a

MatolaNovoBanco 58% 50%SOCREMO 22% 23%

Tchuma 14% 19%CCCP e KkN 6% 8%

As três IMFs constituem os principais concorrentes, umas das outras. Na extremidade baixa do mercado está a CCCP/CCOM, concorrente da Tchuma, por causa do seu produto solidário bem sucedido. Também o Banco Oportunidade Moçambique (BOM) - fundado em 2005 e incorporando os clientes da KkN - visa os segmentos mais baixos do mercado, e a expectativa é que se torne um interveniente importante em Maputo. Na extremidade alta do mercado, os bancos são concorrentes para as três IMFs: o Banco Internacional de Moçambique (BIM) e o Banco Austral oferecem pequenos créditos baseados no salário e créditos residenciais a preços mais baixos, mas com requisitos mais difíceis para a entrada.

33

5. Características das três IMFs

Este capítulo apresenta uma breve vista geral das três IMFs, das suas histórias, produtos financeiros, alcance, crescimento da carteira e rentabilidade.

5.1 Dados chave

Para facilitar uma vista geral rápida, apresentam-se na Tabela 3 algumas informações chave sobre as IMFs (todas as agências).

Tabela 3: Dados chave relacionados com as IMFs, todas as agências54

Informação em Junho de 2004 Tchuma SOCREMO NovoBancoAno de início de operações (como instituição financeira55) 1999 1999 2000

Número total de créditos activos 5.964 5.421 9.921

Carteira em aberto (em USD) 1.361.886 2.378.335 5.164.073

Crescimento, carteira bruta de créditos Junho de 2003 a Junho de 2004

30% 35% 143%

Crescimento, número de clientesJunho de 2003 a Junho de 2004

14% -7% 35%

Número de contas de depósito56 1.456 - 19.164

Carteira em risco 3,96 0,86 1,96

Auto-suficiência operacional57 106,77% 111,07% 103,81%

O estudo concentra-se nas operações das IMFs na Cidade de Maputo: a informação sobre as IMFs na Cidade de Maputo é apresentada na Tabela 4.

Tabela 4: Dados chave relacionados com as operações das IMFs na Cidade de Maputo

Informação em Junho de 2004 Tchuma SOCREMO NovoBanco

Percentagem dos clientes totais das IMFs na Cidade de Maputo

61 57 72

Número de agências em Maputo 2 3 4

Percentagem de clientes de sexo feminino em duas agências seleccionadas

(créditos a negócios58)

64 61 60

Percentagem da carteira em aberto para clientes de sexo feminino, em duas agências seleccionadas

(só créditos a negócios)

64 56 55

54 Foram realizadas análises de informação sobre as carteiras de créditos e de avaliação dos créditos, na base dos dados de Junho de 2004.

Para manter a coerência interna, a informação sobre a carteira de créditos não foi actualizada.55 O projecto anterior à SOCREMO começou em 1992; o projecto Tchuma começou em 199656 Contas correntes e depósitos a prazo fixo no caso do NovoBanco, contas correntes no caso da Tchuma. A SOCREMO iniciou contas de

depósito em 2005.57 Fonte: Mix market 31/12/04 www.mixmarket.org58 Estão incluídos apenas os créditos a negócios, para fazer com que os dados sejam comparáveis

34

5.2 Antecedentes

5.2.1 Historial e mercado alvo

As três IMFs têm histórias muito diferentes. Tanto a SOCREMO como a Tchuma foram precedidas por projectos, enquanto que o NovoBanco foi lançado como um banco micro-financeiro. O projecto que precedeu a SOCREMO, iniciou em 1992; a SOCREMO começou as operações creditícias como intermediário financeiro não bancário em 1999, e recebeu licença para funcionar como um Banco Micro-financeiro (BMF). Na altura, a SOCREMO visava o mercado das camadas de renda baixa e média. No processo de tornar-se um banco comercial em 2005, a SOCREMO deslocou-se mais para a extremidade superior do mercado. A redução do número de clientes da SOCREMO é um resultado, inter alia, de ter focado a melhoria da carteira, e do aumento do montante mínimo dos créditos. Para uma lista de accionistas e parceiros da SOCREMO e das outras IMFs, queira consultar o Anexo 4.

A Tchuma começou em 1996 como um projecto e lançou as suas operações de novo em Março de 1999, como cooperativa de crédito licenciada. A estrutura das cooperativas de crédito é parecida com a das entidades corporativas com investidores privados. Contudo, as cooperativas estão sujeitas a algumas restrições nas suas operações, e portanto, a Tchuma está a considerar transformar-se num banco, o qual seria também mais atractivo para os investidores.

A Tchuma é a única IMF significativa que não foi lançada por uma agência externa. A Tchuma procura um alcance profundo e, consoante a sua declaração de missão, visa especificamente as mulheres; o seu raciocínio sendo que um poder aumentado de rendimento das mulheres, é o mais benéfico para a família – uma nutrição melhorada, e acesso a serviços de educação e saúde.

O NovoBanco iniciou as operações em Novembro de 2000, como a primeira IMF comercial com um objectivo social em Moçambique. O NovoBanco foi fundado como um Banco Micro-financeiro, e em 2004 registou-se como banco comercial regular que visa os empresários micro e pequenos. O estabelecimento do NovoBanco tornou o mercado micro-financeiro mais concorrencial, sobretudo em Maputo, e constituiu um incentivo adicional para as outras IMFs desenvolverem e diversificarem mais os seus produtos.

5.2.2 Assistência técnica

Existe uma falta em Moçambique de recursos humanos qualificados com perícia nas micro-finanças. As três IMFs empregam a perícia externa, mas de formas e em medidas diferentes. O NovoBanco contrata capacidade de gestão a partir da IPC59, que é o caso com todas as instituições implantadas pela empresa de investimento ProCredit Holding. O pessoal da IPC é responsável pelos aspectos chave relacionados com as operações do NovoBanco, enquanto o pessoal local está a ser formado. Através do investimento pela ProCredit Holding, o NovoBanco faz parte da rede mundial ProCredit.

A LFS Financial Systems, é uma empresa de consultoria envolvida na SOCREMO desde o início da sua existência. Os serviços da LFS incluem todas as áreas do negócio da

59 Nos primeiros anos, os custos da gestão eram cobertos por contribuições dos doadores

35

SOCREMO. No início de 2005, a SOCREMO assinou um contrato de gestão com a LFS Financial Systems GmbH, pago pela SOCREMO, seus parceiros e accionistas.

A Tchuma depende menos da assistência técnica, e da perícia que não seja moçambicana. A Tchuma estabeleceu uma parceria com a ACCION em finais de 2000, tornando-se deste modo o seu primeiro parceiro africano. A Caixa Cataluña espanhola também é parceira. Estes parceiros proporcionaram assistência técnica em várias áreas. O programa MicroStart do FENU em Moçambique, também proporcionou alguma assistência técnica.

5.3 Produtos financeiros

A avaliação focaliza os serviços financeiros para os micro-empresários, e portanto, leva em consideração apenas os créditos a negócios e produtos de depósito para este grupo.

5.3.1 Créditos a micro-empresasTodas as IMFs proporcionam créditos individuais a negócios para micro-empresários, enquanto que a Tchuma também fornece créditos grupais, se bem que em Junho de 2004 apenas 1% do número total de créditos em aberto era concedido a grupos. Recentemente, o produto de crédito solidário foi melhorado e lançado de novo para servir aqueles micro-empresários que não disponham de bens suficientes para utilizar como garantia, sobretudo as mulheres.

Por causa do foco da Tchuma na pobreza, ela fixou tectos para os créditos, para garantir que os clientes mais pobres recebessem atenção suficiente dos oficiais de crédito, os quais de outra maneira tenderiam a optar pelos clientes menos problemáticos, com os negócios de maior dimensão. O tamanho mínimo de crédito da SOCREMO é o mais alto das três IMFs, depois dela aumentar de forma significativa em 2004 o montante mínimo dos créditos, de 22 USD para 131 USD, como parte do seu processo de reestruturação. A taxa de juros da Tchuma é a mais baixa, se bem que a diferença é pequena. Os créditos são considerados micro-créditos quando não ultrapassam aproximadamente 2.100 USD (SOCREMO) e 3.500 USD (NovoBanco) (Junho de 2004).

Os produtos de créditos a negócios das três IMFs, são semelhantes no que diz respeito aos requisitos em termos de garantia subsidiária e de padrões de reembolso.

Tabela 5: Principais características dos créditos a micro-empresas em Junho de 2004

Créditos a micro-empresas

NovoBanco SOCREMO Tchuma

Montante do crédito60

Mínimo: 110 USD Mínimo: 131 USD Mínimo: 65 USD Máximo do primeiro créditoindividual: 218 USD Valor máximo, crédito grupal: 218 USD

Prazo do crédito Máximo de 24 meses Máximo de 12 meses 4 meses, primeiro créditoCrédito grupal, 6 mesesCrédito individual, 12 meses

Prestações Prestações fixas: semanais, quinzenais ou mensais

Prestações fixas: semanais, quinzenais ou mensais

Mensais

60 Taxa de câmbio em Junho de 2004: 23.002 MZM = 1 USD

36

Créditos a micro-empresas

NovoBanco SOCREMO Tchuma

Taxa de juros nominal

5,9% a 4,8% p.m.dependendo do montante(saldo decrescente)

5,5% a 6,25% p.m. (saldo decrescente)

5% (saldo decrescente) p.m.

Outras taxas Taxa de compromisso de 2% do valor do crédito

Nenhuma 4 USD para tornar-se membro da cooperativa

Garantias Cobertura de 120%Bens domésticos, inventário, activos empresariais fixos e/ou fiador pessoal61. Os bens podem ser variados. O salário apenas no caso do empregador assinar para pagar as prestações em mora.62

Cobertura de 120%, pode ser reduzida para os bons clientes. Bens domésticos, inventário, activos empresariais fixos e/ou fiador pessoal. Os bens podem ser variados. Um depósito a prazo fixo pode ser empregue como garantia.

Cobertura de 125%, que pode ser reduzida para 100% para os bons clientes. Bens domésticos e/ou fiador. Os bens podem ser variados. Como alternativa, salários mensais que representem 300% da prestação mensal. Um depósito a prazo fixo pode ser empregue como garantia.

5.3.2 Outros produtos creditícios

Para além dos micro-créditos a empresas, descritos no parágrafo anterior, o NovoBanco concede créditos residenciais principalmente a trabalhadores assalariados (para a reabilitação ou expansão das casas) e créditos ao consumidor para clientes que possam utilizar a sua conta de depósito a prazo como garantia. Além disso, ele oferece facilidades de caixa (crédito a descoberto). Em 2004, a Tchuma começou a conceder créditos ao consumidor para trabalhadores assalariados, numa fase inicial para aqueles no sector educacional.

Ao passo que o NovoBanco já está a conceder créditos a empresários em escala pequena e média (PME), actualmente a SOCREMO está a alargar o foco dos seus clientes para abranger igualmente os empresários de PME. Tanto a SOCREMO como o NovoBanco estão a pensar em iniciar créditos agrícolas. Além do mais, a SOCREMO pretende introduzir créditos residenciais e ao consumidor.

5.3.3 Produtos de poupança

A Tchuma começou em 2000 com um projecto piloto para a poupança com base nos selos, o qual foi interrompido em 2005. Em 2003, a Tchuma fez uma experiência piloto com um produto de poupança com uso duma caderneta, o qual ela introduziu em todas as agências até finais de 2004. Além disso, pretendia-se introduzir um produto de poupança contratual com rendimento de juros, com duas modalidades: uma para a acumulação de fundos para a compra dum determinado produto, e a outra para acontecimentos imprevistos63. Até aqui, a Tchuma não conseguiu introduzir este produto, devido a limitações do seu SIG.

61 Em 2005, o NovoBanco modificou a sua política com relação aos fiadores pessoais. Anteriormente, os clientes sempre necessitavam de

ter um fiador, mesmo que o cliente tivesse uma garantia subsidiária.62 Consoante a lei moçambicana, as entidades empregadoras não podem descontar mais de 1/3 do vencimento mensal para pagamento das

dívidas dos seus trabalhadores .63 Os clientes definem a quantia que pretendem poupar por dia, semana ou mês. Desta forma, o produto integra uma componente

obrigatória, a qual é uma característica fundamental das concorridas Associações de Poupança e Crédito Rotativo (xitique). Contudo, é mais flexível, visto que se pode ter acesso às contas no caso duma emergência.

37

Em 2001, o NovoBanco introduziu contas correntes e contas de depósito a prazo, e introduziu as contas em todas as agências até 2002. Em 2005, o NovoBanco iniciou as contas com uso de cheques e contas em moedas estrangeiras. Igualmente, em 2005 o NovoBanco exigiu a abertura duma conta corrente gratuitamente (Nova Conta), como condição prévia para obter crédito.

A SOCREMO fez uma experiência piloto com contas correntes em 2004, e iniciou-as para todas as agências em 2005, inicialmente visando exclusivamente os seus clientes do crédito. A SOCREMO introduziu igualmente os depósitos a prazo fixo em dólares e meticais, e pretende oferecer contas de poupança.

As três IMFs exigem 100.000 MZM (4 USD64) como saldo inicial da conta corrente. Os bancos comerciais normais exigem em média um saldo inicial de 5 milhões de MZM (218 USD)65. Além disso, os clientes da Tchuma pagam mais 100.000 MZM para tornar-se membros da cooperativa.

5.3.4 Outros produtos

O NovoBanco dispõe da gama mais ampla de produtos e serviços. Em 2003 o NovoBanco introduziu transferências de dinheiro pela Western Union (a nível nacional e internacional) e em 2004, contas onde se deposita o salário, pagamento de serviços (factura de água) e serviços cambiais. A SOCREMO tenciona igualmente iniciar serviços cambiais e de transferência de fundos.

5.4 Saldos médios por pagar nos créditos

O saldo médio por pagar no crédito da Tchuma (todas as agências) é o mais baixo, o que não é surpreendente, uma vez que a Tchuma aplica limites superiores aos créditos. Devido ao facto da Tchuma e da SOCREMO concederem quase exclusivamente créditos a negócios, são apresentados em separado os saldos médios por pagar nos créditos de todos os créditos e dos créditos a negócios. O saldo médio por pagar no crédito para a SOCREMO, aumentou mais ao longo dos anos (2002 a 2004) e o da Tchuma, menos.

Tabela 6: Saldo médio por pagar no crédito em Junho de 2004, todas as agênciasTodos os clientes

Femininos

NovoBanco: todos os créditos 52166 42567

NovoBanco: créditos a negócios 448 377SOCREMO 439 408Tchuma68 234 227

64 Para o NovoBanco, além disso exige-se uma conta pessoal com uso de cheques, o depósito mínimo é de 750.000 MZM (33 USD) com

uma taxa de manutenção de 20.000 MZM (0,86 USD). O dólar aos Preços do Poder de Compra conforme calculados pelo Banco Mundial: 1 USD = 5 USD PPP (2004)

65 ICC, Inventory Survey of Rural Finance and Microfinance in Rural Areas of Mozambique66 Calculado a partir de: estatística de créditos da IMI-AG, Junho de 200467 O valor médio do crédito para as mulheres, calcula-se a partir de: dados do SIG, Junho 2004. A mesma taxa de câmbio foi empregue

como para a estatística de créditos da IMI, Junho de 2004: 23.002, MZM = 1 USD.68 Calculado a partir de: Tchuma, Relatório da carteira, Junho de 2004.

38

O saldo médio das agências de Maputo que estiveram envolvidas na avaliação, depende da localização da agência. As agências perto ou no centro da cidade têm um saldo médio mais elevado por pagar no crédito, do que as agências nos arredores da cidade. Ambas as agências da SOCREMO estão localizadas no centro da cidade ou próximas dele. Além disso, a SOCREMO serve créditos a empresas tanto micro- como pequenas a partir destas agências, enquanto que este não é o caso para as agências seleccionadas do NovoBanco.

Tabela 7: Saldo médio por pagar nos créditos a negócios,das agências em Maputo em Junho de 2004

Créditos a negócios Agência 1USD

MulheresUSD

Agência 2USD

MulheresUSD

NovoBanco 409 380 291 252SOCREMO 475 421 473 461Tchuma 249 n.d. 205 n.d.

5.5 Número de contas de depósito

O número de contas de depósito, em particular as do NovoBanco, aumentou rapidamente. Até Junho de 2005, o número de clientes de depósitos do NovoBanco aumentou para quase 30.000, dos quais 17.600 estavam em Maputo e na Matola. Este crescimento rápido também é devido em parte à exigência do NovoBanco em 2005 aos mutuários para as transacções creditícias, deles serem titulares de contas correntes. Durante as entrevistas, ficou claro que o baixo valor médio dos depósitos não reflecte a capacidade de poupança dos clientes, porque a maioria dos clientes também utiliza outras contas bancárias e/ou sistemas informais de poupança.

Tabela 8: Contas de depósito junto do NovoBanco, Junho de 2004

Contas correntes Depósito a prazo TotalNúmero de clientes 18.425 739 19.164Valor dos depósitos (USD) 816.219 1.412.047 2.228.266Valor médio dos depósitos (USD) 44 1.911 116

Em 2003, a Tchuma fez a experiência piloto em uma só agência, do produto de poupança com uso duma caderneta. O número de contas com caderneta subiu para 4.803 até Junho de 2005. Pretendia-se que o produto atendesse igualmente a clientes mais pobres que tivessem uma procura apenas de serviços de poupança. Contudo, a maioria esmagadora dos clientes de depósito, contam igualmente com o crédito. Não foi possível dentro dos limites desta avaliação, examinar por que razão o NovoBanco conseguiu atrair um número tão elevado de clientes para depósitos sem créditos. Na Tabela 9 vêm apresentadas as cifras para a Tchuma em Junho de 2004.

Tabela 9: Contas de depósito da Tchuma em Junho de 2004

Poupança baseada nos

selos

Poupança com uso de caderneta

Total

Número de clientes 220 1.236 1.456Valor dos depósitos (USD) 6.674 18.256 24.506Valor médio dos depósitos (USD) 30 14,8 16,8

39

6. Características dos clientes que foram avaliados

Neste capítulo, vêm apresentadas as características dos clientes com mais de dois anos de antiguidade, tais como a sua idade, género, número de anos de experiência empresarial, nível de escolarização e sector empresarial. Os clientes da SOCREMO que desistiram depois dum período de três anos vêm apresentados à parte, para que se veja até que ponto as suas características diferem das daqueles clientes que continuam a tomar créditos.69 As características derivam-se da informação recolhida para a avaliação dos créditos70 e das entrevistas aprofundadas.

6.1 Actividades económicas

6.1.1 Fontes de rendimento a nível do agregado familiar

Reflectindo a experiência por todo o mundo nas micro-finanças urbanas, a maioria esmagadora dos clientes entrevistados estava envolvida no comércio ou nos serviços, funcionando na maior parte a partir de mercados ou das suas casas (Tabela 10). Os dados de avaliação dos créditos mostraram que, para os clientes do NovoBanco, 80% dos clientes com mais de dois anos de antiguidade eram classificados como comerciantes, 10% estavam activos na produção e 10% nos serviços. Todos os clientes da SOCREMO com dois anos de antiguidade foram classificados como comerciantes mas, na verdade, é provável que a divisão em sectores seja semelhante à dos clientes do NovoBanco.71

Tabela 10: Actividades principais e localização por categoria de crédito (%)

Sector: IMFs* Baixa** Média** Alta**1. Comércio S

NBT

607060

806050

506080

2. Serviços SNBT

301030

201030

4010-

3. Tanto comércio como serviços SNBT

10--

-3010

-3020

4. Indústria SNBT

-1010

---

10--

5. Agricultura/Pecuária SNBT

-10-

-1010

---

Localização:1. Mercado S

NBT

504030

601030

20300

69 A Tchuma e o NovoBanco não forneceram informações sobre a avaliação dos créditos para os clientes que desistiram antes de dois anos70 É analisada a informação da avaliação dos créditos de todos os (807) clientes activos de duas agências do NovoBanco em Maputo com

mais de dois anos de antiguidade; da Tchuma e da SOCREMO, é analisada a informação duma amostra seleccionada aleatoriamente de 291 e 189 clientes activos respectivamente. Além disso, foi seleccionada a partir da SOCREMO uma amostra de 78 desistentes que tinham sido clientes durante mais de dois anos. As outras IMFs não proporcionaram informações sobre os seus desistentes, devido a uma combinação de limitações do SIG, e de constrangimentos em termos de tempo. O NovoBanco proporcionou todas as informações em forma electrónica a partir do SIG. No caso das outras IMFs, os operadores lançaram a informação a partir de processos creditícios e do SIG, num programa de lançamento de dados. Os dados da SOCREMO e da Tchuma são ponderados pelo número total de clientes, desdobrado por agência, estatuto (activo ou desistente), categoria de crédito e género.

71 Não houve nenhuma informação disponível da Tchuma

40

Sector: IMFs* Baixa** Média** Alta**2. Casa S

NBT

305030

205050

302020

3. Rua (fixa) SNBT

20-10

-1010

403020

4. Comerciante ambulante SNBT

-3030

203010

102060

Idade média da actividade (anos):

SNBT

12,8 10,0 11,1

14,311,710,1

12.10,9 9,2

* IMFs: S=SOCREMO; NB= NovoBanco; T= Tchuma

** Categorias de crédito conforme definidas no Capítulo 1, sub-secção 1.2

Com umas poucas excepções notáveis, a maioria dos clientes estava ocupada em actividades que, regra geral, se enquadrariam em uma das tipologias que se seguem:

Comércio a partir de lugares fixos nos mercados, nas ruas e em casa, normalmente a partir duma mesa ou caixa, exigindo um investimento mínimo de capital para além de, em alguns casos, uma balança e/ou uma máquina calculadora (em função do produto)

Comércio a partir duma banca fechada num mercado, duma loja na rua ou duma loja localizada no talhão da moradia do proprietário. Estas actividades requerem substancialmente mais investimento de capital e normalmente são realizadas por clientes com créditos de nível elevado.

Comerciantes ambulantes transfronteiriços que viajam regularmente até à Suazilândia ou à África do Sul para comprar mercadorias para venda por atacado a comerciantes, no caso típico àqueles acima referidos. Em grande parte, os custos limitam-se às mercadorias, transporte, alojamento, direitos alfandegários e armazenagem das mercadorias não vendidas ao regresso. O maior risco enfrentado por estes comerciantes, é a descoberta integral das mercadorias pelos oficiais alfandegários. Normalmente, declara-se apenas cerca da terça parte das mercadorias; caso contrário, diz-se que tal comércio não é rentável. A descoberta através dos controlos aleatórios (normalmente na estrada principal que vai para Maputo), resulta em penalidades financeiras severas.

A forma mais frequente de serviços encontrada, foi de bares e/ou restaurantes, normalmente referidos como barracas e quiosques. Outros serviços frequentes incluem salões de beleza e telemóveis públicos. Os custos destas actividades em investimento de capital, são parecidos com os da montagem de pequenas lojas, ou até mais elevados, e normalmente elas exigem um a dois trabalhadores.

Uma característica predominante dos agregados familiares dos clientes, é o carácter polivalente das suas fontes de rendimento. A Tabela 11, tirada das entrevistas qualitativas, demonstra claramente que muitos dos mutuários, exercem actividades que não aquela apoiada pelo crédito, e que uma percentagem significativa dos clientes se dedica ao emprego assalariado formal ou informal. Além disso, os agregados familiares dos clientes, sobretudo aqueles chefiados por uma pessoa de sexo masculino, tendem a contar com pelo menos duas fontes de rendimento. A Tabela 11 demonstra igualmente um alto grau de contribuição de rendimento a partir de outros membros do agregado familiar, na forma de actividades quer salariais quer não salariais (em grande medida do sector informal). Os dados de avaliação dos

41

créditos mostraram que uma grande maioria dos clientes tinha pelo menos duas fontes de rendimento: Tchuma (87%), SOCREMO (80%) e NovoBanco (63%).

Tabela 11: Fontes de rendimento dos agregados familiares dos clientes(que não aquela apoiada pelo crédito) (%)

IMFs Baixa Média Alta

Clientes com outras actividades (não assalariadas)

SNBT

04060

103040

405040

Clientes que auferem salários

SNBT

201030

103030

201020

Outros membros do agregado familiar com outras actividades (não assalariadas)

SNBT

403030

406030

406050

Outros membros do agregado familiar que auferem um salário

SNBT

403050

308060

103060

6.1.3 “Empreendedorismo” e “iniciativa empresarial”

A maior parte dos vendedores e fornecedores de serviços, não pode realmente ser considerada de “empreendedores”72. As actividades exercidas são referidas frequentemente como “empresas”, mas este é um termo eufemístico para aquilo que são na sua essência actividades de sobrevivência. No caso típico, os clientes da categoria mais baixa de crédito estavam envolvidos em actividades que exigiam pouco mais do que as mais fundamentais noções da venda (incluindo de serviços que consistiam em grande parte na venda de bebidas e comida). Embora muitos clientes estejam a beneficiar de padrões de vida bastante mais elevados em relação aos pobres urbanos (veja-se os Capítulos 7 e 10), regra geral, estes clientes dirigem negócios nos mesmos princípios como os dos vendedores mais pobres que vendem um pouco de tomate em cada dia.

Os dados de avaliação dos créditos mostraram que muitos dos clientes com créditos elevados tinham passado rapidamente de créditos baixos, dentro dum intervalo de dois anos. Pode-se considerar estes clientes como sendo empreendedores e, em termos gerais, bem sucedidos, sendo eles os clientes ideais para as IMFs (de longo prazo, com créditos em constante crescimento). Contudo, a realidade é que estes constituem uma minoria dos clientes. As entrevistas demonstraram que frequentemente, os clientes exercem actividades durante muitos anos sem muita mudança na natureza da actividade, e sem a capacidade de prosseguir actividades que haviam de gerar lucros substancialmente aumentados.

As micro-finanças oferecem aos mutuários a oportunidade de expandir as suas actividades. Tal como as nossas constatações vão demonstrar, a maioria dos clientes simplesmente aumentou o seu inventário. Muitos sustentam que pela oferta de exposições de mais inventário, os clientes são chamados para comprar deles. Este pode eventualmente ser o caso até a um certo ponto, mas esta não é uma relação linear indefinida, sobretudo na economia informal.

72 Definido no Collins Paperback English Dictionary [em inglês – “entrepreneur”] como: “o proprietário duma empresa que, através de

assumir riscos e tomar iniciativa, pretende lucrar”.

42

6.1.4 Experiência empresarial

A maior parte dos clientes das IMFs com mais de dois anos de antiguidade, conta com mais de quatro anos de experiência no negócio para o qual eles solicitaram o crédito. Apenas a SOCREMO tem uma parte considerável de clientes activos com um a três anos de experiência no negócio para o qual eles solicitaram o crédito. Não existe nenhuma diferença significativa entre os homens e as mulheres.

Tabela 12: Número médio de anos de experiência (dados da avaliação dos créditos)

NovoBanco SOCREMO TchumaDesistentesSOCREMO

Anos médios de experiência 9 7 6 7

6.1.5 Activos empresariais fixos

A Tabela 13 demonstra que a maioria dos clientes da SOCREMO e do NovoBanco tem activos empresariais fixos, enquanto que uma minoria dos da Tchuma os tem. Menos mulheres são proprietárias de activos empresariais do que homens, sendo a diferença bastante grande no caso dos clientes da Tchuma. É provável que os clientes sem activos empresariais, sejam comerciantes ambulantes ou estejam a operar a partir das suas casas.

Tabela 13: Percentagem de clientes que são proprietários de activos empresariais fixos(dados da avaliação dos créditos)

Mulheres%

Homens%

Todos%

SOCREMO (incluindo desistentes) 52 62 56NovoBanco 60 85 72Tchuma 29 45 35

6.1.6 Trabalhadores

Entre um terço e metade dos clientes tinha trabalhadores, tendo os homens uma propensão ligeiramente mais elevada do que as mulheres, de empregarem trabalhadores. A grande maioria (75%) dos clientes do NovoBanco com trabalhadores, emprega um ou dois. O número máximo de trabalhadores é de quinze.73

Tabela 14: Percentagem dos clientes com trabalhadores(dados da avaliação dos créditos)

Mulheres%

Homens%

Todos%

SOCREMO (incluindo desistentes) 46 41 44NovoBanco 41 48 43Tchuma 41 54 46

73 A informação sobre o número de trabalhadores esteve disponível apenas para o NovoBanco. Os trabalhadores registados pelos oficiais

de crédito do NovoBanco podem ser de tempo parcial ou integral, tendo como não um salário regular. A Tchuma e a SOCREMO recolhem informação sobre o custo de mão-de-obra

43

6.2 Aspectos demográficos dos clientes

6.2.1 Idade dos clientes com mais de dois anos de antiguidade e dos desistentes

Os clientes das IMFs são relativamente idosos, apesar da juventude do sector informal. É notável a semelhança da composição etária, sobretudo dos clientes do NovoBanco e da SOCREMO. A maior parte dos clientes retidos enquadra-se dentro da faixa etária dos 40 a 49 anos de idade. Há pouca diferença nas idades dos clientes de sexo feminino e masculino.

O NovoBanco e a SOCREMO não proporcionam créditos a clientes com sessenta anos de idade para cima. Durante as entrevistas, parecia que os clientes mais idosos da SOCREMO e do NovoBanco continuam a receber crédito através dum familiar mais novo, de tal modo que na realidade, a percentagem de clientes mais idosos é provavelmente mais elevada.

Um dos motivos para o número reduzido de clientes jovens, pode eventualmente ser a falta de garantias em bens, exacerbada pelo facto de que muitos jovens continuam a viver com os seus pais, devido a uma falta de habitação a preços acessíveis, assim causando a instabilidade residencial. Outro eventual motivo, é o risco mais elevado percebido no caso dos clientes jovens, sobretudo os de sexo masculino, por causa de características comportamentais percebidas. Os clientes mais novos que ficaram com a instituição durante mais de dois anos, não mostraram pior comportamento de reposição. Contudo, os clientes jovens com problemas de reposição podiam eventualmente ter desistido mais cedo; nós desconhecemos a distribuição etária dos novos clientes.

Tabela 15: Idade dos clientes com mais de dois anos de antiguidade(dados da avaliação dos créditos)

Idade NovoBanco

%

SOCREMO

%

Desistentes da

SOCREMO

%

Tchuma

%

20-29 8 7 8 930-39 32 31 22 2940-49 44 43 33 35

50 e mais idosos 15 19 37 26Desconhecido 1 0 0 1Idade média 40,9 42,5 44,2 43,1

6.2.2 Nível de escolarização

O NovoBanco é a única IMF que recolhe informação sobre a escolarização dos clientes durante a avaliação dos créditos. Os níveis de escolarização dos clientes da Tchuma são conhecidos através da avaliação da pobreza (veja a secção 7). No caso da Tchuma, é sabido o nível mais elevado de escolarização concluído74; o NovoBanco recolhe informações sobre o nível mais elevado de escolarização que foi seguido. A Tabela 16 demonstra que os clientes do NovoBanco tendem a ter um melhor nível de habilitações do que os clientes da Tchuma. No entanto, pelo menos uma parte desta diferença deve-se à distorção causada pelas abordagens diferentes de recolhe dos dados.

74 Isto foi feito de forma a permitir comparações com o inquérito aos agregados familiares do Instituto Nacional de Estatística (INE, 2004)

44

Foi constatada uma relação entre o tamanho do crédito e o nível de escolarização, nos casos tanto do NovoBanco como da Tchuma. Em média, os clientes com o ensino primário têm créditos mais reduzidos do que os clientes com o ensino secundário. O Inquérito Nacional aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar do INE, e o diagnóstico do perfil da pobreza, identificaram uma forte relação entre nível de pobreza e nível de escolarização.

Tabela 16: Nível de escolarização dos clientes com dois anos de antiguidade

NovoBanco%

Tchuma%

Cidade de Maputo25 a 65 anos de idade

%Nenhum ensino formal75 2 7 26

Ensino primário concluído n.d. 60 50Pelo menos algum ensino primário frequentado

38 n.d. n.d.

Ensino secundário concluído n.d. 27 20Pelo menos algum ensino secundário frequentado n.d. n.d. 58%Universidade 2 3 0,2

Outro 0 3 3,8

6.3 Experiência institucional

6.3.1 Experiência antes de tomar um crédito da IMF associada

Levantamentos aos vendedores informais no mercado constataram que uma grande maioria76

não possuía contas bancárias. Os resultados das entrevistas aos clientes, constataram que a maioria dos clientes com um nível médio e elevado de créditos, detinha contas junto de bancos comerciais antes de obter o seu crédito inicial com a sua IMF associada. Contudo, a maioria dos clientes com créditos da categoria baixa que foram entrevistados, parece não ter tido qualquer exposição prévia às instituições financeiras. Nota-se um padrão semelhante em termos de experiência prévia com créditos: a maior parte da experiência, o que não é surpreendente, foi ganha pelos clientes do nível mais elevado de créditos. Os créditos anteriores foram obtidos principalmente a partir das IMFs, mas alguns tinham tomado um crédito igualmente a partir dos bancos comerciais. Um dos principais motivos para deter contas com os bancos comerciais, estava ligado à exigência obrigatória de muitos trabalhadores do estado e do sector privado, de serem titulares de contas para efeitos da transferência do salário.

75 Inclui igualmente os que sabem ler e escrever mas não tiveram o ensino primário.76 Veja por exemplo Katie Murdoch, Study of the Demand for Credit in Markets in Maputo, Mozambique, Fevereiro de 2004. Este estudo

constatou que 85% não tinham nenhuns serviços bancários e que 27% fazem parte de grupos de xitique (APCRs). Um estudo realizado pela MEDA do Mercado de Xiquelene em 1997 (não publicado), constatou que 78% dos 200 inquiridos, depositavam diariamente junto dum banqueiro itinerário (xitique geral), e que 15% dos inquiridos eram membros de xitiques grupais. É bastante provável que em alguns mercados, a prevalência do xitique geral seja muito mais elevada do que em outros. O Mercado de Xiquelene em particular tinha uma presença difundida de banqueiros itinerários.

45

Tabela 17: Historial creditício dos clientes por categoria de crédito (entrevistas qualitativas) (%)

IMFs Baixa Média AltaClientes com experiência prévia com o crédito, com

outra IMF/banco comercial (BC)

SNBT

10 (IMF)10 (IMF)30 (IMF)

020 (IMF) 10 (BC)

20 (IMF)

20 (IMF) 10 (BC)10 (IMF) 20 (BC)

40 (IMF)

Clientes com contas antes de iniciar com a actual IMF

SNBT

503030

408070

706090

6.3.2 Contactos iniciais com a IMF associada

A Tabela 18 demonstra que a influência mais importante, responsável pelo facto dos clientes entrevistados aderirem às suas IMFs associadas, foi a informação passada pelos amigos e familiares, seguida pelos esforços promocionais do pessoal da IMF no terreno (principalmente dos oficiais de crédito). Parece que a publicidade tem um impacto insignificante, e que muito poucos clientes entram nas agências por curiosidade. Um tanto surpreendentemente, relativamente poucos clientes ouviram falar das suas IMFs de outros clientes nos seus ambientes de trabalho. Alguns inquiridos deixaram claro que, regra geral, constitui um tabu, discutir os seus créditos no seu ambiente de trabalho (isto é, entre os seus concorrentes). Um cliente observou que a única forma pela qual se consegue saber quem é que toma créditos, é vê-los nas agências das IMFs.

Tabela 18: Como é que o cliente ouviu falar da sua IMF associada (%)

IMFs Baixa Média AltaOficiais de crédito S

NBT

603010

401010

303050

Amigos e familiares SNBT

306060

307070

705030

Colegas de negócio SNBT

10-20

30-20

--20

Viu a agência e entrou SNBT

---

-20-

---

Publicidade SNBT

-1010

10--

-20-

6.3.4 Experiência institucional actual (crédito e poupança)

A Tabela 19 faz o resumo do envolvimento dos clientes entrevistados e dos membros do seu agregado familiar, com as suas IMFs associadas (em termos de contas correntes e de depósito a prazo), outras IMFs relativamente aos créditos, e com os bancos comerciais em termos de créditos e contas. As constatações mostram que poucos clientes têm créditos paralelos junto de outras IMFs, salvo os clientes da categoria elevada de créditos para a SOCREMO e a Tchuma. Elas mostram igualmente que quase todos os clientes das categorias média e elevada de créditos, abriram contas com as IMFs que oferecem serviços de contas. A SOCREMO introduziu contas correntes uns poucos meses antes das entrevistas, mas só estava a informar os clientes já existentes na altura destes pagarem as suas prestações. Apenas um só cliente entrevistado tinha aberto uma conta com a SOCREMO. As evidências da SOCREMO

46

sugeriram que, antes da introdução das contas pela IMF associada, havia uma propensão muito mais elevada para os agregados familiares com créditos elevados terem contas bancárias, do que os agregados da categoria baixa de créditos. Mesmo com a introdução de contas nas IMFs, a tabela mostra que uma percentagem elevada dos agregados familiares com créditos baixos ainda não abriu contas, quer junto da sua IMF, quer com os bancos comerciais (40% para cada IMF).

Os dados da avaliação dos créditos mostraram que apenas uma minoria reduzida dos clientes com dois anos de antiguidade, possuía uma conta corrente junto da sua IMF: 13% dos clientes do NovoBanco77e 28% dos clientes da Tchuma. O produto de depósito a prazo do NovoBanco só foi atractivo para alguns dos clientes: apenas 1% tinha um depósito a prazo. A percentagem de clientes com uma conta corrente é a mais elevada na terceira categoria de crédito. Relativamente mais clientes de sexo masculino do que de sexo feminino, tinham uma conta na Tchuma, enquanto que não havia nenhuma diferença entre os géneros no caso do NovoBanco.

Tabela 19: Disposições institucionais actuais (%)

Baixa Média AltaClientes com experiência com o crédito com outra IMF ou banco comercial (BC)

SNBT

10 (IMF)--

-10 (IMF)20 (IMF)

30 (IMF)-40 (IMF), 10 (BC)

Cliente com uma só conta na IMF associada

SNBT

-4030

-5040

105010

Cliente com conta na IMF associada, mais num banco comercial

SNBT

-20-

-5050

-3030

Clientes/membros do agregado familiar com outra(s) conta(s) só

SNBT

60-30

50-10

802040

Agregados familiares dos clientes sem nenhuma conta

SNBT

404040

50--

20-20

6.3.5 Ligações permanentes com sistemas financeiros informais

Conforme foi referido na Secção 6.1, normalmente os agregados familiares dependem de várias fontes de rendimento, combinando actividades informais com salários. Apesar das aparências de relativo bem-estar, normalmente os agregados sofrem uma pressão constante para equilibrar os fluxos de rendimento (frequentemente esporádicos ou sazonais, dada a natureza dos negócios do sector informal) com as despesas. Por causa das dificuldades associadas à correspondência de entradas irregulares com saídas previsíveis (salários, facturas de água e luz, alimentação, propinas escolares, transporte, compras de mercadorias), regra geral, os agregados familiares têm muito interesse em envolver-se em dispositivos financeiros que impliquem algum elemento de poupança obrigatória, e daí a popularidade dos pagamentos diários exigidos pelo xitique geral, resultando numa entrada no fim do mês, do tipo salário, ou dos grupos de xitique que garantem grandes injecções periódicas de rendimento que podem ser utilizadas para despesas relativamente avultadas de consumo ou de investimento (veja-se a Tabela 20). É por esta razão que as micro-finanças são tão bem

77 A partir do início de 2005, todos os clientes do NovoBanco possuem contas de depósito, uma vez que a abertura da conta é um dos

requisitos para habilitar-se para um crédito.

47

recebidas (pelo menos inicialmente) pelos clientes, porque funcionam como um xitique ao contrário (sem risco), com prestações regulares na sequência da injecção de dinheiro (também conhecido por “poupança para baixo” na bibliografia micro-financeira).

Tabela 20: Uso do “xitique” (%)

IMFs Baixa Média AltaXitique em grupos S

NBT

303040

3080 50

303060

Xitique geral (cobrança diária) SNBT

502010

601010

202020

Os dois SNBT

101010

101010

201020

Nenhum xitique SNBT

205050

201050

706040

6.4 Níveis de bem-estar

Dada a natureza do produto micro-financeiro que está a ser oferecido pelas três IMFs sob exame (na base de garantias), muito poucos clientes podiam ser considerados como pertencendo aos escalões mais pobres da sociedade de Maputo-Matola. Foi realizada uma tentativa de avaliar o nível de bem-estar dos agregados familiares dos clientes, pela atribuição dum nível entre um e três. O nível 1 significava um padrão bastante mais baixo em relação àquilo que era considerado “o normal” (veja abaixo), sendo 3 consideravelmente mais alto do que o normal (p. ex. aqueles que têm carros ou qualquer outro indicador que os colocassem nitidamente acima do normal). Claro que este foi um exercício muito subjectivo, com a sua base em impressões obtidas durante a entrevista. Estes são indicadores relativos com que se pretendia apenas dar uma impressão da posição dum agregado quanto ao seu bem-estar, relativamente àquilo que achávamos que representava o normal entre os agregados familiares entrevistados, e os mesmos foram aplicados a cada cliente, só depois de concluídas todas as entrevistas. O que foi considerado “normal” para os clientes entrevistados, consistiu no seguinte: uma casa de blocos de cimento com energia eléctrica, uma mesa de sala de jantar com 6 a 8 cadeiras, uma geleira, fogão, televisor, sofá e cadeiras de sala de estar, e camas. Dos noventa clientes activos entrevistados, apenas 10 (11%) foram classificados ao nível mais baixo, 1; tal como era de esperar, à maioria (58%) foi atribuído um 2, e cerca de um terço (31%) estava ao nível mais alto, 3. Portanto, a distribuição está enviesada mais para os mais abastados do que para os mais pobres.

Os clientes referiam-se frequentemente ao “futuro”, um termo empregue genericamente para descrever os investimentos necessários para atingir objectivos dum estilo de vida urbano que, para os clientes entrevistados, parecem estar dominados por benfeitorias ou expansão a nível da habitação, e pela aquisição de electrodomésticos familiares.

A Tabela 21 demonstra que as distribuições dos clientes, tanto do NovoBanco como da SOCREMO, são quase idênticas, enquanto que, tal como se podia esperar dada a natureza da missão da Tchuma de visar agregados relativamente mais pobres, constatou-se que proporcionalmente mais dos agregados familiares mais pobres eram clientes da Tchuma.

48

Tabela 21: Níveis de bem-estar do agregado familiar, por categoria de crédito (%)

Níveis de bem-estar

Baixa Média Alta

1 (mais pobre) SNBT

201030

--30

--10

2 (“médio”) SNB

T

605070

605060

505070

3 (bem acima da “média”)

SNBT

2040-

405010

505020

49

7. Perfil da pobreza dos clientes da Tchuma com mais de dois anos de antiguidade

Visto que a Tchuma é a única IMF das três envolvidas na avaliação do impacto, que tem um foco na pobreza e visa aprofundar o seu alcance, foi avaliado o nível de pobreza apenas dos clientes da Tchuma 78. A avaliação da pobreza abrangeu os desistentes e clientes activos que tinham tomado créditos durante um período de mais de dois anos.

A avaliação da pobreza mostrou que, em média, estes (antigos) clientes são menos pobres em relação à população urbana de Maputo na sua globalidade. A despesa diária média por pessoa é de 49.708 MZM, contra 44.637 MZM para a Cidade de Maputo. A despesa média dos clientes da agência de Xiquelene em um dos bairros, é significativamente mais baixa: 37.121 MZM por dia contra 59.614 MZM para a agência na 24 de Julho.

A despesa média por pessoa, calculada com base nas informações recolhidas em 2004 pela Tchuma para a avaliação dos créditos dos clientes que foram escolhidos posteriormente para a amostra (48.408 MT por pessoa), estava muito próxima da cifra ajustada encontrada através da nossa avaliação em 2005 da pobreza, se bem que se registaram grandes variações entre as duas a nível do cliente individual.79

Ao usar-se a taxa de câmbio do dólar aos Preços do Poder de Compra (PPP), as despesas diárias médias dos agregados familiares dos clientes da Tchuma, são de 9,94 USD por pessoa por dia, contra 8,93 USD por pessoa por dia gastos pelos agregados familiares da população de Maputo. A localização das agências constituiu um factor importante para atingir os agregados mais pobres. Constatou-se que os agregados familiares dos clientes da agência de Xiquelene situada perto dum grande mercado em um dos subúrbios mais pobres, gastavam 7,42 USD por pessoa por dia, contra 11,92 USD gastos pelos agregados dos clientes da agência na 24 de Julho no centro da cidade80. O limiar da pobreza81 determinado para a Cidade de Maputo, é de 19.515 MZM per pessoa por dia (3,90 USD PPP).

Uma minoria reduzida mas mesmo assim significativa dos agregados familiares dos clientes da Tchuma com mais de dois anos de antiguidade - 13.6% - vive abaixo do limiar da pobreza, enquanto que este é o caso para 53,6% da população de Maputo em geral. Embora seja presumido frequentemente que os clientes de sexo feminino das IMFs sejam mais pobres do que os clientes de sexo masculino, os agregados dos clientes de sexo feminino da Tchuma são ligeiramente mais ricos. Uma percentagem mais elevada dos agregados dos clientes de sexo

78 Para a avaliação do nível de pobreza dos clientes da Tchuma, foi realizado um levantamento quantitativo entre 164 (antigos) clientes da

Tchuma que tinham sido clientes do crédito durante mais de dois anos. Esta amostra baseou-se na amostra utilizada para a análise das informações sobre a avaliação dos créditos. Os resultados foram ponderados de forma a serem representativos de todos os (antigos) clientes da Tchuma com mais de dois anos de antiguidade.

79 As componentes dos dados sobre as despesas a nível do agregado familiar, conforme foram recolhidos pela Tchuma para a avaliação dos créditos, foram as seguintes: alimentação; renda; habilitações; água; energia eléctrica; carvão vegetal/petróleo/lenha/gás; telefone; transporte; construção; reposição de dívidas; outra. Tais despesas foram recalculadas como despesas por dia por pessoa, e corrigidas pela deflação de forma a tornar a informação da avaliação de 2004 comparável com os preços de 2002/2003.

80 1 USD PPP é igual a 0,22 USD ou cinco mil MZM em 2004. Uma vez que a taxa de câmbio MZM/USD não mudou muito, e a inflação foi limitada, os valores em 2002/2003 não hão-de ser muito diferentes. É importante notar que as taxas de PPP foram projectadas para a comparação de conjuntos-agregados de contas nacionais, e não para a realização de comparações internacionais da pobreza. Como consequência, não existe nenhuma certeza de que um limiar internacional da pobreza, meça o mesmo grau de necessidade ou de destituição entre países. No entanto, será melhor do que a taxa de câmbio nos bancos, uma vez que leva em conta os bens e serviços comercializados que não sejam internacionais . Veja-se http:// www.worldbank.org/data/notes/tb2-7.htm e http://www.worldbank.org/data/databytopic/GNIPC.pdf

81 O limiar da pobreza baseia-se nas constatações do segundo Inquérito Nacional aos Agregados Familiares sobre o Consumo (2002/2003). Foram desenvolvidos limiares de pobreza específicos às regiões, com base na Metodologia do Custo das Primeiras Necessidades

50

masculino (18,5%) do que aqueles dos clientes de sexo feminino (12,0%), fica aquém do limiar da pobreza. Em média, os agregados familiares dos desistentes são mais pobres do que os agregados dos clientes activos. Este resultado é influenciado pelo facto de que não havia nenhuns desistentes da categoria mais alta na amostra.

Conforme o dólar PPP, constatamos apenas um agregado familiar abaixo do limiar de dois dólares, e nenhum abaixo do limiar de um dólar. Em comparação com Maputo, 17% da população vive abaixo do limiar de dois dólares e 1,5% abaixo do limiar de um dólar82. Em Moçambique, 59,2% dos agregados familiares gastam menos de dois dólares por pessoa por dia, e 20,3% menos de um dólar.83

Classificados por categoria de crédito, observamos que a maioria dos clientes pobres está na categoria mais baixa de crédito, e o menor número na categoria mais alta. Pode-se concluir que o tamanho dos créditos dos clientes com dois anos de antiguidade, constitui um bom indicador substituto do seu nível de riqueza. Este é muito menos o caso para o tamanho do crédito inicial destes clientes, o que é lógico, dado o facto de que a Tchuma aplica um tecto aos créditos, para os créditos iniciais.

Tabela 22: Percentagem de clientes retidos, que estão abaixo do limiar da pobreza de Maputo

Categoria de crédito (%)Despesa per cápita por diaMais baixa Média Mais alta Todas

Abaixo do limiar da pobreza (> 19.515 MZM = 3,90 USD aos PPP)

21,1 11,9 0,0 13,6

Dividindo os clientes da Tchuma entre os cinco quintis de despesa determinados pelo Inquérito Nacional aos Agregados Familiares Sobre Orçamento Familiar (2002/2003), observamos que 43,5% dos agregados familiares dos (antigos) clientes com dois anos de antiguidade, cabem no grupo dos 20% mais altos de nível de despesa da Cidade de Maputo. Contudo, isto não significa que sejam ricos: os agregados neste quintil são melhor caracterizados como sendo “mais bem abastados”. O segmento da classe alta mais rica é muito reduzido, enquanto que a maioria da população de Maputo é muito pobre84. As entrevistas aprofundadas revelaram que, à excepção de uns poucos notáveis, a maioria dos clientes com mais de dois anos de antiguidade podia ser considerada como estando naextremidade baixa duma classe média emergente.

82 Calculado a partir da base de dados da Cidade de Maputo que o INE facultou aos consultores83 Instituto Nacional de Estatística (INE) (2004) Inquérito aos Agregados Familiares Sobre Orçamento Familiar. Relatório Final. Maputo,

Moçambique, página 29.84 Os 25% mais altos da população de Maputo, correspondem a mais de 64% do consumo total da cidade

51

Tabela 23: Despesas per cápita por dia, dos agregados familiares dos clientes retidos

Quintis (despesa) Quintis (despesa) (Antigos) clientes da Tchuma com mais de dois anos de antiguidade

Em meticais Em USD (PPP) Clientes de sexo feminino

Clientes de sexo masculino

Todos

Toda a Cidade de Maputo

1 (< 10.862) (< 2,17 ) 0,9% 5,7% 2,5% 20%2 (10.562 < 16.875) (2,17 < 3,38) 8,3% 7,5% 8,1% 20%3 (16.875 < 25.349) (3,38 a 5,07) 14,8% 9,4% 13,0% 20%4 (25.349 < 48.228) 5,07 a 9,68 33,3% 32,1% 32,9% 20%5 (48.228+)85 (9,68 + ) 42,6% 45,3% 43,5% 20%

Total 100% (108) 100% (54) 100% (162) 100% (923)

Na Tabela 24 a seguir, são dados alguns exemplos das diferenças nas característicashabitacionais e de posse de bens duradouros, entre os clientes da Tchuma e a população de Maputo. Esta lista não está completa; a finalidade desta tabela, é de proporcionar uma ideia mais concreta do nível de pobreza dos agregados familiares dos clientes da Tchuma e da população da Cidade de Maputo em geral.

Tabela 24: Características habitacionais e posse de bens duradouros

Amostra da Tchuma (%)

Amostra da Cidade de Maputo (%)

Energia eléctrica para a iluminação 91,4 45,6Água canalizada para beber 72,5 37,8Gás como a principal fonte da energia para a cozinha 51,0 14,8Carvão vegetal como a principal fonte para a cozinha 39,7 63,4Televisor86 92,3 56,0Arca congeladora 72,5 32,6Carro para uso privativo 23,8 12,8

A maior diferença entre a população de Maputo e os clientes da Tchuma, está na percentagem de agregados familiares que usam a energia eléctrica para a iluminação87. Em condições normais as geleiras e arcas congeladoras, aparelhos de música e televisores, constituem boa parte da garantia dos clientes, sendo muita das vezes o valor do mobiliário demasiadamente limitado. A tabela acima ilustra que grande proporção da população de Maputo não possui bens que são habitualmente empregues como garantia pela Tchuma e pelas outras IMFs, assim limitando a profundidade do alcance dos créditos individuais.

Vale a pena notar que quase um quarto dos agregados familiares dos clientes da Tchuma, possui um carro para uso privativo. Tal como no caso do inquérito do INE, a avaliação da pobreza não contou os carros comprados para propósitos do negócio, tais como camiões e carrinhas para transporte (público), nem os carros da empresa atribuídos aos trabalhadores. Ao incluir-se os carros da empresa, a percentagem de proprietários de carros seria certamente mais elevada.

Uma vez que a Tchuma, que tem um nítido foco na pobreza, tem 43% dos seus clientes com mais de dois anos de antiguidade, no nível de despesa dos 20% mais altos, pode-se presumir que a SOCREMO e o NovoBanco tivessem neste grupo, mais dos seus clientes retidos. Isto é

85 Os agregados de 11 (7%) dos clientes entrevistados, têm despesas acima de 100.000 MZM (20 USD PPP) por pessoa por dia.86 São tomados em conta apenas os aparelhos funcionais87 Uma percentagem mais elevada tem um televisor do que tem iluminação eléctrica, tanto dos clientes como da população de Maputo.

Durante as entrevistas, constou que os agregados utilizam a energia eléctrica ilegalmente para aparelhos domésticos mas não para a iluminação, o que tornaria a exploração ilegal demasiadamente visível de fora.

52

reforçado pelo facto de que o valor médio das vendas mensais e o tamanho médio dos créditos dos clientes retidos da Tchuma, são mais baixos do que aqueles dos clientes retidos da SOCREMO e do NovoBanco, conforme está indicado na tabela a seguir. Além do mais, a maioria dos clientes retidos da SOCREMO e do NovoBanco possui activos empresariais fixos, enquanto que este é o caso para uma minoria dos clientes retidos da Tchuma (veja-se a secção 6.1.5.)

Tabela 25: Valor médio das vendas mensais e tamanho médio dos créditosdos clientes com mais de dois anos de antiguidade

Na altura do crédito mais recente, em USD88 Tchuma NovoBanco SOCREMOValor médio das vendas mensais 1.774 2.559 2.145Tamanho médio por crédito 499 69 554

Deve-se manter em mente que o perfil de pobreza dos novos clientes é provavelmente diferente, dado o facto de que os clientes mais pobres tendem a desistir mais frequentemente antes deles estarem dois anos com a instituição (veja-se o Capítulo 8 sobre os padrões de tomada de créditos). Além disso, é provável que o nível de riqueza dos clientes bem sucedidos, tenha melhorado ao longo dos anos, conforme está confirmado através das entrevistas aprofundadas.

Como parte da avaliação da pobreza, foi elaborada uma breve lista de bens duradouros e de características dos agregados familiares. A lista poderá ser integrada na rotina de recolha de informação da Tchuma, para a avaliação dos créditos tanto novos como repetidos. Desta forma, podiam ser avaliados tanto o perfil de pobreza dos novos clientes, como as mudanças no nível de pobreza dos clientes retidos.

O inquérito aos agregados familiares realizado pelo INE, constatou que 24% da população economicamente activa de Maputo trabalha por conta própria89 dos quais a maioria podia ser considerada potenciais beneficiários das micro-finanças. Os que trabalham por conta própria estão distribuídos quase por igual entre os quintis, à excepção do quintil mais baixo, em que os que trabalham por conta própria representam apenas uma pequena percentagem da população. O facto de que os clientes da Tchuma estão concentrados principalmente nos dois quintis mais altos, sugere bastante potencial para atingir os que trabalham por conta própria mais para baixo no mercado, através dos créditos a grupos solidários e dos produtos de poupança da Tchuma.

88 Valores nominais. Taxa de câmbio em Junho de 2004: 23.002 MZM = 1 USD89 Uma pessoa é considerada como trabalhando por conta própria quando trabalha sozinha sem empregar mão-de-obra. A percentagem de

pessoas que trabalham por conta própria em Moçambique é de 51%; a principal razão desta diferença com Maputo, é a percentagem elevada de camponeses que trabalham por conta própria em Moçambique. Os dados sobre os empregadores não foram tomados em conta, visto que estes não eram confiáveis, porque os que recolhiam os dados por parte do INE (Instituto Nacional de Estatística) erraram na classificação do estatuto de emprego. Os dados sobre o nível de pobreza das pessoas que trabalham por conta própria, foram calculados com base na base de dados do inquérito do INE aos agregados familiares sobre o consumo (Maputo 2004)

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8. Padrões de tomada de créditos pelos clientes

Neste capítulo, são analisados os padrões de tomada de créditos com base nas informações (históricas) sobre as carteiras de créditos da IMFs, nas informações das avaliações dos créditos dos clientes com mais de dois anos de antiguidade, e nas entrevistas aprofundadas. São tomadas em conta as diferenças entre as categorias de crédito e entre os clientes de sexo feminino e masculino.

8.1 Aplicação dos créditos

Por causa da constante luta mensal pelo agregado familiar para contrabalançar os rendimentos e despesas, seria ingénuo presumir que todos os créditos micro-financeiros sejam aplicados da forma para a qual se está obrigado sob os termos do contrato (isto é, para fins do negócio). Os créditos constituem fundos adicionais que podem ser combinados com outra liquidez do agregado familiar. A forma como eles são aplicados, depende muito das circunstâncias prevalecentes na altura da solicitação do crédito. Em condições normais, será razoável presumir que o crédito seja utilizado para gerar mais rendimento a partir da actividade à qual, por contrato, é suposto que seja alocado. Contudo, caso haja outras pressões financeiras como por exemplo as propinas escolares, uma crise inesperada (veja o Capítulo 11), um pagamento mensal dum xitique, etc., os créditos serão utilizados consoante a necessidade imediata. Da mesma maneira, devido à sazonalidade de muitas das actividades apoiadas, muitos clientes aplicarão os seus créditos para despesas relacionadas com o negócio quando as condições da procura assim obrigam, mas caso contrário, os créditos são frequentemente utilizados para despesas não empresariais, como por exemplo a construção habitacional e a compra de bens de consumo duráveis.

A análise da avaliação dos créditos constatou que os tamanhos dos créditos aumentaramproporcionalmente mais rapidamente do que os negócios dos clientes, tomando as vendas como indicador do desempenho do negócio. Isto sugere que o rendimento anteriormente retido do negócio, pode eventualmente ser aplicado a outras despesas não empresariais, à medida que o tamanho relativo dos créditos aumenta, ou créditos maiores estão sendo aplicados pelo menos em parte a despesas não relacionadas ao negócio. Muitos clientes admitiram que os créditos estavam a ser usados para vários fins, e que é provável que na verdade, muitos mais efectivamente o faziam. Conforme está examinado abaixo, a questão do “futuro” é primordial no meio urbano de Maputo/Matola. Os resultados das entrevistas do NovoBanco e da Tchuma, indicam que 20% a 30% dos clientes aplicaram os seus créditos, pelo menos em parte, à construção habitacional e/ou à compra de bens duráveis. A análise da SOCREMO mostrou que entre as duas categorias mais baixas, uma minoria dos clientes aplicou os seus créditos exclusivamente a fins empresariais.

8.2 Períodos de descanso de todos os clientes repetidos do NovoBanco

Os clientes em descanso foram definidos como clientes que não tenham assinado um novo contrato logo depois da reposição do crédito anterior. Para melhor entender a magnitude dos clientes que interrompem a tomada de créditos, foram analisados os períodos de “descanso” dos clientes do NovoBanco90. Com esta análise também se pretendia facilitar uma decisão bem-fundamentada sobre a definição dum desistente. Para o propósito da avaliação do

90 As outras IMFs não proporcionaram a informação

54

impacto, um desistente foi definido como um cliente que não tomou um crédito dentro de seis meses após a última reposição do crédito anterior. Contudo, as IMFs não tiveram uma percepção perspicaz relativamente à duração dos períodos de descanso dos clientes repetidos. Pretende-se com esta análise do fenómeno de descanso, facilitar uma decisão bem-fundamentada sobre a definição dum desistente, sobre um mecanismo de monitoria da desistência (inclusive o cálculo da taxa de desistência) e sobre estratégias de retenção dos clientes (inclusive uma medida da retenção dos clientes no sistema de incentivos).

Tabela 26: Percentagem dos clientes do NovoBanco que renovam dentro do período de interrupção

Período de interrupção 2002 2003 2004< 30 dias 48 49 6930 a 60 dias 2 3 560 a 179 dias 17 13 11180 a 365 dias 33 34 16

Em 2004, a maioria dos clientes tomou um crédito subsequente dentro de 30 dias da reposição do anterior. Daqueles clientes do NovoBanco que responderam às entrevistas aprofundadas e que afirmaram terem tomado créditos subsequentes, o número médio de dias entre a reposiçãodo crédito e o desembolso, foi de doze dias, tendo sido afectado em parte pelo tempo de processamento do crédito (dois a três dias).

Uns consideráveis 16% de tais clientes tomaram um crédito depois dum período de interrupção de mais de seis meses, o que significa que eles seriam incorrectamente considerados desistentes conforme a definição acima referida. Esta percentagem foi muito mais elevada em 2002 e 2003, eventualmente por causa da política do NovoBanco nessa altura, que obrigava os clientes, como sanção pelos atrasos na reposição, a interromper a tomada de créditos por um período de até seis meses. Além do mais, ela pode ser um resultado da tendência para a extremidade mais alta do mercado que se realizou a partir de 2003, uma vez que os clientes com maiores tamanhos de créditos, descansam relativamente menos.

A análise dos clientes do NovoBanco em descanso, mostrou que uma parte desproporcionada dos clientes em descanso, provém da categoria mais baixa de crédito. Parecia que mais clientes de sexo feminino do que de sexo masculino, descansam no intervalo entre créditos.

8.3 Períodos de descanso dos clientes com mais de dois anos de antiguidade

Os clientes do NovoBanco e da SOCREMO com mais de dois anos de antiguidade, descansam por média, um número parecido de dias entre ciclos de crédito: 47 e 57 dias. Alguns (dois a três) destes dias, são devidos ao tempo de processamento do crédito. A maioria dos clientes com dois anos de antiguidade, descansa menos de 30 dias, e apenas uns poucos durante mais tempo do que 180 dias, o que significa que a definição escolhida de desistente (um cliente que não tenha tomado um crédito dentro de seis meses depois da última reposição do crédito anterior), é adequada no caso dos clientes com mais de dois anos de antiguidade, e menos adequada para todos os clientes. Os períodos médios de descanso dos clientes da Tchuma, são muito mais curtos (15,5 dias); estes não incluem o tempo de processamento do crédito.

Os clientes que desistiram depois de dois anos, tinham uma média mais elevada de dias de descanso do que os clientes activos. No caso dos clientes com mais de dois anos de

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antiguidade, não existe nenhuma diferença nítida no número de dias de descanso dos clientes, nem por categoria, nem por sexo.

As entrevistas aprofundadas mostraram que os clientes descansaram por várias razões, das quais emergiram três categorias principais: a necessidade de fazer-se um intervalo na tomada de créditos, a qual frequentemente estava relacionada com o stress creditício ou com um desejo de ver como é que parar de tomar créditos, afectaria o seu negócio; interromper no intervalo entre períodos em que os créditos são julgados necessários (estes clientes não mencionaram a sazonalidade, mas indicaram circunstâncias imprevisíveis específicas que justificariam um crédito); e porque uma crise tornou difícil que o cliente tomasse um crédito. As IMFs indicam que existem padrões sazonais claros que mostram uma variação significativa nos volumes dos créditos perto das épocas festivas de Natal/Ano Novo, Páscoa e dos feriados nacionais.

8.4 Taxas de desistência

As taxas anuais de desistência91 mantiveram-se semelhantes no período de 2002 a 2004. É interessante notar que a IMF com a taxa mais elevada de desistência, tem a percentagem mais baixa de carteira em risco, enquanto que a IMF com a taxa mais baixa de desistência, tem a percentagem mais elevada de carteira em risco

Tabela 27: Taxas de desistência (%)

Julho de 2002 a Julho de 2003 Julho de 2003 a Julho de 2004NovoBanco 43 40SOCREMO 45 46Tchuma92 29 29

No caso do NovoBanco, apenas uma percentagem reduzida (10%) dos desistentes, é registada como tendo sido expulsa. Os clientes que tinham solicitado um crédito subsequente mas que não foram aceites, foram contados como expulsos. É provável que a percentagem de clientes que desistiram involuntariamente, seja mais elevada. Durante as entrevistas aprofundadas com os desistentes, parecia que os clientes registados como desistentes voluntários, eram efectivamente desistentes involuntários, nunca tendo solicitado mais um crédito, por causa de pensarem, ou dos oficiais de crédito lhes terem dito, que não se habilitariam. Dados proporcionados pela SOCREMO indicam que 43% dos desistentes não tinham nenhuns problemas de reposição, o que significa mais provavelmente que optaram eles próprios por parar de tomar créditos da instituição.

Preocupada com as taxas elevadas de desistência, a Tchuma encomendou um estudo para examinar o grau e as causas da desistência dos clientes. A retenção dos clientes é importante, porque os clientes a mais longo prazo aumentam o saldo médio por pagar nos créditos, e reduzem os custos de provisão do crédito. O NovoBanco calculou que os clientes começam a tornar-se rentáveis para ele, apenas depois de cerca de três créditos (cerca de dois anos). Além do mais, taxas mais elevadas de retenção dos clientes tornam-se de importância crítica no mercado micro-financeiro cada vez mais concorrencial e saturado da Cidade de Maputo.

91 Calculadas em conformidade com a fórmula de Mark Schreiner conforme referida no Boletim Micro-Bancário de Abril de 2001: a taxa

de retenção = clientes activos no fim do período/(clientes activos no início do período + novos clientes).92 Dados provenientes do relatório sobre as desistências, elaborado pela ECI África em Dezembro de 2004.

56

Consistentemente ao longo dos três anos, uma parte desproporcionada dos desistentes (voluntários e expulsos, com ou sem problemas de reposição), fazia parte da categoria baixa de créditos. No caso da SOCREMO, por média 75% de todos os desistentes provieram da categoria baixa de créditos; no caso do NovoBanco, esta percentagem é de 64%. A percentagem de clientes activos na primeira categoria, diminuiu ao longo de três anos, de mais de 60% para menos de 40% em ambas instituições.

Infelizmente, a Tchuma não conseguiu fornecer informações suficientes para calcular o número de desistentes por categoria. Visto que a Tchuma tem o maior número de clientes na categoria baixa de créditos, era de esperar que a Tchuma tivesse tido uma taxa global de desistência mais elevada. Conforme se observa na Tabela 27, a Tchuma tem a taxa mais baixa de desistência. Também tem a mais elevada carteira em risco. Valeria a pena realizar mais investigação sobre o relacionamento entre uma atitude mais tolerante relativamente às reposições atrasadas, e a retenção.

8.5 Percentagem dos clientes que tomam créditos durante um período de mais de dois anos

Apenas uma parte muito reduzida dos clientes, continua a tomar créditos durante dois anos. Os dados proporcionados pela SOCREMO e pelo NovoBanco, levaram à conclusão de que os clientes das duas agências seleccionadas com mais de dois anos de antiguidade, representavam uma percentagem reduzida do número total de novos clientes que começaram a tomar créditos no mesmo período.

A Tabela 28 mostra que 23% e 15% daqueles clientes que iniciaram créditos na mesma altura com o NovoBanco e a SOCREMO respectivamente, permaneceram depois de dois anos. Contudo, esta percentagem tem que ser ajustada pelo número de clientes com mais de dois anos de antiguidade, que estavam a descansar em finais de Junho de 2004, e pelo facto de que durante este período a SOCREMO estava a reduzir activamente os seus clientes com créditos mais baixos. Além disso, no caso da SOCREMO, a informação sobre os clientes com dois anos de antiguidade e sobre o fluxo de novos clientes, continha algumas inconsistências devido à transferência de clientes para agências recém-abertas. Não obstante, os dados sugerem fortemente que apenas uma minoria reduzida daqueles clientes que entraram há dois anos, ainda continuariam como clientes activos. A Tchuma não proporcionou uma lista de todos os clientes activos com mais de dois anos de antiguidade, mas ela realizou a sua própria análise, a qual constatou que em Março de 2006, cerca de 25% dos seus clientes tinham sido inscritos no mês de Junho de 2002 ou anteriormente.

Tabela 28: Clientes com mais de dois anos de antiguidade, contra todos os novos clientescom o seu crédito inicial no período entre Julho de 2001 e Junho de 2002

1. Nº de novos clientes que se inscreveram durante o período 01-02

2. Nº de clientes com o seu crédito inicial no período 01-02, e ainda activos em Junho de 2004

Percentagem dos clientes na coluna 2, dividida pelos clientes na coluna 1

Duas agências do NovoBanco

4.127 960 23

Duas agências da SOCREMO

2.558 374 15

O facto deste grupo de clientes com mais de dois anos de antiguidade ser relativamente pequeno, é muito importante para a interpretação das constatações sobre o impacto, uma vez

57

que tais constatações não podem ser extrapoladas aos clientes que tomaram créditos durante um período de tempo mais curto, ou seja, uma maioria muito grande dos clientes totais. É possível que tenham ficado aqueles clientes que achavam que continuavam a tirar proveito dos créditos, e portanto, é provável que representem os empresários mais bem sucedidos.

8.6 Distribuição das categorias de crédito dos clientes

A maior parte de todos os clientes de micro-créditos da Tchuma e da SOCREMO, está na categoria baixa de créditos, estando ela no caso do NovoBanco na categoria média. Embora tanto o NovoBanco como a Tchuma atinjam aproximadamente o mesmo número de clientes da categoria baixa de créditos, a Tchuma, devido ao seu tamanho mais reduzido e ao seu foco mais forte na pobreza, tem uma proporção bastante mais elevada de tais clientes. O crescimento relativamente lento dos créditos da categoria mais alta na Tchuma, é em grande parte atribuível ao seu regulamento segundo o qual todos os clientes têm que começar por um tamanho mínimo de crédito, e aumentá-los em aumentos incrementais fixos. A diminuição marcada dos clientes da categoria baixa de créditos por parte da SOCREMO, deve-se à sua política de consolidação das carteiras como parte da sua reestruturação, que incluiu um aumento no montante mínimo dos créditos, e resultou numa redução do número de clientes da categoria baixa.

De forma a aumentar a comparabilidade entre as IMFs, examinámos apenas os créditos do NovoBanco a negócios.

Figura 3: Mudanças ao longo do tempo no número de clientes, por categoria de crédito (todas as agências)

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

2002

2003

2004

2002

2003

2004

2002

2003

2004

Nov

oBan

coS

ocre

mo

Tch

uma

Baixa Média Alta

58

8.7 Saldo por pagar no crédito e volume da carteira por categoria (todos os clientes)

O saldo médio por pagar no crédito por categoria, é aproximadamente igual para as três IMFs, à excepção da categoria elevada de créditos93. A política por parte da Tchuma de tecto aos créditos, resultou num número maior de clientes da categoria baixa do que no caso das outras IMFs, mas não num tamanho médio mais baixo do crédito, para os clientes da categoria baixa. É provável que isto seja devido aos requisitos em termos de garantia subsidiária, dos créditos individuais das IMFs. O produto de grupo solidário, potencialmente interessante para os clientes que não disponham de garantia subsidiária suficiente, chama um número apenas muito limitado de clientes. Não foi possível estudar os motivos disto, dentro dos limites desta avaliação.94

Em termos do volume da carteira activa, a categoria média de créditos é a maior para a Tchuma, enquanto que a categoria elevada de créditos é a maior tanto para o NovoBanco como para a SOCREMO.

Tabela 29: Percentagem do volume dos créditos em aberto por categoria, em Junho de 2004

Baixa Média AltaNovoBanco, todos os créditos

8 29 61

NovoBanco, créditos a negócios

11 32 57

SOCREMO 12 27 61Tchuma 30 53 17

8.8 Clientes de sexo feminino por categoria

Os clientes de sexo feminino excedem em número os homens nas categorias de crédito baixa e média da SOCREMO, e na categoria baixa de créditos do NovoBanco. Mais mulheres do que homens estão envolvidas nos negócios na parte sul de Moçambique95, o que vem confirmado pela percentagem de mulheres nas agências das IMFs em Maputo. As mulheres excedem em número os homens, em todas as categorias de crédito da SOCREMO nas agências de Maputo; este é o caso igualmente para os clientes do NovoBanco de sexo feminino, da categoria baixa e média, enquanto que os sexos estão representados por igual na categoria elevada de créditos. A tendência global é que, quanto mais baixos os créditos, mais elevada a percentagem de mulheres96.

93 O saldo médio por pagar no crédito para a categoria elevada de créditos da Tchuma, é muito mais baixo do que o do NovoBanco e da

SOCREMO: Tchuma - 822 USD, SOCREMO - 1.083 USD, NovoBanco - 1.227 USD94 Os bancos comunitários da CCCP são bem recebidos entre a população mais pobre, também na Cidade de Maputo. A CCCP não exige

um documento de identidade , enquanto que, por força da lei, a Tchuma é obrigada a assim fazer. Isto poderá constituir um obstáculo para as pessoas mais pobres terem acesso aos créditos solidários da Tchuma.

95 Segundo os dados do Inquérito aos Agregados Familiares sobre o Consumo do INE (2004), 68% dos que trabalham por conta própria na Cidade de Maputo, são mulheres.

96 É provável que a participação efectiva das mulheres seja um tanto mais elevada, porque durante as entrevistas aprofundadas com as três IMFs (para efeitos de testagem), constou que em alguns casos o contrato estava em nome do homem, enquanto que o negócio era dirigido pelo casal ou pela esposa, tendo o homem um emprego.

59

Tabela 30: Percentagem de mulheres por categoria, em Junho de 2004

Baixa Média AltaNovoBanco: todos os créditos 53 43 37

NovoBanco: todos os créditos a negócios

55 48 42

SOCREMO 55 54 49NovoBanco: duas agências em Maputo (créditos a negócios)

65 64 50

SOCREMO: duas agências em Maputo

66 61 58

Os saldos médios por pagar nos créditos, são aproximadamente iguais para os homens e as mulheres na categoria mais baixa, enquanto que o saldo médio por pagar nos créditos dos homens é mais elevado na categoria média, e em particular na categoria alta.

8.9 Carteira em risco (todos os clientes)

Parece que os clientes da categoria mais baixa de crédito, tenham a maior parte dos problemas de reposição, conforme pode ser visto na Tabela 31. As mulheres repõem melhor em todas as categorias, à excepção dos clientes de sexo feminino da terceira categoria da SOCREMO.

Tabela 31: Percentagem, carteira em risco por categoria, em Junho de 2004

Baixa Média AltaTchuma 6,8 2,9 2,3SOCREMO97 2% 0,4% 0,25NovoBanco 2,19 1,48 0,63

8.10 Dias em mora dos clientes com mais de dois anos de antiguidade

Em termos gerais, os clientes com mais de dois anos de antiguidade, não tinham grandes problemas na reposição dos créditos. Está claro que os que desistiram depois de dois anos, têm mais dias em mora por ciclo de créditos do que os clientes retidos. Na Tabela 32, vem apresentado o número médio de dias em mora por ciclo de créditos.

Tabela 32: Número médio de dias em mora por ciclo de créditos,dos clientes com dois anos de antiguidade

Mulheres Homens

SOCREMO 5,8 4,0Desistentes da SOCREMO 12,9 10,9NovoBanco 3,02 1,45Tchuma 8,0 8,4

A Tchuma tem o número médio mais elevado de dias em mora por ciclo de créditos, o que confirma a reputação da Tchuma de ser mais tolerante para com os clientes em mora. A média mais elevada deve-se igualmente ao facto de que a Tchuma tem relativamente mais clientes da categoria baixa, os quais têm um número maior de dias em mora por ciclo de créditos. Conforme a Tchuma, a sua tolerância trata-se da consequência do seu foco na pobreza; é provável que os clientes mais pobres, sejam mais vulneráveis aos choques. Não é comum, 97 Calculada com base na estatística da carteira da SOCREMO: Informe Geral Carteira Vigente 30 de Junho de 2004.

60

uma mora acumulada repetida de mais de 30 dias por ciclo de créditos98, o que sugere que os clientes com mais de dois anos de antiguidade, sofriam de crises de curto prazo que eles conseguiam superar.

É interessante que os clientes de sexo feminino do NovoBanco e da SOCREMO, têm mais problemas de reposição a curto prazo do que os homens. Dado o facto de que a carteira em risco (> 30 dias) é mais baixa no que diz respeito aos clientes de sexo feminino, a maior parte das mulheres resolve os seus problemas de reposição dentro de 30 dias.

A média mais elevada de mora para as mulheres, é mais acentuada para as mulheres mais novas: os clientes de sexo feminino da Tchuma na faixa etária dos 20 aos 29 anos, e os clientes de sexo feminino do NovoBanco e da SOCREMO na faixa etária dos 30 aos 39 anos.

Não se identificaram nenhuns outros relacionamentos entre a reposição e as características dos clientes, como por exemplo o número de dependentes no agregado familiar, ou a existência de outras fontes de rendimento.

Ao contrário das expectativas, os clientes com contas de depósito não apresentaram um historial de reposição significativamente melhor. Durante as entrevistas, constou que em muitos casos o xitique ou o xitique geral se tratava dum instrumento importante para poupar para o reembolso dos créditos. Além disso, muitos clientes pareciam ter contas em outros bancos.

98 No caso tanto da SOCREMO como da Tchuma; o NovoBanco forneceu informação do número total de dias em mora de todos os ciclos

de crédito.

61

9. Impacto do crédito sobre as actividades económicas

Neste capítulo, analisam-se (os sinais do) impacto do crédito sobre as actividades económicas dos clientes com mais de dois anos de antiguidade, na base da informação das avaliações dos créditos e das constatações das entrevistas aprofundadas. Os dados de avaliação dos créditos do primeiro crédito e do crédito mais recente, mostram as mudanças ao longo do tempo no tamanho dos créditos, no tamanho do negócio e na capacidade de reposição. Como indicador substituto do tamanho do negócio, escolheu-se o valor das vendas mensais. São igualmentemedidas as mudanças no valor do inventário, na posse de activos empresariais fixos e no número de trabalhadores, o que dá uma indicação do uso do crédito. São levadas em conta as diferenças entre as categorias de crédito, e entre os clientes de sexo feminino e masculino. Devemos levar em conta que estas mudanças podiam eventualmente ser devidas a vários factores, dos quais um é o crédito. As entrevistas aprofundadas examinaram as causas das mudanças e até que ponto as mudanças foram devidas aos serviços financeiros.

Os clientes passaram de uma categoria para outra ao longo do tempo: para a selecção da amostra dos clientes da SOCREMO e da Tchuma, os clientes foram classificados na base do seu crédito mais recente em finais de Junho de 2004. No caso do NovoBanco, o tamanho da amostra é suficientemente grande99 para permitir uma análise na base das categorias de crédito na altura do primeiro crédito e do crédito mais recente. Para poder manter a comparabilidade, todas as análises das categorias são realizadas com base no tamanho do crédito mais recente, caso não se refira de outra maneira100.

9.1 Tamanho do negócio por categoria

Os clientes por categoria são muito comparáveis entre as IMFs; os tamanhos médios dos negócios por categoria de crédito estão muito próximos uns dos outros, com a excepção da categoria baixa da Tchuma, na qual o tamanho médio do negócio é mais baixo, provavelmente por causa dos requisitos mínimos mais baixos para a entrada.101

Na altura do primeiro crédito, o volume de vendas é cerca de sete vezes mais alto do que o crédito, no caso do NovoBanco e da SOCREMO, e cinco vezes no caso da Tchuma102. É notável a semelhança entre as IMFs na altura do crédito mais recente, quando o valor médio das vendas mensais de todos os clientes está por volta de 3,7 vezes o tamanho dos créditos. Os créditos dos desistentes da SOCREMO são ligeiramente mais baixos relativamente ao valor das vendas mensais.

Em todas as IMFs, o tamanho médio por crédito aumentou mais rapidamente e para mais clientes, do que o valor médio das vendas.

99 Ela consiste em todos os clientes com dois anos de antiguidade de duas agências em Maputo100 A quantidade da informação proveniente das avaliações dos créditos mais recentes, é corrigida com base nas taxas de inflação mensal da

Cidade de Maputo, para fazer com que sejam comparáveis com a informação na altura do primeiro crédito.101 O valor mensal das vendas é calculado pelos oficiais de crédito com base nas informações que os clientes fornecem para a avaliação do

crédito. As três IMFs utilizam metodologias semelhantes para estimar o valor das vendas mensais dos seus clientes. Uma excepção consiste na ficha de avaliação de crédito da Tchuma, que foi empregue em 2002 e anteriormente; em 2002, as estimativas das vendas mensais dos clientes, baseiam-se em perguntas menos pormenorizadas na ficha de avaliação de crédito. É provável que as estimativas com base na ficha utilizada em 2004, sejam mais exactas.

102 Esta diferença podia dever-se ao facto de que a Tchuma recolheu menos pormenores relativamente ao valor das vendas na altura do primeiro crédito.

62

9.2 Transição entre categorias de crédito

A maioria dos clientes começou na categoria mais baixa: quase todos os clientes da Tchuma e 80% dos clientes da SOCREMO e do NovoBanco. A maior parte destes clientes passou para outra categoria de crédito.

Poucos dos clientes da Tchuma passaram para a terceira categoria, devido em parte à política de crédito da Tchuma, que limita o nível de aumento entre créditos. Além disso, a Tchuma atrai micro-empresários mais pequenos, devido ao seu tecto aos créditos para o crédito inicial. A percentagem dos clientes do NovoBanco e da SOCREMO na categoria elevada de créditos na altura do crédito mais recente, foi quase idêntica. É interessante que, embora uma percentagem parecida dos desistentes e dos clientes activos tenha começado na primeira categoria, mais de metade dos desistentes permaneceram nesta categoria durante um período de tempo de mais de dois anos.

Na figura a seguir, vem apresentada a transição dos clientes entre as categorias, da altura do primeiro para o último crédito.

Figura 4: Clientes com mais de dois anos de antiguidade por IMF, categoria de crédito e altura da avaliação

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Primeira

Última

Primeira

Última

Primeira

Última

Primeira

Última

Nov

o B

anco

Tch

uma

Soc

rem

oD

esis

tent

esS

ocre

mo

Clientes

Baixa

Média

Alta

9.3 Tamanho dos créditos, valor das vendas mensais e capacidade aumentada de reposição

O tamanho dos créditos aumentou para a grande maioria dos clientes com mais de dois anos de antiguidade. Os créditos aumentaram de mais clientes de sexo feminino do que dos de sexo masculino, do NovoBanco e da SOCREMO, enquanto que o contrário é o caso para os

63

clientes da Tchuma. A percentagem mais reduzida de aumento do tamanho dos créditos, é experimentada pelos desistentes de sexo feminino da SOCREMO.

Bastante menos clientes, mas mesmo assim a maioria dos clientes activos, experimentaram um crescimento do valor das vendas mensais. Os clientes de sexo masculino da Tchuma parecem sair-se o melhor, enquanto que no caso do NovoBanco e da SOCREMO, há pouca diferença entre o número de homens e de mulheres cujos negócios aumentaram. Dos desistentes da SOCREMO, apenas uma minoria experimentou um crescimento do valor das vendas (36% dos desistentes de sexo masculino e apenas 19% dos de sexo feminino).

No quadro a seguir, vem exposta a percentagem dos clientes para os quais aumentaram o tamanho dos créditos, o valor das vendas mensais e a capacidade de reposição. Igualmente, a maioria dos clientes que se mantiveram na categoria baixa de créditos ao longo de dois anos, conseguiu aumentar o valor das suas vendas mensais.

Figura 5: Percentagem de clientes com créditos, vendas e capacidade de reposição aumentados

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

NB Tch Soc Desist. NB Tch Soc Desist. NB Tch Soc Desist.

Empréstimos Vendas Capacidade de Reposição

%

Masculino

Feminino

No caso do NovoBanco, a amostra foi suficientemente grande para analisar as diferenças entre as categorias, quando os clientes são divididos na base do seu crédito inicial103. Surgiu uma imagem muito clara: quanto mais baixa a categoria de crédito na qual os clientes receberam o seu crédito inicial, mais elevada foi a percentagem de clientes que conseguiram aumentar o valor das suas vendas mensais: 66% dos clientes que começaram na categoria mais baixa de crédito, 60% daqueles que começaram na categoria média, e 44% daqueles que começaram na categoria mais alta de crédito, aumentaram o valor das vendas. Isto foi confirmado igualmente para os clientes da categoria elevada da SOCREMO na altura do

103 A amostra dos clientes da SOCREMO e da Tchuma foi seleccionada com base na categoria do crédito mais recente, enquanto que a

amostra do NovoBanco incluiu todos os clientes de duas agências que tivessem recebido créditos durante um período de mais de dois anos.

64

crédito mais recente; apenas aqueles que tinham começado na categoria mais baixa de crédito, experimentaram um aumento do valor das vendas.

Para a maior parte dos clientes cujos negócios aumentaram, a capacidade de reposição aumentou também; a relação entre aumento da capacidade de reposição e aumento das vendas, é estatisticamente significativa para todas as três IMFs. Tendo dito isso, houve também vários clientes cuja capacidade de reposição aumentou, ao passo que este não foi o caso para o valor das vendas mensais. No caso dos clientes de sexo feminino da Tchuma, os dados mostram que isto é causado por um aumento nos outros rendimentos no agregado familiar. Em outros casos, podia ser devido a uma mudança de estratégia empresarial, provocando maior eficiência (margens aumentadas por unidade vendida).

Os tamanhos dos créditos dos clientes de sexo feminino do NovoBanco e da SOCREMO, aumentaram em precisamente a mesma percentagem. Os clientes de sexo feminino do NovoBanco começaram com créditos mais reduzidos, mas esta diferença tinha subido na altura do último crédito. No caso da SOCREMO, vemos uma tendência contrária: os clientes de sexo feminino da SOCREMO tomaram créditos iniciais mais baixos, mas esta diferença tinha-se tornado insignificante até ao último crédito.

O crescimento dos créditos da Tchuma é mais gradual: os créditos dos clientes da Tchuma, aumentaram mais ou menos ao mesmo ritmo das vendas, o que não foi o caso com os clientes do NovoBanco e da SOCREMO. Além disso, o valor das vendas mensais e a capacidade de reposição dos clientes da Tchuma, aumentaram a um ritmo mais rápido do que os dos clientes das outras IMFs. Isto deve-se ao facto de que todos os clientes da Tchuma começaram na categoria mais baixa de crédito. A tendência é que, quanto mais elevada a categoria de créditodo crédito inicial, menor é o aumento das vendas.104

Frequentemente presume-se que os negócios das mulheres crescem menos rapidamente do que os negócios dos homens, por causa das seguintes razões: as mulheres tendem a investir relativamente mais do seu dinheiro nas suas famílias, à custa dos seus negócios; as mulheres tendem a ficar presas nos sectores de baixa produtividade; as tarefas domésticas impedem que as mulheres trabalhem a tempo inteiro nos seus negócios. Contrário àquilo que se tinha esperado105, o valor das vendas mensais dos clientes de sexo feminino das três IMFs, aumentou mais do que o dos clientes de sexo masculino, se bem que as diferenças são muito pequenas.

Os desistentes mostram o pior desempenho: os tamanhos dos créditos aumentaram menos, o valor das vendas dos desistentes diminuiu, mas a sua capacidade de reposição aumentou ligeiramente.

Os clientes que começaram na categoria mais baixa de crédito, experimentaram mais crescimento do valor das vendas mensais, do que os clientes que começaram com créditos maiores. Quanto mais elevados os créditos com os quais os clientes começaram, menor o aumento do valor das vendas que realizaram. Por exemplo, no caso dos clientes do NovoBanco, os maiores negócios, com um volume mensal de vendas de mais de 2.130 USD na altura do primeiro crédito, experimentaram em média um crescimento negativo (-11%).

104 Confirmada pela análise de regressão da SOCREMO e do NovoBanco. Devido ao facto de quase todos os clientes da Tchuma terem

começado na primeira categoria, esta tendência não pode ser analisada com relação aos clientes da Tchuma.105 Foi formulada por consultores, em estreita cooperação com as IMFs, a hipótese de que os negócios das mulheres haviam de

experimentar menos crescimento.

65

Cerca de 20% dos clientes com mais de dois anos de antiguidade, têm negócios deste tamanho. Os menores negócios, com um volume de vendas de menos de 539 USD, cresceram por média em 185%. Cerca de 10% fazem parte deste grupo.

As constatações contradizem a expectativa106 que as micro-empresas de maior dimensão experimentariam mais crescimento. Uma possível explicação, é que é pouco provável que as maiores micro-empresas, começando com créditos da categoria alta, cresçam mais sem sofrerem mudanças estruturais substanciais. Devemos levar em conta que estes são créditos de capital de giro, com condições que normalmente não são favoráveis para investimentos a mais longo prazo.

Figura 6: Crescimento dos clientes com dois anos de antiguidade, por IMF e por sexo

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

NB Tch Soc Desist. NB Tch Soc Desist. NB Tch Soc Desist.

Crédito Vendas Capacidade de Reposição

%

Masculino

Feminino

9.4 Aplicação do crédito: inventário, activos empresariais fixos e trabalhadores

A informação da avaliação dos créditos sugere que, regra geral, os clientes utilizaram os créditos para aumentar o inventário. Além disso, o valor do inventário aumentou, em média, muito mais do que o nível de vendas, o que sugere uma eficiência diminuída e custos mais elevados de inventário, uma vez que o inventário aumentado por causa dos créditos, acarreta o custo adicional dos juros. Muito menos frequentemente, os créditos são utilizados para investimento em activos empresariais.

As percentagens dos clientes com activos empresariais fixos, diminuíram ligeiramente ao longo do tempo no caso da SOCREMO, e aumentaram ligeiramente no caso do NovoBanco.

Presume-se geralmente que as micro-finanças permitam que os clientes aumentem a sua base de activos. Isto é em parte confirmado pelos dados de avaliação dos créditos, para uma minoria dos clientes que já possuam activos empresariais. Por exemplo, no caso da 106 De modo a facilitar a análise dos dados de avaliação dos créditos, foram formuladas hipóteses e foram seleccionados indicadores em

cooperação com as IMFs. Uma destas hipóteses, foi de que os negócios de maior dimensão haviam de experimentar mais crescimento

66

SOCREMO e do NovoBanco, a partir respectivamente de 48% e 36% dos clientes que possuem activos empresariais fixos, o valor aumentou107. As IMFs não recolhem informação sobre os bens familiares. A partir das entrevistas aprofundadas, parecia que o aumento dosbens familiares foi referido frequentemente como sendo um resultado positivo do crédito.

O número dos clientes do NovoBanco com trabalhadores108 diminuiu em 3%109 ao longo do tempo. Isto significa que, na base destes dados, não pode ser concluído que as micro-finanças contribuem para a criação de postos de trabalho.

Dado que a maioria esmagadora dos clientes, investe os seus créditos na compra de mais inventário, os subsequentes efeitos externos da expansão empresarial durante um período de dois a três anos, eventualmente não teriam sido suficientemente significativos para manifestar-se em termos dum aumento de investimentos imobilizados ou de criação de postos de emprego.

9.5 Impacto sobre o negócio

9.5.1 Percepções dos clientes do desempenho global do negócio, e indicadores de desempenho

A medição do impacto do crédito sobre os negócios dos clientes entrevistados, não foi um exercício simples. Perguntou-se aos clientes acerca do desempenho dos seus negócios desdeque iniciaram com os seus créditos. Conforme está demonstrado na Tabela 33, as respostas revelaram contrastes nítidos entre os clientes das três IMFs. Uma vez que não há motivo para acreditar que o desempenho do negócio esteja de qualquer forma relacionado com a instituição que proporciona o crédito, sobretudo visto que os produtos são tão parecidos, pode-se atribuir as diferenças, ou a aberrações devidas à pequenez das amostras das entrevistas, ou a diferenças na forma pela qual a pergunta foi colocada, entendida ou interpretada pelos três entrevistadores. Examinando o crescimento dos créditos entre as três categorias de cada IMF, de 2004 a 2005 (veja-se a sub-secção 9.4.2), chega-se a um resultado muito mais coerente, a partir do qual se deriva uma interpretação mais objectiva do impacto.

A Tabela 33 mostra que a maioria dos clientes da SOCREMO em todas as categorias de crédito, achou que os seus negócios tinham melhorado, sobretudo nas categorias média e alta de crédito. Apenas 20% nas categorias média e alta, acharam que os seus negócios tinham piorado. Um padrão semelhante foi indicado pelos clientes da Tchuma. Ao contrário, os clientes do NovoBanco reagiram de forma inversa: aqueles com créditos da categoria mais baixa, pareciam ter o melhor desempenho, e os da mais alta, o pior. A análise da avaliação dos créditos, mostrou que a maioria em todas as categorias (salvo no caso da mais alta para a SOCREMO) tinha aumentado as suas vendas mensais médias ao longo dos dois anos anteriores, findos em Junho de 2004, e que havia uma tendência para um melhor desempenho, quanto mais elevada a categoria de crédito (à excepção dos que começaram a tomar créditos na categoria elevada de créditos).

107 Na altura da avaliação do primeiro crédito, não havia nenhuma informação disponível a partir da Tchuma sobre os activos fixos.108 Os trabalhadores registados pelos oficiais de crédito, podem ser de tempo parcial ou integral, tendo como não um salário

regular109 No caso do NovoBanco, recolhe-se a informação sobre o número de trabalhadores, enquanto que no caso da SOCREMO e da Tchuma,

sobre os custos dos trabalhadores.

67

Tabela 33: Mudanças percebidas pelos clientes, no desempenho do negóciodesde a aquisição de créditos (%)

Variável IMFs Baixa Média AltaNegócio cresceu S

NB

T

60 50 30

804050

602050

Negócio piorou S

NB

T

404040

204050

205030

Em oscilação S

NB

T

--20

---

--20

Não tem a certeza S

NB

T

---

---

20--

Aproximadamente igual

S

NB

T

-1010

-20-

-30-

A Tabela 34 apresenta as flutuações de certos indicadores empresariais conforme percebidos pelos clientes. As tendências para vendas e lucros mostraram tendências direccionais semelhantes entre as categorias de crédito para os clientes da SOCREMO e da Tchuma, mostrando em termos gerais que o desempenho melhorou com categorias de crédito mais elevadas. Os resultados para o NovoBanco, provavelmente pelas mesmas razões citadas acima, mostraram tendências um tanto contrárias. A informação relacionada com o inventário foi obtida apenas dos clientes da SOCREMO, e mostrou que, apesar da tomada de créditos, metade dos clientes da categoria mais baixa, ou diminuiu (40%), ou não mudou os seus níveis de inventário (10%), contra 30% para os clientes da categoria média e 20% para os clientes da categoria mais alta.

Apesar do grande número de clientes que sustentaram que os seus negócios tinham piorado desde que obtiveram os seus créditos pela primeira vez, registou-se um reconhecimento quase universal de que os créditos tiveram um efeito benéfico importante sobre os seus negócios. Regra geral, os clientes foram igualmente positivos sobre as contribuições das contas bancárias e do xitique ao desempenho dos seus negócios, mas o relacionamento de tais produtos financeiros não é tão simples como para os créditos. Para muitos, as contas correntes/de depósito a prazo, desempenharam um papel importante porque facilitaram as reposições dos créditos através de mecanismos automáticos de débito. Para outros, as contas bancárias facilitaram o negócio ao permitirem as transferências e os pagamentos em cheque, enquanto que para alguns, as contas em diversas moedas facilitaram as suas actividades de importação. Os dispositivos de xitique foram vistos como ajudando de várias formas. Os contratos para o depósito diário, permitiram fundos mensais para pagar as prestações do crédito. Os grupos rotativos permitiram as compras de certos bens para alguns negócios, e às vezes, ajudaram com as prestações do crédito. O rendimento proveniente de outras actividades a nível do agregado familiar, foi visto geralmente pela maioria dos clientes como não tendo muita importância, caso tenha alguma em absoluto, sobre o funcionamento dos seus negócios.

68

Tabela 34: Flutuação de certos indicadores empresariais desde a aquisição de créditos (%)

IMFs Baixa Média Alta(+) (-) Nenhuma

mudança(+) (-) Nenhuma

mudança(+) (-) Nenhuma

mudançaVendas S

NB

T

603320

305670

101110

805650

104450

10--

801060

107040

1020-

Lucros S

NBT

603330

305050

101720

801750

106650

1017-

801160

108940

10--

Inventário S 50 40 10 70 - 30 80 10 10

9.5.2 Crescimento do tamanho dos créditos

Os dados sobre os créditos dos clientes entrevistados, mostraram que para a Tchuma, todos os clientes dos créditos da categoria mais alta, começaram na categoria mais baixa (conforme o regulamento), tal como fez a maioria (60%) dos clientes da SOCREMO e 70% dos do NovoBanco. A Tabela 35 demonstra que os padrões de crescimento dos créditos para os clientes da categoria mais alta, não deixam dúvida de que estes foram os clientes mais dinâmicos, registando (por média) o crescimento mais elevado nos valores dos créditos entre o período de 1 de Julho de 2001 a 30 de Junho de 2004. Os clientes da Tchuma registaram o crescimento mais elevado (478%), enquanto que os clientes da SOCREMO e do NovoBanco registaram taxas de crescimento muito parecidas, para além de 200%. Taxas de crescimento mais baixas, se todavia altas, foram registadas entre os clientes para os créditos de nível médio (todos os quais começaram com créditos da categoria mais baixa). As taxas de crescimento mais baixas foram encontradas dentre os clientes da categoria mais baixa. Embora os clientes da Tchuma tenham registado as taxas mais elevadas nas categorias alta e média, os seus clientes da categoria baixa cresceram o mais lentamente em comparação com as demais IMFs.

Tabela 35: Crescimento dos créditos dos clientes

IMFs Baixa Média AltaTamanho médio do créditoinicial (MZM)

S

NB

T

2,0m2,95m3,28m

3,0m3,2m4,28m

6,55m7,75m4,45m

Tamanho médio do crédito em Junho de 2004 (MZM)

S

NB

T

4,85m5,45m4,45m

8,2m8,2m13,5m

21,9m25,7m25,75m

Tamanho médio do último crédito (MZM) (na altura da entrevista – Junho/Agosto de 2005)

S

NB

T

4,75m5,6m3,48m

9,5m9,9m10,13m

23,7m32,4m28,25m

Aumento entre o primeiro crédito, e o crédito em 30 de Junho de 2004

S

NB

T

142% 85%36%

173%156%203%

234%232%478%

Aumento entre 30 de Junho de 2004 e a entrevista –Junho/Agosto de 2005

S

NB

T

-2%3%-22%

16%21%-25%

8%26%10%

69

9.6 Mudanças económicas recentes e resposta a nível de tomada de créditos

Os dados sobre as carteiras de créditos foram empregues para analisar as tendências no crescimento dos negócios ao longo dum período durante o qual se verificou um forte crescimento no tamanho dos créditos (Junho de 2002 a Junho de 2004). As entrevistas qualitativas indicaram que, durante o ano seguinte, muitos clientes estavam a encarar dificuldades em termos económicos, e isto parece estar reflectido no abrandamento considerável do crescimento no tamanho dos créditos para todas as categorias de crédito, mas sobretudo para as categorias mais baixas de crédito (os valores de tamanho dos créditos foram tirados dos arquivos das IMFs). Os resultados sugerem que os créditos da categoria mais alta, e em certa medida os clientes com créditos da categoria média, são muito mais resistentes às dificuldades macro-económicas (ou até ficam isentos das mesmas), uma vez que os seus tamanhos médios de crédito tenderam a aumentar em comparação com os dos clientes da categoria baixa de créditos, os quais ou estabilizaram ou reduziram os seus créditos. Os clientes da Tchuma da categoria baixa, reduziram os seus créditos em 22%, e aqueles na categoria média, em 25%. Os clientes da categoria baixa de créditos da SOCREMO e do NovoBanco, não apresentaram quase nenhuma mudança no tamanho dos seus créditos. Os clientes do NovoBanco das categorias média e alta, apresentaram os maiores aumentos durante o período (ultrapassando os 20%).

As cifras apresentadas na Tabela 35, referem-se aos valores médios para todos os clientes em cada categoria, por IMF. A Tabela 36 indica o sentido do tamanho dos créditos, entre o período de 30 de Junho de 2004 e a altura da entrevista. Vindo a reforçar as constatações da Tabela 34, ela mostra que os aumentos dos créditos foram registados principalmente entre os clientes da categoria elevada de créditos, e que o menor número de clientes que aumentaram os seus créditos, estava entre a categoria baixa de créditos.

Tabela 36: Mudança no tamanho do crédito desde Junho de 2004 (%)

Variável IMFs Baixa Média Alta

Aumentou ↑S

NB

T

60400

606030

506050

Diminuiu ↓ S

NB

T

203040

102060

20100

Nenhuma mudança →

S

NB

T

203060

302010

303050

Para além do problema permanente da concorrência como o obstáculo mais significativo ao crescimento nos negócios, os clientes referiram a procura reduzida (resultante em parte do abrandamento da economia depois da construção da fundição Mozal, e do poder de compra reduzido devido à inflação), os custos mais elevados do transporte, os custos aumentados das importações da África do Sul, e uma vigilância aumentada por parte dos oficiais alfandegários (veja-se a secção 3.2 para mais pormenores sobre o ambiente económico).

70

9.7 Quais são os clientes que tiveram um mau desempenho e por que razão?

Fez-se uma análise de onze clientes da SOCREMO cujas actividades tinham piorado durante os últimos três anos, assim como dos dois clientes que não tinham a certeza acerca do desempenho do seu negócio, de forma a apurar algumas características em comum110. Os motivos para os reveses no desempenho do seu negócio, dividiram-se em três categorias amplas: (i) aqueles clientes afectados principalmente por influências económicas (46,1%), (ii) os afectados temporariamente por uma crise ou acontecimento inesperado (30,7%) e (iii) aqueles que podiam ser considerados como os autores dos seus próprios problemas - devido fundamentalmente à gestão deficiente (23,1%).

Teoricamente, os problemas devidos a uma crise ou acontecimento imprevisto não devem suscitar preocupação, uma vez que teoricamente uma IMF deve ter flexibilidade suficiente para permitir que um cliente que em condições normais seja bom, supere tais reveses transitórios. Este é um assunto que será examinado mais a seguir, no Capítulo 11. Mais preocupantes são os clientes que sofrem devido a problemas da sua própria autoria, ou provenientes de influências económicas, uma vez que estes podem eventualmente ser problemas crónicos.

Os principais problemas económicos que os clientes enfrentavam, eram os preços em aumento, a concorrência aumentada e a procura decrescente (menos clientes/poder de compra reduzido). Os tipos de actividades que foram mais vulneráveis às mudanças nos preços, foram os que estão envolvidos no comércio. Pela consolidação de todas as actividades de comércio, com aqueles serviços envolvidos principalmente na venda dum produto (isto é, bares que vendem bebidas), constatamos que 83,3% dos clientes afectados pelas influências económicas, essencialmente estão a comercializar (em um ou mais duma gama diversa de produtos) ou a vender bebidas. Muitos clientes que operam a partir de bancas nos mercados, queixaram-se do facto de que enfrentavam uma concorrência crescente dos vendedores ambulantes. Dois terços dos clientes afectados pelas influências económicas, estavam a funcionar desde o interior dos mercados.

As constatações sugerem igualmente que uma proporção significativa dos clientes com reveses nos negócios, não tinha acesso facilitado a formas alternativas de fundos (se bem que quase todos tinham actividades alternativas de geração de rendimento a nível do agregado familiar). Ligado a estas questões, está o facto de que uma proporção relativamente elevada destes clientes (relativamente aos outros clientes) tinha problemas na reposição dos seus créditos, embora tais problemas tenham sido normalmente duma duração muito curta.

9.8 Créditos e estratégia empresarial

A maioria esmagadora dos clientes do micro-crédito começa por créditos da categoria baixa e conta com habilidades empresariais reduzidas com as quais aplicar os seus fundos de crédito. Os dados de avaliação dos créditos demonstraram que, regra geral, os clientes utilizaram os créditos para expandir o inventário. Além disso, o valor do inventário aumentou por média, muito mais do que o nível de vendas. A compra de mais mercadorias é feita principalmente por duas razões: conseguir preços mais baratos com compras maiores, e chamar mais clientes com bancas/bares/salões bem abastecidos. Constatou-se que relativamente poucos clientes nas categorias mais baixas de crédito, diversificam o seu inventário ou actividades, e poucos é que 110 Uma análise dos clientes da SOCREMO realizou-se na base das perguntas colocadas pelo entrevistador que não estavam no guião para

as entrevistas

71

ampliaram fisicamente as suas instalações operacionais com os seus créditos. O efeito líquido é de aumentar a oferta de mercadorias no mercado: para vender as mercadorias aumentadas, muitos clientes tiveram que reduzir as suas margens com cortes dos preços. Alguns clientes do NovoBanco disseram que, para aumentar as vendas, estavam dispostos a cortar as suas margens, não aumentando os seus preços de retalho em resposta a preços por atacado aumentados. Aproximadamente um quarto dos clientes da Tchuma disse que reduzia os seus preços na base dos preços por atacado reduzidos que obtinham através de compras mais avultadas em volume. O impacto pode eventualmente ser positivo a curto prazo, mas a mais longo prazo, a compra de mais inventário pode eventualmente dar em pouco impacto no negócio, e em dívidas crescentes.

Por outro lado, constatou-se que os clientes das categorias elevadas de crédito das três MFIs, diversificam, ampliam as suas instalações, empregam mais trabalhadores e adquirem património. Uma coisa interessante, é que mesmo que 90% dos clientes para os créditos da categoria mais elevada do NovoBanco tenham afirmado que sofrem de lucros reduzidos, quase dois terços tinham ampliado as suas instalações empresariais, metade tinha adquirido mais activos empresariais, e 40% tinham diversificado os seus produtos. Isto sugere fortemente que os clientes para os créditos de nível mais elevado, continuavam positivos acerca das suas perspectivas empresariais futuras. Os resultados do NovoBanco mostraram adicionalmente que, de todos os clientes que afirmam terem registado melhorias nos seus negócios, cerca de metade tinha diversificado os seus produtos, enquanto que outras estratégias incluíram as entregas domiciliárias, uma maior venda a crédito, a mudança de fornecedores e a mudança de actividade. Entre os clientes da SOCREMO na categoria elevada de créditos, 50% tinham diversificado, 40% tinham ampliado, 40% tinham aumentado os postos de trabalho e 30% tinham comprado mais activos fixos.

72

73

10. Impacto do crédito sobre o nível do bem-estar do agregado familiar

10.1 Variáveis para a medição, fungibilidade e atribuição

A medição das mudanças no desempenho do negócio é relativamente fácil, caso se restrinja a variáveis quantificáveis de indicador substituto, tais como as vendas ou o inventário. Avaliar a mudança no bem-estar a nível do agregado familiar é muito mais complexo, por causa das dificuldades na quantificação das mudanças que possam dar-se entre os indicadores do bem-estar, como por exemplo a nutrição, escolarização, segurança, meio ambiente, capacidade de ajudar os outros, etc. Na análise a seguir, os indicadores do bem-estar a nível do agregado familiar estão restritos às condições de vida residenciais (efectivamente, a expansão ou benfeitorias à casa) e à aquisição de itens domésticos duráveis. Em ambos os casos, o grau da mudança dependeria das respostas dos clientes, uma vez que não havia como confirmar as afirmações (pelo menos não dentro dos limites do estudo). O segundo problema, conforme foi referido desde o início deste relatório, é a questão de atribuição, devido à fungibilidade dos fundos. Conforme foi examinado acima, muitos clientes investiram directamente pelo menos uma parte dos seus créditos na construção ou reabilitação residencial, ou compraram bens duráveis. Outros afirmam que aplicaram todos os proventos dos créditos às suas actividades de negócio, mas que os “lucros” foram utilizados para a construção e o consumo. Seria razoável presumir, que em condições normais, sem a presença do crédito, tais lucros seriam usados, pelo menos parcialmente, para a compra de novas mercadorias.

Embora os créditos sob exame tenham sido quase exclusivamente créditos a negócios, está claro a partir das entrevistas que muitos clientes aplicaram uma parte significativa, em muitos casos a parte principal, do seu crédito para o “futuro”, isto é, a construção duma casa e/ou a compra de mobiliário e electrodomésticos (veja a secção 8.1). Em muitos casos, o crédito foi utilizado para despesas a nível do agregado familiar, como por exemplo o ensino e pagamentos mensais comuns (salários, água e luz, etc). A maioria dos clientes não tinha medo de falar de tais aplicações, se bem que alguns evidentemente o tinham, e por causa disto, é provável que a importância efectiva do crédito dedicada a fins não empresariais, seja maior do que está sugerida aqui.

10.2 Percepções por parte dos clientes, de factores seleccionados que afectam o bem-estar do agregado familiar

A Tabela 37 demonstra a forma como o cliente percebia as mudanças em indicadores seleccionados do bem-estar a nível do agregado familiar ao longo dos últimos três anos. Os resultados são muito mais coerentes do que foi o caso para o desempenho do negócio. Apesar das fortes provas apresentadas no capítulo anterior de que os acontecimentos económicos recentes estavam a ter efeitos negativos sobre o desempenho do negócio, a maioria dos clientes de todas as IMFs e dentro de todas as categorias de crédito, acha que o rendimento mensal líquido a nível do agregado familiar, ou tinha aumentado ou tinha permanecidoestável. Isto dá fortes indícios de que a maioria dos agregados familiares dos clientes, acha que está em melhor situação desde que recebeu os seus créditos.

Em termos de bens familiares, há uma resposta ainda mais positiva do que para o rendimento mensal. No que diz respeito à habitação, existe também uma resposta que em termos gerais é fortemente positiva, que mostra que a maior parte dos agregados familiares dos clientes tirou proveito da expansão, da reabilitação, etc.

74

Tabela 37: Mudanças no nível de bem-estar do agregado familiar,em termos de variáveis seleccionadas (%)

Baixa Média Alta(+) (-) Igual (+) (-) Igual (+) (-) Igual

Rendimento mensal líquido a nível do agregado familiar

SNBT

702050

202010

106030

608040

202030

20030

90500

--10

105090

Bens familiares (p. ex. mobiliário, aparelhos de cozinha, etc)

SNB*T*

707050

10 20 809060

20 507070

50

Mudanças aos locais de alojamento (expansão, reabilitação)

SNB*T*

609050

40 605030

40 308060

70

* As informações foram obtidas apenas em termos de movimentos positivos

10.3 Mudanças globais aos níveis de bem-estar a nível do agregado familiar, conforme percebidas pelos clientes

A Tabela 38 mostra as percepções dos clientes sobre as mudanças no bem-estar global do agregado familiar. A tabela demonstra que, como um todo, a maioria das categorias de clientes achou que melhorou o nível global do bem-estar a nível do agregado familiar, à excepção importante dos clientes da Tchuma na categoria média de créditos (apenas 30%). As categorias mais baixas de crédito da SOCREMO e do NovoBanco, tinham percentagens relativamente elevadas de agregados familiares cujos níveis de bem-estar se acharam terem piorado.

Tabela 38: Mudanças no bem-estar global a nível do agregado familiar (%)

Mudanças Baixa Média AltaMelhor S

NBT

607060

906030

807070

Pior SNB

T

4030-

102010

10--

Em flutuação SNBT

--10

--30

10-10

Igual SNBT

--30

-2030

-3020

75

10.4 O papel dos produtos financeiros e de outro rendimento a nível do agregado familiar

A Tabela 39 mostra que o crédito foi visto na sua grande maioria como tendo contribuído de forma positiva para o bem-estar do agregado familiar, no caso de todos os clientes com créditos de nível médio e elevado. Um entusiasmo um tanto menor foi manifestado pelos clientes da categoria baixa de créditos. Maiorias importantes daqueles com contas correntes/de depósito a prazo, acharam que a poupança fez uma contribuição importante para o bem-estar do agregado familiar, aplicando-se a mesma conclusão àqueles envolvidos nos dispositivos de xitique. Os dispositivos financeiros informais foram importantes para pagar as despesas a nível do agregado familiar (xitique geral) e para a aquisição de aparelhos domésticos relativamente mais caros (p. ex. geleiras) (xitiques).

Tabela 39: O papel dos produtos financeiros no nível de bem-estar do agregado familiar (%)

Baixa Média AltaMelhor Pior Igual Melhor Pior Igual Melhor Pior Igual

Crédito SNBT

609070

4030

100100100

909090

101010

Poupança (% daqueles que têm uma conta)

SNBT

678075

332025

805080

205020

756775

253325

Informais (% daqueles que fazem parte dum xitique)

SNB

6360

13 25 8775

13 67100

33

Tabela 40: A influência de outras fontes de rendimento a nível do agregado familiar, sobre o bem-estar do mesmo (% daqueles agregados familiares com outras fontes de rendimento)

Baixa Média Alta Muita Alguma Pouca/

Nenhuma

Sem outras fontes

Muita Alguma

Pouca Sem outras fontes

Muita

Alguma Pouca Sem outrasfontes

Outras fontes a nível do agregado familiar

SNBT

1005725

--

50

-4325

203020

506710

251150

2522-

201040

503050

10-

10

104030

303010

A Tabela 40 mostra, o que não é surpreendente, que outras fontes de rendimento a nível do agregado familiar são as mais importantes em termos do bem-estar do agregado familiar, para os clientes da categoria mais baixa de crédito, os quais se presume que sejam em termos relativos os mais pobres das categorias de clientes, e os menos importantes para os agregados familiares da categoria elevada de créditos (presumivelmente os mais ricos).

76

11. Influência das crises

Em alguma altura, todos os agregados familiares defrontam-se com crises ou acontecimentos excepcionais. Normalmente, ambos são dispendiosos em termos financeiros. Normalmente, os acontecimentos são planificados e não são realizados a não ser que estejam mobilizados meios financeiros suficientes. As crises, por outro lado, normalmente são imprevistas e frequentemente exigem fundos que não estão disponíveis imediatamente dentro do agregado familiar, o que leva os agregados aflitos a pedirem emprestado dinheiro a amigos ou familiares.

Alguns agregados familiares reservam fundos para imprevistos, para ajudar a amortecer o efeito de eventuais crises. Alguns clientes entrevistados falaram de “fundos familiares” que funcionam como uma espécie de xitique grupal (que não se deve confundir com um “xitiquefamiliar”, sendo este um grupo que consiste unicamente em familiares próximos), que exigedepósitos mensais por parte dos agregados familiares membros numa conta bancária cujos fundos estão consignados unicamente para ajudar os agregados contribuintes em alturas de stress ou, conforme foi observado num dado caso, para despesas tais como as propinas universitárias. Outros recorreram a uma volta extraordinária com o seu grupo de xitique, ou a levantamentos das contas de poupança.

As crises mais frequentemente encontradas a nível do agregado familiar, incluíram as seguintes: doença ou lesão prolongada, falecimento, acidente, incêndio, danos devidos às cheias, divórcio, agressão e roubo de bens familiares. A nível económico, as crises típicas incluíram: confiscação de mercadorias, roubo, clientes com créditos em mora, epidemias periódicas de cólera e de outras doenças, levando a proibições da cozinha, etc. Entre os acontecimentos extraordinários, os mais frequentes são os casamentos, anelamentos, graduações e nascimentos.

As entrevistas qualitativas mostraram que 55% dos 120 clientes entrevistados, enfrentaram uma ou mais crises no decorrer do último ano. Esta percentagem foi consideravelmente mais elevada para os clientes que tinham desistido (70%) do que para os clientes que ainda estavam activos (52%). 30% dos desistentes indicaram que deixaram de tomar créditos como resultado das crises que enfrentaram. É provável que seja mais elevada, a percentagem efectiva de clientes que uma IMF perde devido às crises, uma vez que não foram incluídos os clientes que desistem antes de estarem dois anos com a IMF, nem os clientes que foram expulsos depois de dois anos devido a prestações atrasadas e irrecuperáveis.

A maior parte das crises enfrentadas pelos clientes (50%) estava relacionada com problemas de saúde (ou do cliente, ou dentro da família) e com falecimentos dentro da família. Embora as perguntas não tenham sido específicas ao HIV e ao SIDA, alguns clientes indicaram que as doenças (dos familiares) estavam relacionadas com o SIDA.

Sustenta-se frequentemente que o micro-crédito ajuda a aliviar o efeito duma crise, porque injecta fundos adicionais no agregado familiar. Contudo, a menos que o crédito seja concedido especificamente para tratar duma crise, um crédito de facto podia vir a exacerbar o efeito duma crise. Normalmente, um crédito é utilizado pouco depois de ser recebido, e portanto, não aumenta a liquidez, a não ser pelos lucros aumentados. Apenas no caso duma crise acontecer por volta da altura de se tomar um crédito, é que se podia esperar que o créditocontribuísse directamente para o alívio da crise. O que acontece normalmente, é que uma política rigorosa de mora por parte das IMFs, exigirá que pelo menos uma parte da liquidez a nível do agregado familiar, seja utilizada para a reposição do crédito, em vez de ser aplicada à

78

crise. Encontraram-se alguns casos em que a IMF associada ao cliente, operou ajustamentos ao calendário de reposição do cliente para acomodar o impacto da crise.

As entrevistas mostraram que em condições normais, a maior parte dos clientes com mais de dois anos de antiguidade não enfrenta dificuldades na reposição dos seus créditos. As dificuldades aconteceram quase invariavelmente devido a uma crise ou outra influência exógena. É compreensível que as IMFs apliquem procedimentos rigorosos, logo que um cliente atrase numa prestação. No entanto, muitos clientes sustentaram que a IMF não dá nenhuma tolerância (ou pelo menos que dá muito pouca), levando em consideração as razões que explicam os pagamentos atrasados e, mais particularmente, que as IMFs não parecem levar em consideração o período de tempo que um cliente tem estado com a IMF, o seu historial de reposição, desempenho empresarial, etc. Poucos dos clientes da Tchuma que tinham sofrido duma crise, acharam que o crédito tinha piorado a situação, reflectindo eventualmente a política mais tolerante da Tchuma relativamente aos pagamentos atrasados.

Vários clientes e desistentes que foram entrevistados, mostraram sinais de estarem a sofrer do stress creditício, o qual assume várias formas. Alguns desistentes que afirmaram terem deixado de tomar créditos para “descansar”, aperceberam-se que tinham estado a sofrer do stress enquanto tomavam créditos, mas que não estavam conscientes do mesmo até que deixaram de tomá-los e se deram conta de que as suas vidas tinham melhorado na ausência das pressões da reposição. Muita das vezes, uma forma mais séria de stress creditício acompanha uma crise, por causa da ameaça muito real de se perderem as garantias em forma de bens, caso as reposições não sejam feitas a tempo. Do lado mais extremo estão os casos em que os clientes sofreram duma crise, provocando uma crise subsequente relacionada ao crédito. 111

Parece que os acontecimentos extraordinários são muito menos problemáticos, e alguns clientes indicaram que até tinham negociado créditos especiais para pagar estes acontecimentos.

As duas formas mais frequentes pelas quais os clientes arcaram com uma crise ou acontecimento extraordinário, foram ou de reduzir os créditos subsequentes de tal modo que as reposições fossem menores, ou de deixar de tomar créditos durante algum tempo. Esta última opção era bastante comum entre os “desistentes” que se constatou terem deixado de tomar créditos durante períodos prolongados mas que, não obstante, pretendiam voltar a tomar créditos mais uma vez, depois que a sua situação financeira o permitisse. Encontraram-se igualmente alguns casos em que um cônjuge ou outro familiar próximo dum cliente que enfrentava uma crise, era sustentado por créditos (às vezes sucessivamente).

Constatou-se que alguns clientes preveniram crises relacionadas ao crédito, tomando um crédito de uma instituição para pagar outra. Num determinado caso, um cliente conseguiu obter um crédito “de emergência” de um mês da SOCREMO, de forma a tratar das obrigações financeiras relacionadas com um crédito do NovoBanco. Um caso extremo envolveu uma

111 Um antigo cliente foi encontrado durante o nosso trabalho no campo (não fazendo parte da amostra das entrevistas), com uma

experiência que demonstra o lado muito negativo do crédito e duma política desajeitada por parte da IMF. O antigo cliente trabalhava como comerciante ambulante, importando mercadorias da África do Sul. Numa determinada viagem de regresso, as suas mercadorias parcialmente não declaradas foram descobertas pelos oficiais alfandegários durante uma verificação aleatória, aplicando-lhe uma multa que ela não estava em condições de pagar (e de qualquer maneira que não teria sido do seu interesse económico fazê-lo). Como resultado, ela não conseguiu fazer as prestações do seu crédito (uma vez que não havia rendimento do negócio). Para sobreviver, ela vendeu sumos congelados feitos na sua arca congeladora. Infelizmente, a arca congeladora fazia parte das suas garantias em bens e foi confiscada. Inquirida sobre se ela alguma vez consideraria voltar a tomar créditos, ela respondeu: Eu preferiria comer kakana pelo resto da minha vida, antes de tomar mais um crédito!

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mulher que tomou créditos de duas outras IMFs para enfrentar uma série de falecimentos na sua família. Ela pediu um crédito à Tchuma e utilizou-o para pagar a SOCREMO e o NovoBanco, e depois pediu outro do NovoBanco, o qual empregou para saldar as contas com a Tchuma e a SOCREMO. Depois de dois anos de malabarismos jeitosos com as dívidas, ela conseguiu fechar as suas contas na SOCREMO.

80

81

12. Motivos para a desistência dos clientes com mais de dois anos de antiguidade

Os desistentes entrevistados para este estudo (foram seleccionados só desistentes “voluntários”, o que significa aqueles sem grandes problemas de reposição), não devem ser confundidos com a grande maioria dos clientes que desistem antes de dois anos. Como era de esperar, as características destes desistentes foram parecidas com as dos clientes activos com mais de dois anos de antiguidade, a nível de idade, género, tamanho do agregado familiar, actividade, idade da actividade, número de anos com a sua IMF associada, etc. Este grupo é particularmente pertinente para a base de informação estratégica das IMFs, uma vez que representa uma parte importante da base reduzida de clientes que continuava a tomar créditos durante mais de dois anos. As entrevistas com pequenas amostras de desistentes (dez por instituição), e portanto, sujeitas à cautela, sugerem que muitos clientes que abandonam a instituição voluntariamente, dirigem negócios bem sucedidos (em conformidade com a informação fornecida durante as entrevistas) e, conforme os historiais de reposição, têm sido normalmente bons riscos creditícios.

Foi surpreendente que havia uma tendência dos desistentes entrevistados terem, regra geral, melhores indicadores médios de desempenho do que tinham os clientes activos entrevistados, se bem que os dados de avaliação dos créditos de 78 desistentes da SOCREMO indicam um nível nitidamente mais fraco de desempenho em termos globais (aumentos mais baixos do tamanho dos créditos, e menos clientes que aumentaram os valores das suas vendas mensais e a sua capacidade de reposição).

Dada a aparente alta qualidade dos clientes que foi encontrada entre muitos destes desistentes, a questão fundamental para consideração foi: até que ponto estas saídas dos clientes podiam ter sido evitadas, sem prejuízo para a IMF? Uma análise da Tabela 41 mostra que, dos trinta desistentes entrevistados, podia-se considerar que apenas cinco clientes saíram por razões que normalmente estariam associadas à opção independente do cliente, p. ex. queda da actividade económica, stress, desejo de descansar, etc. Mais de metade (16) dos clientes desistiram por razões que foram consideradas potencialmente sujeitas à intervenção pró-activa por parte das IMFs, tendo o provável resultado da continuação da retenção do cliente.

Conforme demonstra o Capítulo 11, as crises constituem a maldição dos clientes de micro-crédito. A experiência dos desistentes mostra que, de longe, o motivo principal para parar com os créditos, está relacionado com as consequências duma crise, e que o efeito das crises foi manifestado de quatro formas principais. Constatou-se que os clientes: (i) tiveram problemas de reposição e abandonaram permanentemente; (ii) tiveram problemas de reposição e desistiram temporariamente, com a intenção de voltar eventualmente; (iii) tiveram problemas de reposição e foram expulsos pela instituição; ou (iv) enfrentaram o que ele/ela achou um tratamento despropositado por parte da sua IMF relativamente aos seus problemas e abandonando, portanto, da sua livre vontade.

Embora se tenha suposto que a amostra de entrevistas incluísse apenas os desistentes voluntários, constatou-se que quatro clientes foram expulsos das suas IMFs. Três destes afirmaram que foram expulsos da Tchuma depois de terem experimentado uma crise. Constatou-se que 30% e 20% dos desistentes da SOCREMO e do NovoBanco respectivamente, tinham desistido por causa ou duma crise ou duma situação/acontecimento particular, mas que tencionavam voltar às suas IMFs depois que as suas situações tivessem sido resolvidas. De forma semelhante, 30% dos desistentes da Tchuma resolveram abandonar

por causa das crises, mas não ficou claro se tinham a expectativa de voltar futuramente. Estas constatações mostram que alguns bons clientes de longa data, ou foram obrigados a desistir, ou saíram por vontade própria, devido a crises que, muita das vezes, pareciam ser de curto prazo.

Se bem que normalmente a taxa de juros não constitui problema para os clientes com créditos mais reduzidos, na medida em que os créditos vão aumentando, os juros tornam-se mais onerosos. Os clientes activos para os créditos mais elevados, queixaram-se frequentemente de dificuldades crescentes em ter de arcar com os pagamentos de juros crescentes em termos absolutos. Para três desistentes do NovoBanco, o fardo de juros elevados foi a principal razão pela qual deixaram de tomar créditos. Valores insuficientes dos créditos, constituíram a razão principal de alguns desistentes abandonarem a SOCREMO e a Tchuma.

Dos trinta desistentes, apenas quatro procuraram fontes alternativas de micro-finanças depois de abandonar a sua IMF associada. Muitos deles, apesar de necessitarem de ajuda financeira para tratar da sua aflição (aparentemente) temporária, preferiram encontrar outras soluções em vez de assumir mais um crédito.

Tabela 41: Razões principais pelas quais os desistentes decidiram deixar detomar créditos junto da sua IMF associada

Motivo para sair IMF % (dez desistentes foram entrevistados porcada IMF)

Cliente nunca desistiu, toma créditos intermitentemente

SNBT

10--

Cliente desistiu temporariamente devido a circunstâncias específicas, mas tenciona voltar

SNB

T

3020 (ambos clientes desistiram temporariamente devido a crises e esperavam regressar)10

Expulsos* SNBT

10-30 (todos os clientes sustentaram que sofriam problemas de reposição devidos às crises)

Razões relacionadas às crises (cliente abandonou por vontade própria)

SNBT

--30

Insatisfeito com o tratamento SNBT

10 (relacionados às crises)30 (1 relacionado às crises) 0

Taxa de juros considerada demasiadamente alta SNBT

-30-

Não conseguiu o valor desejado SNBT

10-20

Queria descansar por causa do stress creditício SNBT

10 -

Deixou de tomar créditos por razões económicas SNBT

101010

Obrigado por regulamento/mal-entendido a nível administrativo

SNB

10 (oficial de crédito enganado)10 (demasiadamente idoso)**

* Pretendia-se que todos os desistentes seleccionados fossem voluntários** o cliente continuava a tomar créditos, mas através dum contrato em nome da sua filha

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13. Uso e impacto das contas de depósito

Foram realizadas entrevistas aprofundadas com os clientes do NovoBanco e da Tchuma que tinham unicamente contas de depósito. Os clientes do NovoBanco tiveram contas durante um período de dois a três anos, enquanto que os clientes da Tchuma apenas durante seis a doze meses. As entrevistas focaram a motivação para abrir a conta, a escolha da IMF, a sua experiência institucional, o uso da conta e a satisfação dos clientes. O impacto foi medido pela consideração do que teria acontecido de forma diferente nas vidas sócio-económicas dos clientes, se o NovoBanco ou a Tchuma não tivesse oferecido as contas de poupança.

Ao total, 22 clientes112 foram entrevistados, dos quais doze mulheres. Dos clientes da Tchuma, dez contavam com uma conta com caderneta e um com uma conta de poupança baseada nos selos. Dos clientes do NovoBanco, todos tinham uma conta corrente e dois clientes tinham uma conta de depósito a prazo.

13.1 Perfil dos clientes

Em média, os clientes do NovoBanco tinham uma idade semelhante à dos clientes do crédito, enquanto que os clientes da Tchuma eram mais jovens (idade média de trinta e cinco anos). A maioria dos clientes do NovoBanco tinha concluído o ensino secundário, enquanto que a maioria dos clientes da Tchuma tinha apenas o ensino primário. A maior parte dos clientes dirige negócios no sector de comércio, tendo alguns emprego assalariado, um era um estudante, e dois não tinham nenhuma actividade geradora de rendimento na altura da entrevista. Um deles foi uma empresária cujo negócio desmoronou por causa de doença resultante do SIDA.

Os níveis de riqueza dos clientes foram estimados com base nas casas ou negócios dos clientes. Em termos globais, os clientes da Tchuma eram menos ricos do que os clientes do NovoBanco. Aplicando-se a mesma divisão segundo a riqueza tal como para os clientes do crédito, estimou-se que os padrões de vida de quatro dos clientes do NovoBanco estavam acima do normal (nível 3, os abastados) e sete viviam a um nível considerado normal (nível 2), enquanto que nenhuns dos clientes foram considerados pobres. No caso dos clientes da Tchuma, estimou-se que oito estavam ao nível normal (nível 2), e três eram pobres. Destes pobres, dois eram empresários que evidentemente eram pobres demais para se habilitarem para um crédito individual, o que exemplifica o potencial dos produtos de poupança para atrair as pessoas pobres.

13.2 Experiência institucional

Quase metade dos clientes da Tchuma nunca tinha experiências anteriores com os bancos, enquanto que este foi o caso para uma minoria reduzida dos clientes do NovoBanco. Uma minoria dos clientes da Tchuma e a maioria dos clientes do NovoBanco, contavam em simultâneo com uma conta bancária em um ou mais bancos. Nenhum dos clientes encerrou uma conta em outro banco depois de abrir a conta na IMF.

112 Onze da Tchuma e onze do NovoBanco. Tencionava-se entrevistar vinte clientes unicamente com contas de poupança, mas durante as

entrevistas, constou que de cada instituição, havia um cliente que tinha crédito da mesma IMF. Foram realizadas entrevistas adicionais para substituir os clientes, em vão no caso do NovoBanco, uma vez que o substituto parecia igualmente ter crédito. A informação acerca do comportamento de poupança que foi fornecida por estes, está incluída neste resumo.

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A maioria dos clientes, tanto da Tchuma como do NovoBanco, estava envolvida em um ou mais sistemas financeiros informais, sendo o mais concorrido o grupo de xitique, seguido das associações funerárias, sendo o menos utilizado o xitique geral. Os serviços informais foram utilizados por todos os níveis de riqueza; o xitique geral exclusivamente pelos vendedores no mercado, e as associações funerárias pelos clientes de baixa renda e mais abastados. Os grupos de xitique foram os mais concorridos entre as mulheres de todos os níveis de riqueza. É possível que os mais abastados sejam mais atraídos pelo aspecto social dos grupos de xitique, e as pessoas pobres pelo aspecto obrigatório da poupança. Segundo disseram os clientes de sexo tanto feminino como masculino, os grupos de xitique foram utilizados principalmente pelas mulheres, porque os homens não se confiariam suficientemente uns aos outros, ou não teriam a paciência para assistir às reuniões do grupo.

A tendência era, quanto mais rico o cliente, mais diversificado era o pacote de serviços formais e informais utilizado. Por exemplo, o cliente com o saldo mais elevado na conta junto da Tchuma, utilizava duas contas bancárias e era membro dum xitique geral e duma associação funerária. Dois clientes mais ricos do NovoBanco utilizavam uma gama ainda mais abrangente: eram membros de grupos de xitique, tinham duas contas bancárias e também uma conta de depósito a prazo. Conforme vem descrito na bibliografia micro-financeira113, as pessoas pobres empregam uma diversidade muitas vezes espantosa de instrumentos de poupança, incluindo serviços ilíquidos para acumular importâncias fixas, e serviços de poupança líquida para as emergências. Cada instrumento de poupança tem seu próprio propósito específico. As entrevistas mostram que esta estratégia de “poupança direccionada” foi empregue por todos os níveis de riqueza. Apenas uns poucos clientes utilizavam a conta corrente junto das IMFs, como o único instrumento de poupança.

Nenhum dos clientes tinha encerrado outra conta bancária depois de abrir a conta junto da Tchuma ou do NovoBanco. A principal razão para manter a outra conta, era a disponibilidade do serviço de caixa automática ATM ou o requisito por parte da entidade empregadora, de usar um banco específico para receber o seu salário. Apenas um só cliente parou com o xitique geral, depois de abrir uma conta, por causa da sua falta de segurança. O cliente entendeu que a proximidade da agência, compensou a facilidade do cobrador de dinheiro.

A falta de segurança do xitique geral foi levantada por vários clientes. De particular interesse foi o cliente que tinha sido ele próprio um cobrador de dinheiro do xitique geral durante vários anos, e que não queria ser participante por causa da falta de segurança. Embora alguns clientes também tenham relatado terem perdido dinheiro nos grupos de xitique, regra geral, tais grupos eram considerados menos arriscados do que o xitique geral. Mesmo depois de experiências negativas, os clientes continuavam com os grupos e disseram terem reduzido o risco, diminuindo o valor das contribuições e através de encontros mais frequentes.

Outra forma informal de se poupar, é de deixar dinheiro com uma pessoa de confiança para a salvaguarda. Um dos clientes entrevistados proporcionava este serviço grátis para várias mulheres. Outro cliente (de sexo feminino) tinha dado o seu dinheiro ao seu tio, que infelizmente, tinha gasto todo ele. Para este cliente, a experiência constituiu o motivo para abrir uma conta na Tchuma.

113 Graham Wright (1999) A Critical Review of Savings Services in Africa and Elsewhere; MicroSave, Quénia.

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13.3 Motivo para abrir uma conta de poupança, e os propósitos da poupança

A segurança contra o roubo e o incêndio e para evitar gastos desnecessários, constituíram as motivações mais referidas para a abertura duma conta. As condições favoráveis das contas, e a proximidade das agências, constituíram incentivos importantes para a abertura duma conta na Tchuma e no NovoBanco. As motivações dos clientes do crédito114 que detêm uma conta de poupança na IMF, relacionam-se principalmente com o crédito: foram referidas as de poupar para o reembolso e de facilitar as transacções creditícias, mas igualmente, a segurança, as emergências e a salvaguarda do dinheiro poupado no xitique. Do NovoBanco, metade dos clientes das segunda e terceira categorias, abriu a conta por causa da exigência dos bancos.

A maioria dos clientes usa a conta corrente para a poupança a mais longo prazo. Eles optam por uma conta corrente porque pretendem acumular dinheiro gradualmente e poder ter acesso ao dinheiro em caso de emergências. Apenas alguns clientes mencionaram a gestão do negócio ou do agregado familiar, como o propósito principal da conta. Muitos clientes referiram igualmente as emergências como motivo para a poupança, mas quase sempre como um objectivo secundário. A mulher, que poupava apenas para as emergências, era um dos clientes mais pobres. Os clientes do NovoBanco com créditos para o negócio, usavam a conta exclusivamente para transacções creditícias.

São empregues as três categorias de Rutherford115 para as necessidades de poupança, para classificar a motivação dos clientes para abrir a conta na IMF:

Necessidades do ciclo da vida: casamento e nascimento, ensino e criação da família, velhice e morte.

Emergências: emergências impessoais tais como o roubo e os incêndios, e emergências pessoais tais como a doença, acidentes, divórcio.

Oportunidades: iniciar ou dirigir um negócio, adquirir activos empresariais ou familiares.

Alguns dos clientes não usavam a conta para a poupança duma quantia fixa, mas antes, para facilitar a gestão quotidiana do lar. Dois clientes com crédito empresarial, usavam a conta exclusivamente para transacções ligadas aos créditos.

A maioria dos clientes faz poupanças para as “oportunidades”, mas menos de metade de tais clientes conseguiu utilizar a poupança para este propósito. A poupança de importâncias fixas para as oportunidades e necessidades do ciclo de vida, fica abrandada pelas emergências enfrentadas. Para além de utilizar a conta junto da IMF, os clientes empregavam também outras formas (ou formas adicionais) de enfrentar a emergência: alguns empregavam um fundo funerário, pediam dinheiro emprestado ao empregador ou aos familiares, voltavam a viver em casa dos seus pais, ou utilizavam depósitos de outras contas bancárias. A maioria esmagadora dos clientes, tinha enfrentado durante os últimos três anos uma emergência que tinha influenciado de forma negativa a sua situação financeira.

114 Constatações a partir das entrevistas com os 120 clientes do crédito115 Rutherford, Stuart (1999) The Poor and their Money – An essay about financial services for poor people. Institute for Development

Policy and Management.

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A vantagem comparativa das contas correntes relativamente aos produtos informais, consiste no seu acesso fácil, para além da segurança. Os depósitos a prazo fixo são atraentes para os clientes mais ricos que conseguem reservar dinheiro líquido suficiente para enfrentar as emergências.

Alguns dos empresários estavam a ponderar a solicitação de crédito, porque acumular pela poupança116 levava muito tempo, dados os muitos acontecimentos imprevistos. Outros empresários eram categóricos em não tomarem o crédito: as razões incluíram as taxas elevadas de juros e os calendários desfavoráveis de reembolso. Alguns clientes compararam o crédito ao xitique; acharam os reembolsos obrigatórios frequentes, comparáveis às contribuições obrigatórias frequentes ao fundo comum. Os pagamentos obrigatórios têm o resultado que o dinheiro fica mais fora do controlo dos familiares e dos amigos. Isto é de particular interesse para as mulheres, e pode eventualmente ser uma das explicações da popularidade dos grupos de xitique (e do crédito) entre as mulheres especificamente.

13.4 Uso das contas

A maioria dos clientes eram utilizadores frequentes, recorrendo à conta mais de uma vez por mês. Uma minoria dos clientes usava a conta numa base quase diária. Regra geral, os homens usavam as contas mais frequentemente do que as mulheres. Isto tem a sua explicação na prioridade por parte das mulheres em contribuições para os grupos de xitique. A maior parte dos clientes envolvidos no xitique, poupava mais frequentemente e com importâncias mais elevadas nos grupos, do que tinha como saldo nas suas contas bancárias. Constatou-se que algumas mulheres poupam até a terça parte do seu rendimento com os grupos de xitique. Conforme dizem os clientes, os grupos de xitique atendem principalmente às mulheres, porque os homens não se confiam suficientemente uns aos outros, ou não teriam a paciência para assistir às reuniões do grupo. É provável que o facto de que a poupança obrigatória fica fora do controlo dos familiares e amigas, seja um dos motivos subjacentes da popularidade do xitique entre as mulheres.

A maioria dos clientes que tinham contas em outros bancos, disse que utiliza tais contas mais frequentemente do que a conta junto da IMF, principalmente por causa da facilidade dos serviços de ATM para as despesas diárias.

13.5 Impacto

Pode-se presumir que a maioria dos clientes que detinham apenas uma conta de depósito, estaria com menos dinheiro se as IMFs não tivessem existido. Todos estes clientes tinham um rendimento baixo, ou eram classificados como pobres. Na sua opinião, eles teriam tido maiores dificuldades em arcar com as crises; eles teriam sido expostos a consideravelmente mais risco de roubo, e teriam gasto mais tempo e dinheiro no transporte para depositar o dinheiro num outro banco (no caso dos que possuíam outra conta). Para a minoria dos clientes, não teria feito muita diferença se a IMF não tivesse existido, pois tinha acesso fácil aoutros bancos. Um cliente (de sexo feminino) do NovoBanco experimentou um impacto negativo: as suas poupanças ficaram esgotadas pelas taxas de manutenção, e embora ela

116 “Acumular pela poupança”: a poupança é acumulada num lugar seguro até que tenha crescido para constituir um valor total

proveitosamente grande

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tivesse tentado encerrar a sua conta, não entendia como fazê-lo e, conforme ela disse, sentia-se demasiadamente insegura para fazer perguntas.

Muitos clientes entrevistados relataram que eles tinham perdido o seu dinheiro nos bancos normais, por causa de não estarem conscientes das taxas de manutenção e das multas por não usarem a sua conta. Conforme os clientes, regra geral, os bancos normais não fornecem informações claras aos seus clientes, sendo esta provavelmente uma das razões da má reputação dos bancos normais.

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14. Satisfação dos clientes com as IMFs associadas

A maioria das opiniões limitou-se às IMFs associadas dos clientes, uma vez que relativamente poucos tinham experiência com outros fornecedores de crédito. A grande maioria dos clientes entrevistados e dos desistentes, tinha ouvido falar de outras IMFs - quase exclusivamente as três IMFs sob estudo. É notável acerca dos clientes entrevistados, que embora a maioria estivesse consciente das IMFs concorrentes, muito poucos se tinham dado à maçada de fazer comparações durante o tempo relativamente prolongado de terem sido clientes. Depois de celebrado o contrato de crédito, os clientes sentem uma espécie de laço conjugal à sua IMF, empregando frequentemente metáforas de família tais como “a nossa mãe”, ou “o divórcio” no caso de desistência. Pedir informação sobre as condições alternativas de outra IMF, era visto como um acto de infidelidade.

Em termos gerais, uma grande maioria tanto dos clientes activos, bem como dos desistentes, tinha uma opinião positiva acerca da maior parte dos aspectos das suas IMFs. A nível dotratamento pelos seus oficiais de crédito, do pessoal administrativo, as condições no escritório, taxas de juros, prazos, valores dos créditos, período que leva para a aprovação, documentação e política da mora, a maior parte dos clientes era positiva. Em termos da política de garantia e de ter obrigatoriamente um fiador, a resposta global também foi positiva, se bem que significativamente menos.

Como era de esperar em qualquer situação que envolva bastante interacção humana, minorias significativas dos clientes tinham opiniões sobre o que achavam ser aspectos negativos dos produtos creditícios e do serviço. Os assuntos negativos que foram mais frequentemente levantados, incluíram os seguintes: taxas elevadas de juros, que parece constituir uma questão cada vez mais importante para as categorias mais elevadas de crédito à medida que a carga absoluta de juros aumenta; uma exigência pouco razoável da parte dos oficiais de crédito com as prestações ligeiramente atrasadas, vista frequentemente pelos clientes como comportamento ameaçador; a injustiça percebida de ter as garantias confiscadas com valores bem além do saldo remanescente nos créditos em mora (sendo esta uma fonte importante de stress creditício); valores reduzidos atribuídos às garantias em forma de bens, e taxas elevadas de depreciação, bem como o encorajamento por parte dos oficiais de crédito de se adquirirem novos bens, de forma a aumentar os tamanhos dos seus créditos; a falta dum período de tolerância de talvez um mês, o que tornaria a criação de galinhas (ciclo de 45 dias) mais viável com as micro-finanças; a exigência por parte do NovoBanco e da SOCREMO (na altura das entrevistas) no sentido de se ter fiadores, os quais teriam normalmente a expectativa de ter algum tipo de recompensa e às vezes acabavam por interferir com o negócio do cliente.

Reflectindo uma psicologia semelhante ao “amor à camisola”, a avaliação global das três MFIs foi muito parecida (geralmente muito positiva), verificando-se apenas algumas diferenças subtis atribuíveis a cada IMF. Às vezes, as diferenças foram um tanto agudizadas pelos clientes que tinham experiência com outras IMFs.

No caso da Tchuma, as diferenças positivas focaram principalmente a sua posição mais tolerante sobre a mora, as taxas mais baixas de juros e uma política de não exigir fiadores. Do lado negativo, os clientes acharam que a aprovação e renovação dos créditos levaram mais tempo; os tamanhos sucessivos dos créditos aumentaram de forma demasiadamente lenta; os procedimentos de reposição eram demasiadamente complicados e rigorosos; a política de garantias não era satisfatória em termos das avaliações; as taxas de depreciação eram

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consideradas demasiadamente elevadas; e não se fazia nenhuma distinção entre bons clientes antigos e clientes novos.

Achava-se que o NovoBanco tratava os pedidos de crédito duma maneira rápida e simples; em termos gerais, os clientes eram positivos acerca do tratamento de todos os níveis de pessoal que encontram (de escritório e de terreno); e muitos clientes acharam que o NovoBanco era bastante tolerante da mora, no caso de serem boas as razões que explicavam os pagamentos atrasados (alguns clientes, no entanto, acharam que o tratamento era severo e despropositado, o que sugere que estas diferenças podem eventualmente ser atribuíveis a oficiais de crédito individuais, em vez da política). Do lado negativo, verificou-se bastante irritação pelo facto das suas importâncias emprestadas serem descontadas em 2%, sobretudo por parte dos clientes com créditos elevados; achou-se que os oficiais de crédito eram inflexíveis e ameaçadores sobre os pagamentos ligeiramente atrasados; achou-se que os requisitos de fiador eram problemáticos; e um dos clientes queixou-se do facto de que não havia respeito suficiente por parte dos trabalhadores mais novos, para com os clientes mais idosos.

Os clientes da SOCREMO reconheceram melhorias significativas nos tempos de processamento e de prorrogação dos créditos; achou-se que o tratamento pelo pessoal era muito bom; e os novos escritórios, sobretudo os situados na Baixa, eram altamente valorizados. Do lado negativo, bastantes clientes queixaram-se da alta rotação dos oficiais de crédito; que os valores dos créditos não eram suficientemente elevados relativamente às suas necessidades empresariais; que as taxas de juros eram demasiadamente altas; que frequentemente os prazos eram decididos pela SOCREMO e eram considerados demasiadamente curtos, sobretudo por parte dos clientes para os créditos mais elevados, que reivindicaram que as prestações elevadas os deixam com pouca liquidez; e do tratamento demasiadamente severo dos clientes com prestações ligeiramente atrasadas.

Uma característica do produto apreciada pelos clientes da Tchuma, foi a importância mínima aceite para depósito depois de abrir-se a conta (10.000 meticais, que correspondem a 0,40 USD) uma vez que fez com que sentissem que era bem acolhida uma importância mesmo muito reduzida de dinheiro, apesar dos extractos bancários comprovarem que nenhum dos clientes entrevistados alguma vez tinha depositado uma quantidade tão pequena. As outras IMFs aceitam qualquer importância para depósito.

Uma outra característica positiva, foi o facto de que a Tchuma pede ao cliente para indicar a pessoa que tem direito ao dinheiro no caso de morte. Isto foi estimado pelas mulheres, que relataram que pode levar meses nos bancos normais para que tenham acesso ao dinheiro dosseus maridos, sobretudo no caso em que o casal não é casado oficialmente, como é o caso para a maior parte das pessoas de baixa renda e pobres.

A taxa de manutenção é que foi referida mais frequentemente como negativa pelos clientes do NovoBanco, enquanto que a maior parte dos clientes da Tchuma não tinha problema com ela. Um dos clientes do NovoBanco queixou-se da falta de informação sobre a introdução da nova conta, para a qual não se cobram nenhumas taxas de manutenção117. Ela foi o único cliente entrevistado que tinha descoberto isto por acaso. Ela queixou-se também da burocracia

117 Em 2005, o NovoBanco estava a oferecer dois tipos de contas correntes em paralelo. Para as contas correntes abertas antes de 2005, os

clientes estavam a pagar uma taxa de manutenção de 10.000 meticais por mês (0,43 USD). Os clientes que abrissem uma Nova Conta,introduzida em 2005, ficaram isentos das taxas de manutenção. Na prática, isto significava que os clientes mais antigos pagavam pelo mesmo serviço que era oferecido grátis aos novos clientes.

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envolvida na mudança para a nova conta; ela teve que voltar para a agência com um pedido formal por escrito. Muitos clientes agradeceriam a introdução de ATMs, e o pagamento de juros sobre a poupança acessível. A maior parte dos clientes da Tchuma, queixou-se do espaço insuficiente no escritório. Os clientes de ambas as instituições, queixaram-se das bichas a certas horas e/ou em certos dias. Outra queixa de alguns dos clientes da Tchuma, foi da exigência de prevenir a agência, para o levantamento de valores mais elevados. Igualmente foi referida como uma carga, a cópia autenticada da identificação, exigida pela Tchuma para a abertura duma conta.

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15. Resumo das constatações

As constatações principais da presente avaliação de impacto são as seguintes:

Entrevistas aprofundadas com os clientes de diversas categorias de crédito, bem como com desistentes, mostraram um impacto global positivo, tanto sobre as actividades económicas apoiadas, bem como sobre o bem-estar a nível do agregado familiar. Os clientes cujos negócios se deterioraram, acharam que a sua situação teria sido pior sem terem recebido o crédito.

O micro-crédito, embora seja estipulado por contrato como sendo para propósitos empresariais no caso destas três IMFs, também desempenha um papel importante no melhoramento dos padrões de vida, através da sua aplicação directa na construção ou renovação das casas e em bens duradouros familiares. Os agregados familiares preferem injecções reduzidas e esporádicas na habitação, reflectindo a sua situação financeira frequentemente volátil.

O perfil dos clientes com mais de dois anos de antiguidade inquiridos ao abrigo desta avaliação, mostra que eles são melhor formados do que o cidadão médio de Maputo, sendo pessoas da idade média, economicamente activas com bastante experiência empresarial.

Uma pequena parte dos clientes com mais de dois anos de antiguidade da Tchuma, a qual tem o seu foco na pobreza, podia ser considerada como sendo pobre, conforme definido por viver-se abaixo do limiar da pobreza, enquanto que este é o caso para mais de metade da população de Maputo. É provável que isto resulte do facto de que os créditos individuais na base de garantias exigem a propriedade de bens, a maior parte dos quais funciona a energia eléctrica, colocando estes clientes numa faixa relativamente mais elevada de rendimento.

Quase metade dos clientes com mais de dois anos de antiguidade (43%) da Tchuma, a qual tem o seu foco na pobreza, e presumivelmente uma parte maior dos clientes das outras IMFs, fazem parte da faixa de renda dos 20% mais altos da população da Cidade de Maputo. Os agregados familiares dos clientes não são ricos, mas está claro que estão em melhor situação relativamente à maioria dos agregados de Maputo. A maior parte destes clientes pode ser considerada como pertencendo à extremidade mais baixa duma classe média emergente.

Uma grande maioria dos clientes deixou de tomar créditos depois de dois anos. A maioria dos desistentes que abandonaram dentro dos primeiros dois anos de tomada de créditos, proveio da categoria mais baixa de crédito, sendo provavelmente mais pobre do que os clientes retidos.

Um número mais elevado dos clientes da categoria baixa de créditos, causa uma carteira em risco mais elevada. Os clientes desta categoria também desistem mais frequentemente e está menos disposta a tomar créditos subsequentes. As categorias de crédito média e alta, são mais importantes em termos de volumes da carteira, têm períodos de descanso mais curtos e mostram melhores historiais de reposição, isto é, eles são melhores clientes em termos de sustentabilidade institucional.

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Embora o NovoBanco atinja aproximadamente o mesmo número de clientes da categoria baixa como a Tchuma, a qual está orientada para a pobreza (levando em conta todos os clientes em Moçambique), a Tchuma tem uma proporção muito mais elevada de clientes da categoria baixa de créditos (54% de todos os clientes até Junho de 2004) do que o NovoBanco (35% dos clientes com créditos a negócios).

O crédito proporcionado pelas IMFs mostrou-se ter o seu maior impacto naqueles mutuários que tendem a dispor de habilidades empresariais básicas e que começaram por pequenos créditos. Mesmo em alturas de dificuldades económicas, os clientes que tinham subido para categorias mais elevadas de crédito, continuaram a aumentar os seus créditos, o que sugere que os créditos foram importantes também para enfrentar tais dificuldades. Os mutuários de menor capacidade empresarial, ou aqueles que encontraram crises múltiplas no agregado familiar ou no negócio, não conseguiram aproveitar os seus créditos com tanta eficácia.

A nossa evidência mostrou também que mesmo a maioria dos clientes que continuam com créditos baixos (correspondendo a entre um quarto a um terço dos clientes com mais de dois anos de antiguidade), conseguiram aumentar o seu nível de vendas.

Embora tenham sido de importância chave no crescimento das micro-empresas mais pequenas para maiores, os créditos não têm sido muito bem sucedidos na promoção do crescimento dos micro-empresários existentes, relativamente maiores. Isto sugere que os produtos creditícios disponíveis são bons em estimular o crescimento das micro-empresas pequenas para maiores, mas que além disso, estão limitados.

Por média aumentou o valor do inventário dos clientes, o que sugere uma ineficiência aumentada devida aos custos mais elevados das mercadorias (que agora incluem taxas de juros). Apenas uma minoria dos clientes consegue aumentar a base de activos fixos, enquanto que o efeito global sobre o número de postos de trabalho foi insignificante. Menos mulheres eram proprietárias de activos empresariais ou empregavam mão-de-obra.

Cerca da mesma percentagem de clientes de sexo masculino e feminino conseguiu aumentar o valor das suas vendas mensais. O nível do aumento foi ligeiramente mais elevado no caso das mulheres em relação ao dos homens.

Os clientes que desistem depois dum período de dois anos tiveram – em média - um pior desempenho durante estes dois anos do que os clientes que continuam com uma IMF. Contudo, muitos desistentes afirmam terem tido negócios de bom desempenho e serem bons clientes para os créditos, mas que decidiram abandonar por razões frequentemente associadas às crises. Para as IMFs, isto podia significar que perdem bons clientes de longa data, devido a problemas financeiros de curto prazo. Alguns desistentes afirmam que o tratamento por parte dos oficiais de crédito, como resultado de problemas menores de reposição resultantes duma crise, impediram-nos a tomar mais créditos.

Até aqui, as taxas de crescimento dos clientes das três IMFs têm sido mantidas, porque os novos clientes excedem os desistentes. O mercado micro-financeiro para os créditos individuais em Maputo é muito concorrencial e, é discutível se o crescimento pode ser sustentado.

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A SOCREMO e o NovoBanco concorrem entre si para um segmento específico do mercado dos créditos, limitado na extremidade mais baixa pela necessidade de se terem garantias subsidiárias ou individuais, e na extremidade mais alta, por aquilo que são na sua essência créditos de capital de giro com taxas de juros que são consideravelmente mais altas do que aquelas dos bancos comerciais. A Tchuma reconheceu as limitações do crescimento para a extremidade mais alta do mercado, e decidiu melhorar a sua concessão de créditos a grupos solidários, num esforço no sentido de atender a extremidade mais baixa do mercado.

As contas correntes reduziram a vulnerabilidade dos clientes relativamente às emergências, e ajudaram-nos a gerir os seus negócios. A experiência do crescimento rápido do número de contas correntes com o NovoBanco, ultrapassando em mais de duas vezes o número de clientes de micro-çrédito118, demonstra a procura enorme por este produto.

Os sistemas financeiros informais continuam a desempenhar um papel muito proeminente em ajudar os agregados familiares urbanos a arcarem com os seus fluxos irregulares de fundos. O xitique e o xitique geral são frequentemente utilizados para poupar para os reembolsos mensais. As constatações das entrevistas dos clientes detentores exclusivamente de contas, sugerem que os dispositivos informais, em vez de substituírem os produtos micro-financeiros, complementam estes últimos. Porém, as constatações dos clientes do crédito mostram que as categorias mais elevadas de crédito estavam menos envolvidas em dispositivos informais, o que sugere que a importância e padrões de utilização dos sistemas financeiros informais, carecem de estudo adicional.

118 Em Junho de 2004

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16. Conclusões e recomendações

Olhando para os dois objectivos principais da avaliação do impacto, isto é, justificar o uso de fundos públicos e influir na planificação estratégica das IMFs, pode-se tirar as seguintes conclusões e fazer as seguintes recomendações:

Objectivo 1: Justificação do uso de fundos (públicos) dos membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças

Com base no impacto positivo global, tanto nas actividades económicas assim como no bem-estar a nível do agregado familiar, dos clientes das IMFs com mais de dois anos, pode-se concluir que o uso dos fundos (públicos) se justifica para estas instituições micro-financeiras.

Contudo, existem algumas preocupações importantes: O impacto global dos serviços das IMFs podia ser bastante sobre-estimado, uma vez que a

avaliação se limitou apenas aos clientes com mais de dois anos de antiguidade, e a um grupo específico de desistentes, isto é, os que tinham estado com a instituição durante um período de mais de dois anos119. Os clientes do crédito que foram avaliados, representam uma minoria de todos os clientes, visto que cerca de três quartos dos clientes desistem antes de terminar um período de dois anos.

Outras avaliações de impacto constataram que “em termos gerais, os benefícios para os agregados familiares e negócios dos clientes, estavam associados ao acesso permanente ao micro-crédito, e não apenas a um ou dois créditos”120. É possível que muitos desistentes iniciais “votaram com os seus pés” e deixaram de tomar créditos, porque as suas necessidades não foram satisfeitas ou porque foram encontradas dificuldades durante a reposição. Esta hipótese é apoiada pela constatação de que os negócios dos clientes que desistiram depois dum período de dois anos, tiveram um pior desempenho do que aqueles clientes que continuaram.

A partir do ponto de vista institucional, os clientes repetidos são importantes, porque os clientes a mais longo prazo aumentam o saldo médio por pagar nos créditos, e reduzem os custos de provisão dos créditos. Além disso, taxas mais elevadas de retenção são de importância crítica no mercado micro-financeiro da Cidade de Maputo, o qual é cada vez mais concorrencial e está a ficar saturado.

As constatações da avaliação contribuem para um debate embrionário, se bem que crescente, acerca do impacto distribucional do micro-crédito121. A maior parte dos clientes que desistem antes de terminarem dois anos, provém da categoria baixa de créditos e, provavelmente, é mais pobre do que os clientes da categoria mais alta de crédito. Isto sugere que menos clientes mais pobres tiram proveito dos créditos. Contudo, importa também notar que a maior parte dos clientes da categoria baixa de créditos que continuam

119 Alexander e Karlan (2006) demonstraram que deixar de incluir os desistentes, pode enviesar as estimativas do impacto. Constataram que

depois de incluir os desistentes, algumas das medidas do impacto mudaram dramaticamente. Ao passo que a metodologia transversal AIMS demonstrou um aumento de 1200 USD no lucro anual das micro-empresas, a inclusão dos desistentes fez com que a estimativa baixasse para uma diminuição de cerca de 170 USD. Fonte: Karlan e Goldberg (2006), The impact of Microfinance, a review of methodological issues (página 20). Universidade Yale, New Haven, EUA

120 Veja-se a Nota de Foco CGAP nº 36, Maio de 2006, página 2121

Veja-se por exemplo: Thomas Dichter (2006) Hype and Hope: The Worrisome State of the Microcredit Movement; Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, e A. Legovini (2002) The Distributional Impact of Loans in Nicaragua; O Banco Mundial. As constatações deste último estudo sugerem que são apenas os agregados familiares mais abastados que aproveitaram nitidamente os créditos a negócios, enquanto que é mais provável que os agregados familiares mais pobres tenham ficado mais pobres como resultado da tomada de créditos.

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a tomar créditos durante dois anos, realizou mais crescimento nos negócios, do que aqueles clientes que começaram por créditos mais elevados. Os doadores devem encaminhar mais pesquisa para o efeito distribucional das micro-finanças, de modo que as intervenções possam estar mais focalizadas no micro-crédito provido aos clientes com o maior potencial de tirar proveito destes serviços.

Em Moçambique, as IMFs apoiadas pelos membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças, retêm principalmente micro-empresários relativamente idosos e experientes, da extremidade mais baixa duma classe média emergente. Estas tendências atribuem-se em grande medida ao seu foco nos créditos individuais baseados em garantias. Para aumentar o alcance e a retenção dos grupos de rendimento mais baixo, os membros da NPM devem igualmente ponderar o apoio a outras IMFs, e/ou encorajar as actuais IMFs no sentido de realizarem pesquisas do mercado e a experiência piloto de outros produtos, eventualmente mais apropriados, p. ex. produtos de poupança mais diversificados, adaptados às necessidades dos clientes das micro-finanças, para a poupança tanto de fácil acesso, como de menos fácil acesso (poupança líquida e ilíquida).

A Tchuma, a IMF enraizada localmente com um foco específico na pobreza, tem a estrutura de apoio e de propriedade mais fraca (investidores, agências de financiamento e AT) e tem mais dificuldades para atrair o financiamento. Portanto, está limitada nas suas possibilidades de lançar novos produtos e arcar com a concorrência aumentada depois do estabelecimento do NovoBanco. Os membros da Plataforma dos Países Baixos para as Micro-finanças devem coordenar melhor e equilibrar o seu apoio às IMFs internacionais e locais: deve ser fornecido maior apoio técnico e financeiro às IMFs de raiz local e de bom desempenho, com o seu foco na pobreza e (potencialmente) sustentáveis.

Os clientes da categoria baixa de créditos, são mais caros por unidade de moeda dada emprestada. Os doadores e investidores devem dar-se conta de que, regra geral, o caminho é mais comprido rumo à sustentabilidade das IMFs com o seu foco exclusivamente na pobreza.

Os doadores e investidores podem desempenhar um papel importante em garantir que a missão social das IMFs continue a ser de preocupação central, apesar do foco aumentado na comercialização e na escala das micro-finanças. Os intervenientes nas micro-finanças têm um interesse crescente na elaboração de sistemas para gerir, monitorar e prestar contas sobre o desempenho social122. As seguintes recomendações devem ser entendidas neste contexto:

Apoiar as IMFs para controlarem as mudanças ao longo do tempo, e monitorar as mudanças (com relação a diversas categorias de clientes), como parte dum sistema de gestão e prestação de contas sobre o desempenho social.

Apoiar as IMFs para montarem um sistema para controlar o nível de pobreza dos novos clientes e para avaliar as mudanças ao longo do tempo, do nível de pobreza dos clientes retidos.

Apoiar as IMFs para pesquisarem as razões que fazem com que os clientes desistem dentro dum período de dois anos.

Promover a elaboração duma fórmula padronizada para calcular as taxas de desistência, ao mesmo tempo que se toma em conta os dias de descanso. A elaboração duma tal fórmula, deve contribuir para a comparabilidade das taxas de desistência entre as IMFs.

Promover o cálculo da taxa de retenção dos clientes repetidos de mais longo prazo (p. ex. os clientes que continuam a tomar créditos durante dois anos.

122 O desempenho social define-se como a “tradução eficaz na prática, da missão social duma instituição”; Bart de Bruyne e Johan

Bastiaensen (2006) How to put social performance management into practice? Trias, Bruxelas

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Objectivo 2: Influir na planificação estratégica das IMFs

A pesquisa proporcionou percepções perspicazes em várias áreas que são importantes para a planificação estratégica das IMFs. Em termos globais, recomenda-se que as IMFs fiquem mais impulsionadas pelas necessidades dos clientes, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento e provisão de produtos, bem como pela melhoria da sua consciência de que tipo de clientes estão a ser servidos e de que maneira, através de melhores sistemas internos de controlo e de monitoria. Proporcionam-se a seguir, recomendações específicas para estas e outras questões.

Pesquisa do mercado e desenvolvimento de produtos

Examinando as características dos clientes, parece haver segmentos do mercado eventualmente inexplorados, como por exemplo a faixa etária abaixo de 35 anos, pessoas com menores habilidades literárias, e clientes mais pobres. Existem sinais de que o mercado para o micro-crédito com garantias está saturado. Os produtos de poupança são muito procurados e têm o potencial de ir mais a fundo no mercado. A pesquisa do mercado e a eventual introdução de novos produtos, podiam eventualmente abrir outros segmentos interessantes de rendimento no mercado concorrencial servido actualmente pelas IMFs.

Recomenda-se o seguinte: Realizar um estudo do mercado de potenciais clientes jovens (com menos de trinta e

cinco anos). Introduzir um produto flexível de poupança que rende juros, pelo qual se possa mais

facilmente ter acesso às poupanças, do que com os depósitos a prazo fixo Rever os requisitos de garantia subsidiária para os clientes retidos com bons

antecedentes no uso de crédito. Levar em conta como factor, a realidade (e probabilidade) de crises, e introduzir

produtos (para além dos produtos existentes de micro-depósitos) que tenham sido projectados especialmente para amortecer o impacto duma crise, p. ex. produtos de seguro e créditos de emergência a curto prazo.

Avaliar os perfis dos clientes das categorias mais elevadas de crédito, com o objectivo de introduzir créditos convenientes a mais longo prazo que possam estimular o crescimento.

Dado o facto de que os créditos a negócios são utilizados para propósitos tanto empresariais como de consumo, ponderar a provisão de créditos de propósito múltiplo para micro-empresários, na base da análise do fluxo de caixa e de garantias.

No caso da Tchuma, para que o alcance dos clientes mais pobres seja conseguido, é necessário que sejam prosseguidas metodologias que não requeiram os tipos de garantias actualmente exigidos, p. ex. pela ressuscitação dos grupos solidários

Recomenda-se igualmente à Tchuma que realize uma pesquisa do mercado para elaborar serviços financeiros de gestão do risco, para populações vulneráveis.

Provisão dos produtos, e serviço aos clientes

Boas estratégias de provisão dos produtos e de serviço ao cliente, são importantes para melhorar a retenção dos clientes e atingir um impacto mais eficaz. A maioria dos clientes tinha enfrentado algum tipo de crises nos últimos anos, as quais se tinha constatado constituírem factores importantes na provocação da desistência de clientes. A Tchuma tem a

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taxa de desistência mais baixa das três IMFs, a qual se explica eventualmente pela sua política mais tolerante relativamente às reposições atrasadas.

Recomenda-se o seguinte: Estudar a formação dos oficiais de crédito para melhor responderem aos clientes com

problemas comuns de reposição causados pelas crises. Introduzir incentivos para que os oficiais de crédito melhorem as taxas de retenção. Modificar a política sobre os atrasos, de modo a permitir uma maior tolerância para os

clientes com uma “folha de serviço” limpa. Realizar uma pesquisa sobre o efeito de ser-se mais tolerante dos clientes em mora, sobre

a desistência dos clientes.

Controlo interno, sistemas de monitoria e pesquisa

A informação sobre os clientes é decisiva para poder-se avaliar o mercado e garantir que as necessidades dos clientes sejam satisfeitas.

Recomenda-se o seguinte: Monitorar com maior eficácia a taxa de retenção dos clientes, controlando a duração dos

períodos de tomada de créditos de (diversos tipos de) clientes Tomar uma decisão bem fundamentada sobre em que altura (quantos meses depois de se

ter pago o crédito mais recente) é que se considera um cliente um desistente, levando em conta os períodos médios de descanso

Realizar pesquisa sobre os motivos para os clientes desistirem dentro dum período de dois anos

Monitorar com maior eficácia, a taxa de desistência e os motivos desta.

Para garantir que seja materializada a missão social das IMFs, estas devem ponderar a montagem dum sistema de gestão e prestação de contas sobre o desempenho social. Para facilitar isto, recomendam-se as acções que se seguem:

Aproveitar os dados recolhidos para a avaliação do crédito, para avaliar as mudanças ao longo do tempo, p. ex. no tamanho do negócio, na capacidade de reposição ou em outros indicadores que sejam importantes, dada a missão da IMF. Além disso, deve ser dada consideração à realização periódica dum número limitado de entrevistas aprofundadas, para melhor entender as tendências observadas.

No caso da Tchuma, sugere-se avaliar o nível de pobreza dos clientes novos e repetidos, em relação aos níveis de pobreza dos agregados familiares de Maputo, com uso duma lista curta de bens duradouros e de características, a qual foi elaborada pelo presente estudo para este propósito. Desta forma, podem ser avaliados tanto o perfil da pobreza dos novos clientes, como as mudanças no nível de pobreza dos clientes retidos.

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Anexo 1: Termos de Referência

Termos de Referência da Avaliação da Pobreza e Impacto em Moçambique(Versão Final de 09-06-2004)Gabrielle Athmer, Consultora, AmesterdãoE-mail: [email protected]

1. INTRODUÇÃO

As agências de financiamento holandesas organizadas na ‘Plataforma Micro-financeira Holandesa’ planificaram a realização de uma avaliação de impacto com três IMFs em Moçambique nomeadamente: NovoBanco, Socremo e Tchuma. Algumas agências de financiamento holandesas estão a apoiar estas IMFs com diferentes instrumentos financeiros. A Stichting Doen e a FMO são accionistas do NovoBanco (detendo conjuntamente 30% das acções); a Triodos (em nome da Hivos e da Novib) tem um acordo de empréstimo com a Socremo e a Hivos está a apoiar a Tchuma com capital inicial (subsídio com tranches condicionadas).

O NovoBanco possui estatuto jurídico de banco, a Socremo está na fase final do processo de transformação em banco e a Tchuma é uma cooperativa de crédito. Os objectivos da Socremo e do NovoBanco são similares: oferecer serviços financeiros às camadas de média e baixa renda como um instrumento importante no fomento do emprego e para contribuir para o desenvolvimento económico. Enquanto que o NovoBanco já está a focalizar o empréstimo aos micro, pequenos e médios empresários, a Socremo está apenas a ampliar o foco da sua clientela para também abranger as PMEs. A Tchuma (afiliada da ACCION) está claramente focalizada na pobreza e define o seu mercado alvo como sendo os empresários emergentes, em particular as mulheres. Todas as IMFs fornecem produtos de empréstimo individual; a Tchuma oferece também um produto de empréstimo em grupo, o qual envolve menos de 5% dos seus clientes. O NovoBanco oferece contas de depósito a prazo fixo e contas correntes, e efectua transferências de dinheiro da Western Union. A Tchuma introduziu contas correntes em Março de 2003. A Socremo vai começar a oferecer produtos de poupança logo que o processo de transformação em banco esteja concluído (ACCION n.a.; Socremo 2002; NovoBanco 2004). Algumas informações básicas sobre as IMFs, em Dezembro de 2003:

NovoBanco (IPC) Socremo (LFS) TchumaInício das operações 2001 1999 1999Tamanho total da carteira 2.837.670 USD 1.963.688 USD 1.338.195 USDCrescimento do tamanho da carteira desde Dez. de 2002

39 % 33% 47%

# de empréstimos activos 8,178 5,931 6,154Crescimento do # de empréstimos activos desde Dez. de 2002

12% 8% 20%

Tamanho médio do empréstimo 347 USD 331 USD 217 USDCarteira em risco (>30 dias) 2,2 % 0,3 % 2,9 %Número de empréstimos por oficial de empréstimos

124 119 176

Número de contas de depósito 16.125 - 1.117Saldo médio das contas correntes 45 USD - 16 USDNúmero de agências 6 5 3

Fonte: SOCREMO (2004); NovoBanco (2004); Tchuma (2004)

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Os membros da Plataforma Micro-financeira estão principalmente interessados em obter evidências fiáveis do impacto das microfinanças na redução da pobreza, de modo a justificar o uso de fundos públicos e para a elaboração de políticas. Em Outubro de 2003, foi apresentada uma versão preliminar dos Termos de Referência às IMFs envolvidas, e foram discutidos os seus interesses e expectativas em relação a uma eventual Avaliação do Impacto. Os Termos de Referência foram posteriormente modificados (em Dezembro de 2003 e em Março de 2004), tendo em conta os comentários das diversas partes envolvidas. Contudo, as IMFs criticaram a abordagem da Avaliação do Impacto; todas as IMFs consideraram que o nível de envolvimento delas exigido e os potenciais efeitos negativos para o relacionamento clientes–banco/IMF, têm mais peso do que os benefícios potenciais do estudo conforme foi formulado nos TdR. (Queira por favor consultar a declaração das IMFs de fim de Março e a acta da reunião entre os consultores e as IMFs realizada a 5 de Abril de 2004). Syed Hashemi do CGAP e o Dr. James Copestake da Imp-Act/Universidade de Bath (Reino Unido) também fizeram os seus comentários, a pedido da Plataforma Micro-financeira.

Os interesses e prioridades das IMFs relativas à avaliação do impacto diferem segundo os seus objectivos. A Tchuma é a única IMF interessada na avaliação do ‘nível de alcance às camadas pobres’, visto que ela espera que os resultados de tal avaliação possam apoiar no desenvolvimento duma estratégia sobre como conseguir uma abrangência mais profunda. Todas as IMFs manifestaram interesse na avaliação do grau de satisfação dos clientes e nas razões para a desistência (as taxas de desistência não são calculadas por todas as IMFs mas presume-se que sejam elevadas). Elas manifestaram ainda interesse em obter informações sobre o mercado a partir dos clientes e não clientes que as possam ajudar no desenho de produtos e na melhoria das estratégias de marketing; como por exemplo informações sobre a potencial procura por produtos adicionais e sobre o tamanho do potencial mercado123.

Foi preparado um esboço duma avaliação de impacto, visando acomodar na medida do possível as diferentes prioridades, interesses e preocupações de todas as partes envolvidas (09-05-04). Estes Termos de Referência apresentam maior nível de detalhe sobre a metodologia contida no esboço, nos quais os comentários sobre o esboço são tomados em consideração.

2. METAS GERAIS DA AVALIAÇÃO DO IMPACTOAs metas gerais da avaliação do impacto estão divididas em meta externa e interna:

Meta externa: fornecer evidências fiáveis dos diversos tipos de impacto dos serviços microfinanceiros sobre as diferentes categorias de clientes, para poder justificar o uso de fundos públicos.

Meta interna: fornecer evidências fiáveis dos diversos tipos de impacto dos serviços microfinanceiros sobre as diferentes categorias de clientes, para alimentar o processo de planeamento estratégico das IMFs.

Será realizada uma avaliação do nível de alcance às camadas pobres com a Tchuma, a IMF com foco na pobreza.

O objectivo da avaliação nível de alcance às camadas pobres também pode ser dividido em

123 O Projecto Mozambique Microfinance Facility (MMF) realizou um estudo sobre o mercado potencial envolvendo

clientes e não clientes. O estudo foi apresentado na 3ª Conferência Nacional de Microfinanças realizada de 19 a 21 de Maio de 2004.

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um objectivo externo e um interno:

Objectivo externo: fornecer evidências fiáveis do perfil de pobreza dos clientes das IMFs divididos em diversas categorias, de modo a justificar o uso de fundos públicos.

Objectivo interno: fornecer evidências fiáveis do perfil de pobreza dos clientes das IMFs divididos em diversas categorias, para conseguir um melhor entendimento do mercado e para permitir que a IMF desenvolva ou refine os produtos e estratégias de modo a estender-se para camadas inferiores do mercado (consumidores de renda baixa).

Referente a: evidência fiável. Significa o uso de uma metodologia rigorosa; contudo, a avaliação do impacto não vai empregar métodos positivistas com uso dum grupo de controlo (com/sem, antes/depois). Os métodos positivistas tornam a pesquisa inflexível e correm o risco de ser de benefício estratégico limitado para as próprias instituições financeiras. Nesta avaliação, o termo rigoroso significa que as conclusões são logicamente derivadas dos dados empíricos documentados, e dos pressupostos expostos duma forma que seja aberta à revisão feita por colegas pares (Copestake 2004; Copestake et al, 2002). Para a avaliação do nível de alcance às camadas pobres, será realizado um levantamento quantitativo e as constatações serão comparadas contra o Inquérito Nacional aos Agregados Familiares.

Referente a: planeamento estratégico. Os resultados da avaliação de impacto vão proporcionar um melhor entendimento dos clientes e mercado das IMFs, o que é um inputimportante para a definição das suas estratégias. Os resultados devem permitir que as IMFs fortaleçam os seus sistemas para monitorizarem o perfil dos seus clientes, para testarem a satisfação das diversas categorias de clientes, para obterem novas percepções sobre a potencial procura por produtos adicionais e para saber mais acerca das razões da desistência.

Referente a: impacto diverso. O tipo de impacto e a qualidade do impacto a serem avaliados, serão relacionados com os objectivos e a missão das IMFs. Isto significa que várias partes da avaliação serão adaptadas a cada uma das três IMFs.

Referente a: diversas categorias de clientes. O impacto é diferente para cada categoria de cliente, p. ex., é diferente para os mais pobres ou para os mais abastados, para os clientes com mais ou menos experiência empresarial, para os clientes urbanos e rurais e para os clientes do sexo feminino e do sexo masculino dentro das categorias. Por conseguinte, é necessário em primeiro lugar fazer um perfil global dos clientes das instituições, para se obter um melhor entendimento da qualidade do impacto. As categorias serão feitas segundo os interesses e prioridades das IMFs.

3. ABORDAGEM

Processo focalizado no operadorA abordagem estará na medida do possível focalizada no operador, sendo uma abordagem de escuta e de aprendizagem. Isto significa que as IMFs terão uma influência considerável sobre que tipo de impacto que será medido e de que forma o será. Serão definidos vários momentos de tomada de decisões. Exemplos: definição das categorias de clientes, indicadores (que impacto pretendemos conhecer), questionários, conteúdo da formação dos entrevistadores.

Avaliação do impacto sobre a pobreza e de outros impactos, adaptada a cada IMFEmbora vá ser aplicada a mesma metodologia na avaliação em todas as IMFs, algumas partes da avaliação serão diferentes. A avaliação do nível de alcance às camadas pobres será realizada com a Tchuma, sendo esta a IMF que tem um foco na pobreza. A parte mais óbvia da avaliação do impacto que terá um carácter diferente, é a da medição do grau de satisfação dos clientes, a qual se focalizará nos serviços de cada IMF. É provável que também haja diferenças no tipo de clientes a serem entrevistados. Por exemplo, a IMF com um foco na

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pobreza pode estar interessada em entrevistar um considerável número de clientes mais pobres, enquanto que as outras IMFs podem ter outras prioridades. Tem que ser achado um equilíbrio entre o nível de trabalho (custos) envolvido para adaptar a avaliação a cada IMF, e por outro lado a utilidade da adaptação para a IMF.

Além disso, a semelhança das avaliações permite mais comparação das constatações, portanto, é preferível escolher categorias semelhantes de clientes.

Por outro lado, os interesses das agências financiadoras também devem ser considerados. São definidos vários momentos de tomada de decisão em que terá lugar a negociação entre os diversos interessados – p. ex. para a definição das diferentes categorias de clientes, a escolha de indicadores, conteúdo dos inquéritos, etc.

Custos de oportunidade para as IMFsPara manter os custos de oportunidade para as IMFs a níveis aceitáveis, o número de entrevistas será mantido tão baixo quanto possível, mas o mesmo deve ser suficiente para permitir o entendimento dos níveis de pobreza dos clientes e o impacto nas diferentes categorias de clientes. Têm de ser encontradas soluções criativas para o facto de ser difícil encontrar clientes. A produtividade dos oficiais de crédito será reduzida caso estes tenham que acompanhar os entrevistadores até aos clientes, o que será reflectido no seu nível salarial. Por outro lado, visto que a avaliação tem uma abordagem de aprendizagem, é provável que os oficiais de crédito beneficiem do processo e das constatações das avaliações.Para garantir que a AI seja útil para a IMF, é necessária a contribuição dos quadros superiores na avaliação, o que significará uma maior carga de trabalho para os gestores já muito ocupados. As IMFs nomearam um membro da gestão para fazer parte da equipa de impacto.

Custos de oportunidade para os clientesNenhum cliente será forçado a participar numa entrevista ou nas discussões de grupo. Para reduzir os custos de oportunidade para os clientes, a duração das entrevistas com os clientes será o mais curta possível. Juntamente com as IMFs será decidido se as entrevistas (ou discussões de grupo focal) terão lugar em casa, na empresa ou em algum local neutro (ou numa combinação destes) e se serão realizadas ou não durante as horas de expediente. Deve-se encontrar um equilíbrio entre os custos de oportunidade para os clientes, os para as IMFs e o período de tempo disponível para as entrevistas. Deve ser considerada a hipótese de dar aos clientes um incentivo pela sua participação.

Relação Cliente-IMFAs IMFs estabelecem uma relação de negócios com os clientes, e estão preocupadas que o tipo de perguntas influencie negativamente a imagem empresarial da IMF, levando a mudanças negativas no comportamento relativo ao pagamento. Os pesquisadores tomarão em conta este ponto na elaboração dos questionários e na formação dos entrevistadores. As IMFs terão a possibilidade de contribuir para o conteúdo da formação dos entrevistadores e comentarão e aprovarão os questionários. Além disso, as IMFs serão convidadas a fazer recomendações específicas aos entrevistadores antes destes efectuarem o trabalho de campo.

Sigilo da informação das IMFsOs pesquisadores terão acesso a informações confidenciais de cada IMF. A informação não circulará entre as IMFs sem a aprovação explícita da IMF em questão. As constatações da pesquisa serão apresentadas à IMF em questão e não circularão para as outras IMFs nem serão publicadas para um público mais abrangente antes de uma autorização expressa dasIMFs. As IMFs decidirão que informação poderá ser publicada apenas de forma agregada e anónima.

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4. METODOLOGIA

4.1 Introdução

Conforme foi indicado no Capítulo ‘Metas Gerais’, o objectivo da avaliação de impacto não é de fazer uma estimativa da estatística média para todos os clientes, mas sim, garantir que a gerência e outros interessados melhorem a sua compreensão da diversidade do impacto por toda a carteira de clientes (Documento de trabalho nº 7 da Imp-Act). A avaliação de impacto analisará primeiro as informações existentes nas IMFs (informação sobre a carteira e dados recolhidos para a tomada de decisões sobre os pedidos de empréstimos) para identificar o eventual impacto dos serviços financeiros sobre as diferentes categorias de clientes. Através de entrevistas profundas com clientes das diversas categorias, serão analisadas as causas do eventual impacto (ou falta do mesmo). As constatações da análise dos dados recolhidos pelas IMFs e as constatações da pesquisa qualitativa, serão ligadas aos padrões de empréstimo e reembolso.

Para a avaliação do nível de alcance às camadas pobres junto da Tchuma, será empregue um método quantitativo e as suas constatações serão comparadas aos dados do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares sobre o Orçamento Familiar124. Na última fase da avaliação será analisado se existe capacidade entre as IMFs para continuar a monitoria do perfil dos seus clientes, de modo a proporcionar-se uma base para efeitos de planificação estratégica e de marketing (Copestake 2004).

Para facilitar a comparação das constatações da IMF e para limitar os custos, a avaliação será realizada com as agências das IMFs em Maputo e arredores. As três IMFs operam em Maputo, e o NovoBanco e a Socremo possuem delegações na Beira; no entanto, a delegação do NovoBanco na Beira abriu só em 2002, o que significa que haverá um número relativamente reduzido de clientes com um historial creditício de pelo menos dois anos.

4.1 Avaliação de Impacto

4.1.1 Nível de impacto avaliado

O impacto será medido a nível do cliente. Dentro deste nível, serão tomadas em conta as seguintes unidades de avaliação: o indivíduo, a família/agregado familiar, a empresa, até certo ponto a comunidade (p. ex. oportunidades de emprego) e o nível de mercado (o impacto –conforme percebido pelos clientes – sobre o aumento do nível de concorrência nas actividades financiadas, no aumento da rede/ligações empresariais).

Impactos mais abrangentes, p. ex. o impacto das IMFs a nível do sector financeiro ou a nível da economia regional/nacional, não farão parte deste estudo. É provável que o impacto a estes níveis se materialize numa fase posterior em relação à fase de materialização do impacto a nível do cliente. Além disso, a medição do impacto a estes níveis vai exigir o uso de metodologias totalmente diferentes. Por outro lado, será muito difícil atribuir mudanças a estes níveis às IMFs; p. ex. a atribuição de mudanças nos preços ou no fornecimento de produtos (diversidade) no sector bancário tradicional, ao impacto das IMFs. Contudo, alguns aspectos do impacto das IMFs sobre o sector financeiro poderão ser descobertos a nível do cliente: os clientes podem indicar p. ex. se esta foi a primeira vez que eles abriram contas de poupança, contraíram empréstimos etc., e caso não, quem mais e por que razão eles trocaram ou aderiram a uma outra IMF (Copestake 2004; McGregor 2000). 124 Realizado em 2002/2003. Relatório publicado em Março de 2004.

106

4.1.2 Análise dos dados existentes (sem uso de entrevistas)

a. Estratificação da carteira das IMFs

Serão realizadas consultas com os quadros superiores e os oficiais de crédito, para acordar sobre formas de segmentação da carteira dos clientes. Os clientes serão divididos em categorias que as IMFs acharem úteis. As categorias mencionadas pelas IMFs até aqui foram: empresários com negócios em crescimento e estagnados; comerciantes itinerantes, de mercado e de lojas; micro, pequenos e médios empresários, ou clientes divididos por produto ou nível de empréstimo.

Será feita uma estimativa fundamentada da proporção de clientes do sexo feminino e do sexo masculino que estejam nestas diferentes categorias. Será estimado tanto quanto possível, a relação do perfil dos clientes à população mais ampla (p. ex. a taxa de clientes do sexo feminino e do sexo masculino, efectivos e potenciais, dentro das diferentes categorias125) (Copestake 2004).

b. Impacto possívelUma amostra de clientes será em princípio determinada aleatoriamente dentro das diferentes categorias de clientes para a análise dos dados recolhidos para a avaliação dos empréstimos (não para a realização de entrevistas). O tamanho da amostra deve estar relacionado com o tamanho de cada categoria de clientes, mas tem que ser no mínimo 30 por cada categoria e 150 como máximo para a amostra total por IMF126. A selecção de cinco categorias resultaria em cinco categorias de 30, o que provavelmente não seria proporcional. Ou a selecção de três categorias poderia resultar numa categoria de 90 no máximo, o que poderia também não ser proporcional. Durante a análise dos resultados, será necessária uma nova ponderação da amostra. Se se revelar necessário, será considerada a selecção de acordo com um segundo ou terceiro critério em vez de o fazer aleatoriamente. Por exemplo, o principal critério para a divisão de categorias de clientes talvez seja o tamanho do negócio, o segundo o género e o terceiro o sector. O critério de 30 como mínimo deve ser mantido para cada categoria mas não para os sub-grupos dentro de cada categoria.

Pela comparação do tamanho dos negócios dos clientes em duas fases (p. ex. na altura da avaliação do primeiro e do quinto empréstimos), pode ser avaliado o possível impacto do empréstimo (ou falta do mesmo) sobre o crescimento dos negócios - dividido por diferentes categorias de clientes. Na medida em que está disponível informação sobre o número de trabalhadores dos clientes, será tomado em conta o aumento/diminuição do mesmo. Também serão examinadas as mudanças no nível de despesas do agregado familiar. Será analisado até que ponto as mudanças no tamanho dos negócios e no nível das despesas do agregado familiar são diferentes entre clientes do sexo feminino e os do sexo masculino. As constatações sobre o possível impacto serão ligadas aos padrões de empréstimo e reembolso. É importante notar que as mudanças (ou falta delas) no tamanho dos negócios, no número de trabalhadores e no nível das despesas do agregado familiar, não podem ser simplesmente atribuídas aos serviços financeiros. As causas das mudanças (ou da sua falta) serão examinadas através de entrevistas profundas. Mais detalhes são apresentados no sub-capítulo sobre a pesquisa qualitativa (4.2.3.)

125 O Instituto Nacional de Estatística fez recentemente um inventário das empresas privadas e públicas que poderiam ser úteis para este

fim. O estudo do MMF referido acima sobre o potencial mercado microfinanceiro, poderá igualmente constituir um input relevante.126 Para a avaliação do impacto sobre a pobreza com a Tchuma, serão realizadas entrevistas com os clientes cujos formulários foram analisados. Levando em conta os clientes que não poderão ou não estarão dispostos a ser entrevistados, serão analisados formulários em número aumentado em cerca de 15%.

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Quer o NovoBanco quer a Socremo armazenam informações sobre a avaliação dos empréstimos nos seus MIS (de forma agregada, p. ex. as informações sobre as despesas a nível do agregado familiar não incluem as suas diferentes componentes, a informação sobre as quais está nos formulários; NdT: MIS = Sistema de Informação para a Gestão)

c. Desistentes

Os desistentes são definidos como ex-clientes que pararam voluntariamente de contrair empréstimos da IMF por razões próprias, e clientes que foram expulsos por causa das políticas das IMFs. De mesmo modo que o acima descrito, o crescimento dos negócios (ou falta do mesmo), o número de trabalhadores e as despesas a nível do agregado familiar dos desistentes, serão avaliados na base da análise dos formulários de avaliação dos empréstimos, para uma selecção dos desistentes que tenham recebido múltiplos empréstimos. Os desistentes poderão ser considerados uma categoria em separado, ou poderão ser divididos nas mesmas categorias dos actuais clientes. O número mínimo de desistentes cujos formulários serão analisados é de 30 (uma categoria), e o máximo de 90 (máximo de três categorias) por IMF.

d. Qualidade dos dados recolhidos para a avaliação dos empréstimosPresume-se que os dados para a avaliação dos empréstimos sejam comparáveis ao longo do tempo, assim permitindo um melhor entendimento das mudanças nas despesas dos clientes e a nível dos agregados familiares ao longo do tempo127. As dificuldades de comparação destes dados de avaliação dos empréstimos com os dados do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares sobre o Orçamento Familiar, serão examinadas na secção sobre a avaliação da pobreza. Serão identificadas as possíveis causas dos pontos fracos da informação através da obtenção duma profunda compreensão do método de recolha de dados das diferentes IMFs. Um aspecto a considerar é que nenhum tipo de pesquisa está isento de erro sistemático. O que é mais importante, é estar-se consciente dos potenciais erros (preconceitos) (Welch 2002). O facto de que a informação é dada para a avaliação dos empréstimos, pode constituir um incentivo para o cliente relatar menos despesas a nível do agregado familiar do que as efectivas, e exagerar o seu rendimento. Por outro lado, os oficiais de crédito têm uma extensa formação para obterem uma informação completa e estão interessados na fiabilidade da informação fornecida (veja também Welch 2002).

4.1.3 Pesquisa qualitativaPara validar os resultados da análise dos dados das IMFs, e para se conseguir um melhor entendimento das causas do eventual impacto (ou falta do mesmo) sobre o crescimento dos negócios e sobre as despesas a nível do agregado familiar, serão realizadas entrevistas semi-estruturadas aprofundadas, entre clientes de diferentes categorias e entre os desistentes. A pesquisa qualitativa incluirá um questionário fechado, para verificar as informações mais pertinentes do formulário de avaliação dos empréstimos. Além disso, as entrevistas aprofundadas abrangerão o grau de satisfação dos clientes, a procura por produtos adicionais, as razões para a desistência e as experiências dos clientes com o mercado. Será tomada em conta a diferença de opinião e as experiências entre mulheres e homens.

Serão igualmente realizadas entrevistas aprofundadas com uma amostra dos depositantes da Tchuma e do NovoBanco, através das quais serão analisados os seus padrões de depósito e de levantamento, assim como será avaliado o impacto dos mecanismos de depósito conforme percebidos pelos clientes.

Com relação aos clientes da Tchuma, será avaliado o impacto dos produtos de poupança e de empréstimo sobre a potencialização (empowerment) das mulheres. Neste contexto a

127 Segundo as experiências dos pesquisadores da ACCION com as suas filiais no Peru, na Bolívia e no Haiti, os dados de avaliação dos empréstimos são valiosos para a obtenção duma compreensão de como os clientes ficaram mais pobres ou menos pobres ao longo do tempo (comunicação por e-mail de P. Devaney, 12 de Maio de 2004)

108

potencialização é definida como um aumento do controlo sobre os meios financeiros e bens do agregado familiar, e um aumento da auto-confiança relacionada com a gestão dos negócios e da casa.

Para garantir o rigor dos dados obtidos nas entrevistas, vai ser usado o chamado ‘Protocolo deImpacto Qualitativo’, o QUIP, elaborado pela Imp-Act (Copestake et al. 2002). O objectivo do QUIP é permitir o uso de métodos qualitativos de forma eficaz (em termos de custos), oportuna e confiável (Wright 2004). A análise estatística exige um tamanho crítico de amostra, embora este não seja o caso com a pesquisa qualitativa: quanto mais entrevistas realizadas, mais benefícios dá em termos de dados úteis. Contudo, para se poder compreender os principais problemas dos clientes duma determinada categoria, o número mínimo de entrevistas realizadas por categoria deve ser de 10 (Notas de Prática sobre os Impactos, 2004).

Caso seja necessário, serão organizados discussões de grupos focais para obter-se um melhor entendimento de alguns dos resultados dos estudos aprofundados. Esta possibilidade será debatida com os diversos interessados depois da apresentação dos resultados das entrevistas aprofundadas.

A tabela a seguir, apresenta uma estimativa do número mínimo de entrevistas aprofundadas, no pressuposto de que as IMFs escolhem três categorias diferentes de clientes, além dos depositantes e dos desistentes. Visto que a SOCREMO e o NovoBanco não participam na avaliação do nível de alcance às camadas pobres, estas são as únicas entrevistas que serão realizadas com os seus clientes.

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Depositantes Desistentes Total

SOCREMO 10 10 10 - 10 40NovoBanco 10 10 10 10 10 50Tchuma 10 10 10 10 10 50Total 30 30 30 20 30 140

No caso das IMFs estarem interessadas nas conclusões relacionadas com as desistências por categoria de mutuários, devem ser realizadas 10 entrevistas aprofundadas com desistentes por categoria de mutuários, totalizando 60 entrevistas aprofundadas com os (ex-)clientes da Socremo, e 70 entrevistas aprofundadas com os (ex-)clientes do NovoBanco.

4.2 Avaliação do nível de alcance às camadas pobres

Avaliação do nível de alcance às camadas pobres com a Tchuma

Será realizada uma avaliação do nível de alcance às camadas pobres com a IMF (Tchuma) interessada em aprofundar o seu impacto. Será utilizada uma metodologia baseada em indicadores, pelo que, serão escolhidos indicadores que reflictam fortemente os níveis de pobreza e para os quais podem ser obtidas informações credíveis de forma rápida e económica (Henry et al 2000). Como era de esperar, o Inquérito Nacional aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar identificou uma forte relação entre a posse de activos a nível do agregado familiar e o nível de despesas familiares (INE 2004, pág. 43). O nível académico e os dados demográficos também pareciam ser determinantes importantes dos níveis das despesas a nível do agregado familiar. Será elaborado um índice de pobreza com base nos dados sobre a posse de activos, obtidos através do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares na Cidade de Maputo. O índice determinará quais as combinações de bens que deverão ter mais peso no cálculo das despesas a nível da família. Se se confirmar a sua necessidade, serão igualmente incluídos no índice, indicadores educacionais e demográficos.

109

Com base nos activos possuídos por agregado familiar, as despesas a nível do agregado familiar serão calculadas e comparadas com os níveis de despesas a nível nacional e provincial, conforme apresentados pelo Inquérito Nacional aos Agregados Familiares (a Cidade de Maputo constitui uma província) e em relação à linha da pobreza nacional e as linhas de pobreza internacionais, dum poder de compra de 1 USD e 2 USD por dia. A avaliação empregará a mesma metodologia empregue no Inquérito Nacional aos Agregados Familiares para converter os dados a nível do agregado familiar em dados obtidos numa base individual.

À medida que as condições de vida melhoram ao longo do tempo, os agregados familiares tendem a acumular bens; em alturas de crise, os bens podem ser vendidos. Deve ser considerada a inclusão de perguntas sobre a compra ou venda recente de bens, de modo a captar possíveis tendências nos níveis de pobreza dos clientes. Para captar parcialmente relacionamentos intra-familiares e de género, deve ser considerada a inclusão de perguntas hipotéticas sobre quem no agregado familiar teria a autoridade para decidir a venda de bens específicos.

Com base nos resultados da avaliação do impacto sobre a pobreza, será analisada a relação entre os níveis de pobreza e os padrões de empréstimo e reembolso. Serão igualmente examinadas as possíveis relações entre o nível de pobreza e o tamanho do empréstimo e/ou o tamanho das prestações. Um factor limitante para esta análise, é o tecto de empréstimo de seis milhões de meticais (cerca de duzentos Euros) no primeiro ciclo de empréstimos128. Os ciclos subsequentes de empréstimos também possuem tectos ligados ao tamanho do empréstimo anterior. Devido a estes tectos, vai ser impossível extrapolar para outras IMFs as conclusões sobre o nível de pobreza e o tamanho dos empréstimos. Além disso, deve-se notar que é provável que a relação entre o nível de pobreza e o tamanho do empréstimo, seja mais forte para os clientes mais pobres. Eles talvez recebam o tamanho máximo de empréstimo aoseu alcance, dadas as suas capacidades de reembolso, enquanto que este talvez não seja o caso para os clientes mais abastados. O sexo do cliente também é importante; os clientes que são mulheres casadas eventualmente não têm a autoridade para utilizar os activos valiosos do agregado familiar como garantia, o que torna mais difícil que tenham acesso a empréstimos de valor aumentado.

A avaliação do nível de alcance às camadas pobres vai usar a mesma amostra que foi utilizada para a análise dos dados recolhidos pelas IMFs (no mínimo 30 entrevistas por cada categoria). O tamanho da amostra deve permitir que se tirem conclusões sobre o nível de pobreza dos clientes da Tchuma em geral, bem como sobre o nível de pobreza dos clientes em cada categoria. Além disso, serão incluídos os clientes que possuem uma conta de poupança. Conforme já foi referido, serão realizadas entrevistas aprofundadas para avaliar o impacto, com uma selecção de clientes de cada categoria. Visto que o questionário para a avaliação do nível de alcance às camadas pobres será muito breve, a avaliação do nível de alcance às camadas pobres e a entrevista aprofundada poderão ser realizadas durante a mesma visita129. Supondo mais uma vez que a Tchuma escolherá três categorias de clientes, será entrevistado um total de 150 clientes, conforme está indicado na tabela seguir.

128 O tamanho do empréstimo de cerca de 50% dos clientes que recebem um segundo crédito, ainda está abaixo de 6

milhões. Comunicação oral de K. Larcombe, 21 de Maio.129 Na presunção de que as entrevistas aprofundadas e as entrevistas acerca do impacto sobre a pobreza podem ser

realizadas durante a mesma visita.

110

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Depositantes Desistentes TotalTchuma 30 30 30 30 30 150

A tabela a seguir mostra o número mínimo total de entrevistas com clientes das IMFs:

Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Depositantes Desistentes TotalSocremo 10 10 10 10 40NovoBanco 10 10 10 10 10 50Tchuma 30 30 30 30 30 150Total 50 50 50 40 50 240

Justificação da proposta deste método baseado em indicadores para a avaliação do nível de alcance às camadas pobres

A vantagem da situação moçambicana, é a existência do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares, recentemente realizado e publicado. A comparação com os dados deste inquérito, torna desnecessário o uso de um grupo de controlo. As informações sobre os bens podem ser obtidas fácil e rapidamente e são muito mais simples do que a medição da despesa ou rendimento dos agregados familiares. Além disso, a propriedade dos bens não é tão susceptível de flutuações sazonais como são as despesas e o rendimento.

Na Ásia, o índice habitacional é frequentemente empregue pelas IMFs (Henry et al, 2000), mas tal índice parece menos relevante para a realidade Moçambicana. O Inquérito Nacional aos Agregados Familiares foca o material empregue para a construção das casas, e na Cidade de Maputo, mais de 80% das casas são feitas de cimento (INE, 2004, pág. 57).

A desvantagem do método proposto, é que não é captada a multidimensionalidade da pobreza. De igual modo, as questões de distribuição intra-familiares e em relação ao género só podem ser captadas até certo ponto. Segundo Zeller, o total da renda com autoridade de decisão, seria provavelmente o melhor índice do estatuto individual de pobreza (Zeller 2004, pág. 4). Porém, ainda não existem métodos aceites para medir o rendimento pessoal disponível dos membros do agregado familiar ou para desagregar a renda individual da familiar. Isto significa que mesmo que esta avaliação tivesse sucesso em avaliar o nível de vida dos indivíduos, não seria possível comparar as constatações com o Inquérito Nacional aos Agregados Familiares (Zeller 2004).

Foram tomadas em conta metodologias diferentes, antes de se propor este método baseado nos indicadores, nomeadamente o método ACCION que foi descrito no esboço da avaliação do impacto (09-05-04), os inquéritos do Inquérito de Medição do Nível de Vida (LSMS), a Ferramenta de Avaliação da Pobreza (PAT) da CGAP que avalia a pobreza relativa dos clientes das microfinanças, e os métodos de pesquisa qualitativa sobre a pobreza.

Conforme foi mencionado no esboço, a ACCION analisou os dados existentes sobre as IMFs filiadas no Peru, no Haiti e na Bolívia, e comparou os mesmos com os dados do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares. Actualmente a ACCION está a analisar os resultados dos estudos de validação que avaliam a comparabilidade dos dados do inquérito aos agregados familiares, com os dados das IMFs. Embora ainda seja demasiadamente cedo para tirar conclusões definitivas, as análises preliminares indicam que não há nenhuma ligação directa entre os dados sobre a despesa do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares, e os dados

111

sobre a despesa das IMFs. Quando se estava a considerar a hipótese de usar a metodologia da ACCION de pesquisa do impacto sobre a pobreza, nesta avaliação, os pesquisadores da ACCION propuseram um levantamento de validação130.

Para o seu estudo de validação, a ACCION utilizou um módulo adaptado do LSMS (Inquérito de Medição do Nível de Vida) e recolheu dados sobre a lista dos membros do agregado familiar, as suas receitas e despesas, durante uma entrevista realizada por agregado familiar. Para esta entrevista, foi solicitada a presença da maior parte dos membros do agregado familiar. Os inquéritos LSMS foram elaborados pelo Banco Mundial e são desenhados para recolher dados sobre aspectos múltiplos do bem-estar do agregado familiar. O LSMS é empregue para muitos inquéritos nacionais aos agregados familiares, e a aplicação mais frequente dos resultados destes inquéritos, é o cálculo da incidência da pobreza abaixo das linhas da pobreza nacionais e internacionais (Zeller 2004).

Os requisitos em termos de dados para um inquérito do tipo LSMS são muito rigorosos, sendo necessários questionários exaustivos. A necessidade de os inquiridos terem que se lembrar de informação relativa a um período muito longo, que variam de uma semana a um ano, torna preocupantes os erros nas respostas (Henry et al, 2000). Portanto, a aplicação dos questionários LSMS é normalmente dividida em duas visitas, com intervalo de duas semanas. Para as perguntas sobre as despesas a nível do agregado familiar, o entrevistador faz referência à primeira visita como sendo o começo do período de lembrança (Zeller 2004). O Inquérito Nacional aos Agregados Familiares em Moçambique exigiu que os entrevistados fizessem registos escritos das despesas diárias durante o período de uma semana. Foram programadas três entrevistas com cada agregado familiar, de modo a controlar os registos e para recolher informações adicionais. Contudo, em muitos casos os agentes de recolha visitaram os agregados familiares que lhes tinham sido atribuídos, todos os dias, a fim de preencher os registos nos seus diários (Direcção Nacional do Plano e Orçamento, 2004).

A análise dos dados da Tchuma, recolhidos para a avaliação dos empréstimos segundo a metodologia de pesquisa ACCION para a avaliação da pobreza, mais um estudo de validação adicional do tipo LSMS, significariam um enorme investimento em termos de tempo por parte dos pesquisadores e elevados custos de oportunidade para a Tchuma e para os seus clientes. Além disso, seria impossível realizar estes dois estudos dentro do mesmo período de avaliação de impacto das outras duas IMFs. Por conseguinte, a consultora não incluiu a metodologia de pesquisa da ACCION nos TdR desta avaliação.

A Ferramenta de Avaliação da Pobreza (PAT) do CGAP, constitui uma ferramenta baseada em indicadores que medem diferentes dimensões da pobreza, permitindo desta maneira uma descrição mais completa da mesma. Todavia, ela avalia o nível relativo de pobreza dos clientes em relação aos não clientes, assim exigindo que se entreviste um grupo de controlo. Adicionalmente, é difícil relacionar as constatações da PAT com a Inquérito Nacional aos Agregados Familiares. Portanto, foi constatado igualmente que este método é menos adequado para esta avaliação.

Os métodos qualitativos incluem diagnósticos rápidos e avaliações participativas, procurando uma contribuição por parte da comunidade, utilizando p. ex. a classificação por riqueza como técnica (Henry 2000). Estes métodos não são convenientes para o tipo de clientes envolvidos neste caso, nem para o tipo de relacionamento das IMFs com os seus clientes.

130 Comunicação oral durante uma conferência telefónica com P. Devaney e K. Welch a 17 de Maio de 2004

112

4.3 Institucionalização

Será explorada a possibilidade de realizar a monitoria e avaliação dos clientes como uma actividade normal dentro de cada instituição, de modo a que estas constituam uma base para a planificação estratégica e gestão dos dois aspectos mais importantes (desempenho social e financeiro) (Copestake 2004). Desta forma, as IMFs poderão tirar proveito das informações armazenadas nos seus MIS.

5. PROCESSO, RESULTADO E CRONOGRAMA

A avaliação consiste nas seguintes fases:

Fase A: Consultas e preparação inicialFase B: Análise dos dados recolhidos pelas IMFs durante a avaliação dos pedidos de empréstimoFase C: Pesquisa quantitativa aos clientes para avaliar o nível de alcance às camadas pobresFase D: Pesquisa qualitativa do impactoFase E: Institucionalização

Para cada uma das fases, é definido o seguinte:

1. Objectivos2. Pressupostos3. Actividades4. Resultados esperados5. Debates e tomada de decisões com o Steering Committee6. Cronograma

5.1. Fase A: Consultas e preparação inicial

5.1.1. Objectivos

a) Acordar com as três IMFs sobre as formas de segmentar a carteira de clientes e sobre que indicadores – poderão ser obtidos a partir dos dados recolhidos habitualmente pelas IMFs – serão empregues para monitorizar o perfil dos clientes. Estas formas devem ser relevantes tanto para as instituições (para propósitos de pesquisa do mercado) como para os doadores (para fins de monitoria).

Além disso, as categorias escolhidas pelas três IMFs, de preferência devem ser comparáveis, a fim de se obter uma informação genérica do mercado na sua globalidade.b) Acordar com as três IMFs as hipóteses a serem testadas através da análise da

informação da avaliação dos pedidos de empréstimos, duma amostra das diferentes categorias de clientes.

c) Fazer uma estimativa fundamentada do número de clientes por categoria e da forma como o perfil dos clientes se relaciona com a população mais geral.

d) Obter uma nova percepção do contexto no qual as IMFs funcionam.

5.1.2. Pressupostos

a) As três IMFs acordarão (em parte) sobre as mesmas categorias de clientes.

b) Uma compreensão mais sofisticada dos clientes nestas categorias e das diferenças entre estas categorias, leva a um melhor serviço prestado.

113

c) Uma compreensão mais sofisticada das características das categorias de clientes das três IMFs, será útil para efeitos de marketing por parte das IMFs.

5.1.3. Actividades

a) Reunir com as IMFs para debater os TdR e o plano de actividades

b) Estudar as características das IMFs: objectivos, produtos, crescimento, taxa de desistência, rentabilidade, nível de sustentabilidade e desafios institucionais (quase concluído durante a missão em Abril).

c) Estudar as informações que eventualmente poderão ser geradas pelos MIS das IMFs, para obter uma maior percepção da diversidade de clientes. Exemplos: percentagem de clientes (mulheres/homens) por sector e por produto, percentagem de clientes (m/h) por nível de tamanho de empréstimo, relatórios sobre a carteira por agência; percentagem de clientes de sexo feminino por agência; carteira dos créditos activos por sexo, carteira em atraso por sexo, percentagem de desistentes por sexo, percentagem de clientes (m/h) expulsos e rejeitados pela IMF, motivos da expulsão e rejeição.

d) Debater com os oficiais de crédito e com os quadros superiores, formas de segmentar a carteira e possíveis hipóteses por categoria.

e) Realizar uma reunião conjunta com os gestores das IMFs para decidir sobre as categorias de clientes, indicadores e hipóteses a serem testadas, pela análise dos dados da avaliação dos empréstimos.

f) Identificar o número de clientes por categoria por IMF.

g) Consultar fontes secundárias e pessoas-recurso para obter uma ideia do rácio actuais clientes /clientes potenciais dentro das várias categorias.

h) Estudar fontes secundárias de recursos mais relevantes p. ex., os estudos do sector financeiro, do impacto sobre a pobreza e de impacto, realizados em Moçambique, estudos sobre o mercado micro-financeiro e sobre as características dos micro, pequenos e médios empresários moçambicanos, estudos pertinentes do Instituto Nacional de Estatística e do Gabinete de Pesquisa Económica do Plano e Finanças.

5.1.4. Resultado esperado

a) Três relatórios separados sobre cada IMF: relativamente ao desempenho, produtos e perfil dos clientes.

b) Relatório sobre as principais características do sector de microfinanças e dos seus clientes em Moçambique, incluindo a comparação das características chave das três IMFs

c) Definição das categorias de clientes, dos indicadores e das hipóteses

d) Uma descrição genérica do número de clientes por categoria e uma estimativa do rácio actuais clientes /clientes potenciais por categoria de clientes

5.1.5. Debate e tomada de decisões com a Steering Committee

Os membros do Steering Committee farão comentários e sugestões sobre a definição das categorias de clientes, dos indicadores e das hipóteses.

5.1.6. CronogramaJunho/Julho/Agosto

114

5.2. Fase B: Análise dos dados recolhidos pelas IMFs através da avaliação dos empréstimos

5.2.1. Objectivos

a) Identificar o possível impacto dos serviços financeiros sobre o crescimento dos negócios e nível de despesas a nível do agregado familiar, dos clientes e dos ex-clientes divididos em várias categorias, ao mesmo tempo que se toma em conta as diferenças no eventual impacto entre os clientes e os ex-clientes de sexo masculino e feminino.

5.2.2. Pressupostos

a) É preferível fazer a análise dos dados recolhidos regularmente pelas IMFs, do que realizar uma pesquisa quantitativa com os clientes.

b) Os dados das IMFs são comparáveis ao longo do tempo.

5.2.3. Actividades

a) As IMFs elaboram uma lista de clientes e ex-clientes de cada categoria que tenham recebido cinco ou mais empréstimos, nas suas agências em Maputo.

b) Os pesquisadores seleccionam uma amostra aleatória desses clientes, distribuindo a amostra conforme o tamanho de cada categoria de clientes (para desenhos de amostra, veja Henry 2000).

c) Discutir em detalhe com os oficiais de crédito, a metodologia de empréstimo e a forma como as informações são recolhidas. Acompanhar os oficiais de crédito na altura da avaliação de um pedido de empréstimo, no mínimo com um cliente de cada categoria de clientes de cada IMF.

d) Elaborar um ‘questionário’ dos dados a serem recolhidos dos dados da avaliação dos empréstimos

e) Discutir este ‘questionário’ com os gestores das IMFs

f) Desenhar um programa de lançamento dos dados

g) Debater com a pessoa especializada em IT (tecnologia informática) do NovoBanco e da Socremo, que informações poderão ser geradas pelo MIS e acordar como fazer.

h) Concordar com a Tchuma, o NovoBanco e a Socremo sobre a forma mais prática de disponibilizar os formulários aos pesquisadores para eles obterem informações dos formulários de avaliação dos empréstimos.

i) Analisar a informação através da testagem das hipóteses formuladas durante a Fase A, tendo em conta as diferenças entre homens e mulheres. Efectuar cálculos estatísticos.

j) Redigir um relatório sobre os resultados de cada IMF, e propor questões a serem cobertas nas entrevistas aprofundadas.

k) Apresentar os resultados a cada IMF, discutir que informações poderão ser partilhadas com as demais IMFs. Decidir sobre que questões serão cobertas nas entrevistas aprofundadas.

l) Redigir um relatório agregado das constatações das três IMFs.

115

5.2.4. Resultado esperado

a) Um relatório, por cada IMF, sobre o possível impacto do crédito para os clientes, divididos por categorias, com base nos resultados da análise dos dados da avaliação dos empréstimos das IMFs

b) Um relatório agregado dos três relatórios das IMFs, sobre o mesmo assunto.

c) Acordo sobre as questões a serem cobertas nas entrevistas aprofundadas.

5.2.5. Discussão e tomada de decisões com o Steering Committee:

Os membros da Comissão Directiva farão comentários e sugestões em relação a:

a) Questões a serem cobertas nas entrevistas aprofundadas

b) Relatórios.

5.2.6. CronogramaAgosto, Setembro

5.3. Fase C: Inquérito quantitativo aos clientes para avaliar o nível de alcance às camadas pobres

5.3.1. Objectivos

a) Medir os níveis de pobreza dos clientes e ex-clientes da Tchuma, divididos em diversas categorias, tendo em conta, tanto quando possível, as relações intra-familiares e em termos de género, e as tendências da pobreza.

b) Testar possíveis correlações entre os níveis de pobreza dos clientes e o tamanho do empréstimo ou o tamanho das prestações.

c) Correlacionar os níveis de pobreza dos clientes, ao comportamento relativo aos empréstimos, reembolso e poupança.

5.3.2. Pressuposto

a) Uma compreensão mais sofisticada dos níveis de pobreza dos clientes do sexo feminino e masculino, permitirá que a Tchuma desenvolva ou refine os seus produtos e estratégias de modo a estender o seu mercado a clientes de rendimentos mais baixos.

5.3.3. Actividades

a) Contactar o Instituto Nacional de Estatística (INE) de Moçambique e acordar sobre a forma mais prática e rentável de avaliar o Índice na base dos dados do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares referentes à Cidade de Maputo (p. ex., a ser feito pelo próprio INE ou pelo estaticista da equipa de consultores, pelo envio dos dados ou in loco).

b) Calcular um índice da pobreza com base nos dados do Inquérito Nacional aos Agregados Familiares, com relação à propriedade de bens na Cidade de Maputo, e testar a necessidade de incluir o nível académico e os dados demográficos (tamanho do agregado familiar) no índice.

c) Elaborar um questionário e discutir o mesmo com a direcção da Tchuma.

d) Discutir o questionário com o estaticista da equipa da AI

116

e) Elaborar um programa de lançamento de dados

f) Discutir com a Tchuma a forma como os clientes serão localizados.

g) Recrutar e formar inquiridores

h) Realizar as entrevistas com a mesma amostra de clientes usada para a análise dos dados da avaliação dos empréstimos e com uma amostra dos depositantes

i) Lançar e fazer a limpeza dos dados

j) Analisar os dados, realizar cálculos estatísticos

k) Redigir um relatório sobre os resultados da pesquisa

l) Apresentar os resultados à direcção da Tchuma, e discutir que resultados podem ser partilhados com as demais IMFs

m) Redigir um relatório que possa ser partilhado com as demais IMFs

5.3.4. Resultados esperados

a) Um índice da pobreza

b) Um questionário

c) Um relatório sobre os resultados da pesquisa para a Tchuma

d) Um relatório a ser partilhado com as demais IMFs

5.3.5. Discussão e tomada de decisões com o Steering Committee

Os membros do Steering Committee farão os seus comentários e sugestões sobre:a) O conteúdo do questionário.

b) Os relatórios

5.3.6. CronogramaAgosto, Setembro, Outubro, Novembro

5.4. Fase D: Pesquisa qualitativa dos impactos

5.4.1. Objectivos

a) Melhorar a compreensão do impacto do acesso a serviços financeiros sobre os clientes e ex-clientes do sexo feminino e masculino, os seus negócios, os membros dos seus agregados familiares e os seus trabalhadores.

b) Obter informações sobre o grau de satisfação dos clientes do sexo feminino e masculino, as experiências dos clientes com o mercado, a procura por produtos adicionais e os motivos da desistência.

c) Obter um melhor entendimento do impacto dos serviços microfinanceiros sobre a potencialização das mulheres, com relação aos clientes da Tchuma.

d) Correlacionar as constatações acerca do impacto (ou da falta do mesmo), ao comportamento relativo à contracção de empréstimos, ao reembolso e à poupança.

117

5.4.2. Pressupostos

a) O impacto é complexo e varia significativamente entre os clientes131. Alguns beneficiam mais do que outros, alguns podem também sofrer (p. ex., contracção de empréstimos muito elevados ou dificuldades de reembolso originadas por problemas pessoais). É útil ter conhecimento do impacto inesperado assim como o previsto.

b) O problema de atribuição do impacto aos serviços financeiros será abordado eficazmente por este método qualitativo. O impacto pode ser apurado com base na coerência das próprias narrativas dos clientes e da coerência entre as narrativas dos clientes. Com um registo exacto, o processo de inferir sobre o impacto, poderá ser sujeito à confirmação ou à revisão pelos pares. Portanto, pode ser tão rigoroso quanto a avaliação quantitativa e estatística do impacto.

5.4.3. Actividades

a) Seleccionar uma pequena amostra aleatória de clientes e ex-clientes, a partir da amostra usada para a análise dos dados da avaliação dos empréstimos. A selecção será estratificada consoante a categoria do cliente.

b) Seleccionar uma amostra adicional de clientes do sexo feminino e masculino da Tchuma e do NovoBanco, com conta de depósito à ordem.

c) Elaborar um questionário e discutir o mesmo com cada IMF envolvida

d) Realizar entrevistas detalhadas, qualitativas e semi-estruturadas com os clientes seleccionados, em conformidade com as directrizes “QUIP”.

e) Analisar e resumir estes dados conforme está descrito nas directrizes QUIP. Elaborar um sistema simples de contagem para quantificar as constatações e analisar estas contagens em relação às constatações da análise dos dados das IMFs, de forma a obter uma melhor compreensão de que clientes (m/h) estão melhor ou pior e por que razão.

f) Redigir um relatório sobre as constatações da pesquisa qualitativa de cada IMF

g) Discutir o relatório com a direcção de cada IMF, e decidir que partes do relatório podem ser partilhadas com as demais IMFs

h) Discutir com as IMFs se serão necessárias discussões de grupos focais para um melhor entendimento de certos assuntos.

i) Organizar discussões de grupos focais caso seja necessário.

j) Redigir um relatório sobre as discussões de grupos focais segundo a metodologia elaborada pela MicroSave África.

k) Redigir um relatório e discutir com as IMFs as constatações das discussões de grupos focais.

l) Redigir e discutir um relatório agregado das constatações das entrevistas aprofundadas e eventualmente das discussões de grupos focais.

5.4.5. Resultado esperado

a) Questionários por cada IMF

b) Relatórios por cada IMF sobre os resultados do inquérito qualitativo

131 Também possui dimensões materiais, de relacionamento, de atitude e cognitivas, as quais podem ser importantes. Veja sobre isto M. Chen (1998?): “Individual Impacts of Microfinance”. Disponível a partir do site de Internet da USAID AIMS.

118

c) Relatório agregado sobre os resultados do inquérito qualitativo

5.4.5. Discussão e tomada de decisões com o Steering Committee

Os membros do Steering Committee farão comentários e sugestões sobre:

a) A selecção dos clientes a serem entrevistados. Os doadores eventualmente estarão particularmente interessados em entrevistar um número significativo dos clientes mais pobres. As instituições, por outro lado, poderão estar particularmente desejosas de entrevistar clientes mais antigos e mais estabelecidos que tenham revelado maior potencial de crescimento.

b) Os questionários

c) Os relatórios para as IMFs

d) O relatório agregado

5.4.6 Cronograma

Outubro, Novembro, Dezembro de 2004; Janeiro, Fevereiro, Março de 2005

5.5. Fase E: Institucionalização

5.5.1. Objectivos

a) Avaliar a relevância das constatações para a planificação estratégica das IMFs

b) Examinar o campo disponível para continuar a monitoria e avaliação dos clientes como uma actividade normal dentro de cada instituição, de modo a proporcionar a base para a planificação estratégica.

5.5.2. Pressupostos

a) Há um interesse na gestão de topo da instituição (e entre os seus investidores) na monitoria permanente de alguma forma do desempenho social.

b) Um trabalho deste tipo gera dados úteis para efeitos de planificação estratégica, desenvolvimento de produtos, formação do pessoal e marketing, ajudando assim a justificar os seus custos.

c) A experiência de aprendizagem na implementação deste projecto, torna possível a agilização de tal trabalho e deste modo reduzir os seus custos para níveis aceitáveis.

d) A auditoria periódica deste tipo de trabalho é aceite pelos doadores externos como um substituo mais do que suficiente de avaliações independentes do impacto.

5.5.3. Actividades

a) Redigir um relatório sintético para as IMFs e para a Plataforma Micro-financeiraHolandesa, apresentando:

Uma descrição geral do sector de microfinanças em Moçambique

Uma análise do impacto sobre a pobreza e do impacto das três IMFs, através do resumo das três avaliações individuais de impacto

Conclusões e problemas para o desenvolvimento de políticas adicionais

b) Debater o relatório final com o pessoal Sénior, membros do Conselho e membros do

119

Steering Committee, num workshop conjunto

c) Avaliar a possibilidade de estabelecer rotinas de recolha de alguns indicadores sociais. Isto teria que ser feito através da realização de inquéritos periódicos aos clientes, ou através da inclusão dum número reduzido de indicadores sociais nos sistemas de recolha de informações.

d) Ponderar a justificação da retenção de alguma capacidade para encomendar mais estudos de impacto, quer através da contratação de consultores especializados, quer como parte do plano de trabalho do pessoal de pesquisa/marketing.

5.5.4. Produtos esperados

a) O relatório de síntese

b) As conclusões do workshop

5.5.5. Discussão e tomada de decisões com o Steering Committee

Os membros do Steering Committee farão comentários e sugestões sobre o relatório de síntese. Será organizado um workshop conjunto com os membros do Steering Committee, a direcção das IMFs e os membros dos conselhos para se debater os resultados da avaliação e eventuais medidas adicionais.

5.5.6. CronogramaMarço de 2005

Referências bibliográficas

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Dewez, D., k.Welch & P. Lee Devaney (2003) ACCION Poverty Outreach Findings: SOGESOL, Haiti. Insight No. 8, ACCION, Boston, USA.

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McGregor, J.A. (2000) How can impact assessment take into account wider social and

120

economic impacts? Imp-Act Working Paper no. 3. Brighton: The Institute of Development Studies, University of Sussex

National Directorate of Planning and Budget & Economic Research Bureau of the Ministry of Planning and Finance, IFPRI and Purdue University (2004) Poverty and Well-Being in Mozambique: The second National Assessment. Maputo, Mozambique.

NovoBanco(2004) Annual report 2003.

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SOCREMO (2004) Mercado Microfinanças (mimeo). Maputo: SOCREMO.

Tchuma (2004) Narrative report Tchuma for Hivos: January-December 2003.

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Welch, K.H. & P.L. Devaney (2003) ACCION Poverty Outreach Findings & Analysis: Mibanco, Peru. ACCION.

Wright, K. (2004) Researching diverse impacts of microfinance: findings from qualitative studies in Peru.(mimeo)

Zeller, M. (2004) Review of Poverty Assessment Tools. Report submitted to IRIS and USAID as part of the Developing Poverty Assessment Tools Project. Maryland, USA.

121

Anexo 2: Relatórios por fase da avaliação

Consultações e preparativos iniciais (Fase A):

G.Athmer and H. Hunguana, December 2004: Characteristics of the microfinance sector, and of the three institutions involved in the impact assessment. www.microfinance.nl

Relatórios que analisam os dados da avaliação dos créditos (Fase B):

H. Bekkers in cooperation with G.Athmer, August 2005: Changes over time in businesses and households of SOCREMO´s clients divided by loan categories

H.Bekkers in cooperation with G. Athmer, November 2005: Changes over time in businesses and households of Tchuma´s clients divided by loan categories.

G.Athmer in cooperation with H. Bekkers, November 2005: Changes over time in businesses and households of NovoBanco´s clients divided by loan categories.

Relatório de avaliação da pobreza (Fase C):

H.Bekkers in cooperation with G.Athmer, October 2005: Poverty outreach assessment of Tchuma´s clients.

Relatórios sobre as entrevistas aprofundadas (Fase D):

B. Murambire, Dezembro de 2005: Pesquisa qualitativa aos clientes e clientes não activos da Tchuma.

H. Hunguana, Dezembro de 2005. Pesquisa qualitativa aos clientes de NovoBanco.

G.Athmer, December 2005. In depth interviews NovoBanco´s clients with deposit accounts

G.Athmer, December 2005. In depth interviews Tchuma´s clients with deposit accounts

F. de Vletter, January 2006. Microfinance impact study: results of four client categories of SOCREMO (Maputo)

F. de Vletter, January 2006: Microfinance impact study: in-depth interviews with dropouts of NovoBanco (Maputo)

122

Anexo 3 Investidores e parceiros das IMFs

Tabela 1: Estrutura societária da SOCREMO132

Accionista Percentagem das acções (16 de Janeiro de 2004)

Gabinete de Promoção do Emprego (Governo de Moçambique)

34%

GAPI Sociedade de Promoção de Pequenos Investimentos

11%

LFS 15%UGC (União Geral de Cooperativas) 3%CCM (Conselho Cristão de Moçambique) 3%KfW 34%

Tabela 2: Parceiros da SOCREMO, em 2004

4.3.1 Parceiro Créditos Assistência técnica/subsídio

ACDI (Fundo Espanhol de Micro-crédito) XBanco de Fomento (MZ) XFundo de Desenvolvimento do Micro-Crédito do Deutsche Bank XNOVIB XFundo Triodos da Hivos (HTF) XBanco Triodos XGTZ (Cooperação Técnica Alemã) XCIM (Centrum für internationale Migration und Entwicklung)(faz parte da GTZ)

X

Fundo do DFID de Desafio de Aprofundamento Financeiro XLFS X

Tabela 3: Estrutura Societária da Tchuma

Investidores Percentagem das cotasFDC (Fundo de Desenvolvimento Comunitário) 49,9SCI (Holding) 49,9Membros fundadores 0,2

Tabela 4: Parceiros da Tchuma, em 2004:

Parceiro Créditos Subsídio/assistência técnica

Hivos XAcción Internacional X

Caixa Cataluña / Fundación Um Sol Mon X XMicroStart Moçambique XAction Aid XUSAID/IGP XGAPI XEMOSE (seguradora) X

132 As acções estão denominadas em meticais. Uma vez que o investimento da KfW está em EUR e será convertido para MZM, a

percentagem final das cotas depende da taxa de câmbio no dia do investimento.

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Tabela 5: Estrutura societária do NovoBanco em 2004

Accionista Percentagem das acções133

BIM - Banco Internacional de Moçambique 30%IMI - Internationale Micro Investitionen 25%IFC - Corporação Internacional Financeira 10,39%Fundação DOEN 20,32%FMO - Nederlandse Financierings Maatschappij voor Ontwikkelingslanden

10,39%

FFH - Fundo de Fomento para Habitação 3,9%

Parceiros de AT do NovoBanco: Fundação DOEN, FMO, USAID

133 Em 19 de Maio de 2004