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RELATÓRIO DE HIDROLOGIA CPRM SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL Equipe técnica: Lígia Maria Nascimento de Araújo Ivete Souza de Almeida Daniel Medeiros Moreira

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RELATÓRIO DE HIDROLOGIA

CPRM – SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL

Equipe técnica: Lígia Maria Nascimento de Araújo

Ivete Souza de Almeida

Daniel Medeiros Moreira

SUMÁRIO

1. Introdução

2. Delimitação da bacia hidrográfica

3. Rede hidrometeorológica existente

4. Estudos e informações hidrológicas disponíveis

5. Hidrologia e climatologia das regiões e unidades geoambientais

6. Estimativa da Erosividade da Chuva para determinação da Ecodinâmica

7. Vulnerabilidade do ponto de vista da disponibilidade hídrica superficial

8. Vulnerabilidades no recorte da divisão regional de influência

Referências Bibliográficas

1. Introdução

Este relatório apresenta a metodologia adotada na produção do tema hidrologia para o ZEE-BHSF e relaciona os dados e informações disponíveis e utilizados nas análises. Tem a finalidade de mostrar os procedimentos adotados e contribuir para integração do tema aos demais considerados no ZEE-BHSF, tais como Unidades Ambientais, Vegetação, Biodiversidade e Geologia. A maior parte dos dados e informações utilizados foi compilada dos estudos hidrológicos que serviram de base para a elaboração do Plano

de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco PBHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004) e outros estudos já existentes elaborados pela CPRM - Serviço Geológico do Brasil.

2. Delimitação da bacia hidrográfica

Dada a existência do Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São

Francisco PBHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004) e dos estudos hidrológicos que serviram de base para a sua elaboração, procurou-se adotar, para este ZEE-BHSF, a mesma delimitação da bacia hidrográfica utilizada naqueles estudos. O arquivo vetorial com a delimitação da bacia recebido da ANA apresentou algumas divergências em relação à carta ao milionésimo adotada como base cartográfica para o ZEE-BHSF e, em especial, criaria dificuldades quanto à definição dos municípios realmente contidos na bacia. Constatada a necessidade de rever a delimitação da bacia hidrográfica, adotou-se a Base Cartográfica Integrada Digital do Brasil ao Milionésimo - Versão 2.0 para ArcGis de agosto de 2006 e todo o contorno da bacia foi analisado e redefinido.

A opção pela base integrada se deu porque esta apresenta coincidência entre as feições gráficas da divisão municipal e da hidrografia, onde as divisas são definidas pelos cursos d’água, e compatibilidade entre a malha municipal e a hipsografia onde as divisas seriam definidas pelos divisores de bacias. A malha municipal utilizada na delimitação da bacia hidrográfica refletia a situação do ano 2000 e foi então atualizada pelo IBGE com a inclusão do município de Luís Eduardo Magalhães criado após o ano 2000.

O procedimento de delimitação considerou a existência dos arquivos vetoriais:

1- hidrografia v. 2.0 – HD

2- hipsometria v. 2.0 – HP

3- limites municipais - MMD_Município_2000

4- SubN1 (ANA)

Adotou-se como divisor da bacia o traçado da malha municipal onde as divisas pareceram ser o divisor da bacia, observando-se a hidrografia e a hipsometria. Nos pontos onde as divisas se afastavam do divisor hidrográfico, adotou-se o traçado do SubN1 se este apresentava-se coerente com a hidrografia e hipsometria da carta 1:1.000.000 e onde se mostrava incoerente, o traçado foi refeito para torná-lo compatível com a base.

Algumas situações de divergências entre hidrografia, hipsometria e malha municipal da mesma base 1:1.000.0000 exigiram opções entre considerar-se certa uma ou outra feição:

a) onde a hidrografia apresentou incompatibilidade com a hipsografia, deu-se como certa a hidrografia e incorporou-se o trecho de rio à bacia do São Francisco, definindo-se o traçado do divisor ultrapassando a linha de pontos altos sugeridas pela hipsometria da base;

b) onde as divisas municipais, que seriam também divisor da bacia, cortavam a hidrografia do São Francisco em pontas muito pequenas (< 1 km de rio) aceitou-se a divisa como divisor, mas não se cortou a hidrografia;

c) onde as divisas municipais, que seriam também divisor da bacia, cortavam a hidrografia da bacia vizinha como que incorporando esses pedaços (pontas muito pequenas < 1 km de rio), aceitou-se a divisa como divisor mas não se incorporou à BHSF a hidrografia pertencente à bacia vizinha.

A bacia resultante da revisão apresenta área de 636.477km², sendo a área da delimitação utilizada no PBHSF e fornecida pela ANA igual a 634.781km², uma diferença inferior a 0,3%.

No PBHSF foram definidas 34 unidades de planejamento de usos dos recursos hídricos, constituindo sub-bacias hidrográficas compatibilizadas segundo a divisão política e as unidades de gerenciamento de recursos hídricos dos estados presentes na BHSF, e

ainda de acordo com as quatro regiões fisiográficas Alto, Médio, Submédio e Baixo , conforme a Figura 1.

Medio

Alto

Sub-Medio

Baixo

Grande

Corrente

Paracatu

Velhas

Urucuia

Pajeú

Alto Grande

Brígida

Pacuí

Pará

Salitre

Verde e Jacaré

Verde Grande

Curaçá

Macururé

Carinhanha

MoxotóPontal

Paraopeba

Jequitaí

Paramirim, Santo Onofre e Carnaíba de Dentro

Margem Esquerda de Sobradinho

Pandeiros, Pardo e Manga

Garças

Em torno de Três Marias

Terra Nova

Alto Ipanema

Afluentes Mineiros do Alto S. F.

Baixo Ipanema e Baixo S. F.Curituba

Alto Preto

Baixo S. Francisco (SE)

Rio de Janeiro e Formoso

Figura 1 - Unidades hidrográficas de planejamento do PBHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004).

Adicionalmente, no PBHSF foram delimitadas 12.821 microbacias com a finalidade de caracterizar os trechos dos principais cursos d’água, em especial sob os pontos de vista hidrológico e de uso dos seus recursos hídricos.

3. Rede hidrometeorológica existente

A rede hidrometeorológica operada pela CPRM em cooperação com a ANA na bacia do rio São Francisco conta com 467 estações, sendo 126 pluvio-fluviométricas, 76 fluviométricas e 265 estações pluviométricas. A distribuição espacial das estações da rede ANA/CPRM pode ser vista na Figura 2.

Figura 2 – Distribuição espacial da rede hidromeoteorológica ANA/CPRM na BHSF.

Nos estudos para elaboração do Plano de Recursos Hídricos da BHSF foram utilizados os dados das estações meteorológicas das Normais Climatológicas (INMET, 1992). As Figuras 3a e 3b ilustram a distribuição espacial de 39 estações do INMET situadas na BHSF e ao seu redor, e as isoietas delineadas com base nos dados das Normais do período 1961-1990.

Figura 3a - Rede meteorológica do INMET na BHSF e ao seu redor, utilizada para cálculo das Normais Climatológicas (INMET, 1992).

Figura 3b – Isoietas totais anuais médias (1961-1990) e classificação por faixas de pluviosidade nas microbacias do PBHSF.

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IRECEBARRA

FRANCA

POMPEU

BAMBUI

AIMORES

TRIUNFO

CABROBO

IBIRITE

FORMOSA

REMANSO

CAETITE

BARBALHA

FLORESTA

PARACATU

ESPINOSA

BRASILIA

JACOBINA

BARBACENA

ARCOVERDE

BARREIRAS

MONTE AZUL

DIAMANTINA

CORRENTINA

CARINHANHA

SETE LAGOAS

CAMPOS SALES

PAULO AFONSO

MONTES CLAROS

JOAO PINHEIRO

PATOS DE MINAS

BELO HORIZONTE

MORRO DO CHAPEU

PALMEIRA DOS INDIOS

SANTA RITA DE CASSIA

CONCEICAO DO MATO DENTRO

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IRECEBARRA

FRANCA

POMPEU

BAMBUI

AIMORES

TRIUNFO

CABROBO

IBIRITE

FORMOSA

REMANSO

CAETITE

BARBALHA

FLORESTA

PARACATU

ESPINOSA

BRASILIA

JACOBINA

BARBACENA

ARCOVERDE

BARREIRAS

MONTE AZUL

DIAMANTINA

CORRENTINA

CARINHANHA

SETE LAGOAS

CAMPOS SALES

PAULO AFONSO

MONTES CLAROS

JOAO PINHEIRO

PATOS DE MINAS

BELO HORIZONTE

MORRO DO CHAPEU

PALMEIRA DOS INDIOS

SANTA RITA DE CASSIA

CONCEICAO DO MATO DENTRO

12

00

mm

1150mm

1250m

m

11

00

mm

950m

m

900mm

1350m

m

850m

m

75

0m

m

1500m

m

800m

m

700mm

65

0m

m600m

m

550mm

80

0m

m

Legenda

Isoietas totais anuais

! EStações INMET

Precipitação em mm

550

551 - 1000

1001 - 1250

1251 - 1500

1501 - 1750

A Tabela 1 a seguir apresenta os dados climatológicos das estações do INMET situadas na bacia e ao seu redor.

Tabela 1 – Estações das Normais Climatológicas

UF NOME DO MUNICÍPIO

T_MED ºC

T_MIN ºC

T_MAX. ºC

P_TOTAL (mm)

E_TOTAL (mm)

UR % Altitude

(m) PERIODO

AL PALMEIRA DOS INDIOS 24,4 20,1 30,2 869,5 1669,3 75,5 274,9 75/90

BA BARRA 25,5 19,4 32,2 661,1 2259,7 60,6 401,6 61/90

BA BARREIRAS 24,3 18,1 31,9 1121,8 1575,4 67,8 439,3 61/90

BA BOM JESUS DA LAPA 25,3 19,1 32,0 830,5 2089,8 61,6 440,0 61/90

BA CAETITE 21,3 16,5 26,8 890,8 1687,5 68,4 882,5 61/90

BA CARINHANHA 25,0 19,1 31,2 813,7 2304,1 57,5 440,1 61/90

BA CORRENTINA 23,5 17,5 30,3 1085,3 1771,4 71,1 587,0 61/90

BA IRECE 23,1 17,6 29,5 653,5 2061,7 63,2 747,2 61/90

BA JACOBINA 24,0 19,4 29,7 851,1 1908,9 72,0 484,7 61/90

BA MORRO DO CHAPEU 19,7 15,9 25,1 748,9 1461,2 78,5 1003,3 61/90

BA PAULO AFONSO 25,6 22,4 31,7 582,9 2648,9 67,5 252,7 61/90

BA REMANSO 26,4 21,5 32,1 696,0 2346,3 60,1 400,5 61/90

BA SANTA RITA DE CASSIA 24,1 17,1 32,2 1006,4 1739,5 68,2 550,3 61/90

DF BRASILIA 21,2 16,1 26,6 1552,1 1692,3 67,0 1159,5 63/90

GO FORMOSA 21,5 16,8 27,7 1485,3 1721,1 69,0 912,0 61/90

MG BAMBUI 20,7 14,6 28,5 1426,3 1243,2 80,0 661,3 72/90

MG BELO HORIZONTE 21,1 16,7 27,1 1491,3 1217,4 72,2 850,0 61/90

MG CONCEICAO DO MATO DENTRO 20,8 14,9 28,1 1521,3 770,1 75,7 652,0 71/90

MG DIAMANTINA 18,1 14,1 23,8 1404,7 1308,8 76,7 1296,1 72/90

MG ESPINOSA 24,1 19,1 30,3 749,8 2263,7 59,8 569,8 74/90

MG IBIRITE 20,5 14,2 27,8 1480,4 980,6 75,5 814,5 61/90

MG JOAO PINHEIRO 22,5 16,5 28,8 1441,5 1518,2 70,1 760,4 61/90

MG MONTE AZUL 24,0 19,7 29,9 827,7 2359,8 62,8 603,6 75/90

MG MONTES CLAROS 22,4 16,7 29,3 1082,3 1396,9 66,6 646,3 69/90

MG PARACATU 22,6 17,3 29,1 1438,7 1314,3 74,2 711,4 74/90

MG PATOS DE MINAS 21,1 16,3 27,8 1474,4 1222,2 69,1 940,3 61/90

MG POMPEU 22,1 16,4 29,2 1230,3 1432,5 76,2 690,9 73/90

MG SETE LAGOAS 20,9 15,9 28,2 1328,7 1051,9 70,5 732,0 61/90

PE ARCOVERDE 22,9 18,2 29,3 694,2 1828,3 69,6 680,7 73/90

PE CABROBO 25,8 21,1 30,9 517,4 3547,2 59,4 341,6 61/90

PE FLORESTA 26,5 20,5 32,7 622,8 2072,4 61,5 309,7 61/88

PE PETROLINA 26,3 21,5 31,8 609,8 3221,6 58,0 370,5 61/90

PE TRIUNFO 21,0 16,7 26,2 1372,5 1509,1 72,7 1019,5 61/90

CE BARBALHA 25,2 20,5 31,5 1001,4 2288,6 63,6 409,0 68/90

CE CAMPOS SALES 24,1 20,1 30,7 619,2 2493,6 64,2 583,5 61/90

MG AIMORES 24,6 19,4 31,2 1162,6 1223,8 77,2 82,7 73/90

MG BARBACENA 18,0 13,8 24,4 1436,1 775,5 81,6 1126,0 61/90

SP FRANCA 17,9 15,4 22,9 1623,3 1580,8 69,0 1027,0 61/90

SP SAO CARLOS 19,6 14,9 25,0 1495,1 1497,9 78,0 856,0 61/90

4. Estudos e informações hidrológicas disponíveis

Dentre os estudos existentes, podem-se destacar, por sua atualidade e abrangência para toda a bacia, os do Projeto de Gerenciamento Integrado das Atividades Desenvolvidas em Terra na BHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004), conhecido como Projeto GEF - São Francisco, com seus diversos Subprojetos, um dos quais constitui o Plano Decenal de Recursos Hídricos da BHSF (2004-2013), cuja versão preliminar fundamentou a elaboração do Plano de Recursos Hídricos da BHSF; e o Programa de Ações Estratégicas para o Gerenciamento Integrado da Bacia do Rio São Francisco e da sua Zona Costeira - PAE (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2003), que consiste na última etapa do Projeto.

Os estudos hidrológicos para o PBHSF resultaram no estabelecimento das características hidrológicas relevantes para planejamento atribuídas a cada uma das 12.821 microbacias delimitadas. As informações estão organizadas em uma base de dados que consiste numa tabela de atributos associada ao mapa das microbacias no ambiente ArcGis.

Além da base de dados para planejamento, os estudos para o PBHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004) reuniram diversos mapas e informações existentes de interesse para o ZEE-BHSF, tais como mapas de localização dos domínios aqüíferos, hidrogeológico, de áreas irrigadas, das hidrelétricas existentes e planejadas, das principais barragens existentes e programadas e de unidades de conservação, dentre outros.

A CPRM, em cooperação técnica com a ANEEL, elaborou os estudos de regionalização de variáveis hidrológicas das bacias do Alto São Francisco e do rio das Velhas (CPRM, 2001). Esses estudos apresentam a disponibilidade hídrica nos cursos d’água dessas sub-bacias, as isoietas totais anuais, e mapas de localização dos sistemas aqüíferos, geológico e geomorfológico.

Para toda a bacia são disponíveis as isoietas totais anuais médias e totais dos trimestres mais chuvoso e mais seco considerando-se o histórico de dados das estações pluviométricas da bacia até o ano de 1993 (CPRM, 1997).

As Normais Climatológicas (INMET, 1992) apresentam variáveis mensais médias do período 1961-1990, tais como precipitação total, precipitação máxima de 24horas, evaporação total, insolação total, umidade relativa do ar média, pressão atmosférica, temperaturas diárias média, mínima e máxima absoluta e temperaturas mínimas e máximas mensais. Os valores anuais médios de algumas dessas variáveis para as estações situadas na BHSF e ao seu redor encontram-se na Tabela 1.

Dispõe-se ainda do mapa de Domínios e Subdomínios Hidrogeológicos da BHSF um recorte do mapa produzido para o Brasil elaborado na escala 1:000.000 (CPRM, 2006), com base Carta Geológica ao Milionésimo (CPRM, 2004).

5. Hidrologia e climatologia das regiões e unidades geoambientais

As características hidrológicas e climatológicas da bacia do São Francisco podem ser sintetizadas pelas informações reunidas no Quadro 1 abaixo. Verifica-se uma grande variação das características ao longo da bacia quando se comparam as quatro regiões fisiográficas.

Quadro 1 - Principais características hidroclimáticas da Bacia do São Francisco.

Característica Regiões Fisiográficas

Alto Médio Submédio Baixo

Clima predominante Tropical úmido e temperado de altitude

Tropical semi-árido e sub-úmido seco

Semi -árido e árido Sub-úmido

Precipitação média anual (mm)

2.000 a 1.100 (1.372)

1.400 a 600 (1.052) 800 a 350 (693) 350 a 1.500 (957)

Evapotranspiração média anual (mm)

1.000 1.300 1.550 1.500

Temperatura média (ºC)

23 24 27 25

Insolação média anual (h)

2.400 2.600 a 3.300 2.800 2.800

Fonte: PBHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004)

Dentre as informações disponíveis na base de dados do PBHSF, foram consideradas relevantes para o ZEE-BHSF as características climatológicas e hidrológicas, tais como a precipitação total anual (pluviosidade), evaporação total anual e disponibilidade hídrica específica, dada pela vazão com 95% de permanência no tempo no trecho do curso d’agua dividida pela área da microbacia.

Com os dados das Normais Climatológicas foram traçadas as isoietas totais anuais, as isolinhas de temperatura média, de temperatura máxima, de temperatura mínima, de umidade relativa do ar e de evaporação total.

A conformação das isoietas delineadas com base nos dados das estações do INMET é coerente com as faixas de pluviosidade definidas pela classificação dos dados de precipitação anual média nas microbacias do PBHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004), como se pode verificar na Figura 3a e é também consistente com as isoietas definidas pela CPRM em 1997, embora estas apresentem maior detalhe, dada a maior quantidade de estações utilizadas (202 estações pluviométricas da rede hidrometeorológica do MME).

Para complementar as informações da base hidroclimatológica, foram então utilizadas somente as isolinhas de temperatura, uma vez que os dados de precipitação e de evaporação nas sub-bacias já constavam da base de dados do PBHSF.

Utilizando-se a base de dados do PBHSF, isto é, a tabela de atributos das microbacias no ArcGis, definiram-se as características médias, máximas e mínimas de cada uma das 34 unidades hidrográficas de planejamento (Figura 1). Utilizando-se as isolinhas de temperatura média foram definidas as faixas de variação também da temperatura nas 34 sub-bacias. Com os mapas das características hidroclimáticas das sub-bacias e as unidades ambientais definidas pela geomorfologia, pedologia e geologia foram verificadas as faixas de variação da pluviosidade, evaporação, disponibilidade hídrica superficial (vazão específica de 95% de permanência) e temperatura média para cada unidade geoambiental com a finalidade de compor a Matriz Geombiental do São Francisco.

A informação de disponibilidade hídrica deve ser utilizada para estimar a vazão de 95% de permanência em l/s nos cursos d’agua, procedendo-se da seguinte forma: define-se a área da bacia de contribuição ao ponto interesse sobre o curso d’água e multiplica-se o índice específico do local em l/s.km² pelo valor da área encontrada em km².

6. Estimativa da Erosividade da Chuva para determinação da Ecodinâmica

Para análise conjunta com a erodibilidade morfo-estrutural das unidades geoambientais, propõe-se a avaliação da erosividade da precipitação na bacia, a fim de se determinar então a vulnerabilidade das unidades em relação à ecodinâmica.

Os dados disponíveis sobre características das precipitações para toda a bacia são as isoietas dos totais anuais médios e as isoietas dos trimestres mais chuvoso e mais seco. A alta concentração de precipitação em três meses do ano, trimestre mais chuvoso, poderia ser indicativo da ocorrência de chuvas intensas. De forma simplificada, estabeleceu-se uma relação entre o trimestre mais chuvoso e os totais anuais como indicador da erosividade da chuva, quanto mais alto este valor mais concentradas seriam as chuvas.

A relação percentual da precipitação do trimestre mais chuvoso (P_ trimchuv) sobre o total anual (P_ano) permitiria a informação sobre a ocorrência sistemática de chuvas concentradas no tempo. Essa relação foi estabelecida para toda a área da bacia como índice de erosividade da precipitação,

X % = (P_trimchuv/ P_ano) * 100

Para relacionar a erosividade da chuva com a erodibilidade natural morfo-estrutural em uma análise espacial, foram atribuídos valores numéricos, como graus de erodibilidade, à classificação previamente estabelecida para a morfodinâmica (ou morfo-estrutural), conforme Tabela 2 a seguir.

Tabela 2 - Graus atribuídos à classificação morfodinâmica Morfodinâmica

classificada Grau atribuído

Extremamente Instável 5

Muito Instável 4

Instável 3

Transição para Instável 2

Água 0

Metrop_BH 10

O valor alto atribuído à Região Metropolitana de Belo Horizonte (Metrop_BH) e o zero atribuído às massas d’água permitiriam destacar essas unidades das demais na análise espacial, quando necessário.

Utilizando uma operação de álgebra de mapa com os graus da morfodinâmica multiplicando-os pelo índice de erosividade dado em percentual, resultou uma nova classificação para a bacia do ponto de vista da ecodinâmica, conforme Tabela 3 a seguir:

Tabela 3 - Classificação quanto à ecodinâmica Valores resultantes da análise espacial

Classificação

0 Água

30 – 118 Baixa

118 – 147 Média-Baixa

147 – 180 Média

180 – 224 Média-Alta

224 – 330 Alta

365 – 655 Metro_BH

Com um procedimento automático de análise espacial para a bacia que excluiu as áreas de Água (massas d’água) e Metro_BH (região metropolitana de Belo Horizonte) com valores iguais a zero e superiores a 365, o mapa com a configuração inicial da ecodinâmica da bacia foi transposto para as regiões de influência dadas pelo estudo da socioeconomia. A Figura 4 a seguir apresenta o mapa da variável ecodinâmica e sua legenda final para as regiões de influência.

Figura 4 – Vulnerabilidade natural ecodinâmica para as regiões de influência.

7. Vulnerabilidade do ponto de vista da disponibilidade hídrica superficial

Os estudos de disponibilidade hídrica para o PBHSF (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004) basearam-se principalmente no projeto “Revisão de vazões naturais nas principais bacias do Sistema Interligado Nacional” (ONS, 2003 apud ANA/GEF/OEA, 2004), que determinaram as vazões para as sub-bacias entre os principais aproveitamentos hidrelétricos (Três Marias, Queimados, Sobradinho, Itaparica, Moxotó, Paulo Afonso e Xingó) para o período 1931 e 2001.

Para completar a informação da disponibilidade hídrica e contemplar as 34 unidades hidrográficas em que se subdividiu a bacia, foram utilizados estudos existentes de regionalização de vazões, planos diretores de recursos hídricos e estudos complementares de disponibilidade e demanda (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004).

A disponibilidade hídrica na bacia do São Francisco foi então definida considerando-se para os rios sem reservatório de regularização como sendo igual à vazão natural com 95% de permanência, e, para os rios regularizados, como igual à vazão de regularização somada ao incremento de vazão natural com 95% de permanência dos afluentes ao trecho. Os trechos de vazão regularizada expressiva são os de jusante dos reservatórios de Três Marias e Sobradinho.

A vazão de 95% de permanência representa a vazão excedida ou igualada no rio em 95% do tempo. É uma vazão mínima natural de referência utilizada nos balanços disponibilidade-demanda na concessão de outorgas de direitos de uso da água.

Sobre a contribuição de cada sub-bacia em termos de vazões para o curso principal, sabe-se que os afluentes que mais contribuem para a vazão natural média do rio São Francisco até sua foz, em ordem de importância, são: rio Paracatu, das Velhas, Grande e Urucuia. Em relação à vazão de 95%, as maiores contribuições são as dos rios: Grande, Corrente, Velhas, Paracatu e Carinhanha, mostrando a importância do sistema aqüífero Urucuia-Areado que é expressivo nas bacias dos rios Grande, Corrente e Carinhanha (ANA/GEF/PNUMA/OEA, 2004).

No trecho médio do rio São Francisco, os afluentes da margem direita apresentam características hidrológicas de condições semi-áridas, sendo em sua maioria intermitentes.

No estabelecimento das disponibilidades hídricas consideram-se para o trecho a montante de Três Marias e para cada afluente do curso principal a vazão de 95% de permanência correspondente. Para os trechos do curso principal entre Três Marias e Sobradinho, consideram-se as vazões dos afluentes contribuintes do trecho somadas à vazão regularizada por Três Marias. Já para o trecho entre Sobradinho e a Foz, considera-se somente a vazão regularizada por Sobradinho, uma vez que as contribuições dos afluentes do trecho podem ser consideradas nulas.

Para inclusão da disponibilidade hídrica superficial como fator de vulnerabilidade na análise das regiões de influência deve-se considerar a proximidade da região ao curso principal do São Francisco. No curso principal há disponibilidade hídrica alta, mas afastando-se dele, a disponibilidade hídrica poderá ser nula, com na região do Médio São Francisco. A disponibilidade hídrica foi então classificada em Baixa, Média-Baixa, Média, Média-Alta e Alta.

Figura 5 – Disponibilidade hídrica natural nos cursos d’água para as regiões de influência.

Barreiras

Brasília

Belo Horizonte

Janaúba

Montes Claros

Petrolina-Juazeiro

Bom Jesus da Lapa

Salgueiro

Irecê

Januária

JacobinaXique-Xique

Patos de Minas

Serra Talhada

Arapiraca

Araripina

Paulo Afonso

Propriá

Legenda

Disponibilidade hídrica

Baixa

Media Baixa

Media

Media Alta

Alta

8. Vulnerabilidades no recorte da divisão regional de influência

Consideradas as análises feitas do ponto de vista da ecodinâmica e da disponibilidade hídrica para as unidades geoambientais na bacia hidrográfica do São Francisco, foram determinados no recorte regional, de forma automatizada, os valores médios, máximos e mínimos das variáveis determinantes das vulnerabilidades. Os resultados estão explicitados na Tabela 4 e nas Figuras 4 e 5 a seguir.

Tabela 4 - Vulnerabilidades DIVISÃO REGIONAL Vulnerabilidade Natural

ARAPIRACA

Área de médio-baixo risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média disponibilidade hídrica natural superficial nos afluentes do rio São Francisco. Precipitação total anual média igual a 1.041mm e Evapotranspiração total anual média igual a 993mm.

ARARIPINA

Área de médio-alto risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média-baixa disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 649mm e Evapotranspiração total anual média igual a 618mm.

BARREIRAS Área de médio-baixo risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de alta disponibilidade hídrica natural superficial nos afluentes do rio São Francisco. Precipitação total anual média igual a 1.220mm e Evapotranspiração total anual média igual a 1.093mm.

BELO HORIZONTE

Área de médio risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de alta disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 1.415mm e Evapotranspiração total anual média igual a 988mm. Rural Área de alto risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de alta disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 1.355mm e Evapotranspiração total anual média igual a 941mm.

BOM JESUS DA LAPA/IBOTIRAMA

Área de médio risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média-alta disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 1.054mm e Evapotranspiração total anual média igual a 870mm.

BRASÍLIA Área de médio risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média-alta disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 1.550mm e Evapotranspiração total anual média igual a 1.100mm.

IRECÊ Área de médio-alto risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de baixa disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 790mm e Evapotranspiração total anual média igual a 788mm.

JACOBINA

Área de baixo risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de baixa disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 829mm e Evapotranspiração total anual média igual a 825mm.

JANAÚBA-GUANAMBI Área de médio-alto risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média - baixa disponibilidade hídrica natural superficial nos afluentes do São Francisco. Precipitação total anual média igual a 878mm e Evapotranspiração total anual média igual a 851mm.

JANUÁRIA Área de médio-alto risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média - alta disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 874mm e Evapotranspiração total anual média igual a 811mm.

MONTES CLAROS

Área de médio risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média - alta disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 1.237mm e Evapotranspiração total anual média igual a 1.005mm.

PATOS DE MINAS

Área de médio risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de alta disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 1.415mm e Evapotranspiração total anual média igual a 1.096mm.

PAULO AFONSO

Área de médio-baixo risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média disponibilidade hídrica natural superficial nos afluentes do São Francisco. Precipitação total anual média igual a 670mm e Evapotranspiração total anual média igual a 616mm.

PETROLINA/JUAZEIRO

Área de médio risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de baixa disponibilidade hídrica natural superficial nos afluentes do São Francisco. Precipitação total anual média igual a 668mm e Evapotranspiração total anual média igual a 661mm.

PROPRIÁ

Área de baixo risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média disponibilidade hídrica natural superficial nos afluentes do São Francisco.Precipitação total anual média igual a 1.144mm e Evapotranspiração total anual média igual a 1.101mm.

SALGUEIRO

Área de médio-alto risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média-baixa disponibilidade hídrica natural superficial nos afluentes do São Francisco. Precipitação total anual média igual a 670mm e Evapotranspiração total anual média igual a 616mm.

SERRA TALHADA-

ARCOVERDE

Área de médio risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 910mm e Evapotranspiração total anual média igual a 853mm.

XIQUE-XIQUE

Área de médio- alto risco do ponto de vista da ecodinâmica. Área de média-baixa disponibilidade hídrica natural superficial. Precipitação total anual média igual a 738mm e Evapotranspiração total anual média igual a 707mm.

Referências Bibliográficas

ANA/GEF/PNUMA/OEA – Subprojeto 4.5C Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco – PBHSF (2004-2013), Resumo Executivo da versão aprovada pelo CBHSF. Salvador, 2004. CPRM - Projeto Análise de Consistência de Dados Pluviométricos – Bacia do Rio São Francisco Sub-bacias 40 a49. período histórico até 1993. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, Superintendência de Belo Horizonte, 1997.

__ - Regionalização de Vazões das Sub-Bacias 40 e 41Alto São Francisco. Volumes I e V. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Superintendência de Belo Horizonte, 2001.

INMET (DNMET) - Normais Climatológicas (1961-1990). Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Secretaria Nacional de Irrigação. Departamento Nacional de Meteorologia-DNMET. 1992, 83p. __ - Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo. Companhia de Pesquisa de Recursos

Minerais Superintendência de Salvador, 2004.

__ - Mapa de Domínios e Subdomínios Hidrogeológicos do Brasil em escala 1:1.000.000. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Superintendência de Salvador, 2006.