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Relatório de Estabilidade Financeira Volume 16 ǀ Número 2 ǀ Outubro 2017 ISSN 2176-8102 R e l a t ó r i o d e E s t a b i l i d a d e F i n a n c e i r a R E F

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Relatório de Estabilidade FinanceiraVolume 16 ǀ Número 2 ǀ Outubro 2017

ISSN 2176-8102

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Estabilidade Financeira

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Relatório de Estabilidade FinanceiraVolume 16 ǀ Número 2 ǀ Outubro 2017

ISSN 2176-8102CNPJ 00.038.166/0001-05

Rela

tóri

o de

Estabilidade Financeira

REF

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Relatório de Estabilidade Financeira

Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BC)

É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 16, nº 2.

Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos.

Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.

Atendimento ao Cidadão

Banco Central do BrasilSBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo70074-900 Brasília – DFTelefone: 145 (custo de ligação local)Internet: <http://www.bcb.gov.br/?ATENDIMENTO>

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Sumário

Prefácio 5

Sumário executivo ampliado 6

1 Panorama do sistema financeiro 10

1.1 Liquidez ____________________________________________________________________ 101.2 Crédito _____________________________________________________________________ 141.3 Rentabilidade ________________________________________________________________ 221.4 Solvência ___________________________________________________________________ 241.5 Testes de estresse de capital _____________________________________________________ 25 1.5.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas ____________ 26 1.5.2 Análise de sensibilidade ___________________________________________________ 27 1.5.3 Simulaçãodecontágiodiretointerfinanceiro __________________________________ 291.6 Pesquisa de Estabilidade Financeira ______________________________________________ 301.7 Infraestruturasdomercadofinanceirosistemicamenteimportantes ______________________ 34

2 Temas selecionados 38

2.1 Atuação do Banco Central do Brasil ante os fatos ocorridos em 17 de maio de 2017 _______ 382.2 Step-in risk __________________________________________________________________ 442.3 Balanços dos bancos centrais das economias avançadas _______________________________ 462.4 Gerenciamento integrado de riscos e gerenciamento de capital _________________________ 492.5 AmortizaçãonegativaemfinanciamentosimobiliáriossobaTabelaPrice _________________ 512.6 Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (IVG-R) _______________________ 532.7 Mediana de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (MVG-R) ____________________ 55

Boxe

TrabalhosparaDiscussãoqueversamsobreestabilidadefinanceira _________________________ 56

Apêndice 56

Anexo 60

Conceitos e metodologias __________________________________________________________ 60Conceitos e metodologias – Estresse de capital _________________________________________ 62

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Anexo estatístico

Indicadores de Solidez Financeira (FSIs) – Link da página do FMI para consulta aos últimos dados disponíveis de todos os países Matrizdemigraçãodeclassificaçãodecrédito–SFNComposiçãodosistemafinanceiro(emativosfinanceiros)Composição da carteira dos fundos ICVM555 não cotas Evoluçãodosníveisdeconcentração–Segmentobancário–ÍndicedeHerfindahl-Hirschman–IHHEvolução dos níveis de concentração – Segmento bancário – Razão de concentração dos quatro maiores participantes – RC4 GráficosetabelasdocorpodoRelatório

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 5

Prefácio

O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BC) que apresenta panorama da evolução recente e perspectivas da estabilidade financeira no Brasil, com foco nos principais riscos, nas medidas que estão sendo adotadas para mitigá-los e na avaliação da resiliência do sistema financeiro brasileiro. A presente edição concentra-se no primeiro semestre de 2017, destacando eventos mais recentes, quando pertinente.

O BC define estabilidade financeira como a manutenção, ao longo do tempo e em qualquer cenário econômico, do regular funcionamento do sistema de intermediação financeira entre famílias, empresas e governo.

Nesta edição, o REF avança na consolidação da nova estrutura e do novo conteúdo inaugurados na edição de abril de 2017, intensificando a busca por maior foco em riscos à estabilidade financeira, seus mitigadores e resiliência, com abordagem prospectiva. Nesse sentido, a Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF), que avalia a percepção das entidades reguladas sobre os riscos à estabilidade financeira, deixa de ser apresentada como boxe, incorporando-se, em sua versão mais recente, ao corpo do relatório.

O relatório é constituído por dois capítulos. O Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro – apresenta uma análise dos riscos relacionados a liquidez, crédito, rentabilidade e solvência, dos testes de estresse de capital e seus reflexos sobre a situação de solvência das instituições, da PEF e do funcionamento das infraestruturas do mercado financeiro sistemicamente importantes. O Capítulo 2 – Temas selecionados – versa sobre assuntos relevantes, e não necessariamente recorrentes, que podem ter reflexos sobre a estabilidade financeira no Brasil.

No Anexo estatístico, são relacionados os dados dos gráficos e das tabelas do relatório, acompanhados de outros, listados no Sumário, que são úteis para análises de estabilidade financeira. O Anexo estatístico encontra-se no mesmo endereço eletrônico em que está disponível o REF, <www.bcb.gov.br/?relestab>.

Adicionalmente, algumas séries temporais importantes para o acompanhamento da estabilidade financeira (Índice de Basileia – IB, ativos líquidos sobre passivos de curto prazo, índice de inadimplência e retorno sobre patrimônio líquido, por exemplo) podem ser encontradas em <https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries>.

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Sumário executivo ampliado

O primeiro semestre de 2017 foi marcado por aumentos trimestrais do Produto Interno Bruto (PIB) após dois anos de recessão, recuo do índice de inflação anual ao menor nível dos últimos dez anos, expressiva redução da taxa básica de juros e interrupção no crescimento do desemprego. Os efeitos da economia em recuperação são lentamente percebidos no arrefecimento do risco de crédito às famílias. O crédito às grandes corporações, contudo, ainda enfrenta os desafios decorrentes da materialização de risco.

O número de instituições financeiras (IFs) que percebem a recessão e a inadimplência como fontes de risco para a estabilidade financeira reduziu-se ao menor nível dos últimos cinco anos. Embora, conjuntamente, essas ainda formem o principal vetor de risco, a atenção está se direcionando à sustentabilidade fiscal, vista como a segunda mais importante fonte de risco. Não obstante, as IFs acreditam na resiliência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e na adequação e suficiência dos instrumentos disponíveis para enfrentar cenários de grave crise financeira.

O processo de desalavancagem dos balanços das corporações não financeiras e os critérios restritivos de concessão dos bancos diante da piora na qualidade da carteira de crédito a empresas têm refletido em fraca concessão de crédito.

• O crescimento do crédito ainda é negativo, tanto para pequenas e médias quanto para grandes empresas. O ritmo de queda, contudo, tem se tornado mais ameno.

• Houve piora no primeiro semestre de 2017 na percepção de riscos relacionados a ativos problemáticos das empresas de grande porte e de alguns setores da economia, principalmente “transporte”, “construção, madeira e móveis” e “varejo”. A inadimplência das empresas elevou-se. O volume de baixas para prejuízo é elevado, e as reestruturações e as renegociações dobraram nos últimos dois anos.

• Queda recente na pré-inadimplência sugere que o ciclo de aumento de materialização de risco nas pequenas e médias empresas estaria chegando ao fim. As empresas de grande porte ainda podem enfrentar aumentos de ativos problemáticos no curto prazo.

• O volume de provisões constituídas pelas IFs para cobertura de riscos decorrentes de ativos problemáticos é confortável, o que minimiza riscos para a estabilidade financeira.

Houve estabilização no nível de ativos problemáticos das famílias que favoreceu a redução das despesas com provisão e, consequentemente, o avanço do lucro líquido do sistema bancário. O retorno sobre o patrimônio aumentou, beneficiado, também, pelo declínio do custo de captação.

• Verifica-se importante movimentação interna entre os componentes do índice de ativos problemáticos na carteira de crédito às famílias: aumento das reestruturações e leve queda da inadimplência. As reestruturações têm sido utilizadas pelas IFs para readequar as condições de pagamento das operações à capacidade financeira dos tomadores, principalmente no crédito imobiliário.

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• A carteira de crédito imobiliário continua apresentando aumento de risco. Como consequência, intensificaram-se as baixas a prejuízo e a retomada de imóveis de tomadores inadimplentes. Para o próximo semestre, há expectativa de arrefecimento do risco de crédito habitacional, devido à melhora nas condições de trabalho e de renda e ao menor nível de endividamento das famílias.

• Nos dozes meses findos em junho de 2017, os ativos problemáticos estavam em ascensão mais branda que nos doze meses findos em dezembro de 2016. Os ativos problemáticos das famílias deixaram de crescer e se estabilizaram, o que permitiu redução das despesas de provisão no período mais recente.

• O custo de captação continuará recuando, em linha com a perspectiva de redução da taxa básica de juros, e deve beneficiar a margem de crédito no curto prazo. Para o médio e longo prazo, a retomada do crédito com ganhos em volume será fundamental para a manutenção da melhora do resultado de intermediação financeira dos bancos. Os principais bancos ainda devem se beneficiar, gradualmente, da redução de despesas em decorrência de reorganizações administrativas.

A solvência não configura risco para a estabilidade financeira. Os índices de capitalização e de alavancagem mantêm robustez para suportar com equilíbrio a transição para as regras prudenciais de Basileia III.

• A base de capital foi fortalecida por incorporação de resultados, emissões de instrumentos elegíveis a Capital Nível II e ligeiro recuo dos ativos ponderados pelo Risk-weighted asset (RWA), reflexo da contração do RWA de crédito. A necessidade projetada de capital considerando a plena implementação de Basileia III em junho de 2019 reduziu de R$20,5 bilhões em dezembro de 2016 para R$10,1 bilhões em junho de 2017, equivalente a 1,7% do PR projetado.

A liquidez do sistema permanece elevada em análises suportadas tanto por indicadores internos quanto por recomendações internacionais. Em geral, as instituições alongaram os prazos de suas captações, melhoraram seus índices de liquidez estrutural e demonstraram resiliência diante das oscilações de mercado pós 17 de maio de 2017, mantendo a capacidade para honrar saídas abruptas de recursos em cenários de estresse.

• Conglomerados que representam aproximadamente 85% do total de ativos do sistema bancário apresentam indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR) acima de 100% desde o final de 2015, portanto, acima do mínimo regulamentar de 80% recomendado pelo Basel Committee on Banking Supervision (BCBS) em 2017. Estudos de impacto demonstram manutenção desse conforto de liquidez, mesmo após a implementação dos aprimoramentos ao LCR recomendados pelo BCBS.

• As oscilações nos mercados em 18 de maio provocaram a elevação da preocupação com riscos. Os riscos decorrentes da variação de preços de mercado aumentaram, e houve recorde de movimentação de posições financeiras e ajustes no mercado de derivativos de bolsa. O BC e a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) agiram tempestivamente, e, já a partir de 19 de maio, os mercados iniciaram seu retorno à normalidade. Os mercados de juros e de câmbio voltaram a apresentar variações compatíveis com um funcionamento regular de mercado.

• O BC reforça a importância de buffers de capital e de liquidez, bem como de outros instrumentos para minimizar efeitos de crises. Acrescenta-se importância, também, ao monitoramento minucioso dos mercados e dos entes supervisionados de forma a permitir a construção de diagnósticos de riscos e a elaboração de ações corretoras adequadas e tempestivas.

Os resultados dos testes de estresse demonstram aumento da resiliência do sistema bancário para absorver choques. Impactos de eventuais alterações abruptas nas taxas de juros e de câmbio seriam pequenos em razão da baixa exposição a esses riscos. Em relação aos dois últimos semestres, reduziu-se a necessidade de capital para absorver choques decorrentes da simulação de condições macroeconômicas desfavoráveis.

• Em junho de 2017, o BC introduziu duas alterações na metodologia para avaliar os efeitos dos testes de estresse: i) a incorporação de linhas de receitas importantes, como receitas de crédito e de títulos e valores mobiliários (TVM) – a

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ausência dessas linhas deixava a metodologia anterior muito conservadora; e ii) a estimativa da despesa de provisão com base no conceito de ativos problemáticos, e não mais considerando apenas a inadimplência. Essa alteração visa incorporar a evolução conceitual quanto ao entendimento do risco da carteira de crédito.

• Aplicando-se a nova metodologia e o cenário Vetor Autorregressivo (VAR) estressado, o resultado sugere que, após seis trimestres de deterioração macroeconômica, a necessidade estimada de capital para evitar tanto desenquadramento quanto limitações à distribuição de lucros seria de apenas 0,9% do PR atual do sistema.

• A análise de cada um dos fatores de risco individualmente indica que o sistema bancário conseguiria absorver bem variações incrementais nas taxas de juros, de câmbio, de ativos problemáticos e no preço de imóveis residenciais.

• Apesar do leve aumento, o risco de step-in é reduzido. Testes de estresse de liquidez não indicam situações em que eventual materialização do step-in risk ensejaria suporte financeiro a fundos de investimento de forma a comprometer a liquidez dos bancos, com impactos relevantes para a estabilidade financeira. Esse cenário não deve se alterar no curto prazo, dado que tanto fundos quanto bancos dispõem de liquidez elevada.

Riscos globais que poderiam afetar a estabilidade financeira no Brasil não se cristalizaram. No semestre anterior, havia preocupação com a possibilidade de o Federal Reserve (Fed) acelerar o ritmo de altas das taxas de juros de curto prazo, com reflexos negativos no financiamento para países emergentes (PEs). Essa percepção de risco reduziu-se com a manutenção de inflação baixa nos países avançados e após o anúncio de regras para a redução gradual do balanço do Fed.

• A despeito de um ritmo de crescimento mais robusto nas principais economias, as medidas de inflação, em especial dos núcleos, continuam se situando em níveis considerados reduzidos pelos respectivos bancos centrais. Essa conjuntura tem contribuído para reduzir a inclinação das curvas de juros nesses países, representando mais um fator positivo para o apetite ao risco em relação a PEs.

• O Federal Open Market Committee (FOMC) anunciou, em junho de 2017, que o Fed reduzirá gradualmente o seu balanço, com flexibilidade para arrefecer o processo caso as condições financeiras deteriorem-se. A definição de regras de gradualidade e flexibilidade foi fundamental para que o mercado reduzisse uma importante fonte de incerteza relacionada a economias emergentes. O encerramento do processo de redução do balanço do Fed permanece indefinido, mas se espera que o impacto da elevação da taxa de juros nos EUA tenha impacto limitado sobre os PEs, inclusive sobre o Brasil, mantidas as condições de maior resiliência da economia global e o gradualismo com que o Fed conduzirá o processo.

• Importante notar que o cenário atual está mais favorável à demanda de ativos dos PEs, que reduziram vulnerabilidades após o Taper Tantrum, com queda expressiva dos deficits em conta-corrente, e têm se beneficiado da atividade econômica mais robusta nas economias avançadas e da estabilização da economia chinesa, que contribuiu para a recuperação dos preços de commodities.

O BC e o Conselho Monetário Nacional (CMN) seguem aprimorando a regulação para ampliar a resiliência do SFN e promover maior conformidade a padrões regulatórios internacionais. Nesse sentido, destacam-se as seguintes medidas:

• Introdução de regras para as IFs avaliarem, de forma mais detalhada, os riscos inerentes aos seus respectivos modelos de negócios e objetivos estratégicos, definindo e documentando os níveis de apetite para cada tipo de risco identificado. Essas regras recomendadas pelo BCBS estão consubstanciadas no documento Core Principles for Effective Banking Supervision.

• Desestímulo, via requerimento de capital, à concessão de financiamentos habitacional em que haja maior probabilidade de ocorrência de aumento nominal do saldo devedor. O Fator de Ponderação de Risco (FPR) de 35% passa a ser aplicável apenas se a dívida não exceder 80% do valor de avaliação da garantia apurado na data

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da contratação da operação. Desse modo, caso ocorra aumento do saldo devedor dos financiamentos no curso dos contratos, em magnitude que acarrete superação do referido parâmetro, as exposições passam a estar sujeitas a FPR de 75% ou 100%.

Desdobramentos de temas (riscos) analisados em REFs anteriores

Impactos de Contágio, sobre o SFN, de default de empresas do setor real da economia (Operação Lava Jato)

No REF de outubro de 2015, o BC publicou uma metodologia1 construída para estimar riscos e potenciais impactos, sobre o SFN, provenientes de default de empresas do setor real da economia. Essa metodologia foi utilizada para analisar a resistência do SFN a possíveis impactos de default das empresas citadas no âmbito da Operação Lava Jato.

Desde então, o BC tem atualizado a análise simulando contágio com base em cenários diversos. Os resultados sugerem que não houve alterações relevantes, e o risco para a estabilidade financeira permanece limitado. Nenhuma instituição financeira ficaria insolvente, mesmo em estimativas com premissas extremamente conservadoras, como o default de todas as empresas integrantes dos grupos econômicos selecionados e de todas as empresas e grupos econômicos identificados pela metodologia como fazendo parte da rede de conexões desses grupos, incluindo seus funcionários.

Exposição do SFN a entes subnacionais e potenciais impactos para a estabilidade financeira

Diversos estados e municípios brasileiros continuam enfrentando desafios financeiros provocados por fraca arrecadação e orçamentos comprometidos com despesas de pessoal e serviços de dívida. Esse cenário é semelhante ao de seis meses anteriores, ocasião em que o BC publicou, no REF de abril de 2017, estudo que simulou o potencial contágio para o SFN de eventuais problemas com a solvência de entes subnacionais. A simulação foi realizada utilizando metodologia análoga à descrita no REF de outubro de 2015 para estimar possíveis efeitos de default de empresas envolvidas na Operação Lava Jato.

A simulação de impactos foi atualizada, utilizando-se as mais recentes avaliações sobre a capacidade financeira dos entes, as exposições do SFN e a posição de capital das IFs em junho de 2017. Os resultados seguem sugerindo baixo impacto para a estabilidade financeira. O sistema está adequadamente preparado para suportar eventual default de estados e municípios em “desequilíbrio fiscal”, de seus servidores, fornecedores e empregados dos fornecedores.

Adicional Contracíclico de Capital Principal

O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), no exercício de suas atribuições previstas na Circular nº 3.827, de 30 de janeiro de 2017, decidiu, em 14 de agosto de 2017, manter o Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCPBrasil) em 0%.

O crédito amplo apresenta crescimento nominal negativo, e a relação crédito/PIB permanece crescendo menos do que sua tendência de longo prazo. Não há crescimento excessivo ou generalizado do crédito ao setor privado não bancário nem qualquer outro evento que indique acumulação de risco sistêmico. As perspectivas de curto prazo são de estabilidade em relação ao estoque de crédito do SFN. O sistema apresenta elevada margem de capital econômico, suficiente para a absorção de perdas no horizonte avaliado.

1/ Para detalhes sobre a metodologia, ver REF de outubro de 2015.

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1Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro2

1.1 Liquidez2

O risco de liquidez do sistema bancário permanece em níveis baixos, cenário que tende a perdurar ao longo de 2017. O sistema continua resiliente, mantendo adequado nível de liquidez mesmo em um ambiente de elevada inadimplência e de grandes oscilações nos preços de mercado3. Os estoques de ativos líquidos permanecem altos, apresentando tranquilidade para honrar saídas abruptas de recursos em eventuais cenários de estresse. O risco de liquidez no longo prazo reduziu-se no primeiro semestre, reflexo principalmente do alongamento dos vencimentos de captações, e permanece em nível adequado. Assim, a atual estrutura de captação e aplicação dos balanços minimiza a suscetibilidade dos bancos a futuros problemas de liquidez, e, portanto, sob diversas perspectivas, o risco de liquidez do sistema não representa preocupação relevante.

O volume de funding doméstico, que representa 84,6% das captações totais das instituições, permanece estável em doze meses, com leve declínio no primeiro semestre. Tal movimento reflete tanto as condições de demanda por crédito quanto o comportamento dos investidores perante o novo patamar de juros da economia. A evolução

2/ Destaque-se que, para efeito das seções 1.3 Rentabilidade, 1.4 Solvência e 1.5 Testes de estresse de capital, o escopo das análises é o conglomerado prudencial definido na Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, ao qual são aplicados, desde 1º de janeiro de 2015, os requerimentos mínimos de capital, conforme a Resolução n° 4.193, de 1º de março de 2013. Na seção 1.1 Liquidez, o escopo das análises é o sistema bancário, aqui constituído pelas instituições Banco Comercial, Banco Múltiplo (BM), Caixa Econômica, Banco de Câmbio e Banco de Investimento (BI) e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Em 1.2 Crédito, o escopo das análises é o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

3/ Conforme seção 2.1.

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do perfil de captação4 (Gráfico 1.1.1) mostra o aumento das captações de depósitos a prazo, acomodando parte do movimento de redução do estoque das operações compromissadas com lastro em títulos ou aceite de instituições ligadas ao conglomerado prudencial (decorrente da edição da Resolução n° 4.527, de 29 de setembro de 2016) e de LCAs e LCIs. Verifica-se ainda, nos últimos meses, a recuperação no estoque das cadernetas de poupança. Merecem destaque também as captações líquidas positivas dos fundos de investimento, que indicam a existência de recursos disponíveis para o sistema, a depender das taxas de juros oferecidas aos investidores pelos diversos agentes.

O ritmo das captações do sistema deverá acompanhar de forma sincronizada o ritmo que o sistema bancário imprimirá às suas operações de crédito, que, por seu turno, dependerá da confirmação do processo de recuperação da economia brasileira.

A representatividade do funding externo em relação às captações totais manteve-se baixa e estável. Em linha com os demais indicadores econômicos, houve desaceleração na redução do volume das captações externas, redução de 3,3% no primeiro semestre de 2017, USD6,4 bi, ante redução de 11,9% no semestre anterior, USD26,2 bi. O percentual das captações externas em relação às captações totais em junho de 2017 era de 15,4%, patamar semelhante ao segundo semestre de 2016, dada também a redução nas captações domésticas (Gráficos 1.1.2 e 1.1.3).

A estrutura de vencimentos das captações domésticas no primeiro semestre de 2017 mantém a tendência de alongamento dos prazos, com menor participação dos instrumentos com liquidez imediata e depósitos à vista (29%) em junho de 2017 (Gráfico 1.1.4) e maior contribuição das captações com vencimento superior a trinta dias (37%). A boa disponibilidade de recursos de varejo, refletida inclusive pela recuperação da poupança, também contribui com a perspectiva de maior estabilidade do funding, na medida em que esses clientes

4/ Depósitos a prazo: certificados de depósito bancário, recibos de depósitos bancários, depósitos a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Dívida subordinada: certificados de depósito bancário com cláusula de subordinação, letras financeiras com cláusula de subordinação e instrumentos elegíveis à composição de capital. Outros instrumentos: COE, letras de câmbio, letras financeiras, letras hipotecárias, operações de box. Compromissadas: referem-se tão somente às operações compromissadas com títulos privados. Por se tratarem de operações por meio das quais se permutam ativos de alta liquidez, as operações compromissadas com títulos públicos federais não estão sendo consideradas no conceito de captação no presente relatório.

0

5

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15

20

25

Dez2010

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Captações externas mantidas no exterior versus captações totaisCaptações externas que ingressam (vinculadas) versus captações totaisCaptações externas que ingressam (livres) versus captações totais

Gráfico 1.1.2 – Perfil das captações externasComo percentual das captações totais

0

50

100

150

200

250

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

US$ bilhões

Captações externas mantidas no exterior

Captações externas que ingressam (vinculadas)

Captações externas que ingressam (livres)

Gráfico 1.1.3 – Perfil das captações externasValores absolutos em dólares

594 658 652 661 671

576 534 535 603 710

320 370 397 356 248411

450 467 475 476264

358494 393 385215

277335 330 310

151

174

181 202 220

95

159

203 201 198

149

164

179 174 173

109

147

186 180 153

180

172

148 155 138

-

800

1.600

2.400

3.200

4.000

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Jun2017

R$ biGráfico 1.1.1 – Perfil de captaçãoSistema bancário

Poupança Depósitos a prazoCompromissadas com títulos privados Empréstimos e RepassesCaptações externas Outros instrumentosDepósitos judiciais LCIDívida subordinada LCADepósitos à vista DI

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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costumam ter relacionamento mais estável com os bancos e são menos sujeitos a grandes volumes de resgates em situações de crise.

As instituições bancárias vêm mantendo colchões de liquidez suficientes para suportar cenários de estresse. Por um lado, a leve redução das captações no semestre, anteriormente mencionada, contribuiu para pequena redução no estoque nominal de ativos líquidos. Por outro, os desembolsos projetados de caixa em cenário de estresse sofreram leve aumento nas estimativas de saídas de depósitos, ainda ligadas à migração de uma parcela do estoque de compromissadas com títulos de emissão própria para fundos e outros possíveis ativos fora do sistema bancário. Dessa forma, o Índice de Liquidez (IL)5 agregado dos bancos encerrou o primeiro semestre de 2017 em 2,19, 0,17 p.p. abaixo do fechamento de 2016 (Gráfico 1.1.5).

Individualmente, as instituições mantiveram sua liquidez de curto prazo em patamar confortável (Gráfico 1.1.6), com destaque para as de grande porte. Em junho de 2017, 98,1% dos ativos do sistema bancário estavam em balanços de bancos com suficiência de ativos líquidos necessários para suportar uma crise de liquidez (IL ≥ 1). Na comparação com o semestre anterior, o número de instituições com IL menor do que 1 manteve-se em 18, com baixa representatividade em termos de ativos totais.

Além do IL, métrica desenvolvida e calculada pelo BC desde 2002 para todos os bancos em operação no Brasil, o risco de liquidez de curto prazo passou a ser acompanhado também por meio do indicador Liquidez de Curto Prazo (Liquidity Coverage Ratio – LCR)6, em linha com as recomendações do BCBS. Trata-se de um requerimento regulamentar, obrigatório para bancos com ativos totais acima de R$100 bilhões, abrangendo oito

5/ O IL mensura se os bancos possuem ativos líquidos suficientes para cobrir suas necessidades de caixa de curto prazo (mês subsequente) em cenário de estresse hipotético, definido e calibrado pelo BC. Essas saídas de recursos advêm da possibilidade de resgates de captações vincendas ou com liquidez imediata, exposições a risco de mercado, como chamadas de margens e pagamentos de ajustes de derivativos e, ainda, outros fluxos contratuais programados para os próximos trinta dias. Instituições com IL superior a 1 possuem ativos líquidos suficientes para esse cenário. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item a.

6/ O LCR é um índice cujo cumprimento requer que as instituições financeiras mantenham ativos de alta liquidez para suportar saídas de caixa nos próximos trinta dias, em um cenário de estresse definido pelo documento do BCBS (www.bis.org/publ/bcbs238.htm). Atualmente, o requerimento mínimo é de 80% e chegará em 100% em janeiro de 2019. Regulamentação doméstica pela Resolução BC nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e Circular BC n° 3.749, de 5 de março de 2015.

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Gráfico 1.1.4 – Perfil das captações internas

Depósitos judiciaisCaptações com vencimento superior a 1 anoCaptações com vencimento de 30 dias a 1 anoCaptações com vencimento de 1 a 30 diasDepósitos poupançaDepósitos à vista + outras captações com liquidez imediata

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

Jan2012

Jun Jan2013

Jun Jan2014

Jun Jan2015

Jun Jan2016

Jun Jan2017

Jun

R$ bilhões

Gráfico 1.1.5 – Índice de Liquidez

Ativos líquidos

Fluxo de caixa estressado

Índice de Liquidez

un.

15 3 8 14

18

72

15 3

1013

17

73

0

18

36

54

72

90

<0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,6 1,6-2,0 ≥2,0

Gráfico 1.1.6 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez1/

Dezembro 2016 Junho 2017

Índice de Liquidez

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 13

0%

120%

240%

360%

480%

600%

Out2015

Dez Mar2016

Jun Set Dez Mar2017

Jun

Gráfico 1.1.7 – Dispersão do LCRMáximo, mínimo e agregado

LCR agregado (8 IFs)IL

Limite regulamentar

conglomerados que representam cerca de 85% do total de ativos do sistema bancário.

Desde o início da sua vigência, não foram observados descumprimentos ao mínimo regulamentar do LCR, iniciado em 60% em 2015 e, atualmente, em 80%. As instituições já vêm apresentando indicador acima de 100% desde o final de 2015 (Gráfico 1.1.7), inclusive na apuração diária iniciada em abril de 2017.7 No semestre, o LCR agregado dos bancos sujeitos ao seu cumprimento atingiu 209%, 0,12 p.p. abaixo do período anterior.

O LCR calculado pelas maiores instituições, assim como o IL médio do sistema bancário, indica a tendência de um nível de risco de liquidez de curto prazo confortável para o próximo semestre.

Em julho de 2017, em decorrência da avaliação da implementação do LCR no Brasil pelo BCBS8, foram concluídos aprimoramentos normativos9 no arcabouço brasileiro do LCR, cujos efeitos serão refletidos a partir de agosto de 2017 e de janeiro de 2018. Os estudos de impacto realizados demonstram que todos os oito conglomerados sujeitos ao cálculo do LCR permanecerão com seus respectivos índices acima do mínimo regulamentar após a implementação dos aprimoramentos.

Para a avaliação do risco de liquidez num horizonte mais estendido, o BC monitora desde 2015 o Índice de Liquidez Estrutural (ILE)10, métrica baseada na metodologia do Net Stable Funding Ratio (NSFR). Mesmo com a leve redução no volume de captações observado no primeiro semestre, o alongamento interno da estrutura de vencimentos indica uma tendência de melhoria no nível do risco de liquidez também para um horizonte acima

7/ Até a data-base de março de 2017, o LCR era apurado mensalmente. A partir da data-base de abril de 2017, a apuração passou a ser diária, conforme Circular BC n° 3.826, de 26 janeiro de 2017, e Carta-Circular BC n° 3.812, de 31 de março de 2017.

8/ Regulatory Consistency Assessment Programme – RCAP: processo de avaliação da implementação das recomendações do BCBS nos países membros.

9/ A Circular BC n° 3.841, de 27 de julho de 2017, incluiu, entre outros refinamentos, limite para títulos públicos federais em moeda estrangeira; inclusão da necessidade de que o cliente da instituição financeira (pessoa natural ou pessoa jurídica de direito privado de pequeno porte) seja usuário de pelo menos outro produto ou serviço da instituição, além de conta-corrente ou conta de poupança, para que seu depósito na instituição financeira seja considerado estável; e ajuste do tratamento dos recebimentos referentes a instrumentos de pagamento pós-pagos e das linhas de crédito rotativo utilizadas por meio desses instrumentos.

10/ O ILE tem como objetivo mensurar se os bancos possuem fontes suficientemente estáveis de recursos para financiar suas atividades de longo prazo. Assim, instituições com ILE igual ou superior a 1 são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item b.

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14

de trinta dias. Por outro lado, analisando-se os ativos, o movimento foi de continuidade do cenário de condições mais restritivas do crédito e de encurtamento do prazo residual dos estoques de crédito. Esses dois movimentos concomitantes fizeram com que o ILE aumentasse para 1,11 em junho de 2017, 0,04 p.p. acima do fechamento de 2016 (Gráfico 1.1.8).

Em análise individual, os bancos mais representativos em termos de ativos (83,7% dos ativos totais do sistema em junho de 2017) mantiveram níveis de liquidez suficientes para suportar o risco de liquidez no longo prazo (ILE > 1,00). As instituições de maior porte elevaram seus indicadores, enquanto as demais apresentaram índices mais dispersos. Em comparação com o semestre anterior, o número de bancos com ILE menor que 1 reduziu-se de 32 para 27. Desses 27, apenas nove também apresentam liquidez insuficiente para suportar um estresse no curto prazo (IL < 1), representando 1,3% dos ativos totais do sistema (Gráfico 1.1.9).

Em suma, o sistema bancário deve continuar atravessando momentos de pouca preocupação com o risco de liquidez. Além da estrutura atual de funding das instituições financeiras, que contribui para minimizar cenários que possam afetar a estabilidade financeira, os colchões de liquidez atuais constituem uma confortável fonte de proteção contra diferentes eventos de estresse, além de permitir o direcionamento de recursos para ativos de menor liquidez, dando suporte à eventual retomada do crédito. Ademais, os requerimentos prudenciais de liquidez criados após a crise financeira internacional, LCR e NSFR, esse último em fase final de regulação, serão fatores limitantes para a tomada excessiva de risco de liquidez.

1.2 Crédito

Se, por um lado, as condições mais restritivas nas concessões sinalizam uma melhora prospectiva na qualidade da carteira de crédito, por outro, a materialização de riscos ainda ocorre, principalmente entre as pessoas jurídicas e nos bancos públicos. A melhora no ambiente adverso da economia real pouco se refletiu nos indicadores agregados de crédito no primeiro semestre de 2017. Todavia, na margem, observa-se alguma retomada no apetite das instituições financeiras, especialmente no que concerne às operações com garantias. Em relação ao movimento de retomada do crédito às empresas, entende-se que é condição necessária a melhoria na capacidade de pagamento das mesmas.

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

0,40

0,55

0,70

0,85

1,00

1,15

Dez2011

Jun Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

R$ bilhões

Gráfico 1.1.8 – Índice de Liquidez Estrutural

Recursos estáveis disponíveis

Recursos estáveis necessários

Índice de liquidez estrutural

un.

10 8

14

21

12

10 559 4

14

20 14

763

0

14

28

42

56

70

< 0,8 0,8-0,9 0,9-1,0 1,0-1,1 1,1-1,2 1,2-1,3 ≥ 1,3

Gráfico 1.1.9 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez Estrutural1/

Dezembro 2016 Junho 2017

Índice de Liquidez Estrutural

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez Estrutural pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15

Crédito amplo e sua tendência de longo prazo

O BCBS e a literatura internacional11 consideram o monitoramento da medida hiato de crédito amplo12 como proporção do PIB uma boa proxy para avaliar se o crescimento da carteira de crédito em um país é considerado saudável ou se está acima de sua tendência de longo prazo. Esse hiato sinalizaria um acúmulo de risco, resultando em correções abruptas, agravadas pela desalavancagem repentina de agentes econômicos. De fato, o BCBS sugere que países com gap de crédito amplo/PIB acima de 2,0 p.p. devem acionar o colchão adicional de capital contracíclico.13 Há jurisdições que já acionaram o adicional de capital contracíclico, entre as quais se destacam Hong Kong, Noruega e República Checa14. Conforme explicado no Box relativo ao Adicional Contracíclico de Capital Principal no Relatório de Estabilidade Financeira de abril de 2016, o ACCPBrasil não é definido com base em único indicador ou mesmo um conjunto de indicadores pré-estabelecidos. Nesse contexto, o crescimento do crédito abaixo da tendência de longo prazo, com ou sem variação cambial (Gráfico 1.2.1), e a dinâmica do estoque de crédito (Gráfico 1.2.3) não sugerem a necessidade do acionamento do ACCPBrasil. Segundo levantamento feito pelo BIS com 43 países (Gráfico 1.2.2), o Brasil está entre os 26 países com gap de crédito amplo/PIB abaixo de 2,0 p.p.

Crédito bancário doméstico

O crédito bancário doméstico demonstra reversão na tendência recente de queda do estoque, tanto em termos nominais (Gráfico 1.2.3) como em termos reais (Gráfico 1.2.4): tal efeito é mais destacado entre os bancos privados, nos quais há inclusive incremento nominal no estoque.15

11/ Drehmann, M., Borio, C., and K. Tsatsaronis (2011): “Anchoring countercyclical capital buffers: the role of credit aggregates”, BIS Working Papers, no 355. Drehmann, M., and Juselius, M. (2011): “Evaluating early warning indicators of banking crises: Satisfying policy requirements”, BIS Working Papers, no 421.

12/ O crédito amplo considera o crédito gerado no setor bancário, o crédito tomado por famílias e empresas não financeiras no exterior e o financiamento das empresas via mercado de capitais.

13/ Equivalente ao Adicional Contracíclico de Capital Principal. Para mais informações, ver REF de abril de 2016.

14/ As medidas tomadas pelos países em questão foram: Hong Kong com 1,25% de aumento de capital e previsão de 1,875% em janeiro de 2018; Noruega com 1,5% de aumento de capital e previsão de 2% em dezembro de 2017; e República Checa com 0,5% de aumento de capital.

15/ Nesse mesmo sentido, a concessão de crédito bancário corrobora a visão de que o crédito está sendo retomado no primeiro semestre de 2017 (Gráfico 1.2.5).

-10

-5

0

5

10

15

Jun1997

Jun1999

Jun2001

Jun2003

Jun2005

Jun2007

Jun2009

Jun2011

Jun2013

Jun2015

Jun2017

Com variação cambial Sem variação cambial

Gráfico 1.2.1 – Gap Crédito/PIB p.p.

-60

-45

-30

-15

0

15

30

45

Irlan

daE

span

haLu

xem

burg

oP

ortu

gal

Din

amar

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Sul

Pol

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Aus

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Cor

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Bél

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Suí

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taTa

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Can

adá

Cin

gapu

raC

hina

Hon

g Ko

ng

Gráfico 1.2.2 – GAP crédito/PIB Comparação internacionaldez/2016 % do PIB

-16

-8

0

8

16

24

32

40

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Privado Público comercial SFN Público de desenvolvimento

%Gráfico 1.2.3 – Crescimento anual do crédito – Por controle

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16

Mantida a melhora na percepção de riscos dos agentes16, tal processo deve se intensificar nos próximos meses.

Riscos e mitigadores

A evolução nos indicadores de riscos continua a não apresentar uma tendência clara de melhora. Se, por um lado, indicadores tradicionais de atraso (inadimplência, pré-inadimplência) estão em ritmo de estabilização ou baixa, por outro, a qualidade do portfólio ainda demonstra evidências negativas (aumento de reestruturações, carteira de ativos problemáticos em nível elevado). Diante das incertezas do período corrente, nota-se uma postura conservadora por parte das instituições financeiras, aumentando liquidamente as provisões e concedendo crédito em patamar aquém àquele vigente antes da crise (Gráfico 1.2.5).

Nesse contexto, a inadimplência17 das operações de crédito dos bancos privados continuou seu ritmo de queda, processo este iniciado em meados de 2016 (Gráfico 1.2.6). O movimento de melhora observado no mês de junho de 2017 foi novamente influenciado principalmente pelo aumento dos montantes de reestruturações e renegociações18 (Gráficos 1.2.7 e 1.2.8, respectivamente) bem como pelo aumento de baixas a prejuízo (Gráfico 1.2.9).

O atraso das operações entre 15 e 90 dias, indicador antecedente da inadimplência, registrou estabilidade no primeiro semestre de 2017, ao contrário do observado no mesmo período em anos anteriores (Gráfico 1.2.10).

16/ O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) dessazonalizado da FGV aumentou 9,2 p.p. no primeiro semestre de 2017, com aumento de 11,9 p.p. do componente relativo às expectativas e de 4,9 p.p. do componente que avalia a situação atual. O Indicador de Confiança de Serviços (ICS) dessazonalizado da FGV aumentou 5,6 p.p. no primeiro semestre de 2017.

17/ Crédito com mais de noventa dias de atraso.18/ Conforme conceito apresentado em REFs anteriores, para fins de

monitoramento do mercado de crédito as renegociações, em sentido amplo, ocorrem tanto seguindo parâmetros normais de mercado em relação a prazos, taxas e demais condições de pagamento quanto seguindo parâmetros que as instituições financeiras não admitiriam usualmente, mas os aceitam para solucionar eventual redução na capacidade de pagamento do tomador. Considera-se reestruturação qualquer renegociação que implique a concessão de vantagens à contraparte em decorrência da deterioração da sua qualidade creditícia ou da qualidade creditícia do interveniente ou do instrumento mitigador, sejam essas vantagens formalizadas nos instrumentos financeiros originais ou em novos instrumentos utilizados para liquidação ou refinanciamento daqueles. As renegociações são informadas pelas instituições financeiras no Sistema de Informações de Crédito (SCR), e as reestruturações são estimadas por meio de algoritmo interno do BC, que identifica as operações vencidas e convertidas em operações a vencer, sem pagamento integral dos valores em atraso (capitalização dos saldos em atraso).

0

50

100

150

200

250

300

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

R$bilhões

Gráfico 1.2.5 – Evolução das concessões de crédito Deflacionada e dessazonalizada

Privado Público comercial Público de desenvolvimento

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

-24

-16

-8

0

8

16

24

32

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.4 – Crescimento anual deflacionado do crédito – Por controle

Privado Público comercial SFN Público de desenvolvimento

0,0

1,2

2,4

3,6

4,8

6,0

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Privado Público comercial

SFN Público de desenvolvimento

%

Gráfico 1.2.6 – Inadimplência por controle

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17

Esse movimento, aliado à já mencionada intensificação nos processos de reestruturação de créditos, bem como a safras de créditos concedidas sob parâmetros mais restritivos, aponta, ao menos no curto prazo, para um menor estoque de operações inadimplentes.

Conforme enfatizado no último REF,19 nota-se, no período recente, uma mudança estrutural no portfólio de crédito das instituições financeiras: as carteiras com pior avaliação cresceram de forma significativa, movimento este que não foi acompanhado por uma piora proporcional nos indicadores tradicionais, por exemplo, inadimplência e pré-inadimplência. Nesse sentido, entende-se que a avaliação da qualidade creditícia é mais assertiva ao se analisar uma categorização mais abrangente do risco de crédito, qual seja, ativo problemático.20

Para fins de monitoramento da estabilidade financeira, serão aqui consideradas como ativos problemáticos21 as operações de crédito em atraso há mais de noventa dias e as operações nas quais existem indícios de que respectiva obrigação não será integralmente honrada. Entende-se que há indicativos de que a obrigação poderá não ser integralmente honrada, entre outros eventos,22 quando a operação for objeto de reestruturação23 e a instituição financeira reconhecer contabilmente deterioração

19/ Ver REF de abril de 2017, seção 1.2 – “Crédito”, Gráfico 1.2.9 – “Inadimplência X Operações de crédito classificadas em E-H”.

20/ No Brasil, a definição de ativo problemático foi incorporada à estrutura regulatória por meio da Resolução nº 4.557, de 23 de fevereiro de 2017, que dispõe sobre a estrutura de gerenciamento de riscos e a estrutura de gerenciamento de capital. Esse conceito está em linha com o aprovado pelo Comitê de Basileia para Supervisão Bancária dos principais conceitos relacionados à categorização de ativos problemáticos (Principle 18, Core Principles for Effective Banking Supervision – BIS 2012), especialmente os termos nonperforming exposures – exposições de crédito em situação de não performance – e, forbearance -reestruturação de crédito (Prudential treatment of problem assets – Definitions of non-performing exposures and forbearance, aprovada em 1º de março de 2017).

21/ Ao longo do presente texto, “ativos problemáticos” serão aqui mensurados pela proxy de monitoramento em destaque. Isto não elimina a necessidade de as instituições financeiras mensurarem e monitorarem internamente a qualidade de seu portfólio e, sobre este, destacarem exposições em atraso superior a noventa dias ou que não serão integralmente honradas sem que seja necessário recurso a garantias ou colaterais (Art. 24 da Resolução 4.557, definição de Ativo Problemático). Nesse sentido, a Carta-Circular BC nº 3.819, de 4 de maio de 2017, alterou o leiaute do CADOC 3040, em vistas à recepção da informação sobre ativos problemáticos – com marcação pela própria instituição financeira – a partir de dezembro de 2017.

22/ Outros indicativos de que a obrigação não será integralmente honrada são: a instituição considera que a contraparte não tem mais capacidade financeira para honrar a obrigação nas condições pactuadas, a instituição pede a falência ou toma providência similar em relação à contraparte, e a contraparte solicita ou sofre qualquer tipo de medida judicial que limite, atrase ou impeça o cumprimento de suas obrigações nas condições pactuadas.

23/ Após doze meses de adimplência (sem que haja outra reestruturação), as operações são consideradas “curadas”, isto é, a reestruturação teria sido bem-sucedida, e as operações deixam de ser consideradas ativos problemáticos.

0

1

2

3

4

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Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Público comercial SFN Privado Público de desenvolvimento

%Gráfico 1.2.7 – Reestruturação por controle

0

3

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9

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Jun2015

Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Privado Público comercial SFN Público de desenvolvimento

%Gráfico 1.2.8 – Renegociação por controle

3,8%3,7%

3,9%

3,1%2,7%

3,2%

3,8%

0

30

60

90

120

150

0%

1%

2%

3%

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5%

Jun2011

Jun2012

Jun2013

Jun2014

Jun2015

Jun2016

Jun2017

Gráfico 1.2.9 – Baixas a prejuízo SFN

Baixas a Prejuízo (eixo da esquerda)

% das operações de crédito (eixo da direita)

R$ biR$ biR$ biR$ bi

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Page 19: Relatório de Estabilidade Financeira - bcb.gov.br ritmo de queda, contudo, ... • Houve piora no primeiro semestre de 2017 na percepção de riscos relacionados a ativos problemáticos

Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18

significativa da qualidade do crédito do tomador, classificando-o entre os níveis de risco E e H. 24

Em 2017, observa-se estabilidade do nível da carteira de ativos problemáticos dos bancos privados. Por outro lado, os ativos problemáticos dos bancos públicos de desenvolvimento mantêm tendência de crescimento desde dezembro de 2015 (Gráfico 1.2.11).

Analisando-se individualmente os componentes da carteira de ativos problemáticos, nota-se que: i) no semestre, a inadimplência pressionou o indicador até maio de 2017 e foi a grande contribuição para a queda em junho de 2017; ii) a carteira adimplente classificada com risco entre E e H manteve-se praticamente estável (Gráfico 1.2.12); iii) a parcela referente às reestruturações continua responsável por parte significativa do incremento em ativos problemáticos, principalmente na carteira de bancos público comercial (Gráfico 1.2.13).25

O nível de provisões,26 quando comparado com a carteira de ativos problemáticos, subiu de 83% para 85% no primeiro semestre de 2017 (Gráfico 1.2.14). Destaca-se que, diante da crise recente pela qual passou o país, tanto o nível atual quanto a constituição líquida de provisões27 recente coadunam para a percepção de que os mitigadores de riscos têm adequado tratamento pelo sistema financeiro. O nível de provisões inferior à carteira de ativos problemáticos é esperado, pois nem todas as operações assim classificadas serão baixadas para prejuízo28 (Gráfico 1.2.15).

24/ Classificações segundo a Resolução nº 2.682, de 21 de dezembro de 1999.25/ O volume (fluxo) de reestruturações aqui demonstrado é considerado

“bruto” porque se refere tão somente à entrada de operações reestruturadas. As saídas, por exemplo, por meio de pagamento, liquidação da operação ou ainda baixa a prejuízo, não são aqui consideradas. O pico de reestruturações nos bancos públicos de desenvolvimento refere-se a um conjunto de operações de um único grupo econômico do setor petroquímico que foram objeto de reestruturação em abril de 2015.

26/ Relação entre a provisão contábil e a totalidade da carteira de crédito, inclusive as operações classificadas entre AA e D. O valor da provisão constituída deve ser suficiente para cobrir a perda esperada de todas as exposições a risco de crédito, o que inclui tanto os ativos problemáticos como as operações em curso normal, já que estas últimas podem apresentar problemas no futuro.

27/ Constituição líquida de provisões refere-se ao total de provisões constituídas após a subtração das baixas a prejuízo, bem como as reversões de provisões anteriormente efetuadas. Trata-se, portanto, de uma variável de fluxo. No primeiro semestre de 2017, o estoque de provisões (valor nominal desta rubrica) se elevou: comparando-se com o semestre exatamente anterior, o incremento no estoque foi inferior, pois as despesas com provisões caíram, o volume de baixas a prejuízo se elevou, mas o último ainda é inferior ao primeiro.

28/ Nem todas as operações assim classificadas serão baixadas para prejuízo por quatro razões: i) parte das operações ainda será renegociada; ii) é possível que os ativos retornem à condição de normalidade; iii) algumas operações possuem garantias que cobrem parte das perdas; e iv) mesmo para a parte não coberta existe algum nível de recuperação.

0

1

2

3

4

5

6

7

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.10 – Atraso das operações entre 15 e 90 dias

Público Comercial SFN Privado Público de desenvolvimento

0,0

2,5

5,0

7,5

10,0

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Privado SFN Público Comercial Público de desenvolvimento

%

Gráfico 1.2.11 – Carteira de ativos problemáticosPor controle

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

Dez2012

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.12 – Carteira de Ativos ProblemáticosSFN

Operações inadimplentes ou reestruturadas ou classificadas em "E-H"Operações inadimplentes ou reestruturadasOperações inadimplentes

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19

Pessoa jurídica

Embora ainda não se observe uma retomada efetiva da economia, o cenário negativo que marcou as empresas não financeiras em 2016 parece iniciar sua reversão. O volume de recuperações judiciais, apesar de elevado, encontra-se em patamar inferior ao do ano anterior (Gráfico 1.2.16). A geração operacional de caixa (EBITDA) das companhias abertas registrou leve aumento no primeiro semestre de 2017, e a capacidade de pagamento das empresas manteve-se estável (Gráfico 1.2.17).

O estoque de crédito às pessoas jurídicas não apresentou aumento; não obstante, a taxa de crescimento anual da carteira registrou tendência de melhora no primeiro semestre de 2017, em função da recuperação gradual da economia, da queda na taxa de juros29 e da melhora nos índices de confiança. A taxa de crescimento permanece negativa tanto na carteira de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) quanto na referente às empresas de grande porte, mas ambas reduziram o ritmo de queda observado nos períodos anteriores e se estabilizaram em 2017 (Gráfico 1.2.18). Para os próximos meses, a tendência é de manutenção desse cenário, com taxas de crescimento ainda negativas, porém sem aprofundamento da trajetória de queda, e expectativa de uma recuperação mais consistente a partir de 2018.

A inadimplência da pessoa jurídica permaneceu em trajetória de alta, atingindo 3,99% em maio de 2017. Em junho, houve queda relevante (-0,44 p.p.): nas grandes empresas (Gráfico 1.2.19), essa retração pontual foi influenciada pela baixa para prejuízo de uma operação em um banco privado (Gráfico 1.2.20) e pela reestruturação de operações de uma empresa em recuperação extrajudicial nos bancos públicos; nas PMEs, a queda do indicador ocorreu devido a uma menor taxa de passagem dos créditos em atraso para a inadimplência.

O reflexo do ambiente adverso da economia fica mais evidente quando analisamos o ativo problemático dos diversos setores da economia. No primeiro semestre de 2017, não só a inadimplência como também o volume de reestruturações se elevaram no período (Gráfico 1.2.21), sendo os setores de “Transportes”, “Construção, Madeira

29/ Conforme mencionado no REF de dezembro de 2016, seção 2.1 Panorama do setor privado não financeiro, a queda nas taxas de juros do país deve beneficiar, ao menos no curto prazo, as empresas mais expostas a passivos financeiros pós-fixados. Nesse sentido, os setores mais impactados positivamente diante da queda recente da estrutura a termo das taxas de juros seriam o setor de energia e petroquímico.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.13 – Fluxo de reestruturação

Público Comercial SFN Privado Público de desenvolvimento

% da carteira ativa

0,5

1,0

1,5

2,0

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.14 – Índice de cobertura (IC)

IC Inadimplência IC Carteira Ativos Problemáticosa p

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

1,2

2,6

4,1

5,5

7,0

8,4

Dez2012

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Gráfico 1.2.15 – Inadimplência, provisões, baixas para prejuízo e carteira de Ativos Problemáticos

Carteira de Ativos ProblemáticosOperações classificadas em "E-H" ou inadimplentesProvisõesOperações inadimplentesBaixa para prejuízo 12-m seguintes

pa

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20

e Móveis” e “Varejo” os que registraram os maiores aumentos (Tabela 1.2.1).30

Conforme enfatizado no REF de abril de 2017, mais uma vez a piora no risco fica mais perceptível entre as empresas de grande porte. Nesse segmento, o percentual de ativos problemáticos subiu de 4,9% em dezembro de 2016 para 6,0% em junho de 2017 (Gráfico 1.2.22). Essa deterioração ocorreu em função do crescimento de todos os componentes do ativo problemático – inadimplência, reestruturação e operações classificadas entre E e H – no período, e de forma generalizada entre as instituições financeiras, não estando concentrada em nenhum tipo de controle. Nas PMEs, apesar da queda no volume de ativos problemáticos, a queda na carteira ativa ocorreu na mesma proporção, de forma que o indicador permaneceu estável, embora em patamar elevado.

A estabilização dos ativos problemáticos e a queda da pré-inadimplência (Gráfico 1.2.23) indicam que o período de materialização de risco nas empresas de pequeno porte estaria chegando ao fim, especialmente devido à diminuição do estoque de operações nesse segmento.31 Para as empresas de grande porte, acredita-se que ainda há potencial de alta tanto para a pré-inadimplência como para os ativos problemáticos.

Pessoas físicas

O crédito a pessoas físicas começou a mostrar sinais de recuperação em 2017. A variação anual do estoque da carteira reverteu a trajetória de desaceleração que vinha ocorrendo desde 2014 e passou a mostrar uma leve tendência de aceleração. Essa reversão ocorreu devido, principalmente, ao leve aumento nas concessões das modalidades de crédito consignado, crédito não consignado e financiamento de veículos.32

A melhora nas condições do mercado de trabalho, que apresentou queda na taxa de desemprego33 nos últimos três meses, e a recuperação da renda34 das

30/ As empresas foram agrupadas em 25 setores econômicos com base no Código Nacional de Atividade Econômica (CNAE), utilizando um conceito interno de cadeia produtiva.

31/ Entende-se que o aumento da inadimplência nesse segmento pode ainda ocorrer, mas devido ao efeito carteira, ou seja, se a queda no estoque de crédito for maior que a de créditos vencidos, o impacto final no indicador de inadimplência será de alta.

32/ Séries temporais BC nº 20.671, nº 20.666 e nº 20.673, respectivamente.33/ Série temporal nº 24.380 – População desocupada – PNADC.34/ Série temporal nº 24.382 – Rendimento médio real habitual das pessoas

ocupadas – PNADC.

Tabela 1.2.1 – Ativos problemáticos por setor econômico

%

dez/14 dez/15 dez/16 jun/17

Adm Pública e ONGS 0,25 0,25 1,30 1,80Agricultura 3,77 5,92 6,01 4,97Alimentos 5,60 5,85 7,52 8,51Atividades Financeiras 0,97 0,65 1,05 1,15Automotivo 4,41 6,63 7,56 6,63Bebidas e Fumo 5,71 5,75 6,98 7,68Construção, Madeira e Móveis 6,39 9,62 16,50 18,02Criação de Animais 3,96 4,07 5,11 5,12Eletroeletrônico 6,86 8,14 11,71 11,95Energia 1,89 1,60 2,59 3,10Máquinas e Equipamentos 6,84 9,17 14,44 15,53Mídia e Lazer 8,70 12,31 16,54 16,02Outros 4,83 12,35 17,63 14,81Papel e Celulose 0,83 1,19 1,80 2,04Petroquímico 1,73 1,94 3,21 4,53Químico, Farmacêutico e Higiene 5,90 8,72 8,48 8,09Saúde, Saneamento e Educação 3,92 4,69 6,39 6,85Serviços 6,95 8,21 11,76 11,93Siderurgia e Metalurgia 2,22 2,92 6,27 7,03Sucroalcooleiro 6,69 8,58 16,46 17,19Telecomunicações 0,29 0,50 34,95 35,37Têxtil e Couros 9,17 12,56 15,82 14,81Transportes 5,04 7,53 9,46 12,03Varejo 5,90 7,31 8,70 10,22

0

400

800

1.200

1.600

2.000

Mar Jun Set Dez

Gráfico 1.2.16 – Empresas em recuperação judicialRequerimentos acumulados por ano

2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: Serasa Experian

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21

famílias, que vem mostrando aumento nos últimos seis meses, contribuíram para a reversão da trajetória de desaceleração da carteira de pessoas físicas. A nova realidade do mercado de trabalho também contribuiu para a reversão da trajetória dos últimos anos de aumento do risco de crédito, permanecendo estável, no semestre, a qualidade da carteira de pessoas físicas (Gráfico 1.2.27). Apesar de ainda incipientes, esses fatores tendem a continuar contribuindo para a retomada no crédito a pessoas físicas no próximo semestre, favorecida também pela redução das taxas de juros e pelo menor nível de endividamento das famílias.35

Apesar de a participação dos ativos problemáticos ter se mantido praticamente constante no semestre, as instituições financeiras continuam recorrendo às reestruturações para readequar as condições de pagamento das operações à capacidade financeira atual dos tomadores. (Gráfico 1.2.28). Esse movimento – que usualmente ocorre de forma mais intensa nos meses de encerramento de semestre – levou à queda da inadimplência no mês de junho. Nesse sentido, vale destacar que o volume de reestruturações ocorridas em junho de 2017 foi o maior de toda a série iniciada em 2012.

A principal modalidade cujas operações vêm sendo objeto de reestruturação é o imobiliário, uma vez que essa carteira continua apresentando piora nos níveis de risco, principalmente entre os bancos públicos. Vale destacar que, embora a inadimplência tenha reduzido, o percentual de ativos problemáticos sobre o total da carteira de financiamento imobiliário apresentou aumento relevante no primeiro semestre de 2017 (Gráfico 1.2.29).

Uma das consequências da piora do nível de risco da carteira é a intensificação no processo de baixas a prejuízo (Gráfico 1.2.30) e de retomada de imóveis dos tomadores inadimplentes. O maior volume de imóveis retomados e as condições ainda adversas do mercado imobiliário levaram ao aumento do saldo contabilizado pelos bancos em bens não de uso próprio,36 ainda em níveis pouco relevantes ante a carteira de crédito imobiliário total (Gráfico 1.2.31). Apesar disso, espera-se que a trajetória de aumento do risco da carteira de financiamento habitacional perca força no próximo semestre, devido à melhora nas condições de trabalho e renda e ao menor nível de endividamento das famílias.

35/ Série temporal nº 19.882 – Endividamento das famílias com o SFN em relação à renda acumulada dos últimos doze meses.

36/ Esse saldo se refere aos imóveis habitacionais retomados de pessoas físicas e pessoas jurídicas.

0

3

6

9

12

15

0,0

0,7

1,4

2,1

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3,5

Dez2005

Dez2006

Dez2007

Dez2008

Dez2009

Dez2010

Dez2011

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Jun2017

Gráfico 1.2.17 – Índice de cobertura de juros (medianas)Denominador e numerador (deflac.): Dez/2005 = 1

EBITDA Resultado Financeiro ICJ (eixo à direita)

-20

-10

0

10

20

30

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.18 – Crescimento anual da carteira

Pessoa jurídicaEmpresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porteEmpresas de grande porte - Sem efeito da variação cambial

%

0

2

4

6

8

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.19 – InadimplênciaPessoa jurídica

Pessoa jurídicaEmpresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porte

%

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22

Por fim, entende-se que o risco de perdas prospectivas com a carteira de crédito não aumentou no primeiro semestre de 2017. O provisionamento líquido positivo (ou seja, despesas com provisões superiores às baixas para prejuízo) e o fraco ritmo nas concessões de novos créditos indicam que a postura conservadora por parte das instituições financeiras ainda perdura.

Consonante com o divulgado no REF de abril de 2017, é esperado que a retomada no aumento do portfólio de crédito, quando ocorrer, seja liderada pelos bancos privados, e entre as pessoas físicas. O estoque de empréstimos do setor bancário voltado às empresas ainda deve passar por um relevante período de baixo crescimento, especialmente no que concerne às PMEs: nestas, a materialização de riscos durante a crise recente deve limitar, ao menos no curto prazo, qualquer incremento no apetite a risco por parte das instituições financeiras. Nesse contexto, o risco sistêmico decorrente do risco de crédito tem sido reduzido.

1.3 Rentabilidade

O resultado do sistema bancário confirmou as perspectivas de recuperação para 2017, com o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) ajustado alcançando 12,5% em junho, aumento de 0,9 p.p. em relação a dezembro de 2016 (Gráfico 1.3.137). Apesar de a rentabilidade ainda sofrer reflexos do ambiente econômico instável, o semestre foi caracterizado por fatores positivos para a margem líquida de crédito, com destaque para redução do custo de captação e das despesas de provisão para créditos de difícil liquidação. Esses efeitos, acrescidos da materialização gradual da redução de despesas decorrentes das reorganizações administrativas, devem se estender para o próximo período, mantendo o movimento de recuperação até o final de 2017.

No que diz respeito aos efeitos positivos para margem de crédito, a queda da taxa Selic tende a impactar de forma mais intensa e contemporânea o custo de captação e gradualmente a rentabilidade bruta do crédito. Essa diferença de reação tem origem nas características das remunerações das captações, que são essencialmente pós-fixadas, e dos estoques de crédito, mais influenciadas pelo componente pré-fixado. Contribuiu também no

37/ Ajustes metodológicos: em decorrência do histórico de aquisições realizadas pelos grandes bancos e da relevância dos ágios decorrentes, foi incluído o valor das despesas de amortização de ágio líquido de tributos no ajuste de resultados não recorrentes.

0

2

4

6

8

Jun2011

Jun2012

Jun2013

Jun2014

Jun2015

Jun2016

Jun2017

Gráfico 1.2.20 – Baixas a prejuízo – PJ % do total das respectivas operações

Empresas de grande porteEmpresas de pequeno e médio portePessoa jurídica

0

2

4

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8

10

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.21 – Carteira de ativos problemáticos PJ

Operações InadimplentesOperações Inadimplentes ou ReestruturadasOperações Inadimplentes ou Reestruturadas ou Classificadas entre E e H

%

– PJ

0

3

6

9

12

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Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.22 – Carteira de ativos problemáticos

Empresas de pequeno e médio porte Empresas de grande porte

%

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23

semestre o arrefecimento no ritmo de constituição de novas provisões (Gráfico 1.3.2), em linha com o processo de estabilização do risco de crédito.

A tendência de manutenção da redução da taxa básica de juros deve continuar beneficiando a margem de crédito. Porém gradualmente a remuneração dos estoques de crédito deve refletir essa redução, aumentando a importância da retomada do crescimento do crédito para manutenção da melhora do resultado de intermediação financeira dos bancos, sobretudo em cenários de redução de spread.

As receitas com serviços mantiveram crescimento proveniente do aumento das rendas de tarifas bancárias e de administração de fundos, refletindo a tendência dos bancos de buscarem fontes alternativas de resultados e o aumento da carteira dos fundos administrados, respectivamente. Em relação às despesas operacionais, os planos de reorganização de infraestrutura e de pessoal de alguns bancos de maior porte, com significativa redução de agências e funcionários, e o aproveitamento de sinergias em processos de aquisições aumentaram o potencial de contenção de custos, sendo que os efeitos dessas iniciativas ainda devem consolidar seus reflexos no futuro. Com isso, mesmo com despesas que já crescem em ritmo inferior às rendas de serviços, as perspectivas são de ganhos ainda maiores de eficiência para os bancos nos próximos períodos (Gráfico 1.3.3).

A distribuição de frequência do ROE evidencia redução da quantidade e da representatividade de instituições com rentabilidade abaixo da proxy para taxa livre de risco, confirmando a tendência de recuperação dos resultados dos bancos e reduzindo o risco para a estabilidade do sistema. No entanto, o número de instituições com rentabilidade abaixo desse parâmetro ainda permanece elevado. A superação desse cenário depende da retomada do crescimento do crédito e/ou da revisão dos modelos de negócio dos bancos pequenos e médios de crédito e que possuem capacidade mais restrita de diversificação de receitas (Gráfico 1.3.4).

Mesmo em cenário de não retomada no crescimento da carteira de crédito, a margem de crédito deve manter sua recuperação ao longo de 2017 diante dos efeitos da redução da Selic sobre os custos de captação. Esse aspecto, somado à consolidação dos efeitos das reorganizações de infraestrutura e de pessoal, corrobora a perspectiva de manutenção do movimento de recuperação da rentabilidade para o próximo período.

-20

-10

0

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30

40

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.24 – Carteira de crédito a pessoas físicas Crescimento anual

Imobiliário Consignado Cartão de créditoNão consignado Veículos Pessoas físicas

%

0

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Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.25 – Pessoas desocupadas na força de trabalhoPNADC do IBGE

Pessoas desocupadas na força de trabalho

%

0,0

1,5

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6,0

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Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.23 – Pré-inadimplência

Pessoa jurídicaEmpresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porte

%

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24

1.4 Solvência

O sistema bancário permanece bem capitalizado, e a solvência não configura risco para a estabilidade financeira. Os índices de capitalização e alavancagem mantiveram consistência ao longo do semestre, mesmo com o avanço do cronograma de ajustes prudenciais de Basileia III.

Os índices de capitalização permanecem bastante superiores aos requerimentos regulatórios38 (Gráfico 1.4.1), com destaque para os bancos privados, que possuem maior folga de capital que os públicos. A Razão de Alavancagem (RA) reportou a mesma dinâmica, com os bancos públicos e privados apresentando indicadores muito superiores ao requerimento mínimo em discussão internacionalmente39 (3,0%), a vigorar a partir de janeiro de 2018.

A geração e a incorporação de resultados, refletindo a recuperação da rentabilidade no semestre, foram os fatores que mais contribuíram para a dinâmica dos níveis de capitalização, contrabalanceados pelo aumento dos ajustes prudenciais oriundos do cronograma de Basileia III.40 Duas emissões relevantes de instrumentos elegíveis a Capital Nível II permitiram leve crescimento da participação desses no PR. Os ativos ponderados pelo risco (RWA) apresentaram ligeiro recuo (-0,9%) no período, reflexo em especial da contração do RWA de crédito41 (-3,0%)42, em linha com a redução da carteira de crédito.

38/ 5,75% de capital principal, 7,25% de capital nível I e 10,5% de capital total, os três incluindo o Adicional de Capital Principal Conservação – ACPConservação – referente ao ano de 2017, de 1,25% (percentuais sobre RWA). A partir de 1° de janeiro de 2017, passou a ser requerido capital principal no montante de 0,25% do RWA (Adicional de Capital Principal Sistêmico – ACPSistêmico) para as instituições sistemicamente relevantes regionalmente (D-SIBs), conforme a Circular BC n° 3.768, de 29 de outubro de 2015. Para detalhes adicionais, ver anexo Conceitos e metodologias.

39/ Para mais informações, ver <http://www.bis.org/publ/bcbs270.pdf>. 40/ De acordo com o art. 11 da Resolução BC nº 4.192, de 1º de março de

2013, o fator aplicado a determinados ajustes prudenciais passou de 60% para 80% a partir de 1º de janeiro de 2017. Além disso, conforme o art. 28, o limite de reconhecimento dos saldos de instrumentos autorizados a compor o Patrimônio de Referência (PR) antes da entrada em vigor da referida Resolução caiu de 60% para 50%.

41/ A entrada em vigor em janeiro de 2017 da Circular n° 3.809, de 25 de agosto de 2016, alterando especificações de instrumentos mitigadores no cálculo do RWA não gerou impacto material no cálculo do RWA. Acredita-se que a materialidade tenda a crescer no médio/longo prazo à medida que novas operações forem originadas.

42/ O RWA para risco de mercado e operacional apresentou crescimento influenciado especialmente pelo cronograma prudencial, conforme art. 4º da Resolução nº 4.193.

-

2

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Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.27 – Carteira de ativos problemáticosPessoas físicas

Operações inadimplentesOperações inadimplentes ou reestruturadasOperações inadimplentes, reestruturadas ou classificadas entre "E" e "H"

%

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Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.26 – Rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas – Variação em doze mesesPNADC do IBGE

Rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas

%

0,0

0,1

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Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun

Gráfico 1.2.28 – Fluxo de reestruturaçãoPessoas físicas

Pessoa física Imobiliário Demais modalidades

% da carteira ativa

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25

A necessidade projetada de capital, considerando a plena implementação de Basileia III em 2019, reduziu 50,5%, de R$20,5 para R$10,1 bilhões em junho de 2017 (Gráfico 1.4.2), equivalente a 1,7% do PR projetado, com destaque para a redução dos bancos privados (77,5%).

Em linha com a melhora das margens de capital, a projeção do Índice de Basileia, considerando a plena implementação de Basileia III, apresentou crescimento de 1,3 p.p. em relação a dezembro de 2016, atingindo 15,5% (Gráfico 1.4.3). A distribuição de frequência para a projeção do Índice de Capital Principal (ICP) manteve-se estável, com instituições responsáveis por 99,5% dos ativos do sistema reportando ICP projetado acima de 7,0%, futuro mínimo regulatório a vigorar em 2019 (Gráfico 1.4.4). Da mesma forma, a Razão de Alavancagem projetada cresceu 0,3 p.p., atingindo 7,0%, influenciada pela elevação da capitalização (Gráfico 1.4.5).

A consistente geração de resultados e a dinâmica estável do mercado de crédito indicam que o sistema financeiro deve se manter sólido e bem capitalizado nos próximos períodos. Mesmo diante de condições mais restritivas advindas da implementação do arcabouço regulatório de Basileia III, a confortável folga de capital ante os requerimentos mínimos sugere que a solvência não constitui restrição para uma eventual retomada do mercado de crédito.

1.5 Testes de estresse de capital

Os testes de estresse de capital têm por objetivo avaliar a resistência do sistema bancário com base em sua capacidade de absorção de perdas, causadas por eventual materialização dos principais riscos a que se encontra exposto. Para tanto, choques extremos e adversos nas relevantes variáveis econômicas e financeiras foram simulados, e seus efeitos, mensurados.

Os testes de estresse envolvem aplicação de cenários macroeconômicos bastante adversos e simulações dos efeitos sobre o capital do sistema bancário. Complementam essa simulação análises de sensibilidade aos principais fatores de risco, tomados individualmente, e avaliação do contágio entre as instituições financeiras43.

43/ O escopo no exercício do contágio alcança todas as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Já o teste de estresse abrange apenas o sistema bancário.

-

3

6

9

12

15

18

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Gráfico 1.2.29 – Carteira de ativos problemáticosPrincipais modalidades de pessoas físicas

Imobiliário Consignado Cartão de CréditoVeiculos Não Consignado

%

0,0%

0,2%

0,4%

0,6%

0,8%

1,0%

1,2%

Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

% da carteira ativa

Gráfico 1.2.31 – Bens não de uso próprioImóveis habitacionais

0

2

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Jun2011

Jun2012

Jun2013

Jun2014

Jun2015

Jun2016

Jun2017

Gráfico 1.2.30 – Baixas a prejuízo – PF % do total das respectivas operações

Imobiliário Veículos Consignado Outras modalidades PF

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26

Em junho de 2017, o BC adotou nova metodologia para avaliar os efeitos dos testes de estresse. Duas alterações foram introduzidas: a incorporação das demais linhas de resultado e a estimativa da despesa de provisão com base no conceito de ativos problemáticos, e não mais considerando apenas a inadimplência. Anteriormente, apenas os resultados com perdas de crédito e o resultado do estresse de risco de mercado eram considerados44. Isso tornava os resultados muito conservadores, pois receitas relevantes na formação no resultado final estavam fora da simulação. Já a alteração para ativos problemáticos visa a incorporar a evolução conceitual descrita no último REF (abril de 2017), quanto ao entendimento do risco da carteira de crédito.

Tanto na metodologia anterior como na nova, os resultados indicam que o sistema bancário mantém sua capacidade de absorver todos os choques simulados, consequência do confortável nível de capitalização que atualmente apresenta, sem a ocorrência de desenquadramentos ou insolvência em montante relevante para o sistema.

A análise de sensibilidade segue apontando o baixo impacto de choques abruptos de taxa de juros e de câmbio nos resultados das instituições. Quanto ao risco de crédito, verifica-se redução da necessidade de capital em comparação com o teste de dezembro de 2016. A sensibilidade ao risco de crédito imobiliário residencial também apresentou redução da necessidade de capital no último trimestre da projeção, em relação a dezembro de 2016.

1.5.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas

A Tabela 1.5.1.1 apresenta as variáveis que compõem os cenários analisados: Cenário Base, Vetor Autorregressivo (VAR) estressado, Quebra estrutural e Pior histórico. Os cenários apresentam diferentes valores estressados em cada um dos seis trimestres que compõem o horizonte do teste, sendo que a Tabela 1.5.1.1 apresenta apenas os valores para o último trimestre. No Gráfico 1.5.1.1 é apresentada a proporção da carteira de ativos problemáticos em relação ao total da carteira para todos os cenários.

44/ Para detalhes sobre o conceito de Testes de Estresse e a metodologia relacionada aos testes e cenários, ver anexo Conceitos e metodologias – Estresse de capital.

0

30

60

90

120

150

2

4

6

8

10

12

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Bilh

ões

Despesas de provisão líquidas (eixo esq.)Margem bruta de créditoMargem líquida de crédito

%

Gráfico 1.3.2 – Margem de crédito e despesas de provisãoAcumulado nos últimos doze meses

R$ bi

34

105

36

112

39

116

40

119

42

12159

95

63

97

64

101

65

101

63

99

21 23 25 25 2611 12 13 13 14

63,1 64,0 64,8 65,4 65,7

20

30

40

50

60

70

0

50

100

150

200

250

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%R$ bi

Demais despesas administrativas Despesas com pessoalReceitas: serv. cobrança e garantias Receitas: adm. fundos e merc. capitaisReceitas: cartões e outros Receitas: tarifas bancáriasÍndice de cobertura (eixo da direita)

Gráfico 1.3.3 – Índice de cobertura de despesas administrativas por receita de serviçosAcumulado nos últimos doze meses

0

20

40

60

80

100

Jun2011

dez Jun2012

dez Jun2013

dez Jun2014

dez Jun2015

dez Jun2016

dez Jun2017

0

4

8

12

16

20

Lucro Líquido Ajustado (eixo da esquerda)ROE anual ajustado do SB 1/ROE anual ajustado do SB (-) proxy para taxa livre de risco 2/

1/ Desconsidera resultados não recorrentes.2/ Para efeito de comparação com o ROE, utilizou-se como proxy para taxa livre de risco amédia anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 paradescontar efeitos tributários. O prazo de 36 meses foi definido com base no prazo médioda carteira de crédito, principal fonte de receita do sistema bancário.

R$ bi. %

Gráfico 1.3.1 – Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE)1/ 2/

Acumulado nos últimos doze meses

Dez Dez Dez Dez Dez Dez

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27

Tomando o resultado do teste de estresse e tendo por base a metodologia antiga, observa-se redução da necessidade de capital do SFN no último trimestre de projeção para a data-base de junho de 2017 em comparação aos resultados dos dois semestres anteriores (Gráfico 1.5.1.2). A necessidade45 estimada de capitalização do sistema para evitar tanto desenquadramento46 quanto limitações à distribuição de lucros seria de 2,5% do PR atual.

Quando o teste de estresse é executado sob a metodologia nova, a necessidade de capital ao final do período de projeção (0,94% do PR) é significativamente inferior àquela obtida com a metodologia antiga (Gráfico 1.5.1.3). Isso já era esperado uma vez que agora passam a integrar o resultado também linhas de receitas relevantes, como receitas de crédito e de TVM. Anteriormente, apenas as perdas com crédito e o estresse de risco de mercado eram computados.

Também sob a metodologia nova, a análise da dispersão dos IBs evidencia que a maioria das instituições continuaria apresentando índices de capitalização acima do mínimo regulamentar (10,5%). Esse grupo representa cerca de 98% do ativo total do sistema (Gráfico 1.5.1.4).

1.5.2 Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade avalia o efeito sobre o capital do sistema bancário de variações incrementais nas taxas de juros, de câmbio, de ativos problemáticos e no preço de imóveis residenciais, todos de forma independente. Para os ativos problemáticos, são aplicados apenas incrementos. No caso de riscos de mercado (juros e câmbio), variações tanto positivas quanto negativas. Por fim, para o preço de imóveis residenciais, aplicam-se apenas variações negativas.

O teste de sensibilidade de juros e câmbio revela que os impactos seriam irrelevantes, o que é condizente com a pouca exposição líquida a esse risco e com o uso disseminado de instrumentos de hedge. Os resultados dos testes de sensibilidade a choques incrementais do risco de crédito, sumarizados no Gráfico 1.5.2.1, indicam que, caso o percentual de ativos problemáticos atinja 8,2%, próximo do maior nível já observado no sistema bancário

45/ O conceito de necessidade de capital engloba valores para evitar tanto desenquadramentos quanto limitações de distribuição de lucros impostas pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, na qual instituições financeiras consideradas sistemicamente importantes estão sujeitas ao Adicional de Capital Principal Sistêmico – ACPSistêmico.

46/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a, pelo menos, um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice de Capital de nível I (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP).

29

60

41

30

51 50

0

20

40

60

80

100

ROE < 0 0 < ROE < 0,85 * Selic ROE > 0,85 * Selic

Dezembro 2016 Junho 2017

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de IFs com RSPL anual pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Gráfico 1.3.4 – Distribuição de frequência do ROE anual1/

12,7 12,7

13,7 13,7

17,2 17,4

0

4

8

12

16

20

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível I Índice de Basileia

Gráfico 1.4.1 – Índices de capitalização eexigência regulatória1/

• 1/ As setas representam os requerimentos regulatórios para os diferentes níveis de capital, incluindo o ACPConserv ação (5,75% de capital principal, 7,25% de capital nível I e 10,5% de capital total).

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,6 0,82,0

2,7

2,00,4 0,3

5,8

5,84,7

1,9

0,7

1,5

0

3

6

9

12

15

Simul. em dez/16 Simul. em jun/17 Simul. em dez/16 Simul. em jun/17

Público Comercial Privado

R$ bi

Gráfico 1.4.2 – Simulação da Necessidade de Capital 2019

CP CC N2 ACPConservação ACPSistêmico

10,5

7,9

2,2

9,9

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28

brasileiro desde dezembro de 200047, a necessidade de capital seria de 0,1% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte de capital representariam 0,2% do total de ativos do sistema bancário. Em situação extrema da proporção de ativos problemáticos, de 22,0%, haveria necessidade de capital equivalente a 7,9% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte representariam 60,6% dos ativos do sistema. Outro marco importante seria se a proporção de ativos problemáticos chegasse a 15%, quando teríamos o acionamento de mecanismos de conversão de dívida em capital.48

A simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis demonstrou que não há desenquadramentos e/ou restrição à distribuição de lucros para quedas nominais de até aproximadamente 30%. Apenas uma queda de 50% ou mais nos preços provocaria situação de insolvência, caracterizada por capital principal negativo. O Gráfico 1.5.2.2 detalha os resultados.

Em junho de 2017, o estoque da carteira de crédito imobiliário residencial apresentou loan-to-value (LTV) médio de 62,5%, considerando tanto a atualização do valor das garantias pelo Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (IVG-R)49 quanto a do saldo devedor por juros e amortizações. Critérios de concessão com baixos LTVs e utilização do Sistema de Amortização Constante (SAC) melhoram rapidamente o LTV da operação e contribuem para a capacidade do sistema de absorver choques de preços em cenários extremos.

Ante o exposto, as análises de sensibilidade confirmam que o sistema bancário brasileiro apresenta elevada capacidade de absorção de perdas, uma vez que necessidades relevantes de capital somente ocorreriam em situações extremamente adversas.

Os resultados dos testes de estresse realizados sugerem que o colchão de capital do sistema financeiro encontra-se em patamar que permite assimilar choques bastante severos, resultantes da piora dos indicadores econômicos. Além disso, a melhora do ambiente econômico, com redução das taxas de juros, convergência da inflação para o centro da meta e recuperação da atividade econômica, deve contribuir para manutenção de níveis adequados de capital pelas instituições financeiras.

47/ Anteriormente a janeiro de 2012, considera-se para efeito comparativo a proporção da carteira E-H em relação ao total da carteira de crédito.

48/ Conforme estabelecido pela Resolução nº 4.192, de 1º de março de 2013.49/ O IVG-R é calculado e divulgado pelo BC tendo por base os valores de

garantias de imóveis em financiamentos habitacionais. Para mais detalhes, ver item 2.6.

6,7 7,0

7,8 8,1

5,1 5,2

0

2

4

6

8

10

Dez2015

Jun Dez2016

Jun

%

Total Sistema Privados Públicos

Gráfico 1.4.5 – Projeção adoção plena – Basileia IIIRazão de Alavancagem

3 0 1

16

110

3 0 0

16

112

0

12

24

36

48

60

0 - 4.5 4.5 - 5.125 5.125 - 7 7 - 10.5 >10.5

Simul. em Dezembro 2016 Simul. em Junho 2017

% de ativos do sistema

Gráfico 1.4.4 – Projeção Índice de Capital Principal –Adoção plena Basileia IIIDistribuição de frequência ponderada por ativos¹

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com ICP projetado pertencente àquele intervalo.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

10,811,6

11,812,6

14,215,5

0

4

8

12

16

20

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

%

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível I Índice de Basileia

Gráfico 1.4.3 – Projeção adoção plena – Basileia IIIÍndices de Capitalização

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29

1.5.3 Simulação de contágio direto interfinanceiro

Em adição aos testes de estresse macroeconômico e de sensibilidade, foram conduzidas simulações de contágio direto interfinanceiro, compreendendo as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Nesse exercício não são considerados efeitos secundários eventualmente decorrentes de exposições diretas, tais como efeitos de hedge.

Na avaliação do contágio direto interfinanceiro, simula-se a quebra individual das instituições financeiras, uma por vez, e o impacto que cada uma promove nas demais. Caso a quebra simulada de uma instituição provoque a quebra de outra instituição, realizam-se novas rodadas até que o sistema entre em equilíbrio (efeito dominó). O impacto decorre de exposições por diferentes instrumentos, tais como Depósitos Interfinanceiros (DI), garantias prestadas, operações com derivativos negociados em balcão ou quaisquer outras que tragam risco de crédito, cujas únicas garantias sejam da contraparte – e não de terceiros. Com a simulação de quebra, as exposições identificadas provocam perdas aos credores, e o efeito é avaliado sob a perspectiva da necessidade de capital para que o sistema evite a propagação do contágio.

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

Jun2017

Set Dez Mar2018

Jun Set Dez2018

Cenário baseVAR estressado (α = 5%)Quebra estruturalPior históricoProvisões constituídas (junho 2017)

Gráfico 1.5.1.1 – Estresse macroeconômico Carteira de ativos problemáticos projetada (% da carteira total)

%

Tabela 1.5.1.1 – Cenários de estresse macroeconômico (dezembro de 2018) Cenários

VariáveisJun 2017 Cenário base1/ Cenários Adversos3/

VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico

Atividade econômica (IBC-Br) -1,9% 1,8% -6,9% -6,9% 1,8%

Juros(Selic) 11,0% 7,5% 20,6% 24,0% 7,1%

Câmbio(R$/US$) 3,21 3,39 5,81 6,95 3,91

Inflação(IPCA) 3,0% 4,1% 5,6% 8,6% 1,3%

Desemprego(PNAD-C IBGE) 13,0% 13,0% 23,3% 23,3% 13,1%

Prêmio de risco(EMBI+ Br)2/ 279 279 279 279 232

Juros americanos(Treasury 10 anos) 2,3% 2,7% 3,3% 3,3% 1,9%

1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus, coletadas em 15 de agosto de 2017, são a previsão para o PIB, a Selic, o câmbio e a inflação para dezembro de 2018. Os juros americanos seguem trajetória utilizada pelo Federal Reserve no Dodd-Frank Act Stress Testing (DFAST) 2017, para o cenário baseline. As demais variáveis são consideradas constantes por todo o período de projeção.2/ Para os cenários VAR estressado e quebra estrutural, o prêmio de risco Brasil (EMBI+Br) máximo, igual a 557, é atingido em setembro de 2017, retornando gradativamente ao valor inicial em setembro de 2018.3/ Os critérios de construção de cada cenário são descritos no anexo Conceitos e metodologias – Estresse de capital.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30

Nesses exercícios, os resultados apontam para baixa necessidade de recursos para recapitalização do sistema em decorrência de eventual contágio de cada uma das IFs individualmente. No pior caso, a necessidade de capital decorrente do contágio seria de cerca de 1,1% do PR do Sistema. Esse baixo impacto é explicado, além do limite de exposição por cliente de 25% do PR (Resolução BC nº 2.844, de 29 de junho de 2001), pelo fato de a imensa maioria das transações interfinanceiras ser cursada por meio de operações compromissadas lastreadas em títulos públicos federais não sujeitas ao contágio. O restante das operações tem baixo volume no agregado do sistema financeiro, mas relevante em alguns casos particulares, o que explica a necessidade de capital identificada.

1.6 Pesquisa de Estabilidade Financeira

Introdução

Esta seção apresenta os resultados recentes da Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF). A PEF é realizada trimestralmente com instituições financeiras selecionadas, com o objetivo de identificar e acompanhar riscos à estabilidade financeira, de acordo com a percepção das entidades reguladas.

O questionário da pesquisa passou por ampla revisão, implementada nas pesquisas conduzidas em maio e agosto deste ano, com o objetivo de incorporar novos aspectos dos riscos sistêmicos.

A amostra da PEF é formada por 54 instituições financeiras, que representam 95% do sistema financeiro em termos de ativos, incluindo-se bancos públicos, bancos de desenvolvimento, bancos privados nacionais, bancos estrangeiros e bancos privados nacionais com participação estrangeira.

Nesse novo formato, as pesquisas foram realizadas nos períodos de 4 a 19 de maio de 2017 e de 14 a 29 de agosto de 2017, com taxas de resposta de 96% e 98%, respectivamente.

Riscos à estabilidade financeira

Os respondentes indicaram a sua percepção sobre os principais riscos50 à estabilidade financeira nos próximos

50/ Pergunta: “Nos próximos três anos, quais riscos à estabilidade financeira sua instituição considera mais relevantes, considerando probabilidade e impacto no SFN?”. Descreva os três riscos em ordem de importância (o mais importante primeiro, considerando a combinação de probabilidade de ocorrência do evento e magnitude do impacto em termos de perdas relativamente ao volume de ativos do SFN).

12

14

16

18

20

22

0

1

2

3

4

5

Jun2017

Set Dez Mar2018

Jun Set Dez2018

Capital principal (dir.) Complementar (dir.)

Nível 2 (dir.) Índice de Basileia

Gráfico 1.5.1.3 – Necessidades de capital VAR estressado – Metodologia nova

% do PRÍndice de Basileia (%)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

0 1 2 3 4 5 6Trimestres

Data-base junho 2016 Data-base dezembro 2016Data-base junho 2017

% do PR

Gráfico 1.5.1.2 – Necessidades de capitalVAR estressado – Evolução (metodologia antiga)

1 1 3

9

16

91

13 4 2

18

3

97

0

20

40

60

80

100

≤ 8.5 8.5 - 10.5 10.5 - 12.5 12.5 - 14.5 14.5 - 16.5 ≥ 16.5

Junho 2017 (dados observados) Dezembro 2018 (cenário VAR estressado)

Gráfico 1.5.1.4 – Estresse macroeconômico Distribuição de frequência dos ativos por faixa de IBs –VAR estressado1/

% de ativos do sistema

1/ Os valores acima das barras referem-se ao número de IFs em cada intervalo.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31

três anos, considerando probabilidade e impacto no SFN. Os bancos também avaliaram a intensidade dos efeitos que esses eventos produziriam no sistema financeiro e os prováveis canais de transmissão de choques.

A Tabela 1.6.1 apresenta as principais fontes de risco ao sistema financeiro, espontaneamente relatados pelas instituições financeiras, comparando-se as pesquisas de maio e agosto. As respostas são classificadas em diferentes grupos, sendo que cada instituição pode elencar até três riscos. Os fatores relacionados com “Inadimplência e Recessão”, embora continuem como os mais citados pelas instituições financeiras, apresentaram importante redução na frequência com que são citados. A frequência passou de 90% em maio para 72% em agosto. Essa percepção é consistente com a melhora nos indicadores recentes de atividade, como o crescimento do PIB por dois trimestres consecutivos e a queda na taxa de desemprego.

Por sua vez, a percepção de riscos fiscais e políticos apresentou crescimento entre as duas últimas pesquisas. A frequência de citação de riscos fiscais passou de 50% para 60% e de riscos políticos aumentou de 44% para 51%. Destaca-se ainda a melhora na percepção de risco advindo do cenário internacional (citados por 28% dos respondentes em agosto de 2017, ante 44% em maio de 2017).

As instituições financeiras classificaram51 riscos políticos e fiscais como mais prováveis e com maior impacto no sistema financeiro, embora menos citados que os de inadimplência e recessão, conforme apresentado no Gráfico 1.6.1.

Os canais de transmissão52 de eventos mais relevantes apontados foram aumento da incerteza, fuga de capitais e downgrade de crédito, conforme apresentado na Tabela 1.6.2.

51/ Pergunta: “Para cada um dos três riscos apontados, indique a probabilidade e o impacto, considerando as seguintes classes: i) probabilidade: baixa (<1%); médio-baixa (1%-10%); médio-alta (10%-30%); alta (>30%); ii) impacto (volume de ativos do SFN): muito baixo (<0,1%); baixo (0,1%-1%); médio (1%-5%); alto (5%-10%); muito alto (>10%)”.

52/ Pergunta: “No caso de ocorrência do evento de alto impacto mais relevante, qual a probabilidade do referido choque ser transmitido pelos seguintes canais”. Os números apresentados representam a mediana das respostas. A última coluna mostra a distribuição das respostas do último levantamento da pesquisa.

Tabela 1.6.1 – Frequência de riscos mais citados

Risco Maio 2017 Agosto 2017

Inadimplência e recessão 90 72

Riscos Fiscais 50 60

Riscos Políticos 44 51

Cenário Internacional 44 28

Risco de Liquidez 17 23

Risco de Mercado 23 21

Mudanças Regulatórias 12 9

Fonte: BCNota – Pergunta: "Nos próximos três anos, quais riscos à estabilidade financeira sua instituição considera mais relevantes, considerando probabilidade e impacto?".

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

1,5 2,1

4,3

0,0

1,0

16,711,4

0,119,3

37,551,1 60,6

-

2 .0

4 .0

6 .0

8 .0

1 0 .0

1 2 .0

1 4 .0

1 6 .0

1 8 .0

2 0 .0

0

4

8

1 2

1 6

2 0

2 4

2 8

3 2

3 6

4 0

4 4

4 8

5 2

5 6

6 0

6 4

6 8

7 2

7 6

8 0

8 4

8 8

9 2

9 6

1 00

1 04

1 08

1 12

1 16

1 20

1 24

1 28

1 32

1 36

1 40

1 44

1 48

1 52

1 56

1 60

1 64

1 68

1 72

1 76

1 80

1 84

1 88

1 92

1 96

2 00

7 9 10 12 13 15 16 18 19 20 22

Gráfico 1.5.2.1 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito

Ativos problemáticos (%)

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

Necessidade de capital (% do capital total):

PrincipalComplementarNível II

Maior proporção observada de ativos

problemáticos (desde Dez/2000)

22,9 1,1 2,0

0,0

18,2

15,87,1

0,0

18,2 19,4

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90Queda no preço dos imóveis (%)

Queda (%) acumulada do S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise do subprime

(abr./2006 a mai./2009)

Gráfico 1.5.2.2 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito imobiliário residencial

Necessidade de capital (% do capital total):

Principal

Complementar

Nível II

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32

Ciclos econômico e financeiro

Os Gráficos 1.6.2 e 1.6.3 apresentam a percepção das instituições financeiras sobre os ciclos econômico e financeiro. Há uma melhora na percepção sobre a atividade econômica. Em agosto de 2017, 89% dos respondentes acreditavam que a economia se encontrava em fase de recuperação, ante 79% em maio de 2017. Esse resultado está consistente com a queda na percepção sobre o risco relacionado à inadimplência e recessão.

Por outro lado, de acordo com a pesquisa, a disposição das instituições financeiras para tomar risco continua baixa (92% das respostas classifica essa disposição como “Baixa e estável” ou “Baixa com tendência de queda”). As respostas com relação ao hiato do crédito em relação ao PIB também estão no mesmo sentido: 74% dos respondentes afirmaram que o ciclo estava em uma das três fases de baixa.

A maioria dos respondentes acredita que o acesso a funding e a meios de liquidez se encontra na fase “elevado e estável”. A dispersão nas respostas não permite identificar fase dominante no ciclo financeiro de preço de ativos em relação aos fundamentos da economia. Sobre o grau de alavancagem de empresas e famílias, embora a grande maioria considere que o grau de alavancagem esteja elevado (92%), houve um aumento substancial dos que acreditam que essa alavancagem está em tendência de queda (77%) em vez de estar estável (15%).

Expectativas para o Adicional Contracíclico de Capital Principal

Em linha com a implementação das recomendações do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária conhecidas por Basileia III, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) é o órgão responsável pela definição e comunicação do valor do adicional contracíclico relativo ao Brasil.

Assim, foram incluídas no questionário da PEF perguntas sobre expectativa e sugestão das instituições financeiras para o valor do ACCPBrasil na reunião seguinte do Comef. Os resultados apresentados no Gráfico 1.6.4 mostram que a grande maioria das instituições espera e recomenda a manutenção do atual valor do ACCPBrasil em zero por cento.

Inadimplência e recessão

Riscos Fiscais

Riscos Políticos

Cenário Internacional

Risco de LiquidezRisco de Mercado

Mudanças Regulatórias

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

0 4 8 12 16 20

Impa

cto

(per

da/a

tivo

SFN

)

Probabilidade

Gráfico 1.6.1 – Riscos elencados na PEF (ago/2017): probabilidade, impacto e frequência

Fonte: BCNota: o tamanho do círculo representa a frequência com que o risco é citado. A ordenada representa a média das classes de probabilidade e impacto, respectivamente, apontadas na pesquisa.

Tabela 1.6.2 – Canais de transmissão de choque no SFN

Canal de Transmissão Mai 2017 (mediana)

Ago 2017 (mediana)

Distribuição (última posição)

Contágio entre mercados e instituições domésticas 3 3

Congelamento de liquidez, incluindo mercado interbancário e linhas de crédito do exterior

2 2

Queda expressiva de preços de ativos financeiros domesticos, inclusive garantias

4 3

Aumento da aversão ao risco e de incerteza, afetando decisões correntes de consumo e investimento

4 4

Queda de confiança dos depositantes, incluindo movimentos caracterizados com "flight-to-safety".

3 3

Fuga de capitais e/ou depreciação cambial relevante

4 4

Downgrade de rating de crédito, incluindo rating soberano, de forma ampla e disseminada

3 4

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

ProbabilidadeMuito baixa 1 2 3 4 5 6 Muito altaFonte: BC

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 33

Resiliência do sistema financeiro

A capacidade de o sistema financeiro reagir a evento de alto impacto, segundo avaliação das instituições financeiras, é descrita na Tabela 1.6.3. A percepção sobre as condições de resiliência do SFN não se alterou nos últimos levantamentos da pesquisa. Os resultados mostram elevado grau de concordância entre as instituições sobre a adequação e suficiência dos instrumentos disponíveis para enfrentar cenário de grave crise financeira, em caso de sua materialização.

Confiança na estabilidade do sistema financeiro

O índice agregado de confiança53 na estabilidade financeira tem se mantido positivo, com pequenas oscilações desde o segundo semestre de 2016 (Gráfico 1.6.5). É importante ressaltar que não têm sido registradas avaliações negativas (classes: “sem confiança” e “pouca confiança”) desde o primeiro trimestre de 2016.

Portanto, mesmo depois da severa recessão de 2016-2017 e dos momentos de maior incerteza, as instituições financeiras acreditam que o sistema financeiro teria satisfatória capacidade para absorver choques.

Considerações finais

O fator de risco “Inadimplência e Recessão”, embora ainda seja o mais citado pelas instituições financeiras, apresentou importante redução na frequência com que foi citado. Essa queda na percepção sobre esse risco está consistente com a melhora na percepção sobre a atividade econômica na margem, com o aumento das instituições que acreditam que a economia se encontra em fase de recuperação. Por outro lado, as instituições financeiras manifestaram preocupação com riscos fiscais e políticos como fontes de risco à estabilidade financeira.

Os resultados da pesquisa indicam que, na visão das instituições financeiras, a economia está em recuperação, mas a percepção sobre o ciclo de crédito é menos positiva. A capacidade de resposta do sistema financeiro a eventos relevantes é considerada satisfatória, e a confiança na

53/ No questionário, pergunta-se “Qual o grau de confiança na estabilidade do sistema financeiro nos próximos três anos?”. O índice de confiança é calculado ponderando as respostas de acordo com os seguintes pesos (multiplicados por 100): confiança completa (1); muita confiança (0,75); razoável confiança (0,5); pouca confiança (0,25); e sem confiança (0).

0

20

40

60

80

100

Expansão Boom (pico) Contração Recessão Depressão(vale)

Recuperação

% Ciclo Econômico

Ago 2017 Maio 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Hiato Crédito/PIB

Ago 2017 Mai 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Disposição das IFs para tomar riscos

Ago 2017 Mai 2017

Gráfico 1.6.2 – Ciclos econômico e financeiro

Nota: os losangos e as barras referem-se às pesquisas realizadas em maio e agosto de 2017, respectivamente.

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 34

Gráfico 1.6.3 – Ciclo financeiro

Nota: os losangos e as barras referem-se às pesquisas realizadas em maio e agosto de 2017, respectivamente.

estabilidade financeira mantém-se elevada. A maioria espera e recomenda que o valor do ACCPBrasil seja mantido, o que sugere alinhamento das expectativas relativamente à capitalização do sistema financeiro, considerando fatores de acumulação de risco e grau de alavancagem da economia.

1.7 Infraestruturas do mercado financeiro sistemicamente importantes

No primeiro semestre de 2017, observou-se o funcionamento eficiente e seguro das infraestruturas do mercado financeiro (IMF) sistemicamente importantes. No Sistema de Transferência de Reservas (STR), único sistema de transferência de fundos sistemicamente importante, a liquidez intradia agregada disponível permaneceu acima das necessidades das instituições financeiras participantes, garantindo que as liquidações ocorressem com tranquilidade. Ao longo do semestre, em média, a necessidade efetiva de liquidez intradia do sistema ficou em 1,3% da liquidez intradia disponível, sendo de 3,2% o percentual máximo observado no período.

Os títulos públicos livres mantidos nas carteiras das IFs e os recolhimentos compulsórios mantidos no BC contribuem para um ambiente de elevada liquidez no sistema (Gráfico 1.7.1). Consequentemente, espera-se que, no curto prazo, não haja perturbações na liquidação de pagamentos no decorrer de um dia, devendo a necessidade efetiva de liquidez permanecer em patamares baixos, relativamente ao potencial de liquidez. Nesse sentido, o cenário de distribuição de liquidez intradia, inclusive considerando a distribuição individual pelas IFs, deve permanecer confortável e garantir adequada fluidez dos pagamentos.

As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre54. O risco de crédito

54/ A análise de backtesting tem o propósito de avaliar contínua e diariamente se a constituição de garantias e salvaguardas adicionais em uma CPC está adequada para a cobertura da exposição dos participantes. Nesse sentido, esse tipo de análise constitui ferramenta importante para informar sobre a evolução histórica dos riscos assumidos em uma CPC, bem como para sinalizar futuras tendências, subsidiando melhor a tomada de decisão.

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Grau de alavancagem de empresas e famílias

Ago 2017 Mai 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Acesso a fundings e meios de liquidez

Ago 2017 Mai 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

% Preço de ativos em relação aosfundamentos da economia

Ago 2017 Mai 2017

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35

medido nesses sistemas não superou o valor das garantias que compõem suas salvaguardas.

Na análise de backtesting da Câmara de Ações da B3 (B3 – Ações), o valor máximo do Risco Financeiro Líquido (RFL)55 para os dois participantes mais críticos correspondeu a 3,1% das salvaguardas adicionais disponíveis, como fundos mutualizados, por exemplo (Gráfico 1.7.2)56.

Para a Câmara BM&FBovespa da B3, que liquida derivativos financeiros e de commodities, o RFL para os dois participantes mais críticos correspondeu a 8,4% das salvaguardas adicionais disponíveis no dia em que atingiu seu valor máximo (Gráfico 1.7.3).

Com relação ao risco de liquidez em reais gerenciado no âmbito da Câmara de Câmbio da B3 (B3 – Câmbio), ao longo do semestre observaram-se oito dias em que as linhas de liquidez contratadas não seriam suficientes para converter, de forma tempestiva, os dólares entregues pelos participantes adimplentes em reais, e cobrir a inadimplência simultânea dos dois maiores devedores (Gráfico 1.7.4). No entanto, cabe destacar que as linhas de liquidez contratadas seriam suficientes para garantir a liquidação da maior posição devedora, conforme estabelece o inciso V do artigo 3º da Resolução n° 2.882, de 30 de agosto de 2001. Além disso, o montante das garantias depositadas suportaria o risco de crédito dos dois maiores participantes.

No primeiro semestre de 2017, as variações acumuladas de dois dias nos principais Fatores Primitivos de Risco (FPR)57 utilizados pela Câmara BM&FBovespa da B3 para cálculo de garantias mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos em seus cenários de estresse (Tabela 1.7.1).

55/ O RFL representa o custo em que a câmara iria incorrer para encerrar a carteira de um determinado participante, caso se tornasse inadimplente, subtraído do total de garantias por ele constituídas, com base nas variações reais dos preços dos ativos. Representa, pois, a parcela de exposição ao risco que não é coberta pelas garantias individuais do participante. Para cada dia, são considerados os dois participantes aos quais a câmara esteja mais exposta, isto é, os dois participantes que apresentarem maior valor de RFL.

56/ Cada câmara dispõe de um fundo de liquidação composto por contribuições dos participantes e da própria câmara, cuja regra de utilização consta dos regulamentos e manuais de cada sistema.

57/ O FPR associado a um contrato derivativo é a denominação dada à variável financeira relevante à formação do valor, ou preço, do contrato. Ao se determinar o valor de um contrato derivativo por meio de uma relação matemática bem definida envolvendo um conjunto de variáveis econômicas, como a que resulta da assunção do Princípio de Não Arbitragem, define-se que tais variáveis representam os fatores primitivos de risco do contrato.

88%

2%2% 8%

Sugestão para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 0,25 p.p. Elevar 1 p.p.

94%

2% 4%

Expectativa para valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 1 p.p.

Gráfico 1.6.4 – Expectativas para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Tabela 1.6.3 – Capacidade de reação do sistema financeiro a eventos de alto impacto

Aspectos para lidar com crise financeira Mai 2017 Ago 2017 Distribuição

(última posição)

Adequação de capital do sistema financeiro 2 2

Adequação de liquidez do sistema financeiro 2 2

Grau de atenção e monitoramento das instituições financeiras

2 2

Grau de atenção e monitoramento do governo e reguladores

2 2

Disponibilidade de instrumentos para prevenção e mitigação de risco pelo Banco Central

2 2

Aspectos para lidar com crise financeiraSatisfatório 1 2 3 4 5 6 Insatisfatório

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36

Por fim, o Gráfico 1.7.5 apresenta a evolução da acurácia58 do modelo de risco utilizado pela Câmara BM&FBovespa da B3 na determinação dos níveis de garantias individuais dos seus participantes. Nota-se que, a partir do dia 18 de maio, o valor da acurácia, embora elevado, encontra-se abaixo do objetivo de 99% recomendado pelos Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro59. Como será analisado no Capítulo 2, o dia 18 de maio foi marcado por forte volatilidade nos mercados, o que gerou um aumento de erros na estimativa do modelo de gerenciamento de riscos neste dia e, consequentemente, a queda da acurácia do modelo de risco.

Embora o modelo tenha subestimado o risco para 1.565 carteiras nessa data, a soma do risco financeiro líquido de todas essas carteiras foi igual a, aproximadamente, R$8 milhões. Essas carteiras estavam sob a responsabilidade de 33 membros de compensação diferentes e, em nenhum dos casos, o RFL superou as garantias depositadas para o fundo mutualizado pelo respectivo membro de compensação, o que demonstra o atendimento do parâmetro regulamentar segundo o qual as câmaras devem assegurar a liquidação da maior posição compensada devedora60. Dessa forma, ainda que os comitentes responsáveis por essas carteiras se tornassem inadimplentes, não haveria risco financeiro remanescente para a CPC.

O valor da acurácia permanece abaixo dos 99% após o dia 18 de maio, uma vez que a metodologia que apura a acurácia do modelo utiliza uma janela móvel dos últimos três meses, e a queda da acurácia em um dia impactará as estimativas até o final da primeira quinzena de agosto, a partir de quando o indicador deve retomar o patamar anterior.

58/ O nível de acurácia é definido como a proporção de acertos de um modelo de gerenciamento de riscos em um determinado período de tempo. No caso de câmara de compensação e de liquidação atuando como contraparte central, o nível de acurácia é dado, simplificadamente, pelo número de vezes em que as garantias requeridas dos participantes foram superiores ao risco de fato incorrido pela CPC, dividido pelo número total de participantes que tiveram sua exposição ao risco verificada, em um determinado período de tempo.

59/ Os Princípios para Infraestruturas do Mercado Financeiro (Principles for Financial Market Infrastructures – PFMI) foram publicados em abril de 2012 pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais (CPSS/BIS) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO). O propósito dos PFMI é reforçar a segurança e a eficiência das IMFs.

60/ Art. 3º, inciso V, da Resolução nº 2.882, de 2001.

Gráfico 1.6.5 - Confiança no sistema financeiro

0

20

40

60

80

100

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Ago2017

%

0

20

40

60

80

100

SemConfiança

PoucaConfiança

RazoávelConfiança

MuitaConfiança

CompletaConfiança

% Distribuição Relativa das Percepções de Confiança (agosto 2017)

Ago 2017 Mai 2017

0

300

600

900

1.200

1.500

Jul2016

Ago Set Out Nov Dez Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

R$ bilhões

Títulos livres Compulsórios

Reservas início de dia Necessidade efetiva de liquidez

Gráfico 1.7.1 – Necessidade de liquidez intradia

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 37

98,0

98,4

98,8

99,2

99,6

100,0

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

%

Gráfico 1.7.5 – Câmara BM&FBovespaRisco de crédito1/

1/ Estimativas de acurácia do modelo de cálculo de garantias individuais, realizadas com janela móvel dos últimos três meses (63 dias).

0

80

160

240

320

400

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

Falha de um membro da câmara Falha de dois membros da câmara

Gráfico 1.7.4 – B3 – CâmbioDeficit de liquidez

R$ milhões

0

10

20

30

40

50

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

Gráfico 1.7.3 – Câmara BM&FBovespaRisco financeiro líquido

R$ milhões

Fontes: B3 e BCB

0

5

10

15

20

25

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun

Gráfico 1.7.2 – B3 – AçõesRisco financeiro líquido

R$ milhões

Fontes: B3 e BCB

Tabela 1.7.1 – Câmara BM&FBovespaFatores Primitivos de Risco – Variaçãopercentual com relação aos cenários

Discriminação Mín1/ Máx1/

Ibovespa à vista 65% 20%Dólar à vista 20% 67%Pré 42 26% 54%Pré 126 35% 85%Pré 252 26% 86%Pré 756 36% 84%DDI2/ 180 7% 7%DDI 360 5% 8%DDI 1080 9% 6%

Fontes: B3 e BC

1/ Percentual de variação acumulada em 2 dias em relação aos cenários de baixa e alta no 1º semestre de 2017.2/ Cupom cambial.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 38

2.1 Atuação do Banco Central do Brasil ante os fatos ocorridos em 17 de maio de 2017

Mesmo antes da abertura do mercado financeiro em 18 de maio, havia a expectativa de forte oscilação nos preços dos ativos financeiros locais, dadas as incertezas quanto aos possíveis desdobramentos no campo político dos fatos ocorridos no dia anterior, com potenciais efeitos sobre a economia. De fato, naquele dia, logo após a abertura dos negócios, as cotações dos contratos futuros de dólar e de taxa de juros negociados na B3, bem como o Ibovespa, rapidamente atingiram seus limites de oscilação (circuit breaker), conforme descrito abaixo:

• Mercado de câmbio – O mercado futuro de dólar abriu com cerca de 40 mil contratos cotados na ponta de compra, no limite máximo de oscilação, no valor de R$3,3235 (+6%). Foram negociados 7,6 mil contratos nesse preço e, em seguida, não houve mais negócios, sendo registrados mais de 80 mil contratos na ponta de compra, sem ofertas de venda.

• Mercado futuro de taxa de juros – O mercado de juros apresentou baixa liquidez, com os principais contratos permanecendo “travados” no limite de alta durante a maior parte do dia. No fechamento dos negócios, o vencimento jan/21 atingiu a cotação de 11,39% a.a. (alta de 180 pb), próximo do limite de oscilação.

• Mercado de ações – Alguns papéis abriram com perdas superiores a 40% em relação ao fechamento do dia anterior. Rapidamente o Ibovespa atingiu o limite de oscilação máxima (-10%), e as negociações foram suspensas.

2Temas selecionados

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 39

Diante da forte oscilação dos preços dos ativos e visando favorecer a retomada dos negócios, a B3 decidiu, ainda pela manhã, alterar os limites de oscilação dos principais contratos futuros de taxa de juros, de taxa de câmbio e do Ibovespa. Os limites de oscilação foram elevados entre 30% e 50% do limite original, exclusivamente para aquele dia.

Logo pela manhã, antes mesmo do início dos negócios no mercado financeiro local, o BC anunciou que, considerando os possíveis impactos sobre os preços dos diversos ativos, estaria vigilante e preparado para atuar, caso necessário.

Nesse sentido, por volta das 9h30, com o objetivo de prover hedge (proteção) e liquidez aos agentes, o BC anunciou o primeiro leilão de swap cambial “tradicional”, no montante de 40.000 contratos, equivalente a USD2 bilhões. O leilão ocorreu das 10h30 às 10h40, e foram aceitos 24.675 contratos (USD1,23 bilhão), distribuídos entre os vencimentos de 1º de agosto de 2017, 2 de outubro de 2017 e 2 de janeiro de 2018.

O BC realizou, ainda pela manhã, o segundo leilão de swap cambial, ofertando o lote residual de 15.325 contratos (cerca de USD770 milhões). O leilão ocorreu das 11h20 às 11h30, e o lote ofertado foi integralmente aceito.

No início da tarde, o BC realizou nova oferta de swap cambial, no montante de 40.000 contratos (USD2 bilhões). O leilão ocorreu das 15h às 15h10, e foram aceitos 29.250 contratos (USD1,46 bilhão). Por fim, entre 15h30 e 15h40, o BC realizou o quarto leilão de swap cambial, ofertando e aceitando integralmente o lote residual de 10.750 contratos (USD540 milhões).

Ainda em 18 de maio, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e o BC anunciaram novas intervenções nos mercados de títulos e de câmbio, a serem realizadas nos dias 19, 22 e 23 de maio. A STN, que já havia cancelado o leilão tradicional de venda de títulos do dia 18, anunciou a realização de leilões extraordinários de compra e de venda simultâneas de títulos para diferentes vencimentos de Letras do Tesouro Nacional (LTN), Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) e Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B). Os objetivos desses leilões eram prover liquidez e sinalizar preços de referência para os agentes de mercado. O BC, por sua vez, anunciou a realização de leilões de swap cambial “tradicional” para as mesmas datas, com oferta de 40.000 contratos (USD2 bilhões) em cada dia.

Entre 18 e 23 de maio, os leilões de swap cambial “tradicional” extraordinários alcançaram o montante de

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 40

200.000 contratos (USD10 bilhões), com o estoque total de swap cambial do BC atingindo o montante equivalente a USD27,8 bilhões.

O Tesouro Nacional, por sua vez, após os leilões dos dias 19, 22 e 23 de maio, havia recomprado liquidamente cerca de R$2,1 bilhões em títulos, distribuídos em diversos vencimentos de LTN, NTN-F e NTN-B.

A percepção geral foi de que a atuação conjunta do BC e da STN foi positiva para diminuir os riscos, ao oferecer liquidez e proteção (hedge) aos agentes, num momento de elevada incerteza quanto aos possíveis efeitos do evento de 17 de maio no mercado local.

O fluxo de capitais internacionais também foi impactado pela forte desvalorização do real ocorrida logo após o evento de 17 de maio, intensificando o ingresso de dólares no país nos dias subsequentes. Tanto exportadores como investidores não residentes aproveitaram as cotações favoráveis do mercado de divisas para ingressar recursos em moeda estrangeira no país. Mesmo em 18 de maio, apesar do ambiente de forte incerteza, o fluxo cambial primário foi positivo em USD2,3 bilhões, dos quais USD1,3 bilhão no segmento comercial, o que contribuiu para a formação de preço da taxa de câmbio no mercado à vista naquele dia.

Após o fim dos negócios em 18 de maio e feitas as estimativas internas para os ajustes no mercado de derivativos, o BC efetuou diversos contatos institucionais, a fim de avaliar o ocorrido, verificar as expectativas quanto a problemas potenciais nas liquidações de ajustes na B3, ou qualquer evento que pudesse resultar em impacto sistêmico, além de preparar o fluxo de informações para o dia seguinte.

Os dados do dia 18, da B3, indicam que, como consequência das negociações e oscilações dos preços dos contratos, foi verificado o maior valor da série para o total de ajustes apurados num único dia no mercado de derivativos negociados em bolsa61 entre janeiro de 2010 e maio de 2017, o mesmo se verificando para o valor financeiro necessário a sua liquidação (Gráfico 2.1.1)62.

61/ O volume financeiro dos ajustes dos contratos de derivativos negociados na B3 atingiu R$29,5 bilhões, maior volume movimentado em um único dia desde dezembro de 2010.

62/ O total de ajustes e troca de posições financeiras verificados no dia 18 excede em doze desvios padrões a média dessa soma para toda a série histórica até o dia antes do evento (entre 4 de janeiro de 2010 e 17 de maio de 2017).

-

10

20

30

40

50

60

70

80

90

jan-10 jan-11 jan-12 jan-13 jan-14 jan-15 jan-16 jan-17

R$ biGráfico 2.1.1 – Ajustes no mercado futuro

Ajuste contratos Troca financeira

Fonte: B3

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 41

A despeito dessas circunstâncias severas, todas as obrigações decorrentes dos citados movimentos de mercado foram honradas na B3. Embora em menor magnitude, tanto os ajustes quanto o movimento de posições financeiras ainda permaneceram expressivos nos dias imediatamente subsequentes, refletindo o incremento da volatilidade nos preços dos contratos diante do agravamento do cenário de incertezas. No entanto, os mercados futuros mostraram-se resilientes ao estresse então verificado.

No mesmo dia 18 de maio, a Área de Supervisão do BC intensificou o monitoramento das instituições financeiras, dadas as fortes oscilações ocorridas nos preços dos ativos financeiros, bem como do aumento do risco de crédito em suas posições. Tanto no acompanhamento in loco, quanto via monitoramento, a Supervisão do BC verificou os movimentos de caixa das instituições, acompanhou o comportamento dos clientes, colheu informações acerca de percepções dos participantes do mercado e avaliou continuamente riscos latentes e qualquer ameaça potencial que suscitasse uma atuação tempestiva do BC.

As primeiras avaliações e simulações de cenários de estresse indicaram que não haveria problemas de solvência no SFN, razão pela qual a área de monitoramento do BC teve como foco principal o risco de liquidez das instituições financeiras. No acompanhamento diário realizado pelo BC nos dias seguintes ao evento, a conclusão foi de que as instituições financeiras possuíam ativos líquidos suficientes para enfrentar cenários bastante severos.

Os mercados iniciaram seu retorno à normalidade já a partir do dia 19. As taxas de juros futuros e de câmbio reagiram favoravelmente às atuações do BC e da STN (Gráficos 2.1.2 e 2.1.3), voltando a apresentar variações compatíveis com um funcionamento regular de mercado.

As oscilações nos mercados em 18 de maio provocaram a elevação da preocupação com riscos. Os riscos decorrentes da variação de preços de mercado aumentaram, e houve recorde de movimentação de posições financeiras e ajustes no mercado de derivativos de bolsa.

Diversas razões contribuíram para que esses eventos não deflagrassem materialização de riscos:

108,8

104,4

98,0

100,0

102,0

104,0

106,0

108,0

110,0

Gráfico 2.1.3 – Variação relativa da Ptax BRL/USD de venda comparativamente ao fechamento do dia 17/051 em maio de 2017

* Ref(17/05) => 100

1/ Conforme a relação 100* Ptax(t)/Ptax(17/05).

81

77

47

25 13

(16)

(50)

(25)

-

25

50

75

100

125

150

175

200

Gráfico 2.1.2 – Variação relativa dos preços diários de fechamento registrados no mercado de futuro de DI de um dia comparativamente ao fechamento do dia 17 de maio (em pontos base, em maio de 2017)

JAN25

JAN23

JAN19

JAN18

OUT17

JUL17

175192

156

10897

40

176

Fonte: B3

Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 42

• a existência de infraestruturas de mercado reguladas, com controle de exposições, chamadas de margem e ajustes, gestão de risco e governança funcionando dentro dos melhores padrões internacionais;

• a baixa exposição líquida das instituições do SFN no momento em que a turbulência se alastrou pelos mercados. Além de apropriadamente capitalizadas, a liquidez existente no sistema era abundante no momento em que o evento ocorreu. Esses resultados confirmaram os impactos esperados com base nos testes de estresse periodicamente realizados e divulgados no REF;

• a regulação estabelecendo limites de exposição em relação ao mesmo cliente e a grupos econômicos, requerimento de capital para suportar os riscos envolvidos nas operações e requerimentos mínimos de liquidez em linha com as recomendações internacionais;

• o regime de câmbio flutuante, que concorreu para que os mercados continuassem funcionais. A desvalorização abrupta ocorrida no dia 18 abriu uma janela de oportunidade para que exportadores ingressassem suas divisas e que investidores estrangeiros assumissem as posições abandonadas pelos investidores residentes;

• o conjunto de ferramentas e instrumentos eficientes para prover liquidez, tanto em moeda nacional como em moeda estrangeira;

• a eficácia da atuação coordenada entre o BC e a STN, no sentido de diminuir as incertezas e acalmar os participantes do mercado com a divulgação de um calendário de intervenções nos mercados de juros e de câmbio;

• a existência de estruturas organizadas de fluxos de informação e equipes dedicadas ao tratamento e análise de dados econômico-financeiros, permitindo ao BC e à CVM identificar rapidamente eventuais fontes de problemas e agir tempestivamente para que os problemas não se materializassem;

• a supervisão intrusiva que garante que os fundamentos econômico-financeiros das entidades supervisionadas mantenham-se sempre sólidos, garantindo a resiliência das instituições financeiras a choques adversos; e

• a comunicação sóbria, clara e transparente das autoridades envolvidas com a sociedade.

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 43

Observações finais

O evento de 17 de maio reforça convicções importantes do BC.

A primeira é de que a previsão de eventos críticos é uma tarefa muito desafiadora. Eventos desestabilizadores no SFN podem acontecer a qualquer momento, sendo grande a dificuldade de prevê-los. A preservação dos buffers de capital e de liquidez das instituições financeiras, o adequado funcionamento das infraestruturas de mercado, bem como a existência de um conjunto de ferramentas à disposição das autoridades públicas são fundamentais para a manutenção da forte resiliência do SFN.

A segunda convicção reforçada diz respeito à importância do monitoramento minucioso dos mercados e dos entes supervisionados, principalmente durante eventos críticos, para que se possa construir diagnósticos corretos sobre as eventuais fontes dos problemas. A análise das informações precisa ser capaz de produzir os diagnósticos corretos rapidamente, caso contrário, as ações podem não ser efetivas por falta de tempestividade.

A terceira diz respeito à importância de um bom nível de coordenação entre as autoridades públicas no enfrentamento de crises. A forte interconexão entre diferentes tipos de intermediários financeiros e entre o próprio SFN e o setor real da economia é desejável para que o sistema financeiro seja capaz de proporcionar um eficiente compartilhamento de riscos, mas é, ao mesmo tempo, um ambiente fértil para contágios. O prêmio de coordenação entre as autoridades públicas, portanto, aumenta na medida em que aumenta o grau de interconectividade do sistema econômico.

Por fim, a comunicação dos formuladores e executores de políticas com a sociedade de forma transparente e tempestiva, conjugadas com ações consistentes e alinhadas, eleva a previsibilidade do ambiente econômico e previne comportamentos desestabilizadores. Confiança e previsibilidade resultam em menor custo social para o enfrentamento de crises. A severidade dos movimentos de mercado ocorridos em 18 de maio testou tais convicções. Entretanto, o rápido alinhamento das expectativas e o retorno à normalidade de mercado já no dia 19 confirmam a certeza nesses valores e a confiança depositada nas ações das autoridades incumbidas de manter a estabilidade do sistema financeiro.

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 44

2.2 Step-in risk

Após a crise financeira internacional iniciada em 2007, o BCBS deu início a uma série de reformas regulatórias, algumas com o objetivo de mitigar os potenciais riscos decorrentes da interação entre bancos e entidades do shadow banking. Nesse processo, foram criadas novas regras de requerimento de capital para estruturas de securitização e para investimentos em cotas de fundos, e maior ênfase foi dada aos riscos de liquidez e reputacional63.

Nesse contexto, e com o objetivo de suplementar as reformas regulatórias já introduzidas, o BCBS colocou em consulta pública, em março de 2017, o documento Identification and management of step-in risk, que traz um conjunto de propostas para a identificação e o gerenciamento do step-in risk. O prazo para envio de comentários encerrou-se em de maio de 2017 e o documento final deve ser publicado pelo BCBS ainda neste ano.

O documento define o step-in risk como a possibilidade de um banco prestar suporte financeiro a entidade não consolidada prudencialmente que se encontra em situação de estresse, mesmo na ausência de obrigações contratuais que o levariam a prestá-lo. O risco reputacional de o banco não propiciar o referido suporte seria a principal razão para fazê-lo, ou seja, o step-in risk surge quando o banco considera que seria menos impactado ao prestar suporte financeiro a uma determinada entidade com a qual se relaciona vis-à-vis a situação em que opte por não o conceder.

Assim, do ponto de vista prudencial, é desejável a prévia identificação de situações em que o step-in risk possa se materializar e comprometer a posição de liquidez e de capital dos bancos, com impactos relevantes para a estabilidade financeira. Nesse sentido, o documento apresenta diretrizes para que os bancos identifiquem e gerenciem o step-in risk, como, por exemplo, a adoção de políticas e procedimentos de gestão, a realização periódica de autoavaliação desse risco e a remessa de informações aos supervisores. Esses, por sua vez, seriam responsáveis pela avaliação das políticas e dos procedimentos adotados pelas entidades supervisionadas, requerendo, sempre que necessário, a adoção de medidas corretivas por parte dos bancos.

63/ O risco reputacional decorre da percepção negativa em relação à instituição por parte de clientes, contrapartes, acionistas, investidores ou supervisores, que pode afetar negativamente a instituição.

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Não obstante as diretrizes para que os próprios bancos identifiquem e gerenciem o step-in risk ainda não terem sido finalizadas e publicadas pelo BCBS, o BC, em seus testes de estresse de liquidez, já estima e monitora o potencial suporte financeiro por parte de instituições financeiras a fundos de investimento64 geridos por gestoras ligadas, que se daria por meio da compra de ativos ilíquidos da carteira de fundos, permitindo que essas entidades tenham liquidez suficiente para honrar os resgates estimados.

Para a apuração do valor do suporte financeiro aos fundos de investimento, identificam-se os que podem sofrer algum tipo de corrida de saques dadas as suas regras de constituição65 e que são geridos por gestoras ligadas a instituições financeiras (Gráfico 2.2.1).

Para esse conjunto de fundos, compara-se a liquidez com um percentual de resgates líquidos que seria observado em uma situação de estresse por um período de trinta dias, para cada classe66 de fundo. O percentual de resgates considerado pelo BC no cenário de estresse tem por base a reprodução de cenário histórico relativo a saques ocorridos em fundos de gestora ligada a instituição financeira que passou por crise reputacional.

Esses parâmetros provavelmente diferem dos que são considerados por gestores e administradores de fundos nos seus testes de estresse de liquidez. A obrigatoriedade de realização periódica dessas simulações foi estabelecida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que tem aperfeiçoado o arcabouço regulatório no que tange ao gerenciamento do risco de liquidez dos fundos, dos administradores e dos gestores.

O valor do suporte financeiro é a diferença entre o que poderia ser sacado na situação de estresse simulada e a liquidez já disponível no fundo para corresponder a esses resgates. Essa assistência financeira efetivar-se-ia pela compra de ativos ilíquidos por parte da instituição financeira à qual a gestora do fundo está ligada.

64/ O acompanhamento do step-in risk no BC focou nos fundos de investimento porque esses são os maiores intermediários financeiros, desconsideradas as instituições financeiras, e também pelo fato de aproximadamente 87% da indústria de fundos ser gerida por gestoras ligadas a conglomerados financeiros.

65/ Fundos abertos, não exclusivos, que não integrem as demonstrações contábeis de conglomerados prudenciais financeiros, que tenham prazo de resgate de cotas de até 30 dias e sejam regidos pela Instrução CVM nº 555, de 2014. Os fundos de cota são excluídos para evitar dupla contagem.

66/ Fundo de Renda Fixa, Fundo de Ações, Fundo Multimercado e Fundo Cambial, conforme artigo 108 da Instrução CVM nº 555, de 2014.

0

800

1.600

2.400

3.200

4.000

Jun2016

Set2016

Dez2016

Mar2017

Jun2017

Gráfico 2.2.1 – Evolução da indústria de fundos ICVM 555

Gestoras independentesNão expostos a corrida de saques geridos por IFExpostos a corrida de saques geridos por IF

R$ bi

Anexo estatístico

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 46

Constata-se que o potencial suporte financeiro a fundos geridos, comparado com o excesso de liquidez67 dos conglomerados bancários aos quais as gestoras estão ligadas, tem se mantido em patamar reduzido (Gráfico 2.2.2). Espera-se que se mantenha nesses níveis, dado que a liquidez dos fundos e dos bancos deve seguir elevada no curto prazo, representando baixo risco à estabilidade financeira.

2.3 Balanços dos bancos centrais das economias avançadas

Os programas de compras de ativos adotados por bancos centrais de economias avançadas foram cruciais para combater os efeitos da crise financeira global de 2008/2009. Nove anos após o início da crise, o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco do Japão (BoJ) ainda prosseguem expandindo seus ativos, enquanto o Banco da Inglaterra mantém os saldos acumulados (Gráfico 2.3.1). O Federal Reserve (Fed) encontra-se mais avançado no processo de normalização da política monetária, tendo o Federal Open Market Committee (FOMC) decidido, em sua reunião do dia 20 de setembro de 2017, anunciar o início, em outubro de 2017, da redução gradual do seu balanço. Essa decisão marca uma possível mudança de tendência nas condições financeiras globais, que se beneficiaram da ampla liquidez provida pelos bancos centrais das economias avançadas nos últimos anos.

Os possíveis impactos da reversão desta política de compra de ativos são considerações importantes para as economias emergentes, incluindo a economia brasileira, dada a relevância das taxas de juros de longo prazo e da moeda americana para os mercados emergentes. Adicionalmente, a volatilidade nos mercados internacionais resultante do taper tantrum (TT)68 demonstrou os impactos potenciais de mudanças na política de expansão dos balanços dos bancos centrais das economias avançadas. De acordo com o cronograma divulgado, o Fed poderá deixar de recomprar inicialmente um total máximo de US$10 bilhões dos títulos (US$6 bilhões em Treasuries e US$4 bilhões em mortgage-backed

67/ O Gráfico 1.1.5, da seção de liquidez do Capítulo 1, traz a evolução do excesso de liquidez do sistema bancário.

68/ Em maio de 2013, o então presidente do Fed afirmou que o banco central americano provavelmente iria começar a reduzir (taper) o programa de compras de ativos ainda naquele ano. O mercado passou a tentar antecipar não apenas quando o Fed iria começar a reduzir as compras de ativos como também quando iria começar a subir as taxas de juros. O movimento especulativo decorrente teve impacto disruptivo nos mercados financeiros ao redor do mundo. AVDJIEV, S., TAKÁTS, E. (2014) Cross-border bank lending during the taper tantrum: the role of emerging markets fundamentals. BIS Quarterly Review.

0

4

8

12

16

20

0

100

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300

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500

Jun2016

Set2016

Dez2016

Mar2017

Jun2017

R$ bi

Gráfico 2.2.2 – Suporte financeiro a fundos geridos

Excesso de liquidez dos bancos que prestariam suporteSuporte financeiro (eixo da esquerda)

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

4

7

11

14

18

mai

09

fev

10

nov

10

ago

11

mai

12

fev

13

nov

13

ago

14

mai

15

fev

16

nov

16

ago

17

US$ tri

Gráfico 2.3.1 – Evolução dos ativos dos bancos centrais

ECB BoJ Fed BoE TotalFonte:Bloomberg

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 47

securities) vincendos a cada mês, volume que será ampliado trimestralmente em US$10 bilhões até o limite de US$50 bilhões (US$30 bilhões em Treasuries e US$20 bilhões em mortgage-backed securities), mantendo-se constante a partir de então.

A decisão já era amplamente esperada, posto ter sido antecipada pelo Comitê, em 14 de junho de 2017.69 Desde então, variáveis de mercado associadas à percepção de risco das economias emergentes têm apresentado comportamento predominantemente benigno. Em um exercício comparativo com o ocorrido após o taper tantrum, verifica-se que, desde a reunião do FOMC de junho de 2017, o indicador de risco soberano EMBI+ recuou cerca de 10 p.b. Após o TT, esse indicador havia registrado, em um período equivalente, alta de 90 p.b. (Gráfico 2.3.2).

Um fator decisivo para a reação positiva do mercado foi a bem-sucedida estratégia de comunicação do FOMC, que sinalizou ao mercado a proximidade do início e os termos do ajuste no balanço. No mesmo sentido, o plano divulgado prevê redução gradual e previsível do balanço, além de garantir flexibilidade ao Fed para frear a velocidade do processo, caso as condições financeiras se deteriorem.

Além disso, a decisão do FOMC se dá em um cenário de atividade econômica mais robusta, tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes. O crescimento mais equilibrado entre as economias avançadas facilitou o reequilíbrio entre o dólar e as demais moedas conversíveis, evitando a apreciação excessiva da moeda americana, ao passo que a estabilização da economia chinesa contribuiu para a recuperação dos preços de commodities. Esses dois fatores propiciam condições mais favoráveis para o apetite por risco e, em consequência, para a demanda por ativos de países emergentes.

Acrescente-se também o ajuste pelo qual passaram as economias emergentes desde o TT, no sentido de reduzir vulnerabilidade a choques externos, com destaque para a queda expressiva dos deficits em conta-corrente (Gráfico 2.3.3) após período de realinhamento das taxas de câmbio.

Prospectivamente, com base no cronograma divulgado, estimamos que o efeito da redução do balanço do Fed

69/ Com a divulgação do Addendum to the Policy Normalization Principles and Plans, disponível em: <https://www.federalreserve.gov/newsevents/pressreleases/monetary20170614c.htm>.

-10

20

50

80

110

140

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85

Varia

ção

em p

onto

s ba

se

Número de dias após o evento

Gráfico 2.3.2 – Comparação dos efeitos – Embi+

Taper Tantrum FOMC jun/17

Fonte:Bloomberg

Anexo estatístico

Anexo estatístico

80

85

90

95

100

105-3,5%

-2,5%

-1,5%

-0,5%

0,5%

set 1

2de

z 12

mar

13

jun

13se

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dez

13m

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set 1

4de

z 14

mar

15

jun

15se

t 15

dez

15m

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6ju

n 16

set 1

6de

z 16

mar

17

jun

17

2º tr

i 201

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100

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dos*

Gráfico 2.3.3 – Conta-corrente – Emergentes selecionados*

Brasil A. Latina Europa e Afr. do Sul Ásia REER** (Dir.)

Fonte: Bloomberg

* Brasil, Chile, Colômbia, Peru, México, Índia, África do Sul, Turquia, Indonésia, Rússia, Polônia, Hungria, Malásia, Filipinas e Rep. Tcheca

** Taxa de câmbio real efetiva

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 48

no crescimento da economia americana seja equivalente à elevação de 50 pbs na taxa dos fed funds ao longo dos próximos três anos, ressalvado o elevado grau de incerteza associado a esse tipo de estimativa (Gráfico 2.3.4).70 O efeito sobre o crescimento se deve, primordialmente, à elevação no term premium e consequente aumento da inclinação da curva de juros americana. Espera-se, no entanto, que o impacto dessa elevação sobre as economias emergentes seja limitado, mantidas as condições de maior resiliência da economia global e o gradualismo com que o Fed conduzirá o processo.

A despeito dessa previsão, desde a divulgação do cronograma pelo FOMC, não se verificou uma tendência clara de elevação nas taxas longas da curva de juros nos EUA (Gráfico 2.3.5). Entre as justificativas possíveis para esse movimento estão a fraqueza relativa do dólar vis-à-vis outras moedas conversíveis e a constante reavaliação para baixo, pelo mercado e pelo próprio Fed, da taxa de juro neutra americana.

O encerramento do processo de redução do balanço do Fed permanece indefinido. Declarações recentes de membros do FOMC apontam que o balanço deve reduzir-se dos atuais US$4,2 trilhões para montante entre US$3 e US$2,5 trilhões, resultando em um processo com duração que pode chegar a quatro ou cinco anos (Gráfico 2.3.6). Nesse cenário, o valor final do balanço permaneceria bem acima do que vigorava antes de 2008, de cerca de US$870 bilhões.

Apesar de o Fed ser o único banco central das economias avançadas a ter anunciado, até o momento, o início da reversão das compras de ativos realizadas no pós-crise, outros bancos centrais têm adotado, nos últimos meses, um discurso mais hawkish.71 Nesse sentido, é provável que, nos próximos meses, sejam anunciadas medidas de redução no ritmo de compras de ativos por outros bancos centrais, com implicações importantes sobre as condições financeiras globais.

70/ Estimativa com base no FRB/US model e em Engen, Laubach e Reifschneider (2015), The Macroeconomic Effects of the Federal Reserve’s Unconventional Monetary Policies, Federal Reserve Board.

71/ Destaque para a reunião promovida pelo BCE em Sintra, Portugal, no período de 26 a 28 de junho de 2017, em que as declarações de presidentes de bancos centrais sugeriram maior coordenação das autoridades no sentido de reduzir os estímulos monetários.

-20

4

28

52

76

100

124

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85

Varia

ção

em p

onto

s ba

se

Número de dias após o evento

Gráfico 2.3.5 – Taxa de juros de dez anos – EUA

Taper Tantrum FOMC jun/17

Fonte: Bloomberg

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

16

32

48

64

80

96

4T 1

71T

18

2T 1

83T

18

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19

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20

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2T 2

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4T 2

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22

2T 2

23T

22

4T 2

2

p.b.

Gráfico 2.3.4 – Redução do balanço: efeito acumulado equivalente nos fed funds

Anexo estatístico

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

out-1

7

abr-1

8

out-1

8

abr-1

9

out-1

9

abr-2

0

out-2

0

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1

out-2

1

abr-2

2

out-2

2

US$ tri

Gráfico 2.3.6 – Projeção do balanço do Fed

balanço "grande"

balanço "pequeno"

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 49

2.4 Gerenciamento integrado de riscos e gerenciamento de capital

Em fevereiro de 2017, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a Resolução nº 4.557, de 2017, que trata do gerenciamento integrado de riscos e do gerenciamento de capital (GIR) por instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BC. A medida integra o pilar “SFN Mais Eficiente”, da Agenda BC+.

O novo regramento aprimora e consolida, em uma mesma peça normativa, requisitos anteriormente estabelecidos em resoluções específicas para gestão do capital, do risco operacional, do risco de crédito, do risco de liquidez e do risco de mercado, incluindo a possibilidade de perdas decorrentes da variação de taxas de juros para os instrumentos classificados na carteira bancária (IRRBB). Foram introduzidas ao arcabouço normativo novas recomendações do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária, consubstanciadas no documento Core Principles for Effective Banking Supervision, de 2012, de forma a manter a regulamentação prudencial brasileira alinhada às melhores práticas internacionais.

A resolução de GIR é o primeiro normativo prudencial editado após a introdução das regras de segmentação do SFN, tratadas na Resolução nº 4.553, de 30 de janeiro de 2017. O novo regramento estabelece requisitos de gerenciamento a serem observados de maneira proporcional ao perfil de riscos e ao segmento de enquadramento da instituição. Dessa forma, instituições com menor grau de importância sistêmica e baixa relevância em suas atividades internacionais estão sujeitas a requerimentos simplificados, sem prejuízo do necessário grau de prudência no gerenciamento de seus riscos e de seu capital.

Pelas novas regras, as instituições do SFN devem avaliar, de forma mais detalhada, os riscos inerentes a seu modelo de negócios e objetivos estratégicos, definindo e documentando, na Declaração e Apetite por Riscos (RAS), os níveis de apetite para cada tipo de risco identificado. Uma vez consignadas na RAS as decisões da alta administração, o gerenciamento de riscos relevantes deve ser estruturado com base nos termos fixados no documento e ocorrer de maneira contínua e integrada, abrangendo tanto os riscos de forma individualizada quanto os efeitos adversos das interações entre eles.

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 50

O normativo de GIR requer das instituições a implementação de um programa de testes de estresse, com clara definição do papel da alta administração na formulação de diretrizes. Ancorado em um rol definido de metodologias, o programa deve possibilitar a efetiva utilização dos resultados dos testes na tomada de decisões estratégicas da instituição.

Também são introduzidos dispositivos que aprimoram a governança corporativa para fins do gerenciamento de riscos e de capital. As inovações estão amparadas nas mais recentes recomendações internacionais sobre o tema, que experimentou notório avanço de definições e práticas nos últimos anos diante do reconhecimento de que a inadequação da governança contribuiu para a formação e a propagação da crise financeira mundial iniciada em 2007.

Nesse sentido, é requerida a designação de um diretor para gerenciamento de riscos (CRO), com responsabilidade pela implementação da estrutura de gerenciamento e pelo acompanhamento de seu desempenho. O CRO deve participar das decisões relacionadas ao gerenciamento de riscos, exercendo suas atribuições de maneira independente, com a prerrogativa de se reportar diretamente ao conselho de administração, ao principal executivo da instituição e ao comitê de riscos, cuja constituição também é uma inovação requerida pelo normativo de GIR para instituições com perfil de riscos mais complexo. O comitê de riscos tem como atribuição fundamental a formulação de políticas e estratégias para o gerenciamento de riscos, as quais serão objeto de deliberação e decisão pelo conselho de administração da instituição. O comitê também está encarregado de supervisionar a atuação do CRO na condução das tarefas executivas de gerenciamento de riscos.

A expectativa, por fim, é de que as novas regras de gerenciamento fortaleçam não apenas as instituições individualmente, por meio, entre outros aspectos, da introdução de comandos para a disseminação da cultura de riscos com vistas a aprimorar a chamada “primeira linha de defesa”, como também contribuam para a estabilidade do SFN como um todo.

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 51

2.5 Amortização negativa em financiamentos imobiliários sob a Tabela Price

A oferta de crédito imobiliário no Brasil tem como principal fonte de recursos os depósitos de poupança captados do público por um conjunto de instituições financeiras que integram o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Por determinação legal, cabe ao CMN dispor sobre a aplicação dos depósitos de poupança, priorizando o financiamento imobiliário. Em consonância com a legislação, o CMN, por meio da Resolução nº 3.932, de 16 de dezembro de 2010, estabelece que 65% dos saldos dos depósitos de poupança sejam direcionados para a concessão de financiamentos imobiliários, dos quais 80% devem consistir de operações no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), criado pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, e o restante em financiamentos imobiliários a taxas de mercado.

Conforme estabelece a Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, os financiamentos imobiliários concedidos com recursos de depósitos de poupança devem ter como índice de atualização do saldo devedor e das prestações dos contratos a mesma taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança, definida nessa Lei como sendo a Taxa Referencial (TR), calculada e divulgada pelo BC, segundo metodologia definida pelo CMN. Nos termos da Lei nº 4.380, de 1964, esses financiamentos podem ter seus sistemas de amortização livremente pactuados entre as partes, sendo obrigatório o oferecimento ao mutuário do Sistema de Amortização Constante (SAC) e de, no mínimo, outro sistema de amortização que atenda aos requisitos da referida Lei, entre eles o Sistema de Amortização Crescente (Sacre) e o Sistema Francês de Amortização (Tabela Price).

Nos últimos anos, verificou-se uma disseminação do uso da Tabela Price, que, conjugada com o cenário de restrição monetária experimentado entre 2013 e 2015, período em que os índices de atualização usuais dos contratos apresentaram crescimento considerável, ocasionou aumentos nominais dos saldos devedores de parte dos financiamentos originados em período anterior ou no início do aperto monetário, bem como maior exposição dos mutuários ao risco de atrasos e de inadimplementos. Os aumentos nominais dos saldos devedores foram identificados e monitorados, com indicativo para proposição de medida de mitigação desse risco.

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A disseminação do uso da Tabela Price se explica pelo fato de que, dadas as características desse sistema de amortização, para um mesmo valor financiado, obtém-se uma prestação inicial de valor inferior à que resultaria caso fosse aplicado o SAC, predominante nas operações contratadas no âmbito do SBPE.

No que se refere ao risco de crédito, uma métrica relevante para mensuração e monitoramento desse tipo de risco em carteiras de financiamento imobiliário é internacionalmente conhecida como loan-to-value (LTV), representando a relação entre o saldo devedor do financiamento e o valor do imóvel financiado, que é a garantia dos créditos. O cenário descrito de disseminação do uso da Tabela Price resultou em aumento dos saldos devedores, com reflexos em termos de incrementos de LTV e, em última análise, do risco das carteiras.

Não obstante os incrementos de LTV estivessem vinculados a situações específicas, o BC avaliou as possibilidades de atuação regulatória em resposta ao cenário apresentado e descartou a adoção de soluções que pudessem causar impacto relevante nas práticas vigentes de concessão de financiamentos imobiliários, tais como as que viessem a alterar as características dos sistemas de amortização já consolidados.

Nesse contexto, o BC decidiu pela implementação de medida prudencial de ajuste no requerimento de capital aplicável aos contratos de financiamentos imobiliários. Pelas regras vigentes até maio de 2017, constantes da Circular nº 3.644, de 4 de março de 2013, operações de financiamento habitacional garantidas por alienação fiduciária cujo valor contratado fosse de até 80% do valor de avaliação da garantia, na data da concessão do crédito, recebiam, enquanto perdurasse a exposição, FPR de 35%.

Doravante, nos termos da Circular nº 3.834, de 26 de maio de 2017, o FPR de 35% passa a ser aplicável apenas se a dívida não exceder 80% do valor de avaliação da garantia apurado na data da contratação da operação. Desse modo, caso ocorra aumento do saldo devedor dos financiamentos no curso dos contratos, em magnitude que acarrete superação do referido parâmetro, as exposições passam a estar sujeitas a FPR mais elevado, que pode ser de 75% ou 100%, dependendo das características de cada operação.

Adicionalmente, de modo a manter a uniformidade de tratamento nas operações de financiamento imobiliário, estabeleceu-se que, para as operações garantidas por

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hipoteca, o FPR de 50% somente pode ser aplicado se o saldo devedor da operação não exceder 80% do valor de avaliação da garantia apurado na data da concessão do crédito.

As alterações promovidas, ao determinarem a utilização de FPR compatível com o perfil de risco da exposição das instituições financeiras ao longo do tempo, de acordo com a evolução dos saldos devedores dos financiamentos habitacionais, visam a contribuir para a manutenção de sólidas práticas de originação de crédito imobiliário no âmbito do SFN, desestimulando a concessão de financiamentos em que haja maior probabilidade de ocorrência de aumento nominal do saldo devedor.

A nova regra prudencial vale somente para operações contratadas a partir de 1º de junho de 2017, portanto sem impactar o estoque de operações anteriormente contratadas.

2.6 Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (IVG-R)

Conhecer a dinâmica dos preços de imóveis é fundamental para o monitoramento macroprudencial e para a avaliação da estabilidade financeira. Vale lembrar o peso que o setor imobiliário teve no desencadeamento da crise financeira internacional de 2007-2008, assim como a relevância desse segmento para a composição da riqueza das famílias.

Criado em março de 2013, calculado e divulgado pelo BC, o Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (IVG-R) teve por objetivo verificar a evolução de longo prazo dos preços de imóveis residenciais. Baseado em dados com abrangência nacional e com histórico a partir de março de 2001, o índice permite conhecer mais profundamente a dinâmica dos preços de imóveis residenciais, trazendo benefícios para o monitoramento macroprudencial do BC. Além disso, também colabora para a redução da assimetria de informações entre os agentes do mercado.

O índice é calculado a partir das variações mensais das medianas dos valores das garantias dos imóveis financiados em cada conjunto de municípios das regiões utilizadas para o cálculo do IPC-A ponderadas pelo número de domicílios de cada região. Esses valores são informados pelas instituições financeiras ao SCR. O valor das garantias, além de refletir os valores de mercado, segue procedimentos padronizados de avaliação, o que

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favorece a comparação72. Ainda, a série é suavizada por um filtro de Hodrick–Prescott a fim de identificar a tendência de longo prazo do comportamento dos preços.

Entretanto, a partir de 2015, uma alteração na forma de registro de operações da Faixa 1 do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) do governo federal fez com que um grande influxo de operações de baixo valor passasse a ser informado no SCR. Uma alteração tão relevante na composição da amostra fez com que a mediana dos preços se deslocasse para baixo, enviesando o cálculo do índice.

Considerando as características das operações da Faixa 1 do PMCMV e a representatividade dos subsídios envolvidos, optou-se pela inclusão de um filtro para retirar da amostra operações de financiamento de baixo valor. O critério adotado foi descartar todas as operações cujo valor contratado seja inferior ao salário mínimo vigente acumulado em um ano.

Na mesma oportunidade, foram realizados ajustes adicionais, tais como revisão das regiões consideradas com a inclusão de Campo Grande e Vitória73 no cálculo e a aplicação de novos filtros de qualidade dos dados que permitiram, inclusive, aumentar a quantidade de operações consideradas.

2.7 Mediana de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (MVG-R)

A fim de ampliar as informações disponibilizadas para a sociedade, de forma a permitir uma avaliação mais ampla desse mercado, passou-se a divulgar outra informação: a mediana nacional do valor em reais de todas as garantias registradas no SCR, aplicando todos os filtros de qualidade considerados no cálculo do Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R). No entanto, diferentemente do IVG-R, não existe filtro de região geográfica, sendo considerados todos os municípios brasileiros onde houve financiamento imobiliário.

Essa informação permite conhecer o comportamento da mediana do valor em reais das garantias sem a aplicação do filtro de Hodrick–Prescott e das ponderações de imóveis por região. Entre outras possibilidades, esse novo índice permite aos pesquisadores aplicar outros tipos de filtro ou ainda comparar os valores dos imóveis a métricas de renda, por exemplo.

72/ A avaliação dos imóveis urbanos é regida pela Norma Brasileira nº 14.653-1 e 14.653-2 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

73/ A fim de manter as mesmas regiões utilizadas para o cálculo do IPC-A.

Anexo estatístico

120

240

360

480

600

Gráfico 2.6.1 – IVG-R e melhorias

IVG-R original IVG-R nova série

índice(mar/01 = 100)

Anexo estatístico

36

72

108

144

180

R$ mil

Gráfico 2.7.1 – MVG-R

MVG-R

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461. Systemic Risk in Financial Systems: a feedback approach Thiago Christiano Silva, Michel Alexandre da Silva e Benjamin Miranda TabakAgosto/2017 Resumo Texto completo

455. Volatility Risk Premia and Future Commodity ReturnsJosé Renato Haas Ornelas e Roberto Baltieri MauadAbril/2017 Resumo Texto completo

454. Expected Currency Returns and Volatility Risk Premia José Renato Haas OrnelasJaneiro/2017 Resumo Texto completo

Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade financeira

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Apêndice

Administração do Banco Central do Brasil

Siglas

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 57

Administração do Banco Central do Brasil

Diretoria Colegiada

Ilan Goldfajn Presidente

Carlos Viana de CarvalhoDiretor

Isaac Sidney Menezes FerreiraDiretor

Maurício Costa de MouraDiretor

Otávio Ribeiro DamasoDiretor

Paulo Sérgio Neves de SouzaDiretor

Reinaldo Le GrazieDiretor

Sidnei Corrêa MarquesDiretor

Tiago Couto BerrielDiretor

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Outubro 2017 | Relatório de Estabilidade Financeira | 58

Siglas

ABNT Associação Brasileira de Normas TécnicasACCPBrasil Adicional Contracíclico de Capital PrincipalACPConservação Adicional de Conservação de Capital PrincipalACPContracíclico Adicional Contracíclico de Capital PrincipalACPSistêmico Adicional de Importância Sistêmica de Capital PrincipalATA Ativo total ajustadoBC Banco Central do BrasilBCBS Basel Committee on Banking Supervision BCE Banco Central Europeu BIS Bank for International SettlementsBM Banco Múltiplo BM&FBovespa Bolsa de Valores, Mercadorias e FuturosBoJ Banco do Japão Câmara BM&FBovespa Câmara de Derivativos da BM&FBovespaCDB Certificado de Depósito Bancário CMN Conselho Monetário Nacional CNAE Código Nacional de Atividade Econômica Comef Comitê de Estabilidade Financeira CPSS/BIS Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações

Internacionais DFAST Dodd-Frank Act Stress Testing DI Depósitos InterfinanceirosD-SIB Domestic Systemically Important Bank (instituição sistemicamente importante em

nível doméstico)EMBI+Br Prêmio de risco Brasil EUA Estados Unidos da AméricaFed Federal ReserveFGV Fundação Getúlio VargasFOMC Federal Open Market Committee FPR Fator de Ponderação de RiscoGIR Gerenciamento de capital IB Índice de Basileia IBC-Br Índice de Atividade Econômica do Banco Central ICC Índice de Confiança do Consumidor ICP Índice de Capital Principal ICS Indicador de Confiança de Serviços IF Instituições financeiras IL Índice de Liquidez

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ILE Índice de Liquidez EstruturalIMF Infraestruturas do Mercado Financeiro IPR1 Índice de Capital de nível IIVG-R Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais LCR Liquidity Coverage Ratio (Indicador de Liquidez de Curto Prazo)LTV loan-to-value MVG-R Mediana de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais NSFR Net Stable Funding RatioPE Países emergentes PEF Pesquisa de Estabilidade Financeira PFMI Principles for Financial Market Infrastructures (Princípios para Infraestruturas do

Mercado Financeiro)PIB Produto Interno Bruto PMCMV Programa Minha Casa Minha VidaPMEs Pequenas e Médias EmpresasPNADC Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ContínuaPR Patrimônio de Referência RA Razão de Alavancagem RCAP Regulatory Consistency Assessment ProgrammeRDB Recibo de Depósito Bancário RFL Risco Financeiro LíquidoROE Retorno sobre o Patrimônio Líquido RWA Risk-weighted assets (ativos ponderados pelo risco)SAC Sistema de Amortização ConstanteSacre Sistema de Amortização CrescenteSBPE Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo SCR Sistema de Informações de Crédito SFH Sistema Financeiro de HabitaçãoSFN Sistema Financeiro Nacional STN Secretaria do Tesouro Nacional STR Sistema de Transferência de Reservas TC/IOSCO Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores TPF Títulos Públicos FederaisTT Taper tantrumTVM Títulos e valores mobiliáriosVAR Vetor Autorregressivo

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Anexo

Conceitos e metodologias

a) Índice de Liquidez – De conceito similar ao indicador regulamentar Liquidity Coverage Ratio (LCR), Indicador de Liquidez de Curto Prazo, o cálculo relaciona o volume de ativos líquidos detidos pela instituição com o fluxo de caixa estressado (estimativa de desembolsos nos 21 dias úteis subsequentes em cenário de estresse). Instituições com IL superior a um (100%) possuem ativos líquidos suficientes para suportar uma crise de liquidez para o período estimado.

i. Ativos líquidos – Recursos líquidos disponíveis para cada conglomerado/instituição honrar seu fluxo de caixa estressado dos próximos trinta dias. Os ativos líquidos são o somatório dos ativos de alta liquidez, liberação de compulsório e recursos suplementares.

a. Ativos de alta liquidez – Abrangem: i) Títulos Públicos Federais (TPF) em poder da instituição nas posições livre ou recebido como lastro de operações compromissadas (posição doadora/bancada); ii) ações Ibovespa; iii) cotas de fundos de investimento líquidas; iv) folga de caixa; e v) reservas livres.

b. Compulsório liberado – Montante de depósitos compulsórios que será retornado à instituição em decorrência da saída de depósitos estimada no fluxo de caixa estressado.

c. Recursos suplementares – Outras opções para realização de caixa no horizonte do cenário: Certificado de Depósito Bancário (CDB), Recibo de Depósito Bancário (RDB), Depósito Interfinanceiro (DI), posições ativas em estratégias de box, posições doadoras em operações compromissadas lastreadas em títulos privados e cotas seniores de fundos menos líquidas.

ii. Fluxo de caixa estressado – Estimativa do montante de recursos de que as instituições necessitariam dispor no horizonte de trinta dias, sob o cenário de estresse. As análises consideram o perfil dos depósitos (fuga de depósitos de varejo), as perspectivas de resgate antecipado (fuga de depósitos de atacado), a análise do estresse de mercado e o fluxo contratado.

a. Perfil dos depósitos (fuga de depósitos de varejo) – Estima o valor necessário para cobrir a possibilidade de saque de clientes em depósitos, poupança, operações de box, títulos de emissão própria e operações compromissadas com títulos privados.

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b. Resgate antecipado (fuga de depósitos de atacado) – Estimativa do valor necessário para cobrir a possibilidade de solicitação de resgate antecipado das posições passivas efetuadas com as três maiores contrapartes de mercado.

c. Estresse de mercado – Estima o valor necessário para cobrir perdas decorrentes do impacto de oscilações de mercado nas posições de ativos líquidos ou naquelas que podem gerar saída de recursos da instituição em cenário de crise. As perdas compreendem: i) chamadas adicionais de margem de garantias; ii) pagamentos de ajustes ou liquidação de contratos vincendos no cenário de estresse; iii) perda de valor de ativos líquidos.

d. Fluxo contratado – Vencimentos e ajustes de posições em derivativos e posições ativas e passivas com agentes de mercado, com vencimento dentro do horizonte do cenário.

b) Índice de Liquidez Estrutural (ILE) – O cálculo é uma razão entre recursos estáveis disponíveis – parcela do capital e dos passivos com a qual a instituição pode contar no horizonte de um ano – e recursos estáveis necessários – parte dos ativos, incluindo-se ativos fora de balanço, que devem ser financiados por recursos estáveis por possuírem prazos longos e/ou baixa liquidez. Instituições com ILE igual ou superior a um (100%) são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. A metodologia de cálculo baseia-se nas regras do Net Stable Funding Ratio (NSFR), que será exigido como cumprimento mínimo obrigatório a partir de 2018.

i. Recursos estáveis disponíveis – Recursos que permanecerão na instituição pelo prazo mínimo de um ano. As principais fontes de recursos estáveis dos bancos são o capital; os passivos com prazo residual acima de um ano sem possibilidade de resgate antecipado, independentemente da contraparte; e as captações sem vencimento ou com vencimento inferior a um ano, oriundas de clientes de varejo.

ii. Recursos estáveis requeridos – Montante necessário de recursos estáveis para financiar as atividades de longo prazo das instituições financeiras, estimado, portanto, em função das características de liquidez e do prazo dos ativos. Os principais ativos de longo prazo são a carteira de crédito com vencimento acima de um ano, os ativos em default, os títulos e valores mobiliários de baixa liquidez ou depositados em garantia em câmaras, o ativo permanente e os itens deduzidos do capital regulatório.

c) Índice de Basileia – Conceito internacional definido pelo Comitê de Basileia que consiste na divisão do PR pelo RWA. No Brasil, até setembro de 2013, a relação mínima exigida era dada pelo fator “F”, de acordo com a Resolução CMN nº 3.490, de 29 de agosto de 2007, e com a Circular BC nº 3.360, de 12 de setembro de 2007. Devia-se observar o valor de 11% para instituições financeiras e para as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto para as cooperativas de crédito singulares não filiadas a cooperativas centrais de crédito. A partir de outubro de 2013, a relação mínima exigida passou a ser dada pela Resolução CMN nº 4.193, de 1º de março de 2013, que define um calendário de convergência, o qual especifica a exigência de 11% do RWA de outubro de 2013 a dezembro de 2015; 9,875% em 2016; 9,25% em 2017; 8,625% em 2018; e 8% a partir de 2019. A esse requerimento, soma-se o ACP, conforme mencionado no Índice de Capital Principal (ICP).

d) Índice de Capital de nível I (IPR1) – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, foi formulado um requerimento mínimo para o capital nível I a partir de outubro de 2013, correspondente a 5,5% do RWA, de outubro de 2013 a dezembro de 2014, e a 6% a partir de janeiro de 2015. A esse requerimento, soma-se o ACP, conforme mencionado no ICP.

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e) Índice de Capital Principal (ICP) – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, foi elaborado um requerimento mínimo para o capital principal a partir de outubro de 2013, correspondente a 4,5% do RWA. Além desse requerimento, foi instituído, pela referida Resolução, o ACP, que corresponde à soma das seguintes parcelas: ACPConservação, ACPContracíclico e ACPSistêmico. O valor da parcela ACPConservação

resulta da aplicação dos seguintes percentuais ao montante RWA: zero, até 31 de dezembro de 2015; 0,625%, de janeiro a dezembro de 2016; 1,25%, de janeiro a dezembro de 2017; 1,875%, de janeiro a dezembro de 2018; e 2,5%, a partir de janeiro de 2019. O valor da parcela ACPContracíclico fica limitado aos seguintes percentuais máximos em relação ao montante RWA: zero, até 31 de dezembro de 2015; 0,625%, de janeiro a dezembro de 2016; 1,25%, de janeiro a dezembro de 2017; 1,875%, de janeiro a dezembro de 2018; e 2,5%, a partir de janeiro de 2019. O valor da parcela ACPSistêmico fica limitado aos seguintes percentuais máximos em relação ao montante RWA: zero, até 31 de dezembro de 2016; 0,5%, de janeiro a dezembro de 2017; 1,0%, de janeiro a dezembro de 2018; e 2,0%, a partir de janeiro de 2019.

f) Razão de Alavancagem (RA) – Conceito internacional definido pelo Comitê da Basileia que consiste na divisão do Capital Nível I pela Exposição Total. No Brasil, a Circular BC nº 3.748, de 27 de fevereiro de 2015, estabeleceu a metodologia de apuração da RA. O indicador busca complementar o conjunto de requisitos prudenciais atualmente existentes por meio de uma medida simples, transparente e não sensível a risco. Até o presente momento, não há requerimento regulatório definido para a RA. A expectativa é que seja estabelecido um requerimento mínimo em 2018, após a análise dos dados informados pelas instituições financeiras e a realização de estudos sobre o tema.

1. Testes de estresse – Introdução

Os testes de estresse são simulações utilizadas para estimar as perdas resultantes da materialização de eventos extremos, porém plausíveis, e avaliar a resiliência de uma instituição ou do sistema financeiro. Dessa forma, é possível determinar o impacto sobre o capital das instituições tendo em vista situações de perdas não esperadas e, portanto, não aprovisionadas, causadas por grandes oscilações em variáveis macroeconômicas.

Para cada cenário de estresse são calculados os novos índices de exigência de capital: IB, IPR1 e ICP. Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a qualquer um dos três índices de exigência de capital, e considerada insolvente no caso de perda total do capital principal. É avaliada a relevância das instituições que ficariam desenquadradas e/ou tecnicamente insolventes, e o capital adicional necessário para que nenhum banco viesse a desenquadrar-se é calculado. A relevância é apurada com base na representatividade do ativo total ajustado (ATA) da instituição em relação ao universo analisado.

Além disso, os efeitos positivos dos possíveis acionamentos dos gatilhos de nível II e de capital complementar, em que os valores são convertidos em capital principal, são considerados como receita. No cálculo da necessidade de capital foi considerada a exigência do ACP, segundo os limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na Resolução nº 4.193, com redação dada pela Resolução nº 4.443, de 29 de outubro de 2015. Finalmente, são consideradas as potenciais alterações de constituição e de uso de crédito tributário e suas implicações na apuração do PR, de acordo com a Resolução CMN nº 4.192, de 1º de março de 2013, e alterações posteriores.

Conceitos e metodologias – Estresse de capital

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1.1 Construção de cenários

São projetados quatro cenários macroeconômicos para os seis trimestres seguintes à data de referência, com base em informações do mercado, por meio de um modelo de Vetor Autorregressivo (VAR) ou na repetição de variações históricas. As variáveis endógenas do VAR são a atividade econômica (média trimestral do Índice de Atividade Econômica do Banco Central – IBC-Br), a taxa de câmbio do dólar americano (média trimestral da paridade real vs. dólar), a taxa de juros (média trimestral da Selic) e a inflação (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA acumulado em doze meses). São variáveis exógenas o prêmio de risco Brasil (média trimestral do spread EMBI+Br calculado pelo J.P. Morgan Chase) e os juros americanos de dez anos (média trimestral do yield das Treasuries, com vencimento para dez anos). O desemprego é tratado como uma variável externa ao modelo VAR (média trimestral).

O cenário base é construído com as medianas das expectativas do mercado (Focus) para as seguintes variáveis componentes do VAR: atividade econômica, juros, taxa de câmbio e inflação. A correlação entre o Produto Interno Bruto (PIB) – expectativa Focus– e o IBC-Br (VAR) é considerada igual a 1. O prêmio de risco Brasil é considerado constante durante os seis trimestres de projeção. Já os juros americanos de dez anos assumem trajetórias de acordo com o cenário adverse desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve System em seu relatório “2017 Supervisory Scenarios for Annual Stress Tests Required under the Dodd-Frank Act Stress Testing Rules and the Capital Plan Rule”1.

O cenário VAR Estressado assume a pior inadimplência e reestruturação obtidas com base em quatro projeções feitas por meio do modelo VAR. Em cada uma dessas projeções, considera-se individualmente a trajetória da projeção de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) a um nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa: atividade econômica mais baixa e câmbio, juros e inflação mais altos). As demais variáveis são estimadas pelas funções impulso-resposta, que contêm as relações de dependências entre elas, com o objetivo de manter a consistência de cada projeção.

O cenário de quebra estrutural é estimado pelas trajetórias de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) ao nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa, de maneira análoga à apresentada acima). O intervalo de projeção de cada variável depende apenas da variância de sua projeção e desconsidera as relações de dependências entre as variáveis.

A partir de junho de 2017, a escolha do cenário histórico teve seu critério alterado. São simuladas repetições do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de seis trimestres desde julho de 2003. Cada uma dessas janelas é inserida nos painéis dinâmicos, e o cenário histórico escolhido é aquele que resultaria no mais baixo lucro antes do imposto de renda.

Os cenários VAR Estressado e Quebra Estrutural assumem trajetórias para a yield das Treasuries de dez anos de acordo com o cenário adverso desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve System2. As trajetórias do EMBI+Br e do desemprego são projetadas simulando a repetição da maior variação histórica ocorrida para cada série.

1.2 Simulação de estresse

A partir de junho de 2017, o Banco Central adotou nova metodologia para avaliar os efeitos dos testes de estresse. Duas alterações foram introduzidas: a incorporação das linhas de resultado e a estimativa da despesa de provisão com base no conceito de ativos problemáticos.

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As linhas de resultado foram divididas em cinco grandes grupos que buscam representar o desempenho operacional, apresentado na demonstração de resultados do exercício (o resultado não operacional foi considerado nulo no teste):

1) Resultados de Juros: receitas de crédito e de TVM e despesas de provisão e captação;

2) Resultados de não Juros: efeitos de marcação a mercado, hedges e variação cambial;

3) Receitas de Serviços;

4) Resultados de Participações Societárias; e

5) Despesas Administrativas.

No grupo “Resultado de Juros”, as receitas de crédito e de TVM e as despesas de captação foram modeladas com base no comportamento da Selic. O volume de captações é ajustado em função do volume observado na carteira de crédito, variando na proporção 1:1. Despesas de provisão são estimadas com base na evolução dos ativos problemáticos, resultante da aplicação de cenários.

O grupo “não Juros” é modelado sob a forma de um choque de risco de mercado, aplicado sobre as posições observadas na data-base de início do teste. Do cenário de estresse são obtidos os fatores de risco estressados, e as posições são então recalculadas. O resultado é a diferença entre a marcação baseada no cenário de estresse e a posição inicial observada. Esse resultado é então igualmente dividido ao longo dos quatro trimestres iniciais e incorporado no resultado final.

As linhas “Receitas de Serviços”, “Resultados de Participações Societárias” e “Despesas Administrativas” são modeladas por meio de painéis obtidos com base nas mesmas varáveis macroeconômicas utilizadas na elaboração de cenários.

2. Análises de sensibilidade – Introdução

Análises de sensibilidade complementam os testes de estresse, pois têm por objetivo avaliar o efeito individual de fatores de risco, de natureza creditícia ou de mercado, que possam afetar o PR das instituições provocando eventual necessidade de capital. Análises desse tipo são conduzidas por meio de variações incrementais em fatores de risco individuais, mantendo-se os demais inalterados.

2.1 Análise de sensibilidade – Variação nos fatores de risco de mercado

As exposições sujeitas à variação de taxas de juros (taxas de juros prefixadas e taxas dos cupons de moedas estrangeiras, índices de preços e taxa de juros) classificadas na carteira de negociação são estressadas. As posições por vértices (de 21 dias úteis a 2.520 dias úteis) são recalculadas após a aplicação de choques, e o impacto financeiro sobre o PR é avaliado. Além disso, essas posições estressadas originam novas parcelas de requerimento de capital para risco de taxas de juros (RWAJUR1, RWAJUR2, RWAJUR3, RWAJUR4). No caso das taxas prefixadas (RWAJUR1), a cada curva de juros gerada por meio de um choque, novos parâmetros regulamentares de exigência de capital são calculados.

As exposições em ouro, em moeda estrangeira e em ativos e passivos sujeitos à variação cambial são também estressadas. Em seguida, o impacto sobre o PR e o requerimento de capital (RWACAM), provocados pelas oscilações

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das taxas de câmbio, são recalculados. Assume-se que todas as exposições sujeitas à variação cambial seguem as oscilações percentuais ocorridas para o cenário de estresse do dólar americano.

Os choques alteram, individualmente, as taxas de juros e de câmbio em parcelas de 10%, variando-as para baixo até 10% e para cima até 200% da taxa original. Após os impactos, são calculados novos índices de capital e avaliada a situação de desenquadramento e de solvência das instituições.

2.2 Análise de sensibilidade – Aumentos em ativos problemáticos

Essa análise busca medir o efeito do aumento em ativos problemáticos sobre o PR das instituições. Em incrementos percentuais, ativos problemáticos são elevados em até 200% do seu valor original. Em cada incremento, a despesa de provisão é estimada, e PR e RWACPAD sofrerão impactos decorrentes do aumento da provisão. Após esses impactos, são calculados os novos índices de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e solvência das instituições.

2.3 Análise de sensibilidade – Redução de preços de imóveis residenciais

O objetivo dessa análise é estimar os impactos de quedas nos preços de imóveis residenciais sobre o PR das instituições financeiras que possuem carteiras de financiamento habitacional às pessoas físicas. Para isso, considera-se que os preços dos imóveis são atualizados, antes das simulações, pelo Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R), incorporando as variações medidas pelo índice desde a data de contratação do financiamento até a data da simulação.

Aplicam-se choques adversos nos preços, simulando uma sequência de quedas em degraus de 5 p.p. Para cada queda, consideram-se como inadimplentes os financiamentos em que o valor do imóvel dado em garantia seja inferior a 90% do saldo devedor.

Estima-se que a perda em cada financiamento inadimplente é igual à diferença entre o saldo devedor e o valor presente do montante recuperado com a venda do imóvel em leilão. Para se apurar o montante recuperado, tomam-se os preços dos imóveis residenciais após a aplicação dos choques, descontando-se os impostos, as despesas de manutenção e as relacionadas ao leilão. Adicionalmente, considera-se que a venda em leilão somente ocorrerá mediante aplicação de deságio proporcional à queda de preço provocada pelo choque aplicado. O valor presente desse montante é obtido descontando-o pela taxa de juro futuro de um ano negociada na BM&FBovespa. Os novos índices de capital regulatório de cada instituição são calculados considerando as perdas estimadas associadas a cada degrau de queda de preços dos imóveis.