relacionamento interpessoal, mÃe e filha frente … · as filhas casadas dispensam menos atenção...

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RELACIONAMENTO INTERPESSOAL, MÃE E FILHA FRENTE AO ENVELHECIMENTO: ESTUDO DE CASO Daniel Ferreira Goyos 1 , Helvécio Bueno 2 RESUMO Introdução: O relacionamento entre mãe e filha adulta é um tema ainda pouco investigado, especialmente no Brasil. Objetivo Promover uma relação amistosa entre mãe idosa e filha adulta. Metodologia: Foi realizado um estudo de caso de uma senhora idosa de 88 anos, que reside no bairro Amoreiras, Paracatu, M-G, Brasil. Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas individuais, cujo conteúdo foi organizado e os dados foram classificados nas seguintes categorias: a história do relacionamento (dependência/independência, expectativas de mudanças na relação. Baseado no método Arco de Charles Maguerez foi possível fazer uma análise geral dos problemas pertinentes à família bem como, encontrar as possíveis hipóteses de solução para os mesmos. Resultado: Após dois anos de intervenção frente aos problemas da família, felizmente o objetivo proposto pelo estudo foi atingido, ou seja, houve uma melhora significativa na relação interpessoal (mãe e filha) e, com isso houve também uma melhora significativa na qualidade de vida da idosa. Discussão: Algumas dimensões do relacionamento entre mãe e filha foram analisados. O relacionamento entre elas é 1 Acadêmico do curso de medicina, Faculdade Atenas. Contato: Endereço eletrônico: [email protected]. Endereço Residencial: Rua Tenente Olímpio Gonzaga, 201, compl. 101 Paracatu, M-G. CEP: 38600-000. O presente trabalho é parte integrante da disciplina de Epidemiologia/Bioestatística, sob a orientação do Profª. Helvécio Bueno. 2 Professor do curso de Medicina da Faculdade Atenas de Paracatu-MG.

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RELACIONAMENTO INTERPESSOAL, MÃE E FILHA FRENTE AO

ENVELHECIMENTO: ESTUDO DE CASO

Daniel Ferreira Goyos 1, Helvécio Bueno2

RESUMO

Introdução: O relacionamento entre mãe e filha adulta é um tema ainda

pouco investigado, especialmente no Brasil. Objetivo Promover uma relação amistosa

entre mãe idosa e filha adulta. Metodologia: Foi realizado um estudo de caso de uma

senhora idosa de 88 anos, que reside no bairro Amoreiras, Paracatu, M-G, Brasil. Foram

utilizadas entrevistas semi-estruturadas individuais, cujo conteúdo foi organizado e os

dados foram classificados nas seguintes categorias: a história do relacionamento

(dependência/independência, expectativas de mudanças na relação. Baseado no método

Arco de Charles Maguerez foi possível fazer uma análise geral dos problemas

pertinentes à família bem como, encontrar as possíveis hipóteses de solução para os

mesmos. Resultado: Após dois anos de intervenção frente aos problemas da família,

felizmente o objetivo proposto pelo estudo foi atingido, ou seja, houve uma melhora

significativa na relação interpessoal (mãe e filha) e, com isso houve também uma

melhora significativa na qualidade de vida da idosa. Discussão: Algumas dimensões do

relacionamento entre mãe e filha foram analisados. O relacionamento entre elas é 1 Acadêmico do curso de medicina, Faculdade Atenas. Contato: Endereço eletrônico: [email protected]. Endereço Residencial: Rua Tenente Olímpio Gonzaga, 201, compl. 101 Paracatu, M-G. CEP: 38600-000. O presente trabalho é parte integrante da disciplina de Epidemiologia/Bioestatística, sob a orientação do Profª. Helvécio Bueno. 2 Professor do curso de Medicina da Faculdade Atenas de Paracatu-MG.

caracterizado por discórdias, separação, aproximação e principalmente dependêcia da

mãe com relação aos cuidados da filha. Em geral foi percebido que ambas se gostam e

parecem estar dispostas à mudanças na relação. Conclusão: Pode-se concluir que uma

boa relação entre mãe idosa e filha adulta, definitivamente é um fator de extrema

relevância no que diz respeito a um envelhecimento saudável bem como uma maior

longevidade a idosa.

PALAVRAS-CHAVE: relacionamento; envelhecimento; qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

1 ESTADO DA ARTE

O relacionamento entre pais e filhos adultos representa uma área de

pesquisa recente e ainda pouco investigada, especialmente em território nacional.

Contudo, frente ao aumento na expectativa de vida de pais e filhos, torna-se cada vez

mais relevante conhecer melhor essa relação (Luscher & Pillemer, 1998).

De modo particular, o relacionamento entre mãe idosa e filha adulta tem

despertado o interesse da comunidade científica internacional sob diferentes

perspectivas. A relação entre mãe idosa e filha se estende por toda a vida da mãe,

sofrendo mudanças com o casamento e a maternidade da filha e a velhice e a

enfermidade da mãe (Yoo, 2004).

O relacionamento entre mãe idosa e filha é fundamental para o

desenvolvimento da identidade feminina de ambas. Tal identidade, por sua vez, também

interfere e modula o relacionamento entre elas. As mulheres mantêm a identificação

com a mãe ao longo da vida e no relacionamento entre elas constroem o que é ser

mulher (Chodorow, 1979, 2002).

Por outro lado, a mãe também se identifica com a filha e projeta seus

sentimentos nela em busca de sua realização (Einchenbaum & Orbach, 1983).

Historicamente, as mulheres são responsáveis pelo campo privado, os

cuidados com a família e a perpetuação destes laços. Isto permite que a relação entre

mãe e filha promova uma identificação emocional e de papéis (Mottram & Hortaçsu,

2005).

A proximidade ajuda as mulheres a compreender-se, conhecer seus papéis

sociais e a própria feminilidade, de acordo com sua cultura. O processo de identificação

promove a similaridade entre mãe e filha. Do ponto de vista dos estudos sobre o

relacionamento, a similaridade tem sido considerada como um facilitador para uma

relação mais próxima, como ocorre nas amizades (Hinde, 1997).

Os cuidados providos pela filha adulta à mãe idosa é outro foco de atenção.

Ajudar os pais idosos é considerado uma obrigação e responsabilidade dos filhos

adultos (Cicirelli, 1993, 2003).

Entretanto, segundo o autor, outros aspectos motivacionais entrariam em

jogo, como o sentimento de apego (Bowlby, 1984, 1989).

As responsabilidades da vida adulta da filha, contudo, são importantes para

definir o tempo disponível para a atenção necessária à mãe (Scharlach, 1987).

As filhas casadas dispensam menos atenção e cuidados com a mãe do que as

filhas sem trabalho ou solteiras. Para algumas mães e filhas, a situação da filha como

cuidadora oferece a oportunidade de modificar a relação (Cantor & Hirshorn, 1989).

Cuidar e ser cuidado representam aspectos de um relacionamento

complementar. Por outro lado, pouco tem sido investigado sobre a reciprocidade no

relacionamento entre mãe e filha adulta, com ênfase em pontos de similaridade, quando

nenhuma apresenta uma relação de dependência da outra, como em situações de

enfermidade. Como em qualquer outro relacionamento, esta relação também apresenta

aspectos negativos. Os relacionamentos em geral estão sujeitos a dificuldades, entre elas

o conflito e a agressividade. (Hinde, 1997).

A coexistência de sentimentos positivos e negativos é normal na relação

entre mãe e filha, mas as discussões entre elas sobre os sentimentos negativos para

evitar o conflito não são comuns neste relacionamento (Fingerman, 1995, 1996).

Neste contexto, as mães percebem mais os pontos de similaridades e

aproximação com as filhas, que valorizam mais a relação à medida que envelhecem,

buscando a proximidade materna. (Lefkowitz e Fingerman (2003).

2 CONTEXTUALIZAÇÃO

Dona M. O. E é uma senhora de 88 anos, católica, aposentada, viúva e está

passando pelo ciclo de vida denominado envelhecimento. Dona “M” reside em um

bairro próximo ao centro da cidade (Paracatu), foi casada com “J”, desta união

nasceram seis filhos sendo três homens (“JB”, “A” e “W”) e três mulheres (“SE”, “M”

e “M”) os quais cinco deles encontram-se casados e residentes em Brasília, no entanto

a uma das filhas de Dona “M” reside com sua progenitora até o presente momento.

Devido à elevada idade, Dona “M”, possui algumas patologias como

osteoporose, otite, HAS. Para reverter o quadro patológico, ela faz uso de alguns

medicamentos os quais são respectivamente: Cálcio, Vitamina D, exposição ao sol (no

período das 09h00min às 10h00min horas), antiinflamatório (diclofenaco sódico) e

Captopril (25mg). Realiza freqüentemente exames pertinentes à saúde da mulher, com

resultados normais.

A residência da família é humilde contendo cinco cômodos, sendo eles: três

quartos, sala, cozinha e no fundo da casa existe um quintal com um pomar muito bem

cuidado por “M”. A casa é mantida por Dona “M” e cuidada por “M” que faz questão

de mantê-la organizada e limpa. Os quartos são pequenos, mas, suficientes para

acomodar ambas, contendo. A sala e confortável, com um jogo de sofá de dois e três

lugares, TV, mesa de centro, e decorações. A cozinha é pequena e simples, com um

fogão de quatro bocas, geladeira, mesa de quatro lugares e um filtro de água no flanco

superior direito. No que diz respeito ao estado de conservação da residência, está

encontra-se bem deteriorada, com pisos quebrados, paredes em péssimo estado de

conservação com rachaduras e infiltrações.

Felizmente Dona “M”, está amparada por sua filha que na medida do

possível procura atender a todas suas necessidades. Os cuidados à mãe ficam restritos

a “M”, que é responsável por absolutamente todas as coisas relacionadas à saúde da

mãe (agendamento de consultas médicas, controle medicamentoso e tarefas

domiciliares).

“M” é uma funcionária pública (professora primária) e grande parte de seu

salário e sua economia são direcionados tanto para a compra de medicamentos bem

como consultas médicas para a mãe. O pouco que sobra, é investido em uma

construção de uma nova casa, localizada ao centro da cidade. Após a conclusão da

obra, “M” pretende deixar a atual residência e mudar-se para a nova casa, pois

segundo informações colhidas ela já se sente uma senhora (42 anos) e pretende

usufruir os bens materiais os quais levaram décadas para serem concluídos. Essa

transição está causando certo desconforto em Dona “M”, pois ela viveu e morou por

toda sua vida na residência atual, e não pretende mudar-se com sua filha para o novo

lar. De forma geral deve-se considerar que “M” tem razão quanto a sua vontade de

querer desfrutar do novo lar, porém isso implicará diretamente na qualidade de vida

de sua mãe, que ficará a mercê dos cuidados de terceiros o que poderá culminar com

agravos à saúde de Dona “M”, como crises psicológicas, depressão, solidão entre

tantos outros.

Genograma da Família

Has

Has Has

J H B

M

W MMA S.EJ. B.

M B M B HJ

1967Infarto

A

J

80 anos 1990

51 anos

93 anos78 anos 88 anos69 anos

42 anos47 anos58 anos 43 anos53 anos

1920 Infarto

1940 ? 1938

?

1943?

2003

Legenda: HAS Hipertensão

Relação muito estreita

? Não soube responder

Has

Relações Habitacionais

Pessoa Entrevistada

Mulher

Homem

Falecido

Falecida

Atualizado em: 20/09/2007

3 JUSTIFICATIVA

A realização deste projeto torna-se oportuna por ser este um espaço

eminentemente de promoção da saúde e produção de conhecimento.

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL:

Promover uma relação amistosa entre “M” e Dona “M”.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

- Orientar “M” com relação aos riscos e agravos a saúde que sua mãe pode

estar sujeita, devido a sua mudança do lar;

- Informar a idosa sobre o estatuto do Idoso, com finalidade de orientá-la

sobre os deveres da família com relação aos cuidados a ela;

- Aconselhar a idosa sobre a importância de uma boa qualidade de vida,

tendo como resultante a minimização dos agravos à saúde.

METODOLOGIA

1 TIPO DE ESTUDO

Para a Elaboração deste artigo, foi utilizado o estudo de caso, baseado no

relato verbal de uma mulher aposentada, de 88 anos e também de sua filha de 49 anos.

2 ÁREA DE ESTUDO

Paciente moradora da área de abrangência do PSF Amoreiras, micro área, da

cidade de Paracatu-MG, noroeste mineiro.

3 COLETA DE DADOS

A coleta de dados se deu por meio de entrevistas as quais foram agendadas

de acordo com o calendário da Faculdade Atenas. Os dados eram coletados de acordo

com o calendário das atividades propostas pelos docentes da faculdade, ou seja, a cada

quinze dias, Eu, saía a campo para fazer visitas domiciliares na presente família, nessas

visitas, fui incumbido de coletar dados relacionados às condições de moradia, higiene,

relacionamento interpessoal dos integrantes do lar e enfermidades bem como a história

pessoal e social de Dona “M”, suas ansiedades, aflições, medos e até mesmo suas

intransigências com sua filha “M”. Após dois anos de acompanhamento, foi possível

adquirir muita informação relacionada à família em tese e, com isso fazer a elaboração

deste presente trabalho. Sendo estas promovidas quinzenalmente.

Na ocasião, inicialmente fui apresentado à respondente. Nesse intercurso,

procurei estabelecer uma relação de confiança com respondente e posteriormente

esclarecer dúvidas relacionadas com seu estado de saúde bem como sua qualidade de

vida. As entrevistas foram devidamente registradas e posteriormente transcritas em

um diário de bordo.

A quantidade de visitas em domicílio foi de 25 e a duração de casa uma

delas foi de aproximadamente, 80 minutos.

3 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS

A família em tese foi escolhida por intermédio das Agentes Comunitárias de

Saúde (ACS) do Programa de Saúde da Família (PSF) Amoreiras e, em seguida

repassada a enfermeira tutora do serviço. Após esse processo cada dupla se tornou

responsável por acompanhar três famílias e, para confecção do presente trabalho optei

por relatar a história de Dona “M”.

5 INSTRUMENTOS OU TÉCNICAS UTILIZADAS

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um diário de bordo o qual

tinha por finalidade elaborar uma entrevista semi-estruturada seguindo um roteiro

preestabelecido abordando diferentes aspectos do relacionamento entre mãe e filha

adulta: histórico e o cotidiano da relação, contexto familiar, percepção do

relacionamento e algumas dimensões como influência, cooperação e conflito.

Baseado no método Arco de Charles Maguerez foi possível fazer uma

análise geral dos problemas pertinentes à família bem como, encontrar as soluções

viáveis para a resolução do(s) mesmos. Esses problemas foram selecionados em ordem

decrescente de prioridade. Nesse esquema constam cinco etapas que se desenvolvem a

partir da realidade ou um recorte da realidade: a) Observação da realidade – observar a

realidade em si de modo a obterem a imagem ingênua da realidade; b) Pontos Chave –

selecionar o que é verdadeiramente importante do que é puramente superficial ou

contingente e identificam os pontos-chave do problema ou assunto em questão; c)

Teorização – explicação os fenômenos observados através da interação entre realidade e

instrumentos teóricos-científicos pré-existentes; d) Hipóteses de solução – Utiliza-se a

realidade para aprender com ela, ao mesmo tempo em que se prepara para transformá-la

e deve propor ações resolutivas e possíveis de serem aplicadas à realidade; e) Aplicação

à realidade – as soluções viáveis são selecionadas e sua aplicação aprendida e praticada.

RESULTADOS

1 DESCRIÇÃO

Após dois anos dialogando ora com mãe, ora com filha, felizmente o

objetivo proposto pelo estudo foi atingido, ou seja, houve uma melhora significativa na

relação interpessoal (mãe e filha) e, com isso houve também uma melhora na qualidade

de vida de Dona “M”.

Com relação a possível mudança de “M” para o centro da cidade, fiz alguns

questionamentos relacionados a essa possível transição, ou seja, procurei dialogar com

ela, mostrando a importância de seus cuidados frente a homeostasia de sua genitora.

Após incessantes diálogos, frente a atual situação, felizmente “M”, ficou pensativa no

assunto e a certeza que tinha sobre a mudança do lar, no momento não existe mais.

Orientações foram feitas a “M” com relação ao estatuto do idoso. No

decorrer do diálogo ela se atentou sobre as questões relacionadas com os deveres e

obrigações que devem ser prestados a sua mãe. O conselho foi passado de maneira clara

e objetiva à ela que por sua vez o acatou amistosamente.

Por fim, a paciente foi orientada sobre a importância de se ter uma boa

qualidade de vida. Juntamente com sua filha, procurei trazer informações relevante

sobre o processo envelhecimento associado a uma boa qualidade de vida. A princípio

orientei sua filha que procurasse encaminhar sua genitora para o grupo da terceira idade,

com intuito de receber os cuidados necessários para a reintegração social. Dias após

isso, “M” procurou a Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro onde ali recebeu todas

informações relacionadas ao encaminhamento para o grupo.

DISCUSSÃO

1 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

O relacionamento entre mãe e filha adulta não é algo isolado e nem está

limitado ao contexto familiar (Mens-Verhulst, 1995).

Dona “M” considerou seu relacionamento com a filha aberto e sem segredos

porem, gostaria que sua filha se revelasse mais.

Já sua filha disse que, o melhor para os conflitos é sair da situação, pedir

desculpas e agir como se nada tivesse acontecido, minimizar os problemas,

considerando “coisa de momento” devido às atribulações da vida.

Várias dimensões do relacionamento entre mãe e filha adulta foram

analisadas. Alguns pontos podem ser destacados nessa relação. Na história do

relacionamento, os relatos apontam para três focos de atenção. Separação e

aproximação são vistas como partes integrantes do relacionamento. Paralelamente, a

dependência e a independência também se dão de forma dialética. Algumas dimensoes

do relacionamento entre mae e filha foram analisados. O relacionamento entre elas é

caracterizado por discórdias, separacao, aproximacao e principalmente dependecia da

mae com relacao aos cuidados da filha. Em geral foi percebido que ambas se gostam e

parecem estar dispostas a mudancas em seu relacionamento.

As expectativas de mudança também apontam para um movimento

dialético, ora promovendo a diferenciação entre mãe e filha, ora provocando uma maior

identificação entre elas (Chodorow, 2002).

Em geral, mãe e filha parecem dispor somente de algumas idéias sobre o

que se passa no íntimo da outra. Os medos e os sonhos, por exemplo, mantêm-se como

algo privado. A troca de opiniões ajuda e cumplicidade foram relatados tanto por mãe

quanto por filha. Ambas citaram o apoio como importante. Dona “M” informou que a

ajuda acontece quando uma precisa da outra, sendo que ela precisa mais da filha do que

o contrário, exceto quando sua filha adoece. Financeiramente, a mãe recebe o auxílio da

filha e nunca o contrário (tratamentos medicamentosos). A resolução dos problemas que ofereciam riscos a saúde da idosa foram em

tese sanados, o que garante por parte de sua filha que Dona “M” receba os cuidados

adequados de forma a garantir melhores condições de vida e de saúde para a mesma. A

paciente encontra-se hoje bem socializada com a filha, recebendo os cuidados

necessários a manutenção de sua saúde. No presente momento ambas residem na

mesma residência de referencia.

Contudo, ainda há muito a ser feito, visto que a melhoria na qualidade de

vida da família é uma questão progressiva e necessita de um acompanhamento periódico

da equipe de saúde do bairro (agentes comunitários de saúde, Enfermeiro (a) e médico

(a)) visando manter mãe e filha em perfeita harmonia, e principalmente monitorar o

estado de saúde da senhora “M”, evitando agravos à sua saúde.

2 COMPARAÇÃO COM OUTROS ESTUDOS

Segundo um estudo elaborado por Kirlla Cristhine Almeida Dornelas,

mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo, o relacionamento

entre mãe e filha é marcado por sua natureza dialética, no sentido de haver um constante

movimento de separação e de aproximação, de busca de diferenciação e descoberta de

similaridades, de encontros e desencontros. Essa dinâmica parece seguir-se a um

período de dependência maior por parte da filha adulta e antecede um período de

dependência maior da mãe idosa.

Esse estudo acima teve como objetivo, investigar, de forma exploratória e

qualitativa, algumas dimensões desta forma de relacionamento.

3 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES

Devido a uma relação extremamente amigável e confiável com a família,

não foram encontrados dificuldades na elaboração deste trabalho, porem acredito que,

se dispusesse de mais tempo para elaborar o presente trabalho, certamente o resultado

final do artigo superaria as minhas expectativas bem como a do leitor.

Limitações, não foram encontradas.

CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

1. SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS

De forma geral, o relacionamento entre mãe e filha é marcado por sua

natureza dialética, no sentido de haver um constante desentendimento e aproximação

entre mãe e filha, de busca de diferenciação e descoberta de similaridades, de encontros

e desencontros.

O cotidiano é pautado por atividades compartilhadas e não compartilhadas e

a comunicação, ao mesmo tempo em que mantém o relacionamento também causa

discórdias, atribulações e percalços.

Semelhanças e diferenças são percebidas entre elas, bem como

reciprocidade e complementaridade.

Conflitos existem porem às vezes são negados ou minimizados em prol da

manutenção do relacionamento.

Em síntese foi percebido uma relevante mudança no relacionamento entre

mãe e filha. Espera-se que com o passar do tempo essa similaridade entre elas aumente

e que, ambas se reencontrem como mãe e filha, respeitando-se, e principalmente

buscando meios para melhor viverem juntas.

2 SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS

Devido ao que foi apresentado, o trabalho proporciona a elaboração e

publicação de novas pesquisas com a finalidade de avaliar e analisar a relação

interpessoal (mãe idosa e filha adulta) frente ao envelhecimento bem como os agravos à

saúde dos idosos devido à falta de cuidados especiais à eles.

3 PROPOSIÇÕES E RECOMENDAÇÕES DE INTERVENÇÕES

(APLICAÇÕES)

- Encaminhamento para grupo de terceira idade;

- Acompanhamento dos Agentes comunitários de saúde (ACS), bem como de

toda equipe da UBS;

- Estreitar ainda mais os laços afetivos entre mãe e filha.

ABSTRACT

Introduction: The relationship between mother and adult daughter is still a not much investigated subject, specially in Brazil. Objetives: To promote a friendly relation between old mother and adult daughter. Methodology: There was carried out a case study of a 88-year-old old lady, who resides in the district Mulberry trees, Paracatu, Mg, Brazil. There were used semi-structured individual interviews, which content was organized and the data were classified in the next categories: the history of the relationship (dependence / independence, expectations of changes in the relation. When Arch of Charles Maguerez was based on the method it was possible did a general analysis of the relevant problems to the family as well as, to find the possible hypotheses of solution for same. Resulted: After two years of intervention in front of the problems of the family, fortunately the objective proposed by the study was reached, in other words, there was a significant improvement in the interpersonal relation (mother and daughter) and, with that there was also a significant improvement in the capacity of life of the old one. Discussion: Some dimensions of the relationship between mother and daughter were analyzed. The relationship between them is characterized by discord, separation, mainly dependêcia approach and relationship with the mother to care of her daughter. In general it was noticed that both are like and seem willing to change in the relationship. Conclusion: It is possible to end that a good relation between old mother and adult daughter, definitely is a factor of extreme relevance what concerns a healthy aging as well as a bigger longevity the old one. KEY WORDS: relationship; aging; quality of life.

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