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REGISTROS IMAGÉTICOS NA ESCRITA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Rísia Rodrigues Silva Monteiro1
Marluce de Souza Lopes2
INTRODUÇÃO
Este artigo aborda o uso de fotografias, vídeos e outras fontes imagéticas em pesquisa
no campo da História da Educação. Apresenta parte dos procedimentos metodológicos de um
estudo que investigou as práticas educativas postas em circulação nos primeiros programas
infantis apresentados por Nazaré Carvalho nas TVs sergipanas na década de 1970. Sabendo-se
que a educação se dá em outros níveis que não apenas o escolar, a pesquisa buscou conhecer e
analisar os programas Clube Júnior (TV Sergipe) e Nosso Mundo Infantil (TV Atalaia), e
entender a contribuição da apresentadora enquanto educadora não formal.
Este estudo versa sobre a construção metodológica da pesquisa empreendida, e
objetiva demonstrar a relevância que os arquivos pessoais, fotografias e vídeos, quando
devidamente interrogados e analisados, assumem em uma investigação. A história oral
também ocupou papel de destaque nesta investigação que seguiu os pressupostos da História
Cultural. Representações, memória, História e documento são categorias utilizadas neste
artigo, que tomou como principais referenciais teóricos Le Goff, Kossoy, Chartier, Burke,
Bosi, Pollack e Halbwachs.
As emissoras de TV Sergipe e Atalaia não preservaram a memória dos seus primeiros
anos de implantação, e nenhuma imagem (vídeo) dos programas infantis pesquisados foi
localizada. Diante dessa carência, os arquivos pessoais da apresentadora, de ex-participantes
dos programas, arquivos de jornais e escolares trouxeram pistas relevantes para compreensão
da história. Aliada a essas fontes, a história oral ocupou lugar de destaque nos procedimentos
metodológicos. Buscou-se conhecer a memória de quem viveu a fase de implantação das
emissoras de TV no estado. Durante as entrevistas, os arquivos pessoais foram sendo
revelados.
Não se ignorou na pesquisa que, como aponta Bosi, “a memória oral, longe da
unilateralidade para qual tendem certas instituições, faz intervir pontos de vista contraditórios,
1 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). 2 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
pelo menos distintos entre eles, e aí se encontra sua maior riqueza” (BOSI, 2003, p.15).
Também não se desconsideraram as armadilhas que podem envolver o pesquisador de história
oral. “A memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o
passado para servir o presente e ao futuro ( LE GOFF, 2003, p.471).
Assim, foi mantida vigilância constante para que as memórias dos entrevistados não
fossem tomadas como verdades irrefutáveis. As fontes têm suas intenções. Portanto, é preciso
interrogar os fatos e checar as evidências (THOMPSON, 1981).
Foram realizadas 68 entrevistas, catalogadas em dois grupos: um dos amigos,
familiares, ex-colegas de profissão e da própria apresentadora, e o outro dos ex-participantes e
ex-telespectadores dos programas infantis. Memórias individuais e seus processos
constitutivos (POLLACK,1992; HALBWACKS, 1990) foram relevantes na escrita da história
da Educação Infantil na TV sergipana, pois, mesmo que se deva muito à memória coletiva, “ é
o indivíduo que recorda. Ele é o memorizador e das camadas do passado a que tem acesso
pode reter objetos que são, para ele, e só para ele, significativos dentro de um tesouro
comum” (BOSI, 2001, p.411).
A todos os documentos utilizados na pesquisa, foi dado o tratamento preconizado por
Le Goff (2003). Ele ensina que todo documento é um monumento e, como tal, precisa ser
desmontado considerando cuidadosamente as possíveis intencionalidades no processo de
montagem.
Documentos escolares e profissionais foram identificados no departamento de
Inspeção Escolar da Secretaria de Estado da Educação de Sergipe, Instituto de Educação Rui
Barbosa (IERB), Colégio Dom José Tomaz, TV Atalaia e Rádio Cultura de Sergipe. No
Colégio Frei Anselmo, foi localizado um troféu de participante do programa “Nosso Mundo
Infantil” (TV Atalaia).
Em busca do Estado da Arte, foram visitados acervos da Biblioteca Central da
Universidade Federal de Sergipe (UFS), Departamento de Comunicação da UFS, Programa de
Pós-Graduação em Educação da UFS, Biblioteca Jacinto Uchôa da Universidade Tiradentes
(Unit), Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) e as edições do Congresso Brasileira de História da Educação.
Exceto por um artigo que versava sobre os resultados parciais desta pesquisa, nenhum outro
trabalho com o mesmo objeto foi identificado. No entanto, dialogou-se com estudos que
abordavam objetos relacionados. Pois, como ensina Brandão (1999, p.183): “Não se progride
hoje quase em nenhum campo científico sem a interlocução com áreas circunvizinhas”.
Assim, foram eleitos trabalhos que abordavam educação, televisão, rádio, regime militar,
música e cantigas de roda, desenhos animados, fotografias, formação de docentes, gincanas
escolares, gênero, Educação Infantil, Intelectuais na Educação, entre outros.
Na pesquisa que resultou em dissertação, foram utilizadas 50 imagens, entre
fotografias de arquivos pessoais, escolares, de veículos de comunicação, ilustrações, print
screen, sites, documentários3, entrevista em vídeo com Nazaré Carvalho e outros materiais
imagéticos colhidos no youtube.
O material fotográfico não foi tratado como mera ilustração. Fotografias e vídeos
assumiram forma de evidência histórica (BURKE, 2004), sem, entretanto, desconsiderar a
necessidade de ir além do que é visto. Como lembra Kossoy (2007; 2009), é preciso levar em
conta o processo de construção da representação e da ficção documental. É necessário fazer
uma desmontagem do signo fotográfico. Pois uma foto é também uma representação e traz
ainda o filtro cultural do fotógrafo. As oito fotos selecionadas para escrita deste artigo,
devidamente tratadas, assumiram status de documentos.
Esta comunicação foi estruturada em dois eixos. O primeiro, utilizando principalmente
fotografias de arquivo pessoal da apresentadora, aborda a trajetória pessoal, escolar e
profissional de Nazaré Carvalho. O segundo, fazendo uso de arquivos pessoais, públicos e
outras fontes, dá conta da chegada da televisão ao estado e dos primeiros programas
televisivos infantis de Sergipe.
1 DE MARIA DE NAZARÉ A “TIA NAZARÉ”
De um álbum de fotografias de Nazaré Carvalho vem o único registro fotográfico que
ela guarda da infância. Mas, como ensina Kossoy: “Uma única imagem contém em si um
inventário de informações acerca de um determinado momento passado; ela sintetiza no
documento um fragmento do real visível, destacando-o do contínuo da vida” (2009, p.105). A
análise iconográfica situa-se ao nível da descrição, já a análise iconológica envereda pela
interpretação buscando o significado do conteúdo. Ambas vão ajudando a escrever a história.
Na figura 1 (a seguir), vê-se Maria Nazaré de Carvalho com um ano e quatro meses de
idade. Filha de uma professora, cedo ela freqüentou o ambiente escolar. Na foto, a menina
3 No vídeo TV Sergipe- 35 anos Nossa História (2006) é relatada a história da implantação da primeira emissora
de TV do estado. Mais de 70 entrevistas foram realizadas para o material produzido por Dida Araújo e equipe.
Dida Araújo, ou Demóstenes Silva de Araújo, é editor de imagens, cinegrafista, produtor e documentarista.
Trabalhou na TV Sergipe por mais de três décadas. Foi também o idealizador do documentário. Atualmente
dirige a TV Aperipê e cursa Comunicação Social- Audiovisual na Universidade Federal de Sergipe.
No vídeo Terras Serigy (2014) é abordada a vida profissional do apresentador e cantor Goiabinha. Foi no
programa Carrossel Infantil, apresentado na Rádio Jornal por Goiabinha, que Nazaré Carvalho teve suas
primeiras experiências com o público infantil.
Nazaré posa em cima de uma antiga carteira escolar, provavelmente em uma das escolas que
a mãe ensinou. Examinando a fotografia elaborada, indícios do esmero materno. A “menina-
boneca” da foto tem os cabelos escorridos e franjinha bem aparada, vestido, sapato e meias
arrumados. Na mão, um ramo retirado da foto ao fundo, servindo de flor, e o olhar atento para
o registro. No verso da foto, sua mãe escreveu: “A minha vovó. Com um beijinho de sua
netinha na idade de 1 ano 4 mêses. Maria de Nazareth Carvalho4. Cumbe 21.12.1950”.
Nazaré Carvalho nasceu no município de Nossa Senhora das Dores, médio sertão
sergipano, em 25 de agosto de 1949. Aos quatro anos de idade, mudou com a mãe, dona
Maria Terezinha de Carvalho, o padrasto (um policial militar), e os quatro irmãos para
Aracaju. A mãe, funcionária do Estado, fora transferida para a capital. Nazaré, a filha mais
velha, foi alfabetizada pela mãe, fez o primário na Escola Normal, o ginásio no Colégio
Senhor do Bonfim e o pedagógico no Instituto de Educação Rui Barbosa e Colégio Dom José
Thomas. Frequentou como ouvinte disciplinas no Colégio Atheneu e graduou-se em Letras na
Universidade Federal de Sergipe.
Figura 1- Maria Nazaré de Carvalho (1959)
Fonte: Acervo de Nazaré Carvalho.
Autoria desconhecida.
4 A grafia correta do nome é Maria Nazaré de Carvalho. Maria de Nazareth Carvalho é como a avó materna
gostaria que a neta fosse registrada.
Na adolescência, a convivência com a mãe não foi das melhores. Pouco afetiva e
enérgica em excesso, segundo Nazaré, ela cobrava perfeição dos filhos. O pai biológico ela só
conheceria na pré-adolescência. A relação com a mãe se tornou mais difícil quando, aos 16
anos de idade, Nazaré engravidou. A reconciliação só viria muitos anos depois, ela já como a
famosa “tia Nazaré”.
Convidada a deixar a casa da família Nazaré e a filha foram acolhidas por uma
vizinha. Era preciso trabalhar para prover o sustento das duas. O primeiro emprego foi
vendendo cera em domicílio. O segundo foi como caixa em um supermercado, onde Nazaré
conheceu do comunicadores Hélio Fernandes e Humberto Mendonça que a convidaram para
um teste na Rádio Cultura de Sergipe. Dona de uma bonita voz e dicção perfeita, ela foi
aprovada e passou a apresentar o programa “Boa tarde, madame” , de segunda a sexta-feira,
das 16h às 16h30. Na figura 2 (a seguir), um registro do livro de admissão de Nazaré
Carvalho na Rádio Cultura.
Figura 2- Registro do livro de admissão de
locutores na Rádio Cultura de Sergipe (1967)
Fonte: Acervo da Rádio Cultura de Sergipe
No programa “Boa tarde, madame,” Nazaré dava conselhos ao público feminino e se
familiarizava com o rádio. Em poucos meses, Nazaré deixou a Rádio Cultura e passou a
integrar a equipe da Rádio Jornal. Ali ela teria a primeira experiência com o público infantil,
trabalhando ao lado do locutor Jairo Alves como ajudante do programa “Carrossel da Alegria”
apresentado pelo então famoso Erílio Alves, o Goiabinha. Era um programa radiofônico
transmitido do auditório do Instituto Historiográfico de Sergipe. Contou Jairo Alves Almeida:
“A cada domingo convidávamos duas três, quatro escolas. [...] O que é
que tinham nesses programas? As crianças podiam trazer
apresentações, das escolas, poesias, esquetes, poderiam participar de
quadro de calouros para revelar cantores e havia uma vasta
distribuição de brindes. E tinha um regional ao vivo [...] para animar a
platéia (ALMEIDA, 2014).
No print screen abaixo, produzido a partir do DVD Terras Serigy, Nazaré Carvalho e
Jairo Alves atuam como assistentes do apresentador Goiabinha. No registro, testemunha
ocular dos fatos, a ratificação do que disseram entrevistados na pesquisa. O quadro, na foto
central, indica que se trata do auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Crianças de fardamento escolar confirmam a participação de colégios nos programas.
Figura 3- Realização do Programa
Carrossel Infantil (196?)
Fonte: DVD Terras Serigy
Segundo Raymundo Luiz, diretor da Emissora à época, na Radio Jornal Nazaré fazia
de tudo um pouco. Era assistente de programas de auditório, locutora e chefe do escritório:
“[...] Nazaré era ‘carregadora de piano’[...] sem qualquer tipo de ostentação, modesta,
eficiente no que fazia. Passava o dia na rádio” ( SILVA, 2015).
À noite, Nazaré continuava os estudos. Nos arquivos da Inspeção Escolar da Secretaria
de Educação do Estado e dos Colégios Dom José Thomaz e Escola Normal, foi possível
conhecer a vida escolar da comunicadora. No ginásio, cursado no Colégio Senhor do Bonfim,
Nazaré teve uma frequência irregular, tendo evadindo-se duas vezes; uma delas por ocasião
do nascimento da filha. No primeiro ano do curso de Formação de Professores no Instituto de
Educação Rui Barbosa, a Escola Normal, Nazaré teve um bom desempenho. O segundo e o
terceiro ano foram cursados do no Colégio Dom José Thomaz. Nos arquivos da instituição,
no dossiê da aluna onde a foto abaixo (figura 4 ) foi anexada consta que ela estudou no 2º ano
do Pedagógico: Português, Matemática, Biologia, Didática, História da Educação,
Administração Escolar, Educação Moral e Cívica e Psicologia. Sua média final foi 8,6, a 8ª
maior nota da turma de 39 alunos.
Figura 4- Fotografia do Dossiê
Escolar de Nazaré Carvalho no
Colégio Dom José Thomaz
Fonte: Acervo do Colégio Dom
José Thomaz
No registro fotográfico da figura 4, Nazaré Carvalho já aparece de cabelos bastante
curtos, o que viria a ser uma de suas características físicas até os dias atuais. No último ano
Pedagógico Nazaré estudou Estatística, Estudos Sociais, Didática, Filosofia, Português,
Higiene e Práticas de Ensino. Sua média final foi 6,4.
Enquanto se forjava professora primária, Nazaré permanecia nas ondas rádio e
marcava presença na fase de implantação da primeira emissora de TV do estado: a TV
Sergipe.
2 SERGIPE GANHA EMISSORAS DE TV E SEUS PRIMEIROS PROGRAMAS
INFANTIS
A primeira emissora de TV implantada no Estado foi a TV Sergipe. Antes de ter seu
canal local as imagens chegavam a Sergipe da TV Jornal do Commercio de Recife. Eram
poucos aparelhos de televisão no estado. Eles eram muito caros e possuir um televisor “era
quase um distintivo social” (COSTA, 2015).
Programas locais de auditório integravam a programação da fase experimental da
emissora. Com poucos equipamentos, muito improviso e profissionais oriundos do rádio a TV
era colocada no ar. Entre os profissionais estava Nazaré Carvalho. Quando a televisão foi
inaugurada, em 15 de novembro de 1971, Nazaré foi convidada para comandar o programa
Infantil Clube Júnior. A atração durava inicialmente 30 minutos e começava por volta das
16h. Sob orientação de Luiz Carlos Campos, publicitário que tinha vindo de São Paulo para
assumir a parte comercial e artística da TV, Nazaré Carvalho comandava o programa.
Exibição de desenhos animados, de desenhos e cartinhas enviadas por telespectadores e
apresentações artísticas infantis faziam parte do programa. “Tia Nazaré” elogiava o talento
dos pequenos, as letras das cartas, os desenhos e dava conselhos para as crianças. O sucesso
foi tanto que logo a programação foi ampliada para 50 minutos de duração.
Do Clube Júnior não há imagens em vídeo. Os poucos registros fotográficos existentes
são do arquivo da apresentadora. O programa foi ar até 1974, quando Nazaré deixou a
emissora para ingressar no novo canal que seria implantado: a TV Atalaia.
Figura 5- “Tia Nazaré” em visita ao Colégio Pequeno
Escolar (1972)
Fonte: Acervo de Nazaré Carvalho.
O registro da figura 5 endossa a popularidade que os entrevistados dizem que a
apresentadora tinha entre as crianças e adultos. Todos queriam ser fotografados com a “Tia
Nazaré”, que também visitava escolas e apresentava eventos pelo estado.
Figura 6- Nazaré Carvalho apresenta o concurso
Rainha da Laranja em Boquim (1975)
Fonte: Acervo de Lígia Fontes
Lígia Fontes, a jovem que aparece na figura 6, revelou: “Era o acontecimento anual da
cidade de Boquim, e a presença de Nazaré valorizava ainda mais o evento. Também na
televisão, Nazaré encantava os telespectadores. Relembrou Edwilma Santos: “[...] a gente
assistia em Boquim ainda numa TV preto e branco. Ela era uma estrela pra gente” (SANTOS,
2014).
Nas representações de Lígia, de Edwilma e de outros entrevistados a atuação de
Nazaré é comparada a de uma estrela. Representações aqui tomadas no entendimento de
Chartier: “Não são simples imagens verdadeiras ou falsas, de uma realidade que lhes seria
externa; elas possuem uma energia própria que leva a crer que o mundo ou o passado e,
efetivamente, o que dizem que é” (CHARTIER, 2009, p.51-52).
A segunda emissora a ser implantada no estado foi a TV Atalaia, em 17 de maio de
1975. Na nova emissora, Nazaré ganhou o programa “Nosso mundo infantil”. Músicas
brincadeiras desenhos, gincanas culturais, prêmios e mais tempo no ar. De segunda a sexta-
feira, das 15h às 17h, as crianças, acompanhadas de seus professores ou responsáveis, lotavam
o estúdio da TV Atalaia para participar do programa. Mais estruturado tinha produção e maior
protagonismo infantil. Nos diversos quadros, as crianças faziam apresentações artísticas,
entrevistavam convidados, debatiam assuntos diversos e participavam das famosas gincanas
culturais escolares. Duas escolas por vez, respondiam sobre temas previamente sorteados e
cumpriam tarefas também recebidas anteriormente. Os assuntos eram relacionados com as
datas comemorativas do mês em curso.
As gincanas escolares eram o ponto alto da participação do público pré-adolescentes.
Alunos e professores se envolviam na preparação. Cinco de cada escola responderiam as
perguntas sorteadas sobre o tema e o restante ficaria na torcida e na apresentação das tarefas.
Vencia quem fizesse mais pontos. O prêmio era um troféu.
Figura 7- Troféu Gincana Cultural TV Atalaia Nosso Mundo Infantil
E. Frei Anselmo
Fonte: Acervo de Rísia Rodrigues. Registro feito no Colégio Frei Anselmo
O troféu tem cerca de 30 cm de altura, é de madeira e destaca em metal uma representação da
vitória com a inscrição: “Honra ao mérito”. Os participantes entenderiam depois que estavam
ganhando mais do que diversão e troféus.
Sobre sua participação nas gincanas culturais, relatou Maria Auxiliadora Alves Nunes,
que foi pelo Educandário Duque de Caxias e respondeu à respeito da “ Revolução de 1964”:
“A gente matou a pau, mesmo, sabe? A gente estudava como Re-vo-lu-ção. Não era golpe. E
o que se aprendia do Comunismo? Assim, que era péssimo, que o Brasil foi salvo [...].Quase
que foi o povo que fez. Que não foi, né?” (NUNES, 2014).
Não foram identificados registros fotográficos das gincanas, mas as narrativas dão
conta da escrita sobre as disputas. É pertinente lembrar que os programas Clube Júnior e o
Nosso Mundo Infantil foram veiculados no período em que se vivia no Brasil a ditadura
militar. Portanto, os conteúdos dos programas televisivos, inclusive os infantis, eram
censurados e “acompanhados” tal como acontecia também nas escolas e em outros espaços.
Do Nosso Mundo Infantil foram localizadas fotografias de apresentações escolares
como a da figura 8 (a seguir).
Figura 8- Escola Santa Joana D’Arc no “Nosso Mundo Infantil” (1976)
Fonte: Acervo de Lígia Fontes. Autor Luiz Carlos Moreira
A professora Lígia Fontes à esquerda; o diretor da escola, Hamilton
Luduvice, Nazaré Carvalho e um trio pé de serra.
Sobre o registro da figura 8 comentou a professora Lígia Fontes: “Levamos a música
que estávamos ensaiando para o São João [...]. Eram programas educativos de alguma forma
[...] nos programas eles aprendiam a como se comportar fora do ambiente escolar e isso é
educação” (FONTES, 2015).
Em uma breve análise imagética, é possível acrescentar indícios e informações: o São
João, como outros festejos locais, eram incentivados e valorizados no programa como relatam
entrevistados, a participação das escolas envolviam professores e alunos; o protagonismo
infantil era constante. O cenário do estúdio apresentado na fotografia é simples e quase
improvisado: uma mistura de motivos juninos e personagens de desenhos nacionais e
internacionais (Maurício de Souza e Walt Disney).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para quem foi criança ou adolescente na década de 1970 no estado e assistiu aos
programas Clube Júnior, da TV Sergipe (1971-1974), e Nosso Mundo Infantil, na TV Atalaia
( a partir de 1975 até as primeiras décadas de 1980), o nome da “tia Nazaré” remete de
imediato a boas recordações. O clima de diversão dos programas, a exibição de desenhos
animados, brincadeiras, ensinamentos e a realização das gincanas culturais escolares foram
temas recorrentes nas entrevistas colhidas durante a pesquisa. Levando em consideração que a
educação se dá em outros espaços que não apenas o escolar conclui-se que nos programas
apresentados por Nazaré Carvalho circularam práticas educativas.
Concluiu-se também que o acesso a arquivos pessoais, com destaque para os registros
fotográficos e vídeos assumiram destaque entre as fontes que possibilitaram a escrita dessa
história, principalmente diante da inexistência de vídeos dos programas pesquisados.
REFERENCIAS
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BURKE, Peter. O que é História Cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. 2005.
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CHARTIER, Roger. A História ou a leitura do tempo. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
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FONTES
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COLÉGIO DOM JOSÉ THOMAZ. Dossiê escolar de Nazaré Carvalho, Curso Pedagógico.
COLÉGIO DOM JOSÉ THOMAZ. Fotografia do acervo do Colégio Dom José Thomaz.
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FONTES, Lígia. Entrevista concedida à Rísia Rodrigues Silva Monteiro em 2015.
FONTES, Lígia. Fotografias do acervo de Lígia Fontes.
MONTEIRO, Rísia Rodrigues Silva. Fotografia do acervo de Rísia Rodrigues Silva
Monteiro.
NUNES, Maria Auxiliadora Alves. Entrevista concedida à pesquisadora em 2014.
RADIO CULTURA. Fotografia do acervo da Rádio Cultura.
SANTOS , Edwilma Araujo dos. Entrevista concedida à pesquisadora em 2015.
SERGIPE. Divisão de Inspeção Escolar (DIESP-SEED/SE). Dossiê escolar de Nazaré
Carvalho, Colégio Senhor do Bonfim.
SILVA, Raymundo Luiz da. Entrevista concedida à pesquisadora em 2015.
TERRAS SERIGY. Goiabinha. Edição de Dida Araújo e Fernando Petrônio. Aracaju, SE. TV
Sergipe. 2014. DVD (15min50).
TV SERGIPE. – 35 ANOS - Nossa História. Direção, Roteiro e Edição de Dida Araújo;
Coordenação de produção de Fernando Petrônio; Direção de imagem de Humberto Alves.
Aracaju, SE. Núcleo de Produções Especiais da TV Sergipe. 2006. DVD (88min).
TV SERGIPE. DVD Terras Serigy, Fotografia Print Screen, 2014.