relato-edfdepre

Upload: altair-lopes

Post on 13-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/26/2019 relato-edfdepre

    1/6

    A GINSTICA NO CONTEXTO DA EDUCAO FSICA ESCOLAR: UMA

    EXPERINCIA NO PIBID

    Jos Jhean de S1

    O presente relato o resultado das intervenes realizadas na Escola Municipal

    Oswaldo dos Reis, localizada na Rua Setecentos, bairro Vrzea, na cidade de Itapema-SC

    com as turmas do 3, 4 e 5 no subprojeto Brincriar do Programa Institucional de Bolsa

    de Iniciao Docncia (Pibid)da Universidade do Vale do Itaja (UNIVALI). Os bolsistas

    do Pibid (participantes no subprojeto Brincriar) realizaram 06 intervenes que tiveram como

    contedo: Ginstica Geral/GPT, Ginstica Artstica, Ginstica de Circo, e foram previamenteplanejadas, nos encontros das teras-feiras e apresentadas ao professor supervisor no dia da

    interveno.

    Para a coleta de dados foram utilizados relatrios de observao das aulas e atividades

    realizadas no programa, questionrios, e uma atividade de criao, em que os alunos

    escreveram e desenharam sobre suas experincias com as aulas do Pibid. Em seguida

    analisamos os contedos dos dados coletados.

    A ginstica, como bem cultural, foi construda ao longo da histria e transformada

    juntamente com a sociedade (Almeida, 2005). Seus primeiros registros foram na Grcia

    Antiga, e o nome deriva do gregogymnastik significando a arte ou ato de exercitar o corpo

    nu. Caracterizado pela busca da sade e da beleza, consistia-se de [...] exerccios fsicos

    em geral e estes compreendiam corridas, lanamentos, saltos, lutas, etc.; em resumo, todos

    os exerccios denominados na atualidade atletismo ou esportes. (LAGLANDE &

    LAGLANDE, 1986 apud AYOUB, 1998, p. 36).

    Ao longo de sua evoluo na Europa, com os Mtodos Ginsticos Europeus (Alemo,

    Francs, Ingls e Sueco), ocorre a sistematizao e cientificao dessa prtica, e ao longo

    dessa transformao, suas finalidades mudaram de acordo com o pas onde era pesquisada e

    1Acadmico do Curso de Educao Fsica da Universidade do Vale do Itaja UNIVALI, bolsista do PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia.

  • 7/26/2019 relato-edfdepre

    2/6

    desenvolvida. Nas suas primeiras sistematizaes, [] o termo ginstica englobava uma

    enorme gama de prticas corporais, tais como: jogos populares e da nobreza, acrobacias,

    saltos, exerccios militares de preparao para guerra, esgrima, equitao, danas e canto

    (Soares, 1998 apud AYOUB, 1998, p. 36).

    Assim, com a insero da pesquisa, das cincias fsicas e biolgicas e da tcnica

    (sculo XIX), a ginstica incorpora elementos, descritos por Ayoub (1998) como pedagogia

    do gesto, gesto gmnico e educao do movimento, Desse modo, a ginstica vai

    gradativamente de distanciando do seu ncleo primordial, negando suas origens, a sua

    autenticidade [...], negao do prazer, do simples entretenimento que a atividade livre e ldica

    [...] proporcionava, acentua-se a oposio entre a ginstica e o campo dos divertimentos,

    gerando um abismo mais profundo entre ambos (ibidem, p. 40). A partir de 1939, com a

    realizao das Lingadas, ocorre uma aproximao das escolas ginsticas europeias e se iniciauma fuso dos sistemas. Somente o sistema Ingls toma uma direo diferente, e sua

    evoluo culmina com o desenvolvimento dos esportes. Isso no significa que a ginstica

    tenha tomado uma direo diferente, mas, como aponta Ayoub (1998), a ginstica evolui

    como um irmo do Esporte Moderno, no que se refere a valorizao do alto-rendimento e o

    predomnio da tcnica.

    Com a ascenso do modelo capitalista, tudo se transformou em objeto de consumo,

    inclusive os esportes e a ginstica. Esse modelo de sociedade, segundo Kunz (2014),

    transformou inclusive os espaos fsicos e materiais que so utilizados na prtica, fazendo

    com que esta, se torne normatizada e padronizada, impedindo assim que um horizonte de

    outras possibilidades de movimentos possa ser realizado (KUNZ, 2014, p. 31). Como

    consequncia dessa privao da capacidade autnoma, livre e criativa, o homem, com sua

    rotina regrada pelos meios de produo, se torna alienado e retificado ( idem,2014).

    O ensino da GPT na escola uma possibilidade de desenvolver a criatividade, a

    espontaneidade, o trabalho em equipe e o conhecimento dos alunos sobre as mltiplas

    interpretaes da ginstica, alm de promover um resgate essncia da mesma, alm de

    buscar novos significados e a possibilidade de expresso gmnica (AYOUB, 2003).

    Conforme Oliveira (2007, p. 30), as atividades so oportunidades privilegiadas, porque so

    geradas criativa e espontaneamente, a partir da tomada de contato com o outro, da percepo

    e reflexo sobre as pessoas e a realidade na qual esto inseridas. No que diz respeito

  • 7/26/2019 relato-edfdepre

    3/6

    Educao Fsica escolar, nosso entendimento de que a mesma se constitui como prtica que

    trata pedagogicamente dos temas da cultura de movimento visando apreender a expresso

    corporal como linguagem em que o corpo se comunica no se-movimentar. Desta forma, pode

    contribuir para a formao de indivduos crticos, criativos, conscientes do papel do esporte

    na sociedade atual, apreendendo-o como possibilidade de emancipao e esclarecimento.

    (Kunz, 2014).

    A incluso da ginstica na escola mostrou ser uma excelente proposta. Isso pode ser

    afirmado com veemncia a partir das nossas observaes e intervenes. As turmas

    trabalhadas (3, 4 e 5 ano) mostraram-se interessadas, envolvidas e motivadas, e

    participaram ativamente das atividades desenvolvidas. Desde a primeira atividade, a de

    brincar como movimentos de girar, andar de costas, ou imitando o gesto do professor, at a

    realizao de pirmides humanas (que foi a ltima), nenhum aluno mostrou estar indispostoou sem vontade de brincar de ginstica. A partir dessa observao, constata-se que esse

    tema provoca a curiosidade e motivao dos alunos, criando expectativas com as atividades,

    principalmente pela variedade de modalidades, movimentos e equipamentos que podem ser

    explorados (MACHADO, 2011, p. 5).

    Observou-se tambm, em uma atividade em especial (a formao de pirmides

    humanas), a capacidade de mobilizao dos alunos, mas tambm a incluso de indivduos

    com diferentes nveis de experincia (MACHADO, 2011, p. 2). Percebeu-se tambm a

    integrao entre os alunos, tornando o ambiente divertido, ldico e prazeroso. De modo

    diferente do que se observa (e um elemento estrutural) nos esportes coletivos de oposio,

    no houve nenhuma inteno de competir entre si. Os alunos estavam mais concentrados

    em conseguir formar as pirmides do que realizar melhor ou mais rapidamente que os outros

    colegas, denotando assim que a GPT desenvolve a capacidade cooperativa e colaborativa do

    indivduo e propcia a oportunidade de conhecer seu corpo, suas possibilidades de

    movimento e consequentemente, seus limites corporais e domnio de seus movimentos,

    auxiliando no desenvolvimento de sua comunicao e expresso corporal (GAIO et. al,

    2010, p. 214) [grifo nosso].

    Em relao aos materiais, os alunos tiveram a possibilidade de criar e adaptar alguns

    dos implementos que so utilizados na ginstica geral/GPT (que incluem malabares, fitas,

    etc). Alm de, possibilitar a ampliao do conhecimento prvio que os alunos possuam sobre

  • 7/26/2019 relato-edfdepre

    4/6

    a ginstica, a adaptao vem como contraponto alegao que a maioria dos professores usa

    como argumento para no incluir a ginstica nas suas aulas: a falta de material.

    Com o passeio que os alunos realizaram no ginsio da cidade de Antnio Carlos-SC,

    os alunos vivenciaram a ginstica do modo tradicional, experimentando os equipamentos

    como trampolim, cavalo e traves. Essa experincia no tinha objetivo de melhorar tcnicas,

    mas sim, possibilitar que os alunos formassem uma viso crtica da ginstica como fenmeno

    esportivo, pois nas aulas no espao escolar, o tratamento do tema era diferente. Assim, o

    conhecimento da ginstica e seus movimentos ultrapassam a simplicidade do ato motor;

    constituam um elemento da cultura corporal/de movimento que foi historicamente

    construdo e continua em processo de construo e reconstruo. Privar os alunos desse

    conhecimento tem consequncias sociais, e segundo Almeida (2005, p. 27) uma delas

    acentuada alienao dos sujeitos que j no se reconhecem como produtores culturais e [...],isso contribui para o aniquilamento de sua cultura. Alienao, entendida como a

    desvinculao do contedo social e cultural dos bens de sua expresso tcnica. Isso significa

    que, em meio a uma sociedade capitalista que preza pelo consumo, pela cultura de massa

    impulsionada pela mdia e seu reflexo no comportamento dos sujeitos, no processo educativo,

    deve-se promover diversas possibilidades de acesso cultura, no caso da Educao Fsica, a

    relacionada ao movimento; de modo a expandir o horizonte de conhecimento e promover

    um resgate prtica crtica da ginstica.

    No existe prtica pedaggica que no implique em desafios e dificuldades. Afinal,

    so elementos que possibilitam ao professor ou futuro professor a reflexo sobre a sua prtica

    e a mudana da mesma. Essa mudana no se apresenta como um evento estanque, mas ao

    mesmo tempo que se modifica, muda tambm a realidade escolar, de modo a promover uma

    quebra de hegemonia. dessa quebra de que emerge a capacidade crtica, e pode ser ao

    mesmo tempo, sua causa (relao dialtica).

    Desse modo, a realizao das intervenes que o projeto do Pibid promove,

    proporciona, no somente aos alunos (indivduos) que participam diretamente, mas a toda a

    escola, que a Educao Fsica pode ser diferente, que no existem limitaes (materiais,

    espao fsico) para a realizao de atividades como ginstica, lutas, dana.

    A experincia do PIBID mostra que EF pode e vai alm dos esportes coletivos, que

    na pratica atual dos professores, no ultrapassa o sentido de atos motores (desvinculados de

  • 7/26/2019 relato-edfdepre

    5/6

    sentido cultural e histrico) e recreao. Mostra tambm, que a ginstica geral/GPT podeser

    um contedo rico de explorao nas aulas e quando, aplicado de forma crtica, contribui para

    a formao integral dos educandos.

    REFERNCIAS

    ALMEIDA, Roseane Soares. A ginstica na escola e na formao de professores. 2005.

    213 f. (Tese Doutorado em Educao) Faculdade de Educao, Universidade Federal da

    Bahia, Salvador, 2005.

    AYOUB. Eliana. A ginstica geral na sociedade contempornea: perspectivas para a

    Educao Fsica escolar. 1998. 186 f. Tese (Doutorado) Faculdade de Educao Fsica,

    Universidade Estadual de Campinas, So Paulo, 1998.

    _____________. Ginstica geral e educao fsica escolar. Campinas, So Paulo: Editora

    Unicamp, 2003.

    GIL, Antnio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. So Paulo: Cortez, 1999.

    GAIO, Roberta; GOIS, Ana A.; BATISTA, Jos C. F. A ginstica em questo: corpo e

    movimento. 2 ed. So Paulo: Phorte, 2010.

    KUNZ, Elenor. Transformao didtico-pedaggica do esporte. 8. ed. Iju: Editora Uniju,

    2014.

    MACHADO, Hinaiana dos Santos. A ginstica circense na escola: um relato de

    experincia. Disponvel em:

    http://www.pinhais.pr.gov.br/aprefeitura/secretariaseorgaos/educacao/seminario/uploadAdd

    ress/Pster_-_Hinaiana_dos_Santos_Machado[2282].pdf. Acesso em: 14 mai. 2015.

    MINAYO, Maria Ceclia de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em

    sade. 12 ed. So Paulo: Hucitec, 2010.

    OLIVEIRA, Nara R. Cruz. Ginstica para todos: perspectivas no contexto do lazer.

    Revista Mackenzie de Educao Fsica e Esporte 2007, vol. 6 n. 1, p. 27-35. Disponvel

  • 7/26/2019 relato-edfdepre

    6/6

    em:

    http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Educacao_Fisica/REMEFE-

    6-1-2007/art02_edfis6n1.pdf. Acesso em 14 mai. 2015.

    SOARES, C. L. et. al. Metodologia do Ensino da Educao Fsica. So Paulo: Cortez,1997.