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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA UEFS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL - PLANTERR MESTRADO PROFISSIONAL REGINALDO DIAS DE MIRANDA OS CONSELHOS MUNICIPAIS DE POLITÍCAS SOCIAIS E O DESAFIO DA INTERSETORIALIDADE EM FEIRA DE SANTANA BAHIA. Feira de Santana - Ba 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO

TERRITORIAL - PLANTERR MESTRADO PROFISSIONAL

REGINALDO DIAS DE MIRANDA

OS CONSELHOS MUNICIPAIS DE POLITÍCAS SOCIAIS E O

DESAFIO DA INTERSETORIALIDADE EM FEIRA DE SANTANA – BAHIA.

Feira de Santana - Ba 2018

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REGINALDO DIAS DE MIRANDA

OS CONSELHOS MUNICIPAIS DE POLÍTICAS SOCIAIS E O DESAFIO DA INTERSETORIALIDADE EM FEIRA DE SANTANA-

BAHIA.

Relatório técnico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial (Mestrado Profissional) do Departamento de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Estadual de Feira de Santana, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Planejamento Territorial.

Orientadora: Profª. Drª. Edinusia Moreira C. Santos

Feira de Santana - Ba 2018

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Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado

Tatiane Souza Santos - Bibliotecária CRB5/1634

M64c Miranda, Reginaldo Dias de

Os conselhos municipais de políticas sociais e o desafio da

intersetorialidade em Feira de Santana – Bahia / Reginaldo Dias de

Miranda. –, 2018.

133f.: il.

Orientadora: Edinusia Moreira C. Santos

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Feira de Santana,

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial, 2018.

1. Conselhos - Intersetorialidade. 2. Políticas sociais 3. Feira de

Santana /Bahia I. Santos, Edinusia Moreira C., orient. II. Universidade

Estadual de Feira de Santana. III. Título.

CDU: 71 (814.22)

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Quer um conselho, participe e conquiste seus direitos!

(Encontro de Incidência Política – Caritas Regional NE 3)

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AGRADECIMENTOS Gratidão, essa é a palavra que resume todos os momentos de luta, resistência e resiliência que passei até chegar aqui. Mas, o que me fez estar de pé, foi saber que nunca estive só, tanta gente simples segurou em minhas mãos. São muitas pessoas, mas quero agradecer especialmente a minha mãe, Regina Célia, que mesmo sem estudo, devido à labuta do campo, sempre me incentivou a estudar para ser ―gente‖. À Daniela, minha esposa, pela paciência diante das minhas ausências, pelo apoio nas transcrições dos áudios. Agradeço também à Professora Ângela Persico, por acreditar em mim desde o tempo de graduação e por compartilhar comigo inúmeros livros, que foram base para a pesquisa. Em nome dela agradeço também a todos/as professores de graduação. Agradeço a Professora Janeide Bispo e Alfredo Barbosa, exemplo de luta e resiliência, que contribuíram muito na minha formação enquanto sujeito social. Gratidão a todos os integrantes dos Conselhos (CMAS e CONSEA) que me acolheram com muito respeito e aceitaram construir este produto. Agradeço a minha orientadora, professora Drª. Edinusia Moreira C. Santos, pela conduta ética em todo o percurso do trabalho, pelo compromisso e desafio em conhecer as Políticas de Assistência Social e Segurança Alimentar. Pelo tempo dedicado e trocas de conhecimentos. Em seu nome, agradeço a todos os docentes e funcionários do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial. Agradeço ainda às professoras Drª. Acácia Batista Dias e Drª. Jucileide Ferreira do Nascimento que trouxeram durante a Banca de Qualificação, críticas relevantes para o avanço do trabalho. Agradeço também à UEFS, pelo sonho realizado em estudar numa das melhores Universidades da Bahia. Gratidão à turma do PLANTER 4, pelos diversos momentos de alegrias e trocas de conhecimentos, pelo incentivo e preocupação em saber como anda o trabalho do outro. Foi uma alegria e um aprendizado conviver com todos os colegas. Ao amigo Eduardo Paiva que me apresentou o mestrado e incentivou a minha participação no processo seletivo. Gratidão aos Agentes Cáritas, à Arquidiocese de Feira de Santana em nome do Arcebispo Dom Zanoni, Pe. Edimundo e Pe. Avelino por me incentivar e por entender minhas ausências. Por fim, agradeço a todos os meus amigos/as que estão ao meu lado nesta e em todas as lutas.

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RESUMO O presente relatório descreve a intersetorialidade como instrumento de concertação das Políticas Sociais. O estudo objetivou propor instrumentos de curtos, médios e longos prazos que oriente a ação intersetorial nos Conselhos, a partir da identificação dos desafios da intersetorialidade em dois conselhos – Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) e Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) de Feira de Santana – Bahia. Os instrumentos foram identificados com os achados no referencial teórico e nas oficinas realizadas em campo. Tendo como base estes instrumentos metodológicos alcançamos dois produtos: O primeiro um estudo sobre a intersetorialidade no CMAS e CONSEA, discorrendo sobre Políticas Públicas e Políticas Sociais, e Conselhos Municipais de Políticas Sociais. E o segundo as propostas de minutas de resoluções (produtos) entre os conselhos. Os achados evidenciaram que a intersetorialidade é de fato um instrumento de concertação Política e Social, que uni as ações dos conselhos, permitindo uma maior eficácia no provimento das políticas sociais. Por fim, a pesquisa alcançou seu objetivo, justificando o problema identificado e propondo saídas para a superação dos óbices que dificultam a materialização intersetorialidade. Palavras-chave: Intersetorialidade, Conselhos e Políticas Sociais.

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ABSTRACT

This report describes intersectorality as an instrument for concerted social policies. The study aimed to propose short, medium and long term instruments to guide intersectoral action in the Councils, from the identification of the challenges of intersectoriality in two councils - Municipal Council of Social Assistance (CMAS) and Municipal Council of Food and Nutrition Security (CONSEA) of Feira de Santana - Bahia. The instruments were identified with the findings in the theoretical framework and field workshops. Based on these methodological tools, we have reached two products: The first a study on intersectoriality in CMAS and CONSEA, discussing Public Policies and Social Policies, and Municipal Councils of Social Policies. And the second the proposed draft resolutions (products) between councils. The findings showed that intersectoriality is in fact a tool for political and social concertation, which united the actions of the councils, allowing a greater effectiveness in the provision of social policies. Finally, the research reached its objective, justifying the identified problem and proposing ways of overcoming the intersectoriality.

Keywords: Intersectorality, Councils and Social Policies.

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LISTA DE SIGLAS

ACN

ACEFS

AFAS

Associação Cristã Nacional

Associação Comercial e Empresarial de Feira de Santana

Associação Feirense de Assistência Social

APAE

APAEB

ASCOFAM

CadÚnico

CAISAN

Associação de Pais e Amigos Excepcionais

Associação dos Pequenos Agricultores do Município de

Feira de Santana

Associação Mundial de Luta Contra à Fome

Cadastro Único

Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e

Nutricional

CAPs Caixas de Aposentadoria e Pensão

CEAS

CDRS

Centro Pop Rua

COOBAF

Conselho Estadual de Assistência Social

Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável

Centro de Referência para Pessoas em Situação de Rua

Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização de

Produtos da Agricultura Familiar de Feira de Santana

CONSEA

CONSEA/FSA

CIFS

Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional

de Feira de Santana

Centro das Indústrias de Feira de Santana

CMAS

CMDCA

CNAS

CNM

CNA

CNSAN

CNSS

Conselho Municipal de Assistência Social

Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente

Conselho Nacional de Assistência Social

Confederação Nacional dos Municípios

Comissão Nacional de Alimentação

Conferência Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional

Conselho Nacional de Serviço Social

CRAS Centro de referência de Assistência Social

CREAS Centro de referência Especializado de Assistência Social

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CRER

CRN

FAO

FASE

FBSAN

FEAS

FHC

FUFS

FMAS

FNAS

FTC

GGSAN

Centro de Recuperação Esquadrão Redentor

Conselho Regional de Nutrição

Food and Agriculture Organization

Federação de Órgão para Assistência Social e

Educacional

Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional

Fundo Estadual de Assistência Social

Fernando Henrique Cardoso

Faculdade Unidas Feira de Santana

Fundo Municipal de Assistência Social

Fundo Nacional de Assistência Social

Faculdade de Tecnologia e Ciência de Feira de Santana

Grupo Governamental de Segurança Alimentar e

Nutricional

CRN Conselho Regional de Nutricional

IAPs

ICS

ID SUAS

INAN

INPS

INAMPS

IPEA

LBA

LOAS

LOSAN

MBES

MESA

Instituto de Aposentadoria e Pensão

Instância de Controle Social

Índice de desenvolvimento do SUAS

Instituto Nacional de Alimentação e Nutricional

Instituto Nacional de Previdência Social

Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência

Social

Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

Legião Brasileira de Assistência

Lei Orgânica de Assistência Social

Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional

Ministério do Bem-Estar Social

Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e

Combate à Fome

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDS

MDSA

MIC

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário

Ministério da Cultura

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MROSC

MPAS

Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil

Ministério da Previdência e Assistência Social

MPPT

MTPS

MOC

NOB/RH

NOB/SUAS

ONG

ONU

OSC

PAA

PEAS

PEC

PETI

PBF

PMAS

PMCMV

Mestrado em Planejamento Territorial

Ministério do Trabalho e Previdência Social

Movimento de Organização Comunitária

Norma Operacional Básica de Recursos Humanos

Norma Operacional Básica do Sistema Único de

Assistência Social

Organização Não-Governamental

Organização das Nações Unidas

Organizações da Sociedade Civil

Programa de Aquisição de Alimentos

Política Estadual de Assistência Social

Proposta de Emenda Constitucional

Programa de Erradicação do Trabalho I

Programa Bolsa Família

Política Municipal de Assistência Social

Programa Minha casa Minha Vida

PNAS

PNSAN

PLANTERR

Política Nacional de Assistência Social

Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial

PLANSAN

PPAS

PRONAF

PRONAN

PSB

PSE

Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

Plano Plurianual de Assistência Social

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar

Programa Nacional de Alimentação e Nutrição

Proteção Social Básica

Proteção Social Especial

SAN

SEDESO

SESC

SETTEDEC

Segurança Alimentar e Nutricional

Secretaria de Desenvolvimento Social

Serviço Social do Comércio de Feira de Santana

Secretaria Municipal de Trabalho, Turismo e

Desenvolvimento Econômico

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SINDESP

SINTRAF

SISAN

STAN

SUAS

SUNAB

SUS

UBC

UEFS

UFRB

Sindicato dos Servidores Públicos Municipal

Sindicato dos Trabalhadores/as da Agricultura Familiar de

Feira de Santana

Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

Serviço de Alimentação Nacional

Sistema Único de Assistência Social

Superintendência Nacional de Abastecimento

Sistema Único de Saúde

União Baiana de Cegos

Universidade Estadual de Feira de Santana

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Linha do tempo da Assistência Social no Brasil - 1930-2017.................49

Quadro 2 – Atores Sociais e Políticos do SUAS........................................................56

Quadro 3 – Conselheiros Biênio - 2016-2018............................................................62

Quadro 4 – Divisão Territorial dos CRAS no Município de Feira de Santana 2018...67

Quadro 5 – Relação dos equipamentos Proteção Especial.......................................68

Quadro 6 – Programas e Projetos..............................................................................69

Quadro 7 – Linha do Tempo da Segurança Alimentar e Nutricional - 1910 - 2007) .71

Quadro 8 – Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional........................80

Quadro 9 – Entidades do CONSEA/FSA Biênio - 2016-2018....................................83

Quadro 10- Concepções sobre intersetorialidade dos representantes do CMAS e

CONSEA/FSA............................................................................................................92

Quadro 11 – Perspectiva dos conselheiros do CMAS e CONSEA sobre a integração

entre os conselhos e gestão pública de Feira de Santana........................................93

Quadro 12 – Concepção dos conselheiros do CMAS e CONSEA sobre os problemas

identificados nos conselhos 2018...............................................................................95

Quadro 13 – Concepções dos conselheiros do CMAS e CONSEA sobre a diferença

entre urbano e rural....................................................................................................97

Quadro 14 – Entidades que compõem o CMAS 2011-2020......................................98

Quadro 15 – Entidades que compõem o CONSEA/FSA - 2010-2014.......................99

Quadro 16 – Identificação de demandas das associações rurais e seus critérios para

fiscalização...............................................................................................................100

Quadro 17 – Prioridades estabelecidas pelos conselheiros do CMAS e

CONSEA/FSA para o enfrentamento da intersetorialidade a partir do

PAA..........................................................................................................................107

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Procedimentos Metodológicos....................................................................19

Figura 2- Metodologia aplicada nas oficinas..............................................................21

Figura 3- Políticas setoriais e transversais da política social brasileira – 2010.........28

Figura 4- Estrutura de Secretarias do MDS – 2004...................................................40

Figura 5- Estrutura do SUAS, 2005 – 2012................................................................55

Figura 6- Estrutura organizacional do CMAS/FSA – 2018.........................................63

Figura 7- Estrutura organizacional do CONSEA/FSA – 2018....................................85

Figura 8- Arvore de problema aplicado aos representantes do CMAS e

CONSEA/FSA..........................................................................................................102

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16

1. POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS UMA DISTINÇÃO

NECESSÁRIA. .......................................................................................................... 22

1.1 As Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo. ............................................. 26

2. INTERSETORIALIDADE COMO INSTRUMENTO DE CONCERTAÇÃO DAS

POLITÍCAS SOCIAIS. .............................................................................................. 35

2.1 Intersetorialidade na Agenda da Política de Assistência Social e nos

Conselhos. ................................................................................................................ 39

2.2 Segurança Alimentar e Nutricional e as ações intersetoriais............................... 42

3. O PAPEL DOS CONSELHOS DE POLÍTICAS SOCIAIS. .................................... 45

4. ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLITICA SOCIAL. .......................................... 49

4.1 Caracterização do Conselho Municipal de Assistência Social de Feira de

Santana. .................................................................................................................... 60

5. OS CAMINHOS DA POLITICA SOCIAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL. ......................................................................................................... 71

5.1 Caracterização do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional

de Feira de Santana (CONSEA/FSA). ...................................................................... 82

6. ANALISANDO O INSTRUMENTO DA INTERSETORIALIDADE NOS

CONSELHOS: DIÁLOGOS, ENCAMINHAMENTOS E CONCERTAÇÃO. .............. 86

6.1 O PAA enquanto programa que integra a ação da intersetorialidade dos

conselhos CMAS e CONSEA/FSA. ........................................................................... 87

6.2 A intersetorialidade para os conselheiros do CMAS e CONSEA, a partir do

diagnostico realizado nas oficinas. ............................................................................ 91

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 111

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 115

9. APÊNDICE .......................................................................................................... 125

10. ANEXO...............................................................................................................131

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INTRODUÇÃO

Registros históricos apresentam a década de 1980 como um período de

reivindicações, lutas e conquistas no âmbito da sociedade brasileira. Essa afirmação

não desfigura as décadas anteriores, pois é o acúmulo da participação e pressão

popular dos movimentos sociais, sindicais, atores sociais e políticos organizados que

resultaram na redemocratização do Estado brasileiro. Neste cenário, um novo

modelo socioinstitucional do Estado se apresenta como paradigma na agenda das

políticas públicas.

O novo cenário, instaurado pela Constituição Federal de 1988 (CF/88), é

marcado pela abertura de canais participativos – com a criação dos conselhos,

colegiados, comitês, fóruns – caracterizando-os como espaços democráticos e

participativos de diálogo entre Estado e Sociedade Civil. Além dos canais

participativos criados por leis, a descentralização político-administrativa e a

intersetorialidade são características do novo modelo socioinstitucional, permitindo a

transferência de poderes, antes, privilégio da União, para os Estados e Municípios,

possibilitando que a gestão pública e o controle social tenham maior inferência e

autonomia nas agendas das políticas públicas.

Dessa forma, este modelo socioinstitucional que inclui a descentralização e

intersetorialidade como possíveis ferramentas, capazes de equacionar o modelo de

políticas públicas ofertadas pelo Estado ao longo dos anos. A possiblidade de

ruptura de uma política pública centrada no Estado, dividida por setores e executada

de forma fragmentada e pontual, inscreve na agenda pública a necessidade de

diálogo, consensos, trocas de experiências e informações. Com isso, a

intersetorialidade proporciona na gestão pública uma espécie de ―concertação

política e social‖ elo entre gestores públicos e sociedade civil, a fim de propor

mudanças e aprimoramento na gestão das políticas públicas.

No campo das Políticas Sociais, seja de proteção e/ou promoção social a

intersetorialidade apresenta-se como pressuposto básico, quer seja nos documentos

oficiais, ou no seu desenho institucional, o que poderíamos chamar de modelo de

gestão. No campo do controle social, embora as composições dos conselhos exijam

representações de governo (de diferentes secretarias, ministérios...) e sociedade

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civil (de variadas representações organizacionais), não nos parece nítido a ação

intersetorial.

Dada à complexidade e amplitude dos conselhos Gestores de Políticas

Públicas, na pesquisa faz-se um recorte, focando a intersetorialidade em dois

Conselhos Municipais de Políticas Sociais: Conselho Municipal de Assistência Social

(CMAS) e Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA). A

proposta em dois conselhos específicos não limita os demais conselhos existentes

no município, talvez sirva de base para futuras pesquisas envolvendo os demais

conselhos.

A motivação para o desenvolvimento dessa pesquisa/intervenção surge com a

participação nas reuniões dos conselhos – CMAS e CONSEA – representando a

Cáritas Arquidiocesana nos espaços de incidência política, nas reuniões pude

perceber que mesmo os conselhos estando alocados na casa dos Conselhos não

existiam momentos de diálogos entre eles, também foi facilmente percebido que

muitas questões que estavam relacionadas à segurança alimentar tinham

semelhanças e rebatimentos na Política de Assistência Social, mas não existiam

ações em conjunto que pudessem considerar tais semelhanças.

Outras percepções ocorreram no período de estágio obrigatório (2012-2014),

quando estagiei no CMAS e realizei visitas às associações e equipamentos

socioassistenciais para fiscalização (inscrição, reinscrição), acompanhado da técnica

de campo.

O CMAS por ser destinado a Política de Assistência Social, que fiscaliza os

equipamentos e entidades que compõem as redes socioassistenciais e seguem

orientações da Resolução nº 14/2014 do Conselho Nacional de Assistência Social

(CNAS), porém, ao se tratar de associações rurais, suas atividades são voltadas a

agricultura familiar, Segurança Alimentar e Economia Solidária logo ao receber a

visita de fiscalização a maioria das associações são desligadas por não cumprir os

critérios estabelecidos na resolução.

Outrossim, o CMAS na maioria dos municípios é considerado como uma

espécie de conselho matriz, pois, na falta de algum conselho setorial, o CMAS

assume as demandas e contribui na construção destas políticas setoriais. Em Feira

de Santana mesmo sendo um município considerado de grande porte, essa

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realidade também foi vista por muito tempo, como os conselhos de Segurança

Alimentar e Nutricional, conselho da Mulher e de Juventude.

Diante desta realidade, o objetivo deste estudo foi propor instrumentos de

curto, médio e longo prazo que orientem a ação intersetorial nos Conselhos

Municipais de Políticas Sociais de Feira de Santana, nesse sentido para alcançar o

objetivo geral, os objetivos específicos trataram de: Caracterizar a contribuição da

intersetorialidade nos Conselhos Municipais de Políticas Sociais; Relacionar as

ações conjuntas dos conselhos Municipais de Políticas Sociais e Identificar os

desafios da intersetorialidade nos Conselhos Municipais de Políticas Sociais.

A pesquisa se justificou devido à dificuldade de os conselhos desenvolverem

ações intersetoriais. Os achados das análises nas oficinas permitiram propor

instrumentos conjuntos, visando o fortalecimento das instâncias de controle social do

município. O instrumento de concertação foi a minuta de resolução conjunta que

integre os respectivos conselhos.

Além dessa introdução, esse texto possui seis capítulos que abordam os

seguintes assuntos: 1- Políticas Públicas e Políticas Sociais uma distinção

necessária, neste capítulo buscou-se abordar as Políticas Públicas, entendendo-a

como um todo ―um conjunto de políticas diversificadas‖ e que as Políticas Sociais

são uma parte deste todo; 2- A Intersetorialidade como Instrumento de Concertação

das políticas públicas, apontando a intersetorialidade como instrumento de ruptura

do modelo de gestão centralizado, hierárquico, fragmentado e setorial, bem como

abordando-a nas Políticas de Assistência Social e Segurança Alimentar e

Nutricional.

No capítulo 3 foi abordado o papel dos conselhos de Políticas Sociais,

trazendo o processo histórico dos conselhos, apontando inicialmente os conselhos

Gestores de Políticas Públicas e Conselhos de Direitos, por fim justificando a

proposta de alteração da nomenclatura ―Conselhos de Políticas Sociais‖. Os

capítulos 4 e 5 abordam as políticas de Assistência Social e Segurança Alimentar e

Nutricional, trazendo uma linha do tempo das políticas e caracterizando os

respectivos conselhos destas políticas. O capítulo 6 apresenta as análises do

instrumento da intersetorialidade nos conselhos, apontando nos achados os

diálogos, encaminhamentos e as possíveis concertações como produto.

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19

Esta pesquisa/intervenção busca elucidar os fenômenos e fatores

condicionantes da realidade a partir de procedimentos metodológicos, que são

conjuntos de ―procedimentos intelectuais e técnicos adotados para atingir o

conhecimento‖. (GIL, 1999, p. 26).

A figura 01, ilustra a proposta metodológica que serviu para desenvolver os

capítulos.

Figura 01: Procedimentos Metodológicos

FONTE: Elaboração do autor

Nessa perspectiva, para alcançar os objetivos da pesquisa, dividiu-se em

períodos. No primeiro período foi realizado um levantamento bibliográfico sobre

Políticas Públicas, Políticas Sociais, Intersetorialidade e Conselhos para a

construção de referencial teórico através da análise de artigos, livros, dissertações

que discutem o tema e que serviram de embasamento para analisar o tema

proposto.

No segundo período foi realizada a análise documental de decretos, leis,

resoluções, portarias, atas, pareceres e regimento interno dos referidos conselhos.

Buscou-se, neste momento, compreender como estão estruturados os conselhos a

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20

partir dos documentos norteadores. A análise teve como foco entender como se

apresenta a ferramenta de intersetorialidade nos documentos institucionais.

No terceiro período, com o levantamento bibliográfico e os documentos

institucionais analisados, já com uma primeira caracterização dos conselhos foram

realizadas oficinas com os conselheiros, técnicos e comissões dos referidos

conselhos (figura 02). A utilização destes procedimentos metodológicos visou obter

um diagnóstico da realidade dos conselhos a partir da auscultação destes atores

sociais que o compõem. As oficinas foram divididas em 3 (três) momentos1. A

escolha dos representantes foi pela disponibilidade, sendo que foi impreterível a

participação dos/as presidentes e/ou vice-presidente e/ou membros das comissões.

As 2 (duas) primeiras oficinas foram realizadas com os conselhos de forma

individual. Nos encontros foram explanados o tema da pesquisa, seus objetivos e

sua questão problema.

A partir dos achados encontrados em pesquisas anteriores sobre

intersetorialidade foi conduzido um diálogo, abordando a questão problema. As

perguntas norteadoras para os primeiros encontros foram: 1) Para vocês, o que é

intersetorialidade? 2) Existe integração entre os Conselhos e com outras instâncias

de Gestão de políticas públicas? Com qual periodicidade? Quais principais

deliberações/encaminhamentos? 3) Para vocês, os problemas encontrados nestes

conselhos, tem rebatimento em outros conselhos? 4) Existem diferenças de atuação

de conselho entre o Urbano e Rural? 5) Como vocês identificam as demandas das

associações rurais no município? Existem critérios para fiscalização? Vocês fazem

fiscalizações conjuntas com outros conselhos?

A terceira oficina foi realizada com os dois conselhos: CMAS e CONSEA/FSA,

a partir da auscultação da realidade dos conselhos foi produzido um diagnóstico e

apresentado aos conselheiros e demais envolvidos. Em seguida, utilizou-se a

metodologia de árvore de problemas elencando os principais efeitos e causas da

não utilização da Intersetorialidade.

Como desdobramentos da ―oficina‖, já com os dados sistematizados,

confrontados a aplicação da árvore de problema apresentada aos dois conselhos.

Depois de amplo diálogo, elencaram-se as principais deliberações e/ou

1 O roteiro utilizado para subsidiar o dialogo realizado nas oficinas encontra-se nos apêndices.

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encaminhamentos, elegendo prioridades em curto, médio e longo prazos, propondo

um produto que buscasse sanar em curto período o problema da intersetorialidade

entre os Conselhos, tendo o PAA como programa ―integrador‖.

Na condução das oficinas buscou-se garantir as falas na integra para não

influenciar nos resultados, pois pesquisador que transitava nos dois conselhos

fazendo a incidência política do controle social, como não foi utilizado entrevistas,

utilizou-se de três instrumentos - arvore de problema e o quadro com as perguntas

que foram escritas no notebook; o gravador para ser fiel nas falas; e as perguntas

digitadas em papel A4 para o trabalho em grupo.

Ao final, foi apresentada à comissão jurídica a proposta de minuta que foi

adequada pela comissão colocada em discussão no CMAS e encaminhada ao

CONSEA, que em seguida foi incorporada ao relatório final apresentando todo

percurso.

Figura 02: Metodologia aplicada nas oficinas

FONTE: Elaboração do autor

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1 POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS SOCIAIS UMA DISTINÇÃO NECESSÁRIA.

Abordar o tema das Políticas Públicas no Brasil não é tarefa fácil, não só pelo

fato de particularidades como os processos tardios de abolição da escravatura,

capitalismo, democracia, mas também por se tratar de um país em desenvolvimento,

de ascensão do modelo neoliberal no pós-Constituição de 1988, de políticas

públicas exportadas de países desenvolvidos e apropriadas para nossa realidade,

sem esquecer da polissemia que é característica deste tema.

Os cientistas que se dedicaram à temática das políticas públicas tiveram

como bases teóricas a influência europeia, sobretudo nas décadas de 30 a 70 do

século XX. Os EUA ganham destaque como área de conhecimento acadêmico,

estudando as ações dos governos, sem relacionar as bases teóricas da ação do

Estado (SOUZA, 2006). Na literatura brasileira, tais estudos datam de final da

década de 70 e início de 80 do século passado, período que também marca a

transição do modelo autoritário para a democracia e a institucionalização do campo

das ciências sociais, com a criação do "sistema de Pós-Graduação e a Fundação da

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs),

em 1977". (HOCHMAN, 2007, p. 9).

Ao longo da história, diversos autores procuraram conceituar o que é Política

Pública, quer seja na literatura Internacional, quer seja na literatura nacional. Fato

que gerou um arcabouço teórico vasto. Por exemplo, de Lasswell e Karplan (1970);

e Jenkins (1978) conceituam as políticas públicas na perspectiva das suas

finalidades, deixando de fora os atores sociais envolvidos, bem como suas

correlações de forças e jogo de interesses.

No entendimento de Lasswell e Karplan (1970, p. 71), a política pública é "um

programa projetado com metas, valores e práticas". Jenkins (1978, p. 15), define

esse conceito como "um conjunto de decisões inter-relacionados referentes à

seleção de objetivos e dos meios para atingi-los". A adoção destes conceitos emite

uma imagem de que as políticas públicas não passam de ações burocráticas -

cumprimento de princípios, objetivos e metas - e de resultados meramente

quantitativos.

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Sob essa ótica, ganham particular relevância os conceitos de Easton (1953, p.

129), afirmando que a política pública é "alocação oficial de valores para a

sociedade". Bem como Peters (1986), que a define como "soma das atividades dos

governos, que agem diretamente ou por delegação e que influenciam a vida dos

cidadãos". Os autores introduzem no debate, elementos fundamentais como

sociedade e Estado.

Julgo pertinente trazer à baila, os estudos de Boneti (2007). Para este autor,

as políticas públicas são "o resultado da dinâmica do jogo de forças que se

estabelece no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos

grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da Sociedade

Civil‖ (BONETI, 2007, p. 74). Essa concepção aponta outros sujeitos sociais, que

tem interesses antagônicos e contraditórios na gestação e operacionalização das

políticas públicas. O autor inclui neste debate outros sujeitos como: Estado; classes

sociais e Sociedade Civil e ainda pressupõe que destas relações e correlações

derivam "os agentes definidores das políticas públicas" (p. 11), ainda ressalta que:

[...], desde a etapa de idealização até a sua operacionalidade, envolvem pessoas e instituições de diferentes níveis, do global ao local, [...]. Em cada instância uma política pública se depara com pessoas que exercem papéis, [...] até mesmo fictícias, em nome de uma verdade, da lei, da bondade, da divindade ou da própria vontade (BONETI, 2007, p. 71).

Compreender os sujeitos sociais evolvidos e suas correlações de forças e

poder, desde a gênese até a operacionalização estudado por Boneti (2007) é

fundamental para entender em que contexto as políticas de Assistência Social e

Segurança Alimentar e Nutricional estão inseridas. O autor destaca outros

elementos a serem considerados: a elite internacional, e o caráter globalizado das

políticas.

Nos estudos de Souza (2006), as políticas públicas perpassam por diversas

definições e abordagens, porém ―assumem, em geral, uma visão holística do tema‖.

Para a autora, ―o todo é mais importante do que a soma das partes e que indivíduos,

instituições, interações, ideologia e interesses contam, mesmo que existam

diferenças sobre a importância relativa destes fatores‖ (SOUZA, 2006, p. 25). A

autora ainda sintetiza os elementos principais das políticas públicas como:

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A política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz.

A política pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes.

A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras. A política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem

alcançados. A política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma política de

longo prazo. A política pública envolve processos subsequentes após sua decisão e

proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação (SOUZA, 2006, p. 36-37).

Ora, em tese, Souza (2006) aponte uma visão holística do tema políticas

públicas, que valora o todo e não suas partes, sua análise no texto escolhido não

permite ter uma definição concreta, porém, chama a atenção para a pluralidade de

entendimento que podemos ter ao pesquisar sobre esta temática.

Tão importante quanto os autores supracitados, Teixeira (2002, p. 02) chama

a atenção para um fato primordial para elucidação de seu conceito e/ou

aproximação. Segundo o autor, as políticas públicas ―traduzem, no seu processo de

gestação e implementação e, sobretudo, em seus resultados formas de exercício do

poder político‖ essa relação que envolve a ―distribuição e redistribuição de poder, o

papel do conflito social no processo de decisão, a repartição de custos e benefícios

sociais". O novo fato empregado por Teixeira (2002), "exercício do poder político", o

"conflito social" traz à baila a função dos atores sociais, como sujeitos definidores

das políticas públicas. Fica claro que a construção de políticas públicas não depende

apenas da ação do Estado e de sua vontade política, faz necessário o conflito, a

negociação, os interesses antagônicos, a relação de poder e não mais que

importante à mediação social e institucional.

Não se trata aqui em desconstruir os conceitos empregados pelos diversos

estudiosos da temática, mas Teixeira (2002) apresenta elementos necessários e

particulares para entender as políticas públicas no Brasil. Primeiro, por entender o

contexto que se criam as políticas públicas - decorrentes de fortes pressões sociais -

via participação popular na luta por acesso a direitos e democracia. Segundo, pelo

resultado das pressões populares, criando canais participativos "controle social" em

função da CF/88. Terceiro, pelas definições de papeis com a CF/88, o Estado tem a

primazia de garantir que as políticas públicas sejam executadas para o cidadão, seja

de forma direta e/ou indireta.

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Teixeira (2002) apresenta outros instrumentos para entender as políticas

públicas, por se tratar de diversos atores sociais conforme mencionado por Boneti

(2007) - organização da Sociedade Civil, classes sociais, partidos políticos, elites

internacionais – conflitando e/ou cooperando para a definição das políticas públicas.

A participação desses atores sociais nas esferas públicas acarreta em arenas de

conflitos que são eminentes destes espaços, os instrumentos de mediação de

conflitos sociais e institucional são salutares para que hajam os mínimos de

consensos.

Diante do exposto, no tocante às políticas públicas, Boneti (2007, p. 09)

apresenta um significado muito importante, embora não se trate de uma definição,

mas é mister entender que política pública é ―a arte de lidar com um público que é

público‖, mesmo sendo redundante o autor, ainda explicita ―quando, porém, se fala

em políticas públicas, está se fazendo uma distinção entre aquilo que é público, do

ponto de vista orçamentário e aquilo que é privado‖. O autor chama a atenção que

ao tratar de políticas públicas temos a menção de recursos públicos oriundos do

Estado - via orçamento – porém, uma política pública pode ser executada sem

recurso direto por meio da intervenção do Estado.

Em suma, abordar o tema das políticas públicas em meio a um arcabouço

teórico vastíssimo em âmbito nacional e internacional não é tarefa fácil, também não

é prioridade desta pesquisa. Logo, o foco é reunir autores/as que se aproxime do

debate e que permitam entender em qual contexto as políticas públicas se insere e

como esses autores podem contribuir para o desfecho deste trabalho. Vale ressalta

que nosso objeto é as políticas sociais, enfatizando sua articulação nos Conselhos

Gestores de Políticas Públicas.

Tendo isso claro, as abordagens de Boneti (2007) e Teixeira (2002),

aproximam-se do objeto pesquisado. Os autores têm a lucidez que as políticas

públicas partem não só da ação do Estado, mesmo tendo a clareza de sua primazia

em ofertá-la, mas desse conjunto de atores sociais - considerando as

representações de classes, políticas, históricas, de relações e correlações de forças

e poderes, as negociações e pactuações na dinâmica dos jogos de interesses e

seus agentes definidores que tem rebatimentos local e global.

Enfim, por se tratar do objeto que perpassa as políticas públicas como esse

todo abordado por Souza (2006) e com foco nas partes aqui entendida pelas

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políticas sociais, que tem na sua construção histórica as correlações de forças, os

conflitos sociais, os jogos de interesses, o papel fundamental do Estado e da

Sociedade Civil. É mister discorrer sobre as políticas sociais e como a mesma tem

impacto no objeto pesquisado.

1.1 As Políticas Sociais no Brasil Contemporâneo.

Partimos do entendimento de que as políticas públicas acontecem com a

ação do Estado – financiando, intervindo e/ou executando – e com a participação

dos diversos atores (políticos e sociais), consideramos também que as décadas de

70, 80 e 90 do século XX foram marcantes nas alterações destas políticas no Brasil.

Para entender as políticas sociais, primeiro precisamos internalizar que política

pública é o ―todo‖ – um conjunto de políticas diversificadas - e as políticas sociais é

uma parte deste todo, diga-se de passagem, uma grande parte do todo.

É a partir desta internalização de ―partes deste todo‖ que discorreremos sobre

as políticas sociais. Na segunda metade do século XX, um redesenho das Políticas

Sociais acontece, devido as pressões dos movimentos sociais pelo fim da ditadura

militar, com vistas à reforma do Estado Brasileiro. Tal reforma culmina no modelo de

governo (Presidencialista), de Estado (Federalista) e de criação de canais

participativos, garantido por meio da Constituição Federal – espaços de tomada de

decisão – que se somam a agenda do Estado (HOCHAMAN, 2007).

Sob essa ótica, ganha particular relevância, entender que as políticas sociais

brasileiras são ofertadas pelo Estado para uma parcela desprotegida da sociedade,

com o objetivo de ―reduzir e mitigar as contingências, necessidades e riscos a

qualquer indivíduo que está exposto em uma sociedade de mercado, [...] que não

pode prover seu sustento e da família por meio do trabalho‖ (CASTRO, 2012, p.

1018).

Essa desproteção social é cunhada no Brasil por diversos processos que são

multifacetados e complexos: primeiro, pelo fato de o país até início da década de

1930 caracterizar-se como rural e agrícola exportador, sob o domínio da elite

latifundiária; segundo, pelo modelo de desenvolvimento industrial adotado por

Getúlio Vargas que ampliou as desigualdades e exclusão social, devido a

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acumulação capitalista; terceiro, pela atuação da igreja com ações filantrópicas,

caritativas e benemerentes. (FAGNANI, 2005; VIEIRA E, 2007).

Estudiosos/as desta temática, como Pereira (2009), afirmam que o termo

políticas sociais apresenta-se com uma imprecisão conceitual e até mesmo

genérica, capaz de gerar ―um sentido vago, ecumênico ou eclético [...] quando não a

confundi-la com ações pragmáticas, voluntaristas, clientelistas, que ferem direitos‖

(PEREIRA, 2009, p. 164).

Como bem nos assegura Castro (2012, p. 1018), as políticas sociais são um

―conjunto de políticas, programas e ações do Estado, com objetivo de efetuar a

proteção e a promoção social em resposta aos direitos sociais e a outras situações

[...]‖. É importante ressaltar, que este conjunto de políticas sociais são setoriais e

transversais. Conforme Castro (2012) aponta na figura 1.

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Figura 3: Políticas setoriais e transversais da política social brasileira – 2010

Fonte: Castro (2012). Adaptado por Reginaldo Dias de Miranda

POLÍTICAS

TRANSVERSAIS

POLÍTICAS SETORIAIS

Proteção

Social

Saúde

Segurança Alimentar e

Nutricional

Trabalho e Renda

Politica Social

Promoção

Social

Educação

Desenvolvimento Agrário

Cultura

Saneamento Básico

Habitação e

Urbanização

Idosos

Juventude

Crianças e

Adolescentes

Igualdade Racial

Igualdade de Gênero

Previdência Social

Assistência Social

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Na figura 1, CASTRO (2012) sistematiza a Política social no Brasil, porém na

síntese do autor não está inclusa a Política de Segurança Alimentar e Nutricional,

fato curioso que merece atenção, por se tratar de uma política que perpassa por

todos os setores elencados por Castro. A Política Social é ofertada em ―caixinhas‖

ou fragmentos, alguns destes fragmentos podem ser caracterizados pela criação dos

ministérios como, por exemplo: o Ministério da Saúde; Previdência Social;

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS); Desenvolvimento Agrário

(MDA); Cultura (MIC) e Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário2 (MDSA).

As Políticas Sociais de Assistência Social (Proteção Social) e Segurança

Alimentar e Nutricional (Promoção Social) estão em evidencia para facilitar a

visualização, ambas são políticas setoriais. A política social é classificada em dois

extremos, o primeiro está relacionado a proteção social, vista por Jaccoud (2009, p.

58) ―como um conjunto de iniciativas públicas ou estatalmente reguladas para a

provisão de serviços e benefícios sociais visando enfrentar situações de risco social

ou provisões sociais‖. É política de seguridade, criada para proteger os cidadãos dos

riscos e vulnerabilidades sociais. Já o segundo extremo versa sobre a promoção

social, política voltada para a geração de oportunidades com vista a prove o bem-

esta e o desenvolvimento da/o cidadã/o.

As políticas sociais são frutos da participação popular por meio das lutas

sociais, que aconteceram em momentos de forte exclusão e repressão das camadas

menos favorecidas, num sistema capitalista em que, quanto mais se acumula

riqueza, mais agrava a questão social, o Estado precisa dar respostas as

reivindicações dos movimentos populares, que com o agravamento da questão

social passa a ocupar as ruas e protestar por direitos sociais.

Nos estudos de Teixeira (2016), a família, o mercado, as Organizações Não

Governamentais (ONGs)3 e o Estado são identificados como agentes da política de

2 Os últimos dois anos marcaram fortes transformações no cenário político brasileiro, dessas

transformações a Presidente Dilma Rousseff sofreu o impeachment em agosto de 2016 e o vice-presidente Michel Temer assume a presidência interina. Sob o seu governo Michel Temer por meio da Lei n°. 13.341 de 29/09/2016 revoga a MP nº 726/2016 (BRASIL, 2016a; 2016b) e provoca inúmeras reformas, dente as reformas, a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e transferência para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que modificado passou a chamar de Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), porém, no mesmo ano, o Decreto no 8.865/2016 o deslocou o MDA para a Casa Civil (BRASIL, 2016c). 3 Com a Lei 13.019/2014, a nomenclatura Organização Não- Governamental (ONG) não é mais

usada, muito embora essa terminologia começou a ser usada pela ONU e não consta nas legislações brasileiras. A Lei em vigor trata-se de uma grande conquista das instituições da sociedade civil e movimentos sociais que conseguiram incluir no texto da lei a nomenclatura Organizações da

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proteção social. Segundo a autora, destes agentes ―destacam-se: os privados

tradicionais (famílias, comunidades, igrejas, filantropia); privados mercantis (mercado

com oferta de serviços) e o público (políticas públicas de caráter social)‖ (TEXEIRA,

2016, p. 28).

A autora ainda enfatiza que a aparição do familismo4 nas décadas de 1930 a

1980, quando por meio da ―cidadania regulada‖ e ―cidadania invertida‖, predicados

como ―corporativismo, clientelismo e assistencialismo‖ foram fortemente

empregados, além de o provimento dos benefícios serem ofertados ―abaixo do

salário mínimo oficial―, restando ―à família, a proteção, a assistência e os cuidados‖.

A ruptura desse modelo só foi possível através da CF/88, alterando o formato

das políticas públicas em sua estrutura, tornando-as políticas descentralizadas,

participativas e integradas. A autora ainda ressalta a importância da seguridade

social (previdência, saúde e Assistência Social) formando um conjunto de políticas

de proteção social.

Diante desse debate, cabem alguns questionamentos: Poderíamos afirmar

que no Brasil as políticas públicas em especial as políticas sociais são visivelmente

separadas em períodos? Poderíamos afirmar que, com o pós-constituinte as

mudanças na gestão, de fato garantiu uma política social que atendesse os anseios

da população? O Estado, de fato, com a CF/88 assume o papel de provedor das

políticas sociais? Os próximos parágrafos buscam discorrem sobre estes

questionamentos.

Durante décadas, pesquisadores como Barcelar (2003) vêm se debruçando

sobre esta temática, o que culminou, hoje, num vasto arcabouço teórico. Dessa

forma, os autores aqui pesquisados debatem as políticas sociais no Brasil em três

períodos distintos: o primeiro datado de antes de 1930; o segundo de 1930-1988; e

o terceiro a partir de 1988 até os dias atuais. Cabe apontar que, apesar de se tratar

de políticas públicas nosso foco na discussão será as políticas sociais.

O primeiro período tem origem no Brasil tanto na independência (1833-1889),

quanto na primeira república (1889-1930), os registros apontam um país

eminentemente rural e agrícola. Com o crescimento das cidades e conseguinte das

Sociedade Civil (OSC) referindo-se a Associações, Fundações, entidades Religiosas e Cooperativas Solidárias. 4 Trata-se de uma categoria que ―responsabiliza a família pelo bem-estar de seus membros, tendo o

Estado um papel subsidiário‖. No familismo o Estado só provia de proteção em casos de esgotamento total da família e quando o mercado não conseguisse ofertar os serviços mínimos (TEIXEIRA, 2016, p. 29).

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indústrias, o fenômeno do êxodo rural cresce e com ele o número de migrantes,

ainda que de forma lenta, nas principais cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.

Dados do censo de ―1920 revelava que 30% da população brasileira vivia nas

cidades e 70%, no campo‖ (BACELAR, 2003, p. 01).

O provimento da política pública ficava a cargo de associações privadas –

como, por exemplo, a sociedade musical de beneficência, sociedade dos ourives,

entre outras - e entidades privadas como irmandades religiosas, das Santas Casas

de Misericórdia. No que cabe ao ―governo pouco cogitava de legislações trabalhistas

e de proteção ao trabalhador [...] a constituição republicana de 1981 retirou do

Estado a obrigação de fornecer educação primária, constante da constituinte de

1924‖ (CARVALHO, 2015, p. 61, 62).

Nos estudos de Fontenele (2016); Santos (1987) e Carvalho (2015), os/as

autores/as apontam o papel dos trabalhadores e em especial dos sindicalistas, tendo

os migrantes uma grande contribuição, no tocante, a organização dos trabalhadores

devidos experiências em seus Países de origem, na pressão tanto do Estado como

dos patrões, obtendo alguns resultados. De acordo com Fontenele (2016, p. 68),

entre ―1888 a 1923, algumas tentativas foram feitas na regulamentação de direitos

trabalhistas, como férias, aposentadoria, fundo de pensão, auxílio-doença/funerário‖,

mesmo tratando de ações pontuais e fragmentadas, temos como ponto de partida a

ação reivindicatória dos sindicatos por políticas de Saúde, Assistência e Educação.

Na década de 1920, por influência dos movimentos trabalhistas o Estado cria

as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs), tal iniciativa reverbera como

primeiras intervenções do Estado no tocante, a questões trabalhistas. Cabe apontar

que, apesar de acontecer algumas iniciativas pontuais de intervenções do Estado

nas décadas de 1920 e décadas anteriores. A partir de 1930 que as aparições do

Estado são mais concretas. Segundo período trata-se certamente de um novo

governo que arquitetou uma ―engelharia institucional que possibilitou a

reorganização do processo acumulativo, com a consolidação do capitalismo‖

(FONTENELE, 2016, p. 72).

Neste período foram alcançados alguns direitos que versam pelas medidas

previdenciárias e trabalhistas, o que Iamamoto e Carvalho (1986) a denominaram de

legislações sociais, fruto das pressões e reivindicações do proletariado. Segundo os

autores, essas leis ―cobrem uma parcela importante da chamada ‗proteção ao

trabalho‘, como a lei de férias, acidente de trabalho, código de menores, trabalho

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feminino, seguro-doença‖ (IAMAMOTO e CARVALHO, 1986, p. 134). Vê-se, pois,

que as leis forneciam assistência à parcela da sociedade que estava em exercício de

trabalho. Dessa forma, a Igreja Católica - em especial - teve um papel fundamental

no provimento da assistência aos pobres.

Com a experiência das CAPs, em 1933, o Estado cria o Instituto de

Aposentadoria e Pensão (IAPs), sendo a versão das CAPs aprimorada, o que

Fontenele (2016, p. 73) chamou de ―ponto de partida de uma política pública no

Brasil, sob a gestão do Estado, sem desconsiderar a atuação da Igreja, do

empresariado e, ainda, do sindicato, operando na assistência sob a tutela do

Estado‖. É preciso ressaltar o papel dos sindicatos, por estratégia do governo

Getúlio Vargas transformam em instituições de controle do Estado, os sindicatos dos

trabalhadores nesta década ―são transformados em centros assistenciais

complementares à previdência social, o que passa a ser viabilizado através dos

recursos arrancados à própria classe operária via imposto sindical‖ (IAMAMOTO E

CARVALHO, 1986, p. 246).

O período da Ditadura Militar (1964-1984) contribuiu muito para os avanços

do conservadorismo, caracterizando como momento de forte repressão do Estado

contra os sujeitos sociais. No âmbito das políticas sociais, o período foi marcado por

ações fragmentadas, descentralizadas, tecnocrática. O modelo de políticas sociais

sem participação dos sujeitos mais interessados, além de fragilizar, abriu caminhos

para uma política privatizante, com oferta de serviços terceirizados – neste período

foram crescentes os números de clínicas particulares ofertando os serviços de

saúde. Na área de Assistência Social, a Legião Brasileira de Assistência (LBA)

expandiu para todos os Estados, além de ampliar o número de entidades

filantrópicas vinculadas ao Estado – tal período fortaleceu ainda mais o mercado

internacional (OLIVEIRA; FLEURY, 1986, MESTRINER, 2011; VIANNA, 2000).

O fenômeno acometido na Ditadura Militar é interpretado por Vianna (2000, p.

151) como ―processo de ‗americanização‘ (ou privatização) da proteção, nítido no

campo da saúde, mas facilmente generalizável para toda a política pública voltada

para o social‖. Decerto, as políticas vislumbradas no momento histórico aqui

traçados, não passaram de políticas corporativistas, centralizadas, clientelistas,

voluntaristas, reguladoras – em alguns momentos repressivas - seletivas e

autoritárias, dessa forma atendem apenas a interesses do capital (FONTENELE,

2016).

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A década de 1980 no Brasil é marcada por um processo de forte ruptura; os

setores da sociedade que lutavam por direitos, acesso a democracia e justiça social,

ganhavam cada vez mais força; as políticas paternalistas, clientelistas e voluntaristas

não mais atendiam aos anseios da sociedade, sobretudo, pelo modelo de gestão

ofertado. A ditadura militar já não cumpria o papel da elite internacional, a proposta

de uma nova constituinte apresentava como uma saída para a ruptura das ―bases

patriarcais e conservadoras‖ (SOARES, 2012, p. 42).

A constituição Cidadã de 1988, como ficou conhecida na história do Brasil, no

campo das políticas públicas representou uma mudança no modelo de gestão

pública, inaugurando o terceiro período. Essa nova arquitetura institucional, como

chamou Almeida e Alencar (2011), permitiu a descentralização político-

administrativa, reconhecendo as demais instâncias da administração pública em

âmbitos Federal, Estadual e Municipal como entes federadas e reconhecendo a

participação popular como mecanismo de controle social. Essa nova relação entre

Estado e sociedade propiciou alterações no campo da seguridade social, criando o

sistema de proteção social - Previdência, Saúde e Assistência Social - como direitos

universais sob a égide do Estado (BEHRING e BOSCHETTI, 2008).

Assim, reveste-se de particular importância a descentralização e a

intersetorialidade como novo modelo de gestão das políticas públicas. Mas romper

com uma herança de política pública centralizada, hierarquizada e fragmentada não

é tarefa fácil. Essa, porém, é uma tarefa que as instâncias de controle social terão

que enfrentar, para garantir à sociedade programas, projetos e serviços que

atendam de fato aos anseios do público das políticas sociais em particular. É

importante considerar que instâncias de controle social são caracterizadas como

híbridas e plurais, por envolver representações do Estado e da Sociedade Civil, o

que Dolabela Pereira (2007, p. 342) ―considera ‗órgãos híbridos‘ uma nova forma

institucional, que envolve a partilha de espaços de deliberação entre as

representações estatais e as entidades da Sociedade Civil‖.

A descentralização como modelo de gestão tem logrado êxito, ao transferir

poderes às instâncias gestoras e de controle social das políticas públicas, a

centralidade da gestão do Estado sob a execução apenas em nível federal, não

permitia que Sociedade Civil e Estado fossem partes das políticas públicas. As

mudanças na gestão pública inscrevem uma nova possibilidade de arquitetura

institucional. Pensar o Estado a partir CF/88 é refletir essa nova relação envolvendo

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Estado e Sociedade Civil nas três esferas de governo Federal, Estaduais e

Municipais. Como bem nos assegura Junqueira (1998, p. 12), a descentralização via

CF/88, se apresenta como ―[...] processo de transferência de poder dos níveis

centrais para os periféricos‖.

Ao tratar da descentralização, é preciso ir mais além neste debate; primeiro

por ser uma abordagem oriunda dos países capitalistas centrais, precisamente na

década de 1970, com a crise do Welfare State, se apresentava como alternativa

possível de incidir na relação do Estado com a sociedade (CKAGNAZAROFF;

MOTA, 2003) e, segundo, por ser um modelo apropriado para os países periféricos

em especial o Brasil. Por todas essas razões, no Brasil, esse debate é apontado

como desafio, pelo fato de o Estado (Federal) descentralizar as responsabilidades

para os Estados e Municípios, onde historicamente ocorria certa dependência da

administração-pública Federal (ARRETCHE, 2000).

Embora a descentralização não seja nosso objeto de estudo, compreendê-la

é fundamental, pelo fato dos Estados e Municípios passarem a ser responsáveis no

provimento das políticas públicas e sociais. Neste estudo, o Município de Feira de

Santana ganha centralidade, para alcançar o objeto da pesquisa é preciso entender

o aparato da gestão pública municipal a partir de seus setores, e como a

intersetorialidade apresenta-se como estratégia de integralizar as políticas setoriais

do município, visando superar as dicotomias encontradas do modelo de gestão

pública antes CF/88.

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2. INTERSETORIALIDADE COMO INSTRUMENTO DE CONCERTAÇÃO DAS

POLITÍCAS SOCIAIS.

Com o novo reordenamento socioinstitucional do Estado brasileiro, a partir da

CF/88, alguns instrumentos surgem como proposta de ruptura de um modelo de

gestão centralizado, hierárquico, fragmentado e setorial. Para um novo modelo de

gestão de políticas públicas e sociais pautado na descentralização, participação,

intersetorialidade, universalização e controle social.

A Intersetorialidade em comparação aos demais instrumentos característicos

do novo modelo de gestão das políticas públicas e sociais ainda é pouco discutida

na literatura brasileira, porém existem debates em algumas áreas setoriais como:

Educação, Saúde, Assistência Social, Segurança Alimentar. Segundo Westphal

(2012) os estudos da Saúde Coletiva ganham maiores destaques.

Antes de aprofundar no debate da intersetorialidade é necessário

compreender o que é setor e como historicamente essa estrutura de governo se

apresenta na agenda pública do Estado, sobre este tema Pereira (2011, p. 4), define

setor como ―um arranjo técnico ou burocrático criado para facilitar a gestão das

demandas que pululam no universo complexo da política social e nas arenas de

conflito que nesse universo se estabelecem‖.

Embora Pereira (2011) afirme que os setores facilitam a gestão demandadas

pelas políticas públicas, o que os achados históricos antes da reforma do Estado

apresentam, são os setores como caixinhas fechadas que desempenham ações

fragmentadas, desarticuladas e centralizadas impedindo a articulação entre os

setores. A crítica de Junqueira (2004, p. 27) nos permite ter essa visão holística,

segundo o autor ―cada política social encaminha a seu modo uma solução, sem

considerar o cidadão na sua totalidade e nem a ação das outras políticas sociais

[...]‖.

A exemplo disso, as políticas de Assistência Social - proteção básica e/ou

especial ofertadas para os grupos e indivíduos em situação de risco e

vulnerabilidade pessoal e social que são atendidos nos Centros de Referência de

Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado da Assistência

Social (CREAS) e outros equipamentos, na maioria das vezes as ações dependem

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de uma atuação intersetorial que envolve outros setores como: Educação, Saúde,

Segurança Alimentar.

De fato, para que exista a intersetorialidade, é necessário a existência dos

setores. Seria um erro desconsiderar o papel dos setores, sobretudo, pelas

características e particularidades de cada um, porém, a definição de Pereira (2011)

nos permite diversas interpretações, se nos achados da história as ideias de setores

nas políticas públicas e sociais fragilizam e centralizam a execução da gestão das

políticas, como entender o setor como instrumento criado para facilitar a gestão das

demandas?

Com base neste ponto, Junqueira; Inojosa e Komatsu (1997, p. 22) discorrem

sobre a estrutura de gestão do governo antes da CF/88, que se resumia em ações

fragmentadas, focalizadas, desarticuladas, solitárias, planejadas e executadas

separadamente. Percebe-se aqui, uma questão fundamental quando se fala em que

as estruturas de gestão setorializadas tendiam a:

Tratar o cidadão e seus problemas de forma fragmentada, com serviços executados solitariamente, embora as ações se dirijam à mesma criança, à mesma família, ao mesmo trabalhador e ocorram no mesmo espaço territorial e meio ambiente (INOJOSA e KOMATSU, 1997, p. 22).

Daí a percepção que a intersetorialidade mostra-se no mínimo oportuna para

promover mudanças no modelo de gestão institucional das políticas sociais,

aproximando os setores e apontando saídas para as fragmentações herdadas pela

história. Os diferentes olhares dos autores expressam inúmeras definições para a

terminologia intersetorialidade.

Autores como Inojosa (1998, p. 43) referem-se à intersetorialidade como a

―introdução de práticas de planejamento e avaliação participativas e integradas, na

perspectiva situacional, de compartilhamento de informações e de permeabilização

ao controle social‖. Segundo a autora, este instrumento objetiva alcançar resultados

sinergéticos em situações distintas.

Para Feuerwerker e Costa (2000, p. 94), a intersetorialidade relaciona sujeitos

dos diversos setores com vistas ao enfrentamento das questões sociais. Para as

autoras, intersetorialidade é ―uma nova forma de trabalhar, de governar e de

construir políticas públicas que pretende possibilitar a superação da fragmentação

dos conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais significativos‖.

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Pereira (2014) considera a intersetorialidade como uma nova lógica de

gestão, uma estratégia de política capaz de articular os diversos setores que tratam

da política social. Para ela, esta apresenta-se por um conceito polissêmico de difícil

definição, porém o conceito que se aproxima da abordagem é o ―da ―superação‖ não

propriamente da ideia de setorialidade, mas da desintegração dos diferentes

―setores‖, que compõem um dado campo de conhecimento e ação, e do tradicional

insulamento de cada um deles‖ (PEREIRA, 2014, p. 25, grifos da autora).

Parece obvio que há uma polissemia na interpretação da terminologia da

intersetorialidade, fato que incide numa diversidade de definições e conceitos. O

ponto crucial para o desenvolvimento desta pesquisa é identificar as terminologias

que fundamentam a proposta de desvelamento do objeto, é um desafio entender a

intersetorialidade para além dos setores da gestão pública, pensar esse instrumento

dentro dos espaços de controle social e encontrar autores que discorram sobre a

temática não será tarefa fácil.

Pereira (2014), ainda afirma que:

[...] a intersetorialidade não é uma estratégia técnica, administrativa ou simplesmente de boa prática gerencial. Pelo contrário. É um processo eminentemente político e, portanto, vivo e conflituoso. [...] envolve interesses competitivos e jogo de poderes que, na maior parte das vezes, se fortalecem na sua individualidade, ao cultivarem castas intelectuais, corporações, linguagem hermenêutica e autorreferenciamento de seus pares (p. 37).

A reflexão de Pereira (2014) aproxima do objeto a ser estudado, sobretudo,

ao atribuir a intersetorialidade como processo político, conflituoso, competitivo e de

correlações de forças. Essas questões são eminentes dos espaços de controle

social, algo que converge no debate da intersetorialidade nos Conselhos de Políticas

Sociais.

Uma interpretação possível sobre este debate é o que Monnerat e Souza

(2014) apontam para as autoras a intersetorialidade na agenda pública

contemporânea, é um instrumento de interface entre os setores governamentais e

não governamentais. Porém, também afirmam que sua implementação não será

fácil, requer diálogo, negociação política entre os setores afetados.

Desse modo, Comerlatto et al (2007, p. 266), aponta a intersetorialidade

―como uma alternativa capaz de encontrar novos arranjos e novas articulações para

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o enfrentamento desses problemas‖. É a partir desse instrumento que informações

são trocadas, problemas são identificados e negociados e possivelmente sanados.

No entendimento de Navarro (2011, p. 26), a intersetorialidade como

instrumento de gestão das políticas pública e sociais tem por base a

―contratualização de relações entre diferentes setores, onde responsabilidades,

metas e recursos são compartilhados, compatibilizando uma relação de respeito à

autonomia de cada setor, mas também de interdependência‖.

Diante dos achados de Navarro (2011) cabe destacar alguns

questionamentos: a intersetorialidade aqui é entendida apenas na visão dos

setores? Não seria a intersetorialidade uma ferramenta de contratualização entre

setores e atores sociais? O diálogo intersetorial não perpassaria as questões de

responsabilidades, metas e recursos?

Os questionamentos aqui levantados dão-se pela necessidade de entender a

intersetorialidade nos espaços de controle social, e de encontrar referencial teórico

que trate de questões mais especifica da intersetorialidade nestes espaços de

negociação e decisão de políticas sociais, buscar autores que se aproximem do

debate e até mesmo propor conceitos que possa contribuir para futuras pesquisas.

Yazbek (2014) levantou questões importantes sobre a intersetorialidade:

Supõe vontade, decisão, que tem como ponto de partida o respeito à diversidade e às particularidades de cada setor ou participante. Envolve, portanto estruturação de elementos de gestão que materializem princípios e diretrizes, a criação de espaços comunicativos, a capacidade de negociação e também trabalhar os conflitos para que finalmente se possa chegar, com maior potência, às ações (p. 98).

Das concepções aqui abordadas, Yazbek (2014) contribui significativamente

para uma aproximação com a pesquisa, mesmo não deixando claro que sua reflexão

poderia ser num espaço de controle social, os adjetivos empregados são eminentes

destes espaços de decisão política, comunicativos, de negociação e conflitos.

Propor o diálogo intersetorial entre os Conselhos de Políticas Sociais de Feira

de Santana – CMAS e COMSEA, buscando sanar os desafios que há muito tempo

não são resolvidos, requer vontade dos atores políticos e sociais, respeito à

diversidade de entendimento dos conselheiros/as, criação de espaços comunicativos

e de negociação.

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Em tempo, diante do exposto, uma interpretação possível, sobre a

intersetorialidade, partindo da realidade local e das colaborações dos autores/as,

pensar a intersetorialidade como modelo de gestão pública nos espaços de controle

social é pensá-la como instrumento de concertação política e social. Política por

tratar de arenas de conflitos, negociações, jogos de interesses, estratégicos, de

mediação institucional e Social, por agregar diversos atores sociais governamentais

e Sociedade Civil.

2.1 Intersetorialidade na Agenda da Política de Assistência Social e nos

Conselhos.

As políticas sociais que incorporam o sistema de Proteção Social brasileiro

são Assistência Social, Saúde e Previdência Social, ambas formam a Seguridade

Social. São políticas ofertadas a uma parcela desprotegida da sociedade com vistas

a garantias de seus direitos mínimos. Muito embora, a seguridade social em sua

estrutura incorpore essas três políticas fazem necessários instrumentos que as

articule nas três esferas de governo. Frente a isso, Yazbek (2014, p. 98) apresenta a

intersetorialidade ―como um princípio orientador de ações integradas no âmbito da

Proteção Social supõe atendimentos em rede para a população‖.

Para tratar da Assistência Social enquanto política social, retomaremos o

processo histórico de ações de caráter clientelista, paternalista e assistencialista,

possivelmente vencido, com a CF/88, mas que levará tempo para romper com os

ranços encarnados na estrutura do Estado. Como prova de assistencialismo a

Legião Brasileira de Assistência (LBA), que mesmo com a CF/88 ainda permaneceu

com suas ações de caridade, do favor e da benesse. A LBA apenas foi extinta em

1995 (IAMAMOTO e CARVALHO, 1982; CARRARO, 2011; MESTRINER, 2011).

Das definições de intersetorialidade é elemento coincidente o uso da palavra

integrado. A primeira vez que ela se apresenta legalmente é no artigo 194 da CF/88,

que trata da seguridade social, na qual é entendida como ―um conjunto integrado de

ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os

direitos relativos à saúde, à previdência e à Assistência Social‖ (BRASIL, 2002).

A Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei 8.742/1993, trata da

intersetorialidade quando define a ―Política de Seguridade Social não contributiva,

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que provê os mínimos sociais, realizados através de um conjunto integrado de

ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às

necessidades sociais‖ (BRASIL, 1993, grifo nosso).

Sobre a intersetorialidade na LOAS, o Artigo 2º, parágrafo único aponta que

―para o enfrentamento da pobreza, a Assistência Social realiza de forma integrada

às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para

atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos‖ (IDEM).

Mesmo, com tantos avanços como a incorporação da Assistência Social no

campo da Seguridade Social e a criação da própria LOAS, a intersetorialidade como

instrumento e a Assistência Social como política pública estão longe de se

consumar. A partir do ano 2000, muitas transformações no tocante a Assistência

Social foram se materializando como política pública. Em 2004, é criado o Ministério

do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que visava integrar as

diversas políticas, como: Assistência Social e Segurança Alimentar e Nutricional, que

passaram a constituir, junto com a articulação institucional do MDS (figura 02).

FONTE: DE PAIVA e LOBATO (2011). ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

A proposta de criar diversas secretarias dentro do ministério possibilitou ao

mesmo tempo a descentralização e especificação das políticas como também

permitiu a intersetorialidade no MDS.

Figura 4: Estrutura de Secretarias do MDS - 2004.

MDS

Renda e Cidadania

Segurança Alimentar

e Nutricional

Articulação Institucional e Parcerias

Avaliação e Gestão da Informação

Assistência Social

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No mesmo ano de criação do MDS, foi aprovada a Política Nacional de

Assistência Social (PNAS) representando um grande avanço no que versa a

descentralização e intersetorialidade. A PNAS significa um (re) desenho na gestão

da política pública de Assistência Social, articulando-se em ―três eixos balizadores

[...]: a gestão, o financiamento e o controle social‖ (TAVARES, 2009, p. 229). Ainda

segundo a autora a PNAS tem um grande desafio:

Superar o modelo tradicional de operar o financiamento marcado por práticas centralizadas, segmentadas, sobrepostas, pontuais, muitas vezes operadas a partir de bases patrimonialistas e clientelistas e pautadas numa série histórica, perpetuada, engessada e alicerçada num modelo de repasse de recursos operado sob a lógica per capita, que na maioria das vezes não corresponde as necessidades especificas [...] (TAVARES, 2009, p. 230).

Mesmo com a CF/88 e a LOAS/1993 a política de Assistência Social ainda

não tinha superado os ranços herdados pelo histórico patrimonialista e clientelista, a

PNAS/2004 apresenta-se como desafios de assegurar a integração com outros

setores e políticas, a universalização dos direitos sociais – considerando as

desigualdades socioterritoriais e a matricialidade familiar. Bem como as seguranças

de sobrevivência, acolhida e convívio.

A IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em dezembro de

2003, foi responsável pela disseminação do uso da intersetorialidade na política de

Assistência Social. Segundo Monnerat e Souza (2014, p. 44), a IV Conferência

―define uma nova agenda com diretrizes objetivas em relação à organização desta

arena setorial, momento a partir do qual a intersetorialidade passa a ser a tônica dos

debates no campo da Assistência Social [...]‖.

Acompanhando este raciocínio, um dos programas que depende

univocamente da intersetorialidade é o Programa Bolsa Família (PBF), como

afirmam Monnerat e Souza (2014, p. 45): ―até hoje nenhum outro programa social foi

tão dependente da articulação intersetorial e, portanto, das capacidades

institucionais e de diálogo político entre os entes da federação e os diferentes

setores responsáveis pelo desenvolvimento das políticas sociais e públicas‖.

Como podemos ver, a intersetorialidade na Política de Assistência Social

apresenta-se desde sua conformação nos espaços de gestão, a operacionalização

da política depende eminentemente da intersetorialidade. Porém, ao se tratar de

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controle social ainda é um desafio, não se encontra com facilidade estudos nesta

temática, o que dificulta ainda mais o aprofundamento do objeto.

2.2 Segurança Alimentar e Nutricional e as ações intersetoriais.

Considerando a intersetorialidade como instrumento de concertação de

políticas públicas, de integração, diálogo, articulação, relação entre os setores e

atores sociais e compreendendo que as ações de segurança alimentar e nutricional

perpassam não só pela questão do direito à alimentação, mas por outros direitos,

como: direito à saúde, à educação, à Assistência Social, à terra, à água, direito ao

emprego e renda, destacamos que intersetorialidade e SAN estão intrinsecamente

ligados.

Diferente da Política de Assistência Social, definida como política não

contributiva e para quem dela necessitar, a SAN atinge a todos os setores da

sociedade – seja rico ou pobre – todos/as tem direito ao ―acesso regular e

permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente [...]‖ (BRASIL, 2006,

p. 01).

No que se refere à intersetorialidade, podemos visualizar os espaços de

controle social como Conselhos, Fóruns, Conferências. São estes espaços que

congregam mais atores sociais - setores dos poderes públicos e da Sociedade Civil -

para debater, trocar informações, negociar, pactuar e deliberar propostas, sejam de

intervenção ou de tomada de decisão para implementação ou ampliação das

políticas públicas.

A respeito dos conselhos, na área da segurança alimentar podemos visualizar

a interface com a intersetorialidade na própria criação do primeiro conselho em

1993, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) em sua

construção partiu de uma ação coletiva, envolvendo diversos setores da sociedade.

A contribuição do movimento Ação da Cidadania Contra Fome, a Miséria e Pela

Vida, com apresentação da carta que denunciava os problemas da fome no Brasil,

denominada de ―Carta de Ação da Cidadania‖; e do Instituto de Pesquisas

Econômicas Aplicadas (IPEA) com a pesquisa intitulada ―Mapa da Fome: Subsídios

à Formulação de uma Política de Segurança Alimentar‖ foram pontos-chave de uma

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ação intersetorial e participativa (MALUF; MENEZES; VALENTE, 1996; ROCHA,

2012).

O século XXI expressa com maior veemência essa interface da temática de

SAN com a intersetorialidade. A plataforma eleitoral do candidato a Presidente da

República Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, tinha como prioridade o combate e

erradicação da fome no País, com sua proposta de criar o Programa Fome Zero.

Com a eleição do Presidente Lula, em 2003, o Programa Fome Zero foi implantado e

junto com ele três instâncias de formulação e implementação da política de SAN ―1)

O Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome - MESA; 2)

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar – CONSEA; e 3) Uma Assessoria

Especial de Mobilização do Programa Fome Zero‖ (DE PAIVA e LOBATO, 2011, p.

168).

Em 2004, esta interface ganha mais força, com a junção do MESA, Ministério

da Assistência Social e à Secretaria Executiva do Programa Bolsa Família, este

novo redesenho institucional denominou-se de Ministério do Desenvolvimento Social

e Combate à Fome (MDS). A criação do MDS permitiu a integração dos setores

antes separados, facilitando a gestão administrativa ao conjunto de ações do

governo.

Outrossim, as conferências têm uma maior capilaridade de participação dos

atores sociais e também maior participação dos diversos setores, a II Conferência

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN) de 2004, foi um destaque,

suas propostas serviram de base para construção da Política Nacional de Segurança

Alimentar (PNSAN) e Nutricional, da criação da LOSAN (CONSEA, 2004 a).

No decorrer dos anos, outras estratégias de interface com a intersetorialidade

foram surgindo, a própria reimplantação do CONSEA em 2003, adotando um novo

modelo de controle social, com maior participação dos atores sociais ligados a

Sociedade Civil;

A lei de SAN, nº 11.346/2006, frutos das deliberações da II Conferência Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional de 2004;

A criação da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional –

CAISAN em 2007, espaço que articula os 19 ministérios que fazem parte do

CONSEA, com objetivo de integrar os setores da administração pública envolvidos

na temática de SAN;

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A criação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) em

2010, responsável pelas diretrizes que orientará o Plano Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional (PLANSAN);

A adesão ao SISAN aos Estados e Municípios requer um amplo diálogo dos setores

e atores diversos.

Muito embora o termo intersetorialidade não seja tão publicizado na agenda

das políticas públicas, com o novo reordenamento do estado democrático de direito

esse termo apresenta-se nas ações, nos programas, projetos e serviços executados

e nos espaços de controle social.

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3. O PAPEL DOS CONSELHOS DE POLÍTICAS SOCIAIS.

A nomenclatura ―conselhos‖ vem ocupando espaços consideráveis no Brasil e

no mundo, embora tenha ganhado destaque no pós-Constituinte com os Conselhos

Gestores de Políticas Públicas (setoriais) e Conselhos de Direitos, segundo Antunes

e Nogueira (1981) registros históricos datam experiências do século XII e XV com os

conselhos de Estado. No tocante, à Sociedade Civil sua experiência é oriunda da

ação dos operários (trabalhadores) no interior das fábricas, organizados por

comissões5 de Fábricas (internas).

As Comissões de Fábricas nascem em um processo decisivo na luta pela

democratização, tanto dos sindicatos como no fortalecimento das massas urbanas e

rurais. Além de ―abrir caminho para uma sociedade nova, socialista, onde a

exploração do homem pelo homem não mais se realize‖ (ANTUNES e NOGUEIRA,

1981, p. 114). No Brasil, muitas experiências foram trazidas de fora, no caso dos

conselhos, que já não eram mais novidades na França, Rússia, Espanha, Alemanha,

Itália, além da experiência norte-americana, tais experiências foram apropriadas e

reaplicadas no país ao longo dos tempos (GHON, 2011).

Um ponto curioso destas experiências de conselhos supracitadas é que

temos uma vasta literatura abordando os conselhos na dimensão urbana e operária.

Sob essa ótica, Ghon (2011, p. 70) relata como marco histórico a Comuna de Paris,

um legado de ―autogestão da coisa pública pelos próprios demandatários, a

possibilidade da participação direta da população na gestão da cidade e, [...] gestão

estatal, articulada com a gestão da produção, em um projeto político emancipatório‖.

Numa visão mais ampla, os conselhos têm sido criados para defender

interesses de classes, quer seja para aconselhá-los, assessorá-los e/ou informá-los.

As primeiras experiências de Conselhos no Brasil não foram com um viés de

participação social, Mestriner (2011) relata sobre a área da Assistência Social que o

Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), criado no governo de Getúlio Vargas

em 1938, era uma espécie de Conselho Consultivo. Segundo a autora o CNSS foi a

5Para Antunes e Nogueira (1981, p. 84), as Comissões de Fabricas representam, ―cada vez mais,

formas de organização para a luta [...]. Além de elementos básicos na confrontação permanente com os patrões, o seu crescimento representa o fortalecimento dos instrumentos de pressão das bases sobre as direções sindicais, sejam estas representativas da estrutura sindical vigente, seja estas de oposição‖.

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―primeira forma de presença da Assistência Social na burocracia do Estado

republicano brasileiro, ainda que na função subsidiaria de subvenção às

organizações sociais que prestam amparo social‖ (MESTRINER, 2011, p.66-67).

Mais tarde, nos anos de 1970 e 1980 outras modalidades de conselhos foram

colocados em evidência, como por exemplo, os conselhos comunitários criados por

iniciativa do Estado para atender demandas (por meio de negociação) dos

movimentos sociais e populares, das comunidades mais periféricas. Na composição

destes conselhos além de incluir os movimentos populares, participavam também

associações de classe, de bairros e entidades religiosas (TEIXEIRA, 1996).

Neste mesmo período surgem por iniciativa dos movimentos sociais, com o

propósito de pressionar o Estado, os conselhos populares - de caráter autônomo e

reivindicatório - tratavam-se de conselhos não institucionais, de enfrentamento aos

poderes do Estado e de partidos políticos, tais conselhos tiveram papel fundamental

na assembleia constituinte que culminou na Constituição Federal de 1988. Segundo

Teixeira (1996, p. 8): ―As experiências dos conselhos foram referência para a

Constituinte nos arranjos institucionais visando a participação da sociedade no

controle, fiscalização e proposição de atos e decisões governamentais‖.

Buvinich (2012, p. 7) retrata que a experiência da Constituição Federal de

1988 foi um marco para sociedade brasileira, pois instituiu uma nova republica

pondo ―el fin de un régimen autoritario de más de veinte años, en el cual la

participación social era prácticamente inexistente, hacia un régimen democrático que

consagró a nivel constitucional varios instrumentos de participación social‖.

No tocante aos conselhos, Teixeira (1996) aprofunda o debate sobre suas

funções, segundo o autor, com o pós – constituinte, diante das inúmeras conquistas

via participação da sociedade na gestão pública, ficava o grande dilema na

funcionalidade dos conselhos:

[...] ser ou não o conselho um órgão embrionário de um novo poder, de uma forma de democracia direta, com autonomia em relação ao Estado; a posição ao final prevalecente o concebia como uma das formas de participação visando mudanças na gestão pública e na elaboração de políticas, tendo em vista sua democratização e transparência, portanto, como canal de relação entre Estado e sociedade, espaço de administração de conflitos (TEIXEIRA, 1996, p.8)

Ainda sobre esse debate Ciconello (2008) relata a experiência do Conselho

de Saúde que adotou os princípios da paridade, autonomia, deliberação e

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fiscalização, criado nas três esferas de governo, que posteriormente foi adotado para

os demais conselhos, sobretudo os de Assistência Social e Criança e adolescente.

Segundo o autor a partir dessas experiências formou-se um modelo ideal do que

seriam os conselhos:

• Paritário (representantes governamentais e representantes da Sociedade Civil em igual número). • Deliberativo (com atribuições de deliberar sobre a formulação, as prioridades e o orçamento da política). • Com gestão compartilhada da política, permitindo o controle social por parte das organizações e movimentos da Sociedade Civil (monitoramento e avaliação). • Implantado nas três esferas da Federação (União, estados e municípios), formando uma estrutura de gestão federativa das políticas públicas. • Com representantes da Sociedade Civil eleitos autonomamente em fórum próprio, não sendo indicados por decisão unilateral dos governos (CICONELLO, 2008, p. 4).

Fato é, que nem todos os conselhos adotaram esse modelo que visivelmente

seriam o ideal, alguns conselhos são meramente consultivos, efêmeros, cartoriais,

outros tem na sua composição a maioria de representação da Sociedade Civil, como

no caso dos conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional. Embora não seja o

tema central da pesquisa, as atuações dos conselheiros terão rebatimento na ação

da intersetorialidade, com a regulamentação e descentralização dos conselhos o

número de conselhos municipais será elevado, a estimativa é que os 5.570

municípios brasileiros criem seus conselhos, sobretudo nas áreas prioritárias (saúde,

Assistência Social, educação, criança e adolescentes).

A preocupação aqui colocada sobre a atuação dos conselheiros,

principalmente os que representam a Sociedade Civil terá rebatimento na ação da

intersetorialidade, se dá pelo fato de os conselhos serem espaços híbridos, de

composição entre poder público e Sociedade Civil, de correlação de forças, o que

inquieta saber é como será a atuação dos conselheiros representantes da

Sociedade Civil? Porém, esta inquietação seria objeto para outra pesquisa.

As reflexões de Battini (1998) contribuem para essas inquietações; a autora

nos permite refletir como os conselheiros estão representando a Sociedade Civil

nestes espaços, bem como é dissolvido no âmbito dos conselhos essa relação de

força entre Estado e Sociedade e a compreensão política desses espaços de

construção de políticas públicas e garantia de direitos.

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[...] nessa relação o comprometimento dos conselheiros que operam no âmbito das políticas públicas e se inscrevem na mediação entre esfera dos interesses dominantes e a esfera dos interesses dos grupos subalternizados. Criar um vínculo efetivo com um projeto de sociedade dirigido para a defesa dos interesses das classes populares ou daqueles segmentos [...] (BATTINI 1998, p. 35-36).

Na mesma proporção Iamamoto (2002) afirma que participar desses espaços

de controle social, requer clareza das disputas de poder e jogos de interesse, a

autora enfatiza, nestes espaços é fundamental trabalhar o coletivo, intervir e

negociar em processos decisórios, também alerta sobre o cuidado para não

reproduzir as falhas do passado clientelista, coronelismo e assistencialista.

Segundo Alves (2012) o Conselho por ser um espaço público por natureza,

imprime interesse diversos muitas vezes antagônicos. Esses espaços se constituem

como uma arena de conflitos, porém, seu papel de instância propositora,

fiscalizadora, autônoma, tem que ser preservado.

No que se refere ao controle social Oliveira (1999) chama atenção dos

Conselheiros representantes da Sociedade Civil e dos cidadãos que ―são, a

princípio, detentores do poder de controlar. Isso supõe apropriação tanto pelo

conhecimento quanto pela participação das decisões e ações públicas‖. (OLIVEIRA,

1999, p.45). A autora ressalta da importância dos conselheiros na tomada de

decisão e na formulação das Políticas Sociais, portanto, ao ser eleito, os

Conselheiros representantes da Sociedade Civil "precisam ter a capacidade de

influir, o que significa ter informações, ter opiniões, condições e instrumentos para se

constituírem em sujeitos da ação e não meros complementos dela‖ (IDEM, p. 47).

A colocação de Oliveira (1999) e dos demais autores/as supracitados

contribuem de forma significante para afirmamos que a atuação dos conselheiros

tem rebatimento direto na intersetorialidade, porém, requer incidência política,

formação sobre gestão pública e suas ferramentas de gestão.

Por fim, a justificativa em defender a nomenclatura de ―Conselhos de Políticas

Sociais‖, se dá pelo fato de, por em evidencia as Políticas Sociais como parte das

Políticas Públicas, de entender o papel fundamental das Políticas Sociais e também

de não generalizar. É preciso internalizar que Conselhos de Políticas Sociais tem

funções precípua na proteção social e na promoção Social. Também não será tarefa

fácil esta mudança, porém precisamos quebrar paradigmas institucionais.

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4. ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLITICA SOCIAL.

Para melhor entender o processo histórico constituição da Assistência Social

como política social foi elaborada uma linha do tempo destacando os marcos mais

importantes desta política.

QUADRO 1: LINHA DO TEMPO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL (1930-2017).

Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS).

Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS).

Ministério do Bem – Estar Social (MBES).

I Conferência Nacional de Assistência Social (CNAS).

1ª Política de Assistência Social.

1938 1942

1974 1988

1989 1993

1995 1997

1998 2001

Legião Brasileira de Assistência (LBA).

Constituição Federal (CF).

Lei Orgânica de Assistência

Social (LOAS).

II CNAS. III CNAS.

Ministério de Assistência Social (MAS). IV CNAS.

V CNAS. VI CNAS. VIII CNAS. X CNAS.

2003 2004

2005 2006

2007 2009

2011 2013

2015 2017

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate

a fome (MDS).

Norma Operacional

Básica de recursos

Humanos do SUAS.

VII CNAS. IX CNAS. XI CNAS.

ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda, 2018

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A Assistência Social no Brasil tem a década de 30 do século XX como marco

inicial, com algumas iniciativas do Estado, aliado a Igreja Católica e a burguesia

nacional, não enquanto política, mas como ações minimalistas de redução dos

impactos causados pelo desenvolvimento do sistema capitalista no país, que

agravava a ―questão social6‖. A atuação da Igreja Católica7 marca o cenário que

antecede o século XX, sua atuação baseada na caridade, benemerência, auxilio

mútuo, voluntarismo contribuíram para amenizar as situações de pauperismo da

sociedade brasileira. Registros datam entidades com mais de quatrocentos anos

como a Irmandade da Misericórdia advinda de Lisboa, as Santas Casas de

Misericórdias, Conventos, Ordens e tantas outras iniciativas para ofertar abrigos,

serviços hospitalares e alimentícios aos mais necessitados (MESTRINER, 2011).

O primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945) passa a reconhecer as

entidades de caridade, benemerência, auxilio mútuo perfilhando-a como entidades

Filantrópicas (associações civis sem fins lucrativos) ofertando incentivos (concessão

de benefícios). O apoio às entidades Filantrópicas estava preconizado em lei

Federal nº 091/1935, através do título de ‗utilidade pública‘. Na própria Constituição

Federal de 1934 consta o amparo aos desvalidos, o mesmo Governo em 1938 cria o

Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), órgão vinculado ao Ministério da

Educação e Saúde, destinado a regular as ações de Assistência Social no Brasil

(SPOSATI, 1991; MESTRINER, 2011; COUTO, 2006).

Em 1938 foi instituído pelo ―Decreto-lei nº 525, de 1º/7/1938‖ o Conselho

Nacional de Serviço Social (CNSS) ―foi a primeira grande regulamentação da

Assistência Social no país‖ (MESTRINER, 2011, p. 56). Porém, tratavam-se de um

conselho celetista, seus representantes eram escolhidos pelo gestor, essas

representações normalmente tratavam-se de ―figuras ilustres da sociedade cultural e

filantrópica‖, raramente existia mudanças na composição, a maioria tinha cargos

vitalícios conforme explana a autora.

6 Para Cerqueira Filho (1982, p. 21) a questão social é entendida como “[...] conjunto de problemas políticos,

sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no mundo no curso da constituição da sociedade

Capitalista”. 7 A caridade, benemerência, a filantropia não foi uma ação irrestrita da Igreja Católica, outras religiões ao longo

do tempo fundaram suas entidades filantrópicas. Porém, a Igreja Católica tem destaque nesta atuação, devido o

número de instituições implantadas e até o tempo de atuação no Brasil.

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Parte da composição do Conselho se manteve por muitos anos— Ataupho de Nápoles Paiva (por dezessete anos), Stela de Faro (por dezenove anos), Eugenia Hamann e Raphael Levy Miranda (por 24 anos) --, tendo alteração nos cargos de Juiz de menor e diretor do Departamento Nacional da Saúde e Departamento Nacional da Criança, que passam, a partir do Decreto nº 5697/43, a ser membros natos (MESTRINER, 2011, p. 56).

A maior experiência da Assistência no Brasil antes da CF/88, segundo

Iamamoto e Carvalho (1983), é empreendida após a II Guerra Mundial, com a

criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA) em 1942, criada pelo decreto-lei

4.830, como entidade da Sociedade Civil sem fins lucrativos, para prestar

atendimento às famílias dos combatentes atingidas na Guerra. A LBA conhecida

como primeiro-damismo desenvolvia ações assistencialistas e filantrópicas, foi

extinta definitivamente em 1993 juntamente com o Instituto Nacional de Previdência

Social (INPS) e o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

(INAMPS) (MESTRINER, 2011; COUTO, 2006).

Em 1974, através da Lei n° 6.036, de 1° de maio de 1974, foi criado o

Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), que foi desmembrado do

Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). No ano de 1990 pela da Lei n°

8.029, de 12 de abril de 1990, o MPAS foi extinto e restabelecendo novamente o

MTPS. (BRASIL, 1974; ARAGÃO, 2010). As mudanças deste cenário começam a

acontecer com a Promulgação da CF/88, a Assistência Social é reconhecida como

política de Seguridade Social. Conforme Silva (2012, p. 28), a Seguridade Social

―veio criar um sistema de proteção social amplo, com perspectivas de caráter

universal e com a ampliação da cidadania social‖.

Contraditório ou não a CF/88 por si só não valida o que acima chamamos de

direitos do cidadão, era preciso uma Lei que se regulamenta e normatiza-se a

Assistência Social, então após longos debates, embates, ajustes e reajustes em

1993 foi aprovado a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), como afirma Garcia

(2012, p. 8).

Não foi fácil chegar ao texto final dessa lei. Muitas concessões precisaram ser feitas para equacionar as estruturas históricas, consolidadas pela prática da caridade, com uma nova estratégia que propunha a construção de uma rede de proteção social sob a responsabilidade do Estado, de acordo com a Constituição de 1988.

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A LOAS rompe com o modelo de política social contratual/contributiva,

passando para quem dela necessitar promovendo os mínimos sociais, pactuando

um trabalho desenvolvido entre iniciativa pública e sociedade. Sua definição altera o

modelo assistencialista e filantrópico do nosso país, possibilitando o enfrentamento

das desigualdades sociais e protagonizando grupos e indivíduos.

Segundo Alves (2012, p. 84), a LOAS passou ―a se constituir, muito mais que

uma conquista, em um desafio colocado, sobretudo, para os setores da sociedade

antenados à busca da democratização da administração pública brasileira‖. A Lei é

uma resposta do Estado às pressões dos movimentos sociais que se mantiveram

presentes e incansáveis nos enfrentamentos das expressões da questão social.

Um ano após a promulgação da LOAS o CNAS surge como peça

indissociável da Política de Assistência Social concretizando o proposto da CF/88 no

tocante a criação de mecanismos de participação cidadã e controle social. O CNAS

tem a missão de romper com um círculo vicioso de décadas. O novo conselho tem

por premissa fiscalizar, deliberar, além de ser paritário e autônomo (MESTRINER,

2012). Segundo Mestriner o novo conselho viverá uma grande contradição:

Com natureza deliberativa, representa uma grande inovação democrática nos níveis de decisão da Política de Assistência Social. Como conselho paritário, terá ampla possibilidade de penetração da Sociedade Civil, na esfera Estatal, instalando o controle social e ampliando a perspectiva de sua publicização. É como órgão implementador da política nacional de Assistência Social, apresentará um potencial transformador, constituindo-se em um dos mecanismos com possibilidade de ruptura das deformações históricas acumuladas e construindo uma política pública de Assistência Social nunca experiênciada no país (MESTRINER, 2012, p. 52-53).

Com a criação do CNAS, uma das inovações foi às questões deliberativas e

participativas, a abertura para a participação da Sociedade Civil nos espaços de

controle social garantida via CF/88, permitiu aos atores sociais que desenvolvem

ações de Assistência Social e o seu público alvo pudessem opinar e contribuir na

formulação das políticas públicas. Além da proposta dos conselhos serem paritários

e descentralizados para os Estados e municípios ampliando ainda mais a

penetração da Sociedade Civil e rompendo com as deformações históricas de

centralismo.

Segundo a LOAS (BRASIL, 1993) os conselhos são instâncias deliberativas

do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), órgão de caráter permanente e

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composição paritária entre governo e Sociedade Civil. CNAS é um órgão superior de

deliberação colegiada, subordinado à Administração Pública Federal, seus membros

são nomeados pelo Presidente da República, exercendo um mandato de 2 (dois)

anos, permitida uma única recondução por igual período. Nas instâncias Estaduais e

Municipais os membros serão nomeados pelos gestores de cada esfera.

Um dos grandes instrumentos que vem colaborando na concretização desses

direitos foi as conferências8. A I Conferência Nacional de Assistência Social ocorreu

em Brasília, no ano de 1995, com o tema ―A Assistência Social como um direito do

cidadão e dever do Estado‖; a II Conferência Nacional de Assistência Social,

também em Brasília 1997, com tema: ―O Sistema Descentralizado e Participativo da

Assistência Social - Construindo a Inclusão - Universalizando Direitos‖, é aprovação

da primeira Política Nacional de Assistência Social (CNAS,1997).

No ano de 1998, o CNAS aprova a Norma Operacional Básica- NOB 1 e a

segunda Política Nacional de Assistência Social. Já em 1999 é Publicada a Norma

Operacional Básica, conhecida como NOB 2. Outra conquista foi a instalação das

Comissões Intergestores Tripartite (nacional) e Bipartites (estaduais). Foi iniciada a

―implantação dos núcleos de apoio à família, que, em 2004, FORAM definidos como

Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), (GARCIA, 2012, p. 13).

Em 2001, ocorreu a III Conferência Nacional de Assistência Social, com o

tema: "Política de Assistência Social: Uma trajetória de Avanços e Desafios" e no

mesmo ano cria-se o Cadastro Único dos Programas Sociais (CadÚnico). Na IV

Conferência de Assistência Social, realizada em 2003 Brasília, a principal

deliberação foi a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS),

que materializa a política e organiza em níveis de complexidades, universalizando os

serviços, programas, projetos, benefícios e ações socioassistenciais (CNAS, 2003).

O debate da Assistência Social parece ser novo; o reconhecimento da PNAS

como política pública aparenta ser um ―filho‖, no entanto sua aprovação redesenha e

reorganiza os direitos dos cidadãos, põe o Estado como ponto focal na

responsabilidade de implantar e executar ações socioassistenciais, bem como

pactua com os entes federados a autonomia das ações. Retomando o debate do

8 As conferências foram criadas por “leis complementares à constituição (ECA, LOAS, SUS), têm como objetivo

reunir governo e sociedade civil para debater um tema de interesse comum e decidir as prioridades daquela

política pública para os próximos anos” (BRASIL, 2007, p 22).

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SUAS, conforme a resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, a proposta da IV

Conferência Nacional de Assistência Social foi a:

Implantação do SUAS, modelo de gestão para todo território nacional, que integra os três entes federativos e objetiva consolidar um sistema descentralizado e participativo, instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei Federal nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993 (NOB/SUAS, 2005, p. 06).

É preciso ter clareza que na IV Conferência não foi criado o SUAS nem

mesmo surgiu esse debate. Estudos de Sposati (2006) afirmam que em 1990 já

havia um documento formulado por um grupo de trabalhadores da LBA discutindo a

criação do SUAS, também na I Conferência Nacional de Assistência Social, os

participantes manifestaram por meio de debates e deliberações a proposta de

institucionalizar o SUAS. Todavia, o amadurecimento9 desta proposta durou pouco

mais de uma década, com a criação da PNAS/2004 e o seu desenho foi ponto chave

para a implantação. Em 2005, por meio da V Conferência Nacional e da NOB/SUAS,

foi criado o sistema para disciplinar a operacionalizar a gestão pública da Política de

Assistência Social no território brasileiro, exercida de modo sistêmico pelos entes

federativos, em consonância com a CF/88, a LOAS e as demais legislações.

A proposta de institucionalizar a política a partir de um sistema

descentralizado, participativo envolvendo os poderes públicos e Sociedade Civil, é

nada mais que reafirmar os princípios da universalização dos direitos sociais, do

acesso aos programas, projetos, benefícios e serviços preconizados na LOAS.

Um dos grandes avanços do SUAS é sua capacidade de organização e

articulação em rede, que permite certa eficácia na execução dos serviços,

programas e projetos, intersetorializando com outras políticas. Além do mais, tem

como princípios organizativos, a universalidade, gratuidade, integralidade da

proteção social, intersetorialidade e equidade (BRASIL, 2012).

O SUAS, sem dúvidas, ultrapassa os moldes históricos porque sua

conformação é fundada na extensão e universalização da proteção social dos

brasileiros, via política de Assistência Social, além de utilizar instrumentos que

9 Ao tratar de amadurecimento, é importante pontuar as questões políticas que o Brasil passou desde

a consolidação da Assistência Social como política pública, no governo de FHC (1995-2002) marcado pela ideia de estabilidade econômica e reformas constitucionais, a Assistência Social ficou a segundo plano tornando uma política pontual e fragmentada (THOMAZ, 2007).

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produzem e sistematizam informações, indicadores territoriais das situações de

vulnerabilidade e riscos sociais é graças a esses mecanismos de monitoramento e

vigilância socioassistencial, que são identificadas a realidade, os avanços e

retrocessos da Assistência Social, a sua estrutura em níveis de proteções permite ter

essa visão holística dos programas, projetos, serviços e benefícios a serem

ofertados.

O SUAS se apresenta em dois níveis de Proteção: Proteção Social Básica –

PSB e Proteção Social Especial – PSE (Proteções de Média e Alta Complexidade),

sendo que a PSB tem por objetivo a prevenção de situações de risco e

vulnerabilidades sociais fortalecendo os vínculos comunitários e familiares, e a PSE

dividida em dois níveis de complexidade (média e alta) seus objetivos são voltados

ao atendimento assistencial dos indivíduos, grupos e famílias que estão em

situações de risco pessoal e social (Brasil, 2004). A figura 3 apresenta por meio de

um organograma como está estruturado o SUAS (NOB/SUAS, 2005; 2012).

Para alcançar a tão sonhada proteção social, faz-se necessário um conjunto

de atores sociais e políticos que englobam desde o local ao global articulando as

políticas setoriais e intersetoriais, seja por meio de negociação, pactuação,

financiamento e trabalho em rede para chegar a quem dela necessitar, o que

PROTEÇÃO SOCIAL

BÁSICA ESPECIAL

MÉDIA

COMPLEXIDADE

ALTA

COMPLEXIDADE

SISTEMA ÚNICO DE

ASSISTÊNCIA

SOCIAL (SUAS)

Figura 5: Estrutura do SUAS, 2005 - 2012

FONTE: NOB/SUAS (2005; 20012).

ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda.

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podemos chamar de público alvo (destinatários e/ou usuários). Para entender

melhor quem são estes atores sociais e políticos o quadro 2 apresenta de forma

sucinta a estrutura de gestão e controle social com base na NOB/SUAS 2012.

O quadro 2 nos mostra em linha gerais quem são os atores sociais e políticos

definidores do SUAS, é notório o papel de cada um no provimento da política

pública, ao mesmo tempo que podemos visualizar este sistema em caixinhas ou em

partes e que esse conjunto de partes formam um todo. É oportuno resgatar que o

SUAS em sua natureza permite uma gestão diferenciada descentralização,

administrativa e participativa, além da integração das ações dos entes públicos

(União, Estados, Municípios e DF) e das entidades privadas de Assistência Social

(NOB/SUAS, 2012).

Para melhor entendimento, o quadro 2 detalha quem são os atores sociais e

políticos que garantem a operacionalização do sistema. É valido lembrar que através

da Lei Federal nº 12.435 o SUAS de fato é regulamentado sendo obrigatório para

todo o território brasileiro com responsabilidades da gestão compartilhada pelos

entes federados.

Quadro 2: Atores Sociais e Políticos do SUAS

Instâncias de negociação e pactuação

Comissão Intergestores Bipartite (CIB); e Comissão Intergestores Tripartite (CIT).

Instâncias de Financiamento

Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), Fundo Estadual de Assistência

Social (FEAS) e Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS).

Órgão gestores

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Secretarias Estaduais e Secretarias Municipais.

Instâncias de deliberação e controle

social

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), Conselho Estadual de

Assistência Social (CEAS) e Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS).

Rede de entidades e organizações de Assistência Social

São as entidades de Atendimento, Assessoramento e Defesa e Garantia de

Direitos.

Destinatários/ Usuários Público alvo da Política de Assistência FONTE: Confederação Nacional dos Municípios - CNM (2017).

ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda.

A partir da análise do quadro 2, podemos compreender o papel que cada

representação desempenha para o provimento e operacionalização do SUAS. Enfim,

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o que se pretende é contribuir, de qualquer modo, para que tenhamos clareza que

ao pensar o SUAS como um sistema entendamos que essa grande locomotiva só

funciona se o Estado com seus entes federados, Rede de entidades de Assistenciais

Social, Controle Social e Usuários, dialoguem e articule de forma intersetorial.

A construção da Assistência Social como política pública, ora aqui

apresentada retrata um avanço muito grande, sobretudo no que se refere ao direito

do cidadão, com foco na territorialidade e na matricialidade familiar. Mas há um fator

que se sobrepõe, nos achados aqui apresentados, o debate do rural não foi

mencionado, algo que a meu ver, é um desafio muito grande para essa política. Sob

essa ótica, ganha particular relevância, indagar-se, o porquê não se discute as

questões rurais10! Será que a política de assistência é apenas urbana? Será que nos

territórios rurais não existe vulnerabilidade social? Não temos entidades de

Assistência Social nas áreas rurais?

Para não ser pessimista, devido ao levantamento teórico apresentado, a

questão rural é colocada no debate da Assistência Social na V Conferência Nacional

de Assistência Social, em 2005, quando se discutiu ―Estratégias e Metas para

implementação da Política de Assistência Social no Brasil‖ (CNAS, 2005). Como

tema da conferência, umas das principais discussões e deliberações foi o decálogo

socioassistencial ou os dez direitos socioassistencial, o segundo direito

socioassistencial tratou de forma abrangente sem fazer uma análise sucinta da

questão rural:

2. Direito de equidade rural-urbana na proteção social não contributiva: Direito, do cidadão e cidadã, de acesso às proteções básica e especial da política de Assistência Social, operadas de modo articulado para garantir completude de atenção, nos meios rural e urbano (BRASIL, 2005).

Embora o debate do rural ganhasse destaque incorporando num dos dez

direitos socioassistenciais, ao que parecia uma inovação na discussão entre rural e

urbano, ao longo do tempo esse debate não surtiu efeito. Ao que pese a proposta da

10

Algumas questões levantadas surgem tanto da vivência nos espaços de conselhos de Assistência Social,

quanto no referencial teórico levantado no período de graduação, de palestras, formações nas comunidades rurais

e no mestrado, por isso não partem de suposições. Outras constatações partem da proposta do objeto estudado,

debater sobre a intersetorialidade em dois conselhos que discutem prioritariamente assuntos que versam sobre

grupos e indivíduos em situação de risco e vulnerabilidades pessoal e social.

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PNAS (2004), a política de Assistência Social tem como dever garantir a proteção

social a todos que necessitam e, para isso, faz necessário identificar quem são,

onde estão e quantos são os demandatários dos serviços, benefícios, programas e

projetos, sem esquecer as dimensões territoriais local/global e urbano/rural.

Na segunda metade da década de 2000, a política de Assistência Social sofre

diversas alterações. Em 2006, são aprovadas a Norma Operacional de Recursos

Humanos do Sistema Único de Assistência Social, NOB-RH, e os critérios e as

metas nacionais para o Pacto de Aprimoramento da Gestão Estadual. Em 2007,

acontece a VI Conferência Nacional de Assistência Social, com o tema geral:

―Compromissos e Responsabilidades para assegurar Proteção Social pelo Sistema

Único da Assistência Social - SUAS‖, os Estados assinam com o governo federal os

Pactos de Aprimoramento da Gestão Estadual da Assistência Social. Também na

mesma década é realizada a VII Conferência Nacional de Assistência Social,

realizada em 2009, com o tema: ―Participação e Controle Social no SUAS‖, é

publicada a Resolução nº- 109 (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais)

após amplo debate e pactuação na CIT e aprovação no CNAS. (BRASIL, 2006;

CNAS, 2009).

A VIII Conferência Nacional de Assistência Social realizada em Brasília 2011,

com o tema geral: ―Avançando na consolidação do Sistema Único da Assistência

Social – SUAS com a valorização dos trabalhadores e a qualificação da gestão, dos

serviços, programas, projetos e benefícios‖, também foi lançado o Programa Brasil

Sem Miséria (CNAS, 2011).

Sem dúvidas, muitos avanços a Assistência Social experimentou e vem

experimentado desde sua implantação enquanto política pública de Estado.

Devemos também levar em conta que este processo é contínuo, por isso exige

mudanças, principalmente no tocante as NOB‘s. Neste caso, não podemos descartar

as NOB‘s passadas, mas compreender que sua criação foi necessária para que a

partir das avaliações e monitoramento possam ser feitos os ajustes e reajuste com

propósito de garantir os direitos dos cidadãos.

Aqui chamarei atenção do CNAS, órgão importante que envolve discussão

entre seguimentos do governo, entidades não governamentais, trabalhadores dos

SUAS entre outros seguimentos, que editou por meio da Resolução nº. 33, de 12 de

dezembro de 2012, a nova NOB/SUAS, que extingue, ou melhor, revoga a

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NOB/SUAS/2005, que, diga-se de passagem, não expressa todo o arcabouço legal

desenvolvido a partir da implantação do SUAS.

A nova NOB/SUAS/2012 traz grandes inovações sobre a PNAS,

principalmente no tocante às competências atribuídas à União, Estados, Distrito

Federal e Municípios, à gestão dos recursos destinados a ações, programas,

projetos e benefícios e estes como serão financiados. Alguns avanços alcançados

pela nova NOB foi, Nível de Gestão - Os Municípios serão classificados a partir do

Índice de Desenvolvimento do SUAS – ID SUAS - outro avanço foi na Gestão do

Trabalho, instituindo na estrutura administrativa um setor ou equipe responsável pela

gestão e valorização do trabalho e do trabalhador no âmbito do SUAS (BRASIL,

2012).

Visando avançar mais na consolidação da política foi proposto na IX

Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em dezembro de 2013 como

tema "A Gestão e o Financiamento na efetivação do SUAS‖. A fim de avaliar o

contexto atual do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e propor diretrizes

visando seu aperfeiçoamento, foi debatido 6 (seis) eixos prioritários: o

cofinanciamento obrigatório da Assistência Social; Gestão do SUAS; Vigilância

Socioassistencial, Processo de Planejamento, Monitoramento e Avaliação; Gestão

do Trabalho; Gestão de Serviços, Projetos e Programas Socioassistenciais; Gestão

de Benefícios e Transferências de Renda no Âmbito do SUAS e a Regionalização

(CNAS, 2013).

A X Conferência Nacional de Assistência Social teve como tema ―Consolidar o

SUAS de vez rumo a 2026‖ e foi realizada em dezembro de 2015 em Brasília/DF. A

conferência teve como proposta principal buscar subsídios para o II Plano Decenal

do SUAS (2016-2026); o debate contou com diversos atores sociais: movimentos

sociais, intelectuais, gestores públicos, usuários e trabalhadores do SUAS que

juntos apontaram caminhos para se chegar a essa construção (CNAS, 2015).

E, por fim, a 11ª Conferência Nacional de Assistência Social que aconteceu

no período de 5 a 8 de dezembro de 2017 em Brasília/DF, como tema ―Garantia dos

Direitos no Fortalecimento do SUAS”. Sobre a conferência foram discutidas 4

(quatro) eixos prioritários: 1 - A proteção social não-contributiva e o princípio da

equidade como paradigma para a gestão dos direitos socioassistenciais; 2 - Gestão

democrática e controle social: o lugar da sociedade civil no SUAS; 3 - Acesso às

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seguranças socioassistenciais e a articulação entre serviços, benefícios e

transferência de renda como garantias de direitos socioassistenciais; e 4 - A

legislação como instrumento para uma gestão de compromissos e

corresponsabilidades dos entes federativos para a garantia dos direitos

socioassistenciais (CNAS, 2017).

Com as conferências não podemos negar os avanços da Assistência Social, a

partir delas sugiram vários documentos e deliberações visando garantir os direitos

socioassistenciais. Porém, o que vislumbramos nesta última conferência foi uma

certa preocupação com o SUAS, com o processo de impeachment da Presidenta

Dilma Rousseff e a mudança da presidência interina, o presidente em exercício

anunciou um corte considerável no orçamento da política de Assistência Social,

diga-se de passagem, as políticas sociais como um todo, fato que afeta diretamente

toda conquista alcançada no decorrer da implementação da Assistência Social como

Política Social.

4.1 Caracterização do Conselho Municipal de Assistência Social de Feira de

Santana.

A criação do conselho de Assistência Social está garantida pela lei nº 8.742

LOAS/93. O artigo 16 define o conselho como instância deliberativa, descentralizada

e participativa, de caráter permanente e composição paritária entre governo e

Sociedade Civil (devem ser paritários 50% governo e 50% Sociedade Civil). Em

Feira de Santana, o Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) foi criado

pela Lei nº 1.761 de 16 de junho de 1994, alterada pela Lei n° 3.211 de 01 de junho

de 2011. A lei dispõe sobre a criação do Conselho de Assistência Social do

Município de Feira de Santana e do Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS),

sendo ela regulamentada pelo Decreto de número 5.923 de 1995.

O CMAS de Feira de Santana é um dos poucos conselhos constituídos no

mesmo ano do CNAS, fato curioso que necessita ser aprofundado, pois não existem

registros históricos e muito menos estudos sobre essa questão, mas deve-se

lembrar de que esse fato demonstra um avanço para o município. Poderíamos aqui

levantar diversos questionamentos, como: será que Feira de Santana tinha uma

Sociedade Civil Organizada que provocou a criação do CMAS? Ou o gestor da pasta

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de Assistência Social tinha alguma relação com esta política? Enfim, são muitos os

questionamentos que nessa pesquisa não conseguiremos dar conta.

O CMAS é instituição de natureza pública, tem por finalidade exercer o

controle social, no âmbito público e privado, acompanhar a gestão e a avaliar a

Política Municipal de Assistência Social (PMAS) desenvolvida pelo munícipio e dos

recursos financeiros destinados à sua implementação sempre respeitando a PNAS e

a Política Estadual de Assistência Social (PEAS) (BRASIL, 2006). Entre as

competências do CMAS, estão previstas:

I. Elaborar seu regimento Interno, o conjunto de normas Administrativas com o objetivo de orientar o seu funcionamento; II. Aprovar a Politica Municipal de Assistência Social, elaborar em consonância com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), e com as perspectivas do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), e com as diretrizes estabelecidas pela Conferência Municipal, Estadual e Nacional de Assistência Social, podendo contribuir-nos diferentes estágios de sua formulação; XIII. Inscrever e fiscalizar as entidades e organizações de Assistência Social municipal (NOB/SUAS, 2005).

O CMAS possui um colegiado com 14 membros titulares e respectivos

suplentes, nomeados pelo Chefe do Poder Público, metade dos conselheiros

representa o poder público, a outra metade é dividida entre: representações das

entidades e organizações da assistência; usuários ou de organizações de usuários

dos Centros de Referências de Assistência Social (CRAS), Centros de Referências

Especializados de Assistência Social (CREAS), Programa Bolsa Família (PBF); e

trabalhadores da área de Assistência Social. O quadro 04 apresenta as entidades e

órgãos governamentais representados pelos conselheiros titulares e suplentes, na

gestão do biênio 2016-2018.

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Quadro 03: Conselheiros Biênio (2016/2018).

Representações Poder Público Municipal:

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social- (Titular e Suplente);

Secretaria Municipal de Habitação e Regulação Fundiária- (Titular e Suplente);

Secretaria Municipal da Fazenda- (Titular e Suplente);

Secretaria Municipal de Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico- (Titular e Suplente);

Secretaria Municipal de Prevenção a violência e Promoção dos Direitos Humanos- (Titular e Suplente);

Secretaria Municipal de Educação- (Titular e Suplente);

Secretaria Municipal de Saúde- (Titular e Suplente);

Representações Sociedade Civil: Entidades Socioassistenciais:

Associação Cristã Nacional ACN – (Titular); e Associação de Pais e Amigos Excepcionais APAE (suplente)

Palácio de Acolhimento ao Menor – (Titular), e União Baiana de Cegos UBC - (Suplente);

Lar do Irmão Velho - (Titular), Associação Pedra do Jacó (Suplente); Usuários ou de organizações de usuários:

Centros de Referências de Assistência Social (CRAS) Fraternidade - (Titular); e Centros de Referências de Assistência Social (CRAS) São José (Suplente);

Centros de Referências de Assistência Social (CRAS) Santo Antônio (Titular); e Centros de Referências de Assistência Social (CRAS) Cidade Nova (Suplente); Trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social - SUAS:

ONG Crescer Cidadão - (Titular), e Instituto Maria Galbusera (Suplente);

ONG Crescer Cidadão - (Titular) e Instituto Maria Galbusera - (Suplente), FONTE: CMAS (2017); ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda.

O CMAS está organizado conforme a seção - II do Regimento Interno,

homologado pela Resolução nº 27, de 28 de novembro de 2013, organizado por um

Colegiado e uma Secretaria Executiva. O Colegiado do CMAS tem a seguinte

estrutura de funcionamento: Presidência Ampliada; Plenária; Comissões Temáticas

ou Grupos de Trabalho; e Assessoria (Trabalhadores do SUAS preferencialmente

Assistente Social), Instância de Controle Social. Segundo Figura 6:

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Plenário

Assessoria de

Assistente Social

Assessoria jurídica

Comissão de Políticas e

Projetos

Comissão de Normas

Ética

Secretária executiva Técnica Social Auxiliar Administrativo

Presidência

Comissão de

Financiamento

Assessoria Contábil

Grupos de Trabalhos Secretaria Executiva

FIGURA 6 – Estrutura organizacional do CMAS/FSA - 2018

FONTE: CMAS/FSA Elaboração: Reginaldo Dias de Miranda.

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De acordo com a estrutura organizacional do CMAS-FSA (figura 6), elaborado

a partir do Regimento Interno, o conselho é composto por: Plenário, Presidência

(Presidente incluindo a Vice-Presidência); Comissões Temáticas ou Grupos de

Trabalho; e Assessoria. Da estrutura organizacional ambas têm importantes funções,

dentre elas de: apreciar, avaliar, acompanhar e deliberar sobre matérias de sua

competência encaminhadas ao CMAS/FSA e por meios de instrumentos normativos,

de regulamentação e/ou implantação contribuir para a efetivação da Politica

Municipal de Assistência Social (PMAS), além de aprovar a instituição de grupos de

trabalho e as comissões temáticas e suas respectivas competências.

A composição do CMAS é formada pela Presidente, Vice-Presidente,

Conselheiros Governamentais e Sociedade Civil, Secretária Executiva, Técnico

Social; duas Auxiliares Administrativas. Este conselho municipal ainda é composto

pela Comissão de Fiscalização que examina os documentos das Entidades

Socioassistenciais e Equipamentos Municipais após visita de fiscalização conforme a

Tipificação e leis afins; A Comissão Jurídica que auxilia o CMAS no tocante às suas

Resoluções, Publicações, Alteração de Lei; e pela Comissão de Projetos que avalia

os Projetos das Entidades socioassistenciais e Relatório dos Equipamentos

Municipais.

No tocante a Secretaria Executiva do CMAS/FSA, está diretamente

subordinada à Presidência e ao Colegiado, com função de dar suporte técnico-

operacional para o conselho, além de um corpo técnico (Técnico Social) e duas

auxiliares administrativas na organização e logística do conselho, todas são

remuneradas com recursos da administração pública Municipal, especificamente da

Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESO), (CMAS, 2013).

A articulação no CMAS com a sociedade e a política social é previsto na

LOAS que em seu artigo 5°, inciso II, descreve a ―participação da população, por

meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das

ações em todos os níveis‖ (BRASIL, 1993, p. 9). Esta relação se dá a partir de

reuniões ordinárias e extraordinárias entre os atores do poder público e da

Sociedade Civil. As reuniões acontecem impreterivelmente todas primeiras quintas-

feiras de cada mês, a partir das 16h. Quando há necessidade de reuniões

extraordinárias devem acontecer nas últimas quintas-feiras de cada mês (CMAS,

2013).

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O atendimento do CMAS/FSA é destinado às Entidades Socioassistenciais,

Organizações da Sociedade Civil (OSC), Fundações, inscritas ou não no CMAS,

conforme a Resolução n° 14/2014. Outros atendimentos são direcionados aos

equipamentos públicos. O CMAS-FSA tem a missão de fiscalizar, normatizar e

deliberar entidades e equipamentos de Assistência Social; verificar a execução e

implantação da Política de Assistência; promover participação comunitária;

normatizar e avaliar a Política Municipal de Assistência Social (CMAS, 2013).

Seu objetivo é prestar Assistência Social às comunidades em situação de

vulnerabilidade pessoal e social e OSC‘s que ofertam serviços socioassistenciais,

participar do Plano Plurianual Assistência Social (PPAS), ampliando os serviços de

prestados a comunidade, realizando inscrição de entidades de Assistência Social

para inserção no SUAS, formando uma rede socioassistencial que preste serviços a

comunidades, fiscalizando, contribuindo na construção e aprovação do PMAS,

dentre outras atribuições que constam na Lei Orgânica de Assistência Social –

LOAS., e no Regimento Interno do CMAS de FSA, no artigo 2° do Capítulo II, das

Competências do Conselho Municipal de Assistência Social (MIRANDA, 2013).

Segundo a Lei n° 3.211, de 01 de junho de 2011, os recursos financeiros que

vem para o FMAS compõem a participação pública no financiamento dos projetos

sociais e chegam às Entidades Socioassistenciais através do Conselho Municipal de

Assistência Social. Sendo assim, o CMAS tem como fonte de recursos o FNAS

juntamente com o FMAS que é um instrumento de captação e aplicação de recursos

para o financiamento de ações na área de Assistência Social tendo como base o

PPAS.

O Conselho participa da elaboração da PMAS e do Orçamento do FMAS,

além disso, acompanha a execução orçamentária e financeira dos recursos (através

de balancetes, prestações de contas e exame no extrato bancário de contas

correntes) e fiscaliza entidades e organizações de Assistência Social, podendo

propor medidas para o aperfeiçoamento da organização e funcionamento dessas

entidades (LOAS, 1993).

O CMAS tem a responsabilidade de realizar ordinariamente a cada 4 (quatro)

anos as Conferências Municipais de Assistência Social11, no intuito de cumprir o

11

A nível nacional, conforme apresentamos na linha do tempo da Assistência Social (Quadro 2), até o momento atual já realizamos 11 (onze) conferenciais (ordinárias e extraordinárias), em nível local o CMAS/FSA conseguiu realizar todas as conferenciais, fato que difere de muitos municípios.

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disposto no artigo 18º, inciso VI, ―[...] convocar ordinariamente a cada quatro anos a

Conferência Nacional de Assistência Social, que terá a atribuição de avaliar a

situação da Assistência Social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento do

sistema‖ (BRASIL, 1993, p. 17). Nas conferências, se discute a Política de

Assistência Social em cada esfera de governo e propõem diretrizes de ações,

também é um espaço em que a população poderá efetivar o seu direito de

participação, nas Conferencias são eleitos delegados que irá representar a

população não só no âmbito Municipal como também estadual e Federal.

Além disso, no CMAS/FSA é desenvolvido um trabalho em rede

descentralizado e articulado com os diversos equipamentos que agem de forma

conjunta para sanar problemas. A rede socioassistencial é uma forma de dar

resposta ao ‗‘enfrentamento das desigualdades sociais identificadas. É a

constituição de uma estrutura orgânica, [...] com eficiência e eficácia, em torno dos

problemas daquele território‖ (COUTO, 2009, p. 215), que exige constante

monitoramento e avaliação dessa gestão.

Atualmente, o município de Feira de Santana contém com 15 (quinze)

equipamentos de CRAS (Proteção Básica) dividido por território, é um número muito

significativo comparado aos demais municípios da Bahia, o fato ocorre devido o

município apresentar maior quantitativo populacional e extensão territorial. Conforme

consta na resolução CMAS nª 03/2016, ―Dispõe sobre a aprovação da nova divisão

territorial dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS‖ (CMAS, 2016),

territórios estão divididos como:

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Quadro 4: Divisão Territorial dos CRAS no Município de Feira de Santana/BA, 2016.

Território e nome

CRAS

Endereço da sede e contatos

Quantidade de Bairro e/ou espaço de

abrangência12

I - Odete de Oliveira Almeida CRAS

Pampalona

Rua Amaralina, 3552 Pampalona. contato: (75) 3626-9637

e-mail: [email protected]

12

II - Gislene Neves Gomes CRAS

George Américo

Rua Satélite, 70 conj. George Américo Campo Limpo contato: (75) 3221 - 4326

e-mail: [email protected]

10

III- CRAS Expansão Feira IX

Rua F, Cam 27, casa 7 Conj. Fé Habitacional Feira IX Calumbi

e-mail: crasexpansã[email protected]

09

IV - Vanilda Barros Boaventura CRAS

Rua Nova

Rua Mantiqueira, 441 Rua Nova. contato: (75) 3624-0683

e-mail: [email protected]

08

V - Odorico Pereira CRAS Baraúnas

Rua José de Freitas Moreira, 98 Baraúnas contato: (75) 3221-5711

e-mail: [email protected]

05

VI - CRAS Cidade Nova

Centro de Esportes e Artes Unificados – CEU/Cidade Nova

e-mail: [email protected]

10

VII - Padre Thomas Wahistron CRAS

Queimadinha

Rua Alcides Fadiga, 305 centro / Queimadinha contato: (75) 3221-0163

e-mail: [email protected]

05

VIII - Padre José Dusi CRAS

Mangabeira

Rua Tupinambá, 1620, Mangabeira. contato: (75) 3221.7989

e-mail: [email protected]

10

IX - Vivaldo França CRAS Lagoa Grande

Rua São Gonçalo, 65 Ponto Central. contato: (75) 3622 - 8903.

e-mail: [email protected]

09

X - CRAS Santo Antônio dos

Prazeres

Rua Uruburetama, 60 Santo Antônio dos Prazeres contato: (75) 3622.1812

e-mail: [email protected]

12

XI - CRAS Jussara

Rua Jacundá, nº 97, Pedra do Descanso/Jussara contato: (75) 3614-5978

e-mail: [email protected]

13

XII - CRAS Fraternidade

Rua Tafarel, s / n lote. Papa João XXIII Praça do Céu / Jardim Acácia contato: (75) 3616.5159

e-mail: [email protected]

14 + 15*

XIII - CRAS Aviário

Rua José Luís Navarro da Silva, s / n Conj. Paulo Souto Praça do Céu Aviário.

contato: (75) 3614.0736 e-mail: [email protected]

05

XIV - Nadja Suelia Freitas Araújo CRAS

Humildes

Praça Capitão Costa, 22 Centro / Humildes contato: (75) 3683.1349

e-mail: [email protected]

03

XV – CRAS Maria Quitéria / São José

Praça Padre Epifânio, 06 Centro / Distrito Maria Quitéria - São José contato (75) 3204-7523

e-mail: [email protected]

56

FONTE: CMAS, 2016. ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda.

12

A coluna que trata quantidade de Bairro e/ou espaço de abrangência é referente a localidades que podem ser

(conjuntos habitacionais, distritos, povoados, fazendas...) por isso a quantidade total de distribuição territorial

não é referente aos bairros do município.

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O Município contém apenas 15 (quinze) CRAS, porém no CRAS Território XII

por se tratar de uma área muito extensa foi necessário inserir uma unidade de

referência em outra localidade, mas que não se caracteriza como um novo CRAS.

Dos equipamentos de Proteção especial temos os CREAS, Centro de Referência

Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop Rua) – Média

Complexidade, e Casa de Acolhimento – Alta Complexidade. Sendo eles:

Quadro 5: Relação dos equipamentos Proteção Especial

Equipamento

Endereço da sede e contatos

Quantidade de Bairro

e/ou espaço de

abrangência

CREAS Maria Régis Ferreira de Lima

Rua Cordeirópolis, s / n Bairro Conceição Contato: (75) 3223-8866

E-mail: [email protected]

25

CREAS Zezito Freitas

Rua Úrsula Catarino, 83 Bairro Sobradinho Contato: (75) 3625-0816

E-mail: [email protected]

20

CREAS Ruth Gusmão

Rua C, s / n Lote. Vista Alegre Bairro Pedra do Descanso

Contato (75) 3622.1722 E-mail: [email protected]

44

Centro de Referencia Especializado para

Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop

Rua)

Rua Juvêncio Erudilho, S / N Centro de Abastecimento CEP 44002-528, Tel .: 75 3221-

4396 - Feira de Santana - Ba, Email: [email protected]

Município e região

Casa de Acolhimento Raul Freire

Rua Raul Freire, 238 Bairro Santa Mônica Telefone: (75) 3622-8348

E-mail: [email protected]

Município

FONTE: CMAS, 2016. ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda

O trabalho em rede CMAS-FSA é o norteador, pois, trata-se de um Conselho

de Políticas Sociais no Município que se articula de forma conjunta com os

equipamentos municipais e algumas entidades representativas que estão ligadas a

este conselho. O quadro 6 apresenta os programas e projetos:

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Quadro 6: Programas e Projetos - 2018

Equipamentos Telefone / e-mail Endereço

Área de abrangência

Programa Bolsa Família

(PBF)

Rua Castro Alves,,1544 Centro, contato: (75) 3225-4751/3626-0192

[email protected]

Todos os territórios que não possuem abrangência dos

CRAS

Centro Municipal de Formação

Profissional Juiz Walter Ribeiro Costa

Junior

Estrada da Marapona, s/n Aviário contato: (75) 3225-9207

[email protected]

Aviário

Centro Integrado de Capacitação e Apoio ao Adolescente e a Família professora

Cilza Melo (CICAF13)

Rua Manoel Azevedo, s/n Tanque da Nação contato: (75) 3614-8875

[email protected]

Todos os territórios

Centro de Convivência para

Idosos D. Zazinha Cerqueira

Rua Manoel Bandeiras, 75

centro, contato: (75) 3223-5286 [email protected].

br

Todos os territórios

Programa de erradicação do trabalho infantil

(PETI)

Rua Leolinda Bacelar, 464 Kalilândia contato: (75) 3602-5556

[email protected]

Todos os territórios

Casa Abrigo SAPHO Sigiloso Sigiloso

Todos os territórios

Centro de Referência Maria Quitéria

Rua Paris, 97 Santa Mônica,

contato (75) 3616-3433 [email protected]

Todos os territórios

FONTE: CMAS, 2018. Elaboração: Reginaldo Dias de Miranda.

Um fato importante, que faz necessário evidenciar, é o prêmio que o CMAS

ganhou, de iniciativa do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), em 2017

foi lançado um edital pelo CNAS de reconhecimento das experiências exitosas do

controle social, no Brasil cerca de 560 conselhos foram habilitados para concorrer

nas diversas categorias - Municípios de pequeno porte I; Municípios de pequeno

porte II; Municípios de médio porte; Municípios de grande porte e metrópole;

Conselhos Estaduais e Distrital.

A escolha dos conselhos para o prêmio ocorreu na 11ª Conferência Nacional

de Assistência Social e o CMAS de Feira de Santana recebeu o Prêmio ―Mérito

CNAS 2017 participação e garantia de Direitos, você faz o controle social? Então

13

Vale ressaltar que o CICAF não esta contemplado na resolução 109/CNAS.

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compartilhe!‖, uma experiência de formação, emancipação e protagonismo do

Controle Social num município de Grande Porte e Metrópole.

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5. OS CAMINHOS DA POLITICA SOCIAL DE SEGURA ALIMENTAR E NUTRICIONAL.

Da mesma forma que foi construída uma linha do tempo para a Política de

Assistência Social foi feita para a SAN (quadro 7).

QUADRO 7: LINHA DO TEMPO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (1910-2007).

I Guerra Mundial.

Conferência das Nações sobre Alimentação e

Agricultura; Criação da Comissão Nacional de

Alimentação - CNA.

Superintendência Nacional de

Abastecimento (SUNAB)

I Conferência Mundial de Segurança Alimentar

I Conferência Nacional de

Alimentação e Nutrição.

1914-1918

1920

1943-1945

1951-1953

1962 1972

1974 1985

1986 1991

I Congresso Brasileira de

Higiene.

Campanha Popular Contra à Fome.

Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN).

Dia D do Abastecimento

.

Carta proposta do Governo

Paralelo.

Ação da Cidadania e Criação do I CONSEA.

Programa Comunidade Solidária; Criação do Conselho Comunidade Solidária.

Criação do Fórum Mundial sobre Soberania Alimentar.

Criação da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN); Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN)

Inserção do termo alimentação como direito na CF/88; Decreto 7272; Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN),

1993 1994

1995-1996 1998

2001 2003

2006 2007

2010 2011

I Conferência Nacional de Segurança Alimentar (CNSA).

Criação do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN).

Criação do CONSEA

IIl Conferência Nacional de SAN; Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN)

IV Conferência

de SAN.

ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda, 2018.

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A temática da segurança alimentar foi introduzida na agenda internacional a

partir da I Guerra Mundial (1914-1918), em especial nos países europeus. A

situação de insegurança e vulnerabilidade acometidas pelo cenário político e militar,

motivou os países afetados a se protegerem das grandes potências dominadoras

(PANELLI-MARTINS, 2007).

O cenário do pós I Guerra Mundial era caracterizado pela devastação e pelos

conflitos encontrados em metade da Europa, isso impulsionou o debate da

segurança alimentar, tendo em vista a grande possibilidade de outros países

detentores de produção e consumo de gêneros alimentícios controlarem os demais.

A instabilidade de insegurança alimentar e nutricional obrigou os países a

produzirem e terem controle de seus próprios alimentos (VALENTE, 2002).

Com o advento da II Guerra Mundial, a temática da segurança alimentar é

retomada como direito humano à alimentação, tal contribuição ocorreu na

Conferência das Nações sobre Alimentação e Agricultura 1943, em Hot Springs

(EUA), que serviu de base para a criação da Food and Agriculture Organization

(FAO) agência da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945 (BELIK; SILVA e

TAKAGI, 2001).

Ao que pese, o debate da segurança alimentar inicia no mundo com uma

estreita ligação de segurança nacional, como instrumento de dominação –

mecanismo de mercado – acometida pela I Guerra Mundial e no Pós II Guerra

Mundial ganha destaque pelo fato da insuficiência de alimentos, surgindo diversas

inciativas de assistência alimentar, inclusive nos países em desenvolvimento como o

Brasil.

A formação de nossa sociedade brasileira marcada pelo colonialismo dos

portugueses e europeus altera o modo de vida dos primeiros habitantes destas

terras, aqui os indígenas viviam com a fartura e diversidade de alimentos, sem fome

sem pobreza se apresentavam como uma questão social. A colonização muda os

rumos destas terras, formando a aristocracia rural, assim, os primeiros registros de

fome e miséria no Brasil são dos nativos que se recusavam a comer em cativeiro

(VALENTE, 2002).

Não podemos esquecer que este debate de fome está ligado à questão da

propriedade (terra), questões econômicas e sociais. Logo, a formação do Brasil

colônia é marcada por uma oligarquia rural que explora, mata e oprime para se

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manter no poder. Dessa forma, a família colonial era vista como o poder supremo, a

autoridade, o modelo de coesão e de respeito entre os homens (HOLANDA, 2009).

O período de 1888 que marca a abolição da escravatura tem forte influência

na mudança das atividades rurais para o urbano. Rocha (2012, p. 24) indica que é

―nesse período [...] que se inicia no Brasil o capitalismo pelas próprias relações

mercantis‖, e também marca a substituição da atividade agrícola de açúcar para o

café em especial nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Para a autora, esta

―convenção de matriz produtora, onde o desenvolvimento se fez e se faz em

sociedade capitalista pelos interesses econômicos‖ (p. 25), altera a lógica do rural de

domínio agrário dos barões, aproximando a exploração industrial e urbana. Este

ciclo chamado de café com leite é rompido com a revolução de 1930.

A partir deste dado momento, o país vivenciou profundas transformações, o

avanço do sistema capitalista, a migração em massa impulsionada pelas mudanças

das atividades rurais para as urbanas, processo intensificado com a revolução de

1930, provoca pauperismo da população, inchaço das cidades e ―ao mesmo tempo

houve o agravamento e desequilíbrio entre produção e consumo de produtos

alimentares básicos‖ (ROCHA, 2012, p. 27).

Muito embora, o modelo de mercado do país nesta transição fosse urbano-

exportador, crescia a produção de alimentos domésticos não comercializáveis com o

exterior (arroz, milho, feijão...). A recessão econômica impactava na distribuição da

renda elevando ainda mais o nível de insegurança alimentar e nutricional devido ao

agravamento da pobreza. Dado o contexto histórico a segurança alimentar não é

tratada como um direito (ROCHA, 2012).

Neste cenário surgiu a Revolução Verde – nos Estados Unidos e na Europa

em 1950, e nas décadas seguintes nos demais países - implantando os pacotes de

inovações tecnológicas modernizadoras, como justificativa de erradicar a fome no

mundo e resolver o problema da segurança alimentar, oriundos das indústrias

químicas. A Revolução Verde propôs o ―milagre da multiplicação‖ e tinha dois

propósitos visíveis: deter os avanços do comunismo/socialismo da União Soviética e

ampliar o sistema capitalista (PEREIRA; CORDEIRO e ARAÚJO, 2016).

O Brasil por se tratar de um país com dimensões continentais e ricas em

biodiversidades tem os olhares das empresas transnacionais voltados a implantação

de seus pacotes (químicos, biológicos e mecânicos) como foi o exemplo da

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Revolução Verde. O Estado brasileiro tinha a falsa ilusão de estar no caminho dos

países desenvolvidos, implantando os pacotes tecnológicos modernizantes no meio

rural como mercado agrícola, fortalecendo ainda mais o capital externo, agravando

em larga escala as refrações da questão social e os impactos ambientais. Os

estragos causados pela Revolução Verde foram grandes, principalmente para os

pequenos agricultores. Era preciso pensar saídas que garantissem uma alimentação

saudável e que atingissem toda a sociedade (PENNA, 2009).

Em respostas as saídas deste modelo, surgem algumas alternativas

tecnológicas e/ou modelos produtivos, a exemplo da sustentabilidade,

desenvolvimento rural sustentável, agricultura orgânica, agricultura familiar, que por

vezes são formas de produtividade e de organizações coletivas menos

concentradoras. Segundo Moreira (2000, p. 47):

A especificidade do trabalho familiar, o conhecimento das condições biossistêmicas locais próprias desses agricultores e a escassez de recursos financeiros que possuem, ou têm acesso, são considerados como elementos positivos à aplicação de novas práticas produtivas – todas elas vinculadas a um saber camponês que foi renegado como atrasado no período da Revolução Verde (MOREIRA, 2000, p. 47).

Outrossim, vale destaque a função da agricultura familiar para a segurança

alimentar e nutricional. Segundo Wanderley (2001, p.23), a agricultura familiar é

―entendida como aquela em que família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos

meios de produção assume o trabalho no estabelecimento produtivo (...)‖. Para

Bonini (2004, p. 37), a agricultura familiar no agrobrasileiro tem papel fundamental,

―uma vez que é a principal responsável pela produção de diferentes gêneros

alimentícios que abastecem os grandes centros urbanos‖. Além de colocar na mesa

do povo alimento saudável, agroecológico no campo e na cidade.

Mesmo com o avanço do latifúndio e do crescente êxodo rural, a década de

1990 é fundante neste processo de permanência no campo e aumento da

produtividade. Os movimentos que se conformaram em torno desta temática foram

os protagonistas da implantação das políticas agrícolas. Uma destas respostas foi

em 1995 a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

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– PRONAF14 e, conforme Aires e Salamoni (2013), tal política contribui para a

permanência no campo, melhorando a renda, gerando emprego, aumentando a

capacidade produtiva e qualidade de vida, por meio de concessão de crédito e juros

subsidiados.

Muitas foram às transformações do modo de produção e reprodução social

dos agricultores familiares a partir das políticas de Estado, conforme Gazolla (2006,

p. 100), ―hoje se reproduz com base no mercado de fatores de produção, na

especialização produtiva, nos cultivos voltados ao mercado e com uma intensa

diferenciação socioprodutiva entre as suas unidades‖.

No tocante a temática da ―Segurança Alimentar‖, retomando a linha do tempo

no Brasil. No ano de 1920 a alimentação ganha destaque como questão de Saúde

Pública, profissionais da área de saúde inclui a alimentação como temas oficiais do I

Congresso Brasileiro de Higiene, realizado no Rio de Janeiro. Os temas debatidos

foram ―princípios da fiscalização sanitária dos gêneros alimentícios, abastecimento

do leite, alimentação escolar e pré-escolar e alimentação dos soldados brasileiros‖

(NASCIMENTO, 2012, p. 11).

Um dos grandes pesquisadores da temática foi o Médico Josué de Castro, o

autor, entre 1945 e 1954, dirigiu a Comissão Nacional de Alimentação (CNA), que

substitui o antigo Serviço Técnico de Alimentação Nacional (STAN). Na década de

1950, também é criado a primeira (ONG) - se não a primeira umas das - a

Organização da Sociedade Civil que trata a questão da fome a Associação Mundial

de Luta contra a Fome (ASCOFAM). Outros acontecimentos nas décadas de 40 e

50, diversos movimentos como: a Campanha Popular Contra a Fome - Banca de

Queixas15 - no ano de em 1946, já entre 1951 e 1953 ocorre a Passeatas da Panela

Vazia16 (NASCIMENTO, 2012; GOHN, 2000).

Na década de 1960, em repostas as fortes pressões das organizações e

movimentos sociais, o Governo de João Goulart institui importantes órgãos nos

setores de – abastecimento, armazenamento, estoques e regulação - na área de

14

O Objetivo geral do PRONAF “propiciar condições para aumentar a capacidade produtiva, a geração de

emprego e de renda, de tal forma a melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares” (MATTEI, 2001, p. 03). 15

A Banca de Queixas foi instituída para obter informações dos comerciantes que comercializavam suas

mercadorias a preços exorbitantes. 16

Passeata que reuniu milhares de pessoas, seguindo em caminhada - Praça da Sé ao palácio Campos

Elísios - reivindicando reajustes salariais.

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abastecimento cria-se a Superintendência Nacional de Abastecimento (SUNAB); na

área de armazenamento a Companhia Brasileira de Armazenamento, (CIBRAZEM);

e sobre a área de estoques e regulação a Companhia de Financiamento da

Produção (CFP), ambas criadas em 1962. Na década de 1990 os três órgãos

fundiram-se, criando a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) órgão

responsável acompanhar a produção agrícola desde o plantio, armazenamento e

comercialização (NASCIMENTO, 2012).

Na década de 1960, a partir das mobilizações sociais das Organizações da

Sociedade Civil ligadas a questão da alimentação criou-se a segunda ONG, a

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE). Ao contrário

da ASCOFAM extinta na Ditadura, a FASE instituída em 1961, persiste até hoje

lutando pela segurança alimentar e nutricional (NASCIMENTO, 2012).

Na década de 1970, a grande crise que se inicia, impulsionando o estado a

tomar providencias na questão alimentar; em decorrência, o governo militar cria o

Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) em 1972; diversos programas

foram criados ligados ao INAN como: I Programa Nacional de Alimentação e

Nutrição (I PRONAN) e II PRONAN (PESSANHA, 1998; NASCIMENTO, 2012).

Em 1974, aconteceu a I Conferência Mundial de Alimentação organizada pela

FAO e restringiu-se ao debate da produção agrícola fortalecendo as empresas

químicas, com a proposta da revolução verde utilizando nas plantações fertilizantes

e agrotóxicos (MALUF e MENEZES, 2009).

A década seguinte é marcada por um grande acontecimento classificado por

―DIA D do Abastecimento em 1985‖. Esse evento reuniu aproximadamente 30 mil

participantes e mais de mil organizações populares, tendo como resultado a

elaboração de uma carta de reivindicação abordando temas como: ―política

econômica e da questão salarial, da política agrária e agrícola, dos programas de

abastecimento e da participação popular na formulação e fiscalização das políticas

públicas para o setor‖ (PELIANO, 2010, p. 30). Na mesma década, foi realizada a I

Conferência Nacional de Alimentação em 1986.

As demandas da sociedade exprimiam a necessidade de criação de um

espaço de controle social com recorte na Segurança Alimentar e Nutricional. Como o

ocorrido processo de impeachment do então presidente Collor e simultaneamente o

surgimento do movimento nacional ‗Ação da Cidadania Contra Fome, a Miséria e

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Pela Vida (1993)‘. Nesse cenário surgiu a primeira proposta de uma Política

Nacional de Segurança Alimentar.

Concomitante a isso, em 1993 o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

(IPEA) elaborou uma pesquisa intitulada como ‗Mapa da Fome: Subsídios à

Formulação de uma Política de Segurança Alimentar‘ que serviu de elemento para

apresentar em forma de documento ao então Presidente Itamar Franco e os seus

ministros. Tal documento fundamentava a necessidade de priorizar este debate da

fome, pobreza e (in) segurança Alimentar (VALENTE, 1996). Com esta pressão, o

presidente da república resolve por meio de Decreto n° 807/93, criar o Conselho

Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) - órgão de consulta e assessoramento

da Presidência da República, presidido pelo Bispo Dom Mauro Morelli, além de

representações como os Ministros de Estado e representantes da Sociedade Civil,

que, mesmo com o seu curto prazo de atuação, apresentou resultados positivos

(MALUF; MENEZES; VALENTE, 1996; VALENTE, 2002; ROCHA, 2012).

Um dos primeiros resultados do CONSEA, em consonância com a Ação da

Cidadania, foi em 1994, quando ocorreu a convocação da I Conferência Nacional de

Segurança Alimentar, realizada anteriormente nos estados e municípios do país, que

conseguiu agrupar em Brasília cerca de 2.000 delegados/as entre poder público e

Sociedade Civil e resultou num relatório que aponta como causa principal da fome e

miséria a concentração de renda e da terra, como também servia de base para

conceituar a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), que segundo Valente (2002):

Segurança Alimentar e Nutricional consiste em garantir a todos condições de acesso a alimentos básicos seguros e de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais [...], contribuindo assim para uma existência digna em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana (VALENTE, 2002, p. 43).

O conceito de Segurança Alimentar e nutricional foi incorporado no

documento Brasileiro para a Cúpula Mundial da Alimentação, caso ocorrido na

primeira reunião da Cúpula em Roma, sede da FAO, obtendo alguns resultados: o

positivo foi a perspectiva de materialização da alimentação como direito humano e o

negativo, a visão de limitar apenas a produção de alimentos no mundo, sem debater

os impactos que o mercado internacional causará aos países em desenvolvimento

no tocante a segurança alimentar (SILVA, 1991; VALENTE, 2002; ROCHA, 2012).O

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CONSEA teve uma duração restrita devido a mudanças da presidência, que durou

apenas dois anos, mas que logrou êxitos consideráveis. Em 1995, com o novo

governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), além de abolir o

CONSEA, criou o Programa Comunidade Solidária, desviando o foco das conquistas

e visando levar o Brasil ao Estado social-liberal (IDEM).

Com o Programa Comunidade Solidária foi criado o conselho consultivo,

tirando da pauta a Política Nacional de Segurança Alimentar devido as suas

indefinições no cumprimento das diretrizes básicas, além de fragilizar os pequenos e

médios produtores do campo e da cidade (HIRAI; ANJOS, 2007). O Programa,

instituído através do Decreto n° 1.366/95, surgiu com a proposta de enfrentar a fome

e a miséria do país, porém estava centralizado na Casa Civil, excluindo atores

sociais de diversas organizações que lutavam e pensavam estratégias de superação

da insegurança alimentar e nutricional. Tais retrocessos são vistos em sua

composição e execução quando, por exemplo, o programa é presidido pela primeira-

dama do país, Ruth Cardoso, e isso resgatou ranços do assistencialismo, que

possivelmente foi superado com a CF/88 (DE ALCÂNTARA PERES, 2006).

Diante disso, pode-se observar a existência de avanços e retrocessos da

problemática de Segurança Alimentar e Nutricional decorrente do modelo adotado

pelos Presidentes. Com o fim do mandato de FHC, o novo governo do Presidente

Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, colocou em pauta novamente a discussão,

reinstalando o CONSEA, fortalecendo a representatividade de setores da Sociedade

Civil, que segundo Burlandy (2014, p. 110) o novo formato do CONSEA foi o

―primeiro espaço político institucionalizado no país com potencial para promover o

diálogo intersetorial sobre as questões de alimentação e nutrição (por ser integrado

por representações de diferentes ministérios)‖.

A partir de 2003, as discussões sobre o combate à fome, à miséria e à

segurança alimentar anteriormente debatida no CONSEA de 1993 foi retomada

como prioridade do governo, integradas ao programa Fome Zero. Aprofundar este

debate e conceituar SAN, incluindo também a dimensão nutricional, só foi possível

devido ao forte movimento desde 1994 à 2002, com diferentes organizações da

Sociedade Civil, redes de políticas e movimentos sociais (BURLANDY, 2011).

Mesmo com os avanços na institucionalização via espaços de controle social pela

CF/88, a definição da SAN só foi incorporada como Lei em 2006 com a criação da

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Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional- LOSAN nº 11.346/06. Na

LOSAN foi adicionado o conceito de SAN elaborado pelo CONSEA que consiste em:

[...] realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006).

Muito embora, a Constituição de 1988 no seu texto inicial não explicitado a

temática da Segurança Alimentar e Nutricional, no ano de 2010 foi aprovado via

proposta de Emenda Constitucional – PEC, n° 64, a inserção do termo alimentação

como direito social no seu artigo 6° e, no mesmo ano, o Decreto 7272, que

regulamenta a LOSAN e institui a Política Nacional de Alimentação e Nutrição

(PNAN), tais normas legais prescrevem a alimentação como direito (BRASIL, 2010,

a, b; ROCHA, 2012; BURLANDY, 2014).

O CONSEA reconstituído em 2003 retoma com nova reformulação, além de

consultivo como no primeiro, tem caráter de assessoria à presidência da república,

como órgão vinculado a casa civil. A reconstituição do CONSEA pela sua

configuração de 1/3 de representações do governo e 2/3 representações da

Sociedade Civil, se apresenta como uma proposta desafiadora de diálogo e

articulação intersetorial, como aborda Burlandy (2014, p. 114). A articulação

intersetorial ―possibilitou o fortalecimento de uma perspectiva de atuação para além

do combate à fome, que afetou o próprio governo federal e contribuiu para a

construção de uma institucionalidade pautada no princípio da intersetorialidade‖. A

partir daí algumas conquistas foram se apresentando, a própria LOSAN, que

incorpora no seu artigo 3 a segurança alimentar e nutricional como um direito que,

[...] consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e sejam ambientais, culturais, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006).

A LOSAN representa uma conquista dos atores sociais que lutam e defendem

a segurança alimentar e nutricional como um direito inerente a pessoa humana, ao

passo que é um grande instrumento para superar a fome, a pobreza e a desnutrição

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no Brasil. A criação da LOSAN é fruto da II Conferência Nacional de Segurança

Alimentar e Nutricional (CNSAN) de março de 2004, com a proposta temática de

―Construção da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSA)‖,

onde foi defendida e aprovada (CONSEA, 2004 a). O objetivo da LOSAN, explícito

no caput da lei, é ―Criar o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

(SISAN), com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá

outras providências‖ (BRASIL, 2006, p. 01), conforme ilustra o quadro.

Quadro 8: Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SIS

AN

A Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN)

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA);

A Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN);

Os órgãos e entidades de segurança alimentar e nutricional da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios;

As instituições privadas, com ou sem fins lucrativos. ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

A lei de SAN como as de Assistência Social com o SUAS, Saúde com o SUS

entre outras, adotaram com o Pós CF/88 os sistemas nacionais como modelo para o

aprimoramento da gestão pública. Um ano após a LOSAN/2006, foi aprovado o

Decreto nº 6.272/2007, que versa sobre a natureza, as competências, a composição

e o funcionamento do CONSEA. Cria-se na esfera do SISAN, a Câmara

Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN), importante

ferramenta de diálogo intersetorial pelo fato de articular e integrar os órgãos e

entidades da administração pública que de forma direta e indireta trata da temática

de Segurança Alimentar e Nutricional. Porém, a LOSAN foi criada em 2006 e apenas

em 2010 ela foi regulamentada pelo Decreto nº 7.272, conforme caput:

Regulamenta a Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada, institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN, estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e dá outras providências (BRASIL, 2010 b, p. 01).

Aderir ao SISAN não é uma questão obrigatória, porém, como nas diversas

políticas que adotaram os modelos nacionais para o aprimoramento da gestão

pública – SUS, SUAS e SISAN - é primordial a adoção. Para os estados e

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municípios aderirem ao SISAN precisam cumprir alguns requisitos conforme consta

no artigo 11 do decreto nº 7.272, o qual orienta que devem ser respeitados os

princípios e diretrizes do sistema:

§ 1º A formalização da adesão ao SISAN será efetuada pela Secretaria Executiva da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. § 2º São requisitos mínimos para a formalização de termo de adesão: I - a instituição de conselho estadual, distrital ou municipal de Segurança alimentar e nutricional, composto por dois terços de representantes da Sociedade Civil e um terço de representantes governamentais; II - a instituição de câmara ou instância governamental de gestão intersetorialidade segurança alimentar e nutricional; e III - o compromisso de elaboração do plano estadual, distrital ou municipal de segurança alimentar e nutricional, no prazo de um ano a partir da sua assinatura, observado o disposto no Art. 20 (BRASIL, 2010, p. 06,07).

Como podemos ver, a adesão ao SISAN é um conjunto: Conselho + Câmara

Intersetorial + Plano = Adesão ao SISAN. Mesmo não se tratando de uma adesão

obrigatória, o Art. 1º da resolução nº 9 da CAISAN apresenta imensas vantagens,

tais como recebimento de recursos em regime de cofinanciamento, pontuações

adicionais em editais de chamada pública etc.

Para adesão do SISAN nos municípios baianos, compete ao Grupo

Governamental de Segurança Alimentar e Nutricional (GGSAN) a mobilização,

identificação e orientação dos municípios que despertem o interesse na adesão ao

SISAN. É Incumbência também do GGSAN o acompanhamento e apoio nas fases

de ―elaboração dos normativos municipais, analisar documentação, enviar para a

análise do CONSEA-BA, validar o cumprimento dos requisitos para adesão do

município, e enviar a listagem dos municípios aptos para a adesão ao SISAN‖, ao

CAISAN nacional para o possível referendo (BAHIA, 2015, p. 09).

O papel dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar e Nutricional

(COMSEA) são fundamentais, tanto para adesão do SISAN, quanto para a

descentralização e participação dos diversos atores sociais na agenda das políticas

públicas. Outro fator importante é que o Conselho nacional de SAN depende do

funcionamento dos COMSEA‘s, por se tratar de instâncias interligadas. A estrutura

dos Conselhos de SAN são as mesmas independentemente de ser Nacional,

Estadual e/ou Municipal: I - Presidência; II - Plenário; III – Câmaras Temáticas

Permanentes.

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5.1 Caracterização do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e

Nutricional de Feira de Santana (CONSEA/FSA).

O CONSEA/FSA é um órgão consultivo e de assessoramento, por se tratar de

Município, a assessoria é ao Prefeito. Em Feira de Santana, o CONSEA/FSA foi

instituído por Lei nº 2.411 de 26 de junho de 2003, passando por alterações pela Lei

nº 2.524, de 01 de outubro 2004, e extinto no mesmo ano. Após dez anos de sua

extinção o CONSEA/FSA é reativado por Decreto Municipal Nº 9.168, de 30 de

Janeiro de 2014.

Em 07 de fevereiro de 2014, foram empossados os novos conselheiros do

CONSEA/FSA de Feira de Santana, sua constituição versa sobre a Lei Orgânica de

Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN, Lei nº 11.346 de setembro de 2006. O

CONSEA/FSA é uma instituição de natureza pública, constituída de um modo

descentralizado e participativo através do poder público e pela sociedade.

O CONSEA/FSA segue as instruções constantes no caderno de Criação dos

CONSEAs, a Composição é de 2/3 da Sociedade Civil e 1/3 de representantes

governamentais ambos com áreas ligadas a temática de segurança alimentar e

nutricional. Sua composição consta no decreto n° 9.970, de 15 de junho 2016,

conforme caput do artigo ―nomeia membros para integrar o conselho municipal de

segurança alimentar e nutricional de Feira de Santana‖. Sendo 7 (sete) conselheiros

governamentais com os seus suplentes e 14 (quatorze) conselheiros da Sociedade

Civil com os seus suplentes. Conforme (quadro 9).

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QUADRO 9: ENTIDADES DO CONSEA BIÊNIO (2016-2018)

Dos órgãos governamentais I. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social: titular e suplente; II. Secretaria Municipal de Saúde: titular e suplente; III. Secretaria Municipal de Agricultura: titular e suplente; IV. Secretaria Municipal de Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico: titular e suplente; V. Gabinete do Prefeito: titular e suplente; VI. Secretaria Municipal de Educação: titular e suplente; VII. Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Naturais: titular e suplente;

Dos órgãos não governamentais I. Associações Comunitárias ou de Moradores Rurais: Titular: Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Feira de Santana Estado da Bahia APAEB; Suplente: Associação Comunitária de Matinha (ACOMA). II. Associações Comunitárias ou de Moradores Urbanos: Titular: Movimento Água é Vida (MAV); sem suplência. III. Entidades Representativas de Trabalhadores Rurais: Titular: Sindicato dos Trabalhadores/as da Agricultura Familiar de Feira de Santana; Sem suplência. IV. Entidades Representativas de Trabalhadores Urbanos: Titular: Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SINDESP); sem suplente. V. Clube de Serviços: Titular: Loja Maçônica 16 de Julho; Sem suplente; VI. Instituições de Ensino Superior: Titular: Faculdade de Tecnologia e Ciência de Feira de Santana (FTC); Suplente: Faculdade Unidas Feira de Santana (FUFS). VII. Entidades Estudantes Secundaristas: Titular: Escola Vinicius de Moraes; Sem suplente. VIII. Entidades Estudantis do Ensino Superior: Titular: Faculdade de Tecnologia e Ciência de Feira de Santana (FTC); Sem suplente. IX. Organizações Civis Sem Fins Lucrativos ou Cooperativa Produtoras/Manipuladoras de Alimentos: Titular: Cooperativa rede de Produtoras da Bahia (COOPERDE); Suplente: Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização de Produtos da Agricultura Familiar de Feira de Santana (COOBAF). X. Entidades Representativas que Congregam Técnicos que atuam em Programas de Segurança Alimentar e Nutricional: Titular: Conselho Regional de Nutrição (CRN) 5ª Região; Sem suplente. XI. Organizações Não-Governamental: Titular: Movimento de Organização Comunitária (MOC); Suplente: Movimento Nacional de População de Rua Núcleo de Feira de Santana. XII. Representantes de Instituições Industriais: Titular: Centro das Indústrias de Feira de Santana (CIFS); Sem suplente. XIII. Representantes de Instituições Comerciais: Titular: Associação Comercial e Empresarial de Feira de Santana (ACEFS); Sem suplente. XIV. Representantes do Sistema “s”: Titular: Serviço Social do Comércio de Feira de Santana (SESC); Sem suplente.

ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

Com vistas a aderir o SISAN, em 2015 o CONSEA/FSA iniciou seu processo

de adesão ao SISAN debatendo com os conselheiros a proposta de lei e enviando à

Câmara de Vereadores como projeto de lei, que após ajustes é colocada em

votação e aprovada no mesmo ano. Logo em 10 dezembro de 2015, foi aprovado

em âmbito municipal a Lei nº 3.593/2015 que institui o SISAN e ―define os seus

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componentes e parâmetros para a implementação da política municipal de

segurança alimentar e nutricional e dá outras providências‖, conforme preconiza o

artigo 10 da lei que trata dos componentes Municipais do SISAN:

I - A Conferência Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional instância responsável pela indicação ao CONSEA Municipal das diretrizes e prioridades da Política e do Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, bem como pela avaliação do SISAN no âmbito do Município; II - O CONSEA Municipal, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, por meio de dotação orçamentária própria, será constituído por 1/3 de representantes governamentais e 2/3 de representantes da Sociedade Civil, tendo as seguintes atribuições: a) elaborar seu regimento interno, bem como propor suas alterações; b) eleger seu Presidente, dentre os representantes da Sociedade Civil; c) convocar a Conferência Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, definindo seus parâmetros de composição, organização e funcionamento, por meio de regimento próprio; III - A Câmara Intersetorial Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional- CAISAN Municipal integrada por Secretários Municipais responsáveis pelas pastas afetas à consecução da Segurança Alimentar e Nutricional, terá as seguintes atribuições, dentre outras: a) elaborar o Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, considerando as especificidades locais, observando os requisitos, as dimensões, as diretrizes e os conteúdos expostos no Decreto nº 7272/2010, bem como os demais dispositivos do marco legal vigente, bem como as diretrizes emanadas da Conferência Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional do CONSEA Municipal, indicando diretrizes, metas fontes de recursos e os instrumentos de acompanhamento, monitoramento e avaliação de sua implementação; b) monitorar e avaliara execução da Política e do Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional;

O CONSEA/FSA tem a importante tarefa de criar a CAISAN, que por sua vez

precisa elaborar o Plano Municipal de Segurança Alimentar Nutricional (PMSAN),

partindo de um processo participativo e intersetorial contando com as oitivas da

sociedade civil organizada, Organizações da Sociedade Civil (OSC) e secretarias

que trabalham com esta temática. O funcionamento do CONSEA/FSA é de segunda

a sexta das 08 às 12h e das 14h às 18h, no Endereço: Rua Domingos Barbosa de

Araújo, nº. 611 Bairro: Kalilândia, Cidade de Feira de Santana – Bahia.

Em relação ao CONSEA/FSA, ainda há muito que avançar, o próprio

regimento interno aponta fragilidade quando no Art. 3º, por exemplo, não deixa

definido quais são as câmaras temáticas, a saber, o CONSEA/FSA ―poderá contar

com câmaras temáticas permanentes, ou grupos de trabalho quando necessário,

designados pelo plenário para encaminhar discussões e elaborar propostas à

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consideração do colegiado‖. Ao que consta no regimento interno sua estrutura

organizacional é (figura 5):

FIGURA 7: Estrutura organizacional do CONSEA -2018

ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda

Muito embora não fique claro no regimento interno a estrutura organizacional

do CONSEA/FSA, o que foi possível identificar foi esta estrutura. Um fato curioso é

que o regimento contém apenas 2 (duas) laudas, o que seria impossível descrever

as finalidades, competências, composição, estrutura organizacional e disposições

finais em poucas laudas.

As políticas, programas e ações que o CONSEA vem discutindo, implantando

e monitorando atualmente é o Plano de Aquisição de Alimentos – PAA, Restaurante

Popular, equipamentos e OSC de Assistência Social, Banco de Leite, CAISAN,

Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional.

Plenário

Câmaras

Temáticas

Permanentes

Secretaria

executiva Auxiliar

Administrativo

Presidência Grupos de

Trabalhos

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6. DIÁLOGOS, ENCAMINHAMENTOS E CONCERTAÇÃO: ANALISANDO O INSTRUMENTO DA INTERSETORIALIDADE NOS CONSELHOS

Este capítulo sintetiza os achados da pesquisa documental e das oficinas

realizadas. Com a análise dos documentos foi possível identificar no CMAS algumas

resoluções conjuntas e atas que abordam sobre o diálogo com outros conselhos de

Políticas Sociais, a resolução nº 01/2015 - CMAS/FSA e nº 10/2015 - CMI/FSA:

―Dispõe sobre a Resolução conjunta pertinente ações que visam garantir os direitos

da Pessoa Idosa inseridas nos serviços, planos, programas, projetos e benefícios da

Assistência Social‖ (CMAS e CMI, 2015).

A resolução surgiu pela necessidade de realizar fiscalização conjunta aos

equipamentos estatais e organizações que prestam serviços às pessoas Idosas do

município, trata-se de uma proposta inovadora que reduz recurso (na utilização do

automóvel dos conselhos), otimiza o tempo (pelo fato de ter apenas um automóvel

na casa dos conselhos para atender a todos, embora pertença ao CMAS), qualifica a

fiscalização, pois a visita será feita conjunta com uma equipe multidisciplinar.

No mesmo ano o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente do Município de Feira de Santana (CMDCA/FSA) juntamente com o

CMAS aprova a resolução nº 01/2015 – CMDCA e nº 14/2015 CMAS que ―Dispõe

sobre à Resolução conjunta pertinente a Regulamentação e Normatização de

Serviços de Acolhimento Institucional e Familiar no Município [...]‖ (CMAS e CMDCA,

2015), a referida resolução no seu artigo 2º versa sobre a intersetorialidade na oferta

da rede de serviços e da política pública local.

Em 2016, outra experiência evidenciada sobre a intersetorialidade foi sobre o

Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), a resolução surgiu devido à discussão

no CMAS sobre os critérios de elegibilidade e seleção dos beneficiários do PMCMV,

devido à morosidade e falta de clareza na seleção dos beneficiários, além da

inserção do público alvo do programa que não estava inscrito e que necessitava de

celeridade, como nos casos de pessoas em situação de rua, pessoas com

necessidades especiais e outros grupos prioritários.

O CMAS criou uma comissão para avaliar os documentos dos usuários que

não tinham a inscrição no PMCMV, após discussão dos conselheiros foi aprovada a

resolução nº 12/2016 – CMAS, ―Dispõe sobre a Aprovação da Comissão Municipal

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para o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV‖ (CMAS, 2016). Ainda sobre a

resolução 12/2016 do CMAS, vale ressaltar que a resolução não foi entre conselhos,

pois, não temos conselho de Habitação no Município, logo como o CMAS é um dos

maiores conselhos, fica responsável em assumir outras demandas que não seja de

forma direta da Política de Assistência, mas que tem rebatimento direto na política,

pois trata de grupos e famílias em situação de risco e vulnerabilidade social.

6.1 O PAA enquanto programa que integra a ação da intersetorialidade dos

conselhos CMAS e CONSEA/FSA.

No que tange ao CONSEA/FSA, na da 10ª reunião ordinária, realizada em 03

dezembro de 2014, onde o conselheiro representante do poder público abordou que

neste ano aproximadamente 60 entidades serão beneficiadas com o PAA e que no

próximo ano poderá ter mais 80 entidades incluídas. O conselheiro enfatiza que ―as

entidades precisam estar legalizadas e cadastradas no Conselho Municipal de

Assistência Social‖ (ATA CONSEA, 03 de dezembro de 2014).

Na ata da 3ª reunião extraordinária do CONSEA/FSA, de 25 de fevereiro de

2015 o mesmo conselheiro informou que o número de entidades beneficiarias

passou de 61 para 83, informou ainda que ―as entidades devem estar inscritas no

Conselho Municipal de Assistência Social e também no Conselho Municipal de

Segurança Alimentar e Nutricional de Feira de Santana‖ (ATA CONSEA, 2015).

A ata da 27ª reunião ordinária do CONSEA/FSA, realizada no dia 17 de março

de 2017, a presidente do conselho relata que o CONSEA/FSA realizou visitas às

entidades cadastradas no CMAS. Assim, a partir das informações contidas nas atas

destacadas, percebeu-se a necessidade de inscrição/legalização das entidades em

mais de um conselho para que as mesmas possam acessar as doações do PAA.

Assim, ratifica-se a necessidade de ações de fiscalização e atuação conjuntas dos

referidos conselhos, no sentido de garantir o acesso aos programas mencionados e

as demais políticas sociais que garantam o ―bem-estar do cidadão‖. Ficou evidente

que as entidades devem estar devidamente regulares no CMAS, com suas

inscrições ativas, relatórios anuais e planos de ação em dias para o CONSEA/FSA

esses são pré-requisito para receber a doação do PAA.

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Na ata 219ª da reunião ordinária do CMAS realizada em 13 de janeiro de

2017, representante do CONSEA solicitou pauta por meio de oficio para discussão

do PAA, segundo a presidente do CONSEA algumas entidades socioassistenciais

terão dificuldades para receber ―os alimentos do PAA por não estarem inscritas no

CMAS e isso é um pré-requisito‖ (ATA CMAS, 13 de julho de 2017). Segundo a

Presidente do CMAS esse debate sobre o PAA já tinha sido fomentado na reunião

do MDS em Brasília, que culminou na Resolução nº 72, de 09 de outubro de 2015,

na qual ―Dispõe acerca da destinação dos alimentos adquiridos com recursos do

Programa de Aquisição de Alimentos – PAA‖ (BRASIL, 2015, p. 01).

Na mesma ata, o secretário de Desenvolvimento Social também reafirma que

―toda entidade para receber o PAA tem que estar inscrita no CMAS‖, em seguida a

secretária executiva do CMAS leu a lista das 26 entidades que o CONSEA

encaminhou ao ―CMAS referente ao PAA e explicou a situação de cada uma sendo

que a maioria já foi desligada do CMAS por não ser socioassistencial‖, após

explanações os conselheiros acordaram que o conselho ―fará as vinte e seis visitas

a partir do dia vinte e quatro de julho do ano em curso‖ (IDEM).

Na ata do dia 24 de agosto de 2017, ata da 223ª da reunião extraordinária do

CMAS, a presidente informou que o conselho ―está fazendo visitas às entidades

para o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA um trabalho minucioso e

parabenizou toda equipe de fiscalização‖ (ATA CMAS, 2017). Um fato curioso é a

afirmação dos representantes do CONSEA e do próprio secretário da pasta em dizer

que é pré-requisito que as entidades beneficiarias do PAA terão que estar inscritas e

regulares no CMAS, ou seja, as entidades têm que desempenhar ações de serviços

socioassistenciais, determinação que implicará no funcionamento de muitas

Organizações da Sociedade Civil – OSC, tais implicações serão:

1º: A entidade que requeira a doação do PAA para desempenhar suas

atividades, necessitará de prévia inscrição no CMAS, para solicitação de inscrição a

OSC deverá cumprir as prerrogativas da Resolução CNAS nº 14/2014. Tal resolução

―Define os parâmetros nacionais para a inscrição das entidades ou organizações de

Assistência Social, bem como dos serviços, programas, projetos e benefícios

socioassistenciais nos Conselhos de Assistência Social‖ (BRASIL, 2014, p. 01). Os

requisitos estão postos no Art. 3º da LOAS, e no Art. 2º desta resolução, que trata:

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I - de atendimento: aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços, executam programas ou projetos e concedem benefícios de proteção social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidades ou risco social e pessoal, nos termos das normas vigentes; II - de assessoramento: aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de Assistência Social, nos termos das normas vigentes; III - de defesa e garantia de direitos: aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos voltados prioritariamente para a defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais e articulação com órgãos públicos de defesa de direitos, dirigidos ao público da política de Assistência Social, nos termos das normas vigentes (BRASIL, 2014, p. 3).

Tanto a Política de Assistência Social com seus instrumentos normativos,

quanto à própria Resolução 14/2014 deixam claro quem são as entidades e/ou

organizações que desempenham serviços na área de Assistência Social. Algumas

entidades que não são de Assistência Social poderiam questionar que pelo fato da

obrigatoriedade exigida pelo CONSEA/FSA, sua inscrição deveria ser feita, a

resolução teria uma brecha para essa situação, constante no Art. 10. Porém, o

mesmo artigo esclarece:

As entidades ou organizações sem fins lucrativos que não tenham atuação preponderante na área da Assistência Social, mas que também atuam nessa área deverão inscrever seus serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, além de demonstrar que cumprem os critérios do Art. 5º e do Art. 6º desta Resolução, mediante apresentação de: I - requerimento, na forma do modelo Anexo III; II - cópia do Estatuto Social (atos constitutivos) registrado em cartório; III - cópia da ata de eleição e posse da atual diretoria, registrada em cartório; IV - plano de ação (BRASIL, 2014, p. 6).

Aqui seria uma grande saída para as entidades e/ou organizações que atuam

em outras áreas que não a de Assistência Social. Logo, a própria resolução explicita

que a entidade não deverá requerer a inscrição da entidade e sim os serviços,

programas, projetos e benefícios que tenham recorte na Política de Assistência

Social. Cabendo ainda à comissão de fiscalização do CMAS em visita à entidade

para inscrição a verificação dos Relatórios de Atividades, do Plano de Ação e dos

subsídios levantados na visita, ambos deverão ter um recorte socioassistencial.

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2º: Se é prerrogativa para acessar o PAA a inscrição no CMAS, como ficarão

os outros segmentos constantes no Art. 9º, III – o abastecimento de equipamentos

de alimentação e nutrição; IV - o abastecimento das redes públicas de ensino e

saúde, das unidades de internação do sistema socioeducativo e dos

estabelecimentos prisionais; [...] (BRASIL, 2012, p. 01). Como podemos ver o PAA

não é restrito aos públicos e entidades da Assistência Social, ele perpassa por

Saúde, Educação e outras políticas setoriais e transversais. Outro questionamento é

como ficam a questão das políticas transversais de Criança e Adolescentes, Idosos,

Mulheres, pessoas com deficiência, Juventude. E os respectivos conselhos? Não é

importante manter um diálogo com esses conselhos transversais?

3º: Prerrogativa conforme a ata de número 219 do CMAS, referente a reunião

ordinária de 13 de janeiro de 2017, que discutiu sobre as 26 entidades que estavam

desligadas do CMAS por não ofertarem serviços socioassistenciais. Para

religamento, as entidades deverão se adequar à resolução 14/2014 e a tipificação

Nacional de Serviços Socioassistenciais – Resolução 109 de novembro de 2009.

Questão que dificultará a atuação da entidade que já destina outras ações e que

pela necessidade de adequação poderá desviar sua missão e princípios estatutários.

4º: Implicação ao colocar como pré-requisito a inscrição das entidades no

CMAS, esse novo fluxo de inscrição implica no bom funcionamento do CMAS, além

de atender suas demandas usuais, deverá se readequar para atender mais uma que

não estava planejada nem inclusa no Plano Municipal de Assistência Social.

5º: Implicação, como as inscrições no CMAS obedecem a resolução 14/2014,

a comissão de fiscalização segue um roteiro de visita para entidades que prestam

serviços socioassistenciais, logo com essa deliberação de inscrição no CMAS o

roteiro de entrevista deverá ser readequado apenas para atender essa demanda.

Outro fato curioso é a questão que trata o Decreto nº 7.775/12, capítulo VII,

Art. 44, que define quem são as instâncias de controle social do PAA e quem poderá

ser caso não exista o CONSEA. Conforme Art. 44:

São instâncias de controle e participação social do PAA os conselhos de segurança alimentar e nutricional nas esferas nacional, estadual e municipal, e o comitê de caráter consultivo constituído nos termos do Art. 22. § 1º Excepcionalmente, na hipótese de inexistência de conselhos estaduais, distrital e municipais de segurança alimentar e nutricional, deverá ser indicada a instância de controle social responsável pelo acompanhamento

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da execução do PAA, preferencialmente o Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável ou o Conselho de Assistência Social. § 2º As instâncias de controle social deverão se articular com os conselhos competentes, para o tratamento de questões intersetoriais, que requeiram decisão compartilhada. (Decreto, 7.775/2012, p 19 e 20).

Em se tratando do Município de Feira de Santana, temos os três conselhos. É

válido sinalizar que o Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável – CDRS hoje

é o Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável - CMDS. Na existência dos

três, quem de fato assume as questões do PAA é o CONSEA, conforme o Art. 44.

Porém, no § 2º enfatiza que as instâncias de controle deverão articular-se de forma

intersetorial para tomada de decisões. Esse seria um dos grandes potenciais para

sanar um dos desafios da intersetorialidade. Primeiro, poderia ser criada uma

instância de controle compartilhada, segundo, o único conselho que é deliberativo é

o CMAS – que poderá criar instrumentos normativos que facilite esta ação.

6.2 A intersetorialidade para os conselheiros do CMAS e CONSEA/FSA.

Para obtenção das prioridades para o enfrentamento do desafio da

intersetorialidade, foram realizadas oficinas com os conselheiros, a princípio as

oficinas foram realizadas separadamente, logo após a sistematização foi exposto o

diagnostico encontrado e traçado prioridades e responsabilidades para os

respectivos conselhos. Nas primeiras oficinas foi inicialmente apresentado o tema da

pesquisa, seus objetivos e sua questão problema, em seguida divididas em grupos

de no máximo 5 (cinco) pessoas e colocado em discussão algumas perguntas

norteadoras, após debate entre eles, foi exposto a visão de cada grupo que serviu

de norteadora para a sistematização das respostas.

Para melhor visualização do debate feito nas primeiras oficinas e para

contribuir na apresentação do diagnostico foram elaborados quadros com as

mesmas perguntas para os referidos conselhos, a intenção dos quadros não é

comparar, mas sim obter elementos que contribuam para a segunda oficina que foi o

ponto-chave para estabelecer prioridades e responsabilidades que amenizem os

desafios da intersetorialidade. Sendo assim, a primeira pergunta buscou o

entendimento dos representantes dos conselhos sobre ela (quadro 10).

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QUADRO 10: Concepções sobre intersetorialidade dos representantes dos conselhos.

QUESTÃO CMAS CONSEA

Para vocês o que é intersetorialidade?

a) Integração entre setores públicos e privados; b) Diálogos, interação de vários setores; c) Conjuntos de ações que visam o diálogo entre as políticas sociais para que sejam continuadas e permanentes. d) Integração entre setores diversos públicos e privados, devendo [...] ter uma atenção concreta para que realmente sejam efetivados os serviços e ações que mudem a realidade social.

a) Interligação e/ou participação de diversos setores da Sociedade Civil, OSC e poder público para promover ações em comum; b) Vinculações de ações das diferentes áreas da gestão pública; c) Reunião entre setores com objetivos de alcançar resultados coletivos. d) Reunião entre setores, para que se consiga um resultado coletivo de uma política social.

ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

Ao que pese o conceito de intersetorialidade, visivelmente os conselheiros

sabem o que significam, salvo poucos representantes que desconheceram o

assunto17. As respostas destes aproximam-se com os conceitos de Feuerwerker e

Costa (2000); Inojosa (1998); Pereira (2014) etc. O debate confirma o que Pereira

(2014) chama de polissemia de interpretação da terminologia intersetorialidade.

Na oficina realizada no CMAS uma interpretação que se aproxima dos

conceitos citados referentes à intersetorialidade, os representantes do conselho

afirmaram ser a ―integração entre setores diversos públicos e privados, devendo [...]

ter uma atenção concreta para que realmente sejam efetivados os serviços e ações

que mudem a realidade social‖ (CMAS GRUPO 04). Nessa mesma linha, o

entendimento dos conselheiros coaduna com Feuerwerker e Costa (2000, p. 94),

esse modelo de gestão das políticas públicas e sociais permitem ―a superação da

fragmentação dos conhecimentos‖ e ―produzem efeitos mais significativos‖ capazes

de relacionar atores sociais em vista de superar os desafios da questão social.

No campo da Política de Assistência Social e nas demais políticas sociais a

intersetorialidade é apresentada como um dos eixos estruturantes que ―passaram a

enfrentar os obstáculos de um ambiente historicamente setorial, fruto das influências

do modelo cartesiano na intervenção estatal‖, trazer esse debate para o campo da

Assistência Social nos remete a retomar o contexto histórico de uma ―cultura política

17

No momento da realização da oficina alguns conselheiros disseram desconhecer este tema, é valido ressaltar

que esse número é ínfimo em comparação ao quantitativo de participantes na oficina.

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nacional, marcada por ações de caráter clientelista, paternalista e assistencialista‖.

Por isso, essa abordagem da ação intersetorial enfrenta uma série de desafios para

superá-la (DE LIMA PEREIRA e TEIXEIRA, 2013, p. 122).

Os conselheiros do CONSEA afirmaram que intersetorialidade é a ―reunião

entre setores, para que se consiga um resultado coletivo de uma política social‖

(CONSEA GRUPO 02).

As respostas apresentadas pelos conselheiros imprimem a imagem que a

intersetorialidade é algo vivo dentro deste espaço de controle social, do mesmo

modo que, seja um debate apenas no campo das ideias - daquilo que deveria ser,

ou, a ser adotado - o que chamamos de modelo de gestão organizacional. Também

não podemos descartar a grande possibilidade do vir a ser, dada o entendimento do

tema.

Ou seja, a ação intersetorial é um modelo de gestão organizacional

introduzindo ―práticas de planejamento e avaliação participativas e integradas, na

perspectiva situacional, de compartilhamento de informações e de permeabilização

ao controle social‖ (INOJOSA, 1998, p. 43)

A segunda questão discutida foi sobre a integração entre os conselhos e a

gestão pública (Quadro 11):

QUADRO 11: Perspectivas dos conselheiros do CMAS e CONSEA sobre a integração entre conselhos e gestão pública de Feira de Santana 2018.

QUESTÃO CMAS CONSEA

Existe integração entre os Conselhos e com outras instâncias de Gestão de

políticas públicas? Com qual periodicidade? Quais

principais deliberações e encaminhamentos?

a) Esporadicamente sempre quando identificamos uma demanda, ou por forças normativas (Conselho do Idoso, Criança e Adolescente, Igualdade Racial, Segurança Alimentar...), porém necessita de maior articulação; b) Em relação a instância de gestão existe com a Secretaria de Desenvolvimento Social; c) Existem, porém as ações transversais precisam ser melhor discutida; d) os principais encaminhamentos são feitos por meio de resoluções.

a) Existe dialogo quando necessário com outros conselhos e instâncias de gestão, porém é uma fragilidade muito grande quando se trata de promoção de ações em comum; b) Existem discursões casualmente por exigências legais, normalmente em algumas situações de consultas sobre as instituições (OSC e entidades); c) Alguns representantes apontam que não existe integração.

ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda.

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As respostas encontradas no quadro 11 confirmam o desafio de que a

intersetorialidade também confirma a necessidade deste diálogo, quer seja nos

espaços de controle social, quer seja nos espaços de gestão pública. De certa

forma, forças normativas vêm acontecendo com maior frequência no CMAS, o

número de resoluções conjuntas com os conselhos setoriais são prova disso. Muito

embora esse diálogo devesse ser permanente e um elemento basilar para um bom

desempenho das políticas sociais.

Por outro lado, o fato do CMAS ser um conselho deliberativo, normativo e

fiscalizador sua atuação nos municípios é bem maior do que o CONSEA/FSA que é

apenas de assessoramento (consultivo). Como os próprios conselheiros afirmaram

por forças normativas os demais conselhos setoriais, ―existem entre os conselhos do

Idoso, Criança e Adolescente, Igualdade Racial [...], em relação a gestão pública a

maior frequência é com a Secretaria de Desenvolvimento Social – SEDESO‖ (CMAS

GRUPO 05).

Mesmo não acontecendo com a frequência do CMAS, no CONSEA/FSA, os

conselheiros responderam que nos últimos meses houve uma maior articulação com

representantes de organizações sociais e as secretarias envolvidas na construção

da ―Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional – CAISAN, sendo

elas Saúde, Agricultura, Educação, Desenvolvimento Econômico, Desenvolvimento

Social, Fazenda, Planejamento e Gabinete do Prefeito‖ (CONSEA GRUPO 08).

Ainda quando questionado se o Conselho reúne com outros órgãos da Gestão

Pública (Secretarias, superintendência, departamento, outros)? E Quais? CMAS

informou:

Sim, habitualmente com a SEDESO e seus departamentos, e esporadicamente com as demais secretarias de Saúde, Educação, Agricultura, Desenvolvimento Econômico, Planejamento, Fazenda entre outras, Porém, existe uma relação maior com a Secretaria de Habitação devido os empreendimentos do Minha Casa Minha Vida (CMAS GRUPO 01).

A relação de proximidade de debate com a SEDESO é dada pelo fato que o

CMAS é subordinado no tocante ao recurso para seu funcionamento. É bom deixar

claro que o CMAS é um órgão colegiado e autônomo, a subordinação é referente ao

seu funcionamento. Mesmo o CMAS tendo representantes de diversas secretarias,

isso não a configura como ação intersetorial, pois na maioria das vezes os

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representantes das secretarias como conselheiros são pessoas do quadro de

funcionários e não os gestores que detém autonomia nas tomadas de decisões.

Já o CONSEA/FSA sua maior relação é com a Secretaria Municipal de

Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico (SETTDEC), secretaria na qual é

responsável pelo PAA, devido a esse programa a Secretaria de Desenvolvimento

Social – pois, a doação dos alimentos é destinada às entidades socioassistenciais –

e, Secretaria de Agricultura pelo fato da compra dos produtos dos agricultores

familiares.

O quadro 12 sintetiza os problemas encontrados nos conselhos e se tem

rebatimento em outros conselhos:

QUADRO 12: Concepção dos representantes do CMAS e CONSEA sobre os problemas identificados nos conselhos, 2018.

Perguntas norteadoras

CMAS CONSEA

Para vocês os problemas

encontrados nestes

conselhos, tem rebatimento em

outros conselhos?

Quais?

a) Sim, levando em conta que a Política de Assistência Social tem características transversais, algumas ações poderiam ser realizadas em conjunto otimizando tempo e recurso; b) os problemas encontrados no conselho tem interlocução com os outros, pois todos lidam com diversas problemáticas sociais, tais como: População em situação de rua, preconceito racial, segurança alimentar; c) Política de Assistência Social tem características transversais, porém vale salientar que a efetivação da política pública depende de ações e financiamentos inseridos nos outros conselhos.

a) Sim, por exemplo o PAA cabe ao CMAS fornecer a relação das entidades (Organização da Sociedade Civil –OSC) inscritas para que sejam repassados os alimentos as OSC, é uma prerrogativa do CONSEA que as entidades estejam cadastradas; b) Sim, segurança alimentar perpassa por todas as políticas e consequentemente em todos os conselhos; c) Os problemas da Segurança Alimentar têm rebatimentos nos diversos campos porém não é elevado este assunto para as demais instâncias; d) Existe uma interlocução e todos lidam com problemáticas sociais, logo refletem em outros conselhos a exemplo de: homofobia, preconceito racial, violência à mulher, criança e adolescente, idosos.

ELABORAÇÃO: Reginaldo Dias de Miranda.

Os dois conselhos reconhecem que alguns problemas têm rebatimento nos

outros espaços de controle social, fato que não seria novidade por se tratar de

espaço de debate das políticas sociais (Proteção Social e Promoção Social), que

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conforme Castro (2012, p. 1018) essas políticas sociais tratam-se de um ―conjunto

de políticas, programas e ações‖ visando intervir nas situações de riscos e

vulnerabilidades sociais da população.

O autor afirma que as Políticas Sociais desempenham ―papel estratégico

como alavancadora do desenvolvimento nacional, mediante seus resultados na

ampliação da justiça e coesão social‖ (CASTRO, 2012, p. 1038). Esse papel

estratégico elencado pelo autor, perpassa pelo controle social, espaço garantido por

lei para apreciação, fiscalização, construção e implementação das políticas sociais,

que requer estratégias intersetoriais que por vezes tem rebatimento nos demais

espaços de controle.

Conforme Grupo 01, a Política de Assistência Social ―tem características

transversais, porém vale salientar que a efetivação da política pública depende de

ações e financiamentos inseridos nos outros conselhos‖ (CMAS GRUPO 01, 2018).

Ações conjuntas é uma estratégia de otimizar tempo e recurso, além de garantir uma

eficácia na aplicabilidade da política. O grupo 02 salienta que as ―existe uma

interlocução e todos lidam com problemáticas sociais, logo refletem em outros

conselhos a exemplo de: homofobia, preconceito racial, violência à mulher, criança e

adolescente, idosos [...]‖ (CMAS GRUPO 02, 2018).

Do mesmo modo no CONSEA/FSA, os grupos deram respostas semelhantes.

Segundo o grupo 05, o debate da ―Segurança Alimentar e Nutricional perpassam em

toda a sociedade e todos os conselhos, a exemplo de Educação, Assistência Social,

Saúde, Idoso‖ (CONSEA GRUPO 05, 2018). Porém, o grupo 04, afirma que mesmo

sabendo desse rebatimento nos demais conselhos, o CONSEA/FSA discute ―no

próprio conselho e não é levado a outros espaços que pertencem o assunto‖

(CONSEA GRUPO 04, 2018).

Como as políticas sociais no Brasil estão interligadas, numa visão geral, é

como se pudéssemos comparar com uma engrenagem que necessita de todos os

dentes ligados à coroa e o pinhão para funcionar. Imaginemos que cada caixinha

seja uma engrenagem (pinhão e/ou coroa) e que o bom funcionamento da

engrenagem necessita da integração destes setores (intersetorialidade). Tanto a

figura 01 (ver página 28), apresentada por de Castro (2012) no capitulo 1, quanto as

respostas dos conselhos apresentam-se de forma clara que a estrutura das políticas

sociais depende uma das outras para seu provimento.

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Do mesmo modo, que aponta o papel fundamental dos conselhos como

instrumento de concertação, pois a partir deles as problemáticas são identificadas e

encaminhadas para os seus devidos espaços de intervenção.

Não obstante, este estudo busque elementos que contribua no melhor

funcionamento dos conselhos, ação na qual implicará na gestão das políticas

sociais. Os achados até aqui evidenciados apontam que na sua maioria as

problemáticas encontradas nos conselhos têm rebatimento nos demais espaços de

controle social e da gestão pública. Porém, até o momento não foi encontrado

elementos que apontem saídas para esses desafios, o que legitima ainda mais

avançar na pesquisa e contribuir propondo mecanismos que facilite o diálogo

intersetorial entre as instâncias de controle social, e quiçá entre as estruturas da

gestão pública municipal.

A partir do quadro 13, procurou-se entender a atuação dos conselhos entre o

rural e urbano, bem como se existe diferença na atuação.

QUADRO 13: Concepções dos representantes do CMAS e CONSEA sobre a diferença entre rural e urbano.

Perguntas norteadoras

CMAS CONSEA

Existem diferenças

de atuação do conselho entre o Urbano e Rural?

1. Sim, pois o rural ainda necessita de um olhar diferenciado; 2. Embora as orientações do CNAS sejam uniformes, o olhar técnico da realidade do território são diferentes e precisam ser melhor dialogados.

1. Sim, pelas demandas e realidades que são diferentes; 2. Existe uma discrepância entre o urbano e rural, o urbano está associado a falta de produção e o rural a produção dos alimentos, porém a maior discrepância é no quesito dos beneficiários, por exemplo um morado do distrito só pode se cadastrar para fornecer alimentos e não para receber.

ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

Mesmo que as políticas sociais aqui elencadas não façam distinção entre

rural/urbano, até porque no seu desenho institucional as políticas são

universalizadas, os achados das oficinas e dos documentos apontam outra

realidade. Existem sim, uma discrepância no provimento das políticas sociais e mais

ainda na atuação dos conselhos.

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A partir da análise documental detectou-se que nas ultimas 4 (quatro) gestões

(eleições) do CMAS, não houver representação de entidades rurais, todas são do

espaço urbano (quadro 14).

QUADRO 14: ENTIDADES QUE COMPÔEM O CMAS - 2011-2020

BIÊNIOS REPRESENTAÇÕES DE ENTIDADES

2011-2013

1º Titular: Associação dos Moradores Parque Brasil; 1º Suplente: Dispensário Santana; 2º Titular: ONG Crescer Cidadão; 2 º Suplente: Associação de Pais e Amigos Excepcionais - APAE; 3º Titular: Associação Cristã Nacional - ACN; 3º Suplente: Associação Autista de Feira de Santana;

2013-2015

1º Titular: Instituto Maria Galbusera; 1º Suplente: Instituto Bambu; 2º Titular: Associação Feirense de Assistência Social – AFAS; 2 º Suplente: Coletivo de Mulheres; 3º Titular: Associação Cristã Nacional - ACN; 3º Suplente: Centro de Recuperação Esquadrão Redentor - CRER.

2016-2018

1º Titula: Crescer Cidadão; 1º Suplente: Associação de Pais e Amigos Excepcionais - APAE; 2º Titular: Associação Feirense de Assistência Social – AFAS; 2 º Suplente: Palácio de Acolhimento ao Menor; 3º Titular: Instituto Maria Galbusera; 3º Suplente: Sem suplência.

2018-2020

1º Titular: Associação Cristã Nacional – ACN; 1º Suplente: Associação de Pais e Amigos Excepcionais - APAE; 2º Titular: Palácio de Acolhimento ao Menor; 2 º Suplente: União Baiana de Cegos – UBC; 3º Titular: Lar do Irmão Velho; 3º Suplente: Associação Pedra do Jacó.

FONTE: Trabalho de campo (2018). ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

Enquanto no CONSEA, a distribuição das vagas para conselheiros por

entidades tem uma boa representatividade de seguimentos dos espaços urbanos e

rurais, definido por lei (quadro 14). No tocante ao CMAS, esse é um fato

preocupante, pois mesmo com o avanço da Política de Assistência Social - política

pública, gratuita, continuada para todos que necessitam – no espaço rural não

conseguiram superar essa disparidade18.

Sobre a Política de Assistência Social não podemos esquecer o contexto na

qual ela está inserida, e qual seu público prioritário. Seu atendimento estava

18

Não estamos tratando da disparidade do acesso a política de Assistência, os usuários do espaço rural são

atendidos pelos equipamentos e serviços, a reflexão aqui vai mais além, é preciso garantir a incidência desses

sujeitos nos espaços de debate, de construção de políticas sociais.

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focalizado nos grandes centros urbanos, devido ao êxodo rural, a mudança de

atividade econômica - agrário exportadora para urbana industrial - elevou a

população oriunda do meio rural a estados içados de pauperização.

QUADRO 15: ENTIDADES QUE COMPÔEM O CONSEA/FSA - 2014-2018

BIÊNIOS REPRESENTAÇÕES DE ENTIDADES

2014-2016

I. Representantes de Associações Comunitárias ou de Moradores Rurais; Titular: Associações dos Pequenos Agricultores do Município de Feira de Santana – APAEB; Suplente: Associação Comunitária de Matinha – ACOMA;

II. Representantes de Entidades Representativas de Trabalhadores Urbanos; Titular: Movimento Água é Vida – MAV; - Sem Suplência;

III. Representantes de Entidades Representativas de Trabalhadores Rurais; Titular: Sindicato dos Trabalhadores/as de Agricultura Familiar de Feira de Santana – SINTRAF - Sem Suplência;

2016-2018 I. Representantes de Associações Comunitárias ou de Moradores Rurais; Titular: Associações dos Pequenos Agricultores do Município de Feira de Santana – APAEB; Suplente: Associação Comunitária de Matinha – ACOMA;

II. Representantes de Entidades Representativas de Trabalhadores Urbanos; Titular: Movimento Água é Vida – MAV; - Sem Suplência;

III. Representantes de Entidades Representativas de Trabalhadores Rurais; Titular: Sindicato dos Trabalhadores/as de Agricultura Familiar de Feira de Santana – SINTRAF - Sem Suplência;

ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

O provimento das políticas sociais no meio rural aponta um fato importante

quando nos referimos a política de Assistência Social, nas décadas de 60 e 70

houve a oferta de alguns benefícios aos trabalhadores rurais tais como: auxilio

natalidade, funeral e serviços sociais. Nesta mesma linha de pensamento, o histórico

da política de Assistência Social, de ações fragmentadas, pontuais e assistemáticas,

não distinguia suas ofertas para o meio urbano e rural, porém, de forma mais

invisibilizada a população rural, sofrendo pequenas alterações de equidade e justiça

social a partir da constituição cidadã. No debate das oficinas uma das falas no

plenário por uma conselheira nos chamou atenção e confirmou o que até o momento

viemos discorrendo sobre as discrepâncias de atuação no rural/urbano, segundo a

conselheira esse fenômeno acontece:

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Pela própria dinâmica de estar fisicamente afastada dos centros urbanos, a gente entendi aqui, que a aplicabilidade da política pública acaba ficando mais fragilizada, quanto mais afastado dos centros urbanos é mais difícil o acesso e financiamento da política de Assistência Social (CMAS, PLENÀRIA, 2018).

Na busca por compreender melhor as disparidades do rural e urbano, foi

elaborado mais uma pergunta aos conselheiros, como eles identificam as demandas

das associações, e sobre à fiscalização quais critérios são usados e se, realizam as

fiscalizações com outros conselhos:

QUADRO 16: Identificação de demandas das associações rurais e seus critérios para fiscalização.

QUESTÃO CMAS CONSEA

Como vocês identificam as demandas das associações rurais

no município? Existem critérios para fiscalização? Vocês fazem

fiscalizações conjuntas com outros conselhos?

a) São identificadas através de demandas espontâneas e/ou visitas in loco; b) Existem visitas de fiscalização as associações rurais, tendo um olhar ampliado observando a realidade local e a resolução 14/2014 do CNAS;

a) As demandas são identificadas devido a participação efetiva de representação de entidades do meio rural; b) Não existem critérios diferenciados para a fiscalização;

ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

Como podemos ver, as demandas do rural no CONSEA são mais fáceis de

ser identificadas pelo fato de terem na sua estrutura regimental representações

destes setores, porém no tocante à fiscalização, é importante salientar que o

CONSEA é uma instância de controle social da política de SAN, de consulta e

assessoramento aos Governos nas Três esfera (Nacional, Estadual e Municipal), por

tanto não fiscalizador.

Tratando-se do CMAS, este na sua estrutura regimental é um órgão

colegiado, que tem a fiscalização como umas das atribuições. Logo cabe ao CMAS

fiscalizar as entidades inscritas e as que solicitarem inscrição. No tocante a

fiscalização das entidades rurais é bem perceptiva que algumas dessas entidades

são penalizadas, não por falta de fiscalização do conselho, mas por questões

normativas, a comissão de fiscalização segue critérios da resolução nº 14/2014 que

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define os parâmetros para as inscrições das entidades, que por sua vez precisam

ser de Assessoramento, Atendimento e/ou Garantia de direitos, ou se for de outra

natureza é possível inscrever os serviços ofertados.

Visto que a própria política de Assistência Social versa pela equidade entre o

urbano e rural, é preciso um tratamento diferenciado para essa realidade, estamos

aqui tratando de concertação, de uma reparação histórica e que até o momento não

superamos. Trata-se de urgência no debate a nível nacional, estadual e municipal

em discutir as normativas no atendimento e no provimento das políticas públicas e

sociais, e isso só poderá ser superado via intersetorialidade. Colocar na mesa de

diálogo esses desafios s contribuirá de forma significativa e com certeza ampliará e

modificará esse modelo de gestão das políticas públicas e sociais.

Nas mesmas oficinas, no primeiro momento foi aplicada a árvore de

problema, com a seguinte questão ―O desafio da intersetorialidade como ferramenta

de gestão nos conselhos Municipais de Políticas Sociais‖, a aplicação desta

ferramenta buscou identificar as raízes dos problemas de cada conselho, a partir do

diálogo feito em grupo e do quadro com as questões norteadoras.

A aplicação da árvore de problemas nas oficinas dos conselhos, elencando

causas e efeitos, capturou elementos importantes para pesquisa. A árvore será

apresentada de forma separada, não afim de mera comparação, mas para que

tenhamos uma visão ampla do todo, sendo assim temos os seguintes resultados19:

19

Para essa atividade foi confeccionado uma árvore de problemas, impresso em forma de banner. A proposta

inicial era que os participantes das oficinas discutissem o problema e colassem as tarjetas com causas e efeitos,

porém, devido ao curto tempo para a aplicação das oficinas, haja vista que as oficinas eram realizadas nos

momentos de reuniões dos conselhos, essa metodologia não conseguiria dar conta com o curto período de tempo,

logo ficou pactuado que os participantes debatessem em plenário e as frases fossem colocadas na árvore do

Power Point.

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Figura 8 - Arvore de problema aplicado aos representantes do CMAS e CONSEA.

FONTE: CONSEA/FSA.

Elaboração: Reginaldo Dias de Miranda.

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A realidade na qual se insere a aplicação da árvore de problema, os dados

obtidos mostram que a intersetorialidade é de fato um desafio e que requer além da

―vontade política‖, formação em gestão das políticas públicas e sociais. Esta

situação mostra que, mesmo com a CF/88 as ações fragmentadas, centralizadas,

desarticuladas ainda persistam no novo reordenamento das políticas públicas.

Outra questão necessária que foi identificada na árvore de problemas do

CMAS, foi a questão da ―necessidade de equidade entre rural e urbano‖, os

documentos, livros e pesquisadores que abordam sobre a política de Assistência

Social, na sua maioria não discutem a questão do rural, é como se este debate não

fizesse parte desta política20, como prova disso, podemos visualizar que a maioria

dos equipamentos, se não todos, estão localizados nos grandes centros, a

Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais não especifica como serão os

serviços entre rural e urbano, muito embora a Política Nacional de Assistência Social

– PNAS prese pela matricialidade familiar e a territorialização, não encontramos nos

municípios modelos de CRAS, CREAS Rurais.

Do mesmo modo ao analisar os documentos do CMAS foi possível visualizar

as entidades são sempre da zona urbana, fato que leva ao questionamento, não

temos entidades no meio rural? Os Sindicatos Rurais não poderiam ser uma

entidade com cadeira que defendessem os direitos das comunidades rurais? Enfim,

são vários os questionamentos.

No CONSEA a realidade não é diferente, existe um distanciamento muito

grande de ações conjuntas, descentralizadas e formativas, o fato de ter na sua

estrutura organizacional representações do meio rural não quer dizer que as

demandas do rural estão sendo atendidas. Outra preocupação é que tratam-se de

conselhos que não tem orçamento (fundo), que é apenas de assessoramento

(consultivo), pelo fato de ser um conselho com maioria dos conselheiros

representante da Sociedade Civil deveria ter maior autonomia.

Outro ponto colocado foi à necessidade de formação continuada, capacidade

técnica e outras questões referente ao bom funcionamento dos conselhos, que é de

função do município, do estado e da união. Passando para a segunda etapa da

oficina, reuniu-se os dois conselhos em plenário CMAS e CONSEA, já com as

20

É importante salientar que esta afirmação não se trata de uma ideia absoluta, nem também de achismos, a

afirmação evidencia um desafio entre a politica de Assistência Social e os principais autores que a discutem.

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concepções sistematizadas do diagnóstico da realidade dos conselhos e a árvore de

problemas (causas e efeitos). Abriu-se para o debate e contribuições dos

conselheiros, alguns pontos foram recolocados em discussão.

Ao colocar a questão do rural em evidência, representantes do CMAS

reconheceram a deficiência de participação de organizações representativas das

comunidades rurais, sinalizando a importância de mobilizar esse segmento para as

próximas eleições, conforme fala na plenária ―parece uma coisa muito distante,

talvez pudéssemos pensar como podemos avançar se fossem garantidos pelo

menos um espaço dentro do conselho que pudesse ser eleito entre os pares‖

(PLENÁRIA CMAS e CONSEA, 2018).

Segundo os representantes da plenária, existe a questão legal do Conselho

Nacional de Assistência Social (CNAS), o CMAS segue as orientações normativas

para composição das representações do conselho, temos três representações de

entidades, ―todas urbanas, então a gente pode estabelecer que duas entidades

sejam urbanas e uma rural, eu acho que tudo isso cabe uma reflexão [...], dentro do

conselho quais são as inscritas que prestam trabalho de relevância‖

(CONSELHEIRA DO CMAS, 2018). Neste mesmo debate surgiu um grande

questionamento, uma participante perguntou: ―Como é que a gente vai caracterizar o

objeto social de uma entidade rural, para que ela seja enquadrada dentro da

Assistência Social, inclusive há uma limitação que já é pré-estabelecido em vista de

um determinado objeto que esse objeto exclui instituições rurais‖. (PLENARIA

CMAS e CONSEA, 2018).

O questionamento da participante da plenária é muito válido, com as

mudanças ocasionadas pela Lei 13.019/14, que trata das relações de parceria entre

Estado e Sociedade Civil, a lei conhecida como Marco Regulatório das

Organizações da Sociedade Civil (MROSC), as entidades terão que reformularem

seus documentos institucionais, em geral altera-se os estatutos sociais, em

conformidade também com o Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002). Conforme o

MROSC os requisitos para Celebração de Parcerias são:

Art. 33. Para celebrar as parcerias previstas nesta Lei, as Organizações da Sociedade Civil deverão ser regidas por normas de organização interna que prevejam, expressamente: I - objetivos voltados à promoção de atividades e finalidades de relevância pública e social;

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II – [...]; III - que, em caso de dissolução da entidade, o respectivo patrimônio líquido seja transferido a outra pessoa jurídica de igual natureza que preencha os requisitos desta Lei e cujo objeto social seja, preferencialmente, o mesmo da entidade extinta; IV - escrituração de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade e com as Normas Brasileiras de Contabilidade; V – [...] (BRASIL. Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014).

Como já foi abordado, para a entidade requerer inscrição no CMAS é

necessário cumprir os pré-requisitos: ser entidade de Assistência Social isolada ou

cumulativamente de atendimento; assessoramento, defesa e garantia de direitos, ou

em outros casos inscrever apenas os serviços, lembrando que esses serviços têm

que ser ofertados gratuitos e permanentes. O processo histórico e a própria

dinâmica do rural nos apresenta uma grande dificuldade para prover essas ações

vinculadas a Assistência Social, é claro que temos alguns casos isolados de oferta

desses serviços, porém suas principais atividades têm maior foco na agricultura

familiar e na economia solidária. Logo, para estas organizações se adequarem é

necessário alterar seus objetos estatutários e ofertar os serviços.

Sobre esses desafios, foi discutido por um conselheiro do CMAS no plenário,

a ―gente tem que seguir à risca da resolução 14/2014, porém, precisamos provocar o

CNAS [...], talvez seja apenas esse conselho que esteja enxergando, esse é o

agravante‖. Segundo a conselheira o CMAS está ―deixando muita organização de

fora do processo [...]. na hora da visita acabamos excluindo, pois preciso seguir as

regras entendeu? Eu tenho que ter ao menos um pequeno viés‖ (PLENARIA CMAS

e CONSEA, 2018). Segundo a conselheira:

[...] as entidades são muito órfãs de pai e mãe, [...] porque não existe dentro da secretaria uma coordenação, departamento, comissão para acompanhar mais de perto essa situação, então a gente sente isso enquanto conselho, porque não vê o resultado na ponta e a gente pega os trabalhos dos estudantes, projetos de intervenção e faz o trabalho. O que precisa é a gestão acompanhar mais de perto essa situação então conselho acaba fazendo o trabalho da gestão (PLENARIA CMAS e CONSEA, 2018).

O relato da conselheira é muito perspicaz, embora a SEDESO tenha na sua

estrutura administrativa um departamento de gestão integrada da política de

Assistência Social, Segurança Alimentar e Nutricional e Cidadania, com duas

divisões – Divisão de relações institucionais e Divisão de monitoramento e

avaliação, não foram identificadas nas oficinas, sobretudo as ações da divisão de

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relações institucionais, que é responsável em acompanhar as organizações da

Sociedade Civil. Ainda a conselheira enfatiza:

Eu acredito que as secretarias que se prezam, precisam das entidades que são parceiras para fazer o trabalho que o próprio governo não faz, as suas responsabilidades entendem! Então eu posso dizer que na minha instituição eu nunca tive uma capacitação do Governo, então assim, imagina a situação dessas entidades que estão lá na ponta, na zona rural. Acho que agora chegamos a um grande gargalo mesmo, e que precisamos dar conta dessa situação (PLENARIA CMAS e CONSEA, 2018).

O ponto de convergência do debate foi a questão do PAA e da inscrição das

entidades rurais no CMAS, que iniciou nas reuniões do CONSEA/FSA e

posteriormente chegou ao CMAS, esse ponto sem dúvida é o maior desafio a ser

sanado com as ações intersetoriais. Existem várias interpretações dos conselheiros

sobre o PAA, sobretudo que, para as OSC receber os alimentos do programa é

necessário previa inscrição no CMAS.

Após apresentar alguns apontamentos dos achados da pesquisa, exemplo, o

PAA não é restrito às entidades de Assistência Social; existem outras demandas

para o abastecimento que envolve equipamentos de alimentação e nutrição; redes

públicas de ensino, abastecimento de equipamentos e entidades de saúde, unidades

de internação do sistema socioeducativo e prisional; e outras que com muito diálogo

e pesquisa poderíamos identificar.

Como apresentou o grupo 01 na oficina do CONSEA/FSA, para eles o

entendimento do conselho é que o ―rural está associado a produção‖, fato que gera

algumas inquietações do grupo, ―por exemplo, um morador do distrito só pode ser

cadastrado como fornecedor de alimentos, não pode ser recebedor?; todas as

associações recebedoras são urbanas?‖ (GRUPO 01 CONSEA, 2018). A colocação

do conselheiro do grupo 01 do CONSEA/FSA nos permite refletir, a quem está

sendo destinado os alimentos do PAA? E que talvez seja uma brecha nos

instrumentos legais deste programa, se um dos objetivos do PAA é promover

alimentação de qualidade, como direito humano à alimentação adequada e saudável

à população, essa população precisa estar organizada em entidades, ser usuária

dos serviços? Ao que parece existe uma contradição, ou melhor é preciso uma

maior reflexão nos critérios de distribuição destes alimentos.

Sobre a restrição do PAA às entidades socioassistenciais, os conselhos

explanaram ―a gente precisa ver essa questão aí, em relação à saúde e educação‖,

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por exemplo, as ―Creches, faz o quê com as Creches! as crianças vão morrer de

fome entendeu!‖. A conselheira do CMAS enfatizou que:

Ninguém da saúde e da educação ventilou sobre este processo, então assim acaba que a gente fica com esse furo, que é algo ventilado aos outros conselhos. Porém, a gente tem que abrir essa brecha às entidades de assistências inscritas no CMAS, agora é uma provocação do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional buscar agendar com o próprio conselho de educação, e saúde também entendeu! Está provocando um alargamento de instituições que possa estar dentro desse processo (PLENARIA CMAS e CONSEA, 2018).

Após amplo diálogo, elencaram-se os principais encaminhamentos, elegendo

prioridades em curto, médio e longo prazo. Enquanto forma de enfrentamento o

desafio da intersetorialidade nesses conselhos (quadro 17).

QUADRO 17: Prioridades estabelecidas pelos conselheiros do CMAS e CONSEA/FSA para o enfrentamento da intersetorialidade a partir do PAA.

Principais encaminhamentos e deliberações dos problemas identificados

Ação Quem? Quando?

Curto prazo

Minuta de resolução para estabelecer critérios de

inscrições das entidades recebedoras do PAA no CMAS.

CMAS/CONSEA/Pesquisador21

2018

Médio prazo

Criar uma comissão intersetorial de

acompanhamento e monitoramento do PAA

CMAS/CONSEA/Pesquisador

2018-2019

Longo prazo

Minuta de resolução sobre a inserção de entidades rurais na

composição do CMAS

CMAS/CONSEA/Pesquisador

2019-2020

ELABORAÇÂO: Reginaldo Dias de Miranda.

Referente aos encaminhamentos e deliberações, como ação prioritária, a

pedido da comissão jurídica do CMAS, foi solicitada a elaboração de uma proposta

de minuta a partir dos achados na pesquisa e enviasse para a comissão jurídica

avaliar e fazer as devidas alterações. Após envio e alterações da minuta, foi

colocada em pauta na reunião extraordinária do CMAS, constante na ata de nº 253

para apreciação e aprovação dos conselheiros. Como se tratava de resolução

21

No quadro de estabelecimentos de prioridades, na coluna de responsabilidades das ações aparece também o nome do pesquisador pelo fato do compromisso em acompanhar os conselhos, e também para que a pesquisa não seja apenas mais uma pesquisa que apresentou um resultado e não teve mais acompanhamento. Existe um compromisso do pesquisador e da entidade na qual ele representa.

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conjunta foi convidado o CONSEA/FSA para juntos apreciar e possivelmente

aprovar.

A proposta da minuta ficou a seguinte, resolução conjunta CMAS e

CONSEA/FSA que:

Dispõe sobre a necessidade de articulação entre CONSEA e CMAS para tratamento de questões Intersetoriais que requeiram decisão compartilhada no território de Feira de Santana, acerca do enquadramento das Organizações da Sociedade Civil nos serviços socioassistenciais para inscrição no PAA e dá outras providências.

A minuta de resolução conjunta entre CONSEA/FSA e CMAS, foi eleita como

prioridade 1, por isso foi elaborada em curto prazo, cumprindo os prazos, as demais

também seguirá os prazos determinado. Retomando o debate da reunião

extraordinária do CMAS de nº 253, a Presidente do CMAS sinalizou da relevância da

resolução, um trabalho minucioso da comissão Financiamento/Jurídica com apoio do

pesquisador. A presidente do CMAS informou ao vice-presidente do CONSEA/FSA

que:

Precisamos dialogar sobre o PAA, porque o PAA não teve condições de efetivar de fato a distribuição dos produtos e a angustia é porque inscreveu instituições no CMAS meramente por conta da questão dos produtos e o representante da instituição chega ao CMAS afirmando que a continuidade do serviço depende de recebimento dos produtos e não podemos penalizar essa instituição se houver demora em relação no processo, por isso precisamos dialoga CMAS e CONSEA/FSA (ATA CMAS, 253).

Há uma grande preocupação do CMAS pelo fato de não prejudicar as

entidades, sobretudo os beneficiários do PAA, a Presidente do CMAS enfatiza que

essa ―resolução define o papel do CMAS e do CONSEA/FSA, é juntar os dois papéis

para trabalharmos em conjunto, e é esse o interesse do CMAS com os demais

conselhos‖, afirmando que ―precisamos de diálogos mais próximos para ficar mais

fácil e transparente as ações‖ (ATA CMAS, 253).

O vice-presidente do CONSEA/FSA solicitou que pelo fato do CONSEA/FSA

ter passado por uma nova eleição, e os conselheiros terem sido empossados

recente (27 de junho de 2018) precisa enviar para os conselheiros apreciarem a

resolução. Logo, ―ficou acordado entre os pares, que o CMAS enviará a Resolução

para o CONSEA via e-mail para fazer as modificações/acréscimos e ser apresentada

novamente na reunião do dia do mês de julho‖ (ATA CMAS, 253). A técnica social

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do CONSEA/FSA informou que algumas questões do PAA foram atualizadas por

meio da Resolução.

Como as Políticas Sociais são dinâmicas e não estáticas, a questão que a

técnica social informou de atualização do PAA, trata-se da nova resolução nº 81, de

9 de abril de 2018, do GGPAA que revoga a resolução nº 72, de 09 de outubro de

2015. A nova resolução apresenta algumas mudanças: na redação e inclusão de

outros conselhos, o que já havíamos apontado na pesquisa.

As mudanças importantes para a pesquisa constam no Art. 3º, que trata das

unidades recebedoras do PAA, além das já mencionadas na resolução anterior (nº

72/2015), incluem entidades de atendimento - governamentais e não

governamentais - que atuem nas áreas de Criança e Adolescentes e da pessoa

idosa, todas devidamente inscritas nos respectivos conselhos. Conforme preconiza o

Art. 3º:

III - Entidades de atendimento governamentais e não governamentais que planejam e executam programas de proteção e socioeducativos destinados às crianças e adolescentes, que possuam registros nos Conselhos Municipais dos Direitos das Crianças e Adolescentes - CMDCA; IV- Entidades de atendimento governamentais e não governamentais que planejam e executam a política de atendimento ao idoso, que possuam inscrição junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa - CMDPI [...] § 3º Na ausência do CMDPI a inscrição deve ser firmada junto ao Conselho Estadual de Direitos da Pessoa Idosa ou ao Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Idosa.

Se no início da pesquisa já apontávamos a intersetorialidade como ferramenta

primordial de concertação, com esta nova resolução, a pesquisa confirma ainda

mais a necessidade do trabalho integrado com os demais conselhos de políticas

sociais. Cabe também a mudança da proposta de minuta de resolução inicialmente

elaborada, incorporando mais dois conselhos, ao que parece o debate do PAA ainda

temos muito que aprofundar: pesquisadores, técnicos e conselheiros precisam

debruçar-se mais para garantir ao público prioritário dessa política uma melhor oferta

de alimento saudável e nutricional.

Ao que pese os encaminhamentos/prioridades propostos pela pesquisa as

minutas foram elaboradas e enviadas, cabe agora os conselhos fazerem sua parte,

o papel da pesquisa foi apenas identificar os desafios e apontar saídas. Em tempo

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as minutas dos próximos prazos já estão elaboradas, foi entregue a comissão

jurídica do CMAS22.

22

As propostas de minutas foram entregues ao CMAS e não ao CONSEA/FSA devido a maior abertura e

incentivo que o pesquisador encontrou no CMAS, e também pelo fato de o CMAS tratar de um conselho

deliberativo e com maior incidência nas demandas sociais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolver esta pesquisa/intervenção possibilitou propalar inquietações

empíricas e conceituais que por muitos anos cercou minha vida acadêmica e

profissional, dos integrantes da entidade na qual faço parte (Cáritas

Arquidiocesana), de alguns conselheiros e técnicos dos respectivos conselhos que

convivi por muitos anos, e até mesmo, alguns teóricos que estudam a temática e

que me incentivaram a aprofundar no tema. É valido ressalta que não se trata de

conclusão/ões, pois essa pesquisa/intervenção não se esgota, ainda há muito que

pesquisa e intervir sobre o tema.

Assim, prescinde-se sobre a importância desta pesquisa para a sociedade,

organizações da Sociedade Civil, espaços de controle social, gestores públicos e

para a academia, por possuir achados que evidenciam o controle social, a gestão

pública e as disparidades entre o rural e urbano. Embora o recorte do estudo

priorizasse apenas um município - Feira de Santana, Bahia - os achados contribuirá

para os demais Municípios, Estados e União. Desvelar essa importante ferramenta

de gestão pública, de concertação política e social é sem dúvidas uma contribuição

social.

As inquietações que nortearam a pesquisa partiu da constatação do novo

modelo socioinstitucional do Estado, apresentado no pós Constituição Federal de

1988, fruto da mobilização de diversos atores sociais e políticos no processo de

redemocratização do Estado. A ferramenta de gestão pública ora apresentada é

capaz de equacionar o modelo de políticas sociais de outrora – fragmentada,

centralizada e pontual – neste modelo, a intersetorialidade é ferramenta capaz de

proporciona a gestão pública uma espécie de ―concertação política e social‖ - elo

entre Gestores Públicos e Sociedade Civil, a fim de propor mudanças no

aprimoramento das políticas.

Dada às inquietações, buscou-se analisar se a ferramenta da

intersetorialidade está sendo aplicada nos conselhos Municipais de Políticas Sociais

de Feira de Santana (CMAS e CONSEA/FSA), bem como se apresenta como um

desafio. Pela própria incidência nos espaços de construção de políticas públicas e

sociais e pelo arcabouço teórico ora apresentado já se presumia que fosse um

desafio, a intersetorialidade na gestão pública, quiçá nos espaços de controle social.

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As inquietações já começaram no percurso de escolha do título, defender a

ideia de ―Conselhos de Políticas Sociais‖ quando diversos autores abordam

conselhos de políticas públicas, Setoriais ou conselhos intersetoriais não foi tarefa

fácil, porém, apresentava-se como também um desafio. A primeira seção do trabalho

contribuiu para desvelar que políticas públicas e políticas sociais embora se

confundam, ou seja, empregada de forma genérica tem suas particularidades, o

debate permitiu compreender que Política Pública é o todo, e que Política Social é

uma das partes deste todo. Para a pesquisa essa distinção foi imprescindível, pois a

pesquisa focou nas políticas sociais de proteção e promoção social.

No segundo capítulo, buscou-se entender o que é intersetorialidade e quais

seriam suas contribuições para a gestão pública, como a mesma estaria empregada

nas políticas de Assistência Social e Segurança Alimentar e Nutricional, e o mais

importante como os conselhos utilizam essa ferramenta. Os achados desta seção

imprimiram na pesquisa, que mesmo com o novo modelo socioinstitucional do

Estado, a intersetorialidade constava-se apenas nos documentos institucionais, no

desenho da política, mas não como um modelo de gestão pública, de troca de

conhecimento, debate, planejamento, entre poder público e Sociedade Civil.

Nos conselhos essa realidade é pior ainda, a falta de diálogo com os demais

conselhos e a própria relação com os setores públicos fragilizam o desenvolvimento

das políticas sociais, retardam e excluem alguns setores - públicos prioritários das

políticas sociais.

Os capítulos terceiro, quarto e quinto abordou sobre o papel dos conselhos,

apresentando desde as primeiras inciativas de organização da Sociedade Civil e do

Estado. Apontando os Conselhos Comunitários e Conselhos Populares das décadas

de 1970 e 1980, como experiências fundamentais para os modelos de conselhos

que hoje temos, sem esquecer da contribuição significativa na formatação da

Constituição Federal de 1988.

No último capítulo evidenciou através dos achados da investigação, a

importância da intersetorialidade, e como a mesma se apresentava como um

desafio. As oficinas foram fundamentais para desvelar os problemas que assolam os

dois conselhos, embora no início não tivemos a certeza e nem a clareza das

congruências e dos desafios, no decorrer das oficinas o desvelar da realidade foi

ficando cada vez mais nítido.

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A falta de clareza que o CONSEA/FSA tem sobre o PAA, explicito nas atas e

documentos, e a necessidade do CMAS em se proteger – com as questões de

fiscalização e inscrição das entidades recebedoras do PAA - devidos as questões

normativas oriundas do CNAS, impulsionava ainda mais o pesquisador a debruçar-

se no PAA e sobretudo nas associações Rurais. Se no início da pesquisa, na

construção do referencial teórico não se debruçou sobre os dois temas (PAA e

Associações), o último capítulo contribuiu para entender mais sobre essa temática.

O trabalho em grupo nas oficinas e a disponibilidade dos conselhos em

contribuir na pesquisa ajudaram a desvelar questões importantes, como: para

requerer a doação do PAA, não é pré-requisito a inscrição no CMAS, salvo as

entidades que já desenvolvem serviço socioassistencial; Existem outros conselhos

que atendem o mesmo público prioritário dessa política, sem contar que a nova

resolução 81/2018 tornou mais clara, e confirmou a inquietação abordada no

decorrer da pesquisa; a Política de Assistência Social tem pouco incidido no rural, no

tocante aos serviços, programas e projetos, além do mais, as entidades rurais não

ocupam os espaços de controle social desta política.

Ao tempo que a intersetorialidade é um desafio nos conselhos, os achados

também imprimem a imagem de que é algo vivo dentro deste espaço de controle

social, do mesmo modo que, seja um debate apenas no campo das ideias – do devir

- não podemos descartar a grande possibilidade do vir a ser, tarefa que a ação

intersetorial é capaz de contribuir.

O produto final da pesquisa/intervenção, conforme proposto pelos sujeitos da

pesquisa, definido em oficinas, se colocado em prática contribuirá muito para sanar

desafios comuns nos conselhos de políticas sociais do município de Feira de

Santana. Muito embora, o CONSEA/FSA não tenha abraçado essa proposta como o

CMAS, é como prevíamos a intersetorialidade por ser uma ferramenta de

concertação imprime também concordâncias e discordâncias que só o diálogo,

formação, informação e vontade política será capaz sanar seus desafios.

A contribuição do produto da pesquisa terá rebatimento também nos

conselhos estaduais e nacionais das duas políticas. Tal contribuição além de chamar

atenção da Política de Assistência Social para uma demanda que é prioritária dela –

retomar o debate do Rural, como público prioritário, por questões de equidade,

vulnerabilidade, risco social e pessoal.

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Por fim, este estudo demostra que as políticas sociais no Brasil, com o novo

reordenamento socioinstitucional estão interligadas, e a intersetorialidade é a

engrenagem necessária para que coroa e pinhão girem essa grande maquina

chamada Políticas Sociais. É preciso mais que nunca uma concertação política e

social capaz de reparar os danos do passado de clientelismo, da fragmentação, e da

centralidade.

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8. APÊNDICE

1º OFICINA DO CMAS

TRABALHO DE GRUPOS

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1º OFICINA DO CONSEA/FSA

TRABALHO DE GRUPO

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2ª OFICINA CMAS E CONSEA/FSA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

Autorizada pelo Decreto Federal nº 77.496 de 27/04/76

Reconhecida pela Portaria Ministerial nº 874/86 de 19/12/86

Recredenciada pelo Decreto nº 9.271 de 14/12/2004

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial

Mestrado Profissional

Resolução Nº 12/2018 CMAS/FSA Nº ../ CONSEA/FSA

Dispõe sobre a necessidade de articulação entre CONSEA e CMAS para tratamento de questões Intersetoriais que requeiram decisão compartilhada no território de Feira de Santana, acerca do enquadramento das Organizações da Sociedade Civil nos serviços socioassistenciais para inscrição no PAA e dá outras providências.

O Conselho Municipal de Assistência Social de Feira de Santana – CMAS/FSA, instituído pela Lei Municipal nº 1.761 de 17 de junho de 1994, alterada pela Lei nº 3.211 de 01 de junho de 2011, regulamentada pelo Decreto nº 5.923, de 16 de novembro de 1995, pelo Art.25 Lei nº 3.684/17e através do disposto no art. 16, inciso IV da Lei Federal nº 8.742 de 07 de dezembro de 1993, no uso das atribuições que lhe concede o artigo 12 do seu Regimento Interno, vêm tornar público o quanto realizado em reunião Extraordinária ocorrida no dia 28 de junho de 2018. Incluir a Lei do SUAS Municipal

Considerando que a Lei nº 2.411/2003, alterada pela Lei Municipal nº 2.524/2004, que institui o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional - CONSEA Municipal de Feira de Santana. Considerando que a Lei nº 3.684/17, em seu artigo 25, XXVI, estabelecer a articulação permanente com os demais conselhos de politicas públicas setoriais e conselhos de direito. Considerando que o Decreto nº 5.085, de 19 de maio de 2004, que define as ações continuadas de assistência social; Considerando que a Resolução CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009, aprova a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais e suas atualizações; Considerando que a resolução nº 72, de 09 de outubro de 2015, que dispõe acerca da destinação dos alimentos adquiridos com recursos do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA. Considerando que a resolução CNAS nº 14/2014, que define os parâmetros

nacionais para a inscrição das entidades ou organizações de Assistência Social,

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bem como dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais nos

Conselhos de Assistência Social.

RESOLVE

Art. 1º. Reconhecer a necessidade de articulação e de tomada decisões

conjuntas entre CONSEA e CMAS para tratamento de questões Intersetoriais que

requeiram decisão compartilhada, no território de Feira de Santana, acerca do

enquadramento das Organizações da Sociedade Civil nos serviços

socioassistenciais e a respectiva inscrição no CMAS, para fins de cadastramento no

PAA, tendo em vista o importante papel das Organizações na execução do PAA e a

garantia do à alimentação por parte da população beneficiária do programa.

Art. 2º. Para fins de enquadramento das Organizações da Sociedade Civil no

PAA, o CONSEA e CMAS, através dos seus respectivos técnicos poderão realizar

visitas conjuntas às entidades governamentais e organizações da Sociedade Civil

recebedoras do PAA sendo CONSEA instrumento consultivo no desenvolvimento

dos projetos e serviços prestados pelas organizações o e CMAS fiscalizador.

Art. 3º. Para fins de articulações Intersetoriais e tomada decisões conjuntas

entre CONSEA e CMAS, deverá ocorrer, em período trimestral, reunião conjunta

entre o CONSEA e CMAS para ajustar estratégias e ações necessárias acerca

processo de inscrição dos serviços, programas ou projetos das instituições que

requeiram a inscrição no CMAS e enquadramento no PAA.

Art. 4º. A primeira reunião conjunta entre CONSEA e CMAS deverá ocorrer

até a segunda quinzena do mês de agosto de 2018, devendo os respectivos

conselhos articular cronograma trimestral para realização das próximas reuniões.

Art. 5º. Para fins de inscrição das entidades ou organizações de Assistência

Social, bem como dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais

no CMAS serão considerados os critérios estabelecidos na Resolução 14/2014 do

CNAS e na Resolução nº 72/2015 do MDS, devendo o CONSEA, como órgão

consultivo, assessorar as organizações acerca do enquadramento dos seus

serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais nos critérios da Política

Nacional de Assistência Social, podendo os técnicos do CMAS prestar

esclarecimentos necessários para tal finalidade.

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Art. 6º. A aprovação desta resolução consta, transcrita, no livro Ata nº 8 do

Conselho Municipal de Assistência Social – CMAS, na reunião numero.....de data

no mês de junho de 2018.

Art. 7º - Esta Resolução será publicada no Diário Oficial do município de Feira

de Santana, na data de sua assinatura, revogadas as disposições em contrário.

Registre-se e Publique-se, Feira de Santana, 28 de junho de 2018. Ângela Maria de Oliveira Pérsico Celi Mendes Rios Presidente do CMAS/FSA Presidente do CONSEA/FSA.

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9. ANEXO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL

Discente: Reginaldo Dias de Miranda

Título da proposta de trabalho: Os Conselhos Municipais de Políticas Sociais e o desafio da intersetorialidade em Feira de Santana - Bahia. Nome dos Representantes do grupo: ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

PERGUNTAS NORTEADORAS PARA TRABALHO EM GRUPO

Para vocês o que é intersetorialidade?

Existem integração entre os Conselhos? E com outras instâncias de Gestão de políticas públicas?

O Conselho no qual vocês participam se reúne com outros Conselhos? Com qual periodicidade? Quais as principais deliberações/encaminhamentos?

O Conselho no qual vocês participam se reúne com outros órgãos da Gestão Pública (Secretarias, superintendência, departamento, outros)? Quais?

Para vocês os problemas encontrados nestes conselhos, tem rebatimento em outros conselhos? Quais?

Existe diferença de atuação do conselho entre o urbano e rural?

Como vocês identificam as demandas das associações rurais no município? Existe critérios para fiscalização? Vocês fazem fiscalizações conjuntas com outros conselhos?

Outras perguntas que desejem acrescentar.

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Apresentações em slides utilizadas nas oficinas

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