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RELAÇÃO DA VIOLÊNCIA FAMILIAR E SITUAÇÃO DE RUA NO COTIDIANO DE INDIVIDUOS LGBTQ+. Mauro Belino Piratelli Filho (Unicesumar) Patrícia Bossolani Charlo (Unicesumar) [email protected] Resumo O presente resumo relatou a violência vivida no dia-a-dia da população LGBTQ+ dentro do âmbito familiar, com isso, o objetivo do estudo foi documentar a averiguação de casos ocorridos na cidade de Maringá/PR. Para a realização desse estudo, utilizou-se o método exploratório de abordagem qualitativo e os dados coletados foram analisados segundo critérios de Bardin. Sendo assim, resultou-se nos relatos de indivíduos com casos de agressões familiares ao assumirem sua identidade de gênero e/ou orientação sexual. Com isso, consideramos a necessidade de conscientização da população para que compreendam melhor tais assuntos e com isso, diminuam as formas de preconceitos reveladas em seus lares através das agressões verbais e/ou físicas. Palavras-chave: Minorias Sexuais e de Gênero; Violência de Gênero; Relações Familiares. Introdução A violência contra a população LGBTQ+ no Brasil é um ato presente nos dias de hoje e tal violência é fundamentada pelos padrões sociais e morais criados ao longo do tempo pela sociedade. Quando tratamos de violência contra população LGBTQ+, tem-se que levar em consideração que quando falamos em “violência contra um indivíduo LGBTQ+”, tal violência não necessita ser física, essa ação é repleta de símbolos, inferências e linguagens que interferem direta ou indiretamente nas relações sociais e ocasionam pressões sexual e de gênero (PEIXOTO, 2018, p.8). No ano de 2012, o relatório de “notificação de violência” desenvolvido pelo Disque Direitos Humanos (DDH) aponta que em uma única cidade considerada de baixa população, foram realizadas 3.084 denúncias e 9.982 violações relacionadas

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RELAÇÃO DA VIOLÊNCIA FAMILIAR E SITUAÇÃO DE RUA NO COTIDIANO DE INDIVIDUOS LGBTQ+.

Mauro Belino Piratelli Filho (Unicesumar)

Patrícia Bossolani Charlo (Unicesumar)

[email protected] Resumo O presente resumo relatou a violência vivida no dia-a-dia da população LGBTQ+ dentro do âmbito familiar, com isso, o objetivo do estudo foi documentar a averiguação de casos ocorridos na cidade de Maringá/PR. Para a realização desse estudo, utilizou-se o método exploratório de abordagem qualitativo e os dados coletados foram analisados segundo critérios de Bardin. Sendo assim, resultou-se nos relatos de indivíduos com casos de agressões familiares ao assumirem sua identidade de gênero e/ou orientação sexual. Com isso, consideramos a necessidade de conscientização da população para que compreendam melhor tais assuntos e com isso, diminuam as formas de preconceitos reveladas em seus lares através das agressões verbais e/ou físicas. Palavras-chave: Minorias Sexuais e de Gênero; Violência de Gênero; Relações Familiares. Introdução

A violência contra a população LGBTQ+ no Brasil é um ato presente nos dias

de hoje e tal violência é fundamentada pelos padrões sociais e morais criados ao

longo do tempo pela sociedade. Quando tratamos de violência contra população

LGBTQ+, tem-se que levar em consideração que quando falamos em “violência

contra um indivíduo LGBTQ+”, tal violência não necessita ser física, essa ação é

repleta de símbolos, inferências e linguagens que interferem direta ou indiretamente

nas relações sociais e ocasionam pressões sexual e de gênero (PEIXOTO, 2018,

p.8).

No ano de 2012, o relatório de “notificação de violência” desenvolvido pelo

Disque Direitos Humanos (DDH) aponta que em uma única cidade considerada de

baixa população, foram realizadas 3.084 denúncias e 9.982 violações relacionadas

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diretamente à LGBTfobia, tal relatório mostra um aumento de 166,1% de denúncias

e 46,6% de violações quando se compara ao ano anterior (BRASIL, 2012, p.18).

Devemos relacionar que essa população em especifico, além da violência

social, em muitos casos, também são expostos à violência familiar, o conceito de

LGBTfobia familiar revela o quão traumática pode ser a experiência familiar de um

indivíduo quando este é coagido a não revelar sua identidade de gênero e/ou

orientação sexual para os demais integrantes da sociedade. Atos de violência física,

revertem a concepção de um lar amoroso e afetivo entre os entes. Estes tipos de

situações acabam por afastar o indivíduo de seu núcleo familiar, sendo por expulsão

ou evasão de suas casas, o que irá caracterizar uma grande preocupação social em

diversos setores sociais, como presenciado no processo saúde-doença do indivíduo,

no aumento da marginalidade e no cenário de prostituição (FEITOSA, 2016, p. 306 e

BRAGA, et al, 2018, p. 1296).

Contudo, o presente resumo traz a realidade de indivíduos LGBTQ+ que

vivenciaram essa violência familiar em seu dia-a-dia e com isso necessitaram de um

núcleo de suporte social que foi encontrado no lar de acolhimento e apoio para este

grupo populacional em especifico.

Desenvolvimento METODOLOGIA

Trata-se de um estudo populacional, exploratório, de abordagem qualitativa.

O presente estudo possuiu amostragem total de 8 indivíduos, identificados com

denominação de plantas aleatórias, a pesquisa foi realizada na cidade de

Maringá/PR, em um lar que busca abrigar indivíduos LGBTQ+ que foram expulsos

de casa e que vivenciam uma situação de rua. Os dados foram analisados segundo

referencial de Bardin (2011), que são técnicas de análise das comunicações por

procedimentos sistemáticos com objetivos de descrições do conteúdo obtidos na

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coleta de dados, visando adquirir conhecimentos necessários sobre as variáveis

inferidas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES. Após a leitura flutuante e aprofundada dos materiais coletados, foi possível

identificar algumas categorias, sendo relevante a categoria “Evasão Domiciliar”.

Quanto à Evasão Domiciliar: Vários jovens e adultos LGBTQ+ sofrem com o preconceito em seu dia-a-dia

e este se inicia em casa, pela não aprovação da família. A censura a

homossexualidade dentro das residências familiares se configura desde agressões

verbais e físicas até casos de homicídio, tudo devido à aversão pública. Dentro do

âmbito familiar, quando o indivíduo se assume LGBTQ+ ele pode ser recriminado e

menosprezado por seus entes e isso os leva a abandonarem suas vidas e

residências, ou mesmo serem expulso das mesmas. Muitos ainda veem o suicídio

como forma de alívio para essas situações. (SOUSA, 2016, p. 33; MACHADO, 2015,

p. 4). Essa situação foi encontrada em vários dos relatos dos entrevistados. [...] Saí de casa por falta de aceitação da minha família, da minha mãe, eu estava ficando naquela depressão toda, sem sair de casa, ficava no quarto trancada, eu só ia de casa pro mercado e do mercado pra casa. Não tinha mais amizade. Comecei a desenvolver depressão porque estava isolada do mundo, morando longe do mundo, aí nesse mesmo dia que eu tentei me matar [...]. (Castelo de Fada). [...] Assim, eu sai do estado da Paraíba, lá eles tem muito preconceito, eles matam mesmo, gay que é muito afeminado eles vão e matam, como se fosse qualquer bicho, como se não tivéssemos direitos de amar uma pessoa do mesmo sexo, por isso eu sai de casa e me assumi quando cheguei em Maringá. [...] (Alecrim). [...] Homofobia, por parte do meu padrasto, quando ele descobriu que eu era realmente, ele começou a me mostrar vídeo pornô de mulher: “olha isso aqui que é bom” “tenho umas amigas para te apresentar” “tenho uma assistente solteira para te apresentar” [...].

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(Lírio da Paz). De acordo com Silva, Bezerra e Ribeiro (2017, p.101), “No caso em que a

violência familiar está presente, exige-se que o grupo familiar promova mudanças

em seu arranjo funcional [...] quando isso não ocorre, parece produzir um desgaste

dos laços, que pode ser vivido pelo adolescente como abandono, fuga ou expulsão

do grupo familiar”.

Dado essa informação, podemos afirmar que o apoio familiar e social pode

ser a representação de um ambiente seguro no qual aumentaria a resiliência e

diminuiria os impactos da LGBTFOBIA no processo saúde-doença desses

indivíduos, sejam, jovens ou adultos, no momento em que relevam sua orientação

sexual e/ou identidade de gênero para seus familiares (BRAGA, et al., 2018, p.

1297).

Considerações finais

Com base na presente pesquisa foi possível identificar a existência do

preconceito estrutural enraizados nas famílias e os malefícios de tal crime para com

o indivíduo que o sofre, levando em conta a necessidade do núcleo familiar para a

formação e desenvolvimento do indivíduo, é inquestionável a quantidade de

prejuízos à saúde emocional da população LGBTQ+ quando esses sujeitos acabam

por serem renegados, humilhados e exilados de suas residências por parte dos

entes após exteriorizarem a sua identidade de gênero e/ou orientação sexual.

Também conclui-se que que há uma necessidade de ações de

conscientização da população com intuito de reduzir os índices de preconceito e

auxiliar no processo de arranjo familiar, para que essa população vulnerável, não

entre em mais vulnerabilidade indo para uma possível situação de rua, na qual

acabam por ficarem mais desprotegidos psicologicamente, fisicamente e

emocionalmente.

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Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo, Edições 70, 2011. BRAGA, Iara Falleiros. et al. Violência familiar contra adolescentes e jovens gays e lésbicas: um estudo qualitativo. Rev Bras Enferm, Brasilia, v. 71, n. 3, p. 1295-1303, 2018. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Direitos Humanos. Relatório sobre violência homofóbica no Brasil: ano de 2012. Brasília, DF; 2012. FEITOSA, Cleyton. As diversas faces da homofobia: diagnóstico dos desafios da promoção de direitos humanos LGBT. Periódicus, v. 1, n.5, p. 300-320, out, 2016. MACHADO, Ricardo William Guimarães. População LGBT em situação de rua: uma realidade emergente em discussão. Revista EDUC. v.1, n.3, p. 57-67, jun, 2015. PEIXOTO, Valdenizia Bento. Violência contra LGBTs: premissas históricas da violação no Brasil. Periódicus. v.1, n. 10, p. 07-23, abr, 2018. SILVA, Bianca Karine, BEZERRA, Waldez Cavalcante, RIBEIRO, Mara Cristina. Entre a casa e a rua: a percepção de adolescentes em situação de rua sobre o seu cotidiano. Rev. Ter Ocup. v. 28, n. 1, p. 100-109, abr, 2017. SOUSA, Karol Jefessom Alves. As diversas manifestações homofóbicas e suas consequências no cotidiano das minorias LGBT. Revista Clóvis Moura de Humanidades. 2, n. 1, p. 27-44, 2016.