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Relato de Experiência: PROPOSTAS DE ATIVIDADES TEÓRICO-PRÁTICAS PARA O ENSINO DE CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE CARTOGRAFIAEixo Temático: Práticas de Ensino: Práticas Pedagógicas e Materiais Didáticos Guilherme Rodrigues da Silva e-mail: [email protected] Graduando em Licenciatura Geografia Profa. Dra. Andréia Medinilha Pancher e-mail: [email protected] DEPLAN/IGCE UNESP Rio Claro/SP Victor André Idesti e-mail: [email protected] Pedro Henrique Rodrigues e-mail: [email protected] Graduandos em Licenciatura Geografia IGCE / UNESP Rio Claro/SP INTRODUÇÃO O dia-a-dia na sala de aula deve acompanhar as mudanças e dinâmicas em que o mundo é suscetível, buscando assim novos meios, tantos tecnológicos como práticos, para tornar a troca de informações entre professores e alunos mais eficiente e prazerosa. A geografia é uma das ciências que pode se relacionar com essas dinâmicas do mundo por ser uma ciência em constante transformação, haja visto os avanços tecnológicos representados pelas Geotecnologias, que a cada dia se tornam mais eficientes e precisas. Vários são os exemplos de Geotecnologias, como o Sensoriamento remoto, a cartografia Digital, ferramentas on-line, Sistemas de Informações Geográficas (SIG), etc. Isso oferece ao professor (quando a estrutura escolar é adequada) um amplo leque de ferramentas que ele pode usar em suas práticas pedagógicas. Por conta de vários aspectos, o dia-a-dia de uma sala de aula e, mais especificamente, de uma aula de geografia pode ser marcado por aulas sistemáticas, sem dinamismo e muitas vezes, o que é mais grave, sem sentido. “Geralmente, pessoas de diferentes idades resumem a disciplina de geografia como algo chato, sem sentido e difícil de decorar(PISSINATI e ARCHELA, 2007, p. 172). Muitas vezes o professor não apresenta aos alunos os conceitos relativos à cartografia, muitas vezes por não terem familiaridade com o assunto, podendo comprometer o conhecimento, pois a geografia e a cartografia são indissociáveis. Tudo isso colabora para a não alfabetização cartográfica do aluno, que é de muita importância.

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Relato de Experiência:

“PROPOSTAS DE ATIVIDADES TEÓRICO-PRÁTICAS PARA O ENSINO DE

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE CARTOGRAFIA”

Eixo Temático: Práticas de Ensino: Práticas Pedagógicas e Materiais Didáticos

Guilherme Rodrigues da Silva

e-mail: [email protected]

Graduando em Licenciatura – Geografia

Profa. Dra. Andréia Medinilha Pancher

e-mail: [email protected]

DEPLAN/IGCE – UNESP – Rio Claro/SP

Victor André Idesti

e-mail: [email protected]

Pedro Henrique Rodrigues

e-mail: [email protected]

Graduandos em Licenciatura – Geografia

IGCE / UNESP – Rio Claro/SP

INTRODUÇÃO

O dia-a-dia na sala de aula deve acompanhar as mudanças e dinâmicas em que o

mundo é suscetível, buscando assim novos meios, tantos tecnológicos como práticos, para

tornar a troca de informações entre professores e alunos mais eficiente e prazerosa.

A geografia é uma das ciências que pode se relacionar com essas dinâmicas do mundo

por ser uma ciência em constante transformação, haja visto os avanços tecnológicos

representados pelas Geotecnologias, que a cada dia se tornam mais eficientes e precisas.

Vários são os exemplos de Geotecnologias, como o Sensoriamento remoto, a cartografia

Digital, ferramentas on-line, Sistemas de Informações Geográficas (SIG), etc. Isso oferece ao

professor (quando a estrutura escolar é adequada) um amplo leque de ferramentas que ele

pode usar em suas práticas pedagógicas.

Por conta de vários aspectos, o dia-a-dia de uma sala de aula e, mais especificamente,

de uma aula de geografia pode ser marcado por aulas sistemáticas, sem dinamismo e muitas

vezes, o que é mais grave, sem sentido. “Geralmente, pessoas de diferentes idades resumem a

disciplina de geografia como algo chato, sem sentido e difícil de decorar” (PISSINATI e

ARCHELA, 2007, p. 172). Muitas vezes o professor não apresenta aos alunos os conceitos

relativos à cartografia, muitas vezes por não terem familiaridade com o assunto, podendo

comprometer o conhecimento, pois a geografia e a cartografia são indissociáveis. Tudo isso

colabora para a não alfabetização cartográfica do aluno, que é de muita importância.

“(...) quando se fala em mapas, geralmente a ideia concebida pela maioria das

pessoas é a de que a cartografia é uma técnica utilizada pela Geografia Física,

inexistindo qualquer interação com a Geografia Humana. Neste caso, o estudo

dos mapas trará um novo olhar para estas pessoas. Elas notarão que o mapa

pode “dizer” qualquer tipo de informação geográfica, de forma até mais clara do

que a escrita” (PISSINATI & ARCHELA, 2007, p. 172)

A alfabetização cartografia do aluno é muito importante para que este consiga analisar

o território de forma mais crítica; conhecer o espaço onde está inserido faz com que o

aprendizado e as relações com outros assuntos, como política, por exemplo, fique mais fácil e

com maior riqueza de detalhes. “Assim, a escola torna-se um dos principais aparelhos de

apoio às classes dominantes, pois os alunos tornam-se incapazes de fazer uma leitura do

espaço em que vivem e tampouco conseguem ser cidadãos atuantes, capazes de transformar a

realidade” (COSTA, DE LIMA, e CESÁRIO, 2007, p. 2)

Diante do exposto, o presente artigo tem como foco apresentar o trabalho realizado na

escola E.M. Engº. Rubens Foot Guimarães - Escola Agrícola, durante o período de 10 a 14 de

agosto de 2015, bem como tratar das atividades propostas nas aulas e seus objetivos.

Os resultados deste relato fazem parte do Projeto de Extensão denominado “A

Utilização das Geotecnologias para o Ensino de Geografia”, realizado na UNESP de Rio

Claro desde 2011. Assim, para a aplicação dessas aulas foram analisados resultados obtidos

das experiências anteriores, possibilitando que as aulas fossem elaboradas de modo mais

interessante, visando o melhor aproveitamento do aluno. Com isso foram identificadas as

atividades que despertaram maior interesse dos alunos, bem como àquelas em que os alunos

tiveram mais dificuldades, tentando desenvolvê-las de modo diferente esse ano. Além disso,

as aulas apresentadas em slides foram atualizadas e modificadas, tornando-as mais atrativas.

Através de atividades teórico-práticas, objetivou-se aprofundar os conhecimentos

cartográficos dos alunos, propondo-se atividades mais dinâmicas, incluindo algumas no

ambiente externo à sala de aula, trabalhando-se de forma lúdica para uma aprendizagem mais

eficaz.

MATERIAL E MÉTODOS

A primeira etapa consistiu na preparação das aulas. Para tanto, foi efetuado um

levantamento bibliográfico, buscando-se um embasamento teórico e metodológico.

Posteriormente foi feita uma análise das atividades efetuadas nos anos anteriores, observando

àquelas que mais despertaram maior interesse nos alunos, bem como àquelas que eles tiveram

mais dificuldades para realizar. Para a elaboração das atividades práticas foram consultados

livros, artigos, sites, auxílio de outros docentes da UNESP.

As aulas foram estruturadas em dois momentos do ano: na primeira fase foram

abordados conteúdos e atividades práticas vinculadas à Cartografia Sistemática; e; na segunda

fase, serão trabalhados conteúdos e atividades práticas relativas às geotecnologias.

Na primeira fase, foram utilizados o software Google Earth, para trabalhar conceitos

de escala, orientação e sistemas de coordenadas UTM e geográficas; cartas topográficas e

equipamentos de GPS, abordando-se a coleta de coordenadas e de altitude do terreno no

entorno da escola; barbante para a medição do laboratório, visando trabalhar com

proporcionalidade, ou seja, escala; e, bola de isopor e tinta guache, para a realização da

representação de aspectos da superfície da terra, explorando-se o conteúdo de projeção.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES

As atividades teórico-práticas foram desenvolvidas no período de 10 a 14 de agosto de

2015, com a participação de 32 alunos, sendo na maioria da 8ª série. Os três primeiros dias

foram realizados no laboratório didático do DEPLAN, na UNESP; e os outros dois dias foram

efetuados na Escola Agrícola. Os detalhes sobre o desenvolvimento das atividades serão

descritos a seguir:

Dia 10/08 – HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA: Neste dia foi abordado o tema do

histórico da cartografia. No decorrer da exposição do conteúdo, foram efetuadas

questões aos alunos relativas ao assunto. Por exemplo: “A cartografia veio antes ou

depois da escrita?”; “Vocês acham que isso é um mapa?”; “Quais as diferenças desses

mapas mais atuais para os antigos?”; “Para vocês, qual a função de um mapa?”. “Qual

a importância de se ter mapas?”. A partir das respostas, foi possível verificar o nível

de conhecimento dos alunos, além de favorecer a integração entre todos, valorizando

as respostas. A maioria demonstrou interesse nesta temática. Como atividade, foi

solicitado aos alunos a elaboração de um croqui da escola onde estudam. O objetivo

desta atividade foi averiguar o nível que os alunos possuíam acerca dos elementos de

um mapa, como escala, legenda, etc.

Dia 11/08 – COORDENADAS E ORIENTAÇÃO: os alunos foram questionados

sobre o assunto e os mesmos responderam que já haviam estudado alguns aspectos em

sala de aula com o professor (longitude/latitude). Quando os alunos foram

questionados sobre a finalidade das coordenadas, a maioria respondeu que estas

servem para achar algum ponto na Terra. Foram abordadas as coordenadas UTM e

Geográficas. Contudo, por ser de mais fácil entendimento, primeiro foi trabalhada a

coordenada geográfica. Como atividade, solicitou-se aos alunos pesquisarem no

software Google Earth alguns lugares da Terra, como Paris, Pequim, etc., e assim

anotassem as coordenadas desse local. Intencionava-se com isso que os alunos

percebessem que qualquer ponto da Terra é localizado através de um par de

coordenadas, podendo ser geográficas ou UTM. No decorrer das atividades, observou-

se que os alunos tiveram mais dificuldades de entender o sistema de coordenadas

UTM. Em seguida, foram apresentadas algumas noções sobre fusos horários e sobre o

horário de verão, além de mostrar algumas ideias introdutórias de orientação. Por

exemplo, foi questionado aos alunos como os povos antigos conseguiam se orientar

sem bússolas e outros instrumentos; qual a importância de saber-se orientar, entre

outros. Para reforçar os conteúdos, os alunos foram para o ambiente externo da

UNESP, onde os bolsistas demonstraram para eles como as pessoas podem se orientar

pelo Sol. A maioria dos alunos compreendeu a explicação e conseguiram se orientar.

Por fim, como última atividade do dia, foi trabalhado com os alunos, organizados em

duplas, o jogo batalha naval. Este jogo foi adaptado, visando que o aluno conseguisse

escolher qual local ele gostaria de atacar a folha quadriculada do oponente. Para a

realização desta atividade, o aluno precisaria usar os conceitos de orientação (sul,

norte, leste, oeste) e os conceitos de latitude e longitude.

Dia 12/08 – ESCALA: Nesse dia foi demonstrado aos alunos o conceito de Escala,

questionando-os sobre o sentido de se ter uma escala no mapa, no que esta informação

ajudava a entendê-lo. Após essa explicação apresentamos o conceito de transformação

das unidades (por exemplo, metro para quilometro ou quilometro para cm) para que

pudessem realizar a atividade. Foi aplicada então uma atividade onde os alunos tinham

que medir alguns objetos da sala, utilizando-se barbante. Explicamos que a cada

dobrada do barbante a escala seria dobrada. Por exemplo, um barbante dobrado três

vezes corresponde à escala de 1:6. Assim, passamos uma escala de 1:6, e os alunos

deveriam representar no papel os desenhos reduzidos na escala sugerida através das

dobras do barbante, e com isso descobrir o valor real dos objetos. Na segunda parte

passamos alguns exercícios envolvendo cálculos do tamanho do objeto real, do objeto

virtual e calcular a escala, fazer transformações de unidades e algumas perguntas

relacionadas à escala. Buscamos com essas atividades fazer com que os alunos

entendessem a importância da escala, suas diferenças de proporção e os tipos de

escala, gráfica e numérica.

Dia 13/08 – PROJEÇÕES: o tema foi apresentado, explicando-se a dificuldade para

se reproduzir em uma superfície plana o globo terrestre, que é curvo. Foram

explicadas as projeções e suas características: Cilíndrica, desenvolvida a partir de um

cilindro, representa melhor perto da linha do equador e deformações quanto mais perto

dos polos; Cônica, a partir de um cone, toca a linha do equador e os trópicos; Plana,

melhor opção para representação dos polos, por exemplo. Explicamos também suas

propriedades: Conforme - preserva sua forma; Equidistante - preserva a distância dos

pontos representados; Equivalente - conserva a proporção das áreas. Posteriormente

foi aplicada uma atividade com bolas de isopor, onde os alunos tinham que pintar o

globo (representado pela bola de isopor) e depois de pintado, ainda com a tinta

molhada, passar isso para uma superfície plana (no caso, papel). Na segunda parte da

aula explicamos os conteúdos de Planimetria e Altimetria. Usando cartas de 1:50.000,

foram exemplificados os elementos planimétricos (hidrografia, estradas, vegetação,

etc) e os elementos altimétricos (curva de nível e pontos cotados). Relativo a este

conteúdo, os alunos tiveram que pintar uma parte de uma carta de 1:50000 com

determinadas cores (hidrografia = azul, vegetação = verde, assim por diante) e criar a

legenda. Buscamos com essa atividade oferecer elementos para os alunos

diferenciarem e entenderem os elementos.

Dia 14/08 – CAÇA AO TESOURO: o último dia ocorreu na escola agrícola. Essa

manhã foi dividida em 3 partes. Na primeira, foi pedido para que os alunos, com base

em todos os elementos que viram durante a semana, fizessem um novo croqui,

aplicando nele os conteúdos trabalhados durante as exposições, como escala,

orientação, elementos do mapa, generalização, etc. Os resultados dessa atividade, bem

como de todas as outras que foram realizadas durante a semana, foram importantes

para que os bolsistas e voluntários pudessem fazer um diagnóstico da eficiência do

projeto. Na segunda parte do dia foi desenvolvida a atividade de caça ao tesouro. E por

ultimo os alunos responderam um questionário acerca das impressões que tiveram dos

bolsistas e voluntários, dos temas abordados, de como esses temas foram trabalhados,

sugestões, etc. Esse questionário foi aplicado para que pudéssemos fazer uma análise

geral do curso, visando aprimorar os aspectos que os alunos menos gostaram e

maximizar os que eles gostaram, tornando assim a semana mais prazerosa e eficaz.

ANÁLISE DAS ATIVIDADES

1º Croqui – elaboração de um croqui de toda a área da escola agrícola, numa folha de

sulfite, para verificar o conhecimento em Cartografia que os alunos já possuíam. Essa

atividade causou bastante agitação na sala de aula, pois vários alunos indagaram: “A

escola não cabe no papel!”; “Pode usar mais de uma folha?”; “Precisa fazer legenda?”.

Aqui cabe relatar um acontecimento bastante peculiar; um dos alunos, após ter tentado

fazer dois croquis da escola e não ter conseguido representa-la em sua totalidade, se

aborreceu e não quis mais fazer a atividade proposta. Quando foi questionado o

porquê dele não ter feito o mesmo respondeu: “Eu já tentei duas vezes e não consigo

fazer a escola no papel, desisti”. Um ponto que pode ser entendido é a falta de

conhecimentos cartográficos, como a generalização, proporção, escala, entre outros,

que ajudam na confecção de um mapa mais limpo e eficiente no que ele está proposto.

Observando os resultados pode-se perceber que os alunos possuíam algumas noções

de como fazer um croqui, mas todos ainda careciam de algumas informações para

tornar os croquis mais legíveis. A maioria dos croquis ficou confusa e apresentou

muita informação, dificultando o entendimento (figura 1).

Figura 1: Croqui pouco claro e com muita informação.

Outros croquis evidenciam que os alunos não usaram símbolos e cores para

representar uma área (figura 2). Em alguns mapas a escola não foi representada totalmente.

Figura 1: Croqui sem utilização de legendas.

Em nenhum dos croquis produzidos, foram inseridos os elementos de orientação e

escala, os quais facilitariam a leitura do croqui e a representação da escola no papel (figura 3).

Figura 2: Croqui sem escala e sem orientação.

Somente um aluno fez o uso do recurso legenda, porém nele faltavam outros

elementos que ajudariam a compreender o mesmo (figura 4).

Figura 3: Croqui com legenda.

Procurava-se nessa atividade conhecer quais eram os conhecimentos dos alunos acerca

da produção e interpretação de um mapa, o que constitui um mapa, etc.

Análise das cartas - foi solicitado aos alunos que analisassem 3 cartas, cada uma

representada numa escala (1:10.000, 1:50.000 e 1:100.000). Durante a análise

deveriam escrever numa folha quais as diferenças que perceberam nos 3 documentos

cartográficos. Antes disso, foi pedido para os alunos que falassem quais elementos que

um mapa precisa possuir para ser considerado mapa. Objetivava-se que os alunos

percebessem quais eram os elementos de um mapa e como esses estavam dispostos.

Além disso, a atividade proporcionou aos alunos o contato com cartas topográficas de

diferentes escalas e localidades (figura 5).

Figura 5: Elementos observados, alguns erros de conceito.

Na figura 5 pode-se perceber a confusão de alguns conceitos, como o de projeção, por

exemplo; isso pode ser justificado pois essa noção não havia sido trabalhada ainda com os

alunos. Nas folhas pode-se ver que os alunos anotaram aquilo que mais chamaram a atenção,

por exemplo, o nome da folha, a escala, legenda, entre outros.

Utilizando Google Earth - Nessa atividade os alunos deveriam procurar no Google

Earth algumas localidades e anotar as coordenadas geográficas. Em alguns

computadores, o software estava configurado nas coordenadas UTM; logo que

perceberam isso os alunos questionaram porque o computador que eles estavam

utilizando estava aparecendo as coordenadas UTM e não as geográficas. Este fato

mostrou que eles conseguiram entender a diferença entre os dois sistemas: um

fornecido em metros e o outro em graus, minutos e segundos. Além de demonstrarem

entender qual era a aplicação para cada tipo de coordenada.

Batalha naval - O jogo consistiu em uma folha quadriculada, onde na parte superior e

lateral esquerda estavam os graus, como se fosse um mapa do mundo. Os alunos

deveriam distribuir suas embarcações na folha quadriculada. O jogo foi modificado de

maneira que para o jogador conseguir dizer em qual local ele queria atacar na folha do

oponente (essa atividade foi realizada em duplas) ele precisaria usar os conceitos de

orientação (norte, sul, leste, oeste) e os conceitos de grau de latitude e de longitude.

Ou seja, um exemplo seria: 30º de latitude Norte e 60 graus de longitude Oeste (figura

6).

Figura 6: Jogo batalha naval.

Essa atividade despertou bastante interesse nos alunos, principalmente por ser um jogo

e por ter sido realizada na área externa do DEPLAN. Quando foi perguntado aos alunos se

gostaram da atividade, a maioria disse sim, porém alguns poucos alunos disseram que

acharam a atividade difícil, por não conseguirem dizer qual era o ponto que queriam atingir na

folha do oponente. Duas ideias podem explicar esse problema, ou o aluno nunca entrou em

contato com esse conceito e nesta semana foi a primeira vez que tiveram noções acerca do

tema, ou já tiveram acesso a esses conceitos só que não o utilizaram de maneira efetiva para a

assimilação do assunto. No balanço geral, segundo a observação do bolsista e dos voluntários,

os alunos aproveitaram bem a atividade e se divertiram.

Medição da sala de aula - Esse exercício consistiu numa atividade onde os alunos

tinham que medir com barbante alguns objetos da sala: mesa, lousa, quadro de

energia, armário, segmento da parede e lixo. Após a explicação pedimos que os alunos

dobrassem (sempre na metade) o barbante. Explicamos que cada vez que eles

dobravam o barbante a escala também dobrava. Por exemplo, um barbante dobrado

três vezes corresponde à escala de 1:6, assim passamos uma escala de 1:6, e os alunos

deveriam representar no papel os desenhos reduzidos na escala solicitada através das

dobras do barbante, e com isso descobrir o valor real dos objetos. Procuramos com

essa atividade mostrar aos alunos como uma escala realmente funciona e como

acontece sua aplicação num mapa.

Cálculos acerca da Escala - Essa atividade consistiu numa lista de exercícios onde

foram abordados conceitos de escala, tanto no que diz respeito a transformações de

unidades quanto ao entendimento do conceito escala. Para essa atividade foi preciso

utilizar alguns conhecimentos matemáticos, como a regra de três; esse conceito foi

relembrado de maneira que facilitasse a resolução dos exercícios. De acordo com a

experiência acumulada neste projeto desde 2011, esse é o assunto que mais os alunos

têm dificuldades. No geral, os alunos não sabem como efetuar esse cálculo, têm

dificuldades de entender como os cálculos transformam de modo proporcional, uma

distância do desenho na mesma distância do real, e vice-versa. Talvez nessa parte

exista uma defasagem de relacionar outras áreas do conhecimento à geografia (no

caso, a matemática) para que realmente haja o entendimento efetivo.

Globo Terrestre - Para essa atividade foram usadas bolas de isopor, onde os alunos

tinham que pintar o globo (representado pela bola de isopor) e depois de pintado,

ainda com a tinta molhada, decalcar numa superfície plana (no caso, papel). Durante a

atividade os alunos “reclamavam” que o globo quando representado no papel fazia

com que os “desenhos” ficassem tortos e cortados. Depois de concluída a atividade,

explicamos que o objetivo era mostrar a dificuldade que existe para se fazer uma

representação do globo terrestre em uma superfície plana. Enfatizou-se que todos os

tipos de projeções existentes possuem alguma distorção e, para decidirmos qual delas

é a mais adequada para o nosso mapeamento, devemos considerar qual é o objetivo do

nosso mapa, de modo que a distorção presente na representação escolhida não

comprometa a interpretação dos dados existentes no mapa (figuras 7 e 8).

Figura 7: Dificuldade na transição do globo para o plano (papel).

Figura 8: Observação das distorções.

Caça ao tesouro – na aplicação desta atividade, buscou-se abordar os temas

trabalhados de maneira lúdica, incentivando-os através de brincadeiras a utilizarem os

conhecimentos abordados durante a semana. Previamente, o bolsista e os voluntários

planejaram um trajeto envolvendo pontos de referências localizados no entorno da

escola (figura 9). No dia da realização, dois alunos da graduação em Geografia saíram

pela escola e esconderam algumas perguntas em 6 pontos previamente selecionados

(por exemplo, em baixo de árvores, nos portões, no chão, etc.).

Figura 9: Trajeto organizado pelo grupo.

Na sequência, foi pedido para os alunos se dividirem em duas equipes. Ambas tiveram que

fazer o mesmo trajeto, porém uma delas começou pelo ponto final e a outra no ponto inicial,

garantindo que não se encontrassem. À cada equipe foi entregue um aparelho GPS e uma

cópia da parcial da carta topográfica da área da escola. Com a ajuda do GPS e já sabendo

onde ficaria o primeiro ponto, as equipes deveriam se guiar pelas coordenadas (que no caso

era a UTM) para chegar aos próximos pontos. Conforme eles achavam determinado ponto,

tinham que procurar um bilhete escondido, que continha uma questão e os valores das

coordenadas do próximo ponto; assim que respondiam a questão corretamente e encontravam

o bilhete, deveriam ler a pergunta que estava escrita nesse papel e responde-la. Vale salientar,

que todas as perguntas eram ligadas aos conteúdos que foram abordados durante a aplicação

do curso. Apenas quando a equipe acertava a pergunta, o bolsista que acompanhava a mesma

entregava outra folha onde estava escrita a próxima coordenada. A equipe então deveria, com

a ajuda do GPS, achar o próximo ponto, as duas equipes iam repetindo esse processo até que

tivessem percorrido todo o circuito. Durante a realização desta atividade, observou-se uma

expectativa alta e os alunos demonstraram estar se divertindo, fato também comprovado no

questionário de “satisfação” aplicado, onde vários alunos mostraram maior interesse pela caça

ao tesouro (figura 10).

A: Explicação da dinâmica Caça ao Tesouro.

B: Alunos procurando o papel escondido.

C: Observação no GPS e análise de parte da carta.

D: Leitura da questão.

Figura E: Comparação das coordenadas do GPS

com as mostradas na folha.

F: Leitura da pergunta.

Figura 10: Momentos da atividade “Caça ao Tesouro”.

2º Croqui - Essa atividade consistiu na mesma ideia do primeiro croqui. Para esse segundo

desenho foi pedido que os alunos utilizassem os conhecimentos que foram abordados durante

a semana, como orientação, escala, elementos de um mapa, etc. Desse modo, a atividade foi

proposta para que pudéssemos observar quais os elementos que os alunos entenderam mais

facilmente e qual deles ainda deixaram de representar no croqui. Nessa segunda parte pode-se

perceber que os alunos fizeram o uso da legenda e da orientação, dispuseram os elementos da

escola de maneira mais precisa, tornando os croquis mais legíveis. Porém alguns elementos

não foram apresentados na carta, como noções de proporcionalidade e generalização gráfica,

por exemplo (figura 11 a e b, 12).

Figura 11a: 2º Croqui – com legendas.

Figura 11b: Legenda do 2º Croqui.

Figura 12: Utilização de legenda e orientação.

Mesmo após as explicações dos conteúdos os croquis não apresentaram alguns

recursos que poderiam ajudar na compreensão, como o uso de cores e a escala.

ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS NO QUESTIONÁRIO

A aplicação do questionário na última aula, teve por objetivo um feedback das

atividades desenvolvidas, bem como identificar a importância destas para seu aprendizado.

Com base nas respostas notou-se que as aulas possibilitou uma ampliação nos conhecimentos

cartográficos, bem como permitiu contato com ferramentas das geotecnologias que

comumente não são utilizadas em sala de aula, além de colaborar com a maior afinidade dos

alunos com a geografia.

A utilização de ferramentas digitais, demonstrou um rico potencial para o ensino de

Cartografia. Esta constatação, foi observada através dos comentários dos alunos no decorrer

das aulas e nas respostas do questionário. Segundo eles, os recursos digitais são mais

interessantes do que as atividades escritas. Este aspecto foi verificado em algumas respostas,

como: “diminuir as atividades escritas”, “ter mais dinâmica”, “o que mais gostei no curso foi

a tecnologia e o modo como os professores nos ensinaram”, “gostei de ter procurado coisas no

Google”, “o que mais gostei foi a caça ao tesouro”, entre outras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No ensino, é importante que os conhecimentos possam ser relacionados às vivências

dos alunos; é preciso fugir da relação professor - quem transmite conteúdo, aluno - quem

absorve conteúdo. O ideal é que haja uma troca de conhecimentos, é preciso aproveitar a

realidade do aluno para que o ensino seja efetivado e faça sentido.

“Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor

ou, mais amplamente, a escola, o dever de não só

respeitar os saberes com que os educandos,

sobretudo os das classes populares, chegam a ela

– saberes socialmente construídos na prática

comunitária – (...) Porque não discutir com os

alunos a realidade concreta a que se deva associar

a disciplina cujo conteúdo se ensina(...)”

(FREIRE, 1996, p. 30)

A cartografia provavelmente é a mais antiga representação do pensamento geográfico.

Esta área pode (e deve) ser utilizada como uma contribuição ao entendimento da realidade

socioeconômica em que o aluno está inserido. Essa ciência é utilizada há muito tempo,

antecedendo a escrita, mostrando ser uma forma eficiente de comunicação, ou seja, é de suma

importância para os alunos aprimorarem seus conhecimentos cartográficos tornando-se

indivíduos críticos, “pois o indivíduo que não consegue usar um mapa está impedido de

pensar sobre o território” (CESÁRIO, COSTA, LIMA, 2007, p.2)

Diante do exposto, se mostra de alta importância a realização de ações como as que

foram realizadas neste projeto de extensão. O objetivo foi aprofundar os conhecimentos

cartográficos dos alunos, utilizando-se alternativas àquelas do cotidiano da sala de aula; esse

cotidiano que muitas vezes pode inviabilizar as ações dos professores que pensem em utilizar

outros métodos pedagógicos. Essas alternativas se baseiam, por exemplo, no lúdico (jogos),

que são recursos didáticos dinâmicos que podem garantir resultados eficazes no processo de

ensino-aprendizagem, além de também (e principalmente) se utilizar das atuais

Geotecnologias. Tudo isso voltado a proporcionar resultados mais eficazes, possibilitando

assim que o aluno aprimore seus conhecimentos cartográficos e, como consequência, que

tenham a oportunidade de conhecer a realidade que este está inserido, de modo crítico.

BIBLIOGRAFIA

PISSINATI, M. C.; ARCHELA, R. S. Fundamentos da alfabetização cartográfica no ensino de geografia,

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CESÁRIO, L. P.; COSTA, A. A.; LIMA, J. A. E. A Cartografia no ensino: análise preliminar dos conteúdos

abordados na 5ª série do ensino fundamental das redes municipal e estadual de ensino da cidade de Goiás (GO).

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FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia, 1996, São Paulo, Paz e Terra.

COSTA, A. A.; LIMA, J. A. E.; CESARIO, L. P. A cartografia no ensino: análise preliminar dos conteúdos

abordados na 5ª série do ensino fundamental das redes municipal e estadual de ensino da cidade de Goiás (GO).

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<https://observatoriogeogoias.iesa.ufg.br/up/215/o/Auristela_Afonso_da_Costa_Cartografia_no_ensino.pdf>