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REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTERIO DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS HUMANOS “REFORÇO INSTITUCIONAL DA SECRETARIA DE ESTADO PARA OS DIREITOS HUMANOS DE ANGOLA E DOS SEUS PARCEIROS ESTRATÉGICOS

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“REFORÇO INSTITUCIONAL DA SECRETARIA DE ESTADO PARA OS DIREITOS HUMANOS DE ANGOLA E DOS SEUS PARCEIROS ESTRATÉGICOS

REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTERIO DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS HUMANOS

“REFORÇO INSTITUCIONAL DA SECRETARIA DE ESTADO PARA OS DIREITOS HUMANOS DE ANGOLA E

DOS SEUS PARCEIROS ESTRATÉGICOS

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

1

Conteudo 0.Acrónimos ............................................................................................................................................ 2

1.- Introdução .......................................................................................................................................... 4

1.1 Objectivos da avaliação ........................................................................................................... 4

1.2 Descrição do projecto .............................................................................................................. 5

1.3 Metodologia ............................................................................................................................ 7

1.4. ....................................................................................................................................................... 9

Condicionantes e limitações ................................................................................................................ 9

2.- Actuações avaliadas e contexto ....................................................................................................... 10

2.1 Contexto Geral ............................................................................................................................ 10

2.2 Contexto específico (em matéria de DH) .................................................................................... 12

2.3. Apresentação inicial do projecto e evolução ............................................................................. 14

3. - Resultados ....................................................................................................................................... 15

3.1Pertinência ................................................................................................................................... 15

3.2 Cobertura .................................................................................................................................... 16

3.3 Eficácia ......................................................................................................................................... 18

3.4 Eficiência ...................................................................................................................................... 31

3.5 Impacto ........................................................................................................................................ 33

3.6 Sustentabilidade/viabilidade ....................................................................................................... 36

4. Conclusões ......................................................................................................................................... 37

5. Lições aprendidas .............................................................................................................................. 38

6. Recomendações ................................................................................................................................ 39

Anexos ................................................................................................................................................... 41

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

2

0.Acrónimos

ACNUR: Alto Comissariado da Nações Unidas para os Refugiados

AECID: Agencia Española de Cooperación Internacional al Desarrollo

CACS: Conselhos de Concertação e Auscultação social

CCDH: Comité de Coordinación de los Derechos Humanos

CONGA: Comité das Organizações Não Governamentais Angolanas

DH: Direitos Humanos

ENEDH: Estratégia Nacional de Educação em Direitos Humanos

FONGA: Federação das Organizações Não Governamentais Angolanas

IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

INAC: Instituto Nacional da Criança

INEJ: Instituto Nacional de Estudos Judiciários

MAT: Ministério da Administração do Território

MED: Ministério da Educação

MINAGRI: Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural

MINAMBIENT: Ministério do Ambiente

MINARS: Ministério da Assistência e Reinserção Social

MINCONS: Ministério da Construção

MINEC: Ministério da Economia

MINFAMU: Ministério da Família e Promoção da Mulher

MININT: Ministério do Interior

MJDH: Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos

MINPESCA: Ministério das Pescas

MINSA: Ministério da Saúde

MIREX: Ministério das Relações Exteriores

OSC: Organizações da Sociedade Civil

OTC: Oficina Técnica de Cooperación

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

3

PMA: Programa Mundial de Alimentos

SADC: Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

SEDH: Secretaria de Estado para os Direitos Humanos

UA: União Africana

UNICEF: Fundo de ONU para a Criança

UPR: Revisão Periódica Universal

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

4

1.- Introdução Neste documento apresentam-se os resultados da avaliação final de carácter externo

realizada ao projecto assinado entre a Agência Espanhola de Cooperação

Internacional para o Desenvolvimento (AECID) e a Secretaria de Estado para os

Direitos Humanos (SEDH), pertencente ao Ministério da Justiça e dos Direitos

Humanos do Governo de Angola, denominado “Reforço Institucional da Secretaria

de Estado para os Direitos Humanos e dos seus parceiros estratégicos” (Expediente

nº 2060/11).

1.1 Objectivos da avaliação

A partir de um diagnóstico factual e argumentado determinou-se:

O nível de progresso das diferentes actividades empreendidas;

O grau de consecução do objectivo geral e resultados esperados;

As conclusões e recomendações, pragmáticas e realistas, para a continuação

do projecto uma vez finalizada a ajuda;

Planificação de reajustes caso sejam necessários.

Os critérios de avaliação prioritários foram:

Viabilidade: avaliação da continuidade no tempo dos efeitos positivos

gerados pela intervenção uma vez retirada a ajuda.

Eficácia: grau de alcance dos objectivos inicialmente previstos.

Eficiência: avaliação dos resultados atingidos em função dos recursos

utilizados.

Cobertura: As actividades do projecto adequaram-se às necessidades dos

beneficiários?

Pertinência: adequação dos resultados e dos objectivos da intervenção ao

contexto onde se realiza.

Impacto: Efeitos gerados pelo projecto: positivos, negativos e/ou colaterais

ou inesperados.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

5

Sustentabilidade/viabilidade: Refere-se à valoração da continuidade no

tempo dos efeitos positivos gerados pela/com a intervenção uma vez retirada

a ajuda; está vinculada ao processo de apropriação do projecto por parte dos

receptores.

1.2 Descrição do projecto

O projecto aqui avaliado foi assinado no ano 2011, dentro do Projecto de Cooperação

financiado pela AECID e implementado pela Secretaria de Estado para os Direitos

Humanos – Ministério de Justiça e dos Direitos Humanos em Angola. Este

estabeleceu uma duração inicial de 24 meses, sendo posteriormente reformulado e

prolongando-se até Dezembro do 2014.

Na primeira formulação do projecto estabelecia-se um objectivo geral e um

específico. Quanto ao objectivo geral, este consistia em “garantir a difusão e

promoção e protecção dos DH em Angola”, no entanto o objectivo específico era o

“Fortalecimento Institucional da SEDH e dos seus parceiros estratégicos”. Para atingir

estes objectivos fixaram-se uns resultados concretos:

- Estratégia Nacional de Educação em DH (ENEDH) elaborada e apoiado o

processo de aprovação;

- Fortalecidas as capacidades institucionais da SEDH;

- Fortalecidas as capacidades das instituições estatais e das OSC parceiras da

SEDH;

- Promovida uma cultura dos DH.

Após a reformulação, o objectivo geral e específico manteve-se, assim como também

os resultados esperados. No entanto, a actividades a desenvolver foram modificadas,

focalizando a sua atenção naquelas que ajudem ao fortalecimento das capacidades

da SEDH e os seus parceiros estratégicos.

Por conseguinte, os resultados e actividades para cada um dos resultados esperados

foram os seguintes:

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

6

RESULTADOS ACTIVIDADES

Resultado 1.1: Estrategia Nacional de

Educación en DDHH (ENEDH) eleborada, e

apioado o processso de aprovação

A.1.1.3. Elaborada a proposta de ENEDH para

ser apresentada al Conselho de Ministros

A.1.1.4. Apoio no processo de aprovação da

ENEDH (elaboração e reprodução de

materiais, encontros para debate público)

Resultado 1.2. Fortalecidas as capacidades

institucionais da SEDH

A.1.2.3. Implementação do plano de

formação

A.1.2.4. Identificação e assistência a foros

temáticos internacionais com a apresentação

de propostas

R.1.3. Fortalecidas as capacidades das

instituções estatais e das OSC parceiras da

SEDH

A.1.3.3. Implementação dos planos de

formação

R.1.4. Promovida uma Cultura dos DDHH

A.1.4.3. Mesas redondas sobre os DDHH com

pos parceiros da SEDH (em Luanda e nas

províncias)

A.1.4.4. Elaboração de vários materiais de

difusão (flyers, spots, documentais...)

Contudo, antes de realizar a formulação foram realizadas algumas actividades para

atingir os objectivos estabelecidos. Entre estas, podemos citar as seguintes:

RESULTADOS ACTIVIDADES

Resultado 1.1: Estrategia Nacional de

Educación en DDHH (ENEDH) eleborada, e

apioado o processso de aprovação

A 1.1.1 Criação do grupo de trabalho para a

elaboração da ENEDH (SEDH, Ministérios

parceiros, OSC angolanas)

A.1.1.2 Elaboração do plano de

desenvolvimento e cronograma de trabalho

para elaboração da ENEDH

Resultado 1.2. Fortalecidas as capacidades

institucionais da SEDH

A 1.2.1 Elaboração de um diagnóstico de

necessidades de capacitação para o

fortalecimento institucional interno da SEDH

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

7

(2 semanas).

A 1.2.2 Elaboração do plano de formação

R.1.3. Fortalecidas as capacidades das

instituções estatais e das OSC parceiras da

SEDH

A 1.3.1 Diagnóstico de necessidades

formativas das instituições públicas e OSC

A.1.3.2 Elaboração Dos planes de formação

R.1.4. Promovida uma Cultura dos DDHH

A 1.4.1 Elaboração de diagnostico de linhas

de atuação

A 1.4.2 Realização de 1 Foro Temático para

analise e discussão de estratégias de difusão

e promoção dos DH (Seminário DH em

Universidade, julho 2013)

A equipa avaliadora considera que na reformulação do projecto se deveria ter

incluído numa única matriz os resultados com todas e cada uma das actividades

previstas. Contudo, na reformulação só figuravam as actividades da primeira tabela

aqui apresentada.

1.3 . Metodologia

Para adoptar um enfoque metodológico para a realização adequada de uma proposta

e a sua posterior execução, tiveram-se em conta, de uma forma transversal, as

seguintes características:

Qualidade dos procedimentos seleccionados;

Transparência e clareza na elaboração dos documentos de referência;

Igualdade no tratamento a todos os níveis dos actores envolvidos na prática

avaliadora;

Imparcialidade da equipa avaliadora com os demais actores;

Eficiência e rapidez para favorecer o impacto e a utilidade dos resultados do

estudo, para uma futura intervenção;

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

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Confidencialidade como princípio regulador que se propõe na gestão da

informação e nos resultados do estudo.

Previam-se as seguintes ferramentas:

a) Uma revisão documental a fundo dos documentos e relatórios disponíveis,

facilitados pela Assistência técnica do Projecto:

- Formulação do projecto

- Proposta de reformulação do projecto

- Actas da Comissão de Seguimento do Projecto

- Relatório do Encontro apresentação do rascunho de Estratégia

de Educação em Direitos Humanos

- Rascunho da Estratégia de Educação em Direitos Humanos

(2013)

- Documento preliminar da Estratégia de Educação em Direitos

Humanos (2014)

- Relatório dos Encontros Bilaterais MJDH/GEA e outras

instituições

- Actas dos Encontros de Grupo de Trabalho e o seu regulamento

- Diagnóstico de Necessidades de Formação dos Quadros técnicos

da Secretária de Estado para os Direitos Humanos. Proposta de

formações

- Programa de Curso de Formação

- Relatórios de Formação (dos quatro módulos de formação)

- Presença dos assistentes a Cursos de Formação

- Mesas redondas efectuadas

- Relatórios da anterior Assistência técnica

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

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- Convénio de Cooperação entre o Ministério de Justiça e dos

Direitos Humanos e a Fundação da Universidade Autónoma de

Madrid.

b) Trabalho de campo.

a. Entrevistas com informadores chave. Sendo:

Assistentes Técnicos do projecto.

- Pessoal técnico e directivo em sede da organização

responsável pela assistência técnica (Grupo de Estudos

Africanos)

- Pessoal expatriado em Angola

- Antiga assistente técnica do projecto (Laura Llapart)

Secretaria de Estado para os Direitos Humanos:

- Directora da Direcção Nacional dos Direitos Humanos /

coordenadora do projecto

- Técnicos da SEDH beneficiários das formações

Gabinete Técnico da Cooperação Espanhola em Luanda (OTC)

- Pessoal técnico

- Coordenador Geral

b. Observação e organização de grupos focais.

Grupo focal a parceiros estratégicos governamentais da SEDH

Grupo focal a parceiros estratégicos da OSC da SEDH

c. Análise e recolha de indicadores chave que permitiram o controlo e a

execução do projecto

1.4. Condicionantes e limitações

Durante o processo de avaliação algumas limitações foram encontradas no que diz

respeito a metodologia apresentada. De todas formas não se considera que a

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

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ausência destes aspectos tenha tido um impacto significativo na avaliação. Assim as

principais limitações encontradas foram as seguintes:

- A medição da eficácia esta limitada pela validez dos indicadores, nos que

observam-se algumas deficiências comentadas de forma mais estendida no

capitulo de eficácia (págs. 17-29). Em resumo: (a) abundância de indicadores

de resultado que só medem a realização de actividades, em detrimento de

outros que informem sobre os efeitos das mesmas na comunidade receptora;

(b) ausência de linhas de base.

- Em termos de entrevistas, não foi possível entrevistar à coordenadora do GEA

em Madrid, Itziar Ruiz-Giménez Arrieta, por questão de agenda.

- Embora estava planificada a realização de um grupo focal com os parceiros

governamentais da SEDH, a este encontro tão só assistiu o representante do

Ministério de Interior. Por outra parte, também estava planificado um grupo

focal com os parceiros da OSC da SEDH que também não se levou a cabo por

incompatibilidade de agenda. Finalmente realizou-se uma entrevista conjunta

com o representante da ONG Mosaiko e com o representante do Conselho de

Direitos Humanos.

- Finalmente, dentro da lista de documentação a analisar, não foi possível obter

algumas das fontes de verificação (ver apartado de eficácia).

2.- Actuações avaliadas e contexto

2.1 Contexto Geral

A República de Angola encontra-se em África Ocidental, limitada ao norte pela

República Democrática do Congo e Congo, ao sudeste por Zâmbia e ao sul por

Namíbia. Tem uma área total de 1.246.700 km2 (convertendo-se no país número 23

em extensão a nível mundial), com aproximadamente 1.300 km de costa.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

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A população estimada é de 21.470.000 pessoas1 (para o ano 2014), onde o 4.02% é

menor de 5 anos. As estimações para o ano 2012 (últimas disponíveis) situam a

Angola com as seguintes taxas de crescimento populacional2. A taxa de crescimento

anual da população para o período 1990-2012 era do 3.2%, estimando-se que seja do

2,9% para o período 2012-2030. A maior parte da população reside em centros

urbanos, considerando que um 60% da população reside em zonas urbanas. Quanto à

taxa de crescimento da população urbana, até o 2012, esta estava situada por volta

do 5.4%, no entanto as estimativas até o ano 2030 se reduzem até o 3.7%. Esta hiper-

população urbana é consequência do êxodo desde as zonas rurais entre os anos 1975

e 2002, lapso no que os habitantes do interior do país tentavam fugir da guerra civil

que sacudiu o país durante quase 30 anos.

Pode-se dizer que Angola é um dos países com maiores desigualdades em todo o

continente africano. Por uma parte, a sua capital (Luanda) é uma das cidades mais

caras do mundo, e por outra, o coeficiente de desigualdade humana3é de 46.2. Além

disto, apresenta um elevado grau de pobreza, existindo mais de 8 milhões de pessoas

a viver com menos de 1.25$ ao dia.

Dois indicadores que nos podem aportar informação acerca do desenvolvimento e a

desigualdade em Angola são o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Índice

de Gini. O IDH é, a data do 2013, do 0.526, ocupando o posto 149 (mantendo a

mesma posição com respeito ao ano 2012). Por sua parte, o Índice de Gini4 para

Angola é de 42.66 para o ano 20095 (último dado disponível).

1http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/AGO

2http://www.unicef.org/spanish/infobycountry/angola_statistics.html

3O Coeficiente de Desigualdade Humana é a desigualdade promédio em saúde, educação e receitas.

4O índice de Gini mede até que ponto a distribuição das receitas (ou, nalguns casos, o gasto de consumo) entre

indivíduos ou lares dentro de uma economia se afasta de uma distribuição perfeitamente equitativa. Um índice de Gini 0 representa uma equidade perfeita, no entanto um índice de 100 representa uma inequidade perfeita. 5http://databank.worldbank.org/data/views/variableselection/selectvariables.aspx?source=poverty-and-

inequality-database

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

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2.2 Contexto específico (em matéria de DH)

No referente à matéria dos DH, deve-se observar a trajectória histórica do país, e

atende-la de forma longitudinal. Desta forma, após uma longa guerra civil de mais de

um quarto de século de duração, conseguiu-se o acesso a um Estado democrático e

de Direito. No 2008 celebram-se as “primeiras” eleições legislativas após o Acordo de

Paz e no 2010 entra em vigor a Constituição Angolana. A lei Fundamental angolana

recolhe no seu Título II os direitos e deveres fundamentais, e prevê-se a protecção

dos Direitos Humanos ao reconhecer a aplicabilidade directa da Declaração Universal

dos Direitos Humanos, a Carta Africana de Direitos e dos Povos, e os Pactos dos

Direitos Civis, Políticos, assim como também o Pacto dos Direitos Económicos, Sociais

e Culturais.

Porém, Angola é membro do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas

desde o ano 2007, membro da União Africana (UA) e da Comunidade de

Desenvolvimento da África Austral (SADC), formando parte destas comissões de

Promoção da Paz e do Desenvolvimento.

A incorporação do Estado angolano como membro do Conselho de Direitos Humanos

das Nações Unidas veio acompanhada da aceitação de certos compromissos.

Concomitantemente, o Governo de Angola realizou entre o 2008 e o 2010 um

diagnóstico sobre a situação dos DH em Angola, manifestando principalmente as

seguintes preocupações: (a) Desconhecimento das normas de Direitos Humanos e da

legislação, (b) Difícil relação entre os órgãos responsáveis pela administração da

Justiça e aplicação da Ley-polícia-cidadão, (c) Efectivação do direito a saúde,

educação, acesso a terra e a habitação por parte da cidadania, (d)Algumas limitações

no exercício do direito a manifestação, associação, imprensa e acesso á informação e

a justiça.

No 2010 Angola submeteu-se ao mecanismo de Revisão Periódica Universal (UPR) no

que foram apresentados os informes de progresso elaborados por Angola, pelas

Agencias das ONU com presença no país e outro elaborado pelas OSC angolanas.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

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Com base nesta revisão periódica (UPR)6, os estados membros do Conselho

formularam um conjunto de recomendações que Angola aceitou em grande parte,

entre as que se podem citar a necessidade de ratificar alguns tratados internacionais

de DH, sua adaptação na legislação interna, a criação de mecanismos de promoção e

de protecção dos DH, o reforço do sistema judicial, combate da pobreza, criação de

legislação para combater o tráfico de seres humanos, garantir o livre acesso à

informação, a liberdade de expressão e de imprensa. Assim, o reconhecimento de

organizações dedicadas à protecção dos DDHH, garantir um sistema de segurança

social e sanidade pública ou o direito a uma vivenda digna.

No 2011 criou-se a Secretaria de Estado para os Direitos Humanos (SEDH7) cujas

atribuições são:

- Assegurar o respeito pelos direitos humanos em todo território nacional.

- Promover o respeito pelos direitos humanos nos diversos domínios.

- Garantir o intercâmbio entre a Secretaria de Estado e demais organismos que

intervêm na protecção dos direitos políticos, económicos e sociais dos

cidadãos.

- Criar mecanismos de controlo das políticas traçadas para o exercício da

protecção dos direitos humanos.

- Acompanhar a observância do respeito pelos direitos humanos.

- Propor medidas de prevenção da violação dos princípios fundamentais dos

direitos do homem.

- Efectuar estudos visando o aperfeiçoamento dos órgãos que intervêm na

observância e respeito pelos direitos humanos.

- Realizar as demais atribuições estabelecidas por lei.

Assim, torna-se pertinente o apoio à difusão, promoção e protecção dos DH em

Angola, com especial atenção a educação em DH a nível nacional e ao fortalecimento

6 Veja-se http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G10/125/30/PDF/G1012530.pdf?OpenElement

7 Antes de 2011 existia um organismo dedicado aos DH, mas não como Secretaria de Estado, senão como

Ministério sem pasta.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

14

institucional e da sociedade civil. Junto com isto, a SEDH também está levando a cabo

a “Campanha de Educação por uma Cultura dos Direitos Humanos”.

2.3. Apresentação inicial do projecto e evolução

Este projecto configurou-se a partir da concessão de uma subvenção de cooperação

internacional plurianual com expediente nº 2060/11, na qual a AECID se

comprometia ao financiamento do mesmo, tomando como ponto de referência o

Plano Director da Cooperação Espanhola 2009-2013. Este Plano estabelecia como

prioridade horizontal a governabilidade democrática e promoção dos DDHH, e como

objectivo específico a prioridade sectorial de Governabilidade democrática, o

fortalecimento na segurança pública, a promoção do acesso à justiça e os DDHH.

O beneficiário da subvenção foi o Governo de Angola, através da Secretaria de Estado

de Direitos Humanos (SEDH), ascendendo a quantia total a 346.500€. A finalidade da

subvenção outorgada foi a de financiar o projecto “Fortalecimento das capacidades

institucionais da SEDH e os seus sócios estratégicos”, sendo o seu objectivo último a

garantia da difusão, promoção e protecção dos DDHH em Angola.

A duração deste projecto estava fixada em 24 meses, tendo prevista a sua finalização

em Dezembro do 2013. No entanto, e devido a circunstâncias excepcionais que

apareceram durante o desenvolvimento do projecto, solicitou-se um prolongamento

do mesmo pelas vias pertinentes e regulamentadas. A solicitação do prolongamento

foi mediante escrito com data 4 de Dezembro do 2013. Esta solicitação veio

justificada pela necessidade de ampliar a execução devido especialmente ao facto de

coincidir temporalmente com as eleições legislativas do 2012. No comité de

seguimento do projecto decidiu-se deter as actividades durante o período pré-

eleitoral já que isto podia-se entender como um acto contrário aos princípios

democráticos, à lealdade democrática para com o resto de partidos políticos, e a

legalidade vigente. Além disso, surgiram alguns imprevistos como foi a mudança da

assistente técnica ou o câmbio na estrutura orgânica à que pertencia a SEDH: antes

das eleições dependia da mesma presidência do governo, passando depois das

eleições para a estrutura do Ministério de Justiça e Direitos Humanos.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

15

Em virtude do alegado pela entidade beneficiária, o Director da Cooperação

Espanhola com África e Ásia, acorda a concessão da ampliação do prazo de execução

solicitada até o 31 de Dezembro de 2014, sendo assinada esta resolução com data 24

de Janeiro do 2014.

Ao mesmo tempo que se concedeu a prolongação da execução deste projecto

reformulou-se a estratégia a seguir. Embora se manteve o objectivo geral e

específico, assim como os resultados esperados e indicadores, decidiu-se dar

prioridade a aquelas actividades consideradas como mais importante pelas partes

responsáveis do projecto.

3. - Resultados

3.1Pertinência

Adequação dos resultados e objectivos ao contexto no que se desenvolve o projecto.

No contexto geral e específico apresentado, parece evidente a pertinência da posta

em funcionamento deste projecto, entendendo por pertinência a adequação dos

resultados e objectivos do mesmo com o contexto no que se leva a cabo. Angola, país

que sofreu uma longa guerra durante quase trinta anos, precisa de uma promoção e

protecção dos DH, assim como uma difusão dos mesmos entre a população em geral.

Os comícios do ano 2008, a aprovação da Constituição no 2010 e o conteúdo da

mesma marcam uma base para a luta a favor dos DH. Isto reforça a ideia de

idoneidade e pertinência do projecto aqui avaliado.

Além disto, a admissão do Estado angolano como membro do Conselho de Direitos

Humanos das Nações Unidas veio acompanhada da aceitação de certos

compromissos, entre os quais se encontram especialmente:

- Melhorar a participação das ONG como um importante e positivo elemento de

diálogo no âmbito dos trabalhos do Conselho,

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

16

- Promover uma melhor compreensão e respeito pelos Direitos sociais,

económicos e culturais e a formação da sociedade civil no acompanhamento

dos direitos de base com programas de desenvolvimento, especialmente os

estratégicos de luta contra a pobreza,

- Formação dos agentes da Policia em DH,

- Integração dos DDHH nos planos curriculares a nível nacional,

- Alocar recursos governamentais adequados para os DH, comissões e outros

mecanismos responsáveis pela promoção e protecção dos DH.

Angola era (e é) consciente de algumas preocupações em matéria de DH como são:

- Desconhecimento das normas de Direitos Humanos e da legislação,

- Difícil relação entre os órgãos responsáveis pela administração da Justiça e

aplicação da Ley-polícia-cidadão,

- Efectivação do direito a saúde, educação, acesso a terra e a habitação por

parte da cidadania,

- Algumas limitações no exercício do direito a manifestação, associação,

imprensa e acesso á informação e a justiça.

Esta consciência da problemática em matéria de DH conduz a afirmar-se na

necessidade da pertinência deste projecto, que não só parte da SEDH, senão também

das opiniões e recomendações sugeridas desde outras partes como organismos

internacionais, OSC e a população em geral. Contudo, todas as partes intervenientes

estimam a necessidade de aprofundar no arraigo da cultura dos DH, assim como na

sua protecção e difusão.

3.2 Cobertura

As actividades do projecto adequaram-se às necessidades dos beneficiários?

A cobertura centra-se na análise dos colectivos beneficiários e se as actuações

realizadas foram adequadas aos mesmo. Neste aspecto, há que ser prudentes para

determinar as relações de causa-efeito e detectar se se apresentaram desvios de

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

17

qualquer tipo ou barreira para o cumprimento deste princípio reitor. Deve-se

recordar que existem três colectivos beneficiários deste projecto como são os

membros da SEDH, os seus parceiros estratégicos, e por último, a população em

geral.

Quanto à SEDH, é evidente que se cumpriu com este critério, já que se conseguiu

atingir uma melhora na capacidade institucional do pessoal da SEDH; foram formados

amplamente em matéria de DDHH durante 135 horas. Além disso, e graças à

metodologia participativa e prática na formação, os funcionários da SEDH

conseguiram que todo o conhecimento se transforme em aplicabilidade imediata no

desempenho do posto de trabalho.

Se atendemos ao resto de parceiros estratégicos, devemos diferenciar entre os

participantes de instituições governamentais e participantes da OSC. No caso dos

primeiros detecta-se uma maior cobertura. No caso dos representantes da sociedade

civil (ver apartado 3.4 Eficácia), detectamos uma baixa participação dos mesmos.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

18

3.3 Eficácia

Mede e valora o grau de logro dos objectivos inicialmente previstos e o seu

cumprimento tomando como referência os indicadores estabelecidos na matriz de

planificação.

Actividades:

Após a consulta das fontes documentais e as entrevistas realizadas a informantes

chave pode-se considerar como atingido o objectivo inicialmente previsto neste

resultado. O documento ENEDH já está finalizado, faltando só a aprovação do

Ministro competente e o traslado definitivo ao Conselho de Ministros onde deve ser

aprovado.

R.1.1. Estratégia Nacional de Educação (ENEDH) elaborada e apoiado o processo

de aprovação.

Indicadores:

- ENEDH elaborada pelo Grupo de Trabalho e apresentada para aprovação

no Conselho de Ministros.

- Realizada a difusão do primeiro documento da ENEDH e criado debate

público.

Actividades:

- A 1.1.1 Criação do grupo de trabalho para a elaboração da ENEDH (SEDH,

Ministérios parceiros, OSC angolanas)

- A.1.1.2 Elaboração do plano de desenvolvimento e cronograma de trabalho

para elaboração da ENEDH

- Actividade 1.1.3: Elaborada a proposta da ENEDH para ser apresentada a

Conselho de Ministros.

- Actividade 1.1.4: Apoio de aprovação da ENEDH (elaboração e reprodução

de materiais, encontros para o debate público).

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

19

Quanto aos indicadores, teria sido desejável uma formulação diferente dos mesmos.

O resultado não parece corresponder com os dois indicadores estabelecidos. Em

relação ao primeiro indicador, estabelece-se como “medidor” o facto de que se

elabore o documento da ENEDH pelo grupo de trabalho (embora finalmente este

documento foi elaborado pela consultoria contratada). Ao respeito, deve-se dizer que

este indicador é mais bem uma actividade. No caso do segundo indicador, este faz

referência a uma difusão da ENEDH. Estabelece-se um objectivo claro, mas não

guarda correspondência alguma com o conteúdo do resultado (observe-se uma

leitura literal deste).

Entrando já nas actividades próprias do resultado 1 (“Elaborada a proposta da ENEDH

para ser apresentada a Conselho de Ministros”) podemos dizer que estas foram

realizadas uma vez que a ENEDH está elaborada e pronta para poder ser

apresentada. No entanto, o desenvolvimento desta actividade não esteve isenta de

obstáculos. Uma das principais dificuldades foi poder congregar ao Grupo de

Trabalho e que estes pudessem dedicar-se em conjunto à elaboração do documento.

Segundo vários informantes chave, esta foi uma limitação importante à hora de

atingir um resultado óptimo e uma qualidade suficiente no documento. Como

consequência disto, decidiu-se apostar pela contratação de uma assistência técnica

para a redacção da ENEDH. Esta assistência foi realizada pelo Grupo de Estudos

Africanos (GEA), adscrito à Universidade Autónoma de Madrid (UAM-Espanha). Pese

embora a contratação da AT para a redacção da ENEDH (GEA), pode-se dizer que o

Grupo de Trabalho constituiu-se cumprindo-se assim a primeira das actividades

previstas (A.1.1.1. Criação do grupo de trabalho para a elaboração da ENEDH (SEDH,

Ministérios parceiros, OSC angolanas). É importante sublinhar que também se

cumpriu a segunda actividades prevista “Elaboração do plano de desenvolvimento e

cronograma de trabalho para elaboração da ENEDH”.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

20

O pessoal da assistência contratada esteve formado por duas consultoras vindas ex

profeso do GEA e uma outra AT destinada permanentemente na SEDH com sede no

Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos. Em conjunto, e como primeiro passo a

realizar, elaboraram-se uma série de encontros bilaterais com diferentes actores

chave para adquirir conhecimento de primeira mão dos pontos fortes e deveis, assim

como também recolher os principais obstáculos aos que se enfrentavam e as

recomendações mais pertinentes. Entre as instituições participantes nestes

encontros podemos citar ao Instituto Nacional de Estudos Judiciários (INEJ),

Ministério do Interior (MINTIN), ACNUR, Ministério da Saúde (MINSA), UNICEF,

Ministério da Educação e a Ordem dos Advogados de Angola. Pese embora foram

solicitados encontros com outras instituições, estas não puderam estar presentes por

motivos de agenda. A partir de toda a informação recolhida pelo pessoal desta

consultoria, não só dos encontros bilaterais, senão de uma multidão de fontes

documentais, começou-se a redacção da ENEDH. Para a elaboração do primeiro

rascunho foram empregues 6meses; uma vez realizado, este foi levado a debate

entre os parceiros estratégicos com uma elevada participação. Neste encontro

participaram 26 pessoas representantes dos diferentes ministérios parceiros e da

OSC8. Realizou-se uma análise FOFA Geral e por sectores, cuja finalidade era

completar um bom diagnóstico de necessidades para ter maior fundamento à hora

de propor linhas de acção e actividade concretas.

Deste encontro tiraram-se várias conclusões de grande interesse, como por exemplo,

que o sector principal onde se deviam centrar as principais actividades era o sector

educativo, especialmente no ensino superior, seguido do ensino secundário e

primário. Por outra parte incidiu-se na necessidade de incluir os sectores não formais,

8Participaram concretamente: Ministério de Interior (2 pessoas), Ministério de Justiça e Direitos Humanos (6

pessoas), Instituto Nacional da Criança (1 pessoa), Ministério de Saúde (1 pessoa), Ministério de Educação (1 pessoa), Ministério de Ambiente (2 pessoas), Ministério de Assistência e Reinserção Social (1 pessoa), Ministério de Economia (1 pessoa), Ministério de Ensino Superior (1 pessoa), Ministério das Pescas (1 pessoa); Ministério da Família e Promoção da Mulher (1 pessoa), Ministério de Planeamento e Administração e Administração Territorial (1 pessoa); por parte de la OSC, participaram, ACJ (FONGA), LIDDHA (FONGA), Conselho de Coordenação para os Direitos Humanos (3 pessoas), Plataforma de Mulheres en Acção (1 pessoa), e la Federação Nacional de Autoridades Tradicionais de Angola (1 pessoa).

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

21

rurais e tradicionais. Vale a pena insistir que toda esta actividade foi muito

interactiva, o que contribuiu, segundo manifestaram alguns informantes chave, ao

empoderamento e participação na Estratégia de Educação em Direitos Humanos

(ENEDH). Neste sentido, é importante sublinhar o facto de que tanto a assistência

técnica como os participantes no grupo de trabalho manifestou a importância de que

o documento final fosse difundido em todo o território nacional e que estivesse

aberto à participação de todos os sectores e províncias.

Em conclusão, o documento final já está completado; prevê-se que a semana anterior

ao encerramento do projecto se faça a difusão e troca de impressões com os

Conselhos Provinciais de DH. Isto servirá para introduzir, se for necessário, alguma

modificação final no documento definitivo, antes da aprovação pelo Conselho de

Ministros.

No que se refere à actividade 1.1.4 (“Apoio no processo de aprovação da ENEDH -

elaboração e reprodução de materiais, encontros para o debate público -”), na data

de encerramento desta avaliação (12 de Dezembro de 2014), esta actividade ainda

não foi realizada. No entanto, está prevista a sua apresentação para o debate

público, concretamente num seminário entre os dias 16 e 18 deste mesmo mês. A

apresentação terá lugar com os diferentes Comités Provinciais de Direitos Humanos,

podendo comprovar por parte da equipa avaliadora a existência dos diferentes

convites a autoridades para participar neste acto. Nesta apresentação, fazer-se-á a

entrega de cópias da ENEDH, assim como outros materiais que fazem parte de outras

actividades previstas neste projecto (ver actividade 1.4.4). Embora na data de

encerramento desta avaliação o grau de execução desta actividade é nulo, tudo faz

pensar que a actividade vai ser realizada antes da finalização do projecto.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

22

Igual que no resultado anterior, seria desejável contar com indicadores claramente

medíveis e com fontes de verificação objectivamente verificáveis. No entanto, e com

base nas entrevistas realizadas e a documentação consultada podemos dizer que o

resultado previsto foi atingido.

A seguir realizamos algumas considerações sobre os indicadores deste resultado:

Resultado 1.2. Fortalecidas as capacidades institucionais da SEDH.

Indicadores:

- Elaborado o diagnóstico de necessidades formativas da SEDH e elaborado o

plano de implementação das formações.

- 70% do pessoal da SEDH formados nas diferentes áreas identificadas no

diagnóstico.

- Cada uma das áreas competência da SEDH conta com pessoal qualificado

em DH para desenvolver as suas funções.

- As propostas feitas pelo pessoal da SEDH em fóruns nacionais e

internacionais são consideradas nas atas e documentos finais dos fóruns.

Pelo menos uma em cada fórum.

Actividades:

- A 1.2.1 Elaboração de um diagnóstico de necessidades de capacitação para

o fortalecimento institucional interno da SEDH (2 semanas).

- A 1.2.2 Elaboração do plano de formação.

- A.1.2.3 Implementação do plano de formação.

- A.1.2.4 Identificação e assistência a foros temáticos internacionais e

presentação de propostas.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

23

O primeiro indicador apresentado, “Elaborado o diagnóstico de necessidades

formativas da SEDH e elaborado o plano de implementação das formações”,

na realidade é uma actividade pelo que tão só se pode dizer se foi ou não

realizada.

O segundo indicador “70% do pessoal da SEDH formados nas diferentes áreas

identificadas no diagnóstico”, deveria ser mais concreto e explícito,

determinando que se entende por pessoal da SEDH (pessoal técnico ou todos

os funcionários da SEDH incluindo pessoal administrativo e de base). Após

algumas entrevistas pudemos determinar que o pessoal a quem faz referência

este indicador é o técnico, embora não fique claro na redacção do mesmo.

Em terceiro lugar, aparece como indicador “Cada uma das áreas competência

da SEDH conta com pessoal qualificado em DH para desenvolver as suas

funções”. Observa-se que o indicador não estabelece que se entende por

pessoal qualificado para desenvolver as suas funções. Entendemos que neste

caso pessoal qualificado é aquele que passou pela formação, no entanto deve-

se afinar mais esta questão, sendo este um indicador fácil e não sempre

realista.

Por último, encontramo-nos com o quarto indicador “As propostas feitas pelo pessoal

da SEDH em fóruns nacionais e internacionais são consideradas nas actas e

documentos finais dos fóruns. Pelo menos uma em cada fórum”. Neste caso a

medição do indicador é muito complicado, principalmente pela carência de fontes de

verificação. No que se refere às três primeiras actividades deste resultado (A 1.2.1

“Elaboração de um diagnostico de necessidades de capacitação para o fortalecimento

institucional interno da SEDH (2 semanas)”, A 1.2.2 “Elaboração do plano de

formação”,A.1.2.3: “Implementação do plano de formação”), pode-se afirmar que

esta foi realizada, cumprindo-se os passos necessários para levar a cabo a

implementação de um plano formativo. Houve limitações quanto a sua pronta posta

em marcha. Inicialmente estava previsto que fosse a Fundação IEPALA (Espanha) a

encarregada de implementar esta actividade realizou um diagnóstico de

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

24

necessidades e elaborou o desenho do plano que serviu para a redacção dos termos

de referência para licitar o plano de implementação. No entanto, e devido a diversos

factores alheios ao projecto, esta organização não foi a executora. Finalmente,

decidiu-se implementar directamente, a partir da própria secretaria, e com o apoio

da AT e do GEA, com quem previamente se havia assinado o convénio. Este elaborou

um novo plano formativo que contava de quatro seminários, com um total de 135

horas. Contactou-se com pessoal docente do GEA e com outros docentes externos a

esta instituição. Uma vez contactados os docentes realizaram-se contratos individuais

para ministrar os seminários programados, sempre com a aprovação dos

responsáveis do projecto.

Os quatro seminários foram celebrados nos meses de Março, Maio, Junho-Julho e

Setembro e tiveram, entre outros alunos, a participação de 9 membros da SEDH9.

Pode-se concluir que a SEDH conta com pessoal qualificado para o desempenho das

suas actividades no seio da Secretaria. O pessoal desta manifestou, que após

participar na formação, encontram-se mais qualificados e capacitados em matéria de

DDHH, reconhecendo que os conhecimentos adquiridos estão a ser de grande

utilidade no seu trabalho do dia-a-dia.

Quanto à quarta actividade programada deste segundo resultado (A.1.2.4

“Identificação e assistência a foros temáticos internacionais e apresentação de

propostas”) devemos assinalar que a equipa avaliadora não teve acesso a nenhuma

fonte de verificação das previstas na matriz de planificação. No entanto, pudemos

constatar a partir das entrevistas a informantes chave, e dos relatórios anuais da

DNDH que os membros da SEDH cumpriram com esta actividade. Destacamos a

assistência da SEDH I Foro Mundial de DH, celebrado em Brasil, em 2013, assim como

a participação na organização da Comissão Africana de DDHH e dos Povos, celebrada

na sua 55º sessão ordinária em Luanda, nas datas do 28 de Abril ao 12 de Maio do

2014. Pelo tanto, confirmamos que a SEDH assistiu e participou em seminários

9 No total participaram na formação 11membros do Ministério de Justiça e DH.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

25

internacionais, graças à informação recolhida a partir dos entrevistados/as e pelos

relatórios anuais da DNDH.

Este resultado está ligado directamente ao anterior já que a formação que se

ministrou para o pessoal técnico da SEDH foi a mesma que para os parceiros

estratégicos das outras instituições estatais e da OSC.

Consideramos que as capacidades das Instituições estatais e das OSC parceiras da

SEDH foram fortalecidas, pese embora seja muito difícil determinar o grau com base

nos indicadores marcados. Por outra parte podemos dizer que o fortalecimento não

foi simétrico, quer dizer, as instituições governamentais tiveram um número maior

de participantes que os membros da sociedade civil.

R.1.3. Fortalecidas as capacidades das instituições estatais e das OSC parceiras

da SEDH.

Indicadores:

70% das instituições governamentais e das OSC parceiras com 2

pessoas formadas no marco do projecto

50% das instituições públicas envolvidas integram Enfoque baseado

Direitos (EbD) nas políticas e estratégias

As OSC parceiras da SEDH fazem propostas as instituições do governo

para que integrem o EbD nas suas políticas sectoriais

Actividades:

- A 1.3.1 Diagnóstico de necessidades formativas das instituições públicas e

OSC

- A.1.3.2 Elaboração Dos planos de formação

- A.1.3.3.Implementação dos planos de formação

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

26

Os indicadores carecem de qualidade para poder serem utilizados como instrumento

para valorar em que grau se atingiu o resultado esperado. Pese a isto, e tal como

acontece no resultado anterior, pode-se fazer uma valoração respeito ao

cumprimento da mesma. Deve-se sublinhar que nesta formação participou pessoal

de instituições governamentais e de organizações da sociedade civil, tal e como

constam nas fontes de verificação consultadas pela equipa avaliadora.

Quanto aos indicadores:

O primeiro indicador “70% das instituições governamentais e das OSC

parceiras com 2 pessoas formadas no marco do Projecto” é medível, ao

fixar-se uma percentagem e determinar o número de pessoas em cada

uma das instituições. No entanto, para uma abordagem mais precisa seria

necessário determinar que instituições governamentais e da OSC estavam

previstos inicialmente para, a seguir, comprovar quem assistiu finalmente

à formação vendo assim reforçadas as suas capacidades através do plano

formativo.

“50% das instituições públicas envolvidas integram Enfoque baseado em

Direitos (EbD) nas políticas e estratégias”. Não podemos dizer que este

indicador seja válido, entre outras coisas porque na documentação não

existe nenhuma explicação sobre o EbD. Além disso, também não se indica

a que se refere com “políticas e estratégias” e como se articularia isto. Por

último, o facto de determinar uma percentagem (50%) não nos indica

realmente o objectivo do indicador, já que estabelecer uma percentagem

serve para fixar uns mínimos que atingir sempre e quando esteja claro o

objecto sobre o que deve recair a acção e resultados.

“As OSC parceiras da SEDH fazem propostas as instituições do governo

para que integrem o EbD nas suas políticas sectoriais”. Igual que no caso

anterior, este indicador é muito complicado de medir, sendo necessária

uma maior precisão do mesmo

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

27

Na execução deste resultado foram realizadas todas as actividades previstas (A 1.3.1

“Diagnóstico de necessidades formativas das instituições públicas e OSC”, “A.1.3.2

Elaboração Dos planes de formação”, A.1.3.3.”Implementação dos planos de

formação”)

Devemos acudir ao explicado no resultado 1.2, já que a formação foi a mesmas para

o pessoal da SEDH que para os seus parceiros estratégicos. Só cabe acrescentar as

diferencias quanto às previsões iniciais de participação dos parceiros estratégicos e

os que finalmente estiveram presentes nos seminários formativos.

No que se refere às instituições governamentais, foram convidados a maior parte dos

ministérios do governo angolano. Pode-se concluir que todos os ministérios

estiveram presentes nalguma das fases do projecto, bem em grupos de trabalho ou

em qualquer outra actividade. Se olhamos exclusivamente no plano formativo, foram

beneficiários desta formação os seguintes: 3 pessoas do MININT, 2 do MINARS, 2 do

MIMFAMU, 1 do MED, 1 do MIREX, 1 do MINADERP, 1 do MINEC, 2 do MICONS, 1 do

MAT, 1 do MINSA, 1 do MINAMBIENT, 1 do MINPESCA, 1 do INAC, y 2 do Ministério

do Ensino Superior.

Quanto aos membros da OSC, devemos dizer que inicialmente foram convidadas as

seguintes organizações: Conselho das Igrejas Cristãs em Angola, Conselho da

Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé, do Fórum das

Organizações Não-Governamentais Angolanas, Conselho do Comité das Organizações

Não-Governamentais em Angola, do Federação Angolana de Pessoas portadoras de

Deficiência, Representante do Comité das Organizações Não Governamentais

Angolanas – CONGA. No entanto, muitas desta não estiveram presentesou não

corresponderam ao convite que lhes foi feito. Finalmente participaram na formação:

2 pessoas do PMA, 2 do CCDH, 2 de FONGA e 1 de Mosaiko.

Após várias entrevistas com informantes chave, todos eles manifestaram que se

encontram altamente satisfeitos com a formação recebida. Sublinham como

elemento mais positivo a realização de casos práticos, embora gostariam ter mais da

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

28

realidade angolana ou africana. Como elemento menos positivo foi a língua utilizada

para ministrar as aulas. Embora a proximidade linguística entre o português e o

espanhol é muita, não todo o mundo conseguiu perceber o 100% do exposto10.

Acreditam que a sua capacidade em matéria de DH foi reforçada e que o aprendido

está a ser de utilidade no seu trabalho diário, daí que aproveitassem o encontro

coma equipa avaliadora deste projecto para demandar mais actividades formativas

no futuro.

Este quarto e último resultado, também se pode dizer que foi alcançado. Desta forma

afirmamos que ao longo do projecto se promoveu uma cultura dos DH, ainda que

valorar em que medida é muito mais complicado e custoso de realizar. Não só pelos

10

No entanto, para facilitar a compreensão dos formandos, a presentação dos power points foi feita em língua portuguesa.

R.1.4. Promovida uma cultura de DH.

Indicadores:

Denuncias apresentadas ante a Provedoria da Justiça reúnem

componentes em DH

Spots e debates radiofónicos

Documentário

Spots e debates na televisão

Mesas redondas realizadas

Actividades:

- Mesas redondas sobre os DH com os parceiros da SEDH (em Luanda e nas

províncias)

- Elaboração de vários materiais de difusão (flyers, spots, documentários...)

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

29

indicadores estabelecidos, senão também pelo facto de que, em linhas gerais, a

medição de algo tão “abstracto” como a cultura dos DH é algo muito difícil de levar a

cabo.

Se prestamos atenção aos indicadores estabelecidos para o logro deste resultado,

poderemos observar que nos encontramos ante actividades e não indicadores. A

seguir fazemos uma breve análise de cada um deles.

“Denúncias apresentadas ante a Provedoria da Justiça reúnem

componentes em DH”. A formulação do indicador não é correcta. Falta por

determinar quem é o que deve apresentar as denúncias, assim como o nº

de denúncias realizadas, sempre partindo de uma linha de base. Por

último, não existe uma fonte de verificação concreta que nos permita

comprovar o nº de denúncias.

“Spots e debates radiofónicos”. Neste caso não foram estabelecidos

critérios quantificáveis ou de tipo quantitativo para saber qual seria o grau

de execução desejada.

“Documentários”. Embora nos encontramos com um indicador com as

características dos anteriores, neste caso temos constância que foi

realizado um documentário sobre os DH.

“Spots e debates na televisão”. Idem. Sem fonte de verificação

“Mesas redondas realizadas”. Idem, mas com fontes de verificação.

Quanto às actividades podemos confirmar que se elaborou um diagnóstico das linhas

de actuação a seguir (“A.14.1 Elaboração de diagnóstico de linhas de actuação”) bem

como a realização de um foro temático: concretamente, realizou-se um Seminário de

DH na Universidade, em Julho de 2013.

Por outro lado (e dentro das actividades previstas) celebraram-se duas mesas

redondas: uma delas sobre o direito a saúde e mulher, celebrada em Luanda em

Julho do 2014. Nesta mesa participaram a SEDH, a cooperação espanhola, um

representante do MINSA, um representante da sociedade civil; além disso, contou

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

30

com a presença de um representante do Fórum de Mulheres Jornalistas, e com um

representante da FNUAP. A outra mesa redonda foi celebrada com o tema “A mulher

rural”, em Julho de 2014 com a participação da SEDH, a Cooperação Espanhola, um

representante do MINFAMU e da FAO, assim como representantes da sociedade civil.

Como fonte de verificação dispõe-se de actas de ambas actividades, assim como os

relatórios, fotografias e listas dos/as palestrantes.

Em relação com a segunda actividade prevista, temos constância que se repartiram

desdobráveis informativos e se realizaram cartazes com o objectivo de sensibilizar e

dar a conhecer à população em geral alguns dos direitos básicos fundamentais das

pessoas. Por outro lado, está previsto que na clausura do projecto se apresente um

documentário de 40 minutos sobre DH, estruturado em blocos de direitos. Está

previsto repartir 2000 cópias do mesmo para poder difundir uma cultura dos direitos

humanos em diferentes instituições tanto públicas como privadas.

Quanto a materiais de difusão e promoção dos DH, deve-se incluir a edição de um

livro que inclui a Carta Africana do DH e dos povos e a Carta do Bem Estar da Criança,

tendo-se editado 2000 exemplares, já disponíveis no momento da avaliação. Por

último destacar a criação de uma Web/blog que permite fazer uma difusão de

actividades de promoção de direitos humanos on line.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

31

3.4 Eficiência

Valoração da relação do alcance dos resultados com elemento como o orçamento, custos, recursos utilizados ou o tipo de gestão. O montante total da subvenção para foi de 346.500 € para o três anos deste projecto,

ficando a distribuição por partidas, após a formulação de Dezembro de 2013 da

seguinte maneira:

Formulação Inicial Reformulação Dez. 2013

Orçamento € % Orçamento Orçamento € % Orçamento

Avaliação Externa 12.500 3,6% 15.000 4,32%

Auditoria Externa 10.000 2,89% 0 0

Pessoal 144.000 41,55% 114.000 32,9%

ENEDH 44.000 12,69% 44.000 12,69%

Capacitação SEDH 36.000 10,39% 37.250 10,75%

Capacitação Parceiros 46.000 13,27% 37.250 10,75%

Cultura de DDHH 54.000 15,58% 54.000 15,58%

Despesas bancárias 0 - 2.000 0,57%

Imprevistos 0 - 43.000 12,41%

TOTAL 346.500 100% 346.500 100%

Quanto à distribuição do orçamento devemos assinalar que a partida de pessoal é a

que está mais dotada, com um total de 114.000€, representando um 33% do total.

Isto é coerente tendo em conta que se trata de um projecto de reforço institucional,

com a presença de uma assistência técnica permanente (consultor sénior) na

Secretaria de Estado durante toda a execução do projecto.

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

32

Por outro lado, o orçamento destinado à capacitação institucional (da SEDH e para o

seus parceiros estratégicos) supõe um 21.5% total do projecto, o que também guarda

coerência com a descrição narrativa do projecto.

Por último, chama a atenção a partida destinada a imprevistos, que inicialmente não

estava prevista na formulação inicial do projecto. O valor destinado é de 43.000€

(12,4% do valor total do projecto). Consideramos que este valor é ligeiramente

elevado, tendo em conta que pelo geral a percentagem recomendada para este idem

não deve superar entre o 7 e o 10%.

A seguir apresentamos um quadro com o grau de execução por partidas a data do 19

de Dezembro de 2014:

CUSTOS DIRECTOS CORRENTES Orçamento Gasto % Gasto

A.I.1Avaliação final externa 15000 9912,00 66,08%

A.I.3 Pessoal 114000 114000 100,00%

A.I.4ENEDH 44000 50000 113,64%

A.I. 5 Capacitação SEDH e A.I. 6 capacitação

OSC e Ministérios

74500 77579,77 104,13%

A.I.7 cultura de DDHH 54000 53772,26 99,58%

GASTOS BANCÁRIOS 2000 2050 102,50%

IMPREVISTOS 43000 39185,97 91,13%

TOTAL CUSTOS DIRECTOS 346500 346500 100,00%

Segundo o quadro de gastos facilitado pela coordenação do projecto, podemos

observar como não houve um desvio significativo no que toca á planificação

orçamental prevista. Unicamente podemos destacar o aumento num 13% no

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

33

orçamento destinado para a elaboração da Estratégia Nacional de Educação para o

Direitos Humanos. No entanto, avaliando o produto final (ENEDH) apresentado,

assim como a qualidade dos profissionais que se encarregaram desta actividade,

podemos dizer que em termos de eficiência, as actividades realizadas neste projecto

foram eficientes em termos económicos.

Por último, e pese embora a finais do 2013 tão só estava executado o 29% do

orçamento, a coordenação do projecto, apoiado pela assistência técnica, soube

corrigir os desvios em matéria de cronograma/orçamento conseguindo executar o

100% do orçamento e realizando todas as actividades programadas na reformulação

do projecto.

Consideramos que, em termos de eficiência, a contratação do GEA para a assistência

técnica nesta segunda fase do projecto foi todo um acerto. Os recursos destinados

para esta cumpriram amplamente com as expectativas criadas.

3.5 Impacto

Efeitos gerados pelo projecto: positivos, negativos e/ou colaterais ou inesperados

O impacto mede ou valora os efeitos netos que se devem exclusivamente à

intervenção do projecto, e que não possam ser atribuídos a intervenções de outras

instituições. Ou melhor, é a diferença entre o realizado (factual) e o que teria

acontecido se não se tivesse levado á cabo o projecto (contra-factual). Portanto, a

diferença entre o factual e o contra-factual denomina-se impacto.

Ainda que se tenha dado uma definição ou composição das características básicas do

significado de Impacto, dificilmente se pode desliga-lo dos beneficiários/as do

mesmo nem deixar de lado aquelas limitações que estiveram presentes durante a sua

execução e que deram lugar a reformulação das actividades finais que permitiram

alcançar os resultados esperados bem como o objectivo geral e específico. Outra

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

34

limitação que se deve ter presente é a insuficiência de uma amostra de claros

indicadores que permitissem observar o cumprimento de cada uma das actividades.

Cumprimento do Objectivo Geral

Garantir a difusão, Promoção e Protecção dos Direitos Humanos em Angola

Em primeiro lugar, existem projectos, intervenções ou politicas que não têm um

objectivo claro, ou que, tendo um objectivo claro, este é dificilmente mensurável.

Neste caso, o objectivo parece óbvio e amplo, contudo, medir o seu cumprimento é

sumamente complicado. Embora se possam utilizar critérios para realizar uma

valoração do seu impacto.

Em linhas gerais pode-se afirmar que o objectivo geral estabelecido foi cumprido em

boa medida. Tal valoração positiva deve-se ao facto de que se conseguiu cumprir com

as actividades previstas para cada um dos resultados bem como o alcance ou

consecução dos mesmos. É inegável o esforço realizado na difusão dos direitos

Humanos, como foi o caso das mesas redondas realizadas sobre temas de relevantes

como: o Direito á saúde e Mulher ou a dedicada a Mulher Rural.

Concomitantemente, a este trabalho de difusão e promoção foi acompanhado pela

criação de desdobráveis informativos sobre a importância da cultura de direitos

Humanos, a criação de um documentário e 2.000 cópias que serão de grande

utilidade para a difusão da importância dos Direitos Humanos, e um livro que inclui a

Carta Africana dos DH e dos povos e a Carta do Bem Estar da Criança.

Por outro lado, a protecção dos Direitos Humanos é outra parte que completa o

objectivo geral. Para constatar que existe um impacto (positivo ou negativo) a este

respeito, consideramos prematuro responder a esta questão. A avaliação de um

aspecto tão delicado como os Direitos Humanos, especialmente no que se refere a

protecção dos DH, não se pode ver á curto prazo; neste sentido, uma avaliação sobre

o impacto da protecção dos direitos humanos deve-se levar a cabo num maior

espaço de tempo, ainda que se vislumbram atitudes da SEDH e do governo angolano

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

35

em geral no qual dão mostras de velar por esta protecção e o cumprimento dos

direitos e liberdades fundamentais da Constituição angolana e dos Tratados

internacionais ratificados pelo Governo.

Objectivo específico

Fortalecimento institucional da SEDH e dos seus sócios estratégicos

Dificilmente se pode ver o impacto do objectivo específico ao não conhecer que

capacidade tinham previamente os membros da SEDH e dos seus parceiros

estratégicos (carência de uma linha de base). Além disso, uma dificuldade acrescida é

que o objectivo específico não possui indicadores que cumpram com os padrões ou

os requisitos mínimos exigidos. Estes seriam válidos se tivessem maior concretização

e detalhe na fase de formulação e desenho do projecto; inclusive, poder-se-ia ter

modificado estes indicadores na fase de reformulação; contudo, devido à

necessidade de pôr em funcionamento com a maior celeridade possível todas as

actividades consideradas urgentes, esta mudança não foi possível.

Contudo, y pese embora as dificuldades referidas, é possível deduzir um impacto

positivo na melhoria da capacidade das instituições. Assim, o pessoal da SEDH

(excluindo o pessoal administrativo e de base) ampliaram os seus conhecimentos em

matéria de DH tal e como afirmaram os informantes chave entrevistados. A valoração

realizada pelos assistentes às formações ou seminários foi positiva, não só pela sua

qualidade mas também referem que esta está a ser útil no desempenho do seu

trabalho.

No que toca aos parceiros estratégicos, é importante distinguir entre instituições

governamentais e os participantes da OSC. A valoração de todos eles foi positiva,

manifestando satisfação com a formação recebida e sublinham a utilidade destes

novos conhecimentos no seu trabalho quotidiano. Além disso, outro aspecto

destacável foi a participação de mais parceiros governamentais do que estavam

previstos, embora houvesse pouca participação da sociedade civil.

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É importante destacar que grande parte dos integrantes do CIERDH participaram nas

formações, o que potencializou e melhorou a qualidade das actividades deste

organismo de grande relevância a nível internacional.

3.6 Sustentabilidade/viabilidade

Refere-se à valoração da continuidade no tempo dos efeitos positivos gerados

pela/com a intervenção uma vez retirada a ajuda; está vinculada ao processo de

apropriação do projecto por parte dos receptores.

Consideramos que os efeitos positivos gerados pelo projecto têm previsão de

continuidade no tempo. Uma vez que desde a SEDH se aposta pela consolidação da

garantia de protecção, difusão e promoção da cultura dos direitos humanos. A SEDH

encontra-se actualmente virada para várias actividades, como por exemplo com a

ENEDH. Esta estratégia faz uma aposta decidida para actuar de maneira transversal

numa variedade de campos de actuação no que se refere aos DH. Um dos campos

considerado prioritário é o âmbito educativo. Um exemplo disso foi a formação

organizada pelo Instituto de Ciências Criminais no qual se ministrou uma matéria

específica de DH. Este impulso da SEDH se estende a outros Ministérios, como é o

caso do Ministério do Ensino Superior onde se prevê introduzir disciplinas específicas

de DDHH (por exemplo no curso de direito e especialidades no âmbito da saúde).

Outras instituições governamentais apostaram na introdução de direitos humanos no

seu âmbito de actuação (é o caso do Instituto Nacional de Estudos Judiciários, o

Ministério do Interior, o Ministério da Saúde entre outros).

Por outro lado, a sustentabilidade deste projecto entre as OSC, dependerá em grande

medida dos recursos financeiros das mesmas. Tal como expressaram alguns

representantes das OSC, têm interesse em reproduzir os conhecimentos adquiridos

entre outras organizações, mas os recursos reduzidos com que contam são uma

importante limitação.

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4. Conclusões

O projecto aqui avaliado mostra sinais positivos para a consolidação do seu

objectivo geral: a protecção, promoção e difusão dos DH. Ainda que qualquer

projecto, política ou estratégia nesta matéria deve ser avaliado a médio-longo

prazo, a verdade é que este projecto fixou bases sólidas para o seu alcance.

A elaboração da ENEDH é um desafio muito importante na definição de linha

de actuação em matéria de DH, vinculada a um dos eixos da Política Nacional

para os DH. Graças a esta estratégia contribuir-se-á para a efectivação dos

compromissos assumidos em relação a educação em direitos humanos no

âmbito dos instrumentos e programas internacionais e nacionais. Permite

estabelecer concepções, objectivos, princípios e acções para a elaboração de

programas e projectos na área de educação em direitos humanos, assim como

incentivar a criação e o fortalecimento de instituições e organizações nacionais

e locais de direitos humanos.

A capacitação institucional foi um aspecto importante dentro do projecto.

Observou-se um plano de formação equilibrado e adequado com um elevado

grau de qualidade no que respeita aos formadores em DH. Esta formação

repercutiu positivamente nos destinatários, tanto na SEDH como nos demais

parceiros estratégicos.

A selecção do GEA para a elaboração da ENEDH, a preparação e realização dos

seminários formativos, bem como para a AT do projecto foi uma eleição

conveniente. O facto de que a AT do projecto, as consultoras responsáveis

pela ENEDH e os professores encarregados de ministrar os cursos

pertencessem à mesma organização facilitou uma coordenação adequada, o

que favoreceu o projecto no seu conjunto.

No que se refere à capacitação institucional, é importante destacar que o bom

aproveitamento dos participantes nos seminários ministrados, permitiu não só

propiciar um conhecimento sólido sobre os distintos âmbitos dos DH, bem

AVALIAÇÃO FINAL “Reforço Institucional da Secretaria de Estado para os Direitos Humanos de Angola e dos seus parceiros estratégicos”

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como permitiu aos formandos a obtenção de certificados de aprovação,

podendo assim agregar ao seu CV. Estes certificados estão reconhecidos por

uma Universidade de prestígio internacional (Universidade Autónoma de

Madrid) o que lhe confere um valor acrescido.

Como valor acrescido deve-se citar a participação conjunto do governo e a

sociedade civil. É um aspecto altamente positivo incorporar a OSC em todas as

fases do projecto, o que permite, entre outras coisas, o envolvimento e

empoderamento desde o início.

5. Lições aprendidas

Existiram desajustes no início do projecto. Um ano depois da sua aprovação, a

execução do projecto era praticamente nula; realizaram-se grupos de trabalho

e mantiveram-se reuniões periódicas para a tomada de decisões mas houve

obstáculos na implementação das acções propostas, ainda que estas

dificuldades não se devessem a falta de actividade da AT nem dos grupos de

trabalho mas sim a factores exógenos. Mas isto deveria estar previsto ou

corrigir-se para impedir a paralisação do projecto ou a não execução do

mesmo. Por exemplo, um dos motivos para a suspensão temporária do

projecto foi a aproximação das eleições legislativas. Assim, sabendo que se

iam celebrar estes comícios poderia ter-se previsto antecipadamente as

formas ou estratégias que se poderiam pôr-se em funcionamento para evitar a

esta suspensão.

Objectivo e resultados excessivamente ambiciosos; ainda que o objectivo geral

seja normalmente formulado em linhas gerais, os resultados parecem pecar

por excesso de ambição, mais ainda quando nos encontramos perante um

projecto com uma duração inicialmente de dois anos (ainda que

posteriormente foi ampliado para um ano mais) versando sobre uma matéria

que tem um impacto (em regras gerais) a longo prazo.

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Outra lição aprendida e que permite assumir uma aprendizagem para ser

aplicada em futuras intervenções é a relacionada com a selecção das

contrapartes. Seria desejável um teste prévio às instituições governamentais e

aos membros da OSC que estivessem dispostos a participar de forma activa no

projecto. Nele previu-se a participação de actores, especialmente da

sociedade civil, que posteriormente não aceitaram os convites.

O desenho dos indicadores do projecto e a formulação das linhas de base (não

existia) não foi adequado. Os indicadores não aparecem bem formulados e

carecem de uma qualidade suficiente para serem úteis à equipa avaliadora.

Cada indicador deve ser pertinente, suficiente, específico, mensurável e

disponível mediante uma fonte de verificação de baixo custo. Seria desejável

que estes fossem corrigidos na fase de reformulação.

Ausência de um modelo de seguimento com ferramentas próprias para

analisar os desvios em matéria de cumprimento de actividades (cronograma) e

orçamento.

6. Recomendações

Recomenda-se que se fomente uma maior participação dos membros da

Sociedade Civil, para alcançar, entre outros objectivos a consecução do

“envolvimento” e o empoderamento. Assim, por citar um exemplo,

participaram poucos membros da sociedade civil, não só na planificação do

projecto, senão também noutras actividades como no caso da elaboração da

ENEDH, ou ainda na capacitação institucional (formação).

Seria recomendável em futuras actuações contar com outros actores

angolanos/as e internacionais que se dedicam ao tema dos direitos humanos.

Neste sentido seria ideal estabelecer mecanismos de comunicação,

colaboração e cooperação com outras instituições não previstas inicialmente.

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Como é o caso de UNICEF, ACNUR, OIM-IOM, que em Angola se dedicam à

difusão dos DDHH e que, contudo, não participaram activamente no projecto.

Ainda que se tenha observado a participação de um bom número de

representantes de instituições governamentais, seria aconselhável introduzir

outras. Por exemplo, seria importante contar com a participação de

representantes do Ministério da Cultura, do Ministério da Juventude e

Desporto ou do Ministério da Comunicação Social. Quanto aos Ministérios de

Cultura e o Ministério da Comunicação Social, ambos foram convidados a

participar neste projecto, e chegaram inclusive a ser eleitos os seus

representantes, contudo por motivos que se desconhecem não participaram

no projecto.

Nota-se a falta de uma maior actividade de difusão dos DH. Ainda que se

tenham realizado mesas redondas, consideramos que seria desejável contar

com um maior número destas. Assim, algumas actividades referentes a

difusão podiam ser propostas, como por exemplo, palestras em instituições

educativas; ainda que estas não pudessem ser realizadas pela AT do projecto,

poder-se-ia contar com outros parceiros (ainda que não fossem estratégicos)

para fomentar a difusão dos DH. Outro exemplo seria a colaboração com TV e

rádios de qualquer âmbito para difundir os DH, não devendo esquecer que um

dos destinatários finais deste projecto era a população em geral.

Por outro lado, e ainda que sabendo que o projecto contava com pouco tempo

material para sua execução, o certo é que seria desejável ou recomendável

contar com estratégias de descentralização na difusão, promoção e protecção

dos direitos humanos. Assim, seria recomendável em futuras intervenções ter-

se em conta outros âmbitos territoriais. Ainda que se preveja a participação

em Conselhos Provinciais.

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Anexos

Termos de referência

Relatório preliminar metodológico

Lista informantes chave

Inventário das fontes consultadas durante o trabalho de campo

Alegações e comentários dos diferentes actores (no caso de existirem)