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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESPÍRITO SANTO - UNESC REGINALDO PEREIRA DOS SANTOS RESPONSABILIDADE CIVIL PELO BULLYING COMETIDO CONTRA MENORES NAS ESCOLAS DA REDE PÚBLICA

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CENTRO UNIVERSITRIO DO ESPRITO SANTO UNESC

CENTRO UNIVERSITRIO DO ESPRITO SANTO - UNESC

REGINALDO PEREIRA DOS SANTOSRESPONSABILIDADE CIVIL PELO BULLYING COMETIDO CONTRA MENORES NAS ESCOLAS DA REDE PBLICACOLATINA

2012REGINALDO PEREIRA DOS SANTOSRESPONSABILIDADE CIVIL PELO BULLYING COMETIDO CONTRA MENORES NAS ESCOLAS DA REDE PBLICATrabalho de Concluso de Curso apresentado ao Centro Universitrio do Esprito Santo - UNESC, sob orientao da Professora Katia Dutra Pinheiro de Lacerda Pretti, como requisito para a obteno do Ttulo de Bacharel em Direito.

COLATINA

2012REGINALDO PEREIRA DOS SANTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL PELO BULLYING COMETIDO CONTRA MENORES NAS ESCOLAS DA REDE PBLICA.

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Centro Universitrio do Esprito Santo UNESC, para a obteno do Ttulo de Bacharel em Direito.

ORIENTADORA

____________________________________________ ____________

Katia Dutra Pinheiro de Lacerda Pretti, Mestre em Direito NotaPrivado e Constituio.AVALIADOR

____________________________________________ ____________

NotaColatina, ___ de ________________ de 2012.

"Faa e tenha certeza do que ests a fazer, ningum tem o direito de fazer sofrer."

Joo Vitor Rocha"O que mais preocupa no nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-carter, dos sem-tica. O que mais preocupa o silncio dos bons" Luther KingOs fatos no deixam de existir simplesmente por serem ignorados.

Alfous HuxleyRESUMOO seguinte trabalho aborda a responsabilidade civil pelos danos decorrentes do bullying nas escolas publicas. A escola tem, o dever legal de resguardar a integridade fsica e psicolgica de seus alunos, enquanto estes estiverem sob sua responsabilidade, portanto, v-se necessrio a discusso da natureza da responsabilidade civil das escolas pblicas por atos de agresso praticados por seus alunos. O bullying, fenmeno que ocorrente a muito, porm um fator este ignorado por anos nas instituies de ensino, tido apenas como brincadeiras de mau gosto, porm, o tema ganha relevncia devido a sua correlao com eventos de trgicas repercusses que demonstraram que o bullying no pode ser encarado com algo inofensivo. As consequncias do bullying afetam a todos os envolvidos, sendo necessrio desenvolver mecanismos para coibir esta prtica, um dos instrumentos hbeis para dar incio a esta mudana de postura demonstrar a possibilidade de se recorrer ao judicirio buscando responsabilizao civil das escolas por atos de bullying com base no artigo 37, pargrafo 6 da Constituio Federal e no artigo 932, IV do Cdigo Civil.Palavras - chaves: Bullying, Escolas pblicas, Responsabilidade Civil.SUMRIO

INTRODUO ................................................................................................6

1 BULLYING....................................................................................................8

1.1 Definio e caracterizao do Bullying .....................................................81.2 A relevncia do estudo do bullying ..........................................................121.3 O Bullying na escola ...............................................................................14

2 RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................17

2.1 Origem histrica ......................................................................................172.2 A responsabilidade civil no Brasil ...........................................................202.3 Definies, Funes, espcies e requisitos.............................................212.3.1 Definies da Responsabilidade civil ...................................................21

2.3.2 Funes da responsabilidade civil........................................................232.3.3 Espcies da responsabilidade civil ......................................................24

2.3.3.1 Contratual e Extracontratual .............................................................24

2.3.3.2 Direta e Indireta ................................................................................26

2.3.3.3 Objetiva e Subjetiva ..........................................................................27

2.3.4 Requisitos da responsabilidade civil ....................................................312.3.4.1 Ao e Omisso do Agente ..............................................................31

2.3.4.2 Culpa ou Dolo do Agente ..................................................................32

2.3.4.3 Relao de Causalidade ...................................................................34

2.3.4.4 Dano experimentado pela vtima ..................................................35

3 RESPONSABILIDADE CIVIL NAS ESCOLAS ........................................362.4 Palavras Preliminares .........................................................................362.5 Responsabilidade civil das escolas pelo bullying ................................372.6 Tipificao da responsabilidade das escolas ......................................392.7 Responsabilidade das escolas pela omisso .......................................412.8 Possibilidade de excluso da responsabilidade das escolas...............43

CONCLUSO .................................................................................................44

REFERNCIAS...............................................................................................46

ANEXOS ............................................................................................................

INTRODUO

Este estudo tem por alvo demonstrar a possibilidade de responsabilizao civil pelos danos decorrentes do bullying nos estabelecimentos de ensino pblico.

A Carta Magna de 1988 bastante clara ao garantir o direito educao para todo Cidado e, ao mesmo tempo, afirma que a obrigao de proporcionar o ensino do Estado.

Hoje, um dos maiores problemas scioeducacionais est no chamado bullying que se caracteriza com os atos ofensivos ao estado psicolgico de alunos por ao de outros, tambm alunos ou mesmo terceiros frequentadores da instituio.

Pelo exposto, que se escolheu este tema e atravs dele se pretende fazer uma rpida abordagem sobre a responsabilidade civil das escolas pblicas e, por conseguinte do Estado, de uma maneira geral e tambm sobre a comum ocorrncia do chamado bullying nas escolas.

A prtica do bullying sempre existiu, porm com o grave aumento da violncia e a ampla discusso na mdia, vem despertando o interesse de diferentes ramos, como a educao, a sade, e no diferente em relao rea jurdica, principalmente nas escolas e se no for combatido propiciar uma situao-problema e a sua posterior reproduo no meio social, fazendo que seus agentes abandonem a tolerncia e o respeito para com seus semelhantes.

Os fatores relevantes para a delimitao do tema foram que, a maioria dos alunos envolvidos em casos de bullying so absolutamente incapazes e segundo, que o bullying acontece principalmente nas escolas, nos levando a abordar a responsabilidade civil com enfoque na Constituio Federal, bem como pelo Cdigo Civil.

Perguntas surgem como: Quem deve ser responsabilizado pelos danos decorrentes das agresses? Qual seria a legislao pertinente que melhor atenderia? Sero estas algumas das questes que procuraremos esclarecer no desenvolvimento deste trabalho.

A conduta agressiva de alunos sobre seus semelhantes, tambm a omisso dos responsveis pelos estabelecimentos de ensino, gera muitas vezes danos gravssimos.

O objetivo analisar esse fato social relacionando-o com o instituto jurdico da responsabilidade civil pelos danos causados dentro dos estabelecimentos de ensino pblico no Brasil.

O tema apresenta uma grande relevncia social, ainda to pouco explorado no nosso meio cientfico e buscaremos com esta abordagem contribuir para a diminuio deste grave problema social que afeta muitas crianas e adolescentes no nosso Brasil e no mundo.

No se pretende esgotar a matria, antes, cuida-se apenas de estudo preliminar e sabidamente incompleto, o que se pretende apenas alertar para realidade e, quem sabe, possa este estudo elementar servir de impulso e provocao pela matria a fim de produzir estudos mais completos, para que em futuro no muito distante, seja possvel atingir um melhor dimensionamento da matria, nas busca de melhores solues, como a sociedade precisa, clama e solicita.1 BULLYING1.1 Definio e caracterizao do Bullying

No existe traduo exata na Lngua Portuguesa referente palavra bullying, ele tido como um assdio moral e so atos de desprezar, denegrir, violentar, agredir, destruir a estrutura psquica de outra pessoa sem motivao alguma e de forma repetida (CALHAU, 2010, p.6).

Entre as formas de prtica de bullying encontram-se agresses, apelidos, ofensas, gozaes, humilhaes, discriminaes, excluses, intimidaes, perseguies, assdios entre outras formas de violncia, conforme verifica-se abaixo:Os comportamentos bullying podem ocorrer de duas formas: direta e indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vtima. A direta inclui agresses fsicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatria, insultar, constranger); a indireta talvez seja a que mais prejuzo provoque, uma vez que pode criar traumas irreversveis. Esta ltima acontece atravs da disseminao de rumores desagradveis e desqualificantes, visando discriminao e excluso da vtima de seu grupo social (FANTE, 2005, p.50). necessrio fazer a diferenciao entre o bullying e simples brincadeiras, para isso deve prevalecer o bom senso, tendo como pressuposto que: no h brincadeiras quando algum est sofrendo (JORNAL NACIONAL, edio do dia 08/12/2008 citando Llio Braga Calhau).

De acordo com Clo Fante e Jos Augusto Pedra (2008, p.39), existem alguns critrios bsicos para a constatao do bullying, os abaixo transcritos foram estabelecidos pelo pesquisador pioneiro nos estudos sobre o bullying, Dan Olweus:

(...) aes repetitivas contra a mesma vtima num perodo prolongado de tempo; desequilbrio de poder, o que dificulta a defesa da vtima; ausncia de motivos que justifiquem os ataques. Acrescentamos ainda que devem levar em considerao os sentimentos negativos mobilizados e as seqelas emocionais, vivenciados pelas vtimas de bullying. Grifo nosso.Zoar, ofender, ignorar, excluir, humilhar, ferir, perseguir, discriminar, so verbos comuns nas brincadeiras das escolas e so tidos como prprios da idade, porm essas situaes podem esconder uma violncia silenciosa neste contexto que se insere o BULLYING (JORNAL NACIONAL, edio do dia 08/12/2008).Pelo exposto, no tarefa fcil encontrar uma expresso na lngua portuguesa para conceituar o fenmeno bullying, porm unanime a constatao da ocorrncia de: Aes repetitivas contra a mesma vtima num perodo prolongado de tempo, desequilbrio de poder, o que dificulta a defesa da vtima e a ausncia de motivos que justifiquem os ataques.

Conforme Pesquisa FUTURA (2011) que foi s ruas saber a opinio dos capixabas sobre o assunto, obteve os seguintes resultados:

Dos entrevistados 65,9% afirmaram conhecer o que bullying, ainda 30,6% dos respondentes afirmaram que sofreram com essa prtica, esse nmero sobe quando perguntado aos entrevistados se estes j tiveram um apelido de mau gosto durante o perodo escolar 38,3%. A grande maioria dos apelidos era associada aos aspectos do corpo das vtimas, 48,1% e 35,1% ao jeito e comportamento da vtima, respectivamente.

interessante destacar os sentimentos que bullying causa em suas vtimas, durante ou logo aps os atos de constrangimento, sendo assim 24% dos entrevistados que foram vtimas sentiram raiva, 22,7% sentiram vergonha e 20,1% sentiram constrangimento. Neste aspecto, alguns dados chamam ateno, a maioria das vtimas entrevistadas residentes em Vitria afirmaram sentir constrangimento com o percentual de 37,1%, em Vila Velha o que prevaleceu o sentimento de vergonha com 31,8%, j na Serra e Cariacica o sentimento que mais aflorou nas vtimas foi a raiva com 27,5% e 28,6% consecutivamente.

Quando questionados se presenciaram alguma cena de bullying os 61,9% respondentes afirmaram que sim, interessante destacar que 26,9% dos que presenciaram a essa cena no esboaram nenhuma reao frente ao fato, 22,1% tentou conversar com o agressor e 18, 9% vez vista grossa fingiu que no viu.

O nmero de pessoas que presenciaram ao bullying contrasta quando perguntado aos entrevistados se em algum momento da vida ele praticou o bullying, em que a grande maioria 82,1% afirmaram que no praticaram. Dentre os que efetuaram este ato 56,3% praticaram na escola.

Os entrevistados ainda atribuem famlia a responsabilidade de combate ao bullying, com 43,5% seguido da Escola, com 23,1%. Como punio quem pratica o bullying nas escolas deve receber algum auxlio psicolgico com 50,7%, seguido por punio escolar 25,1% e 17,4% acreditam que o agressor deve receber uma punio mais pesada, responder criminalmente por seus atos. Grifo nosso.Conforme observado pela pesquisa supra referida, o bullyinq uma prtica que ocorre no apenas em outros pases, mas tambm no Brasil e no estado do Espirito Santo e que ainda, deixa traos que influenciaro os agentes envolvidos pelo resto de suas vidas. O pesquisador noruegus Dan Olweus estabeleceu alguns critrios importantes para identificar corretamente os casos de bullying escolar. Os trs critrios estabelecidos por Dan Olweus so os seguintes: - Aes repetitivas contra a mesma vtima num perodo prolongado de tempo;

- Desequilbrio de poder, o que dificulta a defesa da vtima;

- Ausncia de motivos que justifiquem os ataques. (CALHAU, 2009, p. 32) O bullying pode ocorrer de forma direta ou indireta:Direta marcada por agresses fsicas e verbais sendo mais comuns entre os agressores masculinos.

Indireta tambm apelidada de agresso social e ocorre atravs de comentrios depreciativos sobre a vtima e objetiva sua discriminao e excluso do grupo social. Presente com maior frequencia entre os agressores femininos e crianas.Dentre as principais classificaes entre os doutrinadores sobre s participantes do bullying possvel em quatro grupos: Agressores, vtimas, espectadores passivos e vtimas-agressoras (CALHAU, 2010, p. 9).

Fica patente que todos os envolvidos neste fenmeno sofrem as consequncias do bullying. Para Clo Fante em trechos extrados do texto da NOVAMERICA, Ano VI, N 66 - Outubro de 2005, os protagonistas do fenmeno bullying so:VTIMA TPICA: aquela que serve de bode expiatrio para um grupo.(...) um individuo (ou grupo de indivduos), geralmente pouco socivel, que sofre repetidamente as conseqncias dos comportamentos agressivos de outros e que no dispe de recursos, status ou habilidades para reagir ou fazer cessar essas condutas prejudiciais. Suas caractersticas mais comuns so: aspecto fisco mais frgil que o de seus companheiros; medo de que lhe causem danos ou de ser fisicamente ineficaz nos esportes e nas brigas (...); extrema sensibilidade, timidez, passividade,submisso, insegurana, baixa auto-estima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. Em muitos casos, relaciona-se melhor com pessoas adultas do que com seus companheiros, (...) sente dificuldades de se impor ao grupo, tento fsica como verbalmente (...) motivo pelo qual parece denunciar ao agente agressor que no ira revidar se atacada e que presa fcil para os seus abusos.

VTIMA PROVOCADORA: aquela que provoca e atrai reaes agressivas contra as quais no consegue lidar com eficincia. A vtima provocadora possui um gnio ruim, tenta brigar ou responder quando atacada ou insultada, mas geralmente de maneira ineficaz; pode ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora; de modo geral, tola imatura, de costumes irritantes, e quase sempre responsvel por causar tenses no ambiente em que se encontra.

VTIMA AGRESSORA: aquela que reproduz os maus tratos sofridos. A vtima agressora aquele aluno que, tendo passado por situao de sofrimento na escola tende a buscar indivduos mais frgeis que ele para transform-los em bodes expiatrios, na tentativa de transferir os maus tratos sofridos. Essa tendncia tem sido evidenciada entre as vitimas, fazendo com que o bullying se transforme numa dinmica expansiva, cujos resultados incidem no aumento do mero de vtimas.

AGRESSOR: aquele que vitimiza os mais fracos. O agressor, de ambos os sexos, costumam ser um individuo que manifesta pouca empatia.

Freqentemente, membro de famlia desestruturada, em que h pouco ou nenhum relacionamento afetivo. Aos pais ou responsveis exercem superviso deficitria e oferecem comportamentos agressivos ou violentos como modelos para solucionar s conflitos. O Agressor normalmente se apresenta mais forte que seus companheiros de classe e que suas vitimas em particular, pode ter a mesma idade ou ser um pouco mais velho que suas vitimas.ELE sente uma necessidade imperiosa de dominar e subjugar os outros, de se impor mediante o poder e a ameaa e de conseguir aquilo a que se propem. Pode vangloriar-se de sua superioridade real ou imaginaria sobre outros alunos (...) irrita-se facilmente e tm baixa resistncia as frustraes. Custa a adaptar-se as normas:no aceita sr contrariado...

ESPECTADOR: o aluno que presencia o bullying porem no o sofre nem pratica. Representa a grande maioria dos alunos que convive com o problema e adota a lei do silencio por temer se transformar em novo alvo para o agressor. Mesmo no sofrendo as agresses diretamente muitos deles podem se sentir inseguros e incomodados. Alguns expectadores reagem negativamente, uma vez que seu direito de aprender em um ambiente seguro e solidrio foi violado... No raro alguns alunos so tomados pelo medo de que sua reputao seja ameaada ou de provocarem o desdm ou a desaprovao dos agressores e algum os vir em companhia do aluno alvo das gozaes.Pelo exposto, uma caracterstica comum nas vtimas de bullying ser diferente de alguma forma. So aqueles que se vestem de uma forma diferente, que so gordos, ruivos ou sardentos numa sala em que o normal no isto, de outra raa, religio, etc. De acordo com SORAYA SOARES DA NBREGA e ELLEN EMANUELLE DE FRANA BARROS apud ALEXANDRE MORAIS DA ROSA e NEEMIAS MORETTI PRUDENTE, as conseqncias do BULLYING para o sujeito passivo, podem ser:Baixa autoestima, Dificuldade de relacionamento social e no desenvolvimento escolar, Ansiedade, Estresse, Evaso escolar, Atos deliberados de autoagresso, Alteraes de humor, Apatia, Perturbaes do sono, Perda de memria, Desmaios, Vmitos, Fobia escolar, Anorexia, Bulimia, Tristeza, Falta de apetite, Medo, Dores no especificadas, Depresso, Pnico, Abuso de drogas e lcool, Pode chegar ao suicdio e at atos de violncia extrema contra a escola.O bullying encontra um ambiente propcio no silncio, em que os agentes no denunciam a situao por vergonha e por receio de represlia por parte dos agressores, acreditam que no adianta contar e quando resolvem relatar os fatos muitas vezes suas queixas so tidas como fatos sem importncia, tidos como brincadeiras de mau gosto. Muitas vtimas, ainda temem ser responsabilizadas pelo comportamento do agressor. Pelo exposto, constata-se que de fundamental importncia identificar corretamente e combater a prtica de bullying no ambiente escolar.1.2 A Relevncia do estudo do bullyingMuitas vezes subestimado e encarado como simples brincadeiras de mau gosto em um grupo de alunos, o bullying traz consigo casos de violncia fsica e/ou moral praticadas por agressores contra vtimas.

CALHAU (2010, p.14) afirma que o ambiente escolar, no bullying, perde muito e as situaes constantes dispersam as pessoas e dividem a sala, pois, as brincadeiras so percebidas com formas muito diversas pelos envolvidos.

Ainda, segundo CALHAU (2010, p.12), as pesquisas bem sucedidas comearam a partir da dcada de 70, com Dan Olweus, professor na Universidade de Bergen, Noruega, tendo chamado a sua ateno o nmero de suicdios que ocorreram com crianas na Noruega nesse perodo.

Olweus, desenvolveu os primeiros critrios para detectar o problema de forma especifica, pesquisou inicialmente 84 mil estudantes, cerca de 300 a 400 professores e em torno de 1000 pais de alunos, incluindo vrios perodos de ensino, buscou-se avaliar a natureza e ocorrncia deste fenmeno.

Foi constatado que a cada sete alunos, um estava envolvido em casos de bullying, originou-se assim uma campanha a nvel nacional, com apoio do governo noruegus, que reduziu em 50% a ocorrncia de bullying nas escolas, incentivando pases como Reino Unido, Canad e Portugal, a promoverem as referidas campanhas.

No Brasil, os maiores precursores dos estudos sobre o fenmeno bullying so: Cleo Fante, no bullying escolar; Margarida Barreto, no caso de bullying no ambiente de trabalho, e o Promotor de Justia Llio Braga Calhau.

O tema ganha repercusso quando comentado pela mdia nos casos em que as vtimas de bullying chegam ao extremo de exploses agressivas e homicidas. Como mostra o documentrio de Michael Moore: Tiros em Columbine retratando a tragdia da escola no condado de Littleton, o colgio Columbine, em que dois alunos vtimas de bullying, Dylan Kleboland e Eric Harris pegaram as armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitrio. Ainda referente aos Estados Unidos temos o filme Elefante que tambm trata desta temtica.Vrios exemplos podem demonstrar casos de ocorrncia do bullying com desfecho trgico ocorrido no Brasil, como o ataque ocorrido no ano de 2011 em Realengo-RJ, em que um homem de 23 anos, ex-aluno e vtima de bullying, entrou em uma escola municipal, atirou contra alunos em salas de aula lotadas, sendo posteriormente atingido por um policial, por fim, o atirador cometeu suicdio.

Conforme mostra Luciano de Freitas (2004) em seu interessante artigo:

Alguns dos casos de reaes negativas sobre o bullying foram citados na citados na imprensa, se tornaram famosos nacionalmente e internacionalmente como o ocorrido na cidade de Taiva, interior de So Paulo, no incio de 2003, o aluno, que era constantemente alvo de bullying, entrou armado com um revlver 38 carregado com seis balas e uma caixa com 90 projteis, Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, invadiu a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Mdio Coronel Benedito Ortiz e atirou em seis alunos, em uma professora e o caseiro.Fica patente que um indivduo educado em um ambiente escolar conivente com o bullying se desenvolver crendo que este um comportamento das relaes sociais, sendo que o ambiente escolar sentido como uma amostra da sociedade como um todo.Necessrio proporcionar um ambiente educacional desfavorvel ao bullying, promovendo a formao de cidados capazes de agir com respeito aos indivduos em todas as suas diferenas, opinies e limitaes.1.3 O bullying na escola.A famlia, a comunidade e a escola, cada qual dentro de suas limitaes e variveis de alcance, so participantes da construo e/ou descoberta dos valores que cada um priorizar em seu desenvolvimento e na elaborao mltipla e singular e assumir como personalidade.As relaes sociais que se originam no universo escolar estruturam cultural e historicamente, momentos (educativos ou no) de vivncia significativa para as pessoas que utilizam esse espao. No entanto, muitas dessas relaes, demonstram uma convivncia nem sempre to pacfica como era de se esperar em um local de troca de experincias e de crescimento do ser humano e formao dos cidados.

Devido a trgicos desfechos, o bullying vem ganhando espao na mdia e despertando o interesse de pesquisadores e levantando questionamentos para profissionais da educao.O bullying um ato cruel e silencioso que decorre das relaes sociais promovendo a intolerncia, suprimindo a empatia necessria para a solidariedade social. Um agressor de bullying perde a compreenso dos direitos e garantias fundamentais que so os pilares da sociedade atual e, por conseguinte, dissemina uma cultura agressiva e repressora.

Os atos decorrentes do bullying impem sofrimento psquico e fsico a sua vtima e atenta contra a sua dignidade, ferindo a identidade deste indivduo, e prejudicando o seu desenvolvimento, pois cometido, na maioria das vezes, durante a infncia e juventude. O agressor se vale de qualquer aspecto diferenciador de sua vtima em relao ao grupo para promover o bullying. E justamente aquele aspecto que tornaria a vtima diferenciada na constituio de sua prpria identidade e personalidade, o que deveria ser promovido como aceitao ou no mnimo tolerncia diversidade.

Por serem reiteradas, as agresses em um ambiente que tinha o dever de resguardar a integridade de seus alunos, a escola acaba falhando por aes irreparveis ou por omisses.Imprescindvel que os responsveis pelos estabelecimentos de ensino estejam atentos a comportamentos a fim de identificarem os envolvidos na prtica de bullying, conforme afirma Clo Fante (2005), as condutas a serem observados so:[...] para que um aluno possa ser identificado como vtima, os professores devem observar se ele apresenta alguns destes comportamentos:

-durante o recreio est isolado e separado do grupo, ou procurando ficar prximo de um adulto?

-na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais mostrando-se inseguro ou ansioso?

-nos jogos em equipe o ultimo a ser escolhido?

-apresenta-se comumente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito?

-apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares ?

-apresenta ocasionalmente contuses, feridas, cortes, arranhes ou a roupa rasgada, de forma no natural?

-falta as aulas com freqncia (absentesmo)?

-perde com freqncia os seus pertences?

Os mesmos procedimentos interrogativo devem ocorrer em relao ao

agressor. Entre seus comportamentos habituais:

-faz brincadeiras ou gozaes, alem de rir de modo desdenhoso e hostil?

-coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome dos colegas ,de forma malsoante; insulta, menospreza, ridiculariza, difama?

-Faz ameaas, da ordens, domina e subjuga ? Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, da socos, pontaps, belisces, puxa cabelos, envolve-se em discusses desentendimentos?

-pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences, sem o seu consentimento?

Quando se admite a ocorrncia do bullying dentro de um estabelecimento de ensino, permite-se a violao de um preceito fundamental expresso na Constituio de 1988, em seu art. 205, observe:A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser

promovida e incentivada como colaborao da sociedade visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exerccio da cidadania e sua

qualificao para o trabalho.Portanto, com a prtica do bullying ocorre, por conseguinte a cerceamento de um direito fundamental do aluno poder frequentar um estabelecimento de ensino sem ser ameaado e humilhado pelos demais alunos.

Como supra mencionado, um dever da escola e do Estado promover este ambiente seguro para o desenvolvimento das atividades educacionais, onde atos de agresso e discriminao sejam desestimulados atravs da promoo de um ambiente seguro e facilitador do processo de aprendizagem conforme a Constituio Federal de 1988.

O dever de guarda pertence tanto ao Estado como as suas prestadoras de servio, devendo estes cobrir atravs da educao, que um direito garantido a nvel constitucional, a promoo de um ambiente seguro, em que a integridade fsica e psquica do aluno esteja resguardada, pois o ente prestador do servio educacional ser responsvel solidrio juntamente com o Estado e de forma objetiva, na forma do Art. 37, pargrafo 6 da CF.

Em um pas, como o Brasil com tanta diversidade de povos, culturas e opinies, inconcebvel ignorar a intolerncia ao diferente, mantendo o pacto de silncio que existe nas instituies de ensino, em relao a estes ataques aos direitos de personalidade ao qual os alunos so submetidos. Como expressa Maria Celina Bodin de Moraes:Assim, no Brasil a ordem constitucional que est a proteger os indivduos de qualquer ofensa ( ou ameaa de ofensa) sua personalidade a ofensa tem como efeito o dano propriamente dito, que pode ser das mais variadas espcies, todas elas ensejadoras de repercusso sem qualquer contedo econmico imediato, recondutiveis sempre a aspectos personalssimos da pessoa humana mas que no precisam classificar-se como direitos subjetivos e que configuram, em ltima ratio a sua dignidade. (Moraes, 2003, p. 133).Os profissionais da educao no podem mais se furtarem da sua responsabilidade de resguardarem o bem estar fsico e emocional dos alunos que se encontram sob sua guarda, cada vez mais se torna necessrio buscar as suas razes nesse contexto que a reflexo sobre a responsabilidade pelos danos decorrentes do bullying no ambiente escolar se torna fundamental.2 RESPONSABILIDADE CIVIL2.1 Origem histricaA origem histrica da responsabilidade civil apresenta diversos perodos ou fases em que se diversificavam as formas de tratamento. Inicialmente a responsabilidade foi vista sempre de forma objetiva, somente mais tarde que se passou a conhecer a responsabilidade aquiliana, j vista sob o carter subjetivo. Por isso a responsabilidade civil deve ser estudada e compreendida de acordo com seu contexto histrico, tendo em vista as diversas modificaes da sociedade que alteram seu modo de olhar e entenderem determinados fatos que causavam prejuzos para o indivduo.

No perodo considerado como Brbaro, em seus primrdios, imperava a chamada vingana privada, em que a busca pela reparao decorrente do dano era julgada pelo prejudicado, sendo regida pelo poder da fora, sendo agressiva e muitas das vezes desproporcional e violenta, era desconhecida o conceito de culpa, dolo ou excludente de responsabilidade.Atravs da Lei de Talio, buscou-se uma primeira tentativa de regulamentao, ante a desproporcionalidade e arbitrariedade, tentando estabelecer certa proporcionalidade entre o prejuzo e a satisfao pela retaliao. Porm, como j era de se esperar, essa soluo no foi capaz de impedir a continuidade do ciclo de violncia, uma vez que a vingana sempre volta a gerar nova violncia.Posteriormente, surgiram novas idias e a partir da ofensor e prejudicado passam a utilizarem a chamada composio a fim de satisfazer os anseios de justia do prejudicado. Com isso, iniciam-se as compensaes pecunirias que visavam restabelecer o equilbrio das relaes sociais, at ento desequilibradas pelo dano.

Na composio recorre-se a uma soberana autoridade que torna a recomposio econmica alm de obrigatria, tambm tarifada, destinada a cada hiptese de prejuzo, estabelecendo uma tarifa de forma objetiva, sem levar em considerao as condies do ofensor ou do ofendido. Nesse perodo ocorre a elaborao do cdigo de Ur. Namnur e a Lei das XII tbuas, sempre com o cunho estritamente objetivo.Em momento posterior e com a tendncia de evoluo do direito romano, surge a idia de valorizao do dano em si mesmo e tambm a diferenciao entre os delitos pblicos que atingiam a sociedade como um todo e os delitos de cunho privado que se limitavam a esfera da vtima da ofensa.

O maior avano se deu com o afastamento da vingana privada, quando o Estado toma para si, a exclusividade na funo de punir, retirando do particular esse poder, com isso, surge a ao de indenizao quando a ao repressiva passa a ser exercida pelo Estado.

Com a Lex Aquila (289 a.C.), surgiu a Damnum injuria datum (dano produzido pela injria) hoje considerado como dano moral, sendo que este corresponde s leses sofridas pela pessoa humana, consistindo em violaes de natureza no econmica, porm, para os romanos, consistia num delito onde algum causava dano a coisa alheia, animada ou inanimada, onde o ressarcimento previsto no era tarifado, mas devia corresponder a um valor proporcional ao dano causado.

Com esta lei surgiu tambm o princpio geral da reparao do dano, vindo desta poca as idias iniciais sobre a noo de culpa. A responsabilidade passa a delinear os conceitos de culpa subjetiva, havendo a necessidade de averiguao da culpa do agente para a caracterizao da obrigao de ressarcir, alm da grande importncia para a responsabilidade extracontratual, que se tornou comum para design-la como responsabilidade aquiliana, caracterizando uma evoluo na responsabilidade civil.

O posicionamento que representou a separao da responsabilidade civil da penal vem da poca de Justiniano, denominado de actio legis aquiliae. Hoje, existe uma ramificao distinta do direito, pois a responsabilidade penal est afeta ao direito pblico, enquanto a responsabilidade civil integra o direito privado.

Quando o direito romano passou a se comunicar com o Frances, o fruto desse perodo ganhou fora, abandonando a enumerao de casos de composio obrigatria e foi-se estabelecendo um princpio geral da responsabilidade civil, que aos poucos se juntou aos outros princpios especficos, conforme ensinamento de GONALVES (2003, p. 6):

{...} Aos poucos, foram sendo estabelecidos certos princpios, que exerceram sensvel influncia nos outros povos devido reparao sempre que houvesse culpa, ainda que leve, separando-se a responsabilidade civil (perante a vtima) da responsabilidade penal (perante o Estado) a existncia de uma culpa contratual (a das pessoas que descumprem as obrigaes) e que no se liga nem a crime nem a delito mas se origina da negligncia ou imprudncia. Era a generalizao do princpio aquiliano: In lege Aquilia et levssimo culpa Venit, ou seja, o de que a culpa, ainda que levssima, obriga a indenizar.Patente fica a percepo que ocorreu uma gradual evoluo no que tange a enumerao dos casos de composio obrigatria para um princpio geral, chegando consagrao do princpio aquiliano, segundo o qual a culpa, ainda que levssima, obriga a indenizar.Com o Cdigo de Napoleo surgiram e foram inseridas as noes de culpa in abstrato e a distino entre culpa delitual e culpa contratual, um grande avano para poca, encontramos em seu artigo 1.382 a responsabilidade civil subjetiva, que se baseia na culpa do agente, distinguindo-se da tipicidade caracterstica dos ordenamentos anteriores, e que estabelecia que tout fait quelconque de lhomme, qui cause autrui un dommage, oblige celui par la faute duquel il est arriv, le rparer. Este Cdigo exerceu grande influncia sobre as codificaes que se seguiram, inclusive sobre o Cdigo Civil Brasileiro de 1916.Modernamente o conjunto dessas teorias so recepcionadas, e com isso agregam-se s teorias da responsabilidade subjetiva pela culpa ou dolo e da responsabilidade objetiva, conforme:

Os elementos que compem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade objetiva so: a) alteridade do dano (dano a algum); b) a causalidade material entre o eventus damni e o comportamento do agente (ao ou omisso); c) a atividade causal e lesiva imputvel ao agente, independentemente da licitude, ou no, do comportamento funcional (RTJ. 140/636): d) a ausncia de causa excludente de responsabilidade objetiva (RTJ 55/503, 71/99, 91/377, 99/1155 e 131/417).

E ainda, a responsabilidade do risco:No se pode confundir a responsabilidade do risco com a responsabilidade objetiva, como encontradio na nossa literatura. Na responsabilidade objetiva, o agente causador do dano responde independentemente de culpa, mas tem a oportunidade de defesa, podendo alegar caso fortuito, fora maior ou at mesmo culpa exclusiva da vtima pelo evento danoso. Na responsabilidade do risco ou pelo risco, o agente responde pelo dano, sem poder alegar caso fortuito, fora maior ou culpa da prpria vtima. Quer isto dizer, o agente responder sempre e sem possibilidade de excluso, salvo a negativa de autoria ou ausncia de prejuzo. O princpio da responsabilidade objetiva no se reveste de carter absoluto, eis que admite o abrandamento e, at mesmo, a excluso da prpria responsabilidade civil do Estado, nas hipteses excepcionais configuradoras de situaes liberatrias como o caso fortuito e a fora maior ou evidnciadoras de ocorrncia de culpa atribuvel prpria vtima(RDA 137/233 e RTJ 55/50). Portanto, a responsabilidade do risco encarada sob o aspecto objetivo, uma vez que o agente assume, ainda que de forma indireta e despercebida, o risco de produzir o prejuzo, ficando assim obrigado a ressarcir o dano causado.2.2 A responsabilidade civil no BrasilNo Brasil, as Ordenaes do Reino no distinguiram o ilcito civil, recorrendo sempre e de forma subsidiria ao Direito Romano e Lei de Boa Razo (Lei de 18 de Agosto de 1769). Com o Cdigo Criminal de 1830, foi previsto o instituto da satisfao, que estabelecia o dever de reparao do dano causado. O Cdigo Civil Brasileiro de 1916, no seu artigo 159, determinava Aquele que por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito, ou causar prejuzo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.A legislao civil ptria adotou como fundamento da responsabilidade civil a culpa (responsabilidade civil subjetiva). Pouco importava ser a conduta do agente dolosa, imprudente, negligente ou imperita, qualquer das espcies de culpa so suficientes para caracterizar a responsabilidade civil, independentemente da gravidade do ato, e bastava a existncia de culpa levssima para levar obrigao de reparar.Para o eminente doutrinador GONALVES (2003, p.8), o direito brasileiro se manteve fiel teoria subjetiva como expressa o art 186 do Cdigo Civil, mas tambm adota os princpios da responsabilidade objetiva, da culpa presumida e da teoria do risco.A realidade, entretanto, que se tem procurado fundamentar a responsabilidade na idia de culpa, mas sendo est insuficiente para atender as imposies do progresso, tm o legislador fixado os casos especiais em que deve ocorrer a obrigao de reparar, independentemente daquela noo. o que acontece no direito brasileiro, que se manteve fiel teoria subjetiva no art 186 do cdigo civil. Para que haja responsabilidade, preciso que haja culpa. A reparao do dano tem como pressuposto a prtica de um ato ilcito. Sem prova de culpa, inexiste a obrigao de reparar o dano. Entretanto, em outros dispositivos e mesmo em leis esparsas, adotaram se os princpios da responsabilidade objetiva, da culpa presumida (arts. 936, 937 e 938, que tratam respectivamente, da responsabilidade presumida do dono de animal, do dono do edifcio e do habitante da casa) e da responsabilidade independentemente de culpa (art 927, pargrafo nico, 933 e 1299, que dizem respeito, respectivamente, atividade potencialmente perigosa, responsabilidade dos pais, tutores, curadores e patres e; responsabilidade do direito de vizinhana). A par disso, temos o cdigo brasileiro de aeronutica, a lei de acidentes do trabalho e outras leis especiais, em que se mostra ntida a adoo, pelo legislador da responsabilidade objetiva.

{...}

Adotou, assim, soluo mais avanada e mais rigorosa que a do direito italiano, tambm acolhendo a teoria do exerccio, independentemente de culpa nos casos especificados em lei, a par da responsabilidade subjetiva como regra geral, no prevendo, porm, a possibilidade de o agente, mediante a inverso do nus da prova, exonerar-se da responsabilidade de provar que adotou todas as medidas aptas a evitar o dano.

Pelo exposto, enquanto o caput do artigo 927 estipula que aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo, o disposto no artigo 186 deixa claro que a culpa normalmente exigida para a configurao da responsabilidade civil (Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito). O que se exige ser culposa a conduta causadora do dano, seja em decorrncia de imprudncia ou de negligncia, na qual se insere a impercia de maneira implcita.2.3 DEFINIES, FUNES, ESPCIES E REQUISITOS:2.3.1 Definio de Responsabilidade Civil

A tarefa de definir institutos jurdicos sempre rdua, tendo em vista que cada doutrinador apresenta sua prpria definio, o que gera uma srie de divergncias e at mesmo confuses.

Ainda que existam vrias definies, passa-se a transcrever o posicionamento de alguns autores de renome.

Gelson Amaro de Souza (2000, p.60) coloca que:Responsabilidade vem de responder, ser responsvel por alguma coisa ou por algum ato ou fato. Responder por algum ato a pessoa sujeitar-se s conseqncias de suas aes ou omisses. Antunes Varela refere-se assuno moral e jurdica dos prprios atos. Todavia, pensamos que a assuno das conseqncias do ato no imprescindvel responsabilidade, pois mesmo nos casos em que no h essa assuno voluntria haver a responsabilidade por imposio legal. Por isso, preferimos dizer que existe uma sujeio e no uma assuno pelas conseqncias do ato ou pela ocorrncia do fato.Para Maria Helena Diniz (2009, p. 34), responsabilidade civil pode ser definida:[...] a aplicao de medidas que obriguem algum a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razo de ato do prprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposio legal.Conforme o conceito da doutrinadora acima citada possvel verificar que o mesmo tem suas bases fincadas sobre a culpa, que um dos elementos da responsabilidade civil, sendo que a autora menciona tal caracterstica em seus estudos.CAVALIERI FILHO (2004, p.24) ensina: Em seu sentido etimolgico, responsabilidade exprime a idia de obrigao, encargo, contraprestao. Em sentido jurdico, o vocbulo no foge dessa idia. Designa o dever que algum tem de reparar o prejuzo decorrente da violao de outro dever jurdico. Em apertada sntese, responsabilidade civil um dever jurdico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violao de um dever jurdico originrio.Para o eminente doutrinador, afirma que o dever de reparar sucessivo e decorre do dever jurdico originrio de reparar o dano decorrente da violao.

Por fim, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2006, p. 9), adotam os seguintes moldes:[...] a noo jurdica de responsabilidade pressupe a atividade danosa de algum que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurdica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, s consequncias do seu ato (obrigao de reparar).Os autores adotam como critrio definidor a ilicitude, como padro para o estabelecimento da responsabilidade civil.

Mesmo com os pontos de vista defendidos de forma diversa, pode-se notar que h em comum entre eles a necessidade de reparao como corolrio das condutas humanas, visando o restabelecimento, na medida do possvel, das situaes que antecediam a ocorrncia do evento danoso.

A responsabilidade civil pode ser tida como a consequncia jurdica que recai sobre todo aquele, seja pessoa fsica ou jurdica, que, culposamente, causa danos materiais, morais ou qualquer outra espcie de dano, obrigando-o a reparar os danos causados a terceiros.

importante salientar que a ideia de culpa, por ora adotada, a mais ampla possvel e, assim, sempre que houver omisso causadora de danos ou a prtica de condutas ilcitas, abusivas e lcitas, mas com repercusso negativa, o indivduo poder responder pelos danos causados.2.3.2 Funes da Responsabilidade Civil

No passado sempre a responsabilidade civil era tida somente em sua funo reparadora, que decorria do rompimento do equilbrio jurdico-econmico anteriormente existente entre o agente e a vtima. Esperava-se, a ocorrncia do dano e depois, uma forma de remediar, conforme fosse ou no possvel a reparao.

Modernamente, com a evoluo do direito, pode-se notar que a funo da responsabilidade civil, alm de reparadora tambm preventiva. Isto , a responsabilidade civil precisa ser estudada e analisada, mesmo antes de qualquer acontecimento danoso. A sociedade moderna j no mais admite apenas a reparao, exige-se mais, surgindo, por conseguinte, a necessidade de a responsabilidade civil ser vista tanto quanto sob o ponto de vista reparatrio como sob o ponto de vista preventivo.

Analisando a responsabilidade civil voltada viso tradicional da responsabilidade civil FACHINI NETO (2007, p.42) deixou assentado:A funo originaria e primordial da responsabilidade civil, portanto a reparatria (de danos materiais) ou compensatria (de danos extrapatrimoniais). Mas outras funes podem ser desempenhadas pelo instituto. Entre essas, ocultam as chamadas funes punitivas e dissuasria. possvel condessar essa trplice funo em trs expresses: reparar (ou compensar), punir e prevenir (ou dissuadir).Importante ressaltar, que esse autor (2007, p.43) observou a concepo moderna de responsabilidade civil que a sua funo preventiva, que preferiu chamar de dissuasria e neste ponto assim se expressa:Tem-se em vista uma conduta reprovvel passada, de interna antijuridicidade. Funo dissuasria. Distingui-se da anterior por no ter em vista uma conduta passada, mas por buscar, ao contrario, dissuadir conduta futuras. Ou seja, atravs do mecanismo da responsabilidade civil, busca-se sinalizar a todos cidados sobre quais condutas a evitar, por serem reprovveis do ponto de vista tico-juridico.O efeito dissuasrio d a responsabilidade civil uma funo com o alcance mais amplo socialmente, onde se realiza a funo primordial da ordem social que no apenas sanar o dano, mas criar condies para que os indivduos no sofram o dano, na realidade o objetivo principal seria que os indivduos conscientes de suas responsabilidades procuram-se no atingir direito alheio evitando-se a produo do dano e a se recorrer ao judicirio.2.3.3 Espcies da Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil apresenta-se sob vrias espcies, conforme a perspectiva analisada, podendo se apresentar sob a forma:2.3.3.1 Contratual e Extracontratual Maria Helena Diniz classifica a responsabilidade jurdica em conformidade com seu fato gerador, em responsabilidade contratual e extracontratual.

A responsabilidade contratual apresenta-se quando ocorre inexecuo obrigacional, desde que advinda de um contrato, e encontrando-se disciplinada artigo 389 do Cdigo Civil, que dispe que:

No cumprida a obrigao, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualizao monetria segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, e honorrios advocatcios. Em conformidade com Maria Helena Diniz (2003, p.119): Responsabilidade contratual, se oriunda de inexecuo de negcio jurdico bilateral ou unilateral. Resulta, portanto, de um ilcito contratual, ou seja, pela falta de adimplemento ou de mora no cumprimento de qualquer obrigao. uma infrao a um dever especial estabelecido pela vontade dos contratantes, por isso decorre de relao obrigacional preexistente e pressupe capacidade para contratar. Baseia-se no dever de resultado, o que acarretar a presuno da culpa pela inexecuo previsvel e evitvel da obrigao nascida da conveno prejudicial outra parte. O nus da prova, na responsabilidade contratual, competir ao devedor, ante o inadimplemento, a inexistncia de sua culpa ou a presena de qualquer excludente do dever de indenizar. Necessrio observar que nesta espcie de responsabilidade decorre de um vnculo jurdico prvio entre o inadimplente e o contratante, vnculo que se deriva da conveno/ contrato. Portanto, o nus de provar quaisquer excludentes de responsabilidade, ou algo do gnero, caber ao contratante inadimplente. Portanto, na responsabilidade contratual o agente descumpre o avenado, tornando-se inadimplente, existindo uma conveno prvia entre as partes, que no cumprida.

No que diz respeito a responsabilidade extracontratual ou aquiliana ocorre quando h inadimplemento normativo, ou seja, quando h violao de obrigao, devendo estar prevista em lei, que pode ser subjetivo (com culpa) ou objetivo (sem culpa). Quando se diz extracontratual por no derivar de um contrato, e sim de um ato ilcito.

Tal responsabilidade encontra-se prevista nos artigos 186 e 927 do Cdigo Civil: Arts. 186 Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito,Arts. 927 Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito. Carlos Roberto Gonalves (2003, p.23) afirma que na responsabilidade extracontratual nenhum vnculo jurdico existe entre a vtima e o causador do dano,quando este pratica o ato ilcito.

Maria Helena Diniz (2003, p.121) assevera que:

Responsabilidade extracontratual ou aquiliana resultante de um inadimplemento normativo, ou melhor, da prtica de um ato ilcito por pessoa capaz ou incapaz, visto que no h vnculo anterior entre as partes, por no estarem ligadas a uma relao obrigacional ou contratual. A fonte desta responsabilidade a inobservncia da lei, ou melhor, a leso a um direito, sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relao jurdica. O onus probandi caber vtima, ela quem dever provar a culpa do agente. Se no conseguir, tal prova ficar sem ressarcimento. Alm desta responsabilidade baseada na culpa. Abranger ainda a responsabilidade sem culpa fundada no risco, ante a insuficincia da culpa para cobrir todos os danos.Conforme afirmado acima pelos ilustres doutrinadores, na responsabilidade aquiliana, nenhum liame jurdico existe entre o causador do dano e a vtima, o que s ocorrer no momento em que o ato culposo, em sentido lato, for praticado. foi possvel visualizar as diferenas marcantes entre responsabilidade contratual e a extracontratual, principalmente no que tange ao nus da prova, sendo fundamento a distino.2.3.3.2 Direta e IndiretaA classificao da responsabilidade civil em direta e indireta, por Maria Helena Diniz, feita tendo em vista o agente que praticou a ao.

A responsabilidade ser direta se proveniente da prpria pessoa imputada, o agente responder, ento, por ato prprio. E ser indireta ou complexa se decorrer de ato de terceiro, com o qual o agente tem vnculo legal de responsabilidade, de fato de animal e de coisas inanimadas sob sua guarda.

Para Joo Monteiro de Castro (2005, p.64):

Ordinariamente, a responsabilidade se d pela prtica de fato prprio, sendo tambm chamada direta, em contraposio com a dita responsabilidade indireta ou complexa. Assim, nos termos do artigo 927 do Cdigo Civil, aquele que pratica um ato ilcito e causa dano a outrem obrigado a repar-lo.

H situaes em que, para possibilitar vtima efetivo ressarcimento, pois muitas vezes o praticante do fato lesivo est subordinado juridicamente a outra pessoa, fsica ou jurdica, e no conta com recursos para a reparao, necessrio desbordar o nexo causal entre o dano e o causador do dano, para alcanar a pessoa a quem o lesador tem relao jurdica. o que se d na responsabilidade indireta.

A responsabilidade indireta excepcional e ocorre quando algum se v chamado a responder por fato que no praticou, mas praticado por quem tenha consigo uma relao jurdica especfica. Ento, na responsabilidade indireta, existe a figura de um intermedirio, vale dizer, o causador direto do dano, juridicamente subordinado ao responsvel indireto, pessoa que a lei autoriza a que se chame para reparar o prejuzo.

Mas a responsabilidade civil por fato praticado por outrem no arbitrria nem aleatria. Ou seja, a vtima no pode escolher ao seu exclusivo talante quem venha ressarcir seu prejuzo.

No direito ptrio, os casos em que algum pode responder por ato praticado por outrem esto expressamente numerados no art 932 do Cdigo Civil. Observa-se que h muito ordenamento jurdico ptrio, nas situaes descritas em lei, a possibilidade que terceiros sejam responsabilizados pelo pagamento do prejuzo, embora no tenham concorrido diretamente pelo evento. O artigo que disciplina a responsabilidade indireta o 932 do Cdigo Civil, enumerando cinco hipteses de responsabilidade decorrente de ato praticado por terceira pessoa: dos pais por atos dos filhos menores sob o ptrio poder, do tutor e do curador pelos atos dos pupilos e dos curatelados, do patro por ato do empregado em servio, dos donos de hotis por seus hspedes, e daqueles que gratuitamente houverem participado de produto de crime.

Por fim, a responsabilidade indireta uma das situaes em que se aplica a responsabilidade objetiva.2.3.3.3 Objetiva e SubjetivaPara Maria Helena Diniz, a responsabilidade pode ser dividida em objetiva e subjetiva, tendo como parmetro os fundamentos da responsabilidade civil.

A responsabilidade subjetiva tem como base jurdica o artigo 186 do Cdigo Civil: "Aquele que por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito ou causar prejuzo a outrem fica obrigado a reparar o dano".

fundamentada no fato de que para haver a responsabilizao do agente causador do dano indispensvel comprovao da culpa, abrangendo culpa em sentido estrito e dolo.

Segundo Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho a responsabilidade subjetiva decorrente de dano causado em funo de ato doloso ou culposo. Esta culpa, por ter natureza civil, se caracterizar quando o agente causador do dano atuar com negligncia, imprudncia ou impercia. Portanto, a obrigao de indenizar conseqncia do ato ilcito. Reitera Slvio Rodrigues dizendo que a responsabilidade subjetiva depende de um comportamento culposo do agente causador do dano, de modo que a prova da culpa indispensvel para que surja o dever de indenizar.

Cavalieri Filho (2004, p.40) elenca os pressupostos da responsabilidade subjetiva:

[...] h primeiramente um elemento formal, que a violao de um dever jurdico mediante conduta voluntria, um elemento subjetivo, que pode ser de dolo ou a culpa e ainda, um elemento causal material, que o dano e a respectiva relao de causalidade. Esses trs elementos apresentados pela doutrina francesa como pressupostos da responsabilidade civil, subjetiva, podem ser claramente identificados no art. 186 do cdigo civil, mediante simples anlise do seu texto, a saber:

a) Conduta culposa do agente, o que fica patente pela expresso aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou impercia;

b) Nexo causal, que vem expressa no verbo causar; e

c) Dano, revelado nas expresses violar direito ou causar dano a outrem;

Portanto, a partir do momento em que algum, mediante conduta culposa, viola direito de outrem e causa-lhe dano, est-se diante de um ato ilcito, e deste ato deflui o inexoravl dever de indenizar, consoante o art. 927 do cdigo civil.

Por violao de direito deve-se entender todo e qualquer direito subjetivo, no s os relativos, que se fazem mais presentes no campo da responsabilidade contratual, como tambm e principalmente os absolutos, reais e personalssimos, nestes includos o direito a vida, a sade, liberdade, honra, intimidade, ao nome e a imagem.

Tenha-se em mente, entretanto, que nem sempre haver coincidncia entre violao de direito e ilicitude a rigor, no so expresso sinnimas a violao de direito apenas uma das formas que a ilicitude pode revestir. A ilicitude, como sinnimo de violao de um dever jurdico, transgresso de um comando geral, mais ampla e coloca-se no plano abstrato, sendo necessrio apenas, para gerar a obrigao de indenizar-se concretamente e na violao deu causa a um dano. Pode haver ilicitude sem dano (conduta culposa e at dolosa que no chega causar prejuzo a outrem) e dano sem ilicitude, como atrs j ficou acentuado.Portanto, constata-se que a responsabilidade subjetiva encontra-se atualmente bastante questionada uma vez que muitas vezes a vtima devido a sua condio hiposuficiente no consegue produzir prova da culpa do autor. Para contrabalanar, o novo ordenamento jurdico, bem como as novas tendncias, so no sentido de instituir tambm a responsabilidade objetiva que aquela que prescinde da culpa e se satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade.A responsabilidade objetiva no deve ser vista, como pensam muitos, como aquela que sem culpa. Na responsabilidade objetiva no se exige que a vtima prove a culpa do causador do dano. Mas isso no significa responsabilidade sem culpa. Ocorre nesta hiptese, que a vtima fica dispensada de produzir prova contra o autor do dano de que tenha este agido com culpa. Fica o prejudicado dispensado de produzir prova da culpa do causador do dano. No entanto, poder o autor do ato danoso ser dispensado da reparao, se provar ele que quem agir com culpa foi a prpria vtima, como por exemplo, casos em o rgo pblico que responde por responsabilidade objetiva luz do art. 37, 6, da CF, e, mesmo assim, poder ele liberar-se da obrigao de ressarcimento se provar que foi a prpria vtima que agiu com culpa. Em suma, nesta modalidade, a vtima fica dispensada de provar a culpa do autor, mas este poder provar a culpa da vtima.

A responsabilidade objetiva fundamentando-se na Teoria do Risco, conforme Slvio Rodrigues ensina Segundo a Teoria do Risco aquele que, atravs de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros deve ser obrigado a repar-lo, ainda que sua atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa. Examina-se a situao, e, se for verificada, objetivamente, a relao de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vtima, esta tem direito a ser indenizada por aquele.

O Cdigo Civil prev no artigo 927, pargrafo nico, a possibilidade de aplicao da responsabilidade objetiva, ao dispor que:

Art. 927 Aquele que, por ato ilcito, causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo.

Pargrafo nico: Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Atravs da simples leitura do artigo citado extrai-se que duas so as possibilidades de aplicao da responsabilidade civil objetiva, so elas: por previso legal e advinda de atividade de risco.

A responsabilidade civil objetiva por previso legal est prevista nos artigos 932 (responsabilidade indireta) e 936 do Cdigo Civil.

J, a responsabilidade civil objetiva advinda de atividade de risco uma clusula aberta, ou seja, um conceito legal indeterminado.

Segundo Srgio Cavalieri Filho, o Cdigo Civil no delimitou o conceito de atividade de risco, sendo assim, relegou ao magistrado uma discricionariedade que antes pertencia exclusivamente ao legislador.

Pode-se observar vrias concepes em torno da idia central do risco, dentre as quais: teoria do risco-proveito, do risco profissional, do risco excepcional, do risco criado e do risco integral. O eminente doutrinador Sergio Cavalieri Filho (1992, p. 24) as explica: Na teoria do risco-proveito a responsabilidade incorre sobre aquele que adquire algum proveito da atividade danosa. De acordo com essa teoria, a vtima do fato lesivo teria de provar a obteno do proveito, ou seja, do lucro ou vantagem pelo autor do dano.

A teoria o risco profissional sustenta que o dever de indenizar sempre decorre de um fato prejudicial atividade ou profisso do lesado, tal como ocorre nos danos causados por acidente de trabalho.

O risco excepcional aquele que escapa atividade comum da vtima, ainda que estranho ao trabalho que normalmente exera, a exemplo dos casos de acidentes de rede eltrica, explorao de energia nuclear, radioatividade etc.

Na teoria do risco criado, aquele que, em razo de sua atividade ou profisso, cria um perigo, est sujeito reparao do dano que causar, salvo se houver adotado todas as medidas idneas a evit-lo. Diferem as teorias do risco-proveito e a do risco criado ao passo em que, nesta ltima, no se correlaciona o dano a um proveito ou vantagem do agente.

Por fim, a teoria do risco integral uma modalidade extremada da doutrina do risco, porquanto nela se dispensa at mesmo o nexo causal para justificar o dever de indenizar, que se faz presente somente em razo do dano, ainda que nos casos de culpa exclusiva da vtima. Pode-se concluir, ento, que na responsabilidade subjetiva o seu fato gerador um ilcito, de modo que o quem lesou dever ressarcir o prejuzo se for provado, pelo lesado, que houve culpa em sentido amplo.

J na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o dano pode at mesmo considerada como licita, mas se causar perigo a outrem, de modo que aquele que a exerceu ter o dever de ressarcir, pela simples ocorrncia do nexo causal a atividade/conduta e o dano, fundado na Teoria do Risco.2.3.4 Requisitos da Responsabilidade Civil:

Alguns requisitos so imprescindveis para a caracterizao da responsabilidade civil. A pessoa somente ser responsvel, se estiver envolvido em uma ocorrncia na qual se apresentam todos os requisitos necessrios para embutir a sua responsabilidade.

Estes requisitos so extrados do art. 186 do cdigo civil, que segundo MONTEIRO DE BARROS (2005, p.211), exige, de forma cumulativa, para que surja o dever de indenizar, que o agente viole direito e cause dano a outrem. No basta, portanto, a violao do direito ou a culpa, necessrio ainda, que do fato tenha resultado prejuzo a algum.

Conforme ensina MONTEIRO DE BARROS (2005, p.211) so quatro os requisitos da responsabilidade civil:

1 ) Ao ou omisso do agente; 2 ) Culpa ou dolo;

3 ) Relao de causalidade; 4 ) Dano experimentado pela vtima.2.3.4.1 Ao ou Omisso do agente

A responsabilidade pode advir tanto de uma ao ou de uma omisso ilcita. O dano capaz de gerar a responsabilidade deve ser oriundo de ao danosa ou de uma omisso prejudicial ao direito de outrem. Da mesma forma em que o agir pode causar dano, o no agir tambm pode. Para doutrinadora Maria Helena Diniz: A ao, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilcito ou lcito, voluntrio e objetivamente imputvel, do prprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado".

Afirma DINIZ (2003, p.40) ainda que:

A ao, fato gerador da responsabilidade, poder ser ilcita ou lcita. A responsabilidade decorrente de ato ilcito baseia-se na idia de culpa, e a responsabilidade sem culpa funda-se no risco. O comportamento do agente poder ser uma comisso ou uma omisso. A comisso vem a ser a prtica de um ato que no se deveria efetivar, e a omisso, a no observncia de um dever de agir ou da prtica de certo ato que deveria realizar-se. Dever ser voluntria no sentido de ser controlvel pela vontade qual se imputa o fato, de sorte que excludos estaro os atos praticados sob coao absoluta, em estado de inconscincia, sob efeito de hipnose, delrio febril, ataque epiltico, sonambulismo, ou por provocao de fatos invencveis como tempestades, incndios desencadeados por raios, naufrgio, terremoto e inundaes, etc.Carlos Roberto Gonalves (2003, p.36) diz que essencial que a ao ou omisso seja, em abstrato, controlvel ou dominvel pela vontade do homem.Assim, considera-se preenchido o pressuposto da responsabilidade civil, ao ou omisso, quando o agente houver praticado uma conduta positiva ou negativa que infrinja um dever legal, estando, ao agir, imbudo de voluntariedade e conscincia.2.3.4.2 Culpa ou Dolo do agenteEm regra, exige-se que a ao ou omisso seja acompanhada do elemento subjetivo que se caracteriza pela culpa ou o dolo.

A culpa caracterizada pela atuao voluntria de forma inadequada e afastada das normas de conduta e cautela necessrias para a atuao do ser humano comum. O agente age de forma perigosa sob uma das figuras que compem a culpa: imprudncia, negligncia ou impercia.

O dolo, por sua vez, cuida-se de forma de atuao voluntria em que o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. A doutrina apresenta duas modalidades de dolo: direto e indireto ou eventual.

Direito, o dolo que anima a atuao do agente, com a manifestao de vontade livre e consciente de produzir o resultado. O agente quer o resultado e atua neste sentido. Por outro lado, o dolo indireto ou eventual, se d quando o agente, muito embora no queira o resultado, ele assume o risco de produzi-lo.

Monteiro de Barros (2005, p.205) ainda acrescenta que em determinadas hipteses, a responsabilidade civil objetiva, prescindindo-se da demonstrao do dolo ou culpa.

Tanto o dolo, como a culpa, que de regra, so elementos necessrios para a configurao da culpa, porm, em determinadas situaes pode haver a dispensa da prova de suas existncias, nos casos em que a lei impe a responsabilidade objetiva ou a responsabilidade baseada na teoria do risco.

Dolo, portanto, a violao deliberada, consciente, intencional do dever jurdico ou pelo menos a assuno do risco de produzir o resultado.

A culpa presumida abrangida pela teoria do risco uma das espcies da teoria da responsabilidade objetiva.

De sua vez a teoria subjetiva desce a vrias distines sobre a natureza e extenso da culpa. Culpa lato ou judi a falta imprpria ou comum dos homens a modalidade que mais se avizinha do dolo. Culpa leve a falta evitvel com ateno ordinria. Culpa levssima a falta s evitvel com ateno extraordinria, com especial habilidade ou conhecimento singular. Na responsabilidade aquiliana, a mais ligeira culpa produz obrigao de indenizar.A culpa pode ser apresentada em vrias de suas modalidades, tais como a chamada, in iligendo que decorre da m escolha do representante, do preposto; a in vigilando decorre da ausncia de fiscalizao ou boa vigilncia; a in committendo: decorre de uma ao, de um ato positivo - o fazer algo; a in omittindo decorre de uma omisso o no fazer, quando havia o dever de no se abster; a in custodiendo: decorre da falta de cuidados na guarda de algum animal, de alguma pessoa ou de algum objeto.2.3.4.3 Relao de causalidadeO nexo de causalidade representado como um elo que une a conduta ao resultado lesivo dela decorrente. Trata-se de um dos requisitos essenciais para que surja o dever de indenizar. Slvio de Salvo Venosa (2005, p.53) afirma que: O conceito de nexo causal, nexo etiolgico ou relao de causalidade derivadas das leis naturais. o liame que une a conduta do agente ao dano. por meio do exame da relao causal que conclumos quem foi o causador do dano. Trata-se de um elemento indispensvel. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensar o nexo causal. Se a vtima, que experimentou um dano, no identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsvel, no h como ser ressarcida. Nem sempre fcil, no caso concreto, estabelecer a relao de causa e efeito. Roberto Senise Lisboa (2004, p.521) apresenta trs teorias para explicar o nexo de causalidade, so elas: Teoria da equivalncia dos antecedentes, Teoria da causalidade adequada e Teoria da relao causal imediata e as explana dizendo que: Para a Teoria da equivalncia dos antecedentes consideram-se como fatores de importncia todas as foras que participaram para a produo do resultado danoso, elas devem ser consideradas como causa. A causa, deste modo, condio sine qua non para verificao do resultado. Assim, a integralidade de todos os antecedentes dos quais resultou o prejuzo deve ser igualmente levada em considerao pelo aplicador da norma jurdica, para fins de imputao da responsabilidade civil.

Para a Teoria da causalidade adequada o evento danoso deve ser apreciado luz dos antecedentes necessrios e adequados para a sua ocorrncia. Assim, apenas aquilo que se demonstrou imprescindvel para a concretizao do resultado integra o nexo de causalidade. Portanto, para essa teoria, apenas a causa principal e a condio apropriada ocorrncia do evento so os elementos de importncia, para fins de responsabilizao civil.

Por fim, para a Teoria da relao causal imediata somente se poderia responsabilizar uma pessoa se a conduta por ela efetivada proporcionasse de forma imediata e direta o prejuzo vtima. Assim, qualquer outra circunstncia que advenha como conseqncia normal dos acontecimentos considerada causa estranha, pois acaba por interromper o vnculo de causalidade.Apesar de haver certa divergncia entre os diversos doutrinadores, sobre qual destas teorias apresentadas seria a adotada pelo Cdigo Civil vigente, deve-se mencionar que a doutrina dominante entende que a teoria da causalidade adequada foi adotada pelo Cdigo Civil de 1916 e pelo de 2002. 2.3.4.4 Dano experimentado pela vitimaNecessrio observar ainda que o dano, ainda que imprescindvel, em casos excepcionais torna-se dispensvel, com efeito, subsiste a obrigao de indenizar, independentemente de prejuzo, nos seguintes casos:

a) Clausula penal (Art. 416 do C.C.B.);

b) Demanda por dvida j paga. Em tal situao a lei prev que o autor da ao deve pagar ao devedor o dobro da quantia cobrada (Art. 940 do C.C.B.)

No havendo dano ou mesmo se havendo, mas inexistindo prova deste no se pode falar em obrigao de indenizar. O dano pode ser de porte material o que se configura em prejuzo econmico ou, simplesmente moral, ou se seja, sem que ocorra repercusso na rbita financeira do ofendido. Ainda, mesmo que haja violao de um dever jurdico, e que tenha existido culpa e, at mesmo, dolo por parte do infrator, nenhuma indenizao ser devida, caso no se tenha verificado prejuzo. Portanto, a inexistncia de dano bice a qualquer pretenso reparao, alias sem objeto.

No se deve deixar de observar, que o que se exige a presena de prejuzo, mas no se exige que este prejuzo seja material ou econmico, porque desde h muito se consolidou que existem danos psicolgicos e estes, diferentemente do dano material, sentido e provado por sem se levar em conta o aspecto material. Disso resultou a expresso de que o dano material no precisa ser provado, exigindo-se prova somente do dano material. Todavia, o dano moral, tambm precisa ser provado, mas, a prova em relao a este em muito diferente da prova que se faz para o dano material, pois quando houver dano psicolgico ou moral e no for possvel a apurao do quantum por falta de uma base palpvel, a lei autoriza ao juiz fixar o valor por arbitramento.

Excepcionalmente, a legislao pode prever casos em que o prejuzo j presumido, o que se dava na vigncia do Cdigo Civil de 1916, em que havia previso expressa no artigo 1.548, de que para os casos de ofensa a honra da mulher, o dano j presumido e por isso, tambm no precisa ser demonstrado, porque a prpria lei o presume.3 RESPONSABILIDADE DAS ESCOLAS3.1 PALAVRAS PRELIMINARESA educao um direito fundamental expresso no art. 205 da Constituio Federal.Por esse preceito, tem-se que um dever do Estado promover um ambiente seguro para o desenvolvimento das atividades educacionais, onde atos de agresso e discriminao sejam desestimulados.Quando as instituies de ensino e o Estado apresentam ineficazes como promotores desta segurana e facilitadores do processo de aprendizagem a Constituio Brasileira determina que:Art. 5 todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pas, a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurana e a propriedade, nos termos seguintes:

[...]

V assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm de indenizao por dano material ou a imagem;

[...]

XI A lei punir qualquer discriminao atentatria contra dos direitos e liberdades fundamentais; (CF/1988)De acordo com o Cdigo Civil de 2012, em seu art. 932, I:

Art. 932. So tambm responsveis pela reparao civil:

I Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;Conforme preceituado acima, os pais so responsveis pela reparao civil, de forma objetiva, decorrente de atos ilcitos praticados pelos filhos menores que estiverem sob seu poder e em sua companhia.

Doutrinria e jurisprudencialmente, tem-se entendido que, conforme dispositivo supracitado, o menor deve estar sob o poder dos pais, em sua companhia e vigilncia, para que possam ser responsabilizados objetivamente.

A educao um direito fundamental previsto na Carga Magna, devendo esta ser promovida pelo Estado, por via direta ou indireta, atravs de concesso ou permisso do rgo estatal encarregado pela prestao do servio, sendo uma das questes mais difceis a serem enfrentadas no estudo do direto.No Brasil, o que ocorre a falta de um sistema educacional eficiente em todas as regies do Pas, portanto, no ser apenas formulando leis e elevando a educao a um status de direito fundamental, medida suficiente para atingir um de seus mais importantes direitos sociais.Enquanto o Estado no se reorganizar para prestar um servio educacional adequado e eficiente, ter que continuar permitindo que entidades particulares o faam em seu lugar atravs de permisso e autorizao para prestao de servios educacionais, ainda que estes ltimos tambm sejam deficitrios e no prestem o servio a nveis aceitveis.

Portanto, em relao as escolas, sejam pblicas ou provadas, o Estado no se libera de sua responsabilidade que ser de forma objetiva e solidria, tendo em vista que a educao um direito intransfervel e no pode este se isentar dessa obrigao.

Portanto, sendo prestadoras de um servio garantido por um direito constitucional que a educao, as instituies de ensino tm o dever de promover um ambiente seguro, onde a integridade fsica e psquica do aluno esteja resguardada, pois como j demonstrado, o ente prestador do servio educacional ser responsvel solidrio juntamente como o Estado e de forma objetiva, sem a necessidade de se perquirir sobre eventual culpa na forma do Art.37, pargrafo 6 da CF. 3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DAS ESCOLAS PELO BULLYINGComo j dito, o bullying um comportamento lesivo que gera graves danos, pois leva a vtima ao retraimento, ao declnio do rendimento escolar, oscilao emocional e depresso, tornando-se um fato gerador de danos morais, psicolgicos e fsicos. Nesse contexto comum que os agentes do bullying, se tornem adultos com comportamentos que evidenciam a dificuldade de socializao, com atos deliberados de autoagresso, alteraes de humor, apatia, perturbaes do sono, perda de memria, isolamento, timidez, alteraes emocionais, fisiolgicas e hormonais, em casos extremos tornado-se pessoas violentas (tanto os sujeitos ativos, quanto os passivos), praticando atitudes delinquentes ou at mesmo criminosas.

Em 2009, o IBGE, em parceria com o Ministrio da Sade, na Pesquisa Nacional de Sade do Escolar, coletou dados importantes junto aos estudantes do 9 ano (8 srie) do ensino fundamental nos municpios das capitais brasileiras e no Distrito Federal, chegando ao seguinte resultado: Inicialmente foi levantado que 69,2% dos alunos disseram no ter sofrido bullying. O percentual dos que foram vtimas deste tipo de violncia, raramente ou s vezes, foi de 25,4% e a proporo dos que disseram ter sofrido bullying na maior parte das vezes ou sempre foi de 5,4%. O Distrito Federal (com 35,6%) seguido por Belo Horizonte (com 35,3%) e Curitiba (com 35,2 %) foram as capitais com maiores frequncias de escolares que declararam ter sofrido esse tipo de violncia alguma vez nos ltimos 30 dias. Foram observadas diferenas por sexo, sendo mais frequente entre os meninos (32,6%) do que entre as meninas (28,3%). Quando comparada a dependncia administrativa das escolas, a ocorrncia de bullying foi verificada em maior proporo entre os escolares de escolas privadas (35,9%) do que entre os de escolas pblicas (29,5%).Tendo em vista os nmeros apresentados, de fcil constatao que o fato to corrente que no se pode admitir que o mesmo seja ignorado pela sociedade moderna, nenhuma escola poder negar a ocorrncia, ainda que de difcil percepo, tendo em vista que o bullying apresenta variveis formas de exteriorizao.As consequncias so terrveis para todos os envolvidos, podendo se apresentar a longo ou curto prazo, apresentando manifestaes no apenas de cunho emocional e comportamental, mas tambm reaes fsicas.

Se por um lado, os bullies, sujeitos ativos na prtica do bullying, so pessoas que gostam de poder e controle e o exercem vitimizando os mais fracos, diferentes e esquisitos, afim de sentirem-se populares e aceitos, por outro, pode-se afirmar que a vtima que no possua transtornos psicolgicos at ento, passar a apresentar quadros como: baixa autoestima, dificuldade de relacionamento social e no desenvolvimento escolar, ansiedade, estresse, evaso escolar, atos deliberados de autoagresso, alteraes de humor, depresso, abuso de drogas e lcool e em casos extremos, se munirem de armas e explosivos e vo at escola em busca de justia, matam e ferem o maior numero possvel de pessoas para posteriormente dar fim prpria vida.Assim, cabe escola e as autoridades educacionais e policiais, agirem com o intuito de coibir atitudes de assdio moral ou fsico que cause a vtima medo ou constrangimento acarretando danos irreversveis.

H que se constar que alm do bullying cometido contra vtima atual, pode ainda ocorrer que esta vtima se torne agressora e praticante de bullying no futuro, fazendo novas vtimas, tornando um circulo vicioso.

Por fim, trata-se de situaes que geram mal-estar social e psicolgico, que afetam de forma prejudicial s pessoas envolvidas, desde o rendimento escolar at a segurana de terceiros, faz-se necessrio analisar a possibilidade de tipificao da responsabilidade no mbito civil das escolas.

3.3 TIPIFICAO DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO BULLYING ESCOLARPelos fatores supra narrados, a anlise desse fato social no ambiente escolar se torna necessrio para a devida responsabilizao civil, bem como para que sejam adotados mecanismos vlidos para sua reduo, por meio de aes e programas preventivos, em parceria com as famlias dos alunos e os diversos atores sociais, garantindo a sua eficcia.

A temtica relacionada ao bullying tratada pela legislao brasileira na Constituio Federal, Cdigo Civil, Cdigo Penal Brasileiro e no Estatuto da Criana e do Adolescente.

Na Constituio Federal se encontra a base fundamental para responsabilizao das escolas, sejam pblicas ou particulares, previstas em seu art. 37, 6, que assim dispe:

6 As pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casos de dolo ou culpa.

Estabelecida a base fundamental do direito do particular e a obrigao do Estado e de seus permissionrios pela Carta Magna, necessrio analisar, para melhor interpretao e aplicao desse direito, sua previso infraconstitucional.

O Cdigo Civil Brasileiro trata de forma mais direta a responsabilidade dos estabelecimentos de ensino em seu art. 932, IV, dispondo que:Art. 932. So tambm responsveis pela reparao civil:

(...)

IV Os donos de hotis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educao, pelos seus hspedes, moradores e educandos;Considerando o disposto acima, os donos de estabelecimento de ensino tambm seriam responsveis pela reparao civil.

Em deciso tida como pioneira proferida pelo Tribunal de Justia do Distrito Federal, os desembargadores, por unanimidade, condenaram uma instituio de ensino a indenizar moralmente uma criana pelos danos psicolgicos ocasionados pelo bullying:ABALOS PSICOLGICOS DECORRENTES DE VIOLNCIA ESCOLAR BULLYING OFENSA AO PRINCPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA. () Na espcie, restou demonstrado nos autos que o recorrente sofreu agresses fsicas e verbais de alguns colegas de turma que iam muito alm de pequenos atritos entre crianas daquela idade, no interior do estabelecimento ru, durante todo o ano letivo de 2005. certo que tais agresses, por si s, configuram dano moral cuja responsabilidade de indenizao seria do Colgio em razo de sua responsabilidade objetiva. Com efeito, o Colgio ru tomou algumas medidas na tentativa de contornar a situao, contudo, tais providncias foram incuas para solucionar o problema, tendo em vista que as agresses se perpetuaram pelo ano letivo. Talvez porque o estabelecimento de ensino apelado no atentou para o papel da escola como instrumento de incluso social, sobretudo no caso de crianas tidas como diferentes. Nesse ponto, vale registrar que o ingresso no mundo adulto requer a apropriao de conhecimentos socialmente produzidos. A interiorizao de tais conhecimentos e experincias vividas se processa, primeiro, no interior da famlia e do grupo em que este indivduo se insere, e, depois, em instituies como a escola. No dizer de Helder Baruffi, Neste processo de socializao ou de insero do indivduo na sociedade, a educao tem papel estratgico, principalmente na construo da cidadania. (TJ-DFT Ap. Civ. 2006.03.1.008331-2 Rel. Des. Waldir Lencio Jnior Julg. em 7-8-2008). Grifo nosso. no ambiente escolar que as crianas devero aprender a viver em sociedade, tendo noes do coletivo, da convivncia harmnica e democrtica. Nesses termos, importante considerar que a instituio educacional investida no dever de guarda e preservao da integridade fsica e psicolgica do aluno, durante o perodo que a mesma estiver sob seu poder, com a obrigao de empregar a mais diligente vigilncia, objetivando prevenir e evitar qualquer ofensa ou dano decorrente do convvio escolar.Na deciso proferida pelo TJDFT, nos termos do art. 14 do Cdigo de Defesa do Consumidor, a responsabilidade civil das escolas por defeito na prestao de servio objetiva e deve ter como meta prevenir e evitar qualquer ofensa ou dano decorrente do convvio escolar, portanto, se o estabelecimento de ensino no se atentar para o seu papel deve responder conforme outro julgado, agora do Tribunal de Justia de So Paulo:RESPONSABILIDADE DO ESTADO. O Municpio responsvel por danos sofridos por aluno, decorrentes de mau comportamento de outro aluno, durante o perodo de aulas de escola municipal. O descaso com que atendido o autor quando procurou receber tratamento para sua filha se constitui em dano moral que deve ser indenizado. (TJ-SP Ap. 7109185000 Rel. Des. Barreto Fonseca Julg. em 11-8-2008) necessrio observar que se a vtima do bullying for aluno da rede pblica de ensino e havendo omisso, a responsabilidade pela indenizao ser do Estado no haver aplicao do Cdigo de Defesa do Consumidor.Para LUIZ FLVIO GOMES, a jurisprudncia est se inclinando para a responsabilizao objetiva (pura e simples) das escolas. (...) tudo dependendo do que a escola tem feito em termos de programas preventivos da prtica do bullying. Esse um dado que no poderia ser ignorado.Desta forma, qualquer que seja o ente prestador do servio educacional, ser responsvel solidrio juntamente com o Estado e de forma objetiva, sem a necessidade de se perquirir sobre eventual culpa, na forma do art. 37, 6 da Constituio Federal.

3.4 RESPONSABILIDADE DAS ESCOLAS PELA OMISSOEm regra, a responsabilidade do Estado ser objetiva, fundada na Teoria do Risco Administrativo, quando o dano for causado por agentes do Estado desde que haja nexo de causalidade entre a atuao administrativa e o dano.Para CAVALIERI FILHO, resta espao para a responsabilidade subjetiva (por omisso genrica) quando ento ser determinada com base na culpa annima ou falta de servio, seja porque este no funcionou, quando deveria normalmente funcionar, seja porque funcionou mal ou funcionou tardiamente.

Para CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELO, o Estado estar correndo em ilicitude por no ter acorrido para impedir o dano ou por haver insuficiente neste mister, em razo de comportamento inferior ao padro legal exigvel (Curso de direito administrativo, 19. Ed., n 54).Portanto, o ambiente escolar um fator de grande influncia no desenvolvimento dessas crianas; conforme a cartilha lanada pelo CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA (2010, p.12), dada a seguinte orientao aos responsveis pelos estabelecimentos de ensino no caso da ocorrncia de bullying :A escola corresponsvel nos casos de bullying, pois l onde os comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. A direo da escola (como autoridade mxima da instituio) deve acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os rgos de proteo criana e ao adolescente etc. Caso no o faa poder ser responsabilizada por omisso. Em situaes que envolvam atos infracionais (ou ilcitos) a escola tambm tem o dever de fazer a ocorrncia policial. Dessa forma, os fatos podem ser devidamente apurados pelas autoridades competentes e os culpados responsabilizados. Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o crescimento da violncia e da criminalidade infantojuvenil. Grifo nosso.Conforme julgado da 10 Cmara Cvel no Tribunal do Estado do Rio Grande do Sul, v-se que o estabelecimento de ensino e a educadora podem ser responsabilizados pela agresso sofrida por aluno sob os seus cuidados:Ementa. Apelao civil. Responsabilidade civil. Responsabilidade do estabelecimento do ensino. Agresso entre menores. Falta de cuidado da educadora e da escola. Agravo retido. Denunciao da lide. Tratando de responsabilidade fundada no artigo 932, inciso IV, do cdigo civil, no procede a denunciao da lide, haja vista a inexistncia de direito de regresso do estabelecimento de ensino contra os pais do causador do dano. Ilegitimidade passiva da professora. Sendo a educadora responsvel pela vigilncia aos menores que se envolveram na agresso, tem legitimidade para responder por danos decorrentes do evento. Tendo a educadora e a escola faltada com o cuidado necessrio na guarda dos alunos da turma maternal, cujos antecedentes indicavam a presena de um aluno com histrico de brigas, devem responder pelos danos causados pela agresso (e no agressividade) verificada. Dano moral puro. [...] Apelaes providas, em parte. Agravo retido desprovido. Deciso unnime. TJRS. 10 C. AC 70024551392. Rel. Jorge Alberto Schreiner Pestana. J 28.05.2009. DJ 23.07.2009. Grifo nosso.Portando, muito embora os pais sejam os responsveis pela educao de seus filhos, ao menos em sentido amplo, o dever de vigilncia ser transferido ao estabelecimento de ensino no momento em que os menores estiverem sob sua responsabilidade e a omisso desses responsveis ser um fator determinante para a ocorrncia de bullying em seu estabelecimento, devendo responder civilmente na modalidade subjetiva por omisso.3.5 POSSIBILIDADE DE EXCLUSO DA RESPONSABILIDADE DAS ESCOLAS: necessrio que os professores, diretores e funcionrios estejam atentos no intuito de coibir atos que acarretem por consequncia o bullying e conforme, CALHAU (2010, p. 45), somente sendo incua a tentativa de resolver o problema diretamente no ambiente escolar que se deve acionar o Conselho Tutelar e o Ministrio Pblico.

Conforme RUI STOCO (2007, p.243) sobre a responsabilizao dos incapazes:

Se o agente que praticou a ao ou omisso causadora do dano for menor de 16 anos de idade, ser considerado absolutamente incapaz ou inimputvel (CC, art. 3, I), sendo certo, contudo, que, nos termos do art. 928 do CC, responder pelos prejuzos que causar, se as pessoas por ele responsveis no tiverem obrigao de faz-lo ou no dispuserem de meios suficientes. [...] O novo Cdigo Civil, rompendo com o sistema anterior, estabeleceu a responsabilidade subsidiria ou secundria do incapaz, pois responsveis imediatos pela reparao sero os pais, tutores e curadores.Portanto, a responsabilidade do dever de indenizar do estabelecimento de ensino, seja colgio particular ou colgio pblico, cessar, quando o estabelecimento buscar meios de solucionar o bullying, sendo que a primeira das medidas dever ser informar os responsveis pelo agressor, tendo continuidade, aps a cincia do responsvel legal do menor agressor e de outras medidas tomadas pela instituio de ensino, a responsabilidade indenizatria caber ao responsvel legal do agressor no o exerccio do poder familiar.

Ressalta-se ainda que a responsabilidade objetiva, regra no caso da responsabilizao pelos danos decorrentes de bullying no ambiente escolar, determina que pode o Estado provar a culpa da vtima e com isso fugir da responsabilizao, o que no ocorre no risco integral que no admite defesa com base na culpa da vtima.CONCLUSOPor tudo que foi exposto pode-se extrair algumas questes algumas concluses de grande valia no estudo do bullying e o dano decorrente deste nas escolas pblicas, o que se procura fazer nas linhas seguintes.

A responsabilidade civil vem passando por permanentes modificaes, sendo que no momento inicial era considerada sob o ponto de vista objetivo, depois passou pelo perodo subjetivista e, agora, parece ganhar fora novamente, a idia da responsabilidade objetiva.

Nos perodos mais remotos, quanto se pensava na responsabilidade civil, voltava-se ao pensamento sobre eventuais danos materiais.

Somente nas pocas mais modernas que surgiram as idias mais avanadas a defenderem a necessidade de reparao tambm aos danos morais ou psicolgicos.

A evoluo do pensamento sobre a responsabilidade levou a outra preocupao alm dos danos materiais. Com essa nova viso passou-se a preocupao com fatos que no causam danos materiais, mas atingem e prejudicam sensivelmente a pessoa sob o aspecto psicolgico ou moral.

Nessa linha de desenvolvimento que surgiram novas preocupaes sociais e, com isso, o reconhecimento da necessidade de se reparar os danos psicolgicos ou morais, que no incio recebeu apoio da doutrina, depois da jurisprudncia e, por ltimo do constituinte e do legislador ordinrio que acabaram por contemplarem o dano moral como passvel de reparao civil.

Com isto, surge grande a necessidade de se estudar a responsabilidade das escolas para os casos de prejuzos causados por alunos contra alunos ou destes contra terceiros ou, at mesmo, de terceiros cont