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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PRÓ-REITORIA DE ENSINO CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU ALINE GRISS REINSERÇÃO SOCIAL: As dificuldades de reinserção social do egresso do sistema penitenciário. Biguaçu 2005

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Page 1: Relatório de Estágio em Psicologia Clínica - UNIVALIsiaibib01.univali.br/pdf/Aline Griss.pdf · 2009-10-21 · iii. RESUMO A questão do papel desempenhado pelas penitenciárias

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

PRÓ-REITORIA DE ENSINO

CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU

ALINE GRISS

REINSERÇÃO SOCIAL: As dificuldades de reinserção social do egresso do sistema penitenciário.

Biguaçu

2005

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

REINSERÇÃO SOCIAL: As dificuldades de reinserção social do egresso do sistema penitenciário.

Projeto apresentado para a realização do Trabalho

de Conclusão de Curso ao curso de Psicologia da

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação

de Biguaçu.

Supervisor: Prof. Henry Dario Cunha Ramirez

Biguaçu

2005

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que tem dado a mim todas as coisas.

Agradeço aos amigos, professores, examinadores que tanto me têm auxiliado

a aprender.

Agradeço à Simone e a todo o pessoal da Vara de Execuções Penais da

Comarca da Capital/SC, pela contribuição na coleta dos dados, bem como aos

egressos que se prontificaram a participar desta pesquisa.

Quero registrar, ainda, o profundo agradecimento aos meus amigos Fernando

e Sibelle e a minha irmã Giudita , pelo apoio constante e pela troca de idéias.

Por fim e especialmente, agradeço ao meu orientador, Professor Dario, pela

compreensão e colaboração.

A semente não germina senão na terra que a espera.

Vergílio Ferreira

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RESUMO

A questão do papel desempenhado pelas penitenciárias e a reinserção social

de detentos permanece com um problema para todos os que se preocupam com

questões relacionadas à violência. Frente a isso, a presente pesquisa teve como

objetivo geral compreender o processo de reinserção social de egressos do sistema

penitenciário. Para tanto, a metodologia utilizada foi a pesquisa descritiva, utilizando

como instrumentos de coleta de dados, a entrevista semi-dirigida, realizada a vinte

ex-detentos do sistema penitenciário. Foram investigados aspectos referentes à

reinserção no âmbito familiar, no trabalho e nas suas relações sociais de amizade. A

análise dos resultados apontou que os ex-detentos possuem muitas expectativas de

não mais se envolverem com o crime, onde a família representa o apoio principal

para alcançar tal objetivo. Pode perceber-se também, que eles demonstraram ter

encontrado dificuldades a princípio para reinserir-se socialmente, devido a

estigmatização a que estão sujeitos por terem sido presos. Conclui-se, que o

discurso estigmatizador e o preconceito sobre a condição de preso interfere

significativamente em suas identidades, mesmo possuindo expectativas ou

permanecendo distantes do crime.

Palavras-chave: Reinserção Social; Egresso; Sistema Penitenciário; Mercado de

Trabalho.

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ABSTRACT

The issue about the responsability of the jails and social introduction of

prisoners remain problematic for all that worry with questions related to violence.

Kowing that, this research has had as main objective the understanding of the social

introduction of ex-prisoners process. So, the methodology used was a descriptive

research, making use of data collection instruments, a guided interview with twenty

penitentiary system ex-prisoners. Aspects referring to relationships and introduction

in the family and work, as well as friendships were investigated. The data analysis

pointed out that ex-prisoners have got hope of never getting involved in crimes again,

and their family represents the essential support to succeed. It was perceptive, as

well, that they had found difficulties in the begining to get introduced in the society

again due to the preconception they suffer from being ex-prisoners. It follows that the

preconception about their condition interferes meaningfuly in their identities, even

when they have good expectations and remain distant from the crime.

Keywords: social introduction, return, penitentiary system, work market.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................7 1.1. PROBLEMA......................................................................................................7

1.2. JUSTIFICATIVA................................................................................................8

1.3. OBJETIVOS......................................................................................................8

2. REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................10 2.1. SURGIMENTO DA PRISÃO ...........................................................................12

2.2. O UNIVERSO PRISIONAL .............................................................................16

2.3. IDENTIDADE ..................................................................................................18

2.4. ESTIGMA........................................................................................................22

2.5. SUJEITO PRESO ...........................................................................................25

3. METODOLOGIA DE PESQUISA..........................................................................27 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA..............................................................27

3.2. NATUREZA DA PESQUISA ...........................................................................28

3.3. SUJEITOS DA PESQUISA .............................................................................28

3.4. DA COLETA DE DADOS................................................................................29

3.5. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO .........................................................29

3.5.1. Filosofia e Objetivos da Instituição ..............................................................31

3.5.2. Caracterização do Corpo de Funcionários ...............................................32

3.6. PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS.......................................32

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS......................................................34 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................41 6. REFERÊNCIAS.....................................................................................................43 7. OBRAS RECOMENDADAS .................................................................................44 8. APÊNDICE............................................................................................................45

7.1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ...........................45

7.2. CARTA DE APRESENTAÇÃO .......................................................................46

8. ANEXOS ...............................................................................................................47

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1. INTRODUÇÃO

Este Projeto de pesquisa se caracteriza como um estudo sobre as

dificuldades no processo de reinserção social de ex-detentos da Penitenciária de

Florianópolis, a partir do próprio ponto de vista dos sujeitos.

Para isso, torna-se importante saber como surgiu a prisão enquanto

penalidade, como se caracteriza o universo prisional, a interferência deste na

identidade do sujeito que ali se encontra, e o processo de estigmatização que o

sujeito obrigatoriamente passa por fazer parte dessa realidade. Falar de reinserção

social envolve ainda aspectos como a estereotipação acentuada sobre as classes

menos favorecidas e sobre algumas “raças”, relacionando-as com a delinqüência.

Para conduzir esta pesquisa, foi utilizado a método qualitativo, pois este

abrange questões particulares e subjetivas que se aprofundam no que diz respeito à

inter-relações entre o plano psicossocial e orgânico.

Os sujeitos da pesquisa foram vinte ex-detentos que atualmente freqüentam o

Conselho da Comunidade, pois o mesmo disponibiliza um espaço físico para o

atendimento ao egresso, visando a ressocialização dos presos quanto aos aspectos

psicossociais.

A coleta de dados da pesquisa foi através de entrevista semi-estruturada,

realizadas no Setor de Serviço Social da Vara de Execuções Penais do Fórum da

comarca de Florianópolis, uma vez que o Conselho da Comunidade possui sua sede

própria vinculada a este setor e, portanto, se utiliza desse espaço físico no exercício

de suas atividades.

Assim, a intenção de buscar uma compreensão sobre as dificuldades no

processo de reinserção social do ex-detento, a partir de sua própria visão sobre a

realidade prisional e também fora dela, sem dúvida mostra-se uma tarefa

desafiadora e cheia de expectativas, porém muito gratificante.

1.1. PROBLEMA

Quais as dificuldades de reinserção social do egresso do Sistema

Penitenciário.

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1.2. JUSTIFICATIVA

Os dispositivos de suporte e atendimento psicossocial mostram as

dificuldades de reinserção social do sujeito que obtém liberdade.

Os índices altíssimos de reincidência dos egressos do sistema penal é

alarmante, o número de presos por 100.000 habitantes é de 164, tendo um aumento

de 3.500 presos por ano, sendo que, o índice de reincidência é de 84%.

Grande número de egressos saem do sistema sem condições de reintegração

social. Não encontram emprego, não têm local de residência, não têm meios de

manutenção. Deixá-los sem apoio, é nada fazer para romper o círculo vicioso da

reincidência.

Trata-se de uma necessidade urgente, a partir do fato de que, nos

estabelecimentos penais deveriam ser previstas diversas atividades promocionais,

que visariam proporcionar ao então apenado uma infra-estrutura e acompanhamento

profissional objetivando a sua reeducação. Isto porém, caso aconteça, está previsto

apenas até o momento de sua saída do sistema, não havendo continuidade desse

processo. Ora, essa ruptura do vínculo institucional, com a conseqüente falta de

orientação e acompanhamento, são fatores determinantes do alto índice de

reincidência na população carcerária.

Este estudo justifica-se, na medida em que visualizou-se a situação de

desemprego, comum nas economias dos países em desenvolvimento, que juntam-

se ao cruel preconceito que atinge os egressos do Sistema Penitenciário e a falta de

especialização dessa mão-de-obra. Neste cenário, o interno tem restituída a sua

liberdade sem possuir as menores condições de reintegrar-se de modo efetivo à

sociedade, motivando-o a reincidir no crime. Reside aí a principal relevância do tema

e o que motivou o estudo deste.

1.3. OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL:

Investigar as dificuldades de reinserção social do sujeito que egressa do

Sistema Penitenciário.

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OBJETIVOS ESPECIFICOS:

Identificar quais as expectativas do ex-detento referentes a sua sobrevivência

financeira após o cumprimento total da pena, relacionando com sua reinserção no

mercado de trabalho do qual fazia parte ou pretende fazer;

Verificar como foi a reinserção do ex-detento no âmbito sócio-familiar;

Verificar, se aconteceu e como se deu, a reinserção no mercado de trabalho.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Inicialmente, antes de discorrer sobre a pena privativa de liberdade, objeto

deste estudo, é pertinente uma breve introdução tocante aos diferentes tipos de

pena, existentes no sistema penal brasileiro.

As penas em nosso sistema penal classificam-se em : a) penas privativas de

liberdade; b) restritivas de direito; c) pecuniárias, além das medidas de segurança.

As primeiras são as que realmente interessam ao tema deste trabalho, visto

que se trata da reinserção do individuo à sociedade, o que acontece após o

cumprimento desta modalidade de pena, onde o mesmo é retirado do convívio

social.

As penas privativas de liberdade dividem-se em três espécies, quais sejam,

reclusão, detenção e prisão simples, sendo que os regimes penitenciários são:

fechado, semi-aberto e aberto. Na reclusão inicia-se o cumprimento da pena no

regime fechado quando a pena aplicada for superior a 8 anos; se a pena for superior

a quatro e não exceder a 8 anos inicia-se no regime semi-aberto e se for igual ou

inferior a quatro anos, inicia-se no aberto. Já a pena de detenção é menos gravosa,

assim, os regimes penitenciários iniciais para esta espécie são o semi-aberto,

quando a pena for superior a quatro anos e aberto para regime igual ou inferior a

quatro anos, sendo vedado pelo Código Penal a fixação, pelo juiz, de regime inicial

fechado.

Quanto às penas restritivas de direito, são uma espécie de pena altenativa.

Podem ser: a) penas restritivas de direito em sentido estrito: que consistem em uma

restrição qualquer ao exercício de uma prerrogativa ou direito. São elas: prestação

de serviços à comunidade; limitação de fim de semana e as quatro interdições

temporárias de direito – proibição de freqüentar determinados lugares; proibição do

exercício de cargo, função pública ou mandato eletivo; proibição do exercício de

profissão ou atividade e suspensão da habilitação para dirigir veículo. b)penas

restritivas de direito pecuniárias: estas, nas palavras de CAPEZ (2004), “implicam

uma diminuição do patrimônio do agente ou uma prestação inominada em favor da

vítima ou seus herdeiros”. São elas: prestação pecuniária em favor da vítima;

prestação inominada; perda de bens e valores.

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A pena de multa encontra previsão no art. 49 do Código penal e consiste no

pagamento ao fundo penitenciário de quanto afixada na sentença e calculada em

dias-multa.

Por sua vez a medida de segurança “é uma sanção penal imposta pelo

Estado, na execução de uma sentença, cuja finalidade é exclusivamente preventiva,

no sentido de evitar que o autor de uma infração penal que tenha demonstrado

periculosidade” (CAPEZ, 2004, P. 400). Visa tratar o inimputável e o semi-imputável

que demonstraram, pela prática delitiva, potencialidade para novas ações danosas.

Neste ínterim, não é demais acrescentar um sucinto comentário sobre as

penas alternativas.

O 6º Congresso da s Nações Unidas, reconhecendo a necessidade de buscar

alternativas para a pena privativa de liberdade, cujos altíssimos índices de

reincidência (mais de 80%) recomendavam uma urgente revisão, incumbiu o Instituto

da Ásia e do Extremo Oriente para a Prevenção do Delito e Tratamento do

Delinqüente de estudar a questão. Apresentada a proposta, foi aprovada no 8º

Congresso da ONU, realizado em 14/12, apelidada de Regras de Tóquio, também

conhecidas como regras mínimas das Nações Unidas para Elaboração de Medidas

Não Privativas de Liberdade.

O objetivo das Regras de Tóquio é promover o emprego de medias não

privativas de liberdade.

As medidas alternativas são soluções processuais ou penais para evitar o

encarceramento cautelar provisório ou a prisão imposta por condenação criminal

definitiva. Diferem das penas alternativas porque não constituem penas, mas opções

para evitar a persecução penal e, por conseguinte, a imposição da pena privativa de

liberdade por sentença judicial. Entre as medidas alternativas existentes no sistema

penal brasileiro tem-se a suspensão condicional do processo, ampliação das

hipóteses de cabimento de fiança, facilitação da progressão de regime, maior acesso

ao livramento condicional e ao sursis.

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2.1. SURGIMENTO DA PRISÃO

A prisão é considerada um estabelecimento que, no dizer de FALCONI,

o estado destina para manter sob sua guarda aqueles indivíduos que em

decorrência de seu comportamento anti-social precisam ser segregados, à

guisa de reprimenda desde que haja norma jurídica assim determinando.

(FALCONI, 1998, p.51)

A prisão, no decorrer da história nem sempre teve caráter repressivo. A

detenção aparece inicialmente como medida preventiva, só mais tarde torna-se um

tipo de penalidade (OLIVEIRA, 1984). Isso ocorreu porque se tornou necessário

devido ao desenvolvimento da sociedade. Em sociedades menos desenvolvidas não

era só o acusado que deveria reparar o mal cometido, mas toda a comunidade do

qual fazia parte. Com o desenvolvimento, a responsabilidade passa a ser individual

e não mais coletiva. A prisão surge como uma medida preventiva para evitar que a

pessoa fuja da reparação de seus "erros". Ela não estava ligada a crimes definidos e

o condenado era exposto e sujeito à aplicação de uma série de suplícios,

aguardando o julgamento (OLIVEIRA, 1984).

Como pena ela (a prisão) surge na sociedade cristã com a intenção de

reintegrar a moral deteriorada através do silêncio e da solidão. Era destinada aos

clérigos que infringiam normas eclesiásticas e também aqueles que cometeram o

crime da heresia (FALCONI, 1998). Foi somente no século XVlII que ela surgiu como

substituta definitiva da pena de morte. Nesse período surge diversas casas de

detenção onde não existia nenhuma norma de higiene, pedagogia e moral.

(OLIVEIRA, 1984).

John Howard em 1777 traz o primeiro movimento para humanizar as

regras disciplinares na prisão (FOUCAULT,1987). Mas, foi Geremiam Bentham

quem apresentou o modelo de prisão celular conhecido como Panóptico, que

revolucionou a arquitetura das prisões, tendo influencia notória em todo o mundo. O

modelo panóptico permite uma vigilância e uma visibilidade constante do detento

tendo em vista sua arquitetura em anel como um modelo disciplinar mecanisista, o

panóptico torna-se

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um dispositivo funcional que deve melhorar o exercício do poder tomando-o

mais rápido, mais leve mais eficaz, um desenho das coerções sutis para uma

sociedade que está por vir. O movimento que vai de um projeto ao outro, de um

esquema da disciplina de exceção ao de uma vigilância generalizada, repousa

sobre uma transformação histórica: a extenção progressiva dos dispositivos de

disciplina ao longo dos séculos XVII e XVIII, sua multiplicação através de todo

o corpo social, a formação do que se poderia chamar a grosso modo a

sociedade disciplinar." (FOUCAULT ,1987, p. 173).

A pessoa trancafiada nesse tipo de prisão, era espionada de frente pelo

guarda. Não tinha contato nenhum com as outras pessoas presas. Era vigiado por

todo o momento mas não podia ver. Acreditava-se que assim não haveria perigo de

evasão, de projetos de novos crimes, más influências, roubos, armadilhas, violência,

etc.(OLIVEIRA, 1984).

A partir do Panoptismo, surgiram novos sistemas de prisão, todos utilizando

como medidas reparativas a disciplina.

No Brasil a prisão teve introdução tardia. O primeiro estabelecimento neste

sentido foi "a casa de correção de São Paulo" em 1851 (FALCONI, 1998). O Brasil

adotava o Sistema Progressivo Irlandês onde há a preparação dos condenados à

vida livre, através das prisões intermediárias. Neste sistema consta um regime de

vigilância sutil, os reclusos não precisam usar uniformes, tem permissão para

conversar, saem para apanharem sol dentro de um certo raio, trabalham, etc..

Conforme OLIVEIRA(1984). A partir do Código Penal de 1940, é adotado o sistema

progressivo onde o sujeito fica em observação num período de três meses. Apos

isso é submetido ao trabalho comum, e isolado à noite.

Num terceiro período o condenado passa para um regime semi-aberto ou

conhecido como Colônia Agrícola, e por último passa para o regime aberto ou

recebe a concessão de liberdade condicional.

Finalmente, a lei penal vigente adotou uma espécie de sistema progressivo

que se baseia em três regimes prisionais a saber: regime fechado, restritivo às

penitenciárias de segurança máxima ou média em que o condenado somente pode

se ausentar do estabelecimento mediante escolta: regime semi-aberto. pena

cumprida em colónia agrícola, industrial ou semelhante e iniciando, neste estágio,

uma reinserção paulatina do apenado ao ambiente livre, junto ao convívio social, em

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ocasiões específicas; regime aberto, cumprimento da pena em casa do albergado ou

outro estabelecimento indicado, permitindo ao condenado uma reinserção social

mais efetiva, como a formação escolar e profissional. Estes regimes distinguem-se

dos respectivos tipos de estabelecimento penal visto que. são aplicados de acordo

com os órgãos e estabelecimentos instituídos pela lei penitenciária. (BASTOS

JÚNIOR. 2002).

O regime especial, segundo a Lei de Execussão Penal, diz respeito as

mulheres que cumprem pena, dispondo que as mesmas devem ser recolhidas em

estabelecimento próprio e adequado à suas necessidades e condições pessoais.

Os artigos 3° e 40 da Lei de Execussão Penal visam retratar o direito do

preso, respeitando sua integridade física e moral, enfatizando "a garantia de direitos

que preexistem à perda da liberdade e que por ela não podem ser afetados".

(BASTOS JÚNIOR. 2002, p. 165).

Assim, na atualidade, à pena atribui-se finalidades preventivas, permitindo o

livre desenvolvimento e a livre expressão da personalidade humana do preso,

reconhecendo-o como sujeito de direitos, dotado de capacidade de

autodeterminação e de liberdade plena de consciência.

A última etapa do cumprimento da pena no sistema progressivo de execução

da pena privativa da liberdade, diz respeito ao Livramento Condicional (LC),

introduzido no Brasil em 1924, e sua natureza jurídica, relaciona-se ao sursis, que

trata de direito público subjetivo do condenado.

O sujeito ao sair em LC pode encontrar dificuldades de adaptar-se novamente

ao meio social no qual pretende inserir-se, porque o preso passa a adaptar-se a

cultura que reina na instituição e desvincular-se da cultura além muro. encontrando

uma realidade que não mais é a mesma que deixou. (MORTARI, 2002).

Nestas ocasiões, regularmente ocorrem as reincidências à instituição penal,

dificultando sobremaneira a condição do ex-liberado porque o mesmo perderá todas

as regalias/benefícios até então conquistadas, passando a cumprir pena em regime

fechado, novamente.

Livramento condicional no Direito Penal, diz respeito à denominação atribuída

ao beneficio ou a concessão feita ao condenado, ficando livre da prisão a que estava

sujeito, ainda antes do término da pena, sendo um direito ao benefício da liberdade

antecipada concedida ao condenado. (SILVA, 2001).

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De acordo com o art. 132 da LEP são estabelecidas as seguintes condições

obrigatórias (§ l") e facultativas ou judiciais (§ 2°) para a liberdade condicional,

segundo Silva (2001. p. 188-189):

Art. 132. Deferido o pedido, o juiz especificará as condições a que fica

subordinado o livramento.

§ 1°. Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações

seguintes:

a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;

b) comunicar periodicamente ao juiz sua ocupação;

c) não mudar do território da comarca do juízo da execução, sem prévia

autorização deste.

§ 2°. Podendo ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras

obrigações, as seguintes:

a) não mudar de residência sem comunicação ao juiz e à autoridade

incumbida da observação cautelar e de proteção;

b) recolher-se à habitação em hora fixada;

c) não frequentar determinados lugares.

Cabe ao juiz fixar estas condições ou não, podendo determinar, ainda, outras

condições desde que adequadas à situação individual do liberado.

Por sua vez, o sursis - suspensão condicional da pena - segundo

FERNANDO CAPEZ (2004)¸ “é um direito público subjetivo do réu de, preenchidos

todos os requisitos legais, ter suspensa a execução da pena imposta, durante certo

prazo e mediante determinadas condições.”

As condições legais e judiciais do sursis, especificadas nas Leis n°s. 78. § 1°

e 79 do Código Penal (CP) e determinadas pelo juiz, apontam que, "Durante o

período de prova, o condenado deverá sujeitar-se a certas condições, sob pena de

revogação da medida e consequente cumprimento integral da pena que havia sido

suspensa". (BASTOS JÚNIOR. 2002, p. 226).

A seguir, passar-se-á a transcrever estas condições impostas nas Leis acima

citadas, conforme Silva (2001, p. 258):

Art. 78. Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à

observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.

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§ 1°. No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à

comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).

§ 2°. Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade

de fazê-lo. e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem

inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo

anterior pelas seguintes condições aplicadas cumulativamente:

a) proibição de frequentar determinados lugares;

b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do

juiz;

c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e

justificar suas atividades.

Art. 79. A sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada

a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do

condenado.

Neste sentido, a natureza jurídica do sursis como medida penal restritiva,

impõe obrigações a serem obedecidas pelo condenado. É também, um instituto

menos severo em relação à execução da pena privativa de liberdade, porque este

benefício exige menos obrigações a serem cumpridas configurando, deste modo, um

direito público subjetivo do condenado.

2.2. O UNIVERSO PRISIONAL

A privação de liberdade desde seu surgimento ainda continua sendo o

recurso mais utilizado para "corrigir'" a pessoa que comete um crime ou delito.

Embora seja muito questionada por vários autores atuais devido a significativas

mudanças que ocorrem na pessoa que ali se encontra trancafiada, a prisão pode ser

vista como uma sociedade dentro de uma sociedade, onde os comportamentos das

pessoas que ali se encontram foram radicalmente e obrigatoriamente alterados em

virtude do aprisionamento, da vigilância e da repressão severa. O indivíduo é

submetido a conviver com outras pessoas de procedências sociais, de famílias,

culturas, condições sócio econômicas, diferentes que as suas (OLIVEIRA, 1984).

O indivíduo ao ingressar em uma instituição, passa por mudanças radicais

nas crenças que tem a seu respeito, a respeito das pessoas que são significativas

para ele, bem como do mundo que o cerca, pois na prisão, será tratado de uma

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maneira padronizada, como todos são tratados ao ingressarem nela

(GOFFMAN,1996). A padronização acontece desde a exigência em desfazer-se de

seus pertences pessoais, até a obrigatoriedade em adaptar-se a uma rotina diária

que lhe é estranha, ou seja, está sendo forçado a aceitar um papel pelo qual não se

identifica, devendo renunciar a sua vontade.

As instituições totais perturbam ou profanam exatamente as ações que na

sociedade civil têm o papel de atestar, ao ator e aos que estão em sua

presença, que tem certa autonomia no seu mundo que é uma pessoa com

decisões "adultas”, autonomia e liberdade de ação. (GOFFMAN, 1996, p. 46)

Com o passar do tempo, o preso passa a adaptar-se a cultura que reina na

instituição e desvincular-se da cultura além muro. Ao sair, o indivíduo em liberdade

pode encontrar dificuldades de adaptar-se novamente ao meio social no qual

pretende inserir-se.

Se ocorre mudança cultural, talvez se refira ao afastamento de algumas

oportunidades de comportamento e ao fracasso para acompanhar mudanças

sociais recentes no mundo externo. Por isso, se a estada do internado é muito

longa pode ocorrer, caso ele volte para o mundo exterior, o que já foi

denominado "desculturamento", isto é, "destreinamento" que o toma

temporariamente incapaz de enfrentar alguns aspectos de sua vida diária.

(GOFFMAN, 1996, p. 23)

As dificuldades ocorrem porque quando o indivíduo sai, encontra uma

realidade que não mais é a mesma que deixou. Sua identidade e a identidade da

sociedade onde vivia moditica-se mediante seu afastamento, devido a sua estada na

prisão. O indivíduo passa a "carregar" consigo o "estigma" que na maioria das vezes

toma-se prejudicial para sua reintegração em sociedade. Por essa razão, pela

importância no processo de reintegração social do indivíduo preso, é que

falaremos mais detalhadamente sobre identidade e estigma.

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2.3. IDENTIDADE

Ao nascermos começamos todo um processo de construção de nossa

identidade através das relações que estabelecemos com as pessoas que nos são

mediadoras nesse processo. Nossa identidade se constrói a partir da identidade de

outras pessoas, ou seja, não podemos dizer simplesmente que identidade é ser

somente igual e diferente, igual por fazer parte de uma determinada cultura e

diferente por ser singular no mundo. E sim, um emaranhado de relações que

estabelecemos no decorrer de nossa vida. Eu só reconheço minha identidade de

mãe se a concretizo com meu filho, assim como só me reconheço como filha se me

identifico sendo filha de minha mãe. A identidade se renova a cada segundo porque

quando sou mãe me identifico como tal, ao mesmo tempo em que quando sou filha

me identifico sendo filha. É neste sentido o ensinamento de CIAMPA:

Cada posição minha me determina, fazendo com que minha existência

concreta seja a unidade da multiplicidade, que se realiza pelo desenvolvimento

dessas determinações. (CIAMPA, A. 1999, p. 67).

Cada pessoa representa-se no mundo desempenhando vários papéis como

um ser concreto, e é vista pelo outro como um ser concreto desempenhando esses

papéis. Forma-se dessa maneira um conjunto de identidades que refletem a

estrutura social ao mesmo tempo em que a conservam e a transformam.

Assim como determinamos nossa identidade, somos determinados por ela. O

ser humano tem um papel ativo tanto na construção de sua identidade como na sua

apropriação. Segundo JAQUES, (1995), isso que acabamos de dizer acaba com a

dicotomia de que existe uma identidade individual e outra coletiva, na verdade as

duas são uma só porque construímos nossa história ao mesmo tempo em que

fazemos parte dela.

Igualdade e diferença andam lado a lado no processo de identidade pois é a

partir delas que somos construtores e construídos da nossa história.

Há um "padrão" de identidade se pensarmos que nos constituímos de acordo

com crenças, normas, valores que regem a sociedade e que são institucionalizados

e passados de geração a geração. Dentro dessa perspectiva somos todos iguais.

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Nos construimos a partir da sociedade onde vivemos. A identidade do sujeito se

constitui dentro de um limite que estabelecemos no decorrer da nossa história. O

que faz a diferença de identidades (singularidade) são as mediações. Por exemplo,

que apreenderam das relações grupais seja como filho, amigo, etc. Desempenha-se

papéis diversificados, mas que estão dentro de padrões estabelecidos pela

sociedade em que se vive. A maneira como irão desempenhar esses papéis reflete

suas subjetividades.A identidade se construirá também em decorrência dos papéis

impostos pela sociedade em que se vive.

Identidade é muito mais que uma escolha, ela não se constrói somente pelas

escolhas mas também pelas imposições oriundas das relações que o sujeito

estabelece. Ou seja, a constituição da identidade "comporta" muito mais que

escolher ser alguém, ela está vinculada a uma questão de poder, ela se estabelece

em uma relação onde existe o sujeito que impõe e aquele que se sujeita a esta

imposição. Não se pode pensar em identidade sem pensar em uma questão política

que ela abrange ao mesmo tempo que dela decorre.

Muitas são as mudanças pelas quais passamos em nossa trajetória histórica,

onde os papéis individuais e coletivos estão sendo redefinidos e modificados num

ritmo bastante acelerado.

Diante do desconhecido o homem se vê inseguro e com medo perdendo sua

capacidade de controle. O que geralmente acontece é a busca de alguém para "

pensar" pelo povo, ou melhor dizendo, a busca de um apoio para sua identidade. A

história da sociedade capitalista caminhou no sentido de beneficiar a procura de um

apoio de identidade. As instituições responsáveis pela construção de identidade

como a família, a escola, não preparam para refletir e pensar nos nossos atos. Há os

que pensam por nós, ou seja, os responsáveis pelo saber e poder e resta-nos seguir

seus passos.

Esta sociedade em que vivemos caminha para a individualidade, não se

percebe como fruto de relações, não é voltada para o coletivo. Faz garantir o poder

na mão de poucos. "A tendência geral do capitalismo é constituir o homem como

mero suporte do capital, que o determina, negando-o como homem já que se torna

coisificado" (CIAMPA, 1984, p. 72). Produzimos o que é esperado pela sociedade,

auxiliando no domínio do poder nas mão de uns e nunca de outros. Seria afirmar

que dizemos "amém" para a imposição de papéis que nos são colocados porque

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isso auxilia na garantia das relações que acontecem sem grande alterações na

sociedade em que vivemos. Conforme LANE(1981), a família, a escola, o clube, a

igreja, etc., são instituições que garantem através das mediações, o domínio do

poder nas mãos de poucos e alguns, preparados para fazer a pessoa não pensar

criticamente e questionar tais imposições, como uma maneira de "preservar" a

sociedade. Somos "boicotados" de sermos cidadãos participantes. Como

consequência temos uma sociedade que não pensa nos loucos presos em

sanatórios, nos bandidos em presídios, nos sem-terra, prostitutas, etc. Por outro

lado, procuramos outros meios para satisfazer essa falta de cidadania que nem nós

mesmos percebemos ás vezes que sentimos.

As relações de poder de nossa sociedade não nos fazem pensar na dialética

sobre a identidade, ao mesmo tempo em que exclui os delinquentes por exemplo de

um dos pólos, os incluem em outro para ter o domínio de suas identidades, através

da discriminação, do preconceito, do estigma, etc. As pessoas que cometem crimes

e são excluídas da sociedade por não estarem dentro das normas e regras que ela

estabelece, ao chegarem nas penitenciárias irão se deparar com um mundo cheio de

regras e normas que serão obrigados a cumprir para preservarem suas vidas, serão

obrigados a incluirem-se nesse novo mundo. A identidade do detento terá que se

adaptar às normas e regras da sociedade que será sua mediadora dali para frente.

Seria a manipulação do poder sobre a identidade através da inclusão/exclusão. Isso

mostra como a identidade se dá num processo dialético que está sempre se

modificando, conforme CIAMPA "uma metamorfose", ao mesmo tempo que está

presa em um saber e num poder, por sua vez, preocupação de FOUCAULT.

Diante do que fora explicitado, entendemos identidade como uma categoria

política porque abrange "negociações de sentido, choques de interesse, processos

de diferenciação e hierarquização das diferenças, configurando-se como estratégia

sutil de regulação das relações de poder, quer como resistência à dominação, quer

como seu reforço" (SAWAIA, 1999, p. 123)

A identidade sofre alterações com as redefinições da sociedade. Se as

tradições de uma sociedade são reformuladas ou enfraquecerem, a identidade por

consequência sofre grandes alterações. Uma não anula a outra ou é melhor do que

a outra, "a tensão entre ambas permite conceber identidade como " identificações

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em curso", isto é, identidade que ao mesmo tempo que se transforma, afirma um

"modo de ser" ( SAWAIA, 1999, p. 121).

Conforme SAWAIA ao citar BADIOU (1999), a identidade não é reconhecer o

outro como semelhante, mas ser diferente conhecendo a diferença e admirando-a. A

identidade não é algo parado nem contido em nós, a identidade se constrói todos os

dias nas relações, é um abrir caminho do sujeito para o coletivo, de se enxergar e

enxergar o outro como singular e diferente.

A identidade é ver o outro como igual e diferente ao mesmo tempo. E um

processo de transformação, ultrapassar o plano político, perceber que o igual e o

diferente andam juntos, são um só na verdade, e que "cristalizando" a igualdade

ocorre a discriminação, exclui. É somente com o reconhecimento do outro que nos

enxergamos como igual e ao mesmo tempo diferente, nos percebemos únicos a

partir da diferença como nos diz CIAMPA (1984).

Reconhecermos a identidade como fruto das relações sociais de um homem

histórico e social e reconhecermos que cada sociedade possui sua identidade, nos

permite compreender melhor a questão que estamos abordando.

O homem é fruto do meio social e ver este homem como um ser individual é

concebê-lo como não homem. É impossível estudar identidade separando indivíduo

e sociedade É no meio social que as diferentes identidades se constróem, fruto das

relações.

Reconhecer o outro como ser humano e reconhecer-se como tal seria um

passo para entendermos nosso processo de relações. O homem não é só

subjetividade, nem só objetividade mas superação dialética desse dualismo.

Mudando a maneira de pensar socialmente de uma forma democrática muda-se a

identidade social e conseqüentemente a identidade individual já que uma não difere

da outra.

Diz-nos CIAMPA, "identidade é movimento, é desenvolvimento do concreto. É

metamorfose. É sermos o Um e um Outro, para que cheguemos a ser Um, numa

infindável transformação" (1984, p. 74).

Em outras palavras, o sujeito que ingressa à prisão passa por uma ruptura de sua

identidade.

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2.4. ESTIGMA

Uma pessoa estigmatizada seria aquela que de modo aparente ou

não nos evidencia que alguma coisa de diferente se passa ou está nela. Diferente

do que é padrão, da maioria. Essa diferença gera nos ditos "normais" uma atitude

um tanto indesejável perante esta pessoa. Uma atitude de estranheza, desconfiança

e distanciamento, por considerarmos que esta pessoa pode ser má. perigosa e/ou

prejudicial para a sociedade na qual estamos inseridos. Essas atitudes demonstram

uma discrepância entre a identidade social que o estigmatizado deseja possuir e a

identidade social que realmente possui, definido por GOFFMAN (1988), como

identidade social virtual e identidade social real. Isso por estarmos excluindo-o da

categoria de iguais e incluindo-o na categoria de diferentes a partir do nosso próprio

conceito de diferença e não sobre o ponto de vista da pessoa estigmatizada, criando

preconceitos, dúvidas, em relação a esta pessoa.

O que realmente acontece, é um estranhamento entre os "normais" e as

pessoas estigmatizadas porque não sabem lidar com o diferente e o estigmatizado

tem a sensação de não saber realmente aquilo que estão pensando dele.

Estigmatizar alguém nem sempre é desqualificá-lo, pois é a partir da diferença

que nos identificamos, conforme GOFFMAN (1988, p. 13), "um atributo que

estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, portanto ele não é, em

si mesmo, nem honroso nem desonroso." O problema está justamente em não

aceitarmos o outro como estigmatizado, por isso a palavra-chave para continuarmos

essa discussão será diferença, sendo quer por não aceitarmos o diferente, que lhe

atribuímos um estigma, e aí está a grande polêmica.

A pessoa estigmatizada tende, no decorrer de sua vida, a criar maneiras de

relacionar-se com os "normais", embora nem sempre consiga criar vínculos efetivos.

O que acaba acontecendo é que o estigma obriga-lhe a articular artimanhas para

relacionar-se socialmente sendo em determinadas situações o que nem sempre

desejaria ser, como uma maneira de ajustar-se a realidade social.

A pessoa estigmatizada precisa agir diferentemente em certas ocasiões, para

ser aceita socialmente.

O fato de não identificar-se socialmente gera angústia na pessoa

estigmatizada, porque a qualquer momento ela pode ser desmascarada no que diz

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respeito a sua maneira "dupla" de viver. Torna-se desacreditada frente a um mundo

que não lhe é receptivo em virtude de sua diferença. A tendência então, é que

procure refugiar-se entre seus iguais ou pelo menos entre pessoas que lhe garantam

liberdade de agir em acordo com o que realmente deseja. Mas, viver excluído é viver

num mundo incompleto, porque a pessoa estigmatizada pode ter consciência de

suas reais capacidades e sentir que nesse mundo não poderá objetivar-se ou,

acabar por não aceitar sua própria diferença, ou seja, ver-se de fato com um estigma

que é tão vergonhoso a ponto de encobrir-lhe todas as outras possibilidades que

com certeza deve possuir. Há ainda a possibilidade do indivíduo estigmatizado

sentir-se tão acolhido entre seus iguais a ponto de não manter mais contato com o

mundo externo ao seu, como é o caso dos presidiários que em grande parte perdem

o contato com a família, com os amigos, enfim, com o mundo além muro.

As instituições deveriam ter como princípio, beneficiar as pessoas

estigmatizadas que dela fazem parte, mas na verdade não é exatamente essa

realidade que encontramos.

Quando um indivíduo ingressa em uma instituição, seja ela uma escola, uma

prisão, um hospital, estará sujeito a estigmatização. Ou seja, é também pela

instituição que o indivíduo poderá adquirir um estigma que até certo ponto não tinha,

ou pelo menos, não tinha conhecimento que o possuía. É o caso da criança que é

rotulada pela professora como hiperativa e começa a ser tratada pelos pais em casa

como tal, ou do jovem internado num hospital psiquiátrico por usar maconha, que ao

sair é conhecido em seu bairro como "louquinho". Segundo GOFFMAN (1988), é

através da instituição que o indivíduo passa a receber uma influência

desacreditadora pois tendo por ela passado, o indivíduo estigmatizado

tenderá com maior facilidade a criar artimanhas para relacionar-se

socialmente, causando conflito entre o que realmente sente e o que precisa

expressar conforme foi discutido anteriormente. GOFFMAN (1988), comenta por

exemplo que ao procurar emprego, a pessoa que já esteve em uma instituição

sente-se insegura sendo que a qualquer momento ela pode ser "apontada" frente a

outros candidatos pelo seu passado na instituição e perder a vaga que tanto

deseja.

A não aceitação da diferença em parte deve-se ao receio da pessoa dita

“normal" tem em ser estigmatizada, por estar em contato com a pessoa que possui o

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estigma. Existe a tendência de ser fatalmente estigmatizado por relacionar-se com

esta pessoa, já que a sociedade em geral possui este tipo de pensamento. De

acordo com GOFFMAN (1988, p. 37), "todos os que compartilham o estigma da

pessoa em questão tornam-se subitamente próximos e tornam-se sujeitos a uma

ligeira transferência de crédito ou descrédito". O indivíduo estigmatizado é visto

como alguém incapaz de se modificar ou fazer algo de útil a sociedade e estará a

mercê da piedade dos outros em aceitá-lo no emprego, na roda de amigos e na

própria família.

Não podemos desconsiderar a importante função das pessoas próximas em

relação ao estigmatizado que acaba de deixar uma instituição, importância esta

muitas vezes em auxílio ao estigmatizado na reconstrução de sua identidade por

vezes deteriorada. Mas o que percebemos é uma desconfiança ou uma negação às

possibilidades que o estigmatizado possui, simplesmente por vê-lo somente

a partir de seu estigma.

Dificilmente um ex-presidiário deixará a vida criminal se no seu círculo social

acredita-se e reforçam-lhe a potencialidade de criminoso. Quer dizer, é através das

relações sociais que o indivíduo estigmatizado terá condições de avaliar suas reais

capacidades. As relações facilitarão ou não a realização profissional, amorosa,

afetiva, etc., ou seja, pelas relações sociais o indivíduo estigmatizado passa a

acreditar por ele mesmo nas suas possibilidades mesmo que estas sejam limitadas.

É por não acreditarmos de fato nas suas reais possibilidades de mudança,

que o indivíduo estigmatizado não sabe realmente o que estamos pensando dele, ou

seja, procura a partir disso, "esconder" seu estigma por detrás de uma colaboração

efetiva com os "normais", no intuito de encobri-lo como se este não fosse importante

para ele nem para o outro, o que pode gerar uma tensão entre ambos. Por detrás do

estigma a pessoa "normal" pode descobrir um mundo que na verdade não está

preparada para viver, muito menos o estigmatizado para tentar compreender isso.

(...) ele deve considerar a sua aceitação involuntária pelos indivíduos que têm

preconceitos contra o tipo de pessoa que ele pode revelar ser. Onde quer ele

vá, seu comportamento confirmará, falsamente. Para as outras pessoas o fato

de que eles estão em companhia do que eles na verdade esperam. Mas podem

descobrir, na realidade, que isso não ocorre, ou seja, não se trata de uma

pessoa mentalmente sadia como eles próprios. (GOFFMAN,1988, p. 52).

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O diferente geralmente é excluído da sociedade e, "(...) quanto mais ele,

estruturalmente, se separa dos “normais”, mais parecido com eles ele se tornará nos

aspectos culturais." GOFFMAN (1988, p. 126) ou seja, quanto mais a sociedade

apoiar a exclusão, maior será a manipulação do poder em cima do estigma e

conseqüentemente menor são as chances dos estigmatizados em provar o contrário.

É por esta maneira errada de agir que temos tanto medo do louco, do criminoso, da

prostituta, do homossexual, etc. A estigmatização não pode ser vista como sinônimo

de preconceito,de impossibilidade. Frente a esta situação não iremos mudar a

realidade social que vivemos. Cabe-nos aceitar que todos possuímos estigmas,

alguns mais evidentes outros menos, alguns bons outros ruins, mas existem em

todos nós, não podemos ignorar este fato.

É provável que o mais afortunado dos normais tenha o seu defeito semi-

escondido, e para cada pequeno defeito há sempre uma ocasião social em que

ele aparecerá com toda a força, criando uma brecha vergonhosa entre a

identidade social virtual e a identidade social real. GOFFMAN (1988, p. 138).

2.5. SUJEITO PRESO

A prisão enquanto medida punitiva deveria comportar qualquer tipo de

ilegalidade.

Mas, no decorrer de sua história, ela toma rumos diferentes. O indivíduo

preso não e um indivíduo qualquer. O sistema carcerário "adota" um tipo de "cliente"

específico, o delinquente. A delinquência passa a ser vista como a ilegalidade mais

susceptível à prisão.

O sistema carcerário, com todas as suas ramificações. Investiu, recortou,

penetrou, organizou, fechou num meio definido e ao qual deu um papel

instrumental, em relação às outras ilegalidades. Em resumo, se a oposição

jurídica ocorre entre a ilegalidade e a prática ilegal, a oposição estratégica

ocorre entre as ilegalidades e a delinquência. (FOUCAULT 1987, p. 230).

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O sujeito delinquente passa a ser útil na manutenção de um poder, pois

acaba por "abafar" ou esconder outras ilegalidades, muito mais danosas à

sociedade. A prisão adquire uma clientela específica, a ilegalidade fechada e isolada

na delinquência torna-se um instrumento para "gerir e explorar" as outras

ilegalidades.

Sem dúvida, a delinquência é uma forma de ilegalidade e não queremos fazer

um discurso contrário a isso. O que queremos ressaltar é que o sujeito preso nas

penitenciárias em todo o mundo é um sujeito útil , pois como já foi dito, "abafa"

outros tipos de ilegalidades. Pois, conforme FOUCAULT (1987), cria em torno dela

um campo de práticas ilegais exercendo controle e tirando um lucro ilícito por meio

de elementos ilegais, porém manejáveis por sua organização.

WACQUANT, (2001) descreve o processo que se deu da incorporação em

todo o mundo de uma técnica americana que visava controlar o problema da

violência criminal, aumentando o número de policiais nas ruas, a "tolerância zero",

mas que, ao contrário, estabeleceu uma verdadeira ditadura sobre as classes

pobres. Sendo que os policiais buscavam manter o controle da criminalidade a partir

do que se tinha conhecido como criminoso, ou seja, o pobre e o negro (principais

alvos nos EUA).

O assombroso crescimento do número de presos ... explica-se, em três

quartos, pelo encarceramento dos pequenos delinquentes e, particularmente,

dos toxicômanos. Pois, contrariamente ao discurso político e midiatíco

dominante, as prisões ... estão repletas não de criminosos perigosos e

violentos, mas de vulgares condenados pelo direito comum por negócio com

drogas, furto, roubo, ou simples atentados à ordem pública, cm geral oriundos

das parcelas precarizadas da classe trabalhadora e, sobretudo, das famílias do

subproleitariado de cor das cidades atingidas diretamente pela transformação

conjunta do trabalho assalariado e da protecão social.'' (WACQUANT. 2001, p.

83).

WACQUANT, (2001) salienta que a prisão, além de ser um fator criminógeno

e desculturalizante, permite o empobrecimento daqueles que ali são confinados

tendo em vista que tendo passado por ela, adquirem a etiqueta de "penitenciário"

deixando às escondidas todos os outros atributos que lhe permite possuir uma

identidade social como pai, assalariado, desempregado,etc,.

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Compreende-se assim o porquê de se ter um tipo determinado de

sistema penitenciário que vise não a "recuperação" do sujeito que comete o crime

mas a sua reincidência, como forma de manter às escondidas, a manipulação do

poder sobre toda a sociedade.

A vigilância policial fornece à prisão os infratores que esta transforma em

delinquentes, alvo e auxiliares dos controles policiais que regularmente

mandam alguns deles de volta à prisão. (FOUCAULT, 1987,p. 234).

Prender quase que exclusivamente os delinquentes, é sem dúvida, uma

medida ploratória, uma tática perfeita de garantir a qualidade de vida de poucos e

nunca de todos.

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

A presente pesquisa é de cunho exploratório sustentada por um referencial

teórico que orienta o investigador a observar, coletar dados e analisar um fenômeno

específico. Ela objetiva proporcionar maior familiaridade com o problema buscando

torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Normalmente assumem a forma de

pesquisa bibliográfica, pesquisa documental ou estudo de caso.

Conforme Oliveira (1999), a pesquisa exploratória tem como objetivo formular

um problema para uma pesquisa ou para elaboração de uma hipótese, podendo

também fazer um levantamento do que se deseja estudar de forma mais detalhada e

estruturada.

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3.2. NATUREZA DA PESQUISA

Para conduzir esta pesquisa, foi usado o método qualitativo, pois este

abrange questões particulares e subjetivas que se aprofundam no que diz respeito

às inter-relações entre o plano psicossocial e orgânico.

As pesquisas qualitativas, em sua maioria, estão voltadas para a descoberta,

a identificação, a descrição e a geração de explicações sobre os fenômenos sociais

e humanos. Há diferentes possibilidades de planejar a execução da pesquisa

qualitativa não obedecendo necessariamente a um padrão paradigmático.

De acordo com Santos (1999), nas pesquisas realizadas qualitativamente,

são várias as correntes utilizadas, porém todas elas assumem pressupostos

contrários ao modelo experimental.

Nesta abordagem, existe um vínculo dinâmico e indissociável entre o mundo

objetivo e a subjetividade do sujeito como esclarece Chizzotti (1998, p. 79),

Um segundo marco que separa a pesquisa qualitativa dos estudos

experimentais está na forma como apreende e legitima os conhecimentos. A

abordagem qualitativa parte do fundamento de que há relação dinâmica entre o

mundo real e o sujeito, e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e

a subjetividade do sujeito.

Segundo Oliveira (1999, p. 118), a finalidade da pesquisa qualitativa é de “[...]

tentar conhecer e explicar os fenômenos que ocorrem nas suas mais diferentes

manifestações e a maneira como se processam os seus aspectos estruturais e

funcionais, a partir de uma série de interrogações”. Busca também significados,

percepções e valores do indivíduo inserido num determinado contexto social.

3.3. SUJEITOS DA PESQUISA

A partir do projeto de pesquisa, definiu-se que a amostra por critérios que de

acordo com Santos (1999, p. 406) “[...] a lógica dessa estratégia é rever e estudar

todos os casos que preenchem critérios de importância pré-determinados”.

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Os sujeitos desta pesquisa foram vinte (20) ex-detentos que atualmente

freqüentam o Conselho Comunitário, pois o mesmo disponibiliza um espaço físico

para o atendimento ao Egresso, visando a ressocialização dos presos quanto aos

aspectos psicossociais.

3.4. DA COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada a partir de um roteiro de entrevista semi-

estruturada (vide apêndice 1).

Num primeiro momento, o projeto de pesquisa foi submetido à Comissão de

Ética uma vez que envolve seres-humanos. Mediante a aprovação, foi enviado para

a Instituição a qual participou da pesquisa, o projeto juntamente com a aprovação do

Comitê de Ética para ser analisado pelo diretor da referida instituição, ou seja, do

Conselho Comunitário de Florianópolis. Após, a pesquisadora iniciou a coleta de

dados através das entrevistas com os sujeitos da pesquisa, no Fórum da cidade de

Florianópolis, junto à Vara de Execuções Penais.

3.5. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO

O Conselho da Comunidade (CC) é um órgão vinculado ao Juizo da

Execução Penal, que objetiva contribuir com a Administração das Instituições

Penais, melhorando suas condições sociais e materiais, nos estabelecimentos

fechados, unidades semiabertas, abertas e de internação, visando neutralizar os

efeitos danosos da marginalização. Não somente os estabelecimentos fechados mas

também as unidades semi-abertas e abertas devem receber a contribuição direta e

indispensável da sociedade (colônias, prisão agrícola e casa do albergado).

(MIRABETE apud DOTTI, 1996).

Sua criação permite que o preso se relacione com a sociedade porquanto que

a iniciativa inicial é por meio dos representantes legais que a compõem. A

regulamentação do seu funcionamento é incumbência do juiz da Vara de Execução

Penal e os representantes das entidades são indicados por estas. (MIRABETE,

1996).

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Em vista das necessidades participativas da comunidade na promoção e

reinserção social do preso, utilizou-se do Artigo 80 da Lei 7.210 de 11.7.1984 de

Execução Penal, que dispõe que:

Haverá em cada Comarca, um Conselho da Comunidade, composto, no

mínimo, por um representante da associação comercial ou industrial, um

advogado indicado pela seção da Ordem dos Advogados do Brasil e um

assistente social escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de

Assistentes Sociais.

Parágrafo único. Na falta da representação prevista neste artigo, ficará a

critério do juiz da execução a escolha dos integrantes do Conselho.

(MIRABETE. 1996, p. 205).

MIRABETE (1996) pontua, que, toda comunidade deve possuir a consciência

da missão de assistir àquele que transgrediu a lei que, muitas vezes, estando em

condições materiais precárias devido à sua ausência prolongada do meio social,

merece, quando for liberado, adaptações adequadas à sua reinserção sócio-cultural,

uma vez que o descaso que a sociedade dá ao preso e ao egresso, é uma das

causas da reincidência. (MIRABETE. 1996).

Outrora, a assistência pós-carcerária, era administrada por associações

privadas, por intermédio dos patronatos que, impulsionados por sentimentos

humanitários e religiosos objetivavam auxiliar os presos e liberados e, atualmente, o

controle dessas atividades são assumidas pelo Estado.

Hoje, portanto, a orientação que prevalece

é a de que a assistência pós-institucional deve ser prestada por pessoas

previamente capacitadas, uma vez que, assumindo fundamentalmente o

caráter. não de uma ajuda, mas de um verdadeiro tratamento, a boa vontade,

produto de sentimentos caritativos e religiosos, não é suficiente para cumprir

com uma função que implica o conhecimento de certas técnicas

especializadas. (MIRABETE, 1997, p. 66).

Segundo Mirabete (1997). o tratamento dado aos egressos é de

responsabilidade do Estado, que por meio de atendimentos especializados,

possibilitem reintegrar o indivíduo em sociedade.

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3.5.1. Filosofia e Objetivos da Instituição

Sua missão é conscientizar a comunidade sobre sua função de assistência ao

transgressor, que procura resgatar seu débito praticado contra a sociedade e,

portanto, merece estar amparado e orientado para sua reinserção social quando for

liberado, prestando-lhe assistência e contribuição indispensável, que segundo

direitos essenciais à garantia do sentenciado, indicam que : "Toda pessoa tem

direito ao respeito à integridade física, psíquica e moral; as penalidades privativas de

liberdade têm o objetivo de reinserção social do preso". (BENETI, 1996, p. 13-14).

Ao Conselho Comunitário é incumbida diversas atribuições, conforme versa o

Art.8l nos seus incisos I a IV. da LEP - Lei de Execuções Penais, a saber :

I - visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos penais existentes

na Comarca. Possibilita-lhe verificar e atender, quando possível, as necessidades

materiais dos presos e internados em presídios, cadeias públicas, casas de

albergado, hospital de custódia e tratamento psicológico e das colônias agrícolas.

II - entrevistar presos. Possibilitar uma assistência dirigida a maiores

carências do condenado, verificando suas necessidades materiais ou humanas.

III - apresentar relatórios mensais ao juiz da execução e ao Conselho

Penitenciário. Estes devem demonstrar o que foi efetuado neste período, como

também, apresentar as dificuldades e necessidades surgidas e não satisfeitas, dos

entraves ocorridos por ocasião desta assistência prestada, entre outros. Sendo

assim, a autoridade judiciária estará informada e aparelhada para regular a

execução da pena e da medida de segurança.

IV - diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor

assistência ao preso ou internado, em harmonia com a direção do estabelecimento.

Esta é a sua função maior, ou seja. obter estes recursos na própria comunidade ou

nas entidades oficiais, cabendo-lhe conseguir aos presos em regime semi-aberto,

um serviço para o trabalho externo ou obter uma progressão para o regime aberto.

Estas atividades serão realizadas em harmonia com a direção do estabelecimento e,

portanto, não poderão interferir no processo normal da execução. (MIRABETE,

1996).

Além destas, ainda lhe cabem fiscalizar o cumprimento das condições da

suspensão condicional da pena, observar a cautelar e a proteção aos liberados

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condicionais, objetivando "observar o cumprimento das condições especificadas na

sentença concessiva do benefício e proteger o beneficiário, orientando-o na

execução de suas obrigações e auxiliando-o na obtenção de atividade laborativa".

(Art. 139, incisos I e II do CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, 2002, p. 347).

3.5.2. Caracterização do Corpo de Funcionários

A Lei de Execuções Penais n° 7.210 , de 11-7-84, no seu Art.80, comenta que

os Conselho Comunitário de cada Comarca, devem ser "compostos, no mínimo, por

um representante da associação comercial ou industrial, um advogado indicado pela

seção da Ordem dos Advogados do Brasil e um assistente social escolhido pela

Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes Sociais". (MIRABETE,

1996, p.204).

3.6. PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados, foi utizado a técnica de análise de conteúdo, que

consiste num modo perspicaz de compreender todos os significados que englobam a

comunicação humana.

Segundo Chizzotti, a análise de conteúdo (1995, p. 98)

[...] é um método de tratamento e análise de informações, colhidas por meio

de técnicas de coleta de dados, consubstanciadas em um documento. A técnica se

aplica à analise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual)

reduzida a um texto ou documento.

A análise de conteúdo teve como objetivo a compreensão crítica do sentido

das comunicações bem como seus conteúdos manifestos e latentes, as

significações explícitas ou ocultas. Por sua natureza científica, este instrumento

torna-se eficaz, preciso e rigoroso. Através da análise das entrevistas relatadas, o

pesquisador pode compreender melhor o discurso para, posteriormente, aprofundar-

se em suas características, extraindo momentos importantes.

Gomes (1996) cita as fases que abrangem a análise de conteúdo. Na primeira

fase ocorre a organização do material que será analisado. É neste momento que, de

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acordo com os objetivos e questões em estudo, que será definido a unidade de

registro, unidade de contexto, os trechos significativos e as categorias. Na segunda

fase, se dá a aplicação do que foi definido da fase anterior. É uma fase mais longa

exigindo várias leituras do mesmo material. E, por fim, na terceira fase o pesquisador

buscará desvendar o conteúdo subjacente ao que está sendo manifesto.

A partir da análise de conteúdo, foram construídas categorias e sub-

categorias de respostas a partir dos temas significativos presentes no contexto da

comunicação das entrevistas.

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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Os quadros foram criados para receber os dados fornecidos através das

respostas das entrevistas dos ex-detentos.

Para a análise, primeiramente fez-se a transcrição das entrevistas para o

papel. Após a leitura das entrevistas, foram estabelecidas as categorias a posteriori

para a análise, baseadas nos objetivos específicos da pesquisa. Assim, o primeiro

quadro é referente aos Dados de Identificação dos sujeitos da pesquisa, enquanto

que o segundo é composto com as categorias de análise de um lado e as frases (o

discurso) dos sujeitos de outro. Foram extraídas das entrevistas apenas as frases

que se referiam ao assunto abordado pela categoria em análise. As citações dos

discursos são literais. Após os quadros, seque a análise feita pela pesquisadora.

Dados de Identificação dos Sujeitos

CATEGORIA FREQÜÊNCIA

1 – Sexo Masculino: 16

Feminino: 4

2 – Escolaridade

1º Grau Incompleto: 10

1º Grau Completo: 3

2º Grau Incompleto: 3

2º Grau Completo: 2

Superior Incompleto: 1

Superior Completo: 1

3 – Condição Empregatícia

Faz Bicos: 4

Carteira Assinada: 3

Desempregado: 8

4 – Profissão

Mecânico

Vendedor Ambulante

Auxiliar de Pedreiro

Desenhista

Pintor

Vendedor

Autônomo

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5 – Número de Vezes que foi

Preso

1 Vez: 14

2 Vezes: 2

Mais de Três Vezes: 4

6 – Tipo de Delito

Assalto a Mão Armada Seguido de Morte

Tentativa de Assalto

Tráfico de Drogas

Assalto a Mão Armada

Extorsão

Estelionato

7 – Cursos

Profissionalizantes dentro da

Prisão

Eletricista

Torneiro Mecânico

Carpintaria

Artes/Arquitetura

Pátina/Pinturas

Reforma de Móveis Usados

Feitio de Bolas, Grampos, Flores, Barcos, Porta-

Retratos

Doces

Relações Humanas

Informática

Biscuit

Culinária

Dos vinte sujeitos entrevistados, dezesseis deles participaram de algum curso

oferecido pela instituição, sendo que nove deles consideraram útil ou importante no

processo de socialização, enquanto que sete deles não consideraram importantes,

julgando-os necessários apenas como um passa-tempo dentro da prisão.

CATEGORIAS DISCURSOS

1 – Recebimento da Família

“...Fui recebido muito bem quando saí da prisão. Graças à Deus! Eles sempre me apoiaram...” “...É desgosto pra eles, principalmente pra mãe vê um filho desgostoso assim...” “Todos da família me apoiaram muito, pois sabiam que eu estava com a razão, apesar de ter feito uma coisa errada...Eles sabiam que o cara não prestava

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mesmo. Todos me trataram da mesma forma de antes.” “Eles me trataram normal, porque viram que era uma necessidade... que o cara se envolveu com a coisa por necessidade.” “Da mesma forma como antes, mas com a intenção que mude pra melhor né! A família da apoio pro cara mais que a sociedade.” “Fui recebido muito bem pela minha esposa...meu filho ficou um pouco receoso à princípio, mas depois adquiriu confiança, reconheceu que eu mudei.”

2 – Contato com a Família

“...Todo o tempo em que fiquei preso, minha família sempre foi me visitar, principalmente minha esposa, todos os fins de semanas e feriados.” “...Depois que saí da prisão tive que me mudar, vir pra cá, não pude mais ficar na minha cidade, por causa de vingança. Eu sinto muito pela minha família que sempre me apoiaram...e eu não posso mais vê-los. Meu pai já é velho e minha mãe teve um derrame e eu nem pude ir pra lá, pois a família do cara que eu matei me jurou de morte...” “Não me dou mais com minha família. Agora só considero minha família minha mulher e meu filho, que sempre estiveram comigo.”

3 – Dificuldade de Contratação por ser um Ex-

Presidiário

“Não tive dificuldades, acho que é porque eles já conheciam meu trabalho. Antes deles assinarem minha carteira e eu ser contratado, eu já prestava serviços a eles.” “Não procuro outro emprego, sou vendedor de redes, ninguém sabe que fui preso, pois estou sempre me mudando.” “É difícil conseguir alguma coisa boa, alguma oportunidade. As pessoas não confiam em você, pois acham que você pode assaltar ou roubar delas de novo. È difícil. “...Até consigo um coisa ou outra, sempre na temporada, que surgem vários empregos, mas são rápidos, nunca com carteira assinada...” “Não consigo trabalho porque sou fichado, ninguém aceita, com folha corrida...” “Só consegui emprego com carteira assinada por indicação de familiares, senão é muito difícil conseguir...” “Tô saindo agora da prisão, ta muito difícil, só recebo NÃO, eu faço qualquer coisa já...” “...Só em dizer que está em Livramento Condicional muda o comportamento das pessoas, é muito preconceito.”

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4 – Atitude do Empregador

“...Antes de eu ser contratado eu falei que era ex-presidiário. Foi um choque pro gerente, ele não queria acreditar, disse que conhecia o meu trabalho e eu era responsável, tinha referência dos outros lugares que e tinha trabalhado....Então ele me pediu um tempo pra pensar e me responder se queria me contratar. Fiquei oito dias esperando a resposta,mas deu certo, ele sabia da minha capacidade.” “...Na hora de assinar a carteira eles olham os antecedentes criminais...aí já vê que tem alguma coisa...já era...As firmas não aceitam, ficam te enrolando, dizem pra você ir pra casa que eles te ligarão amanhã...e nunca mais...”

5 – Como a Prisão Influenciou o Sujeito

“...Enquanto eu estava preso eu pude terminar meus estudos, concluí o segundo grau e prestei vestibular, também fiz vinte e um cursos...eu tenho o certificado de todos ele e as horas, também aperfeiçoei meus conhecimentos de mecânica lá dentro.” “Sabe, eu sempre digo que a prisão foi uma faculdade que eu nunca tive. Pois tive a oportunidade lá dentro de terminar meus estudos me aperfeiçoar no que faço, aprender sobre várias coisas.” “A prisão é um estudo de vida, pois a partir de lá comecei a olhar as coisas de um outro jeito, mais maduro, você fica muito tempo lá dentro, dá pra pensar na vida, no que a gente fez dela, daí você “cai” na real, que é realmente o que você fez dela e não o que os outros fizeram, pois você é o único responsável pelos seus atos...” “...Eu só passei a tomar consciência da minha vida e dos meus atos depois que estava na prisão...”

6 – Antes da Prisão como era a Vida do Sujeito

“...quando você entra ainda é imaturo, não pensava nas conseqüências, antes de fazer a bobagem, como é o meu caso...” “...a vida que eu levava que me levou a cometer o crime...”

7 – Cultura da Instituição

“A prisão é um lugar difícil de se viver, de conviver com pessoas tão diferentes. Lá dentro, muitas vezes, você tem que fazer de conta que não sabe de nada, que não viu nada, senão eles podem te matar, eles querem eliminar muita gente lá de dentro. Fora os caras que acham que não vão agüentar a pena que pegaram e se matam...” “Você aprende a sobreviver lá dentro...eu aprendi, pois se não for assim você não agüenta, você vê muitas coisas na prisão que tem que aprender a lidar pra se dar bem lá dentro...você tem que aprender a fazer o jogo de todos...” “...Pro cara se dá bem lá dentro, precisa ter dinheiro,

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senão a vida vira um inferno...Até tem conteúdos, tem cursos...mas não considero úteis, se você não tem dinheiro você não consegue nem comer decentemente...você vive pior que animal...”

8 – Mudanças de Amizade/Círculo Social

“Depois que fui preso só contei mesmo foi com a minha família, que apesar de eu ter agido errado, principalmente minha esposa, sempre me deram muito apoio e força. Os que se diziam meus amigos tinham sido presos comigo,só que foram tranferidos pra outros lugares,mas, amigos mesmo eu percebi que é só a família.Pois é nas dificuldades que se percebe quem são seus verdadeiros amigos,e os outros sumiram.” “Depois que saí da prisão me mudei de cidade e não tive mais contatos com os antigos amigos, mas sei que uns estão trabalhando, outros estão na igreja, pra se redimir da culpa, mas é só de faz de conta que eu sei, eles não freqüentam, só enganam, pois não estão arrependidos do que fizeram não, estão tirando proveito da situação...” “Procurei me afastar das velhas amizades pra não voltar pro crime, deixar os mau-feitores...” “...Os antigos amigos me viraram a cara, cortaram relações...Na comunidade, me olham estranho, com olhos diferentes do que pros outros...a sociedade discrimina muito...” “As pessoas que eu considerava amigas, quando eu saí, não me conheciam mais, me tratavam com indiferença,desconfiança...da pior forma possível...A sociedade não acredita na nossa mudança.”

Pôde-se constatar que as expectativas dos ex-detentos, são de manter-se

distantes do crime, sendo a família o principal suporte para isso. O afastamento do

ambiente de trabalho e a desvalorização das profissões específicas de cada um

dentro da prisão, também se torna bastante significativo no que diz respeito ao

desejo de reconstruir uma vida que não seja voltada para o crime. Mesmo tendo

cometido algo condenável pela sociedade, o trabalho sempre esteve presente na

vida da ampla maioria dos entrevistados,sendo que através deste possuem de certa

forma uma estabilidade e um laço maior com a família.

A negação e o não envolvimento com amizades relacionadas ao crime faz

parte do discurso da grande maioria dos entrevistados, sendo vistas como

influencias negativas no processo de reintegração social. Assim, afirmam não mais

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querer se relacionar com pessoas que conheciam antes e estavam juntos por

ocorrência do delito que levou a pena, como também com pessoas que conheceram

na prisão.

Embora a mudança de objetivos de cada um tenha ocorrido no contesto (e

não pelo) processo prisional, a prisão não é vista pelos ex- detentos como um lugar

facilitador do afastamento da vida criminal, muito pelo contrário, alguns entrevistados

relatam ser esta, fator prejudicial nesse sentido, devido ao afastamento do convívio

familiar, a grande ociosidade diária, a submissão hierárquica e a desvalorização

destes enquanto seres humanos na prisão, etc. Conforme FALCONI,

“Se a pena não reúne capacidade e competência para diminuir

ou avaliar os males que o crime produz, então ela é inócua e

despicienda. Descarte, não reeduca, não ressocializa e, como

conseqüência drástica, não se presta para a reinserção social.”

(1998,p.118).

A sociedade de uma maneira geral não está preparada para receber e

reintegrar o detento, pois considera-o como sendo uma pessoa má, perigosa e/ou

prejudicial a partir de um pré conceito instituído que leva à estigmatização. A

estigmatização e o preconceito sobre a condição da pessoa que foi submetida ao

sistema prisional é fato comprovado pelos ex-detentos, que demonstram senti-los

muito presentes. A adaptação ao meio social apresenta-se na maioria das

entrevistas como algo dificultoso e conflitivo para eles.

O processo que iniciou desde a ação criminosa, à situação do sujeito

enquanto preso, e sua reinserção, modificou a identidade de todos os ex-detentos

entrevistados, embora essa modificação não seja visível para eles. Conforme

CIAMPA (1999), identidade é movimento, é desenvolvimento, uma metamorfose. A

identidade se constitui e se transforma a partir das relações estabelecidas no

decorrer da vida do sujeito. Percebe-se que os sujeitos entrevistados modificaram

suas identidades, principalmente a partir do ingresso na instituição pois, precisaram

se adaptar a uma nova realidade, e relacionarem-se diariamente com pessoas de

uma maneira “forçada”, modificando e sendo modificados através destas relações. O

mesmo ocorreu na volta dos sujeitos na realidade social onde estavam inseridos,

pois precisaram readaptar-se à realidade que deixaram pra trás.

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Outra questão relevante na análise dos ex-detentos é que estes em sua

grande maioria não se identificaram como criminosos, justificando a ação (criminosa)

como uma “ besteira” que cometeram, como defesa, etc., mesmo considerando-se

responsáveis pelos atos que levou à condenação. Percebe-se o que diz

GOFFMAN(1988) sobre a discrepância entre identidade social virtual e identidade

social real. O ex-detento se vê de uma maneira diferente de como a sociedade o vê,

o que o faz ter expectativas que nem sempre serão superadas na sociedade,

dificultando assim seu processo de reinserção e “readaptação”.

A análise das entrevistas com os ex-detentos fez-se pensar sobre o papel da

instituição prisão na reiserção do sujeito no meio social. A prisão, com sua atual

ideologia não se preocupa em reinserir o detento na sociedade, mas antes ao

contrário, ela mantém o indivíduo que por ela passa “preso”, a mercê do preconceito

e da estigmatização que carregará por toda a sua vida. A dificuldade da sociedade

em aceitar o indivíduo em sua totalidade permite que se perpetue a criminalidade,

tendo em vista que o indivíduo ao passar pela prisão é fragmentado, é visto somente

pelo ato “criminoso” que cometeu não possibilitando-o que se veja como uma

pessoa capaz de possuir outra vida. A sociedade nega ao sujeito preso mediações

que seriam essenciais para a construção de projetos não relacionados a vida

criminosa.

Cumpre ressaltar que para a maioria dos sujeitos da amostra, os programas e

atividades oferecidos pelo sistema penitenciário não foram vistos como uma

proposta de ressocialização , mas sim como um passatempo.

Fazer uma pesquisa que leva em consideração a percepção do indivíduo que

foi preso é uma tentativa de alertar à sociedade em geral, os técnicos na área e

específicos sobre a maneira que estamos nos relacionando com o sujeito que

cometeu o crime e como se percebe o aumento da criminalidade em todo o país.

Espera-se realmente que esta pesquisa venha auxiliar na conscientização das

pessoas que a leiam, no sentido de nos valorizarmos mais, não nos sujeitando a

realidade que nos é imposta. O trabalho de “reeducação” social é um dever de todos

nós e não apenas daqueles que intitulamos como responsáveis por isso

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se bem existe no sistema uma proposta de cursos profissionalizantes que

poderiam estar a serviço da reinserção do apenado, esta por não fazer parte de uma

estratégia de ressocialização (políticas públicas) que se estenda pós-muros, fica

fragmentada e em tanto tal limita a sua possibilidade, também deve ser considerado

o antes, ou seja, sujeitos que encontraram na via do crime uma forma de reinserção.

Observa-se que o sistema penitenciário não proporciona meios favoráveis de

iniciar uma ocupação dentro do sistema ainda quando o apenado está cumprindo a

pena, demonstrando que esta iniciativa contribuiria neste processo, facilitando de

certa forma a vida do sentenciado quanto a sua reinserção na sociedade, a partir do

trabalho.

Segundo Bastos Júnior (2002,p.166)

O trabalho prisional evoluiu da primitiva concepção de castigo, forma de

aumentar o sofrimento do condenado, para a moderna condição de fator

essencial à recuperação do criminoso. Conceituando como direito-dever do

condenado, deve ter caráter educativo, criando ou mantendo o hábito e

ensejando aprendizado que possa favorecer a obtenção de meios de

subsistência após a saída da prisão. Propiciando ocupação em atividades

úteis,dá ao preso oportunidade de auferir rendimentos para assistência à

família e pequenas despesas pessoais, devolvendo-lhe a auto-estima e o

senso de dignidade.

Nesse sentido, a identidade do preso reiniciaria neste meio ocupacional/social

que se sentindo novamente útil como pessoa que consegue manter a si e a sua

família financeiramente, percebe-se transformando sua realidade ao mesmo tempo

em que ela é também transformada por ele. Neste processo o indivíduo vivenciaria,

atuante e participativo, contribuiria na minimização da reincidência.

Muito embora a Lei de Execuções Penais no seu art.28 regulamente o

trabalho dos presos enquanto cumpridores de penas dentro de presídios, definindo-o

como dever social e condição de dignidade humana visando educar e produzir,

infelizmente, pequena parcela desta população carcerária usufrui deste benefício do

trabalho prisional, possibilitando ao apenado possuir experiência em áreas

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profissionais diversas, porque são poucos os estabelecimentos penais que possuem

condições de proporcionar esta possibilidade produtiva.

Neste sentido Podval in Rodrigues (2001), comenta que a atual sociedade

brasileira apresenta questões de desigualdade e que por conta disso, tem um longo

e sinuoso caminho a percorrer visto que a execução penal tanto administrativa

quanto judicialmente necessita civilizar-se mais, porquanto que o respeito

dispensado aos seres humanos, livres e presos carecem dessa civilização.

Respeitar os direitos, liberdades e garantias, permite as carências individuais e

sociais dos reclusos é de competência do Estado, que possibilitando recriar

hipóteses de mudanças, excluindo a coação, se instalaria o equilíbrio. Este por sua

vez, estaria em procurar esforços de socialização que à medida que se previne o

individuo do ato criminoso ao mesmo tempo protege-o contra os abusos do poder.

A constituição da cidadania pela valorização dos Direitos Humanos pressupõe

diretriz principal e o avanço e da civilização do mundo ocorre, historicamente, por

meio da afirmação desses direitos.

Portanto, se faz necessário, uma educação pautada na democracia e não no

discurso da censura, sem podar a liberdade verdadeira do homem.

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6. REFERÊNCIAS

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2004.

FALCONI, Romeu. Sistema Presidial: Reinserção Social. Sao Paulo: Ìcone,1988.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

________________.Vigiar e Punir. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1996.

________________. Estigma . Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

JACQUES, Maria da Graça Corrêa. Relações Sociais e Ética. Porto Alegre: ABRAPSO, 1995.

LANE, Sílvia T. Maurer. O que é Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, 1981.

_________________ & GODO, Wanderley. Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984.

MIRABETE, J. F. Execução Penal: comentários à Lei nº 7.210, de 11 /07/84. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

OLIVEIRA, Alexandre & LIMA, Edmilson & LUNA, Iuri. Técnicas de coleta de dados na pesquisa social. Florianópolis: 1996.

OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1984.

SAWAIA, Bader. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

WACQUANT, Loïe. As Prisões da Miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

BASTOS JÚNIOR, E. J. de. Código Penal em Exemplos Práticos. 3ª ed. Florianópollis: Ed. OAB, 2002.

SILVA, H. C da. Manual da Execução Penal. Campinas: Ed. Bookseller, 2001.

RODRIGUES,Novo Olhar sobre a Questão Penitenciária. Estatuto Jur dico do recluso e socializaçao, jurisdicionalização, consensualismo e prisão..São Paulo:Ed.Revista dos Tribunais , 2001.

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7. OBRAS RECOMENDADAS

CARVALHO, Z. de. Crítica à Execução Penal. Rio de Janeiro: Lumen Jurcis, 2002.

GUIMARÃES, R. T. A Prisão do Direito Brasileiro: comentários, doutrina e jurisprudência. 2. ed. Rio de Janeiro: Liber Juris, 1988.

OLIVEIRA, O. M. de. Prisão: um paradoxo social. Florianópolis: Editora UFSC, 1984.

VARELLA, Dráuzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

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8. APÊNDICE

7.1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome (iniciais): Idade: Sexo: Naturalidade:

Endereço: Profissão: Identidade:

O (A) Sr(a). foi informado(a) sobre a pesquisa intitulada: “Reinserção Social: As dificuldades de reinserção social do egresso do sistema penitenciário” por

intermédio da qual a pesquisadora buscará: identificar quais as expectativas do ex-

detento referentes a sua sobrevivência financeira após o cumprimento total da pena,

relacionando com sua reinserção no mercado de trabalho do qual fazia parte ou

pretende fazer; verificar como foi a reinserção do ex-detento no âmbito sócio-

familiar; verificar, se aconteceu e como se deu, a reinserção no mercado de trabalho,

a partir do referencial teórico psicanalítico.

O sujeito da entrevista afirma ser esclarecido de que esta não apresenta

riscos previsíveis às pessoas, respeitando assim, os princípios éticos de pesquisa

junto a seres humanos.

Pelo fato de o único interesse ser científico, é garantido que toda e qualquer

informação que possam identificar os sujeitos, serão omitidas e/ou alteradas.

A pesquisadora e quaisquer participantes da pesquisa ficam isentos de

qualquer remuneração financeira, sendo que está possui caráter voluntário.

É de direito das partes ainda, quando solicitado previamente, o acesso ao

andamento da pesquisa, bem como dos resultados.

__________, ______de __________de 2005.

________________________________ ____________________________

Sujeito da pesquisa Pesquisador

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7.2. CARTA DE APRESENTAÇÃO

Tendo como perspectiva desenvolver a pesquisa intitulada: “Reinserção Social: As dificuldades de reinserção social do egresso do sistema penitenciário”, que apresenta os seguintes objetivos - identificar quais as

expectativas do ex-detento referentes a sua sobrevivência financeira após o

cumprimento total da pena, relacionando com sua reinserção no mercado de

trabalho do qual fazia parte ou pretende fazer; verificar como foi a reinserção do ex-

detento no âmbito sócio-familiar; verificar, se aconteceu e como se deu, a reinserção

no mercado de trabalho, a partir do referencial teórico psicanalítico - eu, Aline Griss,

acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI,

regularmente matriculada – pelo nº 021432, e sob o consentimento desta com

relação ao caráter científico da pesquisa, tendo como orientação técnica e

profissional do professor Henry Dario Cunha Ramirez, Mestre em Psicologia, venho

solicitar por meio desta a apreciação do projeto de pesquisa em anexo, tendo como

finalidade desenvolver o mesmo nesta respeitável Instituição.

Sem mais para o momento e no aguardo do deferimento do pedido acima

agradeço a atenção. Cordialmente,

____________________________________

Universidade do Vale do Itajaí

_____________________, de ____________, de 2005.

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8. ANEXOS ENTREVISTA 1 – EX-DETENTOS

1. QUAL É A SUA ESCOLARIDADE?

2. QUANTOS ANOS VOCÊ TEM?

3. QUANTAS VEZES FOI PRESO?

4. VOCÊ FOI CONDENADO POR QUANTO TEMPO?

5. QUAL(IS) MOTIVO(S) O LEVOU A PRISÃO?

6. VOCÊ É CASADO?

7. VOCÊ TEM FAMÍLIA?

8. COMO SUA FAMÍLIA O RECEBEU ?

9. TODOS DA FAMÍLIA LHE TRATARAM DA MESMA MANEIRA?

10. VOCÊ ESTÁ EMPREGADO?

11. CASO A RESPOSTA À PERGUNTA ANTERIOR SEJA POSITIVA, COMO FOI

QUE CONSEGUIU EMPREGO?

12. CASO A RESPOSTA À PERGUNTA N° 11 SEJA NEGATIVA, POR QUE

ACHA QUE NÃO TE DERAM UM EMPREGO?

13. NA PRISÃO VOCÊ RECEBEU ALGUM TREINAMENTO OU APRENDIZADO

DE TRABALHO? ESTÁ SENDO ÚTIL AGORA?

14. VOCÊ TEM HORAS DE FOLGA? O QUE FAZ NESSAS HORAS?

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15. NA SUA OPINIÃO A PRISÃO CONTRIBUIU PARA A SUA REINSERÇÃO

SOCIAL (emprego - sim/não/porque)?

16. SEUS AMIGOS SÃO OS MESMOS DE QUANDO INGRESSOU

NA INSTITUIÇÃO? (se não, por quais motivos não seriam?)

17. COMO ELES O RECEBERAM?

18. VOCÊ TEM AMIGOS EX-DETENTOS? COMO ELES ESTÃO AGORA?

19. COMO VOCÊ PERCEBE QUE AS PESSOAS DE FORA DA INSTITUIÇÃO O

VÊEM POR SER UM EX-PRESIDIÁRIO?