registro históri co da atividade de assessoria de im

6
231 Registro históri- co da atividade de assessoria de im- prensa no Piauí Notas históricas de la actividad del ase- soramiento de Prensa en la Província de Piauí Tersandro Vilela LIMA 1 Francisca Aparecida Ribeiro CALAND 2 Resumo : Este trabalho apresenta o processo de insti- tucionalização da assessoria de imprensa (AI) no Piauí, desde os pilares iniciais às práticas oficiais da atividade no Estado. Para tanto, foram pesquisados diversos fatos históricos, na perspectiva de identificar acontecimentos evidentes ao início da atividade de AI, tendo como re- ferência os autores Duarte (2010), Kopplin e Ferrareto (2009) e Mafei (2007). No segundo momento, por meio das técnicas de revisão de literatura, compreendidas a partir de Pinheiro Filho (1997) e Sá (1987), complemen- tada com pesquisa de campo e entrevistas com jornalis- tas. Os resultados alcançados neste estudo apresentam evidências que caracterizam o surgimento das atividades de assessoria de imprensa no Piauí, além de constatar a existência da relação intrínseca entre a comunicação e a política. Palavras-chave: Assessoria de imprensa; História; Piauí. Resumen: En este trabajo se presenta el proceso de ins- titucionalización de la oficina de prensa (OP) en Piauí, ya que los pilares iniciales practica actividad oficial en el estado. Para ello, hemos investigado varios hechos his- tóricos, con el fin de identificar los eventos evidente al comienzo de la actividad de AI, con referencia a la Du- arte autores (2010), y Kopplin Ferrareto (2009) y Mafei (2007). En la segunda etapa, utilizando las técnicas de la 1 Jornalista, Graduado pela Faculdade Santo Agostinho – Teresina- PI. Atualmente é assessor de imprensa. E-mail: tv.assessoria@hot- mail.com 2 Mestranda do curso de Comunicação da Universidade Federal do Piauí (2012 – 2014). Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí. Pós-graduada em Comunicação, Turismo e Desenvolvimento Sustentável pela UFPI/UFRJ. Atual- mente é professora da Faculdade Santo Agostinho. E-mail: cidaca- [email protected] revisión de la literatura, desde Pinheiro Filho (1997) y Sa (1987), complementado por la investigación de campo y entrevistas con periodistas. Los resultados obtenidos en este estudio proporcionan evidencia de que caracterizó el surgimiento de las actividades de prensa en Piauí, además de señalar la existencia de la relación intrínseca entre la comunicación y la política. Palabras clave: Oficina de prensa, Historia, Piauí. Introdução O avanço da economia, o desenvolvimento tec- nológico e, principalmente, a evolução da comunicação proporcionam, entre outras circunstâncias, a alteração do nível cultural da sociedade em geral. Nesse contexto, a busca por informações tornou-se indispensável aos seres humanos. O fácil acesso aos conteúdos da web e suas ferramentas são responsáveis, em parte, pelo aumen- to considerável das assessorias de imprensa. Cerca de 50% dos jornalistas brasileiros, como menciona Duarte (2010), atuam nesse segmento da comunicação. O número apontado pelo autor demonstra a ne- cessidade e o interesse dos assessorados em subsidiar o contato com a mídia de forma profissional, além de evi- denciar o importante papel exercido pela AI frente aos meios midiáticos e, consequentemente, à sociedade. Ou- tro aspecto a ser considerado para justificar o número de profissionais jornalistas atuando na área são os processos evolutivos desse segmento da comunicação, no campo da profissionalização, uma vez que, no passado não tão distante, como lembra Duarte (2010), eram atribuídas aos profissionais práticas que geravam desconfiança e incompetência, o que comprometia a relação amigável entre os jornalistas 3 . A atuação de jornalistas em outras áreas da co- municação, ou seja, fora das redações dos veículos de comunicação, intensifica-se na década de 80, período de ascensão das AIs impulsionadas pelo processo de rede- mocratização do país que, de acordo com Duarte (2010), tornaram a informação e o relacionamento adequados das organizações indispensáveis para diferentes públicos. Duarte (2010) refere-se à primeira prática con- creta de AI no Brasil, ao mencionar o período em que impressos e o meio político vinculavam-se sob exa- cerbado engajamento, e cita o presidente Campo Sales (1892-1902) quando, em viagem à Europa, utilizou-se do serviço do jornalista Tobias Monteiro para divulgar suas ações no exterior. Já Kopplin e Ferrareto (2009) relacio- 3 Refere-se a assessor de imprensa e jornalista de meios de comuni- cação.

Upload: others

Post on 15-Nov-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

231

Registro históri-co da atividade de assessoria de im-prensa no PiauíNotas históricas de la actividad del ase-soramiento de Prensa en la Província de Piauí

TersandroVilelaLIMA1

FranciscaAparecidaRibeiroCALAND2

Resumo : Estetrabalhoapresentaoprocessodeinsti-tucionalizaçãodaassessoriade imprensa(AI)noPiauí,desdeospilares iniciaisàspráticasoficiaisdaatividadenoEstado.Paratanto,forampesquisadosdiversosfatoshistóricos,naperspectivade identificaracontecimentosevidentesao iníciodaatividadedeAI, tendocomore-ferênciaosautoresDuarte (2010),KopplineFerrareto(2009)eMafei(2007).Nosegundomomento,pormeiodas técnicas de revisão de literatura, compreendidas apartirdePinheiroFilho(1997)eSá(1987),complemen-tadacompesquisadecampoeentrevistascomjornalis-tas.Os resultados alcançados neste estudo apresentamevidênciasquecaracterizamosurgimentodasatividadesdeassessoriadeimprensanoPiauí,alémdeconstataraexistênciadarelaçãointrínsecaentreacomunicaçãoeapolítica.

Palavras-chave:Assessoriadeimprensa;História;Piauí.

Resumen: Enestetrabajosepresentaelprocesodeins-titucionalizaciónde laoficinadeprensa (OP)enPiauí,yaquelospilaresinicialespracticaactividadoficialenelestado.Paraello,hemos investigadovarioshechoshis-tóricos,conelfinde identificar loseventosevidentealcomienzodelaactividaddeAI,conreferenciaalaDu-arteautores(2010),yKopplinFerrareto(2009)yMafei(2007).Enlasegundaetapa,utilizandolastécnicasdela

1Jornalista,GraduadopelaFaculdadeSantoAgostinho–Teresina-PI.Atualmente é assessor de imprensa. E-mail: [email protected]çãodaUniversidadeFederaldoPiauí(2012–2014).BacharelemComunicaçãoSocial–JornalismopelaUniversidadeFederaldoPiauí.Pós-graduadaemComunicação,Turismo e Desenvolvimento Sustentável pela UFPI/UFRJ. Atual-mente éprofessoradaFaculdadeSantoAgostinho.E-mail: [email protected]

revisióndelaliteratura,desdePinheiroFilho(1997)ySa(1987),complementadoporlainvestigacióndecampoyentrevistasconperiodistas.LosresultadosobtenidosenesteestudioproporcionanevidenciadequecaracterizóelsurgimientodelasactividadesdeprensaenPiauí,ademásdeseñalarlaexistenciadelarelaciónintrínsecaentrelacomunicaciónylapolítica.

Palabras clave: Oficinadeprensa,Historia,Piauí.

IntroduçãoOavançodaeconomia,odesenvolvimentotec-

nológicoe,principalmente,aevoluçãodacomunicaçãoproporcionam,entreoutrascircunstâncias,aalteraçãodonívelculturaldasociedadeemgeral.Nessecontexto,abuscaporinformaçõestornou-seindispensávelaossereshumanos.O fácil acesso aos conteúdosdaweb e suasferramentas são responsáveis, em parte, pelo aumen-to considerável das assessorias de imprensa. Cerca de50%dosjornalistasbrasileiros,comomencionaDuarte(2010),atuamnessesegmentodacomunicação.

Onúmeroapontadopeloautordemonstraane-cessidadeeointeressedosassessoradosemsubsidiarocontatocomamídiadeformaprofissional,alémdeevi-denciaroimportantepapelexercidopelaAIfrenteaosmeiosmidiáticose,consequentemente,àsociedade.Ou-troaspectoaserconsideradoparajustificaronúmerodeprofissionaisjornalistasatuandonaáreasãoosprocessosevolutivos desse segmentoda comunicação, no campodaprofissionalização,umavezque,nopassadonãotãodistante, como lembra Duarte (2010), eram atribuídasaos profissionais práticas que geravam desconfiança eincompetência, o que comprometia a relação amigávelentreosjornalistas3.

Aatuaçãodejornalistasemoutrasáreasdaco-municação, ou seja, fora das redações dos veículos decomunicação,intensifica-senadécadade80,períododeascensãodasAIsimpulsionadaspeloprocessoderede-mocratizaçãodopaísque,deacordocomDuarte(2010),tornaram a informação e o relacionamento adequadosdasorganizaçõesindispensáveisparadiferentespúblicos.

Duarte(2010)refere-seàprimeirapráticacon-cretadeAInoBrasil,aomencionaroperíodoemqueimpressos e o meio político vinculavam-se sob exa-cerbado engajamento, e citaopresidenteCampoSales(1892-1902)quando,emviagemàEuropa,utilizou-sedoserviçodojornalistaTobiasMonteiroparadivulgarsuasaçõesnoexterior.JáKopplineFerrareto(2009)relacio-

3Refere-seaassessordeimprensaejornalistademeiosdecomuni-cação.

232

namaorigemdaatividadedeAIàdivulgaçãodascartasdadinastiaHaneàcirculaçãodo“Acta diurna” 4.

Quantoaoconceitodaatividade,autorescomoChinem(2003),associamomesmosignificadodeAsses-soriadeComunicação(AC)aodeAI.JáTorquato(2008),porexemplo,atribuiaACumadesignaçãomaisamplaabrangendoatividadesdeAI,PublicidadeePropaganda(PP), Relações Públicas (RP), Editoração eMarketing.ParaaFederaçãoNacionaldosJornalistasProfissionais(Fenaj),afunçãodoassessordeimprensaémediarare-laçãoentreoassessoradoemídia,cabendoaesteprofis-sional orientar seu clienteparapossíveis contatos comamídia.Duarte (2010) acrescenta a ação demediar ocontrole dosfluxos de informação gerados a partir darelaçãocomamídia,enaturalmentecomopúblicoalvo.

Aproximando a discussão ao caso do Piauí,segundoLuísCarlosOliveira5, presidente do Sindicatodos JornalistasProfissionais doEstado (Sinjopi), cercade500profissionais6-70%dacategoria-desempenhamatividadesdeAI.Tendoemvistaodadolocaleosou-trosaspectosaquiapresentados,équeseformulaopro-blemadestapesquisa:comoreportar-seàhistóriadaAIpiauiensecomaescassezdebibliografiasobreotemanoestado?

Registrar o início da atividade deAI noPiauí,dada sua importância histórica para estudantes, profis-sionais e pesquisadores da área de comunição social,apresenta-secomooprimeirodesafiodesteestudo.Ou-trapropostapertinenteaestetrabalhoémapearaspráti-caseapresentarasprincipaiscaracterísticasdaatividadenadécadade80.

Na perspectiva de identificar fatos históricoscorrelacionadosaoconceitodoobjetodeestudo,resga-tam-seacontecimentosdaimprensapiauienseapartirdetécnicasde revisãode literaturaabrangentesàcomuni-caçãoe,posteriormente,devidoaforterelaçãoentreojornalismoeosgruposdepoderdaépoca,aspesquisasprolongam-seemliteraturadecunhopolíticoereligioso.

Dessa forma, como processos metodológicos,esse estudo utiliza-se de pesquisa de campo, especial-mentenabuscadeinformaçõesnoarquivodojornalODia,porseromaisantigoemcirculaçãodentreosjor-nais impressosdoPiauí,afimdemapear fatoscorres-pondentesaosurgimentodaatividadedeAI.Conclui-se

4AscartascircularesforamdistribuídasnaChina,em202,comde-cisõeserealizaçõesdadinastiaHan.O“Acta diurna”foicriadoem69a.CpeloFórumRomanocomoveículoinformativo.5LuísCarlosOliveira, em entrevista concedida aTersandroVilelaLimanodia16dedezembrode2011.6Ressaltamosqueessenúmeroépertinenteaosprofissionaisregis-trados.

este segundo processo metodológico, com entrevistasabertas realizadas com jornalistas atuantes há mais de30anosemjornaisimpressoslocaisecomassessoresdeimprensa,duranteosmesesdeoutubro,novembroede-zembrode2011,ejaneirode2012.

Início das bases conceituais de assessoria de imprensa no Piauí

Nãoémeracoincidênciaofatodealgunsauto-resusaremdeterminadosacontecimentoshistóricosparasugerirautilizaçãodebases,quemais tardeseriamde-nominadascomoestruturascorrespondentesàspráticasdeAI.NoPiauí, alguns aspectos históricos devem serapontadosparaquehajaumacompreensãoamplificadaquantoàspráticasdeAInoestado.

Tendo em vista a explicação de Kopplin eFerrareto (2009) para house organ que é uma ferramen-ta impressa ou virtual dirigida a públicos específicos7,disponibilizadagratuitamenteparadivulgarasaçõesdoassessorado, defender posicionamentos, etc, aponta-se,deacordocomPinheiroFilho(1997),olançamentodoprimeirojornaleditadoemTeresinapelamaçonaria,in-titulado“OReator”,comoabasedocampoconceitualdaatividadedeAInoPiauí.Essejornalanticlericalista,surgeem1884,26anosapósaimplantaçãodaLoja“Ca-ridadeII”,consideradaporNogueiraFilho(2002)apri-maznoPiauí.

O primeiro impresso maçônico estabelece-se,portanto, com colaboradores que, no futuro próximo,tornam-sepersonalidadesdahistóriadapolíticanoes-tado,comoéocasodeClodoaldoFreitas(1858–1926)editor chefe do informativo e Higino Cunha (1958 –1943),MiguelRosa(1876–1929),JoãoPinheiro(1877–1946),DomingosMonteiro(1870–1940),AbdiasNeves(1879–1928),dentreoutros.

Osurgimentodeste impressoque,comomen-cionaPinheiroFilho(1997),foiomarcoparainíciodalutareligiosacontraaigrejacatólica,tevecomoobjetivodivulgarparaosadeptosdamaçonariaseusideaisein-teressese,emespecial,opor-seafiguradobispomara-nhense,D.AntônioCândidodeAlvarengaeaosdemaiseclesiásticosdaregião,porestespossuíremvínculoscomoEstadoeporteremcomofieis,emquasesuatotalida-de,oshabitantesdaProvíncia.

Comomesmoobjetivo,surge“ALuz”,em1890,sendoo primeiro, para PinheiroFilho (1997), a ter ossímbolosmaçônicosimpressosemsuaspáginas.OautorconsideraMiguelRosaumgrandeestrategistadamaço-naria,atribuindoaseusfeitosaediçãoúnica“ONatal”7Refere-seaopúblicointernoe/ouexterno.

233

que circulou apenas no seu aniversário – 15/02/1902,sendohomenageadocomoguerrilheirodaluz.

Ainda em1902, emAmarante, com intuitodepropagar suas ideias, o movimento espírita lança “ACruz”, primeiro jornal da Doutrina Espírita no Piauí.Temposapósolançamentodosjornaismaçônicos,soborientaçãodaigrejacatólica,pararesponderàsprovoca-çõesdaordem,surge“OApóstolo”e,em1912,“ACida-dedeTeresina”fundadoporOdiloCostacomoímpetodeapoiarsuacandidaturaaogovernodoEstadocontraMiguelRosa(PINHEIROFILHO,1997).

Contudo,naprimeiradécadado séculoXX,ocenáriopolíticofazia-seamenoemrelaçãoaosanosse-guintes e, a este respeito, Pinheiro Filho (1997, p.122)afirma que “durante os períodos eleitorais e de lutaspolíticas, não sobrava espaço para preencher com lite-ratura,vistoqueos jornaisquase semprepertenciamagrupospartidários.”Nessecontexto, sãocriados,pelosestudantesdoantigoLiceuPiauiense,pequenosjornaisliteráriosque,devidoaoaltocustofinanceiro,nãoseti-nhamexpressivasedições,sobrevivendoapenasatéo3°exemplar.

Retrocedendonahistóriadaimprensapiauiense,pode-senotaranecessidadedeváriosgruposemdivul-garsuasaçõeseseusideaispormeiodaimprensa.FatoquepodeserobservadoatémesmocomosurgimentodoprimeiroimpressodoEstadochamado“OPiauien-se”,de1832,lançadoaindanaprimeiracapitaldoPiauí,Oeiras, cujo objetivo, como esclarece Pinheiro Filho(1997), era apenasdivulgar as açõesdogestorda épo-ca,ViscondedaParnaíba,comointuitodecontrolaraopiniãodasociedade.Noentanto,nãopodemosatribuiressefatocomoumdospilaresdaAIporentendermoscomo características constituintes do processo de im-plantaçãodemeiosde comunicaçãonoBrasil.Mesmoassim, ressaltamos o viés político da comunicação queiniciava e seperpetuariapor longoanosnahistóriadacomunicaçãodoestado.

Surgimento de práticas de assessoria de im-prensa no Estado

Parao jornalistaDeoclécioDantas8,asativida-des de AI iniciam no Piauí, na gestão do governadorFranciscodasChagasCaldasRodrigues (1959–1962),comaassessoriadojornalistaJosédeAraújoMesquita.Na época, o assessor de imprensa trabalhava no Palá-ciodeKarnak,localquenãodispunhadeinfraestruturaadequadaparadesempenharaspráticasdeAI.Segundo

8DeoclécioDantas,ementrevistaconcedidaaTersandroVilelaLimanodia10dejaneirode2012.

ojornalista,asatividadeseramfeitasdeimproviso.Redi-giam-seostextosemmesasqueestivessemdesocupadas,pornãodispordeumlocalpróprio.

Entre1962e1963,TibérioBarbosaNunes9 as-sumeopoderdoEstado.Emseumandato,OféliodasChagasLeitãodesenvolveao ladodeoutros jornalistasafunçãodeassessordeimprensa.AindaconformeDe-oclécioDantas,odomdaoratóriaeraumacaracterísticamarcantedessesdoisgovernadores,oque,decertafor-ma,facilitavaoacessoaosveículosdecomunicaçãodaépocasemointermédiodaAI.

DuranteoperíododasgestõesdeCaldasRodri-gueseTibérioBarbosa,conformePinheiroFilho(1997),surgiramnoveimpressos,entreelesareediçãode“Cida-dedeTeresina”,tendoentreosredatores,Dantas.

TitoFilho(1975)apontaaimplantaçãodegru-posdeeconomiamista,acriaçãodaComissãodoDe-senvolvimentoedoServiçoSocialdoEstado,aexpansãodarededeensinoeacrisefinanceira,comoosprincipaisacontecimentosdomovimentopolíticodaépoca.Pres-supõem-seaessesfatos,osderelevâncianoexercíciodasatividadesdeassessoriadeimprensaprestadasporJosédeAraújoMesquitaeOfélioLeitão.

Posteriormente,deacordocomojornalistaDo-mingosBezerraLimaFilho10, no governo dePetrônioPortela (1963 - 1966), o jornalista Carlos Augusto deAraújoLima(1944–2010)desempenhavaasfunçõesdeassessordeimprensadogoverno.Umjornallocalcita:

OgovernadorJoãoClímacod’AlmeidamanteveojornalistaCarlosAugustonaSecretaria de Imprensa do Palácio deKarnak [...] Os jornalistas Macário deOliveira e JacksonMoreira foramcon-vidadospelogovernadorparaAssesso-riadeImprensadoPaláciodoGovêrnoondetrabalharamsobacoordenaçãodeCarlosAugusto.(ODia,p.1,20demaiode1970).

Dessa forma, segundooautordanota,CarlosAugustoatuanogovernodeJoãoClímaco(1970–1971)e,anteriormente,juntoaHelvídioNunes(1966–1970).Nesseperíodo,conformeDomingosFilho,oespaçofí-sicodestinadoaosjornalistasnoPaláciodeKarnak,para

9DeacordocomPinheiroFilho(1997),ovice-governadorTibérioBarbosaNunes, assume a gestão do Estado devido a renuncia deFranciscodaChagasCaldasRodrigues.10DomingosBezerraLimaFilho,ementrevistaconcedidaaTersan-droVilelaLimanodia25denovembrode2011.

234

desenvolver a assessoria de imprensa, mantinha-se damesmaforma,semdispordeinfraestruturaadequada.

Ressalva-seolongoperíodoqueCarlosAugustoexerceuasatividadesrelacionadasaAI.Sugere-se tam-bém ao jornalista a divulgação espontânea de textos eprodutos jornalísticos à imprensa dos principais fatosque marcaram os governos que, segundo Tito Filho(1975), são:aRevoluçãode1964; fomentoa indústria;criaçãodaFaculdadedeMedicina;criaçãodoBancodoEstado;construçãoderodoviasnoSuldoEstado;asfal-tamentodeTeresina; iníciodosserviçosdeesgoto;es-tiagemnoEstado;instalaçãodaUniversidadeFederaldoPiauí;ampliaçãodaredeescolar;construçãodehospitais,dentreoutros.

AlémdeatuarnaáreadeAssessoriadeImpren-sa,CarlosAugustodesenvolveu e exerceu a funçãodejornalista nasprincipais rádios enasprimeiras emisso-rasdeTVdoPiauí.Comopolítico,ojornalistaelegeu-secomovereadoredeputadoestadual.”

Expansão das práticas de assessoria de impren-sa no Estado

Parao jornalistaCláudioBarros11,osurgimen-tooficialdaAInoPiauíocorreuapenasnogovernodeAlbertoSilva (1971–1975), sendocriado,naépoca,oórgãodeAssessoriadeAcompanhamentoeComunica-çãodoGovernodoPiauí(AGE),sobocomandodeAr-mandoMadeiraBasto.

DeoclécioDantasesclarecequeMadeiraBastoera,tãosomente,oresponsávelpelaAGE,masafunçãodeassessordeimprensaeradesempenhadapordiversosjornalistasnosórgãosdogoverno.Dessaforma,Bastosupervisionavaotrabalhorealizadopelosjornalistas.In-clusive, o próprioDeoclécio atuava nessa época comoassessordeimprensadoPaláciodeKarnak.

EntreasmedidasatribuídasàAGE,alémdaco-berturajornalísticadosprincipaisfatosdaépoca,estavaoincentivoàleitura,priorizandoaliteraturahistóricadoPiauí.Assim,oórgãodecomunicaçãodoEstadoinsti-gou,aproximadamente,40ediçõesereediçõesdeobraspiauienses,soboímpetodevalorizaraautoestimadapo-pulação(TITOFILHO,1975).

Emmatéria do “ODia” (1989), o jornalista eprofessorA.TitoFilhodizqueMadeiraBasto,bacharelpela Universidade de Direito do Maranhão, desempe-nhoufunçõesnoDepartamentoNacionaldoCafé.Suaatuaçãocomojornalistadeu-senojornalmaranhense“OImparcial”enojornal“ODia”doRiodeJaneiro.Como

11CláudioBarros,ementrevistaconcedidaaTersandroVilelaLimanodia05dedezembrode2011.

pesquisadordeprocessossociais,foimembrodoInsti-tutoHistóricoeGeográficodoPiauí,alémderedatorediretor-geraldaAgênciaNacional.Amatériacita:

Realizoujornalismoobjetivo,declarezameridiana, nem estilo personalíssimo,palavras de rigorosa propriedade, ex-pressões constitutivasde segura comu-nicação, ideias límpidas, nobres... Es-creveu como poucos, com segurança,asseiodelinguagem,aocorrerdapena,sobrequalquerassunto.Narroueinter-pretoudamesmaformaquedescreveuedissertou–aprumadamente,fielàver-dade. (ODIA,p.3, 23de setembrode1988).

MadeiraBastosefezpresente,ainda,nomape-amentodahistóriadaimprensapiauiense,revisandoosdadoscoletadosemumadécadaporCelsoPinheiroFi-lhoedemaismembrosdaAssociaçãoPiauiensedeIm-prensa(API)(PINHEIROFILHO,1997).

Monteiro (2003) confirma as elucidaçõesdeCláudioBarros, ao citar a criação daAssessoria deAcompanhamentoeComunicaçãodoGovernodoPiauí(AGE),nogovernodeAlbertoSilva,comoasprimeirasmanifestaçõesdaatividadedeAInoPiauí,considerando,assim,oembriãodosegmentonoEstado,ecomorela-touBarros,comandadaporMadeiraBasto.

Sequenciando o governo anterior, ainda empassosespessos,aAIadquiremaissignificâncianocon-textolocal.NaAssembleiaLegislativa,durantegovernodeDjalmaVeloso(1978–1979),ojornalistaRaimundoRosadeSáfez-seatuantecomoassessordeimprensadainstituição(SÁ,1987).

Em continuidade aos processos evolutivos dacomunicaçãooficialdoEstado, énogovernodeLucí-dioPortela (1979 – 1983), que aAGE ganha o statusSecretariadeComunicação–Secom,interligandotodosos órgãos doEstado.Em seguida, na gestãodeHugoNapoleãodoRêgoNeto (1983–1986),RaimundoSá,aconvitedo líderdogovernonaAssembleiaLegislati-va,WaldemarMacedo, integra novamente a assessoriadeimprensadaAssembleia.Nesseperíodo,haviagrandedivergênciadeentendimento,porpartedosempresáriosdecomunicaçãoedosprópriosassessoresdeimprensaemrelaçãoàatividadedeAI.Sá(1987,p.19)diz:

235

Não me parecia estar assumindo pos-tura indigna, pois aceitava uma novafunçãocommaistempoparadesempe-nhá-la.Naqueledia,assumiumcompro-missocomigomesmo:nãosereditordenenhumjornal,acumulandoocargoderedatordaSecom,porentenderqueasduascoisasnãosecombinavam,sobre-tudoporqueosveículosdecomunicaçãodacapitalnãoguardavamescrúpuloemcertas investidas, quase sempreusandoo funcionário integrante de assessorianogoverno.

Referindo-seàdécadade80,Said(2001)acredi-taque,devidoàinstitucionalizaçãodacomunicaçãoterocorridopeloviésdapolítica,écomumassociaràSecre-tariadeComunicaçãoMunicipaleEstadualafunçãodeconstrutordaimagemdogestorpormeiodapublicidadeepropagandautilizandoodisfarcedojornalismo.

Oficialmente,deacordocomamatériadoJor-nal“ODia”(1988),ocargodeassessordeimprensadaCâmaraMunicipaldeTeresinafoicriadoapósoprefeitoWallFerrazsancionaroprojetodeLeiaprovadapelaCâ-mara,deautoriadovereadorDeusdethNunes(PMDB),quelegitimaoplanodecargosesaláriosdosjornalistascontratadospelaPrefeituradeTeresina.

O cargo de assessor de imprensa seráocupadoporjornalistas,atravésdecon-cursopúblico.Osatuaisjornalistasqueocupamoutros cargos emórgãos, em-presas e autarquiasdomunicípio serãoenquadrados como assessores de im-prensa. Antes, ocupavam cargos técni-cosemdiversasáreas.(ODIA,p.7,23desetembro,1988).

Assim, grande parte dos jornalistas atuavamcomoassessoresdeimprensadosgestores,tantodaca-pitalquantodoEstado.ParaSá(1987,p.32),oprefeitoWallFerraz(1986–1989)emsuasegundagestão“agasa-lhoumaisdeumadezenadeprofissionaisdecomunica-çãousandoosmétodosdegovernosanteriores.”

Retratando a realidade, o autor afirma que ossalários pagos pelos empresários de comunicação aosjornalistaserambaixos,eissofacilitavaacooptaçãodosmesmosnosórgãosdogoverno.Eleéenfáticoquando

dizque“afunçãodeassessordeimprensadesvirtuou-seapontodesignificaracompradedivulgaçãopeloórgãoempregador.”(SÁ,1987,p.36).

Meioaesseperíodo,em1982,é implantadooprimeirocursodeComunicaçãoSocial–comhabilita-çãoemJornalismopelaUniversidadeFederaldoPiauí–UFPI.Acrescentadoafunçãodeassessordeimprensaàpráticasjornalista,aUFPIporumlongoperíododispo-nibilizanagradecurriculardocursoadisciplinadeAs-sessoriaImprensadeformaoptativa,ehoje,deacordocomocoordenadordocurso,PauloFernandodeCarva-lho12(2011),vinculadaaoutradisciplina–ComunicaçãoOrganizacional.

Considerações finais Naperspectivado surgimentoda imprensano

Estado, atribui-se que o passo seguinte tenha sido, defato,aorigemdasbasesconceituaisdeAI,antesmesmodosurgimentodeoutrosmeiosdecomunicação,comoorádio,porexemplo.Nessamesmaperspectivahistóri-ca,acredita-sequeaAssessoriadeAcompanhamentoeComunicaçãodoGovernodoPiauí(AGE)seconfiguracomooiníciodaatividadedeassessoriadecomunicaçãonoPiauí,dadaasuaestruturaeamplaatuação,diferentedasaçõesatribuídaàsassessoriasdosgovernosanterio-res.

Em relação às características da AI da décadade 1980 apontadas pelos autores pesquisados, são no-toriamente compreensivas, partindo do ponto de vistahistóricoda comunicação e sua relação intrínseca comapolítica,porevidenciarousodaimprensapelabuscadopoder.Dessaforma,justificamosarealidadenegativaapresentadaàépoca.

Apartirdasinformaçõescoletasparaestapes-quisa,écertoqueavançamosnoqueserefereàspráticasdeAInoEstado,dadaaprópriaevoluçãodacomunica-ção social - tantono aspecto técnico-profissional, aca-dêmicoesocial,quantonoaspectohistórico,hajavistoocrescimentodo setornaesferaprivadadaatualidadelocal.É,portanto,nessesentido,queessapesquisapõe-seodesafiodecontribuircomahistóriadaimprensadoPiauí.

Referências bibliográficas:

BARROS,Cláudio.EntrevistaconcedidaaTersandroVi-lelaLimaem05dedezembrode2011.

12 Paulo Fernando de Carvalho, entrevista concedida a TersandroVilelaLimanodia25denovembrode2011.

236

BERTI,OrlandoMauríciodeCarvalho.O jornalismo de David Caldas. Monografia (Bacharelado em Comunica-çãoSocial–Jornalismo)–UniversidadeFederaldoPiauí,2001.

BEZERRAFILHO,Domingos.EntrevistaconcedidaaTersandroVilelaLimaem25denovembrode2011.

CARVALHO,ElizabeteFerreirade.Assessoria de imprensa e o poder judiciário: umestudosobreoTribunaldeJustiçadoEstadodoPiauí.Monografia(BachareladoemComu-nicaçãoSocial–Jornalismo)–FaculdadeSantoAgosti-nho,2005.

CARVALHO,PauloFernandode.EntrevistaconcedidaaTersandroVilelaLimaem25denovembrode2011.

CHINEM, Rivaldo.Assessoria de imprensa: como fazer.SãoPaulo:Summus,2003.

DANTAS,Deoclécio.EntrevistaconcedidaaTersandroVilelaLimaem10dejaneirode2012.

DUARTE, Jorge (Org).Assessoria de imprensa e relaciona-mento com a mídia.3.ed.SãoPaulo:Atlas,2010.

FENAJ.Manual de Assessoria de Comunicação. 4ª edição.Brasília: Federação Nacional dos Jornalistas, 2007.Disponível em: http://www.fenaj.org.br/mobicom/manual_de_assessoria_de_imprensa.pdf. Acesso07dedezembrode2011.

KOPPLIN,ElisaeFERRARETTO,LuizArtur.Assesso-ria de imprensa: teoriaeprática.5.ed.SãoPaulo:Summus,2009.

MAFEI,Maristela. Assessoria de imprensa: comoserelacio-narcomamídia.3.ed.SãoPaulo:Contexto,2007.

MONTEIRO,Karynne.K.O.A atuação da secretaria de comunicação do Estado enquanto facilitadora do processo comuni-cativo para jornais impressos de Teresina.Monografia(Espe-cialização)–UniversidadeFederaldoPiauí,2003.

______.Assessoria de Imprensa em Teresina: víciosevirtu-des.Monografia(BachareladoemComunicaçãoSocial–Jornalismo)–UniversidadeFederaldoPiauí,2001.

OLIVEIRA,LuísCarlos.EntrevistaconcedidaaTersan-droVilelaLimaem16dedezembrode2011.

NOGUEIRAFILHO,LuizNódgi.Contribuição à História da Maçonaria no Piauí.2.ed.Teresina:[s.n.],2002.

PEDROSA,Robert.Entrevista concedida aTersandroVilelaLimaem11dejaneirode2011.

PINHEIROFILHO,Celso.História da imprensa no Piauí. 3.ed.Teresina:Zodíaco,1997.

RAMOS,Genuína.EntrevistaconcedidaaTersandroVi-lelaLimaem07deoutubrode2011.

RÊGO,AnaReginaBarrosLeal.Imprensa piauiense: atua-çãopolíticanoséculoXIX.Teresina:FundaçãoCulturalMonsenhorChaves,2001.

SÁ,RaimundodeRosa.O lado oculto da imprensa no Piauí. Teresina:Popular,1987.

SAID, Gustavo Fortes.Comunicações no Piauí. Teresina:AcademiaPiauiensedeLetras–convêniocomoBancodoNordeste,2001.

TAVARES,Zózimo.O Piauí no século 20: 100FatosquemarcaramoEstadoentre1900e2000.Teresina:Halley,2000.

TEIXEIRA,Tomaz.Entrevista concedida aTersandroVilelaLimaem16dedezembrode2011.

TITOFILHO,A.Governos do Piauí.2.ed.RiodeJaneiro:Artenova,1975.

TORQUATO,Gaudêncio.Tratado de comunicação organi-zacional e política.2.ed.SãoPaulo:CENGAGELearnig,2008.

Jornais citados:

CRIADOocargode assessorde imprensada câmara. Jornal O Dia. Teresina,p.7,23deset.de1988.

JOQUEIRAmanténDeoclécioeCarlosAugusto.Jornal O Dia,Teresina,p.1,20demai.de1970.

TITOFILHO,A.Armando. Jornal O Dia.Teresina,p.3,23deset.de1988

Recebido:30/09/2012Aprovado:08/11/2012