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Nº 19 Dezembro de 2013 0,50 Euro http://garvao.blogs.sapo.pt/ CERRO da FORCA REGEDOR Pag. 5 FAMÍLIA MALVEIRO Pag. 6 / 7 AS ESTRADAS DE GARVÃO Pag. 8 DEPÓSITO VOTIVO SANTUÁRIO PRÉ-HISTÓRICO DE GARVÃO Pag. 9 Pag. 4 PELOURINHO Pag. 11

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Nº 19 Dezembro de 2013 0,50 Euro http://garvao.blogs.sapo.pt/

CERRO daFORCA

REGEDORPag. 5

FAMÍLIAMALVEIRO

Pag. 6 / 7

AS ESTRADASDE GARVÃO

Pag. 8

DEPÓSITOVOTIVO

SANTUÁRIOPRÉ-HISTÓRICO

DE GARVÃOPag. 9

Pag. 4

PELOURINHOPag. 11

EDITORIAL

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JORNAL DE GARVÃO http://garvao.blogs.sapo.pt/Largo D. Afonso III, 7670-125 GarvãoRedacção: José Pereira Malveiro, José Daniel MalveiroApoios: Câmara Municipal de Ourique - Junta de Freguesia de Garvão - Casa do Povode Garvão - Comissão de Festas e Romarias - Comissão Fabriqueira da Igreja.Publicado: Ao abrigo da lei de imprensa, 2/99 de 15 de Janeiro, artigo 9º nº 2.Registado: No Instituto Nacional de Propriedade Industrial: Marcas e Patentes.

TIPOGRAFIA: NET impressos - Rio de Mouro

Individualismo em colectivismo

Numa comunidade como a vila de Garvão,quando se trata de defender o bem colectivo, nota-seque os interesses particulares prevalecem, emborase crie a noção entre a população de defender o bemcomum. Cria-se ou transmite-se a sensação de colocaro interesse colectivo à frente dos interessesindividuais, contudo nessa participação colectiva, aque se assiste, o voluntariado de cada um torna-se,de facto, numa manifestação de interesse individual,embora ao defender, segundariamente, os interessescolectivos está, também, como membro dacomunidade a beneficiar individualmente desseempenhamento colectivo.

Numa vila como Garvão em que se nota anecessidade de união entre a população continua-sea assistir a manifestações dramáticas deindividualismo e exarcebadas reacções contra aspoucas manifestações de unidade colectiva que seassiste na freguesia. De facto contra as poucas obrascomuns para benefício de todos, assiste-se a actosnegativos, aparentemente de individuos inofensivosmas provocando diversos tipos de desequilíbrio,altamente constrangedores e insanos, não sepreocupam com princípios, resistem a mudanças erecusam-se a pensar com elevação, agem de acordocom a sua própria ilusão, em pensamentos inferiores,na preponderância do orgulho e do egoísmo.

Na realidade os indivíduos são constrangidospela sua qualidade eminentemente social esocialisante e as suas atitudes e decisões reflectem asua pertença ao grupo em que se inserem emborasempre com manifesta interesse pessoal.

A participação dos indivíduos mantem-serelacionada com as aspirações de cada um sabendoque a participação colectiva é, em última análise, umafalácia, quando se instala a sensação de serultrapassado por outros indivíduos. Umaparticipação no bem comum em termos de igualdadeparticipativa contradiz o desejo de ascensão social,de individualismo e até mesmo de riqueza, agudizam-se as diferenças e torna-se patente a competição.

A igualdade implica valores de cooperação,enquanto a ascensão social repousa na inveja e naambição.

O crescente bem-estar individual despoletasentimentos de competição e a inveja.

Não é dos que desalmadamente batem coma mão no peito que rezará a história.

Também não será daqueles que vêm na vidaalheia a cura das suas frustações, como um alvo aabater para se sentirem elevados, já Ghandi o disse“os fracos precisam de humilhar os outros para sesentirem fortes”.

Mas será certamente daqueles que nosprecederam, daqueles que tiveram a nobreza de umdia alcançarem um dado momento da história da vilade Garvão, história essa porque houve alguém antesde nós que esteve na devida altura no seu lugar, commaior ou menor bravura, maior ou menor sofrimentoe simplesmente tiveram a nobreza e o dom, que maisnão fosse, da sua própria existência.

Perdas e GanhosDurante séculos, desde o século XIII e até ao século XIX, a vila de Garvão

foi sede de município, desde a instalação da nacionalidade até á revolução liberal doséculo XIX.

Essa realidade jurídica, de quotidianos vividos em autonomia administrativae a respectiva perda de autonomia concelhia, que passa de município para freguesia,permitiu forjar uma personalidade socio-cultural, que não deixa, ainda hoje, de seruma referência na maneira de pensar e de ser do natural de Garvão. Reflecte-se, aindahoje como uma sensação de perda, uma perda irremediavel, aparentemente longe dasresponsabilidades da população, contudo, nesse beco sem aparente saída, está aimpreparação, ou melhor, a apatia de uma população deixada ao abandono, nessefulcral e determinante aspecto.

Contudo as gerações actuais, mal preparadas nos bancos das escolas, nosecundário ou mesmo nas faculdades, também não têm capacidade de decisão, a nãoser a que lhe é oferecida pelos órgãos de comunicação social e essa é induzida pelasideologias políticas e pelo campo escorregadio da democracia pré-fabricada onde sóos mais espertos, habilidosos e corajosos penetram, já que os orgãos governamentais,cada vez mais desacreditados, funcionam, na sua vasta maioria, como agências deemprego que admitem os mais priviligiados e, na maioria dos casos, incapazes,transformando-se num enorme peso burogrático e parasitário

Contudo por muito que nos esforcemos a esboçar argumentos contra ainjustiça de tal decisão ou a enaltecer as virtudes deste burgo, não podemosescamotear o facto da sua escassez populacional e do respectivo impacto a nivelgovernamental que possa contrariar essa postura em detrimento doutras localidades.Se a escassez populacional terá tido impacto nessa decisão por sua vês esta será emlarga medida resultante da marginalização económica não só do concelho de Garvãomas inclusivamente da propria região como se observa ainda hoje.

A nivel economico, apesar de dispor de meios produtivos e mercantis quejustificassem a realização de uma feira, não deixa contudo de demonstrar a existênciade uma economia de subsistência e deficitária em muitos aspectos. A economia doconcelho seria fundamentalmente agrária e os contactos externos demasiadoinconstantes para se poder assegurar uma actividade mercantil.

A produção agricola maioritariamante cerealífera, a que se juntavam vinho eazeite não eram suficientes, em quantidade e qualidade, para suscitar a atenção domercado nacional. Apesar de no século seguinte á extinção do concelho a freguesiaapresentar alguma pujança em termos empresariais com a instauração na vila deGarvão de uma moagem mecanizada, lagares de azeite e vinho e uma unidade deprodução de bebidas gaseificadas, assim como local previligiado para a passagem davia férrea Lisboa/Algarve com a instalação de duas estações ferroviárias, ainda noséculo XIX, e das respectivas vias rodoviárias no trajecto norte/sul em detrimento daactual sede do concelho.

A freguesia, como uma realidade geográfica que se impõe na paisagem, é oresultado de milénios de presença humana no seu território e apresenta um registoarqueológico e uma documentação histórica valiosa.

De facto, constata-se que neste início de século XXI, com novos desafios,onde o turismo aliado a uma produção cultural adaptada às realidades específicas dacomunidade geram oportunidades de emprego e uma significativa vantagemcompetitiva com efeitos na criação de importantes dinâmicas de desenvolvimento,parece ser estrategicamente fundamental criar conteúdos inovadores alicerçados nainvestigação histórica e respectiva pesquisa arqueológica, que permitam estimularum olhar mais profundo sobre o nosso passado e ler os vestígios que chegaram atéao presente.

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DIVULGAÇÃO COMERCIAL: Toda a publicidade incluida neste jornal não está sujeita a pagamento

Ídolos em marfim, commais de 4000 anos,

achados no ComplexoArqueológico dos

PerdigõesUm importante conjunto de ídolos em marfim está a

ser estudado por arqueólogos no Complexo Arqueológicodos Perdigões, próximo de Reguengos de Monsaraz. Estasestatuetas, que se encontraram numa área de acumulaçãode restos humanos cremados, são raras na Península Ibéricae apareceram agora, pela primeira vez, em Portugal.

Os Perdigões são umcomplexo arqueológico queabrange uma área de 20hectares. É composto porvários recintos delimitadospor grandes fossos (estruturasescavadas na rocha), comnecrópoles e um cromelequede menires associado, queteve início no final doNeolítico (há 5500 anos) edurou até ao início da Idadedo Bronze (há 4000 anos).

O sítio terárepresentado um papelimportante para ascomunidades que habitavamaquela área na Pré-Históriae seria, provavelmente, um local utilizado para a prática decerimónias rituais relacionadas com o culto dos mortos edos antepassados.

Mundo em transformaçãoUm dos aspectos mais significativos nos Perdigões é

a presença de contextos funerários de cremações humanasdatados de há 4500 anos, práticas funerárias consideradaspouco comuns na época e que levantam interessantesquestões sobre as visões do mundo e do ser humano queestariam em transformação.In: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=55164&op=all

Descoberta desegundo batistério no

complexo arqueológico deMértola.

Arqueólogos descobriram nas ‘entranhas’ deMértola, no Alentejo, um segundo batistério do períodopaleocristão, o que confirma a existência de duascomunidades cristãs diferentes naquela época na vila, umacatólica e outra possivelmente monofisita.

O batistério, descoberto na alcáçova do castelo, a 50 metrosdo primeiro, étambém dosprincípios doCristianismo,entre finaisdo século V einícios doséculo VI,quando oritual dob a t i s m o‘ impl i cavaum banho dei m e r s ã o ’ ,explicou àagência Lusa o arqueólogo Virgílio Lopes, do CampoArqueológico de Mértola (CAM). O ‘belíssimo achado’ seria de ‘grande luxo’ e os vestígiosestão num estado de conservação ‘bastante bom’, indicou,referindo que a piscina batismal achada e já escavada tem maisde quatro metros de largura e metro e meio de profundidade, oque aponta para um ‘grande’ batistério.

‘É um dos mais importantes que conhecemos em ambientearqueológico’ e ‘nada fica a dever’ aos batistérios conhecidos noMediterrâneo, frisou, indicando que o estado de conservação e ovolume do batistério colocam-no ‘muito próximo’ dos ‘maisluxuosos’ conhecidos na Europa e que servem de ‘modelo dereferência’ para os outros.In: http://noticias.pt.msn.com/imagens/descoberta-de-segundo-batist%c3%a9rio

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No extremo Sul davila de Garvão, sobranceiroao “Curral dos Bois”, naestrada para o MonteZuzarte fica situado o “Cerroda Forca”, onde, segundo atradição oral eram enforcadosos justiçados.

Segundo o Sr ChicoFélix, proprietário do local, peloque lhe foi transmitido pelos seusfamiliares, toda aquela áreaestava coberta de sobreiras eazinheiras, sendo a forca, quandoera preciso, colocada numa daspernadas de determinadaazinheira.

Outro tipo de construçãode forcas, embora,presentemente, não haja dadossobre o tipo de forca existente emGarvão, para além da tradiçãooral, seria em madeira ouconstruída em alvenaria de doispilares.

As Forcas como símboloda execução da justiça e daautonomia municipal, assim comoos Pelourinhos, os Forais e osrespectivos Paços do Concelho,foram abolidas em Portugal a 26de Junho de 1867 no reinado de D. Luís

As Forcas eram situadas, geralmente, em Serrossobranceiros à Vila, de boa visibilidade onde a exposição dos

justiçados na Forca teriam umefeito dissuador e deintimidação dos possíveisinfractores e da população emgeral.

Os sentenciadosseriam recolhidos pelosfamiliares ou não os havendopelos irmãos da Misericórdiae levados para o cemitérioonde seriam enterradossegundo a tradição cristá e asua alma seria “salva”, contudoaos condenados à “morteperpéctua” nem a sua almaseria “salva” pois implicava queos “enforcados” ficavamexpostos na Forca, até aopróximo dia de Todos-Os-

Santos, quando os Irmãos daMisericórdia organizavam aProcissão dos Ossos, e recolhiamo que restava do condenado parao sepultarem junto à Igreja daMisericórdia, muitas vezes oscorpos “no seu entorno” padeciamdo ataque de cães e outrosanimais que despedaçavam aspartes inferiores dos condenados.

Devido à larga exposiçãodos “enforcados” por “morte

perpéctua”, as Forcas eram, geralmente, situadas em elevaçõescontrárias ao vento dominante, para que na Vila e nas casas dapopulação, não se sentir o cheiro da carne em decomposição.

CERRO da FORCA

Vista do Cerro da Forca

Exemplo da Forcas

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REGEDORFRANCISCO ZACARIAS TAMBÉM CONHECIDO POR CHICO CEZÍLIA - ÚLTIMO

REGEDOR EM GARVÃO

Francisco Zacarias de nome completo, nasceu emGarvão a 13 de Setembro de 1920.

Foi o último Regedor da Vila de Garvão, tradiçãocentenária de que foi o último representante em Garvão.

Os Regedores de freguesia, eram, “uma pessoa de bem”que em primeira instância tentava manter o respeito, a ordeme a harmonia,junto da população daFreguesia. Desempenhavam asfunções de MagistradosAdministrativos, tinham como funçõesolhar pela segurança e ordem públicae certas obrigações administrativas,hoje geralmente desempenhadas pelasJuntas de Freguesia e autoridades desegurança pública, a quem as pessoasprestavam obediência e respeito, erachamado a intervir nas situações maisinsólitas e até caricatas, como um roubode uma galinha, fazer as pazes entremarido e mulher, chegando até a intervirem assuntos de partilhas, em brigas edesacatos, etc. etc..

O Regedor foi assim uma autoridade de grande prestígioe poder, durante os anos das suas funções, lentamente foiperdendo essa autoridade até ao seu desaparecimento.Primeiramente eram eleitos,mas pela lei de 29 de Outubrode1840, passaram a ser nomeados pelos Administradores doConcelho, actuais presidentes de Câmara, até que devido àsvárias reformas administrativas, as suas atribuições, foram-sediluindo pelas várias entidades entretanto criadas, Juntas eAssembleiasde Freguesias e criação da GNR em 1911, atéque esvaziados dos seus poderes o cargo foi formalmente extintodepois do 25 de Abril de 1974 com a introdução da Constituiçãoda República Portuguesa de 1976.

De notar que o Regedor tal como os Cabos de Políciae até os membros das Juntas de Freguesia não auferiamqualquer renumeração. O Regedor exercia a autoridade local de freguesia,principiou essa actividade ao substituir em mil oitocentos trintae seis o Comissário de Paróquia, exercendo essas funções atémil novecentos setenta e seis. O regedor era subordinado ao

Administrador do Conselho, mais chamado dePresidente da Câmara. Em mil oitocentos quarenta e dois, foiestabelecido por lei, uma farda para os Regedores,que seria uma casaca azul com um ramo de carvalhode ouro bordado em cada uma das golas, colete decasimira branca, calças azuis, botas e chapéuredondo. A casaca e o colete teriam botões com asArmas Reais. O chapéu teria o laço Nacional e umapresilha preta, na qual estaria gravado o nome dafreguesia a que pertencia. A principal função dos Regedores, era a depoliciamento da freguesia. Para os auxiliarem nassuas funções policiais, tinham às suas ordens enomeados por estes os chamados Cabos de Polícia,

sendo por norma rapazes de boa constituição física e depreferência acabados de chegar da tropa. A função de Cabosde Policia foi diminuindo até ao seu desaparecimento, com aintervenção da Polícia Civil, depois chamada, Polícia deSegurança Pública. No século passado e por volta dos anos quarenta, osRegedores deixaram de ter o estatuto de magistradoadministrativo, nessa altura já não usavam qualquer fardamento,passam então a ser os representantes dos Presidentes dasCâmaras Municipais e nomeados ou exonerados por estes, aquem prestavam obediência.

FAMÍLIA MAL

A família Malveiro surge, na vila de Garvão,como uma das mais consistentes e detalhadas ao

longo de vários séculos, sendo várias as informaçõesdisponíveis, tanto ao nivel dos registos paroquiais e do

arquivo distrital de Beja, através das certidões denascimento, como através do Livro da Misericórdia e

do Espírito Santo da vila de Garvão.Ainda hoje os descendentes de Jose Malveiro

e de Maria Antónia Pereira, ambos nascidos por voltade 1860/70 constituem uma das mais numerosas

famílias da vila de Garvão cifrando-se, actualmente,em mais de cem elementos os seus descendentes.

A origem da família Malveiro ou das famíliasde apelido Malveiro, como se verá, poderão ter

diversas origens e estratos sociais. Várias poderão tersido as famílias a portar tal nome.

Umas famílias, possivelmente nobiliárquicas ouproprietárias, poderão ter dado o nome a várias propriedades,que eventualmente poderão ter crescido e ter dado origem avárias localidades como Malveira e Malveira da Serra, ou apropriedades agrícolas como as que se encontram com o nomede Malveira, Malveiras, Malveiro ou Monte dos Malveiros comoa que encontramos na actual freguesia de Santa Luzia.

Outras famílias, na sua maioria, senão na totalidade,trabalhadores agrícolas, poderão a partir do simples facto deresidirem nestes lugares daí tiraram o nome, (simultaneamenteou em várias épocas), dando origem a várias famílias a portar onome Malveiro sem qualquer relação familiar entre si ou comos primeiros.

Entre as várias hipóteses avançadas, a origem do nomepoderá estar associado à vila de Malva em Espanha junto à raianordestina portuguesa, pois nos anos de 1430/1450, aparece aviverem na mesma altura na cidade de Évora tanto o apelidoMalveiro com um individuo de apelido Da Malva1 que poderáser um ascendente ou familiar do anterior, com origem nalocalidade espanhola com esse mesmo topónimo e que teráimigrado para Évora de Espanha por várias razões,(acompanhamento na transumância dos rebanhos ou motivadospelo comércio e contrabando de panos e gado).

A hipótese militar não poderá igualmente ser descartada,embora o primeiro relato escrito, do nome Malva, surja em 1430/1450, dois séculos depois da reconquista total do territórioportuguês, nada impede de que por motivos militares, se tenhamradicalizado em Portugal mais cedo, (não convém esquecer que,em Espanha, a luta dos reis católicos contra o reino demuçulmano de Granada prolongou-se praticamente até ao finaldo século XV, 1492, com todas as implicações que a vinda decavaleiros cristãos do norte tenha tido na formação demográficado Sul Ibérico).

O topónimo Malveiro aparece igualmentenoutras regiões nomeadamente a Norte de Lisboa

onde existem as localidades da Malveira da Serra noconcelho de Cascais e Malveira no concelho de

Mafra, afamada pela sua feira do gado, entre outras22

Aqui a hipótese de algum habitante de Malva, ou jáportando o apelido Malveiro, se ter radicalizado e dado o nomeà Malveira/Mafra, por motivos comerciais sai reforçada, aindamais tendo em consideração que existe uma certa coincidência

entre Garvão e Malveira/Mafra, materializadas ambas nas suasantiquíssimas feiras de Gado. Aqui sai reforçada igualmente ahipótese judia, na origem dos primeiros Malveiro, pois, os judeus,não só habitavam a raia espanhola como são reconhecidospela sua aptidão comercial.

Contudo quanto à suposição de ter sido um Malva ouMalveiro a dar o nome às várias localidades que portam o nomeMalveiro na região a norte deLisboa, o contrário também seaplica e poderá ser verdade, efamílias desta região, (dando onome à Malveira/Mafra oudela tirando o nome),acompanhando ou não ocircuito comercial das feiras ouda transumância dos gadospoderão ter dado o nome aoutras localidades situadasmais a sul.

Portando, pessoasoriundas da Malveira/Mafrapoderão ter dado o nome àherdade dos Malveiros/SantaLuzia como proprietários, epor sua vês a herdade dosMalveiros terá dado o nome avárias famílias detrabalhadores agrícolas que lá

moraram, (isto aplica-se, como é obvio, a outras herdades oulocais denominados Malveiro ou Malveiros, sem, contudo, sepoder afirmar, com certeza, que a área de irradiação primitivaseja a Malveira/Mafra ou outra).

MALVEIROSArzil, Laborela, Columbaes e o Montenegro

Surge igualmente várias informações sobre várias ptopriedadespertencentes á família Malveiro:

“Ao que parece este apelido surge no Sul numafamília nobre que no séc. XVI morava na Vila de Panóias.Esta família, ligou-se por casamentos, aos Britos,Cansados, Pais, Jorges e Falcões. Continuou através dostempos detendora de várias propriedades na região, entreelas destacam-se o Arzil, os Malveiros a Laborela e oMontenegro. Algumas dessas propriedades aindapertencem a seus descendentes, na família Brito Pais. Noséculo XIX, a herdade da Laborela era pertença de umdescendente dos Malveiros, chamado Francisco Jorge queesta aqui no Genea"in: http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=189670”3

Igualmente sobre a herdade da Laborela têm sidopostadas valiosas informações em: http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=264826Escreve Maria Matos:

Jose Malveiro e Maria Nascidos por volta de 1860/70

AntónioMalveiro

ArturMalveiro

LuízMalveiro

Pais de:

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AMÍLIA MALVEIRO“A Herdade da Laborela pertencia no Séc. XVII a

Manuel Gomes Malveiro cc. Maria Jorge[Silva] e em 1829pertencia a Francisco Jorge Silva…)”

“Os descentes Bárbara da Conceição Malveiro e seuirmão Joaquim Eduardo Julio são ambos meus trisavósvistos os seus filhos, primos direitos terem casado entre si.São eles: Teresa Eduarda da Conceição de Jesus Maia e

Carlos Júlio pais da minhaavó Mariana Prazeres daMaia Júlio.”Responde José MariaFerreira:

“O que eu tenhosobre a sua tretavó Mariado Espírito Santo Malveiroé que ela era filha deAntónio Francisco eTeresa Malveiro de Garvãoe foi casada com EduardoRodrigues [Júlio].

O seu tretavô EduardoRodrigues [Júlio] …baptizava muito em nome

do espírito Santo ou nãofosse ele casado com umaMaria do Espírito Santo,cuja família Malveiropertencia à confraria do

Espírito Santo!!!O seu tretavô Eduardo Rodrigues [Júlio] era assim,

ainda primo irmão de Eduardo de Brito Júlio, pai de JoséJúlio da Costa que assassinou Sidónio Pais, pois eramambos netos de Joaquim Rodrigues do Vale e Maria Júliade Santa Luzia.

O seu tretavô Eduardo Rodrigues [Júlio] foi tambémpadrinho em Panoyas de Amélia Costa que casará maistarde com Manuel da Costa, irmão de José Júlio da Costa.”

Portanto no primeiro quartel do séc. XVII a Herdadeda Laborela, assim como a Herdade do Arzila (sic) e muitasoutras herdades nos arredores e termo de Garvão, estãona posse dos Malveiros. Malveiros que em 1618 já erammoradores na Vila de Panoyas, onde Manuel GomesMalveiro deu fiança a André Machado, morador na Vilade Garvão, para poder desempenhar o ofício de escrivãodos órfãos.

No entanto os lavradores que se ficaram pelaLaborela, Arzil e Columbaes permaneceram ligados aoculto do Espírito Santo e ainda nos séculos XVIII e XIXfaziam parte da Irmandade do Espírito Santo: AntónioMalveiro, André Malveiro, Joaquim Malveiro, Joaquim JoséMalveiro, António Pedro Malveiro, Francisco José Malveiro.

São todos descendentes de Manuel Guomes Malveiromorador na Vila de Panoyas.”4

MALVEIROS de GARVÃO

No livro da Misericórdia e do Espírito Santo da vila deGarvão consta a menção a vários Malveiros:

André Malveiro, 22 Maio 1734Manoel Lopes Malveiro, 20 Março 1792Antonio Malveiro, 7 Setembro 1769Joaquim Malveiro 18 de Dezbro. de 1797Joaquim Jozé Malveiro 15 de Fevrº de 1808.Francisco Jozé Malveiro 17 d’Agto de 1814Joaquim Jozé Malveiro 17 d’Agto de 1814Antonio Pedro Malveiro 33 de Obrº de 1834Francisco Jozé Malveiro 33 de Obrº de 1834.António Pinto Malveiro 15 de Junho de 1881.Francisco Malveiro e sua mulher Gertrudes Maria

Capella, 13 Julho 1884Surge igualmente a informação de M. Rosa Leitão:“O meu bisavó materno era António Pinto Malveironascido na vila de Garvão 1848, casado com AméliaBarbara das Neves Dinis, filho de José PintoMalveiro natural de Garvão e de Teresa se Jesus,neto de António José Pinto e de Leonor Malveiro. omeu bisavó foi regedor em Garvão.” 5

Como se observou na lista do livro da Misericórdia edo Espírito Santo, existe um António Pinto Malveiro, no ano de1881.

De João Barroca surge-nos igualmente a informação:6

“Ao pesquisar Garvão no ano de 1909, vi este nome,cito: ANTÓNIO PINTO MALVEIRO - Hospedariaem Garvão (Ourique)”A informação foi retirada do Anuário de 1909,estesAnuários trazem os nomes e profissões das pessoasde Portugal, Ilhas e ex-colónias.Deixo-lhe mais esta nota que referenciei no Anuário

de 1908, cito:JOSÉ ANTÓNIO MALVEIRO - Thesoureiro daMisericórdia e Hospital de Garvão.Deixo-lhe os nomes das pessoas que faziam parteda Misericórdia e Hospital de Garvão em 1908/1909, cito:FRANCISCO ANTÓNIO TOGEIRO – MédicoMARIA IGNÁCIA – EnfermeiraJOSÉ ANTÓNIO MALVEIRO – ThesoureiroANTÓNIO ANASTÁCIO DINIZ GAGO – EscrivãoANTÓNIO GONÇALVES MOREIRA – Párocho”Não deixa de ser interessante, o facto do Livro da

Misericórdia e do Espírito Santo de Garvão, ter a última entradapor volta de 1890 e após as convulsões socais provocadas peloliberalismo a Misericórdia manteve a sua estrutura e continuoua ter alguma organização que se prolongou pelo século XX, atépraticamente à república.

Notas1 No inventário dos apelidos de família na obra “ Évora naIdade Média” de Maria Angelica Rocha Beirante, regista oprimeiro indivíduo de apelido MALVEIRO naquela cidade noperíodo de 1430-1450, o qual poderá corresponder a AfonsoMartins Malveiro, referido na mensagem anterior pelo confradeLuís Soveral. De notar que naquele mesmo período moravanaquela cidade alentejana um indivíduo de apelido DA MALVA.In:http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=57136&fview=e2 Malveiros, localidade do concelho de Torres Vedras, distritode LisboaMalveiros, localidade do concelho de Ourique, distrito de BejaQuinta da Malveira, localidade do concelho de Aljezur, distritode FaroQuinta da Malveira, localidade do concelho de Cascais, distritode Lisboa3 http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=57136&fview=e4 http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=2648265 http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=57136&fview=e6 idem

Jose Malveiro e Maria Antónia PereiraNascidos por volta de 1860/70

JoséMalveiro

Mariana PereiraMalveiro

Maria JoséMalveiro

Pais de:

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Pag 8Pag 8Pag 8Pag 8Pag 8

AS ESTRADAS DE GARVÃOdaConceição e Alcarias, Monte da Carregueira (Estação deCastro Verde) e daí para Beja.

ESTRADA PRÉ-ROMANAExistia uma outra Estrada do Algarve, mais antiga,

prévia à ocupação Romana,de norte para sul pela margemesquerda do Sado, que transpunha o Rio em Alcácer do Sal.

ESTRADA ROMANA DE SALIR A SANTIAGODO CACÉM POR GARVÃO

Em Garvão cruzava outra Estrada Romana, que ligavaSantiago do Cacém a Salir, no Algarve, segundo “As GrandesVias da Lusitânia” de Mário Saa, “...O seu início em Garvão éum sulco profundo, transversal às ribeiras de Garvão e Arzil, eimediatamente abaixo do Castelo, sulco que ali é conhecidopor Ferradouro, corruptela de Furadouro”.

“Semedarium qui venit de Garvam et vadit alAlgarbium” pela Srª da Cola.

O “Semedarium”, era a continuação directa da estradade Santiago do Cacém. A menção ao “Semedarium” surge,pela primeira vez, nuns documentos de1250 e 1260 referentesao extinto concelho medieval de Marachique.

CANADA REALAs “Canadas” eram vias próprias para as deslocações

dos rebanhos de gado, de umas pastagens e regiões para outras.Eram trajectórias seculares, e até milenárias de

pastores, como que direcções ideais nos seus caminhos datransumância.

CORREDOURASAs Corredoras ou estradas legionárias eram vias

militares romanas que atravessavamtodo o Império Romano.É comum ainda encontrar, na topografia local, nome

de sítios ou lugares com origem em eventos ou locais antigos;o Monte da Corredoura, situado a poucos km de Garvão, naestrada para Ourique, poderá bem ser um bom exemplo dessasreminiscências do passado.

Garvão é, devido aos seus vestigiosarqueológicos, sua polarização de vias e outras maiscircunstâncias, um dos mais importantes percursos doAlentejo desde a antiguidade.

Em Garvão, cruzavam-se e partiam várias estradascom ligação a todo o Sul e Norte do País.

Aos caminhos mais antigos utilizados pelos primeirospovos, às veredas dos caminhantes e andantes, de cargas nolombo das bestas e carroças de tracção animal, sobrepuseram-se outros caminhos pelas sucessivas civilizações que se lhesseguiram e, inclusivamente, pela via férrea actual que em algunslocais aproveitou as vias romanas e pré-romanas.

Em Garvão cruzavam-se várias estradas: CanadasReais (trajectos milenários para gados), Itinerários Celtas, ViasRomanas, Estradas Reais, “Semedariuns..”, vias Legionárias,Corredouras e outras vias que faziam a ligação por todo oAlentejo.

ESTRADA ROMANAEm Garvão, segundo as “Grandes Vias da Lusitânia”

de Mário Saa, que se baseou no “itinerário de Antonino pio”,(descrição, do princípio da nossa Era, sobre as vias do ImpérioRomano por Antonino Pio), cruzavam-se várias estradasromanas, uma delas a “Circunvalação dos Célticos”, que davaa volta completa ao Alentejo e Algarve, pelos lados, tocando asprincipais localidades.

ESTRADA REAL DO ALGARVEA Estrada Real do Algarve aproveitou o traçado da

Via Romana e Legionária, desde a Serra de Monchique aGarvão e para norte deste. A Estrada Real do Algarve tem oseu início em Lisboa e, era a ligação para o Algarve, compassagem obrigatória por Garvão.

ESTRADA PARA BEJANo caminho da Estrada Real, ou Romana, no porto da

Crata desprendia-se, uma outra estrada, para a direita que iadirectamente de Garvão para Beja, em parte utilizada peloCaminho de Ferro, pela herdade da Quinta Nova, Aldeia

DEPÓSITO VOTIVOSANTUÁRIO PRÉ-HISTÓRICO DE GARVÃO

representando figuras femininas, o que se julga seremdivindades.

Em ouro e prata foram encontradas várias peçasnomeadamente placas com olhos gravados, e representaçõesde figuras. Segundo Virgílio Hipólito Correia, in “De Ulisses aViriato - o primeiro milénio a.c.”; Edição do Museu Nacionalde Arqueologia, das oferendas encontradas contam-se tambémuma taça de cerâmica que tem a particularidade de ter na baseuma inscrição na escrita primitiva da região, anterior às invasões

Romanas, escrita essa que seconvencionou chamarde “Escrita doSudoeste”.

Sobre a divindade oudivindades adoradas no pressupostosantuário, que existiria nasproximidades do DepósitoVotivo,crê-se tratar-se de uma divindadeindígena, portanto de origem local,embora não esteja desassociada dealguma influência ou assimilaçãooriental, de que as deusas “Tanit”ou “Ashtart” não seriam alheias.

As oferendas em placas deouro com olhos gravados denotamclaramente o cariz votivo de taisofertas em prol de uma divindaderelacionada com a visão ou com osolhos, oferendas essas que aindahoje se perpetuam, passados maisde 2000 anos, na Igreja de SantaLuzia, uma das duas freguesias doextinto concelho de Garvão, do qualdista 5 Km. Tudo leva a crer, quetal devoção, possa ter dado o nomeà povoação, conforme reza a moda“Santa Luzia dos Olhos....”.

SANTA LUZIA

O culto, a uma divindaderelacionada com a vista em Garvão,

deve ter dado o nome a Santa Luzia onde a tradição, aindahoje, se mantém.

Santa Luzia é uma povoação acerca de 5 Km de Garvão.Era uma das duas freguesias do extinto Concelho, sendo, aoutra, a própria vila de Garvão, sede do Concelho. Esta relaçãoautárquica, e de proximidade, é muito mais profunda do queparece pois, este antigo culto, atribuível ao século IV/III antesde Cristo, perpetuou-se no tempo, e ainda hoje, na Igreja deSanta Luzia, certas pessoas com problemas na visão, oferecemplacas de cera, com olhos desenhados, resemblando as placasde ouro e prata encontradas em Garvão, segundo VirgílioHipólito Correia, in “De Ulisses a Viriato - oprimeiro milénioa.c.” Museu Nacional de Arqueologia.

No centro da vila de Garvão, na encosta do Castelo,descobriu-se uma enorme quantidade de peças em cerâmica,no decurso dos trabalhos de abertura de valas para osaneamento básico da Vila de Garvão.

Devido à enorme quantidade de cerâmica partida, foramimediatamente interrompidos os trabalhos de saneamento básico,e Manuel Zacarias, membro do Núcleo de Defesa do Património(antecessor da Associação cultural e Defesa do Património deGarvão) alertou de imediato, em finais de Maio de 1982, oServiço Regional de Arqueologia do Sul na pessoado seu director, Caetanode Mello Beirão.

Conjuntamentecom Carlos Tavares daSilva, Joaquina Soares,Mário Varela Gomes eRosa Varela Gomes,iniciaram os trabalhoslogo em Junho desseano, tendo sidopublicado, posteriormente, o relatório da intervençãoarqueológica, in “ Depósito Votivo da II idade doFerro de Garvão, Notícia da primeira campanha deescavações, in “O Arqueólogo Português, série IV,volume 3”.

Chegou-se à conclusão de se tratar de umdepósito votivo, da 2ª idade do ferro do século IV/III antes de Cristo,provavelmente o santuário dealguma confederação Celta queaqui teria o seu centro espiritual.

Segundo a notícia daprimeira campanha, atrásmencionado, no Depósito Votivoarmazenavam-se as oferendasatribuídas a uma divindade, oudivindades, cujo templo sesituaria nas imediações dodepósito, agora descoberto,servindo este como armazémdas peças oferecidas por faltade espaço no próprio Templo.

O Templo, propriamente dito, ainda não foi localizado,mas tudo leva a crer que se situará nas imediações do depósitovotivo, provavelmente no topo do Castelo.

As oferendas encontradas são maioritariamente decerâmica, nomeadamente potes, pratos, tigelas, devidamentearrumados dentro de outras maiores, e o espaço entre elesdevidamente preenchido com outras peças de cerâmica,incluindo pratos depostos de cutelo, denotando um claro cuidadono aproveitamento do espaço.

As oferendas incluíam, também, diversas peças em vidro,nomeadamente contas de colar e pequenas jarras. Do espólioem prata, contam-se, anéis, fíbulas, braceletes, címbalo, placas

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O almocreve, a princípio, não podia acreditar naquelasimpatia, numa inclinação amorosa da filha do patrão para êle.Podia lá ser!... Ela menina prendada e fina, rica e com instrução,gostar do labrego, do rústico almocreve que êIe era! A dúvidatorturava-o, e chegou a pensar que talvez a menina tivesse tidoem Beja algum namôro adiantado demais... E pensava que jáse tinham feito casamentos de herdeiras ricas por êssemundo com rapazes pobres para se encobrir qualquer falta...Mas logo rebatia tais pensares, alegando que nada se ouviradizer dela, nada constava em seu desabono... Mas fosse comofosse, o certo é que achava as simpatia de Luiza como fortunademais para êle...

- A filha do patrão Podia lá ser!...Ocasiões havia em que, sob os insistentes aguilhões do

desejo e da ambição, recordava os momentos em que a tinhatido junto de si, ou em que se tinhamencontrado e recordava uma fala doce, umgesto delicado um olhar terno. Mais que umavez, ela, encontrando-se na rua do monte, oenvolvera num olhar cheio de promessas, eseus olhos pretos, que tinham o brilho deamora orvalhadas à luz da manhã, faziambaixar os olhos dele, acostumados a olhar oso1 a direito... Recordava momentos ditosos,via-lhe as pupilas ardendo numa chama dedesejo, via seu corpo bem talhado eondulante, e, num sussurro brando, ouvia-lhe a voz, mais doce e cariciosa que vozdas rôlas mortas de sêde... Mas, numarecordação mais viva, obsediante. revîaêsses instantes em que, de volta da feira asmâos dela, como garças da ribeira pousandoem pernada tôsca de chaparro, se tinhamfirmado nos seus ombros.. Ah! fôra desdeêsse dia que êle iicara assim, meditabundo,fazendo com sacrificio os trabalhos dalavoura, mal tocando na comida, e pássandoas noites em claro... Por noite alta, erguia-se da tarimba, de ao pé das bêstas, saía dacavalariça, onde um bafo morno o sufocava,e ia respirar o ar nocturno, procurandorefrigério para o cérebro, onde sentia o lume vivo de ideasobsediantes e contraditórias...

Dava uma, dez, cem voltas ao monte e nessa ronda sepassavam horas e horas...

- A filha do patrão! Podia lá ser!...Nessa ronda nocturna, estabelecia longos monólogos

interiores, considerando os factos passados e a sua situaçãopresente... Sentia que o amor da menina tão desejadarepresentava um bem que estava muito alto como o fruto decertas árvores: não lhe podia chegar! Noutros momentos, porém,uma comoção forte agitava-o, admitindo a possibilidade de vira casar-se com Luiza; e aguilhoado pelo desejo e pela ambição,via-se, ele, rude almocreve de mãos calosas, de posse de umabela mulher, carne cheirosa e bem tratada, e dono de fartasterras de pão e montados... Considerava então a suprema

ventura de possuí-la um dia, de tê-la, bem sua, enlaçada nosbraços fortes, o peito dela unido ao seu, os seios erectos evirgens esmagados de encontro ao seu peito cabeludo erobusto, as bocas unidas num beijo longo e voluptuoso... Epunha-se a desejá-la com uma paixão delirante de macho emquem despertam, de súbito, como enxame de abelhas emramo que o sol da manhã doirou, desejos e tentações de hámuito adormecidas, volúpias rubras dum sangue rico, a arder...E recordava aquelas vezes em que a encontrava no caminhoda horta e se ficara a namora-la com o olhar, admirando-lheo corpo de linhas finas e flexíveis, que deixava um rastro deperfume que êle aspirava longamente e lhe fazia dilatar asasas das ventas sensuais...

Desfiava, durante a ronda nocturna, o seu rosário deagradáveis recordações... Em certos momentos, porém,

estacando no escuro, o moçoestremecia, lembrando se dafigura seca e odiosa do viúvo que,decerto, se havia de opor a taluniâo, preferindo, como tantos vera filha morta de desgôsto a vê-lacasada com um criado. Então,indignava-se, e a sua alma erguia-se em revolta surda contra amuralha de preconceitos que oseparava dela que separa o pobredo rico! Ah! a fortuna! A riqueza!Se lhe não tivessem morrîdo, erapequeno, os pais cujos bens, empoucos anos passaram para asmâos de parentes velhacos, nâose sabia como, se nào fôssecomo «Pedro Cem, que já teve ehoje não tem», veríeis o Iavradorchegar-se à razào e aqadrinhar ocasa mento. Nâo havia no caso,nao, diferenças de sangue, haviadiferenças de dinheiro!

Ah! sim, a riqueza! Masbem podia o lavrador guardá-la.Tinha fortes braços, sabia lavrar

semear, ceifar! Nào Ihes faltaria, havendo saúde e trabalho,o pâo em casa. Quisesse ela, fôsse verdadeira aquela afeição,e haviam de ser felizes, teriam a sua casinha como tantos...Assim ia debatendo consigo mesmo aquêle problema,analisando o seu caso. Ás vezes, o debale interior durava atéde madrugada, já quando o fulgor das estrelas se apagava ealguma cotovia lançava no espaço as notas de oiro do seugorgeio. O ar da madrugada fazia-lhe bem. E no silêncio queembalava os montes, a sua alma rude enternecia-se,considerava-se quási feliz, e seu olhar envolvia de ternura edesejo a construção antiga a desenhar-se no crespúsculomatutino, a casa onde a essa hora talvez dormisse ainda abela mulher quê não tivera, como tantas mulheres teriam,pêjo em oferecer o coração ao pobre almocreve que ele era…

SUL e SUESTELUÍZA. (II Parte)

Crónica de "LUÍZA", do livro "SUL e SUESTE Prosas de Além-Tejo"de Joaquim da Costa, Natural de Garvão, publicado através das oficinas da Gazeta do Sul

no Montijo, em 1940

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O PELOURINHO de GARVÃO

Apesar de hoje não ser visível aexistência de tal monumento na vila nãodeixa de ser uma das caracteristicas dosconcelhos medievais como o caso deGarvão. A referência ao Pelourinho deGarvão surge em vários autoresnomeadamente Pinho Leal na sua obra,Portugal Antigo e Moderno: DiccionárioGeográphico, Estatístico, Chorográphico,Heráldico, Archeológico, Histórico,Biográphico & Etymológico de Todas asCidades, Villas e Freguesias de Portugal eGrande Número de Aldeias, em 12 volumes,publicados em Lisboa pela Livraria Editorade Mattos Moreira entre 1873 e 1890 e detodos os outros dicionarios de outros autoresque se lhe seguiram.

Os Pelourinhos, são padrõesedificados num local principal da povoação,no centro da vila histórica e diante dosPaços do Concelho, no Largo D. AfonsoIII, distintivos da autonomia e dos poderesdados pelos reis aos seus moradores.

Nos Pelourinhos, eram expostos oscriminosos, forma de castigo, à vergonhapública, sendo por vezes açoitados.

O Pelourinho de Garvão, cujoconhecimento chegou até hoje devido às várias referênciasliterárias de alguns autores, julga-se perdido, não havendo hojena vila de Garvão alguém que se lembre do seu paradeiro.

Contudo, em conversa com o “Ti Vilhena”, nos idosanos de 1974, sobre o Pelourinho respondeu mais ou menoscom estas palavras: “Oh! Isso é coisa muito velha, eu já não

me lembro nada disso, mas parece que havia paraaí umas pedras no meio do Largo (Largo D.Afonso III) que as pessoas à medida que iamprecisando iam-nas carretando, uns para umacoisa, outros para outras, até que as levaramtodas”.

E noutra ocasião da conversa naesperança de se saber mais ou menos quem aslevou ou onde estariam: “Olha, onde está umapedras dessas, que levaram fazer não sei o quê,é na rua ao pé das hortas, e aqui nestas casas(diante da actual casa Paroquial) levaramtambém umas para fazer as escadas para o quintal“.

Porta essa ainda visível mas actualmentetapada, quanto à pedra junto às hortas trata-serealmente de uma coluna (falta-lhe um bocado),possivelmente uma parte do Pelourinho, estáactualmente guardada nas casas do autor, emGarvão.

Igualmente numas casas da Travessa doÀlamo, quando se procedia ao rebaixamento deuma divisão, recentemente adquirida, para servirde garagem, encontrou-se uma pedra que se julgaser a parte superior que remata o pelourinho.

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FAMÍLIAS DEGARVÃO

COM HISTÓRIA

O Arquivo Distrital de Beja coloca na internetos registos de baptismo, casamento e óbitocelebrados na paróquia de Garvão entre os

anos 1645 e 1911.

Mais de 25 mil livros de registo e cerca de um milhão de imagens é o queguarda com desvelo o Arquivo Distrital de Beja, tutelado pela Direção-geral doLivro, dos Arquivos e das Bibliotecas, através do Fundo Paroquial do Distrito. Um acervo que abrange 14 concelhos e que narra a história da vida privadaao longo de cinco séculos, entre 1564 e 1911, em cada novo nascimento, casamentoe morte. Os três momentos fulcrais do percurso humano e os únicos dignos deregisto para quem não deixou marca na história oficial. Nos subterrâneos da história dos poderes, aquela que chegou a nós pormeio de compêndios e enciclopédias, vivem as histórias individuais de quem, dealgum modo, foi moldando o percurso coletivo mesmo que não lhe tivessem sidoatribuídos feitos dignos de louvores. Dessa gente, nossos antepassados anónimos, sabemos apenas três coisas:que nasceram, que se uniram em matrimónio, com ou sem descendentes, e queum dia, inevitavelmente, terão morrido. Feitos, estes sim, literalmente dignos denota, primeiro a cargo da Igreja Católica, que foi pioneira do registo civil depois daqueda do Império Romano, e depois do Estado, conforme as determinações doCódigo Napoleónico de 1804, na origem do que hoje temos – um registo civiluniversal e laico. A Diocese de Beja, na sequência de uma norma oficial saída do Concíliode Trento (1545-1563), que obrigava ao registo nas igrejas dos batismos ecasamentos, passou também ela, a partir de 1536, a ter “livro próprio, feito egarantido em cada paróquia sob a responsabilidade do respetivo pároco”.Originam-se aqui os registos paroquiais, parte da documentação que o ArquivoDistrital de Beja (ADB) tem à sua guarda e em tratamento para acesso livre naInternet, e de que, em breve, também nos dará um “cheirinho” através de umaexposição. Um acervo que é, decididamente, “um dos conjuntos documentais maisconhecidos e mais frequentemente utilizados pelos cidadãos”, mesmo se, ou talvezpor isso mesmo, dele não constem mais do que os livros de batizados/nascimento,casamento, óbitos e reconhecimentos e legitimações, entre outros. Porque atravésdele surgem importantes pistas de investigação para uma história (ou histórias) davida privada que falta fazer. Que servirão, igualmente, para o processo deconstrução de uma memória coletiva, ora traçando-nos a linha da evoluçãodemográfica, ora fornecendo-nos o cenário socioeconómico de cada época,segundo variáveis como a esperança média de vida, e o rasto deixado peloscataclismos naturais, miséria, abundância ou doença. Em suma, cinco séculos devida e morte em Beja, distribuídos por outros tantos núcleos, desde a explicaçãodos primórdios do registo civil até à divulgação da possibilidade do estudo dasraízes familiares, ou genealogia, que o Arquivo Distrital de Beja permite atravésdo repositório digitarq, em http://digitarq.adbja.dgarq.gov.pt. Para saber quem fomose, quem sabe, compreender o que somos.in: http://da.ambaal.pt/noticias/?id=3427

FamíliaPereiraPereira é umsobrenome der a í z e stoponímicas ,tirado da Quintae Couto destad e s i g n a ç ã o ,sendo a famíliaque o adaptouoriunda de uma

linhagem de remotas e nobres origens.Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesae Brasileira, o ramo primogênito dosPereiras originou a Casa dos Senhores eCondes da Feira, enquanto o segundo filho,com duas bastardias, originou o CondestávelD. Nuno Álvares Pereira (S. Nuno deSanta Maria), pelo que o seu sangue veio amisturar-se com o de todas as famílias reaiseuropéias.

Sobrenome português classificado comosendo do tipo toponímico, ou seja de origemgeográfica, neste caso, onde há pêras oupereiras. Os primitivos Pereiras estavamligados à casa de Bragança, em Portugal.Foi seu solar, a Quinta de Pereira, aondetomaram o apelido, junto ao rio Ave, em terrade Vermoim. A origem mais remota dafamília provém do conde de ForjazBermudez, sobrinho neto de Desidério, oúltimo rei dos longobardos, da Itália. NoBrasil, o primeiro Pereira foi o donatárioFrancisco Pereira Coutinho, assassinadobrutalmente pelos índios tupinambás emItaparica, em 1549. Entre seus descendentesestá um dos mais importantes editoresbrasileiros, José Olympio (Pereira Filho). Onome também foi adotado por cristãos-novos.