reforma da previdência: análise da pec 287/2016 - cláudio puty (ufpa)

35
Quão acuradas são as projeções financeiras e atuariais do Regime Geral da Previdência Social? Rio de Janeiro, IBRE, 20/02/2017 Cláudio Castelo Branco Puty Faculdade de Economia - Universidade Federal do Pará Laboratório de Tecnologias Sociais - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica

Upload: fgv-fundacao-getulio-vargas

Post on 21-Jan-2018

120 views

Category:

Economy & Finance


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Quão acuradas são as projeções financeiras e atuariais do Regime

Geral da Previdência Social?Rio de Janeiro, IBRE, 20/02/2017

Cláudio Castelo Branco Puty

Faculdade de Economia - Universidade Federal do Pará

Laboratório de Tecnologias Sociais - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica

Page 2: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

1. Desempenho das Projeções de Resultado do RGPS

2. O Modelo utilizado para as projeções

3. Limites do Modelo

Page 3: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)
Page 4: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

As projeções de resultados do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), assim como as projeções demográficas calculadas pelo IBGE, conformam o conjunto mais importante de previsões

estatísticas de longo prazo produzidas e divulgadas pelo governo brasileiro

Page 5: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Reformas incrementais do RGPS e RPPS são rotineiras desde 1991A partir da sanção das leis 8.212 e 8.213 de 1991

• Nos últimos 18 anos, tivemos uma série de reformas previdenciárias de diferentes envergaduras, cujo objeto foi tanto o regime geral quanto do regime próprio dos servidores públicos federais.

• As mais importantes sendo as Emenda Constitucionais nº 20/98, 41/2003, 47/2005, 70/2012, mas também vale mencionar a lei 12.618/12 que cria o Funpresp, e a lei 13134/15 que trata, dentre outras medidas, das alterações no seguro defeso do pescador artesanal.

Page 6: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Transparência nos dados é fundamental

É de se esperar que os termos do debate sejam acessíveis ao maior número de pessoas, particularmente para o congresso nacional e representações dos trabalhadores, os maiores interessados.

Page 7: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Em busca de transparência: A Lei de Responsabilidade Fiscal e o Anexo IV da LDO

A Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deve apresentar um Anexo de Metas Fiscais onde conste uma avaliação da situação financeira dos regimes geral e próprio da previdência social (artigo 4º, parágrafo 2º, inciso III da lei complementar no. 101 de 2000)

Page 8: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

• É notável o baixo grau de transparência dos métodos utilizados na projeção dos resultados previdenciários. • O modelo descrito no Anexo IV não é replicável, por estar incompleto. Não

há, por outro lado, nenhum outro documento oficial que o descreva, na sua forma original, ou nas alterações que supostamente sofreu durante essa década e meia de existência do anexo IV.

• Ano após ano, não há processo de (auto)avaliação da qualidade das projeções. Cada LDO apresenta novas projeções, sem fazer qualquer menção aos exercícios de anos anteriores.

• Não há nenhuma normativa oficial em todo governo federal que defina os parâmetros oficiais, base de dados e métodos específicos para projeções de tamanha importância, cuja divulgação pauta boa parte do debate acerca do tema.

Page 9: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Avaliação das Projeções da LDO

Page 10: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Um exercício simples:

Comparação entre o resultado previdenciário projetado e o

realizado

Page 11: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Diferenças entre despesa projetada e realizada (LDO 2002-16)

-R$275

-R$250

-R$225

-R$200

-R$175

-R$150

-R$125

-R$100

-R$75

-R$50

-R$25

R$02 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 2 0 1 7

ERR

O N

A D

ESP

ESA

(B

ILH

ÕES

)

2012 2013 2014 2015

Page 12: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Diferenças entre despesa projetada e realizada (LDO 2002-16)

-R$275

-R$250

-R$225

-R$200

-R$175

-R$150

-R$125

-R$100

-R$75

-R$50

-R$25

R$0

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

ERR

O N

A D

ESP

ESA

(B

ILH

ÕES

)

2012 2013 2014 2015

Page 13: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Diferenças entre receita projetada e realizada (LDO 2002-16)

-R$225

-R$200

-R$175

-R$150

-R$125

-R$100

-R$75

-R$50

-R$25

R$0

R$25

R$50

R$75

2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 2 0 1 7

ERR

O N

A R

ECEI

TA (

BIL

ES)

2012 2013 2014 2015

Page 14: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Diferenças entre receita projetada e realizada (LDO 2002-16)

-R$225

-R$200

-R$175

-R$150

-R$125

-R$100

-R$75

-R$50

-R$25

R$0

R$25

R$50

R$75

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

ERR

O N

A R

ECEI

TA (

BIL

ES)

2012 2013 2014 2015

Page 15: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)
Page 16: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Erro de projeção da necessidade de financiamento do RGPS (LDO 2002-16)

-R$80

-R$70

-R$60

-R$50

-R$40

-R$30

-R$20

-R$10

R$0

R$10

R$20

R$30

R$40

2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 2 0 1 7

ERR

O (

BIL

ES)

2012 2013 2014 2015

Page 17: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Erro de projeção da necessidade de financiamento do RGPS (LDO 2002-16)

-R$80

-R$70

-R$60

-R$50

-R$40

-R$30

-R$20

-R$10

R$0

R$10

R$20

R$30

R$40

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

ERR

O (

BIL

ES)

2012 2013 2014 2015

Page 18: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

As projeções do governo não são bem sucedidas• Projeções são sistematicamente viesadas no curto prazo e

apresentam erros consideráveis que as tornam indeterminadas no longo prazo

• os modelos de projeção têm caráter estatístico, mas seus resultados são sempre apresentados sem menção a margem de erro de previsão, como se fossem determinísticos

• Não há avaliação institucional da eficácia dos modelos de projeção, os resultados publicados na LDO são informalmente revistos, sem conhecimento do público interessado e impactado pela decisões orientadas por tais modelos.

Page 19: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Intervalos de Confiança - PIB

Page 20: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Intervalos de Confiança – Receita RGPS

Page 21: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Intervalos de Confiança - Despesa

Page 22: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Intervalos de Confiança – Necessidade de Financiamento RGPS

Page 23: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Como são feitas as projeções previdenciárias: o modelo

Page 24: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Três “módulos”: demográfico, receitas e despesas

1- Módulo Demográfico

• O módulo demográfico do modelo é utilizado para calcular tanto receitas quanto despesas.

• A partir de dados demográficos são calculadas probabilidades de entrada e saída do sistema e a quantidade de contribuintes.

• Este módulo nos dá as quantidades do modelo, para distintos tipos de benefícios.

Page 25: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Módulo Demográfico

As entradas do módulo são:

• População;

• A Taxa de urbanização;

• A Taxa de participação;

• A Taxa de desemprego.

As saídas:

Empregados urbanos e rurais (aqueles com carteiras de trabalho assinadas)

Page 26: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Módulo de Receita

A partir daí podemos, então, calcular a receita. Para tal, necessitaremos dos preços, cujas entradas são variáveis do mercado de trabalho e previdenciárias:• O salário médio;• As alíquotas previdenciárias

Como resultado, teremos:• Contribuições• Receitas

Page 27: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Módulo de Despesas

Este módulo tem por objetivo calcular a quantidade de benefícios concedidos (entradas), cessados (saídas) e estoques para as espécies de benefícios utilizados no modelo. Todas os cálculos possuem um ano base ou ano de referência a partir do qual são feitas as projeções até 2060. Em seguida são calculadas as projeções de despesas baseadas nos estoques estimados.

Entradas:

Parâmetros previdenciários (idade mínima, teto, piso, fator previdenciário e outros)

Probabilidades de um empregado entrar em benefício;

Probabilidades de um benefício acabar (morte do beneficiário);

Valor médio dos benefícios por tipo calculado em cima do salário médio;

Saídas:

Número de concessões de benefícios;

Estoque de benefícios;

Despesa com benefícios.

Page 28: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Algumas limitações do Modelo

Uma maneira de se observar o erro de previsão seria decompô-lo em variáveis

Demográficas,

Econômicas (mercado de trabalho) e

Previdenciárias

Page 29: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Pop(u,r)=f(popTotal, txUrb)

Emp(u,r)=f(pop(u.r), TxPFT(u.r),Desemp(u,r)

Olhando para o lado da receita por exemplo, as quantidades são definidas como:

Cont(u,r)=f(Emp(u.r), SalMedio(u,r), Alíquota)

Page 30: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

• Ao lermos atentamente as LDOS, notamos que pelo menos as suas últimas oito versões (a partir de 2010) trabalham com o valor fixo (valores calculados na PNAD de 2009) das taxa de urbanização, taxa de participação na força de trabalho (masculina, feminina, urbana e rural) e desemprego e salário médio.

• Ou seja, na prática, o conjunto de equações colapsa, o que torna a projeção uma simples função basicamente dependente dos movimentos da população total, independente da dinâmica do mercado de trabalho nos anos referidos.

• Cont(u,r)=f(popTotal)

• Esse fato é confirmado pela observação das planilhas usadas pelo então Ministério da Previdência, que as tem constantes a partir de 2009

• Esse pressuposto está em conflito com a realidade do mercado de trabalho brasileiro

Page 31: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Contribuintes/População em Idade Ativa

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Co

ntr

ibu

inte

s/P

IA

Idade

Homens

2009 2014

Page 32: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Contribuintes/População em Idade Ativa

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Co

ntr

ibu

inte

s/P

IA

Idade

Mulheres

2009 2014

Page 33: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Contribuintes/População em Idade Ativa

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

Co

ntr

ibu

inte

s/P

IA

Idade

Total

2009 2014

Page 34: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Conclusões

• Falta transparência nas projeções de resultado previdenciário.

• Grave viés na estimativas do governo brasileiro no longo prazo: não raramente subestimação de receitas e superestimação de déficit, vinculadas às condições econômicas de curto prazo.

• Problemas podem advir de tratamento de variáveis demográficas, de mercado de trabalho e previdenciárias. As evidências mais fortes indicam viés na modelagem do mercado de trabalho (inclusive produtividade)

• Dados indisponíveis não permitem avaliação dos resultados do 85/95.

Page 35: Reforma da Previdência: análise da PEC 287/2016 - Cláudio Puty (UFPA)

Conclusões (cont.)

• Projeções demográfico-atuarias, sabemos, não podem ser absolutamente acuradas.

• As projeções de longo prazo são realizadas pelo governo brasileiro e conformam um conjunto de decisões de relevância estratégica para o país

• Seus limites têm que ser mais claramente explicitados e o uso de técnicas mais recentes de projeção e construção de cenários devem ser a base para um sistema de apoio à tomada de decisão mais robusto e confiável.