registros de anzóis de pesca em pinguins-de-magalhães (spheniscus magellanicus)

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REGISTROS DE ANZÓIS DE PESCA EM PINGUINS-DE-MAGALHÃES (Spheniscus magellanicus) NO SUDESTE DO BRASIL MAYORGA LFSP¹, BHERING RCC¹, JESUS EC¹, MEDEIROS LCC¹, OLIVEIRA TB², MARQUES CA³ 1- Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos (IPRAM), Vitória, ES – Brasil. E-mail: [email protected] 2- Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Espírito Santo. E-mail: [email protected] 3- Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA - Brasil. E-mail: [email protected] Nos últimos anos a proporção dos arribamentos de pinguins- de-magalhães (Spheniscus magellanicus) debilitados no litoral brasileiro tem aumentado expressivamente. Nos últimos anos o IPRAM criou uma estrutura para responder a essa demanda, recolhendo informações dos animais atendidos tanto em triagem quanto em exame necroscópico. O conjunto de informações obtidas configura os pinguins-de-magalhães como excelentes sentinelas da saúde do ambiente marinho, e dentre essas informações temos registrado episódios de interação entre os pinguins e pescarias que adotam anzóis. Em 2010 foram registrados dois pinguins com anzol em formato de “J” em esôfago e conteúdo estomacal. O primeiro deu entrada com um espesso fio de nylon pendente pela orofaringe; o anzol foi detectado por exame radiográfico e o indivíduo morreu por complicações cirúrgicas na tentativa de remoção. O segundo

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REGISTROS DE ANZIS DE PESCA EM PINGUINS-DE-MAGALHES (Spheniscus magellanicus) NO SUDESTE DO BRASIL

MAYORGA LFSP, BHERING RCC, JESUS EC, MEDEIROS LCC, OLIVEIRA TB, MARQUES CA

1- Instituto de Pesquisa e Reabilitao de Animais Marinhos (IPRAM), Vitria, ES Brasil. E-mail: [email protected] Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hdricos (IEMA), Governo do Esprito Santo. E-mail: [email protected] Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhus, BA - Brasil. E-mail: [email protected]

Nos ltimos anos a proporo dos arribamentos de pinguins-de-magalhes (Spheniscus magellanicus) debilitados no litoral brasileiro tem aumentado expressivamente. Nos ltimos anos o IPRAM criou uma estrutura para responder a essa demanda, recolhendo informaes dos animais atendidos tanto em triagem quanto em exame necroscpico. O conjunto de informaes obtidas configura os pinguins-de-magalhes como excelentes sentinelas da sade do ambiente marinho, e dentre essas informaes temos registrado episdios de interao entre os pinguins e pescarias que adotam anzis. Em 2010 foram registrados dois pinguins com anzol em formato de J em esfago e contedo estomacal. O primeiro deu entrada com um espesso fio de nylon pendente pela orofaringe; o anzol foi detectado por exame radiogrfico e o indivduo morreu por complicaes cirrgicas na tentativa de remoo. O segundo tinha um anzol solto no estmago, detectado apenas em necropsia. Em 2012 foram registrados sete pinguins com anzis em formato de J e um pinguim com uma garatia de trs pontas. Dentre esses casos, apenas um dos pinguins deu entrada com um espesso fio de nylon pendente pela orofaringe e anzol detectado ao exame radiogrfico, sendo eutanasiado durante a cirurgia devido ao mau prognstico. Os demais pinguins s tiveram os anzis detectados aps o bito, em exame necroscpico. Neste grupo, em geral, os anzis estavam em esfago ou estmago sem o fio de nylon, ou ento presos a um segmento curto de nylon cortado. Um desses pinguins de diagnstico tardio viveu quase uma semana em cativeiro, ativo, ereto e comendo peixes inteiros. Seu anzol estava perfurando a parede do esfago, na altura da base do corao. No sexto dia, ao ingerir um peixe o anzol se moveu e rompeu o tronco braquiceflico, causando intensa hemorragia interna. O pinguim foi eutanasiado j em choque hipovolmico, com jorros de sangue saindo pela orofaringe. Em 2013 foram registrados quatro pinguins com anzol em formato de J, e um quinto pinguim com anzol de aspecto desconhecido possivelmente na orofaringe, que foi removido por terceiros antes de dar entrada no IPRAM. Dentre os quatro pinguins com anzol em J, apenas um tinha um espesso fio de nylon pendente pela orofaringe, teve o anzol detectado em exame radiogrfico e foi eutanasiado aps um debate veterinrio concluir que as chances de sucesso cirrgico eram baixas. Os outros trs pinguins s tiveram os anzis detectados necropsia. Em vrios desses casos relatados os anzis alojados em estmago ou esfago causaram discretas perfuraes em parede, infeccionando sacos areos adjacentes e cavidade celomtica, agravando o quadro clnico de pinguins recm-arribados e contribuindo para o bito. importante destacar que existem relatos de intervenes cirrgicas bem-sucedidas em pinguins com corpo estranho, mas que no contexto do presente trabalho, lida-se com pinguins caquticos com poucas reservas energticas, hipotrmicos e anmicos, o que os torna pssimos candidatos cirrgicos. No total, 13 dentre os 15 anzis registrados tem formato de J, medem de 6 a 9 centmetros de altura, estavam em pinguins arribados no litoral do Esprito Santo (ES) e do Rio de Janeiro (RJ) e provavelmente so originrios da pesca comercial ocenica que atua na regio. Bugoni e colaboradores (2008) registraram 7 diferentes artes de pesca adotadas pela frota de Itaipava (ES) que fazem uso de anzis em formato J e interagem negativamente com aves e tartarugas marinhas. Aparentemente, nestes casos particulares, os pescadores cortaram os filamentos de nylon dos pinguins fisgados. Essa atitude observada entre os pescadores no manejo de outros txons de vertebrados marinhos capturados incidentalmente. Todavia, existem registros de pescadores que realizam mutilaes para recuperao dos artefatos, quando capturam espcies que no tenham valor comercial (e.g. tartarugas, raias e outras espcies de aves marinhas albatrozes e petris).