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IX Encontro da ABCP, 04 a 07/08/2014, Brasília-DF Área Temática: Estado e Políticas Públicas Regras Importam: enforcement e aprendizado institucional no Programa Bolsa Família 1 Denilson Bandeira Coêlho (Instituto de Ciência Política - Universidade de Brasília) [email protected] 1 Versão preliminar, favor não citar.

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IX Encontro da ABCP, 04 a 07/08/2014, Brasília-DF Área Temática: Estado e Políticas Públicas

Regras Importam: enforcement e aprendizado institucional no Programa Bolsa Família1

Denilson Bandeira Coêlho (Instituto de Ciência Política - Universidade de Brasília)

[email protected]

1 Versão preliminar, favor não citar.

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Resumo A literatura sobre o Programa Bolsa Família tem focado questões como o impacto sobre a pobreza e a desigualdade, os efeitos relacionados ao processo eleitoral e a função das condicionalidades. Estes estudos analisam aspectos importantes do desenho da política como a capacidade institucional dos governos locais, a gestão da intersetorialidade e o problema do acesso e permanência das famílias na rede de proteção social. Entretanto, o Programa Bolsa Família está também associado com um problema típico de relação principal-agente porque requer a ocorrência simultânea da implementação de regras para funcionar. Com algumas exceções, pouco se tem produzido sobre o efeito das regras formais no que se refere a como famílias aprendem e mudam suas atitudes no tempo. Neste paper, proponho explorar os dilemas das burocracias federal e municipal para implementar regras rígidas em uma federação altamente descentralizada. Meu argumento é que a aplicação das regras após dez anos gerou um aprendizado social e burocrático que resultou na institucionalização da política. Com o objetivo de investigar como as regras influenciaram a qualidade da implementação da política, a análise compara os resultados da política em cerca de 5560 municípios. Abstract The literature about Bolsa Familia Program has focused the impact on poverty and inequality, the effects regarding electoral process and the role of conditionalities of education and health to the monitoring of school attendance and health care of the beneficiary families. These studies have shown many important aspects like the relevance of institutional capacity of the three federal levels of government, the question of intersectionality and the problem of access and permanence of families in the social safety net. Bolsa Familia Program, however, is also closely associated with a principal-agent problem because it requires the simultaneous occurrence of implementation of rules to take place. With a few exceptions, much less work has been done on the effect of formal rules concerning how families and bureaucracies learn and change their actions over time. In this paper, I propose to explore the dilemmas between federal and local bureaucracies to implement rigid rules in a highly decentralized federation. My argument is that the maintenance and application of rules after ten years have triggered a positive social and political learning and engendered the institutionalization of the rules. In order to investigate how the quality of implementation of the rules has affected the learning process, our analysis covers above 5560 municipalities.

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Introdução Este artigo investiga o efeito da aplicação de regras formais em políticas públicas

descentralizadas. O trabalho analisa a importância de atores e instituições no processo

de formulação e implementação de políticas orientadas em torno de mecanismos de

controle da burocracia. Como apontam Lupia e McCubbins (1), uma parte dos

pesquisadores observa que há um conjunto de entraves que impedem o monitoramento

do aparato burocrático. Outros pesquisadores têm uma visão positiva e veem avanços na

resolução dos problemas dessa natureza. Com o objetivo de contribuir com o debate

esta pesquisa analisa de que forma o executivo federal fiscaliza o desempenho dos

governos municipais. A partir de uma investigação exploratória com base no caso do

Programa Bolsa Família argumento que a definição de um contrato "legalmente

vinculativo" (legally binding) aprimorou as capacidades institucionais das esferas de

governo e a qualidade da gestão interfederativa. O programa de transferência de renda

condicionada foi escolhido por engendrar um complexo arranjo federativo concebido

sob a forma de uma gestão intersetorial e pelo seu elevado grau de efetividade após uma

década de existência.

Um dos pressupostos do estudo é que o Bolsa Família logrou êxito porque as regras

foram mantidas por uma estrutura de governança com supervisão operacional

sistemática e pelo fato de ajustes incrementais gerarem fortes incentivos à cooperação

dos agentes. Nessa perspectiva, as relações intergovernamentais informam um caso

típico de problema principal-agente com o governo federal assumindo a função do

principal e os governos locais a posição de agentes. Em sentido amplo busca-se

entender quais são os impactos de desenhos institucionais que adotam a prática de

accountability. A resposta a essa questão exige um diálogo com as teorias da burocracia

e o conhecimento histórico da política. Entretanto, algumas dificuldades teórico-

metodológicas representam um desafio à análise proposta. Uma delas é que faltam

estudos comparados sobre o comportamento estratégico dos servidores públicos

municipais. Sobretudo os que atuam em políticas nacionais que preveem sanções sobre

os beneficiários de programas sociais. Com o intuito de suprir parcialmente esse gap, o

escopo desta pesquisa identifica os atores, seus interesses e tomadas de decisão

praticadas em condições de incerteza, conflitos e assimetria de informações. Com base

nesse arcabouço teórico-conceitual o artigo está estruturado como segue. Uma revisão

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teórica da literatura é apresentada com o intuito de demonstrar como principal-agent

theory tem sido substancialmente modificada e adaptada da economia para os

fenômenos da ciência política. Ainda nessa seção pretende-se ilustrar como governos

criam estruturas e processos para delegar funções públicas por meio de controle

democrático. Em seguida são feitas breves considerações sobre a dinâmica da

burocracia e das políticas sociais no Brasil a partir de uma análise descritiva do perfil do

funcionalismo em termos de sua formação educacional. A seção analítica discorre sobre

as normas contratuais do programa, definição do papel dos atores, além de discutir a

trajetória e os ajustes incrementais. Ao final, com base nos atributos das unidades de

governo delimita-se a tendência predominante de relação política-institucional entre os

players para logo depois se discutir os resultados da coordenação multinível, seguida

das conclusões gerais.

O modelo de Principal-Agente A literatura que estuda a burocracia oferece um conjunto de vertentes teóricas e

tratamentos analíticos a respeito das motivações de indivíduos que lidam com a coisa

pública. Uma questão central é saber em que medida os burocratas são controlados

pelos políticos. Conforme se sabe, vários estudos já desfizeram a falsa dicotomia entre

política e burocracia (2); (3); (4); (5) e (6). Visto de um modo mais realista e empírico a

interação entre os dois segmentos permite examinar as disputas pelo controle das

políticas públicas, especialmente na fase da implementação. De acordo com Shepsle e

Bonchek (7) há três correntes que fornecem explicações sobre o comportamento

burocrático. Tais correntes foram pensadas a partir da rejeição do economista William

Niskanen ao senso comum que vê a burocracia como uma repartição voltada para o

interesse público. Sua proposição compara órgãos de governo com firmas privadas e

burocratas com gerentes, ambos interessados em maximizar os orçamentos dos

departamentos em que atuam. A partir desse embasamento clássico, Niskanen propõe a

modelagem do comportamento burocrático e três explicações rivais, mas

complementares surgem. A primeira pressupõe que a burocracia usa suas vantagens

informacionais para demandar o aumento do orçamento de programas e a expansão do

corpo funcional, além de compensações próprias. A segunda preconiza também o

aumento do orçamento num ambiente onde burocratas pretendem obter prestígio em

seus órgãos de atuação uma vez que sentem grande apreço por seus cargos. A terceira é

relativamente oposta aos ganhos individuais de curto prazo e consiste no cumprimento

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da missão institucional e na prestação de serviço à população como um meio para se

atingir a progressão funcional, mas do mesmo modo dos exemplos anteriores, visa

ampliar o aporte financeiro da organização para possibilitar a consecução de objetivos.

Embora haja diferenças com relação a alguns objetivos, o fator similar que aproxima

essas teorias é que numa situação qualquer a burocracia pressiona o sistema político

para aumentar o orçamento dos órgãos administrativos. Este traço comum determina

então o comportamento de corpos burocráticos na política. Na perspectiva da teoria da

escolha racional os políticos buscam maximizar seus ganhos com o menor esforço

possível. Em outras palavras, políticos interessados em reeleição desejam beneficiar

suas constituencies mas não querem disputar e alocar grandes somas orçamentárias.

Portanto, verifica-se a partir desse ponto uma clara distinção de preferências. A questão

seria então idealizar de que forma os dois segmentos agiriam uniformemente. Weber (8)

identificou que ocorre no mundo político uma relação assimétrica na qual o poder de

autoridade é alocado de um lado e as vantagens informacionais do outro lado.

Waterman e Meier (9) enfatizam outro ponto fundamental da relação burocracia e

política. A combinação entre mudanças nas políticas e nas coalizões e mudanças de

procedimentos burocráticos que impactam as relações externas geram potenciais

conflitos entre as partes quando metas e objetivos estão em desacordo. Conforme

pontuam, as estratégias dos políticos visam mudar as legislações vigentes para atender

os interesses da coalizão e as burocracias tentam manter o monopólio da implementação

e modificar o desenho original dos programas para reduzir a expertise dos políticos

sobre como os programas deveriam ser implementados.

Assim como na ciência econômica que desenvolveu modelos originais para explicar o

comportamento de vendedores e compradores a partir de relações contratuais2, a ciência

política passou a observar de maneira mais crítica o processo dinâmico de interação

entre políticos e burocratas. Em certa medida isso ocorreu porque as relações entre

atores governamentais são regidas contratualmente na forma de leis, procedimentos,

resoluções e normas que balizam as responsabilidades das partes envolvidas. O contrato

2 Para ver as implicações do arranjo contratual no mercado ver: o artigo de Spence e Zeckhauser (1971) sobre os dilemas comportamentais no contrato de seguro de automóveis e os trabalhos de Ross (Ross, S.A. (1973) ‘The economic theory of agency: the principal’s problem’, American Economic Review

63(2): 134–9.) e Pratt e Zeckhauser (Pratt, John W., and Zeckhauser, Richard J. 1985 "Principals and Agents: An Overview." In John W. Pratt and Richard J. Zeckhauser, eds. Principals and Agents: The

Structure of Business. Cambridge, Mass.: Harvard Business School Press.) sobre os custos econômicos em negócios que envolvem responsabilidades mútuas.

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estabelecido seria para esta literatura uma ferramenta de análise para verificar o

cumprimento dos objetivos das políticas. A questão fundamental é que o cumprimento

das ações firmadas no contrato varia de maneira significativa. Esta variação está

associada com as características do sistema político, com a natureza da política pública

e o perfil dos atores. O mapeamento destes problemas e a observação empírica da

atuação da burocracia sob controle das instituições permitiu à ciência política analisar a

relação contratual das partes como um modelo de principal agente. Em linhas gerais os

pesquisadores desse campo de estudos são consensuais ao apontarem dois elementos

imprescindíveis para a aplicação da teoria: o conflito de objetivos e a assimetria de

informações (9); (10); (11); (12); (13) e (14). O primeiro ocorre devido às discordâncias

sobre finalidades, ações ou metas estabelecidas ou ainda devido a divisões de trabalho

ineficientes entre departamentos. O segundo é entendido como um problema de acesso

privilegiado de informações nas mãos dos agentes, condição que permite a este ator a

possibilidade de um comportamento estratégico. Shepsle e Bonchek3 lembram que o

monitoramento é a chave para o equilíbrio da relação. Nesse cenário o objetivo do

principal é assegurar que o agente cumprirá os acordos firmados, ratificando, assim,

suas preferências e não se desviando de suas obrigações para tentar obter benefícios.

Seus trabalhos destacam que há dois mecanismos de controle do principal sobre o

agente no sentido de evitar comportamentos oportunistas ou a incompetência laboral. O

primeiro, chamado de before-the-fact, é um contrato com base em regras que visam o

cumprimento dos interesses do principal. O segundo, denominado de after-the-fact,

prevê aplicação de punições em consequência da baixa performance.

Lupia e McCubbins4, ao estudarem o congresso americano lançam a problemática das

consequências da delegação para as legislaturas quando estas interagem com as

demandas da burocracia. Os autores identificam dois mecanismos de fiscalização

aplicados pelo principal (legislativo) nos agentes (burocracia): police patrols e fire

alarms. Em síntese o primeiro mecanismo funciona como uma espécie de

monitoramento direto onde os legisladores obtêm conhecimento e informações

privilegiadas sobre a proposta da burocracia para eventualmente fazerem amendamentos

de acordo com seus interesses. O segundo mecanismo é uma situação onde o principal

recebe informações por terceiros como sinais de alerta a respeito da proposta da

3 Cf. Shepsle e Bonchek, 1997. 4 Cf. Lupia e McCubbins, 1994.

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burocracia. Na visão de Kassim e Menon (11), os dois mecanismos impõem custos ao

principal pelo tempo dispensado ao processo e o valor pago para monitorar os passos do

agente. Estes custos são proporcionalmente maiores quanto mais complexos são os

desenhos institucionais de políticas, o que denota um trade-off entre a prática de

monitoramento e os ganhos futuros de limitar o não cumprimento de ações. Nesse

sentido o foco da literatura de principal-agente recai sobre o contrato ideal que irá

"amarrar" as partes com o objetivo de minimizar conflitos. Os contratos podem ser

baseados prioritariamente no comportamento dos agentes ou nos resultados esperados

da política (10). Quando o principal monitora satisfatoriamente as ações dos agentes

estes assumem um contrato fundamentado no comportamento previsível dos agentes. A

situação inversa ocorre nos casos em que não é possível saber exatamente o grau de

dedicação dos agentes o que exige um contrato baseado em resultados e sanções5.

Porque os atores possuem objetivos conflitantes e o ator central não pode inferir o

quanto seus contratados têm denotado esforço para cumprir suas tarefas é que as regras

a serem escritas no contrato ganham considerável relevância para a teoria do principal-

agente. Os chamados problemas de agência decorrentes desses cenários nebulosos são o

risco moral e a seleção adversa. Em síntese problemas de moral hazard se referem a

falta de empenho dos agentes para cumprirem suas funções. Dito de outra forma, como

a literatura comumente atribui, via de regra os agentes se esquivam (agents shirk). O

problema de adverse selection acontece devido a ineficiência da agência em selecionar

quadros competentes para funções complexas ou mesmo quando não possui

instrumentos para avaliar os agentes que reivindicam posições superiores na hierarquia

de um orgão de governo.

Os elementos teóricos até aqui descritos oportunizam discutir algumas questões de

interesse. A primeira delas vai no sentido de indagarmos por que razão governos

centrais demandam estruturas administrativas compartilhadas. A segunda é sob que

condições institucionais e políticas o contrato é modelado e controlado pelo principal.

Uma última questão a saber é quais são os fatores determinantes para o agente aceitar o

contrato. Em grande parte do mundo discute-se atualmente por que e como os países

têm reestruturado o gerenciamento de políticas públicas, sobretudo em contextos

5 Nesse caso as atividades dos agentes também podem ser mais complexas tecnicamente em comparação ao primeiro tipo de contrato. Teoricamente nesse exemplo os agentes são mais aversos ao risco justamente pelo fato de serem mais monitorados e eventualmente punidos.

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descentralizados. Uma possível interpretação aponta para a incapacidade estatal de

prover serviços públicos a uma sociedade em transformação. Outra acepção provável

indica que pressões políticas almejam fragmentar o poder do governo central em favor

dos governos subnacionais. Numa percepção puramente institucionalista, a divisão de

competências via a descentralização geraria mais efetividade do gasto público a partir

da noção de que autoridades locais estão mais bem posicionadas para a prestação de

serviços públicos (15) e (16). Seja por qualquer uma dessas motivações o fato é que a

divisão de atribuições específicas e responsabilidades comuns em um sistema que

envolve múltiplos atores e organizações exige controle das ações e governança6. Com

base nesses termos em um contrato de relações intergovernamentais o objetivo do órgão

central é definir um contrato que estabeleça um "agente cumpridor" de ações no âmbito

de uma entidade burocrática. Alguns autores notam que a criação de agências ou sua

reformulação via novos contratos impactam positivamente as reparticões, uma vez que

estas aumentam o seu grau de formalização. A chave do negócio estaria ancorada na

capacidade de Estado em montar uma estrutura de governança7 a partir de um mix entre

centralized authority e modern governance, onde mecanismos cruciais como comando e

controle central combinados com a participação de múltiplos centros de autoridade

formariam um modelo de administração democraticamente legítimo e

institucionalmente robusto. O esforço para se chegar a um resultado dessar ordem traria

recompensas como a durabilidade das políticas e mecanismos de contenção contra as

constantes tentativas de mudanças na legislação das políticas.

Um outro tipo de resultado que a literatura tem explorado são os efeitos das políticas

descentralizadas a partir das lições de aprendizado político (political learning)8 que em

geral são verificadas em novos desenhos institucionais e em menor escala em modelos

incrementais. Os trabalhos que adotam o aprendizado como um output do processo

6 O escopo desse trabalho não trata diretamente sobre o conceito de governança. Nessa fase do estudo, a intenção é demonstrar preliminarmente que um entre vários modelos de governança foi adotado no contrato que rege o Programa Bolsa Família. Logo, questões essenciais sobre como o modelo multinível da política deveria ter sido estruturado, grau de fragmentarismo ou número ótimo de instituições não são aqui tratadas. Contudo, seguindo Hoogle e Marks (Cf. Hoogle e Marks, 2003) e em um primeiro diálogo com esta literatura, adota-se aqui a definição de governança como tomada de decisões vinculativas (ou compulsórias) na esfera pública. 7 Shepsle e Bonchek (Cf. Shepsle e Bonchek, 1997) afirmam que no caso americano tal estrutura é montada a partir de uma coalizão formada entre o presidente, o congresso nacional e a própria agência a ser criada ou reformulada. 8 Neste trabalho também denominado como aprendizagem institucional. Do mesmo modo que o conceito de governança, o conceito de learning não é nesta versão do trabalho objeto de uma revisão teórica aprofundada.

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político apresentam diferentes matizes teóricas para analisar o impacto de novas

ideias/soluções sobre os atores e instituições. Numa revisão teórica referencial, Bennett

e Howlet (17) reconstroem esse campo de estudos por meio de um mapeamento

histórico da literatura. Os autores destrincham e juntam elementos teóricos no sentido

de identificar quem aprende, o que aprendem e qual é o alcance efetivo do aprendizado

nas políticas.

No âmbito da teoria principal-agente o conceito de learning é crucial. Segundo Lupia e

McCubbins (14) o modelo prevê que o principal aprenderá sobre o conhecimento

"oculto" dos agentes. Isto será possível na medida em que instrumentos de

monitoramento como a patrula da política e os alarmes de incêndio forem acionados e o

principal tiver condições de verificar com segurança as falhas dos agentes9. Neste

cenário, o principal aplicaria sanções para um agente que se esquivou dos seus atos, ou

que aumentou desnecessariamente os gastos da política e ainda numa condição onde

suas preferências e a do fire alarm sejam similares, o que permitiria asssim o aumento

da probabilidade de verificar as consequências das escolhas políticas. Heisenhardt (10)

chama a atenção que o principal terá maiores chances de aprender a respeito do

comportamento do agente a partir de relações contratuais duradouras. Na visão do autor

além da extensão do contrato gerar aprendizado na forma como o principal monitora o

agente, possibilita o aperfeiçoamento do contrato baseado no comportamento dos

agentes. Waterman e Meier (9) adicionam elementos a mais nesse debate. Os autores

vão inferir que os políticos eleitos ou burocratas aprendem no tempo sobre i) políticas

públicas e o ii) jogo político. Ou seja, o aprendizado é capturado por ambos os atores

que em geral adquire conhecimento especializado sobre a política implementada e sobre

o contexto macro do sistema em que atuam onde estratégias de controle e reformas são

objeto de disputas. Este cenário elevaria substancialmente a probabilidade de mudanças

no tipo de relação contratual entre as duas estruturas. Assumindo que a relação

principal-agente não é estática e que variáveis como conflito e assimetria de

informações mudam a depender do grau de controle da política, os autores propõem

uma expansão do modelo teórico para dar conta de uma miríade de relações que ocorre

em diversos sistemas políticos democráticos. Fundamentado nessa concepção

desevolve-se a seguir um quadro descritivo da burocracia brasileira que servirá de

9 Falhas no sentido de falsear informações ou praticar ações dispendiosas desnecessárias.

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referência para a análise do Programa Bolsa Família como um problema típico de

agência.

Burocracia e Políticas Sociais no Brasil Nesta seção são feitas algumas considerações sobre burocracia e políticas sociais a

partir de uma análise descritiva da distribuição do funcionalismo pelo país associado

aos níveis de instrução educacional. Antes de tratar diretamente sobre tal dinâmica é

essencial trazer para o centro do debate algumas noções fundamentais sobre a

burocracia. A burocracia é uma instituição formal organizada basicamente sob

procedimentalismo universal e que existe para cumprir tarefas do Estado sob a

sustentação de um arcabouço jurídico. A burocracia é ao mesmo tempo uma instituição

formada por indivíduos com motivações diversas, os quais são selecionados por

meritocracia ou por indicação política. Portanto, uma possível questão de pesquisa seria

considerar a probabilidade de instituições burocráticas modelarem o comportamento dos

seus partícipes uma vez que as regras do jogo determinam um padrão universal para o

exercício da função. Todavia, outra possível questão de pesquisa poderia examinar a

possibilidade de funcionários públicos burlarem as normas institucionais seja pela

prática de corrupção ou assumindo condutas não cooperativas. O caso brasileiro parece

abranger as duas situações. A questão seria então pensar nas consequências desse

modelo híbrido que por um lado suporta o funcionamento de burocracias weberianas,

mas que por outro lado incorpora organizações não accountables10 e com fortes

evidências de patologia burocrática11.

Em síntese as instituições tem que ser rígidas e os burocratas devem desejar fazer o seu

trabalho para que a organização atinja níveis ótimos de funcionamento. Como Weber

destaca alguns atributos são essenciais para formar uma estrutura com capacidade

burocrática: i) incentivos na forma de bons salários, estabilidade do emprego e

progressão na carreira; ii) estrutura organizacional com clara divisão de tarefas e

10 Sobre o conceito e tipos de accounbatility (horizontal e vertical) ver O'DONNELL, Guillermo. (1991), "Democracia Delegativa?". Novos Estudos CEBRAP, nº 31, pp. 25-40. 11 Evans (1993) sintetiza bem esse debate ao afirmar que nessa perspectiva haveria uma tendência das organizações patrimoniais se “disfarçarem” de burocracias weberianas, ocorrendo assim, uma patologia do insulamento burocrático a serviço de interesses políticos e privados. Certas burocracias adquirem a coerência corporativa weberiana a partir da noção de “autonomia inserida”, mas tal autonomia depende do que o autor classifica como uma combinação em certa medida contraditória entre o isolamento burocrático de tipo weberiano e a forte inserção na estrutura social (EVANS, Peter. O Estado como problema e solução. Lua Nova. 1993, n.28-29, pp. 107-157).

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hierarquia entre seus membros; iii) aplicação impessoal de regras gerais com base na

legislação vigente. Do ponto de vista normativo a escala weberiana é certamente uma

referência obrigatória para a formulação de uma instituição efetiva (18). Entretanto, a

solução de Weber parece ser mais aplicável a sistemas com estruturas políticas,

institucionais e jurídicas estáveis. Em outros ambientes as tentativas de implantação do

modelo ideal de Estado enfrentam fatores como culturas políticas patrimonialistas e

clientelistas, ideologias partidárias, um sistema de cooperação federativa instável e uma

relativa insegurança jurídica. Estas são exatamente as características que conferem

excepcionalidade ao caso do Brasil. Some-se a esse contexto o fato de que parte da

burocracia nacional é constantemente reformulada em razão do êxodo de servidores

(especialmente os servidores sem estabilidade que formam o quadro de burocracias não

efetivas nomeada pelos governos). Estes são alguns dos problemas da burocracia

brasileira. Há mais? Na verdade além do Brasil, um conjunto vasto de países enfrenta o

problema da ação discricionária dos agentes públicos. Vários estudos que tratam sobre o

ciclo das políticas sociais têm mostrado como os burocratas de rua agem

invariavelmente de acordo com suas idiossincracias, motivações pessoais, senso de

arbítrio próprio ou ainda de forma pedagógica ou punitiva (19); (20) e (21).

Empiricamente sabemos pouco ainda sobre o quanto de fato a cultura da

discricionaridade afeta os resultados de políticas públicas. Por exemplo, são sabemos se

os burocratas que ocupam os postos estratégicos fazem fiscalizações de modo adequado

e aplicam as leis nas circunstâncias em que são obrigados e em que medida suas

decisões são modificadas por outro burocrata12. Uma forma de começar a compreender

melhor essa questão é conhecer apropriadamente a evolução histórica do emprego

público por esfera de governo com o objetivo de identificar os principais gargalos no

tocante a parâmetros institucionais como a composição da força de trabalho, estrutura

de carreira e as políticas de requalificação profissional (22). Descrições dessa natureza

fornecem algumas explicações para entendermos as razões da expressiva variação da

atividade burocrática e seus baixo graus de efetividade. Porém, algum avanço tem sido

12 Muller (2011), no seu estudo Governments and Bureaucracies, citando Brehm e Gates (1997:50) (Brehm, J., and Gates, S. (1997) Working, Shirking, and Sabotage (Ann Arbor, Mich.: University of Michigan Press) sumariza prováveis tipos comportamentais de agentes burocráticos numa relação principal-agente: i) trabalham para atender o principal ii) demoram muito tempo para finalizar as atividades para conseguir tempo livre iii) não realizam da melhor forma sua responsabilidade porque discordam do principal e iv) prática de sabotagem política e produção de resultados insuficientes ou negativos contra o principal.

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observado pela literatura. Franzese e Abrucio (23) apontam que variáveis relacionadas à

extensão territorial e a atuação in loco da burocracia municipal resultou num incremento

de transferência de recursos para os governos locais e consequentemente de grande

parte da gestão das políticas e programas sociais. Como um resultado desse processo

que advém da Constituição Federal de 1988 e de tranformações institucionais, as

reformas produziram um novo tipo de burocracia municipal dotada de maior poder

formal e representação política o que culminou no redesenho do contexto federativo.

Considerando então que legados históricos e contextos institucionais recentes são

importantes fatores para determinar a qualidade da burocracia, vejamos alguns dados

que retratam o perfil atual do funcionalismo público municipal. Os dados da pesquisa

Munic dispostos nas tabelas 1 e 2 estão compostos por região e Estado e consideram o

quantitativo de servidores além do seu nível de instrução.

Os dados da tabela 1 mostram que o Brasil possui cerca de 5,6 milhões de servidores

públicos lotados em prefeituras o que gera uma média aproximada de mil funcionários

para cada município. Obviamente devido ao porte das cidades há grandes diferenças

entre o número de contratados para cada unidade. Mas uma primeira questão que

desperta interesse é sabermos o quão essa distribuição é equitativa. Como capital

federal, Brasília possui mais servidores que todas as prefeituras do Acre, Roraima,

Rondônia e Amapá juntas (102 mil versus 99 mil) e de que todos os 224 municípios

piauienses e os 141 de Mato Grosso do Sul. Comparando alguns estados mais

desenvolvidos economicamente e com total de municípios similares vemos que também

há distorção. O Rio Grande do Sul tem em média 555 funcionários por jurisdição para

as suas 497 cidades e a Bahia 1122 para 417 prefeituras. Com relação ao nível de

intrução vemos que no plano nacional, os burocratas possuem majoritariamente até o

ensino médio (38%). Embora cerca de 26% possuam formação superior, apenas 6%

chegaram ao nível de pós-graduação. Talvez um dado animador seja o fato de que os

que não têm instrução sejam apenas 1,7% do total. Entretanto existem outras

disformidades quando comparamos as regiões por nível de instrução. Os estados da

região sul e sudeste apresentam taxas superiores às demais regiões, sobreutudo com

relação ao norte e ao nordeste. A taxa média de ensino superior é de 30% no sudeste

contra 22% do nordeste e de 27% no sul contra 20% no norte. Considerando a categoria

de pós-graduados as diferenças são significativas com o sul tendo 12% do corpo

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funcional com cursos de especialização, mestrado ou doutorado, o nordeste com cerca

de 5% e o norte com apenas 4%.

Tabela 1 - Distribuição de Funcionários das Prefeituras por Região, Estado e

Níveis de Instrução (Administração Direta)

Região UF

Municí

-pios

Servidores

Sem instrução Ensino

fundamental Ensino médio Ensino superior Pós-graduação

QTD % QTD % QTD % QTD % QTD %

NO

RO 52 52.053 962 1,8% 13.445 25,8% 20.077 38,6% 12.437 23,9% 5.132 9,9%

AC 22 17.452 430 2,5% 2.816 16,1% 6.626 38,0% 5.449 31,2% 1.006 5,8%

AM 62 109.616 1.490 1,4% 16.896 15,4% 28.578 26,1% 13.479 12,3% 2.389 2,2%

RR 15 12.208 84 0,7% 2.549 20,9% 6.737 55,2% 2.492 20,4% 346 2,8%

PA 143 255.640 3.141 1,2% 75.054 29,4% 117.861 46,1% 46.023 18,0% 7.197 2,8%

AP 16 17.298 450 2,6% 2.324 13,4% 12.020 69,5% 2.342 13,5% 162 0,9%

TO 139 51.017 762 1,5% 11.485 22,5% 22.779 44,6% 11.376 22,3% 1.505 2,9%

NE

MA 217 249.917 2.159 0,9% 48.565 19,4% 110.932 44,4% 53.884 21,6% 12.963 5,2%

PI 224 100.869 1.502 1,5% 20.442 20,3% 37.518 37,2% 27.443 27,2% 8.761 8,7%

CE 184 298.226 7.698 2,6% 59.714 20,0% 112.382 37,7% 68.939 23,1% 23.202 7,8%

RN 167 121.264 2.800 2,3% 24.220 20,0% 51.588 42,5% 33.764 27,8% 5.601 4,6%

PB 223 143.880 4.637 3,2% 32.903 22,9% 59.675 41,5% 36.583 25,4% 8.000 5,6%

PE 185 264.972 5.601 2,1% 38.598 14,6% 97.306 36,7% 55.298 20,9% 14.746 5,6%

AL 102 117.974 3.461 2,9% 28.035 23,8% 49.422 41,9% 24.312 20,6% 4.759 4,0%

SE 75 74.514 1.630 2,2% 19.618 26,3% 28.652 38,5% 16.885 22,7% 4.365 5,9%

BA 417 467.874 10.398 2,2% 81.649 17,5% 211.190 45,1% 68.491 14,6% 13.697 2,9%

SE

MG 853 621.368 13.609 2,2% 155.694 25,1% 220.224 35,4% 159.513 25,7% 39.725 6,4%

ES 78 126.907 1.400 1,1% 23.516 18,5% 45.990 36,2% 33.393 26,3% 17.790 14,0%

RJ 92 370.239 8.406 2,3% 76.575 20,7% 131.346 35,5% 117.075 31,6% 15.711 4,2%

SP 645 922.330 8.471 0,9% 192.426 20,9% 341.361 37,0% 344.061 37,3% 25.315 2,7%

SU

PR 399 294.815 2.847 1,0% 59.459 20,2% 110.995 37,6% 74.732 25,3% 41.309 14,0%

SC 293 186.491 1.727 0,9% 42.394 22,7% 60.728 32,6% 54.653 29,3% 26.042 14,0%

RS 496 275.773 1.016 0,4% 64.883 23,5% 95.910 34,8% 78.448 28,4% 25.413 9,2%

CO

MT 78 81.793 2.248 2,7% 16.725 20,4% 29.076 35,5% 22.796 27,9% 9.475 11,6%

MS 141 97.580 6.694 6,9% 19.709 20,2% 38.374 39,3% 26.508 27,2% 6.295 6,5%

GO 246 202.954 2.141 1,1% 32.355 15,9% 57.120 28,1% 25.703 12,7% 9.006 4,4%

DF 1 102.600 279 0,3% 6.298 6,1% 39.151 38,2% 43.094 42,0% 13.778 13,4%

Brasil 5.565 5.637.624 96.043 1,7% 1.168.347 20,7% 2.143.618 38,0% 1.459.173 25,9% 343.690 6,1%

Fonte: IBGE, MUNIC - 2011. (Elaboração do Autor) Considerando o papel crucial da burocracia para a área social e a atual distribuição do

quadro funcional, parece ser bastante desafiador para o Estado brasileiro corrigir essas

distorções a fim de minorar problemas de implementação de políticas públicas. Mas

como um país que obteve índices de qualidade de governança de -0.25 em 1996, -0.09

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14

em 2005 e de -0.01 em 200813, logrou êxito na implementação de um programa com

múltiplos objetivos e regras? Na próxima seção alguns argumentos apontam para uma

possível compreensão do caso.

O controle da burocracia no Programa Bolsa Família O Programa Bolsa Família foi lançado em outubro de 2003 e representou uma inovação

institucional em termos de gestão de políticas públicas. Os programas de transferência

de renda Bolsa Escola, Auxílio-Gás, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação,

administrados pelos ministérios da Educação, Minas e Energia e Saúde foram

unificados no PBF. O novo modelo obedeceu a uma lógica de gestão intersetorial com

destaque para as ações de coordenação do Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS) criado em janeiro de 2004. Visando a concentração de ações

de enfrentamento e alívio da pobreza o MDS foi estruturado para substituir e aglutinar

as iniciativas de política até então realizadas pelos Ministério Extraordinário de

Segurança Alimentar e Nutricional (Mesa), Ministério da Assistência Social (MAS) e

Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família.

Um dos principais avanços observados após dez anos de implementação do PBF é a

universalização do acesso do público alvo em todas as regiões do país. A evolução da

rede de proteção social foi extremamente significativa, passando de 3,2 milhões de

famílias em 2003 para 6,6 milhões em 2004 e para 13,8 milhões em 2012. Para além da

importância do aumento no número de beneficiários, estudos mostram que o programa é

um fator determinante na redução da desigualdade social e da pobreza (Soares et al.

(24); Soares e Satyro (25). Um componente de peso que marca a policy implementation

do PBF é que o programa prevê que a burocracia local formada por técnicos da

prefeitura monitore professores, diretores de escola e profissionais da saúde e da

assistência social que exercem uma espécie de papel de burocratas de rua ao lidarem

diretamente com os beneficiários da política. Nesse contexto, deve-se observar que o

PBF surge já como um grande programa a ser implantado num sistema político

sobrecarregado pela oferta de políticas sociais. Ao passar pelo teste de sobrevivência e

13 O Índice de Efetividade Governamental varia de -2,5 (fraco) a 2,5 (forte) e mensura a qualidade do serviço público e do funcionalismo. Fonte: Projeto Government Effectiveness Index (MULLER, Wolfgang C. “Governments and Bureaucracies”. In: CARAMANI, Daniele. Comparative Politics, 2nd Edition. Oxford University Press, 2011).

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enfrentar crises entre 2004 e 200514 o programa passou a ser a principal política do

sistema brasileiro de proteção social. Nessa perspectiva, os agentes municipais se

tornaram figuras centrais no programa, uma vez que uma série de atribuições lhes coube

como a seleção das famílias, alimentação do cadastro social, exercício da gestão

compartilhada e o controle sobre as condicionalidades15. O gestor municipal é

diretamente responsável por organizar a ação intersetorial que visa contemplar reuniões

periódicas entre as áreas da saúde, educação e assistência social e a identificação dos

principais problemas por setor. Destaca-se que as atividades rotineiras identificam as

famílias em situação de maior vulnerabilidade social, mapeiam as causas do

descumprimento e organizam o encaminhamento sócio assistencial. As áreas de

educação e saúde obedecem a fluxos em parte similares no que diz respeito às

atribuições institucionais, mas distintos quanto à periodicidade e volume de

informações16. O fluxo da gestão da educação tem início com o envio pelo MDS da lista

de beneficiários entre 6 e 17 anos para o MEC, órgão responsável por sistematizar e

repassar a base de dados da frequência escolar aos municípios que por meio da gestão

local registra as informações de frequência dos alunos e os envia ao MEC que por sua

vez consolida tais resultados e encaminha para o MDS que em seguida identifica o

número de famílias com problemas de descumprimento das regra para iniciar a

aplicação dos avisos ou sanções. As famílias recebem uma notificação via o extrato

bancário e por meio do gestor municipal podem apresentar uma justificativa para o

descumprimento. Nesta fase, as famílias advertidas são encaminhadas para serem

assistidas socialmente por meio dos Centros de Referêncua de Assistência Social

(CRAS). O fluxo de gestão da saúde tem início com o envio da lista dos beneficiários

até 7 anos e potenciais gestantes entre 14 e 44 anos ao MS que organiza a base dos

beneficiários e disponibiliza aos municípios que por meio dos técnicos da saúde

14 A crise foi ocasionada em função de uma série de denúncias feitas pela mídia sobre a violação das regras de seleção do cadastro único e pelo acúmulo de benefícios por parte de alguns políticos e funcionários das prefeituras ( BRITTO, Tatiana Feitosa de. The emergence and popularity of conditional cash transfers in Latin America in BARRIENTOS, Armando; HULME, David (eds) Social Protection for the Poor and the Poorest: concepts, policies and politics. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2008). 15 Na educação matricular as crianças entre 6 e 15 anos em estabelecimento regular de ensino, frequência escolar de 85% da carga horária mensal do ano letivo, informar mudança de escola e de série. Na saúde, gestantes e nutrizes devem fazer o pré-natal e comparecer às consultas médicas, participar de encontros com equipes de saúde, manter atualizado o cartão de vacinação das crianças e realizar o acompanhamento nutricional. Jovens de 16 e 17 anos devem ter frequência escolar de 75%. Fonte: MDS. 16 O período de acompanhamento na educação ocorre bimestralmente com exceção dos meses janeiro e dezembro e na saúde semestralmente com exceção dos meses janeiro e julho.

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registram as informações no SISVAN17 e os envia ao MS/DataSus que consolida os

resultados e os envia ao MDS, responsável por identificar os descumprimentos e iniciar

a aplicação das advertências e/ou sanções às famílias que após receberem os avisos

entram em contato com a gestão municipal para justificarem o descumprimento. Assim

como na educação, as famílias são encaminhadas para acompanhamento familiar.

Diante de um arranjo tão complexo na formulação, na prática da implementação os

atores envolvidos enfrentam problemas reais como assimetria de informações,

racionalidades limitadas e em geral assumem atitudes discricionárias que burlam o

contrato firmado. Nessa perspectiva, as contribuições da literatura de principal-agente e

o conceito de burocratas de rua são ferramentas teóricas úteis para entendermos como o

controle da política e o comportamento dos atores evoluiu18. Barros et al (26) apontam

que a focalização do PBF manteve-se apesar da forte expansão entre 2004 e 2008. Esta

visão é reforçada pelo IPEA (2012) que aponta que entre 2005 e 2011, houve um

aumento aproximado do público alvo do programa em torno de 70%. Assim, observa-se

que ocorreu um significativo incremento da ação dos agentes e consequentemente do

controle do principal.

Governo Federal como o Principal Do total de programas sociais do país em quantos deles o governo federal de fato

assume o papel do principal? Embora seja o ator imprescindível na provisão de bem-

estar social o governo federal não reune condições institucionais de assumir esta função

em todas as políticas em que atua. É razoável assumir então que haverá escolhas nesse

sentido. Isto é, o planejamento governamental decidirá em quais programas haverá alto

controle e em quais o controle será menos aplicado. Embora a estratégia de qualquer

governo responsivo seja a de assegurar controle e limitar os desvios do agente a

rationale da decisão levará em conta os custos da ação. Ademais os governos lidam

17 Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde. 18 O quadro teórico-conceitual aqui adotado já vem sendo aplicado em outros estudos que analisam o efeito de regras em políticas sociais. Cigno et al, 2000 CIGNO, Alessandro; LUPORINI, Annalisa; PETTINI, Ana. 2000. Tranfers to Families with Children as a Principal-Agent Problem, CESifo Working Paper, nº. 351) , Kaufmann e Ferrara KAUFMANN, Katja M. FERRARA, Eliana La. BROLLO, Fernanda. Learning about the Enforcement of Conditional Welfare Programs: Evidence from the Bolsa Familia Program in Brazil. Bocconi University, 2013) e Stolk e Patil STOLK, Christian van. & PATIL, Sunil. Understanding the Quality of Implementation in Bolsa Familia: A look inside the ‘black box’ of a Conditional Cash Transfer Programme. Paper prepared for the ECPR General Conference, Bordeaux, 4-7 September 2013) desenvolveram análises originais sobre a relação principal-agente mostrando, como, por exemplo, enforcement importa para a qualidade da implementação.

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também com constrangimentos políticos uma vez que podem ser acusados pela coalizão

ou pela própria burocracia como um ator controlador e autoritário. Entretanto, o

argumento do estudo vai no sentido contrário. Na verdade, ao fazer escolhas no sentido

de controlar rigidamente alguns programas em detrimento de outros, o governo central

exerce uma importante missão institucional que é a de delegar funções do Estado aos

governos subnacionais para garantir a performance das políticas públicas. O PBF pode

ser visto como um modelo de principal-agente porque estabelece regras rígidas como

por exemplo a faculdade de rescindir o contrato de adesão municipal em caso de não

cumprimento dos procedimentos de gestão das condicionalidades e também pelo fato de

vedar ao município instituir outras sanções às famílias além das previstas ou fixar outras

regras19. Há ainda vários micro procedimentos onde estão estabelecidos as

responsabilidades e funções de cada gestor que atua no programa bem como formas de

coleta e preechimento de dados e a fixação de prazos para envio de informações.

Governos Municipais como os Agentes A análise da atuação dos agentes municipais no PBF é analisado a partir do

comportamento conjunto dos técnicos locais envolvidos na política. Entre os agentes

das três secretarias de governo devemos destacar a área da assistência social como a

mais representativa. Em 93% das prefeituras a coordenação do programa está na

assistência social que também organiza o CadÚnico em 97% das unidades. Em termos

da análise aqui proposta vimos anteriormente que a distribuição do quadro funcional

local em termos quantitativos e do nível de instrução é extremamente imperfeita. Na

área da assistência social o quadro é similar. O Brasil possui pouco mais de 180

burocratas nesta pasta, sendo que 67% deles não possuem ensino superior e 33% não

têm vinculo empregatício. No nordeste são respectivamente 72% e 50%. Os números

informados já nos dão uma primeira ideia de que o perfil dos servidores da área social

do país não corresponde exatamente a um tipo ideal weberiano. Um fator a mais deve

ser levado em conta quando pensamos na participação de assistentes sociais em um

programa de transferência monetária: as(os) profissionais concordam com a concepção

do Programa Bolsa Família?

19 Artigos 10 e 11 da Portaria GM/MDS nº 551 de 2005.

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Algumas pesquisas têm revelado que não20. O que se observa é que a tese dos direitos

sociais e fundamentais prevalece fortemente em detrimento do discurso das

condicionalidades. Some-se a isso o fato que Lipsky aborda: "os burocratas do nível de

rua têm discricionariedade porque a natureza da provisão de serviços requer um

julgamento humano que não pode ser programado e que não pode ser substituído por

máquinas". Ademais, conforme Ham e Hill (27) expõem, sem novos recursos,

burocracias reagem às novas atribuições e ajustam as leis às suas próprias capacidades.

Sendo assim, esses problemas deveriam afetar o desempenho da burocracia da

assistência social no PBF. Por que não afetam? Mesmo estando em desacordo com as

regras impostas, tendo sido este também o caso dos professores, uma possível

explicação é que os agentes assimilaram a importância do seu papel na política a partir

da noção que a aplicação das regras valorizou a sua função social - ou como Merton

(Apud Ham e Hill, 1993) cafirma: "Eles podem estar pondo em prática decisões

políticas com as quais não concordam; eles enfrentam um público que, normalmente,

não pode ir a outro lugar se suas exigências não são satisfeitas; a justiça de seus atos é

aberta ao escrutínio público, pelos políticos e, por vezes, pelos tribunais. Eles estão,

portanto, sob uma pressão particular para assegurar que seus atos estejam em

conformidade com as regras".

Assumindo que o PBF é um problema de principal-agente, duas questões de interesse

emergem: A relação principal-agente mudou no tempo? Houve algum impacto

institucional em razão da manutenção e enforcement de regras? No que concerne à

primeira questão a resposta é sim. O lançamento da política em 2003 e a rápida adesão

municipal e estadual ocorrida em 200521 revelou na verdade um cenário de dificuldades

operacionais e problemas de vazios de implementação. Naquele período o governo

federal apontava que ainda haviam milhões de famílias não cadastradas no CadÚnico e

cobrava, portanto, uma postura mais eficiente das prefeituras chegando a implantar

alguns incentivos financeiros temporários. Entretanto, o contrato entre as partes não

estabelecia naquele momento mecanismos de incentivo seletivo ou de punição. O

reexame do contrato pelo principal e a inclusão do Índice de Gestão Descentralizada

20 O relatório de pesquisa Estudo das Condicionalidades do Programa Bolsa Família. Permanência e Saída no Programa Bolsa Família: Características das famílias beneficiárias que continuam e saem do programa devido ao cumprimento e não cumprimento das regras de condicionalidades, confirma a concepção negativa dos profissionais da assistência social sobre o papel do Estado em termos da exigência das condicionalidades para grupos vulneráveis da população. 21 Adesão de todas as unidades federativas e de 99% dos municípios. Fonte: MDS.

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(IGD)22 funcionou como um instrumento norteador da qualidade da gestão, mas ao

mesmo tempo como um sistema de monitoramento dos agentes. Ao gerar fortes

incentivos na forma de repasses financeiros mensais o principal modelou o

comportamento dos agentes e consequentemente minorou as relações conflituosas entre

ambos. Segundo Waterman e Meier (9) todas as relações entre política e burocracia não

são um caldeirão de conflitos porque o meio ambiente de interação é dinâmico e os

conflitos variam de acordo com o grau de informações que as partes possuem. Este

parece ter sido o processo que ocorreu com o programa à luz da teoria principal-agente.

Os resultados institucionais podem ser vistos na forma como o desenho original do

programa foi mantido tendo passado por algumas mudanças quando ajustes

incrementais foram necessários. Os ajustes acabaram funcionando como feedbacks

positivos e minizaram conflitos e assimetrias de informação. Podem ser pensados

também no sentido da qualidade das regras escritas, relativamente simples de serem

entendidas pelo público alvo e aplicadas pela burocracia. Embora o PBF tenha sido

criado por uma medida provisória num modelo típico top down a equipe responsável

pela definição do contrato teve a capacidade de dialogar com os setores da política e

minimizar custos de transação.

Conclusões A análise do Programa Bolsa Família sob a perspectiva de principal-agente permite

extrair conclusões preliminares do ponto de vista da contribuição teórica e empírica a

esse campo de investigação. Uma contribuição teórica chama a atenção para a utilidade

do modelo em análises sobre o controle da burocracia entre esferas de governo

distintas. Conclui-se que é possível adaptar o modelo para capturar a dinâmica das

relações entre os atores, por exemplo, por meio da aplicação de police-patrol e fire-

alarm. Uma evidência é que em situações onde a patrula da política é forte, o principal

aprende e muda o contrato, fato que ocorreu com a política aqui examinada. O

conhecimento sobre a teoria permite um importante alerta aos estudos tradicionais da

ciência política que em geral identificam conflitos entre instituições mas trata as

variáveis desse jogo político como constantes no tempo. A limitação em cobrir bem os 22 O IGD pode ser definido como um instrumento de incentivo seletivo que apoia a gestão do PBF por meio de um repasse financeiro mensal, realizado fundo a fundo e calculado com base no número de acompanhamento das condicionalidades de saúde e educação de cadastros efetivamente validados.

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fatos empíricos geram análises inadequadas. O alerta vai então no sentido da apropriada

seleção das variáveis, mas também para o cuidado em notar suas transformações no

tempo. Com isso, a literatura tem dedicado pouco espaço para investigações que

apontem os resultados institucionais, sobretudo em políticas públicas nacionais.

Resultados institucionais, conforme discutido anteriormente, devem ser entendidoe

como processos de aprendizado das burocracias sobre práticas rotineiras de políticas. O

aprendizado em jogos políticos duradouros não atinge somente os agentes burocráticos,

mas também os principais, o que contribui para a diminuição dos conflitos e da

assimetria de informações entre as partes. Como alertam Shepsle e Bonchek (7),

analisar os resultados institucionais de uma política exige a combinação de abordagens

teóricas complementares. O modelo principal-agente possibilita entender as estratégias

institucionais e comportamentos dos atores ao juntar ambas as noções da política das

políticas e da política da administração. Compreende-se como uma contribuição

empírica uma análise do comportamento da burocracia do PBF frente ao dever de

aplicar regras de sanção a públicos beneficiários. O estudo lança um primeiro olhar para

os agentes públicos locais e para as estratégias de ação das instituições centrais que

objetivam controlar a policy delegando e controlando o desempenho das burocracias.

Contudo, para se avançar na análise, é imprescindível um mapeamento do perfil da

burocracia que atua prioritariamente no programa. Dados do quantitativo de pessoal,

taxa de êxodo, faixa de rendimento salarial, filiação partidária, tempo de atuação na

administração pública e na função são variáveis importantes para se mensuarar mais

adequadamente os fatores que explicam as atitudes da burocracia municipal frente aos

mecanismos de accountability impostos pelo principal. Portanto, há espaço para um

frutífera agenda de pesquisa. Uma limitação a apontar é que o estudo não problematizou

a definição institucional do principal, tratando-o como uma ator único, no caso o

governo federal que na verdade é representado pelo MDS, MEC e MS. No mesmo

sentido tratamos aqui todos os 5565 governos municipais como um agente único, não

relativizando as diferenças das instâncias administrativas. Este apontamento é relevante

porque, como alerta a literatura, as estratégias e constrangimentos das instituições e

atores varia significativamente.

Por fim é importante salientar que o custo de modelar o comportamento dos agentes é

maior quando o número de agentes é expressivo e quando há mudanças porque suas

características e estratégias importam na dinâmica de relação com o principal. No caso

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do PBF não houve mudança do principal porque o mesmo governo implementou a

política, mas houve muita mudança no quadro de agentes em razão da troca de partidos

e do êxodo de gestores. Contudo o que é notável é que mesmo diante dessas mudanças a

qualidade da implementação do programa se manteve porque conforme o estudo

demonstrou, as regras importam.

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