regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

91
Serviço Público Federal Universidade Federal do Pará Instituto de Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil Francisco Carlos Lira Pessoa REGIONALIZAÇÃO DE CURVAS DE PERMANÊNCIA DE VAZÕES DA REGIÃO DA CALHA NORTE NO ESTADO DO PARÁ Orientador: Claudio José Cavalcante Blanco, Ph.D. Belém (Pa) 2010

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Page 1: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

Serviço Público Federal

Universidade Federal do Pará

Instituto de Tecnologia

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil

Francisco Carlos Lira Pessoa

REGIONALIZAÇÃO DE CURVAS DE PERMANÊNCIA DE VAZÕES

DA REGIÃO DA CALHA NORTE NO ESTADO DO PARÁ

Orientador: Claudio José Cavalcante Blanco, Ph.D.

Belém (Pa)

2010

Page 2: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

Francisco Carlos Lira Pessoa

REGIONALIZAÇÃO DE CURVAS DE PERMANÊNCIA DE VAZÕES

DA REGIÃO DA CALHA NORTE NO ESTADO DO PARÁ

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação

em Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará,

na área de concentração em Recursos Hídricos e

Saneamento Ambiental, em cumprimento às

exigências para a obtenção do Grau de Mestre.

Linha de Pesquisa: Recursos Hídricos

Orientador: Prof. Claudio José Cavalcante Blanco

Belém (Pa)

2010

Page 3: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

REGIONALIZAÇÃO DE CURVAS DE PERMANÊNCIA DE VAZÕES

DA REGIÃO DA CALHA NO ESTADO DO PARÁ

Autor:

Francisco Carlos Lira Pessoa

Dissertação submetida à banca examinadora aprovada

pelo Colegiado do Programa de Pós-graduação em

Engenharia Civil do Instituto de Tecnologia da

Universidade Federal do Pará, como requisito para

obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil, na

área de concentração em Recursos Hídricos e

Saneamento Ambiental.

Aprovada em: / /

Banca examinadora:

____________________________________________

Prof. Claudio José Cavalcante Blanco, Ph.D. (UFPA)

Orientador

____________________________________________

Prof. Dr. George Leite Mamede (UFERSA)

Examinador Externo

____________________________________________

Prof. Dr. Lindemberg Lima Fernandes (UFPA)

Examinador Interno

____________________________________________

Prof. Dr. André Augusto Montenegro Duarte (UFPA)

Examinador Interno

Visto:

____________________________________________

Prof. Claudio José Cavalcante Blanco, Ph.D.

Coordenador do PPGEC/ITEC/UFPA

Page 4: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

I

Aos meus pais, Francisco e Nazaré, a quem devo

tudo.

Aos meus irmãos, Jaciara e Jacifábio.

Ao meu filho, Ruan José.

A minha namorada, Meliza.

Page 5: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

II

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela sua presença constante em minha vida.

A Francisco, meu pai, a minha mãe, Maria Nazaré, sem os quais jamais poderia

estar concluindo mais uma etapa da minha vida. Amo vocês!

À minha família, minha avó, Izanelle, meus irmãos, Jaciara e Jacifábio, ao meu

filho Ruan, cada um ao seu modo, por me prestigiarem com amor e me apoiarem nessa

caminhada.

A minha namorada e futura esposa, Meliza, pelo amor, carinho, amizade e

constante incentivo durante a minha vida acadêmica, oferecendo o melhor de si para que eu

me realizasse profissionalmente.

Ao meu professor orientador, Dr. Claudio José Cavalcante Blanco, pelo

compartilhamento de sua expressiva sabedoria na arte de ensinar, essencial para a minha

formação.

A todos os funcionários, professores e alunos da área de Recursos Hídricos da

UFPA em Belém, os quais guardo comigo com grande carinho.

À CAPES, que financiou este trabalho e colabora constantemente no

desenvolvimento técnico-científico do nosso país.

Page 6: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

III

RESUMO

A carência de dados fluviométricos torna necessária a utilização de métodos para a

estimativa de vazões em locais onde eles inexistem ou são insuficientes. Nesse contexto, o

presente trabalho estabeleceu um modelo de regionalização de curvas de permanência de

vazões para os rios da região hidrográfica da Calha Norte, no Estado do Pará. O modelo teve

como base de dados as características de nove estações fluviométricas instaladas e em

funcionamento na região. As curvas de permanência foram calibradas em função de cinco

modelos matemáticos de regressão (potência, exponencial, logarítmico, quadrático e cúbico).

O modelo cúbico obteve melhor ajuste na modelagem das curvas de permanência de vazões

das estações usadas na calibração. Usando a análise de regressão múltipla, a variação espacial

de cada parâmetro do modelo supracitado foi explicada em termos de área de drenagem,

precipitação média anual, comprimento e desnível do rio, resultando em modelos de

regionalização. Visando efetuar a verificação do modelo, o mesmo foi aplicado para simular

as curvas de permanência de vazões de duas bacias hidrográficas de interesse da região.

Matematicamente, o bom ajuste foi representado pelos erros quadrados relativos médios

percentuais calculados para o modelo cúbico, os quais foram iguais a 5,27% (bacia 1) e 9,55%

(bacia 2). O bom desempenho do modelo calibrado e validado demonstra o potencial deste na

estimativa das vazões de permanência da região em estudo, mais precisamente para projetos

hidrelétricos e também para outros de gerenciamento e planejamento dos recursos hídricos.

Palavras-chave: Regionalização, curva de permanência, modelo cúbico, regressão múltipla,

Amazônia.

Page 7: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

IV

ABSTRACT

The lack of hydrometric data makes necessary the use of methods to estimate the

flows at sites where those data are non-existent or insufficient. In this context, the present

work has established a model of regionalization of flow duration curves to the rivers of the

hydrographic region of Calha Norte, in the state of Pará, Brazil. The data for the model have

been considered from nine hydrometric stations, which are installed and functioning in the

region. The flow duration curves have been calibrated using five mathematical models of

regression (power, exponential, logarithmic, quadratic and cubic). The cubic model was the

best to simulate the flow duration. Using the multiple regression techniques, the space

variation of each parameter of the mentioned model was explained in terms of the drainage

area, the mean annual precipitation and the length and elevation difference of the river,

resulting in regionalization models. In order to verify the cubic model, it has been applied to

simulate the flow duration curves of two target basins of the region. Mathematically, a

measure of accuracy has been defined for the mean square errors. They have been calculated

for the cubic model with followings results: 5,27% (target basin 1) and 9,55% (target basin 2).

The good performance of the model calibrated and verified shows its potential to estimate

flow duration curves of the studied region, especially for hydropower projects and others

management and planning projects of activities related to water resources.

Key-words: Regionalization; flow duration curve; Model cubic; multiple regression; Amazon.

Page 8: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

V

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................ III

ABSTRACT ........................................................................................................................... IV

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 2

2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 2

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 2

3 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 3

3.1 REGIONALZAÇÃO HIDROLÓGICA ............................................................................ 3

3.1.1 Método Tradicional .................................................................................................. 6

3.1.2 Métodos Alternativos ............................................................................................... 6

3.2 REGIÕES HOMOGÊNEAS ............................................................................................. 7

3.2.1 Definição de regiões homogêneas ............................................................................ 7

3.2.2 Critério para definir regiões hidrologicamente homogêneas ............................... 8

3.3 CURVA DE PERMANÊNCIA ......................................................................................... 9

3.3.1 Definição de curva de permanência ........................................................................ 9

3.3.2 Histórico e Construção de Curvas de Permanência ............................................ 10

3.3.3 Modelos de regionalização de curvas de permanência de vazões ...................... 12

3.4 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS UTILIZADAS NA REGIONALIZAÇÃO ................ 18

3.5 CARACTERÍSTICA CLIMÁTICA UTILIZADA NA REGIONALIZAÇÃO ............. 18

3.6 ANÁLISE DE REGRESSÃO MÚLTIPLA .................................................................... 19

3.6.1 Método dos mínimos quadrados ........................................................................... 20

3.6.2 Multi-colinearidade ................................................................................................ 22

3.6.3 Coeficiente de determinação múltipla (R2) .......................................................... 23

3.6.4 Coeficiente de determinação ajustado (R2_a) ...................................................... 24

3.6.5 Coeficiente de Nash-Sutcliffe (Nash) .................................................................... 24

Page 9: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

VI

3.6.6 Teste de significância da equação de regressão múltipla.................................... 25

3.6.7 Teste de partes de um modelo de regressão múltipla ......................................... 27

4 ÁREA DE ESTUDO E DADOS ......................................................................................... 28

4.1 ÁREA DE ESTUDO ....................................................................................................... 28

4.1.1 Bacia Amazônica .................................................................................................... 28

4.1.2 Região hidrográfica do Estado do Pará ............................................................... 29

4.1.3 Região hidrográfica da Calha Norte e suas características ................................ 30

4.1.3.1 Hidrografia ......................................................................................................... 30

4.1.3.2 Clima .................................................................................................................. 31

4.1.3.3 Vegetação ........................................................................................................... 32

4.1.3.4 Solo e Pedologia ................................................................................................. 33

4.2 DADOS UTILIZADOS NO ESTUDO ........................................................................... 34

4.2.1 Estações Fluviométricas e Pluviométricas ........................................................... 34

5 METODOLOGIA ANALISADA E APLICADA ............................................................. 40

5.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 40

5.2 CALIBRAÇÃO DO MODELO ...................................................................................... 40

5.2.1 Critério de desempenho dos modelos ................................................................... 48

5.3 MODELOS DE REGRESSÃO UTILIZADOS NA REGIONALIZAÇÃO ................... 49

5.3.1 Multi-colinearidade ................................................................................................ 53

5.3.2 Modelo de regionalização ...................................................................................... 55

5.4 VERIFICAÇÃO .............................................................................................................. 56

5.4.1 Modelo de regionalização ...................................................................................... 60

5.5 CALHA NORTE COMO REGIÃO HIDROLOGICAMENTE HOMOGÊNEA .......... 64

6 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 65

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 67

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 68

APÊNDICES ........................................................................................................................... 73

Page 10: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

VII

APÊNDICE A – CURVAS DE PERMANÊNCIA DE VAZÕES PARA TODAS AS

ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS CONSIDERADAS NA CALIBRAÇÃO ..................... 74

ANEXOS ................................................................................................................................. 76

ANEXO A - ARTIGO SÍNTESE DA DISSERTAÇÃO SUBMETIDO À REVISTA

BRASILEIRA DE RECURSOS HÍDRICOS (RBRH) ......................................................... 77

Page 11: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

VIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1– Tabela ANOVA da regressão múltipla. ................................................................ 22

Tabela 4.1 – Estações fluviométricas utilizadas no estudo. ..................................................... 35

Tabela 4.2 – Estações pluviométricas utilizadas no estudo. ..................................................... 36

Tabela 4.3 - Características físico-climáticas. .......................................................................... 38

Tabela 5.1 – Coeficiente de determinação ajustado (R2_a) e erros percentuais ( %) de cada

modelo na calibração. ............................................................................................................... 48

Tabela 5.2 – Coeficiente de Nash-Sutcliffe de cada modelo na calibração. ............................ 49

Tabela 5.3 – Parâmetros, coeficientes de determinação ajustados e coeficiente de Nash-

Sutcliffe das equações de regressão (modelo logarítmico). ..................................................... 50

Tabela 5.4 – Parâmetros, coeficientes de determinação ajustados e coeficiente de Nash-

Sutcliffe das equações de regressão (modelo cúbico) .............................................................. 50

Tabela 5.5 – Coeficientes de determinação ajustados (R2_a) e valores de Ftotal das equações de

regressão para os parâmetros a e b do modelo logarítmico. ..................................................... 51

Tabela 5.6 – Coeficientes de determinação ajustados (R2_a) e valores de Ftotal das equações de

regressões para os parâmetros a, b, c e d do modelo cúbico. ................................................... 52

Tabela 5.7 – Matriz de correlação entre as variáveis independentes. ....................................... 53

Tabela 5.8 – Resultados do teste F parcial para os parâmetros do modelo matemático cúbico.

.................................................................................................................................................. 54

Tabela 5. 9 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “a”. ............................................ 55

Tabela 5. 10 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “b”. ......................................... 55

Tabela 5.11 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “c”. ........................................... 55

Tabela 5.12 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “d”. .......................................... 56

Tabela 5.13 – Vazões observadas e simuladas das estações-alvo 1 e 2 e seus respectivos erros

quadrático médio percentual. .................................................................................................... 59

Tabela 5.14 – Tabela ANOVA para a nova equação do parâmetro “a”. .................................. 60

Tabela 5.15 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “b”. .......................................... 60

Tabela 5.16 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “c”. ........................................... 61

Tabela 5.17 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “d”. .......................................... 61

Tabela 5.18 – Vazões observadas e simuladas das estações-alvo 1 e 2 e seus respectivos erros

quadrático médio percentual. .................................................................................................... 63

Page 12: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

IX

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Curva de permanência de vazões. ........................................................................ 12

Figura 3.2 – Tabela da distribuição F de Snedecor para nível de significância de 5%.

(Fonte:UFPR). .......................................................................................................................... 26

Figura 4.1 – Bacia Amazônica. (BLANCO, 2005). ................................................................. 28

Figura 4.2 – Divisão do Estado do Pará em regiões hidrográficas (Fonte: SEMMA, 2001). .. 30

Figura 4.3 – Região Hidrográfica da Calha Norte e Sub-Bacias (Fonte: SEMMA, 2001). ..... 31

Figura 4.4 – Mapa da distribuição espacial da vegetação na região da Calha Norte ............... 32

Figura 4.5 - Mapa de tipos de solos da região da Calha Norte (Fonte: IBAMA, 2009)........... 33

Figura 4.6 – Mapa pedológico da região da Calha Norte (Fonte: IBAMA, 2009). .................. 34

Figura 4.7 – Distribuição espacial das estações fluviométricas e sintéticas utilizadas na

regionalização (Fonte: ANA, 2008). ........................................................................................ 37

Figura 4.8 –Distribuição espacial das estações pluviométricas utilizadas na regionalização

(Fonte:.ANA, 2008). ................................................................................................................. 37

Figura 1A - Curvas de permanência de vazões para as estações Arapari (18200000), Boca do

Inferno (17090000), Apalai (18280000), Tirios (16700000). .................................................. 74

Figura 2A – Curvas de permanência de vazões para as estações Aldeia Wai-Wai (16480000),

Garganta (16430000) e Sete Varas (17070000). ...................................................................... 75

Page 13: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

X

LISTA DE SÍMBOLOS

A Área de drenagem (Km²)

Ai Área de influência de Pméd

di Amplitude de cada intervalo, em m³/s

R² Coeficiente de determinação

R²a Coeficiente de determinação ajustado

NASH Coeficiente de Nash-Sutcliffe

N Comprimento da amostra

βi (i=1,2,...) Coeficientes de regressão

r Coeficiente de correlação simples

L Comprimento do rio (Km)

bi (i=1, 2,...) Constantes de regressão

H Desnível do rio (m)

Erro quadrático relativo médio percentual

P Frequência de excedência

FQ(q) Função densidade cumulativa de probabilidade das vazões

H0 Hipótese igual a zero

H1 Hipótese diferente de zero

Pméd Média ponderada entre a precipitação de cada estação

p Número de variáveis independentes

α Nível de significância

Xk Número de variáveis explicativas incluídas no modelo

n Número de dados da amostra

Pi Permanência percentual do intervalo di

Page 14: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

XI

D Percentual de tempo igualado ou excedido

a Parâmetro dos modelos matemáticos

b Parâmetro dos modelos matemáticos

c Parâmetro dos modelos matemáticos

d Parâmetro dos modelos matemáticos

P Precipitação média anual (mm)

QMReg Quadrado médio da regressão

QMRes Quadrado médio dos resíduos

SQReg Somatório dos quadrados da regressão

SQRes Somatório dos quadrados dos resíduos

SQT Somatório dos quadrados total

F Teste do Ftotal de Fisher-Snedecor

Q Vazão

Y Variável dependente ou prevista

Xi (i=1, 2,...) Variáveis independentes ou explicativas

Vetor que corresponde ao estimador dos mínimos quadrados

Vazão observada

Vazão estimada pelo modelo de regionalização

V Variável dependente que representa os parâmetros das curvas de permanência

de vazões

Qmax Vazão máxima da série, em m³/s

Qmin Vazão mínima da série, em m³/s

iQ

iQ

Page 15: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

1

1 INTRODUÇÃO

O conhecimento das vazões de permanência de um curso d‟água é de relevante

importância para o planejamento e a gestão dos recursos hídricos, como geração de energia

elétrica, sistema de irrigação, sistemas de reserva e suprimento de água para abastecimento

público; que, em geral, utilizam a vazão como variável condicionante. A vazão, assim como

todas as outras variáveis utilizadas para a caracterização de processos hidrológicos, possui

comportamento aleatório, exigindo, para sua adequada avaliação, séries históricas

representativas e confiáveis.

As séries históricas de vazão são obtidas através de postos fluviométricos

instalados em bacias hidrográficas, no entanto, em um país com dimensões continentais e

extensa malha hidrográfica como o Brasil, nem todas as bacias são medidas, e, nesse caso,

adensar a rede hidrométrica não é tarefa das mais simples. Segundo Tucci (1993), uma rede

hidrométrica raramente possui uma densidade de estações que permita cobrir todos os locais

de interesse de um plano de gerenciamento de recursos hídricos.

Atualmente, a região hidrográfica da Calha Norte possui 33 (trinta e três) estações

fluviométricas, no entanto, boa parte das estações não está mais em operação ou possui séries

históricas curtas. Adicionalmente, não estão uniformemente distribuídas na região.

Visando suprir esta lacuna, a regionalização de vazões é uma técnica importante,

que consiste em explorar ao máximo as informações existentes, permitindo a estimativa das

variáveis hidrológicas em locais sem dados ou com dados insuficientes. Geralmente, os

modelos de regionalização são baseados nas características físicas e climáticas da região de

interesse (TUCCI et al., 1995; OUARDA et al., 2001).

Assim, o presente trabalho analisou e aplicou um modelo de regionalização de

curvas de permanência de vazões na região hidrográfica da Calha Norte. A curva de

permanência permite, por exemplo, conhecer a parcela de tempo em que é possível, a fio

d‟água, abastecer cidades, indústrias ou empreendimentos agropecuários, estabelecer a

rentabilidade econômica de uma pequena central hidrelétrica sem regularização e a sua

potência ótima de dimensionamento (PINTO, 1976).

Page 16: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

2

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo deste trabalho é verificar a aplicabilidade do uso de regionalização de

curvas de permanência de vazões para estimar vazões em locais carentes de dados

hidrometeorológicos através das características físico-climáticas da bacia hidrográfica da

região da Calha Norte no Estado do Pará.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Calibrar as curvas de permanência de vazões para todas as estações fluviométricas

consideradas no estudo;

- Identificar a existência de homogeneidade nas bacias hidrográficas da Calha Norte (Pará);

- Estabelecer, por meio de regressões múltiplas, o melhor modelo de regionalização;

- Aplicar e analisar o modelo de regionalização de curvas de permanência de vazões adaptado

às bacias hidrográficas da Calha Norte.

Page 17: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

3

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 REGIONALZAÇÃO HIDROLÓGICA

A variabilidade das vazões em uma bacia hidrográfica é avaliada pela

disponibilidade das séries temporais obtidas nas estações fluviométricas, entretanto, as

limitadas séries de dados disponíveis dificultam ou, muitas vezes, impedem a realização de

uma adequada gestão dos recursos hídricos.

Apesar dos esforços da Agência Nacional de Águas (ANA) em ampliar a rede

hidrometeorológica de um país com dimensões continentais como o Brasil, a rede atual ainda

não cobre todos os locais de interesse necessários ao gerenciamento dos recursos hídricos

brasileiros, de forma que, sempre existirão lacunas temporais e espaciais que necessitam ser

preenchidas com base em metodologias que busquem uma melhor estimativa dos dados de

interesse em seções que não possuem medições.

A inserção de novas estações implicaria em um aumento de custos e não

solucionaria o problema da ausência de informações nos locais, uma vez que seriam

necessários alguns anos para a obtenção de uma série de dados de vazão com uma boa

permanência.

Para suprir a deficiência da rede hidrométrica no Brasil, uma técnica que tem sido

utilizada com resultados satisfatórios é a regionalização hidrológica (ELETROBRÁS, 1985).

Segundo Tucci (1993), o termo regionalização tem sido utilizado em hidrologia

para determinar a transferência de informações de um local para outro dentro de uma área

com comportamento hidrológico semelhante. Para isso, faz-se uso de um conjunto de

ferramentas capaz de extrair, ao máximo, as informações necessárias de uma região, com

homogeneidade hidrológica, para preenchimento das lacunas ou suprimento de dados em

determinados locais da bacia, porventura deficitários, estimando as variáveis hidrológicas

desejáveis para regiões hidrologicamente similares à estudada.

Fill (1987) define regionalização hidrológica como qualquer processo de

transferência de informações das estações hidrométricas para outros locais sem informações.

A regionalização pode também ser usada para verificar a consistência da série hidrológica e

identificar a necessidade de instalação de um posto fluviométrico em um determinado local,

Page 18: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

4

dentro da bacia hidrográfica. A regionalização, dentre outras finalidades, pode ser empregada

para obter:

funções estatísticas de variáveis hidrológicas: curvas de probabilidade de vazões

e/ou precipitações máximas, médias ou mínimas, entre outras;

funções específicas que relacionam variáveis: curva de permanência, curva de

regularização e curva de infiltração; e,

parâmetros de modelos hidrológicos: características do hidrograma unitário e de

outros modelos hidrológicos.

Segundo Silveira et al. (1998), para a realidade brasileira, os estudos de

regionalização hidrológica, por serem definidos a partir de uma base de dados proveniente de

bacias maiores (área > 500 Km²) não devem, por consequência, ser aplicados fora dos limites

estabelecidos pelas equações regionais e, principalmente, para as bacias consideradas

pequenas (área < 100 Km²). Estas limitações devem-se, principalmente, aos seguintes fatores:

diferenças nas escalas espaciais e temporais dos mecanismos de transformações

chuva-vazão nas pequenas e grandes bacias;

dificuldades de caracterização de regiões hidrologicamente homogêneas devido às

especificidades locais do meio-físico. Quando a área da bacia diminui, baixa a

escala de detalhamento e fica difícil a caracterização de regiões homogêneas, ou

seja, a heterogeneidade das pequenas bacias é muito grande;

dificuldades de obtenção de dados confiáveis convencionais para as vazões

mínimas. Muitas vezes, ao priorizar as vazões máximas e médias, os segmentos

inferiores das curvas-chave dos postos fluviométricos deixam a desejar. A

mobilidade do leito é uma das causas destas incertezas.

Observa-se, entretanto, que a premissa de base da regionalização hidrológica é que

as variáveis sob análise devem ter distribuições de probabilidades idênticas, a menos de um

fator de adimensionalização, o qual é função das características locais. Esta premissa de base

pode ser sintetizada pelo conceito de “região homogênea”.

O termo região homogênea está associado a regiões que possuem similaridade

hidrológica. Para Lanna (1983), essa similaridade inclui fatores físicos, climáticos, biológicos,

geológicos e efeitos antrópicos. Como há grande complexidade na consideração de todos

esses fatores, o autor conceituou região homogênea como uma região na qual diversas

características climáticas e fisiográficas teriam variabilidade mínima. A similaridade, neste

Page 19: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

5

caso, seria observada com respeito aos fenômenos de maior interesse no processo hidrológico

em estudo.

Nos estudos de regionalização, devem ser consideradas as características físicas e

climáticas das bacias que mais interferem na distribuição espacial da vazão e que sejam

facilmente mensuráveis. Segundo Paiva (2003), podem ser usados como características físicas

a área da bacia, o comprimento do curso d‟água principal e a densidade de drenagem. Além

dessas variáveis, podem ser incluídas, também, o tempo de concentração, a altitude média da

bacia e a precipitação.

A qualidade dos dados hidrológicos é essencial para o processo de regionalização,

pois nenhum estudo gera novas informações, apenas explora as informações existentes. Dessa

forma, se os dados não possuem qualidade ou não foram identificados e sanados os seus erros,

a regionalização será tendenciosa, com resultados inadequados.

Os modelos de regionalização de vazões buscam uma melhor estimativa das

vazões em seções que não possuem medições fluviométricas, não sendo recomendada a

utilização destes modelos em seções que possuem medições, pois os mesmos não substituem

as informações reais (SILVA JÚNIOR et al., 2002).

As metodologias aplicadas à regionalização são variadas, podendo seguir vários

métodos que a possibilitem.

Segundo Tucci (1993), existem três classes de métodos utilizados na

regionalização, são eles:

Métodos que regionalizam os parâmetros da distribuição de probabilidades:

neste caso, é ajustada uma distribuição estatística às frequências dos dados das

diferentes bacias pertencentes à região estudada;

Métodos que regionalizam o evento com um determinado risco: neste caso, são

ajustadas distribuições às vazões de diferentes postos. Assim, a vazão de interesse,

associada a um determinado tempo de retorno, poderá ser obtida a partir das

distribuições ajustadas a cada posto;

Métodos que regionalizam uma curva adimensional de probabilidades,

denominado de método da cheia-índice ou index-flood: neste caso,

adimensionalizam-se as curvas individuais de probabilidade com base no seu valor

médio, estabelecendo-se uma curva adimensional regional média dos postos com a

mesma tendência.

Alguns pesquisadores têm buscado o método tradicional e outros métodos

alternativos para a obtenção dessas informações hidrológicas.

Page 20: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

6

3.1.1 Método Tradicional

Um dos métodos mais difundidos para a regionalização de vazões é o método

tradicional, o qual é descrito por Eletrobrás (1985). Ele consiste na identificação de regiões

hidrologicamente homogêneas e no ajuste de equações de regressão entre as diferentes

variáveis a serem regionalizadas e as características físicas e climáticas das bacias de

drenagem para cada região homogênea (Novaes, 2005). Apesar de ser muito eficiente,

necessita de um grande número de informações. Como a maioria das bacias hidrográficas

brasileiras possui escassez de informações e limitação na base de dados, a precisão e o uso

deste método podem não torná-lo recomendável (SILVA JÚNIOR et al., 2002).

Um dos pontos cruciais num estudo de regionalização é a delimitação das regiões

hidrológicas ou estatisticamente homogêneas, cujas estações tenham séries oriundas de

populações regidas pela mesma distribuição de probabilidades e apenas seus parâmetros

variando entre as estações (BAENA, 2002).

O ajuste de equações de regressão, segundo Euclydes et al. (1999), é estabelecido

por meio de regressão múltipla entre a vazão de interesse e as características físicas e

climáticas das sub-bacias.

Dentre os modelos de regressão comumente utilizados estão o linear, o potencial, o

exponencial e o logarítmico. Uma série de avaliações objetivas pode ser realizada para

verificar a adequação do ajustamento de determinado modelo aos dados. Entre essas

avaliações, as mais adotadas são o teste da função F de Snedecor, o valor do coeficiente de

determinação (R2) e do desvio-padrão dos erros do ajustamento, também chamado de erro-

padrão da estimativa (EUCLYDES et al., 1999).

3.1.2 Métodos Alternativos

Com o objetivo de superar as limitações existentes na base de dados de grande

parte das bacias hidrográficas brasileiras, diversas metodologias têm sido desenvolvidas. A

seguir é feito o resumo de algumas delas.

Silveira et al. (1998) apresentaram metodologias para a obtenção de dados de

vazão em pequenas bacias hidrográficas onde há ausência de rede hidrométrica. Entre os

Page 21: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

7

processos destaca-se a regionalização da curva de permanência, na qual poderiam ser

adotados dois procedimentos: (a) parametrização da curva, relacionando os parâmetros com

características fisiográficas e climatológicas da bacia e (b) interpolação gráfica ou analítica de

uma curva, passando por vazões com permanências pré-definidas e estimadas a partir das

referidas características da bacia. A última é mais recomendada, por minimizar os erros em

virtude de estimativa ponto a ponto da curva. Os autores citaram alguns trabalhos realizados

anteriormente entre os quais destaca-se o trabalho realizado por Mimikou e Kaemaki (1985)

nas regiões oeste e noroeste da Grécia onde se contou com apenas onze estações para a

calibração e duas para a validação.

Tavares et al. (2002) propuseram um estudo nas bacias dos rios Jucuruçu, Mucuri

e São Mateus, pertencentes aos estados da Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais, visando à

otimização da rede fluviométrica, com base nos estudos de regionalização de vazões médias,

máximas e mínimas anuais de diversas durações. A metodologia utilizada foi a que

regionaliza as curvas adimensionais de probabilidade e o fator de adimensionalidade. Os

autores afirmaram que, por intermédio da análise dos limites das diversas regiões homogêneas

e dos desvios calculados entre os valores observados e calculados pela equação de regressão,

foi possível indicar as áreas que necessitam da instalação de novas estações.

3.2 REGIÕES HOMOGÊNEAS

3.2.1 Definição de regiões homogêneas

Em hidrologia, o termo regiões homogêneas está associado a regiões que possuem

similaridade hidrológica. Para Lanna (1983), essa similaridade inclui fatores físicos,

climáticos, biológicos, geológicos e efeitos antrópicos.

Muitos autores consideram a identificação de regiões homogêneas como a etapa da

regionalização que possui maior grau de dificuldade, por requerer muitas vezes julgamento

subjetivo. De fato, Bobée e Rasmussen (1995) reconheceram que, a delimitação de regiões

homogêneas é construída com base em premissas difíceis de serem tratadas com rigor

matemático.

Page 22: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

8

De acordo com Tucci (1993), a regionalização hidrológica baseia-se no princípio

de que existe similaridade de comportamento hidrológico entre alguns locais, e que o

agrupamento desses locais em regiões hidrologicamente homogêneas permitiria uma

interpolação ou extrapolação mais adequada e precisa da informação ao se aplicar a

metodologia de regionalização escolhida. Ou seja, na regionalização hidrológica a

homogeneidade é entendida como a semelhança na resposta das funções regionais obtidas.

3.2.2 Critério para definir regiões hidrologicamente homogêneas

A identificação de regiões homogêneas deve ser feita em duas etapas consecutivas:

a primeira consiste em uma delimitação preliminar baseada unicamente nas características

locais, e a segunda, em um teste estatístico construído com base nas estatísticas locais, cujo

objetivo é verificar os resultados preliminares (HOSKING E WALLIS, 1997).

Baena et al (2004) citam a existência de vários critérios para a definição de regiões

hidrologicamente homogêneas, sendo que, no estudo por eles realizado de espacialização das

vazões Q7,10; Q90% e Q95% para a bacia do Rio Paraíba do Sul, foram utilizados dois critérios:

critério baseado na análise da distribuição de frequência das vazões

adimensionalizadas de cada estação; e

critério estatístico baseado na análise do ajuste de modelo de regressão múltipla.

e acordo com esses critérios, estabeleceram-se regressões múltiplas entre as séries

de vazões e as diferentes características físicas e climáticas das bacias.

Santos e Silva (2007) aplicaram o modelo hidrológico AÇUMOD, baseado em

SIG para a gestão de recursos hídricos do rio Pirapama, localizado no Estado de Pernambuco.

O AÇUMOD é um modelo distribuído contínuo que efetua o balanço hídrico na rede de

drenagem da bacia hidrográfica. A bacia foi dividida em zonas hidrologicamente homogêneas

que foram definidas como regiões com a mesma produção de água para uma mesma

precipitação e umidade inicial do solo. Para a discretização das zonas homogêneas, foram

utilizadas técnicas de cartografia digital, como a superposição de mapas digitais da bacia de

tipos de solo, de vegetação, de geologia, e de topografia. Essas zonas foram utilizadas pelo

AÇUMOD para a espacialização dos parâmetros em cada uma das regiões homogêneas.

No presente trabalho, as regiões hidrologicamente homogêneas foram definidas

em função da distribuição geográfica das estações e da combinação das estações que

Page 23: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

9

apresentarem o melhor ajuste na regressão, normalmente avaliado por intermédio do teste de

Ftotal de Fisher-Snedecor, do coeficiente de determinação ajustado (R2_a) e dos erros

percentuais entre os valores das vazões observados e estimados pelos modelos de regressão,

obtidos para cada uma das regiões homogêneas. Além disso, foram empregados mapas

temáticos de vegetação, pedologia e tipo de solos para identificar as características

predominantes da bacia em estudo. Pois, caso a bacia apresente similaridade entre esses

fatores (vegetação e solo), o conceito de região hidrológica homogênea é reforçado, já que

vegetação e solo são fatores que interferem diretamente na transformação chuva-vazão.

3.3 CURVA DE PERMANÊNCIA

3.3.1 Definição de curva de permanência

A curva de permanência é uma função hidrológica utilizada em estudos

hidrelétricos, navegabilidade, qualidade da água, abastecimento público, entre outros.

Segundo Vogel e Fennessey (1990), esta curva representa a relação entre a magnitude e a

frequência de vazões diárias, semanais, mensais, anuais (ou de qualquer outro intervalo de

tempo) de uma determinada bacia hidrográfica, fornecendo a porcentagem de tempo em que

uma determinada vazão é igualada ou excedida para um determinado período de tempo. Pinto

(1976) define a curva de permanência das vazões como uma curva acumulada de frequência

da série temporal contínua dos valores das vazões observada em um posto fluviométrico, que

indica a porcentagem de tempo em que um determinado valor de vazão foi igualado ou

excedido durante o período de observação. O autor ressalta que a técnica permite identificar a

potencialidade natural do rio em estudo, destacando o grau de permanência de qualquer valor

de vazão. Tal curva fornece uma simples, porém concisa, visão gráfica do comportamento

hidrológico de uma bacia quanto à variabilidade frequencial das vazões ao longo do tempo.

Page 24: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

10

3.3.2 Histórico e Construção de Curvas de Permanência

As curvas de permanência são amplamente utilizadas na prática da hidrologia para

diversas finalidades. Foster (1934), apud Vogel e Fenessey (1990), atribuiu o uso mais antigo

da curva de permanência a Clemens Herschel, por volta de 1880. Vogel e Fennessey (1990)

forneceram um breve histórico sobre o uso da curva de permanência e discorreram sobre o

amplo uso das mesmas durante a primeira metade do século passado. Referem-se também ao

pequeno número de artigos sobre curvas de permanência após o advento da tecnologia

computacional. Dentre esses usos, constam estudos de conciliação entre captação de água e

lançamentos de efluentes associados aos sistemas de gerenciamento de recursos hídricos,

gerenciamento da qualidade da água, abastecimento de água, estudos de potencial

hidrelétrico, planejamento de irrigação, estudos de impactos na resposta hidrológica nos rios

oriundos de diferenças regionais em geologia, clima e fisiografia entre bacias, manutenção de

habitats (uso ambiental), estudos de sedimentometria em rios (VOGUEL e FENNESSEY,

1990).

A técnica de obtenção da curva de permanência é empírica e também amplamente

descrita nos livros de hidrologia (VOGUEL e FENNESSEY, 1990 e TUCCI, 1993).

Tucci (1993) forneceu roteiro de fácil compreensão, interpretação e construção das

curvas. Este autor destacou dois procedimentos principais para a determinação da curva de

permanência, que são os seguintes:

metodologia empírica - consiste em estabelecer n intervalos de classe de vazões de

acordo com a magnitude da vazão, assegurando uma quantidade razoável de

valores em cada um deles, para em seguida se obter as respectivas frequências, a

partir da contagem do número de vazões da série contido em cada intervalo;

ajuste de uma função matemática – parte do princípio de que a curva resultante

acompanha uma função matemática, e sugere a função usada na distribuição log-

normal para representar a curva de permanência.

Eletrobrás (2000) recomenda a separação das vazões em intervalos de classe bem

distribuídos, e define a curva de permanência como a relação da vazão de um rio com a sua

probabilidade de ocorrerem valores iguais ou superiores. A construção da curva de

permanência segue três passos principais:

estabelecem-se intervalos de classe de vazões (di), calculando a amplitude pela

Eq.(1):

Page 25: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

11

(1)

onde:

di – amplitude de cada intervalo, em m³/s;

Qmax – vazão máxima de série, em m³/s;

Qmin – vazão mínima da série, em m³/s; e

n – número de dados da amostra.

Os limites dos intervalos são calculados somando-se “di” à vazão mínima e ao

resultado “di + Qmin” e assim sucessivamente até que a vazão máxima seja igualada, caso esta

seja excedida, o limite superior do último intervalo será a Qmax, gerando assim uma série de

intervalos di.

determina-se a permanência percentual, contando o número de vazões que “caem”

dentro dos intervalos de classe previamente estabelecidos, acumulando-as no

sentido da maior para a menor vazão, através da Eq.(2).

(2)

onde:

Pi – permanência percentual do intervalo di;

ni – número de vazões acumuladas; e

n – número total de vazões observadas.

a curva de permanência origina-se da curva Q (em ordem decrescente) versus Pi

(em ordem crescente). Onde as ordenadas Q são os limites inferiores dos intervalos

di, exceto da última, pois se deve preservar o valor de Qmax.

A Figura 3.1 apresenta uma curva de permanência típica, obtida a partir dos

registros de vazões da estação fluviométrica Arapari (cód. ANA_18200000), estação

localizada na bacia hidrográfica da Calha Norte. Curvas similares foram obtidas para todas as

demais estações consideradas neste estudo (Apêndice A).

100.n

nP i

i

Page 26: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

12

Figura 3.1 – Curva de permanência de vazões.

3.3.3 Modelos de regionalização de curvas de permanência de vazões

Embora as curvas de permanência sejam ferramentas muito úteis para os

hidrólogos, há uma literatura escassa sobre a regionalização de curvas de permanência de

vazões, se comparada à literatura sobre regionalização de vazões.

Alguns modelos matemáticos para as curvas de permanência de vazões são citados

aqui, tais como em Singh (1971), Riggs (1973), Dingman (1978), Quimpo et. al. (1983),

Mimikou e Kaemaki (1985), Rojanamon (1990) e Yu (2002). No Brasil, destacam-se os

trabalhos de Kavisky e Fior (1985), Tucci (1991), Córdova e Pinheiro (2000) e Reis e Cristo

(2006).

Singh (1971) coordenou um trabalho sobre curvas de permanência de vazões para

o Meio Oeste do Estados Unidos e desenvolveu um modelo adequado a pequenas vazões

(vazão observada dividida pela vazão média), correspondendo a uma certa porcentagem de

tempo D. Nesse caso, o modelo é uma simples função de potência da área de drenagem.

Riggs (1973), preocupado com a questão, mostrou a relação entre as durações das

vazões e as vazões mínimas de sete dias com retorno de 2 (dois) e 20 (vinte) anos, obtidos

para os rios de seis Estados americanos utilizados no estudo e encontrou que Q7,20 (vazão

mínima de sete dias de duração e 20 (vinte) anos de retorno, corresponde aproximadamente a

vazões de permanência que variam de 99,58% a 99,92% e para Q7,2 correspondem a vazões

Curva de Permanência

Cód. ANA 18200000_Estação Arapari (01/jun/72 - 01/dez/05)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

D (%)

Q (m³/s)

Curva de permanência

Page 27: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

13

que variam de 87,8% de permanência para o Estado de Kansas até 95,2% para o Estado de

Illinois.

O estudo de Dingman (1978) para New Hampshire (EUA), com dados diários de

24 (vinte e quatro) estações fluviométricas com mais de 10 (dez) anos de observação (bacias

de 7 a 8000 Km²), é tipicamente do tipo interpolado, definindo as vazões nas permanências de

2, 5, 30 e 95%. As três primeiras, como uma proporção constante da vazão média, cujo valor

por unidade de área é função linear da altitude média da bacia e a última, também tomada por

unidade de área, é uma função polinomial de segunda ordem da altitude média da bacia. O

autor apresentou intervalos de 95% de confiança empíricos com base na variabilidade das

vazões adimensionais (para as permanências de 2, 5 e 30%) e na variabilidade da altitude

média das bacias (considerada em todas as quatro vazões). Para as variabilidades citadas,

foram assumidas distribuições normais.

Quimpo et. al. (1983) pesquisaram a regionalização de curvas de

duração/permanência de vazão em diversas bacias hidrográficas das Filipinas. O trabalho foi

voltado para o aproveitamento hidroenergético, com o objetivo de obter as curvas de

duração/permanência nos locais não avaliados, que são locais propostos por mapas em

pequena escala. Os autores basearam-se em 35 (trinta e cinco) estações com dados diários de

vazão e séries de 8 (oito) a 21 (vinte e um) anos (bacias de 29 a 4150 Km²). De cada curva de

permanência observada foram retirados 13 pares vazão-permanência (vazão por unidade de

área) correspondentes aos percentis 1, 5, 95, 99 e de 10 a 90, de 10 em 10. Os modelos usados

pelos autores para a construção/modelagem das curvas de duração de vazão são dados abaixo:

Q = a.exp.(-b.D) (3)

Q = a.D-b

(4)

onde Q é a vazão (por área de unidade da bacia), D é o percentual de tempo igualado ou

excedido e a e b são constantes das regressões e foram calculadas através do método dos

mínimos quadrados.

Mimikou e Kaemaki (1985) desenvolveram um estudo de regionalização aplicado

às regiões oeste e noroeste da Grécia. As curvas de duração de vazões foram regionalizadas

usando as características morfoclimáticas das bacias. Foram usados no estudo 11 (onze)

estações fluviométricas representativas dos 5 (cinco) principais rios: Aliakmon, Acheloos,

Arachtos, Aoos e Kalamas.

Page 28: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

14

Além dos dados de vazões mensais usados na calibração das curvas de duração,

características morfoclimáticas das bacias como: precipitação média anual (mm), área de

drenagem (Km²), declividade (m) e comprimento do rio (Km), foram utilizadas na

regionalização dos parâmetros da curva. Outras duas estações fluviométricas localizadas no

rio Kalamas foram consideradas como alvos para a verificação do modelo de regionalização.

Para calibração das curvas de duração de vazões, as autoras utilizaram 5 (cinco)

modelos matemáticos: exponencial (Eq.(3)), potência (Eq.(4)), logarítmico (Eq.(5)),

quadrático (Eq.(6)) e cúbico (Eq.(7)). As autoras observaram que o modelo cúbico ajustou-se

melhor às curvas de duração de vazões. O melhor desempenho do modelo cúbico foi definido

pelo coeficiente de determinação R2 e pelo melhor ajuste das curvas.

Q = a – b.ln.D (5)

Q = a – b.D + c.D2 (6)

Q = a – b.D + c.D2 – d.D

3 (7)

A vazão Q foi tratada em suas unidades originais, ou seja, sem reduzir a vazão por

área de unidade da bacia. D é a probabilidade de tempo excedido. Os parâmetros a, b, c e d

são constantes positivas.

Os parâmetros a, b, c e d do modelo cúbico (Eq.(7)) representam a variação

espacial da vazão, os quais são explicados pelas informações morfoclimáticas da região em

estudo. Foram testados alguns modelos de regressão para definir o melhor modelo regional,

sendo que o modelo representado pela Eq.(8) foi o melhor modelo regional encontrado, por

ter apresentado a menor soma dos resíduos para todos os parâmetros.

V = b0.Pb1

.Ab2

.Hb3

.Lb4

(8)

onde P (precipitação), A (área de drenagem), H (desnível) e L (comprimento do rio) são as

variáveis independentes e V é a variável dependente que representa os parâmetros das curvas

de permanência de vazão a; b; c e d e b0; b1; b2; b3 e b4 são as constantes da regressão

múltipla que serão estimadas pelo método dos mínimos quadrados.

A análise de regressão múltipla foi executada de acordo com os textos estatísticos

(Haan, 1977; Middlebrooks, 1979), utilizando o método dos mínimos quadrados.

Page 29: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

15

São mostrados a seguir os modelos regionais e seus coeficientes de correlação para

todos os parâmetros.

(9)

Para testar a significância da contribuição de cada variável independente,

explicando a variação da variável dependente, foi usado o teste-F (Middlebrooks, 1979).

O modelo regional foi aplicado e verificado para as duas bacias adicionais

definidas como alvos (estações Piges e Kioteki). As características das estações-alvo foram

usadas para construir as curvas de duração de vazões simuladas. As curvas simuladas

apresentaram resultados satisfatórios, com um erro percentual (%) igual a 3% para a estação

Piges e 10% para a estação Kioteki.

Com esses resultados, Mimikou e Kaemaki concluíram que a técnica regional

desenvolvida pode ser facilmente usada para simular curvas de duração de vazões em locais

sem informações hidrológicas nas regiões oeste e noroeste da Grécia.

Algoritmo da metodologia

- Calibração das curvas de duração de vazões por meio dos seguintes modelos

matemáticos: potência, exponencial, logarítmico, quadrático e cúbico;

- Modelo regional definido através de testes de equações de regressão, utilizando o

método dos mínimos quadrados;

- Cálculo dos coeficientes de determinação R2;

- Teste F usado para conhecer o nível de confiança das equações de regressão;

- Aplicação e verificação do modelo regional para a construção das curvas de

permanência de vazões das bacias alvos com o melhor dos 5 modelos analisados;

- Estimativa do erro relativo (%) para as estações alvos.

0,83 r .L.H.A.P10 x 4.215 d

0,84 r .L.H.A0.010.P c

0,87 r .L.H.A0.053.P b

0,87 r .L.H.A0.011.P a

0,687-0,053-1,6371,1576-

0,0730,315-0,9520,708

0,2780,181-0,6840,511

0,2530,0070,6080,526

Page 30: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

16

Rojanamon (1990) desenvolveu um modelo simples para estimar curvas de

permanência, em uma base mensal, na bacia hidrográfica do rio Salawin, na Tailândia, que

tem um grande potencial hidrelétrico. O autor seguiu a mesma metodologia apresentada por

Mimikou e Kaemaki (1985), determinando que os modelos logarítmico e exponencial são os

melhores para a região estudada.

Yu (2002) ajustou dois modelos para dezenove bacias em Taiwan. O primeiro

modelo ajustado foi uma equação polinomial. Por não ser uma distribuição de probabilidade,

essa função não é adequada para a estimação de quantis. Entretanto, uma vazão pode ser

estimada pela equação polinomial, desde que a probabilidade p seja usada como uma variável

independente da seguinte forma:

Qp = a – b.p + c.p² - d.p³ (10)

em que Qp é a vazão para determinada excedência e a ,b, c e d são coeficientes de regressão.

O segundo modelo foi o índice-área, que consiste em se fazer a regressão entre vazões Qi,

para i = 10,20,...,90, e as respectivas áreas de drenagem das bacias em estudo.

Kavisky e Fior (1985) compararam o desempenho de vários modelos paramétricos

na regionalização da curva de permanência no Estado do Paraná (Exponencial, Pareto,

Lomax, Weibull, Log-gumbel e Log-normal). Foram utilizadas as vazões diárias de 63

(sessenta e três) bacias com áreas entre 54 e 5000 Km². Os parâmetros regionalizados foram

os momentos de primeira e segunda ordem para os quais foram feitos mapas de isolinhas.

Também foi regionalizada a vazão média de longo período por unidade de área na forma de

um mapa de isolinhas. Os melhores resultados foram obtidos com o modelo Lomax. Para a

construção dos intervalos de confiança, os autores se basearam na distribuição estatística da

vazão média de longo período.

Tucci (1991) apresentou um estudo da curva de permanência para o estado do Rio

Grande do Sul, dividido em seis regiões, pelo método interpolativo. Foram utilizados dados

de vazões médias diárias de 105 (cento e cinco) postos com áreas de contribuição entre 41 e

189.300 Km². Foi feita uma comparação entre as alternativas de considerar a curva de

permanência na sua forma empírica ou representada por uma função lognormal, com

parâmetros ajustados pelo método dos momentos. Está última, que caracteriza um modelo

paramétrico, foi descartada pelos resultados imprecisos (o critério de análise foi a verificação

do ajuste para as vazões Q50% e Q95%). Assim, foi adotado um modelo interpolativo

exponencial Eq.(11), que passa por Q50% e Q95%:

Page 31: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

17

Q = eaD+b

(11)

onde Q é a vazão, D é a permanência (%) e a e b são dados por:

a = - (ln (Q50%/Q95%))/0,45 (12)

b = ln Q50% – 0,50 a (13)

A regionalização ocorreu pela regressão de Q50% e Q95% com a área da bacia

através de uma equação de potência do tipo:

Q50% ou Q95% = cAd (14)

onde A é a área da bacia e c e d são parâmetros do modelo.

Córdova e Pinheiro (2000) aplicaram as técnicas de curva de permanência e

regionalização de vazões com o objetivo de identificar a existência de homogeneidade na

Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí – Santa Catarina, que permitisse a determinação de vazões

mínimas nos cursos d‟água da referida bacia. Discutiu-se a seleção da função matemática

mais adequada para a regionalização das vazões mínimas da Bacia do Rio Itajaí. A área de

drenagem da bacia (Km²) de cada posto e sua respectiva vazão Q80% (m³/s) foram ajustadas

com as seguintes funções matemáticas: linear, polinomial, potência, logarítmica e

exponencial. O coeficiente de determinação (R2) foi o fator de identificação da função que

melhor modelou a vazão supracitada. Os resultados encontrados indicaram que a função

potência representa melhor a condição de homogeneidade dentro da bacia.

Reis e Cristo (2006) aplicaram a técnica de regionalização de curvas de

permanência de vazões para rios do Estado do Espírito Santo. Foram consideradas como

variáveis independentes a área de drenagem (Km2) e a precipitação média anual (mm) da

bacia hidrográfica de 27 (vinte e sete) estações fluviométricas. O estudo permitiu identificar 3

(três) regiões hidrologicamente homogêneas e apresentar expressões regionais aplicáveis à

apropriação da curva de permanência de seções de cursos d‟água que não possuíam

monitoramento sistemático.

É fácil constatar que, em todos os métodos existentes de regionalização, cujo

objetivo é estimar vazões, há importância em se conhecer o comportamento das variáveis

físicas e/ou climáticas das bacias em estudo, como forma de acrescentar significativa melhoria

Page 32: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

18

a essas estimativas. No item que se segue, foi feita uma descrição das principais variáveis

utilizadas para essa finalidade.

3.4 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS UTILIZADAS NA REGIONALIZAÇÃO

Na definição das características físicas utilizadas no estudo de regionalização,

deve-se levar em conta que a característica deve ser representativa dos fenômenos que se

desejam reproduzir (CARONI et al., 1982). Normalmente são utilizadas como características

físicas: a área da bacia, o comprimento do curso d‟água principal e a densidade de drenagem.

As características físicas nos estudos de regionalização, normalmente, são

determinadas para a área de drenagem à montante de cada uma das estações fluviométricas

existentes na bacia. Estas bacias de contribuição podem ter sua delimitação realizada

manualmente ou automaticamente, com utilização de sistemas de informações geográficas.

A área de drenagem é a área delimitada pelo divisor de águas, constituindo a

principal variável explicativa em diversos estudos de regionalização de vazões, em função da

sua influência na potencialidade hídrica das bacias hidrográficas (Baena, 2002 e Azevedo,

2004). O processo de individualização da área de uma bacia segue as regras da hidrologia, em

que o traçado do contorno é realizado unindo os pontos de máxima cota entre sub-bacias,

atravessando o curso d‟água somente no exutório.

Existem, ainda, outras duas características físicas muito utilizadas na

regionalização hidrológica, ou seja, o comprimento do rio principal da bacia hidrográfica, o

qual é definido como aquele que drena a maior área no interior da bacia; e a declividade entre

o ponto mais à montante e o exutório do rio principal.

3.5 CARACTERÍSTICA CLIMÁTICA UTILIZADA NA REGIONALIZAÇÃO

É de consentimento geral que a precipitação influencia diretamente o

comportamento da vazão de um curso d‟água, sendo uma das principais variáveis explicativas

nos estudos de regionalização hidrológica. A precipitação média em uma bacia mostra o

comportamento espacial das precipitações, além de servir de referência para o planejamento

Page 33: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

19

de centrais hidrelétricas, agricultura irrigada, abastecimento público e outros usos, fornecendo

subsídios para a estimativa de outros parâmetros hidrológicos.

Segundo Euclydes et al. (1999), a estimativa da precipitação média em uma bacia

hidrográfica pode ser realizada utilizando-se várias metodologias, dentre elas o método do

polígono de Thiessen. Esse método atribui um fator de ponderação aos totais precipitados em

cada pluviômetro proporcional a área de influência de cada um. As áreas de influência ou

peso são determinadas no mapa da bacia contendo as estações, unindo-se os pontos adjacentes

por linhas retas e, em seguida, traçando-se as mediatrizes dessas retas, formando polígonos.

Os lados dos polígonos são os limites das áreas de influência de cada estação. A precipitação

média é calculada pela média ponderada entre a precipitação (Pméd) de cada estação e o peso a

ela atribuído (Ai), que é a área de influência de Pméd.

3.6 ANÁLISE DE REGRESSÃO MÚLTIPLA

A análise de regressão múltipla é uma técnica estatística que pode ser usada para

analisar a relação entre uma única variável dependente e várias independentes. O objetivo da

análise da regressão múltipla é usar as variáveis independentes cujos valores são conhecidos

para prever os valores da variável dependente selecionada pelo pesquisador (HAIR;

TATHAM e BLACK, 2005).

Riggs (1973), afirmou que a regressão múltipla é diretamente útil como uma

ferramenta de regionalização, porém a interpretação dos resultados de uma análise regional

não é tão direta, porque não se pode descrever toda a variabilidade das características da bacia

por uma regressão.

A relação entre a variável dependente e as demais variáveis independentes pode,

segundo Haan (1977), ser formulada de acordo com um modelo linear dado por:

Y = β1 + β2.X2 +...+ βi.Xi + є (15)

onde Y é a variável dependente ou prevista, X1, X2,...,Xi são as variáveis independentes ou

explicativas, β1, β2,..., βi são os coeficientes e є denota os erros da regressão.

Um modelo análogo ao anterior, porém em forma não linear, é aquele expresso

pela Eq.(16). Esse modelo pode ser linearizado aplicando-se o logaritmo aos dois lados da

Page 34: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

20

equação, fazendo-se, então, a regressão linear múltipla entre os logaritmos das variáveis

envolvidas.

Y = β1.X2β2

...Xiβi

+ є (16)

Analogamente ao caso anterior, os coeficientes β1, β2,..., βi podem ser calculados

pelo método dos mínimos quadrados e representados em notação matricial.

3.6.1 Método dos mínimos quadrados

Os modelos de regressão (Eqs.(15) e (16)) são representado em notação matricial

por:

(17)

onde [Y] é um vetor (n x 1) das observações da variável dependente; [X] é uma matriz (n x P)

com as n observações de cada uma das P variáveis independentes, e [β] é um vetor (P x 1)

com os parâmetros desconhecidos (HAIR; TATHAM e BLACK, 2005).

Pode-se escrever em forma matricial:

(18)

As equações normais de regressão são representadas pelo seguinte sistema:

(19)

.XY

nY

Y

Y

Y

2

1

Pnnn

P

P

XXX

XXX

XXX

X

,2,1,

,22,21,2

,12,11,1

1

1

1

n

2

1

... XXYXTT

Page 35: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

21

As equações normais (Eq.(20)) podem ser obtidas, formalmente, mediante

multiplicação de ambos os membros da Eq.(15) por 1, X2,..,Xi, sucessivamente, e a soma

membro a membro das expressões resultantes.

(20)

onde Y é a variável dependente, Xi são as variáveis independentes, N o tamanho da amostra e

os βi são os coeficientes de regressão.

As soluções da Eq.(19) são encontradas pela multiplicação dos termos da equação

por .

Desse modo, a solução do vetor corresponde ao estimador de mínimos

quadrados de β dado por:

(21)

O somatório total dos quadrados pode ser representado por:

(22)

Essas parcelas dos somatórios dos quadrados são calculadas por planilhas

eletrônicas na forma de uma tabela de análise de variância (ANOVA), tal como ilustra a

Tabela 3.1.

2

221

2

2

22212

221

........

.......

......

iiiii

ii

ii

XXXXXY

XXXXXY

XXNY

1

. XXT

YXXXTT 1

YXYYYnYXYnYYT

T

TT

T

T 22

...

Page 36: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

22

Tabela 3.1– Tabela ANOVA da regressão múltipla.

Fonte Graus de

liberdade

Somatório dos quadrados Quadrado médio

Regressão P

Resíduos n-P-1

Total n-1

Fonte: (HAIR; TATHAM e BLACK, 2005).

onde,

n - tamanho da amostra

P - número de variáveis independentes.

SQReg – somatório dos quadrados da regressão;

QM Reg - quadrado médio da regressão;

QM Res - é o quadrado médio dos resíduos; e

SQT - o somatório dos quadrados total.

3.6.2 Multi-colinearidade

Helsel e Hirsch (1992) advertiram sobre os cuidados que devem ser tomados para

se evitar a multi-colinearidade entre as variáveis explicativas em uma regressão múltipla. A

multi-colinearidade é a situação em que uma certa variável explicativa possui alta correlação

com uma ou mais variáveis explicativas, implicando superparametrização do modelo de

regressão. Algumas das consequências da multi-colinearidade são:

equações aceitáveis em termo do teste de F total cujos coeficientes possuem

escalas não realistas;

coeficientes podem ter sinais não realistas; e

coeficientes instáveis: uma pequena mudança em um ou poucos dados de entrada

podem provocar grandes mudanças nos coeficientes.

2

Re YnYXgSQT

T

P

gSQgQM

ReRe

YXYYsSQT

T

TRe 1

ReRe

Pn

sSQsQM

2

YnYYSQTT

Page 37: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

23

Em geral, as etapas e os critérios de seleção dos melhores modelos de regressão e

do melhor conjunto de variáveis explicativas são:

(a) definição da matriz de correlação simples entre as variáveis;

(b) cálculo do coeficiente de determinação ajustado (R2_a); e

(c) testes de estatísticas Ftotal, para a verificação da significância do modelo de

regressão como um todo.

A matriz de correlação é construída a partir do cálculo dos coeficientes de

correlação simples entre as variáveis do modelo. A correlação entre duas variáveis X1 e X2 é

determinada pelo coeficiente de regressão simples r, definido por:

1, . 2, 1, 2,

1 1 1

2

2 2

1, 1, 2, 2,

1 1 1 1

.

.

n n n

i i i i

i i i

n n n n

i i i i

i i i i

n X X X X

r

n X X n X X

(23)

O coeficiente r varia de -1 a 1. Quando r é positivo, indica uma tendência de

crescimento conjunto de X1 e X2. Quando r é negativo, maiores valores de X1 são associados

a menores valores de X2. Quanto mais próximo da unidade, melhor a correlação entre X1 e X2.

Considerando Y a variável dependente, e X1 e X2 as variáveis explicativas e r o

coeficiente simples entre as variáveis, pode-se escrever a matriz de correlação como:

Quadro1 – Matriz de correlação

Y X1 X2

Y 1

X1 rYX1 1

X2 rYX2 rX1X2 1

3.6.3 Coeficiente de determinação múltipla (R2)

O coeficiente de determinação múltipla (R2) é uma medida adimensional da

associação linear entre as variáveis. Ele é definido pela seguinte relação (NAGHETTINI e

PINTO, 2007):

Page 38: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

24

(24)

O coeficiente de determinação múltipla varia entre 0 e 1, e expressa a proporção da

variância que é explicada pelo modelo de regressão.

3.6.4 Coeficiente de determinação ajustado (R2_a)

O valor de R²_a ou não tendencioso é calculado considerando o número de

variáveis independentes da equação de regressão.

(25)

onde n é o número de valores observados, p é o número de variáveis independentes e R² é o

coeficiente de determinação.

3.6.5 Coeficiente de Nash-Sutcliffe (Nash)

A estatística do coeficiente de Nash compara a redução do desvio quadrático do

erro do modelo com o desvio quadrático do modelo alternativo de prever sempre a média dos

valores (NASH & SUTCLIFFE, 1970).

(26)

onde Yobs é a vazão observada, Ycal é a vazão simulada pelo modelo e é a média das

vazões observadas.

_2

2_

2 Re

YnYY

YnYX

SQT

gSQR

T

T

Page 39: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

25

3.6.6 Teste de significância da equação de regressão múltipla

Segundo Naghettini e Pinto (2007), a existência de uma relação significativa entre

a variável dependente e as variáveis independentes ou explicativas, pode ser avaliada pelo

„teste do F total‟, o qual é utilizado para testar a razão entre duas variâncias. A estatística do

teste é a relação entre a variância decorrente da regressão múltipla e a variância dos resíduos,

ou seja:

(27)

A hipótese nula será aceita se

Ftotal < F (α, P, n – p – 1) (28)

onde α é o nível de significância.

Quando o valor calculado de F é maior que o valor tabelado (F de Snedecor) para

uma significância de 5%, a hipótese de que os coeficientes da equação de regressão são nulos

pode ser rejeitada e a regressão é aceita a este nível de significância. A distribuição F de

Snedecor para 5% de significância é apresentada pela Figura 3.2.

_2

Re

Re

1

TT

total TT T

X Y nY

QM g PFQM s

Y Y X Y

n P

Page 40: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

26

5%

Distribuição F de

Snedecor

α = 0,05

g /

denominador

g / numerador 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1 161,45 199,50 215,71 224,58 230,16 233,99 236,77 238,88 240,54 241,88

2 18,51 19,00 19,16 19,25 19,30 19,33 19,35 19,37 19,38 19,40

3 10,13 9,55 9,28 9,12 9,01 8,94 8,89 8,85 8,81 8,79

4 7,71 6,94 6,59 6,39 6,26 6,16 6,09 6,04 6,00 5,96

5 6,61 5,79 5,41 5,19 5,05 4,95 4,88 4,82 4,77 4,74

6 5,99 5,14 4,76 4,53 4,39 4,28 4,21 4,15 4,10 4,06

7 5,59 4,74 4,35 4,12 3,97 3,87 3,79 3,73 3,68 3,64

8 5,32 4,46 4,07 3,84 3,69 3,58 3,50 3,44 3,39 3,35

9 5,12 4,26 3,86 3,63 3,48 3,37 3,29 3,23 3,18 3,14

10 4,96 4,10 3,71 3,48 3,33 3,22 3,14 3,07 3,02 2,98

11 4,84 3,98 3,59 3,36 3,20 3,09 3,01 2,95 2,90 2,85

12 4,75 3,89 3,49 3,26 3,11 3,00 2,91 2,85 2,80 2,75

13 4,67 3,81 3,41 3,18 3,03 2,92 2,83 2,77 2,71 2,67

14 4,60 3,74 3,34 3,11 2,96 2,85 2,76 2,70 2,65 2,60

15 4,54 3,68 3,29 3,06 2,90 2,79 2,71 2,64 2,59 2,54

16 4,49 3,63 3,24 3,01 2,85 2,74 2,66 2,59 2,54 2,49

17 4,45 3,59 3,20 2,96 2,81 2,70 2,61 2,55 2,49 2,45

18 4,41 3,55 3,16 2,93 2,77 2,66 2,58 2,51 2,46 2,41

19 4,38 3,52 3,13 2,90 2,74 2,63 2,54 2,48 2,42 2,38

20 4,35 3,49 3,10 2,87 2,71 2,60 2,51 2,45 2,39 2,35

21 4,32 3,47 3,07 2,84 2,68 2,57 2,49 2,42 2,37 2,32

22 4,30 3,44 3,05 2,82 2,66 2,55 2,46 2,40 2,34 2,30

23 4,28 3,42 3,03 2,80 2,64 2,53 2,44 2,37 2,32 2,27

24 4,26 3,40 3,01 2,78 2,62 2,51 2,42 2,36 2,30 2,25

25 4,24 3,39 2,99 2,76 2,60 2,49 2,40 2,34 2,28 2,24

26 4,23 3,37 2,98 2,74 2,59 2,47 2,39 2,32 2,27 2,22

27 4,21 3,35 2,96 2,73 2,57 2,46 2,37 2,31 2,25 2,20

28 4,20 3,34 2,95 2,71 2,56 2,45 2,36 2,29 2,24 2,19

29 4,18 3,33 2,93 2,70 2,55 2,43 2,35 2,28 2,22 2,18

30 4,17 3,32 2,92 2,69 2,53 2,42 2,33 2,27 2,21 2,16

35 4,12 3,27 2,87 2,64 2,49 2,37 2,29 2,22 2,16 2,11

40 4,08 3,23 2,84 2,61 2,45 2,34 2,25 2,18 2,12 2,08

45 4,06 3,20 2,81 2,58 2,42 2,31 2,22 2,15 2,10 2,05

50 4,03 3,18 2,79 2,56 2,40 2,29 2,20 2,13 2,07 2,03

100 3,94 3,09 2,70 2,46 2,31 2,19 2,10 2,03 1,97 1,93

onde a linha grau numerador é a quantidade de variáveis independentes (P) e a coluna grau

denominador é um valor calculado a partir do número total de observações menos o número

de variáveis independentes menos um (n – p – 1).

Figura 3.2 – Tabela da distribuição F de Snedecor para nível de significância de 5%.

(Fonte:UFPR).

Page 41: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

27

3.6.7 Teste de partes de um modelo de regressão múltipla

A contribuição de uma variável explicativa ao modelo de regressão múltipla pode

ser determinada pelo critério do chamado „teste de F parcial’. De acordo com esse critério,

avalia-se a contribuição de uma variável explicativa para a soma dos quadrados devido à

regressão, depois que todas as outras variáveis independentes foram incluídas no modelo.

Sendo assim, a contribuição de uma variável Xk para a soma dos quadrados da regressão,

considerando que as outras variáveis estão incluídas, é estimada pela diferença dada por:

SQReg(Xk) = SQReg (todas as variáveis com Xk) – SQReg (todas as variáveis sem Xk) (29)

A verificação, se a inclusão de uma variável Xk melhora significativamente o

modelo de regressão, é realizada por meio de um teste com as seguintes hipóteses nula e

alternativa:

H0 = a variável Xk não melhora significativamente o modelo

H1 = a variável Xk melhora significativamente o modelo

O F parcial é calculado pela Eq.(30).

Fp = SQ Reg (Xk) / MQ Res (30)

A hipótese nula deve ser rejeitada se a estatística Fp for maior que o valor critico

da distribuição F de Snedecor, com 1 e n – p – 1 graus de liberdade, e nível de significância α,

onde n é o tamanho da amostra e p é o número de variáveis explicativas incluindo Xk, ou seja,

rejeita-se H0 se

Fp > F(α, 1, n – p – 1) (31)

Page 42: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

28

4 ÁREA DE ESTUDO E DADOS

4.1 ÁREA DE ESTUDO

4.1.1 Bacia Amazônica

A Bacia Amazônica (Figura 4.1) representa cerca de 40% do território brasileiro e

possui mais de 60% de toda a disponibilidade hídrica do país. Está inserida no quadrante

definido pelas coordenadas: N05º20‟/W048º20‟ e S16º20‟/W074º00, sendo que o Rio

Amazonas lança suas águas no Oceano Atlântico aproximadamente ao nível da linha do

Equador, na altura dos 50ºW de longitude. É formada por todos os rios, córregos e demais

tipos de mananciais que deságuam suas águas no rio Amazonas. Essa bacia abrange Estados

Figura 4.1 – Bacia Amazônica. (BLANCO, 2005).

BRAZIL

50 60 70

Page 43: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

29

brasileiros (Acre, Amapá, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Pará), além de

países vizinhos (Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana e Bolívia). Ocupando uma área

total de 6 925 674 km2, a bacia em questão é a maior do mundo. Nela existe um grande

número de rios, a maioria deles detentores de um grande volume de água. O rio que dá nome

à bacia (Amazonas) tem sua nascente nos Andes, mais precisamente no Peru. Durante o

percurso do rio, o mesmo é denominado de maneiras distintas. No Brasil, por exemplo, seu

primeiro nome é Solimões, e passa a ser chamado de Amazonas quando converge com o Rio

Negro. O rio Amazonas tem uma extensão aproximada de 6 500 Km (FIBGE, 1992).

4.1.2 Região hidrográfica do Estado do Pará

A região hidrográfica do Estado do Pará (Figura 4.2) abrange uma área de

1 253 164 km2 (IBGE, 2010). É formada por mais de 20 mil quilômetros de rios extensos e

perenes como o Amazonas, que corta o Estado no sentido oeste/leste e deságua num grande

delta estuário com inúmeras ilhas, entre elas a ilha do Marajó, ou os rios Tocantins e Guamá,

que formam bacias independentes. Estão também no Pará alguns dos mais importantes

afluentes do Amazonas como Tapajós e Xingu, pela margem direita, Trombetas, Maicuru e

Jarí, pela margem esquerda.

A divisão em regiões hidrográficas atualmente utilizada pela Secretaria de Meio

Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Pará, estabelece 7 (sete) principais regiões

hidrográficas: Região Hidrográfica da Calha Norte, Região Hidrográfica do Tapajós, Região

Hidrográfica do Xingu, Região Hidrográfica do Baixo Amazonas, Região Hidrográfica de

Portel – Marajó, Região Hidrográfica do Tocantins – Araguaia e Região Hidrográfica da

Costa Atlântica – Nordeste, representadas pela Figura 4.2.

Page 44: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

30

Figura 4.2 – Divisão do Estado do Pará em regiões hidrográficas (Fonte: SEMMA, 2001).

4.1.3 Região hidrográfica da Calha Norte e suas características

Como área de estudo, para a aplicação do método de regionalização, foi escolhida

a bacia hidrográfica da Calha Norte (Figura 4.3), localizada no noroeste do Estado do Pará.

4.1.3.1 Hidrografia

A bacia está dividida em 3 (três) principais sub-regiões hidrográficas: Nhamundá –

Trombetas, Cuminapanema – Maicuru, e Paru – Jarí, ocupando uma área de 21,5% do Estado.

Essas sub-regiões são mostradas na Figura 4.3. Têm como drenos principais os rios com

mesma denominação das bacias, que drenam terrenos geológicos diversos, os quais

constituem o Cráton Amazônico, composto sobretudo de rochas cristalinas, do complexo

Page 45: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

31

Guianense, de natureza granito-gnáissico-migmáticas, rochas sedimentares, de idade

Paleozóica, pertencente à Bacia do Amazonas, sedimentos terciários da Formação Barreiras e

sedimentos recentes (SEMMA, 2001).

Sua importância é relevante, por ser uma zona de fronteira. É marcada por uma

baixa densidade demográfica, sendo uma das regiões mais conservadas do Estado. Nela se

encontram os seguintes municípios: Faro, Terra Santa, Oriximiná, Óbidos, Curuá, Alenquer,

Monte Alegre, Prainha e Almeirim.

Figura 4.3 – Região Hidrográfica da Calha Norte e Sub-Bacias (Fonte: SEMMA, 2001).

4.1.3.2 Clima

O clima da região apresenta média mensal de temperatura do ar elevada, em torno

de 27ºC, com máxima de 31ºC e mínima de 23ºC.

A umidade relativa apresenta valores acima de 70%, em quase todos os meses do

ano. A precipitação pluviométrica é em torno de 2 000 mm, com distribuição irregular durante

Page 46: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

32

o ano. A estação de maior pluviosidade vai de Dezembro a Junho, tendo Março como o mês

mais chuvoso, enquanto que, a de menor, vai de Julho a Novembro, sendo Outubro o mês

mais seco, apresentando total mensal abaixo de 60mm.

O limite geográfico da região em estudo coincide com os divisores de água das

bacias limítrofes da região considerada. A calha do rio Amazonas é a feição geomorfológica

de maior importância, as bacias componentes da região hidrográfica da Calha Norte deságuam

em suas margens ou diretamente na foz.

4.1.3.3 Vegetação

A área em estudo apresenta vegetação densa como dominante (Figura 4.4). A

distribuição espacial da vegetação é influenciada pelo clima, topografia e natureza do solo. O

calor constante e a abundância de chuvas na região permitem o desenvolvimento de uma mata

densa e sempre verde, que originalmente ocupa quase toda a superfície da Calha Norte.

Figura 4.4 – Mapa da distribuição espacial da vegetação na região da Calha Norte

(Fonte: IBAMA, 2009).

Page 47: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

33

4.1.3.4 Solo e Pedologia

Na Região Hidrográfica da Calha Norte ocorre a predominância de dois tipos de

solo: os latossolos e os podzólicos (Figura 4.5).

Latossolos: é a classe de solo de maior ocorrência no país, são bem drenados,

profundos, porosos e permeáveis, com coloração que varia do amarelo ao

vermelho escuro. Ocorrem em áreas de topografia suave e de relevo mais

acidentado. São geralmente acidificados e possuem baixa fertilidade natural, salvo

algumas exceções. Os latossolos são diferenciados pela cor, que lhes é atribuída

pelo teor de óxido de ferro.

Podzólicos: são relativamente profundos, férteis, bem drenados, normalmente

acidificados, com textura variando de média à argilosa. Tal qual os latossolos,

também apresentam cores que variam do amarelo ao vermelho escuro

diferenciando-se daqueles pela menor profundidade e, principalmente, pelo o

acúmulo de argila. Os podzólicos são muito propícios à erosão não só pelo

conteúdo de argila, que dificulta a penetração de água no perfil, mas também por

ocorrer em área de topografia mais movimentada.

Figura 4.5 - Mapa de tipos de solos da região da Calha Norte (Fonte: IBAMA, 2009).

Page 48: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

34

O mapa representativo da pedologia encontrada na Região Hidrográfica da Calha

Norte (Figura 4.6) mostra com mais detalhe as classes dos solos predominantes na região. O

latossolo vermelho amarelo (latossolos) e o argiloso vermelho e amarelo (podzólicos

vermelho-amarelos) estão presentes em quase toda a região apresentando ainda proporções

significativas de latossolo amarelo.

Figura 4.6 – Mapa pedológico da região da Calha Norte (Fonte: IBAMA, 2009).

4.2 DADOS UTILIZADOS NO ESTUDO

4.2.1 Estações Fluviométricas e Pluviométricas

Os dados fluviométricos e pluviométricos são indispensáveis para os estudos de

aproveitamento hidroenergéticos, planejamento de uso dos recursos hídricos, gerenciamento

Page 49: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

35

de bacias hidrográficas, abastecimento público e muitos outros estudos de grande importância

científica e sócio-econômica (IBIAPINA, 1999).

No presente estudo foram analisados os dados consistidos de 9 (nove) estações

fluviométricas (Tabela 4.1) e 12 (doze) estações pluviométricas (Tabela 4.2) pertencentes à

rede hidrometeorológica do Sistema de Informações Hidrológicas (Hidroweb) da Agência

Nacional de Águas (ANA).

Tabela 4.1 – Estações fluviométricas utilizadas no estudo.

Código Rio Estações (E1-E7), alvos

(A1-A2) e Sintéticas

Latitude Longitude Período

18200000 Maicuru Arapari (E1) -1°46‟44” -54°23‟50” 1972-2005

17090000 Curuá Boca do inferno (E2) -1°30‟11” -54°52‟22” 1973-2005

18280000 Paru de Este Apalai (E3) 1°13‟15” -54°39‟25” 1980-2005

16700000 Cuminã Tirios (E4) 2°13‟26” -55°57‟23” 1979-2006

16480000 Mapuera Aldeia Wai-Wai (E5) -0°41‟41” -57°58‟29” 1986-2006

16430000 Trombetas Garganta (E6) -0°59‟52” -57°02‟35” 1987-2005

17070000 Curuá Sete Varas (E7) -0°57‟00” -54°55‟00” 1980-1982

16370000 Trombetas Perimetral Norte (A1) 0°38‟33” -56°52‟14” 1987-1996

18150000 Maicuru Lajeiro (A2) -0º58‟00” -54º26‟00” 1980-1983

Sintética Paru de Este E.S.01 -1º04‟55” -53º09‟27” _

Sintética Cuminã E.S.02 1º41‟45” -56º03‟54” _

Sintética Urucuriana E.S.03 0º36‟00” -55º90‟00” _

Sintética Caxipacoro E.S.04 -0º57‟00” -56º78‟00” _

Sintética Cachorro E.S.05 -0º06‟00” -57º32‟00” _

As três estações pluviométricas - Fazenda Bela Vista (código ANA: 152006),

Kuxare (código ANA: 8156001) e Vista Alegre (código ANA: 156000) - com dados

consistidos a mais (Tabela 4.2) foram utilizadas em conjunto com três estações fluviométricas

sintéticas 01, 02 e 03 (Tabela 4.1 e Figura 4.7), com dados estimados por meio do método da

correlação direta de áreas de drenagem (Eletrobrás, 2000). Além desses 12 (doze) pares de

estações, foram utilizados mais dois, nos quais os dados de vazão das Estações Sintéticas 04 e

05 foram estimados pelo método supracitado e os dados de precipitação foram estimados por

médias aritméticas das estações mais próximas (Figura 4.8), listadas a seguir e apresentadas

Page 50: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

36

ao final da Tabela 4.2, ou seja: Estações pluviométricas Cachoeira da Porteira conjunto 1

(código ANA: 157000), Perimetral Norte (código ANA: 8056001) e Aldeia Wai–Wai (código

ANA: 57000); totalizando 14 (quatorze) pares de estações hidrológicas.

Tabela 4.2 – Estações pluviométricas utilizadas no estudo.

Código Rio Estação Latitude Longitude Período

154001 Curuá Boca do inferno -1º30‟00” -54º52‟17” 1975-2007

8154000 Paru de Este Apalai 1º13‟13” -54º39‟22” 1981-2006

154000 Maicuru Arapari -1º46‟25” -54º23‟50” 1973-2006

8255000 Cuminã Tirios 2°13‟31” -55°56‟57” 1972-2004

57000 Mapuera Aldeia Wai-Wai -0º41‟43” -57º58‟27” 1987-2007

157000 Trombetas Cac. Port-Conj. 1 -1º05‟15” -57º2‟49” 1976-2007

154001 Curuá Boca do inferno -1º30‟00” -54º52‟17” 1975-2007

8056001 Trombetas Perimetral Norte 0º38‟42” -56º52‟04” 1987-1988

253000 Uruará Santa Cruz -1º10‟44” -53º35‟58” 1985-2007

152006 Paru de Este Fazenda Bela Vista -1º04‟55” -53º09‟27” 1985-2006

8156001 Cuminã Kuxare 1º41‟45” -56º03‟54” 1999-2007

156000 Cuminã Vista Alegre -1º07‟49” -56º03‟12” 1978-2007

A distribuição espacial das estações fluviométricas e pluviométricas consideradas

no estudo é apresentada pelas Figuras 4.7 e 4.8 respectivamente.

Page 51: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

37

Figura 4.7 – Distribuição espacial das estações fluviométricas e sintéticas utilizadas na

regionalização (Fonte: ANA, 2008).

Figura 4.8 –Distribuição espacial das estações pluviométricas utilizadas na regionalização

(Fonte:.ANA, 2008).

Page 52: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

38

Além dos dados de vazões diárias e precipitações anuais médias, também foram

usadas características fisiográficas, tais como: área de drenagem, comprimento e desnível do

rio (Tabela 4.3).

Tabela 4.3 - Características físico-climáticas.

Rio Estação

Precipitação

média anual

“P” (mm)

Área de

drenagem

“A” (Km2)

Comprimento

do rio “L”

(Km)

Desnível

do rio

“H” (m)

Maicuru Arapari 1704,31 17072 298,96 450

Curuá Boca do inferno 2049,77 20803 309,20 439

Paru de Este Apalai 1965,21 5902 223,17 175

Cuminã Tirios 2081,23 945 41,36 65

Mapuera Aldeia Wai-Wai 2241,13 21400 395,61 417

Trombetas Garganta 2767,91 37910 506,07 335

Curuá Sete Varas 2049,77 7249 153,89 180

Trombetas Perimetral Norte 2804,70 19490 326,15 194,9

Maicuru Lajeiro 1918,30 8022 188 220

Paru de Este E.S.01 1715,75 35730 _ 360

Cuminã E.S.02 2081,23 856 _ 106

Urucuriana E.S.03 2489,63 4722 _ 100

Caxipacoro E.S.04 2786,31 4998 _ 265

Cachorro E.S.05 2604,58 6988 _ 220

A área de drenagem foi obtida na rede hidrometeorológica do Sistema de

Informações Hidrológicas (Hidroweb) da Agência Nacional de Águas (ANA). Entretanto,

algumas bacias não possuem dados de área de drenagem, sejam aquelas advindas do portal da

ANA ou as definidas para aplicação do método da correlação direta de áreas de drenagem.

Assim, a estimativa da área dessas bacias foi procedida a partir de mapa geográfico, no qual

foi determinado o contorno de cada bacia, utilizando-se ferramentas de softwares do tipo SIG,

que permitiram definir a projeção horizontal de cada bacia dos trechos afluentes ao ponto

onde está localizada a estação.

As variáveis comprimento e desnível do rio, também foram obtidas por intermédio

de softwares do tipo SIG. No caso da primeira, foram utilizados os valores de latitude e

Page 53: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

39

longitude das estações fluviométricas. Sendo que esses valores foram usados para localização

das estações em mapas disponíveis, podendo-se, assim, encontrar a distância da estação até a

cabeceira do rio. Para isso, foi necessário segmentar a hidrografia em trechos, calcular o

comprimento acumulado a partir de cada nascente e, finalmente, somar os comprimentos dos

trechos. No caso da segunda, foi determinada a altitude do ponto onde se encontrava a estação

fluviométrica e a altitude da nascente do rio. Com essas informações, foi possível encontrar o

desnível do rio subtraindo-se os valores de altitudes supracitados.

Page 54: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

40

5 METODOLOGIA ANALISADA E APLICADA

5.1 INTRODUÇÃO

Para o desenvolvimento deste estudo, foi utilizada como base a metodologia

proposta por Mimikou e Kaemaki (1985), sendo aplicada para a Região Hidrográfica da Calha

Norte usando as características físico-climáticas apresentadas na Tabela 4.3, para as 7 (sete)

primeiras estações fluviométricas da Tabela 4.1.

5.2 CALIBRAÇÃO DO MODELO

Assim, foram testados 5 (cinco) modelos matemáticos, ou seja, potência,

exponencial, logarítmico, quadrático e cúbico (Eqs. 3-7) para a calibração das curvas de

permanência de vazões das 7 (sete) primeiras estações fluviométricas da Tabela 4.1

consideradas para a bacia hidrográfica da Calha Norte.

Para testar os modelos, foi usada uma planilha eletrônica capaz de ajustar aos

dados observados funções correspondentes aos cinco modelos supracitados. Os parâmetros a,

b, c e d foram calculados por intermédio do método dos mínimos quadrados, mas

determinados automaticamente pela planilha eletrônica.

Para uma melhor visualização gráfica do ajuste dos modelos, foram selecionados

25 (vinte e cinco) pares – Q (m³/s) x D (permanência %) – para cada uma das 7 (sete) estações

da bacia hidrográfica da Calha Norte. Esses 25 (vinte e cinco) pares foram divididos em

intervalos de 4% até alcançar os 100%, ou seja, 4%, 8%, 12% ... 100%.

Nas Figuras 5.1 a 5.7 são apresentados o ajuste dos 5 (cinco) modelos matemáticos

para as curvas de permanência de vazões referente a todas as estações consideradas no estudo.

Page 55: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

41

Figura 5.1 Curva de permanência de vazões da estação Arapari (18200000) calibrada para os

5 modelos matemáticos.

Cód. ANA 18200000 - Estação Arapari

(Modelo Potência)

0

500

1000

1500

2000

2500

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18200000 - Estação Arapari

(Modelo Exponencial)

0

100

200

300

400

500

600

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18200000 - Estação Arapari

(Modelo Quadrático)

0

100

200

300

400

500

600

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18200000 - Estação Arapari

(Modelo Logarítmico)

0

100

200

300

400

500

600

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18200000 - Estação Arapari

(Modelo Cúbico)

0

100

200

300

400

500

600

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

y=11,57x-1,5886

R²=0,69

y=683,16e-5,0989x

R²=0,89

y=708,58x²-1103,8x+431,49

R²=0,95

y=-147,26Ln(x)-24,293

R²=0,98

y=-1282,2x³+2708,9x²-1952,4x+512,15

R²=0,99

Page 56: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

42

Figura 5.2 - Curva de permanência de vazões da estação Boca do Inferno (17090000)

calibrada para os 5 modelos matemáticos

Cód. ANA - Estação Boca do Inferno

(Modelo Potência)

0

1000

2000

3000

4000

5000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA - Estação Boca do Inferno

(Modelo Exponencial)

0

200

400

600

800

1000

1200

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA - Estação Boca do Inferno

(Modelo Quadrático)

0

100

200

300

400

500

600

700

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA - Estação Boca do Inferno

(Modelo Logarítmico)

0

100

200

300

400

500

600

700

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA - Estação Boca do Inferno

(Modelo Cúbico)

0

100

200

300

400

500

600

700

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

y=5,6676x-2,0856

R²=0,58

y=1342,4e-6,9097x

R²=0,79

y=1001,4x²-1506,9x+554,43

R²=0,94

y=-190,76Ln(x)-46,488

R²=0,97

y=-1833,1x³+3861x²-2719,9x+669,73

R²=0,99

Page 57: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

43

Figura 5.3 - Curva de permanência de vazões da estação Apalai (18280000) calibrada para

os 5 modelos matemáticos.

Cód. ANA 18280000 - Estação Apalai

(Modelo Potência)

0

500

1000

1500

2000

2500

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18280000 - Estação Apalai

(Modelo Exponencial)

0

100

200

300

400

500

600

700

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18280000 - Estação Apalai

(Modelo Quadrático)

0

100

200

300

400

500

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18280000 - Estação Apalai

(Modelo Logarítmico)

0

100

200

300

400

500

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18280000 - Estação Apalai

(Modelo Cúbico)

0

100

200

300

400

500

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

y=14,352x-1,5255

R²=0,49

y=809e-5,1192x

R²=0,69

y=541,07x²-923,12x+407,4

R²=0,98

y=-137,8Ln(x)-5,1426

R²=0,99

y=825,26x³+1828,5x²-1469,2x+459,31

R²=0,99

Page 58: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

44

Figura 5.4- Curva de permanência de vazões da estação Tirios (16700000) calibrada para

os 5 modelos matemáticos.

Cód. ANA 16700000 - Estação Tirios

(Modelo Potência)

0

50

100

150

200

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16700000 - Estação Tirios

(Modelo Exponencial)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16700000 - Estação Tirios

(Modelo Quadrático)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16700000 - Estação Tirios

(Modelo Logarítmico)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16700000 - Estação Tirios

(Modelo Cúbico)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

y=-17,806Ln(x)-1,6993

R²=0,99 y=81,69x²-129,82x+52,928

R²=0,95

y=2,2729x-1,3553

R²=0,69

y=71,47e-4,2887x

R²=0,87

y=-151,67x³+318,3x²-230,2x+62,468

R²=0,99

Page 59: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

45

Figura 5.5 - Curva de permanência de vazões da estação Aldeia Wai-Wai (16480000)

calibrada para os 5 modelos matemáticos.

Cód. ANA 16480000 - Estação Wai-Wai

(Modelo Potência)

0

2000

4000

6000

8000

10000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16480000 - Estação Wai-Wai

(Modelo Exponencial)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16480000 - Estação Wai-Wai

(Modelo Quadrático)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16480000 - Estação Wai-Wai

(Modelo Logarítmico)

0

500

1000

1500

2000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16480000 - Estação Wai-Wai

(Modelo Cúbico)

0

500

1000

1500

2000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

y=-593,08Ln(x)-32,246

R²=0,98

y=56,532x-1,5633

R²=0,48

y=2458x²-4118,7x+1773,3

R²=0,99

y=3479,5e-5,2208x

R²=0,67

y=-2676,2x³+6632,9x²-5889,7x+1941,7

R²=0,99

Page 60: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

46

Figura 5.6 - Curvas de permanência de vazões da estação Garganta (16430000) calibrada

para os 5 modelos matemáticos.

Cód. ANA 16430000 - Estação Garganta

(Modelo Potência)

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16430000 - Estação Garganta

(Modelo Exponencial)

0

1000

2000

3000

4000

5000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16430000 - Estação Garganta

(Modelo Quadrático)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16430000 - Estação Garganta

(Modelo Logarítmico)

0

1000

2000

3000

4000

5000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 16430000 - Estação Garganta

(Modelo Cúbico)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

y=-7218,8x³+16820x²-14183x+4592,4

R²=0,99

y=235,3x-1,2358

R²=0,78

y=5414,2e-3,8948x

R²=0,96

y=5559,1x²-9405,6x+4138,4

R²=0,98 y=-1382,6Ln(x)-29,445

R²=0,99

Page 61: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

47

Figura 5. 7 - Curvas de permanência de vazões da estação Sete Varas (17070000) calibrada

para os 5 modelos matemáticos.

Cód. ANA 17070000 - Estação Sete Varas

(Modelo Potência)

0

50

100

150

200

250

300

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 17070000 - Estação Sete Varas

(Modelo Exponencial)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 17070000 - Estação Sete Varas

(Modelo Quadrático)

0

10

20

30

40

50

60

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 17070000 - Estação Sete Varas

(Modelo Logarítmico)

0

10

20

30

40

50

60

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 17070000 - Estação Sete Varas

(Modelo Cúbico)

0

10

20

30

40

50

60

0 0,25 0,5 0,75 1

D (% )

Q (m³/s)

Observada Simulada

y=-159,6x³+310,23x²-200,95x+47,278

R²=0,92

y=0,6379x-1,8526

R²=0,59

y=84,903e-6,204x

R²=0,82

y=61,258x²-95,334x+37,24

R²=0,85

y=-13,088Ln(x)-2,4358

R²=0,94

Page 62: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

48

5.2.1 Critério de desempenho dos modelos

Visando analisar o desempenho do modelo, tanto na calibração, quanto na

verificação, foram considerados o erro quadrático relativo médio percentual, % (Eq.(32)), o

R2_ajustado dado pela Eq.(25) e o coeficiente de Nash-Sutcliffe (Eq.(26)).

(32)

onde é a vazão observada (m3/s), é a vazão estimada pelo modelo de regionalização

(m3/s), e N corresponde ao número total de vazões observadas.

A Tabela 5.1 apresenta os valores dos coeficientes de determinação ajustados e os

% e a Tabela 5.2 apresenta os valores dos coeficientes de Nash-Sutcliffe de todos os

modelos (potência, exponencial, logarítmico, quadrático e cúbico) encontrados para as 7

(sete) estações fluviométricas utilizadas na calibração.

Tabela 5.1 – Coeficiente de determinação ajustado (R2_a) e erros percentuais ( %) de cada

modelo na calibração.

Estação

Modelo

potência exponencial logarítmico quadrático Cúbico

R²_a % R²_a % R²_a % R²_a % R²_a %

18200000 0,68 104,0 0,89 38,08 0,98 9,53 0,95 331,2 0,98 7,49

17090000 0,56 1615 0,78 378,9 0,97 10,94 0,94 9996 0,98 15,12

18280000 0,47 1039 0,68 348,2 0,99 6,00 0,98 1839 0,98 4,61

16700000 0,68 83,09 0,85 33,49 0,99 8,11 0,95 178,3 0,98 5,47

16480000 0,46 1507 0,66 498,4 0,98 7,01 0,99 3005 0,97 4,04

16430000 0,77 20,95 0,96 6,60 0,99 5,85 0,98 23,84 0,98 3,37

17070000 0,56 255,1 0,81 66,06 0,94 9,95 0,84 1268 0,91 28,56

Os modelos com os maiores coeficientes de determinação ajustados (R²_a),

maiores coeficientes de Nash-Sutcliffe, menores erros quadráticos relativos médios

100.ˆ

2/1

1

2

1N

i i

ii

Q

QQN

iQ iQ

Page 63: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

49

percentuais ( %) e melhores ajustes das curvas foram selecionados para serem usados na

regionalização dos parâmetros das curvas de permanência de vazão.

Tabela 5.2 – Coeficiente de Nash-Sutcliffe de cada modelo na calibração.

Estação Coeficiente de NASH

potência exponencial logarítmico quadrático Cúbico

18200000 -4,94 0,92 0,99 0,95 0,99

17090000 -25,87 0,46 0,98 0,94 0,99

18280000 -6,74 0,59 0,99 0,98 0,99

16700000 -1,89 0,97 0,99 0,95 0,99

16480000 -7,56 0,60 0,98 0,99 0,99

16430000 -1,35 0,98 0,99 0,98 0,99

17070000 -12,62 0,52 0,94 0,85 0,93

Pelos critérios descritos acima, os melhores resultados foram obtidos pelos modelos

logarítmico e cúbico.

5.3 MODELOS DE REGRESSÃO UTILIZADOS NA REGIONALIZAÇÃO

Por meio da calibração, pode-se entender que, para a simulação da curva de

permanência de uma bacia hidrográfica sem dados de vazão e na mesma região analisada,

deve-se determinar os parâmetros a e b do modelo logarítmico e a, b, c e d do modelo cúbico,

mostrados respectivamente nas Eqs.(5) e (7). Já que as permanências D são conhecidas, os

parâmetros a, b, c e d, só podem representar as informações climáticas e fisiográficas. Ou

seja, a transferência das informações das bacias que serviram para calibrar os modelos, para

as bacias sem dados de vazão, é feita pela regionalização daqueles parâmetros. Assim, a

regionalização é efetuada através da regressão de a, b, c e d, em relação às características

morfoclimáticas das bacias calibradas. Foram consideradas como características

morfoclimáticas: a área de drenagem, o comprimento e o desnível do rio e a precipitação

média anual, simbolizados respectivamente por A (Km2), L (Km), H (m) e P (mm).

Page 64: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

50

As Tabelas 5.3 e 5.4 resumem os valores dos parâmetros a e b do modelo

logarítmico e a, b, c e d do modelo cúbico para as 7 (sete) bacias analisadas na calibração.

Tabela 5.3 – Parâmetros, coeficientes de determinação ajustados e coeficiente de Nash-

Sutcliffe das equações de regressão (modelo logarítmico).

Estações Parâmetros

a b R2

a NASH

Arapari 24,293 147,26 0,98 0,99

Boca do inferno 46,488 190,76 0,97 0,98

Apalai 5,1426 137,8 0,99 0,99

Tirios 1,6993 17,806 0,99 0,99

Aldeia Wai-Wai 32,246 593,08 0,98 0,98

Garganta 29,445 1382,6 0,99 0,99

Sete Varas 2,4358 13,088 0,94 0,94

Tabela 5.4 – Parâmetros, coeficientes de determinação ajustados e coeficiente de Nash-

Sutcliffe das equações de regressão (modelo cúbico)

Estações Parâmetros

a b c d R2

a NASH

Arapari 512,15 1952,4 2708,9 1282,2 0,98 0,99

Boca do inferno 669,73 2719,9 3861 1833,1 0,98 0,99

Apalai 459,31 1469,2 1828,5 825,26 0,98 0,99

Tirios 62,468 230,2 318,3 151,67 0,98 0,99

Aldeia Wai-Wai 1941,7 5889,7 6632,9 2676,2 0,97 0,99

Garganta 4592,4 14183 16820 7218,8 0,98 0,99

Sete Varas 47,278 200,95 310,23 159,6 0,91 0,93

De posse dos valores dos parâmetros a e b do modelo logarítmico (Tabela 5.3) e a,

b, c e d do modelo cúbico (Tabela 5.4) e das características morfoclimáticas (Tabela 4.3) das

bacias analisadas, foi aplicada a regressão múltipla, entre os parâmetros e as variáveis

independentes, por meio das seguintes equações de regressão:

V = b0 + b1.P + b2.A + b3.L + b4.H (33)

Page 65: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

51

V = b0.Pb1

.Ab2

.Lb3

.Hb4

(34)

V = b0.Pb1

.(A/L)b2

.Hb3

(35)

V = b0.Pb1

.Ab2

.(H/L)b3

(36)

onde V é a variável dependente que representa os parâmetros das curvas de permanência de

vazão a, b, c e d e b0; b1; b2; b3 e b4 são as constantes da regressão. A análise de regressão

múltipla foi executada de acordo com os textos estatísticos do Serviço Geológico do Brasil –

CPRM (Naghettini e Pinto, 2007). Os valores de b0, b1, b2, b3 e b4 foram determinados pelo

método dos mínimos quadrados, através de planilha eletrônica.

Os modelos de regressão, representados pelas Eqs.(33–36), foram testados para

definir o melhor modelo de regionalização.

As Tabelas 5.5 e 5.6 apresentam os valores dos coeficientes de determinação

ajustados (Eq.(25)) e os valores encontrados por meio do teste Ftotal (Eq.(27)) para os

parâmetros a e b do modelo logarítmico (Eq. (5)) e a, b, c e d do modelo cúbico (Eq. (7)).

Tabela 5.5 – Coeficientes de determinação ajustados (R2_a) e valores de Ftotal das equações de

regressão para os parâmetros a e b do modelo logarítmico.

Equações de regressão Parâmetros R2_a Ftotal

V=b0+b1.P+b2.A+b3.L+b4.H a 0,73 5,05

b 0,93 22,09

V = b0.Pb1

.Ab2

.Lb3

.Hb4

a 0,83 8,37

b 0,71 4,63

V = b0.Pb1

.(A/L)b2

.Hb3

a 0,78 8,15

b 0,80 9,16

V = b0.Pb1

.Ab2

.(H/L)b3

a 0,68 5,18

b 0,47 2,80

Page 66: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

52

Tabela 5.6 – Coeficientes de determinação ajustados (R2_a) e valores de Ftotal das equações de

regressões para os parâmetros a, b, c e d do modelo cúbico.

Equações de regressão Parâmetros R2_a Ftotal

V=b0+b1.P+b2.A+b3.L+b4.H

a 0,94 23,47

b 0,95 29,94

c 0,96 38,11

d 0,97 44,24

V = b0.Pb1

.Ab2

.Lb3

.Hb4

a 0,71 4,59

b 0,71 4,62

c 0,70 4,47

d 0,68 4,25

V = b0.Pb1

.(A/L)b2

.Hb3

a 0,80 9,09

b 0,80 9,14

c 0,80 8,87

d 0,79 8,48

V = b0.Pb1

.Ab2

.(H/L)b3

a 0,48 2,88

b 0,53 3,24

c 0,57 3,60

d 0,59 3,88

Assim, encontrou-se que o modelo de regressão representado pela Eq. (33) teve

um melhor desempenho na determinação dos parâmetros a, b, c e d do modelo cúbico

(Eq.(7)), pois apresentou maiores valores do coeficiente de determinação ajustado (Eq.(25)) e

uma relação significativa entre a variável dependente e as variáveis independentes para 5% de

significância (Teste Ftotal - Eq.(27)), já que o valor encontrado na distribuição F(0,05; 4; 2) de

Fisher-Snedecor (Tabela 3.2), igual a 19,25, é menor que os valores de Ftotal encontrados para

os parâmetros a, b, c e d do modelo cúbico. No entanto, para os parâmetros a e b do modelo

logarítmico (Eq.(5)), as equações de regressões apresentaram valores de Ftotal menores que na

distribuição F(0,05; 4; 2) de Fisher-Snedecor, neste caso, a hipótese nula não é rejeitada e a

regressão não é aceita para um nível de significância de 5%. Portanto, somente os parâmetros

a, b, c e d do modelo cúbico foram utilizados doravante nesse estudo.

Page 67: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

53

5.3.1 Multi-colinearidade

Segundo Naghettini e Pinto (2007), para se evitar a multi-colinearidade, elimina-se

uma entre cada conjunto de duas variáveis independentes que apresentarem coeficiente de

correlação superior a 0,85. Portanto, observando-se a Tabela 5.7, as variáveis A e L são multi-

colineares.

Tabela 5.7 – Matriz de correlação entre as variáveis independentes.

P (mm) A (Km2) L (Km) H (m)

P (mm) 1

A (Km2) 0,69 1

L (Km) 0,59 0,95 1

H (m) 0,01 0,70 0,75 1

Nesse caso, a eliminação de uma delas foi efetuada, seguindo-se o teste de F

parcial (Montgomery e Peck, 1992).

O teste de F parcial serviu para avaliar a contribuição da variável independente

(comprimento do rio) para a soma dos quadrados da regressão depois que todas as variáveis

independentes (precipitação média anual, área de drenagem e desnível) foram incluídas no

modelo. Essa contribuição foi calculada pela subtração da soma dos quadrados da regressão

sem a variável (L), da soma dos quadrados da regressão com todas as variáveis (P, A, L e H)

(Eq.(29)).

O F parcial (Eq.(30)) de cada parâmetro foi encontrado dividindo a contribuição da

variável (L) pelo quadrado médio dos resíduos com todas as variáveis (QMReg).

A Tabela 5.8 apresenta os resultados obtidos com o teste de F parcial para os

parâmetros do modelo cúbico (Eq.(7)).

Page 68: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

54

Tabela 5.8 – Resultados do teste F parcial para os parâmetros do modelo matemático cúbico.

Parâmetros

SQReg – com

as variáveis

(P, A, L e H)

SQReg – sem

a variável (L)

QMRes - com

as variáveis

(P, A, L e H)

SQReg (L) -

Contribuição

da variável

F parcial

a 15648980 15296267 166660,8 352712,7 2,12

b 1,45 x 108

1,43 x 108

1214540,5 2313195 1,90

c 1,99 x 108

1,97 x 108 1307889 2065565 1,58

d 36009523 35758219 203509,81 251303,4 1,23

De acordo com Naghettini e Pinto (2007), uma variável explicativa melhora

significativamente um modelo de regressão se a estatística do teste F parcial for maior que o

valor crítico da distribuição F de Snedecor (Figura 3.2).

O valor crítico da distribuição F(α, 1, n-p-1) de Snedecor encontrado para um nível

de significância (α) de 5% foi igual a F (0,05, 1, 2) = 18,51. Logo, os valores do teste F

parcial para cada parâmetro (Tabela 5.8) foram menores que o valor crítico da distribuição F

de Snedecor. Portanto, a inclusão da variável comprimento do rio não melhorou

significativamente o modelo de regressão.

Por meio desse teste, foi eliminada a variável comprimento do rio, pois a

manutenção da mesma na regressão múltipla, em detrimento à área de drenagem, não

apresentou ganho de qualidade ao modelo de regressão. E por outro lado, tal variável

apresenta maior dificuldade para ser obtida, já que, nesse caso, é necessário lançar mão de

outras ferramentas computacionais, como por exemplo, softwares do tipo SIG. Sendo que, os

valores de área de drenagem das bacias gerenciadas pela ANA, quando constam, podem ser

obtidos no site do Hidroweb (ANA, 2009).

Após a análise de multi-colinearidade, o modelo de regressão, representado pela

Eq.(37), teve um melhor desempenho na determinação dos parâmetros a, b, c e d do modelo

cúbico (Eq.(7)).

V = b0 + b1.P + b2.A + b3.H (37)

São mostradas, a seguir, as equações de regressão e as Tabelas ANOVA do

modelo de regionalização cúbico, recomendadas para estimar os parâmetros a, b, c e d, os

coeficientes de determinação ajustados e os valores de Ftotal.

Page 69: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

55

5.3.2 Modelo de regionalização

Parâmetro “a”

a = - 1915,58 + 1,001.P + 0,13.A – 3,79.H R²_a = 0,91 (38)

Tabela 5.9 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “a”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 15296267 5098756 22,30

Resíduo 3 686034,3 228678,1

Total 6 15982301

Parâmetro “b”

b = - 4215,43 + 2,25.P + 0,42.A – 11,92.H R²_a = 0,93 (39)

Tabela 5.10 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “b”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 143140469

47713490 30,18

Resíduo 3 4742276 1580759

Total 6 147882745

Parâmetro “c”

c = - 1514,12 + 1,02.P + 0,55.A – 16,21.H R²_a = 0,95 (40)

Tabela 5.11 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “c”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 197307227

65769076 42,15

Resíduo 3 4681343 1560448

Total 6 201988570

Page 70: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

56

Parâmetro “d”

d = 872,95 – 0,27.P + 0,26.A – 8,10.H R²_a = 0,96 (41)

Tabela 5.12 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “d”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 35758219

11919407 54,32

Resíduo 3 658323 219441

Total 6 36416543

Para fins de validação do ajuste do modelo de regionalização, foram adotados o

coeficiente de determinação ajustado (R2_a), o coeficiente de Nash-Sutcliffe, o erro

quadrático médio percentual, o teste da função Ftotal e os melhores ajustes entre as curvas de

vazões observadas e simuladas. Os melhores modelos resultantes da aplicação da regressão

múltipla foram selecionados, observando-se: maiores valores de R2_a e os resultados

significativos pelo teste Ftotal. Todos os modelos foram considerados significativos, pois a

estatística dos testes Ftotal foram maiores que os valores de referência para um nível de

significância de 5% (F(0,05; 3; 3) de Fisher-Snedecor = 9,28).

5.4 VALIDAÇÃO

Nesta etapa, aplicou-se, aos dados das bacias-alvo, o modelo de regionalização

(Eqs.(38) a (41)) para cálculo dos parâmetros a, b, c e d. As características morfoclimáticas

das bacias-alvo foram definidas na Tabela 4.3. De posse dos valores dos parâmetros a, b, c e d

(Tabela 5.3) do modelo cúbico (Eq.(7)), foi possível simular as curvas de permanência de

vazões, como mostrado nas Figuras 5.8 e 5.9.

Page 71: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

57

Figura 5.8 –Curva de permanência de vazões simulada pelo modelo cúbico para a estação

Perimetral Norte (alvo 1).

Figura 5.9 – Curva de permanência de vazões simulada pelo modelo cúbico para a estação

Lajeiro (alvo 2).

Considerando-se o erro quadrático relativo médio percentual e o coeficiente de

Nash-Sutcliffe, o modelo de regionalização, na forma cúbica, apresentou desempenho

satisfatório com erro igual a 3,73% e Nash igual a 0,98 para a estação Perimetral Norte (alvo

1). Para a estação Lajeiro (alvo 2), verificou-se que o modelo de regionalização apresentou

erro elevado na aplicação, superior a 100% e Nash igual a -0,39. Esta discrepância, entre os

valores encontrados para as bacias-alvo, pode ter ocorrido devido a grande variabilidade das

áreas de drenagem das bacias de cada posto fluviométrico disponível na região.

Cód. ANA 16370000 - Estação Perimetral Norte

(alvo 1)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (%)

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18150000 - Estação Lajeiro

(alvo 2)

0

50

100

150

200

250

0 0,25 0,5 0,75 1

D (%)

Q (m³/s)

Observada Simulada

Page 72: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

58

A tabela 5.13 apresenta detalhadamente os valores das vazões observadas e as

vazões simuladas pelo modelo de regionalização cúbico (Eqs. (38 – 41)) para as duas bacias

consideradas como alvos 1 e 2, assim como seus respectivos erros e coeficientes de Nash.

Em função disso, foram inseridas 5 (cinco) outras estações fluviométricas com

dados estimados, chamadas de sintéticas (Tabela 4.1). Objetivando, assim, melhorar o ajuste

da curva de permanência de vazões da bacia-alvo 2. Três dessas estações (E.S.01, E.S.02 e

E.S.03 – Figura 4.7) foram localizadas o mais próximo possível das estações pluviométricas

Fazenda Bela Vista-código ANA: 152006, Kuxare-código ANA: 8156001 e Vista Alegre-

código ANA: 156000, já existentes na região. A precipitação para E.S.04 (Figura 4.8) foi

estimada por média aritmética dos totais pluviométricos das estações pluviométricas

Cachoeira da Porteira conjunto 1-código ANA: 157000 e Perimetral Norte-código ANA:

8056001. No caso da E.S.05, a precipitação foi estimada pela média das duas estações

supracitadas anteriormente mais a estação pluviométrica Aldeia Wai–Wai-código ANA:

57000.

Assim, repetiu-se a metodologia considerando os novos 5 (cinco) pares de estações

pluviométricas e fluviométricas com suas características morfoclimáticas. Resultando em

novas equações de regressão para os parâmetros a, b, c e d do modelo cúbico. Essas equações

e as Tabelas ANOVA são apresentadas a seguir, juntamente com os valores de R2_a.

Page 73: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

59

Tabela 5.13 – Vazões observadas e simuladas das bacias-alvo 1 e 2 e seus respectivos erros

quadráticos médios percentuais.

Estação Perimetral Norte (alvo 1)

Cód. ANA-16370000

Estação Lajeiro (alvo 2)

Cód. ANA-18150000

D (%) Qobservada

(m³/s)

Qsimulada

(m³/s)

D (%) Qobservada

(m³/s)

Qsimulada

(m³/s)

4 2402,79 2421,25 4 150,50 197,42

8 2009,29 2144,08 8 96,60 169,40

12 1792,27 1892,64 12 70,32 145,01

16 1602,80 1665,56 16 55,80 123,97

20 1418,99 1461,43 20 48,70 106,05

24 1287,02 1278,89 24 41,90 90,99

28 1139,56 1116,55 28 38,06 78,53

32 1006,63 973,02 32 33,70 68,43

36 917,74 846,92 36 28,40 60,42

40 840,00 736,86 40 25,65 54,26

44 760,78 641,47 44 22,47 49,69

48 668,95 559,35 48 20,43 46,47

52 591,74 489,12 52 18,44 44,33

56 542,00 429,41 56 16,14 43,03

60 492,00 378,82 60 13,46 42,31

64 434,68 335,97 64 10,52 41,91

68 396,76 299,47 68 9,04 41,60

72 348,89 267,95 72 6,91 41,10

76 309,61 240,02 76 5,97 40,18

80 270,75 214,29 80 5,08 38,57

84 216,00 189,38 84 3,60 36,03

88 162,20 163,90 88 2,93 32,29

92 103,23 136,48 92 2,26 27,12

96 71,70 105,73 96 1,11 20,25

100 56,89 70,26 100 0,08 11,43

% 3,73 >100

NASH 0,98 -0,39

Page 74: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

60

5.4.1 Modelo de regionalização

Parâmetro “a”

a = - 2274,59 + 1,11.P + 0,12.A - 2,95.H R2_a = 0,93 (42)

Tabela 5.14 – Tabela ANOVA para a nova equação do parâmetro “a”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 19811783,94 6603927,981 52,65

Resíduo 8 1003371,474 125421,4342

Total 11 20815155,42

A equação “a” foi considerada significativa, pois a hipótese nula do teste foi

rejeitada uma vez que:

F total = 52,65 > F (α, p, n-p-1) = 4,07 (Tabela de Snedecor)

Parâmetro “b”

b = - 6343,24 + 3,11.P + 0,38.A - 8,65.H R2_a = 0,95 (43)

Tabela 5.15 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “b”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 1,9E+08 63461939 71,73

Resíduo 8 7077764 884720,6

Total 11 1,97E+08

A equação “b” foi considerada significativa, pois a hipótese nula do teste foi

rejeitada uma vez que:

F total = 71,73 > F (α, p, n-p-1) = 4,07 (Tabela de Snedecor).

Parâmetro “c”

c = - 6708,09 + 3,35.P + 0,45.A - 10,12.H R2_a = 0,96 (44)

Page 75: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

61

Tabela 5.16 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “c”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 270641031,7 90213677,23 99,58

Resíduo 8 7247540,372 905942,5466

Total 11 277888572,1

A equação “c” foi considerada significativa, pois a hipótese nula do teste foi

rejeitada uma vez que:

F total = 99,58 > F (α, p, n-p-1) = 4,07 (Tabela de Snedecor)

Parâmetro “d”

d = - 2581,02 + 1,32.P + 0,195.A - 4,43.H R2_a = 0,97 (45)

Tabela 5.17 – Tabela ANOVA para a equação do parâmetro “d”.

Grau de

liberdade

Soma dos

quadrados

Média dos

quadrados

Ftotal

Regressão 3 50529085 16843028 121,37

Resíduo 8 1110179 138772,4

Total 11 51639264

A equação “d” foi considerada significativa, pois a hipótese nula do teste foi

rejeitada uma vez que:

F total = 121,37 > F (α, p, n-p-1) = 4,07 (Tabela de Snedecor)

As Figuras 5.10 e 5.11 apresentam os novos resultados da simulação das curvas de

permanência de vazão para as bacias-alvo 1 e 2. Por intermédio dessas figuras, observou-se

que, para a bacia 1, as vazões simuladas permaneceram praticamente inalteradas e com um

bom desempenho, apresentando um erro quadrático relativo médio percentual igual a 5,27% e

coeficiente de Nash igual a 0,97. No caso da bacia 2, houve uma melhora significativa no

ajuste das curvas de permanência de vazão observada e simulada (Figura 5.11), no erro

quadrático relativo médio percentual, que foi igual a 9,55% e no coeficiente de Nash, que foi

igual a 0,87. Houve também um pequeno aumento nos coeficientes de determinação ajustados

Page 76: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

62

(R2_a) das novas equações de regressão para os parâmetros a, b, c e d do modelo cúbico.

Entretanto, para a bacia-alvo 2 (Figura 5.11), as altas frequências não foram satisfatoriamente

simuladas.

Figura 5.10 – Curva de permanência de vazões simulada pelo novo modelo de regionalização

para a estação Perimetral Norte (alvo 1).

Figura 5.11 – Curva de permanência de vazões simulada pelo novo modelo de regionalização

para a estação Lajeiro (alvo 2).

A Tabela 5.16 apresenta detalhadamente os valores das vazões observadas e as

vazões simuladas pelo modelo de regionalização cúbico (Eqs. (42 – 45)) para as duas bacias

consideradas como alvos 1 e 2, assim como seus respectivos erros quadráticos médios

percentuais e coeficientes de Nash-Sutcliffe.

Cód. ANA 16370000 - Estação Perimetral Norte

(alvo 1)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 0,25 0,5 0,75 1

D (%)

Q (m³/s)

Observada Simulada

Cód. ANA 18150000 - Estação Lajeiro

(alvo 2)

0

50

100

150

200

0 0,25 0,5 0,75 1

D (%)

Q (m³/s)

Observada Simulada

Page 77: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

63

Tabela 5.18 – Vazões observadas e simuladas das estações-alvo 1 e 2 e seus respectivos erros

quadrático médio percentual.

Estação Perimetral Norte (alvo 1)

Cód. ANA-16370000

Estação Lajeiro (alvo 2)

Cód. ANA-18150000

D (%) Qobservada

(m³/s)

Qsimulada

(m³/s)

D (%) Qobservada

(m³/s)

Qsimulada

(m³/s)

4 2402,79 2318,35 4 150,50 149,74

8 2009,29 2041,41 8 96,60 125,32

12 1792,27 1791,61 12 70,32 103,96

16 1602,80 1567,39 16 55,80 85,45

20 1418,99 1367,19 20 48,70 69,59

24 1287,02 1189,47 24 41,90 56,17

28 1139,56 1032,65 28 38,06 44,98

32 1006,63 895,19 32 33,70 35,81

36 917,74 775,52 36 28,40 28,46

40 840,00 672,09 40 25,65 22,71

44 760,78 583,34 44 22,47 18,38

48 668,95 507,71 48 20,43 15,23

52 591,74 443,64 52 18,44 13,08

56 542,00 389,59 56 16,14 11,70

60 492,00 343,98 60 13,46 10,91

64 434,68 305,27 64 10,52 10,47

68 396,76 271,90 68 9,04 10,20

72 348,89 242,30 72 6,91 9,88

76 309,61 214,92 76 5,97 9,31

80 270,75 188,21 80 5,08 8,28

84 216,00 160,60 84 3,60 6,58

88 162,20 130,53 88 2,93 4,00

92 103,23 96,46 92 2,26 0,34

96 71,70 56,83 96 1,11 0,00

100 56,89 10,06 100 0,08 0,00

Erro (%) 5,27 9,55

NASH 0,97 0,87

Page 78: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

64

5.5 A CALHA NORTE COMO REGIÃO HIDROLOGICAMENTE HOMOGÊNEA

Para a definição da região da Calha Norte no Estado do Pará, como região

hidrologicamente homogênea, foi inicialmente observada a distribuição geográfica das

estações e, então, analisados os mapas temáticos de vegetação, solo e pedologia (Figuras 4.4 a

4.6). Também foram levados em consideração os critérios estatísticos, nos quais essa

identificação foi estabelecida a partir da combinação das estações fluviométricas que

conduziram aos maiores coeficientes de determinação ajustados (R²_a), melhores ajustes na

regressão (avaliados por intermédio do teste de F de Fisher-Snedecor) e menores erros

percentuais entre os valores das vazões observados e estimados pelos modelos de

regionalização obtidos.

A região em estudo foi considerada hidrologicamente homogênea, pois os modelos

de regressão apresentaram um bom ajuste (avaliado por intermédio do teste de Ftotal),

coeficientes de determinação ajustados (R2_a) satisfatórios, com valores superiores a 0,8 e

erros percentuais inferiores a 10% entre os valores das vazões observados e estimados pelos

modelos de regionalização. Além disso, fatores como tipo de solo e a cobertura vegetal

influenciam diretamente no comportamento hidrológico de uma bacia, pois controlam boa

parte da transformação de chuva em vazão. E na região de estudo, foi observado que a

vegetação predominante é de floresta densa, que cobre praticamente toda a região e apenas

dois tipos de solo: os latossolos e os podzólicos. A pouca variabilidade dos fatores

pedológicos e vegetais encontrados na região reforçam a hipótese de que a região da Calha

Norte é hidrologicamente homogênea.

Page 79: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

65

6 CONCLUSÕES

Este trabalho aplicou uma metodologia existente de regionalização de curvas de

permanência de vazões para a região da Calha Norte, no Estado do Pará. A proposta de

regionalização envolveu as características físico-climáticas de 9 (nove) estações

fluviométricas instaladas e em funcionamento na região, e de 5 (cinco) estações que tiveram

seus dados estimados.

As curvas de permanência de vazões foram calibradas em função de 5 (cinco)

modelos matemáticos de regressão (exponencial, logarítmico, potência, quadrático e cúbico).

Os melhores resultados foram obtidos pelos modelos logarítmico e cúbico, pois apresentaram

maiores coeficientes de determinação ajustados (R2_a), maiores coeficientes de Nash-

Sutcliffe, menores erros quadráticos médios percentuais ( %) e melhores ajustes das curvas.

A regionalização foi efetuada através da técnica da regressão múltipla dos

parâmetros a e b do modelo logarítmico e a, b, c e d, do modelo cúbico, em função das

características morfoclimáticas das bacias analisadas. Fisicamente, tais coeficientes explicam

a variação espacial das vazões por meio das características morfoclimáticas, que são: a área de

drenagem, a precipitação média anual, o comprimento e o desnível do rio. Para os parâmetros

a e b do modelo logarítmico, as equações de regressões apresentaram valores de Ftotal

menores que na distribuição F de Fisher-Snedecor, neste caso, a hipótese nula não foi

rejeitada e a regressão não foi aceita para um nível de significância de 5%. Para os parâmetros

a, b, c e d do modelo cúbico, o teste da regressão múltipla apresentou melhor desempenho na

determinação dos parâmetros, pois resultou em maiores valores de R2_a e numa relação

significativa, avaliada pelo o teste Ftotal, entre a variável dependente e as variáveis

independentes para 5% de significância. Logo, apenas o modelo cúbico foi considerado na

etapa de validação da regionalização, a qual teve a eliminação da variável comprimento do

rio, após uma análise de multi-colinearidade.

O modelo de regionalização apresentou desempenho satisfatório com erro igual a

3,73% e coeficientes de Nash- Sutcliffe igual a 0,98 para a estação Perimetral Norte (alvo 1).

Para a estação Lajeiro (alvo 2), verificou-se que o modelo de regionalização apresentou um

erro elevado na aplicação, superior a 100% e coeficiente de Nash- Sutcliffe menor que zero.

Em função disso, foram inseridas 5 (cinco) outras estações fluviométricas com dados

estimados, chamadas de sintéticas. Após a inserção das 5 (cinco) estações supracitadas, foi

possível melhorar significativamente o ajuste da curva de permanência de vazões da bacia-

Page 80: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

66

alvo 2, apresentando erro quadrático relativo médio percentual igual a 9,55% e coeficiente de

Nash-Sutcliffe igual a 0,87.

As equações dos parâmetros a, b, c e d do modelo de regionalização, após a

inserção das 5 (cinco) estações supracitadas, foram consideradas significativas, pois a

estatística do teste Ftotal foram maiores que os valores de referência para um nível de

significância de 5%. Houve também um pequeno aumento nos coeficientes de determinação

ajustado (R²_a).

Assim, as curvas de permanência das bacias-alvo 1 e 2 foram simuladas,

mostrando um desempenho satisfatório do modelo cúbico por meio do ajuste entre as vazões

observadas e simuladas, coeficientes de Nash-Sutcliffe superiores a 0,80 e também por

intermédio do erro quadrático relativo médio percentual, o qual foi inferior a 10%.

A região em estudo foi considerada hidrologicamente homogênea, pois os modelos

de regressão apresentaram um bom ajuste (avaliado por intermédio do teste F de Fisher-

Snedecor), coeficientes de determinação ajustado (R²_a) satisfatórios, com valores superiores

a 0,8 e erros percentuais inferiores a 10% entre os valores de vazões observadas e simuladas.

Além disso, a análise de fatores pedológicos e de vegetação da região da Calha Norte no

Estado do Pará, apresentou pouca variabilidade, reforçando a hipótese de região

hidrologicamente homogênea, já que os solos e a vegetação controlam boa parte da

transformação de chuva em vazão.

Nesse contexto, o modelo de regionalização desenvolvido é uma ferramenta

promissora para auxiliar na solução da escassez de dados de vazão na região amazônica,

podendo dar suporte ao planejamento e à gestão dos recursos hídricos da região.

Page 81: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

67

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Além das recomendações já citadas ao longo desta dissertação, baseado no

conhecimento até aqui adquirido, faz-se ainda algumas sugestões a trabalhos posteriores.

Desenvolver um modelo de regionalização de curvas de permanência de vazões

baseado nas técnicas de Redes Neurais Artificiais (RNA) ou Lógica Fuzzy;

Comparar os resultados obtidos por meio do modelo de regionalização de curvas

de permanência de vazões baseado nas técnicas de Redes Neurais Artificiais

(RNA) ou Lógica Fuzzy, com os resultados gerados pelo modelo de

regionalização de curvas de permanência de vazões baseado nas técnicas de

regressões múltiplas desenvolvido em trabalhos anteriores; e

Analisar e definir um método de otimização de rede hidrométrica, que avalie as

vazões via um modelo de regionalização, visando a racionalização de recursos

para a implantação de estações hidrométricas.

Aplicar modelos hidrológicos integrados para reproduzir processos de geração de

escoamento.

Page 82: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

68

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Page 87: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

73

APÊNDICES

Page 88: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

74

APÊNDICE A – CURVAS DE PERMANÊNCIA DE VAZÕES PARA TODAS AS

ESTAÇÕES FLUVIOMÉTRICAS CONSIDERADAS NA CALIBRAÇÃO

Figura 1A - Curvas de permanência de vazões para as estações Arapari (18200000), Boca do

Inferno (17090000), Apalai (18280000), Tirios (16700000).

Cód. ANA 18200000 - Estação Arapari

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

0 25 50 75 100

D (% )

Q (m³/s)

Curva de permanência

Cód. ANA 17090000 - Estação Boca do

Inferno

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

0 25 50 75 100

D (% )

Q (m³/s)

Curva de permanência

Cód. ANA 18280000 - Estação Apalai

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 25 50 75 100

D (%)

Q (m³/s)

Curva de permanência

Cód. ANA 16700000 - Estação Tirios

0

20

40

60

80

100

120

140

0 25 50 75 100

D (%)

Q (m³/s)

Curva de permanência

Page 89: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

75

Figura 2A – Curvas de permanência de vazões para as estações Aldeia Wai-Wai (16480000),

Garganta (16430000) e Sete Varas (17070000).

Cód. ANA 16480000 - Estação Wai - Wai

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 25 50 75 100

D (%)

Q (m³/s)

Curva de permanência

Cód. ANA 16430000 - Estação Garganta

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

0 25 50 75 100

D (% )

Q (m³/s)

Curva de permanência

Cód. ANA 17070000 - Estação Sete Varas

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 25 50 75 100

D (%)

Q (m³/s)

Curva de permanência

Page 90: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

76

ANEXOS

Page 91: regionalização de curvas de permanência de vazões da região da

77

ANEXO A - ARTIGO SÍNTESE DA DISSERTAÇÃO SUBMETIDO À REVISTA

BRASILEIRA DE RECURSOS HÍDRICOS (RBRH)