reggae é de paz a identidade cultural negra em conceição do coité

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA José Jurandí Silva de Oliveira Júnior Paulo Enselmo Ramos de Jesus REGGAE É DE PAZ: A IDENTIDADE CULTURAL NEGRA EM CONCEIÇÃO DO COITÉ Conceição do Coité-BA 2010.

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Page 1: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

José Jurandí Silva de Oliveira Júnior

Paulo Enselmo Ramos de Jesus

REGGAE É DE PAZ: A IDENTIDADE CULTURAL NEGRA EM

CONCEIÇÃO DO COITÉ

Conceição do Coité-BA

2010.

Page 2: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

José Jurandí Silva de Oliveira Júnior

Paulo Enselmo Ramos de Jesus

REGGAE É DE PAZ:

a identidade cultural negra em conceição do coité

Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de

Comunicação Social – Habilitação em

Radialismo, da Universidade do Estado da

Bahia, como requisito parcial de obtenção do

grau de bacharel em Comunicação, sob a

orientação da professora Patrícia Rocha de

Araújo.

Conceição do Coité-BA

2010.

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José Jurandí Silva de Oliveira Júnior

Paulo Enselmo Ramos de Jesus

REGGAE É DE PAZ:

a identidade cultural negra em conceição do coité

Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de

Comunicação Social – Habilitação em

Radialismo, da Universidade do Estado da

Bahia, como requisito parcial de obtenção do

grau de bacharel em Comunicação, sob a

orientação da professora Patrícia Rocha de

Araújo.

Data: _____________________________________________________ Resultado: _________________________________________________ BANCA EXAMINADORA Professora (orientadora) _____________________________________ Assinatura: ________________________________________________ Professora ________________________________________________ Assinatura: ________________________________________________ Professora ________________________________________________ Assinatura: ________________________________________________

Page 4: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

RESUMO

REGGAE É DE PAZ: A IDENTIDADE CULTURAL NEGRA EM CONCEIÇÃO DO COITÉ

A Música Reggae tem sido utilizada como instrumento simbólico de afirmação e reafirmação da identidade cultural pelas comunidades afro-descendentes na Sede do Município de Conceição do Coité. A negritude em Conceição do Coité teve inicio logo cedo com a escravidão no século XVII. Na década de 1980, o movimento negro se fortaleceu e ganhou corpo na cidade com o surgimento dos movimentos sociais organizados em torno da negritude. Atualmente são vários os grupos que discutem a temática racial na cidade, dentre eles: Revolution Reggae, Rebanho de Israel, Quixanayah e o Grupo Jamaica. Este trabalho tem como objetivo construir um vídeo-documentário que mostre em que medida a música reggae, enquanto música de expressão social tem contribuído para afirmação e reafirmação da identidade cultural das comunidades afro descendentes na sede do município de Conceição do Coité. Foram utilizados como método de coleta de dados a entrevista, e a observação participante, além da pesquisa bibliográfica para realização da pesquisa descritiva que documentou tudo em imagens através de uma câmera filmadora. Estas imagens foram usadas depois na montagem do vídeo.

Palavras-chave: Reggae, Identidade, Música, Negritude

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ABSTRACT

The Reggae music has been used as a symbolic instrument of affirmation and

reaffirmation of cultural identity by communities african-descendants in the town of

Conceição do Coité. Blackness in Conceição do Coité began early with slavery in the

seventeenth century. In the 1980s, the black movement was strengthened and it won

the city with the emergence of social movements organized around the blackness.

Currently there are several groups that discuss the race issue in the city, among them:

Revolution Reggae, Comunidade Rebanho de Israel, Quixanayah and Grupo

Jamaica. This work aims to build a documentary video that shows the extent to which

reggae music, as music of social expression has contributed to the affirmation and

reaffirmation cultural identity of communities african descendants in the town of

Conceição do Coité. It was used interviews and participant observation as a method of

data collection, in addition to the literature for carrying out descriptive research which

documented all in images via a digital camcorder. These images were then used to

assemble the video.

Key-words: Reggae, Identity, Music, Negritude

Page 6: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO______________________________________________________________________ 01

IDENTIDADE_______________________________________________________________________ 03

Identidade negra: um processo histórico________________________________________________ 04

Auto-discriminação__________________________________________________________________07

O nascimento da negritude___________________________________________________________ 09

Brasil_____________________________________________________________________________ 10

Conceição do Coité_________________________________________________________________ 12

A identidade negra: conceitos_________________________________________________________ 15

MÚSICA E IDENTIDADE_______________________________________________________________17

O VÍDEO – DOCUMENTÁRIO___________________________________________________________20

O MEMORIAL______________________________________________________________________ 29

CONCLUSÃO_______________________________________________________________________ 53

REFERÊNCIAS_______________________________________________________________________56

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1

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem a proposta de discutir a relação entre a musicalidade reggae e

a identidade cultural negra em Conceição do Coité. Produzimos um vídeo-documentário

musical que aborda esta temática. Analisamos a identidade segundo o conceito fluido

de Stuart Hall (2007). Neste sentido a identidade se constitui como algo móvel e em

constante mutação. Assim acreditamos que as comunidades afro descendentes da

sede de Conceição do Coité que lutam com o conceito da negritude, têm na

musicalidade reggae um forte aliado na afirmação e reafirmação de suas identidades. O

Reggae desde seu surgimento tem tratado da temática afro-descendente de forma

bastante intensa e tem contribuído para o processo de conscientização social de muitas

pessoas ao redor do mundo, inclusive em Conceição do Coité, foco de nosso trabalho.

Para desenvolver esta discussão, fazemos um percurso histórico sobre o

nascimento da negritude no mundo e sua trajetória no Brasil e na região. Reunimos em

nosso vídeo intelectuais para discutir a temática do negro, e militantes da negritude,

falam de suas experiências cotidianas no movimento negro da cidade, bem como fazem

uma retrospectiva sobre o processo libertário através do Reggae.

Dedicamos um capítulo específico para discutirmos o vídeo e uma relação com a

música e com os movimentos sociais, justificando a pertinência deste trabalho.

Para finalizar, dedicamos um capítulo para relatar todas as fases da pesquisa e

da construção do vídeo, descrevendo etapa por etapa, as técnicas utilizadas, as

experiências vividas , as dificuldades encontradas, etc.

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2

Enfim este trabalho (Memorial e vídeo) se propõe a trazer a discussão da relação

entre música e identidade cultural do povo negro e como ambas se complementam

dentro da sociedade brasileira.

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3

A IDENTIDADE

O conceito de identidade é um dos conceitos mais polêmicos da atualidade.

Concordamos com Stuart Hall (2007, p. 109) quando coloca a identidade no campo das

construções sociais e simbólicas. Para ele, “ela não é, nunca completamente

determinada no sentido de que se pode sempre ganhá-la ou perdê-la, no sentido de

que ela pode ser sempre sustentada ou abandonada”. (HALL, 2007, p. 108) E esse ir e

vir da construção identitária se dá nas relações sociais e como elas são interpretadas

pelos grupos identitários.

Entendemos que situações e contextos históricos podem influenciar na

construção identitária de um determinado grupo. Temos vários exemplos históricos de

discursos de identidades construídos a partir de situações específicas. A identidade

negra, construída a partir da colonização da America, o feminismo construído a partir da

revolta com uma sociedade patriarcal. Enfim, a identidade segundo Hall, “tem a ver com

a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da cultura para a

produção, não daquilo que nós somos, mas daquilo do qual nos tornamos.” (HALL,

2007, p.109) Isto significa que a identidade faz uso de elementos históricos, lingüísticos

e culturais para se constituir enquanto identidade. Todos esses elementos são

organizados no seio da sociedade, através de representações simbólicas. Os meios de

comunicação (todos os meios, inclusive os alternativos) fazem uso constantemente de

elementos representativos para construção da imagem de um determinado grupo ou

lugar. O exemplo bem claro deste tipo de construção é aquele feito por alguns meios de

comunicação a respeito do Nordeste. Nesta representação, o Nordeste é o lugar da

seca, da miséria, da pobreza e da preguiça (informação verbal)1

Então, no bojo desta construção de identidade, existe sempre um jogo de

interesses que nem sempre defende os ideais do grupo constituinte e identitário. Isto

confirma aquilo que Laclau (1990, citado por HALL, 2007, p. 110) fala da identidade,

1 Aula de seminários III, palestra de Carla Gouveia, e Seminários Diálogos Possíveis, Palestra de Durval

de Albuquerque, realizadas no Curso de Comunicação Social da Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV.

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4

quando argumenta que “a constituição da identidade é um ato de poder. No processo

de construção de uma identidade, sempre existe algum constituinte ideológico que

beneficia algum grupo social, independente dos beneficiários ser ou não o grupo em

questão. É o que Kathryn Woodward defende quando diz que “a identidade é assim

marcada pela diferença.” (2007, p. 9). O marco constituinte da identidade é o outro, o

diferente. A mulher é mulher porque existe o homem, o negro é um grupo identitário

porque existe o branco. Esta diferenciação, ou este outro estabelece o desigual,

fazendo com que a existência da identidade estabeleça a existência da desigualdade,

da diferença, da luta de grupos, do jogo de poder. É o que afirma Hall quando diz que

“a identidade é o produto da marcação da diferença, da exclusão social”. (2007, p. 109).

Assim, para ele, as relações identitárias estabelecem também relações de poder.

Identidade negra: um processo histórico

O processo de construção de uma identidade em torno do negro começou a se

formar a partir do processo histórico de colonização e escravidão na América e na

África a partir do século XVI.

Esse constructo identitário é formado dentro de uma dimensão social e

econômica conflituosa. Nesta formação identitária manifesta-se a questão do jogo de

poder já abordada neste capítulo, fundamentada em Stuart Hall (2007).

Assim, toda essa discussão de identidade tem suas raízes históricas e todo esse

processo tem uma herança historiográfica que foi forjada no contexto da escravidão, no

século XVI.

No entanto, essa identidade da negritude sofreu alterações profundas com o

passar dos séculos e vários elementos ideológicos, históricos, sociais e lingüísticos

foram sendo incorporados a este constructo identitário. Novos elementos foram sendo

incorporados à identidade negra e ela passa de algo completamente indesejado no

século XVI à situação de valorização no início do século XXI (ao menos pelos afro-

descendentes militantes da negritude).

A partir do século XVI, o mundo testemunhou uma migração, em massa, de

escravos da África para as colônias européias na América. O Brasil inclusive foi o país

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5

que mais importou escravos. Aproximadamente quatro milhões de escravos entraram

no país até o final do século XIX, "o que representa 40% do total de negros raptados

pelo escravismo colonial” (SANTOS, 2002, 32).

Estes escravos deixavam suas famílias na África de onde eram sequestrados.

Toda sua vida era praticamente destruída. A partir dali não mais se considerava a vida

passada do homem negro, família, profissão, sonhos e desejos ou se o escravo havia

sido artesão, comerciante, rei ou rainha (informação verbal)2. Apenas duas coisas, o

escravo podia trazer consigo às Américas, porque isso não lhe podia ser tirado: sua

capacidade laboril e sua memória. Para Bosi, a memória "é o intermediário informal da

cultura" (2003, p. 15). Ela coloca a memória com um condão precioso que preserva

História e cultura, coisas do cotidiano que estão distantes das instituições oficiais de

preservação da História. O afro descendente se beneficiou exatamente deste caráter

preservador e não oficial da memória para passar às gerações futuras sua riqueza

cultural.

O escravo fez uso intenso dela para preservar seu passado e construir um novo

futuro. A memória é a riqueza maior de um povo. Ela não lhe pode ser tirada. E o afro

descendente buscou diversas estratégias para conservação de sua memória. Vários

elementos culturais foram usados para isso. A capoeira, o candomblé e a musicalidade

africana contribuíram imensamente para a preservação da memória deste povo.

A Antropologia eurocêntrica até o século XX, por sua vez, sempre buscou

justificar a atitude desumana do homem branco europeu. Antropólogos, que ainda hoje

são estudados nas escolas, expuseram verdades absurdas, colocando o homem negro

como pertencente a uma raça inferior. Segundo Ortiz

Nina Rodrigues, em suas análises do Direito penal brasileiro, tece inúmeras considerações a respeito da vinculação entre as características psíquicas do homem e sua dependência do meio ambiente. Na realidade, meio e raça se constituíam em categorias do conhecimento que definiam o quadro interpretativo da realidade brasileira. (1994, p. 16)

2 Palestra de Antonio Cosme, ministrada na inauguração do Projeto Reggae em Ação em 2005, dirigido à

comunidades periféricas afro-descendentes, realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura e da Cidadania.

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6

Ainda segundo Ortiz (1994, p. 14) o atraso evolutivo do país no início do século

XX era atribuída a raça. Ele diz que

A História brasileira é, desta forma, apreendida em termos deterministas, clima e raça explicando a natureza indolente do brasileiro, as manifestações tíbias e insegura da elite intelectual, o lirismo quente dos poetas da terra, o nervosismo e a sexualidade desenfreada do mulato.

Muitas atrocidades ao longo da história foram justificadas pela ciência moderna:

a escravidão do negro, o holocausto e a perseguição ao judeu, o nazismo etc.

O homem branco entendeu, desde cedo, que a maior riqueza de um povo está

em sua memória. Então buscou-se construir uma outra identidade para o povo africano,

na tentativa de destruir suas memórias. A ciência européia do século XIX dava toda a

justificativa teórica a um processo de dominação econômica e social. Várias

representações sociais foram forjadas no seio da ciência e da sociedade para deturpar

a identidade do negro existente nos recônditos de suas memórias (MUNANGA, 1986, p.

35). Suas manifestações artísticas e culturais foram sufocadas intensamente. Suas

vozes foram caladas. Sua coletividade castigada a fim de que o africano fosse

inferiorizado enquanto ser humano, enquanto indivíduo, enquanto pessoa. A capoeira, o

candomblé, a música de matiz africana, as danças, a comida, toda cultura afro foi

colocada como inferior, imprestável dentro da sociedade brasileira.

Assim foram criadas representações em torno da imagem do povo negro. O

negro foi colocado como menos inteligente que o branco, preguiçoso, tendente ao crime

e à marginalidade, violento, feio, etc.

Essa opressão se seguiu após a escravidão, gerando uma dívida histórica da

sociedade brasileira para com o afro descendente, imensurável. O negro foi o agente

de construção da economia deste país. Foram trezentos anos de trabalho escravo,

construindo um país forte economicamente. E depois da construção, foram obrigados a

morar em espaços favelados, a trabalhar em ofícios desvalorizados socialmente,

ficaram recrutos a uma perseguição social dos órgãos repressores do Estado como

marginais, suspeitos da polícia e do cidadão de classe média e alta. (SANTOS, 2002,

p.33)

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7

No momento da libertação dos escravos, os negros foram despejados na

sociedade econômica, sem habitação nem trabalho. Socialmente desestruturados , sem

dinheiro, sem moral, sem ter para onde ir. Não houve uma política pública para

inserção do negro na sociedade brasileira. Santos nos diz que "o dia seguinte ao fim do

escravismo marca o início de uma saga de subcidadania que tem 114 anos" (2002,

p.33). Após a abolição da escravatura, a mão de obra negra não foi aproveitada no

regime econômico seguinte, o da mão de obra assalariada. Ao invés disto, o Estado

brasileiro preferiu importar a mão-de-obra européia, enquanto que para o negro não

restou alternativa alguma. O governo brasileiro adotou então uma política de

enbranquecimento da raça brasileira. Deu-se neste momento o processo de imigração

européia no final do século XIX e início do século XX (IMIGRAÇÃO NO BRASIL)3.

Neste momento o negro estava arrasado social e psicologicamente. Escritores

negros narraram todos estes momentos e buscaram a libertação social, econômica e

mental de seu povo (MUNANGA, 1986, p. 35). Está aí o germe do processo de

identificação do negro com seu povo, com sua raça, com suas memórias, com sua

História. É nesse momento, mais do que nunca que ocorre o processo de reconquista

da identidade africana. Munanga diz que "Aceitando-se, o negro afirma-se cultural,

moral, física e psiquicamente" (1986, p. 33).

Os escritores negros começaram a perceber que "a idéia de uma África com

negros bárbaros era uma invenção européia." (MUNANGA, 1986, p. 41).

Auto-discriminação

Então foi um processo muito cruel para o povo negro. Após ter assimilado a

cultura e o modo de vida do branco, não havia como essa gente valorizar suas raízes e

sua identificação com sua gente.

3 HTTP://portalsaofrancisco.com.br/alfa/imigracao-no-brasil/imigracao-no-brasil.php

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8

A mídia de massa assumiu o papel que era desempenhado pela ciência do

século XIX. Os jornais só mostram o afro descendente em situação de violência e

crime. As programações seriadas somente mostram o negro em desempenho de papel

subalterno no seio social. Papel de servidão, de marginalidade, de desprezo social. Na

contramão, todos os heróis mostrados no cinema e na TV são brancos. Assim, a

valorização da cultura européia e a consequente desvalorização da cultura do negro é

quase uma lei na cultura midiática de massa.

É certo que algumas figuras negras conseguiram seu espaço na mídia a exemplo

dos Jackson’s Five nos Estados Unidos, Pelé no Futebol e na teledramaturgia

brasileira, o ator Milton Gonçalves, mas estes são casos isolados e não constituíram

uma realidade abrangente para a etnia afro no país.

A escola não valoriza, no livro didático nem nos conteúdos trabalhados, o mundo

do negro. O mercado de trabalho é muito racista em relação ao negro. Espaços sociais

como clubes, shops e outros tem servido de espaço onde o racismo acontece. Todos

estes discursos oficiais levam o negro a negar sua identidade. Contribui para que o afro

descendente se identifique e assimile a cultura do branco. Crianças que só vêem na TV

seus iguais em papéis subalternos, que na escola só ouvem falar em heróis brancos,

que recebe presente de um papai Noel branco, que recebe uma boneca branca como

presente de final de ano, que sabe que seus traços físicos estão fora do padrão de

beleza de sua sociedade, com certeza vai repudiar suas raízes, vai ser levada a um

processo de identificação com o branco europeu, com a cultura do outro. (informação

verbal)4 É o que Sansone (2007, p. 11) discute quando fala "do hífen oculto que impede

os brasileiros de se definirem como afro-brasileiros, Ítalo-brasileiros, Líbano - brasileiros

e assim por diante". Para ele "a despeito de muitas provas de discriminação racial, as

pessoas preferem mobilizar outras identidades sociais que lhes parecem mais

compensadoras" (2007, p. 11).

4 Palestra de Antonio Cosme, ministrada na inauguração do Projeto Reggae em Ação em 2005, dirigido à

comunidades periféricas afro-descendentes, realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura e da Cidadania.

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9

O nascimento da negritude

A identidade negra passou, ao longo da História, de uma identidade inferiorizada,

indesejada, repudiada nos primeiros anos de sua concepção, para uma identidade

almejada, sonhada, desejada pelos negros de consciência racial, militantes da

negritude. Munanga diz que, neste contexto, o negro se reivindica com paixão, a

mesma paixão que o fazia admirar e assimilar o branco (MUNANGA, 1986, p. 33).

Em vários cantos do planeta começou-se a pensar a problemática do negro.

"Escritores negros tomaram consciência do processo de imitação cega à cultura branca,

da assimilação cultural", do processo de aculturação (MUNANGA, 1986, p. 33) Eles

tomaram consciência do processo de lavagem cerebral a que foram submetidos ao

longo da história. Munanga nos diz que este burburio de discussões aconteceu

inicialmente nos Estados Unidos, na Europa e no Haiti, principalmente por estudantes

negros em Universidades, ao entrarem em contato com a diversidade cultural africana e

européia. (1986, p. 41). Os principais pensadores deste movimento da negritude foram

Dr. Du Bois, Langston Hughes, René Maran, O Dr. Price Mars e Aimé Cesaire "que

criou a palavra negritude" (MUNANGA, 1986, p 43).

A Arte também desempenhou um papel fundamental no processo de resistência

contra a assimilação cultural e racial. Elementos como a música, a capoeira e a

literatura desempenharam um papel fundamental.

Grupos como o Ilê Ayê, Edson Gomes e Banda Cão de Raça, artistas como os

reggeiros jamaicanos, James Brown, a moda Black Power nos anos 1980, e o

movimento do Axé Music, foram importantes para a valorização da cultura negra.

Então os negros através da arte estabeleceram uma rede de comunicação

cultural ao redor do mundo. Paul Gilroy (1994) citado por Santos M. (2002, p. 1) nos diz

que “as relações estabelecidas em decorrência da diáspora favorecem a formação de

um circuito comunicativo que extrapola as fronteiras étnicas do Estado-nação,

permitindo às populações dispersas conversar, interagir e efetuar trocas culturais”.

Assim, juntamente com a diáspora do povo negro pelo mundo deu-se também a

hibridização cultural negra.

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Brasil

Inicialmente o Brasil seguiu as discussões internacionais em torno da negritude,

O movimento no país culminou na libertação dos escravos em 1888. Nesta época, mais

de 90% dos negros no país já eram livres (SANTOS, 2002, p.33). Negros influentes na

economia e nos meios de comunicação da época abraçaram a causa do negro e

levaram suas discussões aos vários espaços dentro do país.

No entanto, um fator na década de 30, vem contribuir para abafar e desvirtuar as

discussões em torno da identidade étnica, o mito da democracia racial (SANSONE,

2007, p. 10). O Estado Brasileiro decide naquela época construir representações

étnicas a respeito do país. Estas representações sugerem que no Brasil não existe

racismo, sugere que brancos e pretos agora vivem em harmonia racial e social. A partir

deste momento, o racismo deixou de ser explícito e passou a ser velado, dissimulado e

bastante cruel. Segundo Santos, "pessoas não podem ver porque já tem os olhos (e

também a consciência) acostumadas a essa realidade" (SANTOS, 2002, p. 30). As

representações discriminatórias passaram a ser sutis e veladas, o que dificultou ao

negro levar adiante suas discussões raciais, tendo em vista a imagem forjada de um

país democrático racialmente. A discriminação agora existe nas piadas, no olhar

questionador sobre o negro, na ausência da história negra nas escolas, na

desvalorização da cultura do negro, nas imagens representativas do negro no

imaginário popular, no déficit econômico em que vivem a maioria da população negra

no país.

Outro fator que contribuiu para diluir as discussões raciais no seio da sociedade

foram as proibições explícitas quanto à organização de associações de base étnica,

especialmente na década de 30, durante a Ditadura de Getúlio Vargas (SANSONE,

2007, p. 13).

A partir de 1930, vários acontecimentos ao redor do mundo relacionados à causa

do negro refletiam-se aqui no Brasil. As idéias de Martin Luther King nos Estados

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11

Unidos e de Marcus Garvey na Jamaica influenciaram profundamente o pensamento da

negritude ao redor do mundo.

A partir dos anos 1960, a Ditadura Militar brasileira inviabilizou todas as manifestações de cunho racial: Os militares transformaram o mito da democracia racial em peça chave da sua propaganda oficial e tacharam os militantes e mesmo os artistas que insistiam em levantar o tema da discriminação como “impatrióticos”, “racistas” e “imitadores baratos” dos ativistas estadunidenses que lutavam pelos direitos civis. (MOVIMENTO NEGRO, 20105)

A partir dos anos 50, o movimento Rastafári na Jamaica atrelado à musicalidade

começou a ganhar força e a se espalhar pelo mundo.

Na década de 70 do século passado, Bob Marley ganha projeção mundial e leva

as letras de suas músicas aos quatro cantos do mundo. Nessa época o Reggae já

havia adentrado as fronteiras do Brasil. Por aqui, o movimento Negro andava um pouco

sufocado pelo Regime militar e após sua queda na década de 80, começa a ganhar

força ao redor do país.

No Brasil os movimentos negros de caráter pacifistas começaram logo no início

do século. A partir das idéias de Martin Luther King e Marcus Garvey, começaram a se

organizarem. Dentre os precursores do movimento podemos citar na década de 1930 a

Frente Negra Brasileira, mais tarde transformada em Partido Político; O teatro

experimental do Negro em 1944 no Rio de Janeiro; o congresso Nacional do Negro em

Porto Alegre em 1958 e a Associação Cultural do Negro em 1954 na cidade de São

Paulo.

Em 1959 o professor Jorge Agustinho cria o Centro de Estudos Afro-Orientais,

pioneiro nas relações diplomáticas e culturais entre Brasil e África.

Em 1975 foi fundado no Rio de Janeiro o IPCN – Instituto de Pesquisa e Cultura

Negra, organização de relevância no quadro do Movimento Social Negro no país

(MOVIMENTO NEGRO, 2010)

55

http://www.geledes.org.br/afrobrasileiros-e-suas-lutas/movimento-negro.html.

Page 18: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

12

Após este período houve apenas pequenas ações em torno da negritude. “O

Movimento negro enquanto proposta política só ressurgiria realmente em 7 de Julho de

1978 quando um ato público organizado em São Paulo contra a discriminação racial

deu origem ao Movimento Negro Unificado contra a discriminação racial (MNU). A data

ficou conhecida como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo”.

A consequência deste movimento levou à criação em 1984 do primeiro órgão

público voltado para o apoio ao movimento afro-brasileiro, o Conselho de Participação e

Desenvolvimento da Comunidade Negra.

Os anos Pós-constituição de 1988 têm registrado possíveis avanços na

conquista do espaço social do Negro. (MOVIMENTO NEGRO, 2010)

Conceição do Coité

A problemática do negro em Conceição do Coité começou muito cedo. Desde

antes que o município se tornasse arraial e freguesia, a problemática racial e do negro

já era presente neste lugar. Alguns escritores e pesquisadores que escreveram sobre a

cidade, narraram fatos em que a temática do negro esteve presente.

A primeira escravidão em Conceição do Coité, de que se tem notícia aconteceu

com índios, após o governo português haver dividido a colônia em Sesmarias. A

Sesmaria em que Coité estava situado recebeu o nome de Sesmaria dos Tocós e foram

os Guedes que a exploraram. “Antonio Guedes de Brito criou equipes potentes para

defender a terra que era de seus parentes, banindo dela os gentios e com atos dos

mais frios, matou todas essas gentes.” (BARRETO, 2007, p. 22). Nessa época, muitos

índios foram dominados e escravizados, servindo na Sesmaria dos Tocós, onde existia

um lugar chamado de Nascente do Coité, que mais tarde chamaria Olhos D´agua, onde

Conceição do Coité está situado.

Por essa época, foi construída uma estrada que ia da Capitania de Salvador à

Capitania de São Francisco, passando pela Nascente do Coité. (BARRETO, 2007, p.

22). O processo de escravidão em Coité foi tão demarcado e profundo que o primeiro

habitante do lugar já trazia consigo escravos. “Traz ao menos um escravo, a mulher e a

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13

meninada” (BARRETO, 2007, p. 27). A partir daí, cada fazendeiro que por terras de

Coité se estabelecia, logo tratava de comprar escravos, ainda que o pagamento se

desse em parcelas. (2007, p. 31) O progresso se estabeleceu por aqui pela prática da

escravidão e, além do trabalho servil, muitos senhores ganhavam fortunas, através do

comércio de escravos. (2007, p. 33).

Barreto (2007, 34) narra a rotina dura e a vida humilhante a que os escravos

eram submetidos: trabalhavam dezesseis horas por dia, alimentavam-se de comida

estragada, que seria jogada no lixo, acordavam antes do amanhecer para o trabalho

hostil de cada dia. As mulheres também sofriam intensamente e muitas eram

exploradas sexualmente por seus senhores. Barreto diz que os escravos desfaleciam

por “construir tanta riqueza e viver como animais” (2007, p. 34). Segundo ele, “são

tantas histórias tristes, de lágrimas, dor e tormento, submetendo o escravo a tanto

padecimento” (2007, p. 35). Barreto nos diz ainda que em 1760 já estavam divididas

todas as terras de Coité, no sistema de grandes latifúndios, no qual poucos senhores

detinham a propriedade de toda a região. (p. 37).

Em 09 de maio de 1855, Coité foi elevada ao status de Freguesia, sendo

vinculada ao município de Feira de Santana.

A professora Nilzete Cruz narra o dia-a-dia da feira-livre no Arraial da cidade,

onde escravos e escravas eram negociados (informação verbal6). Segundo ela,

senhores e coronéis utilizavam o espaço urbano da cidade, para realização da feira-

livre onde se negociavam escravos. Os escravos eram expostos na praça como animais

e lá eram comprados e vendidos, mas deste processo não participavam efetivamente,

pois não eram consultados em nenhum momento sobre a transação que era realizada

na qual eram objetos (informação verbal)7.

Após todos os acertos entre comprador e vendedor, a oficialização da compra

era levada ao cartório, primeiramente em Feira de Santana e, após a emancipação do

município, no próprio cartório da cidade. No cartório era então lavrada a escritura

6 Palestra em 04/11/2009, realizada na UNEB – Campus XIV, para a disciplina de História Regional do Curso de Comunicação Social, II semestre

7 Entrevista dada concedida para o documentário Reggae é de Paz, produto desta pesquisa

Page 20: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

14

pública da compra do escravo. Neste momento também não era consultado, o escravo,

pois não lhe era permitida a manifestação de sua vontade.

Após este momento, segue-se um processo extremamente cruel e doloroso para

o escravo. Dava-se a identificação do mesmo com um ferro superaquecido, quando

eram impressas em seu corpo as letras capitulares de seu senhor. Tudo isso acontecia

em um processo bastante animal e desumano.

Ao que tudo indica, Segundo Nilzete Cruz (informação verbal8), existe no

município vários lugares e comunidades cujos moradores são remanescentes de

quilombos. Ela discute a possibilidade de a comunidade existente no município

conhecida como o Maracujá ser remanescente de quilombos. Barreto (2007, p 11)

conta a história de uma escrava, Martinha que foi objeto de paixão de um grande

fazendeiro do município. O fazendeiro comprou a escrava e se tornou seu esposo.

Como nessa época, Conceição do Coité pertencia ao município de Feira de Santana,

todos os processos legais foram realizados pelo Fórum daquela comarca.

Em 1890, Coité é levado à emancipação por um ato assinado pelo Governador

da Bahia, passando a se chamar Conceição do Coité.

Entretanto, as questões relacionadas à negritude e a tomada de consciência

racial pelo negro em Conceição do Coité remonta aos anos 80. Naqueles anos, a

migração de vários afro-descendentes coiteenses para a capital do estado, Salvador,

colocou a negritude coiteense em contato com os vários movimentos culturais e

libertários do negro. Movimentos como o Reggae que explodiu na Jamaica e o próprio

Olodum existente em Salvador fez com que esses negros migrantes trouxessem a

discussão racial para Conceição do Coité, assim como a cultura do Reggae. Naquela

época os discos de vinil ajudavam a levar a cultura musical a lugares antes

impensáveis. O Reggae havia ganhado o mundo (informação verbal)9. Muitos músicos

brasileiros haviam assimilado o Reggae e disseminado a musicalidade negra,

8 Palestra em 04/11/2009, realizada na UNEB – Campus XIV, para a disciplina de História Regional do

Curso de Comunicação Social, II semestre

9 Beto Rasta, em entrevista cedida para o documentário Reggae é de Paz, produto desta pesquisa

Page 21: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

15

carregada de crítica social, pelos quatro cantos do país. (CARDOSO, 1997, p. 15).

Assim, Conceição do Coité conheceu as discussões da negritude. Nesta época, apenas

algumas pessoas de Conceição do Coité tinham contato com este elemento cultural.

Mas isto era suficiente. Estava plantada a semente que frutificaria, através dos grupos

sociais e raciais no final dos anos 90 e início do século XXI.

Um evento marcante para a consolidação da discussão racial no município

aconteceu em 2005. Um curso de capacitação em Liderança social e identidade negra,

chamado “Reggae em Ação: capacitando lideranças para a identidade negra e

mobilização social” realizado pelo Centro de Promoção da Educação da Cultura e da

Cidadania – CPECC e destinado aos integrantes do Grupo Revolution Reggae

espalhado pelos bairros periféricos da cidade, como Pampulha, Barreiros, Jaqueira,

Matadouro, Açude Itarandi e Açudinho.

Este curso visava capacitar o público alvo para atuar junto aos Bairros periféricos

da cidade e aos movimentos sociais, sendo capazes de discutir as questões sociais e

raciais no entremeio social. Foram ministradas aulas e oficinas nas áreas de

musicalidade reggae e consciência negra, cooperativismo, economia, direitos humanos,

educação e pedagogia infantil, comunicação comunitária e outros.

Após quatro anos de sua realização, participantes do curso ainda comentam a

importância fundamental daquele curso para a formação do indivíduo enquanto ser

humano e afro descendente. O vídeo documentário, produto desta pesquisa, traz

alguns relatos importantes de participantes daquele projeto.

A Identidade negra: Conceitos

A Negritude então se estabeleceu como a busca do desafio cultural do mundo

negro, como a luta pela emancipação de seus povos oprimidos, a luta pela revisão das

relações entre os povos (MUNANGA, 2007, p. 42), a afirmação da personalidade

própria dos povos, a valorização de seus modos de ser, de vestir, de expressar-se

artisticamente e culturalmente. A identidade envolve a questão da valorização pessoal,

do desejar-se, reconhecer no negro coisas bonitas e coisas feias também, como em

qualquer ser humano. A identidade negra envolve a auto-aceitação e a celebração de

Page 22: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

16

sua cultura, não ir em busca de identificação na cultura do outro, mas o desejo ardente

pelas suas raízes, pelo seu modo próprio de ser. Césaire (1976), citado por Munanga

(1986, p.44), diz que a negritude é o simples reconhecimento do fato de ser negro, a

aceitação de seu destino, de sua história, de sua cultura”. Cesaire define a negritude

em três palavras: identidade, fidelidade e solidariedade. Estes são elementos

essenciais para qualquer discussão em torno da negritude.

Page 23: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

17

MÚSICA E IDENTIDADE

Quatrocentos anos foi a duração da escravidão de milhares de pessoas,que por um capricho ou aprovação dos deuses, nasceram com uma única diferença dos outros povos, a pele mais escura do que o normal: a pele negra (...). Era o cântico dos escravos e no som que tiravam de qualquer objeto que seus senhorios buscavam uma explicação para esse fenômeno, vendo que eles, mesmo aprisionados e roubados da sua pátria-mãe, África, ainda possuíam uma vasta inspiração para cantar e dançar para aliviar os sofrimentos, como se soubessem que tudo aquilo não era definitivo. Este é o poder da música. (CARDOSO, 1997, p. 8)

Assim, Marco Antonio Cardoso, no livro “A Magia do Reggae” sintetiza a

relevância da cultura negra, especificamente suas músicas e danças. Lundu, Samba,

Blues, Reggae, capoeira e, atualmente blocos afros baianos, como o Ilê Aiyê e o Male

Debalê, que fazem parte desta abastada cultura que vem sendo preservada ao longo

dos séculos e se transformando em instrumento de luta contra toda a repressão que

tem sofrido.

O Reggae é um ritmo que surgiu na Jamaica, fruto das manifestações culturais

que chegaram à Ilha através dos povos africanos, que são, em sua grande maioria

oriundos da “África ocidental”.

Influenciados pelo Calipso de Trinidad Tobago e pela rumba cubana, a

diversidade foi ganhando forma e os jamaicanos começaram a desenvolver seu próprio

ritmo, como o Mento. Começaram então a incrementar suas Bandas com a introdução

de solos de trompetes que mais tarde dariam origem ao som instrumental , dançante,

alegre e agitado do SKA.

O outro pano de fundo do surgimento do Reggae foram os fundamentos do

Rastafarianismo, um movimento que possui um caráter religioso, político, milenarista,

revolucionário e constitui uma nova visão de mundo. Porém suas crenças, rituais e

atitudes são produtos dos processos de hibridação a partir do encontro de diversas

culturas ocorridas no caribe.

É bom ressaltar que, essas manifestações se difundiram justamente nas

camadas baixas, “nos chamados bairros de lata” jamaicanos, habitados geralmente

Page 24: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

18

pela população negra marginalizada. Nesses locais predominavam diversos problemas

sociais, violência, miséria e desemprego. As letras do Reggae eram movidas pelos

elementos religiosos do Rastafarianismo, que entre outras coisas denunciavam o

sistema de opressão vivenciado pela população negra pobre das camadas baixas. Isso

Possibilita considerar que o Movimento Rastafari juntamente com o Reggae são

importantes meios de resistência do povo negro jamaicano, no combate, mesmo que

simbólico contra o sistema de opressão vivenciado pelos mesmos.

O Reggae chega ao Brasil sendo recebido, em primeiro lugar, pelas populações

da região do Nordeste, principalmente no Maranhão que mais tarde devido às

proporções dessa manifestação recebe a classificação de “Jamaica Brasileira”. Um dos

fatores é a proximidade geográfica. “São Luís está inserido em uma região que

compreende, principalmente aos estados de Maranhão e Pará. Nessa região

predominam ritmos caribenhos”. Segundo Cardoso (1997, p.13), Bandas como Tribo de

Jah do Maranhão e Central Africana e cantores como Edson Gomes, Fausy Beydoun,

contribuem para a disseminação e valorização deste ritmo no cenário nacional. Para

este mesmo autor “O reggae no Brasil sempre sofreu uma certa indiferença do poder e

da mídia, que o encarava como mais uma música de favelados, sendo portanto,

insignificante ao ponto de lhe darem as costas” (1997, p. 12).

Quando o reggae foi se popularizando na Jamaica, nos Estados Unidos estava

acontecendo a expansão do Rhytm and Blues, ou simplesmente “Blues”. Oriundo do

Sul dos Estados Unidos, dos escravos das plantações de algodão que usavam o canto,

posteriormente definido como "blues", para embalar suas intermináveis e sofridas

jornadas de trabalho. São evidentes tanto em seu ritmo, sensual e vigoroso, quanto na

simplicidade de suas poesias que basicamente tratavam de aspectos populares típicos

como religião, amor, sexo, traição e trabalho. Com os escravos levados para a América

do Norte no início do século XIX, a música africana se moldou no ambiente frio e

doloroso da vida nas plantações de algodão. Porém o conceito de "blues" só se tornou

conhecido após o término da guerra civil quando sua essência passou a ser como um

meio de descrever o estado de espírito da população afro-americana. Era um modo

mais pessoal e melancólico de expressar seus sofrimentos, angústias e tristezas. A

Page 25: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

19

cena, que acabou por tornar-se típica nas plantações do delta do Mississipi, era a

legião de negros, trabalhando de forma desgastante, sobre o embalo dos cantos, o

"blues". Mas, segundo Cardoso

de todas estas manifestações, o reggae é a mais explicitamente revolucionária. É satírico e por vezes cruel, porém as letras também não se hesitam ao tratar de temas como o amor, lealdade, esperança, ideais, justiça, novas coisas e novas formas. É essa afirmação de possibilidades revolucionárias que coloca o reggae em uma categoria à parte (1997, p. 17).

Em Conceição do Coité, esta realidade da música reggae não é muito diferente

do que acontece no cenário nacional e até mundial. A música reggae tem alcançado

uma grande penetração nas comunidades negras do Açude Itarandi, do Bairro dos

Barreiros e da Comunidade Nova Esperança. São bairros da cidade de Conceição do

Coité onde moram pessoas, na maioria, negras e de baixa renda per capta. Os jovens

destas comunidades descobriram na música reggae uma filosofia de vida. Ouvem

reggae como uma celebração, como um ritual. Reggae para eles é uma maneira de

viver o mundo, de falar das injustiças sociais, uma forma de se expressar, uma maneira

de aprender, de falar, de viver. Uma maneira de ser. Isto justificou a escolha deste

gênero musical enquanto ferramenta propulsora para o desenvolvimento de um projeto

de pesquisa desta natureza.

A música reggae tem sido usada como símbolo afirmador de suas identidades,

como acontece também na Jamaica e em outras partes do mundo, muito embora o

fenômeno da identidade étnica e cultural negra não seja igual em todas as partes do

mundo. Sansone afirma que a identidade étnica difere de lugar para lugar (SANSONE,

2007, p. 9). Mas a música reggae tem sido usada pelos povos negros em várias partes

do mundo como um símbolo de sua identidade cultural.

Na maioria dos movimentos ligados a identidade negra, o Reggae tem estado

presente. Ele traz em suas canções, letras de protestos social, de reivindicação, de

valorização da raça etc. Estes ingredientes da musicalidade reggae contribui para o

processo de conscientização das comunidades afro-descendentes ao redor do mundo.

Assim, a música tem sido uma forte aliada no processo de resistência e libertação

social.

Page 26: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

20

O VÍDEO-DOCUMENTÁRIO

O vídeo documentário é um produto audiovisual extremamente flexível com

relação à sua estrutura, seleção de planos e possibilidade de posicionamento do

documentarista. Assim, entendemos que ele pode ser usado em múltiplas situações

reais e por atores sociais para produção de discursos e pontos de vistas sobre uma

determinada realidade, bem como para propagação de idéias sociais e consciências

coletivas.

Sendo assim, o vídeo tem uma visão comunitária, pois ao retratar uma realidade

cotidiana, não objetiva a reunião de grandes públicos, mas o seu produto é dirigido

geralmente a um pequeno público que se vê representado nestas produções e que

participam deste processo sem encenação. O vídeo documentário não está atrelado a

roteiros e padrões pré-definidos, porque como diz Puccini, "nem todos os roteiros de

documentários nascem da etapa de pré-produção do filme" (p. 16, 2009).

Assim, entendemos que ele é extremamente útil na representação de temas

como o que é objeto deste trabalho de pesquisa. Segundo Musburger, “um

documentário deve ser produzido para fazer alguma diferença, ganhar uma discussão,

ou resolver uma questão sobre um assunto socialmente importante” (2008, p. 122). A

importância social deste trabalho está no fato de que a identidade cultural é a razão de

ser de uma comunidade. É a identidade cultural que mostra como é a vida das pessoas

de um determinado lugar. Sem identidade, um povo não existe, não se firma enquanto

grupo, enquanto comunidade, enquanto povo.

Queremos descobrir em que medida o escutar e viver a música reggae tem

contribuído para afirmação e definição da identidade destes grupos em Conceição do

Coité, para entender porque estas pessoas vivem o reggae diariamente e o preferem à

qualquer outro estilo musical, afirmando ser o reggae verdadeiramente "música raiz".

E, caso este contexto social não seja pesquisado haverá um prejuízo sócio-cultural pela

Page 27: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

21

não documentação de um modo de vida identitário, de uma condição sócio-cultural

existente.

Está ai a importância da discussão e delimitação da identidade de um grupo

social. Conhecer uma identidade é afirmar a existência de um grupo, é valorizar sua

cultura. É por isso que esta pesquisa se propõe a estudar em que medida o reggae

contribui para construção e reconstrução destas identidades.

Ademais, o movimento negro em Conceição do Coité está em evidência

atualmente, destacando-se na cidade, na região e até em nível nacional, no âmbito dos

Movimentos Sociais. E a música reggae tem feito parte deste processo de forma ativa,

integrando todas as atividades que são desenvolvidas pelo Movimento. Então se faz

necessário fazer o mapeamento dos usos que se faz desta linguagem musical no seio

deste movimento e destas comunidades e como estes usos dialogam e promovem a

afirmação e reafirmação da identidade cultural deste povo.

A importância desta pesquisa não se limita ao conhecimento da realidade

pesquisada pelo mundo acadêmico, mas se propõe a oferecer ao grupo social

pesquisado, a condição de ele se conhecer melhor, de pensar a respeito de sua

condição enquanto povo no mundo. Conhecendo-se, o povo pode refletir sobre suas

identidades e dialogar de forma crítica, criativa e racional com outras identidades que o

cerca.

Acreditamos que um vídeo documentário irá contribuir para o processo de

mobilização social em que vivem essas comunidades. O vídeo poderá servir para

exibições em suas atividades, inclusive de conquista de novos militantes, assim como

também, se divulgado na internet, levará o conhecimento da existência destes grupos a

lugares inimagináveis.

Outrossim, entendemos também que por ser flexível e aberto, o documentarista

tem liberdade para assumir um posicionamento em relação ao tema abordado.

Segundo Erik Barnow, citado por Musburger (2008, p. 123), o documentário apresenta

a visão de mundo do documentarista. Para ele o vídeo documentário é um produto no

Page 28: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

22

qual o roteirista não consegue deixar escapar a sua subjetividade. Assim, nós partimos

da premissa de que a música reggae tem contribuído para afirmação e reafirmação da

identidade negra em Conceição do Coité e procuraremos, embasados na pesquisa

realizada, construir o vídeo na defesa desta posição.

Buscar-se-á dar vozes aos atores sociais, fontes da pesquisa, e no vídeo

privilegiaremos o discurso destes grupos, deixando-os falar e dialogar com intelectuais

que discutem a temática da identidade racial. Em razão disso, optamos por construir um

vídeo sem a utilização de narrador. As vozes dialogarão de tal forma que a narrativa

seja construída.

Acreditamos que a ausência de OFF não prejudicará a narrativa, porque as

lacunas deixadas pela imagem, se houver, serão complementadas com a inserção de

caracteres que proporcionarão um ambiente em que os textos assumirão o papel de um

"elo", para proporcionar a coesão textual do vídeo. Musburger nos diz que “pode-se

acrescentar uma quantidade mínima de narração escrita ao som ambiente e natural

para preencher as lacunas que não ficaram totalmente explicitas com as imagens e os

sons” (2008 p. 126).

Buscaremos assim, construir um vídeo agradável e de fácil entendimento para o

expectador, tentando colher nas entrevistas falas ricas em detalhes, mas com um

vocabulário de fácil assimilação.

Construiremos um vídeo documentário de uma realidade social. Sendo assim

,usaremos cenas captadas no dia-a-dia das pessoas estudadas. Também faremos o

registro das apresentações e ensaios da Banda de Reggae e reuniões dos grupos

negros que ouvem o reggae em Coité.

Assim, abordaremos também a importância deste estilo musical como parte

integrante da cultura regional e que traduz em si as lutas, os anseios e as vivências das

comunidades que em grande parte estão nas periferias da cidade, inseridas às

margens da dinâmica social dominante.

Page 29: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

23

Outro aspecto que será fundamental para o nosso documentário se refere à sua

parte lúdica. Relacionado a este aspecto, construíremos um vídeo musical, onde a

música estará presente durante todo o enredo. Esta musicalidade aparecerá através da

trilha sonora, sobe som e BG (background).

As músicas, que formarão a trilha sonora do vídeo, serão escolhidas do

repertório do reggae local, regional , nacional e internacional com letras que abordam a

temática da identidade negra e da discriminação racial. Estas trilhas serão sugeridas

pelos grupos pesquisados, na tentativa de traduzir no audiovisual, um pouco do

repertório musical destes grupos. Acreditamos que o fato de eles escolherem as

músicas, dará mais autenticidade ao produto, porque mostrará um pouco daquilo que

eles ouvem no dia-a-dia.

Após serem reunidas, estas trilhas sugeridas pelos pesquisados, nós

procuraremos selecionar entre elas, aquelas músicas que passem uma dinâmica

musical de acordo com o trecho do vídeo no qual ela será usada. Sabe-se que as

músicas nos transmitem diferentes dinâmicas. Segundo Gibson, “a música nos toca no

sentimento e isto só é possível devido a sua dinâmica, a sua intensidade. São milhões

de dinâmicas discerníveis na música que nos afetam teoricamente, emocionalmente,

fisicamente, visualmente, psicologicamente, fisiologicamente e espiritualmente” (2005,

p. 191). De acordo com o “feeling” de determinada fala, de determinado trecho, de

determinado momento do vídeo, usaremos determinada trilha para intensificar este

momento, para amplificar determinado sentimento, para conduzir psicologicamente o

telespectador para determinado sentimento e emoção. Para seguir o ponto de vista de

Gibson, este “sentimento poderá ser físico, abstrato, emocional ou psíquico” (2005, p.

191).

Com relação à utilização de efeitos especiais, buscaremos utilizar-los quando for

essencialmente necessário, no intuito de dar mais naturalidade ao vídeo. Buscaremos

efeitos que não mascarem a realidade pesquisada. Estes efeitos são importantes para

evitar cortes bruscos nas imagens, para dar mais sutileza na transição de imagens,

para tirar a monotonia na visualização de imagens muito paradas etc. No entanto

Page 30: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

24

tomaremos cuidado para não mascararmos a realidade da pesquisa e para não

mudarmos a semântica das entrevistas nem das imagens captadas.

Com relação aos efeitos de áudio, seguiremos o mesmo raciocínio. Tais efeitos

serão utilizados quando se justificarem técnica e artisticamente, segundo a linguagem

do audiovisual e de acordo com o objetivo proposto pelo documentário. Estes efeitos de

áudio, como reverb, chorus, delay, flange e outros servem para ambientar o som e para

dar-lhe mais presença ou ausência dentro do espectro sonoro.

Tomaremos cuidado também no momento da edição, no processo de seleção de

cenas, corte das imagens, ordem de aparecimento no vídeo etc. Em primeiro momento,

buscaremos, no processo de decupagem, eliminar apenas as imagens que tenham

problemas técnicos no momento da captação: áudio ruim, imagens com problemas de

iluminação, com problemas de enquadramentos etc. Ainda assim, imagens com

problemas, mas que tenham falas essenciais e áudio importantes, do ponto de vista do

objetivo do vídeo, este áudio será preservado e será coberto com outras imagens,

captadas no momento de pesquisa e colheita de imagens, através do sistema

conhecido como “nota coberta” na linguagem audiovisual.

Haverá um cuidado essencial com o áudio do documentário, principalmente com

o áudio das entrevistas. Em primeiro, momento, após a escolha das imagens e

montagem do documentário, este áudio será exportado pelo programa de edição de

vídeo e será trabalhado em um programa de edição de som como o Audacity ou

Soundforge. Neste momento, haverá o tratamento da relação som/ruído, a equalização

do áudio para se tornar mais audível e agradável ao ouvido humano. É neste momento

que se inserirá também os efeitos de áudio ao som das entrevistas. Far-se-á, neste

momento, também o processo de compressão do som para dar mais presença ao áudio

do documentário.

Só após este momento de tratamento do áudio das entrevistas, é que serão

inseridos os outros elementos sonoros ao vídeo, como trilha sonora, efeitos sonoros

etc. Este processo de mistura de sons é conhecido como mixagem. Para Gibson (2005,

Page 31: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

25

p. 191)10, “A arte de mixar é a forma com que as dinâmicas são criadas através dos

equipamentos do estúdio”. Para ele, “os quatro tipos de ferramentas que podemos usar

para criar todos os estilos diferentes de mixagem são: volume faders, panpots,

equalização e efeitos” (p. 191).

Assim procuraremos manipular todos estes elementos para criar diferentes

dinâmicas no som do produto audiovisual, através do processo de posicionamento

acústico {para intensificar a construção da imagem sonora tridimensional entre os alto-

falantes (GIBSON, 2005, p. 34)11, da distribuição de elementos dentro da mixagem, da

intensidade, da exploração do espectro sonoro}, da construção de imagens acústicas

etc.

Entendemos, portanto, que o som desempenha um papel importante em um

produto audiovisual. Segundo Saboya (2001, p. 21) “Os sons podem nos levar a uma

outra dimensão. Podemos mobilizar uma audiência através dos sons e até mesmo

‘viajar’ com ela para uma abstração total”. Ainda, segundo Saboya,

o som é muito mais que um elemento de suporte da imagem. Pode ser usado para reforçar, fortalecer o impacto da mensagem. Pode se tornar mais forte que a imagem e conduzir as emoções da audiência para qualquer ponto desejado pelo roteirista (2001, p. 21, 22).

Assim, será considerada também e principalmente a relação som e imagem do

produto. Nenhum destes dois elementos será super valorizado em detrimento do outro.

Ao invés disto, eles trabalharão em conjunto no processo de transmissão da mensagem

audiovisual.

Devemos distinguir dois tipos de efeitos sonoros, aqueles chamados de FX,

como chorus, reverbs, delays etc. e aqueles que são criados no estúdio para serem

10WWW.musicaudio.net

11 WWW.musicaudio.net

Page 32: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

26

uma representação da realidade, como sons de cachorro latindo, sons de pessoas

andando etc.

Os efeitos musicais serão utilizados também, para atrair o interesse do ouvinte.

Estes trechos musicais serão também extraídos de músicas reggae do repertório

nacional e internacional.

Outro ponto a considerar, em relação ao áudio refere-se ao número de canais do

componente sonoro. Os produtos atuais geralmente são construídos em estéreo 2.0,

dolby digital 5.1 ou 7.1. Os dois últimos são mais interessantes já que dão a impressão

tridimensional ao som. Nos filmes, eles são muito utilizados para dar ao telespectador a

impressão de que está no meio da cena. No entanto, a maioria dos telespectadores

brasileiros ainda está restrita ao sistema estéreo 2.0, em virtude da limitação de seus

aparelhos de reprodução audiovisual.

Assim nós buscaremos construir o nosso vídeo com as opções de reprodução

estéreo 2.0 e dolby digital 5.1. Buscando atender aos dois públicos possíveis. Segundo

Santos (1993) o áudio dolby em uma ilha de edição é mais sofisticado e permite a

gravação das pistas de áudio, uma de cada vez. Na trilha 1 pode ser gravado o som

original e na pista 2 ser adicionada uma trilha sonora, efeitos ou um fundo musical

(SANTOS, 1993, p.191) . Neste sistema, buscaremos privilegiar, no canal central, o

áudio das entrevistas, e nas outras caixas distribuiremos os outros componentes

sonoros. Sendo que, em alguns momentos, quando houver na tela diálogos entre duas

personalidades, estas falas serão distribuídas nas duas caixas frontais.

Uma preocupação deste trabalho refere-se aos direitos autorais dos trechos

musicais utilizados no vídeo. Assim, serão devidamente registradas nos créditos todas

as obras utilizadas com os seus respectivos autores.

A autoração do vídeo documentário é o momento de criação de menus, inserção

de algumas legendas, etc. Este momento é essencialmente importante para dar ao

documentário um aspecto visual interessante. É o processo de finalização do vídeo,

Page 33: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

27

onde todos as partes do audiovisual são reunidas, como vídeo principal, extras, making

off etc.

Voltando ao aspecto da edição do vídeo e a escolha de imagens, tal processo

será feito de forma que as vozes possam dialogar entre si, compondo o enredo do

documentário. Neste aspecto tomar-se-á o cuidado para que um entrevistado não

apareça por um tempo demasiadamente longo, deixando o documentário chato e

enfadonho. Ao invés disto, cuidar-se-á para que o entrevistado apareça por um

momento curto, seguido por outro entrevistado que venha dialogar com ele, dando

movimento de imagens ao vídeo. Também haverá a interrupção de falas, com o

esquema de “sobe som”, algum detalhe do dia-a-dia dos grupos pesquisados, imagens

de ruas etc. com a finalidade de dar dinamismo ao vídeo e deixá-lo bem prazeroso de

assistir. Trata-se da representação de uma realidade social, mas como diz Musburger

(2008, p. 121), de forma livre, “fazer um tratamento criativo dessa realidade”.

Como se trata de um documentário musical, a música será bastante valorizada

no vídeo. Ela aparecerá de forma que não seja apenas um plano de fundo para as

imagens e entrevistas (MAURO GIORGETTI, 2008, p. 3), Mas ela comporá de forma

fundamental o enredo do vídeo. A preocupação é tornar a música, um personagem

dentro do vídeo assim como são todos os entrevistados. De acordo com Giorgetti

(2008)12 “quando se opta por este recurso, destina-se a musica papel de complemento

da ação”. Assim, a música no documentário não exercerá apenas o papel de BG, papel

ilustrativo ou de ambientação, mas ela se comportará de tal forma que passe a narrar a

história juntamente com os entrevistados. Alguns elementos históricos não serão

discutidos por nenhum entrevistado, no filme, mas será trazido pelas canções. Não

apenas isso, mas a música em alguns momentos será elevada a tal nível que ela

mesma se comportará como as vozes dos personagens dentro do enredo. De tal forma

que diga por eles os seus anseios, as suas vivências, seus sonhos e desejos. É o que

12

HTTP://www.mnemocine.art.br/index.php?option=com_content&view=article&id=112:musicapersonagem&catid=

53:somcinema&itamid=67

Page 34: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

28

Giorgetti sugere quando diz que a música “vem em auxilio do personagem que não

consegue mais exprimir-se por si próprio” (2008)13.

Também na abertura e encerramento do filme, no momento dos créditos iniciais

e finais, haverá a ocorrência da música trilha sonora que dá nome ao filme, “Reggae é

de paz”, com o objetivo de “tentar estabelecer no início e confirmar no final o espírito e

a essência que animam o filme...” (Giorgetti, 2008, p. 5).

13

HTTP://www.mnemocine.art.br/index.php?option=com_content&view=article&id=112:musicapersonagem&catid=

53:somcinema&itamid=67

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29

O MEMORIAL

Enquadramentos

Para efeito de normatização desta pesquisa, utilizaremos para a noção de

enquadramentos de câmera, as especificações de planos para TV, sugeridos por Rudi

Santos (1997, p. 21): plano geral, primeiro plano, plano médio, plano conjunto, plano

detalhe.

DIA 11/11/2009

No dia 11 de Novembro de 2009 nos reunimos para o nosso primeiro dia de gravação.

Às 15:00h gravamos sonora com o doutorando em Literatura, Marcos Aurélio, que falou

sobre a musicalidade negra e a utilização da Música Reggae como elemento de

afirmação e reafirmação da Identidade. Para realizarmos esta gravação, utilizamos

como suporte material, uma câmera filmadora da Sony, modelo Handy cam. Com a

utilização deste equipamento de captação audiovisual, e seus acessórios, enfrentamos

várias dificuldades:

1. Ausência de entrada para microfone externo

O microfone externo confere uma melhor qualidade de áudio e sendo direcional a

intensidade de ruído no processo de captação do som pode ser amenizada. Neste

mesmo dia, estava acontecendo o Simpósio de Letras na UNEB Campus XIV e como o

ruído estava intenso, e muitas pessoas estavam circulando pelo ambiente, não

conseguiríamos uma boa sonora, pois o microfone da câmera é omnidirecional e capta

o som vindo de todas as direções e no processo de propagação do som, as partículas

existentes no ar, são comprimidas, e essa mesma compressão é propagada até chegar

ao nosso microfone de captação, mesmo em situações que o som atravessa

obstáculos, como uma parede, o princípio é o mesmo, a diferença é que nem só as

partículas de ar podem propagar o som, mas os líquidos e os sólidos também

Page 36: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

30

(FONSECA, 2007, p. 8). Para driblarmos esta situação, nos deslocamos com o

entrevistado para o Laboratório de Rádio do curso de Comunicação Social, pois o

ambiente do estúdio é tratado acusticamente e o ruído do ambiente externo neste caso,

não atrapalhou o processo de captação do som.

2. Ausência de um microfone ultra-direcional

Aliado ao fato de a câmera não possuir entrada para microfone externo, não tínhamos à

nossa disposição um microfone ultra- direcional, que é próprio para captar o som em

um ambiente que exista muito ruído, ou quando o microfone precisa estar em uma

distância considerável da fonte sonora, este microfone também chamado de Shotgun, é

o ideal para ser utilizado na captação sonora de videodocumentários em ambientes

externos, e é muito vantajoso pois melhora a qualidade sinal- ruído. (FONSECA, 2007,

p. 8)

3. Ausência de Iluminação artificial

Na entrevista com Marcos Aurélio, demos prioridade ao Primeiro Plano que “corta o

entrevistado na altura do busto e é muito utilizado durante diálogos ou entrevistas (

SANTOS, 1993, p. 29), porém surgiu uma outra dificuldade. Mesmo com a iluminação

das lâmpadas fluorescentes do estúdio, a imagem não ficou muito nítida . Para

conseguirmos um bom resultado, precisaríamos de uma iluminação artificial adequada.

Acessamos a função da câmera denominada “Nightsgot” porém a melhora na qualidade

da imagem não foi significativa, ainda continuando sem nitidez e contraste em nosso

visor de retorno. Com isso o nosso processo de captação ficou comprometido, devido a

esta dificuldade.

4. Ausência de um tripé.

Page 37: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

31

Em nossa entrevista com Marcos Aurélio, queríamos uma imagem estável, o que não

foi possível, pois não tínhamos um tripé para utilizar com a câmera e em nosso visor de

retorno, notamos que em alguns momentos a imagem ficou trêmula. Neste caso o uso

do tripé é indispensável, pois se ganha tempo, sem ser necessário refazer imagens por

conta de instabilidade. (WATTS, 2007, p. 32)

Neste mesmo dia, nossa equipe entrou em contato com a Banda de Reggae

Quixanayah, para fazermos a captação do ensaio que eles realizam uma vez na

semana. Nossa visita ficou marcada para as dezenove horas, porém uma de nossas

preocupações era a iluminação, pois no ambiente noturno a ausência dela poderia

comprometer a qualidade da gravação pelo fato de não possuirmos disponível

equipamentos de iluminação artificial para uma melhor captação das imagens. A

inexistência de um tripé, também nos preocupou bastante, pois o ensaio iria ser

demorado e após este, faríamos uma entrevista. O uso do tripé nestes casos confere

uma maior estabilidade à imagem com menor esforço físico do operador de câmera.

(PUCCINI, 2009, p.68). Conforme combinado, comparecemos às 19 horas para fazer as

filmagens do ensaio da Banda Quixanayah. Para este trabalho utilizamos

enquadramentos de câmera como: Plano Conjunto, Plano Médio, Primeiro Plano e

Detalhe. Nesta gravação, utilizamos, em alguns momentos, como angulação a Câmera

alta, pois esta é utilizada para intensificar o conteúdo da cena filmada e valorizar os

membros do grupo, colocando-os em condição de autoridade diante do trabalho que

realizam (SANTOS, 1993, p.65) Após o ensaio, a nossa equipe fez uma entrevista com

os componentes da Banda para registrar relatos sobre a história do grupo. Dentre os

planos citados, fizemos esta variação, pois estes criam uma maior dinâmica visual ao

documentário criando possibilidades de movimento no momento da edição. Usamos

esta variação de planos também para combater a monotonia de uma entrevista longa

tomada em um único take sem variação de enquadramentos. A mudança de

enquadramentos ajuda muito no processo de edição. (PUCCINI, 2009, p. 68).

Os integrantes da Banda Quixanayah sugeriram, no momento da entrevista, “que as

imagens fossem colhidas a partir das pessoas reunidas na sala de ensaio, para dar a

idéia de um bate-papo informal e a coisa ficar mais natural”. Concordamos então e os

integrantes ficaram sentados no chão e dispostos em um círculo. A entrevista era

Page 38: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

32

conduzida de forma que todos respondessem conforme o domínio do assunto. Não

havia uma linearidade de fala neste círculo. Quando um integrante não sabia dialogar

sobre um assunto que surgia referente ao dia-a-dia da Banda, imediatamente, ele pedia

que outro integrante que dominasse mais o assunto, respondesse. Sendo que o

documentário não é ficção, e que é factual e feito para demonstrar a realidade, os

entrevistados ficaram da mesma forma que eles ensaiam diariamente, de acordo com o

que constatamos em nossas visitas anteriores fora do processo de gravação.

Geralmente, eles ficam sem camisa e seus ensaios são dentro de um cômodo que

também é um dormitório utilizado por alguns deles. Vale ressaltar que são todos irmãos.

Para não alterarmos a cena natural do dia-a-dia do grupo, procuramos registrar o

ensaio tal como ele é, sem cenários e sem intervir na forma como ele é feito

diariamente.

Sabemos que não existe isenção absoluta. Compartilhamos com Morin (MORIN, 2002,

p. 84, 85) a noção de que existe a incerteza ligada ao conhecimento. Segundo ele,

existem vários princípios de incertezas, que nos impossibilitam de sermos

completamente racionais, completamente isentos de nossas emoções, de nosso ponto

de vista. A construção do conhecimento é apenas uma interpretação da realidade, mas

impregnada de todas as incertezas. Mas, segundo ele é necessário “enfrentar as

incertezas ligadas ao conhecimento”, sabendo “interpretar a realidade, antes de

reconhecer onde está o realismo”. Conscientes destas incertezas procuramos intervir o

mínimo possível no ambiente e no comportamento das pessoas.

Acreditamos que nossos contatos anteriores com o grupo, facilitaram bastante nossa

interação com ele, permitindo uma maior naturalidade de fala e comportamentos.

Neste dia as imagens foram feitas por Jurandi Oliveira e Paulo Enselmo, que alternaram

em alguns momentos. Terminamos nossas atividades às 21h.

Dia 12/11 /2009

Nossa equipe contactou o Grupo de capoeira do bairro da Pampulha, periferia de

Conceição do Coité, tal grupo é ligado à Associação Cultural Revolution Reggae, nosso

objetivo era captar imagens do ensaio.

Page 39: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

33

Neste dia, também marcamos entrevista com Moisés Blondy, que é um dos precursores

da música Reggae no município de Conceição do Coité.

Dia 15/11/2009

Conforme combinado, nos dirigimos para o centro da cidade para pegarmos sonora

com Moisés Blondy, porém o entrevistado remarcou para o dia 27/11 devido a

compromissos profissionais.

Dia 21/11/2009

Nossa equipe se dirigiu ao Centro Cultural Ana Rios de Araújo no centro de Conceição

do Coité, para registrar o evento da “Beleza negra”, desfile anual que ocorre em nosso

município para destacar participantes afro descendentes sob uma ótica estética.

Chegamos ás 19:00h no local e filmamos a parte externa e as imagens ficaram muito

escuras devido a falta de iluminação. Na parte interna do Centro Cultural o ambiente

estava ainda mais escuro e tornou impossível o registro de imagens sem a utilização de

uma iluminação artificial. O nosso grupo finalizou as atividades às 20:00h sem

conseguir captar boas imagens.

Neste dia as imagens foram feitas por Jurandi Oliveira e Paulo Enselmo.

Dia 26/11/2009

Entramos em contato com Moisés Blondy para realizarmos a entrevista, desta vez foi

confirmada para as 17 horas do dia seguinte.

Dia 27/11/2009

Desta vez comparecemos ao CPECC - CENTRO DE PROMOÇÃO DA EDUCAÇAO DA

CULTURA E DA CIDADANIA, entidade cultural de Conceição do Coité, destinada à

Page 40: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

34

promoção da cultura e valorização da cidadania. Lá entrevistamos o sócio influente da

Associação, Sr Fernando Araújo. Sabendo que ele é um profundo conhecedor da

cultura negra em Conceição do Coité e que milita em sintonia com outras entidades

afins como o Revolution Reggae, fizemos o possível para deixar o convidado bem à

vontade e conduzimos a entrevista de forma a que ela não assumisse um caráter

puramente técnico ou formal e segundo MEDINA:

A entrevista pode ser apenas uma eficaz técnica para obter respostas pré-pautadas por um questionário. Mas não será um braço da comunicação humana , se encarada como simples técnica. Esta - fria nas relações entrevistado-entrevistador – não atinge os limites possíveis da inter-relação, ou, em outras palavras, do diálogo. (MEDINA, 2002, p. 5)

Durante esta entrevista utilizamos como enquadramento o Plano Médio, fizemos

também movimentos de câmera como, PAN Horizontal , zoom in e zoom out. Na parte

exterior do imóvel também utilizamos o zoom in e o zoom Out. O uso do Zoom in neste

caso, foi utilizado na composição da imagem, pois o fechamento do zoom é importante

para eliminar a área morta em torno dos limites da imagem. Neste caso, o uso do zoom

serve apenas para dar vida a uma imagem estática. (WATTS, 2007, p. 44). Na

seqüência nos dirigimos à loja de discos MB Music no centro de Conceição do Coité

para realizarmos a entrevista com Moisés Blondy. Ao chegarmos no local, verificamos

que havia um serviço de alto-falantes próximo ao estabelecimento comercial que

comprometia a qualidade do áudio. Não devemos ignorar o ruído de fundo. Uma vez na

gravação, é praticamente impossível se livrar dele sem prejudicar o som que queremos

escutar, mesmo numa sala de som completamente equipada. Além disso, ele poderá

parecer pior na gravação do que parece na vida real. Nossos ouvidos conseguem, até

certo limite, selecionar o que queremos escutar na vida real, mas eles não funcionam

tão bem quando se trata de gravações por que a fonte do ruído frequentemente não

está na tela e todo o som vem do mesmo lugar, o alto-falante (WATTS, 1999, p. 53). A

qualidade da imagem também estava escura, em virtude da pouca luminosidade do

local. Para realizarmos nossa entrevista, nos dirigimos com o entrevistado para o

Centro Comunitário, pertencente à Igreja Católica, que fica em frente ao local marcado

Page 41: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

35

para a gravação da sonora. Apesar de o ambiente ser mais silencioso, ainda

continuamos com problemas na iluminação, pois era precária, mesmo assim

conseguimos realizar a entrevista.

Nós sentimos que o entrevistado ficou entusiasmado com o tema do nosso video

documentário e fez questão de ainda complementar a sua fala, relatando a história do

Reggae em Conceição do Coité, relacionado ao advento das Rádios livres no

município. O entrevistado ainda frisou que, na maioria das Rádios de Conceição do

Coité, o grupo Jamaica apresentou programas, em maior parte aos domingos e esta

ação fortaleceu o movimento da música Reggae e a organização de outros grupos da

cultura afro descendente na Sede e nos Distritos de Conceição do Coité. Moises Blondy

ainda relatou que nas festas tradicionais como o Micareta da cidade, a musica reggae

era excluída como opção musical. A inserção do Reggae, nestas festas, se deu através

da mobilização dos grupos formados, que formularam abaixo-assinados e

sensibilizaram o poder executivo do município, que a partir destas ações, inseriu o

Reggae nas festas tradicionais.

Neste dia as filmagens foram feitas por José Jurandi e Paulo Enselmo.

Dia 28/11/2009

Tomamos conhecimento, através de palestra ministrada na Uneb Campus XIV pela

professora Nilzete Cruz, sobre um livro, escrito em Conceição do Coité por Orlando

Matos Barreto, com o título “Martinha, Escrava, Esposa, Rainha” que retrata a História

do surgimento do Maracujá, comunidade Quilombola em Conceição do Coité. Nos

deslocamos para o centro da cidade para contactar o autor desta obra, que tem grande

valor histórico e documental para o nosso vídeo. Não o encontramos em sua

residência, porém ficou certo que retornaríamos outro dia para manter contato. Neste

caso utilizamos a pesquisa bibliográfica para conseguir estes dados históricos, pois

segundo Gil,

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa

Page 42: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

36

parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas Bibliográficas (1989, p. 48).

Neste mesmo dia às dezoito horas nos dirigimos ao bairro do Açudinho, periferia de

Conceição do Coité. Lá conversamos com Beto Rasta, que segundo os músicos da

cidade, também é considerado um dos precursores da musicalidade Reggae no

município. Mais uma vez tivemos problemas com a iluminação e a gravação que seria

externa, teve que ser realizada no interior da residência do entrevistado que estava

mais bem iluminada. Utilizamos em nosso processo de captação enquadramentos em

Plano Médio e Primeiro Plano. Também foram utilizados movimentos de câmera como

zoom in e zoom out .

A entrevista com Beto também surgiu naturalmente. O entrevistado se sentiu até à

vontade para nos mostrar a sua coletânea de LPs, antigos discos de vinil, alguns são

de sua juventude. À medida que ele nos mostrava as capas dos discos, ia fazendo uma

contextualização histórica com a sua vida na militância do movimento negro. Ele

enfatizou que na época que comprava aqueles LPs, foi no período em que veio de

Salvador para morar em Conceição do Coité e segundo ele, as pessoas da cidade

ainda não conheciam o Reggae e passaram a conhecê-lo através das novidades em

discos que ele trazia para a cidade. O entrevistado ainda cita que este foi um caminho

muito difícil de ser trilhado pois relata que foi discriminado por ser rastafári. Por isso,

segundo ele, era comparado algumas vezes com um marginal. Mas ele cita que seu

bom exemplo com o passar dos anos foi a prova suficiente para que todos mudassem

de conceito em relação a sua auto imagem e, hoje, segundo ele, todas pessoas em

Conceição do Coité o vêem como um exemplo a seguir.

Na seqüência fomos à “Sambaíba” comunidade rural de Conceição do Coité, onde

segundo informações, funcionava o “Bar do Reggae”. Ao chegarmos na localidade,

conversamos com o proprietário o qual nos informou que o bar encerrou suas

atividades em virtude da discriminação, do preconceito da sociedade e das atitudes

arbitrárias de alguns freqüentadores. As imagens que fizemos ficaram ruins em virtude

da ausência de iluminação artificial.

Neste dia as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e a entrevista por Jurandi

Oliveira.

Page 43: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

37

Dia 30/11/2009

Às 17h entrevistamos Orlando Matos, autor do livro “Martinha, Escrava, Esposa,

Rainha”. Na entrevista utilizamos como enquadramento o Plano conjunto. As imagens

foram feitas por Paulo Enselmo e Jurandi Oliveira ficou responsável pela produção da

entrevista.

Dia 14/01/2010

Neste dia nossa dupla dedicou-se a fazer a decupagem, assim como a transferência e

a conversão das imagens captadas. Para esta tarefa, utilizamos como software de

edição de imagens, o Adobe Premiere CS3 que nos possibilitou marcar o tempo

existente nos trechos selecionados e formular o nosso roteiro de edição do vídeo. A

utilização deste software e de outros recursos tecnológicos como a placa de captura de

vídeo Firewire, facilitaram a digitalização das imagens e das fotografias dos arquivos

das Entidades (CPECC e Revolution Reggae) para serem inseridas no vídeo e segundo

Ferreira:

A digitalização das imagens integrará o documentário nas redes de informação, irá estimular a criação de formas híbridas de realização, poderá explorar outras percepções da exploração sensorial do mundo através do filme e dinamizará as políticas de criação audiovisual. No Brasil, a redução dos custos irá incentivar uma nacionalização da produção e quem sabe, trará maior liberdade dos realizadores. O documentário voltará ser como preconizava Alberto Cavalcanti – Um terreno fértil para a experimentação (FERREIRA, 2001, p. 217).

Após este processo de decupagem das imagens e entrevistas, analisamos as músicas

que seriam escolhidas para compor a trilha sonora do documentário, e como a música

Reggae exerce um papel de grande influência em Conceição do Coité, procuramos

contactar os apreciadores deste gênero musical para que juntos pudéssemos escolher

as trilhas adequadas para cada ação. E neste processo de escolha da trilha sonora,

pudemos compreender que um dos espaços do vídeo é o reino do som, que

compreende o espaço ocupado pelos elementos que não fazem parte da tela nem do

Page 44: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

38

espaço diegético – são participantes invisíveis e inaudíveis, mas desempenham um

papel importante em determinar a nossa resposta, como membros da audiência, aos

sons e imagens. Trata-se do espaço ocupado principalmente pelo comentário ou

locução e pela música de fundo (ARMES, 1999, p.187). Às dezessete horas do mesmo

dia nos deslocamos para o Bairro dos Barreiros em Conceição do Coité e lá

conversamos com o Rasta Toinho que também é diretor de eventos da Associação

Cultural e Beneficente Revolution Reggae.

Em sua residência, ele nos convidou para ouvir dezenas de CDs, arquivos de mp3 e

vídeos que retratavam a musicalidade Reggae e sugeriu músicas deste estilo musical

que poderiam ser utilizadas em nosso vídeo documentário. Ele ainda mostrou-se muito

emocionado com o tema do documentário, pois, segundo ele, o movimento Reggae em

Conceição do Coité, através desta ação de pesquisa e produção de vídeo, poderá ter

um documento audiovisual para representá-lo na cidade e também na internet,

apropriando-se das novas tecnologias disponíveis na contemporaneidade. Ele ainda

disse que na cidade o preconceito existente com relação aos que curtem a

musicalidade Reggae ainda é muito grande, pois este ritmo vem da cultura negra e

conscientiza as pessoas do espaço urbano da periferia a se organizarem e lutarem por

melhores condições de vida. Seguindo nesta mesma linha de pensamento, Barbero

afirma que:

A música negra só obteve sua cidadania transversalmente e as contradições geradas nessa passagem certamente que não são poucas, mas ela serviu para generalizar e consumar um fato cultural brasileiro de maior importantância: A emergência urbana e Moderna da música negra (2008, p. 245)

Neste momento, não realizamos gravação de imagens, pois a finalidade da visita, era

apenas para a obtenção da trilha sonora para o nosso vídeo. Vale a pena ressaltar que

em dias anteriores já havíamos gravado entrevista com o Rasta Toinho e agora ele

também passou a ser um colaborador ativo do nosso trabalho de pesquisa e produção

de vídeo.

Na sequência, nos dirigimos, às dezenove horas, à residência de Rudina, jovem,

associada à Revolution Reggae e que participou do programa Reggae em Ação que foi

Page 45: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

39

um precursor do Movimento organizado pela defesa e valorização da cultura negra em

nosso município, tendo se destacado pela conscientização de seus participantes,

encorajando-os a engajarem nos movimentos sociais para que juntos construíssem

uma sociedade melhor, mais justa e mais humana. O Objetivo da nossa entrevista era

saber qual a contribuição daquele projeto social para sua vida, bem como qual o

significado dele e do Reggae para o movimento de mulheres que ela participa.

Realizamos esta entrevista utilizando a luz natural do ambiente. Em alguns momentos,

sentindo a falta de iluminação, a entrevistada nos conduziu a outro cômodo de sua

residência melhor iluminado, onde pudemos realizar de forma melhor a captação das

imagens da entrevista. Tivemos uma preocupação também com o áudio a ser captado,

afastando a câmera das fontes sonoras do ambiente, a exemplo do computador que

estava em funcionamento no momento da entrevista.

Neste dia, as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e a entrevista por Jurandi

Oliveira.

Dia 16/01/2010

Com o intuito de verificarmos o comércio de CDs e DVDs relacionados a musicalidade

reggae circunscrito no município de Conceição do Coité, visitamos as bancas de

vendas destas mídias no centro da cidade para que pudéssemos captar imagens que

representassem a ação deste comércio. Neste dia, conversamos com os vendedores

ambulantes para que em outra oportunidade, pudéssemos fazer as imagens. Neste

momento, aproveitamos para fotografar as bancas de CDs de DVDs, dando destaque

ao que era vendido dentro do estilo da música reggae. Para isso utilizamos uma

câmera fotográfica semiprofissional da marca Canon, modelo Rebel XSI com objetiva

zoom. As imagens registradas serviram para ilustrar o nosso documentário e para dar

significado ao cenário “comercial” da música Reggae no município de Conceição do

Coité, pois Penafria (1999), citada por Santos (2006, p. 1), afirma que

O documentário não é um mero espelho da realidade, não representa a realidade tal qual, ao combinarem-se e interligarem-se as imagens obtidas in loco está-se a construir e dar significados à realidade, está-se o mais das vezes

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40

não a impor significados, mas a mostrar que o mundo é feito de muitos significados.

Às onze horas nos dirigimos à Rádio Coité Fm, captamos imagens do estúdio da Rádio,

momento em que o locutor “Antonio Cazary” apresentava seu programa que além de

tocar diversos estilos musicais, também tem a sua programação voltada para a

musicalidade Reggae. Utilizamos como enquadramento de câmera o Primeiro Plano e o

Plano Conjunto, como movimento de câmera utilizamos a PAN Horizontal o ZOOM IM e

o ZOOM OUT. O áudio captado neste momento foi o mesmo que estava sendo

executado nas caixas de retorno do estúdio, o que confere autenticidade às imagens

gravadas. Neste momento de gravação posicionamos a nossa câmera de modo que o

microfone dela pudesse valorizar principalmente a voz do entrevistado, pois a prática

sonora convencional tem a sua própria hierarquia (que pode ser quebrada para efeito

artístico): a fala é superior à música, e esta superior aos efeitos sonoros. Quando há

diversas pistas para posterior sobreposição, estas refletem a hierarquia, na prática

profissional, apenas a fala é gravada junto com as imagens (ARMES, 1999, p. 183).

Através de conversas com o comunicador, descobrimos que na Rádio Coité FM existe

um programa de Reggae que é apresentado aos Domingos e que poderíamos gravar

entrevistas, além de fazer a captação das imagens do programa. Também fomos

informados que existe um programa de Reggae que é apresentado no serviço de alto-

falantes de “Orlando” que transmite a sua programação para a área central da cidade.

Comparecemos ao estúdio do serviço de alto-falantes às onze da manhã, situado na

Rua Duque de Caxias, no Centro da Cidade, porém neste dia não houve apresentação

do programa por motivos de folga do funcionário.

Neste dia as fotografias foram feitas por Jurandi Oliveira e as imagens por Paulo

Enselmo e Jurandi Oliveira.

17/01/2010

Às Dez da manhã, nos dirigimos à feira livre do município de Conceição do Coité, lugar

no qual tivemos contato com vários vendedores ambulantes de CDS e DVDS que

comercializam mídias relacionadas com a musicalidade Reggae. Os comerciantes não

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41

quiseram gravar entrevistas, pois segundo eles, estavam com medo de represálias por

estarem exercendo uma atividade ilegal, mas concordaram que registrássemos

imagens dos discos expostos nas Bancas. Para este registro, utilizamos como

enquadramentos de Câmera os Plano detalhe, Conjunto e Geral, como movimentos de

câmera foram utilizadas a PAN Vertical e Horizontal. E para registrar a capa de um DVD

à distância para depois dar um enquadramento de Plano conjunto utilizamos os

movimentos de ZOOM IN e o ZOOM OUT.

Às onze horas comparecemos à igreja Matriz onde está localizado o estúdio da Rádio

Coité FM, onde pudemos conversar com Robson Silva, locutor da Emissora que

apresenta o programa aos Sábados denominado Loves Reggae, que é especificamente

destinado a tocar canções voltadas para a temática da musicalidade Reggae. Na

captação das imagens utilizamos como enquadramento Primeiro Plano e o Plano

Conjunto. Já no processo de captação sonora, registramos o som ambiente do estúdio,

equalizado na mesma altura em que os locutores ouvem naturalmente nas caixas de

retorno.

Neste dia as imagens foram feitas por Paulo Enselmo e Jurandi Oliveira.

A Pós-produção

O processo de edição

O momento da Edição do documentário foi um processo bastante intenso com

relação às emoções. Neste momento pudemos perceber a importância das teorias

trazidas para o referencial teórico do Memorial do documentário e também pudemos

perceber a importância do grande volume de imagens captadas no momento das

entrevistas. Utilizamos como Software de edição de vídeo o Adobe Premiere CS3 e, em

alguns momentos, o Vegas 8.0, principalmente para extração de trechos de DVDs. O

momento da edição, nos exigiu que tivéssemos muita atenção, principalmente na

seleção das imagens, pois “a edição é uma das mais importantes etapas na realização

de um vídeo. É através dela que os planos são organizados um a um e o vídeo adquire

sua forma final” (SANTOS, 1993,190).

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42

Antes do momento da edição e da elaboração do roteiro do vídeo, fomos aos

grupos entrevistados em busca de músicas que pudessem servir como trilha sonora

para o documentário. Eles sugeriram muitas músicas e canções. Entre as músicas

sugeridas apareceram artistas como Mato Seco, Adão Negro, Nengo Vieira, Bob

Marley, Edson Gomes etc. Fomos também até os camelôs da cidade, vendedores de

CDs e DVDs nas bancas das praças públicas, e compramos alguns discos de CDs,

mp3 e DVDs de Reggae. Os camelôs inclusive sugeriram alguns discos, como os mais

vendidos por eles aos reggueiros da cidade.

Outra ação da equipe foi pegar nos arquivos dos grupos pesquisados, fotos,

vídeos, e outros elementos audiovisuais que mostrassem a história desses grupos.

Conseguimos várias fotos e alguns vídeos de momentos importantes principalmente do

Revolution Reggae e do CPECC.

Então, todo o processo de edição começou com a exibição de todas as

entrevistas e imagens que tínhamos em mãos. Assistíamos e anotávamos as imagens

interessantes e úteis, já destacando todas a imagens desnecessárias. Neste momento

do processo já íamos pensando nas músicas que poderiam ser utilizadas como trilha e

BG, de acordo com o repertório musical já montado no computador. Já íamos prevendo

também as imagens de inserts que poderiam ser utilizadas. Pensávamos também

durante este processo sobre a possível sequência entre imagens e planos. Foi montada

então uma planilha de decupagem com este material.

No final deste processo, no entanto, não tínhamos alguns elementos cruciais

para a edição. Faltava uma imagem forte para abrir e fechar o vídeo, bem como faltava

também a trilha sonora principal e o nome do documentário.

Então surgiu a idéia de valorizar a Banda Quixanayah, um dos grupos

pesquisados, e pensamos em escolher como trilha sonora principal, uma de suas

músicas. Então escolhemos duas: “Reggae é de paz” e “História Real”. Daí surgiu

também o nome do documentário, Reggae é de paz: a identidade cultural negra em

Conceição do Coité.

Com relação ao início, pensamos em iniciar o vídeo com uma citação em

caracteres, seguida por citações curtas dos entrevistados sobre o reggae,

Page 49: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

43

acompanhadas ainda por imagens da Cidade de Conceição do Coité. O problema é que

não tínhamos uma imagem forte e representativa da cidade. Então saímos para filmá-la.

Começou-se a partir deste momento o processo de edição propriamente dito. E

como se tratava de um documentário musical, procuramos valorizar bastante a música

no filme, como já discutido no capítulo sobre vídeo documentário. “O Roteiro final pode

ter qualquer forma possível. O importante é que sirva de guia para as gravações ou

filmagens. Um roteiro pode até mesmo ser rabiscado em um guardanapo de botequim”

(SANTOS, 1993, 47). Para tal fizemos um pequeno roteiro, dividindo o documentário

em capítulos de acordo com os assuntos que seriam tratados em cada parte. Então o

pequeno roteiro ficou assim:

ROTEIRO DE EDIÇÃO

01: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Cenas de ação da capoeira em que mostram professor e aluno treinando.

02: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Carlinhos Rasta fala que o Reggae traz palavras de libertação.

03: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Trecho em que Beto Rasta fala sobre o que o Reggae ensina.

04: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Dedé afirma que o Reggae levantou a moral do Negro.

05: INT. CASA DE JOB LIMA – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

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Cena em que Job Lima afirma que o Reggae é o desenrolar da própria vida.

06: EXT. ENTRADA DA CIDADE DE COITÉ – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Trecho do vídeo que mostra o monumento que fica na entrada da cidade de Conceição do Coité.

07: VÁRIAS IMAGENS DA CIDADE DE CONCEIÇÃO DO COITÉ RELACIONADAS À TEMÁTICA DA MÚSICA

NEGRA

Conceição do Coité – BA, 2009

Seqüência de cenas em que aparecem: O monumento em frente ao ponto de Salgadália, imagem antiga

da praça de Coité, Banca de venda de CD’S, imagens do projeto Reggae em ação, imagem de automóvel

antigo, imagens do dia-a-dia dos grupos pesquisados.

08: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Marcos Aurélio fala sobre a música como elemento de afirmação e reafirmação da

identidade.

09: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Beto Rasta diz que o Reggae prega uma verdade.

10: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Marcos Aurélio fala sobre Bob Marley e sua importância.

11: EXT. CASA DO RASTA TOINHO – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena do vídeo em que o Rasta Toinho fala sobre a importância de Bob Marley para a paz.

12: INT. ESCRITÓRIO DE ORLANDO MATOS – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Orlando Matos fala sobre a Colonização de Conceição do Coité.

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13: EXT. IMAGENS DA MINISSÉRIE ANASTÁCIA EXIBIDA NA REDE MANCHETE.

Trecho em que aparecem escravos indo ao trabalho.

14: INT. ESCRITÓRIO DE ORLANDO MATOS – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Orlando Matos fala sobre os documentos obtidos e da escrava Martinha.

15: INT. DETRAN – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Nesta Cena a pesquisadora Nilzete Cruz fala sobre o livro de Orlando Matos.

16: INT. ESCRITÓRIO DE ORLANDO MATOS – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Orlando Matos fala sobre a feira criada em Coité para a compra e venda de escravos.

17: INT. DETRAN – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Cena em que Nilzete Cruz afirma que constatou através de documentos que Coité teve muitos escravos.

18: CENA DA MINISSÉRIE ANASTÁCIA EXIBIDA NA REDE MANCHETE

19: INT. DETRAN – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Nilzete Cruz afirma que teve em suas mãos as escrituras de escravos que viveram em Coité.

20: INT. ESCRITÓRIO DE ORLANDO MATOS – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Orlando Matos fala que havia uma grande movimentação de compra e venda de escravos na região.

21: INT. DETRAN – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Nilzete Cruz fala da sua emoção ao ver os documento dos escravos.

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46

22: EXT. DIVERSAS IMAGENS DO MOVIMENTO NEGRO EM COITÉ – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Imagens da Micareta e do Bloco Revolution Reggae.

23: INT. DETRAN – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Nilzete Cruz fala sobre o esquecimento da História do negro no município.

24: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Marcos Aurélio fala sobre o surgimento do Reggae e sobre a vida dos descendentes de africanos.

25: INT. HOME ESTÚDIO LUZ DIVINA – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Dedé fala sobre o movimento liderado por Marcus Garvey.

26: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Marcos Aurélio fala sobre Marcus Garvey

27: VÁRIAS FOTOGRAFIAS DE MARCUS GARVEY

28: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Marcos Aurélio cita a relação entre Bob Marley e Marcus Garvey.

29: EXT. IMAGENS DA ÁFRICA

30: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Beto Rasta fala sobre a expansão do Reggae.

31: IMAGENS DA INTERNET

32: INT. LABORATÓRIO DE RÁDIO DA UNEB – TARDE

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47

Conceição do Coité – BA, 2009

Marcos Aurélio fala sobre a importância do Reggae.

33: EXT. ESTRADA SENTIDO COITÉ/VALENTE – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Imagens da estrada de Conceição do Coité no sentido à Cidade de Valente, retratando cenas rurais com

movimento de Travelling

34: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Dedé fala sobre a chegada do Reggae em Coité.

35: INT. CASA DE BETO RASTA – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Beto Rasta fala sobre a sua contribuição para o Reggae em Coité.

36: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Carlinhos fala sobre a sua militância no Reggae.

37: CENA DO DVD DE EDSON GOMES GRAVADO EM SALVADOR – BAHIA

38: INT. CASA DE JOB LIMA – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Job Lima fala sobre a Contribuição de Moisés Blondy para o Reggae em Coité.

39: INT. CENTRO PAROQUIAL - NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Moisés Blondy nesta cena, fala do histórico do Grupo Jamaica.

40: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Dedé fala sobre a organização de Reggeiros em Coité.

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48

41: INT. CENTRO PAROQUIAL - NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Moisés Blondy faz uma citação sobre a primeira Banda de Reggae que tocou no Micareta de Coité.

42: IMAGENS DOS ARQUIVOS DO CPECC E REVOLUTION REGGAE

Fotografias

43: INT. CENTRO PAROQUIAL - NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Moisés Blondy faz referência ao surgimento do Grupo Jamaica e Revolution Reggae.

44: INT. CASA DE DADAU REVOLUTION - TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Dadau fala do surgimento do Revolution Reggae e de sua atuação no Movimento.

45: EXT. CASA DE XANDE REVOLUTION – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Xande fala sobre a História do Revoluttion Reggae

46: INT. CASA DE DADAU REVOLUTION - TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Dadau fala sobre a motivação pessoal para criar um grupo para acabar com a desigualdade racial.

47: EXT. CASA DE XANDE REVOLUTION – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Xande fala da importância da música para a organização social.

48: INT. CPECC – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Daniele fala sobre o apoio do CPECC para a organização do Revolution Reggae.

49: EXT. CASA DO RASTA TOINHO – TARDE

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49

Conceição do Coité – BA, 2009

O Rasta Toinho fala sobre a criação do Revolution Reggae

50: INT. CPECC – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Daniele fala sobre o projeto Reggae em ação.

51: EXT. CASA DO RASTA TOINHO – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

O Rasta Toinho diz que o Reggae em Ação foi um marco na cidade.

52: EXT. CASA DE XANDE REVOLUTION – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Xande Revolution fala sobre a riqueza do Reggae em Ação.

53: INT. CPECC – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Daniele fala sobre a capacidade que os Projetos Sociais têm de transformar vidas.

54: INT. CASA DE JOB LIMA – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Job Lima cita a Organização social proporcionada pelo Reggae.

55: INT. CASA DE JOB LIMA – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Job Lima fala sobre a Relação da Comunidade Rebanho de Israel com o Reggae.

56: IMAGENS DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E DO NATAL REGADO A REGGAE

Conceição do Coité – BA, 2009

57: INT. CASA DE JOB LIMA – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Page 56: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

50

Job Lima fala sobre o objetivo do Rebanho de Israel.

58: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Imagens do ensaio da Banda de Reggae

59: INT. CENTRO PAROQUIAL - NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Moisés Blondy cita a Banda Quixanayah

60: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Imagens do ensaio da Banda

61: FOTOS DO ARQUIVO DA BANDA QUIXANAYAH

62: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

A Banda de Reggae fala sobre a sua inserção nos movimentos sociais através da música.

63: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Imagens do ensaio da Banda

64: EXT. SEDE DA ESCOLINHA DE CAPOEIRA REVOLUTION REGGAE – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

O Rasta Carlinhos fala sobre a libertação oral proporcionada pela música.

65 : EXT. CASA DO RASTA TOINHO – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

O Rasta Toinho afirma que o Revolution Reggae é a sua família.

66: EXT. CASA DE XANDE REVOLUTION – MANHÃ

Conceição do Coité – BA, 2009

Page 57: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

51

Xande Revolution fala sobre o Movimento Reggae.

67: INT. CASA DE RODRIGO REVOLUTION – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Rodrigo Revolution afirma nesta cena que o Reggae mudou a sua vida.

68: INT. CASA DE XANDE REVOLUTION – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Rudna afirma que a mulher é valorizada dentro da música Reggae.

69: INT. CPECC – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

Fernando Araújo fala da importância da música.

70: EXT. CASA DO RASTA ELIOMAR – TARDE

Conceição do Coité – BA, 2009

O rasta cita uma mensagem de esperança para o futuro.

71: INT. CASA DE ENSAIO DA BANDA QUIXANAYAH – NOITE

Conceição do Coité – BA, 2009

Imagens do ensaio da Banda

A partir disso, colocamos os entrevistados para dialogarem entre si e para

dialogarem também com o conteúdo musical do vídeo. Foi uma etapa muito difícil tendo

em vista o amplo leque de entrevistas e falas importantes que tínhamos para o

documentário. Pegar todas aquelas entrevistas de mais de sete horas de imagens e

transformar em um vídeo de vinte e cinco minutos foi o ponto mais difícil. Vimos pontos

de discussões muito importantes para o vídeo, mas que não havia onde encaixar na

edição. Com o roteiro na mão fomos escolhendo os planos que davam sequência a um

plano de entrevista anterior, de forma a dar coerência na discussão do filme. Em um

dado momento, por volta de dezoito minutos de edição, percebemos que devíamos

cortar alguns diálogos para conseguir dar conta do roteiro no tempo preestabelecido de

Page 58: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

52

25 minutos. Fizemos isto. No final da edição, nosso vídeo estava com 26 minutos e 45

segundos. Era necessário reduzir. Cortamos trechos de falas, alguns planos etc. no

final nosso vídeo estava com 24 minutos e 55 segundos.

Após o encerramento da montagem das entrevistas, era o momento de fazer as

imagens de inserts, colocando no vídeo imagens do dia-a-dia dos personagens,

imagens da cidade de Conceição do Coité, imagens de arquivos dos grupos

pesquisados etc. Percebemos então que, de acordo com o vídeo montado, havia

necessidade de filmar algumas imagens específicas para fazer inserts em alguns

pontos do vídeo. Saímos novamente às ruas para captar estas imagens.

Após este processo de montagem de todas as imagens do vídeo, fizemos o

tratamento de transição das diversas imagens e sons no vídeo. Tomamos o cuidado

para evitar transições bruscas, tanto no som, quanto na imagem. Então buscamos

suavizar a maioria das entradas. Algumas não precisavam deste tratamento porque a

transição brusca criava um efeito interessante, combinando com o tema tratado.

Feito isto, era a hora de exportar as pistas de áudio para edição e mixagem em

um programa específico. Utilizamos então o Sonar 8 e o Sound Forge 10.

Utilizamos trilhas separadas para montagem do componente sonoro: uma pista

mono para o áudio das entrevistas, duas pistas estéreo para o áudio das trilhas sonoras

e uma pista estéreo para os efeitos sonoros. Depois de realizada a mixagem no sonar e

a edição no Sound Forge, importamos novamente o áudio para o Adobe Premiere CS3,

onde montamos o áudio estereo e o dolby digital 5.1.

Feito isto exportamos o áudio e o vídeo e os convertemos em programas

específicos. O vídeo foi convertido de AVI para MPEG no Vegas 8.0. O Audio foi

convertido de Wave para AC3 no WAve to AC3 converter. Então importamos estas

novas trilhas para o DVDLABPRO e montamos o DVD, construindo menus,

configurando o áudio, adicionando os extras etc.

Finalizamos, compilando o projeto do DVDLABPRO e gravando o filme no NERO

6.0. Feito isto, estava pronto o documentário.

Page 59: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

53

CONCLUSÃO

Então foi isto. A partir da pesquisa realizada e das entrevistas colhidas, nós

finalizamos o nosso vídeo-documentário e esperamos que ele sirva para mostrar como

o reggae é usado pelos grupos para afirmação e reafirmação de suas identidades.

No vídeo aparecem falas importantes que apontam para o papel fundamental

que o reggae assume em suas vidas. Falas como as transcritas abaixo apontam para

isso:

“O reggae ensina a gente a viver” (informação verbal14)

“O reggae é o desenrolar da própria vida” (informação verbal)15

“Nestes movimentos que se caracterizam como revolução, o reggae é a raiz”

(informação verbal)16

“O Reggae transformou minha vida. Reggae e Revolution Reggae é tudo que eu

tenho, minha família, graças a Deus” (informação verbal)17

Pudemos notar o quanto de emoção eles colocam nestas falas e falam do

reggae como algo essencial para suas vidas.

Um ponto alto do Projeto, evidente no vídeo, é o momento de discussão da

existência da escravidão em Conceição do Coité. Fizemos um trabalho de cunho

antropológico, levantando as origens de toda a negritude na cidade. Embora estas

pesquisas, realizadas por alguns pesquisadores da região fossem uma realidade, ainda

não existia um produto audiovisual para divulgar esse conhecimento.

14

Beto Rasta no vídeo Reggae é de Paz, produto deste trabalho

15 Joseval Castro Lima no vídeo Reggae é de Paz, Produto deste trabalho

16 Joseval Castro Lima no vídeo Reggae é de Paz, Produto deste trabalho

17 Rodrigo Araújo dos Santos, no vídeo Reggae é de Paz, produto deste trabalho

Page 60: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

54

Conceição do Coité vive uma efervescência cultural na construção da identidade

cultural negra. São vários os grupos que surgem constantemente para discutir esta

temática e se envolver com a questão racial. Entre os vários, citamos o Grupo Jamaica,

a Associação Revolution Reggae, A Banda Quixanayah, O Grupo Amantes do Reggae,

A Comunidade Rebanho de Israel, o CPECC etc.

Todos estes movimentos tem, através da arte musical e da capoeira, sido

militantes da causa negra na cidade.

Destacamos também, o curso de capacitação em Identidade Negra, dirigido a

afro-descendentes da cidade, promovido pelo CPECC em parceria com a Revolution

Reggae e Patrocinado pela CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviços, no qual

foram capacitados mais de 40 pessoas em identidade negra e mobilização social. O

Curso aconteceu em 2005 e 2006 e foram ministradas várias disciplinas nas diversas

áreas: música, memória social, direitos humanos, cooperativismo, rádios comunitárias,

cultura brasileira etc.

Os negros africanos foram comercializados como mercadorias por meio do

tráfico negreiro, via Oceano Atlântico. Transportados em condições desumanas, muitos

morreram antes de chegar ao Brasil, inclusive quando eram arremessados em alto mar,

amarrados com ferros pesados. Sobretudo eram forçados a trabalhar num sistema de

escravidão e humilhação.

O tráfico de escravos é considerado um dos maiores processos de genocídio da

humanidade. A estrutura física e a resistência dos negros ao clima seco e quente

provavelmente foram fatores determinantes para a captura de africano para a

escravidão, que durante quatrocentos anos, construíram a riqueza do Brasil.

Injustamente não usufruíram desta riqueza, mas foram excluídos e até hoje sofrem pela

desigualdade social que tem raiz neste processo histórico.

O negro teve uma participação na formação étnica e cultural do Brasil. A herança

cultural está presente no dia-a-dia, na comida, nos costumes, na dança, nas crenças,

nas tradições, na música etc.

Page 61: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

55

Acreditamos que o vídeo produzido por este trabalho é um meio de conscientizar

as pessoas para o combate a toda forma de discriminação e preconceito racial que

existe contra o negro. Aqui no Brasil, como foi discutido, o racismo é camuflado e

dissimulado. É o momento de lutarmos contra isso e contra qualquer forma de opressão

cultural e psicológica que o negro sofre hoje em dia.

A sociedade em geral tem essa responsabilidade de valorizar o traço cultural

negro. Inclusive profissionais da área de Comunicação tem o inteiro dever de divulgar e

valorizar o dado cultural negro, combatendo toda discriminação e conscientizando

pessoas.

Page 62: Reggae é de paz a identidade  cultural negra em conceição do coité

56

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