relato de experiência: propostas de atividades … · desta atividade foi averiguar o nível que...
TRANSCRIPT
Relato de Experiência:
“PROPOSTAS DE ATIVIDADES TEÓRICO-PRÁTICAS PARA O ENSINO DE
CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE CARTOGRAFIA”
Eixo Temático: Práticas de Ensino: Práticas Pedagógicas e Materiais Didáticos
Guilherme Rodrigues da Silva
e-mail: [email protected]
Graduando em Licenciatura – Geografia
Profa. Dra. Andréia Medinilha Pancher
e-mail: [email protected]
DEPLAN/IGCE – UNESP – Rio Claro/SP
Victor André Idesti
e-mail: [email protected]
Pedro Henrique Rodrigues
e-mail: [email protected]
Graduandos em Licenciatura – Geografia
IGCE / UNESP – Rio Claro/SP
INTRODUÇÃO
O dia-a-dia na sala de aula deve acompanhar as mudanças e dinâmicas em que o
mundo é suscetível, buscando assim novos meios, tantos tecnológicos como práticos, para
tornar a troca de informações entre professores e alunos mais eficiente e prazerosa.
A geografia é uma das ciências que pode se relacionar com essas dinâmicas do mundo
por ser uma ciência em constante transformação, haja visto os avanços tecnológicos
representados pelas Geotecnologias, que a cada dia se tornam mais eficientes e precisas.
Vários são os exemplos de Geotecnologias, como o Sensoriamento remoto, a cartografia
Digital, ferramentas on-line, Sistemas de Informações Geográficas (SIG), etc. Isso oferece ao
professor (quando a estrutura escolar é adequada) um amplo leque de ferramentas que ele
pode usar em suas práticas pedagógicas.
Por conta de vários aspectos, o dia-a-dia de uma sala de aula e, mais especificamente,
de uma aula de geografia pode ser marcado por aulas sistemáticas, sem dinamismo e muitas
vezes, o que é mais grave, sem sentido. “Geralmente, pessoas de diferentes idades resumem a
disciplina de geografia como algo chato, sem sentido e difícil de decorar” (PISSINATI e
ARCHELA, 2007, p. 172). Muitas vezes o professor não apresenta aos alunos os conceitos
relativos à cartografia, muitas vezes por não terem familiaridade com o assunto, podendo
comprometer o conhecimento, pois a geografia e a cartografia são indissociáveis. Tudo isso
colabora para a não alfabetização cartográfica do aluno, que é de muita importância.
“(...) quando se fala em mapas, geralmente a ideia concebida pela maioria das
pessoas é a de que a cartografia é uma técnica utilizada pela Geografia Física,
inexistindo qualquer interação com a Geografia Humana. Neste caso, o estudo
dos mapas trará um novo olhar para estas pessoas. Elas notarão que o mapa
pode “dizer” qualquer tipo de informação geográfica, de forma até mais clara do
que a escrita” (PISSINATI & ARCHELA, 2007, p. 172)
A alfabetização cartografia do aluno é muito importante para que este consiga analisar
o território de forma mais crítica; conhecer o espaço onde está inserido faz com que o
aprendizado e as relações com outros assuntos, como política, por exemplo, fique mais fácil e
com maior riqueza de detalhes. “Assim, a escola torna-se um dos principais aparelhos de
apoio às classes dominantes, pois os alunos tornam-se incapazes de fazer uma leitura do
espaço em que vivem e tampouco conseguem ser cidadãos atuantes, capazes de transformar a
realidade” (COSTA, DE LIMA, e CESÁRIO, 2007, p. 2)
Diante do exposto, o presente artigo tem como foco apresentar o trabalho realizado na
escola E.M. Engº. Rubens Foot Guimarães - Escola Agrícola, durante o período de 10 a 14 de
agosto de 2015, bem como tratar das atividades propostas nas aulas e seus objetivos.
Os resultados deste relato fazem parte do Projeto de Extensão denominado “A
Utilização das Geotecnologias para o Ensino de Geografia”, realizado na UNESP de Rio
Claro desde 2011. Assim, para a aplicação dessas aulas foram analisados resultados obtidos
das experiências anteriores, possibilitando que as aulas fossem elaboradas de modo mais
interessante, visando o melhor aproveitamento do aluno. Com isso foram identificadas as
atividades que despertaram maior interesse dos alunos, bem como àquelas em que os alunos
tiveram mais dificuldades, tentando desenvolvê-las de modo diferente esse ano. Além disso,
as aulas apresentadas em slides foram atualizadas e modificadas, tornando-as mais atrativas.
Através de atividades teórico-práticas, objetivou-se aprofundar os conhecimentos
cartográficos dos alunos, propondo-se atividades mais dinâmicas, incluindo algumas no
ambiente externo à sala de aula, trabalhando-se de forma lúdica para uma aprendizagem mais
eficaz.
MATERIAL E MÉTODOS
A primeira etapa consistiu na preparação das aulas. Para tanto, foi efetuado um
levantamento bibliográfico, buscando-se um embasamento teórico e metodológico.
Posteriormente foi feita uma análise das atividades efetuadas nos anos anteriores, observando
àquelas que mais despertaram maior interesse nos alunos, bem como àquelas que eles tiveram
mais dificuldades para realizar. Para a elaboração das atividades práticas foram consultados
livros, artigos, sites, auxílio de outros docentes da UNESP.
As aulas foram estruturadas em dois momentos do ano: na primeira fase foram
abordados conteúdos e atividades práticas vinculadas à Cartografia Sistemática; e; na segunda
fase, serão trabalhados conteúdos e atividades práticas relativas às geotecnologias.
Na primeira fase, foram utilizados o software Google Earth, para trabalhar conceitos
de escala, orientação e sistemas de coordenadas UTM e geográficas; cartas topográficas e
equipamentos de GPS, abordando-se a coleta de coordenadas e de altitude do terreno no
entorno da escola; barbante para a medição do laboratório, visando trabalhar com
proporcionalidade, ou seja, escala; e, bola de isopor e tinta guache, para a realização da
representação de aspectos da superfície da terra, explorando-se o conteúdo de projeção.
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
As atividades teórico-práticas foram desenvolvidas no período de 10 a 14 de agosto de
2015, com a participação de 32 alunos, sendo na maioria da 8ª série. Os três primeiros dias
foram realizados no laboratório didático do DEPLAN, na UNESP; e os outros dois dias foram
efetuados na Escola Agrícola. Os detalhes sobre o desenvolvimento das atividades serão
descritos a seguir:
Dia 10/08 – HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA: Neste dia foi abordado o tema do
histórico da cartografia. No decorrer da exposição do conteúdo, foram efetuadas
questões aos alunos relativas ao assunto. Por exemplo: “A cartografia veio antes ou
depois da escrita?”; “Vocês acham que isso é um mapa?”; “Quais as diferenças desses
mapas mais atuais para os antigos?”; “Para vocês, qual a função de um mapa?”. “Qual
a importância de se ter mapas?”. A partir das respostas, foi possível verificar o nível
de conhecimento dos alunos, além de favorecer a integração entre todos, valorizando
as respostas. A maioria demonstrou interesse nesta temática. Como atividade, foi
solicitado aos alunos a elaboração de um croqui da escola onde estudam. O objetivo
desta atividade foi averiguar o nível que os alunos possuíam acerca dos elementos de
um mapa, como escala, legenda, etc.
Dia 11/08 – COORDENADAS E ORIENTAÇÃO: os alunos foram questionados
sobre o assunto e os mesmos responderam que já haviam estudado alguns aspectos em
sala de aula com o professor (longitude/latitude). Quando os alunos foram
questionados sobre a finalidade das coordenadas, a maioria respondeu que estas
servem para achar algum ponto na Terra. Foram abordadas as coordenadas UTM e
Geográficas. Contudo, por ser de mais fácil entendimento, primeiro foi trabalhada a
coordenada geográfica. Como atividade, solicitou-se aos alunos pesquisarem no
software Google Earth alguns lugares da Terra, como Paris, Pequim, etc., e assim
anotassem as coordenadas desse local. Intencionava-se com isso que os alunos
percebessem que qualquer ponto da Terra é localizado através de um par de
coordenadas, podendo ser geográficas ou UTM. No decorrer das atividades, observou-
se que os alunos tiveram mais dificuldades de entender o sistema de coordenadas
UTM. Em seguida, foram apresentadas algumas noções sobre fusos horários e sobre o
horário de verão, além de mostrar algumas ideias introdutórias de orientação. Por
exemplo, foi questionado aos alunos como os povos antigos conseguiam se orientar
sem bússolas e outros instrumentos; qual a importância de saber-se orientar, entre
outros. Para reforçar os conteúdos, os alunos foram para o ambiente externo da
UNESP, onde os bolsistas demonstraram para eles como as pessoas podem se orientar
pelo Sol. A maioria dos alunos compreendeu a explicação e conseguiram se orientar.
Por fim, como última atividade do dia, foi trabalhado com os alunos, organizados em
duplas, o jogo batalha naval. Este jogo foi adaptado, visando que o aluno conseguisse
escolher qual local ele gostaria de atacar a folha quadriculada do oponente. Para a
realização desta atividade, o aluno precisaria usar os conceitos de orientação (sul,
norte, leste, oeste) e os conceitos de latitude e longitude.
Dia 12/08 – ESCALA: Nesse dia foi demonstrado aos alunos o conceito de Escala,
questionando-os sobre o sentido de se ter uma escala no mapa, no que esta informação
ajudava a entendê-lo. Após essa explicação apresentamos o conceito de transformação
das unidades (por exemplo, metro para quilometro ou quilometro para cm) para que
pudessem realizar a atividade. Foi aplicada então uma atividade onde os alunos tinham
que medir alguns objetos da sala, utilizando-se barbante. Explicamos que a cada
dobrada do barbante a escala seria dobrada. Por exemplo, um barbante dobrado três
vezes corresponde à escala de 1:6. Assim, passamos uma escala de 1:6, e os alunos
deveriam representar no papel os desenhos reduzidos na escala sugerida através das
dobras do barbante, e com isso descobrir o valor real dos objetos. Na segunda parte
passamos alguns exercícios envolvendo cálculos do tamanho do objeto real, do objeto
virtual e calcular a escala, fazer transformações de unidades e algumas perguntas
relacionadas à escala. Buscamos com essas atividades fazer com que os alunos
entendessem a importância da escala, suas diferenças de proporção e os tipos de
escala, gráfica e numérica.
Dia 13/08 – PROJEÇÕES: o tema foi apresentado, explicando-se a dificuldade para
se reproduzir em uma superfície plana o globo terrestre, que é curvo. Foram
explicadas as projeções e suas características: Cilíndrica, desenvolvida a partir de um
cilindro, representa melhor perto da linha do equador e deformações quanto mais perto
dos polos; Cônica, a partir de um cone, toca a linha do equador e os trópicos; Plana,
melhor opção para representação dos polos, por exemplo. Explicamos também suas
propriedades: Conforme - preserva sua forma; Equidistante - preserva a distância dos
pontos representados; Equivalente - conserva a proporção das áreas. Posteriormente
foi aplicada uma atividade com bolas de isopor, onde os alunos tinham que pintar o
globo (representado pela bola de isopor) e depois de pintado, ainda com a tinta
molhada, passar isso para uma superfície plana (no caso, papel). Na segunda parte da
aula explicamos os conteúdos de Planimetria e Altimetria. Usando cartas de 1:50.000,
foram exemplificados os elementos planimétricos (hidrografia, estradas, vegetação,
etc) e os elementos altimétricos (curva de nível e pontos cotados). Relativo a este
conteúdo, os alunos tiveram que pintar uma parte de uma carta de 1:50000 com
determinadas cores (hidrografia = azul, vegetação = verde, assim por diante) e criar a
legenda. Buscamos com essa atividade oferecer elementos para os alunos
diferenciarem e entenderem os elementos.
Dia 14/08 – CAÇA AO TESOURO: o último dia ocorreu na escola agrícola. Essa
manhã foi dividida em 3 partes. Na primeira, foi pedido para que os alunos, com base
em todos os elementos que viram durante a semana, fizessem um novo croqui,
aplicando nele os conteúdos trabalhados durante as exposições, como escala,
orientação, elementos do mapa, generalização, etc. Os resultados dessa atividade, bem
como de todas as outras que foram realizadas durante a semana, foram importantes
para que os bolsistas e voluntários pudessem fazer um diagnóstico da eficiência do
projeto. Na segunda parte do dia foi desenvolvida a atividade de caça ao tesouro. E por
ultimo os alunos responderam um questionário acerca das impressões que tiveram dos
bolsistas e voluntários, dos temas abordados, de como esses temas foram trabalhados,
sugestões, etc. Esse questionário foi aplicado para que pudéssemos fazer uma análise
geral do curso, visando aprimorar os aspectos que os alunos menos gostaram e
maximizar os que eles gostaram, tornando assim a semana mais prazerosa e eficaz.
ANÁLISE DAS ATIVIDADES
1º Croqui – elaboração de um croqui de toda a área da escola agrícola, numa folha de
sulfite, para verificar o conhecimento em Cartografia que os alunos já possuíam. Essa
atividade causou bastante agitação na sala de aula, pois vários alunos indagaram: “A
escola não cabe no papel!”; “Pode usar mais de uma folha?”; “Precisa fazer legenda?”.
Aqui cabe relatar um acontecimento bastante peculiar; um dos alunos, após ter tentado
fazer dois croquis da escola e não ter conseguido representa-la em sua totalidade, se
aborreceu e não quis mais fazer a atividade proposta. Quando foi questionado o
porquê dele não ter feito o mesmo respondeu: “Eu já tentei duas vezes e não consigo
fazer a escola no papel, desisti”. Um ponto que pode ser entendido é a falta de
conhecimentos cartográficos, como a generalização, proporção, escala, entre outros,
que ajudam na confecção de um mapa mais limpo e eficiente no que ele está proposto.
Observando os resultados pode-se perceber que os alunos possuíam algumas noções
de como fazer um croqui, mas todos ainda careciam de algumas informações para
tornar os croquis mais legíveis. A maioria dos croquis ficou confusa e apresentou
muita informação, dificultando o entendimento (figura 1).
Figura 1: Croqui pouco claro e com muita informação.
Outros croquis evidenciam que os alunos não usaram símbolos e cores para
representar uma área (figura 2). Em alguns mapas a escola não foi representada totalmente.
Figura 1: Croqui sem utilização de legendas.
Em nenhum dos croquis produzidos, foram inseridos os elementos de orientação e
escala, os quais facilitariam a leitura do croqui e a representação da escola no papel (figura 3).
Figura 2: Croqui sem escala e sem orientação.
Somente um aluno fez o uso do recurso legenda, porém nele faltavam outros
elementos que ajudariam a compreender o mesmo (figura 4).
Figura 3: Croqui com legenda.
Procurava-se nessa atividade conhecer quais eram os conhecimentos dos alunos acerca
da produção e interpretação de um mapa, o que constitui um mapa, etc.
Análise das cartas - foi solicitado aos alunos que analisassem 3 cartas, cada uma
representada numa escala (1:10.000, 1:50.000 e 1:100.000). Durante a análise
deveriam escrever numa folha quais as diferenças que perceberam nos 3 documentos
cartográficos. Antes disso, foi pedido para os alunos que falassem quais elementos que
um mapa precisa possuir para ser considerado mapa. Objetivava-se que os alunos
percebessem quais eram os elementos de um mapa e como esses estavam dispostos.
Além disso, a atividade proporcionou aos alunos o contato com cartas topográficas de
diferentes escalas e localidades (figura 5).
Figura 5: Elementos observados, alguns erros de conceito.
Na figura 5 pode-se perceber a confusão de alguns conceitos, como o de projeção, por
exemplo; isso pode ser justificado pois essa noção não havia sido trabalhada ainda com os
alunos. Nas folhas pode-se ver que os alunos anotaram aquilo que mais chamaram a atenção,
por exemplo, o nome da folha, a escala, legenda, entre outros.
Utilizando Google Earth - Nessa atividade os alunos deveriam procurar no Google
Earth algumas localidades e anotar as coordenadas geográficas. Em alguns
computadores, o software estava configurado nas coordenadas UTM; logo que
perceberam isso os alunos questionaram porque o computador que eles estavam
utilizando estava aparecendo as coordenadas UTM e não as geográficas. Este fato
mostrou que eles conseguiram entender a diferença entre os dois sistemas: um
fornecido em metros e o outro em graus, minutos e segundos. Além de demonstrarem
entender qual era a aplicação para cada tipo de coordenada.
Batalha naval - O jogo consistiu em uma folha quadriculada, onde na parte superior e
lateral esquerda estavam os graus, como se fosse um mapa do mundo. Os alunos
deveriam distribuir suas embarcações na folha quadriculada. O jogo foi modificado de
maneira que para o jogador conseguir dizer em qual local ele queria atacar na folha do
oponente (essa atividade foi realizada em duplas) ele precisaria usar os conceitos de
orientação (norte, sul, leste, oeste) e os conceitos de grau de latitude e de longitude.
Ou seja, um exemplo seria: 30º de latitude Norte e 60 graus de longitude Oeste (figura
6).
Figura 6: Jogo batalha naval.
Essa atividade despertou bastante interesse nos alunos, principalmente por ser um jogo
e por ter sido realizada na área externa do DEPLAN. Quando foi perguntado aos alunos se
gostaram da atividade, a maioria disse sim, porém alguns poucos alunos disseram que
acharam a atividade difícil, por não conseguirem dizer qual era o ponto que queriam atingir na
folha do oponente. Duas ideias podem explicar esse problema, ou o aluno nunca entrou em
contato com esse conceito e nesta semana foi a primeira vez que tiveram noções acerca do
tema, ou já tiveram acesso a esses conceitos só que não o utilizaram de maneira efetiva para a
assimilação do assunto. No balanço geral, segundo a observação do bolsista e dos voluntários,
os alunos aproveitaram bem a atividade e se divertiram.
Medição da sala de aula - Esse exercício consistiu numa atividade onde os alunos
tinham que medir com barbante alguns objetos da sala: mesa, lousa, quadro de
energia, armário, segmento da parede e lixo. Após a explicação pedimos que os alunos
dobrassem (sempre na metade) o barbante. Explicamos que cada vez que eles
dobravam o barbante a escala também dobrava. Por exemplo, um barbante dobrado
três vezes corresponde à escala de 1:6, assim passamos uma escala de 1:6, e os alunos
deveriam representar no papel os desenhos reduzidos na escala solicitada através das
dobras do barbante, e com isso descobrir o valor real dos objetos. Procuramos com
essa atividade mostrar aos alunos como uma escala realmente funciona e como
acontece sua aplicação num mapa.
Cálculos acerca da Escala - Essa atividade consistiu numa lista de exercícios onde
foram abordados conceitos de escala, tanto no que diz respeito a transformações de
unidades quanto ao entendimento do conceito escala. Para essa atividade foi preciso
utilizar alguns conhecimentos matemáticos, como a regra de três; esse conceito foi
relembrado de maneira que facilitasse a resolução dos exercícios. De acordo com a
experiência acumulada neste projeto desde 2011, esse é o assunto que mais os alunos
têm dificuldades. No geral, os alunos não sabem como efetuar esse cálculo, têm
dificuldades de entender como os cálculos transformam de modo proporcional, uma
distância do desenho na mesma distância do real, e vice-versa. Talvez nessa parte
exista uma defasagem de relacionar outras áreas do conhecimento à geografia (no
caso, a matemática) para que realmente haja o entendimento efetivo.
Globo Terrestre - Para essa atividade foram usadas bolas de isopor, onde os alunos
tinham que pintar o globo (representado pela bola de isopor) e depois de pintado,
ainda com a tinta molhada, decalcar numa superfície plana (no caso, papel). Durante a
atividade os alunos “reclamavam” que o globo quando representado no papel fazia
com que os “desenhos” ficassem tortos e cortados. Depois de concluída a atividade,
explicamos que o objetivo era mostrar a dificuldade que existe para se fazer uma
representação do globo terrestre em uma superfície plana. Enfatizou-se que todos os
tipos de projeções existentes possuem alguma distorção e, para decidirmos qual delas
é a mais adequada para o nosso mapeamento, devemos considerar qual é o objetivo do
nosso mapa, de modo que a distorção presente na representação escolhida não
comprometa a interpretação dos dados existentes no mapa (figuras 7 e 8).
Figura 7: Dificuldade na transição do globo para o plano (papel).
Figura 8: Observação das distorções.
Caça ao tesouro – na aplicação desta atividade, buscou-se abordar os temas
trabalhados de maneira lúdica, incentivando-os através de brincadeiras a utilizarem os
conhecimentos abordados durante a semana. Previamente, o bolsista e os voluntários
planejaram um trajeto envolvendo pontos de referências localizados no entorno da
escola (figura 9). No dia da realização, dois alunos da graduação em Geografia saíram
pela escola e esconderam algumas perguntas em 6 pontos previamente selecionados
(por exemplo, em baixo de árvores, nos portões, no chão, etc.).
Figura 9: Trajeto organizado pelo grupo.
Na sequência, foi pedido para os alunos se dividirem em duas equipes. Ambas tiveram que
fazer o mesmo trajeto, porém uma delas começou pelo ponto final e a outra no ponto inicial,
garantindo que não se encontrassem. À cada equipe foi entregue um aparelho GPS e uma
cópia da parcial da carta topográfica da área da escola. Com a ajuda do GPS e já sabendo
onde ficaria o primeiro ponto, as equipes deveriam se guiar pelas coordenadas (que no caso
era a UTM) para chegar aos próximos pontos. Conforme eles achavam determinado ponto,
tinham que procurar um bilhete escondido, que continha uma questão e os valores das
coordenadas do próximo ponto; assim que respondiam a questão corretamente e encontravam
o bilhete, deveriam ler a pergunta que estava escrita nesse papel e responde-la. Vale salientar,
que todas as perguntas eram ligadas aos conteúdos que foram abordados durante a aplicação
do curso. Apenas quando a equipe acertava a pergunta, o bolsista que acompanhava a mesma
entregava outra folha onde estava escrita a próxima coordenada. A equipe então deveria, com
a ajuda do GPS, achar o próximo ponto, as duas equipes iam repetindo esse processo até que
tivessem percorrido todo o circuito. Durante a realização desta atividade, observou-se uma
expectativa alta e os alunos demonstraram estar se divertindo, fato também comprovado no
questionário de “satisfação” aplicado, onde vários alunos mostraram maior interesse pela caça
ao tesouro (figura 10).
A: Explicação da dinâmica Caça ao Tesouro.
B: Alunos procurando o papel escondido.
C: Observação no GPS e análise de parte da carta.
D: Leitura da questão.
Figura E: Comparação das coordenadas do GPS
com as mostradas na folha.
F: Leitura da pergunta.
Figura 10: Momentos da atividade “Caça ao Tesouro”.
2º Croqui - Essa atividade consistiu na mesma ideia do primeiro croqui. Para esse segundo
desenho foi pedido que os alunos utilizassem os conhecimentos que foram abordados durante
a semana, como orientação, escala, elementos de um mapa, etc. Desse modo, a atividade foi
proposta para que pudéssemos observar quais os elementos que os alunos entenderam mais
facilmente e qual deles ainda deixaram de representar no croqui. Nessa segunda parte pode-se
perceber que os alunos fizeram o uso da legenda e da orientação, dispuseram os elementos da
escola de maneira mais precisa, tornando os croquis mais legíveis. Porém alguns elementos
não foram apresentados na carta, como noções de proporcionalidade e generalização gráfica,
por exemplo (figura 11 a e b, 12).
Figura 11a: 2º Croqui – com legendas.
Figura 12: Utilização de legenda e orientação.
Mesmo após as explicações dos conteúdos os croquis não apresentaram alguns
recursos que poderiam ajudar na compreensão, como o uso de cores e a escala.
ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS NO QUESTIONÁRIO
A aplicação do questionário na última aula, teve por objetivo um feedback das
atividades desenvolvidas, bem como identificar a importância destas para seu aprendizado.
Com base nas respostas notou-se que as aulas possibilitou uma ampliação nos conhecimentos
cartográficos, bem como permitiu contato com ferramentas das geotecnologias que
comumente não são utilizadas em sala de aula, além de colaborar com a maior afinidade dos
alunos com a geografia.
A utilização de ferramentas digitais, demonstrou um rico potencial para o ensino de
Cartografia. Esta constatação, foi observada através dos comentários dos alunos no decorrer
das aulas e nas respostas do questionário. Segundo eles, os recursos digitais são mais
interessantes do que as atividades escritas. Este aspecto foi verificado em algumas respostas,
como: “diminuir as atividades escritas”, “ter mais dinâmica”, “o que mais gostei no curso foi
a tecnologia e o modo como os professores nos ensinaram”, “gostei de ter procurado coisas no
Google”, “o que mais gostei foi a caça ao tesouro”, entre outras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ensino, é importante que os conhecimentos possam ser relacionados às vivências
dos alunos; é preciso fugir da relação professor - quem transmite conteúdo, aluno - quem
absorve conteúdo. O ideal é que haja uma troca de conhecimentos, é preciso aproveitar a
realidade do aluno para que o ensino seja efetivado e faça sentido.
“Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor
ou, mais amplamente, a escola, o dever de não só
respeitar os saberes com que os educandos,
sobretudo os das classes populares, chegam a ela
– saberes socialmente construídos na prática
comunitária – (...) Porque não discutir com os
alunos a realidade concreta a que se deva associar
a disciplina cujo conteúdo se ensina(...)”
(FREIRE, 1996, p. 30)
A cartografia provavelmente é a mais antiga representação do pensamento geográfico.
Esta área pode (e deve) ser utilizada como uma contribuição ao entendimento da realidade
socioeconômica em que o aluno está inserido. Essa ciência é utilizada há muito tempo,
antecedendo a escrita, mostrando ser uma forma eficiente de comunicação, ou seja, é de suma
importância para os alunos aprimorarem seus conhecimentos cartográficos tornando-se
indivíduos críticos, “pois o indivíduo que não consegue usar um mapa está impedido de
pensar sobre o território” (CESÁRIO, COSTA, LIMA, 2007, p.2)
Diante do exposto, se mostra de alta importância a realização de ações como as que
foram realizadas neste projeto de extensão. O objetivo foi aprofundar os conhecimentos
cartográficos dos alunos, utilizando-se alternativas àquelas do cotidiano da sala de aula; esse
cotidiano que muitas vezes pode inviabilizar as ações dos professores que pensem em utilizar
outros métodos pedagógicos. Essas alternativas se baseiam, por exemplo, no lúdico (jogos),
que são recursos didáticos dinâmicos que podem garantir resultados eficazes no processo de
ensino-aprendizagem, além de também (e principalmente) se utilizar das atuais
Geotecnologias. Tudo isso voltado a proporcionar resultados mais eficazes, possibilitando
assim que o aluno aprimore seus conhecimentos cartográficos e, como consequência, que
tenham a oportunidade de conhecer a realidade que este está inserido, de modo crítico.
BIBLIOGRAFIA
PISSINATI, M. C.; ARCHELA, R. S. Fundamentos da alfabetização cartográfica no ensino de geografia,
Geografia – v,. 16, n. 1, jan/jun. 2007 - Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências
Disponível em: <
http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/GEOGRAFIA/Artigos/art_cartografia
_geo.pdf>
CESÁRIO, L. P.; COSTA, A. A.; LIMA, J. A. E. A Cartografia no ensino: análise preliminar dos conteúdos
abordados na 5ª série do ensino fundamental das redes municipal e estadual de ensino da cidade de Goiás (GO).
In: EREGEO Simpósio Regional de Geografia, 10, 2007, Catalão. Disponível em: <
http://www.observatoriogeogoias.com.br/observatoriogeogoias/artigos_pdf/Auristela%20Afonso%20da%20Cost
a.pdf >
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia, 1996, São Paulo, Paz e Terra.
COSTA, A. A.; LIMA, J. A. E.; CESARIO, L. P. A cartografia no ensino: análise preliminar dos conteúdos
abordados na 5ª série do ensino fundamental das redes municipal e estadual de ensino da cidade de Goiás (GO).
In: X EREGEO SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA, 2007, Goiânia. Disponível em:
<https://observatoriogeogoias.iesa.ufg.br/up/215/o/Auristela_Afonso_da_Costa_Cartografia_no_ensino.pdf>