reformador novembro 2010 - a - sou leitor espírita ... · nem sempre contempla as neces- ......

44

Upload: lyliem

Post on 29-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo CristãoAno 128 / Novembro, 2010 / N o 2.180

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO

BEZERRA

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASILAssinatura anual R$ 339,00Número avulso R$ 55,00

PARA O EXTERIORAssinatura anual US$ 335,00

Assinatura dde RReformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mmail: [email protected]

Editorial

Kardec e a união dos espíritas

Entrevista: Haroldo Dutra Dias

O resgate do Cristianismo Nascente

Presença de Chico Xavier

Depois da morte – Antero de Quental

Esflorando o Evangelho

Na grande romagem – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Esperanto em filme de Carlitos – Kleber Halfeld

Seara Espírita

Celibato, monogamia e poligamia – Christiano Torchi

Sementeira de testemunhos – Amélia Rodrigues

Alma livre – Cruz e Souza

Finados – Richard Simonetti

Andai, enquanto tendes luz – Dalva Silva Souza

Salmo 23 – Mário Frigéri

Controvérsias, contradições e polêmicas: um paralelo

entre a Ciência e o Espiritismo –

Alexandre Fontes da Fonseca

Ideias de Kardec sobre a Unificação no Movimento

Espírita (Capa) – Marcelo Mota

Em dia com o Espiritismo – Chopin e Schumann:

homenagem pelo bicentenário de nascimento –

Marta Antunes Moura

Ressignificação de sigla romana para a atualidade –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

Renovação – Rodrigues de Abreu

A transição e o caminho para a Nova Era

Sabedoria e conhecimento – F. Altamir da Cunha

Retorno à Pátria Espiritual – João Cury Nasser

Despertamento e aprendizado – Ivone Molinaro Ghiggino

Mais além – André Luiz

Joana de Cusa – Cezar Braga Said

5

8

10

14

16

17

18

22

25

30

32

33

36

37

38

39

40

4

11

13

21

28

42

Editorial

Kardec e a uniãodos espíritas

o momento em que o interesse pelo conhecimento dos ensinos espí-

ritas cresce em toda parte, cresce também o número de pessoas inte-

ressadas em participar na sua difusão. Oportuno, pois, que destaque-

mos o que os Espíritos superiores falam a respeito dessa participação, nas obras da

Codificação.

O Espírito de Verdade observa que “ditosos serão os que houverem trabalhado

no campo do Senhor” e que “serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado”,

desde que isso seja feito “com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade”. E

ditosos, também, os que buscarem o trabalho conjunto e a união de esforços,

impondo silêncio aos próprios ciúmes e às discórdias para não prejudicar a obra de

difusão que não pode ser retardada. (O Evangelho segundo o Espíritismo, cap. XX,

item 5, ed. FEB.)

Em “Prolegômenos” de O Livro dos Espíritos, os orientadores espirituais infor-

mam que “os Bons Espíritos só dispensam assistência aos que servem a Deus com

humildade e desinteresse e que repudiam a todo aquele que busca na senda do Céu

um degrau para conquistar as coisas da Terra; que se afastam do orgulhoso e do

ambicioso”.

Kardec destaca, ainda, em O Livro dos Médiuns (cap. XXIX, item 334, ed. FEB),

que “esses grupos [espíritas], correspondendo-se entre si, visitando-se, permutan-

do observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família espírita, que

um dia consorciará todas as opiniões e unirá os homens por um único sentimento:

o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã”.

Observando, ainda, o lema de Ismael – “Deus, Cristo e Caridade” –, e o exemplo

de ação deixado por Allan Kardec – “Trabalho, Solidariedade e Tolerância” –, te-

mos todas as diretrizes necessárias para bem desempenhar a tarefa de difusão da

mensagem consoladora e esclarecedora da Doutrina Espírita em toda parte e para

todas as pessoas, promovendo, ao mesmo tempo, a união de todos os trabalhado-

res espíritas, atendendo ao que Jesus nos assevera: “Meus discípulos serão reconhe-

cidos por muito se amarem”. (João, 13:35.)

4 Reformador • Novembro 2010441188

N

5Novembro 2010 • Reformador 441199

ue requisitos deve preen-cher uma pessoa que sepropõe a ser um “condu-

tor de almas”, assim entendidoaquele que se dedica a ensinar osvalores espirituais eternos, que tor-nam a criatura melhor e a aproxi-mam do Criador?

Na atualidade, ainda se acreditaque tais pessoas devam revestir aaura de pureza ou “santidade” e sersubmetidas aos rigores do celibata-rismo, em renúncia a muitos pra-zeres da vida, inclusive às alegriasdo casamento, da prole. Onde, po-rém, encontrar, na Terra – planetade provas e expiações – ministrosreligiosos com tais predicados, emnúmero suficiente para encetar ta-refa de tamanha envergadura, pe-rante bilhões de almas em evolução,ainda encarceradas nas teias da ig-norância? Jesus, em seu ministériode amor e libertação, jamais pre-conizou tal exigência como condi-ção absoluta para os trabalhadoresdo bem, tanto que escolheu comoseus seguidores diretos pessoas co-muns como nós, de todas as classessociais, solteiros ou casados.

Ao tratar da Lei de Reprodução,no Livro Terceiro, capítulo IV, ques-

tões 698 a 701, de O Livro dos Espí-ritos, Kardec também questionouos Espíritos superiores sobre o celi-bato, a monogamia e a poligamia,recebendo dos mentores celestesrespostas lógicas e consistentes.

A palavra celibato provém do la-tim cælibatus, definido literalmentecomo “não casado”, nome utilizadopara designar uma pessoa que semantém solteira, mas que não estácompromissada com a castidade ouimpedida de ter relações sexuais.Comumente, porém, a palavra éassociada à condição da pessoaque optou pela abstinência [jejum]sexual, que decidiu não se casarpara assumir outro compromisso,como acontece, por exemplo, nocaso de certos religiosos.

O celibato, especialmente noOcidente, no seio do catolicismo,é um cânone ao qual deve aderir,obrigatoriamente, todo aquele queopta pela carreira eclesiástica.Muitos religiosos, sobretudo quan-do são jovens, não raro influen-ciados pela família, pela sociedade,acreditam que terão condições desuportar uma vida de castidade,mas depois de ordenados não seadaptam aos hábitos monásticos.

Ocorre que o celibato obriga-tório, em oposição às leis naturais,nem sempre contempla as neces-sidades íntimas de cada um. Éque a pessoa pode, eventualmen-te, ter vocação para ser um exce-lente religioso, mas não suportara vida celibatária.

Não são poucos os religiosos,sobretudo do sexo masculino, queabandonam a carreira eclesiásticapara se casarem. Autodenominam--se “padres casados”, e muitos delescontinuam ministrando ofícios re-ligiosos, à margem do Clero. Sãotambém chamados de “egressos”e, pelo que consta, em sua grandemaioria, dão exemplos de condu-ta cristã em família.

De acordo com o site da “Asso-ciação Rumos – Movimento Na-cional das Famílias dos PadresCasados”, com sede em Brasília(DF), a entidade “não é um grupode contestação contra a Igreja Ca-tólica Romana ou qualquer auto-ridade eclesiástica”. O objetivo dainstituição é buscar o “diálogocom as instituições, OrganismosReligiosos e Sociais, dentro deuma perspectiva ecumênica”, bemassim obter o “reconhecimento

Celibato, monogamiae poligamia

QCH R I S T I A N O TO RC H I

do ministério dos padres casados,a implantação do celibato opcio-nal na Igreja Católica Romana e avalorização do papel da mulherna Igreja”.1

Segundo seus organizadores,

os padres casados estão em

toda parte. Formam um exército

de pelo menos 100 mil homens,

5% deles no Brasil. [...] Por te-

rem contraído matrimônio, com

ou sem a necessária dispensa

do compromisso do celibato

concedida unicamente pelo papa,

esses homens foram excluídos

do ministério sacerdotal, não

por vontade própria, mas por

imposição de uma disciplina

multissecular.2

Reportagem publicada em co-nhecida revista de circulação na-cional alerta que

o conflito com o celibato na

Igreja Católica é um dos gran-

des desafios do sacerdócio. Per-

turba os padres há séculos e con-

tinua sendo um dos problemas

mais sérios do Vaticano.3

Existem aqueles que realmenteestão em condições espirituais desubjugar o instinto sexual peloexercício do amor universal. Essaspessoas, voluntariamente, viven-ciam a castidade e optam pelaabstinência do sexo para se de-dicarem mais intensamente aocumprimento de tarefas nobres,

seja no campo intelectual, seja noassistencial ou religioso, sem quecom isso tenham descompensaçõesgraves na área afetiva, capazes de

lhes tirarem o equilíbrio, apesardas severas tentações que muitasvezes experimentam.

Mencione-se como exemploFrancisco Cândido Xavier e MadreTeresa de Calcutá, entre tantos ou-tros missionários das mais diver-sas atividades humanas, inclusivenas áreas científica e filosófica, osquais renunciaram à vida conju-gal em benefício da Humanidade.Nesses missionários, não se estan-cou o fluxo das energias criadorasdo sexo, que foram direcionadaspara outros objetivos nobres.

Qualquer pessoa, principalmen-te o jovem solteiro, o homem ou amulher solitários, o viúvo, indepen-dente de sua evolução, pode cana-lizar suas energias criadoras parao esporte, para as artes, para a cari-dade, para o trabalho edificante,como forma de atenuar as labaredasdos instintos que ainda se hospe-dam no animal racional.

Apesar de ser um ardoroso de-fensor da castidade, o apóstoloPaulo deu a entender que o celi-bato não era para todos, indis-tintamente, tanto que ressalvou,na 1a Epístola aos Coríntios (7:9):“Mas, se não podem conter-se, ca-sem-se. Porque é melhor casar doque abrasar-se”.

O celibato imposto é uma dis-torção que tem levado muitos re-ligiosos a abandonar as fileiras dosacerdócio. Outros, apesar de per-manecerem reclusos nos conven-tos e nas igrejas, pelos mais diver-sos motivos, tornam-se infelizes eestão sujeitos a desregramentossexuais lamentáveis, com grandedesprestígio para o movimento

6 Reformador • Novembro 2010442200

2Disponível em: <http://www.padrescasados.org/archives/872>. Acesso em

26/8/2010.

3LIMA, Maurício. Amores proibi-dos. In: Revista VEJA, São Paulo,Ed. Abril, ano 32, ed. 1.584, n. 6, p.79, 10 fev. 1999.

1Disponível em: <http://www.padrescasados.org/sobre>. Acesso em 26/8/2010.

Madre Teresa de Calcutáe Chico Xavier renuncia-ram à vida conjugal

religioso a que se vincularam e emprejuízo deles próprios, condutaque provoca desarmonias e per-turbações de toda ordem.

Desse modo, o celibatarismoem si não é um ato meritório, po-dendo sê-lo, entretanto, quando aopção é tomada em prol da Hu-manidade, com a finalidade de serútil ao próximo, sem ideias egoís-tas, como fez Padre Germano, quehonrou a batina até o fim, servin-do aos pobres e aos humildes.4 Es-sa constatação, porém, não excluios efeitos positivos do ascetismoconsciente, no plano individual,muitas vezes escolhido pelo Espí-rito antes da encarnação comoforma de conquistar a autodisci-plina ou como forma de resgatardébitos do pretérito:

[...] Todo sacrifício pessoal, ten-

do em vista o bem e sem qualquer

ideia egoísta, eleva o homem aci-

ma da sua condição material.5

Em outro extremo, encontramosa poligamia que, como o nome in-dica, é a união conjugal de umapessoa com várias outras, perten-cendo ao gênero do qual é espéciea poliginia e a poliandria. A poligi-nia serve para designar a união deum homem com muitas mulheres.No mesmo padrão, temos a polian-

dria, que é a união de uma mulhercom vários homens. A monoga-mia, por seu lado, expressa a cul-tura em que o homem e a mulhertêm apenas um cônjuge.

No Planeta, mais especifica-mente na África e no Oriente,ainda existem povos que cultuama poligamia, cuja extinção vemocorrendo gradualmente, com opassar dos milênios, o que carac-teriza o fim de um ciclo de etapasdo progresso humano.

Embora em alguns casos im-posta sob rótulos religiosos, trata--se de uma cultura protegida, emdeterminados países, pela legisla-ção transitória dos homens, cos-tume proveniente das eras remo-tas, em que prevalecia o estado denatureza, e também das socieda-des patriarcais e matriarcais da

Antiguidade, em que se exacerba-vam os instintos animais, favore-cendo a promiscuidade sexual.

Por fim, o casamento monogâmi-co deve fundar-se na afeição dos se-res que se unem, o que já não ocor-re na poligamia, em que não existeafeição real, mas apenas sensuali-dade. A monogamia, portanto, é aunião mais em consonância coma lei do progresso, porque estimu-la o aperfeiçoamento dos laços desentimento entre o casal.

Para servir a Deus, entretanto,não importa se somos adeptosdessa ou daquela religião. O queinteressa mesmo é o cultivo since-ro da conduta ética em sintoniacom os ensinos do Cristo que serefletem no pensamento atribuí-do a Gandhi: “Sê tu a mudançaque queres ver no mundo”.

7Novembro 2010 • Reformador 442211

4SOLER, Amalia Domingo. Fragmentos dasmemórias do Padre Germano. Pelo EspíritoPadre Germano. Trad. Manuel Quintão. 1.reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Riode Janeiro: FEB, 2010. Comentário deKardec à q. 699.

8 Reformador • Novembro 2010442222

s sementes de amor queJesus colocara no coraçãofértil dos discípulos fecun-

daram e se transformaram em ár-vore generosas, com frondes pro-tetoras e conseguindo produzirmilhares de outras tantas, que semultiplicariam ao infinito na su-cessão dos tempos.

Terminado o ministério terres-tre, o Mestre retornara às imarces-cíveis dimensões da Espirituali-dade, deixando os companheirosequipados para os enfrentamentos,e todos eles se desincumbiram doministério com inigualável gran-deza moral, dando testemunhosque permaneceriam como símbo-los de fidelidade e lições perma-nentes de amor.

Todos padeceram nas carnesdo corpo e nos tecidos da almaas mais rudes provas e as maisacerbas dores físicas e emocio-nais, sem apresentarem qualquersinal de fraqueza, de temor oude negação.

Quanto mais terrível era confi-gurada a punição ao amor de quedavam mostras, vivenciando-o,tanto mais se faziam expoentes dacoragem e da fé.

Nenhum foi poupado pela im-piedade humana, e o seu sofri-mento serviu de adubo fértil paraas sementes que deixaram nos co-rações daqueles que os ouviram,que conviveram com eles, que semostraram receptivos à mensa-gem libertadora.

A liberdade é o anelo mais ele-vado do ser humano, mas nemsempre se configura na facilidadede locomoção, no direito de ir evir, podendo ser vivenciada noadito do coração, sob terríveisaflições e em injunções inuma-nas, penosas, como aqueles ho-mens souberam viver seguindo oexemplo de Jesus.

O Evangelho expandia-se nomundo, que permanecia sob a do-minação tiranizante do impérioromano, o qual ditava as diretrizescruéis para dominar os vencidospelas suas legiões.

Pulsava nos sentimentos dosoprimidos o anseio de liberdade,e porque não a pudessem fruirpelos caminhos sociais e políti-cos, a de consciência fascinava-os,e quando ouviam as narrativas doEvangelho e do reino que Jesusviera implantar na Terra, todos selhe entregavam com ardor.

Filipe, um dos seus primeirosdiscípulos, impregnado pela pre-sença do Mestre a quem muitoamara, deixou-se influenciar pe-las vozes dos céus, e saiu a divulgara esperança e a alegria de viver, oamor e o perdão.

Ele vivia enriquecido dessesvalores que o sustentaram desdeo momento em que o Mestre as-cendera ao Infinito.

Em contrapartida, onde querque fosse, defrontava a mão fér-rea do império romano afligindotodos aqueles que ambicionavama felicidade fora dos padrões he-diondos do crime e do ódio.

A sua palavra canora sensibili-zava, ainda mais, porque ele foratestemunha de Jesus, com quem

Sementeira de

1LUCAS, 8:8. Nota da autora espiritual.

“Mas outra [semente] caiu em boa terra e, nascida, produziu fruto, cem por um.”1

A

testemunhos

convivera em estreita comunhãode ternura.

Obrigado a sair de cada cidade,onde se apresentava na condiçãode embaixador do Rei especial,deteve-se em Hierápolis, na Frígia,onde o seu verbo sedutor iluminouvidas incontáveis, arrancando-asda densa escuridão.

Os frígios podiam ser conside-rados bárbaros no conceito roma-no, mas eram pessoas sofridas esedentas de paz.

A palavra ardente, porque eraportadora da verdade, incomo-dava os pigmeus governamentaisque passaram a considerá-lo comosendo um criminoso comum eaudacioso, que desacatava as au-toridades. Após julgamento ab-surdo, conforme acontecera comJesus, foi condenado à mortena cruz, como aplicavam ajustiça àqueles que infrin-giam as leis.

Erguido no madeiro da infâ-mia, que o Senhor dignificou, ex-perimentou as terríveis dores dodesconjuntar dos ossos, do elas-tecimento dos nervos, da asfixiainsuportável, permanecendo con-fiante e digno.

Ele havia aprendido com Jesuso significado profundo do amor,especialmente em relação ao pró-ximo, aos inimigos, ao ideal daverdade, à vida.

Nada lhe diminuiu o estoicis-mo nem a abnegação.

Aqueles eram os dias dos tes-temunhos, quando o sangue dosmártires fecundou a terra paraque medrassem em abundânciaas sementes de luz que Ele ofere-

cera aos discípulos paraesparzirem na Terra.

Todos, portanto,cada um a seu tur-

no, foram con-

vocados a provar a autenticida-de da mensagem, conforme su-cedeu a André, o irmão de SimãoPedro que, já idoso, nunca desa-nimou e prosseguiu no ministério,continuando a pregar para oscírios, sógdios, sacas, todos con-siderados bárbaros pelos roma-nos, sendo, na cidade de Sebastó-polis, onde viviam etíopes, man-dado crucificar pelo sádico Egeias,que governava os edessenos,posteriormente sendo sepultadocom a ternura dos seus discípu-los em Patras, a célebre cidadede Acaia...

João, o evangelista, foi o únicoque não foi assassinado, havendomorrido idoso...

A luz derramava-se a flux emtoda parte, porém, em todo lugarJesus era odiado porque libertavaas vidas das algemas da ignorân-cia e do poder dos maus.

9Novembro 2010 • Reformador 442233

Aqueles que o amavam, no en-tanto, não desanimavam, prosse-guindo integérrimos e jubilososno ministério, enquanto aguarda-vam o testemunho com que maisse compraziam, demonstrando aexcelência da mensagem.

Invejoso, Egeias ficou melindra-do com o respeito de que gozavaAndré, das suas narrativas glorio-sas ao lado de Jesus, do esplendore grandeza do reino dos céus, queele não estava interessado emconquistar, já que era prisioneirodo reino terrestre, assim como detodos aqueles que se diziam cris-tãos. Conseguiu, através dos me-canismos do servilismo e do ódio,permissão de Roma para crucifi-car todos aqueles que se vinculas-sem a Jesus, que se negassem aadorar os deuses mentirosos.

No seu julgamento, sem qual-quer receio,André declarou-lhe quehavia um outro Juiz, cuja maneirade decidir era totalmente diversa dadele, porque imparcial e impere-cível, provocando-lhe a ira, resí-duo nefando do primarismo quepermanece nas criaturas humanasinfelizes, desse modo, mandandocrucificá-lo.

Também os egípcios, os india-nos e outros povos politeístas, quepraticavam sacrifícios de animaise humanos quando lhes convinha,odiavam o Mestre de Nazaré que osamava e inspirara alguns dos seusdiscípulos para que fossem levá-lopor toda parte sem medo daque-les que somente matam o corpo enada podem fazer ao Espírito.

Ainda hoje, de alguma forma, afidelidade a Jesus é vista como

comportamento patológico, alie-nação, covardia moral.

Os seus servidores não en-contram espaço no mundo emque triunfam os equivocados erecebem láureas os criminosos,aqueles que matam em nome dapátria, da política, da fé religio-sa, dos preconceitos em que secomprazem...

Jesus, porém, vela pelos seuscontinuadores e prossegue con-vocando os seus trabalhadorespara que permaneçam na searaimensa onde os poucos fiéis de-vem viver em vigília de amor ede perdão, de misericórdia e de

compaixão, experienciando acaridade.

Cristão sem testemunho é soloárido dominado pela seca e pelamorte...

O testemunho de qualquer na-tureza, mesmo aqueles interiores,silenciosos, são a condecoraçãode quem ama Jesus e resolveupor servi-lo.

Amélia Rodrigues

(Página psicografada pelo médium Divaldo

Pereira Franco, na manhã de 20 de agosto

de 2010, na residência do Dr. Epaminondas

Correias e Silva, em Paramirim, Bahia.)

10 Reformador • Novembro 2010442244

Um soluço divino de alegriaPercorre a todo Espírito libertoDas pesadas cadeias do deserto,Desse mundo de sombra e de agonia.

A alma livre contempla o novo dia,Longe das dores do passado incerto,Mergulhada no esplêndido concertoDe outros mundos, que a luz acaricia!

Alma liberta, redimida e pura,Vê a aurora depois da noite escura,Numa visão mirífica, superna...

Penetra o mundo da imortalidade,Entre canções de luz e liberdade,Forçando as portas da Beleza Eterna.

Cruz e Souza

Fonte: XAVIER, Francisco C. Parnaso de além-túmulo. Poesias mediúnicas. 19. ed.

1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. p. 356-357.

Alma livre

Reformador: Qual foi sua moti-vação inicial para redigir a colu-na “Cristianismo Redivivo” nestarevista?Haroldo: Após anos de pesquisaem torno da obra Paulo e Estê-vão, percebi que havia sériasquestões, relacionadas à crono-logia e história do CristianismoNascente, que eram revisadaspelo autor espiritual daqueleromance histórico. Emmanuelpropunha uma nova cronologiado primeiro século da Era Cris-tã, além de abordar e esclarecerinúmeros pontos obscuros. Pu-de notar, igualmente, que os da-dos históricos contidos naquelelivro estavam em total desacor-do com a literatura acadêmicaproduzida na primeira metadedo século XX, mas em absolutaconcordância com as mais re-

centes pesquisas sobre o assun-to, levando-nos a concluir queessa obra mediúnica havia ante-cipado descobertas e pesquisashistóricas que seriam feitas so-mente 50, 60 anos mais tarde.Esses fatos motivaram a redaçãoda coluna “Cristianismo Redivi-vo”. A intenção é compartilharessas informações com os leito-res de Reformador.

Reformador: Você dá ênfase àsobras de Emmanuel? Por quê?Haroldo: Acreditamos que Emma-nuel tem a missão, comoatesta a vasta literaturapor ele ditada a ChicoXavier, de resgatar oCristianismo Nas-cente, na sua in-tegral pureza eoriginalidade,

tudo com base na CodificaçãoKardequiana. Nesse sentido, suaobra é um monumento espiri-

11Novembro 2010 • Reformador 442255

HA RO L D O DU T R A DI A SEntrevista

CristianismoNascente

O resgate do

Haroldo Dutra Dias, articulista desta Revista e recente tradutor deO Novo Testamento, comenta suas motivações para os estudos sobreos Evangelhos e destaca a vasta contribuição da obra de Emmanuel,

psicografada por Chico Xavier, para o resgate do Cristianismo Nascente

tual a desafiar nossa capacidadede leitura, estudo, pesquisa e re-flexão. Os livros produzidos poresse Benfeitor espiritual repre-sentam “parada obrigatória”para todos os estudiosos sériosdo Cristianismo, que já enten-deram o papel complementarda revelação mediúnica para apesquisa acadêmica relativa a es-se tema.

Reformador: E a tradução de ONovo Testamento – há poucoeditada pela EDICEI –, tem rela-ção com os estudos citados?Haroldo: A tradução de O NovoTestamento é fruto desse esforçopara compreender a vasta con-tribuição legada pelo BenfeitorEmmanuel. Na medida em queaprofundávamos na pesquisa,cada vez mais sentíamos neces-sidade de um texto do NovoTestamento neutro, objetivo, fi-dedigno, que pudesse ser apre-sentado com isenção a qualquerestudioso sincero. Noutro giro,considerando as inúmeras pes-quisas e descobertas científicasrelativas aos manuscritos gregosdo Novo Testamento, ao am-biente cultural, histórico e lin-guístico no qual viveu Jesus, eranecessária uma tradução atuali-zada, moderna, que pudesse in-corporar todas essas recentesdescobertas.

Reformador: Como concretizoutal tradução?Haroldo: A tradução foi feitaem três anos, nos quais traba-lhava em média seis horas por

dia, embora ela tenha sido pre-cedida de uma pesquisa que jádura dezessete anos. Para esseescopo, formamos uma biblio-teca especializada em Cristia-nismo com mais de três mil vo-lumes, fora a viagem feita a Je-rusalém, onde foi possível ad-quirir meia tonelada de livrosda tradição judaica, o mesmomaterial que serviu de base paraos estudos de Paulo de Tarso.Foram consultados mais de 40dicionários especializados emgrego, em mais de cinco idio-mas, dezenas de dicionários dehebraico, aramaico, inúmerasenciclopédias e dicionários bí-blicos, e mais de 120 traduçõesdo Novo Testamento em portu-guês, inglês, espanhol, francês,alemão, latim, siríaco.

Reformador: Como avalia o im-pacto da análise dos Evangelhospela psicografia de Chico Xavier?Haroldo: A interpretação do NovoTestamento feita por Emmanuelrepresenta uma profunda mu-dança de paradigma na herme-nêutica bíblica. Páginas sintéti-cas, vazadas em linguagem sim-ples, escondem soluções de pro-fundos enigmas exegéticos, comotambém revelam o caráter prá-tico e vivencial desse trabalho,todo voltado para a vivência efe-tiva e plena do Evangelho. Acre-ditamos, sinceramente, que essematerial interpretativo, emboratrazido diretamente por Emma-nuel, tenha sua origem em esfe-ras superiores, nas quais esseBenfeitor pôde colher sugestões

e a colaboração de grandes vul-tos do Cristianismo Nascente.

Reformador: Qual sua percep-ção pelo Centenário de ChicoXavier?Haroldo: O Centenário de ChicoXavier tem sido a grande opor-tunidade para nos reunirmos emtorno da grandiosa literaturapor ele psicografada, com o ob-jetivo de entender a dimensão ea profundidade desse trabalho,além de representar um valiosomomento de reflexão acerca daexemplificação desse grandemissionário que, com sua vida eseu trabalho, traçou para todosnós um roteiro de como pode edeve ser a vida de um verdadei-ro discípulo de Jesus.

Reformador: Uma mensagempara o leitor de Reformador.Haroldo: Com os leitores destarespeitável Revista tenho a gratasatisfação de compartilhar umareflexão que muito me conforta:se a Humanidade mereceu o ca-rinho e o esforço da Espirituali-dade superior que permitiu seconcretizasse no mundo a obrainsuperável do Codificador e es-sa literatura mediúnica subsi-diária, como continuidade aotrabalho iniciado por Moisés eexemplificado por Jesus, pode-mos guardar a certeza de quetodos estamos mergulhados emum oceano de amor, no qualDeus aguarda o nosso aprimo-ramento espiritual como um Paiafetuoso que pretende nos atrairpara o seu coração amoroso.

12 Reformador • Novembro 2010442266

13Novembro 2010 • Reformador 442277

Presença de Chico Xavier

IApenas dor no mundo inteiro eu via,E tanto a vi, amarga e inconsolável,Que num véu de tristeza impenetrávelMultiplicava as dores que eu sofria.

Se vislumbrava o riso da alegria,Fora dessa amargura inalterável,Esse prazer só era decrifrávelSob a ilusão da eterna fantasia.

Ao meu olhar de triste e de descrente,Olhar de pensador amargurado,Só existia a dor, ela somente.

O gozo era a mentira dum momento,Os prazeres, o engano imaginadoPara aumentar a mágoa e o sofrimento.

IIIDepois de extravagâncias de teoria,No seio dessa ciência tão volúvel,Sobre o problema trágico, insolúvel,De ver o Deus de Amor, de quem descria,

Morri, reconhecendo, todavia,Que a morte era um enigma solúvel,Ela era o laço eterno e indissolúvel,Que liga o Céu à Terra tão sombria!

E por estas regiões onde eu julgavaHabitar a inconsciência e a mesma trevaQue tanta vez os olhos me cegava,

Vim, gemendo, encontrar as luzes purasDa verdade brilhante, que se eleva,Iluminando todas as alturas.

IIMisantropo da Ciência enganadora,Trazia em mim o anseio irresistívelDe conhecer o Deus indefinível,Que era na dor, visão consoladora.

Não O via e, no entanto, em toda hora,Nesse anelo cruciante e intraduzível,Podia ver, sentindo o IncognoscívelE a sua onisciência criadora.

Mas a insídia do orgulho e da descrençaGuiava-me a existência desolada,Recamada de dor profunda e intensa;

Pela voz da vaidade, então, eu criaAchar na morte a escuridão do Nada,Nas vastidões da terra úmida e fria.

Depois da morte

Pelo Espírito Antero de Quental

Fonte: XAVIER, Francisco C. Parnaso de além-túmulo. Poesias mediúnicas. 19. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. p. 107-108.

tendendo a tradiçõescristãs que remon-tam à Idade Média, o

1o de novembro é o dia detodos os santos. Celebram-sesantos e mártires, gente quefez a diferença na construçãode um mundo melhor.

Em 2 de novembro, o diados mortos, são celebrados,independente de seus méritos,os que partiram desta paramelhor, ou pior, se assim omereceram...

Convertidas em festa reli-giosa, sob a denominação deFinados, nessas duas datashá a romaria aos cemitérios, avisita aos defuntos.

E os espíritas?Na questão 321, de O Livro dos

Espíritos, ed. FEB, pergunta Kardec:

O dia da comemoração dos mor-tos é, para os Espíritos, mais solenedo que os outros dias? Apraz-lhes irao encontro dos que vão orar noscemitérios sobre seus túmulos?

“Os Espíritos acodem nesse diaao chamado dos que da Terra lhesdirigem seus pensamentos, comoo fazem noutro dia qualquer.”

Kardec volta a interrogar, dandosequência à questão:

Mas o de finados é, para eles,um dia especial de reunião juntode suas sepulturas?

“Nesse dia, em maior númerose reúnem nas necrópoles, por-que então também é maior, emtais lugares, o das pessoas queos chamam pelo pensamento.Porém, cada Espírito vai lá so-mente pelos seus amigos e nãopela multidão dos indiferentes.”(Q. 321a.)

As informações que André Luizoferece sobre a vida espiritual,na psicografia de Chico Xavier,desdobram essas noções sintéti-cas, alertando-nos que não é dosmais recomendáveis o ambientedos cemitérios.

Ali estagiam Espíritos perturba-dos que, à semelhança de vampiros,sugam os resíduos de fluido vitaldos corpos em decomposição, etambém Espíritos despreparadospara a grande transição, que perma-necem por algum tempo imanta-dos ao próprio cadáver.

FinadosA

RI C H A R D SI M O N E T T I

14 Reformador • Novembro 2010442288

Espíritos recém-desencarnados,ainda não adaptados à vida espiri-tual, não raro inconscientes de suasituação, não se sentirão à vontadeali, quando atraídos pela lembrançasaudosa dos familiares que fazemdo cemitério uma sala de visitas doAlém, buscando contato com eles.

Fico pensando que é de mau gos-to marcar encontro com os mortosno cemitério. Imaginemos um filhoque se mudou para longe e vemnos visitar. Planejaríamos o mes-mo, em conversa telefônica?

– Filho, espero por você juntoao túmulo da família...

Melhor lembrar nossos amadosque se foram, em nossa casa, enfei-tando o lar com as flores que leva-ríamos à cidade dos pés juntos.

Certamente hão de preferir as-sim. Virão até nós, felizes por teremsido lembrados.

Poderemos até, se sensibi-lidade mediúnica possuirmos,contemplá-los.

Se isso não ocorre com maiorfrequência é porque as pessoas têmo mau costume de situar os mortosqueridos como fantasmas.

– Gosto muito de meu pai, masque não me apareça!

– É seu pai!– Não! É assombração!

Na medida em que diminui otempo que nos resta na jornadahumana e se tornam mais nume-rosas as plaquetas de identifica-ção no túmulo da família, somosconvidados a refletir sobre a efe-meridade da vida física.

Tanta gente se foi!…Amigos e familiares partiram,

atendendo à convocação da mor-te; outros tantos partirão nos pró-ximos anos.

Talvez nós mesmos sejamosconvocados…

Como a morte age feito um la-drão, ninguém sabe quando virá,

seria conveniente que indagássemosa nós mesmos, diariamente:

Se aprouver ao Senhor enviar--me a irredutível mensageira,impondo-me o retorno, simbo-licamente serei lembrado comogente do 1o de novembro, santi-ficado pelas ações, pelo empe-nho de renovação e serviço noBem?

Ou estarei no imenso contin-gente do 2 de novembro? Aquelespor quem oramos sob inspira-ção das ligações afetivas, masque não fizeram nenhuma dife-rença, nada deixaram em favorde um mundo melhor e, não ra-ro, levaram comprometimentosmorais e espirituais?

É bom pensar nisso, amigoleitor, tendo sempre presente afrase com que os frades trapistasda Tebaida saudavam os compa-nheiros:

Memento mori! Lembra-te deque vais morrer!

15Novembro 2010 • Reformador 442299

passagem em epígrafe refe-re-se a um diálogo de Jesuscom estrangeiros que foram

à Palestina, especialmente, para co-nhecê-lo. A narrativa de João envol-ve aspectos interessantes dessa con-versa, mas aqui queremos nos ater àadvertência final acima transcrita,que Jesus dirige, não só a eles, mas atodos os que o ouviam e, se consi-derarmos os aspectos mais profun-dos do ensinamento, a todos nós.

Muitas indagações emergemem nossa mente diante dessa pas-sagem: Para onde deveriam diri-gir-se os que acolhessem a indica-ção de andar? A que luz Jesus se

referia? Por que essa luz estariapresente por pouco tempo?

Há respostas mais vinculadas aomomento histórico daqueles ho-mens que deveriam retornar à suaterra de origem, mas interessam--nos as respostas mais amplas, quese identifiquem com a situação docristão de todos os tempos, sempreconvocado por Jesus ao esforço deaprimoramento moral.

Considerando que Jesus mencio-nava, com certa frequência, o Reinode Deus, ou Reino dos Céus, comoobjetivo a ser buscado pelas cria-turas, parece-nos ser essa a meta,a direção para a qual se deve andar

e, nesse caso, o imperativo está atre-lado à luz como condição favorá-vel que se apresentava aos estran-geiros, naquele momento históri-co, que deduzimos ser a própriapresença do Mestre. Naturalmen-te, Jesus sabia do que lhe ocorreriana sequência daqueles dias e per-cebia que não ficaria por longotempo entre seus discípulos.

Precisamos entender, contudo,que todo ensinamento evangélicotem propósitos mais amplos e trans-cendentais. Considerando a refe-rência ao Reino como orientaçãoexpressa em linguagem metafórica,compreenderemos que o Reino de

Andai,enquanto tendes luz

ADA LVA SI LVA SO U Z A

“Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós.Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem

anda nas trevas não sabe para onde vai.” (João, 12:35.)

16 Reformador • Novembro 2010443300

Deus não é um lugar e o verboandar não significa o ato de deslo-car-se espacialmente na Terra. Jesusmesmo esclareceu que ninguémpode dizer que o Reino esteja aquiou ali, porquanto ele estaria dentrode nós mesmos, sendo, portanto,uma condição a ser criada peloindivíduo num processo subjeti-vo de realização.

Tudo o que aconteceu depois po-de, sem qualquer dúvida, ser iden-tificado com a condição adversa deobscuridade que dificultou a vidadas criaturas humanas identificadascom os ideais cristãos: as persegui-ções sofridas, os sacrifícios no circoromano, as lutas para a consolida-ção do movimento de divulgação daBoa Nova, a oficialização do Cristia-nismo como religião do Estado, quedeterminaria a descaracterização dadoutrina ensinada pelo Cristo, olongo período da Idade Média, quesomente cessou com o advento doRenascimento já no século XV.

Hoje, ainda, o homem se con-fronta com grandes obstáculos,para realizar o que Jesus propôs.Notáveis avanços marcam a histó-ria da Humanidade, mas, no quetange à cultura ocidental, parece-nosque a condição favorável para ocaminhar do homem no sentidode realizar o que lhe cabe – espiri-tualizar-se – voltou aos cenários domundo com o advento do Espiri-tismo, cujas proposições oferecema chave que nos permite entenderos ensinamentos do Evangelho.

Coloquemo-nos, pois, como osatuais destinatários da fala do Mes-tre. Precisamos tomar consciênciade que vivemos um momento favo-

rável ao trabalho interior, para fazeraflorar as virtudes que ainda estãoem estado potencial dentro de nós.O caminho para isso está disponí-vel, caso nos decidamos aos estu-dos sérios a que somos convocadospelo Espiritismo. Nada se pode con-quistar, sem esforço e luta. Nossoempenho será maior, quando com-preendermos que o tempo é um re-curso valioso que, embora se reno-ve em outras oportunidades, é, decerta forma, limitado. Nossa perma-nência na situação favorável depen-de do aproveitamento da chanceque está sendo dada. Na sequência

dos acontecimentos, o quadro podese alterar e maiores se tornarão osobstáculos a serem superados.

Busquemos, pois, assimilar oensinamento principal de Jesus –“Amai a Deus sobre todas as coisase ao próximo como a vós mesmos”.Esforcemo-nos para nos tornarmosdiscípulos do Mestre e estaremoscriando condições para superar asamarras materiais e alcançar o co-nhecimento da verdade que libertatotalmente a criatura da ignorânciae do erro. O momento é favorável,o Consolador está entre nós. Siga-mos em paz!

17Novembro 2010 • Reformador 443311

O senhor é meu PastorE nada me faltará;Em campinas verdejantesFaz minh’alma repousar.

E por veredas de pazE alvoradas de luzEu sigo cada vez maisConduzido por Jesus.

Por acaso se um dia eu andassePelo vale da sombra da morte,Manteria meu ânimo forte,Amparado na luz da oração.

A esperança e a misericórdiaSeguiriam à frente comigo,Porque sei que Tu és meu AmigoE que moras no meu coração.

Mário Frigéri

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro e

renova dentro em mim um espírito inabalável.”

(Salmo, 51:10.)

Salmo 23

18 Reformador • Novembro 2010443322

stamos vivendo um mo-mento especial do progres-so intelectual da Humani-

dade. Nos últimos dois séculos,a Ciência se desenvolveu bastan-te, proporcionando mais saúdee bem-estar para as pessoas. Oprogresso moral, apesar de estarainda bem atrás do intelectual,não está sem rumo, já que, alémdas Primeira e Segunda Revela-ções, centradas nas figuras deMoisés através dos Dez Man-damentos, e de Jesus, através doEvangelho, respectivamente, abondade divina nos enviou o Es-piritismo que, ensinando a féraciocinada, tem como finalidademaior “o melhoramento moralda Humanidade”.1 Mas, em vistado fato de o Espiritismo ter “quesustentar grandes lutas, mais con-tra os interesses, do que contra aconvicção”,2 é nosso dever comoespíritas a vigilância contra as con-trovérsias, contradições e polê-micas que podem nos afastar dafinalidade maior do Espiritismo,acima mencionada.

Como empregar eficazmenteessa vigilância? O que ensinaramKardec e os bons Espíritos? Opropósito desta matéria é traçarum paralelo entre os modospelos quais a Ciência é vigilantecontra controvérsias, contradiçõese polêmicas, e o que a DoutrinaEspírita ensina. Veremos que osmétodos que asseguram o desen-volvimento e a prática saudáveisdo Espiritismo são bastante simi-lares aos que as ciências empre-gam na sua prática e desenvolvi-mento. Vamos enumerar os pon-tos para deixar mais claras essassemelhanças.

1. Metodologia editorial

A Ciência dispõe de uma meto-dologia editorial de divulgação denovidades e pesquisas que se ba-seia na chamada análise por pa-res.3 Essa análise consiste em en-viar cada novo artigo ou mono-grafia a pareceristas, ou árbitros,que nada mais são do que pes-quisadores especialistas no assun-

to do artigo, afim de que se-jam avaliadosos critérios deaceitação e va-lidação que ca-da área do co-n h e c i m e n t o ,através de seusparadigmas, defi-nem. Além da aná-lise dos próprios edi-tores, eles enviam o ar-tigo para quantos parece-ristas forem necessários, afim de obter uma avaliaçãofinal segura do mesmo. Emgeral, se analisa como o as-sunto é tratado, quais e comoos métodos foram empre-gados, as conclusões obti-das, que novidades apresen-tam, que contribuições tra-zem para o conhecimento,que discordâncias com oparadigma vigente apre-sentam, se ferem princí-pios básicos bem estabe-lecidos etc. Se o assunto

Controvérsias, contradiçõese polêmicas: um paralelo entre

a Ciência e o Espiritismo

EAL E X A N D R E FO N T E S DA FO N S E C A

do artigo for controverso, con-traditório ou polêmico, será ne-cessário avaliá-lo com atençãoredobrada e critérios mais rígi-dos, para evitar o risco de divul-gar como verdadeiro algo quenão o seja.

O Espiritismo, em compara-ção com as ciências, tambémpossui critérios para concor-dância ou não de tudo o que

se escreve a seu respeito, sejao que chega através damediunidade, seja o que éfruto da mente encarna-da. No caso das publica-ções, as editoras de livros

e periódicos espíritas,em geral, adotam me-

todologias semelhan-tes ao método deanálise por pares, aofazerem os textos des-tinados à publicaçãopassar pela leitura decompanheiros mais ex-

perientes do Movi-mento Espírita e conhe-

cedores do assunto a serpublicado.

2. Rejeição de novi-dades

A Ciência não divulga for-malmente, em seu nome, no-vidades que não tenham satis-feito um número mínimo decritérios de validade. Cabe aospesquisadores interessados noassunto o trabalho minuciosode demonstração e prova. Àsvezes, os cientistas falam de suasopiniões próprias sobre vários

assuntos, opiniões estas que nãotêm peso de Ciência, enquantonão passarem por um processode pesquisa e demonstração deacordo com os critérios de cadaárea do conhecimento.

O Espiritismo tem como lemaque “é melhor repelir dez verda-des do que admitir uma únicafalsidade, uma só teoria errô-nea”.4 Às vezes, indivíduos (en-carnados ou desencarnados) ex-põem opiniões isoladas a respei-to de diversos assuntos, relacio-nando-os ao Espiritismo, ou re-cebem mensagens que atribuema personalidades maiores do mun-do espiritual sem, contudo, teremrealizado um trabalho de pes-quisa, observação e demonstra-ção que possam assegurar sua ve-racidade de acordo com os crité-rios espíritas. É importante que oMovimento Espírita saiba distin-guir a diferença entre uma afir-mativa isolada e um resultadoobtido a partir do estudo sério eaprofundado.

3. Necessidade de umprojeto de pesquisacontinuado

Em todas as áreas do conheci-mento, o processo de desenvolvi-mento ocorre de maneira planeja-da. Em Ciência, a esse planeja-mento dá-se o nome de projeto depesquisa.5 O projeto serve paraguiar a atividade de pesquisa a fimde que sejam satisfeitos os crité-rios que posteriormente serãoaplicados na análise dos resulta-dos obtidos. Um dos itens de um

projeto de pesquisa é o seu crono-grama ou plano de atividades. Aseriedade e validade dos resulta-dos a que se pretende chegar de-pendem de um trabalho pacientede observação, medida, reflexão,análise, cálculos, que não podemser realizados de uma hora para aoutra. No momento de divulgartais resultados da pesquisa, osseus autores devem explicar todo oprocesso desde as motivações ini-ciais, a importância relativa doassunto, os problemas que o pre-sente trabalho pretende resolver,os métodos e teorias empregados,cálculos se houverem etc. Os pa-receristas irão avaliar se não faltounada, se realmente as conclusõesestão bem sustentadas pelo traba-lho de pesquisa etc.

No capítulo XXVII de O Livrodos Médiuns, quando pergunta-dos sobre “[...] Que controle po-demos empregar para conhecer averdade?”,6 os Espíritos assim res-ponderam a Kardec:

Para se discernir o erro da ver-

dade, é preciso que as respostas

sejam aprofundadas e medita-

das por longo tempo e com se-

riedade. É um estudo completo

a fazer-se. Para isso é preciso

tempo, como para estudar todas

as coisas.

Estudai, comparai, aprofundai.

Temos dito incessantemente

que o conhecimento da verdade

só se obtém a esse preço. [...]6

(Grifo nosso.)

Vê-se daí que, para todo equalquer assunto novo dentro do

19Novembro 2010 • Reformador 443333

Movimento Espírita, há que apro-fundar no seu estudo para nãohaver o risco de se aceitar umafalsidade, como disse Erasto. Nocaso, então, de controvérsias, con-tradições e polêmicas, a neces-sidade de aprofundamento é ain-da maior!

4. Falhas e o caráterprogressivo

Como a Ciência é uma ativida-de humana, falhas ocorrem e, devez em quando, a mídia divulgacasos de fraudes científicas. Mas,o próprio método de divulgaçãodos trabalhos de pesquisa permiteque erros anteriores sejam corri-gidos. Para isso, os pesquisadoresprocedem à realização de novosestudos, demonstrando os errosou confirmando acertos de resul-tados anteriores ou, ainda, pro-pondo novas ideias e teorias quecomplementam de maneira ade-quada os conhecimentos anterio-res, promovendo assim o progres-so da respectiva área.

O Espiritismo também é pro-gressista. Kardec diz

[...] Caminhando de par com o

progresso, o Espiritismo jamais

será ultrapassado, porque, se no-

vas descobertas lhe demonstras-

sem estar em erro acerca de um

ponto qualquer, ele se modifica-

ria nesse ponto. Se uma verdade

nova se revelar, ele a aceitará.7

(Destaque nosso.)

Destacamos a palavra “demons-trassem” para enfatizar aos leitores

que não existe maneira de demons-trar uma coisa sem realizar umestudo aprofundado!

Como o Movimento Espírita éuma atividade humana, da mes-ma forma que a Ciência, ele é pas-sível de erros e às vezes vemos ar-tigos, mensagens, publicações eoutros assuntos que causam con-trovérsias, contradições ou polêmi-cas junto aos espíritas. Mas, assimcomo a Ciência tem seus mecanis-mos de correção, o Espiritismooferece-nos maneiras de buscar-mos a verdade perante assuntosduvidosos.

Exemplos de assuntos contro-versos são encontrados dentroda relação Ciência e Espiritis-mo tais como: propostas de atua-lização do Espiritismo de acor-do com a Ciência, ou se a FísicaQuântica está de fato contribuin-do para o entendimento de ver-dades espíritas; o emprego ou nãode atividades de medicina alter-nativa nas casas espíritas; a iden-tidade de personalidades conhe-cidas em mensagens mediúni-cas, entre outros. O que o Espiri-tismo nos ensina é que, antes delançarmos anátema ou aceitar-mos sem questionar, devemos nosaprofundar no assunto, meditare observar por longo tempo essespontos controversos para nãocorrermos o risco daquilo queErasto previu há 153 anos: o deaceitarmos falsidades ou teoriaserrôneas.

Por fim, como o Espiritismo éa Doutrina que recomenda a féraciocinada, concluímos este es-tudo lembrando-nos de Jesus

quando disse: “E conhecereis averdade, e a verdade vos liberta-rá”(João, 8:32) e que nós, espíri-tas, temos como ensinamentos doEspírito de Verdade, além do “Amai--vos”, o “Instruí-vos”.8 A prática dosegundo ensinamento não podeocorrer sem seriedade, método eaprofundamento.

Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 27,

item 303.2______. O livro dos espíritos. Trad. Evan-

dro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro:

FEB, 2010. Q. 798.3FONSECA, Alexandre F. Curso de ciências

e espiritismo (4a aula) – Tópicos de pes-

quisa multidisciplinar entre algumas ciên-

cias e o espiritismo... Disponível em:

<http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae4

86.html>.4KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 20,

item 230, p. 371.5FONSECA, Alexandre F. Curso de ciências

e espiritismo (14a aula) – O que é um pro-

jeto de pesquisa? Disponível em:

<http://www.geae.inf.br/pt/boletins/geae4

96.html>.6KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 27,

item 301, q. 4, p. 512-513.7______. A gênese. Trad. Evandro Noleto

Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.

1, item 55.8______. O evangelho segundo o espiri-

tismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra.

1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro: FEB,

2010. Cap. 6, item 5, p. 153.

20 Reformador • Novembro 2010443344

“Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia.”

– PAULO. (HEBREUS, 11:8.)

Na grande romagem

Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. 36. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 3.

ela fé, o aprendiz do Evangelho é chamado, como Abraão, à sublime herançaque lhe é destinada.

A conscrição atinge a todos.O grande patriarca hebreu saiu sem saber para onde ia...E nós, por nossa vez, devemos erguer o coração e partir igualmente.Ignoramos as estações de contato na romagem enorme, mas estamos informados

de que o nosso objetivo é Cristo Jesus.Quantas vezes seremos constrangidos a pisar sobre espinheiros da calúnia?

quantas vezes transitaremos pelo trilho escabroso da incompreensão? quantosaguaceiros de lágrimas nos alcançarão o espírito? quantas nuvens estarão inter-postas, entre o nosso pensamento e o Céu, em largos trechos da senda?

Insolúvel a resposta.Importa, contudo, marchar sempre, no caminho interior da própria redenção,

sem esmorecimento.Hoje, é o suor intensivo; amanhã, é a responsabilidade; depois, é o sofrimento e,

em seguida, é a solidão...Ainda assim, é indispensável seguir sem desânimo.Quando não seja possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para

diante, pelo menos, alguns milímetros...Abre-se a vanguarda em horizontes novos de entendimento e bondade, ilumi-

nação espiritual e progresso na virtude.Subamos, sem repouso, pela montanha escarpada:Vencendo desertos...Superando dificuldades...Varando nevoeiros...Eliminando obstáculos...Abraão obedeceu, sem saber para onde ia, e encontrou a realização da sua

felicidade.Obedeçamos, por nossa vez, conscientes de nossa destinação e convictos de

que o Senhor nos espera, além da nossa cruz, nos cimos resplandecentes da eter-na ressurreição.

P

21Novembro 2010 • Reformador 443355

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

aneiro de 1868. Allan Kardecpublica, sob grande expecta-tiva, a obra A Gênese. Estava

concluída a Codificação da nas-cente Doutrina dos Espíritos. Entre-tanto, perscrutando os escritos doCodificador, parece-nos que suaatenção como que muda de direçãonos dois últimos anos de sua exis-tência. A Doutrina está formuladaem seus aspectos fundamentais;mas, e quanto ao Movimento quedela certamente surgiria?

Tanto é verdade que o próprioKardec afirma que “dois elementoshão de concorrer para o progressodo Espiritismo: o estabelecimentoteórico da Doutrina e os meios dea popularizar”.2 E ainda confessa:“sempre nos preocupamos com ofuturo do Espiritismo”.3 É prová-vel que esta preocupação tenha ga-nhado força, pois anos antes rece-bera dos Espíritos superiores umarevelação sobre a Missão do Espi-

ritismo, quando afirmaram que “elefaz que os homens compreendamonde se encontram seus verdadei-ros interesses”.4

Urgia, pois, que Allan Kardecdedicasse seus últimos dois anos

aqui na Terra a planos e projetosque norteassem de forma segura oscontinuadores de sua obra. Grandeparte desse legado sobre o Movi-mento Espírita, Kardec deixou emescritos isolados que foram reunidos

por seus familiares e amigos emObras Póstumas, publicada em ja-neiro de 1890. Apesar de seus 120anos de existência, é ainda umadesconhecida entre nós, trabalha-dores da Seara Espírita. A fim deprestarmos singela homenagem,traremos aqui pequena amostra dariqueza de informações que reúneem suas páginas.

Veremos que as ações atuais doMovimento Espírita, reunidas sobo estandarte da Unificação, surgi-ram na mente do próprio mestrelionês. Elas constam, em grandeparte, no que ele denominou de“Projeto 1868”. Suas expectativasquanto ao Movimento Espíritaficam claras quando confessa que“um dos maiores obstáculos capa-zes de retardar a propagação daDoutrina seria a falta de unidade”.2

Preocupado com o estudo espí-rita, Kardec menciona no referidoProjeto que “um curso regular de

Ideias de Kardecsobre a Unificação noMovimento Espírita

J

“O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra.”1

MA RC E LO MOTA

22 Reformador • Novembro 2010443366

Capa

Espiritismo seriaprofessado com ofim de [...] difun-dir o gosto pelosestudos sérios”.5 Econtinua, asseve-rando que “essecurso teria a vanta-gem de fundar aunidade de princí-pios”.5 Ora, mas nãoseria a mesma uni-dade a que aludimosanteriormente e cuja falta acarre-taria em “um dos maiores obstá-culos capazes de retardar a propa-gação da Doutrina”?2 Como senão bastasse, o Codificador finali-za dizendo que esse curso deverá“exercer capital influência sobre ofuturo do Espiritismo e sobre suasconsequências”.5 Se há uma missãofutura a ser desempenhada peloEspiritismo, esta dependerá destecurso. Na atualidade, encontramoso Estudo Sistematizado da Dou-trina Espírita (ESDE), arranjado eorganizado numa estrutura lógicaque favorece o aprendizado. Cou-be à Federação Espírita Brasileira(FEB), na reunião anual do Con-selho Federativo Nacional (CFN),de novembro de 1983, fazer o lan-çamento da Campanha Nacionaldo Estudo Sistematizado da Dou-trina Espírita.6

Em seguida, Kardec afirma que

uma publicidade em larga esca-

la [...] levaria ao mundo inteiro,

até às localidades mais distantes,

o conhecimento das ideias espí-

ritas, despertaria o desejo de apro-

fundá-las e, multiplicando-lhes

os adeptos, imporia silêncio aos

detratores [...].7

Em seu esforço na criação daRevista Espírita, nem imaginava asdimensões que tomaria a divulga-ção da Doutrina. Hoje vemos o Es-piritismo alcançar os quatro can-tos do planeta. As páginas de Refor-mador contam não apenas com afirmeza de seu conteúdo, mas tam-bém com a excelente qualidade grá-fica com que a revista é feita. Al-cança todos os cantos do país e éremetida também para o Exterior.Além disso, um veículo como aTVCEI cumpre à risca os planosde Kardec, pois começa a transmitirprogramas feitos inteiramente nosidiomas de diversas nações. Em au-xílio a este extenso programa dedifusão, vem o ininterrupto apoiodo Esperanto, a Língua Internacio-nal Neutra, para a qual já foramvertidas inúmeras obras espíritas,que praticamente levaram o Con-solador a diversas nações, em espe-cial às do Leste Europeu.

Outro aspecto é contempladopor Kardec: acompanhar de pertoo Movimento Espírita local. Para

isso, idealiza asviagens espíritas.Diz-nos o mestrelionês que “doisou três meses doano seriam consa-grados a viagens,em visita aos dife-rentes centros e alhes imprimir boadireção”.8 Confes-samos que nossaprimeira lembrança

foram as reuniões promovidaspelo Conselho Federativo Nacio-nal da FEB, tanto as que são reali-zadas em âmbito nacional comoem nível regional (Comissões Re-gionais). Mas em muitos estadosbrasileiros têm sido realizados en-contros semelhantes, reunindo asinstituições espíritas daquelasmesmas localidades, normalmenteorientados pelas Entidades Fede-rativas Estaduais.

Kardec vai mais além. Chega asugerir que,

se os recursos o permitissem,

instituir-se-ia uma caixa para

custear as despesas de viagem

de certo número de missioná-

rios, esclarecidos e talentosos,

que seriam encarregados de

espalhar a Doutrina.8

Missionários! Não há palavrapara melhor descrever Arthur Linsde Vasconcellos, Carlos Jordão daSilva, Francisco Spinelli, Ary Ca-sadio, Leopoldo Machado e LuizBurgos Filho. Afinal, foram eles oscontinuadores desta outra ideia deKardec: os Caravaneiros da Frater-

23Novembro 2010 • Reformador 443377

Capa

nidade. Empreenderam há 60 anosuma nova forma de levar a segu-rança doutrinária sob a égide daUnificação aos quatro cantos doPaís. Que venham novos carava-neiros, do Brasil e do mundo!

Unificação. Sua prática pareceutópica. Sobre o tema Dr. Bezerravem nos trazer sua palavra forte,porém fraterna, dizendo que

a tarefa da unificação é paulati-

na; a tarefa da união é imediata,

enquanto a tarefa do trabalho é

incessante, porque jamais termi-

naremos o serviço, desde que

somos servos imperfeitos, e fa-

zemos apenas a parte que nos

está confiada.9

Tenhamos a paciência que nosrecomenda Bezerra, mas não dei-xemos o labor. E lembremos sem-pre de voltar nossos olhares para afonte clássica e generosa do ma-nancial doutrinário: a Codifica-ção! Ousaríamos dizer mesmo

que é a própria “crestomatia” daDoutrina Consoladora, a mãe detoda literatura espírita. ESDE, Re-formador, TVCEI, trabalho fede-rativo, caravanas da fraternidade.Há muito que fazer. Divulguemosisto e sejamos servidores fiéis à ta-refa! Honremos os ideais de AllanKardec e, por consequência, dopróprio Jesus!

Relembrando uma vez mais oCodificador, diremos uns aos ou-tros, companheiros deste idealnobre: “Não vos apresseis, ami-gos. [...] deixai que falem os dissi-dentes [...]”.10 Porque, como nosadverte um dos maiores mentoresdo nascente Movimento Espírita,o Espírito Erasto, os espíritas quese acham no bom caminho serãoreconhecidos “pelos princípios daverdadeira caridade que eles ensi-narão e praticarão”.11

Referências:1KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.

Guillon Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atuali-

zada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, A

minha primeira iniciação no espiritismo,

item Futuro do espiritismo, p. 330.2______. ______. P. 2, Projeto 1868, p.

373-374.3______. ______. P. 2, Constituição do

espiritismo, § 1 – Considerações prelimi-

nares, p. 381.4______. O livro dos espíritos. Trad. Guil-

lon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janei-

ro: FEB, 2010. Q. 799.5______. Obras póstumas. Trad. Guillon

Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atualizada). Rio

de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, Projeto 1868,

item Ensino espírita.6ROCHA, Cecília. (Organizadora). Estudo

sistematizado da doutrina espírita: pro-

grama fundamental. 2. ed. 4. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2009. T. 1, Apresentação.7KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.

Guillon Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atuali-

zada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2,

Projeto 1868, item Publicidade.8______. ______. P. 2, Projeto 1868, item

Viagens.9FRANCO, Divaldo P. Unificação paulatina,

união imediata, trabalho incessante.... Pelo

Espírito Bezerra de Menezes. In: Refor-

mador, ano 94, n. 1.763, p. 19(43), fev.

1976. Ver também: EQUIPE FEB (Coorde-

nação de SOUZA, Juvanir Borges de).

Bezerra de Menezes – ontem e hoje. 4.

ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

p. 156.10KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.

Guillon Ribeiro. 40. ed. 2. reimp. (atuali-

zada). Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, A

minha primeira iniciação no espiritismo,

item Marcha gradativa do espiritismo.

Dissidências e obstáculos, p. 362-363.11______. O evangelho segundo o espiri-

tismo. Trad. Guillon Ribeiro. 129. ed. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 20,

item 4, p. 355.

24 Reformador • Novembro 2010443388

Capa

rédéric François Chopin (ouFryderyk Franciszek Szopen,em polonês) nasceu em 1o de

março de 1810 na Polônia, aldeiade Zelazowa-Wola,perto de Varsóvia.Desencarnou, em Paris, aos 39 anos,em 17 de outubro de 1849.A sua vi-da se resumiu a um “[...] romancemelancólico. Menino prodígio nopiano, resolveu ir à Europa ocidentalpara aperfeiçoar-se; saiu de Varsóviaem 1830, pouco antes de rebentar arevolução aristocrático-liberal [...]”,1

afirma o crítico e ensaísta musicalOtto Maria Carpeaux, austríaco na-turalizado brasileiro, que acrescenta:

A Polônia, para a qual não voltou

em vida, não será para ele um ído-

lo de paixão política, mas uma

recordação nostálgica: um roman-

tismo moderadamente naciona-

lista. [...] Fixou em Paris, onde a

sociedade aristocrática e os cír-

culos intelectuais lhe abriram

largamente as portas. Perante

essa audiência seleta costumava

tocar. [...] Depois: as relações

com a grande escritora George

Sand; a tuberculose; o tempo

passado em Palma, na ilha de

Maiorca, na esperança vã de re-

cuperar a saúde; o rompimento

com a sua amiga instável [Sand];

a fuga, da Revolução de 1848,

para Londres; a volta e a morte

solitária, em Paris. Seus restos

mortais foram sepultados no

Cemitério Pére-Lachaise, em

Paris; só o coração do artista

encontrou, trasladado, o último

repouso na catedral de Varsóvia

[atendendo ao seu pedido].2

Chopin é mundialmente conhe-cido como um dos maiores compo-sitores para piano e um dos pianistasmais importantes da história hu-mana. Sua técnica e harmonia refi-nadas são comparadas às de Mozarte Beethoven, dois gênios da músi-ca. Chopin mostrou-se nacionalista,mesclando sua música com elemen-tos eslavos; hoje, suas mazurcas e po-lonesas são fundamentais para amúsica clássica nacional da Polônia.

Contudo, Chopin era uma pessoaamarga, muito melancólica.

A Revista Espírita de 1859 relataesses aspectos da personalidade docompositor, que afirmou em men-sagem mediúnica encontrar-se ape-nas um pouco feliz, justificando-se:“[...] em relação àquilo o que pode-ria ter sido, porque, com minha in-teligência, eu poderia ter avançado

F

Em dia com o Espiritismo

MA RTA AN T U N E S MO U R A

Chopin e Schumann:homenagem pelo bicentenário

de nascimento

Chopin

25Novembro 2010 • Reformador 443399

Imag

em r

etira

da d

o si

te:

<http:

//pt.w

ikip

edia

.org

/wik

i/Fr%

C3%

A9d%

C3%

A9ric

_Cho

pin>

mais do que o fiz”.3 Apontado comosombrio e triste pelo EspíritoMozart, também presente à reuniãomediúnica, complementa: “Mozartdisse a verdade. Entristeço-me porhaver empreendido uma prova quenão realizei bem e por não ter maiscoragem de recomeçá-la”.3

A despeito da reclusão e mórbi-da melancolia em que vivia quan-do encarnado, sua música o colocaem patamar elevado:“[...] fala inti-mamente aos pensamentos e àslembranças mais particulares [...],evocando a felicidade infantil e oamor perdido, e ao âmago de pes-soas inocentes e mais nobres mal-tratadas pelas duras leis da vida”.4

Ao piano, instrumento que oimortalizou, Chopin combinavaum senso rítmico único, associandoo rubato (roubar, do italiano, quesignifica acelerar ligeiramente otempo de uma peça) ao uso fre-quente do cromatismo (utilizaçãodas notas da escala cromática paradar o tom) e ao contraponto (com-posição com duas ou mais vozesmelódicas), imprimindo, assim, ex-pressiva beleza e criatividade às suascomposições. Os seus belissímos esofisticados noturnos (composiçãomusical que evoca, ou é inspiradapela noite, e que foi inventada pelocompositor irlandês John Field), asmazurcas (música popular polone-sa), as valsas e as baladas (música lí-rica e dramática) são insuperáveis.

Robert Alexander Schumann nas-ceu em Zwickau, Alemanha, em 8de junho de 1810, desencarnandono mesmo país de nascimento, nacidade de Bonn, em 29 de julho de1856. A vida do erudito Schumannfoi marcada por episódios dedepressão, tentativas de suicídio efinal triste, internado em um hos-pital para doentes mentais, por ini-ciativa própria, condições que, noentanto, nada desmereceram assuas admiráveis composições mu-sicais. Segundo Roland de Candé,francês, musicólogo e historiadorda música, o “[...] mais belo con-to de amor da história da músicae a inexorável tragédia da loucuraformam a trama em que se esboçaa nobre e cativante personalidadede Schumann. Em seu caso, a lendaé fiel à história”.5

Filho de um livreiro e editor,

Schumann cresceu no mundo dos

livros [...]. O jovem Schumann

esteve, porém, pouco disposto

para os exercícios de contraponto

do seu mestre; em compensação

apaixonou-se por Clara. A luta dos

dois jovens contra o velho, que

não quis consentir em seu casa-

mento, foi o primeiro grande dra-

ma da vida de Schumann. Só por

decisão judiciária conseguiram

reunir-se. Foi a felicidade comple-

ta, o lar mais harmonioso, de dois

espíritos que se completam.6

A obra de Schumann é enormee variada, destacando-se produçãodas lieder (plural de lied, em ale-mão, palavra que significa canção).É termo usado para classificar ar-ranjos musicais para piano e cantarsolo, com letras geralmente escritasem alemão. Esse extraordináriomúsico foi também poeta, escritor,editor de revista e crítico musical,muitíssimo respeitado.

As perturbações psíquicas deSchumann apresentavam alucina-ções visuais e auditivas – interpreta-das por alguns como sendo o está-gio terciário da sífilis. Todavia, aambiguidade da personalidade docompositor, pautada por crises dedepressão e tentivas de suicídio,seguidas de períodos de intensa cria-tividade, falam mais a respeito deprocesso obsessivo. Nem todos osEspíritos, porém, lhe causavam pre-juízos. Alguns até colaboraram emcertas produções musicais. Os hete-rônimos Florestan e Eusebius, porexemplo, se revelavam como per-sonalidades contrastantes – possi-velmente o teriam auxiliado nas com-posições Devaneios (Träumerei), Ce-nas Infantis Op. 15 (Kinderszenen)e o divino Concerto para Piano, emlá menor. Acredita-se que haveriauma terceira entidade espiritual,conhecida como Meister Raro, quetentava conciliar a ação dos Espí-ritos, sobretudo as influências deFlorestan e Eusebius.7 A ação bené-

26 Reformador • Novembro 2010444400

fica dos Espíritos revela-se nas mú-sicas que Schumann denominou“celestiais”. Ele acreditava que os Es-píritos dos músicos Franz Schubert(1797-1828) e Felix Mendelssohn(1809-1847) se comunicavam porseu intermédio. Entretanto, ele nãotinha o menor controle sobre assuas faculdades mediúnicas, sendoincapaz de impedir a atuação dosEspíritos que o faziam sofrer.8

Chopin e Schumann foram duasalmas atormentadas, que se admi-ravam. Schumann chegou a fazer deChopin um personagem de sua fa-mosa composição Carnaval (1836),considerada obra-prima, amplamen-te aplaudida pelo público ao ladoda belíssima peça musical Träumerei(Réverie). Ambos pertenceram àescola romântica da música eruditaque predominou no século XIX.

Na obra Devassando o Invisível,Yvonne Pereira transmite impor-tantes informações sobre Chopin,que devem ser lidas com atenção.Ela lembra, inclusive, as causas dosofrimento a que muitos dos artistasforam submetidos durante a encar-nação, tal como aconteceu comChopin (e Schumann): “No entan-to, todos os grandes artistas e gê-nios consagrados ao Belo deverãopassar, outrossim, pelos ásperos ca-minhos das experiências e dos tes-temunhos, embora muitas vezessem o caráter expiatório [...]”.9

Em outro momento assinala queChopin iria reencarnar no Brasil,depois do ano 2000, sob os cuidadosde Victor Hugo.10

Vemos,então,que no ano de 2010o nosso Planeta está em festa, poisem toda parte ouvimos os acordes

das inesquecíveis músicas de Chopine Schumann executadas nos festivais,concertos, saraus; nas programaçõesmusicais breves ou longas, executa-das pelos expoentes da arte musicalou por seus anônimos e humildesartesãos, espalhando uma correntede vibrações benéficas em toda a Ter-ra, saturando-a de energias salutares.

De nossa parte, dedicamos eternagratidão a esses dois Espíritos quesouberam, através da música, em-belezar o mundo, fazendo maisfeliz a Humanidade. Neste sentido,já dizia o grande músico Rossini,em mensagem transmitida ao mé-dium Sr. Nivart:

A influência da música sobre a

alma, sobre o seu progresso

moral é reconhecida por todo o

mundo: [...] a harmonia [da mú-

sica] coloca a alma sob o poder

de um sentimento que a desma-

terializa. Tal sentimento existe

num certo grau, mas se desen-

volve [...] gradativamente; tam-

bém acaba por se deixar penetrar

e arrastar ao mundo ideal [...].11

Parabéns, Chopin e Schumann!Jesus os guarde em sua paz, ondee como se encontrem!

Referências:1CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro

da história da música: da idade média ao

século XX. Rio de Janeiro: Pocket Ouro,

2009. Cap. 5, p. 256-257.2______. ______. p. 257.3KARDEC, Allan. Música de além-tú-

mulo: Chopin. In: Revista espírita:

jornal de estudos psicológicos, ano 2,

p. 189, mai. 1859. Trad. Evandro

Noleto Bezerra. 3. ed. 2. reimp. Rio de Ja-

neiro: FEB, 2009.4EISLER, Benita. O funeral de Chopin. Trad.

Anna Olga de Barros Barreto. São Paulo:

Planeta do Brasil, 2005. Cap 1, p. 14.5CANDÉ, Roland de. História universal da

música. Trad. Eduardo Brandão. 2. ed. São

Paulo: Martins Fontes, 2001. V. 2, p. 51.6CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro

da história da música: da idade média ao

século XX. Rio de Janeiro: Pocket Ouro,

2009. Cap. 5, p. 273.7Disponível em <http://palavrastodaspa

lavras.wordpress.com/2008/05/19/euse

bius-e-florestan-homenagem-a-schumann

por-helena-sut/>.8DE LA RUBIA, Domenec González. Los

espíritus de Schumann. Disponível em:

<http://www.masalladelaciencia.es/los-

espiritus-de-schumann_id26153/mas-

informacion_id427736>.9PEREIRA, Yvonne A. Devassando o invisível.

3. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.

Frederico Chopin, na espiritualidade, p. 84.10______. ______. p. 78.11KARDEC, Allan. Obras póstumas. Trad.

Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. P. 1, Música espírita, p. 244.

RobertSchumann

27Novembro 2010 • Reformador 444411

arco Antônio FiettoNascimento, meucompanheiro de

ideal esperantista, tem olhosde lince que o fizeram des-cobrir um curioso detalheno filme O Grande Ditador,de Charlie Chaplin – o em-prego de alguns termos emesperanto: /ambroj, cigaroj,rapoj, botisto, lipharoj,1

exatamente quando é foca-lizada uma cena de rua, naqual aparecem diversas ca-sas comerciais e respectivasplacas indicativas na lín-gua neutra auxiliar.

A observação do amigoFietto despertou-me agu-çante curiosidade: teria si-do Carlitos um simpatizan-te da causa idealizada pelomédico polonês LázaroLuiz Zamenhof? daqueleque um dia acalentou a ideia de criar um idiomaneutro auxiliar para as nações? do espírito alta-

mente determinado que,lançando em 14 de julho de1887, após ingentes esfor-ços, a primeira gramática doesperanto, iniciou a jornadaem busca de uma mais am-pla aproximação dos povos?

Sim, pois a verdade é queChaplin foi importante apoia-dor desta língua. Ao seu no-me podemos acrescentar ode outro cineasta, Laemmle.

Ambos reconheciam o va-lor do esperanto, em decor-rência da clareza da língua.

Isto sem mencionar no-mes de importantes empre-sas, que custearam a monta-gem de películas que con-têm diálogos em esperanto,como é o caso da grande Pa-ramount. Esta, em 1929, pro-duziu um curta-metragem to-talmente em esperanto, o qual

foi apresentado durante um congresso de espe-ranto na América do Norte.

No filme O Grande Ditador, em seu final, umdiscurso, que marcaria época e que seria impressoe distribuído em muitos países, revela que havia nosempre lembrado Carlitos um ideal muito seme-lhante àquele nutrido pelos esperantistas.

de Carlitos

M

1Há que ressaltar que alguns termos em esperanto não estão de-vidamente corretos consoante a gramática, o que, imagino, nãodescaracteriza a vontade do cineasta em demonstrar sua simpatiapelo idioma criado por Zamenhof.

KL E B E R HA L F E L D

Esperanto em filme

Chaplin interpretando Adenoid Hynkel emO Grande Ditador (1940)

28 Reformador • Novembro 2010444422

A FEB e o Esperanto

O discurso, que o improvisado ditador faz datribuna de honra para uma multidão silenciosa,deixa perceber o sentimento humanista de que es-tava possuído o criador de Luzes da Cidade, TemposModernos, Em Busca do Ouro e de tantos outrosfilmes, verdadeiras obras-primas do cinema.Filmes que ainda hoje despertam interes-se, emotividade, ternura.

Ninguém ignora a competição no setorcinematográfico, mas o aparecimento decentenas de novas produções e de um sem--número de astros novos não tem obscu-recido a obra deixada por Chaplin.

Coincidentemente, o mesmo vemocorrendo no setor linguístico: opassar dos anos não conseguiuofuscar o idioma esperanto, cria-do por Zamenhof, que, vencendoas naturais barreiras, vai consoli-dando seus princípios basilares:

“– Cada povo com sua língua;uma língua para todos os povos!

– O Esperanto não surgiu com apretensão de abolir os idiomas exis-tentes, mas para constituir uma lín-gua neutra auxiliar para todos”.

Como Jules Levy – o célebre es-critor francês –, que afirmou ser amúsica um esperanto sonoro, po-demos acreditar ser o esperanto amúsica que através de seus acordesde fraternidade há de unir toda a fa-mília humana!

Ingênuo seria de nossa parte acreditarpossa um idioma pátrio alçar-se um diaà glória de língua universal, porquanto,como expressou Latino Coelho:

“O idioma de um povo é a mais elo-quente revelação da sua naciona-lidade e da sua independência”.

E, reforçando as palavras deste erudito escritor eorador português, eu acrescentaria aquelas de RalpW. Emerson: “A língua é uma cidade em cuja cons-trução cada ser humano contribuiu com uma

pedra”.O que importa dizer: – nenhum

povo aceitará, pacificamente, a impo-sição em seu território de uma língua

estrangeira!Como o esperanto é um idioma que não

é de ninguém, mas pertence a todos, fácilcompreender a aceitação que, paulatina-

mente, vai encontrando em todos ospovos, o que faz antever, com justarazão, um auspicioso futuro, como,aliás, afirmou o Papa Pio X:

“– Reconheço a utilidade do Es-peranto para conservar a unidadedos católicos do mundo. O Espe-ranto oferece-nos um brilhanteporvir!”

Ampliando o pensamentodessa conhecida figura do passa-

do, podemos afirmar:

“– Reconhecemos a utilidade doEsperanto para conservar a unida-de de todos os povos da Terra!”

Partindo deste princípio, ra-zoável imaginar o dia em quetodas as nações, conservando,cada uma, a sua própria lín-gua, usarão o esperanto emsuas relações internacionais.

Época em que ostensivapropaganda em favor doidioma criado por Zame-nhof será percebida mes-mo por quantos não pos-suírem olhos de lince...

29Novembro 2010 • Reformador 444433

30 Reformador • Novembro 2010444444

etapa de nossa civilização,relacionando Roma e o iní-cio do Cristianismo, é co-

mentada por Emmanuel: “[...] ospródromos do Direito romano e aorganização da família assinalavamo período da maioridade terrestre”,2

e explicitando claramente que

começava a era definitiva da

maioridade espiritual da humani-

dade terrestre, de vez que Jesus,

com a sua exemplificação divina,

entregaria o código da fraternida-

de e do amor a todos os corações.3

Na realidade, esperava-se acontribuição de Roma para umavanço do ideal da união pormeio da educação e da concórdia.

Após momento tão significati-vo, Roma entra em decadência e oautor espiritual reflexiona:

Lembrando-nos de Roma no

seu áureo período de trabalho,

enche-se-nos o olhar de lágrimas

amargas... Que gênio maldito

imiscuiu-se nessa organização

sublimada em seus mais ínti-

mos fundamentos, devorando-

-lhe as esperanças mais nobres,

corrompendo-lhe os sentimen-

tos, relaxando-lhe as energias?

E esclarece:

Os abusos de poder e de liberda-

de dos seus habitantes fizeram do

ninho do amor e do trabalho um

amontoado de ruinarias [...].4

Roma, sobretudo depois dacriação da república romana, erasimbolizada pela sigla “S. P. Q. R.”.Trata-se de um acrônimo para afrase latina Senatus PopulusqueRomanus (“O Senado e o PovoRomano”), que era inscrita nosestandartes das legiões romanas edepois se tornou o nome oficialdo Império. Permanece presenteno brasão da cidade de Roma.

Como proposta original, e nosmomentos prévios à Era Cristã, afrase “O Senado e o Povo Romano”,representava no contexto da épo-ca o ideal de democracia e de repú-

blica que alimentava o desejo decentralizar as decisões na esferado senado romano. Era uma sínte-se das grandes virtudes alcançadaspor Roma. Com o gradual enfra-quecimento do Senado e a concen-tração de poderes na pessoa dosimperadores, a sigla perdeu a iden-tidade com a proposta original epassou a representar única e tãosomente o poderio e as conquistasmilitares do império romano. Poroutro lado, pode-se imaginar omedo, opressão e desrespeito quea sigla impôs a muitos povos...

Acerca da questão, Emmanueltece oportunas e profundas consi-derações sobre a visão espiritual arespeito do império romano nasérie de romances históricos cujosenredos se desenvolvem ao tempodos primeiros três séculos do Cris-tianismo.5, 6 Deixa claro que o ob-jetivo dos romances citados é o estí-mulo aos estudos e reflexões, inclu-sive, para as cabíveis analogias comos primeiros tempos, que aindavivemos, da apenas sesquicente-nária Doutrina Espírita.7

Ressignificação de sigla

A

“Roma teve oportunidade de realizar seus propósitos e desígnios políticos [...]comprometendo para sempre o futuro do homem espiritual, que somente agora conhecerá um reajustamento nas amargurosas transições do século que passa.”1

– Emmanuel

romana para a atualidade

AN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

Na época de transição que atra-vessamos – albores da Nova Era –,herdeiros do poderoso recurso deanálise e de esclarecimento ofere-cido pela Doutrina Espírita, con-tamos com condições excepcio-nais para a compreensão da men-sagem do Evangelho, de dois milanos atrás, e com os compromis-sos relacionados ao

[...] Consolador, que é o Santo

Espírito, que meu Pai enviará

em meu nome, vos ensinará to-

das as coisas e vos fará recordar

tudo o que vos tenho dito.8

A presente transição, em que amensagem espírita tem grande sig-nificado, é assim comentada porEmmanuel:

Aproxima-se o momento em que

se efetuará a aferição de todos

os valores terrestres para o res-

surgimento das energias cria-

doras de um mundo novo [...].9

Vêm-nos à tona os esclarecimen-tos sobre os planejamentos de or-dem superior e, de repente, surge--nos a ideia de que, como Espíritosencarnados, muitos que viveram,usufruindo ou sendo vítimas do im-pério romano, podem estar aindamantendo algumas tendências ouconsequências, nem sempre mui-to felizes, de tempos distantes. Estepanorama fica evidenciado pelofascínio sucitado pela literatura,peças teatrais e filmes sobre o tema.

A Espiritualidade espera que aDoutrina Espírita seja arauto declarinadas que expressem esperança,

consolo, paz e luz para o mundoconturbado em que vivemos. As-sim, até a antiga sigla romana po-deria ser ressignificada para o no-vo contexto, expressando um au-têntico lema para os compromis-sos da atual etapa reencarnatóriacom vistas ao atendimento de res-ponsabilidades que não foramvalorizadas na fase da dissemina-ção da mensagem cristã.

Com base nas propostas daDoutrina Espírita e no contextode transição para uma Nova Era,das reações individuais aos pla-nos de trabalho para o Movimen-to Espírita, é momento de se faci-litar a expansão de hostes vincu-ladas aos nobres ideais do “Con-solador Prometido”.8

A propósito, podemos reanali-sar a antiga sigla romana e atémanter a ideia de sua propostaoriginal – fundamentada nas vir-

tudes do respeito ao povo –, mas,agora, canalizada para a uniãofraterna dos povos, e resumir comverbos que expressam propostasde ação para um novo significadoda velha sigla: Sentir, Pensar, Que-rer, Renovar!

Para deixar claro: o “sentir”,com base na assertiva do EspíritoWilliam James: “sentir em basesde equilíbrio”;10 o “pensar”, conside-rando a recomendação deste mes-mo autor espiritual: “pensar comelevação”;10 “querer”como uma au-têntica potência da alma, conformeLéon Denis assinala: “É pela vonta-de que dirigimos nossos pensamen-tos para um alvo determinado. [...]

A vontade é a maior de todas aspotências; é, em sua ação, compa-rável ao imã”,11 direcionado a von-tade firme e determinada para obem; “renovar”, considerando queo grande objetivo das existências

31Novembro 2010 • Reformador 444455

Detalhe do piso de mosaico naGalleria Vittorio Emanuele II em Milão

Imag

em r

etira

da d

o si

te:

<http:

//en.

wik

iped

ia.o

rg/w

iki/S

PQR>

atuais é buscar a renovação mentale espiritual, coerente com a men-sagem do Evangelho de Jesus.

Emmanuel alerta claramente:

[...] observa o teu próprio

caminho.

Sentindo, pensas.

Pensando, realizas.

E tudo aquilo que constitui tuas

obras, através das intenções, das

palavras e dos atos, representará

influência de tua alma, auxilian-

do-te a libertação para a glória da

luz ou agravando-te o cativeiro

para o sofrimento nas sombras.

Vigia, pois, o teu mundo íntimo

e faze o bem que puderes, ainda

hoje, porquanto, segundo a sá-

bia conceituação do Apóstolo

Paulo, “ninguém vive para si”.12

O novo compromisso com omundo foi delineado pelo mesmoautor espiritual:

[...] compete a nós outros, par-

tidários do Mestre, a posição de

trabalhadores sinceros, chama-

dos a servir e cooperar na obra

paciente e longa, mas definitiva

e eterna, daquele a quem o Pai

“constituiu herdeiro de tudo, por

quem fez também o mundo”.13

(Grifo nosso.)

Referências:1XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.

Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 15, item

Culpas e resgates dolorosos do homem

espiritual, p. 157.2______.______. Cap. 11, item As guerras

e a maioridade terrestre, p. 123.

3______.______. Cap. 12, A manjedoura,

p. 127. 4______.______. Cap. 11, item A família

romana, p. 123.5CARVALHO, Flávio Rey. Os romances de

Emmanuel e o nosso tempo. In: Reforma-

dor, ano 128, n. 2.177, p. 18(312)-20(314),

ago. 2010.6CARVALHO, Antonio Cesar Perri. Homena-

gem de Emmanuel à Codificação. In: Refor-

mador, ano 125, n. 2.137, p. 39(157)-

-40(158), abr. 2007.7______. Emmanuel e o Império Romano.

In: Revista Internacional de Espiritismo.

p. 257-259, jun. 2007.8JOÃO, In: KARDEC, Allan. O evangelho

segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ri-

beiro. 4. ed. esp. 2. reimp. Rio de Janei-

ro: FEB, 2009. Cap. 6, item 3.9XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.

Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 1.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. In-

trodução, p. 13.10XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.

Entre irmãos de outras terras. Por Diver-

sos Espíritos. 8. ed. 2. reimp. Rio de Ja-

neiro: FEB, 2009. Cap. 5, p. 30.11DENIS, Léon. O problema do ser, do

destino e da dor. 2. reimp. Rio de Janei-

ro: FEB, 2009. Cap. 20, p. 435.12XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo

Espírito Emmanuel. ed. esp. 2. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 154, p. 350.13______. ______. Cap. 148, p. 337.

32 Reformador • Novembro 2010444466

Renovação

Fonte: XAVIER, Francisco C. Correio fraterno. Por diversos Espíritos. 6. ed. Rio deJaneiro: FEB, 2004. Cap. 26.

Quando o espinho buscar-te o coraçãoE puderes dizer – bendito sejas!Quando a pedrada visitar-te o peitoE exclamares – bendita sejas tu!

Quando a prova amargosa e redentoraRequisitar-te a casa ao pranto escuroE lembrares que há sombrasMais terríveis que a tua em muita gente;

Quando inclinares teus ouvidos calmosÀ irritação e à cólera dos outros,Perdoando as ofensas e esquecendo-as;

Quando a dor inspirar-teO canto excelso e doce da esperança;

Então tua alma içada à Luz Celeste,Sob a glória da vida superior,Viverá luminosa e preparadaPara o Reino do Amor...

Rodrigues de Abreu

transição para uma NovaEra está inserida em umPlanejamento Divino. No

caminho podem ocorrer transesfísicos, espirituais, psíquicos, polí-ticos e sociais. A Espiritualidadetem propiciado alertas e orienta-ções continuadas, mas mantendoa tônica do apoio e do consolo.

O Codificador inseriu nas obrasbásicas mensagens espirituais e fezcomentários preciosos sobre o cum-primento da Lei do Progresso.

Mensageiros espirituais prosse-guem até nossos dias a nos oferecerorientações sobre os momentos detransição que estamos vivendo.

Acompanhemos alguns destaquesde assertivas e esclarecimentos ema-nados da Espiritualidade superior.

O Espírito Santo Agostinho, emO Evangelho segundo o Espiritismo,comenta que “o progresso é umadas leis da Natureza. Todos os se-res da Criação, animados e inani-mados, estão submetidos a ele pelabondade de Deus, que deseja quetudo se engrandeça e prospere. Aprópria destruição, que parece aos

homens o termo das coisas, é apenasum meio de se chegar, pela transfor-mação, a um estado mais perfeito,visto que tudo morre para renascere nada sofre o aniquilamento.

Ao mesmo tempo que os seresvivos progridem moralmente, osmundos que eles habitam progri-dem materialmente. [...]” e, “[...]a Terra esteve material e moral-mente num estado inferior ao emque hoje se acha, e atingirá, sobesse duplo aspecto, um grau maiselevado. Ela chegou a um dos seusperíodos de transformação, em que,de mundo expiatório, tornar-se-ámundo regenerador. Os homens,então, serão felizes na Terra, porquenela reinará a lei de Deus”.1

Allan Kardec, em A Gênese, tececonsiderações sobre o tema emdiversos capítulos, sendo oportunaa transcrição das seguintes afirma-ções dos Espíritos:

“O progresso da Humanidade seefetua, pois, em virtude de uma lei.Ora, como todas as leis da Natu-reza são obra da eterna sabedoriae da presciência divina, tudo o que éefeito dessas leis resulta da vontadede Deus, não de uma vontade aci-dental e caprichosa, mas de uma

vontade imutável. Quando, porconseguinte, a Humanidade estámadura para subir um degrau,pode-se dizer que os tempos mar-cados por Deus são chegados, comose pode dizer também que, em talestação, eles chegam para a matu-ração dos frutos e sua colheita.

[...][...] a Humanidade tem realiza-

do incontestáveis progressos. Os ho-mens, com a sua inteligência, che-garam a resultados que jamais ha-viam alcançado, sob o ponto de vis-ta das ciências, das artes e do bem--estar material. Resta-lhes, ainda, umimenso progresso a realizar: fazeremque reinem entre si a caridade, a fra-ternidade e a solidariedade, que lhesassegurem o bem-estar moral. [...]

[...]À agitação dos encarnados e

desencarnados se juntam, por ve-zes e mesmo na maioria das vezes,já que tudo se conjuga, na Nature-za, as perturbações dos elementosfísicos [...].

É no período que ora se iniciaque o Espiritismo florescerá e daráfrutos. É, pois, para o futuro, maisque para o presente, que trabalhais;mas era necessário que esses traba-lhos fossem elaborados previamen-te, porque preparam as vias da rege-

A

A transição e o caminhopara a Nova Era*

*N. da R.: Segundo de uma série de trêsartigos, sobre a mesma temática, elabora-dos pela equipe da Secretaria-Geral doConselho Federativo Nacional da FEB.

33Novembro 2010 • Reformador 444477

neração pela unificação e pela ra-cionalidade das crenças. Felizes osque os aproveitam desde hoje [...]”.2

Em outra parte de A Gênese, oCodificador insere mensagem doEspírito Arago, aliás, muito escla-recedora:

“Num mesmo sistema planetáriotodos os corpos que dele dependemreagem uns sobre os outros; todasas influências físicas aí são solidá-rias, e não há um só dos efeitos, quedesignais sob o nome de grandesperturbações, que não seja a con-sequência da componente das in-fluências de todo esse sistema.

[...]A matéria orgânica não poderia

escapar a essas influências; as per-turbações que ela sofre podem, en-tão, alterar o estado físico dos seresvivos e determinar algumas dessasdoenças que atacam de maneirageral as plantas, os animais e oshomens. Como todos os flagelos,essas doenças são para a inteligên-cia humana um estimulante que a

impele, por necessidade, à procurados meios de as combater, e à des-coberta das leis da Natureza.

[...]Quando se vos diz que a Hu-

manidade chegou a um período detransformação, e que a Terra deveelevar-se na hierarquia dos mundos,não vejais nestas palavras nada demístico, mas, ao contrário, a reali-zação de uma das grandes leis fataisdo Universo, contra as quais se que-bra toda a má vontade humana”.3

Desde as obras psicográficasiniciais de Francisco Cândido Xa-vier, estão presentes os temas so-bre a evolução do planeta e suasnaturais transformações materiaise espirituais.

O autor espiritual Emmanuel, naobra A Caminho da Luz, alerta que“aproxima-se o momento em que seefetuará a aferição de todos os valo-res terrestres para o ressurgimentodas energias criadoras de um mun-do novo [...]”.4 Em outra parte damesma obra, pondera que “nume-rosas transformações são aguar-

dadas e o Espiritismo esclarece oscorações, renovando a personali-dade espiritual das criaturas parao futuro que se aproxima.

[...]Então a Terra, como aquele

mundo longínquo da Capela, ver--se-á livre das entidades endureci-das no mal [...]. Ficarão no mun-do os que puderem compreendera lição do amor e da fraternidadesob a égide de Jesus, cuja miseri-córdia é o verbo de vida e luz, desdeo princípio”.5

Emmanuel também discorre:

“[...] depois da treva surgirá umanova aurora. Luzes consoladorasenvolverão todo o orbe regeneradono batismo do sofrimento. O ho-mem espiritual estará unido aohomem físico para a sua marchagloriosa no Ilimitado, e o Espiritis-mo terá retirado dos seus escom-bros materiais a alma divina dasreligiões, que os homens perverte-ram, ligando-as no abraço acolhe-dor do Cristianismo restaurado.

34 Reformador • Novembro 2010444488

Trabalhemos por Jesus, ainda quea nossa oficina esteja localizada nodeserto das consciências”.6

Já no final da obra Há Dois MilAnos, Emmanuel reproduz impor-tante diálogo que provém do Alto,o qual está relacionado com a etapado ciclo evolutivo em que vivemos:

“Sim! amados meus, porque o diachegará no qual todas as mentirashumanas hão de ser confundidaspela claridade das revelações do céu.Um sopro poderoso de verdade evida varrerá toda a Terra [...].

[...]Trabalharemos com amor, na

oficina dos séculos porvindouros,reorganizaremos todos os ele-mentos destruídos, examinare-mos detidamente todas as ruínasbuscando o material passível denovo aproveitamento e, quandoas instituições terrestres reajusta-rem a sua vida na fraternidade eno bem, na paz e na justiça, de-pois da seleção natural dos Espíri-tos e dentro das convulsões reno-vadoras da vida planetária, orga-nizaremos para o mundo um no-vo ciclo evolutivo, consolidando,com as divinas verdades do Con-solador, os progressos definitivosdo homem espiritual”.7

Sobre esse aspecto, o Espírito Be-zerra de Menezes comenta, em ma-nifestação psicofônica recente, que“Jesus está no leme e os seus arqui-tetos divinos comandam os movi-mentos que lhe produzem altera-ção da massa geológica, enquanto seoperam as transformações morais.

[...]Nos dias atuais, como no passa-

do, amar é ver Deus em nosso pró-ximo; meditar é encontrar Deusem nosso mundo íntimo, a fim deespargir-se a caridade na direçãode todas as criaturas humanas.

Trabalhar, portanto, o mundoíntimo, não temer quaisquer amea-ças de natureza calamitosa atravésdas grandes destruições que fazemparte do progresso e da renova-ção, ou aquelas de dimensão nãomenos significativa na intimidadedoméstica, nos conflitos do senti-mento, demonstrando que a luzdo Cristo brilha em nós e conduz--nos com segurança.

[...]Sejam celebradas e vividas a

crença em Deus, na imortalidade,nas vidas ou existências sucessivas,fazendo que as criaturas deem-seas mãos construindo o mundo deregeneração e de paz pelo qual to-dos anelamos...

[...]Ainda verteremos muito pranto,

ouviremos muitas profecias alar-mantes, mas a Terra sairá desse pro-cesso de transformação mais feliz,mais depurada, com seus filhos di-tosos rumando para mundo supe-rior na escalada evolutiva”.8

Em outra manifestação, a mesmaEntidade espiritual esclarece:

“...Estamos agora em um novoperíodo.

Estes dias assinalam uma datamuito especial, a data da mudançado mundo de provas e expiaçõespara o mundo de regeneração.

A grande noite que se abatiasobre a Terra lentamente deu lu-gar ao amanhecer de bênçãos.

[...]Iniciada a grande transição,

chegaremos ao clímax, e na razãodireta em que o planeta experi-menta as suas mudanças físicas,geológicas, as mudanças moraissão inadiáveis. Que sejamos nósaqueles Espíritos-espíritas que de-monstremos a grandeza do amorde Jesus em nossas vidas”.9

A etapa da transição que ora sevive, sem dúvida, tem o MestreJesus no leme!

Referências:1KARDEC, Allan. O evangelho segundo do

espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezer-

ra. 1. reimp. (atualizada). Rio de Janeiro:

FEB, 2010. Cap. 3, item 19.2______. A gênese. Trad. Evandro Noleto

Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.

18, itens 2, 5, 9.3______. ______. Cap. 18, item 8.4XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.

Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Introdução, p. 13.5______. ______. Cap. 24, item Lutas

renovadoras, p. 250-251.6______. ______. Cap. 25, p. 260. 7______. Há dois mil anos. Pelo Espírito

Emmanuel. 4. ed. esp. 3. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 6, p. 346-

-347.8FRANCO, Divaldo P. Novas responsabili-

dades. Pelo Espírito Bezerra de Menezes.

In: Reformador, ano 128, n. 2.176,

p. 8(262)-9(263), jul. 2010.9______. Momento da gloriosa transição. Pe-

lo Espírito Bezerra de Menezes. In: Reforma-

dor, ano 128, n. 2.175, p. 8(222), jun. 2010.

35Novembro 2010 • Reformador 444499

onsultando o Novo Dicioná-rio Aurélio da Língua Portu-guesa, encontramos os se-

guintes conceitos a respeito de sa-bedoria e de conhecimento: sabe-

doria é grande conheci-mento, erudição, saber,ciência, qualidade de sá-bio, prudência, modera-ção, temperança, sensa-tez, reflexão, conheci-mento justo das coisas,razão, conhecimento ins-pirado nas coisas divinase humanas etc. Conheci-mento é ato ou efeito deconhecer, ideia, noção,informação, notícia, ciên-cia, prática da vida, expe-riência, discernimento,critério, apreciação.

Do exposto perce-bem-se alguns pontoscomuns entre sabedoriae conhecimento, no en-tanto, existem os que fa-zem a diferença e caracterizama verdadeira sabedoria. Desta-camos: prudência, moderação,temperança, sensatez, reflexão,conhecimento justo das coisas,razão, conhecimento inspiradonas coisas divinas e humanas.Estas diferenças nos conduzemà conclusão de que nem sempre

ter profundos conhecimentos éter sabedoria.

São muitos os que se imagi-nam donos da verdade, por se-rem dotados de invejável cabe-dal de conhecimentos, mas con-tinuam de corações vazios devirtudes. Estes, imprudente-mente, transformam o conheci-

Sabedoria econhecimento

C

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João, 8:32.)

F. ALTA M I R DA CU N H A

Personificação da Sabedoria nabiblioteca de Éfeso, atual Turquia

Imag

em r

etira

da d

o si

te:

<http:

//pt.w

ikip

edia

.org

/wik

i/Sab

edor

ia>

36 Reformador • Novembro 2010445500

mento em instrumento de pro-moção pessoal, sem efeito posi-tivo na sua autotransformação.

Sem dúvida, todo conheci-mento é importante, entretanto,há um que é essencial e, por is-so, deveria anteceder a qualqueroutro – o autoconhecimento –,porque com ele identificamos asmazelas morais que ainda exis-tem dentro de nós, convidando--nos à inadiável reforma íntima.

Inútil será conhecermos osefeitos destruidores do egoísmo,se não nos tornamos mais cari-dosos com os nossos semelhan-tes e desprendidos com relaçãoao que possuímos.

Insignificante será conhecer-mos o poder nocivo do orgulho,se não nos tornamos mais humil-des, se continuamos firmes nopropósito dominador e na tirania.

Contraditório será termosciência sobre a ação comprome-tedora da maledicência e conti-nuarmos a transformar nossoverbo em dardo peçonhento,gerando intriga e sofrimento.

Pouco valor terá o exercício doautoconhecimento, identificandoos vícios e fraquezas que obstacu-lizam a nossa evolução e a con-quista da tão almejada felicidade,se não envidamos esforços no sen-tido de eliminá-los dentro de nós.

O homem sábio compreendeque, para atingir o topo de umamontanha, é necessário se sub-meter ao perigo e ao trabalho daescalação. Da mesma forma, en-tende que evoluir é se submeteraos desafios que se apresentamno processo evolutivo.

Há uma parábola budista, queilustra muito bem essa parado-xal atitude dos seres humanos:

Um homem estava fervendo mel

e recebeu a inesperada visita de

um amigo. Ofereceu-lhe mel, e

o visitante aceitou. Mas como o

mel estava muito quente, tentou

esfriá-lo com um abanador, sem,

no entanto, retirá-lo do fogo.

Essa atitude é idêntica à dosindivíduos que anseiam a perfei-ção espiritual sem se libertaremdo fogo destruidor dos vícios; àdos que conhecem a verdade li-bertadora e, no entanto, conti-nuam escravizados às ilusões.

Algumas vezes, demonstramboa vontade, mas não se esforçampara alcançar o bom resultado.Desejam viver o presente, com amente escravizada ao passado.

A vida nos ensina que a sabe-doria somente virá em funçãodo conhecimento quando estenos transforma, tornando-nosmelhores e identificados com osprincípios éticos e morais queregem o Universo.

O homem que conhece a ver-dade e, por meio dela, se tornamais prudente, mais sensato oumais justo, é um sábio, e somen-te então poderá afirmar: Eu co-nheci a verdade e a verdade melibertou.

Desencarnou, subitamente,em Brasília, no dia 30 de se-tembro, o confrade João CuryNasser, aos 74 anos.

No Distrito Federal, junta-mente com sua esposa Nívea,foi fundador da Sociedade deDivulgação de EspiritismoCristão (SODEC), de grupoassistencial em Ceilândia, eeditou durante muitos anos arevista O Espírita. Foi um dospromotores da ida de ChicoXavier ao Congresso Brasilei-ro de Jornalistas e EscritoresEspíritas, em Brasília, no ano

de 1976. Colaborador da FEB,desde os momentos de suaconstrução, sempre apoiou eprestigiou eventos por ela pro-movidos, como todos os con-gressos realizados pela FEB, emBrasília, desde o CongressoInternacional de Espiritismo,em 1989, o 1o Congresso Espí-rita Mundial, em 1995, o 2o e3o Congresso Espírita Brasilei-ro, respectivamente, nos anosde 2007 e 2010.

Ao irmão João Cury Nasser,em seu retorno à Pátria Espiritual,rogamos as bênçãos de Jesus!

João Cury Nasser

Retorno à Pátria Espiritual

37Novembro 2010 • Reformador 445511

e, como nos exortou Jesus,tivermos “olhos de ver” e“ouvidos de ouvir”, estare-

mos aptos a compreender, mais emais, o sentido de nossas vi-das e o objetivo de nossasmúltiplas existências nocorpo físico.

Cada mergulho na carnenos proporciona aprendiza-dos visando nossa melhoria,o que naturalmente acarretaa nossa caminhada na sendado progresso.

Contudo, esses aprendiza-dos – que poderiam se daratravés do cumprimento dasleis divinas –, devido às som-bras que ainda trazemos emnós, exigem métodos peda-gógicos mais marcantes, afim de que nós, alunos nãoraro imersos no mar da re-beldia e do acomodamento,despertemos para a realidadede nós mesmos.

E aí vem a dor, como ele-mento provocador da nossa aten-ção para com a nossa própria ver-dade de criaturas de Deus, filhoscriados por Ele por amor e paraamar! O sofrimento, originado de

nossas próprias escolhas equivo-cadas, traz em si o chamamentodirecionado à reflexão íntima doquanto ainda infringimos as leis

divinas e do quanto são tristes asconsequências dessa infração.

Imprescindível se faz, portanto,que, confiantes nas soberanas jus-tiça e bondade de nosso Pai, enten-

damos a dor como um instrumentode correção de nossos caminhostortuosos, desviados do bem e dafraternidade geral, a qual tem a fina-

lidade educadora de incenti-var-nos a encetar, sem esmo-recimento, a mandatória re-forma íntima tão ensinada eaconselhada por Jesus e porseus enviados de luz.

Estejamos atentos para nãopermitir que o veneno da re-volta e do desespero nos in-vada a alma, ensombrecendonosso raciocínio com as teiasnegativas e destruidoras domedo e da angústia...

Confiemos em Deus e faça-mos a nossa parte, recordandoo conselho do Mestre quan-do nos disse: “Pedi, e dar-se--vos-á; buscai e encontrareis;batei, e abrir-se-vos-á”.1

Desse modo, irão flores-cendo, em nossa mente e emnosso coração, o respeito e ahumildade, a solidariedade e

a compreensão, a mansidão e a mi-sericórdia, e tantas outras “virtudes

SIVO N E MO L I NA RO GH I G G I N O

Despertamentoe aprendizado

1MATEUS, 7:7. Rio de Janeiro: EditoraSociedades Bíblicas Unidas, 1941.

38 Reformador • Novembro 2010445522

do céu” (como dizem muitos que-ridos benfeitores do Plano Maior),sempre cultivando a fé raciocina-da, produtora da certeza de quedepende de nós abreviarmos onosso sofrer, através de nossa au-têntica mudança interior.

Imaginemos um bloco de már-more, frio, sem formas apuradas,distante de tudo que possa represen-tar movimento, crescimento, pro-gresso... Assim parece, ao menos!

Lá dentro, todavia, em sua essên-cia, palpita a luz que um dia ex-travasará limitações grosseiras,também embelezará o Universo,participando, como estrela, de be-las constelações!...

Só quem sabe é o Artista Divino!Ele, com sua sabedoria suprema,

habilmente faz uso do cinzel, des-bastando o mármore bruto.

Com total maestria, conhecen-do os pontos fracos do material aser trabalhado, desfere-lhe golpes,aparentemente duros, que retiramcrostas e lâminas prejudiciais ànova e definitiva forma!

A cada golpe, a dor, gerando aaprendizagem...

A cada dificuldade, mais cari-nho ao aplicar a correção educa-tiva para a obtenção do resultadoalmejado...

Então, com o passar dos evos,na roda bendita das reencarna-ções, o mármore – antes disforme– sob a visão misericordiosa doPai, vai se transformando, adqui-rindo paulatinamente a figura daarte verdadeira, onde a essência seexpande rumo ao destino do serque, com fé e trabalho, se direcio-na para a angelitude!

Louvemos, pois, irmãos, o nossoceleste escultor, senhor da vida, etambém a capacidade de cada umde nós de, em face dos golpes domágico cinzel, irmos nos educan-do e assimilando a nossa respon-sabilidade ante o Pai, ante nossos

irmãos, e ante nós mesmos, e, por-tanto, ante a Vida!...

Que o Mestre Jesus, sob cujaégide atuamos e aprendemos aquina Terra, nos acompanhe em nossostrajetos de evolução, envolvendo--nos em seu amor!

39Novembro 2010 • Reformador 445533

Mais além

André Luiz

Não basta que sua boca esteja perfumada. É imprescindível quepermaneça incapaz de ferir.

•É importante que suas mãos se mostrem limpas. É essencial, no

entanto, verificar o que fazem.•

Bons ouvidos são, certamente, um tesouro. A Justiça Divina,porém, desejará saber como você ouve.

•Excelente visão é qualidade louvável. Todavia, é interessante

notar como você está vendo a vida.•

Possuir saúde física é reter valioso dom. Mas é necessário consi-derar o que faz você do corpo sadio.

•Raciocínio claro é virtude. Entretanto é imperioso observar em

que zona mental está você raciocinando.•

Bela imaginação é trazer consigo maravilhoso castelo. Convémreparar, porém, com que imagens você povoa o seu palácio interior.

•Grande emotividade é característico de riqueza íntima, Contudo,

é preciso saber como gasta você as emoções.•

Possibilidades de produzir intensamente são recursos preciosos.No entanto, é imprescindível conhecer a substância daquilo quevocê produz.

•Capacidade de prosseguir, vida afora, lepidamente, é uma bên-

ção. Não se esqueça, todavia, da direção que seus pés vão tomandoatravés dos caminhos.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Agenda cristã. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 22.

belo texto do EspíritoHumberto de Campos,inserido no livro Boa No-

va, fala por si só a respeito dequem foi e como viveu Joana de Cusa, uma das mulheres pie-dosas do Evangelho.

Livro, aliás, que humanizaJesus e cada uma das persona-gens que se apresentam ao lon-go dos 30 capítulos, todos ricosde beleza e de reflexões para anossa vida cotidiana. Não setrata apenas de uma obra plenade sensibilidade e citações his-tóricas sob o prisma espírita,mas de páginas repletas de estí-mulos diretos à modificação denossos hábitos.

O capítulo dedicado a esta per-sonagem do Cristianismo primi-tivo é muito significativo, pois assi-nala didaticamente como Joanaera, as qualidades que já possuía,sendo esposa e senhora de um larconstituído pela presença de algu-mas servas, e como ficou após ocontato direto com Jesus.

Humberto de Campos cita-anovamente, em outro capítulodesse mesmo livro, quando retra-ta o diálogo entre Pedro e Jesusem torno da dificuldade encon-trada pelo discípulo em entendero modo como Deus nos atendepor meio da oração.

Nessa apresentação que é feitasobre sua vida, percebemos que

o autor espiritual faz questão dedestacar três grandes virtudesque ela possuía:

• Rara dedicação.• Nobre caráter.• Verdadeira fé.

Apesar dessa formosa tríade dequalidades, Joana não conseguia su-portar a angústia de ver em seu ma-rido, o intendente Cusa, o descasocom o Evangelho e com certos deve-res morais. Além disso, ele se dividiaentre agrados aos romanos e aos ju-deus, no intuito de obter considera-ção e recursos com tal expediente.

Vivendo grandes e incessantesconflitos, resolve ir ao encontro

OCE Z A R BR AG A SA I D

Joana de Cusa

Ruínas de Cafarnaum, cidade ondeJoana de Cusa se encontrou com Jesus

40 Reformador • Novembro 2010445544

do Mestre, de modo a ter comEle um diálogo mais íntimo, emque pudesse recolher uma dire-triz direta e segura para essa re-lação difícil e desgastante com omarido.

O diálogo transcorre rico dereflexões em razão das coisas queJesus lhe diz e a faz ponderar, ten-do em vista, possivelmente, suasnecessidades reencarnatórias.

O fato é que, após este memo-rável contato ocorrido em casade Simão Pedro, das meditaçõese estudos que passou a fazer emtorno dos ensinamentos evangé-licos, não apenas convencendo--se, mas também evangelizan-do-se, Joana desenvolveu e man-teve, ao longo daquela existên-cia, mesmo depois que o maridodesencarnou, a seguinte postura:

• Fixou o lado bom do compa-nheiro.

• Divisou em todos os laboresuma luz oculta e sagrada.

• Aprendeu o que podia apren-der com suas dores.

• Dedicou-se aos filhos deoutras mães.

• Ocupou-se com afazeres su-balternos para que o filhotivesse pão.

• Soube manter-se serena eresignada.

• Permaneceu corajosa e fiel,apesar de todos os revesesque lhe chegaram.

Não foram poucas as mudan-ças que Joana promoveu em si,nem menores as lutas que teve de

sustentar a fim de permanecer fielà causa do Evangelho Divino.

É por isso mesmo que num ou-tro diálogo, novamente com Pe-dro, e inserido no capítulo “A mu-lher e a ressurreição”, (op. cit., p.184), Jesus, ante a dificuldade de o apóstolo entender o tratamen-to que dispensava às mulheres de um modo geral, esclarece so-bre o quanto a condição femininaprecisava ser respeitada, afirman-

do que “[...] será ainda à mulherque buscaremos confiar a missãomais sublime na construção evan-gélica dentro dos corações, no su-premo esforço de iluminar omundo”.

Não é à toa que em milhares delares e centros espíritas, espalha-dos pelo Brasil e pelo mundo, exis-tem mulheres formidáveis que, noanonimato de seus esforços, cola-boram para que o Espiritismo se-ja estudado e divulgado em toda asua plenitude.

Embora o mundo atual nãocomporte mais arenas com ferasesfaimadas, nem fogueiras comoaquelas que se acenderam nos cir-cos romanos, debatemo-nos, dia-riamente, em nossas arenas íntimascom as feras simbólicas de tudoquanto ainda não transformamosem nosso coração. São as nossaspendências emocionais, projeçãomuitas vezes do egoísmo e do orgulho que ainda carregamos.

O legado de Joana de Cusa éum estímulo permanente paraque todos nós, homens e mulheresespíritas, envidemos nossos esfor-ços em prol de um mundo me-lhor, mesmo que à custa de sa-crifícios diários, silenciosos mui-tas vezes, mas contando semprecom o auxílio incondicional doMestre amoroso, que nos exortaa perseverar com fidelidade ealegria em nossas múltiplas tare-fas, até o fim.

Bibliografia:XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espí-

rito Humberto de Campos. 3. ed. esp. 4.

reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 15.

Envidemos

nossos

esforços

em prol de

um mundo

melhor

41Novembro 2010 • Reformador 445555

42 Reformador • Novembro 2010445566

Goiás: Encontro de Trabalhadores EspíritasNo dia 12 de setembro, a cidade de Pires do Rio sediouo 9o CONLESTE, encontro de trabalhadores voluntá-rios das casas espíritas que integram a Comissão Regio-nal Leste da Federação Espírita do Estado de Goiás.Foram convidados coordenadores das diversas ativi-dades desenvolvidas nos centros espíritas. O eventoocorreu na sede da FIME – Formação Integrada paraMenores. Informações: <www.feego.org.br>.

FEB: Fórum Nacional de Assistência SocialA Federação Espírita Brasileira foi reeleita, no dia 17de setembro, para continuar compondo a Coorde-nação Política do Fórum Nacional de AssistênciaSocial (FNAS), com mandato de dois anos. A FEB érepresentada por Clodoaldo de Lima Leite. No eventoocorreram várias mesas de debates. Informações:<[email protected]>.

Distrito Federal: Encontro e AssociaçãoJurídica

No dia 19 de setembro foi realizada, na FederaçãoEspírita do Distrito Federal, a segunda parte doseminário “Aspectos Jurídicos do Centro Espírita”,com Ricardo Silva, colaborador da Secretaria-Geraldo CFN. Na ocasião, foi também fundada a Asso-ciação Jurídico-Espírita do Distrito Federal (AJE-DF),que tem por objetivos o aperfeiçoamento profis-sional, espiritual e moral dos operadores do direito,a cooperação com o Movimento de Unificação doMovimento Jurídico-Espírita no Distrito Federale a assessoria e consultoria preventiva às institui-ções espíritas do Distrito Federal. Informações:<[email protected]>.

Sergipe: Jovem e seus conflitosO 5o Encontro de Juventude Espírita de Sergipe envol-veu os jovens participantes em torno da abordagemdo tema “O jovem e seus conflitos”. Foi realizadono Auditório da Federação Espírita do Estado deSergipe, em Aracaju, nos dias 23 e 24 de outubro.Informações: <www.fees.org.br>.

Rio de Janeiro: ESDE e Kardec“Casa Espírita: espaço de convivência ou de segregação?”foi o tema com que o Conselho Espírita do Estado do Riode Janeiro realizou o IV Encontro Estadual do ESDE,no dia 18 de setembro, em sua sede, no Rio de Janeiro.O Encontro contou com a transmissão pela TVCEERJem parceria com a TVCEI. No dia 1o de outubro oCEERJ promoveu palestra de José Raul Teixeira pelapassagem da data de nascimento de Allan Kardec.Informações: <www.ceerj.org.br>.

Alagoas: Grupo Espírita CentenárioO Grupo Espírita Erasto, de Maceió (AL), completou100 anos de funcionamento promovendo evento de 1o

a 29 de outubro, com o tema central: “100 Anos deEspiritismo com Jesus e Kardec” e destacando “Jesus– Seus Ensinos – Conceito para uma Vida Nova”.Houve apresentação do Coral da Universidade Fede-ral de Alagoas e palestras por Augusto Padilha, ElianeRosa, Luiz Pereira, Maria Joseline e Ricardo Santos.

Minas Gerais: Cinquentenário de CentroEspírita

O Grupo Espírita André Luiz (GEAL), de Belo Hori-zonte, completou 50 anos de existência, promovendoos seguintes eventos nos dias 23 e 29 de outubro: sarauespírita, feira do livro espírita, e palestras por: ÉversonRamos, Haroldo Dutra Dias, Hélio de Melo, WagnerGomes da Paixão e Walkíria Campos.

Taubaté (SP): I Simpósio de Saúde eEspiritualidade

A Associação Médico-Espírita de São Paulo realizouno dia 9 de outubro, no Anfiteatro do Departamentode Ciências Jurídicas, em Taubaté, o “I Simpósio deSaúde e Espiritualidade do Vale do Paraíba”. O eventoteve o apoio da Universidade de Taubaté, da AME-SPe do Departamento Científico Benedito Monte Negro.Foram realizados estudos sobre Medicina e Espiritua-lidade e uma mesa-redonda com representantes dossegmentos católico, evangélico e espírita. Informações:<[email protected]>.

Seara Espírita