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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA Relações de amizade e relações no trabalho em empreendimentos solidários Mirian Jacob Polastrini São Carlos 2005 Monografia realizada como parte das exigências para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Graduação em Psicologia da UFSCar, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Lúcia Cortegoso.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Relações de amizade e relações no trabalho em empreendimentos solidários

Mirian Jacob Polastrini

São Carlos 2005

Monografia realizada como parte das exigências para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Graduação em Psicologia da UFSCar, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Lúcia Cortegoso.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCACAO E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

Projeto de pesquisa: A Influência das Relações Pessoais de Amizade Extra-Trabalho entre os Membros de um Empreendimento

Solidário sobre as Relações Pessoais de Trabalho

Mírian Jacob Polastrini

São Carlos

2003

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Sumário ASPECTOS DO CONHECIMENTO SOBRE RELACOES INTERPESSOAIS DE AMIZADE E DE TRABALHO EM AMBIENTES ORGANIZACIONAIS.......................5

1) Relações Interpessoais...........................................................................................5 2) Relações Pessoais de Amizade..............................................................................7 3) Relações pessoais de Amizade no Âmbito do Capitalismo..................................9 4) Relações Pessoais de Amizade no Contexto da Economia Solidária..................11

CARACTERIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE AMIZADE E O TRABALHO: ASPECTOS METODOLÓGICOS............................................................................................................15 Participantes..............................................................................................................15 Informações Obtidas.................................................................................................15 Fontes de Informações..............................................................................................16 Teste Sociométrico....................................................................................................16 Entrevistas.................................................................................................................17 Observações Diretas..................................................................................................18 Procedimento de Análise dos Dados.........................................................................19 RELAÇÕES DE AMIZADE E TRABALHO EM UMA COOPERATIVA DE COLETA SELETIVA ..........................................................................................................................21 ECONOMIA SOLIDÁRIA, COMPORTAMENTO HUMANO E RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO..................................................................................28 Definição de Amizade pelos Membros do Empreendimento Estudado....................28 Delineamento das Relações Interpessoais de Amizade no Grupo............................29 Delineamento das Relações Interpessoais de Amizade Extra-trabalho.....................34 Percepção da Produtividade e Satisfação no Trabalho..............................................36 Ampliação e Aplicação dos Resultados Obtidos.......................................................37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................40 APÊNDICES........................................................................................................................41

Apêndice 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em Pesquisas.............42 Apêndice 2 – Roteiro de Entrevista..........................................................................44 ANEXOS...............................................................................................................................46 Anexo 1 – Termo de Compromisso do Pesquisador................................................47

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RESUMO

Em relação a empreendimentos de natureza capitalista já existe, disponível, conhecimento relacionado a aspectos diversos das relações interpessoais de trabalhadores, incluindo relações de amizade. O estabelecimento de relações interpessoais nestas situações é tanto esperado, em função dos longos períodos de permanência em um ambiente comum, quanto relevante para o próprio funcionamento destas organizações. Fatores como a satisfação em relação ao trabalho, a produtividade, o interesse no trabalho em grupo e o compromisso com a organização estão relacionados de certa forma com a questão da amizade dentro do ambiente de trabalho. Embora exista conhecimento disponível sobre questões como estas em relação a empresas capitalistas, é preciso verificar, também, como estes fenômenos se dão em empreendimentos solidários, considerando a proposta de mudança de qualidade das relações entre pessoas no contexto da Economia Solidária. O acompanhamento de grupos cooperativos possibilita a afirmação desta importância, dado o estímulo, inerente a esta proposta, para o surgimento ou solidificação de relacionamentos amigáveis entre seus membros, já que seus propósitos estão relacionados à igualdade de direitos e deveres por parte de todos. O objetivo deste estudo foi ampliar o conhecimento sobre relacionamentos interpessoais, em especial relacionamentos de amizade, no âmbito da Economia Solidária, quanto a aspectos como características das relações pessoais de trabalho; comportamentos relacionados à amizade e seus resultados para o trabalho em grupo; e a satisfação do membro em relação ao seu trabalho. Para a obtenção das informações necessárias foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os membros da cooperativa estudada, observações diretas efetuadas nos locais de reuniões e trabalho do grupo e aplicação do teste sociométrico. Os resultados indicaram que existem relações amistosas entre alguns membros do empreendimento assim como a exclusão de alguns outros que não eram incluídos nos agrupamentos formados. Este tipo de formação do presente grupo demonstrou que relações de amizade no ambiente de trabalho de um empreendimento solidário podem afetar o trabalho em grupo, pois com a formação de agrupamentos de amizade e exclusão de alguns membros aparecem diferenças em relação às informações do trabalho e participação na gestão do grupo e também divergências relacionadas à satisfação com o trabalho e comprometimento com o funcionamento da cooperativa. Sendo assim, a estrutura do grupo muitas vezes não vai ao encontro do que seria ideal para a Economia Solidária, em que se espera que todos os integrantes participem de forma igualitária da gestão do grupo assim como executem tarefas semelhantes e de igual tamanho.

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Aspectos do conhecimento sobre relações interpessoais de

amizade e de trabalho em ambientes organizacionais

1) Relações interpessoais

Observações, mesmo cotidianas e assistemáticas, permitem supor que relações entre

as pessoas estão presentes em todos os lugares onde existem dois ou mais indivíduos e que

podem assumir variadas dimensões, como relações de parentesco, relações de amizade,

relações de trabalho, dentre outras, principalmente devido ao ambiente em que esta relação

é formada.

Hinde (1981) afirmou que as relações interpessoais envolvem aspectos cognitivos,

afetivos e comportamentais e que estes estão totalmente entrelaçados. Para ele, a relação

interpessoal envolve várias interações, das quais é importante se ter a descrição e análise do

conteúdo, a qualidade, a freqüência e a forma como se organizam, que compõem, assim, os

aspectos comportamentais da interação.

Diante dessa definição e refletindo sobre a natureza das relações, Hinde (1981)

propõe que a análise do conteúdo da relação seja feita nos níveis: comportamento

individual social, interações sociais, relações sociais diádicas, e estrutura social de relações.

Isso porque os relacionamentos interpessoais englobam desde aspectos individuais até uma

influência mais ampla sobre o ambiente social no qual estão inclusos, tal como dentro de

uma empresa. Com isso, interferem na estrutura e funcionamento da mesma, além de

atingir a vida pessoal dos trabalhadores envolvidos ou não no relacionamento.

Ainda, para Hinde (1981), existem alguns princípios ou teorias que devem estar

ligados a um sistema de descrição de relações, ou seja, princípios da dinâmica das relações

interpessoais. Estes aspectos incluem as questões sociais; percepção interpessoal; teorias da

troca e da interdependência; e a descrição em termos de feedback positivo ou negativo, ou

melhor, a relação funcional entre os comportamentos dos participantes.

Existe, então, uma facilidade em relação ao surgimento das relações interpessoais

em um local onde pessoas convivem, trabalham, ou passam grande parte de seu tempo

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juntas. Pode ser percebido, assim, a formação de muitas relações dentro dos ambientes de

trabalho, pois as pessoas ficam maior parte do seu dia neste ambiente, onde convivem o

tempo todo com outras pessoas.

Ainda em relação à formação das relações interpessoais, sua descrição e surgimento

devem incluir não apenas o que acontece, mas o que é percebido pelas pessoas que estão

interagindo. Além disso, uma relação é afetada também pelo que as pessoas acreditam que

deve acontecer (Hinde, 1981).

O autor (Hinde, 1981) propõe, ainda, algumas categorias de propriedades das

relações, que podem auxiliar na caracterização de relações estabelecidas em um

determinado contexto:

a) Conteúdo das interações – o que os participantes fazem em relação ao outro;

b) Diversidade das interações – os tipos de interação envolvidos;

c) Qualidade das interações – que se refere à intimidade, ao conteúdo e forma do material

verbal, a comunicação não vocal;

d) Freqüência relativa e padrões de interação;

e) Reciprocidade x complementariedade;

f) Intimidade;

g) Percepção interpessoal – visão do participante sobre si mesmo, sobre cada outro e sobre

os objetos e pessoas externas à relação;

h) Compromisso – extensão pela qual os parceiros aceitam a continuidade da relação ou

dirigem seu comportamento no sentido de assegurar essa continuidade ou otimizar suas

propriedades. (Hinde, 1981).

Diante da idéia a respeito do que seria relações interpessoais, é possível pensar

sobre sua existência e função no contexto de um ambiente organizacional, onde são

construídas variadas formas de relacionamentos e, em especial, as relações pessoais de

amizade que tanto surgem no âmbito do trabalho.

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2) Relações pessoais de amizade

Como já foi destacado, nas organizações sempre estão presentes diversos

tipos de relacionamentos interpessoais, já que a organização apresenta uma interação

sempre. Portanto, a organização sempre será aquilo que aquelas pessoas envolvidas farão e,

em conseqüência, por serem processos movidos por pessoas, grande diversidade de

interesses estará presente. São interesses subjetivos, sociais, econômicos e políticos, sendo

que interesse representa aquilo que importa às pessoas (Morgan, 1986). E esses interesses

conformam os objetivos e informam direção e o sentido das práticas. Em função disso

pode-se pensar que esses processos sociais são movidos pelo conflito – pois interesses

diferentes e até mesmo contraditórios são colocados frente a frente – e pela harmonia – pois

interesses semelhantes e comuns também são compartilhados (Sato, 1999). Dentro deste

contexto é importante destacar, dentre os relacionamentos e processos sociais de uma

organização, as relações de amizade que se apresentam de acordo com interesses pessoais

das pessoas envolvidas na mesma e que podem se originar na própria situação de trabalho

ou surgir em situações exteriores à empresa.

É possível notar a existência da amizade entre os trabalhadores de uma

mesma empresa. Isso pode ser mostrado pelo estudo realizado por Winstead et al. (1995)

em que, de todos os sujeitos entrevistados, nenhum indicou não ter algum “bom amigo”

dentre os colegas de trabalho, mesmo que este não fosse necessariamente o seu “melhor

amigo”. Além disso, os indivíduos podem manter relações de amizade com diferentes tipos

de trabalhadores, incluindo supervisores, subordinados e pares.

É possível notar, também, que funcionários que se entendem bem, trabalham

melhor juntos (Duck, 1983 apud Winstead, 1995). E, portanto, Hackman e Oldham (1980)

também citado por Winstead et al. (1995) afirmaram o valor dado às relações de grupo

sugerindo, então, que as organizações deveriam usar da seleção para escolher membros que

apresentem, ao menos, níveis moderados de habilidades interpessoais, o que facilitaria a

formação de novos relacionamentos.

Mas que tipo de relação é essa chamada amizade? Segundo Wright (1984:

119), “amizade é definida como um relacionamento envolvendo interações voluntárias e

descontraídas nas quais os participantes respondem um ao outro de maneira própria, isto é,

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como traços individuais únicos”.(Winstead et al., 1995). Baseado em sua definição,

Wright (1984) desenvolveu dois critérios de amizade: o fator pessoa-pessoa, ou seja, o

interesse que os pares demonstram um para o outro como único e insubstituível; e o fator

interdependência voluntária, ou seja, relacionamentos de pares que confiam o tempo livre

para interações com um outro na ausência de pressões externas ao relacionamento em si.

Foi dada também uma classificação feita por Clark e Mills (1979) para relacionamentos de

amizade, em que relacionamentos comunais são notados pelo interesse no bem-estar do

outro, enquanto relacionamentos de troca são caracterizados pela espera, nas quais

benefícios são dados em antecipação para receber um benefício semelhante de retorno

(Winstead et al., 1995). Ainda para reforçar o próprio conceito de Wright, Wright (1984)

apud Winstead (1995) enfatizou que a qualidade da amizade é revelada pela disposição e

desejo em gastar o tempo livre com o par. Sendo assim, a interdependência voluntária é um

dos fatores que contribui para a qualidade da amizade.

Diante disso, as relações interpessoais e a amizade entre os trabalhadores

podem estar associadas ao trabalho à medida que se relacionam diretamente ao ambiente de

trabalho, à satisfação no trabalho e ao compromisso organizacional, ou seja, estes fatores

influenciam na formação dos relacionamentos ou vice-versa. Para Nielsen et al. (2000),

aspectos como ambiente de trabalho, satisfação no trabalho e compromisso organizacional

permitem medir dois modos de amizade no trabalho: a oportunidade para e a prevalência da

amizade. Estas duas maneiras da amizade no local de trabalho, assim como demais formas

de formação de amizades neste contexto, porém não citadas por Nielsen et. al.,

correspondem a uma maior ligação emocional dos trabalhadores com sua organização

conforme mostrado pelo estudo de Riordan e Griffeth citado por Nielsen (2000), em que

todos os respondentes que apresentavam ou oportunidade para amizade ou prevalência da

amizade afirmaram ser mais ligados emocionalmente às organizações.

Por fim, percebe-se que as relações de amizade, de maneira geral, existentes

nas organizações, além de afetar na satisfação do trabalhador e na qualidade do trabalho,

demonstram grande importância em relação ao compromisso afetivo, isto é, a união

emocional ou predileção que um funcionário sente por sua organização (Nielsen et al.,

2000).

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3) Relações pessoais de amizade no âmbito do capitalismo

Relações interpessoais, especialmente relações de amizade no ambiente de trabalho

são, então, de grande importância para o desenvolvimento e satisfação tanto do indivíduo

quanto da organização. Vários estudos, como Winstead et. al. (1995) e Nielsen et. al.

(2000), vêm sendo desenvolvidos, no âmbito de organizações tradicionais de trabalho, de

cunho capitalista, a respeito da influência da amizade no ambiente de trabalho e nas

relações pessoais presentes neste ambiente. Já é conhecido o fato de que a maioria das

pessoas dá preferência a relações de trabalho com pares, supervisores ou subordinados em

vez de realizarem seu trabalho individualmente, ou seja, preferem fazer parte de um

relacionamento de trabalhadores e amigos no seu local de trabalho (Winstead et al., 1995).

A amizade entre os trabalhadores é considerada, pois, de grande utilidade porque

promove o bem-estar dentre os relacionamentos existentes no ambiente de trabalho, além

de proporcionar reforços específicos tais como suporte emocional e encorajamento,

conforme mostrado pelo modelo de amizade de Wright, citado por Winstead et. al. (1995).

Diante disso, muitas são as razões possíveis para estudar a amizade no local de

trabalho, principalmente em ambientes de empresas. Dentre todos os motivos, Nielsen et.

al. (2000) citaram em seu estudo três razões primárias: “(a) a associação entre a amizade

no local de trabalho e os significantes resultados do relacionamento no trabalho, (b) a

contribuição da amizade no local de trabalho para as estruturas informais das organizações,

e (c) o crescimento da tendência para o uso de equipes e grupos pelas organizações.”

Pesquisas já foram feitas nesse sentido e provam a influência real da amizade em

diversos aspectos ligados ao ambiente do trabalho em uma empresa capitalista. Um estudo

que demonstra este fato foi realizado por Krackhardt e Stern (1988) e citado por Nielsen et.

al. (2000). Segundo eles, a amizade no local de trabalho está cada vez mais sendo

considerada como parte fundamental da estrutura informal das organizações e isto está

acontecendo devido ao conhecimento de que as relações informais no trabalho são de alta

força para a estrutura. Eles estudaram a influência das relações informais sobre crises

organizacionais e descobriram que funcionários que possuíam amizades com funcionários

de uma outra unidade organizacional costumavam ser mais cooperativos durante uma crise

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do que pessoas que haviam estabelecido relações de amizade apenas com outras de sua

própria unidade.

Essas relações de amizade presentes em ambientes de trabalho estão diretamente

ligadas a vários fatores relacionados ao trabalho propriamente dito, como produtividade,

desempenho, organização e satisfação do trabalhador. Dentre estas, a satisfação do

trabalhador vem sendo ressaltada em muitos estudos realizados nessa área devido à sua

grande importância tanto para a vida do funcionário quanto para a estrutura da empresa. A

relação entre a amizade no trabalho e a satisfação do funcionário já foi notada em alguns

estudos realizados em empreendimentos capitalistas como, por exemplo, nos estudos

realizados por Everly e Falcione (1976), Hersberg et al. (1959), Robinson et al. (1993),

Schneider e Locke (1971) e citados por Winstead et al. (1995), em que os indivíduos

entrevistados relatavam uma maior satisfação em relação ao trabalho à medida que

possuíam melhores relacionamentos interpessoais com seus colegas de trabalho, sendo

estes outros trabalhadores da sua área, supervisores próximos ou supervisores gerais.

Por outro lado, de acordo com a pesquisa feita por Winstead et al. (1995), foi

percebido, a partir dos dados coletados, que a utilização não desejada de seu tempo livre

com algum “amigo” do trabalho estava negativamente relacionado com a satisfação no

trabalho. Além disso, de maneira oposta, a insatisfação no trabalho pode tornar mais difícil

a manutenção da amizade neste ambiente.

Em relação à desistência do emprego, os participantes do estudo realizado por

Nielsen et al. (2000) que percebiam seu ambiente de trabalho com mais oportunidades para

a amizade e mais existência de amizades eram, de acordo com suas respostas, menos

prováveis de querer deixar seu emprego. Isso porque, nesse mesmo estudo, os respondentes

que notaram altos níveis de amizade, tanto para oportunidade para fazer amigos quanto para

prevalência de amizade, no seu ambiente de trabalho afirmaram ser mais satisfeitos com

suas ocupações. Estes achados são consistentes com resultados encontrados por Riordan e

Griffeth (1995) e Winstead et al. (1995). Com a análise destes achados Nielsen et al. (2000)

notaram, então, a existência de uma alta correlação, estatisticamente significativa, entre os

escores para satisfação no trabalho e os escores nas duas escalas de oportunidade de

amizade e prevalência da amizade. Por fim, também a qualidade da amizade dos

trabalhadores deve ser relacionada com a satisfação no trabalho, pois as amizades podem

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fazer com que o trabalho seja recompensado pelas relações de pares (Margulis et al., 1984,

Weis, 1974 apud Winstead et al., 1995).

4) Relações pessoais de amizade no contexto da economia solidária

O acompanhamento da literatura permite notar, pois, que algumas são as pesquisas

que tratam da questão dos relacionamentos interpessoais existentes no âmbito do trabalho,

em empresas capitalistas. É importante notar a relevância dessa área de estudo por sua

influência direta para a vida útil da organização tanto quanto para o bem-estar e satisfação

do trabalhador. Porém, poucos estudos são encontrados em relação a esta questão no

âmbito de empreendimentos solidários, dentro das buscas efetuadas em artigos da área de

ciências humanas.

Primeiramente, a economia solidária ressurge hoje como resgate da luta histórica

dos trabalhadores, como defesa contra a exploração do trabalho humano e como proposta

de superação ao modo capitalista de organizar as relações sociais dos seres humanos entre

si e com a natureza. Neste cenário, a economia solidária têm emergido como prática de

relação econômica e social que, de imediato, propicia a sobrevivência e a qualidade de vida

de milhões de pessoas em diferentes partes do mundo. São práticas fundadas em relações

de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como

sujeito e finalidade da atividade econômica em vez da acumulação privada de riqueza em

geral e de capital em particular (Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia Solidária,

2003).

Portanto, esta nova proposta de empreendimento apresenta aspectos estruturais e

objetivos organizacionais distintos aos apresentados por organizações capitalistas. Em

primeiro lugar, a empresa solidária possui uma estruturação diferente da comumente

observada, por não apresentar ordem de poder dentro de seu funcionamento. Além disso,

todos os seus membros realizam o mesmo tipo de serviço e recebem remunerações

igualitárias, sem que haja diferenciação por cargos ou hierarquias. Então, a economia

solidária melhora para o cooperador as condições de trabalho, mesmo quando estas

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continuam deixando muito a desejar, afinal de contas assumir o poder de participar das

decisões e de estar informado a respeito do que acontece e que opções existem é um passo

importante para a redenção humana do trabalhador (Singer, 2000).

Diante disso, é possível pensar a respeito das relações interpessoais presentes no

ambiente de trabalho de uma cooperativa, no sentido de procurar perceber se ocorrem de

maneira semelhante ao que foi notado em empresas capitalistas ou se acontecem de um

jeito diferente devido às diversidades existentes nesses dois tipos de empreendimentos.

Propostas de economia solidária ainda não são muito fortalecidas diante do mercado

atual justamente por apresentar estruturas de ação e funcionamento diferentes aos

tradicionais propostos pelas empresas capitalistas, grandes dominantes do mercado na

maioria dos países. Devido às dificuldades encontradas para a formação e/ou manutenção

dos empreendimentos solidários pode ser percebido que sua organização, principalmente

formação inicial, muitas vezes é composta por grupos que já possuíam algum tipo de

ligação entre si (como uma comunidade formada por ex-empregados duma mesma empresa

capitalista ou por companheiros de jornadas sindicais, estudantis, comunitárias, etc.) ou

relacionamento interpessoal, que com algum apoio e por fatores diversos (como

desemprego, falta de oportunidade ou identificação com a proposta cooperativista)

resolvem pela junção e acabam por formar o grupo cooperativo. Portanto, é muito comum

que os empreendimentos solidários sejam formados por pessoas que advém de um ambiente

comum, e carreguem para dentro dele as relações que já existiam antes, e estas são de

diferentes tipos: familiares, de amizade, de rivalidade pessoal, dentre outros. Singer (2000)

ainda afirma que uma empresa autogestionária é mais que uma empresa, pois se assemelha

a uma família, marcada por laços afetivos e também é uma organização social de orientação

ideológica.

Os relatos de pessoas pertencentes a grupos solidários indicam que nestes

empreendimentos vêm ocorrendo outros ganhos, diferentes do econômico em si, tais como

auto-estima, identificação com o trabalho e com o grupo produtivo, companheirismo, além

de uma noção crescente de autonomia e de direitos cidadãos (Singer, 2000). Além disso, a

proposta cooperativista de trabalho propõe a existência de relacionamentos interpessoais

próximos entre os cooperados, mesmo entre aqueles que não se conheciam antes de entrar

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para a organização. A proposta de relacionamentos interpessoais próximos é uma condição

que, pelo menos teoricamente, facilitaria o esquema de trabalho nesse ambiente devido ao

fato de que em empreendimentos solidários todas as pessoas possuem o mesmo direito e

dever, sem a estimulação de formas hierárquicas de poder. Além disso, todos estão

trabalhando juntos a maior parte do tempo e decidindo em conjunto vários aspectos da

organização.

Então, tanto em cooperativas, que já são formadas por um objetivo comum de

pessoas que mantém alguma forma de relacionamento entre si (vizinhos, amigos, familiares

ou conhecidos de um mesmo bairro), quanto em grupos que surgem por apoio de terceiros

(como as incubadoras) e, portanto, incluem muitas pessoas que, às vezes, nem se

conheciam, está presente a questão do relacionamento interpessoal entre eles, porque todos

devem sempre manter contato com todos os outros membros, já que a cooperativa necessita

desse tipo de relação para manter seus objetivos de trabalho igualitário para os cooperados

e de tomada de decisões em consenso ou onde cada um possui um voto.

Assim, é fácil perceber a importância dos relacionamentos interpessoais dentro de

grupos cooperativos. E, em conseqüência, é interessante pensar que podem, então, surgir

relações de amizade entre os membros de maneira a nascer vínculos fortes entre pessoas

que não se conheciam. Ou, por outro lado, observar como se dão as relações de amizade

extra-trabalho já presentes antes mesmo que os indivíduos desta relação estivessem

participando da cooperativa. E, ainda, pensar se esse tipo de relação pessoal pode causar

alguma influência sobre as relações de trabalho estabelecidas neste ambiente, já que o

contato direto com grupos deste tipo mostram situações do tipo: problemas de fofoca,

transferência de informações de dentro da cooperativa para a comunidade via relações de

amizade, a formação de sub-grupos internos quando o esperado é que todos apresentem

relações equilibradas, etc.

Esse aspecto, como já dito anteriormente, foi pouco tratado pela literatura e, por

isso, ainda faltam dados suficientes que nos permitam afirmar qualquer tipo de interferência

para o trabalho ou para o trabalhador neste sentido. Porém, por ter sido mostrado a

relevância da existência de relações de amizade no ambiente de trabalho de empresas

capitalistas, parece importante realizar investigações que examinem a possibilidade de

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extensão destes achados para empreendimentos solidários, principalmente porque se sabe

que estas organizações propõem e incentivam o fortalecimento dos relacionamentos

interpessoais entre seus membros.

O interesse do presente trabalho, então, está na busca de informações a respeito de

possíveis influências das relações pessoais de amizade entre os membros de um

empreendimento solidário, sobre situações de trabalho, incluindo as relações pessoais

no trabalho. É de grande relevância estudar este tema, pois é um assunto importante para o

desenvolvimento dos empreendimentos, já que foi visto que relações deste tipo causam

influências sobre o trabalho e a vida do trabalhador em empresas capitalistas e que podem,

portanto, colaborar também com o desenvolvimento de cooperativas e melhor qualidade de

trabalho para seus membros.

Além disso, este estudo seria também relevante no sentido de ampliar os

conhecimentos na área de psicologia organizacional, tendo em vista que não foram

encontradas muitas informações em relação a este aspecto no âmbito de empreendimentos

solidários e, ainda, no contexto da pesquisa, nenhum estudo nacional, em relação à amizade

no ambiente de trabalho, foi encontrado durante a busca efetuada.

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Caracterização das relações de amizade e o trabalho: aspectos

metodológicos

Participantes

Participaram do estudo 12 membros de um empreendimento solidário de coleta

seletiva do município de São Carlos. Todos os participantes estavam ocupando, no

momento da coleta de dados, postos de trabalho.

Informações obtidas

Foram obtidas, a partir dos instrumentos utilizados, informações sobre:

• distribuição de relações de amizade entre os membros do grupo cooperado;

• variadas características dos relacionamentos existentes: tipo de

relacionamentos, com quem a pessoa mantém esse relacionamento, de que

modo se relacionam, situações em que se relacionam (no grupo ou fora

dele), momento em que a amizade teve início (antes ou após a entrada no

grupo);

• conceito de amizade por parte dos participantes;

• indicadores de amizade entre membros (tempo dedicado à interação com

outras pessoas, desejo de intensificação de interação, comportamentos em

relação a pessoas tidas como amigos).

• características pessoais relacionadas ao trabalho no grupo (produção,

satisfação, divisão de tarefas e de grupos);

• aspectos da organização e funcionamento do grupo de trabalho

(aproximação física entre as pessoas durante as assembléias e reuniões;

grupos ou pares de pessoas que geralmente se encontram juntos; conteúdo

dos “assuntos paralelos” em situações de trabalho/reuniões); tempo pelo

qual grupos ou pares permanecem juntos entre si; divisão de tarefas e de

grupos durante as atividades diárias; grau de produtividade do trabalho em

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relação ao que é esperado pelo empreendimento; freqüência com que os

membros se oferecem para a realização das atividades ou executam-nas; a

organização do grupo em relação à divisão dos membros em diretoria e o

restante do grupo, inclusive dos membros que não estão em atividade no

momento da pesquisa; como as outras pessoas se comportam em relação a

grupos e pares já formados; critérios utilizados pelo empreendimento

solidário para lidar com estas variáveis (fato de terem amizade ou maneira

como lidam com a amizade no grupo).

• características do relacionamento entre as pessoas, ou seja, se as pessoas se

ajudam mutuamente, se trocam informações entre si, se existem “fofocas”

ou comentários internos ou externos aos membros, se realizam todas as

atividades possíveis juntas; comportamentos afetivos que demonstram

amizade em relação à definição de amizade pelos participantes, obtida na

entrevista.

Fontes de informações

Foram utilizadas, como fontes de informações, relatos verbais dos participantes,

obtidos por meio da aplicação de um teste sociométrico e de entrevistas, e situações de

trabalho (atividades-fim ou de gestão da cooperativa), com informações sendo obtidas a

partir de observação direta.

Teste Sociométrico

Ambiente/Local

A aplicação do teste sociométrico tem a função de permitir um mapeamento

preliminar das relações entre membros do grupo sob investigação no contexto do trabalho,

a partir de uma solicitação referente a este contexto.

A coleta de dados por meio da aplicação do teste sociométrico foi realizada,

juntamente com a entrevista, no local onde os membros da cooperativa realizavam suas

reuniões, de modo a garantir conforto e privacidade. O local de reuniões usado pelo grupo

se resume numa pequena sala, com uma mesa grande ao centro, que fica ao lado de uma

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cozinha, onde os membros da cooperativa preparam suas refeições. As refeições são feitas

na mesma sala onde ocorrem as reuniões e assembléias do grupo, sendo esta também o

local utilizado para a coleta de dados feita através do teste sociométrico e das entrevistas.

Neste ambiente, entrevistadores e entrevistados permaneciam sozinhos durante a atividade,

porém ocorreram algumas interrupções pela entrada de membros da cooperativa. Nestas

oportunidades, a atividade foi interrompida enquanto a pessoa estranha permanecia no

ambiente, o que ocorria, geralmente, por poucos minutos.

Procedimento de coleta de dados

Cada participante, individualmente, respondeu oralmente, à pesquisadora, duas

questões que dizem respeito às relações interpessoais existentes entre o entrevistado e os

demais membros do grupo. Utilizando um procedimento baseado no teste sociométrico,

eram feitas duas perguntas em relação ao assunto, sendo que, para cada uma delas, o

entrevistado deveria apresentar três nomes de membros da cooperativa, por ordem de

preferência. As perguntas que os participantes foram instruídos a responder indicando

apenas três nomes, numa escala da maior para a menor preferência, foram:

1) “Se todos trabalhassem igualmente bem no grupo, com quem você preferiria trabalhar?”

2) “Quem você acha que escolheria você para trabalhar, se todos trabalhassem igualmente

bem no grupo?”

Entrevistas

Em seguida à aplicação do teste de sociograma, em sessões individuais, cada

participante foi entrevistado pela pesquisadora com relação aos seus relacionamentos

interpessoais dentro da cooperativa e extra-trabalho e, também, sobre o funcionamento e

organização do trabalho no grupo. Foram obtidas, ainda, informações sobre o conceito de

amizade dos entrevistados. Algumas entrevistas foram gravadas, conforme autorização do

entrevistado, para maior precisão dos dados.

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Ambiente/Local

As entrevistas foram feitas individualmente com cada participante no mesmo local

em que foi aplicado o teste sociométrico, logo após a aplicação deste, onde estiveram

presentes apenas o entrevistado e a pesquisadora.

Procedimento e instrumento para coleta de dados

Foi utilizado um roteiro de entrevista semi-estruturada (ver em Apêndice 2) com

questões sobre os relacionamentos interpessoais existentes entres os cooperados,

principalmente as relações de amizade, tanto aqueles que surgiram no ambiente de trabalho

ou que já existiam anteriormente à entrada da pessoa para o grupo. Além disso, foram feitas

perguntas a respeito da organização e funcionamento do grupo, para, então, serem

posteriormente comparadas com as informações sobre relações de amizade.

Observações diretas

Com as observações diretas foram obtidas informações sobre as variáveis

dependentes de interesse, correspondentes às investigadas por meio de entrevistas e teste

sociométrico, possibilitando comparação e ampliação destes dados.

Ambiente/Local

As observações diretas ocorreram nos locais onde os cooperados estavam

trabalhando, além das salas onde aconteciam as assembléias ou reuniões do grupo,

possibilitando a observação de seus comportamentos em situação natural.

Procedimento para coleta de dados

Foram realizadas algumas observações diretas durante reuniões e situações

cotidianas de trabalho em que estavam os participantes, com registro anedótico de

informações relacionadas ao objeto de interesse, tais como: disposição física dos membros

durante as reuniões; as duplas de trabalho; algumas conversas “paralelas” em meio às

situações observadas e comentários feitos entre as pessoas do grupo. Tais informações

tinham por objetivo permitir a identificação de eventuais afinidades ou não entre os

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membros do grupo, que pudesse ser comparadas com os relatos obtidos pelos próprios

participantes.

Instrumento de coleta de dados

As anotações derivadas de observações foram feitas em caderno comum utilizado

pela pesquisadora para monitoramento das atividades da pesquisa.

Procedimento de análise dos dados

Para a análise dos dados as categorias de variáveis, listadas abaixo, foram

estabelecidas, sendo que estas foram formuladas a partir das respostas obtidas nas

entrevistas. Para isso, a pesquisadora examinou todas as respostas dadas e agrupou-as por

semelhança, em termos de conteúdo, ou seja, aspectos definidores de amizade para os

entrevistados. Em alguns casos, a definição da categoria corresponde a uma formulação

elaborada pela pesquisadora a partir do aspecto comum às diferentes respostas, por vezes

pelas transcrições dos relatos obtidos, como por exemplo, na formulação da categoria

“outros” que englobou repostas tais como: importância da amizade, amizade definida em

relação ao trabalho, aproximação das pessoas que são consideradas amigas, amizade como

aceitação no grupo, etc.. Para a criação de categorias foram também consideradas as

variáveis independentes e as dependentes de interesse no estudo.

Quadro 1. Categorias apontadas como indicativos de amizade pelos participantes

Categorias Definição Confiança Tudo que diz respeito a confiar no outro e acreditar que o outro está a seu

favor. Bem-estar Aspectos que agradam as pessoas e proporcionam um ambiente favorável

e agradável de convivência, criando um clima de descontração. Apoio Amizade citada como fonte de apoio e ajuda para aspectos individuais. Afetividade Amizade citada como fonte de afetividade e relacionada a sentimentos. Convivência Aspectos relacionados ao tempo de convivência e a quantidade de tempo

que se conhecem. Outros Outros aspectos citados que não se encaixam em nenhuma definição

anterior.

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O teste de fidedignidade foi feito, com três observadores externos, para garantir que

as categorias de definição de amizade, formadas a partir das respostas dadas pelos

participantes do estudo, realmente representam o significado das respostas e que, do mesmo

modo, cada resposta pertence à categoria adequada quando avaliado por outros

observadores.

Para tanto, foi solicitado que cada um dos observadores participantes lesse cada uma

das respostas dadas para definir amizade pelos membros do grupo e que as classificasse de

acordo com as categorias propostas pela pesquisadora. Ao ler cada resposta, cada

observador fez sua classificação segundo a definição das categorias abaixo. Para um dos

observadores, a concordância na classificação de todas as respostas, em relação àquela feita

pela pesquisadora, foi integral; no caso de outro observador, esta concordância não ocorreu

apenas para uma das respostas (a pessoa me entende), sendo que a pesquisadora classificou

esta resposta na categoria “apoio”, e o observador a classificou na categoria “confiança”.

No caso do terceiro observador, ele considerou que, em três respostas (a pessoa me

entende; a pessoa não é contra a gente; não brigar), não sabia realizar a classificação, sendo

que nas outras a concordância com o pesquisador foi integral. Com base nestes resultados,

foi mantida a classificação proposta pelo pesquisador para análise das respostas.

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Relações de Amizade e Trabalho em uma Cooperativa de Coleta Seletiva

Na Figura 1 pode ser visto o número de indicações que cada pessoa recebeu como

escolha preferencial para trabalhar junto com o entrevistado, de acordo com as respostas

dadas pelos participantes no teste sociométrico.

0123456

IsaCar

laMar

taMal

uHelô

Gabi

Neuza

Mari

Madô

Edgar

Paula

Laur

aBela

PARTICIPANTES

IND

ICA

ÇÕ

ES

Figura 1. Distribuição da freqüência de indicações recebidas por participantes do grupo como escolhas preferenciais para trabalhar junto.

De todas as pessoas integrantes da cooperativa, apenas duas foram indicadas mais

do que duas vezes, independentemente da posição na escala de preferência, e ambas o

foram cinco vezes. Do total de entrevistados, três pessoas não receberam indicações para

trabalhar junto, a partir da opinião dos colegas de trabalho.

Dos membros do grupo, com um total de 13 participantes, apenas 12 foram

entrevistados, sendo que, destes, oito fizeram as indicações observadas na Figura 1, e

quatro responderam que não possuíam preferências ou que preferiam todos igualmente.

Uma das pessoas citadas, apesar de ter sido indicada pelos demais colegas, não participou

da pesquisa, pois não aceitou realizar a entrevista.

A Figura 2 mostra o número de indicações que cada pessoa recebeu, quando o

entrevistado indicava quem julgava que o escolheria para trabalhar junto de si.

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0

1

2

3

4

5

Gabi

Carla

Madô

Marta

Neuza

Helô Isa Mari

Malu

Edgar

BelaLau

raPau

la

PARTICIPANTES

IND

ICA

ÇÕ

ES

Figura 2. Distribuição das indicações feitas pelos entrevistados acerca de quem eles consideram que os escolheria para compor um grupo de trabalho.

Neste caso, cinco pessoas receberam duas ou mais indicações, enquanto sete

pessoas receberam uma ou nenhuma indicação como quem o entrevistado acha que o

escolheria para trabalhar junto de si.

De todas as pessoas citadas acima, apenas sete responderam a esta pergunta. As

outras cinco pessoas, das 12 entrevistadas, responderam que não sabiam qual seria a

preferência do colega ou que achava que qualquer colega o escolheria para trabalhar junto

por ser uma cooperativa onde não deve haver preferências.

Na Tabela 1 podem ser observadas as coincidências de pessoas que foram citadas

pelos participantes como alguém com quem eles gostariam de trabalhar e que, em

contrapartida, também citariam estes como seu par de trabalhos, ou seja, com quem

gostariam de trabalhar.

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Ocorrência de indicação de preferência em contrapartida

Participantes (entrevistado)

Pessoas indicadas pelo entrevistado para trabalho

conjunto SIM NÃO Carla X Marta X Paula Gabi X Gabi X Madô - Marta Neuza -

Laura Carla X Marta X

Gabi Madô -

Mari Neuza - Helô - Malu X Carla Bela - Carla X Gabi X Malu Isa -

TOTAL 4 4 Tabela 1. Distribuição das indicações e contrapartida de indicações para trabalhar junto, feita pelos participantes. Legenda: X: Indicação de preferência em contrapartida - : Ausência de indicação por parte do respectivo participante

Conforme os dados acima, quatro pessoas realmente indicariam os mesmos

participantes que haviam citado seus nomes quando perguntados sobre quem eles

escolheriam para trabalhar junto. Outras quatro pessoas indicaram pessoas que, na verdade,

não a citaram como alguém para trabalhar junto.

O restante das pessoas citadas não foi contado porque quatro pessoas responderam

que não indicariam ninguém em especial tanto em relação a quem escolheria para trabalhar

junto, como quem ela acha que a escolheria para trabalhar junto e, ainda, uma das pessoas

citadas se recusou a ser entrevistada.

Na Tabela 2 pode ser visto o número de participantes que fizeram de zero a quatro

indicações de pessoas para trabalhar junto.

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Número de pessoas indicadas para trabalhar junto

Número de participantes que fizeram cada número de indicações

4 1 3 5 2 1 1 1 0 4

Tabela 2. Distribuição de participantes que indicaram cada uma das quantidades de pessoas para trabalhar junto.

Apenas um participante indicou quatro pessoas que escolheria para trabalhar junto;

a maioria das pessoas fez três indicações conforme o solicitado; e quatro pessoas não

fizeram indicações, como mostrado acima.

A Tabela 3 mostra a distribuição do número de participantes que fizeram de zero a

quatro indicações em relação a quantas pessoas este acha que o escolheria para trabalhar

junto.

Número de pessoas que poderiam escolher o participante para trabalhar

junto

Número de participantes que fizeram indicações sobre colegas que supostamente o escolheriam para trabalhar

junto 4 1 3 2 2 2 1 2

0 6

Tabela 3. Distribuição de número de participantes que indicaram cada uma das quantidades de pessoas que poderiam escolhê-lo para trabalhar junto.

Como pode ser notado, cinco participantes fizeram de duas a quatro indicações,

sendo que apenas um fez quatro. Do restante, oito fizeram uma indicação, ou ainda,

nenhuma.

O Quadro 2 demonstra a distribuição das respostas por categorias obtidas para as

perguntas relacionadas à definição de amizade por parte dos participantes do presente

estudo.

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Aspectos Definição Número de indicações

Confiança Tudo que diz respeito a confiar no outro e acreditar que o outro está a seu favor.

5

Bem-estar Aspectos que agradam as pessoas e proporcionam um ambiente favorável e agradável de convivência, criando um clima de descontração.

7

Apoio Amizade citada como fonte de apoio e ajuda para aspectos individuais.

6

Afetividade Amizade citada como fonte de afetividade e relacionada a sentimentos.

3

Convivência Aspectos relacionados ao tempo de convivência e a quantidade de tempo que se conhecem.

4

Outros Outros aspectos citados que não se encaixam em nenhuma definição anterior.

4

Quadro 2. Distribuição de indicações dos participantes em relação aos indicativos de amizade.

De acordo com os dados constantes do Quadro 2, é possível perceber que a

categoria “bem-estar” obteve o maior número de indicações de diferentes participantes

como definição de amizade. Também os aspectos “confiança” e “apoio” tiveram grandes

números de indicações, e, em contrapartida, o aspecto “afetividade” obteve apenas três

citações, sendo o aspecto menos citado para definir amizade.

Na Tabela 4 estão indicados os agrupamentos de amigos que, segundo cinco dos

participantes do estudo, existem no empreendimento. Dos demais participantes, quatro

responderam que todos são amigos entre si no grupo e três responderam que não havia

amigos entre si ou que não sabiam a respeito disso.

Membros do empreendimento Paula Bela Malu. Helô Isa Edgar Neuza Carla Mari. Gabi Laura Marta

2 X X 3 X X X X 4 X X X X 5 X X X X

Total 2 1 2 2 3 0 0 3 0 1 1 1 Tabela 4. Distribuição de indicações feitas por participantes do estudo acerca de agrupamentos de pessoas amigas no empreendimento.

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Conforme pode ser observado na Tabela 4, cinco pessoas foram citadas como

participantes de mais de um agrupamento de amigos, sendo que duas destas apareceram em

três agrupamentos diferentes.

Os dados coletados mostram ainda que todos os membros do grupo são vizinhos,

com exceção de um participante que havia se mudado do bairro na época da entrevista, e,

portanto, todos já se conheciam antes da formação da cooperativa. Destes, duas pessoas

possuem pai e mãe também na cooperativa e uma pessoa trabalha com a nora na

cooperativa.

Foi perguntado também, para as pessoas entrevistadas, se elas consideravam os

membros do grupo como amigos, agora que trabalhavam todos juntos. Dez participantes

responderam que sim e dois responderam que não os consideram amigos, sendo que dessas

duas pessoas que responderam não, uma respondeu que considera estas pessoas como

colegas de trabalho e a outra disse que as pessoas da cooperativa não gostam dela.

Ainda de acordo com os dados coletados foi possível notar que, de doze

participantes do estudo, dez responderam que passariam mais tempo junto com as pessoas

do grupo do que passam atualmente, e dois responderam que não passariam. As

justificativas das pessoas que indicaram desejo de passar mais tempo com os colegas foram

as seguintes: para conversar; por confiança na pessoa; por companhia; por serem legais, pra

mudar de ambiente (sair de casa). E, para uma última questão feita de acordo com a

contribuição da amizade para o grupo, os resultados mostraram que todos os membros

acreditam que a amizade entre eles ajuda o trabalho desenvolvido por todos.

Em relação à satisfação com o trabalho na cooperativa, todos os respondentes da

entrevista disseram que gostam do seu trabalho, e destes, apenas cinco pessoas disseram

que prefeririam trabalhar com outra coisa. Dentre as cinco, somente uma pessoa justificou a

preferência em relação à falta de confiança e ao ambiente de “fofoca” existente no grupo;

as demais trocariam o trabalho na cooperativa por algum outro para ganhar mais.

Sobre a satisfação do grupo com a produtividade do empreendimento, dois

participantes relataram que o grupo não estava satisfeito, pois precisavam melhorar a coleta

já que o “material estava dando pouco”. Outras três pessoas disseram não saber sobre a

satisfação do grupo, principalmente por não ter tanto contato com o mesmo; e, ainda uma

pessoa respondeu “mais ou menos” porque achava que não estavam recolhendo muito

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material, mas que estava bom assim e a tendência era que melhorasse ainda mais. O

restante, metade dos entrevistados, relatou satisfação do grupo em relação à produção da

cooperativa.

Por fim, ainda relacionado aos resultados do trabalho da organização, todos os

membros disseram que estavam cumprindo com os prazos de entrega estabelecidos pelo

grupo.

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Economia Solidária, Comportamento Humano e Relações Interpessoais no Trabalho

1) Definição de amizade pelos membros do empreendimento estudado

Em um ambiente social, no qual pessoas mantêm contato próximo, como no

ambiente de trabalho, relações interpessoais constituem parte fundamental deste ambiente,

sofrendo a influência de outros aspectos do ambiente, assim como moldando este ambiente

em várias dimensões. Os relacionamentos interpessoais surgem em ambientes assim, pois

são formados por características individuais assim como por uma influência mais ampla

sobre o ambiente social no qual estão inclusos, tal como dentro de uma empresa. Com isso,

interferem na estrutura e funcionamento da mesma, além de atingir a vida pessoal dos

trabalhadores envolvidos ou não no relacionamento, Hinde (1981).

Em meio às relações surgidas no contexto organizacional, que vão desde relações

familiares até relações de trabalho, o presente estudo trata de maneira especial das relações

interpessoais de amizade. Sendo assim, os dados coletados foram, primeiramente, em busca

de definições e entendimento do conceito de amizade pelos próprios membros de uma

organização. Neste caso, os aspectos mais citados, para definir amizade pelos membros do

empreendimento solidário em questão, foram “bem-estar”, definido pelos aspectos que

agradam as pessoas e proporcionam um ambiente favorável e agradável de convivência,

criando um clima de descontração; e “apoio”, cuja definição diz respeito à fonte de apoio e

ajuda para aspectos individuais. É possível notar que estas categorias estão relacionadas

com ambiente de trabalho, mesmo que no momento da entrevista a pesquisadora tenha

perguntado sobre amizade em seu sentido geral e não exclusivamente relacionada ao

trabalho e, sendo assim, os entrevistados focaram suas respostas em aspectos direcionados a

trabalho.

Pode ser destacado também que as perguntas foram feitas sempre em relação às

relações de amizade entre aquelas pessoas do grupo e, com isso, é possível que os

participantes do estudo tenham considerado suas relações juntamente com o ambiente de

trabalho que é o local onde possuem o maior contato direto com os “amigos” citados.

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Em estudos anteriores, com interesses parecidos aos abordados no presente

momento, outras definições de amizade já foram dadas, como por exemplo o conceito de

amizade apresentado por Wright (1984:119), em que “amizade é definida como um

relacionamento envolvendo interações voluntárias e descontraídas nas quais os

participantes respondem um ao outro de maneira própria, isto é, como traços individuais

únicos”.(Winstead et al., 1995).

Ao se comparar a definição anterior encontrada com a definição obtida nesta

pesquisa, percebe-se que ambas possuem certa semelhança. Também para Wright (1984) a

amizade conta com aspectos de descontração, ou seja, bem-estar, e com aspectos

voluntários, relacionados a uma forma individual de lidar com a amizade. Logo, é possível

notar que os conceitos se aproximam em alguns termos, sendo que este é apresentado de

forma bem mais geral que o conceito apresentado pelos participantes deste estudo, que se

relacionam de forma mais clara com aspectos presentes em um contexto de trabalho. Isso

pode ter acontecido devido a influências do procedimento utilizado para obtenção dos

dados. Todas as entrevistas foram feitas no próprio ambiente de trabalho da cooperativa e a

maioria das questões dizia respeito às pessoas daquele grupo e suas relações de amizade,

assim como relações de trabalho do grupo.

Portanto, os aspectos citados pelos membros do grupo para definir amizade estão

relacionados a aspectos de trabalho, mas também podem ser considerados fiéis e próximos

a conceitos de amizade já existentes na literatura. Assim, os demais dados apresentados

neste trabalho se referem sempre à amizade conforme definida pelo próprio grupo

estudado.

2) Delineamento das relações interpessoais de amizade no grupo

Com base nos resultados obtidos é possível perceber que existem alguns

agrupamentos de pessoas em função de amizade dentro do ambiente de trabalho do

empreendimento solidário considerado. Alguns relatos permitem essa conclusão, assim

como situações observadas pela pesquisadora. Por ser um grupo pequeno, apenas 13

participantes no momento da coleta de dados, o agrupamento citado é composto por vários

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integrantes do grupo e, além deste, existe apenas mais uma divisão observada, que coincide

com as pessoas que geralmente ficam no galpão fazendo a separação da coleta enquanto

todas as outras vão para as ruas coletar o lixo.

Dentro deste contexto fica claro a existência de um grupo de pessoas formado a

partir de um objetivo comum, o trabalho, e, além deste, a existência de outros grupos

formados dentro do primeiro, os quais são denominados subgrupos. Por grupo entende-se

"uma estrutura de vínculos e relações entre pessoas que canaliza em cada circunstância suas

necessidades individuais e/ou interesses coletivos" (Martín-Baró, 1997 apud Martins,

2003). O mesmo autor procura ressaltar também que um grupo é uma estrutura social: é

uma realidade total, um conjunto que não pode ser reduzido à soma de seus membros. "A

totalidade do grupo supõe alguns vínculos entre os indivíduos, uma relação de

interdependência que é a que estabelece o caráter de estrutura e faz das pessoas membros"

(Idem).

Durante as entrevistas e a partir da análise dos dados é possível notar que as

pessoas, pertencentes ao grupo citado, possuem certas preferências em relação aos

companheiros de trabalho e que, muitas vezes, essas preferências estão diretamente

relacionadas com as relações de amizade dessas pessoas. Por outro lado, alguns dos

entrevistados não relatavam suas preferências e afirmaram que isso não existia no grupo,

justificando esta afirmação pelo fato de que este grupo era uma cooperativa, e, portanto

todos devem trabalhar igualmente e junto com todos os outros. Isso mostra que alguns

membros do grupo ficaram sob controle do que acham ser normas de um empreendimento

solidário no momento de responder à entrevista e que, por isso, não citaram seus pares ou

preferências, pois, segundo eles, numa cooperativa todos devem trabalhar juntos e não

podem demonstrar preferências de pares para executar suas funções, já que todos precisam

fazer os trabalhos necessários no grupo de forma igualitária.

De certa forma, essas pessoas se embasaram em alguns conceitos de economia

solidária conforme indicado por Singer, 2000. Para ele, num empreendimento solidário

todos os membros realizam o mesmo tipo de serviço e recebem remunerações igualitárias,

sem que haja diferenciação por cargos ou hierarquias. Porém, isso não significa que não

possa haver preferências pessoais dentro do grupo, mas pode indicar que as preferências

não deveriam prejudicar as condições igualitárias de trabalho e gestão, o que por vezes foi

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notado que acontece no presente grupo em relação às pessoas que se apresentam afastadas

dos agrupamentos delineados.

Também para Fávero e Eidelwein (2004) o trabalho cooperativado tem sua

importância em função da atividade que é desenvolvida em grupo, onde deve haver

diálogo, reuniões, troca de idéias e experiências, além de amizade e bom relacionamento

entre as pessoas. E, sendo assim, o presente grupo, com suas formações excludentes de

pessoas que se apresentam afastadas dos agrupamentos menores, vai contra a idéia suposta

de trabalho cooperativado, dificultando o alcance dos objetivos que, nestes casos, não se

referem apenas a ganhos financeiros, mas de mudanças de práticas sociais.

Ainda de acordo com as observações diretas, foi possível notar que as pessoas que

demonstraram certo afastamento do grupo, por meio de seus relatos durante a entrevista,

realmente coincidiam, no momento das observações, com as pessoas que se apresentavam

sempre mais distante do grupo, não participavam das discussões, eram mais caladas e não

se aproximavam dos ”grupinhos” quando estes estavam mais separados fisicamente. Essas

mesmas pessoas receberam somente uma indicação de que seriam escolhidas para trabalhar

junto com um entrevistado e também foram indicadas somente uma vez como quem

escolheria os demais para trabalhar junto, além de serem as pessoas mais idosas de todo o

grupo.

O fato de que as pessoas que se apresentam mais afastadas dos agrupamentos

coincidem com duas das pessoas mais idosas do grupo levantam uma possível hipótese

explicativa da exclusão destas pessoas. Em sua maioria, este grupo é composto por pessoas

de faixa etária entre 20 e 40 anos de idade, com exceção de três pessoas já idosas, todas

com 65 anos de idade. Dentre elas, duas são as mesmas pessoas que não pertencem aos

agrupamentos formados pelos membros da cooperativa. E isso pode ocorrer principalmente

por causa da estrutura do trabalho realizado no empreendimento. Todas as pessoas devem

tanto recolher como separar o lixo coletado, portanto, é esperado que todos os membros do

grupo, independente da idade, participem da coleta que é feita todos os dias nos bairros

atendidos por aquele grupo. Geralmente, essas pessoas mais idosas não participavam tão

ativamente da coleta quanto os demais e, assim, o grupo sempre exigia a presença mais

constante delas durante o arrecadamento feito nas ruas. Isso criava certo clima de

desconforto durante as reuniões gerais em que sempre era cobrado que essas pessoas

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estivessem mais participativas do trabalho realizado, já que na cooperativa todos são

responsáveis pelo trabalho de forma igualitária e também são pagos da mesma forma.

Do mesmo modo, ainda de acordo com a análise dos dados para delinear as relações

interpessoais do grupo, é possível perceber que cinco entrevistados apontam a existência de

“grupinhos” de amizade dentro do grupo, sendo que as pessoas citadas como participantes

destes “grupinhos” são as mesmas em algumas das citações, o que permite supor a

existência de um “grupinho” mais forte de amizade e a exclusão de algumas pessoas dos

agrupamentos formados na cooperativa.

De acordo com Sawaia (1999) retirado de Macedo et al. (2004), "... Em síntese, a

exclusão é processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais,

políticas, relacionais e subjetivas. È um processo sutil e dialético, pois só existe em relação

à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é processo que

envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e

não é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social,

ao contrário, ele é produto do funcionamento do sistema". E, dessa maneira, a exclusão

conforme presente no contexto estudado se mostra como resultante do funcionamento do

sistema adotado pelo empreendimento solidário estudado e justificada por possíveis

diferenças individuais dos membros do grupo.

Ainda relacionado aos resultados do trabalho, das pessoas citadas como

pertencentes a mais de um agrupamento de amigos, duas aparecem em três agrupamentos

diferentes, sendo que estas são as mesmas que receberam o maior número de indicações

como preferências para trabalhar junto. Isto indica certa concentração de amizade em

relação a estas pessoas. Destas pessoas, uma delas é a líder do empreendimento, sendo que

todos os integrantes do grupo concordam com esta afirmação e sempre a apontam como tal,

em aparente concordância com a definição de Gonçalves (2005), que destaca que líderes

são indivíduos que, apresentando condutas denominadas de liderança, têm a “possibilidade

de exercer influência sobre outras pessoas de um grupo, ou seja, muitas vezes ele é notado

como um referencial ou como um modelo para as pessoas que estão a sua volta”.

Diferentemente do que pode ser suposto a partir da proposta cooperativista, na qual

não há centralização e relações de poder, o grupo sob estudo conta com um membro que

ocupava, reconhecidamente, o papel de líder, que é a pessoa responsável pelas negociações

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do grupo, pagamentos, contatos externos com clientes e pessoas do governo municipal,

além de, às vezes, ser responsável por fazer a divisão das tarefas e cobrar as pessoas por

suas funções e, por isso, acaba se aproximando de uma função de chefia. No entanto, os

dados obtidos sugerem que esta líder se afasta um pouco do que seria esperado em sua

função, já que o líder tem o objetivo de criar contingências favorecedoras de um bom

desempenho do grupo em realizar tarefas, resolver problemas, além de promover as

relações interpessoais entre os indivíduos.

Sendo assim, o fato de haver uma líder no grupo também pode ser apontado como

mais uma hipótese explicativa para a existência do agrupamento concentrado nesta pessoa e

em mais uma, que também mantém contato próximo com a líder e que a indicaria, segundo

o teste sociométrico realizado, como uma preferência de par para trabalhar juntas.

Uma outra coincidência dos dados mostra que as três pessoas que não receberam

indicações como escolhidas para trabalhar juntas, também não foram indicadas como

pessoas que escolheriam os outros membros para trabalhar junto, ou seja, são pessoas que

não participariam de nenhum grupo de trabalho caso a escolha dos grupos fosse feita

segundo os critérios de preferência. Isso também pode ser observado em relação às

contrapartidas de preferências, sendo que quatro indicações de preferência apresentam

contrapartida de preferência pelo participante citado e nenhuma das contrapartidas envolve

essas pessoas menos citadas.

Por fim, a partir dos procedimentos metodológicos utilizados foi possível delinear a

existência de agrupamentos dentro da cooperativa assim como a exclusão de alguns

membros do grupo que, por sua vez, trazem aspectos negativos para o funcionamento do

grupo, conforme Jodelet (1999) afirma quando diz que a exclusão induz sempre uma

organização específica de relações interpessoais ou entre grupos que se traduz em

segregação, afastamento , marginalização, discriminação, fechamento do acesso a recursos,

e lembra ainda que ela sempre se instala em uma interação entre pessoas ou grupos

(Macedo et al., 2004).

Porém, houve certas limitações impostas pelos procedimentos adotados e que

poderiam, em estudos futuros, ser consideradas e completadas. Dentre elas, destaca-se o

fato de que as observações diretas não acompanharam situações reais vivenciadas fora do

galpão, onde o grupo se reunia para fazer a separação do material recolhido e para fazer as

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assembléias gerais. O acompanhamento do trabalho de recolhimento de lixo feito nas ruas,

assim como algumas situações e acontecimentos em contextos diversos, como durante

festas e reuniões comemorativas do grupo, traria dados de observação relevantes para

caracterizar os aspectos de interesse nas relações de amizade.

Também o teste sociométrico aplicado não pôde ser analisado de acordo com as

análises propostas, pois alguns participantes não responderam às perguntas conforme

pedido, sendo que alguns deram duas respostas, outros apenas uma, e outros ainda não

diferenciaram suas preferências em relação ao grupo.

3) Delineamento das relações interpessoais de amizade extra-trabalho

Em vários estudos tem sido possível constatar que as relações de amizade possuem

fortes influências sobre as relações de trabalho e sobre a vida do trabalhador em empresas

capitalistas. A relação entre a amizade no trabalho e a satisfação do funcionário já foi

notada em alguns estudos realizados em empreendimentos capitalistas, como por exemplo

nos estudos realizados por Everly e Falcione (1976), Hersberg et al. (1959), Robinson et al.

(1993), Schneider e Locke (1971) e citados por Winstead et al. (1995), em que os

indivíduos entrevistados relatavam uma maior satisfação em relação ao trabalho à medida

que possuíam melhores relacionamentos interpessoais com seus colegas de trabalho, sendo

estes outros trabalhadores da sua área, supervisores próximos ou supervisores gerais.

Desta maneira, e acompanhando os dados obtidos neste estudo, fica evidenciado

que a maioria dos membros do grupo estudado pertencia a uma mesma comunidade antes

do início da formação do grupo e que muitos se mostraram amigos no ambiente de trabalho

assim como fora dele, ou seja, o fator amizade, conforme definido pelos próprios

participantes, se mostra presente entre alguns membros daquele grupo.

Este fato coincide com o conhecimento prévio, obtido pela participação em alguns

grupos solidários, de que muitas vezes os empreendimentos solidários são compostos por

grupos que já possuíam algum tipo de ligação entre si (como uma comunidade formada por

ex-empregados duma mesma empresa capitalista ou por companheiros de jornadas

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sindicais, estudantis, comunitárias, etc.) ou relacionamento interpessoal, que com algum

apoio e por fatores diversos (como desemprego, falta de oportunidade ou identificação com

a proposta cooperativista) resolvem pela junção e acabam por formar o grupo cooperativo,

ou ainda por grupos de pessoas pertencentes a uma mesma comunidade e que detectam

algum setor de serviço possível de atuação no município.

No caso da população participante deste estudo, a maioria dos membros do grupo

são vizinhos e já se conheciam antes da formação da cooperativa. Alguns também possuem

relações de parentesco com outras pessoas do grupo. Assim, é possível supor que este

contato anterior tenha facilitado a formação de relações de amizade extra-trabalho entre os

participantes do estudo, o que acaba acontecendo entre algumas dessas pessoas. A partir

das entrevistas realizadas, foi possível notar que alguns participantes deste grupo costumam

se encontrar fora do ambiente de trabalho e, ainda, que a maioria das pessoas que não

costumavam se encontrar fora daquele local gostaria de passar mais tempo junto com os

colegas para conversar, por confiança e por companhia. Além disso, a maioria das pessoas

disse se considerar “amigas” dos demais membros do grupo.

Esses dados demonstram uma tendência em relação à existência da amizade extra-

trabalho. Vale ressaltar que a formação de amizades extra-trabalho é coincidente com os

mesmos agrupamentos de pessoas que possuem amizade no ambiente de trabalho,

conforme descrito anteriormente. A presença dessa amizade está de acordo com a literatura

pesquisada, pois Wright (1984) apud Winstead (1995) enfatizou que a qualidade da

amizade é revelada pela disposição e desejo em gastar o tempo livre com o par. E, sendo

assim, os participantes da pesquisa demonstram esta disposição em relação a seus pares.

Entretanto, houve certas limitações que impossibilitaram uma análise completa em

relação ao objetivo do trabalho, que se refere a uma avaliação das influências das relações

pessoais de amizade extra-trabalho entre os membros de um empreendimento

solidário sobre as relações pessoais de trabalho. A partir das entrevistas semi-

estruturadas foi possível delinear formações de agrupamentos de amizade dentro do grupo e

fora dele, mas não ficou claro o tipo e qualidade das relações de amizade extra-trabalho,

sendo que as perguntas feitas em relação a esse aspecto não possibilitaram um

entendimento das relações existentes fora daquele ambiente.

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Então, seria importante a obtenção de dados mais próximos à realidade dos

membros do grupo fora do ambiente da cooperativa para que as relações interpessoais de

amizade extra-trabalho pudessem ser claramente relacionadas às relações interpessoais de

trabalho.

4) Percepção da produtividade e satisfação no trabalho

Como já é conhecido e, considerando os objetivos do trabalho, é importante analisar

as influências das relações interpessoais de amizade sobre as relações de trabalho e

desenvolvimento produtivo do grupo, pois, como já citado, estas relações interferem na

estrutura e funcionamento da organização, além de atingir a vida pessoal dos trabalhadores

envolvidos ou não no relacionamento (Hinde, 1981).

Assim, de acordo com os dados em relação à satisfação no trabalho, das pessoas que

responderam que trocariam aquele trabalho por algum outro, apenas uma justificou a troca

pelo fato de que não gosta daquele ambiente porque existem “fofocas” e “grupinhos”, e esta

mesma pessoa não foi citada como pertencente a nenhum dos agrupamentos delineados. As

demais dizem gostar do trabalho naquele grupo e não citam o fator amizade ou

relacionamento como causas para uma possível troca do trabalho atual.

Também em relação à produtividade do grupo, algumas pessoas relataram não saber

o quanto o grupo estava atendendo ao esperado, já que não participavam e não possuíam

muito contato com o restante do grupo, sendo estas as mesmas que não participaram de

nenhum dos agrupamentos citados.

Com isso, ao examinar o objetivo presente, é possível considerar que essa influência

das relações interpessoais de amizade sobre as relações de trabalho acaba acontecendo. Os

membros, que são considerados como não pertencentes aos “grupinhos” de amizade

formados naquele ambiente, relatam estar sempre distante das decisões tomadas no grupo e

nem sempre se mostram completamente satisfeitos com seu trabalho. Já aquelas pessoas

que fazem parte de alguns agrupamentos citados relatam que o ambiente de trabalho é

descontraído, gostam do trabalho na cooperativa, fazem parte das decisões tomadas já que

participam mais durante as reuniões e sabem relatar a respeito da produtividade e

rendimento do trabalho do grupo.

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Logo, segundo as observações e levantamentos de agrupamentos de pessoas no

grupo onde estas conversam, dão risadas e se ajudam mutuamente, é possível concluir que a

relação pessoal de amizade, de acordo com as definições dadas pelos próprios participantes

da pesquisa, está presente entre alguns membros no ambiente de trabalho deste

empreendimento solidário e que, por sua vez, demonstra influência sobre a participação

pessoal no grupo e também em relação aos aspectos de trabalho e gestão da cooperativa.

Porém, o que se observa é que a amizade dessa maneira pode atrapalhar a formação de uma

relação sólida de amizade extra-trabalho, assim como excluir pessoas do próprio grupo de

relacionamentos, o que, por sua vez, acaba prejudicando a participação e inclusão de alguns

membros no grupo de trabalho e, conseqüentemente, o seu trabalho e desempenho no

empreendimento. E com isso, o funcionamento do grupo não vai ao encontro do que seria

ideal para a economia solidária, em que se espera que todos os integrantes participem de

forma igualitária da gestão do grupo assim como executem tarefas semelhantes e de igual

tamanho. Segundo consta, os moldes da economia solidária se mostram como um lugar de

"inclusão", ou seja, um lugar onde o produtor tem poder de decisão na forma de produzir e

comercializar o seu produto e se sente sujeito responsável pelo seu próprio trabalho, além

de possuir o compromisso social de zelar pela saúde das pessoas e pela conservação do

planeta (Fávero e Eidelwein, 2004).

Por fim, esse tipo de amizade presente no grupo citado ocorre porque o

delineamento dos agrupamentos deixa clara a existência de um contato amistoso entre

alguns participantes enquanto favorece a exclusão de alguns outros e, assim, o grupo perde

um pouco da sua união e colaboração para o trabalho, pois as pessoas excluídas se mostram

insatisfeitas e distantes da importância de produtividade do empreendimento, o que

interfere na estrutura e funcionamento da organização, além de atingir a vida pessoal delas

próprias.

5) Ampliação e aplicação dos resultados obtidos

De acordo com os resultados obtidos no estudo realizado percebe-se que a

ampliação do mesmo seria bastante interessante para a busca de novas informações a

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respeito das relações de amizade dentro de um empreendimento solidário para um melhor

entendimento das possibilidades de melhora das relações de trabalho a partir de relações

interpessoais de amizade. Um próximo trabalho poderia comparar a influência das relações

de amizade de um grupo onde as pessoas já se conheciam anteriormente com grupos em

que as pessoas só se conhecem no momento da formação do grupo. Também seria

importante a busca de mais informações a respeito dos relacionamentos existentes fora do

ambiente de trabalho.

Portanto, várias são as possibilidades de continuação do trabalho apresentado para

uma melhor compreensão do aspecto amizade presente no ambiente de trabalho no ramo da

Economia Solidária, onde os membros do grupo trabalham seguindo outras normas e

condições diferentes das de uma empresa capitalista.

Relações interpessoais próximas são bastante importantes no contexto solidário,

pois essas organizações têm por base práticas fundadas em relações de colaboração

solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e

finalidade da atividade econômica em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de

capital em particular (Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia Solidária, 2003).

Também para Vasconcelos (1989) apud Fávero e Eidelwein (2004), o trabalho comunitário

possibilita colocar a saúde mental numa perspectiva preventiva e inerente à vida social.

Visa também, atuar sobre as contradições internalizadas nas pessoas e nos grupos sociais,

contribuindo para a explicitação desses mecanismos, possibilitando assim situações nas

quais os grupos possam assumir e criar novas formas de comportamento social mais

democráticas, participativas e solidárias.

Sendo assim, a aplicabilidade de trabalhos desta natureza é claramente relevante

em relação à formação de grupos solidários, onde os membros do grupo se baseiam em

normas igualitárias de gestão e trabalho, pois o relacionamento entre as pessoas do grupo

será um dos fatores determinantes para o bom funcionamento do empreendimento.

Além disso, a partir do conhecimento da área, é possível notar, também, que

funcionários que se entendem bem, trabalham melhor juntos (Duck, 1983 apud Winstead,

1995). E, portanto, Hackman e Oldham (1980) citado por Winstead et al. (1995) afirmaram

o valor dado às relações de grupo sugerindo, então, que as organizações deveriam usar da

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seleção para escolher membros que apresentem, ao menos, níveis moderados de habilidades

interpessoais, o que facilitaria a formação de novos relacionamentos.

Enfim, o entendimento das influências das relações interpessoais de amizade tem

muito a contribuir com a formação e desenvolvimento de um empreendimento solidário, já

que estas podem impactar no funcionamento do grupo assim como na vida pessoal de seus

integrantes.

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Referências Bibliográficas

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em Pesquisas

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Participação em Pesquisa

Eu, ________________________________________________________ declaro

estar ciente do objetivo deste estudo, que é compreender eventuais relações de amizade

entre membros de um empreendimento solidário e destas com aspectos da situação de

trabalho. O estudo será conduzido por Mírian Jacob Polastrini, aluna do Curso de

Graduação em Psicologia da UFSCar, residente na Avenida São Carlos, 2724 apt902, São

Carlos-SP – telefone (16)272-0671 e orientado pela Profa.Dra. Ana Lúcia Cortegoso,

professora do Departamento de Psicologia da UFSCar, residente à Rua Antonio

Fiorentino,58, São Carlos-SP – telefone (16)3368-1529, e-mail [email protected],

sendo que ambas se colocam a disposição de qualquer participante para o esclarecimento de

dúvidas e quaisquer questões relacionadas à pesquisa a ser realizada.

Estando ciente dos objetivos estabelecidos pela pesquisa, de que posso desistir de

participar desta a qualquer momento, e que tenho direito de acesso aos resultados do

estudo, aceito participar do trabalho, como informante, por meio de participação em

entrevistas individuais e teste sociométrico, além de autorizar observações diretas de

situações de trabalho das quais participe, por meio de gravações ou observações da

pesquisadora. Declaro estar de acordo, ainda, com a divulgação científica dos dados na área

acadêmica, desde que minha identidade seja preservada.

São Carlos, ____________, ___________________________ de 2004.

Assinatura________________________________________________.

Mírian Jacob Polastrini Dra. Ana Lucia Cortegoso

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APÊNDICE 2

Roteiro de entrevista

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Roteiro de Entrevista

Nome: Data de nascimento: Endereço: Telefone: Estado civil: Grau de escolaridade: 1- Para você, o que é amizade? 2- Você acha que existe amizade entre as pessoas do seu grupo de trabalho? O que demonstra isso (a amizade entre as pessoas)?

3- Você já conhecia alguém deste grupo antes de entrar na cooperativa? Quem? Que tipo de relacionamento você tinha com esta pessoa antes de entrar no grupo (parentesco, amizade, vizinho, apenas conhecido)? E agora? 4- Você considera alguma das pessoas que você conheceu na cooperativa como seu amigo(a)? Quem? O que mostra essa amizade entre vocês? Você se encontra com ele(a) fora do seu local de trabalho? 5- Pense na pessoa que você considera mais seu amigo(a) dentro do grupo. Você passa muito tempo junto com essa pessoa? Você passaria mais tempo junto com ele(a)? O que ele(a) faz que mostra que é seu amigo(a)? 6- Você gosta do seu trabalho? Ou você preferiria trabalhar com outra coisa? O quê? 7- O grupo está satisfeito com a produção da cooperativa? Vocês estão cumprindo os prazos de trabalho estipulados? O trabalho está rendendo o esperado pelo grupo? 8- Como vocês dividem as tarefas a serem feitas? As pessoas escolhem com o que e com quem vão trabalhar ou é determinado de outra forma? Se sim, qual? 9- Você acha que a amizade entre os membros do grupo ajuda ou atrapalha o trabalho cooperativo?(Essa pergunta será realizada dependendo da resposta dada na questão 2) 10- Como é o relacionamento entre as pessoas do grupo, na sua opinião? E esse tipo de relacionamento é bom ou ruim para todo o grupo? Por que acha isso? 11- Qual a importância do relacionamento entre as pessoas do grupo, na sua opinião?

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ANEXO

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ANEXO 1 Termo de Compromisso do Pesquisador

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Termo de Compromisso do Pesquisador

Eu, Ana Lúcia Cortegoso, pesquisadora responsável pelo projeto de pesquisa: “A INFLUÊNCIA DA RELAÇÕES PESSOAIS DE AMIZADE EXTRA-TRABALHO ENTRE OS MEMBROS DE UM EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIO SOBRE AS RELAÇÕES PESSOAIS DE TRABALHO” comprometo-me em cumprir os termos da resolução 196/96 do Ministério da Saúde.

Sem mais, subscrevo-me,

______________________________________

Profa. Ana Lúcia Cortegoso

Docente do Departamento de Psicologia

UFSCar

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