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MINHA VIDA: A PAIXÃO DE CRISTO SEGUNDO CLÁUDIA PRÓCULA O JULGAMENTO E A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS ATRAVÉS DOS OLHOS DA ESPOSA DE PILATOS POR: CLAUDIA

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Page 1: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

MINHA VIDA:

A PAIXÃO DE CRISTO SEGUNDO CLÁUDIA PRÓCULA

O JULGAMENTO E A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS ATRAVÉS DOS OLHOS DA ESPOSA DE PILATOS

POR: CLAUDIA

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Prefácio da Autora “Há muitas moradas na casa de meu Pai” João 14:2 Assim é também com nosso espírito, que é eterno já habitou e ainda habitará diversos corpos neste universo afora, sempre com o intuito de acima de tudo, fazer a vontade do Pai como instrumentos divinos que somos. O relato que segue são apenas minhas lembranças (obtidas através de regressão) de fatos ocorridos já há muito tempo, mas que ainda estão muito vivos em meu coração. Relatos de um tempo que eu habitava outro corpo em outra época. Já houve muitas outras vidas depois dessa, assim como também houve milhares delas antes também. Mas isso é outra história. Claudia

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ÍNDICE

1 PRIMEIRO ENCONTRO

2 O CASAMENTO

3 NOMEAÇÃO E GRAVIDEZ

4 VIAGEM E PARTO

5 CHEGADA À JUDÉIA

6 GOVERNO DIFÍCIL

7 MILAGROSA CURA

8 CRISTÃ

9 ENTRADA TRIUNFAL

10 CONVERSA COM YESHOUA

11 A PROMESSA DE LIBERTAÇÃO

12 O SONHO: UMA JUSTIFICATIVA

13 PLANO FRACASSADO

14 MANTENDO A PROMESSA

15 REVOLTA POPULAR

16 LUDIBRIADO POR UMA ARMAÇÃO

17 PROMESSA NÃO CUMPRIDA

18 QUATRO ANOS DEPOIS

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Primeiro Encontro

Em meu primeiro encontro com meu futuro marido Pontius Pilatus estava eu na ante-sala

escutando a conversa de todos na sala, escutando sua voz na sala, esperando me chamarem

para me apresentarem quem seria meu marido.

Estava assustada, essa história de casamento arranjado poderia não dar certo. Havia visto

tantos casos que não dera. E ficava lá, esperando, nervosa. Até que chegou a hora,

chamaram-me, num misto de nervoso e ansiedade entrei em passos apertados esboçando

um sorriso nervoso. Logo ao adentrar a sala ele levantou-se. Estava em trajes militares, com

aquela couraça e tudo mais (ele sempre andava somente em trajes militares mesmo depois).

Levantou-se e veio em minha direção, parei, ele também parou, ficamos assim uns 2,5

metros um do outro, as outras pessoas da sala apresentaram-nos sem se levantarem, sem

chegarem perto de nenhum de nós dois. Estava bela, havia me preparado o dia inteiro,

estava com minha melhor túnica, cabelos parcialmente presos ricamente adornados com

uma tiara que caía até mais embaixo. Com a respiração ofegante, fiquei ali parada, estática

desde que pus os olhos nele.

Os pés me pareciam sair do chão, parecia que eu fora transportada dali para algum lugar

distante em minha memória. A sala sumira, assim como os demais presentes, as conversas

deles nos apresentando pareciam sons ininteligíveis a mim. Respondia mecanicamente com

um sorriso. A única coisa que ressaltava ante meus olhos era ele.

Como podia! Os meus sentimentos, meu coração, meu inconsciente não agiam de acordo

com meu consciente.

Conscientemente sabia ser meu primeiro encontro de um casamento arranjado com um

advogado do imperador Tibério, de quem eu era parente. Sabia que ele estava somente

interessado em ascensão perante o imperador e eu era o caminho devido ao parentesco. E

isso me incomodava há dias.

Mas na hora que pus os olhos nele. Tudo me dizia que era um reencontro com alguém

muito amado. Um reencontro há décadas ou mais esperado, a muito esperado.

A alegria tomara conta de meu ser, finalmente juntos novamente! Mas ao mesmo tempo

meu consciente achava muito estranho tudo isso.

Page 5: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Tudo isso em poucos segundos ou minutos. Tudo isso ante um olhar, sentira em seu olhar

que era tudo absolutamente recíproco. Sorri sem acreditar, feliz, coração disparado,

nervosa, não conseguia mexer-me.

Todos saíram da sala e deixaram-nos a sós para conversarmos e nos conhecermos melhor.

O coração quase saiu pela boca, faltava força nas pernas e, ao mesmo tempo, pareciam

pregadas no chão sem dar a chance de mover-me.

Ele veio todo amoroso, lânguido e romântico. Totalmente envolvido em amor. Ambos

envolvidos num amor profundo. Num lindo reencontro. Ele chegou-se devagar, falando

doces palavras sedutoras, cheias de um amor profundo. De quem não me via há séculos e

estava morrendo de saudades.

Abeirou-se de mim, ambos, face a face, respiração ofegante, com sua mão esquerda passou

a mão por meus cabelos. Passou a mão por eles como quem acaricia uma flor de rara

beleza. Uma flor única que se abrira, que existia, que fora criada por Deus somente para

ele. E foi afagando meus cabelos dizendo doces palavras de amor eterno e chegando perto

de mim devagarzinho, enlaçando-me com sua vibração de amor.

Finalizando o enlace passando a sua mão direita por minha cintura puxando-me para si num

movimento devagar e amoroso. Olhos cheios d’água emocionados ele tinha e eu com o

coração na boca. Sentia a beleza e a emoção de um reencontro de duas almas que se

amavam profundamente., mas nessa vida era nosso primeiro encontro.

Quando meu corpo encostou-se ao seu como que um leve choque percorreu meu corpo.

Olhamo-nos nos olhos e ele me beijou.

Nossos lábios se tocaram leves no início com um certo estremecimento ante o primeiro

toque, para se colarem logo em seguida num beijo que pareceu que nossas vidas passaram

ante nossos olhos. Mas não era a vida atual, eram lembranças de um grande amor vivido há

muito tempo atrás. Fiquei tonta, a mente confusa ante tanta coisa estranha rodando nela,

sem entender.

Minhas pernas fraquejaram e ele enlaçou-me mais forte ainda com os dois braços

segurando-me com a forte segurança de quem ama. Senti-me segura., não queria que aquele

momento acabasse nunca.

Mas fomos interrompidos. Acho que sentiram os odores sedutores da paixão e volúpia

correndo no ar e trataram de interromper.

Page 6: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Tonta, confusa e meio bamba das pernas, fiquei sem graça não saia o que falar, nem para

onde ir trocamos algumas palavras com os presentes e saí. Vi seu lindo sorriso e olhar

cheios de amor dirigidos a mim enquanto saía.

Mal pude dormir aquela noite. Aquele momento não me saía da cabeça, ele não me saía da

cabeça. Aquele porte imponente que se levantou como quem quisesse impressionar só com

o porte, a pose, já que a estatura, a estrutura era mediana, impressionara-me. Achara-o lindo

apesar de sua beleza não ser física.

Tinha cabelos ralos com duas entradas que deixavam meio pontudo o ralo cabelo que tinha

no centro. Aquele rosto meigo, doce, como o de um menino desamparado que pedia

proteção encantara-me. Aquele rosto meio redondo, branquinho, com as bochechas fofas

sem serem saltadas inspiravam lindas mordicadas. Seu lábio mais para finos e boca meio

pequena parecia mudar muito durante o beijo, pareciam ganhar volume e quentura

inimagináveis. Aqueles olhos pequenos meio puxados para baixo nas extremidades

externas completavam o ar de menino desamparado que me inspirava à proteção, a enlaçá-

lo em meus braços e aconchegá-lo.

Como o amava e, no entanto, apenas o vi por breves minutos, porém a mim sentia como se

o conhecesse há séculos.

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O Casamento

O que se seguiram depois foram os preparativos para o casamento, mas os nossos ansiados

encontros para nossa decepção davam-se sempre sobre as vistas da família que já

adivinhara nossa volúpia intensa que se seguia ao nos encontrarmos. Longos passeios pelo

jardim ao luar, seguidos pelos parentes, breves conversas sussurradas para não escutarem

falavam de amor eterno, saudades, ansiedade para ter-me em seus braços. E essas doces

palavras de amor povoavam meus sonhos, minhas madrugadas e deixavam-nos, ambos,

ansiosos, pelo grande dia de nosso enlace por toda a eternidade.

No grande dia de nosso casamento tremia, tremia tanto. Quando ele segurou minha mão

senti sua mão gelada, suando frio.

O que se seguiu depois foram horas intermináveis, conversas intermináveis e nós ansiosos

para estarmos a sós, somente isso.

Recolhi para preparar-me para a grande noite, tão esperada noite onde finalmente seria de

meu amado.

Ele ficou conversando com alguns homens. Ele era tão diferente quando perante outros

homens. Parecia exercer um papel, uma personagem de alguém forte, decidido, de fala

imponente. Irreconhecível, comigo era tão diferente.

Assustei-me ante a possibilidade de uma súbita transformação de meu amado para aquele

imponente.

Mas fui preparar-me deixando de lado as preocupações.

Fiquei deitada em nossa cama, esperando. Quando ele finalmente chegou e apareceu na

porta, com aquele uniforme militar, estremeci, o coração disparou.

Ele foi chegando devagar, emocionado. Abeirou-se da cama, do jeito que estava, se

inclinou para mim e me beijou, num beijo envolvente e profundo, envolvendo-me com seu

corpo todo.

Finalmente era sua, somente sua, por toda a eternidade. Juramos amor eterno aquele dia,

juramos jamais nos separarmos por nada desse mundo, juramos jamais viver um sem o

outro.

E todos os meus medos se dissiparam, era ele mesmo, integralmente meu amado. Não tinha

nada de imponente. Era um homem doce, meigo, gentil, amoroso, romântico, desejoso de

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atenção e carinho, assim como de aprovação ante cada uma de suas ações. Era exatamente

o que seus olhos, suas feições diziam. Uma pessoa maravilhosa!

Extremamente incompreendida por todos, principalmente pelos seus iguais, os homens de

sua posição ou acima dela, que frívolos e mandões, muito o invejavam e temiam ante suas

conquistas todas feitas com muito amor e bondade.

Personalidade maravilhosa tinha que rapidamente seria envenenada ante tantas cobras com

os quais conviveria.

Nomeação e Gravidez

E o envenenamento já se deu início em Roma mesmo. Casamento vantajoso e feliz fê-lo

virar um rápido alvo de invejas e intrigas de todos os meios. Porém seu salário não condizia

com a posição que ascendera e a situação começara a preocupar.

Principalmente com a família a crescer comigo a espera do primeiro filho que rapidamente

fora encomendado após o casamento.

Apesar das más línguas, estávamos tentando viver sem tirar vantagens do meu parentesco

com o imperador, mas a situação preocupava-o deveras. E como o imperador nada havia

dado por ocasião do nosso casamento ele pensara em encher-se de coragem e usar da

influência ganha com o casamento para pedir um cargo melhor.

Pensava algo em Roma para ficar no centro dos acontecimentos, do mundo, para melhor

educar o rebento vindouro e foi cheio de esperanças falar com o imperador.

Voltou meio confuso, conseguira, mas não exatamente o que pretendia. Fora mandado

como procurador da distante província da Judéia.

Muitas histórias já lhe falaram dessa gente e ficava falando cada uma delas assustado.

Refugiava-se em meus braços quando tudo isso o atormentava. O que começara a ficar

mais freqüente conforme os preparativos para a mudança aumentavam de ritmo. Ele fora

ficando cada vez mais ansioso, nervoso, tinha crises de prepotência alternadas com crises

de medo ante a responsabilidade.

Essas crises de medo eram cuidadosamente escondidas e era em meus braços que se

refugiava nessas horas buscando equilíbrio.

Eu era seu equilíbrio, sua vida, seu oásis nesse mundo louco em que vivia dizia-me. Repetia

sem cessar, durante toda a sua vida, que sem mim enlouqueceria, que preferiria a morte a

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viver sem mim. E depois que engravidei e a barriga começara a aparecer passou a idolatrar-

me. Ajoelhava-se perante mim agarrado ao meu ventre volumoso com a cabeça nele. Às

vezes somente a contemplar, algumas vezes em prantos, mas todas sempre maravilhado

ante tanta beleza como dizia. Era tão bom!

Ante a loucura agitada do dia a dia perante os nervosos preparativos para a partida nossos

momentos a sós eram de pura beleza e de um amor profundos onde nos nutríamos da força

de nosso amor para seguir em frente. Mas nossa vontade mesmo era que o mundo fosse

somente nós dois e nada mais. Assim estaríamos completos.

Meu ventre muito doía a cada dia que passava ante gravidez tão agitada pelos preparativos

da mudança. E isso era um motivo a mais de preocupação para ele, grande preocupação por

sinal, desesperava-se ante minhas dores.

E eu não sabia se deixava transparecer minha natureza delicada e frágil, cheia da meiguice

que ele tanto amava, ou se me fazia forte para não abalá-lo tanto já tanto abalado com a

mudança. Preocupava-me, se que eu era seu ponto de equilíbrio não fosse equilibrada o que

seria dele?

Mas à noite em nossa cama tudo se dissolvia ante tanto amor e paz que nosso amor nos

trazia. Amor e paz profundos. Éramos um mundo à parte, nosso mundo, um mundo

perfeito, de amor.

Viagem e Parto

O grande dia da mudança chegara e partíramos numa caravana. Viagem difícil, longa, cheia

de percalços. Como era longe essa Judéia!

Sabia ser distante, mas não pensei que fosse tanto. Parecia interminável.

Estava mal, uma viagem dessas em meu estado inspirava cuidados e, já não saíra bem de

Roma devido aos tensos preparativos. Já não sabia mais como fugir dos sacolejos

constantes que me doíam fundo no ventre aumentando as dores.

Chorava escondida de meu marido para não desesperá-lo ainda mais.Mas ele era como uma

águia a vigiar-me e proteger-me, e sempre acabava percebendo, pois notava meus sumiços.

Muito o preocupava meu estado em crescente piora, mal conseguia disfarçar o desespero

perante mim. Mas via-o em conversas nervosas com os escravos ante ameaças até mesmo.

Page 10: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Chegou uma hora que não conseguia mais viajar senão deitada muito mal. Passei assim

longo tempo, sempre com dois escravos junto de mim o tempo todo. Ante a mínima

perspectiva de me perder aterrorizava-o e ele andou muito tenso sempre a rodear o local

onde viajava.

Via-o passando em volta, nervoso. Mas quando vinha falar comigo seu coração

transbordava amor e carinho.Perguntava como andava sua família, se estava cuidando bem

do bebê, se estava sendo uma boa mãe como era boa esposa, fazia-o sempre com doces

palavras de amor encorajando-me sempre afagando meus cabelos. Que a essa altura já

andavam a muito desalinhados, bem o sabia que andava pálida também, escutava os

comentários.

Já perdera a noção de tempo e lugar. De onde estava pouco via por onde passávamos, para

mim já nem importava mais.

Até que um dia as dores foram aumentando cada vez mais e não passavam, fiquei dias

assim, cada vez pior. Diziam-me que era o parto, mas estava fora de hora, tinha apenas oito

meses.

Escondiam-me muitas coisas, via o burburinho, os cochichos, a correria, o crescente

desespero.

No início Pontius até tentava me esconder seu desespero, mas depois de um tempo não

conseguia mais. Rolavam grossas lágrimas de sua face ao ver-me, segurava forte minha

mão. Pedia-me força, pedia-me para lutar, pois sem mim não viveria jamais, não poderia

perder-me.

Voltava-se aos escravos, um escravo e uma escrava que faziam meu parto difícil, e em

desespero, ameaçava-os com a morte se algo acontecesse a mim ou à criança. Não poderia

perder-me jamais e sua fúria desceria sobre todos se qualquer coisa me acontecesse.

Mas, graças a Deus, depois de um longo e sofrido parto nasceu a criança, era um menino.

Chamaram Pontius que, aos prantos, chegou radiante de felicidade, seu semblante exalava

um alívio profundo, tão profundo quanto o amor que sentia.

Feliz, exclamou sua felicidade ante sermos agora uma família e ante eu haver lhe dado um

varão. Exultou de felicidade e falou que seu nome seria Túlio.

Recompensou regiamente os escravos por terem salvado sua família e entrou onde viajava

enlaçando-me em seus braços afagando meus cabelos e fazendo comentários amorosos

sobre minha coragem, seu amor, nosso filho, sobre nossa eternidade juntos.

Page 11: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Depois disso um clima de alívio desceu sobre a caravana e a viagem seguiu tranqüila com o

papai Pontius a corujar seu rebento. Saía com ele a exibi-lo para cada um da caravana,

principalmente os militares com quem muito andava.

Preocupava-me um pouco, era tão pequenininho e frágil para sair da segurança de meus

braços. Mas não queria impedir esses lindos momentos de alegria de Pontius.

Chegada à Judéia

Depois de longa viagem chegamos, no meio da noite na Judéia, ou melhor, a Jerusalém.

Eu queria era chegar logo e me instalar com meu filho no palácio, dar-lhe melhores

condições. Estava ansiosa para respirar aliviada. Não agüentava mais ficar deitada naquele

lugar, sem intimidade nenhuma com meu marido e nosso filho.

E Pontius estava irreconhecível, ego inflado, como representante do imperador naquele

lugar sentia-se o próprio imperador.

Queria fazer estardalhaço para entrar, queria pompas, queria ser reverenciado. Reclamava

por ter chego no meio da noite.

Ignorou as recomendações dadas pelo governador da Síria, seu superior imediato. Não se

privaria de seus direitos, eles eram os dominados. E assim entrou com todo o estardalhaço

possível no meio da noite mesmo.

Avisei-o sobre seguir as recomendações do governador da Síria. Não havia necessidade de

expor a efígie do imperador sem necessidade, mas o gosto do poder cegou sua prudência e

foi ele.

Bem o avisei, sei que deu problema depois, mas estava tão preocupada em organizar tudo,

cuidar de nosso filho Túlio que mal acompanhei esse episódio. Apenas lancei a ele

significativo olhar de “te avisei”, quando chegou em casa agitado bradando impropérios,

nervoso. Ficou sem graça e continuou resmungando baixinho enquanto ia ao escritório para

pensar e se acalmar.

Amava-o, como poderia ser ele assim? Um homem tão doce, meigo, amoroso, romântico,

tão necessitado de carinho, proteção e aprovação de cada um de seus atos e, ao mesmo

tempo, deixar cegar-se pelo ego, pelo poder?

Page 12: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Não entendia como o encantava tanto ser tão bajulado, chegava a ser ingênuo. Bastavam

alguns agrados à sua pessoa para conquistar sua confiança. Vai dar problema, pensei.

Bem conhecia a história do imperador, desconfiar sempre de todos, dizia ele a mim. E bem

via que meu amado Pontius iria tomar uns sustos para depois aprender.

Não me agradava nem um pouco ver que ele sofreria, queria protegê-lo disso, sabia-o

frágil. Perante os outros se fazia forte e decidido.

Mas isso não enganou por muito tempo as pessoas no palácio e rapidamente aprenderam

como manipulá-lo. Passei então a acompanhá-lo de perto, tão perto quanto possível, sem

dar problemas a ele. Mas logo perceberam que eu o manipulava protegendo-o. Então

incentivaram-no a isolar-me no palácio, em nossa casa, a pretexto de minha segurança

devido ao meu frágil estado, pois estava grávida novamente. E ele, um esposo sempre

zeloso, e em partes com trauma do último parto, não queria perder-me, dizendo-me,

agarrando-se ao meu ventre choroso. Dizia que queria uma gravidez tranqüila, não queria

ver-me envolvida com assuntos governamentais escusos, era frágil e iria impressionar-me

fácil. Queria proteger-me por isso fazia isso.

Abri-me com ele, expus meus medos, expus o que o imperador passara, o que me ensinou,

não queria essa rede de intrigas para ele, sabia-o frágil. Mas ele disse-me que isso não era

assunto para preocupar-me, que ele deveria proteger-me e não eu a ele, que ele como

governador deveria saber como se defender de tal gente, de saber impor sua vontade. E que

se o fazia isso de isolar-me do palácio governamental e das ruas, do povo, era para

proteger-me, pois éramos visados e odiados como representantes de Roma e ele temia

represálias a mim, pois poderiam usar-me para atingi-lo e isso ele não admitiria.

Frustrei-me, preocupava-me com ele. Ele tentava agradar os bajuladores, aí se via enganado

depois da ação feita e dominava-lhe a cólera, vingando-se com ódio. O que gerava mais

revolta, ódio e inimigos.

A mim, depois disso, senti-me vencida pelos meus opositores, os bajuladores de meu

marido, isolada no alto de meu palácio.

Nossa residência ficava no alto, de onde dava para ver o palácio governamental abaixo e à

esquerda e o local onde posteriormente Yeshoua iria ser julgado pelo povo mais ao centro.

Não podia sair às ruas, ia ao palácio governamental somente em raras ocasiões, angustiava-

me tudo isso.

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Governo Difícil

Foi a partir daí que governar passou a ficar cada vez mais difícil e duro para ele. Era uma

rotina massacrante a ele, sem nenhum ponto seguro de apoio no palácio. Isso consumia

toda a sua força. Passou a se aconselhar mais com os militares romanos. E esses,

acostumados à dureza das batalhas, cruéis e sanguinárias, davam-lhe conselhos nada

populares nem ortodoxos.

Assim como também esses militares, sem suas esposas, estavam acostumados as farras com

vinho e mulheres, passaram a arrastá-lo para tais coisas imundas a pretexto de relaxar do

estressante dia a dia. Começara assim, Pontius, para meu desespero e tristeza imensos a

escapar de minhas mãos como areia. Não conversava mais comigo sobre suas dores, seus

problemas, sobre o que temia. Foi isolando-me, não por falta de amor. Mas sim por excesso

dele. Amava-me tanto que chegava à idolatria. E idolatrando-me queria me ver num

pedestal isolada de todas as dores do mundo, pegava todas as dores para si, mas frágil como

era não sabia lidar com elas e começou dar escape com farras noturnas e desmandos no

governo.Tudo motivado pelas más companhias que o rodeavam por todos os lados.

Doía-me fundo vê-lo perder-se assim, queria resgatá-lo. Até conseguia, enquanto estava em

meus braços, em minha companhia, sob minha influência. Mas perdia-se novamente como

uma criança ao sair de minha zona de influenciação.

Numa tentativa desesperada passei a sair disfarçada pelas ruas. Saía com vestimentas

simples, acompanhada por um guarda de confiança à paisana. E era nessas horas que

descobria o que se passava. Fiz amizade com Euclides, um sacerdote do Sinédrio, única

pessoa confiável num bando de cobras, dava-me preciosas informações. Era vantajosa para

ambas as partes essa amizade.

Via o descontentamento do povo, o sofrimento dos humildes, acompanhava tudo com

tristeza. Gostava de sair às ruas tomar contato com a realidade apesar de dolorida.

Passei a temer ir ao palácio governamental, tinha medo de dar de cara com as vagabundas

que tiravam vantagem da fragilidade de meu marido. Temia encontrar outra em seus

braços.

Chorava muito a cada vez que se demorava a voltar, a cada vez que voltava cheirando a

vinho e perfume barato.

Sofria, chorava, tinha nojo.

Page 14: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Como queria que tudo isso acabasse, via seu semblante, seu olhar carregado de

arrependimento e culpa ao olhar-me nos olhos após o efeito do vinho passar.

Olhava-me ali tão bela e lânguida, via o sofrimento em meus olhos, e o coração dele se

apertava de culpa (dizia-me isso) ajoelhava-se se agarrando ao meu ventre com os olhos

marejados pedindo perdão e prometendo acabar com isso.

Promessa nunca cumprida para meu desgosto.

Mas quando esquecíamos tudo isso e ficávamos a sós nosso mundo a dois era um paraíso

de paz e amor. Onde nosso amor isolava-nos de todos os problemas, de tudo. Amávamo-

nos profundamente apesar de tudo.

Milagrosa Cura

E o tempo passou assim, eu sempre idolatrada num pedestal em que ele me isolava cheio de

amor. Isolava-me na tentativa de não me fazer sofrer com a realidade de seus erros.

Estava quase sempre grávida para a alegria dele. Orgulhava-se muito disso. Era um pai

zeloso e amoroso.Sempre com a mania de isolar do mundo na tentativa de proteger os seres

amados de sofrimento.

Confidenciava sempre a mim que não viveria sem nós, sem mim enlouqueceria, preferiria a

morte. Que a única coisa que o mantinha nesse lugar nojento era eu. Cada vez mais era seu

ponto de equilíbrio.

E isso me preocupava. Procurava como podia anular os más conselhos de todos do palácio

e direcioná-lo a não cometer erros. Mas a minha distância do palácio impedia uma ação

mais efetiva.

Até que após nosso quinto e último filho (eram duas meninas e três meninos), minha

recuperação estava difícil, o tempo passava e o meu ventre não parava de doer. Não falei

nada a Pontius para não desesperá-lo, mas não sabia mais o que fazer.

Até que, um dia, passava pelo corredor próximo a cozinha e um centurião conversava com

alguns escravos, parei, encostei-me na parede escondida e fiquei escutando. Ele falava de

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um profeta que andava operando prodígios de cura, que gostava de contar parábolas para o

povo, que andava impressionando todos.

Contara que estava na cidade, que o fora ver. Interrompi e pedi maiores explicações para

susto dos presentes que tentavam se esquivar em vão. Pedi ao militar que me levasse a esse

profeta, queria vê-lo.

Este hesitou, mas ordenei-o que assim o fizesse. Com vestimentas simples levou-me à beira

de um lago onde uma multidão de pessoas simples, do povo, o aguardavam.

Era final de tarde, postei-me perto de uma árvore, à distância, meio escondida para não ser

reconhecida por ninguém até que ele chegou.

Postou-se à beira do lago e ficou esperando a hora de começar, agachado, riscando na areia

da beira do lago enquanto seus discípulos, homens de simples aspecto controlavam a

multidão.

E eu sempre com a mão em meu ventre, pois doía muito, escondida atrás da árvore.

Mas a cena era bela e hipnotizante.

Inesquecível cena, a multidão, aquele homem à beira do lago, o sol se pondo tingindo o

lago de dourado e a brisa suave batendo.

Como podia aquele homem, sem dizer uma palavra sequer, sem sequer nos olhar, envolver-

nos, hipnotizar-nos com sua personalidade. Ante sua simples presença envolvia tamanha

multidão hipnotizando a todos numa onda agradável de uma paz e amor imenso.

Hipnotizava a todos, fazia-nos esquecer completamente tudo.

Tinha-nos em nossas mãos, dava-nos vontade de largar tudo sem olhar para trás e segui-lo

hipnotizada ante personalidade tão forte, e ao mesmo tempo tão indefinivelmente cheia de

ternura, paz e amor. E ele, nem sequer abrira a boca ainda!

Sua túnica simples, reta, muito alva, denunciava a sua condição de homem do povo. Sua

pele alva, mas queimada de sol denunciava suas andanças e pregações debaixo de muito

sol.

Seus cabelos castanhos muito longos chegavam a um palmo após os ombros, não eram lisos

nem ondulados e profundos olhos azuis em que perdíamos nossas almas dentro. Sua barba

longa chegava quase a acompanhar o cabelo, talvez um palmo menos ou mais. Nariz fino.

A hora que começou a falar sua voz suave hipnotizava o povo docemente. Hipnotizava

tanto que mal importava o que falasse o que importava era ficar ali escutando. Falou algo

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sobre felicidade futura, sobre vida eterna, nem sei direito, estava hipnotizada. Perguntei ao

militar que me acompanhava à paisana qual o nome de tal prodígio de pessoa. Respondeu-

me Yeshoua.

Fiquei lá encostada na árvore hipnotizada escutando-o, com a mão em meu ventre de dor.

Ao final da palestra fiquei lá só olhando, por mim não voltaria, até que, de repente, ele

pousou seus olhos em mim. Olhou-me fundo nos olhos como a examinar minha alma, e de

repente, a dor passou. Como sabia meus pensamentos?

Não trocamos uma palavra. Estávamos a metros de distância e ele curara-me, adivinhara

meus pensamentos.

Com o coração disparado me escondi atrás da árvore, de costas para a árvore, respiração

ofegante, mão em meu ventre, maravilhada, sem entender direito tal prodígio.

Fiquei lá assim alguns minutos até que o militar me pediu para irmos, pois a multidão

estava vindo em nossa direção para irem embora.

Aturdida fui embora, curada ante um olhar, sem palavras, à distância.

Cristã

Nada falei ao militar, mas em segredo confidencie-me maravilhada ante meus escravos,

aqueles que peguei na cozinha conversando.

Diziam-se cristãos e eu, a partir daquele momento, mais do que nunca também o era. Mas

era um segredo nosso.

Pontius jamais soube, nem da minha doença, de minha cura, nem da visita a Yeshoua.

Aqueles escravos passaram a ser meus amigos, confidentes, eram minha ponte entre os

cristãos lá fora e eu.

Minha vida passou a ter outro sentido. Aquilo tudo me consolava e trazia esperanças. Pena

não poder me abrir ao meu marido.

Mas não pude esconder por muito tempo e ele logo soube por intermédio de militares que

me espionavam no dia a dia, dentro de minha própria casa. Que vida! Desconfiar de minha

própria sombra!

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Reclamei com Pontius que isso não era vida e ele bradava nervoso que era para minha

própria segurança. Que era loucura sair por aí sozinha, somente com um soldado, que por

isso ele mantinha sempre alguém a acompanhar meus passos para minha própria segurança.

Mas dentro da minha própria casa! – bradei.

Preciso manter-me informado para proteger-te já que não posso estar ao seu lado o quanto

gostaria – disse-me – temos muitos inimigos por todos os lados não podemos confiar em

ninguém. Mas pelo visto não posso confiar nem em ti, como pode? – começou a gritar –

envolver-se com essa gente! Falei a ti que não se envolvesse com esse povo! E agora, se

alguém souber como me explicarei a César? É um prato cheio aos meus inimigos. Sabe

que vivo rodeado deles. Sabe quanto é me difícil minha rotina. Sabe o quanto é me

estressante e estafante. Nem em ti posso confiar! Até tu vive tentando me manipular! Como

esconder de todos? E agora? – disse-me aos berros batendo as mãos na mesa com força.

Recuei instintivamente ante tal violência nunca usada comigo ou com nossos filhos.

Sempre fora extremamente amoroso, infiel, mas amoroso, sempre frágil, dócil em meus

braços. Isso me assustara e ele me vendo assim se encheu de doçura e veio com carinho

enlaçando-me docemente em meus braços falando macio o quanto me amava, o quanto

amava nossos filhos, o quanto éramos tudo para ele e o quanto temia por nós, por nossa

segurança. Por isso isolava-nos, principalmente a mim, não queria me ver em mãos erradas,

não queria que presenciasse nenhum fato sanguinolento de seu governo ou de seus

inimigos.

Sabia-me frágil e delicada, impressionava-me facilmente.

Pior sabia ser tudo verdade, fazia-me de forte, de equilibrada, mas no fundo era delicada e

impressionável.

Suspirei fundo e deixei-me enlaçar por seus braços.

Page 18: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Entrada Triunfal

Depois disso o cerco ante minha pessoa se fechou mais ainda. Qualquer movimento meu

era cuidadosamente vigiado e anotado.

Era horrível e desesperador sentir-me vigiada. Desconfiava de tudo e de todos o tempo

todo. Se o povo soubesse! Invejava-nos tanto o dinheiro, a posição, o suntuoso palácio de

mármore cercado de luxos. Se soubessem da dor, da prisão que isso nos impunha, não o

trocariam por nada de sua simplicidade.

Longos dias cheios de dor e angústia. Eu era a tábua de salvação de Pontius e a minha tábua

de salvação era as informações de Yeshoua que meus escravos cristãos, meus confidentes e

amigos, me traziam.

Dias aflitos, Yeshoua andava por outras paragens e meu marido afundado em bebidas e

mulheres. Chegava nos ombros de meus amigos escravos que me exortavam as palavras de

consolação ditas por Yeshoua. Quanta aflição!

Mas um belo dia meus escravos amigos vieram radiantes com uma boa notícia Yeshoua e

os seus estavam vindo para Jerusalém e o povo planejava recepcioná-lo na entrada com

uma festa.

Recepcionariam com palmas para saudá-lo. Estão todos se preparando para irem lá.

Deus! Como queria ir, mas justo hoje Pontius tinha que estar trabalhando em seu escritório

daqui de casa! Vivia enfurnado no palácio governamental, sumido o dia inteiro, chegava de

madrugada cheirando a bebida e mulheres e justo hoje estava em casa! Não podia ausentar-

me sem ser notada.

-Amigos, façam uma coisa por mim, vão lá vocês e contem-me tudo depois. Depressa! E

não deixem que desconfiem!

E eu fiquei lá, ansiosa, na janela, escutando ao longe a festa que faziam. Parecia muito

bonita, queria estar lá.

Ao final vieram eles, agitados, exultantes de felicidade, falando ao mesmo tempo. Num

canto da cozinha nos alojamos para me contarem como foi, pedi que me dessem todos os

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detalhes, mas que falassem baixo para que ninguém escutasse. Aqui as paredes têm

ouvidos.

E me contaram que foi uma bonita festa que Yeshoua entrou na cidade montado num

jumento e foi recebido pelo povo com palmas e oliveiras. Que o povo gritava feliz por

Yeshoua. Houve muitos comentários e muitos o clamavam como rei.

Assustei-me e fiz sinal de silêncio, isso aqui dentro era palavra proibida, sabem muito bem

da punição a quem quiser ameaçar o domínio de Roma. Jamais digam essa palavra aqui,

nem em parte alguma, era perigoso. E pedi que continuassem a narrativa.

Depois fiquei pensativa, preocupada, se essa história de rei se espalha pode ser mal

interpretada e causar-nos problemas. Isso não era bom. Mas não havia nada a ser feito a não

ser rezar.

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Conversa com Yeshoua

Um dia meu marido subiu para almoçar e comentou comigo que os sacerdotes do Sinédrio

haviam ido ter com ele para pedir-lhe ajuda para verificarem as intenções do Nazareno que

andava se dizendo Messias e Rei e que ele liberou, a título de gentileza, uma pequena

guarda apenas para não se indispor com eles, pois não o considerava problema de Roma.

Falou-me isso como quem comenta um assunto banal do cotidiano, gelei. Conhecia o mau

caráter do pessoal do Sinédrio.

Como pode? Sabes muito bem que boas coisas não farão com ele – disse-lhe.

Não podia me indispor com o Sinédrio somente porque tu és cristã, sabes muito bem que

Roma não se mete em assuntos religiosos e tenho que esconder que tu és cristã – disse-me.

Nada comentei, esperei ele voltar do almoço e saí para ter em palestra com Euclides, amigo

confiável, poderia me dizer o que planejavam.

-Euclides, em conversa com meu esposo fiquei sabendo que estão querendo interrogar

Yeshoua. Tu sabes as reais intenções deles?

Esclareceu-me que temiam o rápido crescimento de Yeshoua não só perante o povo, mas

começara a se infiltrar nas altas classes. Más línguas falam até de mim como cristã. Querem

vê-lo fora do caminho, pois já estão começando a incomodar.

Voltei preocupada para casa, troquei de roupa para não denotar que saí e fui ter com meu

marido. Expliquei-lhe brevemente as intenções do pessoal do Sinédrio, mas tudo que me

disse foi para conversarmos à noite, pois estava ocupado.

Preocupei-me mais ainda, tinha que fazer algo, voltei, me troquei novamente e saí.

Fui ter em palestra com Yeshoua, avisá-lo dos acontecimentos. Ele que fugisse ainda hoje

daria tempo.

Reconheceu-me como esposa do governador, escutou minhas aflitas palavras que em

cólicas desesperadas pedia que fugisse com seu pessoal, e ele, impassível. Irradiando uma

paz, uma segurança, uma resignação invejável. Tocou a mão em meu ombro, me olhou nos

olhos e me disse: “Irmã, cumprirei os desígnios que meu Pai reservou a mim. Se for da

vontade dele que eu escape, assim será, senão perecerei ante sua vontade. Não temas”.

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Como pode alguém ser assim ante quadro tão terrível?

A Promessa de Libertação

Preocupada com a sorte daquele homem fui para casa antes que Pontius voltasse, isso se

não ficasse em farras.

Fui ansiosa pensando em que fazer, mas estava aflita, não conseguia pensar. Como Pontius

conseguia fazer isso no dia a dia? Dava-me brancos.

Ao voltar ele ainda não havia chegado, ainda bem, pensei. E fiquei aflita, andando de um

lado para outro a sua espera.

Graças aos céus ele chegou cedo, não ficara na farra.

Assim que pude me abri com ele que já me havia exclamado “Ainda estás a pensar nisso?”

Adivinhando meus aflitos pensamentos, provavelmente devido a mal disfarçada aflição.

Expliquei tudo a ele que ficou furioso comigo me expondo dessa maneira, mas esclareceu

que nada havia a fazer à noite, ninguém agiria na calada da noite, era contra a lei, que era

para me acalmar que amanhã pela manhã seria tudo resolvido. E me chamou para cama

para relaxarmos e dormirmos.

Fizemos amor, quase esqueci totalmente essa loucura que se desenhava ante nossos olhos.

Estávamos tão relaxados, juntinhos, quando vieram chamar-lhe.

Até tentou me esconder, mas aflita do jeito que estava adivinhava o pior e não dormiria se

ele não me contasse. E lá no seu escritório mesmo pressionei-o a contar. Não quis,

preocupado comigo, mas acabou cedendo vendo que seria pior não fazê-lo.

-Bárbaros, é o que são. Prenderam-no na calada da noite. Agindo assim somente coisas

escusas podem ter em mente. Só pode – disse-me.

-Interfira!

-Não posso! Além de ser contra a lei agir à noite é assunto religioso. Roma não se mete em

assuntos religiosos. Se o fizesse estaria dando na cara meu interesse por aquele pobre

homem e não conseguiria mais libertá-lo. Sem contar que estaria assinando ser verdade o

que todos já comentam por aí. Que tu és cristã. Já pensou se Roma souber? Eu com cristãos

dentro de casa? E minha própria esposa? – disse-me

Page 22: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

-E o que faremos? – perguntei

-Agirei pela manhã. Eles provavelmente o trarão a mim, sempre trazem os seus desafetos a

mim para que me livre deles. Pensarei em algo livrá-lo sem levantar suspeitas – disse-me.

E fiquei eu com ele no escritório, agitada, ansiosa, à sua volta esperando a salvadora

solução.

-Pare com isso! Pare de ficar ansiosa de um lado para outro que me deixas nervoso. Vás

dormir e me deixe pensar tranqüilo se não nunca acharei brechas na lei – disse-me.

Desapontada como uma criança que tomara uma bronca fui para a cama. Mas a cama

parecia ter espinhos e agitava-me de um lado ao outro. Percebi que continuava a perturbá-

lo, pois ouvi seus suspiros quando me movia e resolvi ante desgosto meu forçar-me a ficar

quieta. Mas com isso só resultou em músculos travados e dentes cerrados.

Até que após aflitivos momentos que não sei precisar quanto, pois a mim pareceram horas

escuto seus passos em direção ao quarto e me viro rapidamente fingindo dormir.

Disfarce que não deu certo, pois ele percebera e algo entre contrariado com toda essa

situação e aflito com meu estado ele se abeirou de mim carinhosamente afagando meus

cabelos e beijando minha face dizendo-me haver achado a solução.

Disse-me que não poderia enviar de volta ao Sinédrio, pois seria perigoso, então resolveu

enviar a Herodes, fútil e curioso rei que mediante algumas gracinhas que satisfizessem sua

curiosidade provavelmente o soltaria.

Plano frágil achei, depender dos outros, não se podia confiar em ninguém, eu não podia

confiar inteiramente nem nele, meu marido, que vivia a me fazer promessas jamais

cumpridas. Mas eu não achara solução melhor, o melhor que pude fazer foi avisar Yeshoua

em tempo para sua fuga, somente isso.

Falou-me para confiar, mas ante minha mal disfarçada apreensão para me acalmar ele

retirou seu anel do dedo, colocou-o em minha mão apertando-o contra minha mão, com

suas duas mãos, prometendo-me que tudo faria para libertá-lo, me rememorando sua vasta

experiência com essa gente.

Vasta experiência cheia de tropeços pensei comigo mesma. Mas ante tanto amor, tão

sincera promessa, me deixei envolver por seu amor e promessa acreditando que essa ele

cumpriria.

Deitei-me agarrada ao anel tentando fazer com que ele trouxesse confiança a mim e

afastasse a aflição. Ele me envolveu com seu corpo fazendo-me sentir, por um segundo,

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que tudo sairia bem. Tentei adormecer, pedia perdão a Yeshoua que, nessa hora,

provavelmente estaria sendo torturado e nós ali, deitados, sem nada poder fazer.

O Sonho: Uma Justificativa

Ainda era madrugada quando os sacerdotes do Sinédrio vieram bater à nossa porta. Vieram

mais cedo que pensávamos. Não era comum tal interrupção. O que denotava a gravidade da

situação. Rapidamente toda a casa se levantou em agitado burburinho. Crianças choravam

pedindo minha atenção e eu chamei pelos escravos que os tirassem dali.

Pontius vestia rapidamente seus trajes militares, denotava por todas as feições e

características apreensão e medo. O que me fazia entrar em pânico.

Estava já ele saindo quando eu parei chorosa, quase aos prantos, mirando-o sair, o que fê-lo

voltar rapidamente abraçar-me fortemente pegar em minha mão que ainda segurava o anel,

objeto de nossa promessa feita de madrugada.

Pegou minha mão, abriu-a mostrando-me o anel e apertou-a fortemente com o anel nela

reforçando sua promessa na frente de todos. Da casa inteira que de um burburinho agitado

pararam todos para olharem a cena sem nada entenderem.

Foi aí que ele teve que inventar aquela história de sonho para justificar tal promessa ante os

olhos de todos.

E lá foi ele acompanhado dos guardas e meu coração com ele, aflito.

Tentei achar uma janela que proporcionasse uma melhor visão de onde estavam, nas

escadarias do palácio, aguardando.

Não achava nada satisfatório, foi então que mesmo ante protestos esgueirei-me pelos cantos

e fui até lá, escondida acompanhar o que podia.

Pouco pude acompanhar da breve conversa tida nas escadarias, mas pude vê-lo, seu estado

era de dar dó.

Sua alva túnica já estava em farrapos, ensangüentada, seu rosto marcado e seu cabelo uma

pasta. Escondi-me melhor quando todos subiram as escadas para adentrarem no palácio

governamental. Somente ele me notou ali no canto. Lançou um breve olhar resignado e

Page 24: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

entrou. Chorei, havia avisado, porque não fugira? Olhe seu estado agora. E subi de volta

aos prantos agora só me restava confiar no plano de meu marido, era a única salvação.

Plano Fracassado

Quando saíram com ele já havia juntado uma quantidade considerável de pessoas na porta

que aumentava cada vez mais juntamente com o burburinho causado por elas. Burburinho

que só fazia aumentar minha apreensão, a apreensão de todos.

Chegavam junto com o povo pessoas importantes a cada minuto atraídas pelo

acontecimento. Todos queriam ver de perto. Uns com boas intenções, outros somente como

moscas na carniça.

Fui chamada para servir-lhes algo para ver se acalmava os ânimos de todos. Mas não era

uma boa anfitriã no momento, estava aflita, confusa mentalmente, mal ouvia o que os

outros falavam, respondia com monossílabos e dirigia aflitivos olhares a meu marido

quando podia. O que fazia aumentar sua apreensão.

Minha situação já estava transparecendo a todos o que começava a gerar comentários

maldosos por lá obrigando Pontius a se preocupar em inventar desculpas. E assim a história

do sonho foi tomando corpo e formas maiores. Fugia dali quando podia, sabia estar

prejudicando-o, já bastava os outros com seus burburinhos.

Bem o conhecia, sabia que isso o deixava nervoso e perdido. Sabia que se pudesse gritaria

para todos saírem dali.

Estava lá em cima em casa quando escutei uma algazarra na multidão, cheguei perto em

uma das janelas para ver o que acontecia. A multidão estava incontida. O que acontecia?

Procurei em vão ver até que consegui, subindo as escadarias do palácio, cercado pelos

guardas que o protegiam da multidão, era Yeshoua, mandaram-no de volta. Pânico,

desespero, tomou conta de mim. Não dera certo o plano. E agora? Que meu marido faria?

Sabia que ele não tinha planejado essa hipótese e isso me desesperava. Desesperava-me

mais ainda em ver a situação do pobre . O que o pessoal do Herodes fez a ele era de dar dó.

Estava irreconhecível. Vestiram um manto de cor chamativa e em sua cabeça havia galhos

que se assemelhavam a uma coroa ou algo assim, não pude ver melhor, não quis, não

consegui. Suas mãos continuavam atadas para frente.

Page 25: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Desci com as pernas trêmulas, desesperada e adentrei em pânico o palácio governamental.

Ia aprontar uma cena chocada ante tão terrível figura que ele se tornara, quando Pontius me

viu e fez um sinal para que me levassem dali, um sinal discreto, pois ninguém havia me

visto ainda. Levaram-me, mal tinha forças, estava enjoada, minha mente não raciocinava,

mal entendia o que falavam a mim e aquele burburinho do povo incontido ensurdecia-me.

Queria sumir.

Mantendo a Promessa

Como não podia mais descer, enviei um escravo com o anel e um recado para relembrá-lo

da promessa.

Como demorou!

A turba estava cada vez mais agitada, mal contida pelos guardas, ameaçavam entrar. Dava

medo.

O escravo voltou com o anel. Ele manteria a promessa, o salvaria a qualquer custo, me

explicou o que pretendia fazer e me dava instruções como agir.

Devido à acusação falsa de querer ser rei seria necessário um castigo pela lei. Daria-lhe seis

chicotadas para acalmar a sede do povo por espetáculo e o liberaria. Era para eu preparar

um pacote com linho, demais apetrechos e enviar à mãe de Yeshoua para que limpassem e

curassem suas feridas. Assim como era para mandar o recado para seus seguidores que

fugissem para longe, pois se os sacerdotes pegassem seria morte certa. Assim como era

para, logo que se recuperasse, sumir com Yeshoua daquelas paragens. E assim foi feito.

Apesar do final mutilado e dolorido, Yeshoua sairia vivo.

Estávamos certos e rezávamos para acabar o suplício logo.

Ao final do suplício, ao ser apresentado para a multidão nervosa e agitada para liberação,

um dos sacerdotes inserido no meio da multidão iniciou outra revolta.

Ameaçavam meu marido de estar liberando alguém que era contra os domínios de Roma e

seria levado o caso ao imperador, assim como, da multidão ele não sairia vivo, pois a

justiça seria feita com as próprias mãos. E o povo acreditou!

E passou a bradar isso.

Page 26: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Eu, ajoelhada na cama em meu quarto, rezava, rezava desesperada, enquanto escutava ao

longe, lá embaixo, a multidão gritando impropérios contra Yeshoua. Estavam lá, perante o

povo, muitas pessoas, mas duas em particular eram os alvos principais de tamanha

confusão e eram as duas pessoas que mais amava em minha vida: Yeshoua e meu marido

Pontius. Quanto maior era a gritaria, quanto mais impropérios gritavam contra Yeshoua

pedindo sua cabeça, mais me desesperava, mais tremia, mais chorava, mais me

descabelava, ajoelhada perante minha cama. Queria tirá-los de lá desesperadamente, mas

não podia, não havia como sem causar uma revolta popular, o que a situação já beirava a

muito. A residência do governador ficava situada num plano mais alto onde se podia ver,

abaixo, parte da entrada onde Yeshoua estava sendo apresentado ao povo, perto das

escadarias, e no lado esquerdo o palácio governamental. Uma escrava toca meu ombro,

nem a vi entrar no quarto, diz que me mandaram chamar lá embaixo, onde estava Yeshoua,

perante o povo, meu marido me chamava.

Estranhei, mas meu desespero era tanto, que estava tonta, não conseguia raciocinar e fui,

devagar, para não cair, descendo as escadas em direção a Yeshoua e meu marido Pontius,

perante o povo.

Fui devagar, pois minhas pernas tremiam tanto que temia cair. Não havia mais a mínima

condição de esconder minha situação de cristã, há tanto escondida cuidadosamente

mediante mentiras de todo tipo.

Cheguei, por trás, vi nos olhos de meu marido Pontius o desespero estampado, Yeshoua

estava de costas para mim, de frente para o povo, assim que o vi seu estado precário

comecei a chorar desesperada. Meu marido assim que me viu fez uma cara de que não sabia

o que afinal estava fazendo ali, que era o último lugar que deveria estar, fez um sinal para

um dos guardas que me levou de volta ao palácio, amparada, pois começara a passar mal

diante de tal situação desesperadora.

Somente quando vi meu marido fazendo sinal para o guarda que percebi que fora enganada

por algum inimigo de meu marido, algum sacerdote do Sinédrio provavelmente, isso tudo

para que, ao me exporem perante o povo, levantassem ainda mais o ódio do povo contra

meu marido Pontius. Fazendo-os verem que eu era cristã e que meu marido Pontius estava a

favor de Yeshoua querendo libertá-lo, o que era verdade, e o que deu certo, pois o povo ao

ver aquela minha cena agitou-se mais ainda gritando.

O guarda me deixou na sala em um divã, estava mais desesperada ainda, passava mal,

tremendo, sem forças e chorando convulsivamente pela situação, pela cena terrível vista e

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pelo fato de ter sido enganada. Era claro a todos agora, não havia mais como esconder, fora

enganada.

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Revolta Popular

Fiquei lá assim por um tempo indefinido quando escuto todos se retirarem para dentro do

palácio governamental com Yeshoua. E a multidão ameaçava invadir para o pegar.

Meu marido mandou o recado para sumir com as crianças dali, pois se entrassem não

sobraria ninguém. Sei que era para eu ir, mas não fui, mandei apenas as crianças com

alguns escravos.

O medo pairava no ar e a situação beirava uma revolta.

Desci novamente, devagar para não cair, devido à fraqueza e tremedeira, e fui lá para

dentro do palácio governamental acompanhar o que acontecia.

Chegando lá procurei ficar meio escondida nos cantos, atrás das pilastras, para não chamar

mais atenção ainda, pois ainda tremia muito e a face indicava claramente grandes

padecimentos e crises de choro. A confusão era muita, havia gente por todos os lados,

alguns contra Yeshoua, outros a favor, num grande burburinho onde muitos tentavam falar

ao mesmo tempo ao meu marido Pontius, que estava ficando louco com tudo isso. Assim

ele não conseguiria pensar direito em uma solução plausível para libertar Yeshoua. Queria

tirá-lo de lá, protegê-lo, queria estar em seus braços, mas era impossível, não conseguia

nem chegar perto. Nem me era permitido devido ao meu estado.

Achei estranho que ao vir para o palácio, pude ver o povo lá fora gritando, e não vi

ninguém a favor de Yeshoua, vi apenas desordeiros, judeus e alguns sacerdotes. Não havia

nenhum simpatizante de Yeshoua. Estranhei, onde estaria o povo que o recebeu na entrada

da cidade com palmas? Seus discípulos sei que haviam fugido por ordem nossa, isso era

esperado, nem poderiam aparecer que seriam pegos e já tínhamos problemas demais

somente com um, imagine se aparecesse o resto.

Procurei saber o porquê desse estranho fenômeno e logo surgiu a explicação.

Era uma armação, o Sinédrio ameaçou aquela pobre gente simpatizante de Yeshoua com a

morte e perseguição se aparecessem por lá.

Assim como chamaram desordeiros de toda a espécie, judeus que eram contra Yeshoua,

alguns judeus coagidos, pois deviam favores ou dinheiro ao Sinédrio estavam lá, contra a

vontade e sob ameaça.

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Horrorizei-me ante tão maquiavélica mente e assustada corri para tentar avisar Pontius, mas

o palácio estava uma confusão. Pontius visivelmente abalado e confuso.

Ludibriado por uma Armação

Não conseguia ter em palestra particular com ele para avisá-lo, não sem chamar muita

atenção. Ele estava muito solicitado e cercado por todos os lados. Foi aí que vi alguém

dando uma idéia para tentar salvar a situação. Lembraram que era época de Páscoa e que

nessa época havia o costume de libertar um prisioneiro. Que libertassem Yeshoua.

Mas logo alguém lembrou que isso era escolha do povo, os ânimos novamente esfriaram.

Pontius com cara de grave e pensativo falou, que então seja apresentado alguém vil para

que a escolha recaia obviamente sobre Yeshoua.

O escolhido acabou sendo Barrabás, mas um militar de Roma chamado Salazar ali presente

endereçou um significativo olhar de reprovação, era o seu prisioneiro. Acalmaram-no

dizendo que não haveria perigo.

Pontius pediu que se iniciassem os preparativos rapidamente, inclusive os papéis de soltura

de Yeshoua.

Precisava avisar meu marido, precisava conseguir chegar até ele. Avisá-lo que não daria

certo, era imperioso chegar até ele.

Era a única que detinha a informação, o pessoal do Sinédrio deve ter percebido que eu

detinha tal informação e me impediram.

Era tarde demais, meu amado marido seguira com Yeshoua e outros perante o povo para

tentar a última cartada para libertação.

Foram lá para fora apresentar os prisioneiros, certos do resultado.

A multidão dava medo.

Perdi as forças nas pernas, ajoelhei-me onde estava, ali, perto de uma coluna, perto da

porta, dava para ver um pouco da cena lá de fora, dava para ver um pouco Yeshoua e meu

marido muito bem. Coloquei o rosto entre as mãos e chorei.

A multidão ensandeceu ao aparecerem todos ante ela.

Foi uma loucura de dar medo.

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Coragem teve os que apareceram perante a multidão. Uma palavra em falso e a multidão

partiriam para cima de todos.

Pontius mal conseguiu se fazer ouvido ante tanta gritaria.

Mal escutava suas palavras, só os gritos da multidão. Pouco compreendi do dito na hora,

muito pouco. De claro só o nome de Barrabás em alto e bom som e a morte de Yeshoua ou

algo assim.

Quando escutei isso gelei de alto a baixo, faltaram-me forças, o coração parecia parar.

Se já estava aflita e confusa mentalmente ficara mais ainda.

Vi como meu marido ficou aterrorizado quando escolheram Yeshoua, vi seu semblante de

terror. Vi a face triste e resignada de Yeshoua, como abaixou a cabeça ante sua sentença.

Como meu marido passou mal na hora na frente da multidão, não conseguia ficar em pé,

teve de ser amparado e levado ao trono que havia lá na frente no lado direito, diante do

povo. Sentaram-no no trono, e Pontius, desesperado, colocou o rosto entre as mãos e

chorou.

Não agüentei, precisava sair dali, e subi para a residência aturdida e desesperada. Não deu

certo. Nenhum dos vários planos.

Contaram-me depois que Pontius chegou perto de Yeshoua, ainda perante o povo, e lhe

disse que uma parte dele morreria juntamente com ele na cruz nesse dia. Obviamente não

para o povo ouvir.

Promessa Não Cumprida

Enquanto saía dali pensava, mas porquê Yeshoua não fugiu quando o alertei ontem? Daria

tempo. Por que mesmo sabendo de tudo resolveu ficar e enfrentar o que seu Pai o reservara

como ele mesmo disse? Por que?

Não sei quanto tempo fiquei lá na residência, mas uma hora, Salazar, um militar Romano,

chegou carregando meu marido Pontius que estava passando mal, seu estado era

lastimável, de dar dó. Tive vontade de enlaçar meu marido em meus braços e protegê-lo de

tudo aquilo, mas ao mesmo tempo me subiu uma raiva ao ver aquele romano. Se estávamos

nessa situação era por causa desses amigos romanos dele e seus maus conselhos. Soltaram-

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no perante mim que caiu aos meus pés em prantos pedindo perdão, dizendo-me que falhara

novamente em mais uma de suas promessas, não conseguira libertar Yeshoua conforme

prometido a mim e entrou em choque. Pedi aos escravos que o levassem ao nosso quarto

que já iria e fiquei eu, perante Salazar, a mim apenas mais um militar romano, tão odiado

por mim. Odiava a todos os militares Romanos. Foram eles que desencaminharam meu

marido, aproveitando-se de sua idolatria por mim para afastar-me do palácio e assim

poderem manipulá-lo à vontade, assim como levarem ele ao adultério em suas festas

mundanas. Odiava-os e desprezava-os de todo meu coração. E disse-lhe, cheia de ódio e

desprezo, xingando-o por dentro, mostrando que seu tão forte governador era na realidade

um fraco, querendo mostrar a ele que meu marido só era forte comigo por perto, era eu que

dava a força e o equilíbrio a ele, e tendo eles me tirado de perto dele no governo ele ficou

fraco e deu no que deu. Agora estávamos todos nas mãos do Sinédrio.

E entrei para o quarto, encontrei Pontius em choque chorando dizendo frases desconexas

com a consciência ardendo por não ter conseguido libertar o Messias conforme prometido.

Abracei-o, beijei-o, acaricei-o com todo meu amor até ele se acalmar e dormir. Sofrido

momento só nosso. E pensar que tudo o que queríamos da vida era apenas nos amarmos em

paz!

Deixei-o dormindo, escutava ao longe os gritos da turba enquanto o Messias era levado

para cumprir a sentença. Meu estado não era muito melhor que o do Pontius, não podia

ficar ali em casa, fingindo não ser cristã e escutando ao longe tudo aquilo e fui à casa de

Lázaro, rezar com suas irmãs até que tudo passasse. Não me receberam muito bem

inicialmente, mas com a bondosa interferência de Lázaro tudo foi esclarecido que nada

pudemos fazer e ficamos lá, rezando cada vez mais alto, para encobrir os gritos da

multidão.

Ao final fui para casa e encontrei Pontius desesperado, havia acordado e não sabia onde eu

estava. Achava que o abandonara devido a não ter cumprido a promessa. Na frente de todos

na casa gritou comigo desesperado, mas ao ficarmos sozinhos no quarto abraçou-me com

desespero dizendo que morreria sem mim, que preferiria a morte a ficar sem mim,

beijando-me pedindo perdão. Abraçamo-nos fortemente e choramos juntos por não termos

conseguido libertar o Messias.

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Quatro Anos Depois

Depois de um incidente com um falso Messias que resultou em diversas mortes mandaram-

nos de volta a Roma, Pontius perdera seu cargo, deveríamos ir a Roma dar explicações ao

imperador Tibério. Ao chegarmos em Roma ficamos sabendo que Tibério falecera e havia

um novo imperador.

Ele chamou-nos à sua presença. Fomos julgados sem dó nem piedade, todos sabiam de

nossa profunda ligação, de como não vivíamos um sem o outro, de como Pontius falava que

se mataria se ficasse sem mim. E o novo imperador me acusou de ter causado tudo que

pelas reis romanas não poderia ter acompanhado Pontius a Judéia, que usei de meu

parentesco com o antigo imperador para ir e pus tudo a perder com minha maléfica

influência. E falou, falou, acusando-me, acusando-nos.

Estávamos perante o imperador separados cada um em um canto cercado por vários

guardas.

E ele decretou a sentença, Pontius partiria para Viena e eu e nossos cinco filhos ficaríamos.

Desesperei-me, livrei-me dos guardas e joguei-me aos pés do imperador aos prantos que

fizesse tudo menos isso que não vivíamos um sem o outro, que ele se mataria.

Mas o imperador não teve dó e disse ainda que se eu tentasse de qualquer forma seguir

Pontius ele nos mandaria matar.

Se tentasse ir sozinha e deixar os filhos, matariam os filhos, se tentasse uma fuga com os

filhos iriam atrás de nós e nos matariam, ficaríamos vigiados o tempo todo.

Durante a preparação da partida dele éramos vigiados o tempo todo até mesmo dentro de

casa para que não fugíssemos ou suicidássemos.

Antes da partida ele falou comigo, no quarto, os dois sozinhos, disse-me que não tentasse

nada, que cuidasse dos nossos filhos, que pensasse neles, que fizesse isso por ele.

Na hora da partida os nossos filhos estavam na sala enfileirados todos nós ladeados por

guardas que tinham ordens de matar se tentássemos qualquer coisa. Ele falou com um por

um baixinho abraçando-os, despediu-se dolorosamente de mim. Subiu na carroça e partiu.

Page 33: Relato de Vidas Passadas - A Paixão de Cristo segundo Claudia Procula

Ao vê-lo partindo desesperei-me gritando, tentei ir atrás, mas imediatamente um guarda

partiu para cima de mim para me matar e um escravo me segurou enquanto chorava e

tentava ir atrás desesperada. Dizia que preferia que tivessem me matado ali mesmo, que era

melhor.

A vida foi difícil a partir daí, as condições financeiras não eram as mesmas, éramos

vigiados o tempo todo, em cada movimento. O que me impedia o suicídio, além da

responsabilidade dos cinco filhos, era o cristianismo e as conversas com Paulo de Tarso.

Era discreta, todos sabiam que era casa de cristãos, mas ninguém nunca conseguiu provar.

E realmente, Pontius cumpriu o que sempre disse a vida inteira desde que me conheceu,

que preferiria a morte a viver sem mim. Suicidou-se em Viena.