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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO REGINALDO JOSÉ DOS SANTOS HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO ESTADO DE MATO GROSSO: O MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA NO MUNICÍPIO DE JUARA NO PERÍODO DE 1970 A 1990, A PARTIR DA ESCOLA ESTADUAL OSCAR SOARES CUIABÁ-MT 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

REGINALDO JOSÉ DOS SANTOS

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO ESTADO DE MATO GROSSO: O

MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA NO MUNICÍPIO DE JUARA NO

PERÍODO DE 1970 A 1990, A PARTIR DA ESCOLA ESTADUAL OSCAR SOARES

CUIABÁ-MT

2013

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REGINALDO JOSÉ DOS SANTOS

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO ESTADO DE MATO GROSSO: O

MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA NO MUNICÍPIO DE JUARA NO

PERÍODO DE 1970 A 1990, A PARTIR DA ESCOLA ESTADUAL OSCAR SOARES

Orientadora: Profa. Dra. Andréia Dalcin

CUIABÁ-MT

2013

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Mato Grosso como requisito para

obtenção do Título de Mestre em Educação na

área de Concentração Educação, Linha de

Pesquisa Educação em Ciências e Matemática.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus fonte de toda inspiração e sabedoria.

A minha esposa Edvane Josefa Santos pelo incentivo, ajuda, compreensão e muita

paciência nesta longa caminhada.

A minha orientadora Dra. Andréia Dalcin que sempre presente contribuiu de maneira

indubitável na construção desse texto.

A todos os professores (as) que direta ou indiretamente contribuíram na minha

formação e caminhada desde os tempos de primário até universidades, como pilares para um

curso de mestrado.

A minha Mãe Eunice Maria da Silva e meu pai Cícero José dos Santos, pela

perseverança, amor à vida e coragem para seguir sempre em frente. Enfim, agradeço por me

ajudar a ser o que sou.

Aos meus Filhos (as), Reyllan Raphael dos Santos e Reyllany Raphaela dos Santos,

pela compreensão da minha ausência em vários momentos importantes de suas vidas. Fonte

de esperança de dias melhores.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a DEUS fonte de inspiração e de vida.

A minha esposa professora Edvane Josefa Santos pela paciência e muita colaboração

revisando sempre meus textos.

À Profa. Dra. Andréia Dalcin pela oportunidade em tornar-me seu orientando. Que

com compreensão e credibilidade nos momentos de estudos, possibilitou-me um crescimento

incomensurável. Além dos desafios para recomeçar sempre que necessário na busca da

construção e reelaboração do conhecimento.

À Banca Examinadora, em especial, ao Prof. Dr. Josimar de Sousa, Profa. Dra. Gladys

Denise Wielewski e Profa. Dra. Marta Maria Pontin Darsie, pela leitura e valorosas

contribuições nesse texto.

A toda minha família pelo apoio e contribuição, partilhando nosso precioso tempo que

tornou possível à realização de mais uma conquista.

Aos meus amigos e colaboradores da Assessoria Pedagógica e Biblioteca Pública

Municipal de Juara.

À Secretaria Estadual de Educação de Cuiabá (SEDUC), pela concessão para

Qualificação Profissional. Obrigado!

Aos meus pais Cícero José dos Santos e Eunice Josefa da Silva, por serem meus

primeiros educadores, os quais me estimularam a continuar os estudos.

A minha amiga professora Lori Hack de Jesus pela ajuda, compreensão, carinho, e

atenção incondicional, dedicada ao longo deste trabalho.

Aos meus amigos (as) os quais compartilhei os estudos de mestrado na UFMT.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação da UFMT, pelos ensinamentos

oferecidos.

Aos funcionários da Secretaria do Programa de Pós-Graduação da UFMT, pela

colaboração constante.

Ao diretor da Escola Estadual Oscar Soares o Sr. Salvador Labrea Munhoz, no

exercício de 2010 a 2013, o qual não mediu esforços para a realização dessa pesquisa.

Aos entrevistados pela atenção e colaboração, pois suas verdades ajudaram a constituir

mais uma fase da história de Juara, a qual seu referencial foi a educação.

Enfim, a todos vocês que direta ou indiretamente contribuíram na construção desse texto.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Montagem das fotografias no Arquivo Passivo da E. E. Oscar Soares....... 34

Figura 02 Colonizadores e Índios Tapayuna(Beiço-de-Pau) ...................................... 64

Figura 03 Localização da Gleba Arinos e seus principais Rios afluentes, 1955 ........ 66

Figura 04 Localização e limites do Município de Porto dos Gaúchos ....................... 67

Figura 05 Vista panorâmica da primeira casa construída na Gleba Arinos................. 67

Figura 06 Vista ampliada da primeira casa em construção de Porto dos Gaúchos..... 68

Figura 07 Primeira comunidade da Gleba Arinos (Porto dos Gaúchos) .................... 69

Figura 08 Primeira Cadeia do Vale do Arinos, 1956 .................................................. 70

Figura 09 Primeira Escola da Gleba do Arinos (Porto dos Gaúchos), 1957 .............. 71

Figura 10 Primeira turma primaria da Profa. Sra. Ingeburg B. Hasenack,1957 ......... 72

Figura 11 Vista aérea do Município de Juara, 1976 .................................................... 78

Figura 12 Localização Geográfica de Juara ................................................................ 79

Figura 13 Posição Geográfica da Gleba Taquaral (Juara) ........................................... 80

Figura 14 José Pedro Dias (Zé Paraná), 1973 ............................................................. 81

Figura 15 Visita do Sr. José Pedro Dias na posse do presidente Sr. João Batista de

Oliveira Figueiredo, 1979 ............................................................................... 84

Figura 16 Comemoração do primeiro Prefeito o Sr. José Geraldo Riva eleito pela

Comunidade juarense, 1982 ........................................................................... 85

Figura 17 Primeira escola de Juara,1974 ..................................................................... 94

Figura 18 Turma escolar de 1975 ................................................................................ 96

Figura 19 Carteira de Trabalho, 1975 ......................................................................... 98

Figura 20 Clube Recreativo Social União em 1976 .................................................... 102

Figura 21 Antigo Barracão de Arroz, 1973 ................................................................. 104

Figura 22 Duas escolas estaduais em 1976 ................................................................. 105

Figura 23 Registro da Área que foi construída a escola, 1987 ................................... 113

Figura 24 Planta baixa da Escola,1978 ....................................................................... 115

Figura 25 Construindo a primeira escola de alvenaria, 1978 ..................................... 116

Figura 26 Inauguração do prédio de alvenaria da E. E. Oscar Soares, 1979 ............. 117

Figura 27 Ofício encaminhado pela escola solicitando Elevação de Nível, 1980..... 118

Figura 28 Mudança de Nomenclatura da Escola Estadual Oscar Soares ................... 119

Figura 29 Recorte do D.O Aprovação da elevação de Nível, 1979 ............................ 120

Figura 30 Ex-Deputado Sr. Oscar Soares .................................................................... 121

Figura 31 Imagem aérea da Escola Estadual Oscar Soares de Juara, 1982 ................ 123

Figura 32 Atestado de conclusão de curso do P. E. I, 1984 ........................................ 125

Figura 33 Primeiro culto religioso, 1972 ..................................................................... 127

Figura 34 Primeira Turma de Magistério e Básico em Agropecuária, 1982 .............. 134

Figura 35 Festa de Formatura, primeiro Bota Fora, 1982 ........................................... 135

Figura 36 Diploma do Curso de Alfabetização Funcional, 1984 ............................... 136

Figura 37 Certificado da primeira Formação de Diretores, 1983 ............................... 138

Figura 38 Capa do Livro Nova Série “MATEMÁTICA” do 1º Grau ........................ 173

Figura 39 Certificado do Curso de Especialização em Matemática - UFMT, 1975... 175

Figura 40 Conteúdos Programáticos do Curso de Especialização em Matemática

UFMT, 1975.................................................................................................... 176

Figura 41 Diários de Classe ........................................................................................ 189

Figura 42 Planejamento de Matemática da Escola Estadual de 1º Grau, 1976 ......... 190

Figura 43 Capa do Diário de Classe, 1977 ................................................................. 191

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Figura 44 Primeira inspeção por agentes da Secretaria de Educação e Cultura de

Cuiabá ........................................................................................................... 192

Figura 45 Diários de Classe utilizados após 1977 ...................................................... 196

Figura 46 Instruções no verso da capa dos Diários de Classe, 1978 a 1989 ............. 197

Figura 47 Diário de Classe de Educação Física, destinado para disciplina de

Matemática em 1989...................................................................................... 198

Figura 48 Capa dos Diários de Classe da Escola Estadual Oscar Soares, 1990 ........ 199

Figura 49 Instrução para escrituração dos Diários de Classe, 1990 ........................... 199

Figura 50 Atividades Cívicas da rede estadual de ensino do Mato Grosso ............... 200

Figura 51 Instruções para uma boa utilização do Diário de Classe, 1990 ................. 201

Figura 52 Matriz Curricular do 1º Grau (5ª a 7ª séries), 1977 .................................... 210

Figura 53 Matriz Curricular do Curso de Técnico em Contabilidade de 1988 ......... 215

Figura 54 Livro Didático de Matemática da 5ª série do 1º Grau, 1983 ..................... 239

Figura 55 Capa do Livro Didático da 6ª série do 1º Grau, [19??] ............................. 241

Figura 56 Capa do Livro Didático da 6ª série do 1º Grau, 1984 ................................ 242

Figura 57 Capa do Livro de Matemática da 6ª Série do 1º Grau, 1983 ..................... 243

Figura 58 Capa do Livro de Matemática da 7ª série do 1º Grau, 1983 ...................... 244

Figura 59 Capa do Livro de Matemática da 7ª Série do 1º Grau, 1982 ..................... 246

Figura 60 Capa do Livro Nova Série: Matemática do 1º Grau, [19??] ...................... 247

Figura 61 Capa do Livro de Matemática da 8ª série 1º Grau, 1982 ........................... 248

Figura 62 Capa do Livro de Matemática 8ª série do 1º Grau, 1989 ........................... 249

Figura 63 Capa do Livro de Matemática da 1ª série do 2º Grau, 1979 ...................... 250

Figura 64 Capa do Livro de Matemática do 2º Grau, [19??] ...................................... 252

Figura 65 Prova de Recuperação de Matemática da 5ª série, 1986 ............................ 258

Figura 66 Prova da 6ª série do 1º Grau, 1986 .............................................................. 259

Figura 67 Prova da 8ª série do 1º Grau, 1986 .............................................................. 260

Figura 68 Prova da 1ª série do 2º Grau do Curso de Contabilidade, 1986 ................ 261

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Diários de Classe da disciplina de Matemática analisados por séries, turno e

ano letivo referente ao período de 1976 a 1990 ................................................................. 203

Tabela 02 Diários de Classe da Disciplina de Matemática analisados por séries, turma e

ano letivo correspondentes ao período de 1976 a 1990 ..................................................... 204

Tabela 03 Diários de Classe da Disciplina de Matemática, no Curso Básico, Magistério,

Básico em Agropecuária, Técnico em Contabilidade e Propedêutico, analisados por séries,

turmas, cursos e ano letivo no período de 1980 a 1990 ..................................................... 205

Tabela 04 Diários de Classe da Disciplina de Matemática, no Curso Básico, Magistério,

Agropecuária, Técnico em Contabilidade e Propedêutico, representado por letras do nosso

alfabeto, no período de 1980 a 1990 .................................................................................. 207

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Escolas Estaduais de Juara/MT, no período de 1970 a 1990 .................... 19

Quadro 02 Professores selecionados para entrevista que ministraram aulas de Matemática

na Escola Estadual Oscar Soares, no período de 1970 a 1990............................................ 41

Quadro 03 Depoentes colaboradores na educação de Juara/MT, a partir da Escola Estadual

Oscar Soares, no período de 1970 a 1990 .......................................................................... 42

Quadro 04 Roteiro para coleta dos Depoimentos ......................................................... 45

Quadro 05 Escolas Municipais de Juara criadas entre 1970 a 1990 ........................... 89

Quadro 06 Escolas Particulares criadas na (Zona Urbana) de Juara na década de 80 do

século XX ........................................................................................................................... 89

Quadro 07 Escolas Estaduais criadas na (Zona Urbana) de Juara entre 1970 a 1990... 90

Quadro 08 Diretores da Escola Estadual Oscar Soares, no período de 1970 e 1990

............................................................................................................................................ 143

Quadro 09 Professores entrevistados que lecionaram a disciplina de Matemática na Escola

Estadual Oscar Soares no período de 1970 a 1990 ............................................................ 182

Quadro 10 Depoentes que contribuíram na constituição do Ensino na Escola Estadual

Oscar Soares no período em estudo ................................................................................... 188

Quadro 11 Distribuição das cargas horárias da disciplina de Matemática nas Matrizes

Curriculares do Curso Ginasial (5ª A 8ª séries do 1º Grau) no período de 1970 a 1990..... 209

Quadro 12 Disciplina Matemática e Conteúdos e Metodologia da Matemática, nas

Matrizes Curriculares no Curso de Habilitação para o Magistério nas séries iniciais, na Escola

Estadual Oscar Soares no período de 1980 a 1990.............................................................. 211

Quadro 13 Disciplina de Matemática e Matemática Aplicada no curso de Habilitação

Básica em Agropecuária na Escola Estadual Oscar Soares no período de 1980 a

1990..................................................................................................................................... 213

Quadro 14 Disciplina de Matemática, Matemática Aplicada e Matemática Comercial e

Financeira nas Matrizes Curriculares, no curso de Técnico em Contabilidade da Escola

Estadual Oscar Soares, no período de 1980 a 1990........................................................... 214

Quadro 15 Disciplina de Matemática extraída das Matrizes Curriculares do Curso

Propedêutico na Escola Estadual Oscar Soares na década de 80 do século

XX........................................................................................................................... ............ 216

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LISTA DE SIGLAS

ABHO – Associação Brasileira de História Oral.

ACARMAT – Associação de Credito e Assistência Rural de Mato Grosso.

APM – Associação de Pais e Mestres.

BCB – Banco Central do Brasil.

BNH – Banco Nacional da Habitação.

BIRD – Banco Nacional para Reconstrução e Desenvolvimento.

BM- Banco Mundial.

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

CDCE - Conselho deliberativo da Comunidade Escolar.

CEE-MT - Conselho Estadual de Educação do Mato Grosso.

CEFI – Centro de Estudos da Família e do Indivíduo.

CEFAPRO – Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério.

CEJA - Centro de Educação de Jovens e Adultos.

CEM - Centro de Ensino Moderno.

CEMAT - Centrais Elétricas Matogrossenses.

CENEC - Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.

CES – Centro de Ensino Supletivo.

CFE – Conselho Federal de Educação.

CIAEM – Conferencia interamericana de Educação Matemática.

CIEAEM – International Commission for the Study and Improvement of. Mathematics.

Education. Em Português, Comissão Internacional de Educação Matemática.

CIEM – Centro integrado de Educação Moderna.

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

CODAE – Coordenação de Administração Escolar.

CONOMALI – Colonizadora Noroeste Matogrossense Ltda.

D.O – Diário Oficial.

DREC - Delegacia Regional de Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso.

GEEM - Grupo de Estudos do Ensino da Matemática.

GEEMPA - Grupo de Estudos do Ensino da matemática de Porto Alegre.

GEPEMAT - Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão de Educação Matemática da UFMT.

GHEMAT- Grupo de Pesquisas de História da Educação Matemática.

GHOEM- Grupo de Pesquisa em História Oral e Educação Matemática.

GPC - Gabinete de Planejamento e Coordenação.

GRUEMA - Grupo de Ensino de Matemática Atualizada.

HIFEM - História, Filosofia e Educação Matemática.

IBECC - Instituto Brasileiro de Educação Ciência e Cultura.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma Agrária.

ICME – International Congress of Mathematical Education.

IMAGROL – Imobiliária Mato Grosso Ltda.

INCRA – Instituto de Reforma Agrária.

JPEG - Joint Photographic Experts Group.

MEC –Ministério de Educação e Cultura.

MMM – Movimento da Matemática Moderna.

MOBRAL- Movimento Brasileiro de Alfabetização.

MT- Mato Grosso.

NAEC- Núcleo de Apoio ao Ensino de Ciências.

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NES – Núcleo de Ensino Supletivo.

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

OECD – Organization for European Economic Cooperation and Development.

OEEC – Organization for European Economic Cooperation.

OSD – Orientadora e Supervisora Docentes.

P. E. I. Programa de Educação Integrada.

PDS - Partido Democrático Social.

PIN- Plano de Integração Nacional.

PNME- Programa Nacional de Material Escolar.

PRODEAGRO – Programa de Desenvolvimento Agro- Ambiental.

PR – Paraná.

PROJEDE – Projeto de Educação e Desenvolvimento.

PSB – Partido Socialista Brasileiro.

PTB – Partido Trabalhista Brasileiro.

PUC Pontifícia Universidade Católica.

PUCPR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Q.G- Quartel General.

RS – Rio Grande do Sul.

SBEM – Sociedade Brasileira de Ensino de Matemática

SEC – Secretaria Estadual de Educação

SEDUC/MT – Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso (Denominação atualizada)

SEEC – Secretaria Estadual de Educação e Cultura.

SIBAL- Sociedade Imobiliária da Bacia Amazônica.

SMSG – School Mathematics Study Group.

SP – São Paulo

SPVEA – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônica

SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia.

TCA- Trabalho de Conclusão de Áreas

TCC – Trabalho de Conclusão de Cursos

UDN – União Democrática Nacional

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, em português

Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNESP- Universidade Estadual Paulista.

UNIFESP- Universidade Federal de São Paulo.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas.

UNIRONDON- Faculdades Integradas Cândido Rondon/Centro Universitário Cândido

Rondon.

USA – United States Americans, em Português, Estados Unidos da América

USP- Universidade de São Paulo.

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SANTOS, Reginaldo José dos. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO

MATO GROSSO: O MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA NO

MUNICÍPIO DE JUARA NO PERÍODO DE 1970 A 1990, A PARTIR DA ESCOLA

ESTADUAL OSCAR SOARES. Juara, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação)

Universidade Federal de Mato Grosso.

RESUMO

A presente dissertação traz como pano de fundo apreender as singularidades do processo de

colonização da cidade de Juara, maior das quatro cidades que compõem a microrregião do

Vale do Arinos, na parte norte do Estado de Mato Grosso, nos períodos de 1970 a 1980 (Pré-

colonização) e 1981a 1990 (Pós-colonização). Esse primeiro considerado intenso no processo

colonizatório. Nesse contexto, a proposta é investigar as práticas pedagógicas presentes no

ensino de matemática desenvolvidas na Escola Estadual Oscar Soares no período em estudo.

Essa investigação situa-se no campo da História da Educação Matemática no Brasil. As

análises foram construídas a partir de várias fontes escritas: provas, diários de classe, atas de

resultados finais, livro termo de visitas de inspeção, documentos da e sobre a escola como,

portarias e decretos, grades1curriculares, programas de ensino, livros didáticos que permearam

as práticas dos professores de matemática. Além das fontes escritas foram consideradas como

fontes fotografias e entrevistas. Os sujeitos selecionados para os depoimentos foram

professores que ministraram aulas de matemática, diretores, funcionários e ex-alunos,

totalizando dezoito entrevistados, que de algum modo, estiveram presentes na constituição

histórica da educação, bem como na trajetória do ensino de matemática nessa escola. Os

documentos escritos foram encontrados em arquivos pessoais de entrevistados, escola em

estudo, biblioteca pública e assessoria pedagógica. As fotografias foram localizadas a partir

dos relatos dos depoentes e no Centro Cultural Savoíne em Juara. Pautou-se, quanto ao

referencial teórico metodológico, na concepção de história de Jacques Le Goff na perspectiva

da história cultural. A partir desse estudo, foi possível perceber nas práticas pedagógicas dos

professores, principalmente pela análise dos conteúdos ensinados e livros didáticos adotados,

a presença de elementos do Movimento da Matemática Moderna. Além disso, a pesquisa

revelou as dificuldades vivenciadas pelos professores que ensinaram matemática, as

conquistas e perspectivas de uma comunidade escolar que se constitui em pleno processo de

colonização no interior de Mato Grosso.

Palavras-chave: História da Educação Matemática; Ensino de Matemática; Movimento

da Matemática Moderna.

1 Grades Curriculares - Atualmente conhecida como Matrizes Curriculares.

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Santos, Reginaldo José dos. Education Mathematic History in the Mato Grosso; The

Modern Movement Mathematic in the Juara Municip in the period to 1970 a 1990,

starting Oscar Soares state school. Juara 2013, dissertation (Mastered in Education)

Federal University of Mato Grosso.

Abstract

The present dissertation bring how deep cloth to apprend the singularities of the colonization

process of the city Juara, largest four cities which compose the Vale do Arinos micron-region,

in the north part of the Mato Grosso State, in the period of 1970 a 1980 (Pre-colonization) and

1981 a 1990 (Post colonization). This intense first considered in the process of colonization.

In this context, the proposal is to investigate the presents pedagogic practices in Mathematic

teach developed at the Oscar Soares States School, in the period study. This investigation

situate himself in the field of the Education Mathematic History in Brazil. The analysis were

bound starting of various wrinteen fountains: proves, classroom diaries, final result’s record,

inspection’s book term, documents of the and about the school how regulations and decree,

curriculum matrixs teach programs, didactics books which permeated the Mathematic teach

pratices. There the writeen fountains were considered how fountains photography and

interviews. The subjects selecteds for the testimonies were teachers which ministered math

class, directors, employees and former student, totalizing eighteen interviewee, which of some

manner, were presents in the historical constitution of the education, as well as in the

trajectory of the Mathematic teaching in this school. Writeen documents were found in

personais archive of interviewee, school in study public library and pedagogical support. The

photography were localized starting of the narration of the witness accounts and at the

Savoine Cultural Center in Juara. Guided himself as to the theorical referential, in the

conception history of Jacques le Goff in the study, it was possible to perceive in the

pedagogical practices of the teachers mainly by analysis of the matters taught and didactic

books accepted, the presence of elements of the Modern Mathematic movement. Furthermore,

the search revealed the difficulties experienced by teachers which taught Mathematic the

conquests and perspectives of a community which constitute itself in complete colonization

process inside of Mato Grosso.

Keywords: Education Math History, Teaching of Math, Modern Mathematics

Movement.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 18

CAPÍTULO I

1 O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA ................................................... 28

1.1 Aspecto Metodológico documental................................................................................. 28

1.2 Aspectos Metodológicos para entrevista ......................................................................... 40

1.3 Aspectos Metodológicos da Iconografia (Fotografia) ...................................................... 49

CAPÍTULO II

2 SITUANDO O VALE DO ARINOS COMO FRONTEIRA DO ESTADO DE MATO

GROSSO ............................................................................................................................ 55

2.1 O Processo de Colonização do Município de Porto dos Gaúchos .................................... 62

2.1.1 A Educação Escolar na Gleba Arinos (Porto dos Gaúchos) .................................... 70

2.2 De Gleba Taquaral para o Município de Juara ................................................................ 75

CAPÍTULO III

3 A CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL DE 1º GRAU DE JUARA(E.E.

OSCAR SOARES)..................................................................................................................91

3.1 Caracterização e Contexto Histórico da Criação da Primeira Escola de Juara antes de 1976

na Modalidade do MOBRAL ............................................................................................... 91

3.2 Cria-se a Escola Estadual de 1ºGrau de Juara.....................................................................94

3.3 Regulamentação da Escola Estadual de 1º Grau de Juara em 1976.. ............................. 100

3.4 Caracterização da Escola Estadual Oscar Soares.............................................................112

3.5 Influências da Igreja Católica na Escola Estadual Oscar Soares .................................... 127

3.6 O Papel da APM (Associação de Pais e Mestres) na década de 70 e 80 do século XX, na

Escola Estadual Oscar Soares ............................................................................................. 132

3.7 Primeira Formatura de Ensino Médio da Escola Estadual Oscar Soares ........................ 133

3.8 Os Cursos de Formação para Professores ..................................................................... 136

3.9 Matrizes Curriculares, uma ideia, uma Educação .......................................................... 140

3.10 Relação de Diretores(as) que atuaram no período em estudo de 1970 a 1990 ............. 142

CAPÍTULO IV

4 CONTEXTUALIZANDO O MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA ..... 146

4.1 Movimento da Matemática Moderna no Brasil ............................................................ 149

4.2 Alguns Aspectos relevantes do Movimento da Matemática Moderna antes e após 1976 no

Brasil ................................................................................................................................. 162

4.3 Movimento da Matemática Moderna no Estado de Mato Grosso .................................. 170

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CAPÍTULO V

5 O ENSINO DE MATEMÁTICA NA ESCOLA ESTADUAL OSCAR SOARES NO

PERÍODO ENTRE 1970 A 1990 ..................................................................................... 180

5.1 Alguns aspectos de como funcionava a Escola Estadual Oscar Soares no período inicial de

colonização..............................................................................................................................180

5.2 Professores entrevistados que ministraram aulas de Matemática na Escola Estadual Oscar

Soares durante o período de colonização e pós-colonização .................................................181

5.3 Relevância dos Diários de Classe ................................................................................. 188

5.4 O Currículo escolar constituindo a Disciplina de Matemática na Escola Estadual Oscar

Soares ................................................................................................................................ 207

5.5 Os Conteúdos de Matemática contidos nos Diários de Classe da Escola Estadual Oscar

Soares Durante o período em estudo

Relação dos Conteúdos da 5ª Série Ministrados na Escola Estadual Oscar Soares no

período de 1970 a 1990

Relação dos Conteúdos da 6ª Série Ministrados na Escola Estadual Oscar Soares no

período de 1970 a 1990

Relação dos Conteúdos da 7ª Série Ministrados na Escola Estadual Oscar Soares no

período de 1970 a 1990

Relação dos Conteúdos da 8ª Série ministrados na Escola Estadual Oscar Soares no

período de 1970 a 1990

Relação dos Conteúdos ministrados no Curso de Técnico em Agropecuária no período de

1980 a 1990

Relação dos Conteúdos ministrados no Curso de Magistério para séries iniciais no período

de1980 a 1990

Relação dos Conteúdos ministrados do Curso de Técnico em Contabilidade no período de

1980 a 1990

Relação dos Conteúdos ministrados no Curso de Propedêutico no período de 1980 a 1990

5.6 Livros Didáticos utilizados no Município de Juara, durante o período de 1970 a 1990..235

5.6.1 Livro de Matemática da 5ª Série, autores: Damian Schor e Saulo Nicolau ........... 238

5.6.2 Livro de Matemática da 6ª Série, autor: Osvaldo Sangiorgi .................................. 240

5.6.3 Livro de Matemática da 6ª série, autor: Álvaro Andrini ....................................... 241

5.6.4 Livro de Matemática da 6ª série, autores: Damian Schor e Saulo Nicolau........... 242

5.6.5 Livro de Matemática da 7ª série, autores: Damian Schor e Saulo Nicolau..............244

5.6.6 Livro de Matemática da 7ª série, autores: Antonio Sardella e Edison da Matta......245

5.6.7 Livro de Matemática da 8ª Série, Título: Nova Série, autor: Osvaldo Sangiorgi....246

5.6.8 Livro de Matemática da 8ª Série, autores: Antônio Sardella e Edison da Matta....247

5.6.9 Livro de Matemática da 8ª Séries. Título “Livro Praticando Matemática”. Autor:

Álvaro Andrini....................................................................................................................249

5.6.10 Livro de Matemática de 1ª série do Ensino Médio. Título: “Matemática 1ª série, 2º

Grau,” do autor: Gelson Iezzi et al......................................................................................... 250

5.6.11 Livro de Matemática da 2ª série do Ensino Médio. Título “Livro Matemática na

Escola Renovada, do 2º Grau”, autores: Scipione Di Pierro Netto e Célia Contin

Góes.................................................................................................................................... ....252

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5.7 Aplicações de avaliações (provas) na Escola Estadual Oscar Soares em 1986, período em

estudo......................................................................................................................................257

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................263

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................272

ANEXOS................................................................................................................................277

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INTRODUÇÃO

No meio do sonho, indivíduos vivenciam a chegada a uma região inóspita, plantando

suas esperanças em meio a uma terra onde se predominam relações de disputa e de poder.

Centram seus sentimentos distintos na construção de uma cidade que nasce de um processo de

colonização. A função primeira é o trabalho na agricultura, mas não perdem de vista a

preocupação com a educação dos filhos. Nesse contexto, a cidade de Juara, que é foco da

presente dissertação, caracteriza-se inicialmente pela dicotomia entre colonizador/colonos e o

período pós-colonização2 colonizador/estado.

Partindo desse panorama mais amplo, direcionamos nosso olhar para o nosso objeto de

pesquisa: o ensino de Matemática. No entanto, é necessário situarmos o leitor quanto ao

processo histórico da colonização do Vale do Arinos, considerando as semelhanças e

diferenças com outras regiões do Estado de Mato Grosso, uma vez que, esse contexto, embora

seja conhecido pelo pesquisador, é desconhecido para a maior parte dos leitores. Vale

ressaltar que, a colonização ocorrida no Brasil se deu de diversas formas. Para Laranjeira

(1983, p. 03) “A colonização é um processo de ocupação de território, que ainda tem curso

entre nós, a despeito de quase quinhentos anos de existência no Brasil”. E todo Estado de

Mato Grosso passou por esse processo, principalmente pela busca de riquezas como o ouro e

o diamante.

O Estado de Mato Grosso historicamente é formado por uma grande diversidade

socioeconômica, política e cultural de migrantes advindos de todo o País. Conforme Silva

(2006), “estes têm suas origens relacionadas a alemães, portugueses, espanhóis, indígenas,

negros, paraguaios, argentinos, bolivianos, paulistas e outras regiões que contribuíram para

sua configuração populacional atual”.

O Município de Juara está localizado a noroeste do Estado de Mato Grosso, e pertence

à Bacia Amazônica. Esse município nasce a partir da iniciativa privada de colonização. A

origem de Juara tem como referência o ano de 1971, em plena ditadura militar, quando a

Sociedade Imobiliária da Bacia Amazônica (SIBAL) chegou a esse território com o propósito

de construir mais um município na região do Vale do Arinos. Essa sociedade foi liderada pelo

agricultor e colonizador Sr. José Pedro Dias, mais conhecido como Zé Paraná. Juara passou a

ser distrito em 04 de Julho de 1976 e se emancipou em 14 de Dezembro de 1981. A saber, no

período que antecede as compras das terras, o agricultor e empresário residia no Município de

Porto dos Gaúchos, aproximadamente 50 km da localidade.

2 Nessa pesquisa, entende-se o período de Pós-colonização a partir da emancipação política da localidade.

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As cidades construídas pelos sulistas no Vale do Arinos, como Porto dos Gaúchos,

Novo Horizonte do Norte, Tabaporã, bem como Juara, carregam marcas eurocêntricas.

Cidades com expressivas marcas da cultura dos colonos migrantes em sua maioria

paranaenses, tanto na arquitetura das casas, no traçado das ruas, na divisão dos lotes, como,

até mesmo, na seletividade de seus habitantes.

A pesquisa ocorre no Município de Juara, tendo como objeto de estudo uma das

Escolas Estaduais, (Quadro 01), a “Escola Estadual Oscar Soares”.

Quadro 01- Escolas Estaduais de Juara/MT, no período de 1970 a 1990.

NOME DAS ESCOLAS DECRETO DE CRIAÇÃO DATA DE CRIAÇÃO

Oscar Soares 2237 20/09/1974

José Dias 827 12/02/1981

Comendador José Pedro Dias 2147 07/12/1982

Luiza Nunes Bezerra 314 16/11/1983

Iara Maria Minotto Gomes 459 09/12/1987 Fonte: Arquivo ativo da Assessoria Pedagógica – SANTOS, Reginaldo José.

A Escola Estadual Oscar Soares, inicialmente, chamou-nos a atenção por ser a

primeira instituição da localidade e por várias peculiaridades. Entre elas, pelo fato de o

pesquisador fazer parte do quadro de seus professores efetivos da referida escola desde 2005.

Entendemos a importância de escolher essa escola pela facilidade de acesso às fontes

documentais e por ser uma instituição que desde primórdios centralizava todo processo

educativo.

A elucidação desses momentos e fatos históricos nos permitirá pela investigação a

escrita desse texto, pois segundo Dalcin (2008):

[...] Por meio de investigações que tomam por objeto o passado de instituições

educativas, é possível compreender com mais clareza o presente, fruto muitas vezes,

de decisões e de políticas advindas desse passado. As possibilidades de mudanças

podem ser percebidas mediante compreensão e reflexão a partir dos erros, acertos,

permanências e mudanças, caminhos que o ensino da matemática vem percorrendo nas últimas décadas no Brasil. Lidar com essa relação entre as possibilidades de

caminhos futuros e os já percorridos constitui-se em um exercício reflexivo e

metodológico interessante e produtivo (DALCIN, 2008, p. 17).

O estudo sobre o ensino da Matemática, nessa escola de Juara, torna-se, pois, relevante

principalmente por não haver trabalho que trate dessa temática. Além disso, acreditamos que a

pesquisa também é pertinente na elucidação de fatos outrora publicados, bem como na

constituição histórica do Estado de Mato Grosso devido suas peculiaridades educacionais

locais e globais, as quais contribuem para a composição como área de conhecimento da

História da Educação Matemática no Brasil.

A Matemática como disciplina se faz importante quando adentra à sociedade e

consolida seus vieses ao se manifestar por meio de habilidades, buscando o bem comum

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gerado pelo conhecimento. Para isso, revela-se nas práticas do cotidiano, nas relações com o

trabalho, na economia, no comércio, nas diferentes tecnologias etc. Essa conexão apresentada

pela Matemática a faz singular, e cientificamente entende-se seu valor para e enquanto

ciência. Principalmente por sua importância social.

Propomos nessa pesquisa investigar como se desenvolveu o ensino de Matemática nos

primeiros anos de colonização na Escola Estadual Oscar Soares. Criada sob a denominação de

Escola Estadual de 1º Grau em 18 de setembro de 1974, pelo Decreto nº 2237/74. D.O3 de 20

de setembro de 1974, p. 02, e pela Lei 4119/79 de 12 de novembro de 1979 recebeu nova

nomenclatura de Escola Estadual de 1° e 2° Graus Oscar Soares. No final de 2008, muda

novamente, ficando apenas Escola Estadual Oscar Soares, comportando apenas o Ensino

Médio não profissionalizante na modalidade regular. A partir de 2009, passa a ofertar o

Ensino Médio Integrado à Educação Profissional (EMIEP), com o Curso Técnico em

Informática.

Nosso estudo tem, pois, como tema: História da Educação Matemática no Estado

de Mato Grosso: o Movimento da Matemática Moderna no Município de Juara no

período de 1970 a 1990, a partir da Escola Estadual Oscar Soares.

Como problemática, temos a seguinte questão: Quando e como iniciou o processo

educativo no Município de Juara e como se deu o ensino de Matemática na Escola Estadual

Oscar Soares, durante o período de 1970 a 1990?

Nessa perspectiva, temos por objetivo investigar como se deu o ensino de Matemática

na Escola Estadual Oscar Soares em Juara/MT, ao longo do período de 1970 a 1990,

considerando as práticas desenvolvidas pelos professores que nela atuaram, e a relação com o

Movimento da Matemática Moderna.

Temos como objetivos específicos:

* Localizar e identificar os primeiros professores que atuaram como docentes na

disciplina de Matemática no período de 1970 a 1990, na Escola Estadual Oscar Soares,

buscando suas origens, formações, se ainda estão em exercício, afastados ou aposentados, se

residem na região, que memórias têm sobre o desenvolvimento do ensino de Matemática na

escola nesse período.

* Compreender por meio de relatos (narrativas) de professores; funcionários; gestores e

ex-alunos; bem como nas análises de documentos oficiais, não oficiais e fotografias, as

práticas pedagógicas dos professores de Matemática que atuaram à frente do ensino de

3 Diário Oficial

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Matemática na Escola Estadual Oscar Soares, durante o período de 1970 a 1990,

relacionando-as com o Movimento da Matemática Moderna no Brasil.

Entendemos que, essa pesquisa proporcionará evidenciar a constituição histórica desse

período de colonização, enfatizando a importância do ensino da Matemática para o

desenvolvimento local.

Nesse contexto, é oportuno questionamentos como: que concepções de ensino de

Matemática se fizeram presentes nessa região nas práticas dos professores? Quem foram os

primeiros professores de Matemática a atuar na região e quais suas formações?

Buscando respostas, mergulhamos no estudo partindo do recorte temporal, demarcado

na década de 70 do século XX, período oficial de criação da Escola Estadual Oscar Soares.

Entretanto, os anos 70 são marcados pela influência do Movimento da Matemática Moderna

no Brasil, concomitantemente com o afloramento da colonização do Município de Juara.

Com efeito, a pesquisa busca compreender as mudanças apresentadas no processo

educativo da Escola Estadual Oscar Soares, considerando que é no início da década de 80 do

século XX, que acontece a emancipação política da localidade. Além disso, ocorre a

estruturação e ampliação da rede educacional com a instauração da Secretaria Municipal de

Educação e Cultura que, logo depois iniciou a construção de escolas municipais na zona rural.

Até esse período, todos os alunos eram atendidos na escola em estudo.

Em virtude de mudanças ocorridas no currículo, principalmente na disciplina de

Matemática, são introduzidos novos cursos, propiciando novos caminhos no ensino de

Matemática. Outra ocorrência importante foi a chegada dos primeiros professores habilitados

e licenciados em Matemática e o direito democrático na escolha de diretores escolares por

meio do voto pela comunidade escolar.

Estendemos a pesquisa até o ano de 1990 por ser um período de mudanças na região,

devido o final da Ditadura Militar, que perpassa o período de 1964 a 1985, e termos uma nova

legislação educacional nacional sendo discutida na instauração da nova Constituição

Brasileira que entrara em vigor em 1988.

Ao analisar a realidade social de Juara nesse período, torna-se possível refletir sobre o

papel da educação e sua importância para toda comunidade local. A diversidade migratória, as

organizações sociais, as relações culturais. O período de colonização e pós-colonização foi de

referência para todas as mudanças educacionais, bem como do próprio desenvolvimento do

local, norteado pela relação Colonizador/Estado com partição de parte da comunidade

juarense.

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O referencial teórico que orienta essa pesquisa possibilita a investigação dos

fenômenos na sua extensão e complexidade.

Considerando que “os fatos históricos são construções do historiador a partir de suas

interrogações” (VALENTE, 2005, p. 8), propomo-nos, por meio da análise de diferentes

fontes, compreender esses fatos da história relativos ao ensino de Matemática na Escola

Estadual Oscar Soares/Juara - MT ao longo desse período em estudo.

A pesquisa situa-se no campo da História da Educação Matemática em Mato Grosso,

tendo como pano de fundo o Município de Juara a partir da Escola Estadual Oscar Soares.

Assim, “consideramos outros elementos tais que, nos possibilitassem compreender o tempo e

espaço em que as histórias se constituíram, uma vez que entendemos a história como uma

prática humana e, enquanto humanos nos colocamos dialeticamente como parte e em relação

com as coisas do mundo” (DALCIN, 2012, p. 03).

Teremos como referência os trabalhos produzidos pelos grupos de pesquisa:

GRUEMA4, GEEM

5, SBEM

6, GHEMAT

7, GHOEM

8, GEPEMAT

9, HIFEM

10, GEEMPA

11

que de certa forma contribuem com nossa pesquisa a partir de suas reflexões e percursos

metodológicos. Permitindo uma maior contextualização a fim de tratar historicamente a

matemática escolar, na perspectiva do ensino de Matemática, e suas relações para um sistema

seja social e/ou processo de colonização de uma região.

A dimensão metodológica de nossa pesquisa cunha-se na abordagem histórico-

cultural, a qual se fundamentou nos estudos de historiadores contemporâneos como: história

cultural (BURKER, 2005), história do tempo presente (LE GOFF, 1990, 2003), cultura

4Grupo de Ensino de Matemática Atualizada (GRUEMA) na década de 70 do século passado no cenário do

Movimento da Matemática Moderna (MMM) no Brasil. 5 Grupo de Estudo do Ensino da Matemática, (GEEM) fundado em outubro de 1961, por professores do Estado

de São Paulo, tendo como principal representante Osvaldo Sangiorgi. 6Fundada em 27 de janeiro de 1988, a SBEM é uma sociedade civil, de caráter científico e cultural, sem fins

lucrativos e sem qualquer vínculo político, partidário e religioso. Tem como finalidade congregar profissionais

da área de Educação Matemática ou de áreas afins. 7O GHEMAT: Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática no Brasil - foi criado em 2000. O Grupo,

cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas do CNPq, tem como líderes os professores: Neuza Bertoni Pinto

(PUC-PR) e Wagner Rodrigues Valente (UNIFESP - Campus Guarulhos). 8A constituição formal do grupo de pesquisa “História Oral e Educação Matemática”, desde cedo conhecido por

GHOEM, ocorreu, efetivamente, em meados do ano de 2002, com a visita do Prof. Carlos Vianna a Rio Claro e

Bauru, quando realizaram o primeiro seminário de estudos. O Grupo História Oral e Educação Matemática é

cadastrado no CNPq e certificado pela UNESP – é membro da Associação Brasileira de História Oral (ABHO). 9 O Grupo de Ensino e Pesquisa em Educação Matemática GEPEMAT: composto por professores do

Departamento de Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) preocupado com o ensino da

Matemática em Cuiabá e em Mato Grosso. 10 História, Filosofia e Educação Matemática: pesquisa e extensão criado em 16 de março de 2010. 11 Grupo de Estudos sobre o Ensino de Matemática de Porto Alegre, criado em 1970.

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escolar (JULIA, 2001) e história, instituições escolares e gestores educacionais (SANFELICE,

2006).

Na pesquisa utilizamos vários conceitos de autores e diferentes temáticas. Para tratar

do ensino de Matemática (FIORENTINI, 1995), dos conceitos de colonização (SOUZA

2001), da iconografia (BARTHES, 1984; BURKE, 2004 e DALCIN, 2008, 2012),

documentos (LE GOFF, 1990/ 2003 e CELLARD, 2008), entrevistas (GARNICA, 2004,

THOMPSON, 1992 e ZAGO, 2003), história da educação Matemática (MIORIM, 1998,

VALENTE, 1999, 2005, 2007, 2008, 2010 e MIGUEL; MIORIM, 2002), Matemática

moderna (BÜRIGO, 1989, SOARES, 2001-2008 e ALMEIDA, 2010), e outros. Todos

contribuem de forma peculiar, com a ferramenta indispensável para a escrita e constituição do

texto que instituirá a História da Educação Matemática como campo de pesquisa.

Quando destacamos da atividade matemática aquela dimensão que se preocupa

exclusivamente em investigar os processos sociais intencionais de circulação,

recepção, apropriação e transformação dessa atividade, estaremos distinguindo, por

inclusão, um novo campo de investigação [...] Desse modo, a história da Educação

Matemática é algo muito mais complexo do que um mero estudo, no tempo, das

idéias educacionais ou doutrinas pedagógicas relativas à matemática (MIGUEL;

MIORIM, 2002, p. 187).

A História da Educação Matemática norteia-se “do reflexo de mudanças ocorridas no

campo da História e, entre outras causas, da revalorização do papel do conhecimento das

práticas escolares do passado para o entendimento delas no presente” (SOARES, 2006, p.67).

Valente (2007, p. 29) afirma que, “a pesquisa em história da educação matemática está

inscrita no campo da história. Mais especificamente, ela reporta-se à história da educação”.

Para Dalcin (2012), “A história da educação matemática não está deslocada de outras

histórias a exemplo da história das instituições em que as práticas de circulação e apropriação

do conhecimento matemático acontecem ou das histórias de vida dos professores que ensinam

matemática” (DALCIN, 2012, p. 29).

Contudo, “conhecer a trajetória de uma disciplina, na perspectiva da história cultural

requer um olhar minucioso para as finalidades do ensino, dos conteúdos a serem ensinados e

suas formas de apropriação pelos professores e alunos” (ALMEIDA, 2010, p.17).

Essas abordagens imbricam nas diversas fontes. Para Julia (2002. p. 179), “na

produção de narrativas, memória, diários de classes [...]”. Todas as fontes que possam ser

interpretadas de forma a revelar-se ao pesquisador.

Situamos essa investigação na perspectiva da História Cultural.

Esse movimento subdivide-se em vários momentos. [...] Poucos tentam usar

métodos quantitativos. Alguns descrevem seu trabalho em termos de uma procura de

significados, outros focalizam as práticas e as representações. Alguns vêem seu

objetivo como essencialmente descritivo, ou acreditam que a história cultural, como

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a história política, pode e deve ser apresentada como uma narrativa. No entanto, o

que todos os historiadores culturais têm como terreno comum é a preocupação com

o simbólico e com suas interpretações (BURKE, p. 9-10).

Além disso, a História Cultural vem ampliando as possibilidades de análise, na medida

em que “distancia-se do corte sociológico, aproximando-se cada vez de um ângulo de análises

interdisciplinar” (GATTI, 2002, p. 10 apud DALCIN, 2008, p.7). Dessa forma, “os

pressupostos da História Cultural contribuíram para o desenvolvimento de um modo de olhar

o passado em suas relações com o presente” (DALCIN, 2008, p. 8).

A literatura nos revela que a história nos remete à narração de fatos e acontecimentos

ocorridos. O trabalho do historiador é torná-los compreensíveis. Ao longo da pesquisa,

buscaremos dialogar com vários historiadores, filósofos e educadores percorrendo caminhos

do passado com o olhar do presente.

De acordo com Dalcin (2008, p. 289), “fazer história é isso, uma constante prática de

criar e de recriar, de fazer e de refazer um exercício de escrita”. Entretanto, para aprendermos

a lidar com fontes históricas, nos apoiamo-nos em Jacques Le Goff (1990 e 2003), que

defende uma nova concepção de História, na qual se verifica a importância do pesquisador

assumir o ofício de historiador. Além de distinguir os conceitos de documento12

e

monumento13

, que são entes para o estudo e análises das fontes históricas.

Esta dependência da história do passado em relação ao presente deve levar o

historiador a tomar certas precauções. Ela é inevitável e legítima, na medida em que o passado não deixa de viver e de se tomar presente. Esta longa duração do passado

não deve, no entanto, impedir o historiador de se distanciar do passado, uma

distância reverente, necessária para respeitá-lo e evitar o anacronismo (LE GOFF,

2003, p. 26).

“Penso que a história é bem a ciência do passado, com a condição de saber que este

passado se torna objeto da história, por uma reconstrução incessantemente reposta em causa

[...]” (LE GOFF, 2003, p. 26). Acreditamos que diferentes concepções se assemelham para

constituição da história. Todavia é o que pretendemos expor como viés nesse trabalho. Essa

compreensão se reforça nas palavras de Vesentini; Martins; Pécora (2009, p. 04) quando

afirmam que:

A história é uma narrativa que interpreta, dá significado e explica as ações, o pensamento e a experiência humana no tempo. Narrar os acontecimentos, sejam do

12 Documentos escritos – Desde a antiguidade, que a ciência histórica, vem fazendo deles testemunhos,

superando o limite do meio século ou do século abrangido pelos historiadores que dele foram testemunhas

oculares e auriculares. [...] Hoje os documentos chegam a abranger a palavra, o gesto. Constituem-se arquivos

orais; são coletados etnotextos (LE GOFF, 1990, p. 010). 13 A ideia de monumento aos documentos, segundo Le Goff (1990, p. 09 ), fundamenta-se “em que não é um

material bruto, objetivo e inocente, mas que exprime o poder da sociedade do passado sobre a memória e o

futuro”.

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presente, do passado, é uma prática cultural humana universal e necessária para a

construção da memória histórica (VESENTINI; MARTINS; PÉCORA, 2009, p. 04).

Le Goff (2003, p. 26) acrescenta que “Esta interação entre passado e presente é aquilo

a que se chamou de função social do passado ou da história”. Cabe, entretanto, ao historiador

pesquisador tomar posse do seu ofício.

[...] O ofício do historiador se dá no processo de interrogação que faz aos traços

deixados pelo passado, que são conduzidos à posição de fontes de pesquisas por

essas questões, com o fim das construções de fatos históricos, representados pelas

respostas a elas. O historiador da educação matemática tem, como todo historiador a

tarefa de produzir fatos históricos, sua especificidade é a de elaboração de fatos

históricos relativos ao ensino de matemática (VALENTE, 2007, p. 39).

Enfatiza ainda o autor que:

Os fatos históricos são constituídos a partir de traços, de rastros deixados no

presente pelo passado. Assim, o trabalho do historiador consiste em efetuar um

trabalho sobre esses traços para construir os fatos. Desse modo, um fato não é outra

coisa que o resultado de uma elaboração, de um raciocínio, a partir das marcas do

passado, segundo as regras de uma crítica. Mas, a história que se elabora não

consiste tão simplesmente na explicação de fatos. A produção da história, tampouco

é o encadeamento deles no tempo, em busca de explicações a posteriori. O ofício do

historiador não parte dos fatos como um a priori. [...] Assim, não haverá fatos sem

questões prévias para o seu estabelecimento. Em síntese, não existem fatos

históricos sem questões postas pelo historiador (VALENTE, 2007, p. 31).

Desse modo, é papel do historiador/pesquisador buscar materializar o passado por

meio das narrativas e outras fontes escritas, voltadas ao ensino de Matemática

desnaturalizando-as, dando-lhe clareza e desencadeando escolhas e caminhos pertinentes, aos

quais, conduzirá por uma teia de significados. Sabemos que, exercer esse papel de historiador

não é simples. Olhar sempre com os olhos críticos requer ousadia, porém faz parte desse

profissional estar atento às pesquisas, bem como ao exercício da escrita.

Para tanto, é importante termos acesso às fontes, sejam elas escritas, orais ou

iconográficas que nos auxiliem a elucidar os momentos históricos.

Neste estudo, usaremos de fontes variadas, buscando sempre uma triangulação entre as

informações emergidas dos documentos, fotografias e entrevistas, que possam de algum modo

apresentar indícios de práticas educativas; seu público alvo; as políticas educacionais que

permearam a Escola Estadual Oscar Soares enquanto instituição, demarcando sua existência.

[...] Os motivos pelos quais uma unidade escolar passa a existir são os mais

diferenciados. Às vezes a unidade escolar surge como uma decorrência da política

educacional em prática. Mas nem sempre. Em outras situações a unidade escolar

somente se viabiliza pela conquista de movimentos sociais mobilizados, ou pela

iniciativa de grupos confeccionais ou empresários. A origem de cada instituição

escolar, quando decifrada, costuma nos oferecer várias surpresas (SANFELICE,

2006, p.23).

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Portanto, é sabido da complexidade e o longo caminho a ser percorrido para se chegar

a um resultado que elucide todas as interrogativas na constituição da escrita sob o objeto em

estudo. Este ganha magnitude pela localização das fontes.

Há concordância de que o iniciar de uma pesquisa histórica exige a localização de

fontes. [...] recolher esses elementos e ter acesso a essas “novas” fontes não é

sempre fácil, pois passados alguns anos muitos documentos são destruídos, livros

didáticos deixam de ser publicados e muitos professores já se encontram fora das

salas de aula. Em muitos momentos o trabalho do historiador é semelhante à de um

detetive ou a de um jornalista investigativo, sem, contudo, se limitar a isso

(SOARES, 2006, p. 68).

Porém, mesmo com dificuldades, foi possível arrolar uma quantidade expressiva de

documentos, os quais, julgamos necessários para a execução da abordagem histórica. O

acesso a diferentes fontes nos auxiliou a compreender as práticas e formas metodológicas de

ensino de Matemática partindo dos momentos históricos da Escola Estadual Oscar Soares e

sua relação no processo de colonização e pós-colonização no qual foi criada.

A materialização dessa pesquisa no tocante às ações metodológicas, recai sob os

processos de investigação imbricados a um conjunto de técnicas de abordagens qualitativas,

as quais subdividem a pesquisa em três importantes momentos: o primeiro com as

observações realizadas nos documentos da Escola Estadual Oscar Soares, a fim de obter

informações, culminando na identificação dos sujeitos a serem entrevistados na pesquisa e

que, de alguma forma, contribuíram no e para o ensino de Matemática. O segundo trata-se da

entrevista com professores, diretores escolares, funcionários, ex-alunos e esposa (viúva) do

colonizador de Juara. Terceiro trouxemos a iconografia (fotografias), no intuito de revelar

fatores sociais que possam contribuir para a constituição histórica local.

A partir do percurso, produzimos uma narrativa que expressa um olhar para o passado,

nosso olhar sobre o ensino de Matemática na Escola Estadual Oscar Soares ao longo do

período em questão. Este texto é o produto desta investigação.

O texto está organizado em 5 (cinco) capítulos, os quais fundamentam, apresentam e

discutem o objetivo proposto.

No primeiro capítulo, descrevemos com mais profundidade o percurso metodológico

percorrido com o intuito de auxiliar o leitor na reconstrução da trajetória da pesquisa e situar

teoricamente as ideias que nortearam o “olhar” para o passado.

No segundo capítulo, intitulado “O processo de colonização dos municípios de Porto

dos Gaúchos e Juara em Mato Grosso”, sistematizamos informações que esclarecem o

processo de colonização do Vale do Arinos em seu âmbito político, socioeconômico, cultural

e como parte na formação do sistema educacional mato-grossense no período em estudo.

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No terceiro capítulo, caracterizamos a Escola Estadual Oscar Soares, a primeira escola

do município. Buscamos entender as inferências política e religiosa, bem como compreender

a relação colonizador/colonos, uma dicotomia que merece uma atenção, pois, a partir dessa

relação, é que se iniciou o processo de colonização/emancipação.

No quarto capítulo, iniciamos com a contextualização da trajetória da Matemática

Moderna e delineamos com o advento do Movimento da Matemática Moderna no Brasil,

buscando entendimento sobre suas discussões no cenário nacional e internacional,

desencadeadas pelas produções de artigos, dissertações e teses brasileiras que nortearam a

referida temática.

No quinto capítulo, mostramos a análise dos diários de classe, provas de alunos, livros

didáticos e entrevistas, a fim de que, encontremos vestígios da presença da Matemática

Moderna no ensino de Matemática na Escola Estadual Oscar Soares, e as formas como suas

principais ideias foram apropriadas pelos professores (as), os quais ministraram aulas de

Matemática da 5ª a 8ª séries do 1º Grau (atual 6º a 9º ano) e 2º Grau (atual Ensino Médio), no

período de 1970 a 1990.

As análises e discussões dos dados nortearão a triangulação entre as fontes abordadas

anteriormente comparando-as com a lista dos conteúdos mínimos, apresentada e defendida

pelo GEEM/1961, sob a presidência do professor Osvaldo Sangiorgi. Dessa forma, esse

capítulo mostrará de forma gráfica e dissertativa as interpretações emergidas sob os

documentos públicos escolares acima citados.

Dentre os livros de Matemática analisados, daremos ênfase a dois usados na época dos

autores Osvaldo Sangiorgi o livro da 8ª série, e o livro da 5ª série, escrito por Álvaro Andrini,

os quais foram localizados com professores no momento da entrevista. Em relação aos livros

de Ensino Médio, foi localizada uma nota fiscal nº 011 da compra de livros de Matemática da

1ª, 2ª e 3ª séries do 2º Grau do autor Bonjorno datada em 28 de dezembro de 1985, totalizando

24 unidades, mas não foram localizados na escola, nem juntos aos professores.

Nas considerações finais, tecemos algumas reflexões no tocante de conclusão,

conscientes dos limites deste trabalho e do caráter provisório das informações nele contidas.

No decorrer do desenvolvimento das etapas supracitadas, foi feito o exercício da escrita de

uma história possível, construída a partir do estudo realizado e da análise das fontes que

resultaram na dissertação de Mestrado. Porém, temos ciência de que, reações diversas serão

suscitadas por esta pesquisa, em momentos de provocação e mesmo de dúvida, que serão

salutares, tanto para pesquisador, quanto para aqueles que conhecem ou vierem a conhecer

nosso trabalho.

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CAPÍTULO I

1 O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

Considerando as três etapas pelas quais a pesquisa se desenvolveu: o primeiro com as

observações realizadas nos documentos da Escola Estadual Oscar Soares; o segundo por meio

das entrevistas com professores, diretores escolares, funcionários, ex-alunos e esposa (viúva)

do colonizador de Juara e o terceiro que dialoga com a iconografia (fotografias), construímos

uma narrativa que apresenta nosso “olhar” sobre o passado.

Com o intuito de dialogar com as fontes escritas oficiais e não oficiais e as

iconográficas, usamos como respaldo as reflexões dos autores: Le Goff (1990 e 2003) e

Cellard, (2008) sobre documentos e memória.

1.1 Aspecto Metodológico Documental

Quanto à análise de documentos escritos, inicialmente devemos ficar atentos, pois não

se trata de uma análise simplória, necessita de singularidades mesmo que se trate de um

fragmento. A importância deste, juntamente com outros elementos, é a de que contribuirão

para a constituição desse trabalho, permitindo um olhar mais sistemático, pois “o documento

permite acrescentar a dimensão do tempo à compreensão do social” (CELLARD, 2008, p.

295). Não podemos nos esquecer de que todos esses elementos estão intrinsecamente ligados

à memória dos viventes dito racionais.

Para Le Goff (1990):

A memória coletiva e a sua forma científica, a história, aplicam-se a dois tipos de

materiais: os documentos e os monumentos. [...] Estes materiais da memória podem

apresentar-se sob duas formas principais: os monumentos, herança do passado, e os

documentos, escolha do historiador (LE GOFF, 1990 p. 535 grifo do autor).

Assim, entende-se documento/monumento pelo o autor:

A palavra latina monuentum remete para a raiz indo - européia men, que exprime

uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini). O verbo monere

significa ‘fazer recordar, de onde ‘avisar’, ‘iluminar, instruir’. O monumentum é um

sinal do passado. Atendendo às suas origens filológicas, o monumento é tudo aquilo

que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos

(LE GOFF, 1990, p.535 grifo do autor).

Nessa perspectiva, ao falarmos de documento como monumento, enfatizamos Le Goff

(1990, p. 536) ao afirmar que: O monumento tem como característica o ligar-se (é um legado

à memória coletiva) e o reenviar a testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos

escritos. Assim, deixa claro sua intencionalidade que mesmo descrito em um tempo dito

distante, a história se encarregará por parte do historiador de sua reconstituição. Dessa forma

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“a sua objetividade parece opor-se à intencionalidade do monumento. Além de, (re) afirmar-

se essencialmente como um testemunho escrito” (LE GOFF, 1990, p. 537).

Assim, para o autor:

A leitura dos documentos não serviria, pois, para nada se fosse feita com idéias

preconcebidas [...] sua única habilidade (do historiador) consiste em tirar dos

documentos tudo o que eles contêm e em não lhes acrescentar nada do que eles não

contêm. O melhor historiador é aquele que se mantém o mais próximo possível dos

textos (LE GOFF, 1990, p. 537).

Cellard (2008) nos coloca que, esses documentos possibilitam realizar a reconstrução

da história, auxiliando a memória, que fica impossibilitada de guardar todas as informações

perpassadas pelo tempo, causando uma deformidade nos acontecimentos.

É necessário lembrar que:

O documento escrito constitui, portanto, uma fonte extremamente preciosa para todo

pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer

reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele

represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas

épocas. Além disso, muito freqüentemente, ele permanece único testemunho de

atividades particulares ocorridas num passado recente (CELLARD, 2008, p. 295).

Todavia, os documentos se tornam um instrumento imprescindível, pois historicamente

sua contribuição é inegável. A forma de interligar passado, presente e conduzir para o futuro é

o seu principal papel. “O documento permite acrescentar à dimensão do tempo a compreensão

do social” (CELLARD, 2008, p. 295). Os documentos se mostram em parte, independentes do

pesquisador, pois, muitas vezes, se tornam livres de suas influências ao retratar um passado

não vivido pelo observador.

Podemos perceber que tanto os documentos como os textos constituídos trazem

significados singulares para o entendimento e compreensão da história, principalmente da

História da Educação Matemática. Esta, porém como aportes para constituir-se um novo

campo na área de conhecimento.

História da Educação Matemática é também aqui concebida como processo ou

atividade, isto é, como um campo de investigação, e não unicamente como um

produto, [...] um conjunto cumulativo de idéias ou resultados [...]. Desse modo,

incluí-se nesse campo de investigação todo estudo de natureza histórica que

investiga, diacrônica ou sincronicamente, a atividade matemática na história,

exclusivamente em suas manifestações em práticas pedagógicas de circulação, apropriação e re-significação do conhecimento matemático e em práticas sociais de

investigação de educação matemática [...] (MIGUEL; MIORIM, 2002, p.187).

Enfim, trará elementos e/ou fontes, que possam corroborar para a constituição desse

novo campo de conhecimento, buscando sempre ampliar as relações entre os homens, seus

momentos e fatos históricos quando posto ou não em documento.

A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas

pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com

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tudo o que a habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na

falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos, Paisagens e telhas. Com as

formas do campo e das ervas daninhas. Com os eclipses da lua e a atrelagem dos

cavalos de tiro. [...] Numa palavra, com tudo o que, pertencendo ao homem, depende

do homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a presença, a atividade, os

gostos e as maneiras de ser do homem (LE GOFF, 1990, p. 540).

A diversidade das fontes como elemento histórico mergulha no mundo da

complexidade buscando clarificação em um contexto onde as características dão luz ao

passado para o entendimento do presente. Não se pode pensar que, percalços ocorridos na

história, fizessem parte de apenas um tipo de informação documental.

Pelos documentos, podemos comprovar parte da história. Com esta precisão, há que

tomar a palavra “documento” no sentido mais amplo, documento escrito, ilustrado,

transmitido pelo som, pela imagem, ou de qualquer outra maneira.

Essa diversidade de documentos e olhares pode preliminarmente ser caracterizada

como um indício de um novo período documental. Oportunizando um novo entendimento

sobre a história da humanidade. Visto que, a história, seu acesso e/ou egresso é direito de

todos. Para que serviria a história senão para colocar o sujeito humano em primeiro plano?

Daí a importância documental como algo revolucionário, principalmente como o caracteriza:

A revolução documental tende também a promover uma nova unidade de

informação: em lugar do fato que conduz ao acontecimento e a uma história linear, a

uma memória progressiva, ela privilegia o dado, que leva à série e a uma história

descontínua. Tomam-se necessários novos arquivos, onde o primeiro lugar é

ocupado pelo corpus, a fita magnética. A memória coletiva valoriza-se, institui-se em patrimônio cultural. (LE GOFF, 1990 p. 543 grifo do autor).

A procura da autenticidade documental, sempre foi alvo de vários historiadores.

Contudo, os fundadores dos “Annales” davam início a uma crítica em profundidade da noção

de documento (LE GOFF, 1990, p. 544).

Assim:

[...] os documentos não aparecem, aqui ou ali, pelo efeito de um qualquer

imperscrutável desígnio dos deuses. A sua presença ou a sua ausência nos fundos

dos arquivos, numa biblioteca, num terreno, dependem de causas humanas que não

escapam de forma alguma à análise, e os problemas postos pela sua transmissão,

longe de serem apenas exercícios de técnicos, tocam, eles próprios, no mais íntimo

da vida do passado, pois o que assim se encontra posto em jogo é nada menos do

que a passagem da recordação através das gerações (BLOC, 1941, pp. 29-30 apud

LE GOFF, 1990, p. 544).

Nessa perspectiva, permite-nos ressaltar os documentos escritos por meio da

oralidade, o que não os tornam menos monumentos do que o escrito propriamente dito.

Assim, “o que distingue a língua monumental da língua documental é ‘esta elevação, esta

verticalidade’ que a gramática confere a um documento, transformando-o em monumento”

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(LE GOFF, 1990, p. 545). Todavia, por mais que um documento tenda a uma relação de

poder, este deve ser acariciado de todas as formas e parâmetros.

O autor salienta que averiguação total do documento se faz necessário:

Não existe um documento objetivo, inócuo, primário. [...] A concepção do

documento/monumento é, pois, independente da revolução documental e entre os

seus objetivos está o de evitar que esta revolução necessária se transforme num

derivativo e desvie o historiador do seu dever principal: a crítica do documento -

qualquer que ele seja - enquanto monumento. O documento não é qualquer coisa que

fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as

relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo

cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa (LE GOFF, 1990, p. 545).

“É impossível transformar um documento, é preciso aceitá-lo como ele se apresenta,

tão incompleto, parcial ou impreciso que seja” (CELLARD, 2008, p, 299). Dessa forma,

devemos nessa leitura dos documentos, muitas vezes, não se ater apenas ao espaço local que

ele representa e/ou está representado, e sim partir de uma leitura mais global, com a intenção

de percorrer toda sua dimensão contextual. O questionar do documento dar-lhes-á mais

movimento, e estes, elementos mais incisivos da história.

Nesse sentido, cabe-nos de forma sucinta e com o olhar de historiador/pesquisador

buscar as intencionalidades inconscientes que está por trás dessas fontes consideradas

“documentos/monumentos” (LE GOFF, 1990, p. 475). Fica claro que, as fontes abordadas

nesse trabalho de pesquisa como as entrevistas, os documentos oficiais e não oficiais, além

das inúmeras fotografias serão tratadas como documento/monumentos seguidas de diferentes

indagações:

A intervenção do historiador que escolhe o documento, extraindo-o do conjunto dos

dados do passado, preferindo-o a outros, atribuindo-lhe um valor de testemunho que,

pelo menos em partes, depende da sua própria posição na sociedade da sua época e

da sua organização mental, insere-se numa situação inicial que é ainda menos

“neutra” do que a sua intervenção. O documento não é inócuo. É antes de mais nada

o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da

sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas as quais continuou

a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que

pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o

ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-lhes o seu significado aparente. O documento é

monumento (LE GOFF, 1990, p. 548).

As simbologias que os documentos guardam e os representam, os fazem valiosos

nessa constituição histórica, mas:

Se, efetivamente, análise documental elimina em parte a dimensão da influência,

dificilmente mensurável, do pesquisador sobre o sujeito, não é menos verdade que o

documento constitui um instrumento que o pesquisador não domina. A informação, aqui, circula em sentido único; pois, embora tagarela, o documento permanece

surdo, e o pesquisador não pode dele exigir precisões suplementares (CELLARD,

2008, p. 295-296).

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Porém, devemos como historiador/pesquisador buscar nas entrelinhas dos

documentos, estejam eles expostos em quaisquer das fontes. A falta de registros não poderia

significar a ausência da escrita da história. Com o fazer falar se extrai a essência histórica.

[...] Nenhum documento é inocente. Deve ser analisado. Todo documento é um

monumento que deve ser desestruturado, desmontado. [...]. Os documentos só

passam a ser fontes históricas depois de estarem sujeitos a tratamentos destinados a

transformar a sua função de mentira em confissão de verdade [...] (LE GOFF, 1990

p. 111 grifo nosso).

Assim, conclui Le Goff (1990, p. 433), “todo documento tem em si um caráter de

monumento e não existe memória coletiva bruta”, mas é tarefa do historiador não olhá-los

com ingenuidade. Com tais pressupostos, iniciamos a pesquisa documental na Escola

Estadual Oscar Soares.

Ao adentrar nesse espaço em busca de documentos, estes aos poucos nos revelaram

muitas informações, além de conduzir-nos a vários outros espaços (acervos) como a

Assessoria Pedagógica, Biblioteca Pública e o Centro Cultural Savoíne. Posteriormente, os

depoimentos colaboraram nos achados de novos sujeitos e diversas fotografias. Todavia, fica

registrada a forma que o atual diretor da escola nos recebeu. Sempre envolvido e atencioso na

pesquisa e colaborando no que era preciso. Agora mais compromissado com a preservação

desses documentos devido sua importância histórica. Os arquivos ativos e passivos da

instituição ficaram disponíveis para qualquer eventualidade de estudo, independentemente dos

horários de funcionamento escolar.

A seleção desses materiais segue uma organização documental sobre a escola, os quais

classificamos como:

textos legais e legitimados, e documentos provindos do poder local e central;

relatórios elaborados pelos inspetores e diretores que passaram na escola;

regulamentos, normativas e outros textos impetrados pela instituição escolar ou de

circulação interna, além de documentos que expressem comunicação entre organismo

político à frente aos diferentes obstáculos apresentados pela escola;

documentos administrativos e pedagógicos, os quais constituem a cultura escolar por

seus acervos arquivísquicos enquanto instituição educativa;

materiais didáticos encontrados na escola, bem como pertencentes a acervos exteriores

à instituição;

fotografias e outros documentos de natureza iconográfica;

testemunos orais de professores, ex-alunos, ex-funcionário e ex-diretores;

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Essas inferências documentais nos colocaram como pesquisadores na tentativa de ser

um historiador a par de uma realidade educativa até então desconhecida, pois “esses

documentos constituem produções múltiplas, que refletem a própria multidimensionalidade e

complexidade das realidades escolares e formativas, assim como a diversidade e pluralidade

dos meios de intervenção dos agentes educativos” (ALMEIDA, 2010, p. 22).

A garimpagem14

nos arquivos da escola inicia principalmente na parte considerada

arquivo “morto”, por serem as prateleiras com caixas de papelões que há muito tempo não

tinha manuseio de documentações. Nelas foram localizados os diários de classe referentes ao

período de 1977 a 1990. Muitos deles úmidos com a presença nas caixas de criadouros de

ratos e baratas. Ao solicitar ajuda ao pessoal do apoio na limpeza, recusaram-se pelo forte

cheiro causado pelo tempo e manutenção vivencial dos intrusos dentro das caixas. Foi ainda

detectada infiltração no teto. Além deste também ser usado por ratos, baratas e até morcegos,

os dejetos estavam por todos os lugares nessas caixas e nos espaços entre a parede e forro de

madeira. Cada arquivo continha diários de classe e outros documentos. Tivemos que abrir

várias caixas, pois estavam faltando exemplares que estavam em outras. Algumas delas, que

tinham o ano, não correspondiam com os materiais no seu interior. Contudo, graças a essa

procura, conseguimos encontrar livros pontos, ficha individual de professores etc.

14 Chamamos de garimpagem, a forma minuciosa de procurar e foliar documentos por documentos, com luva, e

máscaras apropriados, além do pincel para limpar as sujeiras existentes.

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Figura 01 - Montagem das fotografias no Arquivo Passivo da E. E. Oscar Soares.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

A Figura 01 apresenta a primeira etapa da pesquisa. Depois de autorizado pelo diretor

escolar, iniciamos as investigações. Foram encontrados muitos documentos nessa primeira

garimpagem, além da limpeza geral do local, que depois disso passou também pelo processo

de dedetização. Com efeito, a escola nesse período estava iniciando o processo de

informatização dos documentos, os quais digitalizamos e entregamos à secretaria da escola.

Para estudo, inicialmente localizamos e digitalizamos a lista de documentos da Escola

Estadual Oscar Soares que segue.

Ata de resultados Finais;

Calendário Escolar I a IV e V a VIII;

Contratos de atribuição de aulas;

Matrizes Curriculares dos cursos Propedêutico, Contabilidade, Agricultura,

Magistério;

Diários de Classe (diversos);

Certificados da Educação Integrada;

Fichas individuais dos professores

Livro ata da APM, 1989;

Livro de controle de recebimento de diploma 1983 a 1999;

Livro de posses de professores efetivos e contratados;

Livro de registro de expedição e certificados da primeira turma que se formou em

1982.

Livro de registro de matrícula;

Livro Ponto de professores;

Livro termo de visitas das inspeções da SEDUC/MT

Livros ponto: 1976 a 1979, 1984 a 1987, 1989;

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Modelo da planta baixa da escola, década de 90;

Plano Global Escolar, 1988;

Programa de vídeo na escola (1989);

Regimento Escolar, 1982;

Termos de visitas (reunião da APM);

Várias provas dentro dos diários;

Vários ofícios e circularres internas e externas da escola.

Vários recortes do Diário oficial, constando portaria, decretos e outros.

Nessa pesquisa, não foram encontrados livros didáticos. Dessa forma, começamos a

questionar onde estariam os livros de Matemática da época e fomos informados a procurar na

biblioteca pública. Conversando com os bibliotecários, eles tiveram a preocupação de nos

fornecer todas as informações possíveis, além de deixar todo e qualquer material da biblioteca

à disposição para estudo. Percebemos a necessidade de termos esses documentos em mãos e

foi autorizada a digitalização do que precisasse.

Vários livros do Ensino Fundamental, utilizados no período de colonização e pós-

colonização, foram localizados com professores e biblioteca pública e digitalizados capa,

ficha catalográfica, apresentação e sumário. Eis a relação desses livros:

ANDRINI, Álvaro. Matemática: 5ª Série, 1º Grau. São Paulo: Editora do Brasil, 1984.

ANDRINI, Álvaro. Matemática 6ª série, 1º grau. São Paulo: Editora do Brasil S/A,

1984.

ANDRINI, Álvaro. Praticando a Matemática 8ª série, 1º grau. São Paulo: Editora do

Brasil S/A, 1989.

BACCARO, Nelson. Matemática 6ª série, 1º grau. São Paulo: Ática S/A, 1980.

BETHLEM, Ágricola. Matemática Moderna. V1; 2 ed. Distribuidora Record-Rio de

Janeiro, 1971.

CHEMELLO, Tereza. Sem medo de aprender Matemática: 5ª, 6ª e 7ª série do 1º grau.

São Paulo: Ática S. A, 1989.

GALVÃO FILHO, Wenceslau Carlos. Matemática Moderna: conjunto, relação,

estrutura. V III, São Paulo: Editora Universitária, 1972.

MAGNUSSON JUNIOR, Mário. Matemática Moderna 4ª série. São Paulo: Editora.

Comércio e importação de livros CIL. S.A, [s.d.].

MATEMÁTICA: 3ª fase: telecurso 1º grau/Fundação Roberto Marinho, em convênio

com o Ministério da Educação e Cultura, e Fundação Universidade de Brasília. – 3.

Ed. – Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1984.

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NAME, Miguel Asis. Matemática atualizada: 7ª série,1º grau-São Paulo:Editora do

Brasil,1979

PERES, José Dorival et al. Matemática 8ª série, 1º grau. São Paulo: Ed. Serviço da

Cultura, [s.d.].

SANGIORGI, Osvaldo. Matemática Nova série: 6ª série, 1º grau. São Paulo: Ed.

Nacional, [s.d.].

SANGIORGI, Osvaldo. Matemática Nova série: 8ª série, 1º grau. São Paulo: Ed.

Nacional, [s.d.].

SARDELLA, Antônio; MATTA, Edison da. Matemática 7ª série, primeiro grau. 2.

edição. São Paulo: Ática S.A, 1982.

SARDELLA, Antônio; MATTA, Edison da. Matemática 8ª série, primeiro grau. 2. ed.

São Paulo: Ática S.A, 1982.

SCHOR, Damian; NICOLAU, Saulo. Matemática 5ª série, 1º grau. São Paulo: Ed.

Ática S.A, 1983.

SCHOR, Damian; NICOLAU, Saulo. Matemática 6ª série, 1º grau. São Paulo: Ed.

Ática S.A, 1983.

SCHOR, Damian; NICOLAU, Saulo. Matemática 7ª série, 1º grau. São Paulo: Ed.

Ática S.A, 1983.

SILVARES, Roberto Bethlen. Matemática Moderna. V1, São Paulo: Editora S.A (SP),

1971.

Também foram encontrados vários livros do Ensino Médio, na biblioteca pública, os quais

foram digitalizados capa, ficha catalográfica, apresentação e sumário. Segue a listagem

desses livros:

AYRES, Frank Jr. Matemática Financeira: Resumo da Teoria. 500 problemas

resolvidos; tradução de Gastão Quartin Pinto de Moura. São Paulo: Ed. McGraw - Hill

do Brasil, 1981. (Coleção Schaum)

IEZZI, Gelson, et al. Matemática: 1ª série, 2º Grau. 74 exemplos, 243 exercícios

resolvidos, 460 exercícios proposto; 7. ed. São Paulo: Atual Editora Ltda, 1973.

HEGENBERG, Leônidas. Lógica: o cálculo sentencial. São Paulo: Herder Ed. da

Universidade de São Paulo,1972.

MARISTAS, Irmãos. Tábuas de Logaritmos: 7 decimais. São Paulo: Ed. FTD,1972.

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MATEMÁTICA 2º GRAU- O novo telecurso/ Fundação Roberto Marinho em

convênio com a Fundação Bradesco. Rio de Janeiro: Editora Rio Gráfica, 1985.

NETTO, Scipione Di Pierro e GÓES, Célia Contin. Matemática na Escola Renovada,

2ª série do 2º Grau. São Paulo: Ed. AM produções gráficas Ltda, [s.d.].

SERRÃO, Alberto Nunes. Tábua de logaritmos. 10 ed.- Rio de Janeiro:

FENAME,1981.

TAHAN, Malba. A Lógica na Matemática. São Paulo: Saraiva, 1963.

TROTTA, Fernando. Matemática por assunto 2. ed. SãoPaulo:Scipione Ltda, 1988.

Além de outros documentos escritos em laudas, trabalho de conclusão de cursos (TCCs) e

dois livros que retratam um pouco dos dois municípios colonizados, foram encontrados

documentos na Assessoria Pedagógica. Eis a lista desses documentos:

Ato governamental;

Autorização dos Cursos: Básico em Agropecuária, 1980; Magistério 1º grau, 1980;

Técnico em Contabilidade 1982.

Calendários escolares; Criação e fundação das escolas: Oscar Soares 1974 (antes,

Escola estadual de Juara), Escola José Dias 1981, Iara Maria Minotto Gomes 1990,

Comendador J. Pedro Dias 1985, José Alves Bezerra 1990;

Curso de Habilitação Básica em Agropecuária, Técnico em Contabilidade,

Propedêutico e Magistério;

Escolas Particulares: CENEC/ 11.12.1990; Núcleo Educacional Delta 1990;

Livro: recorte de Diário Oficial 1986 a 2007;

Parte do Projeto PRODEAGRO, 1993;

Portaria com reconhecimento das escolas, municipais, particulares e estaduais;

Portarias;

Várias Matrizes Curriculares.

No Centro Cultural Savoíne, foram encontradas várias fotografias em exposição do

período inicial da colonização, das quais selecionamos algumas delas que irão aparecer no

decorrer do trabalho.

Dos documentos encontrados priorizamos alguns que estivessem intimamente ligados

ao ensino de Matemática, bem como ao Movimento da Matemática Moderna, ambos foco

principal do nosso estudo.

Dessa forma, foram selecionadas várias fotografias, livros didáticos do autor Osvaldo

Sangiorgi, bem como os documentos abaixo relacionados:

Atas de resultados finais (notas anuais);

Certificados de cursos;

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Contrato de atribuição de aulas para professores;

Diários de Classe;

Instruções Normativas;

Livro de Registro de Matrícula de 1976;

Livro de Registro de Inspeção;

Livros adotados;

Matrizes Curriculares;

Planos de Cursos,

Planta baixa da Escola Estadual Oscar Soares;

Provas;

Regimento Escolar.

Nosso intuito era evidenciar os objetivos do trabalho pela história. E com base nas

fontes analisadas, fixar um olhar didático-pedagógico no ensino de Matemática adentrado no

processo de colonização e pós-colonização, bem como na extensão do sistema educacional.

As análises desses documentos fundamentaram-se na aplicação das cinco dimensões

que o autor Cellard (2008, p. 299), classifica como: “1- contexto; 2- o autor ou os autores; 3- a

autenticidade e a confiabilidade do texto; 4- a natureza do texto e 5- os conceitos-chave e a

lógica interna do texto, todas sendo requisitos para uma avaliação crítica constituindo a

primeira etapa de toda análise documental” Essas dimensões são assim descritas.

1- O exame do contexto social global, no qual foi produzido o documento e no qual

mergulhava seu autor e aqueles a quem ele foi destinado. [...];

2- Não se pode pensar em interpretar um texto, sem ter previamente uma boa idéia da

identidade da pessoa que se expressa, de seus interesses e dos motivos que a levaram

a escrever. Esse indivíduo fala em nome próprio, ou em nome de um grupo social,

de uma instituição? [...]; 3- Não basta, entretanto, informar-se sobre a origem social, a ideologia ou os interesses

particulares do autor de um documento. É também importante assegurar-se da

qualidade da informação transmitida. [...];

4- Cabe especificar que não é possível exprimir-se com a mesma liberdade em um

relatório destinado aos seus superiores, e em seu diário íntimo. Consequentemente

deve-se levar em consideração a natureza de um texto, ou seu suporte, antes de tirar

conclusões. [...];

5- Certamente, o trabalho de análise preliminar não poderia estar tão completo e por

tanto tempo, que o pesquisador não tivesse o sentimento de ter compreendido

satisfatoriamente o sentido dos termos empregados pelo autor ou autores de um

texto. Para os textos antigos, isso é evidente, já que a significação de inúmeros

termos evolui muito ao longo dos anos. [...] (CELLARD, p. 299 -303).

A prudência sob os documentos ao serem analisados e selecionados permitiu uma

leitura significativa na busca de informações que nem sempre estavam à vista do pesquisador.

Entre os documentos, os Diários de Classe tiveram maior ênfase no estudo. Foram

localizados todos no período de 1977 a 1990. Sendo que os conteúdos de Matemática a serem

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ministrados no ano de 1976 foram localizados em um plano de aula, o qual fez parte da pasta

de regulamentação da primeira escola da localidade. Esses Diários de classe, além de

transcritos, foram digitalizados desde a capa até sua última lauda no total de 76 Diários e 1006

laudas do ensino 5ª a 8ª do Primeiro Grau (Ensino Fundamental) e 60 Diários para 561 laudas

do Segundo Grau (Ensino Médio). Vale salientar que, nosso objetivo principal nos Diários é

pela localização dos nomes dos professores de Matemática, conteúdos ministrados e vestígios

de práticas.

Fez-se necessário transcrevê-los e triangular com as demais fontes, principalmente com

os conteúdos considerados mínimos pelo GEEM, responsável pela divulgação e práticas

operantes no ensino de Matemática na década de 60 do século XX. Desse modo, tornaram-se

singular para as interrogativas emergidas neste trabalho. A análise dos documentos

possibilitou a identificação dos possíveis depoentes, sujeitos fundamentais para a pesquisa,

bem como para a contextualização histórica.

Vale ressaltar que, parte da pesquisa apresenta recortes da colonização do Município de

Porto dos Gaúchos, o qual teve grande influência no desenvolvimento de Juara. Com mais

profundidade apresentamos a colonização de Juara, e mostraremos pelas diversas figuras suas

representações desde o momento inicial de colonização e pós-colonização.

A análise de documentos como estratégia de pesquisa atrelada a outras fontes permitiu

uma maior reciprocidade respaldada nas cinco dimensões, já apontadas anteriormente.

Atrelado às análises, esses documentos confrontaram-se com os conteúdos

considerados mínimos pelo GEEM, com os registrados em Diários de Classe pelos

professores e com os que apareceram nos livros didáticos adotados e usados pelos docentes no

período em estudo. Isso se deu com o intuito de comprovar a presença do Movimento da

Matemática Moderna na seleção de conteúdos e nos livros didáticos. Estes, utilizados pelos

professores no ensino de Matemática da Escola Estadual Oscar Soares.

Dessa forma, os documentos tiveram sua importância no conjunto de fontes

estabelecidas e norteadoras dessa pesquisa. A manutenção dos acervos nas instituições,

mesmo não tendo em seu interior arquivistas, mantiveram os documentos de forma a serem

utilizados por terceiros. Esses documentos localizados nos arquivos da Escola Estadual

Oscar Soares, Biblioteca Pública, Assessoria Pedagógica, Centro Cultural Savoíne e arquivos

pessoais de professores, foram de suma importância na tentativa de relatar um passado que

poderá contribuir para compreender uma história do tempo presente.

Após análise de documentos escritos (Diários de Classe), tivemos os primeiros contatos

com os sujeitos. Professores de Matemática, diretores escolares, ex-alunos e ex-funcionários.

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Os primeiros contatos com os depoentes foram feitos pessoalmente. Outros que residiam fora

da localidade por telefone. Ao explicar-lhes o teor da pesquisa e sua importância dentro do

processo histórico e educacional, e que se tratava de uma dissertação de mestrado, além de

como seria a entrevista, gravada e publicada, todos entenderam a profundidade e importância

da pesquisa. Sentiram-se lisonjeados em participar dela. Esses depoentes tornam-se essenciais

para a constituição histórica do ensino de Matemática, bem como da Escola Estadual Oscar

Soares.

1.2 Aspectos metodológicos para entrevista

Ao localizar os Diários de Classe e outras documentações pertinentes aos estudos que

outrora circularam na instituição, e hoje se encontram arquivados na Escola Estadual Oscar

Soares, partimos para selecionar os sujeitos localizados em Diários de Classe e outras

documentações que circulavam no interior da escola na época, como ficha de contrato

individual e livros de posse. Ficando acertado que as entrevistas transcorreriam com

professores, funcionários, diretores e ex-alunos que estiveram presentes em meio à história da

colonização, na construção do ensino de Matemática e no desenvolvimento da cidade de Juara

e primeiros anos do processo educacional antes e após a regulamentação da Escola Estadual

de 1º Grau (Escola Estadual Oscar Soares). Diante disso, apareceram as primeiras

dificuldades, pois muitos já não moravam mais na localidade e não se sabia de seu paradeiro.

Dessa forma, deu-se início a um trabalho árduo, tentando localizar o máximo possível dos

sujeitos para contribuição nos depoimentos. Com ajuda da própria comunidade aos poucos

fomos localizando os sujeitos. E a partir de cada sujeito localizado, surgia uma surpresa:

novos sujeitos eram reconhecidos nos álbuns fotográficos apresentados por alguns dos

entrevistados. Os Quadros 02 e 03 mostram os sujeitos localizados e que aceitaram ser

entrevistados:

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Quadro 02- Professores selecionados para entrevista que ministraram aulas de

Matemática na Escola Estadual Oscar Soares, no período de 1970 a 1990.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares - SANTOS, Reginaldo José.

No Quadro 02, apresentamos os professores selecionados para entrevista, bem como

seu local de origem, sua formação inicial no período em que trabalhou na instituição e sua

ocupação atual. Percebemos no (Quadro 02), que a maioria dos professores não tinha

formação para lecionar e poucos eram habilitados. Totalizando dos nove, apenas três dos

entrevistados tinham formação na época. Os demais com escolarização, ora ensino de 1º Grau

incompleto, ora 2º grau incompleto e em alguns casos o 2º Grau completo. Entre os

habilitados, o quadro mostra dois dos três professores de São Paulo, como sendo os pioneiros

a atuarem em sua formação. Contudo, devida a escassez de professores também trabalharam

em outras áreas de conhecimento. Dentre os noves professores (as) entrevistados (as) que

atuaram no ensino de Matemática, cinco deles eram oriundos do Paraná, correspondendo a

56% no processo migratório, três de São Paulo com percentual de 33%, e um de Mato Grosso

equivalendo a 11%, confirmando a presença da migração paranaense com o maior índice na

região.

O Quadro 03 mostrará outro grupo de depoentes, tais como: professores que atuam

como diretor escolar, secretário escolar, colaboradores em cursos, ex-aluna e da comunidade

juarense a ex-esposa (viúva) do colonizador José Pedro Dias. Vejamos o Quadro 03:

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Quadro 03 – Depoentes colaboradores na educação de Juara/MT, a partir da

Escola Estadual Oscar Soares, no período de 1970 a 1990.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares - SANTOS, Reginaldo José.

De acordo com o Quadro 02 e 03, foram selecionadas para a entrevista 18 pessoas,

cada uma com sua peculiaridade sobre a educação escolar em Juara. Entre elas: 17 são

professores (as), mas que apenas 50%, ou seja, metade dos entrevistados ministraram aulas de

Matemática no período em estudo. Para entendermos o funcionamento achamos necessário

entrevistar alguns professores que exerceram a função também de diretor escolar. Entre eles

localizamos três diretores (as) [professores (as)] que se dispuseram a colaborar com o trabalho

relatando sua vivência e experiência no período que estavam a frente da direção da Escola

Estadual Oscar Soares. Entrevistamos o professor que atuou como primeiro secretário escolar,

uma ex-aluna que anos mais tarde teria como formação professora e passaria a exercer

também outras funções, como diretora e assessora pedagógica na comunidade. Também

entrevistamos uma professora que colaborou na organização do projeto LOGOS II; um dos

professores que auxiliou na regulamentação da escola em 1976, a professora que foi a

primeira Secretária de Educação, além da esposa (viúva) do colonizador do município, Sr.

José Pedro Dias.

Um dos mecanismos que oportunizará compor esse emaranhado de informações e

interrogativas será a pesquisa por meio da entrevista.

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A literatura voltada à metodologia da pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais tem

dedicado atenção à entrevista, a suas diferentes modalidades, a seus limites e

possibilidades na compreensão da realidade. Embora essa produção possa

representar um auxiliar importante para aqueles que elegem a entrevista como

recurso de trabalho, dela não podemos esperar encontrar receitas que possam ser

transpostas diretamente para todas as situações. A regra é respeitar princípios éticos

e de objetividade na pesquisa, bem como garantir as condições que favoreçam uma

melhor aproximação da realidade social estudada, pois sabemos que nenhum método

dá conta de captar o problema em todas as suas dimensões (ZAGO, 2003, p. 294).

Nesse sentido, se faz necessária a produção da entrevista elencada nos aportes

interrogativos, ou seja, “não ignoramos que parte considerável da produção da entrevista e do

aprendizado que adquirimos sobre sua condução se opera no processo concreto da

investigação” (ZAGO, 2003, p. 294).

Portanto:

Uma das características da pesquisa qualitativa [...] é permitir a construção da

problemática de estudo durante o seu desenvolvimento e nas suas diferentes etapas.

Em razão disso, a entrevista compreensiva não tem uma estrutura rígida, isto é, as

questões previamente definidas podem sofrer alterações conforme o direcionamento

que se quer dar à investigação (ZAGO, 2003, p. 295).

Na entrevista compreensiva, o pesquisador se engaja formalmente; o objetivo da

investigação é a compreensão do social e, de acordo com este, o que interessa ao pesquisador

é a riqueza do material que descobre (ZAGO, 2003, p. 296).

Contudo, não devemos esquecer o papel do entrevistador e o que a entrevista representa

para ele como instrumento investigativo. O entrevistador, segundo Zago (2003):

[...] se apropria da entrevista não como uma técnica que transpõe mecanicamente

para uma situação de coleta dados, mas como parte integrante da construção sociológica do objeto em estudo. Essa construção implica uma interdependência dos

diversos procedimentos associados ao processo de produção dos dados, o que inclui

sua problematização inicial, passando pelo estudo da realidade e pela análise dos

resultados (ZAGO, 2003, p. 295).

O processo da entrevista se inicia com gravação, seguida das transcrições15

,

textualizações16

, bem como autorização de sua utilização e divulgação com assinatura da carta

de cessão de direitos17

autorais por parte dos entrevistados.

Para isso Garnica (2010) anuncia que:

Os pesquisadores têm chamado de transcrição, de gravação ou textualização a

primeira fase dessa elaboração textual, quando o pesquisador cuida de registrar, por

escrito, tão exatamente quanto possível, o material gravado. Para simplificar o uso

dos termos, tenho optado por chamar de transcrição ou de gravação esse primeiro

momento, reservado o termo “textualização” aos momentos posteriores (GARNICA,

2010, p. 94).

15 Esta aparece escrita na integra, resguardando a fala do autor no momento de sua entrevista. 16

Esta aparece corrigida, ou seja, houve uma limpeza na linguagem, tirando os vícios, palavras repetidas, bem

como achamos por bem a retirada da pergunta do entrevistador, deixando o texto mais descritivo. 17 Essa carta de cessão dá direito ao entrevistador publicar totalmente o material, bem como a garantia ao

depoente que só o que foi autorizado por ele poderá ser levado ao conhecimento do público (Anexo 1).

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O processo da entrevista se encerra junto com os entrevistados após o término da

textualização. E “elaborado o documento, o pesquisador volta aos seus depoentes munido

dessas textualizações e transcrições. Os colaboradores, então, conferem o que foi feito,

propõem alterações - seja na forma de complementação ou vetos -, e finalizada essa fase de

negociação acerca da configuração ‘final’ do texto [...]” GARNICA, 2010, p. 97), o depoente,

com a assinatura da carta de cessão de direitos, como documento jurídico, comporta-se como

o fechamento da entrevista.

Nesse sentido, foi realizada uma entrevista piloto18

(prévia), no dizer de Aurélio, via

dicionário, piloto é o que “serve de modelo e/ou campo de experimentação para métodos ou

processos inovadores [...]”. Comungamos com a afirmação, pois entendemos que esse

primeiro passo da entrevista, além de sua importância, significa uma dimensão mais reduzida,

de forma a experimentar algo ainda não realizado, melhor adaptação no transcorrer do

processo e técnica, o qual é imprescindível no ato de entrevistar.

O principal objetivo da entrevista piloto para esta pesquisa respalda-se no

entendimento de seus processos e dinamismo ao entrevistar, buscando afinar as arestas, as

quais poderiam dificultar ou inibir o informante, além da qualidade e dos componentes da

entrevista. Com efeito, essa seria a primeira entrevista gravada do pesquisador. Foi necessário

reiniciá-la por várias vezes, devido o nervosismo na abertura, as observações na lista, e a

observação se as perguntas estavam sendo contempladas ou não. Escolher a hora certa de

adentrar com uma pergunta, sem tirar o entrevistado do foco também foi importante, mas

mostrou-se que cada entrevista tinha suas peculiaridades.

Construímos um questionário inicial com perguntas básicas, mas com intensidade no

tocante aos sujeitos entrevistados.

18 Anexo 2

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Quadro 04 - Roteiro para coleta dos Depoimentos

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

PERGUNTAS PARA COLETA DOS DEPOIMENTOS

PERGUNTA DE ABERTURA

Nome completo, Data, Hora e Local-Como foram os anos que lecionou a

disciplina de Matemática na Escola Estadual Oscar Soares e quais os motivos

que o levou a vir para região.

PERGUNTAS A SEREM CONTEMPLADAS DURANTE O

DEPOIMENTO

Onde morava antes de chegar ao município de Juara?

O que o (a) motivou vir para Juara?

Qual era a realidade social e econômica do município de Juara nos primeiros

anos?

Qual sua formação no período em que trabalhou na Escola Estadual Oscar Soares?

Onde você se formou e quando?

Como ocorreu seu trabalho como docente da escola?

Por que e por quem eram oferecidos os cursos de formação?

O que lhe motivou a ser um educador, especialmente na área de Matemática?

Como era a relação entre professor e aluno?

Como era o ensino de Matemática nesse período que lecionou na escola?

Quais as dificuldades apresentadas no ensino em sua época que atuou como

docente?

Além da disciplina de Matemática, lecionou outras?

Quanto tempo lecionou a disciplina de Matemática?

Você recorda de alguns colegas que lecionaram a disciplina de Matemática na

sua época?

Ocupou outro cargo na escola?

Quais recursos existiam na época que puderam colaborar no desempenho de

suas atividades como docente?

a) Espaço físico

b) Relacionamento com a Gestão Escolar

c) Material didático: livros, revistas, jornais etc.

d) Planos de aula

e) Clientela (alunos)

f) Apoio Governamental

g) Biblioteca h) Reuniões pedagógicas periódicas

Você possui algum arquivo? Tipo fotos, diário de classe, trabalhos escolares,

recortes de jornais ou outro tipo de documento que possam nos levar a voltar ao

passado?

Você tem conhecimento do Movimento da Matemática Moderna? Em sua

formação discutiam sobre essa temática?

Qual a relação existente no período inicial de colonização e em dias atuais

entre Escola/Família e Escola/Comunidade?

Para você como se deu o processo de colonização da cidade de Juara?

O que você falaria referente ao colonizador Sr. José Pedro Dias, à frente da

colonização, desenvolvimento e educação de Juara?

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Delineamos algumas fases importantes para a experimentação dessa entrevista piloto.

São elas: manusear o instrumento digital para captação da gravação; observação do

comportamento do entrevistado diante da gravação; preocupação com a linguagem usada nas

perguntas durante a gravação, com o ambiente da entrevista, bem como o tempo transcorrido.

Essa entrevista piloto aconteceu com uma professora do CEJA19

José Dias, que

mesmo pertencente à outra instituição de ensino, dispôs de seu tempo para colaborar com a

pesquisa, que tem por intuito compreender as relações existentes entre entrevistado e

entrevistador. Contudo, fez-se necessário o controle do tempo, bem como das reelaborações

das perguntas pertinentes, dando maior dinamismo no ato de entrevistar. “Essas pistas

revelam singularidade de cada entrevista. Dependendo da importância que sentimos em

esclarecê-las, vamos muito além do que foi previsto no roteiro inicial” (ZAGO, 2003, p. 305-

306).

Considera ainda a autora como princípios fundamentais numa entrevista, “desmitificar os

modelos normativos que muitas vezes paralisam os pesquisadores iniciantes; [...] reforçar a

idéia de entrevista como parte de um conjunto de questões e que, como tal, não pode ser

pensada isoladamente dos fundamentos da pesquisa” (Zago, 2003, p. 307).

As entrevistas foram desenvolvidas conforme os aportes teóricos dos autores Thompson

(1992), Zago (2003) e Garnica (2010), os quais perpassam por diálogos voltados à pesquisa

qualitativa. Esta se destaca por três argumentos importantes:

1- Ordem epistemológica: a entrevista do tipo qualitativo seria necessária, uma vez que

uma exploração em profundidade da perspectiva dos atores sociais é considerada

indispensável para uma exata apreensão e compreensão das condutas sociais;

2- Ordem ética e política: a entrevista do tipo qualitativo parece necessária, porque ela

abriria a possibilidade de compreender e conhecer internamente os dilemas e

questões enfrentadas pelos atores sociais;

3- Os argumentos metodológicos: a entrevista do tipo qualitativo se imporia entre as

“ferramentas de informação” capazes de elucidar as realidades sociais, mas, principalmente, como instrumento privilegiado de acesso à experiências dos atores

(POUPART, 2008, p. 216).

Uma das principais características da entrevista é assegurar informações em maior

profundidade do que poderia garantir um instrumento com questões fechadas (ZAGO, 2003,

p. 298).

19 Centro de Educação de Jovens e Adultos.

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Finalizada a entrevista, constituem-se os textos finais como documento essencial para as

análises dos dados, triangulando com as demais fontes sempre que necessário.

Esse conjunto de pressupostos teóricos busca viabilizar o diálogo entre as diversas

fontes.

Dessa forma, a entrevista como mecanismo de tratamento das informações, atuaria

como uma fonte necessária e imprescindível para constituir um documento capaz de trazer

elementos importantes na constituição histórica do indivíduo. “[...] História (re) constituída a

partir da oralidade, numa clara complementação (alguns prefeririam, aqui “oposição”) àquela

concepção de História pautada somente em documentos escritos ou, mais radicalmente, em

fontes primárias” (GARNICA, 2010, p. 80).

Esse diálogo entre entrevista e documentos é apontado como uma dualidade, conforme

afirma Garnica (2010, p. 80), “não vejo escrita e oralidade em oposição, mas como

possibilidades complementares para elaboração histórica”. “Negar os arquivos escritos como

recurso de pesquisa seria um equívoco tão alarmante quanto negar a importância da oralidade

para entender a temporalidade e, nessa temporalidade, as circunstâncias humanas”

(GARNICA, 2010, p. 80).

Sobre o par oral/escrito, fundamental para a história, Le Goff (1990) diz que:

[...] a passagem do oral ao escrito é muito importante, quer para a memória, quer para história. [...] não devemos esquecer que: 1) oralidade e escrita coexistem em

geral nas sociedades e esta coexistência é muito importante para a história; 2) a

história, se tem como etapa decisiva a escrita, não é anulada por ela, pois não há

sociedade sem história. (LE GOFF 1990, p. 537)

Conforme Garnica (2010, p. 80), “há historiadores conceituados, tanto antigos como

contemporâneos que afirmam sobre as vantagens da utilização de várias fontes para a

compreensão do mundo, pelo viés da História: o estudo dos homens no tempo”.

De acordo com Garnica (2010, p. 83), “na história tradicional, sem documentos não há

história. [...] Para os Annales20

, sem problema não há história”. Contudo, as relações sociais,

intrínsecas entre as pessoas, dão essa condição binomial de reciprocidade. Vemos a entrevista

como uma das pontas, dessa relação dentro da pesquisa.

Thompson (1992), considera a entrevista como:

20 A escola de Annales nasce na década de 1920, de um grupo de estudiosos das mentalidades ligados à

Universidade de Estrasburgo, um dos mais fascinantes e revolucionários movimentos da “ciência” do mundo

ocidental. Defendendo um novo paradigma para os estudos históricos, em rompimento radical com a

historiografia tradicional. Num ensaio sobre a história das mentalidades, Phillipes Ariés, um dos atuais

representantes dessa História Nova, aponta como componentes- fundadores desse movimento os franceses

Lucien Febvre e Marc Bloch, o belga Henri Pirenne, geógrafos com A. Demangeon, sociólogos como L. Lévy-

Bruhl e M. Halbwachs (GARNICA, 2010, p. 82).

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Uma relação social entre pessoas, com suas convenções próprias cuja violação pode

destruí-la. Fundamentalmente, espera-se que o entrevistador demonstre interesse

pelo informante, permitindo-lhe falar o que tem a dizer sem interrupções constantes

e que, se necessário, proporcione ao mesmo tempo alguma orientação sobre o que

discorrer. Por baixo disso tudo está uma idéia de cooperação, confiança e respeito

mútuos (THOMPSON, 1992, p. 271).

Não obstante, várias reflexões significativas são abordadas pela autora Zago (2003), ao

explicitar a entrevista, de forma exequível pelo pesquisador como:

A entrevista se desenvolve em uma relação social. Nesse sentido, o pesquisador não

pode ser interpretado como se ele não fosse tal pessoa, não pertencesse a tal sexo,

etnia e profissão, ou ainda, como se não ocupasse determinado lugar na sociedade. A

entrevista expressa realidades, sentimentos e cumplicidades que um instrumento

com respostas estandardizadas poderia ocultar. O encontro com um interlocutor

exterior ao universo social do entrevistado representa, em vários casos, a

oportunidade de este ser ouvido e poder falar de questões sociais que lhe concernem

diretamente (ZAGO, 2003, p. 301).

Nessa perspectiva, a existência de uma relação amigável entre pesquisador e informante,

representa uma maior segurança e positividade nas informações adquiridas, sem esquecer que

o pesquisador deve saber conduzir a entrevista de forma que o informante possa falar. “Tudo

o que interessa é fazer o informante falar. Você deve manter-se o mais possível em segundo

plano, apenas fazendo algum gesto de apoio, mas não introduzindo seus próprios comentários

ou histórias” (THOMPSON, 1992, p. 271). Contudo, manter apenas gesticulações, muitas

vezes deixa lacunas. Sendo necessárias rápidas inferências, para que a entrevista não se torne

monótona.

[...] entrevistar exige habilidade. Porém, há muitos estilos diferentes de entrevista,

que vão desde a que se faz sob a forma de conversa amigável e informal até o estilo

mais formal e controlado de perguntar, e o bom entrevistador acaba por desenvolver

uma variedade do método que, para ele, produz os melhores resultados e se

harmoniza com sua personalidade (THOMPSON, 1992, p. 254).

As peculiaridades que se utilizam nas entrevistas pelo bom senso permitem um

contexto favorável, sem acréscimos por linhas racionais/emocionais, capaz de delinear

falsamente seu passado e/ou realidade vivida em sua constituição histórica. Assim, o ato de

entrevistar não pode ser estático, uma vez que, sofre transformações e está sempre à frente do

imprevisto. Contudo, dependerá do esforço do pesquisador e de suas qualidades, em dar

visibilidade no processo de entrevistar. Para Thompson (1992):

Há algumas qualidades essenciais que o entrevistador bem-sucedido deve possuir:

interesse e respeito pelos outros como pessoas e flexibilidade nas reações em relação

a eles; capacidade de demonstrar compreensão e simpatia pela opinião deles; e,

acima de tudo, disposição para ficar calado e escutar. Quem não consegue parar de

falar, nem resistir à tentação de discordar do informante, ou de lhe impor suas

próprias idéias, irá obter informações que, ou são inúteis, ou positivamente

enganosas (THOMPSON, 1992 p. 254).

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Do ponto de vista teórico-metodológico, a análise que se privilegia nessa pesquisa é

predominantemente qualitativa com a utilização das seguintes técnicas de coleta de dados:

pesquisa bibliográfica, documental e entrevista com perguntas abertas.

Diante de vários meios de se fazer uma entrevista, optamos parcialmente pela

compreensiva com aportes da semiestruturada, com perguntas abertas, deixando o informante

à vontade em discorrer seus relatos, com poucas interferências de perguntas, utilizadas apenas

em momentos específicos. Mas antes foi estabelecido o contexto social, “a apresentação

pessoal do pesquisador”, além de uma pergunta de entrada que situa o entrevistado no tema

em questão, criando assim o que Zago (2003, p. 303) denominou como “dinâmica de sua

condução”. Essa interação trouxe mais clareza e afinidade aos envolvidos no momento da

entrevista.

A autora enfatiza em sua conclusão que:

Pesquisar é isso. É um itinerário, um caminho que trilhamos e com o qual

aprendemos muito, não por acaso, mas por não podermos deixar de colocar em

xeque “nossas verdades” diante das descobertas reveladas, seja pela leitura de

autores consagrados, seja pelos nossos informantes, que têm outras formas de

marcar suas presenças no mundo. Eles também nos ensinam olhar o outro, o

diferente, com outras lentes e perspectivas. Por isso, não saímos de uma pesquisa do

mesmo jeito que entramos porque, como pesquisadores, somos também atores

sociais desse processo de elaboração (ZAGO, 2003, p. 307-308).

Nesse sentido, as entrevistas nos proporcionaram olhares diferentes a esses depoentes

até então anônimos. Agora oficialmente farão parte de uma história, a qual são sujeitos

protagonistas e não simples expectadores, constituindo seus relatos também em documentos

escritos, os quais constituíram mais uma etapa a serem considerados documento/monumento.

A entrevista, dialogando com os documentos, veio materializar ideias soltas, não

legitimadas. Estavam adentradas apenas no senso comum. Essa reciprocidade na tentativa

dialética propiciou momentos importantes de legitimação de cunho histórico. Contudo, como

estrutura da pesquisa, temos a iconografia, pois várias imagens foram coletadas, e suas

análises produzem elementos cruciais para a triangulação desses três tipos de fontes que

nortearam todo processo de pesquisa.

1.3 Aspectos metodológicos da iconografia (Fotografia)

O fechamento das questões metodológicas respalda nas análises de documentos escritos

e narrativas orais arroladas a outro documento não menos importante de natureza

iconográfica, e em particular as fotografias. Essa triangulação é oportuna na constituição

histórica tanto do ensino de Matemática, pelas práticas apresentadas nos depoimentos, quanto

da própria instituição escolar, a Escola Estadual Oscar Soares, perpassando pelo processo

histórico de colonização de Juara.

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Para esta, inferimos os conceitos dos autores Barthes (1984), e Burke (2004), Dalcin

(2008 e 2012), para a análise das fotografias.

Nesse sentido, serão considerados documentos de natureza iconográfica, todas as

imagens registradas no formato digital (JPEG), e as digitalizações que possam produzir

elementos necessários à constituição histórica do objeto em estudo, bem como colaborar na

compreensão das interrogativas outrora abordadas. De acordo com Burke (2004):

Os historiadores devem sempre utilizar imagens junto com outros tipos de evidência,

e que precisam desenvolver métodos de “crítica das fontes” para imagens

exatamente como o fizeram para os textos, interrogando estas “testemunhas

oculares” da mesma forma que os advogados interrogam as testemunhas durante um julgamento (BURKE, 2004, p. 8).

Essa busca constante de respostas nas imagens, concomitantemente relacionadas com

outros documentos, torna-as mais plausíveis em sua credibilidade. É assim que afirma Dalcin

(2008) a esse respeito:

As imagens expressam em primeira instância a visão de quem as retratou. No

entanto, permitem a passagem de brechas, detalhes e por que não de informações

que podem passar despercebidas num primeiro momento, mas que, ao olhar atento

de um historiador, podem trazer à tona vestígios que possibilitam diferentes análises

e compreensões do cotidiano escolar e de fatos acontecidos (DALCIN, 2008, p. 25).

As fotografias nos remetem ao passado, possibilitando uma (re)constituição histórica

que revela o tempo e o espaço vivido, deixam o registro de um momento, de uma cena. Como

afirma Burke (2004, p. 17), “as imagens nos permitem ‘imaginar’ o passado de forma mais

vivida”. Feita a fotografia, entendemos que ela captura o momento exato, vivenciado,

oferecendo-nos conhecimento sobre evidências, comportamentos, traços humanos,

vestimentas, enfim diversas situações que marcaram momentos distintos do Município de

Juara ao longo do período pesquisado.

Desse modo, para Barthes (1984):

A Fotografia não fala (forçosamente) daqui-lo que não é mais, mas apenas e com

certeza daquilo que foi. Essa sutileza é decisiva. Diante de uma foto, a consciência

não toma necessariamente a via nostálgica da lembrança (quantas fotografias estão

fora do tempo individual), mas sem relação a qualquer foto existente no mundo, a

via da certeza: a essência da fotografia consiste em ratificar o que ela representa

(BARTHES, 1984, p. 127).

A fotografia ressalta a importância das imagens para a memória local e por que não

dizer global. Materializa eventos que podem contribuir para a compreensão da História da

Educação Matemática21

e construção do processo de se ensinar Matemática no município de

Juara. É bom lembrar que:

21 “[...] Investigam os modos de constituição e de transformação dessa atividade em qualquer época, contexto e

práticas: a constituição de suas comunidades de adeptos e/ou de suas sociedades científicas; os métodos de

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O uso da fotografia como fonte histórica em trabalhos de pesquisa tem se tornado

uma prática cada vez mais comum nas últimas décadas. No entanto, para conferir à

fotografia o estatuto de fonte histórica de pesquisa, é necessário um tratamento

metodológico, de modo a deixar de considerá-la um retrato fiel dos fatos e

transformá-la em uma linguagem não verbal dotada de sintaxe e semântica próprias,

permeada por uma intencionalidade que perpassa seu processo de criação (DALCIN,

2008, p. 26).

Burke (2004, p. 17), acrescenta como proposta essencial “defender e ilustrar as

imagens, assim como textos e testemunhos orais, constitui-se numa forma importante de

evidência histórica”. Para ele:

O uso de imagens, em diferentes períodos, como objetos de devoção, ou meios de

persuasão, de transmitir informação ou de oferecer prazer, permite-lhes testemunhar

antigas formas de religião, de conhecimento, crença, deleite etc. Embora os textos

também ofereçam indícios valiosos, imagens constituem-se no melhor guia para o

poder de representações visuais nas vidas religiosas e política de culturas passadas

(BURKE, 2004, p. 17).

Nesse sentido, “as imagens podem testemunhar o que não pode ser colocado em

palavras” (BURKE, 2004, p. 38). Ter um olhar amplo e não reducionista nas fotografias nos

permite uma leitura não pura, mas adentrar em sua subjetividade, a fim de buscar, seu

contexto e significados.

Essa interpretação de imagens por meio de uma análise de detalhes veio consolidar o

que chamamos de iconografia. Conforme, Burke (2004, p. 43), “imagens são feitas para

comunicar. Num outro sentido elas nada nos revelam. Imagens são irremediavelmente

mudas”. Nesse sentido, a confiabilidade sem as análises interpretativas podem nos conduzir à

leitura de uma imagem da sociedade como um simples reflexo ou instantâneo fotográfico nos

conduzindo a uma interpretação errônea.

Desse modo, as fotografias utilizadas nessa pesquisa nos revelaram algo, que até o

momento, estava em segundo plano, ou até no anonimato, pois pela primeira vez foram vistas

por um olhar, sistemático, daquele que busca nas entrelinhas as informações nelas contidas.

Segundo Dalcin (2012, p. 01), a fotografia “traz ao pesquisador evidências de um passado a

ser interpretado”.

Cabe ao pesquisador “interrogar” a fotografia buscando elementos sobre a variedade

das intenções explícitas e ocultas, considerando o “não dito”, as ideologias e códigos

culturais de quem a produziu. Contextualizar a fotografia no tempo e espaço de

produção e validação dos conhecimentos gerados por essa atividade; os processos de abandono e de

incorporação de objetos de investigação por essa atividade; a natureza e os usos sociais dos conhecimentos

produzidos nessa atividade; os produtores de conhecimentos que se envolvem com essa atividade; as obras nas

quais esses conhecimentos foram expostos; as instituições sociais que promoveram e/ou financiaram essa

produção etc. Desse modo, a história da Educação Matemática é algo muito mais complexo do que mero estudo,

no tempo, das ideias educacionais ou doutrinas pedagógicas relativas à matemática” (MIGUEL; MIORIM, 2002,

p. 187).

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produção torna-se o primeiro passo para o pesquisador em história da educação

matemática (DALCIN, 2012, p. 4).

Para o historiador, as fotografias são documentos que não podem ser ignorados, pois

lhe cabem as interpretações meramente ocultas e reveladoras. Contudo, fazer análise da

fotografia é planificá-la simbolicamente, mas com significados reais de forma a converter-se

em singularidade, a qual, no entanto, deixa marca do tempo, vestígios que um bom

historiador/pesquisador seguindo critérios, comprove-nas como recorte dessa realidade

improvável, na qual esteve inserida.

Peter Burke apresenta como resultado de estudo as análises de imagens em toda

extensão do seu livro Testemunha Ocular: A história cultural das imagens apresenta quatro

aspectos como síntese dos problemas de interpretação que frequentemente surgem:

1. As imagens dão acesso não ao mundo social diretamente, mas sim a visões

contemporâneas daquele mundo, a visão masculina das mulheres, a da classe média

sobre os camponeses, a visão dos civis da guerra, e assim por diante. Os

historiadores não podem dar-se ao luxo de esquecer as tendências opostas dos

produtores de imagens para idealizar e satirizar o mundo que o representam. Eles são confrontados com o problema de distinguir entre representações do típico e

imagens do excêntrico.

2. O testemunho das imagens necessita ser colocado no “contexto”, ou melhor, em

uma série de contextos no plural (cultura, política, material, e assim por diante),

incluindo as convenções artísticas para representar as crianças [...] em um

determinado lugar e tempo, bem como os interesses do artista e do patrocinador

original ou do cliente, e a pretendida função da imagem.

3. Uma série de imagens oferece testemunho mais confiável do que imagens

individuais, seja quando o historiador focaliza todas as imagens ainda existentes que

os espectadores poderiam ter visto em lugares e épocas específicas [...], seja quando

observa as mudanças nas imagens do purgatório [...] ao longo do tempo [...]. 4. No caso de imagens, assim como em textos, é necessário ler nas entrelinhas,

observando nos menores detalhes pequenos, mas significativos [...] (BURKE, 2004,

p. 236-237-238).

Nessa perspectiva, faz-se importante um olhar mais preciso sob as fotografias

dialogando com outros documentos:

No diálogo com os documentos escritos e depoimentos orais, as fotografias ampliam

o horizonte das fontes a serem consideradas em pesquisas em História da Educação Matemática. Trazem novas possibilidades de se pensar o território escolar e as

práticas educativas produzidas historicamente. Provocam e inquietam os

pesquisadores que sacralizam o documento escrito na medida em que a ênfase da

narrativa se desloca do fato para as versões do fato (DALCIN, 2012, p.1).

Diante disso, optamos pela busca de uma triangulação entre as três naturezas de fontes

entrevistas, documentos escritos e fotografias, para termos o entendimento tanto do processo

de colonização, como dos rumos que tomaram o ensino de Matemática e as práticas dos

professores naquele período.

Entender como e qual foi o processo vivenciado pelos professores de Matemática

iniciado nas décadas de 70 e 80 do século XX, fazendo análises nas imagens do espaço/tempo

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percorrido, para melhor interpretação dos fatos históricos é um dos objetivos desse estudo.

Esperamos que essa busca nos revele elementos importantes, e nos ajude a constituir sua

história como protagonista a frente do ensino de Matemática e/ou de um processo de

colonização a partir de suas trajetórias de vida profissional (re) construídas também por meio

de memórias individuais. Para Le Goff (1990, p. 476), “é a fotografia, que revoluciona a

memória: multiplica-a e democratiza-a, dá uma precisão e uma verdade visual nunca antes

atingida, permitindo assim guardar a memória do tempo e da evolução cronológica”.

Assim, utilizamos o conceito de memória definido por Le Goff (1990), quando afirma

que:

O conceito de memória é crucial. Embora o presente ensaio seja exclusivamente dedicado à memória tal como ela surge nas ciências humanas (fundamentalmente na

história e na antropologia), e se ocupe mais da memória coletiva que das memórias

individuais, é importante descrever sumariamente a nebulosa memória no campo

científico global. A memória, como propriedade de conservar certas informações,

remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o

homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa

como passadas (LE GOFF, 1990, p. 423).

A memória sempre foi um bem que caracteriza o indivíduo como racional. Ao

processá-la automaticamente, o homem se encontra consigo mesmo, pois sua natureza

humana o qualifica para abstrair as razões, e linhas cognitivas o torna diferente dos outros

animais. Seja qual for a experiência consonante à individualidade ou coletividade, a memória

é referencial aplicável histórico e cultural. Segundo Le Goff (1990):

A aplicação à história dos dados da filosofia, da ciência, da experiência individual e

coletiva tente a introduzir, junto destes quadros múltiplos e relativos, de tempos

subjetivos ou simbólicos. O tempo histórico encontra, num nível muito sofisticado, o

velho tempo da memória, que atravessa a história e a alimenta (LE GOFF, 1990,

p.10).

“A história deve esclarecer a memória e ajudá-la a retificar os seus erros. Mas estará o

historiador imunizado contra uma doença senão do passado, pelo menos do presente e, talvez,

uma imagem inconsciente de um futuro sonhado?” (LE GOFF, 1990, p. 29). Esperam-se do

historiador a imparcialidade e objetividade inconsciente.

Se a imparcialidade só exige do historiador honestidade, a objetividade supõe mais.

Se a memória faz parte do jogo do poder, se autoriza manipulações conscientes ou

inconscientes, se obedece aos interesses individuais ou coletivos, a história, como

todas as ciências, tem como norma a verdade. Os abusos da história só são um fato

do historiador, quando este se torna um partidário, um político ou um lacaio do

poder político (SCHIEDER, 1978; FABER, 1978 apud LE GOFF, 1990, p. 32).

Nesse sentido, conclui Le Goff (1990, 49), na tentativa de conceituar passado e

história coletiva, que “a história da história não se deve preocupar apenas com a produção

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histórica profissional, mas com todo um conjunto de fenômenos que constituem a cultura

histórica ou, melhor, a mentalidade história de uma época”.

Entendemos que a memória individual é a expressão da subjetividade de cada

indivíduo, ou seja, dos gostos, dos hábitos, dos desejos, das aspirações partindo de suas

experiências vividas no contexto de uma coletividade.

Desse modo, a memória individual dos professores, apriori de Matemática, é

constituída como parte de uma memória coletiva que diz respeito a uma história do ensino de

Matemática na Escola Estadual Oscar Soares, como também do processo de colonização do

Município de Juara, perpassando pelos fatores sociais, econômicos e culturais, ou seja, uma

memória específica do local. Nas palavras de Le Goff (1990):

A cultura (ou mentalidade) histórica não depende apenas das relações memória

histórica, presente-passado. A história é a ciência do tempo. Está estritamente ligada

às diferentes concepções de tempo que existem numa sociedade e são um elemento

essencial da aparelhagem mental dos seus historiadores (LE GOFF, 1990, p. 52).

Nessa direção, e com a intenção de nos apropriarmos dessas fontes para a

compreensão do processo de constituição da Escola Estadual Oscar Soares da época

investigada, é que nos propusemos e aceitamos o desafio de investigar no universo dessa

instituição escolar juarense, a trajetória do ensino de Matemática de 5ª a 8ª série e ensino

Médio, no período de 1970 a 1990.

Expostos o caminho, o procedimento e as fontes utilizadas, a apresentação dos

resultados foram organizadas em torno de duas frentes: uma que destaca o processo de

colonização que antecede o Município de Juara, mas que sofre influência direta da região do

Vale do Arinos, e outra particulariza o ensino de Matemática na Escola Estadual Oscar Soares

e possíveis indícios com o Movimento da Matemática Moderna.

A pesquisa foi realizada em várias etapas, na busca de compreensão da temática e de

produções que viessem elucidar caminhos que pudessem respaldar nossa pesquisa histórica,

norteada por documentos que retratam o passado de uma forma mais presente. Essa

contemporaneidade histórica foi possível devido aos dados coletados em diferentes ambientes

que mantinham seus acervos ainda em funcionamento, e ao pesquisador guiado pelos

procedimentos na seleção dos depoentes e referenciais teóricos e metodológicos pertinentes à

construção desse texto.

Na sequência, abrindo o segundo capítulo deste estudo, apresentaremos o Vale do

Arinos como fronteira do Estado de Mato Grosso.

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CAPÍTULO II

2 SITUANDO O VALE DO ARINOS COMO FRONTEIRA DO ESTADO DE MATO

GROSSO

Este capítulo pretende situar o leitor quanto ao processo histórico da colonização do

Vale do Arinos, e sua semelhança ocupacional com outras regiões do Estado de Mato

Grosso22

. É importante salientar que essa região também se constitui geograficamente em área

de fronteira. Martins (1997) entende que:

A fronteira é, sobretudo, no que se refere aos diferentes grupos dos chamados

civilizados que se situam “do lado de cá”, um cenário de intolerância, ambição e

morte. É, também, lugar da elaboração de uma residual concepção de esperança,

atravessada pelo milenarismo da espera no advento do tempo novo, um tempo de

redenção, justiça, alegria e fartura. O tempo dos justos. Já no âmbito dos diversos

grupos étnicos que estão “do outro lado”, e no âmbito das respectivas concepções do espaço e do homem, a fronteira é, na verdade, ponto limite de territórios que se

redefinem continuamente, disputados de diferentes modos por diferentes grupos

humanos (MARTINS, 1997, p. 11).

“Na fronteira, o chamado branco e civilizado é relativo e sua ênfase nos elementos

materiais da vida e na luta pela terra” (MARTINS, 1997, p.12). Assim, percebemos toda a

singularidade da região e principalmente da localidade, pois suas adversidades políticas,

econômicas e culturais, além das peculiaridades apresentadas em seu momento de

colonização chegam até os dias atuais. Entendemos que fronteira é bem mais do que situar o

homem como migrante a uma região inóspita, porque, nas palavras de Martins (1997),

A fronteira de modo algum se reduz e se resume à fronteira geográfica. Ela é fronteira de muitas e diferentes coisas: fronteira da civilização (demarcada pela

barbárie que nela oculta), fronteira espacial, fronteira de culturas e visões de mundo,

fronteira de etnias, fronteira da História e da historicidade do homem. E, sobretudo,

fronteira do humano (MARTINS, 1997, p. 13).

Nesse ínterim, faz-se oportuno trazer outro momento também peculiar da história

mato-grossense que é o surgimento do Município de Porto dos Gaúchos, o primeiro fundado

na região do Vale do Arinos, deflagrando os primeiros habitantes colonizadores dessa região,

uma vez que, por esse solo, já haviam passado seringueiros e habitavam várias etnias

indígenas. Para que não caia no esquecimento desses que, se intitulam donos de uma terra

livre, que pertence a toda humanidade. Ferreira (2001) afirma que:

22

O Estado de Mato Grosso é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado na região Centro-

Oeste. Tem a porção norte de seu território ocupada pela Amazônia Legal, sendo o sul do Estado pertencente ao

Centro-Sul do Brasil. Tem como limites: Amazonas, Pará (N); Tocantins, Goiás (L); Mato Grosso do Sul (S);

Rondônia e Bolívia (O). Ocupa uma área de 903 357 km2, sendo três vezes maior que a Itália.

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A vida humana em Mato Grosso teve início provavelmente, há 15 mil anos, com a

chegada de povos indígenas. Os estudos ainda não são conclusivos, mas tudo indica

que houve migrações de povos de características étnicas diversificadas e por

caminhos, tanto de oeste para leste, como de norte para sul. De qualquer forma

originariamente das ilhas do Pacífico (FERREIRA, 2001, p. 23).

O território mato-grossense ficou conhecido pelo fato de suas terras serem fartas em

minerais, especialmente o ouro. A descoberta de diamantes representou perigo, pois os

espanhóis, com isso poderiam cobiçar ainda mais as terras ocupadas pelos portugueses. Os

interesses da Coroa portuguesa estavam voltados para a questão das fronteiras. Silva (2002)

informa que:

Por ato de 9 de maio de 1748, D. João V, percebendo a importância da fronteira pelo

rio Guaporé, cria a capitania do Mato Grosso, desmembrada da capitania de São

Paulo. Cabe observar que o território da capitania do Mato Grosso ainda não

pertencia oficialmente a Portugal, o que só viria a ocorrer com o tratado de Madri,

em 1750. O ato de criação da capitania nomeia para governá-la Gomes Freire de

Andrade. A carta régia de 25 de setembro de 1749 nomeia governador da capitania

do Mato Grosso o Capitão Dom Antônio Rolim de Moura Tavares, que assume em 17 de janeiro de 1751 ( SILVA, 2002, p. 18).

Seguindo as ordens do Rei de vigiar e barrar qualquer tentativa de invasão inimiga, o

governador de Mato Grosso deveria encontrar um lugar estratégico para instalar a sede da

capitania de Mato Grosso. Nessa ocasião, a vila mais próspera era Cuiabá, localizada na parte

central da região em expansão. Esta “fundada em 08 de abril de 1719 por Pascoal Moreira

Cabral Leme, mas teve como seu descobridor o bandeirante paulista Antonio Pires de

Campos” (MENDONÇA, 1983, p. 7). Essa elevada à condição de cidade apenas em 17 de

setembro de 1818.

Todavia, o governador instala-se no Vale do Rio Guaporé, onde em 19 de março 1752,

denomina Vila Bela da Santíssima Trindade, localizada na fronteira do extremo oeste como

primeira capital do Estado. Devido à falta de apoio do governo de Lisboa, além das epidemias

de malárias, tifo, varíola na região, essa perde anos depois seu título de capital para o

Município de Cuiabá em 28 de agosto de 1835. Passando a “ primeiro município de Mato

Grosso” (FERREIRA, 2001, p. 24).

O Município de Cuiabá teve como um de seus distritos Diamantino, fundado em 1820.

Este por sua vez, o distrito de Porto dos Gaúchos. É o que relata Kistner (2003), ao falar sobre

a Segunda Guerra Mundial.

No período da Segunda Guerra Mundial, a região do Vale do Arinos pertencia ao

município de Diamantino. O prefeito da época detinha o monopólio da extração do

látex dos seringais nativos às margens do rio Arinos, trazendo todos os anos,

centenas de homens que acampavam à beira deste rio trabalhando em regime semi-

escravo. O látex coletado na região era levado de lancha para Cuiabá onde era

industrializado (KISTNER, 2003, p.12).

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O processo de colonização do Estado de Mato Grosso deu-se início no momento em

que o Brasil se encontrava em estado de guerra. Temia-se que, a então Capital Federal, na

época Rio de Janeiro, fosse facilmente invadida por estrangeiros. Dessa forma, são

deliberados pelo Governo Federal diversos processos de colonização principalmente nas

regiões de fronteiras, áreas longínquas da capital, como o Vale do Arinos. Essa deliberação

propaga-se em 1943 com:

[...] o presidente da República, Getúlio Vargas que criou e lançou o Programa

“Marcha para o Oeste”, bem aceito pelo então “Estado Novo23” que

estrategicamente iniciou com a Expedição Roncador Xingu24 no intuito de proteger

as fronteiras brasileiras (ALVES, [s.d.], p.18).

O conceito de fronteira para esse período da Era Vargas, entende-se por vazio

demográfico, devido os espaços vazios considerados terras virgens. Para Barrozo (2008,

p.08), esses “espaços vazios mesmo quando ocupados por indígenas e populações

tradicionais, se tornaram alvo da cobiça de empresários e do próprio governo do Estado”.

Esse período ficou conhecido como a Ditadura Vargas, iniciado após a década de 30

do século XX, instituindo uma política de colonização denominada “Marcha para conquista

do Oeste”. Jesus (2010) assevera que,

[...] com a “Marcha para o Oeste”, como era chamado o processo de colonização

desencadeado pelo governo Vargas, numa política de orientação das migrações

internas que tinha por objetivo fixar o trabalhador em solo mato-grossense, o

governo federal de Vargas dava preferência aos sulistas, porque na visão reformista

de Vargas, possuíam uma mentalidade empresarial europeia e, sobretudo, porque

esses imigrantes, além das experiências que tinham para lidar com a terra, traziam

consigo algumas economias que auxiliariam na organização inicial do empreendimento que optassem desenvolver. Assim, o governo federal barrou a

imigração estrangeira e propôs conceder a ajuda aos assentados das populações

rurais nacionais, provocando grandes movimentações internas (JESUS, 2010, p. 15-

16).

A necessidade de enraizar o homem na terra, por parte dos Governos Federais e

Estaduais era um dos seus principais objetivos, camuflado em uma política de democratização

das fronteiras brasileiras. Silva (2006) afirma que,

Atada a esta política estava o slogan que só veio a ser editado na década de 70

‘integrar para não entregar’. Pelo Decreto - Lei nº 5812, de 13 de setembro de 1943,

foi criado o território federal de Ponta Porã (incluindo os municípios de Ponta Porã,

Dourados, Boa Vista, Porto Mutinho, Maracaju, Miranda e Nioaque-fronteira do

Paraguai), no sul de Mato Grosso, e a 27 de setembro deste ano foram criados os territórios do Amapá, Rio Branco, Guaporé25 (Rondônia) e Iguaçu pelo Decreto nº

23

Estado Novo é o nome do regime político brasileiro fundado pelo Dr. Getúlio Dornelles Vargas em 1937, que

durou até 1945, que é caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu

autoritarismo. 24 A Expedição Roncador-Xingu foi criada em 1943 pelo governo federal e fazia parte da política de ocupação de

Getúlio Vargas a ‘Marcha para o Oeste’, tendo como objetivo principal ‘conhecer e desbravar as áreas que

aparecem em branco nos mapas’(SOUZA, 2001, p. 31). 25A necessidade de povoamento da região do Guaporé se deu em virtude do imperativo de vigilância da

fronteira. (OLIVEIRA, 1999, p. 24).

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5941 de 28/10/1943 que objetivava o aproveitamento racional e intensivo das férteis

terras daquele território onde se fixou muito colono vindo de outras regiões do país

(SILVA, 2006, p. 185 grifo do autor).

Todo esse movimento migratório, também tinha o propósito de mascarar a

necessidade da reforma agrária, muito cobrada pela sociedade brasileira na época. Nesse

período, usava-se como justificativa a necessidade de povoar e desenvolver as regiões

longínquas dos principais estados brasileiros, bem como organizá-los e projetá-los como

nação.

Afirma Silva (2006, p.185), que esse período da Era Vargas é marcado por um

discurso datado em 1º de maio de 1941, o qual:

Chamava a atenção para o fato de que o conforto, higiene e educação não fossem

privilégio de algumas regiões ou ilhas econômicas, onde a fronteira econômica e

política fossem coincidentes, enquanto unidade indivisível, e cuja finalidade seria a

do Estado dotar energia própria o homem do sertão, interiorizado nos mais

longínquos territórios nacionais. Energia essa que viria da oferta de glebas de terras particulares com aumento de sua produtividade, vigor econômico e saúde física

proporcionado pelo aumento do rendimento do trabalho agrícola e pastoril (SILVA,

2006, p. 185).

Percebe-se que, além de se querer e projetar o Brasil como nação, as intenções de

povoar todo esse território pelo Governo Federal, em nenhum momento houve preocupação

com as pessoas que outrora aqui habitavam, tampouco com seus direitos constitucionais.

Nesse contexto, várias etnias indígenas foram desrespeitadas amplamente em sua forma

organizacional de sociedade por essa política governamental, principalmente no que se refere

ao fator cultural, social, familiar, seus meios habitacionais, sua produção alimentar, suas

crenças, bem como sua construção pessoal.

Contudo, deixava-se clara a necessidade de avanços não apenas de políticas públicas,

mas também que fossem reparatórias aos danos causados a esses habitantes brasileiros.

Principalmente que assegurassem as fronteiras brasileiras como estratégias de demarcar esses

pontos geográficos, sem esquecer os aportes geopolíticos, mesmo sabendo que por trás disso

concentra-se uma relação de poder semeado pelo capitalismo. É sabido que, o desejo real

estava voltado ao crescimento político, econômico e social de um grupo elitista dentro das

fronteiras territoriais, visando apenas à estruturação de colônias. Esse crescimento se resulta

na produtividade.

Entendemos que, além da necessidade de expansão territorial e geográfica em forma

de ocupação, e a necessidade de resguardar as fronteiras brasileiras pensadas pelo Governo

Federal, estava presente nesse contexto o processo de desenvolvimento capitalista e

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dependência de reconhecimento estrangeiro, o qual por si só respondesse aos anseios da

federação na busca de se projetar como nação. Para isso, essas áreas colonizadas teriam que

corresponder e, de certa forma, se manter como área produtiva no desenvolvimento da

agricultura, pecuária e outras atividades. Nesse ínterim, para o Governo Federal, na época o

único meio de conseguir esses avanços e ao mesmo tempo não adentrar nas questões de

reforma agrária era por meio da colonização.

Assim, concordando com Castro (2002), entendemos que:

A colonização em seu sentido mais amplo, é o processo de ocupação de uma área,

realizada por indivíduo de fora, colonos. Este conceito mais amplo, na realidade,

confunde-se com povoamento precedido de planejamento governamental ou privado

e, na história contemporânea, esse processo está estreitamente relacionado à apropriação privada do uso do solo e ao surgimento do trabalhador livre, enquanto

classe social (CASTRO, 2002, p. 41).

Com efeito:

[...] imprime ao termo “colonizar”, um sentido que, se comparado ao que o Governo lhe atribui, pode-se perceber facilmente que não houve a preocupação de realizar um

planejamento para ocupar os “espaços vazios” sendo o único objetivo, o de

preencher as lacunas existentes nos mapas que, de forma alguma condiziam com a

realidade CASTRO, 2002, p. 41).

Esse processo ocupacional logo passou a fazer parte das políticas públicas aqui no

Brasil, principalmente em um período conturbado de plena Ditadura Militar que perdurou de

1964 a 1985. O intuito era consolidar esse processo colonizatório, sendo cruel em várias

regiões de Mato Grosso, inviabilizando uma política importante e necessária como a reforma

agrária e apoiando várias empresas particulares (Colonizadoras), principalmente no Vale do

Arinos. Apoio este, que não se estendia muitas vezes a recursos financeiros. Contudo, apesar

de todas as dificuldades, a expansão territorial pela colonização foi inevitável em várias

regiões brasileiras, principalmente nos estados que representam a Amazônia Legal26

.

Assim sendo, nas palavras de Barrozo (2008):

Desde o início de seu governo, Getúlio Vargas explicitou em seus discursos a

preocupação com o Centro-Oeste e a Amazônia, regiões que, na concepção do

Presidente, precisavam ser integradas ao Brasil, necessitando para isso de uma

política de povoamento e de viabilização da infra-estrutura (BARROZO, 2008,

p.17).

Conclui o autor dizendo que:

Na primeira fase de sua gestão, o governo Vargas criou a Superintendência do Plano

de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), com alguns objetivos modestos, a saber: criar o Banco de Crédito da Borracha (BCB), aproveitar de maneira mais

racional as várzeas, modernizar os pontos e a frota mercante da Amazônia, melhorar

as condições de saúde e educação da população regional. A não ser algumas ações

pontuais, a SPVEA pouco fez para a região amazônica (BARROZO, 2008, p.17-18).

26 Amazônia Legal, é uma área que abrange nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato

Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, pertencentes à Bacia Amazônica.

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É importante ressaltar que, em vários outros momentos, atentou-se à necessidade de

investimento no extrativismo da selva e, posteriormente, abriram-se linhas de crédito

bancárias direcionadas quase sempre para a borracha. Eram esquecidas, no entanto, outras

culturas importantes como a promoção do desenvolvimento da produção agropecuária e a

integração da região à economia nacional, pois essa parte do País estava muito isolada e

subdesenvolvida. Esse esquecimento era devido a não preocupação política em investimentos

na infraestrutura social nem na Malha viária27

da região, causando a inviabilização do

SPVEA28

, considerado uma das bases desse processo colonizatório.

O processo de colonização se expande e logo toma conta de grande parte do Estado de

Mato Grosso, chegando também ao Vale do Arinos, principalmente por meio dos

colonizadores vindos do Rio Grande do Sul, conhecidos, a exemplo de Guilherme Meyer29

.

Segundo Alves,

Em 1943 no Rio Grande do Sul, na cidade de São Leopoldo, aos 22 anos, depois de

ter servido à Pátria no Tiro de Guerra, o jovem Guilherme Meyer, cursando a escola

técnica, sonhava um dia ser um dos grandes desbravadores da Amazônia,

acompanhava pelo rádio e pelos jornais propaganda oficial do Governo que

incentivava os gaúchos e o povo brasileiro a preencherem os espaços vazios

(ALVES, [s.d.], p. 20).

“Guilherme Meyer Pertencia à sexta geração de uma família de alemães - russos que

migraram para o Sul do País em 1914, fugindo da guerra e de perseguições políticas na

Europa”, (ALVES, [s.d.], p. 21). Toda sua família era partidária Getulista e ligada ao Partido

Trabalhista Brasileiro (PTB). De acordo com Alves (p. 21), ao “reunir seus irmãos e

familiares discursou convidando a todos a partilharem suas forças no sentido de apoiar a

ocupação de tantas áreas vazias e improdutivas”. Percebemos no discurso as mesmas

proposições aferidas pelos movimentos varguistas, ao se referirem a espaço vazio.

Contudo, fundou a CONOMALI30

, sediada na cidade de Santa Rosa31

na década de 50

do século XX. Essa empresa colonizadora foi criada como colônia de imigrantes europeus em

1915, principalmente alemães, no Estado do Rio Grande do Sul. Foi a primeira empresa

27 São as rodovias. 28 Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia criada pela Lei nº 1806. Esta extinta pela

Lei de nº 5.173 em 1966 que criara a SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) que foi

extinta em 2001. 29

Cursou o primário ainda na colônia. Em 1940, transferiu-se para o Instituto de Ensino Comercial em São

Leopoldo e, no ano seguinte, para a Escola Superior de Comércio no Rio de Janeiro. No final de 1942, foi

chamado a prestar o serviço militar, tal qual acontecera com os irmãos mais velhos. De volta a São Leopoldo,

prestou o “Tiro de Guerra” no 8º Batalhão de Caçadores. Convocado a embarcar para a Itália e lutar contra os

alemães, a notícia da morte de seu pai proporcionou-lhe a dispensa da missão. Saiu do exército com a patente de

sargento. 30 Colonizadora Noroeste Mato-Grossense Ltda. 31 Santa Rosa (RS), cidade conhecida como berço nacional da Soja.

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particular a receber do IBRA (Instituto Brasileiro da Reforma Agrária) que, posteriormente se

tornava INCRA, autorização para delegar vendas de áreas rurais. Essa empresa de

colonização, como afirma Cardoso (1989, p. 242), “ostenta com muito orgulho, o primeiro

título expedido pelo INCRA, de Nº 01, sendo assim a primeira colonizadora brasileira

registrada no Instituto Nacional de Reforma Agrária”.

Dessa forma, o grupo rio-grandense se organiza para a viagem, mesmo com vários

adjetivos pejorativos que desqualificavam o lugar. A região era comparada ao inferno verde.

É pertinente lembrar que, a CONOMALI, nas palavras de Meyer (2003):

[...], não desconhecia o tabu existente em torno do chamado “inferno verde”, que

classificava como sendo implacável a integração da Bacia Amazônica na civilização

brasileira, por força das terras ácidas, do elevado índice pluviométrico, da excessiva

umidade e calor sufocante, dos insetos, pragas e endemias de toda a espécie.

Também não faltou quem taxasse de “loucura” o empreendimento, ou

desaconselhasse os colonos a não embarcarem nessa aventura onde, “ certamente,

todos morreriam”. E as crianças então? Diziam que os índios as devorariam e as que

sobrassem, cresceriam na mais pura ignorância (MEYER, 2003, p. 38).

Contudo, entendemos que não foi isso que aconteceu, a caravana partiu em direção ao

Vale do Arinos e se inicia a luta pelo reconhecimento e permanência na terra.

Com isso, o grupo gaúcho, enfrentando os obstáculos da viagem, partindo do Rio

Grande do Sul e passando por Santa Catarina, Paraná, São Paulo em direção a Mato Grosso,

enquanto seu mentor sobrevoa a região do Vale do Arinos na busca de uma área para

iniciação da sede. Alves [s.d.] salienta que:

Guilherme Meyer e seu irmão Helmuth, sobrevoaram uma área de 200 mil hectares

de floresta virgem, a 700 quilômetros ao norte da capital. Gostaram. A mata era

densa, rica em seringueiras, cacau, madeira de lei e castanhas que se perdiam de

vista. Essa área bem servida de água e escolhida para a compra estendiam-se por 60

quilômetros ao longo do Rio Arinos, afluente do Rio Juruena que desemboca no Rio

Tapajós (ALVES, [s.d.], p. 22).

Sua ousadia em desbravar e transformar essas terras se revela no momento em que

indaga um grupo de amigos gaúchos ainda em sua cidade natal, ao proclamar:

[...] Se nossos antepassados vieram da longínqua Europa, atravessaram o Oceano

Atlântico e com imagináveis dificuldades e sacrifícios pessoais abriram a mata

virgem no interior do Rio Grande do Sul, na então linha República (Santa Rosa),

porque nós filhos desses mesmos pioneiros não fazemos algo também em favor do

nosso País, desbravando o Oeste brasileiro? Comovidos e tomados por uma forte dose de emoção todos decidiram seguir os planos e orientações daquele que mais

tarde tornara-se o líder de uma grande expedição partindo do Sul em direção ao

Oeste Brasileiro (ALVES, [s.d.], p. 21).

“Daí se fortalece a ideia de adentrar nos rincões matogrossenses, vindo embrenhar-se

no sertão inóspito e desconhecido, enfrentando a malária, a falta de conforto, as intempéries

do tempo, as saudades” (MEYER, 2003, p. 08). Dessa forma, o grupo de desbravadores

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partindo de Santa Rosa investe todas as forças e esforços na saga, com o lema “Colonização e

Trabalhos” em direção ao Vale do Arinos.

2.1 O Processo de Colonização do Município de Porto dos Gaúchos

O processo de colonização da região do Vale do Arinos se inicia com Porto dos

Gaúchos na década de 50 do século XX, protagonizado pelo seu desbravador Guilherme

Meyer em sociedade com seus irmãos. Cardoso (1989) assegura que:

Toda a história da cidade gira em torno dos irmãos Meyer, fundadores da

CONOMALI, empresa integrante do poderoso Grupo Meyer, hoje com várias

empresas, algumas com negócios em diversos países sul-americanos. São

fundadores do Grupo Mayer os irmãos Otto Mayer, Hugo Mayer, Alfredo Mayer,

Guilherme e Helmuth Meyer. O idealismo do Sr. Guilherme Meyer, colonizador

incontestável, atraiu para a região outros pioneiros sonhadores e corajosos, como o

Sr. Walter Isernhagem, titular do Cartório do Registro de Imóveis, casado com a Sra. Maria Helena Wilke, chegada a Porto dos Gaúchos em abril de 1956, na

primeira caravana de famílias pioneiras [...] (CARDOSO, 1989, p. 242).

E ainda:

A viagem começou com vinte homens, em dois caminhões, um Jeep Willys e um

Jipão Unimog, e terminou de barco, construído pelo pioneiro Francisco Ferdnando

Wilke32, barco que recebeu o nome de Lancha Gertrudes, em homenagem à esposa

do colonizador Guilherme Meyer, o empresário sonhador que conseguiu implantar

no noroeste mato-grossense o mais autêntico projeto pioneiro de colonização

realizado no Brasil (CARDOSO, 1989, p. 242).

Os colonizadores partiram do Município de Santa Rosa (RS) em 23 de março de 1955,

chegando às margens do Arinos, superando todas as dificuldades das estradas devido à falta

de asfalto. Segundo Ferreira (1997, p. 527), “a região [...] passou a ter vida sob o impulso do

governo do Estado de Mato Grosso, a partir de leis colonizadoras, de 1948 em diante”.

Historicamente a fundação do Porto dos Gaúchos é marcada por uma ata, escrita no próprio

local, em 03 de Maio de 1955, seis quilômetros acima da barranca do Ribeirão Mestre Falcão,

no Rio Arinos.

O colonizador Guilherme Meyer teve um interesse particular por essas terras

longínquas de sua cidade natal, dando assim o início do processo migratório de forma bem

seletiva a garantir o desenvolvimento e progresso da região, priorizando a chegada e

permanência de famílias oriundas do Rio Grande do Sul, acontecimento realizado em 1956.

Contudo, garantindo as derrubadas, construções de escolas primárias, igrejas Evangélicas:

“confissão Luterana (25/09/58), comunidade da paz e Luterana no Brasil/ (16/11/58)

32

Segundo Cardoso (1989, p. 242), na 2ª viagem de outra leva de pioneiros, no 2° barco, igualmente construído

pelo Sr. Francisco Ferdnando Wilke, denominado ‘Lancha Santa Rosa’, um filho deste. O jovem Leopoldo

Wilke, foi flechado pelos índios, tendo ficado entre a vida e a morte durante 20 dias. A sorte dele foi a

existência, em Porto dos Gaúchos, do médico Dr. Carlos Soares, que lhe prestou a assistência indispensável.

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congregação concórdia e Católica Romana fundada em 28/12/58” (ALVES, [s.d.], p. 60).

Essas igrejas foram construídas por reivindicações dos próprios colonos. Contudo, a própria

CONOMALI direcionava de forma seletiva, seus seguidores e fieis de sua doutrina religiosa.

Prevalecendo no início da colonização a alemã. Nesse período, também foram construídas

residências, armazéns, barracões para depósitos e outras benfeitorias básicas. Conforme Alves

([s.d.], p. 43), “foram avançando os trabalhos de divisão da Gleba em lotes de 25 a 100

hectares, em média, processando-se as demarcações de tal forma que, todos os lotes ficassem

servidos por água corrente (rio, riacho, arroio33

ou sanga34

)”. Todas essas atividades

cooperaram para acelerar a migração no Rio Grande do Sul.

Nessa região, mesmo antes da chegada da Colonizadora CONOMALI, tinha-se a

presença do Padre João Evangelista Dornstauder SJ (Austríaco). Missionário da Missão

Anchieta de Diamantino, “responsável pelas primeiras incursões de evangelização e contato

com os índios dito pelos brancos selvagens: os Kayabys, Rykbaktsas e Tapaiúnas” (ALVES,

[s.d.], p. 25). Estes também conhecidos como Beiços-de-pau.

[...] o Pe. Dornstauder costumava usar de uma estratégia para reforçar sua autoridade

perguntando no início: Quem manda aqui? E todos lhe davam a direção do

empreendimento porque ele gostava de estar à frente dos trabalhos. [...] Nas

expedições andava com auxiliares geralmente índios e uma equipe ficava na retaguarda 45 para, de uma forma ou de outra, sustentar seu empreendimento. Isso

tornou o Pe. Dornstauder a figura-símbolo da atuação pacificadora junto aos

Rikbaktsa. Talvez o motivo principal da sua ascendência junto aos Rikbaktsa esteja

no fato de que o reconheceram como um antepassado que estava voltando:

Mùigynani. O método usado na pacificação, foi de tal acerto e revelou tal

conhecimento da índole indígena, que os próprios nativos consideraram o Pe. João

como um Canoeiro que voltou à tribo (LUNKES, [s.d.] apud PACINI, 1999, p. 26

grifo nosso).

Esse religioso era visto por Meyer (2003, p. 23), como “anjo bom”, na tentativa de

evangelizar e reduzir os números de mortes ocasionadas em vários conflitos existentes entre

índios e não-índios. A Figura 02 mostra um momento inusitado dessa relação:

Figura 02- Colonizadores e Índios Tapayuna (Beiço-de-Pau).

33

Arroio é o mesmo que regato, riacho, com a diferença que geralmente não é permanente, podendo secar nos

períodos de estiagem ou pouca chuva. 34 Córrego que seca com facilidade.

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Fonte: CONOMALI, 1958

Na Figura 02, temos o segundo à esquerda o Pe. João Evangelista Dornstauder S.J, à

direita a Sra. Gertrudes Klaus Meyer e ao seu lado mais ao fundo, seu esposo o colonizador

Sr. Guilherme Meyer. A Figura 02 sugere “um encontro harmonioso”, “amistoso” entre índio

e branco. Na parte central da Figura apresenta três índios da etnia Beiços-de-Pau, dois deles

mais ao centro com um semblante de admiração, sorrindo diante da câmara fotográfica,

enquanto o terceiro, que se encontra ao lado esquerdo, com um olhar mais tímido tenta se

proteger por trás de suas lanças. Esses momentos de índios e não-índios juntos não mostram

as divergências e conflitos que até hoje existe entre os descendentes dos colonizadores e os

próprios colonos que residem na localidade, pois a discriminação continua. A pacificação

forjada pela igreja católica com essa etnia foi conquistada após muita luta e perdas por meio

de violentos conflitos que envolveram seringueiros, posseiros e os donatários das terras. Para

o Estado a parceria com a igreja lhe garantia a exploração e manutenção dessas terras. Na

tentativa dessa pacificação muitos morreram em defesa de suas terras, bem como do uso da

força na tentativa de tomarem posse das terras consideradas pelo estado devolutas.

Na intenção de civilizar qualquer que fosse, seja qual for a etnia indígena, a

CONOMALI estabeleceu relação de colaboração com o Pe. João Evangelista Dornstauder S.J,

visto pelas comunidades religiosas e migrantes da região como pacificador. Meyer (2003)

salienta que a empresa:

CONOMALI achou por bem prestar todo apoio ao padre João, para manter um

relacionamento amistoso com as tribos vizinhas, acalmando os colonos, que estavam

apavorados. Isso realmente ocorreu e, de vez em quando, um grupo de Rykbatsa ou

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Kayaby visitava Porto dos Gaúchos, acompanhando o padre João (MEYER, 2003, p.

23).

Essa pacificação disfarçada tinha na verdade a intenção de ocupação de todas as áreas

de terras de domínios indígenas, liberando-as para a ampliação do processo de colonização.

Portanto, era uma relação conflituosa, de poder, que buscava o desejo de enriquecimento fácil

e rápido dos não-índios, causando desrespeito às diversas etnias indígenas, provocando vários

outros conflitos na região. Principalmente pelos abusos de estupros causados com as mulheres

das aldeias.

A forma que foi introduzida a pacificação, que se inicia com a “troca de presentes”

deixavam os índios indefesos, vulneráveis a ataques dos não-índios. Esse processo de

pacificação, iniciado pelo Pe. João Evangelista Dornstauder S.J, talvez não tivesse essa

intenção de dizimar grupos inteiros de índios, considerados selvagens. No entanto, foi a forma

que os seringueiros rapidamente aprenderam e colocaram em prática dando início às várias

mortes e revoltas indígenas. Com efeito, essa forma de pacificar foi também realizada pelo

colonizador Sr. Pedro Álvares Cabral há mais de 500 anos na Bahia e se repete em Mato

Grosso. Nessa perspectiva, entendemos que esse processo de pacificação comprometia outros

objetivos da missão do Padre João, entre elas a catequização na época. Alves [s.d.] esclarece

que:

Esse processo de catequização teve início com os brancos, ofertando rapadura, balas

e bolachas deixadas em locais estratégicos, onde eles acampavam para explorar o

látex, armando os barracos sempre próximos do Rio. Diante de uma ameaça

indígena eles teriam teoricamente condições de escapar. Os índios depois de cada

passagem dos brancos visitavam os acampamentos e recolhiam os presentes ali

deixados. Até roupas, restos de comidas e garrafas de pinga (ALVES, [s.d.], p. 27).

Essas ações nos revelam a tentativa de se estabelecer os primeiros processos de

educação pela igreja no Vale do Arinos. Contudo, de forma forçada sem respeitar seus limites.

Essa tentativa contraditória de civilizar ocasionou na prática muita violência contras as etnias

que habitavam essa região. Com efeito, “Os crimes praticados contra os índios pelos

“civilizados”, tais como, a expulsão de suas áreas, a prática de atos sexuais à força com as

índias, são segredos guardados a sete chaves” (ALVES, [s.d.], p. 27).

Todavia, a união entre colonizador e pacificador veio colaborar para o surgimento da

Gleba Arinos, tendo seu marco inicial situado pelo porto, às margens do Rio Arinos, o qual

logo depois foi denominado Porto dos Gaúchos, referendado também pela quantidade de

Gaúchos existente na época.

A Gleba Arinos, foi uma das primeiras áreas de terras do Vale do Arinos, constituída

pelo processo de colonização privado seguindo os preceitos da Era Vargas. Contudo, faz-se

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presente nessa pesquisa devido suas peculiaridades, como localidade que contribuiu para a

fundação e o desenvolvimento do Município de Juara.

Durante a política de ocupação coordenada pelo período Militarista, empresas privadas

conquistaram extensas áreas de terras livres, e que foram divididas em lotes, sendo revendidas

a colonos sulistas brasileiros. Colonizadoras como a CONOMALI (1954) e a IMAGROL35

(1968), são empresas que, em períodos diferentes iniciaram o processo de colonização no

Vale do Arinos, estabelecendo um novo território na Amazônia matogrossense.

A Gleba Arinos se limita ao Oeste, ao norte da capital, no planalto residual norte de

Mato Grosso, serra dos Kaiabys, na grande bacia do Amazonas. Para essa bacia, contribuem

os Rios Arinos e Telles Pires. O Rio Arinos recebe pela direita o Rio dos Peixes ou Tatuí ou

São Francisco. O Telles Pires recebe as águas do Rio Apiaká.

Figura 03 - Localização da Gleba Arinos e seus principais Rios afluentes, 1955.

Fonte: CONOMALI.

Temos nas análises da Figura 03 a localização da Gleba Arinos pelos seus principais

Rios afluentes, além das principais etnias indígenas existentes na época. Percebemos no mapa

a proximidade da Gleba Arinos com algumas etnias. Contudo, foram os índios Tapayunas que

inicialmente apareceram na aproximação com os gaúchos colonizadores.

A Gleba Arinos (Porto dos Gaúchos) se localiza a uma latitude 11º 32’ 07’’ Sul e a

uma longitude 57º 24’ 52’’ Oeste, estando a uma altitude de 259 metros do nível do mar. Sua

35 Imobiliária Mato Grosso Ltda.

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população estimada pelo Censo IBGE, 2010 é aproximadamente 5.448 habitantes. Possui uma

área de 7.011,545 km2. Situa-se a uma distância de 576 km da Capital Cuiabá. Localização

geográfica: Mesorregião 127, Microrregião 522- Arinos. Norte matogrossense. Relevo:

Chapada dos Parecis. Serra dos Caiabis. Distância de Cuiabá: 640 km pelas rodovias MT- 338

e BR- 163/364. Limites: Tabaporã, Novo Horizonte do Norte, Juara, Nova Maringá e

Tapurah.

Figura 04 - Localização e limites do Município de Porto dos Gaúchos.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

A Figura 04 mostra à esquerda os limites do município de Porto dos Gaúchos. Na

parte central sua localização dentro do Estado de Mato Grosso, e logo à direita a posição do

mapa estadual adentrado num contexto maior, situando-se no mapa do Brasil.

Figura 05 - Vista panorâmica da primeira casa construída na Gleba Arinos.

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Fonte: CONOMALI36, 1955.

A Figura 05 registra a primeira casa da Gleba Arinos, encravada no coração da

Floresta Amazônica. Dava-se início ao processo de colonização e que seu único meio de

acesso era pelo Rio Arinos. O desmatamento desordenado começa a partir desse ponto e, que

mais tarde, essa gleba passaria a chamar-se de porto, por dar assistência a toda região,

principalmente aos seringueiros.

Figura 06 - Vista ampliada da primeira casa em construção de Porto dos

Gaúchos.

Fonte: CONOMALI, 1955.

Na Figura 06 visualizamos uma casa desse período e sua estrutura física. A casa foi

totalmente construída em madeira, extraída da própria floresta, serrada de forma rústica à

mão. As tábuas foram utilizadas nas paredes e cobertura (telhado). Dava-se início ao processo

de colonização e expansão dos espaços para implantação de seus limites na construção de

suas primeiras benfeitorias como madeireira e barracões etc. Contudo, em nome do progresso,

chegariam as derrubadas e queimadas de grandes áreas de Mata Virgem.

Figura 07 – Primeira comunidade da Gleba Arinos (Porto dos Gaúchos).

36 CONOMALI: disponível em <http://www.conomali.com.br>. Acesso em 22 de abr. de 2012.

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Fonte: CONOMALI, 1956

Na Figura 07, vemos as primeiras famílias de colonos, e ao fundo os primeiros

barracões que eram utilizados como moradias e instalação da primeira serraria na Gleba

Arinos, todas inicialmente construídas próximos à margem do Rio Arinos. Podemos ainda

perceber por suas vestes que não se trata de um grupo de pessoas pobres e que iriam investir

seus recursos em troca das riquezas da localidade. Percebemos também na fotografia a

ausência de pessoas negras e indígenas, todos eram brancos e oriundos do Rio Grande do Sul.

Observamos as semelhanças nas casas, seguindo formato também de sua região, sendo

construída uma próxima às outras, como quisessem proteger-se de ataques de animais ferozes

e/ou indígenas por terem invadido suas terras. Os rumores nesse período eram imensos dos

conflitos dos índios com os não-índios. E muitas mortes ocorriam de ambos os lados. Desse

modo, era uma forma de se manterem unidos e protegidos.

Às margens do Rio Arinos, próximo à entrada da Gleba Arinos existia uma cadeia,

para aplicação da justiça. Esta interpretada e sancionada de acordo com as intenções do

colonizador. A Figura 08 mostra a localização da primeira cadeia do Vale do Arinos

construída no início da década de 50 do século XX, em 1956 e situada à margem direita do

Rio Arinos.

Figura 08 – Primeira Cadeia do Vale do Arinos, 1956.

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Fonte: CONOMALI

A Figura 08 mostra a posição da cadeia situada à margem direita do Rio Arinos no

início da colonização. Toda, e qualquer prisão era efetuada sob o comando do sargento

reformado, o Sr. Guilherme Meyer. Essa cadeia afugentava os considerados forasteiros à

procura da desordem e arruaceiros que adentravam a Gleba Arinos, ou seja, nomenclatura

usada as pessoas que tentavam entrar sem autorização na localidade.

Diante disso, com a expansão da Gleba Arinos e mudança na sua denominação para

Porto dos Gaúchos, dar-se início à chegada de novas famílias que pudessem dar maior

assistência às culturas perenes.

2.1.1 A Educação Escolar na Gleba Arinos (Porto dos Gaúchos)

A educação dos filhos dos colonos, durante o ano de 1956, ficou sob os cuidados da

própria Colonizadora, denominada “Escola Primária Particular” (WALTER IRGANG, 1957

apud MEYER, 2003, p. 33). As aulas recreativas que eram dadas as crianças:

[...] funcionavam no refeitório da [...] CONOMALI, enquanto a escola estava sendo

construída. [...] seus pais trabalhavam nas construções, derrubadas e roças. Ninguém

tinha tempo para os pequenos, daí a importância de ter uma professora junto do

grupo (MEYER, 2003, p. 27-28).

A falta de tempo para a família, principalmente para as crianças, recai em ponto

negativo que é a integração da família e a renúncia de tudo pelo capital. Esta é a nova ordem

imposta pelo processo colonizatório, além das ideias arianas que norteiam seu líder

colonizador, pois já não se tinha como largar tudo. Acreditava-se na prosperidade.

Em 05 de março de 1957, o Governador do Estado, Dr. João Ponce de Arruda, cria a

Escola Rural Mista de Instrução Primária em Porto dos Gaúchos pelo Decreto 201. Ainda em

12 de março de 1957, chega à Gleba o Pastor Johannes Friedrich Hasenack, enviado pelo

Sínodo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, e sua esposa, a Sra. Ingeburg

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Elfriede Burghardt Hasenack, em missão religiosa e de Educação Infantil, a qual assume a

instituição escolar e passa a ser, a primeira professora “interina" nomeada para esse

educandário. Inicialmente custeada pela CONOMALI e logo depois o Governo do Estado

assumiria os honorários tanto da escola quanto da professora.

Segundo Meyer (2003):

[...] essa professora não se restringia apenas a dar aula e ensinar a ler e escrever. Na

verdade, sua presença tinha conotação social de amparo às famílias, fator muito importante nos dias difíceis. Era conhecida por todos como “Tante Inge” (Tia Inge).

Ela falava Português e Alemão, pois muitas famílias comunicavam-se melhor na

segunda língua e isso também para as crianças (MEYER, 2003, p. 28).

Para atender as necessidades daquele povo da Gleba e garantir o direito de

escolarização dos filhos dos colonos, inaugura-se em 14 de abril de 1957, na sede da Gleba

Arinos, atual Porto dos Gaúchos, a 1ª escola primária estadual. Vejamos a Figura 09:

Figura 09 – Primeira Escola da Gleba do Arinos (Porto dos Gaúchos), 1957.

Fonte: CONOMALI. 1957.

Na Figura 09, podemos apontar vários pontos no momento do registro da imagem. O

fotógrafo se preocupou em registrar o número de pessoas deixando parte da instituição fora do

enquadramento. Percebemos, ao fundo da escola, a mata fechada, tendo que ceder espaço aos

anseios dos ditos civilizados e fechar os olhos para a devastação. O mastro escolar em frente à

entrada da escola representando os limites e a simbologia patriótica dessa instituição

representada pelo hasteamento da bandeira. Na inauguração da Escola Estadual, estavam

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presentes todos os colonos sulistas, os quais representavam a primeira comunidade da Gleba

Arinos.

Figura 10 - Primeira turma primaria, e Profa. Sra. Ingeburg B. Hasenack, 1957.

Fonte: CONOMALI.

A Figura 10 nos permite observarmos que todas as crianças, filhos (as) dos colonos,

são descendentes de europeus. Percebemos a ausência de qualquer criança negra e/ou

indígena, nesse período. Segundo estudos, passariam muitos anos para esse espaço ser aberto

a esses novos grupos sociais. A discriminação e o preconceito de origem pautavam essas

famílias, tanto que a língua mais falada era o Alemão. Assim, se constituía o marco inicial da

educação formal no Vale do Arinos, a qual sempre foi pauta de reivindicações e propagandas

para garantir a venda de terras e a vinda das famílias dos colonos para essa região. A escola,

segundo Alves [s.d.], era pensada como uma garantia de crescimento e permanência dos

migrantes na localidade:

[...] com capacidade prevista de 40 alunos. Era uma construção de madeira, com 106

metros quadrados, sendo destinado inicialmente um espaço de 36 metros quadrados

para sala de aula, e o restante era utilizado para moradia do professor. Foram

matriculados no início 27 alunos, finalizando com 34 alunos, distribuídos nas três primeiras séries (ALVES, [s.d.], p. 53).

Complementando a caracterização da escola, Meyer (2003) assinala que:

O projeto dessa escola tinha duas partes: do meio para trás era a residência da

professora. E a parte da frente, uma enorme sala de aula única. Não possuía forro e

as janelas eram de tábuas, bem rústicas, fechadas com trancas de ripões, também de madeira. As carteiras eram com bancos fixos, para cinco crianças. A lousa ficava na

frente, bem como a mesa da professora, instalada sobre um estrado de

aproximadamente trinta centímetros de altura. As meninas sentavam à esquerda e os

meninos à direta. Num cantinho bem na frente, à direita, havia uma estante com

muitos livros, a maioria didáticos, que eram utilizados nas aulas, mas ficavam na

escola. Os mais manuseados eram “As aventuras de Pedrinho”, de Monteiro Lobato

(MEYER, 2003, p. 30).

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Essa primeira turma ajudava na manutenção e limpeza da escola é o que Meyer (2003)

sentencia ao afirmar que:

Os sanitários ficavam bem longes da escola: eram casinhas com tábuas sobre

buracos. A água era de poço e a professora é que a tirava. O lanche cada um trazia

de casa. A limpeza era feita aos sábados, pelas próprias crianças. Havendo uma

escala certinha para que todos ajudassem: as meninas limpavam e os meninos carregavam a água (MEYER, 2003, p. 30).

As aulas eram dadas em regime multisseriado, nos períodos matutino e vespertino. O

estudo era destinado apenas para os filhos de migrantes oriundos do Rio Grande do Sul. A

seletividade entre seus habitantes perdurou por vários anos, com isso o processo de migração

não parava de oscilar, o vai e vem era constante. A preocupação da colonizadora era assegurar

a permanência dessas pessoas na região. Para Meyer (2003),

A Educação foi um importante elemento de fixação populacional no Projeto de

Colonização de Porto dos Gaúchos, principalmente se considerarmos que a grande

maioria da população que migrou do Sul, era descendência européia: italianos,

poloneses, alemães e ucranianos. Todos tinham um pouco de estudo e prática em

alguma profissão, além de agricultor e desejavam que seus filhos seguissem os

passos (MEYER, 2003, p. 39).

Nessa perspectiva, a educação favoreceria um fluxo maior na migração e novas

famílias chegariam à Gleba Arinos, causando um grande impulso e incentivo na produção e

retorno financeiro da terra ocupada. Para Meyer (2003, p. 27). “Desde a fundação da Gleba

Arinos, houve preocupação por partes dos colonizadores, com a saúde e a educação dos filhos

dos migrantes, pois eram elementos essenciais para garantir a fixação do homem na terra”.

É bom lembrar que, quase nenhum recurso era enviado pelo Governo do Estado e a

colonizadora, com recursos próprios, mantinha as demais despesas referentes à educação, pois

esperava, no futuro, torná-la uma cidade próspera. Essa ideia de reforçar como afirma Meyer

(2003, p. 39), “que o empreendimento da Colonizadora foi projetado de tal forma, que tinha

tudo para dar certo: Saúde e Educação, principalmente, dois argumentos importantes na

fixação no migrante a terra”.

O Município de Porto dos Gaúchos, mesmo com seu declínio populacional,

continuava fortemente sob as ideologias administrativas de seu colonizador sob o comando da

CONOMALI. Dessa forma, o município se resumia numa colônia que permaneceu por vários

anos com sua sociedade fechada, ou seja, não vendia suas terras para os migrantes oriundos de

estados diferentes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Durante todo o período de

colonização, manteve distante de suas políticas sociais e da comunidade de índios e negros.

Tais razões fortalecendo práticas racistas e discriminatórias. O colonizador o Sr. Guilherme

Meyer:

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[...] valorizava seu sangue ariano e manifestava-se anti-semita, [...] lamentou com o

Pe. Iasi, dizendo que a colonização não foi adiante porque mulheres de famílias

alemãs teriam que se casar com os negros (depoimento oral Meyer, G. a Sheila

Tremaine apud PACINI, 1999, p. 89).

Isso era muito forte no período de colonização e notam-se resquícios ainda hoje, na

receptividade de pessoas negras, indígenas e de outras regiões do País, predominando o

preconceito de marca e de origem, sem contar que a discriminação social está arraigada

notoriamente na comunidade porto gauchense. Várias dúvidas pairam no tempo e espaço, na

busca de entender por que esse município, que obteve todas as oportunidades com os

investimentos alemães para atingir o progresso, encontra-se perdido nas amarras do passado.

Todas as documentações desse período ficam aos cuidados da empresa CONOMALI.

E em apoio à publicação de um livro sobre a história do município, vários segmentos,

inclusive a empresa colonizadora cederam documentos e informações para constituição desse

material. O livro traz como autor o Sr. José Luiz Alves, intitulado “Porto dos Gaúchos. No

Coração da Selva, Uma História Real”. Essa publicação ao chegar à cidade, rapidamente deu-

se sumiço aos seus exemplares, porque continha informações contrárias as concepções dos

colonizadores pioneiros. Contudo, ainda podemos encontrar alguns exemplares na região, pois

traz uma verdade, um dito pelo não dito, que incomodou vários grupos da sociedade.

No final na década de 60 do século XX, o agricultor, empresário e ex-prefeito por dois

mandatos no Município de Porto dos Gaúchos o Sr. José Pedro37

Dias, inicia a compra de

terras a 50 km ao norte de Porto dos Gaúchos. Segundo depoimento da viúva do colonizador a

Sra. Nilza da Rocha Carmo Dias, relata que [...] “ele falava que tinha um ideal de fazer uma

37

José Pedro Dias, conhecido como “Zé Paraná”, nasceu em 19 de março de 1928, filho de baiano, estudou

apenas quatro meses, natural de Catiguá-PR. Seu pai trabalhou em estrada de Ferro, casou-se com Dona

Gertrudes. Aos vintes anos, arrendou terra para cuidar e em 1950 se casou. Trabalhou de marceneiro, no

garimpo, construção de lanchas, agricultor. Em 1954 veio trabalhar na Amazônia no garimpo em Barra do

Garças e Poxóreo, em sua vida passou em muitos lugares. Acidentou-se no garimpo em 28 de agosto de 1956

em Rio Manso. Visitando a cidade de Cuiabá no mês de outubro de 1957, conheceu o Sr. Guilherme Meyer e

veio à Gleba Arinos em busca de emprego, mas foi negado pela CONOMALI, recebendo mais tarde uma

oportunidade de trabalho na firma a convite de Guilherme Meyer. Trabalhou na política como cabo eleitoral.

Era um homem firme nas palavras, sabia se comunicar e tinha muita vontade de vencer na vida, logo foi

convidado para política. Iniciou sua carreira, recusando qualquer ajuda financeira. Seu candidato venceu as

urnas o Sr. Bruno Benedito. Após 4 anos, aceitou o convite para formar a chapa na condição de emancipação de

Porto dos Gaúchos, tornando-se vice-prefeito do município de Diamantino, juntamente com o Sr. João Batista de Almeida. Na época o governador era Fernando Correia Costa e ele retornou para cobrar o prometido, sobre a

emancipação de Porto dos Gaúchos. Cumprindo com sua palavra, Porto se Emancipa em 11 de dezembro de

1963. [...] Foi presidente da UDN (União Democrática Nacional). Candidatou-se a deputado estadual, perdendo

as eleições. Logo em seguida, ficou constatado em exames que possuía doença de chagas e ele precisou ser

internado e fazer uma cirurgia devido a um câncer no estômago, mas logo se recuperou. No entanto, não parava

de trabalhar, pois mesmo entregando a prefeitura e terminando seu mandato, passou algum tempo entre Tabaporã

e Juara. Em 28 de fevereiro de 2004 às seis horas da manhã, falece o Sr. José Pedro Dias (OLIVEIRA, Iracema

de Jesus. Zé Paraná, Herói Sertanejo. O Nosso Desbravador. Betel Gráfica & Editora. Juara/MT. 2008).

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cidade. E conhecia isso aqui, porque andava muito de avião. Então ele conheceu essa área, e o

dono. E, por ser o Zé Paraná, aquela pessoa confiável, que todo mundo acreditava, esse

homem falou: Zé Paraná, a área é tua”.

A proximidade geográfica entre a localidade “pioneira Porto dos Gaúchos” era a

principal referência antes e depois das compras de terras e fundação de Juara. Acreditamos

que esse foi um dos fatores para colocar em prática o plano de colonização.

A saga dos desbravadores continua, para muitos. Passa a ser novas oportunidades de

trabalho, moradia, até mesmo compra de terra. Várias famílias de colonos e comerciantes

optaram por emancipar-se de Porto dos Gaúchos, e acabaram vindo para esse novo projeto de

colonização, dando início à Gleba Taquaral.

2.2 De Gleba Taquaral para o Município de Juara

A história da Gleba Taquaral, bem como seu início de processo de colonização, está

diretamente imbricada com o município de Porto dos Gaúchos. Principalmente por ter como

fundador um ex-prefeito dessa localidade. Entende-se que, esse processo colonizatório foi

muito oportuno ao colonizador o Sr. José Pedro Dias. Homem simples e, recém chegado de

Paraná a Porto dos Gaúchos, iniciara como agricultor e em pouco tempo, tornara-se o

vereador mais votado e presidente da primeira Câmara Legislativa Municipal, vice-prefeito de

Diamantino, prefeito, fazendeiro e colonizador pela compra de uma vasta quantia de terra.

A compra dessas terras que veio a dar origem a Gleba Taquaral38

, primeira

denominação de Juara, aconteceu com a ajuda de outros desbravadores, tendo como

idealizador o Sr. José Pedro Dias, o qual ficou responsável pela criação da Colonizadora:

[...] SIBAL - Sociedade Imobiliária da Bacia Amazônica Ltda. – composta pelos

sócios [...] Antônio Pereira Braga Sobrinho, Vilmo Peagudo dos Santos, José Olavo

Giraldes Gonçalves e José Martins França, recebeu a escritura de uma área de

35.380 hectares [...]. [...] foi fundada no dia 23 de setembro de 1971. (CARDOSO

1989, p. 142).

Dessa forma, “os trabalhos tiveram início em oito de outubro de 1971” (FILHO, 1982,

p. 37). A responsabilidade da administração do local ficou a cargo do Sr. José Pedro Dias,

sócio majoritário da Colonizadora que:

[...] junto com o Sr. Rogério Ricardo Martim Larado e mais dois companheiros,

integrantes da equipe [...] que chegou às margens do Ribeirão Caracol, onde foi feita

uma estiva e mais 5 km de estradas, que permitiu o acesso ao Rio Água Boa, ponto inicial e divisa das terras onde começaria de fato a colonização (CARDOSO, 1989,

p. 142).

38

Taquara é a denominação comum a várias espécies de gramíneas nativas da América do Sul, a maioria com

caules ocos e segmentados em gomos, em cujas intersecções se prendem as folhas.

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Portanto, em janeiro de 1972, foi solicitado ao engenheiro civil, o Sr. Simião

Nogueira, paranaense radicado em Cuiabá, que desse início aos trabalhos topográficos e à

elaboração do projeto urbanístico de uma cidade a ser implantada no interior da Gleba

Taquaral, destinada a prover a população rural dessa cidade com os bens e serviços

necessários à sua sobrevivência.

Em maio do mesmo ano, chegaram as primeiras famílias na localidade, entre elas a de

“Manoel Ribeiro dos Santos, Noel Paulino, Ernestino Cecílio dos Santos e outros”

(FERREIRA, 1997, p. 413). Totalizando 38 famílias, todas de agricultores plantando arroz,

milho e feijão. Após esse período o trabalho se intensificou e deu-se início a aberturas de

estradas e construção de pontes.

Esse processo de colonização, iniciado na década de 70 do século XX, culminou com

o Governo Estadual do Sr. Pedro Pedrossian (1966 a 1971), o qual mantinha uma relação

muito próxima politicamente. Momento também importante que o Governo Federal sob a

presidência do Sr. Emílio Garrastazu Médici (1969 a 1974)39

, vinha seguindo a política de

ocupar a Amazônia para defendê-la da cobiça estrangeira. E que havia adotado a estratégia de

abrir eixos rodoviários na região e, ao longo deles, como as rodovias Belém-Brasília, a

Transamazônica e a Cuiabá-Santarém. No intuito de promover o desenvolvimento partindo

das atividades agropecuárias e fundar centros urbanos de apoio rural.

A construção das rodovias que, de acordo com essa política de ocupar as fronteiras

longínquas brasileiras, objetivava acelerar a ocupação da Amazônia. O Governo Federal

lançou, no início da década de 70 do século XX, o Programa de Redistribuição de Terras e

Desenvolvimento Agroindustrial (Proterra), que financiava a aquisição de terras e favorecia a

implantação de projetos de colonização particulares na Região.

A ocupação da Amazônia nesse período, configurava uma estratégia de ocupação

territorial pelo Governo militar com a finalidade de integrar a região como o restante do

Brasil. Esse processo ocasionou uma maior liberdade no acesso e aquisição de terra pelas

empresas privadas de colonização, além de investimentos na Malha Viária (estradas) e

39

Foi o período durante o qual o País viveu o chamado "Milagre Brasileiro": crescimento econômico recorde,

inflação baixa e projetos desenvolvimentistas como o Plano de Integração Nacional (PIN), que permitiu a

construção das rodovias Santarém-Cuiabá, a Perimetral Norte, a Transamazônica e a Ponte Rio - Niterói, e

grandes incentivos fiscais à indústria e à agricultura foram a tônica daquele período. Assim os ministros mais

famosos do governo Médici foram os da Fazenda, Delfim Netto e dos Transportes, Mário Andreazza, além de

Jarbas Passarinho, por causa do Mobral. Nessa época, também foram construídas casas populares através do

BNH. No seu governo, concluiu-se o acordo com o Paraguai para construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu

Binacional, à época a hidrelétrica de maior potência instalada do mundo. Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Em%C3%ADlio_Garrastazu_M%C3%A9dici> Acessado em: 22 jan. 2013.

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organização de núcleos ocupacionais. Causando mudanças nas regiões ocupadas, acelerando o

crescimento econômico e provocando transformações políticas e sociais, tanto nas questões

relativas ao crescimento regional como em nível de economia nacional.

Entretanto, essas ações ao serem desenvolvidas na região amazônica causaram grandes

desmatamentos da floresta tropical, provocando mudanças ao Norte do Estado de Mato

Grosso. A partir desse período iniciam-se os primeiros passos da localidade que vinha a ser a

atual Juara.

Para dar início ao processo de colonização, o Sr. José Pedro Dias, como administrador,

conseguiu trazer para a localidade várias famílias de colonos, profissionais liberais e vários

outros que buscavam oportunidade de trabalho, terras a preço baixo, uma vida melhor. O

colonizador priorizava o trabalho para o crescimento do local, com isso dava oportunidade

valorizando a todos, independentemente do capital que se tinha. Os investimentos da e na

comunidade tinham consonância com os principais setores comerciais e eclesiásticos,

principalmente com a igreja católica, empresários, proprietários e escola. A educação era seu

principal objetivo. O colonizador, mesmo sem escolaridade, participando da vida escolar

apenas quatro meses de aulas, tinha como prioridade a educação. Acreditava que só por meio

dela, mudanças tanto individuais, como coletivas poderiam libertar o homem das questões

sociais e econômicas capazes de contribuir com o desenvolvimento da localidade.

Gerenciado pelo Banco do Brasil, o Proterra financiava a compra de propriedades com

carência de 03 anos, e prazo de 10 anos para pagar, a juros de 8,0% ao ano. Fazia parte do

pacote de financiamento o fornecimento de recursos para a construção de casas de família e

para o custeio da primeira lavoura na nova propriedade, sendo exigido como requisito que a

área a ser adquirida fosse superior a 25 alqueires e que o produtor deixasse intocada a floresta

em pelo menos 50 % da propriedade.

Essas condições eram bastante atraentes para os interessados em se estabelecer na

região, o que determinou o sucesso do programa e a rápida ocupação de extensas áreas da

Amazônia, sobretudo no Estado do Mato Grosso. A ocasião, portanto, era propícia para a

realização do projeto de colonização idealizado pelo Sr. José Pedro Dias e seus amigos,

porque o Proterra facilitava significativamente a comercialização dos lotes a serem colocados

à venda no novo empreendimento.

O Município de Juara localiza-se no lado Noroeste do Estado de Mato Grosso, e

compõe a região amazônica. Situa-se a 698 km da capital, trajeto feito passando pela MT 163

por Lucas do Rio Verde e depois pela MT 338 por Tapurah, trafegando pela estrada da

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“Baiana40

”. Há também dois outros caminhos para se chegar a Juara. Por Sinop, MT 220 com

um percurso de 760 km, ou por Campo Novo dos Parecis, MT 170 fazendo um percurso de

800 km.

Possui uma extensão territorial de 21.492 km². Sua altitude é de 292 m; latitude:

11º15’18’’ Sul; longitude: 57º31’11’’.

Figuras 11 - Vista aérea do Município de Juara, 1976.

Fonte: Sra. Nilza da Rocha Carmo Dias.

Na análise da Figura 11, observamos que o traçado das ruas parte de uma

circunferência, a qual planejada a ser o centro da cidade. Nesse ponto, está localizada uma

grande praça de formato circular, batizada com o nome de Praça dos Colonizadores. No

circulo menor à direita, tangenciando a praça ficava o barracão denominado Clube Recreativo

Social União, onde funcionou a primeira escola após regulamentação para as séries iniciais

até a 5ª série na época. Ao Norte e a Leste do grande círculo, percebemos vestígios de

algumas árvores e na posição Sul da praça dos colonizadores, batizada como Avenida Rio

Arinos, e a Noroeste, uma das avenidas veio a receber o nome de um dos pioneiros da Cidade,

o Sr. José Alves Bezerra.

40

Rosalina de Jesus Maciel, conhecida como “baiana” uma Sra. negra, natural de Jequié-BA. Proprietária de

uma pensão conhecida por todos os viajantes como “pensão da baiana”. Atendia a todos que trafegavam de

Cuiabá adentrando em direção do Vale do Arinos. Localizava-se a 8 km da estrada da mata Simione e

aproximadamente 60 km de Itanhangá. Em relação a Porto dos Gaúchos que se encontrava a 126 km. Durante

seu período de colonização, utilizou bastante os serviços da baiana. Mesmo antes de sua morte, a MT 338

passou a se chamar popularmente de “Estrada da Baiana”. Protagonista de uma época, que servia alimentação e

dormida a todos os viajantes, bem como cuidava dos peões fugidos das fazendas as quais os mantinham de forma

desqualificada com o subemprego e o trabalho escravo.

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As matas vistas ao fundo mostram que, o progresso não leva em consideração à

preservação ambiental, pois o desenvolvimento se expandiu de forma desordenada, havendo

uma grande devastação e queimada, não respeitando a biodiversidade de plantas e animais da

região.

O Município de Juara possui como limites de fronteiras municipais: ao Norte: Nova

Bandeirante e Monte Verde do Norte; ao Sul: Nova Maringá e Brasnorte; ao leste: Tabaporã,

Novo Horizonte do Norte, Porto dos Gaúchos; ao Oeste: Juína, Castanheira.

Figura 12 - Localiação Geográfica de Juara.

Fonte: SANTOS, 2012.

Na Figura 12 à direita, temos o mapa do Brasil e suas regiões, e em destaque o Estado

de Mato Grosso, além da demarcação do Município de Juara. No mapa central, podemos

localizar a posição do mapa de Juara em relação ao Estado de Mato Grosso. Enquanto no

mapa à esquerda, temos uma ampliação do mapa de Juara, mostrando seus limites de

fronteiras.

O território municipal de Juara está inserido no sistema hidrográfico da bacia do Rio

Amazonas, sub-bacia do Rio Tapajós. Para essa bacia, contribuem os Rios Arinos e Telles

Pires. O Rio Arinos recebe pela direita o Rio dos Peixes ou Tatuí ou São Francisco, o Telles

Pires recebe as águas do Rio Apiaká. O Município situa-se majoritariamente na bacia do Rio

Arinos, que é tributário pela margem direita do Rio Juruena.

Figura 13: Posição Geográfica da Gleba Taquaral (Juara).

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Fonte: CONOMALI, Adaptação SANTOS, Reginaldo José.

A Figura 13 apresenta a localização da Gleba Taquaral, sua proximidade com a Serra

dos Caiabis e do entroncamento do lado direito do Rio dos Peixes. O Rio Arinos foi a

principal via de navegação de Juara no período inicial de colonização.

A região, antes de ser colonizada, apresentava uma diversidade de etnias indígenas que

viviam em constantes conflitos territoriais. Principalmente na área denominada Rio dos

Peixes. Ferreira ressalta que:

O principal motivo dos desajustes entre o gentio era a excelência do clima e qualidade do solo. Porém um dos maiores atrativos era riqueza em taquara e pedra

silex, matéria prima para fabricação de flechas, lanças e machados. Que serviam

tanto para afazeres domésticos, agricultura, caça e quanto para fins bélicos. Ao

longo dos séculos a região foi movimentada por diversas incursões de brancos às

terras dos Kayabís (FERREIRA, 1997, p. 412-413).

Com tantas riquezas almejadas pelos indígenas sob as terras, e com a presença depois

do homem branco, fazendo parte desses conflitos por meio da extração do látex retirado das

seringueiras, iniciaram uma nova demarcação territorial. É importante ressaltar que, esses

seringueiros viviam pela região desde o período da terceira borracha na década de 40 do

século XX, uma vez que, o único meio de transporte na região era por barcos pelo Rio Arinos

e depois de avião com pista de pouso no Município de Porto dos Gaúchos após a década de 60

do século XX. Para acelerar a colonização de Juara, o Sr. José Pedro Dias, proprietário de um

avião, construiu um aeroporto bem na parte central da cidade, hoje denominada Praça dos

Colonizadores.

Esse processo de colonização se iniciou degradando o meio ambiente de forma

devastadora, pois não existia uma fiscalização que atendesse às exigências do Proterra. Além

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disso, passou a ser uma região também de grilagem41

de terra, pois não existia um projeto de

remanejo e preservação da mata nativa na época. Assim, a floresta passou a ser alvo da

ambição humana. A devastação implicava o plantio de culturas perenes e a extração de

madeira, como mostra a Figura 14.

Figura 14- José Pedro Dias (Zé Paraná), 1973.

Fonte: Sra. Nilza da Rocha Carmo Dias.

Na Figura 14, apresentamos o pioneiro o Sr. José Pedro Dias, que iniciara sua vida

profissional como um simples agricultor ainda na Gleba Arinos, e logo se tornaria um grande

empresário, vereador, presidente da câmara de Porto dos Gaúchos, vice-prefeito de

Diamantino e cinco vezes prefeito entre a região de Porto dos Gaúchos e Juara. Os braços

abertos mostram toda sua força e poder escondidos por traz do carisma que exercia sobre as

pessoas. Sua posição no alto representa o ponto central no coração da Floresta Amazônica. O

conquistador, o irreverente. Esse mesmo homem que tem como compromisso a educação

destrói a natureza principalmente no período em que se dava início a um desmatamento

florestal sem limites.

Essas terras não pertenciam ao Município de Porto dos Gaúchos e eram formadas por

matas fechadas. O acesso a elas só era possível por meio das vias fluviais. Antes das terras

serem adquiridas pelo Sr. José Pedro Dias, elas pertenciam ao Sr. Valdemar Sprang, residente

41

Termo usado quando uma pessoa consegue várias procurações falsas de pessoas desconhecidas, geralmente

camponeses que assinam os papéis para seus "patrões". Com esses documentos falsos, é realizada a compra de

várias propriedades vizinhas, como se fosse um grande loteamento. Porém, na verdade, essas várias propriedades

unidas formavam um grande latifúndio.

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em Londrina-PR, cujo título era fruto de requerimento de terras devolutas do Estado, datado

de 1940. Após iniciado o processo de colonização, recebe sua primeira nomenclatura. Ferreira

(1997) anuncia que:

O primeiro nome dado à localidade foi Gleba Taquaral em janeiro de 1972. [...] Em

maio de 1972, foi elaborada uma lista de nomes por [...] diretores da SIBAL e

estavam no escritório da companhia na Rua Joaquim Murtinho, em Cuiabá. Foi

escolhida a denominação dada por José Olavo Girardis Gonçalves (juntando as

palavras Juruena e Arinos, numa referência geográfica e formando a palavra

‘Juarinos’, mais tarde simplificado para Juara). Há certa controvérsia popular em

relação ao topônimo Juara. Uma das versões é de que sua origem vem da língua tupi, significando ‘moça bonita’ (FERREIRA, 1997, p. 413).

Esta última atualmente é mais aceita pela comunidade juarense que tem acesso à

história, mesmo assim há necessidade de oficializá-la. Juara sempre apresentou dificuldades

de transportes nos períodos chuvosos. Sendo assim, as viagens eram feitas pelo Rio Arinos, o

qual ajudava nos transportes dos produtos alimentícios e farmacêuticos vindos da Capital

Cuiabá. No período de seca, a viagem era feita por um caminho diferente do atual. O antigo

traçado desviava do atual Município de Tapurah e passava pela célebre baiana, na estrada da

mata.

Em maio de 1973, montou-se o primeiro armazém atacadista da região. Portanto,

nesse mesmo ano, a SIBAL plantou a primeira lavoura cafeeira em Juara. As lavouras

prosperaram e diversas culturas floresceram magnificamente em seus primeiros anos. O

entusiasmo foi grande entre os migrantes. Como se percebe, o município, desde seu início, foi

projetado com muita força de trabalho. Os esforços de seus colonos e colonizadores para

tornar-lhe uma cidade promissora são notórios a cada passo de seu desenvolvimento.

No primeiro semestre de 1973, amplia-se à execução do referido plano de colonização,

com a construção de uma estrada com 50 km de extensão, ligando-a a Porto dos Gaúchos. E

seguida do levantamento topográfico das suas águas e da subdivisão dos lotes rurais, com área

média de 50,0 alqueires cada, sendo então demarcadas as respectivas divisas e abertas as

estradas secundárias de acesso a esses lotes. Concomitantemente, foi solicitado ao Sr. Simeão

Nogueira - engenheiro civil paranaense radicado em Cuiabá - a elaboração do projeto

urbanístico de uma cidade a ser implantada no interior da Gleba Taquaral, destinada a prover

a população rural daquela região com os bens e serviços necessários à sua sobrevivência.

É importante ressaltar que, as vendas dessas terras eram financiadas pelo Banco do

Brasil na margem de 80%, ficando para o proprietário rural o pagamento restante e ainda ele

recebia ajuda da SIBAL. Em alguns casos, quando não podiam mais efetuar o pagamento das

mesmas, repassavam as terras para outros proprietários barganhando com a colonizadora seus

investimentos iniciais.

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Em 08 de julho de 1973, segundo Ferreira (1997), chegaram as famílias de Augusto

Santos, Gualdensiano, Pedro Damião, Joaquim Xavier, José Xavier e Orêncio. Foi colocado o

primeiro marco da sede, época em que já tinham chegado à região 38 famílias, todas de

agricultores plantando arroz, milho e feijão. Nas palavras de Ferreira (1997),

A primeira produção da região foi guardada em barracão de madeira de 300 metros

quadrados. Como os plantadores não tinham condução para levar para fora, a

empresa colonizadora acabou comprando toda a safra colhida. Era uma maneira de

minimizar os problemas enfrentados com o escoamento do produto colhido na

lavoura (FERREIRA, 1997, p. 413).

A primeira serraria da região foi montada pela colonizadora SIBAL e depois comprada

pelo Sr. Albino Gugelmin que, em 1973, serrava madeira para a construção das primeiras

casas.

Para aguçar a economia local, além das vendas de terras, foram plantadas 2.500 covas

de café na comunidade Pé de Galinha. No final da década de 70 do século XX, a produção de

café era um dos maiores investimentos na localidade. Contudo, não prosperou o quanto se

esperava, mudando-se para outras culturas perenes.

O sucesso de Juara e redondezas atraíram muitos agricultores e suas famílias. Cardoso

(1989, p.142) diz que: “o comércio de secos e molhados começou com a firma José Alves

Bezerra e Filhos Ltda, estabelecidos em Porto dos Gaúchos desde 1963”. Vindo para Juara em

1973.

Devido o crescimento migratório, a procura de terras cresceu. Também as vendas de

lotes. Foram negociados 102 lotes na zona rural, localizados próximo ao Rio dos Peixes, que

culminou na abertura de estradas e permitiu-se a entrada de grandes fazendas como: Agro

Bhama, Agro Prudente e Gleba Benedito Pinto Dias. Concomitante a esse momento, abarcava

também o crescimento comercial com indicativo promissor a meio da colonização, e o que

nos conta Cardoso (1989):

No setor comercial, além de José Alves Bezerra, a presença de Antônio Martins

Cantão em 1975, assinala o primeiro maior impulso efetivo do comércio na nascente

cidade de Juara. Destacam-se também a presença do Sr. Raimundo Nonato dos

Santos e o Sr. Afrânio Fernandes de Araújo, donos da primeira lanchonete e aos

quais coube, também, a instalação do cine ‘Chave de Ouro’ (CARDOSO, 1989, p.

143).

Com a chegada do comércio fomentando o crescimento e desenvolvimento da

localidade, principalmente numa época quando, em tempo de calor, não se tinha

estabelecimento que oferecesse frios e gelados. O cinema da cidade era também outra atração

importante para o processo, devido às distâncias e deslocamento para outras localidades. O

espaço era isolado do resto do Estado, mas politicamente se mantinha contato com os

Governos Estadual e Federal.

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Figura 15 - Visita do Sr. José Pedro Dias na posse do presidente Sr. João Batista

de Oliveira Figueiredo, 1979.

Fonte: OLIVEIRA, 2008.

A Figura 15 mostra um encontro intermediado pelo Governador do Estado de Mato no

período de (1979 a 1983), o Sr. Frederico Carlos Soares Campos entre o fundador e

colonizador José Pedro Dias e o Presidente da República, o Sr. João Batista Figueiredo. O

encontro deu-se em 1979, quando diversos dirigentes estaduais, municipais e vários alunos

foram a Brasília para a posse do último presidente do Regime Militar (1979 a 1985). Essas

influências políticas viriam a estreitar as relações entre os chefes do poder executivos e atrair

recursos para a localidade. Juara sai do anonimato e passa a ser (re) conhecida pelos esforços

de seu desbravador na capital do Brasil. Comprovado no gesto simples, mas de grande

importância política e histórica da região, quando o “Presidente Figueiredo veio lhe

cumprimentar por desbravar o sertão e no Mato Grosso [...] caminhar com passos firmes para

o progresso chegar” (OLIVEIRA, 2008, p. 61).

A Educação, nesse período, passa a ser uma importante ferramenta de convencimento,

sobretudo dos munícipes, quanto às instâncias políticas da capital e local. Com o

envolvimento de todos os segmentos da comunidade, juntamente com o Sr. José Pedro Dias

se inicia o processo de um plebiscito, em 14 de julho de 1981, para saber a vontade do povo a

respeito da emancipação política de Juara. Todavia, a aceitação foi favorável por parte dos

juarenses. E, ao computar os votos, os resultados obtidos quantificavam dos 729 eleitores

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votantes, apenas 03 votos foram nulos e 05 em branco, sendo 721 votos sinalizando

positivamente o processo de emancipação de Juara. Cardoso (1989) afirma que:

Esse processo de emancipação aconteceu rapidamente com a Lei Estadual n.º 4.349,

de 23 de setembro de 1981 de autoria do deputado Osvaldo Roberto Sobrinho. E

nesta mesma data foi sancionado pelo diário oficial Juara sendo o 18º município do

Estado de Mato Grosso (CARDOSO, 1989, p. 143).

A deliberação final desse processo emancipatório seguiria assinado pelo Governo do

Estado, o Sr. Frederico Carlos Soares Campos. A emancipação de Juara foi possível pela Lei

4.349/81 que apresentava em seus artigos 1, 2 e 3:

Artigo nº 1 – Fica criado o município de Juara, com sede na localidade do mesmo

nome, cuja área é desmembrada do município de Porto dos Gaúchos. Artigo nº 2- O

município criado tem somente um distrito, o da Sede. Artigo nº 3- Vetado... O

Artigo nº3 impedia a eleição municipal imediata. A Assembléia Legislativa acatou o

‘veto’ do governador Frederico Campos. No entanto, as eleições não demoraram a

acontecer (FERREIRA, 1997, p. 414).

O Município de Juara foi desmembrado do Município de Porto dos Gaúchos e

instalado oficialmente em 14 de dezembro de 1981. O primeiro prefeito foi o Sr. José Pedro

Dias, nomeado como administrador municipal pelo então governador o Sr. Frederico Carlos

Soares Campos. Essa função foi muito criticada pela sociedade juarense, taxando-o como

“prefeito biônico42

” (Depoente, Rosa Maria Arantes Abdala).

A partir de 1982, no Município de Juara, instala-se a Secretaria Municipal de

Educação e se inicia na Escola Estadual Oscar Soares o Curso Técnico em Contabilidade, que

permaneceu ativo até ser extinto no Estado, por volta de 1993. Concomitante a esse novo

curso de formação profissionalizante, dava-se início ao Projeto LOGOS II, que possibilitava a

formação de professores não habilitados para as séries iniciais.

A primeira eleição municipal realizada em Juara aconteceu em 15 de novembro de

1982. A posse do candidato eleito aconteceria em janeiro de 1983. Naquela ocasião, foi eleito

a prefeito municipal o Sr. José Geraldo Riva, ex-contador e participante ligado à saga da

colonizadora do Sr. José Pedro Dias que, com seu apoio, o elegeu para primeiro prefeito do

município.

Figura 16 - Comemoração do primeiro Prefeito o Sr. José Geraldo Riva eleito

pela Comunidade juarense, 1982.

42 Nomenclatura dada, aos prefeitos que assumiam o poder executivo das prefeituras sem o voto da população,

ou seja, um sistema completamente anti-democrático.

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Fonte: JUARANET.

Na Figura 16 apresentamos uma relação entre o Sr. José Pedro Dias e seu sucessor que

chegara ao fim anos depois por questões políticas. Essa separação criaria o bipartidário

formando dois grandes grupos políticos e opositores que perduram até hoje. Na parte central

da fotografia, temos o Sr. José Pedro Dias de camisa branca e com a bolsa de seu inseparável

óculos no bolso esquerdo abraçado ao prefeito eleito o Sr. José Geral Riva de camisa cinza,

aberta ao peito, mostrando uma pessoa simples na época. A Figura 16 mostra ainda a

participação de crianças, evidenciando que a relação desses políticos com a comunidade era

muito forte, pois toda comunidade acreditava no poder local. Percebemos ainda a presença de

pessoas negras fazendo parte desta festa, além de abraçados com o representante máximo do

poder local, algo inimaginável, caso a eleição ocorresse no mesmo período em Porto dos

Gaúchos.

O jovem prefeito municipal Sr. José Geraldo Riva, asseguraria sua vitória nas urnas,

sendo eleito pelo partido do governo, o PDS. E esteve à frente do Poder Executivo durante o

período de 1983 a 1988, mas logo depois seguiu carreira política se elegendo por várias vezes

Deputado Estadual. Com efeito, para contribuir com sua gestão, foram eleitos, para compor o

quadro Legislativo na Câmara Municipal, os vereadores Srs. Ágapito Batista, Carlos Moreira

dos Santos, João Botelho, Nelson Salim Abdala, Orlando Gasparini, Orlando Rodrigues

Barbosa e Walter Luiz Lauro. Contudo, o cargo de vice-prefeito ficaria com o Sr. Altino

Lauro, colonizador pioneiro.

Nesse ínterim, o Sr. José Pedro Dias, busca outras terras para renovar seu espírito de

desbravador e, em meados de 1984, iniciou a colonização de Tabaporã.

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Agora, com mais experiência e sabedor do valor da educação principalmente para

atingir o sucesso político, resolveu como compromisso priorizar o setor educacional.

Construiu escolas, e as aulas se iniciaram, a partir de março de 1986. Essas escolas se

dividiram como Tabaporã I (zona urbana), II e III (zona rural), atendendo o ensino de 1ª a 4ª

série. E, no final de 1986 foi criada, por meio do decreto Lei nº 2224 de 29/09/86, a Escola

Estadual Francisco Saldanha Neto.

No final da década de 80 do século XX, o Sr. José Pedro Dias retorna ao poder

executivo, no Município de Juara, mostrando ter muita influência no contexto político, é o que

nos revela Cardoso (1989) neste trecho:

Nas eleições de 15/11/1988 foi escolhido para 2º prefeito do município, [...] o fundador da cidade, [...] que ainda está muito disposto, [...] e vontade de fazer de

Juara uma grande cidade do norte mato-grossense. [...] é uma legenda de orgulho do

povo da região. Com apenas 61 anos, pois nasceu a 19 de março de 1928, [...].

Comendador, agraciado com a comenda da Assembléia Legislativa, ou seja, a

Medalha Senador Felinto Müller, em reconhecimento pelos seus inestimáveis

serviços prestado ao Estado [...] (CARDOSO, 1989, p. 144).

Com essa eleição, ficou também expressa a divisão dos dois grupos políticos dentro de

Juara, denominados o grupo de Sr. Zé Paraná e o de Riva, pelas diferenças ocorridas durante a

gestão anterior acompanhadas das brigas ideológicas dos partidos.

Não podemos nos esquecer de que o Município de Juara, nesse período, ainda estava

adentrado ao processo de colonização, pois as dificuldades de permanecer na terra,

principalmente para as famílias pobres eram tamanhas. Trabalhos na sede apenas teriam para

aqueles que tivessem estudos ou proximidade com os grupos ligados ao poder político local.

Contudo, mesmo sendo um município que recentemente conquistara sua emancipação

política, economicamente passaria a ser o representante em desenvolvimento do Vale do

Arinos, sobrepondo-se ao município pioneiro Porto dos Gaúchos, o qual era distrito.

O Município de Juara teve como “primeira Secretária de Educação a professora Sra.

Rosa Maria Arantes Abdala no período de 1982/1988. Logo após a Sra. Maria das Graças

Calmon Requena assume de 1989/1990” (INFORMATIVO MUNICIPAL, 1989, p. 13).

O Informativo Municipal (1989), ainda apresenta importante reflexão do poder

executivo em relação ao processo educativo:

A educação de Crianças no Governo Zé Paraná tem recebido tratamento especial

porque não se concebe desenvolvimento e progresso sem investimento na educação.

Em razão disso, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura regularizou a distribuição de merenda escolar, recuperou a Fanfarra Municipal adquirindo

uniformes e instrumentos musicais e reimplantou no seio da população juarense o

respeito à Pátria realizando desfiles comemorativos nas principais datas e feriados

municipais e nacionais (INFORMATIVO MUNICIPAL, 1989, p. 14).

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Nesse sentido, percebe-se que não apenas a terra e o trabalho finca o homem na

localidade, mas sua cultura principalmente sua religiosidade e escolas. Por isso, as constantes

lutas ocultas apontavam cada vez mais a necessidade da contrapartida pelos avanços

educacionais, que acabou servindo para os dois lados Colonizador/Colonos. Para o primeiro,

os resultados capitalistas, enquanto, para o segundo, a conformidade de uma vida pacata e

sonhadora em tempos melhores.

A sociedade avançara, mas as condições educacionais caminhavam a passos lentos,

pois é sabido que uma sociedade principalmente dentro de um processo colonizatório não

busca uma educação generalizada e sim prioritária para as famílias que mantém o monopólio

da política, do mercado pelo capitalismo, das instituições financeiras e escolas particulares.

Os compromissos educacionais assumidos pelo poder executivo em suas gestões

acabaram acontecendo. Mas enfatizando apenas as construções de escolas. Contudo,

esqueceu-se de gerenciar seu funcionamento dando à comunidade as sobras dos investimentos

políticos comprovados nas condições precárias destas instituições educativas e dá má

remuneração a seus profissionais da educação, seja no âmbito Estadual ou Municipal.

Assim, percebemos que, em cada período desse processo de colonização, houve a

necessidade de avanços. Na verdade todos que contribuíram com seus esforços por meio do

trabalho são colonizadores desse espaço. A partir da emancipação municipal, inicia-se a

construção de novas escolas municipais, principalmente na zona rural, uma vez que, durante

muito tempo, tinham de se deslocar para a sede, enfrentando todo tipo de dificuldade e muitas

vezes nem tendo acesso à escola. Apresentaremos nos quadros a seguir as datas de criações e

ato em lei das escolas do período em estudo. Contudo, as escolas, que foram desativadas, não

fazem parte dessas informações.

Tornando-se possível o crescimento educacional de Juara, verificamos, no Quadro 05

a relação de escolas municipais criadas entre 1970 a 1990.

Quadro 05 - Escolas Municipais de Juara criadas entre 1970 a 1990.

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Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

O Quadro 05 mostra 14 escolas municipais pertencentes ao município de Juara e seus

decretos de criação. Essas escolas ofertavam, no período em estudo e até os dias atuais, o

ensino das séries iniciais. Construídas para atender à demanda populacional do período, pois

naquela época, tinha-se a preocupação para oportunizar o acesso de todas as crianças às

escolas, no intuito de manter os colonos agricultores em suas propriedades rurais, bem como,

na manutenção das fazendas. Assim, tiveram que acelerar a construção de escolas ampliando

os espaços físicos educacionais. Desde 1983, com a constituição e estruturação da Secretaria

Municipal de Educação, o ensino ganharia um novo olhar, principalmente nas ampliações

curriculares, bem como na formação de professores. Porém, continua sendo a garantia de mais

votos aos políticos locais e credibilidade junto aos colonos. Contudo, ofereciam apenas as

séries iniciais, pois o ensino de 1º e 2º Graus43

continuaria ofertado na sede do Município de

Juara.

Quadro 06 - Escolas Particulares criadas na (Zona Urbana) de Juara na década

de 80 do século XX.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

O Quadro 06 apresenta as duas escolas particulares, criadas nesse período de estudo.

Entretanto, por motivos financeiros e administrativos, o Núcleo Educacional Delta acabou

fechando as portas em 2010, restando apenas o espaço para locação. O Colégio Cenecista

43 Atualmente Ensino Médio

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atende à comunidade escolar de Juara, juntamente com o Centro de Ensino Moderno (CEM).

E criado após período em estudo. Contudo, essas duas instituições particulares têm

contribuído expressivamente para o avanço educacional da comunidade. Vejamos o Quadro

07 que mostra quando foram criadas as instituições públicas estaduais.

Quadro 07 – Escolas Estaduais criadas na (Zona Urbana) de Juara entre 1970 a

1990.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

No Quadro 07 podemos observar as escolas estaduais, seus decretos e suas respectivas

datas de criação. Das sete, apenas cinco fazem parte do período em estudo. Em destaque,

aparece a principal norteadora deste trabalho. Para efeito de estudo, daremos ênfase, no

próximo capítulo, à Escola Estadual Oscar Soares, partindo do início do processo educacional,

chegando à criação e constituição dessa instituição escolar, que é nosso principal lócus de

estudo.

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CAPÍTULO III

3 A CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL DE 1º GRAU DE JUARA (E. E.

OSCAR SOARES)

Este capítulo tem por objetivo situar o leitor quanto ao tempo e espaço de existência

da Escola Estadual Oscar Soares e sua relação com a comunidade local, lembrando que se

trata da primeira escola do Município de Juara.

3.1 Caracterização e Contexto Histórico da Criação da Primeira Escola de Juara antes

de 1976 na Modalidade do MOBRAL

Juara no início da década de 70 do século XX, obteve um rápido crescimento

populacional em seus quatro primeiros anos iniciais, passando de Gleba Taquaral para Vila

Juara.

Nesse período de transição, iniciara a constituição da educação escolar dessa

localidade. Nosso objetivo com a pesquisa é investigar como se deu o ensino de Matemática

na Escola Estadual Oscar Soares em Juara/MT, ao longo do período de 1970 a 1990.

Para isso, faz-se necessário trazermos como problemática a seguinte questão: Quando

e como iniciou o processo educativo no Município de Juara e como se deu o ensino de

Matemática na Escola Estadual Oscar Soares, durante o período de 1970 a 1990. Tal

problemática tem como pano de fundo o complexo contexto histórico e social que

caracterizou Juara, nesse sentido, reside nossa preocupação por compreender o processo de

colonização da região, com o qual dialogamos ao longo de toda a pesquisa.

Com o intuito de responder à questão norteadora da pesquisa, além da análise

documental, buscamos identificar e localizar os primeiros professores que atuaram como

docentes na disciplina de Matemática no período de 1970 a 1990, na Escola Estadual Oscar

Soares. Nesse sentido, investigamos suas origens, formações, se ainda estão em exercício,

afastados ou aposentados, se residem na região, que memórias têm sobre o desenvolvimento

do ensino de Matemática na escola nesse período. Foram localizados em Várzea Grande,

Tangará da Serra e Cuiabá os três professores pioneiros e protagonistas frente à educação

juarense entre 1973 a 1975. Respectivamente, professores (as): Alenir Gonçalves de Arruda,

Roque Buchelt e Antonia Aparecida Jamariqueli, principais colaboradores no

desenvolvimento do processo educativo de Juara e responsáveis também pelo ensino de

Matemática na época. Entretanto, fez-se necessário os depoimentos de professores que

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ministraram aulas durante o período de regulamentação da Escola Estadual de 1º Grau, o qual

iniciara em 1976 com a participação do depoente, o professor Élio Roberto Lehnem e na

disciplina de Matemática os professores (as): Valmiro Luiz da Silva, João Donizete Molina

(Novo Horizonte do Norte), Nilton Sampaio Pacheco (Chapada dos Guimarães), Marilene

Fantin da Silva, Rosa Maria de Jesus Furlan, Júlio Cesar Alves, ao longo do período em

estudo.

Além dos professores, também buscamos os relatos (narrativas) de funcionários;

gestores e ex-alunos. Entrevistamos o primeiro secretário escolar Paulo Katsumi Takeda

(Tabaporã); os gestores (as): Domingos Sávio Pernomian (Cuiabá), Ângelo Dias Paulista e

Nair Volpato Ribeiro (Cuiabá); a aluna da primeira 8ª série Bernadete Ribeiro de Assis

(Cuiabá); a professora Laura Bulla Rissotti, responsável por elaborar o projeto do LOGOS II

para o Município de Juara; a primeira Secretaria de Educação Municipal Rosa Maria Arantes

Abdala (Cuiabá) e a viúva do colonizador Nilza da Rocha Carmo Dias. Os demais depoentes,

que não aparecem sua localidade, ainda residem no Município de Juara.

O Município de Juara, assim como outros municípios, que nascem do processo de

colonização no Estado de Mato Grosso, tem como desafio assegurar aos colonos os

investimentos e manutenção à educação, bem como a construção de escolas na comunidade.

Muitos colonos foram atraídos por essa promessa, na esperança de desenvolver o local. A

entrevista realizada com a professora Sra. Alenir Gonçalves de Arruda indica o ano de 1973

como o período em que se inicia o processo educacional enquanto Gleba Taquaral. Isso se

deve ao programa educacional conhecido como MOBRAL44

. Essa modalidade de ensino para

várias outras localidades poderia ser uma mudança educacional ou meramente uma reforma.

No entanto, para esse local, como assinala Casério (2003), tratava-se do primeiro acesso ao

ensino escolar:

A partir da década de 70, as diversas iniciativas dos governos para alfabetização em

massa dos adultos do país passaram por uma fase de reelaboração, pois todas elas

estavam se concentrando numa integração com o MOBRAL, que iniciava sua

implantação por todo território nacional (CASÉRIO, 2003, p. 45).

Em Juara, essa modalidade de ensino, o MOBRAL, chega segundo a entrevistada,

através do colonizador Sr. José Pedro Dias no início da década de 70 do século XX, quando

ainda era denominada Gleba Taquaral. Diz ela que:

[...] o Mobral da época era para ensinar a pessoa a ler e escrever e ensinar a fazer

conta de mais, menos e dividir era o objetivo do Mobral. Existia um método do

Mobral, [...] muito bom que, se a pessoa entrava, aprendia já ia embora. Então se

alguém quisesse seguir em frente, saía alfabetizado e sabendo fazer as contas.

44 Movimento Brasileiro de Alfabetização.

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A dominação do programa MOBRAL perpassou todo período militarista, instituído na

década de 60 do século XX. Tinha o propósito de atender toda educação de adultos. No final

da década de 80 do século XX, transforma-se em “Fundação Educar, órgão criado com

intenções explícitas de continuar a educação de adultos em novos modelos e paradigmas”

(CASÉRIO, 2003, p. 49).

O objetivo principal do programa era erradicar o analfabetismo. Esse ensino gratuito

era ofertado em todo o território brasileiro pelo Governo Federal, como forma de

democratização da educação. Todavia, conforme Casério (2003, p. 115), “A expressão

democratização do ensino era entendida, em um dos seus sentidos, como a ampliação das

oportunidades educacionais a um número cada vez maior de pessoas”. Aumentou

expressivamente o número de alunos (jovens e adultos) no programa, porém, esqueceram de

qualificar os professores, de criar uma ação pedagógica, que resultasse na construção do

conhecimento como forma de democratização desse indivíduo como parte da sociedade.

Casério (2003) assume que:

A expansão quantitativa do atendimento educacional não significou a

universalização e a democratização da educação pública, visto que esse crescimento,

quando deu conta de acompanhar as necessidades e as exigências da demanda, não atendeu do ponto de vista qualitativo (CASÉRIO, 2003, p.115).

Nesse período, a escola de qualidade se confundiu com a quantidade de atendimento

ofertada nas regiões brasileiras. Esse programa, administrado pelo regime militar que fadava a

população a uma educação momentânea, distante da alfabetização funcional, propunha-se sem

um comprometimento para toda a vida.

Com o projeto de colonização em desenvolvimento na região e a chegada de várias

famílias a essa localidade, aumentou-se ainda mais a demanda por escolas, e junto os

programas educacionais, pois o número de crianças e colonos aumentava consideravelmente.

É importante salientar que, a educação formal sempre foi uma das principais prioridades e

metas desses migrantes e colonizadores, uma vez que, seus filhos já tinham iniciado os

estudos em suas cidades de origem. Diante da necessidade de escolarização da comunidade,

inicia-se por meio do Sr. José Pedro Dias a busca por pessoas que, além de terem certo grau

de escolaridade, quisessem lecionar, ou seja, assumir a função de professor.

A professora Alenir Gonçalves de Arruda narra como iniciou a função de professora:

Sr. Zé Paraná, colonizador do município de Juara, ofertou para o meu pai os lotes

porque ele estava querendo povoar o município e meu pai construiu uma casa lá e

nós mudamos. E com o passar do tempo eu nunca tive aquela vontade. Nunca

direcionei minha vida para ser professora. As circunstâncias foram quem me

levaram a ser professora. Faltava professor, e como tinha ajudado no município de

Porto dos Gaúchos, numa Escola Rural Mista, que todo mundo trabalhava junto, não

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tinha divisão de classe. Estudava primeira, segunda, terceira, quarta até o quinto ano.

Tinha ajudado a professora Jaira, e Sr. Zé Paraná tomou conhecimento e pediu para

ir lecionar o MOBRAL. E foi assim que comecei lecionando. Eram em média 50

idosos, não eram velhos. Tinha de toda idade, velhinho e tinha pessoas jovens,

cantor, desenhista, mas só que eles eram analfabetos.

Para lecionar, era preciso um espaço físico para o atendimento desses primeiros

migrantes. Com as dificuldades existentes no processo de colonização, utilizava-se qualquer

espaço disponível. A depoente acrescenta que:

[...] Era um barracãozinho que durante o dia era posto de saúde. Posto de saúde não, era um lugar que o médico vinha atender uma vez por semana. E quando chegava à

noite, arrastávamos os negócios do médico do lado, e lecionávamos para as pessoas

[...].

Quantos aos alunos, diz ela que:

Cadastrado tínhamos 40. A maioria era oriunda do sítio. Uns estavam cansados, não

tinham condições. Então normalmente tínhamos uma frequência de 15 a 20 alunos.

Esse era todo dia. O MOBRAL na época, acho que era um dos melhores cursos de

alfabetização. Hoje tem o PROJED. Ocorreu entre os anos de 1972 e/ou 1973. Era

um convênio federal liberado para o Município de Porto dos Gaúchos e que foi

através do Sr. José Nascimento que esse processo chegou a Juara, ficando ainda

responsável em fornecer os materiais didáticos, bem como em trazer o pagamento da

professora [...].

O programa MOBRAL foi o primeiro passo para a construção do processo

educacional no início da colonização em Juara.

3.2 Cria-se a Escola Estadual de 1º Grau de Juara

A partir de 1974, dá-se, em Juara, a continuidade ao processo educacional com a

criação da Escola Estadual de 1º Grau, na modalidade das séries inicias, ou seja, ofertando da

1ª a 4ª séries pelo decreto nº 2237 sancionado em 18 de setembro de 1974 e publicado no D.O

p. 02 de 20 de setembro do ano corrente.

Durante esse período, foram ofertadas apenas as séries iniciais, ou seja, de 1ª a 4ª

séries, tendo como primeiro professor o Sr. Roque Buchelt, agricultor recém-chegado do

Estado do Paraná, que em sua entrevista relata:

Eu tinha a quarta série. Naquele tempo se não tivesse a quarta série primária, que era

um estudo mais ou menos. Mas quando se empenharam e veio na minha casa o

diretor municipal, que dizia: Vamos! Insistia. Está faltando professor! Vamos fazer

um curso e vai dá aula! Então fui para contribuir com o pessoal, porque era muita

criança que não tinha aula [...]. A época que lecionei, foi um período só de um ano.

Então passei a sala para a professora Antonia, que sinceramente, não gostei de dar aula. Não tenho paciência para isso. Mexer com crianças era difícil, complicado.

Mexer com crianças pequenas não era meu ramo. [...] Lecionei de 1ª a 4ª série com

48 alunos, tudo numa sala só. Era muito difícil. Todos tinham que pagar pelos livros,

os quais vinham do município sede, Porto dos Gaúchos. Nesse período lecionei a

matemática antiga que foi fazer continhas e tabuada, pois a moderna não era

obrigatória. Os livros eram comprados da Secretaria de Ensino de Novo Horizonte

do Norte, também distrito, e vinham de Cuiabá. [...] Os pais eram participativos e

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pagavam certinho os livros didáticos. Precisei passar as aulas para professora

Antonia porque era muito mal remunerado [...] (grifo nosso).

Ao falar da localização da escola, o professor Roque Buchelt, descreve que:

[...] Era uma salinha de 6m por 6 m, onde pintaram as tábuas de azul, e logo caiu

toda tinta, ficou uma escola muito ruim. Era perto de onde é o Bradesco, hoje a Max

Modas [...]. Naquele período quem efetuava o pagamento era a Prefeitura Municipal

de Porto dos Gaúchos, mas não efetuaram nenhum pagamento a mim. O tempo que

trabalhei não recebi. Foram seis meses. Então parei.

Com as informações trazidas pelo entrevistado, foi possível localizar fotografias na

pesquisa que retratam esse tempo/espaço, voltando ao passado destas improvisadas

instituições. Vejamos a Figura 17:

Figura 17 - Primeira escola de Juara, 1974.

Fonte: Sra. Nilza da Rocha Carmo Dias.

A Figura 17 nos traz algumas informações, tais como: notamos que se trata de um

momento cívico. O primeiro desfile de 7 de setembro celebrado em terras juarenses.

Obrigatório em todas as escolas durante o regime militar. As crianças estão em frente à

escola, em ruas de chão batido, todas uniformizadas. São submetidas ao sentimentalismo

patriótico e à frente do desfile a Bandeira do Brasil, recortada em forma de mosaico, que

diante da comunidade seria montada, representando a união desses brasileiros na construção

de sua cidadania e de seu País. Atrás da bandeira, há uma faixa escrita “ Brasil saudando sua

independência”, e logo abaixo especificado o nome da Escola Estadual de 1º Grau de Juara.

Podemos pensar que, naquele período não tinhamos um País livre pela deliberação do

militarismo, representado nas atrocidades de civis, políticos adversários, sem falar da

repressão ocorrida em várias instituições escolares e universidades. Nessa própria localidade,

por um ato governamental, criou-se a escola, mas nenhuma construção foi feita para atender a

essas crianças e comunidade.

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Dessa forma, a pseudo independência adentrava aquele local pelo alicerce político e

forçadamente pelo trabalho. E as condições da escola ao fundo, denotam claramente a falta de

responsabilidade de uma administração que tinha na época a escola apenas como forma de

discurso para barganhar a vinda e permanência dos colonos migrantes. Contudo, continuaria

um cubículo sem espaço, que uma vez por ano recebia uma pintura, além de excesso de

alunos, como afirma o professor Roque Buchelt, “atendia 48 crianças”, ou seja, um espaço

inadequado podendo considerar um descaso com os filhos dos colonos, os quais estavam

dando suas vidas na construção da localidade e em busca de um futuro melhor.

A Figura 18, apresenta a turma em 1975. Acreditamos que, na época, não se tinha a

preocupação do registro escolar e sim a de elucidar a participação efetiva e carismática do

colonizador, principalmete como protetor das crianças, ou seja, os futuros trabalhadores.

Figura 18 - Turma escolar de 1975.

Fonte: Sra. Nilza da Rocha Carmo Dias.

Na Figura 18, ao fazermos as análises, podemos observar, na parte central da figura de

chapéu, camisa branca e capa do óculos no bolso esquerdo, como de costume, o colonizador

Sr. José Pedro Dias. Percebemos que, naquele período, havia uma necessidade de registrar os

momentos de participação do colonizador até mesmo em torno das crianças, como um tipo de

propaganda política. Podemos ainda observar na figura uma diferença na altura das crianças,

bem como uma diversidade com a presença de alunos negros na turma, parte positiva para

quem almeja objetivos sociais sem desigualdades instituídas pela escola. Vimos ainda, a

ausência do uso do uniforme, mas a cor branca predomina. E se era um dia normal de aula,

podemos pressupor que não existia uma obrigatóriedade em usar o uniforme. Bastava a

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obrigação da presença nos eventos cívicos com participação da comunidade e políticos

influentes.

Diante disso, entendemos que a prioridade estava nas crianças dentro da escola

enquanto os pais trabalhavam. A presença do colonizador, no centro da fotografia, reforça a

ideia de uma pessoa carismática, “pai de todos”, aquele que acolhe as crianças, dando-lhes

segurança para si e sua família. Apenas reporta um consenso entre todos os políticos na busca

de se autoproclamar líder. Muitas vezes, pela sua humildade nas vestimentas e na forma

simples como se portava, desconhecia-se sua real condição financeira. Ao fundo da imagem,

notamos a floresta, devastada, encolhendo, perdendo seu espaço no meio ambiente.

Diante de todas as dificuldades que inicialmente a escola apresentava, principalmente

a falta de professores habilitados, materiais escolares, carteiras apropriadas, merenda

adequada, a educação aos poucos se expandia com a ajuda e colaboração da comunidade.

No depoimento do professor Roque Buchelt, surge o nome da professora Antonia

Aparecida Jamariqueli, como a professora que o substituiu ainda em meados de 1974. Ao ser

entrevistada, a professora mostra sua Carteira Profissional, registrada como professora

primária pela Secretaria de Educação do Município de Porto dos Gaúchos, datada sua

admissão em 01 de março de 1975 e saída em 18 de outubro de 1977.

Entendemos que, mesmo sendo uma escola criada pelo Estado, o espaço físico ficara

sob a responsabilidade da Colonizadora SIBAL, enquanto os honorários dos professores pela

Prefeitura do Porto dos Gaúchos. Isso significa que mais uma vez o Estado se ausentava de

suas obrigações, pois é de direito da comunidade que ele dê total contribuição, haja vista que,

com a fundação e desenvolvimento do local, vários impostos passariam a ser tributados. Com

isso, asseguraria o desejo de apropriação e o vínculo entre as localidades visando um espaço

promissor como distrito, dando-se início também pela educação.

A professora Antonia Aparecida Jamariqueli assim se pronuncia na entrevista:

Eu iniciei a dar aula em Juara, no ano de 1974. Não me lembro a data. Mas a partir

de 1975, 1° de março de 1975, fui registrada em carteira, ou seja, foi assinada minha

carteira, pela Prefeitura de Portos dos Gaúchos. Constando na época um salário de

CR$ 300,00. Era uma escola em frente à loja Soberana lá de Juara. Era uma salinha

de madeira. [...] Comecei dando aula para as crianças de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª série. Era

classe única, mista. Na época eu tinha 5ª série, feito no Estado de São Paulo [...]. [...]

Fui convidada a dar aula [...] nessa escola municipal. Comecei ali porque eles

pegaram meu documento. Eu tinha só a 5ª série. Não tinha estudo, mas com a 5ª

série foi despertado no Sr. Inácio Luiz da Silva, que era secretário de Porto dos

Gaúchos [...]. A turma tinha 40 crianças [...]. Eram cadeiras de madeiras. Umas

cadeiras grandes. Sentavam duas crianças juntas, tudo rústico. Dávamos aulas. Então dividia as séries e tinha que dar aula para todos.

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Como auxílio na investigação, trazemos a Figura 19 que mostra a carteira de trabalho

mencionada:

Figura 19. Carteira de Trabalho, p. 10, de 1975.

Fonte: Arquivo pessoal da Profa. Antonia Aparecida Jamariqueli.

A Figura 19 traz o registro em carteira profissional da professora Antonia Aparecida

Jamariqueli pela Prefeitura Municipal de Porto dos Gaúchos. Esse registro mostra um

pagamento salarial na época de Cr$ 300, 00 (Trezentos Cruzeiros). Além de sua data de início

da contração ser de 01 de março de 1975, e encerrada em de 18 de outubro de 1977. Pelo que

apresenta o documento, o registro tratava-se de seu primeiro emprego de carteira assinada,

contratada como professora primária. Assim, por dois anos, manteve-se recebendo seu

ordenado pela Secretaria de Educação desse município vizinho. Esses dados tornam-se

importantes dentro da história da educação de Juara porque comprovam os vínculos entre as

localidades. Esses vínculos da prefeitura de Porto dos Gaúchos na parte de recursos humanos,

justifica-se pelo envolvimento e boas relações que os líderes colonizadores Srs. Guilherme

Meyer e José Pedro Dias mantinham um com o outro, tanto do lado pessoal quanto político,

pois ambos já haviam pleiteado o cargo de chefe do poder executivo do Município de Porto

dos Gaúchos na década de 60 e 70 do século XX. Fica evidente que, a ajuda do município

vizinho viria. Todavia, tal fato nos ressalta a participação e importância do Município de

Porto dos Gaúchos no desenvolvimento educacional de Juara, durante e após a época em que

era denominada Vila Juara.

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Até meados da década de 70 do século XX, houve várias preocupações em relação à

formação de professores, devido à falta de qualificação. A maioria dos docentes atuantes

possuía apenas escolaridade de 1ª a 4ª ou 5ª série do 1º Grau. Entretanto, naquele período, o

Governo do Estado e do Município ofertam 05 bolsas, beneficiando 03 professores da zona

rural (Vila Juara) e 02 da sede Porto dos Gaúchos (zona urbana) para um curso de capacitação

de 1º grau45

, o qual foi ministrado no Colégio Evangélico de Buriti46

. Infelizmente os

coordenadores do curso não enviaram os certificados desses participantes para Juara, assim os

professores não tiveram como comprovar sua participação e optaram por buscar novos cursos

de formação. Esse foi o caso da professora Antonia Aparecida Jamariqueli que nos relata

quando participou de um curso, que lhe daria direito a concluir o 1º grau:

[...] Curso de Especialização de Formação de Professores no Colégio Evangélico de

Buriti. Era um curso à distância, um curso de férias. Então conseguimos com mais

quatro professores de Porto dos Gaúchos e dos arredores de lá. Viemos para o

Colégio Buriti. Estudamos nas férias. Depois disso voltamos para Juara, e continuei dando aula. Não consegui o documento desse estudo, continuei só com a 5ª série. Só

que logo surgiu o LOGOS II, curso de Magistério, foi onde fiz. Depois de contratada

consegui passar no concurso. [...] fiquei professora efetiva.

Diante disso, nota-se o esforço da professora pela busca do conhecimento, e pela

continuidade de sua formação profissional. Percebe-se que, a entrevistada não se abateu

diante das dificuldades, ao contrário, dedicou-se ao seu ofício de professora e sempre

buscando se aperfeiçoar, mesmo não tendo acesso ao certificado do curso que fez. Ainda nos

relata a época em que passou no vestibular da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

em 1987, para graduação em licenciatura em Matemática, porém, diz ela, que não a concluiu

o Curso optando por fazer o Curso de Pedagogia na UNIRONDON, na época Cândido

Rondon. A professora atualmente é aposentada, e se manifesta feliz pelo serviço prestado ao

Município de Juara, Estado e comunidade estudantil.

Com efeito, no período em que a professora começou a lecionar, a escola tinha como

nomenclatura Escola Estadual de 1º Grau, criada oficialmente em 1974. Essa escola atendia à

45 atual (6º ao 9º ano do Ensino Fundamental). 46 A história da Escola Evangélica de Buriti começou no ano de 1913, quando a Missão Evangélica Presbiteriana

do Brasil Central, enviou um de seus missionários, mais exatamente o reverendo Franklin Graham, em uma

viagem a cavalo, desde a Bahia até a Bolívia, a fim de escolher nesse percurso os lugares que apresentariam condições favoráveis instalação de futuras subsedes da referida Missão. Essas condições diziam respeito ao

clima, salubridade, a facilidade de acessos das regiões mais desenvolvidas ou em desenvolvimento, às

necessidades do povo, etc. Em 1976, a escola foi transformada em Fundação Educacional jurisdicionada pelas

Igrejas Presbiterianas de Cuiabá. Isto se deve ao fato de, a Missão ter encerrado as suas atividades no Brasil para

ir trabalhar em um país mais pobre. Durante as férias dos últimos anos, a escola tem cedido as suas dependências

para a realização dos Cursos de Capacitação de Recursos Humanos, contribuindo assim para o aperfeiçoamento

dos professores das regiões rurais de nosso Estado (SCHEFFDER, Melanchton. Pequeno histórico da Escola

Evangélica do Buriti. Disponível em: <http://www.chapadadosguimaraes.com.br/buriti.htm> Acessado 21 out.

2011).

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comunidade urbana e rural da localidade. Com o desenvolvimento do local, a cada dia, fazia-

se necessário a construção de novos espaços escolares. A professora Alenir Gonçalves de

Arruda, em entrevista, relata que foram essas as palavras do colonizador quando indagado

sobre construir outra escola, sugeriu o uso do clube local a título de empréstimo. “O Clube é

grande. Eu divido-o e coloco as salas. Para construir essa escola, vai ser difícil. Eu posso usar

as duas coisas para uma coisa só”.

A princípio não foi escolhido nenhum espaço para a construção de escolas. Os espaços

sempre foram cedidos pelo colonizador, o Sr. José Pedro Dias, de estruturas afins, que se

tornariam escola a título de empréstimo.

Podemos observar a transcrição do documento localizado nos arquivos da E.E Oscar

Soares em, que consta a declaração de empréstimo47

:

A Imobiliária SIBAL, CGC 03.021.417/0001, matriz localizada à Rua Comandante

Costa nº 1615 em Cuiabá-MT e filial em Juara município de Porto dos Gaúchos,

Comarca de Diamantino, legítimo dono e proprietário da data nº 18 da quadra nº 94

de 420 m2, contendo uma casa de madeira com área de 6,00 m de comprimento por

6,00 m de largura situada à Avenida Rios Arinos S/N, bairro centro, e que o mesmo

(Imobiliária SIBAL) autoriza o funcionamento da Escola Estadual do 1º Grau de

Juara, pelo período de 04 (quatro) anos tendo seu início previsto em 01 de março de 1976 e seu término em 01 de Março de 1980. Esta declaração assinada pelo

colonizador Dono da SIBAL o Sr. José Pedro Dias.

Esse espaço outrora citado em entrevista pelo professor Roque Buchelt, foi

oficializado seu empréstimo apenas a partir de 1976.

3.3 Regulamentação da Escola Estadual de 1º Grau de Juara em 1976

O constante crescimento demográfico e o início do desenvolvimento tiraram Juara do

anonimato de Vila, e passara a distrito em 04 de julho de 1976, pela Lei Estadual n.º 3.735,

com território jurisdicionado ao Município de Porto dos Gaúchos. Ainda em 1976. É o que

relata Cardoso (1989) neste trecho:

O Sr. José Pedro Dias, o Zé Paraná, volta à política de Porto dos Gaúchos,

concorrendo ao cargo de prefeito, para o qual foi eleito [...] em 15/11/1976, tendo

como vice-prefeito o seu amigo e pioneiro José Alves Bezerra. Uma vez no poder,

Zé Paraná se volta carinhosamente para o desenvolvimento de Juara, a cidade criada

por ele e por isso mesmo a menina dos seus olhos (CARDOSO, 1989, p. 143).

Nesse mesmo ano, inicia-se um trabalho na organização educacional no distrito de

Juara. Entretanto, foi necessário um movimento promovido pela comunidade em geral, para

regulamentação e normatização do funcionamento do 1º Grau estendendo das séries iniciais

para 5ª a 8ª séries. No entanto, os possíveis alunos passaram por um processo de seleção

fazendo uma prova, entendida como o então extinto “exame de admissão” para compor a nova

47 Anexo 3

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turma de 5ª série. Vale ressaltar que, naquele período, muitas crianças e adultos não tinham

registros, ou seja, comprovante de escolarização que identificasse sua escolaridade anterior,

nem que fizeram as séries subsequentes. Autorizado pela Secretária de Educação e Cultural de

Cuiabá:

O secretário Paulo Katsumi Takêda promoveu provas para todos os interessados em

cursar de 4ª e 5ª séries, iniciando assim todo o processo legal para a criação da

Escola Estadual de 1º Grau de Juara. Nesse ano, ocupou o cargo de diretor do

estabelecimento o senhor Leonízio Lemos Belo. Como primeiros professores

Valmiro Luiz da Silva, Antonia Aparecida Jamariqueli, Elio Roberto Lehnem e

Helena Xavier da Silva (FILHO, 1982, p. 53).

A participação desse grupo de professores oportunizou a regulamentação da oferta

dessa modalidade de ensino fortalecendo o processo educacional da escola.

A escola começou funcionando os três turnos. Inicialmente os professores não

possuíam habilitação, mas assumiram as aulas a título de cooperação com a comunidade,

porém participaram de um curso de reciclagem em Novo Horizonte do Norte, ministrado por

técnicos da Secretaria Estadual de Educação e Cultura. O currículo elaborado pela SEEC -

Cuiabá era orientado pelas autoridades educacionais de Porto dos Gaúchos. Nesse ínterim, a

atenção dada ao distrito de Juara, no tocante à educação, foi fator importante para continuação

de seu desenvolvimento.

As necessidades de mudanças educacionais foram inevitáveis com o crescimento

populacional, necessitando de adesões e/ou construções de novos espaços escolares.

Percebemos que, não era vontade política do colonizador Sr. José Pedro Dias resolver o

problema de escolas, propiciando espaços dignos de estudos aos filhos dos colonos, ou seja,

filho daqueles que realmente construíam com esforços quase subumanos o futuro do local.

Mais uma vez, cede a título de empréstimo, outro espaço48

. Este, um barracão de madeira

denominado Clube Social Recreativo União, também chamado na época por Esporte Clube

União conforme declaração localizada no arquivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Este cedido por 04 anos era chamado Esporte Clube União, administrado pelos

componentes da entidade social como o Sr. Gileno Vargas, presidente; Romeu

Sebastião Buchelt, vice-presidente; Joaquim Alves de Morais, secretário, Nilza

Conceição do Carmo, tesoureira e proprietária das datas nº 2.3.4 da quadra nº 95

com área total de 1600 m2, a qual situada à Avenida Rio de Janeiro S/N bairro

Centro. Esse espaço físico foi cedido pelo grupo para que funcionasse a Escola

Estadual de 1º Grau de Juara, iniciando em 01 de Março de 1976, com turmas de 1ª a 4ª séries com o término previsto para 01 de março de 1980 (DOCUMENTO DA

ESCOLA ESTADUAL OSCAR SOARES DATADO 1980).

Na época, o Sr. José Pedro Dias, diz ao solicitar o espaço escolar: “para que construir

uma escola se posso usar o barracão do clube para as duas coisas?”. Referia-se a utilizar

48 Anexo 4

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durante a semana o espaço para escola e final de semana o clube ficaria destinado aos eventos

da comunidade. Essa posição reflete tanto na falta de conhecimento sobre a importância da

instituição escolar para a comunidade, como entendimento das culturas, as quais permeiam

esse espaço como religiosa, política e/ou popular. Todavia, descrita a cultura escolar:

[...] um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a

inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses

conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas

coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades

religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização) (JULIA, 2001, p. 10).

Portanto, o ambiente escolar torna-se o espaço propício para “trocas e transferências

culturais” (JULIA, 2001, p. 10). Vejamos a Figura 20: Imagem do Clube Social Recreativo

União.

Figura 20 - Clube Recreativo Social União em 1976.

Fonte: Sra. Nilza Rocha Carmo Dias.

A Figura 20 mostra uma faixa e nela escrito, “O Brasil é feito por nós”. Os dizeres

chamam-nos a atenção, pois a nosso ver, reforça o poder dos donos daquelas terras. São eles,

os donos de terra, que mantém a ordem e o progresso a qualquer preço. Traz também uma

ideia de patriotismo, nós fazemos o Brasil. No entanto, o governo é que manda; os donos do

lugar tiram proveito da situação. Nós fazemos o Brasil, mas quem tira mais proveito são os

donos do capital e os políticos. Enquanto, para a comunidade talvez por ingenuidade, os

dizeres da frase passavam-se despercebidos. Ao fundo da figura, está o barracão, conhecido

como Clube Recreativo Social União, que, nos intervalos diários e semanais, funcionava

como escola e salão de festa. Alguns professores, que vivenciaram esse momento, ao serem

entrevistados, trouxeram colaborações relevantes a respeito do uso desse clube como escola.

Segundo depoimentos da professora Antonia Aparecida Jamariqueli:

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[...] Nós fomos para o clube. Eu não lembro em que época foi. Se foi 76. Então

estávamos assim, separados, tinha divisórias de madeira com as salas. Na época

dava aula ali para a 1ª série. Tínhamos 4, 5 salas naquele clube. ... Dava aula de

manhã, à tarde e à noite. Inclusive como eu tinha só a 5ª série, começou naquela

época o estudo de 5ª série lá. Começou estudar eu e mais 04 irmãos [...].

Para a professora Bernadete Ribeiro de Assis:

No início, nós estudávamos no clube. Era um clube grande. Tinha as divisórias de

madeira, aquelas madeiras leves. Porque quando tinha eventos dentro do clube, as

carteiras trancavam-se numa salinha onde era a secretaria da escola. Afastavam-se as

carteiras e as divisórias. O resto do salão ficava disponível para os bailes e para

eventos. Mas, assim, reclamamos muito para a então, diretora que era a Irmã

Lucianetti, que não queríamos ficar lá porque ouvíamos tudo o que a sala vizinha

falava. Então atrapalhava. Então surgiu uma sala ao lado do barracão, que ela era tipo palafita, feito alta devido à chuva. Forrada de tábua também. Quando você

andava, todo mundo escutava, balançava. As tábuas compridas balançavam a sala.

Mudamos para essa sala. Depois surgiu o famoso barracão. Nós do ensino médio,

estudávamos à noite e fomos estudar nesse barracão. Permanecendo as quatro salas

de aula que o Oscar Soares tinha. E permaneceram essas quatro salas para 5ª a 8ª, e o

ensino médio foi para o barracão. De lá, tínhamos o vigia que fazia o papel de

coordenador e inspetor. Então se o aluno aprontasse alguma atividade fora das

normas da escola, ele já pegava o aluno, andava dois quarteirões, atravessava a praça

para depois chegar à escola para sentar na sala da Irmã Lucianetti. Então assim,

foram épocas em que não podemos dizer tão ruim, mas as salas não tinham

condições nenhuma. Quando chovia, tínhamos que amontoar tudo num canto só,

porque chovia no barracão aonde estudávamos. Então, todos os alunos da época têm uma lembrança do barracão. Sempre têm uma história desse barracão. Cobra, ratos.

O barracão tem várias histórias até engraçadas aonde estudamos.

Conforme a professora Alenir Gonçalves de Arruda:

Tanto que lá não tinha escola, assim montada. Tinha um clube em frente, eu não sei

onde que é hoje. Tinha um redondo no meio da praça, e do lado da daquele redondo

tinha um clube. Então, durante a semana era dividido aquele clube para poder ter aula, e no final de semana tirava as paredes para poder fazer festa.

Segue o professor Élio Roberto Lenhem dizendo que:

Era um clube que durante a semana era escola. Foi o primeiro clube de Juara, União

Esporte Clube. E eles cediam gratuitamente. E o bar da rodoviária que é nesse local

onde está mesmo hoje a rodoviária, era do finado meu pai, Seu Alfredo Mateus

Lehnem filho, que doava a energia para a escola.

Relata a professora Laura Bulla Rissotti:

Quando eu cheguei aqui em 1979, era advogado, doutor, que davam aula para o

ensino médio. Era no clube social o ensino médio e o primário era no barracão.

Quando a escola Oscar Soares terminou, sua inauguração foi no dia 25 de julho

desse mesmo ano. E passaram os alunos do Clube para a escola. Mas eram poucas

salas. Mesmo tendo a escola eram muitos alunos e chegava muita gente na época. Em 82, 83 tinha mais gente que hoje.

Conforme, a professora Marilene Fantin:

Então, nós trabalhávamos na Escola Oscar Soares, que não tinha sede. Funcionava

durante a semana como escola e nos finais de semana era [...] clube de dança. Um

Clube social. Então durante a semana trabalhávamos lá. Dividia as salas e um

quadro ficava aqui. Um grupo de alunos aqui, outro grupo de alunos aqui. Tínhamos

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também aqui na rua são Geraldo, em frente à Agroverde. Em frente ali tem uma casa

e ali tinha um barracão bem grande. Era um barracãozão que foi dividido ao meio

feito um corredor e várias salas, onde trabalhávamos ali. A média de alunos por sala

era de 40, 49, 50, por aí, de 40 para 50 alunos.

Em entrevista, a professora Marilene Fantin, ao falar do Clube Social, fez

apontamento de outro espaço escolar que até então era desconhecido na pesquisa. Como

apresentamos na Figura 21:

Figura 21 - Antigo Barracão de Arroz, 1973.

Fonte: Sra. Nilza Rocha Carmo Dias.

A Figura 21 mostra o espaço escolar, o barracão, o segundo a esquerda com barris de

óleo diesel em frente. Por vários anos, funcionou como armazém de arroz que logo foi

desocupado devido à construção de outro bem maior, pois não atendia à demanda agrícola.

Contudo, foi ele quem passou a atender à demanda dos alunos na busca de uma escola de

qualidade.

O número de habitantes e alunos nesse período aumentou consideravelmente,

ocupando todos os espaços escolares cedidos pelo colonizador, o Sr. José Pedro Dias.

Com os depoimentos, percebemos que, houve outros espaços que funcionaram como

sala de aula na época, principalmente no relato da professora Nair Volpato Ribeiro ao dizer:

“No começo, com tanta gente que chegou, tiveram que arrumar dois barracões, o clube e mais

a escolinha, que era uma sala só”. Esse relato nos fez buscar outras imagens como na Figura

22, que mostra as escolas:

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Figura 22 - Duas escolas estaduais em 1976.

Fonte: Sra. Nilza Rocha Carmo Dias.

Na Figura 22 podemos observar a primeira casa do lado direito da Figura, segundo

relatos, funcionava como sala de aula. A segunda à direita, o Clube Recreativo Social União,

que não atendia mais a demanda de alunos de toda a comunidade urbana e rural.

Esses espaços acabaram contribuindo para o atendimento à demanda dos alunos por

um período, mas que se fazia necessário ampliá-los e realmente construir escolas apropriadas

para se ter um ensino e espaço de qualidade.

Sabemos das dificuldades que a região apresentava no início da colonização devido os

altos preços das mercadorias, à falta de saneamento básico, de transportes, de moradias, pois

nem todos que chegavam tinham crédito com a colonizadora, além daqueles que vinham se

aventurar e se tornavam peões nas fazendas e, em alguns casos, tornavam-se pistoleiros.

Durante esse período, aconteceu a primeira tentativa de autorização de funcionamento

da escola de forma institucional. Com o grande fluxo migratório e a necessidade de oferta, de

fato e de direito do primeiro grau, as escolas inicialmente apenas atendiam às séries iniciais. E

precisava regulamentar a escola, pois já existia a ameaça de famílias deixarem a localidade,

caso não tivessem escola para seus filhos. A pressão pelo atendimento aos alunos veio de

todos os segmentos da comunidade.

Em pesquisa no Arquivo da Escola Estadual Oscar Soares, encontramos um

documento solicitando a regulamentação da escola, conforme consta a Declaração49

em:

09 de outubro de 1976, foi encaminhado ofício nº 002/76 do Pe. Gunter Kroemer,

representante da DREC (Delegacia Regional de Educação e Cultura) em Porto dos

49 Anexo 5

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Gaúchos para o Secretário de Educação e Cultura o Sr. Dr. Louremberg Ribeiro

Nunes Rocha, onde solicitava via processo, a autorização de funcionamento da

Escola Estadual de 1º Grau de Juara, município de Porto dos Gaúchos, tendo sido

montado de acordo com a resolução nº 23 de 14 de agosto de 1974.

Nesse ínterim, a escola já havia sido criada, mas até então não assumida pelo Governo

Estadual. Esse documento de 1976 apenas reforça que, houve a solicitação para a Secretaria

de Educação e Cultura, mas a ampliação da modalidade iniciara desde março do mesmo ano

sem autorização. Dando-se início ao primeiro ano ginasial (5ª série do ensino de 1º grau),

visto que os alunos, ao terminarem as séries iniciais, ou seja, de 1ª a 4ª séries, não tinham

como dar continuidade aos seus estudos. Filho (1982) argumenta que,

[...] somente em março de 1976 é que começou um trabalho organizado em termos

de escola em Juara. Como secretário, Paulo Takeda promoveu provas para todos os

interessados em cursar a 4ª e 5ª séries, iniciando assim todo o processo legal para a

criação da Escola Estadual de 1º Grau de Juara[...]. A escola começou com uma

média de 100 alunos na zona urbana e uns 30 da zona rural, em quatro escolas

diferentes (FILHO, 1982, p. 53).

O secretário escolar, o professor Paulo Katsumi Takêda, informa que, no ano de 1976,

para a formação e criação de uma turma de 5ª série do 1º Grau, era necessário aplicar uma

prova para a seleção dos alunos (Exame de Admissão), com parecer deliberado pelo Delegado

de Ensino da época, Sr. Osvaldo Roberto Sobrinho.

Conforme, relato do secretário escolar, o professor Paulo Katsumi Takêda.

[...] A maioria dos alunos daquela época não tinham documentação nem histórico

escolar, pois uns tinham queimado, outros tinham deixado no Paraná. Então,

providenciamos como faziam antigamente com exame de admissão. Aplicamos uma

prova de Português, Conhecimentos Gerais e/ou Matemática. Aqueles que

obtiveram uma boa média foram classificados para formar a sala de aula que

funcionou no antigo Clube União [...].

Todavia, outra preocupação era em que sala esses alunos iriam estudar. Fazia-se

oportuno a ampliação ou um novo espaço físico para atender essa nova demanda de alunos.

Em entrevista, o professor Élio Roberto Lehnem, que iniciara suas atividades como

docente, naquele período, relata que, além das dificuldades de espaço físico, não se tinha uma

quantidade necessária de alunos para assegurar a abertura da turma. Diz ele:

[...] Pegamos e sacrificamos alguns alunos que já tinham sétima e oitava série [...] e

voltamos todos para a quinta série. Conseguimos 40 alunos. Para você ter uma idéia, precisávamos de 40, e tivemos 41. E esse um, só estava no registro, pois na escola só

compareceu no dia que Osvaldo Roberto Sobrinho50 lá esteve, pois existia essa

cobrança do delegado por esses 40 alunos dentro da escola. Precisou ir buscar em

casa, porque era difícil. [...] Não tinha energia na cidade. A única que tinha eram

duas lanchonetes que tinham aqui que era a do meu pai o Sr. Alfredo Mateus

Lehnem Filho e a do Seu Afrânio. E você imagina uma cidade no escuro! Como que

uma filha poderia vim à escola. Então tínhamos que buscar em casa. Os pais

antigamente eram bem difíceis [...] O Seu Zé Paraná fornecia os carros com tanque

50 Delegado Regional de Educação e Cultura

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cheio, colocava dentro da escola. Terminávamos, colocávamos no carro e levávamos

em casa com todo o respeito, com a maior educação do mundo, para a escola poder

funcionar. Isso foi uma luta de mais ou menos seis meses. Depois começou a

melhorar. Os pais entenderam mais e já começaram a trazer as alunas. Eles ficavam

batendo um papo na lanchonete, esperando a filha sair para poder levar e aqueles

que o pai não podia vim, o vizinho levava e no final os que sobravam, os professores

tinham que levar. [...] Então a luta foi muito grande, mas eu acho que foi de grande

valia.

Não obstante, esse número de alunos por sala de aula também fazia parte do fascículo

das Instruções Normativas de 1981, designado pela Secretaria de Educação e Cultura do

Estado de Mato Grosso sob Governo de Dr. Frederico Carlos Soares de Campos e Secretário

de Educação Dr. Hélio Palma de Arruda. Esse fascículo referente às normativas e portarias

em exercícios, no ano anterior, foi enumerado a partir de 01, 02, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 010,

011/80 e portarias nº 5.643/80, nº 5.607/80, nº 5.608, e nº 5.654/80. A Instrução 06/80, traz

informações peculiares em relação ao direito e acesso de todas as pessoas à escola quando

afirma que “considerando o que dispõem os artigos 18, 20 e 22 da Lei nº 5.692/71, que visam

assegurar a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino de 1º grau e a continuidade do ensino de

1º e 2º graus” (p. 01). Contudo, essas mesmas normas, para atender o ensino de 1º grau em

1976, precisaram movimentar toda comunidade escolar para regulamentar o ensino de 5ª a 8ª

série. Apresentava ainda o documento que classes com excessivo número de alunos

prejudicam o processo de ensino-aprendizagem. No entanto, esse documento fazia referência

que a “formação de classes com reduzido número de alunos contraria o artigo 20, da lei nº

5.692/71, uma vez que, impede o atendimento à demanda escolar” (p. 02). Dessa forma, o

mesmo documento normativo faz abordagens de três itens que trata da quantidade mínima de

alunos em sala de aula.

1-Tanto para o ensino de 1º, como o de 2º grau, a formação de classe será de 40

(quarenta) alunos por sala de aulas; 2-Haverá exceção para a 1ª série do 1º grau, uma

vez que poderá agrupar de 30 a 35 alunos por sala de aula; 3-Nas Unidades Escolares em que funciona apenas uma turma de cada classe por série, independente

do grau escolar, o número de alunos para funcionamento não poderá ser inferior a 40

(quarenta), conforme dispõe o item 3 do artigo 4º da Instrução nº 002/79

(INSTRUÇÕES NORMATIVAS, 1981, p. 02).

Nesse contexto, torna-se contraditório a consideração anterior no tocante de não

ocorrer excesso de alunos nas salas, uma vez que, deixa entendida a obrigação de se manter

40 alunos em sala de aula, impossibilitando também as adoções didático-pedagógicas. Além

dessas dificuldades enfrentadas, tinha-se o problema dos microespaços que não atendiam o

recomendado pela normativa, sendo 1m2 por aluno e 8m

2 para o professor, na época, como

relata em seu depoimento, o professor Valmiro Luiz da Silva:

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[...] começamos do nada. A escola não tinha espaço físico para funcionar. [...]

Inicialmente a escola funcionou num clube comercial [...] e de acordo com o

aumento da demanda fomos dividindo-o com tábuas e fazendo outras salas de aula.

Era muito difícil porque tinha um professor lecionando uma matéria em uma sala, e

o outro na outra sala. Era tudo muito rústico.

Dessa forma, nasce a primeira estrutura educacional da Escola Estadual de 1° Grau da

Vila Juara, como distrito do Município de Porto dos Gaúchos, reconhecida posteriormente

pelos órgãos Educacionais Estaduais. Esteve à frente da direção escolar como primeiro

Diretor o professor Leonízio Lemos Belo Junior e os professores (as) Antonia Aparecida

Jamariquelli, Helena Xavier da Silva, Élio Roberto Lehnem e Valmiro Luiz da Silva. Este

último ficou responsável para ministrar as aulas de Matemática da nova turma.

Em entrevista, o professor Valmiro Luiz da Silva, relata que foi ministrar aulas de

Matemática na época, mas quanto à sua formação:

[...] eu só tenho o primeiro grau completo. Fiz até o 2º ano Colegial. Estudei até o

meio do ano do último ano, que seria o 3º científico. Não terminei. [...] Eu tenho só

o primeiro grau completo. E na época, eu lecionei Português e Matemática. Mas

justamente, mesmo com esse grau de estudo, na época aqui era o necessário, era o

suficiente.

Acrescenta ainda que:

Lutamos muito para que, no período o delegado de ensino que era o Osvaldo

Sobrinho, naquela época de 1976, trouxesse um curso para nós. Era um curso de

reciclagem e atualização pedagógica. Então conseguimos que viesse com a equipe de Cuiabá para poder realizar esse curso, no dia 17 de julho de 1976.

Diante dessa perspectiva, com os Cursos e a legalização escolar, Juara daria grande

salto rumo a um futuro que, mesmo em uma região considerada inóspita como o Vale do

Arinos, oportunizou sua comunidade a ter acesso à educação. Esse grupo de professores

leigos, anteriormente mencionados, foram, inclusive, considerados os desbravadores da

educação nesse período, legalizando toda documentação escolar junto à Secretária de

Educação e Cultura da época.

Em sua entrevista, a professora Alenir Gonçalves de Arruda relata sobre um curso de

reciclagem para os professores, realizado a pedido da direção escolar em 1976:

Resolveu fazer uma reciclagem das pessoas para que pudessem lecionar e, contratou

do Rio Grande do Sul, uma equipe, do chamado PROJEDE51, e nós fomos para

Novo Horizonte, ficamos 15 dias lá fazendo esse curso. Lá nós aprendemos o que é

uma aula, como se planeja uma aula, qual o objetivo da aula, o que você espera do

aluno, qual é sua meta. Então ali tinha tudo, tudo planejado. De lá nós viemos para

começarmos a lecionar.

51 Projeto de Educação e Desenvolvimento

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Os coordenadores do curso de reciclagem na época tinham a intenção de atualizar seus

professores, trazendo mais perspectivas de formação profissional, principalmente das séries

iniciais, visto que alguns tinham apenas a 4ª série.

Toda comunidade precisava dar continuidade em sua escolarização e para isso seria

necessário regularizar, pela Secretaria de Educação e Cultura, o ginásio, modalidade na época

de 5ª a 8ª série, iniciando a 5ª série no período noturno. Ainda, naquele mesmo ano, a Vila de

Juara passaria a ser distrito do Município de Porto dos Gaúchos, concretizando, assim, seus

primeiros passos rumo ao desenvolvimento e posteriormente à sua emancipação.

O ano de 1976, o colonizador da Vila Juara, volta a pleitear o cargo de prefeito do

Município de Porto dos Gaúchos, o qual não foi difícil ser eleito devido o número de votos da

comunidade juarense. Filho (1982) salienta que:

[...] José Pedro Dias liderou a campanha para a chefia do Executivo de Porto dos

Gaúchos. Tendo como vice seu amigo e desbravador correligionário José Alves

Bezerra. [...] Como pioneiro da fundação de Juara, se propuseram a fazer um

governo inteiramente voltado para o interior do município, onde a vila de Juara era

a meta principal (FILHO, 1982, p. 49).

Durante o ano de 1977, a escola ofertara a 6ª série. Naquele período, a escola já

apresentava um quadro de 10552

alunos por turno, distribuídos nos três turnos, matutino,

vespertino e noturno. Até aquele momento o Clube Social União continuava sendo a única

opção escolar da região, para atender a todos os alunos, tanto da zona urbana quanto da zona

rural.

Todas essas ações e empreendimentos do Sr. José Pedro Dias, principalmente no que

refere à educação e à colonização do local, são consideradas positivas pelo grupo que se

dispusera a ser entrevistado.

Assim reporta a primeira Secretária de Educação, professora Rosa Maria Arantes

Abdala:

Eu vejo assim, um processo. Ele, então colonizador, trouxe uma gama de famílias

principalmente do Paraná. Vendeu terras que formavam o município de Juara e

adjacências. Então vendeu terras para a maioria das pessoas. Bastante simples tinha

um pequeno tanto de terras, 10 alqueires, 15 alqueires lá no Paraná. Veio aqui para

Mato Grosso e comprou 100 hectares, 50 hectares, entendeu? Quer dizer, vieram

buscando melhoria de vida. [...] Todos eram..., todos tinham famílias constituídas. Precisavam de escolas para os filhos. Todos vieram sabendo que era uma

colonização, um futuro município. Mas não tinha nada. Agora por mais que a pessoa

fosse simples, que era o caso do Sr. Zé Paraná, que também não tinha uma instrução,

uma habilitação. Mas ele tinha não só compromisso de atender aquele povo que ele

trouxe. Como ele também era uma pessoa empenhada porque ele podia ter

canalizado as coisas dele, só para a estrada, por exemplo: poderia não ter dado para

nós a autorização de infraestrutura a essa comunidade com escolas não é! A escola

vinha em primeiro lugar. Era a escola e a igreja. Nós fazíamos a escola e o padre

52 Anexo 6

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usava da nossa escola fazendo a igreja para no fim de semana ter as reuniões.

Entendeu? Nossa escola era espaço da comunidade. Então, foi assim que se formou

Juara. Então ele teve um papel, lógico, importante, que não só trouxe a família,

como deu a eles dentro das possibilidades que nós tínhamos, a condição do filho

estar estudando.

Em entrevista, Argumenta o professor Nilton Sampaio Pacheco:

[...] Para mim ele foi um grande homem. Se o Brasil tivesse uma meia dúzia de

homens como ele, seria diferente. Porque era um homem iletrado, sem cultura. Eu

lembro uma época quando estava lá, o Zé Paraná foi fazer um cheque de sessenta,

naquele tempo, falava sessenta mil cruzeiros, e ele não conseguiu escrever o

sessenta. Então ele falou: "Eu vou fazer dois de trinta que é mais fácil". Então ele

era um homem, que não tinha cultura, mas ele era extremamente honesto e

hospitaleiro. Gostava de ajudar as pessoas. Naquela medida do possível gostava de

contribuir. Ele morreu pobre praticamente e foi da Gleba. Eu não sei, mas devia só

ali em Juara ter uns cem mil hectares. Então, ele abriu outras glebas. Tabaporã que

era cento e cinquenta mil hectares. Mas ele não tinha fazendas ali dentro. Ele vendia

tudo a preços módicos. Eu presenciei uma época que uma pessoa chegou até ele que estava com a filha doente, e eu trabalhava no banco naquela época. E o Zé Paraná

naquele momento não tinha o dinheiro para ajudar trazer a filha para São Paulo. Mas

o Zé Paraná foi até o banco, conversou com o gerente, que era o seu José Vila, e eu

trabalhava na carteira de crédito. E o Zé Vila chamou-me até a mesa dele e falou:

"Pacheco, faz um (Naquele tempo se falava papagaio, que era título descontado,

acho que seria título descontado) faz um, um título aqui para esse senhor [...], mas

não tem conta no banco". Ele falou: “Abre uma conta para ele hoje e faz o cadastro e

já faz o crédito e quem vai avalizar é o seu Zé Paraná”. O Zé Paraná levou-o e falou:

“Ó, faz um financiamento para esse rapaz aqui no nome dele, mas quem vai pagar

vai ser eu porque ele não tem dinheiro”. E eu fiz e o Zé Paraná posteriormente foi lá

e pagou, e o rapaz pegou o dinheiro, entrou na conta dele no dia. Ele pegou o

dinheiro levou a filha dele para se tratar. Então o Zé Paraná foi um grande homem naquela região.

Segundo a professora Antonia Aparecida Jamariqueli:

Ah, eu vejo um compromisso muito grande. Na época, como eu fui professora ali,

ele e a esposa dele, D. Nilza, me apoiaram bastante. Assim, quando eu precisava de

alguma coisa, que necessitava. Eu vejo hoje o esforço que eles tiveram. Ele foi uma

pessoa assim, que ele falava: "Eu não tive estudo, eu não sou formado, mas eu quero

ver todo mundo bem informado. Eu vou lutar para que as pessoas tenham uma boa

formação". Ele era uma pessoa assim, que se dedicava à educação. Então, o que

existe lá hoje, Oscar Soares, tudo o que existe em Juara hoje, foi um empenho muito

grande dele. Um esforço muito grande. Ele lutou muito para conseguir.

Para a professora Bernadete Ribeiro de Assis:

[...] por ele ser uma pessoa que não teve estudo, começou uma vida, vamos dizer, de

peão. Ele não era uma pessoa estudada. Era uma pessoa da roça, do mato, que fez

muito pela educação. Ele correu atrás, levou a Escola Oscar Soares. Foi através

dele... Inclusive nós, enquanto diretora, nós fizemos entrevista com ele, que as

dificuldades também não eram fáceis, levar escolas para essas regiões onde estava

iniciando uma colonização. Não sabia se ia dar certo. Então, assim, ele como uma

pessoa analfabeta, ou semianalfabeta, ele contribuiu muito com o estudo de Juara.

Nós só temos a agradecer à pessoa dele pela, por essa contribuição, por essa busca

que ele tinha. Então, para nós foi muito bom! E foi um marco da colonização de

Juara, porque muitos pais foram para lá após saber que já tinha uma escola, aonde

seus filhos pudessem ir.

Conforme o professor Ângelo Dias Paulista:

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"O Zé Paraná foi um mito, um líder político. Era uma pessoa carismática e que

conseguia influenciar um grupo de pessoas vistas intelectuais. Deixou muito a

desejar. Era uma pessoa semianalfabeta, um indivíduo inteligente. Mas que talvez

não teve a oportunidade de estudar e se tivesse estudado, com certeza seria melhor

do que foi. Mas, assim, ele devia ter dado mais importância à questão cultural aqui na região. Mas a princípio, a concepção da região de Juara e região era o seguinte,

nós vamos plantar. Vieram planar café aqui na região. Então não deu café. Então

vieram os madeireiros. E os madeireiros começaram a formar as fazendas através do

fogo. Queima, queima, queima, queima, planta capim, tira madeira. E você pode

olhar o perfil até hoje de quem lida com madeira, que a relação de um indivíduo que

lida com madeira, com essa dimensão cultural do desenvolvimento humano. Não dá

para você pensar em cultura com alguém que está mexendo com tora. Hoje até essas

pessoas estão sendo até bem discriminadas pela mídia, como sendo destruidores da

natureza. Do ponto de vista político, está impregnada a imagem do seu Zé Paraná

como prefeito. Depois veio o deputado Riva na oposição. E essa oposição continua

até hoje, o grupo. Ficou Sr. Zé e o grupo do Riva. Mas acho que essa lacuna estamos conseguindo lidar com ela nesses últimos dez anos. Que Juara deu uma acordada

para essa dimensão cultural. O débito dos políticos e dos administradores com essa

dimensão cultural educacional do município. Não dá para citar assim, Sr. Zé como

sendo responsável por esse grande vazio. Eu diria que todos os políticos da região

têm esse débito com a questão educacional e cultural da região. Então nos últimos

dez anos é que sentimos que parece que a coisa começou a caminhar, essa

preocupação começou a existir. Também por causa das pressões das pessoas que

chegam, dos professores com uma nova concepção, uma formação política mais

dimensionada. Um querer mais assim, eu vou atrás, é isso que eu quero. Então, cada

vez melhor. As pessoas vão chegando com novas ideias e exigindo novas posturas.

Hoje nós temos a comunicação que você aperta o botão aqui, o que aconteceu lá do

outro lado do mundo você está sabendo agora. Há dez anos tinha que mandar uma carta um pouquinho mais, pelo navio que demorava seis meses para ir e voltar.

Então, tudo isso é novo e faz, quando não muda, faz mudar. Focar para mudança.

Então relaciona Sr. Zé, apenas como fator histórico que deu esse avanço na

comunidade. Não acho que essa evolução do município, esse crescimento do

município tenha a ver com ele. Tem a ver com as pessoas que vieram para cá e

trabalharam.

Alenir Gonçalves de Arruda:

Ele foi o paraninfo da nossa turma de 8ª serie. Foi Seu Zé Paraná, Oscar Bezerra,

todos já morreram. São pessoas que entraram ali na verdade, abriram aquela cidade

no facão, falando assim do grosso modo, abriram no facão. E sempre falava que

criança nunca podia ficar fora da sala de aula porque do jeito que ele nunca estudou, gostaria de dar pelo menos conhecimento. Seu Zé Paraná sempre dizia: "Eu quero dá

pelo menos conhecimento para todo mundo". E, na época dele, assim, era uma

dificuldade, mas as pessoas, não tinham essa história de merenda, não tinha essa

história... Até porque a fartura era muito grande na época. As pessoas levavam do

sítio. A maioria morava no sítio. Então cada um levava aquilo que podia levar. E o

que eu sinto, o que dá para perceber, o que dá para vermos hoje baseado no método

de lecionar, que existia um envolvimento, um comprometimento muito maior

daqueles professores, indo trabalhar, do que hoje com tantos recursos que tem. Você

ver, aquelas pessoas deixam assim a Deus dará. Naquela época não. Você via que o

professor andava, por exemplo: Tinha uma professora que morava 5 km da escola,

morava lá no entroncamento, o pessoal fala entroncamento. Ela vinha, chegava lá tranquila. Sabia que não ganhava nada, mas só pelo fato de estar ali, aquilo era uma

felicidade muito grande. Hoje tem carro, tem computador, tem não sei o quê,

internet, tem sei lá, curso à distância e você não vê o comprometimento.

O secretário escolar, professor Paulo Katsumi Takêda, em entrevista relata:

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[...] era uma pessoa que prismava muito para a educação. Então, ele nunca mediu

esforços. Tudo o que era para a educação ele sempre atendeu. Houve eleição. Ele foi

prefeito de Porto dos Gaúchos. Então foi nessa época que eu falei que fez convênio

para instauração da escola e Juara começou a crescer. Principalmente devido o

grande plantio de café. Isso então atraiu muita gente do Paraná e com isso, foi

aumentando os alunos. Então por isso que foi feito um convênio com o estado para

construir essa escola, que hoje é denominada de Oscar Soares, e hoje, quando

passamos ali, olha, vê alguma coisa pela educação. O seu Zé fez, e nunca deixou a

desejar a questão da educação.

Todavia, o professor Élio Roberto Lenhem faz suas considerações dizendo que :

Apesar de seu Zé ser uma pessoa assim que não tinha uma grande cultura escolar, da

vida, muito escolado na vida, não tinha uma grande escolaridade, ele se preocupava

muito com a educação. Fez tudo o que podia, o possível e o impossível. Porque o

possível é fácil ser feito, difícil é o impossível. E ele fez praticamente o impossível

na época que foi fundar essa Escola Oscar Soares, porque na época, tudo conspirava

contra. O pessoal disse que nós não conseguíamos, porque a distância era muito

grande, não tínhamos meio de comunicação. E ele nunca se abateu. Era o sonho dele

em dar essas condições para aquele povo que estava aqui. E foi à luta, arrumou esse

aliado que foi o Osvaldo Sobrinho em Cuiabá, que era o Delegado de Ensino da

época. E mesmo também o Governador da época deu uma força. As coisas não

foram fáceis, mas a coisa do Sr. Zé sempre foi muito importante. E como prefeito

ele continuou o trabalho da educação e fez por onde, dando condições sempre das pessoas que o procurou. Nunca deixou a desejar não.

No entanto, o professor Júlio César Alves, em entrevista assevera:

[...] eu posso dizer assim, não é porque uma pessoa é educada, que é estudada, ela

vai contribuir para a educação num modo geral, de construção de escola, de apoio ao

professor, de arregaçar as mangas, para se conseguir alguma coisa. Pelo que nós

sabemos o Zé Paraná, posso assim está me referindo a ele. É uma pessoa que não

tem nenhuma formação escolar, que teve pouco acesso à escola. Foi um desbravador

aqui do município, mas desde quando cheguei aqui, até os tempos que ele teve à

frente da administração, do município e tinha uma interferência grande na política

do lugar, ele foi uma pessoa que pelo menos o que eu posso dizer assim, quando

solicitado por mim, e por outras pessoas que era da educação, ele nos acolheu de braços abertos. [...] desenvolvendo um trabalho de pessoas que são importantes na

sociedade hoje de Juara, que foram importantes, que não tiveram nível superior,

vamos colocar assim, mas que enxergavam a escola e os professores que aqui

vieram e a educação como algo importante para o município desenvolver. Então, nós

devemos muito a esse cidadão, [...], que teve sua importância econômica e política

no município, mas ele fez talvez por instinto o que fez, porque outras pessoas com

mais condições do que ele para a educação, não fizeram.

Esses depoimentos, direcionados ao Sr. José Pedro Dias, demonstram um sentimento

de gratidão pela dedicação e reconhecimento pelos serviços prestados, no intuito de

desenvolver a longínqua e inóspita Juara, durante e após seu processo de colonização. Os

entrevistados apontam seu espírito de liderança, chegando a confundir com paternalismo. Ele

é considerado pelos entrevistados como protetor, guerreiro diante dos momentos difíceis.

Concentrou todos seus esforços nos avanços educacionais, mesmo não tendo escolaridade.

3.4 Caracterização da Escola Estadual Oscar Soares

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A Escola Estadual Oscar Soares, desde seus primórdios, utilizou espaço a título de

empréstimos pela empresa SIBAL. Contudo, foi encontrado em seus arquivos um documento

que comprova a doação de uma área de terra para a construção definitiva da escola,

consolidando o sonho de toda comunidade juarense.

Em Cartório local da cidade, essa área se encontra registrada e reconhecida como

Imóvel, conforme Figura 23. Esse registro fundamenta hoje a escolha do local para a

construção da escola como um ponto central, ou seja, um ponto estratégico para o momento,

pois nessa instituição aconteceriam as reuniões dos altos escalões da política local e estadual.

Figura 23 - Registro da Área que foi construída a escola,1987.

Fonte: Arquivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 23 mostra que, essa doação se encontrava registrada no RGI da Comarca de

Diamantino e foi transferida em 27 de abril de 1987, para o Cartório de Registro de Imóveis

da Comarca de Porto dos Gaúchos - MT no livro nº 2 do Registro Geral, cuja matrícula de nº

2655, folha 01, datado 28 de setembro de 1987.

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Como visto anteriormente, a Escola Estadual de 1º Grau53

de Juara percorreu vários

momentos importantes antes, durante e depois de sua criação, por meio de Decretos,

Resoluções, e Portarias durante o período em estudo compreendido entre 1971 a 1990.

Além disso, já recebeu a nomenclatura de Escola Estadual de 1º e 2º Graus Deputado

Oscar Soares. Atualmente a Escola Estadual Oscar Soares está localizada na Praça dos

Colonizadores, nº 40, no município de Juara/MT. Atende a um total 1.200 de alunos, assim

distribuídos nos três turnos. Funciona em prédio próprio. Conta com 15 salas de aulas

climatizadas e informatizadas, 01 (uma) secretaria, 01 (uma) sala de coordenação, 01(uma)

administrativa, 01 (uma) cantina, 01 (uma) quadra de esportes, 02 (dois) banheiros para

alunos, 01 (uma) sala de professores climatizada e informatizada, 01 (uma) biblioteca

climatizada e informatizada.

Mas nem sempre foi assim. Em 1979, como mostra a Figura 26, representando a

planta baixa:

Figura 24 – Planta baixa da Escola, 1978.

53 Estadual de 1º Grau de Juara: criada em 18/09/1974, pelo Decreto nº 2237/74. D.O53 20/09/1974, (p. 02) e pela Lei 4119/79 de 12/11/1979 recebeu nova denominação Escola Estadual de 1° e 2° Graus Oscar Soares deixando

de ser chamada Escola Estadual de 1º Grau de Juara; em 21/12/1979 pelo Ato nº 319/79 foi aprovado o Decreto

de elevação de Nível datado no D.O 26/12/1979 (p. 26-27) e autorizado a funcionar pelo parecer nº 039/80 de

25/03/1980; em 25/03/1980 foi aprovada a resolução de autorização 1ª a 8ª série, sob nº 024/80, D.O 25/03/1980

e reconhecido em 03/12/87, nº 5084/87 D.O; em 06/05/1980 sob o Ato nº 030/80. Foi aprovada a resolução de

autorização do Curso de Magistério de 1ª a 4ª série, publicado no D.O datado em 21/05/1980 e reconhecido pelo

nº 5505/91, D.O datado em 01/11/91; ainda pelo Ato nº 030/80 de 06/05/1980, registrado em D.O de 21/05/1980

foi aprovado a resolução de autorização do curso Básico em Agropecuária e reconhecido em 01/11/91 publicado

em D.O nº 5504/91. Em 06/01/1982 pelo ato nº 106/82 foi aprovada a resolução de autorização Técnico em

Contabilidade, datado no D.O em 06/01/1983 e reconhecido em 01/11/91 de nº 5503/01 D.O; em 20/07/1983

pelo Ato nº 2650/83 foi aprovada a portaria de reconhecimento da Habilitação em Magistério, publicado em D. O datado em 29/07/1983, (p. 07); ainda 20/07/1983 pelo Ato nº 2651/83 foi aprovada a portaria de

reconhecimento do Curso de Habilitação Básica Agropecuária, publicado no D.O na data de 29/07/1983, (p. 06);

em 01/07/1986 foi aprovado pelo Ato nº 198/86 e publicado no D.O de 18/08/1986 a resolução de autorização do

2º Grau não- Profissionalizante (Propedêutico) conforme Lei 7044/82; em 10/12/1986 sob o Ato nº 4511/86 foi

aprovado pela portaria de reconhecimento Técnico em Contabilidade, publicado no D.O de 23/12/1986, (p. 23);

em 26/11/1987 sob o Ato nº 5084/87, renova-se a portaria de reconhecimento de I a VIII, publicado no D.O de

03/12/1987, (p. 30); em 09/07/1991 sob o Ato nº 112/91 fica aprovada a resolução que declara validade dos

estudos 2º Grau não- Profissionalizante de 01/01/86 a 31/12/1990, publicado no D.O de 23/07/1991, (p. 31).

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Fonte: Arquivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na Figura 24, podemos notar que foram construídas 07 salas de aulas de medida (7,70

x 7,70), na planta baixa, a segunda sala à esquerda iniciando a parte inferior para superior

inicial era a Biblioteca do Centro de Ensino Supletivo (CES) com medida de (7,70 x 7,70), ou

seja, a biblioteca tinha a mesma proporção de uma sala de aula, a qual, com a demanda dos

alunos seria ocupada. Ainda seguindo esse espaço, à esquerda, temos a sala do LOGOS II

(3,65 x 4,07), esta era a sala da Coordenação, a qual também, com o término do Curso,

passaria a ser uma micro biblioteca. A última sala de aula à esquerda, por ser isolada, recebeu

o nome de caverna, todos os alunos que estudaram nesse espaço memorizaram essa

denominação que causava transtorno a alguns alunos que se recusavam a estudar nele. Na

parte superior do lado direito da planta, temos a diretoria da escola, um espaço com

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proporções de (3,85 x 4,07), na sala próxima ficou dividido três espaços: a Secretaria, sala dos

professores e banheiro no total de medidas (7,55 x 7,55). A projeção da planta, também

aponta uma boa área de jardinagem na frente da escola e separando as salas centrais como

mostra a (Figura 27). Próximo à sala dos professores ficava a cantina em uma sala de (4,70 x

2,70), por trás, os banheiros masculino e feminino, terminando com a cozinha pequena de

(3,00 x 3,50). Ao lado do banheiro, a sua direita, o depósito que era utilizado para guardar os

materiais de limpeza. Na planta ainda mostra a entrada da escola para Av. José Alves Bezerra,

a qual sofre mudança na primeira reforma na década de 1990. Com o aparecimento de várias

outras escolas e gradativamente deixando de oferecer o ensino fundamental, aos poucos o

espaço foi ficando favorável em sua totalidade na oferta da modalidade apenas de ensino

médio.

Os Esforços da comunidade escolar, e do Sr. José Pedro Dias junto aos seus aliados

políticos aceleraram a ideia da construção de uma escola que beneficiaria toda a comunidade.

Esse espaço próprio mudaria os rumos da escola, pois por vários anos foram utilizados

espaços improvisados, de madeira e inadequados em atendimento aos alunos e professores.

Reconhecendo o poder e o valor da escola por ser político e por pressão da

comunidade, cansado de ter escola sempre a título de empréstimo, além das péssimas

condições de uso, inicia-se em meados de 1978 a construção de uma escola de alvenaria como

mostra a Figura 25:

Figura 25 - Construindo a primeira escola de alvenaria, 1978.

Fonte: Centro Cultural Savoíne. Juara/MT.

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A Figura 25 é possível observar o Colonizador o Sr. José Pedro Dias ao centro, de

camisa branca e em seu bolso esquerdo seus inseparáveis óculos. Ao fiscalizar a obra, não

perde a oportunidade política de registrar o momento. A intenção também se particulariza em

deixar registrado na memória das pessoas que foi parceiro principal nessa construção.

Em julho de 1979, “foi inaugurado um prédio escolar de alvenaria com seis salas de

aula, com capacidade para abrigar 700 alunos” (FERREIRA, 1997, p. 414). Vejamos a Figura

26:

Figura 26 - Inauguração do prédio de alvenaria da E. E. Oscar Soares, 1979.

Fonte: Centro Cultural Savoine.

A Figura 26 nos atenta para a análise da oficialização desse espaço escolar, pois

tornar-se-ia um momento singular para a educação de Juara. Ao centro da parte frontal da

escola, temos a entrada, essa virada para Av. José Alves Bezerra, ou seja, com o passar do

tempo mudaria. Ao fundo uma faixa expressa o sentimento de todos os alunos pela obra

finalizada. Onde diz: “976 alunos agradecem a Escola de Juara”. Uma forma de agradecer ao

empenho de todos nesse sonho realizado. Contudo, essa construção não resolveu o problema

da constante demanda entre os alunos, sendo necessário continuar utilizando os antigos

espaços dos barracões e micro salas anexas.

Nesse período, a maioria dos alunos que terminava o ensino fundamental, não tinha

uma nova expectativa de vida referente à educação, por isso muitos ficavam na lavoura

ajudando seus pais. Quem tinha mais recursos financeiros enviava seus filhos para outras

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localidades para estudar. Em alguns casos, ia toda a família embora da cidade. Para resolver

esse problema, a própria comunidade escolar começa a discutir a necessidade de se ampliar as

modalidades de ensino, iniciando com a elevação de nível para o 2º Grau, acompanhados de

cursos que resultaram em documento. Apresentamos a Figura 27, que mostra essa solicitação:

Figura 27 - Ofício encaminhado pela escola solicitando Elevação de Nível, 1980.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na Figura 27, ao analisar esse documento, percebemos que, a partir de sua

inauguração em 25 de julho, começariam as solicitações para elevação do seu nível para

“Segundo Grau”. O que nos chama atenção na parte superior do documento foi a

denominação atribuída extra-oficial da escola, a qual foi chamada de Escola Estadual de 1º

Grau “Deputado Oscar Soares”, documento datado em 20 de outubro de 1979 e enviado à

Delegacia Regional de Ensino de Cuiabá. Juntamente com ampliação na modalidade de

ensino. Observamos que a gestão escolar solicitava também os cursos de Habilitação para o

Magistério, bem como o Básico em Agropecuária. Considerando o primeiro ano em 1980,

básico para as duas habilitações. Dessa forma, notamos o empenho dos gestores e de toda a

comunidade para que tivesse avanços na formação profissional de seus alunos e professores.

No D.O de 12 de novembro, saiu publicada a mudança da nomenclatura da escola. No

entanto, não permaneceria a denominação solicitada devido à existência de outra escola com o

mesmo nome. Vejamos Figura 28:

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Figura 28 - Mudança de Nomenclatura da Escola Estadual Oscar Soares.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na análise desse documento, representado na Figura 28, notamos que até esse

momento não havia sido publicada a elevação de nível.

Todavia, em 26 de dezembro de 1979, é publicado no D.O p. 27 essa deliberação e a

escola recebe os aparatos legais para seu funcionamento e reforçando o centro das ideologias

políticas, sociais e culturais da localidade. Conforme Figura 29:

Figura 29 - Recorte do D.O Aprovação da elevação de Nível, 1979.

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Fonte: Arquivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na análise da Figura 29 percebemos uma concomitância do seu art. 2º com o da

criação da escola em 1974, que diz: Compete à Secretaria de Educação e Cultura a colocação

do pessoal docente e dos recursos necessários ao funcionamento da Escola nos moldes do

Sistema Estadual de Educação. Contudo, desde primórdios, nem sempre essa colocação por

parte da Secretaria aconteceu de maneira a suprir as necessidades da escola, bem como o

envio desses recursos, que muitas vezes deixaram a desejar. E as instituições escolares tinham

que resolver esses problemas pelos acordos políticos ou ajuda da comunidade.

Essa recebe como nomenclatura o nome de um político partidário, o Deputado Sr.

Oscar Soares. Como apresenta a Figura 30:

Figura 30 – Ex-Deputado Sr. Oscar Soares.

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Fonte: Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 30 nos mostra o ex-deputado Sr. Oscar Soares, que durante um período de

sua vida, participou de discussões políticas em defesa do Município de Juara, mesmo não

tendo nenhum registro oficial de sua participação nas ações educativas e administrativas da

escola. Seu nome se tornaria um símbolo na representatividade da escola diante da

comunidade e do Estado. A fotografia nos revela um homem de olhar sereno, vestindo-se

como todo político da época. Representou por um período o Estado de Mato Grosso na

Assembleia Legislativa.

Com objetivo de homenagear o nome do deputado Sr. Oscar Soares após sua morte, a

diretora da escola a Ir. Maria Lucianetti, formalizou seu pedido por meio do Sr. Deputado

Osvaldo Roberto Sobrinho para a mudança da nomenclatura que, diante da Assembleia

Legislativa encaminha e aprova um projeto mudando o nome da Escola Estadual de 1º Grau

de Juara. Isso foi possível devido à autorização do filho do deputado que enviou a biografia de

seu pai para a direção escolar.

A partir desse momento, essa instituição passou a constituir todo o ensino educacional

do município de forma centralizada. Contudo, não conseguiu atender a toda demanda de

alunos, devido o rápido desenvolvimento, sendo necessário se manter com salas anexas para o

atendimento dos alunos vindo de outras localidades. Além disso, atendia às escolas situadas

na zona rural. Desse modo, essa instituição escolar com o crescimento populacional e a

necessidade de se implantar cursos de formação profissionalizantes, precisou ser ampliada

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para o atendimento ao ensino médio, uma vez que, já não atendia à necessidade da

comunidade.

Assim, ao final da década de 70 do século XX, iniciam-se suas atividades oferecendo

os Cursos de Habilitação para o Magistério nas séries iniciais e Habilitação Básica em

Agropecuária, ambos reconhecidos a partir de 1980. A chegada desses novos cursos obedecia

às peculiaridades locais.

Nesse ínterim, é inegável os avanços educacionais no Município de Juara

consolidando-se para a sua emancipação política. Além dessas modalidades, podemos citar

alguns programas educacionais daquele período:

Cursos Supletivos do 1º grau, Educação Integrada, CES e LOGOS II, sendo que o projeto LOGOS II forma professores com habilitação para o Magistério. Temos

ainda em funcionamento o PEB - Programa de Educação Básica (INFORMATIVO

MUNICIPAL, 1989, p. 08).

Com efeito, o Projeto LOGOS II, inicia-se na década de 80 do século XX, em

consonância “com as secretarias municipais de educação. Este era um curso de magistério

supletivo modular e à distância, oferecido pelo Estado por meio da Secretaria de Educação”

(SOUSA, 2009, p. 28).

Em 1982, começa-se cogitar a mudança do Curso de Magistério para o Curso Técnico

em Contabilidade. Uma das formas para conseguir essa nova habilitação era provar à

Secretária de Educação e Cultura que os custos, tanto na parte de recursos humanos como as

ocorrências dos estágios trariam uma desoneração para o Estado, sem a preocupação de

fazerem maiores investimentos. Para isso, contou com o apoio de toda a comunidade,

envolvendo todos os seus principais segmentos: comércio local, igreja, APM, presidente do

Partido PSB, Colonizador e outros.

Esses Cursos vieram suprir as necessidades profissionais da localidade, uma vez que,

era grande o número de professores sem formação lecionando, bem como carência nas

lavouras. Foi solicitado para o ano letivo de 1983 o curso Técnico em Contabilidade, pela

precisão das lojas, escritório contábil, até mesmo na regulamentação das vendas e medições

de terras. Mas para que esse fosse ofertado, seria necessária a desativação de um dos cursos

profissionalizantes já em funcionamento. Essa era a determinação proferida pelo Secretário de

Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso segundo CEE-MT, nº 136/82 de 11/11/1982.

Nesse ínterim, permaneceu o Curso Básico de Agricultura.

As mudanças e ofertas no Ensino Médio justificam-se pelo crescimento populacional,

como a falta de novos cursos, uma vez que, quando se terminava o Ensino Fundamental, não

se tinha mais opção atrativa na comunidade.

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Nesse contexto, torna-se muito relevante as habilitações pelos cursos

profissionalizantes, mas as exigências do progresso pediriam outros. Além das habilitações

em Magistério para as séries iniciais e Básico em Agropecuária, ambos autorizados para

funcionarem por várias resoluções e portarias54

.

A localização da Escola, buscou ponto estratégico em relação ao desenvolvimento da

cidade, pois ficou na área nobre, próximo à praça dos Colonizadores entre as duas principais

avenidas do setor como a Av. Rio de Arinos e Av. José Alves Bezerra. A primeira à esquerda

da escola e a segunda à sua direita. Seguindo a escola como referência na Figura 33, dizemos

que está situada geometricamente no quadrante terceiro em relação a parte circular da

fotografia que inicialmente era o campo de aviação por onde começou todo processo de

colonização. Vejamos a Figura 31:

Figura 31 - Imagem aérea da Escola Estadual Oscar Soares de Juara, 1982.

Fonte: Arquivo pessoal da Professora Adriana da Silva.

54

Os Cursos de Profissionalizantes iniciaram seu funcionamento a partir de 06/05/1980, pela mesma resolução

de nº 030/80, publicadas no D.O do dia 21/05/1980, tendo seus reconhecimentos pelas portarias nº 2.650/83 e nº

2.651/83, p. 07 respectivamente. Durante o ano de 1982 se cogitaria a oferta do curso Técnico em Contabilidade,

que foi autorizado para funcionamento pela resolução nº 106 de 16/11/1982, publicada em D.O de 06/01/1983.

Seu reconhecimento segue a portaria nº 4511/86 de 10/12/1986, publicado em D.O dia 23/12/1986, (p. 23). Em 1986 a Escola Estadual de 1º e 2º Grau Oscar Soares, passa a oferecer um novo curso, desta vez não

profissionalizante denominado Propredêutico. Mas com o objetivo mais científico para o ingresso às

universidades. Esse Curso estava deliberado conforme Lei nº 7.044/82, autorizado para funcionamento pela

solução nº 198 de 01/07/1986, publicada em D.O de 18/08/1986. Essa modalidade, por não ter reconhecimento,

foi declarada válida apenas para estudos com efeitos ao ensino não profissionalizante do período entre

01/01/1986 a 31/12/1990. Esta pela resolução nº 112/91 publicada em D.O do dia 23/07/91. Mas o curso

encontrava-se em tramitação, sendo feita a inspeção em novembro de 1989, pela técnica da Secretaria de

Educação e Cultura.

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124

A Figura 31 representa o período em que a escola começa com sete salas de aulas,

totalizando uma área coberta do terreno de 870,02 m2. Percebemos a inexistência de quadra

de esporte coberta, pois tinha apenas o espaço de chão batido e sem muros de proteção em

volta da escola. A frente da escola era inicialmente direcionada para a Av. José Alves Bezerra

que fica à direita da figura. Atualmente seu acesso de entrada segue à Praça dos

Colonizadores, ou seja, está frontalmente virada para a rotatória que aparece na parte superior

da escola em relação à parte circular. As quais com o desenvolvimento local encurtariam

ainda mais esse distanciamento. A escola, após sua inauguração, passaria mais de uma década

para quaisquer mudanças em seu espaço físico acontecendo apenas externamente com a

construção dos muros.

Apenas em 12 de fevereiro de 1990 é que aconteceram as reformas e ampliações na

escola, ou seja, após 11 anos de sua inauguração. Contudo, não foi até o momento, localizada

a planta desse período. Sendo assim, tivemos acesso ao relatório enviado à Delegacia

Regional de Educação e Cultura que, naquele momento, já estava instalada em Juara. Esse,

encaminhado pela diretora, a professora Nair Volpato Ribeiro que a descreve como “[...] 10

salas de aulas, 04 salas anexas, 01 sala administrativa, 02 banheiros para alunos, 01 cantina,

01 quadra de esporte, 01 cozinha, 01 depósito para merenda escolar e 01 sala de horas

atividades”.

A Escola Estadual de 1º e 2º Graus Oscar Soares em 1988 já trazia em seu Regimento

Escolar art. 4º p. 06 que, seu funcionamento era em regime de externato, com turmas mistas

nos turnos matutino, vespertino e, mantendo os cursos de primeiro e segundo graus, incluindo

o pré-escolar, o ensino Supletivo em suas modalidades: LOGOS II, CES (Centro de Ensino

Supletivo), NES (Núcleo de Ensino Supletivo) e PEI (Programa de Educação Integrada).

O Programa de Educação Integrada equivalente às quatro primeiras séries do Ensino

de 1º Grau, com validade nacional e direito a prosseguir estudos em caráter regular, foi um

dos primeiros programas aplicados na instituição de ensino. Este intitulado MOBRAL

“Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização” deliberado pela Secretaria de Educação e

Cultura e sancionado pelo Ministério da Educação e Cultura. Fundamentado nos termos da

alínea do 1º do artigo 26 da Lei nº 5.692 de 11 de agosto de 1971, dos Pareceres nºs 853/71,

699/71, 44/73, da resolução nº 8/71 do Conselho Federal de Educação da Portaria Ministerial

nº 275, de 27 de abril de 1976. Esse programa expediu certificado em 1983, 1984, 1985, pela

Escola Estadual de 1ª e 2º Graus Oscar Soares referente ao período de estudo entre

Julho/dezembro, fevereiro/ dezembro e março /dezembro respectivamente.

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Entre os professores entrevistados, a professora Nair Volpato Ribeiro traz um pouco

desse período que lecionou no MOBRAL e depois no Programa de Educação Integrada:

O Mobral era antes, depois foi a Educação Integrada. Eles tinham quatro livros cada

aluno, e os livros eram bem espessos. Os alunos conseguiam acompanhar porque

preparávamos aulas. Em cima dessa aula já levava todas as matérias, Português,

Geografia, Matemática e encaixava tudo [...]. Eu lecionei na Educação Integrada, e

no Mobral. Fiz o treinamento dos dois.

A depoente ao ser interpelada sobre já ter lecionado a disciplina de Matemática,

respondeu: “Sim, dei aula de Matemática, mas nesse projeto você pega, por exemplo, uma

palavra e dessa palavra você desenvolve o Português, a Matemática, a Geografia, a História,

tudo dentro de uma palavra que você leva para aluno”.

No entanto, a Educação Integrada veio para substituir o MOBRAL. Para a depoente,

este atendia as turmas multisseriadas nas séries iniciais voltadas também para alunos adultos.

“Os planejamentos das aulas eram feitos juntos com outros professores”.

Para conhecimento de como era feita a documentação dos certificados dos cursos, a

Figura 32 mostra um modelo de Atestado de conclusão de curso, datada de 1984.

Figura 32 - Atestado de conclusão de curso do P. E. I, 1984.

Fonte: Arquivo pessoal da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 32, apresenta o artigo 26 da Lei nº 5692, de 11 de agosto de 1971, que nos

termos da alínea a do § 1º, juntamente com os pareceres nºs 853/71, 699/72, 44/73 da

resolução nº 8/71 do Conselho Federal de Educação da Portaria Ministerial nº 275, de 27 de

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abril de 1976. Foi possível perceber a veracidade ao que se destinava o Programa de

Educação Integrada equivalente às quatro primeiras séries do Ensino de 1º grau, com validade

nacional e direito a prosseguir estudos em caráter regular, bem como atrelado à Fundação

Movimento Brasileiro de Alfabetização. Para aperfeiçoamento desses programas, foi

realizado cursos na capital Cuiabá. Segundo a professora Nair Volpato Ribeiro, “vim fazer um

treinamento em Cuiabá e ficamos no Hotel Mato Grosso”. É importante ressaltar que, esses

programas de ensino enquanto modalidades estavam deliberados e amplamente ancorados

pelas Leis 5692/71 e 7044/82, que legitima o Art. 68, p. 28, que diz: “os currículos serão

organizados com os conteúdos e objetivos fundamentados nas leis 5.692/71 e 7044/82 e

legislação correlatas”. No entanto, Trata-se da flexibilidade nas matrizes curriculares e

autonomia da escola na implantação de programas voltados à realidade da localidade.

3.5 Influências da Igreja Católica na Escola Estadual Oscar Soares

Juara mesmo como Distrito, aumentava seu índice populacional, de forma

considerável em relação ao município mais antigo do Vale do Arinos, Porto dos Gaúchos

fundado em 1955, o qual fazia parte de Diamantino. A primeira cidade do Vale do Arinos

veio se emancipar em 1963 e teve sua primeira escola estadual apenas a partir de 1974.

Desta forma, percebe-se que, a educação em Juara visava à preparação para o trabalho

com mão-de-obra qualificada e o alicerce das ligações políticas. Essas parcerias direcionavam

o crescimento econômico e cultural, além de impor os rumos do desenvolvimento na busca da

emancipação social do local.

Como em todo o processo de colonização, a presença e apoio da igreja com o objetivo

de cuidar e ao mesmo tempo recrutar fiéis que pudessem perpetuar suas doutrinas, tornar-se-ia

singular também nessa localidade a partir de 1972. Acontece o primeiro culto religioso que

reuniu todas as pessoas do vilarejo, para rezar o terço, considerado um acontecimento

importante para a época, conforme Figura 33:

Figura 33 - Primeiro culto religioso, 1972.

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Fonte: Oliveira (2008, p. 37).

Na Figura 33 é evidenciado que o grupo de colonos está adentrado inteiramente na

Mata. Na imagem, podemos observar as crianças, até de colo. Alguns galhos foram utilizados

como altar. Esse momento representa o encontro de famílias católicas, buscando orientação

espiritual e já se empenhando em sua formação religiosa.

Em setembro de 1973, constituiria a primeira comunidade cristã, sob a presidência do

Sr. Roberto Boesing. A primeira missa aconteceria em 25 de julho de 1974, após a construção

da igreja, tendo como padroeiro São José55

. Nessa missa compareceu toda comunidade sob o

comando do bispo prelado de Diamantino Dom Henrique Froehlich S. J. e o Pe. Guinter. Esse

vigário reside em Novo Paraná, a 75 km de Juara, indo pela MT 220 até meados de 1979.

A igreja católica com suas ideologias e doutrinas teve importante papel na formação

religiosa e educacional dos colonos desse local, contribuindo e inferindo no desenvolvimento

frenético da comunidade. Ressaltamos que, naquele período não existia nenhuma etnia

indígena fazendo parte da comunidade juarense por dois motivos: o primeiro, pela distância e

o difícil acesso para chegar a essas terras, e segundo, por serem vistos com hostilidade,

principalmente pelos colonizadores e colonos. Essa discriminação perdurou por muito tempo

procurando mantê-lo sempre no distanciamento. E foi com o envolvimento das irmãs que

conseguiram diminuir essa relação conflitante.

55

São José é um dos santos mais populares da Igreja Católica tendo sido proclamado "protetor da Igreja

Católica Romana"; por seu ofício, "padroeiro dos trabalhadores" e pela fidelidade a sua esposa, como "padroeiro

das famílias", sendo também padroeiro de muitas igrejas e lugares do mundo.

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128

Para realização e fomentação dos trabalhos religiosos na localidade a pedido da

comunidade ao colonizador, além do pároco, foi designado pela Diocese de Diamantino,

freiras de sua congregação.

A Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição está presente em Juara desde

o ano 1973, quando as primeiras irmãs vieram trabalhar com a Missão Indígena, educação e

pastoral dando início à abertura de escolas, creches e asilos. Desde sua fundação, a Paróquia

São José ficou sob a responsabilidade dos padres Jesuítas. A partir de Março de 1992, foi

assumida pela Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, os Dehonianos, fundada

pelo Pe. Leão João Dehon em 28 de junho de 1878.

Todo esse avanço, com a chegada da Igreja, permitiu um aumento na demanda do

ensino escolar e, assim, uma cobrança natural na educação local, sobretudo em legitimar o

espaço físico da escola que atuava na comunidade.

Durante o período de organização e estruturação da Escola Estadual, passaram como

professora as Irmãs Maria Pinheiro da Silva (Curso Ginasial Normal Nossa Sra. Auxiliadora-

Campo Grande/MT, Faculdade de Serviço Social – FUCMT- Campo Grande/MT em 1976),

Laurinda Bonomini (Licenciada em Letras com Inglês, pela Faculdade Dom Aquino de

Filosofia, Ciências e Letras/ Campo Grande/MT em 1977), Vanda Mazzei (Bacharelado e

Licenciatura Plena em Pedagogia na Faculdade “Auxilium” de Filosofia, Ciências e

Letras/São Paulo- Durante os anos de 1959 e 1960 colando Grau em 1962 e Licenciatura

Plena em Letras Anglo-Germânica pela PUC/São Paulo em 1952) e Maria Lucianetti (Curso

Colegial de Formação de Professores Primários pela Escola Normal Sagrado Coração de

Jesus/MT em 1967 e Bacharel em Serviço Social – UFMT em 1977). Todas da igreja católica

com suas devidas formações. À frente da administração escolar estiveram como diretoras as

Irmãs Sra. Maria Pinheiro da Silva e Maria Lucianetti. Esta, pertencente ao grupo religioso

católico criado em 1975, denominado paróquia de São José do Município de São Jose do Rio

Claro como mostra fascículo intitulado “Irmãzinha da Imaculada Conceição em Mato Grosso:

coleção Jubilar nº 1, 50 anos”, o qual traz informação sobre a comunidade religiosa desse

município que:

[...], insistentes pedidos para a fundação de uma comunidade permanente de Irmãs

no local, são apresentados à Provincial Ir. Maria Lucianetti, pelo povo e pelo

Vigário Pe. José Laera. Solicitavam no mínimo, três Irmãs: uma para saúde, uma

para educação e outra para pastoral (INFORMATIVO JUBILAR- Nº 1, 1983, p. 43).

Entre as irmãs que prestaram serviços no Município de Juara, o Informativo Jubilar nº

1 faz referência à Madre Maria Lucianetti pela organização da vice - província e província no

período:

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[...] de 12.01.1975 a 8 de janeiro de 1979. Teve como objetivo aplicar, na vida

interna e externa das comunidades, na recrutação e manutenção espiritual de

candidatas, os princípios do Vaticano II e Medellin, vivendo, aliás, a preparação

intensa para Puebla. Obstáculos se interpuseram. A paciência histórica já permite

observar os frutos da verdade e realização. Com auxílios exclusivos do exterior,

criou o CEFI (Centro de Formação Imaculada) onde se procurou ministrar às jovens

uma formação mais intensa do cristianismo, a fim de que favorecesse o despontar de

algumas vocações. Procurou abrir novos caminhos para a Amazônia e Rondônia;

como frentes de colonização: Juara, São José do Rio Claro e Porto dos Gaúchos

[...] (ibid. p. 53, grifo nosso).

Os serviços doutrinários da igreja católica tiveram sua importância durante o início da

colonização, com os batizados, a catequese, o apoio aos doentes, as visitas à zona rural e

aldeia dos índios de etnia Rikbatsas, e principalmente quando a Ir. Maria Lucianetti assume a

administração escolar, pelas reuniões ofertadas e visitas à comunidade.

O informativo jubilar, publicado pela província religiosa de Cuiabá faz inferência

singular por seus trabalhos no período que esteve à frente do comando religioso da

congregação.

Não poderia deixar de ressaltar a colaboração da Irmã Laurinda Bonomini como

professora de Letras e Ensino Religioso, a qual aparece nos registros escolares da Escola

Estadual Oscar Soares, e foi citada como colaboradora no Município de São José de Rio

Claro. Conforme Informativo Jubilar: “Professora de Letras e Ensino Religioso. Exerceu

grande influência entre os alunos. Na catequese, tornou-se proverbial à missa das crianças, a

estilo ‘Tia Corina’; as comunidades rurais receberam muitas vezes o estímulo de sua

presença” (1983, p. 45).

A Irmã Laurinda, também teve uma participação importante no grupo religioso do

Município de Juara: formada em Letras, ministrou aula dessa disciplina, bem como de Ensino

Religioso para alunos da comunidade.

Nessa perspectiva, as irmãs também contribuíram em Juara em nome da Comunidade

“Madre Tarcila” criada em julho de 1977. Inserindo-se nas diversas áreas principalmente na

“Educação, direção, OSD56

e magistério na rede estadual; Promoção social; Posto de Saúde e

expansão; Catequese e Movimentos paroquiais” (INFORMATIVO JUBILAR Nº 1, 1983, p.

57). Assim, ficam expressos os objetivos desse grupo religioso nas comunidades que se

iniciam no processo de colonização:

O trabalho e missão, em colonizações nascentes, trazem estímulos e motivação

contínua. As atenções de todos estão volvidas, em grande parte para a Igreja e

Educação! A metodologia comboniana veio trazer mais paz interior e ênfase ao

grupo jovem da igreja e comunidade e Juara adapta-se perfeitamente a esse tipo de

missão (INFORMATIVO JUBILAR Nº 1, 1983, p. 44).

56 Orientadora e Supervisora Docentes (LOGOS II).

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As irmãs professoras e principalmente gestoras impuseram sua organização e

concepções diante dos colonos, alunos, professores, enfim toda a comunidade na busca de

uma educação voltada para as doutrinas religiosas, ou seja, elas controlavam o ensino com

rigidez dentro da pedagogia tradicional, paralelamente à educação formal, à prática da

catequese, visando inclusive recrutar alunos para ingressarem em estudos religiosos de

formações para padres e freiras. Cada uma com sua natureza humana cristã soube conduzir os

afazeres como segue a igreja com seus preceitos de desenvolvimento para o local.

A professora e ex-aluna na época Bernadete Ribeiro de Assis, quando frequentara aos

15 anos de idade a 8ª série do 1º Grau em 1979, relata como foi a participação das Irmãs

Católicas nesse início de aula na Escola Estadual de 1º e 2º Graus Oscar Soares dizendo:

[...] as irmãs da igreja católica estavam assumindo a direção e coordenação da

escola. Estávamos mais num regime, digamos militar, mesmo porque as irmãs

gostavam de ser muito rígidas com os alunos. Tivemos uma educação igualada de

escola particular e religiosa. As irmãs eram pessoas extremamente cuidadosas com a educação. Tudo o que ocorria na cidade também refletia na escola.

No relato da professora, podemos perceber o posicionamento da diretora no início de

seus trabalhos escolares, buscando inserir na escola as doutrinas que os levaram a aceitar a

vida religiosa, bem como de sua formação escolar e até mesmo familiar. Essa interferência

seja entendida como social ou cultural, com certeza iria imbricar na construção e

desenvolvimento da localidade e muitas vezes em conflitos na comunidade estudantil.

Contudo, os pais e professores em respeito acabavam silenciando.

A professora, ao ser indagada de como funcionavam as aulas de Matemática nesse

período que era aluna e como eram cobrados pelos professores os resultados dessas aulas pela

Ir. Maria Lucianetti, a professora respondeu:

Era aquele sistema como eu já disse, militarista. Por quê? Porque o professor

ensinava. Você não tinha o direito de perguntar. O questionamento não era muito

aceito. O aluno fingia que entendia. Na hora da prova, colava. Era o recurso que

usávamos porque tinham alunos que pegavam melhor a matéria. O conhecimento

deles é mais rápido que os demais. Então têm mais facilidade. Agora no ensino

médio a catástrofe foi maior. Em um ano tivemos 04 ou 05 professores. Não recordo

nem o nome porque um ficava um mês, dois meses. Tivemos professores que

entendiam muito da Matemática, inclusive um era doutor e não recordo o nome.

Ficou três meses. Passava a fórmula no quadro. Pedia para que os alunos fossem ao

quadro e ia ditando o que fazer. Só que não aprendemos.

Percebemos no relato da entrevistada que, várias dificuldades existiram naquele

período, principalmente na aprendizagem escolar dos alunos, e ainda, pela falta de professores

com formação didática e pedagógica. Contudo, as aulas eram ofertadas a qualquer pessoa de

formações afins para não ficarem sem aulas. A direção escolar buscava trabalhar com os que

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apareciam e mesmo assim a rotatividade de professores na escola nas diversas disciplinas era

imensa.

Outros fatores contribuíam para essa situação, principalmente a falta de recursos

didáticos, a falta de compromisso do Estado que passava até nove meses para pagar seus

professores e funcionários; falta de sala de aulas; e as que tinham, estavam super lotadas; falta

de uma pedagogia voltada para a interação entre professores e alunos, além do crescimento

desorganizado da comunidade. Esses eram alguns dos problemas enfrentados por todo o

sistema colonizatório e migratório ocorrido no Estado de Mato Grosso iniciado nas décadas

de 70 e 80 do século XX que, com o “aumento do número de cidades e, consequentemente,

aumento populacional, trouxe consigo problemas na Educação” (SOUSA, 2010, p. 25).

Em Juara, o avanço no crescimento migratório acarretou uma desorganização, devido

o “aumento da população, o número de alunos nas escolas intensificou-se no período de 1980

a 1985 com isso vieram os problemas como à falta de salas de aulas e de professores

habilitados (SOUSA, 2010, p. 25). Em relação às provas, a professora Bernadete Ribeiro de

Assis comenta:

A prova geralmente fazia-se de pesquisa, o livro aberto. Às vezes questionávamos.

Tínhamos aquele professor que levava lápis, borracha, papel em branco para o aluno

fazer prova. Mas uma das maiores notas foi um 4,0 em sala de aula. Então assim,

não tinha aquele conhecimento que temos hoje do crescimento, de buscar onde o

aluno parou e dar continuidade no seu conhecimento. Ele simplesmente dava o que

estava no livro. É isso que vamos fazer, pronto e acabou. Sem saber as partes anteriores. Porque Matemática é uma construção e não tínhamos essa construção.

Nota-se que, devido ao desconhecimento de alguns professores de como e para que

ensinar, cresciam as dificuldades na construção do conhecimento matemático. Havia a

necessidade de professores habilitados, mas raramente estes vinham à região já que eram

sabidos de seus problemas e dificuldades de vivências. Mesmo assim, as irmãs, cada uma de

acordo com suas capacidades, tentavam buscar o máximo de pessoas. Mesmo se não fossem

formadas, mas eram comprometidas com o ato de ensinar e como ensinar. Em muitos casos,

elas mesmas auxiliavam nessa formação. Assim, continuava-se o processo educativo

doutrinado pela religiosidade reforçado por suas concepções eclesiais.

Todavia, os melhores avanços educacionais em termo de organização, aconteceram

naquele período, sendo o pedagógico a principal engrenagem de funcionamento no processo

de aprendizagem da escola.

As reuniões de pais e professores aconteciam nos finais de semana e muitas vezes no

próprio salão paroquial, onde se aproveitava dos instantes após a missa. Com isso, a igreja

católica teve um papel importante nessa organização, pois mantinha por meio das irmãs, um

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elo com a comunidade que beneficiava a implantação de suas ideologias. Contudo, suas

influências perpassavam por todos os setores e, devido à formação delas, eram também como

professoras ou gestoras remuneradas, ficando à frente da administração escolar por vários

anos.

As Irmãs contribuíram efetivamente para a busca de novas modalidades e cursos de

habilitação para o ensino de Juara. Era de interesse do processo de colonização e até mesmo

da igreja a permanência de todos os alunos na localidade. A solicitação para introduzir o

Ensino Médio como nova modalidade educacional justificou-se pela demanda de alunos que

já tinham o Curso de Primeiro Grau, e pela falta de oportunidade para continuar seus estudos.

Além disso, como estratégia política, a permanência desses alunos garantia suas famílias na

localidade. Esses jovens e adultos que outrora se formavam, eram entendidos como elementos

importantes no desenvolvimento e crescimento da sociedade e estavam prontos para atuarem

com eficiência nas instâncias sociais, econômicas e propagação cultural.

3.6 O papel da APM57

na década de 70 e 80 do século XX, na Escola Estadual Oscar

Soares

Para colaborar na administração das escolas, o Governo do Estado de Mato Grosso,

pela Secretaria de Educação e Cultura de Cuiabá, instaura a APM (Associação de Pais e

Mestres), como o Conselho da Comunidade Escolar.

O primeiro presidente da APM foi o Sr. José Eleutério Alves Filho, tal associação

tinha como objetivos: integrar a escola com a comunidade escolar e colaboração na

administração escolar. Esse segmento possuía estatuto próprio e registro em cartório como

uma das exigências educacionais para funcionar, da Secretaria de Educação e Cultura.

A implantação desse Conselho da APM, além de estar inserido nas Instruções

Normativas de 79/80, se incorporaria no regimento interno escolar a partir de 1981.

Localizamos no arquivo da escola uma cartilha Intitulada “Documento

Norteador/Dinamização das Associações de Pais e Mestres”, datado em 1984 e expedida pela

Secretaria de Educação e Cultura. Essa cartilha traz as normativas de como deve proceder a

APM e de que forma ela pode ajudar a escola:

1-Através do entrosamento com órgãos externos existentes na comunidade:

Prefeitura Municipal; Unidade Sanitária; Instituições Religiosas; Mobral; Projeto

Rondon, buscando ajuda e ou firmado convênios a fim de se realizar atividades. 2-

promoções com fins lucrativos revertendo-os em benefício da Escola, Aluno,

Comunidade, obedecendo aos seguintes critérios: 50% para assistência ao educando,

50% para melhoria, manutenção da escola e mobiliária. 2.1- Da Escola: restauração

57 Associação de Pais e Mestre.

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da pintura do prédio; ajardinamento da Escola; colocação de azulejos (cozinha,

bebedouros, banheiros etc.); consertos nas instalações elétricas e hidráulicas;

formação e manutenção da farmácia escolar; construção de quadra de esportes,

parque infantil; reparos de salas de aulas, carteiras e todo mobiliário na Escola;

organização da Biblioteca. 2.1.1- Do aluno: complementação e implementação da

merenda escolar; Aquisição de uniformes escolares, óculos, calçados, material e

esportivo, livros para biblioteca visando o enriquecimento de pesquisa do aluno.

2.1.2 da comunidade: Valorização da contribuição de cada elemento; cursos

profissionalizantes e de atualização; palestras educativas; formação de clube de

mães, de jovens; criação de uma feirinha semanal, onde as verduras da horta escolar

sejam vendidas por preços abaixo do custo; criação de feira mensal com ‘Bazar da pechinha’; elaboração de um jornalzinho, utilizando o mimeógrafo da Escola ou

comunidade; troca de Experiências e habilidades manuais; utilização do espaço

físico da Escola para atividades sociais (BOLETIM INFORMATIVO Nº 2, 1977, p.

13-14).

O objetivo principal da APM para a escola é fortalecer os laços de integração

Família/Escola/Comunidade.

Infelizmente nos arquivos da escola apenas foi localizado o livro ata da APM, datado a

partir de 1989. Mesmo assim, percebemos sua contribuição efetiva nas festividades, eventos

da escola e solicitações de cursos. Os eventos festivos apresentavam sempre o objetivo de

angariar recursos financeiros para a execução de obras internas da instituição, ou seja, sua

colaboração se limitou restritamente mais a parte financeira, e arrecadação de doações

materiais na comunidade local. Não interferia nem participava das discussões dentro do

pedagógico.

Nos arquivos da Escola Estadual Oscar Soares também foram encontradas várias

Instruções Normativas, as quais deram início à organização administrativa a partir de 1980.

Essas envolviam todos os segmentos dentro da Escola.

3.7 Primeira Formatura de Ensino Médio da Escola Estadual Oscar Soares

Na escola Oscar Soares, a primeira formatura de Ensino Médio acontece em 1982,

formando-se duas turmas, o Curso de Magistério para o Ensino de 1ª a 4ª e o Curso Básico em

Agropecuária. Ambos no intuito de preparar os jovens para o trabalho na própria comunidade,

ou seja, manter esses alunos atuando na localidade. Era uma das finalidades projetadas desde

o início da colonização, pois se acreditava que o progresso viria pelo esforço de cada um, os

quais todas as crianças, jovens, adultos e idosos estavam inseridos. Para isso, era papel da

comunidade e de toda família assumir esse compromisso de colaborar com todas as suas

forças e mão-de-obra. Nesse caso, o trabalho era a chave do progresso no “custe o que

custar”, e a educação era o meio para atingir a ordem. Assim, com os cursos

profissionalizantes ofertados, reduziu-se a evasão populacional, pois a falta de avanços

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educacionais estava contribuindo para isso. Com todos os segmentos da comunidade escolar

envolvidos, acontece a primeira formatura, ou seja, inicia-se o primeiro ciclo de profissionais

a alavancar o progresso da localidade naquele período. Como primeira instituição

educacional, a Escola Estadual Oscar Soares cumpre seu papel em formar profissionais,

qualificando-os para o mercado de trabalho local.

Assim, em 1982, aconteceu a primeira formatura de Ensino Médio, como mostram as

Figura 34 e 35:

Figura 34 - Primeira Turma de Magistério e Básico em Agropecuária, 1982.

Fonte: Arquivo pessoal do Prof. João Donizete Molina.

A Figura 34 se refere ao registro da preparação para a formatura das duas turmas:

Habilitação Básica em Agropecuária e Habilitação em Magistério para as séries iniciais,

iniciada, esta última, com 12 alunos, mas apenas 10 concluíram o Curso. Enquanto, no Curso

Básico em Agropecuária, dos 16 matriculados 15 chegaram ao final, totalizando 25 alunos

concluintes. A formatura encerrou-se com a festa do bota-fora dos formandos, deliberada

pelos próprios alunos e professores, conforme Figura 35:

Figura 35 - Festa de Formatura, primeiro Bota Fora, 1982.

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Fonte: Arquivo pessoal do Prof. João Donizete Molina.

A Figura 35, refere-se à primeira turma de formatura em 1982, e como ocorreu sua

festa do “bota-fora”58

, deliberada pelos próprios professores. Do lado esquerdo da figura,

aparece a formanda a Sra. Bernadete Ribeiro de Assis, uma das entrevistadas para essa

pesquisa e ex-aluna da primeira turma de concluintes, juntamente com o professor João

Donizete Molina que aparece sem camisa. Ele foi o primeiro professor de Matemática na

época com licenciatura plena na Disciplina. O professor em sua entrevista relata como foi sua

estada na Escola Estadual Oscar Soares:

[...] Vim do interior do Estado de São Paulo, da cidade de Votuporanga, onde me

formei pela Faculdade de Ciências e Letras de Votuporanga. Vim já para assinar um

termo de compromisso, para mostrar que realmente estava com interesse em estar

aplicando meus conhecimentos. [...] Víamos a necessidade de um professor

formado. Na época não existia. Só existiam professores nas áreas de ciências. Não

tinha realmente um de Matemática. Conversei com a Irmã Maria Lucianetti, e ela falou: "Eu duvido que ele vai vim". Então terminou a minha formatura, foi no dia 22

de dezembro do mesmo ano de 81. Terminando a formatura, [...] vim embora para

Juara fazer meu pé de meia. Cheguei para lecionar. A dificuldade era grande. Eu

peguei aula no Oscar Soares, lecionei Matemática, Física, Química, Biologia, até

mesmo História e Geografia por falta de professor.

Enfatiza, o Professor João Donizete Molina, sobre a festa de formatura que

presenciou:

Tenho reservada foto de formatura da primeira turma de 3º ano [...], foto que estava

a professora Bernadete, na época estava se formando. Então fomos nós que fizemos

a festa do bota-fora deles. Então tenho foto desse povo todo guardado aqui comigo.

58 Como era chamada a turma de alunos que se formavam.

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Então são lembranças desse povo. Guardo com muito carinho, que sei que foi onde

iniciei a minha carreira profissional.

Esse professor prestou serviço à escola Estadual Oscar Soares apenas nos anos de

1982 e 1983, mudando-se para o Município de Novo Horizonte de Norte, até a presente data.

3.8 Os Cursos de Formação para os Professores

Além dos Cursos Profissionalizantes, a Escola Estadual Oscar Soares também ofertou:

o Programa de Educação Integrada (P. E. I). Foram localizados certificados que mostram seu

funcionamento nos períodos: Julho/dezembro/83, fevereiro/dezembro/84 e

março/dezembro/85, apresentando as disciplina de Comunicação e Expressão (Língua

Portuguesa); Matemática, Integração Social “História, Geografia, Organização Social, Política

brasileira e Educação Moral e Cívica”. Encontramos ainda Certificado direcionado ao Curso

de Alfabetização Funcional Fevereiro/Novembro/84, conforme, comprovando que o

MOBRAL também aconteceu naquele período. Na escola, funcionou o C. E. S (Centro de

Ensino Supletivo: nível 5ª a 8ª séries) e o LOGOS II: Habilitação em Magistério de 1º Grau

(nível de 1ª a 4ª séries).

Figura 36 - Diploma do Curso de Alfabetização Funcional, 1984.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Diante disso, a Figura 36 mostra o Diploma do Curso do Ensino Supletivo oferecido

na Escola Estadual Oscar Soares e, seus objetivos estavam voltados para uma praticidade

cidadã, como resgatar o indivíduo para a vida escolar; alfabetizar adolescentes e adultos;

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oferecer conclusão de 1º Grau; dar formação profissional do Magistério (professor) LOGOS

II; promover exames de massa de Educação Geral em 1º e 2º graus; promover exames

técnicos e auxiliares profissionalizantes.

Essas modalidades de ensino oportunizaram alunos de todas as idades a receberem por

meio do processo de transmissão para desenvolver seus conhecimentos, bem como os

professores que ainda não tinham uma formação de Ensino Médio, mas que já lecionavam. O

Projeto LOGOS II realmente veio para ser mais uma oportunidade de formação continuada

desses profissionais.

Com efeito:

A profissionalização do professor não é um direito que foi concedido pelo Estado. É conquista que foi escrita à custa de muita luta deflagrada por professores em

diversas épocas, que logo compreenderam a necessidade de garantir um estatuto de

sua existência e manutenção. Assim, ser professor não estava na simples indicação

de uma pessoa que soubesse fazer algo ou devesse atender aos interesses de certos

setores da sociedade, como os religiosos e econômicos. A educação do homem deve

estar acima deles (SOUSA, 2009, p. 54).

Contudo, a realidade do Município de Juara foi completamente oposta a essas certezas

e reflexões. Segundo a entrevistada professora Rosa Maria Arantes Abdala, Conhecida como

D. Rosinha, a primeira Secretária de Educação do Município de Juara, “[...] LOGOS II, era

um curso de profissionalização de professores que [...] exerciam a função, só que não eram

habilitados, a formação deles não era completa”.

E acrescenta que:

[...] quando eu trabalhei com a irmã Lucianetti, tinha o curso LOGOS, dentro da

escola Oscar Soares. Era separado numa salinha, mas era a mesma direção. E eu

ajudava muito porque eu auxiliava a irmã Lucianetti. Era subdiretora no nome, mas

eu era uma auxiliar ali dentro, tanto na direção da escola, como na parte do LOGOS.

Então, muitos professores que se formavam e que faziam o Logos foram meus

professores. Porque eles eram da zona rural e eles trabalhavam na zona rural, porque

na medida do possível, no estado só trabalhavam os professores formados.

Nesse sentido, deixa claro que, a formação desses profissionais era de extrema

importância e urgência. Todavia, eram comprometidos às decisões da igreja, que mantinha um

monopólio de obediência em todos os principais setores da comunidade, inclusive públicos,

em particular com o colonizador da localidade, que pertencia à mesma entidade religiosa.

Assim, esses soldados da educação eram distribuídos não apenas para a sede de Juara, mas

também para a zona rural onde o ensino era mais precário. E, com o aumento populacional, o

espaço escolar já não atendia à demanda, não era mais suficiente, precisando a Escola

Estadual Oscar Soares, no entanto, mudar para outro local.

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Vale ressaltar que, localizamos um Certificado que mostra o “I Encontro de Diretores

e Supervisores do Estado de Mato Grosso”, ocorrido durante os dias 24 a 29 de outubro de

1983, com uma carga horária de 44 horas, em nome da professora Sra. Marilene Fantin da

Silva, subdiretora na época. Como mostra a Figura 37:

Figura 37 - Certificado da primeira Formação de Diretores, 1983.

Fonte: Arquivo pessoal da Profa. Marilene Fantin da Silva

A Figura 37 apresenta um momento importante na formação dos diretores de escolas,

“o 1º Encontro de Diretores e Supervisores de Escolas Estaduais de Mato Grosso”. Durante

todo processo de escolarização, vários cursos foram oferecidos aos professores leigos, sendo

com um tempo ofertado também aos diretores, mas só veio a partir de 1983.

Nesse sentido, desde 1976, momento em que a Escola Estadual de 1º grau de Juara foi

regularizada oficialmente pela Secretaria Estadual de Educação, os diretores não tiveram nada

mais que um acompanhamento por parte da DREC.

Mas, nesse período, o cargo de direção escolar era de responsabilidade do poder

executivo municipal, ou seja, todos os diretores daquela época eram nomeados. Apenas em

1987, é que acontece no Estado, a primeira eleição democrática por voto da comunidade

escolar. Como resultado dessa eleição, assume em 1988 a direção, o professor Ângelo Dias

Paulista, para um mandato de dois anos consecutivos.

Conforme o professor Ângelo Dias Paulista, que foi o primeiro diretor da Escola

Estadual Oscar Soares, eleito pela comunidade escolar para um mandato de dois anos, ou seja,

o biênio de 1988 e 1989, ao falar do LOGOS II o descreve:

[...] O LOGOS era um curso assim, modular. Os indivíduos pegavam o módulo

levavam para casa, estudavam-no, respondiam as questões e retornavam nesse

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ambiente. Tinham alguns professores. Acho que a D. Laura Rissotti trabalhava no

LOGOS. Ela, os professores então, com o aluno faziam a correção daquele material,

fazia a orientação para o aluno. Então o aluno fazia uma prova. E passava por outro

módulo. E era na área da educação o LOGOS. Tipo tendenciado para o lado do

Magistério e dava Segundo grau. O aluno terminava o LOGOS e estava terminando

o segundo grau.

A professora Sra. Laura Bulla Rissoti complementa relatando o período em que foi

convidada a participar do LOGOS II e precisou se ausentar da Escola Estadual Oscar Soares:

[...] na época não havia professores. Eram poucos habilitados. As irmãs, que eram a

diretora, e coordenadora, era a Irmã Vanda e Irmã Lucianetti. Elas trouxeram o

LOGOS de Cuiabá para habilitar os professores não habilitados. Era um curso

somente para professores. Não entrava aluno que não fosse professor. Esse curso foi

muito bom, foi de grande valia para a escola que, na época, ajudou muito. Foram

habilitando aqueles professores. Eu dei aula até em 1989 no Oscar Soares. 89 eu fui

convidada para trabalhar no Logos II. D. Rosinha me convidou para trabalhar com

ela. E na época o diretor já era o Dr. Ângelo. As irmãs já tinham ido embora [...].

Falei para ele, que eu ia trabalhar no LOGOS e, comecei trabalhar em 89. Esse curso durou até em 1993.

O Curso do LOGOS II, que era voltado para a formação e habilitação do Magistério,

ou seja, o Ensino Médio. Segundo depoimentos, foi bem aceito na comunidade, e tratava-se

de uma formação específica para os profissionais que atuavam como professores leigos.

Além dos programas educacionais mencionados, várias outras mudanças ocorreram

observadas nos arquivos da escola referentes às matrizes curriculares, principalmente na

diminuição das aulas de Matemática, passando de 05 para 04 aulas naquele período. E mais, o

regimento escolar de 1988, em seus artigos 90, 93 e 142, na preocupação de deter o aumento

da repetência e evasão escolar, dava maior ênfase à recuperação:

[...] Art. 90. Considera-se o resultado da recuperação final como média anual nas

atividades, áreas de estudo ou disciplina. [...] Art. 93. Para efeito de promoção, no

decorrer dos estudos de recuperação, os alunos serão submetidos a uma ou mais

avaliações, nas quais terão que obter a média 6,5. [...] Art. 142. O aluno que tenha

atingido a média no 3º bimestre e não atingir o mínimo de 19,5 (dezenove pontos e

meio) referente à média anual até 3º Bimestre será permitido a recuperação.

Dessa forma, as condições para aprovação do ano letivo eram benéficas aos alunos de

forma a diminuir o índice de reprovação e evasão escolar e ao mesmo tempo buscar uma

educação de qualidade. A educação proposta pela Escola Estadual de 1º e 2º Graus Oscar

Soares, aos poucos, torna-se reconhecida por sua comunidade a pelos órgãos governamentais.

Com isso, surge o Plano Global Escolar em janeiro de 1988, deliberando sobre os objetivos

dos cursos oferecidos pela Escola Estadual de 1º e 2º Graus Oscar Soares.

Assim, nos Cursos de Contabilidade, Magistério e Propedêutico o termo mais comum

entre eles é a preparação dos indivíduos para o trabalho, enquanto esse último enfatiza

também em preparar para o ingresso em curso de 3º Grau, ou seja, marca a entrada nas

Universidades.

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Contudo, o Plano Global sugeria na época mudança no processo avaliativo,

considerando uma razão matemática para notas dos alunos, ficando como base a nota a partir

de 6,5 para aprovação. Além disso, trazia preocupação na resolução dos problemas como:

reestruturação do processo de avaliação e recuperação; de repetência e evasão; espaço físico,

além de recursos humanos. Esse se baseia na estrutura político-social, pois as características

do capitalismo, principalmente a competição e a venda de força de trabalho, marginaliza o ser

humano nos seus aspectos mais humanitários, levando-os a se distanciarem dos objetivos de

seu trabalho.

Numa visão mais matemática, passar a média das provas de 6,0 para 6,5 criava-se uma

dificuldade maior em termos de quantificação, mas para nos posicionarmos contra ou a favor

dessa decisão que foi outrora sugerida e implantada, ainda cabe uma análise mais profunda

em termos percentuais no impacto que essa mudança gerou nesse período. E isso, será

comparado com os resultados apresentados nas atas de resultados finais dos alunos.

Nessa perspectiva, ainda em 1988, a escola Estadual de 1º e 2º Graus Oscar Soares

volta a receber do Ministério da Educação, da Fundação de Assistência ao Estudante, um

Programa Nacional de Material Escolar (PNME/1988), pela DREC/SINOP, segundo nota nº

002, diversos livros: sendo 266 para o ensino de 1ª a 4ª série e 220 de 5ª a 8ª séries,

totalizando um total de 486 livros. A distribuição desses livros foi autorizada em 17 de junho

de 1988.

3.9 Matrizes Curriculares, uma ideia, uma Educação

Dentre os documentos encontrados nos arquivos, destacamos as matrizes Curriculares

que nos possibilitaram, dentre outras coisas, evidências de que, ao longo do tempo há uma

diminuição na quantidade de aulas de Matemática. Essa redução foi acontecendo dentro dos

diversos cursos ofertados pela escola. Além disso, os cursos noturnos mantinham uma carga

horária diferenciada em todas as suas matrizes, apresentando aulas de 40 minutos, enquanto

os diurnos eram de 50 minutos. O ensino no período noturno era ofertado para alunos mais

adultos, que trabalhavam na agricultura, pecuária e serrarias. Esses alunos já chegavam à

escola cansados do trabalho, devido à distância de suas residências. Eles iam a pé, e ainda

tinha naquela época, a falta de energia elétrica que era um dos percalços enfrentados.

O professor Nilton Sampaio Pacheco, que chegou à Juara, no ano de 1980, relata que:

[...] Quando eu cheguei lá mesmo, na época a energia funcionava até 10h00min

horas da noite. Era um motor a diesel que fornecia energia. A energia era da seis da

tarde até as dez horas da noite. Quando eram nove horas ou onze horas se não me

engano, dava um sinal. As aulas tinham que terminar antes de acabar a energia.

Dava um sinal, apaga um pouquinho. Era sinal que daí 15 a minutos ia acabar a luz.

Ficava, apagava um pouquinho, depois acendia novamente. Então alguém já

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procurava o jeito de se ajeitar porque ia terminar a energia. E isso começava às seis

horas. Mais um tempinho melhorou um pouco. Começou a partir da uma hora da

tarde. Então já ligava os motores. E até quando eu saí de lá, tinha energia o dia todo.

Mas, era termodiesel. É termoelétrica quer dizer. Era tocada a óleo diesel. Então

quando eu saí de lá, ainda não tinha, rede elétrica. Estavam fazendo a usina lá

próxima a Kaiaby. Estava em construção aquela usina de Kaiaby.

O professor João Donizete Molina, que chegou à cidade em 1982, em sua entrevista,

descreve assim essas necessidades:

Juara na época, para você ter uma ideia, o sofrimento aqui era... Acabavam as aulas

23 horas, e era 23 h. Das 19 às 23h. Tinha-se o intervalo às 9 horas. Das 9h até às 9h

15 min. Eram 15minutos de intervalo nessa época. Nós íamos até às 23h. [...] Na

época eram 05 aulas que dávamos. Dava a primeira, segunda, terceira, intervalo.

quarta e quinta ia embora. Saía do portão para fora, muitas vezes você estava

guardando o material. Juara era na época regida, a energia elétrica de Juara era

termoelétrica, era através dos motores da CEMAT. E quando era, nem bem onze e

meia, a energia acabava. Muitas vezes estava chegando em casa [...], acabava a

energia.

Essas dificuldades pela falta de energia elétrica perduraram-se por vários anos, mas

não freou os ânimos dos moradores dessa localidade, principalmente dos professores que, na

medida do possível, cumpriram seu papel de preservar, e ao mesmo tempo construírem uma

educação digna para todos.

Foi encontrado nos arquivos da escola Estadual Oscar Soares o Livro Termo de

Compromisso dos professores efetivos e interinos (contratados). Percebeu-se nesse livro uma

organização por parte da administração escolar em deixar registrados esses docentes desde

fotografias, dados de documentos pessoais etc. Um controle que já declarava o compromisso

do professor ao lecionar as disciplinas pleiteadas, juntamente com a portaria de contrato e

assinatura dos responsáveis, inclusive da diretora.

Como mostra um dos Termos de Compromisso, datado em 1982, (p. 09):

Que assina [...], pelo qual se compromete de bem desempenhar suas funções

inerentes ao cargo de Professora Regime [...]/horas aulas/ semanais na Escola

Estadual de 1º e 2º Graus “Oscar Soares” de Juara- Mato Grosso. Aos [...] dias do

mês de [...] de 1982- [...] declarou assinar o presente termo, pelo qual se compromete a bem desempenhar suas funções inerentes ao cargo de Professora

interina, regime de [...] /aulas/ horas/ semanais, admitida através da Portaria nº 256

de 18.03.82, a partir de 15.02.82 à 31.01.83, publicada no D.O nº 18.538 de

30.03.82, lotando - nessa Escola Estadual de 1º e 2º Graus “Oscar Soares” de Juara

- Mato Grosso. Para este ato a referida funcionária apresentou os seguintes

documentos: R.G. Nº [...], T.E. Nº [...], município [...].

Essa organização no livro Termo de Compromisso, além de manter registrada a

passagem do profissional pela escola, era também usada como parâmetro para atribuição de

aula no ano seguinte.

Em sua entrevista com o professor Ângelo Paulista Dias, ao ser indagado de como ele

via a escola naquele período em que foi docente e gestor responde:

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Eu cheguei dia 29 de agosto de 86 em Juara. Um ano depois, eu comecei a lecionar

na Escola Oscar Soares. Então aconteceu o seguinte: a primeira eleição para diretor

do Estado de Mato Grosso foi instituída pelo governo do estado e naquelas primeiras

eleições, uns parentes da minha ex-esposa sugeriram que eu me candidatasse para

diretor porque eles não tinham ninguém com o perfil para poder assumir a direção

da escola. [...] Eu entrei na campanha para diretor e acabei ganhando. Eu não tinha

experiência como diretor. A minha experiência como professor também era mínima.

Então enfrentei muitas dificuldades naquele período, [...] para montarmos o quadro

de professores para dar aula. Não era tão simples, não era fácil você conseguir

professores para todas as disciplinas. Então o que é que acontecia, tinha dentista que

dava aula, tinha indivíduo que tinha segundo grau e estava dando aula para o segundo grau. Existiam poucos profissionais com nível superior. Pouquíssimos. A

maioria tinha magistério e dava aula de Geografia, História, Português, Química,

Física Biologia. Então, professor da área mesmo, era uma raridade. Então para

montarmos um quadro de professor no curso de segundo grau no Oscar Soares, você

não imagina como era difícil. Eu saía na rua, na época de atribuição de aulas,

verificando aquelas pessoas que tinham nível superior engenheiro, médico,

farmacêutico para ver se eles aceitavam trabalhar algumas disciplinas na escola. E

então montávamos o quadro dessa forma. Assim você já pode até imaginar como

que era a qualidade do ensino. O cara quando é técnico da área, quando ele é uma

pessoa já com uma formação específica, já tem as suas dificuldades, você imagina

quem não tem a formação. Mas enfim, era o curso de segundo grau que existia, que tínhamos de lutar para fazê-lo continuar. Então, algumas vezes acontecia assim, por

exemplo, precisava de um professor de Geografia, não tinha. [...] Mas eu conhecia,

por exemplo, um aluno de segundo grau, que sabia bastante de engenharia. Então, o

coloquei para dar aula de Geografia, [...]. E muitas vezes, [...], cheguei a trabalhar

como diretor e ainda dava mais 40 aulas, no semestre. Era trabalhando como diretor

na escola e dando aulas no lugar, naquelas disciplinas que os alunos não tinham. A

escola não tinha professor. E assim, “nós íamos vencendo o ano, que senão o aluno

ficava sem aula“.

Mesmo com muita dificuldade, os desafios são encarados em prol de uma educação de

qualidade. Sabemos como é difícil exercer a função de diretor e ainda assumir 40 aulas em

sala, e muitas vezes assumir ainda outros papéis pertencentes a segmentos diferentes dentro

da escola. Ressaltamos, assim, a ousadia desse Diretor, eleito pela comunidade, e desprovido

dos benefícios políticos já que, para os políticos, a escola servia na época como instrumento

de voto nas campanhas eleitorais. Contudo, as eleições democráticas romperam com o tempo

o coronelismo, e colocaram a escola Estadual Oscar Soares, naquela época, como uma

instituição emancipatória, capaz de caminhar sem os conchavos politiqueiros.

3.10 Relação de Diretores(as) que atuaram no período em estudo de 1970 a 1990

Os cargos para diretores (as) na Escola Estadual de 1º Grau de Juara, mesmo após

mudança de nomenclatura para Escola Estadual de 1º e 2º Grau Oscar Soares, continuaram

por indicação política até o ano de 1987, conforme revela o Quadro 08.

Quadro 08 – Diretores da E. E. Oscar Soares, no período de 1970 e 1990.

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Fonte: Ata de Resultados Finais e Diários de Classe - SANTOS, Reginaldo José.

No Quadro 08, podemos perceber, em ordem cronológica, os anos que iniciaram sob

gerência de diretores escolares. Principalmente no ano de 1988 em que a Escola Estadual

Oscar Soares passa pelo primeiro processo democrático na escolha de seu gestor, sendo eleito

pela comunidade escolar o professor Ângelo Dias Paulista, mediante a Lei 5.019 de 19 de

março de 1987. Essa escolha desencadeou um novo período para a administração escolar.

Podemos até dizer que, se deu o início à democracia, “abaixo a ditadura escolar”. A forma de

escolha dos recursos humanos e financiamento por meio de acordo político, tinham a ambição

pelos favores que muitas vezes se traduzia em troca de votos. Contudo, muito ainda estava por

se fazer e acontecer, pois as prefeituras naquele período se ausentavam do compromisso para

e com a educação, limitando-se e priorizando suas escolas municipais, deixando as Estaduais

em sérias dificuldades por falta de recursos.

Assim, administrar esses recursos, seja humano ou financeiro, trazia vantagem para

qualquer gestor municipal. A partir desse período novas dificuldades apareceram, inclusive

dentro do financeiro, como, por exemplo: atrasos de envio de recursos e do pagamento dos

professores. Nesse sentido, a democracia escolar teve um preço alto para os gestores escolares

da época, e com elas as dificuldades nas tomadas de decisões, que sempre solitárias e

isoladas, dificultaram os trabalhos desse novo grupo de diretores. Sem recurso apropriado e

pouca ajuda das prefeituras, eles tiveram de adotar outras ideias para arrecadar dinheiro, para

os serviços internos administrativos e pequenas reformas, entre elas, a dos eventos festivos. O

dinheiro arrecadado nesses eventos foi até usado para adiantamento de pagamento de

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professores, devido os constantes atrasos do Estado em efetuá-los. Com apenas as

contribuições exercidas pelo grupo da APM, não dava para a manutenção da escola, pois até

nisso existia um limite, fazendo-se necessário o apoio no poder executivo local.

Aos poucos, ocorreu a extinção da APM que tinha como principal objetivo a

integração entre os segmentos comunidade, escola e família, porque a qual, o poder público se

ausentava de suas obrigações. A APM foi substituída, a partir de meados da década de 90 do

século XX, pelo CDCE (Conselho Deliberativo da Comunidade Escolar), que iniciou como

principal objetivo, além da integração, a democratização da escola, propiciando espaços de

informação, formação e organização promovendo a integração do poder público, comunidade,

escola e família. Devido a essas finalidades de organização, apontava-se que a política

educacional dava indícios de emancipação, principalmente por visar à qualidade do ensino,

mas isso ainda não aconteceu.

A Escola Estadual Oscar Soares, desde sua criação, vem contribuindo para o processo

educacional da localidade. Vários programas fomentaram a escolaridade dos munícipes, e

cursos direcionados à profissionalização, com fins de se criar oportunidade para toda a

comunidade e, juntamente com seus esforços na tentativa de uma educação emancipatória, é

representado e evidenciado pelos seus segmentos. O ensino por várias vezes precisou tomar

caminhos diferentes, mas sempre no intuito de evoluir, fortalecendo o desenvolvimento.

Muitas vezes, fez-se necessário recomeçar, lutar pelos objetivos escolares, sugerir saídas para

que as metas e finalidades fossem atingidas.

O Município de Juara e suas fases de desenvolvimento também contribuíram para o

crescimento educacional de toda a comunidade. Em particular, a Escola Estadual Oscar

Soares, desde primórdios, tem como objetivo atender a toda comunidade e oferecer a ela um

ensino de qualidade, apresentando uma diversidade tanto nos aspectos socioeconômicos,

políticos como cultural.

As ações socioeconômicas obtiveram papéis importantes nessa conjuntura, tendo suas

principais atividades econômicas, desde primórdios, embasadas na agropecuária, agricultura,

extração e produção de madeira. Pois agregou maior mão-de-obra da população local para sua

extração e beneficiamento; turismo ecológico, de eventos, pesca e cultural por meio da grande

produção de artesanato de móveis criativos e charmosos no período em estudo.

Nessa perspectiva, utilizaremos fases educacionais, referentes à construção, mudança e

evolução do ensino com ênfase na disciplina de Matemática, a fim de comparar, e ao mesmo

tempo investigar, o Movimento da Matemática Moderna no Brasil com o de Mato Grosso.

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Cabe-nos averiguar a consonância e interferência das transformações educacionais

dessa instituição escolar para com o ensino de Matemática desenvolvido na comunidade local,

tendo como principal norte o advento do Movimento da Matemática Moderna, cuja temática

será abordada no próximo capítulo.

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CAPÍTULO IV

4 CONTEXTUALIZANDO O MOVIMENTO DA MATEMÁTICA MODERNA

Pensar o ensino de Matemática é remeter-se no tempo, buscando compreender, dentre

outras coisas, como o processo de ensino foi se constituindo nas escolas.

Nossa pesquisa se respalda singularmente pelo ensino de Matemática desenvolvido na

Escola Estadual Oscar Soares. Essa Escola foi criada no início da década de 70 do século XX,

no mesmo período em que a Matemática Moderna ascende em todo o Brasil.

Buscamos, neste capítulo, explorar um momento histórico que marcou o ensino de

Matemática no Brasil e em outros países, isto é, o advento do Movimento da Matemática

Moderna, procurando identificá-lo nas práticas de professores de Matemática, principalmente

nos conteúdos ministrados durante o período de colonização e pós-colonização do Município

de Juara.

A ideia de modernização do ensino da Matemática já está presente no final do

século XIX como uma possibilidade de contraponto a um ensino que já não atendia às

necessidades da sociedade moderna em processo de industrialização. As discussões ganharam

força com os congressos que marcaram o início do século XX. Em especial,

[...] estabelecendo contato mais intenso com matemáticos - professores de outros

países - propiciado especialmente por meio dos Congressos Internacionais de Matemática, [...] ocorrido em 1897, em Zurique – tornou-se público os problemas

relacionados ao ensino da matemática, enfrentados por diferentes países, e as formas

encontradas para solucioná-los (MIORIM, 1998, p. 71).

Os desafios das mudanças se concentram nas concepções daqueles que, durante muito

tempo, monopolizaram a produção do conhecimento matemático, sem quaisquer

preocupações de aplicabilidade e/ou praticidade na construção humana.

Mas esse florescente movimento se encerra precocemente, devido os conflitos e

eminências da Primeira Guerra Mundial, cessando os trabalhos da comissão internacional.

Contudo, as atividades e experiências continuaram em alguns países. Salienta Miorim (1998)

que:

A Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, interrompeu bruscamente o

excepcional crescimento das atividades da Comissão, e, consequentemente, o

movimento reformulador, que em apenas seis anos de existência identificou

questões-chaves para o ensino de Matemática, recolheu uma quantidade de informações nunca antes, e nem depois, reunidas, propiciou o surgimento de uma

enorme quantidade de publicações sobre Educação Matemática e levou as

discussões acerca desse tema aos mais variados países. A reunião em Paris foi a

última dessa série de realizações dos primeiros tempos da Comissão. O sexto

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Congresso Internacional de Matemática, programado para ser realizado em

Estocolmo, em 1918, foi cancelado (MIORIM, 1998, p. 75).

Nessa perspectiva, nos demais congressos ocorridos após a Guerra, as questões

educacionais ficaram em segundo plano, além das proibições dos países derrotados. Segundo

Miorim (1998, p. 75), que ficando ausentes durante os “Congressos em Estrasburgo, 1920 e

Toronto em 1924”. Porém, durante a realização do Congresso de Bolonha em 1928, a

discriminação contra os países derrotados foi abandonada, sendo formalmente reconstituída a

Comissão Internacional para o Ensino de Matemática (MIORIM, 1998, p. 75).

Com essa renovada articulação, reiniciam-se as atividades e fomenta ainda mais o

movimento. Mesmo com o falecimento de Félix Klein em 1925, três anos antes da bandeira

branca entre os países vencedores e derrotados serem erguidas, retomam-se as discussões

sobre o ensino de Matemática. E mais uma vez, as ideologias desse matemático, estavam

sendo discutidas em todas as sessões desses Congressos.

Contudo, suas ideias não foram adotadas de imediato pelos países. Segundo Miorim

(1998, p.71), “em todos os países continuou a existir, ainda por muito tempo a antiga

separação entre a formação clássica e uma técnica”. Mas foi devido especialmente aos

esforços empreendidos pelo matemático Felix Klein59

, na discussão e divulgação dessas

ideias, que mudanças viriam a ocorrer cedo ou tarde em diversos países. Contudo, as duas

59 Felix Christian Klein (1849 a 1925) foi um matemático alemão. Seu trabalho incidiu na geometria não

euclidiana e nas interligações entre a teoria dos grupos e a geometria. Filho de Elise Sophie Kayser e de Caspar

Klein, oficial do governo, estudou em Düsseldorf até 1865, ano em que foi para a Universidade de Bona para

estudar matemática e física. Nesta universidade tornou-se assistente de Julius Plücker, tendo obtido o

doutoramento em 1868, sob a supervisão de Plücker e Rudolf Lipschitz, com a tese de geometria Über die

Transformation der allgemeinen Gleichung des zweiten Grades zwischen Linien-Koordinaten auf eine

kanonische Form. Em 1870, em Paris, conhece Sophus Lie com quem estuda a então recente teoria dos grupos.

Pouco depois Regressa à actual Alemanha devido à Guerra franco-prussiana, tornando-se professor em

Göttingen em 1871. No ano seguinte Klein obteve um lugar em Erlangen, em 1872, onde na sua lição inaugural

estabeleceu o chamado Erlanger Programm (Programa de Erlangen). Três anos mais tarde casa-se com Anne

Hegel, neta do filósofo Georg Hegel e muda-se para Munique. Em 1880, aceita um lugar em Leipzig. A partir de 1886 estabelece-se definitivamente em Göttingen, onde tinha começado a carreira, e dedica-se a tornar esta

universidade no centro mundial da investigação matemática. Em 1893 recebe a Medalha De Morgan da

Sociedade Matemática de Londres e em 1912 a medalha Copley da Royal Society. Em 1895 admite David

Hilbert na sua equipe, que continua o seu trabalho após a sua reforma em 1913, motivada pela sua fraca saúde.

Em 1908 criou a Comissão Internacional de Instrução Matemática. Trabalhou de 1908 até os anos 1920, em uma

pesquisa cujo objeto era a evolução da Educação Matemática em diversos países do mundo. Foi editor da revista

de matemática Mathematische Annalen, tendo conseguido torná-la na principal publicação da época.

Responsável pelo primeiro movimento para renovação do ensino da Matemática, Felix Klein contribuiu com

suas ideias para avanços e mudanças no ensino de Matemática o qual ficou conhecido como Matemática

Moderna. Para Miorim (1998), esse “Primeiro Movimento Internacional para Modernização do Ensino da

Matemática” se inicia na Alemanha no final do século XIX, liderado pelo grande matemático Felix Klein e que

se espalha por todos os países mais adiantados da época.

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formações estariam distante daquela que realmente poderia ser entendida como uma formação

renovadora de cunho inovador.

As reflexões sob o termo formação desencadeariam o início de vários encontros entre

educadores no século XX. Portanto, “as ideias apresentadas pelo movimento modernizador da

Matemática começariam a influenciar o ensino de Matemática brasileiro apenas ao final da

década de 2060

” (MIORIM, 1998, p. 79) por meio de um novo movimento que ficou

conhecido como Movimento da Matemática Moderna.

Nos Estados Unidos, vários projetos de inovação curricular para o ensino elementar e

secundário de Matemática foram iniciados nos anos 50. Esses projetos foram fomentados

também no início da década de 60 do século XX, e tinham como principal foco acirrar as

discussões relativas ao ensino de Matemática no conjunto do currículo e aos métodos de

ensino.

Entretanto, um dos propósitos do Movimento da Matemática Moderna era:

[...] ampliar e melhorar a formação de cientistas e técnicos e com melhor capacitação, que tendo como centro de argumentação a Guerra Fria, a qual era

divulgada pelo Joint Committee on Atomic Energy, antes do lançamento do satélite

Sputnik pelos soviéticos. No Final dos anos 50, nos Estados Unidos [...] o discurso

do progresso técnico ganhava ainda uma nova dimensão- a da ‘defesa nacional’

(BURIGO, p. 68- 69).

Para Soares (2001, p. 37), “este acontecimento, embora não ligado ao campo

educacional, teve um enorme efeito no governo e no povo americano, convencendo todos de

que provavelmente deveriam estar atrasados cientificamente e matematicamente em relação

aos russos”.

O primeiro projeto foi iniciado em 1951, na Universidade de Illinois, sob a

coordenação de Max Beberman. Em 1958, ocorre, segundo Burigo (1989, p. 70) o trabalho de

maior “repercussão pelo School Mathematics Study Group (SMSG), com a produção de

textos para todos os graus do ensino elementar e secundários”.

Devido os grandes investimentos da Educação, “no final dos anos 50 o debate sobre a

modernização do ensino de matemática já tinha um caráter mais público e envolvia amplos

setores da sociedade americana”, salienta Burigo (1989, p. 71).

O fato conhecido de que, na Europa e nos Estados Unidos, iniciava-se um processo de

reformulação do ensino da Matemática no secundário animava a disposição dos congressistas

na Bahia, em 1957, de defender, no Brasil, mudanças mais profundas. “Mas de influência

muito limitada no que se referisse a propostas concretas” (BURIGO, p. 42).

60 O Movimento da Escola Nova surge forte em outras áreas e começa a influenciar o ensino de Matemática,

incentivando trabalhos em grupo e colocando a criança no centro do processo educativo.

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Contudo, a necessidade da aceleração da aprendizagem científica como questão ligada

ao problema da defesa nacional, e, nesse “raciocínio, o debate promovido, à época, nos

Estados Unidos era explicitamente referenciado - era um dos argumentos a justificar, com

mais veemência, o estudo da ‘matemática moderna’ pelos professores brasileiros” (BURIGO,

p. 49).

As iniciativas desenvolvidas nos Estados Unidos foram as que tiveram maior

influência na introdução do Movimento da Matemática Moderna no Brasil, dando-se início à

utilização dos projetos educacionais nos mesmos moldes dos americanos. Todavia, esses

projetos davam ênfase ao ensino de Matemática voltado, segundo Burigo (1989, p. 81 ) para

“Matemática do dia-a-dia”.

Burigo (1989, p. 82), no que diz respeito à discussão dos fundamentos da Matemática,

o movimento da Matemática Moderna sofria a influência das ênfases no formal, no lógico e

no axiomático que caracterizavam o formalismo como o modo de pensar dominante sobre o

que é Matemática, nos anos 40 e 50, nos meios acadêmicos, no que era, em parte, uma reação

à imprecisão da linguagem e à ausência de rigor que caracterizavam o ensino secundário

tradicional de Matemática.

Esse formalismo era herdeiro das tentativas de superação das debilidades verificadas

nos fundamentos lógicos da Matemática, principalmente, a partir do surgimento das

geometrias não euclidianas. Além disso, vê a Matemática como a ciência das demonstrações

rigorosas.

Essa influência trouxe mudanças também no campo político e decisório no

desenvolvimento brasileiro, uma vez que havia considerado os Estados Unidos como aliado

no processo das grandes reformas educacionais.

4.1 Movimento da Matemática Moderna no Brasil

No Brasil, o Movimento da Matemática Moderna, inicia-se com os discursos

enriquecidos com o ideário piagetiano nas propostas curriculares e nos primeiros livros

voltados para a Matemática Moderna para séries iniciais. Esta trazia consigo uma nova matriz

epistemológica, essa práxis ligada às concepções dos objetos pelos sentidos, ou seja, a

importância da ação do pensamento e dos esquemas operatórios para a construção dos

conceitos matemáticos. Era momento de repensar o ensino tradicional e sua falta de

aplicabilidade na vida do aluno, hoje conhecido como Ensino Fundamental e Médio, além de

conteúdos desvinculados de sua realidade. Várias críticas emergiram e vinham de todos os

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lados em relação aos antigos métodos de ensino. Mas não apenas pelo currículo que se inicia

essa mudança educacional, tinha também as necessidades de formações para os professores.

Essas inquietações foram palcos de vários Congressos na década de 50 do século XX.

Conforme Soares (2008, p. 73), “O ensino tradicional recebia muitas críticas, mas podiam ser

notadas em alguns estados brasileiros, iniciativas isoladas que tentavam senão mudar, pelo

menos amenizar a situação do ensino e da formação dos professores”. A partir dessa

insatisfação:

Começaram a ser realizados no Brasil os primeiros Congressos Nacionais do Ensino da Matemática. Neles se iniciaram discussões sobre novas direções para o ensino da

Matemática relacionadas à metodologia, ao treinamento e formação de professores,

aos currículos, material didático etc. Além disso, os professores tiveram espaço para

divulgar suas experiências e para propor novas atividades que pudessem ajudar os

alunos a entender melhor a Matemática, o que contribuiria também para o trabalho

do professor (SOARES, 2008, p. 735).

Nesse sentido, dava-se início a uma grande discussão em prol de todos os países

envolvidos com o ensino de Matemática. Entretanto, no Brasil, vários Estados, nas décadas de

60 e 70 do século XX, são marcados pela influência do Movimento da Matemática Moderna.

O I Congresso Nacional de Ensino de Matemática no Curso Secundário ocorreu em

setembro de 1955, em Salvador (BA), por iniciativa da Faculdade de Filosofia da

Universidade da Bahia, e contou com a presença de representantes do Distrito

Federal (Rio de Janeiro), de São Paulo, do Rio Grande do Sul, do Espírito Santo, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, além de professores do Estado sede.

Podemos citar a presença dos professores Manoel Jairo Bezerra, Osvaldo

Sangiorgi61, Omar Catunda e da professora Ana Averbuch. O objetivo do Congresso

era tratar de assuntos mais diretamente ligados ao ensino de Matemática como os

programas, o livro de classe e as “tendências modernas do ensino”, além dos

problemas ligados ao aperfeiçoamento dos professores de matemática. Nenhuma

menção à Matemática Moderna foi feita ou discutida no congresso. (SOARES,

2008, p. 736 grifo nosso).

Todavia, mesmo ficando no anonimato as discussões sobre a Matemática Moderna,

nesse primeiro Congresso, teve uma importância incomensurável no tocante aos livros

didáticos, formação profissional, principalmente reavaliação do ensino voltado para essa

disciplina. Miorim (1998) enfatiza que:

Seu objetivo principal era a discussão dos problemas relacionados ao ensino da

Matemática. Estiveram presentes 115 professores sendo 103 da Bahia [...]. Nesse

61

Osvaldo Sangiorgi nasceu em São Paulo em 09 de maio de1921. Foi um dos pioneiros na divulgação do

Movimento da Matemática Moderna. Licenciado em Matemática e Física pela USP, em 1943. Mestre em Lógica

Matemática pelo Kansas University, USA, em 1961. Doutor em Linguística Matemática pela USP, em 1973.

Livre Docente - ECA-USP, 1987. Professor Titular da Escola de Comunicações e Artes da USP. Foi presidente

do grupo de estudos do Ensino de Matemática – GEEM - São Paulo no período de 1961 a 1973. Estagiou no

exterior no Dep. De Matemática - Kansas University, Lawrence, USA, em 1962. Produziu 91 livros, sendo

Didáticos: 79 e Acadêmicos: 12. Entre suas premiações, citamos: Prêmio Academia 1963 - Academia Militar

das Agulhas Negras (Ao Introdutor da Matemática Moderna no Brasil) e Prêmio Jabuti 1963 – Ciências Exatas -

Câmara Brasileira do Livro. Disponível em <http://www.apedu.org.br/index.php?option=

com_content&view=article&id=62&Itemid=61>. Acesso em: 04 jan. 2013.

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congresso ainda estavam presentes algumas das idéias propostas pelo movimento de

modernização do início do século. A busca da articulação entre várias áreas da

Matemática, entre a Matemática e outras ciências e a importância de se

considerarem elementos da história da Matemática. Em seu ensino foram algumas

delas. Além disso, Euclides Roxo62

, e Felix Klein e outros representantes daquele

movimento ainda foram bastante citados (MIORIM, 1998, p. 111).

Esse I Congresso Nacional, também:

[...] expressava tanto a insatisfação de professores com a ‘educação tradicional’

ministrada no secundário, com uma ênfase excessiva na ‘cultura clássica’, voltada à

formação de uma ‘minoria’ e por isso também inadequada às necessidades de uma

“sociedade moderna”, a insatisfação com a situação particular do ensino da

matemática no secundário, como a disposição de participar ativamente das

mudanças consideradas necessárias, rompendo a tradição das reformas feitas em

“gabinetes” (BURIGO, 1989, p. 41).

Nas palavras de Burigo (1989, p. 41), “as propostas aprovadas no congresso, relativas

a programa, métodos de ensino, formação de professores, foram bastante tímidas. A

representatividade do Congresso era também muito limitada”.

Vários trabalhos foram apresentados na tentativa de dialogar com os diversos

educadores matemáticos, apontando os verdadeiros objetivos da escola secundária e do ensino

de Matemática, demonstrando inquietação na forma de ensinar e propondo uma mudança nas

práticas pedagógicas diante do ensino tradicional.

Como resultado desse primeiro Congresso, segundo Burigo (1989, p. 43), se propôs “o

aumento da carga horária semanal para quatro aulas no ginásio e cinco no colégio e era

justificada, de um lado, pelo caráter disciplinador do ‘espírito’ inerente à disciplina e, de

outro, pela influência matemática no progresso científico em geral". E um programa de

ensino, ainda baseado em reformas anteriores (SOARES, 2008, p. 736). Em relação às

discussões sobre as mudanças modernistas do ensino de Matemática, que resultara em

introduzir a Matemática Moderna no ensino secundário brasileiro, devido já acontecer em

vários países foi sugerido “cautela” (SOARES, 2008, p. 736).

Em seu discurso de abertura, a professora Martha Maria de Souza Dantas se utiliza

dessa cautela com o programa do Movimento da Matemática Moderna ao dizer que:

Quanto aos programas, devemos fugir, por certo, das reformas que deformam. Uma

reforma não se faz num dia: reformas o que está mal feito, sem estudar-lhe

realmente a estrutura e sem conhecer as nossas necessidades reais, seria talvez

piorar. Que se processem, no Brasil, reforma realmente baseadas no resultado da

62

Euclides de Medeiros Guimarães Roxo nasceu em Aracaju/Sergipe, em 10 de dezembro de 1890, pois seu pai,

engenheiro, viaja muito e realizava obras por todo País. Em 1904, Euclides Roxo ingressa no Colégio Pedro II

como professor de Matemática e depois como Diretor do internato. Responsável pelos programas de Matemática

da Reforma de Francisco Campos e em 1942, pela Reforma Gustavo Capanema. Deixa marca valiosa tanto pelo

livro que escreveu quanto do seu registro como pioneiro, colaborador e defensor da Educação Matemática

Brasileira no período de (1920 a 1950). Propôs a unificação dos campos matemáticos- Álgebra, Aritmética e

Geometria- numa única disciplina, a Matemática.

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pesquisa das nossas condições, para que se possam alcançar, com segurança, os

objetivos delineados. Deixemos de copiar o estrangeiro porque não lhe podemos

copiar o clima, a raça, as condições sociais, a formação. Sintamos melhor as nossas

necessidades, não trancados em gabinetes de trabalho, como técnicos sem alma, e,

sim, nesse contato humano que deve existir entre mestre e aluno. Demos vida ao

ensino (CONGRESSO NACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA NO

CURSO SECUNDÁRIO, 1957, p. 263 apud SOARES, 2008, p. 737).

“Nesse Congresso Nacional, também foi proposto que o livro de classe devesse ser

elaborado de modo a se tornar a “chave da ciência para a vida” e devesse ficar “ a cavaleiro

dos programas e reformas” (CONGRESSO NACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

NO CURSO SECUNDÁRIO, 1957, p. 263 apud SOARES, 2008, p. 737).

Após dois anos, acontece o segundo Congresso Nacional de Ensino de Matemática, na

tentativa de fomentar as discussões sobre a Matemática Moderna aqui no Brasil.

[...] realizado em Porto Alegre, em 1957, teve um temário ampliado incluindo os

tópicos do ensino primário, normal, rural e ensino profissional através da Secretaria

de Educação do Rio Grande do Sul houve uma grande divulgação preparatória entre

professores do secundário e a participação foi de 400 congressistas (BURIGO, 1989,

p. 44).

Conforme, Soares (2008), nesse Congresso destinado exclusivamente ao Ensino

Secundário foram apresentadas:

[...] palestras referentes ao ensino primário e à formação de professores. Entre os [...] congressistas participantes estavam Júlio César de Melo e Souza, Benedito

Castrucci, Manoel Jairo Bezerra e Osvaldo Sangiorgi. O Congresso se propôs a

estudar questões relativas à aprendizagem da matemática nos diferentes níveis de

ensino; definir as bases para a elaboração de programas ‘levando em conta aspectos

científicos e psicológicos’ buscando fixar normas para ‘uma boa articulação entre os

programas dos diversos níveis de ensino’, além de estudar também a influência da

Matemática nas demais disciplinas (CONGRESSO NACIONAL DE ENSINO DA

MATEMÁTICA, 1959 a, p. 21 apud SOARES, 2008, p. 738 grifo nosso).

Concomitantemente a esse período do Governo do Presidente do Brasil, Sr. Juscelino

Kubitschek de Oliveira (1956 a 1961), era sancionado o primeiro convênio norte-americano

na área do Ensino Secundário em que predominava a formação de professores.

Os efeitos do movimento em prol da Matemática Moderna começam a tomar corpo,

mas as mudanças relativas ao ensino de Matemática continuavam como pontos divergentes

entre seus pares.

Durante esse II Congresso, as discussões sobre Matemática Moderna foram abordadas

discretamente nos trabalhos de doutorado dos professores, entre eles: Osvaldo Sangiorgi, de

São Paulo; Jorge Emmanuel Ferreira, representando o Colégio Militar do Rio de Janeiro,

Martha Maria de Sousa Dantas, da Bahia, e Ubiratan D’Ambrosio que, mesmo ausente, fez

duras críticas em sua tese ao ensino tradicional e ao programa, chamando-o de anacrônico,

pois esse não assumia uma postura voltada para a Matemática , nem reconhecia a contribuição

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da Psicologia, tornando-se em partes desarticulado com o ensino-aprendizagem. Outras

preocupações e sugestões foram apresentadas pelo professor Osvaldo Sangiorgi, tais como: a

importância da Matemática Clássica e Moderna, defendendo moderação nas mudanças afim

de que, não ultrapassassem as barreiras do radicalismo. Segundo Burigo (1989, p. 46)

“defendia a necessidade de que ‘ambas’ fossem levadas em conta, de que a ‘modelação aos

tempos novos’ fosse gradativa” (BURIGO, 1989, p. 46).

Nessa perspectiva, notam-se diferentes pontos de vistas nas observações dos

congressistas em relação a como seria um ensino adequado de Matemática. É notório que,

continuar como estava, ou seja, permanecer com o ensino clássico ficaria insustentável

enquanto proposta. Mesmo assim “a proposta foi só parcialmente aprovada: os professores

interessados deveriam inscrever-se para a comissão, sem que o Congresso tivesse uma

responsabilidade maior com a experiência através da designação de seus membros”

(BURIGO, 1989, p. 47).

A Matemática Moderna aos poucos se consolidava. E, no final da década de 50 do

século XX, acontecia:

O III Congresso Brasileiro do Ensino da matemática, realizado no Rio de Janeiro,

em julho de 1959, foi patrocinado pelo Ministério, através da CADES.

Aproximadamente 500 professores estiveram presentes, com delegações expressivas

de São Paulo (92), Rio Grande do Sul (34) e Minas Gerais (32) (BURIGO, 1989, p.

47).

Esse evento contou com a:

[...] participação de [...] professores de matemática entre os quais podemos citar:

Osvaldo Sangiorgi, José Carlos de Mello e Souza, Haroldo Lisboa da Cunha, Martha

Maria de Souza Dantas, Ary Quintela, Manoel Jairo Bezerra, Martha Blauth Menezes, Anna Averbuch, Waldecyr C. de Araújo Pereira, Ruy Madsen Barbosa,

Elon Lages Lima, Omar Catunda e Leonidas H. B. Hegenberg, entre outros. O

Congresso, patrocinado pela CADES (Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do

Ensino Secundário), teve como objetivo básico estudar os problemas relativos ao

ensino secundário e também do ensino primário, comercial, industrial e normal,

além de problemas de ordem geral relativos ao ensino de matemática como a

formação e aperfeiçoamento dos professores do ensino secundário (SOARES, 2008

p. 740).

A presença de representantes da CADES, no congresso, proporcionou um olhar

diferente para os objetivos que “tinham as atribuições, entre outras, de formação de

professores, elaboração e incentivo à elaboração de material didático, assistência pedagógica e

administrativa às escolas, e contava para a realização de suas atividades com um fundo

especial” (BURIGO, 1989, p. 37). Nesse contexto, ganharam destaque os cursos em períodos

de férias, habilitando aqueles que não tinham formação superior, podendo realizar em seu

término os exames chamados de suficiências, dando-lhes direitos permanentes ao registro

para lecionar.

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Os trabalhos apresentados por alguns congressistas evidenciavam a necessidade de

mudanças curriculares uma vez já apontadas em Congressos anteriores, como por exemplo, as

matrizes curriculares constituídas outrora o Movimento da Matemática Moderna, não

viabilizavam os anseios dos brasileiros, mantendo-se subjetiva e distante da realidade social

do País. Mas ficou deliberado pelo MEC63

que os registros de licenciatura de professores de

Matemática não seriam mais expedidos para cursos afins.

Na certeza de valorizar a função do professor de Matemática, qualificando seu

profissionalismo, além do respeito pessoal e pela matéria que lecionava, esse Congresso

propiciava uma maior qualidade no ensinar Matemática, e no seu dever como educador, pois,

nos congressos anteriores, essa discussão não entrou em pauta.

Contudo, outras considerações emergiram desse III Congresso, resoluções que foram

significativamente aprovadas em um período que ocorreria o início dos cursos de

aperfeiçoamento para professores, voltados para preparação da Matemática Moderna

integrando-os aos Cursos de Matemática com temáticas substanciadas na Teoria dos

Conjuntos.

Além disso, apareceram propostas que foram evidenciadas e apresentadas pelos

professores:

Elon Lages Lima e Omar Catunda que sugeriram a criação de uma Revista de Matemática para o Ensino Médio; e pelo professor Waldecyr C. de Araújo Pereira

que falou sobre “A televisão e o ensino da matemática e Os números em cores e o

ensino da aritmética”, referindo-se a suas experiências na Bélgica com C. Gattegno e

o material Cuisinaire. Para os professores em exercício foi proposto pela professora

Martha Maria de Souza Dantas, e aprovado pelo Congresso, que fosse solicitado aos

Departamentos de Matemática das Faculdades de Filosofia de todo o país a criação

de cursos de preparação à Matemática Moderna, tais como Teoria dos Números,

Lógica Matemática, Teoria dos Conjuntos e Álgebra Moderna (SOARES, 2008, p.

741).

Ainda, nesse Congresso, foi aprovada a proposta de criação de “[...] uma ‘Associação

Brasileira de Professores e Pesquisas de Matemática’ sendo para cada uma delas designada

comissão organizadora responsável” (BURIGO, 1989, p. 49).

Em 1960 o Prof. Sr. Osvaldo Sangiorgi participara de um Curso de Verão para

professores de cursos secundário e superior de Matemática, realizado pelo Departamento de

Matemática da Universidade em Kansas, Estados Unidos. Para Soares (2001):

O objetivo desses cursos era possibilitar aos participantes o conhecimento dos

programas e métodos de ensino mais recentes e que refletissem as preocupações dos

‘tempos modernos’. As disciplinas do curso eram Matemática e Lógica, Conjuntos

com aplicações, Introdução à Álgebra Abstrata, Geometria Moderna, Análise,

Estatística e Tópicos de Matemática do ensino fundamental e Médio, além das

63 Ministério de Educação e Cultura.

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classes experimentais com alunos de escolas secundárias americanas (SOARES,

2001, p. 80-81).

Esses cursos de férias dariam suporte ao Professor Osvaldo Sangiorgi para promover

mudanças importantes no ensino de Matemática no Brasil, principalmente, porque já estava

no mercado de livro didático.

Segundo depoimento do Prof. Sr. Osvaldo Sangiorgi, feito a BURIGO, em1988:

Durante sua estadia em Kansas, Estados Unidos, entra em contato com o professor

Lógico Matemático Sr. George Springer, para dar um curso de Lógica Matemática

aqui no Brasil. Conseguindo esse acordo com “apoio da Pan American Union e da

National Science Foundation que, junto com a Universidade, e Secretaria de Educação de São Paulo e a Universidade de Mackenzie americana.

Esse acontecimento se concretiza no período de agosto a setembro de 1961. Ainda em

depoimento a Burigo (1988), relata que seria o “Primeiro curso de Matemática Moderna no

Brasil. Descreve o depoente o professor Osvaldo Sangiorgi que, consegue que o George

Springer ao vir ao Brasil desse um curso de Lógica Matemática e suas aplicações, inserido em

um curso de Matemática Moderna. Esse curso durou três meses, que além desse curso

ministrou o de Geometria e Matemática”.

Entusiasmado com as mudanças no ensino de Matemática e com as desenvolturas dos

Cursos o Prof. Sr. Osvaldo Sangiorgi, em depoimento a Burigo (1988), relata que:

[...] como uma somatória do que se fazia nos Estados Unidos, mas destilado de uma

maneira. Cria-se no final de, 31 de outubro, o primeiro grupo de Matemática

Moderna do país, o GEEM, Grupo de Estudo do Ensino da Matemática, que teve

uma história maravilhosa durante 15 anos proporcionando cursos de Matemática Moderna para professores primários, secundários, de uma maneira impressionante,

quer dizer milhares e milhares.

Os cursos de verão e de inverno chegavam a ter mais de mil inscritos, conforme

informa o depoente, e ele acrescenta que, eram todos realizados em auditórios enormes e com

ajuda de microfones. Segundo Soares (2001, p. 81), “faziam parte do GEEM autores de livros

didáticos, matemáticos, professores secundários, primários e universitários”. Os cursos

ministrados pelo professor americano Sr. George Springer, tinha a intenção de consolidar de

uma vez por toda a emancipação da Matemática Moderna sob a Matemática dita tradicional.

O GEEM, ao ser fundado em 1961, tinha entre seus membros estudiosos desse

primeiro curso inovador:

O professor Benedito Castrucci, Alesio de Caroli, Anna Franchi, Elza Gomide,

Irineu Bicudo, Lucília Bechara, Luiz Henrique Jacy Monteiro, Manhúcia Liberman,

Martha Maria de Souza Dantas, Omar Catunda, Osvaldo Sangiorgi, Renate

Watanabe, Ruy Madsen Barbosa, Scipione de Pierro Neto, Ubiratan D’Ambrósio, o

psicólogo Joel Martins entre outros (SOARES, 2001. p. 81).

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O professor Osvaldo Sangiorgi foi presidente do GEEM durante o período de 1961 a

1973, foi “porta-voz do grupo e dava inúmeros depoimentos à imprensa e escrevia artigos

nos principais jornais de São Paulo. A imprensa paulista acompanhou de perto todas as

atividades do grupo noticiando a realização de cursos, palestras, publicações, eventos e

reuniões. Além dos vários artigos de divulgação sobre o ensino da Matemática” (SOARES,

2001, p. 81-82).

Nessa perspectiva, esses momentos causariam amadurecimento nas propostas e no

comprometimento dos congressistas preparando-se para o próximo congresso, o qual

aconteceria em julho de 1962, dez meses depois da constituição do GEEM.

Esse IV Congresso ocorreu em Belém do Pará. Todavia, pela primeira vez, o

Congresso tinha como um dos seus pontos de pauta a Introdução da Matemática Moderna na

Escola Secundária e a presença absoluta do grupo GEEM, que “discutiram os assuntos

mínimos de um programa de Matemática para o ginásio, levando em consideração a recente

Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada em 1961” (SOARES, 2001, p. 83).

Esse Congresso Nacional de Matemática se torna significativo por consolidar as ações

apresentadas sob a Matemática Moderna no Ensino Secundário, quanto às “experiências que

[...] foram posteriormente organizadas em uma publicação do IBECC (Instituto Brasileiro de

Educação Ciência e Cultura) [...] sob o título Matemática Moderna para o Ensino

Secundário” (SOARES, 2008, p.741 grifo do autor).

O GEEM, nesse Congresso, sob a presidência do professor Sr. Osvaldo Sangiorgi,

iniciava de forma significativa os primeiros passos de modernização para os conteúdos a

serem ensinados de Matemática. Esse constituindo a partir da filosofia do grupo de trabalho

uma pauta que constava os assuntos considerados mínimos e relevantes para um programa de

ensino de Matemática voltado para o Ginasial e Colegial. “O Programa para os quatro anos de

ginásio e os três anos do colegial consistia em 24 e 18 itens respectivamente” (SOARES,

2008, p.741).

Os trabalhos apresentados pelo GEEM ganhavam espaços em sua sede São Paulo. Sua

divulgação e compromisso com o Ensino Secundário eram evidentes.

Enfim, no final de 1963 o GEEM já aparecia como sujeito transformador do ensino

em São Paulo, pela sua capacidade em divulgar amplamente a matemática moderna

e pela articulação que era capaz de manter, reunindo professores secundários,

professores universitários e matemáticos pesquisadores e até profissionais da área da

psicologia. A capacidade de produzir material também se consolidava com o

anúncio de novas publicações (BURIGO, 1989, p. 109).

“A diferença deste programa não estava tanto nos temas abordados, mas sim nas

sugestões para a sua execução, onde as estruturas, o conceito de conjunto e a linguagem

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conjuntista têm papel de destaque” (SOARES, 2008, p.742). Desse modo, unir-se-iam

professores do ensino secundário e universitários, além de outros profissionais de áreas

simpatizantes, tornando-se principais protagonistas em prol dos avanços do Movimento da

Matemática Moderna, que passava a ser conhecida em todo Brasil.

O golpe de 31 de março de 1964, que significou a destruição dos movimentos de

cultura e educação popular, não deteve o crescimento do movimento da matemática

moderna. Mesmo no fim da década de 60, quando experiências de inovação

educacional como a do Ginásio Vocacional do Brooklin e do Colégio de Aplicação

da USP, às quais o movimento estava ligado foram interrompidas pela repressão. A

matemática moderna seguiu sendo amplamente divulgada (BURIGO, 1989, p. 146

grifo nosso).

A Ditadura Militar, instaurada em 1964, no País, não interrompeu os avanços desse

movimento, de certa forma acabara apoiando-o. Enquanto em vários setores e segmentos

brasileiros, predominava a censura, o GEEM funcionava livremente e autônomo.

Em 01/07/1964 ocorriam, pela primeira vez no Brasil, Cursos de Férias pela

televisão, destinados a professores secundários e realizados pela TV Cultura, canal

2. A aula inaugural, conforme consta no jornal Diário de São Paulo, foi intitulada

“Cursos de férias pela televisão” [...]. Essa aula foi proferida pelo Secretário da

Educação, José Carlos de Ataliba Nogueira, catedrático da Faculdade de Direito da

Universidade de São Paulo. As aulas de Matemática Moderna foram dadas pelos

professores: Benedito Castrucci – Teoria dos Conjuntos; Osvaldo Sangiorgi –

Lógica Matemática; Elza Babá e Lucília Bechara – Práticas Modernas para o ginásio (NAKASHIMA, 2007, p. 46).

Naquele período, as políticas governamentistas educacionais e econômicas da

Federação Brasileira estavam centradas nos americanos, na busca de investimentos para

alcançar emancipação industrial e a soberania Nacional econômica. Portanto, desse mesmo

País partiram as políticas econômicas e educacionais resultando no Brasil em diversas,

inclusive no Movimento da Matemática Moderna. Era sabido que os Estados Unidos, após

“repensar o ensino de Matemática e de Ciências. Com esse objetivo, e através da abertura de

financiamentos, incentivou a criação de grupos nacionais para estudar novas propostas de

currículo para a escola média” (MIORIM, 1998, p. 108).

“O Congresso seguinte, realizado em 1966, na cidade de São José dos Campos (SP),

continuou com grande participação do GEEM, que se encarregou de sua organização”

(SOARES, 2008, p. 742), não obstante, com uma roupagem mais significativa e repleta de

expectativas para a realização desse evento.

A iniciativa mais importante, contudo, de afirmação da proposta da Matemática

Moderna em todo o País.

Foi à realização do V Congresso Brasileiro de Ensino da Matemática, em São José

dos Campos, de 10 a 15 de janeiro de 1966, no Campus do Centro Técnico da

Aeronáutica, sob a coordenação do GEEM. O tema central do Congresso era a

Matemática Moderna na Escola Secundária: articulações com o ensino

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primário e com o secundário. Como convidados estrangeiros, participaram do

Congresso: Marshall Stone, então presidente da Comissão Internacional de

Educação Matemática (CIAEM), ligada à União Matemática Internacional); Georgy

Papy, da Universidade de Bruxelas, um educador matemático cuja obra teve

importante repercussão no Brasil mais tarde; Hector Merklen, da universidade de

Montividéu e diretor do programa Interamericano para o Desenvolvimento do

Ensino de Ciências da OEA; e Helmuth Wölker, do Ministério de Educação da

Argentina. Estiveram presentes professores de outros treze Estados brasileiros,

sendo as maiores delegações as do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná,

Guanabara e Minas Gerais. O número total de participantes eram 350

(CONGRESSO NACIONAL DE ENSINO DE MATEMÁTICA, 1966 apud BURIGO, 1989, p.145-146 grifo nosso).

A relevância desse Congresso pautou-se nas distribuições das sessões em três

vertentes: “primeiro discutiu problemas da Teoria dos Conjuntos e de Lógica Matemática

aplicada ao ensino; o segundo, para os já iniciados em Matemática Moderna, tratou de tópicos

de Álgebra Moderna e Espaços Vetoriais; e o terceiro de problemas de tratamento moderno da

Geometria e Lógica Matemática” (SOARES, 2001, p. 85). Nascera dessas discussões várias

reflexões, consolidando essa nova maneira de se ensinar e fazer Matemática:

[...] “o espírito da matemática moderna” presente no V Congresso veio apenas

reforçar a difusão das ideias modernizadoras que, especialmente por meio dos cursos organizados pelo GEEM, com o apoio do MEC e da Secretaria de Estado e da

publicação dos primeiros livros didáticos de acordo com essa nova orientação, a

partir da primeira metade da década de 60, desencadearam um processo de

implantação da Matemática Moderna nas escolas brasileiras (MIORIM, 1998,

p.114).

O Congresso se propunha aos moldes dos Cursos do GEEM, com realizações de

cursos voltados para a Matemática Moderna, advindo sessões de estudo na área da

Matemática superior e aulas modelos seguindo os moldes e filosofia do grupo. Essas aulas

tiveram a participação de alunos do secundário.

A presença de organizadores dos congressos anteriores e educadores matemáticos de

outros estados na coordenação de atividades do Congresso como Martha de Souza Dantas,

Jorge Barbosa, Eleonora Ribeiro, Melo e Souza, Jairo Bezerra reafirmava o caráter de

continuidade do V congresso em relação aos anteriores. “E, ao final, foi estabelecido que em

1968, o VI Congresso que nunca chegou a ocorrer deveria realizar-se na Paraíba” (BURIGO,

1989, p. 156-157).

Por meio desses congressos, notamos que o ideário do Movimento da Matemática

Moderna aqui no Brasil se consolida por seus diversos meios de divulgação. Esses meios de

divulgação davam o primeiro passo na forma de olhar o ensino de Matemática. Além disso, o

Movimento permitia diversas reflexões.

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É inegável a influência dessas manifestações, sejam elas individuais ou coletivas.

Entende-se que, naquele período, estava havendo um consenso entre os professores de

diversos graus de ensino sob as mudanças necessárias voltadas para o ensino de Matemática,

tornando assim um momento singular e privilegiado a todos os presentes. Essa troca de

experiências veio promover debates importantes para a consolidação da entrada e

permanência emancipatória da Matemática Moderna.

[...] em 1966 o GEEM organizou cursos de matemática moderna em João Pessoa,

Brasília, Vitória, Porto Alegre para professores secundários. Antes disso, em 1964 e

1965, o GEEM já havia ido a Recife, João Pessoa, Salvador e cidades do Rio de

Grande do Sul para realizar conferências (D’AMBROSIO, 1987, p.109 apud BURIGO, 1989, p.155).

“Em 1967 o GEEM organizou cursos para professores primários em Paranaguá e

Curitiba, com a participação de quase 900 professores” (BURIGO, 1989, p. 155). É plausível

o papel do GEEM como fonte importante na divulgação do Movimento da Matemática

Moderna nessas regiões por onde passou, naquele período.

As produções didáticas feitas pelo grupo GEEM, vieram proporcionar trabalhos

investigativos sobre esse período, principalmente, no campo da História da Educação

Matemática. Essas produções provocaram mudanças na cultura escolar, formação de

professores de Educação Básica, no currículo e no ensino de Matemática.

Todo esse movimento promoveu transformações e mudanças tanto da Matemática

Moderna, quanto na forma de ensino. Principalmente dar-se início às elaborações dos livros

didáticos.

Nesse cenário, os livros didáticos tiveram um papel de destaque e hoje se tornam

importantes fontes para que se compreenda o período do Movimento da Matemática Moderna.

Conforme Valente (2011), o “livro didático é um produto cultural de grande

complexidade e ferramenta muito importante para o pesquisador da história da educação

matemática”. E assim, ele o caracterizou:

Historiadores da educação mostram o quão complexo é esse material didático. Trata-

se de um produto cultural. Como tal, é preciso compreendê-lo em seu processo de

produção física, material; em seu contexto de elaboração intelectual; nas múltiplas

faces que por vezes se entrecruzam na autoria dos textos; nas formas de circulação

que os livros ganham; no uso deles em diferentes épocas; nas suas diferentes edições

e em tantos outros aspectos necessários ao entendimento de um bem cultural (VALENTE, 2011, p. 1).

A importância dos livros didáticos e de todos os materiais que fazem parte desse

Movimento Modernista do ensino de Matemática buscou ampliar o olhar do professor dessa

disciplina e da Educação Matemática. Com a Matemática Moderna, deu-se início a primeira

revolução do ensino de Matemática no Brasil, a qual culminou com a participação também

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dos pais. Em nenhum outro momento, o ensino da Matemática foi tão discutido, divulgado e

comentado como nesse período revolucionário. Segundo Miorim (1998, p. 114), “jornais

noticiavam, os professores faziam cursos, os livros didáticos multiplicavam-se, os pais

assustavam-se e os alunos ‘aprendiam’ a ‘Matemática Moderna’”. Segundo o depoente Prof.

Osvaldo Sangiorgi, em entrevista à professora Elizabete Burigo, em 1988, foram

“proporcionados vários cursos, palestras para pais. Um deles ocorreu no ginásio vocacional

patrocinado pelo GEEM”.

Foi no bojo desse movimento que o ensino de Matemática no Brasil64

e, em outros

países do mundo, passaria a ser discutido com maior intensidade.

A organização da matemática moderna baseava-se na teoria dos conjuntos, nas estruturas matemáticas e na lógica matemática. Esses três elementos foram

responsáveis pela ‘unificação’ dos campos matemáticos, um dos maiores objetivos

do movimento. Para isso, enfatizou-se o uso de uma linguagem matemática precisa e

de justificações matemáticas rigorosas. Os alunos não precisariam “saber fazer”,

mas sim, “saber justificar” por que faziam. (MIORIM, 1998, p.114).

Contudo, outros avanços são abordados ao se tratar de mudanças no ensino e estrutura

das áreas de aprendizagem. Afirma Burigo (1989) que:

Em termos de desenvolvimento de novas áreas e conceitos que eram referência para

as inovações curriculares, podem ser destacados: o desenvolvimento da teoria dos

conjuntos a partir de Cantor, a definição dos números naturais baseado no conceito

de conjunto, o desenvolvimento das geometrias não euclidianas a partir de

Lobatchevski e Riemann, a evolução da álgebra abstrata e o estudo das estruturas

algébricas, o desenvolvimento da álgebra linear e da topologia e na área das funções

de variável complexa. Além da introdução de tópicos dessas disciplinas no

secundário, também se propunha o ensino de ‘mais matemática’ de um modo geral,

como preparação à universidade, e daí a proposta também de introduzir no

secundário o estudo do cálculo diferencial e integral e das equações diferenciais

simples (BURIGO, 1989, p. 82).

Na opinião de Miorim (1998, p. 114), “a teoria dos conjuntos, as propriedades

estruturais dos conjuntos, as relações e funções tornaram-se temas básicos para o

desenvolvimento da modernização da Matemática”. Contudo, “em países desenvolvidos como

Estados Unidos, a abordagem de conjuntos declinou rapidamente já no final da década de

1960 (ÁVILA, 2010, p. 73). Segundo Miorim (1998):

A Matemática moderna não conseguiu resolver o problema do ensino da disciplina.

Ao contrário, agravou ainda mais a situação. Já no início do movimento, alguns

professores, como Carlos B. Lyra e Omar Catunda, alertaram para os riscos de um

enfoque centralizado apenas na linguagem. Apesar desses alertas iniciais, foi exatamente esse caminho percorrido pela Matemática moderna em nossas escolas

(MIORIM, 1998, p. 115).

64

Por volta de 1600 no Brasil, no início da colonização, os conteúdos de Matemática ministrados nos colégios

jesuítas estavam atrelados aos de Física, seguindo uma tradição europeia de ensino que tinha como base as

humanidades clássico - literárias.

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Nesse ínterim, nos Estados Brasileiros, continuavam-se as discussões e o empenho

sobre o ensino da Matemática Moderna, pois foi nesse período que os livros didáticos de

Matemática mais se propagaram.

Contudo, no início da década de 70 do século XX, começam-se fortes críticas ao

Movimento da Matemática Moderna, principalmente por Morris Kline dos Estados Unidos

que escreve um livro denunciando os exageros cometidos por muitas propostas desenvolvidas

em vários países em nome da Matemática Moderna.

Em depoimento, o Prof. Osvaldo Sangiorgi descreve o Prof. Morris Kline, como

“matemático ilustríssimo [...], partidário da reformulação, fã da modernização do ensino da

Matemática”. Esse fazia parte da equipe americana. Nos Estados Unidos de uma maneira

fabulosa onde o livro não era uma coisa imposta começaram a sofrer modificações

importantes.

Entretanto, sobre os exageros, apontados por Morris Kline, o professor Osvaldo

Sangiorgi, em depoimento a Burigo (1988), diz:

Eu gosto de falar exageros porque a matemática moderna acabou ficando com o

estigma de desagradabilidade, que na verdade com muita, muitas e justas razões.

Porque o que se fazia em nome da matemática moderna, o que se fez foi um abuso

incrível. De pessoas mal preparadas e não conheciam a filosofia do que se pretendia. De poder, de fazer com que aquilo, aquilo que, tinha um campo extraordinário

benéfico se asfixiasse de tanta teoria, entre aspas, injetada em volta da matemática

moderna.

No Brasil, as discussões sobre o declínio da Matemática Moderna se intensificaram a

partir da segunda metade da década de 70 do século XX, após lançamento do livro do prof.

Morris Kline. Na defesa da Matemática Moderna, em seu depoimento, o professor Osvaldo

Sangiorgi diz:

Nunca estivemos desatentos às coisas que precisam acompanhar a evolução das

ciências, do ensino das ciências das crianças sem exagerar nada, sem ficar no

escândalo que apareceu depois de 15 anos de Matemática Moderna, após esse

período [...] começaram a surgir os primeiros desastres do mau uso que se fez da

Matemática Moderna.

Justifica ainda o autor em seu depoimento à Burigo (1988):

Não sei se você sabe a dicotomia que foi essa. Mas foi nela que preceituava nada de

cálculos, era só a parte do seu aluno. O aluno sabia o que era uma correspondência

biunívoca, sabia o que era uma aplicação injetora, bijetora, mas não sabia mais

tabuada. Não sabia quanto era 7 x 5, não sabia 3/4, o que era uma porção, [...] calcular área de um plano, da vida prática. Nunca a Matemática Moderna precisou

estudar. Fazer uma aula em foco. Então isso tudo se reverteu em, para onde isso aí?

Apesar de diferente, as posições assumidas pelos dois movimentos de modernização

da Matemática, ocorridos no século XX, influenciaram profundamente o ensino dessa

disciplina daquele momento em diante. Ainda hoje, podemos perceber a presença de suas

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ideias não apenas nas discussões teóricas sobre o assunto, mas também na prática da

Educação Matemática (MIORIM, 1998, p. 115).

4.2 Alguns aspectos relevantes do Movimento da Matemática Moderna antes e após

1976 no Brasil

As discussões, que outrora tendiam a delinear o fracasso do Movimento da

Matemática Moderna, até hoje não encontraram seus reais sentidos e significados, pois esse

movimento em sua essência está presente nas escolas e nos currículos, seja das instituições de

Ensino Médio, ou universitário.

Partindo de um pressuposto fracasso do Movimento da Matemática Moderna, a partir

desse estudo, procuramos entender dentre as abordagens relacionadas às mudanças históricas

do ensino de Matemática que transformaram a forma de pensar, falar e fazer matemática, ou

seja, várias concepções foram transformadas ao longo desse período, que a partir de 1976

inicia-se um silenciamento do GEEM, este principal responsável pelos trabalhos que

envolviam e inseriam a Matemática Moderna no ensino. Segundo Burigo (1989, p. 7), sobre o

esvaziamento silencioso do Movimento da Matemática Moderna, lemos que:

A escassez de publicações relativas ao movimento da matemática moderna no Brasil

produzidas durante seu desenvolvimento, nos anos 60 e início dos anos 70, foi

sucedida por um quase completo silêncio sobre a matemática moderna na fase de

esgotamento do movimento e nos anos que se seguiram. Em parte, as dificuldades que os participantes do movimento tinham, naquela época, de elaborar um balanço

de sua própria experiência, enquanto publicações e debates sobre o movimento da

matemática moderna se multiplicavam nos Estados Unidos e Europa.

Essas publicações poderiam ter proporcionado requisito para a permanência do

movimento, ou ao menos oportunizado novas discussões, mudanças, adaptações de uma

continuidade, mesmo com o encerramento dos investimentos de alguns países.

Contudo, foi inevitável em meados da década de 70 que surgissem pesadas críticas ao

Movimento da Matemática Moderna. Episódio que se inicia pelos protagonistas, René Thom

e Morris Kline, combatentes dos exageros acometidos por várias propostas aplicadas também

em outros países.

Morris Kline é considerado por muitos, o maior crítico do Movimento da Matemática

Moderna. Todavia:

[...] considerou que os novos tópicos (lógica, teoria dos conjuntos, álgebra abstrata e topologia) eram pouco utilizados na vida prática. Esses tópicos viriam desencadear

um retrocesso nas discussões sobre o Movimento nos Congressos, principalmente

por perder força nos financiamentos de projetos juntos às organizações, ‘UNESCO,

OEA, USAID, National Science Foundation/EUA’ (BURIGO, 1989, p. 20).

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Contudo, essas críticas tomaram como fundamentação a Educação Matemática e

momentos importantes, porém conturbados da Matemática Moderna. Nas palavras de Kline

(1976):

[...] no princípio da década de 1950 e mesmo antes dessa data que o ensino de

matemática malograra. As notas dos estudantes em matemática eram muito mais baixas que em outras matérias. A aversão e até mesmo o pavor do estudante pela

matemática eram generalizados. Adultos instruídos quase nada retinham da matéria

que lhes fora ensinada e não sabiam fazer simples operações com frações. De fato,

essas pessoas não hesitavam em dizer que nada obtiveram de seus cursos de

matemática. Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, os

militares logo descobriram que os homens eram deficientes em matemática, e

tiveram que instituir cursos especiais para elevar-lhes o nível de eficiência. Embora

haja muitos fatores que determinam o resultado de qualquer atividade de ensino, os

grupos que empreenderam a reforma concentram-se no currículo e explicaram que,

se melhorasse este componente. O ensino de matemática seria coroado de êxito

(KLINE, 1976, p. 32).

Nesse contexto, o ensino de Matemática começa a sofrer influência pela reformulação

proposta no currículo. Apesar de que essa reforma era apontada por muitos como tardia, mas

necessária para a educação. As dependências dos Países do terceiro mundo principalmente o

Brasil, em busca de (re) conhecimento e emancipação econômica, juntos aos Países

industrializados, simplesmente, têm aceitado os modelos curriculares estrangeiros de

educação. Estes responsáveis pelo norte do Movimento da Matemática Moderna.

Durante essa década de 50 do século XX, o currículo deu seu salto entre os educadores

matemáticos e psicólogos, unidos como ação revolucionária, os quais não mediram esforços

nas sugestões e iniciativas na busca de um ensino de Matemática de qualidade por meio da

melhoria do currículo. Esse consenso na época entre professores e educadores de países

distintos em relação ao declínio do ensino de matemática foi o ponto crucial dessas mudanças.

Para Soares (2008, p.737), “pretendia-se modernizar o currículo e o ensino de matemática

para adequar a formação dos estudantes ao desenvolvimento científico e tecnológico que as

nações ocidentais testemunhavam”.

Contudo, várias organizações emergem nesse período de pós-guerra como:

A criação da UNESCO (United Nations Educational, Social and Cultural

Organization) e da OEEC (Organization for European Economic Cooperation) –

posteriormente OECD (Organization for European Economic Cooperation and

Development), tiveram um papel importante para marcar o início de uma época de

maior colaboração e integração entre os países do mundo, após o período das

guerras (SOARES, 2008, p. 731).

Diante disso, nota-se que essa integração, provinha da união estabelecida de uma

superioridade econômica sempre estabelecida pelos Estados Unidos, o precursor do

Movimento da Matemática Moderna.

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Kline (1976, p. 33), afirma que “em 1952, a Comissão de Matemática Escolar da

Universidade de Illinois, presidida pelo professor Max Beberman, começou a preparar um

novo ou moderno currículo de matemática”.

A própria história evidencia que o Movimento da Matemática Moderna marca o

currículo com intencionalidade, pois sabemos que sua essência, parte de discussões também

do capitalismo, sempre executado para e por grupos elitizados. Salientamos que, em pleno

período militarista, o Brasil como um País considerado de terceiro mundo, na época, buscava

seu espaço econômico e foi com os Estados Unidos que apareceram as oportunidades, ou seja,

a liberação de vários investimentos e convênios, educacionais iniciados fortemente pelo

currículo. Salientamos também que as práticas escolares e as práticas culturais emergem como

mecanismo de controle construído para direcionar a educação, principalmente, a educação

com uma nova roupagem chamada Matemática Moderna.

Assinala Kline (1976) que:

A origem do termo matemática moderna é pertinente. Mesmo antes de os membros da Comissão de matemática terem determinado o que iria recomendar, fizeram

alocuções a grandes grupos de professores. Sua principal mensagem era que o

ensino de matemática tinha malogrado porque o currículo tradicional oferecia

matemática antiquada, pela qual se referiam à matemática criada antes de 1700.

Implícita nesta afirmação estava a idéia de que os jovens estavam a par deste fato e,

portanto, se recusavam a aprender a matéria. Perguntavam estes educadores: vocês

procurariam um advogado ou um médico cujo conhecimento de sua profissão se

limitava ao que se conhecia antes de 1700? Embora esses educadores estivessem

presumivelmente informados no tocante à matemática ignoravam completamente o

fato de que a matemática é um desenvolvimento cumulativo e que é praticamente

impossível aprender as mais novas criações se desconhecem as mais antigas. Contudo, a Comissão alegava que devíamos largar a matéria tradicional em favor de

campos novos como o da álgebra abstrata, o da topologia, o da lógica simbólica, o

da teoria estabelecida e a álgebra de Boole. O “slogan” da reforma passou a ser

“matemática moderna” (KLINE, 1976, p. 34-35).

Nesse ínterim, as mudanças no currículo seriam peculiares, pois ele era tratado como

algo ultrapassado e precisaria de uma inovação, devido às exigências científicas e

tecnológicas discutidas na primeira conferência em 1959, na França, em busca de uma melhor

praticidade nos conteúdos matemáticos a serem abordados. Para Soares (2008):

A Conferência de Royaumont contou com a participação de vários países e

congressistas como Gustave Choquet, Jean Dieudonné e Lucienne Felix, da França;

Howard Fehr, E. G. Beagle e Marshall Stone, dos Estados Unidos. Foi durante a

conferência de Royaumont que Dieudonné (do grupo Bourbaki) expressou sua

opinião contra a geometria de Euclides: Alguns elementos de cálculo, álgebra

vetorial e um pouco de geometria analítica foram recentemente introduzidos nos

dois ou três últimos anos da escola secundária. Mas, tais tópicos têm sido sempre

relegados a uma posição subalterna, o centro de interesse permanecendo, como

antes, a geometria pura ensinada mais ou menos como Euclides, com um pouco de álgebra e de teoria dos números (SOARES, 2008, p. 732).

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De acordo com Kline (1976, p. 35), “essa conferência não resultou na formação de

outro grupo de currículos, mas encorajou ainda outros desvios do currículo tradicional”.

Ressalta Soares (2008, p. 731), que “com o apoio da OEEC, pôde se realizar essa

conferência de Royaumont, sendo um estímulo importante para o início de muitas atividades

ligadas à reforma do currículo e do ensino de matemática em geral”. O foco da conferência

era o ensino secundário. Defendia-se a proposta de dar aos alunos uma melhor preparação

para os estudos universitários e fornecer a matemática como um instrumento para uso na vida

diária (SOARES, 2008, p. 731).

Nesse sentido, nessa conferência de Royaumont, surgem alguns objetivos, tais como:

(a) Esclarecer e resumir os principais pensamentos em Matemática e o currículo de

Matemática na escola elementar e no ensino secundário, recrutar e treinar

professores de Matemática para as necessidades de pesquisa em educação

Matemática; (b) Especificar (I) os propósitos da educação matemática; (II) quais as

mudanças desejáveis a serem feitas quanto ao conteúdo a ser ensinado; (III) novos

objetivos, novos materiais e novos métodos de ensino e (IV) dar treinamento

adicional adequado aos professores de Matemática em vista das novas mudanças; (c)

indicar procedimentos e métodos específicos que devem ser levados em

consideração em qualquer país visando obter uma reserva - tanto em número quanto

em qualidade - de matemáticos para o ensino e pesquisa e pessoas matematicamente competentes na ciência, na indústria e no governo; (d) sugerir uma ação de

acompanhamento das atividades propostas tanto a nível nacional quanto

internacional (MOON, 1986, p. 49 apud SOARES, 2008, p 731).

Nessa perspectiva, “houve um consenso entre os membros da conferência, sobre a

modernização do ensino de Matemática e as reformas do currículo (...) e todas as nações

deveriam atender” (SOARES, 2008, p. 732).

Assim:

Ao fim da conferência, chegaram-se às seguintes conclusões: (a) o que se necessita

não é um programa de álgebra separado dos outros de aritmética, de geometria, de

trigonometria e de análise, e sim um programa que combine os conteúdos daqueles

dando unidade à Matemática. Os conceitos fundamentais são os de conjunto,

relação, função e operação; as estruturas fundamentais são as de grupo, anel, corpo e

espaço vetorial; (b) o simbolismo moderno para conjuntos, relações e aplicações

deve adotar-se tão logo seja possível, e sua aplicação deve ser feita de um modo

coerente e contínuo; (c) grande parte da álgebra tradicional, de pouca ou nenhuma

aplicação no estudo posterior de Matemática, deve ser eliminada. (d) a geometria euclidiana tradicional ou sintética deve ser modificada em grande parte, e até

eliminada, em favor de outros métodos de estudo do espaço; (e) deve-se eliminar o

curso separado de trigonometria, e seu conteúdo deve incorporar-se aos programas

de álgebra, de geometria e de análise. Oferecida desta maneira passa a ser uma parte

da Matemática unificada; (f) em análise, o estudo das desigualdades, limites,

diferenciação, integração e funções, deve ser parte da Matemática do ensino

secundário. A maneira de abordar este estudo não tem porque ser rigorosa ao

extremo, pode fazer-se intuitiva e correta. A ênfase deve estar nas técnicas de

cálculo, apoiadas na compreensão da teoria em que se baseia; (g) a probabilidade e a

inferência estatística, juntamente com a análise combinatória do ponto de vista dos

conjuntos, de funções de conjuntos e espaços amostrais constitui um novo campo

muito apropriado para ser tratado na escola secundária. (FEHR, 1971, p. 9-10 apud SOARES, 2008, p. 733).

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Esses encontros vieram causar uma verdadeira revolução nos currículos,

principalmente nos conteúdos matemáticos a serem ensinados. Afirma Soares (2008) que:

O encontro representou um ponto de culminância de alguns anos de iniciativas

isoladas e influenciou outros congressos nos anos seguintes. Vários congressos

aconteceram logo em seguida, por exemplo, em Arthus, Dinamarca; em Zagrev e

Dubrovnik, Iugoslávia, em 1960; Bolonha, em 1962; e em Atenas, Grécia, em 1963. Em 1969 a UNESCO organizou o ICME (International Congress of Mathematical

Education), em Lyon, França (SOARES, 2008, p. 734).

Entre Estados Unidos e a Rússia houve um acontecimento histórico envolvendo

questões políticas vinculadas aos avanços tecnológicos e, sobretudo, ao tratamento dado ao

ensino de Matemática. Miorim (1998) assegura que:

O lançamento, em 1957, do primeiro foguete Soviético – o Sputnik – levou o

governo americano a tomar consciência de que, para resolver o problema da clara

desvantagem tecnológica existente em relação aos russos, era necessário repensar o

ensino de Matemática e o de Ciências. Com esse objetivo e através da abertura de

financiamentos, incentivou a criação de grupos nacionais para estudar nova proposta de currículos para escola média (MIORIM, 1998, p. 108).

Para Kline (1976), talvez seja coincidência, mas, naquela ocasião, muitos outros

grupos de professores Matemáticos Americanos, interessados em pesquisas, decidiram entrar

no negócio de criar um novo currículo ainda nessa mesma década. Diz ele (1976) que:

A American Mathematical Society [...] decidiu em 1958 que seus talentos fossem

aplicados à criação de um currículo de escola secundária e estabeleceu um novo

grupo, os Estudos de Matemática Escolar, presidido pelo professor Edward G.

Begle, nesse tempo na Universidade de Yale, para desempenhar a tarefa. O grupo

começou o trabalho escrevendo currículos para as escolas secundárias, “junior” e

“senior”, estendendo depois o programa para incluir o currículo de aritmética para as

escolas elementares (KLINE, 1976, p. 33).

Os Colégios juntamente com seus professores começaram, no final da década de 50 do

século XX, escrever suas próprias produções com ênfase nas bases já outorgadas pelos grupos

de currículos. “Em começos da década de 60 surgiu uma avalanche de tais livros e muitos

outros mais continuaram a aparecer” (KLINE, 1976, p. 34).

A necessidade de se fazer uma reforma no ensino de Matemática se tornaria evidente,

é o que sentencia Burigo (1989), neste trecho:

No início dos anos 60, já se evidenciava uma identidade entre os esforços de

renovação do ensino em vários países que através da articulação via comissões de

estudo como a CIEAEM ou a CIEM (ligada à UMI) ou agências como OCDE e a

UNESCO se concretizava na conformação de um movimento internacional de

renovação do ensino, chamado de ‘nova matemática’ ou ‘matemática

moderna’(BURIGO, 1989, p. 75).

Na origem, “a expressão ‘matemática moderna’ ou ‘matemáticas modernas’ referia-se

à evolução interna da própria disciplina, nos últimos 100 anos e em especial a partir do

trabalho do grupo Bourbaki” (BURIGO, 1989, p. 75). As propostas de mudanças no ensino de

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Matemática foram defendidas por seus membros na maioria franceses. Entre eles, citamos:

Cartan, Chevalley, Dieudonné, Weil sob o pseudônimo de Nicolas Bourbaki. Assim, suas

intenções eram apresentar toda a Matemática de seu tempo em sua obra intitulada Élements

de Mathématique. Essas que “se relacionam às estruturas algébricas, às estruturas de ordens e

às estruturas topológicas” (PIAGET, 1982, p. 133).

A Matemática, na concepção dos Bourbakianos, seria como pilares, dotados de uma

profunda unidade, sustentada pela teoria dos conjuntos e hierarquizada pela álgebra e

topologia, formalizando as estruturas e abstrações no ensino de Matemática.

Contudo, conforme salienta Soares (2001), essa Disciplina precisou-se apoiar em

teorias piagetianas para expandir seus domínios:

Às idéias de Bourbaki os modernistas incorporaram à Psicologia de Piaget que deu

ao Movimento validação e caráter científico a partir da provável existência de uma

correspondência entre as estruturas mentais de pensamento e as estruturas

matemáticas (SOARES, 2001, 11).

Assim, segundo Burigo (1989), dava-se início aos tempos modernos do ensino da

Matemática:

[...] o ‘moderno’ também tinha outras conotações. Uma delas era o sentido de

atualizar o ensino adequando-o às exigências de uma sociedade em acelerado

progresso técnico. Outra referia-se às pesquisas mais recentes no campo da

psicologia e da didática, das quais o ensino de matemática deveria nutrir-se. De um

modo geral, é possível dizer que ‘moderno’ significava ‘eficaz’, ‘de boa qualidade’,

opondo-se a ‘tradicional’ em vários momentos. Enfim, era uma expressão carregada

de uma valoração positiva, numa época em que o progresso técnico ele mesmo era depositário, no modo de pensar dominante, das expectativas de resolução dos

principais problemas econômicos e sociais e de conquistas do bem-estar material

para o conjunto da sociedade (BURIGO, 1989, p. 75-76).

A reforma oferecia tanto uma nova abordagem do currículo tradicional quanto novo

conteúdo, e alguns grupos enfatizaram esse fato. Por conseguinte, “o termo matemática

moderna não constitui realmente uma descrição apropriada dos novos currículos” (KLINE,

1976, p. 35).

O autor continua chamando a atenção para esse fato, ao mencionar que: Quando se procura determinar quais as modificações que esses currículos oferecem,

por que elas são desejáveis e que raciocínio ou evidência se podem oferecer para

apoiar a desejabilidade dessas mudanças, a gente defronta com um problema de

considerável magnitude. É verdade que, em seu relatório de 1959, a Comissão de

Matemática da Junta Examinadora de Admissão ao Colégio descreveu o conteúdo que ela recomendava. Mas, exceto a ênfase de que a sociedade moderna necessita de

uma matemática inteiramente nova, a Comissão não defendeu o conteúdo que

propusera. Além disso, os vários grupos de currículos que escreveram textos só

entenderam a reforma para os graus da escola elementar como não seguiram

necessariamente as recomendações da Comissão. Era de esperar que cada grupo

declarasse sua própria posição e apresentasse suas razões por incluir ou excluir

determinados tópicos ou por adotar sua própria abordagem. Nenhum desses

documentos foi publicado. Isso é também verdadeiro no tocante a muitos textos

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publicados por autores individuais que se proclamam serem modernos em caráter.

Por conseguinte, temos que deduzir o que é o currículo da matemática moderna e

por que motivo é ele presumivelmente superior ao currículo tradicional. Poderia a

ausência de material explicativo e de uma justificação ser interpretada como

significado que os defensores da matemática moderna não estão muito claros no

tocante ao rumo tomado ou será que temem que as declarações explícitas das

características e dos méritos enunciados sobre seus materiais não suportam uma

análise? Seja como for, para determinar a natureza e as qualidades do currículo da

matemática moderna, tem-se que examinar os textos e ouvir os discursos feitos por

vários proponentes. No momento, até uma discussão mais ampla, notemos que há

duas características principais no novo currículo: uma nova abordagem da matemática tradicional e novo conteúdo (KLINE, 1976, p. 38-39).

O idealismo sob o Movimento da Matemática Moderna perpassou fronteiras

educacionais no Brasil. Suas ramificações ganharam todos os espaços necessários entre as

linhas do ensino secundário e Ensino Superior. Esse elo entre ensino clássico e ensino

moderno, ainda é visto e lembrado nas práticas escolares, nos livros didáticos, na formação

dos professores, ou seja, os avanços são perceptíveis, mas continua esse distanciamento do

ensino secundário para o Superior. Afirma Burigo (1989) que:

A necessidade de modificar a matemática ensinada no secundário aproximando-a da

matemática ensinada nas universidades e utilizada nas pesquisas era uma

preocupação incorporada do discurso norte-americano, e que ia ao encontro da

tendência academicista e bacharelesca que sempre predominara no ensino

secundário brasileiro. Mas o que contrapunha à matemática superior à matemática

então ensinada no secundário era, sobretudo, a modernidade de uma (implicando

melhor qualidade) em oposição ao tradicionalismo de outra (BURIGO, 1989, p.

119).

Nesse sentido, aproximar essas duas modalidades de ensino forçaria uma inquietação

ideológica capaz de resultar em um melhor entendimento no ensino dos conteúdos

matemáticos que, por mais de uma década, a Matemática Moderna assumiria uma posição

extraordinária nas escolas, por intervenção do currículo nas inovações. Contudo, as

divergências de ideias com grupos opositores e a falta da continuidade de apoio financeiro,

tanto do capital nacional quanto do estrangeiro, proporcionaram o notório silenciamento.

Assim, causando uma ruptura pela falta de estrutura para se manter com seus avanços,

culminando apenas nos esforços de pequenos grupos, os quais defendiam a proposta de inovar

o ensino de Matemática. Para Burigo (1989):

O critério geral para avaliação da matemática moderna como proposta era, como em

geral havia sido no GEEM, o do bom senso e do da avaliação das intenções mais do

que dos pressupostos. Os aspectos considerados negativos eram tratados sempre

como ‘aceleração exagerada’, ‘abusos’, ‘interpretações mais do que exageradas’.

Não era feita uma avaliação sobre que visões de matemática, de aprendizagem e de escola, quais os valores que davam sustentação à proposta da matemática moderna

como havia sido elaborada em outros países e como havia sido divulgada pelo

GEEM. As relações entre a matemática moderna e a matemática bourbakista e a

psicologia piagetiana, por exemplo: não eram discutidas (BURIGO, 1989, p. 224).

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Essas mudanças trouxeram uma possibilidade de diálogos entre alunos e professores,

Ensino Médio e Ensino Superior, e entre os próprios professores em diversos segmentos e até

mesmo entre instituições acadêmicas. É bom lembrar que, o Movimento da Matemática

Moderna não se inicia no Brasil e que ultrapassou as barreiras da repressão do Golpe Militar

de 1964. Como salienta Burigo (1989):

É preciso considerar também que, se a matemática moderna se constituiu num

movimento mundial, e foi adotada em processos de inovação curricular em vários países do terceiro mundo, o fato de se ter constituído aqui um movimento que

aglutinou professores nos processos de divulgação e debate coloca a necessidade da

combinação, nessa explicação, de elementos referentes à dinâmica global e

elementos que expliquem a especificidade do caso brasileiro (BURIGO, 1989, p. 7).

Percebe-se que, as influências vieram de países desenvolvidos, em especial dos

Estados Unidos, com o qual o Brasil tinha fortes dependências, notado também pelos

relatórios da OCDE (1965, p. 238 apud BURIGO, 1989, p. 79), onde se lê:

O progresso técnico sendo visto como um bem em si mesmo e o próprio conceito de

‘países em desenvolvimento’ como prometendo um futuro, para os países

dependentes, igual ao dos países industrializados, era natural que se propusesse a

esses países a adoção de projetos curriculares elaborados nas mesmas bases daqueles

em implantação nos Estados Unidos e Europa.

Infelizmente, essa proteção, de certa forma, acabou cessando, pois aqui no Brasil, a

Matemática Moderna parece não ter atingido todos os recantos do País. Dessa forma, “em

1976 foi realizado o último curso do GEEM para professores, preparando o concurso para o

Magistério que acabou se constituindo num momento de desnudamento da situação do

ensino” (BURIGO, 1989, p. 225). Contudo, o GEEM plantou uma semente que resiste ao

tempo, sendo protagonista de sua própria história. Assim, conforme nos alerta Burigo (1989):

De qualquer modo, a realidade do acesso ao secundário no início dos anos 60 era

muito diferente do que seria encontrado no final da década. No Estado de São Paulo,

entre 1960 e 1970, a matrícula cresceu mais do que quatro vezes, no curso

secundário, e a participação da rede de ensino estadual foi elevada de cerca de 50%

para mais de 80% das matriculas. Mostrando certa eficiência em um dos seus

principais objetivos que era tornar o ensino de matemática acessível para todos

(BURIGO, 1989, p. 238).

Nesse sentido, o declínio do Movimento da Matemática Moderna veio deixar

sedimentações e, ao mesmo tempo, consolidar as mudanças diante do ensino de Matemática,

as quais podem ser investigadas pelo grupo GHEMAT. Este, com suas inferências e reflexões

investigativas, conduzidos por vários trabalhos de pesquisas que resultaram na constituição da

História da Educação Matemática como Disciplina Plena em sua área de conhecimento.

Contudo, como objeto de estudo, procuramos buscar o enraizamento desse movimento

peculiar às mudanças curriculares também no Estado de Mato Grosso, em especial a

Universidade Federal (UFMT), uma vez que, é sabido de sua criação também em 1970,

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momento que a Matemática Moderna se encontrava em constante ascensão nos demais

Estados brasileiros.

4.3 Movimento da Matemática Moderna no Estado de Mato Grosso

Soares (2001, p. 02) anuncia que, “no Brasil o Movimento da Matemática Moderna

teve seu início no começo dos anos 60 e durante mais de uma década mobilizou educadores,

professores de matemática, pais e alunos em prol da renovação do ensino de matemática do

país” (SOARES, 2001, p. 2).

Nessa perspectiva, torna-se relevante conhecer se o Movimento da Matemática

Moderna teve seu momento de influência no ensino da Matemática no Estado de Mato

Grosso.

Diante disso, foram localizados dois trabalhos que nos deram embasamento na

compreensão desse momento em estudo. O primeiro trata-se da tese de doutorado intitulada

“Ensino de Matemática nas Séries iniciais do Estado de Mato Grosso (1920-1980): uma

Análise das Transformações da Cultura Escolar”, escrita pela autora Laura Isabel Marques

Vasconcelos de Almeida (PUCPR)/2010. O segundo trata-se de um artigo intitulado “Cuiabá

na década de 80”, escrito por Gladys Denise Wielewski, Luzia Aparecida Palaro e Sergio

Antônio Wielewski (UFMT) /2008. Ambos os trabalhos procuraram investigar se havia

indícios do Movimento da Matemática Moderna nas escolas mato-grossenses, já que vestígios

desse movimento foram percebidos em quase todo o território brasileiro. Para Soares (2001):

A ampla veiculação da palavra “moderna” não deixou de ser motivo de

discordância. O que é moderno é oposto ao que é velho, antigo, ultrapassado. Assim,

a Matemática Moderna era associada ao novo, atual, avançado. Para os opositores do movimento, usar tal expressão e defender a introdução de assuntos descobertos

nos séculos XVIII e XIX no ensino secundário era desprezar toda a Matemática

desenvolvida até então o que era visto como um absurdo. Por outro lado, os

defensores da reforma diziam não querer descartar a matemática velha, mais sim

renová-la aplicando a ela novos métodos de ensino (SOARES, 2001, p. 2).

Nessa perspectiva, procuramos estabelecer um diálogo mediante as descobertas dos

autores sobre o ensino de Matemática em Mato Grosso.

Acreditando nessa inovação, utilizamos inicialmente informações do artigo intitulado,

“Cuiabá na década de 80: vestígios da matemática moderna nas quatro primeiras séries do 1º

grau”65

, como uma tentativa de entender como esse processo ocorreu em Mato Grosso, a

partir das séries iniciais. Almeida (2010) assegura que:

O estudo aponta que nos discursos mais generalizados sobre a educação,

especificamente no Estado de Mato Grosso, o interesse pela educação primária

aparece tardiamente. Foi precedido, em primeiro lugar, pelos objetivos e efeitos da

65 Publicado na Revista Diálogo Educacional em Curitiba em 2008, escrito pelos Professores (as), ligados ao

GHEMAT, Wielewski; Palaro; Wielewski.

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política educativa e seus debates, pelas estratégias de reforma e seus dinamismos de

transformação. [...] a escola primária aparecia inicialmente, quando muito, como um

palco de experiências onde os sujeitos procuravam por procedimentos e práticas a

instaurar. Foi preciso que a educação fizesse uma declaração de falência para que os

olhares começassem a centrar-se em horizontes mais circunscritos (ALMEIDA,

2010, p. 217).

Nesse sentido, coube uma mudança no currículo, uma vez que, o ensino de

Matemática estava degradado, pois, conforme assinala Almeida (2010, p. 92), apenas atendia

“as práticas memorialísticas, até então utilizado nas escolas [...]”. Para esse autor:

Esse currículo representou grandes transformações na cultura escolar, substituindo a

existência de uma escola fundamentada no ensino da leitura, da escrita, do cálculo e

da doutrina cristã, por uma escola centrada na educação do corpo, na ciência, nos valores morais e cívicos e nos saberes instrumentais para o trabalho (ALMEIDA,

2010, p. 218).

Dessa forma, como a “Europa e os Estados Unidos da América foram modelos para o

Brasil, o Estado de São Paulo foi modelo para o Mato Grosso” (ALMEIDA, p. 218). Vale

ressaltar que, o Estado de São Paulo foi o primeiro a propagar essa nova forma de pensar e

tratar os conhecimentos matemáticos, para uma ação moderna, que envolveria a teoria com a

prática, bem como uma maior preocupação da formação profissional e o que constituiria suas

matrizes curriculares. Para seu êxito, seus professores fundam o GEEM, o qual deu

sustentação aos projetos elaborados pelo grupo no tocante ao ensino de Matemática Moderna.

O GEEM colaborou nas discussões de métodos que apresentaram os livros didáticos da época.

Com efeito, no Estado de Mato Grosso, as discussões referentes aos novos métodos de se

apreender e ensinar Matemática Moderna, tiveram início com “Gustavo Kuhlman e

Leowigildo Martins de Mello foram protagonistas de uma primeira modernização da escola

primária em Mato Grosso” (ALMEIDA, 2010, p. 218). Por meio do Regulamento da

Instrução Pública de 1927 que vigorou até 1952. Essas discussões, na visão de Almeida

(2010):

[...] contemplava o ideário renovador do ensino intuitivo, em voga nos Grupos

Escolares paulistas. As “lições de coisas” passam a constituir a base e a alma de

todos os componentes curriculares do ensino elementar e a intuição dos sentidos é o

princípio para a obtenção do conhecimento. Contra o caráter abstrato de ensino da matemática, como revelam os vestígios da produção escolar da Aritmética, cujos

registros sinalizam as práticas de memorização de tabuada, a repetição de exercícios

descontextualizados do cotidiano infantil (ALMEIDA, 2010, p. 218).

Nessa perspectiva, percebemos que é, a partir do final da década de 60 do século XX,

e início da década de 70, que as mudanças começam ocorrer com a chegada da Matemática

Moderna nas escolas primárias de Mato Grosso. Segundo Almeida (2010):

As produções revisadas, acerca dessa temática, apontam que o período de transição

do ensino “tradicional” para o ensino moderno foi um processo gradativo que aos

poucos foi alterando as práticas de ensino da matemática escolar e transformando a

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cultura escolar, como revelam estudos mais recentes sobre a história do MMM no

Brasil (ALMEIDA, 2010, p. 218).

Enfatiza a autora (2010, p. 219) que, com a “modernização da Matemática Escolar, o

livro didático assume um relevante papel na disseminação da matemática moderna, tornando-

se um recurso didático indispensável para professores e alunos da escola primária mato-

grossense” (ALMEIDA, 2010, p. 219).

Dessa forma, afirma essa autora (2010) que:

O estudo destaca a ampla participação de órgãos oficiais nessa renovação, a Secretaria de Educação e a UFMT trabalharam em parceria, oferecendo cursos de

capacitação e extensão para os diferentes níveis de ensino, visando principalmente

instrumentalizar o professor das séries iniciais para ministrar aulas de Matemática

Moderna (ALMEIDA, 2010, p. 219).

A autora afirma ainda que:

Junto à Teoria dos Conjuntos, novos princípios pedagógicos são difundidos para

modernizar a Matemática da escola primária. A nova proposta traz consigo as idéias

centrais de Piaget que nesse momento tornam-se ideário preferencial das propostas

curriculares e dos livros didáticos de Matemática Moderna no Brasil, tornando-se

uma constante nos cursos de capacitação ofertados aos professores das escolas

primárias de Mato Grosso (ALMEIDA, 2010, p. 219).

Localizamos dois livros de Matemática, de 6ª e 8ª séries, parte da coleção, intitulada

“Matemática nova série de 1º Grau”, com professores no Município de Juara do professor

Osvaldo Sangiorgi publicados pela Companhia Editora Nacional. Esses livros também

fizeram parte desse momento de transição, destinados aos alunos do ensino de 1º Grau do

Estado de Mato Grosso. Conforme Figura 38.

Figura 38 - Capa do Livro Nova Série “MATEMÁTICA” do 1º Grau, [19??].

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Fonte: Arquivo Pessoal da Profa. Maria Vilma da Costa Leite – Juara/MT.

A coleção de livros de Osvaldo Sangiorgi, destinada aos alunos do 1º Grau, publicada

pela Companhia Editora Nacional, não apresenta o ano de sua origem. A Figura 38 se refere

ao volume da 6ª série do Ensino de 1º Grau. A capa do livro destaca o diagrama e a relação

entre elementos dos conjuntos e os blocos lógicos de Zoltan Dienes.

Desse modo, com as concepções piagetianas, demarcariam o antes e o depois do

Movimento da Matemática Moderna, em que, toda aprendizagem era abordada por Piaget a

partir da ação do sujeito sobre os objetos. Processada a partir do campo intelectual do homem

como um ser ativo e livre de seus pensamentos, capaz de interagir sobre o objeto com suas

ações e interpretações, por meio da comparação, exclusão, categorização, formulação e

reformulação de hipóteses, seja de ações externadas ou interiorizadas.

No entanto:

Essa sistematização, introduzida pelo Movimento da Matemática Moderna, rompe

com os princípios do ensino intuitivo, centrados na exploração dos sentidos e que

apesar de privilegiar o uso de materiais concretos como ponto de partida para o

alcance da abstração, não destacam as qualidades das ações realizadas pelos sujeitos em sua relação com o mundo, não se preocupam com os ‘esquemas’ desenvolvidos

pelos aprendizes, que de acordo com Piaget, são indispensáveis para a construção

dos conceitos matemáticos (ALMEIDA, 2010, p. 219).

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Todavia, em 1971, Piaget, mesmo reconhecendo a magnitude do Movimento da

Matemática Moderna, sobrepondo-se aos métodos tradicionais, aponta percalços, afirmando

que:

A experiência é com frequência prejudicada pelo fato de que, embora seja

“moderno” o conteúdo ensinado, a maneira de apresentá-lo permanece às vezes

arcaica do ponto de vista psicológico, enquanto fundamentada na simples

transmissão de conhecimentos, mesmo que se tente adotar (e bastante precocemente,

do ponto de vista da maneira de racionar dos alunos) uma nova “axiomática”

(PIAGET, 1984, p. 16 apud ALMEIDA, p. 220).

No entanto, damos ênfase ao recorte temporal em Mato Grosso, a partir da instituição

da Universidade Federal. É bom lembrar que, a UFMT foi a primeira instituição a formar

professores de Matemática em Mato Grosso, e que o Curso de Matemática antecede a própria

criação da Universidade. Segundo autores Wielewski; Palaro; Wielewski. S (2008):

A UFMT foi criada em 1970 a partir da junção das já existentes Faculdade de

Direito e Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá. O Departamento de Matemática,

pertencente ao Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia dessa Universidade, foi

criado em 1972, composto por 28 professores (WIELEWSKI; PALARO;

WIELEWSKI, 2008, p. 678).

Como Instituição Universitária de ponta na construção do conhecimento, a UFMT

solidifica-se essencialmente na sociedade no campo educacional, e na formação de

professores. E, em 1973, nos Cursos de Formação Continuada para professores, acontecia o

primeiro contato com a Matemática Moderna na ocasião:

[...] foi oferecido o primeiro Curso de Especialização em Matemática aos

professores do Departamento de Matemática da UFMT, tendo no Quadro Docente,

dentre outros, os professores Osvaldo Sangiorgi, Renate Watanabe, Jaci Monteiro,

Paulo Boulos, membros do GEEM. Esse curso teve como objetivo capacitar os

professores do Departamento para atuarem no ensino superior, pois nem todos eram

graduados em Matemática (WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 678).

Percebemos a preocupação dos cursos de formação em Matemática Moderna, durante

esse período, em preparar os docentes para o ensino de Matemática, conforme evidenciado

nas Figuras 39 e 40:

Figura 39 - Certificado do Curso de Especialização em Matemática- UFMT, 1975.

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Fonte: Arquivo do Departamento de Matemática - PROVIVAS/UFMT apud (ALMEIDA, 2010, p. 177).

O certificado (Figura 39) emitido pela UFMT, refere-se ao Curso de Especialização

em Matemática, realizado no período de 25 de maio a 15 de dezembro de 1973, com carga

horária de 486 horas, ministrado pelos professores: Osvaldo Sangiorgi, Irineu Bicudo, Luiz

Henrique Jacy Monteiro, Renate Watanabe e Paulo Boulos do GEEM, de São Paulo.

Figura 40 - Conteúdos Programáticos do Curso de Especialização em Matemática -

UFMT, 1975.

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Fonte: Arquivo do Departamento de Matemática - PROVIVAS/UFMT (apud ALMEIDA, 2010, p. 177).

Nas análises da Figura 40, podemos observar a lista de conteúdos ministrados nesse

Curso de Especialização, iniciando com a Teoria dos Conjuntos como parte integrante do

currículo da Matemática escolar, tendo como ministrante o professor Osvaldo Sangiorgi.

Além deste, foram ministrados pelos professores as temáticas de Estruturas algébricas, Lógica

Matemática, Cálculo e Álgebra Linear. Todavia, a presença desses professores na

universidade comprova os indícios do Movimento da Matemática Moderna. Principalmente,

elevando o nível das graduações da Instituição.

No final da década de 70 do século XX, a UFMT constitui um grupo de professores

que se propõem a discutir o ensino de Matemática e Ciências.

Alguns desses pertencentes aos:

[...], Departamentos de Física, Biologia e Matemática começaram a se reunir em

virtude da preocupação comum sobre o ensino de Ciências e de Matemática do 1º e

2º graus. Dessas reuniões resultou, em 1981, a criação do NAEC (Núcleo de Apoio

ao Ensino de Ciências) composto por sete professores – 2 da Matemática, 2 da

Biologia, 1 da Química e 2 da Física. O objetivo geral do NAEC era ‘prestar apoio ao ensino de ciências do primeiro e segundo graus, no Estado de Mato Grosso’

(DOC. 1, 1982, p. 06 apud WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 679).

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Nessa mesma época, o “Governo do Estado de Mato Grosso, por meio do Gabinete de

Planejamento e Coordenação (GPC), havia feito um diagnóstico socioeconômico do estado,

no qual apontava vários problemas” (WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 679).

Nesse contexto, Almeida nos alerta que:

Mato Grosso, mesmo com os problemas decorrentes de sua extensão territorial, em

nenhum momento ficou à margem do processo educacional, isolado ou abandonado,

ao contrário, acompanhou o debate nacional e procurou colocar-se na mesma

estatura das realizações de outros Estados ainda que estivesse limitado às próprias

condições de desenvolvimento. Esse foi seu mais grave problema, ou seja, a falta de

bases materiais que proporcionassem condições de superação dos problemas

socioeconômicos, entre os quais destacamos a precariedade de um sistema de saúde

para a população, a falta de escolas, a falta de professores e as dificuldades com

transporte e comunicação (ALMEIDA, 2010, p. 217).

Esses problemas aconteciam em todas as áreas. Mas, segundo Wielewski; Palaro;

Wielewski S (2008), na educação o que mais se destacava era o:

Atendimento insuficiente à clientela escolar; evasão escolar; falta de qualificação do

corpo docente; baixa produtividade do ensino; falta de equipamentos às unidades

escolares; distorção entre série e idade escolar; inadequação e insuficiência das

unidades escolares; currículos e programas inadequados (DOC 1, 1982, p. 03 apud

WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 679).

Entretanto, ainda segundo esses autores, foi oportuno:

O intercâmbio de informações decorrentes do I Encontro aliado ao Diagnóstico

realizado pelo GPC foram fatores que impulsionaram a realização de mais reuniões

de caráter interdisciplinar entre os professores da UFMT para a criação de um

Centro de Ciências que pudesse ser um “agente estimulador e catalisador de estudos,

pesquisas e inovações que contribuíssem para manter o Ensino de Ciências sempre

atualizado, além de se constituir em órgão de treinamento de professores” (DOC 1,

1982, p. 08 apud WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 678).

Entre seus principais objetivos esses autores destacaram:

Treinar em serviço, docentes de 1ª a 4ª séries do 1º Grau, para a utilização do

Material Instrucional, [...] em salas de aula; - propiciar meios aos alunos de 2º

Grau (Magistério) e 3º Grau (Licenciatura Plena em Matemática) a uma

participação efetiva em situações didático-pedagógicas reais (DOC. 3, 1992, p. 3

apud WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 680).

Em 1985, nasce o Grupo de Ensino e Pesquisa em Educação Matemática

(GEPEMAT), formado por professores do Departamento de Matemática da UFMT. Assim,

“propôs a CAPES por meio do Subprograma Educação para a Ciência (SPEC), o projeto 2,

melhoria das potencialidades docentes nos cursos de magistério: uma proposta alternativa em

educação matemática (DOC. 2), que foi aprovado e desenvolvido em 1986” (WIELEWSKI;

PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 681).

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Enquanto a Matemática Moderna surge a partir de 1950, e floresce com o Movimento

da Matemática Moderna, na década de 60 do século XX, no Brasil, em Mato Grosso, em

particular na Universidade Federal acontece a partir da década de 80, buscando por meio de

cursos e pesquisas uma forma de se conduzir nesse movimento modernista. Assim, seu

principal papel estava voltado para “atuar na área de Educação Matemática em atividades de

ensino, pesquisa e Extensão” (WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 678).

Nessa perspectiva, o grupo o GEPEMAT dá seus primeiros passos:

[...] preocupados com o ensino da Matemática em Cuiabá e em Mato Grosso. Uma

das ações desse grupo foi o treinamento de professores do Curso de Magistério de

algumas escolas de Cuiabá e de Várzea Grande (municípios de Mato Grosso),

utilizando parte da coleção de Material Instrucional de Matemática do 1º, 2º e 3º graus, elaborada por dois professores da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG) (WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 675).

Essa coleção mostrava vários recursos pedagógicos, principalmente na forma de

construção do conhecimento por jogos. Brincando, a criança aprendia a ser um referencial

importante e apoiado pela psicologia, que priorizava a apreensão dos conceitos matemáticos

pelos materiais concretos. Para Piaget (1973, p. 63), “o pensamento formal torna-se possível,

isto é, as operações lógicas começam a ser transpostas do plano da manipulação concreta para

o das idéias, expressas em linguagem qualquer (a linguagem das palavras ou dos símbolos

matemáticos etc.)”.

O Material Instrucional de Matemática utilizado era composto de manual do mestre e

caderno do aluno. Esse material apresentava “aspectos históricos, proposição de jogos e

brincadeiras e situações do cotidiano” (WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p.

681).

As atividades propostas na coleção envolviam manipulações do material concreto que

levavam as crianças a cumprirem uma meta. “A meta pretendida é orientar, é adquirir as

noções de cardinal e ordinal” (WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 682). Assim, várias

atividades que envolveram conjuntos foram realizadas, como se pode constatar a seguir:

A coleção do Material Instrucional de Matemática descrito era formada por 23

unidades, que cobriam o programa oficial de Matemática do Estado de Mato Grosso,

a saber: 1) Topologia; 2) Conjuntos; 3) Relações; 4) Número Natural; 5)

Numeração; 6) Adição/Subtração (1); 7) Adição/Subtração (2); 8) Algoritmos da

Adição; 9) Geometria-Polígonos; 10) Adição/Subtração (3); 11) Algoritmo da Subtração; 12) Multiplicação/Divisão (1); 13) Multiplicação/Divisão (2);

14)Algoritmos da Multiplicação; 15) Geometria-Círculos; 16) Frações (1); 17)

Medidas; 18) Relógio; 19) Multiplicação/Divisão (3); 20) Algoritmo da Divisão; 21)

Geometria-Poliedros; 22) Frações (2) e 23) Potenciação. Parte desses conteúdos

trabalhados na década de 80, nesses treinamentos, nos remete à Matemática

Moderna se lembrarmos que teoria dos conjuntos, correspondência biunívoca,

propriedades dos conjuntos e diferentes sistemas de numeração são conteúdos

característicos de currículos escolares das décadas de 60 e 70 no Brasil. E a sua

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inserção em trabalhos com professores primários de matemática e,

consequentemente, no ensino primário já era defendida no final da década de 50

(WIELEWSKI; PALARO; WIELEWSKI, 2008, p. 683-684).

Dessa forma, percebemos que os conteúdos mencionados estão intimamente ligados à

Matemática Moderna defendida por mais quase duas décadas pelo GEEM.

Conforme os autores salientam Wielewski; Palaro; Wielewski, (2008, p. 683): “[...]

tudo indica que a Matemática Moderna se fez presente nas quatro primeiras séries do 1º Grau

em algumas escolas de Cuiabá e Várzea Grande, enquanto projeto experimental, na segunda

metade da década de 80 [...]”.

Desse modo, inolvidáveis chegamos à conclusão de que, durante esse período em

estudo, os trabalhos, ora selecionados para essa reflexão, trouxeram elementos que são

comprobatórios da veracidade dos indícios do Movimento da Matemática Moderna no Estado

de Mato Grosso naquele período. Ficando evidenciados também, os documentos, outrora

apresentados pelas análises do Material Instrucional que confirmam a “[...] identificação de

vestígios de tópicos da Matemática Moderna, como por exemplo, topologia, conjuntos,

relações e estudo de diferentes sistemas de numeração” (WIELEWSKI; PALARO;

WIELEWSKI, 2008, p. 676).

Assim, o ensino de Matemática, como protagonista do Movimento da Matemática

Moderna e objeto de estudo em Mato Grosso, mesmo com poucas pesquisas realizadas, ao

poucos, vai trilhando caminho e se consolidando como parte desse movimento.

A vinda desses professores do GEEM e dos Cursos oriundos de outros Estados

brasileiros para a Capital Cuiabá, passaram a interferir nos métodos de ensino da época. Esses

métodos perduram até os dias atuais, permitindo reflexões significativas na materialização da

Educação Matemática e da constituição da disciplina História da Educação Matemática como

enquanto campo investigativo.

Nessa perspectiva, apresentaremos no próximo e último capítulo, as análises que

buscarão triangular os dados levantados nos capítulos anteriores na busca de evidenciar a

influência do Movimento da Matemática Moderna a partir do ensino de Matemática na Escola

Estadual Oscar Soares.

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CAPÍTULO V

5 O ENSINO DE MATEMÁTICA NA ESCOLA ESTADUAL OSCAR SOARES NO

PERÍODO ENTRE 1970 A 1990

Neste capítulo, temos o propósito de apresentar as análises realizadas no diálogo com

as fontes e as literaturas pertinentes. Nossa perspectiva é elucidar questões que respondam

quando e como iniciou o processo educativo no Município de Juara, e de que maneira se deu

o ensino de Matemática nessa instituição escolar durante o período em estudo.

Considerando as análises pelos depoimentos dos sujeitos envolvidos, em especial o

dos professores que ministraram aulas de Matemática e suas diferentes formas de

entendimento nas teorias e práticas pedagógicas, daremos ênfase às abordagens das

entrevistas, buscando um entendimento de como ocorreu o ensino aprendizagem nessa

instituição escolar.

5.1 Alguns aspectos de como funcionava a Escola Estadual Oscar Soares no período

inicial de colonização

A constituição da Educação escolar no Município de Juara durante seu período de

colonização e pós-colonização, está diretamente atrelada a um conjunto de fatores,

principalmente migratório, que exigia a criação de escolas e, com o decorrer dos tempos, a

ampliação dessas unidades escolares, devido à grande demanda de alunos.

Quanto às dificuldades dos alunos, no início do período de colonização, ainda na

década de 70 do século XX, foram várias, principalmente devido à falta de transporte e de

estradas, pois as que tinham eram intransitáveis. Além disso, professores sem habilitação,

inexistência de livros didáticos, de merenda escolar, materiais didáticos e espaço físico

inadequado.

É sabido que, a maioria dos alunos daquela época era da zona rural e não tinham a

prática de usar guarda-chuva. Muitos nem podiam comprar. Chegavam molhados à escola,

após andar vários quilômetros, e ainda se mostravam motivados e otimistas com o estudo. Ao

ser interpelada sobre as dificuldades mais apontadas pelos alunos, e até mesmo pela escola

para o ensino aprendizagem, que é ou era objetivo da escola naquele momento, a professora

Laura Bulla Rissoti respondeu:

A distância, porque tínhamos alunos que vinham a cavalo, a pé, muito longe. Então

era muito difícil para eles. Porque era época de chuva. As irmãs tinham uma maneira

de dizer assim: Vocês não são feitos de açúcar! Não precisam faltar porque está

chovendo. Então a dificuldade maior era essa. Porque nossos alunos aqui da cidade

não eram tantos. A maioria era da zona rural que vinha a pé.

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Percebemos, nessa fala, a rigidez por parte da diretora desse estabelecimento, a Irmã

Maria Lucianetti, com os alunos, pois eles não tinham a cultura de usar guarda-chuva, nem

era conveniente seu uso devido às fortes chuvas. Quem vinha a pé enfrentava também as

péssimas condições das estradas que, muitas vezes, tornavam-se intransitáveis pelo lamaçal.

Essas dificuldades impediam a passagem de alguns veículos e animais usados como

transporte. Os alunos da zona urbana, mesmo sendo minoria naquela época, tinham as

mesmas dificuldades.

Em entrevista à professora Bernadete Ribeiro de Assis, a ex-aluna da primeira turma

da 8ª série em 1979 relata as dificuldades do período como aluna e como era a única escola de

Juara e seus professores, dizendo que:

[...] só tinha a escola Oscar Soares. Os pais chegavam, tinham que procurar essa

escola. Quando nós chegamos de mudança, viemos na época das chuvas, ou seja, na

época das águas. Era uma estrada terrível. Não havia estrada decente. Então demoramos. Já houve assim, um contraste de onde estávamos que era o Paraná para

o Mato Grosso. E ao chegarmos deparamo-nos também com professores

improvisados. Porque nós não tínhamos profissionais nas áreas. Tínhamos uma na

área de Letras, onde a professora trabalhava Português e Inglês, mas nas áreas das

exatas nós não tínhamos profissionais formados. Começavam as nossas primeiras

dificuldades de estudante. Quando tínhamos concursos, que participávamos de

maratonas, as nossas dificuldades eram tamanhas nessas áreas por não termos os

professores. Era sempre os famosos "quebra galhos66". Porque o profissional que

chegava, ele tinha habilidade com o escritório de contabilidade. Tinha habilidade

com números no comércio. Então ele era convidado a dar aula, devido as suas

habilidades. Não tinham a formação adequada, e nem mesmo a formação para estar em uma sala de aula. Ele sabia para ele (grifo nosso).

Nesse contexto, podemos perceber que inúmeras eram as dificuldades para os alunos

alcançarem seus objetivos na construção do conhecimento. Os próprios professores também

enfrentavam dificuldades, pois, na maioria das vezes, não tinham habilitação, ou quando a

tinham não era voltada para a educação. Vale ressaltar que, em muitos casos, eram recrutadas

também pessoas com a mínima escolaridade para ministrarem essas aulas, no intuito de

colaborar com a educação em seu processo inicial na localidade, pois eram os únicos que,

após muitas tentativas por parte do colonizador e comunidade, aceitavam.

5.2 Professores entrevistados que ministraram aulas de Matemática na Escola Estadual

Oscar Soares durante o período de colonização e pós-colonização

66 O termo “quebra galhos” era dado aos professores que não tinham formação pedagógica, pois qualquer

profissional que chegasse à comunidade poderia assumir as aulas de matemática.

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Com o crescimento populacional e os primeiros passos rumo ao desenvolvimento,

aumentou a necessidade de professores para preenchimento das vagas na escola, mas esse

desenvolvimento ocorreu de forma lenta e gradual.

Para esta pesquisa foram entrevistados 09 professores que, de certa forma, ministraram

aulas de Matemática na época de colonização e pós-colonização. Os depoimentos

expressaram sentimentos e concepções dos colaboradores, que podem apresentar aspectos

significativos para a pesquisa. O material analisado permitiu que fosse possível realizar

considerações sobre o tema estudado, analisado de forma minuciosa, compreendendo os

fenômenos sociais e culturais que estão localizados dentro do seu contexto de produção,

conforme revela o Quadro 09.

Quadro 09 - Professores entrevistados que lecionaram a disciplina de Matemática na

Escola Estadual Oscar Soares no período de 1970 a 1990.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

No Quadro 09, nota-se que, dos nove entrevistados, cinco são da região sul (Paraná),

três da região sudeste (São Paulo) e um da região do centro-oeste (Mato Grosso). É

importante salientar que, a formação dos professores, está relacionada ao período em que

ministraram aulas na escola em foco.

Nessa perspectiva, torna-se relevante, que o leitor conheça o perfil desses profissionais

que ministraram aulas de Matemática e que contribuíram de forma significativa para a

construção do conhecimento matemático e, ao mesmo tempo, a constituição da Escola

Estadual Oscar Soares.

NOME LOCAL DE ORIGEM

ANO DE

INGRESSO

NA ESCOLA

FORMAÇÃO EM EXERCÍCIO

ALENIR GONÇALVES DE

ARRUDA ROSÁRIO OESTE/MT 1973

4ª SÉRIE DO PRIMEIRO GRAU/MT.

ANTÔNIA APARECIDA

JAMARIQUELI PENÁPOLIS/SP 1974

5ª SÉRIE DO PRIMEIRO GRAU/SP.

ROQUE BUCHELT SÃO MIGUEL DO

IGUAÇU/PR 1974

4ª SÉRIE DO PRIMEIRO GRAU/PR.

VALMIRO LUIZ DA SILVA

CRUZEIRO OESTE-

MUNICÍPIO DE ALTO

PIQUIRI-PR

1976

2º ANO DO SEGUNDO GRAU DO

CURSO TÉCNICO EM

CONTABILIDADE/PR.

MARILENE FANTIN DA SILVA IPORÃ/PR 1979 TÉCNICO EM CONTABILIDADE/PR

NILTON SAMPAIO PACHECO ALTO PARANÁ –

ASTORGA/PR 1980

TÉCNICO AGRÍCOLA-RAMO

ZOOTECNIA/ SP - CURSO

SUPERIOR

JOÃO DONIZETE MOLINA PEDRANÓPOLIS/SP 1982 LIC. EM CIÊNCIAS 1º GRAU E HAB.

MATEMÁTICA/SP.

JÚLIO CESAR ALVES

DRACENA-TUPI

PAULISTA/SP

1990

LIC. EM CIÊNCIAS COM

HABILITAÇÃO EM

MATEMÁTICA/SP.

ROSA DE JESUS FURLAN BOA ESPERANÇA/PR 1990 MAGISTÉRIOS PARA SÉRIES

INICIAIS (LOGOS II)/MT.

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183

Nesse contexto, seguem de forma cronológica por tempo trabalhado na instituição

escolar os relatos dos sujeitos entrevistados.

Trecho da entrevista com a professora Alenir Gonçalves de Arruda, em que ela

afirmou:

Nós moramos em Porto dos Gaúchos por muito tempo. E na época da colonização

Sr. Zé Paraná, que é o colonizador do Município de Juara, ofertou para o meu pai os

lotes, porque ele estava querendo povoar o município e meu pai construiu uma casa

lá e nós mudamos. Eu nunca direcionei minha vida para ser professora. As

circunstâncias me levaram a ser. Faltava professor, e como já tinha ajudado no

Município de Porto dos Gaúchos, numa Escola Rural Mista, que todo mundo

trabalhava juntos. Não tinha divisão de classes. Estudava primeira, segunda, terceira,

quarta e o quinto ano. [...] Meu pai é de Cáceres, a minha mãe é de Rosário do

Oeste, e também sou nascida em Rosário do Oeste. [...] Eu tinha ajudado a

professora Jaira, e Sr. José Paraná tomou conhecimento e pediu para eu ir lecionar o MOBRAL. [...] Eu continuei terminando meus estudos porque lá só tinha até o

quarto ano. Então me convidaram para eu lecionar para a segunda e terceira série.

Nessa época já tinha sido criada a Escola Estadual de Juara. [...] Ganhei um prêmio

de melhor aluna por colaborar com a educação do Município de Juara, o qual me

deu direito a ir à posse de João Figueiredo em Brasília. Foi em 79. [...] Foi o único

lugar mais longe que eu e o Zé Paraná tínhamos ido depois que mudamos [...] para

Juara, depois que estávamos naquele movimento de educação. Foi a única vez que

pude ir um pouco mais longe. Esse prêmio tinha que receber em Brasília, e fui

recebê-lo. [...]. Então foi assim: foi escolhido de cada estado, de cada município um

aluno do Brasil inteiro, e de Juara, eu que ganhei. Não só eu quem foi. Então, São

Paulo, Brasil inteiro estava para homenagear a posse. Foi o último presidente da

ditadura que o Brasil teve. Então fui junto com todo Mato Grosso, mas cada um representando um município. [...]Lecionei durante quatro anos, a terceira série, e

deixei de lecionar em 80.

A Professora Antonia Aparecida Jamariqueli assim se pronunciou a respeito das suas

aulas:

Eu iniciei a dar aula em Juara, no ano de 74. Não lembro a data. Mas a partir de 75,

1º de maio de 75, fui registrada em carteira. Foi assinada minha carteira pela

prefeitura de Porto dos Gaúchos. Constando na época [...] 300 cruzeiros. A escola

era em frente à loja Soberana lá de Juara. Era uma salinha de madeira. Não me

lembro da medida atual. Mas comecei ali dando aula para crianças de 1ª, 2ª, 3ª e 4ª

série. Era uma classe única, mista. Na época eu tinha 5ª série. Tinha feito no Estado de São Paulo, que assim que eu saí de lá, vim para cá, para Mato Grosso. Vila Nova,

perto de São Pedro da Cipa. Ficamos ali uns dois anos. Nisso fomos para Juara. Na

ida para Juara, nós pegamos o caminhão para a mudança e foi uma dificuldade

muito grande porque as estradas ruins [...] Era época de chuva. [...]. Era muito

complicado. Nós ficamos 4 ou 5 dias de viagem que o caminhão quebrou. Na época

fomos com um amigo nosso, o João Batista Leite. Era o nome dele. Tínhamos

comprado um sítio em Juara. Como na época não era desbravado ainda, nós ficamos

num sítio do Sr. Rogério. Ficamos numa casinha dele. Moramos ali. Ali fui

convidada a dar aula em Juara, nessa escola municipal. Comecei porque eles

pegaram meu documento. Eu tinha só 5ª série. Não tinha estudo, mas com 5ª série

foi despertado no Sr. Inácio Luiz da Silva que era secretário de Porto dos Gaúchos. Ele gostou das minhas notas. Na época ele até estranhou. Achou interessante, que eu

tinha 9,0 em Matemática. Ele ainda deu risada e disse para mim: "Olha que nota

ótima em Matemática". Eu pensava assim: Poxa vida, dar aula, com essa idade. Mas

tudo foi incentivando. Comecei dar aula. Gostei. Dando aula de 1ª até 4ª série, fui

àquela professora assim, bem enérgica. Desde o começo, quando comecei dar aula,

na hora do recreio ficava ensinando aquelas crianças que tinham mais necessidade.

Que eles não conseguiam acompanhar. Eles me pediam ajuda. Chegava a mim e

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diziam: "Professora, não estou conseguindo isso". Não tinha recreio. Deixava os

outros irem brincando, enquanto ficava no quadro ensinando aquelas crianças que

precisavam, que tinham interesse. Eu acho assim, a pessoa tem que ter vontade. Não

adianta só você falar e a pessoa não querer. Então, aqueles que desejavam, eu

explicava com eles sozinho. Então eu ficava nos recreios, ensinando aquelas

crianças. Trabalhei na escola Oscar Soares, e consegui passar para 40 horas. E

quando foi em 1987, passei aqui na Federal no concurso. Vim para trabalhar aqui em

Cuiabá e estudar. Fazer o curso de Matemática na Federal.

O Professor Roque Buchelt foi categórico ao afirmar:

Eu vim do Município de São Miguel do Iguaçu no Paraná. Cheguei a Juara dia 14 de

julho de 1973, [...] um sábado à tarde e aqui em Juara não residia ninguém ainda.

Vim através do Sr. José Pedro Dias que foi lá na nossa casa no Paraná. E meu pai

comprou terras aqui. Então eu vim para cá. Vim inclusive na frente deles. Fiquei sozinho naquela época. Era complicada aquela vida, nossa! [...] Aqui era só mato.

Avenida Rio Arinos era só mato. Fala avenida hoje, mas não tinha nenhuma casa ali.

Estava fazendo uma casa que era o escritório da SIBAL, novidade aqui. [...] e tinha

bicho por aí por esses matos. Então eu tinha sítio, tinha roça. Em 1974 fui convidado

para lecionar. E dar aula era uma grande responsabilidade. [...]. Eu só tinha a quarta

série. [...] Eu não pude estudar mais. Iniciei mas acabei passando a sala para

professora Antonia. Na época eu tinha 20 anos, hoje vou fazer 60 anos agora em

agosto.

O Professor Valmiro Luiz da Silva sentenciou:

Cheguei a Juara em 1976, vim para trabalhar, tinha 19 anos. E hoje eu já sou uma pessoa com 57 anos de idade. Minha intenção inicial era adquirir propriedade,

formar terra e fazenda, mas devido a deficiência de não ter professores na época na

Escola Estadual Oscar Soares, vimos a necessidade de arregaçarmos as mangas e

começar o trabalho, para poder trazer educação para aquelas crianças que estavam

chegando de colonos para iniciar a cidade de Juara. Então iniciamos com um grupo

de companheiros. Propusemo-nos a poder lecionar para essas crianças que foram

chegando, e então, começou organizar o sistema de estudo, de ensino de Juara. Nós

para legalizarmos essa documentação junto à Secretaria de Educação e Cultura da

época lutamos muito na época. Foi um período muito difícil porque tudo aqui

demandava muita dificuldade. Mas dependíamos tudo de Cuiabá. O meio de

transporte que nós tínhamos aqui era só o meio fluvial. Nós descíamos de lancha de São José do Rio Claro até Porto dos Gaúchos. Então esse era o nosso trajeto. Ainda

em 1976 conseguimos após muita luta que o Delegado Regional de Ensino na

pessoa de Osvaldo Roberto Sobrinho trouxesse um curso para nós. E em 17 de julho

de 1976, chega a equipe de Cuiabá para poder realizar o curso de reciclagem e

atualização pedagógica para membros da comunidade. O colégio Oscar Soares foi o

marco. Foi o início de tudo. E nós tivemos assim, a grata satisfação de ter

participado desse momento histórico de Juara. Nós estivemos presentes. Deixamos a

nossa marca, nossa participação nesse período. E depois com o desenvolvimento,

foram surgindo novas pessoas, novos professores que vieram justamente para esse

objetivo. A minha formação. Eu só tenho o primeiro grau completo. Fiz até o meio

do ano do último ano, que seria o 3º científico, ou seja, do 2º grau. Não terminei.

Então eu não tenho nem o segundo grau completo. E na época eu lecionei Português e Matemática. Mas justamente com esse grau de estudo, na época aqui era o que era

o necessário, era o suficiente.

A Professora Marilene Fantin da Silva disse:

Chegamos do Paraná para Juara em maio de 1979. Então meu pai foi fazer matrícula

dos meus irmãos e a irmã perguntou se ele tinha mais filhos. Na conversa ali, ficou sabendo que tinha eu, que tinha terminado. Então ela ofereceu trabalho de professora

de Matemática, que Dr. Isaías havia pegado porque não tinha ninguém para trabalhar

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com essa disciplina. Então eu comecei a trabalhar em maio. Era um barracão que foi

dividido ao meio feito um corredor e várias salas, onde nós trabalhávamos ali. A

média de alunos por sala era de 40, 49, 50, por ai, de 40 pra 50 alunos. Na época

tinha o ensino médio no curso de Técnico em Contabilidade. Então foi o que me deu

base para trabalhar com essas turmas. Às vezes as Irmãs faziam reunião conosco e

nos passava como trabalhar em sala de aula. Era uma forma de capacitação. Era

assim, porque ela mostrava como se dava uma aula. Porque tinha muitos que ainda

não estavam habilitados. Eu mesma dando aula de Matemática. Eu não fui. Não era

habilitada para trabalhar com Matemática. Então, ela mostrava caminhos

diferenciados para que pudéssemos trabalhar, apesar de que já conhecíamos, já

sabíamos trabalhar com outras turmas. Em outras disciplinas. Nós tivemos vários cursos. Daí nós viemos a Cuiabá. Eu participei de vários cursos, Inclusive quando

instituiu aquela televisão nas escolas. Na época tínhamos apenas um Posto Social,

que era um telefone único para a comunidade. Todos os que queriam, tinham que ir

lá para fazer alguma ligação. Não tinha televisão. E então, rádio também não tinha.

O rádio era rádio poste, conhece? Então, tinham as caixinhas nos postes e tinha a D.

Oraíca que fazia os anúncios da cidade, só. Então a comunicação era muito difícil.

Atualmente sou graduada em Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia,

Didática Geral e Gestão Escolar e proprietária da CEM (Centro de Ensino Moderno)

uma escola particular.

O Professor Nilton Sampaio Pacheco inicia seu depoimento falando sobre sua família.

Disse ele:

Minha família é oriunda da região de Minas Gerais, mais próximo da Bahia e são

remanescentes daquela época dos escravos. Minha avó paterna, segundo relato dela,

quando terminou a escravidão ela tinha 13 anos de idade. Já não sofreu tanto com a

escravidão porque o pai dela era um dos feitores. Sou sobrinho da tia Nastácia do

Sítio do Pica-Pau Amarelo. Ela é minha tia de sangue irmã da minha mãe. Antes de

sua morte veio aqui no Mato Grosso me visitar e faleceu em São Paulo há uns dez

anos atrás. E era uma tia muito querida. Sempre tinha uns bons ensinamentos para nós. Nasci e estudei o primário no Alto Paraná, região de Astorga. Depois estudei

uma época no internato evangélico em Arapongas. Estudei um ano e depois parti

para Santa Fé. Morei com meu pai. Sempre trabalhando na lavoura. Foi quando fui

para São Manoel estudar no colégio Agrícola. Eu nem sabia que existia colégio

agrícola. Sempre gostei muito da área rural. Naquela época éramos tão atrasados,

não sabia que existia um estudo médio. Após tantas idas e vindas, concluí o estudo

de técnico agrícola no Colégio Agrícola de Cândido Mota, Estado de São Paulo. E

mal me formei, fui fazer estágio na fazenda de um professor meu do curso que havia

concluído especialização em Zootecnia. Ele tinha uma fazenda de gado de leite no

Estado de São Paulo. A qual fiquei um mês fazendo esse estágio. Ao terminá-lo, já

saí empregado para trabalhar na fazenda do pai do professor. Depois vim passar uma temporada no norte de Mato Grosso, mais precisamente em São José do Rio Claro.

Voltei, fui trabalhar no Pantanal também como Técnico Agrícola em uma fazenda de

pecuária e finalmente fui para Jacarezinho onde trabalhava numa firma de

planejamento agrícola. Planejamento agropecuário onde trabalhei alguns anos.

Conheci minha esposa, casei e vim trabalhar em Juara. Quando cheguei a Juara

durante o período chuvoso, só saía dali de avião ou por barco. Pegava o barco, ia até

do Rio Arinos, subia e pegava outro só para seguir e chegava a São José do Rio

Claro. Sei que vinha de barco. Você partia de barco pelo Rio Arinos. E eram muitos

dias de viagem. Ou senão, avião que era o transporte mais rápido. Porque por

estrada dificilmente passava. Antes de eu morar em Juara, tinham pessoas que iam

daqui de Chapada ou Cuiabá. Iam de mudanças daqui para lá e teve pessoas de enterrar até dois filhos no barranco da estrada, que morriam de malária. Eu cheguei

em 1980. Morei sete anos e saí de 1987. Participei do plebiscito para a emancipação

de Juara em 81. Foi um processo que não tinha alternativa, era irreversível. Não

tinha jeito. Tinha que emancipar. Porque senão Porto dos Gaúchos era quem se

tornaria comarca. E como o município era um município que já sobrepunha em

economia, em habitantes, em educação, e em tudo, então era mais do que lógico.

Não tinha jeito de não ser. Então foi um plebiscito assim, pacífico. Foi sim ou não e

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prevaleceu o sim. Trabalhei certa época com o Coronel Aroldo, dono do loteamento

Santa Cruz e um dos maiores plantadores de soja do mundo na década de 70, como

técnico Agrícola. Apareceu um concurso do banco do estado, na época era o

BEMAT, Banco do Estado de Mato Grosso. Fiz o concurso e fui aprovado em

segundo lugar. Então eu fiquei trabalhando em Juara no BEMAT. Mas como não

sou muito afeto ao trabalho fechado, burocrático. Gosto mais do trabalho do campo.

Então estava trabalhando, mas não estava muito contente, muito satisfeito. E nisso

precisava de professor na Escola Oscar Soares. E a irmã Maria Lucianetti, que era

uma freira, a diretora na época, me convidou para dar aula no colégio. Então fui

trabalhar no colégio, e a Irmã Maria Lucianetti deu umas aulas voltadas para o curso

básico em agropecuária, nas matérias básicas de Zootecnia, Agricultura como também na Matemática aplicada. Praticamente formamos um currículo de acordo

com o curso. Eu lembro que era Matemática, porque graças a Deus, fui um dos

piores alunos de matemática. Detestava Matemática. Mas um dia eu resolvi aprender

matemática. Fiquei um mês estudando matemática. Não trabalhei. Fiquei uma época,

um mês de manhã, de tarde, até a noite estudando Matemática. Então, peguei a

Matemática de base. Do primeiro ano vim estudando. Foi então que descobri porque

eu não sabia Matemática. E descobri também como ensinar Matemática. Sou

nascido dia 04 de julho de 1951. Tenho 60 anos de idade. Sou aposentado como

professor e a última instituição escolar que lecionei foi no colégio Evangélico Buriti

que era dirigido pela igreja Presbiteriana, da qual sou membro. Trabalhei quatro

anos e tinha um curso também de Agropecuária. Então, ministrei algumas matérias de interesse do curso de Pecuária, e também com a Matemática e a Matemática

Aplicada. Atualmente resido em Chapada dos Guimarães.

O Professor João Donizete Molina assume que era muito jovem e estava saindo da

faculdade quando foi a Juara pela primeira vez. Disse ele:

Cheguei para visitar Juara em novembro, precisamente no dia 19 de novembro de

1981, a convite do meu cunhado que já residia na localidade. Ele vendo a necessidade de professores na região, me fez um convite para lecionar. Havia duas

escolas no período a Escola Oscar Soares e José Pedro Dias. Mas apenas a primeira

oferecia o 1º e 2º grau. Nessa época, quem era diretora do Oscar Soares, era a Irmã

Lucianetti. Eu era jovem, com pouca experiência. Estava saindo da faculdade. Era o

meu último ano de faculdade. Quando vim visitar Juara, a diretora olhou bem para

minha cara de garotão e disse para o meu cunhado: “esse não volta”. Em dezembro

do mesmo ano, sai do interior do Estado de São Paulo, da cidade de Votuporanga,

onde me formei pela Faculdade de Ciências e Letras de Votuporanga. Vim a Juara já

para assinar até mesmo um termo de compromisso com a diretora da escola, para

mostrar que realmente estava vindo com interesse em está aplicando meus

conhecimentos, que estava saindo da faculdade, para esse pessoal de Juara. Víamos a necessidade de um professor formado, que na época não existia. Só existiam

professores na área de ciências. Não tinha realmente um de Matemática. Minha

formatura ocorreu no dia 22 de dezembro do mesmo ano de 81. Na mala coloquei

três, quatro calças, três, quatro camisas, meia dúzia de cuecas, e vim embora para

Juara, aonde vim conseguir fazer meu pé de meia. Cheguei para lecionar. A

dificuldade era grande. Eu peguei aula no Oscar Soares, e lecionava Matemática,

Física, Química, Biologia, até mesmo História e Geografia por falta de professor.

Foi sofrido na época. Para se chegar a Juara, para ter uma ideia de Cuiabá a Juara, de

ônibus, se gastava três dias de viagem. Saía de Cuiabá sete horas da noite, viajava a

noite inteira, o dia inteiro, e noite inteira. E vinha ônibus parando pelas estradas, no

atoleiro e tudo mais. Eram dois dias e meio, três dias para se chegar a Juara. Lembro- me que saia o ônibus para Juara de Cuiabá, passava por Sinop. Fazia

baldeação em Sinop, para depois chegar a Juara. Quando cheguei estava tudo escuro.

Eram duas horas da manhã. Mas com ajuda encontrei a casa do meu cunhado. A

minha formação é na área da Matemática. O que me levou a fazer faculdade na área

de Matemática foi o incentivo de um professor chamado Cristovão que tive no

tempo do ginasial. Fiz a Faculdade de Ciências e Letras em Votuporanga, com

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Habilitação em Matemática. Atualmente lecionando a disciplina de Matemática na

Rosmay kara José em Novo Horizonte do Norte. E me aposento em 2014.

Vale lembrar que, o professor João Donizete Molina foi o primeiro Habilitado em

Matemática, atuando na escola nos anos de 1982 e 1983. Em sua entrevista nos revelou que:

A minha formação é na área da Matemática. O que me levou a fazer faculdade na

área de Matemática foi um professor que eu tive no tempo do ginasial. Vamos falar assim, que no ano de 70 e alguma coisa, tive um professor no ginásio e no colégio,

que nos incentivava, e ele que me ensinou a gostar de Matemática. Então através

dele, registra aqui, não sei se é vivo, mas o nome dele chamava-se professor

Cristóvão. Ah, ele era da cidade onde estudei, no interior do Estado de São Paulo.

Uma cidadezinha tão pequenininha igual essa que estou hoje. O nome dela é

Pedranópolis. Estudei na escola Estadual Ilda Bertossini Rodrigues. Está o nome da

escola até hoje. E esse professor batia nas minhas costas. Falou: “Você vai ser um

professor de Matemática”! Porque aprendi rápido com ele um monte de

exercícios que passava. Na época era diferente as coisas, mas aprendemos. E

aprendemos a gostar. Então, foi através do incentivo dele, que fiz a Faculdade de

Ciências e Letras em Votuporanga, com habilitação em Matemática. Fiz a minha licenciatura plena em Matemática (grifo nosso).

Além dos primeiros professores apresentados no período de colonização e pós-

colonização que trabalharam com o ensino de Matemática na Escola Estadual Oscar Soares,

teve também diretores, os quais foram importantes protagonistas no início desse processo

educativo. Dessa forma, esses profissionais por um período, eram nomeados para função de

diretor por meio de acordos políticos junto à Secretaria de Educação e Cultura de Cuiabá.

Segundo o Professor Domingos Sávio Pernomiam, em entrevista sob o período em que fora

diretor afirmou:

Em 1983 foi um ano para mim difícil. Foi o ano em que foi eleito o prefeito de Juara

da época, Riva67. Essa eleição foi marcada por uma disputa muito acirrada. [...] E o

Riva ganhou por uma diferença, não me recordo mais de quanto, mas uma diferença

pouca de votos. E daí por ideologias, por maneiras de pensar diferentes, o Riva tinha

uma ideias e eu tinha outras. Então, acabamos do ponto de vista político, cada um

para um lado. Eu ocupava um cargo de confiança como diretor da escola. Não

era concursado, não era escolhido, não era eleito, era um cargo de confiança. E

até então, eu pensava que era um cargo de confiança da Secretaria de

Educação. Mas na realidade não era. Era um cargo de confiança do mandatário

político local, no caso o prefeito. [...] Eu enxergava de uma maneira mais voltada

para a pedagógica educacional. E ele por ser político, tinha uma visão mais política

da coisa. Foi então que surgiu o desentendimento. E ele pediu a minha exoneração.

Na época, essa exoneração não foi pedida assim: Eu vou até Cuiabá pedir a sua

exoneração. Não! Foi sem eu saber. Inclusive quando fui exonerado, eu estava em

Cuiabá, tratando de assuntos da escola (grifo nosso).

Nessa perspectiva, podemos verificar que, a escolha dos diretores naquele período,

ocorria por meio das relações políticas, priorizando-se as concepções ideológicas partidárias

do grupo que estivesse no poder. A Secretaria Estadual de Educação era conivente com as

decisões políticas desse grupo. No entanto, em 1987, findava-se a escolha de diretores como

67 Atual presidente da Assembleia Legislativa, o Deputado Estadual Sr. José Geral Riva.

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cargo de confiança, passando a serem eleitos pelo processo democrático estabelecido pela

comunidade escolar e garantidos por lei Estadual.

Dentre os sujeitos selecionados como depoentes, foi entrevistada a primeira Secretária

de Educação do Município de Juara, a Sra. Rosa Maria Arantes Abdala, e o primeiro

Secretário Escolar o Sr. Paulo Katsumi Takêda. Este um dos responsáveis pela organização e

regulamentação da escola de 1º Grau de Juara em 1976. Seu papel foi fundamental como

articulador para a realização desse processo. Foi importante ainda entrevistar a professora

responsável pela sistematização e aplicação do programa LOGOS II, a Sra. Laura Bulla

Rissotti. É bom lembrar que, por vários anos, esses professores (as) também lecionaram na

Escola Estadual Oscar Soares. Trazemos ainda no Quadro 10, a ex-primeira dama, Sra. Nilza

Rocha Carmo Dias, viúva, do Sr. José Pedro Dias.

Quadro 10 - Depoentes que contribuíram na constituição do Ensino na Escola Estadual

Oscar Soares no período em estudo.

PROFESSORA ESTADO DE

ORIGEM FORMAÇÃO FUNÇÃO

Rosa Maria Arantes

Abdala São Paulo

Magistério de 1ª a 4ª Série

(Normalista)

Professora e Secretária

de Educação

Paulo Katsumi Takeda Paraná Ensino Médio Incompleto Professor e Secretário

Escolar

Laura Bulla Rissotti Paraná Magistério Professora e Diretora do

LOGOS II

Nilza Rocha Carmo

Dias Mato Grosso Ensino Médio

Esposa do Colonizador

Sr. José Pedro Dias

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares - SANTOS, Reginaldo José.

Todos os depoentes representados no Quadro 10 de forma geral manifestaram em seus

depoimentos um grande apreço pelo colonizador, o Sr. José Pedro Dias.

5.3 Relevância dos Diários de Classe

Uma das preocupações da secretaria e dos gestores, a partir de 1976, era a escrituração

dos Diários de Classe, a fim de formalizar as atividades e práticas dos professores em sala de

aula, até mesmo para poder acompanhar o rendimento e aproveitamento dos alunos.

O Diário de Classe é um dos elementos documentais mais importantes que utilizamos

para elucidar questionamentos, que emergiram nesse estudo, sobre o Movimento da

Matemática Moderna. O trabalho se baseia nos dados coletados no arquivo da Escola Estadual

Oscar Soares, o qual encontrava de forma desorganizada e mal conservada, guardados em

pastas de classificados, como podemos verificar na Figura 41.

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Figura 41 - Diários de Classe.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 41 mostra as caixas arquivos que, guardam os Diários de Classe e outros

documentos da secretaria. Foram abertas e revistadas mais de 100 caixas arquivos na busca de

detalhes que pudessem trazer indícios relevantes sobre o que foi trabalho em Matemática e

como eram as práticas dos professores no período inicial de colonização e estruturação da

primeira escola, até mesmo para saber quem foram seus primeiros profissionais da educação.

Não foi localizado o Diário de Classe da 5ª série de 1976. Contudo, encontramos o Livro de

Matrícula e destacamos a primeira página68

e nele registrado a quantidade de alunos

matriculados que eram 33 devidamente. Entre os documentos localizados, tivemos acesso aos

conteúdos ministrados nessa série, em forma de Planejamento Escolar, conforme Figura 42.

Figura 42 - Planejamento de Matemática da Escola Estadual de 1º Grau, 1976.

68 Anexo 7

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Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares

Na análise da Figura 42, podemos perceber que, ao fazer o planejamento de

Matemática, datado em 30 de abril de 1976, o professor Sr. Valmiro Luiz da Silva, intitula

como cabeçalho, o nome da Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso, e o

endereça para a revisão da inspeção e serviços técnicos de ensino. Isso, porque o documento

fazia parte do processo que solicitava a regulamentação do 1º grau para a localidade. Esse

documento, mesmo apresentando erroneamente seu título “CURRICULUM PORTUGUÊS 5ª

SÉRIE”, o que acabou dificultando sua localização, apresenta-nos os conteúdos matemáticos

que teriam sido trabalhados naquele período. O documento mostra um planejamento

organizado por semestres. No primeiro semestre, o documento apresenta do capítulo (1 a 7) os

itens: Noções de Conjuntos, Correspondência Biunívoca, Equipotência, Operação com

Conjuntos Reunião, Operação com Conjuntos Intersecção, Sistema de numeração Decimal

Base 10, Sistema de numeração Base qualquer, Sistema de numeração mudanças de bases.

Para o segundo semestre, mostra do capítulo (8 a 13): Relação de igualdade e desigualdade

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em N. Operações em N, adição. Operações em N, subtração. Operações em N, multiplicação,

Operações em N, divisão. Operações em N, potenciação. Atrelado a esses conteúdos de

Matemática apenas como ação e método usado pelo professor, exercícios e revisões, nenhum

outro procedimento metodológico foi apresentado.

No arquivo da Escola, conseguimos a maioria dos Diários de Classe tanto do 1º Grau,

datado a partir de 1977, quanto do 2º Grau iniciado a partir de 1980.

Figura 43 - Capa do Diário de Classe, 1977.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A análise da Figura 43 mostra a capa do Diário de Classe em 1977. Podemos observar

na parte superior da capa o título “Estado de Mato Grosso”, juntamente com a denominação

da “Secretaria de Educação e Cultura”, seguida do Nome do estabelecimento, cidade, estado.

Na parte central, em letras grandes, o nome do documento. Logo abaixo, o espaço para ano

letivo correspondente. Dentro do quadro que aparece na parte inferior, ainda aparecia a

nomenclatura antiga de “Ginasial” seguida da disciplina, série, turma e turno, finalizando as

informações da capa com o nome do professor.

Esse Diário de Classe pode representar o primeiro documento de escrituração dos

conteúdos de Matemática ministrados pelos professores de Matemática, pois tudo indica que

os de 1976, não existiram. Conforme Livro Termo de Visita de Inspeção, vários apontamentos

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foram feitos no tocante às orientações sob os registros dos Diários. Essas eram provenientes

do grupo de inspeção da DREC no intuito de informar aos professores e secretaria escolar

quanto ao preenchimento, conforme mostra a Figura 44:

Figura 44 - Primeira inspeção por agentes da Secretaria de Educação e Cultura de

Cuiabá.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na Figura 44, podemos observar o relato da visita da inspetora Sra. Ruth Maria

Ferreira, chefe do registro escolar da SAC-DREC – 01, agente da Secretaria de Educação e

Cultura de Cuiabá. A visita tinha como principal objetivo ajudar os professores e secretário

escolar na escrituração dos Diários de Classe, uma vez que, começara apenas em agosto de

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1977, ou seja, um ano depois da inspetora ter deixado em 02 de agosto de 1976 uma ordem de

serviço a ser cumprida pela direção escolar, na qual incumbiam esses serviços. É também

discutido sobre o Curso de Reciclagem que ocorreu no ano de 1976, no distrito Novo

Horizonte do Norte. A inspetora dá por satisfeita o cumprimento do funcionamento da

secretaria e escrituração da vida escolar dos alunos, além de constatar o cumprimento dos dias

letivos e carga horária para o ano de 1977.

Analisando os Diários de Classe da 5ª e 6ª séries do ano de 1977, podemos observar

que o da 5ª série, não apresenta o termo de abertura em sua primeira página, apenas no verso

consta a denominação do curso como Ginasial, a lista de nomes dos alunos, tendo espaço para

55 alunos e 49 devidamente matriculados. Com o espaço ainda para colocar as frequências

diárias, notas dos alunos bimestralmente, mês e ano letivo, além do resumo dos conteúdos e o

campo para os resultados finais separados pelo somatório das frequências e notas de

aproveitamento. Nesse Diário de Classe, foi possível observar também o canhoto que ficara

por acaso em uma das folhas, constando os campos: curso, série, turma, disciplina curricular,

mês e ano, além dos campos para colocar as médias e as faltas mensais, terminando com a

quantidade de aulas previstas, aulas dadas, data, ano e assinatura do professor. Foi necessário

que a professora Sra. Ingeborg Schirach Crispim fizesse em uma folha à parte quadriculada à

complementação para registro do resumo do mês de dezembro, e recuperação nos registros

dos conteúdos, frequências e notas. Vale ressaltar que, nos Diários, daquele ano, tinham de ser

registrados mensalmente todos os campos que se iniciava em março, abril, maio, junho, julho

(férias), agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro. Essas turmas eram únicas e

funcionaram no período noturno, devido os alunos trabalharem ajudando seus pais nos outros

horários.

Para início das atividades do ensino de Matemática, acompanhava o ano letivo que

iniciara em primeiro de março. Os conteúdos ministrados se apresentavam mensalmente dessa

forma:

I Março: noções de conjuntos, operações com conjuntos, intersecção entre

conjuntos, adição dos números naturais, propriedade da adição, subtração dos

números naturais, além de vários exercícios e finaliza com uma prova. II Abril: operações com números naturais (multiplicação), Operações com números

naturais (divisão), Operações com números naturais (radiciação), além de prova,

entrega das notas, e foi durante esse período realizado trabalhos em grupo.

III Maio: operações com números naturais (potenciação), operações com números

naturais (radiciação), expressões numéricas, prova. Foi ainda realizado comentários

sobre a prova.

IV Junho: termo desconhecido, problemas sobre operações nos naturais, resolução

de problemas, prova, múltiplos e divisores, critérios da divisibilidade e vários

exercícios.

V Agosto: divisores de um número natural, números primos, operações

(maximação), máximo divisor comum, operação (minimação), números racionais,

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equivalência das frações, simplificação das frações, comparações das frações. Vários

exercícios.

VI Setembro: redução ao menor denominador comum, adição de números racionais,

subtração de números racionais, prova, multiplicação nos racionais, divisão nos

racionais, potenciação, expressões fracionárias, vários exercícios, e trabalho em

grupo.

VII Outubro: revisão das frações, expressões fracionárias, números decimais,

divisão de decimal por 10, 100, 1000 etc. adição de números decimais. Vários

exercícios, trabalhos em grupo, e foi registrado a falta do professor referente a um

dia nesse mês e no anterior.

VIII Novembro: Subtração de números decimais, divisão de decimais, problemas, revisão para prova, prova, transformação de números decimais e fração, sistema de

medida, exercícios.

IX Dezembro: esse registro ocorreu em uma folha quadriculada adicional, pois no

diário não tinha o espaço designado para essa anotação. Assim, trazia como resumo

de conteúdos: operações com conjuntos, união e intersecção; operações com

conjuntos usando os símbolos está contido, não está contido, contém, não contém;

operações em números naturais (adição, subtração, multiplicação e divisão); termos

desconhecidos numa igualdade; problemas sobre os números naturais; múltiplos e

divisores; operação (maximação – MDC); operação (minimação- mmc); números

racionais (adição e subtração); números racionais (multiplicação e divisão); números

decimais; conversão de números decimais, prova de recuperação, vários exercícios. No verso da folha apresentava a lista de alunos em recuperação, com suas

respectivas frequências e notas.

Ainda na página que mostra os conteúdos, notamos a presença do registro da

quantidade de aulas dadas e previstas, sendo assim distribuídas:

Março - aulas previstas 23, dadas 22, com o encerramento para 30 de março; abril –

aulas previstas 18, dadas 18, com o encerramento para 29 de abril; maio - aulas

previstas 22, aulas dadas 22, com o encerramento para 31 de maio; junho - aulas previstas 20, aulas dadas 20, com encerramento para 30 de junho; agosto - aulas

previstas 23, aulas dadas 23, com encerramento para o dia 31 de agosto; setembro -

aulas previstas 21, aulas dadas 20, com encerramento para 05 de outubro; outubro -

aulas previstas 17, aulas dadas 16, com encerramento em 31 de outubro; novembro -

aulas previstas 17, aulas dadas 17, com encerramento para o dia 30 de novembro.

Na última página, são registrados os resultados finais, tanto do número total de faltas

como das notas de aproveitamento que antecederam cada mês estudado. Podemos observar,

nos Diários do mesmo ano, a presença dos espaços das notas bimestrais. Os Diários

analisados apresentavam diferença bem mais além que na constatação do termo de abertura,

pois um deles não mostrava o campo de nota de acompanhamento mensal e outro, as notas de

aproveitamentos bimestrais para o mesmo ano letivo em estudo. Foi verificado nos Diários

que, o ano letivo iniciava em março e se encerrava em dezembro. Mesmo com todos os meses

computados como meses de aulas, as notas finais apenas aparecem registradas em quatro dos

meses, sendo em abril, junho, setembro e novembro o que leva a pensar que a ideia do

entendimento de notas (médias) bimestrais já se discutia, mas os Diários de Classe pareciam

desatualizados.

Ainda nessa página, tinha espaço para registrar a quantidade de aulas previstas e aulas

dadas, e também a data de encerramento e assinatura do professor e diretor escolar. Sempre

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com a página dos componentes da série, registro de conteúdos resumidos, frequência do

aluno, espaço concentrado para as notas e lá nas últimas, espaço de registro de nota, e

avaliação final do aluno. Essa página reservada para avaliação pouco utilizada nos Diários

que deram início à regulamentação escolar.

Mesmo apresentando deficiência nos registros, os diários tiveram sua importância para

a pesquisa, pois neles constavam os conteúdos trabalhados no período, o que nos ajudou

também a confrontá-los com os conteúdos relacionados ao Movimento da Matemática

Moderna.

Em sua última capa, apresenta em seu verso as instruções para o bom uso do

documento e como fazer corretamente suas escriturações:

1- O Diário de Classe destina-se ao registro da frequência dos alunos, das notas

atribuídas em arguições e trabalhos práticos e da matéria lecionada.

2- A escrituração do Diário de Classe está afeta ao Professor e deve ser feita à tinta,

não sendo admitidas emendas ou rasuras, que não estejam devidamente ressalvadas pelo Professor e pelo inspetor.

3- Os espaços exatamente na intersecção das colunas relativas aos dias de aulas

com as linhas correspondentes aos nomes dos alunos são destinados para o

lançamento da frequência às aulas dadas.

4- Terminada a aula, registrará o Professor, no espaço para esse fim reservado, o

resumo de conteúdo explicado, fazendo o preceder da indicação da data da aula.

5- Após a última aula de cada mês, encerrará o Professor a escrituração das páginas

correspondentes, procedendo a apuração da nota mensal (média das notas de

atividades, avaliações e trabalhos práticos) e da soma das faltas de cada aluno,

lançando os resultados no espaço para isso reservado à esquerda da matéria

lecionada, transcrevendo-os na última página do Diário. 6- Até o quinto dia útil de cada mês, o Professor fará entrega, à Secretaria, da parte

destacável da folha correspondente ao mês anterior, devidamente assinada e

preenchida.

7- O lançamento e o cancelamento de nomes na relação de alunos no diário são da

competência da Secretaria, que anotará, ao lado de toda modificação feita, a data

em que a procedeu.

8- É atribuição do Inspetor, encerrar mensalmente o Diário de Classe.

9- O Diário de Classe, elemento oficial e portanto, imprescindível da escrituração

escolar, não pode ser, sob qualquer pretexto, retirado do estabelecimento de

ensino, a cujo arquivo pertence.

Essas normativas, se dadas a sua devida importância, passariam a ser um documento

que teria a vida funcional do aluno, nas suas respectivas séries.

A secretaria escolar era responsável pelo monitoramento e escrituração desses

documentos, mas enfrentava várias dificuldades para realizar seus fechamentos no início de

funcionamento e regulamentação da Escola Estadual Oscar Soares. Podemos citar alguns

desses problemas de escrituração como: a morosidade que a Secretaria de Educação e Cultura

na época encaminhava esse material, chegando à escola após 4 meses, já tendo iniciado o ano

letivo, o que dificultava a lisura da escrituração. É sabido que, não justifica a desorganização,

uma vez que, para a secretaria escolar, apenas o canhoto com as notas resolveria as

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informações básicas sobre o aluno, no que se refere às notas, diagnosticando a aprovação ou

reprovação do aluno etc. Além disso, não há registro do grupo de inspeção encaminhado pela

DREC-Cuiabá, DREC-Sinop e DREC-Juara, cobrando a lisura dessas escriturações, ficando

como solicitação dos diretores e coordenadores apenas a cobrança para que não houvesse

rasuras.

Dessa forma, o Diário de Classe, como documento, deixou de fornecer e, ao mesmo

tempo, cumprir por falta de compromisso dos professores coligados com os fiscalizadores,

sejam inspetores, ou coordenadores, e até mesmo diretores escolares, seu papel conclusivo

sobre a vida do aluno em suas individualidades no processo educacional para pesquisas

futuras, devido sua fragilidade na falta de preenchimento de alguns campos.

Este modelo de Diário durou apenas para o ano de 1977, pois a partir de 1978, um

novo Diário de Classe aparecia e perdurou até 1989, conforme Figura 47.

Figura 45 - Diários de Classe utilizados após 1977.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

O novo Diário de Classe Como mostra a Figura 45 aumenta de tamanho e sua capa

ganha um novo espaço, além de todas as informações que permaneceram, foi acrescentada

uma tabela intitulada horário, indicando os dias da semana e descrições dos horários das aulas

desde a 1ª a 5ª aula, pois, no período, as aulas eram de 45 ou 50 minutos. Infelizmente, esse

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espaço também deixou de ser usado pelos professores nos Diários analisados, deixando de

trazer informações preciosas no tocante à organização dos horários dos diferentes turnos.

No verso da capa inicial desses Diários de Classe, desta vez aparece abrindo os textos

em letras maiúsculas de forma as instruções resumidas em apenas cinco itens, como mostra a

Figura 46.

Figura 46 - Instruções no verso da capa dos Diários de Classe durante o período de 1978

a 1989.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar soares.

Ao separar os Diários de Classe, percebemos que, em 1989, foram utilizados dois

tipos, o primeiro de cor azul, ao qual já fizemos inferência, e o segundo de cor rosa

especialmente para atender à disciplina de Educação Física, que, pela falta de exemplares,

acabou sendo utilizados na disciplina de Matemática. Como podemos observar na Figura 47:

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Figura 47- Diário de Classe de Educação Física, destinado para disciplina de

Matemática em 1989.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 47 apresenta um Diário que foi utilizado no período para o registro dos

conteúdos Matemáticos. Ao confrontá-los, percebemos que esses Diários de Classe

continuaram da mesma forma em relação aos registros. Com ressalva apenas na parte dos

conteúdos que passou a ser intitulada natureza da sessão. As folhas reservadas para os

registros das notas apresentam títulos de exames práticos e exames médicos biométricos.

Após 12 anos, houve mais mudanças no Diário de Classe, e em 1990, dois novos

modelos circulavam entre os professores da Escola Estadual Oscar Soares. Todavia esses

Diários vinham da Secretaria de Educação de Cuiabá. Dessa forma, não havia participação

dos professores em suas escolhas, nem sugestões para um exemplar mais adequado.

Em 1990, as escolas começam a receber os novos modelos de Diários de Classe, nas

cores verde bebê e amarelo claro, como apresenta a Figura 48:

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199

Figura 48 - Capa dos Diários de Classe da Escola Estadual Oscar Soares, 1990.

Fonte: Arquico passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 48 apresenta a nomenclatura da Secretaria de Educação e Cultura no rodapé

do Diário de Classe em lugar do quadro para colocar os horários das aulas a serem

ministradas. O Diário verde bebê tem de diferente o símbolo da SEC (Secretaria de Educação

e Cultura). As demais informações da capa seguem normais. No verso da capa desse Diário,

consta o quadro de instruções precedido dos mesmos cinco itens, apresentados nos Diários

que circularam entre 1978 a 1989, mas acompanhados do logotipo da SEC, como apresenta a

Figura 49.

Figura 49 – Instrução para escrituração dos Diários de Classe, 1990.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

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Na capa final dos Diários, podemos perceber uma lista de datas comemorativas

demarcando as que deveriam ser trabalhadas por todos na escola, como mostra a Figura 50.

Figura 50 - Atividades Cívicas da rede estadual de ensino do Mato Grosso.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na análise da Figura 50, que apresenta as atividades cívicas, foi possível perceber que

ambos os diários constavam essa lista em sua última folha como forma da Secretaria de

Educação e Cultura colaborar com a Escola e, ao mesmo tempo, posicionar as datas

relevantes para que as escolas da Rede Estadual pudessem segui-las com seus alunos e

profissionais da educação. Notamos também que o Diário amarelo claro traz como diferença,

já no verso da primeira capa, novas instruções para utilização desse documento.

Figura 51- Instruções para uma boa utilização do Diário de Classe, 1990.

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Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 51, nas análises retrata como era cobrada a escrituração dos Diários de

Classe nos últimos anos dessa pesquisa. Além disso, também revela as instruções que todos os

professores tinham que seguir na tentativa de atingir os objetivos da secretaria escolar. Dessa

forma, chamou-nos a atenção o item nove que, referia às recuperações naquele período, pois

elas anulavam as notas anteriores, permanecendo a nota tirada nessa avaliação recuperativa.

Nesse ínterim, a média anual, já passara para 6,5 (seis e meio) sendo considerada a mesma

nota na recuperação.

Esses Diários de Classe apresentavam na primeira página o canhoto que é chamado de

orelha. Justifica-se pelo espaço que se escreve os nomes dos alunos, seguido pelo número de

ordem. É importante salientar que, esses Diários foram impressos na divisão de artes gráficas

da UFMT.

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202

Fazer a retrospectiva da importância do Diário de Classe perpassa pelo seu principal

objetivo como documento fundamental para registro do diagnóstico inicial da turma,

frequência do aluno, planejamento, avaliações e relatório final do trabalho do professor. Além

disso, ele também registra a carga horária prevista na matriz curricular. Todavia, podemos

denominá-lo como documento de escrituração escolar coletivo, em que devem ser registradas

sistematicamente as atividades desenvolvidas com a turma e o resultado do desempenho, e

frequência dos alunos. Vale ressaltar que, mesmo com as mudanças em quantidades de folhas

nas aberturas dos termos dos Diários que corresponderam em 10, 6 e 13 durante os períodos

de 1977, 1978 a 1989 e 1990, não aumentaria no seu volume de registros dos conteúdos

matemáticos e metodologias aplicadas em sala de aula, ficando sempre na responsabilidade de

cada professor sem nenhuma preocupação por parte dos gestores escolares da época.

Entretanto, os lançamentos continuaram seguindo as normas vigentes solicitadas pela

Secretaria Estadual de Educação e Cultura que eram de forma resumida e sucinta, dificultando

um diagnóstico mais preciso da forma que foi trabalhada essa disciplina de Matemática

naquele período.

Como documento, o Diário de Classe foi responsável pela escrituração e legitimação

dos conteúdos da Disciplina de Matemática em forma de registros, pois tornara o único que

poderia expressar mesmo de forma resumida o que foi trabalhado durante todo esse período

em estudo. E com ele podemos relacionar detalhes que contribuiriam para responder, e, ao

mesmo tempo, comparar seus conteúdos com os denominados conteúdos mínimos que,

durante o período das décadas de 60 e 70 do século XX, estiveram associados ao Movimento

da Matemática Moderna.

Dessa forma, localizamos 76 (setenta e seis) Diários de Classe do 1º Grau e 60

(sessenta) do 2º Grau, referente àquele período. Fizemos as transcrições de seus conteúdos

para a realização dessa pesquisa no intuito de verificarmos se, na Escola Estadual Oscar

Soares, os professores que ministraram aulas de Matemática inseriram em suas práticas os

conteúdos, consideração suporte da Matemática Moderna, se inferiram em suas práticas

pedagógicas, o dinamismo da relação entre teoria e prática a fim de trazer para seus alunos

maiores abordagens, participação e reflexões do que estava sendo ensinado e como estava

sendo aprendido.

A Tabela 01 mostra as quatro últimas séries do 1º Grau (5ª, 6ª, 7ª e 8ª), apresentando-

as em seus turnos, séries e ano letivos pesquisados.

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203

Tabela 01- Diários de Classe da disciplina de Matemática analisados por séries, turno e

ano letivo referente ao período de 1976 a 1990.

SÉRIE 5ª 6ª 7ª 8ª

TURNO MAT. VESP. NOT. MAT. VESP. NOT. MAT. VESP. NOT. MAT. VESP. NOT. TOTAL

AN

O L

ET

IVO

76 1

1

77

1

1

2

78

1 1

1

1

4

79

2

2

1

1 6

80 2

2 1

1 1

1

1 9

81 1

1

1

1

4

82 1

1 1

1

1

5

83 1

1

1

1

4

84 2

1

1

1

5

85 3

1

1

1

6

86 3

2

1

1

7

87 3

2

1

1

7

88 2

1

1

1 5

89 2

1

1 1

1

6

90 2

1 1 1 5

TOTAL 22 1 8 13

6 11

4 9

3 76

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

A análise da Tabela 01 se inicia a partir do ano de 1976, cuja nomenclatura da única

instituição escolar era Escola Estadual de 1º Grau, iniciando após muita persistência junto às

autoridades educacionais a ofertar a primeira turma de 5ª série, dando continuidade às séries

iniciais 1ª a 4ª séries. Gradualmente foi ofertando a 6ª, 7ª e 8ª. Entre os dois primeiros anos

letivos, datados em 1976 e 1977, as aulas aconteciam apenas no período noturno. Como

podemos visualizar na Tabela 01, o ano letivo de 1976 foi o primeiro a ofertar série

denominada “Única”, seguida também em 1977. A partir de 1978, algumas das séries

começam a receber as letras que vão de “A” até “D”. Esse procedimento se justifica pela

grande demanda de alunos que começara nesse período a procurar a escola, causada pelo

crescimento exorbitante do processo migratório. Fez-se, portanto, necessário mostrar como

esses Diários se apresentavam nesse contexto, seguindo a ordem alfabética. Vejamos a Tabela

02.

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204

Tabela 02 – Diários de Classe da Disciplina de Matemática analisados por séries, turma

e ano letivo correspondentes ao período de 1976 a 1990.

SÉRIE 5ª 6ª 7ª 8ª

TOTAL

TURMA Ú A B C D Ú A B C D Ú A B C D Ú A B C D

AN

O L

ET

IVO

76 1

1

77 1

1

2

78 1 1

1

1

4

79 1 1

1 1

1

1

6

80 1 1 1 1 1 1

1 1

1

9

81 1

1

1

1

4

82 1

1

1

1

4

83 1

1

1

1

4

84 1 1

1

1

1

5

85 1 1 1 1

1

1

6

86 1 1 1 1 1

1

1

7

87 1 1 1 1 1

1

1

7

88 1 1

1 1

1

5

89 1 1

1 1

1 1

1

7

90 1 1

1

1

1

5

TOTAL 4 10 10 4 1 8 5 5 1 12 2 2 11 1 76

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

As análises na Tabela 02, apontam que, a partir de 1978, com a demanda de alunos e

abertura de novas salas de aulas, houve a necessidade de representá-las por letras para um

maior controle administrativo. Contudo, a cada nova série iniciada seria considerada como

única. A saber, não foi possível encontrar o Diário da 5ª série, do ano de 1976. Apenas

localizamos o livro de matrícula, no qual constava a relação dos matriculados para essa série e

o planejamento do professor Sr. Valmiro Luiz da Silva, responsável por ministrar as aulas de

Matemática nessa série.

Não foram localizados nenhum registro em Diários de Classe ou outros documentos de

professores e alunos que antecedem o ano de 1976. É sabido que, a Escola Estadual Oscar

Soares teve sua criação em 1974. Contudo, em 1973, como apresentado em capítulos

anteriores, iniciara com o MOBRAL; e, somente, a partir de meados de 1974, com as séries

iniciais (1ª a 4ª séries). Porém, nas investigações conseguimos depoimentos de professores,

que trabalharam nesse período, e trouxeram informações relevantes para essa pesquisa,

registrando oficialmente as atividades docentes e discentes daquela unidade escolar.

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205

Todo esse material, que antecede 1976, ficava na Prefeitura Municipal de Porto dos

Gaúchos, mas um incêndio até hoje não muito explicado, ocorrido no final dessa década,

queimara todos os documentos, principalmente os ligados à educação.

Somente no ano de 1979, surgiu a primeira turma de 8ª série sendo no período

noturno. Nos resultados desta pesquisa, percebemos que, a partir de 1979 a 1980, o fluxo de

turmas aumentara de forma expressiva. Isso se justifica pela migração, possibilitando a oferta

de ensino em diferentes turnos, uma vez que, nos anos de 1976 e 1977, as aulas se iniciam

apenas no período noturno, devido o número de crianças existentes e até mesmo, jovens e

adultos engajados no trabalho.

A partir de 1979, a Escola Estadual mudaria definitivamente de nomenclatura e

ganharia novo nível de ensino, passando a ser reconhecida oficialmente por Escola Estadual

de 1º e 2º Graus “Oscar Soares”. Dar-se-ia início ao ensino de 2º Graus com oferta do

primeiro ano do Curso Básico que se tornaria preparatório para os Cursos de Magistério nas

séries iniciais e Básico em Agropecuária, conforme a Tabela 03:

Tabela 03 - Diários de Classe da Disciplina de Matemática, no Curso Básico, Magistério,

Básico em Agropecuária, Técnico em Contabilidade e Propedêutico, analisados por

séries, turmas, cursos e ano letivo no período de 1980 a 1990.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

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As análises na Tabela 03 apontam que o Ensino Médio começara com o Curso

Básico em 1980, ofertado no período noturno. Esse seria suporte para os principais

cursos que chegaram em 1981, como o de Habilitação em Magistério para o ensino de

1ª a 4ª série, e o Curso Técnico em Agropecuária. Este último muito solicitado pela

comunidade, principalmente fomentado pela agricultura no período inicial de

colonização. Com a chegada desses Cursos de profissionalização, acirrava também a

procura de professores formados nas diversas áreas, principalmente na disciplina de

Matemática.

Os documentos analisados propiciam uma fonte inesgotável de informações,

pois foi possível elucidar questões abordadas como questionamentos suportes dessa

pesquisa. Os Diários de Classe se tornam preciosidade no contexto da investigação por

vários motivos, entre esses motivos, a descrição dos conteúdos ministrados, e o

primeiro processo de localização dos professores no período em estudo. Com acesso a

esse documento podemos entender como eram as escrituras pelos docentes da Escola

Estadual Oscar Soares, métodos que buscavam o aprendizado dos alunos, atividades

cívicas realizadas na época, até mesmo a importância desse documento como primeira

etapa do processo investigativo, registrando as primeiras modalidades e cursos

pertinentes ao desenvolvimento local, e participação da comunidade em constituição

educativa.

A primeira etapa constituiu no registro e análise desses documentos oficiais e

públicos, resultando em informações que foram apresentadas de forma comparativa ao

cruzar essas fontes. Na Tabela 04, podemos observar outra situação que mostra essas

mesmas turmas, representadas por letras do alfabeto “A” até “B” e as salas únicas pela

letra “U”.

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Tabela 04 - Diários de Classe da Disciplina de Matemática, no Curso Básico, Magistério,

Agropecuária, Técnico em Contabilidade e Propedêutico, representado por letras do

nosso alfabeto, no período de 1980 a 1990.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

A Tabela 04 mostra os Diários de Classe e suas respectivas turmas. Podemos

observar que o ensino de 2º Grau, inicia-se com o Curso Básico que se tornaria

alicerce de dois importantes cursos de profissionalização da época. Os cursos

pertinentes foram de Habilitação para o Magistério nas séries iniciais e Habilitação

Básica em Agropecuária. Podemos ainda observar na Tabela 04 o período que se inicia

o Curso de Magistério e sua primeira interrupção em 1982, retornando em 1988.

Apresenta ainda a chegada do Curso Técnico em Contabilidade em 1982, em

substituição ao Curso de Magistério a pedido dos gestores da época em apoio à

comunidade.

5.4 O Currículo escolar constituindo a Disciplina de Matemática na Escola Estadual

Oscar Soares

Ao falarmos de currículos, precisamos voltar no tempo, precisamente na década de 60

do século XX, e recuperar o Movimento da Matemática Moderna que, dentre outras coisas,

alterou o currículo da Disciplina de Matemática. No entanto, o descompasso entre o ensino e a

aprendizagem de Matemática não dependia apenas de um bom currículo, mas também de

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bons professores habilitados em Matemática, livros didáticos e formação continuada buscando

melhor qualidade profissional. É inegável a importância das Matrizes Curriculares do período

em estudo para o Ensino de Matemática. Porém, a forma que esses currículos foram

planejados, e executados em sala de aula, apenas com o objetivo específico da “preparação

para o trabalho”, deixou o Ensino de Matemática, distanciado dos objetivos do Movimento da

Matemática Moderna, mesmo porque não se tinha como objetivo específico a prática

pedagógica e sim o tecnicismo.

Desse modo, mesmo antes da criação e regulamentação da Escola Estadual de 1º Grau

no Município de Juara constituída sob os pilares da Lei 5692/71, o currículo passaria a ser um

medidor de que tipo de educação estava sendo posta para as crianças, os jovens e os adultos e

regularizado pelas instâncias governamentais. Entender esse processo é disseminar que tipo

de educação estava sendo oferecida na época, e qual sua influência na formação de

professores e alunos, uma vez que, eram os principais protagonistas dessa história.

Portanto, iniciamos as investigações à procura de documentos que elucidassem como

foram planejadas essas matrizes curriculares, e suas inferências e intencionalidades juntas ao

ensino aprendizagem, e qual sua relação frente ao Movimento da Matemática Moderna.

Buscar esses vestígios nos permitiu, além da abertura da discussão, escrever os fatos

históricos que as fontes nos propiciaram.

Nesse ínterim, com aplicações curriculares e suas mudanças, foram encontrados

registros de oferta de 05 cursos, os quais nortearam os primeiros passos de formação

educacional para o ensino do 2º Grau da época. Cada um com sua importância peculiar para a

comunidade juarense, amplamente vinculados à Lei 5692/71.

Para melhor sistematizar os dados foram construídos quadros, buscando mostrar as

principais fases e bases dessas informações. Esses aparecem divididos em vários momentos,

entre eles, arrolados com as 5ª e 8ª série. Depois por cursos e suas respectivas habilitações:

Curso Básico, Habilitação em Magistério para as séries iniciais, Habilitação Básica em

Agropecuária. Os primeiros a serem propagados pela Lei 5692/71 e depois os de Técnico em

Contabilidade e o Propedêutico pelo advento da Lei 7044/82. Todos peculiares ao período em

estudo.

Nesse contexto, utilizaremos as duas modalidades ofertadas no período de colonização

que parte de 1976 com o ensino de 1º Grau e em 1979 com a elevação de nível para o ensino

de 2º Grau. Esta última modalidade propiciaria todas as condições para a chegada dos

primeiros cursos de formação profissional. Com efeito, no período que antecede a

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regulamentação escolar (1972 a 1975), foi ofertado apenas o MOBRAL e as séries iniciais (1ª

a 4ª séries).

Com as pesquisas foi possível verificar nas matrizes curriculares como aconteceram as

distribuições das aulas, de Matemática no período em estudo. Para isso, fez-se necessário as

transcrições dessas matrizes curriculares para um quadro. Todavia, o olhar para essas

matrizes, foi respaldado nas turmas de 5ª a 8ª séries do 1º Grau. Com ênfase no ano letivo,

séries/carga horária, tempo de aula e Disciplina de Matemática. Como apresenta o Quadro 11:

Quadro 11 – Distribuição das cargas horárias da disciplina de Matemática nas Matrizes

Curriculares do Curso Ginasial (5ª A 8ª séries do 1º Grau) no período de 1970 a 1990.

Fonte: Arquivo da Escola Estadual Oscar Soares. SANTOS, Reginaldo José.

No Quadro 11, podemos observar entre os períodos de 1977 a 1982 que, a quantidade

de aula de Matemática em todas as séries era de 04 aulas com intervalo de 45 minutos para

cada. O Quadro mostra que, a partir de 1983, há uma valorização da Disciplina de Matemática

aumentando de 04 para 05, o número de aulas ofertadas. Além disso, houve um acréscimo no

tempo de realização dessas aulas passando de 45min para 50min. Contudo, no período de

1976 a 1979, na Escola Estadual de 1º e 2º Graus Oscar Soares, tinha uma única modalidade

de ensino que era o 1º Grau. Não foi localizada a matriz do ano de 1976. Contudo, foi

possível verificar pelos Diários de Classe de 1977 que a 5ª, 6ª e 7ª séries na disciplina de

Matemática mantinham a mesma carga horária. Como podemos observar na Figura 52.

Figura 52 - Matriz Curricular do 1º Grau (5ª a 7ª séries), 1977.

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Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 52 mostra a matriz curricular para o ano de 1977, onde na época, tinha-se

apenas das séries ofertadas que eram 5ª e 6ª séries. A 7ª série foi ofertada apenas em 1978.

Percebemos a ausência da 8ª série no documento, construído de forma manuscrita, tornando-

se um referencial importante para o início do processo educativo na localidade. A série final

do ensino de 1º Grau, apenas chegaria ao início de 1979.

Entretanto, fez-se necessário encaminhar vários ofícios à Secretaria de Educação e

Cultura de Cuiabá, no intuito de conseguir a elevação de nível para o 2º Grau, o que só foi

acontecer apenas no final de 1979. Após elevação, várias solicitações foram enviadas a essa

Secretaria, a fim de que, os primeiros cursos na modalidade profissionalizante fossem

atendidos na Escola Estadual Oscar Soares. Contudo, em 1980, iniciou-se ao Curso de

Habilitação Básica, que depois se tornou base para os cursos que estavam sendo solicitados.

No entanto, outros cursos fizeram parte desse processo educativo como modalidade

inicial de diversos cursos apresentado no quadro das matrizes curriculares do ensino de 2º

Grau. Entre eles: o de Habilitação em Magistério de 1ª a 4ª séries e Habilitação Básica em

Agropecuária, os dois em consonância com a Lei 5962/71 e depois os cursos de Técnico em

Contabilidade e Propedêutico pela Lei 7044/82, como expõe o Quadro 12:

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Quadro 12 – Disciplina Matemática e Conteúdos e Metodologia da Matemática, nas

Matrizes Curriculares no Curso de Habilitação para o Magistério nas séries iniciais, na

Escola Estadual Oscar Soares no período de 1980 a 1990.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

O Quadro 12, ao ser analisado, revela-nos informações sobre o vínculo da Matemática

com a resolução 8/71 da Lei 5697 Art. 7º “classificada como Educação Geral e no núcleo

comum”. A matriz de 1982 atendia à Disciplina de Matemática sob a resolução 8/71 e 58/76.

Após esse período, essas informações deixaram de aparecer, voltando apenas a partir de 1992.

Em observações, percebemos que, durante o período de 1989 a 1991, foi utilizada a mesma

Matriz Curricular.

A Disciplina de Matemática no Curso de Magistério para as séries iniciais aparece

apenas na 1ª série do 2º Grau, durante todo o período em estudo. Podemos verificar que, esse

Curso se inicia com 03 aulas até a sua conclusão que culminou também com sua interrupção

no final de 1982, a pedido da direção escolar, respaldado por outros segmentos da

comunidade. Com efeito, essa turma finalizou com apenas 12 alunos concluintes, e se

verificou que a mudança para o Curso Técnico em Contabilidade atenderia melhor as

necessidades para o desenvolvimento da localidade na época. Nesse período, dava-se ênfase à

disciplina de Conteúdos e Metodologia do Ensino de Matemática nas 2ª e 3ª séries.

A partir de 1987, retorna o curso de Magistério das séries iniciais, ofertando 03 aulas

na 1ª série do 2º Grau, e em 1988, acontece a primeira redução de carga horária na disciplina

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de Matemática nas duas turmas de 1ª série existentes, como revela o Quadro 02 e 01 aula

ofertada.

Nota-se no Quadro 10 que, a partir de 1988, permaneceu apenas uma aula na 1ª série

para a Disciplina de Matemática. Com ressalva em uma das turmas no ano de 1989, que

aparece com 02 aulas na 1ª série. Percebemos que, a partir de 1989, a Disciplina de

Matemática se reduziria para apenas 01 aula no Curso de Magistério, priorizando a disciplina

de Conteúdos e Metodologia do Ensino de Matemática. Este ofertado inicialmente pela 3ª

série do 2º Grau e depois estendido para as 1ª e 2ª séries.

O tempo das aulas nesse período era de 45min, com a carga horária do Estágio

Supervisionado de 360 horas, ofertado apenas a partir de 1988.

No verso da Matriz Curricular de 1988, uma observação nos chamou a atenção, datada

em 16 de maio de 1990:

Por ocasião da Implantação da DREC de Juara, nos dias 6,7, 8, 9 e 10 de março de

1989, recebemos um repasse de informações e orientações para o Funcionamento

desta DREC, através das Técnicas da Secretaria de Educação e Cultura: HELENA

MARIA PAES DE BARROS ARQUELLOS- Coordenadora de Administração

Escolar (CODAE) MALY LOPES SARDINHA- Chefe da Divisão de

Administração Escolar e JANETE REIS DE OLIVIERA. Dentre as orientações

curriculares do Curso de Habilitação para o Magistério de Período Noturno da

Escola Estadual de 1º e 2º Graus “ Oscar Soares” que teve início no ano letivo de

1989 (Grade aprovada pela DREC de SINOP). Houve então reformulação da Grade

para atendimento de exigências legais, o Curso que teve início em 1989, deverá prosseguir usando já no 2ª ano de 1989 para início da nova Turma.

As orientações em pauta foram recebidas pela Profa. Luciene Pacheco Sampaio

Ferreira que, na época, respondia pela Gerência de Assuntos Técnicos. Essas informações, no

entanto, curiosas por estarem no verso de um documento e datadas em 1990. Além disso,

tinha também um termo com itens de testemunha, assinado por Sueli Thiel. Mas o importante

é que, traz as informações de fundação da DREC/JUARA/89, uma vez que, a Escola Estadual

Oscar Soares inicialmente seguia as orientações da DREC/CUIABÁ 01/84, depois

DREC/SINOP/84. Facilitando os trâmites legais da educação pela agilidade e visitas para

resolver as questões da escola do Município de Juara.

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Quadro 13 – Disciplina de Matemática e Matemática Aplicada no curso de Habilitação

Básica em Agropecuária na Escola Estadual Oscar Soares no período de 1980 a 1990.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José, Juara, 2012.

As análises, realizadas no Quadro 13, mostram que, inicialmente, no Curso de

Habilitação Básica foi introduzida a Matemática pela resolução 8/71 no núcleo comum,

estabelecendo o quadro de Educação Geral. Por sua vez, fazendo parte integrante das

Ciências, enquanto a Matemática Aplicada aparece a partir de 1984, como Disciplina

Instrumental autorizada pelo CFE, nº 853/71. Segundo entrevista com o Prof. Nilton Sampaio

Pacheco, “havia a necessidade de se trabalhar a Matemática voltada às diversas áreas do

conhecimento”.

Conforme matriz curricular de 1979, a Disciplina Matemática é ofertada em todas as

séries do 2º Grau, distribuída as quatro aulas em período de duas nas 1ª, 2ª e 3ª séries

respectivamente, no ano de 1980. Apenas a 1ª série apresenta mesmo de forma reduzida 03

aulas. Em 1981 e 1983, permaneceu a quantidade de aula na 1ª série, e a 2ª série passa a

ofertar duas aulas. Em 1984, é introduzida a Matemática Aplicada na 2ª série com carga

horária de três aulas, juntamente com a 1ª série. Esse Curso apenas retornaria a funcionar em

1988, com uma redução na quantidade de aulas ofertadas para a 1ª série de duas aulas,

permanecendo as três aulas na 2ª série de Matemática Aplicada, também para os anos de

1989. É bom lembrar que, durante aquele período, a Escola Estadual Oscar Soares não

ofertava o ensino de Matemática para a 3ª série do 2ª Grau. Vejamos o Quadro 12.

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Quadro 14 - Disciplina de Matemática, Matemática Aplicada e Matemática Comercial e

Financeira nas Matrizes Curriculares, no curso de Técnico em Contabilidade da Escola

Estadual Oscar Soares, no período de 1980 a 1990.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José, Juara, 2012.

O Quadro14 apresenta dados das matrizes curriculares do Curso Técnico em

Contabilidade. Percebemos uma informação importante, em uma das matrizes chamava a

atenção da instrução normativa 04/88, que estipulava uma hora para orientação teórica e

prática do estágio supervisionado. Assim, representa pôr em prática o ensino aprendizagem

nesse do Curso, condizente com as Disciplinas de Matemática Aplicada que, pelo CFE nº

853/71, como Disciplina Instrumental69

. E a Matemática Comercial e Financeira, ofertada a

partir de 1990, fundamentada na resolução 8/71, que traz nas Ciências a Matemática

designada como educação geral e fazendo parte do núcleo comum.

Nesse ínterim, davam-se início aos primeiros passos para a contemplação do Curso

Técnico em Contabilidade, que teve sua aprovação para começar apenas em 1983, e repetiria

as mesmas quantidades de aulas de Matemática distribuídas na matriz de 1981. Essa matriz

inicialmente apontava uma instabilidade na sua carga horária, repetindo os mesmos números

de aulas em 1983, mas novos rumos foram tomados mudando essa expectativa. Assim, no ano

de 1984, as três séries do 2º Grau se igualariam a três aulas por séries, sendo distribuídas na 1ª

série.

As matrizes curriculares desse Curso no período de 1985 a 1987, não foram

encontradas, mas sabemos que as disciplinas existiram pelo que localizamos nos Diários de

Classes.

69 Disciplina Instrumental é aquela cuja abordagem de ensino é centrada no desenvolvimento de habilidades

específicas diretamente relacionadas às necessidades dos participantes.

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Em 1988, percebemos uma redução para duas aulas na 1ª série, e a permanência de

três aulas na 2ª, e duas aulas na 3ª séries na Disciplina de Matemática Aplicada. Essa com a

palavra “aplicada” intercalada por um parêntese, pois é a única que mostra na Matriz, mas

aparece riscado como se indicasse apenas como Disciplina de Matemática, conforme Figura

53:

Figura 53- Matriz Curricular do Curso de Técnico em Contabilidade de 1988.

Fonte: Arquivo Passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Podemos comprovar, na Figura 53, principalmente no rodapé, algumas informações

escritas a lápis que nos chamaram a atenção, pois apresenta a Disciplina de Matemática

Aplicada com uma aula na 3ª série, ou seja, foi subtraída uma aula de Matemática para essa

Disciplina. Além da informação de que “as matrizes com inf. 25/02/88 e com inf. 80/91 são

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iguais, diferenciando somente na carga horária”. Isso se deve as outras informações também

escritas a lápis que mostram que, essa matriz curricular também serviria para os anos de 1989,

1990 e 1991.

Contudo, em 1990, surge uma nova Matriz Curricular, na qual a Matemática Aplicada

é substituída pela Matemática Comercial e Financeira. Esta sendo ofertada em todas as séries

do 2º grau. Tendo uma distribuição de uma aula para cada série, além de, pela primeira vez, a

matriz trazer duas aulas de Matemática para a 2ª e 3ª séries, visto que há uma redução de três

para duas aulas na 1ª série deste ano. No rodapé dessa matriz, há a seguinte observação: Fica

reservado 01(uma) hora aula semanal, nas 03 (três) séries, destinadas à Orientação Teórica e

Prática de Estágio Supervisionado, em atendimento à Instrução Normativa 04/88.

O Curso Propedêutico, deliberado pela Lei 7044/82, apresenta sua Matriz curricular

datado em 1988, e, com isso, a Matemática aparece com uma carga horária totalizando 324

horas, distribuídas nos três anos de estudo, sendo três aulas para cada série. Assim no Quadro

15temos:

O Quadro 15 – Disciplina de Matemática extraída das Matrizes Curriculares do Curso

Propedêutico na Escola Estadual Oscar Soares na década de 80 do século XX.

Fonte: SANTOS, Reginaldo José.

O Quadro 15 se refere às matrizes curriculares do Curso Propedêutico, que se iniciou

em 1985. Apresenta a Matemática com cinco aulas para 1ª série, quatro aulas para a 2ª série e

cinco aulas para a 3ª série. Em 1986, todas as séries apresentavam quatro aulas, havendo uma

redução de uma aula nas 1ª e 3ª séries. No ano de 1988 e 1989, a Disciplina de Matemática

sofre mais uma baixa, passando de quatro para três aulas nas três séries. Essa redução foi

deliberada pela DREC/JUARA, para que as aulas de Educação Física retornassem à Matriz

em seu horário normal de aula. Todos esses cursos ofertados tinham como propósitos a

preparação para o trabalho como componentes de formação inicial do aluno presentes em

todos os componentes curriculares.

As Matrizes Curriculares são fundamentadas nos artigos nº 4 e 5 da Lei 5692, de 11 de

agosto de 1971 como segue:

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Art. 4º Os currículos do ensino de 1º e 2º graus terão um núcleo comum obrigatório

em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme as

necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais aos planos dos

estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos. [...]. Art. 5º As disciplinas,

áreas de estudo e atividades que resultem das matérias fixadas na forma do artigo

anterior, com as disposições necessárias ao seu relacionamento, ordenação e

sequência, constituirão para cada grupo currículo pleno do estabelecimento. § 1º

Observadas as normas de cada sistema de ensino, o currículo pleno terá uma parte

de educação geral e outra de formação especial, sendo organizado de modo que: a)

no ensino de primeiro grau, a parte de educação geral seja exclusiva nas séries

iniciais e predominantes nas finais; b) no ensino de segundo grau, predomine a parte de formação especial. § (2º A parte de formação especial de currículo: a) terá o

objetivo de sondagem de aptidões e iniciarão para o trabalho, no ensino de 1º grau

e de habilitação profissional, no ensino de 2º grau; b) será fixada, quando se destine

a iniciação e habilitação profissional, em consonância com as necessidades do

mercado de trabalho local ou regional, à vista de levantamentos periodicamente

renovados. [...] (grifo nosso).

Os documentos coletados apontam sempre a necessidade de aprovação das DRECs em

diversos momentos que atuaram em prol da educação subsediada em Cuiabá, Sinop e por fim

Juara durante o período em estudo. Esses também beneficiados pela Lei 7044/82, Arts. 1, 4 e

5 que visavam à integração dos alunos no mercado de trabalho:

Art. 1º - O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando

a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento

de auto-realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da

cidadania. [...]. Art. 4º - Os currículos do ensino de 1º e 2º graus terão um núcleo

comum, obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender,

conforme as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos

planos dos estabelecimentos de ensino e às diferenças individuais dos alunos. § 1º -

A preparação para o trabalho, como elemento de formação integral do aluno,

será obrigatória no ensino de 1º e 2º graus e constará dos planos curriculares dos

estabelecimentos de ensino. [...]. Art. 5º - Os currículos plenos de cada grau de ensino, constituídos por matérias tratadas sob a forma de atividades, áreas de estudo

e disciplinas, com as disposições necessárias ao seu relacionamento, ordenação e

seqüência, serão estruturados pelos estabelecimentos de ensino. Parágrafo único -

Na estruturação dos currículos serão observadas as seguintes prescrições: a) as

matérias relativas ao núcleo comum de cada grau de ensino serão fixadas pelo

Conselho Federal de Educação; b) as matérias que comporão a parte diversificada

do currículo de cada estabelecimento serão escolhidas com base em relação

elaborada pelos Conselhos de Educação, para os respectivos sistemas de ensino; c) o

estabelecimento de ensino poderá incluir estudos não decorrentes de matérias

relacionadas de acordo com a alínea anterior; [...] f) para atender às peculiaridades

regionais, os estabelecimentos de ensino poderão oferecer, outras habilitações

profissionais, para as quais não haja mínimo de conteúdo e duração previamente

estabelecidos na forma da alínea anterior. [...] (grifo nosso).

A Lei 7044/82 opera mudanças peculiares na estruturação da Lei 5692/71. Todavia, as

matrizes curriculares a partir desse período começam a apresentar em seus componentes

modificações nas áreas das exatas, principalmente nas disciplinas no Curso Técnico em

Contabilidade e Básico em Agropecuária que, além da disciplina de Matemática, aparecem a

Matemática Aplicada e Matemática Comercial e Financeira. Nota-se por meio da quantidade

de aulas ocorridas em cada série, que a Matemática Aplicada teve ênfase importante em

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relação às outras duas Matemáticas. A partir de 1990, há uma redução considerável nas aulas,

passando de 3 para apenas 1 aula por disciplina.

A Matemática Comercial e Financeira, naquele momento de estudo, apenas aparecem

em 1990 quantificadas e distribuídas por uma aula em cada série do ensino médio. Enquanto,

naquele ano, a Matemática pura assume de volta seu papel na escolarização voltando a ter o

mesmo número de aula.

No Curso de Magistério de 1ª a 4ª série, nas matrizes curriculares, aparecem com as

Disciplinas Matemática e Conteúdo de Metodologia da Matemática.

Para o Curso Básico em Agropecuária, a matriz curricular trazia as disciplinas

Matemática, Matemática aplicada e, por fim, Conteúdo de Metodologia da Matemática.

Entretanto, o Curso de Propedêutico aparece com a disciplina básica, a Matemática.

Nessa perspectiva, os professores de Matemática, ao trabalharem essas disciplinas,

deixaram seus registros nos Diários de Classe. Escrituração que perpassou por décadas e que

podemos por meio desta pesquisa, conhecer e, ao mesmo tempo, refletir sobre quais as

abordagens dadas a esses conceitos em cada sala de aula.

5.5 Os Conteúdos de Matemática contidos nos Diários de Classe da Escola Estadual

Oscar Soares durante o período em estudo

Na pesquisa, foram analisados 136 (Cento e trinta e seis), Diários de Classe

envolvendo o 1º Grau e o 2º Grau, respectivamente de 5ª a 8ª e Ensino Médio. Todos com

relação à Disciplina de Matemática. As análises se pautaram nos conteúdos trabalhados e

depoimentos dos professores que vivenciaram e antecederam este período de 1970 a 1990.

Por meio dos conteúdos de Matemática extraídos dos Diários de Classe e cruzados

com os listados dos livros didáticos além dos depoimentos de alguns professores de

Matemática desse período estudado, podemos identificar elementos norteadores de que forma

esses professores organizaram cronologicamente os conteúdos para suas aulas.

Após transcrições de todas as partes textuais que constavam nos conteúdos de

Matemática de cada Diário, organizamos em uma lista. Buscamos fazer as análises

comparativas no intuito de elucidar evidências, as quais pudessem comprovar vestígios da

Matemática Moderna.

Iniciamos as análises pelos conteúdos das 5ª a 8ª séries do 1° Grau, chamados na

época de Ensino Ginasial, que com a instituição da Lei 5692/71, passa a se denominar Ensino

de 1º Grau. Não foram localizados os Diários de Classe do ano de 1976, apenas o livro de

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matrícula. Contudo, os conteúdos de Matemática da 5ª série trabalhados naquele ano, estavam

registrados em uma folha de planejamento do professor Valmiro Luiz da Silva. Em relação

aos demais Diários de Classe, foram localizados todos a partir de 1977 a 1990.

Durante as transcrições dos conteúdos foi possível perceber que os professores

abordaram os mesmos temas em sala de aula. No entanto, não seguiam a mesma sequência em

relação aos conteúdos das séries comparadas, além de acrescentar novos conteúdos nos finais

do bimestre.

Para análises, buscamos confrontar a lista de conteúdos mínimos apresentada pelo

grupo GEEM, na década de 60 do século XX. Esse o precursor do Movimento da Matemática

Moderna no Brasil.

O GEEM utilizava a lista de assuntos mínimos como base nas aulas e cursos

realizados pelos professores. É importante salientar que, esses assuntos, sugeridos pelo grupo,

tinham apoio do Professor Sr. Osvaldo Sangiorgi, que foi seu presidente durante o período de

1961 a 1973. Relacionamos os itens (conteúdos), os quais norteavam o início dos assuntos

programáticos do Movimento da Matemática Moderna.

Ângulos; Aplicações; Áreas dos polígonos; Bases; Cálculo dos radicais; Cálculo

literal; Circunferência; Divisibilidade, múltiplos e divisores; Elementos

fundamentais; Geometria plana: ponto, reta, semi-reta, Segmento; Equações do 1º.

Grau com uma incógnita; Equações do 2º. Grau com uma incógnita; Equações

redutíveis às do 2º. Grau; Estruturais; Estudo dos quadriláteros; Estudo dos

triângulos; Estudo intuitivo das principais figuras geométricas planas e espaciais; Sistema de medida. Sistema decimal e não-decimal; Fatoração Completa; Frações

algébricas; Função trinômia do 2º. Grau; Função: representação gráfica cartesiana de

uma função; Inequações do 1º. Grau com uma incógnita; Inequações simultâneas;

Interpretação gráfica; Interpretação gráfica; Lei dos senos e lei dos co-senos; Medida

da circunferência e área do círculo. Número e numeral. Sistemas de numeração;

Número real (racional e irracional); Números fracionários; Números primos

;Números racionais relativos; Operação (operações inversas) com os números

inteiros; Operações (operações inversas); Operações fundamentais;

Perpendicularismo e paralelismo no plano; Plano; Polígonos regulares; Polígonos:

generalidades; Polinômios com coeficientes racionais; Posições relativas de reta e

circunferência e de circunferências; Propriedades estruturais; Razões e proporções;

Relações métricas no círculo; Relações métricas nos triângulos; Segmentos proporcionais; Semelhança de polígonos; Semiplano; Seno, co-seno e tangente de

um ângulo; Sistema de equações do 1º. Grau com três incógnitas; Sistemas de

equações do 1º. Grau com duas incógnitas; Sistemas de inequações do 1º. Grau com

duas incógnitas; Sistemas redutíveis aos do 2º. Grau (VALENTE; MATOS, 2010, p.

93-94).

Comparando a existência de uma relação entre os conteúdos considerados do

Movimento da Matemática Moderna com os ministrados na Escola Estadual Oscar Soares,

buscamos apresentar a pesquisa realizada em mais de 100 Diários de Classe da Disciplina de

Matemática inicialmente da 5ª a 8ª séries do 1º Grau durante os anos em estudo.

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Os conteúdos foram construídos a partir das transcrições e registros de escaneamentos

dos Diários de Classe nas quatro séries, perpassando para as três séries do Ensino Médio.

Procuramos organizar as sequências dos conteúdos de Matemática em ordem

alfabética para melhor situar o leitor. Nesse contexto, estamos inferindo apenas uma síntese

que poderá ser averiguada na lista abaixo:

Relação dos conteúdos de Matemática da 5ª Série ministrados na Escola Estadual

Oscar Soares no período de 1970 a 1990.

Adição de decimais; Adição de frações heterogêneas; Adição de frações

homogêneas; Algarismos romanos; Área do círculo; Área do losango; Área do

quadrado paralelogramo; Área do quadrado; Área do trapézio; Área do triângulo; As

operações uma comparação; Base 10; Cálculo da área quadrada; Capacidade e

massa; Classes de equivalência; Classes de equivalências de uma razão; Classes e

valores absolutos e relativos dos números; Classificação das frações (próprias,

impróprias, aparentes e mistas); Classificação dos polígonos; Comparação de

frações (numeradores iguais e denominadores iguais); Composição e decomposição

de números; Comprimento de uma circunferência; Conjunto disjunto; Conjunto dos

números racionais; Conjunto unitário e vazio, conjunto finito; Correspondência biunívoca; Critérios de divisibilidade por 2, 3 , 4, 5, 6, 9 e 10; Curvas abertas

simples e não simples; Curvas fechadas simples e não simples; Curvas poligonais e

não poligonais; Definição de ângulo como grau de abertura entre dois segmentos

com um ponto comum; Conjunto convexo e não convexo; Determinação da geratriz;

Determinação da raiz quadrada; Determinação do valor de Pi; Determinação dos

divisores de um número, cálculo do mdc; Diagonais de um polígono; Diagrama de

Veen; Divisão de decimais; Divisão de frações; Divisão de potências de mesma

base; Divisores de um número; Dízimas periódicas; Elementos primitivos de

geometria (ponto reta e plano); Equipotência; Equivalência das frações; Expressões

com as 4 operações e que apresentem (parênteses, colchete e chave); Multiplicação

de potências de mesma base; Expressões com unidades de medida; Expressões fracionárias; Expressões simples que apresentem divisões; Figuras geométricas

planas e não planas; Funções conceitos; História dos números; Igualdade dos

conjuntos partes de um conjunto; Máximo divisor comum; Medida de segmentos da

poligonal aberta e fechada; Medida de superfície; Medida do perímetro; Medidas de

comprimento; Noção geral de geometria; Noções de conjunto; Noções elementares

do princípio de triangulação para medida de qualquer área quadrada; Número

antecessor e sucessor; Números decimais; Números primos entre si mmc; Números

primos; Números primos; Conceito e conjunto; Verificar se um número é primo ou

não decomposição de um número em seus fatores primos; Números racionais

(adição, subtração); Operação (dobro e triplo, multiplicativos, quádruplo e

quíntuplo, termo); Operações com conjunto (união e intersecção); Operações com

números naturais (adição, subtração, multiplicação e divisão); Propriedades da adição; Par ordenado; Perímetro da circunferência; Perímetro de um polígono;

Polígonos; Componentes elementares: lados vértices e ângulos, polígonos convexos

e não convexos; Potência de potência; Potenciação de números racionais; Problemas

com frações; Problemas sobre as operações nos números naturais; Produto

cartesiano; Propriedade distributiva à direita; Propriedade distributiva da

multiplicação; Propriedade simétrica; Propriedade transitiva; Propriedades

(fechamento, comutativa e elemento neutro); Propriedades da adição (comutativa,

fechamento, elemento neutro e associativa); Propriedades da multiplicação;

Propriedades de uma relação; Radiciação de números naturais; Radiciação de

números racionais; Radiciação: noção de raiz quadrada; Redução ao menor

denominador comum; Redução de frações ao mesmo denominador; Relação de inclusão; Relação de ordem; Relação de pertinência; Relação de pertinências;

Relações, formula tabular; Representação através de flechas; Representar o produto

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cartesiano por meio de gráficos; Resolução de expressões com números racionais;

Resolução de problemas com frações; Reta suporte e semi-retas colineares e

opostas; Retângulo; Revisão geral de tabuada; Segmentos colineares e não

colineares; Semi-retas não colineares; Simplificação de frações; Sistema de

medidas; Sistema de numeração decimal; Sistema de numeração não-decimal;

Subconjunto; Subtração de decimais; Subtração de números racionais; Termo

desconhecido numa igualdade; Transformação de numeral da base 10 transpondo

para outras bases; Volume das pirâmides retas, Volume do cilindro e cone, Volume

do cubo e prismas retos, Volume do paralelepípedo retângulo,

Relação dos conteúdos de Matemática da 6ª Série ministrados na Escola Estadual

Oscar Soares no período de 1970 a 1990.

Adição de números relativos (Z) com os mesmo sinais e sinais diferentes; Alguns

subconjuntos de Z; Ângulo agudo e obtuso; Ângulos adjacentes; Ângulos

complementares e ângulos suplementares; Ângulos consecutivos; Ângulos especiais;

Ângulos formados por duas retas e uma transversal; Aplicação da propriedade

distributiva, divisão em Z; Aplicações práticas, operação adição em Z; Arco da

circunferência, posições relativas de duas circunferências; Axioma de Euclides;

Circunferência e círculo; Classificação de quadriláteros e triângulos; Classificação

quanto aos ângulos; Classificação quanto aos lados; Conceito de números racionais Q; Conceito e linguagem simbólica da Matemática; Conceito e raiz de uma equação;

Congruência de ângulos; Congruência de segmentos; Conjunto dos números inteiros

noção intuitiva; Conjunto dos números racionais relativos; Conjunto dos números

racionais; Conjunto universo e conjunto verdade de uma sentença aberta; Conjunto

verdade das equações 1 grau; Conjunto verdade das equações 1° grupo; Conjunto

verdade das equações 2° grupo; Conjunto verdade das equações do 2° grau;

Conjunto verdade das inequação do 2° grau; Conjunto verdade das inequações 1°

grupo; Conjunto verdade das inequações do 2° grupo; Conjunto verdade inequação

do 2º grau; Conjuntos dos números inteiros relativos; Construções geométricas

conjunto dos números inteiros Z; Desigualdade no triângulo; Distributiva em relação

a adição; Divisão de potencias de mesma base e potencia de potencia; Divisão no

conjunto Q; Elemento inverso aditivo, subtração em Z; Elemento neutro, potenciação em Z; Ensino das frações: adição, subtração de frações, multiplicação e

divisão; Entes geométrica: ponto reta e plano; Equações do 1° grau; Equações

equivalentes; Expoente zero e expoente 1; Expressões com números inteiros

relativos; Potenciação de números inteiros relativos e positivos; Expressões com

números racionais relativos; Expressões com os números naturais; Expressões com

parênteses chave colchetes e potencia; Expressões com potenciação; Expressões

com radicais; Expressões envolvendo a operação radiciação; Expressões numéricas

em Z; Expressões numéricas em Z; Expressões numéricas no conjunto Q;

Expressões que apresentem (parênteses, chave e colchete) e as 4 operações, com

números racionais; Gráfico de inequações equivalentes; Inequações do 1° grau com

uma variável; Juros simples; Medida de segmentos; Medir a área do terreno do colégio; Método da substituição, método da adição; Módulo de números inteiros;

Módulo de números racionais relativos; Multiplicação de dois números com sinais

diferentes; Multiplicação de dois números negativos; Multiplicação de dois números

positivos; Multiplicação de potencias de mesma base; Multiplicação e divisão dos

números racionais relativos, Multiplicação no conjunto Q; Números de sinais iguais,

números de sinais diferentes; Números inteiros simétricos; Números racionais

simétricos; Números relativos opostos ou simétricos; Operações com números

racionais relativos; Operações com os números racionais positivos; Operações em

números relativos: adição, subtração, multiplicação e divisão; Porcentagem: razão

centesimal; Posições relativas de retas e circunferências; Posições relativas de

segmentos; Potencia elevada a uma outra potencia; Potenciação com os números

naturais e fracionarias; Potenciação de números inteiros relativos com bases negativas; Potenciação de números racionais relativos; Potenciação: com números

positivos e negativos; Potências de mesma base, radiciação; Princípio aditivo

(resolução de uma inequação); Princípio multiplicativo da igualdade; Problemas

com razão e proporção; Problemas de juros, problemas de juros com transformações

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de unidade de tempo, conjunto dos números racionais relativos; Problemas de

porcentagem; Problemas, sistemas de equação do 1° grau; Proporção com

propriedades; Proporções: razão entre dois números; Propriedade associativa,

Propriedade comutativa; Propriedade da soma; Propriedade distributiva, números

racionais Q; Propriedade fundamental; Propriedades da adição e subtração em Z;

Propriedades da adição em Q; Propriedades da congruência de ângulos;Propriedades

da congruência de segmentos; Propriedades da multiplicação em Q; Propriedades da

multiplicação, divisão em Z; Propriedades da potenciação; Propriedades das

proporções operação com números relativos; Propriedades das proporções;

Propriedades, subtração em Z; Racionalização do cálculo; Radiação de números

racionais relativos; Radiciação em Q; Radiciação, raiz quadrada com o radicando menos que 100; Raiz quadrada propriedades distributivas; Razão entre grandezas;

Razões e proporções, transformações simples de uma proporção; Razões entre

números e grandezas; Razões iguais; razão entre duas grandezas; Redução de termos

semelhantes; Regra de três simples e composta: grandezas diretamente

proporcionais e grandezas inversamente proporcionais; Relação de pertinência e

inclusão; Relações de ordem em Z; Relações de ordem nos racionais; Representação

geométrica; Representação gráfica; Resolução de equações de 1° grau principio

multiplicativo; Resolução de equações do 1° grau com uma variável em Q;

Resolução de equações do 1° grau principio aditivo; Resolução de problemas

diretamente proporcionais; Reta numerada; Retas paralelas; Retas perpendiculares;

Sentenças abertas; Sentenças matemáticas; Sentenças numéricas verdadeiras linguagem simbólica da matemática; Sistema de inequação; Subtração de vários

números inteiros relativos; Subtração e multiplicação de expoentes, radiciação em Z;

Tabela de pares ordenadas; Técnicas de cálculo (maneira prática de resolução)

identidades e equações impossíveis, problemas 1° grau; Técnicas para calcular,

aplicações práticas; Transformação de uma proporção por meio de operações;

Unidades na medida de ângulos; Valor absoluto de um numero inteiro; Valor

absoluto ou módulo de Z; Relações de ordem em Z; Valor absoluto ou módulo em

Q; Valor absoluto, adição em Q.

Relação dos conteúdos de Matemática da 7ª Série ministrados na Escola Estadual

Oscar Soares no período de 1970 a 1990.

Adição de ângulos; Adição de frações algébricas; Adição de monômios; Subtração

de monômios; Adição de polinômios sendo os coeficientes fracionários e números

inteiros relativos; Adição e subtração de números inteiros relativos; Alguns

subconjuntos de N, Z e Q; Alturas do triângulo; Ângulos adjacentes consecutivos e

opostos pelo vértice; Ângulos complementares; Ângulos suplementares; Ângulos

congruentes e relação de ordem; Ângulos consecutivos e ângulos adjacentes;

Ângulos externos; Ângulos formados por duas retas paralelas e uma transversal;

Ângulos internos; Ângulos opostos pelo vértice; Ângulos, conceito lados e vértices; Aplicação das propriedades estruturais do conjunto dos reais; Aplicações na

congruência de triângulos; Bicondicional; Bissetriz de um ângulo; Cálculo algébrico

em R; Cálculo do mmc de polinômios; Cálculo do valor número; Casos de

congruência; Centro de simetria de um segmento; Classificação das expressões

algébricas; Classificação de um polígono; Classificação do paralelogramo e losango

como quadriláteros; Classificação do trapézio; Como colocar os termos semelhantes

em colunas para efetuar a expressão; Completividade de R; Conceituação de

postulados e teoremas; Condição de existência de um triângulo; Congruência de

segmentos de reta; Congruência de triângulos; Conjunto dos números irracionais;

Conjunto dos números reais R; Conjuntos convexos e não convexos; Corolário;

Cubo da soma e diferença de dois números; Demonstração de teoremas com ângulos; Determinação do centro de simetria de qualquer figura plana;

Determinação do ponto médio dos segmentos de uma figura plana; Diagonais do

quadrilátero; Diferença de dois quadrados; Distância entre dois pontos e ângulos;

Divisão de frações algébricas, cujos termos são monômios; Divisão de monômios;

Divisão de polinômio por polinômio; Divisão do quadrilátero em dois triângulos

congruentes; Elementos de um polígono; Elementos notáveis de um triângulo;

Elementos respectivamente congruentes em triângulos; Entes geométricos

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primitivos ponto, reta e plano; Equações fracionárias; Equações literais; Estruturas

de corpo (adição e multiplicação, (a) associativa; (n) elemento neutro, (i) elemento

inverso; (c) comutativa; (d) distributiva); Expressão algébrica; Valor numérico;

Expressões algébricas, conceito e classificação; Classificação de expressões

algébricas; Expressões de números inteiros relativos; Fatoração (fator comum);

Fatoração de expressões algébricas contendo coeficientes fracionários; Fatoração de

fatores colocando em evidência um fator comum; Fatoração de um trinômio

quadrado perfeito; Fatoração por agrupamento; Figura geométrica conceito,

postulados ou axiomas; Frações algébricas, conceito e adição; Frações algébricas,

divisão; Frações algébricas, subtração e multiplicação; Geometria intuitiva

Construções geométricas; Inequações algébricas; Sistemas de equações algébricas; Introdução à álgebra, MDC de expressões algébricas; Cálculo do mdc de

polinômios; Cálculo de mmc de monômios; Medianas do triângulo; Mediatriz

bissetriz; Ângulos complementares; Mediatriz de um segmento; Mediatrizes do

triângulo; Medida de segmentos; Medida do perímetro de um polígono regular;

Medidas de um ângulo; Multiplicação e divisão de um ângulo; Método da adição;

Método da substituição; Geometria intuitiva; Partes de um monômio e conceito;

Monômios (adição e subtração); Monômios semelhantes; Monômios, redução de

termos semelhantes; Multiplicação com medidas de ângulos; Multiplicação de

expressões com mais de um termo expressões algébricas; Multiplicação de frações

algébricas cujos os termos são monômios; Multiplicação de frações algébricas cujos

os termos são polinômios; Multiplicação de um monômio por polinômio; Multiplicação de um monômio por um polinômio; multiplicação de polinômios por

polinômios; Multiplicação de um polinômio por um polinômio; Noção de expressão

literal ou algébrica; Nomes dos polígonos; Diagonais de um polígono; Número de

diagonais de um polígono; Números irracionais; Números racionais; Números reais;

Reta real; O teorema de Pitágoras e construção geométrica de números irracionais;

O valor numérico das expressões em forma de testes; Operações com ângulos

redução a minutos e segundos; Operações com expressão algébrica; Operações com

medidas de ângulos; Operações com polinômios adição; Operações com polinômios

adição; Operações com polinômios subtração; Operações no conjunto R; Ordem de

R; Inequações algébricas; Paralelogramos; Poligonais; Polígono simples não simples

e irregular; Noção do processo de triangulação de qualquer polígono para o cálculo da área quadrada; Polinômio ordenado completo e incompleto; Conceito e grau de

um polinômio; Polinômios, subtração; Ponto médio de um segmento; Pontos

colineares; Pontos internos e pontos externos a um ângulo, Posições relativas de 2

retas no plano; Potenciação de frações algébricas; Radiciação de frações algébricas;

Potenciação de monômios; Potenciação e radiciação no conjunto R; Produtos

notáveis, Propriedade da adição de polinômio; Propriedade de adição e

multiplicação; Propriedade distributiva; Quadrado da diferença de dois termos;

Produto da soma pela sua diferença; Quadrado da soma de dois termos;

Quadriláteros; Racionalização das propriedades reflexiva simétrica; Transitiva na

congruência de triângulos; Radiciação de monômios; Raiz quadrada de termo

algébrico; Redução de segundos a minutos e graus; Redução de termos semelhantes;

Redução de um ângulo a minutos e a segundos; Representação decimal exata ou periódica; Representação decimal na exata ou não periódica; Representação decimal

não exata ou não periódica; Retas perpendiculares e retas oblíquas; Segmento da reta

e posições de segmentos; Colineares consecutivos; Segmentos colineares;

Segmentos congruentes; Semi-reta, segmento; Simetria axial ou simetria em relação

a uma reta, determinação do eixo de simetria, projeção de uma figura plana e

determinação do eixo de simetria; Simetria; Simplificação de frações algébricas cujo

numerador e denominador são monômios; Sistemas de equações com duas variáveis;

Soma da medidas dos ângulos de um triângulo; Soma das medidas dos ângulos de

um quadrilátero;Soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo;Soma dos

ângulos interno de um quadrilátero;Soma dos ângulos internos de um triângulo;

Subconjunto dos reais; Subtração com medidas de ângulos; Subtração de polinômios sendo os coeficientes fracionários; Surgimento do conjunto dos números

reais;Teorema do ângulo externo; Teorema recíproco; Termo algébrico ou monômio

e operações com expressões algébricas; Termos semelhantes; Tipos de teoremas,

abstrações e curiosidades com construções de teoremas; Triângulos, conceitos e

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elementos; Trinômio quadrado perfeito; Valor numérico de um polinômio grau de

um polinômio; Valor numérico de uma expressão algébrica.

Relação dos Conteúdos da 8ª Série ministrados na Escola Estadual Oscar Soares

no período de 1970 a 1990.

Abscissas e ordenadas; Ângulos notáveis; Aplicação das propriedades dos radicais;

Aplicação de razões; Aplicação de semelhança de triângulos; Aplicação do plano cartesiano; Aplicação numérica das relações métricas, Área das figuras planas;

Cálculo das raízes do 2° grau sem o uso da fórmula; Cálculo de equações

irracionais; Cálculo de equações, sistema de equações do 2° grau; Casos de

semelhanças de triângulos; Comparação de radicais; expoente fracionário;

Comparação de triângulo semelhante para dedução da fórmula do seno no triângulo

retângulo; Conjunto verdade da equação do 2° grau; Conjuntos verdade da equação

do 2° grau; Dedução da tangente no triângulo retângulo radiciação; Dedução do

cosseno no triângulo retângulo; Determinação do cosseno; Determinação do seno;

Determinação do tangente; Determinar o conjunto verdade das equações para os

conjuntos N, Z, Q e R; Equação 2° grau, relação entre os coeficientes e as raízes;

Equação biquadrada; Equação de 2° grau; equações do 2° grau incompletas; Equação do 2° grau - literal; Equação do 2° grau: fórmula de resolução; Equações

biquadradas; Equações fracionárias e literais; Equações irracionais; Estudo dos

radicais; Expressões com expoente negativo; Expressões com potenciação; Feixe de

retas paralelas com transversal; Figuras geométricas resolvidas por cálculos

matemáticos (área e perímetro); Função constante; Função de polinômio do 2° grau;

Função quadrática conceito; Funções (1° grau e quadrática); Funções afim; Funções

crescente e decrescentes; Funções de grau zero; Funções lineares; Grandezas

proporcionais; Homotetia; Introdução a representação gráfica; Multiplicar a índices

das frações; Natureza de um triângulo; Noção de potenciação em R; Noção de seno

– cosseno e tangente, tabela, uso da tabela; Noções sobre equações irracionais;

Noções sobre sistemas de equações; O comprimento e área de uma circunferência; O

diagrama de retas; O estudo do triângulo retângulo, trigonometria; O plano cartesiano; O produto cartesiano dos pares ordenados; Operações com polinômio

(adição e subtração); Operações com polinômios (multiplicação, propriedades da

multiplicação de polinômios); Operações com radicais; adição e subtração;

Polígonos regulares; Polinômio ordenado; Posição de um ponto no plano;

Potenciação, radicais, conjunto verdade da equação do 2° grau; Problemas do 2°

grau a leitura em linguagem escrita e matemática; Problemas do 2° grau; Produto

cartesiano (relação e funções); Produto cartesiano com sua representação gráfica;

Projeção ortogonal e triângulo retângulo; Proporções na geometria; Propriedade da

potenciação: potência de potência, dispositivo prático para extrair raiz quadrada,

cálculo com números irracionais (radicais); Propriedades da semelhança de

triângulos; Racionalização de denominadores; Racionalização; Radicais semelhantes; Radicais, relações métricas no triângulo retângulo; Radiciação, raiz

quadrada aproximada, Razões proporcionais aplicadas à redução e ampliação pelo

processo de homotetia; Razões trigonométricas; Reconhecimento de um triângulo;

Redução de radicais ao menor índice comum; Relação especial e a lei dos cossenos;

Relações e funções, função do 1° grau; Relações métricas (corda - corda); Relações

métricas (secante - secante); Relações métricas na circunferência; Relações métricas

no círculo; Relações métricas no triângulo retângulo; Relações métricas num

triângulo qualquer; Representação do produto cartesiano; Representação gráfica de

ponto; Representação gráfica de uma função; Representação gráfica do produto

cartesiano; Segmentos proporcionais; Simplificação de expoentes, achar o mmc;

Sistema simples do 2° grau; Teorema de Pitágoras; racionalização do teorema de Pitágoras; Teoremas de tales; Triângulos semelhantes; Uso da fórmula, equação do

2° grau literal; Zeros e vértices da função do 2º graus.

Ao compararmos os conteúdos encontrados nos Diários de Classes com os providos do

Movimento da Matemática Moderna, temos uma real semelhança nas partes da teoria dos

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conjuntos, estrutura, grupo e topologia, apontados por Piaget, e pelo grupo Bourbaki. No

entanto, entendemos que os indícios desses conteúdos estão ligados ao Movimento da

Matemática Moderna. Porém, não foi percebido nos registros dos Diários de Classe práticas

pedagógicas que comprovassem a utilização das instruções demarcadas pelo GEEM para o

ensino de Matemática.

Além dos assuntos mínimos para o ginasial, o GEEM (1965a, p. 96 -100 apud

SILVA, 2008, p. 147-148), também organizou os assuntos mínimos relevantes para o

Colegial, nomenclatura que já, na década de 70 do século XX, passaria para Ensino de 2º

Grau, por força da Lei 5.692/71. Essa Lei muda as ações curriculares e educacionais em todo

território brasileiro. A saber, a relação de conteúdos listada pelo GEEM, tinha como principal

objetivo a aproximação da teoria com a prática matemática, perpassando também pela

Geometria.

Análise Combinatória e aplicações; Aplicações ao cálculo de áreas e volumes;

Coordenadas de um ponto da circunferência com centro na origem; Aplicações das

relações trigonométricas nos triângulos; Corpos redondos; Diedros, triedros e

ângulos poliédricos; Elementos de cálculo integral; Elementos de Geometria

Analítica Plana; Equação da reta e equação da circunferência; Equações algébricas;

Equações reduzidas das cônicas; Espaço e semi – espaço; Estudo completo do

trinômio do 2º grau e aplicações; Estudo dos polinômios; Função de 2º grau;

Identidades, equações e inequações trigonométricas simples; Introdução à

Geometria Espacial; Logaritmos; Medidas dos sólidos geométricos; Noção de limite,

continuidade e derivadas; Noção de matrizes, aplicações; Noção de potência no campo real; Noção de sequência ou sucessão de números reais; Números

complexos; Operações fundamentais; Operações inversas; Paralelismo e

perpendicularismo de retas e planos; Poliedros (prismas, pirâmides e troncos);

Progressões; Propriedades geométricas; Propriedades; Sistema de equações lineares;

Transformações pontuais: translação, rotação, simetria e homotetia.

Os assuntos para atendimento ao Ensino Colegial, assim chamado, mas denominado

pela Lei 5692/71, Ensino de 2° grau e, atualmente, Ensino Médio, apresentados pelo grupo do

GEEM, como mínimo, aparecem em vários momentos nos Diários de Classe da Escola

Estadual Oscar Soares, ministrados pelos professores. Dessa forma, relacionamos esses

conteúdos por anos trabalhados nos seus diversos cursos ofertados no período.

Relação dos conteúdos de Matemática ministrados no Curso de Técnico em

Agropecuária no período de 1980 a 1990.

Alinhamento de três pontos; Ângulo; Área de figuras geométricas; Cálculo da razão

da Progressão Aritmética; Cálculo da razão da Progressão Geométrica; Cálculo dos

números de termos; Cálculo e consulta na tabela de graus dos ângulos até 90 graus;

Cálculos algébricos; Cardinalidade; Circunferência; Complementar de um conjunto em relação a outro; Composição de funções; Condição de paralelismo; Condição de

perpendicularismo; Conjunto das partes de um conjunto; Conjuntos numéricos;

Conjunto unitário; Conjunto universo; Conjunto vazio; Conjuntos numéricos;

Intervalos numéricos; Conjuntos: conceitos primitivos da teoria dos conjuntos;

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Consequência da definição; Construção dos gráficos; Cosseno medidas; Definição

logarítmica; Demonstração do vértice da parábola; Desenhos dos triângulos;

Diâmetro da circunferência; Domínio e imagem; Equações biquadradas; Equações e

Inequações; Equações reduzidas do 2° graus; Escala; Expressões algébricas;

Expressões; Falsa posição; Fatorial de um número; Fórmula para cálculo da

Circunferência; Fórmulas (zeros da função x e y); Fórmulas para cálculo da área de

circunferência; Fórmulas para cálculos de área de alguns quadriláteros; Função

constante; Função crescente; Função decrescente; Função do 2° grau com esboço da

parábola; Função e aplicação; Função linear; Função por função ímpar; Função

quadrática; Função quadrática; Introdução a função inversa; Função (Seno, Co-seno,

Tangente); Funções do 2º graus; Funções elementares; Funções Monotômicas ou Monótomas crescente; Funções; definição; Gráfico da função e as parábolas

Expressão; Grau dos ângulos; Igualdade de conjuntos; Inclinação da reta com o eixo

das abscissas; Inequação do 1° grau; Inequação do 2° grau; Inequações e sistemas do

2° graus; Interpolação aritmética; Interpolação de uma (PA); Interpolação

geométrica; Introdução à função logarítmica; Juros composto; Juros pelo divisor

fixo; Juros simples; Módulo; Nomenclatura logarítmica; Notação de função;

Número binomial; Números não decimais; Operação com conjunto- Diferença de

conjunto; Operações básicas de matemática; Operações com conjuntos; Paralelismo;

Perímetro e áreas das figuras planas; Permutação com repetições; Permutações

simples; Perpendicularismo; Pertinência; Plano cartesiano; Porcentagem;

Potenciação e radiciação; Produto cartesiano; Produto e Soma de (PG); Propriedades da P.A; Introdução à progressão geométrica; Propriedades das

relações; Propriedades dos números binomiais; Radiciação; Regra de três composta

direta; Regra de três composta inversa; Regra de três simples; Regras de contagem:

regra do produto; Relações binárias; Retângulo; fórmula de área; Seno medidas;

Sequência definida por fórmulas; Sequências numéricas; Simplificadas do 2° grau;

Sinal da função do 1° grau; Sinal da função do 1° grau; Sistema de logaritmos

decimais; Sistema de logaritmos; Sistema e Equações irracionais; Sistemas do 2°

graus Complexos; Sistemas do 2° graus; Soma dos termos da P.G infinita;

Subconjunto (partes de um conjunto); Tangente medidas; Termo geral da (PG);

Termo geral do binômio; Tipos de função: sobrejetora bijetora e injetora; Tipos de

funções; Tipos de intervalos; Triângulo de Pascal e suas propriedades- Binômio de Newton; Unidades agrárias; Unidades de capacidade; Unidades de medidas de

ângulo; Unidades de medidas de comprimento; Unidades de medidas de tempo;

Unidades de volume; Unidades e medidas de superfície; Valor absoluto e relativo;

Variação da função quadrática; Vértice da parábola; Conjunto e Subconjunto

numéricos; Volume dos sólidos geométricos.

Relação dos conteúdos de Matemática ministrados no Curso de Magistério para

séries iniciais no período de1980 a 1990.

A importância da matemática; Adição de fatos fundamentais; Adição e subtração

com decimais; Agrupamento, reagrupamento e complementação de conjunto; Algarismos de adição e subtração; Alinhamento de três pontos; Ângulo; Seno;

Aplicação das razões trigonométricas; Aplicação de números decimais nas aulas

práticas; Apresentação de aulas práticas; Área de figuras geométrica; Área de uma

superfície; Áreas e perímetros; As frações e o ensino da matemática; As

representações de uma função; As variáveis de uma função; Aspectos físicos e

aspectos da integração sócio-emocional; Aulas práticas e análise de livros didáticos;

Aulas práticas envolvendo: Medidas de superfície, Medidas de capacidade, Medida

de massa e volume, Medida de tempo e Temperatura, além da geometria no ensino

de 1º grau; Binômio de Newton; Cálculo das probabilidades com condições; Cálculo

do conjunto imagem; Cálculo do número de arranjos; Cálculo e consulta na tabela

de graus dos ângulos até 90 graus; Característica do ensino da matemática “leitura”,

conceitos quantitativos; Característica e mantissa; Características do ensino da matemática; Cardinalidade; Circunferência; Classificação e seriação; Cologaritmo;

Comparação de conjuntos; Comparação de frações decimais com números decimais;

Complementação de conjuntos; Complementar de um conjunto em relação a outro;

Composição de funções. Adição; subtração; multiplicação; divisão de números:

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inteiros e decimais; Potenciação e radiciação; Conceito de método e metodologia e

objetivo da matemática; Conceito formal de função; Conceito intuitivo e formal de

função; Conceitos quantitativos; Conjunto das partes de um conjunto; Conjunto de

n° Irracionais; Conjunto de n° Racionais; Conjunto de n° Reais; Conjunto e

Subconjunto numéricos; Conjunto imagem da função quadrática; Conjuntos

numéricos Fundamentais; Conjunto unitário e relação de pertinência; Conjunto

unitário; Conjunto vazio; Conjuntos numéricos; Conjuntos, diferenciação através de

quantidade e elementos; Conjuntos: conceitos primitivos da teoria dos conjuntos;

Construção dos gráficos; Correspondência biunívoca; Correspondência termo a

termo; Cosseno medidas; Debates em classes; Definição de conjuntos; Definição de

função; Demonstração do vértice da parábola; Desenhos dos triângulos; Diagnóstico desse ensino; Diâmetro da circunferência; Dinâmica de currículo; Divisão de

decimais; Divisão de frações; Dois pontos para determinar uma reta; Domínio e

imagem da função quadrática; Elementos de uma matriz; Elementos fundamentais;

Equação modular; Equações do 2° grau e Biquadradas; Equação reduzida do 2°

grau; Escrita de numerais; Estudo de frações; Estudo de gráficos; Etapas e objetivos

do estudo de frações; Eventos simples; Explorando o vocabulário infantil; Extremos

da função quadrática; Fases do processo de aprendizagem; Fatores que interferem na

aprendizagem; Fatos fundamentais da divisão; Fatos fundamentais de adição e

subtração; Figuras geométricas; Fórmula de área; Fórmula para cálculo da

Circunferência; Fórmulas (zeros da função x e y); Fórmulas para cálculo da área de

circunferência; Fórmulas para cálculos de área de alguns quadriláteros; Frações decimais, Subtração e adição de décimas; Frações e seus passos; Frações mistas,

Adição e subtração de frações; Frações: numeradores e denominadores; Frações

ordinárias, comparação de frações; Frações próprias e impróprias; Frações: termos

das frações, Operações com frações; Função (Seno, Co-seno, Tangente); Função

composta; Função constante; Função definida por várias sentenças; Função do 1°

grau; Função do 2° grau com esboço da parábola; Função e aplicação; Função

linear; Função modular; Função ou aplicação; Função por função ímpar; Função

quadrática; Funções afim com gráfico; Funções elementares caracterização em

gráfico; Funções elementares; Funções Monotômicas ou Monótomas crescente;

decrescente; estritamente crescente; estritamente decrescente; Graduação e

dificuldades; Gráfico da função modular; Gráfico da função quadrática; Gráfico qualidades de uma função; Grau dos ângulos; Identificação de conjuntos; Igualdade

de conjuntos; Imagem da função quadrática; Imagem de um elemento numa relação;

Importância do ensino em 1° grau; Inclinação da reta como eixo das abscissas;

Inequação do 1° grau; Inequações e sistemas do 2° graus; Inequações redutíveis à

quadrática; Interpolação de uma (PA); Intervalos numéricos; Introdução a Análise

Combinatório; Introdução a área de um círculo; Introdução a domínio e imagem da

função quadrática; Introdução a função inversa;Introdução a logaritmos; Introdução

a perímetro da circunferência; Introdução de função quadrática; Introdução entre

áreas de duas figuras; Introdução função exponencial; Introdução matrizes;

Introdução máximos e mínimos; Introdução trigonometria (funções, elementos da

trigonometria, relações trigonométricas); Lei de uma função; Leitura do texto:

Aspectos matemáticos; Leitura do texto: sistema de numérico; Logaritmo da potência; Logaritmo decimal; Logaritmo do produto; Logaritmo do quociente;

Manuseio da tábua de logaritmo; Material didático e tecelagem; Meios de avaliação

diagnóstica; Módulo; Multiplicação e divisão usando reserva e vírgula, Quadro valor

de lugar; Múltiplos divisores e números primos, MMC e MDC; Noção de par

ordenado; Noções sobre conjuntos numéricos; Notação de função; domínio e

imagem; Números decimais e operações com frações; Números naturais e seu

conjunto N; Números Racionais; Números romanos; O gráfico da função e as

parábolas Expressão; O porquê e se é necessário o ensino da matemática no 1° grau;

O significado de prontidão e idade cronológica; O uso do material didático no

ensino da matemática; Objetivo da disciplina; Objetivo do ensino da matemática;

Objetivo e orientação; Objetivos do estudo de frações; Operação e adição; Operações com conjuntos; Operações com matrizes; Operações com o sistema de

medidas; Organização dos componentes curriculares; Organização dos componentes

equivalentes; Orientação para o ensino das operações com frações; Orientação para

o ensino; Os aspectos da preparação intelectual; Os objetivos do ensino da

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matemática no ensino de 1°grau; Paralelismo; Partes de um conjunto; Passo de aula

de noção nova; Passos a serem dados na adição; Passos a serem dados na escrita de

numerais; Passos da aula da fração; Perímetro da circunferência; Período

preparatórios das matemáticas; Permutação; Perpendicularismo; Plano de Aula de

Matemática; Polinômio (quadrado da soma e diferença de dois termos e cubo da

soma e diferença de dois termos ); Introdução e cálculo de triângulo de Pascal;

Porque ensinar matemática na escola de 1° grau; Potenciação; Preparação de

material didático e orientação; Probabilidade de um evento simples; Problemas

cotidiano envolvendo áreas; Problemas de máximos e mínimos; Problemas

envolvendo Arcos; Problemas envolvendo áreas de figuras planas no cotidiano,

método prático para cálculo de área de superfície, operações com números decimais e fracionários; Problemas envolvendo áreas de figuras planas, áreas de duas figuras

semelhantes razão, perímetro da circunferência, radiano; Problemas envolvendo

áreas de figuras, (área de um quadrado, retângulo, triângulo, paralelogramo,

trapézio, área de retângulo); Problemas na escola de nível; Processos da divisão

(longo e breve); Processos de Inseght; Produto cartesiano; Produto Cartesiano;

Produto e Soma de (PG); Produtos notáveis quadrado da soma de dois termos;

Progressão geométrica (PG); Progressões Aritmética (PA); Propriedade da adição;

Propriedade da mantissa; Propriedades das relações; Propriedades de adição,

Subtração, Multiplicação, Divisão; Propriedades de logaritmo; Propriedades

operatórias; Quadro valor de lugar; Qualidades de uma função; Radiano;

Radiciação; Raízes ou zeros da função quadrática; Razão entre áreas de duas figuras; Razões trigonométricas; seno, Cosseno; Reconhecimento de agrupamentos; Relação

binária; Relação de inclusão subconjunto; Relação de pertinência; Representação de

conjunto; Representação decimal; Reprodução de conjuntos; Resolução de

problemas; Resoluções de problemas envolvendo trigonometria; Retângulo; Seno

medidas; Significado de currículo; Simbolização dos numerais; Simplificação de

fração; Sinais do gráfico da função quadrática; Sinal da função de 1° grau e

determinação por meio da fórmula; Sistema e Equações irracionais; Sistema legal de

unidade de medida; Sistemas do 2° graus Complexos; Sistemas do 2° graus; Soma

subtração através de conjuntos; Subtração de dezenas dadas; Subtração,

Multiplicação, Divisão com aulas práticas; Tabela de equivalência; Tangente

medidas; Técnica e método de conjunto; Teoria de conjuntos; Termo geral da (PG);Tipos de divisão (divisão exata e inexata); Tipos de função: sobrejetora,

bijetora e injetora; Função do 1° grau; Tipos de intervalos; Tipos de Matrizes; Tipos

de problemas; Uso da quadra de valor de lugar nas quatro operações; Uso de tabelas;

Utilização do triângulo de Pascal no cálculo do binômio de Newton; Variação da

função quadrática; Vértice da parábola; Zeros de uma função de 1° grau; Zeros ou

raízes da função quadrática.

Relação dos Conteúdos ministrados no Curso de Técnico em Contabilidade no

período de 1980 a 1990.

A reta Real; Ágio e reconhecimento de folhas de pagamento a título de INPS;

Análise dos gráficos; Aplicação com intervalo numérico; Aplicação ou funções,

Função sobrejetora; Aplicações de porcentagem; Binômio de Newton; Cálculo da

razão da Progressão Aritmética; Cálculo da taxa de juros; Cálculo da taxa; Cálculo

de juros/método divisores fixos; Cálculo de montante por logaritmos; Cálculo de

montante; Cálculo de periodicidade da aplicação de taxa; Cálculo de taxa e do

tempo; Cálculo de um termo qualquer de uma proporção 4ª proporcional; Cálculo de

um termo qualquer; Cálculo do capital inicial; Cálculo do montante quando o prazo

não é um numero inteiro de períodos; Cálculo do período de tempo; Cálculo do

valor do pagamento complementar; Cálculo dos termos da Progressão Aritmética; Cálculos do principal e da taxa; Câmbio indireto. Proporcionalidade com relação ao

tempo; Capitais equivalentes; Classificação das funções do 1° grau; Comparação

com a realidade atual; Comparação entre a regra de sociedade e a proporção;

Comparação entre média ponderada; Comparação entre o desconto composto

racional e os descontos simples; Comparações entre juros e porcentagem;

Complementar de um conjunto em relação a um conjunto universo; Comum em

função do desconto Racional; Comum em função do desconto; Conceito de função

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do 1° grau; Conceito de função, Noção de par ordenado; Conceito de relação;

Conjunto dos n° Reais; Conjuntos numéricos N e Z; Conjuntos numéricos;

Conjuntos: universo, vazio e unitário; Construção de gráficos de funções do 2° grau

e cálculos de vértices das parábolas; Das proporções contínuas; Definição de função

afim; Definição de função identidade; Definição de função linear; Definição de juros

simples e seus tipos; Desconto Bancário; Desconto composto; Desconto Racional;

Desconto simples; Descontos composto por fora ou desconto comercial composto;

Descontos compostos; Descontos e taxas de descontos; Determinação ao domínio e

contradomínio; Determinação das características; Determinação do domínio de uma

função; Determinação dos conjuntos; Determinantes; Diagrama de Venn; Diferença

entre conjuntos; Diferença entre dos descontos; Diferenciação das funções do 1° grau; Diferenciação de relação e função; Distância entre dois pontos; Divisão direta

e inversamente proporcional; Divisão diretamente proporcional, simples; Divisão

em partes proporcionais; Divisão inversamente, simples; Divisão proporcional – a

quarta proporcional; Divisão proporcional; Divisores Fixos; Cálculo de juros;

Domínio da função do 2° grau; Domínio e imagem de uma relação; Empréstimos

indivisíveis; Equações exponenciais; Equações modulares; Equivalência de Capital:

Em função desconto Racionais; Equivalência no regime de capitalização composta;

Espaço amostral; Estudo dos sinais de uma inequação; Estudos da média: aritmética,

ponderada, harmônica e geométrica; Eventos possíveis e impossíveis; Expressão de

capital acumulado; Expressões criadas a partir de um conjunto; Falsa posição de

proporção; Falsa posição; Formação de subconjuntos; Fórmula; Taxa de câmbio; Fórmulas (Montante, Capital, Taxa,Tempo,Taxa de juros); Função (injetora,

sobrejetora e bijetora); Função constante; Função crescente e decrescente; Função

do 2° grau; Função do Desconto Racional; Função exponencial; Função inversa;

Função numérica de uma variável; Função Quadrática; Funções logarítmicas;

Funções quadrática e exponencial; Geométrica, Razão e proporção; Gráfico de uma

função; Gráficos de função quadrática; Gráficos dos produtos cartesianos;

Grandezas proporcionais e inversamente proporcionais; Grandezas proporcionais e

inversamente proporcionais; Identificação de quando a função do 1° grau é crescente

ou decrescente; Igualdade de duas razões; Igualdade de mais de duas razões;

Imagem da função- quadrática; Inequações modulares; Interpolação aritmética;

Intersecção; Intervalo fechado à direita e aberto à esquerda; Intervalos à esquerda e fechados à direita e vice-versa; Intervalos numéricos; Introdução à amortização;

Introdução à capitalização; Introdução a Progressão Geométrica; Introdução à taxas

equivalentes e taxas efetivas; Introdução a teorias dos conjuntos; Introdução ao que

é Matemática; Juros simples (divisor fixo); Juros simples e compostos diferença;

Logaritmo; Média proporcional; Método das partes alíquotas de taxa; Método das

partes alíquotas do tempo; Método dos multiplicadores fixos; Montante simples;

Noção de conjuntos; Noções do sistema francês de amortização; Noções gerais

sobre progressão aritmética; Noções preliminares de desconto simples; Número de

anuidades necessárias para amortizar uma dívida; Números diretamente

proporcionais; Números inversamente proporcionais; Números proporcionais;

Operação com conjuntos; Operações com mercadorias; Operações de câmbio direto;

Operações de descontos; Operações entre conjuntos numéricos; Operações sobre mercadoria; Par ordenado; Paralelismo; Periodicidade de aplicação da taxa ao

capital inicial; Perpendicularismo; Pertinência; Plano de amortização; Porcentagem,

Juros simples; Porcentagem; noções, Cálculo de porcentagens; Prazo médio;

Problemas, divisores fixos; Processo usado na resolução de problemas que

envolvem grandezas proporcionais; Produto cartesiano, Construção de gráficos;

Produto cartesiano; Progressão aritmética; Progressão Aritmética; Proporção

contínua; Proporcionalidade; Proporções diretamente; Proporções Fundamentais;

Proporções imensamente; Proporções, igualdade; Propriedade das proporções

contínuas; Propriedade fundamental de uma proporção; Propriedade geral das

proporções; Propriedades da função Logarítmicas e decimais; Propriedades das

proporções; Propriedades de paralelismo; Propriedades do perpendicularismo; Propriedades fundamentais das proporções; Propriedades gerais das proporções;

Quarta proporcional; Racionalização. Bancária; Raiz de uma função; Raiz ou zero

da função linear; Raízes ou Zeros da função quadrática; Razão de duas grandezas;

Razões de dois números; Razões e proporções; Razões, Comparações; Razões: razão

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de dois números; Recíproca da propriedade e aplicações; Reconhecimento de função

através gráfico; Regra conjunta; Regra conjunto; Regra de sociedade e suas

aplicações; Regra de sociedades; Regra de três compostas; Regra de três simples;

Regra prática para o cálculo de determinante de 2ª e 3ª e ordem superior a 3; Regras

de sociedade simples; Relação binária; Relação de continência; Relação entre

conjuntos; Relação entre subconjunto; Relação inversa; Rendas certas;

Representação de conjuntos numéricos; Representação de função inversa no plano

cartesiano; Representação gráfica de um produto cartesiano com intervalos;

Representação gráfica de um produto cartesiano; Representação gráfica dos pontos;

Resolução de sentenças compostas; Sinal de uma função; Sistema Americano de 2

taxas; Sistema Americano de uma só taxa; Soma de probabilidade; Soma dos termos de uma P.A; Soma dos termos de uma P.G; Subconjunto dos reais; Taxa de desconto

quando se conhece a taxa de juros; Taxa média; Taxa real em função da taxa de

desconto unitário; Taxa unitária; Taxa de equivalência; Taxas de juros nos

descontos; Taxas equivalentes; Taxas proporcionais e equivalentes; Tempo e taxa;

Teoria dos conjuntos; Terceira proporcional; Termo geral da P.A; Termo geral para

a progressão geométrica; Termos de uma proporção;Termos de uma razão; Tipos de

descontos; Tipos de intervalos, Tipos e problemas referente as taxas;

Transformações que não alteram uma proporção; Transformações que não alteram

uma proporção; Valor anual comercial; Valor atual composto; Valor da taxa,

Sistema americano; Valor real do preço custo; Valor real do preço de custo; Valores

da função e estudo do sinal da função quadrática; Vencimento comum; Vencimento médio das anuidades; Vendas de mercadorias com lucros; Vértice da parábola; Zeros

da função quadrática; Zeros ou raízes da função.

Relação dos conteúdos de Matemática ministrados no Curso de Propedêutico no

período de 1980 a 1990.

Aritmética como um caso particular de sequência; Binômio de Newton; Cálculo da

razão da Progressão Aritmética; Cálculo dos termos da P.A; Conjunto dos n°

Inteiros e Racionais; Conjunto dos n° Reais; A reta dos n° Reais; Conjunto dos números Naturais; Conjunto dos números reais; Conjunto universo unitário e vazio;

Conjuntos complementares; Conjuntos numéricos; Construção de um triângulo

retângulo; Demonstração geométrica; Determinação do domínio de função;

Determinação e formação de conjuntos; Determinante de 2° ordem; Determinante de

3ª ordem (Sarrus); Diagramas de Venn; Intersecção de conjuntos; Dízimas

periódicas; Domínio da função quadrática; Domínio e imagem de uma função afim;

Domínio e imagem de uma relação; Domínio, Imagem e Gráfico; Sequências

matemáticas,; Domínio; Imagem; Gráfico da função afim; Elementos do triângulo

retângulo; Equações exponenciais; Fatorial de um número; Fórmulas para inserir

meios aritméticos; Função afim; Função constante; Função do 2° grau; Função

exponencial; Equações exponenciais; Função incompletas; Função Inversa; Função linear;Função numérica de uma variável; Função Quadrática; Gráfico da função

quadrática; Funções elementares;Gráfico da função linear; Gráficos das funções do

2° grau; Igualdade de matrizes; Imagem da função afim; Imagem da função

quadrática; Inserção de meios geométricos numa P.G; Inserção de termos numa P.A;

Interpolação de meios aritméticos; Intervalos abertos à direita; Intervalos abertos e

fechados; Intervalos fechados à esquerda; Intervalos numéricos; Introdução a

números binomiais; Introdução a probabilidade; Introdução à sequências

matemáticas; Introdução a sistemas de equações lineares; Introdução à teoria de

probabilidade; Introdução às matrizes; Introdução às relações métricas no triângulo

retângulo; Introdução de Conjuntos; Logaritmos; Matriz identidade e transposta;

Matriz simétrica; Método da adição; Método da substituição; Métodos de resolução;Noções da palavra matemática; Noções gerais sobre progressão aritmética

(PA); Números inteiros relativos; Números racionais; Números irracionais; Números

naturais; Números reais; Obtenção de matriz inversível; Operações com conjuntos

numéricos; Operações com matrizes; Operações com matrizes: adição, subtração e

multiplicação de matrizes; Outras relações métricas nos triângulos retângulos; Par

ordenado; Plano cartesiano; Problemas resolúveis por sistemas de equações; Produto

cartesiano; Progressão geométrica; Propriedades dos n° binomiais; Propriedades dos

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termos de uma P.A; Propriedades dos triângulos de Pascal; Propriedades

logarítmicas; Raiz das funções do 1° grau; Raízes ou zeros da função quadrática;

Razão de P.G; Razão para inserir meios aritméticos; Razões entre valores;

Reconhecimento de um gráfico na função; Relação binária; Relação

matematicamente expressas; Relações de pertinência; Relações entre conjuntos;

Representação de conjuntos numéricos; Representação de pares ordenados;

Semelhança de triângulo; Sequências dadas por fórmulas; Sequências numéricas;

Sequências reais; Sistemas 2x2; Sistemas 3x3; Sistemas de equação lineares;

Sistemas de equações lineares; Soma de termos de P.G finita; Soma de termos de

P.G infinita; Soma de termos de uma P.A; Soma dos termos da P.A; Soma dos

termos da P.A,; Soma dos termos da P.A; Soma dos termos de uma P.A; Subconjuntos; Teorema de Lapleace para determinantes de ordem superior a 3;

Teorema de Pitágoras; Teorema de Pitágoras; Termo geral da P.A; Termo geral da

P.A; Termo geral da P.G; Termos equidistantes; Tipos de função; Função

Sobrejetora; Injetora; Bijetora; Triângulo de Pascal; Triângulo retângulo; Valor de

função; Zeros de função quadrática; Zeros ou raízes da função.

Ao compararmos os conteúdos matemáticos, nas duas listas informativas do GEEM, a

qual apresentou os conteúdos mínimos para o ensino Ginasial e Colegial, bem como os

escriturados pelos professores nos Diários de Classe, os indícios se tornaram conclusivos nas

análises, pois foi possível identificarmos semelhanças peculiares no direcionamento dos

conceitos conforme o ensino da Matemática Moderna, que centralizava o professor no ensino

aprendizagem por meio dos livros didáticos utilizados.

É importante ressaltarmos que, os conteúdos se encontram nos Diários de Classe na

forma sequencial e cartesiana evidenciando os conhecimentos formais da Matemática e pouca

inferência didática pedagógica apresentada em seus registros em cada período de aulas

ministradas. Seus conteúdos referenciavam uma organização linear do currículo de

Matemática que, por mais que se tentassem novas mudanças, mesmo assim, centralizava

obedecendo às partes, o núcleo comum e partes específicas exigidas pela Lei 5692/71e

resolução 8/71 da Educação Geral.

Essa organização exigia uma estrutura de Teoria dos Conjuntos, relações algébricas,

Grupos (podendo ser observados nas propriedades Matemáticas e nas próprias operações entre

os conjuntos). Esse saber formalizado recai sobre a ideia que partem do advento do

Movimento da Matemática Moderna. Foi ainda possível verificar que, nos Diários de Classe

os conteúdos de Geometria se encontravam distribuídos entre os bimestres, contrariando as

organizações dos livros didáticos, os quais traziam seus conteúdos geométricos nos últimos

capítulos. Na verdade, as preocupações dos docentes eram em passar, a matéria. E a forma de

(re) passar esses conteúdos muitas vezes por ser autônoma, seguia o que já estava posto

sequencialmente no livro, salvo raras exceções.

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Durante alguns relatos dos professores entrevistados, pudemos perceber que as

reuniões pedagógicas eram de extrema importância no início do ano letivo, pois direcionavam

o que se ensinar e como ensinar.

Mesmo para alguns professores com dificuldade pedagógica em compreender suas

obrigações que competiam a um professor, seus dirigentes os direcionavam para se manterem

fieis ao ensino cobrando-os muita dedicação. E, ao passar do tempo, os delegavam autonomia

no processo de ensinar, como e para que ensinar.

Entretanto, as dificuldades apresentadas eram muitas, principalmente, no processo de

como ensinar, como preparar suas aulas, como avaliar os alunos etc. Dessa forma,

trabalhavam do jeito que podiam, e tinham aprendido na época em que ainda eram alunos.

Buscamos conhecer um pouco dessas concepções que tinham esses profissionais como

professores de Matemática e como eles concebiam o ensino-aprendizagem voltados para os

conteúdos matemáticos no período que ministraram aulas dessa Disciplina.

[...] na época era para ensinar a pessoa a ler e escrever, e ensinar a fazer conta de mais, menos e dividir, esse era o objetivo (ARRUDA, 2012).

Geralmente o aluno quando ele era do sítio, ele tinha que saber pelo menos fazer

uma continha, uma matemática, uma tabuada, uma coisa assim. Eu achava que era

importante isso (BUCHELT, 2012).

Naquela época a matemática, por exemplo, no início tentei o básico mesmo, as

quatro operações: multiplicar, subtrair, dividir e tal (SILVA, 2012).

[...] percebemos que era uma dificuldade muito grande já com a falta de

profissionais. E com nossa chegada, incrementamos os conhecimentos básicos lá, e ajudamos muito a clarear também, aquela expectativa deles, [...] o que eles queriam

saber naquela época, era para poderem melhorar o conhecimento e ter um emprego

melhor com o 2º grau. [...] todas aquelas dúvidas que eles levavam para nós,

procuramos sempre resolver da melhor maneira. E que eles pudessem entender e

melhorar seus conhecimentos. E costumávamos trabalhar fazendo grupos e

trabalhando com eles. Botando-os também para trocar ideias um com os outros

(MOLINA, 2012).

[...] naquela época eu usava muitos palitos, de 8ª em diante. Mas tinha casos, de ter

aluno que não sabia as quatro operações. Quando 7ª, 8ª série na época, chegou sem

saber. Como? Não sabemos. Tínhamos que, estar trabalhando com material e tinha

muita dificuldade desse material. Apesar de que o Governo Estadual e Federal mandava cadernos, lápis, borracha. Esse material básico eles tinham (SILVA, 2012).

A Matemática usa fórmulas e regras. Estudos que nunca são usados dentro da

prática. E a prática na Matemática é deixada de lado. Então por exemplo, usa está

contido, não contém. Coisa que às vezes não se usa dentro da Matemática essa

matéria. Mas um cálculo de juros, às vezes a pessoa não sabe calcular, nem de

velocidade, volume dentro da Matemática Aplicada. Calculava, você quer armazenar

tantos sacos de arroz ou de milho, que seja, dentro de tantos metros quadrados,

metros cúbicos, qual deve ser o tamanho desse armazém? Então você gasta tantos

sacos de semente, por hectare, e você quer plantar tantos hectares, quantos sacos de

tantos quilos você... Então você já entrava com uma regra de três simples, ou uma regra de três composta, para deixar aquele aluno apto a ele desenvolver aquela

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Matemática dentro daquilo que eles estavam no dia-a-dia, no cotidiano deles. Dentro

da área de trabalho deles (PACHECO, 2012).

Podemos perceber nesses depoimentos os modos como os professores concebiam o ensino

de Matemática e como era sua prática pedagógica naquele período. Assim, percebemos que os

professores que lecionaram a Matemática, e suas ações, na tentativa de construir um ensino

entendido como útil e necessário se utilizaram de vários métodos na perspectiva de construção

do conhecimento, entre eles:

Memorização e Repetição – esses métodos, considerados tradicionais, foram utilizados

por alguns professores com o auxílio da tabuada, na época cobrada de todos os alunos

de forma cantada. Achava-se que esse processo como método era o ideal na

construção do conhecimento matemático. Além disso, cobrava-se exaustivamente a

repetição em qualquer atividade de cálculo. Essa maneira de pensar se respaldava no

professor como apenas um mero transmissor do conhecimento, esquecendo que a

construção do conhecimento ocorre pela dialética do pensar, fazer e compreender a

matemática.

Matemática Moderna – Faziam-se uso de material concreto, a exemplo de palitos de

madeira, para entender conceitos e construir conhecimento matemático na busca de

uma melhor aprendizagem. Preocupando-se com novos métodos de ensino, buscando

uma maior interação entre professor-aluno. Todavia, com o ensino de Matemática

voltado para a praticidade, inserindo os alunos nas discussões do dia-a-dia. E

materializando suas abstrações e as incorporando como ações pedagógicas, para que a

matemática possa ser trabalhada com simplicidade sem perder sua objetividade;

Matemática Aplicada - Considerada como uma ciência viva, pois a utilização da

Matemática como elemento explicativo e aplicável nas demais áreas do conhecimento

tem exaltado sua praticidade. A exemplo do momento em que o professor a usa na

relação do ensino-aprendizagem na Disciplina de Agropecuária, interferindo

diretamente na forma de o aluno conceber a Matemática como uma aplicabilidade nas

questões que envolvem o cotidiano. Propõe reflexões necessárias do uso da

Matemática como instrumento capaz de interagir com outras áreas de conhecimento.

Dessa forma, o aluno aprende construíndo os conceitos a partir de ações reflexivas

sobre materiais e atividade apresentadas nas diversas áreas, relativamente pelas

problematizações do saber matemático.

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234

A Escola Estadual Oscar Soares, mesmo com dificuldades em manter um quadro de

professores habilitados, conseguiu, durante seu início, oferecer aos alunos, com esforço da

comunidade, escolas mesmo precárias, mas importantes, e pessoas que se preocupassem com

primeiramente a família, trabalho e desenvolvimento do local.

Para Fiorentini, (1995):

A Primeira vista, poderíamos supor que seria suficiente descrever os diferentes

modos de ensinar a matemática. Porém, logo veremos que isto não é tão simples e, muito menos, suficiente, uma vez que, por trás de cada modo de ensinar, esconde-se

uma particular concepção de aprendizagem, de ensino, de Matemática e de

Educação. O modo de ensinar sofre influência também dos valores e das finalidades

que o professor atribui ao ensino de matemática, da forma como concebe a relação

professor – aluno e, além disso, da visão que tem de mundo, de sociedade e de

homem (FIORENTINI, 1995, p. 04).

Essa abordagem, outrora nos remete ao período que foi instaurado o GEEM, pois se

percebe que, as diferentes práticas do ensino de Matemática, em parte de algumas entrevistas,

apontam indícios dos trabalhos desse grupo em prol de uma Educação Matemática de

qualidade. Por meio de cursos, buscava-se incrementar as práticas dos professores, permitindo

nos conteúdos já existentes novas abordagens e novas práticas conceituais. Isso também é

notado nos registros de Diários de Classe e livro didático do período em estudo.

Pelos relatos abordados dos professores de Matemática, percebe-se que, por mais que

existisse certa preocupação por parte dos professores para com a aprendizagem dos alunos,

essa aprendizagem só teria êxito se ocorresse uma inter-relação entre professor e aluno.

Percebemos que o ensino de Matemática sofrera várias mudanças, principalmente no modo de

concebê-lo por esses professores, uma vez que, dos 09 entrevistados, apenas 02 eram

habilitados. O primeiro chegou a Juara, naquela escola em 1982, enquanto o segundo apenas

em 1990.

Nesse sentido, podemos classificar o ensino de Matemática da Escola Estadual Oscar

Soares em dois momentos. O primeiro, antes e depois da regulamentação do ensino de 1º

Grau, pois, a partir dessa ação, as preocupações com o ensino ganharam proporções de

escolarização de toda comunidade e passaram a buscar profissionais habilitados para suprir

essas necessidades, os quais eram vistos com respeito por toda comunidade escolar. Contudo,

não queremos dizer que, naquela época não existissem professores que não se preocupavam

com os alunos e suas dificuldades. Pelo contrário, os depoimentos mostram a preocupação

dos professores ao ministrarem as aulas. E que, independente de ter ou não formação

pedagógica, mantinham-se próximo do aluno. Entretanto, continuavam com posturas

conservadoras seguindo alguns métodos tradicionais de ensino.

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Comungamos com as reflexões de Fiorentini (1995) sobre interação entre professor e

alunos na busca do conhecimento, em que o elo principal entre os protagonistas deveria ser o

ensino. Afirma Fiorentini (1995) que:

O ensino, de um modo geral, continua sendo acentuadamente autoritário e centrado

no professor que expõe/demonstra rigorosamente tudo no quadro-negro. O aluno

salvo algumas poucas experiências alternativas, continua sendo considerado passivo,

tendo de reproduzir a linguagem e os raciocínios lógico-estruturais ditados pelo

professor (FIORENTINI, 1995, p.14).

Nesse contexto, podemos observar que, o autor, em seus estudos e reflexões, aponta

uma prática antididática que dificulta a aprendizagem e até a afetividade, participação e

construção da prática do aluno. Portanto, nos depoimentos, pouco se evidenciaram essas

práticas. Contudo, foi possível perceber fatores relevantes que possam ter contribuído para o

distanciamento entre as partes. Essas dificuldades percebidas pela ausência de formação

pedagógica voltada especificamente à Matemática e sua relação com outras áreas do

conhecimento. Essa deve ser, pois, construída com base na dialética entre a teoria e a prática.

A falta de formação dificultava as diferentes práticas, causando insegurança muitas

vezes em até mesmo na aplicação dos conteúdos matemáticos, e em utilizar os conteúdos

apresentados nos livros didáticos. Nesse sentido, a forma de ensinar tornava o ato de aprender

como algo muito complexo e para poucos. Apenas ao professor pertencia o dom da fala e do

conhecimento, considerando os alunos seres passivos e incapazes de pensar por si próprio. Ao

professor caberia usar seus conhecimentos como uma fonte absoluta do saber, capaz de coibir

qualquer linha de reflexão e pensamento. Além de, fragmentar a improvável construção do

conhecimento do aluno, reduzindo-o a mero receptor.

É preciso que essa relação de afetividade e interatividade deixe de ser ínfima e

realmente se contextualize de maneira que, as mudanças se consolidem e emancipem-se das

mãos de quem retém o poder representado pela forma de ensinar, quebrando a mera

transmissão de conhecimento. É preciso também que possibilite reflexões entre quem

transmite e quem recebe uma real construção do conhecimento por meio da aprendizagem.

Os tempos mudaram, e por mais que tenhamos de negá-los, os fatos estão aí, muitos

fotografados, outros escriturados, tornando apenas um processo dentro dos princípios

dialéticos como base do saber, promovendo guardados nas memórias. Construir, como

protagonista de um futuro inovador, é o que se espera de todos os educadores, ou ao menos

daqueles que almejam esse ofício.

5.6 Livros Didáticos utilizados no Município de Juara, durante o período de 1970 a 1990

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Os Livros Didáticos de Matemática aparecem como parte de um processo importante

dentro da Educação Matemática, os quais mantém sua importância histórica e de contribuição

em quaisquer contextos de aprendizagem principalmente no tocante às suas representações.

Wielewski (2008) assegura que:

[...], para destacar o papel dos livros didáticos de Matemática, no que se refere à

representação, bem como a necessidade de completá-los com atividades

matemáticas. Havendo essa complementaridade podemos aumentar a chance de

viabilizar o desenvolvimento do pensamento matemático associado à experiência do

estudante com a referida disciplina (WIELEWSKI, 2008, p. 8).

Nessa perspectiva, essas novas abordagens e metodologias vêm exercendo

fundamentos que trazem como elementos de diálogos entre seus estudiosos e/ou usuários.

Assim, é inegável sua utilização e finalidade, pois reflexões (re) constroem, alicerçam a

cultura e respaldam o livro didático. Sua importância já faz parte da constituição da História

da Educação Matemática. Não apenas como simbolismo ou uma mera representação, pois “na

Matemática os objetos são os textos, os livros didáticos e a apresentação do professor,

havendo um simbolismo e uma formalidade bem maior. Nesse sentido, a representação ou

signos são essenciais” (WIELEWSKI, 2008, p. 195). No entanto, nesse trabalho, buscaremos,

por meio de seus índices, uma relação com os conteúdos mínimos, tanto do Ginasial quanto

do Colegial em tempo do advento do Movimento da Matemática Moderna, com fundamento

diretamente ligado aos trabalhos do GEEM.

Com a triangulação dos documentos, entrevistas e livros, percebemos a natureza no

Movimento da Matemática Moderna e sua importância, elemento na escrita dessa dissertação.

Nessa perspectiva, foram localizados alguns livros com os professores entrevistados e

na Biblioteca Pública, doados pelas escolas e comunidade.

As análises comprovaram a presença de conteúdos mínimos relacionados pelo GEEM,

no período do Movimento da Matemática Moderna, nos livros que foram utilizados para o

ensino de Matemática do Ensino Fundamental a partir da 5ª a 8ª série do 1º Grau, entre eles:

ANDRINI, Álvaro. Matemática: 5ª Série, 1º Grau. São Paulo: Editora do Brasil, 1984;

ANDRINI, Álvaro. Matemática 6ª série, 1º Grau. São Paulo: Editora do Brasil S/A,

1984; ANDRINI, Álvaro. Praticando a Matemática 8ª série, 1º Grau. São Paulo:

Editora do Brasil S/A, 1989;

AYRES, Frank Jr. Matemática Financeira: Resumo da Teoria. São Paulo: Ed.

McGraw - Hill do Brasil, 1981;

BACCARO, Nelson. Matemática 6ª série, 1º grau. São Paulo: Ed. Ática S/A, 1980;

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237

GALVÃO FILHO, Wenceslau Carlos. Matemática Moderna: conjunto, relação,

estrutura. V III, Editora, Universitária, SP: 1972;

PERES, José Dorival et al. Matemática 8ª série, 1º Grau. São Paulo: Editora, Serviço

da Cultura, [s.d.];

SANGIORGI, Osvaldo. Matemática Nova série: 6ª série, 1º Grau. São Paulo: Ed.

Nacional, [s.d.];

SANGIORGI, Osvaldo. Matemática Nova série: 8ª série, 1º Grau. São Paulo: Ed.

Nacional, [s.d.];

SARDELLA, Antônio e MATTA, Edison da. Matemática 7ª série,primeiro grau. São

Paulo, 2. ed. São Paulo: Ática S.A, 1982.

SARDELLA, Antônio e MATTA, Edison da. Matemática 8ª série, Primeiro Grau. 2.

ed. São Paulo: Ática S.A, 1982;

SCHOR, Damian e NICOLAU, Saulo. Matemática 5ª série, 1º Grau. São Paulo: Ática

S.A, 1983.

SCHOR, Damian e NICOLAU, Saulo. Matemática 6ª série, 1º Grau. São Paulo: Ática

S.A, 1983.

SCHOR, Damian e NICOLAU, Saulo. Matemática 7ª série, 1º Grau. São Paulo:

Ática S.A, 1983;

SILVARES, Roberto Bethlen. Matemática Moderna. V1, São Paulo: Editora S.A (SP),

1971.

A análise de Livros Didáticos de Matemática é tema frequente nos trabalhos em

Educação Matemática. Entendemos que esse material de apoio didático é um importante

componente do cotidiano escolar em todos os níveis e modalidades de ensino. Acreditamos

que, sua análise pode contribuir para a compreensão de uma parte do complexo sistema

escolar, mesmo porque foram poucos livros localizados do período em estudo. Esperávamos

encontrar bem mais. Entretanto, os poucos livros coletados, deram consistência em termos de

conteúdos para uma análise comparativa de seus conteúdos, toda sua extensão e expansão de

ensino.

Vale ainda ressaltar que, além da dificuldade de se ter o livro didático como apoio

pedagógico, existia a falta de formação entre os professores, e aqueles que tinham eram

bastante limitados. Dessa forma, esse texto se configura em mais uma evidência, produzido

por raras fontes de pesquisa para a constituição da História da Educação Matemática.

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Nesse sentido, o Livro Didático se torna uma ferramenta poderosa para a propagação

dos saberes produzidos ao longo da humanidade, levando para a sala de aula os

conhecimentos necessários para o processo de escolarização.

Segundo Almeida (2010):

O livro didático tem sido um objeto de muitas pesquisas científicas, em razão da

multiplicidade de suas funções, da diversidade de agentes que ele envolve e da

complexidade e coexistência com outros suportes educativos. Para entendê-lo, na

sua função educacional ao longo dos anos, sua história e sua presença entrelaçada na

vida nas práticas escolares, é necessário considerar o contexto e período histórico de

sua produção (ALMEIDA, 2010, p. 105).

Dessa forma, a entrevista tem um papel importante e relevante para a escrita e

entendimento desse texto, pois, elas nos apontam um caminho para suscitar e alimentar a

memória do livro, indicando representações construídas pelos usuários a partir de suas

vivências. Nesse sentido, ele é capaz de fornecer pistas de quais eram esses materiais e sua

importância social para alunos e professores.

Vários Livros Didáticos fizeram parte desse desenvolvimento educacional, mas apenas

os listados anteriormente foram encontrados. Daremos ênfase a apenas alguns autores pelos

exemplares encontrados, trazendo os conteúdos trabalhados durante aquele período.

5.6.1 Livro de Matemática da 5ª Série, autores: Damian Schor e Saulo Nicolau

Este em sua capa apresenta uma representação de conjunto, e abaixo, em um quadrado

um conjunto de borboletas coloridas na posição transversal, que, implicitamente mostra a

simetria da figura. Acredito que, o colorido simboliza a diversidade, e a modernidade, pois a

Matemática Moderna aderiu ao colorido para chamar a atenção dos alunos. O número impar

em cada fileira, numa quantidade crescente de borboletas voando, acreditamos que, representa

o avanço de cada aluno, em querer crescer intelectualmente. No entanto, os grupos com as

mesmas cores, representam a ajuda mútua, que aos poucos aumenta.

Na abertura traz uma breve apresentação do objetivo da coleção pelos autores, bem

como vossas preocupações na elaboração da obra, pois deixam visíveis que, a matemática

deve conciliar a simplicidade ao rigor conceitual; traz ainda sugestão de planejamento de

curso com conteúdos e respectivos objetivos. E antes de iniciar a teoria, em poucas linhas os

autores deixam uma mensagem ao aluno, a qual fala da importância de estudar Matemática,

que não é difícil como dizem, mas pelo contrário é agradável e até divertida. E que, com

dedicação e atenção conseguirão vencer as dificuldades.

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Foi observado nos livros do mestre destes autores que, para cada série segue uma cor

diferente na resolução das atividades. Observamos ainda que, para cada série são apresentadas

capas diversificadas.

Figura 54 – Livro Didático de Matemática da 5ª série do 1º Grau, 1983.

Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Vilma da Costa Leite.

A Figura 54 mostra a capa do Livro de Matemática da 5ª série do 1º grau. Em suas

análises percebemos ainda nas formas a simetria das figuras relacionando a teoria dos

conjuntos, principalmente com a definição que um conjunto em Matemática, é entendido

como todo grupo, coleção etc. Na capa também aparece símbolos que representa a relação

binária, o sinal de pertinência ligando elemento ao diagrama dos conjuntos, bem como o valor

do litro equivalente a um decímetro cúbico. Em seu sumário foi observado na lista de

conteúdos matemáticos distribuídos por unidades:

1 - Conjuntos: pertinências; Conjunto unitário; Conjunto vazio; Inclusão; partes de

um conjunto; Conjuntos iguais; Operações: união e intersecção; 2 - Sistema de

numeração: número e numeral; Sistema de numeração decimal; Valor relativo;

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Sistema binário, Transformação de base qualquer para decimal e vice-versa. 3 -

Números Naturais: ordem, Operações e propriedades; Expressões, Problemas

elementares; 4 - Múltiplos e Divisores: múltiplos de um número natural; Divisores

de números naturais; Critério de divisibilidades, Números primos, Números

compostos, Decomposição em fatores primos, Determinação dos divisores,

Quantidades de divisores. 5 - Máximo Divisor Comum: processo prático apara

determinação do M. D. C; Números primos entre si. 6 - Mínimo múltiplo comum:

processo prático para determinação do M. M. C. 7 - Números Fracionários: noção

intuitiva de fração; significado de uma fração; Conjunto dos números racionais,

absolutos; Tipos de frações; Frações iguais; Propriedades fundamentais; Classe de

equivalências; simplificação; redução de fração a um mesmo denominador; comparação; operações nos racionais e expressões; 8 - Números Decimais:

transformação de fração decimal e número decimal; transformação de números

decimais em frações decimais; comparação; Operações; transformação de fração em

números decimais; Dízima periódica; 9 - Noções de Geometria: ponto; reta; plano;

semi-reta; segmento de reta; posições relativas de duas retas; curvas; regiões;

polígonos; 10 - Sistema Métrico Decimal: grandeza; medida; unidade de

comprimento; perímetro de polígonos; circunferência; unidade de área; unidades

agrárias (hectare, are e centiare); áreas de figuras planas, unidades de volumes,

volume dos sólidos, unidade de capacidade, relação entre capacidade e volume,

unidades de massa, unidades especiais (quilate, tonelada).

5.6.2 Livro de Matemática da 6ª Série, autor: Osvaldo Sangiorgi

Este em sua capa apresenta dois conjuntos de igual quantidade, e mostra uma

correspondência biunívoca entre ambos. São formas geométricas pequenas e coloridas. Em

sua abertura enfoca a deficiência dos alunos no que diz respeito à Cálculo, Resolução de

problema e Geometria. Traz como sugestão aos docentes, planejamento de curso com seus

conteúdos, objetivos e ainda um cronograma para que o professor opte em dividir os

conteúdos por bimestre. Antes de iniciar a teoria, faz uma rápida mensagem ao aluno, no que

se refere à importância tanto do livro, quanto do professor, bem como de seu próprio esforço.

Uma observação importante é que, antes do índice, no canto superior, no lado esquerdo, há

uma pequena biografia do autor.

Observamos que, mesmo para cada série diferente, usou-se as mesmas figuras,

mudando apenas as cores, tanto da capa, quanto das resolução das atividades do livro de

mestre, conforme Figura 55:

Figura 55 - Capa do Livro Didático da 6ª série do 1º Grau, [19??].

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Fonte: Arquivo pessoal da professora Sra. Maria Vilma da Costa Leite.

A Figura 55 apresenta o Livro de Matemática do professor Osvaldo Sangiorgi

fundador do Grupo GEEM, e segue a relação dos conteúdos de Matemática da 6ª série do 1º

Grau. Exibidos em capítulos:

1 - Divisibilidade no Conjunto dos números Naturais; 2 - Números racionais

absolutos; 3 - Números racionais relativos; 4 - Equações e Inequações do 1º Grau; 5

- Sistema de equações do 1º grau com duas variáveis; 6 - Razões e proporções:

médias, por cento, porcentagem; 7 - Grandezas proporcionais: regras de três, Juros;

8 - Geometria intuitiva e construções geométricas.

5.6.3 Livro de Matemática da 6ª série, autor: Álvaro Andrini

Este em sua capa apresenta vários símbolos matemáticos. No interior da mesma traz

uma mensagem do Ministro da Educação da época, Sr. Carlos Chiarelli aos professores,

falando da importância do ato de ler e escrever, bem como do compromisso do Governo

Federal desse período, Presidente Fernando Collor de Melo, por meio do Programa Nacional

do Livro Didático, enfocando a importância de todos os estudantes do ensino fundamental

terem acesso ao livro.

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O autor em sua apresentação expõe como está esquematizado cada capítulo. Retrata

que, sua linguagem é de fácil entendimento, mas que há rigor no tratamento dos conteúdos.

Os exercícios propostos são apresentados em uma forma crescente, no que se refere à

dificuldade dos mesmos. Ao final, agradece as críticas e sugestões enviadas a ele.

Figura 56 – Capa do Livro Didático da 6ª série do 1º Grau, 1984.

Fonte: Biblioteca Municipal de Juara.

A Figura 56 mostra a capa do Livro de Matemática da 6ª série do 1º Grau. Esse Livro

de Matemática do professor Álvaro Andrini, como material pedagógico foi muito utilizado na

década de 80 do século XX. Assim, mantinha seus conteúdos enumerados sequencialmente:

1 - Conjuntos dos números inteiros relativos; 2 - Operações com números inteiros

relativos; 3 - Conjuntos dos números racionais relativos; 4 - Equações do 1º Grau; 5

- Problemas do 1º Grau com uma variável; 6 - Inequações do 1º Grau com uma

variável; 7 - Sistemas de Equações do 1º Grau com duas variáveis; 8 - Razão e

proporção; 9 - Regra de três; 10 - Porcentagem; 11 - Juros Simples.

5.6.4 Livro de Matemática da 6ª série, autores: Damian Schor e Saulo Nicolau

Os autores apresentam na capa do livro, duplamente a figura de Charles Chaplin,

ilustre personagem do marcante filme “Tempos modernos”, que retrata a evolução das

máquinas, advento da modernidade. As figuras estão em dois tamanhos. A que está fora do

quadriculado no tamanho maior, e a que está no quadriculado em tamanho menor, mostrando

a técnica da redução de figuras, usada para a proporcionalidade das figuras. No entanto, acima

do quadriculado há uma fórmula e acima da fórmula há uma inscrição que diz: “ Em qualquer

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proporção o produto dos extremos é igual ao produto dos meios”. Na apresentação interna

segue o mesmo da figura 56, porque pertencem aos mesmos autores.

Figura 57 - Capa do Livro de Matemática da 6ª Série do 1º Grau, 1983.

Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Vilma da Costa Leite.

A Figura 57 apresenta a capa do Livro de Matemática da 6ª série, o qual foi possível

observar em seu interior seus conteúdos sequenciados em unidades:

1 - Números Inteiros: Subconjuntos de Z; Representação gráfica; Módulo; Números

opostos ou simétricos; Operações e propriedades; Expressões; 2 - Conjuntos dos

números racionais; Relação entre conjunto Z e o conjunto Q; subconjunto de Q; Operações; Expoente negativo; Expressões; 3 - Equação do 1º Grau: sentenças;

Identidade e Equações; Equações do 1º grau; Equações equivalentes; forma mais

simples de uma equação do 1º grau, princípio aditivo (P.A); princípio multiplicativo

(P.M); Termos semelhantes; Técnicas de resolução; Equações que apresentam

denominadores; Conjunto universo e conjunto verdade; 4 - Problemas envolvendo

equações do 1º Grau: Linguagem simbólica, resoluções; 5 - Inequação do 1º grau:

desigualdade; inequação; inequações equivalentes; forma mais simples de uma

inequação do 1º grau, princípio aditivo (P.A) das inequações; princípio

multiplicativo (P.M) de uma inequação, técnica de resoluções; inequações que

apresentam denominadores; inequações de conjunto universo Q; 6 - Sistema de

equações do 1º Grau com duas variáveis: equação do 1º Grau com duas variáveis, soluções de uma equação do 1º Grau com duas variáveis, sistemas de duas equações

do 1º Grau com duas variáveis, método da substituição, método da adição. Unidade

7 - Grandezas Proporcionais: razão, proporção, propriedades fundamentais das

proporções, outras propriedades, números diretamente proporcionais, números

inversamente proporcionais, grandezas diretamente proporcionais, regra de três

simples e direta, grandezas inversamente proporcionais, rega de três simples e

inversa, regra de três composta, porcentagem, problemas de porcentagem, juros

simples.

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5.6.5 Livro de Matemática da 7ª série, autores: Damian Schor e Saulo Nicolau

Neste, vimos em sua capa um quadrado representando uma vitrola, mas que bem a

centro do disco de vinil, há o número 0. No canto direito há as três primeiras letras do alfabeto

maiúsculas. Acima do quadrado, em seu canto superior direito, há uma definição de

circunferência que diz: “Circunferência é o conjunto de todos os pontos do plano que estão à

mesma distância de outro ponto denominado centro”.

Sua apresentação interna e demais partes escritas antes dos conteúdos, seguem iguais

aos livros pertencem aos mesmos autores.

Figura 58 - Capa do Livro de Matemática da 7ª série do 1º Grau, 1983.

Fonte: Arquivo Pessoal da professora Maria Vilma da Costa Leite.

Na Figura 58 representa o Livro de Matemática da 7ª série do 1º Grau. Nele

encontramos a relação de conteúdos distribuídos por unidades, como segue:

1 - Conjunto dos números Reais; Números irracionais; subconjunto; representação

gráfica; 2 - Expressão Algébrica; Representação algébrica; valores numéricos; 3-

Polinômios: monômios; Graus de um monômios, polinômios; Grau de um polinômios; Polinômios ordenados; Polinômios homogênios; Termos ou monômios

semelhantes; Redução de termo semelhantes; 4 - Operações Algébricas: monômios

(adição, subtração, multiplicação e divisão); potenciação; polinômios (adição e

subtração); multiplicação de monômios por polinômios; multiplicação de

polinômios por polinômios; divisão de polinômios; divisão de polinômios por

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polinômios; 5- Produto Notáveis: quadrado da soma; Quadrado da diferença;

produto da soma de dois termos pela sua diferença; Cubo da soma e cubo da

diferença; 6 - Fatoração: definição; fator comum em evidência; Agrupamento; Raiz

quadrada de monômios; Trinômios quadrada perfeito; diferença de quadrados; 7 -

Máximo divisor comum e mínimo múltiplo comum de expressões algébricas: M. D.

C e M. M. C. de monômios , M.D.C. e M. M. C. de polinômios; 8 - Frações

algébricas: condição de existência; simplificação; adição e subtração; multiplicação

e divisão; potenciação; 9 - Equações Fracionárias; resolução; resolução; 10 -

Equação literal do 1º Grau com uma variável; 11- Sistemas de equações

Fracionárias: revisão de sistemas, sistemas de equações fracionárias; 12- Sistemas

de equações literais; 13- problemas envolvendo sistemas do 1º Grau; 14 - Ângulos: região angular; medida de um ângulo; ângulos congruentes; ângulos consecutivos;

ângulos adjacentes; Bissetriz; Ângulo raso; Reto; Agudo e obtuso; Ângulos

complementares e suplementares, Ângulos opostos pelo vértices; 15 - Ângulos

formados por três retas: retas paralelas, ângulos entre paralelas e transversais; 16-

Polígonos: lados e vértices de um polígonos; classificação; perímetro; ângulos

internos e externos; números de diagonais; 17- Triângulos: classificação, altura,

mediana, bissetriz, congruência, teorema de tales (angular), teorema do ângulo

externo, polígono convexo, soma dos ângulos interno e externos, medida de casa

ângulo interno e externo de um polígono regular; 18 - Quadriláteros: ângulos, soma

dos ângulos externo e interno, paralelogramos, propriedade dos paralelogramos,

trapézios; 19 - Circunferência e círculo: circunferência e círculo; posições relativas entre reta e circunferência, posições relativas entre duas circunferências, arcos,

ângulos central, ângulo inscrito, ângulo de segmentos.

5.6.6 Livro de Matemática da 7ª série, autores: Antonio Sardella e Edison da Matta

Neste encontramos na capa quatro circunferências em forma de pneus de bicicleta.

Abaixo delas há um quadro, o qual representa a figura de uma janela aberta, em um dia

ensolarado, céu claro, e sol brilhante. Há uma linha transversal que segue do quadro menor ao

maior, aparecendo uma reta com uma medida de 1 metro. Na parte superior do quadro maior,

na posição horizontal e no lado esquerdo na posição vertical, há uma reta com as mesmas

medidas de 1 metro. Abaixo do quadro, está escrito o seguinte: “Metro cúbico: unidade

fundamental de medida de volume, respondente ao volume de um cubo, cuja medida do

comprimento da aresta é de 1 metro”. Ao lado direito da inscrição há a figura do filósofo,

matemático e físico francês da Idade Moderna, Renê Descartes, e sobre ela aparece o eixo

cartesiano.

A apresentação dos autores é feita no verso da primeira folha que fala da satisfação em

apresentar o livro, e da preocupação em seguir dois dos critérios, julgados por eles, de

fundamental importância, que são: 1º- não trazer complicações para o aluno e, 2º- que o

material seja um auxílio para o professor. Na folha seguinte, apresentam os objetivos do livro,

os quais destacam Álgebra e Geometria. Em outra folha apresentam a estrutura do livro, ou

seja, como é composto, a fim de atingirem seus objetivos. Em seguida apresentam sugestão de

planejamento de curso, da seguinte forma: objetivos gerais de ensino da Matemática; tempo

estimado para cada aula semanal em cada bimestre; planejamento de cada unidade com

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objetivos específicos, conteúdos, estratégias e avaliação. Apresenta ainda várias atividades

das diferentes unidades, ou seja, para cada conteúdo, as quais nomeiam de informações de

trabalho comprobatório. E antes do sumário traz uma mensagem ao aluno parabenizando-o

pelo seu sucesso no estudo, além de incentivá-los.

Figura 59 – Capa do Livro de Matemática da 7ª Série do 1º Grau, 1982.

Fonte: Arquivo pessoa da professora Maria Vilma da Costa Leite.

Essa Figura 59 expõe a capa do Livro de Matemática da 7ª série e apresenta em seu

sumário a lista dos conteúdos de Matemática de 1º Grau, demarcados por unidades:

1- Os conjuntos Numéricos; 2 - Introdução Algébrica; 3 - Os produtos Notáveis; 4 -

A fatoração Algébrica; 5 - O maior divisor comum e o menor múltiplo comum de

expressões; 6 - As Frações Algébricas; 7 - Equação do primeiro grau; 8 - Sistemas de equações; 9 - Problema do primeiro grau envolvendo duas variáveis; 10 -

Ângulo; 11 - Estudo das simetrias e translações; 12 - Ângulo determinados por duas

paralelas e uma transversal; 13 - Polígonos; 14 - O estudo do Triângulo; 15 -

Polígonos Convexos; 16 - O estudo dos Quadriláteros Convexos; 17- Estudo da

Circunferência.

5.6.7 Livro de Matemática da 8ª Série, Título: Nova Série, autor: Osvaldo Sangiorgi

Para este, segue as mesmas informações e ilustrações, modificando apenas as cores

das capas.

Figura 60 - Capa do Livro Nova Série: Matemática do 1º Grau, [19??].

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Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Vilma da Costa Leite.

A Figura 60 se configura na capa do Livro de Matemática da última série do Ensino

Fundamental do Professor Osvaldo Sangiorgi, um dos pioneiros em defesa do Movimento da

Matemática Moderna. Apresenta em seu sumário uma relação de conteúdos de Matemática do

1º Grau, sequenciado em capítulos como segue:

1 - Números reais, cálculo com números irracionais; 2 - Equações do 2º grau.

Aplicação; 3 - Funções numéricas: domínio e imagem. Gráficos; 4 - Funções do 1º

grau: gráficos de equações e inequações do 1º grau e de sistemas com duas variáveis; 5 - Razão e proporção de segmentos. Teorema de Tales; 6 - Semelhança

de figuras geométricas. Homotetia; 7 - Razões trigonométricas no triângulo de

ângulos agudos; 8 - Relações métricas do triângulo retângulo. Teorema de Pitágoras;

9 - Relações métricas num triângulo qualquer; 10 - Relações métricas no círculo; 11

- Polígonos regulares; 12 - Medida da circunferência; 13 - Área de regiões Planas.

5.6.8 Livro de Matemática da 8ª Série, autores: Antônio Sardella e Edison da Matta

O livro, além de várias ilustrações veio de acordo com o Guia Curricular de São Paulo.

Este responsável por várias publicações de livros na década de 70 do século XX, norteando o

Movimento da Matemática Moderna, conforme Figura 61:

Figura 61 – Capa do Livro de Matemática da 8ª série 1º Grau, 1982.

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Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Vilma Leite.

A Figura 61 expõe a capa do Livro de Matemática da 8ª série, e apresenta, em seu

sumário os conteúdos sancionados de acordo com o guia curricular do Estado de São Paulo.

No centro de sua capa encontra-se a imagem de René Descartes, filósofo, físico e Matemático

francês que inovou o conhecimento matemático durante a Idade Moderna, com o sistema

cartesiano. Esse representado pelo cruzamento ortogonal de dois eixos sendo vertical e

horizontal, além de enumerados apresenta localização de duas coordenadas. Na capa podemos

também presenciar na parte superior rodas que implicam a unidade de medida da

circunferência, acompanhados de suas unidades de raios. Foi possível evidenciar no lado

inferior esquerdo da capa referências ao metro cúbico: unidade fundamental de medida de

volume, correspondente ao volume de um cubo, cuja medida do comprimento da aresta é de 1

metro. No interior do livro encontramos em seu sumário uma lista de conteúdos Matemáticos

distribuídos em unidades.

1- Estudo dos radicais; 2 - O estudo das equações do 2º Grau; 3 - Equação com

Parâmetros; 4 - Equações biquadradas e irracional; 5 - Sistemas e problemas do

segundo grau; 6 - Representação gráfica de pontos; 7 - O produto cartesiano,

relações e funções; 8 - A função do primeiro grau; 9 - Sistemas: resolução gráfica;

10 - Feixe de Paralelas; 11 - A semelhança; 12 - Trigonometria; 13 - O estudo do

triângulo retângulo; 14 - Relações métricas num triângulo qualquer; 15 - Relações

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métricas no círculo; 16 - Estudo dos polígonos regulares; 17 - O comprimento de

uma circunferência; 18 - A medida das superfícies planas.

5.6.9 Livro de Matemática da 8ª Séries. Título “Livro Praticando Matemática”. Autor:

Álvaro Andrini

Nesta capa percebemos a figura de cristais de rocha, mostrando toda sua abstração

geométrica. Sua apresentação sofre poucas modificações em analogia ao livro de Matemática

da 6ª série, desse mesmo autor mostrado anteriormente e publicado em 1984.

Figura 62 - Capa do Livro de Matemática 8ª série do 1º Grau, 1989.

Fonte: Biblioteca Municipal de Juara.

Na Figura 62, ao apresentar os cristais, percebemos a presença da geometría não –

euclidiana. Esta, amplamente divulgada pelo Movimento da Matemática Moderna. Ao

conhecer os conteúdos apresentados nesse livro por meio do sumário, foi possível evidenciar

que mesmo não relacionados à prática dos alunos, por ser meramente técnicos. Aparecem

sequenciados em capítulos.

1 - Potenciações; 2 - Radicais; 3 - Operações com Radicais; 4 - Racionalizações de

Denominadores; 5 - Equações do 2º Grau; 6 - Discussões e Propriedades das Raízes

das Equações do 2º Grau; 7 - Equações Biquadradas; 8 - Equações Irracionais; 9 -

Problemas do 2º Grau; 10 - Produto Cartesiano; 11- Relações e Funções; 12 -

Função do 1º Grau; 13 - Função Quadrática; 14 - Grandezas Proporcionais; 15 -

Semelhança; 16- Relações Métricas no Triângulo Retângulo; 17- Razões Trigonométricas; 18- Relações métricas num Triângulo qualquer; 19 - Relações

métricas na Circunferencia; 20 - Polígonos Regulares; 21- Área de Polígono; 22-

Medida da Circunferencia e área do Círculo.

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5.6.10 Livro de Matemática de 1ª série do Ensino Médio. Título: “Matemática 1ª série, 2º

Grau,” do autor: Gelson Iezzi et al.

O livro traz em sua introdução ênfase à Teoria dos Conjuntos. Os autores consideram

a forma que apresentam o livro como uma linguagem útil e necessária para as outras diversas

áreas do conhecimento, inclusive para a Física e Humanas. Além disso, enaltece seu uso como

modelos matemáticos. Eles não fazem menções em seu livro sobre o Movimento da

Matemática Moderna, porém focalizam seus conteúdos centrados na Teoria dos Conjuntos.

Este o principal pilar desse movimento. Traz ainda uma figura simétrica formada pela palavra

Matemática nas cores branco e vermelho. As primeiras linhas da palavra no lado esquerdo,

aparece na cor vermelha, mas apenas as sílabas MATE; no lado direito as mesmas sílabas

aparecem na cor branca. Na segunda linha, no lado esquerdo se completa a palavra com as

sílabas MATI, na cor vermelha, bem como no lado direito, na cor branca. A última sílaba

CA, no lado esquerdo segue a cor vermelha e no lado direito a cor branca, a qual se repete.

Outra observação feita é que, as letras A tanto na cor vermelha, quanto na branca, formam um

X, dando a ideia de simetria.

Figura 63 – Capa do Livro de Matemática da 1ª série do 2º Grau, 1979.

Fonte: arquivo da Biblioteca Municipal de Juara.

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A Figura 63 apresenta a capa do Livro de Matemática da 1ª série do Ensino Médio, e

neste Livro encontramos uma relação importante de conteúdos de Matemática, sequenciado

numericamente:

1- Conjuntos: introdução, conjunto, elemento, pertinência, determinação, igualdade,

universo, unitário, vazio, subconjunto, complementar, diferença, interseção, reunião,

os símbolos da linguagem dos conjuntos, resumo, considerações finais; 2 -

Números: introdução, naturais e inteiros, racionais, reias, ordenação dos reais,

intervalos, módulo, considerações finais; 3 - Relações e Funções: noções básicas de

geometria analítica, eixo e segmento orientado, abscissa de um ponto, medida

algébrica, par ordenado, sistema cartesiano ortogonal, distância entre dois pontos, relações, definição, domínio e imagem, produto cartesiano, gráficos de uma relação,

funções, preliminares, notação, gráfico de uma função; 4 - Função do 1º Grau:

introdução, função constante, função identidade, função linear, função afim,

coeficientes da função, zero da função afim, função crescente e função decrescente,

sinal da função afim, inequação produto e inequação quociente; 5 - Função

Quadrática: conceito, gráfico, zeros, domínio e imagem, sinal, inequações do 2º

grau, inequações redutíveis à quadrática, problemas de máximos e de mínimos; 6 -

Função Modular: função composta, função definida por várias sentenças, função

modular, equações modulares, inequações modulares; 7- Função Exponencial:

potência com expoente inteiro, radicais, potência com expoente racionais, potência

com expoente irracional, potência com expoente real, equações exponencial,

comparação de potências com mesma base, função exponencial, gráficos da função exponencial, inequações exponenciais; 8 - Função Logarítmica: preliminares,

definição, propriedades, sistemas de logaritmos, propriedades operatórias, mudança

de base, funções inversíveis, função logarítmicas, aplicações dos logaritmos; 9 -

Funções Circulares: introdução a trigonometria, noções fundamentais, sem, cosseno,

tangente, arcos e ângulos, função seno, função cosseno, propriedades das funções

seno e cosseno, a função tangente, outras funções trigonométricas, redução ao

primeiro quadrante, relações fundamentais, as cinco relações principais, relações

decorrentes, identidade, transformações trigonométricas, fórmulas da adição,

fórmulas da transformação em produto, equações trigonométricas, equações

redutíveis a uma equação do 2º grau, inequações trigonométricas, funções circulares

inversas, função arco-seno, função arco-cosseno, função arco-tangente, triângulo retângulos e triângulo quaisquer.

5.6.11 Livro de Matemática da 2ª série do Ensino Médio. Título “Livro Matemática na

Escola Renovada, do 2º Grau”, autores: Scipione Di Pierro Netto e Célia Contin Góes

Esses autores iniciam como apresentação em seu livro, uma chamada de atenção aos

professores na utilização e execução das Probabilidades, Análise Combinatória, Geometria

Espacial e a Geometria Analítica. Essas, desenvolvidas de forma criteriosa com aportes nas

demonstrações. Mostra ainda as dificuldades de se resolver as extensas listas de atividades.

Dá ênfase ao manual do professor, respondendo todas as questões. E, deixam em aberto para

as críticas construtivas daqueles que quiserem observar o livro com sugestões.

Figura 64 - Capa do Livro de Matemática do 2º Grau, [19??].

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Fonte: arquivo da Biblioteca Municipal de Juara.

A Figura 64 mostra a capa do Livro de Matemática do Ensino Médio, constando

vários quadrados coloridos circunscritos. Em sua parte central desses quadrados podemos

observar a ideia de simetria e do conceito que, por um ponto passam infinitas retas, além de

infinitos eixos de simetria sobrepostos a um plano planificado análogo à geometria espacial.

Scipione Di Pierro Netto e Célia Contin Góes foram colaboradores do Movimento da

Matemática Moderna. Apresentam em seu livro uma relação de conteúdos de Matemática,

sequenciado em Capítulos, e que também fez-se presente nas discussões dos conteúdos

mínimos indicados pelo GEEM.

I - O princípio de Indução Finita; II - Somatórios: introdução, representação,

aplicação, propriedades dos somatórios, duplo somatório; III - Seqüências:

sequências reais, definição, notação, determinação de uma sequência, crescimento

de uma sequência, representação gráfica, convergência; Seqüências Aritméticas:

definição, termo geral de uma seqüência aritmética, classificação de uma seqüência

aritmética, gráfico de uma seqüência aritmética, propriedades, soma dos n termos de

uma seqüência aritmética; Seqüências Geométricas: definição, termo geral de uma

seqüência geométrica, classificação de uma seqüência geométrica, propriedades,

soma dos n primeiros termos de uma seqüência geométrica, limite da soma dos termos de uma seqüência geométrica convergente, produto dos n primeiros termos

de uma seqüência geométrica; IV - Matrizes, Determinantes e Sistemas Lineares;

Matrizes: conceito, domínio e conjunto imagem, alguns tipos de matrizes,

igualdades de matrizes, operação adição de matrizes, propriedade da adição,

multiplicação de um número real por uma matriz, propriedades da multiplicação de

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um número real por uma matriz, multiplicação de matrizes , propriedades da

multiplicação de matrizes; V -Determinantes: conceito, cálculo de determinantes de

ordem 2, cálculo do determinante de matrizes de ordem 3, complemento algébrico,

Teorema de Laplace, propriedades , teorema de Cauchy, teorema de Jacobi,

diminuição da ordem para o cálculo de determinantes, teorema; Inversão de

Matrizes: definição, matriz-cofator de uma matriz dada, existência e unidade da

inversa; Sistemas Lineares; V- Análise Combinatória; VI- O Binômio de Newton;

VII- Teoria das Probabilidades; Espaço Amostral; Função Probabilidade;

Probabilidades Condicionais; Ensaios independentes; VIII - Geometria: Proposições

fundamentais; IX- Geometria: Paralelismo e perpendicularismo; Posições relativas

de retas e planos; Paralelismo de reta e plano; Perpendicularismo de reta e planos; Paralelismo de dois planos; Secções de um Diedro - medida do Diedro;

Perpendicularismo de dois planos; Projeções; Ângulos Poliédricos; X - Geometria:

Superfícies Poliédricas e poliedros; Superfície Poliédricas convexas e poliedros

convexos; Propriedades dos poliedros; Prismas; Pirâmides; Áreas laterais e totais de

prismas e Pirâmides; XI - Geometria: Volumes dos Prismas e das Pirâmides; XII -

Geometria: Corpos Redondos; Cilindro; Cones; Áreas; Volumes; Esfera.

Durante aquele período, tinham poucos livros didáticos, principalmente de 2º Grau, e

os que existiam pertenciam aos próprios professores, e eram levados sempre que mudavam de

instituição escolar e/ou até mesmo de cidade ou Estado. Para Almeida (2010, p. 107 ), “os

livros escolares se configuram em objeto de circulação de idéias que traduzem valores e

comportamentos a serem ensinados”. Entretanto, aproximar o Livro Didático da

escolarização, permite maiores possibilidades, acerca do ponto de vista histórico, sobretudo

no tocante ao que a escola deveria transmitir e ou ensinar. Para tanto, ela deveria buscar saber

qual concepção estaria permeando a proposta de formação dos sujeitos escolares.

Em depoimento, com o professor João Donizete Molina, licenciado em Matemática,

que ministrou aulas de Matemática na Escola Estadual Oscar Soares, no início da década de

80 do século XX, ele relata como e o que tinha de ser feito para ter acesso aos livros didáticos

de Matemática na época. Disse ele:

[...] só existia uma única livraria em Juara, a livraria da Gabi. Para conseguir um

livro didático do professor, fazia-se fila. E tinha que ter muita amizade com o cara

da livraria para ele guardar alguns livros. Sendo que os professores mais antigos que

estavam em Juara, como já tinham mais amizade pegavam primeiro. Então, eu

trouxe alguns exemplares de livros que eu estudei junto à faculdade em Votuporanga, e outros que eu consegui através da editora Ática. Trouxe para poder

junto com esse material, começar a passar os conhecimentos que tínhamos para os

alunos de Juara. Os alunos de Juara que nós encontramos, na época eram em vista de

hoje, nossa! Era muito bom trabalhar no Oscar Soares, naquele tempo. Eu não sei

hoje porque eu só trabalhei no ano de 1982, e 1983. Eu trabalhei dois anos. Esses

dois anos foram em turmas de 5ª a 8ª e 2º Graus. Então víamos o comprometimento

que esses alunos tinham, a vontade que eles tinham de pegar aqueles conhecimentos

que passávamos, era tudo. Era melhor do que hoje, que vemos que o aluno não está

nem aí com o estudo, mesmo você parando e falando da necessidade do estudo para

a vida futura dele e tudo mais. Nós observamos que hoje os alunos não querem nada

com nada.

O depoente, recordando-se dos livros didáticos de Matemática em 1982, afirma:

[...] eu tenho na minha biblioteca, livros que usei em Juara. Tenho livro de Biologia,

do Albino Fonseca, que estudei muito, que era um livro muito pesquisado, de Física,

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Química, e de Matemática de Álvaro Andrini, que era um bom na Matemática que

eu gostava muito. Osvaldo Sangiorgi eu tenho guardado. Então são vários livros que

podemos guardar como lembrança.

Esses livros ficaram de ser procurados e cedidos após sua localização. Entretanto, ao

retornarmos à residência do entrevistado, constatamos que os livros não foram localizados.

Ele justificou que, devido a uma arrumação, sua esposa extraviou os materiais velhos de

longas datas. Com isso, os livros e várias provas foram dilacerados. E acrescenta que:

[...] até esses tempos atrás, eu tinha guardado sim, numa caixa aqui em casa, mas

minha esposa gosta de estar fazendo faxina de vez em quando, e catou aquele monte

de prova e olha que aquilo me cortou o coração, que eram provas dos alunos de

Juara, que guardava como lembrança.

Apesar de não encontrarmos os livros didáticos de Matemática com esse professor, ao

menos ficamos sabendo os autores trabalhados por ele, em sala de aula, a partir de 1982.

Período em que aparecem os primeiros professores com habilitação em Matemática. E que, os

livros de Álvaro Andrini eram bem aceitos na época. Foi importante sabermos que, os livros

do professor Osvaldo Sangiorgi, também fizeram parte daquele momento, pois esse autor é

um dos pioneiros do Movimento da Matemática Moderna no Brasil.

Em depoimento, o professor Júlio Cesar Alves, Licenciado em Matemática, que

chegou ao Município de Juara para lecionar em 1990, relata sobre livros didáticos de

Matemática existentes naquela época na biblioteca.

[...] nós trouxemos nossos materiais didáticos. Os livros que estávamos estudando

na faculdade. Alguns livros e obras para serem trabalhados em sala de aula. Só que

era bem diferente daquilo que nós encontrávamos aqui. Não é falando mal do autor,

nem do material, mas quando eu cheguei aqui, recebi um material de Matemática de

5ª a 8ª série de Álvaro Andrini. Esse livro é um livro bem comentado aqui nos

estudos, nos encontros de Matemática, até em forma de piada porque esse Álvaro

Andrini já havia sido adotado na escola antes de chegarmos e permaneceu certa

insistência do corpo pedagógico da escola, direção e coordenação na época, como

sendo um material chefe da informação. Então, não se direcionava, não se dava

espaço, as editoras não chegavam a Juara. Nós não tínhamos o advento de internet,

não tínhamos o advento do telefone fixo funcionando certinho para nós. Tínhamos

uma papelaria aqui na cidade, a saudosa papelaria da Gabi que nos oferecia esse

material. Então quer dizer, não era algo oferecido pela Secretaria de Estado de

Educação, era oferecido por um comércio. Esse comerciante tinha um

estabelecimento que oferecia material didático, cadernos, lápis, borracha, enfim,

tudo o que se direcionava à escola para os alunos, e por uma questão de evitar estar

indo até São Paulo ou até Cuiabá fazer as compras para seu estabelecimento, ele trazia alguns exemplares. E era atrelado no sentido. Você recebe esse material, se

você direcionar teu aluno ao meu comércio para ele comprar. Se você fizer isso

e percebermos que os alunos da tua escola estão indo com mais frequência no

meu estabelecimento para comprar, eu te ofereço esse material que te auxilie.

Então quer dizer, essa é uma situação engraçada porque tinha que, teoricamente

fazer uma "venda casada", eu tinha que receber o material, mas em contra partida

eu tinha que direcionar os meus alunos a comprar nesse lugar. Não posso reclamar

porque talvez já fosse uma prática comum aqui, e era isso que acontecia. Esse

material era doado para nós, mas com essa promessa de estarmos direcionando

nossos alunos a esse lugar (grifo nosso).

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Nesse depoimento, conseguimos perceber que a Escola não recebia livros didáticos

pela Secretaria Estadual de Educação, e por isso, o professor tinha de barganhar para ter

acesso a livros de Matemática para trabalhar a educação Matemática na comunidade.

Principalmente para dar suporte às novas linhas de ensino no campo da Matemática

apresentada pelas novas matrizes curriculares.

O significado da expressão “venda casada” também nos chamou atenção, pois é

inadmissível o comércio local monopolizar até os livros didáticos em troca de serviços e

vendas de produtos aos alunos da escola, que com certeza, eram vendidos a preços elevados.

Sem contar a omissão dos políticos locais e da SEDUC70

. Um comentário que não pode

passar despercebido na fala do entrevistado é sobre as discussões no grupo de professores de

Matemática sobre o autor Álvaro Andrini, nas reuniões pedagógicas, que antecedem ao ano

letivo. Nesses encontros, discutia-se sobre a utilização e adoção de livros didáticos ou seus

conteúdos a serem ministrados em sala de aula. Nota-se que, mesmo o livro já adotado

anteriormente, a partir daquele período não seria mais escolhido por esse novo grupo de

professores ou até mesmo por influência didática desse professor. Ressaltamos que, os livros

de Matemática do autor eram os únicos antes de 1990.

Nesse sentido, foi trabalhada a importância de se guardar todos esses materiais, uma

vez que, a História da Educação Matemática tende a se consolidar com a ajuda e reflexões de

todos. Resguardar a integridade desses materiais com certeza estará preservando a história, e

esses documentos são seus elementos comprobatórios de uma história vivida por esses

protagonistas da Educação.

Enfatiza ainda o professor Júlio Cesar Alves sobre os livros que se encontravam na

biblioteca:

[...] nós percebemos que, era difícil material didático. Pois não tinha. E o que se

encontrava era defasado, comparado com aquilo que nós conhecíamos de São Paulo.

Eram livros não conservados da biblioteca da escola, que por sinal não tinha. Era um

lugar que se amontoava livros. E passavam-nos esse tipo de material para

prepararmos aulas para os alunos. [...] Eram materiais que às vezes nem tinha

capa e estavam colados. Faltavam páginas, enfim, era melhor nossos cadernos de faculdade para trabalhar em sala de aula do que o material que encontramos

aqui [...](grifo nosso).

Nessa parte do depoimento, ele se reporta às dificuldades de preparar aulas usando esses

livros didáticos do autor Álvaro Andrini, mal conservados na biblioteca. Desse modo,

justificam-se as discussões negativas desses profissionais ao terem contato com esses

materiais didáticos. Muitas vezes, temos de nos adaptar ou até mesmo utilizar aquilo que as

70 Secretaria de Estado de Educação.

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condições nos possibilitam, sobretudo, quando estamos falando de uma escola que, em 1990,

tinha problemas sérios de energia elétrica, telefone e carência de professores formados em

diversas áreas, inclusive em Matemática. No entanto, torna-se importante os livros de

Matemática trazidos pelo professor.

Essas reflexões na escolha dos livros didáticos são importantes e fortalecem as

relações entre os professores, no intuito de beneficiar os alunos no ensino-aprendizagem.

Além disso, abre precedentes importantes na valorização de como e para que ensinar a

Matemática. Pensar sobre a qualidade e o êxito da aprendizagem matemática nos conduz a

uma constante reflexão, qual seja:

O pensamento matemático não é influenciado apenas por características pessoais, mas também pela história cultural e social, pelo desenvolvimento da matemática,

pelos livros didáticos, pelas representações semióticas, pelo conteúdo ou áreas

envolvidas, pela formação acadêmica, pelas experiências com a atividade

matemática e pelos próprios problemas matemáticos (WIELEWSKI, 2005, p. 365).

Nesse contexto, sobre a importância do livro didático e sua valorização na constituição

educacional, Wielewski e Wielewski S. (2009) sentenciam que:

No âmbito Educacional, o livro didático vem se caracterizando ao longo do tempo, e cada vez mais incisivamente, como um mediador entre os professores e os

conteúdos matemáticos ensinados em sala de aula. Dessa forma, se consolida como

um apoio relevante aos professores, sendo muitas vezes o único disponível. Além

desse apoio cotidiano no ambiente escolar, o livro didático representa um fator

histórico, se constituindo como uma fonte documental que pode relevar a história do

currículo no ensino das disciplinas escolares (WIELEWSKI; WIELEWSKI S. 2009,

p. 03).

Em assim sendo, os Livros Didáticos de Matemática constituem elementos

fundamentais para a História da Educação Matemática, pois, as análises dos conteúdos

mostram que suas produções buscam sempre uma inovação capaz de diferenciá-lo, até mesmo

culturalmente, tornando-os frutos de momentos históricos. Desse modo, cabe a instituição

escolar propiciar o acesso aos materiais pedagógicos, sobretudo, o livro didático, para que

construa com emancipação seu próprio conhecimento. Segundo Almeida (2010, p. 107), “a

presença do material didático na escola e na sala de aula, relativamente, sempre existiu, se

pensarmos em termos históricos. [...] principalmente, pelo poder de influência que exerce na

constituição de uma disciplina escolar”. Outro elemento importante em discussão são as

provas, pois elas também são muitas vezes, elaboradas seguindo os parâmetros dos Livros

Didáticos no momento que adentram em suas atividades, e revelam pontos de análises das

práticas dos professores.

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5. 7 Aplicações de avaliações (provas) na Escola Estadual Oscar Soares em 1986, período

em estudo

Nesse estudo, trazemos as avaliações, devido sua importância no ensino da

aprendizagem de Matemática. Durante muito tempo, a Disciplina de Matemática tem

apresentado resultados que a torna uma disciplina desprezível. Portanto, com as análises das

avaliações, poderemos conhecer como eram avaliados os alunos naquele período. Mesmo

essas sendo apenas um fragmento em relação às inúmeras que já foram realizadas com

participação, digamos, ativa dos alunos.

Foram localizadas várias provas dentro dos Diários de Classes entre elas das séries 5ª,

6ª e 8ª do 1º Grau e 1ª série do 2º Grau. Essas avaliações mostravam os conteúdos trabalhados

e como era o tipo de atividades que buscavam o desempenho e aproveitamento do aluno na

época.

A avaliação de recuperação da 5ª série, de 04 de dezembro de 1986 apresenta: As

quatro operações; Divisor; Quociente; Minuendo; Dividendo; Subtraendo; Diferença; Parcelas

de um número; Expressões numéricas com números naturais; Expressões numéricas com

números fracionários; Potenciação fracionária; Radiciação fracionária, como mostra a Figura

67.

Figura 65 – Prova de Recuperação de Matemática da 5ª série, 1986.

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Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

A Figura 65 mostra uma prova de recuperação constituída por diversos conteúdos

matemáticos. Contudo, nenhuma evidência da prática do professor voltado ao Movimento da

Matemática Moderna, o qual tinha como embasamento o elo entre a teoria e a prática.

Podemos perceber nesta avaliação que o processo de técnica e memorização se efetiva nas

resoluções e avaliações diagnósticas dos alunos, como algo passivo capaz apenas de receber

aquilo que foi transmitido pelo professor.

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Na tentativa de buscar vestígios das práticas dos professores de Matemática,

mergulhamos de forma comparativa nas avaliações encontradas também de séries

subsequentes. Vejamos a Figura 68 que apresenta uma avaliação de 6ª série.

A Figura 66 – Prova da 6ª série do 1º Grau, 1986.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na Figura 66, podemos observar diversos conteúdos, tais como: expressões numéricas

e fracionárias; inequações do primeiro grau, sistema de equações com duas variáveis. Foram

ainda localizadas algumas avaliações de Matemática da 8ª série. Esta representando o

fechamento do Ensino de 1º grau (atual ensino fundamental). Vejamos a Figura 67:

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A Figura 67 – Prova da 8ª série do 1º Grau, 1986.

Fonte: Arquivo passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

Na Figura 67, podemos observar que, na avaliação da 8ª série, são apresentados os

conteúdos: Conjunto verdade das equações e expressões do 2º grau; Relações métricas do

triângulo retângulo; Seno; Co-seno; Tangente; Sistema de equação de 2º grau com duas

variáveis; Equações biquadradas e Fatoração do 2º graus. Todos esses conteúdos estão

voltados à lista dos conteúdos mínimos do GEEM para o ensino de 1º grau, embora sua

prática não esteja relacionada ao cotidiano dos alunos, como sugere os defensores da

Matemática Moderna. Outras avaliações também foram encontradas dentro dos Diários de

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classe, as quais representaram o Ensino de 2º Graus (atual Ensino Médio). Vejamos a Figura

68:

Figura 68 – Prova da 1ª série do 2º Grau do curso de Propedêutico, 1986.

Fonte: Arquivo Passivo da Escola Estadual Oscar Soares.

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A Figura 68 mostra a avaliação realizada no 1º ano Propedêutico em 03 de dezembro

de 1986, constituída pelos conteúdos: Relações entre conjuntos; Funções do 1º e 2º graus;

Equações exponenciais; Funções exponenciais e Progressão aritmética. Estes conteúdos com

fundamentos na Teoria dos Conjuntos são os principais norteadores do Movimento da

Matemática Moderna iniciado no Brasil da década de 60 do século XX. Por mais que se tente

negar a permanência desse movimento, as evidências comprovam que, por meio desses

conteúdos cada vez mais ele se renova na tentativa de melhorar a prática pedagógica e o

ensino prático da Matemática. Esses conteúdos também se fizeram presentes em outras áreas

de conhecimento como nos cursos de Contabilidade etc.

Dessa forma, comprova-se que, os conteúdos, ministrados nessas avaliações, estavam

ligados aos mínimos solicitados pelo GEEM, mas trabalhados muito distante da realidade dos

alunos como se sugeria como elementos norteadores do Movimento da Matemática Moderna.

Todavia, ao interrogarmos as fontes de pesquisa, precisamos, nas inferências, tomar cuidado

para não cairmos nas ambiguidades, nas contradições e noutros elementos que os documentos

dessa natureza nos revelam.

Agir com cautela nos dará linearmente caminhos para como proceder na leitura de

forma cuidadosa, tendo como referência a conjuntura histórica e o contexto social, econômico

e político que o período apresenta, evitando proceder a uma análise anacrônica,

comportamento muito comum em leituras dessas fontes, as quais por sua vez, contribuíram de

forma peculiar para a escrita desse texto. Isso significa que, vasculhar as fontes nos arquivos e

divulgá-las implica contribuir para a socialização do conhecimento e para o incentivo às

novas pesquisas e às publicações no campo da História da Educação Matemática.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este momento para muitos resulta no fim do trabalho, mas para nós, é apenas mais um

elemento, ou seja, uma etapa que se abre a muitas outras que, por ventura, hão de vir.

Entendemos que, as considerações finais têm caráter de uma síntese provisória. Durante a

pesquisa, não tivemos dificuldades de arrolar os documentos presentes nos arquivos da Escola

Estadual Oscar Soares, Assessoria Pedagógica e Biblioteca Pública Municipal. A quantidade

e variedade dos documentos tornaram o acesso, uma fonte inesgotável de informação. A partir

dessa pesquisa, a escola se organizou para melhor cuidar de seus arquivos. Estão

informatizando toda a secretaria, e todos os materiais escaneados para esse trabalho foram

entregues como forma de cumplicidade na preservação. As dificuldades apareceram em

localizar os professores que trabalharam com o ensino de Matemática no início da

colonização. Contudo, acreditamos ter entrevistado os principais protagonistas que

vivenciaram esse processo, os quais aparecem citados nesse trabalho. Procuramos nos manter,

desde o início, no foco da pesquisa, e isso, com certeza, corroborou para as análises a fim de

termos respostas, as quais se norteiam o problema da pesquisa em questão.

Focalizamos o campo da História da Educação Matemática no Estado de Mato Grosso:

o Movimento da Matemática Moderna, no Município de Juara, no período de 1970 a 1990, a

partir da Escola Estadual Oscar Soares, procurando entender como iniciou o processo

educativo dessa localidade. Como objeto de estudo, temos o ensino de Matemática,

considerando as estratégias de ensino, espaços físicos, programas de ensino, livros didáticos,

matrizes curriculares e outros documentos, os quais permearam as práticas dos professores de

Matemática, e nós buscamos compreendê-las no contexto da sociedade, na qual esteve

inserida.

Com esse estudo dissertativo foi possível perceber que, o processo de colonização foi

ganhando novas estruturas ao decorrer dos avanços educacionais, propiciando a utilização de

novos espaços para fins escolares, e a chegada da efetivação da construção da primeira escola

de alvenaria a partir de 1978. Os diversos documentos encontrados evidenciaram a natureza

do ensino de Matemática voltado à Matemática Moderna, que mesmo partindo apenas das

análises dos livros didáticos, esteve presente desde primórdios. Isso não quer dizer que, os

professores foram omissos às novas práticas de ensino, pois diversas tentativas foram

realizadas na busca de melhorar a produção do conhecimento. Contudo, não se tinha qualquer

orientação por parte da Secretaria de Educação, seja Municipal ou Estadual que pudesse

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invocar a melhoria do ensino, a não ser apenas as reuniões pedagógicas e conselho de classe

na escola. Dentro do processo educacional a Matemática Moderna teve um papel importante,

pois, abriu espaço no desmembramento da Matemática convencional para a entrada da

Matemática Aplicada, Comercial e Financeira dentro do currículo, além de adentrar nas

diversas áreas do conhecimento. Com efeito, tornar-se-ia o elo entre o processo de

colonização, a escola e o Movimento da Matemática Moderna na região.

Os vestígios da materialidade escolar, constituídos pelos documentos analisados,

revelam parte da história do período pesquisado, e foram explorados no sentido de favorecer a

compreensão dos discursos e representações sociais da época. Acreditamos ter evidenciado

pela pesquisa as questões que nortearam como problemática esse estudo, uma vez que, foram

respondidas com a triangulação das fontes. Principalmente, as que tratam das localizações dos

professores que atuaram como docentes na área da Matemática, suas origens, formações, se

ainda estão em exercício, afastados ou aposentados, residentes ou não na região, e suas

primordiais memórias guardadas sobre o desenvolvimento do ensino de Matemática na Escola

na época.

Também tentamos compreender, por meio de relatos de professores, funcionários,

gestores e ex-alunos, e dos documentos oficiais, não oficiais e fotográficos, as práticas

presentes no ensino de Matemática da Escola Estadual Oscar Soares. Assim, tínhamos como

objetivo principal investigar se, naquela instituição, a única escola naquele período de

colonização, havia indícios de práticas, conteúdos e utilização de livros que evidenciassem a

presença de elementos do Movimento da Matemática Moderna. É importante ressaltar que, as

entrevistas com os professores revelaram que eles desconheciam o referido Movimento. No

entanto, os conteúdos trabalhados traziam vestígios desse Movimento.

O Movimento da Matemática Moderna se inicia no Brasil, na década de 60 do século

XX, mesmo com seu declínio como Movimento, os livros didáticos, continuaram preservando

de forma cultural e representativa os conteúdos de Matemática consolidados naquele período.

Percebemos que, o ensino de Matemática se fez presente nas práticas dos professores, mesmo

eles não tendo concepção do que vinha a ser esse Movimento.

A Educação escolar de Juara em 1976 passa oficialmente a ser de responsabilidade da

Secretaria de Educação do Porto dos Gaúchos. E, nesse mesmo ano se torna Distrito desse

município. O comando da escola ficou sob os cuidados das Irmãs católicas do Sagrado

Coração de Jesus, sendo a primeira diretora a Irmã Maria Pinheiro da Silva. Com as

deliberações dos poderes executivos e estaduais, elas alavancaram a educação da localidade, a

qual na sua essência norteava fins políticos, sociais e religiosos. A colonização de Juara

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ocorreu de forma rápida considerando seu tempo e espaço de desenvolvimento. Podemos

observar esse rápido desenvolvimento ao comparar Juara com o município vizinho Porto dos

Gaúchos, fundado em 1955 e emancipado em 1963. Este com uma média de habitante

aproximada a 2.500 habitantes na década de 1980, contra 8.000 habitantes no mesmo período

em Juara. Atualmente, a marca do desenvolvimento é observada pelo número de habitantes,

tendo Porto dos Gaúchos aproximadamente 6.000 habitantes, enquanto Juara tem em torno de

32.000 pessoas.

A região, por ser considerada inóspita, não oferecia uma vida digna às pessoas, ou

seja, deflagrava seus direitos constitucionais, pela dificuldade de ter acesso às informações, ao

alto preço no comércio, à falta de emprego e à pouquíssima mão de obra qualificada em quase

todos os setores. Assim, ficou mais fácil para que a igreja católica, como grupo religioso

pioneiro, e com as parcerias existentes naquele período, contribuísse de forma majoritária na

formação tanto profissional, quanto religiosa na busca do homem de fé.

Com isso, o alvo principal eram as famílias. A igreja católica esteve em todos os

momentos de mãos dadas para atingir o desenvolvimento do local, e, ao mesmo tempo,

recrutar as famílias para se colocarem-se a serviço de sua doutrina. Enfim, a igreja se fez

presente com grandes atuações no processo colonizatório, bem como na organização e nos

avanços educacionais. Vale ressaltar que, a igreja e o Estado mantinham parceria. E, para o

estado, essa conveniência resultaria no domínio e colonização rápidos das terras, mesmo

porque ele não precisaria dispor de investimentos. Vale ressaltar que, naquele período, tinha-

se padre e ex-padre com cargos/funções dentro da Secretaria de Educação e Cultura de

Cuiabá.

As reflexões apontadas pelos documentos revelam o compromisso das pessoas com a

educação naquele período, onde com seus esforços culminados em trabalho era a principal

ferramenta que erguia e mantinha o desenvolvimento da localidade. O capital, o poder

econômico e político também se fizeram presente como âncora desse processo. Os esforços

dos colonizadores/colonos faziam parte de uma estrutura governamentista não apenas local,

mas também global, pois Juara, como um território de fronteira, estava aos olhos dos políticos

donos da cobiça de bens materiais, bem como da seguridade de sua extensão de terras em

segurança de sua pátria capitalista em nome da nacionalidade. Todavia, a cidade cria sua

estrutura e coloca para governar aqueles que, por ventura, compactuam com suas

“cartinhas”71

, normas e regras. Os investimentos humanos daquele período, apesar de difíceis,

71 As cartinhas eram uma forma dos políticos se comunicarem com os dirigentes escolares, principalmente para

indicarem suas elevações de níveis e aumentos salariais (Anexo 8).

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foram feitos com todos os cuidados e requintes nos paradigmas do progresso, preconizando

sempre a ordem, para se atingir o desenvolvimento, e com ele o progresso.

Para entendermos melhor o processo de colonização desses dois municípios, os quais

foram norte principal desse trabalho, reportamo-nos aos colonizadores: o alemão, Sr.

Guilherme Meyer, sargento do exército brasileiro (reformado antes de 1955), e, o agricultor, o

Sr. José Pedro Dias. O primeiro veio de uma família rica rio-grandense, e se dizia repetir os

feitos de seus pais em desbravar terras inóspitas e distantes. Inicia suas ideias de colonização

com o apoio de seus irmãos e amigos, e, com indícios de seu primeiro fracasso como

colonizador, obteve como parceiras empresas alemães em um período pós-guerra. O que

causou desconfiança no governo brasileiro que passaria a observar mais cuidadosamente os

passos do Município de Porto dos Gaúchos. Com efeito, este município, o primeiro na região

do Vale do Arinos, sob o administração de seu colonizador o Sr. Guilherme Meyer, desde seu

processo de pré-colonização ignorava quaisquer etnias indígenas que habitavam à região.

Nesse período era considerado o senhor da região. Aqui ele implantou seu sentimentalismo

ariano e tentou construir uma cidade com base nos moldes e filosofia alemã, a qual, por força

do destino, nem com os investimentos que fizera, durante quase duas décadas, a cidade

crescera. É importante ressaltar que, a religiosidade desse colonizador se centrava na igreja

luterana, ou seja, uma entidade singularizada nos moldes alemães.

O segundo, o Sr. José Pedro Dias, paranaense de Alto Piquiri, filho de pai baiano,

começou sua estadia na região do Vale do Arinos como agricultor, empregado da empresa

CONOMALI, pertencente aos irmãos Meyer, e gerenciado pelo Sr. Guilherme Meyer. Era um

homem simples que estudou apenas alguns meses. Recebe o nome de Zé Paraná pelos amigos

alemães, que viviam em Cuiabá. Em Porto dos Gaúchos, foi contratado inicialmente para o

plantio de café, e, depois dos investimentos alemães na região, tornou-se o homem de

confiança desse grupo alemão. Sua dedicação pela região era singular, chegando por duas

vezes a ser prefeito do Município de Porto dos Gaúchos. Mas, foi pelo seu empenho no

processo de colonização e emancipação do Município de Juara, que seu nome ficou conhecido

na região do Vale do Arinos.

Essa pesquisa nos possibilitou conhecer os papéis desses sujeitos a partir do processo

de colonização que outrora mudou as vidas de muitas pessoas, e seus esforços pelos avanços

no processo educacional.

A educação escolar de Juara se iniciou sob a responsabilidade da colonizadora

SIBAL. Essa educação, constituída por dificuldades, tais como: que vai desde espaço físico,

professores habilitados, até mesmo pessoas interessadas em lá, naquela cidade, ministrarem

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aulas. A esperança era que, ao se tornar Distrito, a educação afloraria, o que só aconteceu em

1976. Contudo, essa emancipação educacional começa a ocorrer apenas a partir de 1981, com

sua emancipação política. Mesmo com os avanços educacionais ocorridos no início da década

de 1980, a região seguia as instruções advindas da Secretaria de Educação e Cultura de

Cuiabá, por meio de suas DRECs. Entretanto, foi a partir de 1976 e devido à expansão

migratória de várias famílias que aumentara consideravelmente a demanda de crianças. Isso

passou a ser uma das preocupações da comunidade escolar e políticos locais com o apoio da

igreja, e setores comerciais para a organização, abertura e/ou ampliação de novas unidades

escolares.

A construção de uma estrutura física própria para a escola de forma que pudesse

atender à demanda ficou pronta apenas em meados de 1979. Entretanto, mesmo com essa

construção, a escola não conseguiu atender à demanda, mas ainda assim, fomentara o

desenvolvimento do local. Desde o início da colonização, as famílias migrantes, em acordo

com o colonizador, deixavam clara a necessidade de ofertar escolas aos seus filhos. No

entanto, rapidamente o colonizador percebeu como estratégia investir no espaço e em sua

oratória sobre a importância da escola. Em relação a ampliar os espaços escolares, preferiu

ceder espaços ociosos e grandes para funcionamento da escola na tentativa de atender todas as

crianças da região. Era um tempo complicado. Ruas de chão batido que, com a chuva,

produzia muita lama; em tempo de sol, muita poeira e fumaça devido às constantes queimadas

descontroladas. Inicialmente sua principal via de acesso era a Avenida Rio Arinos. Depois,

iniciou-se a construção de estradas que, com as fortes chuvas, rapidamente danificavam-se.

Outro agravante, era a falta de energia elétrica. A escola inicialmente usava energia elétrica,

mas por generosidade de um vizinho, que tinha uma soverteria e bar, cedia a energia para a

escola. Além de todos esses contratempos, tinha-se a falta de professores habilitados,

principalmente na disciplina de Matemática. Apenas em 1982 chega ao município o primeiro

professor habilitado em Matemática. As análises dos depoimentos e documentações do

período evidenciam complexidades, tais como, a falta de cursos e ao mesmo tempo

necessidade de melhor preparo a esses profissionais que trabalhavam à frente da educação.

Esse preparo dos profissionais da educação ficava sob a responsabilidade das irmãs católicas.

As dirigentes orientavam segundo depoimento, a forma como os professores deveriam

ministrar suas aulas. Anterior a esse período, cada um fazia por si, baseando-se apenas nos

métodos que aprendera. Não existia a preocupação do envolvimento em relação à teoria e

prática do ensino.

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Na Matemática, a preocupação era apenas com o ensino da tabuada, voltada para as

quatro operações. Por mais que se tentasse algo diferente, faltavam materiais e auxílio

pedagógico, e muitas vezes criatividade por não ter formação docente, ou seja, era mais óbvio

repetir os conteúdos apresentados nos poucos livros didáticos. Após o início da década de 80

do século XX, o ensino de Matemática começa a sofrer várias modificações e os professores

de Matemática dão sinal de uma breve inovação com atividades práticas.

Com as mudanças que vieram no final de 1979 como a elevação de nível de 1º para o

2º grau, e as primeiras discussões sobre cursos profissionalizantes, essas acirradas a partir da

emancipação política do Município de Juara, que ocorrem outras prioridades, no início da

década de 80 do século XX. A Escola Estadual Oscar Soares, naquele período, passa a ofertar

cursos profissionalizantes como modalidade de Ensino de 2º Graus para os alunos, e o

LOGOS II na formação de professores para o Magistério para as séries iniciais. Além de

cursos voltados para a Educação Integrada de 1ª a 4ª série, que tinha sua concepção pautada

no MOBRAL, oferecendo ainda o Ensino Supletivo no atendimento de 5ª a 8ª série. Contudo,

naquela época, havia, além dos apoios políticos, um assessoramento por parte da Secretaria de

Educação e Cultura de Cuiabá.

Vale ressaltar que, a educação do Município de Juara, perpassa três momentos

importantes em sua constituição. O primeiro trata do período entre 1972 a 1975, voltado

apenas para as séries iniciais, assistido apenas pela colonizadora SIBAL, e colaboração

política advinda do Município de Porto dos Gaúchos. O segundo momento acontece em 1976

com a regulamentação e organização do 1º Grau. Começara a oferta da 5ª a 8ª série,

estabelecida pela Lei 5692/71. O terceiro momento educacional veio com o início da

construção em 1978, da primeira escola de alvenaria e sua inauguração que ocorreu em julho

de 1979. Essa escola foi construída de forma totalmente diferente das salas de aulas anteriores

que eram cubículos de madeira e desapropriadas para a função de escola.

Adentrada a essa organização, evidenciamos os cursos profissionalizantes de

Magistério para atendimento das séries iniciais e o Básico em Agropecuária com intuito de

formar sua população para o trabalho, ambos iniciados em 1980, e concluídos em 1982. A

chegada desses cursos proporcionou um novo olhar para as matrizes curriculares e com elas

as novas abordagens de como trabalhar os conteúdos de Matemática, na tentativa de melhorar

a qualidade de ensino. As análises dos documentos, constituídos pelas entrevistas, pouco

apresentavam que, os depoentes tiveram acesso às orientações e trabalhos dirigidos pelo

GEEM, nem conhecimento sobre o Movimento da Matemática Moderna. Entretanto, algumas

atividades, realizadas por esses depoentes em sala de aula, levaram-nos a perceber que, havia

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a presença desse Movimento, não apenas nos conteúdos escriturados nos Diários, mas

também em suas práticas pedagógicas.

Dessa forma, foi a partir dos depoimentos que entendemos como o ensino de

Matemática, como Disciplina, influenciou a aprendizagem dos alunos. Em vários momentos,

os professores procuraram aproximar as teorias voltadas para a Matemática das atividades

práticas, sobretudo as que envolviam a agricultura e outras usando palitos de madeira. Mesmo

os docentes de Matemática não tendo sequer conhecimento do Movimento da Matemática

Moderna, havia essa preocupação de relacionar a teoria com a prática, sempre envolvendo

conteúdos com objetivo de motivar os alunos para o ensino-aprendizagem, e ajudá-los na

construção do conhecimento.

As análises nos Diários de Classe não revelam essas práticas, pois era solicitado dos

professores que escrevessem de forma resumida e sucinta, deixando muitas informações sem

registros. Apenas por meio das entrevistas foi possível conhecer um pouco dessas práticas e

quais concepções tinham esses professores sobre o ensino de Matemática. Todavia, foi pelo

Diário que tivemos acesso às informações que nortearam a pesquisa, como nomes dos

professores e diretores, registros nominais dos alunos, e o mais importante, pudemos

averiguar a similaridade entre os conteúdos apresentados nos Diários de Classe com os

conteúdos mínimos constituídos pelo GEEM (Grupo de Estudos do Ensino de Matemática).

Além disso, encontramos livros do primeiro grau do professor Sr. Osvaldo Sangiorgi, o

primeiro a presidir por vários anos o grupo, e o principal representante e divulgador do

Movimento da Matemática Moderna aqui no Brasil.

Percebemos entre os conteúdos ministrados e registrados nos Diários de Classe a

presença da teoria dos conjuntos, teoria do grupo, topologia, a geometria discutida de uma

forma prática e observadora nas aulas de campo. As análises dos depoimentos também

apontaram métodos tradicionais de ensino, como utilização da tabuada ainda de forma cantada

e sendo usada como principal aporte para se chegar ao conhecimento matemático. Nesse

sentido, pelos depoimentos, conseguimos ainda perceber a tentativa de dialogar teoria e

prática em vários momentos, principalmente no uso da Matemática em outras áreas do

conhecimento.

As fotografias, por sua vez, apresentaram espaços de mudança e transformações que

cresciam de acordo com o desenvolvimento, e as reivindicações da comunidade, pois

acreditavam em dias melhores e que o passado poderia ser superado para um presente com

resultados mais satisfatórios. Essas fotografias puderam nos revelar a força de uma sociedade

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e sua importância mesmo em um ambiente de conflito e dificuldades que muitas vezes

ultrapassavam as paredes escolares.

É importante ressaltar que, por meio das análises dos documentos escritos e

fotográficos, triangulados de forma intrínseca com os diversos depoimentos, foi possível um

registro mais efetivo dos momentos, e fatos ocorridos naquela época. Esse registro

possivelmente evidenciado na cultura escolar que fortaleceu e se constituiu ao longo desse

período, partindo da história da Escola Estadual Oscar Soares, a primeira escola do município,

sobretudo Estadual. Essa escola traz em todos os seus elementos de funcionamento a base

norteadora na diversidade cultural, marcando na história contemporânea esse período e seus

reflexos culturais. Tudo isso foi possível devido os aportes no diálogo com vários teóricos,

principalmente Le Goff, o qual trata, com ênfase, a história cultural.

A partir da escrita, e com muita leitura, fomos desenvolvendo um olhar mais crítico

nos elementos que norteavam as fontes escritas, orais e iconográficas facilitando trilhar as

entrelinhas do objeto em estudo, assim tivemos e teremos ainda mais oportunidade de

questioná-las.

Esse texto dissertativo representa um crescimento incomensurável como professor e

educador que somos da Disciplina de Matemática. E, como pesquisador, trouxe-nos a

oportunidade de conhecermos a história da colonização do Município de Juara, onde

residimos, bem como a do Município de Porto dos Gaúchos, responsável pela sua origem.

Dessa forma, adentramos a história educacional desse município, buscando resquícios do

Movimento da Matemática Moderna nas práticas dos professores daquela época, nos

conteúdos aplicados em sala de aula, e observando quais livros foram usados para aplicar

esses conteúdos na Escola Estadual Oscar Soares, pioneira na localidade, e na qual sou

professor.

Essas questões me fez voltar ao passado e recordar como eram as práticas usadas pelos

professores na minha época de escola, e também me fez recordar se, durante o Curso de

Habilitação em Matemática, ouvi algo referente ao Movimento da Matemática Moderna pelos

professores. Recordo que não. Nunca ouvi nada referente a esse Movimento. Contudo, os

conteúdos ministrados tanto no Ensino Fundamental e Médio, tanto como os vistos na

universidade também estavam de acordo com os defendidos pelo GEEM/61. Porém as

práticas evidenciadas reportavam períodos que antecederam a chegada da Matemática

Moderna.

Essa constatação nos possibilitou, ainda, mergulhar nas entranhas da história no intuito

de investigar, o processo educacional que se fez presente naquela densa floresta, vista como

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inacessível, onde aos poucos o homem foi tomando o espaço, desagregando o lugar e

tornando-se história.

Por ser uma pesquisa de cunho histórico, o que nos instiga à criticidade, diversas

questões reflexivas perpassam nossos pensamentos quanto à forma de colonização do local,

como ainda sobre seu colonizador, cuja tamanha humildade escondia o desejo de poder. Essas

reflexões nos possibilitam a continuidade da pesquisa, pois são muitos documentos a serem

analisados, visto que, o recorte temporal da pesquisa se deu entre os anos de 1970 a 1990,

reportando desde o período de pré a pós-colonização. Com efeito, muitos documentos

escolares encontrados deixaram de ser analisados e fazer parte do trabalho. Além disso, da

década de 90 do século XX aos dias atuais, pleno século XXI, houve muitas mudanças, tanto

no município, quanto na referida instituição escolar, e principalmente na educação. Com essas

transformações ocorridas, novos documentos emergem, trazendo-nos outras fontes como

elementos de pesquisa. Doravante este texto dissertativo e outros que possam surgir,

alavancando novos paradigmas no processo investigativo, os quais ajudarão a consolidar a

mais nova área do conhecimento, a História da Educação Matemática.

A finalidade de se encontrar esses Diários de Classe deu-se no intuito de conhecer

pelos seus registros, o que apresentava de resquícios de conteúdos voltados ao Movimento da

Matemática Moderna, a partir da 5ª a 8ª série, atual (6º ano a 9º ano do ensino fundamental) e

o Ensino Médio. E por meio dele, fazer um paralelo entre os conteúdos ministrados no

período e os caracterizados como conteúdos mínimos pelo GEEM. Esse pioneiro

representante do Movimento da Matemática Moderna. Percebeu-se que no sexto ano, porém

chamado na época de primeira série ginasial, os conteúdos estavam voltados às relações entre

conjuntos, uma das topologias encontradas como base do Movimento da Matemática

Moderna.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARRUDA, Alenir Gonçalves de. Entrevista concedida a Reginaldo José dos Santos.

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ANEXOS

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278

Anexos 1

CESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS

E AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO EM MEIO ELETRÔNICO

Eu,.............. ...........................................................................................................................

nacionalidade ................................... estado civil ..................................., inscrito (a) no CPF sob

nº .................................................................., portador da cédula de identidade nº

....................................., expedida por ........................, pelo presente termo, autorizo o Programa

de Pós- Graduação da Universidade Federal de Mato Grosso, através do mestrando Reginaldo

José dos Santos e sua orientadora Drª. Andréia Dalcin, a publicar esta entrevista em artigos e na

dissertação em andamento que visa descrever a HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA NO ESTADO DE MATO GROSSO: O MOVIMENTO DA

MATEMÁTICA MODERNA NO MUNICÍPIO DE JUARA NO PERÍODO DE 1970 A

1990, A PARTIR DA ESCOLA ESTADUAL OSCAR SOARES, cedendo-lhe, a título

gratuito e em caráter definitivo, os direitos autorais patrimoniais dela decorrentes.

Autorizo ainda, a publicação em quaisquer meios e suportes existentes, inclusive na

internet, e em CD-Rom, bem como a reprodução em outras comunicações ao público a edição, a

reedição ou a adaptação e distribuição.

Por ser verdade, firmo o presente e dou fé.

______________, ____de __________de 20__.

Assinatura:__________________________________

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Anexo 2

QUESTIONÁRIO QUE AJUDOU NA ENTREVISTA PILOTO

Nome completo do entrevistado

Data

Local

Horário

1 Qual ou quais formação(ões) acadêmica você possui?

2 Se sim, quem ofereceu essa(s) formação (ões)?

3 O que lhe motivou a ser um educador? Mas especificamente nesta área

de Matemática?

4 Qual ou quais motivo(s) lhe levou a lecionar nesta cidade?

5 Qual ou quais recurso(s ) lhe foram oferecidos para que pudeste

desempenhar o papel de educador?

a) Espaço físico

b) Gestão Escolar

c) Material didático

d) Planos de aula

e) Clientela (alunos)

f) Apoio Governamental

6 Além da disciplina de Matemática, você lecionou ou leciona outra área de conhecimento?

7 Há quanto tempo você lecionou ou leciona Matemática?

8 Quem eram os educadores de Matemática que formavam o grupo docente, além de você?

9 Qual relação existia no período e em dias atuais entre escola/ comunidade, escola/família e escola/cidade?

10 Você possui algum arquivo? Tipo fotos, diário de classe, trabalhos escolares, recortes de jornais ou outro tipo

de documento que possam nos levar a voltar ao passado?

11 Você tem conhecimento do Movimento da Matemática Moderna? Vivenciaste este momento?

12 Como os educadores executavam o trabalho na década de 70 e que relação eles faziam ao MMM?

13 Para você como se deu o processo de colonização na cidade de Juara nas décadas de 70 e 80 do século XX?

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Anexo 3

DECLARAÇÃO DE EMPRÉSTIMO DO ANTIGO ESCRITÓRIO DA SIBAL, PARA

FUNCIONAMENTO DA SALA ANEXA DA ESCOLA ESTADUAL DE 1º GRAU DE

JUARA, 1976.

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Anexo 4

DECLARAÇÃO DE EMPRÉSTIMO DO CLUBE RECREATIVO SOCIAL UNIÃO,

PARA FUNCIONAMENTO DA ESCOLA ESTADUAL DE 1º GRAU DE JUARA,

1976.

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Anexo 5

OFÍCIO Nº 002/76, SOLICITANDO REGULAMENTAÇÃO DA ESCOLA

ESTADUAL DE 1º GRAU DE JUARA EM 1976.

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Anexo 6

NÚMEROS DE ALUNOS POR TURNOS, 1976.

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Anexo 7

PRIMEIRA PÁGINA DO LIVRO DE MATRÍCULA EM 1976.

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Anexo 8

CARTINHA ENVIADA PELO DEPUTADO PARA A DIRETORA DA ESCOLA

ESTADUAL OSCAR SOARES

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Anexo 9

CARTINHA DO DEPUTADO, 1977