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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE UFCG CENTRO DE CINCIAS JURDICAS E SOCIAIS CCJS CURSO DE CINCIAS JURDICAS E SOCIAIS

REGIVAN NESTOR DE LIMA

DIREITO DO TRABALHO: CREDIARISTAS DE TENENTE ANANIAS-RN SO EMPREGADOS OU TRABALHADORES AUTNOMOS?

SOUSA-PB MARO/2009

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REGIVAN NESTOR DE LIMA

DIREITO DO TRABALHO: CREDIARISTAS DE TENENTE ANANIAS-RN SO EMPREGADOS OU TRABALHADORES AUTNOMOS?

Trabalho de Concluso apresentado ao Curso de Cincias Jurdicas e Sociais, da Universidade Federal de Campina Grande, em cumprimento dos requisitos necessrios para a obteno do ttulo de Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais. Orientador: Dr. Robson Anto de Medeiros

SOUSA-PB MARO/2009

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REGIVAN NESTOR DE LIMA

DIREITO DO TRABALHO: CREDIARISTAS DE TENENTE ANANIAS-RN SO EMPREGADOS OU TRABALHADORES AUTNOMOS?

Monografia apresentada ao Curso de Cincias Jurdicas e Sociais, da Universidade Federal de Campina Grande, em cumprimento dos requisitos necessrios para a obteno do ttulo de Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais.

Aprovada em ______

de ___________ de 2009.

COMISSO EXAMINADORA

___________________________ Prof.: Dr. Robson Anto de Medeiros Orientador ___________________________ Examinador(a) ___________________________ Examinador(a)

SOUSA-PB MARO/2009

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Dedico, Aos meus pais que muito me ensinaram com palavras e atos, verdadeiros exemplos de virtude e retido. Aos meus irmos, em especial ao primognito que abdicou de estudar para ajudar ao meu pai nas atividades laborais pesadas, algumas dessas incompatveis com o princpio da dignidade humana. s minhas duas filhas, Natlia Rgia e Sophia Lohane, peas fundamentais na busca pela concluso deste curso, bem como as suas respectivas mes. No poderia esquecer-me de algum que a conheci a pouco tempo, e foi justamente o acaso, algo do destino, eu acho, que fizesse com que a minha vida mudana para melhor, por isso minha doce Bela, dedico do fundo do meu corao esse trabalho a voc. Por fim a todos aqueles que fizeram com que eu persistisse e lutasse, mesmo enfrentando todas as dificuldades que um pai/estudante enfrenta no dia a dia.

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AGRADECIMENTOS

Ao prestar os meus agradecimentos a todos os que contriburam para a concretizao deste curso, certamente cometerei injustias, na omisso de tantos que foram assduos ou eventuais colaboradores nas mais diversas atividades escolares. A todos vocs, colegas de curso, dedico a minha mais profunda gratido. No poderia, contudo, deixar de sobrelevar as figuras de: Deus, Senhor Soberano de todas as coisas, criador e mantenedor de meus dons e talentos. A minha famlia, pai, me, irmos e minhas filhas Sophia Nestor e Natlia Rgia por terem contribudo nesta longa caminhada com carinho, apoio moral e econmico, em fim com tudo aquilo que o ser humana precisa para vencer na vida. Sou grato, tambm a todos os amigos que conquistei durante esses anos de faculdade, e no poderia esquecer de Elias Neto companheiro de turma, sofrimento e amigo do peito, bem como aos demais colegas, olha que no foram poucos, e em especial aos que pude ter o prazer de com eles dividir o mesmo lar, pelos momentos de descontrao e cumplicidade que compartilhamos. Por ltimo, no poderia ser diferente, agradeo do fundo do meu corao ao meu professor orientador Dr. Robson Anto, que com muita pacincia, ateno e conhecimento mostrou-se essencial para a concluso deste trabalho.

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Assim diz o Senhor: Executai o direito e a justia e livrai o oprimido das mos do opressor. Jeremias 22:3

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RESUMO

Este trabalho monogrfico teve como objetivo diagnosticar em qual ramo da relao de trabalho se enquadra a maioria dos trabalhadores masculinos de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, precisamente conhecida por Tenente Ananias/RN, 450 km da Capital, atravs do trabalho de campo foi realizado um questionrio com dezessete itens, foram entrevistados cinqenta trabalhadores, face a grande quantidade de obreiros e so mais conhecidos, popularmente em toda regio do alto oeste potiguar, como PERFUMEIROS. No entanto, alm do mtodo de investigao foi utilizado doutrina e legislao vigente atravs do mtodo exegtico jurdico, como fonte complementar do presente trabalho. O presente estudo busca, ao final, saber em qual categoria da relao de trabalho se enquadra esses trabalhadores, empregados ou trabalhadores autnomos, pois a priori, o termo crediarista remete a noo de uma das relaes de trabalho chamada trabalho autnomo. Para tanto, foi abordado, de forma minuciosa, esses dois institutos relao de emprego e trabalho autnomo atravs de conceitos jurisprudenciais e doutrinrios, visando ao final concluir por um, uma vez que isso seria fundamental pois as garantias e protees oriundas das relaes do trabalho so mais favorveis ao obreiro que mantm com o seu patro uma relao de emprego, regido portanto, pela Consolidaes das Leis do Trabalho, ao contrrio do trabalho autnomo que dispe de normais especiais, mas que no oferecem garantias trabalhistas como as oferecidas aos empregados. O questionrio aplicado aos trabalhadores foi pea principal por revelar que o perfumeiro obreiro no o vendedor final, mais fornecedor de mercadorias a algum que ele venha a convencer a vender os produtos que dispe. Esse ltimo que o vendedor, mais no mantm para com o primeiro nenhum compromisso legal de produtividade e obedincia, pois se no vender nada, a mercadoria devolvida ao obreiro perfumeiro, assim percebe-se que o vendedor, chamado de cliente pelos perfumeiros, que o trabalhador autnomo, e no os obreiros perfumeiros. Assim fcil perceber que apenas a existncia de leis assegurando direitos e deveres no basta se no houver uma postura positiva por parte no s da sociedade civil mais principalmente do poder pblico competente, neste caso as Superintendncias Regionais do Trabalho.

Palavras chave: Direito do Trabalho. Relao de emprego. Trabalho autnomo. Perfumeiros de Tenente Ananias/RN.

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ABSTRACT This monographic study aimed to diagnose in any branch of the employment relationship fits most men in a small town in the interior of Rio Grande do Norte, specifically known as Tenente Ananias-RN, 450 km the Capital, through the fieldwork was carried out a questionnaire with seventeen items, fifty workers were interviewed, given the large numbers of workers and are more known, popular throughout the upper west region Potiguar as "PERFUMEIROS. However, besides the method of research was used to the doctrine and law as a legal exegetic as complementary source of this work. This study aims at the end, know in which category of the employment relationship fits these workers, employees or freelance workers, because a priori, the term "crediarista" refers to a concept of labor relations work called autonomous. Thus, it was addressed, in detail, these two institutes - the employment and self employment - through jurisprudential and doctrinal concepts, aiming to conclude a final, because that would be crucial because the guarantees and protections from the relations of work are more favorable to the worker that your employer has with an employment relationship, therefore governed by the Consolidaes das Leis do Trabalho, unlike the independent work that has special rules, but not guaranteed labor as those offered to employees. The questionnaire applied to workers was the main piece to reveal the perfumeiro laborer is not the final seller, supplier of most goods to someone who will convince him to sell the products that have. The latter is the seller, but not for keeps with the first no compromise in productivity and legal compliance, it is not selling anything, the merchandise is returned to the worker perfumeiro, so it is perceived that the seller, called a client by perfumeiros , is the independent worker, not the workers perfumeiros. Thus it is easy to see that only the existence of laws guaranteeing rights and obligations is not sufficient unless there is a positive attitude by not only civil society more especially of public authority, in this case the Superintendncias Regionais do Trabalho. Keywords: Labor Law. The employment relationship. Autonomous work. Perfumeiros of Tenente Ananias / RN.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ac. Acrdo ACT Acordo Coletivo de Trabalho Art. Artigo CCB Cdigo Civil Brasileiro CF Constituio Federal CLT Consolidao das Leis do Trabalho CTPS Carteira de Trabalho e Previdncia Social DRT Delegacia Regional do Trabalho ECT Empresa Brasileira de Correios e Telgrafos EPI Equipamento de Proteo Individual IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica INSS Instituto Nacional do Seguro Social N - Nmero OIT Organizao Internacional do Trabalho P. Pgina R. Regio Rel. Relator RN Rio Grande do Norte RO Rondnia SINTECT Sindicado dos Trabalhadores de Empresas de Correios e Telgrafos T. - Turma TRT Tribunal Regional do Trabalho TST Tribunal Superior do Trabalho

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SUMRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS INTRODUO ..........................................................................................................11 CAPITULO 1 RELAO DE EMPREGO versus TRABALHO AUTNOMO; CONCEITOS; DISTINO; CONTRATO DE TRABALHO; ESSENCIALIDADE. 1.1 - Conceito ............................................................................................................13 1.2 - Distino ............................................................................................................15 1.3 - Contrato de Trabalho ........................................................................................17 1.4 - Essencialidade ..................................................................................................19 CAPITULO 2 DA ECONOMIA DO MUNICPIO; DA EXPLORAO DOS ITENS DO QUESTIONRIO; DESCRIO DA ATIVIDADE DIRIA DO CREDIRIO; DO TRABALHO EM SI 2.1 - Da Economia do Municpio ...............................................................................22 2.2 - Do Questionrio ................................................................................................22 2.2.10 - Descrio da Atividade Diria do Credirio.................................................29 CAPITULO 3 NO MBITO DA ATIVIDADE DE CREDIARISTA PERFUMEIRO,

EMPREGADO E QUEM TRABALHADOR AUTNOMO 3.1 - Dos Elementos Caracterizadores da Relao de Emprego ..............................42 3.2 Concluso Final: Empregado ou Trabalhador Autnomo? ..............................45 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................47 REFERNCIAS .........................................................................................................48 ANEXO.. ....................................................................................................................49

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INTRODUO

O presente estudo tem como finalidade diagnosticar em qual ramo da relao de trabalho se enquadra a maioria dos trabalhadores masculinos de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, precisamente conhecida por Tenente Ananias/RN, 450 km da Capital. Populao estimada em pouco mais de 9.311 habitantes, sendo 4.724 homens. Objetivamente tal trabalho baseado em um QUESTIONRIO SCIO ECONMICO DO TRABALHADOR CREDIARISTA DE TENENTE ANANIAS popularmente conhecidos, em toda regio do alto-oeste potiguar, como PERFUMEIROS. O questionrio em si, aborda 17 (dezessete) itens nos quais traam um perfil dos crediaristas e suas perspectivas em relao ao trabalho desenvolvido, bem como sobre salrios; garantias trabalhistas; descries de suas atividades/trabalho; alm de expectativas para o futuro. Antes, porm, far-se- uma abordagem sobre as principais espcies de empregados, atualmente reconhecidos na legislao brasileira. A de se convir que tal abordagem essencial para que se possa, ao final do presente trabalho monogrfico, enquadrar em qual categoria pertencem os PERFUMEIROS DE TENENTE ANANIAS/RN. Por outro lado, no ser feito nenhuma abordagem histrica do crediarista perfumeiro, porque o foco principal a realidade atual existente, no que diz respeito relao de trabalho, entre o perfumeiro empregado e o perfumeiro empregador; especialmente se existe ou no a relao de emprego ou se tal atividade se enquadra como trabalhador autnomo e/ou um sistema misto. O presente trabalho foi realizado atravs de pesquisa doutrinria e do trabalho cientfico, especificamente utilizando-se, dentro do trabalho cientfico o mtodo de investigao na modalidade investigao de campo que o trabalho desenvolvido com entrevistas, enquetes, formulrios e observao. Assim, o trabalho todo teve como abordagem principal esse mtodo no capitulo 2 e o resultado foi muito satisfatrio porque forneceu uma soluo importante para uma questo prtica do cotidiano.

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Desta feita, este trabalho encontra-se estruturado em trs captulos, alm das consideraes finais e desta introduo. A primeira parte apresenta um paralelo entre relao de emprego versus trabalhador autnomo, distino entre ambos, contrato de trabalho e essencialidade ao presente estudo. O segundo captulo, o mais importante do presente trabalho monogrfico, foi explorado analisando um questionrio socioeconmico com dezessete itens e para isso foi necessrio entrevistar, precisamente, 50 (cinqenta) trabalhadores crediaristas e, atravs de uma anlise minuciosa foi possvel chega-se ao resultado final. Resultado, este, concludo no ltimo captulo. Destarte, busca-se com este trabalho, repita-se, a confirmao de qual relao de trabalho se enquadra os obreiros perfumeiros de Tenente Ananias/RN, e conseqentemente a uma resposta a presente indagao: Crediarista de Tenente Ananias/RN, mais conhecidos por PERFUMEIROS numa relao de trabalho so empregados ou trabalhadores autnomos? Objeto do tema deste trabalho.

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CAPITULO 1 RELAO DE EMPREGO versus TRABALHO AUTNOMO E CONTRATO DE TRABALHO

1.1 CONCEITO Antes de tecer qualquer discusso a respeito das duas espcies da Relao de Trabalho (trabalhador formal, portanto regido pela Consolidao das Leis do Trabalho - CLT e trabalhador autnomo), faz-se necessrio a conceituao de ambos, face essencialidade do tema para que se possa ao final do presente estudo chegar-se a uma concluso a qual relao de trabalho se enquadra o crediarista de Tenente Ananias, no Estado do Rio Grande do Norte - RN. A CLT considera trabalhador formal quando preenche todos os requisitos do seu art. 3, ao dispor que: Considera-se empregado toda pessoa fsica que presta servios de natureza no eventual a empregador, sobre a dependncia deste e mediante salrio. No entanto, a doutrina majoritria acrescenta a essa definio outro requisito, a prestao pessoal do servio. Tal exigncia deriva do art. 2 da prpria Consolidao a partir de uma deduo feita pessoalmente pelo empregador para o empregador, segundo a qual este admite, assalaria e dirige a prestao pessoal de servios. Cabe ressaltar que alguns doutrinadores a exemplo de Renato Saraiva (2008, p. 56), acrescenta outro requisito caracterizador da relao de emprego: a alteridade, ou seja, o risco da atividade econmica pertence nica e exclusivamente ao empregador. Deste feita, pode-se concluir que empregado a pessoa fsica que presta pessoalmente a outrem servios no eventuais, subordinados, assalariado e no assume o risco do negcio. No que diz respeito a conceituao do trabalhador autnomo (contribuinte individual) a legislao previdenciria que ocupa-se de conceitua-lo (alnea h, inciso V art. 12 da Lei n 8.212/91), que assim dispe:Art. 12. So segurados obrigatrios da Previdncia Social as seguintes pessoas fsicas: omissis

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V - como contribuinte individual: omissis h) a pessoa fsica que exerce, por conta prpria, atividade econmica de natureza urbana, com fins lucrativos ou no.

Por outro lado Annbal Fernandes (1992, p. 54) trs um conceito bem mais amplo:Ao nvel da linguagem corrente, trabalhador a pessoa que trabalha, definio que importa numa tautologia; melhor ser dizer que vive e se mantm pelo trabalho. E autnomo quem se governa pelas suas prprias leis e no est sujeito a nenhuma potncia estrangeira (sic). Origina-se do grego, composta a palavra de autos (prprio) e nomos (leis).

J segundo Amauri Mascaro do Nascimento (1985, p. 374) a expresso trabalhador autnomo assume sentido prprio como categoria jurdica do Direito do Trabalho, ao afirma que:considervel nmero de trabalhadores presta a sua atividade sem subordinao a ningum. Trabalham por conta prpria. No tm empregador. Sujeitam-se ao autocomando jurdico. So os trabalhadores autnomos.

Aps esses conceitos perfeitamente concebvel enumerar algumas espcies de trabalhadores autnomos, e, neste sentido Prandi (1978, p. 15) no seu enfoque sociolgico, mostra que:o trabalhador por conta prpria, em nosso Pas, formado por uma grande diversidade de trabalhadores para os quais o desempenho de tarefas depende quase que exclusivamente do dispndio de fora prpria, a qual se alia amide o trabalho da famlia. So obreiros como: - arteses, - pequenos vendedores (em especial os ambulantes), - consertadores e reparadores, - prestadores de servios pessoais.

Por conseguinte, tem-se em ambos os conceitos (legislao e doutrina) uma definio ampla do trabalhador autnomo como sendo uma pessoa fsica que exerce por conta prpria atividade econmica de natureza urbana, com fins lucrativos ou no. Em outras palavras, a pessoa fsica que presta servios a outrem por conta prpria, por sua conta e risco. No possui horrio, nem recebe salrio, mas sim uma remunerao prevista em contrato.

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1.2 DISTINO Aps a explanao do tpico anterior, percebe-se que o elemento fundamental que distingue o empregado do trabalhador autnomo a subordinao: pois empregado trabalhador subordinado, ao passo que o autnomo trabalha sem vnculo de subordinao. Os outros elementos (pessoa fsica, no-eventual, pessoalidade, salrio e alteridade), com efeito, coincidentes ou no, permitem o estabelecimento de uma distino segura. Ambos (empregado e trabalhador autnomo) so pessoas fsicas e seus servios so remunerados. Alm do mais, a prestao dos servios essencialmente pessoal e possvel que seja de forma no-eventual. No entanto, distinto do autnomo, o empregado, face s limitaes fixadas no contrato, encontra-se em uma situao de subordinao em relao ao empregador, transferindo a este o poder de direo sobre a atividade que desempenhar (subordinao jurdica). Assim, conforme leciona Marcelo Alexandrino et all (2006, p.67) o:empregado subordinado porque, ao se colocar nessa situao, na celebrao do contrato, consentiu que a atividade seja dirigida pelo empregador. Este pode dar ordens de servio, dizer ao empregado o que dever fazer, de que modo dever fazer, em que horrio, em que local etc. Pode mesmo determinar que o empregado fique na empresa, durante o horrio ajustado, sem nada fazer, simplesmente disposio para a hiptese de seus servios virem a ser necessrios.

Nessa mesma linha de raciocnio Martins (2008, p. 18) ao discutir a relao de emprego dos vendedores ou representante comercial autnomo a que faz aluso a Lei n 4.886/65, afirma que:se existir o elemento subordinao, surge a figura do empregado; caso contrrio, ser autnomo o trabalhador. O trabalhador autnomo ir trabalhar por conta prpria, enquanto o empregado trabalhar por conta alheia.

Continua Martins (Ibidem, p. 18): O primeiro independente, enquanto que o segundo dependente do empregador, subordinado. Por essas explicaes pode-se chegar concluso de que mesmo que o trabalhador preste servios externamente, isso no ir dirimir a zona cinzenta que se revela entre a relao de emprego e o trabalho autnomo. Assim o motorista, os

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vendedores, viajantes ou pracistas, se tm subordinao, so considerados empregados, regidos pela Lei n 3.207/57 que regulamenta tal categoria e portanto, prestam servios externos. Alias quando for comentado os itens do questionrio scio-econmico, far-se- uma abordagem mais completa dessa Lei que, a princpio, a mais aplicvel aos crediaristas, objeto do presente trabalho. J a jurisprudncia, nos julgados infra, trs a mesma concluso: sendo subordinado o trabalhador, e, portanto preenchendo os requisitos do art. 3 da CLT, a relao jurdica aplicvel a de empregado. In verbis:Preenchidos os requisitos do art. 3 da CLT, legtimo o reconhecimento da relao de emprego entre policial militar e empresa privada, independentemente do eventual cabimento de penalidade disciplinar prevista no Estatuto do Policial Militar. (S. 387 do TST) A circunstncia de se conter no contrato de representao comercial disposies relativamente rea de atuao, forma de liberao de pedidos, visitas peridicas empresa, no caracteriza vnculo empregatcio, mas respeito s disposies previstas na Lei n 4.886/65. (TRT, 12 R., 2 T. RO-V 7.826/92, AC. 0196/94, j. 7-1-94, Rel. Juiz Helmur Anton Schaarschmidt, in LTr 58-07/855.) Relao de emprego. Representante comercial autnomo. Inexiste relao de emprego quando comprovado que o reclamado, representante comercial, trabalhava sem sujeio a horrios, nmeros de visitas e cota mnima de vendas. No obstante a zona gris entre o contrato de trabalho e do representante comercial, h de prevalecer este ltimo quando ausente subordinao jurdica, pressuposto que imprime ao contrato de emprego sua feio prpria, sendo utilizado pela maioria dos doutrinadores para distingui-lo dos demais contratos de atividade. (Ac. un. da 2 T. do TRT da 3., RO 16.963/96, j. 25-3-97, Rel. Juza Alice Monteiro de Barros, DJ-MG 18-4-97. p.10)

Assim, o que se procurou com essa explanao foi fazer uma breve ilustrao entre o trabalho autnomo e o assalariado, uma vez que ambos institutos so espcies da relao de trabalho. Ademais para ficar bem claro, o vnculo entre empregado e empregador de natureza contratual, ainda que no ato que lhe d origem nada tenha sido ajustado, ou seja, desde que a prestao de servio tenha se iniciado sem oposio do tomador, ser considerado existente o contrato de trabalho. De certo que ningum ser empregado ou empregador seno em virtude de sua prpria vontade. Mesmo assim, se uma pessoa comear a trabalhar para outra sem que nada haja sido previamente combinado, mas haja o consentimento de quem toma o servio em seu benefcio (contrato tcito), muito bem pode se originar um contrato de trabalho. Ainda que no exista documento formal de contrato, ou

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mesmo que seja o contrato nulo por motivos diversos, mas daquela prestao de fato podem resultar conseqncias jurdicas para as partes. J o autnomo, como o prprio nome define, sinnimo de independncia; relativa a um certo grau de liberdade, porm com limites. a pessoa fsica que exerce, habitualmente e por conta prpria, atividade profissional remunerada prestando servio de carter eventual a uma ou mais empresas, sem relao de emprego e assumindo o risco de sua atividade.

1.3 CONTRATO DE TRABALHO A Consolidao das Leis do Trabalho no foi muito precisa na denominao dada ao vnculo jurdico que possui como partes, de um lado, o mais fraco, o empregado, e do outro, o empregador. Em sua analise, art. 442, encontra-se, indistintamente, tanto a expresso contrato de trabalho como relao de emprego. A saber: Contrato individual de trabalho o acordo tcito ou expresso, correspondente relao de emprego. O texto da CLT termina por equiparar o contrato relao de emprego. H, contudo, autores que na lio de Alexandrinho et all (Ob. cit. p. 34) preferem distinguir tais conceitos, situando a relao de emprego como o vnculo obrigacional que une, reciprocamente, o trabalhador e o empregado, subordinando o primeiro s ordens legtimas do segundo, por meio do contrato individual do trabalho. Compreende-se pelo contexto que o contrato de trabalho o ato jurdico que efetivamente cria a relao de emprego, e sendo assim o contrato individual de trabalho o acordo de vontades, tcito ou expresso, pelo qual uma pessoa fsica, denominada empregado, compromete-se, mediante o pagamento de uma contraprestao salarial, a prestar trabalho no-eventual e subordinado em proveito de outra pessoa, fsica ou jurdica, denominada empregador. Nessa mesma linha de pensamento, Saraiva (Ob. cit, p. 54), afirma que embora o diploma consolidado utilize a expresso contrato de trabalho (art. 442), o correto seria utilizar-se da expresso contrato de emprego.

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Tambm nesse mesmo contexto, o contrato de emprego, pacto no qual restam presentes os requisitos caracterizadores da relao de emprego, como bem acentua o mestre Martins (2002, p. 209), a expresso mais adequada, in verbis:Contrato de trabalho gnero, e compreende o contrato de emprego. Contrato de trabalho poderia envolver qualquer trabalho, como o do autnomo, do eventual, do avulso, do empresrio etc. Contrato de emprego diz respeito relao entre empregado e empregador e no a outro tipo de trabalhador. Da por que se fala em contrato de emprego, que fornece a noo exata do tipo de contrato que estaria sendo estudado, porque o contrato de trabalho seria o gnero e o contrato de emprego, a espcie. (grifou-se).

Assim entende-se que o contrato de trabalho tem natureza contratual, pois uma pessoa no iria ser empregada de outrem se assim no desejasse e o empregador, no iria ter empregados se deles no necessitasse. Desse modo, a existncia do contrato de trabalho ocorrer com a prestao de servios sem que o empregador a ela se oponha, caracterizando o ajuste tcito. J o contrato tcito aquele que no expresso, o que, a priori, o que caracteriza todos os perfumeiros de Tenente Ananias-RN, pois a prestao de servios ao mesmo empregador de forma reiterada, sem oposio deste. Assim, em razo da reiterao da prestao dos servios, presume-se que existe um ajuste entre as partes. Pela exposio supra, observa-se que o objeto do contrato de trabalho, como em qualquer contrato, constituir uma obrigao. De tal forma que, em relao ao empregado, nasce uma obrigao de fazer e de prestar o trabalho. J em contrapartida, para o empregador, nasce uma obrigao de dar e a de pagar o salrio. Como o contrato de trabalho uma relao jurdica e por conseguinte possui algumas caractersticas, bem como elementos essenciais para sua validade, a explanao do assunto importante no presente trabalho. Assim, no que diz respeito as caractersticas, Alexandrino et all (Idem, ibidem) faz a seguinte enumerao. In verbis: bilateral, pois produz direitos e obrigaes para ambos; oneroso, em que a renumerao requisito essencial; comutativo, pois as prestaes de ambas as partes apresentam relativa equivalncia, sendo conhecidas no momento da celebrao do ajuste;

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consensual, pois a lei no impe forma especial para a sua celebrao, bastando a anuncia das partes; um contrato de adeso, pois um dos contratantes, o empregado, limitase a aceitar as clusulas e condies previamente estabelecidas pelo empregador; pessoal, (intuitu personae), pois a pessoa do empregado considerada pelo empregador como elemento determinante da contratao, no podendo aquele fazer-se substituir na prestao laboral sem o consentimento deste; de execuo continuada, pois a execuo do contrato no se exaure numa nica prestao, prolongando-se no tempo, e; subordinativo, pois o empregado est sujeito s ordens do empregador ou empresrio que assumiu os riscos do empreendimento.

Contudo, conforme o exposto, o contrato de trabalho s ser vlido quando estiver presente os seus elementos essenciais. Por outro lado esses elementos so os mesmos a que so aplicveis ao direito comum, nos contratos em geral: agente capaz, objeto lcito e possvel e forma prescrita ou no defesa em lei (art. 104, do CCB). Cabe, aqui, ressaltar que o direito comum a teor do art. 8 da CLT, perfeitamente aplicvel a legislao laboral. In verbis:Art. 8 - As autoridades administrativas e a Justia do Trabalho, na falta de disposies legais ou contratuais, decidiro, conforme o caso, pela jurisprudncia, por analogia, por eqidade e outros princpios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevalea sobre o interesse pblico. Pargrafo nico - O direito comum ser fonte subsidiria do direito do trabalho, naquilo em que no for incompatvel com os princpios fundamentais deste.

Assim, levando em considerao ao exposto supra, a falta de um dos elementos essenciais impe-se a nulidade do contrato de trabalho. Desse modo, conclui-se que uma relao empregatcia s est plenamente completa quando presentes os elementos fticos (caractersticos) e os elementos essenciais (formais). 1.3 ESSENCIALIDADE Esses esclarecimentos so essenciais, pois no decorrer deste trabalho poder-se- afirma com clareza ou no, quando for comentado cada item dos Questionrios Scios Econmicos, anexo ao presente trabalho, que os Crediaristas

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de Tenente Ananias-RN (Perfumeiros), desempenham, atividades de empregados, ou em verdade so trabalhadores autnomos. O que, infelizmente, sendo comprovado que so empregados, constitui uma fraude a legislao trabalhista e consequentemente a vrios direitos assegurados na Constituio Federal de 1988, in verbis:Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social: I - relao de emprego protegida contra despedida arbitrria ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que prever indenizao compensatria, dentre outros direitos; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntrio; III - fundo de garantia do tempo de servio; IV - salrio mnimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais bsicas e s de sua famlia com moradia, alimentao, educao, sade, lazer, vesturio, higiene, transporte e previdncia social, com reajustes peridicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculao para qualquer fim; V - piso salarial proporcional extenso e complexidade do trabalho; VI - irredutibilidade do salrio, salvo o disposto em conveno ou acordo coletivo; VII - garantia de salrio, nunca inferior ao mnimo, para os que percebem remunerao varivel; VIII - dcimo terceiro salrio com base na remunerao integral ou no valor da aposentadoria; IX - remunerao do trabalho noturno superior do diurno; X - proteo do salrio na forma da lei, constituindo crime sua reteno dolosa; XI - participao nos lucros, ou resultados, desvinculada da remunerao, e, excepcionalmente, participao na gesto da empresa, conforme definido em lei; XII - salrio-famlia pago em razo do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; XIII - durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao de horrios e a reduo da jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho; XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociao coletiva; XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; XVI - remunerao do servio extraordinrio superior, no mnimo, em cinqenta por cento do normal; XVII - gozo de frias anuais remuneradas com, pelo menos, um tero a mais do que o salrio normal; XVIII - licena gestante, sem prejuzo do emprego e do salrio, com a durao de cento e vinte dias; XIX - licena-paternidade, nos termos fixados em lei; XX - proteo do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos especficos, nos termos da lei; XXI - aviso prvio proporcional ao tempo de servio, sendo no mnimo de trinta dias, nos termos da lei; XXII - reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana; XXIII - adicional de remunerao para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXIV - aposentadoria;

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XXV - assistncia gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento at 5 (cinco) anos de idade em creches e pr-escolas; XXVI - reconhecimento das convenes e acordos coletivos de trabalho; XXVII - proteo em face da automao, na forma da lei; XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; XXIX - ao, quanto aos crditos resultantes das relaes de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, at o limite de dois anos aps a extino do contrato de trabalho; XXX - proibio de diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI - proibio de qualquer discriminao no tocante a salrio e critrios de admisso do trabalhador portador de deficincia; XXXII - proibio de distino entre trabalho manual, tcnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; XXXIII - proibio de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condio de aprendiz, a partir de quatorze anos; XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vnculo empregatcio permanente e o trabalhador avulso.

Sem contar que, at aonde se sabe, no h recolhimento das contribuies devidas ao INSS, mesmo que sejam classificados como autnomos e, portanto, contribuintes individuais, e desta feita segurados obrigatrios, a teor do que dispe a alnea h, inciso V, do art. 11 da Lei n 8.213/91. Assim sendo, ter-se- mais uma infringncia da lei, devendo a autoridade competente proceder ao que entende cabvel. No entanto, como o objetivo deste trabalho no discutir, aqui, sobre o Direito Previdencirio, mas a relao de trabalho existente entre empregado e trabalhador autnomo, com o intuito de classificar a qual categoria dessas relaes de trabalho pertencem os Perfumeiros de Tenente Ananias-RN, o importante a seguir, prximo capitulo, discutir cada item do questionrio scio-econmico, alm, claro, das conseqncias e importncia que cada um representa, para que, ao final, possa-se afirmar com exatido a qual situao deve-se enquadrar esses trabalhadores. Muito embora j se tenha deduzido que eles mantm uma relao de emprego para com os seus patres, mas como tudo na vida deve ser questionado para que a incerteza no prevalea, a leitura do prximo captulo essencial para a descoberta da verdade.

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CAPITULO 2 DA ECONOMIA DO MUNICPIO: DESCRIO DA ATIVIDADE DIRIA DO CREDIRIO

Antes de esmiuar cada item do Questionrio Scio-Econmico, faz-se necessrio tecer um breve comentrio sobre a economia do municpio de Tenente Ananias-RN:Economia A economia do municpio de Tenente Ananias bem favorvel relacionado a populao em geral. pois predomina o credirio (cosmticos e variedades). Nesse setor o municpio destaque ao compar-lo com outras cidades do RN. A cidade j foi destaque no setor de minerios, produzindo a maior quantidade de minrios, dentre eles a to conhecida gua marinha (pedra que se destacou no municpio). Hoje o mineral bastante escasso, mas ainda se pratica o comrcio do mesmo. (http://pt.wikipedia.org). Grifou-se.

Embora a informao supra seja apenas superficial e como todo o estudo desse trabalho monogrfico est relacionado ao credirio (cosmticos e variedades), a sua descrio torna-se plausvel para uma melhor compreenso do tema, bem como do trabalho pesquisa efetuado com os perfumeiros. 2.1 DO QUESTIONRIO 2.1.1 Item 01: Qual o seu grau de escolaridade? (A) No estudou; (B) Da 1 4 srie do ensino fundamental (antigo primrio); (C) Da 5 8 srie do ensino fundamental (antigo ginsio); (D) Ensino mdio (2 grau) incompleto; (E) Ensino mdio (2 grau) completo; (F) Ensino superior incompleto; (G) Ensino superior completo; (H) Ps-graduao; (I) No sei. Observe-se a seguir:Tabela 01 Grfico 01

ESCOLARIDADE 5 17 15 8 4 1 0 0 0 50

A B C D E F G H I TOTAL

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Pelo grfico supra, percebe-se que a grande maioria, 90% (noventa por cento) sequer concluiram o ensino mdio, o que bastante comum, principalmente no interior dos estados nordestinos, quando a sobrivivncia mais importante do que qualquer atividade escolar. 2.1.2 ITEM 02: COM QUANTOS ANOS COMEOU A TRABALHAR?Tabela 02 Grfico 02

COMEOU A TRABALHAR

entre 12 e 14 anos entre15 e 18 anos entre 18 e 21 anos Acima de 22 anos Total

15 30 4 1 50

Este item justifica a baixa escolaridade dos trabalhadores entrevistados. 2.1.3 ITEM 03: QUAL A SUA FUNAO NO CREDIRIO? (a) PROPRIETRIO; (b) MOTORISTA; (c) VENDEDOR E/OU (d) OUTROS.Tabela 03 Grfico 03

FUNO NO CREDIRIO 2 8 38 2 50

Proprietrio Motorista Vendedor Outros Total

Quanto a esse item, no poderia ser diferente, 76% (setenta e seis por cento), ou seja mais de 2/3 (dois teros) so a mola propulsora do credirio, alis, algo bastante comum em quase todo seguimento em que o trabalho pesado explorado.

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2.1.4 ITEM 04: H QUANTO TEMPO TRABALHA NESTA ATIVIDADE? Os dados, quanto a esse item foram o seguinte:

Tabela 04

QUANTO TEMPO DE TRABALHO at 01 ano Acima de 01 at 02 anos Acima de 02 at 03 anos Acima de 03 anos TOTAL 5 10 15 20 50

Grfico 04

Esse item no deixa de ser importante, ao contrrio essencial, pois se for caracterizado que o trabalhador perfumeiro conceituado como empregado, o tempo a disposio do mesmo patro substancial para a aferio de vrios direitos trabalhistas dentre os quais: fundo de garantia por tempo de servio; 13 salrio; frias; horas extras; repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos, entre outros direitos assegurado na Carta Magna. Mas para isso, a relao empregatcia deve ser comprovada o que s ser possvel nos itens subseqentes. 2.1.5 ITEM 05: A QUE HORAS SAI PARA TRABALHAR? A resposta, quanto a esse quesito foi unnime, a maioria saem a partir das 06:00 horas. Isso justificvel porque o trabalho em campo, e na maioria das vezes eles tm que preparar a veculo com mercadoria e se deslocarem as cidades circum vizinhas da onde esto hospedados. 2.1.6 ITEM 06: QUANTAS HORAS TRABALHA, POR DIA, EM MDIA? Esse quesito muito interessante para o presente estudo, uma vez que a fixao da jornada de trabalho revela-se de suma importncia por vrios aspectos. Primeiro porque, por meio dela, com base no art. 4 da CLT o obreiro ter a noo exata de quanto ir aferir o salrio, uma vez que a sua renumerao deve ser fixada

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levando-se em conta o tempo trabalhado ou disposio do empregador; o que preconiza tal dispositivo legal:Considera-se como de servio efetivo o perodo em que o empregado esteja disposio do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposio especial expressamente consignada.

Nesse mesmo sentido Delgado traz o seguinte conceito:O lapso temporal dirio em que o empregado se coloca disposio do empregador em virtude do respectivo contrato. , desse modo, a medida principal do tempo dirio de disponibilidade do obreiro em face de seu empregador como resultado do cumprimento do contrato de trabalho que os vincula. (DELGADO, 2003, p. 824).

Segundo, a fixao da jornada essencial para preservar a sade do trabalhador, pois o labor excessivo apontado pelas pesquisas como gerador de doenas profissionais e de acidentes de trabalho. Alis, a prpria legislao infraconstitucional (art. 19 da Lei n 8.213/91) se encarrega de disciplinar o acidente do trabalho decorrente do excesso abuso das horas trabalhadas. Observe:Art. 19. Acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho.

Logo, nas palavras de Saraiva, in verbis:o controle da jornada diria e semanal do obreiro pela norma positivada constitui em eficaz medida para reduzir, consideravelmente, a ocorrncia de doenas profissionais e/ou acidente de trabalho, tendo a prpria Carta Maior destacado como direito dos trabalhadores a reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de sade, higiene e segurana (art. 7, XII). (SARAIVA, OP.CIT., P.200).

Assim, muito embora at o presente momento no seja possvel afirmar, com exatido, se os trabalhadores do presente estudo so empregados ou autnomos, o que s ser possvel a partir do item 10, o assunto em si essencial uma vez que pelos dados coletados todos os trabalhadores laboram, sem exceo, por mais de 10 (dez) horas dirias, o que torna o trabalho extremamente degradante para todos.

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2.1.7 ITEM 07: QUANTO TEMPO, EM MDIA VOC ALMOO? QUEM PAGA?

TIRA PARA O

Muito embora os trabalhadores tenham pela manh uma merenda, geralmente po com caf, e a janta seja um pouco leve. O tempo disponvel para o almoo de apenas 01 (uma) hora, o que comprova a quantidade excessiva de horas trabalhadas durante o dia. O pouco lapso temporal, no diria justificvel, mas condizente com realidade vivida por esses trabalhadores que, dependem nica e exclusivamente de seus esforos fsicos e mentais para distriburem a maior quantidade, possvel, de quites em um nico dia de atividade, uma vez que sobre a quantidade de dinheiro arrecado que incidir o salrio. Oportuno registrar que em muitos casos, como ser demonstrado no item 10, grande parte do tempo, eles tiram viajando. No que diz respeito a quem paga, todos foram unnime e afirmaram que o patro arca como tais despesas, mas h um limite dirio por cada trabalhador de R$ 11,00 (onze reais). Sobre esse valor pago com a alimentao do trabalhador, tem-se o chamado salrio utilidade ou in natura, uma vez que tal despesa no ser cobrada, por fora do costume existente em todos os credirios da Cidade que sempre arcaram a alimentao. A Consolidao das Leis do Trabalho traz em seu art. 458 a seguinte definio sobre o assunto, in verbis:Art. 458 - Alm do pagamento em dinheiro, compreende-se no salrio, para todos os efeitos legais, a alimentao, habitao, vesturio ou outras prestaes "in natura" que a empresa, por fra (sic) do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum ser permitido o pagamento com bebidas alcolicas ou drogas nocivas. (Redao dada pelo Decreto-lei n 229, de 28.2.1967). grifou-se.

Nas palavras de Martins in verbis:se a utilidade no fosse fornecida, o empregado teria de compr-la ou despender numerrio prprio para adquiri-la, mostrando que se trata realmente de um pagamento, de uma vantagem econmica ou um ganho para o obreiro. Entretanto, o salrio deve ser fornecido gratuitamente ao empregado, pois, se a utilidade for cobrada, no haver que se falar em salrio, salvo se for cobrada uma importncia nfima apenas para desvirtuar a sua natureza. Grifado. (MARTINS, 2008, p. 414).

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E continua Martins. In verbis:Para a configurao da utilidade, dois critrios bsicos so necessrios: (a) habitualidade, que inclusive est indicada no artigo 458 da CLT. Se a utilidade for fornecida uma vez ou outra, eventualmente, no ser considerado salrio in natura. Essa habitualidade poder ser constada por fora do contrato ou do costume da empresa; (b) gratuidade. O salrio utilidade uma prestao fornecida gratuitamente ao empregado. Grifouse. (MARTINS, IBIDEM, P. 414).

Por outro lado a Smula 258 do TST estabelece o entendimento de que Os percentuais fixados em lei relativo ao salrio in natura apenas se referem s hipteses em que o empregado percebe salrio mnimo, apurando-se, nas demais, o real valor da utilidade. Esse entendimento, segundo Saraiva (Ob. cit, p. 178) deve ser conjugado com o 3 do art. 458 da CLT. Existe tambm, outro critrio que toma por base a distino entre a utilidade fornecida pela prestao do servio e aquela fornecida para a prestao do servio, neste caso apenas a primeira hiptese considerada de natureza salarial. Saber a distino entre essas duas preposies essencial para aqueles que vem na atividade jurdica uma forma de crescimento profissional na rea, principalmente quando se trata de concurso pblico. Pois bem, a utilidade fornecida pela prestao do servio, ter natureza de contraprestao, de retribuio, decorrente do trabalho realizado pelo empregado, possuindo, assim, natureza salarial. J se a utilidade fornecida para a prestao do servio, restar descaracterizada sua natureza salarial, que so fornecidos para a prestao do servio, visando segurana do empregado enquanto labora. A doutrina classifica essa ltima forma como teoria da finalidade. Ora uma subanlise desta questo (fornecimento de alimentao) demonstra que, em tese, o empregador perfumeiro reconhece a relao jurdica do contrato de trabalho tcito ou no expresso para com os seus pees, termo bastante usado para distinguir o patro do empregado. Assim sendo, se o fornecimento do salrio in natura habitual, sempre que esto na rota, todos precisam se alimentar e no existe nem gasto para o trabalhador, alm do mais o prprio patro que escolhe o ambiente alimentao (restaurante ou dispe de um cozinheiro na equipe), ento, no h dvida de que existe um contrato de trabalho entre empregador perfumeiro e

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vendedor ou motorista perfumeiro. Sem contar que a alimentao fornecida pela prestao do servio, ora prestado, o que o vincula a natureza salarial.

2.1.8 ITEM 08: QUANTO TEMPO, EM MDIA VOC FICA FORA DE TENTENTE ANANIAS? Quanto a esse item, muito embora no seja relevante, no que diz respeito ao ttulo do presente DE trabalho monogrfico DIREITO MAIS DO TRABALHO: POR CREDIARISTAS TENENTE ANANIAS-RN, CONHECIDOS

PERFUMEIROS NUMA RELAO DE TRABALHO SO EMPREGADOS OU TRABALHADORES AUTNOMOS? a sua abordagem em si, merece um pouco de ateno no aspecto histrico, j que pelos dados infra, o tempo em que cada perfumeiro fica fora da Cidade, depende muito do Estado em que esto laborando, em resumo, da distncia. Ento, a sua abordagem mereceu registro como complemento da entrevista. Observe-se ento, os dados coletados no grfico infra.Tabela 05 Grfico 05TEMPO FORA DA CIDADE

TEMPO FORA DA CIDADE at 01 ms 12 entre 01 e 02 meses mais de 02 meses TOTAL 25 13 50

20%

0%

30%

at 01 ms entre 01 e 02 meses mais de 02 meses

50%

50 ENTREVISTADOS

2.1.9 ITEM 09: QUAL A CIDADE/ESTADO MAIS DISTANTE QUE VOC J TRABALHOU? O comentrio sobre esse item faz parte do item anterior e do subseqente a este, mas uma coisa certa, todos os estados da regio nordeste existem trabalhadores, na atividade do credirio de Tenente Ananias/RN, as outras regies, aos poucos esto sendo exploradas, como exemplo tem-se a regio norte.

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2.1.10 ITEM 10: FAA UMA DESCRIO SOBRE O SEU TRABALHO NO DIA A DIA. Esse item o x da questo quanto a pergunta que deu incio ao presente trabalho e a explanao abaixo, no s diz respeito aos dados informado no questionrio, como tambm foram obtidas atravs de algumas conversas informais com os perfumeiros sobre as suas atividades laborais, obtendo-se o seguinte sobre o dia-a-dia de trabalho. O dono do credirio devide seus trabalhadores conforme a quantidade de Caminhonetes que possui, este o veculo mais comum no credirio, sendo que a maioria de cabine dupla, pois alm de servir para transportar o trabalhador, serve, tambm para transportar a mercadoria. Estima-se que no Municpio existem mais de 300 (trezentos) veculos entre caminhonetes e outros que com capacidade suficiente para acomodar os trabalhadores e as mercadorias, em fim, veculos que tenham cabines dupla, pois as equipes so formadas de acordo com o tipo de veculo, sendo os de cabines duplas os mais comuns, uma vez que cada equipe de no mximo 08 (oito) trabalhadores, transportada, juntamente com a mercadoria. No entanto, em pesquisa feita no stio do IBGE, o nmero de Caminhonete, em 2007 (dois mil e sete), correspondia a 132 (cento e trinta e duas). Por essa quantidade oficial, percebe-se que a estimativa de mais 300 (trezentos) veculos tipo caminhonetes condiz com a realidade, j que existe, na Cidade, outros veculos do mesmo tipo, mas com placas de outras cidades. No credirio dos patres mais abastados economicamente (que possui mais de um carro com cabine dupla, o credirio fica sobre a responsabilidade que possui apenas um carro. O responsvel pelo credirio (patro ou motorista) desloca-se ou instala-se em determinada cidade, de preferncia em uma cidade polo de determinada regio. Quando a equipe possui uma grande frequesia sobre uma regio determinada, a instalao/acomodao de todos feita em uma residncia alugada pelo patro, que em sua grande maiora possui at uma pessoa especfica para cozinhar, uma vez que o trabalhador no arca com a alimentao, conforme o exposto no item 07, mesmo que esteja em outra cidade em que o deslocamento ao ponto polo seja do motorista (pessoa de confiana do patro), o mesmo no ocorrendo com aqueles

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demorado, neste caso, o patro ou motorista paga o almoo e o lance do trabalhador, em mdia desembolsado R$ 11,00 (onze reais) por dia, por cada trabalhador. Ao chegarem em determinada cidade, o motorista carregado com o veculo de mercadorias, que por sinal no se resume a apenas perfume, mas em vrios outros itens como os descritos na tabela infra:Tabela 06

QUITE (formam a sacola)**Pano de prato Toalhas Perfumes Perfumes Cozinha - conjunto c/ 7 peas Jogo de panelas c/ 5 peas Lenol + 02 fronhas Babydoll Borjo - calcinha e suti Cuecas Calcinhas Camisa Vestido Rede de So Bento-PB Ededron Faqueiro c/ 12 peas Faqueiro c/ 24 peas Doce - leva 01 (um) de amostra*

UNIDADE30 6 6 10 10 10 10 10 10 24 30 10 6 1 6 1 1 15 Total = 196

PESO DO QUITE2kg 2,5kg 0,18kg 1kg 3kg 2kg 1,5kg 1kg 1kg 0,5kg 0,6kg 1,5kg 1kg 5kg 10kg 0,3kg 0,5kg 10kg Total = 43,58kg

**Peso total da sacola: 43,58kg 9,33kg de 14 doces* = 34,25kg

Assim, cada trabalhador, com uma sacola com todos os itens a venda - o chamado quite demonstrativo - de aproximadamente 34,25kg (trinta e quatro quilos e vinte e cinco gramas), passa o dia inteirinho com esse peso total. O que chama a ateno da tabela supra a quantidade de peso, diria, que o trabalhador suporta. Sobre isso a CLT no artigo 60 diz que. In verbis: de 60 (sessenta) quilogramas o peso mximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as disposies especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher.

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Observe que o texto consolidado fala em remover. Ora essa expresso tem o mesmo significado de transferir, obstar-se, eliminar; ocorre que os aproximadamente 34kg (trinta e quatro quilogramas), no so transferidos ou eliminados imediatamente, ao contrrio, permanecem com o trabalhador durante todo o dia, o que torna o trabalho extremamente cansativo pelo excesso laboral. Em resumo tem-se a chamada fadiga uma que esta envolve a diminuio da capacidade de trabalho da pessoa, sendo um fenmeno de ndole muscular e nervosa. No poderia ser diferente, o obreiro passar o dia inteiro com uma sacola nas costas, mesmo que ela no passasse de 10 kg (dez quilogramas), s o fato de est sobre o corpo, dificultando a circulao sangunea, uma vez que membros como os braos pouco se movimentam. Isso sem contar que todo o trabalho feito a p, de sol a sol, podendo, inclusive causar doenas contra a pele, dentre outras mais, pois at onde foi pesquisado, nenhum trabalhador usa roupas, calados e demais equipamentos de proteo individual. Alis, o fornecimento de Equipamento de Proteo Individual - EPI obrigatrio e gratuito aos empregados sempre que as medidas de ordem geral no ofeream completa proteo contra os riscos de acidentes e danos sade dos empregados, o que dispe o art. 166 da CLT. Tambm, a prpria CLT traz meno expressa sobre a segurana e a medicina do trabalho, ao dispor no caput do art. 154 que. In verbis:a observncia (da segurana e da medicina do trabalho), no desobriga as empresas do cumprimento de outras disposies que sejam includas em cdigos de obras ou regulamentos sanitrios dos Estados ou Municpios em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenes coletivas de trabalho. (redao determinada pela Lei n 6.514, de 22 de dezembro de 1977). Grifo no includo no original.

Visando o cumprimento da norma, algumas empresas a exemplo da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telgrafos) estabelece que o limite mximo de peso em que um carteiro pode transportar no poder ultrapassar em 10 kg (dez quilogramas) para o homem e 08kg (oito quilogramas) para a mulher. Observe o que dispe a aliena a da clusula 23 do Acordo Coletivo de Trabalho 2008/2009 firmando em 16 de outubro de 2008 entre a Empresa Brasileira de Correios e Telgrafos e a Federao Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telgrafos e Similares. In verbis:

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Clusula 23 DISTRIBUIO DOMICILIRIA (Reedio da Clusula 23 DISTRIBUIO DOMICILIRIA DO ACT 20072008). A Distribuio Domiciliria de Correspondncia ser efetuada de acordo com os seguintes critrios: a) O limite de peso transportado pelo carteiro, quer sada das Unidades, quer nos Depsitos Auxiliares, no ultrapassar 10 (dez) kg para homem e 08 (oito) kg para a mulher.

Ora, a exemplo dos carteiros, o trabalhador perfumeiro, como ser demonstrado nos pargrafos seguintes, nas Delegacias Regionais do Trabalho. Nesse sentido, a Conveno n 127 da OIT, promulgada pelo Decreto n 67.339 de 05 de outubro de 1970, traz em seu artigo 3 o seguinte enunciado: Artigo 3 - No se dever exigir nem permitir a um trabalhador o transporte manual de carga cujo peso possa comprometer sua sade ou sua segurana. Est mais do que claro que os trabalhadores crediaristas de Tenente Ananias/ RN, esto comprometendo a sua sade e segurana, no existindo, por parte do patro, nenhuma medida preventiva quanto a fadiga, proteo, segurana e a sade do trabalhador. Sendo que as conseqncias viram em seguida, a exemplo do que ocorreu, na poca do minrio, onde ainda hoje, vrios trabalhadores ou morreram ou esto sofrendo com a inalao dos resduos qumicos decorrentes da explorao subterrnea dos metais preciosos, tudo isso por falta de proteo, segurana e a sade do obreiro, no s pela coletividade em geral, mas principalmente por falta de represso do poder pblico competente. Alis, as autoridades competentes deveriam tomar algum tipo de providncia, o que em verdade caberia s Delegacias Regionais do Trabalho, no mbito de sua jurisdio, promover a fiscalizao do cumprimento das normas de segurana e medicina do trabalho (Inciso I, do art. 156 da CLT). O que infelizmente no vem ocorrendo. A abordagem do trabalho em si muito importante, para que no prximo item seja explanado a forma de salrio do trabalhador perfumeriro. O trabalho do perfumeiro consiste em convencer as pessoas a ficarem com o(s) quite(s) para vend-lo(s). Em um primeiro contato, o fregus (pessoa que ir vender os produtos) s poder ficar com um quite de cada item dentre os quais esto a disposio para a venda, pois se o empregado deixar alm da quatidade um mero distribuidor domiciliar de mercadorias, mas infelizmente ningum chegou a formalizar nenhuma reclamao

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estabalecida pelo patro, ficar responsvel por eventual inadimplncia. No caso do doce, embora o trabalhador disponha de apenas 01 (um) como amostra, s poder vender se for o quite completo, ou seja, a caixa com os 15 (quinze) doces. O valor correspondente, em mercadorias, no primeiro contato geralmente vria entre R$ 180,00 (cinto e oitenta reais) at R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) por at 90 (noventa dias), j apartir do segundo, caso o frequs tenha vendido e arrecadado todo ou quase todo o dinheiro correspondente, o perfumeiro poder deixar, com autorizao do patro, at R$ 1.000,00 (um mil reais) em mercadoria, e assim ir aumentando, na medida em que o frequs adimplindo. O argumento que o perfumeiro usa para convencer o fregus para que olhe o seu produto, que examine a qualidade e menciona que tem at 90 (noventa) dias para vender e arrecadar o dinheiro. Do valor arrecadado o fregus ter 25% (vinte e cinco por cento), ou se preferir um prmio correspondente a este percentual; tipo uma panela de preso, um faqueiro ou um jogo de toalhas. Obtendo-se xito, no mesmo dia, o perfumeiro volta com o encarregado responsvel pela equipe residncia do(a) freques(a) com os itens que este(a) escolheu. No entanto, a entrega das mercadorias s ser concretizada quando a(o) fregus assina uma nota promoissria correspondente ao valor deixado. Esse, o mtodo mais usual, pois s assim o responsvel saber quando voltar para fazer a cobrana, qual o endereo do cliente, alm de vincul-la a um titulo de crdito. H casos em que o trabalhador, ao mudar de patro, no repassa a cobrana (mostrar aonde reside o cliente) apenas entrega a nota promissria, causando prejuzo ao dono do credirio. Ao retornarem para efetuar a cobraa (noventa dias ou cento em vinte dias aps) o encarregado, juntamente com o trabalhador, iro at a residncia do cliente, se este nada vendeu, a mercadoria ser devolvida, se vendeu mais nada arrecadou faro uma pressozinha piscolgica, mas se obteve xito, far-se- conforme o exposto no primeiro contato. a partir desta ltima hiptese que incidir o salrio do trabalhador. Do valor que recebeu do(a) cliente, o laborante ter direito a 10% (dez por cento) e o motorista a 1% (um por cento) sobre todo o valor recebido dos clientes. Ao primeiro momento pode-se achar que muito pouco, mas o bom trabalhador consegue ganhar mais de R$ 2.000,00 (dois mil reais) e o motorista/encarregado

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uns R$ 4.000,00 (quatro mil reais) em uma nica cobrana, isso em 90 (noventa) dias. Assim, quanto mais o trabalhador conseguir arrecadar mais ir aumentar os seus ganhos, o que torna a sua renumerao proporcional ao valor arrecadado junto ao fregus. Pela exposio acima, nota-se que a maior dificuldade neste trabalho comear (abrir a primeira cobrana), mas isso no quer dizer que o trabalhador ir ficar 90 (noventa) dias sem receber nem tusto, pois conforme o valor deixado na praa, os patres, em sua grande maioria, adiantam vales (dinheiro) ao trabalhador. Assim, com 06 (seis) meses de atividades cada trabalhador e/ou motorista poder ganhar, mensalmente, o valor referenciado no pargrafo anterior. Segundo alguns relatos, tm equipes que passam mais de 03 (trs) meses fora de Tenente Ananias, algumas delas j tem cobranas nos Estados de Minas Gerais, Par, Maranho e os demais Estados da Regio Nordeste, o que torna explicavl tanta ausncia. Mesmo assim, ao retornarem aos seus lares, o mximo que ficam so 15 (quinze) dias, sendo que so obrigados a voltarem, pois muito embora o dono do credirio tenha a nota promissria e o endereo do cliente, este recebe recomendaes expressas do fornecedor da mercadoria, no caso o trabalhador, para s efetuar o pagamento a ele (fornecedor). Dessa forma o seu retorno ao trabalho indispensvel, primeiro porque o patro o manteve (moradia, alimentao e, em certos casos adiantou algum vale) durante todo o perodo que estiveram em campo e segundo porque s receber o percentual a que lhe devido se souber quanto foi arrecadado. 2.1.11 ITEM 11: DE QUE FORMA ESTIPULADO O SEU SALRIO? Quanto esse item, com exceo dos motoristas que alm de receberem 1% (um por cento) sobre todo o valor arrecadado, mais 10% (dez por cento), quanto esto distribuindo, ou seja, vendendo; todos os demais tm os seus salrios estipulados em 10% (dez por cento) sobre o total de valores arrecadados na distribuio dos quites. Muito embora esteja claro que o salrio do perfumeiro estipulado em cima de um percentual (produo e arrecadao), deve-se evidenciar se realmente esta uma forma de aferio do salrio.

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Saraiva (op. cit. p. 173) destaca os modos de aferio do salrio, levando em considerao os seguintes critrios. In verbis: o tempo trabalhado ou disposio do empregador; o resultado obtido em funo da produo; a tarefa realizada em determinado tempo. Assim, pode-se concluir que os trabalhadores, sobanlise, incluem-se dentro deste contexto, mais precisamente atravs do resultado obtido em funo da produo. No entanto, para melhor explicao do tema salrio, essencial a sua conceituao e neste aspecto Karl Marx o conceitua como sendo: [...] a soma, em dinheiro, que o capitalista paga por um determinado tempo de trabalho ou pela prestao de determinado trabalho. J Martins (ob. cit. p. 403) incluiu o termo salrio dentro daquilo que seria a remunerao, ao afirmar que: in verbis:Remunerao o conjunto de retribuies recebidas habitualmente pelo empregado pela prestao dos servios, seja em dinheiro ou utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer s suas necessidades vitais bsicas e s da sua famlia. Remunerao igual ao salrio mais as gorjetas [...].

Em tese, esse ltimo conceito, no to diferente quanto ao escrito por Marx no sculo XIX. J a Consolidao das Leis do Trabalho no foi precisa ao referir-se s expresses salrio e remunerao em seu texto, indicando apenas os elementos que os integram (art. 457 e seguintes). Pelo exposto, pode-se afirmar que remunerao - somatrio da contraprestao paga diretamente pelo empregador, seja em pecnia, seja em utilidades, com a quantia recebida pelo obreiro de terceiros, a ttulo de gorjetas caracterstica da onerosidade contratual, visto que um dos requisitos caracterizadores da relao de emprego a onerosidade, ou seja, o recebimento de contraprestao salarial pelo obreiro em funo do servio prestado ao empregador. Discorrido sobre o conceito e o modo de aferio do salrio, cabe agora saber qual o tipo de salrio em que se enquadra o trabalhador perfumeiro. Nesse sentido, a doutrina dominante identifica quatro tipo: salrio bsico; salrio in natura; sobresalrios e salrio compressivo.

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O salrio bsico aquele pago simplesmente em dinheiro (simples) ou em dinheiro e utilidades (composto) (in natura). Em suma ele expresso pela seguinte frmula: Salrio Bsico = salrio em dinheiro + salrio in natura. Cabe ressaltar que o salrio no poder ser pago exclusivamente em utilidades, devendo, pelo menos, 30% (trinta por cento) ser pago em dinheiro, conforme previsto nos art. 82, pargrafo nico, e art. 458, 1, ambos da CLT. O salrio in natura foi bastante comentado no tpico 2.2.7. O salrio compressivo o pagamento englobado, sem discriminao das verbas quitadas ao empregado. Configura-se quando o empregador efetua o pagamento do salrio ao obreiro por meio de parcela nica, sem discriminar os valores quitados (salrio, adicional noturno, horas extras, adicional de insalubridade, frias, gratificao natalina etc). A doutrina condena veementemente o pagamento do salrio de forma compressiva, uma vez que tal procedimento patronal pode vir a prejudicar o obreiro, o qual no tendo como verificar o quanto recebeu atinente a cada parcela, poder se lesado em seus direitos, auferindo menos do que o devido. Alis, o TST, seguindo o mesmo entendimento da doutrina, firmo entendimento contrrio ao salrio compressivo, materializado na Smula 91, ao estabelecer que: Nula a clusula contratual que fixa determinada importncia ou porcentagem para atender englobadamente vrios direitos legais ou contratuais do trabalhador. Por fim, o sobresalrio a prestao que, por sua natureza, integra o complexo salarial como complementos do salrio bsico. A melhor definio do sobresalrio vem dos 1 e 2 do art. 457 consolidado, ao disporem que:Art.458. [...] 1 - Integram o salrio no s a importncia fixa estipulada, como tambm as comisses, percentagens, gratificaes ajustadas, dirias para viagens e abonos pagos pelo empregador. (Redao dada pela Lei n 1.999, de 1.10.1953) 2 - No se incluem nos salrios as ajudas de custo, assim como as dirias para viagem que no excedam de 50% (cinqenta por cento) do salrio percebido pelo empregado. (Redao dada pela Lei n 1.999, de 1.10.1953).

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So

exemplos

de

parcelas

sobresalrio

as

gratificaes

ajustadas,

comisses, percentagens etc. O TST (Smula 203), considera ainda: o adicional de horas extras, adicional noturno, adicional de insalubridade, periculosidade e o adicional de tempo de servio. Pela exposio do tipo de natureza salarial classificado pela doutrina, est mais do que claro que os obreiros perfumeiros esto enquadrados neste ltimo tipo de salrio, uma que ao serem questionados no item 11 do questionrio, a saber: De que forma estipulado o seu salrio? (A) Sobre a quantidade de quites distribudos? __________% (por cento); (B) Sobre o total de valores arrecadados na distribuio dos quites ________% (por cento); (C) Outros, ______________. Todos afirmaram que percebiam os seus salrios sobre um percentual (1% e/ ou 10%) dos valores arrecadados em dinheiro com a distribuio dos quites. Ora, esses percentuais o mesmo que uma comisso paga pelo empregador e em relao a isso, nada impede que o obreiro receba seu salrio exclusivamente base de comisses (remunerao varivel). Todavia, muito embora a Carta Magna seja expressa (art. 7, inciso VII) ao garantir que nenhum trabalhador perceber renumerao inferior ao mnimo, mesmo que percebam remunerao varivel. Assim, se, ao final do ms, as comisses auferidas no alcanarem 1 (um) salrio mnimo, dever o empregador complementar o pagamento at aquele valor, vedado qualquer desconto no salrio do trabalhador no ms seguinte, mas isso, infelizmente no ocorre como os obreiros perfumeiros, primeiro porque no existe um contrato formal com carteira assinada e tudo mais. Segundo que j se tornou corriqueiro na Cidade que o salrio a ser auferido por cada um, depender nica e exclusivamente de seus esforos laborais, e terceiro que se o trabalhador no conseguir, ao final de cada ms, auferir sequer o salrio mnimo, o empregador concerteza no ir mais querer esse empregado em sua equipe, haja vista as despesas que ele (empregador) tem diariamente com cada trabalhador. Sabe-se, pelo exposto, que o sobresalrio, efetuado atravs de comisses, o tipo a que faz jus o obreiro perfumeiro, no entanto resta saber se o regime a ser aplicado o do art. 466 da CLT ou o da Lei n 3.207/57. Para isso a explorao do assunto comisses essencial.

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As comisses so retribuies financeiras pagas ao empregado com base em percentuais sobre os negcios que efetua, ou seja, constituem o denominado salrio por comisso e no caso dos perfumeiros, ficou mais do que comprovado que eles percebem os seus salrios sobre os valores arrecadados, em dinheiro, dos quites distribudos. No Brasil, a comisso admitida como forma exclusiva ou no de salrio. Nada impede que o empregado perceba, como retribuio pelos seus servios, exclusivamente comisses. Porm, conforme o j exposto acima, deve ser assegurada ao empregado, em qualquer hiptese, a percepo do salrio mnimo, quando as comisses no atingirem esse valor. A comisso no se confunde com a percentagem, que vem a ser um percentual sobre as vendas (5% sobre as vendas, por exemplo), sem valor determinado. A priori, pelo explanao dessa distino, poder-se-ia afirmar que o obreiro perfumeiro recebe o seu salrio em percentagem, mas ao analisar, com cautela o art. 466 da CLT que assim dispe. In verbis:O pagamento de comisses e percentagens s exigvel depois de ultimada a transao a que se referem. 1 - Nas transaes realizadas por prestaes sucessivas, exigvel o pagamento das percentagens e comisses que lhes disserem respeito proporcionalmente respectiva liquidao. 2 - A cessao das relaes de trabalho no prejudica a percepo das comisses e percentagens devidas na forma estabelecida por este artigo.

Por sua vez, o artigo 7 da Lei 3.207/57 que regulamenta as atividades dos empregados vendedores, viajantes ou pracistas, aplicvel ao Direito do Trabalho, ante o permissivo contido no artigo 10 consolidado, prev que verificada a insolvncia do comprador, cabe ao empregador o direito de estornar a comisso que houver pago. Desse modo, apenas a insolvncia do comprador, e no to somente o seu inadimplemento, autoriza o estorno de comisses. Para Amauri Mascaro do Nascimento (1985, p. 320) menciona que:Aceita a transao, o risco do negcio pertence ao empregador. O vendedor ter direito s comisses ainda que o negcio no se realize por motivos independentes da participao do vendedor. S num caso o vendedor perder o direito. na hiptese de insolvncia do cliente comprador, caso em que a lei autoriza at mesmo o estorno das comisses que tiverem sido pagas.

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Dessa forma, implicaria em transferncia para o trabalhador dos riscos do empreendimento, os descontos de comisses pagas ao obreiro, em razo do inadimplemento de cliente da empresa. Felizmente, por uma questo j uniformizada entre os empregadores perfumeiros e os obreiros, o risco da atividade (inadimplemento do cliente vendedor ou a insolvncia do comprador) cabe ao patro, isso porque j uma praxe no meio desta atividade, face ao contrato informal (verbal) firmado entre ambos, ou seja, o trabalhador no tem a garantia do salrio mnimo, e mesmo que pegue algum adiantamento (vale) como o patro, o valor ser apenas descontado quando houver a respectiva arrecadao, em dinheiro, dos quites distribudos. Assim, muito embora a Lei n 3.207/57, assegure em seu art. 3 que a aquisio ao direito comisso d-se com a aceitao da venda pela empresa empregadora. Considerando-se aceita a transao, para o fim de direito comisso, se o empregador no a recusar, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias, contados da data da proposta. Se a transao feita com comerciante estabelecido em outro Estado ou no estrangeiro, o prazo para aceitao ou recusa da proposta de venda ser de 90 (noventa) dias, podendo, ainda, ser prorrogado, mediante comunicao escrita ao empregado. Quanto exigibilidade da comisso o art. 4 da mesma lei dispe que deve ocorre 30 (trinta) dais depois de ultimada a transao, podendo as partes estipular outro prazo para o pagamento, desde que no superior a 90 (noventa) dias, contados da aceitao do negcio. Esses dois requisitos (aceitao e exigibilidade da comisso) no so levados em considerao pelos perfumeiros empregadores, pois, conforme o exposto no pargrafo anterior, o salrio do obreiro perfumeiro ser calculado em cima dos valores arrecadados, em dinheiro, dos quites distribudos e mesmo que seja adiantado algum dinheiro (vale) no ser estornado pelo empregador se houver insolvncia do comprador ou inadimplemento do vendedor/cliente, ser apenas descontado medida que forem arrecadando o numerrio ou ao final de cada cobrana, isso porque, j uma praxe, repita-se, entre o empregador perfumeiro e obreiro. Assim, embora a legislao laboral assegure ao empregado comissionista a remunerao do repouso semanal remunerado e dos feriados, essa garantia legal no assegurada aos trabalhadores do presente estudo.

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Ficou comprovado, tambm, que os trabalhadores em anlise esto sujeitos a controle de horrio, tambm nesse aspecto a norma legal assegura queles que percebem por comisso o direito ao adicional de, no mnimo, 50% (cinqenta por cento) pelo trabalho em horas extras, calculado sobre o valar das comisses a elas referentes. A exemplo da garantia anterior, essa tambm, no assegurada aos trabalhadores perfumeiros. Portanto, a concluso que se chega que ambos os institutos se completam (art. 466 da CLT e Lei 3.207/57), e neste caso, face ao princpio da norma mais benfica ao obreiro, tanto a CLT como a norma especial devem ser aplicadas, at porque a norma especial em seu art. 1 assegura que:as atividades dos empregados vendedores, viajantes ou pracistas sero reguladas pelos preceitos desta lei, sem prejuzo das normas estabelecidas na Consolidao das Leis do Trabalho - Decreto-lei nmero 5.452, de 1 de maio de 1943 - no que lhes for aplicvel.

2.2.12 ITEM 12: QUANTOS SALRIOS GANHA EM MDIA POR MS? Quanto ao resultado desse item observe a seguir o que foi discorrido no tpico 2.2.10.1 sobre os ganhos do trabalhador perfumeiro:Do valor que recebeu do(a) cliente, o laborante ter direito a 10% (dez por cento) e o motorista a 1% (um por cento) sobre todo o valor recebido dos clientes. Ao primeiro momento pode-se achar que muito pouco, mas o bom trabalhador consegue ganhar mais de R$ 2.000,00 (dois mil reais) e o motorista/encarregado uns R$ 4.000,00 (quatro mil reais) em uma nica cobrana, isso em 90 (noventa) dias. Assim, quanto mais o trabalhador conseguir arrecadar mais ir aumentar os seus ganhos, o que torna a sua renumerao proporcional ao valor arrecadado junto ao fregus.

Assim, cada trabalhador consegue ganhar, em mdia, um salrio e meio por ms, no mnimo. 2.2.13 ITEM 13: SEU PATRO OFERECE ALGUMAS GARANTIAS TRABALHISTAS A VOC? ______QUAIS?_____ O resultado no foi nenhuma novidade, todos, sem exceo, afirmaram que no. Assim, por mais estranho que parea as garantias asseguradas na Constituio Federal, na lei consolidada e legislao extravagante no so garantidos as esses trabalhadores e a conseqncia de tudo isso j foram vivenciadas pela Cidade na

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poca da minerao, ou seja, o trabalhador ir laborar at o dia em que no poder mais e no ter uma aposentadoria confortvel, ao contrrio, ter que recorrer a Previdncia Social e viver de um salrio mnimo, como alguns de seus pares da poca do minrio. 2.2.14 ITEM 14: REQUISITOS CARACTERIZADORES DA RELAO DE EMPREGO. Todos responderam o seguinte: PESSOA FSICA ( X ) SIM ( ) NO; EXISTE EVENTUALIDADE ( ) SIM ( X ) NO; DEPENDENTE DO PATRO ( X ) SIM ( ) NO; RECEBE SALRIO (X

) SIM ( ) NO; EXISTE PESSOALIDADE (

X

) SIM ( )

NO; POR FIM EXCLUSIVIDADE ( X ) SIM ( ) NO. Mas, isso no seria suficiente, se nos item anteriores no fosse explorado, passo a passo, o trabalho desempenhado por cada um dos entrevistados e assegurar, de forma plausvel, que eles (trabalhadores perfumeiros) mantm para com os seus patres uma relao de emprego e no de trabalhadores autnomos. Alis, o trabalho autnomo existe, no entre o obreiro perfumeiro e seu cliente, mais entre o cliente vendedor e o cliente consumidor, e isso ser mais bem detalhado no prximo captulo. Os trs ltimos itens: 2.2.15; 2.2.16 e 2.2.17: J SOFREU ALGUM TIPO DE ACIDENTE NESTE TRABALHO; QUANTO VOC ACHA QUE VAI DURAR ESSE CREDIRIO e QUAL A SUA EXPECTATIVA PARA O FUTURO NESTA ATIVIDADE, respectivamente em nada vem a acrescentar ao resultado final, objeto do ttulo do presente trabalho monogrfico, uma vem que estes serviram apenas como concluso do questionrio e o seu resultado est a disposio no anexo.

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CAPITULO 3 NO MBITO DA ATIVIDADE DE CREDIARISTA PERFUMEIRO EMPREGADO OU TRABALHADOR AUTNOMO?

3.1 DOS ELEMENTOS CARACTERIZADORES DA RELAO DE EMPREGO.

No tpico 2.2.14 foi elencado como elementos essenciais da relao de emprego: pessoa fsica, continuidade, subordinao, salrio e pessoalidade, no entanto, embora todos os entrevistados tenham confirmado esses cinco elementos indispensveis da caracterizao da relao de emprego, a conceituao de cada um, como parte integrante deste trabalho torna-se essencial. Empregado sempre pessoa fsica ou natural. No possvel, dada a natureza personalssima das obrigaes que ele assume, admitir-se a hiptese de um empregado pessoa jurdica. A proteo da legislao trabalhista destinada pessoa fsica, ao ser humano que trabalha, sua vida, sade etc. Os servios prestados por pessoa jurdica so regulados pelo Direito Civil. Empregado um trabalhador no eventual, que presta continuamente seus servios. Deve haver habitualidade na prestao laboral, j que o contrato de trabalho, no caso dos perfumeiros esse contrato verbal, mesmo assim a prestao dos servios e sucessiva, ou seja, no se exaure numa nica cobrana/viagem. Assim, a prestao de um servio em carter eventual, ocasional, episdico, no enquadrar o prestador de servio na situao de empregado. Se os servios prestados pelo trabalhador so eventuais, este no ser empregado, mas sim um trabalhador eventual, no alcanado pelos direitos estabelecidos na CLT. A continuidade no significa, necessariamente, trabalho dirio. bem verdade que na maioria das vezes a prestao dos servios pelo empregado feita diariamente, mas no h necessidade para caracterizar a relao de emprego. No caso dos obreiros perfumeiros, quando eles retornam de viagem e passam uma ou duas semanas em seus lares, no desconfigura a continuidade face a impossibilidade de exerceram as sua atividades em razo da distncia.

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Empregado um trabalhador assalariado, portanto, algum que, pelo servio que presta, recebe uma retribuio. Caso os servios sejam prestados gratuitamente pela sua prpria natureza, no se configurar a relao de emprego. Exemplo corriqueiro na doutrina o caso da freira que gratuitamente presta servios num hospital ou numa casa de caridade, levando lenitivo religioso aos pacientes. Nesse caso, a freira no ser considerada empregada, porque a sua atividade exercida sem salrio, por fora de sua natureza. O mesmo ocorre com o trabalhado voluntrio, de finalidade cvica, cultural, assistencial etc., em sua maioria prestado por pessoa fsica a entidades pblicas ou a instituies sem fins lucrativos. A gratuidade, porm deve ser inerente natureza do servio prestado (religioso, familiar, assistencial etc.). Essa situao no deve ser confundida com a prestao gratuita de servios de natureza eminentemente onerosa (servios que normalmente so remunerados, que trazem vantagens patrimoniais diretas ou indiretas s pessoas para as quais so prestados) caso em que, se provada pelo trabalhador, restar caracterizado o contrato tcito de trabalho. Assim, se A presta servios de natureza onerosa a B (por exemplo, A motorista particular, secretrio, faxineiro, jardineiro etc. de B) continuadamente e sob as ordens deste, o fato de B no efetuar pagamento quele no desnatura a relao de emprego tacitamente configurada. Ao contrrio, restar configurado o ajuste tcito de trabalho e a mora no pagamento, por parte de B. Empregado um trabalhador que presta pessoalmente os servios ao empregador. O contrato de trabalho ajustado em funo de determinada pessoa, razo porque considerado intuitu personae. Assim, o empregador tem o direito de contar com a execuo dos servios por determinada e especfica pessoa e no por outra qualquer. No pode o empregado fazer-se substituir por outra pessoa sem o consentimento do empregador. O motorista particular Jos, por exemplo, no pode, sem o consentimento expresso de seu patro, mandar seu irmo Joo trabalhar em seu lugar num dia em que tenha acordado indisposto. Ao contratar Jos, seu patro verificou suas referncias em empregos anteriores, fez um teste preliminar a fim de julgar sua habilidade na direo, entrevistou-o para avaliar seu temperamento etc. O patro no conhece nenhum desses elementos no que diz respeito a Joo, o que significa no poder ser ele obrigado a aceitar que Joo preste os servios em substituio a Jos.

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O carter de pessoalidade impede que o empregado se faa substituir por outra pessoa na relao laboral, salvo a existncia de consentimento expresso do empregador nesse sentido. Quanto ao critrio da pessoalidade no resta dvida de que todos os obreiros perfumeiros (motoristas e vendedores) esto encaixados, sem exceo, dentro desse critrio. Os motivos so mesmo exposto acima, pois nenhum patro perfumeiro iria manter em sua equipe um trabalhador que ele no tivesse confiana, soubesse de suas qualidades etc. Empregado um trabalhador cuja atividade exercida sob dependncia de outrem, para quem ela dirigida. Isso significa que o empregado dirigido por outrem, uma vez que a subordinao o coloca na condio de sujeito em relao ao empregador. Se os servios executados no so subordinados, o trabalhador no ser empregado, mas sim trabalhador autnomo, no regido pelo CLT. A doutrina aponta quatro formas sob as quais pode ser evidenciada a dependncia, ou explicada a posio do empregado perante o empregador: econmica, tcnica, hierarquia e jurdica. A subordinao econmica resultaria do fato de o empregado necessitar, para sua subsistncia, da remunerao recebida do empregador. A verificao do enquadramento ou no de um trabalhador na condio de empregado a partir da anlise considerada insatisfatria pela doutrina laboral, pois existem casos em que h dependncia econmica e no h relao de emprego (por exemplo, na relao pai e filho) e outros em que h relao de emprego mas no h dependncia econmica (o empregado rico, que no depende do patro). Pela explicao baseada na subordinao tcnica, o empregado seria subordinado porque dependeria dos conhecimentos tcnicos do empregador. Esse tese tambm no considerada plenamente aceitvel pela doutrina, pois existem hipteses em que o empregador que depende tecnicamente dos empregados, dados os conhecimentos destes. o que ocorre no caso de empregados de alto nvel, prestadores de servios que exigem elevado grau de especializao e capacitao, como o engenheiro qumico em uma indstria de produtos qumicos. Segundo a tese da subordinao hierrquica, que a doutrina igualmente faz restries, o que explicaria o fato de o empregado ser subordinado ao patro seria a circunstncia de estar ele inserido nos quadros funcionais da empresa, em que o empregador ocupa uma posio de superioridade, de comando.

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Por fim, a tese da subordinao jurdica, decorrente do contrato de trabalho, em que o empregado se sujeita a receber ordens do empregador, a ser comandado pelo empregador. Essa , sem dvida, a justificativa mais aceita para a existncia de subordinao na relao de emprego: decorrer ela a subordinao do vnculo jurdico contratual estabelecido voluntariamente entre as partes.

3.2 EMPREGADO OU TRALHADOR AUTNOMO?

Pela exposio do capitulo anterior foi ficando cada vez mais claro, medida que eram comentado cada item, que os obreiros perfumeiros de Tenente Ananias/RN preenchem todos os cinco requisitos da relao de emprego: pessoa fsica, continuidade, subordinao, salrio e pessoalidade. No entanto, o principal diferenciador entre ser empregado e trabalhador autnomo a subordinao, pois pessoas fsicas todos so; o trabalhado embora tenha alguns momentos em paralisado (quando, aps quase trs meses voltam de viagem e passam uma ou duas semanas na Cidade), no tira o critrio da continuidade pelos motivos j apresentados neste estudo; eles recebem salrio na modalidade do sobresalrio, especificamente comisses decorrentes do dinheiro arrecadados na distribuio dos quites (produtos); o critrio pessoalidade inerente a cada equipe pois cada empregador perfumeiro ao contratar (contrato verbal) o trabalhador, leva em considerao a sua habilidade, eficincia, produtividade, obedincia e confiana. Resta saber se o critrio SUBORNDINAO caracterizado, e isso ficou demonstrado quando foi analisado os itens 2.2.5 a 2.2.7 e 2.2.10 a 2.2.10.1, ao passo que o 2.2.14, todos do capitulo anterior, vem apenas ratificar a relao de empregado. Ficou comprovado que o dono do credirio arca com moradia, almoo, merenda e janta de todos os seus trabalhadores, alm de limitar a quantidade de quites que cada um pode deixar, bem como controla o horrio de sada, e todos os obreiros esto sujeitos as suas ordens. Ora se existe essas despesas, controle de horrio, obedincia ao patro, aquele trabalhador que no sair em campo/rota, e mesmo saindo no convencer algum fregus a vender os produtos do patro, e mesmo que convencendo vrios o

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valor arrecadado seja nfimo, dar a este prejuzo, face as despesas dirias com moradia e alimentao, bem como se entregar a mercadoria alm do limite permitido, arcar ele trabalhador com as conseqncias, caso a sua cliente no as pague, ensejando, conseqentemente em sua demisso, o que torna esses fatores caracterizadores da subordinao do trabalhador para com o dono do credirio ou encarregado da equipe. Por outro lado, o cliente (pessoa que ir vender as mercadorias), no mantm nenhum tipo de subordinao com o trabalhador que lhe forneceu a mercadoria e muito menos com o encarregado/dono do credirio, uma vez que se nada vender, nada ganhar, no obrigado a vender todos os produtos, podendo, inclusive devolver aqueles que no vendeu, ou seja, o nico compromisso que o cliente mantm com trabalhador do perfume responsabilizar-se pela mercadoria, face a assinatura da nota promissria. E para fundamentar ainda mais esse tema observe a seguir o que expe Dlio Maranho (1976, p. 111), in verbis:Profissional autnomo aquele que trabalha por conta prpria, sem ser empregado. Trabalhador autnomo aquele que exerce, habitualmente e por conta prpria, atividade profissional remunerada. No empregado. A autonomia da prestao de servios confere-lhe um posio de empregador em potencial : explora em proveito prprio a prpria fora de trabalho. Est amparado pela Previdncia Social.

Dessa forma, o cliente que o autnomo e no o seu fornecedor, este ao contrrio o empregado do dono do credirio, ou seja, esse empregado conhecido como perfumeiro: que labora dia a dia com uma sacola contendo vrios itens, dentre os quais aqueles descritos na tabela 06; que sai para labutar s seis da mantinha; que trabalha mais de dez horas diria; que passa meses ausente de sua famlia; que no tem garantido uma aposentadoria digna, face a no contribuio ao INSS; que em caso de acidente de trabalho nada recebe do patro; que em relao as expectativas para o futuro incertas; em fim que veem seus direitos trabalhistas sendo maculados por uma classe dominante no Muncipio, o empregado, devendo, portanto, ter a sua Carteira de Trabalho e Previdncia Social CTPS devidamente assinada, reconhendo assim todos os seus direitos.

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CONSIDERAES FINAIS

Chegando ao fim desse estudo, v-se que a falta de conhecimentos de direitos por parte do obreiro perfumeiro, ainda, um fator que contribui bastante para no obteno dos direitos assegurados aos mesmos, sendo que o primeiro passo seria o reconhecimento da categoria, confirmando a relao de emprego, com a conseqente assinatura da CTPS, alm dos direitos assegurados na Constituio Federal, CLT e Leis esparsas. Assim, v-se que o reconhecimento da relao de emprego s ser possvel quando o obreiro procurar a justia laboral, no entanto isso provavelmente ir acontecer porque, por estranho que parea, em pequenas cidades do Brasil, e Tenente Ananias no uma exceo, poucos so aqueles que colocam o seu patro no pau (ditado bastante comum), ou seja, procuram uma Vara do Trabalho para terem os seus direitos laborais reconhecidos. Isso ocorre porque a maioria tem medo de represarias e conseqentemente medo de no poderem mais trabalhar na atividade, face ao conhecimento dos outros patres, repita-se, em razo do amplo conhecimento, seja pessoal ou apenas de vista, que todos dispem nas pequenas cidades. Por fim, quando todas as dificuldades apresentadas neste trabalho forem enfrentadas, no s pelo poder pblico mais por todos aqueles, em especial o patro, que sensveis a realidade de que o reconhecimento da relao de emprego a melhor forma de fazer justia com esses trabalhadores, estar-se- diante do primeiro passo ruma ao reconhecimento dos direitos trabalhistas dos obreiros perfumeiros de Tenente Ananias/RN, algo capaz de cumprir o princpio da dignidade da pessoa humana.

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REFERNCIAS

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