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Relatório Científico 2012 Relatório Científico do Evento II Curso de Extensão em Segurança Pública, realizado com o auxílio da Pró-reitoria de Extensão (PROEx) da Unesp 16/05/2012

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Relatório Científico

2012

Relatório Científico do Evento II Curso de Extensão em Segurança Pública, realizado com o auxílio da Pró-reitoria de Extensão (PROEx) da Unesp

16/05/2012

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RELATÓRIO CIENTÍFICO

II Curso de Extensão em Segurança Pública: A juventude e os seus desafios

na contemporaneidade

Coordenação Geral: Luís Antônio Francisco de Souza, Luiz Vicente Justino Jácomo.

Coordenação e Elaboração de Conteúdo: Joana D´Arc Teixeira, Mario Thiago Ruggieri

Neto, Marcos Roberto Gehring, Rosângela Teixeira Gonçalves, Tiago Bicudo Castro, Rodolfo

Arruda Leite de Barros

Equipe de Trabalho: Bruna Marielle Celestino Palhuzi, Bóris Ribeiro de Magalhães, César

Grusdat de Assis, Dimitri Barros Guandalim, Érika Cristina Vieira Costa Tamae, Luiz

Vicente Justino Jácomo. Maíra Barbosa Guerreiro, Maíra Cirino de Carvalho, Maíra Ferraz

Torelli, Marcos Roberto Gehring, Naiara Talitta T. Serrano Martins, Thiago Teixeira

Sabatine, Victor Santiago Ruy Coutrin, Raquel Barros de Melo

Apoio: Pró-reitoria de Extensão da Unesp (PROEx – Unesp)

Realização: Observatório de Segurança Pública (OSP), Grupo de Estudos em Segurança

Pública (GESP), Grupo de Estudos da Condição Juvenil (GEJUVE), Instituto de Políticas

Públicas da Unesp de Marília (IPPMar), Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho –

UNESP – Campus Marília

Página do Evento: www.fundepe.com/novo/juventude

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Sumário

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4

2 ESTRUTURA E REALIZAÇÃO DO EVENTO ................................................................. 5

2.1 ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................. 5

2.2 DIVULGAÇÃO ................................................................................................................ 5

2.3.O EVENTO ....................................................................................................................... 6

2.4 PRÓXIMOS PASSOS ...................................................................................................... 6

3 RELATO DOS MÓDULOS MINISTRADOS..................................................................... 8

3.1 MÓDULO 1: PROBLEMATIZAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE A

JUVENTUDE ......................................................................................................................... 8

3.1.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA ............................................................................... 8

3.1.2 PRINCIPAIS QUESTÕES LEVANTADAS ......................................................................... 9

3.1.3 DISCUSSÕES E INTERVENÇÕES ................................................................................. 10

3.1.4 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 10

3.2 MÓDULO 2: JUVENTUDE COMO ALVO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ................. 11

3.2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA ............................................................................. 11

3.2.2 PRINCIPAIS QUESTÕES LEVANTADAS ....................................................................... 12

3.2.3 DISCUSSÕES E INTERVENÇÕES ................................................................................. 14

3.2.4 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 15

3.3 MÓDULO 3: JUVENTUDE E DROGAS ...................................................................... 15

3.3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA ............................................................................. 16

3.3.2 PRINCIPAIS QUESTÕES LEVANTADAS ....................................................................... 17

3.3.3 DISCUSSÕES E INTERVENÇÕES ................................................................................. 19

3.3.4 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 19

3.4 MÓDULO 4: JUVENTUDE E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ............................. 20

3.4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMA ............................................................................. 20

3.4.2 PRINCIPAIS QUESTÕES LEVANTADAS ....................................................................... 22

3.4.3 DISCUSSÕES E INTERVENÇÕES ................................................................................. 23

3.4.4 CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................... 23

4 PERFIL E PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES ACERCA DO EVENTO ............... 25

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES .................................................................................. 25

4.2 PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES ACERCA DO EVENTO ................................ 26

4.2.1 MÓDULO 1 ................................................................................................................. 26

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4.2.2 MÓDULO 2 ................................................................................................................. 27

4.2.3 MÓDULO 3 ................................................................................................................. 28

4.2.4 MÓDULO 4 ................................................................................................................. 29

4.2.5 GERAL ....................................................................................................................... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 33

APÊNDICE A – MODELO DA FICHA DE AVALIAÇÃO POR MÓDULO ................... 34

APÊNDICE B – MODELO DA FICHA DE AVALIAÇÃO GERAL ................................. 35

APÊNDICE C – MODELO DO QUESTIONÁRIO ............................................................. 36

ANEXO A – FOTOS DO EVENTO ...................................................................................... 37

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1 INTRODUÇÃO

O II Curso de Extensão em Segurança Pública, que teve como tema ‘A juventude e os

seus desafios na contemporaneidade’, vem para cumprir o seu papel enquanto evento de

extensão: proporcionar o intercâmbio de conhecimento entre a universidade e a sociedade.

Intercâmbio sim, uma vez que a ideia aqui é trazer o público - sejam profissionais da área,

acadêmicos de outras instituições ou interessados na temática - para discutir e participar

ativamente da construção de conhecimento, contribuindo com suas experiências para o

enriquecimento do debate acerca da temática da juventude.

Essa edição do evento representa também, de certa forma, a continuação do primeiro

curso, que teve um caráter mais abrangente em relação aos assuntos abordados.

Estrategicamente, optamos por apresentar nessa ocasião um panorama mais amplo dos temas

relacionados à segurança pública e, ao final, fizemos uma consulta com os participantes,

através de questionários, onde cada um dos inscritos poderia sugerir temas para um próximo

curso. A temática da juventude foi a mais sugerida, o que nos orientou na organização do

segundo curso.

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2 ESTRUTURA E REALIZAÇÃO DO EVENTO

2.1 ORGANIZAÇÃO

A organização do evento se deu da seguinte forma: uma vez que a demanda pelo tema

da juventude foi a mais expoente entre os participantes do primeiro curso, realizamos reuniões

prévias para definir quais as perspectivas abordaríamos dentro desse tema. Decidimos então

abordar a questão da juventude a partir de quatro temas:

Problematização das representações sobre a juventude

Juventude como alvo de políticas públicas

Juventude e drogas

Juventude e medidas Socioeducativas

A partir daí, dividimos o curso por módulos, e passamos a elaborar o conteúdo

programático de cada um desses temas. Nesse momento, a contribuição do Grupo de Estudos

da Condição Juvenil (GEJUVE)1 e do Observatório da Condição Juvenil (OCJovem)

2,

projetos vinculados ao Observatório de Segurança Pública (OSP)3, foi de extrema

importância. Foi feito o levantamento do estado da arte da produção acadêmica relacionada à

juventude, mais especificamente sobre cada uma dessas temáticas. Não por acaso, o primeiro

módulo buscou delinear exatamente quais as concepções e representações envolvidas nas

noções de jovem, adolescente, menor de idade, etc., uma vez que a problematização dessas

categorias - quase sempre utilizadas a partir das concepções jurídicas e penais - é necessária,

para que se entendam os outros módulos propostos para além dessas concepções.

2.2 DIVULGAÇÃO

Após essa etapa, passamos ao processo de divulgação do evento. Para tanto, lançamos

mão da rede de contatos construída a partir da primeira edição do evento, onde solicitamos

aos que tivessem interesse para que nos fornecesse o endereço de correio eletrônico. Além

disso, contamos com o apoio da Fundação Para o Desenvolvimento de Ensino, Pesquisa e

Extensão (FUNDEPE), que ficou a cargo da elaboração do site, confecção de certificados e

divulgação do curso. Também divulgamos o curso junto às instituições que constituem nosso

1 http://www.observatoriodeseguranca.org/gejuve/programa

2 http://www.observatoriodeseguranca.org/ocjovem

3 http://www.observatoriodeseguranca.org/

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público alvo, tais como conselho tutelar, delegacias de polícia, delegacia da mulher e

Fundação Casa, Por fim, utilizamos as redes sociais para divulgar os detalhes do evento ao

maior número possível de interessados.

2.3.O EVENTO

O Evento ocorreu nos dias 25 (quarta) e 26 (quinta) de abril, e contou com a

participação de 60 pessoas, entre inscritos e ouvintes. Estipulamos o horário das 14:00hrs às

18:00hrs, dividido entre dois módulos por dia. O tempo total de duração de cada módulo foi

estipulado em 80 minutos de exposição, seguido por 20 minutos de debate. No intervalo entre

os módulos, oferecemos um coffee break aos participantes. A questão do tempo disponível

para o debate também foi decidida através das sugestões dos participantes do primeiro curso,

que enfatizaram a necessidade e a importância desse momento. Além do mais, é objetivo da

organização do evento transformar o Curso de Extensão em Segurança Pública em um fórum

permanente de discussões.

Durante o evento, disponibilizamos aos participantes uma ficha de avaliação por

módulo (APÊNDICE A), uma ficha de avaliação geral (APÊNDICE B) e uma ficha de

informações a serem preenchidas por cada participante (APÊNDICE C). Através destes

questionários, pudemos avaliar a percepção de cada participante sobre o evento de modo geral

e sobre cada módulo especificamente. Além disso, a intenção é utilizar as informações

colhidas através destas fichas para a definição da temática, elaboração do conteúdo e

organização da próxima edição do curso. Através da ficha de informações, pretendemos

montar uma rede de contatos com interessados e profissionais da área de segurança pública, a

fim de articular novos projetos e práticas dentro do tema.

2.4 PRÓXIMOS PASSOS

A partir das opiniões e avaliações dos participantes sobre o evento, a próxima etapa é

definir e estruturar o próximo evento. Levando em conta as temáticas mais demandadas pelos

inscritos, devemos realizar reuniões prévias a partir do mês de junho para definir o conteúdo

do próximo curso. Devemos, ainda, levando em consideração a percepção dos participantes

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em relação à metodologia empregada no curso, definir se continuaremos a trabalhar seguindo

a mesma estrutura ou pensar em novas formas de organização.

De posse da rede de contatos criada a partir dos questionários preenchidos pelos

participantes, intencionamos estreitar os laços de comunicação entre o OSP e as instituições

representadas a partir desses participantes. A ideia é criar um relacionamento dinâmico e

permanente entre os profissionais das mais diversas áreas da segurança pública, para além dos

eventos realizados semestralmente. Além disso, a exemplo do primeiro curso, iremos

disponibilizar aos inscritos uma cartilha elaborada pelos pesquisadores e colaboradores do

OSP. Na cartilha, que já se encontra em processo de diagramação, disponibilizaremos textos

autorais, dados analisados, referências bibliográficas e links para consulta.

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3 RELATO DOS MÓDULOS MINISTRADOS

3.1 MÓDULO 1: PROBLEMATIZAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE A

JUVENTUDE

Este primeiro tema do curso discutiu, a partir de um ponto de vista sociológico, o que

é a juventude e como ela é representada socialmente. Entende-se usualmente por juventude

uma fase de vida intermediária entre a infância e o mundo adulto, quando o indivíduo está

biologicamente maduro, mas psicologicamente e socialmente sujeito a uma série de

transformações. Ela refere-se à noção de ciclos de vida, sendo encarada como momento de

transição entre etapas distintas da vida, a infância e a maturidade. No entanto, a juventude é

um fenômeno social, sendo seu tempo de duração e significados socialmente definidos. Além

disso, a juventude não se destacou como categoria social em todas as formações sociais

historicamente construídas. Portanto, a própria existência da juventude enquanto categoria é

socialmente determinada. Geralmente encarada como momento de transição difícil entre duas

etapas da vida, a juventude costuma ser considerada um momento de crise do indivíduo,

quando este se torna rebelde, sonhador, irresponsável. Essa noção de crise de transição pode

obscurecer alguns fatos materiais e simbólicos da experiência concreta da juventude, que é, de

fato, uma construção social, ou seja, resulta das relações sociais, culturais e políticas dentro

das quais se torna possível vivenciar a juventude. Assim, a juventude não é uma mera etapa

de transição, mas uma experiência pela qual os indivíduos passam e que reflete a forma como

estes são produzidos pelo contexto social.

3.1.1 Considerações sobre o tema

Este tema foi apresentado pelos pesquisadores Mário Ruggieri Neto e Rosângela

Teixeira Gonçalves, ambos bacharéis em Ciências Sociais, membros do GEJUVE e

colaboradores do OCJovem. A intenção dos palestrantes foi analisar sociologicamente aquilo

que é entendido por juventude. Apesar de ser usado cotidianamente, este termo demanda por

cuidados conceituais mais apurados, para além da visão corriqueira de que se refere

exclusivamente a um dado período do tempo biológico do ser humano. Mais do que isso, é

trazer a tona os vários sujeitos e situações que se encontram por trás dessa categoria.

Além disso, a categoria de juventude geralmente é concebida a partir de uma noção

jurídica, na qual se discute a responsabilidade e a responsabilização de determinado indivíduo

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pelos seus atos. Tamanha é a falta de clareza no termo, que, conforme demonstrou os

palestrantes, há várias definições do que pode ser entendido por juventude. A Organização

Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, entende a adolescência como o período de vida entre

os 10 e os 19 anos, enquanto que concebe a juventude como o intervalo de tempo entre os 15

e os 24 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por sua vez, entende a infância

como o período de vida entre o nascimento e os 12 anos incompletos, enquanto trata por

adolescência o período entre os 12 e os 18 anos de idade.

Assim, a proposta apresentada pelos palestrantes foi a de se problematizar a forma

pela qual as representações conceituais desses indivíduos – adolescente, jovem, responsável –

condicionam as representações sociais acerca da juventude. Ainda segundos os palestrantes, é

necessário entender de que forma as recorrentes representações sociais da juventude

condicionam as políticas públicas para esse grupo social.

3.1.2 Principais questões levantadas

Ruggieri e Teixeira trouxeram algumas informações importantes para se compreender

a discussão em sua complexidade e amplitude. A primeira delas diz respeito ao grande

número de medidas de controle social, tais como internação compulsória para crianças e

adolescentes usuários de crack e toque de recolher, vêm sendo instituídas por meio de leis

municipais ou portarias de juízes da infância e da juventude. Além disso, os pesquisadores

abordaram a forma como as políticas públicas voltadas à juventude são elaboradas em sua

grande maioria a partir das concepções jurídicas, biológicas e psicológicas, onde o jovem

aparece sempre como sujeito tutelável e passível de controle.

Assim, é possível identificar a noção pastoral a partir do qual a juventude é concebida,

sempre como objeto de intervenção, tutela, direcionamentos e controle. Segundo Ruggieri e

Teixeira, por não ter voz nem rosto, a juventude não aparece como sujeito ativo no processo

de elaboração, formulação e aplicação de políticas públicas que deveriam ser a ela

direcionadas. A juventude expressa uma relação social assimétrica necessária entre o poder

dos adultos sobre as novas gerações: uma adultocracia. Hoje, o tratamento político dos jovens

reflete essa assimetria, pois o jovem é sempre tutelado pelo adulto.

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3.1.3 Discussões e intervenções

A discussão proposta pelos expositores se deu no sentido de ilustrar, a partir de dados

estatísticos e estudos realizados sobre o tema, a dupla problemática em relação ao tratamento

dispensado aos jovens na elaboração de políticas públicas. Por um lado, essa categoria se

apresenta como a mais vulnerável e vitimizada, refém de um sistema escolar precarizado e da

dificuldade de inserção no mercado de trabalho, além de se apresentar como principal vítima

de violência e de mortes violentas. Por outro, figura como um problema social, cujo ócio,

rebeldia e irresponsabilidade merecem ser controlados e vigiado cada vez mais e de forma

mais incisiva. De acordo com os palestrantes, é possível afirmar que as representações sobre a

juventude delimitam a capacidade e o alcance das políticas públicas e do tratamento dado pelo

Estado a esse significativo segmento da população.

No debate, os participantes levantaram dúvidas sobre formas efetivas de diminuir a

vulnerabilidade desse grupo de indivíduos, além de questionar meios efetivos de mudar o

papel social desses jovens, de alvo para formuladores de políticas voltadas a eles. A exposição

da condição de vítima dos jovens também teve apelo entre os participantes, que sugeriram

uma análise mais detida nos gráficos apresentados pelos palestrantes. Da figura de algoz,

perceberam que a ocorrência de atos violentos contra estes indivíduos vem aumentando

significativamente no decorrer das décadas.

3.1.4 Considerações e recomendações

Diante dos dados apresentados pelos palestrantes, pode-se constatar que os jovens no

Brasil enfrentam dificuldades de ingresso e permanência no mercado de trabalho, na educação

e na cultura. Além disso, constituem-se como o principal alvo de mortes violentas, além de

não receberem tratamento adequado no tocante às políticas de saúde e lazer, o que os torna

uma categoria altamente vulnerável. A condição juvenil no Brasil demanda a incursão da

categoria juventude na formulação e proposição de políticas públicas. Portanto um dos

principais desafios às políticas públicas é conceituar o que compreendemos como juventude e

identificar o jovem como sujeito participativo do processo político.

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3.2 MÓDULO 2: JUVENTUDE COMO ALVO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

O que são políticas públicas? O que são políticas públicas para a juventude? Como

estão se desenvolvendo as políticas públicas para a juventude no Brasil? A dificuldade em

conceituar o que é a juventude, faz com que na maior parte das vezes, as políticas públicas

para a juventude contemplem ações destinadas exclusivamente pela idade cronológica ou

pelos limites da maioridade legal, voltando-se para os segmentos populacionais em situação

de “exclusão”. As políticas públicas, neste sentido, reforçam e ampliam as representações

negativas sobre determinado grupo de jovens e, assim, submetem os mesmos à lógica da

punição, do controle e da violência simbólica. Sendo assim, uma ampla maioria fica fora do

horizonte das políticas públicas e uma importante parcela dos jovens não são concebidos

como sujeitos de direitos. A partir desse ponto de vista, este módulo procurou compreender as

políticas públicas específicas e formular perguntas aos propositores e gestores de políticas

públicas, bem como pretende ser ponto de partida para que setores da sociedade civil possam

buscar reformulações no quadro atual. A contribuição do tema, então, se deu no sentido de

garantir que as políticas públicas para a juventude atendam efetivamente as demandas dos

jovens, acolhendo- as efetivamente na esfera política e social.

3.2.1 Considerações sobre o tema

Também apresentado pelos pesquisadores Mário Ruggieri Neto e Rosângela

Gonçalves, esse segundo módulo foi, de certa forma, um desdobramento do primeiro. Se no

primeiro módulo os expositores problematizaram as noções de juventude, aqui a proposta foi

a de mostrar de que forma uma conceptualização limitada do termo influencia diretamente a

elaboração de políticas públicas voltadas para esse público. Baseando-se nas discussões feitas

principalmente pelos acadêmicos que se debruçam sobre a temática da educação, a sugestão

dos palestrantes foi a incorporação da noção de condição juvenil como forma de compreensão

dessa categoria e instrumento para elaboração de políticas públicas.

A argumentação se deu no sentido de que, ao superar as limitações das categorizações

em curso (influenciadas em larga medida por uma noção biológica e psiquiátrica), é possível

conceber a juventude não mais como uma determinada faixa etária ou estado de passagem no

processo de envelhecimento e deterioração do corpo humano. Assim, ao optar pela categoria

de condição juvenil, é possível apreender esses indivíduos que se encontram nessa condição a

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partir de suas vivências cotidianas, considerando sua dinâmica social e levando em conta sua

historicidade e seus horizontes de atuação sobre a sociedade. Em outras palavras, é possível

conceber a condição juvenil como sendo vivida de forma desigual e diversa em função da

origem social, dos níveis de renda, das disparidades socioeconômicas entre campo e cidade,

entre regiões do mesmo país, países, continentes e hemisférios.

A partir da problematização das conceptualizações sobre a juventude, os palestrantes

inseriram também a discussão sobre aquilo que a sociologia vem compreendendo nos últimos

anos por políticas públicas, a partir da noção de que estas não limitam somente a programas

governamentais direcionados, mas representam um conjunto de ações articuladas com

recursos próprios (financeiros e humanos), e que envolve uma dimensão temporal (duração) e

alguma capacidade de impacto. Ao abordar essas duas dimensões – condição juvenil e

políticas públicas – os palestrantes demonstraram que, no Brasil, as políticas públicas voltadas

para os jovens e adolescentes são, em grande medida, pautadas por uma conceptualização

irregular da juventude, ignorando a existência da juventude enquanto grupo específico e com

necessidades específicas.

Segundo os expositores, para que as políticas públicas consigam atingir os seus

objetivos, é preciso levar em consideração o ponto de vista e a fala dos próprios jovens e

adolescentes e, a partir daí, dar voz aos sujeitos que são alvos dessas políticas públicas –

sujeitos com participação e efetivação nas políticas públicas. Infelizmente, só há

implementação de políticas públicas sob um olhar pejorativo sobre essa juventude, a partir de

um olhar “adultalizado” sobre a questão. As políticas públicas precisam contemplar as

desigualdades da condição juvenil, mas estas acabam, na maioria das vezes, incorporando e

colocando em práticas medidas de controle e punição, inserindo a condição juvenil a partir de

representações negativas e pejorativas

3.2.2 Principais questões levantadas

Como exemplo de políticas públicas concebidas a partir dessas representações

negativas, os palestrantes trouxeram os seguintes exemplos ocorridos no Brasil:

a) O Código de Menores (1927) era sustentado por bases conceituais que apoiavam a

exclusão em decorrência de uma estigmatização que trazia dois tipos de infância

desiguais. Seu foco era crianças e adolescentes em situações irregulares ou miseráveis,

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seu público alvo era o menor que se encontrava a margem da sociedade- menor

infrator, menor abandonado. O termo ‘menor’ é insuficiente e revogado em 1990 pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), onde se buscou perceber, pela primeira

vez, crianças e adolescentes como sujeitos de direito. Ao Estado, cabia a promulgação

de seus direitos (12 a 18 anos) e a formulação de políticas públicas específicas,

passando da doutrina da situação irregular para a doutrina da proteção integral.

b) O ECA, apesar de inovador em determinados pontos, ainda exclui uma parcela da

população que ainda vive na condição de jovem, um reconhecimento de que a criança

e o adolescente necessitam de proteção apenas até os 18 anos. A juventude ainda não

aparece com uma identidade própria e ainda está associada à ideia de problema e

ameaça. Os programas governamentais não possuem um centro regulador, nem faixa

etária definida. Suas propostas carregavam mecanismos de controle social como a

ocupação do tempo livre como forma de conter as possibilidades de violência.

A partir de 2000, segundo os expositores, esboça-se um novo panorama com uma série de

medidas que buscavam enxergar o jovem como sujeito de direito – a juventude era algo que

valia se investir e controlar. Assim, há a percepção de que o jovem é um sujeito social e de

que a juventude não é apenas uma transição que termina em algum momento, mas possui

conteúdos concretos e variáveis de acordo com o lugar ocupado pelo indivíduo na estrutura

social, fazendo parte do processo de formação do indivíduo e de como ele busca estratégias,

de acordo com as possibilidades oferecidas pela sociedade, para a construção de sua história.

Os palestrantes trouxeram ainda uma série de medidas onde, ainda que timidamente, é

possível identificar uma preocupação com uma política nacional da juventude que eleva esta à

categoria de sujeitos de direitos e programas específicos:

a) Há a implementação da Lei n. 11.129, que institui a Política Nacional de Juventude

(PNJ), com a criação do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), da Secretaria

Nacional de Juventude (SNJ) que formula, coordena e integra variados programas

sociais voltados para os jovens.

b) No âmbito jurídico tem-se o reconhecimento das limitações do ECA, no que diz

respeito às necessidades dos jovens acima dos 18 anos de idade. Assim, aprovada e

promulgada em julho de 2010, a PEC 042/2008, conhecida como a PEC da Juventude,

foi transformada na Emenda Constitucional 65, inserindo o termo "jovem" no texto

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constitucional, no capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais, a exemplo do que

já ocorria com a criança, o adolescente e o idoso.

c) O Programa Nacional Segurança Pública com Inclusão (PRONASCI), ligado ao

Ministério da Justiça, configurou uma proposta de criação de um recorte etário no

sistema prisional, visando separar condenados jovens, de 18 a 24 anos, dos mais

velhos, como reconhecimento das necessidades específicas da população jovem no

que diz respeito às tentativas de ressocialização.

d) E por fim há o Estatuto da Juventude – documento que se apresenta como forma de

garantir os direitos da juventude, e estabelece a responsabilidade das três esferas

governamentais na execução das políticas juvenis. Foi aprovado na Câmara dos

Deputados em outubro de 2011 e pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania

do Senado Federal em fevereiro de 2012. Aguarda apreciação das comissões de

Assuntos Sociais; de Cultura, Esporte e Lazer e de Direitos Humanos e Legislação

Participativa do Senado.

3.2.3 Discussões e intervenções

Ainda não se é possível avaliar os impactos e efeitos reais dessas mudanças no Brasil.

Na hipótese levantada pelos pesquisadores, há a necessidade de inserir a real juventude nesse

processo. Ao se pensar em políticas públicas voltadas para a juventude é preciso que se leve

em conta seu público alvo, dando voz aos sujeitos, descentralizando a implementação,

coordenação e avaliação desses programas sociais, culminando na criação de Secretarias

Municipais da Juventude por todo o país. Na visão dos expositores, para que os resultados

dessas políticas públicas sejam positivos é preciso a participação ativa dos jovens na

discussão de suas problemáticas através da busca de parceiras articuladas em conselhos ou

fóruns da juventude, tanto em nível estadual quanto municipal, para que esses posam ser

atores e participar da formulação, implementação, execução e avaliação das políticas públicas

que venha a contemplá-los.

O público que assistia se manifestou em diversos momentos acerca do tema debatido.

Havia a presença de psicólogos, teólogos, agentes da Fundação Casa, assistentes sociais,

professores e diversos outros segmentos que trabalham diretamente com a juventude. Mais do

que questionamentos, houve uma discussão para enriquecimento do debate promovido, sendo

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levantados temas como a juventude da cidade de Marília, o problema do tráfico e utilização

de drogas, a presença de uma instituição familiar esfacelada, políticas públicas voltadas para a

assistência social, a precariedade das condições de trabalho dos educadores, a inserção dos

jovens no mercado de trabalho e o fracasso escolar. Em determinado momento chegou-se,

inclusive, a debater as limitações trazidas pela estrutura de classes na sociedade capitalista

para a formulação de medidas práticas. Por fim, foi apresentada a necessidade de se procurar a

apresentar respostas efetivas a esses problemas.

3.2.4 Considerações e recomendações

Com base na apresentação, ficou evidente a necessidade de se pensar políticas

públicas que não se pautem pelo viés da ‘adultocracia’, que seja capaz de ultrapassar as

medidas pautadas para além das medidas punitivas e de controle, com foco em uma relação

dialogal sobre o assunto, de modo a quebrar paradigmas que são insuficientes. Discutir

políticas públicas não leva, necessariamente, a uma discussão sobre a divisão de classes de

nossa sociedade e um rompimento com a mesma, mas o objetivo da análise apresentada é

justamente apresentar possibilidades de fazermos com que esses jovens participem ativamente

da formulação e aplicação de políticas públicas voltadas a seus interesses e necessidades.

Apesar de se colocar o jovem dentro da discussão do âmbito público, ainda seguimos

modelos antigos de assistencialismo. A apresentação deixou clara a necessidade de mudanças

imediatas nas concepções e formulações de políticas públicas que se relacionam com a

juventude, além da urgência de se pensar questões de intervenções efetivas, a partir das

políticas públicas, onde o conhecimento e a experiência funcionem como arcabouço para

mudanças reais.

3.3 MÓDULO 3: JUVENTUDE E DROGAS

No Brasil, a primeira lei que estabelecia uma política em relação às drogas foi

constituída em 1976, durante o regime militar e vigorou até 2006. A política antidrogas

vigente implicava na criminalização da produção, da distribuição e do consumo de drogas

com propósitos não terapêuticos, salvo exceções, como cigarros e bebidas alcoólicas. A lei de

2006, base da atual política nacional sobre drogas, prevê para o porte de drogas voltado ao

consumo pessoal, medidas e penas alternativas além de uma ampla e complexa gama de

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estratégias voltadas para o tratamento da dependência e para a prevenção em relação ao uso e

consumo. O Relatório Nacional Antidrogas de 2008, informou que o Brasil tem 870 mil

usuários de cocaína, sendo o segundo maior mercado das Américas, atrás apenas dos Estados

Unidos. As drogas atingem vários grupos sociais, mas pode ser considerada de proporções

epidêmicas para a faixa da juventude. O jovem, direta ou indiretamente, é alvo preferencial da

propaganda relacionada às drogas lícitas e está fortemente vulnerável às drogas ilícitas,

constituindo um grande problema em relação ao cigarro e ao álcool. Nas representações

sociais, ele é constantemente relacionado com o consumo e o com tráfico de drogas, neste

sentido, na maior parte das vezes o jovem é tido como vítima ou algoz quando os assuntos são

drogas ou violência. Desse modo, o presente tema buscou compreender, a partir de uma

abordagem sociológica, qual o sentido das associações entre jovens, drogas e o tráfico, de

forma a não reduzir ou simplificar a realidade, muito menos demonizar a juventude. Desse

modo é preciso formular políticas públicas capazes de fazer frente ao problema, que visem

prevenção, compreensão, cuidado e tratamento aos usuários e “dependentes”, colocando os

jovens também como sujeitos de suas próprias ações e protagonistas das políticas públicas.

3.3.1 Considerações sobre o tema

A apresentação do tema ‘Juventude e Drogas’ foi dividida em três palestrantes: Thiago

Bicudo Castro, bacharelando em Ciências Sociais e membro do GEJUVE, Marcos Roberto

Gehring, mestrando do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Unesp/Marília e

Rodolfo Arruda Leite de Barros, doutor em Ciências Sociais pela Unesp/Marília, nessa

ordem. Cada um deles abordou a temática das drogas a partir de um enfoque específico,

seguindo um ordenamento lógico, cujo tema posterior era desdobramento do anterior. O

palestrante Thiago Castro iniciou a apresentação introduzindo alguns conceitos fundamentais

para o entendimento dos debates existente sobre juventude e drogas no Brasil; para tanto,

abordou aspectos do cenário e contexto onde se inserem esses debates sob a perspectiva

sociológica.

Castro iniciou sua apresentação apontando como a juventude é comumente

representada, sempre a partir de noções pejorativas e desqualificadoras e mostrando que estas

representações sociais geralmente reforçam as associações que relacionam a juventude a uma

maior incidência do consumo de drogas, colocando esses indivíduos como um problema

social e objeto de intervenção jurídica e punitiva. Castro mostrou que a noção de juventude

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possui uma dualidade: ao mesmo tempo em que se compreende o jovem como o “futuro do

mundo”, os mesmos também são estigmatizados como indivíduos rebeldes, imaturos,

violentos e transgressores. Isso é passado do mundo adulto para o universo juvenil de forma

verticalizada. Segundo o expositor, os jovens cruzam em sua trajetória com experiências que

o irão particularizar em relação a outros jovens que circulam nos mesmos ou diferentes

espaços. A origem de classe, etnia, gênero, entre outros fatores irão constituir especificidade

que construirão uma identidade jovem particular. Dessa forma, o palestrante enfatiza que não

existe uma “juventude”, na forma singular, porém, “juventudes”, forma plural, à medida que

cada jovem constitui um universo.

Já Rodolfo Barros propôs-se a traçar em sua palestra os mecanismos através do qual se

elaboram, historicamente, políticas sobre a prevenção de drogas. Também se propôs a discutir

a visão estereotipada, moralizante e legalista às quais a juventude é frequentemente associada,

seja pela imprensa, seja pelo aparato socioeducativo e jurídico como um todo. Como terceiro

e último ponto de sua apresentação, Barros abordou a questão das propostas que caminham no

sentido de descriminalização de certos tipos de drogas ilegais, analisando de forma crítica as

políticas de segurança pública sobre drogas orientadas para a área da saúde.

Marcos Gehring, por sua vez, tratou da questão das drogas a partir de sua

conceptualização, definindo de forma precisa o que é isso que chamamos de ‘drogas’.

Utilizando a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), de que ‘droga’ seria

qualquer tipo de substância, química ou natural, que cause efeitos no funcionamento do corpo

humano. Gehring ainda trouxe para o debate a questão do alto índice de consumo de álcool e

tabaco pelos jovens e adolescentes, bem como a proposta de um mapa completo do consumo

de drogas no Brasil, que poderia servir de instrumento para a elaboração de políticas públicas

de redução dos danos provocados eventualmente pelas drogas.

3.3.2 Principais questões levantadas

As questões levantadas pelos três palestrantes, apesar de focarem em abordagens

diferentes, caminharam todas em um mesmo apontamento: na urgente necessidade de se

dissolver as relações preconceituosas e estigmatizantes entre juventude e drogas. Tanto Castro

como Barros evidenciaram em suas falas que há certo tabu ao se falar da questão dos

entorpecentes, onde o discurso dessas substâncias não permite uma abordagem que leve em

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conta as sensações prazerosas advindas do consumo de drogas. Citando um exemplo de

Thiago Castro, se no mundo adulto, o álcool e o cigarro são amplamente incentivados, uma

visão moralista e legalista recai sobre a relação destas substâncias entre os adolescentes.

Barros apontou também que, quando o jovem entra no mundo das drogas, o mesmo

contraria uma trajetória idealizada pelas instituições ou pelo universo adulto, ou seja, a droga

é um desvio para o projeto de vida que lhe fora designado. Assim a dependência química

assume características de desvantagem para quem a utiliza. Porém a inserção dos jovens no

vicio das drogas é marcado por aspectos da vida contemporânea, tais como: o exagero,

excessos que produzem alterações nos indivíduos, o foco no presente em detrimento do

futuro. Assim, o comportamento juvenil diante das drogas é uma resposta ao contexto em que

o mesmo está inserido, e não pelo fato dos jovens serem sujeitos “anormais”.

Outra questão levantada pelos palestrantes e que merece ser mencionada é a comum

veiculação em meios de comunicação de noticias relacionada ao crescimento da violência

juvenil e esta, frequentemente, traz o consumo de drogas como grande vilão desta realidade.

Na verdade, conforme apontou Gehring, o que ocorre é que a diferenciação entre tráfico e

consumo de drogas habita em uma esfera nebulosa no imaginário coletivo, onde não há

qualquer diferenciação entre estas ações. Dessa forma, ideias preconceituosas e com teor

altamente punitivo permeiam o imaginário popular em relação a essa questão.

O tratamento em relação à questão da juventude e das drogas é altamente punitivo e

segue o caminho da repressão e criminalização. De acordo com Gehring, as políticas públicas

não são eficazes no tratamento e combate as drogas e ao tráfico, pois ela não busca

compreender como se deu a vontade de experimentar a droga em cada dependente, ou seja,

exclui-se uma noção de compreensão das especificidades dos indivíduos. Na formulação das

políticas publicas existe um choque de gerações, pois quem formula as mesmas são adultos

que partem do principio que o jovem é curioso por natureza, desconsiderando a oferta e a

facilidade de acesso ao produto.

Sistematizando de forma sintética, podemos destacar na fala dos três palestrantes os

seguintes pontos norteadores:

a) Os dados sobre a elevada mortalidade juvenil no Brasil evidenciam a necessidade de

uma investigação mais apurada sobre a causa dessas mortes, inserindo na

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problematização a noção de que esses jovens constituem um setor vulnerável da

sociedade em relação às questões de segurança pública;

b) As políticas públicas de combate às drogas devem priorizar medidas voltadas a

prevenção, pois é na idade jovem que se deve agir para conter o ciclo vicioso. Assim É

necessário o desenvolvimento de políticas que visem desestimular o primeiro

consumo.

c) Dados de pesquisas que apontam o aumento do consumo de drogas pelos jovens

somente demonstram a necessidade de se abordar a questão através da ótica da saúde

pública, para além da criminalização, da punição e do controle do jovem usuário.

3.3.3 Discussões e intervenções

Os principais pontos de debate da apresentação dos três pesquisadores se pautaram na

noção da problemática acerca das representações existentes sobre a juventude, bem como na

forma pela qual essas representações afetam diretamente as instituições ligadas à saúde,

educação e segurança pública Os participantes do curso, em especial aqueles que

desenvolvem projetos e serviços juntamente com os jovens, se mostraram de certa forma

sensíveis a discussão, evidenciando em seus relatos e exposição a dificuldade em trabalhar

com essa categoria de indivíduos para além das noções jurídicas e corretivas. Outro ponto de

debate tocou na polêmica da descriminalização das drogas, e nas limitações das políticas

públicas orientadas a abordar a questão das drogas a partir da saúde pública.

3.3.4 Considerações e recomendações

Com base na apresentação, evidenciou-se o quão urgente é a necessidade de se libertar

de modelos distorcidos que representem a juventude como uma fase de transição, que muitas

vezes favorecem a adoção de posturas que visam tutelar e controlar os jovens tendo em vista

que esses são agentes transgressores em potencial. Ao contrário, é preciso ter em mente que a

juventude é uma fase onde se desenvolvem importantes aspectos da personalidade. É um

período, portanto, no qual o Estado pode atuar com políticas públicas de forma proativa e

também pode buscar compreender melhor o que pensam e quais são as diferenças e as

dificuldades que os jovens entendem como as mais relevantes.

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3.4 MÓDULO 4: JUVENTUDE E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) presencia-se um

marco na história da infância e da juventude em nosso país. Assiste-se a mudanças em torno

da sua condição: da condição de menor abandonado a uma nova condição, a de sujeitos de

direitos e a de cidadãos em desenvolvimento. Ao estabelecer disposições para a

implementação e execução de políticas públicas de proteção integral, o ECA determina novas

concepções para o atendimento de jovens autores de ato infracional. As medidas

socioeducativas expostas no artigo 112 – conjunto das medidas restritivas de liberdade e das

medidas não restritivas - foram pensadas com a intenção de desestimular as práticas de atos

infracionais, estipulando a necessidade em caráter de urgência de políticas públicas que

tivessem como propostas a criação de espaços educativos e de um conjunto de práticas

socioeducativas que colaborassem para a (re) educação. Um dos principais focos consistiu na

defesa pela mudança nas instituições destinadas à internação. Que essas instituições

deixassem de ser vistas como espaços de reclusão, de punição e de violência e se tornassem

unidades educacionais. Em outros termos, que a socioeducação fosse entendida enquanto

processo de afirmação positiva desses jovens, como um processo que lhes assegurassem a

cidadania. Em consonância com essas prerrogativas, destaca-se a Lei 12.594/2012, que

institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), instrumento,

composto por princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico,

financeiro e administrativo, que visa à inserção de jovens em práticas pedagógicas, em

detrimento de práticas de caráter punitivo e de violações de direitos. O presente tema

contribuiu com reflexões em torno das políticas de implementação e execução das medidas

socioeducativas destinadas a adolescentes autores de atos infracionais, a partir da reflexão

sobre a juventude no Brasil. Mais especificamente, as perguntas deste tema foram: quais os

desafios trazidos pelo SINASE? Quais as contribuições para a constituição de novos

paradigmas no atendimento da juventude em cumprimento de medida socioeducativa? Como

os jovens são representados nas políticas públicas do setor?

3.4.1 Considerações sobre o tema

A palestrante desse tema foi a doutoranda do programa de pós-graduação da

Unesp/Marília, Joana D’Arc Teixeira. A proposta da pesquisa foi discutir questões

relacionadas à relação entre os jovens e as medidas socioeducativas, numa tentativa de

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compreender o fenômeno do elevadíssimo número de medidas privativas de liberdade,

chamadas pelo ECA de internação de jovens, no Estado de São Paulo. Uma problemática

fundamental norteou e conferiu o tom da exposição: qual o perfil dos jovens alvos dessas

políticas repressivas?

Conforme expôs Teixeira, o controle social advindo das políticas públicas

repressivas é constatado como o paradigma fundamental para o tratamento dos jovens no

sistema socioeducativo: aqueles que não se enquadram nas convenções sociais ou por algum

motivo são levados a entrar em conflito com a lei e, assim realizar alguma infração, são

inseridos no sistema socioeducativo paulista, chamado Fundação Casa, herdeiro da antiga

Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (FEBEM). Este último foi criado no período

da Ditadura Militar (1964-1985) e tinha características centralizadoras e pautadas

fundamentalmente na repressão, com base num discurso científico que tinha como objetivo

harmonizar esses jovens, vistos como problema ou potencial problema para o conjunto da

sociedade.

Nessa mesma análise, a palestrante demonstrou a forma através da qual as medidas

socioeducativas são travestidas de políticas públicas e, conforme trabalhado nos outros

módulos, não são direcionadas a todos os jovens ou não os têm como sujeitos ativos na sua

elaboração. Como resultado, tais políticas apresentam um corte em relação ao público alvo, e

incidem com muita força sobre as camadas mais vulneráveis, confirmando a tese de

especialistas de que as instituições prisionais e as instituições policiais focam os mais fracos,

os vulneráveis e os com menos condições de oferecer resistência.

As medidas aplicáveis em caso de infração, de acordo com o ECA são de dois tipos

fundamentais:

a) medidas restritivas de liberdade, que são as medidas de liberdade assistida,

semiliberdade e internação compulsória;

b) medidas não-restritivas de liberdade, que são as advertências, prestação de serviços à

comunidade e a obrigação de reparar o dano.

Conforme demonstrou a expositora, ainda que as primeiras sejam tidas como último

recurso, é possível perceber, através dos estudos e dados apresentados, que estas tem se

tornado a primeira opção, resultando em uma notável expansão do sistema socioeducativo.

Como exemplo, Teixeira utilizou o estado de São Paulo, cujo sistema socioeducativo

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praticamente todo o território estadual. Nos últimos 20 anos, os orçamentos cresceram

consideravelmente, seguidos de mudanças no modelo de gestão, assim como a quantidade de

jovens cumprindo medidas de restrição de liberdade. Atualmente, São Paulo possui mais de

50 unidades de internação e, mesmo com todo o investimento e incentivo para expansão,

faltam vagas para atender a crescente demanda.

Segundo os dados mostrados pela palestrante, 79% dos adolescentes de São Paulo

estão em internação definitiva, isto é, já com sanção aplicada pelo sistema de justiça. Nem

sempre os jovens internados cometeram algum ato infracional considerado grave: grande

parte dos adolescentes foi institucionalizada por cometer crimes contra o patrimônio, como

roubo, assalto e tráfico de entorpecentes, e não homicídios ou crimes contra a vida. Tal

evidência torna ainda mais problemática a situação. É possível perceber, a partir destas

considerações, que as medidas alternativas não ocupam posição de prioridade na aplicação de

penas para os jovens, evidenciando mais uma vez a vulnerabilidade desse grupo de

indivíduos.

3.4.2 Principais questões levantadas

Durante a palestra, foram discutidas estatísticas, pesquisas e outros trabalhos

produzidos relativos à internação de jovens, conjuntamente com as políticas públicas e

governamentais que tem tido como alvo setores da juventude. Numa perspectiva comparativa

com a realidade de outros Estados, a palestrante demonstrou o enorme nível de complexidade

da realidade paulista. As políticas públicas paulistas, de maneira geral, negam os direitos

consagrados no texto constitucional. Entretanto, cabe salientar que mudanças administrativas

na Fundação Casa e quebra de paradigmas têm possibilitado ações que caminhem rumo ao

respeito à complexidade sociocultural dos jovens, e o conceito de incompletude institucional

procura apontar para a quebra de rigidez, embora ainda esteja de maneira muito incipiente e

insatisfatória.

Seguindo essa linha, instituições como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) caminham rumo à

desinstitucionalização da juventude, ou seja, retirar os jovens do interior das instituições totais

(sistema de internação) para uma maior ressocialização e inserção do agente social na

sociedade, trabalhando em forma de rede e protegendo seus direitos, devido ao

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reconhecimento de trabalhos e pesquisas que demonstram o impacto dessas medidas punitivas

de privação de liberdade nas relações sociais.

Foram discutidas boas práticas no sistema socioeducativo, que são os Domingos em

Casa, o Núcleo de Atendimento Integrado (NAI) e práticas que respeitem os direitos humanos

no interior da Fundação Casa. A palestrante ressaltou ainda que a socioeducação, apesar de

tudo, convive diariamente com a punição. A palestrante finalizou afirmando que existe um

discurso que usa a justificativa de garantir direitos como um instrumento para endurecimento

e garantia da punição. Em outras palavras: internar para garantir direitos, porém garantir

direitos internando, segregando e estigmatizando?

3.4.3 Discussões e intervenções

Após as apresentações, os ouvintes realizaram questões que problematizaram a

questão da punição dos jovens. Os custos e a necessidade de medidas punitivas foram

discutidos de maneira mais prolongada e majoritariamente. Havia presença de psicólogos,

teólogos, agentes da Fundação Casa, assistentes sociais, professores e diversos outros

segmentos que trabalham diretamente com a juventude, o que acabou por enriquecer o debate

através dos relatos e experiências dos participantes.

Entre os temas levantados, é possível destacar a necessidade de dados e estudos para

compreender e mensurar a realidade dos jovens em situação de internação. Também ficou

evidente a necessidade de se repensar as políticas públicas de caráter socioeducativo em geral,

bem como a compulsoriedade das medidas de privação de liberdade utilizadas de maneira

indiscriminada. Além disso, também se discutiu a urgência em se adentrar os espaços da

Fundação Casa, a fim de garantir uma maior fiscalização e transparência nas medidas tomadas

diariamente nestas instituições,

3.4.4 Considerações e recomendações

Através da apresentação de Teixeira, pode-se notar que a sociedade brasileira,

pautada no medo, acaba por retirar os direitos dos jovens e retroceder nos avanços

conquistados historicamente com relação à juventude. O controle social, por este viés, acaba

sendo o fator norteador fundamental. A cultura do controle intensifica-se, sempre para vigiar

e punir o tanto quanto possível. A população internada foi problematizada assim como o seu

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crescimento constante. O endurecimento penal é legitimado por setores da sociedade, como os

canais midiáticos e as políticas públicas que têm como foco e corte de ação a repressão.

As mudanças na Fundação Casa e as políticas municipais de juventude foram muito

problematizadas. O tráfico de entorpecentes e a questão da dependência química imprimiam

certo tom ao debate, direcionando o conteúdo das reflexões. O público percebeu que tais

questões se interligam de várias maneiras e, portanto, a questão dos jovens é transdisciplinar e

necessita de olhares aprofundados que possam enxergar por vários ângulos antes de se realizar

uma análise e, sobretudo, captar a percepção dos próprios jovens enquanto agentes de direito.

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4 PERFIL E PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES ACERCA DO EVENTO

Nessa seção, propomo-nos a analisar o perfil dos participantes inscritos nos eventos, a

partir de informações sobre gênero, idade, formação acadêmica, atuação profissional,

participação em organizações da sociedade civil (cf. APÊNDICE C). Também avaliamos a

percepção de cada um dos inscritos em relação à qualidade do evento de modo geral (cf.

APÊNDICE B) e de cada um dos módulos em particular (cf. APÊNDICE A).

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES

Em relação ao perfil dos participantes, pode-se afirmar que a maioria constitui-se de

profissionais da área de educação, com idade com maior recorrência na faixa dos 35-50 anos,

distribuídos proporcionalmente entre homens e mulheres. O curso teve grande abrangência

nas cidades vizinhas, em grande parte devido à rede de contatos estabelecida já na primeira

edição do curso. Estiveram presentes pessoas de São José do Rio Preto, Presidente Prudente,

Pompéia, Lins, Lençóis Paulista, Assis, Garça, Oscar Bressane, Promissão, Alvinlândia e até

mesmo da capital do estado.

Dentre as instituições representadas, podemos citar a Delegacia da Mulher, o Centro

de Estudos da Educação e Saúde da Unesp, a Faculdade João Paulo II e o Conselho Tutelar,

todos da cidade de Marília; o Centro de Referência em Assistência Social (CREAS) de

Presidente Prudente e de Oscar Bressane; a Secretaria de Educação de Lençóis Paulista e de

Lins; a FATEC de Garça; a unidade da Fundação Casa em Alvinlândia e as comunidades

terapêuticas ‘Esquadrão da Vida’ e ‘Cristo: Verdade que Liberta’, ambas de Pompéia.

A formação acadêmica predominante entre os participantes foi o nível superior

completo, com participantes graduados em Serviço Social, Ciências Sociais, Administração,

Psicologia, Filosofia, Biologia, Direito, Letras e, mais recorrente, Pedagogia. Somente três

pessoas fazem ou fizeram parte de algum Conselho de Segurança (CONSEG) de sua cidade,

constatação que demanda por uma divulgação mais efetiva nessas entidades em uma próxima

edição do curso. Também chama a atenção a pouca procura de profissionais da Fundação

Casa, entidade que consideramos como público alvo dos nossos esforços na divulgação.

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4.2 PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES ACERCA DO EVENTO

A seguir, uma série de gráficos referentes à percepção dos participantes acerca da

qualidade do conteúdo, da organização e da estrutura do curso. Posteriormente à análise

detalhada por módulo, apresentaremos também a análise da percepção referente ao curso em

geral.

4.2.1 Módulo 1

Conforme modelo disponível no APÊNDICE A, o primeiro questionamento aos

participantes diz respeito à qualidade da metodologia utilizada no módulo. Vale ressaltar que

o que entendemos aqui por metodologia refere-se à estruturação da apresentação de cada

módulo. Conforme já exposto na seção introdutória, foram estabelecidos 80 minutos de

apresentação e 20 minutos de debate para cada módulo, utilizando o recurso de slides para a

exibição de gráficos, dados e tabelas referentes a cada um dos temas abordados.

Gráfico 1 – Opinião acerca da metodologia utilizada no Módulo I

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

A partir da análise do Gráfico 1, observa-se um alto grau de satisfação em relação à

metodologia empregada, sendo que quase a totalidade (96%) dos participantes considerou a

metodologia ‘boa’ ou ‘ótima’. A segunda pergunta da ficha de avaliação por módulo diz

respeito à relevância do tema abordado no módulo. Analisando o Gráfico 2, é possível

perceber que, novamente, a aprovação foi geral, uma vez que 52% dos participantes

consideraram o tema abordado ‘muito relevante’ e outros 44% consideraram o tema

‘relevante’.

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Gráfico 2 – Opinião sobre a relevância do tema abordado no Módulo I

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Ainda com base na ficha preenchida pelos participantes, os temas sugeridos dentro de

uma próxima abordagem da temática são: novas perspectivas; juventude negra; inclusão dos

jovens na elaboração de políticas públicas; jovem tutelado; indisciplina; sexualidade; jovem e

sociedade; vulnerabilidade juvenil e formação escolar

4.2.2 Módulo 2

Os próximos gráficos dizem respeito à opinião dos participantes em relação à

metodologia utilizada na apresentação do Módulo 2, bem como sobre a relevância do

conteúdo abordado.

Gráfico 3 – Opinião acerca da metodologia utilizada no Módulo 2

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

De acordo com o Gráfico 3, nota-se que, ainda que a quantidade de pessoas que

consideraram a metodologia ‘ótima’ não ter sido tão expressiva, o Módulo 2 também foi

massivamente aprovado, com uma boa avaliação por praticamente a totalidade dos

participantes.

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Gráfico 4 – Opinião sobre a relevância do tema abordado no Módulo 2

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Já em relação à relevância do tema abordado, o Gráfico 4 indica que, de forma ainda

mais expressiva, mais da metade dos participantes (58%) consideraram a temática ‘muito

relevante’, enquanto outros 38% consideraram ‘relevante’. Nesse módulo, tivemos a sugestão

de trabalhar, futuramente, os seguintes temas: políticas públicas voltadas para jovens com

necessidades especiais; políticas públicas que abarquem a questão étnico-racial; papel da

família; interesse do jovem na participação política; exemplos de políticas públicas no Brasil;

políticas públicas de redução de danos; processo de formulação de políticas públicas;

experiências bem sucedidas em políticas públicas voltadas para a juventude; problematização

do SINASE; visitas íntimas para jovens em condição de privação de liberdade; o papel da

instituição escolar e prioridades para a formulação de políticas públicas.

4.2.3 Módulo 3

Sobre este terceiro módulo, as avaliações foram as seguintes:

Gráfico 5 – Opinião acerca da metodologia utilizada no Módulo 3

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Em relação à metodologia, este foi o único módulo que recebeu uma avaliação regular

por parte dos participantes, e também o pior avaliado de forma geral. Mesmo assim, se

somarmos a porcentagem de pessoas que consideraram a metodologia ‘boa’ ou ‘ótima’, o

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total chega a 86% de avaliações positivas. Em compensação, a avaliação dos participantes foi

extremamente positiva em relação ao conteúdo abordado, conforme mostra o Gráfico 6:

Gráfico 6 – Opinião sobre a relevância do tema abordado no Módulo 3

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Como é possível notar, a temática abordada nesse módulo (juventude e drogas) foi a

que obteve o maior reconhecimento em relação a sua relevância. Do total, 77% dos

participantes consideraram a temática ‘muito relevante’, enquanto os outros 23%

consideraram-na ‘relevante’. Entre as sugestões de temas abordados, destacam-se: medidas de

combate às drogas; políticas públicas relacionadas às drogas; drogas nas instituições

escolares; prevenção e legislação sobre drogas; tratamento de dependentes químicos na região

de Marília e mecanismos de prevenção e tratamento de usuários de drogas.

4.2.4 Módulo 4

Este módulo foi o que recebeu as melhores avaliações por parte dos participantes, seja

em relação à metodologia utilizada ou em relação à temática abordada (juventude e medidas

socioeducativas).

Gráfico 7 – Opinião acerca da metodologia utilizada no Módulo 4

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Como é possível perceber, a totalidade dos participantes avaliou de forma positiva a

metodologia utilizada durante a apresentação, sendo que 35% a consideraram ‘ótima’. O

Gráfico 8, a seguir, mostra a percepção dos participantes em relação ao tema abordado:

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Gráfico 8 – Opinião sobre a relevância do tema abordado no Módulo 4

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Nota-se, a partir dos resultados das avaliações, que a totalidade dos participantes

atestou a importância do tema abordado, sendo que um total de 70% dos participantes avaliou

a escolha da temática como ‘muito relevante’. Entre as sugestões de abordagens futuras,

podemos destacar: privação de liberdade e formação social dos jovens; projetos pedagógicos;

dinâmica e funcionamento da Fundação Casa; dados sobre a aplicação de medidas

socioeducativas na região de Marília e aprofundamento da discussão sobre incompletude

institucional.

4.2.5 Geral

Utilizando como base os dados obtidos através da ficha de avaliação geral do curso

(APÊNDICE B), podemos notar, através do Gráfico 9, abaixo, que a totalidade dos

participantes avaliou de forma positiva a estrutura e a organização do evento, sendo que 40%

dos participantes avaliaram como ‘ótima’ e outros 60% como ‘boa’:

Gráfico 9 – Opinião sobre a estrutura e organização do curso em geral

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Já em relação ao aproveitamento, é possível perceber através do Gráfico 10 que o

módulo melhor avaliado foi o de número 3, que abordou a temática da juventude drogas,

tendo recebido 8 indicações pelos participantes:

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Gráfico 10 – Aproveitamento por módulos (apontamentos individuais)

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Já o Gráfico 11 nos mostra quais foram os temas (dentre os sugeridos pela comissão

organizadora) mais apontados como sugestão para um próximo curso.

Gráfico 11 – Temas indicados para o próximo curso (dentre os sugeridos)

Fonte: Dados coletados a partir das fichas de avaliação do curso

Como é possível perceber, os três temas que receberam o maior número de menções se

relacionam diretamente com a questão da juventude. São eles: Educação de jovens infratores;

Violência escolar e Bullying e Cyberbullying, com 11, 10 e 9 menções, respectivamente. Não

por acaso, esses três temas contemplam diretamente a demanda do público presente nessa

edição do curso, que, de acordo com o perfil já analisado anteriormente, consistiu em grande

parte em educadores e socioeducadores. A problemática do crime organizado e do tráfico de

drogas aparece logo em seguida, com 5 e 6 menções, respectivamente. Entre os temas

sugeridos livremente pelos participantes, é possível destacar: Adolescência e família; Alvos e

metas para a solução dos problemas abordados; Racismo e preconceito e Privação de

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liberdade. Todos os participantes afirmaram ter interesse em participar de uma próxima

edição do eventos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em vista dos objetivos propostos e dos resultados obtidos, é possível afirmar que o

evento cumpriu com as expectativas. Prova disso foi a grande participação de profissionais da

área de segurança, educadores e pesquisadores que compareceram ao evento, participando

ativamente das discussões e demonstrando grande interesse pelas temáticas propostas. Mais

do que nunca, fica evidente a carência de locais permanentes de debate de questões

relacionadas à segurança pública e este evento, pelo seu caráter de extensão, caminha no

sentido de se aproximar da comunidade e suprir em parte essa carência.

As fichas de avaliação, que foram utilizadas já na primeira edição do curso, também se

mostraram uma excelente ferramenta que, com certeza, nos auxiliará na estruturação e

organização de uma próxima edição. Mais do que isso, permitiu que os participantes se

expressassem ativamente sobre suas expectativas, demandas e interesses, garantindo que a

continuidade desse curso seja feita a partir da interação e da troca de conhecimento e

experiências entre os pesquisadores e acadêmicos e a sociedade ao qual ele é destinado e para

a qual ele é elaborado.

Além disso, os contatos estabelecidos graças a esse evento foram extremamente

importantes para o Observatório de Segurança Pública. Recebemos convites para integrar

grupos de estudos em outras instituições de ensino superior, além de propostas de parcerias e

atuação conjunta em instituições públicas que atuam diretamente no campo da segurança

pública. Nesse sentido, o auxílio da PROEx têm se mostrado de valiosa importância ao

viabilizar a existência dessa troca desde o primeiro curso de extensão realizado no segundo

semestre de 2011.

A demanda por uma nova edição do curso ficou evidente nas manifestações dos

participantes e dos envolvidos diretamente na organização do evento. Além de ser uma

excelente oportunidade de atuação acadêmica, seja como expositor ou organizador do evento,

também contribui para dissolver o mistério que envolve os acadêmicos para os profissionais

da área. Para as próximas edições, a intenção é testar novas metodologias de participação e

produção de conhecimento, seja através da participação de profissionais da área como

expositores, seja através da realização de grupos focais com pessoas envolvidas diretamente

com a segurança pública

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APÊNDICE A – Modelo da ficha de avaliação por módulo

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APÊNDICE B – Modelo da ficha de avaliação geral

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APÊNDICE C – Modelo do questionário

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ANEXO A – Fotos do evento

Abertura do evento

Professor Luís Antônio na fala de abertura Mario Ruggieri apresentando a palestra

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Visão geral do público

A pesquisadora Rosângela Teixeira realizando sua exposição

Professor Luís Antônio iniciando o debate Participação do público nos debates

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Participação do público no debate

Rosângela Teixeira fala sobre políticas públicas Intervenção do público

Intervenção do público Visão geral do segundo dia

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Visão geral do segundo dia Thiago Castro fala sobre juventude e drogas

Thiago Castro durante apresentação Coffee-break oferecido aos participantes

O doutor Rodolfo Arruda Barros em apresentação sobre juventude e drogas

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Marcos Gehring durante sua exposição

A doutoranda Joana D’Arc Teixeira fala sobre juventude e medidas socioeducativas

Debate após a apresentação dos palestrantes

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Participação do público nos debates

Participação do público nos debates